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Leg.

DUA2024

FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DO PORTO


ANTÓNIO FRANCISCO DE SOUSA

Coletânea de legislação anotada de

DIREITO DO URBANISMO E
DO AMBIENTE
(Ano letivo 2023-2024)

LEGISLAÇÃO DO URBANISMO
Constituição da República Portuguesa (CRP) (normas mais relevantes)
Lei orgânica do XXII Governo (LOG) - DL n.º 169-B/2019, de 3 de dezembro
Comissões de coordenação e desenvolvimento regional (CCDRs) - Decreto-Lei n.º
228/2012, de 25 de outubro – Diário da República n.º 207/2012, Série I de 2012-10-
25 – diploma revogado pelo Decreto_lei n.º 36/2023, de 26 de maio
Lei das autarquias locais (RJAL) - Lei n.º 75/2013, de 12 de setembro (última
versão dada pelo Decreto-Lei n.º 10/2024, de 08/01) - estabelece o regimejurídico
dasautarquias locais
Regime jurídico da tutela administrativa (RJTA) - Lei n.º 27/96, de 1 de agosto: última
versão decreto-Lei n.º 214-G/2015, de 02/10.
Lei de Bases da Política de Ordenamento do Território e de Urbanismo -
Decreto-Lei n.º 31/2014, de 30 de maio que estabelece as Bases Gerais da
Política Pública de Solos, de Ordenamento do Território e de Urbanismo (BG-
PPSOTU): última versão dada pelo Decreto-Lei n.º 10/2024, de 08/01
Desenvolvimento das Bases da Política de Ordenamento e de Urbanismo -
Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial (RJIGT) - Decreto-
lei n. 0 80/2015, de 14 de maio: última versão dada pelo Decreto-Lei n.º
16/2024, de 19/01
Regime Jurídico da Urbanização e da Edificação (RJUE) — Decreto-Lei n.º
555/99, de 16 de dezembro na versão dada pelo Decreto-Lei n.º 10/2024, de
08 de janeiro
Regulamento Geral das Edificações Urbanas (RGEU) (Decreto-Lei n.º 38 382
de 7 de agosto de 1951, versão atualizada pelo Decreto-lei n.º 10/2024, de
08/01)
Regime jurídico da reabilitação urbana - decreto-lei n.º 307/2009, de 23 de
outubro (última alteração Decreto-Lei n.º 10/2024, de 08/01 )
Código das Expropriações (CE) (Lei n.º 168/99, de 18 de setembro: última versão dada
pela Lei n.º 56/2008, de 04/09)
LEGISLAÇÃO DO AMBIENTE
Constituição Portuguesa (ver supra)

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Legislação de direito internacional público
Legislação ambiental da UE
Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE) – (art.º 11.º; art.º
191.º a 193.º)
Lei de Bases da Política do Ambiente (LBA) - Lei n.º 19/2014, de 14 de abril.
Responsabilidade ambiental (RA) - Decreto-Lei n.º 147/2008, de 29 de julho.
Regime de acesso à informação administrativa e ambiental (RAIAA) - Lei n.º
26/2016, de 22 de agosto (última alteração: Lei n.º 68/2021, de 26 de agosto).
Lei quadro das contraordenações ambientais (LQCA) – Lei n.º 50/2006, de 29 de
agosto, última alteração dada pela Lei n.º 25/2019, de 26/03.
Domínio público hídrico (recursos hídricos) (DPH) lei n.º 54/2005, de 15 de novembro
(última versão: Lei Orgânica n.º 2/2023, de 18/08)
Lei da água (LA) (lei n.º 58/2005, de 29 de dezembro, na última versão dada pela lei n.º
82/2023, de 29/12)
Regime jurídico da conservação da natureza e da biodiversidade (aprovado pelo DL
n.º 142/2008, de 24 de julho, última alteração dada pelo DL n.º 11/2023, de 10/02)
Prevenção e controlo das emissões de poluentes para o ar - decreto-lei n.º 39/2018, de
11 de junho: última versão dada pelo DL n.º 11/2023, de 10/02
Regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de setembro- diploma
revogado pelo DL n.º 102-D/2020, de 10 de dezembro).
Organizações Não-Governamentais de Ambiente (ONGAs) (lei n.º 35/98 - última
alteração dada pela Lei n.º 36/2021, de 14/06).

Documentos para consultar:


Código Regulamentar do Município do Porto (in: www.cm-porto.pt > BAV)
Regulamento do Plano Diretor Municipal (RPDM)
Manual de recomendações e boas práticas- elaboração de projetos, 2017.
Normas Técnicas sobre Acessibilidade: Decreto-Lei n.º 163/2006, de 8 de agosto;
Regime excecional e temporário a aplicar à reabilitação: Decreto-
Lei n.º 53/2014, de 8 de abril- revogado pelo DL n.º 95/2019,
de 18/07); Portaria n.º 1 13/2015, de 22 de abril;
Regime Jurídico da Segurança Contra Incêndios em Edifícios: Decreto-Lei n.º
220/2008, de 12 de novembro, com redação dada pelo Decreto-Lei n.o 9/2021,
de 29 de janeiro ,
Balcão Virtual da Câmara Municipal do Porto (https://balcaovirtual.cm-porto.pt]PT)
Formulários ou Formulários Online
Cidadãos — Urbanização e Edificação
Guia prático de apoio à adesão e submissão de pedidos no BAV
Guia de apoio- formatos, assinatura e certificação de documentos digitais
Quadro síntese de formatos, assinatura e certificação, www.cm-porto.pt > BAV.

Nota prévia
A presente Coletânea de Legislação Anotada de Direito do Urbanismo e do Ambiente foi
expressamente elaborada para uso dos alunos da unidade curricular de Direito do Urbanismo e
do Ambiente da FDUP, no ano letivo de 2018/2019. Entretanto, tem vindo a ser sucessivamente

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atualizada, tendo contado, na edição de 2023, com a colaboração do Dr. António Graça Moura e,
na presente edição de 2024, colaboração da Dr.ª Sílvia Moreira. A consulta desta coletânea de
legislação não dispensa a consulta da versão oficial publicada no DR, nem a consulta de outros
diplomas complementares e pertinentes. A seleção feita de diplomas orientou-se pelo programa
adotado na FDUP e teve em vista servir de suporte legislativo para os alunos, numa perspetiva de
panorâmica geral das matérias mais importantes que compõem a Unidade Curricular.
Diversas passagens da lei foram sublinhadas a negro com o único objetivo de facilitar a
consulta, alertando para alguns aspetos importantes da regulação jurídica. Isto não significa, de
modo algum, que as outras partes da lei não sejam igualmente ou talvez até mais importantes
(consoante a perspetiva). O nosso objetivo foi o de captar, de forma rápida e seletiva, a atenção
de quem consulta a coletânea.
Fizemos diversas anotações, não tantas quantas desejaríamos, que se destinam a auxiliar a
compreensão e a interpretação das normas e princípios legais. Para uma panorâmica geral das
matérias relativas ao plano e à planificação como forma de atuação da Administração Pública,
remetemos para o nosso Manual de Direito Administrativo, Porto Vida Económica, 2019, n. m.
1824 e segs.
Agradecemos desde já todas as sugestões e críticas que possam ser feitas a este trabalho.
Esta será uma forma de podermos, noutras edições, aperfeiçoar e aprofundar o trabalho iniciado.
As críticas são tão importantes como as sugestões. A cultura democrática abre-nos e submete-nos
à crítica, à força dos argumentos, e isto tem de ser aprendido e praticado já nos bancos da
Faculdade. O docente tem, naturalmente, de ser o primeiro exemplo de humildade na
aprendizagem.
Porto, 13 de fevereiro de 2024
António Francisco de Sousa

BIBLIOGRAFIA
(Esta indicação bibliográfica é meramente indicativa. O aluno tem toda a
liberdade de aceder a outra bibliografia relevante. Ao longo das aulas serão
indicadas obras específicas sobre temas em concreto)

I. Bibliografia principal

António Francisco de Sousa: A Estrutura Jurídica das Normas de Planificação Administrativa -


directivas da planificação, interesses em conflito, “discricionariedade de planificação”, Lisboa
1987, Editora Danúbio Lda.
CEJ: Direito do Urbanismo, Jurisdição administrativa e fiscal, julho de 2018.
CEJ: e-book Direito do Urbanismo—2014 (direito penal e contraordenacional do direito do urbanismo).
Fernando Alves Correia: Direito do ordenamento do território e do urbanismo, legislação básica,
Coimbra 2016.
Fernando Alves Correia: O plano urbanístico e o princípio da igualdade, Coimbra 2001.
Fernando Alves Correia: Manual de direito do urbanismo, vol. I, Coimbra, 2012; vol. II e vol. III, 2010.
Fernando Alves Correia: As garantias do particular na expropriação por utilidade pública, Coimbra 1983.
Raquel Carvalho: Introdução ao Direito do Urbanismo, Universidade Católica, 2017;

II. Bibliografia complementar

António Francisco de Sousa: Para o Consentimento do Particular em Direito Administrativo — discussão


teórica do acto administrativo necessitado do consentimento do particular e sua aplicação a alguns
casos concretos, Lisboa 1986, Editora Danúbio Lda.
António Francisco de Sousa: O Recurso de Vizinhança, Lisboa 1986, Editora Danúbio Lda.
António Francisco de Sousa: A Discricionariedade Administrativa, Lisboa, 1987 (tradução da parte
essencial da tese apresentada em Freiburg, sob o título Das Ermessen der Verwalt.ungsbehörde).
António Francisco de Sousa: Direito Administrativo das Autarquias Locais, Lisboa (l. a ed. 1988; 2.a ed.
1992; 3.a ed. 1993), Luso Livro.

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António Francisco de Sousa: “Conceitos Indeterminados” no Direito Administrativo, Coimbra,
Almedina, 1994, 268 págs. Esta obra foi objeto de uma exaustiva recensão, em seis páginas, de José
Lucas Cardoso, in: Polis: revista de estudos jurídico-políticos, n. 2, 1995.
António Francisco de Sousa: Casos práticos de Direito administrativo, com resolução, Luso Livro, 4. a ed.,
Lisboa 1995, 291 págs.
António Francisco de Sousa: Direito Administrativo, Lisboa, Editora Prefácio, 2009.
António Francisco de Sousa: Código do Procedimento Administrativo Anotado e Comentado, Porto 2009
(houve uma edição anterior, em 1993), 2. a edição, Porto 2010.
António Francisco de Sousa: Administração pública e direito administrativo: novos paradigmas, Porto,
Vida Económica, 2016.
António Francisco de Sousa: Direito administrativo europeu, Porto, Vida Económica, 2016.
António Francisco de Sousa: “A participação dos interessados no procedimento administrativo”, in:
Estudos em Homenagem ao Professor Doutor Jorge Ribeiro de Faria, Coimbra Editora, 2003, pág. 69 a 121.
António Francisco de Sousa: „O papel da burocracia no Estado de direito”, in: Revista da FDUP, 2012,
pág. 59 e segs.
António Francisco de Sousa: “O direito à informação no Estado de direito: aspetos da sua efetivação”, in:
Revista de Letras da UTAD, 11 n.º I I (201 1), pág. 91 a 1 12.
António Francisco de Sousa: “Controle da Administração pelos tribunais: julgar é ainda administrar”, in:
Jornal Estado de Direito (S. Paulo-Brasil), 23.a ed., janeiro de 201 1.
António Francisco de Sousa: “Para um Estado de Direito Efectivo”, in: Jornal Estado de Direito, São
Paulo, Brasil, maio de 2009.
António Francisco de Sousa: “O princípio da igualdade no Estado de direito”, in: Polis: Revista de
Estudos Jurídico-Políticos, n.º 13/16, Lisboa, 2007, pág. 181-195.
António Francisco de Sousa: “Liberdade artística e seus limites”, in: Atas do Colóquio de Faro, 2006.
António Francisco de Sousa: “Paradigmas fundamentais da Administração Pública”, in Revista da
Faculdade de Direito da Universidade do Porto, III — 2006, pág. 137-183.
António Francisco de Sousa: “Urgência e competência de urgência das forças policiais”, in Politeia,
Revista do Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna, Ano II, n.º 1 (janeiro-junho
de 2005), Almedina, Coimbra, pág. 7 e segs.
António Francisco de Sousa: “Polícia Administrativa: autoridades, órgãos e competências”, in: Revista
de Estudos Jurídico-Políticos, n.º 9/12 (2003), págs. 61 a i 11.
António Francisco de Sousa: “Reforma do papel do Estado”, in: Revista da Universidade Lusíada,
Direito, n.º s I e 2 (2003), págs. 15-22.
António Francisco de Sousa: “A participação dos interessados no procedimento administrativo”, in:
Homenagem ao Professor Doutor Jorge Ribeiro de Faria, Coimbra Editora, 2003, pp. 69 a 121.
António Francisco de Sousa: “Das Geweberecht in Portugal und Spanien”, in: Gewerberecht im
Umbruch, Möglichkeiten und Grenzen einer Neuregelung, p. 85 e segs. (a edição foi dirigida pelo
Prof. Dr. Rolf Stober e editada, em 2004, pela editora Carl Heymanns Verlag KG, Köln, Berlin,
München, 2004, n.º 61 da Série Studien zum öffentlichen Wirtschafisrecht). Este artigo constituiu a
nossa contribuição para o “Sechste Hamburger Wirtschaftsrechtstag”, realizado na Universidade de
Hamburgo.
António Francisco de Sousa: “A regionalização no contexto do Estado de direito democrático e o caso
português” in: Revista de Direito Constitucional e Internacional — Cadernos de Direito
Constitucional e Ciência Política, Ano 8, 2000, n.º 30, p. 55 e segs.
António Francisco de Sousa: “O controlo jurisdicional da discricionariedade e das decisões de valoração
e prognose” (comunicação apresentada no âmbito da discussão pública da Reforma do Contencioso
Administrativo, realizada em 6/7 de junho de 2000 na Faculdade de Direito da Universidade do
Porto), in: Reforma do Contencioso Administrativo, Trabalhos Preparatórios — O Debate
Universitário (ed. do Ministério da Justiça), Lisboa 2000, p. 315 e segs.
António Francisco de Sousa: “Princípio da legalidade da Administração”, in: Polícia Portuguesa, n.º 1 1
1 (1998), p. 22 e segs.
António Francisco de Sousa: “Prevenção do perigo como função das forças de segurança e das
autoridades de polícia administrativa”, in: Polícia Portuguesa, n.º 105 (1997), p. 22 e segs.
António Francisco de Sousa: “Actuação policial e princípio da proporcionalidade”, in: RMP, 1998, 41ss.
e Polícia Portuguesa, n.º 113 (1998), p. 15ss.
António Francisco de Sousa: “A Polícia Municipal no Estado de Direito”, in: Separata Jurídica, n.º 2, p.
3 e segs.
António Francisco de Sousa: ““Margem de Apreciação” e Estado de Direito”, in: Polis, n.º 2, 1995.
António Francisco de Sousa: “Estado de Direito - Estado de Justiça”, in: Estado & Direito, Revista
LusoEspanhola de Direito Público, n.º 12, 1993, p. 95 e segs.

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António Francisco de Sousa: Os “conceitos legais indeterminados” no direito administrativo alemão”, in:
Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, n.º 166, págs. 276-291,
out./dez. 1986.
António Francisco de Sousa: “Consentimento do particular em matéria de tratamento de dados pela
autoridade administrativa”, in: Revista de Direito Público (S. Paulo„Brasil), n.º 77 (1986), p. 69 e
segs.
António Francisco de Sousa: “Renúncia às normas de protecção da vizinhança”, in: Revista de Direito
Público (S. Paulo-Brasil), n.º 76 (1985), p. 28 e segs.
António Francisco de Sousa: “Para a dogmática do acto administrativo necessitado da colaboração do
particular”, in: Revista de Direito Público (S. Paulo-Brasil), n.º 75 (1985), p. 31 e segs.
António Francisco de Sousa: “Controle da Administração pelos tribunais: julgar é ainda administrar”, in:
Jornal Estado de Direito (S. Paulo-Brasil), 23.a ed., janeiro de 2011.
António Francisco de Sousa: „Para a juridicidade da actuação policial”, in: Jornal Estado de Direito, São
Paulo, Brasil, setembro de 2011.
António Francisco de Sousa: „Exigências da garantia de imparcialidade no Estado de direito. Não basta
ser sério, é preciso parecê-lo”, in: Revista de Direito Público do Instituto Brasiliense de Direito
Público (IDP), vol. l , n.º 50, 2013 e também vol. l, n.º 57 (2014), pág. 27 a 49 (ht.t y//www.direilo
ublico.id ) .edu.br/indcx. h)/direito Jublico/ article/view/]490)
António Francisco de Sousa: “A informação como dever na Administração Pública Portuguesa”, in: Atas
do Colóquio Luso-Brasileiro realizado na FDUP em outubro de 2012 (em fase de publicação).
António Francisco de Sousa: „Abertura e transparência no Projeto de Revisão do CPA”, in: Revista da
Faculdade de Direito da Universidade do Porto, 2014, pág. 61 e segs.
António Francisco de Sousa: „A imparcialidade no Estado de direito”, in: Actas do Primeiro Ciclo de
Palestras em Direito Público e Privado, Faculdade de Direito da Universidade Kimpa Vita, Uíge,
Angola, em novembro de 2013.
António Francisco de Sousa: „Direito e Cultura”, Actas do Congresso Internacional da UTAD, 2013.
António Francisco de Sousa: „Cultura e direito: uma abordagem crítica”, Congresso Internacional de
Direito na Lusofonia, 19 a 22 de fevereiro de 2014, Escola de Direito da Universidade do Minho,
2014, no prelo.
António Francisco de Sousa: “Constituição universal como cultura — prolegómenos para um tribunal
constitucional internacional para a democracia na sociedade da informação”, 2018 (in www.hotto
os.com convenit29 index.htm).

III. Bibliografia sobre o direito do ambiente

AGATHE VAN LANG, “Affaire de l' Erika: Ia consécration du préjudice écologique par le juge
judiciaire”, in: AIDA, 2008/17, pág. 936 e segs.
AGATHE VAN LANG, “La directive «responsabilité environnementale» et le Droit Administratif:
influences prévisibles et paradoxales”, in: Juris Classeur —Droit Administratif, julho 2005, pág. 7
e segs.
BASTOS, Lucia Elena Arantes Ferreira: “O consumo de massa e a ética ambientalista”, in: Revista de
direito ambiental, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, ano 1, n. 43, jul./set., pág. 177-202,
2006.
BRADY, K., “New Convention on access to information and public participation in environmental
matters”, in: Environmental Policy & Law, 1998/2, pág. 69 segs.
CARBALLEIRA RIVERA, “La tutela ambiental en el derecho norteamericano”, in RAP, n. 0 137, 1995,
pág. 511 segs.
CARLA AMADO GOMES, “A ecologização da justiça administrativa: brevíssima nota sobre a alínea l)
do no I do artigo 40 do ETAF”, in: Textos dispersos de Direito do Ambiente, Lisboa, 2005, pág.
249 segs.
CARLA AMADO GOMES, “A responsabilidade civil extracontratual das entidades públicas e a
responsabilidade civil por dano ecológico: sobreposição ou complementaridade?”, in Revista do
Ministério Público, n.º 125, 201 1, pág. 147 e segs.
CARLA AMADO GOMES, “Acção Pública e Acção Popular na Defesa do Ambiente”, in: Estudos em
homenagem ao Professor Doutor Diogo Freitas do Amaral, Coimbra, Almedina, 2010.
CARLA AMADO GOMES, “As providências Cautelares e o Princípio da Precaução, Ecos da
jurisprudência”, in: Textos Dispersos de Direito do Ambiente (e matérias relacionadas), II,
2008.
CARLA AMADO GOMES, Introdução ao Direito do Ambiente, Lisboa, (AAFDL), 2012.

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CARLA AMADO GOMES, Risco e Modificação do Acto Administrativo Concretizador de Deveres de
Protecção do Ambiente, Coimbra, Coimbra Editora, 2007
ERNANDO CONDESSO, Direito à informação administrativa, Lisboa, 1995.
FERNANDO DOS REIS CODESSO; Direito do Ambiente - Ambiente e Território. Urbanismo e
Reabilitação Urbana, Almedina, 2017.
FIGUEIREDO DIAS, “Relevo prático da ‘intimação para consulta de documentos’ na garantia
jurisdicional do direito à informação dos administrados”, Anotação ao Acórdão do STA de 11 de
março de 1997, in: CJA, 1997, 5, pp. 50 segs
GOMES CANOTILHO: “Actos autorizativos jurídico-públicos e responsabilidade por danos ambientais”
in BFDUC, vol. LXIX, 1993.
HANDL, “Humanrights and protection of the environment: a mildly «revisionist» view”, in: Derechos
humanos, desarrollo sustentable y medio ambiente, Brasília, 1 992, pág. 1 17 segs.
HARTMANN, Ivar Alberto Martins: “O princípio da precaução e sua aplicação no direito do
consumidor: dever de informação no direito do consumidor: dever de informação”, in: Revista de
direito do consumidor, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, ano 18, n. 70, abr./jun., pág.
172-223, 2009.
KISS, “Direito Internacional do Ambiente”, in: Direito do Ambiente, INA, 1994, pág. 147 segs,.
KRÄMER, “La directive 90/313/CEE sur l'accès à l'information en matière d'environnement: genèse et
perspectives d'application”„in: RMCUE, no 353, 1991, pág. 866 segs.
KROMAREK, “Les limites de l'accés à l'information en matière d'environnement”, in: O direito do
cidadão à informação sobre ambiente. Seminário Internacional, Instituto Nacional do Ambiente,
(1992), pág. 65 segs.
MALJEAN„DUBOIS, “La Convention Européenne des Droits de l'Homme et Ie droit à l'information en
matière d'environnement. A propos de l'arrêt rendu par la CEDH le 19 février 1998 en l'affaire
Anna Maria Guerra et 39 autres c. Italie”, in: RGDIP, 1998/4, pág. 995 segs.
MENEZES, Paulo Roberto Brasil Teles de: “O direito do ambiente na era de risco: perspectivas de
mudança sob a ótica emancipatória”, in: Revista de direito ambiental, São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, ano 8., out./dez., pág. 123-144, 2003.
MONÉDIAIRE, “Les droits à l'information et à Ia participation du public auprès de l'Union Européenne
(lère partie)”, in: REDE, 1999/2, pág. 129 segs.
MORENO MOLINA ÁNGEL MANUEL: Derecho comunitário del medio ambiente;
MORENO MOLINA ÁNGEL MANUEL: “Puesta en funcionamiento del Derecho comunitario del
medioambiente. Acceso a Ia información. Acceso a Ia justicia”, in: Derecho Ambiental de la
Unión europea, Madrid, coord. de J. Picon Risquez, 1996, pág. 141 segs.
NUNES, Luis Antonio Rizzato: Curso de direito do consumidor, 4.a ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
NZO PELOSI, “Rafforzamento dell'accesso all'informazione ambientale alla luce della direttiva
2003/4/CE”, in: , pp. 23 segs
PEREIRA DA SILVA, “The Aarhus Convention: A 'bridge' to a better environment”, in: RJUA, n os
18/19, 2002, pág. 133 segs.
PEREIRA DA SILVA, V.: Da Protecção Jurídica Ambiental. os Denominados Embargos
Administrativos em Matéria de Ambiente, Lisboa, 1997.
PRIEUR, “Aspects généraux du droit à l'information sur l'environnement”, in: O direito do cidadão à
informação sobre ambiente. Seminário Internacional, Instituto Nacional do Ambiente (1992), pág.
29 e segs.
PRIEUR, “La Convention d' Aarhus, instrument universel de Ia démocratie environnementale”, in: RIE,
1999 (no especial), pág. 9.
SCOVAZZI, “La partecipazione del pubblico alle decisioni sui progetti che incidono su El 'ambiente”, in:
RGA, 1989/3, pp. 485 segs, 487.
SÉRVULO CORREIA, “O direito dos interessados à informação: ubi ius, ibi remedium, anotação ao
acórdão do STA de 2 de maio de 1996”, in: CJA, no 5, 1997, pág. 7 segs,
SIRVINSKAS, Luis Paulo: Manual de direito ambiental, 10.a ed., São Paulo: Saraiva, 2012,
SUZANNE CARVAL, “Un intéressant hybride: Ia «responsabilité environnementale» de Ia loi 2008„757
du ler août 2008”, in: Recueil Dalloz, Études et commentaires, 2009/24, pág. 1652 e segs.
SYMONIDES, “The human right to a clean, balanced and protected environment”, in: Diritti dell'uomo e
ambiente. La partecipazione dei cittadini alle decisioni sulla tutela dell'ambiente, Pádua, 1990,
pág. 239 segs,
TRAVASSOS, H. M. COSTA / T. SARAIVA / R. TOMÉ / M. ARMELIN / F. 1. RAMÍREZ / J. A.
NEVES, A energia eólica e a conservação da avifauna em Portugal, SPEA, Lisboa, 2005.

IV. Jurisprudência sobre o ambiente

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Ac. do STA, 1, de 13 de janeiro de 2005 (proc. 085/04).
Ac. do TCAS de 7 de fevereiro de 2013 (proc. 05849/10).
Ac. do TCAS, de 31 de março de 2011 (proc. 06793/10).
Ac. do TCAS, de 7 de março de 2013 (proc. 04613/08).
Ac. do TCAN, de 29 de março de 2007, proc. 758/06.3 BECBR.
Ac. do Tribunal Constitucional no 136/05 (direito à informação ambiental).

Constituição da República Portuguesa


(normas da especialmente relevantes para o Direito do Urbanismo e Ambiente)

Artigo 5.º (Território)


1. Portugal abrange o território historicamente definido no continente europeu e
os arquipélagos dos Açores e da Madeira.
2. A lei define a extensão e o limite das águas territoriais, a zona económica
exclusiva e os direitos de Portugal aos fundos marinhos contíguos.
3. O Estado não aliena qualquer parte do território português ou dos direitos de
soberania que sobre ele exerce, sem prejuízo da retificação de fronteiras.

Artigo 6.º (Estado unitário)


1. O Estado é unitário e respeita na sua organização e funcionamento o regime
autonómico insular e os princípios da subsidiariedade, da autonomia das autarquias
locais e da descentralização democrática da administração pública.
2. Os arquipélagos dos Açores e da Madeira constituem regiões autónomas dotadas
de estatutos político-administrativos e de órgãos de governo próprio.

Artigo 9.º (Tarefas fundamentais do Estado)

São tarefas fundamentais do Estado:


d) Promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre
os portugueses, bem como a efetivação dos direitos económicos, sociais, culturais e
ambientais, mediante a transformação e modernização das estruturas económicas e
sociais;
e) Proteger e valorizar o património cultural do povo português, defender a
natureza e o ambiente, preservar os recursos naturais e assegurar um correto
ordenamento do território;
g) Promover o desenvolvimento harmonioso de todo o território nacional,
tendo em conta, designadamente, o carácter ultraperiférico dos arquipélagos dos
Açores e da Madeira;

Nota l: Sobre o “património cultural” e a necessidade de o preservar a nível nacional e


internacional, sustentou-se recentemente: “O domínio da preservação e promoção do património
cultural será um daqueles em que, pela força integradora da ONU, mais se avançou em termos
de Constituição universal (setorial). Uma Constituição universal deve ser o fundamento jurídico e
cultural da preservação e promoção do património cultural comum da humanidade, que abarca os
patrimónios culturais locais. Este é um dos domínios em que já existe uma Constituição universal
formal, em diversos diplomas de direito internacional público (Constituições parcelares), bastante
desenvolvida, bastante ativa, bastante mobilizadora, e fortemente enraizada e aceite na mente e no
coração das pessoas. A consciência universal do povo tem-se manifestado intensamente um pouco

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por toda a parte. Em Portugal, têm sido muitas as iniciativas de elevação de dimensões culturais •a
património cultural da humanidade, algumas até objeto de controvérsia, como o cante alentejano, o
fado, o chocalho alentejano ou os bonecos de Estremoz. Mais consensuais são centros históricos,
monumentos e reservas ecológicas. A nível da Europa, o Preâmbulo do TUE refere-se ao
“património cultural, religioso e humanístico da Europa”. São diversas as disposições normativas
deste diploma que se referem ao “património cultural comum”, destacando-se o art.º 3.º , n.º 3,
frase 4 do TUE: “A União respeita a riqueza da sua diversidade cultural e linguística e vela pela
salvaguarda e pelo desenvolvimento do património cultural europeu” (in: “Constituição universal
como cultura — prolegómenos para um tribunal constitucional internacional para a democracia na
sociedade da informação”, 2018 ( www.hottopos.com/convenit29/index.hlm)..

Nota 2: Em 1972, foi estabelecida a Convenção da UNESCO para o Património Mundial


(Convenção para a Protecção do Património Mundial Cultural e Natural). Esta Convenção foi
adotada por Portugal em 1980. Portugal dispõe de uma vasta lista de património cultural da
humanidade, que abarca centros históricos, monumentos e até paisagens. Diz o art.º 11.º, n.º 1, desta
Convenção: “Cada um dos Estados parte na presente Convenção deverá submeter, em toda a medida
do possível, ao Comité do Património Mundial um inventário dos bens do património cultural e
natural situados no seu território e susceptíveis de serem inscritos na lista prevista no parágrafo 2
do. presente artigo. Tal inventário, que não será considerado exaustivo, deverá comportar uma
documentação sobre o local dos bens em questão e sobre o interesse que apresentam.”

Nota 3: O Centro Histórico do Porto foi classificado, em 1996, como Património Cultural da
Humanidade.

Nota 4: A laurissilva da Madeira que com os seus 15.º 000 hectares ocupa 20% da área da Madeira,
foi declarada pela UNESCO, em 1999, património natural da humanidade.

Artigo 48.º (Participação na vida pública)


1. Todos os cidadãos têm o direito de tomar parte na vida política e na direção dos
assuntos públicos do país, diretamente ou por intermédio de representantes livremente
eleitos.

Artigo 51.º (Associações e partidos políticos)


1. A liberdade de associação compreende o direito de constituir ou participar em
associações.
2. (…).

Artigo 52.º (Direito de petição e direito de ação popular)


1. Todos os cidadãos têm o direito de apresentar, individual ou coletivamente,
aos órgãos de soberania, aos órgãos de governo próprio das regiões autónomas ou a
quaisquer autoridades petições, representações, reclamações ou queixas para defesa dos
seus direitos, da Constituição, das leis ou do interesse geral e, bem assim, o direito
de serem informados, em prazo razoável, sobre o resultado da respetiva apreciação.
2. A lei fixa as condições em que as petições apresentadas coletivamente à
Assembleia da República e às Assembleias Legislativas das regiões autónomas são
apreciadas em reunião plenária.
3. É conferido a todos, pessoalmente ou através de associações de defesa dos
interesses em causa, o direito de ação popular nos casos e termos previstos na lei,
incluindo o direito de requerer para o lesado ou lesados a correspondente indemnização,
nomeadamente para:
a) Promover a prevenção, a cessação ou a perseguição judicial das infrações contra
a saúde pública, os direitos dos consumidores, a qualidade de vida, a preservação do
ambiente e do património cultural;

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b) Assegurar a defesa dos bens do Estado, das regiões autónomas e das
autarquias locais.

Artigo 62.º (Direito de propriedade privada)


1. A todos é garantido o direito à propriedade privada e à sua transmissão em
vida ou por morte, nos termos da Constituição.
2. A requisição e a expropriação por utilidade pública só podem ser efetuadas
com base na lei e mediante o pagamento de justa indemnização.

Nota 1: Sobre a requisição de imóveis, e respetiva indemnização, cf. o art.º 80.º (requisição de
imóveis) e segs. do Código das Expropriações. O art.º 61.º, n.º 2, al. j), da LOG, prevê a “requisição de
pessoal a empresas públicas ou privadas”.

Nota 2: Art.º 80.º do CE (da requisição de imóveis): “1 — Em caso de urgente necessidade e


sempre que o justifique o interesse público e nacional, podem ser requisitados bens imóveis e direitos a eles
inerentes, incluindo os estabelecimentos comerciais ou industriais, objeto de propriedade de entidades
privadas, para realização de atividades de manifesto interesse público, adequadas à natureza daqueles,
sendo observadas as garantias dos particulares e assegurado o pagamento de justa indemnização.”

CAPÍTULO II
Direitos e deveres sociais

Artigo 65.º (Habitação e urbanismo)


1. Todos têm direito, para si e para a sua família, a uma habitação de dimensão
adequada, em condições de higiene e conforto e que preserve a intimidade pessoal e
a privacidade familiar.
2. Para assegurar o direito à habitação, incumbe ao Estado:
a) Programar e executar uma política de habitação inserida em planos de
ordenamento geral do território e apoiada em planos de urbanização que garantam a
existência de uma rede adequada de transportes e de equipamento social;
b) Promover, em colaboração com as regiões autónomas e com as autarquias locais,
a construção de habitações económicas e sociais;
c) Estimular a construção privada, com subordinação ao interesse geral, e o
acesso à habitação própria ou arrendada;
d) Incentivar e apoiar as iniciativas das comunidades locais e das populações,
tendentes a resolver os respetivos problemas habitacionais e a fomentar a criação de
cooperativas de habitação e a autoconstrução.
3. O Estado adotará uma política tendente a estabelecer um sistema de renda
compatível com o rendimento familiar e de acesso à habitação própria.
4. O Estado, as regiões autónomas e as autarquias locais definem as regras de
ocupação, uso e transformação dos solos urbanos, designadamente através de
instrumentos de planeamento, no quadro das leis respeitantes ao ordenamento do
território e ao urbanismo, e procedem às expropriações dos solos que se revelem
necessárias à satisfação de fins de utilidade pública urbanística.
5. É garantida a participação dos interessados na elaboração dos instrumentos
de planeamento urbanístico e de quaisquer outros instrumentos de planeamento
físico do território.

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Nota 1: “o plano exige a justa ponderação de todos os interesses em conflito, visa a
realização do bem comum, exige um abdicar das posições individuais a favor dos interesses da
sociedade, é essencialmente execução, porque se perpetua no tempo e o tempo é sua característica
essencial” (in: SOUSA, António Francisco de, A estruturação jurídica das normas de
planificação administrativa, ..., Lisboa 1987, p. 19 e seg.

Nota 2: “As decisões de planificação caracterizam-se por serem “decisões altamente complexas”,
nas quais se procura chegar a um compromisso (ou concordância prática) entre interesses públicos e
privados, positivos e negativos, de diferente valor ou peso, passados, presentes e futuros, dados conhecidos
e meras expectativas. Por conseguinte, a decisão planificadora é “decisão de conformação”, a qual implica
realização, iniciativa, decisão própria, autorresponsabilidade” (in: SOUSA, António Francisco de, A
estruturação jurídica das normas de planificação administrativa, ..., Lisboa 1987, p. 20).

Artigo 66.º (Ambiente e qualidade de vida)


1. Todos têm direito a um ambiente de vida humano, sadio e ecologicamente
equilibrado e o dever de o defender.
2. Para assegurar o direito ao ambiente, no quadro de um desenvolvimento
sustentável, incumbe ao Estado, por meio de organismos próprios e com o envolvimento
e a participação dos cidadãos:
a) Prevenir e controlar a poluição e os seus efeitos e as formas prejudiciais de
erosão;
b) Ordenar e promover o ordenamento do território, tendo em vista uma correta
localização das atividades, um equilibrado desenvolvimento sócio-económico e a
valorização da paisagem;
c) Criar e desenvolver reservas e parques naturais e de recreio, bem como
classificar e proteger paisagens e sítios, de modo a garantir a conservação da natureza
e a preservação de valores culturais de interesse histórico ou artístico;
d) Promover o aproveitamento racional dos recursos naturais, salvaguardando
a sua capacidade de renovação e a estabilidade ecológica, com respeito pelo princípio
da solidariedade entre gerações;
e) Promover, em colaboração com as autarquias locais, a qualidade ambiental
das povoações e da vida urbana, designadamente no plano arquitetónico e da
proteção das zonas históricas;
f) Promover a integração de objetivos ambientais nas várias políticas de âmbito
sectorial;
g) Promover a educação ambiental e o respeito pelos valores do ambiente;
h) Assegurar que a política fiscal compatibilize desenvolvimento com proteção
do ambiente e qualidade de vida.

Nota 1: O princípio da solidariedade entre gerações é formulado numa Constituição alemã como
“responsabilidade perante Deus, perante a Natureza, perante a história, perante a geração atual,
perante as gerações futuras”.

Nota 2: O art.º 131.º da Constituição da Baviera de 1946/1984, estabelece: “As escolas devem transmitir
não só saber e conhecimento, mas também formar o coração e o caráter”. Como noutra oportunidade
sustentámos, “as escolas devem também formar uma consciência de responsabilidade pela natureza
e pelo meio ambiente, de respeito pelo outro, de igualdade material, de liberdade responsável,
valores que devem fazer parte dos programas escolares desde o primeiro ano” (in: “Constituição
universal como cultura — prolegómenos para um tribunal constitucional internacional para a
democracia na sociedade da informação”, 2018 (www.hot10pos.com/conveni(.29/index.htm).

Nota 3: Quanto ao n.º 2, al. d), diversas Constituições alemãs assinalam a responsabilidade perante Deus
(ou perante “a Criação”), perante a Natureza, perante a história, perante a geração atuar e perante as
gerações vindouras.

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Nota 4: A educação ambiental referida na al. g), acentua o caráter cultural do direito do ambiente. O respeito
pela natureza e pelo ambiente são valências que devem fazer parte da formação escolar desde os
primeiros anos.

Bibliografia:

KONRAD HILPERT, “Verantwortung für die Natur. Ansätze zu einer Umweltethik in der gegenwärtigen
Theologie”, 1985, in: https://epub.ub.uni-muenchen.de/4384/1/4384.pdf;
DIETER STERZEL, “Õkologie, Recht und Verfassung”, in:
htts://www.k'.nomos.de/fiIeadmin/k7doc/1 992/19921 Sterzel S 19. . df

PARTE II - Organização económica

TÍTULO I
Princípios gerais

Artigo 84.º (Domínio público)


1. Pertencem ao domínio público:
a) As águas territoriais com os seus leitos e os fundos marinhos contíguos, bem
como os lagos, lagoas e cursos de água navegáveis ou flutuáveis, com os respetivos
leitos;
b) As camadas aéreas superiores ao território acima do limite reconhecido ao
proprietário ou superficiário;
c) Os jazigos minerais, as nascentes de águas mineromedicinais, as cavidades
naturais subterrâneas existentes no subsolo, com excepção das rochas, terras
comuns e outros materiais habitualmente usados na construção;
d) As estradas;
e) As linhas férreas nacionais;
f) Outros bens como tal classificados por lei.
2. A lei define quais os bens que integram o domínio público do Estado, o
domínio público das regiões autónomas e o domínio público das autarquias locais,
bem como o seu regime, condições de utilização e limites.

Notas:
1. O domínio público é incomerciável, uma vez que está subtraído ao comércio jurídico-privado.

2. O domínio público municipal não se confunde com o domínio privado municipal; este resulta
por exclusão daquele. No domínio privado municipal não há afetação pública. As camadas abaixo e
acima do solo podem integrar o domínio privado municipal, ainda que seja pública a respetiva superfície.
O domínio privado municipal (p. ex. de subsolo) pode ser objeto de negócio jurídico-privado, por exemplo
de compra e venda.

3. À luz do direito internacional público, os Estados gozam de soberania completa e exclusiva sobre
o espaço aéreo que cobre seu território, incluindo o espaço aéreo que cobre as águas territoriais (cf. o art.º
1.º da Convenção de Chicago da Aeronáutica Civil de 7/12/1944 - aprovada por ratificação pelo DL n.º
36158, de 17/02/1947 e ratificada por Carta de 28/04/1948). Para além dos limites da atmosfera, temos o
espaço atmosférico ou espaço exterior (outer space), que é considerado espaço internacional, o qual possui
um regime idêntico ao espaço de águas internacionais do alto mar. Sobre estes aspetos, cf. os art.ºs. I, II,
III e IX, do Tratado sobre Princípios que regem as Atividades dos Estados na Exploração e Utilização do
Espaço Exterior, incluindo a Lua e Outros Corpos Celestes - anexo ao DL n.º 286/71, de 30 de junho.

4. O domínio público autárquico incide especialmente no domínio público rodoviário, no domínio


público hidráulico, mas também noutros domínios como os territórios dos cemitérios. Na falta de previsão
expressa, o domínio público pertence ao Estado (domínio público estadual).

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5. O domínio público infraestrutural rodoviário municipal abarca as vias de comunicação
públicas municipais (que compreendem as vias de circulação, o seu subsolo, o seu espaço aéreo, os passeios,
as plantas, os muros de proteção e de sustentação, os sinais de trânsito, os equipamentos urbanos em geral,
as obras de arte, os túneis e viadutos, as condutas de águas e de saneamento), as praças e os espaços verdes
associados.

6. Os caminhos vicinais, tal como os cemitérios das freguesias integram o domínio público da
freguesia.

7. Afonso R. QUEIRÓ e JOSÉ G. QUEIRÓ, concluem: “ (…) assim, nos termos do art. 1344º/1 do
Código Civil, “a propriedade de imóveis abrange o espaço aéreo correspondente à superfície, bem como o
subsolo (…)”; mas, quando está em causa a fixação dos limites do domínio público, parece ser de aceitar
que o carácter dominial ou público do direito de propriedade só se estende até onde o exigir a afectação
dominial, podendo por conseguinte vigorar um regime de direito privado quanto às camadas sobre ou
subjacentes ao solo do domínio público. Sublinhe-se, contudo, que o facto de se aceitar que, por exemplo,
o subsolo ou o espaço aéreo das vias municipais de circulação podem não estar – ou podem deixar de estar
– abrangidos pelo regime do domínio público municipal não significa naturalmente que os municípios
deixem de ser proprietários daquelas camadas sub ou sobrejacentes. O que sucede é que, nessa hipótese,
em relação a tais volumes, eles passam então a ser proprietários no regime do direito privado”. “Os volumes
sub e sobrejacentes às coisas dominiais só devem, portanto, considerar-se sujeitos ao regime de propriedade
pública na estrita medida em que esse regime seja necessário à realização da correspondente afectação.
Onde cessarem as exigências dessa afectação, aí cessam também os limites da propriedade pública” (in:
Propriedade pública e direitos reais de uso público do domínio da circulação urbana.)

8. Ac. do TCAN de 26.3.2009 (proc. (00949/06.7BECBR), no qual se lê: “I. Existe, sem margem
para dúvidas, um domínio público autárquico e, em especial, um domínio público municipal, tanto para
mais que a sua existência é assumida e afirmada em vários diplomas legais e aceite pela doutrina. II. No
âmbito do nosso ordenamento existe efectivamente apenas um domínio público aéreo estadual ou
nacional, não havendo um domínio público aéreo municipal constituído ou correspondente aos
respectivos limites territoriais e que comece para lá da altitude onde o interesse dos proprietários já não
chegue. III. Não se pode concluir, todavia, que os municípios não sejam detentores de espaço aéreo
sobrejacente ao seu domínio público, mormente, ao domínio público rodoviário e que sobre esse espaço
os mesmos não possam ou não devam exercer seus poderes de administração, efectivando dessa forma seus
direitos e interesses. IV. Tal é reconhecido pelo próprio legislador ordinário [cfr. art. 19.º, als. b) e c) da
Lei n.º 42/98, de 06/08 - LFL à data dos factos vigente] quando afirma a sua existência e a confere tais
poderes aos municípios. V. Constitui “questão fiscal” para a qual são competentes os tribunais tributários
o apurar se assiste ao Município o direito a exigir de determinados sujeitos o pagamento de certa quantia,
acrescida de juros moratórios, devida a título de taxas pela utilização/ocupação do espaço público aéreo
nos termos decorrentes do Regulamento de Taxas e Licenças daquele Município.”

9. Segundo Menezes Cordeiro, o domínio público “… começa para lá da altitude onde o interesse
do proprietário já não chega …” (in: ob. cit., pág. 67). No mesmo sentido, Marcello Caetano in: “Manual
de Direito Administrativo”, Vol. II, 10.ª edição, pág. 906.

TÍTULO II
Planos

Artigo 90.º (Objectivos dos planos)


Os planos de desenvolvimento económico e social têm por objetivo promover o
crescimento económico, o desenvolvimento harmonioso e integrado de sectores e
regiões, a justa repartição individual e regional do produto nacional, a coordenação da
política económica com as políticas social, educativa e cultural, a defesa do mundo
rural, a preservação do equilíbrio ecológico, a defesa do ambiente e a qualidade de
vida do povo português.

Artigo 91.º (Elaboração e execução dos planos)


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1. Os planos nacionais são elaborados de harmonia com as respetivas leis das
grandes opções, podendo integrar programas específicos de âmbito territorial e de
natureza sectorial.
2. (…)
3. A execução dos planos nacionais é descentralizada, regional e
sectorialmente.

TÍTULO III
Políticas agrícola, comercial e industrial

Artigo 93.º (Objetivos da política agrícola)


1. (…)
2. O Estado promoverá uma política de ordenamento e reconversão agrária e
de desenvolvimento florestal, de acordo com os condicionalismos ecológicos e sociais
do país.

Artigo 99.º (Objetivos da política comercial)


São objetivos da política comercial:

e) A proteção dos consumidores.

Competência da Assembleia da República


Artigo 165.º (Reserva relativa de competência legislativa)
1. É da exclusiva competência da Assembleia da República legislar sobre as
seguintes matérias, salvo autorização ao Governo:
e) Regime geral da requisição e da expropriação por utilidade pública;
g) Bases do sistema de proteção da natureza, do equilíbrio ecológico e do
património cultural;
l) Meios e formas de intervenção, expropriação, nacionalização e privatização
dos meios de produção e solos por motivo de interesse público, bem como critérios
de fixação, naqueles casos, de indemnizações;
v) Definição e regime dos bens do domínio público;
z) Bases do ordenamento do território e do urbanismo;

Lei Orgânica do Governo


D.L. 169-B/2019, de 3 de dezembro

Regime da organização e funcionamento do XXII Governo Constitucional.

O presente decreto-lei aprova o regime de organização e funcionamento do XXII


Governo Constitucional, adotando a estrutura adequada ao cumprimento das prioridades
enunciadas no seu Programa.
Para cumprir essas prioridades, transversais a diversas áreas de governação, torna-
se necessário um Governo colaborativo, o que se traduz, de igual modo, numa atribuição
da gestão de cada um dos desafios estratégicos identificados no Programa do Governo -
alterações climáticas, demografia, desigualdades e sociedade digital, da criatividade e da
inovação - a distintos membros do Governo com a função de assegurar que todas as áreas

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governativas colaboram na elaboração dos programas de ação, que neles participam
ativamente e que o ritmo da sua execução corresponde à programação antecipada.
Por outro lado, os desafios da Presidência do Conselho da União Europeia, que
Portugal exercerá no 1.º semestre de 2021, e a ambição do Programa do Governo, levam
a necessidades acrescidas de coordenação da ação governativa que obrigam ao reforço do
centro do Governo, com a inclusão de quatro Ministros de Estado.
A importância da colaboração manifesta-se, também, na previsão do exercício
conjunto ou coordenado de poderes administrativos (de direção, de superintendência e de
tutela), que são partilhados por vários membros do Governo, em função das suas áreas de
intervenção.
Verificam-se, então, algumas alterações na composição do executivo que refletem
não apenas a organização mais adequada à execução do programa, e que inclui áreas e
programas transversais a várias áreas governativas, mas também a resposta às exigências
particulares desta legislatura.
No presente regime é espelhada, igualmente, a função reguladora do procedimento
legislativo e da articulação entre as/os que nele intervêm, com vista a estabelecer uma
calendarização precisa das iniciativas legislativas indispensáveis ao cumprimento do
Programa do XXII Governo Constitucional para a XIV Legislatura.
Reforça-se a avaliação prévia e o controlo de criação de novos custos
administrativos para os cidadãos e para as empresas, alargando-se o âmbito a impactos
não económicos.
Retoma-se a concentração da deliberação sobre atos legislativos numa só reunião
mensal do Conselho de Ministros e a garantia de que nenhum ato legislativo é
definitivamente aprovado sem que seja acompanhado da regulamentação indispensável à
sua aplicação efetiva, na data da respetiva entrada em vigor.
Retoma-se, tendo em vista a transposição tempestiva de atos normativos de Direito
da União Europeia, um mecanismo de coordenação e de monitorização assente na
articulação entre os vários departamentos governamentais, desde a fase prévia de
negociação de atos normativos da União Europeia até à fase da sua transposição.
Retoma-se, igualmente, uma estratégia de desmaterialização do procedimento
legislativo e decisório do Governo, através do recurso às tecnologias de informação e a
mecanismos eletrónicos automatizados de tramitação, incluindo a possibilidade de
tomada de deliberações eletronicamente formalizadas.
Retoma-se, por fim, salvo situações de excecional interesse público, de necessidade
de regulação de situações de emergência ou de cumprimento de obrigações
internacionais, a necessidade dos atos normativos que alterem o enquadramento jurídico
das empresas apenas poderem entrar em vigor, semestralmente, a 1 de janeiro ou a 1 de
julho de cada ano.
Recupera-se a enunciação de regras de legística a observar no processo legislativo
do Governo, visando garantir a qualidade normativa e linguística dos textos aprovados
pelo Governo, sem prejuízo da aprovação, no decorrer da legislatura, de um código de
legística comum a todas as instituições com poderes legislativos.
Assim:
Nos termos do n.º 2 do artigo 198.º da Constituição, o Governo decreta o seguinte:

TÍTULO I
Organização do Governo

CAPÍTULO I
Estrutura do Governo

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Artigo 1.º
Composição

1 - O Governo é constituído pelo Primeiro-Ministro, pelas/os ministras/os e pelas/os


secretárias/os de Estado.
2 - São órgãos colegiais do Governo o Conselho de Ministros e a reunião de Secretárias/os
de Estado.

Artigo 2.º
Ministras/os
Integram o Governo as/os seguintes ministras/os:
a) Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital;
b) Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros;
c) Ministra de Estado e da Presidência;
d) Ministro de Estado e das Finanças;
e) Ministro da Defesa Nacional;
f) Ministro da Administração Interna;
g) Ministra da Justiça;
h) Ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública;
i) Ministro do Planeamento;
j) Ministra da Cultura;
k) Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior;
l) Ministro da Educação;
m) Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social;
n) Ministra da Saúde;
o) Ministro do Ambiente e da Ação Climática;
p) Ministro das Infraestruturas e da Habitação;
q) Ministra da Coesão Territorial;
r) Ministra da Agricultura;
s) Ministro do Mar.

Artigo 3.º
Secretárias/os de Estado
1 - O Primeiro-Ministro é coadjuvado no exercício das suas funções pelo Secretário de
Estado dos Assuntos Parlamentares e pelo Secretário de Estado Adjunto do Primeiro-
Ministro.
2 - O Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital é coadjuvado no exercício
das suas funções pelo Secretário de Estado Adjunto e da Economia, pela Secretária de
Estado do Turismo, pelo Secretário de Estado do Comércio, Serviços e Defesa do
Consumidor e pelo Secretário de Estado para a Transição Digital.
3 - O Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros é coadjuvado no exercício das suas
funções pela Secretária de Estado dos Assuntos Europeus, pelo Secretário de Estado dos
Negócios Estrangeiros e da Cooperação, pela Secretária de Estado das Comunidades
Portuguesas e pelo Secretário de Estado da Internacionalização.
4 - A Ministra de Estado e da Presidência é coadjuvada no exercício das suas funções
pelo Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, pela Secretária de
Estado para a Cidadania e a Igualdade e pela Secretária de Estado para a Integração e as
Migrações.

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5 - O Ministro de Estado e das Finanças é coadjuvado no exercício das suas funções pelo
Secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Fiscais, pelo Secretário de Estado do
Orçamento, pelo Secretário de Estado das Finanças e pelo Secretário de Estado do
Tesouro.
6 - O Ministro da Defesa Nacional é coadjuvado no exercício das suas funções pelo
Secretário de Estado Adjunto e da Defesa Nacional e pela Secretária de Estado de
Recursos Humanos e Antigos Combatentes.
7 - O Ministro da Administração Interna é coadjuvado no exercício das suas funções pelo
Secretário de Estado Adjunto e da Administração Interna e pela Secretária de Estado da
Administração Interna.
8 - A Ministra da Justiça é coadjuvada no exercício das suas funções pelo Secretário de
Estado Adjunto e da Justiça e pela Secretária de Estado da Justiça.
9 - A Ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública é coadjuvada no
exercício das suas funções pela Secretária de Estado da Inovação e da Modernização
Administrativa, pelo Secretário de Estado da Administração Pública e pelo Secretário de
Estado da Descentralização e da Administração Local.
10 - O Ministro do Planeamento é coadjuvado no exercício das suas funções pelo
Secretário de Estado do Planeamento.
11 - A Ministra da Cultura é coadjuvada no exercício das suas funções pela Secretária de
Estado Adjunta e do Património Cultural e pelo Secretário de Estado do Cinema,
Audiovisual e Media.
12 - O Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior é coadjuvado no exercício das
suas funções pelo Secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
13 - O Ministro da Educação é coadjuvado no exercício das suas funções pelo Secretário
de Estado Adjunto e da Educação, pela Secretária de Estado da Educação e pelo
Secretário de Estado da Juventude e do Desporto.
14 - A Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social é coadjuvada no exercício
das suas funções pelo Secretário de Estado Adjunto, do Trabalho e da Formação
Profissional, pelo Secretário de Estado da Segurança Social, pela Secretária de Estado da
Inclusão das Pessoas com Deficiência e pela Secretária de Estado da Ação Social.
15 - A Ministra da Saúde é coadjuvada no exercício das suas funções pelo Secretário de
Estado Adjunta e da Saúde e pelo Secretário de Estado da Saúde.
16 - O Ministro do Ambiente e da Ação Climática é coadjuvado no exercício das suas
funções pelo Secretário de Estado Adjunto e da Energia, pela Secretária de Estado do
Ambiente, pelo Secretário de Estado da Conservação da Natureza, das Florestas e do
Ordenamento do Território e pelo Secretário de Estado da Mobilidade.
17 - O Ministro das Infraestruturas e da Habitação é coadjuvado no exercício das suas
funções pelo Secretário de Estado Adjunto e das Comunicações, pelo Secretário de Estado
das Infraestruturas e pela Secretária de Estado da Habitação.
18 - A Ministra da Coesão Territorial é coadjuvada no exercício das suas funções pelo
Secretário de Estado Adjunto e do Desenvolvimento Regional e pela Secretária de Estado
da Valorização do Interior.
19 - A Ministra da Agricultura é coadjuvada no exercício das suas funções pelo Secretário
de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Rural.
20 - O Ministro do Mar é coadjuvado no exercício das suas funções pela Secretária de
Estado das Pescas.
21 - As/Os Secretárias/os de Estado referidos no n.º 2 do artigo seguinte ordenam-se nos
termos aí indicados, seguindo-se os demais pela ordem indicada no presente artigo.

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Artigo 4.º
Composição do Conselho de Ministros
1 - O Conselho de Ministros é constituído pelo Primeiro-Ministro, que preside, e pelas/os
ministras/os.
2 - Salvo determinação em contrário do Primeiro-Ministro, participam nas reuniões do
Conselho de Ministros, sem direito a voto, o Secretário de Estado dos Assuntos
Parlamentares, o Secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro e o Secretário de
Estado da Presidência do Conselho de Ministros.
3 - Podem também participar nas reuniões do Conselho de Ministros, sem direito de voto,
as/os secretárias/os de Estado que venham, em cada caso, a ser convocadas/os por
indicação do Primeiro-Ministro.
4 - O chefe do gabinete do Primeiro-Ministro pode assistir às reuniões do Conselho de
Ministros.
5 - Salvo indicação em contrário do Primeiro-Ministro, este é substituído, no exercício
das suas funções de presidência e de coordenação, durante as suas ausências ou
impedimentos, pelo ministro que não se encontre ausente ou impedido, de acordo com a
ordem estabelecida no artigo 2.º
6 - Cada ministra/o é substituída/o, nas suas ausências ou impedimentos, pela/o
secretária/o de Estado que indicar ao Primeiro-Ministro, através de comunicação
eletrónica dirigida ao Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros.

Artigo 5.º
Composição das reuniões de Secretárias/os de Estado
1 - As reuniões de Secretárias/os de Estado são presididas pela Ministra de Estado e da
Presidência ou, na sua ausência e impedimento, pelo Secretário de Estado da Presidência
do Conselho de Ministros.
2 - Participam nas reuniões de Secretárias/os de Estado:
a) O Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares;
b) O Secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro;
c) O Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, que coadjuva a
Ministra de Estado e da Presidência nas mesmas;
d) Uma/um secretária/o de Estado em representação de cada ministro.
3 - Podem também participar nas reuniões de Secretárias/os de Estado, sem direito a voto,
outras/os secretárias/os de Estado que, pela natureza da matéria agendada, sejam
convocadas/os pela Ministra de Estado e da Presidência.
4 - Podem assistir às reuniões de Secretárias/os de Estado:
a) Um membro do gabinete do Primeiro-Ministro;
b) Um membro do gabinete da Ministra de Estado e da Presidência;
c) Um membro do gabinete do Secretário de Estado da Presidência do Conselho de
Ministros.
5 - O Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, o Secretário de Estado Adjunto
do Primeiro-Ministro e o Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros
são substituídos nas reuniões de Secretárias/os de Estado, nas suas ausências ou
impedimentos, pelas/os respetivas/os chefes dos gabinetes, exceto para os efeitos do n.º
1 do presente artigo.

Artigo 6.º
Cartões de identificação
Aos membros do Governo é atribuído um documento de identificação e de livre-trânsito
próprio, de modelo a aprovar por portaria do Primeiro-Ministro.

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CAPÍTULO II
Competência dos membros do Governo

Artigo 7.º
Competência do Primeiro-Ministro

1 - O Primeiro-Ministro possui a competência própria que lhe é conferida pela


Constituição e pela lei e a competência delegada pelo Conselho de Ministros.
2 - O Primeiro-Ministro exerce, ainda, os poderes relativos aos serviços, organismos,
entidades e estruturas compreendidos na Presidência do Conselho de Ministros que não
se encontrem atribuídas às/aos demais ministras/os que a integram.
3 - O Primeiro-Ministro pode delegar em qualquer membro do Governo, com faculdade
de subdelegação, a competência relativa aos serviços, organismos, entidades e estruturas
dele dependentes, nos termos da lei, bem como a que legalmente lhe seja conferida no
domínio dos assuntos correntes da Administração Pública.
4 - A competência atribuída por lei ao Conselho de Ministros, no âmbito dos assuntos
correntes da Administração Pública, considera-se delegada no Primeiro-Ministro, com
faculdade de subdelegação em qualquer membro do Governo.

Artigo 8.º
Ausências e impedimentos do Primeiro-Ministro
O Primeiro-Ministro, salvo sua indicação em contrário, é substituído na sua ausência ou
impedimento pela/o ministra/o que não se encontre ausente ou impedido, de acordo com
a ordem estabelecida no artigo 2.º, sendo a substituição comunicada ao Presidente da
República, nos termos do n.º 1 do artigo 185.º da Constituição.

Artigo 9.º
Competência das/os ministras/os
1 - As/Os ministras/os possuem a competência própria que a lei lhes atribui e a
competência que, nos termos da lei, lhes seja delegada pelo Conselho de Ministros ou
pelo Primeiro-Ministro.
2 - A Ministra de Estado e da Presidência exerce, ainda, as competências conferidas no
título ii do presente decreto-lei, podendo delegá-las no Secretário de Estado da
Presidência do Conselho de Ministros.
3 - As/Os ministras/os podem delegar nas/os secretárias/os de Estado que os coadjuvam,
com faculdade de subdelegação, a competência relativa aos serviços, organismos,
entidades e estruturas deles dependentes.
4 - As/Os ministras/os podem delegar nas/os secretárias/os-gerais dos respetivos
ministérios as competências relativas à prática dos atos necessários à adoção dos
instrumentos de mobilidade ou à celebração dos contratos previstos na lei, relativos ao
exercício de funções de apoio técnico e administrativo nos respetivos gabinetes, bem
como para autorizar a realização de despesas por conta do orçamento do respetivo
gabinete, até ao limite previsto na alínea a) do n.º 1 do artigo 17.º do Decreto-Lei n.º
197/99, de 8 de junho, na sua redação atual.

Artigo 10.º
Ausências e impedimentos das/os ministras/os
Cada ministra/o é substituída/o na sua ausência ou impedimento pela/o secretária/o de
Estado que indicar ao Primeiro-Ministro ou, na falta de tal indicação, pelo membro do

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Governo que o Primeiro-Ministro designar, nos termos do n.º 2 do artigo 185.º da
Constituição.

Artigo 11.º
Competência das/os secretárias/os de Estado
1 - As/Os secretárias/os de Estado não dispõem de competência própria, exceto no que se
refere aos respetivos gabinetes, e exercem, em cada caso, a competência que neles seja
delegada pelo Primeiro-Ministro ou pela/o ministra/o respetiva/o.
2 - As/Os secretárias/os de Estado podem no que se refere aos respetivos gabinetes
delegar nas/os secretárias/os-gerais dos respetivos ministérios as competências relativas
à prática dos atos necessários à adoção dos instrumentos de mobilidade ou à celebração
dos contratos previstos na lei, relativos ao exercício de funções de apoio técnico e
administrativo nos respetivos gabinetes, bem como para autorizar a realização de
despesas por conta do orçamento do respetivo gabinete, até ao limite previsto na alínea a)
do n.º 1 do artigo 17.º do Decreto-Lei n.º 197/99, de 8 de junho, na sua redação atual.

Artigo 12.º
Desafios estratégicos
1 - O Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital tem por missão acompanhar
a execução das medidas de caráter interministerial de execução do Programa do Governo
relativas à transição digital, que articula com o Ministro de Estado e das Finanças, com a
Ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública, com o Ministro da
Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, com o Ministro da Educação, com a Ministra do
Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, com o Ministro das Infraestruturas e da
Habitação e com a Ministra da Coesão Territorial.
2 - A Ministra de Estado e da Presidência tem por missão coordenar e acompanhar a
execução das medidas de caráter interministerial de execução do Programa do Governo
relativas à demografia, que articula com o Ministro de Estado e dos Negócios
Estrangeiros, com o Ministro de Estado e das Finanças, com o Ministro da Administração
Interna, com a Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, com a Ministra
da Saúde, com o Ministro das Infraestruturas e da Habitação, com a Ministra da Coesão
Territorial, e, bem como relativas às desigualdades, que articula com o Ministro de Estado
e das Finanças, com o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, com o Ministro
da Educação, com a Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, com a
Ministra da Saúde, com o Ministro das Infraestruturas e da Habitação e com a Ministra
da Coesão Territorial.
3 - O Ministro do Ambiente e da Ação Climática tem por missão acompanhar as medidas
de caráter interministerial de execução do Programa do Governo relativas à ação
climática, que articula com o Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital,
com o Ministro de Estado e das Finanças, com o Ministro da Administração Interna, com
o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, com o Ministro das Infraestruturas
e da Habitação, com a Ministra da Coesão Territorial, com a Ministra da Agricultura e
com o Ministro do Mar.
4 - O acompanhamento a que se referem os números anteriores compreende:
a) O acompanhamento da execução do Programa do Governo;
b) Promover o envolvimento da sociedade civil no debate em torno dos desafios
estratégicos enunciados no Programa do Governo;
c) A criação de modelos de indicadores de acompanhamento das áreas a que
correspondem os desafios estratégicos enunciados no Programa do Governo.

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CAPÍTULO III
Orgânica do Governo

Artigo 13.º
Presidência do Conselho de Ministros
1 - A Presidência do Conselho de Ministros é o departamento central do Governo que tem
por missão prestar apoio ao Conselho de Ministros, ao Primeiro-Ministro e aos demais
membros do Governo aí organicamente integrados e promover a coordenação
interministerial dos diversos departamentos governamentais.
2 - A Presidência do Conselho de Ministros integra os seguintes membros do Governo:
a) Ministra de Estado e da Presidência;
b) Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares;
c) Secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro;
d) Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros;
e) Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade;
f) Secretária de Estado para a Integração e as Migrações.
3 - A Presidência do Conselho de Ministros compreende os seguintes serviços,
organismos, entidades e estruturas:
a) O Gabinete Nacional de Segurança;
b) A Secretaria-Geral da Presidência do Conselho de Ministros;
c) O Centro de Competências Jurídicas do Estado;
d) O Centro de Gestão da Rede Informática do Governo;
e) O Instituto Nacional de Estatística, I. P.;
f) A Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género;
g) O Alto Comissariado para as Migrações, I. P.;
h) A Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais, I. P;
i) Centro de Competências de Planeamento, de Políticas e de Prospetiva da Administração
Pública (PlanAPP).
4 - Os serviços, organismos, entidades e estruturas integrados na Presidência do Conselho
de Ministros dependem do Primeiro-Ministro, salvo disposição legal em contrário e sem
prejuízo do disposto nos números seguintes, podendo a respetiva competência ser
delegada na Ministra de Estado e da Presidência ou nos demais membros do Governo
integrados na Presidência do Conselho de Ministros, que as podem subdelegar.
5 - A competência prevista no número anterior, no que refere ao PlanAPP, pode ainda ser
delegada no Ministro do Planemento, que a pode subdelegar.
6 - A Presidência do Conselho de Ministros assegura o apoio aos serviços dependentes
do Primeiro-Ministro, nos termos do respetivo diploma orgânico.
7 - A Presidência do Conselho de Ministros assegura o apoio aos serviços dependentes
da Ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública, do Ministro do
Planeamento, da Ministra da Cultura, do Ministro das Infraestruturas e da Habitação e da
Ministra da Coesão Territorial.

Artigo 14.º
Economia e Transição Digital
1 - O Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital tem por missão formular,
conduzir, executar e avaliar as políticas de desenvolvimento dirigidas ao crescimento da
economia, da competitividade, do investimento e da inovação, à internacionalização das
empresas, à promoção da indústria, do comércio, dos serviços e do turismo, à defesa dos
consumidores e à transição digital.

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2 - O Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital tem por missão acompanhar
a execução das medidas de caráter interministerial de execução do Programa do Governo
relativas à transição digital, nos termos do n.º 1 do artigo 12.º
3 - O Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital exerce a direção sobre:
a) A Secretaria-Geral da Economia;
b) O Gabinete de Estratégia e Estudos;
c) A Direção-Geral das Atividades Económicas;
d) A Direção-Geral do Consumidor;
e) A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica.
4 - O Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital exerce a superintendência
e tutela sobre:
a) O IAPMEI - Agência para a Competitividade e Inovação, I. P.;
b) O Instituto do Turismo de Portugal, I. P.;
c) O Instituto Português da Qualidade, I. P.;
d) O Instituto Português de Acreditação, I. P.;
e) O Conselho Nacional para o Empreendedorismo e a Inovação;
f) A Comissão Permanente de Apoio ao Investidor;
g) As Entidades Regionais de Turismo.
5 - O Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital é responsável, em
coordenação com o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e com a Ministra
do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, pelo programa «Iniciativa Nacional
Competências Digitais e.2030 - INCoDe.2030».
6 - O Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, conjuntamente com o
Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, exerce a superintendência e tutela,
nas matérias da sua competência, sobre a ANI - Agência Nacional de Inovação, S. A.
7 - O Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital exerce a superintendência
e tutela sobre a IFD - Instituição Financeira de Desenvolvimento, S. A., em coordenação
com o Ministro de Estado e das Finanças.
8 - Compete ao Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, sem prejuízo
dos poderes legalmente conferidos ao Conselho de Ministros e a outros membros do
Governo, promover, atrair e acompanhar a execução de investimentos nacionais e
estrangeiros, bem como a promoção de reuniões de coordenação de assuntos económicos
e de investimento, visando a coordenação e o acompanhamento dos assuntos de caráter
setorial com implicações na esfera económica e no investimento e o favorecimento da
concretização célere de projetos de investimento relevantes, em coordenação com o
Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros e com a Ministra da Modernização do
Estado e da Administração Pública.
9 - Sem prejuízo dos poderes legalmente conferidos ao Conselho de Ministros e ao
Ministro de Estado e das Finanças, o Ministro de Estado, da Economia e da Transição
Digital exerce as competências que lhe são conferidas por lei sobre as entidades do setor
empresarial do Estado, no domínio das matérias referidas nos n.º s 1 e 2.
10 - O Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital exerce ainda os poderes
que lhe são conferidos pelo n.º 4 do artigo 15.º, pelo n.º 5 do artigo 20.º, pelo n.º 10 do
artigo 24.º, pelo n.º 6 do artigo 25.º, pelos n.º s 6 e 7 do artigo 26.º e pelo n.º 15 do artigo
32.º

Artigo 15.º
Negócios Estrangeiros
1 - O Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros tem por missão formular, conduzir,
executar e avaliar a política externa e europeia do país, bem como coordenar e apoiar os

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demais ministros no âmbito da dimensão externa e da dimensão europeia das respetivas
competências.
2 - O Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros exerce a direção sobre:
a) A Secretaria-Geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros;
b) A Direção-Geral de Política Externa;
c) A Inspeção-Geral Diplomática e Consular;
d) A Direção-Geral dos Assuntos Europeus;
e) A Direção-Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas;
f) As Embaixadas;
g) As missões e representações permanentes e missões temporárias;
h) Os postos consulares.
3 - O Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros exerce a superintendência e tutela
sobre:
a) O Fundo para as Relações Internacionais, I. P.;
b) O Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, I. P.
4 - O Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros exerce a superintendência e tutela
sobre a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, E. P. E., em
coordenação com o Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital.
5 - O Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros assegura o funcionamento da
Comissão Interministerial de Limites e Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas, em
coordenação com o Ministro do Ambiente e da Ação Climática e o Ministro do Mar.
6 - Compete ao Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, conjuntamente com o
Ministro do Mar, a coordenação intersetorial da participação nacional nos organismos
europeus e internacionais responsáveis pela definição e pela monitorização das políticas
marítimas.
7 - O Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros exerce ainda os poderes que lhe
são conferidos pelos n.º s 8 e 9 do artigo 16.º, pelo n.º 1 do artigo 23.º e pelo n.º 2 do
artigo 32.º
Artigo 16.º
Presidência
1 - A Ministra de Estado e da Presidência tem por missão exercer as competências que
lhe são delegadas pelo Primeiro-Ministro, em matéria de preparação, convocação e
coordenação do Conselho de Ministros e da reunião de Secretárias/os de Estado,
promover a coordenação interministerial dos diversos departamentos governamentais,
bem como formular, conduzir, executar e avaliar uma política global e coordenada nas
áreas da cidadania e da igualdade, incluindo a área da prevenção e combate à violência
contra as mulheres e à violência doméstica, e nas áreas das migrações.
2 - A Ministra de Estado e da Presidência tem por missão coordenar e acompanhar
execução das medidas de caráter interministerial de execução do Programa do Governo
relativas à demografia e às desigualdades, nos temos do n.º 2 do artigo 12.º
3 - A Ministra de Estado e da Presidência exerce a direção sobre:
a) A Secretaria-Geral da Presidência do Conselho de Ministros, sem prejuízo das
competências da Ministra da Cultura na área da comunicação social;
b) O Centro de Gestão da Rede Informática do Governo;
c) A Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género.
4 - A Ministra de Estado e da Presidência exerce a superintendência e tutela sobre:
a) O Instituto Nacional de Estatística, I. P.;
b) O Alto Comissariado para as Migrações, I. P.
5 - A Ministra de Estado e da Presidência exerce a superintendência sobre a Imprensa
Nacional-Casa da Moeda, S. A., no que diz respeito ao serviço público de edição do

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Diário da República, sem prejuízo da superintendência do Ministro de Estado e das
Finanças quanto aos demais domínios.
6 - A Ministra de Estado e da Presidência exerce, conjuntamente com a Ministra do
Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, a superintendência e tutela sobre a Comissão
para a Igualdade no Trabalho e no Emprego no que concerne à promoção da igualdade e
da não discriminação entre homens e mulheres no trabalho e no emprego, à promoção do
Diálogo Social, à promoção e elaboração de estudos, à formação e à cooperação nacional
e internacional com entidades públicas e privadas em ações e projetos afins com a
respetiva missão, e em coordenação nas restantes atribuições da referida Comissão.
7 - A Ministra de Estado e da Presidência, conjuntamente com a Ministra do Trabalho,
Solidariedade e Segurança Social, exerce a superintendência e tutela, no que diz respeito
às matérias de demografia e desigualdade, sobre o Conselho Nacional para as Políticas
de Solidariedade, Voluntariado, Família, Reabilitação e Segurança Social.
8 - A Ministra de Estado e da Presidência coordena a conceção, adoção e execução das
novas soluções procedimentais e organizacionais, podendo preparar e apresentar atos
normativos ao Conselho de Ministros, em matéria de concessão de vistos, de autorizações
de residência e de nacionalidade, tendo em vista a promoção de políticas de integração de
imigrantes, em articulação com o Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, com
o Ministro da Administração Interna, com a Ministra da Justiça e com a Ministra do
Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.
9 - A Ministra de Estado e da Presidência coordena a política de acolhimento e integração
de requerentes e beneficiários de proteção internacional, em articulação com o Ministro
de Estado e dos Negócios Estrangeiros, com o Ministro da Administração Interna e com
a Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.

Artigo 17.º
Finanças
1 - O Ministro de Estado e das Finanças tem por missão formular, conduzir, executar e
avaliar a política financeira do Estado, promovendo a gestão racional dos recursos
públicos, o aumento da eficiência e equidade na sua obtenção e gestão.
2 - O Ministro de Estado e das Finanças exerce a direção sobre:
a) A Secretaria-Geral do Ministério das Finanças;
b) O Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais;
c) A Inspeção-Geral de Finanças;
d) A Direção-Geral do Orçamento;
e) A Direção-Geral do Tesouro e Finanças;
f) A Autoridade Tributária e Aduaneira.
3 - O Ministro de Estado e das Finanças exerce a superintendência e tutela sobre o
Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público, I. P.;
4 - Sem prejuízo dos poderes legalmente conferidos ao Conselho de Ministros e a outros
membros do Governo, o Ministro de Estado e das Finanças exerce as competências que
lhe são atribuídas por lei sobre as demais entidades do setor empresarial do Estado.
5 - Compete ao Ministro de Estado e das Finanças, sem prejuízo dos poderes conferidos
por lei ao Conselho de Ministros, quando estejam em causa empresas participadas, definir
as orientações da PARPÚBLICA - Participações Públicas (SGPS), S. A., bem como
acompanhar a sua execução, em coordenação com o membro do Governo competente em
razão da matéria.
6 - O Ministro de Estado e das Finanças exerce a superintendência e tutela sobre a
Entidade de Serviços Partilhados da Administração Pública, I. P., em coordenação com a
Ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública, com exceção das

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competências a esta especificamente atribuídas nos termos do disposto no n.º 5 do artigo
21.º
7 - O Ministro das Finanças exerce a superintendência e tutela sobre a Imprensa Nacional-
Casa da Moeda, S. A., sem prejuízo da superintendência da Ministra de Estado e da
Presidência no que se refere ao serviço público de edição do Diário da República.
8 - O Ministro de Estado e das Finanças exerce a direção sobre a Inspeção-Geral das
Finanças, em coordenação com a Ministra da Modernização do Estado e da
Administração Pública no âmbito do controlo e avaliação dos serviços públicos nas áreas
de organização, funcionamento, gestão e recursos humanos e no âmbito do exercício da
tutela inspetiva sobre as autarquias locais, as demais formas de organização territorial
autárquica e o setor empresarial local.
9 - O Ministro de Estado e das Finanças, conjuntamente com a Ministra da Saúde, exerce
a tutela sobre o Serviço de Utilização Comum dos Hospitais.
10 - O Ministro de Estado e das Finanças assegura a coordenação e gestão do Programa
de Remoção do Amianto, em articulação com as demais áreas governativas.
11 - Dependem, ainda, do Ministro de Estado e das Finanças a Unidade Técnica de
Acompanhamento e Monitorização do Setor Público Empresarial e a Unidade Técnica de
Acompanhamento de Projetos.
12 - O Ministro de Estado e das Finanças exerce ainda os poderes que lhe são conferidos
pelo n.º 7 do artigo 14.º, pelo n.º 6 do artigo 21.º, pelo n.º 8 do artigo 26.º, pelo n.º 6 do
artigo 31.º e pelo n.º 7 do artigo 32.º

Artigo 18.º
Defesa Nacional
1 - O Ministro da Defesa Nacional tem por missão formular, conduzir, executar e avaliar
a política de defesa nacional no âmbito das competências que lhe são conferidas pela Lei
de Defesa Nacional, bem como assegurar e fiscalizar a administração das Forças Armadas
e dos demais serviços, organismos, entidades e estruturas nele integrados.
2 - O Ministro da Defesa Nacional exerce a direção sobre:
a) O Estado-Maior-General das Forças Armadas;
b) Os ramos das Forças Armadas - Marinha, Exército e Força Aérea;
c) A Secretaria-Geral do Ministério da Defesa Nacional;
d) A Inspeção-Geral da Defesa Nacional;
e) A Direção-Geral de Política de Defesa Nacional;
f) A Direção-Geral de Recursos da Defesa Nacional;
g) O Instituto da Defesa Nacional;
h) A Polícia Judiciária Militar.
3 - O Ministro da Defesa Nacional exerce a superintendência e tutela sobre o Instituto de
Ação Social das Forças Armadas, I. P.
4 - O Ministro da Defesa Nacional exerce a tutela sobre a Liga dos Combatentes.
5 - O Ministro da Defesa Nacional exerce a tutela sobre as instituições de ensino superior
militar, em coordenação com o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior no que
respeita às matérias de ensino e investigação.
6 - Compete ao Ministro da Defesa Nacional, conjuntamente com o Ministro do Mar, no
âmbito das respetivas competências, definir as orientações estratégicas para a Autoridade
Marítima Nacional e coordenar a execução dos poderes de autoridade marítima nos
espaços de jurisdição e no quadro de atribuições do Sistema da Autoridade Marítima.
7 - Compete ao Ministro da Defesa Nacional definir as orientações estratégicas para o
Instituto Hidrográfico, bem como fixar objetivos e acompanhar a sua execução, em

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coordenação com o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e com o Ministro
do Mar.
8 - O Ministro da Defesa Nacional conduz a atividade interministerial de planeamento
civil de emergência, em matérias da sua competência e, especificamente, no que respeita
às relações com a Organização do Tratado do Atlântico Norte, em coordenação com o
Ministro da Administração Interna.
9 - O Ministro da Defesa Nacional exerce ainda os poderes que lhe são conferidos pelo
n.º 10 do artigo 24.º e pelo n.º 13 do artigo 32.º

Artigo 19.º
Administração Interna

1 - O Ministro da Administração Interna tem por missão formular, conduzir, executar e


avaliar as políticas de segurança interna, do controlo de fronteiras, de proteção e socorro,
de planeamento civil de emergência, de segurança rodoviária e de administração eleitoral.
2 - O Ministro da Administração Interna exerce a direção sobre:
a) As forças de segurança;
b) O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras;
c) A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil;
d) A Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária;
e) A Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna;
f) A Inspeção-Geral da Administração Interna.
3 - O Ministro da Administração Interna exerce a direção e o desenvolvimento da Rede
Nacional de Segurança Interna, disponibilizada às Forças e Serviços de Segurança e
restantes organismos do Ministério da Administração Interna, e da Rede de Emergência
e Segurança de Portugal.
4 - O Ministro da Administração Interna exerce a tutela sobre o Instituto Superior de
Ciências Policiais e de Segurança Interna, em coordenação com o Ministro da Ciência,
Tecnologia e Ensino Superior no que respeita às matérias de ensino e investigação.
5 - O Ministro da Administração Interna exerce ainda os poderes que lhe são conferidos
pelos n.º s 8 e 9 do artigo 16.º, pelo n.º 8 do artigo 18.º e pela alínea c) do n.º 3 do artigo
29.º

Artigo 20.º
Justiça

1 - A Ministra da Justiça tem por missão formular, conduzir, executar e avaliar a política
de justiça definida pela Assembleia da República e pelo Governo.
2 - A Ministra da Justiça exerce a direção sobre:
a) A Secretaria-Geral do Ministério da Justiça;
b) A Inspeção-Geral dos Serviços de Justiça;
c) A Direção-Geral da Política de Justiça;
d) A Direção-Geral da Administração da Justiça;
e) A Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais;
f) A Polícia Judiciária;
g) A Comissão de Programas Especiais de Segurança.
3 - A Ministra da Justiça exerce a superintendência e tutela sobre:
a) O Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça, I. P.;
b) O Instituto dos Registos e do Notariado, I. P.;
c) O Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, I. P.

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4 - A Ministra da Justiça exerce a tutela sobre o Centro de Estudos Judiciários.
5 - A Ministra da Justiça exerce a superintendência e tutela sobre o Instituto Nacional da
Propriedade Industrial, I. P., em coordenação com o Ministro de Estado, da Economia e
da Transição Digital e com o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
6 - O Conselho Consultivo da Justiça é o órgão consultivo da Ministra da Justiça.
7 - A Ministra da Justiça exerce ainda os poderes que lhe são conferidos pelo n.º 8 do
artigo 16.º

Artigo 21.º
Modernização do Estado e da Administração Pública

1 - A Ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública tem por missão


formular, conduzir, executar e avaliar as políticas de modernização, inovação e
simplificação administrativa do Estado e da Administração Pública, designadamente em
matéria de organização e gestão dos serviços públicos, de alterações nos processos e
procedimentos administrativos e na qualificação do emprego público, bem como, a
política global e coordenada na área da descentralização e das autarquias locais.
2 - A Ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública exerce a direção
sobre:
a) A Direção-Geral da Administração e do Emprego Público;
b) Os Serviços Sociais da Administração Pública;
c) (Revogada.);
d) A Direção-Geral das Autarquias Locais.
3 - A Ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública exerce a
superintendência e tutela sobre:
a) A Agência para a Modernização Administrativa, I. P.;
b) O Fundo de Apoio Municipal;
c) O Instituto Nacional de Administração, I. P.
4 - A Ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública exerce os poderes,
previstos nos respetivos estatutos, sobre a Comissão de Recrutamento e Seleção para a
Administração Pública.
5 - A Ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública exerce a
superintendência e tutela sobre a Entidade de Serviços Partilhados da Administração
Pública, I. P., no que se refere aos serviços partilhados de recursos humanos.
6 - A Ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública exerce a
superintendência e tutela sobre o Instituto de Proteção e Assistência na Doença, I. P.
(ADSE, I. P.), sem prejuízo das competências conferidas ao Ministro de Estado e das
Finanças pelo Decreto-Lei n.º 7/2017, de 9 de janeiro, na sua redação atual.
7 - A Ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública, conjuntamente
com o Ministro do Ambiente e da Ação Climática, com a Ministra da Agricultura e com
o Ministro do Mar, exerce a direção, nas matérias da sua competência, sobre a Inspeção-
Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território.
8 - A Ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública exerce ainda os
poderes que lhe são conferidos pelo n.º 8 do artigo 17.º e pelo n.º 3 do artigo 30.º

Artigo 22.º
Planeamento

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1 - O Ministro do Planeamento tem por missão formular, conduzir e avaliar as
estratégias de desenvolvimento económico e social, tendo em conta os objetivos da
convergência e da coesão.
2 - O Ministro do Planeamento exerce a direção sobre:
a) A Estrutura de Missão Portugal Inovação Social;
b) O Fundo para a Inovação Social;
c) A Unidade Nacional de Gestão do Mecanismo Financeiro do Espaço Económico
Europeu.
3 - O Ministro do Planeamento exerce a superintendência e tutela sobre a Agência
para o Desenvolvimento e Coesão, I. P.
4 - O Ministro do Planeamento coordena a Comissão Interministerial de Coordenação do
Acordo de Parceria - CIC Portugal 2020, exercendo as competências previstas no n.º 3 do
artigo 10.º, no n.º 3 do artigo 23.º e no n.º 16 do artigo 83.º do Decreto-Lei n.º 137/2014,
de 12 de setembro, bem como a competência prevista na alínea a) do n.º 2 do artigo 5.º
do Decreto-Lei n.º 159/2014, de 27 de outubro.
5 - O Ministro do Planeamento integra as comissões especializadas da Comissão
Interministerial de Coordenação do Acordo de Parceria - CIC Portugal 2020, previstas no
n.º 5 do artigo 9.º do Decreto-Lei n.º 137/2014, de 12 de setembro.
6 - As competências previstas nos n.º s 4 e 5 do artigo 24.º do Decreto-Lei n.º 137/2014,
de 12 de setembro, são exercidas conjuntamente com a Ministra da Coesão Territorial.
7 - Compete ao Ministro do Planeamento a definição da estratégia, das prioridades, das
orientações, da monitorização, da avaliação e a gestão global e dos programas financiados
por fundos europeus, nomeadamente no âmbito da política de coesão da União Europeia.
8 - O Ministro do Planeamento exerce ainda os poderes que lhe são conferidos pelo n.º 6
do artigo 31.º e pelo n.º 7 do artigo 32.º

Artigo 23.º
Cultura

1 - A Ministra da Cultura tem por missão formular, conduzir, executar e avaliar uma
política global e coordenada na área da cultura e domínios com ela relacionados,
designadamente na salvaguarda e valorização do património cultural, bem como na área
da comunicação social, no incentivo à criação artística e à difusão cultural, na qualificação
do tecido cultural e, em coordenação com o Ministro de Estado e dos Negócios
Estrangeiros, na internacionalização da cultura e língua portuguesa.
2 - A Ministra da Cultura exerce a direção sobre:
a) A Inspeção-Geral das Atividades Culturais;
b) O Gabinete de Estratégia, Planeamento e Avaliação Culturais;
c) A Direção-Geral das Artes;
d) A Direção-Geral do Património Cultural;
e) As direções regionais de cultura.
3 - A Ministra da Cultura exerce a direção da Biblioteca Nacional de Portugal e da
Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, em coordenação com o Ministro
da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior em matéria de repositórios digitais.
4 - A Ministra da Cultura exerce a superintendência e tutela sobre:
a) O Instituto do Cinema e do Audiovisual, I. P.;
b) A Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema, I. P.
5 - Sem prejuízo dos poderes legalmente conferidos ao Conselho de Ministros e ao
Ministro de Estado e das Finanças, a Ministra da Cultura exerce as competências que lhe

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são atribuídas por lei sobre as entidades do setor empresarial do Estado nas áreas da
cultura e da comunicação social, que compreende, designadamente:
a) O Organismo de Produção Artística, E. P. E.;
b) O Teatro Nacional de São João, E. P. E.;
c) O Teatro Nacional D. Maria II, E. P. E.;
d) A Lusa - Agência de Notícias de Portugal, S. A.;
e) A RTP - Rádio e Televisão de Portugal, S. A.
6 - A Ministra da Cultura exerce a direção sobre a Secretaria-Geral da Presidência do
Conselho de Ministros, no que diz respeito à área da comunicação social.
7 - A Ministra da Cultura exerce os poderes previstos nos respetivos estatutos sobre as
Academias e Fundações da área da cultura.
8 - O Conselho Nacional de Cultura é o órgão consultivo da Ministra da Cultura.

Artigo 24.º
Ciência, Tecnologia e Ensino Superior

1 - O Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior tem por missão formular,


conduzir, executar e avaliar a política nacional para a ciência, a tecnologia e o ensino
superior, compreendendo a inovação de base científica e tecnológica, o espaço, as
orientações em matéria de competências digitais, a computação científica, a difusão da
cultura científica e tecnológica e a cooperação científica e tecnológica internacional,
nomeadamente com os países de língua oficial portuguesa.
2 - O Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior exerce a direção sobre a Direção-
Geral do Ensino Superior.
3 - O Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior exerce a superintendência e
tutela sobre:
a) A Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I. P.;
b) O Centro Cultural e Científico de Macau, I. P.
4 - O Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior exerce a tutela sobre as
instituições de ensino superior públicas.
5 - O Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, conjuntamente com o Ministro
da Educação, exerce a direção, nas matérias da sua competência, sobre a Secretaria-Geral
da Educação e Ciência, a Inspeção-Geral da Educação e Ciência e a Direção-Geral de
Estatísticas da Educação e Ciência.
6 - O Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, conjuntamente com o Ministro
da Educação, exerce a superintendência e tutela, nas matérias da sua competência, sobre
o Instituto de Gestão Financeira da Educação, I. P.
7 - O Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, conjuntamente com o Ministro
de Estado, da Economia e da Transição Digital, exerce a superintendência e tutela, nas
matérias da sua competência, sobre a ANI - Agência Nacional de Inovação, S. A.
8 - O Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior exerce as competências
legalmente previstas sobre a Agência Nacional para a Gestão do Programa Erasmus+
Educação e Formação, em coordenação com o Ministro da Educação e com a Ministra do
Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, no que diz respeito às suas áreas de
competência.
9 - O Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior exerce os poderes, previstos nos
respetivos estatutos, sobre a Academia das Ciências de Lisboa.
10 - O Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior acompanha a execução da
estratégia nacional para o espaço «Portugal Espaço 2030», prosseguida pela Agência

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Espacial Portuguesa Portugal Space, em coordenação com o Ministro de Estado, da
Economia e da Transição Digital e com o Ministro da Defesa Nacional.
11 - O Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior acompanha as atividades de
interesse público desenvolvidas pela Agência para a Investigação Clínica e Inovação
Biomédica, na área da investigação clínica e da translação, e pelo Conselho Nacional dos
Centros Académicos Clínicos, em coordenação com a Ministra da Saúde.
12 - São órgãos consultivos do Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior o
Conselho Nacional de Educação, órgão independente com funções consultivas comuns
ao Ministro da Educação, o Conselho Coordenador do Ensino Superior e o Conselho
Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, órgão independente com funções
consultivas comuns ao Ministro de Estado, da Economia e Transição Digital.
13 - O Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior exerce ainda os poderes que
lhe são conferidos pelos n.º s 5 e 6 do artigo 14.º, pelos n.º s 5 e 7 do artigo 18.º, pelo n.º
4 do artigo 19.º, pelo n.º 5 do artigo 20.º, pela alínea a) do n.º 3 do artigo 29.º e pelos n.º
s 10, 11 e 15 do artigo 32.º

Artigo 25.º
Educação

1 - O Ministro da Educação tem por missão formular, conduzir, executar e avaliar a


política nacional relativa ao sistema educativo, no âmbito da educação pré-escolar, dos
ensinos básico e secundário e da educação extraescolar, e a política nacional de juventude
e desporto, bem como articular, no âmbito das políticas nacionais de promoção da
qualificação da população, a política nacional de educação e a política nacional de
formação profissional.
2 - O Ministro da Educação exerce a direção sobre:
a) A Direção-Geral da Educação;
b) A Direção-Geral da Administração Escolar;
c) A Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares;
d) A Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência no Desporto;
e) A Autoridade Antidopagem de Portugal.
3 - O Ministro da Educação exerce a superintendência e tutela sobre:
a) O Instituto de Avaliação Educativa, I. P.;
b) O Instituto Português do Desporto e Juventude, I. P.
4 - O Ministro da Educação exerce as competências legalmente previstas sobre a Agência
Nacional para a Gestão do Programa Erasmus+ Juventude em Ação.
5 - O Ministro da Educação, conjuntamente com o Ministro da Ciência, Tecnologia e
Ensino Superior, exerce a direção, nas matérias da sua competência, sobre a Secretaria-
Geral da Educação e Ciência, a Inspeção-Geral da Educação e Ciência e a Direção-Geral
de Estatísticas da Educação e Ciência.
6 - O Ministro da Educação, conjuntamente com a Ministra do Trabalho, Solidariedade e
Segurança Social, exerce a superintendência e a tutela, nas matérias da sua competência,
sobre a Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional, I. P., em
coordenação com o Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital.
7 - O Ministro da Educação, conjuntamente com o Ministro da Ciência, Tecnologia e
Ensino Superior, exerce a superintendência e tutela, nas matérias da sua competência,
sobre o Instituto de Gestão Financeira da Educação, I. P.
8 - São órgãos consultivos do Ministro da Educação o Conselho Nacional de Educação,
órgão independente com funções consultivas comuns ao Ministro da Ciência, Tecnologia

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e Ensino Superior, o Conselho das Escolas, o Conselho Consultivo da Juventude e o
Conselho Nacional do Desporto.
9 - O Ministro da Educação exerce ainda os poderes que lhe são conferidos pelo n.º 8 do
artigo 24.º
Artigo 26.º
Trabalho, Solidariedade e Segurança Social
1 - A Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social tem por missão formular,
conduzir, executar e avaliar as políticas de emprego, de formação profissional, de relações
laborais e condições de trabalho, solidariedade e segurança social, bem como a
coordenação das políticas sociais de apoio à família, crianças e jovens em risco, idosos e
natalidade, de inclusão das pessoas com deficiência, de combate à pobreza e de promoção
da inclusão social, de fortalecimento do setor cooperativo, da economia social e do
voluntariado.
2 - A Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social exerce a direção sobre:
a) A Secretaria-Geral do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social;
b) A Inspeção-Geral do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social;
c) O Gabinete de Estratégia e Planeamento;
d) A Autoridade para as Condições do Trabalho;
e) A Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho;
f) A Direção-Geral da Segurança Social.
3 - A Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social exerce a superintendência
e tutela sobre:
a) O Instituto da Segurança Social, I. P.;
b) O Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, I. P.;
c) O Instituto de Gestão de Fundos de Capitalização da Segurança Social, I. P.;
d) O Instituto Nacional para a Reabilitação, I. P.;
e) A Casa Pia de Lisboa, I. P.;
f) O Instituto de Informática, I. P.
4 - A Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social exerce a tutela sobre a Santa
Casa da Misericórdia de Lisboa.
5 - A Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social exerce os poderes previstos
nos respetivos estatutos sobre as fundações e cooperativas da respetiva área governativa,
bem como sobre as entidades no âmbito ou na sua dependência, designadamente a
Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens e o Centro
de Relações Laborais.
6 - A Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, conjuntamente com o
Ministro da Educação, exerce a superintendência e tutela, nas matérias da sua
competência, sobre a Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional, I. P.,
em coordenação com o Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital.
7 - A Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social exerce a superintendência
e tutela sobre o Instituto do Emprego e da Formação Profissional, I. P., em coordenação
com o Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital.
8 - A Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social exerce a superintendência
e tutela sobre a Caixa Geral de Aposentações, I. P., em coordenação com o Ministro de
Estado e das Finanças.
9 - A Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social exerce conjuntamente com
a Ministra de Estado e da Presidência a superintendência e tutela sobre a Comissão para
a Igualdade no Trabalho e no Emprego, no que concerne à promoção da igualdade e da
não discriminação entre homens e mulheres no trabalho e no emprego, à promoção do
Diálogo Social, à promoção e elaboração de estudos, à formação e à cooperação nacional

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e internacional com entidades públicas e privadas em ações e projetos afins com a
respetiva missão, e em coordenação as restantes atribuições da referida Comissão.
10 - A Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, conjuntamente com a
Ministra de Estado e da Presidência, exerce a superintendência e tutela, no que diz
respeito às matérias de demografia e desigualdade, sobre o Conselho Nacional para as
Políticas de Solidariedade, Voluntariado, Família, Reabilitação e Segurança Social.
11 - A Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social exerce ainda os poderes
que lhe são conferidos pelo n.º 5 do artigo 14.º, pelos n.º s 8 e 9 do artigo 16.º e pelo n.º
8 do artigo 24.º

Artigo 27.º
Saúde

1 - A Ministra da Saúde tem por missão formular, conduzir, executar e avaliar a política
nacional de saúde e, em especial, a direção do serviço nacional de saúde, garantindo uma
aplicação e utilização sustentáveis de recursos e a avaliação dos seus resultados.
2 - A Ministra da Saúde exerce a direção sobre:
a) A Secretaria-Geral do Ministério da Saúde;
b) A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde;
c) A Direção-Geral da Saúde;
d) O Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências.
3 - A Ministra da Saúde exerce a superintendência e tutela sobre:
a) A Administração Central do Sistema de Saúde, I. P.;
b) O INFARMED - Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, I. P.;
c) O Instituto Nacional de Emergência Médica, I. P.;
d) O Instituto Português do Sangue e da Transplantação, I. P.;
e) O Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, I. P.;
f) A Administração Regional de Saúde do Norte, I. P.;
g) A Administração Regional de Saúde do Centro, I. P.;
h) A Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, I. P.;
i) A Administração Regional de Saúde do Alentejo, I. P.;
j) A Administração Regional de Saúde do Algarve, I. P.;
k) Serviços e estabelecimentos do Serviço Nacional de Saúde.
4 - A Ministra da Saúde, conjuntamente com o Ministro de Estado e das Finanças, exerce
a tutela, nas matérias da sua competência, sobre o Serviço de Utilização Comum dos
Hospitais.
5 - Sem prejuízo dos poderes legalmente conferidos ao Conselho de Ministros e ao
Ministro de Estado e das Finanças, a Ministra da Saúde exerce as competências que lhe
são atribuídas por lei sobre as entidades do setor empresarial do Estado no domínio da
saúde, que compreende:
a) Os estabelecimentos do Serviço Nacional de Saúde com natureza de entidade pública
empresarial;
b) Os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, E. P. E.
6 - O Conselho Nacional de Saúde é o órgão consultivo da Ministra da Saúde.
7 - A Ministra da Saúde exerce ainda os poderes que lhe são conferidos pelo n.º 11 do
artigo 24.º

Artigo 28.º
Ambiente e Ação Climática

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1 - O Ministro do Ambiente e da Ação Climática tem por missão formular, conduzir,
executar e avaliar as políticas de ambiente, ordenamento do território, cidades,
transportes urbanos, suburbanos e rodoviários de passageiros, mobilidade, clima,
silvicultura, conservação da natureza, bem-estar dos animais de companhia,
energia, geologia e florestas, numa perspetiva de desenvolvimento sustentável e de
coesão social e territorial.
2 - O Ministro do Ambiente e da Ação Climática tem por missão acompanhar as medidas
de caráter interministerial de execução do Programa do Governo relativas à ação
climática, nos termos do n.º 3 do artigo 12.º
3 - O Ministro do Ambiente e da Ação Climática exerce a direção sobre:
a) A Secretaria-Geral do Ministério do Ambiente;
b) A Direção-Geral do Território;
c) O Gabinete para a Mobilidade Elétrica em Portugal;
d) A Direção-Geral de Energia e Geologia.
4 - O Ministro do Ambiente e da Ação Climática exerce a superintendência e tutela
sobre:
a) A Agência Portuguesa do Ambiente, I. P.;
b) O Laboratório Nacional de Energia e Geologia, I. P.;
c) O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, I. P.
5 - O Ministro do Ambiente e da Ação Climática, conjuntamente com a Ministra da
Modernização do Estado e da Administração Pública, com a Ministra da Agricultura e
com o Ministro do Mar, exerce a direção, nas matérias da sua competência, sobre a
Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território.
6 - O Ministro do Ambiente e da Ação Climática exerce a competência em matéria de
florestas e silvicultura, em coordenação com a Ministra da Agricultura, no que respeita a
medidas financiadas pelos fundos europeus.
7 - Sem prejuízo dos poderes legalmente conferidos ao Conselho de Ministros, ao
Ministro de Estado e das Finanças e ao Ministro das Infraestruturas e da Habitação o
Ministro do Ambiente e da Ação Climática exerce as competências que lhe são conferidas
por lei sobre as entidades do setor empresarial do Estado, no domínio das águas, dos
resíduos, do ordenamento do território, da política de cidades, dos transportes urbanos e
suburbanos de passageiros, da mobilidade, da energia, da geologia e das florestas.
8 - O Ministro do Ambiente e da Ação Climática exerce as competências que lhe são
atribuídas pela lei sobre a ADENE - Agência para a Energia.
9 - O Ministro do Ambiente e da Ação Climática, conjuntamente com a Ministra da
Agricultura, exerce a direção, nas matérias da sua competência, sobre o Provedor do
Animal.10 - O Ministro do Ambiente e da Ação Climática exerce ainda os poderes que
lhe são conferidos pelo n.º 5 do artigo 15.º, pela alínea c) do n.º 3 do artigo 29.º, pelo n.º
3 do artigo 30.º, pelo n.º 8 do artigo 31.º e pelos n.º s 10 e 15 do artigo 32.º

Artigo 29.º
Infraestruturas e Habitação

1 - O Ministro das Infraestruturas e da Habitação tem por missão formular, conduzir,


executar e avaliar as políticas de infraestruturas, nas áreas da construção, do imobiliário,
dos transportes e das comunicações, incluindo a regulação dos contratos públicos, bem
como as políticas de habitação, de reabilitação urbana e dos transportes marítimos e dos
portos.
2 - O Ministro das Infraestruturas e da Habitação exerce a direção sobre o Gabinete de
Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e Acidentes Ferroviários.

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3 - O Ministro das Infraestruturas e da Habitação exerce a superintendência e tutela
sobre:
a) O Laboratório Nacional de Engenharia Civil, I. P., em coordenação com o Ministro da
Ciência, Tecnologia e Ensino Superior;
b) O Instituto dos Mercados Públicos, do Imobiliário e da Construção, I. P.;
c) O Instituto da Mobilidade e dos Transportes, I. P., em coordenação com o Ministro da
Administração Interna, com o Ministro do Ambiente e da Ação Climática e com o
Ministro do Mar, em razão das matérias relacionadas com as respetivas áreas;
d) O Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, I. P.
4 - Sem prejuízo dos poderes legalmente conferidos ao Conselho de Ministros, ao
Ministro de Estado e das Finanças e ao Ministro do Ambiente e da Ação Climática, o
Ministro das Infraestruturas e da Habitação exerce as competências legalmente previstas
em relação às entidades do setor empresarial do Estado que atuam no âmbito das matérias
identificadas no n.º 1, incluindo o Metro Mondego, S. A., a CP - Comboios de Portugal,
E. P. E., e a Infraestruturas de Portugal, S. A., e gere a concessão de exploração do serviço
de transporte ferroviário de passageiros do eixo Norte-Sul da região de Lisboa.
5 - Sem prejuízo dos poderes legalmente conferidos ao Conselho de Ministros e ao
Ministro de Estado e das Finanças, o Ministro das Infraestruturas e da Habitação exerce
a superintendência e tutela sobre as administrações portuárias, em coordenação com o
Ministro do Mar.
6 - O Ministro das Infraestruturas e da Habitação exerce ainda os poderes que lhe são
conferidos pelos n.º s 6 e 11 do artigo 32.º

Nota: O Decreto Regulamentar que define conceitos técnicos do urbanismo define a “operação de
reabilitação urbana” como “o conjunto articulado de intervenções visando, de forma integrada, a
reabilitação urbana de uma determinada área”.

Artigo 30.º
Coesão Territorial

1 - A Ministra da Coesão Territorial tem por missão formular, conduzir, executar e avaliar
as políticas de coesão territorial, de cooperação territorial europeia, de desenvolvimento
regional e de valorização do interior, tendo em vista a redução das desigualdades
territoriais e o desenvolvimento equilibrado do território, atendendo às especificidades
das áreas do país com baixa densidade populacional e aos territórios transfronteiriços.
2 - A Ministra da Coesão Territorial é responsável pelo Programa de Valorização do
Interior e pelo Programa de Revitalização do Pinhal Interior.
3 - A Ministra da Coesão Territorial exerce a direção sobre as comissões de coordenação
e desenvolvimento regional, em coordenação com a Ministra da Modernização do Estado
e da Administração Pública, no que diz respeito à relação com as autarquias locais, e com
o Ministro do Ambiente e da Ação Climática, em matérias de ambiente e ordenamento
do território.
4 - A Ministra da Coesão Territorial preside, com faculdade de delegação, à Comissão de
Captação de Investimento para o Interior.
5 - A Ministra da Coesão Territorial exerce ainda os poderes que lhe são conferidos pelo
n.º 6 do artigo 22.º

Artigo 31.º
Agricultura

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1 - A Ministra da Agricultura tem por missão formular, conduzir, executar e avaliar as
políticas em matéria agrícola, agroalimentar, de desenvolvimento rural, bem como
planear e coordenar a aplicação dos fundos nacionais e europeus destinados à agricultura
e ao desenvolvimento rural, procedendo à respetiva definição da estratégia e prioridades.
2 - A Ministra da Agricultura exerce a direção sobre:
a) A Direção-Geral de Alimentação e Veterinária;
b) A Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural.
3 - A Ministra da Agricultura exerce a superintendência e tutela sobre:
a) O Instituto da Vinha e do Vinho, I. P.;
b) O Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, I. P.;
c) O Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, I. P.
4 - A Ministra da Agricultura, conjuntamente com o Ministro do Mar, exerce a direção,
nas matérias da sua competência, sobre:
a) O Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral;
b) As direções regionais de agricultura e pescas.
5 - A Ministra da Agricultura, conjuntamente com a Ministra da Modernização do Estado
e da Administração Pública, com o Ministro do Ambiente e da Ação Climática e com o
Ministro do Mar, exerce a direção, nas matérias da sua competência, sobre a Inspeção-
Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território.
6 - A Ministra da Agricultura exerce a superintendência e tutela do Instituto de
Financiamento da Agricultura e Pescas, I. P., conjuntamente com o Ministro do Mar, e
em coordenação com o Ministro de Estado e das Finanças e com o Ministro do
Planeamento.
7 - Nos termos do disposto no número anterior, a Ministra da Agricultura exerce a
superintendência e tutela em matéria de agricultura, desenvolvimento rural e respetivos
fundos europeus, e o Ministro do Mar exerce a superintendência e tutela em matéria de
mar e respetivos fundos europeus.
8 - Sem prejuízo dos poderes legalmente conferidos ao Conselho de Ministros e ao
Ministro de Estado e das Finanças, a Ministra da Agricultura exerce a superintendência
sobre a EDIA - Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva, S. A., sendo
a competência relativa à definição das orientações, nos domínios do ambiente, dos
recursos hídricos, do ordenamento do território e do desenvolvimento regional, bem como
ao acompanhamento da sua execução, exercida em coordenação com o Ministro do
Ambiente e da Ação Climática.
9 – A Ministra da Agricultura, conjuntamente como Ministro do Ambiente e da Ação
Climática, exerce a direção, nas matérias da sua competência, sobre o Provedor do
Animal.
10 - A Ministra da Agricultura exerce ainda os poderes que lhe são conferidos pelo n.º 6
do artigo 28.º e pelo n.º 8 do artigo 32.º

Artigo 32.º
Mar

1 - O Ministro do Mar tem por missão a coordenação transversal dos assuntos do mar,
através da definição e acompanhamento da Estratégia Nacional para o Mar, da promoção
do conhecimento científico, da inovação e do desenvolvimento tecnológico na área do
mar, da definição e coordenação da execução das políticas de proteção, planeamento,
ordenamento, gestão e exploração dos recursos do mar, da promoção de uma presença
efetiva no mar, dos seus usos e de uma economia do mar sustentável, das pescas, da

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náutica de recreio, dos portos de pesca e a gestão dos fundos nacionais e europeus
relativos ao mar.
2 - Compete ao Ministro do Mar, conjuntamente com o Ministro de Estado e dos Negócios
Estrangeiros, a coordenação intersetorial da participação nacional nos organismos
europeus e internacionais responsáveis pela definição e pela monitorização das políticas
marítimas.
3 - O Ministro do Mar exerce a direção sobre:
a) A Direção-Geral de Política do Mar;
b) A Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos;
c) A Comissão Técnica do Registo Internacional de Navios da Madeira;
d) A Autoridade de Gestão do Programa Operacional Mar 2020 (Mar 2020).
4 - O Ministro do Mar, conjuntamente com a Ministra da Agricultura, exerce a direção,
no que diz respeito às matérias da sua competência, sobre:
a) O Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral;
b) As direções regionais de agricultura e pescas.
5 - O Ministro do Mar, conjuntamente com a Ministra da Modernização do Estado e da
Administração Pública, com o Ministro do Ambiente e da Ação Climática e com a
Ministra da Agricultura, exerce a direção sobre a Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar,
do Ambiente e do Ordenamento do Território, no que diz respeito às suas áreas de
competência.
6 - O Ministro do Mar exerce a direção sobre a Direção-Geral de Recursos Naturais,
Segurança e Serviços Marítimos e sobre o Gabinete de Investigação de Acidentes
Marítimos e da Autoridade para a Meteorologia Aeronáutica, em coordenação com o
Ministro das Infraestruturas e da Habitação, em razão das matérias relacionadas com as
respetivas áreas.
7 - O Ministro do Mar, conjuntamente com a Ministra da Agricultura, exerce a
superintendência e tutela do Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas, I. P., e
em coordenação com o Ministro de Estado e das Finanças e o Ministro do Planeamento.
8 - Nos termos do disposto no número anterior, o Ministro do Mar exerce a
superintendência e tutela em matéria de mar e respetivos fundos europeus, conjuntamente
com a Ministra da Agricultura, que exerce a superintendência e tutela em matéria de
agricultura, desenvolvimento rural e respetivos fundos europeus.
9 - Compete ao Ministro do Mar, sem prejuízo dos poderes legalmente conferidos ao
Conselho de Ministros e ao Ministro de Estado e das Finanças, a superintendência e tutela
da Docapesca - Portos e Lotas, S. A.
10 - O Ministro do Mar exerce a superintendência e tutela sobre o Instituto Português do
Mar e da Atmosfera, I. P., em coordenação com o Ministro da Ciência, Tecnologia e
Ensino Superior e com o Ministro do Ambiente e da Ação Climática.
11 - O Ministro do Mar exerce a tutela sobre a Escola Superior Náutica Infante D.
Henrique, em coordenação com o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e
com o Ministro das Infraestruturas e da Habitação.
12 - O Ministro do Mar coordena a Comissão Interministerial para os Assuntos do Mar e
substitui o Primeiro-Ministro na respetiva presidência, nas suas ausências e
impedimentos.
13 - Compete ao Ministro do Mar definir as orientações estratégicas para a Estrutura de
Missão para a Extensão da Plataforma Continental, em coordenação com o Ministro da
Defesa Nacional.
14 - Compete ao Ministro do Mar, conjuntamente com o Ministro da Defesa Nacional,
no âmbito das respetivas competências, definir as orientações estratégicas para a
Autoridade Marítima Nacional e coordenar a execução dos poderes de autoridade

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marítima nos espaços de jurisdição e no quadro de atribuições do Sistema da Autoridade
Marítima.
15 - Compete ao Ministro do Mar definir as orientações estratégicas para o Observatório
para o Atlântico, em coordenação com o Ministro de Estado, da Economia e da Transição
Digital, com o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e com o Ministro do
Ambiente e da Ação Climática.
16 - Encontra-se na dependência do Ministro do Mar a Estrutura de Missão para as
Comemorações do V Centenário da Circum-Navegação comandada pelo navegador
português Fernão de Magalhães (2019-2022).
17 - Sem prejuízo dos poderes legalmente conferidos a outras áreas governativas, o
Ministro do Mar assume a qualidade de concedente no âmbito das bases da concessão das
atividades de serviço público de exploração e administração do equipamento «Oceanário
de Lisboa».
18 - O Ministro do Mar exerce ainda os poderes que lhe são conferidos pelo n.º 5 do artigo
15.º, pelo n.º 7 do artigo 18.º e pela alínea c) do n.º 3 e pelo n.º 5 do artigo 29.º

Artigo 33.º
Setor empresarial do Estado

Nos casos omissos neste decreto-lei, e sem prejuízo dos poderes legalmente conferidos
ao Conselho de Ministros e ao Ministro de Estado e das Finanças, as/os ministras/os
exercem as competências que lhes são atribuídas por lei sobre as entidades do setor
empresarial do Estado, nas matérias abrangidas pelas suas competências.

Artigo 34.º
Serviços e fundos autónomos
Nos casos omissos no presente decreto-lei, e sem prejuízo dos poderes legalmente
conferidos ao Conselho de Ministros, as/os ministras/os exercem as competências que
lhes são atribuídas pela lei sobre os serviços e fundos autónomos.

Artigo 35.º
Organismos profissionais públicos
Sem prejuízo dos poderes legalmente conferidos ao Conselho de Ministros, as/os
ministras/os exercem as competências que lhes são atribuídas pela lei sobre as entidades
profissionais de direito público na área da respetiva competência.

Artigo 36.º
Entidades reguladoras e outros órgãos ou entidades administrativas independentes
Sem prejuízo dos poderes legalmente conferidos ao Conselho de Ministros, as/os
ministras/os exercem as competências que lhes são atribuídas pela lei sobre as entidades
reguladoras e outros órgãos ou entidades administrativas independentes na área da
respetiva competência.

Artigo 37.º
Estruturas ou unidades de missão
Sem prejuízo dos poderes legalmente conferidos ao Conselho de Ministros, as/os
ministras/os exercem as competências que lhes são atribuídas por lei ou outro ato
normativo sobre as estruturas ou unidades de missão na área da respetiva competência.

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TÍTULO II
Funcionamento do Governo

CAPÍTULO I
Do Conselho de Ministros

Artigo 38.º
Periodicidade

1 - O Conselho de Ministros reúne ordinariamente todas as semanas, à quinta-feira, e


apenas delibera sobre atos legislativos uma vez por mês, sem prejuízo de o Primeiro-
Ministro poder determinar o contrário.
2 - O Conselho de Ministros reúne extraordinariamente sempre que para o efeito for
convocado pelo Primeiro-Ministro ou, na ausência ou impedimento deste, pela/o
ministra/o que o substituir, nos termos do n.º 5 do artigo 4.º

Artigo 39.º
Ordem do dia
1 - As reuniões do Conselho de Ministros obedecem à ordem do dia, fixada na respetiva
agenda pelo Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, sob indicação
do Primeiro-Ministro e da Ministra de Estado e da Presidência.
2 - Apenas o Primeiro-Ministro pode sujeitar à apreciação do Conselho de Ministros
quaisquer projetos ou assuntos que não constem da respetiva agenda.

Artigo 40.º
Agenda do Conselho de Ministros
1 - A organização da agenda do Conselho de Ministros cabe ao Primeiro-Ministro, sob
proposta da Ministra de Estado e da Presidência, que é, para o efeito, coadjuvada pelo
Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros.
2 - A agenda do Conselho de Ministros é remetida previamente aos gabinetes de todos os
membros do Governo pelo gabinete do Secretário de Estado da Presidência do Conselho
de Ministros.
3 - A agenda do Conselho de Ministros comporta quatro partes:
a) A primeira, relativa à análise da situação política nacional, europeia e internacional e
ao debate de assuntos específicos de políticas setoriais, incluindo a coordenação dos
assuntos europeus;
b) A segunda, relativa à apreciação de projetos que tenham reunido consenso em reunião
de Secretárias/os de Estado;
c) A terceira, relativa à apreciação de projetos que já tenham sido aprovados na
generalidade em anteriores reuniões do Conselho de Ministros;
d) A quarta, relativa à apreciação de projetos que:
i) Não tenham obtido consenso em reunião de Secretárias/os de Estado ou que tenham
sido adiados em anterior reunião do Conselho de Ministros;
ii) Tenham sido objeto de agendamento direto para Conselho de Ministros;
iii) Tenham sido apresentados nos termos do n.º 2 do artigo 39.º

Artigo 41.º
Solidariedade

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Todos os membros do Governo estão vinculados às deliberações tomadas em Conselho
de Ministros, bem como ao dever de sigilo sobre as posições tomadas e as deliberações
efetuadas.

CAPÍTULO II
Reunião de Secretárias/os de Estado

Artigo 42.º
Periodicidade

1 - As reuniões de Secretárias/os de Estado têm lugar semanalmente, salvo determinação


em contrário da Ministra de Estado e da Presidência.
2 - A Ministra de Estado e da Presidência pode convocar, extraordinariamente, por motivo
justificado, reuniões de Secretárias/os de Estado, em dia e hora a determinar.

Artigo 43.º
Reuniões de Secretárias/os de Estado especializadas

1 - O exercício da faculdade prevista no n.º 2 do artigo anterior pode destinar-se à


realização de reuniões de Secretárias/os de Estado especializadas.
2 - A Ministra de Estado e da Presidência convoca para o efeito as/os secretárias/os de
Estado que, em função da matéria a discutir, têm assento em cada uma dessas reuniões de
Secretárias/os de Estado especializadas.

Artigo 44.º
Objeto
As reuniões de Secretárias/os de Estado são preparatórias do Conselho de Ministros e têm
por objeto:
a) Analisar a situação política e debater assuntos específicos de políticas setoriais;
b) Analisar os projetos colocados em circulação.
Artigo 45.º
Agenda
1 - A fixação da agenda da reunião de Secretárias/os de Estado cabe à Ministra de Estado
e da Presidência, sob proposta do Secretário de Estado da Presidência do Conselho de
Ministros.
2 - A agenda da reunião de Secretárias/os de Estado é remetida previamente aos gabinetes
de todos os membros do Governo pelo gabinete do Secretário de Estado da Presidência
do Conselho de Ministros.
3 - A agenda da reunião de Secretárias/os de Estado comporta três partes:
a) A primeira, relativa à troca de informações sobre assuntos setoriais;
b) A segunda, relativa à apreciação de projetos postos em circulação que lhe sejam
submetidos pela primeira vez;
c) A terceira, relativa à apreciação de projetos transitados de anteriores reuniões e de
projetos remetidos pelo Conselho de Ministros.
4 - Excecionalmente podem ser agendados projetos diretamente para reunião de
Secretárias/os de Estado, na terceira parte da agenda.
5 - A agenda das reuniões extraordinárias e especializadas de secretárias/os de Estado é
fixada pela Ministra de Estado e da Presidência, com faculdade de delegação no
Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros.

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CAPÍTULO III
Do procedimento legislativo governamental

SECÇÃO I
Disposições gerais

Artigo 46.º
Confidencialidade

1 - Com exceção do previsto no artigo 75.º, as apreciações, os debates, as deliberações e


as súmulas da reunião de Secretárias/os de Estado e do Conselho de Ministros são
confidenciais.
2 - As agendas da reunião de Secretárias/os de Estado e do Conselho de Ministros são
reservadas, bem como os projetos em processo legislativo submetidos ou a submeter à
apreciação do Conselho de Ministros e da reunião de Secretárias/os de Estado, salvo
quanto a estes para efeitos de negociação, audição ou consulta a efetuar nos termos da lei
ou apreciação, com dever de reserva, junto dos serviços e entidades da administração
pública sob tutela do membro do Governo que a promova.
3 - É atribuído ao Conselho de Ministros a competência para proceder à desclassificação
dos documentos referidos no número anterior.

Artigo 47.º
Desmaterialização do procedimento

Todos os atos da competência do Governo inerentes aos procedimentos previstos no


presente título ficam subordinados ao princípio geral da desmaterialização e da circulação
eletrónica.
Artigo 48.º
Fases do procedimento legislativo governamental
O procedimento legislativo governamental compreende as seguintes fases:
a) Fase de planificação legislativa e de monitorização;
b) Fase de elaboração e redação normativa;
c) Fase de iniciativa;
d) Fase de instrução legislativa;
e) Fase de circulação legislativa;
f) Fase de discussão e aprovação;
g) Fase de redação final.

SECÇÃO II
Fase de planificação legislativa e de monitorização

Artigo 49.º
Calendarização de iniciativas

1 - Até ao final de cada sessão legislativa, cada gabinete ministerial informa o gabinete
do Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros da calendarização
proposta para as várias iniciativas legislativas tendentes à implementação do programa
do Governo durante a sessão legislativa seguinte.

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2 - A apresentação da calendarização prevista no número anterior não invalida a
apresentação superveniente de correções, supressões ou aditamentos, em especial quando
se trate de iniciativas legislativas de natureza urgente ou de vigência temporária.
Artigo 50.º
Avaliação e validação estratégica
O Primeiro-Ministro procede à avaliação e validação estratégica da calendarização
proposta, fixando a ordem de prioridades legislativas e a calendarização da
implementação de medidas legislativas, em coordenação com a Ministra de Estado e da
Presidência, sob coadjuvação do Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares e do
Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros.

Artigo 51.º
Procedimento de negociação de atos normativos da União Europeia

1 - O gabinete do Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros envia, mensalmente,


ao gabinete do Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, para
distribuição a todos os gabinetes ministeriais, uma lista das propostas de regulamento e
de diretivas apresentadas pela Comissão Europeia, bem como as que se encontrem já em
fase de apreciação pelo Conselho e pelo Parlamento Europeu.
2 - Os gabinetes ministeriais articulam com o gabinete do Ministro de Estado e dos
Negócios Estrangeiros a preparação dos trabalhos de negociação de regulamentos e
diretivas da União Europeia, facultando os meios técnicos e humanos indispensáveis à
avaliação do potencial impacto das mesmas sobre o ordenamento jurídico português.
3 - A Unidade Técnica de Avaliação de Impacto Legislativo presta apoio aos gabinetes
ministeriais, ao nível técnico, na análise dos estudos de avaliação de impacto regulatório
desenvolvidos pela Comissão Europeia relativamente às propostas de diretivas e
regulamentos.
4 - Os procedimentos referidos nos números anteriores aplicam-se igualmente, com as
devidas adaptações, a todos os atos normativos de outras organizações internacionais de
que Portugal faça parte que sejam suscetíveis de aplicabilidade direta na ordem jurídica
portuguesa.

Artigo 52.º
Procedimento de transposição de atos normativos da União Europeia

1 - O Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, no prazo de oito dias contados da


data de publicação de um ato normativo da União Europeia que careça de transposição
para a ordem jurídica interna, no Jornal Oficial da União Europeia, informa os Ministros
competentes em razão da matéria e o Secretário de Estado da Presidência do Conselho de
Ministros do respetivo prazo da transposição.
2 - O Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros promove, em
coordenação com o Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, a criação e gestão
de mecanismos automatizados de notificação periódica aos membros do Governo
competentes em razão da matéria, dos prazos de transposição de atos normativos da União
Europeia.
3 - Os projetos de transposição de atos normativos da União Europeia devem ser
remetidos para agendamento ao gabinete do Secretário de Estado da Presidência do
Conselho de Ministros com uma antecedência mínima de seis meses relativamente ao
final do prazo de transposição, dando disso conhecimento ao gabinete do Ministro de
Estado e dos Negócios Estrangeiros.

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Artigo 53.º
Monitorização da transposição de atos normativos da União Europeia

1 - O gabinete do Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros envia, mensalmente,


ao gabinete do Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, um
relatório com indicação dos atos normativos da União Europeia ainda pendentes de
transposição, e respetivo prazo limite.
2 - Os gabinetes ministeriais enviam, mensalmente, ao gabinete do Secretário de Estado
da Presidência do Conselho de Ministros, um relatório com o estado dos trabalhos
preparatórios tendentes à transposição das diretivas ainda pendentes, e a data previsível
para apresentação das correspondentes iniciativas legislativas, dando disso conhecimento
ao gabinete do Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros.

SECÇÃO III
Fase de elaboração e redação normativa

Artigo 54.º
Legística

Os projetos de atos normativos do Governo devem observar as normas do código de


legística comum a todas as instituições com poderes legislativos, caso exista.

Artigo 55.º
Avaliação do impacto legislativo

1 - Os projetos de atos normativos do Governo devem ser sujeitos a uma avaliação prévia
de impacto legislativo, que procure estimar a variação de benefícios e de encargos
impostos sobre a vida das pessoas e relativos à atividade das empresas, em especial
pequenas e médias empresas, bem como outros impactos de natureza não económica.
2 - O exercício de avaliação de impacto legislativo referido no número anterior é
assegurado pela Unidade Técnica de Avaliação de Impacto Legislativo no prazo de 5 dias,
contados a partir da data da sua solicitação pelo gabinete do Secretário de Estado da
Presidência do Conselho de Ministros, sendo o prazo passível de prorrogação, a título
excecional, pelo Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros.
3 - Os relatórios e avaliação de impacto legislativo relativos a projetos de propostas de lei
podem ser remetidos à Assembleia da República, mediante solicitação desta.

SECÇÃO IV
Fase de iniciativa

Artigo 56.º
Início do procedimento legislativo

1 - A iniciativa para apresentar projetos de decretos-leis e de propostas de lei, bem como


outros atos normativos, cabe aos membros do Governo, que os enviam ao Secretário de
Estado da Presidência do Conselho de Ministros.
2 - A apresentação deve ser obrigatoriamente feita através de meios eletrónicos da rede
informática do Governo, a determinar pelo Secretário de Estado da Presidência do

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Conselho de Ministros, sob pena de rejeição imediata e sua devolução ao gabinete
ministerial proponente.

Artigo 57.º
Documentos que acompanham os projetos

1 - Os projetos a remeter ao gabinete do Secretário de Estado da Presidência do Conselho


de Ministros são acompanhados de uma nota justificativa de que constam,
discriminadamente e em todos os casos, os seguintes elementos:
a) Sumário a publicar no Diário da República;
b) Necessidade da forma proposta para o projeto;
c) Referência à necessidade de participação ou audição de entidades, com indicação da
norma que a exija e do respetivo conteúdo;
d) Enquadramento jurídico atual e fundamento para a respetiva alteração;
e) Identificação expressa da legislação a alterar ou a revogar;
f) Identificação expressa de eventual legislação complementar, incluindo instrumentos de
regulamentação;
g) Avaliação sumária dos meios financeiros e humanos necessários à Administração
Pública para execução a curto e médio prazo, bem como de novos atos administrativos
criados;
h) Ponderação sobre a oportunidade de criação de regime de isenção para micro, pequenas
e médias empresas ou, não sendo possível, de regime jurídico específico que atenda às
particularidades deste segmento de empresas e mitigue o impacto dos referidos encargos;
i) Avaliação do impacto legislativo do diploma relativa às seguintes matérias:
i) Avaliação do impacto económico e concorrencial;
ii) Avaliação do impacto de género;
iii) Avaliação do impacto sobre a deficiência;
iv) Avaliação do impacto sobre a pobreza;
v) Avaliação do impacto sobre os riscos de fraude, corrupção e infrações conexas;
j) Justificação do diploma;
k) Relação com o Programa do Governo;
l) Relação com políticas da União Europeia;
m) Nota para a comunicação social.
2 - A nota justificativa tem a natureza de documento interno do Governo, para efeitos de
confidencialidade.
3 - Os projetos a remeter ao gabinete do Secretário de Estado da Presidência do Conselho
de Ministros são acompanhados da lista a que alude o n.º 4 do artigo 72.º
4 - No caso dos projetos da proposta de lei, estes devem ser acompanhados de ficha de
avaliação prévia de impacto de género, nos termos da Lei n.º 4/2018, de 9 de fevereiro.
5 - A falta de instrução do projeto com a nota justificativa ou os documentos referidos
nos n.º s 3 e 4 impede a circulação e o agendamento do mesmo para reunião de
Secretárias/os de Estado ou para Conselho de Ministros, devendo o projeto ser devolvido
ao gabinete ministerial proponente, sem prejuízo do disposto no n.º 2 do artigo 59.º, no
n.º 3 do artigo 60.º, no n.º 3 do artigo 61.º e no n.º 3 do artigo 62.º

Artigo 58.º
Acompanhamento de instrumentos de regulamentação

1 - Para além dos elementos exigidos pelo artigo anterior, os projetos de diplomas
legislativos devem ser obrigatoriamente acompanhados de todos os projetos de

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regulamentação necessários à sua implementação logo que entrem em vigor,
designadamente e consoante os casos de:
a) Projetos de decretos regulamentares;
b) Projetos de portarias;
c) Projetos de despachos normativos.
2 - Os projetos de diplomas legislativos devem ser obrigatoriamente acompanhados de
um relatório sucinto sobre o grau e os custos de adaptabilidade ao novo regime jurídico
proposto, de sistemas e tecnologias de informação já instalados e em execução.
3 - Sem prejuízo da possibilidade de fixação de um prazo razoável, para efeitos de
cumprimento superveniente das condições constantes dos números anteriores, a falta do
seu cumprimento implica a possibilidade de recusa de envio para circulação ou de
inscrição em agenda de reunião de Secretárias/os de Estado, pelo Secretário de Estado da
Presidência do Conselho de Ministros.

SECÇÃO V
Fase de instrução legislativa

SUBSECÇÃO I
Pareceres internos

Artigo 59.º
Parecer do Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros

1 - Todos os projetos de atos legislativos que visem a transposição para a ordem jurídica
nacional de atos normativos da União Europeia, ou que se mostrem necessários para
assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes dos tratados da União Europeia,
carecem de parecer obrigatório, e não vinculativo, do Ministro de Estado e dos Negócios
Estrangeiros.
2 - Compete ao membro do Governo proponente do projeto solicitar ao Ministro de
Estado e dos Negócios Estrangeiros a emissão de parecer, dando disso conhecimento ao
Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros.
3 - O disposto nos números anteriores é aplicável a todos os atos normativos de
organizações internacionais de que Portugal faça parte e que sejam suscetíveis de
aplicabilidade direta na ordem jurídica portuguesa.

Artigo 60.º
Parecer da Ministra de Estado e da Presidência

1 - A Ministra de Estado e da Presidência pode emitir parecer vinculativo sobre todos os


projetos de atos legislativos relativamente aos quais seja avaliado impacto legislativo
significativo, nos termos do artigo 55.º
2 - Todos os projetos de atos legislativos relativos a mecanismos de audição e de
participação no procedimento legislativo são obrigatoriamente sujeitos a parecer
obrigatório, e não vinculativo, da Ministra de Estado e da Presidência.
3 - Para os efeitos previstos no número anterior, compete ao membro do Governo
proponente do projeto solicitar à Ministra de Estado e da Presidência a emissão de
parecer, dando disso conhecimento ao Secretário de Estado da Presidência do Conselho
de Ministros.

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Artigo 61.º
Parecer do Ministro de Estado e das Finanças
1 - Todos os projetos legislativos que envolvam aumento de despesas ou diminuição de
receitas são obrigatoriamente sujeitos a parecer favorável do Ministro de Estado e das
Finanças.
2 - Carecem de parecer obrigatório, mas não vinculativo, do Ministro de Estado e das
Finanças os projetos que visem:
a) A criação, organização ou extinção de serviços e organismos públicos;
b) A fixação ou alteração de atribuições, da estrutura, das competências e do
funcionamento de serviços e organismos públicos;
c) A aprovação ou alteração de quadros ou mapas de pessoal em geral, incluindo os que
tenham em vista a criação de lugares;
d) A criação e reestruturação de carreiras dos regimes geral e especial e de corpos
especiais e a fixação ou alteração das respetivas escalas salariais;
e) A fixação ou alteração das condições de ingresso, acesso e progressão nas carreiras e
corpos especiais;
f) A definição ou alteração do regime e condições de atribuição de suplementos
remuneratórios;
g) A fixação ou alteração das condições de aposentação, reforma ou invalidez e dos
benefícios referentes à ação social complementar;
h) A atribuição de quotas de descongelamento para admissão de pessoal estranho à função
pública;
i) A contratação de pessoal a termo certo;
j) A requisição de pessoal a empresas públicas ou privadas;
k) A racionalização e eficácia da organização e gestão públicas, designadamente quanto
à autonomia de gestão.
3 - Compete ao membro do Governo proponente do projeto solicitar ao Ministro de
Estado e das Finanças a emissão de parecer, dando disso conhecimento ao Secretário de
Estado da Presidência do Conselho de Ministros.

Artigo 62.º
Parecer da Ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública

1 - Todos os projetos legislativos que envolvam o aumento de encargos administrativos


ou outros custos de contexto, designadamente criação ou duplicação de procedimentos
ou exigências de natureza administrativa, certificativa ou registal, carecem de parecer
vinculativo da Ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública.
2 - Carecem de parecer obrigatório, mas não vinculativo, da Ministra da Modernização
do Estado e da Administração Pública todos os projetos que tenham por objeto as matérias
referidas no n.º 2 do artigo anterior, que sejam relativos a mecanismos de audição e de
participação de entidades administrativas ou de associações representativas dos
trabalhadores da Administração Pública, bem como os projetos que visem:
a) A criação de serviços e organismos públicos;
b) A definição ou alteração da metodologia de seleção a utilizar para efeitos de ingresso
e acesso nas carreiras em geral e nos corpos especiais, do regime de concursos aplicável
e dos programas de provas integrantes dos mesmos;
c) A definição dos conteúdos funcionais das carreiras e corpos especiais;
d) O reconhecimento de habilitações para ingresso nas carreiras técnico-profissionais;
e) A fixação ou alteração do regime jurídico da função pública, nomeadamente no que
toca à constituição, modificação e extinção da relação jurídica de emprego, aos direitos

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singulares e coletivos, deveres, responsabilidades e garantias dos trabalhadores da
Administração Pública.
3 - Compete ao membro do Governo proponente solicitar a emissão dos pareceres
referidos nos números anteriores, dando disso conhecimento ao Secretário de Estado da
Presidência do Conselho de Ministros.

Artigo 63.º
Procedimento para a emissão de parecer

1 - O pedido de parecer deve ser formulado até à data de submissão da iniciativa


legislativa perante o Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros.
2 - A falta de junção ao projeto legislativo de pedido de parecer implica a rejeição e
devolução do mesmo ao gabinete ministerial respetivo.
3 - Os pareceres referidos nos artigos anteriores devem ser emitidos no prazo de oito dias
ou, em caso de urgência, de três dias contados a partir da data da sua solicitação pelo
membro do Governo proponente do projeto, sendo o prazo passível de prorrogação, a
título excecional, pelo Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros.
4 - Na falta de emissão de parecer nos prazos previstos no número anterior, o membro do
Governo proponente pode enviar o projeto para circulação e agendamento.
5 - No caso de o projeto ser enviado para circulação e agendamento nos termos previstos
no número anterior, o parecer do Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, da
Ministra de Estado e da Presidência, do Ministro de Estado e das Finanças ou da Ministra
da Modernização do Estado e da Administração Pública pode ser proferido até ao início
da reunião do Conselho de Ministros.
6 - No caso dos pareceres referidos no n.º 1 do artigo 60.º e no n.º 1 do artigo 62.º, os
prazos previstos no n.º 3 do presente artigo iniciam-se no termo do prazo referido no n.º
2 do artigo 55.º
7 - A falta de emissão do relatório final de avaliação prévia de impacto legislativo no
prazo previsto no n.º 2 do artigo 55.º, não prejudica a emissão de parecer pela Ministra
de Estado e da Presidência ou pela Ministra da Modernização do Estado e da
Administração Pública no prazo previsto no número anterior.

SECÇÃO VI
Fase de circulação legislativa

Artigo 64.º
Circulação e devolução

1 - Compete ao Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros a


apreciação dos projetos que lhe sejam remetidos, após o que, consoante os casos:
a) Determina a sua circulação pelos gabinetes de todos os membros do Governo;
b) Determina a sua devolução aos membros do Governo proponentes, caso não tenham
sido respeitados os requisitos previstos no presente decreto-lei, não tenha sido observada
a forma adequada ou existam quaisquer inconstitucionalidades, ilegalidades,
irregularidades ou deficiências grosseiras ou flagrantes, sempre que tais vícios não
possam ser desde logo supridos.
2 - A circulação realiza-se mediante a distribuição pelos gabinetes de todos os membros
do Governo de uma lista de circulação, acompanhada pelos respetivos projetos de
diplomas, através da rede informática do Governo.

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Artigo 65.º
Prazos de circulação

1 - Os projetos devem ser objeto de circulação por um prazo mínimo de 10 dias


consecutivos, que pode ser prorrogado pelo Secretário de Estado da Presidência do
Conselho de Ministros.
2 - O prazo de circulação pode ser prolongado, abreviado ou dispensado, em casos de
excecional urgência, por determinação da Ministra de Estado e da Presidência, com
faculdade de delegação no Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros.

Artigo 66.º
Apreciação interministerial

1 - Durante a circulação e até ao agendamento, podem os gabinetes ministeriais transmitir


aos gabinetes das/os ministras/os proponentes, com conhecimento obrigatório do gabinete
do Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, uma apreciação
fundamentada que contenha objeções, comentários ou sugestões de eliminação,
modificação ou aditamento de normas ao projeto circulado.
2 - A apreciação fundamentada deve ser transmitida até ao penúltimo dia útil anterior à
reunião de Secretárias/os de Estado para a qual o projeto seja agendado.
3 - Quando não importem rejeição global do projeto, as objeções ou os comentários
devem incluir propostas de redação alternativa à que os suscitou, sob pena de se terem
por não escritas.

Artigo 67.º
Articulação interministerial

1 - Cabe ao gabinete do Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros


promover a negociação e consensualização, prévias à realização das reuniões de
Secretárias/os de Estado, entre os gabinetes de todos os membros do Governo.
2 - A articulação interministerial pode incluir a realização de reuniões multilaterais ou
transversais, bem como a troca de informações escritas entre os vários gabinetes
ministeriais, com conhecimento obrigatório do gabinete do Secretário de Estado da
Presidência do Conselho de Ministros.

SECÇÃO VII
Fase de discussão e aprovação

SUBSECÇÃO I
Discussão e aprovação em reunião de Secretárias/os de Estado

Artigo 68.º
Reunião de Secretárias/os de Estado

1 - Os projetos colocados em circulação são analisados em reunião de Secretárias/os de


Estado, podendo ser:
a) Aprovados;
b) Aprovados com alterações;
c) Aprovados com reservas de redação;
d) Aprovados na generalidade;

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e) Pendentes de avaliação política;
f) Adiados;
g) Adiados a pedido do membro do Governo proponente;
h) Retirados pelo membro do Governo proponente;
i) Remetidos para a parte iv da agenda do Conselho de Ministros.
2 - Os projetos que não reúnam consenso em reunião de Secretárias/os de Estado são
objeto de apreciação pelos Ministros competentes na matéria em causa, sob coordenação
do Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, antes do seu
agendamento para Conselho de Ministros.
3 - Os projetos agendados cujo procedimento haja desrespeitado o disposto no n.º 1 do
artigo 66.º e no n.º 2 do artigo 67.º são automaticamente adiados, sem prejuízo da remessa
para parte iv da agenda do Conselho de Ministros uma vez concluída a respetiva
articulação interministerial.

Artigo 69.º
Deliberações

1 - A reunião de Secretárias/os de Estado delibera validamente desde que esteja presente


a maioria dos seus membros com direito a voto.
2 - As deliberações da reunião de Secretárias/os de Estado são tomadas por consenso,
salvo se a Ministra de Estado e da Presidência optar por sujeitar a deliberação a votação.

Artigo 70.º
Súmula

1 - De todas as reuniões de Secretárias/os de Estado é elaborada, pelo Secretário de Estado


da Presidência do Conselho de Ministros, uma súmula, que contém as respetivas
conclusões finais.
2 - De cada súmula existe um exemplar conservado no gabinete do Secretário de Estado
da Presidência do Conselho de Ministros.
3 - O acesso à súmula prevista nos números anteriores, através da extração de cópia
confidencial, é facultado a qualquer ministra/o ou a qualquer outro membro do Governo
participante nas reuniões de Secretárias/os de Estado, que o solicite.
4 - A faculdade prevista no número anterior não se extingue, quanto às reuniões em que
haja participado, com a cessação de funções do membro do Governo participante nas
reuniões de Secretárias/os de Estado, nem com a cessação de funções das/os ministras/os
quanto a quaisquer reuniões de Secretárias/os de Estado.

SUBSECÇÃO II
Audições

Artigo 71.º
Audição das regiões autónomas

1 - Nos casos previstos na Constituição e na lei, o Governo procede à audição dos órgãos
de governo próprio das regiões autónomas, nos termos dos números seguintes.
2 - Após a aprovação do diploma em reunião de Secretárias/os de Estado, a audição prévia
dos órgãos de governo próprio das regiões autónomas, constitucional ou legalmente
exigida, é efetuada por solicitação do Secretário de Estado da Presidência do Conselho
de Ministros.

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3 - A audição é feita em condições que preservem a confidencialidade.
4 - Quando tal se justifique, podem os projetos ser submetidos a Conselho de Ministros,
para aprovação na generalidade, ficando a aprovação final dependente do transcurso do
prazo de audição.

Artigo 72.º
Outras audições

1 - Sem prejuízo das competências das ministras/os quanto ao âmbito dos respetivos
ministérios, compete ao Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros
promover as audições previstas na Constituição não incluídas no artigo anterior e todas
as outras audições previstas na lei, preferencialmente, após a aprovação em reunião de
Secretárias/os de Estado ou, nos termos do número seguinte, em Conselho de Ministros.
2 - Quando tal se justifique, podem os projetos ser submetidos a Conselho de Ministros,
para aprovação na generalidade, antes de decorrido o prazo da audição, ficando a
aprovação final dependente do transcurso desse prazo.
3 - O disposto no n.º 1 não abrange a negociação ou audição de estruturas representativas
dos trabalhadores, designadamente dos trabalhadores da Administração Pública.
4 - Para os efeitos do n.º 1, deve o membro do Governo proponente facultar a lista de
entidades a ser ouvidas no âmbito do procedimento legislativo ao gabinete do Secretário
de Estado da Presidência do Conselho de Ministros.
5 - Quando tal seja considerado necessário ou conveniente, pode o Secretário de Estado
da Presidência do Conselho de Ministro determinar que seja o membro do Governo
proponente a promover as audições, cabendo àquele assegurar, no contexto do
procedimento legislativo, o respeito pelos direitos de audição previstos na Constituição e
na lei.

SUBSECÇÃO III
Discussão e aprovação em Conselho de Ministros

Artigo 73.º
Conselho de Ministros

1 - O Conselho de Ministros possui a competência que lhe é conferida pela Constituição


e pela lei.
2 - Compete ao Conselho de Ministros, nos termos da lei, a decisão de contratar quando
estejam em causa parcerias público-privadas.
3 - O Conselho de Ministros pode delegar as competências que lhe são conferidas pela
Lei, no que respeita à designação e à exoneração dos membros dos órgãos de
administração e dos órgãos diretivos das entidades do setor público empresarial e do setor
público administrativo, sem prejuízo do cumprimento de todas as regras relativas aos
respetivos procedimentos de seleção, nomeação e exoneração.
4 - Os projetos submetidos a Conselho de Ministros são:
a) Aprovados;
b) Aprovados com alterações;
c) Aprovados com reserva de redação;
d) Aprovados na generalidade;
e) Rejeitados;
f) Adiados;
g) Adiados a pedido do membro do Governo proponente;

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h) Remessa para discussão em reunião de Secretárias/os de Estado.
5 - Os projetos aprovados com reserva de redação final são insuscetíveis de modificação
substancial não expressamente salvaguardada pelo Conselho de Ministros, mas podem
ser objeto de alterações formais ou legísticas, por parte do Secretário de Estado da
Presidência do Conselho de Ministros.
6 - Qualquer projeto pode ser retirado até à sua deliberação ou votação, pelo Primeiro-
Ministro ou pelos respetivos membros do Governo proponentes.

Artigo 74.º
Deliberações

1 - O Conselho de Ministros delibera validamente desde que esteja presente a maioria dos
seus membros com direito a voto.
2 - As deliberações do Conselho de Ministros são tomadas por consenso, salvo se o
Primeiro-Ministro optar por sujeitar a deliberação a votação.
3 - Dispõem de direito a voto o Primeiro-Ministro, as/os ministras/os e as/os secretárias/os
de Estado que estejam nas condições previstas no n.º 2 do artigo 2.º, tendo o Primeiro-
Ministro voto de qualidade.
4 - Em caso de urgência ou de excecional interesse público, as deliberações podem ser
tomadas por deliberação escrita, expressa pelo Primeiro-Ministro e por cada uma/um
das/os ministras/os, através da rede informática do Governo, dirigida ao gabinete do
Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros.

Artigo 75.º
Comunicado do Conselho de Ministros
De cada reunião do Conselho de Ministros é elaborado um comunicado, que é
publicamente divulgado.

Artigo 76.º
Súmula

1 - De cada reunião do Conselho de Ministros é elaborada, pelo Secretário de Estado da


Presidência do Conselho de Ministros, uma súmula, que contém a indicação sobre o
resultado da apreciação das questões a ele submetidas e, em especial, das deliberações
tomadas.
2 - De cada súmula existe um exemplar autenticado conservado no gabinete do Secretário
de Estado da Presidência do Conselho de Ministros.
3 - O acesso à súmula a que se referem os números anteriores, através da extração de
cópia confidencial, é facultado a qualquer membro do Conselho de Ministros que o
solicite, pelo Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros.
4 - A faculdade prevista no número anterior não se extingue, quanto às reuniões em que
haja participado, com a cessação de funções do membro do Conselho de Ministros.

SECÇÃO VIII
Fase de redação final

Artigo 77.º
Tramitação subsequente

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1 - Compete ao Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros promover
a introdução das alterações na redação dos diplomas aprovados, quando tal tenha sido
deliberado em Conselho de Ministros.
2 - Os diplomas devem ser assinados pelas/os ministras/os competentes em razão da
matéria, nos termos do n.º 3 do artigo 201.º da Constituição, num prazo que não deve
exceder três dias.
3 - O Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros pode promover a
assinatura dos diplomas na reunião do Conselho de Ministros em que os mesmos são
aprovados.
4 - Após o processo de recolha de assinaturas, as propostas de lei ou de resolução da
Assembleia da República são enviadas pelo Secretário de Estado da Presidência do
Conselho de Ministros ao Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, que conduz
o respetivo processo de apresentação à Assembleia da República.

Artigo 78.º
Princípio da concentração da vigência de novos atos normativos
Salvo situações de excecional interesse público, de necessidade de regulação de situações
de emergência ou da necessidade de cumprimento de obrigações internacionais, os atos
normativos que alterem o enquadramento jurídico das empresas apenas podem entrar em
vigor, semestralmente, a 1 de janeiro ou a 1 de julho de cada ano.

CAPÍTULO IV
Dos outros procedimentos

SECÇÃO I
Procedimentos normativos

Artigo 79.º
Aplicação subsidiária

Os procedimentos normativos que não assumam natureza legislativa regem-se,


subsidiariamente, pelo regime previsto pelo capítulo iii do presente título.

Artigo 80.º
Parecer do Ministro de Estado e das Finanças

1 - Todos os projetos de atos normativos que não assumam natureza legislativa e que
envolvam aumento de despesas ou diminuição de receitas são obrigatoriamente sujeitos
a parecer favorável do Ministro de Estado e das Finanças.
2 - Em simultâneo ao envio do projeto ao Ministro de Estado e das Finanças, deve disso
ser dado conhecimento ao Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros.

SECÇÃO II
Outros procedimentos

Artigo 81.º
Atos de delegação de poderes do Conselho de Ministros do XXI Governo
Constitucional

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Para efeitos do disposto no artigo 50.º do Código de Procedimento Administrativo, os
atos de delegação de poderes efetuados pelo Conselho de Ministros nos respetivos
membros do Governo, no âmbito do Decreto-Lei n.º 251-A/2015, de 17 de dezembro, na
sua redação atual, que aprova a Lei Orgânica do XXI Governo Constitucional, que ainda
não esgotaram todos os seus efeitos, não se extinguem, considerando-se as delegações
efetuadas nos membros do Governo que os sucederam nas suas atribuições e
competências nos termos do presente decreto-lei.

Artigo 82.º
Suprimento de irregularidades
Salvo o disposto nos artigos 74.º e 85.º, consideram-se supridas todas as irregularidades
decorrentes do incumprimento das disposições de natureza procedimental do presente
título, bem como do anexo, com a aprovação do ato normativo em causa no Conselho de
Ministros.

Artigo 83.º
Procedimento de alienação
A alienação, permuta, oneração e a cedência de utilização cuja natureza não seja precária
do património imobiliário do Estado e de qualquer entidade da Administração direta e
indireta do Estado ou do setor público empresarial estão dependentes de despacho do
Primeiro-Ministro, que pode delegar em qualquer membro do Governo, com faculdade
de subdelegação, a referida competência.

Artigo 83.º-A
Coordenação regional
O Primeiro-Ministro procede à nomeação, mediante despacho, dos membros do Governo,
designadamente em situação de alerta, contigência ou calamidade, estado de sítio ou de
emergência, a quem incumbe a coordenação horizontal das entidades, organismos ou
serviços de âmbito regional ou distrital da administração direta ou indireta do Estado,
promovendo a articulação e interlocução de todas as estruturas desconcentradas do
Estado, autarquias locais e entidades dos setores social e económico existentes na
respetiva NUTS II.

TÍTULO III
Das disposições complementares, transitórias e finais

Artigo 84.º
Disposições orçamentais
1 - Os encargos com os gabinetes dos membros do Governo são assegurados com recurso
às verbas anteriormente afetas às estruturas que prosseguiam as respetivas atribuições e
competências, até à entrada em vigor da Lei do Orçamento do Estado para 2020, sendo
que, a partir de 1 de janeiro de 2020, a estrutura do Orçamento do Estado reflete as
alterações decorrentes do presente decreto-lei.
2 - Compete ao Ministro de Estado e das Finanças providenciar e implementar a efetiva
reafetação de verbas necessárias ao funcionamento da nova estrutura governamental, em
estreita coordenação com as/os respetivas/os ministras/os, sob proposta das áreas
setoriais, em face das necessidades líquidas.
3 - Para efeitos de execução, prestação de contas e fecho da Conta Geral do Estado de
2019, mantém-se a mesma codificação de programas e títulos orçamentais definidos pela
Lei do Orçamento do Estado para 2019.

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4 - Para as demais entidades, são aplicáveis as disposições dos números anteriores,
aplicando-se as alterações decorrentes do presente decreto-lei, bem como ainda as
alterações de regime financeiro não implementadas até final de 2019, a partir de 1 de
janeiro de 2020.

Artigo 85.º
Atos de incidência orçamental
Todos os atos do Governo que envolvam aumento das despesas ou diminuição das
receitas previstas na Lei do Orçamento do Estado para cada ano, são obrigatoriamente
aprovados pelo Ministro de Estado e das Finanças.
Artigo 86.º
Gabinetes do Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, do Secretário de
Estado Adjunto do Primeiro-Ministro e do Secretário de Estado da Presidência do
Conselho de Ministros

Os gabinetes do Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, do Secretário de


Estado Adjunto do Primeiro-Ministro e do Secretário de Estado da Presidência do
Conselho de Ministros são equiparados, para efeitos da legislação sobre gabinetes, a
gabinetes ministeriais.
Artigo 87.º
Normas transitórias
1 - Na presente sessão legislativa parlamentar o dever de informação previsto no n.º 1 do
artigo 49.º deve ser cumprido a 31 de dezembro de 2019.
2 - Enquanto não for aprovado o código de legística comum a todas as instituições com
poderes legislativos referido no artigo 54.º, os projetos de atos normativos do Governo
devem observar as normas de legística constantes do anexo ao presente decreto-lei e do
qual faz parte integrante.
Artigo 88.º
Produção de efeitos
O presente decreto-lei produz efeitos reportados a 26 de outubro de 2019, considerando-
se ratificados todos os atos entretanto praticados, em conformidade com o presente
decreto-lei.
Artigo 89.º
Entrada em vigor
O presente decreto-lei entra em vigor no dia seguinte ao da sua publicação.
Visto e aprovado em Conselho de Ministros de 14 de novembro de 2019. - António Luís Santos da Costa - Pedro Gramaxo de Carvalho
Siza Vieira - Berta Ferreira Milheiro Nunes - Mariana Guimarães Vieira da Silva - Mário José Gomes de Freitas Centeno - João
Titterington Gomes Cravinho - Eduardo Arménio do Nascimento Cabrita - Francisca Eugénia da Silva Dias Van Dunem - Alexandra
Ludomila Ribeiro Fernandes Leitão - Ângelo Nelson Rosário de Souza - Graça Maria da Fonseca Caetano Gonçalves - Manuel
Frederico Tojal de Valsassina Heitor - Tiago Brandão Rodrigues - Ana Manuel Jerónimo Lopes Correia Mendes Godinho - Marta
Alexandra Fartura Braga Temido de Almeida Simões - João Pedro Soeiro de Matos Fernandes - Pedro Nuno de Oliveira Santos - Ana
Maria Pereira Abrunhosa - Maria do Céu de Oliveira Antunes Albuquerque - José Apolinário Nunes Portada.
Promulgado em 2 de dezembro de 2019.
Publique-se.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Referendado em 3 de dezembro de 2019.
Pelo Primeiro-Ministro, Pedro Gramaxo de Carvalho Siza Vieira, Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital.

COMISSÕES DE COORDENAÇÃO E
DESENVOLVIMENTO REGIONAL (CCDRs)

Decreto-Lei n.º 228/2012 de 25 de outubro (revogado pelo DL n.º 36/2023, de 26/05)

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REGIME JURÍDICO DAS AUTARQUIAS LOCAIS (RJAL)

Lei n.º 75/2013, de 12 de setembro


(última versão dada pelo DL n.º 10/2024, de 08/01

Estabelece o regime jurídico das autarquias locais, aprova o estatuto das entidades
intermunicipais, estabelece o regime jurídico da transferência de competências do Estado
para as autarquias locais e para as entidades intermunicipais e aprova o regime jurídico
do associativismo autárquico.

A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da


Constituição, o seguinte:

Artigo 1.º
Objeto

1 - A presente lei aprova:


a) O regime jurídico das autarquias locais;
b) O estatuto das entidades intermunicipais;
c) O regime jurídico da transferência de competências do Estado para as
autarquias locais e para as entidades intermunicipais, assim como da delegação de
competências do Estado nas autarquias locais e nas entidades intermunicipais e
dos municípios nas entidades intermunicipais e nas freguesias;
d) O regime jurídico do associativismo autárquico.
2 - Os regimes jurídicos e o estatuto referidos no número anterior são aprovados no
anexo i à presente lei, da qual faz parte integrante.

Artigo 2.º
Sucessão

1 - Sem prejuízo do disposto nos números seguintes, as comunidades intermunicipais


existentes à data da entrada em vigor da presente lei mantêm-se com as áreas
geográficas e as denominações constantes do anexo ii à presente lei, da qual faz parte
integrante.
2 - Quando todos os municípios que integrem uma comunidade intermunicipal existente
à data da entrada em vigor da presente lei passem a ficar abrangidos pelas áreas
geográficas de outras comunidades intermunicipais, a primeira é extinta, ficando os
municípios em questão automaticamente integrados nas últimas, sem prejuízo do direito
de abandoná-las.
3 - Quando as áreas geográficas de várias comunidades intermunicipais existentes à data
da entrada em vigor da presente lei passem a ficar abrangidas por uma única área
geográfica, aquelas comunidades intermunicipais fundem-se, ficando os municípios nela
abrangidos automaticamente integrados na nova comunidade intermunicipal, sem
prejuízo do direito de abandoná-las.
4 - Quando seja dividida a área geográfica de uma comunidade intermunicipal existente

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à data da entrada em vigor da presente lei, esta cinde-se em tantas comunidades
intermunicipais quantas as áreas geográficas resultantes da divisão, que sucedem nas
partes correspondentes dos direitos e deveres das anteriores, ficando os municípios
automaticamente integrados na comunidade intermunicipal por cuja área geográfica
tenham passado a estar abrangidos, sem prejuízo do direito de abandoná-las.
5 - Os municípios que deixem de estar abrangidos pela área territorial de uma
comunidade intermunicipal existente à data da entrada em vigor da presente lei deixam
automaticamente de fazer parte daquela e ficam automaticamente integrados na área
metropolitana ou na comunidade intermunicipal por cuja área geográfica tenham
passado a estar abrangidos, sem prejuízo de abandonar a comunidade intermunicipal.
6 - No prazo de 90 dias, as novas comunidades intermunicipais aprovam os seus
estatutos e as comunidades intermunicipais existentes à data da entrada em vigor da
presente lei que sofram alterações nas respetivas áreas geográficas reveem os seus
estatutos e regulam as consequências jurídicas da alteração.
7 - Mantêm-se válidos e em vigor, com as devidas adaptações, e em tudo o que não
contrarie o disposto no regime jurídico das entidades intermunicipais, aprovado no
anexo i, os regulamentos com eficácia externa e os regulamentos de organização e
funcionamento dos serviços das entidades intermunicipais existentes à data da entrada
em vigor da presente lei.
8 - Caso o direito de abandono das comunidades intermunicipais referido nos n.º s 2, 3,
4 e 5 seja exercido no prazo de 6 meses após a entrada em vigor da presente lei não é
aplicável o disposto no n.º 2 do artigo 65.º

Artigo 3.º
Norma revogatória

1 - São revogados:

a) Os artigos 2.º a 7.º, 10.º, 11.º, 13.º, 14.º, 44.º, 103.º, 105.º e 177.º a 187.º do Código Administrativo;
b) O Decreto-Lei n.º 78/84, de 8 de março;
c) A Lei n.º 159/99, de 14 de setembro, alterada pelos Decretos-Leis n.º s 7/2003, de 15 de janeiro, e
268/2003, de 28 de outubro, e pelas Leis n.º s 107-B/2003, de 31 de dezembro, 55-B/2004, de 30 de
dezembro, 60-A/2005, de 30 de dezembro, 53-A/2006, de 29 de dezembro, 67-A/2007, de 31 de
dezembro, 64-A/2008, de 31 de dezembro, 3-B/2010, de 28 de abril, e 55-A/2010, de 31 de dezembro;
d) Os artigos 1.º a 3.º, 10.º-A, 13.º a 16.º, as alíneas c) a o) e q) a s) do n.º 1 e os n.º s 2 a 6 do artigo 17.º,
os artigos 18.º a 20.º, o n.º 1 do artigo 23.º, 30.º a 41.º, 46.º-A, 49.º a 52.º-A, as alíneas b) a j) e m) a r) do
n.º 1 e os n.º s 2 a 8 do artigo 53.º, os artigos 54.º e 55.º, 62.º a 74.º, 81.º a 95.º, e 98.º e 99.º da Lei n.º
169/99, de 18 de setembro, alterada e republicada pela Lei n.º 5-A/2002, de 11 de janeiro, pela Lei n.º
67/2007, de 31 de dezembro, e pela Lei Orgânica n.º 1/2011, de 30 de novembro;
e) O n.º 1 do artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 310/2002, de 18 de dezembro, alterado pelos Decretos-Leis n.º
s 156/2004, de 30 de junho, 9/2007, de 17 de janeiro, 114/2008, de 1 de julho, 48/2011, de 1 de abril, e
204/2012, de 29 de agosto, na parte em que refere as alíneas b), c) e f) do artigo 1.º do mesmo diploma,
bem como as suas subsequentes disposições relativas à titularidade da competência para o licenciamento
das atividades de venda ambulante de lotarias, de arrumador de automóveis e atividades ruidosas de
caráter temporário que respeitem a festas populares, romarias, feiras, arraiais e bailes;
f) A Lei n.º 45/2008, de 27 de agosto, sem prejuízo do disposto no número seguinte;
g) A Lei n.º 46/2008, de 27 de agosto, alterada pela Lei n.º 55-A/2010, de 31 de dezembro, sem prejuízo
do disposto no número seguinte.
2 - Os artigos 23.º a 30.º da Lei n.º 45/2008, de 27 de agosto, e os artigos 23.º a 28.º da Lei n.º 46/2008, de
27 de agosto, alterada pela Lei n.º 55-A/2010, de 31 de dezembro, mantêm-se em vigor até 31 de
dezembro de 2013.
3 - A revogação da Lei n.º 159/99, de 14 de setembro, prevista na alínea c) do número anterior, não
prejudica as transferências e delegações de competências efetuadas previamente à entrada em vigor da
presente lei.

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Artigo 4.º
Entrada em vigor

Sem prejuízo do disposto no n.º 2 do artigo anterior, a presente lei entra em vigor no dia
seguinte ao da realização das eleições gerais para os órgãos das autarquias locais
imediatamente subsequentes à sua publicação.

Artigo 5.º
Regime especial

A presente lei não prejudica o disposto na Lei n.º 56/2012, de 8 de novembro.

Aprovada em 29 de julho de 2013.


A Presidente da Assembleia da República, Maria da Assunção A. Esteves.
Promulgada em 22 de agosto de 2013.
Publique-se.
O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva.
Referendada em 26 de agosto de 2013.
O Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho.

ANEXO I
(a que se refere o n.º 2 do artigo 1.º)

TÍTULO I
Disposições gerais

Artigo 1.º
Objeto

1 - A presente lei estabelece:


a) O regime jurídico das autarquias locais;
b) O estatuto das entidades intermunicipais;
c) O regime jurídico da transferência de competências do Estado para as autarquias locais
e para as entidades intermunicipais, assim como da delegação de competências do Estado
nas autarquias locais e nas entidades intermunicipais e dos municípios nas entidades
intermunicipais e nas freguesias;
d) O regime jurídico do associativismo autárquico.
2 - As normas constantes da presente lei são de aplicação imperativa e prevalecem sobre
as normas especiais atualmente em vigor, salvo na medida em que o contrário resulte
expressamente da presente lei.

Artigo 2.º
Atribuições

Constituem atribuições das autarquias locais a promoção e salvaguarda dos interesses


próprios das respetivas populações, designadamente nos domínios referidos no n.º 2 do
artigo 7.º e no n.º 2 do artigo 23.º da presente lei.

Artigo 3.º

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Competências
As autarquias locais prosseguem as suas atribuições através do exercício pelos respetivos
órgãos das competências legalmente previstas, designadamente:
a) De consulta;
b) De planeamento;
c) De investimento;
d) De gestão;
e) De licenciamento e controlo prévio;
f) De fiscalização.

Artigo 4.º
Princípios gerais
A prossecução das atribuições e o exercício das competências das autarquias locais e das
entidades intermunicipais devem respeitar os princípios da descentralização
administrativa, da subsidiariedade, da complementaridade, da prossecução do interesse
público e da proteção dos direitos e interesses dos cidadãos e a intangibilidade das
atribuições do Estado.

TÍTULO II
Autarquias locais

CAPÍTULO I
Disposições gerais

Artigo 5.º
Órgãos
1 - Os órgãos representativos da freguesia são a assembleia de freguesia e a junta de
freguesia.
2 - Os órgãos representativos do município são a assembleia municipal e a câmara
municipal.

Artigo 6.º
Natureza
1 - A assembleia de freguesia e a assembleia municipal são os órgãos deliberativos,
respetivamente, da freguesia e do município.
2 - A junta de freguesia e a câmara municipal são os órgãos executivos, respetivamente,
da freguesia e do município.
3 - A constituição, composição e organização dos órgãos das autarquias locais são
reguladas na Lei n.º 169/99, de 18 de setembro, alterada pelas Leis n.º s 5-A/2002, de 11
de janeiro, e 67/2007, de 31 de dezembro, e pela Lei Orgânica n.º 1/2011, de 30 de
novembro.

CAPÍTULO II
Freguesia

SECÇÃO I
Atribuições

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Artigo 7.º
Atribuições da freguesia

1 - Constituem atribuições da freguesia a promoção e salvaguarda dos interesses próprios


das respetivas populações, em articulação com o município.

2 - As freguesias dispõem de atribuições designadamente nos seguintes domínios:


a) Equipamento rural e urbano;
b) Abastecimento público;
c) Educação;
d) Cultura, tempos livres e desporto;
e) Cuidados primários de saúde;
f) Ação social;
g) Proteção civil;
h) Ambiente e salubridade;
i) Desenvolvimento;
j) Ordenamento urbano e rural;
k) Proteção da comunidade.
3 - As atribuições das freguesias abrangem ainda o planeamento, a gestão e a realização
de investimentos nos casos e nos termos previstos na lei.

SECÇÃO II
Assembleia de freguesia

SUBSECÇÃO I
Competências

Artigo 8.º
Natureza das competências

Sem prejuízo das demais competências legais e de acordo com o disposto no artigo 3.º, a
assembleia de freguesia tem as competências de apreciação e fiscalização e as
competências de funcionamento previstas na presente lei

Artigo 9.º
Competências de apreciação e fiscalização

1 - Compete à assembleia de freguesia, sob proposta da junta de freguesia:


a) Aprovar as opções do plano e a proposta de orçamento, bem como as suas revisões;
b) Apreciar o inventário dos bens, direitos e obrigações patrimoniais e a respetiva
avaliação, bem como apreciar e votar os documentos de prestação de contas;
c) Autorizar a junta de freguesia a contrair empréstimos e a proceder a aberturas de
crédito;
d) Aprovar as taxas e os preços da freguesia e fixar o respetivo valor;
e) Autorizar a aquisição, alienação ou oneração de bens imóveis de valor superior ao
limite fixado para a junta de freguesia e definir as respetivas condições gerais, podendo
determinar o recurso à hasta pública;
f) Aprovar os regulamentos externos;

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g) Autorizar a celebração de contratos de delegação de competências e de acordos de
execução entre a junta de freguesia e a câmara municipal, bem como a respetiva resolução
e, no caso dos contratos de delegação de competências, a sua revogação;
h) Autorizar a celebração de protocolos de delegação de tarefas administrativas entre a
junta de freguesia e as organizações de moradores;
i) Autorizar a celebração de protocolos com instituições públicas, particulares e
cooperativas que desenvolvam a sua atividade na circunscrição territorial da freguesia,
designadamente quando os equipamentos envolvidos sejam propriedade da freguesia e se
salvaguarde a sua utilização pela comunidade local;
j) Autorizar a freguesia a estabelecer formas de cooperação com entidades públicas ou
privadas;
k) Autorizar a freguesia a constituir as associações previstas no capítulo IV do título III;
l) Autorizar a concessão de apoio financeiro ou de qualquer outra natureza às instituições
dedicadas ao desenvolvimento de atividades culturais, recreativas e desportivas
legalmente constituídas pelos trabalhadores da freguesia;
m) Aprovar o mapa de pessoal dos serviços da freguesia;
n) Aprovar a criação e a reorganização dos serviços da freguesia;
o) Regulamentar a apascentação de gado, na respetiva área geográfica;
p) Estabelecer, após parecer da Comissão de Heráldica da Associação dos Arqueólogos
Portugueses, a constituição dos brasões, dos selos e das bandeiras da freguesia e das suas
localidades e povoações e proceder à sua publicação no Diário da República;
q) Verificar a conformidade dos requisitos relativos ao exercício de funções a tempo
inteiro ou a meio tempo do presidente da junta de freguesia;
r) Autorizar a celebração de protocolos de geminação, amizade, cooperação ou parceria
entre freguesias com afinidades, quer ao nível das suas denominações, quer quanto ao
orago da freguesia ou a outras características de índole cultural, económica, histórica ou
geográfica.
2 - Compete ainda à assembleia de freguesia:
a) Aceitar doações, legados e heranças a benefício de inventário;
b) Estabelecer as normas gerais de administração do património da freguesia ou sob sua
jurisdição;
c) Deliberar sobre a administração dos recursos hídricos que integram o domínio público
da freguesia;
d) Conhecer e tomar posição sobre os relatórios definitivos resultantes de ações tutelares
ou de auditorias executadas sobre a atividade dos órgãos e serviços da freguesia;
e) Apreciar, em cada uma das sessões ordinárias, uma informação escrita do presidente
da junta de freguesia acerca da atividade desta e da situação financeira da freguesia, a
qual deve ser enviada ao presidente da mesa da assembleia de freguesia com a
antecedência de cinco dias sobre a data de início da sessão;
f) Discutir, na sequência de pedido de qualquer dos titulares do direito de oposição, o
relatório a que se refere o Estatuto do Direito de Oposição;
g) Aprovar referendos locais;
h) Apreciar a recusa da prestação de quaisquer informações ou recusa da entrega de
documentos por parte da junta de freguesia ou de qualquer dos seus membros que obstem
à realização de ações de acompanhamento e fiscalização;
i) Acompanhar e fiscalizar a atividade da junta de freguesia;
j) Pronunciar-se e deliberar sobre todos os assuntos que visem a prossecução das
atribuições da freguesia;
k) Pronunciar-se e deliberar sobre todos os assuntos com interesse para a freguesia, por
sua iniciativa ou após solicitação da junta de freguesia.

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3 - Não podem ser alteradas na assembleia de freguesia as propostas apresentadas pela
junta de freguesia referidas nas alíneas a), f) e m) do n.º 1, nem os documentos referidos
na alínea b) do mesmo número, sem prejuízo de esta poder vir a acolher em nova proposta
as recomendações ou sugestões feitas pela assembleia de freguesia.

Artigo 10.º
Competências de funcionamento

1 - Compete à assembleia de freguesia:


a) Elaborar e aprovar o seu regimento;
b) Deliberar sobre recursos interpostos da marcação de faltas injustificadas aos seus
membros;
c) Deliberar sobre a constituição de delegações, comissões ou grupos de trabalho para o
estudo de matérias relacionadas com as atribuições da freguesia e sem prejudicar o
funcionamento e a atividade normal da junta de freguesia;
d) Solicitar e receber informação, através da mesa e a pedido de qualquer membro, sobre
assuntos de interesse para a freguesia e sobre a execução de deliberações anteriores.
2 - No exercício das respetivas competências, a assembleia de freguesia é apoiada, sendo
caso disso, por trabalhadores dos serviços da freguesia designados pela junta de freguesia

SUBSECÇÃO II
Funcionamento

Artigo 11.º
Sessões ordinárias

1 - A assembleia de freguesia reúne em quatro sessões ordinárias anuais, em abril, junho,


setembro e novembro ou dezembro, convocadas com uma antecedência mínima de oito
dias por edital e por carta com aviso de receção ou protocolo.
2 - A apreciação do inventário dos bens, direitos e obrigações patrimoniais, a respetiva
avaliação e a apreciação e votação dos documentos de prestação de contas do ano anterior
devem ter lugar na primeira sessão e a aprovação das opções do plano e da proposta de
orçamento para o ano seguinte na quarta sessão, salvo o disposto no artigo 61.º

Artigo 12.º
Sessões extraordinárias

1 - A assembleia de freguesia reúne em sessão extraordinária por iniciativa da mesa ou


após requerimento:
a) Do presidente da junta de freguesia, em cumprimento de deliberação desta;
b) De um terço dos seus membros;
c) De um número de cidadãos eleitores inscritos no recenseamento eleitoral da freguesia
equivalente a 30 vezes o número de elementos que compõem a assembleia de freguesia,
quando aquele número de cidadãos eleitores for igual ou inferior a 5000, ou a 50 vezes,
quando for superior.
2 - O presidente da assembleia de freguesia, no prazo de cinco dias após a iniciativa da
mesa ou a receção dos requerimentos previstos no número anterior, por edital e por carta
com aviso de receção ou protocolo, convoca a sessão extraordinária da assembleia de
freguesia.

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3 - A sessão extraordinária referida no número anterior deve ser realizada no prazo
mínimo de 3 dias e máximo de 10 dias após a sua convocação.
4 - Quando o presidente da mesa da assembleia de freguesia não convoque a sessão
extraordinária requerida, podem os requerentes convocá-la diretamente, observando, com
as devidas adaptações, o disposto nos n.º s 2 e 3 e promovendo a respetiva publicitação
nos locais habituais.

Artigo 13.º
Mesa da assembleia de freguesia

1 - Compete à mesa:
a) Elaborar a ordem do dia das sessões e proceder à sua distribuição;
b) Deliberar sobre as questões de interpretação e de integração de lacunas do regimento;
c) Encaminhar, em conformidade com o regimento, as iniciativas dos membros da
assembleia de freguesia e da junta de freguesia;
d) Comunicar à assembleia de freguesia as decisões judiciais relativas à perda de mandato
em que incorra qualquer dos seus membros;
e) Dar conhecimento à assembleia de freguesia do expediente relativo aos assuntos
relevantes;
f) Proceder à marcação e justificação de faltas dos membros da assembleia de freguesia;
g) Exercer os poderes funcionais e cumprir as diligências que lhe sejam determinadas
pela assembleia de freguesia;
h) Exercer as demais competências legais.
2 - O pedido de justificação de faltas pelo interessado é feito por escrito e dirigido à mesa,
no prazo de cinco dias a contar da data da sessão ou reunião em que a falta se tenha
verificado, e a decisão é notificada ao interessado pessoalmente ou por via postal.
3 - Das deliberações da mesa cabe recurso para o plenário da assembleia de freguesia.

Artigo 14.º
Competências do presidente e dos secretários

1 - Compete ao presidente da assembleia de freguesia:


a) Representar a assembleia de freguesia, assegurar o seu regular funcionamento e presidir
aos seus trabalhos;
b) Convocar as sessões ordinárias e extraordinárias;
c) Elaborar a ordem do dia das sessões e proceder à sua distribuição;
d) Abrir e dirigir os trabalhos, mantendo a disciplina das sessões;
e) Assegurar o cumprimento da lei e a regularidade das deliberações;
f) Suspender e encerrar antecipadamente as sessões, quando circunstâncias excecionais o
justifiquem, mediante decisão fundamentada a incluir na ata da reunião;
g) Comunicar à junta de freguesia as faltas do seu presidente ou do substituto legal às
sessões da assembleia de freguesia;
h) Comunicar ao Ministério Público as faltas injustificadas dos membros da assembleia
de freguesia e da junta de freguesia, quando em número relevante para efeitos legais;
i) Exercer os poderes funcionais e cumprir as diligências que lhe sejam determinadas pelo
regimento ou pela assembleia de freguesia;
j) Exercer as demais competências legais.
2 - Compete aos secretários coadjuvar o presidente da assembleia de freguesia no
exercício das suas funções, assegurar o expediente e, na falta de trabalhador designado
para o efeito, lavrar as atas das sessões.

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SECÇÃO III
Junta de freguesia

SUBSECÇÃO I
Competências
Artigo 15.º
Natureza das competências
Sem prejuízo das demais competências legais e de acordo com o disposto no artigo 3.º,
a junta de freguesia tem as competências materiais e as competências de funcionamento
previstas na presente lei.

Artigo 16.º
Competências materiais
1 - Compete à junta de freguesia:
a) Elaborar e submeter à aprovação da assembleia de freguesia as opções do plano e a
proposta do orçamento, assim como as respetivas revisões;
b) Executar as opções do plano e o orçamento, assim como aprovar as suas alterações;
c) Adquirir, alienar ou onerar bens imóveis de valor até 220 vezes a remuneração
mínima mensal garantida (RMMG) nas freguesias até 5000 eleitores, de valor até 300
vezes a RMMG nas freguesias com mais de 5000 eleitores e menos de 20 000 eleitores
e de valor até 400 vezes a RMMG nas freguesias com mais de 20 000 eleitores;
d) Alienar em hasta pública, independentemente de autorização da assembleia de
freguesia, bens imóveis de valor superior aos referidos na alínea anterior, desde que a
alienação decorra da execução das opções do plano e a respetiva deliberação tenha sido
aprovada por maioria de dois terços dos membros da assembleia de freguesia em
efetividade de funções;
e) Elaborar e aprovar a norma de controlo interno, bem como o inventário dos bens,
direitos e obrigações patrimoniais da freguesia e respetiva avaliação, e ainda os
documentos de prestação de contas, a submeter à apreciação da assembleia de freguesia;
f) Executar, por empreitada ou administração direta, as obras que constem das opções
do plano e tenham dotação orçamental adequada nos instrumentos de gestão previsional
aprovados pela assembleia de freguesia;
g) Aprovar operações urbanísticas em imóveis integrados no domínio patrimonial
privado da freguesia, após parecer prévio das entidades competentes;
h) Elaborar e submeter à aprovação da assembleia de freguesia os projetos de
regulamentos externos da freguesia, bem como aprovar regulamentos internos;
i) Discutir e preparar com a câmara municipal contratos de delegação de competências e
acordos de execução, nos termos previstos na presente lei;
j) Submeter à assembleia de freguesia, para efeitos de autorização, propostas de
celebração de contratos de delegação de competências e de acordos de execução, bem
como da respetiva resolução e, no caso de contratos de delegação de competências,
revogação;
k) Discutir e preparar com as organizações de moradores protocolos de delegação de
tarefas administrativas que não envolvam o exercício de poderes de autoridade;
l) Submeter à assembleia de freguesia, para efeitos de autorização, propostas de
celebração dos protocolos de delegação de tarefas administrativas previstos na alínea
anterior;
m) Discutir e preparar com instituições públicas, particulares e cooperativas que

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desenvolvam a sua atividade na circunscrição territorial da freguesia protocolos de
colaboração, designadamente quando os respetivos equipamentos sejam propriedade da
freguesia e se salvaguarde a sua utilização pela comunidade local;
n) Submeter à assembleia de freguesia, para efeitos de autorização, propostas de
celebração dos protocolos de colaboração referidos na alínea anterior;
o) Deliberar sobre as formas de apoio a entidades e organismos legalmente existentes,
nomeadamente com vista à execução de obras ou à realização de eventos de interesse
para a freguesia, bem como à informação e defesa dos direitos dos cidadãos;
p) Pronunciar-se sobre projetos de construção e de ocupação da via pública, sempre que
tal lhe for requerido pela câmara municipal;
q) Participar, nos termos acordados com a câmara municipal, no processo de elaboração
dos planos municipais de ordenamento do território;
r) Colaborar, nos termos acordados com a câmara municipal, na discussão pública dos
planos municipais do ordenamento do território;
s) Facultar a consulta pelos interessados dos planos municipais de ordenamento do
território;
t) Promover e executar projetos de intervenção comunitária nas áreas da ação social,
cultura e desporto;
u) Participar, em colaboração com instituições particulares de solidariedade social, em
programas e iniciativas de ação social;
v) Apoiar atividades de natureza social, cultural, educativa, desportiva, recreativa ou
outra de interesse para a freguesia;
w) Emitir parecer sobre a denominação das ruas e praças das localidades e das
povoações;
x) Prestar a outras entidades públicas toda a colaboração que lhe for solicitada,
designadamente nos domínios da estatística e outros do interesse da população da
freguesia;
y) Colaborar com a autoridade municipal de proteção civil na iminência ou ocorrência
de acidente grave ou catástrofe;
z) Promover a conservação de abrigos de passageiros existentes na freguesia;
aa) Gerir, conservar e promover a limpeza de balneários, lavadouros e sanitários
públicos;
bb) Gerir e manter parques infantis públicos e equipamentos desportivos de âmbito
local;
cc) Conservar e promover a reparação de chafarizes e fontanários públicos;
dd) Colocar e manter as placas toponímicas;
ee) Conservar e reparar a sinalização vertical não iluminada instalada nas vias
municipais;
ff) Proceder à manutenção e conservação de caminhos, arruamentos e pavimentos
pedonais;
gg) Conceder terrenos, nos cemitérios propriedade da freguesia, para jazigos, mausoléus
e sepulturas perpétuas;
hh) Gerir, conservar e promover a limpeza dos cemitérios propriedade da
freguesia;
ii) Administrar e conservar o património da freguesia;
jj) Elaborar e manter atualizado o cadastro dos bens móveis e imóveis propriedade da
freguesia;
kk) Adquirir e alienar bens móveis;
ll) Declarar prescritos a favor da freguesia, após publicação de avisos, os jazigos,
mausoléus ou outras obras, bem como sepulturas perpétuas instaladas nos cemitérios

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propriedade da freguesia, quando não sejam conhecidos os proprietários ou
relativamente aos quais se mostre que, após notificação judicial, se mantém desinteresse
na sua conservação e manutenção de forma inequívoca e duradoura;
mm) Fornecer material de limpeza e de expediente às escolas do 1.º ciclo do ensino
básico e aos estabelecimentos de educação pré-escolar;
nn) Proceder ao registo e ao licenciamento de canídeos e gatídeos;
oo) Proceder à administração ou à utilização de baldios sempre que não existam
assembleias de compartes;
pp) Executar, no âmbito da comissão recenseadora, as operações de recenseamento
eleitoral, bem como desempenhar as funções que lhe sejam determinadas pelas leis
eleitorais e dos referendos;
qq) Lavrar termos de identidade e justificação administrativa;
rr) Passar atestados;
ss) Conhecer e tomar posição sobre os relatórios definitivos de ações tutelares ou de
auditorias levadas a efeito aos órgãos ou serviços da freguesia;
tt) Dar cumprimento ao Estatuto do Direito de Oposição;
uu) Deliberar sobre a constituição e participação nas associações previstas no capítulo
IV do título III;
vv) Remeter ao Tribunal de Contas as contas da freguesia;
ww) Exercer os poderes funcionais e cumprir as diligências que lhe sejam determinadas
pela assembleia de freguesia;
xx) Apresentar propostas à assembleia de freguesia sobre matérias da competência
desta.
2 - Compete também à junta de freguesia proceder à construção dos equipamentos
referidos nas alíneas z) a cc) e hh) do número anterior quando os mesmos se destinem a
integrar o respetivo património.
3 - Compete ainda à junta de freguesia o licenciamento das seguintes atividades:
a) Venda ambulante de lotarias;
b) Arrumador de automóveis;
c) Atividades ruidosas de caráter temporário que respeitem a festas populares, romarias,
feiras, arraiais e bailes.
4 - A alienação de bens e valores artísticos do património da freguesia é objeto de
legislação especial.

Nota: A Lei n.º 68/93, de 4 de setembro, define, no seu art.º 1.º, n.º 1, baldios como “os terrenos possuídos
e geridos por comunidades locais”. Estas comunidades locais são constituídas pelos respetivos universos
de compartes. E o n.º 3, do art.º 1.º, determina que os compartes, como “moradores de uma ou mais
freguesias ou parte delas, segundo os usos e costumes, têm direito ao uso e fruição do baldio”.

Artigo 17.º
Delegação de competências no presidente da junta de freguesia
1 - A junta de freguesia pode delegar as suas competências no respetivo presidente, com
exceção das previstas nas alíneas a), c), e), h), j), l), n), o), p), q), r), v), oo), ss), tt) e xx)
do n.º 1 do artigo anterior, com possibilidade de subdelegação em qualquer dos vogais
ou em titulares de cargos de direção intermédia.
2 - À revogação dos atos e ao recurso das decisões do presidente da junta de freguesia
ou dos vogais no exercício de competências delegadas ou subdelegadas é aplicável, com
as devidas adaptações, o previsto nos n.º s 2 e 3 do artigo 34.º

Artigo 18.º
Competências do presidente da junta de freguesia

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1 - Compete ao presidente da junta de freguesia:
a) Representar a freguesia em juízo e fora dele;
b) Elaborar a ordem do dia, convocar, abrir e encerrar as reuniões da junta de freguesia,
dirigir os trabalhos e assegurar o cumprimento da lei e a regularidade das deliberações;
c) Representar a junta de freguesia na assembleia de freguesia e integrar a assembleia
municipal do município em cuja circunscrição territorial se compreende a circunscrição
territorial da respetiva freguesia, comparecendo às sessões, salvo caso de justo
impedimento, sendo representado, neste caso, pelo substituto legal por si designado;
d) Responder, no prazo máximo de 30 dias, aos pedidos de informação formulados
pelos membros da assembleia de freguesia através da respetiva mesa;
e) Suspender ou encerrar antecipadamente as reuniões, quando circunstâncias
excecionais o justifiquem, mediante decisão fundamentada a incluir na ata da reunião;
f) Executar as deliberações da junta de freguesia e coordenar a respetiva atividade;
g) Dar cumprimento às deliberações da assembleia de freguesia, sempre que para a sua
execução seja necessária a intervenção da junta de freguesia;
h) Autorizar a realização de despesas até ao limite estipulado por delegação da junta de
freguesia;
i) Autorizar o pagamento das despesas orçamentadas, de acordo com as deliberações da
junta de freguesia;
j) Submeter a norma de controlo interno, quando aplicável, bem como o inventário dos
bens, direitos e obrigações patrimoniais e respetiva avaliação e ainda os documentos de
prestação de contas, à aprovação da junta de freguesia e à apreciação e votação da
assembleia de freguesia, com exceção da norma de controlo interno;
k) Submeter a visto prévio do Tribunal de Contas, nos termos da lei, os atos praticados e
os contratos celebrados pela junta de freguesia, assim como quaisquer outros
instrumentos que impliquem despesa para a freguesia;
l) Assinar, em nome da junta de freguesia, toda a correspondência, bem como os termos,
atestados e certidões da competência da mesma;
m) Colaborar com outras entidades no domínio da proteção civil, tendo em vista o
cumprimento dos planos de emergência e programas estabelecidos, designadamente em
operações de socorro e assistência na iminência ou ocorrência de acidente grave ou
catástrofe;
n) Participar no conselho municipal de segurança;
o) Presidir à unidade local de proteção civil, salvo em caso de justo impedimento, em
que é representado pelo substituto legal por si designado;
p) Determinar a instrução dos processos de contraordenação e proceder à aplicação das
coimas;
q) Comunicar à assembleia de freguesia as faltas injustificadas marcadas aos membros
da junta de freguesia;
r) Dar conhecimento aos restantes membros da junta de freguesia e remeter à
assembleia de freguesia cópias dos relatórios definitivos de ações tutelares ou de
auditorias sobre a atividade da junta de freguesia e dos serviços da freguesia, no prazo
máximo de 10 dias após o recebimento dos mesmos;
s) Promover a publicação por edital do relatório de avaliação previsto no Estatuto do
Direito de Oposição;
t) Presidir à comissão recenseadora da freguesia;
u) Promover todas as ações necessárias à administração do património da freguesia;
v) Elaborar e enviar à assembleia de freguesia os elementos referidos na alínea e) do n.º
2 do artigo 9.º;
w) Informar a câmara municipal sobre a existência de edificações degradadas ou que

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ameacem desmoronar-se e solicitar a respetiva vistoria;
x) Responder, no prazo máximo de 20 dias, aos pedidos de informação formulados
pelos cidadãos recenseados na freguesia sobre matérias nas quais tenham interesse e que
sejam da atribuição da freguesia ou da competência da junta de freguesia;
y) Exercer as demais competências legais e delegadas, bem como exercer os poderes
funcionais e cumprir as diligências que lhe sejam determinadas pela junta de freguesia.
2 - Compete ainda ao presidente da junta de freguesia:
a) Decidir sobre o exercício de funções em regime de tempo inteiro ou de meio tempo,
nos termos da lei;
b) Proceder à distribuição de funções pelos restantes membros da junta de freguesia e
designar o seu substituto nas situações de faltas e impedimentos.
3 - A distribuição de funções implica a designação dos membros aos quais as mesmas
cabem e deve prever, designadamente:
a) A elaboração das atas das reuniões da junta de freguesia, na falta de trabalhador
nomeado para o efeito;
b) A certificação, mediante despacho do presidente da junta de freguesia, dos factos que
constem dos arquivos da freguesia e, independentemente de despacho, o conteúdo das
atas das reuniões da junta de freguesia;
c) A subscrição dos atestados que devam ser assinados pelo presidente da junta de
freguesia;
d) A execução do expediente da junta de freguesia;
e) A arrecadação das receitas, o pagamento das despesas autorizadas e a escrituração
dos modelos contabilísticos da receita e da despesa, com base nos respetivos
documentos que são assinados pelo presidente da junta de freguesia.
4 - O presidente da junta de freguesia pode delegar nos vogais as competências previstas
nas alíneas d), g), h), i), j), l), m), n), p), u), w), x) e y) do n.º 1 do presente artigo.

Artigo 19.º
Competências de funcionamento
Compete à junta de freguesia:
a) Executar e velar pelo cumprimento das deliberações da assembleia de freguesia;
b) Gerir os serviços da freguesia;
c) Proceder à marcação das faltas dos seus membros e à respetiva justificação;
d) Instaurar pleitos e defender-se neles, podendo confessar, desistir ou transigir, se não
houver ofensa de direitos de terceiros;
e) Gerir os recursos humanos ao serviço da freguesia.

SUBSECÇÃO II
Funcionamento

1 - A junta de freguesia reúne ordinariamente uma vez por mês, ou quinzenalmente, se o


julgar conveniente, e extraordinariamente sempre que necessário.
2 - A junta de freguesia delibera sobre os dias e horas das reuniões ordinárias, podendo
estabelecer dia e hora certos para as mesmas, devendo, neste último caso, publicar
editais, o que dispensa outras formas de convocação.

Artigo 21.º
Convocação das reuniões ordinárias
1 - Na falta da deliberação a que se refere o n.º 2 do artigo anterior, compete ao
presidente da junta de freguesia marcar o dia e hora certos das reuniões ordinárias e

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publicitar a decisão nos termos e com os efeitos da parte final do mesmo número.
2 - Quaisquer alterações ao dia e hora marcados nos termos do número anterior devem
ser comunicadas a todos os membros da junta de freguesia com, pelo menos, três dias
de antecedência e por carta com aviso de receção ou protocolo.

Artigo 22.º
Convocação das reuniões extraordinárias
1 - As reuniões extraordinárias podem ser convocadas por iniciativa do presidente da
junta de freguesia ou a requerimento da maioria dos seus membros, não podendo, neste
caso, ser recusada a convocação.
2 - As reuniões extraordinárias são convocadas com, pelo menos, cinco dias de
antecedência, sendo comunicadas a todos os membros da junta de freguesia por edital e
por carta com aviso de receção ou protocolo.
3 - O presidente da junta de freguesia convoca a reunião para um dos oito dias
subsequentes à receção do requerimento previsto no n.º 1.
4 - Quando o presidente da junta de freguesia não efetue a convocação que lhe tenha
sido requerida nos termos do número anterior, podem os requerentes efetuá-la
diretamente, observando, com as devidas adaptações, o disposto nos n.º s 2 e 3 e
promovendo a respetiva publicitação nos locais habituais.

CAPÍTULO III
Município

SECÇÃO I
Atribuições

Artigo 23.º
Atribuições do município
1 - Constituem atribuições do município a promoção e salvaguarda dos interesses
próprios das respetivas populações, em articulação com as freguesias.
2 - Os municípios dispõem de atribuições, designadamente, nos seguintes domínios:
a) Equipamento rural e urbano;
b) Energia;
c) Transportes e comunicações;
d) Educação, ensino e formação profissional;
e) Património, cultura e ciência;
f) Tempos livres e desporto;
g) Saúde;
h) Ação social;
i) Habitação;
j) Proteção civil;
k) Ambiente e saneamento básico;
l) Defesa do consumidor;
m) Promoção do desenvolvimento;
n) Ordenamento do território e urbanismo;
o) Polícia municipal;
p) Cooperação externa.

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SECÇÃO II
Assembleia municipal

SUBSECÇÃO I
Competências

Artigo 24.º
Competências
Sem prejuízo das demais competências legais e de acordo com o disposto no artigo 3.º,
a assembleia municipal tem as competências de apreciação e fiscalização e as
competências de funcionamento previstas na presente lei.

Artigo 25.º
Competências de apreciação e fiscalização
1 - Compete à assembleia municipal, sob proposta da câmara municipal:
a) Aprovar as opções do plano e a proposta de orçamento, bem como as respetivas
revisões;
b) Aprovar as taxas do município e fixar o respetivo valor;
c) Deliberar em matéria de exercício dos poderes tributários do município;
d) Fixar anualmente o valor da taxa do imposto municipal sobre imóveis, bem como
autorizar o lançamento de derramas;
e) Pronunciar-se, no prazo legal, sobre o reconhecimento pelo Governo de benefícios
fiscais no âmbito de impostos cuja receita reverte para os municípios;
f) Autorizar a contratação de empréstimos;
g) Aprovar as posturas e os regulamentos com eficácia externa do município;
h) Aprovar os planos e demais instrumentos estratégicos necessários à prossecução
das atribuições do município;
i) Autorizar a câmara municipal a adquirir, alienar ou onerar bens imóveis de valor
superior a 1000 vezes a RMMG, e fixar as respetivas condições gerais, podendo
determinar o recurso à hasta pública, assim como a alienar ou onerar bens ou valores
artísticos do município, independentemente do seu valor, sem prejuízo do disposto no
n.º 2 do artigo 33.º;
j) Deliberar sobre formas de apoio às freguesias no quadro da promoção e salvaguarda
articulada dos interesses próprios das populações;
k) Autorizar a celebração de contratos de delegação de competências entre a câmara
municipal e o Estado e entre a câmara municipal e a entidade intermunicipal e autorizar
a celebração e denúncia de contratos de delegação de competências e de acordos de
execução entre a câmara municipal e as juntas de freguesia;
l) Autorizar a resolução e revogação dos contratos de delegação de competências e a
resolução dos acordos de execução;
m) Aprovar a criação ou reorganização dos serviços municipais e a estrutura orgânica
dos serviços municipalizados;
n) Deliberar sobre a criação de serviços municipalizados e todas as matérias previstas
no regime jurídico da atividade empresarial local e das participações locais que o
mesmo não atribua à câmara municipal;
o) Aprovar os mapas de pessoal dos serviços municipais e dos serviços
municipalizados;
p) Autorizar a câmara municipal a celebrar contratos de concessão e fixar as respetivas
condições gerais;
q) Deliberar sobre a afetação ou desafetação de bens do domínio público municipal;

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r) Aprovar as normas, delimitações, medidas e outros atos previstos nos regimes do
ordenamento do território e do urbanismo;
s) Deliberar sobre a criação do conselho local de educação;
t) Autorizar a geminação do município com outros municípios ou entidades equiparadas
de outros países;
u) Autorizar o município a constituir as associações previstas no capítulo IV do título
III;
v) Autorizar os conselhos de administração dos serviços municipalizados a deliberar
sobre a concessão de apoio financeiro ou de qualquer outra natureza a instituições
legalmente constituídas ou participadas pelos seus trabalhadores, tendo por objeto o
desenvolvimento de atividades culturais, recreativas e desportivas, ou a concessão de
benefícios sociais aos mesmos e respetivos familiares;
w) Deliberar sobre a criação e a instituição em concreto do corpo de polícia municipal.
2 - Compete ainda à assembleia municipal:
a) Acompanhar e fiscalizar a atividade da câmara municipal, dos serviços
municipalizados, das empresas locais e de quaisquer outras entidades que integrem o
perímetro da administração local, bem como apreciar a execução dos contratos de
delegação de competências previstos na alínea k) do número anterior;
b) Apreciar, com base na informação disponibilizada pela câmara municipal, os
resultados da participação do município nas empresas locais e em quaisquer outras
entidades;
c) Apreciar, em cada uma das sessões ordinárias, uma informação escrita do presidente
da câmara municipal acerca da atividade desta e da situação financeira do município, a
qual deve ser enviada ao presidente da assembleia municipal com a antecedência
mínima de cinco dias sobre a data do início da sessão;
d) Solicitar e receber informação, através da mesa e a pedido de qualquer membro,
sobre assuntos de interesse para o município e sobre a execução de deliberações
anteriores;
e) Aprovar referendos locais;
f) Apreciar a recusa da prestação de quaisquer informações ou recusa da entrega de
documentos por parte da câmara municipal ou de qualquer dos seus membros que
obstem à realização de ações de acompanhamento e fiscalização;
g) Conhecer e tomar posição sobre os relatórios definitivos resultantes de ações tutelares
ou de auditorias executadas sobre a atividade dos órgãos e serviços do município;
h) Discutir, na sequência de pedido de qualquer dos titulares do direito de oposição, o
relatório a que se refere o Estatuto do Direito de Oposição;
i) Elaborar e aprovar o regulamento do conselho municipal de segurança;
j) Tomar posição perante quaisquer órgãos do Estado ou entidades públicas sobre
assuntos de interesse para o município;
k) Pronunciar-se e deliberar sobre todos os assuntos que visem a prossecução das
atribuições do município;
l) Apreciar o inventário dos bens, direitos e obrigações patrimoniais e a respetiva
avaliação, bem como apreciar e votar os documentos de prestação de contas;
m) Fixar o dia feriado anual do município;
n) Estabelecer, após parecer da Comissão de Heráldica da Associação dos Arqueólogos
Portugueses, a constituição dos brasões, dos selos e das bandeiras do município e
proceder à sua publicação no Diário da República.
3 - Não podem ser alteradas na assembleia municipal as propostas apresentadas pela
câmara municipal referidas nas alíneas a), i) e m) do n.º 1 e na alínea l) do número
anterior, sem prejuízo de esta poder vir a acolher em nova proposta as recomendações

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ou sugestões feitas pela assembleia municipal.
4 - As propostas de autorização para a contratação de empréstimos apresentadas pela
câmara municipal, nos termos da alínea f) do n.º 1, são obrigatoriamente acompanhadas
de informação detalhada sobre as condições propostas por, no mínimo, três instituições
de crédito, bem como do mapa demonstrativo da capacidade de endividamento do
município.
5 - Compete ainda à assembleia municipal:
a) Convocar o secretariado executivo metropolitano ou a comunidade intermunicipal,
conforme o caso, e nos termos da presente lei, com o limite de duas vezes por ano, para
responder perante os seus membros pelas atividades desenvolvidas no âmbito da área
metropolitana ou comunidade intermunicipal do respetivo município;
b) Aprovar moções de censura à comissão executiva metropolitana ou ao secretariado
executivo intermunicipal, no máximo de uma por mandato.

Nota: Segundo Marcelo Caetano a afetação é “o acto ou prática que consagra a coisa à produção efectiva
de utilidade pública” (Direito Administrativo, 1990: 922 e 923). A desafetação (do domínio público) é,
como inverso da afetação, o ato, da lei ou da Administração, de retirar ou subtrair a utilidade pública de
determinada coisa, retirando-a do regime jurídico do domínio público.

Artigo 26.º
Competências de funcionamento
1 - Compete à assembleia municipal:
a) Elaborar e aprovar o seu regimento;
b) Deliberar sobre recursos interpostos de marcação de faltas injustificadas aos seus
membros;
c) Deliberar sobre a constituição de delegações, comissões ou grupos de trabalho para o
estudo de matérias relacionadas com as atribuições do município e sem prejudicar o
funcionamento e a atividade normal da câmara municipal.
2 - No exercício das respetivas competências, a assembleia municipal é apoiada por
trabalhadores dos serviços do município a afetar pela câmara municipal, nos termos do
artigo 31.º

SUBSECÇÃO II
Funcionamento

Artigo 27.º
Sessões ordinárias
1 - A assembleia municipal reúne em cinco sessões ordinárias anuais, em fevereiro,
abril, junho, setembro e novembro ou dezembro, convocadas com uma antecedência
mínima de oito dias por edital e por carta com aviso de receção ou protocolo.
2 - A apreciação do inventário dos bens, direitos e obrigações patrimoniais, a respetiva
avaliação e a apreciação e votação dos documentos de prestação de contas do ano
anterior devem ter lugar na sessão ordinária de abril, e a aprovação das opções do plano
e da proposta de orçamento para o ano seguinte na sessão de novembro ou dezembro,
salvo o disposto no artigo 61.º

Artigo 28.º
Sessões extraordinárias
1 - A assembleia municipal reúne em sessão extraordinária por iniciativa do seu
presidente, da mesa ou após requerimento:
a) Do presidente da câmara municipal, em cumprimento de deliberação desta;

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b) De um terço dos seus membros;
c) De um número de cidadãos eleitores inscritos no recenseamento eleitoral do
município equivalente a 5 % do número de cidadãos eleitores até ao limite máximo de
2500.
2 - O presidente da assembleia municipal, no prazo de cinco dias após a sua iniciativa
ou a da mesa ou a receção dos requerimentos previstos no número anterior, por edital e
por carta com aviso de receção ou protocolo, convoca a sessão extraordinária da
assembleia municipal.
3 - A sessão extraordinária referida no número anterior deve ser realizada no prazo
mínimo de três dias e máximo de 10 após a sua convocação.
4 - Quando o presidente da mesa da assembleia municipal não convoque a sessão
extraordinária requerida, podem os requerentes convocá-la diretamente, observando,
com as devidas adaptações, o disposto nos n.º s 2 e 3, e promovendo a respetiva
publicitação nos locais habituais.

Artigo 29.º
Mesa da assembleia municipal
1 - Compete à mesa:
a) Elaborar o projeto de regimento da assembleia municipal ou propor a constituição de
um grupo de trabalho para o efeito;
b) Deliberar sobre as questões de interpretação e integração de lacunas do regimento;
c) Elaborar a ordem do dia das sessões e proceder à sua distribuição;
d) Verificar a conformidade legal e admitir as propostas da câmara municipal
legalmente sujeitas à competência deliberativa da assembleia municipal;
e) Encaminhar, em conformidade com o regimento, as iniciativas dos membros da
assembleia municipal, dos grupos municipais e da câmara municipal;
f) Assegurar a redação final das deliberações;
g) Realizar as ações que lhe sejam determinadas pela assembleia municipal no exercício
da competência a que se refere a alínea a) do n.º 2 do artigo 25.º;
h) Encaminhar para a assembleia municipal as petições e queixas dirigidas à mesma;
i) Requerer à câmara municipal ou aos seus membros a documentação e informação que
considere necessárias ao exercício das competências da assembleia municipal, assim
como ao desempenho das suas funções, nos termos e com a periodicidade julgados
convenientes;
j) Proceder à marcação e justificação de faltas dos membros da assembleia municipal;
k) Comunicar à assembleia municipal a recusa da prestação de quaisquer informações
ou documentos, bem como a falta de colaboração por parte da câmara municipal ou dos
seus membros;
l) Comunicar à assembleia municipal as decisões judiciais relativas à perda de mandato
em que incorra qualquer membro;
m) Dar conhecimento à assembleia municipal do expediente relativo aos assuntos
relevantes;
n) Exercer os poderes funcionais e cumprir as diligências que lhe sejam determinadas
pela assembleia municipal;
o) Exercer as demais competências legais.
2 - O pedido de justificação de faltas pelo interessado é feito por escrito e dirigido à
mesa, no prazo de cinco dias a contar da data da sessão ou reunião em que a falta se
tenha verificado, e a decisão é notificada ao interessado, pessoalmente ou por via postal.
3 - Das deliberações da mesa da assembleia municipal cabe recurso para o plenário.

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Artigo 30.º
Presidente e secretários
1 - Compete ao presidente da assembleia municipal:
a) Representar a assembleia municipal, assegurar o seu regular funcionamento e presidir
aos seus trabalhos;
b) Convocar as sessões ordinárias e extraordinárias;
c) Abrir e encerrar os trabalhos das sessões;
d) Dirigir os trabalhos e manter a disciplina das sessões;
e) Assegurar o cumprimento da lei e a regularidade das deliberações;
f) Suspender e encerrar antecipadamente as sessões, quando circunstâncias excecionais
o justifiquem, mediante decisão fundamentada a incluir na ata da sessão;
g) Integrar o conselho municipal de segurança;
h) Comunicar à assembleia de freguesia ou à câmara municipal as faltas dos presidentes
de junta de freguesia e do presidente da câmara municipal às sessões da assembleia
municipal;
i) Comunicar ao Ministério Público competente as faltas injustificadas dos restantes
membros da assembleia, para os efeitos legais;
j) Exercer os poderes funcionais e cumprir as diligências que lhe sejam determinados
pelo regimento ou pela assembleia municipal;
k) Exercer as demais competências legais.
2 - Compete ainda ao presidente da assembleia municipal autorizar a realização de
despesas orçamentadas relativas a senhas de presença, ajudas de custo e subsídios de
transporte dos membros da assembleia municipal e de despesas relativas às aquisições
de bens e serviços correntes necessárias ao seu regular funcionamento e representação,
comunicando o facto, para os devidos efeitos legais, incluindo os correspondentes
procedimentos administrativos, ao presidente da câmara municipal.
3 - Compete aos secretários coadjuvar o presidente da assembleia municipal no
exercício das suas funções, assegurar o expediente e, na falta de trabalhador designado
para o efeito, lavrar as atas das sessões.

Artigo 31.º
Funcionamento
1 - A assembleia municipal dispõe de um núcleo de apoio próprio, sob orientação do
respetivo presidente e composto por trabalhadores do município, nos termos definidos
pela mesa e a afetar pela câmara municipal.
2 - A assembleia municipal dispõe igualmente de instalações e equipamentos
necessários ao seu funcionamento e representação, a afetar pela câmara municipal.
3 - No orçamento municipal são inscritas, sob proposta da mesa da assembleia
municipal, dotações discriminadas em rubricas próprias para pagamento das senhas de
presença, ajudas de custo e subsídios de transporte dos membros da assembleia
municipal, bem como para a aquisição dos bens e serviços correntes necessária ao seu
funcionamento e representação.

SECÇÃO III
Câmara municipal

SUBSECÇÃO I
Competências

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Artigo 32.º
Natureza das competências
Sem prejuízo das demais competências legais e de acordo com o disposto no artigo 3.º,
a câmara municipal tem as competências materiais e as competências de funcionamento
previstas na presente lei.

Artigo 33.º
Competências materiais
1 - Compete à câmara municipal:
a) Elaborar e submeter à aprovação da assembleia municipal os planos necessários
à realização das atribuições municipais;
b) Participar, com outras entidades, no planeamento que diretamente se relacione
com as atribuições do município, emitindo parecer a submeter a apreciação e
deliberação da assembleia municipal;
c) Elaborar e submeter a aprovação da assembleia municipal as opções do plano e a
proposta do orçamento, assim como as respetivas revisões;
d) Executar as opções do plano e orçamento, assim como aprovar as suas alterações;
e) Fixar os preços da prestação de serviços ao público pelos serviços municipais ou
municipalizados, sem prejuízo, quando for caso disso, das competências legais das
entidades reguladoras;
f) Aprovar os projetos, programas de concurso, cadernos de encargos e a adjudicação de
empreitadas e aquisição de bens e serviços, cuja autorização de despesa lhe caiba;
g) Adquirir, alienar ou onerar bens imóveis de valor até 1000 vezes a RMMG;
h) Alienar em hasta pública, independentemente de autorização da assembleia
municipal, bens imóveis de valor superior ao referido na alínea anterior, desde que a
alienação decorra da execução das opções do plano e a respetiva deliberação tenha sido
aprovada por maioria de dois terços dos membros da assembleia municipal em
efetividade de funções;
i) Elaborar e aprovar a norma de controlo interno, bem como o inventário dos bens,
direitos e obrigações patrimoniais do município e respetiva avaliação e ainda os
documentos de prestação de contas, a submeter à apreciação e votação da assembleia
municipal;
j) Aceitar doações, legados e heranças a benefício de inventário;
k) Elaborar e submeter à aprovação da assembleia municipal os projetos de
regulamentos externos do município, bem como aprovar regulamentos internos;
l) Discutir e preparar com os departamentos governamentais e com as juntas de
freguesia contratos de delegação de competências e acordos de execução, nos termos
previstos na presente lei;
m) Submeter à assembleia municipal, para efeitos de autorização, propostas de
celebração de contratos de delegação de competências com o Estado e propostas de
celebração e denúncia de contratos de delegação de competências com o Estado e as
juntas de freguesia e de acordos de execução com as juntas de freguesia;
n) Submeter à assembleia municipal, para efeitos de autorização, propostas de resolução
e revogação dos contratos de delegação de competências e dos acordos de execução;
o) Deliberar sobre as formas de apoio a entidades e organismos legalmente existentes,
nomeadamente com vista à execução de obras ou à realização de eventos de interesse
para o município, bem como à informação e defesa dos direitos dos cidadãos;
p) Deliberar sobre a concessão de apoio financeiro ou de qualquer outra natureza a
instituições legalmente constituídas ou participadas pelos trabalhadores do município,
tendo por objeto o desenvolvimento de atividades culturais, recreativas e desportivas, ou

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a concessão de benefícios sociais aos mesmos e respetivos familiares;
q) Assegurar a integração da perspetiva de género em todos os domínios de ação do
município, designadamente através da adoção de planos municipais para a igualdade;
r) Colaborar no apoio a programas e projetos de interesse municipal, em parceria com
entidades da administração central;
s) Deliberar sobre a constituição e participação nas associações previstas no capítulo IV
do título III;
t) Assegurar, incluindo a possibilidade de constituição de parcerias, o levantamento,
classificação, administração, manutenção, recuperação e divulgação do património
natural, cultural, paisagístico e urbanístico do município, incluindo a construção de
monumentos de interesse municipal;
u) Promover a oferta de cursos de ensino e formação profissional dual, no âmbito do
ensino não superior, e apoiar atividades de natureza social, cultural, educativa,
desportiva, recreativa ou outra de interesse para o município, incluindo aquelas que
contribuam para a promoção da saúde e prevenção das doenças;
v) Participar na prestação de serviços e prestar apoio a pessoas em situação de
vulnerabilidade, em parceria com as entidades competentes da administração central e
com instituições particulares de solidariedade social, nas condições constantes de
regulamento municipal;
w) Ordenar, precedendo vistoria, a demolição total ou parcial ou a beneficiação de
construções que ameacem ruína ou constituam perigo para a saúde ou segurança das
pessoas;
x) Emitir licenças, registos e fixação de contingentes relativamente a veículos, nos casos
legalmente previstos;
y) Exercer o controlo prévio, designadamente nos domínios da construção,
reconstrução, conservação ou demolição de edifícios, assim como relativamente aos
estabelecimentos insalubres, incómodos, perigosos ou tóxicos;
z) Emitir parecer sobre projetos de obras não sujeitas a controlo prévio;
aa) Promover a observância das normas legais e regulamentares aplicáveis às obras
referidas na alínea anterior;
bb) Executar as obras, por administração direta ou empreitada;
cc) Alienar bens móveis;
dd) Proceder à aquisição e locação de bens e serviços;
ee) Criar, construir e gerir instalações, equipamentos, serviços, redes de circulação, de
transportes, de energia, de distribuição de bens e recursos físicos integrados no
património do município ou colocados, por lei, sob administração municipal;
ff) Promover e apoiar o desenvolvimento de atividades e a realização de eventos
relacionados com a atividade económica de interesse municipal;
gg) Assegurar, organizar e gerir os transportes escolares;
hh) Deliberar no domínio da ação social escolar, designadamente no que respeita a
alimentação, alojamento e atribuição de auxílios económicos a estudantes;
ii) Proceder à captura, alojamento e abate de canídeos e gatídeos;
jj) Deliberar sobre a deambulação e extinção de animais considerados nocivos;
kk) Declarar prescritos a favor do município, após publicação de avisos, os jazigos,
mausoléus ou outras obras, assim como sepulturas perpétuas instaladas nos cemitérios
propriedade municipal, quando não sejam conhecidos os seus proprietários ou
relativamente aos quais se mostre que, após notificação judicial, se mantém desinteresse
na sua conservação e manutenção, de forma inequívoca e duradoura;
ll) Participar em órgãos de gestão de entidades da administração central;
mm) Designar os representantes do município nos conselhos locais;

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nn) Participar em órgãos consultivos de entidades da administração central;
oo) Designar o representante do município na assembleia geral das empresas locais,
assim como os seus representantes em quaisquer outras entidades nas quais o município
participe, independentemente de integrarem ou não o perímetro da administração local;
pp) Nomear e exonerar o conselho de administração dos serviços municipalizados;
qq) Administrar o domínio público municipal;
rr) Deliberar sobre o estacionamento de veículos nas vias públicas e demais lugares
públicos;
ss) Estabelecer a denominação das ruas e praças das localidades e das povoações, após
parecer da correspondente junta de freguesia;
tt) Estabelecer as regras de numeração dos edifícios;
uu) Deliberar sobre a administração dos recursos hídricos que integram o domínio
público do município;
vv) Propor a declaração de utilidade pública para efeitos de expropriação;
ww) Enviar ao Tribunal de Contas as contas do município;
xx) Deliberar, no prazo máximo de 30 dias, sobre os recursos hierárquicos impróprios
das deliberações do conselho de administração dos serviços municipalizados;
yy) Dar cumprimento ao Estatuto do Direito de Oposição;
zz) Promover a publicação de documentos e registos, anais ou de qualquer outra
natureza, que salvaguardem e perpetuem a história do município;
aaa) Deliberar sobre a participação do município em projetos e ações de cooperação
descentralizada, designadamente no âmbito da União Europeia e da Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa;
bbb) Assegurar o apoio adequado ao exercício de competências por parte do Estado;
ccc) Apresentar propostas à assembleia municipal sobre matérias da competência desta.
ddd) Deliberar sobre as formas de apoio, em complementaridade com o Estado, às
instituições de ensino superior, do sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação e
ao Serviço Nacional de Saúde, para a requalificação dos equipamentos e infraestruturas
ou para o desenvolvimento de projetos ou ações, de interesse para o município, nas
condições a definir em contrato-programa.
2 - A alienação de bens e valores artísticos do património do município é objeto de
legislação especial.

Artigo 34.º
Delegação de competências no presidente da câmara municipal
1 - A câmara municipal pode delegar as suas competências no respetivo presidente, com
exceção das previstas nas alíneas a), b), c), e), i), j), k), m), n), o), p), s), u), z), aa), hh),
oo), vv), aaa) e ccc) do n.º 1 do artigo anterior e na alínea a) do artigo 39.º, com
possibilidade de subdelegação em qualquer dos vereadores.
2 - Das decisões tomadas pelo presidente da câmara municipal ou pelos vereadores no
exercício de competências delegadas ou subdelegadas cabe recurso para a câmara
municipal, sem prejuízo da sua impugnação contenciosa.
3 - O recurso para a câmara municipal pode ter por fundamento a ilegalidade ou
inconveniência da decisão e é apreciado no prazo máximo de 30 dias.

Artigo 35.º
Competências do presidente da câmara municipal
1 - Compete ao presidente da câmara municipal:
a) Representar o município em juízo e fora dele;
b) Executar as deliberações da câmara municipal e coordenar a respetiva atividade;

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c) Dar cumprimento às deliberações da assembleia municipal, sempre que para a sua
execução seja necessária a intervenção da câmara municipal;
d) Elaborar e manter atualizado o cadastro dos bens móveis e imóveis do município;
e) Participar ao Ministério Público as faltas injustificadas dos membros da câmara
municipal, para os efeitos legais;
f) Aprovar os projetos, programas de concurso, cadernos de encargos e a adjudicação de
empreitadas e aquisição de bens e serviços, cuja autorização de despesa lhe caiba;
g) Autorizar a realização das despesas orçamentadas até ao limite estipulado por lei ou
por delegação da câmara municipal, com a exceção das referidas no n.º 2 do artigo 30.º;
h) Autorizar o pagamento das despesas realizadas;
i) Comunicar, no prazo legal, às entidades competentes para a respetiva cobrança o
valor da taxa do imposto municipal sobre imóveis, assim como, quando for o caso, a
deliberação sobre o lançamento de derramas;
j) Submeter a norma de controlo interno, bem como o inventário dos bens, direitos e
obrigações patrimoniais do município e respetiva avaliação, e ainda os documentos de
prestação de contas, à aprovação da câmara municipal e à apreciação e votação da
assembleia municipal, com exceção da norma de controlo interno;
k) Enviar ao Tribunal de Contas os documentos que devam ser submetidos à sua
apreciação, sem prejuízo do disposto na alínea ww) do n.º 1 do artigo 33.º;
l) Assinar ou visar a correspondência da câmara municipal que tenha como destinatários
quaisquer entidades ou organismos públicos;
m) Convocar, nos casos previstos no n.º 4 do artigo 40.º, as reuniões ordinárias da
câmara municipal para o dia e hora marcados e enviar a ordem do dia a todos os outros
membros;
n) Convocar as reuniões extraordinárias;
o) Estabelecer e distribuir a ordem do dia das reuniões;
p) Abrir e encerrar as reuniões, dirigir os trabalhos e assegurar o cumprimento da lei e a
regularidade das deliberações;
q) Suspender ou encerrar antecipadamente as reuniões, quando circunstâncias
excecionais o justifiquem, mediante decisão fundamentada a incluir na ata da reunião;
r) Representar a câmara municipal nas sessões da assembleia municipal;
s) Responder, em tempo útil e de modo a permitir a sua apreciação na sessão seguinte
da assembleia municipal, aos pedidos de informação apresentados por esta;
t) Promover a publicação das decisões ou deliberações previstas no artigo 56.º;
u) Promover o cumprimento do Estatuto do Direito de Oposição e a publicação do
respetivo relatório de avaliação;
v) Dirigir, em articulação com os organismos da administração pública com
competência no domínio da proteção civil, o serviço municipal de proteção civil, tendo
em vista o cumprimento dos planos de emergência e programas estabelecidos e a
coordenação das atividades a desenvolver naquele âmbito, designadamente em
operações de socorro e assistência na iminência ou ocorrência de acidente grave ou
catástrofe;
w) Presidir ao conselho municipal de segurança;
x) Remeter à assembleia municipal a minuta das atas e as atas das reuniões da câmara
municipal, logo que aprovadas;
y) Enviar à assembleia municipal, para os efeitos previstos na alínea c) do n.º 2 do
artigo 25.º, toda a documentação, designadamente relatórios, pareceres, memorandos e
documentos de igual natureza, incluindo a respeitante às entidades abrangidas pelo
regime jurídico da atividade empresarial local e das participações locais, quando
existam, indispensável para a compreensão e análise crítica e objetiva da informação aí

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inscrita.
2 - Compete ainda ao presidente da câmara municipal:
a) Decidir todos os assuntos relacionados com a gestão e direção dos recursos humanos
afetos aos serviços municipais;
b) Designar o trabalhador que serve de oficial público para lavrar todos os contratos nos
termos da lei;
c) Modificar ou revogar os atos praticados por trabalhadores afetos aos serviços da
câmara municipal;
d) Gerir os recursos humanos dos estabelecimentos de educação;
e) Promover a execução, por administração direta ou empreitada, das obras, bem como
proceder à aquisição de bens e serviços;
f) Outorgar contratos em representação do município;
g) Intentar ações judiciais e defender-se nelas, podendo confessar, desistir ou transigir,
se não houver ofensa de direitos de terceiros;
h) Praticar os atos necessários à administração corrente do património do município e à
sua conservação;
i) Proceder aos registos prediais do património imobiliário do município, bem como a
registos de qualquer outra natureza;
j) Conceder autorizações de utilização de edifícios;
k) Embargar e ordenar a demolição de quaisquer obras, construções ou edificações,
efetuadas por particulares ou pessoas coletivas, nos seguintes casos:
i) Sem licença ou na falta de qualquer outro procedimento de controlo prévio
legalmente previsto ou com inobservância das condições neles constantes;
ii) Com violação dos regulamentos, das posturas municipais, de medidas preventivas, de
normas provisórias, de áreas de construção prioritária, de áreas de desenvolvimento
urbano prioritário ou de planos municipais de ordenamento do território plenamente
eficazes;
l) Ordenar o despejo sumário dos prédios cuja expropriação por utilidade pública tenha
sido declarada;
m) Conceder licenças policiais ou fiscais, nos termos da lei, regulamentos e posturas;
n) Determinar a instrução dos processos de contraordenação e aplicar as coimas, com a
faculdade de delegação em qualquer dos outros membros da câmara municipal;
o) Dar conhecimento à câmara municipal e enviar à assembleia municipal cópias dos
relatórios definitivos resultantes de ações tutelares ou de auditorias sobre a atividade da
câmara municipal e dos serviços do município, no prazo máximo de 10 dias após o
recebimento dos mesmos;
p) Conceder terrenos, nos cemitérios propriedade do município, para jazigos, mausoléus
e sepulturas perpétuas.
3 - Em circunstâncias excecionais, e no caso de, por motivo de urgência, não ser
possível reunir extraordinariamente a câmara municipal, o presidente pode praticar
quaisquer atos da competência desta, ficando os mesmos sujeitos a ratificação na
primeira reunião realizada após a sua prática, sob pena de anulabilidade.
4 - Da informação prevista na alínea c) do n.º 2 do artigo 25.º devem constar o saldo e o
estado das dívidas a fornecedores e as reclamações, recursos hierárquicos e processos
judiciais pendentes, com indicação da respetiva fase e estado.

Artigo 36.º
Distribuição de funções
1 - O presidente da câmara municipal é coadjuvado pelos vereadores no exercício das
suas funções.

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2 - O presidente da câmara municipal pode delegar ou subdelegar competências nos
vereadores.
Artigo 37.º
Coordenação dos serviços municipais
Sem prejuízo dos poderes de fiscalização dos quais sejam titulares os membros da
câmara municipal nos domínios sob sua responsabilidade, compete ao presidente da
câmara municipal a coordenação dos serviços municipais.

Artigo 38.º
Delegação de competências nos dirigentes
1 - O presidente da câmara municipal e os vereadores podem delegar ou subdelegar no
dirigente da unidade orgânica materialmente competente as competências previstas nas
alíneas a), b), c), g), h), k) e v) do n.º 1 e d), f), h), i), m) e p) do n.º 2 do artigo 35.º
2 - No domínio da gestão e direção de recursos humanos, podem ainda ser objeto de
delegação ou subdelegação as seguintes competências:
a) Aprovar e alterar o mapa de férias e restantes decisões relativas a férias, sem prejuízo
pelo regular funcionamento do serviço e da salvaguarda do interesse público;
b) Justificar faltas;
c) Conceder licenças sem remuneração ou sem vencimento até ao prazo máximo de um
ano;
d) Homologar a avaliação de desempenho dos trabalhadores, nos casos em que o
delegado ou subdelegado não tenha sido o notador;
e) Decidir em matéria de organização e horário de trabalho, tendo em conta as
orientações superiormente fixadas;
f) Autorizar a prestação de trabalho extraordinário;
g) Assinar contratos de trabalho em funções públicas;
h) Homologar a avaliação do período experimental;
i) Praticar os atos relativos à aposentação dos trabalhadores;
j) Praticar os atos respeitantes ao regime de segurança social, incluindo os relativos a
acidentes em serviço e acidentes de trabalho.
3 - Podem ainda ser objeto de delegação ou subdelegação as seguintes competências:
a) Autorizar a realização e o pagamento de despesas em cumprimento de contratos de
adesão cuja celebração tenha sido autorizada e com cabimento no orçamento em vigor;
b) Autorizar a realização de despesas até ao limite estabelecido por lei;
c) Autorizar o registo de inscrição de técnicos;
d) Autorizar termos de abertura e encerramento em livros sujeitos a essa formalidade,
designadamente livros de obra;
e) Autorizar a restituição aos interessados de documentos juntos a processos;
f) Autorizar a passagem de termos de identidade, idoneidade e justificação
administrativa;
g) Autorizar a passagem de certidões ou fotocópias autenticadas aos interessados,
relativas a processos ou documentos constantes de processos arquivados e que careçam
de despacho ou deliberação dos eleitos locais;
h) Emitir alvarás exigidos por lei na sequência da decisão ou deliberação que confiram
esse direito;
i) Conceder licenças de ocupação da via pública por motivo de obras;
j) Autorizar a renovação de licenças que dependa unicamente do cumprimento de
formalidades burocráticas ou similares pelos interessados;
k) Emitir o cartão de vendedor ambulante;
l) Determinar a instrução de processos de contraordenação e designar o respetivo

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instrutor;
m) Praticar outros atos e formalidades de caráter instrumental necessários ao exercício
da competência decisória do delegante ou subdelegante.
n) As competências previstas no artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de dezembro,
na sua redação atual.
4 - A delegação ou subdelegação da competência prevista na alínea a) do n.º 1 do artigo
35.º depende da prática de ato especialmente dirigido a cada uma das representações em
causa.
5 - Às delegações e subdelegações previstas no presente artigo é aplicável, com as devidas
adaptações, o disposto nos n.º s 2 e 3 do artigo 34.º
Artigo 39.º
Competências de funcionamento
Compete à câmara municipal:
a) Elaborar e aprovar o regimento;
b) Executar e velar pelo cumprimento das deliberações da assembleia municipal;
c) Proceder à marcação e justificação das faltas dos seus membros.

SUBSECÇÃO II
Funcionamento

Artigo 40.º
Periodicidade das reuniões
1 - A câmara municipal tem uma reunião ordinária semanal, ou quinzenal, se o
julgar conveniente, e reuniões extraordinárias sempre que necessário.
2 - As reuniões ordinárias da câmara municipal devem ter lugar em dia e hora certos,
cuja marcação é objeto de deliberação na sua primeira reunião.
3 - A deliberação prevista no número anterior é objeto de publicitação por edital e deve
constar em permanência no sítio da Internet do município, considerando-se convocados
todos os membros da câmara municipal.
4 - Quaisquer alterações ao dia e hora objeto da deliberação prevista no n.º 2 devem ser
devidamente justificadas e comunicadas a todos os membros do órgão com, pelo menos,
três dias de antecedência e por protocolo.

Artigo 41.º
Convocação das reuniões extraordinárias
1 - As reuniões extraordinárias podem ser convocadas por iniciativa do presidente da
câmara municipal ou após requerimento de, pelo menos, um terço dos respetivos
membros.
2 - As reuniões extraordinárias são convocadas com, pelo menos, dois dias de
antecedência por protocolo, aplicando-se, com as devidas adaptações, o disposto no n.º
3 do artigo anterior.
3 - O presidente da câmara municipal convoca a reunião para um dos oito dias
subsequentes à receção do requerimento previsto no n.º 1.
4 - Quando o presidente da câmara municipal não efetue a convocação que lhe tenha
sido requerida ou não o faça nos termos do número anterior, podem os requerentes
efetuá-la diretamente, aplicando-se, com as devidas adaptações, o disposto no número
anterior e publicitando a convocação nos locais habituais.

Artigo 42.º
Apoio aos membros da câmara municipal

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1 - O presidente da câmara municipal pode constituir um gabinete de apoio à
presidência, com a seguinte composição:
a) Nos municípios com um número de eleitores igual ou inferior a 50 000, um chefe do
gabinete e um adjunto ou secretário;
b) Nos municípios com um número de eleitores superior a 50 000 e igual ou inferior a
100 000, um chefe do gabinete, um adjunto e um secretário;
c) Nos restantes municípios, um chefe do gabinete, dois adjuntos e um secretário.
2 - O presidente da câmara municipal pode constituir um gabinete de apoio ao conjunto
dos vereadores que exerçam funções a tempo inteiro ou a meio tempo, com a seguinte
composição:
a) Nos municípios com um número de eleitores igual ou inferior a 10 000, um
secretário;
b) Nos municípios com um número de eleitores superior a 10 000 e igual ou inferior a
50 000, dois secretários;
c) Nos municípios com um número de eleitores superior a 50 000 e igual ou inferior a
100 000, três secretários;
d) Nos restantes municípios, um adjunto e um secretário por cada vereador a tempo
inteiro, até ao limite máximo do número de vereadores indispensável para assegurar
uma maioria de membros da câmara municipal em exercício de funções a tempo inteiro.
3 - O gabinete de apoio previsto no n.º 2 é denominado gabinete de apoio à vereação.
4 - O gabinete de apoio à presidência pode ser constituído por mais um adjunto ou
secretário, desde que tal implique a não nomeação do chefe do gabinete.
5 - O gabinete de apoio à presidência e os gabinetes de apoio à vereação podem ser
constituídos por um número de secretários superior ao referido nos n.º s 1 e 2, desde que
tal implique a não nomeação, em igual número, de adjuntos.
6 - O presidente da câmara municipal e os vereadores podem delegar a prática de atos
de administração ordinária nos membros dos respetivos gabinetes de apoio.
7 - O presidente da câmara municipal deve disponibilizar a todos os vereadores os
recursos físicos, materiais e humanos necessários ao exercício do respetivo mandato,
devendo, para o efeito, recorrer preferencialmente aos serviços do município.

Artigo 43.º
Estatuto dos membros dos gabinetes de apoio pessoal
1 - A remuneração do chefe do gabinete de apoio à presidência é igual a 90 % da
remuneração base do vereador a tempo inteiro, em regime de exclusividade, da câmara
municipal correspondente.
2 - A remuneração dos adjuntos dos gabinetes de apoio à presidência e à vereação é
igual a 80 % da remuneração base do vereador a tempo inteiro, em regime de
exclusividade, da câmara municipal correspondente.
3 - A remuneração dos secretários dos gabinetes de apoio à presidência e à vereação é
igual a 60 % da remuneração base do vereador a tempo inteiro, em regime de
exclusividade, da câmara municipal correspondente.
4 - Os membros dos gabinetes de apoio à presidência e à vereação são designados e
exonerados pelo presidente da câmara municipal, sob proposta dos vereadores no caso
do gabinete de apoio à vereação, e o exercício das suas funções cessa igualmente com a
cessação do mandato do presidente da câmara municipal.
5 - Aos membros dos gabinetes de apoio referidos nos números anteriores é aplicável,
com as devidas adaptações, o disposto no diploma que estabelece o regime jurídico a
que estão sujeitos os gabinetes dos membros do Governo no que respeita a designação,

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funções, regime de exclusividade, incompatibilidades, impedimentos, deveres e
garantias.
CAPÍTULO IV
Disposições comuns aos órgãos das autarquias locai

Artigo 44.º
Princípio da independência
Os órgãos das autarquias locais são independentes e as suas deliberações só podem ser
suspensas, modificadas, revogadas ou anuladas nos termos da lei.

Artigo 45.º
Princípio da especialidade
Os órgãos das autarquias locais só podem deliberar no quadro da prossecução das
atribuições destas e no âmbito do exercício das suas competências, nos termos da lei.

Artigo 46.º
Sessão
Os órgãos deliberativos podem, quando necessário, reunir mais do que uma vez no
decurso da mesma sessão.
Artigo 47.º
Participação de eleitores
1 - Nas sessões extraordinárias dos órgãos deliberativos convocadas após requerimento
de cidadãos eleitores têm o direito de participar, nos termos a definir no regimento e
sem direito de voto, dois representantes dos respetivos requerentes.
2 - Os representantes referidos no número anterior podem apresentar sugestões ou
propostas, as quais são votadas se tal for deliberado.

Artigo 48.º
Primeira reunião
A primeira reunião dos órgãos executivos realiza-se no prazo máximo de cinco dias
após a sua constituição, competindo ao seu presidente a respetiva marcação e
convocação, com a antecedência mínima de dois dias, por edital e por carta com aviso
de receção ou protocolo.
Artigo 49.º
Sessões e reuniões
1 - As sessões dos órgãos deliberativos das autarquias locais são públicas, sendo fixado,
nos termos do regimento, um período para intervenção e esclarecimento ao público.
2 - Os órgãos executivos das autarquias locais realizam, pelo menos, uma reunião
pública mensal, aplicando-se, com as devidas adaptações, o disposto na parte final do
número anterior.
3 - Às sessões e reuniões dos órgãos das autarquias locais deve ser dada publicidade,
com indicação dos dias, horas e locais da sua realização, de forma a promover o
conhecimento dos interessados com uma antecedência de, pelo menos, dois dias úteis
sobre a data das mesmas.
4 - A nenhum cidadão é permitido intrometer-se nas discussões, aplaudir ou reprovar as
opiniões emitidas, as votações feitas ou as deliberações tomadas.
5 - A violação do disposto no número anterior é punida com coima de (euro) 150 a
(euro) 750, para cuja aplicação é competente o juiz da comarca, após participação do
presidente do respetivo órgão.
6 - As atas das sessões e reuniões, terminada a menção aos assuntos incluídos na ordem

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do dia, fazem referência sumária às eventuais intervenções do público na solicitação de
esclarecimentos e às respostas dadas.

Artigo 50.º
Objeto das deliberações
1 - Só podem ser objeto de deliberação os assuntos incluídos na ordem do dia da sessão
ou reunião.
2 - Tratando-se de sessão ordinária de órgão deliberativo, e no caso de urgência
reconhecida por dois terços dos seus membros, pode o mesmo deliberar sobre assuntos
não incluídos na ordem do dia.

Artigo 51.º
Convocação ilegal de sessões ou reuniões
A ilegalidade resultante da inobservância das disposições sobre convocação de sessões
ou reuniões só se considera sanada quando todos os membros do órgão compareçam e
não suscitem oposição à sua realização.

Artigo 52.º
Período de antes da ordem do dia
Em cada sessão ou reunião ordinária dos órgãos das autarquias locais é fixado um
período de antes da ordem do dia, com a duração máxima de 60 minutos, para
tratamento de assuntos gerais de interesse autárquico.

Artigo 53.º
Ordem do dia
1 - A ordem do dia deve incluir os assuntos indicados pelos membros do respetivo
órgão, desde que sejam da competência deste e o pedido correspondente seja
apresentado por escrito com uma antecedência mínima de:
a) Cinco dias úteis sobre a data da sessão ou reunião, no caso de sessões ou reuniões
ordinárias;
b) Oito dias úteis sobre a data da sessão ou reunião, no caso de sessões ou reuniões
extraordinárias.
2 - A ordem do dia é entregue a todos os membros do órgão com a antecedência mínima
de dois dias úteis sobre a data do início da sessão ou reunião, enviando-se-lhes, em
simultâneo, a respetiva documentação.

Artigo 54.º
Quórum
1 - Os órgãos das autarquias locais só podem reunir e deliberar quando esteja presente a
maioria do número legal dos seus membros.
2 - As deliberações são tomadas à pluralidade de votos, tendo o presidente voto de
qualidade em caso de empate, não contando as abstenções para o apuramento da
maioria.
3 - Quando o órgão não possa reunir por falta de quórum, o presidente designa outro dia
para nova sessão ou reunião, que tem a mesma natureza da anterior, a convocar nos
termos previstos na presente lei.
4 - Das sessões ou reuniões canceladas por falta de quórum é elaborada ata na qual se
registam as presenças e ausências dos respetivos membros, dando estas lugar à
marcação de falta.

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Artigo 55.º
Formas de votação
1 - A votação é nominal, salvo se o regimento estipular ou o órgão deliberar, por
proposta de qualquer membro, outra forma de votação.
2 - O presidente vota em último lugar.
3 - As deliberações que envolvam a apreciação de comportamentos ou de qualidades de
qualquer pessoa são tomadas por escrutínio secreto e, em caso de dúvida, o órgão
delibera sobre a forma da votação.
4 - Havendo empate em votação por escrutínio secreto, procede-se imediatamente a
nova votação e, se o empate se mantiver, adia-se a deliberação para a sessão ou reunião
seguinte, procedendo-se a votação nominal se na primeira votação desta sessão ou
reunião se repetir o empate.
5 - Quando necessária, a fundamentação das deliberações tomadas por escrutínio secreto
é feita pelo presidente após a votação, tendo em conta a discussão que a tiver precedido.
6 - Não podem estar presentes no momento da discussão nem da votação os membros
do órgão que se encontrem ou se considerem impedidos.

Artigo 56.º
Publicidade das deliberações
1 - Para além da publicação em Diário da República quando a lei expressamente o
determine, as deliberações dos órgãos das autarquias locais, bem como as decisões dos
respetivos titulares destinadas a ter eficácia externa, devem ser publicadas em edital
afixado nos lugares de estilo durante cinco dos 10 dias subsequentes à tomada da
deliberação ou decisão, sem prejuízo do disposto em legislação especial.
2 - Os atos referidos no número anterior são ainda publicados no sítio da Internet, no
boletim da autarquia local e nos jornais regionais editados ou distribuídos na área da
respetiva autarquia, nos 30 dias subsequentes à sua prática, que reúnam
cumulativamente as seguintes condições:
a) Sejam portugueses, nos termos da lei;
b) Sejam de informação geral;
c) Tenham uma periodicidade não superior à quinzenal;
d) Contem com uma tiragem média mínima por edição de 1500 exemplares nos últimos
seis meses;
e) Não sejam distribuídas a título gratuito.
3 - As tabelas de custos relativas à publicação das decisões e deliberações referidas no
n.º 1 são estabelecidas anualmente por portaria dos membros do Governo responsáveis
pelas áreas da comunicação social e da administração local, ouvidas as associações
representativas da imprensa regional e a Associação Nacional dos Municípios
Portugueses.

Artigo 57.º
Atas
1 - De cada sessão ou reunião é lavrada ata, a qual contém um resumo do que de
essencial nela se tiver passado, indicando, designadamente, a data e o local da
sessão ou reunião, os membros presentes e ausentes, os assuntos apreciados, as
decisões e deliberações tomadas e a forma e o resultado das respetivas votações e,
bem assim, o facto de a ata ter sido lida e aprovada.
2 - As atas são lavradas, sempre que possível, por trabalhador da autarquia local
designado para o efeito e são postas à aprovação de todos os membros no final da
respetiva sessão ou reunião ou no início da seguinte, sendo assinadas, após aprovação,

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pelo presidente e por quem as lavrou.
3 - As atas ou o texto das deliberações mais importantes podem ser aprovadas em
minuta, no final das sessões ou reuniões, desde que tal seja deliberado pela maioria dos
membros presentes, sendo assinadas, após aprovação, pelo presidente e por quem as
lavrou.
4 - As deliberações dos órgãos só adquirem eficácia depois de aprovadas e assinadas as
respetivas atas ou depois de assinadas as minutas, nos termos dos números anteriores.

Artigo 58.º
Registo na ata do voto de vencido
1 - Os membros do órgão podem fazer constar da ata o seu voto de vencido e as
respetivas razões justificativas.
2 - Quando se trate de pareceres a emitir para outras entidades, as deliberações são
sempre acompanhadas das declarações de voto apresentadas.
3 - O registo na ata do voto de vencido exclui o eleito da responsabilidade que
eventualmente resulte da deliberação.

Artigo 59.º
Atos nulos
1 - São nulos os atos para os quais a lei comine expressamente essa forma de
invalidade.
2 - São, em especial, nulos:
a) Os atos que prorroguem ilegal ou irregularmente os prazos de pagamento
voluntário dos impostos, taxas, derramas, mais-valias e preços;
b) As deliberações de qualquer órgão das autarquias locais que envolvam o exercício de
poderes tributários ou determinem o lançamento de taxas ou mais-valias não previstas
na lei;
c) As deliberações de qualquer órgão das autarquias locais que determinem ou
autorizem a realização de despesas não permitidas por lei.

Nota: Sobre os atos nulos e o seu regime jurídico, cf. os artigos 161.º e 162.º do CPA.

Artigo 60.º
Formalidades dos requerimentos de convocação de sessões extraordinárias
1 - Os requerimentos aos quais se reportam as alíneas c) dos n.º s 1 dos artigos 12.º e
28.º são acompanhados de certidões comprovativas da qualidade de cidadão recenseado
na área da respetiva autarquia local.
2 - As certidões referidas no número anterior são passadas no prazo de oito dias pela
comissão recenseadora respetiva e estão isentas de quaisquer taxas, emolumentos e do
imposto do selo.
3 - A apresentação do pedido das certidões deve ser acompanhada de uma lista contendo
as assinaturas, bem como de documento de identificação, dos cidadãos que pretendem
requerer a convocação da sessão extraordinária.

Artigo 61.º
Aprovação especial dos instrumentos previsionais
A aprovação das opções do plano e da proposta de orçamento para o ano imediato ao da
realização de eleições intercalares nos meses de novembro ou dezembro tem lugar, em
sessão ordinária ou extraordinária do órgão deliberativo que resultar do ato eleitoral, até
ao final do mês de abril do referido ano.

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Artigo 62.º
Alvarás
Salvo se a lei prescrever forma especial, o título dos direitos conferidos aos
particulares por deliberação dos órgãos das autarquias locais ou decisão dos seus
titulares é um alvará expedido pelo respetivo presidente.

TÍTULO III
Entidades intermunicipais

CAPÍTULO I
Natureza, criação e regime

Artigo 63.º
Natureza e fins
1 - Podem ser instituídas associações públicas de autarquias locais para a prossecução
conjunta das respetivas atribuições, nos termos da presente lei.
2 - São associações de autarquias locais as áreas metropolitanas, as comunidades
intermunicipais e as associações de freguesias e de municípios de fins específicos.
3 - São entidades intermunicipais a área metropolitana e a comunidade intermunicipal.

Artigo 64.º
Tutela administrativa

As associações de autarquias locais estão sujeitas ao regime da tutela administrativa.

Artigo 65.º
Abandono de associações de autarquias locais
1 - As autarquias locais integrantes de uma comunidade intermunicipal ou de uma
associação de fins específicos podem a todo o tempo abandoná-las, mediante
deliberação à pluralidade de votos do respetivo órgão deliberativo.
2 - Sem prejuízo do disposto no número anterior, as autarquias locais que abandonem
uma associação nos três anos seguintes à data em que nela ingressaram perdem todos os
benefícios financeiros e administrativos que tenham recebido em virtude da sua
pertença à mesma e ficam impedidas, durante um período de dois anos, de integrar
outras associações com a mesma finalidade.

CAPÍTULO II
Área metropolitana
SECÇÃO I

Órgãos
Artigo 66.º
Identificação

1 - As áreas metropolitanas são as indicadas no anexo ii e assumem as designações dele


constantes.
2 - (Revogado.)

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Artigo 67.º
Atribuições das áreas metropolitanas
1 - As áreas metropolitanas visam a prossecução dos seguintes fins públicos:
a) Participar na elaboração dos planos e programas de investimentos públicos com
incidência na área metropolitana;
b) Promover o planeamento e a gestão da estratégia de desenvolvimento económico,
social e ambiental do território abrangido;
c) Articular os investimentos municipais de caráter metropolitano;
d) Participar na gestão de programas de apoio ao desenvolvimento regional,
designadamente no âmbito de fundos europeus;
e) Participar, nos termos da lei, na definição de redes de serviços e equipamentos de
âmbito metropolitano;
f) Participar em entidades públicas de âmbito metropolitano, designadamente no
domínio dos transportes, águas, energia e tratamento de resíduos sólidos;
g) Planear a atuação de entidades públicas de caráter metropolitano.
2 - Cabe igualmente às áreas metropolitanas assegurar a articulação das atuações entre
os municípios e os serviços da administração central nas seguintes áreas:
a) Redes de abastecimento público, infraestruturas de saneamento básico, tratamento de
águas residuais e resíduos urbanos;
b) Rede de equipamentos de saúde;
c) Rede educativa e de formação profissional;
d) Ordenamento do território, conservação da natureza e recursos naturais;
e) Segurança e proteção civil;
f) Mobilidade e transportes;
g) Redes de equipamentos públicos;
h) Promoção do desenvolvimento económico e social;
i) Rede de equipamentos culturais, desportivos e de lazer.
3 - Cabe ainda às áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto exercer as atribuições
transferidas pela administração central e o exercício em comum das competências
delegadas pelos municípios que as integram.
4 - Cabe igualmente às áreas metropolitanas designar os representantes municipais em
entidades públicas ou entidades empresariais sempre que tenham natureza
metropolitana.

Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. ee), do regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de
setembro, última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), “resíduos” são “quaisquer substâncias ou
objetos de que o detentor se desfaz ou tem a intenção ou a obrigação de se desfazer”.

Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. xx) do regime da prevenção e controlo das emissões de poluentes para o
ar (aprovado pelo Decreto-Lei n.º 39/2018, de 11 de junho) “resíduos” são “quaisquer substâncias ou
objetos de que o detentor se desfaz ou tem a intenção ou a obrigação de se desfazer”.

Artigo 68.º
Órgãos
São órgãos da área metropolitana o conselho metropolitano, a comissão executiva
metropolitana e o conselho estratégico para o desenvolvimento metropolitano.

SUBSECÇÃO I
Conselho metropolitano

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Artigo 69.º
Natureza e constituição
1 - O conselho metropolitano é o órgão deliberativo da área metropolitana.
2 - O conselho metropolitano é constituído pelos presidentes das câmaras municipais
dos municípios que integram a área metropolitana.
3 - O conselho metropolitano tem um presidente e dois vice-presidentes, eleitos por
aquele, de entre os seus membros.
4 - Ao exercício de funções no conselho metropolitano não corresponde qualquer
remuneração, sem prejuízo das ajudas de custo devidas nos termos da lei.

Artigo 70.º
Reuniões
1 - O conselho metropolitano tem 12 reuniões anuais com periodicidade mensal.
2 - O conselho metropolitano reúne extraordinariamente por iniciativa do seu presidente
ou após requerimento de um terço dos seus membros.
3 - As reuniões do conselho metropolitano são públicas.
4 - A primeira reunião tem lugar no prazo de 30 dias após a realização de eleições gerais
para os órgãos deliberativos dos municípios e é convocada pelo presidente da câmara
municipal do município com maior número de eleitores.
5 - As reuniões do conselho metropolitano podem realizar-se na circunscrição territorial
de qualquer dos municípios que integram a área metropolitana.
6 - O presidente do conselho metropolitano pode convocar, sempre que entender
necessário, os membros da comissão executiva metropolitana para as reuniões daquele
órgão.
7 - É aplicável, com as devidas adaptações, o disposto nos n.º s 3 e 4 do artigo 40.º

Artigo 71.º
Competências
1 - Compete ao conselho metropolitano:
a) Eleger o seu presidente e vice-presidentes, na sua primeira reunião;
b) Definir e aprovar as opções políticas e estratégicas da área metropolitana;
c) Aprovar o plano de ação da área metropolitana e a proposta de orçamento e as suas
alterações e revisões, bem como apreciar o inventário de todos os bens, direitos e
obrigações patrimoniais e respetiva avaliação e, ainda, apreciar e votar os documentos
de prestação de contas;
d) Aprovar os planos, os programas e os projetos de investimento e desenvolvimento de
interesse metropolitano, cujos regimes jurídicos são definidos em diploma próprio,
incluindo:
i) Plano metropolitano de ordenamento do território;
ii) Plano metropolitano de mobilidade e logística;
iii) Plano metropolitano de proteção civil;
iv) Plano metropolitano de gestão ambiental;
v) Plano metropolitano de gestão de redes de equipamentos de saúde, educação, cultura
e desporto;
e) Acompanhar e fiscalizar a atividade da comissão executiva metropolitana, das
empresas locais e de quaisquer outras entidades que integrem o perímetro da
administração local;
f) Apreciar, com base na informação disponibilizada pela comissão executiva
metropolitana, os resultados da participação da área metropolitana nas empresas locais e
em quaisquer outras entidades;

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g) Conhecer e tomar posição sobre os relatórios definitivos resultantes de ações tutelares
ou de auditorias executadas sobre a atividade dos órgãos e serviços da área
metropolitana;
h) Tomar posição perante quaisquer órgãos do Estado ou entidades públicas sobre
assuntos de interesse para a área metropolitana;
i) Autorizar a celebração de contratos de delegação de competências com o Estado e
com os municípios, bem como a respetiva resolução e revogação;
j) Autorizar a área metropolitana a associar-se com outras entidades públicas, privadas
ou do setor social e cooperativo, a criar ou participar noutras pessoas coletivas e a
constituir empresas locais;
k) Deliberar sobre o número de secretários metropolitanos remunerados, nos termos da
presente lei;
l) Aprovar o seu regimento;
m) Aprovar, sob proposta da comissão executiva metropolitana, os regulamentos com
eficácia externa;
n) Deliberar, sob proposta da comissão executiva metropolitana, sobre a forma de
imputação material aos municípios integrantes da área metropolitana das despesas não
cobertas por receitas próprias;
o) Apreciar e deliberar sobre o exercício da competência de cobrança dos impostos
municipais pelos serviços da área metropolitana, nos termos a definir por diploma
próprio;
p) Aprovar ou autorizar a contratação de empréstimos;
q) Designar, sob proposta da comissão executiva metropolitana, o representante da área
metropolitana na assembleia geral das empresas locais, assim como os seus
representantes em quaisquer outras entidades, organismos ou comissões nos quais a área
metropolitana participe, independentemente de integrarem ou não o perímetro da
administração local;
r) Designar, sob proposta da comissão executiva metropolitana, o revisor oficial de
contas ou a sociedade de revisores oficiais de contas;
s) Acompanhar a atividade da área metropolitana, e avaliar os respetivos resultados, nas
empresas locais e noutras entidades nas quais a área metropolitana detenha alguma
participação;
t) Aprovar a criação ou reorganização dos serviços metropolitanos;
u) Aprovar o mapa de pessoal dos serviços metropolitanos;
v) Autorizar a comissão executiva metropolitana a celebrar, após concurso público,
contratos de concessão e fixar as respetivas condições gerais;
w) Aceitar doações, legados e heranças a benefício de inventário;
x) Autorizar a comissão executiva metropolitana a adquirir, alienar ou onerar bens
imóveis e fixar as respetivas condições gerais, podendo determinar o recurso à hasta
pública, assim como a alienar ou onerar bens ou valores artísticos da área metropolitana,
aplicando-se, com as devidas adaptações, o disposto no n.º 2 do artigo 33.º;
y) Deliberar sobre a participação da área metropolitana em projetos e ações de
cooperação descentralizada, designadamente no âmbito da União Europeia e da
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa;
z) Deliberar sobre a composição em concreto do conselho estratégico para o
desenvolvimento metropolitano;
aa) Ratificar o regimento de organização e funcionamento do conselho estratégico para
o desenvolvimento metropolitano;
bb) Deliberar sobre a emissão de parecer relativo às matérias previstas nas alíneas b) a
e) do n.º 1 do artigo 25.º e na alínea e) do n.º 1 do artigo 33.º;

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cc) Aprovar a constituição da entidade gestora para a requalificação nas autarquias, bem
como o regulamento específico;
dd) Pronunciar-se e deliberar sobre todos os assuntos que visem a prossecução das
atribuições da área metropolitana;
ee) Exercer as demais competências previstas na lei e no regimento.
2 - Compete ainda ao conselho metropolitano deliberar sobre a demissão da comissão
executiva.
3 - As deliberações do conselho metropolitano sobre as matérias previstas nas alienas
k), n) e o) do n.º 1 são tomadas por unanimidade.

Artigo 72.º
Presidente
Compete ao presidente do conselho metropolitano:
a) Representar em juízo a área metropolitana;
b) Assegurar a representação institucional da área metropolitana;
c) Convocar as sessões ordinárias e extraordinárias;
d) Dirigir os trabalhos do conselho metropolitano;
e) Conferir posse aos membros da comissão executiva metropolitana;
f) Dar início ao processo de formação da comissão executiva metropolitana;
g) Exercer as demais competências previstas na lei e no regimento.

SUBSECÇÃO II
Comissão executiva metropolitana

Artigo 73.º
Natureza e constituição
1 - A comissão executiva metropolitana é o órgão executivo da área metropolitana.
2 - A comissão executiva metropolitana é constituída por um primeiro-secretário e por
quatro secretários metropolitanos e é eleita nos termos dos artigos seguintes.

Artigo 74.º
Eleição
1 - Na sua primeira reunião, o conselho metropolitano aprova, à pluralidade de votos, a
lista ordenada dos candidatos a membros da comissão executiva metropolitana a
submeter a votação nas assembleias municipais.
2 - Na reunião prevista no número anterior, o conselho metropolitano delibera ainda
sobre o dia e hora para a votação, que deve ocorrer num período entre 20 a 45 dias.
3 - O presidente do conselho metropolitano comunica, nos 5 dias seguintes, aos
presidentes das assembleias municipais dos municípios associados o conteúdo das
deliberações previstas no número anterior.
4 - Os presidentes das assembleias municipais desencadeiam todos os procedimentos
necessários para assegurar a reunião regular das assembleias municipais na data e na
hora fixadas, tendo em vista a realização da votação a que se refere o número anterior.
5 - Nas reuniões a que se refere o número anterior só participam e têm direito a voto os
membros eleitos das assembleias municipais, com base nos quais se apura o quórum.
6 - A votação decorre em simultâneo em todas as assembleias municipais e realiza-se
por sufrágio secreto, sob pena de nulidade.
7 - A lista submetida a votação é eleita se reunir a maioria dos votos favoráveis num
número igual ou superior a metade das assembleias municipais, desde que aqueles votos
sejam representativos da maioria do número de eleitores somados de todos os

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municípios integrantes da área metropolitana.
8 - Para efeitos do número anterior, os votos representativos dos eleitores dos
municípios integrantes da área metropolitana são apurados nos seguintes termos:
a) Os votos dos membros das assembleias municipais integrantes da área metropolitana
são transportados e contabilizados globalmente, com a ponderação prevista na alínea
seguinte;
b) Cada voto expresso numa dada assembleia municipal tem a ponderação igual ao
produto da divisão do número total de eleitores do município pelo número total de
membros dessa assembleia municipal com direito de voto nesta votação.
9 - Caso a lista submetida a votação não seja eleita, o conselho metropolitano, tendo em
conta os resultados das eleições gerais para as assembleias municipais e ouvidos os
partidos, coligações e grupos de cidadãos nelas representados, aprova e submete a
eleição uma nova lista, aplicando-se o disposto nos números anteriores, com as
necessárias adaptações.
Artigo 75.º
Reuniões
1 - A comissão executiva metropolitana tem uma reunião ordinária quinzenal e reuniões
extraordinárias sempre que necessário.
2 - As reuniões da comissão executiva metropolitana não são públicas.
3 - Sem prejuízo do disposto no número anterior, a comissão executiva metropolitana
deve assegurar a consulta e a participação das populações sobre matérias de interesse
metropolitano, designadamente através da marcação de datas para esse efeito.
4 - As atas das reuniões da comissão executiva metropolitana são obrigatoriamente
publicitadas no sítio da Internet da área metropolitana.

Artigo 76.º
Competências
1 - Compete à comissão executiva metropolitana:
a) Elaborar e submeter à aprovação do conselho metropolitano os planos necessários à
realização das atribuições metropolitanas;
b) Propor ao Governo os planos, os programas e os projetos de investimento e
desenvolvimento de interesse metropolitano;
c) Participar, com outras entidades, no planeamento que diretamente se relacione com as
atribuições da área metropolitana, emitindo parecer a submeter a apreciação e
deliberação do conselho metropolitano;
d) Pronunciar-se sobre os planos e programas da administração central com interesse
metropolitano;
e) Assegurar a articulação entre os municípios e os serviços da administração central;
f) Colaborar com os serviços da administração central com competência no domínio da
proteção civil e com os serviços municipais de proteção civil, tendo em vista o
cumprimento dos planos de emergência e programas estabelecidos, bem como nas
operações de proteção, socorro e assistência na iminência ou ocorrência de acidente
grave ou catástrofe;
g) Participar na gestão de programas de desenvolvimento regional e apresentar
candidaturas a financiamentos através de programas, projetos e demais iniciativas;
h) Elaborar e submeter a aprovação do conselho metropolitano o plano de ação e a
proposta do orçamento, assim como as respetivas alterações e revisões;
i) Executar as opções do plano e orçamento;
j) Elaborar e apresentar ao conselho metropolitano propostas de harmonização no
domínio dos poderes tributários dos municípios;

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k) Aprovar os projetos, programas de concurso, cadernos de encargos e a adjudicação
de empreitadas e aquisição de bens e serviços, cuja autorização de despesa lhe caiba;
l) Propor ao conselho metropolitano o representante da área metropolitana na
assembleia geral das empresas locais, assim como os seus representantes em quaisquer
outras entidades, organismos ou comissões nos quais a área metropolitana participe,
independentemente de integrarem ou não o perímetro da administração local;
m) Alienar bens imóveis em hasta pública, independentemente de autorização do
conselho metropolitano, desde que a alienação decorra da execução das opções do plano
e a respetiva deliberação tenha sido aprovada por unanimidade do conselho
metropolitano;
n) Elaborar e aprovar a norma de controlo interno, bem como o inventário dos bens,
direitos e obrigações patrimoniais da área metropolitana e respetiva avaliação e ainda os
documentos de prestação de contas, a submeter à apreciação e votação do conselho
metropolitano;
o) Colaborar no apoio a programas e projetos de interesse metropolitano, em parceria
com entidades da administração central;
p) Elaborar e submeter à aprovação do conselho metropolitano projetos de regulamentos
com eficácia externa da área metropolitana;
q) Proceder à aquisição e locação de bens e serviços;
r) Executar obras por empreitada;
s) Dirigir os serviços metropolitanos de apoio técnico e administrativo;
t) Alienar bens móveis;
u) Participar em órgãos de gestão de entidades da administração central;
v) Participar em órgãos consultivos de entidades da administração central;
w) Propor a declaração de utilidade pública para efeitos de expropriação;
x) Enviar ao Tribunal de Contas as contas da área metropolitana;
y) Dar conhecimento das contas da área metropolitana às assembleias municipais dos
respetivos municípios;
z) Desenvolver projetos de formação dos recursos humanos dos municípios;
aa) Desenvolver projetos de apoio à gestão municipal;
bb) Acompanhar e apoiar a instrução dos processos de execução fiscal no âmbito da
administração municipal;
cc) Acompanhar e apoiar a instrução dos procedimentos de controlo prévio,
designadamente nos domínios da construção, reconstrução, conservação ou demolição
de edifícios, assim como relativamente aos estabelecimentos insalubres, incómodos,
perigosos ou tóxicos, da competência das câmaras municipais;
dd) Exercer as competências delegadas nos termos dos contratos previstos no artigo
120.º;
ee) Assegurar o cumprimento das deliberações do conselho metropolitano;
ff) Dirigir os serviços metropolitanos;
gg) Discutir e preparar com os departamentos governamentais e com as câmaras
municipais contratos de delegação de competências, nos termos previstos na presente
lei;
hh) Submeter ao conselho metropolitano, para efeitos de autorização, propostas de
celebração dos contratos de delegação de competências previstos na alínea anterior;
ii) Submeter ao conselho metropolitano, para efeitos de autorização, propostas de
resolução e revogação dos contratos previstos na alínea dd);
jj) Propor ao conselho metropolitano o parecer relativo às matérias previstas nas alíneas
b) a e) do n.º 1 do artigo 25.º;
kk) Propor ao conselho metropolitano a constituição da entidade gestora da

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requalificação nas autarquias;
ll) Exercer as demais competências legais, incluindo aquelas que o Estado venha a
transferir para as áreas metropolitanas no quadro da descentralização;
mm) Apresentar propostas ao conselho metropolitano sobre matérias da competência
deste.
2 - A comissão executiva metropolitana pode delegar as suas competências no primeiro-
secretário, com faculdade de subdelegação nos secretários metropolitanos, com exceção
das previstas nas alíneas a), b), c), d), h), j), k), l), m), n), p), s), u), v), x), hh), ii), jj),
kk) e mm) do número anterior.
3 - Compete ao primeiro-secretário, com faculdade de subdelegação nos secretários
metropolitanos, outorgar contratos em representação da área metropolitana.
4 - Compete ainda à comissão executiva metropolitana comparecer perante as
assembleias municipais, nos termos e para os efeitos do n.º 5 do artigo 25.º

Nota: Sobre os resíduos perigosos, cf. o Regulamento N.º 1357/2014 da Comissão Europeia de 18 de
dezembro de 2014, que substitui o anexo III da Diretiva 2008/98/CE do Parlamento Europeu e do Conselho,
relativa aos resíduos. Este Regulamente define tecnicamente diferentes conceitos como “cancerígeno”,
“infecioso”, “tóxico”, etc. definições que, no seu âmbito de aplicação, têm de ser rigorosamente respeitadas,
sem qualquer margem de flexibilidade para o seu intérprete e aplicador, o que prova o caráter contraditório,
por nós há longos anos repetidamente denunciado, da chamada “discricionariedade técnica”. O problema
dos conceitos técnicos é, pois, sobretudo um problema de interpretação, que no caso presente já está feita
através das definições legais.

Artigo 77.º
Estatuto dos membros da comissão executiva metropolitana
1 - A remuneração do primeiro-secretário é igual a 45 % da remuneração base do
Presidente da República.
2 - A remuneração dos secretários metropolitanos é igual à remuneração base de
vereador a tempo inteiro, em regime de exclusividade, de câmara municipal de
município com um número de eleitores superior a 10 000 e inferior a 40 000.
3 - O primeiro-secretário e os secretários metropolitanos têm direito a despesas de
representação, respetivamente, no valor de 30 % e de 20 % das suas remunerações base.
4 - O primeiro-secretário é obrigatoriamente remunerado.
5 - O conselho metropolitano delibera, por unanimidade, sobre o número de secretários
metropolitanos remunerados, o qual não pode ser inferior a dois.
6 - Os membros da comissão executiva metropolitana remunerados exercem funções em
regime de exclusividade.
7 - Aos membros da comissão executiva metropolitana está vedado o exercício de
quaisquer cargos nos órgãos de soberania ou das autarquias locais.
8 - Os membros da comissão executiva metropolitana não podem ser prejudicados na
respetiva colocação ou emprego permanente por virtude do desempenho dos seus
mandatos.
9 - Durante o exercício do respetivo mandato não podem os membros da comissão
executiva metropolitana ser prejudicados no que respeita a promoções, gratificações,
benefícios sociais ou qualquer outro direito adquirido de caráter não pecuniário.
10 - O tempo de serviço prestado como membro da comissão executiva metropolitana é
contado como se tivesse sido prestado à entidade empregadora.
11 - As remunerações base e as despesas de representação devidas aos membros da
comissão executiva metropolitana são suportadas pelo orçamento da respetiva área
metropolitana.

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12 - É aplicável o disposto nos artigos 78.º e 79.º do Estatuto da Aposentação, aprovado
pelo Decreto-Lei n.º 498/72, de 9 de dezembro.

SUBSECÇÃO III
Conselho estratégico para o desenvolvimento metropolitano

Artigo 78.º
Natureza e constituição
1 - O conselho estratégico para o desenvolvimento metropolitano é um órgão de
natureza consultiva destinado ao apoio ao processo de decisão dos restantes órgãos da
área metropolitana.
2 - O conselho estratégico para o desenvolvimento metropolitano é constituído por
representantes das instituições, entidades e organizações com relevância e intervenção
no domínio dos interesses metropolitanos.
3 - Compete ao conselho metropolitano deliberar sobre a composição em concreto do
conselho estratégico para o desenvolvimento metropolitano.

Artigo 79.º
Funcionamento
1 - Compete ao conselho estratégico para o desenvolvimento metropolitano aprovar o
respetivo regimento de organização e funcionamento.
2 - O regimento previsto no número anterior é válido após a ratificação pelo conselho
metropolitano.
3 - Ao exercício de funções no conselho estratégico para o desenvolvimento
metropolitano não corresponde qualquer remuneração.

CAPÍTULO III
Comunidade intermunicipal

SECÇÃO I
Órgãos

Artigo 79.º-A
Identificação das comunidades intermunicipais
As comunidades intermunicipais são as livremente instituídas pelos municípios
integrantes das áreas geográficas definidas no anexo iii e assumem as designações dele
constantes.

Artigo 80.º
Instituição e estatutos
1 - A constituição das comunidades intermunicipais compete às câmaras municipais,
ficando a eficácia do acordo constitutivo, que define os seus estatutos, dependente da
aprovação pelas assembleias municipais.
2 - As comunidades intermunicipais constituem-se por contrato, nos termos previstos na
lei civil, sendo outorgantes os presidentes dos órgãos executivos dos municípios
envolvidos.

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3 - Os estatutos de cada comunidade intermunicipal estabelecem obrigatoriamente:
a) A denominação, contendo a referência à unidade territorial que integra, a sede e a
composição da comunidade intermunicipal;
b) Os fins da comunidade intermunicipal;
c) Os bens, serviços e demais contributos com que os municípios concorrem para a
prossecução das suas atribuições;
d) A estrutura orgânica, o modo de designação e de funcionamento dos seus órgãos;
e) As competências dos seus órgãos.
4 - Qualquer município integrante de uma unidade territorial em que já exista uma
comunidade intermunicipal tem o direito potestativo de a ela aderir, mediante
deliberação da câmara municipal aprovada pela assembleia municipal respetiva e
comunicada à comissão executiva intermunicipal, sem necessidade de autorização ou
aprovação dos restantes municípios.
5 - Não podem existir comunidades intermunicipais com um número de municípios
inferior a cinco ou que tenham uma população que somada seja inferior a 85 000
habitantes.

Artigo 81.º
Atribuições das comunidades intermunicipais
1 - As comunidades intermunicipais destinam-se à prossecução dos seguintes fins
públicos:
a) Promoção do planeamento e da gestão da estratégia de desenvolvimento económico,
social e ambiental do território abrangido;
b) Articulação dos investimentos municipais de interesse intermunicipal;
c) Participação na gestão de programas de apoio ao desenvolvimento regional,
designadamente no âmbito de fundos europeus;
d) Planeamento das atuações de entidades públicas, de caráter supramunicipal.
2 - Cabe às comunidades intermunicipais assegurar a articulação das atuações entre os
municípios e os serviços da administração central, nas seguintes áreas:
a) Redes de abastecimento público, infraestruturas de saneamento básico, tratamento de
águas residuais e resíduos urbanos;
b) Rede de equipamentos de saúde;
c) Rede educativa e de formação profissional;
d) Ordenamento do território, conservação da natureza e recursos naturais;
e) Segurança e proteção civil;
f) Mobilidade e transportes;
g) Redes de equipamentos públicos;
h) Promoção do desenvolvimento económico, social e cultural;
i) Rede de equipamentos culturais, desportivos e de lazer.
3 - Cabe às comunidades intermunicipais exercer as atribuições transferidas pela
administração estadual e o exercício em comum das competências delegadas pelos
municípios que as integram, nos termos da presente lei.
4 - O disposto no presente artigo não se aplica às comunidades intermunicipais cujos
territórios estão integrados em áreas metropolitanas, que apenas prosseguem as
seguintes atribuições, com faculdade de delegação na área metropolitana do seu
território:
a) Promoção do planeamento e da gestão da estratégia de desenvolvimento económico,
social e ambiental do território abrangido;
b) Participação na gestão de programas de apoio ao desenvolvimento regional,
designadamente no âmbito de fundos europeus.

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5 - As comunidades intermunicipais a que se refere o número anterior prosseguem ainda
as atribuições que lhe forem delegadas, mediante contrato interadministrativo, pelas
respetivas áreas metropolitanas.
6 - Às delegações de atribuições previstas nos números anteriores aplica-se, com as
devidas adaptações, o disposto nos artigos 120.º a 123.º

Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. xx) do regime da prevenção e controlo das emissões de poluentes para o
ar (aprovado pelo Decreto-Lei n.º 39/2018, de 11 de junho) “resíduos” são “quaisquer substâncias ou
objetos de que o detentor se desfaz ou tem a intenção ou a obrigação de se desfazer”.

Artigo 82.º
Órgãos
São órgãos da comunidade intermunicipal a assembleia intermunicipal, o conselho
intermunicipal, o secretariado executivo intermunicipal e o conselho estratégico para o
desenvolvimento intermunicipal.

SUBSECÇÃO I
Assembleia intermunicipal

Artigo 83.º
Constituição e funcionamento
1 - A assembleia intermunicipal é constituída por membros de cada assembleia
municipal, eleitos de forma proporcional, nos seguintes termos:
a) Dois nos municípios até 10 000 eleitores;
b) Quatro nos municípios entre 10 001 e 50 000 eleitores;
c) Seis nos municípios entre 50 001 e 100 000 eleitores;
d) Oito nos municípios com mais de 100 000 eleitores.
2 - A eleição ocorre em cada assembleia municipal pelo colégio eleitoral constituído
pelo conjunto dos membros da assembleia municipal, eleitos diretamente, mediante a
apresentação de listas que não podem ter um número de candidatos superior ao previsto
no número anterior e que devem apresentar, pelo menos, um suplente.
3 - Os mandatos são atribuídos, em cada assembleia municipal, segundo o sistema de
representação proporcional e o método da média mais alta de Hondt.
4 - A assembleia intermunicipal reúne ordinariamente duas vezes por ano e
extraordinariamente sempre que convocada nos termos dos estatutos da comunidade
intermunicipal.

Artigo 84.º
Competências
Compete à assembleia intermunicipal:
a) Eleger a mesa da assembleia intermunicipal;
b) Aprovar, sob proposta do conselho intermunicipal, as opções do plano, o orçamento e
as suas revisões, bem como apreciar o inventário de todos os bens, direitos e obrigações
patrimoniais e respetiva avaliação e, ainda, apreciar e votar os documentos de prestação
de contas;
c) Eleger, sob proposta do conselho intermunicipal, o secretariado executivo
intermunicipal;
d) Aprovar o seu regimento e os regulamentos, designadamente de organização e
funcionamento;
e) Exercer os demais poderes que lhe sejam conferidos por lei, pelos estatutos ou pelo

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regimento;
f) Aprovar moções de censura ao secretariado executivo intermunicipal.

Artigo 85.º
Mesa da assembleia intermunicipal
1 - Os trabalhos da assembleia intermunicipal são dirigidos por uma mesa, constituída
pelo presidente, um vice-presidente e um secretário, a eleger por voto secreto de entre
os seus membros.
2 - Enquanto não for eleita a mesa da assembleia intermunicipal, a mesma é dirigida
pelos eleitos mais antigos.

Artigo 86.º
Presidente da assembleia intermunicipal
Compete ao presidente da assembleia:
a) Convocar as reuniões ordinárias e extraordinárias;
b) Dirigir os trabalhos da assembleia;
c) Exercer os demais poderes que lhe sejam conferidos por lei, pelos estatutos, pelo
regimento ou pela assembleia.

Artigo 87.º
Senhas de presença
1 - Os membros da assembleia intermunicipal têm direito a uma senha de presença pela
participação nas reuniões ordinárias, calculada nos termos aplicáveis ao pagamento das
senhas de presença abonadas aos membros das assembleias municipais.
2 - Os membros da assembleia intermunicipal não têm direito a ajudas de custo pela sua
participação nas reuniões deste órgão.

SUBSECÇÃO II
Conselho intermunicipal

Artigo 88.º
Constituição
1 - O conselho intermunicipal é constituído pelos presidentes das câmaras municipais
dos municípios que integram a comunidade intermunicipal.
2 - O conselho intermunicipal tem um presidente e dois vice-presidentes, eleitos por
aquele, de entre os seus membros.
3 - Ao exercício de funções no conselho intermunicipal não corresponde qualquer
remuneração, sem prejuízo das ajudas de custo devidas nos termos da lei.

Artigo 89.º
Reuniões
1 - O conselho intermunicipal tem 12 reuniões anuais com periodicidade mensal.
2 - O conselho intermunicipal reúne extraordinariamente por iniciativa do seu
presidente ou após requerimento de um terço dos seus membros.
3 - As reuniões do conselho intermunicipal são públicas.
4 - A primeira reunião tem lugar no prazo de 30 dias após a realização de eleições gerais
para os órgãos deliberativos dos municípios e é convocada pelo presidente da câmara
municipal do município com maior número de eleitores.
5 - As reuniões do conselho intermunicipal podem realizar-se na circunscrição territorial
de qualquer dos municípios que integram a comunidade intermunicipal.

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6 - O presidente do conselho intermunicipal pode convocar, sempre que entender
necessário, os membros do secretariado executivo intermunicipal para as reuniões
daquele órgão.
7 - É aplicável, com as devidas adaptações, o disposto nos n.º s 3 e 4 do artigo 40.º

Artigo 90.º
Competências
1 - Compete ao conselho intermunicipal:
a) Eleger o seu presidente e vice-presidentes, na sua primeira reunião;
b) Definir e aprovar as opções políticas e estratégicas da comunidade intermunicipal;
c) Submeter à assembleia intermunicipal a proposta do plano de ação da comunidade
intermunicipal e o orçamento e as suas alterações e revisões;
d) Aprovar os planos, os programas e os projetos de investimento e desenvolvimento de
interesse intermunicipal, cujos regimes jurídicos são definidos em diploma próprio,
incluindo:
i) Plano intermunicipal de ordenamento do território;
ii) Plano intermunicipal de mobilidade e logística;
iii) Plano intermunicipal de proteção civil;
iv) Plano intermunicipal de gestão ambiental;
v) Plano intermunicipal de gestão de redes de equipamentos de saúde, educação, cultura
e desporto;
e) Propor ao Governo os planos, os programas e os projetos de investimento e
desenvolvimento de interesse intermunicipal;
f) Pronunciar-se sobre os planos e programas da administração central com interesse
intermunicipal;
g) Acompanhar e fiscalizar a atividade do secretariado executivo intermunicipal, das
empresas locais e de quaisquer outras entidades que integrem o perímetro da
administração local;
h) Apreciar, com base na informação disponibilizada pelo secretariado executivo
intermunicipal, os resultados da participação da comunidade intermunicipal nas
empresas locais e em quaisquer outras entidades;
i) Conhecer e tomar posição sobre os relatórios definitivos resultantes de ações tutelares
ou de auditorias executadas sobre a atividade dos órgãos e serviços da comunidade
intermunicipal;
j) Tomar posição perante quaisquer órgãos do Estado ou entidades públicas sobre
assuntos de interesse para a comunidade intermunicipal;
k) Discutir e preparar com os departamentos governamentais e com as câmaras
municipais contratos de delegação de competências, nos termos previstos na presente
lei;
l) Aprovar a celebração de contratos de delegação de competências com o Estado e com
os municípios, bem como a respetiva resolução e revogação;
m) Autorizar a comunidade intermunicipal a associar-se com outras entidades públicas,
privadas ou do setor social e cooperativo, a criar ou participar noutras pessoas coletivas
e a constituir empresas locais;
n) Propor a declaração de utilidade pública para efeitos de expropriação;
o) Deliberar sobre a existência e o número de secretários intermunicipais, no limite
máximo de dois, e se os mesmos são remunerados, nos termos da presente lei;
p) Aprovar o seu regimento;
q) Aprovar, sob proposta do secretariado executivo intermunicipal, os regulamentos
com eficácia externa;

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r) Deliberar sobre a forma de imputação material aos municípios integrantes da
comunidade intermunicipal das despesas não cobertas por receitas próprias;
s) Apresentar à assembleia intermunicipal, para aprovação, os documentos de prestações
de contas da comunidade intermunicipal;
t) Aprovar a constituição da entidade gestora da requalificação nas autarquias, bem
como o regulamento específico.
2 - Compete ao conselho comparecer nas assembleias municipais para efeitos da alínea
a) do n.º 5 do artigo 25.º, com faculdade de delegação no secretariado executivo
intermunicipal.
3 - Compete ainda ao conselho intermunicipal deliberar sobre a demissão do
secretariado executivo intermunicipal.
4 - Nas comunidades intermunicipais cujos territórios estão integrados em áreas
metropolitanas, as competências do conselho intermunicipal estão limitadas pelas suas
atribuições, incluindo as que venham a ser delegadas na respetiva comunidade
intermunicipal, não sendo aplicável as alíneas d), e), f), n) e t) do n.º 1.

Artigo 91.º
Representação externa
É da competência do conselho intermunicipal a representação da comunidade
intermunicipal perante quaisquer entidades externas, com faculdade de delegação no
secretariado executivo intermunicipal.

Artigo 92.º
Presidente
Compete ao presidente do conselho intermunicipal:
a) Representar em juízo a comunidade intermunicipal;
b) Assegurar a representação institucional da comunidade intermunicipal;
c) Convocar as sessões ordinárias e extraordinárias;
d) Dirigir os trabalhos do conselho intermunicipal;
e) Conferir posse aos membros do secretariado executivo intermunicipal;
f) Dar início ao processo de formação do secretariado executivo intermunicipal;
g) Exercer as demais competências previstas na lei e no regimento.

SUBSECÇÃO III
Secretariado executivo intermunicipal

Artigo 93.º
Constituição
O secretariado executivo intermunicipal é constituído por um primeiro-secretário e,
mediante deliberação unânime do conselho intermunicipal, até dois secretários
intermunicipais.

Artigo 94.º
Eleição
1 - Na sua primeira reunião, o conselho intermunicipal aprova, à pluralidade de votos, a
lista ordenada dos candidatos a membros do secretariado executivo intermunicipal a
submeter a votação e comunica-a ao presidente da assembleia intermunicipal.
2 - O presidente da assembleia intermunicipal desencadeia todos os procedimentos
necessários para assegurar a reunião regular da assembleia intermunicipal num dos 30
dias subsequentes à comunicação a que se refere o dia anterior, tendo em vista a

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deliberação sobre a lista dos candidatos a membros do secretariado executivo
intermunicipal.
3 - A votação realiza-se por sufrágio secreto, sob pena de nulidade.
4 - Caso a lista submetida a votação não seja eleita, o conselho intermunicipal, tendo em
conta os resultados das eleições gerais para as assembleias municipais e ouvidos os
partidos, coligações e grupos de cidadãos nelas representados, aprova e submete a
eleição uma nova lista, aplicando-se o disposto nos números anteriores, com as
necessárias adaptações.

Artigo 95.º
Reuniões
1 - O secretariado executivo intermunicipal tem uma reunião ordinária quinzenal e
reuniões extraordinárias sempre que necessário.
2 - As reuniões do secretariado executivo intermunicipal não são públicas.
3 - Sem prejuízo do disposto no número anterior, o secretariado executivo
intermunicipal deve assegurar a consulta e a participação das populações sobre matérias
de interesse intermunicipal, designadamente através da marcação de datas para esse
efeito.
4 - As atas das reuniões do secretariado executivo intermunicipal são obrigatoriamente
publicitadas no sítio da Internet da comunidade intermunicipal.

Artigo 96.º
Competências
1 - Compete ao secretariado executivo intermunicipal:
a) Elaborar e submeter à aprovação do conselho intermunicipal os planos necessários à
realização das atribuições intermunicipais;
b) Participar, com outras entidades, no planeamento que diretamente se relacione com
as atribuições da comunidade intermunicipal, emitindo parecer a submeter a apreciação
e deliberação do conselho intermunicipal;
c) Assegurar a articulação entre os municípios e os serviços da administração central;
d) Colaborar com os serviços da administração central com competência no domínio da
proteção civil e com os serviços municipais de proteção civil, tendo em vista o
cumprimento dos planos de emergência e programas estabelecidos, bem como nas
operações de proteção, socorro e assistência na iminência ou ocorrência de acidente
grave ou catástrofe;
e) Participar na gestão de programas de desenvolvimento regional e apresentar
candidaturas a financiamentos através de programas, projetos e demais iniciativas;
f) Preparar para o conselho intermunicipal a proposta do plano de ação e a proposta do
orçamento, assim como as respetivas propostas de alteração e revisão;
g) Executar as opções do plano e o orçamento;
h) Aprovar os projetos, programas de concurso, cadernos de encargos e a adjudicação
de empreitadas e aquisição de bens e serviços, cuja autorização de despesa se encontre
abaixo do limite definido pelo conselho intermunicipal;
i) Alienar bens imóveis em hasta pública, por autorização do conselho intermunicipal;
j) Preparar para o conselho intermunicipal a norma de controlo interno, bem como o
inventário dos bens, direitos e obrigações patrimoniais da comunidade intermunicipal e
respetiva avaliação e ainda os documentos de prestação de contas;
k) Colaborar no apoio a programas e projetos de interesse intermunicipal, em parceria
com entidades da administração central;
l) Elaborar e submeter à aprovação do conselho intermunicipal projetos de regulamentos

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com eficácia externa da comunidade intermunicipal;
m) Proceder à aquisição e locação de bens e serviços, cuja autorização de despesa se
encontre abaixo do limite definido pelo conselho intermunicipal;
n) Dirigir os serviços intermunicipais;
o) Alienar bens móveis, dependente de autorização quando o valor se encontre acima do
limite definido pelo conselho intermunicipal;
p) Participar em órgãos de gestão de entidades da administração central;
q) Participar em órgãos consultivos de entidades da administração central;
r) Enviar ao Tribunal de Contas as contas da comunidade intermunicipal;
s) Executar projetos de formação dos recursos humanos dos municípios;
t) Executar projetos de apoio à gestão municipal;
u) Exercer as competências delegadas nos termos dos contratos previstos no artigo
120.º;
v) Assegurar o cumprimento das deliberações do conselho intermunicipal;
w) Apresentar propostas ao conselho intermunicipal sobre matérias da competência
deste;
x) Exercer as demais competências legais.
2 - As competências previstas nas alíneas b), c), d), k), p) e q) do número anterior são
exercidas por delegação do conselho intermunicipal.
3 - O secretariado executivo intermunicipal pode delegar as suas competências no
primeiro-secretário, com faculdade de subdelegação nos secretários intermunicipais.

Artigo 97.º
Estatuto dos membros do secretariado executivo intermunicipal
1 - A remuneração do primeiro-secretário é igual a 45 % da remuneração base do
Presidente da República.
2 - A remuneração dos secretários intermunicipais é igual à remuneração base de
vereador a tempo inteiro, em regime de exclusividade, de câmara municipal de
município com um número de eleitores superior a 10 000 e inferior a 40 000.
3 - O primeiro-secretário e os secretários intermunicipais têm direito a despesas de
representação, respetivamente, no valor de 30 % e de 20 % das suas remunerações base.
4 - O cargo de primeiro-secretário é remunerado.
5 - O conselho intermunicipal delibera, por unanimidade, sobre a existência e o número
de secretários intermunicipais, no limite máximo de dois, e se os mesmos são
remunerados.
6 - Os membros do secretariado executivo intermunicipal remunerados exercem funções
em regime de exclusividade.
7 - Aos membros do secretariado executivo intermunicipal está vedado o exercício de
quaisquer cargos nos órgãos de soberania ou das autarquias locais.
8 - Os membros do secretariado executivo intermunicipal não podem ser prejudicados
na respetiva colocação ou emprego permanente por virtude do desempenho dos seus
mandatos.
9 - Durante o exercício do respetivo mandato não podem os membros do secretariado
executivo intermunicipal ser prejudicados no que respeita a promoções, gratificações,
benefícios sociais ou qualquer outro direito adquirido de caráter não pecuniário.
10 - O tempo de serviço prestado como membro do secretariado executivo
intermunicipal é contado como se tivesse sido prestado à entidade empregadora.
11 - As remunerações base e as despesas de representação devidas aos membros do
secretariado executivo intermunicipal são suportadas pelo orçamento da respetiva
comunidade intermunicipal.

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12 - Aos membros do secretariado executivo intermunicipal é aplicável o disposto nos
artigos 78.º e 79.º do Estatuto da Aposentação, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 498/72,
de 9 de dezembro.

SUBSECÇÃO IV
Conselho estratégico para o desenvolvimento intermunicipal

Artigo 98.º
Natureza e constituição
1 - O conselho estratégico para o desenvolvimento intermunicipal é um órgão de
natureza consultiva destinado ao apoio ao processo de decisão dos restantes órgãos da
comunidade intermunicipal.
2 - O conselho estratégico para o desenvolvimento intermunicipal é constituído por
representantes das instituições, entidades e organizações com relevância e intervenção
no domínio dos interesses intermunicipais.
3 - Compete ao conselho intermunicipal deliberar sobre a composição em concreto do
conselho estratégico para o desenvolvimento intermunicipal.

Artigo 99.º
Funcionamento
1 - Compete ao conselho estratégico para o desenvolvimento intermunicipal aprovar o
respetivo regimento de organização e funcionamento.
2 - O regimento previsto no número anterior é válido após a ratificação pelo conselho
intermunicipal.
3 - Ao exercício de funções no conselho estratégico para o desenvolvimento
intermunicipal não é atribuída qualquer remuneração.

SECÇÃO II
Disposições comuns aos órgãos das entidades intermunicipais

Artigo 100.º
Tomada de posse dos membros da comissão executiva metropolitana e do
secretariado executivo intermunicipal

Os membros da comissão executiva metropolitana e do secretariado executivo


intermunicipal tomam posse perante o conselho metropolitano e perante a assembleia
intermunicipal, respetivamente, no prazo máximo de cinco dias após as eleições a que
se referem os artigos 74.º e 94.º

Artigo 101.º
Mandato dos membros do conselho metropolitano, da
assembleia intermunicipal e do conselho intermunicipal

1 - O mandato dos membros do conselho metropolitano e do conselho intermunicipal


coincide com o que legalmente estiver fixado para os órgãos das autarquias locais.
2 - A perda, a cessação e a renúncia ao mandato de presidente de câmara municipal
determina o mesmo efeito no mandato detido nos órgãos referidos no número anterior.
3 - O mandato dos membros da comissão executiva metropolitana e do secretariado
executivo intermunicipal tem início com a tomada de posse e cessa com a eleição de

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novo presidente do conselho metropolitano e da assembleia intermunicipal,
respetivamente, na sequência da realização de eleições gerais para os órgãos
deliberativos dos municípios, sem prejuízo do disposto no artigo seguinte.
4 - Os membros da comissão executiva metropolitana e do secretariado executivo
intermunicipal mantêm-se em funções até à tomada de posse dos novos membros.

Artigo 102.º
Demissão da comissão executiva metropolitana e do
secretariado executivo intermunicipal
1 - Qualquer dos seguintes factos determina a demissão da comissão executiva
metropolitana e do secretariado executivo intermunicipal:
a) A aprovação de moções de censura pela maioria das assembleias municipais dos
municípios que integram a respetiva área metropolitana ou comunidade intermunicipal;
b) As deliberações do conselho metropolitano, do conselho intermunicipal e da
assembleia intermunicipal previstas no n.º 2 do artigo 71.º, no n.º 3 do artigo 90.º e na
alínea f) do artigo 84.º
2 - Na sequência da demissão da comissão executiva metropolitana ou do secretariado
executivo intermunicipal nos termos do número anterior é aplicável, com as devidas
adaptações, o disposto nos artigos 74.º e 94.º

Artigo 103.º
Vacatura
1 - A vacatura do cargo de primeiro-secretário por morte, renúncia, perda de mandato
ou qualquer outro motivo atendível legalmente previsto determina a dissolução da
comissão executiva metropolitana e do secretariado executivo intermunicipal e a
realização de novo ato eleitoral.
2 - A vacatura do cargo de secretário da comissão executiva metropolitana e do
secretariado executivo intermunicipal por morte, renúncia, perda de mandato ou
qualquer outro motivo atendível legalmente previsto determina a realização de um novo
ato eleitoral limitado à eleição de um novo membro.
3 - Os membros eleitos na sequência de dissolução da comissão executiva metropolitana
e do secretariado executivo intermunicipal ou de vacatura do cargo de secretário
completam os mandatos antes iniciados na decorrência da realização de eleições gerais
para os órgãos deliberativos dos municípios.
4 - Os atos eleitorais previstos nos n.º s 1 e 2 realizam-se de acordo com as disposições
dos artigos 74.º e 94.º, com as devidas adaptações.

Artigo 104.º
Funcionamento
O funcionamento das entidades intermunicipais regula-se, em tudo o que não esteja
previsto na presente lei, pelo regime jurídico aplicável aos órgãos municipais.

Artigo 105.º
Deliberações
1 - As deliberações dos órgãos das entidades intermunicipais vinculam os municípios
que as integram.
2 - As deliberações do conselho metropolitano e do conselho intermunicipal
consideram-se aprovadas quando os votos favoráveis dos seus membros correspondam,
cumulativamente, a um número igual ou superior ao dos votos desfavoráveis e à
representação de mais de metade do universo total de eleitores dos municípios

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integrantes da área metropolitana ou da comunidade intermunicipal.
3 - Para efeitos do número anterior, considera-se que o voto de cada membro é
representativo do número de eleitores do município de cuja câmara municipal seja
presidente.

Artigo 106.º
Serviços municipais
1 - As entidades intermunicipais podem criar serviços de apoio técnico e administrativo.
2 - A natureza, estrutura e funcionamento dos serviços referidos no número anterior são
definidos em regulamento interno, aprovado pelo conselho da entidade intermunicipal,
sob proposta da comissão executiva metropolitana ou do secretariado executivo
intermunicipal.

Artigo 107.º
Pessoal
1 - As entidades intermunicipais dispõem de mapa de pessoal próprio, privilegiando-se
o recurso ao seu preenchimento através dos instrumentos de mobilidade geral
legalmente previstos, preferencialmente de trabalhadores oriundos dos mapas de pessoal
dos municípios que as integram.
2 - Aos trabalhadores das entidades intermunicipais é aplicável o regime jurídico do
contrato de trabalho em funções públicas.

CAPÍTULO IV
Associações de freguesias e de municípios de fins específicos

Artigo 108.º
Constituição
1 - A constituição das associações de autarquias locais de fins específicos compete aos
órgãos executivos colegiais dos municípios ou das freguesias interessados, ficando a
eficácia do acordo constitutivo, que define os seus estatutos, dependente da aprovação
pelos respetivos órgãos deliberativos.
2 - As associações de autarquias locais de fins específicos constituem-se por contrato,
nos termos previstos na lei civil, sendo outorgantes os presidentes dos órgãos executivos
dos municípios ou das freguesias envolvidas.
3 - A constituição de uma associação de autarquias locais de fins específicos é
comunicada pela autarquia local em cuja circunscrição esteja sedeada ao membro do
Governo que tutela as autarquias locais.

Artigo 109.º
Estatutos
1 - Os estatutos das associações de autarquias locais de fins específicos devem
especificar:
a) A denominação, incluindo a menção «Associação de Municípios» ou «Associação de
Freguesias», consoante os casos, a sede e a composição;
b) Os fins da associação;
c) Os bens, os serviços e os demais contributos com que os municípios concorrem para
a prossecução das suas atribuições;
d) As competências dos seus órgãos;
e) A estrutura orgânica e o modo de designação e funcionamento dos seus órgãos;
f) A duração, quando a associação de municípios de fins específicos não se constitua

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por tempo indeterminado.
2 - Os estatutos devem especificar ainda os direitos e obrigações dos municípios
associados, as condições das suas saída e exclusão e da admissão de novos municípios,
bem como os termos da extinção da associação e da consequente divisão do seu
património.
3 - A modificação de estatutos obedece às mesmas regras da sua aprovação originária.

Artigo 110.º
Regime jurídico
As associações de autarquias locais de fins específicos regem-se pelo disposto na
presente lei e na demais legislação aplicável às pessoas coletivas públicas, bem como
pelos respetivos estatutos e regulamentos internos, estando nomeadamente sujeitas,
quaisquer que sejam as particularidades dos seus estatutos e do seu regime de gestão:
a) Aos princípios constitucionais de direito administrativo;
b) Aos princípios gerais da atividade administrativa;
c) Ao Código do Procedimento Administrativo;
d) Ao Código dos Contratos Públicos;
e) Às leis do contencioso administrativo;
f) À lei de organização e processo do Tribunal de Contas e ao regime de jurisdição e
controlo financeiro do Tribunal de Contas e da Inspeção-Geral de Finanças;
g) Ao regime jurídico da administração financeira e patrimonial do Estado;
h) Ao regime jurídico das incompatibilidades e impedimentos de cargos públicos e dos
trabalhadores em funções públicas, incluindo as incompatibilidades previstas nos
artigos 78.º e 79.º do Estatuto da Aposentação, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 498/72,
de 9 de dezembro;
i) Aos princípios da publicidade, da concorrência e da não discriminação em matéria de
recrutamento de pessoal e ao regime jurídico aplicável aos trabalhadores que exercem
funções públicas;
j) Ao regime da realização das despesas públicas;
k) Ao regime da responsabilidade civil do Estado e das demais entidades públicas.

TÍTULO IV
Descentralização administrativa

CAPÍTULO I
Disposições gerais

SECÇÃO I
Disposições gerais

Artigo 111.º
Descentralização administrativa
Para efeitos da presente lei, a descentralização administrativa concretiza-se através da
transferência por via legislativa de competências de órgãos do Estado para órgãos das
autarquias locais e das entidades intermunicipais.

Artigo 112.º
Objetivos

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A concretização da descentralização administrativa visa a aproximação das decisões aos
cidadãos, a promoção da coesão territorial, o reforço da solidariedade inter-regional, a
melhoria da qualidade dos serviços prestados às populações e a racionalização dos
recursos disponíveis.

Artigo 113.º
Intangibilidade das atribuições e natureza e âmbito da
descentralização administrativa
No respeito pela intangibilidade das atribuições autárquicas e intermunicipais, o Estado
concretiza a descentralização administrativa promovendo a transferência progressiva,
contínua e sustentada de competências em todos os domínios dos interesses próprios das
populações das autarquias locais e das entidades intermunicipais, em especial no âmbito
das funções económicas e sociais.

SECÇÃO II
Transferência de competências

Artigo 114.º
Transferência de competências
A transferência de competências tem caráter definitivo e universal.

Artigo 115.º
Recursos
1 - A lei deve prever expressamente os recursos humanos, patrimoniais e financeiros
necessários e suficientes ao exercício pelos órgãos das autarquias locais e das entidades
intermunicipais das competências para eles transferidas.
2 - Na previsão dos recursos referidos no número anterior, a lei faz obrigatoriamente
referência às respetivas fontes de financiamento e aos seus modos de afetação.
3 - O Estado deve promover os estudos necessários de modo a que a concretização da
transferência de competências assegure a demonstração dos seguintes requisitos:
a) O não aumento da despesa pública global;
b) O aumento da eficiência da gestão dos recursos pelas autarquias locais ou pelas
entidades intermunicipais;
c) Os ganhos de eficácia do exercício das competências pelos órgãos das autarquias
locais ou das entidades intermunicipais;
d) O cumprimento dos objetivos referidos no artigo 112.º;
e) A articulação entre os diversos níveis da administração pública.
4 - Os estudos referidos no número anterior são elaborados por equipas técnicas
multidisciplinares, compostas por representantes dos departamentos governamentais
envolvidos, das comissões de coordenação e desenvolvimento regional, da Associação
Nacional dos Municípios Portugueses e da Associação Nacional de Freguesias.
5 - A lei deve obrigatoriamente fazer referência aos estudos referidos no n.º 3.

CAPÍTULO II
Delegação de competências

SECÇÃO I
Disposições gerais

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Artigo 116.º
Âmbito
O presente capítulo estabelece o regime jurídico da delegação de competências de
órgãos do Estado nos órgãos das autarquias locais e das entidades intermunicipais e dos
órgãos dos municípios nos órgãos das freguesias e das entidades intermunicipais.

Artigo 117.º
Prossecução de atribuições e delegação de competências
1 - O Estado, as autarquias locais e as entidades intermunicipais articulam entre si, nos
termos do artigo 4.º, a prossecução das respetivas atribuições, podendo, para o efeito,
recorrer à delegação de competências.
2 - Para efeitos do disposto no número anterior, os órgãos do Estado podem delegar
competências nos órgãos das autarquias locais e das entidades intermunicipais e os
órgãos dos municípios podem delegar competências nos órgãos das freguesias e das
entidades intermunicipais.

Artigo 118.º
Objetivos
A concretização da delegação de competências visa a promoção da coesão territorial, o
reforço da solidariedade inter-regional, a melhoria da qualidade dos serviços prestados
às populações e a racionalização dos recursos disponíveis.

Artigo 119.º
Intangibilidade das atribuições e âmbito da delegação de competências
No respeito pela intangibilidade das atribuições estaduais, autárquicas e intermunicipais,
o Estado e os municípios concretizam a delegação de competências em todos os
domínios dos interesses próprios das populações das freguesias, dos municípios e das
entidades intermunicipais.

Artigo 120.º
Contrato
1 - A delegação de competências concretiza-se através da celebração de contratos
interadministrativos, sob pena de nulidade.
2 - À negociação, celebração e execução dos contratos é aplicável o disposto na
presente lei e, subsidiariamente, o Código dos Contratos Públicos e o Código do
Procedimento Administrativo.

Artigo 121.º
Princípios gerais
A negociação, celebração, execução e cessação dos contratos obedece aos seguintes
princípios:
a) Igualdade;
b) Não discriminação;
c) Estabilidade;
d) Prossecução do interesse público;
e) Continuidade da prestação do serviço público;
f) Necessidade e suficiência dos recursos.

Artigo 122.º
Recursos

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1 - É aplicável, com as devidas adaptações, o disposto nos n.º s 1, 2 e 5 do artigo 115.º
2 - Os contraentes públicos devem promover os estudos necessários à demonstração dos
requisitos previstos nas alíneas a) a e) do n.º 3 do artigo 115.º
3 - A afetação dos recursos humanos através de instrumento de mobilidade é válida pelo
período de vigência do contrato, salvo convenção em contrário.

Artigo 123.º
Cessação do contrato
1 - O contrato pode cessar por caducidade, revogação ou resolução.
2 - O contrato cessa por caducidade nos termos gerais, designadamente pelo decurso do
respetivo período de vigência.
3 - Sem prejuízo do disposto no n.º 3 do artigo 126.º e no n.º 3 do artigo 129.º, a
mudança dos titulares dos órgãos dos contraentes públicos não determina a caducidade
do contrato.
4 - Os contraentes públicos podem revogar o contrato por mútuo acordo.
5 - Os contraentes públicos podem resolver o contrato por incumprimento da
contraparte ou por razões de relevante interesse público devidamente fundamentadas.
6 - No caso de cessação por revogação ou resolução por razões de relevante interesse
público, os contraentes públicos devem demonstrar o preenchimento dos requisitos
previstos nas alíneas a) a e) do n.º 3 do artigo 115.º
7 - A cessação do contrato não pode originar quebra ou descontinuidade da prestação do
serviço público.
8 - Os contraentes públicos podem suspender o contrato com os fundamentos referidos
no n.º 5.
9 - À suspensão do contrato prevista do número anterior é aplicável, com as devidas
adaptações, o disposto nos n.º s 6 e 7.

SECÇÃO II
Delegação de competências do Estado nos municípios e
nas entidades intermunicipais

Artigo 124.º
Intangibilidade das atribuições e âmbito da delegação de competências

1 - No respeito pela intangibilidade das atribuições estaduais, o Estado concretiza a


delegação de competências em todos os domínios dos interesses próprios das
populações das autarquias locais e das entidades intermunicipais, em especial no âmbito
das funções económicas e sociais.
2 - As competências delegáveis são as previstas em lei.

Artigo 125.º
Igualdade e não discriminação
1 - Na concretização da delegação de competências, e no respeito pelos princípios da
igualdade e da não discriminação referidos nas alíneas a) e b) do artigo 121.º, o Estado
considera, designadamente, a caraterização da entidade intermunicipal como área
metropolitana ou como comunidade intermunicipal.
2 - Na concretização da delegação de competências, e no respeito pelos princípios da
igualdade e da não discriminação referidos nas alíneas a) e b) do artigo 121.º, o Estado
considera, designadamente, a caraterização da autarquia local como município ou

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freguesia, bem como critérios relacionados com a respetiva caraterização geográfica,
demográfica, económica e social.
3 - É aplicável, com as devidas adaptações, o disposto no n.º 4 do artigo 115.º

Artigo 126.º
Período de vigência
1 - O período de vigência do contrato coincide com a duração do mandato do Governo,
salvo casos excecionais, devidamente fundamentados, e sem prejuízo do disposto no
número seguinte.
2 - O contrato considera-se renovado após a tomada de posse do Governo, sem prejuízo
do disposto no número seguinte.
3 - Os outorgantes podem promover a denúncia do contrato, no prazo de seis meses
após a tomada de posse do Governo ou após a instalação do órgão autárquico.
4 - Os órgãos deliberativos das autarquias locais e das entidades intermunicipais não
podem, em caso algum, promover a denúncia do contrato.

Artigo 127.º
Comunicação
1 - Os departamentos governamentais competentes comunicam ao serviço da
administração central responsável pelo acompanhamento das autarquias locais, por via
eletrónica e no prazo de 30 dias, a celebração, alteração e cessação dos contratos,
mediante o envio de cópia.
2 - Compete ao serviço referido no número anterior manter atualizado o registo dos
contratos mencionados no número anterior.
3 - Os contratos estão disponíveis para consulta, nos termos da lei.

SECÇÃO III
Delegação de competências dos municípios

SUBSECÇÃO I
Nas entidades intermunicipais

Artigo 128.º
Âmbito da delegação de competências

1 - Os municípios concretizam a delegação de competências nas entidades


intermunicipais em todos os domínios dos interesses próprios das populações destas, em
especial no âmbito do planeamento e gestão da estratégia de desenvolvimento
económico e social, da competitividade territorial, da promoção dos recursos endógenos
e da valorização dos recursos patrimoniais e naturais, do empreendedorismo e da
criação de emprego, da mobilidade, da gestão de infraestruturas urbanas e das respetivas
atividades prestacionais e da promoção e gestão de atividades geradoras de fluxos
significativos de população, bens e informação.
2 - Os municípios concretizam ainda a delegação de competências nas entidades
intermunicipais nos domínios instrumentais relacionados com a organização e
funcionamento dos serviços municipais e de suporte à respetiva atividade.
3 - A validade e eficácia da delegação de competências de um município numa entidade
intermunicipal não depende da existência de um número mínimo de municípios com
contratos de delegação de competências na mesma entidade intermunicipal.

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Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define as “infraestruturas urbanas” como “os sistemas técnicos de suporte direto ao funcionamento dos
aglomerados urbanos ou da edificação em conjunto”.

Artigo 129.º
Período de vigência
1 - O período de vigência do contrato coincide com a duração do mandato do órgão
deliberativo do município, salvo casos excecionais, devidamente fundamentados, e sem
prejuízo do disposto no número seguinte.
2 - O contrato considera-se renovado após a instalação do órgão deliberativo do
município, sem prejuízo do disposto no número seguinte.
3 - Os outorgantes podem promover a denúncia do contrato, no prazo de seis meses
após a instalação do órgão deliberativo do município.

Artigo 130.º
Registo
1 - Os contraentes públicos mantêm um registo atualizado dos contratos celebrados.
2 - Os contratos estão disponíveis para consulta, nos termos da lei.

SUBSECÇÃO II
Nas freguesias

Artigo 131.º
Âmbito da delegação de competências

Os municípios concretizam a delegação de competências nas freguesias em todos os


domínios dos interesses próprios das populações destas, em especial no âmbito dos
serviços e das atividades de proximidade e do apoio direto às comunidades locais.

Artigo 132.º
Delegação legal
(Revogado)

Artigo 133.º
Acordos de execução
(Revogado)

Artigo 134.º
Cessação
(Revogado)

Artigo 135.º
Igualdade e não discriminação
(Revogado)

Artigo 136.º
Período de vigência
(Revogado)

TÍTULO V
Disposições finais

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Artigo 137.º
Prazos
Salvo disposição em contrário, os prazos previstos na presente lei são contínuos.

Artigo 138.º
Regiões autónomas

1 - A presente lei aplica-se às Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, com


exceção dos artigos 63.º a 107.º e sem prejuízo do disposto no número seguinte.
2 - As disposições do capítulo i e das secções i e ii do capítulo ii do título iv são
aplicáveis, com as devidas adaptações e nos termos dos respetivos estatutos político-
administrativos, nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.

Artigo 139.º
Unidades administrativas

As áreas metropolitanas previstas no anexo ii cujos territórios não se encontrem


integrados numa comunidade intermunicipal e as comunidades intermunicipais
previstas no anexo iii constituem unidades administrativas, incluindo para os efeitos
previstos no Regulamento (CE) n.º 1059/2003, do Parlamento Europeu e do Conselho,
de 26 de maio de 2003, relativo à instituição de uma nomenclatura comum às unidades
territoriais estatísticas (NUTS).

REGIME JURÍDICO DA TUTELA ADMINISTRATIVA (RJTA)

Lei n.º 27/96, de 1 de agosto


Regime jurídico da tutela administrativa - versão atualizada em 2015:
Decreto-Lei n.º 214-G/2015

A Assembleia da República decreta, nos termos dos artigos 164.º, alínea d), e 169.º, n.º
3, da Constituição, o seguinte:

Artigo 1.º
Âmbito
1 - A presente lei estabelece o regime jurídico da tutela administrativa a que ficam
sujeitas as autarquias locais e entidades equiparadas, bem como o respectivo regime
sancionatório.
2 - Para efeitos do presente diploma são consideradas entidades equiparadas a
autarquias locais as áreas metropolitanas, as assembleias distritais e as associações de
municípios de direito público.

Artigo 2.º
Objecto

A tutela administrativa consiste na verificação do cumprimento das leis e regulamentos


por parte dos órgãos e dos serviços das autarquias locais e entidades equiparadas.

Artigo 3.º

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Conteúdo
1 - A tutela administrativa exerce-se através da realização de inspecções,
inquéritos e sindicâncias.
2 - No âmbito deste diploma:
a) A inspecção consiste na verificação da conformidade dos actos e contratos dos
órgãos e serviços com a lei;
b) O inquérito consiste na verificação da legalidade dos actos e contratos concretos dos
órgãos e serviços resultante de fundada denúncia apresentada por quaisquer pessoas
singulares ou colectivas ou de inspecção;
c) A sindicância consiste numa indagação aos serviços quando existam sérios indícios
de ilegalidades de actos de órgãos e serviços que, pelo seu volume e gravidade, não
devam ser averiguados no âmbito de inquérito.

Artigo 4.º
Deveres de informação e cooperação

Os órgãos e serviços objecto de acções de tutela administrativa encontram-se vinculados


aos deveres de informação e cooperação.

Artigo 5.º
Titularidade dos poderes de tutela
A tutela administrativa compete ao Governo, sendo assegurada, de forma articulada,
pelos Ministros das Finanças e do Equipamento, do Planeamento e da Administração do
Território, no âmbito das respectivas competências.

Artigo 6.º
Realização de acções inspectivas

1 - As inspecções são realizadas regularmente através dos serviços competentes, de


acordo com o plano anual superiormente aprovado.
2 - Os inquéritos e as sindicâncias são determinados pelo competente membro do
Governo, sempre que se verifiquem os pressupostos da sua realização.
3 - Os relatórios das acções inspectivas são apresentados para despacho do competente
membro do Governo, que, se for caso disso, os remeterá para o representante do
Ministério Público legalmente competente.
4 - Estando em causa situações susceptíveis de fundamentar a dissolução de órgãos
autárquicos ou de entidades equiparadas, ou a perda de mandato dos seus titulares, o
membro do Governo deve determinar, previamente, a notificação dos visados para, no
prazo de 30 dias, apresentarem, por escrito, as alegações tidas por convenientes,
juntando os documentos que considerem relevantes.
5 - Sem prejuízo do disposto no número anterior, sempre que esteja em causa a
dissolução de um órgão executivo, deve também ser solicitado parecer ao respectivo
órgão deliberativo, que o deverá emitir por escrito no prazo de 30 dias.
6 - Apresentadas as alegações ou emitido o parecer a que aludem, respectivamente, os
n.º s 4 e 5, ou decorrido o prazo para tais efeitos, deverá o membro do Governo
competente, no prazo máximo de 60 dias, dar cumprimento, se for caso disso, ao
disposto no n.º 3.

Artigo 7.º
Sanções

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A prática, por acção ou omissão, de ilegalidades no âmbito da gestão das autarquias
locais ou no da gestão de entidades equiparadas pode determinar, nos termos previstos
na presente lei, a perda do respectivo mandato, se tiverem sido praticadas
individualmente por membros de órgãos, ou a dissolução do órgão, se forem o resultado
da acção ou omissão deste.

Artigo 8.º
Perda de mandato

1 - Incorrem em perda de mandato os membros dos órgãos autárquicos ou das entidades


equiparadas que:
a) Sem motivo justificativo, não compareçam a 3 sessões ou 6 reuniões seguidas ou a 6
sessões ou 12 reuniões interpoladas;
b) Após a eleição, sejam colocados em situação que os torne inelegíveis ou
relativamente aos quais se tornem conhecidos elementos reveladores de uma situação de
inelegibilidade já existente, e ainda subsistente, mas não detectada previamente à
eleição;
c) Após a eleição se inscrevam em partido diverso daquele pelo qual foram
apresentados a sufrágio eleitoral;
d) Pratiquem ou sejam individualmente responsáveis pela prática dos actos previstos no
artigo seguinte.
2 - Incorrem, igualmente, em perda de mandato os membros dos órgãos autárquicos
que, no exercício das suas funções, ou por causa delas, intervenham em
procedimento administrativo, acto ou contrato de direito público ou privado
relativamente ao qual se verifique impedimento legal, visando a obtenção de
vantagem patrimonial para si ou para outrem.
3 - Constitui ainda causa de perda de mandato a verificação, em momento posterior ao
da eleição, de prática, por acção ou omissão, em mandato imediatamente anterior, dos
factos referidos na alínea d) do n.º 1 e no n.º 2 do presente artigo.

Artigo 9.º
Dissolução de órgãos

Qualquer órgão autárquico ou de entidade equiparada pode ser dissolvido quando:


a) Sem causa legítima de inexecução, não dê cumprimento às decisões transitadas
em julgado dos tribunais;
b) Obste à realização de inspecção, inquérito ou sindicância, à prestação de
informações ou esclarecimentos e ainda quando recuse facultar o exame aos serviços e a
consulta de documentos solicitados no âmbito do procedimento tutelar administrativo;
c) Viole culposamente instrumentos de ordenamento do território ou de
planeamento urbanístico válidos e eficazes;
d) Em matéria de licenciamento urbanístico exija, de forma culposa, taxas, mais-
valias, contrapartidas ou compensações não previstas na lei;
e) Não elabore ou não aprove o orçamento de forma a entrar em vigor no dia 1 de
Janeiro de cada ano, salvo ocorrência de facto julgado justificativo;
f) Não aprecie ou não apresente a julgamento, no prazo legal, as respectivas contas,
salvo ocorrência de facto julgado justificativo;
g) Os limites legais de endividamento da autarquia sejam ultrapassados, salvo
ocorrência de facto julgado justificativo ou regularização superveniente;
h) Os limites legais dos encargos com o pessoal sejam ultrapassados, salvo ocorrência

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de facto não imputável ao órgão visado;
i) Incorra, por acção ou omissão dolosas, em ilegalidade grave traduzida na
consecução de fins alheios ao interesse público.

Artigo 10.º
Causas de não aplicação da sanção

1 - Não haverá lugar à perda de mandato ou à dissolução de órgão autárquico ou de


entidade equiparada quando, nos termos gerais de direito, e sem prejuízo dos deveres a
que os órgãos públicos e seus membros se encontram obrigados, se verifiquem causas
que justifiquem o facto ou que excluam a culpa dos agentes.
2 - O disposto no número anterior não afasta responsabilidades de terceiros que
eventualmente se verifiquem.

Artigo 11.º
Decisões de perda de mandato e de dissolução

1 - As decisões de perda do mandato e de dissolução de órgãos autárquicos ou de


entidades equiparadas são da competência dos tribunais administrativos de círculo.
2 - As acções para perda de mandato ou de dissolução de órgãos autárquicos ou de
entidades equiparadas são interpostas pelo Ministério Público, por qualquer membro do
órgão de que faz parte aquele contra quem for formulado o pedido, ou por quem tenha
interesse directo em demandar, o qual se exprime pela utilidade derivada da procedência
da acção.
3 - O Ministério Público tem o dever funcional de propor as acções referidas nos
números anteriores no prazo máximo de 20 dias após o conhecimento dos respectivos
fundamentos.
4 - As acções previstas no presente artigo só podem ser interpostas no prazo de cinco
anos após a ocorrência dos factos que as fundamentam.

Artigo 12.º
Efeitos das decisões de perda de mandato e de dissolução
1 - Os membros de órgão dissolvido ou os que hajam perdido o mandato não podem
fazer parte da comissão administrativa a que se refere o n.º 1 do artigo 14.º
2 - No caso de dissolução do órgão, o disposto no número anterior não é aplicável aos
membros do órgão dissolvido que tenham votado contra ou que não tenham participado
nas deliberações, praticado os actos ou omitido os deveres legais a que estavam
obrigados e que deram causa à dissolução do órgão.
3 - A renúncia ao mandato não prejudica o disposto no n.º 1 do presente artigo.
4 - A dissolução do órgão deliberativo da freguesia ou da região administrativa envolve
necessariamente a dissolução da respectiva junta.

Artigo 13.º
Inelegibilidade

A condenação definitiva dos membros dos órgãos autárquicos em qualquer dos crimes
de responsabilidade previstos e definidos na Lei n.º 34/87, de 16 de Julho, implica a sua
inelegibilidade nos actos eleitorais destinados a completar o mandato interrompido e
nos subsequentes que venham a ter lugar no período de tempo correspondente a novo
mandato completo, em qualquer órgão autárquico.

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Artigo 14.º
Processo decorrente da dissolução de órgão

1 - Em caso de dissolução do órgão deliberativo de freguesia ou de região


administrativa ou do órgão executivo municipal, é designada uma comissão
administrativa, com funções executivas, a qual é constituída por três membros, nas
freguesias, ou cinco membros, nas câmaras municipais e nas regiões administrativas.
2 - Nos casos referidos no número anterior, os órgãos executivos mantêm-se em funções
até à data da tomada de posse da comissão administrativa.
3 - Quando a constituição do novo órgão autárquico envolver o sufrágio directo e
universal, o acto eleitoral deve ocorrer no prazo máximo de 90 dias após o trânsito em
julgado da decisão de dissolução, salvo se no mesmo período de tempo forem marcadas
eleições gerais para os órgãos autárquicos.
4 - Compete ao Governo, mediante decreto, nomear a comissão administrativa referida
no n.º 1, cuja composição deve reflectir a do órgão dissolvido.

Artigo 15.º
Regime processual

1 - As ações para declaração de perda de mandato ou de dissolução de órgãos


autárquicos ou entidades equiparadas têm caráter urgente e seguem os termos do
processo do contencioso eleitoral, previstos no Código de Processo nos Tribunais
Administrativos.
2 - (Revogado).
3 - (Revogado).
4 - (Revogado).
5 - (Revogado).
6 - (Revogado).
7 - (Revogado).
8 - (Revogado).

Artigo 16.º
Aplicação às Regiões Autónomas

O regime da presente lei aplica-se às Regiões Autónomas, sem prejuízo da publicação


de diploma que defina os órgãos competentes para o exercício da tutela administrativa.

Artigo 17.º
Norma transitória

1 - Sempre que o regime consagrado no presente diploma se revele em concreto mais


favorável ao réu, o mesmo é de aplicação imediata aos processos com decisões não
transitadas em julgado, inclusive no que diz respeito à apreciação dos respectivos
fundamentos.
2 - Para efeitos de aplicação do disposto no número anterior, qualquer das partes pode
requerer a baixa do processo ao tribunal de 1.ª instância para efeitos de novo
julgamento.

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3 - O disposto no número anterior aplica-se aos processos pendentes no Tribunal
Constitucional.

Artigo 18.º
Norma revogatória

1 - É revogada a Lei n.º 87/89, de 9 de Setembro, bem como todas as disposições


especiais que prevejam fundamentos de perda de mandato ou de dissolução de órgãos
autárquicos por remissão para o regime de tutela administrativa estabelecido por aquele
diploma.
2 - (Revogado).
Aprovada em 27 de Junho de 1996.
O Presidente da Assembleia da República, António de Almeida Santos.
Promulgada em 19 de Julho de 1996.
Publique-se.
O Presidente da República, JORGE SAMPAIO.
Referendada em 23 de Julho de 1996.
O Primeiro-Ministro, António Manuel de Oliveira Guterres.

Lei de BASES GERAIS DA

POLÍTICA PÚBLICA DE SOLOS, DE ORDENAMENTO DO


TERRITÓRIO E DE URBANISMO (LBG PPSOTU)

Lei n.º 31/2014, de 30 de maio (com as alterações


introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 10/2024, de 08/01

TÍTULO I
Disposições gerais

CAPÍTULO I
Objeto, fins e princípios gerais

Artigo 1.º
Objeto

1 - A presente lei estabelece as bases gerais da política pública de solos, de ordenamento


do território e de urbanismo.
2 - A presente lei não se aplica ao ordenamento e à gestão do espaço marítimo nacional,
sem prejuízo da coerência, articulação e compatibilização da política de solos e de
ordenamento do território com a política do ordenamento e da gestão do espaço
marítimo nacional.

Artigo 2.º
Fins

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Constituem fins da política pública de solos, de ordenamento do território e de
urbanismo:
a) Valorizar as potencialidades do solo, salvaguardando a sua qualidade e a realização
das suas funções ambientais, económicas, sociais e culturais, enquanto suporte físico e
de enquadramento cultural para as pessoas e suas atividades, fonte de matérias-primas e
de produção de biomassa, reservatório de carbono e reserva de biodiversidade;
b) Garantir o desenvolvimento sustentável, a competitividade económica territorial, a
criação de emprego e a organização eficiente do mercado fundiário, tendo em vista
evitar a especulação imobiliária e as práticas lesivas do interesse geral;
c) Reforçar a coesão nacional, organizando o território de modo a conter a expansão
urbana e a edificação dispersa, corrigindo as assimetrias regionais, nomeadamente dos
territórios de baixa densidade, assegurando a igualdade de oportunidades dos cidadãos
no acesso às infraestruturas, equipamentos, serviços e funções urbanas, em especial aos
equipamentos e serviços que promovam o apoio à família, à terceira idade e à inclusão
social;
d) Aumentar a resiliência do território aos efeitos decorrentes de fenómenos
climáticos extremos, combater os efeitos da erosão, minimizar a emissão de gases com
efeito de estufa e aumentar a eficiência energética e carbónica;
e) Evitar a contaminação do solo, eliminando ou minorando os efeitos de substâncias
poluentes, a fim de garantir a salvaguarda da saúde humana e do ambiente;
f) Salvaguardar e valorizar a identidade do território nacional, promovendo a integração
das suas diversidades e da qualidade de vida das populações;
g) Racionalizar, reabilitar e modernizar os centros urbanos, os aglomerados rurais e
a coerência dos sistemas em que se inserem;
h) Promover a defesa, a fruição e a valorização do património natural, cultural e
paisagístico;
i) Assegurar o aproveitamento racional e eficiente do solo, enquanto recurso natural
escasso e valorizar a biodiversidade;
j) Prevenir riscos coletivos e reduzir os seus efeitos nas pessoas e bens;
k) Salvaguardar e valorizar a orla costeira, as margens dos rios e as albufeiras;
l) Dinamizar as potencialidades das áreas agrícolas, florestais e silvo-pastoris;
m) Regenerar o território, promovendo a requalificação de áreas degradadas e a
reconversão de áreas urbanas de génese ilegal;
n) Promover a acessibilidade de pessoas com mobilidade condicionada aos edifícios,
equipamentos e espaços verdes ou outros espaços de utilização coletiva.

Nos termos do art.º 3.º, al. j), do regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de setembro,
última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), a “descontaminação de solos” consiste no “o
procedimento de remoção da fonte de contaminação e o confinamento, tratamento, in situ ou ex situ,
conducente à remoção e ou à redução de agentes poluentes nos solos, bem como à eliminação ou
diminuição dos efeitos por estes causados”.

Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. qq), do regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de
setembro, última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), “valorização” é qualquer operação,
nomeadamente as constantes no anexo ii do presente decreto-lei, cujo resultado principal seja a
transformação dos resíduos de modo a servirem um fim útil, substituindo outros materiais que, caso
contrário, teriam sido utilizados para um fim específico ou a preparação dos resíduos para esse fim na
instalação ou conjunto da economia”.

Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. xx) do regime da prevenção e controlo das emissões de poluentes para o
ar (aprovado pelo Decreto-Lei n.º 39/2018, de 11 de junho) “resíduos” são “quaisquer substâncias ou
objetos de que o detentor se desfaz ou tem a intenção ou a obrigação de se desfazer”.

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Artigo 3.º
Princípios gerais

1 - As políticas públicas e as atuações administrativas em matéria de solos, de


ordenamento do território e de urbanismo estão subordinadas aos seguintes princípios
gerais:
a) Solidariedade intra e intergeracional, assegurando às gerações presentes e futuras
qualidade de vida e um equilibrado desenvolvimento socioeconómico;
b) Responsabilidade, garantindo a prévia avaliação das intervenções com impacte
relevante no território e estabelecendo o dever de reposição ou de compensação de
danos que ponham em causa o património natural, cultural e paisagístico;
c) Economia e eficiência, assegurando a utilização racional e eficiente dos recursos
naturais e culturais, bem como a sustentabilidade ambiental e financeira das opções
adotadas pelos programas e planos territoriais;
d) Coordenação e compatibilização das diversas políticas públicas com incidência
territorial com as políticas de desenvolvimento económico e social, assegurando uma
adequada ponderação dos interesses públicos e privados em presença;
e) Subsidiariedade, simplificando e coordenando os procedimentos dos diversos níveis
da Administração Pública, com vista a aproximar o nível decisório ao cidadão;
f) Equidade, assegurando a justa repartição dos benefícios e dos encargos decorrentes
da aplicação dos programas e planos territoriais e dos instrumentos de política de solos;
g) Participação dos cidadãos, reforçando o acesso à informação e à intervenção nos
procedimentos de elaboração, execução, avaliação e revisão dos programas e planos
territoriais;
h) Concertação e contratualização entre interesses públicos e privados, incentivando
modelos de atuação baseados na vinculação recíproca entre a iniciativa pública e a
privada na concretização dos programas e planos territoriais;
i) Segurança jurídica e proteção da confiança, garantindo a estabilidade dos regimes
legais e o respeito pelos direitos preexistentes e juridicamente consolidados.
2 - As políticas públicas e as atuações administrativas contribuem, ainda, para a
preservação do ambiente e estão subordinadas aos seguintes princípios ambientais:
a) Do desenvolvimento sustentável, que obriga à satisfação das necessidades do
presente sem comprometer as das gerações futuras, para o que concorrem a preservação
de recursos naturais e a herança cultural, a capacidade de produção dos ecossistemas a
longo prazo, o ordenamento racional e equilibrado do território com vista ao combate às
assimetrias regionais, a promoção da coesão territorial, a produção e o consumo
sustentáveis de energia, a salvaguarda da biodiversidade, do equilíbrio biológico, do
clima e da estabilidade geológica, harmonizando a vida humana e o ambiente;
b) Da prevenção e da precaução, que obrigam à adoção de medidas antecipatórias com
o objetivo de obviar ou minorar os impactes adversos no ambiente;
c) Da transversalidade e da integração de políticas ambientais nas políticas de
ordenamento do território e urbanismo, nomeadamente mediante a realização de
avaliação ambiental que identifique e monitorize efeitos significativos no ambiente que
resultem de um programa ou plano territorial;
d) Do poluidor-pagador e do utilizador-pagador, que obriga o responsável pela
poluição ou o utente de serviços públicos a assumir os custos da atividade poluente ou
os custos da utilização dos recursos;
e) Da responsabilidade, que obriga à responsabilização de todos os que direta ou
indiretamente, com dolo ou negligência, provoquem ameaças ou danos ao ambiente;

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f) Da recuperação, que obriga o causador do dano ambiental à restauração do estado do
ambiente tal como se encontrava anteriormente à ocorrência do facto danoso.

Nota 1: Sobre os princípios ambientais referidos no n.º 2, cf. o art.º 3.º da LBA.

Nota 2: Sobre o “princípio da solidariedade intergeracional”, cf. também o art.º 8.º do regime jurídico
dos instrumentos de gestão territorial, que impõe a “harmonização dos vários interesses públicos com
expressão territorial”. Cf. art.º 12.º , n.º 2, do mesmo diploma e o art.º 10.º , al. c), da Lei de Bases do
Ambiente.

Nota 3: Nos termos do art.º 3.º, al. x), do regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de
setembro, última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), a “prevenção” consiste na “adoção de medidas
antes de uma substância, material ou produto assumir a natureza de resíduo, destinadas a reduzir”:
I) a quantidade de resíduos produzidos, designadamente através da reutilização de produtos ou do
prolongamento do tempo de vida dos produtos; II) os impactes adversos no ambiente e na saúde humana
resultantes dos resíduos produzidos; ou III) o teor de substâncias nocivas presentes nos materiais e nos
produtos”.

Nos termos do art.º 11.º, al. m), da Lei da responsabilidade ambiental (Decreto-Lei n.º 147/2008, de 29 de
julho), “medidas de prevenção” são “quaisquer medidas adotadas em resposta a um acontecimento, ato
ou omissão que tenha causado uma ameaça iminente de danos ambientais, destinadas a prevenir ou
minimizar ao máximo esses danos”.

CAPÍTULO II
Direitos e deveres gerais

Artigo 4.º
Direito de propriedade privada do solo

1 - O direito de propriedade privada do solo é garantido nos termos da Constituição e da


lei.
2 - O direito de propriedade privada e os demais direitos relativos ao solo são
ponderados e conformados no quadro das relações jurídicas de ordenamento do
território e de urbanismo, com princípios e valores constitucionais protegidos,
nomeadamente nos domínios da defesa nacional, do ambiente, da cultura e do
património cultural, da paisagem, da saúde pública, da educação, da habitação, da
qualidade de vida e do desenvolvimento económico e social.
3 - A imposição de restrições ao direito de propriedade privada e aos demais direitos
relativos ao solo está sujeita ao pagamento da justa indemnização, nos termos e de
acordo com o previsto na lei.

Artigo 5.º
Direito ao ordenamento do território

Todos têm o direito a um ordenamento do território racional, proporcional e


equilibrado, de modo a que a prossecução do interesse público em matéria de solos,
ordenamento do território e urbanismo, se faça no respeito pelos direitos e interesses
legalmente protegidos.

Artigo 6.º
Outros direitos

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1 - Todos têm o direito a:
a) Usar e fruir o solo, no respeito pelos usos e utilizações previstos na lei e nos
programas e planos territoriais;
b) Beneficiar, nos termos da lei, dos bens do domínio público e usar as infraestruturas
de utilização coletiva;
c) Aceder, em condições de igualdade, a espaços coletivos e de uso público,
designadamente equipamentos, espaços verdes e outros espaços de utilização coletiva.
2 - Todos gozam dos direitos de intervir e participar nos procedimentos administrativos
relativos ao solo, ordenamento do território e urbanismo, nomeadamente:
a) O direito de participação efetiva nos procedimentos com incidência na ocupação, uso
e transformação dos solos através da apresentação de propostas, sugestões e
reclamações, bem como o direito a obter uma resposta fundamentada da administração
nos termos da lei;
b) O direito de acesso à informação de que as entidades públicas disponham e aos
documentos que integram os procedimentos referidos na alínea anterior.

Artigo 7.º
Deveres gerais

Todos têm o dever de:


a) Utilizar de forma sustentável e racional o território e os recursos naturais;
b) Respeitar o ambiente, o património cultural e a paisagem;
c) Utilizar de forma correta os bens do domínio público, as infraestruturas, os serviços
urbanos, os equipamentos, os espaços verdes ou outros espaços de utilização coletiva,
bem como abster-se de realizar quaisquer atos ou de desenvolver quaisquer atividades
que comportem um perigo de lesão dos mesmos.

Artigo 8.º
Deveres do Estado, das regiões autónomas e das autarquias locais

1 - O Estado, as regiões autónomas e as autarquias locais têm o dever de promover a


política pública de solos, de ordenamento do território e de urbanismo, no âmbito das
respetivas atribuições e competências, previstas na Constituição e na lei.
2 - Para efeitos disposto no número anterior, o Estado, as regiões autónomas e as
autarquias locais têm, designadamente, o dever de:
a) Planear e programar o uso do solo e promover a respetiva concretização;
b) Garantir a igualdade e transparência no exercício dos direitos e no cumprimento dos
deveres relacionados com o solo, designadamente, através do direito de participação e
do direito à informação dos cidadãos;
c) Garantir o uso do solo, de acordo com o desenvolvimento sustentável e de modo a
prevenir a sua degradação;
d) Garantir a existência de espaços públicos destinados a infraestruturas, equipamentos
e espaços verdes ou outros espaços de utilização coletiva, acautelando que todos tenham
acesso aos mesmos em condições de igualdade;
e) Garantir a sustentabilidade económica das obras indispensáveis à instalação e à
manutenção de infraestruturas e equipamentos;
f) Assegurar a fiscalização do cumprimento das regras relativas ao uso, ocupação e
transformação do solo e aplicar medidas de tutela da legalidade.

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TÍTULO II
Política de solos

CAPÍTULO I
Estatuto jurídico do solo

SECÇÃO I
Disposições comuns

Artigo 9.º
Regime de uso do solo

1 - O uso do solo realiza-se no âmbito dos limites previstos na Constituição, na lei, nos
planos territoriais de âmbito intermunicipal ou municipal em vigor e em conformidade
com a respetiva classificação e qualificação.
2 - O regime de uso do solo define a disciplina relativa à respetiva ocupação, utilização
e transformação.
3 - O regime de uso do solo é estabelecido pelos planos territoriais de âmbito
intermunicipal ou municipal através da classificação e qualificação do solo.

Artigo 10.º
Classificação e qualificação do solo

1 - A classificação do solo determina o destino básico do solo, com respeito pela sua
natureza, e assenta na distinção entre solo rústico e solo urbano.
2 - Para efeitos do disposto no número anterior, entende-se por:
a) «Solo rústico», aquele que, pela sua reconhecida aptidão, se destine, nomeadamente,
ao aproveitamento agrícola, pecuário, florestal, à conservação, valorização e exploração
de recursos naturais, de recursos geológicos ou de recursos energéticos, assim como o
que se destina a espaços naturais, culturais, de turismo, recreio e lazer ou à proteção de
riscos, ainda que seja ocupado por infraestruturas, e aquele que não seja classificado
como urbano;
b) «Solo urbano», o que está total ou parcialmente urbanizado ou edificado e, como tal,
afeto à urbanização ou à edificação, em plano territorial ou deliberação dos órgãos das
autarquias locais, nos termos da lei, mediante contratualização para a realização das
respetivas obras de urbanização e de edificação.
3 - A classificação e reclassificação do solo como urbano traduzem uma opção de
planeamento, nos termos e condições previstos na lei.
4 - A qualificação do solo define, com respeito pela sua classificação, o conteúdo do seu
aproveitamento por referência às potencialidades de desenvolvimento do território.
5 - Podem ser propostas desafetações ou alterações dos condicionamentos do
aproveitamento específico do solo resultantes das restrições de utilidade pública, em
função da respetiva avaliação e ponderação, nos termos e condições previstos na lei:
a) No âmbito dos procedimentos de elaboração, alteração ou revisão dos planos
territoriais de âmbito intermunicipal ou municipal;
b) Através de outros mecanismos ou procedimentos previstos na lei.

Artigo 10.º-A
Solo urbano

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Para efeitos da presente lei, mantêm a classificação como solo urbano os terrenos que
cumulativamente:
a) Ainda estejam classificados em instrumento de gestão territorial em vigor como solo
urbanizável ou solo urbano com urbanização programada;
b) Sejam propriedade exclusivamente pública;
c) O uso predominante previsto seja o habitacional; e
d) A sua promoção esteja inserida no âmbito da execução de uma estratégia local de
habitação, nos termos do artigo 30.º do Decreto-Lei n.º 37/2018, de 4 de junho, na sua
redação atual, ou de uma carta municipal de habitação ou bolsa de habitação ou
habitação a custos controlados, nos termos da Lei n.º 83/2019, de 3 de setembro.

Artigo 11.º
Restrições de utilidade pública

1 - Sem prejuízo da definição do regime de uso do solo pelos planos territoriais de


âmbito intermunicipal ou municipal, para a prossecução de finalidades genéricas de
interesse público relativas à política pública de solos, podem ser estabelecidas, por lei,
restrições de utilidade pública ao conteúdo do direito de propriedade, prevalecendo
sobre as demais disposições de regime de uso do solo.
2 - Quando tenham caráter permanente e expressão territorial suscetíveis de impedir ou
condicionar o aproveitamento do solo, as restrições de utilidade pública são
obrigatoriamente traduzidas nos planos territoriais de âmbito intermunicipal ou
municipal, sem prejuízo do disposto no número seguinte.
3 - No âmbito dos procedimentos de elaboração, alteração ou revisão dos planos
territoriais de âmbito intermunicipal ou municipal, podem ser propostas desafetações ou
alterações dos condicionamentos do aproveitamento específico do solo resultantes das
restrições de utilidade pública, em função da respetiva avaliação e ponderação, nos
termos e condições previstos na lei.

Artigo 12.º
Áreas territoriais a reabilitar e a regenerar

1 - O Estado, as Regiões Autónomas e as autarquias locais identificam, nos programas e


planos territoriais, as áreas territoriais a reabilitar e a regenerar e promovem as ações
adequadas à prossecução desses objetivos.
2 - As áreas referidas no número anterior podem abranger solo classificado como
rústico ou urbano.

SECÇÃO II
Direitos e deveres relativos ao solo

Artigo 13.º
Direitos dos proprietários

1 - Os proprietários do solo têm o direito a utilizar o solo de acordo com a sua


natureza, e com observância do previsto nos programas e planos territoriais.
2 - Os proprietários do solo rústico têm o direito de utilizar os solos de acordo com a
sua natureza, traduzida na exploração da aptidão produtiva desses solos, diretamente ou
por terceiros, preservando e valorizando os bens culturais, naturais, ambientais e
paisagísticos e de biodiversidade.

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3 - Os proprietários do solo urbano têm, designadamente, os seguintes direitos, nos
termos e condições previstos na lei:
a) Reestruturar a propriedade;
b) Realizar as obras de urbanização;
c) Edificar;
d) Promover a reabilitação e regeneração urbanas;
e) Utilizar as edificações.

Artigo 14.º
Deveres dos proprietários

1 - Os proprietários têm o dever de preservar e valorizar os bens naturais, ambientais,


paisagísticos, culturais e de biodiversidade.
2 - Os proprietários têm, designadamente, os seguintes deveres:
a) Utilizar, conservar e reabilitar imóveis, designadamente, o edificado existente;
b) Ceder áreas legalmente exigíveis para infraestruturas, equipamentos, habitação
pública, a custos controlados ou para arrendamento acessível, espaços verdes e outros
espaços de utilização coletiva, ou, na ausência ou insuficiência da cedência destas áreas,
compensar o município;
c) Realizar infraestruturas, espaços verdes e outros espaços de utilização coletiva;
d) Comparticipar nos custos de construção, manutenção, reforço ou renovação das
infraestruturas, equipamentos e espaços públicos de âmbito geral;
e) Minimizar o nível de exposição a riscos coletivos.

Artigo 15.º
Aquisição gradual das faculdades urbanísticas

1 - A aquisição das faculdades urbanísticas que integram o conteúdo do aproveitamento


do solo urbano é efetuada de forma sucessiva e gradual e está sujeita ao cumprimento
dos ónus e deveres urbanísticos estabelecidos na lei e nos planos territoriais de âmbito
intermunicipal ou municipais aplicáveis.
2 - A inexistência das faculdades urbanísticas referidas no número anterior não
prejudica o disposto na lei em matéria de justa indemnização devida por expropriação.

Artigo 16.º
Imposição da realização de operações urbanísticas

1 - A administração pode impor ao proprietário do imóvel a realização das operações


urbanísticas necessárias à execução de um plano territorial de âmbito intermunicipal ou
municipal, incluindo, nomeadamente, a obrigação de nele construir, de conservar,
reabilitar e demolir as construções e edificações que nele existam ou de as utilizar em
conformidade com o previsto em plano territorial.
2 - Sem prejuízo do disposto em lei especial, caso o proprietário não cumpra a
obrigação no prazo estabelecido, ou manifeste a sua oposição à mesma, a sua execução
apenas pode ter lugar mediante expropriação ou venda forçada do imóvel, nos termos do
artigo 35.º da presente lei.
Nota: O Decreto Regulamentar que define conceitos técnicos do urbanismo (de setembro de 2019) define
as “operações urbanísticas” como “as operações materiais de urbanização, de edificação, utilização dos
edifícios ou do solo desde que, neste último caso, para fins não exclusivamente agrícolas, pecuários,
florestais, mineiros ou de abastecimento público de água”.

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Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define “edifício” como “uma construção permanente, dotada de acesso independente, coberta, limitada por
paredes exteriores ou paredes-meeiras que vão das fundações à cobertura, destinada a utilização humana
ou a outros fins”.

Artigo 17.º
Sacrifício de direitos preexistentes e juridicamente consolidados

1 - O sacrifício de direitos preexistentes e juridicamente consolidados só pode ter lugar


nos casos expressamente previstos na lei ou nos planos territoriais aplicáveis e mediante
o pagamento de compensação ou indemnização.
2 - A compensação ou indemnização a que se refere o número anterior é prevista,
obrigatoriamente e de forma expressa, no plano territorial de âmbito intermunicipal ou
municipal que fundamenta a imposição do sacrifício, nomeadamente através da
definição de mecanismos de perequação deles resultantes.
3 - Independentemente do disposto nos números anteriores são indemnizáveis quaisquer
sacrifícios impostos aos proprietários do solo que tenham efeito equivalente a uma
expropriação.

Artigo 18.º
Reserva de solo

1 - A reserva de solo para infraestruturas urbanísticas, equipamentos, habitação pública,


a custos controlados ou para arrendamento acessível, e espaços verdes e outros espaços
de utilização coletiva, que tenha por objeto propriedade privada determina a
obrigatoriedade da respetiva aquisição pela Administração Pública no prazo
estabelecido no plano territorial ou no instrumento de programação, findo o qual aquela
reserva caduca, desde que o atraso não seja imputável à falta de iniciativa do
proprietário ou ao incumprimento dos respetivos ónus ou deveres urbanísticos.
2 - Na falta de fixação do prazo a que se refere o número anterior, a reserva do solo
caduca no prazo de cinco anos contados da data da entrada em vigor do respetivo plano
territorial.
3 - As associações de municípios e as autarquias locais são obrigadas a declarar a
caducidade da reserva de solo, nos termos dos números anteriores, e a proceder à
redefinição do uso do solo, salvo se o plano territorial vigente tiver previsto o regime de
uso do solo supletivamente aplicável.

SECÇÃO III
Estruturação da propriedade

Artigo 19.º
Estruturação da propriedade

1 - O dimensionamento, fracionamento, emparcelamento e reparcelamento da


propriedade do solo realiza-se de acordo com o previsto nos planos territoriais, devendo
as unidades prediais ser adequadas ao aproveitamento do solo neles estabelecido.
2 - Sem prejuízo da fixação legal de unidades mínimas de cultura em solo rústico, os
planos territoriais de âmbito intermunicipal ou municipal podem estabelecer critérios e
regras para o dimensionamento dos prédios, nomeadamente para os lotes ou parcelas
resultantes das operações de transformação fundiária realizadas no âmbito da sua

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execução.
3 - As associações de municípios e as autarquias locais podem promover, por sua
iniciativa ou em cooperação com os proprietários de prédios, a reestruturação da
propriedade, nos termos da lei, com vista a:
a) Reduzir ou eliminar os inconvenientes socioeconómicos da fragmentação e da
dispersão da propriedade;
b) Viabilizar a reconfiguração de limites cadastrais de terrenos;
c) Contribuir para a execução de operações de reabilitação e regeneração;
d) Assegurar a implementação da política pública de solos prevista nos programas e
planos territoriais;
e) Ajustar a dimensão e a configuração dos prédios à estrutura fundiária definida pelo
programa ou plano territorial;
f) Distribuir equitativamente, entre os proprietários, os benefícios e encargos resultantes
da entrada em vigor do plano territorial;
g) Localizar adequadamente as áreas necessárias à implantação de infraestruturas,
equipamentos, habitação pública, a custos controlados ou para arrendamento acessível,
espaços verdes ou outros espaços de utilização coletiva, designadamente as áreas de
cedência obrigatória.
4 - Os proprietários do solo rústico podem, individualmente ou em associação,
promover a reestruturação da propriedade, nomeadamente para reduzir ou eliminar os
inconvenientes socioeconómicos da fragmentação e da dispersão da propriedade.
5 - Os proprietários do solo urbano podem reestruturar a propriedade, nomeadamente
promovendo o fracionamento ou reparcelamento de prédios destinados à construção
urbana, mediante operações urbanísticas de loteamento que definam a edificabilidade e
os prazos da sua concretização.

Artigo 20.º
Uso do solo e edificabilidade

1 - O uso do solo é definido exclusivamente pelos planos territoriais de âmbito


intermunicipal ou municipal, através da definição de áreas de construção ou, na
impossibilidade dessa definição, pela aplicação de parâmetros e índices quantitativos e
qualitativos, de aproveitamento ou de edificabilidade, nos termos da lei.
2 - A edificabilidade pode ser objeto de direitos subjetivos autónomos do solo,
nomeadamente para viabilizar a transferência de edificabilidade, nos termos da lei.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define “edificabilidade” como “a quantidade de edificação que, nos termos das disposições legais e
regulamentares aplicáveis, pode ser realizada numa dada porção do território”.

Artigo 21.º
Transferência de edificabilidade

1 - Os planos territoriais de âmbito intermunicipal ou municipal podem permitir que a


edificabilidade por eles atribuída a um lote ou a uma parcela de terreno seja transferida
para outros lotes ou parcelas, visando prosseguir, designadamente, as seguintes
finalidades:
a) Conservação da natureza e da biodiversidade;
b) Salvaguarda do património natural, cultural ou paisagístico;
c) Prevenção ou minimização de riscos coletivos inerentes a acidentes graves ou
catástrofes e de riscos ambientais;

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d) Reabilitação ou regeneração;
e) Dotação adequada em infraestruturas, equipamentos, espaços verdes ou outros
espaços de utilização coletiva;
f) Habitação com fins sociais;
g) Eficiência na utilização dos recursos e eficiência energética.
2 - Para efeitos do disposto no número anterior, os planos territoriais de âmbito
intermunicipal ou municipal regulam a previsão da edificabilidade transferida, definindo
os termos e condições em que os valores do direito concreto de construir podem ser
utilizados, bem como os mecanismos para a respetiva operacionalização, de acordo com
o procedimento previsto na lei.
3 - A transferência de edificabilidade deve ser objeto de inscrição no registo predial do
lote ou parcela de terreno a que essa edificabilidade estava atribuída, nos termos a
definir em legislação específica.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de
2019), define “lote” como o “prédio destinado à edificação, constituído ao abrigo de uma operação de
loteamento ou de um plano de pormenor com efeitos registais.”

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de
2019), define “edificabilidade” como “a quantidade de edificação que, nos termos das disposições legais
e regulamentares aplicáveis, pode ser realizada numa dada porção do território”.

Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. x), do regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de
setembro, última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), a “prevenção” consiste na “adoção de medidas
antes de uma substância, material ou produto assumir a natureza de resíduo, destinadas a reduzir”:
I) a quantidade de resíduos produzidos, designadamente através da reutilização de produtos ou do
prolongamento do tempo de vida dos produtos; II) os impactes adversos no ambiente e na saúde humana
resultantes dos resíduos produzidos; ou III) o teor de substâncias nocivas presentes nos materiais e nos
produtos”

Nos termos do art.º 11.º, al. m), da Lei da responsabilidade ambiental (Decreto-Lei n.º 147/2008, de 29 de
julho), “medidas de prevenção” são “quaisquer medidas adotadas em resposta a um acontecimento, ato
ou omissão que tenha causado uma ameaça iminente de danos ambientais, destinadas a prevenir ou
minimizar ao máximo esses danos”.

CAPÍTULO II
Propriedade pública do solo e intervenção do Estado, das
regiões autónomas e das autarquias locais

SECÇÃO I
Propriedade pública do solo

Artigo 22.º
Espaços de uso público, equipamentos e infraestruturas de utilização coletiva

1 - Os espaços de uso público e os equipamentos e infraestruturas de utilização coletiva


integram o domínio público ou privado da administração.
2 - O disposto no número anterior pode ser afastado no âmbito de uma operação
urbanística, mediante decisão fundamentada das autarquias locais, quando existir acordo
do proprietário e seja comprovadamente mais adequada, do ponto de vista urbanístico, a
manutenção ou integração das áreas referidas no número anterior em titularidade
privada.
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3 - Nas situações previstas no número anterior as autarquias locais asseguram a
utilização coletiva das áreas que se mantenham ou sejam integradas em titularidade
privada, e regulam os respetivos termos, através de regulamento municipal e de contrato
celebrado com os proprietários.
4 - A cessação de restrições de utilidade pública ou servidões administrativas de
utilidade pública e a desafetação de imóveis do domínio público ou dos fins de utilidade
pública a que se encontravam adstritos, designadamente os do domínio privado
indisponível do Estado, mesmo que integrem o património de institutos públicos ou de
empresas públicas, têm como efeito a caducidade do regime de uso do solo para eles
especificamente previsto nos planos territoriais de âmbito intermunicipal ou municipal,
caso estes não tenham estabelecido o regime de uso do solo aplicável em tal situação.
5 - Sempre que ocorra a caducidade do regime de uso do solo nos termos do número
anterior, as associações de municípios ou as autarquias locais devem redefinir o uso do
solo mediante a elaboração ou alteração de instrumento de planeamento territorial.
6 - Excecionam-se do disposto no número anterior os casos em que o uso se destine a
habitação, desde que a propriedade do solo seja exclusivamente pública.
7 - Nos casos previstos no número anterior, na ausência da decisão referida no número
seguinte, presume-se a compatibilidade do uso habitacional, sendo aplicáveis, com as
devidas adaptações, as normas do plano relativas às parcelas confinantes e com as quais
a parcela em causa tenha condições para constituir uma unidade harmoniosa.
8 - A câmara municipal territorialmente competente pode opor-se à presunção referida
no número anterior, por razões de interesse público, devidamente fundamentadas,
designadamente:
a) Ruído;
b) Estacionamento;
c) Sistemas de mobilidade existentes;
d) Espaços verdes, equipamentos públicos e de lazer.

Artigo 23.º
Domínio privado e políticas públicas de solos

Sem prejuízo de outras finalidades previstas na lei, os bens imóveis do domínio


privado do Estado, das regiões autónomas e autarquias locais podem ser afetos à
prossecução de finalidades de política pública de solos, com vista, designadamente, à:
a) Regulação do mercado do solo, tendo em vista a prevenção da especulação fundiária
e a regulação do respetivo valor;
b) Aplicação de princípios supletivos associados aos mecanismos de redistribuição de
benefícios e encargos;
c) Localização de infraestruturas, de equipamentos e de espaços verdes ou de outros
espaços de utilização coletiva;
d) Realização de intervenções públicas ou de iniciativa pública, nos domínios da
proteção civil, da agricultura, das florestas, da conservação da natureza, da habitação
com fins sociais e da reabilitação e regeneração urbana;
e) Execução programada dos programas e planos territoriais.

Nota 2: Os bens que integram o domínio público podem pertencer ao Estado, às regiões autónomas ou às
autarquias locais (domínio público estadual, domínio público regional e domínio público autárquico). Só
os entes públicos de população e território (ou “de base territorial”) são titulares de bens do domínio
público. Certos bens integram necessariamente, pela sua ligação à soberania do Estado, o domínio público
do Estado, como é o caso do domínio público marítimo e domínio público aéreo. No entanto, os entes

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públicos também são titulares de bens do domínio privado, integrem estes o património financeiro
(património privado disponível) ou o património administrativo (património privado indisponível).
Os bens do património financeiro ou bens do património privado disponível estão sujeitos ao regime
jurídico-privado.

Nota 3: O património do Estado é constituído pelos bens do seu domínio público e privado, e ainda pelos
direitos e obrigações com conteúdo económico de que o Estado é titular. Integram o domínio público do
Estado os seguintes bens: “a) águas territoriais com os seus leitos, as águas marítimas interiores com os
seus leitos e margens e a plataforma continental; b) lagos, lagoas e cursos de água navegáveis ou flutuáveis
com os respetivos leitos e margens e, bem assim, os que por lei forem reconhecidos como aproveitáveis
para produção de energia elétrica ou para irrigação; c) barragens de utilidade pública, portos artificiais,
docas, aeroportos, aeródromos de interesse público e outros bens do domínio público hídrico; d) camadas
aéreas, jazigos minerais e petrolíferos, nascentes de águas mineromedicinais, recursos geotérmicos, e outras
riquezas naturais do subsolo, com exclusão dos minerais utilizados na construção; e) linhas férreas de
interesse público, autoestradas, estradas nacionais e acessórios, e obras de arte; f) obras e instalações
militares e zonas territoriais adstritas à defesa militar; g) navios da armada, aeronaves militares, carros de
combate e outro equipamento militar de natureza e durabilidade equivalente; h) linhas telefónicas, cabos
submarinos, obras, canalizações e redes de distribuição pública de energia elétrica; i) palácios,
monumentos, museus, bibliotecas, arquivos e teatros nacionais, e palácios escolhidos pelo Chefe de Estado,
para a Presidência, para sua residência e das pessoas da sua família; j) direitos públicos sobre imóveis
privados classificados ou de uso e fruição sobre quaisquer bens privados; k) servidões administrativas,
restrições de utilidade pública ao direito de propriedade; l) outros bens do Estado sujeitos por lei ao regime
de direito público” (art.º 4.º do D.L. 477/80, de 15 de outubro). Diferentemente, integram o domínio
privado do Estado bens como: a) imóveis: prédios rústicos e urbanos e direitos a eles inerentes; b) direitos
de arrendamento dos quais ocupe a posição de arrendatário; c) direitos reais; d) bens móveis corpóreos
(com exceção das coisas consumíveis e daquelas que, sem se destruírem imediatamente, se depreciam muito
rapidamente). Estes bens são suscetíveis de comércio privado (cf. art.º 1304º do Código Civil), mas nem
todos eles são comerciáveis, pelo que há que distinguir entre bens do domínio privado disponível e bens do
domínio privado indisponível (art.º 5.º do D.L. 477/80, de 15 de outubro).

Artigo 24.º
Autonomização de bens imóveis de titularidade ou afetação pública

1 - O Estado, as regiões autónomas e as autarquias locais devem autonomizar, nos seus


planos de atividades e orçamento e nos documentos de prestação de contas, os bens
imóveis integrantes do seu domínio público ou privado e outros ativos patrimoniais, que
ficam afetos à prossecução de finalidades de política fundiária.
2 - Os bens imóveis podem ingressar na titularidade pública ou ser afetos à prossecução
das finalidades das entidades referidas no número anterior por qualquer meio
legalmente admitido, nomeadamente:
a) Aquisição originária;
b) Reafetação de terrenos de titularidade pública;
c) Compra e venda, permuta, arrendamento, locação financeira e outros contratos de
natureza análoga;
d) Sucessão, doação e renúncia;
e) Expropriação por utilidade pública;
f) Cedências no âmbito de operações urbanísticas e compensações perequativas.
Nota: Segundo Marcelo Caetano a afetação é “o acto ou prática que consagra a coisa à produção efectiva
de utilidade pública” (Direito Administrativo, 1990: 922 e 923). A desafetação (do domínio público) é,
como inverso da afetação, o ato, da lei ou da Administração, de retirar ou subtrair a utilidade pública de
determinada coisa, retirando-a do regime jurídico do domínio público.

Artigo 25.º
Cedência de bens imóveis

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Os bens imóveis que tenham sido cedidos pelos particulares, para fins de utilidade
pública, no âmbito de operações urbanísticas e integrem o domínio das autarquias
locais, não podem deixar de ser afetos a fins de utilidade pública, ainda que distintas das
que motivaram a cedência sob pena de reversão, nos termos da lei.

Nota 1: cf. art.º 5.º do CE: Direito de reversão.

Nota 2: Sobre a reversão, cf. o art.º 45.º do RJUE: direito de reversão em caso de as parcelas cedidas
serem afetas a fins diversos daqueles para que hajam sido cedidas.

Nota 3: Cf. ainda ao cf. art.º 5.º do Código das Expropriações (direito de reversão) no caso de os bens
expropriados não serem aplicados, no prazo de dois anos, ao fim que determinou a expropriação ou se,
entretanto, tiverem cessado as finalidades da expropriação. Sobre como se processa a reversão no caso de
expropriação, cf. 74.º e segs. do CE.

Nota 4: O Decreto Regulamentar que define conceitos técnicos do urbanismo (de setembro de 2019)
define as “operações urbanísticas” como “as operações materiais de urbanização, de edificação,
utilização dos edifícios ou do solo desde que, neste último caso, para fins não exclusivamente agrícolas,
pecuários, florestais, mineiros ou de abastecimento público de água”.

SECÇÃO II
Meios de intervenção administrativa no solo

Artigo 26.º
Instrumentos de política de solos

O Estado, as regiões autónomas e as autarquias locais conduzem a política pública de


solos, no quadro das respetivas atribuições e das competências dos seus órgãos, para
prossecução das finalidades que lhe são cometidas, no respeito da Constituição e da lei.

Artigo 27.º
Gestão territorial

A gestão territorial é um meio de intervenção administrativa no solo e contribui para a


realização dos objetivos de política pública de solos e de regulação fundiária ao nível
nacional, regional e local.

Artigo 28.º
Transação de bens do domínio privado

Salvo se o contrário resultar da lei, da natureza ou do objeto do ato a praticar, o Estado,


as regiões autónomas e as autarquias locais podem, para a prossecução de finalidades
de política pública de solos, adquirir ou alienar bens imóveis ou direitos reais sobre
eles incidentes, pelos meios previstos no direito privado, nomeadamente compra, venda
ou permuta.

Nota 1: Os bens que integram o domínio público podem pertencer ao Estado, às regiões autónomas ou às
autarquias locais (domínio público estadual, domínio público regional e domínio público autárquico). Só
os entes públicos de população e território (ou “de base territorial”) são titulares de bens do domínio
público. Certos bens integram necessariamente, pela sua ligação à soberania do Estado, o domínio público
do Estado, como é o caso do domínio público marítimo e domínio público aéreo. No entanto, os entes
públicos também são titulares de bens do domínio privado, integrem estes o património financeiro
(património privado disponível) ou o património administrativo (património privado indisponível).

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Os bens do património financeiro ou bens do património privado disponível estão sujeitos ao regime
jurídico-privado.

Nota 2: O património do Estado é constituído pelos bens do seu domínio público e privado, e ainda pelos
direitos e obrigações com conteúdo económico de que o Estado é titular. Integram o domínio público do
Estado os seguintes bens: “a) águas territoriais com os seus leitos, as águas marítimas interiores com os
seus leitos e margens e a plataforma continental; b) lagos, lagoas e cursos de água navegáveis ou flutuáveis
com os respetivos leitos e margens e, bem assim, os que por lei forem reconhecidos como aproveitáveis
para produção de energia elétrica ou para irrigação; c) barragens de utilidade pública, portos artificiais,
docas, aeroportos, aeródromos de interesse público e outros bens do domínio público hídrico; d) camadas
aéreas, jazigos minerais e petrolíferos, nascentes de águas mineromedicinais, recursos geotérmicos, e outras
riquezas naturais do subsolo, com exclusão dos minerais utilizados na construção; e) linhas férreas de
interesse público, autoestradas, estradas nacionais e acessórios, e obras de arte; f) obras e instalações
militares e zonas territoriais adstritas à defesa militar; g) navios da armada, aeronaves militares, carros de
combate e outro equipamento militar de natureza e durabilidade equivalente; h) linhas telefónicas, cabos
submarinos, obras, canalizações e redes de distribuição pública de energia elétrica; i) palácios,
monumentos, museus, bibliotecas, arquivos e teatros nacionais, e palácios escolhidos pelo Chefe de Estado,
para a Presidência, para sua residência e das pessoas da sua família; j) direitos públicos sobre imóveis
privados classificados ou de uso e fruição sobre quaisquer bens privados; k) servidões administrativas,
restrições de utilidade pública ao direito de propriedade; l) outros bens do Estado sujeitos por lei ao regime
de direito público” (art.º 4.º do D.L. 477/80, de 15 de outubro). Diferentemente, integram o domínio
privado do Estado bens como: a) imóveis: prédios rústicos e urbanos e direitos a eles inerentes; b) direitos
de arrendamento dos quais ocupe a posição de arrendatário; c) direitos reais; d) bens móveis corpóreos
(com exceção das coisas consumíveis e daquelas que, sem se destruírem imediatamente, se depreciam muito
rapidamente). Estes bens são suscetíveis de comércio privado (cf. art.º 1304º do Código Civil), mas nem
todos eles são comerciáveis, pelo que há que distinguir entre bens do domínio privado disponível e bens do
domínio privado indisponível (art.º 5.º do D.L. 477/80, de 15 de outubro).

Artigo 29.º
Direito de preferência

O Estado, as regiões autónomas e as autarquias locais têm o direito de exercer, nos


termos legalmente previstos, o direito de preferência nas transmissões onerosas de
prédios entre particulares, tendo em vista a prossecução de objetivos de política pública
de solos para as finalidades seguintes:
a) Execução dos programas e planos territoriais;
b) Reabilitação e regeneração de áreas territoriais rústicas e urbanas;
c) Reestruturação de prédios rústicos e urbanos;
d) Preservação e valorização do património natural, cultural e paisagístico.
e) Prevenção e redução de riscos coletivos.
f) Promoção de habitação pública ou a custos controlados.

Nos termos do art.º 11.º, al. m), da Lei da responsabilidade ambiental (Decreto-Lei n.º 147/2008, de 29 de
julho), “medidas de prevenção” são “quaisquer medidas adotadas em resposta a um acontecimento, ato
ou omissão que tenha causado uma ameaça iminente de danos ambientais, destinadas a prevenir ou
minimizar ao máximo esses danos”.

Artigo 30.º
Direito de superfície

1 - O Estado, as regiões autónomas e as autarquias locais podem constituir o direito de


superfície sobre bens imóveis integrantes do seu domínio privado para a prossecução de
finalidades de política pública de solos, nos termos da lei.
2 - O direito de superfície é, em regra, constituído a título oneroso.

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Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. x), do regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de
setembro, última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), a “prevenção” consiste na “adoção de medidas
antes de uma substância, material ou produto assumir a natureza de resíduo, destinadas a reduzir”:
I) a quantidade de resíduos produzidos, designadamente através da reutilização de produtos ou do
prolongamento do tempo de vida dos produtos; II) os impactes adversos no ambiente e na saúde humana
resultantes dos resíduos produzidos; ou III) o teor de substâncias nocivas presentes nos materiais e nos
produtos”

Artigo 31.º
Cedência de utilização de bens do domínio privado

1 - O Estado, as regiões autónomas e as autarquias locais podem ceder, a título precário


e com caráter oneroso, a utilização de bens do respetivo domínio privado, para
assegurar a prossecução de finalidades de política pública de solos.
2 - A cedência é devidamente fundamentada e procura garantir a conservação, a
valorização e a rentabilização dos bens cedidos.
3 - A lei estabelece o procedimento de cedência e as condições em que se realizam a
fiscalização da atividade do cessionário e a restituição dos bens imóveis cedidos.

Nota 2: Os bens que integram o domínio público podem pertencer ao Estado, às regiões autónomas ou às
autarquias locais (domínio público estadual, domínio público regional e domínio público autárquico). Só
os entes públicos de população e território (ou “de base territorial”) são titulares de bens do domínio
público. Certos bens integram necessariamente, pela sua ligação à soberania do Estado, o domínio público
do Estado, como é o caso do domínio público marítimo e domínio público aéreo. No entanto, os entes
públicos também são titulares de bens do domínio privado, integrem estes o património financeiro
(património privado disponível) ou o património administrativo (património privado indisponível).
Os bens do património financeiro ou bens do património privado disponível estão sujeitos ao regime
jurídico-privado.

Nota 3: O património do Estado é constituído pelos bens do seu domínio público e privado, e ainda pelos
direitos e obrigações com conteúdo económico de que o Estado é titular. Integram o domínio público do
Estado os seguintes bens: “a) águas territoriais com os seus leitos, as águas marítimas interiores com os
seus leitos e margens e a plataforma continental; b) lagos, lagoas e cursos de água navegáveis ou flutuáveis
com os respetivos leitos e margens e, bem assim, os que por lei forem reconhecidos como aproveitáveis
para produção de energia elétrica ou para irrigação; c) barragens de utilidade pública, portos artificiais,
docas, aeroportos, aeródromos de interesse público e outros bens do domínio público hídrico; d) camadas
aéreas, jazigos minerais e petrolíferos, nascentes de águas mineromedicinais, recursos geotérmicos, e outras
riquezas naturais do subsolo, com exclusão dos minerais utilizados na construção; e) linhas férreas de
interesse público, autoestradas, estradas nacionais e acessórios, e obras de arte; f) obras e instalações
militares e zonas territoriais adstritas à defesa militar; g) navios da armada, aeronaves militares, carros de
combate e outro equipamento militar de natureza e durabilidade equivalente; h) linhas telefónicas, cabos
submarinos, obras, canalizações e redes de distribuição pública de energia elétrica; i) palácios,
monumentos, museus, bibliotecas, arquivos e teatros nacionais, e palácios escolhidos pelo Chefe de Estado,
para a Presidência, para sua residência e das pessoas da sua família; j) direitos públicos sobre imóveis
privados classificados ou de uso e fruição sobre quaisquer bens privados; k) servidões administrativas,
restrições de utilidade pública ao direito de propriedade; l) outros bens do Estado sujeitos por lei ao regime
de direito público” (art.º 4.º do D.L. 477/80, de 15 de outubro). Diferentemente, integram o domínio
privado do Estado bens como: a) imóveis: prédios rústicos e urbanos e direitos a eles inerentes; b) direitos
de arrendamento dos quais ocupe a posição de arrendatário; c) direitos reais; d) bens móveis corpóreos
(com exceção das coisas consumíveis e daquelas que, sem se destruírem imediatamente, se depreciam muito
rapidamente). Estes bens são suscetíveis de comércio privado (cf. art.º 1304º do Código Civil), mas nem
todos eles são comerciáveis, pelo que há que distinguir entre bens do domínio privado disponível e bens do
domínio privado indisponível (art.º 5.º do D.L. 477/80, de 15 de outubro).

Artigo 32.º
Concessão da utilização e exploração do domínio público

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1 - O Estado, as regiões autónomas e as autarquias locais podem celebrar contratos de
concessão ou conceder licenças de uso privativo de bens que integrem o seu domínio
público, designadamente para efeitos de utilização, exploração ou gestão de
infraestruturas urbanas e de espaços e equipamentos de utilização coletiva.
2 - A lei estabelece as regras a observar quanto ao prazo de vigência da concessão, à
fixação dos critérios para o pagamento de taxas pelo concessionário, às obrigações e aos
direitos do concessionário, aos bens afetos à concessão, às garantias a prestar, ao
sequestro, ao resgate e à responsabilidade perante terceiros.

Nota 1: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de
2019), define as “infraestruturas urbanas” como “os sistemas técnicos de suporte direto ao
funcionamento dos aglomerados urbanos ou da edificação em conjunto”.

Nota 2: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de
2019), define “equipamentos de utilização coletiva” como “as edificações e os espaços não edificados
afetos à provisão de bens e serviços destinados à satisfação das necessidades coletivas dos cidadãos,
designadamente nos domínios da saúde, da educação, da cultura e do desporto, da justiça, da segurança
social, da segurança pública e da proteção civil”.

Nota 3: As camadas aéreas superiores ao território, acima do limite reconhecido por lei ao proprietário
ou ao superficiário, pertencem ao domínio público estadual. Assim, pertencem ao domínio público as
camadas aéreas que se situam acima dos imóveis do domínio privado. Mas suscita-se a questão da rigorosa
fixação dos limites da propriedade privada dos imóveis. O art.º 1344.º do Código Civil determina que a
propriedade de imóveis abrange o espaço aéreo correspondente à respetiva superfície. Porém, o legislador
não estabelece os limites superiores da propriedade privada de imóvel. Assim, onde termina a propriedade
privada e se inicia o domínio público aéreo? Sem esta delimitação precisa, suscita-se a questão de saber
quando se verifica intromissão do proprietário no domínio público. A passagem de linhas transporte de
electricidade, nomeadamente as linhas de alta tensão, e de fios de telefone por cima das propriedades
privadas é geralmente considerado como espaço de propriedade privada, razão por que há lugar a
indemnização pelo dano sofrido por servidão pública. Tem-se concluído que não existe um domínio público
aéreo municipal. Este entendimento não é, contudo, sustentável, mesmo face à letra da lei (desde logo o
art.º 84.º da CRP), que parece não deixar dúvidas quanto à sua existência. Também do ponto de vista
dogmático não se vislumbram razões para o não reconhecimento de um domínio público municipal ou
regional. O espaço ocupado pelas linhas referidas ainda é espaço do proprietário, mas acima dele, há um
espaço aéreo do domínio público nacional, regional ou local.

Jurisprudência:
Ac. do TCAN de 26.3.2009 (proc. (00949/06.7BECBR ), no qual se lê: “I. Existe, sem margem para dúvidas, um
domínio público autárquico e, em especial, um domínio público municipal, tanto para mais que a sua existência é
assumida e afirmada em vários diplomas legais e aceite pela doutrina. II. No âmbito do nosso ordenamento existe
efectivamente apenas um domínio público aéreo estadual ou nacional, não havendo um domínio público aéreo
municipal constituído ou correspondente aos respectivos limites territoriais e que comece para lá da altitude onde o
interesse dos proprietários já não chegue. III. Não se pode concluir, todavia, que os municípios não sejam
detentores de espaço aéreo sobrejacente ao seu domínio público, mormente, ao domínio público rodoviário e que
sobre esse espaço os mesmos não possam ou não devam exercer seus poderes de administração, efectivando dessa
forma seus direitos e interesses. IV. Tal é reconhecido pelo próprio legislador ordinário [cfr. art. 19.º, als. b) e c) da
Lei n.º 42/98, de 06/08 - LFL à data dos factos vigente] quando afirma a sua existência e a confere tais poderes
aos municípios. V. Constitui “questão fiscal” para a qual são competentes os tribunais tributários o apurar se assiste
ao Município o direito a exigir de determinados sujeitos o pagamento de certa quantia, acrescida de juros moratórios,
devida a título de taxas pela utilização/ocupação do espaço público aéreo nos termos decorrentes do Regulamento
de Taxas e Licenças daquele Município.”

Moniz, Ana Raquel G.: “O Domínio Público - O critério e o regime jurídico da dominialidade”, págs. 123, 124;
idem, “Domínio Público Local - noção e âmbito”, in: Domínio Público Local, Junho 2006, págs. 07 e segs

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Artigo 33.º
Servidões administrativas

1 - Para a prossecução de finalidades concretas de interesse público relativas à


política fundiária podem, nos termos legalmente previstos, ser constituídas
servidões administrativas sobre bens imóveis que, com carácter real, limitem o
direito de propriedade ou outros direitos reais, por lei, ato administrativo ou
contrato, prevalecendo sobre as demais restrições de uso do solo.
2 - Para efeitos do disposto no número anterior, podem, designadamente, ser impostas
aos titulares dos direitos reais sobre bens imóveis, obrigações de não adotar
condutas que prejudiquem as finalidades de interesse público prosseguidas pelo
Estado, regiões autónomas e autarquias locais, na medida estritamente necessária
para a prossecução dessas finalidades.
3 - A constituição, ampliação ou alteração de uma servidão administrativa por ato
administrativo deve ser precedida de audiência prévia dos interessados e de participação
em termos análogos aos previstos para a participação nos programas especiais.
4 - As participações poderão ter por objeto a ilegalidade ou a inutilidade da constituição,
ampliação ou alteração da servidão ou a sua excessiva amplitude ou onerosidade.
5 - Quando tenham caráter permanente e expressão territorial suscetíveis de impedir ou
condicionar o aproveitamento do solo, as servidões administrativas são
obrigatoriamente traduzidas nos planos territoriais de âmbito intermunicipal ou
municipal podendo, no âmbito dos procedimentos de elaboração, alteração ou revisão
destes planos, ser ponderadas desafetações ou alterações.
6 - As servidões administrativas que tenham efeito análogo à expropriação são
constituídas mediante pagamento de justa indemnização, nos termos da lei.

Artigo 34.º
Expropriações por utilidade pública

1 - Para a prossecução de finalidades concretas de interesse público relativas à política


pública de solos podem ser realizadas expropriações por utilidade pública de bens
imóveis, mediante o pagamento de justa indemnização, nos termos da lei.
2 - As expropriações por utilidade pública visam, nomeadamente, a prossecução das
seguintes finalidades:
a) Realização de operações urbanísticas;
b) Reabilitação e regeneração de áreas territoriais rústicas e urbanas;
c) Realização de intervenções públicas ou de iniciativa pública;
d) Instalação de infraestruturas e equipamentos de utilização coletiva;
e) Integração de terrenos na titularidade pública do solo;
f) Execução de programas e planos territoriais.
3 - A expropriação só pode ter lugar quando a constituição de uma servidão de direito
administrativo ou de outros meios menos lesivos não seja suficiente para assegurar a
prossecução das finalidades de interesse público em causa.

Nota 1: Art.º 91.º (Expropriação de bens móveis).

Nota 2: O Decreto Regulamentar que define conceitos técnicos do urbanismo (de setembro de 2019)
define as “operações urbanísticas” como “as operações materiais de urbanização, de edificação,
utilização dos edifícios ou do solo desde que, neste último caso, para fins não exclusivamente agrícolas,
pecuários, florestais, mineiros ou de abastecimento público de água”.

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Nota 3: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de
2019), define “equipamentos de utilização coletiva” como “as edificações e os espaços não edificados
afetos à provisão de bens e serviços destinados à satisfação das necessidades coletivas dos cidadãos,
designadamente nos domínios da saúde, da educação, da cultura e do desporto, da justiça, da segurança
social, da segurança pública e da proteção civil”.

Artigo 35.º
Venda forçada

1 - Os proprietários que não cumpram os ónus e deveres decorrentes de operação de


regeneração prevista em plano territorial de âmbito intermunicipal ou municipal ou de
operação de reabilitação urbana podem ser sujeitos a venda forçada, nos termos da
lei, em alternativa à expropriação, por motivo de utilidade pública.
2 - Os edifícios em estado de ruína ou sem condições de habitabilidade, bem como as
parcelas de terrenos resultantes da sua demolição, podem ser sujeitos a venda forçada,
nos termos da lei
3 - Os adquirentes dos edifícios e parcelas de terrenos referidos nos números anteriores
estão vinculados aos mesmos ónus e deveres, no prazo e programação estipulados no
ato de venda forçada.
4 - No caso de o adquirente em venda forçada não cumprir os ónus e deveres previstos
nos planos territoriais e na respetiva programação no prazo da respetiva execução
temporal, pode haver lugar a expropriação ou à retoma do procedimento de venda
forçada.
5 - A venda forçada só pode ter lugar quando outros meios menos lesivos não sejam
suficientes para assegurar a prossecução das finalidades de interesse público em causa.
6 - Na falta de acordo do proprietário quanto ao valor do bem em procedimento de
venda forçada é assegurado ao proprietário do imóvel o valor de justa indemnização.

Nota 1: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de
2019), define “edifício” como “uma construção permanente, dotada de acesso independente, coberta,
limitada por paredes exteriores ou paredes-meeiras que vão das fundações à cobertura, destinada a
utilização humana ou a outros fins”.

Nota 2: O cálculo do valor (do solo) configura a “avaliação” do solo. Esta avaliação tem de ser justa e para
isso deve obedecer a critérios claros e objetivos. Quem avalia está mandatado por lei para determinar e
declara o valor (do solo). À luz da lei e do direito, só há um valor justo. Esta operação de avaliação é
estritamente vinculada, não tendo nada de discricionária, nem. seque se verifica aqui “margens de
avaliação”. A boa administração exige a justiça no caso concreto, que pressupõem clareza e objetividade.
Este raciocínio é, em geral, válido para toda e qualquer avaliação da Administração pública, pois toda a
avaliação consiste precisamente em determinar e declarar o valor. Neste caso do art.º 26.º 0 legislador
determinou os critérios de avaliação. Noutros casos em que o legislador não o tenha feito com tanta clareza
e objetividade, deve o intérprete e aplicador da lei fazê-lo, e essa operação, sendo uma operação de
determinação e declaração da justiça no caso concreto é essencialmente vinculada e, assim, sujeita a um
controlo jurisdicional em princípio pleno, mas que o tribunal pode no caso concreto auto recuar
considerando as circunstâncias do caso concreto. Este é o entendimento que vimos sustentando desde 1987
(mais propriamente desde 1986), quando escrevemos: “A natureza da decisão confòrmadora exige que ela
apenas possa ter lugar através de valorações, prognoses e juízos valorativos da autoridade administrativa.
Só assim a Administração pode reagir, célere e eficazmente, no cumprimento das suas funções. Por isso,
não é aqui possível um amplo controlo jurisdicional, apesar da vinculação da autoridade administrativa à
melhor decisão possível. Isto porque a decisão administrativa não é nestes casos compatível com o controlo
a posteriori de uma instância independente. Mas deste forçoso reconhecimento de recuo do controlo
jurisdicional não se deve concluir que a zona não controlada se transformou por isso em zona discricionária”
(in: SOUSA, A. F. de, A discricionariedade administrativa, Lisboa 1987, p. 332 e seg.). E em 1994
sustentou-se que “a flexibilidade do self-restreint judicial permite ao tribunal adaptar-se permanentemente
às novas situações, aos novos reconhecimentos científicos e às novas técnicas de controlo” (SOUSA, A. F.,
“Conceitos indeterminados” no direito administrativo, Coimbra 1994, p. 238). E ainda: “o juiz, criterioso e

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responsável, conhecendo o real significado da função de julgar, fixará a linha ideal do seu controlo com as
circunstâncias envolventes do caso concreto” (SOUSA, A. F., “Conceitos indeterminados” no direito
administrativo, Coimbra 1994, p. 240).

Nota 3: Sobre esta temática, cf. SOUSA, António Francisco de, “Os 'conceitos legais indeterminados' no
direito administrativo alemão”, in: Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro 166 (1986), pág. 276
a 291.

Nota 4: Ver uma panorâmica geral da origem e evolução da “margem de apreciação” e dos problemas que
ela suscita no Estado de direito in: SOUSA, A. F. de, “'Margem de apreciação' e Estado de direito” (in:
Polis, n.º 2, 1995, pág. 7 e segs.). Cf. também idem, 'Conceitos indeterminados' no direito administrativo,
Almedina, Coimbra 1994, espec. pág. 48 e segs e 1 17 e segs.
Nota 4: Segundo a doutrina tradicional portuguesa, a zona da “margem de apreciação” não é
discricionariedade, mas deve ter o mesmo regime de não controlo jurisdicional. Porém, este entendimento
'anula' o direito fundamental do cidadão a uma tutela jurisdicional efetiva. Em sede de avaliação de
desempenho ou de conhecimento de funcionários públicos, o Tribunal Administrativo Federal alemão faz
exigências jurídicas importantes que controla plenamente, como aconteceu no seu recente ac. de de
1.3.2018, onde se lê: “l. A obrigação de tornar plausíveis as avaliações individuais está relacionada com a
faculdade de o funcionário suscitar objeções à sua exatidão ou determinabilidade. Se o funcionário
considerar que a explicação da sua avaliação pela Administração não é suficientemente plausível, sobre ele
recai o ónus de especificar pontos concretos que considere que estão pouco claros ou incorretos. 2. Ao
justificar a avaliação global de uma avaliação, a ponderação dos diferentes elementos individuais deve estar
relacionada com as exigências estatutárias do cargo em causa. A Administração deve assegurar que é
uniforme a ponderação dos elementos individuais de avaliação, no âmbito de aplicação de critérios de
avaliação dentro de um grupo de funcionários abrangidos” (in: BVerwG, ac. de 1.3.2018 BverwG 2 A
10.17).

Artigo 36.º
Arrendamento forçado e disponibilização de prédios na bolsa de terras

1 - Os edifícios e as frações autónomas objeto de ação de reabilitação podem ser


sujeitos a arrendamento forçado, nos casos e nos termos previstos na lei.
2 - Os prédios rústicos objeto de operação integrada de gestão da paisagem podem ser
objeto de arrendamento forçado, nos casos e nos termos previstos na lei.
3 - Os prédios rústicos e os prédios mistos sem dono conhecido e que não estejam a ser
utilizados para fins agrícolas, florestais, silvo-pastoris ou de conservação da natureza,
podem ser disponibilizados na bolsa nacional de terras, nos termos da lei.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de
2019), define “edifício” como “uma construção permanente, dotada de acesso independente, coberta,
limitada por paredes exteriores ou paredes-meeiras que vão das fundações à cobertura, destinada a
utilização humana ou a outros fins”.

TÍTULO III
Sistema de gestão territorial

CAPÍTULO I
Gestão territorial

Artigo 37.º
Objetivos da gestão territorial

A gestão territorial visa executar a política de solos, de ordenamento do território e de


urbanismo e garantir:

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a) A melhoria das condições de vida e de trabalho das populações;
b) A correta distribuição e localização no território das atividades económicas, das
funções de habitação, de trabalho, de cultura e de lazer;
c) A criação de oportunidades diversificadas de emprego como meio para a fixação das
populações, particularmente nas áreas menos desenvolvidas;
d) A preservação e defesa de solos com potencialidade para aproveitamento com
atividades agrícolas, pecuárias ou florestais, de conservação da natureza, de turismo e
lazer, de produção de energias renováveis ou de exploração de recursos geológicos, de
modo a que a afetação daqueles solos a outros usos se restrinja às situações em que seja
efetivamente necessária e se encontre devidamente comprovada;
e) A adequação de níveis de densidade urbana, impedindo a degradação da qualidade de
vida, bem como o desequilíbrio da organização económica e social;
f) A rentabilização de infraestruturas, evitando a extensão desnecessária das redes e dos
perímetros urbanos e racionalizando o aproveitamento das áreas intersticiais;
g) A aplicação de uma política de habitação que permita resolver as carências
existentes;
h) A reabilitação e a revitalização dos centros históricos e dos elementos do
património cultural classificados, bem como do respetivo parque habitacional em
detrimento de nova construção;
i) Promover a acessibilidade de todos os cidadãos aos edifícios, bem como aos espaços
públicos e de uso coletivo;
j) A recuperação e regeneração de áreas degradadas;
k) A prevenção e redução de riscos coletivos;

Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. x), do regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de
setembro, última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), a “prevenção” consiste na “adoção de medidas
antes de uma substância, material ou produto assumir a natureza de resíduo, destinadas a reduzir”:
I) a quantidade de resíduos produzidos, designadamente através da reutilização de produtos ou do
prolongamento do tempo de vida dos produtos; II) os impactes adversos no ambiente e na saúde humana
resultantes dos resíduos produzidos; ou III) o teor de substâncias nocivas presentes nos materiais e nos
produtos”

Artigo 38.º
Estrutura do sistema de gestão territorial

1 - A política de solos, de ordenamento do território e de urbanismo é desenvolvida,


nomeadamente, através de instrumentos de gestão territorial que se materializam em:
a) Programas, que estabelecem o quadro estratégico de desenvolvimento territorial e as
suas diretrizes programáticas ou definem a incidência espacial de políticas nacionais a
considerar em cada nível de planeamento;
b) Planos, que estabelecem opções e ações concretas em matéria de planeamento e
organização do território bem como definem o uso do solo.
2 - O sistema de gestão territorial organiza-se num quadro de interação coordenada que
se reconduz aos âmbitos nacional, regional, intermunicipal e municipal, em função da
natureza e da incidência territorial dos interesses públicos prosseguidos.

Artigo 39.º
Ponderação de interesses públicos e privados

1 - Os programas e planos territoriais identificam, graduam e harmonizam os vários


interesses públicos e privados com tradução no ordenamento do território.

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2 - Os programas e planos territoriais asseguram a harmonização dos vários interesses
públicos com expressão espacial, tendo em conta a defesa nacional, a segurança, a saúde
pública, a proteção civil e as estratégias de desenvolvimento, bem como a
sustentabilidade territorial, em termos económicos, sociais, culturais e ambientais, a
médio e longo prazo.
3 - As entidades responsáveis pela elaboração, aprovação, alteração, revisão, execução e
avaliação dos programas e planos territoriais devem assegurar, nos respetivos âmbitos
de intervenção, a necessária coordenação entre as diversas políticas com incidência
territorial e a política de ordenamento do território e urbanismo, mantendo uma
estrutura orgânica e funcional apta a prosseguir uma efetiva articulação, cooperação e
concertação no exercício das várias competências.
Nota 1: A “harmonização dos vários interesses públicos com expressão territorial” mencionada no n.º 2 implica a sua
ponderação e confrontação, bem como o estabelecimento de uma “concordância prática” entre eles. A
“sustentabilidade e a solidariedade intra e intergeracional na ocupação e utilização do território” mencionada no n.º 2
configura uma manifestação de um princípio jurídico-ambiental. Cf. art.º 12.º , n.º 2, do presente diploma e o art.º 3.º
, al. b), da Lei de Bases do Ambiente, que consagra o princípio da “responsabilidade intra e intergeracional, que obriga
à utilização e ao aproveitamento dos recursos naturais e humanos de uma forma racional e equilibrada, a fim de garantir
a sua preservação para a presente e futuras gerações”. Cf. ainda o art.º 10.º , al. c), da mesma lei, que exige o respeito
pelo “princípio da solidariedade intergeracional”.
Nota 2: o interesse público é uma questão jurídica e não meramente política. A CRP, no seu art. 0 266.º , n.º 1, e a lei
(CPA) exigem o respeito pelo interesse público. Deve ser feita uma justa ponderação entre os interesses públicos em
presença.

Artigo 40.º
Âmbito nacional

1 - Os programas territoriais de âmbito nacional definem o quadro estratégico para o


ordenamento do espaço nacional e para a sua integração na União Europeia,
estabelecendo as diretrizes a considerar a nível regional e a compatibilização das políticas
públicas sectoriais do Estado, bem como, na medida do necessário, a salvaguarda de
valores e recursos de reconhecido interesse nacional, nos termos dos números seguintes.
2 - O programa nacional da política de ordenamento do território estabelece, em
concretização das opções europeias de desenvolvimento territorial e do quadro de
referência europeu:
a) As opções estratégicas de organização do território nacional e o modelo de estruturação
territorial tendo em conta o sistema urbano, as infraestruturas e os equipamentos de
utilização coletiva de interesse nacional, bem como as áreas de interesse nacional em
termos de defesa nacional e segurança pública, agrícolas, florestais, ambientais,
patrimoniais e económicos, de exploração de recursos geológicos e de aproveitamento
das energias renováveis;
b) As grandes opções de investimento público, com impacte territorial significativo, suas
prioridades e programação, em articulação com as estratégias definidas para a aplicação
dos fundos europeus e nacionais.
3 - Os programas sectoriais estabelecem, no âmbito nacional e de acordo com as políticas
sectoriais da União Europeia, a incidência territorial da programação ou concretização de
políticas públicas dos diversos sectores da administração central do Estado,
nomeadamente, nos domínios da defesa, segurança pública, prevenção de riscos,
ambiente, recursos hídricos, conservação da natureza e da biodiversidade, transportes,
comunicações, energia, cultura, saúde, turismo, agricultura, florestas, comércio ou
indústria.
4 - Os programas especiais constituem um meio de intervenção do Governo e visam a
prossecução de objetivos considerados indispensáveis à tutela de interesses públicos e de

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recursos de relevância nacional com repercussão territorial, estabelecendo
exclusivamente regimes de salvaguarda de recursos e valores naturais, através de medidas
que estabeleçam ações permitidas, condicionadas ou interditas em função dos objetivos
de cada programa, prevalecendo sobre os planos territoriais de âmbito intermunicipal e
municipal.
5 - Os programas especiais compreendem os programas da orla costeira, programas das
áreas protegidas, programas de albufeiras de águas públicas e os programas dos estuários.

Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. x), do regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de
setembro, última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), a “prevenção” consiste na “adoção de medidas
antes de uma substância, material ou produto assumir a natureza de resíduo, destinadas a reduzir”:
I) a quantidade de resíduos produzidos, designadamente através da reutilização de produtos ou do
prolongamento do tempo de vida dos produtos; II) os impactes adversos no ambiente e na saúde humana
resultantes dos resíduos produzidos; ou III) o teor de substâncias nocivas presentes nos materiais e nos
produtos”

Artigo 41.º
Âmbito regional

1 - Os programas regionais estabelecem:


a) As opções estratégicas de organização do território regional e o respetivo modelo de
estruturação territorial, tendo em conta o sistema urbano, as infraestruturas e os
equipamentos de utilização coletiva de interesse regional, bem como as áreas de
interesse regional em termos agrícolas, florestais, ambientais, ecológicos e económicos,
integrando as redes nacionais de infraestruturas, de mobilidade e de equipamentos de
utilização coletiva com expressão regional;
b) As grandes opções de investimento público, com impacte territorial significativo,
suas prioridades e programação, em articulação com as estratégias definidas para a
aplicação dos fundos europeus e nacionais.
2 - Os programas regionais constituem o quadro de referência estratégico para a
elaboração dos programas intermunicipais e dos planos territoriais de âmbito
intermunicipal e municipal.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de
2019), define “equipamentos de utilização coletiva” como “as edificações e os espaços não edificados
afetos à provisão de bens e serviços destinados à satisfação das necessidades coletivas dos cidadãos,
designadamente nos domínios da saúde, da educação, da cultura e do desporto, da justiça, da segurança
social, da segurança pública e da proteção civil”.

Artigo 42.º
Âmbito intermunicipal

1 - O programa intermunicipal é de elaboração facultativa e abrange dois ou mais


municípios territorialmente contíguos integrados na mesma comunidade intermunicipal,
salvo situações excecionais, autorizadas pelo membro do Governo responsável pela área
do ordenamento do território, após parecer das comissões de coordenação e
desenvolvimento regional.
2 - O programa intermunicipal assegura a articulação entre o programa regional e os
planos territoriais de âmbito intermunicipal ou municipal, no caso de áreas que, pela
interdependência estrutural ou funcional ou pela existência de áreas homogéneas de
risco, necessitem de uma ação integrada de planeamento.
3 - O programa intermunicipal estabelece as opções estratégicas de organização do

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território intermunicipal e de investimento público, suas prioridades e programação, em
articulação com as estratégias definidas nos programas territoriais de âmbito nacional,
sectorial e regional, definindo orientações para os planos territoriais de âmbito
intermunicipal ou municipal.
4 - Os planos territoriais de âmbito intermunicipal são o plano diretor intermunicipal, o
plano de urbanização intermunicipal e o plano de pormenor intermunicipal.
5 - O plano diretor intermunicipal estabelece, de modo coordenado, a estratégia de
desenvolvimento territorial intermunicipal, o modelo territorial intermunicipal, as
opções de localização e de gestão de equipamentos de utilização pública locais e as
relações de interdependência entre dois ou mais municípios territorialmente contíguos, e
a sua aprovação dispensa a elaboração de planos diretores municipais, substituindo-os.
6 - Os planos de urbanização e os planos de pormenor intermunicipais abrangem parte
do território contíguo dos concelhos a que respeitam.
7 - A existência de um plano intermunicipal não prejudica o direito de cada município
gerir autonomamente o seu território, de acordo com o previsto nesse plano.

Artigo 43.º
Âmbito municipal
1 - Os planos territoriais de âmbito municipal estabelecem, nos termos da Constituição e
da lei, de acordo com as diretrizes estratégicas de âmbito regional, e com opções
próprias de desenvolvimento estratégico local, o regime de uso do solo e a respetiva
execução.
2 - Os planos territoriais de âmbito municipal são o plano diretor municipal, o plano de
urbanização e o plano de pormenor.
3 - O plano diretor municipal é de elaboração obrigatória, salvo se houver um plano
diretor intermunicipal, e estabelece, nomeadamente, a estratégia de desenvolvimento
territorial municipal, o modelo territorial municipal, as opções de localização e de
gestão de equipamentos de utilização coletiva e as relações de interdependência com os
municípios vizinhos.
4 - O plano de urbanização desenvolve e concretiza o plano diretor municipal e estrutura
a ocupação do solo e o seu aproveitamento, definindo a localização das infraestruturas e
dos equipamentos coletivos principais.
5 - O plano de pormenor desenvolve e concretiza o plano diretor municipal, definindo a
implantação e a volumetria das edificações, a forma e organização dos espaços de
utilização coletiva e o traçado das infraestruturas.

Artigo 44.º
Relações entre programas e planos territoriais

1 - O programa nacional da política de ordenamento território, os programas sectoriais e


os programas especiais prosseguem objetivos de interesse nacional e estabelecem os
princípios e as regras orientadoras da disciplina a definir pelos programas regionais.
2 - Os programas regionais prosseguem os objetivos de interesse regional e respeitam o
disposto nos programas territoriais de âmbito nacional.
3 - Os planos territoriais de âmbito intermunicipal e municipal devem desenvolver e
concretizar as orientações definidas nos programas territoriais preexistentes de âmbito
nacional ou regional, com os quais se devem compatibilizar.
4 - Os planos territoriais de âmbito municipal devem ainda atender às orientações
definidas nos programas intermunicipais preexistentes.
5 - A existência de um plano diretor, de um plano de urbanização ou de um plano de

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pormenor de âmbito intermunicipal exclui a possibilidade de existência, ao nível
municipal, de planos territoriais do mesmo tipo, na área por eles abrangida, sem
prejuízo das regras relativas à dinâmica de planos territoriais.
6 - Sempre que entre em vigor um programa territorial de âmbito nacional ou regional, é
obrigatória a alteração ou atualização dos planos territoriais de âmbito intermunicipal e
municipal, que com ele não sejam compatíveis, nos termos da lei.
7 - O programa ou o plano territorial posterior avalia e pondera as regras dos programas
ou planos preexistentes ou em preparação, identificando expressamente as normas
incompatíveis a alterar ou a revogar nos termos da lei.

Artigo 45.º
Articulação de programas e planos territoriais com os
planos de ordenamento do espaço marítimo

1 - Os programas e os planos territoriais asseguram a respetiva articulação e


compatibilização com os planos de ordenamento do espaço marítimo nacional, sempre
que incidam sobre a mesma área ou sobre áreas que, pela interdependência estrutural ou
funcional dos seus elementos, necessitem de uma coordenação integrada de
planeamento.
2 - A articulação e a compatibilização dos programas e dos planos territoriais com os
planos de ordenamento do espaço marítimo nacional são feitas nos termos da lei.

Artigo 46.º
Vinculação

1 - Os programas territoriais vinculam as entidades públicas.


2 - Os planos territoriais de âmbito intermunicipal e municipal vinculam as entidades
públicas e ainda, direta e imediatamente, os particulares.
3 - O disposto no n.º 1 do presente artigo não prejudica a vinculação direta e imediata
dos particulares relativamente a normas legais ou regulamentares em matéria de
recursos florestais.
4 - Os programas territoriais que prossigam objetivos de interesse nacional ou regional,
cujo conteúdo em função da sua incidência territorial urbanística deva ser vertido em
plano diretor intermunicipal ou municipal e em outros planos territoriais estabelecem,
ouvidos a associação de municípios ou os municípios abrangidos, o prazo para a
atualização destes planos e indicam expressamente as normas a alterar, nos termos da
lei.
5 - Findo o prazo estabelecido nos termos do número anterior, se a associação de
municípios ou o município não tiver procedido à referida atualização, suspendem-se as
normas do plano territorial intermunicipal ou municipal que deveriam ter sido alteradas,
não podendo, na área abrangida, haver lugar à prática de quaisquer atos ou operações
que impliquem a alteração do uso do solo, enquanto durar a suspensão.
6 - Sem prejuízo de outras sanções previstas na lei, a falta de iniciativa, por parte de
associação de municípios ou município, tendente a desencadear o procedimento de
atualização do plano intermunicipal ou municipal referida no número anterior, bem
como o atraso da mesma atualização por facto imputável às referidas entidades, implica
a rejeição de candidaturas de projetos a benefícios ou subsídios outorgados por
entidades ou serviços públicos nacionais ou comunitários, bem como a não celebração
de contratos-programa, até à regularização da situação.

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Artigo 47.º
Contratualização do planeamento

1 - A elaboração, a alteração, e a revisão, a suspensão e a execução de planos territoriais


de âmbito intermunicipal ou municipal pode ser precedida da celebração de contratos
entre o Estado, as regiões autónomas e as autarquias locais.
2 - Os contratos referidos no número anterior podem ter por objeto, nomeadamente, as
formas e os prazos para adequação dos planos existentes em relação a programas
supervenientes com os quais aqueles devam ser conformes ou compatíveis.
3 - Os particulares interessados na elaboração, alteração ou revisão de um plano de
urbanização ou de plano de pormenor podem apresentar propostas de contratos para
planeamento aos municípios.
4 - A contratualização prevista no número anterior não prejudica o exercício dos
poderes públicos de planeamento, as garantias procedimentais de intervenção de outras
entidades públicas ou de participação dos interessados, nem a observância das
disposições legais e regulamentares aplicáveis.
5 - Os procedimentos de formação dos contratos referidos nos números anteriores
asseguram uma adequada publicitação e a realização de discussão pública.

CAPÍTULO II
Formação e dinâmica dos programas e planos territoriais

Artigo 48.º
Elaboração e aprovação

1 - O programa nacional da política de ordenamento do território é elaborado pelo


Governo e aprovado por lei da Assembleia da República.
2 - Os programas regionais de ordenamento do território são elaborados e aprovados
pelo Governo, sob coordenação do membro responsável pela área do ordenamento do
território.
3 - Os programas especiais e sectoriais são elaborados e aprovados pelo Governo, sob
coordenação do membro responsável pela área cujo interesse público é tutelado no
programa a título principal, em articulação com o membro do Governo responsável pela
área do ordenamento do território.
4 - Os programas e planos territoriais de âmbito intermunicipal são elaborados pelas
câmaras municipais dos municípios associados para o efeito ou pelo conselho executivo
da associação de municípios e são aprovados, respetivamente, pelas assembleias
municipais interessadas ou pela assembleia intermunicipal.
5 - Os planos territoriais de âmbito municipal são elaborados pela câmara municipal e
aprovados pela assembleia municipal.

Artigo 49.º
Informação e participação

O procedimento de elaboração, alteração ou revisão dos programas e planos territoriais


assegura aos particulares as garantias gerais que a lei lhes confere, nomeadamente, a
informação e os meios de participação pública efetiva, bem como o direito de
apresentação de observações e sugestões à entidade responsável pela sua elaboração e
de consulta do respetivo processo, nos termos da lei.

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Artigo 50.º
Dinâmica

1 - Os programas e planos territoriais podem ser objeto de revisão, alteração, suspensão


ou revogação, em razão da evolução ou reponderação das condições económicas,
sociais, culturais e ambientais subjacentes à sua elaboração, com fundamento em
relatório de avaliação a elaborar nos termos estabelecidos na lei.
2 - A atualização de planos territoriais decorrentes da entrada em vigor de normas legais
e regulamentares, que não implique uma decisão autónoma de planeamento, é
obrigatória e depende de declaração da entidade responsável pela elaboração do plano.

Artigo 51.º
Ratificação de planos territoriais de âmbito intermunicipal e municipal

1 - A ratificação pelo Governo do plano diretor intermunicipal ou do plano diretor


municipal é excecional, ocorrendo nas situações em que, no âmbito do respetivo
procedimento de elaboração e aprovação, seja suscitada pela associação de municípios
ou pelo município a sua incompatibilidade com programa especial, regional ou
sectorial.
2 - A ratificação pelo Governo do plano diretor intermunicipal ou do plano diretor
municipal tem como efeito a revogação ou alteração das normas do programa regional,
sectorial ou especial incompatíveis com as opções municipais ou intermunicipais
ratificadas.
3 - A ratificação pelo Governo do plano diretor intermunicipal ou do plano diretor
municipal pode ser total ou parcial, aproveitando apenas a parte objeto de ratificação.

CAPÍTULO III
Medidas preventivas e normas provisórias

Artigo 52.º
Medidas preventivas

1 - As associações de municípios e as autarquias locais podem, pelo prazo máximo a


definir em lei, estabelecer as medidas preventivas necessárias para evitar a alteração das
circunstâncias de facto existentes em determinada área do território, de modo a garantir
a liberdade na elaboração de programas e planos territoriais de âmbito intermunicipal ou
municipal a ele relativos, e evitar que a sua execução fique comprometida ou se torne
excessivamente onerosa.
2 - Para salvaguardar situações excecionais de reconhecido interesse nacional ou
regional ou garantir a elaboração dos programas especiais, o Governo pode estabelecer
medidas preventivas destinadas a evitar a alteração de circunstâncias e das condições
existentes que possam comprometer a respetiva execução ou torná-la mais onerosa.
3 - A adoção de medidas preventivas por motivo de revisão ou alteração de um plano
territorial de âmbito intermunicipal ou municipal, ou para salvaguarda de situações
excecionais de reconhecido interesse nacional ou regional e garantia de elaboração de
programas especiais, determina a suspensão da eficácia deste na área abrangida por
aquelas medidas e, ainda, quando assim seja determinado no ato que as adota, a

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suspensão dos demais programas e planos em vigor na mesma área.
4 - A adoção de medidas preventivas dá lugar a indemnização, nos termos da lei.

Artigo 53.º
Normas provisórias

1 - Quando a salvaguarda de interesses públicos a prosseguir não possa obter-se


mediante a imposição das proibições e limitações a que se refere o artigo anterior,
podem ser adotadas, pelo prazo máximo e procedimento a definir em lei, normas
provisórias que definam o regime transitoriamente aplicável a uma determinada área do
território e se revelem necessárias para a salvaguarda daqueles interesses.
2 - Só pode haver lugar à adoção de normas provisórias quando o procedimento de
elaboração ou revisão do plano diretor intermunicipal ou do plano diretor municipal que
o substitua se encontre em estado avançado de elaboração que permita a adoção
fundamentada de regras regulamentares específicas.
3 - A adoção de normas provisórias é precedida dos pareceres das entidades da
Administração Pública com competências específicas e de discussão pública, nos
termos aplicáveis ao plano territorial de âmbito intermunicipal ou municipal a que
respeitam.
4 - As normas provisórias caducam com a entrada em vigor do plano territorial de
âmbito intermunicipal ou municipal para a área em questão.
5 - A adoção de normas provisórias pode dar lugar a indemnização quando destas
resulte sacrifício de direitos preexistentes e juridicamente consolidados, nos termos da
lei.

CAPÍTULO IV
Execução dos programas e planos territoriais

Artigo 54.º
Promoção pública da execução

1 - A promoção da execução dos programas e planos territoriais é uma tarefa pública,


cabendo ao Estado, às regiões autónomas ou às autarquias locais, a sua programação e
coordenação.
2 - Os particulares têm o dever de concretizar e adequar as suas pretensões aos objetivos
e prioridades definidos nos planos territoriais de âmbito intermunicipal e municipal e
nos respetivos instrumentos de programação.
3 - A realização de infraestruturas na execução de planos territoriais é precedida de
contrato de urbanização, nos termos da lei.

Artigo 55.º
Execução sistemática e não sistemática

1 - A execução sistemática consiste na realização, mediante programação municipal,


de operações urbanísticas integradas, tendo em vista a transformação, reabilitação ou
regeneração ordenada do território abrangido.
2 - A execução não sistemática é efetuada sem necessidade de prévia delimitação de
unidades de execução, por intermédio de operações urbanísticas a realizar nos termos da
lei.
3 - A execução sistemática dos planos territoriais de âmbito intermunicipal ou

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municipal é concretizada através de políticas urbanas integradas, nomeadamente,
mediante a aquisição ou disponibilização de terrenos, operações de transformação
fundiária e formas de parceria ou contratualização que incentivem a concertação dos
diversos interesses em presença, no âmbito de unidades de execução delimitadas nos
termos da lei.
Nota: O Decreto Regulamentar que define conceitos técnicos do urbanismo (de setembro de 2019) define
as “operações urbanísticas” como “as operações materiais de urbanização, de edificação, utilização dos
edifícios ou do solo desde que, neste último caso, para fins não exclusivamente agrícolas, pecuários,
florestais, mineiros ou de abastecimento público de água”.

Artigo 56.º
Programação da execução

1 - Os programas e planos territoriais estabelecem as orientações sobre a forma da


respetiva execução, incluindo, designadamente:
a) A explicitação dos respetivos objetivos e a identificação das intervenções
consideradas estratégicas ou estruturantes;
b) A descrição e a estimativa dos custos individuais e da globalidade das ações previstas
bem como dos respetivos prazos de execução;
c) A ponderação da respetiva sustentabilidade ambiental e social, da viabilidade
jurídico-fundiária e da sustentabilidade económico-financeira das respetivas propostas;
d) A definição dos meios, dos sujeitos responsáveis pelo financiamento da execução e
dos demais agentes a envolver;
e) A estimativa da capacidade de investimento público relativa às propostas do plano
territorial em questão, tendo em conta os custos da sua execução.
2 - Os elementos referidos no número anterior integram, de forma autónoma, o
programa de execução e o plano de financiamento dos programas e planos territoriais.
3 - A programação da execução dos programas e planos territoriais obedece às
orientações referidas no n.º 1, estabelece as ações tendentes à sua execução, define o
modo e os prazos em que estas se processam e identifica os responsáveis pela execução
e respetivas responsabilidades.
4 - São instrumentos de programação, designadamente, as unidades de execução e as
operações de reabilitação urbana delimitadas pela câmara municipal nos termos
previstos na lei.
5 - A programação dos planos territoriais de âmbito intermunicipal ou municipal é
obrigatoriamente inscrita nos planos de atividades e nos orçamentos municipais, nos
termos e condições previstos na lei.

Nota: O Decreto Regulamentar que define conceitos técnicos do urbanismo define a “operação de
reabilitação urbana” como “o conjunto articulado de intervenções visando, de forma integrada, a
reabilitação urbana de uma determinada área”.

Artigo 57.º
Monitorização e avaliação

1 - Todos os programas e planos territoriais devem definir parâmetros e indicadores que


permitam monitorizar a respetiva estratégia, objetivos e resultados da sua execução.
2 - O Estado, as regiões autónomas e as autarquias locais recolhem a informação
referida no número anterior e promovem a elaboração dos respetivos relatórios de
execução, bem como a normalização de fontes de dados e de indicadores comuns, no
prazo e condições a definir na lei.
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3 - A informação referida no número anterior é disponibilizada publicamente, através
dos meios informáticos adequados e que promovam a interoperabilidade e a articulação
a nível nacional, regional e local.
4 - A necessidade da alteração, revisão ou revogação de um programa ou plano
territorial fundamenta-se no respetivo relatório de execução.

TÍTULO IV
Operações urbanísticas

Artigo 58.º
Controlo administrativo das operações urbanísticas

1 - O controlo administrativo das operações urbanísticas destina-se a assegurar a


conformidade das operações urbanísticas com as disposições legais e regulamentares
aplicáveis e a prevenir os perigos ou danos que da sua realização possam resultar para a
saúde pública e segurança de pessoas e bens, bem como a garantir uma efetiva
responsabilização dos técnicos legalmente qualificados e dos particulares responsáveis
pelos eventuais prejuízos causados por tais operações.
2 - A realização de operações urbanísticas depende, em regra, de controlo prévio
vinculado à salvaguarda dos interesses públicos em presença e à definição estável e
inequívoca da situação jurídica dos interessados.
3 - Quando a salvaguarda dos interesses públicos em causa seja compatível com a
existência de um mero controlo sucessivo, a lei pode isentar de controlo prévio a
realização de determinadas operações urbanísticas, desde que as condições de realização
sejam suficientemente definidas em plano municipal.
4 - A realização de quaisquer operações urbanísticas está sujeita a controlo sucessivo,
independentemente da sua sujeição a controlo prévio.
5 - A lei estabelece mecanismos com vista a assegurar a efetiva responsabilização dos
diversos intervenientes nos processos de urbanização e de construção, bem como a
garantia da qualidade.
6 - O Estado, as regiões autónomas e as autarquias locais podem determinar medidas de
tutela da legalidade em quaisquer ações ou operações urbanísticas realizadas em
desconformidade com a lei ou planos territoriais.

Nota: O Decreto Regulamentar que define conceitos técnicos do urbanismo (de setembro de 2019) define
as “operações urbanísticas” como “as operações materiais de urbanização, de edificação, utilização dos
edifícios ou do solo desde que, neste último caso, para fins não exclusivamente agrícolas, pecuários,
florestais, mineiros ou de abastecimento público de água”.

Artigo 59.º
Regularização de operações urbanísticas

1 - A lei estabelece um procedimento excecional para a regularização de operações


urbanísticas realizadas sem o controlo prévio a que estavam sujeitas bem como para a
finalização de operações urbanísticas inacabadas ou abandonadas pelos seus
promotores.
2 - A regularização das operações urbanísticas não prejudica a aplicação de sanções e de
medidas de tutela da legalidade urbanística, bem como o cumprimento dos planos
intermunicipais e municipais e demais normas legais e regulamentares em vigor à data
em que tenham lugar.

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3 - Sem prejuízo do disposto no número anterior, a lei pode dispensar o cumprimento de
requisitos de legalidade relativos à construção cuja aplicação se tenha tornado
impossível ou que não seja razoável exigir, assegurando o cumprimento dos requisitos
atinentes à saúde pública e à segurança de pessoas e bens.
Nota: O Decreto Regulamentar que define conceitos técnicos do urbanismo (de setembro de 2019) define
as “operações urbanísticas” como “as operações materiais de urbanização, de edificação, utilização dos
edifícios ou do solo desde que, neste último caso, para fins não exclusivamente agrícolas, pecuários,
florestais, mineiros ou de abastecimento público de água”.

Artigo 60.º
Utilização e conservação do edificado

1 - As edificações devem respeitar as condições de segurança, salubridade e estéticas


necessárias ao fim a que se destinam.
2 - Os proprietários têm o dever de manter as edificações existentes em boas condições
de utilização, realizando as obras de conservação ou de outra natureza que se revelem
indispensáveis a essa finalidade, nos termos da lei.

Artigo 61.º
Reabilitação e regeneração

1 - A reabilitação é a forma de intervenção territorial integrada que visa a


valorização do suporte físico de um território, através da realização de obras de
reconstrução, recuperação, beneficiação, renovação e modernização do edificado, das
infraestruturas, dos serviços de suporte e dos sistemas naturais, bem como de correção
de passivos ambientais ou de valorização paisagística.
2 - A regeneração é a forma de intervenção territorial integrada que combina
ações de reabilitação com obras de demolição e construção nova e com medidas
adequadas de revitalização económica, social e cultural e de reforço da coesão e do
potencial territorial.
3 - Sem prejuízo do disposto na alínea a) do n.º 2 do artigo 14.º, incumbe ao Estado, às
regiões autónomas e às autarquias locais promover a reabilitação ou regeneração das
áreas urbanas que dela careçam, programando ou conduzindo a realização das respetivas
operações de reabilitação urbana ou concedendo apoios e outros incentivos financeiros e
fiscais.

Nota: O Decreto Regulamentar que define conceitos técnicos do urbanismo define a “operação de
reabilitação urbana” como “o conjunto articulado de intervenções visando, de forma integrada, a
reabilitação urbana de uma determinada área”.

Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. qq), do regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de
setembro, última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), “valorização” é qualquer operação,
nomeadamente as constantes no anexo ii do presente decreto-lei, cujo resultado principal seja a
transformação dos resíduos de modo a servirem um fim útil, substituindo outros materiais que, caso
contrário, teriam sido utilizados para um fim específico ou a preparação dos resíduos para esse fim na
instalação ou conjunto da economia”.

TÍTULO V
Regime económico e financeiro

CAPÍTULO I
Financiamento de infraestruturas urbanísticas
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Artigo 62.º
Princípios gerais

1 - A execução de infraestruturas urbanísticas e de equipamentos de utilização coletiva


pelo Estado, pelas regiões autónomas e pelas autarquias locais obedecem a critérios de
eficiência e sustentabilidade financeira, sem prejuízo da coesão territorial.
2 - Para efeitos do número anterior, qualquer decisão de criação de infraestruturas
urbanísticas é precedida da demonstração do seu interesse económico e da
sustentabilidade financeira da respetiva operação, incluindo os encargos de
conservação, justificadas pela entidade competente no âmbito da programação nacional,
regional ou intermunicipal.
3 - Os municípios elaboram obrigatoriamente um programa de financiamento
urbanístico que integra o programa plurianual de investimentos municipais na execução,
na manutenção e no reforço das infraestruturas e a previsão de custos de gestão urbana e
identifica, de forma explícita, as fontes de financiamento para cada um dos
compromissos previstos.
4 - Os municípios devem constituir um fundo municipal de sustentabilidade ambiental e
urbanística, ao qual são afetas receitas resultantes da redistribuição de mais-valias, com
vista a promover a reabilitação urbana, a sustentabilidade dos ecossistemas e a
prestação de serviços ambientais, sem prejuízo do município poder afetar outras receitas
urbanísticas a este fundo, com vista a promover a criação, manutenção e reforço de
infraestruturas, equipamentos ou áreas de uso público.
5 - Os instrumentos tributários podem ter taxas de tributação diferenciadas em função
dos custos das infraestruturas territoriais disponibilizadas, da respetiva utilização e de
opções de incentivo ou desincentivo justificadas por objetivos de ambiente e
ordenamento do território.

Artigo 63.º
Tributação do património imobiliário

1 - A tributação do património imobiliário urbano respeita o princípio da equivalência


ou do benefício, atendendo ao investimento realizado em habitação com fins sociais,
infraestruturas territoriais, equipamentos de utilização coletiva, ações de regeneração e
reabilitação urbana, preservação e qualificação ambientais, que beneficiem o
desenvolvimento socioeconómico das populações, nos termos da Constituição e da lei.
2 - A tributação do património imobiliário rústico respeita o princípio da capacidade
contributiva, tomando em consideração o rendimento fundiário decorrente de uma
utilização eficiente do solo e promovendo o efetivo aproveitamento do mesmo.

Nota: O Decreto Regulamentar que define conceitos técnicos do urbanismo define a “operação de
reabilitação urbana” como “o conjunto articulado de intervenções visando, de forma integrada, a
reabilitação urbana de uma determinada área”.

CAPÍTULO II
Instrumentos equitativos

Artigo 64.º
Redistribuição de benefícios e encargos

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1 - Todas as operações urbanísticas sistemáticas e não sistemáticas estão sujeitas ao
regime económico-financeiro regulado nos termos da lei e dos artigos seguintes.
2 - Os planos territoriais de âmbito intermunicipal ou municipal contêm instrumentos de
redistribuição equitativa de benefícios e encargos deles resultantes.
3 - A redistribuição de benefícios e encargos a efetivar no âmbito dos planos territoriais
de âmbito intermunicipal ou municipal toma por referência unidades operativas de
planeamento e gestão, bem como unidades de execução, considerando a globalidade de
território por eles abrangida.
4 - A redistribuição de benefícios e encargos a efetivar nos termos do número anterior,
aplica-se a todas as operações urbanísticas sistemáticas e não sistemáticas que ocorram
no território em causa, concretizando a afetação das mais-valias decorrentes do plano ou
de ato administrativo.
5 - A redistribuição de benefícios e encargos a efetivar no âmbito de unidades de
execução ou de outros instrumentos de programação determina a distribuição dos
benefícios e encargos pelo conjunto dos respetivos intervenientes.
6 - Para efeitos do disposto nos números anteriores, os planos territoriais de âmbito
intermunicipal ou municipal fundamentam o processo de formação das mais-valias
fundiárias e definem os critérios para a sua parametrização e redistribuição.
7 - A lei pode ainda estabelecer mecanismos de distribuição de encargos e benefícios
destinados a compensar os custos decorrentes da proteção de interesses gerais,
nomeadamente, a salvaguarda do património cultural, a valorização da biodiversidade
ou da proteção de ecossistemas.

Artigo 65.º
Objetivos da redistribuição de benefícios e encargos

A redistribuição de benefícios e encargos tem em consideração os seguintes objetivos:


a) Garantia da igualdade de tratamento relativamente a benefícios e encargos
decorrentes de plano territorial de âmbito intermunicipal ou municipal;
b) Disponibilização de terrenos e edifícios ao município para a implementação,
instalação ou renovação de infraestruturas, equipamentos, habitação pública, a custos
controlados ou para arrendamento acessível, espaços verdes e outros espaços de
utilização coletiva, bem como para compensação de particulares nas situações em que
tal se revele necessário;
c) Garantia da igualdade de tratamento relativamente a benefícios e encargos no âmbito
de uma unidade de execução de um plano territorial de âmbito intermunicipal ou
municipal.

Artigo 66.º
Tipos de redistribuição de benefícios e encargos

Constituem tipos de redistribuição de benefícios e encargos:


a) Afetação social de mais-valias gerais atribuídas pelo plano territorial de âmbito
intermunicipal ou municipal;
b) Distribuição dos benefícios e encargos decorrentes do plano territorial de âmbito
intermunicipal ou municipal entre os proprietários fundiários;
c) Contribuição com áreas para a implementação, instalação e renovação de
infraestruturas, equipamentos, habitação pública, a custos controlados ou para
arrendamento acessível, espaços verdes e outros espaços de utilização coletiva.

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CAPÍTULO III
Avaliação

Artigo 67.º
Âmbito de aplicação

1 - O disposto no presente capítulo aplica-se à avaliação do solo, das instalações, das


construções, edificações e outras benfeitorias, bem como dos direitos legalmente
constituídos sobre ou em conexão com o solo e benfeitorias que suporta.
2 - A avaliação, nos termos do número anterior, tem por objeto a determinação:
a) Do valor fundiário para efeitos de execução dos planos territoriais de âmbito
intermunicipal ou municipal, na ausência de acordo entre os interessados;
b) Do preço a pagar ao proprietário na expropriação por utilidade pública e na venda ou
no arrendamento forçados, nos termos da lei;
c) Do valor dos imóveis para efeitos fiscais.

Artigo 68.º
Valor do solo

1 - O valor do solo obtém-se através da aplicação de mecanismos de regulação


económico-financeiros, a definir nos termos da lei, tendo em conta a política pública de
solos, do ordenamento do território e de urbanismo, que incluem, designadamente, a
redistribuição de benefícios e encargos decorrentes de planos territoriais de âmbito
intermunicipal ou municipal, nos termos da lei.
2 - As mais-valias originadas pela edificabilidade estabelecida em plano territorial são
calculadas e distribuídas entre os proprietários e o fundo municipal de sustentabilidade
ambiental e urbanística.

Artigo 69.º
Critérios gerais para a avaliação do solo

1 - O solo é avaliado pelo método de avaliação mais apropriado, tendo em consideração


a sua situação concreta, nos termos dos artigos seguintes.
2 - A avaliação do solo faz-se de acordo com os métodos comparativo de valores de
mercado, de capitalização do rendimento ou de custo de reposição, a definir em lei.
3 - A avaliação das edificações tem em conta o respetivo estado de conservação.

Artigo 70.º
Avaliação do solo rústico

1 - O solo rústico é avaliado mediante a capitalização do rendimento anual, plurianual,


real e atual da exploração.
2 - As benfeitorias são avaliadas de forma independente em relação ao solo, mediante a
aplicação de critérios diferenciadores de avaliação que atendam à respetiva
conformidade com a lei, os programas e os planos territoriais aplicáveis ou mecanismos
de controlo prévio ou sucessivo das operações urbanísticas.
3 - As benfeitorias, quando avaliadas de forma independente do solo, são valorizadas
pelo método do custo de reposição depreciado no momento a que a avaliação respeita.
4 - As plantações são valorizadas pelo método de capitalização do rendimento.

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Artigo 71.º
Avaliação do solo urbano

1 - O solo urbano é avaliado considerando o valor conjunto do solo e das benfeitorias


nele realizadas, nos termos da lei.
2 - A avaliação do solo urbano atende:
a) Ao valor correspondente ao aproveitamento ou edificabilidade concreta estabelecidos
pelo plano aplicável ou, na sua ausência, ao valor referente à edificabilidade média
definida no plano territorial de âmbito intermunicipal ou municipal, deduzidos os
valores de cedência média por via perequativa, nos termos legais;
b) Ao valor do edificado existente no seu estado atual bem como, quando seja esse o
caso, o valor dos ónus e deveres previstos para realização da edificabilidade concreta
prevista no plano territorial de âmbito intermunicipal ou municipal.
3 - As benfeitorias são avaliadas de forma independente em relação ao solo mediante a
aplicação de critérios diferenciadores de avaliação que atendam à respetiva
conformidade com a lei, programas e planos territoriais aplicáveis ou mecanismos de
controlo prévio ou sucessivo de operações urbanísticas.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define “edificabilidade” como “a quantidade de edificação que, nos termos das disposições legais e
regulamentares aplicáveis, pode ser realizada numa dada porção do território”.

CAPÍTULO IV
Avaliação de programas e planos territoriais

Artigo 72.º
Relatório sobre o estado do solo, do ordenamento do território e do urbanismo

O Governo apresenta à Assembleia da República, de dois em dois anos, um relatório


sobre o estado dos programas e planos territoriais, no qual é feita a avaliação da
execução do programa nacional das políticas de ordenamento do território e são
discutidos os princípios orientadores e as formas de articulação das políticas sectoriais e
regionais com incidência territorial.

Artigo 73.º
Acompanhamento da política de solos, de ordenamento do
território e de urbanismo

1 - A lei estabelece formas de acompanhamento permanente e de avaliação técnica da


gestão territorial e prevê mecanismos que garantam a eficiência dos instrumentos que a
concretizam.
2 - A lei estabelece ainda a criação de um sistema nacional de informação territorial que
permita a disponibilização informática de dados sobre o território, articulado aos níveis
nacional, regional e local.
3 - A lei estabelece a criação de um sistema nacional de informação cadastral que
permita identificar as unidades prediais.

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TÍTULO VI
Publicidade e registo

Artigo 74.º
Publicação e publicitação

Todos os programas e planos territoriais são publicados no Diário da República,


acompanhados do respetivo ato de aprovação, e publicitados no Sistema Nacional de
Informação Territorial.

Artigo 75.º
Sistema de informação

1 - O Estado, as regiões autónomas e as autarquias locais devem, nos termos legalmente


estabelecidos, disponibilizar no respetivo sítio da Internet a informação administrativa
relativa à prossecução das suas atribuições em matéria de solos, de ordenamento do
território e de urbanismo, sem prejuízo do exercício do direito geral à informação,
salvaguardando a necessária reserva face aos interesses da defesa nacional e da
segurança pública.
2 - É obrigatória, nos termos e condições previstos na lei, a disponibilização de
informação relativa a:
a) Regulamentos administrativos e programas e planos territoriais, incluindo todo o
conteúdo documental destes;
b) Tramitação dos procedimentos de formação e dinâmica de programas e planos
territoriais;
c) Decisões respeitantes à programação da execução dos planos territoriais;
d) Tramitação dos procedimentos de controlo prévio de operações urbanísticas;
e) Decisões finais sobre os procedimentos de controlo prévio referidos na alínea
anterior;
f) Contratos celebrados com o Estado, as regiões autónomas e as autarquias locais ou
com particulares;
g) Relatórios sobre a execução de programas e planos territoriais e sobre as operações
urbanísticas realizadas;
h) Ações de fiscalização de atividades de uso, ocupação e transformação do solo.

TÍTULO VII
Disposições transitórias e finais

Artigo 76.º
Registo predial, inscrição matricial cadastral

Estão sujeitos a registo predial, a inscrição matricial, bem como a georreferenciação e a


inscrição no cadastro predial, os factos que afetem direitos reais relativos a um
determinado imóvel ou lhe imponham um ónus, nos termos da lei.

Artigo 77.º
Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território

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O Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território, aprovado pela Lei n.º
58/2007, de 4 de setembro, mantém-se em vigor até à sua alteração ou revisão.

Artigo 78.º
Planos especiais

1 - O conteúdo dos planos especiais de ordenamento do território em vigor deve ser


transposto, nos termos da lei, para o plano diretor intermunicipal ou municipal e outros
planos intermunicipais ou municipais aplicáveis à área abrangida pelos planos especiais,
até 13 de julho de 2021.
2 - Compete às comissões de coordenação e desenvolvimento regional, com o apoio das
entidades responsáveis pela elaboração dos planos especiais de ordenamento do
território em vigor e das associações de municípios e municípios abrangidos por
aqueles, a identificação, no prazo de um ano a contar da data da entrada em vigor da
presente lei, das normas relativas aos regimes de salvaguarda de recursos territoriais e
valores naturais diretamente vinculativas dos particulares que devam ser integradas em
plano intermunicipal ou municipal.
3 - As normas identificadas pelas comissões de coordenação e desenvolvimento
regional nos termos do número anterior, são comunicadas à associação de municípios
ou município em causa, para efeitos de atualização dos planos intermunicipais e
municipais, sendo aplicável o disposto no n.º 4 do artigo 46.º
4 - Findo o prazo definido no n.º 1, os planos especiais continuam a vigorar mas deixam
de vincular direta e imediatamente os particulares, sem prejuízo do disposto nos n.º s 5 e
6 do artigo 46.º
5 - Aos planos especiais são aplicáveis, com as devidas adaptações e enquanto estes
ainda vigorarem, as disposições relativas à alteração, suspensão e medidas preventivas
aplicáveis aos planos intermunicipais e municipais.
6 - Sem prejuízo do disposto no número anterior, a alteração de planos especiais
vigentes não pode ter lugar depois do procedimento de transposição determinado nos
números anteriores, nem determinar uma dificuldade acrescida para a respetiva
integração nos planos intermunicipais e municipais.

Artigo 79.º
Planos regionais de ordenamento do território

Os planos regionais de ordenamento do território aprovados nos termos do Decreto-Lei


n.º 380/99, de 22 de setembro, continuam em vigor até à sua alteração ou revisão.

Artigo 80.º
Instrumentos de gestão territorial

Todos os instrumentos de gestão territorial vigentes devem ser reconduzidos, no âmbito


do sistema de planeamento estabelecido pela presente lei e no prazo e condições a
estabelecer em legislação complementar, ao tipo de programa ou plano territorial que se
revele adequado ao âmbito de aplicação específica.

Artigo 81.º
Legislação complementar

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No prazo de seis meses a contar da data da entrada em vigor da presente lei são
aprovados os diplomas legais complementares que reveem o regime jurídico dos
instrumentos de gestão territorial, o regime jurídico da urbanização e edificação e o
regime aplicável ao cadastro predial e respetivos diplomas regulamentares.

Artigo 82.º
Norma transitória

1 - A presente lei aplica-se aos procedimentos de elaboração, alteração ou revisão de


planos territoriais pendentes à data da sua entrada em vigor que ainda não tenham
iniciado o respetivo período de discussão pública, sem prejuízo da salvaguarda dos atos
já praticados e dos direitos preexistentes e juridicamente consolidados.
2 - As regras relativas à classificação de solos, previstas na presente lei, são aplicáveis
aos procedimentos de elaboração, alteração ou revisão de planos territoriais de âmbito
intermunicipal ou municipal, que se iniciem após a data da sua entrada em vigor e aos
que ainda se encontrem pendentes um ano após essa data, sem prejuízo do disposto no
número seguinte.
3 - Nos procedimentos de elaboração, alteração ou revisão de planos territoriais a que se
refere o número anterior, os terrenos que estejam classificados como solo urbanizável
ou solo urbano com urbanização programada, mantêm a classificação como solo urbano
para os efeitos da presente lei, até ao termo do prazo para execução das obras de
urbanização que tenha sido ou seja definido em plano de pormenor, por contrato de
urbanização ou de desenvolvimento urbano ou por ato administrativo de controlo
prévio.

Artigo 83.º
Norma revogatória

São revogados:
a) A Lei 48/98, de 11 de agosto, alterada pela Lei n.º 54/2007, de 31 de agosto;
b) O Decreto-Lei n.º 794/76, de 5 de novembro, alterado pelos Decretos-Leis n.º s
313/80, de 19 de agosto, 400/84, de 31 de dezembro, e 307/2009, de 23 de outubro;
c) O Decreto-Lei n.º 181/70, de 28 de abril;
d) O Decreto-Lei n.º 152/82, de 3 de maio, alterado pelo Decreto-Lei n.º 210/83, de 23
de maio.

Artigo 84.º
Início de vigência

A presente lei entra em vigor no prazo de 30 dias após a data da sua publicação.

Aprovada em 11 de abril de 2014.


A Presidente da Assembleia da República, Maria da Assunção A. Esteves.
Promulgada em 22 de maio de 2014.
Publique-se.
O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva.
Referendada em 23 de maio de 2014.
O Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho.

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REGIME JURÍDICO
DOS
INSTRUMENTOS DE GESTÃO TERRITORIAL (RJIGT)

Decreto-Lei n.º 80/2015, de 14 de maio, (com as alterações introduzidas pelo Decreto-


Lei n.º 10/2024 de 08/01 e DL n.º 16/2024, de 19/01).

Estabelecidas as bases gerais de política pública de solos, do ordenamento do


território e do urbanismo pela Lei n.º 31/2014, de 30 de maio, o presente decreto-lei
procede, no cumprimento do estabelecido no artigo 81.º da referida lei, à revisão do
Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial.
A lei de bases de política pública de solos, do ordenamento do território e do
urbanismo procedeu a uma reforma estruturante, tanto do ponto de vista dos conteúdos,
no sentido de definir um conjunto de normas relativas à disciplina do uso do solo, como
do ponto de vista do seu sistema jurídico, com objetivo de traduzir uma visão conjunta
do sistema de planeamento e dos instrumentos de política de solos, entendidos como os
instrumentos por excelência de execução dos planos territoriais.
Constitui objetivo daquela lei o enriquecimento do sistema de gestão territorial
através da distinção regimentar entre programas e planos, com fundamento na
diferenciação material entre, por um lado, as intervenções de natureza estratégica da
administração central e, por outro lado, as intervenções da administração local, de caráter
dispositivo e vinculativo dos particulares. Assim, os instrumentos da administração
central passam a designar-se programas, no sentido de reforçar o seu caráter de meio de
intervenção do Governo na tutela de interesses públicos de âmbito nacional e regional.
Não obstante, o plano diretor municipal mantém-se como um instrumento de
definição da estratégia municipal ou intermunicipal, estabelecendo o quadro estratégico
de desenvolvimento territorial ao nível local ou sub-regional. Por outro lado, os planos
territoriais passam a ser os únicos instrumentos passíveis de determinar a classificação e
qualificação do uso do solo, bem como a respetiva execução e programação.
Desta forma, devem ser integradas no plano diretor municipal ou intermunicipal e
aí adaptadas as orientações de desenvolvimento territorial decorrentes dos programas de
âmbito nacional, regional e sub-regional.
Pretende-se, com esta opção, introduzir uma regulamentação que permita
salvaguardar os interesses dos particulares e a sua confiança no ordenamento jurídico
vigente, na medida em que todas as normas relativas à ocupação, uso e transformação dos
solos, para poderem ser impostas aos particulares, devem estar previstas no mesmo
regulamento.
Por outro lado, privilegiando-se a concretização da avaliação das políticas de
planeamento, prevê-se a obrigatoriedade de fixação de indicadores destinados a sustentar
a avaliação e a monitorização dos programas e dos planos territoriais no respetivo
conteúdo documental, de cujos resultados passam a depender diretamente os processos
de alteração e revisão dos planos.
Com o mesmo objetivo, clarifica-se o âmbito das relações entre os diversos níveis
de planeamento, estabelecendo-se um princípio de prevalência cronológica uniforme,
com obrigatoriedade de atualização e adaptação dos instrumentos anteriores.
Reconhecendo-se que a falta de agilidade na tramitação administrativa é
incompatível com a urgência de iniciativas, é importante agilizar procedimentos,
concertar posições e reforçar a contratualização e participação dos particulares nos
processos de planeamento.

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Deste modo, o novo regime, procurando superar as situações de impasse em fase
final do acompanhamento da elaboração do plano diretor municipal, comete às comissões
de coordenação e desenvolvimento regional a elaboração de um único parecer final que
vincula toda a administração central, o qual é acompanhado pela ata da comissão
consultiva.
Prevê-se, ainda, a disponibilização de uma plataforma eletrónica para efeitos de
acompanhamento dos procedimentos de elaboração, alteração ou revisão dos planos
diretores municipais. Garante-se, assim, maior eficiência dos serviços da Administração,
impondo procedimentos desmaterializados e do conhecimento automático de todos os
intervenientes.
Sendo certo que a uniformização de procedimentos e de normas técnicas constitui
um fator essencial de simplificação é criada a Comissão Nacional do Território, que
articula e avalia a política nacional do ordenamento do território, propõe a aprovação de
normas técnicas no âmbito do planeamento e emite pareceres e recomendações sobre
todas as questões relativas ao ordenamento do território e à articulação com os
instrumentos de ordenamento do espaço marítimo, por sua iniciativa ou a solicitação de
outras entidades. Esta Comissão vem, ainda, suceder à Comissão Nacional de Reserva
Ecológica Nacional, nas suas atribuições.
O novo regime jurídico dos instrumentos de gestão territorial garante uma efetiva
articulação e compatibilização dos programas e dos planos territoriais com os planos de
ordenamento do espaço marítimo nacional, de modo a salvaguardar a interação mar-terra.
O presente decreto-lei prevê, no desenvolvimento da Lei n.º 31/2014, de 30 de maio,
a possibilidade das entidades intermunicipais, por vontade conjunta dos municípios
constituintes destas, e de municípios vizinhos, se associarem para definirem, de modo
coordenado, a estratégia de desenvolvimento e o modelo territorial, as opções de
localização e de gestão de equipamentos públicos e infraestruturas, aprovando
conjuntamente programas intermunicipais de ordenamento e desenvolvimento, planos
diretores, planos de urbanização ou planos de pormenor.
Um modelo coerente de ordenamento do território deve assegurar a coesão
territorial e a correta classificação do solo, invertendo-se a tendência, predominante nas
últimas décadas, de transformação excessiva e arbitrária do solo rural em solo urbano.
Com efeito, pretende-se contrariar a especulação urbanística, o crescimento excessivo dos
perímetros urbanos e o aumento incontrolado dos preços do imobiliário, designadamente
através da alteração do estatuto jurídico do solo.
Institui-se um novo sistema de classificação do solo, em solo urbano e solo rústico,
que opta por uma lógica de efetiva e adequada afetação do solo urbano ao solo parcial ou
totalmente urbanizado ou edificado, eliminando-se a categoria operativa de solo
urbanizável. Em nome do princípio da sustentabilidade territorial, a reclassificação do
solo como urbano é limitada ao indispensável, sustentável dos pontos de vista económico
e financeiro, e traduz uma opção de planeamento necessária, devidamente programada,
que deve ser objeto de contratualização. Assim, institui-se a obrigatoriedade da
demonstração da sustentabilidade económica e financeira da transformação do solo
rústico em urbano, através de indicadores demográficos e dos níveis de oferta e procura
do solo urbano.
Por forma a assegurar a execução da operação urbanística, o plano deve definir um
prazo para a execução da operação urbanística, findo o qual a classificação pode caducar,
no caso de a mesma não ser realizada. A reclassificação do solo como urbano implica a
fixação, por via contratual, dos encargos urbanísticos da operação e do respetivo prazo de
execução e a redistribuição de benefícios e encargos, considerando todos os custos
urbanísticos envolvidos na operação. Uma vez demonstrada a viabilidade económica na

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transformação do solo rústico em solo urbano, o direito de construir apenas se adquire
com a aprovação da programação e com o cumprimento dos ónus urbanísticos fixados no
contrato.
Em resumo, os programas e os planos territoriais integram orientações para a sua
execução, nomeadamente no que respeita à identificação e à programação das
intervenções consideradas estratégicas, com a estimativa dos custos individuais e dos
respetivos prazos de execução, à ponderação da viabilidade jurídico-fundiária e da
sustentabilidade económico-financeira das propostas, à definição dos meios e dos sujeitos
responsáveis pelo financiamento e à estimativa da capacidade de investimento público.
Com a revisão dos instrumentos de gestão territorial a Administração ganha novos
meios de intervenção pública no solo, destacando-se a reserva de solo, a venda e o
arrendamento forçado de prédios urbanos, cujos proprietários não cumpram os ónus e os
deveres a que estão obrigados por um plano territorial.
As políticas públicas devem ser direcionadas para a disponibilização de um
ambiente sustentável e adequadamente infraestruturado, exigindo-se uma correta
programação pública das intervenções a efetuar pelos municípios, assente em dois
princípios fundamentais: o princípio da sustentabilidade financeira e o princípio da
incorporação dos custos. Deste modo, os municípios devem elaborar um plano de
sustentabilidade urbanística, que integra o programa plurianual de investimentos
municipais na execução, na manutenção e no reforço das infraestruturas gerais e na
previsão de custos gerais de gestão urbana.
Pretende-se, assim, iniciar um novo conceito e uma nova forma de gestão territorial,
mais coerente, consequente e responsável, e dotando-a da racionalidade coletiva que o
ordenamento do território lhe confere, enquadrando as dinâmicas económicas e sociais
com efeitos espacializados.
Foram ouvidos os órgãos de governo próprio das Regiões Autónomas e a
Associação Nacional de Municípios Portugueses.
Assim:
No desenvolvimento do regime jurídico estabelecido pela Lei n.º 31/2014, de 30 de
maio, e nos termos das alíneas a) e c) do n.º 1 do artigo 198.º da Constituição, o Governo
decreta o seguinte:

CAPÍTULO I
Disposições gerais

SECÇÃO I
Disposições gerais relativas ao planeamento territorial

Artigo 1.º
Objeto

O presente decreto-lei desenvolve as bases da política pública de solos, de ordenamento


do território e de urbanismo, definindo o regime de coordenação dos âmbitos nacional,
regional, intermunicipal e municipal do sistema de gestão territorial, o regime geral de
uso do solo e o regime de elaboração, aprovação, execução e avaliação dos instrumentos
de gestão territorial.

Artigo 2.º
Sistema de gestão territorial

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1 - A política de ordenamento do território e de urbanismo assenta no sistema de
gestão territorial, que se organiza, num quadro de interação coordenada, em quatro
âmbitos:
a) O âmbito nacional;
b) O âmbito regional;
c) O âmbito intermunicipal;
d) O âmbito municipal.
2 - O âmbito nacional é concretizado através dos seguintes instrumentos:
a) O programa nacional da política de ordenamento do território;
b) Os programas setoriais;
c) Os programas especiais.
3 - O âmbito regional é concretizado através dos programas regionais.
4 - O âmbito intermunicipal é concretizado através dos seguintes instrumentos:
a) Os programas intermunicipais;
b) O plano diretor intermunicipal;
c) Os planos de urbanização intermunicipais;
d) Os planos de pormenor intermunicipais.
5 - O âmbito municipal é concretizado através dos seguintes planos:
a) O plano diretor municipal;
b) Os planos de urbanização;
c) Os planos de pormenor.

Artigo 3.º
Vinculação jurídica

1 - Os programas territoriais vinculam as entidades públicas.


2 - Os planos territoriais vinculam as entidades públicas e, direta e imediatamente,
os particulares.
3 - O disposto nos números anteriores não prejudica a vinculação direta e imediata dos
particulares relativamente às normas de intervenção sobre a ocupação e utilização dos
espaços florestais.
4 - São nulas as orientações e as normas dos programas e dos planos territoriais que
extravasem o respetivo âmbito material.
5 - As normas dos programas territoriais que, em função da sua incidência territorial
urbanística, condicionem a ocupação, uso e transformação do solo são obrigatoriamente
integradas nos planos territoriais.

Artigo 4.º
Fundamento técnico

1 - Os programas e os planos territoriais devem explicitar, de forma clara, os


fundamentos das respetivas previsões, indicações e determinações, a estabelecer com
base no conhecimento sistematicamente adquirido:
a) Das características físicas, morfológicas e ecológicas do território;
b) Dos recursos naturais e do património arquitetónico e arqueológico;
c) Da dinâmica demográfica natural e migratória;
d) Das transformações ambientais, económicas, sociais e culturais;
e) Das assimetrias regionais e das condições de acesso às infraestruturas, aos
equipamentos, aos serviços e às funções urbanas.

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2 - Os programas e os planos territoriais devem conter os indicadores qualitativos e
quantitativos para efeitos da avaliação prevista no capítulo VIII.

Artigo 5.º
Direito à informação

1 - Todos os interessados têm direito a ser informados sobre a política de gestão do


território e, em especial, sobre a elaboração, a aprovação, o acompanhamento, a execução
e a avaliação dos programas e planos territoriais.
2 - O direito à informação referido no número anterior compreende as faculdades de:
a) Consultar os diversos processos, designadamente, os estudos de base e outra
documentação, escrita e desenhada, que fundamentem as opções estabelecidas;
b) Obter cópias de atas de reuniões deliberativas e certidões dos instrumentos
aprovados;
c) Obter informações sobre as disposições constantes de programas e de planos
territoriais, bem como conhecer as condicionantes, as servidões administrativas e as
restrições de utilidade aplicáveis ao uso do solo.
3 - As entidades responsáveis pela elaboração e pelo depósito dos programas e dos planos
territoriais devem criar e manter atualizado um sistema que assegure o exercício do direito
à informação, designadamente através do recurso a meios informáticos.
4 - A informação e os dados referidos no número anterior devem ser disponibilizados em
formatos abertos, que permitam a leitura por máquina, nos termos da Lei n.º 36/2011, de
21 de junho.

Artigo 6.º
Direito de participação

1 - Todas as pessoas, singulares e coletivas, incluindo as associações representativas dos


interesses ambientais, económicos, sociais e culturais, têm o direito de participar na
elaboração, na alteração, na revisão, na execução e na avaliação dos programas e dos
planos territoriais.
2 - O direito de participação referido no número anterior compreende a possibilidade de
formulação de sugestões e de pedidos de esclarecimento, no âmbito dos procedimentos
previstos no presente decreto-lei, às entidades responsáveis pelos programas ou pelos
planos territoriais, bem como a faculdade de propor a celebração de contratos para
planeamento e a intervenção nas fases de discussão pública.
3 - As entidades públicas responsáveis pela elaboração, alteração, revisão, execução e
avaliação dos programas e dos planos territoriais divulgam, designadamente através do
seu sítio na Internet, da plataforma colaborativa de gestão territorial e da comunicação
social:
a) A decisão de desencadear o processo de elaboração, de alteração ou de revisão,
identificando os objetivos a prosseguir;
b) A conclusão da fase de elaboração, de alteração ou de revisão, bem como o teor dos
elementos a submeter a discussão pública;
c) A abertura e a duração das fases de discussão pública;
d) As conclusões da discussão pública;
e) Os mecanismos de execução dos programas e dos planos territoriais;
f) O regime económico e financeiro dos planos territoriais;
g) O início e as conclusões dos procedimentos de avaliação, incluindo de avaliação
ambiental.

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4 - As entidades referidas no número anterior estão sujeitas ao dever de ponderação das
propostas apresentadas, bem como de resposta fundamentada aos pedidos de
esclarecimento formulados, nos termos previstos no presente decreto-lei.
5 - A abertura dos períodos de discussão pública é feita através de aviso a publicar no
Diário da República, o qual deve prever o recurso a meios eletrónicos para participação
na discussão pública, designadamente através de plataforma colaborativa de gestão
territorial.

Cf. o art.º 39.º do RJIGT.

Artigo 7.º
Garantias dos particulares

1 - No âmbito dos programas e dos planos territoriais são reconhecidas aos interessados
as garantias gerais dos administrados previstas no Código do Procedimento
Administrativo e no regime de participação procedimental, nomeadamente:
a) O direito de ação popular;
b) O direito de apresentação de queixa ao Provedor de Justiça;
c) O direito de apresentação de queixa ao Ministério Público.
2 - No âmbito dos planos intermunicipais e municipais é, ainda, reconhecido aos
particulares o direito de promover a sua impugnação direta.

SECÇÃO II
Interesses públicos com expressão territorial

SUBSECÇÃO I
Harmonização dos interesses

Artigo 8.º
Princípios gerais

1 - Os programas e os planos territoriais identificam os interesses públicos prosseguidos,


justificando os critérios utilizados na sua identificação e hierarquização.
2 - Os programas e os planos territoriais asseguram a harmonização dos vários interesses
públicos com expressão territorial, tendo em conta as estratégias de desenvolvimento
económico e social, bem como a sustentabilidade e a solidariedade intra e intergeracional
na ocupação e utilização do território, assegurando a qualidade de vida e um equilibrado
desenvolvimento socioeconómico às gerações presentes e futuras.
3 - Os programas e os planos territoriais devem estabelecer as medidas de tutela dos
interesses públicos prosseguidos e explicitar os respetivos efeitos, designadamente
quando essas medidas condicionem a ação territorial de entidades públicas ou
particulares.
4 - As medidas de proteção dos interesses públicos estabelecidas nos programas e nos
planos territoriais constituem referência na adoção de quaisquer outros regimes de
salvaguarda.

Artigo 9.º
Graduação do interesse público

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1 - Nas áreas territoriais em que convergem interesses públicos incompatíveis entre si,
deve ser dada prioridade àqueles cuja prossecução determine o mais adequado uso do
solo, em termos ambientais, económicos, sociais e culturais.
2 - Excetuam-se do disposto no número anterior os interesses respeitantes à defesa
nacional, à segurança, à saúde pública, à proteção civil e à prevenção e minimização de
riscos, cuja prossecução tem prioridade sobre os demais interesses públicos.

Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. x), do regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de
setembro, última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), a “prevenção” consiste na “adoção de medidas
antes de uma substância, material ou produto assumir a natureza de resíduo, destinadas a reduzir”:
I) a quantidade de resíduos produzidos, designadamente através da reutilização de produtos ou do
prolongamento do tempo de vida dos produtos; II) os impactes adversos no ambiente e na saúde humana
resultantes dos resíduos produzidos; ou III) o teor de substâncias nocivas presentes nos materiais e nos
produtos”

Artigo 10.º
Identificação dos recursos territoriais

Os programas e os planos territoriais identificam:


a) As áreas afetas à defesa nacional, à segurança e à proteção civil;
b) Os recursos e valores naturais;
c) As áreas perigosas e as áreas de risco;
d) As áreas agrícolas e florestais;
e) As áreas de exploração de recursos energéticos e geológicos;
f) A estrutura ecológica;
g) O património arquitetónico, arqueológico e paisagístico;
h) O sistema urbano;
i) A localização e a distribuição das atividades económicas;
j) As redes de transporte e mobilidade;
k) As redes de infraestruturas e equipamentos coletivos.

Artigo 11.º
Defesa nacional, segurança e proteção civil

1 - Sempre que não haja prejuízo para os interesses do Estado, as redes de estruturas, de
infraestruturas e dos sistemas indispensáveis à defesa nacional são identificadas nos
programas e nos planos territoriais.
2 - O conjunto dos equipamentos, infraestruturas e sistemas que asseguram a segurança,
a proteção civil e a prevenção e minimização de riscos, é identificado nos programas e
nos planos territoriais.

Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. x), do regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de
setembro, última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), a “prevenção” consiste na “adoção de medidas
antes de uma substância, material ou produto assumir a natureza de resíduo, destinadas a reduzir”:
I) a quantidade de resíduos produzidos, designadamente através da reutilização de produtos ou do
prolongamento do tempo de vida dos produtos; II) os impactes adversos no ambiente e na saúde humana
resultantes dos resíduos produzidos; ou III) o teor de substâncias nocivas presentes nos materiais e nos
produtos”

Artigo 12.º
Recursos e valores naturais

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1 - Os programas e os planos territoriais identificam os recursos e valores naturais e os
sistemas indispensáveis à utilização sustentável do território, bem como estabelecem as
medidas e os limiares mínimos e máximos de utilização, que garantem a renovação e a
valorização do património natural.
2 - Os programas e os planos territoriais procedem à identificação de recursos e valores
naturais com relevância estratégica para a sustentabilidade ambiental e a
solidariedade intergeracional, designadamente:
a) Orla costeira e zonas ribeirinhas;
b) Albufeiras de águas públicas;
c) Áreas protegidas e as zonas únicas que integram;
d) Rede hidrográfica;
e) Outros recursos territoriais relevantes para a conservação da natureza e da
biodiversidade.
3 - Para efeitos do disposto nos números anteriores:
a) Os programas territoriais definem os princípios e as diretrizes que concretizam as
orientações políticas relativas à proteção e à valorização dos recursos e valores naturais;
b) Os planos intermunicipais ou os planos municipais estabelecem, no quadro definido
pelos programas e pelos planos territoriais cuja eficácia condicione o respetivo conteúdo,
os parâmetros urbanísticos de ocupação e de utilização do solo adequados à salvaguarda
e à valorização dos recursos e valores naturais;
c) Os programas especiais estabelecem os regimes de salvaguarda, determinados por
critérios de proteção e valorização dos sistemas e valores naturais, por forma a
compatibilizá-los com a fruição pelas populações.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define o “índice de utilização do solo” (Iu) como “o quociente entre a área total de construção (∑Ac) e a
área de solo (As) a que o índice diz respeito”.

Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. qq), do regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de
setembro, última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), “valorização” é qualquer operação,
nomeadamente as constantes no anexo ii do presente decreto-lei, cujo resultado principal seja a
transformação dos resíduos de modo a servirem um fim útil, substituindo outros materiais que, caso
contrário, teriam sido utilizados para um fim específico ou a preparação dos resíduos para esse fim na
instalação ou conjunto da economia”.

Artigo 13.º
Áreas perigosas e áreas de risco

1 - Os programas e os planos territoriais identificam e delimitam as áreas perigosas e de


risco, desenvolvendo-as e concretizando-as.
2 - Os planos territoriais delimitam as áreas perigosas e de risco, identificam os
elementos vulneráveis para cada risco e estabelecem as regras e as medidas para a
prevenção e minimização de riscos, em função da graduação dos níveis de
perigosidade e de acordo com os critérios a estabelecer pelas entidades responsáveis em
razão da matéria.

Nota 1: A identificação das “áreas perigosas” e das “áreas de risco” situa-se no âmbito jurídico-policial
(de polícia administrativa).

Nota 2: As “áreas perigosas” e as “áreas de risco” situam-se no âmbito jurídico-policial (de polícia
administrativa), onde é necessário adotar medidas preventivas.
Nota 2: A atividade de delimitação das áreas perigosas e de risco e de prevenção e minimização dos riscos
insere-se nas competências de polícia administrativa da Administração pública.

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Artigo 14.º
Áreas agrícolas e florestais

1 - Os programas e os planos territoriais identificam as áreas afetas a usos agrícolas,


florestais e pecuários, designadamente as áreas de reserva agrícola, de obras de
aproveitamento hidroagrícola e de regime florestal.
2 - Os programas setoriais estabelecem os objetivos e as medidas indispensáveis ao
adequado ordenamento agrícola e florestal do território, equacionando as necessidades
atuais e futuras.
3 - A afetação, pelos programas e planos territoriais, das áreas referidas no n.º 1 a
utilizações diversas da exploração agrícola, florestal ou pecuária tem caráter excecional,
sendo admitida apenas quando tal for comprovadamente necessário.

Artigo 15.º
Áreas de exploração de recursos energéticos e geológicos

1 - Os programas e os planos territoriais devem identificar as áreas afetas à exploração de


recursos energéticos e geológicos.
2 - Os planos territoriais devem delimitar e regulamentar as áreas previstas no número
anterior, assegurando a minimização dos impactes ambientais e a compatibilização de
usos.

Artigo 16.º
Estrutura ecológica

1 - Os programas e os planos territoriais identificam as áreas, os valores e os sistemas


fundamentais para a proteção e valorização ambiental dos espaços rústicos e urbanos,
designadamente as redes de proteção e valorização ambiental, regionais e municipais, que
incluem as áreas de risco de desequilíbrio ambiental.
2 - Os programas regionais, os programas especiais e os programas setoriais relevantes
definem os princípios, as diretrizes e as medidas que concretizam as orientações políticas
relativas às áreas de proteção e valorização ambiental que garantem a salvaguarda e a
valorização dos ecossistemas.
3 - Os planos intermunicipais e municipais estabelecem, no quadro definido pelos
programas e pelos planos territoriais, cuja eficácia condicione o respetivo conteúdo, os
parâmetros e as condições de ocupação e de utilização do solo, assegurando a
compatibilização das funções de proteção, regulação e enquadramento com os usos
produtivos, o recreio e lazer, e o bem-estar das populações.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define o “índice de utilização do solo” (Iu) como “o quociente entre a área total de construção (∑Ac) e a
área de solo (As) a que o índice diz respeito”.

Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. qq), do regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de
setembro, última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), “valorização” é qualquer operação,
nomeadamente as constantes no anexo ii do presente decreto-lei, cujo resultado principal seja a
transformação dos resíduos de modo a servirem um fim útil, substituindo outros materiais que, caso
contrário, teriam sido utilizados para um fim específico ou a preparação dos resíduos para esse fim na
instalação ou conjunto da economia”.

Artigo 17.º

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Património arquitetónico, arqueológico e paisagístico

1 - Os vestígios arqueológicos, bem como os elementos e conjuntos construídos, que


representam testemunhos da história da ocupação e do uso do território e assumem
interesse relevante para a memória e a identidade das comunidades, são identificados nos
programas e nos planos territoriais.
2 - Os programas e os planos territoriais estabelecem as medidas indispensáveis à
proteção e à valorização do património arquitetónico, arqueológico e paisagístico,
acautelando o uso dos espaços envolventes.
3 - No quadro definido por lei e pelos programas e planos territoriais, cuja eficácia
condicione o respetivo conteúdo, os planos intermunicipais e municipais estabelecem os
parâmetros urbanísticos aplicáveis e a delimitação de zonas de proteção.

Artigo 18.º
Sistema urbano

1 - Os programas e os planos territoriais caracterizam a estrutura do povoamento


preconizada e estabelecem, no quadro da política de cidades, os objetivos quantitativos e
qualitativos que asseguram a coerência e a sustentabilidade do sistema urbano.
2 - Para efeitos do disposto no número anterior:
a) O programa nacional da política de ordenamento do território, os programas regionais,
os programas intermunicipais e os programas setoriais relevantes, definem os princípios
e as diretrizes que concretizam as orientações políticas relativas à distribuição
equilibrada das funções de habitação, trabalho e lazer, bem como à otimização de
equipamentos e infraestruturas, e às redes de transporte e mobilidade;
b) Os planos intermunicipais e municipais estabelecem, no quadro definido pelos
programas e pelos planos territoriais cuja eficácia condicione o respetivo conteúdo, os
parâmetros de ocupação e de utilização do solo adequados à concretização do modelo do
desenvolvimento urbano adotado.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define o “índice de utilização do solo” (Iu) como “o quociente entre a área total de construção (∑Ac) e a
área de solo (As) a que o índice diz respeito”.

Artigo 19.º
Localização e distribuição das atividades económicas

1 - As condições e os critérios de localização e a distribuição das atividades industriais,


turísticas, de comércio e de serviços, são identificadas nos programas e nos planos
territoriais.
2 - O programa nacional da política de ordenamento do território, os programas regionais,
os programas intermunicipais e os programas setoriais definem os princípios e as
diretrizes subjacentes:
a) À localização dos espaços industriais, compatibilizando a racionalidade económica
com a equilibrada distribuição de usos e funções no território e com a qualidade
ambiental;
b) À estratégia de localização, instalação e desenvolvimento de espaços turísticos,
comerciais e de serviços, compatibilizando o equilíbrio urbano e a qualidade ambiental
com a criação de oportunidades de emprego e a equilibrada distribuição de usos e funções
no território.

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3 - Os planos intermunicipais e municipais estabelecem, no quadro definido pelos
programas e pelos planos territoriais, cuja eficácia condicione o respetivo conteúdo, as
condições e os critérios e parâmetros de ocupação e de utilização do solo, para os fins
relativos à localização e distribuição das atividades económicas.

Artigo 20.º
Redes de transporte e mobilidade

1 - As redes rodoviária e ferroviária nacionais, as estradas regionais, os portos e


aeroportos, bem como a respetiva articulação com as redes locais de transporte e
mobilidade, são identificados e definidos nos programas e nos planos territoriais.
2 - Para efeitos do disposto no número anterior, as entidades responsáveis pelos vários
âmbitos de intervenção devem estabelecer procedimentos de informação permanentes
que garantam a coerência das opções definidas nos programas e nos planos territoriais.

Artigo 21.º
Redes de infraestruturas e equipamentos coletivos

1 - As redes de infraestruturas e os equipamentos de nível fundamental que promovem a


qualidade de vida, apoiam a atividade económica e asseguram a otimização do acesso à
cultura, à educação, à justiça, à saúde, à segurança social, à habitação ao desporto e ao
lazer, são identificadas nos programas e nos planos territoriais.
2 - Para efeitos do disposto no número anterior, os programas e os planos territoriais
definem uma estratégia coerente de instalação, de conservação e de desenvolvimento das
infraestruturas ou equipamentos, considerando as necessidades sociais e culturais da
população e as perspetivas de evolução económicas e sociais.

SUBSECÇÃO II
Coordenação das intervenções

Artigo 22.º
Princípio geral

1 - A articulação das estratégias de ordenamento territorial, determinadas pela


prossecução dos interesses públicos com expressão territorial, impõe ao Estado, às
entidades intermunicipais e às autarquias locais, o dever de coordenação das respetivas
intervenções em matéria territorial.
2 - A elaboração, a aprovação, a alteração, a revisão, a execução e a avaliação dos
programas e dos planos territoriais obriga a identificar e a ponderar, nos diversos âmbitos,
os planos, os programas e os projetos, designadamente da iniciativa da Administração
Pública, com incidência na área a que respeitam, considerando os que já existem e os que
se encontrem em preparação, por forma a assegurar as necessárias compatibilizações.
3 - A coordenação entre entidades da Administração Pública constitui um imperativo de
atuação, tendo em vista o desenvolvimento nacional, regional, sub-regional e municipal,
comprometendo soluções de compatibilização expedita entre programas e planos
territoriais, cuja aprovação e entrada em vigor se sucedam no tempo.

Artigo 23.º
Coordenação interna

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1 - As entidades responsáveis pela elaboração, aprovação, alteração, revisão, execução e
avaliação dos programas e dos planos territoriais devem assegurar, nos respetivos âmbitos
de intervenção, a necessária coordenação entre as diversas políticas com incidência
territorial e a política de ordenamento do território e de urbanismo, mantendo uma
estrutura orgânica e funcional apta a prosseguir uma efetiva articulação no exercício das
várias competências.
2 - A coordenação das políticas nacionais consagradas no programa nacional da política
de ordenamento do território, nos programas setoriais e nos programas especiais de
ordenamento do território, incumbe ao Governo.
3 - A coordenação ao nível regional, das políticas consagradas nos programas regionais,
incumbe ao Governo, através das comissões de coordenação e desenvolvimento regional.
4 - A coordenação ao nível intermunicipal, das políticas consagradas nos programas e nos
planos intermunicipais, incumbe às entidades intermunicipais ou ao conjunto de
municípios associados para essa finalidade.
5 - A coordenação ao nível municipal, das políticas consagradas nos planos municipais,
incumbe aos municípios.

Artigo 24.º
Coordenação externa

1 - A elaboração, a aprovação, a alteração, a revisão, a execução e a avaliação dos


programas e dos planos territoriais requer uma adequada coordenação das políticas
nacionais, regionais, intermunicipais e municipais com incidência territorial.
2 - O Estado, os municípios e as associações de municípios têm o dever de promover, de
forma articulada entre si, a política de ordenamento do território, garantindo,
designadamente:
a) O respeito pelas respetivas atribuições, na elaboração dos programas e dos planos
territoriais nacionais, regionais, intermunicipais e municipais;
b) O cumprimento dos limites materiais impostos à intervenção dos diversos órgãos e
agentes, relativamente ao procedimento de planeamento nacional, regional,
intermunicipal e municipal;
c) A definição, em função das estruturas orgânicas e funcionais, de um modelo de
interlocução que permita uma interação coerente em matéria de ordenamento territorial,
evitando o concurso de competências.

Artigo 25.º
Articulação e compatibilidade dos programas e planos territoriais com os
instrumentos de ordenamento do espaço marítimo nacional

1 - O disposto no presente decreto-lei não é aplicável ao ordenamento e à gestão do espaço


marítimo nacional.
2 - Sem prejuízo do disposto no número anterior, as regras e as diretrizes dos programas
setoriais e especiais que abrangem zonas marítimas devem ser integradas nos
instrumentos de ordenamento do espaço marítimo.
3 - Os programas e os planos territoriais devem assegurar a respetiva compatibilidade
com os instrumentos de ordenamento do espaço marítimo nacional, sempre que incidam
sobre a mesma área ou sobre áreas que, pela interdependência estrutural ou funcional dos
seus elementos, necessitem de uma coordenação integrada, devendo ser dada prioridade
às soluções que determinem uma utilização mais sustentável do espaço.

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4 - Os programas e os planos territoriais avaliam e ponderam as regras dos instrumentos
de ordenamento do espaço marítimo nacional preexistentes, identificando expressamente
as normas incompatíveis que devem ser revogadas ou alteradas.

CAPÍTULO II
Sistema de gestão territorial

SECÇÃO I
Relação entre os programas e planos territoriais

Artigo 26.º
Relação entre os programas de âmbito nacional e regional

1 - O programa nacional da política de ordenamento do território, os programas setoriais,


os programas especiais e os programas regionais traduzem um compromisso recíproco de
compatibilização das respetivas opções.
2 - O programa nacional da política de ordenamento do território, os programas setoriais
e os programas especiais prosseguem objetivos de interesse nacional e estabelecem os
princípios e as regras que devem ser observados pelos programas regionais.
3 - A elaboração dos programas setoriais e especiais é condicionada pelas orientações
definidas no programa nacional de política de ordenamento do território.
4 - Os programas regionais prosseguem os objetivos de interesse regional e respeitam o
disposto nos programas territoriais de âmbito nacional.

Artigo 27.º
Relações entre programas e planos territoriais

1 - Os programas regionais definem o quadro estratégico a desenvolver pelos programas


e pelos planos intermunicipais e municipais.
2 - Os programas e os planos intermunicipais, bem como os planos municipais devem
assegurar a programação e a concretização das políticas com incidência territorial, que,
como tal, estejam assumidas pelos programas territoriais de âmbito nacional e regional.
3 - Os planos territoriais de âmbito municipal devem atender às orientações definidas nos
programas intermunicipais preexistentes.
4 - A existência de um plano diretor, de um plano de urbanização ou de um plano de
pormenor de âmbito intermunicipal exclui a possibilidade de existência, na respetiva área
de abrangência, de planos municipais do mesmo tipo, sem prejuízo das regras relativas à
dinâmica de planos territoriais.
5 - O plano diretor municipal define o quadro estratégico de desenvolvimento territorial
do município, sendo o instrumento de referência para a elaboração dos demais planos
municipais.
6 - Sempre que entre em vigor um programa territorial de âmbito nacional ou regional é
obrigatória a alteração ou a atualização dos planos territoriais de âmbito intermunicipal e
municipal, que com ele não sejam conformes ou compatíveis.

Artigo 28.º
Atualização dos programas e planos territoriais

1 - Os programas estabelecem o prazo para a atualização dos planos de âmbito


intermunicipal ou municipal preexistentes, após audição, respetivamente, da entidade

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intermunicipal ou de outra associação de municípios responsável pelo plano territorial a
atualizar ou dos municípios abrangidos.
2 - Sem prejuízo do disposto no número anterior, a entidade responsável pela elaboração
do programa deve dar conhecimento, à comissão de coordenação e desenvolvimento
regional territorialmente competente, dos prazos estabelecidos para a atualização dos
planos territoriais.
3 - A atualização dos planos territoriais, decorrente da entrada em vigor de normas legais
e regulamentares, é obrigatória.
4 - A atualização dos programas e dos planos territoriais, que não implique uma decisão
autónoma de planeamento, segue o procedimento previsto no Artigo 121.º
5 - Quando procedam à alteração de programa ou de plano territorial preexistente, os
novos programas e planos territoriais indicam expressamente as disposições
incompatíveis que determinam a sua alteração.

Artigo 29.º
A falta de atualização de planos territoriais

1 - A não atualização do plano territorial, no prazo fixado nos termos do n.º 1 do artigo
anterior, determina a suspensão das normas do plano territorial, intermunicipal ou
municipal que deviam ter sido alteradas, não podendo, na área abrangida, haver lugar à
prática de quaisquer atos ou operações que impliquem a ocupação, uso e transformação
do solo.
2 – Após audição da câmara municipal, a realizar até ao 20.º dia útil anterior ao termo do
prazo de atualização do plano territorial, a comissão de coordenação e desenvolvimento
regional territorialmente competente deve, no dia seguinte ao termo do prazo de
atualização, emitir uma declaração, identificando as normas objeto da suspensão prevista
no número anterior, a qual deve ser publicitada no Diário da República e na plataforma
colaborativa de gestão territorial, no prazo de 10 dias.
3 - A suspensão prevista no n.º1 vigora desde o fim do prazo de atualização do plano
territorial até à atualização do mesmo.
4 - A falta de iniciativa, por parte da entidade intermunicipal, da associação de municípios
ou do município, tendente a desencadear o procedimento de atualização do plano
territorial, bem como o atraso da mesma atualização por facto imputável às referidas
entidades, determina a suspensão do respetivo direito de candidatura a apoios financeiros
comunitários e nacionais, até à data da conclusão do processo de atualização, bem como
a não celebração de contratos-programa.
5 - Para efeitos do disposto no número anterior, a comissão de coordenação e
desenvolvimento regional territorialmente competente deve solicitar à entidade
intermunicipal, à associação de municípios ou ao município a apresentação, no prazo de
15 dias, de documentos que comprovem a iniciativa de atualização do plano territorial e
que o atraso deste procedimento não se deve a facto que seja imputável àquelas entidades.
6 - Na falta de apresentação dos documentos previstos no número anterior, a suspensão é
comunicada pela comissão de coordenação e desenvolvimento regional territorialmente
competente às entidades intermunicipais, às associações de municípios ou ao município,
bem como às entidades gestoras de apoios financeiros nacionais e comunitários, para
efeitos da aplicação do disposto no n.º 4.

SECÇÃO II
Âmbito nacional

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SUBSECÇÃO I
Programa nacional da política de ordenamento do território

Artigo 30.º
Noção

O programa nacional da política de ordenamento do território estabelece as opções


estratégicas com relevância para a organização do território nacional, consubstancia o
quadro de referência a considerar na elaboração dos demais programas e planos
territoriais e constitui um instrumento de cooperação com os demais Estados-Membros
para a organização do território da União Europeia.

Artigo 31.º
Objetivos

O programa nacional da política de ordenamento do território visa:


a) Definir o quadro unitário para o desenvolvimento territorial integrado, harmonioso e
sustentável do País, tendo em conta a identidade própria da sua diversidade regional e a
sua inserção no espaço da União Europeia;
b) Garantir a coesão territorial do País, atenuando as assimetrias regionais e garantindo a
igualdade de oportunidades;
c) Estabelecer a tradução territorial das estratégias de desenvolvimento económico e
social;
d) Estabelecer as grandes opções de investimento público, com impacte territorial
significativo, as suas prioridades e a respetiva programação, considerando,
designadamente, as estratégias definidas para a aplicação dos fundos comunitários e
nacionais;
e) Articular as políticas setoriais com incidência na organização do território;
f) Racionalizar o povoamento, a implantação de equipamentos estruturantes e a definição
das redes;
g) Estabelecer os parâmetros de acesso às funções urbanas e às formas de mobilidade;
h) Definir os princípios orientadores da disciplina de ocupação do território;
i) Concretizar as políticas europeias de desenvolvimento territorial.

Artigo 32.º
Conteúdo material

1 - O programa nacional da política de ordenamento do território concretiza e articula as


opções definidas nos demais instrumentos estratégicos de âmbito nacional e define um
modelo de organização espacial que estabelece:
a) As opções e as diretrizes relativas à conformação da política de cidades, das redes, das
infraestruturas e dos equipamentos de interesse nacional, bem como à salvaguarda e à
valorização das áreas de interesse nacional em termos ambientais, patrimoniais e de
desenvolvimento rural;
b) Os objetivos e os princípios assumidos pelo Estado, numa perspetiva de médio e de
longo prazo, quanto à localização das atividades, dos serviços e dos grandes
investimentos públicos;
c) Os padrões mínimos e os objetivos a atingir em matéria de qualidade de vida e de
efetivação dos direitos ambientais, económicos, sociais e culturais;

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d) Os objetivos qualitativos e quantitativos a atingir em matéria de estruturas de
povoamento, bem como de implantação de infraestruturas e de equipamentos
estruturantes;
e) As orientações para a coordenação entre as políticas de ordenamento do território e de
desenvolvimento regional, tendo em vista objetivos de equidade social e de coesão
territorial;
f) Os mecanismos de articulação entre as políticas de ordenamento do território e de
ambiente que assegurem as condições necessárias à concretização de uma estratégia de
utilização sustentável e eficiente dos recursos naturais;
g) As medidas de coordenação dos programas setoriais com incidência territorial.
2 - O programa nacional da política de ordenamento do território pode estabelecer
diretrizes aplicáveis a determinado tipo de áreas ou de temáticas, com incidência
territorial, visando assegurar a igualdade de regimes e a coerência na sua observância
pelos demais programas e planos territoriais.

Artigo 33.º
Conteúdo documental

1 - O programa nacional da política de ordenamento do território é constituído por um


relatório e um programa de ação.
2 - O relatório define cenários de desenvolvimento territorial e fundamenta as orientações
estratégicas, as opções e as prioridades da intervenção político-administrativa, em matéria
de ordenamento do território, sendo acompanhado por peças gráficas ilustrativas do
modelo de organização espacial estabelecido.
3 - O programa de ação estabelece:
a) Os objetivos a atingir numa perspetiva de médio e de longo prazo, em consonância
com as orientações estratégicas, as opções e as prioridades da intervenção político-
administrativa definidas no relatório;
b) Os compromissos do Governo em matéria de medidas legislativas, de investimentos
públicos ou de aplicação de outros instrumentos de natureza fiscal ou financeira, para a
concretização da política de desenvolvimento territorial;
c) As propostas do Governo para a cooperação, no domínio do ordenamento do território,
com as entidades intermunicipais, as associações de municípios, os municípios e as
entidades privadas, incluindo o lançamento de programas de apoio específicos;
d) A definição de prioridades e de hierarquias para as ações propostas, bem como a
programação temporal da sua realização;
e) A identificação dos meios de financiamento das ações propostas;
f) O quadro de referência a considerar na elaboração, na alteração ou na revisão dos
demais instrumentos de gestão territorial;
g) O modelo de governação e a identificação das entidades responsáveis pela
implementação das ações propostas, explicitando a necessária coordenação e articulação
entre as diversas entidades;
h) Os indicadores qualitativos e quantitativos que suportem a avaliação prevista no
capítulo VIII.

Artigo 34.º
Elaboração

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1 - A elaboração do programa nacional da política de ordenamento do território compete
ao Governo, sob coordenação do membro do Governo responsável pela área do
ordenamento do território.
2 - A elaboração do programa nacional da política de ordenamento do território é
determinada por resolução do Conselho de Ministros, da qual devem constar
nomeadamente:
a) Os princípios orientadores do programa nacional da política de ordenamento do
território, bem como a metodologia definida para a compatibilização das disciplinas dos
diversos instrumentos de desenvolvimento territorial e para a articulação das intervenções
de âmbito nacional, regional, sub-regional e local;
b) As competências relativas à elaboração do programa nacional da política de
ordenamento do território;
c) Os prazos de elaboração do programa nacional da política de ordenamento do território;
d) A constituição e o funcionamento da comissão consultiva.
Artigo 35.º
Comissão consultiva do programa nacional da política de ordenamento do território
A elaboração do programa nacional da política de ordenamento do território é
acompanhada por uma comissão consultiva, criada pela resolução do Conselho de
Ministros referida no artigo anterior e composta por representantes das regiões
autónomas, das autarquias locais e dos interesses ambientais, económicos, sociais e
culturais relevantes.

Artigo 36.º
Concertação

1 - O acompanhamento da elaboração da proposta de programa nacional de política de


ordenamento do território inclui a concertação com as entidades que, no decurso dos
trabalhos da comissão consultiva, formulem objeções às orientações do futuro programa.
2 - Elaborada a proposta de programa e emitidos os pareceres da comissão consultiva e
da Comissão Nacional do Território, o Governo promove, nos 20 dias subsequentes à
emissão destes pareceres, a realização de uma reunião de concertação com as entidades
que, no âmbito das referidas comissões, tenham formal e fundamentadamente discordado
das orientações da proposta de programa, tendo em vista obter uma solução concertada
que permita ultrapassar as objeções formuladas.
3 - Quando o consenso não for alcançado, o Governo apresenta a versão da proposta de
programa a submeter a discussão pública, optando pelas soluções que considere mais
adequadas e salvaguardando a respetiva legalidade.

Artigo 37.º
Participação

1 - Emitidos os pareceres da comissão consultiva e da Comissão Nacional do Território,


e quando for o caso, decorrido o período adicional de concertação, o Governo procede à
abertura de um período de discussão pública, através de aviso a publicar no Diário da
República e a divulgar através da comunicação social e do seu sítio na Internet, do
qual consta o período de discussão, a forma como os interessados podem apresentar as
suas observações ou sugestões, as eventuais sessões públicas a que haja lugar e os locais
onde se encontra disponível a proposta, o parecer da comissão consultiva, os demais
pareceres emitidos e os resultados da reunião de concertação.

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2 - A discussão pública consiste na recolha de observações e sugestões sobre as
orientações da proposta de programa nacional da política de ordenamento do território.
3 - O período de discussão pública deve ser anunciado com a antecedência mínima de 15
dias e não deve ser inferior a 30 dias.
4 - Findo o período de discussão pública, o Governo pondera e divulga os respetivos
resultados, designadamente através da comunicação social e da sua página na Internet, e
elabora a versão final da proposta a apresentar à Assembleia da República.

Cf. art.º 6.º do RJIGT

Artigo 38.º
Aprovação

1 - O programa nacional da política de ordenamento do território é aprovado pela


Assembleia de República, cabendo ao Governo o desenvolvimento e a concretização do
programa de ação.
2 - A lei que aprova o programa nacional da política de ordenamento do território deve:
a) Identificar as disposições dos programas de âmbito regional incompatíveis com o
modelo de ocupação espacial definido pelo programa nacional de política de ordenamento
do território;
b) Consagrar os prazos e as formas de atualização dos programas regionais preexistentes,
ouvidas previamente as comissões de coordenação e desenvolvimento regional.

SUBSECÇÃO II
Programas setoriais e programas especiais

Artigo 39.º
Programas setoriais

1 - Os programas setoriais são instrumentos programáticos ou de concretização das


diversas políticas com incidência na organização do território.
2 - Para efeitos do presente decreto-lei, são considerados programas setoriais:
a) Os programas e as estratégias de desenvolvimento, respeitantes aos diversos setores
da administração central, nomeadamente nos domínios da defesa, segurança pública,
prevenção e minimização de riscos, ambiente, recursos hídricos, conservação da
natureza e da biodiversidade, transportes, infraestruturas, comunicações, energia e
recursos geológicos, cultura, saúde, habitação, turismo, agricultura, florestas, comércio e
indústria;
b) Os regimes territoriais definidos ao abrigo de lei especial;
c) As decisões sobre a localização de grandes empreendimentos públicos com incidência
territorial.
Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. x), do regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de
setembro, última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), a “prevenção” consiste na “adoção de medidas
antes de uma substância, material ou produto assumir a natureza de resíduo, destinadas a reduzir”:
I) a quantidade de resíduos produzidos, designadamente através da reutilização de produtos ou do
prolongamento do tempo de vida dos produtos; II) os impactes adversos no ambiente e na saúde humana
resultantes dos resíduos produzidos; ou III) o teor de substâncias nocivas presentes nos materiais e nos
produtos”
Artigo 40.º
Conteúdo material dos programas setoriais

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Os programas setoriais estabelecem, nomeadamente:
a) As opções setoriais e os objetivos a alcançar no quadro das diretrizes nacionais
aplicáveis;
b) As ações de concretização dos objetivos setoriais estabelecidos;
c) A expressão territorial da política setorial definida;
d) A articulação da política setorial com a disciplina consagrada nos demais programas e
planos territoriais aplicáveis.

Artigo 41.º
Conteúdo documental dos programas setoriais

1 - Os programas setoriais estabelecem e justificam as opções e os objetivos setoriais


com incidência territorial e definem normas de execução, integrando as peças gráficas
necessárias à representação da respetiva expressão territorial.
2 - Sempre que incidam sobre a mesma área ou sobre áreas que, pela interdependência
estrutural ou funcional dos seus elementos, necessitem de uma coordenação integrada, os
programas setoriais identificam, ainda, o instrumento de ordenamento do espaço
marítimo, bem como as respetivas medidas de articulação e de coordenação.
3 - Os programas setoriais são acompanhados por um relatório do programa, que procede
ao diagnóstico da situação territorial sobre a qual intervém e à fundamentação técnica das
opções e dos objetivos estabelecidos.
4 - Sempre que seja exigida a avaliação ambiental nos termos do artigo 3.º do Decreto-
Lei n.º 232/2007, de 15 de junho, alterado pelo Decreto-Lei n.º 58/2011, de 4 de maio, o
programa setorial é acompanhado por um relatório ambiental, no qual são identificados,
descritos e avaliados, os eventuais efeitos significativos no ambiente, resultantes da
aplicação do programa, e as medidas de minimização, tendo em conta os objetivos, e o
âmbito de aplicação territorial.
5 - Os programas setoriais incluem indicadores qualitativos e quantitativos que suportam
a avaliação prevista no capítulo VIII.

Artigo 42.º
Programas especiais

1 - Os programas especiais são elaborados pela administração central e visam a


prossecução de objetivos considerados indispensáveis à tutela de interesses públicos e de
recursos de relevância nacional com repercussão territorial, estabelecendo,
exclusivamente, regimes de salvaguarda de recursos e valores naturais.
2 - Os programas especiais têm por objeto a orla costeira, as áreas protegidas, as
albufeiras de águas públicas e os estuários.
3 - Consideram-se, ainda, programas especiais, os planos de ordenamento dos parques
arqueológicos previstos na Lei n.º 107/2001, de 8 de setembro, e no Decreto-Lei n.º
131/2002, de 11 de maio.

Artigo 43.º
Objetivos dos programas especiais

Para os efeitos previstos no presente decreto-lei, os programas especiais visam,


exclusivamente:
a) A salvaguarda de objetivos de interesse nacional com incidência territorial delimitada;

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b) A garantia das condições de permanência dos sistemas indispensáveis à utilização
sustentável do território.

Artigo 44.º
Conteúdo material dos programas especiais

1 - Os programas especiais estabelecem regimes de salvaguarda de recursos e valores


naturais e o regime de gestão compatível com a utilização sustentável do território, através
do estabelecimento de ações permitidas, condicionadas ou interditas, em função dos
respetivos objetivos.
2 - As normas que estabelecem ações permitidas, condicionadas ou interditas, relativas à
ocupação, uso e transformação do solo, devem ser integradas nos planos territoriais, nos
termos do n.º 5 do artigo 3.º
3 - As normas de gestão das respetivas áreas abrangidas, nomeadamente, as relativas à
circulação de pessoas, veículos ou animais, à prática de atividades desportivas ou a
quaisquer comportamentos suscetíveis de afetar ou comprometer os recursos ou valores
naturais a salvaguardar podem ser desenvolvidas em regulamento próprio, nas situações
e nos termos que o programa admitir.
4 - O regulamento a que se refere o número anterior está sujeito a discussão pública e
deve ser aprovado pela entidade responsável pela elaboração do programa, no prazo de
30 dias a contar da data da publicação deste, sendo publicitado no seu sítio na Internet e
no dos municípios abrangidos.
5 - Sempre que incidam sobre a mesma área ou sobre áreas que, pela interdependência
estrutural ou funcional dos seus elementos, necessitem de uma coordenação integrada, os
programas especiais identificam, ainda, o instrumento de ordenamento do espaço
marítimo, bem como as respetivas medidas de articulação e de coordenação de usos e
atividades.
6 - As normas dos programas especiais que procedam à classificação ou à qualificação
do uso do solo são nulas.

Artigo 45.º
Conteúdo documental dos programas especiais

1 - Os programas especiais estabelecem as diretivas para a proteção e valorização de


recursos e valores naturais e definem normas de execução, integrando as peças gráficas
necessárias à representação da respetiva expressão territorial.
2 - Os programas especiais são acompanhados por:
a) Relatório do programa, que procede ao diagnóstico da situação territorial sobre a qual
intervém e à fundamentação técnica das opções e objetivos estabelecidos;
b) Relatório ambiental no qual se identificam, descrevem e avaliam os eventuais efeitos
significativos no ambiente resultantes da aplicação do programa e as alternativas
razoáveis, tendo em conta os objetivos e o âmbito de aplicação territorial respetivos, salvo
o disposto na alínea g) do n.º 1 do artigo seguinte;
c) Programa de execução e plano de financiamento;
d) Indicadores qualitativos e quantitativos que suportem a avaliação prevista no capítulo
VIII.

Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. qq), do regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de
setembro, última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), “valorização” é qualquer operação,
nomeadamente as constantes no anexo ii do presente decreto-lei, cujo resultado principal seja a
transformação dos resíduos de modo a servirem um fim útil, substituindo outros materiais que, caso

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contrário, teriam sido utilizados para um fim específico ou a preparação dos resíduos para esse fim na
instalação ou conjunto da economia”.

Artigo 46.º
Elaboração

1 - A elaboração dos programas setoriais e especiais é determinada por despacho do


membro do Governo competente em razão da matéria, em articulação com o membro do
Governo responsável pela área do ordenamento do território, do qual deve constar,
nomeadamente:
a) A finalidade do programa, com menção expressa dos interesses públicos prosseguidos;
b) A especificação dos objetivos a atingir;
c) A indicação da entidade, do departamento ou do serviço competente para a elaboração;
d) O âmbito territorial do programa, com menção expressa dos municípios cujos
territórios são abrangidos;
e) O prazo de elaboração;
f) As exigências procedimentais ou de participação que, em função da complexidade da
matéria ou dos interesses a salvaguardar, se considerem ser de adotar, para além do
procedimento definido no presente decreto-lei;
g) A sujeição do programa a avaliação ambiental ou as razões que justificam a
inexigibilidade desta;
h) A constituição e o funcionamento da comissão consultiva, no caso dos programas
especiais.
2 - A elaboração dos programas setoriais e dos programas especiais obriga a identificar e
a ponderar, os planos, os programas e os projetos da iniciativa da Administração Pública,
com incidência na área a que respeitam, bem como os instrumentos de ordenamento do
espaço marítimo, considerando os que já existem e os que se encontrem em preparação,
por forma a assegurar as necessárias compatibilizações.
3 - O prazo de elaboração dos programas setoriais e especiais pode ser prorrogado por
uma única vez, por um período máximo igual ao previamente estabelecido.
4 - O não cumprimento dos prazos estabelecidos determina a caducidade do procedimento
de elaboração, devendo ser desencadeado um novo procedimento.

Artigo 47.º
Avaliação ambiental

1 - A decisão a que se refere a alínea g) do n.º 1 do artigo anterior pode ser precedida da
consulta prevista no n.º 3 do artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 232/2007, de 15 de junho,
alterado pelo Decreto-Lei n.º 58/2011, de 4 de maio.
2 - Sempre que a entidade responsável pela elaboração do programa solicite pareceres,
nos termos do número anterior, estes devem conter, também, a pronúncia sobre o âmbito
da avaliação ambiental e sobre o alcance da informação a incluir no relatório ambiental,
aplicando-se o disposto no artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 232/2007, de 15 de junho,
alterado pelo Decreto-Lei n.º 58/2011, de 4 de maio.
3 - Os pareceres solicitados nos termos do presente artigo são emitidos no prazo de 20
dias, sob pena de não serem considerados.

Artigo 48.º
Acompanhamento do programa setorial

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1 - No decurso da elaboração do programa setorial, a entidade responsável pela respetiva
elaboração solicita parecer à comissão de coordenação e desenvolvimento regional
territorialmente competente, às entidades ou aos serviços da administração central
representativas dos interesses a ponderar, bem como às entidades intermunicipais, às
associações de municípios e aos municípios abrangidos, os quais devem pronunciar-se no
prazo de 20 dias, findo o qual se considera nada terem a opor à proposta de programa.
2 - Na elaboração dos programas sujeitos a avaliação ambiental, caso não tenha sido
promovida a consulta referida no n.º 1 do artigo anterior, deve ser solicitado parecer sobre
o âmbito da avaliação ambiental e sobre o alcance da informação a incluir no relatório
ambiental, bem como pareceres sobre a proposta de programa e sobre o respetivo relatório
ambiental, nos termos do n.º 3 do artigo 7.º do Decreto-Lei n.º 232/2007, de 15 de junho,
alterado pelo Decreto-Lei n.º 58/2011, de 4 de maio, os quais devem ser emitidos no prazo
de 20 dias, sob pena de não serem considerados.
3 - Quando a entidade competente para a elaboração do programa o determine, os
pareceres previstos nos números anteriores são emitidos em conferência procedimental,
aplicando-se com as necessárias adaptações o disposto no Artigo 84.º
4 - A entidade responsável pela elaboração do programa pondera os pareceres referidos
nos n.º s 1 e 2, ficando obrigada a um especial dever de fundamentação, sempre que seja
invocada a desconformidade com disposições legais e regulamentares ou a
desconformidade com programas ou planos territoriais.
5 - O acompanhamento dos programas setoriais é assegurado mediante o recurso à
plataforma colaborativa de gestão territorial.

Nota 1: Os interesses identificados são ponderados segundo o princípio da “justa ponderação”. A


ponderação consiste numa “operação de pesagem em que se coloca num dos pratos da balança os interesses
'a favor' (públicos e/ou privados) e no outro prato da balança os interesses 'contra' (públicos e/ou privados)”
(SOUSA, António Francisco de, A estrutura jurídica.. cit., pág. 31).

Artigo 49.º
Acompanhamento e concertação dos programas especiais

1 - A elaboração técnica dos programas especiais é acompanhada por uma comissão


consultiva, cuja composição deve traduzir a natureza dos interesses ambientais,
económicos e sociais a salvaguardar, integrando representantes de serviços e entidades
da administração direta ou indireta do Estado, das regiões autónomas, das entidades
intermunicipais, das associações de municípios e dos municípios abrangidos e de outras
entidades públicas cuja participação seja aconselhável no âmbito do acompanhamento da
elaboração do programa.
2 - A constituição da comissão consultiva deve integrar representantes do ordenamento e
gestão do espaço marítimo, bem como da administração portuária respetiva, sempre que
o programa incida sobre áreas que, pela sua interdependência estrutural ou funcional dos
seus elementos, necessitem de uma coordenação integrada mar-terra.
3 - Na elaboração dos programas especiais sujeitos a avaliação ambiental, caso não tenha
sido promovida a consulta prevista no n.º 1 do Artigo 47.º, deve ser solicitado parecer
sobre o âmbito da avaliação ambiental e sobre o alcance da informação a incluir no
relatório ambiental, bem como pareceres sobre a proposta de programa e respetivo
relatório ambiental, nos termos do n.º 3 do artigo 7.º do Decreto-Lei n.º 232/2007, de 15
de junho, alterado pelo Decreto-Lei n.º 58/2011, de 4 de maio, os quais devem ser
emitidos no prazo de 20 dias, sob pena de não serem considerados.

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4 - A comissão consultiva fica obrigada a um acompanhamento continuado, devendo, no
final dos trabalhos de elaboração, formalizar um único parecer escrito, assinado pelos
representantes das entidades envolvidas, com menção expressa da orientação defendida.
5 - O parecer final da comissão integra a apreciação da proposta de programa e do
relatório ambiental.
6 - No âmbito do parecer final, a posição da comissão de coordenação e desenvolvimento
regional inclui obrigatoriamente a apreciação da articulação e da coerência da proposta
com os objetivos, os princípios e as regras aplicáveis ao território em causa, definidos por
quaisquer outros programas e planos territoriais eficazes.
7 - À comissão consultiva dos programas especiais é aplicável o disposto no Artigo 84.º,
com as devidas adaptações.
8 - A entidade responsável pela elaboração do programa especial pondera o parecer da
comissão consultiva, ficando obrigada a um especial dever de fundamentação, sempre
que seja invocada a desconformidade com disposições legais e regulamentares, com
programas ou planos territoriais ou com instrumentos de ordenamento do espaço
marítimo.
9 - Elaborada a proposta de programa e emitido o parecer da comissão consultiva, a
entidade responsável pelo plano promove, nos 15 dias subsequentes à emissão daquele
parecer, a realização de uma reunião de concertação com as entidades que, no âmbito
daquela comissão, tenham formal e fundamentadamente discordado das orientações da
proposta de programa, tendo em vista obter uma solução concertada que permita
ultrapassar as objeções formuladas.
10 - Quando o consenso não for alcançado, a comissão de coordenação e desenvolvimento
regional submete a proposta a parecer da Comissão Nacional do Território, o qual tem
caráter vinculativo para a entidade responsável pela elaboração do programa.
11 - O parecer previsto no número anterior pronuncia-se sobre os fundamentos dos
pareceres desfavoráveis e deve ser proferido no prazo de 30 dias a contar da data da
receção do pedido, sob pena de se considerar favorável à proposta de programa.
12 - O acompanhamento dos programas especiais é assegurado mediante o recurso à
plataforma colaborativa de gestão territorial.

Artigo 50.º
Participação

1 - Concluída a elaboração do programa setorial ou especial e emitidos os pareceres


previstos no artigo anterior ou decorridos os prazos fixados, a entidade pública
responsável pela respetiva elaboração procede à abertura de um período de discussão
pública da proposta de programa, através de aviso a publicar, com a antecedência de 5
dias, no Diário da República e a divulgar através da comunicação social e no respetivo
sítio na Internet.
2 - Durante o período de discussão pública, que não pode ser inferior a 20 dias, a proposta
de programa, os pareceres emitidos ou a ata da conferência procedimental são divulgados
no sítio na Internet da entidade pública responsável pela sua elaboração e podem ser
consultados na respetiva sede, bem como na sede dos municípios abrangidos.
3 - Sempre que o programa se encontre sujeito a avaliação ambiental, a entidade
competente divulga o respetivo relatório ambiental, juntamente com os documentos
referidos no número anterior.
4 - A discussão pública consiste na recolha de observações e de sugestões, sobre as
soluções da proposta de programa.

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5 - Findo o período de discussão pública, a entidade pública responsável pela elaboração
do programa pondera e divulga os respetivos resultados, através da comunicação social e
no respetivo sítio na Internet, e elabora a versão final da proposta de programa para
aprovação.

Artigo 51.º
Aprovação

1 - Os programas setoriais e os programas especiais são aprovados por resolução do


Conselho de Ministros, salvo norma especial que determine a sua aprovação por decreto-
lei ou decreto regulamentar.
2 - O diploma que aprova o programa deve:
a) Identificar as disposições dos programas e dos planos territoriais preexistentes
incompatíveis, discriminando aqueles cuja alteração visa salvaguardar situações de risco
ou de especial fragilidade ambiental, para os efeitos previstos no número seguinte;
b) Consagrar as formas e os prazos de atualização dos programas ou dos planos
preexistentes, ouvidas as comissões de coordenação e desenvolvimento regional e a
entidade intermunicipal, a associação de municípios ou os municípios abrangidos.
3 - Na área abrangida pelas normas do plano territorial atualizado destinadas a
salvaguardar situações de risco ou de especial fragilidade ambiental identificadas nos
termos da alínea a) do número anterior, não se aplica o disposto no n.º 6 do artigo 48.º do
Regime Jurídico da Urbanização e da Edificação, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 555/99,
de 16 de dezembro, na sua redação atual, havendo nesse caso lugar à aplicação, com as
devidas adaptações, dos n.os 4 e 5 do mesmo artigo, caso a incompatibilidade não resulte
de instrumento de gestão territorial anterior, tendo presentes as limitações de
aproveitamento decorrentes das características dos prédios em causa.

SECÇÃO III
Âmbito regional

Artigo 52.º
Noção

1 - Os programas regionais definem a estratégia regional de desenvolvimento territorial,


integrando as opções estabelecidas a nível nacional e considerando as estratégias sub-
regionais e municipais de desenvolvimento local, constituindo o quadro de referência para
a elaboração dos programas e dos planos intermunicipais e dos planos municipais.
2 - As competências relativas aos programas regionais são exercidas pelas comissões de
coordenação e desenvolvimento regional.
3 - As comissões de coordenação e desenvolvimento regional podem propor ao Governo
que o programa regional seja estruturado em unidades de planeamento correspondentes a
espaços sub-regionais, designadamente os correspondentes às áreas geográficas das
entidades intermunicipais, integrados na respetiva área de atuação e suscetíveis de
elaboração e de aprovação faseadas.

Artigo 53.º
Objetivos

O programa regional visa:

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a) Desenvolver, no âmbito regional, as opções constantes do programa nacional da
política de ordenamento do território, dos programas setoriais e dos programas especiais;
b) Traduzir, em termos espaciais, os grandes objetivos de desenvolvimento económico e
social sustentável à escala regional;
c) Equacionar as medidas tendentes à atenuação das assimetrias de desenvolvimento
intrarregionais;
d) Servir de base à formulação da estratégia nacional de ordenamento territorial e de
quadro de referência para a elaboração dos programas e dos planos intermunicipais e dos
planos municipais;
e) Estabelecer, a nível regional, as grandes opções de investimento público, com impacte
territorial significativo, as suas prioridades e a respetiva programação, em articulação
com as estratégias definidas para a aplicação dos fundos comunitários e nacionais.

Artigo 54.º
Conteúdo material

Os programas regionais definem um modelo de organização do território regional,


estabelecendo, nomeadamente:
a) A estrutura regional do sistema urbano, das infraestruturas e dos equipamentos de
utilização coletiva de interesse regional, assegurando a salvaguarda e a valorização das
áreas de interesse regional em termos económicos, agrícolas, florestais, de conservação
da natureza, ambientais, paisagísticos e patrimoniais;
b) Os objetivos e os princípios assumidos a nível regional quanto à localização das
atividades e dos grandes investimentos públicos, suas prioridades e programação;
c) A incidência espacial, ao nível regional, das políticas estabelecidas no programa
nacional da política de ordenamento do território e nos planos, programas e estratégias
setoriais preexistentes, bem como das políticas de relevância regional a desenvolver pelos
planos territoriais intermunicipais e municipais abrangidos;
d) A política ambiental a nível regional, incluindo a estrutura ecológica regional de
proteção e valorização ambiental, bem como a receção, ao nível regional, das políticas e
das medidas estabelecidas nos programas e setoriais e especiais.

Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. qq), do regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de
setembro, última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), “valorização” é qualquer operação,
nomeadamente as constantes no anexo ii do presente decreto-lei, cujo resultado principal seja a
transformação dos resíduos de modo a servirem um fim útil, substituindo outros materiais que, caso
contrário, teriam sido utilizados para um fim específico ou a preparação dos resíduos para esse fim na
instalação ou conjunto da economia”.

Artigo 55.º
Conteúdo documental

1 - Os programas regionais são constituídos por:


a) Opções estratégicas, normas orientadoras e um conjunto de peças gráficas ilustrativas
das orientações substantivas neles definidas;
b) Esquema, representando o modelo territorial proposto, com a identificação dos
principais sistemas, redes e articulações de nível regional.
2 - Os programas regionais são acompanhados por um relatório do programa, que contém:
a) A avaliação das dinâmicas territoriais, incluindo a evolução do uso, transformação e
ocupação do solo, as dinâmicas demográficas, a estrutura de povoamento e as perspetivas
de desenvolvimento económico, social e cultural da região;

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b) A definição de unidades de paisagem;
c) Os estudos relativos à caracterização da estrutura regional de proteção e valorização
ambiental e patrimonial;
d) A identificação dos espaços agrícolas, florestais e pecuários com relevância para a
estratégia regional de desenvolvimento rural;
e) A representação das redes de transporte e mobilidade e dos equipamentos;
f) O programa de execução, que inclui disposições indicativas sobre a realização das obras
públicas a efetuar na região, a curto prazo ou a médio prazo, indicando as entidades
responsáveis pela respetiva concretização;
g) A identificação das fontes e da estimativa de meios financeiros, designadamente dos
programas operacionais regionais e setoriais.
3 - Os programas regionais são, ainda, acompanhados por um relatório ambiental, no qual
se identificam, descrevem e avaliam os eventuais efeitos significativos no ambiente
resultantes da aplicação do programa e as alternativas razoáveis, tendo em conta os
objetivos e o âmbito de aplicação territorial respetivos.
4 - Os programas regionais incluem indicadores qualitativos e quantitativos que suportem
a avaliação prevista no capítulo VIII.

Artigo 56.º
Elaboração

A elaboração dos programas regionais compete às comissões de coordenação e


desenvolvimento regional, sob coordenação do membro do Governo responsável pela
área do ordenamento do território, sendo determinada por resolução do Conselho de
Ministros, da qual deve constar, nomeadamente:
a) A finalidade do programa, com menção expressa dos interesses públicos prosseguidos;
b) A especificação dos objetivos a atingir;
c) O âmbito territorial do programa, com menção expressa dos municípios abrangidos;
d) O prazo de elaboração;
e) As exigências procedimentais ou de participação que, em função da complexidade da
matéria ou dos interesses a salvaguardar, se considere serem de adotar para além do
procedimento definido no presente decreto-lei;
f) A sujeição do programa a avaliação ambiental ou as razões que justificam a
inexigibilidade desta;
g) A composição e o funcionamento da comissão consultiva.

Artigo 57.º
Acompanhamento

1 - A elaboração dos programas regionais é acompanhada por uma comissão consultiva,


integrada por representantes das entidades e serviços da administração direta e indireta
do Estado que assegurem a prossecução dos interesses públicos relevantes,
designadamente, em matéria de ordenamento do território, do ordenamento do espaço
marítimo, do ambiente, conservação da natureza, energia, habitação, economia,
agricultura, florestas, obras públicas, transportes, infraestruturas, comunicações,
educação, saúde, segurança, defesa nacional, proteção civil, desporto, cultura, dos
municípios abrangidos, bem como de representantes dos interesses ambientais,
económicos, sociais e culturais.
2 - Na elaboração dos programas regionais deve ser garantida a integração, na comissão
consultiva, das entidades às quais, em virtude das suas responsabilidades ambientais

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específicas, possam interessar os efeitos ambientais resultantes da aplicação do programa,
e que exercem na comissão as competências consultivas atribuídas pelos artigos 5.º e 7.º
do Decreto-Lei n.º 232/2007, de 15 de junho, alterado pelo Decreto-Lei n.º 58/2011, de 4
de maio, e acompanham a elaboração do relatório ambiental.
3 - A comissão fica obrigada a um acompanhamento continuado dos trabalhos de
elaboração da proposta de programa, devendo, no final, apresentar um único parecer
escrito, com menção expressa das orientações defendidas, que se pronuncie sobre o
cumprimento das normas legais e regulamentares aplicáveis e, ainda, sobre a adequação
e conveniência das soluções propostas.
4 - À comissão consultiva dos programas regionais é aplicável o disposto no artigo 84.º
com as devidas adaptações.
5 - O parecer final da comissão acompanha a proposta de programa, para efeitos de
aprovação pelo Governo.
6 - O acompanhamento dos programas regionais é assegurado mediante o recurso à
plataforma colaborativa de gestão territorial.

Artigo 58.º
Concertação

1 - Elaborada a proposta de programa e emitido o parecer da comissão consultiva, a


comissão de coordenação e desenvolvimento regional promove, nos 15 dias subsequentes
à emissão daquele parecer, a realização de uma reunião de concertação com as entidades
que, no âmbito da comissão consultiva, tenham formal e fundamentadamente discordado
das orientações da proposta de programa, tendo em vista obter uma solução concertada
que permita ultrapassar as objeções formuladas.
2 - A comissão de coordenação e desenvolvimento regional pondera os pareceres
referidos no número anterior, ficando obrigada a resposta fundamentada sempre que seja
invocada a desconformidade com disposições legais e regulamentares e a
desconformidade com programas e planos territoriais.
3 - Quando o consenso não for alcançado, a comissão de coordenação e desenvolvimento
regional submete a proposta a parecer da Comissão Nacional do Território, o qual tem
caráter vinculativo.
4 - O parecer previsto no número anterior pronuncia-se sobre os fundamentos dos
pareceres desfavoráveis e deve ser proferido no prazo de 30 dias a contar da data da
receção do pedido, sob pena de se considerar favorável à proposta de programa.

Artigo 59.º
Participação

1 - A discussão pública dos programas regionais rege-se, com as necessárias adaptações,


pelas disposições relativas ao programa nacional da política de ordenamento do território.
2 - Juntamente com a proposta de programa regional é divulgado o respetivo relatório
ambiental.

Artigo 60.º
Aprovação

1 - Os programas regionais são aprovados por resolução do Conselho de Ministros.


2 - A resolução do Conselho de Ministros referida no número anterior deve:

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a) Identificar as disposições dos programas de âmbito nacional, bem como dos programas
e planos intermunicipais e dos planos municipais preexistentes incompatíveis com a
estrutura regional, do sistema urbano, das redes, das infraestruturas e dos equipamentos
de interesse regional e com a delimitação da estrutura regional de proteção e valorização
ambiental;
b) Consagrar as formas e os prazos para a alteração dos programas e planos preexistentes,
ouvidas previamente as entidades da Administração Pública responsáveis pela elaboração
do programa e as entidades intermunicipais, as associações de municípios ou os
municípios envolvidos.

SECÇÃO IV
Âmbito intermunicipal e municipal

SUBSECÇÃO I
Programas intermunicipais

Artigo 61.º
Noção

1 - O programa intermunicipal é o instrumento que assegura a articulação entre o


programa regional e os planos intermunicipais e municipais, no caso de áreas territoriais
que, pela interdependência estrutural ou funcional ou pela existência de áreas
homogéneas de risco, necessitem de uma ação integrada de planeamento.
2 - O programa intermunicipal é de elaboração facultativa e pode abranger uma das
seguintes áreas:
a) A área geográfica que abrange a totalidade de uma entidade intermunicipal;
b) A área geográfica de dois ou mais municípios territorialmente contíguos integrados na
mesma entidade intermunicipal, salvo situações excecionais, autorizadas pelo membro do
Governo responsável pela área do ordenamento do território, após parecer das comissões
de coordenação e desenvolvimento regional.

Artigo 62.º
Objetivos

Os programas intermunicipais visam:


a) Articular a estratégia intermunicipal de desenvolvimento económico e social, de
conservação da natureza,de garantia da qualidade ambiental e da transição energética;
b) Coordenar a incidência intermunicipal dos projetos de redes, equipamentos,
infraestruturas e de distribuição das atividades industriais, turísticas, comerciais e de
serviços, constantes do programa nacional da política de ordenamento do território, dos
programas regionais e dos programas setoriais e especiais aplicáveis;
c) Estabelecer os objetivos, a médio e longo prazo, de racionalização do povoamento;
d) Definir os objetivos em matéria de acesso a equipamentos e a serviços públicos.

Artigo 63.º
Conteúdo material

1- Os programas intermunicipais definem um modelo de organização do território


abrangido, estabelecendo, nomeadamente:

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a) As grandes opções estratégicas de organização do território e de investimento público,
as suas prioridades e a respetiva programação, em articulação com as estratégias definidas
nos programas de âmbitos nacional e regional e a avaliação dos impactos das estratégias
de desenvolvimento adotadas e desenvolvidas, atentas as especificidades e os recursos
diferenciadores de cada território;
b) As diretrizes e as orientações para os planos territoriais de âmbito intermunicipal e
municipal;
c) As orientações para as redes de infraestruturas, de equipamentos, de transportes e
mobilidade e de serviços;
d) Os padrões mínimos e os objetivos a atingir em matéria de qualidade ambiental, de
conservação da natureza, de valorização paisagística e de transição energética.
2 - Para efeitos da alínea d) do número anterior, é admissível a inclusão de projetos e
iniciativas de produção, armazenamento, distribuição e consumo de energia de fonte
renovável, sob condição do cumprimento do quadro normativo e regulamentar aplicável
à respetiva implementação e entrada em exploração.

Artigo 64.º
Conteúdo documental

1 - Os programas intermunicipais são constituídos por um relatório do programa e por um


conjunto de peças gráficas indicativas das orientações definidas.
2 - Os programas intermunicipais podem ser acompanhados, em função dos respetivos
âmbito e objetivos, por:
a) Planta de enquadramento abrangendo a área de intervenção e a área envolvente dos
vários municípios integrados pelo programa;
b) Identificação dos valores culturais, naturais e paisagísticos, bem como dos espaços
agrícolas e florestais a proteger;
c) Representação das redes de transporte e mobilidade e dos equipamentos públicos de
interesse supramunicipal;
d) Programa de execução, contendo disposições indicativas sobre a realização das obras
públicas a efetuar, bem como dos objetivos e das ações de interesse intermunicipal,
indicando as entidades responsáveis pela respetiva concretização;
e) Identificação das fontes e da estimativa de meios financeiros, atendendo
designadamente aos programas operacionais regionais e setoriais.
3 - Sempre que seja necessário proceder à avaliação ambiental nos termos do artigo 2.º
do Decreto-Lei n.º 232/2007, de 15 de junho, alterado pelo Decreto-Lei n.º 58/2011, de 4
de maio, os programas intermunicipais são ainda acompanhados pelo relatório ambiental,
no qual se identificam, descrevem e avaliam os eventuais efeitos significativos no
ambiente resultantes da aplicação do programa e as alternativas razoáveis, tendo em conta
os objetivos e o âmbito de aplicação territorial respetivos.
4 - Os programas intermunicipais incluem indicadores qualitativos e quantitativos que
suportem a avaliação prevista no capítulo VIII.

Artigo 65.º
Elaboração

1 - A elaboração dos programas intermunicipais compete:


a) Nas situações previstas na alínea a) do n.º 2 do Artigo 61.º, à comissão executiva
metropolitana, nas áreas metropolitanas, e ao conselho intermunicipal, nas comunidades
intermunicipais;

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b) Nas situações previstas na alínea b) do n.º 2 do Artigo 61.º, às câmaras municipais dos
municípios associados para o efeito.
2 - A deliberação de elaboração do programa intermunicipal deve ser publicada no Diário
da República e divulgada através da comunicação social e dos respetivos sítios na
Internet, pelas entidades intermunicipais, associações de municípios e municípios
envolvidos.

Artigo 66.º
Avaliação ambiental

1 - A deliberação a que se refere o n.º 2 do artigo anterior deve indicar se o programa está
sujeito a avaliação ambiental, ou as razões que justificam a inexigibilidade desta,
podendo, para o efeito, ser precedida da consulta prevista no n.º 3 do artigo 3.º do Decreto-
Lei n.º 232/2007, de 15 de junho, alterado pelo Decreto-Lei n.º 58/2011, de 4 de maio.
2 - Sempre que as entidades intermunicipais, as associações de municípios ou os
municípios solicitem pareceres nos termos do número anterior, esses pareceres devem
conter, também, a pronúncia sobre o âmbito da avaliação ambiental e sobre o alcance da
informação a incluir no relatório ambiental, aplicando-se o artigo 5.º do Decreto-Lei n.º
232/2007, de 15 de junho, alterado pelo Decreto-Lei n.º 58/2011, de 4 de maio.
3 - Os pareceres solicitados ao abrigo do presente artigo são emitidos no prazo de 20 dias,
sob pena de não serem considerados.

Artigo 67.º
Acompanhamento, concertação e participação

1 - A elaboração dos programas intermunicipais é acompanhada por uma comissão


consultiva, aplicando-se ao acompanhamento, à concertação e à discussão pública destes
programas, as disposições relativas ao plano diretor municipal, com as necessárias
adaptações.
2 - No âmbito do parecer final da comissão consultiva, a comissão de coordenação e
desenvolvimento regional pronuncia-se obrigatoriamente sobre a conformidade com as
disposições legais e regulamentares vigentes, a articulação e a coerência da proposta com
os objetivos, os princípios e as regras aplicáveis no território em causa, definidos por
quaisquer outros programas e planos territoriais eficazes.
3 - O acompanhamento dos programas intermunicipais é assegurado mediante o recurso
à plataforma colaborativa de gestão territorial.

Nota 1: Sobre o plano diretor municipal, o plano de urbanização e o plano de pormenor, cf. o art.º 43.º da
Lei de bases gerais da política pública de solos, de ordenamento do território e de urbanismo - Lei n.º
31/2014, de 30 de maio .com as alterações introduzidas pela Lei n. 0 74/2017, de 16/08).

Nota 2: Sobre o plano de urbanização, cf. o art.º 43.º da Lei de bases gerais da política pública de solos,
de ordenamento do território e de urbanismo - Lei n.º 31/2014, de 30 de maio .com as alterações
introduzidas pela Lei n.º 74/2017, de 16/08).

Nota 3: Sobre o plano de pormenor, cf. o art.º 43.º da Lei de bases gerais da política pública de solos, de
ordenamento do território e de urbanismo - Lei n.º 31/2014, de 30 de maio .com as alterações introduzidas
pela Lei n.º 74/2017, de 16/08).

Artigo 68.º
Aprovação

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1 - Os programas intermunicipais são aprovados:
a) Nas situações previstas na alínea a) do n.º 2 do artigo 61.º, por deliberação do conselho
metropolitano, nas áreas metropolitanas, e da assembleia intermunicipal, nas
comunidades intermunicipais;
b) Nas situações previstas na alínea b) do n.º 2 do artigo 61.º, por deliberação das
assembleias municipais interessadas, mediante proposta apresentada pelas respetivas
câmaras municipais.
2 - A deliberação referida no número anterior deve:
a) Identificar as disposições dos planos intermunicipais ou municipais preexistentes,
incompatíveis com o modelo de organização do território intermunicipal preconizado;
b) Conter as formas e os prazos de atualização dos planos intermunicipais ou municipais
preexistentes, previamente acordados com as respetivas entidades intermunicipais, as
associações de municípios ou os municípios envolvidos.

SUBSECÇÃO II
Planos intermunicipais e municipais

DIVISÃO I
Disposições gerais

Artigo 69.º
Noção

Os planos intermunicipais e municipais são instrumentos de natureza regulamentar e


estabelecem o regime de uso do solo, definindo modelos de ocupação territorial e da
organização de redes e sistemas urbanos e, na escala adequada, parâmetros de
aproveitamento do solo, bem como de garantia da sustentabilidade socioeconómica e
financeira e da qualidade ambiental.

Artigo 70.º
Regime de uso do solo

O regime de uso do solo estabelece as regras de ocupação, transformação e utilização do


solo e é definido nos planos intermunicipais ou municipais, através da classificação e da
qualificação do solo.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define o “índice de utilização do solo” (Iu) como “o quociente entre a área total de construção (∑Ac) e a
área de solo (As) a que o índice diz respeito”.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define o “índice de ocupação do solo” (Iu) como “o quociente entre a área total de implantação (∑Ai) e a
área de solo (As) a que o índice diz respeito, expresso em percentagem”.

Artigo 71.º
Classificação do solo

1 - A classificação do solo determina o destino básico dos terrenos, assentando na


distinção fundamental entre solo urbano e solo rústico.
2 - Os planos intermunicipais ou municipais classificam o solo como urbano ou rústico,
considerando como:
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a) Solo urbano, o que está total ou parcialmente urbanizado ou edificado e, como tal, afeto
em plano territorial à urbanização ou edificação;
b) Solo rústico, aquele que, pela sua reconhecida aptidão, se destine, nomeadamente, ao
aproveitamento agrícola, pecuário, florestal, à conservação, à valorização e à exploração
de recursos naturais, de recursos geológicos ou de recursos energéticos, assim como o
que se destina a espaços naturais, culturais, de turismo, recreio e lazer ou à proteção de
riscos, ainda que seja ocupado por infraestruturas, e aquele que não seja classificado como
urbano.

Artigo 72.º
Reclassificação para solo urbano

1 - A reclassificação do solo rústico para solo urbano tem caráter excecional, sendo
limitada aos casos de inexistência de áreas urbanas disponíveis e comprovadamente
necessárias ao desenvolvimento económico e social e à indispensabilidade de
qualificação urbanística, traduzindo uma opção de planeamento sustentável em termos
ambientais, patrimoniais, económicos e sociais.
2 - Nos termos do disposto no número anterior, a reclassificação do solo como urbano
deve contribuir, de forma inequívoca, para o desenvolvimento sustentável do território,
obrigando à fixação, por via contratual, dos encargos urbanísticos das operações, do
respetivo prazo de execução e das condições de redistribuição de benefícios e encargos,
considerando todos os custos urbanísticos envolvidos.
3 - A demonstração da sustentabilidade económica e financeira da transformação do solo
deve integrar os seguintes elementos:
a) Demonstração da indisponibilidade de solo urbano, na área urbana existente, para a
finalidade em concreto, através, designadamente, dos níveis de oferta e procura de solo
urbano, com diferenciação tipológica quanto ao uso, e dos fluxos demográficos;
b) Demonstração do impacto da carga urbanística proposta, no sistema de infraestruturas
existente, e a previsão dos encargos necessários ao seu reforço, à execução de novas
infraestruturas e à respetiva manutenção;
c) Demonstração da viabilidade económico-financeira da proposta, incluindo a
identificação dos sujeitos responsáveis pelo financiamento, a demonstração das fontes de
financiamento contratualizadas e de investimento público.
4 - A reclassificação do solo processa-se através dos procedimentos de elaboração, de
revisão ou de alteração de planos de pormenor com efeitos registais, acompanhado do
contrato previsto no n.º 2, e nos termos previstos no decreto regulamentar que estabelece
os critérios uniformes de classificação e reclassificação do solo, ou através dos
procedimentos de reclassificação dos solos, previstos nos artigos seguintes.
5 - O plano deve delimitar a área objeto de reclassificação e definir o prazo para execução
das obras de urbanização e das obras de edificação, o qual deve constar expressamente da
certidão do plano a emitir para efeitos de inscrição no registo predial.
6 - A reclassificação do solo que se destine exclusivamente à execução de infraestruturas
e de equipamentos de utilização coletiva obedece aos critérios previstos nos n.º s 1 e 3 e
processa-se através de procedimentos de elaboração, de revisão,de alteração de planos
territoriais, ou através do procedimento de reclassificação dos solos previstos nos artigos
72.º-A e 72.º-B, nos quais é fixado o respetivo prazo de execução.
7 - A reclassificação do solo que se destine à instalação de atividades de natureza
industrial, de armazenagem ou logística e aos respetivos serviços de apoio, pode ser
realizada através da elaboração, revisão ou alteração de plano territorial, de acordo com

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os critérios estabelecidos nos n.ºs 1 a 3, sendo o respetivo prazo de execução definido no
plano territorial objeto de elaboração, alteração ou revisão.
8 - A reclassificação do solo a que se refere o número anterior fica sujeita à delimitação
de uma unidade de execução e à garantia da provisão de infraestruturas e de serviços
associados, mediante contratualização dos encargos urbanísticos e inscrição no programa
de execução, nos planos de atividades e nos orçamentos municipais.
9 - A alteração por adaptação, do plano diretor municipal ou do plano diretor
intermunicipal, só deve ser realizada findo o prazo previsto no n.º 5 e desde que
executadas as operações urbanísticas previstas no plano, seguindo o procedimento
referido no artigo 121.º
10 - Findo o prazo previsto para a execução do plano, a não realização das operações
urbanísticas previstas determina, automaticamente, a caducidade total ou parcial da
classificação do solo como urbano, sem prejuízo das faculdades urbanísticas adquiridas
mediante título urbanístico, nos termos da lei.
11 - Nas situações previstas no número anterior a câmara municipal deve, no prazo de 60
dias, iniciar procedimento de alteração ou de revisão do plano, de forma a garantir a
coerência do modelo territorial.

Artigo 72.º-A
Procedimento simplificado de reclassificação dos solos
1 - Os municípios podem determinar a reclassificação do solo rústico para urbano, com a
categoria de espaço de atividades económicas, através do procedimento previsto no
presente artigo, quando, cumulativamente:
a) O solo se destine à instalação de atividades industriais, de armazenagem ou logística e
serviços de apoio, ou a portos secos;
b) O espaço não se localize em áreas sensíveis, na Reserva Ecológica Nacional ou na
Reserva Agrícola Nacional.
2 - A proposta de reclassificação é elaborada pela câmara municipal, que promove, em
simultâneo:
a) Uma única consulta pública, com duração mínima de 10 dias;
b) Uma conferência procedimental em que todos os órgãos, serviços e pessoas coletivas
públicas relevantes em função da matéria expressam a sua posição, que fica registada em
ata, aplicando-se, com as devidas adaptações, o disposto no artigo 84.º
3 - A conferência procedimental é convocada simultaneamente com o envio para
publicação do projeto de deliberação e ocorre obrigatoriamente durante o prazo da
consulta pública.
4 - Após a realização da conferência procedimental e decorrido o prazo para consulta
pública, a câmara municipal procede às alterações que entender necessárias e submete a
proposta a aprovação da assembleia municipal, podendo ser convocada uma reunião
extraordinária para o efeito.
5 - A deliberação da assembleia municipal que aprovar a reclassificação dos solos é
publicada na 2.ª série do Diário da República, sendo aplicável o n.º 7 do artigo 191.º
6 - A consulta pública a que se refere a alínea a) do n.º 2 dispensa qualquer outra consulta
pública prevista em legislação especial.
7 - A não realização das operações urbanísticas previstas na deliberação de reclassificação
no prazo de cinco anos a contar da publicação a que se refere o n.º 5 determina,
automaticamente, a caducidade total ou parcial da classificação do solo como urbano.
8 - O prazo referido no número anterior pode ser prorrogado por igual período, por uma
única vez, mediante deliberação da assembleia municipal, sendo obrigatoriamente
prorrogado se as operações urbanísticas possuírem o título necessário à sua realização.

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9 - O procedimento previsto no presente artigo aplica-se, com as devidas adaptações, à
reclassificação de solo rústico para solo urbano destinado a habitação a custos controlados
ou uso habitacional, desde que previsto em:
a) Estratégia local de habitação;
b) Carta municipal de habitação; ou
c) Bolsa de habitação.

Artigo 72.º-B
Reclassificação do solo rústico para solo urbano com uso habitacional
1 - A reclassificação do solo rústico para solo urbano, sempre que a finalidade prevista
seja habitacional, a propriedade do solo seja exclusivamente pública e o solo esteja
situado na contiguidade de solo urbano, é efetuada através do procedimento de alteração
simplificada consagrado no artigo 123.º, dispensando-se os elementos previstos no n.º 3
do artigo 72.º, desde que a respetiva fundamentação conste:
a) De Estratégia Local de Habitação, nos termos do artigo 30.º do Decreto-Lei n.º
37/2018, de 4 de junho, na sua redação atual; ou
b) De uma carta municipal de habitação ou bolsa de habitação ou habitação a custos
controlados, nos termos da Lei n.º 83/2019, de 3 de setembro.
2 - À alteração simplificada prevista no número anterior não é aplicável o disposto no n.º
6 do artigo 123.º, sem prejuízo da conformidade com as disposições legais e
regulamentares vigentes e da compatibilidade ou conformidade com os programas e os
planos territoriais eficazes.

Artigo 73.º
Reclassificação para solo rústico

A reclassificação do solo urbano como rústico pode ser feita a todo o tempo.

Artigo 74.º
Qualificação do solo

1 - A qualificação do solo define, com respeito pela sua classificação, o conteúdo do seu
aproveitamento, por referência às potencialidades de desenvolvimento do território,
fixando os respetivos usos dominantes e, quando admissível, a edificabilidade.
2 - A qualificação do solo urbano processa-se através da integração em categorias que
conferem a suscetibilidade de urbanização ou de edificação.
3 - A qualificação do solo rústico processa-se através da integração em categorias,
designadamente as seguintes:
a) Espaços agrícolas ou florestais;
b) Espaços de exploração de recursos energéticos e geológicos;
c) Espaços afetos a atividades industriais diretamente ligadas às utilizações referidas nas
alíneas anteriores;
d) Espaços naturais e de valor cultural e paisagístico;
e) Espaços destinados a infraestruturas ou a outros tipos de ocupação humana, como o
turismo, que não impliquem a classificação como solo urbano, designadamente
permitindo usos múltiplos em atividades compatíveis com espaços agrícolas, florestais
ou naturais.
4 - A definição dos usos dominantes referida no n.º 1, bem como das categorias relativas
ao solo urbano e rústico, obedece a critérios uniformes, aplicáveis a todo o território
nacional, a estabelecer por decreto regulamentar.

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DIVISÃO II
Planos municipais

SUBDIVISÃO I
Disposições gerais

Artigo 75.º
Objetivos

Os planos municipais visam estabelecer:


a) A tradução, no âmbito local, do quadro de desenvolvimento do território estabelecido
nos programas nacional e regional;
b) A expressão territorial da estratégia de desenvolvimento local;
c) A articulação das políticas setoriais com incidência local;
d) A base de uma gestão programada do território municipal;
e) A definição da estrutura ecológica para efeitos de proteção e de valorização ambiental
municipal;
f) Os princípios e as regras de garantia da qualidade ambiental, da integridade paisagística
,da preservação do património cultural e de transição energética;
g) Os princípios e os critérios subjacentes a opções de localização de infraestruturas, de
equipamentos, de serviços e de funções;
h) Os critérios de localização e a distribuição das atividades industriais, de armazenagem
e logística, turísticas, comerciais e de serviços, que decorrem da estratégia de
desenvolvimento local;
i) Os parâmetros de uso do solo;
j) Os parâmetros de uso e fruição do espaço público;
k) Outros indicadores relevantes para a elaboração dos demais programas e planos
territoriais.

Artigo 76.º
Elaboração

1 - A elaboração de planos municipais é determinada por deliberação da câmara


municipal, a qual estabelece os prazos de elaboração e o período de participação, sendo
publicada no Diário da República e divulgada através da comunicação social, da
plataforma colaborativa de gestão territorial e no sítio na Internet da câmara municipal.
2 - A deliberação que determina a elaboração do plano diretor municipal deve assentar na
estratégia de desenvolvimento local, a qual define as orientações estratégicas da
implementação e da gestão estruturada dos processos de desenvolvimento e de
competitividade do município.
3 - Compete à câmara municipal a definição da oportunidade e dos termos de referência
dos planos municipais, sem prejuízo da posterior intervenção de outras entidades públicas
ou particulares.
4 - A elaboração de planos municipais obriga a identificar e a ponderar os programas, os
planos e os projetos, com incidência na área em causa, considerando os que já existam e
os que se encontrem em preparação, por forma a assegurar as necessárias
compatibilizações.

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5 - A elaboração dos planos municipais pode decorrer em paralelo com a elaboração de
programas que incidam sobre a mesma área territorial, aplicando-se com as necessárias
adaptações o procedimento previsto no presente capítulo.
6 - O prazo de elaboração dos planos municipais pode ser prorrogado, por uma única vez,
por um período máximo igual ao previamente estabelecido.
7 - O não cumprimento dos prazos estabelecidos determina a caducidade do
procedimento, sem prejuízo da possibilidade de aproveitamento dos atos e formalidades
praticados no âmbito do mesmo, mediante deliberação da câmara municipal.

Artigo 77.º
Relatório sobre o estado do ordenamento do território

A deliberação de elaboração de planos diretores municipais deve ser acompanhada de


relatório sobre o estado do ordenamento do território a nível local, nos termos do n.º 3 do
artigo 189.º

Artigo 78.º
Avaliação ambiental

1 - Os planos de urbanização e os planos de pormenor só são objeto de avaliação


ambiental no caso de se determinar que são suscetíveis de ter efeitos significativos no
ambiente ou nos casos em que constituam o enquadramento para a aprovação de projetos
sujeitos a avaliação de impacto ambiental ou a avaliação de incidências ambientais.
2 - A qualificação dos planos de urbanização e dos planos de pormenor, para efeitos do
disposto no número anterior, compete à câmara municipal, de acordo com os critérios
estabelecidos no anexo ao Decreto-Lei n.º 232/2007, de 15 de junho, alterado pelo
Decreto-Lei n.º 58/2011, de 4 de maio, podendo ser precedida de consulta das entidades
às quais, em virtude das suas responsabilidades ambientais específicas, possam interessar
os efeitos ambientais resultantes da aplicação do plano.
3 - Tendo sido deliberada a elaboração de plano de urbanização ou de plano de pormenor,
a câmara municipal solicita parecer sobre o âmbito da avaliação ambiental e sobre o
alcance da informação a incluir no relatório ambiental, nos termos do artigo 5.º do
Decreto-Lei n.º 232/2007, de 15 de junho, alterado pelo Decreto-Lei n.º 58/2011, de 4 de
maio.
4 - Os pareceres emitidos ao abrigo do número anterior são emitidos no prazo de 20 dias,
sob pena de não serem considerados e devem, nos casos em que se justifique, conter,
também, a pronúncia sobre o âmbito da avaliação ambiental e sobre o alcance da
informação a incluir no relatório ambiental.

Artigo 79.º
Contratos para planeamento

1 - A elaboração, a revisão ou a alteração de planos territoriais de âmbito municipal, pode


ser precedida da celebração de contratos entre os municípios e as entidades competentes
pela elaboração de programas de âmbito nacional e regional, nos quais são definidas as
formas e os prazos para adequação dos planos municipais existentes, em relação a planos
supervenientes, com os quais devem ser compatíveis.
2 - A câmara municipal pode obrigar-se através de contrato para planeamento, perante
um ou mais interessados, a propor à assembleia municipal, a aprovação, a alteração ou a
revisão de um plano de urbanização ou de um plano de pormenor.

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3 - Os procedimentos de formação dos contratos para planeamento asseguram uma
adequada publicitação e a realização de discussão pública.

Artigo 80.º
Efeitos do contrato para planeamento

1 - Os contratos para planeamento são contratos sobre o exercício de poderes públicos,


com efeitos obrigacionais entre as partes, podendo o respetivo incumprimento dar lugar
a responsabilidade civil.
2 - Os contratos para planeamento não prejudicam o livre exercício dos poderes públicos
municipais relativamente ao conteúdo, procedimento de elaboração, de aprovação e de
execução do plano, nem a observância dos regimes legais relativos ao uso do solo e às
disposições dos demais programas e planos territoriais.

Artigo 81.º
Formação de contratos para planeamento

1 - Os interessados na elaboração, na revisão ou na alteração de um plano de urbanização


ou de um plano de pormenor, podem propor à câmara municipal a celebração de um
contrato para planeamento.
2 - A celebração do contrato para planeamento depende de deliberação da câmara
municipal devidamente fundamentada, que explicite:
a) As razões que justificam, do ponto de vista do interesse local, a sua celebração;
b) A oportunidade da deliberação, tendo em conta os termos de referência do futuro plano,
designadamente, a sua articulação e a sua coerência com a estratégia territorial do
município e o seu enquadramento na programação constante do plano diretor municipal
ou do programa ou do plano intermunicipal;
c) A eventual necessidade de alteração aos planos intermunicipais e municipais em vigor.
3 - A proposta de contrato e a deliberação referida no número anterior são objeto de
discussão pública, nos termos do n.º 1 do artigo 89.º, pelo prazo mínimo de 10 dias.
4 - Os contratos são publicitados conjuntamente com a deliberação que determina a
aprovação do plano e acompanham a proposta de plano, no decurso do período de
discussão pública, nos termos do n.º 1 do artigo 89.º

Artigo 82.º
Objetivos do acompanhamento

O acompanhamento da elaboração dos planos municipais visa:


a) Promover a respetiva conformidade ou compatibilização com os programas de âmbito
regional e nacional, bem como a sua harmonização com quaisquer outros planos,
programas e projetos, de interesse municipal ou intermunicipal;
b) Permitir a ponderação das diversas ações da Administração Pública suscetíveis de
condicionar as soluções propostas, garantindo uma informação atualizada sobre as
mesmas;
c) Promover o estabelecimento de uma adequada concertação de interesses.

Artigo 83.º
Acompanhamento dos planos diretores municipais

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1 - O acompanhamento da elaboração do plano diretor municipal é assegurado por uma
comissão consultiva de natureza colegial, coordenada e presidida pela comissão de
coordenação e desenvolvimento regional territorialmente competente.
2 - A composição da comissão consultiva deve traduzir a natureza dos principais
interesses a salvaguardar, integrando os representantes de serviços e entidades da
administração direta ou indireta do Estado, das Regiões Autónomas, da entidade
intermunicipal e de outras entidades públicas cuja participação seja legalmente exigível.
3 - Deve ser garantida a integração, na comissão consultiva, das entidades às quais, em
virtude das suas responsabilidades ambientais específicas, interessem os efeitos
ambientais resultantes da aplicação do plano, e que exercem, no âmbito daquela comissão,
as competências consultivas atribuídas pelos artigos 5.º e 7.º do Decreto-Lei n.º 232/2007,
de 15 de junho, alterado pelo Decreto-Lei n.º 58/2011, de 4 de maio, e acompanham a
elaboração do relatório ambiental.
4 - As entidades que integram a comissão consultiva em função da natureza dos principais
interesses a salvaguardar podem declarar, expressamente, não existir fundamento para a
sua representação na comissão consultiva.
5 - A comissão consultiva é constituída no prazo de 15 dias, após solicitação da câmara
municipal à comissão de coordenação e desenvolvimento regional.
6 - A comissão fica obrigada a um acompanhamento continuado dos trabalhos de
elaboração da proposta de plano.
7 - A constituição, a composição e o funcionamento da comissão consultiva são regulados
por portaria do membro do Governo responsável pela área do ordenamento do território.
8 - O acompanhamento dos planos diretores municipais é assegurado mediante o recurso
à plataforma colaborativa de gestão territorial.

Artigo 84.º
Representação na comissão consultiva

1 - Para efeitos do disposto no n.º 1 do artigo anterior, a designação dos representantes


dos serviços e entidades da administração direta ou indireta do Estado e das regiões
autónomas incorpora a delegação ou subdelegação dos poderes necessários à vinculação
daqueles serviços e entidades.
2 - A posição manifestada pelos representantes dos serviços e entidades da administração
direta ou indireta do Estado e das regiões autónomas, na comissão consultiva substitui os
pareceres que aqueles serviços e entidades devem emitir, a qualquer título, sobre o plano,
nos termos legais e regulamentares, ficando expressamente proibida a emissão de parecer
escrito ou outra forma de pronúncia.
3 - Caso o representante de um serviço ou de uma entidade não manifeste,
fundamentadamente, a sua discordância com as soluções propostas, ou, apesar de
regularmente convocado, não compareça à reunião, nem o serviço ou entidade que
representa manifeste a sua posição até à data da reunião, considera-se que este serviço ou
esta entidade nada tem a opor à proposta de plano diretor municipal.

Artigo 85.º
Parecer final

1 - Ponderadas as posições manifestadas e os interesses em presença resultantes do


acompanhamento pela comissão consultiva, é proferido, no prazo de 15 dias, pela
comissão de coordenação e desenvolvimento regional territorialmente competente, o

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parecer final, o qual traduz uma decisão global definitiva e vinculativa para toda a
Administração Pública.
2 - O parecer referido no número anterior é acompanhado pela ata da comissão consultiva,
contendo as posições finais das entidades nela representadas e deve pronunciar-se sobre
os seguintes aspetos:
a)-(Revogada.)
b) Conformidade ou compatibilidade da proposta de plano com os programas territoriais
existentes.
3 - O parecer final acompanha a proposta de plano apresentada pela câmara municipal à
assembleia municipal.
4 - Para efeitos de avaliação ambiental, o parecer final integra a análise sobre o relatório
ambiental.

Artigo 86.º
Acompanhamento dos planos de urbanização e dos planos de pormenor

1 - (Revogado.)
2 - (Revogado.)
3 - Concluída a elaboração do plano, a câmara municipal apresenta a proposta de plano e
o relatório ambiental à comissão de coordenação e desenvolvimento regional
territorialmente competente que, no prazo de 5 dias, remete a documentação recebida a
todas as entidades representativas dos interesses a ponderar, convocando-as para uma
conferência procedimental, a realizar no prazo de 15 dias a contar da data de expedição
da referida documentação, aplicando-se, com as necessárias adaptações, o disposto no
artigo 84.º
4 - São convocadas para a conferência procedimental, as entidades às quais, em virtude
das suas responsabilidades ambientais específicas, possam interessar os efeitos
ambientais resultantes da aplicação do plano.
5 - (Revogado.)

Nota 1: Os interesses a ponderar, são ponderados segundo o princípio da “justa ponderação”. A ponderação
consiste numa “operação de pesagem em que se coloca num dos pratos da balança os interesses 'a favor'
(públicos elou privados) e no outro prato da balança os interesses 'contra' (públicos e/ou privados)”
(SOUSA, António Francisco de, A estrutura jurídica.. cit., pág. 31).

Artigo 87.º
Concertação
(Revogado)

Artigo 88.º
Participação

1 - Durante a elaboração dos planos municipais, a câmara municipal deve facultar aos
interessados todos os elementos relevantes, para que estes possam conhecer o estado dos
trabalhos e a evolução da tramitação procedimental, bem como formular sugestões à
autarquia ou à comissão consultiva.
2 - A deliberação que determina a elaboração do plano estabelece um prazo, que não deve
ser inferior a 15 dias, para a formulação de sugestões e para a apresentação de
informações, sobre quaisquer questões que possam ser consideradas no âmbito do
respetivo procedimento de elaboração.

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Artigo 89.º
Discussão pública

1 - Concluído o período de acompanhamento e, quando for o caso, decorrido o período


adicional de concertação, a câmara municipal procede à abertura de um período de
discussão pública, através de aviso a publicar no Diário da República e a divulgar através
da comunicação social, da plataforma colaborativa de gestão territorial e do respetivo sítio
na Internet, do qual consta o período de discussão, a forma como os interessados podem
apresentar as suas reclamações, observações ou sugestões, as eventuais sessões
públicas a que haja lugar e os locais onde se encontra disponível a proposta, o respetivo
relatório ambiental, o parecer final, a ata da comissão consultiva, os demais pareceres
emitidos e os resultados da concertação.
2 - O período de discussão pública deve ser anunciado com a antecedência mínima de
cinco dias, e não pode ser inferior a 30 dias, para o plano diretor municipal, e a 20 dias,
para o plano de urbanização e para o plano de pormenor.
3 - A câmara municipal pondera as reclamações, as observações, as sugestões e os pedidos
de esclarecimento, apresentados pelos particulares, ficando obrigada a resposta
fundamentada perante aqueles que invoquem, designadamente:
a) A desconformidade ou a incompatibilidade com programas e planos territoriais e com
projetos que devem ser ponderados em fase de elaboração;
b) A desconformidade com disposições legais e regulamentares aplicáveis;
c) A lesão de direitos subjetivos.
4 - A resposta referida no número anterior é comunicada por escrito aos interessados, sem
prejuízo do disposto no n.º 4 do artigo 10.º da Lei n.º 83/95, de 31 de agosto.
5 - Sempre que necessário ou conveniente, a câmara municipal promove o esclarecimento
direto dos interessados, quer através dos seus próprios técnicos, quer através do recurso
a técnicos da administração direta ou indireta do Estado e das regiões autónomas.
6 - Findo o período de discussão pública, a câmara municipal pondera e divulga os
resultados, designadamente, através da comunicação social, da plataforma colaborativa
de gestão territorial e do respetivo sítio na Internet, e elabora a versão final da proposta
de plano para aprovação.
7 - São obrigatoriamente públicas, todas as reuniões da câmara municipal e da assembleia
municipal que respeitem à elaboração ou aprovação de qualquer plano municipal.

Artigo 90.º
Aprovação

1 - Os planos municipais são aprovados pela assembleia municipal, mediante proposta


apresentada pela câmara municipal.
2 - Quando o plano diretor municipal aprovado contiver disposições desconformes ou
incompatíveis com programas setoriais, especiais ou regionais, o órgão responsável pela
sua aprovação solicita a ratificação nos termos do artigo seguinte.

Nota 1: Sobre o plano diretor municipal, o plano de urbanização e o plano de pormenor, cf. o art.º 43.º da
Lei de bases gerais da política pública de solos, de ordenamento do território e de urbanismo - Lei n.º
31/2014, de 30 de maio .com as alterações introduzidas pela Lei n.º 74/2017, de 16/08).

Nota 2: O direito de participação dos “interessados” é reforçado com o dever de ponderação das propostas
apresentadas por parte das autoridades competentes (n.º 4).

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Artigo 91.º
Ratificação

1 - A ratificação de disposições do plano diretor municipal implica a revogação ou a


alteração das disposições constantes do programa setorial, especial ou regional em causa
e dos respetivos elementos documentais, de modo a que traduzam a atualização da
disciplina vigente.
2 - A ratificação pelo Governo de disposições do plano diretor municipal é excecional
e ocorre, por solicitação do órgão responsável pela respetiva elaboração, quando no
âmbito do procedimento de elaboração e aprovação tiver sido suscitada, por si ou pelos
serviços ou entidades com competências consultivas, a incompatibilidade referida no
número anterior.
3 - Recebida a proposta de ratificação, o membro do Governo responsável pela área do
ordenamento do território solicita, à comissão de coordenação e de desenvolvimento
regional territorialmente competente e à entidade competente pela elaboração do
programa territorial, parecer fundamentado, a emitir no prazo de 15 dias, que inclui a
identificação das disposições inerentes a cada programa, a publicar no ato de aprovação
referido no número seguinte.
4 - A ratificação das disposições desconformes ou incompatíveis do plano diretor
municipal pode ser total ou parcial, devendo adotar a forma prevista para a aprovação do
programa setorial, especial ou regional.
5 - Havendo recusa total ou parcial de ratificação das disposições incompatíveis ou
desconformes, a câmara municipal deve proceder às alterações necessárias para reposição
da conformidade com as normas que fundamentaram a recusa de ratificação, sujeitando
o plano diretor municipal a nova aprovação da assembleia municipal, a qual é enviada
para publicação nos termos da alínea f) do n.º 4 do artigo 191.º
6 - Havendo ratificação total ou ocorrendo a nova aprovação a que se refere o número
anterior, a câmara municipal procede à publicação do plano no Diário da República bem
como ao seu depósito junto da Direção-Geral do Território, nos termos do disposto no n.º
8 do artigo 191.º e do n.º 1 do artigo 193.º

Artigo 92.º
Conclusão da elaboração e prazo de publicação

1 - A elaboração dos planos municipais considera-se concluída com a aprovação da


respetiva proposta pela assembleia municipal, salvo quando careça de ratificação.
2 - Os procedimentos administrativos subsequentes à conclusão da elaboração dos planos
municipais devem ser concretizados de modo a que, entre a respetiva aprovação e a
publicação no Diário da República, medeiem os seguintes prazos máximos:
a) Plano diretor municipal - 45 dias;
b) Plano de urbanização - 30 dias;
c) Plano de pormenor - 25 dias.
3 - Os prazos fixados no número anterior suspendem-se nos casos previstos no n.º 2 do
artigo anterior.

Artigo 93.º
Vigência

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1 - Os planos municipais podem ter um prazo de vigência máximo previamente fixado,
permanecendo, no entanto, eficazes até à entrada em vigor da respetiva revisão ou
alteração.
2 - Os planos municipais devem ser obrigatoriamente revistos quando a respetiva
monitorização e avaliação, consubstanciada nos relatórios de estado do ordenamento do
território, identificarem níveis de execução e uma evolução das condições ambientais,
económicas, sociais e culturais que lhes estão subjacentes, suscetível de determinar uma
modificação do modelo territorial definido.

Artigo 94.º
Disponibilização da informação

1 - Os planos municipais são disponibilizados, com caráter de permanência e na versão


atualizada, no sítio eletrónico do município a que respeitam, bem como no sítio eletrónico
do Sistema Nacional de Informação Territorial (SNIT), através de ligação eletrónica a
este sistema nacional.
2 - Para efeitos do número anterior, os municípios devem proceder à transcrição digital
vetorial e georreferenciada das peças gráficas dos planos municipais, disponibilizando-as
nos respetivos sítios eletrónicos, de acordo com modelo de dados a aprovar pela Direção-
Geral do Território.
3 - As plantas e o respetivo acesso devem estar disponíveis em modelo a aprovar pela
Direção-Geral do Território.

SUBDIVISÃO II
Plano diretor municipal

Artigo 95.º
Objeto

1 - O plano diretor municipal é o instrumento que estabelece a estratégia de


desenvolvimento territorial municipal, a política municipal de solos, de ordenamento
do território e de urbanismo, o modelo territorial municipal, as opções de localização e
de gestão de equipamentos de utilização coletiva e as relações de interdependência com
os municípios vizinhos, integrando e articulando as orientações estabelecidas pelos
programas de âmbito nacional, regional e intermunicipal.
2 - O plano diretor municipal é um instrumento de referência para a elaboração dos demais
planos municipais, bem como para o desenvolvimento das intervenções setoriais da
administração do Estado no território do município, em concretização do princípio da
coordenação das respetivas estratégias de ordenamento territorial.
3 - O modelo territorial municipal tem por base a classificação e a qualificação do solo.
4 - O plano diretor municipal é de elaboração obrigatória, salvo nos casos em que os
municípios optem pela elaboração de plano diretor intermunicipal.

Artigo 96.º
Conteúdo material

1 - O plano diretor municipal define o quadro estratégico de desenvolvimento


territorial do município e o correspondente modelo de organização territorial,
estabelecendo nomeadamente:

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a) A caracterização, ou a sua atualização, económica, social e biofísica, incluindo a
identificação dos valores culturais, do sistema urbano e das redes de transportes e de
equipamentos, de educação, de saúde e de segurança, bem como os sistemas de
telecomunicações, de abastecimento de energia, de gás, de captação, de tratamento e
abastecimento de água, de drenagem e tratamento de efluentes e de recolha, depósito e
tratamento de resíduos;
b) Os objetivos de desenvolvimento económico local e as medidas de intervenção
municipal no mercado de solos;
c) Os critérios de sustentabilidade a adotar, bem como os meios disponíveis e as ações
propostas, que sejam necessários à proteção dos valores e dos recursos naturais, recursos
hídricos, culturais, agrícolas e florestais, e a identificação da estrutura ecológica
municipal;
d) A referenciação espacial dos usos e das atividades, nomeadamente através da definição
das classes e das categorias de espaços;
e) A definição de estratégias e dos critérios de localização, de distribuição e de
desenvolvimento das atividades industriais, turísticas, comerciais e de serviços;
f) A identificação e a qualificação do solo rústico, garantindo a adequada execução dos
programas e das políticas de desenvolvimento agrícola e florestal, bem como de recursos
geológicos e energéticos;
g) A identificação e a delimitação das áreas urbanas, com a definição do sistema urbano
municipal e os correspondentes programas na área habitacional, bem como as condições
de promoção da regeneração e da reabilitação urbanas e as condições de reconversão
das áreas urbanas de génese ilegal;
h) A identificação das áreas de interesse público para efeitos de expropriação, bem como
a definição das respetivas regras de gestão;
i) Os critérios para a definição das áreas de cedência e a definição das respetivas regras
de gestão, assim como a cedência média para efeitos de perequação;
j) Os critérios de compensação e de redistribuição de benefícios e encargos decorrentes
da gestão urbanística, a concretizar nos planos previstos para as unidades operativas de
planeamento e gestão;
k) A especificação qualitativa e quantitativa dos índices, dos indicadores e dos parâmetros
de referência, urbanísticos ou de ordenamento, a estabelecer em plano de urbanização e
em plano de pormenor, bem como os de natureza supletiva aplicáveis na ausência destes;
l) A programação da execução das opções de ordenamento estabelecidas e a definição de
unidades operativas de planeamento e gestão do plano, identificando, para cada uma
destas, os respetivos objetivos e os termos de referência para a necessária elaboração de
planos de urbanização e de pormenor;
m) A identificação de condicionantes de caráter permanente, designadamente reservas e
zonas de proteção, bem como as necessárias à concretização dos planos de emergência
de proteção civil de âmbito municipal;
n) A identificação e a delimitação das áreas com vista à salvaguarda de informação
arqueológica contida no solo e no subsolo;
o) As condições de atuação sobre áreas de reabilitação urbana, situações de emergência
ou de exceção, bem como sobre áreas degradadas em geral;
p) A articulação do modelo de organização municipal do território com a disciplina
consagrada nos demais planos municipais aplicáveis;
q) A proteção e a salvaguarda de recursos e de valores naturais que condicionem a
ocupação, uso e transformação do solo;
r) O prazo de vigência, o sistema de monitorização e as condições de revisão.

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2 - Não obstante a existência dos índices, parâmetros e indicadores de natureza supletiva
a que alude a alínea k) do número anterior, são diretamente aplicáveis às operações
urbanísticas a realizar em zona urbana consolidada, como tal identificada no plano, os
índices, os parâmetros e os indicadores de referência, para elaboração de plano de
urbanização ou de plano de pormenor, nas seguintes condições:
a) Tenha decorrido o prazo de cinco anos sobre a data da entrada em vigor do plano diretor
municipal, sem que haja sido aprovado o plano de urbanização ou o plano de pormenor;
b) Os índices e os parâmetros de referência estabelecidos no plano diretor municipal
definam os usos e a altura total das edificações ou a altura das fachadas, bem como os
indicadores relativos à definição da rede viária e do estacionamento.
3 - A caracterização dos sistemas de recolha, depósito e tratamento de resíduos a que se
refere a alínea a) do n.º 1 implica a definição de áreas reservadas às respetivas instalações,
já existentes ou a construir, segundo as normas de planificação das redes nacional e
municipais de gestão de resíduos, organizadas segundo os princípios da hierarquia,
suficiência e da proximidade, como definidos no regime geral de gestão de resíduos.

Nota 1: O Decreto Regulamentar que define os conceitos técnicos para a área do urbanismo (de setembro
de 2019) define “área urbana consolidada” como “uma área de solo urbano que se encontra estabilizada
em termos de morfologia urbana e de infraestruturação e está edificada em, pelo menos, dois terços da área
total do solo destinado a edificação”.

Nota 2: Nos termos do art.º 3.º, al. ee), do regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de
setembro, última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), “resíduos” são “quaisquer substâncias ou
objetos de que o detentor se desfaz ou tem a intenção ou a obrigação de se desfazer”.

Artigo 97.º
Conteúdo documental

1 - O plano diretor municipal é constituído por:


a) Regulamento;
b) Planta de ordenamento, que representa o modelo de organização espacial do território
municipal, de acordo com os sistemas estruturantes e a classificação e qualificação dos
solos, as unidades operativas de planeamento e gestão definidas e, ainda, a delimitação
das zonas de proteção e de salvaguarda dos recursos e valores naturais;
c) Planta de condicionantes que identifica as servidões administrativas e as restrições de
utilidade pública em vigor que possam constituir limitações ou impedimentos a qualquer
forma específica de aproveitamento.
2 - O plano diretor municipal é acompanhado por:
a) Relatório, que explicita a estratégia e modelo de desenvolvimento local,
nomeadamente os objetivos estratégicos e as opções de base territorial adotadas para o
modelo de organização espacial, bem como a respetiva fundamentação técnica, suportada
na avaliação das condições ambientais, económicas, sociais e culturais para a sua
execução;
b) Relatório ambiental, no qual se identificam, descrevem e avaliam os eventuais efeitos
significativos no ambiente resultantes da aplicação do plano e as alternativas razoáveis,
tendo em conta os objetivos e o âmbito de aplicação territorial respetivos;
c) Programa de execução, contendo, designadamente, as disposições sobre a execução
das intervenções prioritárias do Estado e do município, previstas a curto e médio prazo, e
o enquadramento das intervenções do Estado e as intervenções municipais previstas a
longo prazo;
d) Plano de financiamento e fundamentação da sustentabilidade económica e financeira.

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3 - O plano diretor municipal é, ainda, acompanhado pelos seguintes elementos
complementares:
a) Planta de enquadramento regional, elaborada a escala inferior à do plano diretor
municipal, com indicação dos centros urbanos mais importantes, principais vias de
comunicação, infraestruturas relevantes e grandes equipamentos que sirvam o município
e indicação dos demais programas e planos territoriais em vigor para a área do município;
b) Planta da situação existente com a ocupação do solo à data da deliberação que
determina a elaboração do plano;
c) Planta e relatório com a indicação dos alvarás de licença e dos títulos de comunicação
prévia de operações urbanísticas emitidos, bem como das informações prévias favoráveis
em vigor ou declaração comprovativa da inexistência dos referidos compromissos
urbanísticos na área do plano;
d) Mapa de ruído;
e) Participações recebidas em sede de discussão pública e respetivo relatório de
ponderação;
f) Ficha dos dados estatísticos em modelo a disponibilizar pela Direção-Geral do
Território.
4 - O plano diretor municipal inclui indicadores qualitativos e quantitativos que suportem
a avaliação prevista no capítulo VIII.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define o “índice de ocupação do solo” (Iu) como “o quociente entre a área total de implantação (∑Ai) e a
área de solo (As) a que o índice diz respeito, expresso em percentagem”.

SUBDIVISÃO III
Plano de urbanização

Artigo 98.º
Objeto

1 - O plano de urbanização desenvolve e concretiza o plano diretor municipal e estrutura


a ocupação do solo e o seu aproveitamento, fornecendo o quadro de referência para a
aplicação das políticas urbanas e definindo a localização das infraestruturas e dos
equipamentos coletivos principais.
2 - O plano de urbanização pode abranger:
a) Qualquer área do território do município incluída em perímetro urbano por plano
diretor municipal eficaz e, ainda, os solos rústicos complementares de um ou mais
perímetros urbanos, que se revelem necessários para estabelecer uma intervenção
integrada de planeamento;
b) Outras áreas do território municipal que possam ser destinadas a usos e a funções
urbanas, designadamente à localização de instalações ou parques industriais, logísticos
ou de serviços ou à localização de empreendimentos turísticos e equipamentos e
infraestruturas associados.
3 - Nas sedes de concelho e nas áreas urbanas com mais de 25.000 mil habitantes, o
regime do uso do solo deve ser previsto, preferencialmente, em plano de urbanização
municipal.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define o “índice de ocupação do solo” (Iu) como “o quociente entre a área total de implantação (∑Ai) e a
área de solo (As) a que o índice diz respeito, expresso em percentagem”.
Artigo 99.º

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Conteúdo material

O plano de urbanização adota o conteúdo material apropriado às condições da área


territorial a que respeita, aos objetivos das políticas urbanas e às transformações previstas
nos termos de referência e na deliberação municipal que determinou a sua elaboração,
dispondo nomeadamente, sobre:
a) A definição e a caracterização da área de intervenção, identificando e delimitando os
valores culturais e naturais a proteger e a informação arqueológica contida no solo e
subsolo;
b) A conceção geral da organização urbana, a partir da qualificação do solo, definindo a
rede viária estruturante, a localização de equipamentos de uso e interesse coletivo, a
estrutura ecológica, bem como o sistema urbano de circulação, de transporte público e
privado e de estacionamento;
c) A definição do zonamento para localização das diversas funções urbanas,
designadamente habitacionais, comerciais, turísticas, de serviços, industriais e de gestão
de resíduos, bem como a identificação das áreas a recuperar, a regenerar ou a reconverter;
d) A adequação do perímetro urbano definido no plano diretor municipal ou no plano
diretor intermunicipal, em função do zonamento e da conceção geral da organização
urbana definidos, incluindo, nomeadamente, o traçado e o dimensionamento das redes de
infraestruturas gerais que estruturam o território, fixando os respetivos espaços-canal, os
critérios de localização e de inserção urbanística e o dimensionamento dos equipamentos
de utilização coletiva;
e) As condições de aplicação dos instrumentos da política de solos e de política urbana
previstos na lei, em particular os que respeitam à reabilitação e regeneração urbanas
de áreas urbanas degradadas;
f) Os indicadores e os parâmetros urbanísticos aplicáveis a cada uma das categorias e
subcategorias de espaços;
g) A delimitação e os objetivos das unidades ou subunidades operativas de planeamento
e gestão, a estruturação das ações de compensação e redistribuição de benefícios e
encargos e a identificação dos sistemas de execução do plano.

Artigo 100.º
Conteúdo documental

1 - O plano de urbanização é constituído por:


a) Regulamento;
b) Planta de zonamento, que representa a estrutura territorial e o regime de uso do solo da
área a que respeita;
c) Planta de condicionantes, que identifica as servidões administrativas e as restrições de
utilidade pública em vigor que possam constituir limitações ou impedimentos a qualquer
forma específica de aproveitamento.
2 - O plano de urbanização é acompanhado por:
a) Relatório, que explicita os objetivos estratégicos do plano e a respetiva fundamentação
técnica, suportada na avaliação das condições ambientais, económicas, sociais e culturais
para a sua execução;
b) Relatório ambiental, no qual se identificam, descrevem e avaliam os eventuais efeitos
significativos no ambiente que possam decorrer da aplicação do plano e as alternativas
razoáveis, tendo em conta os objetivos e o âmbito de aplicação territorial respetivos;
c) Programa de execução, contendo, designadamente, disposições indicativas sobre a
execução das intervenções municipais previstas;

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d) Modelo de redistribuição de benefícios e encargos;
e) Plano de financiamento e fundamentação da sua sustentabilidade económica e
financeira.
3 - O plano de urbanização é, ainda, acompanhado pelos seguintes elementos
complementares:
a) Planta de enquadramento, elaborada a escala inferior à do plano de urbanização, com
indicação das principais vias de comunicação, outras infraestruturas relevantes e grandes
equipamentos, bem como outros elementos considerados pertinentes;
b) Planta da situação existente, com a ocupação do solo à data da deliberação que
determina a elaboração do plano;
c) Planta e relatório, com a indicação dos alvarás de licença e dos títulos de comunicação
prévia de operações urbanísticas emitidos, bem como das informações prévias favoráveis
em vigor ou declaração comprovativa da inexistência dos referidos compromissos
urbanísticos na área do plano;
d) Plantas de identificação do traçado de infraestruturas viárias, de abastecimento de água,
de saneamento, de energia elétrica, de recolha de resíduos de gás e de condutas destinadas
à instalação de infraestruturas de telecomunicações e demais infraestruturas relevantes
existentes e previstas na área do plano;
e) Mapa de ruído, nos termos do n.º 1 do artigo 7.º do Regulamento Geral do Ruído;
f) Participações recebidas em sede de discussão pública e respetivo relatório de
ponderação;
g) Ficha dos dados estatísticos, em modelo a disponibilizar pela Direção-Geral do
Território.
4 - O conteúdo documental do plano de urbanização é adaptado ao seu conteúdo material.
5 - O plano de urbanização inclui indicadores qualitativos e quantitativos que suportem a
avaliação prevista no capítulo VIII.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define o “índice de ocupação do solo” (Iu) como “o quociente entre a área total de implantação (∑Ai) e a
área de solo (As) a que o índice diz respeito, expresso em percentagem”.

SUBDIVISÃO IV
Plano de pormenor

Artigo 101.º
Objeto

1 - O plano de pormenor desenvolve e concretiza em detalhe as propostas de ocupação de


qualquer área do território municipal, estabelecendo regras sobre a implantação das
infraestruturas e o desenho dos espaços de utilização coletiva, a implantação, a volumetria
e as regras para a edificação e a disciplina da sua integração na paisagem, a localização e
a inserção urbanística dos equipamentos de utilização coletiva e a organização espacial
das demais atividades de interesse geral.
2 - O plano de pormenor abrange áreas contínuas do território municipal, que podem
corresponder a uma unidade ou subunidade operativa de planeamento e gestão ou a parte
delas.

Artigo 102.º
Conteúdo material

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1 - O plano de pormenor adota o conteúdo material apropriado às condições da área
territorial a que respeita, aos objetivos e aos fundamentos técnicos previstos nos termos
de referência e na deliberação municipal que determinou a sua elaboração, estabelecendo,
nomeadamente:
a) A definição e a caracterização da área de intervenção, identificando e delimitando os
valores culturais e a informação arqueológica contida no solo e no subsolo, os valores
paisagísticos e naturais a proteger, bem como todas as infraestruturas relevantes para o
seu desenvolvimento;
b) As operações de transformação fundiária preconizadas e a definição das regras
relativas às obras de urbanização;
c) O desenho urbano, exprimindo a definição dos espaços públicos, incluindo os espaços
de circulação viária e pedonal e de estacionamento, bem como o respetivo tratamento, a
localização de equipamentos e zonas verdes, os alinhamentos, as implantações, a
modelação do terreno e a distribuição volumétrica;
d) A distribuição de funções, conjugações de utilizações de áreas de construção e a
definição de parâmetros urbanísticos, designadamente, densidade máxima de fogos,
número de pisos e altura total das edificações ou altura das fachadas;
e) As operações de demolição, conservação e reabilitação das construções existentes;
f) As regras para a ocupação e para a gestão dos espaços públicos;
g) A implantação das redes de infraestruturas, com delimitação objetiva das áreas que lhe
são afetas;
h) Regulamentação da edificação, incluindo os critérios de inserção urbanística e o
dimensionamento dos equipamentos de utilização coletiva, bem como a respetiva
localização no caso dos equipamentos públicos;
i) A identificação dos sistemas de execução do plano, do respetivo prazo e da
programação dos investimentos públicos associados, bem como a sua articulação com os
investimentos privados;
j) A estruturação das ações de compensação e de redistribuição de benefícios e encargos.
2 - O plano de pormenor relativo a área não abrangida por plano de urbanização, incluindo
as intervenções em solo rústico, procede à prévia explicitação do zonamento, dos
fundamentos e dos efeitos da alteração do zonamento, com base na disciplina consagrada
no plano diretor municipal ou plano diretor intermunicipal.

Artigo 103.º
Modalidades específicas

1 - O plano de pormenor pode adotar modalidades específicas com conteúdo material


adaptado a finalidades particulares de intervenção.
2 - São modalidades específicas de plano de pormenor:
a) O plano de intervenção no espaço rústico;
b) O plano de pormenor de reabilitação urbana;
c) O plano de pormenor de salvaguarda.

Nota: O Decreto Regulamentar que define conceitos técnicos do urbanismo define a “operação de
reabilitação urbana” como “o conjunto articulado de intervenções visando, de forma integrada, a
reabilitação urbana de uma determinada área”.

Artigo 104.º
Plano de intervenção no espaço rústico

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1 - O plano de intervenção no espaço rústico abrange o solo rústico e estabelece as regras
relativas a:
a) Construção de novas edificações e a reconstrução, alteração, ampliação ou demolição
das edificações existentes, quando tal se revele necessário ao exercício das atividades
autorizadas no solo rústico;
b) Implantação de novas infraestruturas de circulação de veículos, de animais e de
pessoas, e de novos equipamentos, públicos ou privados, de utilização coletiva, e a
remodelação, ampliação ou alteração dos existentes;
c) Criação ou beneficiação de espaços de utilização coletiva, públicos ou privados, e
respetivos acessos e áreas de estacionamento;
d) Criação de condições para a prestação de serviços complementares das atividades
autorizadas no solo rústico;
e) Operações de proteção, valorização e requalificação da paisagem natural e cultural.
2 - O plano de intervenção no espaço rústico não pode promover a reclassificação do solo
rústico em urbano.

Artigo 105.º
Plano de pormenor de reabilitação urbana

1 - O plano de pormenor de reabilitação urbana abrange solo urbano correspondente à


totalidade ou a parte de:
a) Centro histórico delimitado em plano diretor ou plano de urbanização eficaz;
b) Área de reabilitação urbana constituída nos termos da lei.
2 - O conteúdo e as finalidades do plano de pormenor de reabilitação urbana são definidos
no regime jurídico da reabilitação urbana.

Nota 1: O Decreto Regulamentar que define conceitos técnicos do urbanismo define a “operação de
reabilitação urbana” como “o conjunto articulado de intervenções visando, de forma integrada, a
reabilitação urbana de uma determinada área”.

Nota 2: O Decreto Regulamentar que define os conceitos técnicos para a área do urbanismo (de setembro
de 2019) define “área de reabilitação urbana” como “a área territorialmente delimitada que, em virtude
da insuficiência, degradação ou obsolescência dos edifícios, das infraestruturas, dos equipamentos de
utilização coletiva e dos espaços urbanos e verdes de utilização coletiva, designadamente no que se refere
às suas condições de uso, solidez, segurança, estética ou salubridade, justifique uma intervenção integrada,
através de uma operação de reabilitação urbana aprovada em instrumento próprio ou em plano de pormenor
de reabilitação urbana”. Esta definição corresponde à definição adotada no Decreto-Lei n.º 307/2009, de
23 de outubro.

Nota 3: O Regime jurídico da reabilitação urbana foi aprovado pelo decreto-lei n.º 307/2009, de 23 de
outubro (última alteração dl n.º 66/2019, de 21/05).

Artigo 106.º
Plano de pormenor de salvaguarda

O conteúdo e as finalidades do plano de pormenor de salvaguarda são definidos nos


termos previstos na lei de bases do património cultural e demais legislação complementar.

Artigo 107.º
Conteúdo documental

1 - O plano de pormenor é constituído por:


a) Regulamento;

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b) Planta de implantação, que estabelece, designadamente, o desenho urbano e as
parcelas, os alinhamentos e o polígono base para a implantação de edificações, a altura
total das edificações ou a altura das fachadas, o número de pisos, o número máximo de
fogos, a área de construção e respetivos usos, a demolição e manutenção ou reabilitação
das edificações existentes e a natureza e localização dos equipamentos, dos espaços
verdes e de outros espaços de utilização coletiva;
c) Planta de condicionantes, que identifica as servidões administrativas e as restrições de
utilidade pública em vigor, que possam constituir limitações ou impedimentos a qualquer
forma específica de aproveitamento.
2 - O plano de pormenor é acompanhado por:
a) Relatório, contendo a fundamentação técnica das soluções propostas no plano,
suportada na identificação e caracterização objetiva dos recursos territoriais da sua área
de intervenção e na avaliação das condições ambientais, económicas, sociais, e culturais
para a sua execução;
b) Relatório ambiental, sempre que seja necessário proceder à avaliação ambiental, no
qual se identificam, descrevem e avaliam os eventuais efeitos significativos no ambiente
resultantes da aplicação do plano e as alternativas razoáveis, tendo em conta os objetivos
e o âmbito de aplicação territorial respetivos;
c) Peças escritas e desenhadas que suportem as operações de transformação fundiária
previstas, nomeadamente para efeitos de registo predial e de elaboração ou conservação
do cadastro geométrico da propriedade rústica ou do cadastro predial;
d) Programa de execução das ações previstas;
e) Modelo de redistribuição de benefícios e encargos;
f) Plano de financiamento e fundamentação da sustentabilidade económica e financeira.
3 - Para efeitos de registo predial e, quando aplicável, para a execução ou conservação do
cadastro geométrico da propriedade rústica ou do cadastro predial, as peças escritas e
desenhadas previstas na alínea c) do número anterior consistem em:
a) Planta cadastral ou ficha cadastral original, quando existente;
b) Quadro com a identificação dos prédios, natureza, descrição predial, inscrição
matricial, áreas e confrontações;
c) Planta da operação de transformação fundiária, com a identificação dos novos prédios
e dos bens de domínio público;
d) Quadro com a identificação dos novos prédios ou fichas individuais, com a indicação
da respetiva área, da área destinada à implantação dos edifícios e das construções anexas,
da área de construção, da volumetria, da altura total da edificação ou da altura da fachada
e do número de pisos acima e abaixo da cota de soleira para cada um dos edifícios, do
número máximo de fogos e da utilização de edifícios e fogos;
e) Planta com as áreas de cedência para o domínio municipal;
f) Quadro com a descrição das parcelas a ceder, sua finalidade e área de implantação, bem
como das áreas de construção e implantação dos equipamentos de utilização coletiva;
g) Quadro de transformação fundiária, explicitando a relação entre os prédios originários
e os prédios resultantes da operação de transformação fundiária.
4 - O plano de pormenor é, ainda, acompanhado pelos seguintes elementos
complementares:
a) Planta de localização, contendo o enquadramento do plano no território municipal
envolvente, com indicação das principais vias de comunicação e demais infraestruturas
relevantes, da estrutura ecológica e dos grandes equipamentos, existentes e previstos na
área do plano e demais elementos considerados relevantes;
b) Planta da situação existente, com a ocupação do solo e a topografia à data da
deliberação que determina a elaboração do plano;

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c) Planta ou relatório, com a indicação dos alvarás de licença e dos títulos de comunicação
prévia de operações urbanísticas emitidos, bem como das informações prévias favoráveis
em vigor ou declaração comprovativa da inexistência dos referidos compromissos
urbanísticos na área do plano;
d) Plantas contendo os elementos técnicos definidores da modelação do terreno, cotas
mestras, volumetrias, perfis longitudinais e transversais dos arruamentos e traçados das
infraestruturas;
e) Relatório sobre recolha de dados acústicos ou mapa de ruído, nos termos do n.º 2 do
artigo 7.º do Regulamento Geral do Ruído;
f) Participações recebidas em sede de discussão pública e respetivo relatório de
ponderação;
g) Ficha dos dados estatísticos, em modelo a disponibilizar pela Direção-Geral do
Território.
5 - O conteúdo documental do plano de pormenor é adaptado, de forma fundamentada,
ao seu conteúdo material.
6 - Nas modalidades específicas de plano de pormenor previstas no n.º 2 do artigo 103.º,
o conteúdo documental do plano é ajustado, de forma fundamentada, devendo ser
garantida a correta fundamentação técnica e caracterização urbanística, face à
especificidade do conteúdo de cada plano.
7 - O plano de pormenor inclui indicadores qualitativos e quantitativos que suportem a
avaliação prevista no capítulo VIII.

Artigo 108.º
Efeitos registais

1 - A certidão do plano de pormenor que contenha as menções constantes das alíneas a)


a d), g) a i) do n.º 1 do artigo 102.º, e que seja acompanhada das peças escritas e
desenhadas enunciadas no n.º 3 do artigo anterior, constitui título bastante para a
individualização no registo predial dos prédios resultantes das operações de
transformação fundiária previstas no plano.
2 - O registo previsto no número anterior incide apenas sobre as inscrições prediais em
que o requerente surja como titular.
3 - Nas situações de reestruturação da compropriedade ou de reparcelamento, o registo
referido no n.º 1 depende da apresentação, respetivamente, do acordo de reestruturação
da compropriedade ou do contrato previsto no n.º 2 do artigo 165.º
4 - O acordo e os contratos referidos no número anterior são oponíveis ao proprietário ou
ao comproprietário que tenha inscrito o seu direito após a data da respetiva celebração.
5 - É dispensada a menção do sujeito passivo nas aquisições por reestruturação da
compropriedade ou por reparcelamento.
6 - As parcelas de terreno cedidas ao município integram-se no domínio municipal no ato
de individualização no registo predial dos lotes respetivos e estão sujeitas a cadastro
predial.
7 - Nas situações previstas no presente artigo não é aplicável o disposto no n.º 1 do artigo
49.º do regime jurídico da urbanização e da edificação.

Artigo 109.º
Taxas e obras de urbanização

1 - Sempre que outra solução não resulte do plano de pormenor, a emissão da certidão
referida no n.º 1 do artigo anterior depende do prévio pagamento:

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a) Da taxa pela realização, manutenção e reforço de infraestruturas, sem prejuízo do
disposto no artigo no n.º 3 do artigo 175.º;
b) Das compensações em numerário devidas nos termos do n.º 4 do artigo 44.º do regime
jurídico da urbanização e da edificação.
2 - A certidão do plano de pormenor identifica a forma e o montante da caução de boa
execução das obras de urbanização referentes às parcelas a individualizar, nos termos do
artigo anterior.
3 - Na falta de indicação e fixação de caução nos termos do número anterior, a caução é
prestada por primeira hipoteca legal sobre as parcelas a individualizar, calculada de
acordo com a respetiva comparticipação nos custos de urbanização.
4 - Cada prédio responde apenas pela parte do montante da garantia que lhe cabe nos
termos da parte final do número anterior, sendo lícito ao seu titular requerer a substituição
da hipoteca legal por outro meio de caução admissível, valendo a deliberação camarária
de aceitação, como título bastante para cancelamento da inscrição da hipoteca legal.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define as obras de urbanização como “as obras de criação e remodelação de infraestruturas destinadas a
servir diretamente os espaços urbanos ou as edificações, designadamente arruamentos viários e pedonais,
redes de esgotos e de abastecimento de água, eletricidade, gás e telecomunicações, e ainda espaços verdes
e outros espaços de utilização coletiva”. Esta definição corresponde à definição dada pelo art.º 2.º, al. h).
do RJUE.

DIVISÃO III
Planos intermunicipais

Artigo 110.º
Regime geral

1 - Os planos intermunicipais são instrumentos de natureza regulamentar que prosseguem


os objetivos previstos no artigo 75.º relativamente ao território de dois ou mais municípios
vizinhos.
2 - Aos planos intermunicipais aplicam-se as disposições relativas aos planos municipais
correspondentes com as necessárias adaptações, sem prejuízo do disposto nos artigos
seguintes.
3 - Nas áreas metropolitanas, quando promovido por todos os municípios que as integram,
o plano diretor intermunicipal tem a designação de plano metropolitano de ordenamento
do território.

Artigo 111.º
Elaboração

1 - A elaboração dos planos intermunicipais compete a uma comissão constituída para o


efeito, cuja composição é definida conjuntamente pelas câmaras municipais dos
municípios associados para a elaboração do plano, sem prejuízo do número seguinte.
2 - Quando promovido por todos os municípios que integram uma entidade
intermunicipal, a elaboração do plano intermunicipal compete à comissão executiva
metropolitana, nas áreas metropolitanas, e ao conselho intermunicipal, nas comunidades
intermunicipais.
3 - A elaboração dos planos intermunicipais pode decorrer em paralelo com a elaboração
de programas que incidam sobre a mesma área territorial, aplicando-se com as necessárias
adaptações o previsto no presente capítulo.

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Artigo 112.º
Aprovação

1 - Os planos intermunicipais são aprovados por deliberação das assembleias municipais


abrangidas, mediante proposta conjunta, apresentada pelas respetivas câmaras
municipais, sem prejuízo do número seguinte.
2 - Quando promovido por todos os municípios que integram uma entidade
intermunicipal, o plano intermunicipal é aprovado por deliberação do conselho
metropolitano ou da assembleia intermunicipal, mediante proposta apresentada pela
comissão executiva metropolitana ou pelo conselho intermunicipal.
3 - As deliberações referidas no número anterior devem:
a) Identificar as disposições dos programas e dos planos intermunicipais ou municipais
preexistentes, incompatíveis com o modelo de organização do território intermunicipal
preconizado;
b) Consagrar os prazos de atualização dos programas e dos planos intermunicipais e dos
planos municipais preexistentes, previamente acordados com as entidades
intermunicipais, associações de municípios ou municípios envolvidos.
4 - Quando o plano diretor intermunicipal aprovado contiver disposições incompatíveis
com programas setoriais, especiais ou regionais preexistentes, as entidades responsáveis
pela sua aprovação solicitam, com as necessárias adaptações, a ratificação nos termos do
artigo 91.º
5 - As câmaras municipais de dois ou mais municípios vizinhos ou o conselho
intermunicipal podem celebrar contratos para planeamento relativos a planos de
urbanização e a planos de pormenor intermunicipais.

Artigo 113.º
Planos diretores intermunicipais

1 - O plano diretor intermunicipal estabelece, de modo coordenado, a estratégia de


desenvolvimento territorial intermunicipal, o modelo territorial intermunicipal, as opções
de localização e de gestão de equipamentos de utilização pública locais e as relações de
interdependência entre dois ou mais municípios territorialmente contíguos.
2 - O plano diretor intermunicipal é um instrumento de referência para a elaboração dos
demais planos intermunicipais e municipais, bem como para o desenvolvimento das
intervenções setoriais da administração, em concretização do princípio da coordenação
das respetivas estratégias de ordenamento territorial.
3 - O plano diretor intermunicipal define a classificação e a qualificação do solo que
servem de base à definição do modelo de organização espacial dos territórios municipais
abrangidos.
4 - O plano diretor intermunicipal substitui o plano diretor municipal, para efeitos de
definição da disciplina territorial aplicável aos municípios abrangidos.

Artigo 114.º
Planos de urbanização e de pormenor intermunicipais

Aos planos de urbanização e de pormenor intermunicipais são aplicáveis, com as


necessárias adaptações, as regras previstas para os planos de urbanização e de pormenor
municipais.

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SECÇÃO V
Dinâmica

Artigo 115.º
Disposições gerais

1 - Os programas e os planos territoriais podem ser objeto de alteração, de correção


material, de revisão, de suspensão e de revogação.
2 - A alteração dos programas e dos planos territoriais incide sobre o normativo e ou parte
da respetiva área de intervenção e decorre:
a) Da evolução das condições ambientais, económicas, sociais e culturais subjacentes e
que fundamentam as opções definidas no programa ou no plano;
b) Da incompatibilidade ou da desconformidade com outros programas e planos
territoriais aprovados ou ratificados;
c) Da entrada em vigor de leis ou regulamentos que colidam com as respetivas disposições
ou que estabeleçam servidões administrativas ou restrições de utilidade pública que
afetem as mesmas.
3 - A revisão dos programas e dos planos territoriais implica a reconsideração e a
reapreciação global, com caráter estrutural ou essencial, das opções estratégicas do
programa ou do plano, dos princípios e dos objetivos do modelo territorial definido ou
dos regimes de salvaguarda e de valorização dos recursos e valores territoriais.
4 - A suspensão dos programas e dos planos territoriais pode decorrer da verificação de
circunstâncias excecionais que se repercutam no ordenamento do território, pondo em
causa a prossecução de interesses públicos relevantes.

Artigo 116.º
Alteração dos programas de âmbito nacional e regional

1 - O programa nacional de política de ordenamento do território, os programas setoriais,


especiais e regionais, são alterados sempre que a evolução das perspetivas de
desenvolvimento económico e social o determine.
2 - Os programas de âmbito nacional e regional são alterados sempre que entrem em vigor
novos programas, de âmbito nacional ou regional, que com eles não sejam compatíveis.
3 - Os programas de âmbito nacional e regional são alterados por força de posterior
ratificação e publicação de planos municipais ou intermunicipais.

Artigo 117.º
Alteração dos programas intermunicipais

Os programas intermunicipais são alterados sempre que a evolução das perspetivas de


desenvolvimento económico e social o determine e sempre que entrem em vigor novos
programas nacionais ou regionais, que com eles não sejam compatíveis.

Artigo 118.º
Alteração dos planos intermunicipais e municipais
Os planos intermunicipais e municipais são alterados em função da evolução das
condições ambientais, económicas, sociais e culturais que lhes estão subjacentes ou
sempre que essa alteração seja necessária, em resultado da entrada em vigor de novas leis
ou regulamentos.

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Artigo 119.º
Procedimento

1 - As alterações aos programas e planos territoriais seguem, com as devidas adaptações,


os procedimentos previstos no presente decreto-lei para a sua elaboração, aprovação,
ratificação e publicação, com exceção do disposto nos números e artigos seguintes.
2 - As alterações ao plano diretor intermunicipal e ao plano diretor municipal são objeto
de acompanhamento, nos termos do disposto no artigo 86.º, com as devidas adaptações.
3 - A revisão dos programas e dos planos territoriais segue, com as devidas adaptações,
os procedimentos estabelecidos no presente decreto-lei para a sua elaboração,
acompanhamento, aprovação, ratificação e publicação.
4 - Quando se pretenda realizar uma alteração da classificação ou da qualificação dos
solos, pode ser seguido o procedimento de reclassificação dos solos, previsto nos artigos
72.º-A e 72.º-B.

Artigo 120.º
Avaliação ambiental

1 - As pequenas alterações aos programas e aos planos territoriais só são objeto de


avaliação ambiental no caso de se determinar que são suscetíveis de ter efeitos
significativos no ambiente.
2 - A qualificação das alterações para efeitos do número anterior compete à entidade
responsável pela elaboração do plano ou do programa, de acordo com os critérios
estabelecidos no anexo ao Decreto-Lei n.º 232/2007, de 15 de junho, alterado pelo
Decreto-Lei n.º 58/2011, de 4 de maio, podendo ser precedida de consulta às entidades às
quais, em virtude das suas responsabilidades ambientais específicas, possam interessar os
efeitos ambientais resultantes da aplicação do plano.
3 - Sempre que seja solicitado parecer nos termos do número anterior, esse parecer deve,
nos casos em que se justifique, conter também a pronúncia sobre o âmbito da avaliação
ambiental e sobre o alcance da informação a incluir no relatório ambiental.
4 - Os pareceres solicitados ao abrigo do presente artigo são emitidos no prazo de 20 dias,
sob pena de não serem considerados.

Artigo 121.º
Alteração por adaptação

1 - A alteração por adaptação dos programas e dos planos territoriais decorre:


a) Da entrada em vigor de leis ou regulamentos;
b) Da entrada em vigor de outros programas e planos territoriais com que devam ser
compatíveis ou conformes;
c) Do disposto no n.º 9 do artigo 72.º
2 - A alteração por adaptação dos programas e dos planos territoriais não pode envolver
uma decisão autónoma de planeamento e limita-se a transpor o conteúdo do ato legislativo
ou regulamentar ou do programa ou plano territorial que determinou a alteração.
3 - A alteração por adaptação dos programas ou de planos territoriais depende de mera
declaração da entidade responsável pela elaboração do plano, a qual deve ser emitida, no
prazo de 60 dias, através da alteração dos elementos que integram ou acompanham o
instrumento de gestão territorial a alterar, na parte ou partes relevantes, aplicando-se o
disposto no capítulo IX.

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4 - A declaração referida no número anterior é transmitida previamente ao órgão
competente pela aprovação do programa ou plano, quando este seja diferente do órgão
responsável pela respetiva elaboração, sendo depois transmitida à comissão de
coordenação e desenvolvimento regional territorialmente competente e remetida para
publicação e depósito, nos termos previstos no presente decreto-lei.

Artigo 122.º
Correções materiais

1 - As correções materiais dos programas e dos planos territoriais são admissíveis para
efeitos de:
a) Acertos de cartografia, determinados por incorreções de cadastro, de transposição de
escalas, de definição de limites físicos identificáveis no terreno, bem como por
discrepâncias entre plantas de condicionantes e plantas de ordenamento;
b) Correções de erros materiais ou omissões, patentes e manifestos, na representação
cartográfica ou no regulamento;
c) Correções do regulamento ou das plantas, determinadas por incongruência destas peças
entre si;
d) Correção de lapsos gramaticais, ortográficos, de cálculo ou de natureza análoga; ou
e) Correção de erros materiais provenientes de divergências entre o ato original e o ato
efetivamente publicado no Diário da República.
2 - As correções materiais são obrigatórias e podem ser efetuadas a todo o tempo, por
comunicação da entidade responsável pela elaboração do programa ou do plano, sujeita
a publicação e publicitação idênticas às do instrumento de gestão territorial objeto de
correção.
3 - A comunicação referida no número anterior é transmitida previamente ao órgão
competente para a aprovação do programa ou do plano, quando este seja diferente do
órgão responsável pela respetiva elaboração, sendo depois transmitida à comissão de
coordenação e desenvolvimento regional territorialmente competente e remetida para
publicação e depósito, nos termos previstos no presente decreto-lei.

Artigo 123.º
Alteração simplificada

1 - Estão sujeitas a um regime procedimental simplificado, as alterações de planos


intermunicipais e municipais que resultem da necessidade de:
a) Redefinição do uso do solo, determinada pela cessação de servidões administrativas e
de restrições de utilidade pública ou pela desafetação de bens imóveis do domínio
público ou dos fins de utilidade pública a que se encontravam adstritos, designadamente
os do domínio privado indisponível do Estado;
b) Previsão de outra forma de execução de uma unidade operativa de planeamento e
gestão, nos casos em que um plano diretor municipal defina que essa execução dependa
de plano de urbanização e/ou plano de pormenor, designadamente através de um
loteamento de iniciativa municipal, com o acordo das entidades públicas envolvidas,
desde que, cumulativamente: i) a propriedade do solo seja exclusivamente pública e o uso
predominante seja o habitacional, ii) traduza a execução de Estratégia Local de Habitação,
prevista no Decreto-Lei n.º 37/2018, de 4 de junho, de Carta Municipal de Habitação ou
de Bolsa de Habitação, previstas na Lei n.º 83/2019, de 3 de setembro;
c) Substituição da altura ou capacidade volumétrica como critério limite para instalações
industriais.

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2 - A integração a que se refere o número anterior é feita por analogia, através da aplicação
das normas do plano que são aplicáveis às parcelas confinantes e com as quais, a parcela
em causa tenha condições para constituir uma unidade harmoniosa.
3 - A deliberação da câmara municipal, da comissão executiva metropolitana, do conselho
intermunicipal ou das câmaras municipais associadas para o efeito, que determina o início
do procedimento de alteração simplificada, nos termos do presente artigo, é tomada no
prazo de 60 dias a contar da data da verificação da desafetação e deve conter a proposta
integradora, nos termos do disposto no número anterior.
4 - A câmara municipal, a comissão executiva metropolitana, o conselho intermunicipal
ou as câmaras municipais associadas para o efeito procedem à publicitação e à divulgação
da proposta, estabelecendo um prazo, que não deve ser inferior a 10 dias, para a
apresentação de reclamações, observações ou sugestões.
5 - Findo o prazo previsto no número anterior e ponderadas as participações, a câmara, a
comissão executiva metropolitana, o conselho intermunicipal ou as câmaras municipais
associadas para o efeito, reformulam os elementos do plano na parte afetada.
6 - As alterações dos planos intermunicipais e municipais referidas no presente artigo,
dependem de parecer não vinculativo da comissão de coordenação e desenvolvimento
regional, quanto à conformidade com as disposições legais e regulamentares vigentes e à
compatibilidade ou conformidade com os programas e os planos territoriais eficazes, o
qual deve ser proferido no prazo de 10 dias a contar da data do envio da proposta.
7 - As alterações simplificadas são aprovadas pela assembleia municipal, pelo conselho
metropolitano, pela assembleia intermunicipal ou pelas assembleias municipais dos
municípios associados para o efeito, consoante os casos, mediante proposta do executivo,
aplicando-se o disposto no capítulo VIII.8 - Excetuam-se do disposto na alínea a) do n.º
1 as situações previstas nos n.os 6 e 7 do artigo 22.º da Lei n.º 31/2014, de 30 de maio,
na sua redação atual.
9 - Nos casos previstos no número anterior, na ausência da decisão referida no número
seguinte, presume-se a compatibilidade do uso habitacional, sendo aplicáveis, com as
devidas adaptações, as normas do plano relativas às parcelas confinantes e com as quais
a parcela em causa tenha condições para constituir uma unidade harmoniosa.
10 - No prazo de 20 dias contados a partir da data da comunicação da pretensão de
promoção de uso habitacional, a câmara municipal territorialmente competente pode
opor-se à presunção prevista no número anterior, por razões de interesse público,
devidamente fundamentadas, designadamente:
a) Ruído;
b) Estacionamento;
c) Sistemas de mobilidade existentes;
d) Espaços verdes, equipamentos públicos e de lazer.

Nota: Segundo Marcelo Caetano a afetação é “o acto ou prática que consagra a coisa à produção efectiva
de utilidade pública” (Direito Administrativo, 1990: 922 e 923). A desafetação (do domínio público) é,
como inverso da afetação, o ato, da lei ou da Administração, de retirar ou subtrair a utilidade pública de
determinada coisa, retirando-a do regime jurídico do domínio público.

Artigo 124.º
Revisão dos programas e planos territoriais

1 - A revisão dos programas regionais decorre da necessidade de adequação das opções


estratégicas que determinaram a sua elaboração, tendo em conta o relatório sobre o estado
do ordenamento do território, previsto no n.º 2 do artigo 189.º

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2 - A revisão dos planos intermunicipais e municipais decorre:
a) Da necessidade de adequação à evolução, a médio e longo prazo, das condições
ambientais, económicas, sociais e culturais, que determinaram a respetiva elaboração,
tendo em conta os relatórios sobre o estado do ordenamento do território previsto no n.º
3 do artigo 189.º;
b) De situações de suspensão do plano e da necessidade da sua adequação à prossecução
dos interesses públicos que a determinaram.
3 - A revisão prevista na alínea a) do número anterior só pode ocorrer decorridos três anos
desde a entrada em vigor do plano.
4 - O disposto nos n.º s 2 e 3 é aplicável aos programas setoriais e especiais, com as
necessárias adaptações.
5 - A revisão do programa nacional de política de ordenamento do território decorre do
resultado da avaliação do programa de ação.

Artigo 125.º
Suspensão dos programas de âmbito nacional e regional

1 - A suspensão, total e parcial, dos programas de âmbito nacional e regional ocorre


quando se verifiquem circunstâncias excecionais resultantes de alteração significativa das
perspetivas de desenvolvimento económico-social incompatíveis com a concretização das
opções estabelecidas no programa, ouvidas as câmaras municipais e as entidades
intermunicipais abrangidas, as entidades públicas responsáveis pela elaboração do
programa setorial ou do programa especial e a comissão de coordenação e
desenvolvimento regional territorialmente competente, consoante os casos.
2 - A suspensão do programa referida no número anterior deve obedecer à forma adotada
para a aprovação.
3 - O ato que determina a suspensão deve conter a fundamentação, o prazo e a incidência
territorial da suspensão, bem como indicar expressamente as disposições suspensas.

Artigo 126.º
Suspensão dos planos intermunicipais e municipais

1 - A suspensão, total ou parcial, de planos intermunicipais e municipais é determinada:


a) Por resolução do Conselho de Ministros, em casos excecionais de reconhecido
interesse nacional ou regional, ouvidas as câmaras municipais e as entidades
intermunicipais abrangidas;
b) No caso de suspensão de planos municipais, por deliberação da assembleia municipal,
sob proposta da câmara municipal, quando se verifiquem circunstâncias excecionais
resultantes de alteração significativa das perspetivas de desenvolvimento económico e
social local ou de situações de fragilidade ambiental incompatíveis com a concretização
das opções estabelecidas no plano;
c) No caso de suspensão de planos intermunicipais, por deliberação da conselho
metropolitano, da assembleia intermunicipal ou das assembleias municipais, mediante
proposta, respetivamente, da comissão executiva metropolitana, do conselho
intermunicipal e das câmaras municipais, quando se trate de municípios associados para
o efeito.
2 - A resolução do Conselho de Ministros e as deliberações referidas no número anterior
devem conter a fundamentação, o prazo e a incidência territorial da suspensão, bem como
indicar expressamente as disposições suspensas.

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3 - A proposta de suspensão, apresentada nos termos das alíneas b) e c) do n.º 1 do
presente artigo, é objeto de parecer da comissão de coordenação e desenvolvimento
regional territorialmente competente, o qual incide apenas sobre a sua conformidade com
as disposições legais e regulamentares aplicáveis.
4 - O parecer referido no número anterior é emitido no prazo improrrogável de 20 dias,
podendo a comissão de coordenação e desenvolvimento regional territorialmente
competente proceder à realização de uma conferência procedimental com entidades
representativas dos interesses a ponderar, de acordo com o disposto no artigo 84.º, com
as necessárias adaptações.
5 - A não emissão de parecer no prazo referido no número anterior equivale à emissão de
parecer favorável.
6 - O parecer da comissão de coordenação e desenvolvimento regional territorialmente
competente, quando emitido, acompanha a proposta de suspensão de plano municipal ou
intermunicipal a submeter à aprovação do órgão competente.
7 - A suspensão prevista nas alíneas b) e c) do n.º 1 implica obrigatoriamente o
estabelecimento de medidas preventivas e a abertura de procedimento de elaboração,
revisão ou alteração de plano intermunicipal ou municipal para a área em causa, em
conformidade com a deliberação tomada, o qual deve estar concluído no prazo em que
vigorem as medidas preventivas.

Artigo 127.º
Revogação

1 - Os programas e os planos territoriais podem ser objeto de revogação sempre que a


avaliação da evolução das condições ambientais, económicas, sociais e culturais assim o
determine.
2 - A revogação de plano territorial intermunicipal, por decisão de um dos municípios
associados, implica a revogação parcial e a respetiva revisão do plano, sem prejuízo de
eventuais obrigações contratuais assumidas.
3 - A revogação dos programas e dos planos territoriais segue, com as devidas adaptações,
os procedimentos estabelecidos no presente decreto-lei para a sua aprovação e publicação.
4 - Sem prejuízo do disposto nos números anteriores, a revogação dos planos diretores
municipais e intermunicipais só produz efeitos com a entrada em vigor de nova
regulamentação para a mesma área.

CAPÍTULO III
Violação dos programas e planos territoriais

Artigo 128.º
Princípio geral

1 - A compatibilidade ou a conformidade entre os diversos programas e planos territoriais


é condição da respetiva validade.
2 - Os programas e os planos territoriais são obrigados a aplicar os conceitos técnicos e
as definições nos domínios do ordenamento do território e do urbanismo fixados por
decreto regulamentar, não sendo admissíveis outros conceitos, designações, definições ou
abreviaturas para o mesmo conteúdo e finalidade.

Artigo 129.º
Invalidade dos planos e programas

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1 - São nulas as normas de programas e de planos que violem qualquer programa ou plano
territorial com o qual devessem ser compatíveis ou conformes.
2 - São, ainda, nulos os programas e os planos territoriais aprovados em violação de
instrumentos de ordenamento do espaço marítimo, sempre que não tenham sido previstas
as necessárias medidas de compatibilização, de acordo com o disposto no artigo 25.º
3 - Salvo menção expressa em contrário, acompanhada da necessária comunicação do
dever de indemnizar, a declaração de nulidade não prejudica os efeitos dos atos
administrativos entretanto praticados com base no plano.

Artigo 130.º
Invalidade dos atos

1 - São nulos os atos praticados em violação de qualquer plano de âmbito intermunicipal


ou municipal aplicável.
2 - Aos atos nulos previstos no número anterior é aplicável o disposto nos artigos 68.º e
69.º do regime jurídico de urbanização e edificação.

Nota: Cf. os art.ºs 161.º e 162.º do CPA (atos nulos).

Artigo 131.º
Fiscalização e inspeção

1 - A fiscalização do cumprimento das normas previstas nos planos territoriais


intermunicipais e municipais compete às câmaras municipais territorialmente
competentes, sem prejuízo das competências atribuídas por lei a outras entidades.
2 - A fiscalização das normas que decorrem dos regulamentos previstos no n.º 3 do artigo
44.º cabe às entidades que, nos termos da lei, são competentes em matéria de proteção e
salvaguarda de recursos e valores naturais.
3 - A fiscalização prevista nos números anteriores pode ser sistemática, no cumprimento
geral do dever de vigilância atribuído às entidades, ou pontual, em função das queixas e
denúncias recebidas.
4 - A realização de ações de inspeção para verificação do cumprimento do disposto no
presente decreto-lei, no que respeita aos interesses de âmbito nacional ou regional, como
tal previstos nos programas e nos planos territoriais, compete à inspeção-geral da
agricultura, do mar, do ambiente e do ordenamento do território.
5 - As contraordenações pela violação de disposições de plano intermunicipal ou de plano
municipal ou de medidas cautelares são desenvolvidas e reguladas em diploma próprio.

Artigo 132.º
Embargo e demolição

1 - Sem prejuízo da coima aplicável e das atribuições de outras entidades nos termos
legais, pode ser determinado o embargo de trabalhos ou a demolição de obras nos
seguintes casos:
a) Pelo presidente da câmara municipal, quando violem plano intermunicipal ou plano
municipal;
b) Pelo inspetor-geral da agricultura, do mar, do ambiente e do ordenamento do território
ou do presidente da comissão de coordenação e desenvolvimento regional territorialmente

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competente, quando esteja em causa a prossecução de objetivos de interesse nacional ou
regional, respetivamente;
2 - As despesas com a demolição correm por conta do dono das obras a demolir e, sempre
que não forem pagas voluntariamente no prazo de 20 dias a contar da notificação para o
efeito, são cobradas coercivamente, servindo de título executivo certidão passada pelos
serviços competentes, da qual conste, além dos demais requisitos exigidos, a identificação
do dono das obras e o montante em dívida.
3 - As ordens de embargo e de demolição são objeto de registo na conservatória de registo
predial competente, mediante comunicação do presidente da câmara municipal ou da
comissão de coordenação e desenvolvimento regional, procedendo-se oficiosamente aos
necessários averbamentos.

Artigo 133.º
Desobediência

O prosseguimento dos trabalhos embargados nos termos do artigo anterior constitui crime
de desobediência nos termos do disposto na alínea b) do n.º 1 do artigo 348.º do Código
Penal.

CAPÍTULO IV
Medidas cautelares

Artigo 134.º
Medidas preventivas

1 - Em área para a qual tenha sido decidida a elaboração, a alteração ou a revisão de um


plano de âmbito intermunicipal ou municipal podem ser estabelecidas medidas
preventivas destinadas a evitar a alteração das circunstâncias e das condições de facto
existentes que possa limitar a liberdade de planeamento ou comprometer ou tornar mais
onerosa a execução do programa ou plano de âmbito intermunicipal ou municipal.
2 - O estabelecimento de medidas preventivas nos termos do número anterior determina
a suspensão da eficácia do plano na área abrangida por aquelas medidas e, ainda, quando
assim seja determinado no ato que as adote, a suspensão dos demais programas e planos
territoriais em vigor na mesma área.
3 - Em área para a qual tenha sido decidida a suspensão de plano municipal ou
intermunicipal, são estabelecidas medidas preventivas nos termos do n.º 7 do artigo 126.º
4 - As medidas preventivas podem consistir na proibição, na limitação ou na sujeição a
parecer vinculativo das seguintes ações:
a) Operações de loteamento e obras de urbanização, de construção, de ampliação, de
alteração e de reconstrução, com exceção das que sejam isentas de controlo administrativo
prévio;
b) Trabalhos de remodelação de terrenos;
c) Obras de demolição de edificações existentes, exceto as que, por regulamento
municipal, possam ser dispensadas de controlo administrativo prévio;
d) Derrube de árvores em maciço ou destruição do solo vivo e do coberto vegetal.
5 - Ficam excluídas do âmbito de aplicação das medidas preventivas, as ações
validamente autorizadas antes da sua entrada em vigor, bem como aquelas em relação às
quais exista já informação prévia favorável ou aprovação do projeto de arquitetura
válidas.

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6 - Em casos excecionais, quando a ação em causa prejudique de forma grave e
irreversível a finalidade do plano, a disposição do número anterior pode ser afastada, sem
prejuízo do direito de indemnização a que houver lugar.
7 - Quando as medidas preventivas envolvam a sujeição a parecer vinculativo, o órgão
competente para o seu estabelecimento determina quais as entidades a consultar.
8 - Para salvaguardar situações excecionais de reconhecido interesse nacional ou regional,
nomeadamente a execução de empreendimentos de relevante interesse público, situações
de calamidade pública ou outras situações de risco, bem como para garantir a elaboração,
alteração ou revisão de programas especiais, o Governo pode estabelecer medidas
preventivas, sendo aplicável as disposições previstas nos números anteriores.
9 - As medidas preventivas estabelecidas para garantir a elaboração, alteração ou revisão
de programas especiais, caducam com a entrada em vigor da atualização dos planos de
âmbito intermunicipal ou municipal preexistentes, nas áreas respetivamente abrangidas,
não se aplicando o disposto na alínea c) do n.º 3 do artigo 141.º e suspendendo-se o
respetivo prazo de vigência durante o prazo estabelecido para atualização do plano.

Artigo 135.º
Normas provisórias

1 - Quando ponderados todos os interesses públicos em presença, a imposição de


proibições e limitações a que se refere o artigo anterior se revele desadequada ou
excessiva, podem ser adotadas normas provisórias que definam de forma positiva o
regime transitoriamente aplicável a uma determinada área do território.
2 - A adoção de normas provisórias depende da verificação cumulativa das seguintes
condições:
a) Existência de opções de planeamento suficientemente densificadas e documentadas no
âmbito do procedimento de elaboração, revisão ou alteração do plano territorial em causa;
b) Necessidade de tais medidas para a salvaguarda de interesses públicos inerentes à
elaboração, revisão ou alteração do plano em causa.

Artigo 136.º
Natureza jurídica

As medidas preventivas e as normas provisórias têm a natureza de regulamentos


administrativos.

Artigo 137.º
Competências

1 - No caso de plano municipal compete à assembleia municipal aprovar as medidas


preventivas e as normas provisórias, sob proposta da câmara municipal.
2 - No caso de programa ou plano intermunicipal compete ao conselho metropolitano ou
à assembleia intermunicipal ou às assembleias municipais dos municípios associados
aprovar as medidas preventivas e as normas provisórias, mediante proposta,
respetivamente, da comissão executiva metropolitana, do conselho metropolitano ou das
câmaras municipais dos municípios associados.
3 - Nos casos previstos no n.º 8 do artigo 134.º, as medidas preventivas são aprovadas por
resolução do Conselho de Ministros, salvo norma especial que determine a sua aprovação
por decreto-lei ou decreto regulamentar.

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Artigo 138.º
Procedimento

1 - A proposta de medidas preventivas relativas a planos municipais ou intermunicipais é


objeto de parecer da comissão de coordenação e desenvolvimento regional
territorialmente competente.
2 - Nos casos em que as medidas preventivas são estabelecidas como consequência da
suspensão de planos intermunicipais ou de planos municipais, a comissão de coordenação
e desenvolvimento regional territorialmente competente emite um único parecer.
3 - Ao parecer referido nos números anteriores aplica-se o disposto nos n.º s 4, 5 e 6 do
artigo 126.º, com as devidas adaptações.
4 - Na elaboração de medidas preventivas a entidade competente está dispensada de dar
cumprimento aos trâmites da audiência dos interessados ou de discussão pública.
5 - A adoção de normas provisórias é precedida de pareceres das entidades que se devam
pronunciar em função da matéria e de discussão pública, nos termos aplicáveis ao plano
territorial intermunicipal ou municipal a que respeitam.
6 - A deliberação municipal ou intermunicipal de adoção de medidas preventivas ou
normas provisórias, bem como a deliberação relativa à prorrogação das mesmas estão
sujeitas a publicação.

Artigo 139.º
Limite material das medidas cautelares

1 - O estabelecimento de medidas preventivas ou de normas provisórias deve ser limitado


aos casos em que fundadamente se preveja ou receie que os prejuízos resultantes da
possível alteração das características do local sejam socialmente mais gravosas do que os
inerentes à adoção daquelas.
2 - O estabelecimento de medidas preventivas ou de normas provisórias deve demonstrar
a respetiva necessidade, bem como esclarecer as vantagens e os inconvenientes de ordem
económica, técnica, social e ambiental decorrentes da sua adoção.
3 - Quando o estado dos trabalhos de elaboração ou de revisão dos planos o permita, deve
a entidade competente para a aprovação de medidas preventivas ou de normas provisórias
cautelares precisar quais são as disposições do futuro plano cuja execução ficaria
comprometida na ausência daquelas medidas.

Artigo 140.º
Âmbito territorial das medidas preventivas e das normas provisórias

1 - A área sujeita às medidas preventivas e às normas provisórias deve ter a extensão que
se mostre adequada à satisfação dos fins a que se destina.
2 - A entidade competente para a aprovação de medidas preventivas ou de normas
provisórias procede à delimitação da área a abranger, devendo os limites dessa área,
quando não possam coincidir, no todo ou em parte, com as divisões administrativas, ser
definidos, sempre que possível, pela referência a elementos físicos facilmente
identificáveis, designadamente vias públicas e linhas de água.

Artigo 141.º
Âmbito temporal das medidas preventivas e das normas provisórias

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1 - O prazo de vigência das medidas preventivas e das normas provisórias deve ser fixado
no ato que as estabelecer, não podendo ser superior a dois anos, prorrogável por mais um,
quando tal se mostre necessário.
2 - Na falta de fixação do prazo de vigência, as medidas preventivas e as normas
provisórias vigoram pelo prazo de um ano, prorrogável por seis meses.
3 - As medidas preventivas e as normas provisórias deixam de vigorar quando:
a) Forem revogadas;
b) Decorrer o prazo fixado para a sua vigência;
c) Entrar em vigor o plano que motivou a sua adoção;
d) A entidade competente abandonar a intenção de elaborar o plano que as originou;
e) Cessar o interesse na salvaguarda das situações excecionais de reconhecido interesse
público, determinando a sua caducidade.
4 - As medidas preventivas devem ser total ou parcialmente revogadas quando, com o
decorrer dos trabalhos de elaboração ou de revisão do plano, se revelem desnecessárias.
5 - Uma área só pode voltar a ser abrangida por medidas preventivas ou normas
provisórias depois de decorridos quatro anos sobre a caducidade das anteriores, salvo
casos excecionais, devidamente fundamentados.
6 - Os planos intermunicipais e municipais que façam caducar medidas preventivas e
normas provisórias devem referi-lo expressamente.
7 - A prorrogação das medidas preventivas e das normas provisórias segue o
procedimento previsto no presente decreto-lei para o seu estabelecimento, devendo o
parecer da comissão de coordenação e desenvolvimento regional territorialmente
competente ser emitido no prazo de 10 dias, sob pena de não ser considerado.

Artigo 142.º
Dever de indemnização

A adoção de medidas preventivas e de normas provisórias pode dar lugar a indemnização


quando destas resulte sacrifício de direitos preexistentes e juridicamente consolidados,
sendo aplicável o disposto no artigo 171.º

Artigo 143.º
Invalidade do licenciamento ou comunicação prévia

São nulos os atos administrativos que decidam pedidos de licenciamento ou admitam


comunicações prévias, com inobservância das proibições ou limitações decorrentes do
estabelecimento de medidas preventivas e de normas provisórias, que violem os pareceres
vinculativos emitidos ou que tenham sido praticados sem prévia solicitação dos pareceres
vinculativos devidos.

Artigo 144.º
Embargo e demolição

1 - As obras e os trabalhos efetuados com inobservância das proibições, condicionantes


ou pareceres vinculativos decorrentes das medidas preventivas e das normas provisórias,
ainda que licenciados ou objeto de comunicação prévia, podem ser embargados ou
demolidos ou, sendo o caso, pode ser ordenada a reposição da configuração do terreno e
da recuperação do coberto vegetal, segundo projeto a aprovar pelas entidades referidas
no número seguinte.

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2 - A competência para ordenar o embargo, a demolição, a reposição da configuração do
terreno ou a recuperação do coberto vegetal, referidos no número anterior, pertence ao
presidente da câmara municipal ou, quando se trate de medidas preventivas estabelecidas
pelo Governo, ao membro do Governo responsável pela área do ordenamento do
território.
3 - O embargo ou a demolição de obras e trabalhos não prejudica o dever de
indemnização, nos termos do artigo 142.º

Artigo 145.º
Suspensão de procedimentos

1 - Nas áreas a abranger por novas regras urbanísticas constantes de plano intermunicipal
ou plano municipal ou da sua revisão, os procedimentos de informação prévia, de
comunicação prévia e de licenciamento ficam suspensos, a partir da data fixada para o
início do período de discussão pública e até à data da entrada em vigor daqueles planos.
2 - Cessando a suspensão do procedimento nos termos do número anterior, este é decidido
de acordo com as novas regras urbanísticas em vigor.
3 - Caso as novas regras urbanísticas não entrem em vigor no prazo de 180 dias desde a
data do início da respetiva discussão pública, cessa a suspensão do procedimento,
devendo neste caso prosseguir a apreciação do pedido até à decisão final de acordo com
as regras urbanísticas em vigor à data da sua prática.
4 - Não se suspende o procedimento nos termos do presente artigo, quando o pedido seja
feito ao abrigo de normas provisórias ou tenha por objeto obras de reconstrução ou de
alteração em edificações existentes, desde que tais obras não originem ou agravem
desconformidade com as normas em vigor ou tenham como resultado a melhoria das
condições de segurança e de salubridade da edificação.
5 - Quando haja lugar à suspensão do procedimento nos termos do presente artigo, os
interessados podem apresentar novo requerimento com referência às regras do plano
colocado à discussão pública, mas a respetiva decisão final fica condicionada à entrada
em vigor das regras urbanísticas que conformam a pretensão.
6 - Caso a versão final do plano aprovado implique alterações ao projeto a que se refere
o número anterior, os interessados podem, querendo, reformular a sua pretensão,
dispondo de idêntica possibilidade aqueles que não tenham feito uso da faculdade prevista
no mesmo número.

CAPÍTULO V
Execução e indemnização

SECÇÃO I
Programação e sistemas de execução

Artigo 146.º
Princípio geral

1 - O município promove a execução coordenada e programada do planeamento


territorial, com a colaboração das entidades públicas e privadas, procedendo à realização
das infraestruturas e dos equipamentos de acordo com o interesse público, os objetivos e
as prioridades estabelecidas nos planos intermunicipais e municipais, recorrendo aos
meios previstos na lei.

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2 - A coordenação e a execução programada dos planos intermunicipais ou municipais
determinam para os particulares o dever de concretizarem e de adequarem as suas
pretensões aos objetivos e às prioridades neles estabelecidas e nos respetivos
instrumentos de programação.
3 - A execução dos sistemas gerais de infraestruturas e de equipamentos públicos
municipais e intermunicipais determina para os particulares o dever de participar no seu
financiamento.
4 - Os planos territoriais integram orientações para a sua execução, a inscrever nos planos
de atividades e nos orçamentos, que contêm, designadamente:
a) A identificação e a programação das intervenções consideradas estratégicas ou
estruturantes, por prioridades, a explicitação dos objetivos e a descrição e estimativa dos
custos individuais e da globalidade das ações previstas no plano, e os respetivos prazos
de execução;
b) A ponderação da viabilidade jurídico-fundiária e da sustentabilidade económico-
financeira das respetivas propostas;
c) A definição dos meios, dos sujeitos responsáveis pelo financiamento da execução e dos
demais agentes a envolver;
d) A estimativa da capacidade de investimento público relativa às propostas do plano
territorial em questão, a médio e a longo prazo, tendo em conta os custos da sua execução.

Artigo 147.º
Sistemas de execução

1 - Os planos territoriais são executados através dos sistemas de iniciativa dos


interessados, de cooperação e de imposição administrativa.
2 - A execução dos planos através dos sistemas referidos no número anterior desenvolve-
se no âmbito de unidades de execução, delimitadas pela câmara municipal, por iniciativa
própria ou a requerimento dos proprietários interessados.
3 - Os planos podem ser executados fora de sistema de execução quando se verifique uma
das seguintes situações:
a) A execução do plano territorial de âmbito intermunicipal ou municipal, ou de parte de
um plano, possa ser realizada por meio de operações urbanísticas, em zonas urbanas
consolidadas, tal como definidas no regime jurídico da urbanização e da edificação;
b) A delimitação de unidades de execução se revelar impossível ou desnecessária, à luz
dos objetivos delineados pelo próprio plano.

Artigo 148.º
Delimitação das unidades de execução

1 - A delimitação de unidades de execução consiste na fixação em planta cadastral dos


limites físicos da área a sujeitar a intervenção urbanística, acompanhada da identificação
de todos os prédios abrangidos.
2 - As unidades de execução devem ser delimitadas de modo a assegurar um
desenvolvimento urbano harmonioso e a justa repartição de benefícios e encargos pelos
proprietários abrangidos, devendo integrar as áreas a afetar a espaços públicos, a
infraestruturas ou a equipamentos previstos nos programas e nos planos territoriais.
3 - As unidades de execução podem corresponder a uma unidade operativa de
planeamento e gestão, à área abrangida por plano de urbanização ou por plano de
pormenor ou a parte desta.

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4 - Na falta de plano de urbanização ou de plano de pormenor aplicável à área abrangida
pela unidade de execução, deve a câmara municipal promover, previamente à aprovação,
um período de discussão pública, em termos análogos aos previstos para o plano de
pormenor.
5 - À unidade de execução pode designadamente estar associado:
a) O desenho urbano;
b) As parcelas;
c) Os alinhamentos;
d) O polígono de base para implantação das edificações;
e) A altura total das edificações;
f) A altura das fachadas;
g) A divisão em lotes;
h) O número máximo de fogos;
i) A área de construção e o respetivo uso;
j) A programação das obras de urbanização;
k) A contratualização para a sua implementação.

Artigo 149.º
Sistema de iniciativa dos interessados

1 - No sistema de iniciativa dos interessados, a execução dos planos de âmbito municipal


e intermunicipal deve ser promovida pelos proprietários ou pelos titulares de outros
direitos reais relativos a prédios abrangidos no plano, ficando estes obrigados a prestar ao
município a compensação devida de acordo com as regras estabelecidas nos planos ou
em regulamento municipal.
2 - Os direitos e as obrigações dos participantes na unidade de execução são definidos por
contrato de urbanização.
3 - De acordo com os critérios estabelecidos na lei e nos planos, cabe aos particulares
proceder à redistribuição dos benefícios e encargos resultantes da execução do
instrumento de planeamento entre todos os proprietários e titulares de direitos inerentes à
propriedade abrangidos pela unidade de execução, na proporção do valor previamente
atribuído aos seus direitos.
4 - A valorização prévia a que se refere o número anterior refere-se à situação anterior à
data da entrada em vigor do plano, sendo, na falta de acordo global entre os intervenientes,
estabelecida nos termos aplicáveis ao processo de expropriação litigiosa, com as
necessárias adaptações.
5 - Nos títulos emitidos no âmbito do procedimento de controlo prévio administrativo
menciona-se a compensação prestada ou que esta não é devida.
6 - É proibida a transmissão em vida ou o registo com base em título de operação
urbanística que não contenha alguma das menções a que se refere o número anterior.

Artigo 150.º
Sistema de cooperação

1 - No sistema de cooperação, a iniciativa de execução do plano pertence ao município,


com a cooperação dos particulares interessados, atuando coordenadamente, de acordo
com a programação estabelecida pela câmara municipal e nos termos do adequado
instrumento contratual.

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2 - Os direitos e as obrigações das partes são definidos por contrato de urbanização, que
pode assumir as seguintes modalidades:
a) Contrato de urbanização, entre os proprietários e ou os promotores da intervenção
urbanística, na sequência da iniciativa municipal;
b) Contrato de urbanização entre o município, os proprietários e ou os promotores da
intervenção urbanística e, eventualmente, outras entidades interessadas na execução do
plano.

Artigo 151.º
Sistema de imposição administrativa

1 - No sistema de imposição administrativa, a iniciativa de execução do plano pertence


ao município, que atua diretamente ou mediante concessão de urbanização.
2 - A concessão só pode ter lugar precedendo concurso público, devendo o respetivo
caderno de encargos especificar as obrigações mínimas do concedente e do
concessionário ou os respetivos parâmetros, a concretizar nas propostas.
3 - Na execução do plano, o concessionário exerce, em nome próprio, os poderes de
intervenção do concedente.
4 - O processo de formação do contrato e a respetiva formalização e efeitos regem-se
pelas disposições aplicáveis às concessões de obras públicas pelo município, com as
necessárias adaptações.

Artigo 152.º
Fundo de compensação

1 - Cada unidade de execução pode estar associada a um fundo de compensação com os


seguintes objetivos:
a) Liquidar as compensações devidas pelos particulares e respetivos adicionais;
b) Cobrar e depositar em instituição bancária as quantias liquidadas;
c) Liquidar e pagar as compensações devidas a terceiros.
2 - O fundo de compensação é gerido pela câmara municipal com a participação dos
interessados nos termos a definir em regulamento municipal.

SECÇÃO II
Instrumentos de execução dos planos

Artigo 153.º
Domínio do Estado e políticas públicas de solo

1 - O Estado, as regiões autónomas e as autarquias locais podem adquirir ou alienar bens


imóveis para prossecução de finalidades de política pública de solo.
2 - Sem prejuízo de outras finalidades previstas na lei, os bens imóveis do domínio
privado do Estado, das regiões autónomas e das autarquias locais podem ser afetos à
prossecução de finalidades de política pública de solo, com vista, nomeadamente, à:
a) Regulação do mercado do solo, tendo em vista a prevenção da especulação fundiária e
a regulação do respetivo valor;
b) Aplicação dos princípios supletivos aplicáveis aos mecanismos de redistribuição de
benefícios e encargos;
c) Localização de infraestruturas, de equipamentos e de espaços verdes e outros espaços
de utilização coletiva;

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d) Realização de intervenções públicas ou de iniciativa pública, nos domínios da proteção
civil, da agricultura, das florestas, da conservação da natureza, da habitação social e da
reabilitação e regeneração urbanas;
e) Execução programada dos planos territoriais.
3 - A cessação de restrições de utilidade pública ou de servidões administrativas de
utilidade pública e a desafetação de imóveis do domínio público ou dos fins de utilidade
pública a que se encontravam adstritos, designadamente os do domínio privado
indisponível do Estado, mesmo que integrem o património de institutos públicos ou de
empresas públicas, têm como efeito a caducidade do regime de uso do solo para eles
especificamente previsto nos planos territoriais, caso estes não tenham estabelecido o
regime de uso do solo aplicável em tal situação.
4 - Sempre que ocorra a caducidade do regime de uso do solo, nos termos do número
anterior, deve ser redefinido o uso do solo, mediante a elaboração de plano territorial ou
a sua alteração simplificada, de acordo com o previsto no artigo 123.º

Artigo 154.º
Reserva de solo

1 - Os planos territoriais podem estabelecer reservas de solo para a execução de


infraestruturas urbanísticas, de equipamentos e de espaços verdes e outros espaços de
utilização coletiva, bem como de habitação pública, a custos controlados ou para
arrendamento acessível.
2 - A reserva de solo que incida sobre prédios de particulares determina a obrigatoriedade
da sua aquisição, no prazo estabelecido no plano territorial ou no respetivo instrumento
de programação.
3 - Na falta de fixação do prazo a que se refere o número anterior, a reserva do solo caduca
no prazo de cinco anos, contados da data da entrada em vigor do respetivo plano
territorial.
4 - São responsáveis pela aquisição dos prédios abrangidos pela reserva de solo, as
entidades administrativas do Estado, das regiões autónomas ou das autarquias locais, em
benefício das quais foi estabelecida aquela reserva.
5 - Findo o prazo a que se referem os n.º s 2 e 3, sem que se verifique a aquisição dos
prédios abrangidos, a reserva de solo caduca.
6 - O disposto no número anterior não se aplica quando a ausência de transmissão do
prédio resulte da falta de execução do plano ou do incumprimento dos deveres
urbanísticos, por parte do proprietário, designadamente dos deveres de realização de
cedências, no âmbito de mecanismos de perequação ou da execução de operações
urbanísticas previstas no plano.
7 - Os municípios são obrigados a declarar a caducidade da reserva de solo e a proceder
à redefinição do uso do solo, salvo se o plano territorial vigente tiver previsto o regime
de uso do solo supletivamente aplicável.

Artigo 155.º
Direito de preferência

1 - Sem prejuízo do previsto no regime jurídico da reabilitação urbana, os municípios


têm o direito de exercer preferência nas transmissões de prédios, realizadas ao abrigo
do direito privado e a título oneroso, no âmbito de execução de planos de pormenor ou
de unidades de execução, designadamente para reabilitação, regeneração ou
restruturação da propriedade.

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2 - O direito de preferência pode ser exercido com a declaração de não aceitação do preço
convencionado, desde que o valor do terreno ou dos edifícios, de acordo com a avaliação
efetuada por perito da lista oficial de escolha do preferente, for inferior em, pelo menos,
20 % ao preço convencionado.
3 - No caso do número anterior, se o transmitente não concordar, por sua vez, com o
oferecido pelo preferente, o preço a pagar no âmbito da preferência deve ser fixado nos
termos previstos para o processo de expropriação litigiosa, com as necessárias
adaptações.
4 - O procedimento do exercício do direito de preferência é fixado em decreto
regulamentar.

Nota: O Regime jurídico da reabilitação urbana foi aprovado pelo decreto-lei n.º 307/2009, de 23 de
outubro (última alteração dl n.º 66/2019, de 21/05).

Artigo 156.º
Direito de superfície

1 - Os municípios podem constituir direitos de superfície sobre bens imóveis do seu


domínio privado para a prossecução de finalidades de política pública do solo.
2 - O direito de superfície é constituído a título oneroso, exceto quando as operações a
realizar pelo superficiário prossigam diretamente interesses públicos relevantes e
constituam contrapartida económica suficiente do direito conferido.
3 - Quando o direito de superfície for constituído a título oneroso, a contrapartida exigida
ao superficiário pode consistir no pagamento de quantia pecuniária, única ou periódica,
ou em qualquer outra prestação que assegure a equivalência financeira em relação ao
benefício conferido.
4 - O procedimento do exercício do direito de preferência é fixado em decreto
regulamentar.

Artigo 157.º
Demolição de edifícios

A demolição de edifícios deve ser autorizada:


a) Quando for necessária para a execução de plano de urbanização ou plano de pormenor;
b) Quando for integrada em operação de reabilitação urbana, prevista no quadro de
uma unidade de execução ou de plano intermunicipal ou de plano municipal;
c) Quando os edifícios careçam de condições de segurança ou de salubridade
indispensáveis ao fim a que se destinam e a respetiva beneficiação ou reparação for
técnica ou economicamente inviável;
d) Quando as características arquitetónicas dos edifícios ou a sua integração urbanística
revelem falta de qualidade ou desadequação.

Artigo 158.º
Concessão de utilização e exploração do domínio público

1 - O Estado, as regiões autónomas e as autarquias locais podem celebrar contratos de


concessão ou conceder licenças de uso privativo de bens que integram o seu domínio
público, designadamente para efeitos de utilização, exploração ou gestão de
infraestruturas urbanas e de espaços e equipamentos de utilização coletiva.

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2 - Aos contratos de concessão referidos no número anterior é aplicável o disposto no
Código dos Contratos Públicos e demais legislação complementar.

Remissões:
Cf. o art.º 88.º da CRP: constitui domínio público aéreo as “camadas aéreas superiores ao território acima
do limite reconhecido ao proprietário ou superficiário”.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define as “infraestruturas urbanas” como “os sistemas técnicos de suporte direto ao funcionamento dos
aglomerados urbanos ou da edificação em conjunto”.

Cf. o 44.º 44 do RJUE.

O art. 44.º, n.º 1, do RJUE, que se reporta às “cedências”, estabelece que o “… proprietário e os demais
titulares de direitos reais sobre o prédio a lotear cedem gratuitamente ao município as parcelas para
implantação de espaços verdes públicos e equipamentos de utilização colectiva e as infra-estruturas que,
de acordo com a lei e a licença ou comunicação prévia, devam integrar o domínio municipal …”. Por sua
vez, o n.º 3 do mesmo preceito, determina que as “… parcelas de terreno cedidas ao município integram-
se no domínio municipal com a emissão do alvará ou, nas situações previstas no artigo 34.º, através de
instrumento próprio a realizar pelo notário privativo da câmara municipal no prazo previsto no n.º 1 do
artigo 36.º, devendo a câmara municipal definir no momento da recepção as parcelas afectas aos domínios
público e privado do município …”.
Por sua vez, o art. 19.º da LFL determina os municípios “… podem cobrar taxas por: … b) Concessão de
licenças de loteamento, de licenças de obras de urbanização, de execução de obras particulares, de
ocupação da via pública por motivo de obras e de utilização de edifícios, bem como de obras para
ocupação ou utilização do solo, subsolo e espaço aéreo do domínio público municipal; c) Ocupação ou
utilização do solo, subsolo e espaço aéreo do domínio público municipal e aproveitamento dos bens de
utilidade pública …”.

A CRP faz uma distinção entre domínio público natural, que integra os bens cuja existência e estado
resultam de fenómenos naturais ( art. 84.º, n.º 1, als. a), b) e c) da CRP) e domínio público artificial,
constituído pelos bens cuja existência e estado são produto da intervenção do homem (art. 84.º, n.º 1, als.
d) e e) da CRP).

Nota: Ac. do TCAN de 26.3.2009 (proc. (00949/06.7BECBR ), no qual se lê: “I. Existe, sem margem para
dúvidas, um domínio público autárquico e, em especial, um domínio público municipal, tanto para mais
que a sua existência é assumida e afirmada em vários diplomas legais e aceite pela doutrina. II. No âmbito
do nosso ordenamento existe efectivamente apenas um domínio público aéreo estadual ou nacional,
não havendo um domínio público aéreo municipal constituído ou correspondente aos respectivos limites
territoriais e que comece para lá da altitude onde o interesse dos proprietários já não chegue. III. Não se
pode concluir, todavia, que os municípios não sejam detentores de espaço aéreo sobrejacente ao seu
domínio público, mormente, ao domínio público rodoviário e que sobre esse espaço os mesmos não
possam ou não devam exercer seus poderes de administração, efectivando dessa forma seus direitos e
interesses. IV. Tal é reconhecido pelo próprio legislador ordinário [cfr. art. 19.º, als. b) e c) da Lei n.º 42/98,
de 06/08 - LFL à data dos factos vigente] quando afirma a sua existência e a confere tais poderes aos
municípios. V. Constitui “questão fiscal” para a qual são competentes os tribunais tributários o apurar se
assiste ao Município o direito a exigir de determinados sujeitos o pagamento de certa quantia, acrescida de
juros moratórios, devida a título de taxas pela utilização/ocupação do espaço público aéreo nos termos
decorrentes do Regulamento de Taxas e Licenças daquele Município.”

Artigo 159.º
Expropriação por utilidade pública

1 - Podem ser expropriados os terrenos ou os edifícios que sejam necessários à execução


dos programas e dos planos territoriais, bem como à realização de intervenções públicas
e instalação de infraestruturas e de equipamentos de utilidade pública.

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2 - As expropriações referidas no presente artigo seguem o disposto no Código das
Expropriações.
3 - Podem, designadamente, ser expropriados por causa de utilidade pública da execução
do plano:
a) As faixas adjacentes contínuas, de acordo com o previsto nos planos territoriais,
destinadas a edificações e suas dependências, nos casos de abertura, alargamento ou
regularização de ruas, praças, jardins e outros espaços de utilização coletiva;
b) Os terrenos destinados a construção adjacentes a vias públicas de áreas urbanas,
quando os proprietários, notificados para os aproveitarem em edificações, o não fizerem,
sem motivo legítimo, no prazo de 18 meses a contar da notificação;
c) Os prédios urbanos que devam ser reconstruídos ou remodelados, em razão das suas
pequenas dimensões, implantação fora do alinhamento, más condições de segurança e
salubridade ou falta de qualidade estética, quando os proprietários não derem
cumprimento, sem motivo legítimo, no prazo de 18 meses, à notificação que, para esse
fim, lhes for feita, sem prejuízo do disposto quanto à restruturação da propriedade.
4 - Os prazos a que se referem as alíneas b) e c) do número anterior referem-se ao início
das obras.
5 - Sem prejuízo do disposto nos números anteriores, a expropriação só pode ter lugar
quando a constituição de uma servidão de direito administrativo ou de outros meios
menos lesivos não seja suficiente para assegurar a prossecução das finalidades de
interesse público em causa.

Nota 1: Art.º 91.º (Expropriação de bens móveis).

Artigo 160.º
Venda forçada

1 - Em alternativa à expropriação prevista no artigo anterior, podem ser sujeitos a


venda forçada:
a) Os bens imóveis necessários às operações de regeneração ou de reabilitação
urbana, quando os respetivos proprietários não cumpram os ónus e deveres decorrentes
de plano territorial;
b) Os edifícios em ruína ou sem condições de habitabilidade, bem como das parcelas de
terrenos resultantes da sua demolição, nas situações previstas no regime jurídico da
reabilitação urbana.
2 - O procedimento de venda forçada obedece ao disposto nos artigos 62.º e 63.º do regime
jurídico da reabilitação urbana, com as necessárias adaptações.
3 - Os adquirentes dos edifícios e parcelas de terrenos ficam obrigados aos ónus e deveres
a que estavam sujeitos os anteriores proprietários, os quais devem ser expressamente
previstos no ato de venda forçada, assim como o respetivo prazo e programação.
4 - No caso de incumprimento previsto no número anterior, pode haver lugar a
expropriação ou a retoma do procedimento de venda forçada.

Nota: O Decreto Regulamentar que define conceitos técnicos do urbanismo define a “operação de
reabilitação urbana” como “o conjunto articulado de intervenções visando, de forma integrada, a
reabilitação urbana de uma determinada área”.

Nota: O Regime jurídico da reabilitação urbana foi aprovado pelo decreto-lei n.º 307/2009, de 23 de
outubro (última alteração dl n.º 66/2019, de 21/05).

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Artigo 161.º
Arrendamento forçado

Os edifícios e as frações autónomas objeto de ação de reabilitação podem ser sujeitos a


arrendamento forçado, nos termos e condições previstas no artigo 59.º do regime
jurídico da reabilitação urbana, com as necessárias adaptações.

Artigo 162.º
Estruturação da propriedade

1 - São operações de reestruturação da propriedade o fracionamento, o emparcelamento


e o reparcelamento da propriedade.
2 - O fracionamento, o emparcelamento e o reparcelamento da propriedade do solo
realiza-se de acordo com o previsto nos planos territoriais, devendo as unidades prediais
ser adequadas ao aproveitamento do solo neles estabelecido.
3 - As operações de reestruturação da propriedade visam:
a) Viabilizar a reconfiguração de limites cadastrais de terrenos;
b) Contribuir para a execução de operações de regeneração e reabilitação urbanas;
c) Assegurar a implementação de políticas públicas e de planos territoriais;
d) Ajustar a dimensão e a configuração do solo à estrutura fundiária definida pelo plano
intermunicipal ou plano municipal;
e) Distribuir equitativamente, entre os proprietários, os benefícios e encargos resultantes
do plano intermunicipal ou plano municipal;
f) Localizar as áreas a ceder obrigatoriamente pelos proprietários destinadas à
implantação de infraestruturas, de espaços verdes ou de outros espaços e equipamentos
de utilização coletiva, bem como para habitação pública, a custos controlados ou para
arrendamento acessível.
4 - As operações de reestruturação em solo urbano são promovidas pela câmara
municipal, por associação de municípios ou pelos proprietários dos solos urbanos.
5 - As operações de reestruturação de iniciativa pública podem ser promovidas mediante
imposição administrativa ou mediante proposta de acordo para reestruturação da
propriedade sobre as unidades prediais a reestruturar.
6 - O município pode proceder à expropriação por causa da utilidade pública da execução
do plano, nos termos do artigo 159.º:
a) Se os proprietários não subscreverem o acordo proposto ou outro alternativo no prazo
fixado;
b) Se os mesmos não derem início às obras ou não as concluírem nos prazos fixados.
7 - Nos casos previstos no número anterior, os edifícios ou prédios devem ser alienados
pela câmara municipal em hasta pública, tendo os anteriores proprietários direito de
preferência, a exercer na referida hasta pública, cuja realização lhes é notificada
pessoalmente ou, quando tal não seja possível, através de edital.
8 - As operações de reestruturação respeitam o uso do solo estabelecido nos planos
intermunicipais e municipais e adequam-se à localização, configuração, função
predominante e utilização da propriedade.

Artigo 163.º
Direito à expropriação

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Os proprietários podem exigir a expropriação por utilidade pública dos seus terrenos
necessários à execução dos planos, quando se destinem a retificação de estremas,
indispensável à realização do aproveitamento previsto em plano de pormenor.

Artigo 164.º
Reparcelamento do solo urbano

1 - O reparcelamento do solo urbano é a operação de reestruturação da propriedade que


consiste no agrupamento de terrenos localizados em solo urbano e na sua posterior
divisão, com adjudicação dos lotes resultantes aos primitivos proprietários ou a outros
interessados.
2 - Sem prejuízo do disposto no n.º 3 do artigo 162.º, são objetivos específicos do
reparcelamento:
a) Ajustar às disposições do plano intermunicipal ou do plano municipal, a configuração
e o aproveitamento dos terrenos para construção;
b) Distribuir equitativamente os benefícios e encargos resultantes do plano;
c) Localizar as áreas a ceder obrigatoriamente pelos proprietários destinadas à
implantação de infraestruturas, de espaços verdes e de equipamentos públicos, bem como
de habitação pública, a custos controlados ou para arrendamento acessível.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define “lote” como o “prédio destinado à edificação, constituído ao abrigo de uma operação de loteamento
ou de um plano de pormenor com efeitos registais.”

Artigo 165.º
Procedimento das operações de reparcelamento do solo urbano

1 - A operação de reparcelamento é da iniciativa dos proprietários, diretamente ou


conjuntamente com outras entidades interessadas, ou da câmara municipal, isoladamente
ou em cooperação.
2 - As relações entre os proprietários e o município, bem como entre os proprietários e
outras entidades interessadas, são reguladas por contrato de urbanização.
3 - O contrato previsto no número anterior pode prever a transferência para as outras
entidades interessadas, dos direitos de comercialização dos prédios ou dos fogos e de
obtenção dos respetivos proventos, bem como a aquisição do direito de propriedade ou
de superfície.
4 - A operação de reparcelamento em área abrangida por plano de pormenor que contenha
as menções constantes das alíneas a) a d), g) e h) do n.º 1 do artigo 102.º pode concretizar-
se através de contrato de urbanização sem necessidade de controlo administrativo prévio,
sendo o registo efetuado nos termos dos artigos 108.º e 109.º

Artigo 166.º
Reparcelamento do solo urbano de iniciativa particular

1 - A operação de reparcelamento da iniciativa dos proprietários inicia-se com a


apresentação de requerimento dirigido ao presidente da câmara municipal, instruído com
o projeto de reparcelamento e subscrito por todos os proprietários dos prédios abrangidos,
bem como pelas demais entidades interessadas, no caso de iniciativa conjunta.
2 - Às operações de reparcelamento do solo urbano por iniciativa particular são aplicáveis
as disposições legais e regulamentares relativas às operações de loteamento.

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Artigo 167.º
Reparcelamento do solo urbano de iniciativa da câmara municipal

1 - A operação de reparcelamento da iniciativa da câmara municipal inicia-se com a


aprovação da delimitação da área a sujeitar a reparcelamento, que deve ser notificada a
todos os proprietários dos prédios abrangidos.
2 - Sempre que algum ou alguns dos proprietários manifestem o seu desacordo, no prazo
de 15 dias, relativamente ao projeto de reparcelamento, pode a câmara municipal
promover a aquisição dos respetivos prédios pela via do direito privado ou, quando não
seja possível, mediante o recurso à expropriação por utilidade pública.
3 - Em tudo o que não se encontre expressamente previsto no presente decreto-lei, são
aplicáveis às operações previstas nos números anteriores, as disposições legais e
regulamentares relativas às operações de loteamento de iniciativa municipal.

Artigo 168.º
Critérios para o reparcelamento

1 - A repartição dos direitos entre os proprietários na operação de reparcelamento é feita


na proporção do valor do respetivo prédio à data do início do processo ou na proporção
da sua área nessa data.
2 - Os proprietários podem fixar, por unanimidade, outro critério, tendo em conta,
designadamente, a participação das outras entidades interessadas nos encargos
decorrentes da operação de reparcelamento.
3 - O cálculo do valor dos lotes ou parcelas resultantes do processo de reparcelamento
deve obedecer a critérios objetivos e aplicáveis a toda a área objeto de reparcelamento,
tendo em consideração a localização, a dimensão e a configuração dos lotes.
4 - Sempre que possível deve procurar-se que os lotes ou parcelas se situem nos antigos
prédios dos mesmos titulares ou na sua proximidade.
5 - Em caso algum podem ser criados ou distribuídos lotes com superfície inferior à
dimensão mínima edificável ou que não reúnam a configuração e características
adequadas para a sua edificação ou urbanização em conformidade com o plano.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define “lote” como o “prédio destinado à edificação, constituído ao abrigo de uma operação de loteamento
ou de um plano de pormenor com efeitos registais.”

Artigo 169.º
Efeitos do reparcelamento

1 - O licenciamento, apresentação da comunicação prévia ou a aprovação da operação de


reparcelamento está sujeita às normas legais e regulamentares aplicáveis às operações de
loteamento e produz os seguintes efeitos:
a) Substituição, com plena eficácia real, dos antigos terrenos pelos novos lotes;
b) Transmissão para a câmara municipal, de pleno direito e livre de quaisquer ónus ou
encargos, das parcelas de terrenos para espaços verdes públicos e de utilização coletiva,
infraestruturas, designadamente arruamentos viários e pedonais, e equipamentos
coletivos que, de acordo com a operação de reparcelamento, devam integrar o domínio
municipal.
2 - A operação de reparcelamento concretizada nos termos do n.º 4 do artigo 165.º produz
os efeitos referidos no número anterior, com as adaptações decorrentes do disposto nos
artigos 108.º e 109.º

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Artigo 170.º
Obrigação de urbanização

1 - A operação de reparcelamento que incida sobre solo urbano implica a obrigação de


urbanizar a zona.
2 - A obrigação referida no número anterior recai sobre quem tiver dado início ao processo
de reparcelamento, podendo, no caso de reparcelamento da iniciativa dos proprietários,
ser assumida por um ou vários, caso se disponham a isso.
3 - Os custos da urbanização são repartidos pelos proprietários e as outras entidades
interessadas ou por estes e pela câmara municipal nos termos do capítulo seguinte.

SECÇÃO III
Da indemnização

Artigo 171.º
Dever de indemnização

1 - As restrições impostas aos proprietários pelos planos territoriais geram um dever de


indemnizar nos termos dos números seguintes, quando a compensação não seja possível.
2 - O sacrifício de direitos preexistentes e juridicamente consolidados que determine a
caducidade, revogação ou a alteração das condições de licença, da comunicação prévia
ou informação prévia válidos e eficazes determina o dever de justa indemnização.
3 - A restrição ao aproveitamento urbanístico constante da certidão de um plano de
pormenor com efeitos registais, determinada pela sua alteração, revisão ou suspensão,
durante o prazo de execução previsto na programação do plano, determina o dever de
justa indemnização.
4 - De acordo com o princípio da proteção da confiança, são, ainda, indemnizáveis as
restrições singulares às possibilidades objetivas de aproveitamento do solo impostas aos
proprietários, resultantes da alteração, revisão ou suspensão de planos territoriais, que
comportem um encargo ou um dano anormal, desde que ocorram no decurso do período
de três anos a contar da data da sua entrada em vigor.
5 - Estão excluídas do número anterior, as restrições, devidamente fundamentadas,
determinadas pelas características físicas e naturais do solo, pela existência de riscos para
as pessoas e bens ou pela falta de vocação do solo para o processo de urbanização e
edificação que decorre da respetiva classificação prevista no plano territorial.
6 - A indemnização a que se refere os números anteriores segue o regime previsto no
Código das Expropriações.
7 - Nas situações previstas nos n.º s 2 a 4 são igualmente indemnizáveis as despesas
efetuadas na concretização de uma modalidade de utilização prevista no plano territorial
se essa utilização for posteriormente alterada ou suprimida por efeitos de revisão ou
suspensão daquele instrumento e essas despesas tiverem perdido utilidade.
8 - Quando a perequação compensatória não seja possível, é responsável pelo pagamento
da indemnização prevista no presente artigo a pessoa coletiva que aprovar o programa ou
plano territorial que determina direta ou indiretamente os danos indemnizáveis.
9 - O direito de indemnização caduca no prazo de três anos a contar da data de entrada
em vigor do plano territorial nos termos dos números anteriores.

Nota 1: A indemnização no Estado de direito, enquanto Estado de justiça material, tem de ser sempre uma
indemnização justa.

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Nota 2: O Decreto Regulamentar que define os conceitos técnicos para a área do urbanismo (de setembro
de 2019) define a perequação como “a redistribuição equitativa dos benefícios e dos encargos resultantes
da execução de um instrumento de gestão territorial vinculativo dos particulares ou de outro instrumento
de intervenção urbanística a que a lei atribua esse efeito”.

CAPÍTULO VI
Regime económico-financeiro

SECÇÃO I
Disposições gerais

Artigo 172.º
Princípios gerais

1 - A regulação fundiária é indispensável ao ordenamento do território, com vista ao


aproveitamento pleno dos recursos naturais, do património arquitetónico, arqueológico e
paisagístico, à organização eficiente do mercado imobiliário, ao desenvolvimento
económico sustentável e à redistribuição justa de benefícios e encargos.
2 - Os programas e planos territoriais são financeiramente sustentáveis, justificando os
fundamentos das opções de planeamento e garantindo a sua infraestruturação,
identificando as mais-valias fundiárias, bem como a definição dos critérios para a sua
parametrização e redistribuição.
3 - A execução de infraestruturas urbanísticas e de equipamentos de utilização coletiva
obedece a critérios de eficiência e sustentabilidade financeira, sem prejuízo da coesão
territorial.

Artigo 173.º
Mecanismos de incentivos

Os planos intermunicipais e municipais devem prever mecanismos de incentivo visando


prosseguir as seguintes finalidades:
a) Conservação da natureza e da biodiversidade;
b) Salvaguarda do património natural, cultural ou paisagístico;
c) Minimização de riscos coletivos inerentes a acidentes graves ou a catástrofes e de
riscos ambientais;
d) Reabilitação ou regeneração urbanas;
e) Dotação adequada em infraestruturas, transportes, equipamentos, espaços verdes ou
outros espaços de utilização coletiva;
f) Habitação social;
g) Eficiência na utilização dos recursos e eficiência energética.
Artigo 174.º
Programa de financiamento urbanístico
1 - Os municípios devem elaborar um programa de financiamento urbanístico que integra
o programa plurianual de investimentos municipais na execução, conservação e reforço
das infraestruturas gerais, assim como a previsão de custos gerais de gestão urbanística e
da forma de financiamento.
2 - O programa de financiamento urbanístico é aprovado anualmente pela assembleia
municipal, sob proposta da câmara municipal.

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3 - O conteúdo documental que integra o programa de financiamento urbanístico é
definido por portaria aprovada pelos membros do Governo responsáveis pelas áreas do
ordenamento do território e da administração local.

Artigo 175.º
Encargos com as operações urbanísticas

1 - As operações urbanísticas previstas em plano municipal e intermunicipal devem


assegurar a execução e o financiamento das infraestruturas, dos equipamentos e dos
espaços verdes e de outros espaços de utilização coletiva.
2 - Para garantia do disposto no número anterior, o plano deve fixar:
a) A realização das necessárias obras de urbanização;
b) A participação proporcional no financiamento das infraestruturas, dos equipamentos,
dos espaços verdes e outros espaços de utilização coletiva, através do pagamento de taxa
pela realização, manutenção e reforço de infraestruturas urbanísticas;
c) A cedência de bens imóveis para fins de utilidade pública.
3 - Ao montante da taxa pela realização, manutenção e reforço de infraestruturas
urbanísticas que seja devida deve ser deduzida a participação proporcional nos encargos
com a realização de infraestruturas gerais.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define as obras de urbanização como “as obras de criação e remodelação de infraestruturas destinadas a
servir diretamente os espaços urbanos ou as edificações, designadamente arruamentos viários e pedonais,
redes de esgotos e de abastecimento de água, eletricidade, gás e telecomunicações, e ainda espaços verdes
e outros espaços de utilização coletiva”. Esta definição corresponde à definição dada pelo art.º 2.º, al. h).
do RJUE.
SECÇÃO II
Redistribuição de benefícios e encargos

Artigo 176.º
Objetivos

1 - Os planos territoriais garantem a justa repartição dos benefícios e encargos e a


redistribuição das mais-valias fundiárias entre os diversos proprietários, a concretizar nas
unidades de execução, devendo prever mecanismos diretos ou indiretos de perequação.
2 - A redistribuição de benefícios e encargos a prever nos planos territoriais deve ter em
consideração os seguintes objetivos:
a) A garantia da igualdade de tratamento relativamente a benefícios e encargos
decorrentes de plano territorial de âmbito intermunicipal ou municipal;
b) A obtenção pelos municípios de meios financeiros adicionais para o financiamento
da reabilitação urbana, da sustentabilidade dos ecossistemas e para garantia da
prestação de serviços ambientais;
c) A disponibilização de terrenos e de edifícios ao município, para a construção ou
ampliação de infraestruturas, de equipamentos coletivos e de espaços verdes e outros
espaços de utilização coletiva;
d) A supressão de terrenos expetantes e da especulação imobiliária;
e) A correção dos desequilíbrios do mercado urbanístico;
f) A promoção do mercado de arrendamento por via da criação de uma bolsa de oferta de
base municipal;
g) A realização das infraestruturas urbanísticas e de equipamentos coletivos em zonas
carenciadas.

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Artigo 177.º
Mecanismos de perequação

1 - Os municípios podem utilizar, designadamente, os seguintes mecanismos de


perequação:
a) Estabelecimento da edificabilidade média do plano;
b) Estabelecimento de uma área de cedência média;
c) Repartição dos custos de urbanização.
2 - Os mecanismos de perequação devem ser utilizados de forma conjugada para garantir
a repartição dos benefícios que resultem do plano, assim como dos encargos necessários
à sua execução.

Nota 1: O Decreto Regulamentar que define os conceitos técnicos para a área do urbanismo (de setembro
de 2019) define a perequação como “a redistribuição equitativa dos benefícios e dos encargos resultantes
da execução de um instrumento de gestão territorial vinculativo dos particulares ou de outro instrumento
de intervenção urbanística a que a lei atribua esse efeito”.

Nota 1: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de
2019), define “edificabilidade” como “a quantidade de edificação que, nos termos das disposições legais
e regulamentares aplicáveis, pode ser realizada numa dada porção do território”.

Artigo 178.º
Distribuição de benefícios

1 - O valor dos benefícios atribuídos a cada proprietário é o resultado da diferença entre


a edificabilidade abstrata e o direito concreto de construção que lhe é atribuído, nos
termos a que se referem os números seguintes.
2 - A edificabilidade abstrata a atribuir a cada proprietário é expressa em metros
quadrados de área de construção e corresponde ao produto da edificabilidade média
prevista no plano pela área total de terreno detida inicialmente por cada proprietário.
3 - A edificabilidade média do plano é determinada pelo quociente entre a área total de
construção e a área de intervenção do plano.
4 - O direito concreto de construção corresponde à edificabilidade específica de cada
parcela ou lote, expressa em metros quadrados e resultante da licença ou apresentação de
comunicação prévia de controlo prévio de operações urbanísticas, em conformidade com
os índices e parâmetros urbanísticos estabelecidos no plano.
5 - Quando o direito concreto de construção do proprietário for inferior à sua
edificabilidade abstrata, o proprietário deve receber uma compensação, nos termos a
prever em regulamento municipal, designadamente, através das seguintes medidas
alternativas ou complementares:
a) Desconto nas taxas que tenha de suportar;
b) Aquisição pelo município, por permuta ou compra, da parte do terreno menos
edificável;
c) Transmissão de uma área correspondente à edificabilidade em defeito.
6 - Quando o direito concreto de construção do proprietário for superior à sua
edificabilidade abstrata, o proprietário, deve compensar a área de construção
correspondente a essa diferença, em numerário ou em espécie, designadamente através
da transmissão para o domínio privado do município de uma área correspondente à área
de construção em excesso.
7 - Salvo disposição contratual em contrário, a compensação é devida no momento do
controlo prévio da operação urbanística.
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Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define “edificabilidade” como “a quantidade de edificação que, nos termos das disposições legais e
regulamentares aplicáveis, pode ser realizada numa dada porção do território”.

Artigo 179.º
Compra e venda de edificabilidade

1 - A compensação prevista nos n.º s 5 e 6 do artigo anterior pode ser objeto de contratos
de compra e venda de edificabilidade entre os proprietários ou entre estes e a câmara
municipal.
2 - A compra e venda de edificabilidade pode assumir a forma de créditos de
edificabilidade.
3 - As transações efetuadas ao abrigo do presente artigo são realizadas nos termos do
regulamento do plano, devem ser obrigatoriamente comunicadas à câmara municipal e
estão sujeitas a inscrição no registo predial.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define “edificabilidade” como “a quantidade de edificação que, nos termos das disposições legais e
regulamentares aplicáveis, pode ser realizada numa dada porção do território”.

Artigo 180.º
Reserva de edificabilidade

Os planos territoriais de âmbito intermunicipal ou municipal podem prever uma


percentagem de índice de construção que reservam para efeitos de perequação, definindo
os termos e condições em que os valores do direito concreto de construir podem ser
utilizados, bem como os mecanismos para a respetiva operacionalização.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define “edificabilidade” como “a quantidade de edificação que, nos termos das disposições legais e
regulamentares aplicáveis, pode ser realizada numa dada porção do território”.

Artigo 181.º
Cálculo da distribuição perequativa intraplano

Os montantes gerados pela perequação entre todos os proprietários da área da unidade de


execução devem compensar-se, de forma que o valor correspondente aos pagamentos a
efetuar equilibre o valor dos recebimentos a que haja lugar.
Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos técnicos para a área do urbanismo (de setembro de
2019) define a perequação como “a redistribuição equitativa dos benefícios e dos encargos resultantes da
execução de um instrumento de gestão territorial vinculativo dos particulares ou de outro instrumento de
intervenção urbanística a que a lei atribua esse efeito”.

Artigo 182.º
Área de cedência média

1 - O plano diretor municipal ou intermunicipal fixa uma área de cedência média para a
instalação de infraestruturas, de equipamentos e espaços urbanos de utilização coletiva,
bem como para habitação pública, a custos controlados ou para arrendamento acessível,
aplicável à perequação intraplano a realizar a nível municipal.

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2 - Na ausência de determinação nos termos previstos no número anterior, o plano de
pormenor deve fixar a área de cedência média.
3 - Para efeitos da cedência média são considerados os parâmetros de dimensionamento
das áreas destinadas à implantação de espaços verdes, de equipamentos e de
infraestruturas de utilização coletiva e de habitação pública, a custos controlados ou para
arrendamento acessível, nos termos definidos no regime jurídico da urbanização e
edificação.
4 - A cedência efetiva é realizada, de acordo com o plano, no ato de individualização no
registo predial dos lotes constituídos por plano de pormenor ou no procedimento de
controlo prévio de operações de loteamento ou de operações com impacte relevante ou
semelhante a loteamento.
5 - Quando a área de cedência efetiva for superior à cedência média, o proprietário deve,
quando pretenda realizar operações urbanísticas, ser compensado, nos termos previstos
no plano ou em regulamento municipal.
6 - Quando a área de cedência efetiva for inferior à cedência média, o proprietário tem
que compensar os demais proprietários ou pagar a respetiva compensação urbanística nos
termos definidos em regulamento municipal.

Artigo 183.º
Repartição dos encargos

1 - Os encargos de urbanização para efeitos de perequação intraplano correspondem a


todos os custos previstos nos planos com infraestruturas urbanísticas, equipamentos,
espaços verdes e outros espaços de utilização coletiva.
2 - A comparticipação nos custos de urbanização é determinada pelos seguintes critérios:
a) O tipo de aproveitamento urbanístico determinados pelas disposições dos planos;
b) A capacidade edificatória atribuída;
c) A extensão excecional de infraestruturas para serviço de uma parcela.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos técnicos para a área do urbanismo (de setembro de
2019) define a perequação como “a redistribuição equitativa dos benefícios e dos encargos resultantes da
execução de um instrumento de gestão territorial vinculativo dos particulares ou de outro instrumento de
intervenção urbanística a que a lei atribua esse efeito”.

CAPÍTULO VII
Comissão Nacional do Território

Artigo 184.º
Atribuições

1 - É criada a Comissão Nacional do Território com a atribuição de coordenar a execução


da política nacional do ordenamento do território, sustentada em indicadores qualitativos
e quantitativos dos instrumentos de gestão territorial, restrições de utilidade pública e
servidões administrativas.
2 - A Comissão Nacional do Território funciona na dependência do membro do Governo
responsável pela área do ordenamento do território, competindo-lhe:
a) Acompanhar a aplicação e o desenvolvimento do disposto na lei de bases de política
pública de solos, do ordenamento do território e urbanismo;

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b) Emitir pareceres e recomendações sobre questões relativas ao ordenamento do
território, por sua iniciativa ou a solicitação do membro do Governo responsável pela área
do ordenamento do território;
c) Acompanhar e monitorizar a elaboração do relatório nacional sobre o estado do
ordenamento do território;
d) Recomendar a elaboração, alteração ou revisão dos relatórios periódicos de avaliação
sobre o desenvolvimento das orientações fundamentais do programa nacional da política
de ordenamento do território, em especial sobre a articulação das estratégias setoriais;
e) Apresentar à Direção-Geral do Território propostas de elaboração de normas técnicas
e procedimentos uniformes para todo o território nacional a aplicar pelos organismos com
responsabilidades e competências em matéria de ordenamento do território;
f) Apresentar à Direção-Geral do Território propostas de elaboração de manuais técnicos
de boas práticas em política de ordenamento do território;
g) Publicar os relatórios, pareceres ou quaisquer outros trabalhos emitidos ou realizados
no âmbito das suas competências;
h) As demais competências previstas no presente decreto-lei.
3 - À Comissão Nacional do Território compete, ainda:
a) Elaborar e atualizar as orientações estratégicas de âmbito nacional da Reserva
Ecológica Nacional (REN);
b) Acompanhar a elaboração das orientações estratégicas de âmbito regional;
c) Produzir recomendações técnicas e guias de apoio adequados ao exercício das
competências pelas entidades responsáveis em matéria de REN;
d) Pronunciar-se, a solicitação dos municípios ou das comissões de coordenação e
desenvolvimento regional, sobre a aplicação dos critérios de delimitação da REN;
e) Emitir parecer em caso de divergência entre as entidades com competências na
aprovação de delimitação da REN a nível municipal;
f) Formular os termos gerais de referência para a celebração dos contratos de parceria
entre as comissões de coordenação e desenvolvimento regional e os municípios, nos
termos do regime jurídico da REN;
g) Gerir a informação disponível sobre a REN, disponibilizando-a, designadamente, no
seu sítio na Internet.
4 - A Comissão Nacional do Território, no âmbito das suas competências, promove as
consultas necessárias aos diversos serviços da administração central, regional e local e
deve facultar a informação por estes solicitada, bem como assegurar os contactos
necessários com a comunidade científica e a participação dos cidadãos.
5 - Os pareceres que devam ser solicitados à Comissão Nacional do Território, nos casos
previstos no presente decreto-lei, são vinculativos para as entidades responsáveis pela
elaboração dos programas.

Artigo 185.º
Composição

1 - A Comissão Nacional do Território é composta por representantes de entidades com


atribuições em matéria de gestão territorial, nos seguintes termos:
a) Pelo Diretor-Geral do Território, que preside;
b) Por um representante de cada uma das comissões de coordenação e desenvolvimento
regional;
c) Por um representante da Agência Portuguesa do Ambiente, I. P.;
d) Por um representante do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, I. P.;
e) Por um representante da Associação Nacional de Municípios Portugueses;

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f) Por um representante das organizações não-governamentais de ambiente e de
ordenamento do território, a indicar pela respetiva confederação nacional;
g) Por um representante do município, entidade intermunicipal ou da associação dos
municípios, quando estejam em causa matérias da respetiva competência.
2 - Sempre que se revele necessário em função dos interesses a salvaguardar, devem
integrar a Comissão Nacional do Território, representantes que prossigam estes
interesses, designadamente:
a) Um representante da Direção-Geral do Tesouro e Finanças;
b) Um representante da Direção-Geral dos Recursos da Defesa Nacional;
c) Um representante da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil;
d) Um representante da Direção-Geral da Política de Justiça;
e) Um representante da Direção-Geral da Administração Local;
f) Um representante do Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres, I. P.;
g) Um representante da Direção-Geral de Energia e Geologia;
h) Um representante da Direção-Geral dos Recursos Naturais, Serviços e Segurança
Marítima;
i) Um representante da Direção-Geral da Agricultura e Desenvolvimento Rural;
j) Um representante da Direção-Geral da Saúde;
k) Um representante da Direção-Geral da Educação;
l) Um representante da Direção-Geral do Património Cultural;
m) Um representante do IAPMEI – Agência para a Competitividade e Inovação, I. P.;
n) Um representante da área metropolitana ou das comunidades intermunicipais, face aos
interesses sub-regionais e municipais envolvidos.
3 - A representação das entidades referidas nos números anteriores é assegurada pelos
seus responsáveis máximos, com possibilidade de delegação em titulares de cargos de
direção superior de 2.º grau, ou em cargos equivalentes no âmbito de outras entidades.
4 - Os representantes referidos no número anterior podem fazer-se acompanhar, nas
reuniões da Comissão Nacional do Território, por técnicos das respetivas entidades ou
por peritos, quando tal se revele adequado em face da ordem de trabalhos e da natureza
das questões a tratar.
5 - Podem, ainda, ser convidados representantes de outros organismos ou pessoas de
reconhecido mérito, em função das matérias submetidas a discussão pela Comissão
Nacional do Território.
6 - Sempre que a matéria em discussão na Comissão Nacional do Território tenha
incidência em atribuições de ministérios nela não representados, deve ser solicitada a
participação de representantes desses ministérios na reunião.
7 - Os representantes que integram a Comissão Nacional do Território e as entidades
consultadas, não têm, pelo exercício destas funções, direito a receber qualquer
remuneração ou abono.

Artigo 186.º
Funcionamento

1 - A Comissão Nacional do Território reúne, ordinariamente, com periodicidade


bimestral, sem prejuízo do disposto no número seguinte.
2 - O presidente, por sua iniciativa ou a solicitação dos seus membros, pode convocar
reuniões extraordinárias da Comissão Nacional do Território.
3 - As deliberações da Comissão Nacional do Território são tomadas por maioria dos
votos dos membros presentes, com menção expressa da posição de cada um e lavrada em
ata.

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4 - A Comissão Nacional do Território elabora o seu regimento interno e submete-o a
homologação do membro do Governo responsável pelas áreas do ordenamento do
território e do ambiente.
5 - A Direção-Geral do Território presta o apoio logístico, administrativo e técnico ao
funcionamento da Comissão Nacional do Território.

CAPÍTULO VIII
Avaliação

Artigo 187.º
Princípios gerais

1 - As entidades da administração devem promover permanente avaliação da adequação


e concretização da disciplina consagrada nos programas e planos territoriais por si
elaborados, suportada nos indicadores qualitativos e quantitativos neles previstos.
2 - Nos programas e planos sujeitos a avaliação ambiental, deve ser garantida a avaliação
dos efeitos significativos da sua execução no ambiente, por forma a identificar os efeitos
negativos imprevistos e aplicar as necessárias medidas corretivas previstas na declaração
ambiental.
3 - Sem prejuízo do disposto no n.º 1, sempre que a entidade responsável pela elaboração
o considere conveniente, a avaliação pode ser assegurada por entidades independentes de
reconhecido mérito, designadamente instituições universitárias ou científicas nacionais
com uma prática de investigação relevante nas áreas do ordenamento do território.

Artigo 188.º
Propostas de alteração decorrentes da avaliação dos
planos municipais e intermunicipais
A avaliação pode fundamentar propostas de alteração do plano ou dos respetivos
mecanismos de execução, nomeadamente com o objetivo de:
a) Assegurar a concretização dos fins do plano, tanto ao nível da execução como dos
objetivos a médio e longo prazo;
b) Garantir a criação ou alteração coordenada das infraestruturas e dos equipamentos;
c) Corrigir distorções de oferta no mercado imobiliário;
d) Garantir a oferta de terrenos e lotes destinados a edificações, com rendas ou a custos
controlados;
e) Promover a melhoria de qualidade de vida e a defesa dos valores ambientais e
paisagísticos.

Artigo 189.º
Relatórios sobre o estado do ordenamento do território

1 - O Governo elabora, de dois em dois anos, um relatório sobre o estado do ordenamento


do território a submeter à apreciação da Assembleia da República.
2 - A comissão de coordenação e desenvolvimento regional elabora, de quatro em quatro
anos, um relatório sobre o estado do ordenamento do território a nível regional, a
submeter à apreciação da respetiva tutela.
3 - A câmara municipal, a comissão executiva metropolitana, o conselho intermunicipal
ou as câmaras municipais dos municípios associados elaboram, de quatro em quatro anos,
um relatório sobre o estado do ordenamento do território, a submeter, respetivamente, à

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apreciação da assembleia municipal, do conselho metropolitano, da assembleia
intermunicipal ou das assembleias municipais dos municípios associados para o efeito.
4 - Os relatórios sobre o estado do ordenamento do território, referidos nos números
anteriores, traduzem o balanço da execução dos programas e dos planos territoriais, objeto
de avaliação, bem como dos níveis de coordenação interna e externa obtidos,
fundamentando uma eventual necessidade de revisão.
5 - Concluída a sua elaboração, os relatórios sobre o estado do ordenamento do território
são submetidos a um período de discussão pública de duração não inferior a 30 dias.
6 - A não elaboração dos relatórios sobre o estado do ordenamento do território, nos
prazos estabelecidos nos números anteriores, determina, consoante o caso, a
impossibilidade de rever o programa nacional da política de ordenamento do território,
os programas regionais e os planos municipais e intermunicipais.

Artigo 190.º
Sistemas nacionais de informação

1 - O Governo promove a criação e o desenvolvimento de um sistema nacional de


informação territorial, integrando os elementos de análise relevante nos âmbitos nacional,
regional, sub-regional e local, a funcionar em articulação com a Comissão Nacional do
Território.
2 - O Governo assegura, através da Direção-Geral do Território, no âmbito do sistema de
informação referido no número anterior, a utilização das seguintes plataformas
eletrónicas:
a) Plataforma colaborativa de gestão territorial, destinada a servir de apoio ao
acompanhamento dos programas e dos planos territoriais, quer pelas entidades
responsáveis pela sua elaboração, alteração ou revisão, quer pelas entidades
representativas dos interesses públicos em presença na respetiva área de intervenção;
b) Plataforma de submissão automática, destinada ao envio dos programas e dos planos
territoriais para publicação no Diário da República e para depósito na Direção-Geral do
Território, bem como ao envio para publicação no Diário da República, de todos os atos
constitutivos dos processos de formação dos programas e dos planos territoriais
identificados no artigo seguinte.
3 - A submissão automática referida na alínea b) do número anterior deve ser realizada
de acordo com o modelo de dados aprovado pela Direção-Geral do Território.
4 - A plataforma colaborativa a que se refere a alínea a) do número anterior destina-se,
ainda, a disponibilizar aos interessados e a todos os cidadãos os elementos relativos à
elaboração, alteração, correção material, revisão, suspensão, revogação e avaliação dos
programas e dos planos territoriais.
5 - Os requisitos, as condições e as regras de funcionamento e de utilização das
plataformas a que se refere o n.º 2, incluindo o modelo de dados aplicável, são fixados,
por portaria dos membros do Governo responsáveis pelas áreas do ordenamento do
território e da modernização administrativa e do membro do Governo com
superintendência sobre a Imprensa Nacional Casa da Moeda, S. A., tendo em conta a
interoperabilidade com as plataformas já existentes na Administração Pública.
6 - Sem prejuízo do disposto no presente artigo, os serviços e organismos da
Administração Pública devem proceder às demais consultas mútuas, para obtenção de
pareceres, de informações e de outros elementos previstos no presente decreto-lei, através
de meios eletrónicos, nomeadamente da plataforma de interoperabilidade da
Administração Pública e do correio eletrónico.

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CAPÍTULO IX
Eficácia e publicidade

Artigo 191.º
Publicação no Diário da República

1 - A eficácia dos programas e dos planos territoriais depende da respetiva publicação no


Diário da República.
2 - São publicados na 1.ª série do Diário da República:
a) A resolução do Conselho de Ministros que determina a elaboração do programa
nacional da política de ordenamento do território;
b) A resolução do Conselho de Ministros que determina a elaboração do programa
regional;
c) A lei que aprova o programa nacional da política de ordenamento do território,
incluindo o relatório e as peças gráficas ilustrativas;
d) A resolução do Conselho de Ministros que determina a suspensão de plano municipal
ou de plano intermunicipal;
e) A resolução do Conselho de Ministros que aprova o programa regional, incluindo os
elementos referidos no n.º 1 do artigo 155.º;
f) A resolução do Conselho de Ministros ou, quando for o caso, o ato que, nos termos da
lei, aprova o programa setorial, incluindo os elementos referidos no n.º 1 do artigo 41.º;
g) A decisão relativa à ratificação total ou parcial, ou à recusa de ratificação, das
disposições do plano diretor municipal ou do plano diretor intermunicipal, identificando
as partes do regulamento, da planta de ordenamento ou da planta de condicionantes
afetadas;
h) A resolução do Conselho de Ministros que aprova o programa especial, incluindo as
normas de execução e as peças gráficas ilustrativas;
i) A resolução do Conselho de Ministros que aprova as medidas preventivas, incluindo o
respetivo texto e a planta de delimitação;
j) A resolução do Conselho de Ministros que suspende o programa regional, o programa
setorial e o programa especial;
k) A resolução do Conselho de Ministros que determina a revogação de programa
territorial.
3 - (Revogado.)
4 - São publicados na 2.ª série do Diário da República:
a) Os avisos de abertura do período de discussão pública dos programas e dos planos
territoriais;
b) A declaração de suspensão prevista no n.º 2 do artigo 29.º;
c) A deliberação municipal que determina a elaboração de plano municipal;
d) A deliberação das assembleias municipais ou da assembleia intermunicipal que
determina a elaboração de programa intermunicipal;
e) A deliberação das assembleias municipais ou da assembleia intermunicipal que aprova
o plano intermunicipal, incluindo o relatório e as peças gráficas ilustrativas;
f) A deliberação municipal que aprova o plano municipal não sujeito a ratificação ou que
obteve a ratificação total das disposições, e a deliberação a que se refere o n.º 5 do artigo
91.º, incluindo o regulamento, a planta de ordenamento, de zonamento ou de implantação,
consoante os casos, e a planta de condicionantes;
g) A deliberação das assembleias municipais ou da assembleia intermunicipal que aprova
o plano intermunicipal, incluindo o regulamento, a planta de ordenamento e a planta de
condicionantes;

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h) A deliberação municipal que aprova as medidas preventivas e normas provisórias,
incluindo o respetivo texto e a planta de delimitação, bem como a deliberação municipal
que aprova a prorrogação do prazo de vigência das medidas preventivas e das normas
provisórias;
i) A deliberação municipal que suspende o plano municipal, incluindo o texto das medidas
preventivas e das normas provisórias respetivas e a planta de delimitação;
j) A deliberação municipal ou intermunicipal que determina a revogação de plano diretor
municipal ou de plano diretor intermunicipal.
k) A declaração da entidade responsável pela elaboração do programa ou do plano
territorial, prevista no n.º 3 do artigo 121.º
5 - Caso haja lugar a ratificação de disposições do plano diretor municipal, a publicação
da deliberação prevista na alínea f) do número anterior deve incluir anexo mencionando
a decisão prevista na alínea g) do n.º 2 e, na falta de ratificação total, indicando as
disposições objeto de recusa total ou parcial de ratificação e as alterações introduzidas no
plano para sanar as incompatibilidades identificadas, nos termos do n.º 5 do artigo 91.º
6 - As alterações ou revisões dos programas e dos planos territoriais que incidem sobre
as respetivas plantas e peças gráficas determinam a publicação integral das mesmas ou,
quando for o caso, da folha ou das folhas alteradas.
7 - A publicação das plantas e demais peças gráficas referentes aos programas e aos planos
territoriais, bem como das suas alterações, é efetuada mediante ligação automática do
local da publicação dos atos a que se referem no sítio na Internet do Diário da República
ao local da sua publicação no SNIT.
8 - Compete à Direção-Geral do Território assegurar a criação e o funcionamento da
plataforma informática a que se refere a alínea b) do artigo 190.º, que garante a
permanente acessibilidade e legibilidade no SNIT das plantas e peças gráficas referidas
no número anterior, devendo assegurar que:
a) As plantas e peças gráficas não são alteradas;
b) Sempre que se proceda a alterações, a revisões, a adaptações ou a retificações das
plantas e peças gráficas é disponibilizada uma nova versão integral das mesmas.
9 - O envio dos programas e planos territoriais para publicação no Diário da República é
efetuado por via eletrónica através da plataforma informática prevista na alínea b) do
artigo 190.º

Artigo 192.º
Outros meios de publicidade

1 - O programa nacional da política de ordenamento do território, os programas setoriais,


os programas especiais e os programas regionais divulgados nos termos previstos no
artigo anterior, devem ser objeto de publicitação na página na Internet das entidades
responsáveis pela sua elaboração.
2 - Os programas e planos intermunicipais e os planos municipais, as medidas preventivas
e as normas provisórias e a declaração de suspensão dos planos intermunicipais ou
municipais, deve ser objeto de publicitação nos boletins municipais e na página na
Internet das entidades responsáveis pela sua elaboração.
3 - Os programas e os planos territoriais cuja área de intervenção incide sobre o território
municipal devem, ainda, ser objeto de publicação nos boletins municipais.

Artigo 193.º
Depósito e consulta

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1 - A Direção-Geral do Território procede, através da plataforma eletrónica a que se refere
a alínea b) do n.º 2 do artigo 190.º, ao depósito de todos os programas e planos territoriais
com o conteúdo documental integral previsto no presente decreto-lei, incluindo as
alterações, as revisões, as suspensões, as adaptações e as retificações de que sejam objeto,
bem como das medidas preventivas, disponibilizando a sua consulta a todos os
interessados.
2 - As câmaras municipais devem criar e manter um sistema que assegure a possibilidade
de consulta pelos interessados dos programas e dos planos territoriais com incidência
sobre o território municipal, podendo fazê-lo através de ligação ao sistema nacional de
informação territorial.
3 - A consulta dos programas e dos planos territoriais, prevista no presente artigo, deve,
igualmente, ser possível em suporte informático adequado e através do sistema nacional
de informação territorial.

Artigo 194.º
Instrução dos pedidos de depósito

1 - Para efeitos do depósito de planos intermunicipais e municipais, assim como das


respetivas alterações e revisões, e ainda de medidas preventivas, a assembleia
intermunicipal ou a câmara municipal, conforme a natureza do plano aprovado, remete à
Direção-Geral do Território uma coleção completa das peças escritas e gráficas que, nos
termos do presente decreto-lei, constituem o conteúdo documental do instrumento de
planeamento territorial, bem como cópia autenticada da deliberação da assembleia
municipal que aprova o plano, o respetivo relatório ambiental, os pareceres emitidos nos
termos do presente decreto-lei ou a ata da conferência procedimental, quando a eles
houver lugar, e o relatório de ponderação dos resultados da discussão pública.
2 - Sem prejuízo do disposto no número anterior, as entidades responsáveis pela
elaboração dos demais programas e planos territoriais remetem à Direção-Geral do
Território, uma coleção completa das peças escritas e gráficas que, nos termos do presente
decreto-lei, constituem o conteúdo documental do instrumento de planeamento territorial.
3 - A submissão dos programas e dos planos territoriais a depósito na Direção-Geral do
Território é realizada por via eletrónica, com o envio para publicação no Diário da
República, através da plataforma informática referida na alínea b) do n.º 2 do artigo 190.º

Artigo 195.º
Informação e divulgação

1 - Após a publicação no Diário da República de programa ou de plano territorial sujeito


a avaliação ambiental, a entidade competente pela respetiva elaboração envia à Agência
Portuguesa do Ambiente, I. P., uma declaração contendo os elementos referidos no artigo
10.º do Decreto-Lei n.º 232/2007, de 15 de junho, alterado pelo Decreto-Lei n.º 58/2011,
de 4 de maio.
2 - A informação referida no número anterior é disponibilizada ao público pela entidade
responsável pela elaboração do plano ou do programa, através da respetiva página na
Internet, podendo igualmente ser publicitada na página na Internet da Agência Portuguesa
do Ambiente, I. P.

CAPÍTULO X
Disposições finais e transitórias

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Artigo 196.º
Comissões consultivas

Os representantes que participem nas comissões consultivas previstas no presente


decreto-lei não têm, por esse facto, direito a receber qualquer tipo de remuneração ou
abono.
Artigo 197.º
Aplicação direta

1 - As regras estabelecidas no presente decreto-lei aplicam-se aos procedimentos já


iniciados à data da sua entrada em vigor, sem prejuízo da salvaguarda dos atos já
praticados.
2 - Excecionam-se do disposto no número anterior os procedimentos relativos aos
instrumentos de gestão territorial que se encontrem em fase de discussão pública, à data
da entrada em vigor do presente decreto-lei.

Artigo 198.º
Planos especiais em vigor

1 - O conteúdo dos planos especiais em vigor deve ser integrado no prazo e nas condições
estabelecidas pelo artigo 78.º da lei bases gerais da política pública de solos, do
ordenamento do território e urbanismo, tendo por objeto as normas identificadas nos
termos do n.º 2 do mesmo artigo, mediante revisão, alteração das disposições do plano
territorial incompatíveis ou alteração por adaptação nos termos do n.º 2 do artigo 121-º
2 - Na transposição dos planos especiais para os planos municipais ou intermunicipais,
deve ser assegurada a conformidade entre os dois planos ao nível dos regulamentos e das
respetivas plantas.
3 - Para efeitos do disposto no presente artigo são aplicáveis as regras previstas no n.º 4
do artigo 3.º e no artigo 91.º, com as necessárias adaptações.
4 - A transposição das normas de plano especial não obsta à sua correção nem à alteração
das mesmas nos territórios dos municípios em que a transposição ainda não tenha
ocorrido, desde que, neste caso, não implique dificuldade acrescida na transposição,
atestada por declaração da câmara municipal competente.
5 - As normas que não devam ser objeto de transposição nos termos do n.º 1 são
consideradas como regulamento próprio, para os efeitos previstos no n.º 3 do artigo 44.º
6 - A transposição a que se referem os n.os 1 e 2 pode ser assegurada, com as devidas
adaptações, com base em programa especial que tenha, entretanto, revogado o plano
especial objeto de transposição.
7 - Sem prejuízo do disposto no número anterior, no prazo de um ano a partir do final do
prazo estabelecido no n.º 1 do artigo 78.º da lei de bases gerais da política pública de
solos, do ordenamento do território e urbanismo, devem ser aprovados programas
especiais que revoguem os planos especiais ainda vigentes.

Artigo 199.º
Classificação do solo

1 - As regras relativas à classificação dos solos são aplicáveis nos termos do artigo 82.º
da lei bases de política pública de solos, do ordenamento do território e urbanismo.
2 - Sem prejuízo do disposto no número anterior, os planos municipais ou intermunicipais
devem, até 31 de dezembro de 2024, incluir as regras de classificação e qualificação

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previstas no presente decreto-lei, abrangendo a totalidade do território do município, sob
pena de suspensão das normas dos planos territoriais em vigor na área em causa.
3 - Se, até 31 de outubro de 2024, não tiver lugar a primeira reunião da comissão
consultiva, nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 13.º da Portaria n.º 277/2015, de 10
de setembro, ou a conferência procedimental a que se refere o n.º 3 do artigo 86.º, por
facto imputável ao município ou à associação de municípios em questão, é suspenso o
respetivo direito de candidatura a apoios financeiros comunitários e nacionais que não
sejam relativos à saúde, educação, habitação ou apoio social.
4 - A suspensão prevista no número anterior cessa com a disponibilização dos documentos
previstos na alínea a) do n.º 1 e no n.º 3 do artigo 12.º da Portaria n.º 277/2015, de 10 de
setembro, ou no n.º 3 do artigo 86.º, consoante o caso e nos respetivos termos, e
apresentação de pedido, à entidade competente, de convocação da primeira reunião da
comissão consultiva ou da conferência procedimental.
5 - Para os efeitos previstos no número anterior, presume-se imputável ao município a
falta de comparência à reunião ou a falta de envio atempado da proposta de plano,
aplicando-se, com as devidas adaptações, o disposto no n.º 6 do artigo 29.º
6 - A partir da data estabelecida no n.º 2, a ausência das regras de classificação e
qualificação previstas no presente decreto-lei, em qualquer parte do território do
município, por motivo que lhe seja imputável, implica a suspensão das normas dos planos
territoriais em vigor na área em causa, não podendo, nessa área e enquanto durar a
suspensão, haver lugar à prática de quaisquer atos ou operações que impliquem a
ocupação, uso e transformação do solo, sem prejuízo do disposto no n.º 3 do artigo 82.º
da Lei n.º 31/2014, de 30 de maio, na sua redação atual.
7 - Para os efeitos previstos no número anterior, a comissão de coordenação e
desenvolvimento regional competente identifica as disposições objeto de suspensão,
ouvido o município, podendo este, no prazo de 30 dias, indicar as áreas que já tenham
sido objeto de classificação do solo e as que se encontrem abrangidas pela exceção
prevista no n.º 3 do artigo 82.º da Lei n.º 31/2014, de 30 de maio, na sua redação atual,
ou demonstrar que o incumprimento decorreu de motivo que não lhe é imputável.

Artigo 200.º
Instrumentos de gestão territorial

1 - Os planos setoriais expressamente previstos por lei e os planos regionais de


ordenamento do território em vigor são equiparados, para todos os efeitos, aos programas
setoriais e aos programas reginais, respetivamente.
2 - Na sua alteração ou revisão, os planos sectoriais e os planos regionais de ordenamento
do território a que se refere o número anterior adotam a forma do programa territorial que
lhes corresponde.

Artigo 201.º
Extinção da Comissão Nacional da Reserva Ecológica Nacional

1 - É extinta a Comissão Nacional da Reserva Ecológica Nacional.


2 - A Comissão Nacional do Território sucede nas atribuições da Comissão Nacional da
Reserva Ecológica Nacional, bem como em todas as posições jurídicas assumidas por
esta.
3 - Todas as referências legais feitas à Comissão Nacional da Reserva Ecológica Nacional
consideram-se feitas à Comissão Nacional do Território.

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Artigo 202.º
Disposição transitória

1 - Os relatórios do estado do ordenamento do território, previstos no artigo 189.º, são


obrigatoriamente revistos no prazo de quatro anos.
2 - Durante o período definido no artigo anterior, sempre que a necessidade de revisão de
um programa ou plano territorial não esteja fundamentada em relatório sobre o estado do
ordenamento do território, deve ser ponderada em sede de um relatório de avaliação
elaborado especificamente para o efeito.
3 - Para efeitos de cálculo de áreas destinadas à implantação de espaços verdes e de
utilização coletiva, de infraestruturas viárias e de equipamentos, sempre que os planos
municipais não determinarem os parâmetros de dimensionamento, é aplicável o disposto
na Portaria n.º 216-B/2008, de 3 de março.
4 - As contraordenações previstas nos artigos 104.º e 113.º do Decreto-Lei n.º 380/99, de
22 de setembro, mantêm-se em vigor até à publicação do diploma previsto no n.º 5 do
artigo 131.º

Artigo 203.º
Regulamentação

1 - No prazo de 90 dias são revistos ou aprovados os regulamentos, que definem:


a) A composição e o funcionamento da comissão consultiva que assegura o
acompanhamento da elaboração do plano diretor municipal;
b) Os Critérios uniformes de classificação e reclassificação do solo, de definição da
atividade dominante, bem como das categorias relativas ao solo rústico e urbano,
aplicáveis a todo o território nacional;
c) A composição interdisciplinar mínima das equipas autoras da elaboração dos planos;
d) Os conceitos técnicos nos domínios do ordenamento do território e do urbanismo,
designadamente, relativos aos indicadores, aos parâmetros, à simbologia e à
sistematização gráfica, a utilizar nos programas e nos planos territoriais.
2 - No prazo de 180 dias são revistos:
a) O Decreto-Lei n.º 159/2012, de 24 de julho;
b) O Decreto-Lei n.º 107/2009, de 15 de maio, alterado pelo Decreto-Lei n.º 26/2010, de
20 de março;
c) O Decreto-Lei n.º 129/2008, de 21 de julho;
d) O Decreto-Lei n.º 142/2008, de 24 de julho.
3 - A cartografia topográfica e topográfica de imagem a utilizar na elaboração, alteração
ou revisão dos programas e planos territoriais e na aplicação de medidas cautelares e a
cartografia temática que daí resulte, estão sujeitas ao previsto no Decreto-Lei n.º 193/95,
de 18 de julho, republicado pelo Decreto-Lei n.º 141/2014, de 19 de setembro, e às normas
e especificações técnicas constantes do sítio na Internet da Direção-Geral do Território.

Artigo 204.º
Regiões autónomas

1 - O presente decreto-lei aplica-se às regiões autónomas dos Açores e da Madeira, sem


prejuízo das respetivas competências legislativas em matéria de ordenamento do
território.

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2 - As figuras de programas e de planos territoriais específicos das regiões autónomas
devem enquadrar-se como modalidades específicas dos programas especiais, dos
programas regionais e dos planos territoriais estabelecidos no presente decreto-lei.

Artigo 205.º
Norma revogatória

Sem prejuízo do disposto no n.º 4 do artigo 199.º, são revogados:


a) O Decreto-Lei n.º 380/99, de 22 de setembro;
b) Os artigos 28.º a 31.º do Decreto-Lei n.º 166/2008, de 22 de agosto, alterado pelos
Decretos-Leis n.º s 239/2012, de 2 de novembro, e 96/2013, de 19 de julho;
c) A Portaria n.º 137/2005, de 2 de fevereiro;
d) A Portaria n.º 138/2005, de 2 de fevereiro, alterada pelo Decreto-Lei n.º 9/2007, de 17
de janeiro.

Artigo 206.º
Entrada em vigor

O presente decreto-lei entra em vigor 60 dias após a data da sua publicação.


Visto e aprovado em Conselho de Ministros de 26 de fevereiro de 2015. - Pedro Passos Coelho - Maria Luís Casanova
Morgado Dias de Albuquerque - José Pedro Correia de Aguiar-Branco - Fernando Manuel de Almeida Alexandre -
António Manuel Coelho da Costa Moura - Luís Miguel Poiares Pessoa Maduro - António de Magalhães Pires de Lima
- Jorge Manuel Lopes Moreira da Silva - Maria de Assunção Oliveira Cristas Machado da Graça - Paulo José de Ribeiro
Moita de Macedo.
Promulgado em 29 de abril de 2015.
Publique-se.
O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva.
Referendado em 4 de maio de 2015.
O Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho.

REGIME JURÍDICO DA URBANIZAÇÃO E EDIFICAÇÃO (RJUE)

Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de dezembro


(última atualização: Decreto-Lei 10/2024, de 08/01)

A revisão dos regimes jurídicos do licenciamento municipal de loteamentos


urbanos e obras de urbanização e de obras particulares constitui uma necessidade porque,
embora recente, a legislação actualmente em vigor não tem conseguido compatibilizar as
exigências de salvaguarda do interesse público com a eficiência administrativa a que
legitimamente aspiram os cidadãos.
Os regimes jurídicos que regem a realização destas operações urbanísticas
encontram-se actualmente estabelecidos em dois diplomas legais, nem sempre coerentes
entre si, e o procedimento administrativo neles desenhado é excessivamente complexo,
determinando tempos de espera na obtenção de uma licença de loteamento ou de
construção que ultrapassam largamente os limites do razoável.
Neste domínio, a Administração move-se num tempo que não tem correspondência
na vida real, impondo um sacrifício desproporcional aos direitos e interesses dos
particulares.
Mas, porque a revisão daqueles regimes jurídicos comporta também alguns riscos,
uma nova lei só é justificável se representar um esforço sério de simplificação do sistema

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sem, contudo, pôr em causa um nível adequado de controlo público, que garanta o respeito
intransigente dos interesses públicos urbanísticos e ambientais.
Se é certo que, por via de um aumento da responsabilidade dos particulares, é
possível diminuir a intensidade do controlo administrativo a que actualmente se sujeita a
realização de certas operações urbanísticas, designadamente no que respeita ao respectivo
controlo prévio, isso não pode nem deve significar menor responsabilidade da
Administração.
A Administração tem de conservar os poderes necessários para fiscalizar a
actividade dos particulares e garantir que esta se desenvolve no estrito cumprimento das
disposições legais e regulamentares aplicáveis.
O regime que agora se institui obedece, desde logo, a um propósito de
simplificação legislativa.
Na impossibilidade de avançar, desde já, para uma codificação integral do direito
do urbanismo, a reunião num só diploma destes dois regimes jurídicos, a par da adopção
de um único diploma para regular a elaboração, aprovação, execução e avaliação dos
instrumentos de gestão territorial, constitui um passo decisivo nesse sentido.
Pretende-se, com isso, ganhar em clareza e coerência dos respectivos regimes
jurídicos, evitando-se a dispersão e a duplicação desnecessárias de normas legais.
Numa época em que a generalidade do território nacional já se encontra coberto por
planos municipais, e em que se renova a consciência das responsabilidades públicas na
sua execução, o loteamento urbano tem de deixar de ser visto como um mecanismo de
substituição da Administração pelos particulares no exercício de funções de planeamento
e gestão urbanística.
As operações de loteamento urbano e obras de urbanização, tal como as obras
particulares, concretizam e materializam as opções contidas nos instrumentos de gestão
territorial, não se distinguindo tanto pela sua natureza quanto pelos seus fins. Justifica-se,
assim, que a lei regule num único diploma o conjunto daquelas operações urbanísticas,
tanto mais que, em regra, ambas são de iniciativa privada e a sua realização está sujeita a
idênticos procedimentos de controlo administrativo.
A designação adoptada para o diploma - regime jurídico da urbanização e
edificação - foge à terminologia tradicional no intuito de traduzir a maior amplitude do
seu objecto.
Desde logo, porque, não obstante a particular atenção conferida às normas de
procedimento administrativo, o mesmo não se esgota no regime de prévio licenciamento
ou autorização das operações de loteamento urbano, obras de urbanização e obras
particulares.
Para além de conter algumas normas do regime substantivo daquelas operações
urbanísticas, o diploma abrange a actividade desenvolvida por entidades públicas ou
privadas em todas as fases do processo urbano, desde a efectiva afectação dos solos à
construção urbana até à utilização das edificações nele implantadas.
É no âmbito da regulamentação do controlo prévio que se faz sentir mais intensamente o
propósito de simplificação de procedimentos que este anteprojecto visa prosseguir.
O sistema proposto diverge essencialmente daquele que vigora actualmente, ao
fazer assentar a distinção das diferentes formas de procedimento não apenas na densidade
de planeamento vigente na área de realização da operação urbanística mas também no
tipo de operação a realizar.
Na base destes dois critérios está a consideração de que a intensidade do controlo
que a administração municipal realiza preventivamente pode e deve variar em função do
grau de concretização da posição subjectiva do particular perante determinada pretensão.
Assim, quando os parâmetros urbanísticos de uma pretensão já se encontram definidos

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em plano ou anterior acto da Administração, ou quando a mesma tenha escassa ou
nenhuma relevância urbanística, o tradicional procedimento de licenciamento é
substituído por um procedimento simplificado de autorização ou por um procedimento de
mera comunicação prévia.
O procedimento de licença não se distingue, no essencial, do modelo consagrado
na legislação em vigor.
Como inovações mais significativas são de salientar o princípio da sujeição a prévia
discussão pública dos procedimentos de licenciamento de operações de loteamento
urbano e a possibilidade de ser concedida uma licença parcial para a construção da
estrutura de um edifício, mesmo antes da aprovação final do projecto da obra.
No primeiro caso, por se entender que o impacte urbanístico causado por uma
operação de loteamento urbano em área não abrangida por plano de pormenor tem
implicações no ambiente urbano que justificam a participação das populações locais no
respectivo processo de decisão, não obstante poder existir um plano director municipal
ou plano de urbanização, sujeitos, eles próprios, a prévia discussão pública.
No segundo caso, por existir a convicção de que, ultrapassada a fase de apreciação
urbanística do projecto da obra, é razoavelmente seguro permitir o início da execução da
mesma enquanto decorre a fase de apreciação dos respectivos projectos de especialidade,
reduzindo-se assim, em termos úteis, o tempo de espera necessário para a concretização
de um projecto imobiliário.
O procedimento de autorização caracteriza-se pela dispensa de consultas a
entidades estranhas ao município, bem como de apreciação dos projectos de arquitectura
e das especialidades, os quais são apresentados em simultâneo juntamente com o
requerimento inicial.
Ao diminuir substancialmente a intensidade do controlo realizado preventivamente
pela Administração, o procedimento de autorização envolve necessariamente uma maior
responsabilização do requerente e dos autores dos respectivos projectos, pelo que tem
como «contrapartida» um regime mais apertado de fiscalização.
Deste modo, nenhuma obra sujeita a autorização pode ser utilizada sem que tenha,
pelo menos uma vez, sido objecto de uma inspecção ou vistoria pelos fiscais municipais
de obras, seja no decurso da sua execução, seja após a sua conclusão e como condição
prévia da emissão da respectiva autorização de utilização.
Também nos casos em que a realização de uma obra depende de mera comunicação
prévia, a câmara municipal pode, através do seu presidente, determinar se a mesma se
subsume ou não à previsão normativa que define a respectiva forma de procedimento,
sujeitando-a, se for caso disso, a licenciamento ou autorização.
Do mesmo modo, a dispensa de licença ou autorização não envolve diminuição dos
poderes de fiscalização, podendo a obra ser objecto de qualquer das medidas de tutela da
legalidade urbanística previstas no diploma, para além da aplicação das sanções que ao
caso couberem.
Para além do seu tronco comum, os procedimentos de licenciamento ou
autorização sujeitam-se ainda às especialidades resultantes do tipo de operação
urbanística a realizar.
Em matéria de operações de loteamento urbano, e no que se refere a cedências
gratuitas ao município de parcelas para implantação de espaços verdes públicos,
equipamentos de utilização colectiva e infra-estruturas urbanísticas, estabelece-se, para
além do direito de reversão sobre as parcelas cedidas quando as mesmas não sejam afectas
pelo município aos fins para as quais hajam sido cedidas, que o cedente tem a
possibilidade de, em alternativa, exigir o pagamento de uma indemnização, nos termos
estabelecidos para a expropriação por utilidade pública.

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Consagra-se ainda expressamente o princípio da protecção do existente em matéria
de obras de edificação, retomando assim um princípio já aflorado nas disposições do
Regulamento Geral das Edificações Urbanas mas esquecido nas sucessivas revisões do
regime do licenciamento municipal de obras particulares.
Assim, à realização de obras em construções já existentes não se aplicam as
disposições legais e regulamentares que lhe sejam supervenientes, desde que tais obras
não se configurem como obras de ampliação e não agravem a desconformidade com as
normas em vigor.
Por esta via se dá um passo importante na recuperação do património construído,
já que, sem impor um sacrifício desproporcional aos proprietários, o regime proposto
permite a realização de um conjunto de obras susceptíveis de melhorar as condições de
segurança e salubridade das construções existentes.
A realização de uma vistoria prévia à utilização das edificações volta a constituir a
regra geral nos casos de obras sujeitas a mera autorização, em virtude da menor
intensidade do controlo prévio a que as mesmas foram sujeitas.
Porém, mesmo nesses casos é possível dispensar a realização daquela vistoria
prévia, desde que no decurso da sua execução a obra tenha sido inspeccionada ou
vistoriada pelo menos uma vez.
Manifesta-se, aqui, uma clara opção pelo reforço da fiscalização em detrimento do
controlo prévio, na expectativa de que este regime constitua um incentivo à reestruturação
e modernização dos serviços municipais de fiscalização de obras.
Para além da definição das condições legais do início dos trabalhos, em conjugação
com o novo regime de garantias dos particulares, estabelece-se um conjunto de regras que
acompanham todas as fases da execução de uma operação urbanística.
No que respeita à utilização e conservação do edificado, foram recuperadas e
actualizadas disposições dispersas por diversos diplomas legais, designadamente o
Regulamento Geral das Edificações Urbanas e a Lei das Autarquias Locais, obtendo-se
assim um ganho de sistematização e de articulação das normas respeitantes às tradicionais
atribuições municipais de polícia das edificações com as relativas aos seus poderes de
tutela da legalidade urbanística.
No domínio da fiscalização da execução das operações urbanísticas estabelece-se
uma distinção clara entre as acções de verificação do cumprimento das disposições legais
e regulamentares aplicáveis e de repressão das infracções cometidas, distinguindo neste
último caso as sanções propriamente ditas das medidas de tutela da legalidade urbanística.
Quanto a estas medidas, e porque a sua função é única e exclusivamente a de reintegrar a
legalidade urbanística violada, estabelece-se um regime que, sem diminuir a intensidade
dos poderes atribuídos às entidades fiscalizadoras, submete o seu exercício ao
cumprimento estrito do princípio da proporcionalidade.
Merece especial destaque a este propósito o reconhecimento da natureza provisória
do embargo de obras, cuja função é a de acautelar a utilidade das medidas que, a título
definitivo, reintegrem a legalidade urbanística violada, incluindo nestas o licenciamento
ou autorização da obra.
Procura-se assim evitar o prolongamento indefinido da vigência de ordens de
embargo que, a pretexto da prossecução do interesse público, consolidam situações de
facto que se revelam ainda mais prejudiciais ao ambiente e à qualidade de vida dos
cidadãos do que aquelas que o próprio embargo procurava evitar.
Em matéria de garantias, procede-se à alteração da função do deferimento tácito nas
operações urbanísticas sujeitas a licenciamento, sem que daí advenha qualquer prejuízo
para os direitos dos particulares.

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Com efeito, na sequência da revisão do artigo 268.º da CRP propõe-se a
substituição da intimação judicial para a emissão do alvará pela intimação judicial para a
prática de acto legalmente devido como instrumento privilegiado de protecção
jurisdicional.
Significa isto que deixa de ser necessário ficcionar a existência de um acto tácito de
deferimento do projecto para permitir o recurso do requerente aos tribunais para a
obtenção de uma intimação judicial para a emissão do alvará.
O particular pode agora recorrer aos tribunais no primeiro momento em que se
verificar o silêncio da Administração, já não lhe sendo exigível que percorra todas as
fases do procedimento com base em sucessivos actos de deferimento tácito, com os riscos
daí inerentes.
E, se o silêncio da Administração só se verificar no momento da emissão do alvará,
o particular dispõe do mesmo mecanismo para obter uma intimação para a sua emissão.
O deferimento tácito tem, assim, a sua função restrita às operações sujeitas a mera
autorização, o que também é reflexo da maior concretização da posição jurídica do
particular e da consequente menor intensidade do controlo prévio da sua actividade.
Diferentemente do que acontece hoje, porém, nestes casos o particular fica
dispensado de recorrer aos tribunais, podendo dar início à execução da sua operação
urbanística sem a prévia emissão do respectivo alvará desde que se mostrem pagas as
taxas urbanísticas devidas.
Propõe-se igualmente um novo regime das taxas urbanísticas devidas pela
realização de operações urbanísticas, no sentido de terminar com a polémica sobre se no
licenciamento de obras particulares pode ou não ser cobrada a taxa pela realização,
manutenção e reforço das infra-estruturas urbanísticas actualmente prevista no artigo 19.º,
alínea a), da Lei das Finanças Locais, clarificando-se que a realização daquelas obras está
sujeita ao pagamento da aludida taxa, sempre que pela sua natureza impliquem um
acréscimo dos encargos públicos de realização, manutenção e reforço das infra-estruturas
e serviços gerais do município equivalente ou até mesmo superior ao que resulta do
licenciamento de uma operação de loteamento urbano.
Sujeita-se, assim, a realização de obras de construção e de ampliação ao pagamento
daquela taxa, excepto se as mesmas se situarem no âmbito de uma operação de loteamento
urbano onde aquelas taxas já tenham sido pagas.
Desta forma se alcança uma solução que, sem implicar com o equilíbrio precário
das finanças municipais, distingue de forma equitativa o regime tributário da realização
de obras de construção em função da sua natureza e finalidade.
Pelas mesmas razões, se prevê que os regulamentos municipais de taxas possam e
devam distinguir o montante das taxas devidas, não apenas em função das necessidades
concretas de infra-estruturas e serviços gerais do município, justificadas no respectivo
programa plurianual de investimentos, como também em função dos usos e tipologias das
edificações e, eventualmente, da respectiva localização.
Tendo sido ouvida a Associação Nacional de Municípios Portugueses, foram
ouvidos os órgãos de Governo próprio dos Regiões Autónomas.
Assim, no uso da autorização legislativa concedida pelo artigo 1.º da Lei n.º 110/99,
de 3 de Agosto, e nos termos da alínea b) do n.º 1 do artigo 198.º da Constituição, o
Governo decreta o seguinte:

CAPÍTULO I
Disposições preliminares

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Artigo 1.º
Objeto

O presente diploma estabelece o regime jurídico da urbanização e da edificação.

Artigo 1.º-A
Construção modular
O presente diploma é ainda aplicável à construção modular de carácter permanente, que
é caracterizada por utilizar elementos ou sistemas construtivos modulares, estruturais ou
não estruturais, parcial ou totalmente produzidos em fábrica, previamente ligados entre si
ou no local de implantação, independentemente da sua natureza amovível ou
transportável.

Artigo 2.º
Definições

Para efeitos do presente diploma, entende-se por:


a) «Edificação», a atividade ou o resultado da construção, reconstrução, ampliação,
alteração ou conservação de um imóvel destinado a utilização humana, bem como de
qualquer outra construção que se incorpore no solo com caráter de permanência;
b) «Obras de construção», as obras de criação de novas edificações;
c) «Obras de reconstrução», as obras de construção subsequentes à demolição, total ou
parcial, de uma edificação existente, das quais resulte a reconstituição da estrutura das
fachadas;
d) «Obras de alteração», as obras de que resulte a modificação das características físicas
de uma edificação existente, ou sua fração, designadamente a respetiva estrutura
resistente, o número de fogos ou divisões interiores, ou a natureza e cor dos materiais de
revestimento exterior, sem aumento da área total de construção, da área de implantação
ou da altura da fachada;
e) «Obras de ampliação», as obras de que resulte o aumento da área de implantação, da
área total de construção, da altura da fachada ou do volume de uma edificação existente;
f) «Obras de conservação», as obras destinadas a manter uma edificação nas condições
existentes à data da sua construção, reconstrução, ampliação ou alteração,
designadamente as obras de restauro, reparação ou limpeza;
g) «Obras de demolição», as obras de destruição, total ou parcial, de uma edificação
existente;
h) «Obras de urbanização», as obras de criação e remodelação de infraestruturas
destinadas a servir diretamente os espaços urbanos ou as edificações, designadamente
arruamentos viários e pedonais, redes de esgotos e de abastecimento de água, eletricidade,
gás e telecomunicações, e ainda espaços verdes e outros espaços de utilização coletiva;
i) «Operações de loteamento», as ações que tenham por objeto ou por efeito a
constituição de um ou mais lotes destinados, imediata ou subsequentemente, à
edificação urbana e que resulte da divisão de um ou vários prédios ou do seu
reparcelamento;
j) «Operações urbanísticas», as operações materiais de urbanização, de edificação,
utilização dos edifícios ou do solo desde que, neste último caso, para fins não
exclusivamente agrícolas, pecuários, florestais, mineiros ou de abastecimento público de
água;
l) «Obras de escassa relevância urbanística», as obras de edificação ou demolição que,
pela sua natureza, dimensão ou localização tenham escasso impacte urbanístico;

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m) «Trabalhos de remodelação dos terrenos», as operações urbanísticas não
compreendidas nas alíneas anteriores que impliquem a destruição do revestimento
vegetal, a alteração do relevo natural e das camadas de solo arável ou o derrube de árvores
de alto porte ou em maciço para fins não exclusivamente agrícolas, pecuários, florestais
ou mineiros;
n) [Revogada];
o) «Zona urbana consolidada», a zona caracterizada por uma densidade de ocupação
que permite identificar uma malha ou estrutura urbana já definida, onde existem as
infraestruturas essenciais e onde se encontram definidos os alinhamentos dos planos
marginais por edificações em continuidade.
p) “Arrendamento forçado”, o arrendamento de edifícios ou frações autónomas,
assumido por uma entidade administrativa, pelo prazo estritamente necessário para o
efeito, com o objetivo de garantir o ressarcimento das despesas incorridas com a
realização de obras coercivas, através do recebimento das rendas relativas a contrato
previamente existente à intervenção que se mantenha em vigor ou, quando este não exista
ou tenha cessado a sua vigência, pela celebração de novo contrato.

Nota 1: A vinculação à linguagem técnica resulta clara, por exemplo, do art.º 128.º, n.º 2, do RJIGT
determina: “2 - Os programas e os planos territoriais são obrigados a aplicar os conceitos técnicos e as
definições nos domínios do ordenamento do território e do urbanismo fixados por decreto regulamentar,
não sendo admissíveis outros conceitos, designações, definições ou abreviaturas para o mesmo
conteúdo e finalidade”. Por outro lado, são muitos os diplomas legais que no direito do urbanismo e no
direito do ambiente procedem à definição dos principais termos técnicos, como acontece, por exemplo, na
Lei de Bases do Ambiente.

Nota 2: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de
2019), define as obras de urbanização como “as obras de criação e remodelação de infraestruturas
destinadas a servir diretamente os espaços urbanos ou as edificações, designadamente arruamentos viários
e pedonais, redes de esgotos e de abastecimento de água, eletricidade, gás e telecomunicações, e ainda
espaços verdes e outros espaços de utilização coletiva”. Esta definição corresponde à definição dada pelo
art.º 2.º, al. h). do RJUE.

Nota 3: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de
2019), define “fachada” como “cada uma das faces aparentes do edifício, constituída por uma ou mais
paredes exteriores diretamente relacionadas entre si.” A fachada não se confunde com a empena, que é
definida pelo mesmo Decreto Regulamentar como “cada uma das fachadas laterais de um edifício,
geralmente cega (sem janelas nem portas), através das quais o edifício pode encostar aos edifícios
contíguos”.

Nota 4: O Decreto Regulamentar que define os conceitos técnicos para a área do urbanismo (de setembro
de 2019) define “área urbana consolidada” como “uma área de solo urbano que se encontra estabilizada
em termos de morfologia urbana e de infraestruturação e está edificada em, pelo menos, dois terços da área
total do solo destinado a edificação”.

Artigo 3.º
Regulamentos municipais

1 - No exercício do seu poder regulamentar próprio, os municípios aprovam


regulamentos municipais de urbanização e ou de edificação, bem como
regulamentos relativos ao lançamento e liquidação das taxas e prestação de caução que,
nos termos da lei, sejam devidas pela realização de operações urbanísticas.
2 - Os regulamentos previstos no número anterior devem ter como objetivo a execução
do presente diploma nas seguintes matérias, não podendo incidir sobre quaisquer outras:
a) Concretizar quais as obras de escassa relevância urbanística para efeitos de

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delimitação das situações isentas de controlo prévio;
b) Pormenorizar, sempre que possível, os aspetos que envolvam a formulação de
valorações próprias do exercício da função administrativa exclusivamente no
âmbito dos poderes dos municípios para o controlo prévio urbanístico nos termos dos
artigos 20.º e 21.º, em especial os aspetos morfológicos e estéticos a que devem
obedecer os projetos de urbanização e edificação;
c) Disciplinar os aspetos relativos ao projeto, execução, receção e conservação das obras
e serviços de urbanização e fixar critérios morfológicos e estéticos a que os projetos
devam conformar-se;
d) Disciplinar os aspetos relativos à segurança, funcionalidade, economia,
harmonia e equilíbrio socioambiental, estética, qualidade, conservação e utilização
dos edifícios, suas frações e demais construções e instalações;
e) Fixar os critérios e trâmites do reconhecimento de que as edificações construídas se
conformam com as regras em vigor à data da sua construção, assim como do
licenciamento ou comunicação prévia de obras de reconstrução ou de alteração das
edificações para efeitos da aplicação do regime da garantia das edificações existentes;
f) Fixar os montantes das taxas a cobrar;
g) Indicar a instituição e o número da conta bancária do município onde é possível
efetuar o depósito dos montantes das taxas devidas, identificando o órgão à ordem do
qual é efetuado o pagamento;
h) (Revogada.)
i) Determinar quais os atos e operações que devem estar submetidos a discussão
pública, designadamente, concretizar as operações de loteamento com significativa
relevância urbanística e definir os termos do procedimento da sua discussão;
j) Regular outros aspetos relativos à urbanização e edificação cuja disciplina não esteja
reservada por lei a instrumentos de gestão territorial, desde que não sejam de natureza
procedimental ou instrutória, podendo dispensar o envio de elementos instrutórios.
3 - Os regulamentos previstos no número anterior não podem, designadamente:
a) Estabelecer regras de natureza procedimental;
b) Estabelecer regras de carácter instrutório, designadamente em matéria de
reconhecimento, autenticação ou certificação dos representantes dos requerentes;
c) Determinar a entrega de elementos ou documentos não previstos em portaria dos
membros do Governo responsáveis pela modernização administrativa, pela construção e
pelas autarquias locais e ordenamento do território;
d) Determinar a entrega de elementos, como seja o envio de telas finais ou quaisquer
outros documentos quando as obras se encontrem isentas de controlo prévio;
e) Prever poderes de cognição para a câmara municipal para além dos previstos nos
artigos 20.º e 21.º;
f) Estabelecer que o pagamento das taxas é efetuado de outra forma que não o
documento único de cobrança, por meios eletrónicos, com recurso à Plataforma de
Pagamentos da Administração Pública.
4 - Os projetos dos regulamentos referidos no n.º 1 são submetidos a discussão pública,
por prazo não inferior a 30 dias, antes da sua aprovação pelos órgãos municipais.
5 - Os regulamentos referidos no n.º 1 são objeto de publicação na 2.ª série do Diário da
República, sem prejuízo das demais formas de publicidade previstas na lei.
6 - Os regulamentos referidos no n.º 2, na parte em que disponham sobre outras
matérias não identificadas naquele número, são nulos.
7 - O Diário da República, através do seu portal ou, quando exista, através de sistema de
informação de legislação temática, disponibiliza, de forma sistematizada e por
município, os regulamentos urbanísticos aprovados ao abrigo do presente artigo.

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Nota: O art.º 3.º refere-se aos regulamentos municipais enquanto instrumentos adequados à execução do
RJUE. Em diversas das suas alíneas, mas com particular evidência nas alíneas a), b) e d) do n.º 2, resulta
claro que o legislador quer vincular e restringir ao máximo os poderes da Administração afastando ao
máximo as possibilidades de arbitrariedade. A fixação de forma geral e abstrata de critérios e a
pormenorização dos aspetos nos regulamentos garante mais igualdade na interpretação e aplicação dos
termos da lei.

CAPÍTULO II
Controlo prévio

SECÇÃO I
Âmbito e competência

Artigo 4.º
Licença e comunicação prévia

1 - A realização de operações urbanísticas depende nos termos e com as exceções


constantes da presente secção, de:
a) Licença;
b) Comunicação prévia.
2 - Estão sujeitas a licença :
a) As operações de loteamento em aréa não abrangida por:
i) Plano de pormenor publicado após 7 de março de 1993, que contenha desenho urbano
e que preveja a divisão em lotes, o número máximo de fogos e a implantação e
programação de obras de urbanização e edificação; ou
ii) Unidade de execução que preveja o polígono de base para a implantação de
edificações, a área de construção, a divisão em lotes, o número máximo de fogos e a
implantação e programação de obras de urbanização e edificação;
b) As obras de urbanização e os trabalhos de remodelação de terrenos em área não
abrangida por :
i) Plano de pormenor publicado após 7 de março de 1993 e que preveja a implantação e
programação de obras de urbanização e edificação; ou
ii) Operação de loteamento; ou
iii) Unidade de execução que preveja a implantação e programação de obras de
urbanização e edificação;
c) As obras de construção, de alteração ou de ampliação em área não abrangida por:
i) Plano de pormenor; ou
ii) Operação de loteamento; ou
iii) Unidade de execução que preveja as parcelas, os alinhamentos, o polígono de base
para implantação das edificações, a altura total das edificações ou a altura das fachadas,
o número máximo de fogos e a área de construção e respetivos usos;
d) As obras de conservação, reconstrução, ampliação, alteração ou demolição de
imóveis classificados ou em vias de classificação, bem como de imóveis integrados em
conjuntos ou sítios classificados ou em vias de classificação, e as obras de construção,
reconstrução, ampliação, alteração exterior ou demolição de imóveis situados em zonas
de proteção de imóveis classificados ou em vias de classificação;
e) Obras de reconstrução das quais resulte um aumento da altura da fachada ;

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f) As obras de demolição das edificações que não se encontrem previstas em licença de
obras de reconstrução;
g) [Revogada];
h) As obras de construção, ampliação ou demolição de imóveis em áreas sujeitas a
servidão administrativa ou restrição de utilidade pública, sem prejuízo do disposto em
legislação especial;
i) Operações urbanísticas das quais resulte a remoção de azulejos de fachada,
independentemente da sua confrontação com a via pública ou logradouros;
j) (Revogada.)
3 - A sujeição a licenciamento dos atos de reparcelamento da propriedade de que
resultem parcelas não destinadas imediatamente a urbanização ou edificação depende da
vontade dos proprietários.
4 - Estão sujeitas a comunicação prévia as seguintes operações urbanísticas:
a) (Revogada.)
b) As operações de loteamento em zona abrangida por:
i) Plano de pormenor publicado após 7 de março de 1993, que contenha desenho urbano
e que preveja a divisão em lotes, o número máximo de fogos e a implantação e a
programação de obras de urbanização e edificação; ou
ii) Unidade de execução que preveja o polígono de base para a implantação de
edificações, a área de construção, a divisão em lotes, o número máximo de fogos e a
implantação e programação de obras de urbanização e edificação;
c) As obras de urbanização e os trabalhos de remodelação de terrenos em área abrangida
por:
i) Plano de pormenor publicado após 7 de março de 1993 que preveja a implantação e
programação de obras de urbanização e edificação; ou
ii) Operação de loteamento; ou
iii) Unidade de execução que preveja a implantação e programação de obras de
urbanização e edificação;
d) As obras de construção, de alteração ou de ampliação em área abrangida por:
i) Plano de pormenor; ou
ii) Operação de loteamento; ou
iii) Unidade de execução que preveja as parcelas, os alinhamentos, o polígono de base
para implantação das edificações, a altura total das edificações ou a altura das fachadas,
o número máximo de fogos e a área de construção e respetivos usos;
e) As obras de construção, de alteração exterior ou de ampliação em zona urbana
consolidada que respeitem os planos municipais ou intermunicipais e das quais não
resulte edificação com cércea superior à altura mais frequente das fachadas da frente
edificada do lado do arruamento onde se integra a nova edificação, no troço de rua
compreendido entre as duas transversais mais próximas, para um e para outro lado;
f) (Revogada.)
g) [Revogada].
h) [Revogada].
i) (Revogada)
j) A edificação de piscinas associadas a edificação principal.
k) As alterações da utilização dos edifícios ou suas frações, ou de alguma informação
constante de título de utilização que já tenha sido emitido, quando não sejam precedidas
de operações urbanísticas sujeitas a controlo prévio.
5 - A utilização dos edifícios ou suas frações autónomas na sequência de realização de
operação urbanística sujeita a controlo prévio não carece de qualquer ato permissivo,
ficando apenas sujeita ao disposto no artigo 62.º-A.

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6 - Nas operações urbanísticas sujeitas a comunicação prévia o interessado não pode
optar pelo licenciamento.
7 - Nas operações urbanísticas sujeitas a licenciamento ou a comunicação prévia que
necessitem de licença para ocupação da via pública, o requerente pode optar por
englobar o pedido de ocupação da via pública no pedido de licenciamento da operação
urbanística ou na comunicação prévia, sem necessidade de qualquer formalidade
adicional.
8 - Nos casos previstos no número anterior a permissão para a ocupação da via pública é
englobada no título aplicável à operação urbanística.
9 - Considera-se que o plano de pormenor e a unidade de execução dispõem de
programação das obras de urbanização e edificação quando a sua delimitação
contemple:
a) Obras de urbanização a executar e ligações às infraestruturas gerais; e
b) Áreas de cedência destinadas à implantação de espaços verdes, equipamentos de
utilização coletiva e infraestruturas viárias; e
c) Identificação dos custos com as obras de urbanização; e
d) Calendarização das obras de urbanização e das obras de edificação.
10 - Nos edifícios em propriedade horizontal que se encontrem abrangidos pelo
Decreto-Lei n.º 39/2008, de 7 de março, na sua redação atual, consideram-se abrangidas
pela licença ou comunicação prévia de construção as obras de criação e remodelação de
infraestruturas destinadas a servir as edificações, não carecendo, para o efeito, de
licença ou comunicação prévia relativa a obras de urbanização.

Nota: O “vocabulário urbanístico” da DGOTU, de 2004, define “cércea”, como a “dimensão vertical da
construção, medida a partir do ponto de cota média do terreno marginal ao alinhamento da fachada até à
linha superior do beirado, platibanda ou guarda do terraço, incluindo andares recuados, mas excluindo
acessórios: chaminés, casa de máquinas de ascensores, depósitos de água, etc.”.

Cf. art.º 18.º e segs. e art.º 34.º do RJUE.

O presente art.º faz uma distinção entre licença e autorização: a licença é reservada para o controlo prévio
de obras de maior relevância jurídico-urbanística, enquanto o termo autorização é reservado para o controlo
prévio que antecede e legitima a utilização. Em geral, o legislador mantém-se fiel a esta dicotomia no
âmbito de todos o RJUE. No entanto, o legislador não adota este critério distintivo em diversos outros
diplomas do direito do urbanismo e ambiente. Alguns exemplos: o art.º 60.º da Lei da Água, que tem por
epígrafe “utilizações do domínio público sujeitas a licença”, determina que “1 - Estão sujeitas a licença
prévia as seguintes utilizações privativas dos recursos hídricos do domínio público: a) A captação de águas;
b) A rejeição de águas residuais; c) A imersão de resíduos, etc.” Também o art.º 62.º, n.º 2, do mesmo
diploma submete a licença prévia de utilização certas atividades, a p. ex. a extração de inertes.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos técnicos para a área do urbanismo (de setembro de
2019) define “área urbana consolidada” como “uma área de solo urbano que se encontra estabilizada em
termos de morfologia urbana e de infraestruturação e está edificada em, pelo menos, dois terços da área
total do solo destinado a edificação”.

Artigo 4.º-A
Modelos de licença, de resposta à comunicação prévia e de atos
São aprovados, por portaria dos membros do Governo responsáveis pelas áreas da
modernização administrativa e da construção, os modelos de utilização obrigatória de
licença, de resposta à comunicação prévia e dos atos a praticar pelos técnicos, ao abrigo
do presente diploma.

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Artigo 5.º
Competência

1 - A concessão da licença prevista no n.º 2 do artigo anterior é da competência da


câmara municipal, com faculdade de delegação no presidente e de subdelegação deste
nos vereadores e nos dirigentes dos serviços municipais.
2 - [Revogado].
3 – (Revogado.)
4 - A aprovação da informação prévia regulada no presente diploma é da competência
da câmara municipal, podendo ser delegada no seu presidente, com faculdade de
subdelegação nos vereadores e nos dirigentes dos serviços municipais.

Artigo 6.º
Isenção de controlo prévio

1 - Sem prejuízo do disposto na alínea d) do n.º 2 do artigo 4.º, estão isentas de


controlo prévio:
a) As obras de conservação;
b) As obras de alteração no interior de edifícios ou suas frações que melhorem, não
prejudiquem ou não afetem a estrutura da estabilidade, que não impliquem modificações
das cérceas, da forma das fachadas, da forma dos telhados ou coberturas e que não
impliquem a remoção de azulejos de fachada, independentemente da sua confrontação
com a via pública ou logradouros;
c) As obras de escassa relevância urbanística;
d) Os destaques referidos nos n.º s 4 e 5 do presente artigo.
e) As obras de reconstrução e de ampliação das quais não resulte um aumento da altura
da fachada, mesmo que impliquem o aumento do número de pisos e o aumento da área
útil;
f) As obras de reconstrução em áreas sujeitas a servidão ou restrição de utilidade pública
das quais não resulte um aumento da altura da fachada, mesmo que impliquem o
aumento do número de pisos e o aumento da área útil;
g) As obras necessárias para cumprimento da determinação prevista nos n.os 2 e 3 do
artigo 89.º ou no artigo 27.º do Decreto-Lei n.º 140/2009, de 15 de julho, na sua redação
atual;
h) As operações urbanísticas precedidas de informação prévia favorável nos termos dos
n.os 2 e 3 do artigo 14.º, que contemple os aspetos previstos nas alíneas a) a f) do n.º 2
do artigo 14.º;
i) As obras de demolição quando as edificações sejam ilegais;
j) As operações de loteamento em área abrangida por plano de pormenor com efeitos
registais.
2 - [Revogado].
3 - [Revogado].
4 - Os atos que tenham por efeito o destaque de uma única parcela de prédio com
descrição predial que se situe em perímetro urbano estão isentos de licença desde que as
duas parcelas resultantes do destaque confrontem com arruamentos públicos.
5 - Nas áreas situadas fora dos perímetros urbanos, os atos a que se refere o número
anterior estão isentos de licença quando, cumulativamente, se mostrem cumpridas as
seguintes condições:
a) Na parcela destacada só seja construído edifício que se destine exclusivamente a fins
habitacionais e que não tenha mais de dois fogos;

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b) Na parcela restante se respeite a área mínima fixada no projeto de intervenção em
espaço rural em vigor ou, quando aquele não exista, a área de unidade de cultura fixada
nos termos da lei geral para a região respetiva.
6 - Nos casos referidos nos n.º s 4 e 5 não é permitido efetuar na área correspondente ao
prédio originário novo destaque nos termos aí referidos por um prazo de 10 anos
contados da data do destaque anterior.
7 - O condicionamento da construção bem como o ónus do não fracionamento previstos
nos n.º s 5 e 6 devem ser inscritos no registo predial sobre as parcelas resultantes do
destaque, sem o que não pode ser licenciada ou comunicada qualquer obra de
construção nessas parcelas.
8 - O disposto no presente artigo não isenta a realização das operações urbanísticas nele
previstas da observância das normas legais e regulamentares aplicáveis, designadamente
as constantes de planos municipais, intermunicipais ou especiais de ordenamento do
território, de servidões ou restrições de utilidade pública, as normas técnicas de
construção, as de proteção do património cultural imóvel, e a obrigação de comunicação
prévia nos termos do artigo 24.º do Decreto-Lei n.º 73/2009, de 31 de março, que
estabelece o regime jurídico da Reserva Agrícola Nacional.
9 - A certidão emitida pela câmara municipal comprovativa da verificação dos
requisitos do destaque constitui documento bastante para efeitos de registo predial da
parcela destacada.
10 - Os atos que tenham por efeito o destaque de parcela com descrição predial que se
situe em perímetro urbano e fora deste devem observar o disposto nos n.º s 4 ou 5,
consoante a localização da parcela a destacar, ou, se também ela se situar em perímetro
urbano e fora deste, consoante a localização da área maior.
11 - Nas obras a que se refere a alínea b) do n.º 1, que afetem a estrutura de estabilidade,
deve ser emitido um termo de responsabilidade, por técnico habilitado, de acordo com a
legislação em vigor nos termos do regime jurídico que define a qualificação profissional
exigível aos técnicos responsáveis pela elaboração e subscrição de projetos, pela
fiscalização de obra e pela direção de obra, na qual deve declarar que as obras,
consideradas na sua globalidade, melhoram ou não prejudicam a estrutura de
estabilidade face à situação em que o imóvel efetivamente se encontrava antes das
obras, podendo esse documento ser solicitado em eventuais ações de fiscalização.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define o “logradouro” como “um espaço ao ar livre, destinado a funções de estadia, recreio e lazer, privado,
de utilização coletiva ou de utilização comum, e adjacente ou integrado num edifício ou conjunto de
edifícios”.

Nota: O “vocabulário urbanístico” da DGOTU, de 2004, define “cércea”, como a “dimensão vertical da
construção, medida a partir do ponto de cota média do terreno marginal ao alinhamento da fachada até à
linha superior do beirado, platibanda ou guarda do terraço, incluindo andares recuados, mas excluindo
acessórios: chaminés, casa de máquinas de ascensores, depósitos de água, etc.”.

Artigo 6.º-A
Obras de escassa relevância urbanística

1 - São obras de escassa relevância urbanística:


a) As edificações, contíguas ou não, ao edifício principal com altura não superior a 2,2
m ou, em alternativa, à cércea do rés do chão do edifício principal com área igual ou
inferior a 10 m2 e que não confinem com a via pública;
b) A edificação de muros de vedação até 1,8 m de altura que não confinem com a via
pública e de muros de suporte de terras até uma altura de 2 m ou que não alterem

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significativamente a topografia dos terrenos existentes;
c) A edificação de estufas de jardim com altura inferior a 3 m e área igual ou inferior a
20 m2;
d) As pequenas obras de arranjo e melhoramento da área envolvente das edificações que
não afetem área do domínio público;
e) A edificação de equipamento lúdico ou de lazer associado a edificação principal com
área inferior à desta última;
f) A demolição das edificações referidas nas alíneas anteriores;
g) A instalação de painéis solares fotovoltaicos ou geradores eólicos associada a
edificação principal, para produção de energias renováveis, incluindo de
microprodução, que não excedam, no primeiro caso, a área de cobertura da edificação e
a cércea desta em 1 m de altura, e, no segundo, a cércea da mesma em 4 m e que o
equipamento gerador não tenha raio superior a 1,5 m, bem como de coletores solares
térmicos para aquecimento de águas sanitárias que não excedam os limites previstos
para os painéis solares fotovoltaicos;
h) A substituição dos materiais de revestimento exterior ou de cobertura ou telhado por
outros que, conferindo acabamento exterior idêntico ao original, promovam a eficiência
energética;
i) Outras obras, como tal qualificadas em regulamento municipal.
j) A substituição dos materiais dos vãos por outros que, conferindo acabamento exterior
idêntico ao original, promovam a eficiência energética.
2 - Excetuam-se do disposto no número anterior as obras e instalações em:
a) Imóveis classificados ou em vias de classificação, de interesse nacional ou de
interesse público;
b) Imóveis situados em zonas de proteção de imóveis classificados ou em vias de
classificação;
c) Imóveis integrados em conjuntos ou sítios classificados ou em vias de classificação.
3 - O regulamento municipal a que se refere a alínea i) do n.º 1 pode estabelecer limites
além dos previstos nas alíneas a) a c) do mesmo número.
4 - A descrição predial pode ser atualizada mediante declaração de realização de obras
de escassa relevância urbanística nos termos do presente diploma.
5 - A instalação de geradores eólicos referida na alínea g) do n.º 1 é precedida de
notificação à câmara municipal.
6 - A notificação prevista no número anterior destina-se a dar conhecimento à câmara
municipal da instalação do equipamento e deve ser instruída com:
a) A localização do equipamento;
b) A cércea e raio do equipamento;
c) O nível de ruído produzido pelo equipamento;
d) Termo de responsabilidade onde o apresentante da notificação declare conhecer e
cumprir as normas legais e regulamentares aplicáveis à instalação de geradores eólicos.

Nota: O “vocabulário urbanístico” da DGOTU, de 2004, define “cércea”, como a “dimensão vertical da
construção, medida a partir do ponto de cota média do terreno marginal ao alinhamento da fachada até à
linha superior do beirado, platibanda ou guarda do terraço, incluindo andares recuados, mas excluindo
acessórios: chaminés, casa de máquinas de ascensores, depósitos de água, etc.”.

Artigo 7.º
Operações urbanísticas promovidas pela Administração Pública

1 - Estão igualmente isentas de controlo prévio:


a) As operações urbanísticas e as operações de loteamento promovidas pelas autarquias

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locais,suas associações e pelas empresas municipais ou intermunicipais, em área
abrangida por plano municipal ou intermunicipal de ordenamento do território;
b) As operações urbanísticas e as operações de loteamento promovidas pelo Estado,
pelos institutos públicos, incluindo fundos de investimento imobiliário públicos e,
universidades e politécnicos e pelas empresas públicas, do setor empresarial do Estado e
regional destinadas a:
i) Equipamentos ou infraestruturas destinados à instalação de serviços públicos;
ii) Equipamentos ou infraestruturas afetos ao uso direto e imediato do público, sem
prejuízo do disposto no n.º 4;
iii) Equipamentos ou infraestruturas nas áreas portuárias ou do domínio público
ferroviário ou aeroportuário na respetiva área de jurisdição e na prossecução das suas
atribuições;
iv) Equipamentos ou infraestruturas afetos à habitação ou para pessoas beneficiárias de
políticas sociais, incluindo, residências para estudantes deslocados;
v) Parques industriais, empresariais ou de logística, e similares, nomeadamente zonas
empresariais responsáveis (ZER), zonas industriais e de logística;
vi) Equipamentos ou infraestruturas para salvaguarda do património cultural;
vii) Equipamentos ou infraestruturas do parque habitacional do Estado;
c) (Revogada.)
d) (Revogada.)e) As obras de edificação ou de demolição e os trabalhos promovidos por
entidades concessionárias de obras ou serviços públicos, quando se reconduzam à
prossecução do objeto da concessão;
f) (Revogada.)
g) As obras de edificação e os trabalhos de remodelação de terrenos promovidos por
cooperativas de habitação e outras entidades privadas para fins de habitação, desde que,
na sequência de procedimento concursal, tenha sido celebrado acordo para a cedência
do terreno por parte de uma entidade prevista na alínea b);
h) As obras de construção e reabilitação respeitantes a estruturas residenciais para
pessoas idosas, creches e no âmbito da Bolsa de Alojamento Urgente e Temporário
quando as mesmas tenham financiamento público.
2 - A execução das operações urbanísticas previstas no número anterior, com exceção
das promovidas pelos municípios, fica sujeita a parecer prévio não vinculativo da
câmara municipal, que deve ser emitido no prazo de 20 dias a contar da data da receção
do respetivo pedido.
3 - As operações de loteamento e as obras de urbanização promovidas pelas autarquias
locais e suas associações em área não abrangida por plano municipal ou intermunicipal
de ordenamento do território devem ser previamente autorizadas pela assembleia
municipal, depois de submetidas a parecer prévio não vinculativo da Comissão de
Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR), a qual deve pronunciar-se no prazo
de 20 dias a contar da receção do respetivo pedido.
4 - As operações de loteamento e as obras de urbanização promovidas pelo Estado
devem ser previamente autorizadas pelo ministro da tutela e pelo ministro responsável
pelo ordenamento do território, depois de ouvida a câmara municipal, a qual se deve
pronunciar no prazo de 20 dias após a receção do respetivo pedido.
5 - As operações de loteamento e as obras de urbanização promovidas pelas autarquias
locais e suas associações ou pelo Estado, em área não abrangida por plano de
urbanização ou plano de pormenor, são submetidas a discussão pública, nos termos
estabelecidos no regime jurídico dos instrumentos de gestão territorial, com as
necessárias adaptações, exceto no que se refere aos períodos de anúncio e de duração da
discussão pública que são, respetivamente, de 8 e de 15 dias.

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6 - A realização das operações urbanísticas previstas neste artigo deve observar as
normas legais e regulamentares que lhes forem aplicáveis, designadamente as
constantes de instrumento de gestão territorial, do regime jurídico de proteção do
património cultural, do regime jurídico aplicável à gestão de resíduos de construção e
demolição, e as normas técnicas de construção.
7 - À realização das operações urbanísticas previstas no presente artigo aplica-se o
disposto no presente diploma no que se refere ao termo de responsabilidade, à
publicitação do início e do fim das operações urbanísticas e ao pagamento de taxas
urbanísticas, o qual deve ser realizado por autoliquidação antes do início da obra, nos
termos previstos nos regulamentos municipais referidos no artigo 3.º.
8 - As operações urbanísticas previstas no presente artigo só podem iniciar-se depois de
emitidos os pareceres ou autorizações referidos no presente artigo ou após o decurso dos
prazos fixados para a respetiva emissão.
9 - Até cinco dias antes do início das obras que estejam isentas de controlo prévio, nos
termos do presente artigo, o interessado deve notificar a câmara municipal dessa
intenção, comunicando também a identidade da pessoa, singular ou coletiva,
encarregada da execução dos mesmos, para efeitos de eventual fiscalização e de
operações de gestão de resíduos de construção e demolição.

Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. ee), do regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de
setembro, última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), “resíduos” são “quaisquer substâncias ou
objetos de que o detentor se desfaz ou tem a intenção ou a obrigação de se desfazer”.

SECÇÃO II
Formas de procedimento

SUBSECÇÃO I
Disposições gerais

Artigo 8.º
Procedimento

1 - O controlo prévio das operações urbanísticas obedece às formas de procedimento


previstas na presente secção, devendo ainda ser observadas as condições especiais de
licenciamento previstas na secção iii do presente capítulo.
2 - Sem prejuízo das competências do gestor de procedimento, a direção da instrução do
procedimento compete ao presidente da câmara municipal, podendo ser delegada nos
vereadores, com faculdade de subdelegação nos dirigentes dos serviços municipais.
3 - Cada procedimento é acompanhado por gestor de procedimento, a quem compete
assegurar o normal desenvolvimento da tramitação processual, acompanhando,
nomeadamente, a instrução, o cumprimento de prazos, a prestação de informação e os
esclarecimentos aos interessados.
4 - O comprovativo eletrónico de apresentação do requerimento de licenciamento,
informação prévia ou comunicação prévia contém a identificação do gestor do
procedimento, bem como a indicação do local, do horário e da forma pelo qual pode ser
contactado.
5 - Em caso de substituição do gestor de procedimento, é notificada ao interessado a
identidade do novo gestor, bem como os elementos referidos no número anterior.

Artigo 8.º-A
Plataforma Eletrónica dos Procedimentos Urbanísticos

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1 - A tramitação dos procedimentos previstos no presente diploma é realizada
obrigatoriamente de forma desmaterializada, através da Plataforma Eletrónica dos
Procedimentos Urbanísticos, nos termos a regulamentar em portaria dos membros do
Governo responsáveis pelas áreas da modernização administrativa, da construção, das
autarquias locais e do ordenamento do território.
2 - A tramitação dos procedimentos previstos no presente diploma na Plataforma
Eletrónica dos Procedimentos Urbanísticos deve permitir, nomeadamente:

a) A apresentação e submissão de pedidos e documentos pelos interessados;


b) A obtenção dos comprovativos automáticos de submissão de requerimentos e
comunicações e de ocorrência de deferimento tácito, quando decorridos os respetivos
prazos legais;
c) A disponibilização de informação relativa aos procedimentos de comunicação prévia
para efeitos de registo predial e matricial;
d) A consulta pelos interessados do estado dos procedimentos;
e) A interoperabilidade com plataformas dos particulares que permitam a consulta de
informação;
f) A identificação do número de dias que faltem para a emissão da decisão final;
g) A identificação da prática de todos os atos pelas entidades competentes;
h) A emissão de notificações e da respetiva documentação;
i) A verificação automática, quanto possível da instrução dos requerimentos,
designadamente mediante preenchimento e assinatura dos termos de responsabilidade;
j) O pagamento de taxas;
k) A identificação do gestor do procedimento e respetiva unidade orgânica da entidade
licenciadora;
l) Submissão do projeto de arquitetura num formato de dados aberto e de acordo com a
metodologia BIM (Building Information Modelling);
m) A interoperabilidade com os sistemas de informação do Instituto dos Registos e do
Notariado, I. P., do Balcão Único do Prédio (BUPI) e da Autoridade Tributária e
Aduaneira que permitam o acesso a dados do imóvel objeto de um procedimento
urbanístico;
n) A interoperabilidade com os sistemas de informação dos municípios, não podendo
estes acrescentar passos procedimentais, formalidades ou documentos relativamente ao
que estiver definido no presente diploma e na Plataforma Eletrónica dos Procedimentos
Urbanísticos;
o) A emissão automática e eletrónica de certidão que ateste a circunstância de um projeto
estar isento de controlo prévio, mediante a inserção de dados sobre o mesmo num
simulador;
p) A alternativa de submissão de pedidos, consulta de processos e demais interação com
a Plataforma através dos sítios na Internet dos municípios ou em sítio específico na
Internet onde seja possível interagir com qualquer município;
q) Projetos de segurança contra incêndios;
r) A possibilidade de preenchimento dos campos do sinótico destinados à caracterização
básica do imóvel.
3 - No caso de instalação ou alteração de estabelecimentos abrangidos pelo Decreto-Lei
n.º 48/2011, de 1 de abril, alterado pelo Decreto-Lei n.º 141/2012, de 11 de julho, ou pelo
Decreto-Lei n.º 169/2012, de 1 de agosto, que envolvam operações urbanísticas sujeitas
aos procedimentos previstos no artigo 4.º do presente decreto-lei, tais procedimentos, bem
como os documentos necessários à sua instrução, podem ser iniciados através do balcão

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eletrónico previsto nos referidos diplomas, adiante designado por «Balcão do
Empreendedor».
4 - A integração da plataforma eletrónica referida no n.º 1 com o balcão único eletrónico
dos serviços a que se referem os artigos 5.º e 6.º do Decreto-Lei n.º 92/2010, de 26 de
julho, com o «Balcão do Empreendedor» e com todas as entidades externas com
competências para intervir e se pronunciar no âmbito dos procedimentos regulados pelo
presente diploma é regulada por portaria dos membros do Governo responsáveis pelas
áreas da economia, da administração local, da modernização administrativa e do
ordenamento do território, tendo em conta, na interoperabilidade com sistemas externos
às integrações já presentes no SIRJUE, as plataformas já existentes na Administração
Pública, nomeadamente a plataforma de interoperabilidade da administração pública e o
previsto no regulamento nacional da interoperabilidade digital.
5 - A apresentação de requerimentos deve assegurar que o acesso à plataforma pelos seus
utilizadores é feito mediante mecanismos de autenticação proporcional às operações em
causa, havendo lugar a autenticação nos termos definidos na portaria referida no número
anterior.
6 - Nas situações de inexistência ou indisponibilidade do sistema informático, os
procedimentos podem decorrer com recurso a outros suportes digitais, ou com recurso ao
papel.
7 - Nos casos previstos no número anterior, o processo administrativo ou os seus
elementos entregues através de outros suportes digitais ou em papel são obrigatoriamente
integrados no sistema informático pelos serviços requeridos, após a cessação da situação
de inexistência ou indisponibilidade do sistema informático.
8 - Os municípios estão obrigados a utilizar a plataforma a que se refere o n.º 1 a partir
de 5 de janeiro de 2026, podendo manter as plataformas que eventualmente utilizem,
desde que esteja assegurada a interoperabilidade com a Plataforma Eletrónica dos
Procedimentos Urbanísticos.

Artigo 8.º-B
Realização de passos e formalidades procedimentais em simultâneo
Sempre que tal contribua para a eficiência, economicidade ou celeridade do
procedimento, o responsável pela direção do mesmo deve promover a realização em
simultâneo de passos e fases do procedimento, evitando a realização sucessiva das
mesmas.

Artigo 9.º
Requerimento e comunicação
1 - Salvo disposição em contrário, os procedimentos previstos no presente diploma
iniciam-se através de requerimento ou comunicação apresentados com recurso a meios
eletrónicos e através do sistema previsto no artigo anterior, dirigidos ao presidente da
câmara municipal, dos quais devem constar a identificação do requerente ou
comunicante, incluindo o domicílio ou sede, bem como a indicação da qualidade de titular
de qualquer direito que lhe confira a faculdade de realizar a operação urbanística.
2 - Do requerimento ou comunicação consta igualmente a indicação do pedido ou objeto
em termos claros e precisos, identificando o tipo de operação urbanística a realizar por
referência ao disposto no artigo 2.º, bem como a respetiva localização.
3 - Quando respeite a mais de um dos tipos de operações urbanísticas referidos no artigo
2.º diretamente relacionadas, devem ser identificadas todas as operações abrangidas,

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aplicando-se neste caso a forma de procedimento correspondente a cada tipo de operação,
sem prejuízo da tramitação e apreciação conjunta.
4 - O pedido ou comunicação são acompanhados dos elementos instrutórios previstos em
portaria dos membros do Governo responsáveis pelas áreas de modernização
administrativa, da construção, das autarquias locais e do ordenamento do território.
5 - [Revogado].
6 - Com a apresentação de requerimento ou comunicação, ou nas situações referidas no
n.º 6 do artigo anterior, quando cesse a inexistência ou indisponibilidade, é emitido
comprovativo eletrónico.
7 - No requerimento inicial pode o interessado solicitar a indicação das entidades que,
nos termos da lei, devam emitir parecer, autorização ou aprovação relativamente ao
pedido apresentado, sendo-lhe prestada tal informação no prazo de 15 dias, através do
sistema informático a que se refere o artigo anterior, sem prejuízo do disposto no artigo
121.º
8 - O disposto no número anterior não se aplica nos casos de rejeição liminar do pedido,
nos termos do disposto no artigo 11.º
9 - O gestor do procedimento regista no processo a junção subsequente de quaisquer
novos documentos e a data das consultas a entidades exteriores ao município e da receção
das respetivas respostas, quando for caso disso, bem como a data e o teor das decisões
dos órgãos municipais.
10 - A substituição do requerente ou comunicante, do titular do alvará de construção ou
do título de registo emitidos pelo Instituto da Construção e do Imobiliário, I. P. (InCI, I.
P.), do responsável por qualquer dos projetos apresentados, do diretor de obra ou do
diretor de fiscalização de obra deve ser comunicada ao gestor do procedimento para que
este proceda ao respetivo averbamento no prazo de 15 dias a contar da data da
substituição.
11 - Cabe ao gestor do procedimento verificar a adequação das habilitações do titular do
alvará de construção ou do título de registo emitidos pelo InCI, I. P., à natureza e à
estimativa de custo da operação urbanística.
12 - A portaria prevista no n.º 4 não pode prever como elementos instrutórios que devam
acompanhar o pedido ou comunicação nem os municípios podem determinar a
apresentação de:
a) Formas de autenticação, de reconhecimento ou de certificação das assinaturas de
qualquer documento;
b) Cópias de documentos na posse da câmara como, designadamente títulos de operações
ou registos;
c) A caderneta predial;
d) Cópias de certidões permanentes, bastando, neste caso, a indicação do número da
certidão permanente;
e) Reenvio ou envio de certidão permanente ou do seu código por o seu prazo de validade
ter expirado, quando o mesmo era válido no momento da apresentação do pedido;
f) Reenvio ou envio de qualquer certidão, documento ou certificado por a validade do
mesmo ter expirado, quando o mesmo seja válido no momento da apresentação do pedido;
g) O plano de segurança, podendo ser solicitada a exibição do mesmo em sede de
fiscalização, quando aplicável;
h) O relatório de segurança;
i) O livro de obra digitalizado;
j) Cópias de cartão do cidadão, bilhete de identidade ou cédulas profissionais;
k) Declaração de capacidade profissional dos técnicos responsáveis pelos projetos,
emitida por qualquer entidade, incluindo ordens profissionais;

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l) Termo de responsabilidade de técnico responsável que ateste que a execução da
operação se conforma com o Regulamento Geral do Ruído.

Artigo 10.º
Termo de responsabilidade

1 - O requerimento ou comunicação é sempre instruído com declaração dos autores dos


projetos, da qual conste que foram observadas na elaboração dos mesmos as normas
legais e regulamentares aplicáveis, designadamente as normas técnicas de construção em
vigor, e do coordenador dos projetos, que ateste a compatibilidade entre os mesmos.
2 - Das declarações mencionadas no número anterior deve, ainda, constar referência à
conformidade do projeto com os planos municipais ou intermunicipais de ordenamento
do território aplicáveis à pretensão, bem como com a licença de loteamento, quando
exista.
3 - Sem prejuízo do disposto no número seguinte e em legislação especial, só podem
subscrever projetos os técnicos legalmente habilitados que se encontrem inscritos em
associação pública de natureza profissional e que façam prova da validade da sua
inscrição aquando da apresentação do requerimento inicial.
4 - Os técnicos cuja atividade não esteja abrangida por associação pública podem
subscrever os projetos para os quais possuam habilitação adequada, nos termos do
disposto no regime da qualificação profissional exigível aos técnicos responsáveis pela
elaboração e subscrição de projetos ou em legislação especial relativa a organismo
público legalmente reconhecido.
5 - Os autores e coordenador dos projetos devem declarar, nomeadamente nas situações
previstas no artigo 60.º, quais as normas técnicas ou regulamentares em vigor que não
foram observadas na elaboração dos mesmos, fundamentando as razões da sua não
observância.
6 - Sempre que forem detetadas irregularidades nos termos de responsabilidade, no que
respeita às normas legais e regulamentares aplicáveis e à conformidade do projeto com
os planos municipais ou intermunicipais de ordenamento do território ou licença de
loteamento, quando exista, devem as mesmas ser comunicadas à associação pública de
natureza profissional onde o técnico está inscrito ou ao organismo público legalmente
reconhecido no caso dos técnicos cuja atividade não esteja abrangida por associação
pública.

Artigo 11.º
Saneamento e apreciação liminar

1 - Compete ao presidente da câmara municipal, por sua iniciativa ou por indicação do


gestor do procedimento, decidir as questões de ordem formal e processual que possam
obstar ao conhecimento de qualquer pedido ou comunicação apresentados no âmbito do
presente diploma.
2 - Apósa apresentação do requerimento o presidente da câmara municipal pode proferir
despacho:
a) De aperfeiçoamento do pedido, sempre que o requerimento não contenha a
identificação do requerente, do pedido ou da localização da operação urbanística a
realizar, bem como no caso de faltar documento instrutório exigível que seja
indispensável ao conhecimento da pretensão e cuja falta não possa ser oficiosamente
suprida;

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b) De rejeição liminar, oficiosamente ou por indicação do gestor do procedimento,
quando da análise dos elementos instrutórios resultar que o pedido é manifestamente
contrário às normas legais ou regulamentares aplicáveis;
c) De extinção do procedimento, nos casos em que a operação urbanística em causa está
isenta de controlo prévio ou sujeita a comunicação prévia .
3 - No caso previsto na alínea a) do número anterior, o requerente é notificado, por uma
única vez para, no prazo de 15 dias, corrigir ou completar o pedido, apenas ficando
suspensos os termos ulteriores do procedimento nos termos do n.º 4 do artigo 117.º do
Código do Procedimento Administrativo, sob pena de rejeição liminar.
4 - [Revogado].
5 - Não ocorrendo rejeição liminar ou convite para corrigir ou completar o pedido ou
comunicação, no prazo previsto de 15 dias, considera-se que o requerimento ou
comunicação se encontram corretamente instruídos, não podendo ser solicitados ao
interessado quaisquer correções ou informações adicionais, nem indeferida a pretensão
com fundamento na incompleta instrução do pedido.
6 - Sem prejuízo do disposto nos números anteriores, o gestor do procedimento deve dar
a conhecer ao presidente da câmara municipal, até à decisão final, qualquer questão que
prejudique o desenvolvimento normal do procedimento ou impeça a tomada de decisão
sobre o objeto do pedido, nomeadamente a ilegitimidade do requerente e a caducidade
do direito que se pretende exercer.
7 - Salvo no que respeita às consultas a que se refere o artigo 13.º, se a decisão final
depender da decisão de uma questão que seja da competência de outro órgão
administrativo ou dos tribunais, deve o presidente da câmara municipal suspender o
procedimento até que o órgão ou o tribunal competente se pronunciem, notificando o
requerente desse ato, sem prejuízo do disposto no n.º 2 do artigo 31.º do Código do
Procedimento Administrativo.
8 - Sem prejuízo do disposto no número anterior, o interessado pode requerer a
continuação do procedimento em alternativa à suspensão, ficando a decisão final
condicionada, na sua execução, à decisão que vier a ser proferida pelo órgão
administrativo ou tribunal competente.
9 - Havendo rejeição do pedido ou comunicação, nos termos do presente artigo, o
interessado que apresente novo pedido ou comunicação para o mesmo fim está
dispensado de juntar os documentos utilizados anteriormente que se mantenham válidos
e adequados.
10 - O presidente da câmara municipal pode delegar nos vereadores, com faculdade de
subdelegação, ou nos dirigentes dos serviços municipais, as competências referidas nos
n.º s 1, 2 e 7.
11 - [Revogado].

Artigo 12.º
Publicidade do pedido

O pedido de licenciamento ou a comunicação prévia de operação urbanística devem ser


publicitados sob forma de aviso, segundo o modelo aprovado por portaria do membro do
Governo responsável pelo ordenamento do território, a colocar no local de execução da
operação de forma visível da via pública, no prazo de 10 dias a contar da apresentação do
requerimento inicial ou comunicação.

Artigo 12.º-A
Suspensão do procedimento

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Nas áreas a abranger por novas regras urbanísticas constantes de instrumento de gestão
territorial diretamente vinculativo dos particulares ou sua revisão, aplica-se o disposto no
regime jurídico dos instrumentos de gestão territorial em matéria de suspensão de
procedimentos.

Artigo 13.º
Disposições gerais sobre a consulta a entidades externas

1 - A consulta às entidades que, nos termos da lei, devam emitir parecer, autorização ou
aprovação sobre o pedido, que não respeitem a aspetos relacionados com a localização, é
promovida pelo gestor do procedimento, e é efetuada em simultâneo, através da
plataforma eletrónica referida no n.º 1 do artigo 8.º-A.
2 - É dispensada a consulta a entidades externas em procedimentos relativos a operações
urbanísticas que já tenham sido objeto de apreciação favorável no âmbito do
procedimento de informação prévia, de aprovação de operações de loteamento urbano ou
de aprovação de planos de pormenor, com exceção dos planos de salvaguarda que
estabeleçam a necessidade dessa consulta.
3 - Nos casos previstos no artigo seguinte, o gestor do procedimento comunica o pedido,
com a identificação das entidades a consultar, à CCDR.
4 - As entidades exteriores ao município pronunciam-se exclusivamente no âmbito das
suas atribuições e competências.
5 - As entidades consultadas devem pronunciar-se no prazo de 20 dias a contar da data de
disponibilização do processo.
6 - Considera-se haver concordância daquelas entidades com a pretensão formulada se os
respetivos pareceres, autorizações ou aprovações não forem recebidos dentro do prazo
fixado no número anterior.
7 - Os pareceres das entidades exteriores ao município só têm caráter vinculativo quando
tal resulte da lei, desde que se fundamentem em condicionamentos legais ou
regulamentares e sejam recebidos dentro do prazo previsto no n.º 5.
8 - Constam de diploma próprio os projetos, estudos e certificações técnicas que carecem
de consulta, de aprovação ou de parecer, interno ou externo, bem como as condições a
que deve obedecer a sua elaboração.
9 - Os projetos de arquitetura e os de especialidades, bem como os pedidos de autorização
de utilização, quando acompanhados por termo de responsabilidade subscrito por técnico
autor de projeto legalmente habilitado nos termos da lei da qualificação profissional
exigível aos técnicos responsáveis pela elaboração e subscrição de projetos, fiscalização
de obra e direção de obra que ateste o cumprimento das normas legais e regulamentares
aplicáveis, incluindo a menção a plano municipal ou intermunicipal de ordenamento do
território em vigor ou licença de loteamento, ficam dispensados da apresentação na
câmara municipal de consultas, certificações, aprovações ou pareceres externos, sem
prejuízo da necessidade da sua obtenção quando legalmente prevista.
10 - A realização de vistoria, certificação, aprovação ou parecer, pelo município ou por
entidade exterior, sobre a conformidade da execução dos projetos das especialidades e
outros estudos com o projeto aprovado ou apresentado é dispensada mediante emissão de
termo de responsabilidade por técnico legalmente habilitado para esse efeito, de acordo
com o respetivo regime legal, que ateste essa conformidade.
11 - (Revogado.)
12 - No termo do prazo fixado para a promoção das consultas, o interessado pode solicitar
a passagem de certidão dessa promoção, a qual é emitida pela câmara municipal no prazo

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de oito dias e, se esta for negativa, promover diretamente as consultas que não hajam sido
realizadas, nos termos do artigo 13.º-B, ou pedir ao tribunal administrativo que intime a
câmara municipal, nos termos do artigo 112.º
13 - Para efeitos do número anterior, e nos termos a regulamentar na portaria a que se
refere o n.º 4 do artigo 8.º-A, o interessado pode:
a) Obter comprovativo eletrónico da promoção ou não promoção da consulta das
entidades externas pela câmara municipal;
b) Promover diretamente a consulta das entidades externas.
14 - Quando as consultas, pareceres ou autorizações tiverem lugar, o procedimento
administrativo deve continuar durante o lapso temporal que medeia entre o pedido de
parecer, autorização ou consulta e a sua emissão ou o decurso do respetivo prazo.
15 - Quando as consultas, pareceres ou autorizações previstas no presente artigo incidirem
sobre áreas geográficas que não sejam abrangidas pelo regime jurídico que motivou o
pedido de consulta, de parecer ou autorização, as mesmas devem ser desconsideradas e o
procedimento prosseguir, considerando-se haver concordância da entidade consultada.

Artigo 13.º-A
Parecer, aprovação ou autorização em razão da localização

1 - A consulta de entidades da administração central, direta ou indireta, do setor


empresarial do Estado, bem como de entidades concessionárias que exerçam poderes de
autoridade, que se devam pronunciar sobre a operação urbanística em razão da
localização, é efetuada através de uma única entidade coordenadora, a CCDR
territorialmente competente, a qual emite uma decisão global e vinculativa de toda a
administração.
2 - A CCDR identifica, no prazo de cinco dias a contar da receção dos elementos através
do sistema previsto no artigo 8.º-A, as entidades que nos termos da lei devam emitir
parecer, aprovação ou autorização de localização, promovendo dentro daquele prazo a
respetiva consulta, a efetivar em simultâneo e com recurso ao referido sistema
informático.
3 - As entidades consultadas devem pronunciar-se no prazo de 20 dias, sendo este prazo
imperativo.
4 - [Revogado].5 – (Revogado.)6 - Caso não existam posições divergentes entre as
entidades consultadas, a CCDR toma a decisão final no prazo de cinco dias a contar do
fim do prazo previsto no n.º 3.
7 - Caso existam pareceres negativos das entidades consultadas, a CCDR promove uma
reunião, preferencialmente por videoconferência, a realizar no prazo de 10 dias a contar
do último parecer recebido dentro do prazo fixado nos termos do n.º 3, com todas as
entidades e com o requerente, tendo em vista obter uma solução concertada que permita
ultrapassar as objeções formuladas, e toma decisão final vinculativa no prazo de 10 dias.
8 - Na conferência decisória referida no número anterior, as entidades consultadas são
representadas por pessoas com poderes para as vincular.
9 - Não sendo possível obter a posição de todas as entidades, por motivo de falta de
comparência de algum representante ou por ter sido submetida a apreciação alguma
questão nova, os trabalhos da conferência podem ser suspensos por um período máximo
de cinco dias.10 - Quando a CCDR não adote posição favorável a uma operação
urbanística por esta ser desconforme com instrumento de gestão territorial, pode a CCDR,
quando a operação se revista de especial relevância regional ou local, por sua iniciativa
ou a solicitação do município, respetivamente, propor ao Governo a aprovação em

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resolução do Conselho de Ministros da alteração, suspensão ou ratificação, total ou
parcial, de plano da sua competência relativamente ao qual a desconformidade se verifica.
11 - Quando a decisão seja proferida em conferência decisória, os pareceres emitidos têm
natureza não vinculativa, independentemente da sua classificação em legislação especial.
12 - O procedimento de decisão da administração central previsto nos números anteriores
é objeto de portaria dos membros do Governo responsáveis pelo ordenamento do
território e pela administração local.
13 - A CCDR comunica ao município a decisão da conferência decisória no prazo de
cinco dias após a sua realização.
14 - Caso a CCDR não cumpra o prazo previsto no número anterior, considera-se que as
consultas tiveram um sentido favorável.

Artigo 13.º-B
Consultas prévias

1 - Sem prejuízo do disposto no número seguinte, o interessado na consulta a entidades


externas pode solicitar previamente os pareceres, autorizações ou aprovações legalmente
exigidos junto das entidades competentes, entregando-os com o requerimento inicial, caso
em que não há lugar a nova consulta desde que, até à data da apresentação de tal pedido
ou comunicação na câmara municipal, não haja decorrido mais de dois anos desde a
emissão dos pareceres, autorizações ou aprovações emitidos ou desde que, caso tenha
sido esgotado este prazo, não se tenham verificado alterações dos pressupostos de facto
ou de direito em que os mesmos se basearam.
2 - As comunicações prévias de operações urbanísticas são sempre precedidas das
consultas às entidades externas a que haja lugar.
3 - Para os efeitos dos números anteriores, na falta de pronúncia da entidade consultada
no prazo legal, o requerimento inicial ou a comunicação prévia podem ser instruídos com
prova da solicitação das consultas e declaração do requerente ou comunicante de que os
mesmos não foram emitidos dentro daquele prazo.
4 - Nos procedimentos de controlo prévio, com exceção das comunicações prévias, não
tendo o interessado promovido todas as consultas necessárias, o gestor do procedimento
promove as consultas a que haja lugar, de acordo com o previsto no artigo 13.º
5 - A utilização da plataforma eletrónica referida no n.º 1 do artigo 8.º-A pelo interessado
para os efeitos previstos no n.º 1 faz-se em termos a regulamentar na portaria a que se
refere o mesmo número.

Artigo 13.º-C
Audiência prévia dos interessados
São admitidas alterações ao projeto, na sequência da audiência prévia dos interessados
quando as mesmas visem a correção das desconformidades detetadas ou se encontrem
com estas conexas.

SUBSECÇÃO II
Informação prévia

Artigo 14.º
Pedido de informação prévia

1 - Qualquer interessado pode pedir à câmara municipal, a título prévio, informação


sobre a viabilidade de realizar determinada operação urbanística ou conjunto de

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operações urbanísticas diretamente relacionadas, bem como sobre os respetivos
condicionamentos legais ou regulamentares, nomeadamente relativos a infraestruturas,
servidões administrativas e restrições de utilidade pública, índices urbanísticos, cérceas,
afastamentos e demais condicionantes aplicáveis à pretensão.
2 - O interessado pode, em qualquer circunstância, designadamente quando o pedido
respeite a operação de loteamento em área não abrangida por plano de pormenor, ou a
obra de construção, ampliação ou alteração em área não abrangida por plano de
pormenor ou operação de loteamento, requerer que a informação prévia contemple
especificamente os seguintes aspetos, em função da informação pretendida e dos
elementos apresentados:
a) A volumetria, alinhamento, cércea e implantação da edificação e dos muros de
vedação;
b) Projeto de arquitetura e memória descritiva;
c) Programa de utilização das edificações, incluindo a área total de construção a afetar
aos diversos usos e o número de fogos e outras unidades de utilização, com
identificação das áreas acessórias, técnicas e de serviço;
d) Infraestruturas locais e ligação às infraestruturas gerais;
e) Estimativa de encargos urbanísticos devidos;
f) Áreas de cedência destinadas à implantação de espaços verdes, equipamentos de
utilização coletiva e infraestruturas viárias.
3 - Quando o interessado não seja o proprietário do prédio, o pedido de informação
prévia inclui a identificação daquele bem como dos titulares de qualquer outro direito
real sobre o prédio, através de certidão emitida pela conservatória do registo predial.
4 - No caso previsto no número anterior, a câmara municipal deve notificar o
proprietário e os demais titulares de qualquer outro direito real sobre o prédio da
abertura do procedimento.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define “equipamentos de utilização coletiva” como “as edificações e os espaços não edificados afetos à
provisão de bens e serviços destinados à satisfação das necessidades coletivas dos cidadãos,
designadamente nos domínios da saúde, da educação, da cultura e do desporto, da justiça, da segurança
social, da segurança pública e da proteção civil”.

Nota: O “vocabulário urbanístico” da DGOTU, de 2004, define “cércea”, como a “dimensão vertical da
construção, medida a partir do ponto de cota média do terreno marginal ao alinhamento da fachada até à
linha superior do beirado, platibanda ou guarda do terraço, incluindo andares recuados, mas excluindo
acessórios: chaminés, casa de máquinas de ascensores, depósitos de água, etc.”.

Artigo 15.º
Consultas no âmbito do procedimento de informação prévia

1 - No âmbito do procedimento de informação prévia há lugar a consultas externas, nos


termos dos artigos 13.º a 13.º-B, às entidades cujos pareceres, autorizações ou aprovações
condicionem, nos termos da lei, a informação a prestar, sempre que tal consulta seja
exigível num eventual pedido de licenciamento ou com a apresentação de comunicação
prévia.
2 - A pronúncia das entidades referidas no número anterior não incide sobre avaliação de
impacte ambiental.

Artigo 16.º
Deliberação

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1 - A câmara municipal delibera sobre o pedido de informação prévia no prazo de 20 dias
ou, no caso previsto no n.º 2 do artigo 14.º, no prazo de 30 dias contados a partir:
a) Da data da receção do pedido ou dos elementos solicitados nos termos do n.º 3 do artigo
11.º; ou
b) Da data da receção do último dos pareceres, autorizações ou aprovações emitidos pelas
entidades exteriores ao município, quando tenha havido lugar a consultas; ou ainda
c) Do termo do prazo para a receção dos pareceres, autorizações ou aprovações, sempre
que alguma das entidades consultadas não se pronuncie até essa data.
2 - Os pareceres, autorizações ou aprovações emitidos pelas entidades exteriores ao
município são obrigatoriamente notificados ao requerente juntamente com a informação
prévia aprovada pela câmara municipal, dela fazendo parte integrante.
3 - A câmara municipal indica sempre, na informação favorável, o procedimento de
controlo prévio a que se encontra sujeita a realização da operação urbanística projetada,
de acordo com o disposto na secção i do capítulo ii do presente diploma.
4 - No caso de a informação ser desfavorável, dela deve constar a indicação dos termos
em que a mesma, sempre que possível, pode ser revista por forma a serem cumpridas as
prescrições urbanísticas aplicáveis, designadamente as constantes de plano municipal ou
intermunicipal de ordenamento do território ou de operação de loteamento.

Artigo 17.º
Efeitos

1 - A informação prévia favorável vincula as entidades competentes na decisão sobre um


eventual pedido de licenciamento e no controlo sucessivo de operações urbanísticas
sujeitas a comunicação prévia.
2 - Quando seja proferida nos termos dos n.º s 2 e 3 do artigo 14.º e contenha as menções
referidas nas alíneas a) a f) do n.º2 do artigo 14.º, ou respeite a área sujeita a plano de
pormenor ou a operação de loteamento, a informação prévia favorável tem por efeito a
isenção do controlo prévio da operação urbanística em causa.
3 -. O número anterior é igualmente aplicável quando exista unidade de execução nos
seguintes termos:
a) Quando se trate de uma operação de loteamento, desde que a unidade de execução
preveja o polígono de base para a implantação de edificações, a área de construção, a
divisão em lotes, o número máximo de fogos e a implantação e programação de obras de
urbanização e edificação;
b) Quando se trate de obras de urbanização e trabalhos de remodelação de terrenos, desde
que a unidade de execução preveja a implantação e a programação de obras de
urbanização e edificação.
4- Quando se trate de obras de construção, de alteração ou ampliação, desde que a unidade
de execução preveja as parcelas, os alinhamentos, o polígono de base para implantação
das edificações, a altura total das edificações ou a altura das fachadas, o número máximo
de fogos e a área de construção e respetivos usos.
5 - As operações urbanísticas a que se referem os números anteriores devem ser iniciadas
no prazo de dois anos após a decisão favorável do pedido de informação prévia e são
sempre acompanhadas de declaração dos autores e coordenador dos projetos de que
respeita o conteúdo, os termos e as condições da informação prévia favorável.6 -
Decorrido o prazo fixado no número anterior, o particular pode requerer ao presidente da
câmara a declaração de que se mantêm os pressupostos de facto e de direito que levaram
à anterior decisão favorável, devendo o mesmo decidir no prazo de 20 dias e correndo
prazo de 1 ano para efetuar a apresentação dos pedidos de licenciamento ou de

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comunicação prévia, se os pressupostos se mantiverem ou se o presidente da câmara
municipal não tiver respondido no prazo legalmente previsto.
7 - Não se suspendem os procedimentos de licenciamento ou comunicação prévia
requeridos ou apresentados com suporte em informação prévia nas áreas a abranger por
novas regras urbanísticas, constantes de plano municipal, intermunicipal ou especial de
ordenamento do território ou sua revisão, a partir da data fixada para o início da discussão
pública e até à data da entrada em vigor daquele instrumento.

SUBSECÇÃO III
Licença

Artigo 18.º
Âmbito

1 - Obedece ao procedimento regulado na presente subsecção a apreciação dos pedidos


relativos às operações urbanísticas previstas no n.º 2 do artigo 4.º
2 - [Revogado].

Artigo 19.º
Consultas a entidades exteriores ao município

[Revogado].

Artigo 20.º
Apreciação dos projetos de obras de edificação
1 - A apreciação do projeto de arquitetura, no caso de pedido de licenciamento relativo a
obras previstas nas alíneas c) a f) do n.º 2 do artigo 4.º, incide exclusivamente sobre a sua
conformidade com:
a) Planos municipais ou intermunicipais de ordenamento no território;
b) Medidas preventivas;
c) Área de desenvolvimento urbano prioritário;
d) Área de construção prioritária;
e) Servidões administrativas;
f) Restrições de utilidade pública;
g) O uso proposto;
h) As normas legais e regulamentares relativas ao aspeto exterior e à inserção urbana e
paisagística das edificações, desde que os planos ou regulamentos municipais
densifiquem tais aspetos;
i) A adequação e capacidade das infraestruturas.
2 - Para os efeitos do número anterior, a apreciação da inserção urbana das edificações é
efetuada na perspetiva formal e funcional, tendo em atenção o edificado existente, bem
como o espaço público envolvente e as infraestruturas existentes e previstas.
3 - A câmara municipal delibera sobre o projeto de arquitetura no prazo de 30 dias contado
a partir:
a) Da data da receção do pedido ou dos elementos solicitados nos termos do n.º 3 do artigo
11.º; ou
b) Da data da receção do último dos pareceres, autorizações ou aprovações emitidos pelas
entidades exteriores ao município, quando tenha havido lugar a consultas; ou ainda
c) Do termo do prazo para a receção dos pareceres, autorizações ou aprovações, sempre
que alguma das entidades consultadas não se pronuncie até essa data.

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4 - O interessado deve apresentar os projetos das especialidades e outros estudos
necessários à execução da obra no prazo de seis meses a contar da notificação do ato que
aprovou o projeto de arquitetura caso não tenha apresentado tais projetos com o
requerimento inicial.
5 - O presidente da câmara pode prorrogar o prazo referido no número anterior, por uma
só vez e por período não superior a três meses, mediante requerimento fundamentado
apresentado antes do respetivo termo.
6 - A falta de apresentação dos projetos das especialidades e outros estudos no prazo
estabelecido no n.º 4 ou naquele que resultar da prorrogação concedida nos termos do
número anterior implica a suspensão do processo de licenciamento pelo período máximo
de seis meses, findo o qual é declarada a caducidade após audiência prévia do interessado.
7 - [Revogado].
8 - As declarações de responsabilidade dos autores dos projetos de arquitetura, no que
respeita aos aspetos interiores das edificações, bem como dos autores dos projetos das
especialidades e de outros estudos nos termos do n.º 4 do artigo 10.º, constituem garantia
bastante do cumprimento das normas legais e regulamentares aplicáveis, excluindo a sua
apreciação prévia, salvo quando as declarações sejam formuladas nos termos do n.º 5 do
artigo 10.º
9 - Na apreciação do projeto de arquitetura, a câmara municipal não pode analisar os
elementos não previstos no n.º 1, estando designadamente impedida de apreciar:
a) Os projetos respeitantes a obras no interior dos edifícios ou suas frações;
b) A existência de compartimentos ou locais para caixotes do lixo ou outros elementos de
mobiliário urbano;
c) Os projetos de especialidade.
10 - São nulas as normas de planos intermunicipais e municipais de ordenamento do
território, bem como de regulamento municipal ou de deliberações de órgãos das
entidades licenciadoras, que confiram poderes de apreciação ao município que não
estejam previstos no n.º 1 ou que atribuam poderes de apreciação relativamente aos
aspetos referidos no número anterior.
11 - A decisão sobre o projeto de arquitetura deve ser completa e abranger todos os
elementos do projeto objeto de apreciação nos termos do n.º 1, sendo notificada ao
particular.

Artigo 21.º
Apreciação dos projetos de loteamento, de obras de
urbanização e trabalhos de remodelação de terrenos

A apreciação dos projetos de loteamento, obras de urbanização e dos trabalhos de


remodelação de terrenos pela câmara municipal incide sobre a sua conformidade com
planos municipais ou intermunicipais de ordenamento do território, planos especiais de
ordenamento do território, medidas preventivas, área de desenvolvimento urbano
prioritário, área de construção prioritária, servidões administrativas, restrições de
utilidade pública e quaisquer outras normas legais e regulamentares aplicáveis, bem como
sobre o uso e a integração urbana e paisagística.

Artigo 22.º
Consulta pública

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1 - Os municípios podem determinar, através de regulamento municipal, a prévia sujeição
a discussão pública do licenciamento de operações de loteamento com significativa
relevância urbanística.
2 - A consulta prevista no número anterior tem sempre lugar quando a operação de
loteamento exceda algum dos seguintes limites:
a) 4 ha;
b) 100 fogos;
c) 10 /prct. da população do aglomerado urbano em que se insere a pretensão.
3 - A consulta pública prevista no presente artigo não tem lugar quando,
cumulativamente:
a) A operação de loteamento esteja isenta de controlo prévio, ao abrigo do artigo 7.º; e
b) Tenha existido avaliação ambiental de plano, com sujeição a consulta pública.

Artigo 23.º
Deliberação final, prazos e deferimento tácito

1 - A câmara municipal delibera sobre o pedido de licenciamento:


a) No prazo de 120 dias, no caso de obras de construção, reconstrução, alteração ou de
ampliação, conservação e demolição realizadas em imóvel com área bruta de construção
igual ou inferior a 300 m2;
b) No prazo de 150 dias, no caso de obras de construção, reconstrução, alteração ou de
ampliação, conservação e demolição realizadas em imóvel com área bruta de construção
superior a 300 m2 e igual ou inferior a 2200 m2, bem como no caso de imóveis
classificados ou em vias de classificação;
c) No prazo de 200 dias, no caso de obras de urbanização, operações de loteamento e no
caso de obras de construção, reconstrução, alteração ou de ampliação, conservação e
demolição realizadas em imóvel com área bruta de construção superior a 2200 m2;
d) [Revogada].
2 -A deliberação prevista no número anterior está sujeita a deferimento tácito.
3 - Os prazos previstos nas alíneas no n.º 1 contam-se a partir da data da submissão do
pedido.
4 – (Revogado.)
5 - Quando o pedido de licenciamento de obras de urbanização seja apresentado em
simultâneo com o pedido de licenciamento de operação de loteamento, o prazo previsto
na alínea b) do n.º 1 conta-se a partir da deliberação que aprove o pedido de loteamento.
6 - No caso das obras previstas nas alíneas c) a e) do n.º 2 do artigo 4.º, a câmara municipal
pode, a requerimento do interessado, aprovar uma licença parcial para construção da
estrutura, imediatamente após a entrega de todos os projetos das especialidades e outros
estudos e desde que se mostrem aprovado o projeto de arquitetura e prestada caução para
demolição da estrutura até ao piso de menor cota em caso de indeferimento.
7 – (Revogado.)

Artigo 24.º
Indeferimento do pedido de licenciamento

1 - O pedido de licenciamento é indeferido quando:


a) Violar plano municipal e intermunicipal de ordenamento do território, medidas
preventivas, área de desenvolvimento urbano prioritário, área de construção prioritária,
servidão administrativa ourestrição de utilidade pública ;

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b) Violar norma legal ou regulamentar relativa aos aspetos referidos no n.º 1 do artigo
20.º que disponha sobre matéria que possa ser objeto de regulamento municipal à luz do
artigo 3.º;
c) Existir declaração de utilidade pública para efeitos de expropriação que abranja o
prédio objeto do pedido de licenciamento, salvo se tal declaração tiver por fim a
realização da própria operação urbanística;
d) Tiver sido objeto de parecer negativo ou recusa de aprovação ou autorização de
qualquer entidade consultada nos termos do presente diploma cuja decisão seja
vinculativa para os órgãos municipais.
2 - Quando o pedido de licenciamento tiver por objeto a realização das operações
urbanísticas referidas nas alíneas a) a e) e i) do n.º 2 do artigo 4.º, o indeferimento pode
ainda ter lugar com fundamento em:
a) A operação urbanística afetar negativamente o património arqueológico, histórico,
cultural ou paisagístico, natural ou edificado;
b) A operação urbanística constituir, comprovadamente, uma sobrecarga incomportável
para as infraestruturas ou serviços gerais existentes ou implicar, para o município, a
construção ou manutenção de equipamentos, a realização de trabalhos ou a prestação de
serviços por este não previstos, designadamente quanto a arruamentos e redes de
abastecimento de água, de energia elétrica ou de saneamento.
c) A operação urbanística implicar a demolição de fachadas revestidas a azulejos, a
remoção de azulejos de fachada, independentemente da sua confrontação com a via
pública ou logradouros, salvo em casos devidamente justificados, autorizados pela
Câmara Municipal em razão da ausência ou diminuto valor patrimonial relevante destes.
3 - [Revogado].
4 - Quando o pedido de licenciamento tiver por objeto a realização das obras referidas
nas alíneas c) e d) do n.º 2 do artigo 4.º, pode ainda ser indeferido quando a obra seja
suscetível de manifestamente afetar o acesso e a utilização de imóveis classificados de
interesse nacional, interesse público ou interesse municipal, a estética das povoações, a
sua adequada inserção no ambiente urbano ou a beleza das paisagens, designadamente
em resultado da desconformidade com as cérceas dominantes ea volumetria das
edificações .
5 - O pedido de licenciamento das obras referidas na alínea c) do n.º 2 do artigo 4.º deve
ser indeferido na ausência de arruamentos ou de infraestruturas de abastecimento de
água e saneamento ou se a obra projetada constituir, comprovadamente, uma sobrecarga
incomportável para as infraestruturas existentes.
6 - [Revogado].
7 - Para efeitos da alínea a) do n.º 2, quando se trate de pedido de licenciamento de
imóvel classificado como de interesse nacional ou interesse público e for solicitado
parecer do Património Cultural, I. P., ou às CCDR, I. P., ficam as câmaras municipais
impedidas de solicitar novos pareceres em matéria de património cultural, incluindo aos
seus serviços internos.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define o “logradouro” como “um espaço ao ar livre, destinado a funções de estadia, recreio e lazer, privado,
de utilização coletiva ou de utilização comum, e adjacente ou integrado num edifício ou conjunto de
edifícios”.

Nota: O “vocabulário urbanístico” da DGOTU, de 2004, define “cércea”, como a “dimensão vertical da
construção, medida a partir do ponto de cota média do terreno marginal ao alinhamento da fachada até à
linha superior do beirado, platibanda ou guarda do terraço, incluindo andares recuados, mas excluindo
acessórios: chaminés, casa de máquinas de ascensores, depósitos de água, etc.”.

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Artigo 25.º
Reapreciação do pedido

1 - Quando exista projeto de decisão de indeferimento com os fundamentos referidos na


alínea b) do n.º 2 e no n.º 5 do artigo anterior, pode haver deferimento do pedido desde
que o requerente, na audiência prévia, se comprometa a realizar os trabalhos necessários
ou a assumir os encargos inerentes à sua execução, bem como os encargos de
funcionamento das infraestruturas por um período mínimo de 10 anos.
2 - [Revogado].
3 - Em caso de deferimento nos termos do n.º 1, o requerente deve, antes dopagamento
das taxas, celebrar com a câmara municipal contrato relativo ao cumprimento das
obrigações assumidas e prestar caução adequada, beneficiando de redução proporcional
ou isenção das taxas por realização de infraestruturas urbanísticas, nos termos a fixar em
regulamento municipal.
4 - A prestação da caução referida no número anterior bem como a execução ou
manutenção das obras de urbanização que o interessado se compromete a realizar ou a
câmara municipal entenda indispensáveis devem ser mencionadas expressamente como
condição do deferimento do pedido.
5 - À prestação da caução referida no n.º 3 aplica-se, com as necessárias adaptações, o
disposto no artigo 54.º
6 - Os encargos a suportar pelo requerente ao abrigo do contrato referido no n.º 3 devem
ser proporcionais à sobrecarga para as infraestruturas existentes resultante da operação
urbanística.

Artigo 26.º
Licença

A deliberação final de deferimento do pedido de licenciamento, ou a formação de


deferimento tácito, consubstancia a licença para a realização da operação urbanística, bem
como, quando solicitado pelo interessado, a licença para ocupação da via pública.

Artigo 27.º
Alterações à licença

1 - A requerimento do interessado, podem ser alterados os termos e condições da licença.


2 - A alteração da licença de operação de loteamento é precedida de consulta pública
quando a mesma esteja prevista em regulamento municipal ou quando sejam
ultrapassados alguns dos limites previstos no n.º 2 do artigo 22.º
3 - Sem prejuízo do disposto no artigo 48.º, a alteração da licença de operação de
loteamento não pode ser aprovada se ocorrer oposição escrita dos titulares da maioria da
área dos lotes constantes do alvará, devendo, para o efeito, o gestor de procedimento
proceder à sua notificação para pronúncia no prazo de 10 dias.
4 - A alteração à licença obedece ao procedimento estabelecido na presente subsecção,
com as especialidades constantes dos números seguintes.
5 - É dispensada a consulta às entidades exteriores ao município desde que o pedido de
alteração se conforme com os pressupostos de facto e de direito dos pareceres,
autorizações ou aprovações que hajam sido emitidos no procedimento.
6 - No procedimento de alteração são utilizados os documentos constantes do processo
que se mantenham válidos e adequados, promovendo a câmara municipal, quando
necessário, a atualização dos mesmos.

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7 - A alteração da licença dá lugar a aditamento ao alvará, que, no caso de operação de
loteamento, deve ser comunicado oficiosamente à conservatória do registo predial
competente para efeitos de averbamento, contendo a comunicação os elementos em que
se traduz a alteração.
8 - As alterações à licença de loteamento, com ou sem variação do número de lotes, que
se traduzam na variação das áreas de implantação, de construção ou variação do número
de fogos até 3 /prct., desde que observem os parâmetros urbanísticos ou utilizações
constantes de plano municipal ou intermunicipal de ordenamento do território, são
aprovadas por simples deliberação da câmara municipal, com dispensa de quaisquer
outras formalidades, sem prejuízo das demais disposições legais e regulamentares
aplicáveis.
9 - Excetuam-se do disposto nos n.º s 3 a 6 as alterações às condições da licença que se
refiram ao prazo de conclusão das operações urbanísticas licenciadas ou ao montante da
caução para garantia das obras de urbanização, que se regem pelos artigos 53.º, 54.º e 58.º

SUBSECÇÃO IV
Autorização

Artigo 28.º
Âmbito
[Revogado].

Artigo 29.º
Apreciação liminar
[Revogado].

Artigo 30.º
Decisão final

[Revogado].

Artigo 31.º
Indeferimento do pedido de autorização

[Revogado].

Artigo 32.º
Autorização

[Revogado].

Artigo 33.º
Alterações à autorização

[Revogado].

SUBSECÇÃO V
Comunicação prévia

Artigo 34.º
Âmbito

1 - Obedece ao procedimento regulado na presente subsecção a realização das operações


urbanísticas referidas no n.º 4 do artigo 4.º
2 - A comunicação prévia consiste numa declaração que, desde que corretamente
instruída, permite ao interessado proceder imediatamente à realização de determinadas
operações urbanísticas após o pagamento das taxas devidas, dispensando a prática de
quaisquer atos permissivos.

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3 - O pagamento das taxas a que se refere o número anterior faz-se por autoliquidação
nos termos e condições definidos nos regulamentos municipais previstos no artigo 3.º,
não podendo o prazo de pagamento ser inferior a 60 dias, contados do termo do prazo
para a notificação a que se refere o n.º 2 do artigo 11.º
4 - As operações urbanísticas realizadas ao abrigo de comunicação prévia observam as
normas legais e regulamentares aplicáveis, designadamente as relativas às normas
técnicas de construção e o disposto nos instrumentos de gestão territorial.
5 - Sempre que seja obrigatória a realização de consultas externas nos termos previstos
na lei, a comunicação prévia pode ter lugar quando tais consultas já tenham sido efetuadas
no âmbito de pedido de informação prévia, de aprovação de planos de pormenor ou de
operações de loteamento urbano, ou se o interessado instruir a comunicação prévia com
as consultas por ele promovidas nos termos do artigo 13.º-B.

Artigo 35.º
Regime da comunicação prévia

1 - A comunicação prévia é dirigida ao presidente da câmara municipal e efetuada


através da plataforma eletrónica referida no n.º 1 do artigo 8.º-A nos termos a
regulamentar na portaria a que se refere o mesmo número.
2 - Na comunicação prévia o interessado indica o prazo de execução das obras, sem
prejuízo do disposto nos artigos 71.º e 72.º
3 - [Revogado].
4 - Os elementos instrutórios da comunicação prévia constamde portaria dos membros
do Governo responsáveis pelas áreas da modernização administrativa, da construção,
das autarquias locais e do ordenamento do território.
5 - As operações urbanísticas objeto de comunicação prévia são disponibilizadas
diariamente através da plataforma eletrónica referida no n.º 1 do artigo 8.º-A que emite
o comprovativo eletrónico da sua apresentação.
6 - O comunicante pode solicitar aos serviços municipais que seja emitida, sem
dependência de qualquer despacho, certidão na qual conste a identificação da operação
urbanística objeto de comunicação prévia bem como a data da sua apresentação.
7 - É aplicável à comunicação prévia o disposto na alínea a) do n.º 2 e no n.º 3 do artigo
11.º, com as devidas adaptações, sendo o despacho notificado ao interessado nos termos
do disposto no artigo 121.º
8 - Sem prejuízo do disposto nos números anteriores, a câmara municipal deve, em sede
de fiscalização sucessiva, inviabilizar a execução das operações urbanísticas objeto de
comunicação prévia e promover as medidas necessárias à reposição da legalidade
urbanística, quando verifique que não foram cumpridas as normas e condicionantes
legais e regulamentares, ou que estas não tenham sido precedidas de pronúncia,
obrigatória nos termos da lei, das entidades externas competentes, ou que com ela não
se conformem.
9 - O dever de fiscalização previsto no número anterior caduca 10 anos após a data de
emissão do título da comunicação prévia.

Artigo 36.º
Rejeição da comunicação prévia

[Revogado].

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Artigo 36.º-A
Acto administrativo

[Revogado].

SUBSECÇÃO VI
Procedimentos especiais

Artigo 37.º
Operações urbanísticas cujo projecto carece de aprovação da
administração central
[Revogado].

Artigo 38.º
Empreendimentos turísticos

1 - Os empreendimentos turísticos estão sujeitos ao regime jurídico das operações de


loteamento nos casos em que se pretenda efetuar a divisão jurídica do terreno em lotes.
2 - Nas situações referidas no número anterior não é aplicável o disposto no artigo 41.º,
podendo a operação de loteamento realizar-se em áreas em que o uso turístico seja
compatível com o disposto nos instrumentos de gestão territorial válidos e eficazes.

Artigo 39.º
Dispensa de autorização prévia de localização

Sempre que as obras se situem em área que nos termos de plano de urbanização, plano de
pormenor ou licença ou comunicação prévia de loteamento em vigor esteja
expressamente afeta ao uso proposto, é dispensada a autorização prévia de localização
que, nos termos da lei, devesse ser emitida por parte de órgãos da administração central,
sem prejuízo das demais autorizações ou aprovações exigidas por lei relativas a servidões
administrativas ou restrições de utilidade pública.

Artigo 40.º
Licença ou autorização de funcionamento
[Revogado].

Artigo 40.º-A
Acompanhamento policial
Não pode ser exigido acompanhamento policial para a realização de operações
urbanísticas, mesmo quando as mesmas impliquem o corte da via pública.

SECÇÃO III
Condições especiais de licenciamento ou comunicação prévia

SUBSECÇÃO I
Operações de loteamento

Artigo 41.º
Localização

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As operações de loteamento só podem realizar-se em áreas situadas dentro do perímetro
urbano e em terrenos já urbanizados ou cuja urbanização se encontre programada em
plano municipal ou intermunicipal de ordenamento do território.

Artigo 42.º
Parecer da CCDR
(Revogado).

Artigo 43.º
Áreas para espaços verdes e de utilização coletiva,
Infraestruturas, equipamentos e habitação

1 - Os projetos de loteamento devem prever áreas destinadas à implantação de espaços


verdes e de utilização coletiva, infraestruturas viárias, equipamentos e habitação pública,
de custos controlados ou para arrendamento acessível.
2 - Os parâmetros para o dimensionamento das áreas referidas no número anterior são os
que estiverem definidos em plano municipal ou intermunicipal de ordenamento do
território.
3 - Para aferir se o projeto de loteamento respeita os parâmetros a que alude o número
anterior consideram-se quer as parcelas de natureza privada a afetar àqueles fins quer as
parcelas a ceder à câmara municipal nos termos do artigo seguinte.
4 - Os espaços verdes e de utilização coletiva, infraestruturas viárias e equipamentos de
natureza privada constituem partes comuns dos lotes resultantes da operação de
loteamento e dos edifícios que neles venham a ser construídos e regem-se pelo disposto
nos artigos 1420.º a 1438.º-A do Código Civil.

Artigo 44.º
Cedências
1 - O proprietário e os demais titulares de direitos reais sobre o prédio a lotear cedem
gratuitamente ao município as parcelas para implantação de espaços verdes públicos,
habitação pública, a custos controlados ou para arrendamento acessível e equipamentos
de utilização coletiva e as infraestruturas que, de acordo com a lei e a licença ou
comunicação prévia, devam integrar o domínio municipal.
2 - Para os efeitos do número anterior, o requerente deve assinalar as áreas de cedência
ao município em planta a entregar com o pedido de licenciamento ou comunicação prévia.
3 - As parcelas de terreno cedidas ao município integram-se no domínio municipal com
a emissão da licença ou, nas situações previstas nos artigos 6.º e 34.º, através de escritura
pública, documento particular autenticado ou do procedimento especial de transmissão,
oneração e registo imediato de prédio urbano em atendimento presencial único, aprovado
pelo Decreto-Lei n.º 263-A/2007, de 23 de julho, na sua redação atual, a realizar no prazo
de 20 dias após a receção da comunicação prévia ou no caso de isenção antes do início
dos trabalhos, devendo a câmara municipal ali definir, as parcelas afetas aos domínios
público e privado do município.
4 - Se o prédio a lotear já estiver servido pelas infraestruturas a que se refere a alínea h)
do artigo 2.º ou não se justificar a localização de qualquer equipamento ou espaço verde
públicos no referido prédio ou ainda nos casos referidos no n.º 4 do artigo anterior, não
há lugar a qualquer cedência para esses fins, ficando, no entanto, o proprietário obrigado
ao pagamento de uma compensação ao município, em numerário ou em espécie, nos

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termos definidos em regulamento municipal.
5 - O proprietário e demais titulares de direitos reais sobre prédio a sujeitar a qualquer
operação urbanística que nos termos de regulamento municipal seja considerada como de
impacte relevante ficam também sujeitos às cedências e compensações previstas para as
operações de loteamento.
6 - Nos casos previstos no n.º 4 o pagamento das compensações só ocorre quando já
tiverem sido efetuadas as obras de urbanização ou as mesmas não tiverem lugar.
7 - Nas operações de loteamento efetuadas pelas entidades previstas na alínea b) do n.º 1
do artigo 7.º, o pagamento das compensações previstas no n.º 4 apenas deve ser realizado
após o interessado submeter o projeto de licenciamento, a comunicação prévia ou iniciar
a execução da operação, em caso de isenção.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define “equipamentos de utilização coletiva” como “as edificações e os espaços não edificados afetos à
provisão de bens e serviços destinados à satisfação das necessidades coletivas dos cidadãos,
designadamente nos domínios da saúde, da educação, da cultura e do desporto, da justiça, da segurança
social, da segurança pública e da proteção civil”.

Artigo 45.º
Reversão

1 - O cedente tem o direito de reversão sobre as parcelas cedidas nos termos do artigo
anterior sempre que estas sejam afetas a fins diversos daqueles para que hajam sido
cedidas.
2 - Para os efeitos previstos no número anterior, considera-se que não existe alteração
de afetação sempre que as parcelas cedidas sejam afetas a um dos fins previstos no n.º 1
do artigo anterior, independentemente das especificações eventualmente constantes do
documento que titula a transmissão.
3 - Ao exercício do direito de reversão previsto no número anterior aplica-se, com as
necessárias adaptações, o disposto no Código das Expropriações.
4 - Em alternativa ao exercício do direito referido no n.º 1 ou no caso do n.º 10, o
cedente pode exigir ao município uma indemnização, a determinar nos termos
estabelecidos no Código das Expropriações com referência ao fim a que se encontre
afeta a parcela, calculada à data em que pudesse haver lugar à reversão.
5 - As parcelas que, nos termos do n.º 1, tenham revertido para o cedente ficam sujeitas
às mesmas finalidades a que deveriam estar afetas aquando da cedência, salvo quando
se trate de parcela a afetar a equipamento de utilização coletiva, devendo nesse caso ser
afeta a espaço verde, procedendo-se ainda ao averbamento desse facto na respetiva
licença ou à sua integração na comunicação prévia.
6 - Os direitos previstos nos n.ºs 1, 3 e 4 podem ser exercidos pelos proprietários de,
pelo menos, um terço dos lotes constituídos em consequência da operação de
loteamento.
7 - Havendo imóveis construídos na parcela revertida, o tribunal pode ordenar a sua
demolição, a requerimento do cedente, nos termos estabelecidos nos artigos 37.º e
seguintes da Lei n.º 15/2002, de 22 de fevereiro.
8 - O município é responsável pelos prejuízos causados aos proprietários dos imóveis
referidos no número anterior, nos termos estabelecidos na Lei n.º 67/2007, de 31 de
dezembro, alterada pela Lei n.º 31/2008, de 17 de julho, em matéria de atos ilícitos.
9 - A demolição prevista no n.º 7 não prejudica os direitos legalmente estabelecidos de
realojamento dos ocupantes.

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10 - O direito de reversão previsto no n.º 1 não pode ser exercido quando os fins das
parcelas cedidas sejam alterados ao abrigo do disposto no n.º 1 do artigo 48.º
Nota: Cf. ainda ao cf. art.º 5.º do Código das Expropriações (direito de reversão no caso de os bens
expropriados não serem aplicados, no prazo de dois anos, ao fim que determinou a expropriação ou se,
entretanto, tiverem cessado as finalidades da expropriação. Sobre como se processa a reversão no caso de
expropriação, cf. 74.º e segs. do CE.

Artigo 46.º
Gestão das infraestruturas e dos espaços verdes e de utilização coletiva
1 - A gestão das infraestruturas e dos espaços verdes e de utilização coletiva pode ser
confiada a moradores ou a grupos de moradores das zonas loteadas e urbanizadas ou
anetidades previstas no artigo 7.º, mediante a celebração com o município de acordos de
cooperação ou de contratos de concessão do domínio municipal.
2 - Os acordos de cooperação podem incidir, nomeadamente, sobre os seguintes
aspetos:
a) Limpeza e higiene;
b) Conservação de espaços verdes existentes;
c) Manutenção dos equipamentos de recreio e lazer;
d) Vigilância da área, por forma a evitar a sua degradação.
3 - Os contratos de concessão devem ser celebrados sempre que se pretenda realizar
investimentos em equipamentos de utilização coletiva ou em instalações fixas e não
desmontáveis em espaços verdes, ou a manutenção de infraestruturas.

Artigo 47.º
Contrato de concessão

1 - Os princípios a que devem subordinar-se os contratos administrativos de concessão


do domínio municipal a que se refere o artigo anterior são estabelecidos em diploma
próprio, no qual se fixam as regras a observar em matéria de prazo de vigência, conteúdo
do direito de uso privativo, obrigações do concessionário e do município em matéria de
realização de obras, prestação de serviços e manutenção de infraestruturas, garantias a
prestar e modos e termos do sequestro e rescisão.
2 - A utilização das áreas concedidas nos termos do número anterior e a execução dos
contratos respetivos estão sujeitas a fiscalização da câmara municipal, nos termos a
estabelecer no diploma aí referido.
3 - Os contratos referidos no número anterior não podem, sob pena de nulidade das
cláusulas respetivas, proibir o acesso e utilização do espaço concessionado por parte do
público, sem prejuízo das limitações a tais acesso e utilização que sejam admitidas no
diploma referido no n.º 1.
4 - As entidades previstas no artigo 7.º podem celebrar contratos de concessão de gestão
do domínio municipal independentemente do disposto em diploma próprio, desde que os
mesmos prevejam:
a) Prazo de vigência;
b) Conteúdo do direito de uso privativo; e
c) As obrigações do concessionário e do município em matéria de realização de obras, de
prestação de serviços, manutenção de infraestruturas, garantias a prestar e os modos e
termos do sequestro, resgate e rescisão.

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Artigo 48.º
Execução de instrumentos de gestão territorial e outros
instrumentos urbanísticos

1 - As operações de loteamento com as condições definidas na licença ou comunicação


prévia podem ser alteradas por iniciativa da câmara municipal desde que tal alteração se
mostre necessária à execução de plano municipal ou intermunicipal de ordenamento do
território ou área de reabilitação urbana.
2 - A deliberação da câmara municipal que determine as alterações referidas no número
anterior é devidamente fundamentada e implica a emissão de novo alvará e a publicação
e submissão a registo deste, a expensas do município.
3 - A deliberação referida no número anterior é precedida da audiência prévia do titular
do alvará e demais interessados, que dispõem do prazo de 30 dias para se pronunciarem
sobre o projeto de decisão.
4 - A pessoa coletiva que aprovar os instrumentos referidos no n.º 1 que determinem direta
ou indiretamente os danos causados ao titular da licença e demais interessados, em virtude
do exercício da faculdade prevista no n.º 1, é responsável pelos mesmos nos termos do
regime geral aplicável às situações de indemnização pelo sacrifício.
5 - Sem prejuízo do disposto no número anterior, nas situações de afetação das condições
da licença ou comunicação prévia que, pela sua gravidade ou intensidade, eliminem ou
restrinjam o seu conteúdo económico, o titular da licença e demais interessados têm
direito a uma indemnização correspondente ao valor económico do direito eliminado ou
da parte do direito que tiver sido restringido.
6 - Enquanto não forem alteradas as condições das operações de loteamento nos termos
previstos no n.º 1, as obras de construção, de alteração ou de ampliação, na área abrangida
por aquelas operações de loteamento, não têm que se conformar com planos municipais
ou intermunicipais de ordenamento do território ou áreas de reabilitação urbana
posteriores à licença ou comunicação prévia da operação de loteamento.

Nota: O Decreto Regulamentar que define conceitos técnicos do urbanismo define a “operação de
reabilitação urbana” como “o conjunto articulado de intervenções visando, de forma integrada, a
reabilitação urbana de uma determinada área”.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos técnicos para a área do urbanismo (de setembro de
2019) define “área de reabilitação urbana” como “a área territorialmente delimitada que, em virtude da
insuficiência, degradação ou obsolescência dos edifícios, das infraestruturas, dos equipamentos de
utilização coletiva e dos espaços urbanos e verdes de utilização coletiva, designadamente no que se refere
às suas condições de uso, solidez, segurança, estética ou salubridade, justifique uma intervenção integrada,
através de uma operação de reabilitação urbana aprovada em instrumento próprio ou em plano de pormenor
de reabilitação urbana”. Esta definição corresponde à definição adotada no Decreto-Lei n.º 307/2009, de
23 de outubro.

Artigo 48.º-A
Alterações à operação de loteamento objeto de comunicação prévia

Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, a alteração de operação de loteamento objeto


de comunicação prévia só pode ser apresentada se for demonstrada a não oposição dos
titulares da maioria dos lotes constantes da comunicação.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define “lote” como o “prédio destinado à edificação, constituído ao abrigo de uma operação de loteamento
ou de um plano de pormenor com efeitos registais.”

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Artigo 49.º
Negócios jurídicos

1 - Nos títulos de arrematação ou outros documentos judiciais, bem como nos


instrumentos relativos a atos ou negócios jurídicos de que resulte, direta ou indiretamente,
a constituição de lotes nos termos da alínea i) do artigo 2.º, sem prejuízo do disposto nos
artigos 6.º e 7.º, ou a transmissão de lotes legalmente constituídos, devem constar o
número da licença ou da comunicação prévia, a data de emissão do título, a data de
caducidade e a certidão do registo predial.
2 - Não podem ser realizados atos de primeira transmissão de imóveis construídos nos
lotes ou de frações autónomas desses imóveis sem que seja exibida, perante a entidade
que celebre a escritura pública ou autentique o documento particular, certidão emitida
pela câmara municipal, comprovativa da receção provisória das obras de urbanização ou
certidão, emitida pela câmara municipal, comprovativa de que a caução a que se refere o
artigo 54.º é suficiente para garantir a boa execução das obras de urbanização.
3 - Caso as obras de urbanização sejam realizadas nos termos dos artigos 84.º e 85.º, os
atos referidos no número anterior podem ser efetuados mediante a exibição de certidão,
emitida pela câmara municipal, comprovativa da conclusão de tais obras, devidamente
executadas em conformidade com os projetos aprovados.
4 - A exibição das certidões referidas nos n.º s 2 e 3 é dispensada sempre que o alvará de
loteamento tenha sido emitido ao abrigo dos Decretos-Leis n.º s 289/73, de 6 de junho, e
400/84, de 31 de dezembro.

Artigo 50.º
Fracionamento de prédios rústicos

[Revogado].

Artigo 51.º
Informação registral

1 - O conservador do registo predial remete mensalmente à CCDR, até ao dia 15 de cada


mês, cópia dos elementos respeitantes a operações de loteamento e respetivos anexos
cujos registos tenham sido requeridos no mês anterior.
2 - [Revogado].

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define o “edifício anexo” ou “anexo” como “um edifício destinado a um uso complementar e
funcionalmente dependente do edifício principal.”

Artigo 52.º
Publicidade à alienação

Na publicidade à alienação de lotes de terreno, de edifícios ou frações autónomas neles


construídos, em construção ou a construir, é obrigatório mencionar o número do alvará
de loteamento ou da comunicação prévia e a data da sua emissão ou receção pela câmara
municipal, bem como o respetivo prazo de validade.

SUBSECÇÃO II
Obras de urbanização

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Artigo 53.º
Condições e prazo de execução

1 - Com a deliberação prevista no artigo 26.º ou através de regulamento municipal nas


situações previstas no artigo 34.º, o órgão competente para o licenciamento das obras de
urbanização estabelece:
a) As condições a observar na execução das mesmas, onde se inclui o cumprimento do
disposto no regime da gestão de resíduos de construção e demolição nelas produzidos, e
o prazo para a sua conclusão;
b) O montante da caução destinada a assegurar a boa e regular execução das obras;
c) As condições gerais do contrato de urbanização a que se refere o artigo 55.º, se for caso
disso.
2 - Nas situações previstas no artigo 34.º, o prazo de execução é o fixado pelo interessado,
não podendo, no entanto, ultrapassar os limites fixados mediante regulamento municipal.
3 - O prazo estabelecido nos termos da alínea a) do n.º 1 e do n.º 2 pode ser prorrogado a
requerimento fundamentado do interessado, por uma única vez e por período não superior
a metade do prazo inicial, quando não seja possível concluir as obras dentro do prazo para
o efeito estabelecido.
4 - Quando a obra se encontre em fase de acabamentos, pode ainda o presidente da câmara
municipal, a requerimento fundamentado do interessado, conceder nova prorrogação,
mediante o pagamento de um adicional à taxa referida no n.º 2 do artigo 116.º, de
montante a fixar em regulamento municipal.
5 - O prazo referido no n.º 2 pode ainda ser prorrogado em consequência de alteração da
licença ou da comunicação prévia.
6 - A prorrogação do prazo nos termos referidos nos números anteriores não dá lugar à
emissão de novo alvará nem à apresentação de nova comunicação prévia, devendo ser
averbada no alvará ou comunicação existentes.
7 - As obras de urbanização com as condições definidas na licença ou comunicação prévia
podem ser alteradas por iniciativa da câmara municipal, nos termos e com os fundamentos
estabelecidos no artigo 48.º

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define as obras de urbanização como “as obras de criação e remodelação de infraestruturas destinadas a
servir diretamente os espaços urbanos ou as edificações, designadamente arruamentos viários e pedonais,
redes de esgotos e de abastecimento de água, eletricidade, gás e telecomunicações, e ainda espaços verdes
e outros espaços de utilização coletiva”. Esta definição corresponde à definição dada pelo art.º 2.º, al. h).
do RJUE.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define “lote” como o “prédio destinado à edificação, constituído ao abrigo de uma operação de loteamento
ou de um plano de pormenor com efeitos registais.”

Artigo 54.º
Caução

1 - O requerente ou comunicante presta caução destinada a garantir a boa e regular


execução das obras de urbanização.
2 - A caução referida no número anterior é prestada a favor da câmara municipal,
mediante garantia bancária autónoma à primeira solicitação, hipoteca sobre bens
imóveis propriedade do requerente, depósito em dinheiro ou seguro-caução, devendo
constar do próprio título que a mesma está sujeita a atualização nos termos do n.º 4 e se
mantém válida até à receção definitiva das obras de urbanização.

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3 - O montante da caução é igual ao valor constante dos orçamentos para execução dos
projetos das obras a executar, eventualmente corrigido pela câmara municipal com a
emissão da licença, a que pode ser acrescido um montante, não superior a 5 /prct. daquele
valor, destinado a remunerar encargos de administração caso se mostre necessário aplicar
o disposto nos artigos 84.º e 85.º
4 - O montante da caução deve ser:
a) Reforçado, precedendo deliberação fundamentada da câmara municipal, tendo em
atenção a correção do valor dos trabalhos por aplicação das regras legais e regulamentares
relativas a revisões de preços dos contratos de empreitada de obras públicas, quando se
mostre insuficiente para garantir a conclusão dos trabalhos, em caso de prorrogação do
prazo de conclusão ou em consequência de acentuada subida no custo dos materiais ou
de salários;
b) Reduzido, nos mesmos termos, em conformidade com o andamento dos trabalhos a
requerimento do interessado, que deve ser decidido no prazo de 15 dias.
5 - O conjunto das reduções efetuadas ao abrigo do disposto na alínea b) do número
anterior não pode ultrapassar 90 /prct. do montante inicial da caução, sendo o
remanescente libertado com a receção definitiva das obras de urbanização.
6 - O reforço ou a redução da caução, nos termos do n.º 4, não dá lugar à emissão de novo
alvará ou a nova comunicação.
7 - Quando tiver sido prestada garantia bancária por empreiteiro ao interessado, a câmara
municipal e os emitentes da garantia estão obrigados a aceitar a cessão da posição
contratual do interessado a favor do município, ficando o mesmo dispensado de prestação
de nova caução.
8 - Não existe a obrigação de prestação de caução pelas pessoas coletivas públicas e
entidades do setor empresarial do Estado referidas no artigo 7.º

Artigo 55.º
Contrato de urbanização

1 - Quando a execução de obras de urbanização envolva, em virtude de disposição legal


ou regulamentar ou por força de convenção, mais de um responsável, a realização das
mesmas pode ser objeto de contrato de urbanização.
2 - São partes no contrato de urbanização, obrigatoriamente, o município e o proprietário
e outros titulares de direitos reais sobre o prédio e, facultativamente, as empresas que
prestem serviços públicos, bem como outras entidades envolvidas na operação de
loteamento ou na urbanização dela resultante, designadamente interessadas na aquisição
dos lotes.
3 - O contrato de urbanização estabelece as obrigações das partes contratantes
relativamente à execução das obras de urbanização e as responsabilidades a que ficam
sujeitas, bem como o prazo para cumprimento daquelas.
4 - Quando haja lugar à celebração de contrato de urbanização, a licença ou comunicação
deve fazer-lhe referência.
5 - Juntamente com o requerimento inicial, comunicação e a qualquer momento do
procedimento até à aprovação das obras de urbanização, o interessado pode apresentar
proposta de contrato de urbanização.

Artigo 56.º
Execução por fases

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1 - O interessado pode requerer a execução por fases das obras de urbanização,
identificando as obras incluídas em cada fase, o orçamento correspondente e os prazos
dentro dos quais se propõe requerer a respetiva licença.
2 - O requerimento referido no número anterior deve ser preferencialmente apresentado
com o pedido de licenciamento de loteamento ou, quando as obras de urbanização não se
integrem em operação de loteamento, com o pedido de licenciamento das mesmas,
podendo, contudo, ser apresentado em qualquer momento do procedimento, desde que
não tenha ainda sido proferida decisão final.
3 - Cada fase deve ter coerência interna e corresponder a uma zona da área a lotear ou a
urbanizar que possa funcionar autonomamente.
4 - O requerimento é decidido no prazo de 30 dias a contar da data da sua apresentação.
5 - Admitida a execução por fases, a licença abrange apenas a primeira fase das obras de
urbanização, implicando cada fase subsequente um aditamento à licença .
6 - Quando se trate de operação efetuada ao abrigo de comunicação prévia, o interessado
identifica na comunicação as fases em que pretende proceder à execução das obras de
urbanização, aplicando-se, com as necessárias adaptações, o disposto nos n.º s 1, 2 e 3.
7 - Em caso de execução por fases, o alvará ou título exigido à empresa construtora refere-
se a cada uma das fases e não ao conjunto de todas elas.

SUBSECÇÃO III
Obras de edificação

Artigo 57.º
Condições de execução

1 - A câmara municipal fixa as condições a observar na execução da obra com o


deferimento do pedido de licenciamento das operações urbanísticas e, no caso das obras
sujeitas a comunicação prévia, através de regulamento municipal, devendo salvaguardar
o cumprimento do disposto no regime da gestão de resíduos de construção e demolição.
2 - As condições relativas à ocupação da via pública ou à colocação de tapumes e
vedações são estabelecidas mediante proposta do requerente, a qual, nas situações
previstas no n.º 4 do artigo 4.º, deve acompanhar a comunicação prévia, não podendo a
câmara municipal alterá-las senão com fundamento na violação de normas legais ou
regulamentares aplicáveis ou na necessidade de articulação com outras ocupações
previstas ou existentes.
3 - No caso previsto no artigo 113.º, as condições a observar na execução das obras são
aquelas que forem propostas pelo requerente.
4 - A comunicação prévia para obras em área abrangida por operação de loteamento não
pode ter lugar antes da receção provisória das respetivas obras de urbanização ou da
prestação de caução a que se refere o artigo 54.º
5 - O disposto no artigo 43.º e nos n.º s 1 a 3 do artigo 44.º aplica-se aos procedimentos
de licenciamento ou de comunicação prévia de obras quando respeitem a edifícios
contíguos e funcionalmente ligados entre si que determinem, em termos urbanísticos,
impactes semelhantes a uma operação de loteamento, nos termos a definir por
regulamento municipal.
6 - O disposto no n.º 4 do artigo 44.º é aplicável aos procedimentos de licenciamento e de
comunicação prévia de obras quando a operação contemple a criação de áreas de
circulação viária e pedonal, espaços verdes e equipamento de uso privativo.
7 - [Revogado].

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Artigo 58.º
Prazo de execução

1 - A câmara municipal fixa, com o deferimento do pedido de licenciamento das obras


referidas nas alíneas c) a f) do n.º 2 do artigo 4.º, o prazo de execução da obra, em
conformidade com a programação proposta pelo requerente.
2 - Nas situações previstas no n.º 4 do artigo 4.º, o prazo de execução é o fixado pelo
interessado, não podendo, no entanto, ultrapassar os limites fixados mediante
regulamento municipal.
3 - Os prazos referidos nos números anteriores começam a contar da data de emissão da
respetiva licença ou da data do pagamento das taxas, quando ocorra deferimento tácito
ou esteja em causa operação urbanística sujeita a comunicação prévia.
4 - O prazo para a conclusão da obra pode ser alterado por motivo de interesse público,
devidamente fundamentado, no ato de deferimento a que se refere o n.º 1, e, no caso de
comunicação prévia, até ao termo do prazo previsto no n.º 2 do artigo 11.º
5 - Quando não seja possível concluir as obras no prazo previsto, este pode ser prorrogado,
a requerimento fundamentado do interessado, salvo o disposto nos números seguintes.
6 – (Revogado.)
7 - O prazo estabelecido nos termos dos números anteriores pode ainda ser prorrogado
em consequência da alteração da licença, bem como da apresentação de alteração aos
projetos apresentados com a comunicação prévia.
8 - A prorrogação do prazo nos termos referidos nos números anteriores não dá lugar à
emissão de nova licença nem à apresentação de nova comunicação, devendo apenas ser
nestes averbada.
9 – Em caso de deferimento tácito, o prazo para a conclusão da obra é aquele que for
proposto pelo requerente.

Artigo 59.º
Execução por fases

1 - O requerente pode optar pela execução faseada da obra, devendo para o efeito, em
caso de operação urbanística sujeita a licenciamento, identificar no projeto de arquitetura
os trabalhos incluídos em cada uma das fases e indicar os prazos, a contar da data de
aprovação daquele projeto, em que se propõe requerer a aprovação dos projetos das
especialidades e outros estudos relativos a cada uma dessas fases, podendo a câmara
municipal fixar diferentes prazos por motivo de interesse público devidamente
fundamentado.
2 - Cada fase deve corresponder a uma parte da edificação passível de utilização
autónoma.
3 - Nos casos referidos no n.º 1, o requerimento referido no n.º 4 do artigo 20.º deverá
identificar a fase da obra a que se reporta.
4 - A falta de apresentação do requerimento referido no número anterior dentro dos prazos
previstos no n.º 1 implica a caducidade do ato de aprovação do projeto de arquitetura e o
arquivamento oficioso do processo.
5 - [Revogado].
6 - Admitida a execução por fases, a licença abrange apenas a primeira fase das obras,
implicando cada fase subsequente um aditamento à mesma.
7 - Quando se trate de operação urbanística sujeita a comunicação prévia, o interessado

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identifica na comunicação as fases em que pretende proceder à execução da obra,
aplicando-se com as necessárias adaptações o disposto nos n.º s 1 e 2.
8 - Tratando-se de obra sujeita a comunicação prévia, pode o interessado remeter o projeto
de arquitetura numa primeira comunicação prévia e, em comunicações prévias
subsequentes, os demais trabalhos a realizar.
9 - No caso previsto no número anterior, o interessado pode realizar os trabalhos
correspondentes a cada uma das comunicações, nos termos do disposto no artigo 34.º.

Artigo 60.º
Edificações existentes

1 - As edificações construídas ao abrigo do direito anterior e as utilizações respetivas não


são afetadas por normas legais e regulamentares supervenientes.
2 - A licença de obras de reconstrução ou de alteração das edificações não pode ser
recusada com fundamento em normas legais ou regulamentares supervenientes à
construção originária, desde que tais obras não originem ou agravem desconformidade
com as normas em vigor ou tenham como resultado a melhoria das condições de
segurança e de salubridade da edificação.
3 - O disposto no número anterior aplica-se em sede de fiscalização sucessiva de obras
sujeitas a comunicação prévia.
4 - Sem prejuízo do disposto nos números anteriores, a lei pode impor condições
específicas para o exercício de certas atividades em edificações já afetas a tais atividades
ao abrigo do direito anterior, bem como condicionar a execução das obras referidas no
número anterior à realização dos trabalhos acessórios que se mostrem necessários para a
melhoria das condições de segurança e salubridade da edificação.

Artigo 61.º
Identificação do diretor de obra

O titular da licença de construção e apresentante da comunicação prévia ficam obrigados


a afixar numa placa em material imperecível no exterior da edificação ou a gravar num
dos seus elementos externos a identificação do diretor de obra.

SUBSECÇÃO IV
Utilização de edifícios ou suas frações

Artigo 62.º
Âmbito
(Revogado).

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define “edifício” como “uma construção permanente, dotada de acesso independente, coberta, limitada por
paredes exteriores ou paredes-meeiras que vão das fundações à cobertura, destinada a utilização humana
ou a outros fins”.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define “edificabilidade” como “a quantidade de edificação que, nos termos das disposições legais e
regulamentares aplicáveis, pode ser realizada numa dada porção do território”.

Artigo 62.º-A

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Utilização após operação urbanística sujeita a controlo prévio
1 - A utilização de edifício ou fração após a realização de operação urbanística sujeita a
controlo prévio depende da entrega à câmara municipal dos seguintes documentos:
a) Termo de responsabilidade subscrito pelo diretor de obra ou pelo diretor de fiscalização
de obra, no qual aqueles devem declarar que a obra está concluída e que foi executada de
acordo com o projeto;
b) As telas finais, mas apenas quando tenham existido alterações do projeto, devendo as
mesmas estar devidamente assinaladas.
2 - A entrega das telas finais destina-se a:
a) Dar a conhecer a conclusão da operação urbanística, no todo ou em parte;
b) Arquivo na câmara municipal.
3 – O edifício ou suas frações autónomas pode ser utilizado para a finalidade pretendida
imediatamente após a submissão da documentação prevista no n.º 1.
4 - A entrega da documentação não pode ser recusada nem indeferida, exceto se os
documentos previstos no n.º 1 não tiverem sido remetidos, devendo nesse caso, o
remetente ser notificado para remeter os documentos em falta.

Artigo 62.º-B
Alteração à utilização de edifícios sem operação urbanística prévia
1 - A alteração da utilização de edifício ou fração ou de alguma informação constante do
título de utilização emitido não precedida de operação urbanística sujeita a controlo
prévio, deve ser objeto de comunicação prévia com prazo.
2 - A comunicação prévia com prazo prevista no número anterior destina-se a:
a) Demonstrar e declarar a conformidade da utilização prevista com as normas legais e
regulamentares que fixam os usos e utilizações admissíveis; e
b) Demonstrar e declarar a idoneidade do edifício ou sua fração autónoma para o fim
pretendido, podendo contemplar utilizações mistas.

Artigo 62.º-C
Utilização de edifícios isentos de controlo prévio urbanístico
A utilização de novas edificações ou novas frações, na sequência de obras de construção
isentas de controlo prévio por força do disposto na alínea a) do n.º 1 do artigo 6.º está
sujeita a comunicação prévia com prazo nos termos do artigo anterior.

Artigo 63.º
Instrução da comunicação prévia com prazo para utilização sem operação
urbanística prévia

1 - A comunicação prévia para utilização de edifícios ou suas frações sem operação


urbanística prévia deve incluir um termo de responsabilidade que declare:
a) A conformidade da utilização prevista com as normas legais e regulamentares que
fixam os usos e utilizações admissíveis; e
b) A idoneidade do edifício ou sua fração autónoma para o fim pretendido, podendo
contemplar utilizações mistas.
2 - O termo de responsabilidade previsto no número anterior pode ser subscrito por pessoa
legalmente habilitada a ser autor de projeto, nos termos do regime jurídico que define a

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qualificação profissional exigível aos técnicos responsáveis pela elaboração e subscrição
de projetos.
3 - O termo de responsabilidade é remetido previamente à utilização do edifício ou suas
frações autónomas, através da plataforma eletrónica referida no n.º 1 do artigo 8.º-A,
podendo ser utilizado o «Balcão do Empreendedor», para os pedidos relativos à instalação
de estabelecimento.
4 - O termo de responsabilidade a que se refere o presente artigo consta de portaria dos
membros do Governo responsáveis pelas áreas da modernização administrativa, da
construção, das autarquias locais e do ordenamento do território.

Artigo 64.º
Tramitação e efeitos da comunicação prévia com prazo

1 - O edifício ou suas frações autónomas pode ser utilizado para a finalidade pretendida
decorridos 20 dias após a submissão da comunicação prévia com prazo a que se refere o
artigo anterior, salvo na situação prevista no número seguinte.
2 - O presidente da câmara municipal no prazo previsto no número anterior pode
determinar a realização de vistoria, a efetuar nos termos do artigo seguinte, quando se
verifique alguma das seguintes situações:
a) A submissão do termo de responsabilidade não se encontre completo; ou
b) Existirem indícios sérios de que o edifício não é idóneo para o fim pretendido.
3 – (Revogado.)
4 – (Revogado.)

Artigo 65.º
Realização da vistoria

1 - A vistoria realiza-se no prazo de 15 dias a contar da decisão do presidente da câmara


referida no n.º 2 do artigo anterior, decorrendo sempre que possível em data a acordar
com o requerente.
2 - A vistoria é efetuada por uma comissão composta, no mínimo, por três técnicos, a
designar pela câmara municipal, dos quais pelo menos dois devem ter habilitação legal
para ser autor de projeto, correspondente à obra objeto de vistoria, segundo o regime da
qualificação profissional dos técnicos responsáveis pela elaboração e subscrição de
projetos.
3 - A data da realização da vistoria é notificada pela câmara municipal ao requerente da
autorização de utilização, o qual pode fazer-se acompanhar dos autores dos projetos e do
técnico responsável pela direção técnica da obra, que participam, sem direito a voto, na
vistoria.
4 - As conclusões da vistoria são seguidas de declração de conformidade do edifício ou
da sua fração ou imposição de obras de alteração.
5 - No caso da imposição de obras de alteração decorrentes da vistoria, o edifício ou a sua
fração apenas pode ser utilizado apósa verificação da adequada realização dessas obras,
mediante nova vistoria a requerer pelo interessado, a qual decorre no prazo de 10 dias a
contar do respetivo requerimento.
6 - O decurso do prazo referido no número anterior sem a realização da vistoria implica
a não oposição à utilização do edifício ou da sua fração.

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Artigo 66.º
Propriedade horizontal

1 - No caso de edifícios constituídos em regime de propriedade horizontal, a comunicação


dos elementos referidos no n.º1 do artigo 63.º pode ter por objeto o edifício na sua
totalidade ou cada uma das suas frações autónomas.
2 - Pode existir oposição à utilização quando as partes comuns dos edifícios em que se
integram não estejam em condições de serem utilizadas.
3 - Caso o interessado não tenha ainda requerido a certificação pela câmara municipal de
que o edifício satisfaz os requisitos legais para a sua constituição em regime de
propriedade horizontal, tal pedido pode acompanhar a comunicação a que se refere o n.º
1 do artigo 63.º.
4 - O disposto nos n.º s 2 e 3 é aplicável, com as necessárias adaptações, aos edifícios
compostos por unidades suscetíveis de utilização independente que não estejam sujeitos
ao regime da propriedade horizontal.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define “edifício” como “uma construção permanente, dotada de acesso independente, coberta, limitada por
paredes exteriores ou paredes-meeiras que vão das fundações à cobertura, destinada a utilização humana
ou a outros fins”.

SECÇÃO IV
Validade e eficácia dos atos de licenciamento e autorização de utilização e efeitos
da comunicação prévia

SUBSECÇÃO I
Validade

Artigo 67.º
Requisitos
A validade das licenças depende da sua conformidade com as normas legais e
regulamentares aplicáveis em vigor à data da sua prática, sem prejuízo do disposto no
artigo 60.º

Artigo 68.º
Nulidades

Sem prejuízo da possibilidade de atribuição de efeitos jurídicos a situações de facto


decorrentes de atos nulos nos termos gerais de direito, bem como do disposto no artigo
70.º, são nulas as licenças, as autorizações de utilização e as decisões relativas a pedidos
de informação prévia previstos no presente diploma que:
a) Violem o disposto em plano municipal ou intermunicipal de ordenamento do território,
plano especial de ordenamento do território, medidas preventivas ou licença ou
comunicação prévia de loteamento em vigor;
b) [Revogada];
c) Não tenham sido precedidas de consulta das entidades cujos pareceres, autorizações ou
aprovações sejam legalmente exigíveis, bem como quando não estejam em conformidade
com esses pareceres, autorizações ou aprovações, desde que tenham sido emanados
dentro do prazo legalmente previsto.

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Artigo 69.º
Participação, ação administrativa e declaração de nulidade

1 - Os factos geradores das nulidades previstas no artigo anterior e quaisquer outros


factos de que possa resultar a invalidade dos atos administrativos previstos no presente
diploma devem ser participados, por quem deles tenha conhecimento, ao Ministério
Público, para efeitos de propositura da competente ação administrativa e respetivos
meios processuais acessórios.
2 - Quando tenha por objeto atos de licenciamento ou autorizações de utilização com
fundamento em qualquer das invalidades previstas no artigo anterior, a citação ao titular
da licença ou da autorização de utilização para contestar a ação referida no número
anterior tem os efeitos previstos no artigo 103.º para o embargo, sem prejuízo do
disposto no número seguinte.
3 - O tribunal pode, oficiosamente ou a requerimento dos interessados, autorizar o
prosseguimento total ou parcial dos trabalhos, caso da ação administrativa resultem
indícios de ilegalidade da sua interposição ou da sua improcedência total ou parcial, ou
adotar medidas cautelares alternativas, adicionais ou preventivas, nos termos do artigo
120.º do Código de Processo nos Tribunais Administrativos, devendo o juiz decidir esta
questão, quando a ela houver lugar, no prazo de 10 dias, tendo o recurso da decisão
caráter urgente e os efeitos previstos no n.º 4 do artigo 115.º
4 - A possibilidade de o órgão que emitiu o ato ou deliberação declarar a nulidade
caduca no prazo de 10 anos, caducando também o direito de propor a ação prevista no
n.º 1 se os factos que determinaram a nulidade não forem participados ao Ministério
Público nesse prazo, exceto relativamente a monumentos nacionais e respetiva zona de
proteção.

Cf. o art.º 282.º (abuso de poder) do CP, que diz: “O funcionário que, fora dos casos previstos nos artigos anteriores,
abusar de poderes ou violar deveres inerentes às suas funções, com intenção de obter, para si ou para terceiro,
benefício ilegítimo ou causar prejuízo a outra pessoa, é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa,
se pena mais grave lhe não couber por força de outra disposição legal.”
Cf. o art.º 382.º-A (violação de regras urbanísticas por funcionário), do CP, que diz: “1 - O funcionário que
informe ou decida favoravelmente processo de licenciamento ou de autorização ou preste neste informação falsa
sobre as leis ou regulamentos aplicáveis, consciente da desconformidade da sua conduta com as normas urbanísticas,
é punido com pena de prisão até três anos ou multa. 2 - Se o objecto da licença ou autorização incidir sobre via
pública, terreno da Reserva Ecológica Nacional, Reserva Agrícola Nacional, bem do domínio público ou terreno
especialmente protegido por disposição legal, o agente é punido com pena de prisão até cinco anos ou multa.”

Jurisprudência:

1. Ac. TRC de 27-11-2013 : 1. O crime de abuso de poder constitui um crime de função e, por isso, um crime
próprio, o funcionário que detém determinados poderes funcionais faz uso de tais poderes para um fim diferente
daquele para que a lei os concede; 2. O crime é integrado, no primeiro limite do perímetro da tipicidade, pelo mau
uso ou uso desviante de poderes funcionais, ou por excesso de poderes legais ou por desrespeito de formalidades
essenciais. Mas, com um elemento nuclear: o mau uso dos poderes não resulta de erro ou de mau conhecimento dos
deveres da função, mas tem de ser determinado por uma intenção específica que enquanto fim ou motivo faz parte do
próprio tipo legal.

2. Ac. TC n.º 572/2019, de 17/10: Não julga inconstitucional os artigos 382.º e 28.º, n.º 1, ambos do Código Penal,
na interpretação segundo a qual alguém que não seja funcionário, tal como definido na alínea b) do n.º 1 do artigo
386.º do Código Penal, pode ser condenado pelo crime de abuso de poder, quando essa qualidade de funcionário se
verifique nos seus comparticipantes e lhe seja estendida.”

Matos, Ricardo Jorge Bragança de: “O Crime de violação de regras urbanísticas por funcionário: uma perspectiva
(necessariamente) dirigida ao direito do urbanismo”, in Revista do Centro de Estudos Judiciários, 2013, I, p.89 a 114.

Artigo 70.º
Responsabilidade civil da Administração

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1 - O município responde civilmente nos termos gerais por ações e omissões cometidas
em violação do estabelecido no presente decreto-lei.

2 - O disposto no número anterior inclui a responsabilidade por prejuízos resultantes de


operações urbanísticas executadas com base em atos de controlo prévio ilegais,
nomeadamente em caso de revogação, anulação ou declaração de nulidade de licenças ou
autorizações de utilização, sempre que a causa de revogação, anulação ou declaração de
nulidade resulte de uma conduta ilícita dos titulares dos seus órgãos ou dos seus
funcionários e agentes.

3 - Para efeitos do disposto no número anterior são solidariamente responsáveis:

a) O titular do órgão administrativo singular que haja praticado os atos ao abrigo dos quais
foram executadas ou desenvolvidas as operações urbanísticas referidas sem que tivesse
sido promovida a consulta de entidades externas ou em desrespeito do parecer,
autorização ou aprovação emitidos, quando vinculativos;

b) Os membros dos órgãos colegiais que tenham votado a favor dos atos referidos na
alínea anterior;

c) Os trabalhadores que tenham prestado informação favorável à prática do ato de


controlo prévio ilegal, em caso de dolo ou culpa grave;

d) Os membros da câmara municipal quando não promovam as medidas necessárias à


reposição da legalidade, nos termos do disposto no n.º 8 do artigo 35.º, em caso de dolo
ou culpa grave.

4 - Quando a ilegalidade que fundamenta a revogação, anulação ou declaração de


nulidade de ato administrativo resulte de parecer vinculativo, autorização ou aprovação
legalmente exigível, a entidade que o emitiu responde solidariamente com o município,
que tem sobre aquela direito de regresso nos termos gerais de direito.

5 - Impende sobre os titulares dos órgãos municipais o dever de desencadear


procedimentos disciplinares aos trabalhadores sempre que se verifique alguma das
situações referidas no artigo 101.º

SUBSECÇÃO II
Caducidade e revogação da licença e autorização de utilização e
cessação de efeitos da comunicação prévia

Artigo 71.º
Caducidade

1 - A licença ou comunicação prévia para a realização de operação de loteamento caduca


se:
a) Não for apresentada a comunicação prévia para a realização das respetivas obras de
urbanização no prazo de um ano a contar da notificação do ato de licenciamento ou, na
hipótese de comunicação prévia, não for apresentada comunicação prévia para a
realização de obras de urbanização no prazo de um ano a contar da data daquela; ou se

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b) Não for requerido o alvará a que se refere o n.º 3 do artigo 76.º no prazo de um ano a
contar da comunicação prévia das respetivas obras de urbanização;
c) Não forem concluídas as obras de edificação previstas na operação de loteamento no
prazo fixado para esse efeito, nos termos da alínea g) do n.º 1 do artigo 77.º.
2 - A licença ou comunicação prévia para a realização de operação de loteamento que não
exija a realização de obras de urbanização, bem como a licença para a realização das
operações urbanísticas previstas nas alíneas b) a e) do n.º 2 e no n.º 4 do artigo 4.º,
caducam, no caso da licença, se no prazo de um ano a contar da notificação do ato de
licenciamento não for requerida a emissão do respetivo alvará ou, no caso da
comunicação prévia e sendo devida, não ocorra o pagamento das taxas no prazo previsto
para o efeito, determinando, em qualquer dos casos, a imediata cessação da operação
urbanística.
3 - Para além das situações previstas no número anterior, a licença ou a comunicação
prévia para a realização das operações urbanísticas referidas no número anterior, bem
como a licença ou a comunicação prévia para a realização de operação de loteamento que
exija a realização de obras de urbanização, caducam ainda:
a) Se as obras não forem iniciadas no prazo de 12 meses a contar da data de emissão do
alvará ou do pagamento das taxas no caso de comunicação prévia, ou nos casos previstos
no artigo 113.º;

b) Se as obras estiverem suspensas por período superior a seis meses, salvo se a suspensão
decorrer de facto não imputável ao titular da licença ou da comunicação prévia;
c) Se as obras estiverem abandonadas por período superior a seis meses;
d) Se as obras não forem concluídas no prazo fixado na licença ou comunicação prévia,
ou suas prorrogações, contado a partir da data de emissão do alvará ou do pagamento das
taxas no caso da comunicação prévia.

e) [Revogada].

4 - Para os efeitos do disposto na alínea c) do número anterior, presumem-se abandonadas


as obras ou trabalhos sempre que:

a) Se encontrem suspensos sem motivo justificativo registado no respetivo livro de obra;


b) Decorram na ausência do diretor da obra;
c) Se desconheça o paradeiro do titular da respetiva licença ou comunicação prévia sem
que este haja indicado à câmara municipal procurador bastante que o represente.
5 - As caducidades previstas no presente artigo devem ser declaradas pela câmara
municipal, verificadas as situações previstas no presente artigo, após audiência prévia do
interessado.
6 - Os prazos a que se referem os números anteriores contam-se de acordo com o disposto
no artigo 279.º do Código Civil.
7 - Tratando-se de licença para a realização de operação de loteamento ou de obras de
urbanização, a caducidade pelos motivos previstos na alínea c) do n.º 1 e nos n.º s 3 e 4
observa os seguintes termos:
a) A caducidade não produz efeitos relativamente aos lotes para os quais já haja sido
deferido pedido de licenciamento para obras de edificação ou já tenha sido apresentada
comunicação prévia da realização dessas obras;
b) A caducidade não produz efeitos relativamente às parcelas cedidas para implantação
de espaços verdes públicos e equipamentos de utilização coletiva e infraestruturas que

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sejam indispensáveis aos lotes referidos no número anterior e sejam identificadas pela
Câmara Municipal na declaração prevista no n.º 5;
c) Nas situações previstas na alínea c) do n.º 1, a caducidade não produz efeitos, ainda,
quanto à divisão ou reparcelamento fundiário resultante da operação de loteamento,
mantendo-se os lotes constituídos por esta operação, a respetiva área e localização e
extinguindo-se as demais especificações relativas aos lotes, previstas na alínea e) do n.º
1 do artigo 77.º

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define “equipamentos de utilização coletiva” como “as edificações e os espaços não edificados afetos à
provisão de bens e serviços destinados à satisfação das necessidades coletivas dos cidadãos,
designadamente nos domínios da saúde, da educação, da cultura e do desporto, da justiça, da segurança
social, da segurança pública e da proteção civil”.

Artigo 72.º
Renovação

1 - O titular de licença ou comunicação prévia que haja caducado pode requerer nova
licença ou apresentar nova comunicação prévia.
2 - No caso referido no número anterior, serão utilizados no novo processo os elementos
que instruíram o processo anterior desde que o novo requerimento seja apresentado no
prazo de 18 meses a contar da data da caducidade ou, se este prazo estiver esgotado, não
existirem alterações de facto e de direito que justifiquem nova apresentação.
3 - [Revogado].

Artigo 73.º
Revogação

1 - Sem prejuízo do que se dispõe no número seguinte, a licença só pode ser revogada nos
termos estabelecidos na lei para os atos constitutivos de direitos.
2 - Nos casos a que se refere o n.º 2 do artigo 105.º, a licença pode ser revogada pela
câmara municipal decorrido o prazo de seis meses a contar do termo do prazo estabelecido
de acordo com o n.º 1 do mesmo artigo.

SUBSECÇÃO III
Títulos das operações urbanísticas

Artigo 74.º
Títulos da licença e da comunicação prévia

1 - As operações urbanísticas objeto de licenciamento são tituladas pelo recibo de


pagamentos das taxas legalmente devidas , cuja emissão é condição de eficácia da licença.
2 - A comunicação prévia relativa a operações urbanísticas é titulada pelo comprovativo
eletrónico da sua apresentaçãoe, no caso de operações de loteamento, é titulada, ainda,
por documento comprovativo da prestação de caução e da celebração do instrumento
notarial a que se refere o n.º 3 do artigo 44.º ou por declaração da câmara municipal
relativa à sua inexigibilidade.
3 – (Revogado.)
4 - Nos casos em que ocorra deferimento tácito o pagamento de taxas não é condição de
eficácia da licença.

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5 - Sempre que haja lugar à prestação de caução, o interessado é notificado desse dever,
produzindo a comunicação prévia efeitos com o respetivo pagamento.
6 - Sempre que a notificação a que se refere o número anterior não tenha lugar no prazo
de 15 dias, a comunicação prévia produz efeitos independentemente do pagamento.

Artigo 75.º
Competência
(Revogado).

Artigo 76.º
Requerimento
(Revogado).

Artigo 77.º
Especificações
(Revogado).

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define “edifício” como “uma construção permanente, dotada de acesso independente, coberta, limitada por
paredes exteriores ou paredes-meeiras que vão das fundações à cobertura, destinada a utilização humana
ou a outros fins”.

Nota: O “vocabulário urbanístico” da DGOTU, de 2004, define “cércea”, como a “dimensão vertical da
construção, medida a partir do ponto de cota média do terreno marginal ao alinhamento da fachada até à
linha superior do beirado, platibanda ou guarda do terraço, incluindo andares recuados, mas excluindo
acessórios: chaminés, casa de máquinas de ascensores, depósitos de água, etc.”.

Artigo 78.º
Publicidade
(Revogado).

Artigo 79.º Cassação


(Revogado).

CAPÍTULO III
Execução e fiscalização

SECÇÃO I
Início dos trabalhos

Artigo 80.º
Início dos trabalhos

1 - A execução das obras e trabalhos sujeitos a licença nos termos do presente diploma só
pode iniciar-se depois de emitida a respetiva licença, com exceção das situações referidas
no artigo seguinte e salvo o disposto no n.º1 do artigo 23.º.

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2 - As obras e os trabalhos sujeitos ao regime da comunicação prévia podem iniciar-se
nos termos do disposto no n.º 2 do artigo 34.º
3 - As obras e trabalhos referidos no artigo 7.º só podem iniciar-se depois de emitidos os
pareceres ou autorizações aí referidos ou após o decurso dos prazos fixados para a
respetiva emissão.
4 - No prazo de 60 dias a contar do início dos trabalhos relativos às operações urbanísticas
referidas nas alíneas c) a e) do n.º 2 do artigo 4.º deve o promotor da obra apresentar na
câmara municipal cópia das especialidades e outros estudos.

Artigo 80.º-A
Informação sobre o início dos trabalhos e o responsável pelos mesmos

1 - Até cinco dias antes do início dos trabalhos, o promotor informa a câmara municipal
dessa intenção, comunicando também a identidade da pessoa, singular ou coletiva,
encarregada da execução dos mesmos.
2 - A pessoa encarregada da execução dos trabalhos está obrigada à execução exata dos
projetos e ao respeito pelas condições do licenciamento ou comunicação prévia.

Artigo 81.º
Demolição, escavação e contenção periférica

1 - Quando o procedimento de licenciamento haja sido precedido de informação prévia


favorável que vincule a câmara municipal, pode o presidente da câmara municipal, a
pedido do interessado, permitir a execução de trabalhos de demolição ou de escavação e
contenção periférica até à profundidade do piso de menor cota, logo após o saneamento
referido no artigo 11.º, desde que seja prestada caução para reposição do terreno nas
condições em que se encontrava antes do início dos trabalhos.
2 - Nas obras sujeitas a licença nos termos do presente diploma, a decisão referida no
número anterior pode ser proferida em qualquer momento após a aprovação do projeto de
arquitetura.
3 - Para os efeitos dos números anteriores, o requerente deve apresentar, consoante os
casos, o plano de demolições, o projeto de estabilidade ou o projeto de escavação e
contenção periférica até à data da apresentação do pedido referido no mesmo número.
4 - O presidente da câmara decide sobre o pedido previsto no n.º 1 no prazo de 15 dias a
contar da data da sua apresentação.

5 - É título bastante para a execução dos trabalhos de demolição, escavação ou contenção


periférica a notificação do deferimento do respetivo pedido, que o requerente, a partir do
início da execução dos trabalhos por ela abrangidos, deverá guardar no local da obra.

Artigo 82.º
Ligação às redes públicas

1 – Uma vez efetuado o pagamento das taxas, cujo recibo titula a operação urbanística, o
requerente solicita às entidades gestoras aligação dos sistemas de água, de saneamento,
de gás, de eletricidade e de telecomunicações, podendo os requerentes optar, mediante
autorização das entidades gestoras, pela realização das obras indispensáveis à sua
concretização nas condições regulamentares e técnicas definidas por aquelas entidades.
2 – No caso de obras sujeitas a comunicação prévia, constitui título bastante para os
efeitos previstos no número anterior a apresentação dos documentos referidos no n.º 2 do

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artigo 74.º
3 – (Revogado.)
4 – No caso de obras sujeitas a comunicação prévia, se for necessária a compatibilização
de projetos com as infraestruturas existentes ou a sua realização no caso de inexistência,
estas serão promovidas pela entidade prestadora ou pelo requerente, nos termos da parte
final do n.º 1.
5 - As ligações à rede de água, eletricidade e gás, telecomunicações e esgotos podem
ainda ser efetuadas por empresas certificadas pelas entidades responsáveis por essas
redes, casos em que fica o interessado dispensado de qualquer formalidade.
6 - Para efeitos do número anterior, as entidades gestoras de redes de água, esgotos,
eletricidade, telecomunicações ou gás, disponibilizam no seu sítio na Internet uma lista,
com pelo menos sete empresas habilitadas a proceder à ligação à rede.

SECÇÃO II
Execução dos trabalhos

Artigo 83.º
Alterações durante a execução da obra

1 - Podem ser realizadas em obra alterações ao projeto, mediante comunicação ao qual é


aplicávelo regime do artigo 35.º, desde que essa comunicação seja efetuada no momento
do envio dos documentos prévio à utilização do edifício, previsto no aryigo 62.º-A.
2 - Podem ser efetuadas sem dependência de comunicação prévia à câmara municipal as
alterações em obra que não correspondam a obras que estivessem sujeitas a controlo
prévio.
3 - As alterações em obra ao projeto inicialmente aprovado ou apresentado que envolvam
a realização de obras de ampliação ou de alterações à implantação das edificações estão
sujeitas ao procedimento previsto nos artigos 27.º ou 35.º, consoante os casos.
4 - Nas situações previstas nos números anteriores, apenas são apresentados os elementos
instrutórios que sofreram alterações.
5 - As alterações previstas nos n.os 1, 2 e 3 podem ser comunicadas no momento do envio
de documentos prévio à utilização do edifício, previsto no artigo 62.º-A, desde que às
mesmas não se aplique o regime das alterações à licença constante do artigo 27.º e do n.º
3 do artigo 83.º.

Artigo 84.º
Execução das obras pela câmara municipal

1 - Sem prejuízo do disposto no presente diploma em matéria de suspensão, caducidade


das licenças, autorizações ou comunicação prévia ou de cassação dos respetivos títulos, a
câmara municipal, para salvaguarda do património cultural, da qualidade do meio urbano
e do meio ambiente, da segurança das edificações e do público em geral ou, no caso de
obras de urbanização, também para proteção de interesses de terceiros adquirentes de
lotes, pode promover a realização das obras por conta do titular do alvará ou do
apresentante da comunicação prévia quando, por causa que seja imputável a este último:
a) Não tiverem sido iniciadas no prazo de um ano a contar da data da emissão do alvará
ou do título da comunicação prévia;
b) Permanecerem interrompidas por mais de um ano;

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c) Não tiverem sido concluídas no prazo fixado ou suas prorrogações, nos casos em que
a câmara municipal tenha declarado a caducidade;
d) Não hajam sido efetuadas as correções ou alterações que hajam sido intimadas nos
termos do artigo 105.º
2 - A execução das obras referidas no número anterior e o pagamento das despesas
suportadas com as mesmas efetuam-se nos termos dos artigos 107.º e 108.º
3 - A câmara municipal pode ainda acionar as cauções referidas nos artigos 25.º e 54.º
4 - Logo que se mostre reembolsada das despesas efetuadas nos termos do presente artigo,
a câmara municipal procede ao levantamento do embargo que possa ter sido decretado
ou, quando se trate de obras de urbanização, emite oficiosamente alvará, competindo ao
presidente da câmara dar conhecimento das respetivas deliberações, quando seja caso
disso, à Direção-Geral do Território, para efeitos cadastrais, e à conservatória do registo
predial.

Artigo 85.º
Execução das obras de urbanização por terceiro

1 - Qualquer adquirente dos lotes, de edifícios construídos nos lotes ou de frações


autónomas dos mesmos tem legitimidade para requerer a autorização judicial para
promover diretamente a execução das obras de urbanização quando, verificando-se as
situações previstas no n.º 1 do artigo anterior, a câmara municipal não tenha promovido
a sua execução.
2 - O requerimento é instruído com os seguintes elementos:
a) Cópia do alvará ou do título da comunicação prévia, nos termos do n.º 2 do artigo 74.º;
b) Orçamento, a preços correntes do mercado, relativo à execução das obras de
urbanização em conformidade com os projetos aprovados e condições fixadas no
licenciamento;
c) Quaisquer outros elementos que o requerente entenda necessários para o conhecimento
do pedido.
3 - Antes de decidir, o tribunal notifica a câmara municipal, o titular do alvará ou o
apresentante da comunicação prévia para responderem no prazo de 30 dias e ordena a
realização das diligências que entenda úteis para o conhecimento do pedido,
nomeadamente a inspeção judicial do local.
4 - Se deferir o pedido, o tribunal fixa especificadamente as obras a realizar e o respetivo
orçamento e determina que a caução a que se refere o artigo 54.º fique à sua ordem, a fim
de responder pelas despesas com as obras até ao limite do orçamento.
5 - Na falta ou insuficiência da caução, o tribunal determina que os custos sejam
suportados pelo município, sem prejuízo do direito de regresso deste sobre o titular do
alvará ou o apresentante da comunicação prévia.
6 - O processo a que se referem os números anteriores é urgente e isento de custas.
7 - Da sentença cabe recurso nos termos gerais.
8 - Compete aos tribunais administrativos de círculo onde se localiza o prédio no qual se
devam realizar as obras de urbanização conhecer os pedidos previstos no presente artigo.
9 - A câmara municipal emite oficiosamente alvará para execução de obras por terceiro,
competindo ao seu presidente dar conhecimento das respetivas deliberações à Direção-
Geral do Território, para efeitos cadastrais, e à conservatória do registo predial, quando:
a) Tenha havido receção provisória das obras; ou
b) Seja integralmente reembolsada das despesas efetuadas, caso se verifique a situação
prevista no n.º 5.

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SECÇÃO III
Conclusão e receção dos trabalhos

Artigo 86.º
Limpeza da área e reparação de estragos

1 - Concluída a obra, o dono da mesma é obrigado a proceder ao levantamento do


estaleiro, à limpeza da área, de acordo com o regime da gestão de resíduos de
construção e demolição nela produzidos, e à reparação de quaisquer estragos ou
deteriorações que tenha causado em infraestruturas públicas.
2 - O cumprimento do disposto no número anterior é condição da emissão do alvará de
autorização de utilização ou da receção provisória das obras de urbanização, salvo
quando tenha sido prestada, em prazo a fixar pela câmara municipal, caução para
garantia da execução das operações referidas no mesmo número.

Nota 1: Nos termos do art.º 11.º, al. n), da Lei da responsabilidade ambiental (Decreto-Lei n.º 147/2008,
de 29 de julho), “medidas de reparação” são qualquer ação, ou conjunto de ações, incluindo medidas de
carácter provisório, com o objetivo de reparar, reabilitar ou substituir os recursos naturais e os serviços
danificados ou fornecer uma alternativa equivalente a esses recursos ou serviços, tal como previsto no
anexo V ao presente decreto-lei, do qual faz parte integrante”.
Nota 2: Nos termos do art.º 3.º, al. ee), do regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de
setembro, última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), “resíduos” são “quaisquer substâncias ou
objetos de que o detentor se desfaz ou tem a intenção ou a obrigação de se desfazer”.

Artigo 87.º
Receção provisória e definitiva das obras de urbanização

1 - É da competência da câmara municipal deliberar sobre a receção provisória e


definitiva das obras de urbanização após a sua conclusão e o decurso do prazo de
garantia, respetivamente, mediante requerimento do interessado.
2 - A receção é precedida de vistoria, a realizar por uma comissão da qual fazem parte o
interessado ou um seu representante e, pelo menos, dois representantes da câmara
municipal.
3 - À receção provisória e definitiva, bem como às respetivas vistorias, é aplicável, com
as necessárias adaptações, o regime aplicável à receção provisória e definitiva das
empreitadas de obras públicas.
4 - Em caso de deficiência das obras de urbanização, como tal assinaladas no auto de
vistoria, se o titular das obras de urbanização não reclamar ou vir indeferida a sua
reclamação e não proceder à sua correção no prazo para o efeito fixado, a câmara
municipal procede em conformidade com o disposto no artigo 84.º
5 - O prazo de garantia das obras de urbanização é de cinco anos.

Artigo 88.º
Obras inacabadas

1 - Quando as obras já tenham atingido um estado avançado de execução mas a licença


ou comunicação prévia haja caducado, pode ser requerida a concessão de licença
especial para a sua conclusão, desde que não se mostre aconselhável a demolição da
obra, por razões ambientais, urbanísticas, técnicas ou económicas.
2 - [Revogado].

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3 - [Revogado].
4 - [Revogado].

Artigo 88.º-A
Dever de utilização
1 - As edificações devem ser objeto de fiscalização periódica quanto às condições de
habitabilidade, por parte da respetiva câmara municipal.
2 - Sem prejuízo do disposto no número anterior, a câmara municipal pode, oficiosamente
ou a requerimento de qualquer interessado, determinar a fiscalização sobre as condições
de utilização do imóvel.
3 - No âmbito da fiscalização é verificado o cumprimento das normas legais relativas às
condições de habitabilidade que constituam situações irregulares de arrendamento ou
subarrendamento habitacional.
4 - Sempre que forem identificadas situações irregulares, a câmara municipal intima o
proprietário para a reposição da utilização nos termos autorizados, ao abrigo dos artigos
102.º e seguintes.

SECÇÃO IV
Utilização e conservação do edificado

Artigo 89.º
Dever de conservação

1 - As edificações devem ser objeto de obras de conservação pelo menos uma vez em
cada período de oito anos, devendo o proprietário, independentemente desse prazo,
realizar todas as obras necessárias à manutenção da sua segurança, salubridade e
arranjo estético.
2 - Sem prejuízo do disposto no número anterior, a câmara municipal pode a todo o
tempo, oficiosamente ou a requerimento de qualquer interessado, determinar a
execução das obras necessárias à correção de más condições de segurança ou de
salubridade ou das obras de conservação necessárias à melhoria do arranjo
estético.
3 - A câmara municipal pode, oficiosamente ou a requerimento de qualquer interessado,
ordenar a demolição total ou parcial das construções que ameacem ruína ou ofereçam
perigo para a saúde pública e para a segurança das pessoas.
4 - A notificação dos atos referidos nos números anteriores é acompanhada da indicação
dos elementos instrutórios necessários para a execução daquelas obras, incluindo a
indicação de medidas urgentes, quando sejam necessárias, bem como o prazo em que os
mesmos devem ser submetidos, sob pena de o notificando incorrer em incumprimento
do ato, designadamente para os efeitos previstos nos artigos 91.º e 100.º
5 - Os atos referidos nos números anteriores são eficazes a partir da sua notificação ao
proprietário, sendo o registo predial da intimação para a execução de obras ou para a
demolição promovido oficiosamente para efeitos de averbamento, servindo de título
para o efeito a certidão passada pelo município competente.
6 - O registo referido no número anterior é cancelado através da exibição de certidão
emitida pela câmara municipal que ateste a conclusão das obras ou o cumprimento da
ordem de demolição, consoante o caso, ou pela junção da autorização de utilização
emitida posteriormente.

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Artigo 89.º-A
Proibição de deterioração

1 - O proprietário não pode, dolosamente, provocar ou agravar uma situação de falta de


segurança ou de salubridade, provocar a deterioração do edifício ou prejudicar o seu
arranjo estético.
2 - Presume-se, salvo prova em contrário, existir violação pelo proprietário do disposto
no número anterior nas seguintes situações:
a) Quando o edifício, encontrando-se total ou parcialmente devoluto, tenha apenas os vãos
do piso superior ou dos pisos superiores desguarnecidos;
b) Quando estejam em falta elementos decorativos, nomeadamente cantarias ou
revestimento azulejar relevante, em áreas da edificação que não sejam acessíveis pelos
transeuntes, sendo patente que tal falta resulta de atuação humana.
3 - A proibição constante do n.º 1 é aplicável, além do proprietário, a qualquer pessoa
singular ou coletiva.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define “edifício” como “uma construção permanente, dotada de acesso independente, coberta, limitada por
paredes exteriores ou paredes-meeiras que vão das fundações à cobertura, destinada a utilização humana
ou a outros fins”.

Artigo 90.º
Vistoria prévia

1 - As deliberações referidas nos n.º s 2 e 3 do artigo 89.º são precedidas de vistoria a


realizar por três técnicos a nomear pela câmara municipal, dois dos quais com
habilitação legal para ser autor de projeto, correspondentes à obra objeto de vistoria,
segundo o regime da qualificação profissional dos técnicos responsáveis pela elaboração
e subscrição de projetos.
2 - Do ato que determinar a realização da vistoria e respetivos fundamentos é notificado
o proprietário do imóvel, mediante carta registada expedida com, pelo menos, sete dias
de antecedência, ou, não sendo esta possível em virtude do desconhecimento da
identidade ou do paradeiro do proprietário, mediante edital, nos termos estabelecidos no
Código do Procedimento Administrativo, sendo, para este efeito, obrigatória a afixação
de um edital no imóvel.
3 - Até à véspera da vistoria, o proprietário pode indicar um perito para intervir na
realização da vistoria e formular quesitos a que deverão responder os técnicos
nomeados.
4 - Da vistoria é imediatamente lavrado auto, do qual constam obrigatoriamente a
identificação do imóvel, a descrição do estado do mesmo e as obras preconizadas e, bem
assim, as respostas aos quesitos que sejam formuladas pelo proprietário.
5 - A descrição do estado do imóvel, a que se refere o número anterior, inclui a
identificação do seu estado de conservação, apurado através da determinação do nível
de conservação do imóvel de acordo com o disposto no artigo 5.º do Decreto-Lei n.º
266-B/2012, de 31 de dezembro, e na respetiva regulamentação.
6 - O auto referido no n.º 4 é assinado por todos os técnicos e pelo perito que hajam
participado na vistoria e, se algum deles não quiser ou não puder assiná-lo, faz-se
menção desse facto.
7 - Quando o proprietário não indique perito até à data referida no n.º 3, a vistoria é
realizada sem a presença deste, sem prejuízo de, em eventual impugnação
administrativa ou contenciosa da deliberação em causa, o proprietário poder alegar

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factos não constantes do auto de vistoria, quando prove que não foi regularmente
notificado nos termos do n.º 2.
8 - As formalidades previstas no presente artigo podem ser preteridas quando exista
risco iminente de desmoronamento ou grave perigo para a saúde pública, nos termos
previstos na lei para o estado de necessidade.
9 - Aplica-se à vistoria o disposto no artigo 95.º, com as devidas adaptações.

Artigo 90.º-A
Obras determinadas pela câmara municipal

1 - Após a entrega dos elementos referidos no n.º 4 do artigo 89.º, é verificada a sua
conformidade com os termos da intimação e com as normas legais e regulamentares em
vigor.
2 - A entrega dos elementos referidos no n.º 4 do artigo 89.º vale como comunicação
prévia.
3 - Durante a execução da obra, a comissão de vistorias que tiver efetuado a vistoria
referida no artigo 90.º, ou quem a substitua, acompanha periodicamente o andamento
dos trabalhos, para garantia do cumprimento integral da notificação inicial, inscrevendo
no livro de obra a data e as conclusões das visitas.
4 - A comissão verifica igualmente, com o proprietário, a necessidade de se proceder a
alterações aos trabalhos inicialmente previstos, em função de alterações supervenientes
detetadas durante a execução da obra e imprevisíveis aquando daquela notificação.

Artigo 91.º
Obras coercivas

1 - Quando o proprietário não iniciar as obras que lhe sejam determinadas nos termos do
artigo 89.º, não apresentar os elementos instrutórios no prazo fixado para o efeito, ou estes
forem objeto de rejeição, ou não concluir aquelas obras dentro dos prazos que para o
efeito lhe forem fixados, pode a câmara municipal tomar posse administrativa do imóvel
para lhes dar execução imediata.
2 - À execução coerciva das obras referidas no número anterior, incluindo todos os atos
preparatórios necessários, como sejam levantamentos, sondagens, realização de estudos
ou projetos, aplica-se, com as devidas adaptações, o disposto nos artigos 107.º, 108.º e
108.º-B.

Artigo 92.º
Despejo administrativo

1 - A câmara municipal pode ordenar o despejo sumário dos prédios ou parte de prédios
nos quais haja de realizar-se as obras referidas nos n.º s 2 e 3 do artigo 89.º, sempre que
tal se mostre necessário à execução das mesmas.

2 - O despejo referido no número anterior pode ser determinado oficiosamente ou, quando
o proprietário pretenda proceder às mesmas, a requerimento deste.

3 - A deliberação que ordene o despejo é eficaz a partir da sua notificação aos ocupantes.

4 - O despejo deve executar-se no prazo de 45 dias a contar da sua notificação aos

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ocupantes, salvo quando houver risco iminente de desmoronamento ou grave perigo para
a saúde pública, em que poderá executar-se imediatamente.

5 - Ao despejo de ocupante titular de contrato de arrendamento aplica-se o disposto no


Decreto-Lei n.º 157/2006, de 8 de agosto.

SECÇÃO V
Fiscalização

SUBSECÇÃO I
Disposições gerais

Artigo 93.º
Âmbito

1 - A realização de quaisquer operações urbanísticas está sujeita a fiscalização


administrativa, independentemente de estarem isentas de controlo prévio ou da sua
sujeição a prévio licenciamento, comunicação prévia ou autorização de utilização.
2 - A fiscalização administrativa destina-se a assegurar a conformidade daquelas
operações com as disposições legais e regulamentares aplicáveis, designadamente para o
efeito de prevenir os perigos e consequentes riscos que da sua realização possam resultar
para a saúde e segurança das pessoas, mas incide exclusivamente sobre o cumprimento
de normas juridicas e não sobre aspetos relacionados com a conveniência, a oportunidade
ou as opções técnicas das operações urbanísticas.

Artigo 94.º
Competência

1 - Sem prejuízo das competências atribuídas por lei a outras entidades, a fiscalização
prevista no artigo anterior compete ao presidente da câmara municipal, com a faculdade
de delegação em qualquer dos vereadores.
2 - Os atos praticados pelo presidente da câmara municipal no exercício dos poderes de
fiscalização previstos no presente diploma e que envolvam um juízo de legalidade de atos
praticados pela câmara municipal respetiva, ou que suspendam ou ponham termo à sua
eficácia, podem ser por esta revogados ou suspensos.
3 - No exercício da atividade de fiscalização, o presidente da câmara municipal é
auxiliado por funcionários municipais com formação adequada, a quem incumbe preparar
e executar as suas decisões.
4 - O presidente da câmara municipal pode ainda solicitar colaboração de quaisquer
autoridades administrativas ou policiais.
5 - A câmara municipal pode contratar com empresas privadas habilitadas a efetuar
fiscalização de obras a realização das inspeções a que se refere o artigo seguinte, bem
como as vistorias referidas no artigo 64.º
6 – (Revogada.)

Nota 1: Quanto aos n.ºs 5 e 6 do art.º 94.º, exemplifica-se aqui com o seguinte anúncio publicado no Jornal
da Madeira em 12.3.2020: “O Conselho do Governo, reunido em plenário, autorizou a abertura do concurso
público inerente à aquisição de serviços “Hospital Central da Madeira – Serviços de Fiscalização e
Coordenação da Obra”, até ao montante de 6,1 milhões de euros, entre os anos de 2020 a 2025, enquanto
decorrer a obra do Hospital Central da Madeira.”

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Nota 2: Cf. o art.º 90.º, n.º 3, da Lei da Água (Lei n.º 58/2005, de 29 de dezembro, na última versão dada
pela Lei n.º 44/2017, de 19/06), segundo o qual, “colaboram na ação fiscalizadora as autoridades
policiais ou administrativas com jurisdição na área, devendo prevenir as infrações ao disposto nesta
lei e participar as transgressões de que tenham conhecimento”.

Nota 3: Nos termos do art.º 40.º, n.º 2, do Regime Jurídico da Conservação da Natureza e da
Biodiversidade (aprovado pelo DL n.º 142/2008, de 24 de julho, última alteração dada pelo DL 42-
A/2016), “a fiscalização compete à autoridade nacional, especialmente através do serviço de vigilantes da
natureza, à Guarda Nacional Republicana, especialmente através do Serviço de Proteção da
Natureza e do Ambiente (SEPNA), às demais autoridades policiais e aos municípios.

Nota 4: Nos termos do art.º 66.º do Regime Geral da Gestão de Resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de
setembro, última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), “a fiscalização do cumprimento do presente
diploma compete às ARR, à Inspeção-Geral do Ambiente e do Ordenamento do Território, aos municípios
e às autoridades policiais”.

Nota 5: Nos termos do art.º 13.º, n.º 2, al. a) do Decreto-Lei n.º 228/2012 de 25 de outubro, que aprovou a
orgânica das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional, os trabalhadores das CCDR que
exerçam funções de fiscalização e vigilância nas áreas do ambiente e do ordenamento do território possuem
poderes de autoridade e, no exercício dessas funções, podem “solicitar a colaboração das autoridades
policiais quando necessário à imposição de comportamentos legalmente devidos, à prevenção de infrações
à lei ou à salvaguarda da inviolabilidade de bens públicos e interesses gerais no âmbito das atribuições das
CCDR”.

Artigo 95.º
Inspeções

1 - Os fiscais municipais ou os trabalhadores das empresas privadas a que se refere o n.º


5 do artigo anterior, podem realizar inspeções aos locais onde se desenvolvam
atividades sujeitas a fiscalização nos termos do presente diploma, sem dependência de
prévia notificação.
2 - Os fiscais municipais e os trabalhadores das empresas mencionados no número
anterior podem fazer-se acompanhar de elementos das forças de segurança e do serviço
municipal de proteção civil, sempre que haja fundadas dúvidas ou possa estar em causa
a segurança de pessoas, bens e animais.
3 - Na inspeção de operações urbanísticas sujeitas a fiscalização nos termos do presente
diploma é necessária a obtenção de prévio mandado judicial para a entrada no domicílio
de qualquer pessoa sem o seu consentimento.
4 - O mandado previsto no número anterior é requerido pelo presidente da câmara
municipal junto dos tribunais administrativos e segue os termos previstos no código do
processo nos tribunais administrativos para os processos urgentes.
5 - Para as operações urbanísticas em curso, a falta de consentimento decorre de ser
vedado o acesso ao local por parte do proprietário, locatário, usufrutuário, superficiário,
ou de quem se arrogue de outros direitos sobre o imóvel, ainda que por intermédio de
alguma das demais pessoas mencionadas no n.º 2 do artigo 102.º-B, ou de ser
comprovadamente inviabilizado o contacto pessoal com as pessoas antes mencionadas.
6 - Para as operações urbanísticas concluídas, a falta de consentimento decorre de o
proprietário não facultar o acesso ao local, quando regularmente notificado.
7 - A entrada e a permanência no domicílio devem respeitar o princípio da
proporcionalidade, ocorrer pelo tempo estritamente necessário à atividade de inspeção,
incidir sobre o local onde se realizam ou realizaram operações urbanísticas e a prova a
recolher deve limitar-se à atividade sujeita a inspeção.

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Nota: O Ac. do TC n.º 195.º/ 2016, de 23 de maio, julgou ser inconstitucional a norma, extraída do artigo
95.º, n.º 2, do Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de outubro [Regime Jurídico da Urbanização e Edificação
(RJUE)], que permite a realização de inspeções ao domicílio de qualquer pessoa, sem o seu consentimento,
nos termos e para os efeitos do referido diploma, ainda que sem a dispensa de prévio mandado judicial.

Artigo 96.º
Vistorias

1 - Para além dos casos especialmente previstos no presente diploma, o presidente da


câmara municipal pode ordenar a realização de vistorias aos imóveis em que estejam a
ser executadas operações urbanísticas quando o exercício dos poderes de fiscalização
dependa da prova de factos que, pela sua natureza ou especial complexidade, impliquem
uma apreciação valorativa de caráter pericial.
2 - As vistorias ordenadas nos termos do número anterior regem-se pelo disposto no artigo
90.º e as suas conclusões são obrigatoriamente seguidas na decisão a que respeita.

Artigo 97.º
Livro de obra

1 - Todos os factos relevantes relativos à execução de obras licenciadas ou objeto de


comunicação prévia devem ser registados pelo respetivo diretor de obra no livro de obra,
a conservar no local da sua realização para consulta pelos funcionários municipais
responsáveis pela fiscalização de obras.
2 - São obrigatoriamente registados no livro de obra, para além das respetivas datas de
início e conclusão, todos os factos que impliquem a sua paragem ou suspensão, bem como
todas as alterações feitas ao projeto licenciado ou comunicado.
3 - O modelo e demais registos a inscrever no livro de obra são definidos por portaria dos
membros do Governo responsáveis pelas obras públicas e pelo ordenamento do território,
a qual fixa igualmente as características do livro de obra eletrónico.
4 - O livro de obras não é um elemento instrutório do pedido ou comunicação e não deve
ser remetido para a câmara municipal no final da obra, nem ser sujeito a qualquer análise
prévia, registo, validação ou termo de abertura ou encerramento por entidades públicas.

SUBSECÇÃO II
Sanções

Artigo 98.º
Contraordenações

1 - Sem prejuízo da responsabilidade civil, criminal ou disciplinar, são puníveis como


contraordenação:
a)(Revogada.);
b) A realização de quaisquer operações urbanísticas em desconformidade com o
respetivo projeto ou com as condições do licenciamento ou da comunicação prévia;
c) A execução de trabalhos em violação do disposto no n.º 2 do artigo 80.º-A;
d) A ocupação de edifícios ou suas frações autónomas sem autorização de utilização ou
em desacordo com o uso fixado no respetivo alvará ou comunicação prévia, salvo se
estes não tiverem sido emitidos no prazo legal por razões exclusivamente imputáveis à
câmara municipal;
e) As falsas declarações dos autores e coordenador de projetos no termo de
responsabilidade relativamente à observância das normas técnicas gerais e específicas

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de construção, bem como das disposições legais e regulamentares aplicáveis ao projeto;
f) As falsas declarações no termo de responsabilidade do diretor de obra e do diretor de
fiscalização de obra ou de outros técnicos relativamente:
i) À conformidade da execução da obra com o projeto aprovado e com as condições da
licença ou da comunicação prévia apresentada;
ii) À conformidade das alterações efetuadas ao projeto com as normas legais e
regulamentares aplicáveis;
g) A subscrição de projeto da autoria de quem, por razões de ordem técnica, legal ou
disciplinar, se encontre inibido de o elaborar;
h) O prosseguimento de obras cujo embargo tenha sido legitimamente ordenado;
i) A não afixação ou a afixação de forma não visível do exterior do prédio, durante o
decurso do procedimento de licenciamento ou autorização, do aviso que publicita o
pedido de licenciamento ou autorização;
j) A não manutenção de forma visível do exterior do prédio, até à conclusão da obra, do
aviso que publicita o alvará ou a comunicação prévia;
l) A falta do livro de obra no local onde se realizam as obras;
m) A falta dos registos do estado de execução das obras no livro de obra;
n) A não remoção dos entulhos e demais detritos resultantes da obra nos termos do
artigo 86.º;
o) A ausência de requerimento a solicitar à câmara municipal o averbamento de
substituição do requerente, do autor de projeto, de diretor de obra ou diretor de
fiscalização de obra, do titular do alvará de construção ou do título de registo emitido
pelo InCI, I. P., bem como do titular de alvará de licença ou apresentante da
comunicação prévia;
p) A ausência do número de alvará de loteamento ou da comunicação prévia nos
anúncios ou em quaisquer outras formas de publicidade à alienação dos lotes de terreno,
de edifícios ou frações autónomas nele construídos;
q) A não comunicação à câmara municipal dos negócios jurídicos de que resulte o
fracionamento ou a divisão de prédios rústicos no prazo de 20 dias a contar da data de
celebração;
r) A realização de operações urbanísticas sujeitas a comunicação prévia sem que esta
tenha ocorrido;
s) A não conclusão das operações urbanísticas referidas nos n.º s 2 e 3 do artigo 89.º nos
prazos fixados para o efeito;
t) A deterioração dolosa da edificação pelo proprietário ou por terceiro ou a violação
grave do dever de conservação.
2 - A contraordenação prevista nas alíneas a) e r) do número anterior é punível com
coima graduada de (euro) 500 até ao máximo de (euro) 200 000, no caso de pessoa
singular, e de (euro) 1500 até (euro) 450 000, no caso de pessoa coletiva.
3 - A contraordenação prevista na alínea b) do n.º 1 é punível com coima graduada de
(euro) 1500 até ao máximo de (euro) 200 000, no caso de pessoa singular, e de (euro)
3000 até (euro) 450 000, no caso de pessoa coletiva.
4 - A contraordenação prevista nas alíneas c), d), s) e t) do n.º 1 é punível com coima
graduada de (euro) 500 até ao máximo de (euro) 100 000, no caso de pessoa singular, e
de (euro) 1500 até (euro) 250 000, no caso de pessoa coletiva.
5 - As contraordenações previstas nas alíneas e) a h) do n.º 1 são puníveis com coima
graduada de (euro) 1500 até ao máximo de (euro) 200 000.
6 - As contraordenações previstas nas alíneas i) a n) e p) do n.º 1 são puníveis com
coima graduada de (euro) 250 até ao máximo de (euro) 50 000, no caso de pessoa
singular, e de (euro) 1000 até (euro) 100 000, no caso de pessoa coletiva.

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7 - A contraordenação prevista nas alíneas o) e q) do n.º 1 é punível com coima
graduada de (euro) 100 até ao máximo de (euro) 2500, no caso de pessoa singular, e de
(euro) 500 até (euro) 10 000, no caso de pessoa coletiva.
8 - Quando as contraordenações referidas no n.º 1 sejam praticadas em relação a
operações urbanísticas que hajam sido objeto de comunicação prévia nos termos do
presente diploma, os montantes máximos das coimas referidos nos n.º s 3 a 5 anteriores
são agravados em (euro) 50 000 e os das coimas referidas nos n.º s 6 e 7 em (euro) 25
000.
9 - A tentativa e a negligência são puníveis.
10 - A competência para determinar a instauração dos processos de contraordenação,
para designar o instrutor e para aplicar as coimas pertence ao presidente da câmara
municipal, podendo ser delegada em qualquer dos seus membros.
11 - O produto da aplicação das coimas referidas no presente artigo reverte para o
município, inclusive quando as mesmas sejam cobradas em juízo.
12 - Após o decurso dos prazos do recurso de impugnação judicial e de pagamento
voluntário da coima, segue-se o regime de execução de obrigações pecuniárias, previsto
no artigo 179.º do Código de Procedimento Administrativo.

Artigo 99.º
Sanções acessórias

1 - As contraordenações previstas no n.º 1 do artigo anterior podem ainda determinar,


quando a gravidade da infração o justifique, a aplicação das seguintes sanções
acessórias:
a) A apreensão dos objetos pertencentes ao agente que tenham sido utilizados como
instrumento na prática da infração;
b) A interdição do exercício no município, até ao máximo de quatro anos, da profissão
ou atividade conexas com a infração praticada;
c) A privação do direito a subsídios outorgados por entidades ou serviços públicos.
2 - As sanções previstas no n.º 1, bem como as previstas no artigo anterior, quando
aplicadas a empresas de construção, empreiteiros ou construtores, são comunicadas ao
InCI, I. P.
3 - As sanções aplicadas ao abrigo do disposto nas alíneas e), f) e g) do n.º 1 do artigo
anterior aos autores dos projetos, responsáveis pela direção técnica da obra ou a quem
subscreva o termo de responsabilidade previsto no artigo 63.º são comunicadas à
respetiva ordem ou associação profissional, quando exista.
4 - A interdição de exercício de atividade prevista na alínea b) do n.º 1, quando aplicada
a pessoa coletiva, estende-se a outras pessoas coletivas constituídas pelos mesmos
sócios.

Artigo 100.º
Responsabilidade criminal

1 - O desrespeito dos atos administrativos que determinem qualquer das medidas de


tutela da legalidade urbanística previstas no presente diploma constitui crime de
desobediência, nos termos do artigo 348.º do Código Penal.
2 - As falsas declarações ou informações prestadas pelos responsáveis referidos nas
alíneas e) e f) do n.º 1 do artigo 98.º, nos termos de responsabilidade ou no livro de obra
integram o crime de falsificação de documentos, nos termos do artigo 256.º do Código
Penal.

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Artigo 100.º-A
Responsabilidade civil dos intervenientes nas operações urbanísticas

1 - As pessoas jurídicas que violem, com dolo ou negligência, por ação ou omissão, os
deveres inerentes ao exercício da atividade a que estejam obrigados por contrato ou por
norma legal ou regulamentar aplicável são responsáveis pelo ressarcimento dos danos
causados a terceiros e pelos custos e encargos das medidas específicas de reconstituição
da situação que existiria caso a ordem jurídica urbanística não tivesse sido violada.
2 - Relativamente a operações urbanísticas sujeitas a controlo prévio que tenham sido
desenvolvidas em violação das condições previstas na licença, comunicação prévia ou
autorização, consideram-se solidariamente responsáveis os empreiteiros, os diretores da
obra e os responsáveis pela fiscalização, sem prejuízo da responsabilidade dos
promotores e dos donos da obra, nos termos gerais.
3 - Relativamente a operações urbanísticas sujeitas a controlo prévio que tenham sido
realizadas sem tal controlo ou estejam em desconformidade com os seus pressupostos
ou com qualquer das condições previstas na lei para a isenção de controlo prévio,
consideram-se solidariamente responsáveis os promotores e donos da obra, os
responsáveis pelos usos e utilizações existentes, bem como os empreiteiros e os
diretores da obra.
4 - No caso de operações urbanísticas incompatíveis com os instrumentos de gestão
territorial aplicáveis são solidariamente responsáveis:
a) Os autores e coordenadores dos projetos e dos demais documentos técnicos;
b) Os diretores da obra;
c) Os responsáveis pela fiscalização.
5 - Consideram-se promotores, para os efeitos do disposto nos n.º s 2 e 3:
a) A pessoa jurídica, pública ou privada, seja ou não proprietária dos terrenos
relativamente aos quais se refere a operação urbanística, que é responsável pela sua
execução ou desenvolvimento;
b) O proprietário do imóvel no qual foram executadas ou desenvolvidas operações
urbanísticas, quando tenha tido conhecimento das obras, trabalhos, edificações, usos e
utilizações ilícitos, presumindo-se tal conhecimento, salvo prova em contrário, quando o
proprietário tenha permitido, por qualquer ato, ao responsável direto da violação o
acesso à utilização do imóvel.
6 - Considera-se empreiteiro, para os efeitos do disposto nos n.º s 2 e 3, a pessoa
jurídica, pública ou privada, que exerce a atividade de execução das obras de edificação
e urbanização e se encontre devidamente habilitada pelo InCI, I. P.
7 - As pessoas coletivas são responsáveis pelas infrações cometidas pelos seus órgãos,
funcionários e agentes.
8 - Todos os intervenientes na realização de operações urbanísticas respondem
solidariamente quando se verifique a impossibilidade de determinar o autor do dano ou,
havendo concorrência de culpas, não seja possível precisar o grau de intervenção de
cada interveniente no dano produzido.
9 - A aprovação do projeto ou o exercício da fiscalização municipal não isentam os
técnicos responsáveis pela sua fiscalização ou direção, da responsabilidade pela
condução dos trabalhos em estrita observância pelas condições da licença ou da
comunicação prévia.

Artigo 101.º
Responsabilidade dos funcionários e agentes da Administração Pública

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Os funcionários e agentes da Administração Pública que deixem de participar infrações
às entidades fiscalizadoras ou prestem informações falsas ou erradas sobre as infrações à
lei e aos regulamentos de que tenham conhecimento no exercício das suas funções
incorrem em responsabilidade disciplinar, punível com pena de suspensão a demissão.

Artigo 101.º-A
Legitimidade para a denúncia
1 - Qualquer pessoa tem legitimidade para comunicar à câmara municipal, ao Ministério
Público, às ordens ou associações profissionais, ao InCI, I. P., ou a outras entidades
competentes a violação das normas do presente diploma.
2 - Não são admitidas denúncias anónimas.

SUBSECÇÃO III
Medidas de tutela da legalidade urbanística

Artigo 102.º
Reposição da legalidade urbanística

1 - Os órgãos administrativos competentes estão obrigados a adotar as medidas


adequadas de tutela e restauração da legalidade urbanística quando sejam realizadas
operações urbanísticas:
a) Sem os necessários atos administrativos de controlo prévio;
b) Em desconformidade com os respetivos atos administrativos de controlo prévio;
c) Ao abrigo de ato administrativo de controlo prévio revogado ou declarado nulo;
d) Em desconformidade com as condições da comunicação prévia;
e) Em desconformidade com as normas legais ou regulamentares aplicáveis.
2 - As medidas a que se refere o número anterior podem consistir:
a) No embargo de obras ou de trabalhos de remodelação de terrenos;
b) Na suspensão administrativa da eficácia de ato de controlo prévio;
c) Na determinação da realização de trabalhos de correção ou alteração, sempre que
possível;
d) Na legalização das operações urbanísticas;
e) Na determinação da demolição total ou parcial de obras;
f) Na reposição do terreno nas condições em que se encontrava antes do início das obras
ou trabalhos;
g) Na determinação da cessação da utilização de edifícios ou suas frações autónomas.
3 - Independentemente das situações previstas no n.º 1, a câmara municipal pode:
a) Determinar a execução de obras de conservação necessárias à correção de más
condições de segurança ou salubridade ou à melhoria do arranjo estético;
b) Determinar a demolição, total ou parcial, das construções que ameacem ruína ou
ofereçam perigo para a saúde pública e segurança das pessoas.
4 - [Revogado].
5 - [Revogado].
6 - [Revogado].
7 - [Revogado].
8 - [Revogado].

Artigo 102.º-A
Legalização

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1 - Quando se verifique a realização de operações urbanísticas ilegais nos termos do n.º
1 do artigo anterior, se for possível assegurar a sua conformidade com as disposições
legais e regulamentares em vigor, a câmara municipal notifica os interessados para a
legalização das operações urbanísticas, fixando um prazo para o efeito.
2 - O procedimento de legalização deve ser instruído com os elementos exigíveis em
função da pretensão concreta do requerente, com as especificidades constantes dos
números seguintes.
3 - A câmara municipal pode solicitar a entrega dos documentos e elementos,
nomeadamente os projetos das especialidade e respetivos termos de responsabilidade ou
os certificados de aprovação emitidos pelas entidades certificadoras competentes, que se
afigurem necessários, designadamente, para garantir a segurança e saúde públicas.
4 - Para efeitos do disposto no número anterior, é dispensada, nos casos em que não
haja obras de ampliação ou de alteração a realizar, a apresentação dos seguintes
elementos:
a) Calendarização da execução da obra;
b) Estimativa do custo total da obra;
c) Documento comprovativo da prestação de caução;
d) Apólice de seguro de construção;
e) Apólice de seguro que cubra a responsabilidade pela reparação dos danos emergentes
de acidentes de trabalho;
f) Títulos habilitantes para o exercício da atividade de construção válidos à data da
construção da obra;
g) Livro de obra;
h) Plano de segurança e saúde.
5 - Pode ser dispensado o cumprimento de normas técnicas relativas à construção cujo
cumprimento se tenha tornado impossível ou que não seja razoável exigir, desde que se
verifique terem sido cumpridas as condições técnicas vigentes à data da realização da
operação urbanística em questão, competindo ao requerente fazer a prova de tal data.
6 - O interessado na legalização da operação urbanística pode solicitar à câmara
municipal informação sobre os termos em que esta se deve processar, devendo a câmara
municipal fornecer essa informação no prazo máximo de 15 dias.
7 - Os municípios aprovam os regulamentos necessários para concretizar e executar o
disposto no presente artigo, devendo, designadamente, concretizar os procedimentos em
função das operações urbanísticas e pormenorizar, sempre que possível, os aspetos que
envolvam a formulação de valorações próprias do exercício da função administrativa,
em especial os morfológicos e estéticos.
8 - Nos casos em que os interessados não promovam as diligências necessárias à
legalização voluntária das operações urbanísticas, a câmara municipal pode proceder
oficiosamente à legalização, exigindo o pagamento das taxas fixadas em regulamento
municipal.
9 - A faculdade concedida no número anterior apenas pode ser exercida quando estejam
em causa obras que não impliquem a realização de cálculos de estabilidade.
10 - Caso o requerente, tendo sido notificado para o pagamento das taxas devidas, não
proceda ao respetivo pagamento, é promovido o procedimento de execução fiscal do
montante liquidado.
11 - A legalização oficiosa tem por único efeito o reconhecimento de que as obras
promovidas cumprem os parâmetros urbanísticos previstos nos instrumentos de gestão
territorial aplicáveis, sendo efetuada sob reserva de direitos de terceiros.

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Artigo 102.º-B
Embargo

1 - Sem prejuízo das competências atribuídas por lei a outras entidades, o presidente da
câmara municipal é competente para embargar obras de urbanização, de edificação ou de
demolição, bem como quaisquer trabalhos de remodelação de terrenos, quando estejam a
ser executadas:
a) Sem a necessária licença ou comunicação prévia;
b) Em desconformidade com o respetivo projeto ou com as condições do licenciamento
ou comunicação prévia, salvo o disposto no artigo 83.º; ou
c) Em violação das normas legais e regulamentares aplicáveis.
2 - A notificação é feita ao responsável pela direção técnica da obra, bem como ao titular
do alvará de licença ou apresentante da comunicação prévia e, quando possível, ao
proprietário do imóvel no qual estejam a ser executadas as obras ou seu representante,
sendo suficiente para obrigar à suspensão dos trabalhos qualquer dessas notificações ou
a de quem se encontre a executar a obra no local.
3 - Após o embargo, é de imediato lavrado o respetivo auto, que contém, obrigatória e
expressamente, a identificação do funcionário municipal responsável pela fiscalização de
obras, das testemunhas e do notificado, a data, a hora e o local da diligência e as razões
de facto e de direito que a justificam, o estado da obra e a indicação da ordem de
suspensão e proibição de prosseguir a obra e do respetivo prazo, bem como as cominações
legais do seu incumprimento.
4 - O auto é redigido em duplicado e assinado pelo funcionário e pelo notificado, ficando
o duplicado na posse deste.
5 - No caso de a ordem de embargo incidir apenas sobre parte da obra, o respetivo auto
faz expressa menção de que o embargo é parcial e identifica claramente qual é a parte da
obra que se encontra embargada.
6 - O auto de embargo é notificado às pessoas identificadas no n.º 2 e disponibilizado no
sistema informático referido no artigo 8.º-A, no prazo de cinco dias úteis.
7 - No caso de as obras estarem a ser executadas por pessoa coletiva, o embargo e o
respetivo auto são ainda comunicados para a respetiva sede social ou representação em
território nacional.
8 - O embargo, assim como a sua cessação ou caducidade, é objeto de registo na
conservatória do registo predial, mediante comunicação do despacho que o determinou,
procedendo-se aos necessários averbamentos.

Artigo 103.º
Efeitos do embargo

1 - O embargo obriga à suspensão imediata, no todo ou em parte, dos trabalhos de


execução da obra.
2 - Tratando-se de obras licenciadas ou objeto de comunicação prévia, o embargo
determina também a suspensão da eficácia da respetiva licença ou, no caso de
comunicação prévia, a imediata cessação da operação urbanística, bem como, no caso de
obras de urbanização, a suspensão de eficácia da licença de loteamento urbano a que a
mesma respeita ou a cessação das respetivas obras.
3 - É interdito o fornecimento de energia elétrica, gás e água às obras embargadas,
devendo para o efeito ser notificado o ato que o ordenou às entidades responsáveis pelos
referidos fornecimentos.

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4 - O embargo, ainda que parcial, suspende o prazo que estiver fixado para a execução
das obras no respetivo alvará de licença ou estabelecido na comunicação prévia.

Artigo 104.º
Caducidade do embargo

1 - A ordem de embargo caduca logo que for proferida uma decisão que defina a situação
jurídica da obra com caráter definitivo ou no termo do prazo que tiver sido fixado para o
efeito.
2 - Na falta de fixação de prazo para o efeito, a ordem de embargo caduca se não for
proferida uma decisão definitiva no prazo de seis meses, prorrogável uma única vez por
igual período.

Artigo 105.º
Trabalhos de correção ou alteração

1 - Nas situações previstas nas alíneas b) e c) do n.º 1 do artigo 102.º, o presidente da


câmara municipal pode ainda, quando for caso disso, ordenar a realização de trabalhos de
correção ou alteração da obra, fixando um prazo para o efeito, tendo em conta a natureza
e o grau de complexidade dos mesmos.
2 - Decorrido o prazo referido no número anterior sem que aqueles trabalhos se encontrem
integralmente realizados, a obra permanece embargada até ser proferida uma decisão que
defina a sua situação jurídica com caráter definitivo.
3 - Tratando-se de obras de urbanização ou de outras obras indispensáveis para assegurar
a proteção de interesses de terceiros ou o correto ordenamento urbano, a câmara
municipal pode promover a realização dos trabalhos de correção ou alteração por conta
do titular da licença ou do apresentante da comunicação prévia, nos termos dos artigos
107.º e 108.º
4 - A ordem de realização de trabalhos de correção ou alteração suspende o prazo que
estiver fixado no respetivo alvará de licença ou estabelecido na comunicação prévia pelo
período estabelecido nos termos do n.º 1.
5 - O prazo referido no n.º 1 interrompe-se com a apresentação de pedido de alteração à
licença ou comunicação prévia, nos termos, respetivamente, dos artigos 27.º e 35.º

Artigo 106.º
Demolição da obra e reposição do terreno

1 - O presidente da câmara municipal pode igualmente, quando for caso disso, ordenar a
demolição total ou parcial da obra ou a reposição do terreno nas condições em que se
encontrava antes da data de início das obras ou trabalhos, fixando um prazo para o efeito.
2 - A demolição pode ser evitada se a obra for suscetível de ser licenciada ou objeto de
comunicação prévia ou se for possível assegurar a sua conformidade com as disposições
legais e regulamentares que lhe são aplicáveis mediante a realização de trabalhos de
correção ou de alteração.
3 - A ordem de demolição ou de reposição a que se refere o n.º 1 é antecedida de audição
do interessado, que dispõe de 15 dias a contar da data da sua notificação para se
pronunciar sobre o conteúdo da mesma.
4 - Decorrido o prazo referido no n.º 1 sem que a ordem de demolição da obra ou de
reposição do terreno se mostre cumprida, o presidente da câmara municipal determina a
demolição da obra ou a reposição do terreno por conta do infrator.

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Artigo 107.º
Posse administrativa e execução coerciva

1 - Sem prejuízo da responsabilidade criminal, em caso de incumprimento de qualquer


das medidas de tutela da legalidade urbanística previstas nos artigos anteriores o
presidente da câmara pode determinar a posse administrativa do imóvel onde está a ser
realizada a obra, por forma a permitir a execução coerciva de tais medidas.
2 - O ato administrativo que tiver determinado a posse administrativa é notificado ao dono
da obra e aos demais titulares de direitos reais sobre o imóvel por carta registada com
aviso de receção.
3 - Sempre que não seja possível a notificação postal referida no número anterior,
designadamente em virtude do desconhecimento da identidade ou do paradeiro do
proprietário, esta é efetuada por edital, nos termos estabelecidos no Código do
Procedimento Administrativo, sendo, para este efeito, obrigatória a afixação de um edital
no imóvel.
4 - A posse administrativa é realizada pelos funcionários municipais responsáveis pela
fiscalização de obras, mediante a elaboração de um auto onde, para além de se identificar
o ato referido no número anterior, é especificado o estado em que se encontra o terreno,
a obra e as demais construções existentes no local, bem como os equipamentos que ali se
encontrarem.
5 - Tratando-se da execução coerciva de uma ordem de embargo, os funcionários
municipais responsáveis pela fiscalização de obras procedem à selagem do estaleiro da
obra e dos respetivos equipamentos.
6 - Em casos devidamente justificados, o presidente da câmara pode autorizar a
transferência ou a retirada dos equipamentos do local de realização da obra, por sua
iniciativa ou a requerimento do dono da obra ou do seu empreiteiro.
7 - O dono da obra ou o seu empreiteiro devem ser notificados sempre que os
equipamentos sejam depositados noutro local.
8 - A posse administrativa do terreno e dos equipamentos mantém-se pelo período
necessário à execução coerciva da respetiva medida de tutela da legalidade urbanística,
caducando no termo do prazo fixado para a mesma.
9 - [Revogado].
10 - Tratando-se de execução coerciva de uma ordem de demolição ou de trabalhos de
correção ou alteração de obras, estas devem ser executadas no mesmo prazo que havia
sido concedido para o efeito ao seu destinatário, contando-se aquele prazo a partir da data
de início da posse administrativa.
11 - O prazo referido no número anterior pode ser prorrogado nos termos em que seja
admissível no regime das empreitadas de obras públicas, previstos no Código dos
Contratos Públicos.
12 - O prazo referido no n.º 10 suspende-se, com o limite de 150 dias, pelo período em
que decorrerem os procedimentos de contratação legalmente devidos relativos à
intervenção, entre a decisão de contratar e o começo de execução do contrato ou, no caso
das empreitadas, o início dos trabalhos.

Artigo 108.º
Despesas realizadas com a execução coerciva

1 - As quantias relativas às despesas realizadas nos termos do artigo anterior, incluindo


os custos com o realojamento dos inquilinos a que haja lugar, bem como quaisquer

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indemnizações ou sanções pecuniárias que a Administração tenha de suportar para o
efeito, são de conta do infrator.
2 - Quando, no prazo de 20 dias a contar da notificação para o efeito, efetuada nos termos
do artigo anterior, aquelas quantias não forem pagas voluntariamente nem tenha sido
proposta pelo devedor, em alternativa para extinção da dívida, a dação em cumprimento
ou em função do cumprimento ou ainda a consignação de rendimentos do imóvel nos
termos da lei, as referidas quantias são cobradas judicialmente em processo de execução
fiscal, servindo de título executivo a certidão, passada pelos serviços competentes,
comprovativa das despesas efetuadas.
3 - Em alternativa à cobrança judicial da dívida em processo de execução fiscal, e em
função de um juízo de proporcionalidade, a câmara municipal pode optar pelo
arrendamento forçado, nos termos do presente decreto-lei, notificando o proprietário nos
termos previstos no artigo anterior, devendo esta notificação conter ainda o local, o dia e
a hora do ato de transmissão da posse.
4 - O crédito referido no n.º 1 goza de privilégio imobiliário sobre o lote ou terrenos onde
se situa a edificação, graduado a seguir aos créditos referidos na alínea b) do artigo 748.º
do Código Civil.

Artigo 108.º-A
Intervenção da CCDR
(Revogado)

Artigo 108.º-B
Arrendamento forçado

1 - Findo o prazo previsto no n.º 2 do artigo 108.º sem que se encontrem liquidadas as
quantias devidas pelo proprietário, o município, em alternativa à cobrança judicial da
dívida em processo de execução fiscal, pode optar pelo ressarcimento através do
arrendamento forçado, sendo lavrado auto de posse do imóvel para esse efeito.
2 - O auto é notificado ao proprietário, bem como aos demais titulares de direitos reais,
sendo eficaz a partir da data do ato de transmissão da posse.
3 - Ao arrendamento forçado aplicam-se, em tudo quanto não estiver especialmente
previsto no presente artigo, os artigos 656.º e seguintes do Código Civil, quanto à relação
entre o município e o proprietário do imóvel.
4 - O arrendamento forçado está sujeito a inscrição no registo predial, servindo de título
para o efeito, certidão passada pelo município competente, onde conste a indicação do
valor total da dívida, e implica o cancelamento do registo referido no artigo 89.º, caso
este ainda não tenha sido cancelado.
5 - A câmara municipal procede ao arrendamento forçado do imóvel mediante
procedimento concursal ou através da aplicação de regulamento municipal para a
atribuição de fogos.
6 - Em caso de celebração de novo contrato de arrendamento no prédio urbano ou nas
frações autónomas intervencionadas, a renda a praticar não pode ser inferior a 80 /prct.
do valor mediano das rendas por m2 de novos contratos de arrendamento de
alojamentos familiares no município respetivo, de acordo com a última atualização
divulgada pelo Instituto Nacional de Estatística, I. P. (INE, I. P.).
7 - Quando a atualização divulgada pelo INE, I. P., se reporte a nível de unidade
territorial para fins estatísticos superior ao concelho, deve ser considerado o valor
relativo à unidade territorial para fins estatísticos de menor amplitude em que o
município esteja integrado.

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8 - Durante a vigência do arrendamento forçado, a câmara municipal pode executar as
obras de conservação e ou de reparação necessárias, cumprindo as seguintes regras:
a) A escolha do empreiteiro para a realização das obras, quando as mesmas não sejam
executadas por administração direta, é precedida, se outro procedimento mais exigente
não resultar da lei, do pedido de três orçamentos para o efeito, com base num caderno
de encargos que defina os trabalhos a realizar e o tipo de materiais a utilizar, sendo
escolhida a proposta de preço mais baixo;
b) Apurada a conta final da empreitada, ou calculado o custo total da intervenção em
caso de administração direta, é esse valor adicionado ao valor da dívida ainda existente,
sendo dado conhecimento ao proprietário desse facto, nos termos previstos no artigo
107.º
9 - A câmara municipal procede à prestação anual de contas, operando a atualização do
valor em dívida correspondente, notificando o proprietário, nos termos previstos no
artigo 107.º
10 - O registo referido no n.º 4 é cancelado apenas através da exibição de certidão
passada pela câmara municipal que ateste a inexistência de dívida.
11 - O proprietário interessado em retomar a posse do imóvel deve manifestar por
escrito essa intenção, com 120 dias de antecedência e, havendo montantes em dívida
ainda por liquidar, a comunicação por escrito é acompanhada com comprovativo do seu
pagamento integral.
12 - Encontrando-se liquidada a totalidade da dívida e caso o proprietário não retome a
posse no prazo de 20 dias, ou, sendo desconhecido o seu proprietário, a partir daquela
data, pode a câmara municipal disponibilizar o imóvel para arrendamento, nos termos
previstos anteriormente, com as seguintes especificações:
a) O valor das rendas é depositado em conta bancária aberta especificamente para o
efeito, caso o proprietário não tenha procedido à indicação de conta bancária para o
efeito;
b) A câmara municipal pode ressarcir-se das despesas realizadas para fazer face aos
encargos de gestão e manutenção do imóvel que comprovadamente realizar durante o
período em que durar o arrendamento, sendo emitida certidão comprovativa para o
efeito, pelos serviços municipais competentes.
Artigo 108.º-C
Arrendamento forçado de habitações devolutas
1 - O regime previsto no artigo anterior é aplicável, com as necessárias adaptações, às
frações autónomas e às partes de prédio urbano suscetíveis de utilização independente, de
uso habitacional, classificadas como devolutas, nos termos do Decreto-Lei n.º 159/2006,
de 8 de agosto, que estejam há mais de dois anos com essa classificação, quando
localizadas fora dos territórios do interior, como tal identificados no anexo à Portaria n.º
208/2017, de 13 de julho.
2 - Findo o prazo de dois anos referido no número anterior, o município territorialmente
competente remete ao respetivo proprietário, consoante os casos:
a) Notificação do dever de conservação, previsto no n.º 2 do artigo 89.º, promovendo a
execução das obras necessárias, em caso de incumprimento daquela notificação, ao abrigo
do artigo 91.º; ou
b) Notificação do dever de dar uso à fração autónoma e, querendo, apresentação de
proposta de arrendamento, nos termos previstos no artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 89/2021,
de 3 de novembro.
3 - O valor da renda na proposta de arrendamento prevista na alínea b) do número anterior
não pode exceder em 30 % os limites gerais de preço de renda por tipologia em função

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do concelho onde se localiza o imóvel, previstos na alínea a) do n.º 1 do artigo 10.º do
Decreto-Lei n.º 68/2019, de 22 de maio.
4 - Nos casos em que, efetuada a notificação prevista na alínea b) do n.º 2, o proprietário
recuse a proposta ou não se pronuncie no prazo de 90 dias a contar da sua receção, e
mantendo-se o imóvel devoluto, o município territorialmente competente, sempre que se
revele necessário para garantir a função social da habitação, prevista no artigo 4.º da Lei
n.º 83/2019, de 3 de setembro, que aprova a lei de bases da habitação, pode, excecional e
supletivamente, proceder ao arrendamento forçado do imóvel.
5 - Caso os municípios não pretendam proceder ao arrendamento do imóvel e o mesmo
não careça de obras de conservação, remetem a informação sobre o imóvel ao IHRU, I.
P., para que este possa, querendo, notificar o proprietário, nos termos e para os efeitos
previstos na alínea b) do n.º 2 e no n.º 4.
6 - O disposto no presente artigo não se aplica às Regiões Autónomas.

Artigo 109.º
Cessação da utilização

1 - Sem prejuízo do disposto nos n.º s 1 e 2 do artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 281/99, de 26
de julho, o presidente da câmara municipal é competente para ordenar e fixar prazo para
a cessação da utilização de edifícios ou de suas frações autónomas quando sejam
ocupados sem a necessária autorização de utilização ou quando estejam a ser afetos a fim
diverso do previsto no respetivo alvará.
2 - Quando os ocupantes dos edifícios ou suas frações não cessem a utilização indevida
no prazo fixado, pode a câmara municipal determinar o despejo administrativo,
aplicando-se, com as devidas adaptações, o disposto no artigo 92.º
3 - O despejo determinado nos termos do número anterior deve ser sobrestado quando,
tratando-se de edifício ou sua fração que estejam a ser utilizados para habitação, o
ocupante mostre, por atestado médico, que a execução do mesmo põe em risco de vida,
por razão de doença aguda, a pessoa que se encontre no local.
4 - Na situação referida no número anterior, o despejo não pode prosseguir enquanto a
câmara municipal não providencie pelo realojamento da pessoa em questão, a expensas
do responsável pela utilização indevida, nos termos do artigo anterior.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define “edifício” como “uma construção permanente, dotada de acesso independente, coberta, limitada por
paredes exteriores ou paredes-meeiras que vão das fundações à cobertura, destinada a utilização humana
ou a outros fins”.

CAPÍTULO IV
Garantias dos particulares

Artigo 110.º
Direito à informação

1 - Qualquer interessado tem o direito de ser informado pela respetiva câmara municipal:
a) Sobre os instrumentos de desenvolvimento e de gestão territorial em vigor para
determinada área do município, bem como das demais condições gerais a que devem
obedecer as operações urbanísticas a que se refere o presente diploma;
b) Sobre o estado e andamento dos processos que lhes digam diretamente respeito, com
especificação dos atos já praticados e do respetivo conteúdo, e daqueles que ainda devam
sê-lo, bem como dos prazos aplicáveis a estes últimos.

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2 - As informações previstas no número anterior devem ser prestadas independentemente
de despacho e no prazo de 15 dias.
3 - Os interessados têm o direito de consultar os processos que lhes digam diretamente
respeito, nomeadamente por via eletrónica, e de obter as certidões ou reproduções
autenticadas dos documentos que os integram, mediante o pagamento das importâncias
que forem devidas.
4 - O acesso aos processos e passagem de certidões deve ser requerido por escrito, salvo
consulta por via eletrónica, e é facultado independentemente de despacho e no prazo de
10 dias a contar da data da apresentação do respetivo requerimento.
5 - A câmara municipal fixa, no mínimo, um dia por semana para que os serviços
municipais competentes estejam especificadamente à disposição dos cidadãos para a
apresentação de eventuais pedidos de esclarecimento ou de informação ou reclamações.
6 - Os direitos referidos nos n.º s 1 e 3 são extensivos a quaisquer pessoas que provem ter
interesse legítimo no conhecimento dos elementos que pretendem e ainda, para defesa de
interesses difusos definidos na lei, quaisquer cidadãos no gozo dos seus direitos civis e
políticos e as associações e fundações defensoras de tais interesses.

Artigo 111.º
Silêncio da Administração

Decorridos os prazos fixados para a prática de qualquer ato especialmente regulado no


presente diploma sem que o mesmo se mostre praticado, observa-se o seguinte:
a) (Revogada.)
b) [Revogada];
c) Considera-se tacitamente deferida a pretensão, com as consequências gerais.

Artigo 112.º
Intimação judicial para a prática de ato legalmente devido
(Revogado).

Artigo 113.º
Deferimento tácito
(Revogado).

Artigo 114.º
Impugnação administrativa

1 - Os pareceres expressos que sejam emitidos por órgãos da administração central no


âmbito dos procedimentos regulados no presente diploma podem ser objeto de
impugnação administrativa autónoma.
2 - A impugnação administrativa de quaisquer atos praticados ou pareceres emitidos nos
termos do presente diploma deve ser decidida no prazo de 30 dias, findo o qual se
considera deferida.

Artigo 115.º
Ação administrativa especial

1 - A ação administrativa especial dos atos previstos no artigo 106.º tem efeito suspensivo.
2 - Com a citação da petição de recurso, a autoridade administrativa tem o dever de

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impedir, com urgência, o início ou a prossecução da execução do ato recorrido.
3 - A todo o tempo e até à decisão em 1.ª instância, o juiz pode conceder o efeito
meramente devolutivo à ação, oficiosamente ou a requerimento do recorrido ou do
Ministério Público, caso do mesmo resultem indícios da ilegalidade da sua interposição
ou da sua improcedência.
4 - Da decisão referida no número anterior cabe recurso com efeito meramente
devolutivo, que sobe imediatamente, em separado.

CAPÍTULO V
Taxas inerentes às operações urbanísticas

Artigo 116.º
Taxa pela realização, manutenção e reforço de infraestruturas urbanísticas

1 – (Revogado.)
2 – (Revogado.)3 - A emissão do alvará de licença e a comunicação prévia de obras de
construção ou ampliação em área não abrangida por operação de loteamento estão
igualmente sujeitas ao pagamento da taxa referida no número anterior.
4 - A emissão do alvará de licença parcial a que se refere o n.º 6 do artigo 23.º está também
sujeita ao pagamento da taxa referida no n.º 1, não havendo lugar à liquidação da mesma
aquando da emissão do alvará definitivo.
5 - Os projetos de regulamento municipal da taxa pela realização, manutenção e reforço
de infraestruturas urbanísticas devem ser acompanhados da fundamentação do cálculo
das taxas previstas, tendo em conta, designadamente, os seguintes elementos:
a) Programa plurianual de investimentos municipais na execução, manutenção e reforço
das infraestruturas gerais, que pode ser definido por áreas geográficas diferenciadas;
b) Diferenciação das taxas aplicáveis em função dos usos e tipologias das edificações e,
eventualmente, da respetiva localização e correspondentes infraestruturas locais.
6 - [Revogado].

Artigo 117.º
Liquidação das taxas

1 - O presidente da câmara municipal, com o deferimento do pedido de licenciamento,


procede à liquidação das taxas, em conformidade com o regulamento aprovado pela
assembleia municipal.
2 - O pagamento das taxas referidas nos n.º s 2 a 4 do artigo anterior pode, por deliberação
da câmara municipal, com faculdade de delegação no presidente e de subdelegação deste
nos vereadores ou nos dirigentes dos serviços municipais, ser fracionado até ao termo do
prazo de execução fixado no alvará, desde que seja prestada caução nos termos do artigo
54.º
3 - Da liquidação das taxas cabe reclamação graciosa ou impugnação judicial, nos termos
e com os efeitos previstos no Código de Procedimento e de Processo Tributário.
4 - A exigência, pela câmara municipal ou por qualquer dos seus membros, de mais-valias
não previstas na lei ou de quaisquer contrapartidas, compensações ou donativos confere
ao titular da licença ou comunicação prévia para a realização de operação urbanística,
quando dê cumprimento àquelas exigências, o direito a reaver as quantias indevidamente
pagas ou, nos casos em que as contrapartidas, compensações ou donativos sejam
realizados em espécie, o direito à respetiva devolução e à indemnização a que houver
lugar.

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5 - Nos casos de autoliquidação previstos no presente diploma, as câmaras municipais
devem obrigatoriamente disponibilizar os regulamentos e demais elementos necessários
à sua efetivação, podendo os requerentes usar do expediente previsto no n.º 3 do artigo
113.º

CAPÍTULO VI
Disposições finais e transitórias

Artigo 118.º
Conflitos decorrentes da aplicação dos regulamentos municipais

1 - Para a resolução de conflitos na aplicação dos regulamentos municipais previstos no


artigo 3.º podem os interessados requerer a intervenção de uma comissão arbitral.
2 - Sem prejuízo do disposto no n.º 5, a comissão arbitral é constituída por um
representante da câmara municipal, um representante do interessado e um técnico
designado por cooptação, especialista na matéria sobre que incide o litígio, o qual preside.
3 - Na falta de acordo, o técnico é designado pelo presidente do tribunal administrativo
de círculo competente na circunscrição administrativa do município.
4 - À constituição e funcionamento das comissões arbitrais aplica-se o disposto na lei
sobre a arbitragem voluntária.
5 - As associações públicas de natureza profissional e as associações empresariais do setor
da construção civil podem promover a criação de centros de arbitragem institucionalizada
para a realização de arbitragens no âmbito das matérias previstas neste artigo, nos termos
da lei.

Artigo 119.º
Relação dos instrumentos de gestão territorial, das servidões e restrições de
utilidade pública e de outros instrumentos relevantes

1 - As câmaras municipais devem manter atualizada a relação dos instrumentos de


gestão territorial e as servidões administrativas e restrições de utilidade pública
especialmente aplicáveis na área do município, nomeadamente:
a) Os referentes a programa e plano regional de ordenamento do território, planos
especiais de ordenamento do território, planos municipais e intermunicipais de
ordenamento do território, medidas preventivas, áreas de desenvolvimento urbano
prioritário, áreas de construção prioritária, áreas de reabilitação urbana e alvarás de
loteamento em vigor;
b) Zonas de proteção de imóveis classificados ou em vias de classificação, reservas
arqueológicas de proteção e zonas especiais de proteção de parque arqueológico a que
se refere a Lei n.º 107/2001, de 8 de setembro, e o Decreto-Lei n.º 309/2009, de 23 de
outubro;
c) [Revogada];
d) Zonas de proteção a edifícios e outras construções de interesse público a que se
referem os Decretos-Leis n.º s 40 388, de 21 de novembro de 1955, e 309/2009, de 23
de outubro;
e) Imóveis ou elementos naturais classificados como de interesse municipal a que se
refere a Lei n.º 107/2001, de 8 de setembro, e o Decreto-Lei n.º 309/2009, de 23 de
outubro;
f) Zonas terrestres de proteção das albufeiras, lagoas ou lagos de águas públicas a que se
refere o Decreto-Lei n.º 107/2009, de 15 de maio;

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g) Zonas terrestres de proteção dos estuários a que se refere o Decreto-Lei n.º 129/2008,
de 21 de julho;
h) Áreas integradas no domínio hídrico público ou privado a que se referem as Leis n.º s
54/2005, de 15 de novembro, e Lei n.º 58/2005, de 29 de dezembro;
i) Áreas classificadas a que se refere o Decreto-Lei n.º 142/2008, de 24 de julho;
j) Áreas integradas na Reserva Agrícola Nacional a que se refere o Decreto-Lei n.º
73/2009, de 31 de março;
l) Áreas integradas na Reserva Ecológica Nacional a que se refere o Decreto-Lei n.º
166/2008, de 22 de agosto;
m) Zonas de proteção estabelecidas pelo Decreto-Lei n.º 173/2006, de 24 de agosto.
2 - As câmaras municipais mantêm igualmente atualizada a relação dos regulamentos
municipais referidos no artigo 3.º, dos programas de ação territorial em execução, bem
como das unidades de execução delimitadas.
3 - A informação referida nos números anteriores deve ser disponibilizada no sítio na
Internet do município assim como na plataforma dos procedimentos, devendo ser
disponibilizada a função de gerar plantas de localização de forma automática, com
visualização da incidência territorial dos instrumentos de gestão territorial vinculativos
dos particulares e das servidões e restrições de utilidade pública, referentes à localização
pretendida e assinalada para o efeito..
4 - Para efeitos do disposto no Decreto-Lei n.º 151-B/2013, de 31 de outubro, na sua
redação atual, que aprova o regime de avaliação de impacte ambiental, sempre que
esteja em causa a realização de operação urbanística sujeita a avaliação de impacte
ambiental (AIA)o pedido de licenciamento ou a apresentação da comunicação prévia
pode ser feito previamente ao pedido de AIA.
4 - Para efeitos do disposto no Decreto-Lei n.º 151-B/2013, de 31 de outubro, na sua
redação atual, que aprova o regime de avaliação de impacte ambiental, sempre que
esteja em causa a realização de operação urbanística sujeita a avaliação de impacte
ambiental (AIA), o pedido de licenciamento ou a apresentação da comunicação prévia
pode ser feito previamente ao pedido de AIA.
5 - As condições previstas na declaração de impacte ambiental (DIA), podem
determinar a alteração ao projeto de operação urbanística sem necessidade de qualquer
formalidade ou pedido adicional junto da câmara municipal, nas seguintes situações:
a) Em caso de ter sido emitida DIA condicionalmente favorável;
b) Quando tenha sido emitida decisão de conformidade condicionada do projeto de
execução com a DIA, no caso de o procedimento de AIA ter sido realizado em fase de
estudo prévio ou de anteprojeto.

Artigo 120.º
Dever de informação

1 - As câmaras municipais e as comissões de coordenação e desenvolvimento regional


têm o dever de informação mútua sobre processos relativos a operações urbanísticas, o
qual deve ser cumprido mediante comunicação a enviar no prazo de 20 dias a contar da
data de receção do respetivo pedido.
2 - Não sendo prestada a informação prevista no número anterior, as entidades que a
tiverem solicitado podem recorrer ao processo de intimação regulado nos artigos 104.º e
seguintes da Lei n.º 15/2002, de 22 de fevereiro, alterada pela Lei n.º 63/2011, de 14 de
dezembro.

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Artigo 121.º
Regime das notificações e comunicações

As notificações e comunicações referidas no presente diploma e dirigidas aos requerentes


efetuam-se através do sistema eletrónico a que se refere o artigo 8.º-A, por correio
eletrónico ou outro meio de transmissão eletrónica de dados, salvo quando estes não
forem possíveis ou se mostrarem inadequados.

Artigo 122.º
Legislação subsidiária

A tudo o que não esteja especialmente previsto no presente diploma aplica-se


subsidiariamente o Código do Procedimento Administrativo.

Artigo 123.º
Relação das disposições legais referentes à construção

Até à codificação das normas técnicas de construção, compete aos membros do Governo
responsáveis pelas obras públicas e pelo ordenamento do território promover a publicação
da relação das disposições legais e regulamentares a observar pelos técnicos responsáveis
dos projetos de obras e sua execução, devendo essa relação constar dos sítios na Internet
dos ministérios em causa.

Artigo 124.º
Depósito legal dos projetos

O Governo regulamentará, no prazo de seis meses a contar da data de entrada em vigor


do presente diploma, o regime do depósito legal dos projetos de urbanização e edificação.

Artigo 125.º
Alvarás anteriores

As alterações aos alvarás emitidos ao abrigo da legislação agora revogada e dos Decretos-
Leis n.º s 166/70, de 15 de abril, 46 673, de 29 de novembro de 1965, 289/73, de 6 de
junho, e 400/84, de 31 de dezembro, regem-se pelo disposto no presente diploma.

Artigo 126.º
Elementos estatísticos

1 - A câmara municipal envia mensalmente para o Instituto Nacional de Estatística os


elementos estatísticos identificados em portaria dos membros do Governo responsáveis
pela administração local e pelo ordenamento do território.
2 - Os suportes a utilizar na prestação da informação referida no número anterior serão
fixados pelo Instituto Nacional de Estatística, após auscultação das entidades envolvidas.

Artigo 127.º
Regiões Autónomas

O regime previsto neste diploma é aplicável às Regiões Autónomas, sem prejuízo do


diploma legal que procede às necessárias adaptações.

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Artigo 128.º
Regime transitório
[Revogado]

Artigo 129.º
Revogações

São revogados:
a) O Decreto-Lei n.º 445/91, de 20 de novembro;
b) O Decreto-Lei n.º 448/91, de 29 de novembro;
c) O Decreto-Lei n.º 83/94, de 14 de março;
d) O Decreto-Lei n.º 92/95, de 9 de maio;
e) Os artigos 9.º, 10.º e 165.º a 168.º do Regulamento Geral das Edificações Urbanas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º
38 382, de 7 de agosto de 1951.

Artigo 130.º
Entrada em vigor

O presente diploma entra em vigor 120 dias após a data da sua publicação.

REGIME JURÍDICO DA REABILITAÇÃO URBANA (RJRU)

Decreto-Lei n.º 307/2009, de 23 de outubro


(última alteração DL n.º 10/2024, de 08/01)

A reabilitação urbana assume-se hoje como uma componente indispensável da política


das cidades e da política de habitação, na medida em que nela convergem os objectivos
de requalificação e revitalização das cidades, em particular das suas áreas mais
degradadas, e de qualificação do parque habitacional, procurando-se um
funcionamento globalmente mais harmonioso e sustentável das cidades e a garantia,
para todos, de uma habitação condigna.

O Programa do XVII Governo Constitucional confere à reabilitação urbana elevada


prioridade, tendo, neste domínio, sido já adoptadas medidas que procuram, de forma
articulada, concretizar os objectivos ali traçados, designadamente ao nível fiscal e
financeiro, cumprindo destacar o regime de incentivos fiscais à reabilitação urbana, por
via das alterações introduzidas pelo Orçamento do Estado para 2009, aprovado pela Lei
n.º 64-A/2008, de 31 de Dezembro, no Estatuto dos Benefícios Fiscais, aprovado pelo
Decreto-Lei n.º 215/89, de 1 de Julho, e a exclusão da reabilitação urbana dos limites do
endividamento municipal.

O regime jurídico da reabilitação urbana que agora se consagra surge da necessidade de


encontrar soluções para cinco grandes desafios que se colocam à reabilitação urbana. São
eles:
a) Articular o dever de reabilitação dos edifícios que incumbe aos privados com a
responsabilidade pública de qualificar e modernizar o espaço, os equipamentos e as
infraestruturas das áreas urbanas a reabilitar;

b) Garantir a complementaridade e coordenação entre os diversos actores, concentrando

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recursos em operações integradas de reabilitação nas «áreas de reabilitação urbana», cuja
delimitação incumbe aos municípios e nas quais se intensificam os apoios fiscais e
financeiros;
c) Diversificar os modelos de gestão das intervenções de reabilitação urbana, abrindo
novas possibilidades de intervenção dos proprietários e outros parceiros privados;

d) Criar mecanismos que permitam agilizar os procedimentos de controlo prévio das


operações urbanísticas de reabilitação;

e) Desenvolver novos instrumentos que permitam equilibrar os direitos dos proprietários


com a necessidade de remover os obstáculos à reabilitação associados à estrutura de
propriedade nestas áreas.

O actual quadro legislativo da reabilitação urbana apresenta um carácter disperso e


assistemático, correspondendo-lhe, sobretudo, a disciplina das áreas de intervenção das
sociedades de reabilitação urbana (SRU) contida no Decreto-Lei n.º 104/2004, de 7 de
Maio, e a figura das áreas críticas de recuperação e reconversão urbanística (ACRRU),
prevista e regulada no capítulo xi da Lei dos Solos, aprovada pelo Decreto-Lei n.º 794/76,
de 5 de Novembro.

Assim, considera-se como objectivo central do presente decreto-lei substituir um regime


que regula essencialmente um modelo de gestão das intervenções de reabilitação urbana,
centrado na constituição, funcionamento, atribuições e poderes das sociedades de
reabilitação urbana, por um outro regime que proceda ao enquadramento normativo da
reabilitação urbana ao nível programático, procedimental e de execução.
Complementarmente, e não menos importante, associa-se à delimitação das áreas de
intervenção (as «áreas de reabilitação urbana») a definição, pelo município, dos
objectivos da reabilitação urbana da área delimitada e dos meios adequados para a sua
prossecução.
Parte-se de um conceito amplo de reabilitação urbana e confere-se especial relevo não
apenas à vertente imobiliária ou patrimonial da reabilitação mas à integração e
coordenação da intervenção, salientando-se a necessidade de atingir soluções coerentes
entre os aspectos funcionais, económicos, sociais, culturais e ambientais das áreas a
reabilitar. Deste modo, começa-se por definir os objectivos essenciais a alcançar através
da reabilitação urbana, e determinar os princípios a que esta deve obedecer.
O presente regime jurídico da reabilitação urbana estrutura as intervenções de reabilitação
com base em dois conceitos fundamentais: o conceito de «área de reabilitação urbana»,
cuja delimitação pelo município tem como efeito determinar a parcela territorial que
justifica uma intervenção integrada no âmbito deste diploma, e o conceito de «operação
de reabilitação urbana», correspondente à estruturação concreta das intervenções a
efectuar no interior da respectiva área de reabilitação urbana.
Procurou-se, desde logo, regular de forma mais clara os procedimentos a que deve
obedecer a definição de áreas a submeter a reabilitação urbana, bem como a programação
e o planeamento das intervenções a realizar nessas mesmas áreas.
A delimitação de área de reabilitação urbana, pelos municípios, pode ser feita através de
instrumento próprio, precedida de parecer do Instituto da Habitação e da Reabilitação
Urbana, I. P., ou por via da aprovação de um plano de pormenor de reabilitação urbana,
correspondendo à respectiva área de intervenção. A esta delimitação é associada a
exigência da determinação dos objectivos e da estratégia da intervenção, sendo este

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também o momento da definição do tipo de operação de reabilitação urbana a realizar e
da escolha da entidade gestora.

Com efeito, numa lógica de flexibilidade e com vista a possibilitar uma mais adequada
resposta em face dos diversos casos concretos verificados, opta-se por permitir a
realização de dois tipos distintos de operação de reabilitação urbana.
No primeiro caso, designado por «operação de reabilitação urbana simples», trata-se de
uma intervenção essencialmente dirigida à reabilitação do edificado, tendo como
objectivo a reabilitação urbana de uma área.

No segundo caso, designado por «operação de reabilitação urbana sistemática», é


acentuada a vertente integrada da intervenção, dirigindo-se à reabilitação do edificado e
à qualificação das infra-estruturas, dos equipamentos e dos espaços verdes e urbanos de
utilização colectiva, com os objectivos de requalificar e revitalizar o tecido urbano.
Num caso como noutro, à delimitação da área de reabilitação urbana atribui-se um
conjunto significativo de efeitos. Entre estes, destaca-se, desde logo, a emergência de uma
obrigação de definição dos benefícios fiscais associados aos impostos municipais sobre o
património. Decorre também daquele acto a atribuição aos proprietários do acesso aos
apoios e incentivos fiscais e financeiros à reabilitação urbana. O acto de delimitação da
área de reabilitação urbana, sempre que se opte por uma operação de reabilitação urbana
sistemática, tem ainda como imediata consequência a declaração de utilidade pública da
expropriação ou da venda forçada dos imóveis existentes ou, bem assim, da constituição
de servidões.

As entidades gestoras das operações de reabilitação urbana podem corresponder ao


próprio município ou a entidades do sector empresarial local existentes ou a criar. Se estas
entidades gestoras de tipo empresarial tiverem por objecto social exclusivo a gestão de
operações de reabilitação urbana, revestem a qualidade de sociedades de reabilitação
urbana, admitindo-se, em casos excepcionais, a participação de capitais do Estado nestas
empresas municipais. Em qualquer caso, cabe ao município, sempre que não promova
directamente a gestão da operação de reabilitação urbana, determinar os poderes da
entidade gestora, por via do instituto da delegação de poderes, sendo certo que se
presume, caso a entidade gestora revista a qualidade de sociedade de reabilitação urbana
e o município nada estabeleça em contrário, a delegação de determinados poderes na
gestora.
O papel dos intervenientes públicos na promoção e condução das medidas necessárias à
reabilitação urbana surge mais bem delineado, não deixando, no entanto, de se destacar o
dever de reabilitação dos edifícios ou fracções a cargo dos respectivos proprietários.
No que concerne a estes últimos, e aos demais interessados na operação de reabilitação
urbana, são reforçadas as garantias de participação, quer ao nível das consultas
promovidas aquando da delimitação das áreas de reabilitação urbana e da elaboração dos
instrumentos de estratégia e programação das intervenções a realizar quer no âmbito da
respectiva execução.

A este respeito, é devidamente enquadrado o papel dos diversos actores públicos e


privados na prossecução das tarefas de reabilitação urbana. De modo a promover a
participação de particulares neste domínio, permite-se às entidades gestoras o recurso a
parcerias com entidades privadas, as quais podem ser estruturadas de várias formas, desde
a concessão da reabilitação urbana à administração conjunta entre entidade gestora e
proprietários.

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Especialmente relevante no presente decreto-lei é a regulação dos planos de pormenor de
reabilitação urbana, já previstos no regime jurídico dos instrumentos de gestão territorial,
aprovado pelo Decreto-Lei n.º 380/99, de 22 de Setembro, como modalidade específica
de planos de pormenor, quer no que respeita ao seu conteúdo material e documental quer
no que diz respeito às regras procedimentais de elaboração e acompanhamento. Procura-
se ainda a devida articulação com os planos de pormenor de salvaguarda do património
cultural.
O objectivo visado é, sobretudo, o de permitir uma melhor integração entre as políticas
de planeamento urbanístico municipal e as políticas de reabilitação respectivas, sendo,
em qualquer caso, de elaboração facultativa.

Importantíssimo efeito associado à aprovação dos planos de pormenor de reabilitação


urbana é o de habilitar a dispensa de audição das entidades públicas a consultar no âmbito
dos procedimentos de controlo prévio das operações urbanísticas na área de intervenção
do plano sempre que aquelas entidades hajam dado parecer favorável ao mesmo. Trata-
se de uma significativa simplificação dos procedimentos de licenciamento e comunicação
prévia das operações urbanísticas.

Também o controlo de operações urbanísticas realizadas em área de reabilitação urbana


é objecto de um conjunto de regras especiais consagradas no presente regime jurídico.
Destaca-se, neste aspecto, a possibilidade de delegação daqueles poderes por parte dos
municípios nas entidades gestoras, expressa ou tacitamente, o que se faz também
acompanhar de um conjunto de regras procedimentais destinadas a agilizar os
procedimentos de licenciamento quando promovidos por entidades gestoras.
No que respeita aos instrumentos de política urbanística, procuraram reunir-se as diversas
figuras que se encontravam dispersas na legislação em vigor, agrupando-se os
mecanismos essenciais à materialização das escolhas públicas em matéria de reabilitação.
Especialmente inovador no actual quadro jurídico nacional, embora recuperando um
instituto com tradições antigas na legislação urbanística portuguesa, é o mecanismo da
venda forçada de imóveis, que obriga os proprietários que não realizem as obras e
trabalhos ordenados à sua alienação em hasta pública, permitindo assim a sua substituição
por outros que, sem prejuízo da sua utilidade particular, estejam na disponibilidade de
realizar a função social da propriedade. O procedimento de venda forçada é construído
de forma próxima ao da expropriação, consagrando-se as garantias equivalentes às
previstas no Código das Expropriações e garantindo-se o pagamento ao proprietário de
um valor nunca inferior ao de uma justa indemnização.

Para além de instrumentos jurídicos tradicionalmente utilizados no domínio do direito do


urbanismo (por exemplo a expropriação, a constituição de servidões ou a reestruturação
da propriedade), permite-se ainda aos municípios a criação de um regime especial de
taxas, visando-se assim criar um incentivo à realização de operações urbanísticas.
Considerando a especial sensibilidade da matéria em questão, consagra-se um capítulo à
participação de interessados e à concertação de interesses, tratando-se especificamente
dos direitos dos ocupantes de edifícios ou fracções.

Finalmente, dedica-se o último capítulo à matéria do financiamento, aspecto fulcral na


reabilitação urbana. Embora esta matéria não seja objecto de regulamentação exaustiva,
não deixa de ser relevante o facto de se prever aqui a possibilidade de concessão de apoios
financeiros por parte do Estado e dos municípios às entidades gestoras, abrindo-se ainda
a porta à constituição de fundos de investimento imobiliário dedicados à reabilitação

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urbana.
Foram ouvidos os órgãos de governo próprio das Regiões Autónomas e a Associação
Nacional de Municípios Portugueses.

Assim:
No uso da autorização legislativa concedida pela Lei n.º 95-A/2009, de 2 de Setembro, e
nos termos das alíneas a) e b) do n.º 1 do artigo 198.º da Constituição, o Governo decreta
o seguinte:

PARTE I
Disposições gerais

Artigo 1.º
Objeto

O presente decreto-lei estabelece o regime jurídico da reabilitação urbana.

Artigo 2.º
Definições

Para efeitos de aplicação do presente decreto-lei, entende-se por:

a) «Acessibilidade» o conjunto das condições de acesso e circulação em edifícios, bem


como em espaços públicos, permitindo a movimentação livre, autónoma e independente
a qualquer pessoa, em especial às pessoas com mobilidade condicionada;

b) «Área de reabilitação urbana» a área territorialmente delimitada que, em virtude da


insuficiência, degradação ou obsolescência dos edifícios, das infraestruturas, dos
equipamentos de utilização coletiva e dos espaços urbanos e verdes de utilização coletiva,
designadamente no que se refere às suas condições de uso, solidez, segurança, estética ou
salubridade, justifique uma intervenção integrada, através de uma operação de
reabilitação urbana aprovada em instrumento próprio ou em plano de pormenor de
reabilitação urbana;

c) «Edifício» a construção permanente, dotada de acesso independente, coberta, limitada


por paredes exteriores ou paredes meeiras que vão das fundações à cobertura, destinada
a utilização humana ou a outros fins;

d) «Imóvel devoluto» o edifício ou a fração que assim for considerado nos termos dos
artigos 2.º e 3.º do Decreto-Lei n.º 159/2006, de 8 de agosto;

e) «Entidade gestora» a entidade responsável pela gestão e coordenação da operação de


reabilitação urbana relativa a uma área de reabilitação urbana;

f) «Fração» a parte autónoma de um edifício que reúna os requisitos estabelecidos no


artigo 1415.º do Código Civil, esteja ou não o mesmo constituído em regime de
propriedade horizontal;

g) «Habitação» a unidade na qual se processa a vida de um agregado residente no


edifício, a qual compreende o fogo e as suas dependências;

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h) «Operação de reabilitação urbana» o conjunto articulado de intervenções visando,
de forma integrada, a reabilitação urbana de uma determinada área;

i) «Reabilitação de edifícios» a forma de intervenção destinada a conferir adequadas


características de desempenho e de segurança funcional, estrutural e construtiva a um ou
a vários edifícios, às construções funcionalmente adjacentes incorporadas no seu
logradouro, bem como às frações eventualmente integradas nesse edifício, ou a conceder-
lhes novas aptidões funcionais, determinadas em função das opções de reabilitação
urbana prosseguidas, com vista a permitir novos usos ou o mesmo uso com padrões de
desempenho mais elevados, podendo compreender uma ou mais operações urbanísticas;

j) «Reabilitação urbana» a forma de intervenção integrada sobre o tecido urbano


existente, em que o património urbanístico e imobiliário é mantido, no todo ou em parte
substancial, e modernizado através da realização de obras de remodelação ou
beneficiação dos sistemas de infraestruturas urbanas, dos equipamentos e dos
espaços urbanos ou verdes de utilização coletiva e de obras de construção,
reconstrução, ampliação, alteração, conservação ou demolição dos edifícios;

k) «Unidade de intervenção» a área geograficamente delimitada a sujeitar a uma


intervenção específica de reabilitação urbana, no âmbito de uma operação de reabilitação
urbana sistemática aprovada através de instrumento próprio, com identificação de todos
os prédios abrangidos, podendo corresponder à totalidade ou a parte da área abrangida
por aquela operação ou, em casos de particular interesse público, a um edifício.

Nota: O Decreto Regulamentar que define conceitos técnicos do urbanismo define a “operação de
reabilitação urbana” como “o conjunto articulado de intervenções visando, de forma integrada, a
reabilitação urbana de uma determinada área”.

Nota: O Decreto Regulamentar que define conceitos técnicos do urbanismo (de setembro de 2019) define
as “operações urbanísticas” como “as operações materiais de urbanização, de edificação, utilização dos
edifícios ou do solo desde que, neste último caso, para fins não exclusivamente agrícolas, pecuários,
florestais, mineiros ou de abastecimento público de água”.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define as “infraestruturas urbanas” como “os sistemas técnicos de suporte direto ao funcionamento dos
aglomerados urbanos ou da edificação em conjunto”.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define “equipamentos de utilização coletiva” como “as edificações e os espaços não edificados afetos à
provisão de bens e serviços destinados à satisfação das necessidades coletivas dos cidadãos,
designadamente nos domínios da saúde, da educação, da cultura e do desporto, da justiça, da segurança
social, da segurança pública e da proteção civil”.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos técnicos para a área do urbanismo (de setembro de
2019) define “área de reabilitação urbana” como “a área territorialmente delimitada que, em virtude da
insuficiência, degradação ou obsolescência dos edifícios, das infraestruturas, dos equipamentos de
utilização coletiva e dos espaços urbanos e verdes de utilização coletiva, designadamente no que se refere
às suas condições de uso, solidez, segurança, estética ou salubridade, justifique uma intervenção integrada,
através de uma operação de reabilitação urbana aprovada em instrumento próprio ou em plano de pormenor
de reabilitação urbana”. Esta definição corresponde à definição adotada no Decreto-Lei n.º 307/2009, de
23 de outubro.

Artigo 3.º
Objetivos

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A reabilitação urbana deve contribuir, de forma articulada, para a prossecução dos
seguintes objetivos:
a) Assegurar a reabilitação dos edifícios que se encontram degradados ou
funcionalmente inadequados;
b) Reabilitar tecidos urbanos degradados ou em degradação;
c) Melhorar as condições de habitabilidade e de funcionalidade do parque
imobiliário urbano e dos espaços não edificados;
d) Garantir a proteção e promover a valorização do património cultural;
e) Afirmar os valores patrimoniais, materiais e simbólicos como fatores de identidade,
diferenciação e competitividade urbana;
f) Modernizar as infraestruturas urbanas;
g) Promover a sustentabilidade ambiental, cultural, social e económica dos espaços
urbanos;
h) Fomentar a revitalização urbana, orientada por objetivos estratégicos de
desenvolvimento urbano, em que as ações de natureza material são concebidas de forma
integrada e ativamente combinadas na sua execução com intervenções de natureza
social e económica;
i) Assegurar a integração funcional e a diversidade económica e sócio-cultural nos
tecidos urbanos existentes;
j) Requalificar os espaços verdes, os espaços urbanos e os equipamentos de
utilização coletiva;
k) Qualificar e integrar as áreas urbanas especialmente vulneráveis, promovendo a
inclusão social e a coesão territorial;
l) Assegurar a igualdade de oportunidades dos cidadãos no acesso às infraestruturas,
equipamentos, serviços e funções urbanas;
m) Desenvolver novas soluções de acesso a uma habitação condigna;
n) Recuperar espaços urbanos funcionalmente obsoletos, promovendo o seu
potencial para atrair funções urbanas inovadoras e competitivas;
o) Promover a melhoria geral da mobilidade, nomeadamente através de uma melhor
gestão da via pública e dos demais espaços de circulação;
p) Promover a criação e a melhoria das acessibilidades para cidadãos com mobilidade
condicionada;
q) Fomentar a adoção de critérios de eficiência energética em edifícios públicos e
privados.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define “equipamentos de utilização coletiva” como “as edificações e os espaços não edificados afetos à
provisão de bens e serviços destinados à satisfação das necessidades coletivas dos cidadãos,
designadamente nos domínios da saúde, da educação, da cultura e do desporto, da justiça, da segurança
social, da segurança pública e da proteção civil”.

Artigo 4.º
Princípios gerais

A política de reabilitação urbana obedece aos seguintes princípios:


a) Princípio da responsabilização dos proprietários e titulares de outros direitos,
ónus e encargos sobre os edifícios, conferindo-se à sua iniciativa um papel
preponderante na reabilitação do edificado e sendo-lhes, nessa medida, imputados
os custos inerentes a esta atividade;
b) Princípio da subsidiariedade da ação pública, garantindo que as ações de

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reabilitação urbana relativas a espaços privados são diretamente promovidas por
entidades públicas apenas na medida em que os particulares, quer isoladamente
quer em cooperação com aquelas, não as assegurem ou não possam assegurá-las;
c) Princípio da solidariedade intergeracional, assegurando a transmissão às
gerações futuras de espaços urbanos corretamente ordenados e conservados;
d) Princípio da sustentabilidade, garantindo que a intervenção assente num modelo
financeiramente sustentado e equilibrado e contribuindo para valorizar as áreas
urbanas e os edifícios intervencionados através de soluções inovadoras e sustentáveis
do ponto de vista sócio-cultural e ambiental;
e) Princípio da integração, preferindo a intervenção em áreas cuja delimitação permita
uma resposta adequada e articulada às componentes morfológica, económica,
social, cultural e ambiental do desenvolvimento urbano;
f) Princípio da coordenação, promovendo a convergência, a articulação, a
compatibilização e a complementaridade entre as várias ações de iniciativa pública,
entre si, e entre estas e as ações de iniciativa privada;
g) Princípio da contratualização, incentivando modelos de execução e promoção de
operações de reabilitação urbana e de operações urbanísticas tendentes à reabilitação
urbana baseados na concertação entre a iniciativa pública e a iniciativa privada;
h) Princípio da proteção do existente, permitindo a realização de intervenções no
edificado que, embora não cumpram o disposto em todas as disposições legais e
regulamentares aplicáveis à data da intervenção, não agravam a desconformidade dos
edifícios relativamente a estas disposições ou têm como resultado a melhoria das
condições de segurança e salubridade da edificação ou delas resulta uma melhoria das
condições de desempenho e segurança funcional, estrutural e construtiva da edificação e
o sacrifício decorrente do cumprimento daquelas disposições seja desproporcionado em
face da desconformidade criada ou agravada pela realização da intervenção;
i) Princípio da justa ponderação, promovendo uma adequada ponderação de todos
os interesses relevantes em face das operações de reabilitação urbana, designadamente
os interesses dos proprietários ou de outros titulares de direitos sobre edifícios objeto
de operações de reabilitação;
j) Princípio da equidade, assegurando a justa repartição dos encargos e benefícios
decorrentes da execução das operações de reabilitação urbana.

Artigo 5.º
Dever de promoção da reabilitação urbana
Incumbe ao Estado, às Regiões Autónomas e às autarquias locais assegurar, no
quadro do presente decreto-lei e dos demais regimes jurídicos aplicáveis, a promoção
das medidas necessárias à reabilitação de áreas urbanas que dela careçam.

Artigo 6.º
Dever de reabilitação de edifícios
1 - Os proprietários de edifícios ou frações têm o dever de assegurar a sua
reabilitação, nomeadamente realizando todas as obras necessárias à manutenção ou
reposição da sua segurança, salubridade e arranjo estético, nos termos previstos no
presente decreto-lei.
2 - Os proprietários e os titulares de outros direitos, ónus e encargos sobre edifício ou
frações não podem, dolosa ou negligentemente, provocar ou agravar uma situação
de falta de segurança ou de salubridade, provocar a sua deterioração ou prejudicar
o seu arranjo estético.

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Nota: O dever de reabilitar consagrado neste art.º 6.º, surge no seguimento do princípio da
responsabilização, consagrado no art.º 4.º, al. a), deste mesmo diploma. Como resulta do art.º 6.º, n.º 2, o
dever de reabilitar surge associado a um dever de não provocar ou agravar a situação existente.

PARTE II
Regime da reabilitação urbana em áreas de reabilitação urbana

CAPÍTULO I
Disposições gerais

Artigo 7.º
Áreas de reabilitação urbana

1 - A reabilitação urbana em áreas de reabilitação urbana é promovida pelos


municípios, resultando da aprovação:
a) Da delimitação de áreas de reabilitação urbana; e
b) Da operação de reabilitação urbana a desenvolver nas áreas delimitadas de acordo
com a alínea anterior, através de instrumento próprio ou de um plano de pormenor de
reabilitação urbana.
2 - A aprovação da delimitação de áreas de reabilitação urbana e da operação de
reabilitação urbana pode ter lugar em simultâneo.
3 - A aprovação da delimitação de áreas de reabilitação urbana pode ter lugar em
momento anterior à aprovação da operação de reabilitação urbana a desenvolver nessas
áreas.
4 - A cada área de reabilitação urbana corresponde uma operação de reabilitação urbana.

Artigo 8.º
Operações de reabilitação urbana

1 - Os municípios podem optar pela realização de uma operação de reabilitação


urbana:
a) Simples; ou
b) Sistemática.
2 - A operação de reabilitação urbana simples consiste numa intervenção integrada
de reabilitação urbana de uma área, dirigindo-se primacialmente à reabilitação do
edificado, num quadro articulado de coordenação e apoio da respetiva execução.
3 - A operação de reabilitação urbana sistemática consiste numa intervenção
integrada de reabilitação urbana de uma área, dirigida à reabilitação do edificado e à
qualificação das infraestruturas, dos equipamentos e dos espaços verdes e urbanos
de utilização coletiva, visando a requalificação e revitalização do tecido urbano,
associada a um programa de investimento público.
4 - As operações de reabilitação urbana simples e sistemática são enquadradas por
instrumentos de programação, designados, respetivamente, de estratégia de reabilitação
urbana ou de programa estratégico de reabilitação urbana.
5 - O dever de reabilitação que impende sobre os proprietários e titulares de outros
direitos, ónus e encargos sobre edifícios ou frações compreendidos numa área de
reabilitação urbana é densificado em função dos objetivos definidos na estratégia de
reabilitação urbana ou no programa estratégico de reabilitação urbana.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos técnicos para a área do urbanismo (de setembro de
2019) define “área de reabilitação urbana” como “a área territorialmente delimitada que, em virtude da

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insuficiência, degradação ou obsolescência dos edifícios, das infraestruturas, dos equipamentos de
utilização coletiva e dos espaços urbanos e verdes de utilização coletiva, designadamente no que se refere
às suas condições de uso, solidez, segurança, estética ou salubridade, justifique uma intervenção integrada,
através de uma operação de reabilitação urbana aprovada em instrumento próprio ou em plano de pormenor
de reabilitação urbana”. Esta definição corresponde à definição adotada no Decreto-Lei n.º 307/2009, de
23 de outubro.

Artigo 9.º
Entidade gestora

As operações de reabilitação urbana são coordenadas e geridas por uma entidade gestora.

Artigo 10.º
Tipos de entidade gestora

1 - Podem revestir a qualidade de entidade gestora:


a) O município;
b) Uma empresa do setor empresarial local.
2 - Quando a empresa referida na alínea b) do número anterior tenha por objeto social
exclusivo a gestão de operações de reabilitação urbana, adota a designação de
sociedade de reabilitação urbana.
3 - O tipo de entidade gestora é adotado, de entre os referidos no n.º 1, na estratégia de
reabilitação urbana ou no programa estratégico de reabilitação urbana.

Nota: Uma das sociedades de reabilitação urbana mais importantes pela extensão da sua ação é a Lisboa
Ocidental SRU. Outros exemplos: Porto Vivo SRU (Sociedade de Reabilitação Urbana do Porto, E.M.,
S.A.), Coimbra Viva, Viseu Novo SRU.

Nota: As sociedades de reabilitação urbana surgiram com o D.L n.º 104/2004, de 7 de maio, diploma que
entretanto foi revogado pelo atual Regime Jurídico da Reabilitação Urbana.

Artigo 11.º
Modelos de execução das operações de reabilitação urbana

1 - Para efeitos do presente regime, podem ser adotados os seguintes modelos de


execução das operações de reabilitação urbana:
a) Por iniciativa dos particulares;
b) Por iniciativa das entidades gestoras.
2 - Nos casos referidos na alínea a) do número anterior, a execução das operações de
reabilitação urbana pode desenvolver-se através da modalidade de execução pelos
particulares com o apoio da entidade gestora ou através da modalidade de
administração conjunta.
3 - Nos casos referidos na alínea b) do n.º 1, a execução das operações de reabilitação
urbana pode desenvolver-se através das seguintes modalidades:
a) Execução direta pela entidade gestora;
b) Execução através de administração conjunta;
c) Execução através de parcerias com entidades privadas.
4 - As parcerias com entidades privadas referidas na alínea c) do número anterior
concretizam-se através de:
a) Concessão da reabilitação;
b) Contrato de reabilitação urbana.

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5 - As parcerias com entidades privadas só podem ser adotadas no âmbito de operações
de reabilitação urbana sistemática, no âmbito de unidade de intervenção ou de execução.

CAPÍTULO II
Regime das áreas de reabilitação urbana

SECÇÃO I
Disposição geral

Artigo 12.º
Objeto das áreas de reabilitação urbana

1 - As áreas de reabilitação urbana incidem sobre espaços urbanos que, em virtude


da insuficiência, degradação ou obsolescência dos edifícios, das infraestruturas
urbanas, dos equipamentos ou dos espaços urbanos e verdes de utilização coletiva,
justifiquem uma intervenção integrada.
2 - As áreas de reabilitação urbana podem abranger, designadamente, áreas e centros
históricos, património cultural imóvel classificado ou em vias de classificação e
respetivas zonas de proteção, áreas urbanas degradadas ou zonas urbanas
consolidadas.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define as “infraestruturas urbanas” como “os sistemas técnicos de suporte direto ao funcionamento dos
aglomerados urbanos ou da edificação em conjunto”.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos técnicos para a área do urbanismo (de setembro de
2019) define “área de reabilitação urbana” como “a área territorialmente delimitada que, em virtude da
insuficiência, degradação ou obsolescência dos edifícios, das infraestruturas, dos equipamentos de
utilização coletiva e dos espaços urbanos e verdes de utilização coletiva, designadamente no que se refere
às suas condições de uso, solidez, segurança, estética ou salubridade, justifique uma intervenção integrada,
através de uma operação de reabilitação urbana aprovada em instrumento próprio ou em plano de pormenor
de reabilitação urbana”. Esta definição corresponde à definição adotada no Decreto-Lei n.º 307/2009, de
23 de outubro.

SECÇÃO II
Delimitação de áreas de reabilitação urbana

Artigo 13.º
Aprovação e alteração

1 - A delimitação das áreas de reabilitação urbana é da competência da assembleia


municipal, sob proposta da câmara municipal.
2 - A proposta de delimitação de uma área de reabilitação urbana é devidamente
fundamentada e contém:
a) A memória descritiva e justificativa, que inclui os critérios subjacentes à delimitação
da área abrangida e os objetivos estratégicos a prosseguir;
b) A planta com a delimitação da área abrangida;
c) O quadro dos benefícios fiscais associados aos impostos municipais, nos termos da
alínea a) do artigo 14.º
3 - Para os efeitos previstos no número anterior, pode a câmara municipal encarregar
uma entidade de entre as mencionadas na alínea b) do n.º 1 do artigo 10.º da preparação
do projeto de delimitação das áreas de reabilitação urbana, estabelecendo previamente

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os respetivos objetivos.
4 - O ato de aprovação da delimitação da área de reabilitação urbana integra os
elementos referidos no n.º 2 e é publicado através de aviso na 2.ª série do Diário da
República e divulgado na página eletrónica do município.
5 - Simultaneamente com o envio para publicação do aviso referido no número anterior,
a câmara municipal remete ao Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, I. P., por
meios eletrónicos, o ato de aprovação da delimitação da área de reabilitação urbana.
6 - O disposto no presente artigo é aplicável à alteração da delimitação de uma área de
reabilitação urbana.

Artigo 14.º
Efeitos

A delimitação de uma área de reabilitação urbana:


a) Obriga à definição, pelo município, dos benefícios fiscais associados aos impostos
municipais sobre o património, designadamente o imposto municipal sobre imóveis
(IMI) e o imposto municipal sobre as transmissões onerosas de imóveis (IMT), nos
termos da legislação aplicável;
b) Confere aos proprietários e titulares de outros direitos, ónus e encargos sobre os
edifícios ou frações nela compreendidos o direito de acesso aos apoios e incentivos
fiscais e financeiros à reabilitação urbana, nos termos estabelecidos na legislação
aplicável, sem prejuízo de outros benefícios e incentivos relativos ao património
cultural.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos técnicos para a área do urbanismo (de setembro
de 2019) define “área de reabilitação urbana” como “a área territorialmente delimitada que, em virtude
da insuficiência, degradação ou obsolescência dos edifícios, das infraestruturas, dos equipamentos de
utilização coletiva e dos espaços urbanos e verdes de utilização coletiva, designadamente no que se refere
às suas condições de uso, solidez, segurança, estética ou salubridade, justifique uma intervenção
integrada, através de uma operação de reabilitação urbana aprovada em instrumento próprio ou em plano
de pormenor de reabilitação urbana”. Esta definição corresponde à definição adotada no Decreto-Lei n.º
307/2009, de 23 de outubro.

Artigo 15.º
Âmbito temporal

1- No caso de a aprovação da delimitação de uma área de reabilitação urbana não ter lugar
em simultâneo com a aprovação da operação de reabilitação urbana a desenvolver nessa
área, aquela delimitação caduca se, no prazo de três anos, não for aprovada a
correspondente operação de reabilitação.
2-A caducidade prevista no número anterior não produz efeitos relativamente a
proprietários e titulares de outros direitos, ónus e encargos sobre os edifícios ou frações,
aos quais tenham sido concedidos benefícios fiscais ao abrigo do artigo 14.º.

SECÇÃO III
Operações de reabilitação urbana

Artigo 16.º
Aprovação das operações de reabilitação urbana

As operações de reabilitação urbana são aprovadas através de instrumento próprio


ou de plano de pormenor de reabilitação urbana, que contêm:
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a) A definição do tipo de operação de reabilitação urbana; e
b) A estratégia de reabilitação urbana ou o programa estratégico de reabilitação
urbana, consoante a operação de reabilitação urbana seja simples ou sistemática.

Artigo 17.º
Aprovação de operações de reabilitação urbana através de instrumento próprio

1 - A aprovação de operações de reabilitação urbana através de instrumento próprio é


da competência da assembleia municipal, sob proposta da câmara municipal.
2 - A câmara municipal pode encarregar uma entidade de entre as mencionadas na
alínea b) do n.º 1 do artigo 10.º da preparação do projeto de operação de reabilitação
urbana, estabelecendo previamente os respetivos objetivos e os prazos para a conclusão
dos trabalhos.
3 - O projeto de operação de reabilitação urbana é remetido ao Instituto da Habitação e
da Reabilitação Urbana, I. P., por meios eletrónicos, para emissão de parecer não
vinculativo no prazo de 15 dias.
4 - Simultaneamente com a remessa a que se refere o número anterior, o projeto de
operação de reabilitação urbana é submetido a discussão pública, a promover nos
termos previstos no regime jurídico dos instrumentos de gestão territorial (RJIGT),
aprovado pelo Decreto-Lei n.º 380/99, de 22 de setembro, alterado pelos Decretos-Leis
n.º s 53/2000, de 7 de abril, e 310/2003, de 10 de dezembro, pelas Leis n.º s 58/2005, de
29 de dezembro, e 56/2007, de 31 de agosto, pelos Decretos-Leis n.º s 316/2007, de 19
de setembro, 46/2009, de 20 de fevereiro, 181/2009, de 7 de agosto, e 2/2011, de 6 de
janeiro, para a discussão pública dos planos de pormenor.
5 - O ato de aprovação de operação de reabilitação urbana integra os elementos
previstos no artigo anterior e é publicado através de aviso na 2.ª série do Diário da
República e divulgado na página eletrónica do município.
6 - O procedimento previsto no presente artigo pode ocorrer simultaneamente com a
elaboração, alteração ou revisão de instrumentos de gestão territorial de âmbito
municipal, sendo, nessas circunstâncias, submetido ao respetivo processo de
acompanhamento, participação e aprovação pela assembleia municipal.

Artigo 18.º
Aprovação de operações de reabilitação urbana através de plano de
pormenor de reabilitação urbana

A aprovação de operações de reabilitação urbana pode ter lugar através de um plano de


pormenor de reabilitação urbana, nos termos regulados na secção seguinte.

Artigo 19.º
Efeito

A aprovação de uma operação de reabilitação urbana obriga a respetiva entidade gestora


a promovê-la, no quadro do presente decreto-lei.

Artigo 20.º
Âmbito temporal

1 - A operação de reabilitação urbana aprovada através de instrumento próprio vigora


pelo prazo fixado na estratégia de reabilitação urbana ou no programa estratégico de

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reabilitação urbana, com possibilidade de prorrogação, não podendo, em qualquer caso,
vigorar por prazo superior a 15 anos a contar da data da referida aprovação.
2 - A prorrogação prevista no número anterior é aprovada pela assembleia municipal,
sob proposta da câmara municipal.
3 - A operação de reabilitação urbana aprovada através de plano de pormenor de
reabilitação urbana vigora pelo prazo de execução do mesmo, não podendo, em
qualquer caso, vigorar por prazo superior a 15 anos a contar da data da referida aprovação.
4 - O disposto nos números anteriores não obsta a que, findos aqueles prazos, possa ser
aprovada nova operação de reabilitação urbana que abranja a mesma área.

Artigo 20.º-A
Acompanhamento e avaliação da operação de reabilitação urbana

1 - A entidade gestora elabora anualmente um relatório de monitorização de operação


de reabilitação em curso, o qual deve ser submetido à apreciação da assembleia municipal.
2 - A cada cinco anos de vigência da operação de reabilitação urbana, a câmara municipal
deve submeter à apreciação da assembleia municipal um relatório de avaliação da
execução dessa operação, acompanhado, se for caso disso, de uma proposta de alteração
do respetivo instrumento de programação.
3 - Os relatórios referidos nos números anteriores e os termos da sua apreciação pela
assembleia municipal são obrigatoriamente objeto de divulgação na página eletrónica do
município.

Artigo 20.º-B
Alteração do tipo de operação de reabilitação urbana e dos
instrumentos de programação

1 - À alteração do tipo de operação de reabilitação urbana aprovada através de


instrumento próprio é aplicável o disposto no artigo 17.º, não havendo lugar a discussão
pública se se tratar de alteração de operação de sistemática para simples.
2 - Os instrumentos de programação podem ser alterados a todo o tempo.
3 - A alteração dos instrumentos de programação é da competência da assembleia
municipal, sob proposta da câmara municipal.
4 - O ato de aprovação da alteração dos instrumentos de programação é publicado
através de aviso na 2.ª série do Diário da República e divulgado na página eletrónica do
município.

SECÇÃO IV
Planos de pormenor de reabilitação urbana

Artigo 21.º
Regime jurídico aplicável aos planos de pormenor de reabilitação urbana

1 - O plano de pormenor de reabilitação urbana obedece ao disposto no RJIGT,


com as especificidades introduzidas pelo presente decreto-lei.
2 - Sempre que a área de intervenção do plano de pormenor de reabilitação urbana
contenha ou coincida com património cultural imóvel classificado ou em vias de
classificação, e respetivas zonas de proteção, que determine, nos termos da Lei n.º
107/2001, de 8 de setembro, a elaboração de um plano de pormenor de salvaguarda do
património cultural, cabe ao plano de pormenor de reabilitação urbana a prossecução

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dos seus objetivos e fins de proteção, dispensando a elaboração daquele.
3 - Nos casos previstos no número anterior e na parte que respeita ao património
cultural imóvel classificado ou em vias de classificação e respetivas zonas de proteção,
o plano de pormenor de reabilitação urbana obedece ainda ao disposto nos n.º s 1 e 3 do
artigo 53.º da Lei n.º 107/2001, de 8 de setembro.

Artigo 22.º
Objeto (conteúdo?) dos planos de pormenor de reabilitação urbana

O plano de pormenor de reabilitação urbana estabelece a estratégia integrada de


atuação e as regras de uso e ocupação do solo e dos edifícios necessárias para
promover e orientar a valorização e modernização do tecido urbano e a revitalização
económica, social e cultural na sua área de intervenção.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define o “índice de ocupação do solo” (Iu) como “o quociente entre a área total de implantação (∑Ai) e a
área de solo (As) a que o índice diz respeito, expresso em percentagem”.

Artigo 23.º
Âmbito territorial dos planos de pormenor de reabilitação urbana
(Objeto)

1 - O plano de pormenor de reabilitação urbana incide sobre uma área do território


municipal que, em virtude da insuficiência, degradação ou obsolescência dos edifícios,
das infraestruturas, dos equipamentos de utilização coletiva e dos espaços urbanos e
verdes de utilização coletiva, designadamente no que se refere às suas condições de uso,
solidez, segurança, estética ou salubridade, justifique uma intervenção integrada.
2 - Caso a área de intervenção do plano de pormenor de reabilitação urbana contenha ou
coincida, ainda que parcialmente, com área previamente delimitada como área de
reabilitação urbana em instrumento próprio, esta considera-se redelimitada de acordo com
a área de intervenção do plano.
3 - No caso previsto no número anterior, quando a área de intervenção do plano de
pormenor não abranger integralmente a área previamente delimitada como área de
reabilitação urbana em instrumento próprio, deve proceder-se à redelimitação ou
revogação da área não abrangida pela área de intervenção do plano em simultâneo com o
ato de aprovação deste instrumento de gestão territorial.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define “equipamentos de utilização coletiva” como “as edificações e os espaços não edificados afetos à
provisão de bens e serviços destinados à satisfação das necessidades coletivas dos cidadãos,
designadamente nos domínios da saúde, da educação, da cultura e do desporto, da justiça, da segurança
social, da segurança pública e da proteção civil”.

Artigo 24.º
Conteúdo material dos planos de pormenor de reabilitação urbana

1 - Além do conteúdo material próprio dos planos de pormenor nos termos do artigo
91.º do RJIGT, o plano de pormenor de reabilitação urbana deve adotar um conteúdo
material específico adaptado à finalidade de promoção da reabilitação urbana na
sua área de intervenção, estabelecendo nomeadamente:
a) A delimitação das unidades de execução, para efeitos de programação da execução
do plano;
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b) A identificação e articulação, numa perspetiva integrada e sequenciada, dos
principais projetos e ações a desenvolver em cada unidade de execução;
c) Os princípios e as regras de uso do solo e dos edifícios, com vista à:
i) Valorização e proteção dos bens patrimoniais, culturais, naturais e paisagísticos
existentes na sua área de intervenção;
ii) Sua adequação à estratégia de revitalização económica, social e cultural da sua área
de intervenção, em articulação com as demais políticas urbanas do município;
d) A identificação e classificação sistemática dos edifícios, das infraestruturas
urbanas, dos equipamentos e dos espaços urbanos e verdes de utilização coletiva de
cada unidade de execução, estabelecendo as suas necessidades e finalidades de
reabilitação e modernização ou prevendo a sua demolição, quando aplicável.
2 - Sem prejuízo do disposto na alínea a) do número anterior, a delimitação ou a
redelimitação das unidades de execução, mesmo que constantes do plano de pormenor
de reabilitação urbana, pode ser feita na fase de execução do plano, por iniciativa da
entidade gestora ou dos proprietários.
3 - Os planos de pormenor de reabilitação urbana cuja área de intervenção contenha ou
coincida com património cultural imóvel classificado ou em vias de classificação, e
respetivas zonas de proteção, prosseguem os objetivos e fins dos planos de pormenor de
salvaguarda de património cultural, tendo também para aquelas áreas o conteúdo deste
plano, consagrando as regras e os princípios de salvaguarda e valorização do património
classificado ou em vias de classificação e respetivas zonas de proteção estabelecidos na
Lei n.º 107/2001, de 8 de setembro, e respetiva legislação de desenvolvimento.

Artigo 25.º
Conteúdo documental dos planos de pormenor de reabilitação urbana

1 - Para além do disposto no artigo 92.º do RJIGT, o plano de pormenor de reabilitação


urbana é acompanhado pelos instrumentos de programação da operação de reabilitação
urbana a que se refere o n.º 4 do artigo 8.º
2 - Às alterações do tipo de operação de reabilitação urbana é aplicável o disposto no n.º
1 do artigo 20.º-B.
3 - As alterações à estratégia de reabilitação urbana ou ao programa estratégico de
reabilitação urbana que não impliquem alteração do plano de pormenor de reabilitação
urbana seguem o procedimento regulado nos n.º s 2, 3 e 4 do artigo 20.º-B.

Artigo 26.º
Elaboração dos planos de pormenor de reabilitação urbana

1 - A elaboração do plano de pormenor de reabilitação urbana compete à câmara


municipal, por iniciativa própria ou mediante proposta apresentada pelos interessados,
sendo determinada por deliberação, a publicar e divulgar nos termos do n.º 1 do artigo
74.º do RJIGT.
2 - Na deliberação referida no número anterior, a câmara municipal define os termos de
referência do plano de pormenor, os quais integram, sempre que a prevista área de
intervenção do plano abranja uma área de reabilitação urbana já delimitada em
instrumento próprio, a estratégia de reabilitação urbana ou o programa estratégico de
reabilitação urbana em causa.
3 - A câmara municipal pode, na deliberação referida no n.º 1, encarregar uma entidade
de entre as mencionadas na alínea b) do n.º 1 do artigo 10.º da preparação do projeto do
plano de pormenor e dos elementos que o acompanham.

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4 - Nas situações em que já exista estratégia de reabilitação urbana ou programa
estratégico de reabilitação urbana em vigor, que abranjam a totalidade da área de
intervenção do plano, e se mantenham os objetivos e ações neles definidos, não há lugar
a participação pública preventiva prevista no n.º 2 do artigo 77.º do RJIGT.

Artigo 27.º
Acompanhamento da elaboração dos planos de pormenor de reabilitação urbana

1 - Ao acompanhamento dos planos de pormenor de reabilitação urbana aplica-se o


disposto no artigo 75.º-C do RJIGT.
2 - Na conferência de serviços, as entidades da administração central, direta e indireta,
que devam pronunciar-se sobre o plano de pormenor de reabilitação urbana em razão da
localização ou da tutela de servidões administrativas e de restrições de utilidade pública
devem indicar expressamente, sempre que se pronunciem desfavoravelmente, as razões
da sua discordância e quais as alterações necessárias para viabilização das soluções do
plano.
3 - A pronúncia favorável das entidades referidas no número anterior ou o acolhimento
das suas propostas de alteração determinam a dispensa de consulta dessas entidades em
sede de controlo prévio das operações urbanísticas conformes com o previsto no plano.

Artigo 28.º
Regime dos planos de pormenor de reabilitação urbana em áreas que contêm ou
coincidem com património cultural imóvel classificado ou em vias de classificação
e respetivas zonas de proteção

1 - No caso previsto no n.º 2 do artigo 21.º, a administração do património cultural


competente colabora, em parceria, com o município na elaboração do plano de pormenor
de reabilitação urbana, nos termos do n.º 1 do artigo 53.º da Lei n.º 107/2001, de 8 de
setembro, devendo ser ouvida na definição dos termos de referência do plano no que diz
respeito ao património cultural imóvel classificado ou em vias de classificação, e
respetivas zonas de proteção, e devendo prestar o apoio técnico necessário nos trabalhos
de preparação e conceção do projeto do plano para as mesmas áreas.
2 - Os termos da colaboração da administração do património cultural podem ser objeto
de um protocolo de parceria a celebrar com a câmara municipal competente, sem prejuízo
do acompanhamento obrigatório do plano de pormenor de reabilitação urbana.
3 - A pronúncia da administração do património cultural no que diz respeito ao património
cultural imóvel classificado ou em vias de classificação, e respetivas zonas de proteção,
é obrigatória e vinculativa, devendo, em caso de pronúncia desfavorável, ser indicadas
expressamente as razões da sua discordância e, sempre que possível, quais as alterações
necessárias para viabilização das soluções do plano de pormenor de reabilitação urbana.
4 - A vigência do plano de pormenor de reabilitação urbana determina a dispensa de
consulta da administração do património cultural em sede de controlo prévio das
operações urbanísticas conformes com o previsto no plano, nos termos do n.º 2 do artigo
54.º da Lei n.º 107/2001, de 8 de setembro.
5 - (Revogado.)
6 - Em qualquer caso, não pode ser efetuada a demolição total ou parcial de património
cultural imóvel classificado ou em vias de classificação sem prévia e expressa autorização
da administração do património cultural competente, aplicando-se as regras constantes do
artigo 49.º da Lei n.º 107/2001, de 8 de setembro, salvo quando esteja em causa

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património cultural imóvel cuja demolição total ou parcial tenha sido objeto de pronúncia
favorável por parte da referida administração em sede de elaboração do correspondente
plano de pormenor de reabilitação urbana.

CAPÍTULO III
Planeamento das operações de reabilitação urbana

SECÇÃO I
Operações de reabilitação urbana simples

Artigo 29.º
Execução das operações de reabilitação urbana simples

Sem prejuízo dos deveres de gestão cometidos à entidade gestora, nos termos do
presente decreto-lei, as ações de reabilitação de edifícios tendentes à execução de uma
operação de reabilitação urbana simples devem ser realizadas preferencialmente pelos
respetivos proprietários e titulares de outros direitos, ónus e encargos.

Artigo 30.º
Estratégia de reabilitação urbana

1 - As operações de reabilitação urbana simples são orientadas por uma estratégia de


reabilitação urbana.
2 - A estratégia de reabilitação urbana deve, sem prejuízo do tratamento de outras
matérias que sejam tidas como relevantes:
a) Apresentar as opções estratégicas de reabilitação da área de reabilitação urbana,
compatíveis com as opções de desenvolvimento do município;
b) Estabelecer o prazo de execução da operação de reabilitação urbana;
c) Definir as prioridades e especificar os objetivos a prosseguir na execução da operação
de reabilitação urbana;
d) Determinar o modelo de gestão da área de reabilitação urbana e de execução da
respetiva operação de reabilitação urbana;
e) Apresentar um quadro de apoios e incentivos às ações de reabilitação executadas
pelos proprietários e demais titulares de direitos e propor soluções de financiamento das
ações de reabilitação;
f) Explicitar as condições de aplicação dos instrumentos de execução de reabilitação
urbana previstos no presente decreto-lei;
g) Identificar, caso o município não assuma diretamente as funções de entidade gestora
da área de reabilitação urbana, quais os poderes delegados na entidade gestora, juntando
cópia do ato de delegação praticado pelo respetivo órgão delegante, bem como, quando
as funções de entidade gestora sejam assumidas por uma sociedade de reabilitação
urbana, quais os poderes que não se presumem delegados;
h) Mencionar, se for o caso, a necessidade de elaboração, revisão ou alteração de plano
de pormenor de reabilitação urbana e definir os objetivos específicos a prosseguir
através do mesmo.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos técnicos para a área do urbanismo (de setembro de
2019) define “área de reabilitação urbana” como “a área territorialmente delimitada que, em virtude da
insuficiência, degradação ou obsolescência dos edifícios, das infraestruturas, dos equipamentos de
utilização coletiva e dos espaços urbanos e verdes de utilização coletiva, designadamente no que se refere
às suas condições de uso, solidez, segurança, estética ou salubridade, justifique uma intervenção integrada,

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através de uma operação de reabilitação urbana aprovada em instrumento próprio ou em plano de pormenor
de reabilitação urbana”. Esta definição corresponde à definição adotada no Decreto-Lei n.º 307/2009, de
23 de outubro.

SECÇÃO II
Operações de reabilitação urbana sistemática

SUBSECÇÃO I
Disposições gerais

Artigo 31.º
Execução das operações de reabilitação urbana sistemática

Sem prejuízo dos deveres de reabilitação de edifícios que impendem sobre os


particulares e da iniciativa particular na promoção da reabilitação urbana, nos termos
do presente decreto-lei, as intervenções tendentes à execução de uma operação de
reabilitação urbana sistemática devem ser ativamente promovidas pelas respetivas
entidades gestoras.

Artigo 32.º
Aprovação de operação de reabilitação urbana como causa de utilidade pública

A aprovação de uma operação de reabilitação urbana sistemática constitui causa de


utilidade pública para efeitos da expropriação ou da venda forçada dos imóveis
existentes na área abrangida, bem como da constituição sobre os mesmos das servidões,
necessárias à execução da operação de reabilitação urbana.

SUBSECÇÃO II
Planeamento e programação

Artigo 33.º
Programa estratégico de reabilitação urbana

1 - As operações de reabilitação urbana sistemáticas são orientadas por um


programa estratégico de reabilitação urbana.
2 - O programa estratégico de reabilitação urbana deve, sem prejuízo do tratamento
de outras matérias que sejam tidas como relevantes:
a) Apresentar as opções estratégicas de reabilitação e de revitalização da área de
reabilitação urbana, compatíveis com as opções de desenvolvimento do município;
b) Estabelecer o prazo de execução da operação de reabilitação urbana;
c) Definir as prioridades e especificar os objetivos a prosseguir na execução da operação
de reabilitação urbana;
d) Estabelecer o programa da operação de reabilitação urbana, identificando as ações
estruturantes de reabilitação urbana a adotar, distinguindo, nomeadamente, as que têm
por objeto os edifícios, as infraestruturas urbanas, os equipamentos, os espaços urbanos
e verdes de utilização coletiva, e as atividades económicas;
e) Determinar o modelo de gestão da área de reabilitação urbana e de execução da
respetiva operação de reabilitação urbana;
f) Apresentar um quadro de apoios e incentivos às ações de reabilitação executadas
pelos proprietários e demais titulares de direitos e propor soluções de financiamento das
ações de reabilitação;

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g) Descrever um programa de investimento público onde se discriminem as ações de
iniciativa pública necessárias ao desenvolvimento da operação;
h) Definir o programa de financiamento da operação de reabilitação urbana, o qual deve
incluir uma estimativa dos custos totais da execução da operação e a identificação das
fontes de financiamento;
i) Identificar, caso não seja o município a assumir diretamente as funções de entidade
gestora da área de reabilitação urbana, quais os poderes que são delegados na entidade
gestora, juntando cópia do ato de delegação praticado pelo respetivo órgão delegante,
bem como, quando as funções de entidade gestora sejam assumidas por uma sociedade
de reabilitação urbana, quais os poderes que não se presumem delegados;
j) Mencionar, se for o caso, a necessidade de elaboração, revisão ou alteração de plano
de pormenor de reabilitação urbana e definir os objetivos específicos a prosseguir
através do mesmo.
3 - O programa estratégico de reabilitação urbana pode prever unidades de execução ou
intervenção da operação de reabilitação urbana e definir os objetivos específicos a
prosseguir no âmbito de cada uma delas.

Artigo 34.º
Unidades de execução ou de intervenção

1 - No âmbito das operações de reabilitação urbana sistemática em áreas de reabilitação


urbana que correspondem à área de intervenção de plano de pormenor de reabilitação
urbana podem ser delimitadas unidades de execução, nos termos previstos no RJIGT, com
as especificidades introduzidas pelo presente decreto-lei.
2 - No âmbito das operações de reabilitação urbana sistemática aprovadas através de
instrumento próprio, podem ser delimitadas unidades de intervenção, que consistem na
fixação em planta cadastral dos limites físicos do espaço urbano a sujeitar a intervenção,
com identificação de todos os prédios abrangidos, podendo corresponder à totalidade ou
a parte da área abrangida por aquela operação ou, em casos de particular interesse público,
a um edifício.
3 - A delimitação de unidades de intervenção é facultativa, não sendo condição da
execução da operação de reabilitação urbana, sem prejuízo de poder constituir, nos termos
definidos no presente decreto-lei, um pressuposto do recurso a determinadas modalidades
de execução de operações de reabilitação urbana sistemática em parceria com entidades
privadas.
4 - As unidades de intervenção devem ser delimitadas de forma a assegurar um
desenvolvimento urbano harmonioso, a justa repartição de benefícios e encargos pelos
proprietários abrangidos e a coerência na intervenção, bem como a possibilitar uma
intervenção integrada em vários imóveis que permita uma utilização racional dos recursos
disponíveis e a criação de economias de escala.
5 - O ato de delimitação de unidades de intervenção inclui um programa de execução, que
deve, nomeadamente:
a) Explicar sumariamente os fundamentos subjacentes à ponderação dos diversos
interesses públicos e privados relevantes;
b) Identificar os edifícios a reabilitar, o seu estado de conservação e a extensão das
intervenções neles previstas;
c) Identificar os respetivos proprietários e titulares de outros direitos, ónus e encargos, ou
mencionar, se for o caso, que os mesmos são desconhecidos;
d) Definir e calendarizar as várias ações de reabilitação urbana a adotar no âmbito da
unidade de intervenção, distinguindo, nomeadamente, as que têm por objeto os edifícios,

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as infra-estruturas urbanas, os equipamentos, os espaços urbanos e verdes de utilização
coletiva e as atividades económicas;
e) Concretizar o financiamento da operação de reabilitação urbana no âmbito da unidade
de execução;
f) Especificar o regime de execução da operação de reabilitação urbana a utilizar na
unidade de intervenção.
6 - A delimitação de unidades de intervenção é da competência:
a) Da entidade gestora, no caso de se pretender efetuar a delimitação de unidades de
intervenção nos termos previstos no programa estratégico de reabilitação urbana;
b) Da câmara municipal, sob proposta da entidade gestora se esta for distinta do
município, nos demais casos.

Artigo 35.º
Iniciativa dos proprietários na delimitação de unidades de
intervenção ou de execução

1 - Os proprietários de edifícios ou frações inseridos em área de reabilitação urbana, no


âmbito de operações de reabilitação urbana sistemáticas, podem propor a delimitação de
unidades de intervenção ou de execução relativamente à área abrangida pelos edifícios ou
frações de que são titulares, através da apresentação, ao órgão competente para a
aprovação da delimitação, de requerimento instruído com o projeto de delimitação da
unidade de intervenção ou de execução e com o projeto de programa de execução.
2 - A delimitação das unidades de execução, no caso previsto no número anterior, segue
o procedimento estabelecido no RJIGT, com as necessárias adaptações.
3 - A delimitação das unidades de intervenção, no caso previsto no n.º 1, segue o
procedimento estabelecido no artigo anterior, com as necessárias adaptações.
4 - A delimitação de unidades de intervenção ou de execução por iniciativa dos
proprietários constitui a entidade gestora no dever de ponderar a execução da operação
nos termos do regime da administração conjunta.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos técnicos para a área do urbanismo (de setembro de
2019) define “área de reabilitação urbana” como “a área territorialmente delimitada que, em virtude da
insuficiência, degradação ou obsolescência dos edifícios, das infraestruturas, dos equipamentos de
utilização coletiva e dos espaços urbanos e verdes de utilização coletiva, designadamente no que se refere
às suas condições de uso, solidez, segurança, estética ou salubridade, justifique uma intervenção integrada,
através de uma operação de reabilitação urbana aprovada em instrumento próprio ou em plano de pormenor
de reabilitação urbana”. Esta definição corresponde à definição adotada no Decreto-Lei n.º 307/2009, de
23 de outubro.

CAPÍTULO IV
Entidade gestora

Artigo 36.º
Poderes das entidades gestoras

1 - O município, nos termos do n.º 1 do artigo 10.º, pode optar entre assumir
diretamente a gestão de uma operação de reabilitação urbana ou definir como entidade
gestora uma empresa do setor empresarial local.
2 - No caso de a entidade gestora ser uma empresa do setor empresarial local, tal como
previsto na alínea b) do n.º 1 do artigo 10.º, o município delega nesta poderes que lhe
são cometidos, nos termos do presente decreto-lei.
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3 - Os atos de delegação de poderes previstos no número anterior devem acompanhar a
estratégia de reabilitação urbana ou do programa estratégico de reabilitação urbana, sem
prejuízo do disposto no número seguinte.
4 - Se a entidade gestora revestir a natureza de sociedade de reabilitação urbana,
presumem-se delegados os poderes previstos no n.º 1 do artigo 45.º e nas alíneas a) e c)
a e) do n.º 1 do artigo 54.º, salvo indicação em contrário constante da estratégia de
reabilitação urbana ou do programa estratégico de reabilitação urbana.
5 - As empresas do setor empresarial local delegatárias consideram-se investidas nas
funções de entidade gestora e nos poderes que lhes sejam delegados, nos termos do
presente artigo, a partir do início da vigência da área de reabilitação urbana.
6 - A empresa do setor empresarial local delegatária está sujeita ao poder da entidade
delegante de emitir diretrizes ou instruções relativamente às operações de reabilitação
urbana, bem como de definir as modalidades de verificação do cumprimento das ordens
ou instruções emitidas.
7 - Nos casos de participação do Estado no capital social de sociedade de reabilitação
urbana, nos termos do n.º 2 do artigo seguinte, os poderes previstos no número anterior
são exercidos em termos a estabelecer em protocolo entre o Estado e o município em
causa.
8 - O disposto no n.º 1 não prejudica a aplicação do n.º 1 do artigo 79.º

Artigo 37.º
Entidades gestoras de tipo empresarial

1 - É aplicável às empresas do setor empresarial local a que se refere a alínea b) do n.º 1


do artigo 10.º o regime jurídico da atividade empresarial local e das participações locais,
aprovado pela Lei n.º 50/2012, de 31 de agosto, com exceção do disposto nos n.º s 1 e 2
do artigo 20.º, no artigo 32.º e no n.º 1 do artigo 62.º daquele diploma.
2 - Em caso de excecional interesse público, é admitida a participação de capitais do
Estado nas sociedades de reabilitação urbana.
3 - As empresas a que se referem os números anteriores podem assumir as funções de
entidade gestora em mais do que uma operação de reabilitação urbana sistemática e
cumular a gestão de uma ou mais operações de reabilitação urbana simples.
4 - No caso de a câmara municipal pretender designar uma empresa municipal para
assumir a qualidade de entidade gestora de uma operação de reabilitação urbana, deve
proceder à respetiva designação aquando do ato de aprovação da operação de
reabilitação urbana.
5 - Se as obras de execução da operação de reabilitação urbana incidirem sobre bens do
domínio municipal, público ou privado, o município é representado pela entidade
gestora no que respeita ao exercício dos direitos relativos àqueles bens.

Nota 1: Nos termos do art.º 84.º da CRP, pertencem ao Domínio Público:


a) As águas territoriais com os seus leitos e os fundos marinhos contíguos, bem como os lagos, lagoas e
cursos de água navegáveis ou flutuáveis, com os respectivos leitos;
b) As camadas aéreas superiores ao território acima do limite reconhecido ao proprietário ou
superficiário;
c) Os jazigos minerais, as nascentes de águas mineromedicinais, as cavidades naturais subterrâneas
existentes no subsolo, com excepção das rochas, terras comuns e outros materiais habitualmente usados
na construção;
d) As estradas;
e) As linhas férreas nacionais;
f) Outros bens como tal classificados por lei".

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Nota 2: Os bens que integram o domínio público podem pertencer ao Estado, às regiões autónomas ou às
autarquias locais (domínio público estadual, domínio público regional e domínio público autárquico). Só
os entes públicos de população e território (ou “de base territorial”) são titulares de bens do domínio
público. Certos bens integram necessariamente, pela sua ligação à soberania do Estado, o domínio público
do Estado, como é o caso do domínio público marítimo e domínio público aéreo. No entanto, os entes
públicos também são titulares de bens do domínio privado, integrem estes o património financeiro
(património privado disponível) ou o património administrativo (património privado indisponível).
Os bens do património financeiro ou bens do património privado disponível estão sujeitos ao regime
jurídico-privado.

Nota 3: O património do Estado é constituído pelos bens do seu domínio público e privado, e ainda pelos
direitos e obrigações com conteúdo económico de que o Estado é titular. Integram o domínio público do
Estado os seguintes bens: “a) águas territoriais com os seus leitos, as águas marítimas interiores com os
seus leitos e margens e a plataforma continental; b) lagos, lagoas e cursos de água navegáveis ou flutuáveis
com os respetivos leitos e margens e, bem assim, os que por lei forem reconhecidos como aproveitáveis
para produção de energia elétrica ou para irrigação; c) barragens de utilidade pública, portos artificiais,
docas, aeroportos, aeródromos de interesse público e outros bens do domínio público hídrico; d) camadas
aéreas, jazigos minerais e petrolíferos, nascentes de águas mineromedicinais, recursos geotérmicos, e outras
riquezas naturais do subsolo, com exclusão dos minerais utilizados na construção; e) linhas férreas de
interesse público, autoestradas, estradas nacionais e acessórios, e obras de arte; f) obras e instalações
militares e zonas territoriais adstritas à defesa militar; g) navios da armada, aeronaves militares, carros de
combate e outro equipamento militar de natureza e durabilidade equivalente; h) linhas telefónicas, cabos
submarinos, obras, canalizações e redes de distribuição pública de energia elétrica; i) palácios,
monumentos, museus, bibliotecas, arquivos e teatros nacionais, e palácios escolhidos pelo Chefe de Estado,
para a Presidência, para sua residência e das pessoas da sua família; j) direitos públicos sobre imóveis
privados classificados ou de uso e fruição sobre quaisquer bens privados; k) servidões administrativas,
restrições de utilidade pública ao direito de propriedade; l) outros bens do Estado sujeitos por lei ao regime
de direito público” (art.º 4.º do D.L. 477/80, de 15 de outubro). Diferentemente, integram o domínio
privado do Estado bens como: a) imóveis: prédios rústicos e urbanos e direitos a eles inerentes; b) direitos
de arrendamento dos quais ocupe a posição de arrendatário; c) direitos reais; d) bens móveis corpóreos
(com exceção das coisas consumíveis e daquelas que, sem se destruírem imediatamente, se depreciam muito
rapidamente). Estes bens são suscetíveis de comércio privado (cf. art.º 1304º do Código Civil), mas nem
todos eles são comerciáveis, pelo que há que distinguir entre bens do domínio privado disponível e bens do
domínio privado indisponível (art.º 5.º do D.L. 477/80, de 15 de outubro).

Nota 4: O domínio público municipal é constituído fundamentalmente pelos bens do domínio hídrico e
do domínio de circulação. O domínio de circulação é constituído pelas estradas municipais e pelos caminhos
municipais (domínio público do município); os caminhos vicinais integram domínio público das freguesias.
Também os cemitérios integram o domínio público municipal ou da freguesia, consoante os casos. Integram
ou podem integrar ainda o domínio público municipal, por exemplo, estações de tratamento de águas,
reservatório e poços de abastecimento de água, lagoas, jardins públicos. Diferentemente, integram ou
podem integrar o domínio privado indisponível do município escolas (edifício e terreno), ou equipamentos
de utilização coletiva como parques de campismo, campos de futebol, bibliotecas, recintos desportivos,
mercados, largos, praças, centrais de camionagem (mas se os terrenos de implantação destes equipamentos
tiverem sido cedidos ao domínio público, no âmbito das cedências devidas por operações de loteamento,
esses terrenos integram o domínio público. Integram o domínio privado disponível do município, por
exemplo, lotes de terreno para industria e construção de habitação.

Artigo 38.º
Extinção das sociedades de reabilitação urbana

As sociedades de reabilitação urbana devem ser extintas sempre que:


a) Estiverem concluídas todas as operações de reabilitação urbana a seu cargo;
b) Ocorrer a caducidade da delimitação da área ou de todas as áreas de reabilitação
urbana em que a sociedade de reabilitação urbana opera;
c) Ocorrer a caducidade da operação de reabilitação urbana ou de todas as operações de
reabilitação urbana a seu cargo.

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CAPÍTULO V
Modelos de execução das operações de reabilitação urbana

Artigo 39.º
Execução por iniciativa dos particulares

1 - A execução da operação de reabilitação urbana, na componente da reabilitação do


edificado, deve ser promovida pelos proprietários ou titulares de outros direitos, ónus ou
encargos relativos aos imóveis existentes na área abrangida pela operação.
2 - Para o efeito do disposto no número anterior, podem ser utilizadas as modalidades
previstas no n.º 2 do artigo 11.º

Artigo 40.º
Administração conjunta

1 - A entidade gestora pode executar a operação de reabilitação urbana, ou parte dela, em


associação com os proprietários e titulares de outros direitos, ónus e encargos relativos
aos imóveis existentes na área abrangida pela operação de reabilitação urbana.
2 - O regime jurídico aplicável à administração conjunta é aprovado através de decreto
regulamentar, no prazo máximo de 90 dias contado da data de entrada em vigor do
presente decreto-lei.

Artigo 41.º
Execução por iniciativa da entidade gestora

1 - A execução da operação de reabilitação urbana pode ser promovida pela entidade


gestora, nos termos do n.º 3 do artigo 11.º
2 - As entidades gestoras podem recorrer a parcerias com entidades privadas,
nomeadamente sob as seguintes formas:
a) Concessão de reabilitação urbana;
b) Contrato de reabilitação urbana.

Artigo 42.º
Concessão de reabilitação urbana

1 - Para promover operações de reabilitação urbana sistemática o município pode


concessionar a reabilitação nos termos previstos no RJIGT, para a execução de planos
municipais de ordenamento do território, quer por sua iniciativa quer a solicitação da
entidade gestora.
2 - A concessão de reabilitação urbana é feita no âmbito das unidades de intervenção ou
das unidades de execução.
3 - A concessão é precedida de procedimento adjudicatório, devendo o respetivo
caderno de encargos especificar as obrigações mínimas do concedente e do
concessionário ou os respetivos parâmetros, a concretizar nas propostas.
4 - A formação e execução do contrato de concessão regem-se pelo disposto no Código
dos Contratos Públicos.

Artigo 43.º
Contrato de reabilitação urbana

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1 - A entidade gestora de uma operação de reabilitação urbana sistemática pode celebrar
contratos de reabilitação urbana com entidades públicas ou privadas, mediante os quais
estas se obriguem a proceder à elaboração, coordenação e execução de projetos de
reabilitação numa ou em várias unidades de intervenção ou de execução.
2 - O contrato de reabilitação urbana pode prever a transferência para a entidade
contratada dos direitos de comercialização dos imóveis reabilitados e de obtenção dos
respetivos proventos, bem como, nomeadamente, a aquisição do direito de propriedade
ou a constituição do direito de superfície sobre os bens a reabilitar por esta, ou a
atribuição de um mandato para a venda destes bens por conta da entidade gestora.
3 - O contrato de reabilitação urbana está sujeito a registo, dependendo o seu
cancelamento da apresentação de declaração, emitida pela entidade gestora, que autorize
esse cancelamento.
4 - O contrato de reabilitação urbana deve regular, designadamente:
a) A transferência para a entidade contratada da obrigação de aquisição dos prédios
existentes na área em questão sempre que tal aquisição se possa fazer por via amigável;
b) A preparação dos processos expropriativos que se revelem necessários para aquisição
da propriedade pela entidade gestora;
c) A repartição dos encargos decorrentes das indemnizações devidas pelas
expropriações;
d) A obrigação de preparar os projetos de operações urbanísticas a submeter a controlo
prévio, quando aplicável,de os submeter a controlo prévio, de promover as operações
urbanísticas compreendidas nas ações de reabilitação ;
e) Os prazos em que as obrigações das partes devem ser cumpridas;
f) As contrapartidas a pagar pelas partes contratantes, que podem ser em espécie;
g) O cumprimento do dever, impendente sobre a entidade contratada, de procurar chegar
a acordo com os proprietários interessados na reabilitação do respetivo edifício ou
fração sobre os termos da reabilitação dos mesmos, bem como a cessão da posição
contratual da entidade gestora a favor da entidade contratada, no caso de aquela ter já
chegado a acordo com os proprietários;
h) O dever de a entidade gestora ou da entidade contratada proceder ao realojamento
temporário ou definitivo dos habitantes dos edifícios ou frações a reabilitar, atento o
disposto no artigo 73.º;
i) As garantias de boa execução do contrato a prestar pela entidade contratada.
5 - A formação e a execução do contrato de reabilitação urbana regem-se pelo disposto
no Código dos Contratos Públicos.
6 - (Revogado.)
7 - O recurso ao contrato de reabilitação urbana deve ser precedido de negociação
prévia, na medida do possível, com todos os interessados envolvidos de modo que estes
possam assumir um compromisso com a entidade gestora no sentido da reabilitação dos
seus imóveis.

CAPÍTULO VI
Instrumentos de execução de operações de reabilitação urbana

SECÇÃO I
Controlo das operações urbanísticas

SUBSECÇÃO I
Regime geral

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Artigo 44.º
Poderes relativos ao controlo de operações urbanísticas

1 - A entidade gestora da operação de reabilitação urbana pode exercer, para efeitos


de execução da operação de reabilitação urbana e nos termos do disposto nos artigos
seguintes, os seguintes poderes:
a) Licenciamento e admissão de comunicação prévia de operações urbanísticas;
b) Inspeções e vistorias;
c) Adoção de medidas de tutela da legalidade urbanística;
d) Cobrança de taxas;
e) Receção das cedências ou compensações devidas.
2 - Quando não seja o município a assumir as funções de entidade gestora da área de
reabilitação urbana, a entidade gestora apenas exerce os poderes delegados pelo
município, sem prejuízo de poder requerer diretamente ao órgão municipal competente,
quando tal se revele necessário, o exercício dos demais.
3 - No caso da delegação de poderes prevista no número anterior, o órgão executivo da
entidade gestora pode subdelegar no seu presidente as competências que, de acordo com
o disposto no regime jurídico da urbanização e da edificação (RJUE), aprovado pelo
Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de dezembro, alterado pelo Decreto-Lei n.º 177/2001, de
4 de junho, pelas Leis n.º s 15/2002, de 22 de fevereiro, e 4-A/2003, de 19 de fevereiro,
pelo Decreto-Lei n.º 157/2006, de 8 de agosto, pela Lei n.º 60/2007, de 4 de setembro,
pelos Decretos-Leis n.º s 18/2008, de 29 de janeiro, 116/2008, de 4 de julho, e 26/2010,
de 30 de março, e pela Lei n.º 28/2010, de 2 de setembro, são diretamente cometidas ao
presidente da câmara municipal ou neste delegáveis pela câmara municipal.
4 - Os poderes referidos no n.º 1 devem ser exercidos em observância do disposto nos
artigos constantes da presente secção, nomeadamente no que concerne a consulta a
entidades externas, proteção do existente e responsabilidade e qualidade da construção.

Nota: O Decreto Regulamentar que define conceitos técnicos do urbanismo (de setembro de 2019) define
as “operações urbanísticas” como “as operações materiais de urbanização, de edificação, utilização dos
edifícios ou do solo desde que, neste último caso, para fins não exclusivamente agrícolas, pecuários,
florestais, mineiros ou de abastecimento público de água”.

Artigo 45.º
Controlo prévio de operações urbanísticas

1 - Aos procedimentos de licenciamento e de comunicação prévia de operações


urbanísticas compreendidas nas ações de reabilitação de edifícios ou frações
localizados em área de reabilitação urbana aplica-se, em tudo quanto não seja
especialmente previsto no presente decreto-lei, o disposto no RJUE.
2 - São delegáveis na entidade gestora da operação de reabilitação urbana, caso esta não
seja o município, as competências para a prática, em relação a imóveis localizados na
respetiva área de reabilitação urbana, dos atos administrativos inseridos nos
procedimentos de licenciamento,de comunicação prévia de operações urbanísticas, que,
nos termos do disposto no RJUE, sejam da competência da câmara municipal ou do seu
presidente.
3 - Quando a entidade gestora for uma de entre as mencionadas na alínea b) do n.º 1 do
artigo 10.º, todos os elementos constantes dos processos relativos aos procedimentos de
licenciamento e de comunicação prévia de operações urbanísticas são disponibilizados
ao município por meios eletrónicos.

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Artigo 46.º
Inspeções e vistorias

1 - São delegáveis na entidade gestora da operação de reabilitação urbana, caso


esta não seja o município, as competências para ordenar e promover, em relação a
imóveis localizados na respetiva área de reabilitação urbana, a realização de inspeções e
vistorias de fiscalização, nos termos previstos no RJUE.
2 - A entidade gestora tem o dever de comunicar os factos de que toma conhecimento e
que sejam puníveis como contraordenação às entidades competentes para aplicar as
respetivas coimas.

Artigo 47.º
Medidas de tutela da legalidade urbanística

São delegáveis na entidade gestora da operação de reabilitação urbana, caso esta não seja
o município, as competências para ordenar e promover, em relação a imóveis localizados
na respetiva área de reabilitação urbana, a adoção de medidas de tutela da legalidade
urbanística, nos termos previstos no RJUE.

Artigo 48.º
Cobrança de taxas e de compensações

São delegáveis na entidade gestora da operação de reabilitação urbana, caso esta não seja
o município, as competências para cobrar as taxas e receber as compensações previstas
nos regulamentos municipais em vigor, sem prejuízo do disposto no artigo 67.º

Artigo 49.º
Isenção de controlo prévio

1 - As operações urbanísticas promovidas pela entidade gestora que se reconduzam


à execução da operação de reabilitação urbana, independentemente do tipo de
operação de reabilitação urbana, encontram-se isentas de controlo prévio.
2 - A entidade gestora, quando diferente do município, deve informar a câmara
municipal até 20 dias antes do início da execução das operações urbanísticas a que se
refere o número anterior.
3 - A realização das operações urbanísticas, nos termos do presente artigo, deve
observar as normas legais e regulamentares que lhes sejam aplicáveis, designadamente
as constantes de instrumentos de gestão territorial, do regime jurídico de proteção do
património cultural, do regime jurídico aplicável à gestão de resíduos de construção e
demolição e as normas técnicas de construção.

Artigo 50.º
Consulta a entidades externas

1 - A consulta às entidades que, nos termos da lei, devam emitir parecer, autorização ou
aprovação sobre o pedido formulado em procedimentos de licenciamento e
comunicação prévia de operações urbanísticas segue o disposto no RJUE, com as
especificidades introduzidas pelo presente decreto-lei.
2 - Para efeitos dos procedimentos de licenciamento e comunicação prévia de operações
urbanísticas e de autorização de utilização de edifícios, a entidade gestora pode

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constituir uma comissão de apreciação, composta pelas entidades que, nos termos da lei,
devem pronunciar-se sobre os pedidos formulados naqueles procedimentos.
3 - A entidade gestora e o município, quando diferente daquela, podem participar nas
reuniões da comissão de apreciação.
4 - A constituição da comissão de apreciação é precedida de solicitação escrita dirigida
ao presidente do órgão executivo daquelas entidades, ou ao dirigente máximo do
serviço, no caso do Estado, para que designe o respetivo representante.
5 - A competência para emissão, no âmbito da comissão de apreciação, das pronúncias
legais a que se alude no n.º 1 considera-se delegada no representante designado nos
termos do disposto no número anterior.
6 - Os pareceres, autorizações e aprovações que as entidades representadas na comissão
de apreciação devam prestar são consignados na ata da reunião da comissão, que os
substitui para todos os efeitos, e deve ser assinada por todos os membros presentes na
reunião com menção expressa da respetiva qualidade.
7 - A falta de comparência de um dos membros da comissão de apreciação não obsta à
apreciação do pedido e à elaboração da ata, considerando-se que as entidades cujo
representante tenha faltado nada têm a opor ao deferimento do pedido.
8 - Em caso de pronúncia desfavorável, as entidades referidas no n.º 1 devem indicar
expressamente as razões da sua discordância e quais as alterações necessárias para a
viabilização do projeto.

Artigo 51.º
Proteção do existente

1 - A emissão da licença ou a admissão de comunicação prévia de obras de reconstrução


ou alteração de edifício inseridas no âmbito de aplicação do presente decreto-lei não
podem ser recusadas com fundamento em normas legais ou regulamentares
supervenientes à construção originária, desde que tais operações:
a) Não originem ou agravem a desconformidade com as normas em vigor; ou
b) Tenham como resultado a melhoria das condições de segurança e de salubridade da
edificação; e
c) Observem as opções de construção adequadas à segurança estrutural e sísmica do
edifício.
2 - As obras de ampliação inseridas no âmbito de uma operação de reabilitação urbana
podem ser dispensadas do cumprimento de normas legais ou regulamentares
supervenientes à construção originária, sempre que da realização daquelas obras resulte
uma melhoria das condições de desempenho e segurança funcional, estrutural e
construtiva da edificação, sendo observadas as opções de construção adequadas à
segurança estrutural e sísmica do edifício, e o sacrifício decorrente do cumprimento das
normas legais e regulamentares vigentes seja desproporcionado em face da
desconformidade criada ou agravada pela realização daquelas.
3 - O disposto no número anterior é aplicável ao licenciamento ou à admissão de
comunicação prévia de obras de construção que visem a substituição de edifícios
previamente existentes.
4 - Os requerimentos de licenciamento ou as comunicações prévias devem conter sempre
declaração dos autores dos projetos que identifique as normas técnicas ou regulamentares
em vigor que não foram aplicadas e, nos casos previstos no n.º 2 e no número anterior, a
fundamentação da sua não observância.

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Artigo 52.º
Indeferimento do pedido de licenciamento ou rejeição da comunicação prévia

1 - Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, e para além dos fundamentos previstos
no RJUE, os requerimentos de licenciamento ou as comunicações prévias para a
realização de operações urbanísticas em área de reabilitação urbana podem, ainda, ser
indeferidos ou rejeitadas quando estas operações sejam suscetíveis de causar um prejuízo
manifesto à reabilitação do edifício.
2 - No caso de edifícios compreendidos em área de reabilitação urbana sujeita a operação
de reabilitação urbana sistemática, os requerimentos de licenciamento ou as
comunicações prévias para a realização de operações urbanísticas podem ainda ser
indeferidos ou rejeitadas quando estas operações sejam suscetíveis de causar um prejuízo
manifesto à operação de reabilitação urbana da área em que o mesmo se insere.

Artigo 53.º
Responsabilidade e qualidade da construção

As operações urbanísticas incluídas numa operação de reabilitação urbana devem


respeitar o disposto no RJUE, relativamente a responsabilidade e qualidade da
construção, nomeadamente no seu artigo 10.º, sem prejuízo do disposto no presente
decreto-lei e nos regimes jurídicos que regulam a qualificação exigível aos técnicos
responsáveis pela coordenação, elaboração e subscrição de projeto, pelo desempenho das
funções de direção de fiscalização de obra e de direção de obra, incluindo os deveres e
responsabilidades a que estão sujeitos, e ainda o exercício da atividade de construção ou
de outras atividades ou profissões envolvidas nas operações urbanísticas de reabilitação
urbana.

SUBSECÇÃO II
Procedimento simplificado de controlo prévio de operações urbanísticas

Artigo 53.º-A
Âmbito

Às operações urbanísticas de reabilitação urbana de edifícios ou frações conformes com


o previsto em plano de pormenor de reabilitação urbana e que, nos termos do RJUE, estão
sujeitas a comunicação prévia, aplica-se o disposto na subsecção anterior e no respetivo
regime subsidiário para o procedimento de comunicação prévia, com as especialidades
previstas na presente subsecção.

Artigo 53.º-B
Unidade orgânica flexível

1 - Quando a entidade gestora da operação de reabilitação urbana for o município, pode


ser criada uma unidade orgânica flexível, interna ao município e constituída
especialmente para apreciar o procedimento simplificado de controlo prévio, nos termos
da alínea a) do artigo 7.º e dos artigos 8.º e 10.º do Decreto-Lei n.º 305/2009, de 23 de
outubro.
2 - A unidade orgânica flexível deve integrar técnicos com as competências funcionais
necessárias à apreciação de todo o procedimento de comunicação prévia,
nomeadamente as necessárias para a análise da conformidade das operações urbanísticas

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com as normas legais e regulamentares aplicáveis.
3 - O presidente da câmara municipal ou os vereadores, se houver delegação de
competências nestes, podem delegar ou subdelegar, consoante os casos, no dirigente
responsável pela unidade orgânica flexível a competência para admitir ou rejeitar a
comunicação prévia.

Artigo 53.º-C
Apresentação da comunicação prévia

1 - A comunicação prévia é apresentada ao município e é acompanhada dos elementos


referidos no n.º 4 do artigo 35.º do RJUE.
2 - Quando não assuma as funções de entidade gestora da área de reabilitação urbana, o
município remete de imediato, por meios eletrónicos, a comunicação referida no
número anterior à respetiva entidade gestora, notificando o interessado desse facto no
prazo de cinco dias úteis.
3 - O modelo de comunicação prévia a que se refere o n.º 1 é aprovado por portaria dos
membros do Governo responsáveis pelas áreas da modernização administrativa, da
economia, da habitação, das autarquias locais e do ordenamento do território.

Artigo 53.º-D
Consultas

1 - Sem prejuízo do disposto no n.º 6 do artigo 28.º, é dispensada a realização de


consultas e a solicitação de qualquer parecer, autorização ou aprovação a entidades
externas ou a serviços da organização autárquica municipal.
2 - A entidade gestora pode, a título meramente facultativo e não vinculativo, realizar
consultas ou solicitar pareceres às entidades externas ou aos serviços da organização
autárquica municipal que considere adequados, para obtenção de esclarecimentos.
3 – (Revogado.)

Artigo 53.º-E
Rejeição da comunicação prévia

(Revogado.)

Artigo 53.º-F
Proteção do existente

1 - À admissão da comunicação prévia de obras abrangidas pela presente subsecção é


aplicável o disposto no n.º 1 do artigo 51.º
2 - Sempre que seja dispensado o cumprimento de normas legais e regulamentares em
vigor supervenientes à construção originária, a apresentação da comunicação prévia
deve ser acompanhada de termo de responsabilidade subscrito pelo técnico autor do
projeto legalmente habilitado que comprove que a desconformidade com as normas em
vigor não é originada nem agravada pela operação de reabilitação urbana ou que esta
melhora as condições de segurança e de salubridade da edificação, e ainda que são
observadas as opções de construção adequadas à segurança estrutural e sísmica do
edifício.
3 - O termo de responsabilidade subscrito pelo técnico autor do projeto legalmente
habilitado, nos termos do número anterior, deve:

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a) Indicar quais as normas legais ou regulamentares em vigor que o projeto não observa;
e
b) Fundamentar a não observância dessas normas.
4 - (Revogado).
5 - O modelo do termo de responsabilidade referido nos n.º s 2 e 3 é aprovado por
portaria dos membros do Governo responsáveis pelas áreas da modernização
administratva, da economia, da habitação, das autarquias locais e do ordenamento do
território.

Artigo 53.º-G
Autorização de utilização

1 - Concluída a operação urbanística, no todo ou em parte, aplica-se à autorização de


utilização de edifício ou sua fração, o disposto nos artigos 62.º a 64.º do RJUE, com as
especialidades previstas no presente artigo.
2 - O termo de responsabilidade a que se refere o n.º 1 do artigo 63.º do RJUE, deve
conter as declarações previstas naquela disposição legal, bem como:
a)(Revogada.);
b) Identificar o edifício ou a fração autónoma a que respeita;
c) Indicar o uso a que se destina o edifício ou a fração autónoma;
d) Declarar que estão cumpridos os requisitos legais para a constituição da propriedade
horizontal, quando aplicável.
3 – (Revogado.)
4 - O modelo do termo de responsabilidade referido no n.º 2 é aprovado por portaria dos
membros do Governo responsáveis pelas áreas da modernização administrativa, da
economia, da habitação, das autarquias locais e do ordenamento do território.

SECÇÃO II
Instrumentos de política urbanística

Artigo 54.º
Instrumentos de execução de política urbanística

1 - A entidade gestora pode utilizar, consoante o tipo da respetiva operação de


reabilitação urbana, os seguintes instrumentos de execução:
a) Imposição da obrigação de reabilitar e obras coercivas;
b) Empreitada única;
c) Demolição de edifícios;
d) Direito de preferência;
e) Arrendamento forçado;
f) Servidões;
g) Expropriação;
h) Venda forçada;
i) Reestruturação da propriedade.
2 - Quando não seja o município a assumir diretamente as funções de entidade gestora
da área de reabilitação urbana, a entidade gestora apenas pode utilizar os instrumentos
de execução cujos poderes hajam sido expressa ou tacitamente delegados pelo
município, sem prejuízo de poder requerer diretamente ao órgão municipal competente,
quando tal se revele necessário, o exercício dos demais.

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3 - Os instrumentos de execução previstos nas alíneas f) a i) do n.º 1 apenas podem ser
utilizados nas operações de reabilitação urbana sistemática.

Artigo 55.º
Obrigação de reabilitar e obras coercivas

1 - Caso seja atribuído a um edifício ou fração um nível de conservação 1, 2 ou 3, a


entidade gestora pode impor ao respetivo proprietário a obrigação de o reabilitar,
determinando a realização e o prazo para a conclusão das obras ou trabalhos necessários
à restituição das suas características de desempenho e segurança funcional,
estrutural e construtiva, de acordo com critérios de necessidade, adequação e
proporcionalidade.
2 - O ato referido no número anterior é eficaz a partir da sua notificação ao proprietário,
sendo o registo predial da intimação para a realização das obras de reabilitação promovido
oficiosamente para efeitos de averbamento, servindo de título para o efeito a certidão
passada pelo município competente.
3 - O registo referido no número anterior apenas pode ser cancelado através da exibição
de certidão passada pela entidade gestora que ateste a conclusão das obras, ou pela
exibição de autorização de utilização emitida posteriormente.
4 - Quando o proprietário, incumprindo a obrigação de reabilitar, não iniciar as
operações urbanísticas compreendidas na ação de reabilitação que foi determinada
ou não concluir essas operações urbanísticas dentro dos prazos que para o efeito sejam
fixados, pode a entidade gestora tomar posse administrativa dos edifícios ou frações
para dar execução imediata às obras determinadas, incluindo todos os seus atos
preparatórios necessários, como sejam levantamentos, sondagens, realização de estudos
ou projetos, aplicando-se o disposto nos artigos 107.º, 108.º e 108.º-B do RJUE.

Artigo 56.º
Empreitada única
1 - A entidade gestora de uma operação de reabilitação urbana pode promover a
reabilitação de um conjunto de edifícios através de uma empreitada única.
2 - Salvo oposição dos proprietários, a entidade gestora, em representação daqueles,
contrata e gere a empreitada única, a qual pode incluir a elaboração do projeto e a sua
execução, podendo igualmente constituir parte de um contrato de reabilitação.
3 - No caso de os proprietários se oporem à representação pela entidade gestora, devem
contratar com aquela as obrigações a que ficam adstritos no processo de reabilitação
urbana, designadamente quanto à fixação de prazos para efeitos de licenciamento ou
comunicação prévia e para execução das obras.

Artigo 57.º
Demolição de edifícios

1 - A entidade gestora pode ordenar a demolição de edifícios aos quais faltem os


requisitos de segurança e salubridade indispensáveis ao fim a que se destinam e
cuja reabilitação seja técnica ou economicamente inviável.
2 - Aplica-se à demolição de edifícios, com as necessárias adaptações, o regime
estabelecido nos artigos 89.º a 92.º do RJUE.
3 - Tratando-se de património cultural imóvel classificado ou em vias de classificação,
não pode ser efetuada a sua demolição total ou parcial sem prévia e expressa
autorização da administração do património cultural competente, aplicando-se, com as

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devidas adaptações, as regras constantes do artigo 49.º da Lei n.º 107/2001, de 8 de
setembro.
4 - A aplicação do regime de demolição regulado nos números anteriores não prejudica,
caso se trate de imóvel arrendado, a aplicação do Decreto-Lei n.º 157/2006, de 8 de
agosto, alterado pelo Decreto-Lei n.º 306/2009, de 23 de outubro.

Artigo 58.º
Direito de preferência

1 - A entidade gestora tem preferência nas transmissões a título oneroso, entre


particulares, de terrenos, edifícios ou frações situados em área de reabilitação urbana.
2 - Tratando-se de património cultural imóvel classificado ou em vias de classificação
ou de imóveis localizados nas respetivas zonas de proteção, o direito de preferência da
entidade gestora não prevalece contra os direitos de preferência previstos no n.º 1 do
artigo 37.º da Lei n.º 107/2001, de 8 de setembro.
3 - O direito de preferência previsto no n.º 1 apenas pode ser exercido caso a entidade
gestora entenda que o imóvel deve ser objeto de intervenção no âmbito da operação de
reabilitação urbana, discriminando na declaração de preferência, nomeadamente, a
intervenção de que o imóvel carece e o prazo dentro do qual pretende executá-la.
4 - O direito de preferência exerce-se nos termos previstos no RJIGT, para o exercício
do direito de preferência do município sobre terrenos ou edifícios situados nas áreas do
plano com execução programada, podendo ser exercido com a declaração de não
aceitação do preço convencionado.
5 - Nos casos previstos na parte final do número anterior, assiste às partes do contrato,
primeiro ao vendedor e depois ao comprador:
a) O direito de reversão do bem quando não seja promovida a intervenção constante da
declaração de preferência, aplicando-se o disposto no Código das Expropriações, com
as devidas adaptações;
b) O direito de preferência na primeira alienação do bem.

Artigo 59.º
Arrendamento forçado
1 - Após a conclusão das obras realizadas pela câmara municipal nos termos do disposto
no n.º 4 do artigo 55.º, se o proprietário, no prazo de 20 dias, não proceder ao
ressarcimento integral das despesas incorridas pela entidade gestora, ou, no mesmo
prazo, não propuser outra forma alternativa de extinção da dívida, nomeadamente a
dação em cumprimento ou em função do cumprimento, ou ainda a consignação de
rendimentos do imóvel, nos termos da lei, pode a entidade gestora optar, em alternativa
à cobrança judicial da dívida em processo de execução fiscal, pelo arrendamento
forçado, nos termos previstos no RJUE.
2 - (Revogado.)
3 - O arrendamento previsto neste artigo não afasta o disposto no n.º 3 do artigo 73.º
4 - (Revogado.)

Artigo 60.º
Servidões

1 - Podem ser constituídas as servidões administrativas necessárias à reinstalação e


funcionamento das atividades localizadas nas zonas de intervenção.

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2 - A constituição das servidões rege-se, com as necessárias adaptações, pelo disposto no
artigo seguinte.

Artigo 61.º
Expropriação

1 - Na estrita medida em que tal seja necessário, adequado e proporcional,


atendendo aos interesses públicos e privados em presença, podem ser expropriados
os terrenos, os edifícios e as frações que sejam necessários à execução da operação
de reabilitação urbana.
2 - A entidade gestora pode ainda promover a expropriação por utilidade pública de
edifícios e de frações se os respetivos proprietários não cumprirem a obrigação de
promover a sua reabilitação, na sequência de notificação emitida nos termos do disposto
no n.º 1 do artigo 55.º, ou responderem à notificação alegando que não podem ou não
querem realizar as obras e trabalhos ordenados.
3 - A expropriação por utilidade pública inerente à execução da operação de reabilitação
urbana rege-se pelo disposto no Código das Expropriações, com as seguintes
especificidades:
a) A competência para a emissão da resolução de expropriar é da entidade gestora;
b) A competência para a emissão do ato administrativo que individualize os bens a
expropriar é da câmara municipal ou do órgão executivo da entidade gestora, consoante
tenha havido ou não delegação do poder de expropriação;
c) As expropriações abrangidas pelo presente artigo possuem caráter urgente.
4 - No caso de a expropriação se destinar a permitir a reabilitação de imóveis para a sua
colocação no mercado, os expropriados têm direito de preferência sobre a alienação dos
mesmos, mesmo que não haja perfeita identidade entre o imóvel expropriado e o imóvel
colocado no mercado.
5 - No caso da existência de mais que um expropriado a querer exercer a preferência,
abre-se licitação entre eles, revertendo a diferença entre o preço inicial e o preço final
para os expropriados, na proporção das respetivas indemnizações.

Nota 1: Art.º 91.º (Expropriação de bens móveis)

Artigo 62.º
Venda forçada
1 - Se os proprietários não cumprirem a obrigação de reabilitar nos termos do
disposto no n.º 1 do artigo 55.º, ou responderem à respetiva notificação alegando que não
podem ou não querem realizar as obras e trabalhos indicados, a entidade gestora pode,
em alternativa à expropriação a que se alude no n.º 2 do artigo anterior, proceder à venda
do edifício ou fração em causa em hasta pública a quem oferecer melhor preço e se
dispuser a cumprir a obrigação de reabilitação no prazo inicialmente estabelecido
para o efeito, contado da data da arrematação.

2 - Caso haja que proceder à venda forçada de imóveis constituídos em propriedade


horizontal, apenas podem ser objeto de venda forçada as frações autónomas, ou partes
passíveis de ser constituídas em frações autónomas, necessárias à realização da obrigação
de reabilitar, financiando-se as obras do imóvel com a venda forçada destas e mantendo
o proprietário o direito de propriedade das demais.
3 - A entidade gestora e o município dispõem de direito de preferência na alienação
do imóvel em hasta pública.

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4 - Para efeitos do disposto no n.º 1, a entidade gestora emite uma resolução de promoção
de venda forçada, a qual deve ser fundamentada e notificada nos termos previstos no
Código das Expropriações para a resolução de expropriar e requerimento da declaração
de utilidade pública, com as devidas adaptações, devendo sempre indicar o valor base do
edifício ou fração resultante de avaliação promovida nos termos e de acordo com os
critérios ali previstos.

5 - Ao proprietário assiste o direito de alienar o edifício ou fração em causa a terceiro


no prazo previsto no n.º 5 do artigo 11.º do Código das Expropriações, bem como o de
dizer o que se lhe oferecer sobre a proposta de valor base apresentada, no mesmo prazo,
podendo apresentar contraproposta fundamentada em relatório elaborado por perito da
sua escolha.
6 - Para efeitos do exercício do direito de alienação do bem, nos termos do número
anterior:
a) O proprietário informa a entidade gestora da intenção de alienação e, antes de esta
ocorrer, da identidade do possível adquirente;
b) A entidade gestora deve, no prazo de cinco dias contados a partir da receção da
informação prevista na parte final da alínea anterior, notificar o possível adquirente da
obrigação de reabilitação do edifício ou fração e do regime aplicável nos termos do
presente decreto-lei;

c) A alienação do bem só pode ocorrer após o possível adquirente ter sido notificado nos
termos da alínea anterior.
7 - Caso o proprietário tenha apresentado contraproposta nos termos previstos no n.º 5
com um valor superior ao valor base do edifício ou fração resultante da avaliação, é
aplicável o disposto nos n.º s 2 a 5 do artigo seguinte, passando o valor base da venda em
hasta pública a ser o valor fixado nos termos das referidas disposições.
8 - A entidade gestora pode decidir iniciar o procedimento de venda em hasta pública,
quando o proprietário estiver de acordo com o valor proposto pela entidade gestora ou
não apresentar contraproposta nos termos previstos no n.º 5.
9 - A decisão de início do procedimento de venda em hasta pública é:
a) Notificada ao interessado, nos termos previstos no Código das Expropriações para a
notificação da declaração de utilidade pública, com as devidas adaptações;
b) Publicitada, nos termos previstos no Decreto-Lei n.º 280/2007, de 7 de agosto, alterado
pelas Leis n.º s 55-A/2010, de 31 de dezembro, e 64-B/2011, de 30 de dezembro, para a
venda de imóveis do Estado e dos institutos públicos em hasta pública, com as devidas
adaptações.
10 - A venda em hasta pública referida no n.º 8 segue o procedimento previsto nos artigos
88.º e seguintes do Decreto-Lei n.º 280/2007, de 7 de agosto, alterado pelas Leis n.º s 55-
A/2010, de 31 de dezembro, e 64-B/2011, de 30 de dezembro, com as devidas adaptações.
11 - A aquisição do bem em hasta pública, ao abrigo do disposto no presente artigo:
a) É titulada pelo auto de arrematação, que constitui título bastante para a inscrição da
aquisição em favor do adjudicatário no registo predial;
b) Obriga à inscrição, no registo predial, de um ónus de não alienação e oneração, que
apenas pode ser cancelado através da exibição de certidão passada pela entidade gestora
que ateste a conclusão das obras.
12 - Se o arrematante ou o adquirente, nos termos do n.º 5, não começar a reabilitação do
edifício ou fração no prazo de seis meses contado da arrematação ou da aquisição, ou,
começando-a, não a concluir no prazo estabelecido:
a) A entidade gestora deve proceder à expropriação do edifício ou fração ou retomar o

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procedimento de venda forçada, dando-se conhecimento da decisão ao primitivo
proprietário;
b) O arrematante ou o adquirente, nos termos do n.º 5, inadimplente não tem direito a
receber um valor que exceda o montante que haja dispendido na aquisição do edifício ou
fração em causa, revertendo o excesso desse valor para o primitivo proprietário.
13 - Se, em qualquer das vendas em hasta pública, não comparecer licitante que arremate,
a entidade gestora paga o preço em que o bem foi avaliado e reabilita-o por sua conta, no
prazo inicialmente estabelecido para o efeito, contado da data da realização da hasta
pública, sob pena de reversão para o primitivo proprietário, aplicando-se, com as devidas
adaptações, o Código das Expropriações.

Nota: cf. art.º 5.º do CE: Direito de reversão.

Artigo 63.º
Determinação do montante pecuniário a entregar ao
proprietário em caso de venda forçada

1 - Nos casos em que o proprietário esteja de acordo com o valor proposto pela entidade
gestora ou não tenha apresentado contraproposta nos termos previstos no n.º 5 do artigo
anterior, a entidade gestora entrega-lhe o produto da hasta pública, terminado o
respetivo procedimento.
2 - Caso o proprietário tenha apresentado contraproposta, nos termos previstos no n.º 5
do artigo anterior, com um valor superior à proposta de valor base apresentada pela
entidade gestora, esta promove uma tentativa de acordo sobre o valor base da venda em
hasta pública, nos termos previstos no Código das Expropriações para a expropriação
amigável, com as necessárias adaptações.
3 - Na falta de acordo, nos termos do número anterior, é aplicável, com as necessárias
adaptações, o disposto no Código das Expropriações para a expropriação litigiosa,
designadamente sobre a arbitragem, a designação de árbitros, a arguição de
irregularidades e o recurso da decisão arbitral.
4 - Os prazos reportados no Código das Expropriações à declaração de utilidade pública
consideram-se reportados à resolução de promoção da venda forçada, prevista no n.º 4
do artigo anterior.
5 - O proprietário beneficia, relativamente ao valor do bem sujeito a venda forçada, de
todas as garantias conferidas ao expropriado, pelo Código das Expropriações,
relativamente à justa indemnização, designadamente quanto às formas de pagamento,
pagamento dos respetivos juros e atribuição desse valor aos interessados, com as
necessárias adaptações.
6 - Fixado o valor base da venda, nos termos dos números anteriores, a entidade gestora
pode iniciar o procedimento de venda em hasta pública e, findo este, entrega o produto
da venda ao proprietário.
7 - O início das obras de reabilitação do bem não pode ocorrer antes da realização da
vistoria ad perpetuam rei memoriam, nos termos previstos no Código das
Expropriações, com as necessárias adaptações.

Nota 1: Sobre a vistoria ad perpetuam rei memoriam, cf. art.º 20.º , sobretudo art.º 21 .º , e art.º 91 .º,
n.º 5, do CE.

Artigo 64.º
Reestruturação da propriedade
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1 - A entidade gestora da operação de reabilitação urbana pode promover a
reestruturação da propriedade de um ou mais imóveis, expropriando por utilidade
pública da operação de reabilitação urbana, ao abrigo do disposto no artigo 61.º,
designadamente:
a) As faixas adjacentes contínuas, com a profundidade prevista nos planos municipais
de ordenamento do território, destinadas a edificações e suas dependências, nos casos de
abertura, alargamento ou regularização de ruas, praças, jardins e outros lugares
públicos;
b) Os terrenos que, após as obras que justifiquem o seu aproveitamento urbano, não
sejam assim aproveitados, sem motivo legítimo, no prazo de 12 meses a contar da
notificação que, para esse fim, seja feita ao respetivo proprietário;
c) Os terrenos destinados a construção adjacentes a vias públicas de aglomerados
urbanos quando os proprietários, notificados para os aproveitarem em edificações, o não
fizerem, sem motivo legítimo, no prazo de 12 meses a contar da notificação;
d) Os prédios urbanos que devam ser reconstruídos ou remodelados, em razão das suas
pequenas dimensões, posição fora do alinhamento ou más condições de salubridade,
segurança ou estética, quando o proprietário não der cumprimento, sem motivo
legítimo, no prazo de 12 meses, à notificação que, para esse fim, lhe seja feita.
2 - Os prazos a que se referem as alíneas b), c) e d) do número anterior são suspensos
com o início do procedimento de licenciamento ou de comunicação prévia, sempre que
estes procedimentos sejam aplicáveis, cessando a suspensão caso a realização da
operação urbanística não seja licenciada ou admitida.
3 - Nos procedimentos de reestruturação da propriedade que abranjam mais que um
edifício ou que um terreno, o procedimento de expropriação deve ser precedido da
apresentação aos proprietários de uma proposta de acordo para estruturação da
compropriedade sobre o ou os edifícios que substituírem os existentes, bem como de,
relativamente aos bens a expropriar que revertam para o domínio público, uma proposta
de aquisição por via do direito privado, sem prejuízo do seu caráter urgente.

SECÇÃO III
Outros instrumentos de política urbanística

Artigo 65.º
Determinação do nível de conservação

1 - A entidade gestora pode requerer a determinação do nível de conservação de um


prédio urbano, ou de uma fração, compreendido numa área de reabilitação urbana, ainda
que não estejam arrendados, nos termos definidos em diploma próprio.
2 - Caso seja atribuído a um prédio um nível de conservação 1 ou 2, deve ser agravada a
taxa do imposto municipal sobre imóveis, nos termos legalmente previstos para os
edifícios degradados.

Artigo 66.º
Identificação de prédios ou frações devolutos

A entidade gestora possui competência para identificar os prédios ou frações que se


encontram devolutos, para efeitos de aplicação do disposto no Decreto-Lei n.º 159/2006,
de 8 de agosto.

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Artigo 67.º
Taxas municipais e compensações

1 - Pode ser estabelecido um regime especial de taxas municipais, constante de


regulamento municipal, para incentivo à realização das operações urbanísticas ao abrigo
do disposto no presente decreto-lei.
2 - Pode também ser estabelecido um regime especial de taxas municipais, constante de
regulamento municipal, para incentivo à instalação, dinamização e modernização de
atividades económicas, com aplicação restrita a ações enquadradas em operações de
reabilitação urbana sistemática.
3 - Pode ainda ser estabelecido, em regulamento municipal, um regime especial de
cálculo das compensações devidas ao município pela não cedência de áreas para
implantação de infraestruturas urbanas, equipamentos e espaços urbanos e verdes de
utilização coletiva, nos termos do disposto nos n.º s 4 e 5 do artigo 44.º do RJUE.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define as “infraestruturas urbanas” como “os sistemas técnicos de suporte direto ao funcionamento dos
aglomerados urbanos ou da edificação em conjunto”.

Artigo 68.º
Fundo de compensação

1 - Quando sejam adotados mecanismos de perequação compensatória no âmbito das


operações de reabilitação urbana, podem ser constituídos fundos de compensação com o
objetivo de receber e pagar as compensações devidas pela aplicação daqueles
mecanismos de compensação.
2 - São delegáveis na entidade gestora, caso esta não seja o município, as competências
para constituir e gerir os fundos de compensação a que se refere o número anterior.

CAPÍTULO VII
Participação e concertação de interesses

Artigo 69.º
Interessados

1 - Sem prejuízo das regras gerais relativas a legitimidade procedimental, previstas no


Código do Procedimento Administrativo, consideram-se interessados, no âmbito de
procedimentos a que alude o presente decreto-lei cujo objeto é uma fração, um edifício
ou um conjunto específico de edifícios, os proprietários e os titulares de outros direitos,
ónus e encargos relativos ao edifício ou fração a reabilitar.
2 - São tidos por interessados, para efeitos de aplicação do disposto no número anterior,
os que, no registo predial, na matriz predial ou em títulos bastantes de prova que exibam,
figurem como titulares dos direitos a que se refere o número anterior ou, sempre que se
trate de prédios omissos ou haja manifesta desatualização dos registos e das inscrições,
aqueles que pública e notoriamente forem tidos como tais.
3 - São ainda interessados no âmbito dos procedimentos a que se alude no n.º 1 aqueles
que demonstrem ter um interesse pessoal, direto e legítimo relativamente ao objeto do
procedimento e que requeiram a sua intervenção como tal.

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Artigo 70.º
Representação de incapazes, ausentes ou desconhecidos

1 - Havendo interessados incapazes, ausentes ou desconhecidos, sem que esteja


organizada a respetiva representação, a entidade gestora pode requerer ao tribunal
competente que lhes seja nomeado curador provisório, que é, quanto aos incapazes, na
falta de razões ponderosas em contrário, a pessoa a cuja guarda estiverem entregues.
2 - A intervenção do curador provisório cessa logo que se encontre designado o normal
representante do incapaz ou do ausente ou passem a ser conhecidos os interessados cuja
ausência justificara a curadoria.

Artigo 71.º
Organizações representativas dos interesses locais

A participação dos interessados nos procedimentos previstos no presente decreto-lei pode


ser exercida através de organizações representativas de interesses locais, nomeadamente
no âmbito da discussão pública de planos, programas e projetos.

Artigo 72.º
Concertação de interesses

1 - No âmbito dos procedimentos administrativos previstos no presente decreto-lei deve


ser promovida a utilização de mecanismos de negociação e concertação de interesses,
nomeadamente nos casos em que os interessados manifestem formalmente perante a
entidade gestora vontade e disponibilidade para colaborar e concertar, nessa sede, a
definição do conteúdo da decisão administrativa em causa.
2 - A utilização de mecanismos de concertação de interesses deve privilegiar a obtenção
de soluções que afetem os direitos dos interessados apenas na medida do que se revelar
necessário à tutela dos interesses públicos subjacentes à reabilitação urbana e que
permitam, na medida do possível, a manutenção dos direitos que os mesmos têm sobre os
imóveis.
3 - A entidade gestora deve informar os interessados a respeito dos respetivos direitos e
deveres na operação de reabilitação urbana, nomeadamente sobre os apoios e incentivos
financeiros e fiscais existentes.

Artigo 73.º
Direitos dos ocupantes de edifícios ou frações

1 - Quem, de boa fé, habite em edifícios ou frações que sejam objeto de obras coercivas,
nos termos do presente decreto-lei, tem direito a realojamento temporário, a expensas do
proprietário, exceto se dispuser no mesmo concelho ou em concelho limítrofe de outra
habitação que satisfaça adequadamente as necessidades de habitação do seu agregado.
2 - Quem, de boa fé, habite em edifícios ou frações que sejam objeto de reestruturação da
propriedade, expropriação ou venda forçada, nos termos do presente decreto-lei, tem
direito a realojamento equivalente, devendo apenas ser constituído como interessado no
procedimento de determinação de montante indemnizatório se prescindir desse
realojamento.
3 - Os sujeitos referidos nos números anteriores têm preferência nas posteriores
alienações ou locações de edifício ou fração objeto da ação de reabilitação realizada nos
termos do presente decreto-lei.

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4 - O disposto nos números anteriores não prejudica os direitos dos arrendatários previstos
na legislação aplicável.

Artigo 73.º-A
Programa de ação territorial

A delimitação da área de reabilitação urbana, o programa estratégico de reabilitação


urbana, o programa da unidade de intervenção, a elaboração, revisão ou alteração de plano
de pormenor de reabilitação urbana, bem como os termos da sua execução, podem ser,
conjunta ou isoladamente, objeto de programa de ação territorial, a celebrar nos termos
previstos no RJIGT.

CAPÍTULO VIII
Financiamento

Artigo 74.º
Apoios do Estado

1 - O Estado pode, nos termos previstos na legislação sobre a matéria, conceder


apoios financeiros e outros incentivos aos proprietários e a terceiros que
promovam ações de reabilitação de edifícios e, no caso de operações de reabilitação
urbana sistemática, de dinamização e modernização das atividades económicas.
2 - O Estado pode também conceder apoios financeiros às entidades gestoras, nos
termos previstos em legislação especial.
3 - Em qualquer caso, os apoios prestados devem assegurar o cumprimento das normas
aplicáveis a respeito de proteção da concorrência e de auxílios do Estado.

Artigo 75.º
Apoios dos municípios

1 - Os municípios podem, nos termos previstos em legislação e regulamento municipal


sobre a matéria, conceder apoios financeiros a intervenções no âmbito das operações de
reabilitação urbana.
2 - Os apoios financeiros podem ser atribuídos aos proprietários, às entidades gestoras da
operação de reabilitação urbana e a terceiros que promovam ações de reabilitação urbana,
incluindo as que se destinam à dinamização e modernização das atividades económicas.
3 - A legislação a que se refere o n.º 1 e os apoios prestados devem assegurar o
cumprimento das normas aplicáveis a respeito de proteção da concorrência e de auxílios
do Estado.

Artigo 76.º
Financiamento das entidades gestoras

1 - As entidades gestoras podem contrair empréstimos a médio e longo prazos destinados


ao financiamento das operações de reabilitação urbana, os quais, caso autorizados por
despacho do ministro responsável pela área das finanças, não relevam para efeitos do
montante da dívida de cada município.
2 - A delimitação de uma área de reabilitação urbana confere ao município o poder de
aceitar e sacar letras de câmbio, conceder avales cambiários, subscrever livranças, bem
como conceder garantias pessoais e reais, relativamente a quaisquer operações de

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financiamento promovidas por entidades gestoras no âmbito de uma operação de
reabilitação urbana.

Artigo 77.º
Fundos de investimento imobiliário

1 - Para a execução das operações de reabilitação urbana, podem constituir-se fundos de


investimento imobiliário, nos termos definidos em legislação especial.
2 - A subscrição de unidades de participação nos fundos referidos no número anterior
pode ser feita em dinheiro ou através da entrega de prédios ou frações a reabilitar.
3 - Para o efeito previsto no número anterior, o valor dos prédios ou frações é determinado
pela entidade gestora do fundo, dentro dos valores de avaliação apurados por um
avaliador independente registado na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e por
aquela designado.
4 - A entidade gestora da operação de reabilitação urbana pode participar no fundo de
investimento imobiliário.

PARTE III
Regime especial da reabilitação urbana

Artigo 77.º-A
Âmbito

1 - O regime estabelecido na presente parte aplica-se às operações urbanísticas de


reabilitação que cumpram os requisitos previstos no número seguinte e tenham por objeto
edifícios ou frações, localizados ou não em áreas de reabilitação urbana:
a) Cuja construção, legalmente existente, tenha sido concluída há pelo menos 30 anos; e
b) Nos quais, em virtude da sua insuficiência, degradação ou obsolescência,
designadamente no que se refere às suas condições de uso, solidez, segurança, estética ou
salubridade, se justifique uma intervenção de reabilitação destinada a conferir adequadas
características de desempenho e de segurança funcional, estrutural e construtiva.
2 - As operações urbanísticas de reabilitação abrangidas pela presente parte devem,
cumulativamente:
a) Preservar as fachadas principais do edifício com todos os seus elementos não
dissonantes, com possibilidade de novas aberturas de vãos ou modificação de vãos
existentes ao nível do piso térreo, nos termos previstos nas normas legais e
regulamentares e nos instrumentos de gestão territorial aplicáveis;
b) Manter os elementos arquitetónicos e estruturais de valor patrimonial do edifício,
designadamente abóbadas, arcarias, estruturas metálicas ou de madeira;
c) Manter o número de pisos acima do solo e no subsolo, bem como a configuração da
cobertura, sendo admitido o aproveitamento do vão da cobertura como área útil, com
possibilidade de abertura de vãos para comunicação com o exterior, nos termos previstos
nas normas legais e regulamentares e nos instrumentos de gestão territorial aplicáveis; e
d) Não reduzir a resistência estrutural do edifício, designadamente ao nível sísmico, e
observar as opções de construção adequadas à segurança estrutural e sísmica do edifício.
3 - O regime estabelecido na presente parte não se aplica às operações urbanísticas
realizadas em bens imóveis:
a) Individualmente classificados ou em vias de classificação; ou
b) Localizados em áreas urbanas de génese ilegal, salvo se estiverem incluídos em áreas
de reabilitação urbana.

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4 - O regime estabelecido na presente parte aplica-se às operações urbanísticas realizadas
em bens imóveis que se localizem em zonas de proteção e não estejam individualmente
classificados nem em vias de classificação, salvo quando importem novas aberturas de
vãos na fachada ou na cobertura.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define “fachada” como “cada uma das faces aparentes do edifício, constituída por uma ou mais paredes
exteriores diretamente relacionadas entre si.”

Artigo 77.º-B
Regime do controlo prévio de operações urbanísticas

1 - Sem prejuízo do disposto nos números seguintes, às operações urbanísticas abrangidas


pela presente parte aplica-se o procedimento simplificado de controlo prévio, nos termos
estabelecidos nos artigos 53.º-A a 53.º-G e no respetivo regime subsidiário, com as
necessárias adaptações, salvo quando estiverem isentas de controlo prévio ao abrigo do
presente decreto-lei e do regime jurídico da urbanização e da edificação, aprovado pelo
Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de dezembro.
2 - Nos casos em que o regime estabelecido na presente parte é aplicável nos termos do
n.º 4 do artigo anterior, uma vez apresentados ao município a comunicação e demais
elementos a que se refere o artigo 53.º-C, aquele remete-os de imediato, por meios
eletrónicos, à administração do património cultural, para emissão de parecer não
vinculativo no prazo de 10 dias úteis.
3 - Decorrido o prazo previsto no número anterior sem que a administração do património
cultural se tenha pronunciado, considera-se que a mesma não se opõe à comunicação a
que se refere o artigo 53.º-C.

PARTE IV
Disposições sancionatórias

Artigo 77.º-C
Contraordenações

1 - Sem prejuízo da responsabilidade civil, criminal ou disciplinar, é punível como


contraordenação:
a) A realização de operação urbanística de reabilitação urbana sujeita a comunicação
prévia sem que esta haja sido efetuada e admitida;
b) A realização de quaisquer operações urbanísticas de reabilitação de edifícios em
desconformidade com o respetivo projeto ou com as condições da admissão da
comunicação prévia;
c)(Revogado);
d) As falsas declarações dos autores e coordenadores de projetos no termo de
responsabilidade relativamente à observância das normas técnicas gerais e específicas
de construção, bem como das disposições legais e regulamentares aplicáveis ao projeto;
e) As falsas declarações dos autores e coordenador de projetos no termo de
responsabilidade previsto nos n.º s 2 e 3 do artigo 53.º-F, incluindo quando o mesmo for
apresentado ao abrigo das referidas disposições legais nos termos do artigo 77.º-B;
f) As falsas declarações do diretor de obra, do diretor de fiscalização de obra e de outros
técnicos no termo de responsabilidade previsto no n.º 2 do artigo 53.º-G, incluindo
quando o mesmo for apresentado ao abrigo da referida disposição legal nos termos do
artigo 77.º-B, relativamente:

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i) À conformidade da execução da obra com o projeto aprovado e com as condições da
comunicação prévia admitida;
ii) À conformidade das alterações efetuadas ao projeto com as normas legais e
regulamentares aplicáveis;
g) As falsas declarações do técnico legalmente habilitado no termo de responsabilidade
previsto no artigo 81.º-A;
h) A subscrição de projeto da autoria de quem, por razões de ordem técnica, legal ou
disciplinar, se encontre inibido de o elaborar.
2 - A contraordenação prevista na alínea a) do número anterior é punível com coima de
(euro) 500 a (euro) 200 000, no caso de pessoa singular, e de (euro) 1500 a (euro) 450
000, no caso de pessoa coletiva.
3 - A contraordenação prevista na alínea b) do n.º 1 é punível com coima de (euro) 3000
a (euro) 200 000, no caso de pessoa singular, e de (euro) 6000 a (euro) 450 000, no caso
de pessoa coletiva.
4 - A contraordenação prevista na alínea c) do n.º 1 é punível com coima de (euro) 500
a (euro) 100 000, no caso de pessoa singular, e de (euro) 1500 a (euro) 250 000, no caso
de pessoa coletiva.
5 - As contraordenações previstas nas alíneas d) a h) do n.º 1 são puníveis com coima de
(euro) 3000 a (euro) 200 000.
6 - A negligência é punível, sendo os limites mínimos e máximos das coimas reduzidos
para metade.
7 - A tentativa é punível com a coima aplicável à contraordenação consumada,
especialmente atenuada.

Artigo 77.º-D
Sanções acessórias

1 - Consoante a gravidade da contraordenação e a culpa do agente, podem ser aplicadas,


simultaneamente com a coima, as seguintes sanções acessórias:
a) A perda a favor do Estado dos objetos pertencentes ao agente que serviram ou
estavam destinados a servir para a prática da infração, ou que por esta foram
produzidos;
b) A interdição do exercício, até ao máximo de quatro anos, da profissão ou atividade
conexas com a infração praticada;
c) A privação, até ao máximo de quatro anos, do direito a subsídio ou benefício
outorgado ou a outorgar por entidades ou serviços públicos.
2 - As coimas e as sanções acessórias previstas no presente decreto-lei, quando
aplicadas a empresário em nome individual ou a sociedade comercial habilitados a
exercer a atividade da construção ou a representante legal desta, são comunicadas ao
Instituto da Construção e do Imobiliário, I. P.
3 - As sanções aplicadas ao abrigo do disposto nas alíneas d) a h) do n.º 1 do artigo
anterior aos autores de projeto, coordenadores de projetos, responsáveis pela direção
técnica da obra ou a quem subscreva o termo de responsabilidade previsto nos n.º s 2 e 3
do artigo 53.º-F, no n.º 2 do artigo 53.º-G, em qualquer dos casos incluindo quando o
fizer ao abrigo das referidas disposições legais nos termos do artigo 77.º-B, e no artigo
81.º-A, são comunicadas à respetiva ordem ou associação profissional, quando exista.
4 - A interdição de exercício de atividade prevista na alínea b) do n.º 1, quando aplicada
a pessoa coletiva, estende-se a outras pessoas coletivas constituídas pelos mesmos
sócios.

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Artigo 77.º-E
Instrução e decisão

Sem prejuízo das competências atribuídas por lei a outras autoridades policiais e
fiscalizadoras, a competência para determinar a instauração dos processos de
contraordenação, para designar o instrutor e para aplicar as coimas e as sanções acessórias
pertence ao presidente da câmara municipal ou, se houver delegação de competências,
aos vereadores.

Artigo 77.º-F
Destino do produto das coimas

O produto da aplicação das coimas reverte a favor do município, inclusive quando as


mesmas sejam cobradas em juízo.

Artigo 77.º-G
Responsabilidade criminal

1 - O desrespeito dos atos administrativos que determinem qualquer das medidas de


tutela da legalidade urbanística previstas no presente decreto-lei é punível nos termos do
artigo 348.º do Código Penal.
2 - As falsas declarações ou informações prestadas nos termos de responsabilidade ou
no livro de obra pelos autores e coordenadores de projetos, diretores de obra e de
fiscalização de obra e outros técnicos, referidos nas alíneas d) a g) do n.º 1 do artigo
77.º-C, são puníveis nos termos do artigo 256.º do Código Penal.
3 - O disposto no número anterior não prejudica a aplicação do artigo 277.º do Código
Penal.

PARTE V
Disposições transitórias e finais

SECÇÃO I
Disposições transitórias

Artigo 78.º
Áreas críticas de recuperação e reconversão urbanística

1 - As áreas críticas de recuperação e reconversão urbanística criadas ao abrigo do


Decreto-Lei n.º 794/76, de 5 de novembro, alterado pelos Decretos-Leis n.º s 313/80, de
19 de agosto, e 400/84, de 31 de dezembro, podem ser convertidas em uma ou mais
áreas de reabilitação urbana, nos termos do presente decreto-lei.
2 - A conversão das áreas críticas de recuperação e reconversão urbanística em áreas de
reabilitação urbana opera-se por deliberação da assembleia municipal, sob proposta da
câmara municipal, que deve englobar a aprovação da estratégia de reabilitação urbana
ou do programa estratégico de reabilitação urbana, nos termos do procedimento previsto
no presente decreto-lei.
3 - A conversão pode ser feita através da aprovação de plano de pormenor de
reabilitação urbana que inclua na sua área de intervenção a área crítica de recuperação e
reconversão urbanística em causa.
4 - A conversão das áreas críticas de recuperação e reconversão urbanística deve ocorrer

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no prazo de dois anos contado da data de entrada em vigor do presente decreto-lei.
5 - Os decretos de classificação de áreas críticas de recuperação e reconversão
urbanística, praticados ao abrigo do Decreto-Lei n.º 794/76, de 5 de novembro, alterado
pelos Decretos-Leis n.º s 313/80, de 19 de agosto, e 400/84, de 31 de dezembro,
caducam caso não venha a ser aprovada, nos termos e prazo previstos nos números
anteriores, a conversão de área crítica de recuperação e reconversão urbanística em
áreas de reabilitação urbana.
6 - O disposto no número anterior não prejudica o exercício dos direitos aos benefícios
fiscais, ou outros, entretanto adquiridos.
7 - Nas áreas críticas de recuperação e reconversão urbanística, até à conversão prevista
no presente artigo ou à caducidade dos respetivos decretos de classificação, é aplicável
o regime previsto no Decreto-Lei n.º 794/76, de 5 de novembro, alterado pelos
Decretos-Leis n.º s 313/80, de 19 de agosto, e 400/84, de 31 de dezembro.

Artigo 79.º
Sociedades de reabilitação urbana constituídas ao abrigo do
Decreto-Lei n.º 104/2004, de 7 de Maio

1 - As sociedades de reabilitação urbana criadas ao abrigo do Decreto-Lei n.º 104/2004,


de 7 de maio, prosseguem o seu objeto social até ao momento da sua extinção, que
ocorre exclusivamente nos termos do artigo 38.º do presente decreto-lei, salvo se forem
designadas como entidades gestoras em operações de reabilitação urbana, nos termos do
presente decreto-lei.
2 - As empresas a que se refere o número anterior regem-se pelo regime do setor
empresarial local ou pelo regime do setor empresarial do Estado, consoante a maioria do
capital social seja detida pelo município ou pelo Estado, sem prejuízo do disposto no
número seguinte.
3 - O disposto nos n.º s 1 e 2 do artigo 20.º e no artigo 32.º do regime jurídico da
atividade empresarial local e das participações locais, aprovado pela Lei n.º 50/2012, de
31 de agosto, não se aplica às sociedades previstas no n.º 1 que mantenham o seu objeto
social e que, em virtude de uma alteração no conjunto das participações de natureza
pública, passem a integrar o setor empresarial local, designadamente por transferências
da entidade titular.
4 - Para efeitos do presente decreto-lei, consideram-se equiparadas às áreas de
reabilitação urbana as zonas de intervenção das sociedades de reabilitação urbana,
delimitadas nos termos do Decreto-Lei n.º 104/2004, de 7 de maio, equiparando-se as
unidades de intervenção com documentos estratégicos aprovados ao abrigo do mesmo
decreto-lei às unidades de intervenção reguladas no presente decreto-lei.
5 - A reabilitação urbana nas zonas de intervenção referidas no número anterior é
prosseguida pelas sociedades de reabilitação urbana já constituídas, que assumem a
qualidade de entidade gestora nos termos e para os efeitos do regime aprovado pelo
presente decreto-lei, com as seguintes especificidades:
a) A reabilitação urbana nas zonas de intervenção das sociedades de reabilitação urbana
é enquadrada pelos instrumentos de programação e de execução aprovados de acordo
com o Decreto-Lei n.º 104/2004, de 7 de maio, designadamente os documentos
estratégicos das unidades de intervenção;
b) As sociedades de reabilitação urbana consideram-se investidas nos poderes previstos
no n.º 1 do artigo 44.º e nas alíneas a) e c) a e) do n.º 1 do artigo 54.º, para a totalidade
da zona de intervenção, considerando-se ainda investidas nos poderes previstos nas
alíneas b) e f) a i) do artigo 54.º nas áreas das unidades de intervenção com documentos

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estratégicos aprovados;
c) Os contratos de reabilitação celebrados ao abrigo do Decreto-Lei n.º 104/2004, de 7
de maio, são equiparados aos contratos de reabilitação urbana regulados no presente
decreto-lei.
6 - Sem prejuízo do disposto no número anterior, os municípios devem, no prazo de
cinco anos contados da entrada em vigor do presente decreto-lei, aprovar a estratégia de
reabilitação urbana ou o programa estratégico de reabilitação urbana das zonas de
intervenção referidas no n.º 3, nos termos do procedimento previsto no presente decreto-
lei, e dar o subsequente seguimento ao procedimento, convertendo a zona de
intervenção das sociedades de reabilitação urbana constituídas nos termos do Decreto-
Lei n.º 104/2004, de 7 de maio, em uma ou mais áreas de reabilitação urbana.
7 - Sem prejuízo do termo do prazo estabelecido no número anterior, a conversão da
zona de intervenção das sociedades de reabilitação urbana pode ser feita faseadamente,
nos casos em que o município opte pela delimitação de mais de uma área de reabilitação
urbana.
8 - As áreas da zona de intervenção que, nos termos e prazo previstos no n.º 5, não
sejam objeto da decisão a que alude o mesmo número deixam de se reger pelo regime
estabelecido no presente decreto-lei.
9 - As sociedades de reabilitação urbana referidas no n.º 1 podem ser encarregues pela
câmara municipal de preparar o projeto de delimitação de áreas de reabilitação urbana,
nos termos previstos no n.º 3 do artigo 13.º, ou de preparar o projeto de plano de
pormenor e dos elementos que o acompanham, nos termos previstos no n.º 3 do artigo
26.º

Artigo 80.º
Áreas de reabilitação urbana para os efeitos previstos no Regime Extraordinário
de Apoio à Reabilitação Urbana, aprovado pela Lei n.º 67-A/2007, de 31 de
dezembro, ou no artigo 71.º do

A entrada em vigor do presente decreto-lei não prejudica a aplicação do Regime


Extraordinário de Apoio à Reabilitação Urbana, aprovado pela Lei n.º 67-A/2007, de 31
de dezembro, ou do disposto no artigo 71.º do Estatuto dos Benefícios Fiscais.

Artigo 81.º
Planos de pormenor em elaboração

Os planos de pormenor em elaboração à data da entrada em vigor do presente decreto-lei


podem ser aprovados sob a forma de planos de pormenor de reabilitação urbana, devendo
a câmara municipal, para o efeito, adaptar o projeto de plano de pormenor às regras
estabelecidas no presente decreto-lei.

SECÇÃO II
Disposições finais

Artigo 81.º-A
Constituição da propriedade horizontal

1 - O termo de responsabilidade subscrito por técnico legalmente habilitado atestando


que estão verificados os requisitos legais para a constituição da propriedade horizontal,
acompanhado de comprovativo da sua apresentação ao município ou à entidade referida

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na alínea b) do n.º 1 do artigo 10.º, quando for aplicável, vale como documento
comprovativo de que as frações autónomas satisfazem os requisitos legais, para os
efeitos do disposto no artigo 59.º do Código do Notariado.
2 - O termo de responsabilidade referido no número anterior deve:
a) Identificar o titular da autorização de utilização;
b) Identificar o edifício e as frações autónomas, bem como as respetivas áreas;
c) Indicar o fim a que se destinam as frações autónomas;
d) Declarar que estão cumpridos os requisitos legais para a constituição da propriedade
horizontal.
3 - O modelo do termo de responsabilidade referido nos números anteriores é aprovado
por portaria dos membros do Governo responsáveis pelas áreas das autarquias locais, da
economia e do ordenamento do território.
4 - Quando a entidade gestora for uma de entre as mencionadas na alínea b) do n.º 1 do
artigo 10.º, o termo de responsabilidade e o comprovativo da sua apresentação são
disponibilizados ao município por meios eletrónicos.

Artigo 82.º
Regiões autónomas

O presente decreto-lei aplica-se às Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, com as


devidas adaptações, nos termos da respetiva autonomia político-administrativa, cabendo
a sua execução administrativa aos serviços e organismos das respetivas administrações
regionais autónomas com atribuições e competências no âmbito da reabilitação urbana,
sem prejuízo das atribuições das entidades de âmbito nacional.

Artigo 83.º
Norma revogatória

Sem prejuízo do disposto no n.º 7 do artigo 78.º, são revogados:


a) O Decreto-Lei n.º 104/2004, de 7 de maio;
b) O capítulo xi do Decreto-Lei n.º 794/76, de 5 de novembro, alterado pelos Decretos-
Leis n.º s 313/80, de 19 de agosto, e 400/84, de 31 de dezembro.

Artigo 84.º
Entrada em vigor

O presente decreto-lei entra em vigor 60 dias após a data da sua publicação.

REGULAMENTO GERAL DAS EDIFICAÇÕES URBANAS (RGEU)

Decreto-Lei n.º 38 382 de 7 de Agosto de 1951: Aprova o Regulamento geral


das edificações urbanas

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Alterado pelos: Decretos-Leis n.ºs 38 888 de 29 de Agosto de 1952; 44 258 de 31 de
Março de 1962; 45 027 de 13 de Maio de 1963; 650/75 de 18 de Novembro; 43/82 de 8
de Fevereiro;463/85 de 4 de Novembro;172–H/86 de 30 de Junho;64/90 de 21 de
Fevereiro;61/93 de 3 de Março;409/98 de 23 de Dezembro;410/98 de 23 de Dezembro;
414/98 de 31 de Dezembro;177/2001 de 4 de Junho; 290/2007, de 17 de Agosto; 50/2008,
de 19 de Março; 220/2008, de 12 de Novembro; Decreto- Lei n.º 10/2024, de 8 de janeiro
que prevê a revogação deste diploma com efeitos reportados a 1 de junho de 2026

TÍTULO I
DISPOSIÇÕES DE NATUREZA ADMINISTRATIVA
CAPÍTULO I
Generalidades
Artigo 1.º
A execução de novas edificações ou de quaisquer obras de construção civil, a
reconstrução, ampliação, alteração, reparação ou demolição das edificações e obras
existentes, e bem assim os trabalhos que impliquem alteração da topografia local, dentro
do perímetro urbano e das zonas rurais de protecção fixadas para as sedes de concelho e
para as demais localidades sujeitas por lei a plano de urbanização e expansão subordinar-
se-ão às disposições do presente regulamento.

§ único. Fora das zonas e localidades, a que faz referência este artigo, o presente
regulamento aplicar-se-á nas povoações a que seja tornado extensivo por
deliberação municipal e, em todos os casos, às edificações de carácter industrial ou de
utilização colectiva.

Artigo 1.º-A
Construção modular
O presente regulamento é ainda aplicável à construção modular de carácter permanente,
que é caracterizada por utilizar elementos ou sistemas construtivos modulares, estruturais
ou não estruturais, parcial ou totalmente produzidos em fábrica, previamente ligados entre
si ou no local de implantação, independentemente da sua natureza amovível ou
transportável.

Artigo 2.º
(Revogado).
Artigo 3.º
(Revogado).

Artigo 3.º-A
(Revogado).
Artigo 4.º
A concessão da licença para a execução de qualquer obra e o próprio exercício da
fiscalização municipal no seu decurso não isentam o dono da obra, ou o seu
proposto ou comitido, da responsabilidade pela condução dos trabalhos em estrita
concordância com as prescrições regulamentares e não poderão desobrigá-los da
obediência a outros preceitos gerais ou especiais a que a edificação, pela sua
localização ou natureza, haja de subordinar-se.

Artigo 5.º

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(Revogado).

Artigo 6.º
(Revogado).

Artigo 7.º
(Revogado).
Artigo 8.º
(Revogado).
Artigo 9.º
Artigo 10.º
Artigo 11.º
Poderão ser expropriadas as edificações que, em consequência de deliberação
camarária baseada em prévia vistoria realizada nos termos do §1º do artigo 51.º
do Código Administrativo, devam ser reconstruídas, remodeladas, beneficiadas ou
demolidas, total ou parcialmente, para realização de plano de urbanização geral ou parcial
aprovado.

Artigo 12.º
(Revogado)
Artigo 13.º
(Revogado).
Artigo 14.º
As obras executadas pelos serviços do Estado não carecem de licença municipal,
mas deverão ser submetidas à prévia apreciação das respectivas câmaras
municipais, a fim de se verificar a sua conformidade com o plano geral ou parcial de
urbanização aprovado e com as prescrições regulamentares aplicáveis.

TÍTULO II
CONDIÇÕES GERAIS DAS EDIFICAÇÕES

CAPÍTULO I
Generalidades

Artigo 15.º
Todas as edificações, seja qual for a sua natureza, deverão ser construídas com
perfeita observância das melhores normas da arte de construir e com todos os
requisitos necessários para que lhes fiquem asseguradas, de modo duradouro, as
condições de segurança, salubridade e estética mais adequadas à sua utilização e
às funções educativas que devem exercer.

Artigo 16.º
A qualidade, a natureza e o modo de aplicação dos materiais utilizados na
construção das edificações deverão ser de molde que satisfaçam as condições
estabelecidas no artigo anterior e as especificações oficiais aplicáveis.
Artigo 17.º
1. As edificações devem ser construídas e intervencionadas de modo a garantir a
satisfação das exigências essenciais de resistência mecânica e estabilidade, de
segurança na sua utilização e em caso de incêndio, de higiene, saúde e
protecção do ambiente, de protecção contra o ruído, de economia de energia, de

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isolamento térmico, em matéria de acessibilidades, de ventilação e das demais exigências
estabelecidas no presente
Regulamento ou em legislação específica, nomeadamente de funcionalidade, de
durabilidade e outras.
2. A qualidade, a natureza e o modo de aplicação dos materiais utilizados na
construção das edificações novas e nas intervenções devem respeitar as regras
de construção e da regulamentação aplicável, garantindo que as edificações
satisfaçam as condições e exigências referidas no número anterior em
conformidade com as especificações técnicas do projecto de execução.
3. A utilização de produtos da construção em edificações novas, ou em intervenções,
é condicionada, nos termos da legislação aplicável, à respectiva marcação
CE ou, na sua ausência, sem prejuízo do reconhecimento mútuo, à certificação
da sua conformidade com especificações técnicas em vigor em Portugal.
4. A certificação da conformidade com especificações técnicas em vigor em
Portugal pode ser requerida por qualquer interessado, devendo sempre ser tidos
em conta para o efeito os certificados de conformidade com especificações
técnicas em vigor em qualquer Estado membro da União Europeia, na Turquia
ou em Estado subscritor do acordo do espaço económico europeu, bem como os
resultados satisfatórios nas inspecções e ensaios efectuados no Estado produtor,
nas condições previstas no n.º 2 do artigo 9.º do Decreto-Lei n.º 113/93, de 10
de Abril.
5. Nos casos em que os produtos de construção não preencham nenhuma das
condições previstas no n.º 3 e sempre que a sua utilização em edificações novas
ou intervenções possa comportar risco para a satisfação das exigências
essenciais indicadas no n.º 1, fica a mesma condicionada à respectiva
homologação pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil, devendo este
dispensá-la se tais produtos possuírem certificados de conformidade emitidos
por entidade aprovada em Estado membro da União Europeia, na Turquia ou em
Estado subscritor do acordo do espaço económico europeu que atestem
suficientemente a satisfação das referidas exigências.
6. A homologação prevista no número anterior pode ser requerida por qualquer
interessado, devendo o Laboratório Nacional de Engenharia Civil ter sempre em
consideração, nas condições previstas no n.º 2 do artigo 9.º do Decreto -Lei n.º
113/93, de 10 de Abril, os certificados de conformidade, os ensaios e as
inspecções emitidos ou efectuados por uma entidade aprovada em Estado
membro da União Europeia, na Turquia ou em Estado subscritor do acordo do
espaço económico europeu, bem como cooperar com aquelas entidades na
obtenção e análise dos respectivos resultados.
7. A necessidade de repetir qualquer dos ensaios e inspecções referidos nos nºs 4 e 6 deve
ser devidamente fundamentada pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil.
8. As homologações são concedidas sempre que os requisitos enunciados no anexo
I do Decreto-Lei n.º 113/93, de 10 de Abril, se revelem preenchidos.

CAPÍTULO II
Fundações

Artigo 18.º

As fundações dos edifícios serão estabelecidas sobre terreno estável e


suficientemente firme, por natureza ou por consolidação artificial, para suportar

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com segurança as cargas que lhe são transmitidas pelos elementos da construção,
nas condições de utilização mais desfavoráveis.

Artigo 19.º
Quando as condições do terreno e as características da edificação permitam a
fundação contínua, observar-se-ão os seguintes preceitos:
1. Os caboucos penetrarão no terreno firme até à profundidade de 50 centímetros,
pelo menos, excepto quando se trate de rocha dura, onde poderá ser menor.
Esta profundidade deve, em todos os casos, ser suficiente para assegurar a
distribuição quanto possível regular das pressões na base do alicerce;
2. A espessura da base dos alicerces ou a largura das sapatas, quando requeridas, serão
fixadas por forma que a pressão unitária no fundo dos caboucos não exceda a carga de
segurança admissível para o terreno de fundação;
3. Os alicerces serão construídos de tal arte que a humidade do terreno não se
comunique as paredes da edificação, devendo, sempre que necessário,intercalar-se entre
eles e as paredes uma camada hidrófuga.
Na execução dos alicerces e das paredes até 50 centímetros acima do terreno
exterior utilizar-se-á alvenaria hidráulica, resistente e impermeável, fabricada
com materiais rijos e não porosos;
4. Nos alicerces constituídos por camadas de diferentes larguras a saliência de
cada degrau, desde que o contrário se não justifique por cálculos de resistência, não
excederá a sua altura.
Artigo 20.º
Quando o terreno com as características requeridas esteja a profundidade que não
permita fundação contínua, directamente assente sobre ela, adoptar-se-ão
processos especiais adequados de fundação, com observância, além das
disposições aplicáveis do artigo anterior, de quaisquer prescrições especialmente
estabelecidas para garantir a segurança da construção.
Artigo 21.º
As câmaras municipais, atendendo à natureza, importância e demais condições
particulares das obras, poderão exigir que do respectivo projecto conste, quer o
estudo suficientemente pormenorizado do terreno de fundação, de forma a ficarem
definidas com clareza as suas características, quer a justificação pormenorizada dasolução
prevista, ou ambas as coisas.
Artigo 22.º
A compressão do terreno por meios mecânicos, a cravação de estacas ou qualquer
outro processo de construir as fundações por percussão deverão mencionar-se
claramente nos projectos, podendo as câmaras municipais condicionar, ou mesmo
não autorizar, o seu uso sempre que possa afectar construções vizinhas.
CAPÍTULO III
Paredes
Artigo 23.º
As paredes das edificações serão constituídas tendo em vista não só as exigências de
segurança, como também as de salubridade, especialmente no que respeita à protecção
contra a humidade, as variações de temperatura e a propagação de ruídos e vibrações.
Artigo 24.º
Na construção das paredes de edificações de carácter permanente utilizar-se-ão
materiais adequados à natureza, importância, carácter, destino e localização dessas
edificações, os quais devem oferecer, em todos os casos, suficientes condições de
segurança e durabilidade.

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Artigo 25.º
Para as paredes das edificações correntes destinadas a habitação, quando
construídas de alvenaria de pedra ou de tijolo cerâmico maciço de 1.ª qualidade,
com as dimensões de 0,23m x 0, 11m x 0,07m, poderá considerar-se assegurada,
sem outra justificação, a sua resistência, sem que se adoptem as espessuras
mínimas fixadas na tabela seguinte.
Segue-se uma tabela
§ 1º Quando se empreguem tijolos de outras dimensões, admitir-se-á a tolerância
até 10 por cento nas espessuras correspondentes às indicações da tabela para
as paredes de tijolo.
§ 2º É permitido o emprego de alvenaria mista de tijolo maciço e furado nas
paredes dos grupos A e B, nos dois andares superiores das edificações, desde
que os topos dos furos ou canais dos tijolos não fiquem nos paramentos
exteriores.
§ 3º É permitido o emprego de tijolo furado nas paredes do grupo C nos dois
andares superiores, nas do grupo D nos quatro andares superiores e nas do
grupo E em todos os andares acima do terreno.
§ 4º É obrigatório o emprego de pedra rija nas paredes de alvenaria de pedra
irregular dos andares abaixo dos quatro superiores, sempre que se adoptem as
espessuras mínimas fixadas.
§ 5º A alvenaria de pedra talhada (perpianho ou semelhante) será constituída por
paralelepípedos de pedra rija que abranja toda a espessura da parede.
Artigo 26.º
As câmaras municipais só poderão autorizar, para as paredes das edificações
correntes destinadas a habitação, construídas de alvenaria de pedra ou tijolo,
espessuras inferiores aos mínimos fixados no artigo anterior, desde que:
1. Sejam asseguradas ao mesmo tempo as disposições porventura necessárias
para que não resultem diminuídas as condições de salubridade da edificação,
particularmente pelo que se refere à protecção contra a humidade, variações de
temperatura e propagação de ruídos e vibrações;
2. Sejam justificadas as espessuras propostas, por ensaios em laboratórios oficiais ou por
cálculos rigorosos em que se tenham em consideração a resistência verificada dos
materiais empregados e as forcas actuantes, incluindo nestas não só as cargas verticais,
como também a acção do vento, as componentes
verticais e horizontais das forças oblíquas e as solicitações secundárias a que as paredes
possam estar sujeitas por virtude de causas exteriores ou dos sistemas de construção
adoptados.
§ único. Poderá também exigir-se o cumprimento do prescrito no corpo deste
artigo, quaisquer que sejam as espessuras propostas, quando na construção das
paredes se empreguem outros materiais ou elas tenham constituição especial.
Artigo 27.º
A justificação da resistência das paredes poderá ainda ser exigida quando tenham
alturas livres superiores a 3,50 m ou estejam sujeitas a solicitações superiores às
verificadas nas habitações correntes, particularmente quando a edificação se
destine a fins susceptíveis de lhe impor sobrecargas superiores a 300 Kg/m2 de
pavimento ou de a sujeitar a esforços dinâmicos consideráveis.
Artigo 28.º
Nas edificações construídas com estruturas independentes de betão armado ou
metálicas, as espessuras das paredes de simples preenchimento das malhas
verticais das estruturas, quando de alvenaria de pedra ou de tijolo, poderão ser

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reduzidas até aos valores mínimos de cada grupo fixados no artigo 25.º, desde que, o
menor vão livre da parede entre os elementos horizontais ou verticais da
estrutura não exceda 3,50m.
Artigo 29.º
A construção das paredes das caves que ficarem em contacto com o terreno
exterior obedecerá ao especificado no nº3 do artigo 19.º deste regulamento.
Nas caves consideradas habitáveis, quando não se adoptem outras soluções
comprovadamente equivalentes do ponto de vista da salubridade da habitação, a
espessura das paredes não poderá ser inferior a 60 centímetros e o seu paramento
exterior será guarnecido até 20 centímetros acima do terreno exterior, com
revestimento impermeável resistente, sem prejuízo de outras precauções
consideradas necessárias para evitar a humidade no interior das habitações.
Artigo 30.º
Todas as paredes em elevação, quando não sejam construídas com material
preparado para ficar à vista, serão guarnecidas, tanto interior como exteriormente,com
revestimentos apropriados, de natureza, qualidade e espessura tais que, pela sua
resistência à acção do tempo, garantam a manutenção das condições iniciais de
salubridade e bom aspecto da edificação.
§ 1º Os revestimentos exteriores serão impermeáveis sempre que as paredes
estejam expostas à acção frequente de ventos chuvosos.
§ 2º O revestimento exterior das paredes das mansardas ou das janelas de
trapeira será de material impermeável, com reduzida condutibilidade calorífera e
resistente à acção dos agentes atmosféricos e ao fogo.
Artigo 31.º
As paredes das casas de banho, retretes, copas, cozinhas e locais de lavagem são
revestidas até, pelo menos, à altura de 1,50m, com materiais de revestimento
impermeáveis à água e à humidade e de fácil limpeza.
Artigo 32.º
Os paramentos exteriores das fachadas que marginem as vias públicas mais
importantes designadas em postura municipal serão guarnecidos inferiormente de
pedra aparelhada ou de outro material resistente ao desgaste e fácil de conservar limpo e
em bom estado.
Artigo 33.º
No guarnecimento dos vãos abertos em paredes exteriores deve ser assegurada a adequada
fixação dos sistemas destes, de modo a garantir a resistência, a estanquidade e o
isolamento dos mesmos.
Artigo 34.º
Todas as cantarias aplicadas em guarnecimento de vãos ou revestimento de paredes serão
ligadas ao material das mesmas paredes por processos que dêem suficiente garantia de
solidez e duração.
CAPÍTULO IV
Pavimentos e coberturas
Artigo 35.º
Na constituição dos pavimentos das edificações deve atender-se não só às
exigências da segurança, como também às de salubridade e à defesa contra a
propagação de ruídos e vibrações.
Artigo 36.º
As estruturas dos pavimentos e coberturas das edificações serão construídas de
madeira, betão armado, aço e outros materiais apropriados que possuam satisfatórias
qualidades de resistência e duração. As secções transversais dos

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respectivos elementos serão justificadas pelo cálculo ou por experiências, devendo
atender-se, para este fim, à disposição daqueles elementos, à capacidade de resistência
dos materiais empregados e as solicitações inerentes à utilização da estrutura.
Artigo 37.º
Nos pavimentos de madeira das edificações correntes destinadas a habitação, as
secções transversais das vigas poderão ser as justificadas pelo uso para idênticos vãos e
cargas máximas, não sendo todavia consentidas secções inferiores à de 0,16m x 0,08 m,
ou equivalente a esta em resistência e rigidez. A este valor numérico corresponderá
afastamento entre eixos não superior a 0,40m. As vigas serão convenientemente
tarugadas, quando o vão for superior a 2,50m.
Artigo 38.º
Nas coberturas das edificações correntes, com inclinação não inferior a 20º nem
superior a 45º, apoiadas sobre estruturas de madeira, poderão empregar-se, sem
outra justificação, as secções mínimas seguintes ou suas equivalentes em
resistência e rigidez, desde que não se excedam as distâncias máximas indicadas.
Artigo 39.º
As estruturas das coberturas e pavimentos serão devidamente assentes nos
elementos de apoio e construídas de modo que estes elementos não fiquem
sujeitos a esforços horizontais importantes, salvo se para lhes resistirem se
tomarem disposições apropriadas.
§ único. Quando se utilize madeira sem tratamento prévio adequado, os topos das
vigas das estruturas dos pavimentos ou coberturas, introduzidos nas paredes de
alvenaria, serão sempre protegidos com induto ou revestimento apropriados que
impeçam o seu apodrecimento.
Artigo 40.º
O pavimento dos andares térreos deve assentar sobre uma camada impermeável
ou, quando a sua estrutura for de madeira, ter caixa de ar com a altura mínima de 0,50 m
e ventilada por circulação transversal de ar, assegurada por aberturas
praticadas nas paredes. Destas aberturas, as situadas nas paredes exteriores terão
dispositivos destinados a impedir, tanto quanto possível, a passagem de objectos ou
animais.
Artigo 41.º
Os pavimentos das casas de banho, retretes, copas, cozinhas e outros locais onde
forem de recear infiltrações serão assentes em estruturas imputrescíveis e
constituídas por materiais impermeáveis apresentando uma superfície plana, lisa e
facilmente lavável.
Artigo 42.º
As coberturas das edificações serão construídas com materiais impermeáveis,
resistentes ao fogo e à acção dos agentes atmosféricos, e capazes de garantir o
isolamento calorífico adequado ao fim a que se destina a edificação.
Artigo 43.º
Nas coberturas de betão armado dispostas em terraços utilizar-se-ão materiais e
processos de construção que assegurem a impermeabilidade daqueles e protejam a
edificação das variações de temperatura exterior.
§ 1º As lajes da cobertura serão construídas de forma que possam dilatar-se ou
contrair-se sem originar impulsos consideráveis nas paredes.
§ 2º Tomar-se-ão as disposições necessárias para rápido e completo escoamento
das águas pluviais e de lavagem, não podendo o declive das superfícies de
escoamento ser inferior a 1 por cento.
Artigo 44.º

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Os algerozes dos telhados serão forrados com materiais apropriados para impedir
infiltrações nas paredes. O forro deve ser prolongado sob o revestimento da
cobertura, formando aba protectora, de largura variável com a área e inclinação do
telhado, e nunca inferior a 25 centímetros. As dimensões dos algerozes serão
proporcionadas à extensão da cobertura. O seu declive, no sentido longitudinal,
será o suficiente para assegurar rápido escoamento das águas que receberem e
nunca inferior a 2 milímetros por metro.
A área útil da secção transversal será, pelo menos, de 2 centímetros quadrados porcada
metro quadrado de superfície coberta horizontal.
Tomar-se-ão as disposições necessárias para assegurar, nas condições menos
nocivas possível, a extravasão das águas dos algerozes, no caso de entupimento
acidental de um tubo de queda.

CAPÍTULO V
Comunicações verticais

Artigo 45.º
(Revogado).

Artigo 46.º
(Revogado).

Artigo 47.º
(Revogado).
Artigo 48.º
Artigo 49.º
Artigo 50.º
1. Nas edificações para habitação colectiva, quando a altura do último piso
destinado a habitação exceder 11,5m, é obrigatória a instalação de ascensores.
A altura referida é medida a partir da cota mais baixa do arranque dos degraus
ou rampas de acesso do interior do edifício.
2. Os ascensores, no mínimo de dois, serão dimensionados de acordo com o número de
habitantes e com a capacidade mínima correspondente a quatro pessoas e deverão servir
todos os pisos de acesso aos fogos.
3. Nas edificações para habitação colectiva com mais de três pisos e em que a
altura do último piso, destinado à habitação, medida nos termos do n°1 deste
artigo, for inferior a 11,5m deve prever-se espaço para futuro instalação no
mínimo de um ascensor.

Artigo 51.º
(Revogado).

Artigo 52.º
(Revogado).

TÍTULO III
CONDIÇÕES ESPECIAIS RELATIVAS À SALUBRIDADE DAS

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EDIFICAÇÕES
E DOS TERRENOS DE CONSTRUÇÃO

CAPÍTULO I
Salubridade dos terrenos

Artigo 53.º
Nenhuma edificação poderá ser construída ou reconstruída em terreno que não seja
reconhecidamente salubre ou sujeito previamente às necessárias obras de
saneamento.

Artigo 54.º
Em terrenos alagadiços ou húmidos a construção ou reconstrução de qualquer
edificação deverá ser precedida das obras necessárias para o enxugar e desviar as
águas pluviais, de modo que o prédio venha a ficar preservado de toda a humidade.

Artigo 55.º
Em terrenos onde se tenham feito depósitos ou despejos de imundícies ou de águas
sujas provenientes de usos domésticos ou de indústrias nocivas à saúde não poderá
executar-se qualquer construção sem previamente se proceder à limpeza e
beneficiação completas do mesmo terreno.

Nota: São consideradas atividades industriais as seguintes: a) Indústrias extrativas


b) Indústrias alimentares c) Indústrias das bebidas d) Indústrias do tabaco e) Fabricação de têxteis f)
Indústria do vestuário g) Indústria do couro e dos produtos do couro h) Indústria da madeira e da cortiça e
suas obras, exceto mobiliário, fabricação de obras de cestaria e de espartaria i) Fabricação de pasta, de
papel, cartão e seus artigos j) Impressão e reprodução de suportes gravados k) Fabricação de coque, de
produtos petrolíferos refinados e de aglomerados de combustíveis l) Fabricação de produtos químicos e
de fibras sintéticas ou artificiais, exceto produtos farmacêuticos m) Fabricação de produtos farmacêuticos
de base e de preparações farmacêuticas n) Fabricação de artigos de borracha e de matérias plásticas o)
Fabricação de outros produtos minerais não metálicos p) Indústrias metalúrgicas de base q) Fabricação de
produtos metálicos, exceto máquinas e equipamentos r) Fabricação de equipamentos informáticos,
equipamento para comunicações s) Fabricação de máquinas e equipamento n. e. t) Fabricação de veículos
automóveis, reboques, semirreboques e componentes para veículos automóveis u) Fabricação de outro
equipamento de transporte v) Fabricação de mobiliário e de colchões w) Outras indústrias ransformadoras
x) Reparação, manutenção e instalação de máquinas e equipamentos y) Recolha, tratamento e eliminação
de resíduos; valorização de materiais.

Artigo 56.º

Nas zonas urbanas não poderão executar-se quaisquer construções ou instalações


onde possam depositar-se imundícies - tais como cavalariças, currais, vacarias,
pocilgas, lavadouros, fábricas de produtos corrosivos ou prejudiciais à saúde
pública e estabelecimentos semelhantes - sem que os respectivos pavimentos
fiquem perfeitamente impermeáveis e se adoptem as demais disposições próprias
para evitar a poluição dos terrenos e das águas potáveis ou mineromedicinais.
§ único. O disposto neste artigo aplica-se às construções ou depósitos de natureza agrícola
ou industrial nas zonas rurais, sempre que no terreno em que assentarem e a distância
inferior a 100 metros - ou a distância superior quando não seja manifesta a ausência de
perigo de poluição - haja nascentes, fontes, depósitos, canalizações ou cursos de água que
importe defender.

Artigo 57.º

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Em terrenos próximos de cemitérios não se poderá construir qualquer edificação
sem se fazerem as obras porventura necessárias para os tornar inacessíveis às
águas de infiltração provenientes do cemitério.

CAPÍTULO II
Da edificação em conjunto

Artigo 58.º
A construção ou reconstrução de qualquer edifício deve executar-se por forma que
fiquem assegurados o arejamento, iluminação natural e exposição prolongada à
acção directa dos raios solares, e bem assim o seu abastecimento de água potável
e a evacuação inofensiva dos esgotos.
§ único. (Revogado)

Artigo 59.º
A altura de qualquer edificação será fixada de forma que em todos os planos
verticais perpendiculares à fachada nenhum dos seus elementos, com excepção de
chaminés e acessórios decorativos, ultrapasse o limite definido pela linha recta a 45º,
traçada em cada um desses planos a partir do alinhamento da edificação
fronteira, definido pela intersecção do seu plano com o terreno exterior.
§ 1º Nas edificações construídas sobre terrenos em declive consentir-se-á, na
parte descendente a partir do referido plano médio, uma tolerância de altura até
ao máximo de 1,50m.
§ 2º Nos edifícios de gaveto formado por dois arruamentos de largura ou de níveis
diferentes, desde que se não imponham soluções especiais, a fachada sobre o
arruamento mais estreito ou mais baixo poderá elevar-se até à altura permitida
para o outro arruamento, na extensão máxima de 15 metros.
§ 3º Nas edificações que ocupem todo o intervalo entre dois arruamentos de
larguras ou níveis diferentes, salvo nos casos que exijam soluções especiais, as
alturas das fachadas obedecerão ao disposto neste artigo.
§ 4º Em caso de simples interrupção de continuidade numa fila de construções
poderá o intervalo entre as duas edificações confinantes ser igual à média das
alturas dessas edificações, sem prejuízo, no entanto, do disposto no artigo 60º.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define “fachada” como “cada uma das faces aparentes do edifício, constituída por uma ou mais paredes
exteriores diretamente relacionadas entre si.”

Artigo 60.º
Independentemente do estabelecido no artigo anterior, a distância mínima entre
fachadas de edificações nas quais existam vãos de compartimentos de habitação
não poderá ser inferior a 10 metros.
§ único. Tratando-se de arruamentos já ladeados, no todo ou na maior parte, por
edificações, as câmaras municipais poderão, sem prejuízo do que esteja previsto
em plano de urbanização aprovado, estabelecer alinhamentos com menor intervalo,
não inferior, contudo, ao definido pelas construções existentes.

Artigo 61.º
Independentemente do disposto nos artigos 59.º e 60.º, e sem prejuízo do que
esteja previsto em plano de urbanização aprovado, as câmaras municipais poderão
estabelecer a obrigatoriedade, generalizada ou circunscrita apenas a arruamentos

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ou zonas determinadas em cada localidade, da construção de edificações recuadas
em relação aos limites do arruamento, qualquer que seja a largura deste, e fixar
também quer a profundidade mínima deste recuo, quer a natureza do arranjo e o
tipo da vedação dos terrenos livres entre o arruamento e as fachadas.

Artigo 62.º
As edificações para habitação multifamiliar ou colectiva deverão dispor-se nos
respectivos lotes de forma que o menor intervalo entre fachadas posteriores esteja de
acordo com o estabelecido no artigo 59.º.
§ 1º Para os efeitos do corpo deste artigo, sempre que não tenha sido organizado
logradouro comum que assegure condição nele estabelecida, cada edificação
deverá ser provida de um logradouro próprio, com toda a largura do lote e com
fácil acesso do exterior.
§ 2º O logradouro a que alude o parágrafo anterior deverá ter em todos os seus
pontos profundidade não inferior a metade da altura correspondente da fachada
adjacente, medida na perpendicular a esta fachada no ponto mais desfavorável,
com o mínimo de 6 metros e sem que a área livre e descoberta seja inferior a
40 metros quadrados.
§ 3º Nos prédios de gaveto poderão dispensar-se as condições de largura e
profundidade mínima de logradouro referidas no corpo deste artigo desde que fiquem
satisfatoriamente asseguradas a iluminação, ventilação e insolação da
própria edificação e das contíguas.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define o “logradouro” como “um espaço ao ar livre, destinado a funções de estadia, recreio e lazer, privado,
de utilização coletiva ou de utilização comum, e adjacente ou integrado num edifício ou conjunto de
edifícios”.
Artigo 63.º

As câmaras municipais, salvo o disposto no artigo seguinte, não poderão consentir


qualquer tolerância quanto ao disposto nos artigos anteriores deste capítulo, a não ser que
reconhecidamente se justifiquem por condições excepcionais e irremediáveis, criadas
antes da publicação deste regulamento, e somente se ficarem garantidas, em condições
satisfatórias, a ventilação e iluminação natural e, tanto quanto possível, a insolação do
edifício em todos os seus pisos habitáveis.
§ único. (Revogado)

Artigo 64.º

Poderão admitir-se outras soluções em desacordo com o disposto nos artigos


anteriores, desde que fiquem em todo o caso estritamente asseguradas as
condições mínimas de salubridade exigíveis, mas só quando se trate de edificações
cuja natureza, destino ou carácter arquitectónico requeiram disposições especiais.

CAPÍTULO III
Disposições interiores das edificações e espaços livres

Artigo 65.º
1. A altura mínima, piso a piso, em edificações destinadas à habitação é de 2,70m
(27M), não podendo ser o pé-direito livre mínimo inferior a 2,40m (24M).
2. Excepcionalmente, em vestíbulos, corredores, instalações sanitárias, despensas

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e arrecadações será admissível que o pé-direito se reduza ao mínimo de 2,20m
(22M).
3. O pé-direito livre mínimo dos pisos destinados a estabelecimentos comerciais é
de 3m (30M).
4. Nos tectos com vigas, inclinados, abobadados ou, em geral, contendo superfícies
salientes, a altura piso a piso e ou o pé-direito mínimo definidos nos nºs 1 e 3 devem ser
mantidos, pelo menos, em 80% da superfície do tecto, admitindo-se na superfície restante
que o pé-direito livre possa descer até ao mínimo de 2,20m ou de 2,70m, respectivamente,
nos casos de habitação e de comércio.

Nota: O pé-direito é uma altura, medida na vertical, entre o pavimento e o teto de um compartimento.

Artigo 66.º
1. Os compartimentos de habitação não poderão ser em número e área inferiores
aos indicados no quadro seguinte:
2. No número de compartimentos acima referidos não se incluem vestíbulos,
instalações sanitárias, arrumos e outros compartimentos de função similar.
3. O suplemento de área obrigatório referido no n°1 não pode dar origem a um
espaço autónomo e encerrado, deve distribuir-se pela cozinha e sala, e terá uma
sua parcela afectada ao tratamento de roupa, na proporção que estiver mais de
acordo com os objectivos da solução do projecto.
4. Quando o tratamento de roupa se fizer em espaço delimitado, a parcela do
suplemento de área referida no n°3, destinada a essa função, não deve ser
inferior a 2m2.
5. O tipo de fogo é definido pelo número de quartos de dormir, e para a sua
identificação utiliza-se o símbolo Tx, em que x representa o número de quartos
de dormir.
6 - Quando não constitua um espaço autónomo, nos casos de kitchenette, cozinha armário
ou cozinha walk through, a área reservada à cozinha pode fundir-se com a de outros
compartimentos, exceto com as instalações sanitárias.
7 - Nos casos referidos no número anterior, a área total dos compartimentos fundidos não
pode ser inferior à soma das áreas definidas no quadro do n.º 1, para a tipologia
correspondente.

Nota: O pé-direito é uma altura, medida na vertical, entre o pavimento e o teto de um compartimento.

Artigo 67.º
1. As áreas brutas dos fogos terão os seguintes valores mínimos:
2. Para os fins do disposto neste regulamento, considera-se:
a) Área bruta (Ab) é a superfície total do fogo, medida pelo perímetro exterior
das paredes exteriores e eixos das paredes separadoras dos fogos, e inclui
varandas privativas, locais acessórios e a quota-parte que lhe corresponda
nas circulações comuns do edifício;
b) Área útil (Au) é a soma das áreas de todos os compartimentos da habitação,
incluindo vestíbulos, circulações interiores, instalações sanitárias, arrumos,
outros compartimentos de função similar e armários nas paredes, e mede-se
pelo perímetro interior das paredes que limitam o fogo, descontando
encalços até 30cm, paredes interiores, divisórias e condutas;
c) Área habitável (Ah) é a soma das áreas dos compartimentos da habitação,
com excepção de vestíbulos, circulações interiores, instalações sanitárias,
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arrumos e outros compartimentos de função similar, e mede-se pelo
perímetro interior das paredes que limitam o fogo, descontando encalços até
30 cm, paredes interiores, divisórias e condutas.

Artigo 68.º
1. Nas habitações T(índice 0), T(índice 1) e T(índice 2), a área mínima para instalações
sanitárias é de
3,5m2, sendo o equipamento mínimo definido no n.º5.
2. Nas habitações T3 e T4, a área mínima para instalações sanitárias é de 4,5m2,
subdividida em dois espaços com acesso independente.
3. Nas instalações sanitárias subdivididas há como equipamento mínimo uma
banheira ou duche e um lavatório, num dos espaços; uma bacia de retrete e um
lavatório, no outro espaço.
4. Nas habitações T5 ou com mais de seis compartimentos, a área mínima para
instalações sanitárias é de 6m2, desdobrada em dois espaços com acesso
independente.
5 - Nas instalações sanitárias obrigatórias há como
equipamento mínimo uma banheira ou duche, uma bacia de retrete e um
lavatório.

Artigo 69.º
1. As dimensões dos compartimentos das habitações referidas no n.º 1 do artigo
66.º obedecerão as exigências seguintes:
a) Quando a respectiva área for menor que 9,5m2, a dimensão mínima será
2,10m;
b) Quando a respectiva área for maior ou igual a 9,5m2 e menor que 12m2,
deverá inscrever-se nela um círculo de diâmetro não inferior a 2,40m;
c) Quando a respectiva área for maior ou igual a 12m2 e menor que 15m2,
deverá inscrever-se nela um círculo de diâmetro não inferior a 2,70m;
d) Quando a respectiva área for maior ou igual a 15m2, o comprimento não
poderá exceder o dobro da largura, ressalvando-se as situações em que nas
duas paredes opostas mais afastadas se pratiquem vãos, sem prejuízo de
que possa inscrever-se nessa área um círculo de diâmetro não inferior a
2,70m.
2. Quando um compartimento se articular em dois espaços não autónomos, a
dimensão horizontal que define o seu contacto nunca será inferior a dois terços
da dimensão menor do espaço maior, com o mínimo de 2,10m.
3. Exceptua-se do preceituado no número anterior o compartimento destinado a
cozinha, em que a dimensão mínima admitida será de 1,70m, sem prejuízo de
que a distância mínima livre entre bancadas situadas em paredes opostas seja
de 1,10m.

Artigo 70.º
(Revogado.)
Artigo 71.º
1. Os compartimentos das habitações referidos no n.º 1 do artigo 66° serão
sempre iluminados e ventilados por um ou mais vãos praticados nas paredes,
em comunicação directa com o exterior e cuja área total não será inferior a um
décimo da área do compartimento com o mínimo de 1,08m2 medidos no tosco.
2. Nos casos em que as condições climáticas e de ruído tal justifiquem, será

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permitido o uso de varandas envidraçadas, consideradas para efeito deste artigo
como espaço exterior, de acordo com os condicionamentos seguintes:
a) A largura das varandas não poderá exceder 1,80m;
b) As áreas dos vãos dos compartimentos confinantes não serão inferiores a um
quinto da respectiva área nem a 3m2;
c) A área do envidraçado da varanda não será inferior a um terço da respectiva
área nem a 4,3m2;
d) A área de ventilação do envidraçado da varanda será, no mínimo, igual a
metade da área total do envidraçado.
3. As frestas praticadas em paredes confinantes com terrenos ou prédios contíguos
não são considerados vãos de iluminação ou ventilação para os fins do disposto
neste artigo.
Artigo 72.º
Deverá ficar assegurada a ventilação transversal do conjunto de cada habitação,
em regra por meio de janelas dispostas em duas fachadas opostas.
Artigo 73.º
As janelas dos compartimentos das habitações deverão ser sempre dispostas de
forma que o seu afastamento de qualquer muro ou fachada fronteiros, medido
perpendicularmente ao plano da janela e atendendo ao disposto no artigo 75.º, não
seja inferior a metade da altura desse muro ou fachada acima do nível do
pavimento do compartimento, com o mínimo de 3 metros. Além disso não deverá
haver a um e outro lado do eixo vertical da janela qualquer obstáculo à iluminação a
distância inferior a 2 metros, devendo garantir-se, em toda esta largura, o afastamento
mínimo de 3 metros acima fixado.

Artigo 74.º
Sem prejuízo da alínea a) do n.º1 do artigo 6.º-A do RJUE, a ocupação duradoura de
logradouros, pátios ou recantos das edificações com
quaisquer construções, designadamente telheiros e coberturas, e o pejamento dos
mesmos locais com materiais ou volumes de qualquer natureza só podem efectuar-
-se com expressa autorização das câmaras municipais quando se verifique não
advir daí prejuízo para a qualidade arquitetónica e condições de salubridade e segurança
de
todas as edificações directa ou indirectamente afectadas.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define o “logradouro” como “um espaço ao ar livre, destinado a funções de estadia, recreio e lazer, privado,
de utilização coletiva ou de utilização comum, e adjacente ou integrado num edifício ou conjunto de
edifícios”.

Artigo 75.º
Sempre que nas fachadas sobre logradouros ou pátios haja varandas, alpendres ou
quaisquer outras construções, salientes das paredes, susceptíveis de prejudicar as
condições de iluminação ou ventilação, as distâncias ou dimensões mínimas fixadas no
artigo 73.º serão contadas a partir dos limites extremos dessas construções.

Artigo 76.º
Nos logradouros e outros espaços livres deverá haver ao longo da construção uma
faixa, de pelo menos, 1 metro de largura, revestida de material impermeável ou
outra disposição igualmente eficiente para proteger as paredes contra infiltrações.
A área restante deverá ser ajardinada ou ter outro arranjo condigno.

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Os pavimentos dos pátios e as faixas impermeáveis dos espaços livres deverão ser
construídos com inclinações que assegurem rápido e completo escoamento das
águas pluviais ou de lavagem para uma abertura com ralo e vedação hidráulica,
que poderá ser ligada ao esgoto do prédio.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define o “logradouro” como “um espaço ao ar livre, destinado a funções de estadia, recreio e lazer, privado,
de utilização coletiva ou de utilização comum, e adjacente ou integrado num edifício ou conjunto de
edifícios”.

Artigo 77.º
1. Só é permitida a construção de caves destinadas a habitação em casos
excecionais, em que a orientação e o desafogo do local permitam assegurar-lhes
boas condições de habitabilidade,
devendo, neste caso, todos os compartimentos satisfazer às condições
especificadas neste Regulamento para os andares de habitação e ainda ao
seguinte:
a) A cave deverá ter, pelo menos, uma parede exterior completamente
desafogada a partir de 0,15m abaixo do nível do pavimento interior;
b) Todos os compartimentos habitáveis referidos no n°1 do artigo 66.º deverão
ser contíguos à fachada completamente desafogada;
c) Serão adoptadas todas as disposições construtivas necessárias para garantir
a defesa da cave contra infiltrações de águas superficiais e contra a humidade telúrica e
para impedir que quaisquer emanações subterrâneas penetrem no seu interior;
d) O escoamento dos esgotos deverá ser conseguido por gravidade.
2. No caso de habitações unifamiliares isoladas que tenham uma fachada
completamente desafogada e, pelo menos, duas outras também desafogadas,
só a partir de 1 metro de altura acima do pavimento interior poderão dispor-se
compartimentos habitacionais contíguos a qualquer das fachadas. Para o caso de
habitações unifamiliares geminadas, exigir-se-á, para este efeito, além de uma fachada
completamente desafogada, apenas uma outra desafogada, nos termos já referidos para a
outra hipótese.
3. Se da construção da cave resultar a possibilidade de se abrirem janelas sobre as ruas
ou sobre o terreno circundante, não poderão aquelas, em regra, ter os seus peitoris a
menos de 0,40m acima do nível exterior.

Artigo 78.º
Poderá autorizar-se a construção de caves que sirvam exclusivamente de
arrecadação para uso dos inquilinos do próprio prédio ou de armazém ou
arrecadação de estabelecimentos comerciais ou industriais existentes no mesmo
prédio. Neste caso o pé-direito mínimo será de 2,20m e as caves deverão ser
suficientemente arejadas e protegidas contra a humidade e não possuir qualquer
comunicação directa com a parte do prédio destinada a habitação.
§ único. As câmaras municipais poderão ainda fixar outras disposições especiais a
que devam obedecer as arrecadações nas caves, tendentes a impedir a sua
utilização eventual para fins de habitação.
Nota: O pé-direito é uma altura, medida na vertical, entre o pavimento e o teto de um compartimento.

Artigo 79.º

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Os sótãos, águas-furtadas e mansardas só poderão ser utilizados para fins de
habitação quando satisfaçam a todas as condições de salubridade previstas neste
regulamento para os andares de habitação. Será, no entanto, permitido que os
respectivos compartimentos tenham o pé-direito mínimo regulamentar só em
metade da sua área, não podendo, porém, em qualquer ponto afastado mais de 30
centímetros do perímetro do compartimento, o pé-direito ser inferior a 2 metros.
Em todos os casos deverão ficar devidamente asseguradas boas condições de
isolamento térmico.

Nota: O pé-direito é uma altura, medida na vertical, entre o pavimento e o teto de um compartimento.

Artigo 80.º
As caves, sótãos, águas-furtadas e mansardas só poderão ter acesso pela escada
principal da edificação ou por elevador quando satisfaçam as condições mínimas de
habitabilidade fixadas neste regulamento. É interdita a construção de cozinhas ou
retretes nestes locais quando não reúnam as demais condições de habitabilidade.

Artigo 81.º
As câmaras municipais poderão estabelecer nos seus regulamentos a
obrigatoriedade de adopção, em zonas infestadas pelos ratos, de disposições
construtivas especiais tendo por fim impossibilitar o acesso destes animais ao
interior das edificações.

Artigo 82.º
As câmaras municipais, nas regiões sezonáticas ou infestadas por moscas,
mosquitos e outros insectos prejudiciais à saúde, poderão determinar que os vãos
das portas e janelas sejam convenientemente protegidos com caixilhos fixos ou
adequadamente mobilizáveis, com rede mosquiteira ou com outras modalidades
construtivas de adequada eficiência.

CAPÍTULO IV
Instalações sanitárias e esgotos

Artigo 83.º
Todas as edificações serão providas de instalações sanitárias adequadas ao destino e
utilização efectiva da construção e reconhecidamente salubres, tendo em
atenção, além das disposições deste regulamento, as do Regulamento Geral das
Canalizações de Esgoto.

Artigo 84.º
1. (Revogado).
2. Em cada cozinha é obrigatória a instalação de um lava-loiça e uma saída de
esgoto através de um ramal de ligação com 50 mm de diâmetro e construída
com materiais que permitam o escoamento a temperaturas até 70ºC, sem
alteração no tempo das características físicas das tubagens desse ramal.

Artigo 85.º
As instalações sanitárias das habitações serão normalmente incorporadas no
perímetro da construção, em locais iluminados e arejados. Quando seja impossível
ou inconveniente fazê-lo e, especialmente, tratando-se de prédios já existentes, as

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instalações sanitárias poderão dispor-se em espaços contíguos à habitação, de
acesso fácil e abrigado, localizado por forma que não prejudique o aspecto exterior da
edificação.

Artigo 86.º
As retretes não deverão normalmente ter qualquer comunicação directa com os
compartimentos de habitação. Poderá, todavia, consentir-se tal comunicação
quando se adoptem as disposições necessárias para que desse facto não resulte
difusão de maus cheiros nem prejuízo para a salubridade dos compartimentos
comunicantes e estes não sejam a sala de refeições, cozinha, copa ou despensa.

Artigo 87.º
1. As instalações sanitárias terão iluminação e renovação permanente de ar
asseguradas directamente do exterior da edificação, e a área total envidraçada
do vão ou vãos abertos na parede, em contacto directo com o exterior, não
poderá ser inferior a 0,54m2, medida no tosco, devendo a parte de abrir ter,
pelo menos, 0,36m2.
2. Em casos especiais, justificados por características próprias da edificação, no seu
conjunto, poderá exceptuar-se o disposto no número anterior, desde que
fique eficazmente assegurada a renovação constante e suficiente do ar, por
ventilação natural ou forçada, desde que o respectivo sistema obedeça ao
condicionalismo previsto no artigo 17°.
3. Em caso algum será prevista a utilização de aparelhos de combustão,
designadamente esquentador a gás, nas instalações sanitárias.

Artigo 88.º
Todas as retretes serão providas de uma bacia munida de sifão e de um dispositivo
para a sua lavagem. Onde exista rede pública de distribuição de água será
obrigatória a instalação de autoclismo de capacidade conveniente ou de outro
dispositivo que assegure a rápida remoção das matérias depositadas na bacia.

Artigo 89.º
Serão aplicáveis aos urinóis as disposições deste regulamento relativas as
condições de salubridade das retretes.

Artigo 90.º
As canalizações de esgoto dos prédios serão delineadas e estabelecidas de maneira
a assegurar em todas as circunstâncias a boa evacuação das matérias recebidas.
Deverão ser acessíveis e facilmente inspeccionáveis, tanto quanto possível, em toda a sua
extensão, sem prejuízo do bom aspecto exterior da edificação. Nas
canalizações dos prédios é interdito o emprego de tubagem de barro comum,
mesmo vidrada.

Artigo 91.º
Será assegurado o rápido e completo escoamento das águas pluviais caídas em
qualquer local do prédio. Os tubos de queda das águas pluviais serão
independentes dos tubos de queda destinados ao esgoto de dejectos e águas
servidas.

Artigo 92.º

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Serão tomadas todas as disposições necessárias para rigorosa defesa da habitação
contra emanações dos esgotos susceptíveis de prejudicar a saúde ou a comodidade
dos ocupantes. Qualquer aparelho ou orifício de escoamento, sem excepção, desde
que possa estabelecer comunicação entre canalizações ou reservatórios de águas
servidas ou de dejectos e a habitação, incluindo os escoadouros colocados nos
logradouros ou em outro qualquer local do prédio, será ligado ao ramal da
evacuação por intermédio de um sifão acessível e de fácil limpeza e em condições
de garantir uma vedação hidráulica efectiva e permanente.

Artigo 93.º
Serão adoptadas todas as precauções tendentes a assegurar a ventilação das
canalizações de esgoto e a impedir o esvaziamento, mesmo temporário, dos sifões
e a consequente descontinuidade da vedação hidráulica.
§ 1º Os tubos de queda dos dejectos e águas servidas dos prédios serão sempre
prolongados além da ramificação mais elevada, sem diminuição de secção, abrindo
livremente na atmosfera a, pelo menos, 50 centímetros acima do telhado ou, quando a
cobertura formar terraço, a 2 metros acima do seu nível e a 1 metro acima de qualquer
vão ou simples abertura em comunicação com os locais de habitação, quando situados a
uma distância horizontal inferior a 4 metros da desembocadura do tubo.
§ 2º Nas edificações com instalações sanitárias distribuídas por mais de um piso é ainda
obrigatória a instalação de um tubo geral de ventilação, de secção útil
constante, adequada à sua extensão e ao número e natureza dos aparelhos servidos. Este
tubo, a que se ligarão os ramais da ventilação dos sifões ou grupos de sifões a ventilar,
poderá inserir-se no tubo de queda 1 metro acima da última ramificação ou abrir-se
livremente na atmosfera nas condições estabelecidas para os tubos de queda.
Inferiormente o tubo geral de ventilação será inserido no tubo de queda a jusante da
ligação do primeiro ramal de descarga.

Artigo 94.º
Os dejectos e águas servidas deverão ser afastados dos prédios prontamente e por
forma tal que não possam originar quaisquer condições de insalubridade.
§ único. Toda a edificação existente ou a construir será obrigatoriamente ligada à rede
pública de esgotos por um ou mais ramais, em regra privativos da edificação, que sirvam
para a evacuação dos seus esgotos.

Artigo 95.º
Nos locais ainda não servidos por colector público acessível os esgotos dos prédios serão
dirigidos para instalações cujos efluentes sejam suficientemente depurados. É interdita a
utilização de poços perdidos ou outros dispositivos susceptíveis de poluir o subsolo ou
estabelecidos em condições de causarem quaisquer outros danos à salubridade pública.
§ único. As instalações referidas neste artigo não poderão continuar a ser
utilizadas logo que aos prédios respectivos for assegurado esgoto para colector
público e, ao cessar a sua utilização, serão demolidas ou entulhadas, depois de
cuidadosamente limpas e desinfectadas.
Artigo 96.º
É proibido o escoamento, mesmo temporário, para cursos de água, lagos ou para o
mar dos dejectos ou águas servidas de qualquer natureza não sujeitos a tratamento prévio
conveniente, quando daí possam advir condições de insalubridade ou prejuízo público.
Artigo 97.º

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Em todas as edificações com mais de quatro pisos, incluindo cave e sótão, sempre
que habitáveis e quando não se preveja outro sistema mais aperfeiçoado de
evacuação de lixos, deverá, pelo menos, existir um compartimento facilmente
acessível, destinado a nele se depositarem contentores dos lixos dos diversos pisos.
§ único. Os compartimentos a que se refere o corpo deste artigo deverão ser bem
ventilados e possuir disposições apropriadas para a sua lavagem frequente.
Artigo 98.º
As canalizações destinadas à evacuação dos lixos dos inquilinos dos diversos pisos -
quando previstas - deverão ser verticais, ter secção útil proporcionada ao número de
inquilinos e diâmetro mínimo de 30 centímetros.
Em cada piso haverá, pelo menos, uma boca de despejo facilmente acessível e
ligada à canalização vertical por meio de ramais, cuja inclinação sobre a horizontal nunca
deve ser inferior a 45º.
§ 1º Tanto a canalização vertical como os ramais de evacuação deverão ser
constituídos por tubagens de grés vidrado ou outro material não sujeito a
corrosão e de superfície interior perfeitamente lisa em toda a sua extensão e
devem, além disso, possuir disposições eficazes de ventilação, lavagem e
limpeza.
§ 2º As bocas de despejo devem funcionar facilmente e satisfazer aos requisitos
de perfeita vedação e higiene na sua utilização.
Artigo 99.º
A introdução em colectores públicos de produtos ou líquidos residuais de fábricas,
garagens ou de outros estabelecimentos, e susceptíveis de prejudicarem a exploração ou
o funcionamento das canalizações e instalações do sistema de
esgotos públicos, só poderá ser autorizada quando se verifique ter sido precedida
das operações necessárias para garantir a inocuidade do efluente.
Artigo 100.º
Os ramais de ligação dos prédios aos colectores públicos ou a quaisquer outros
receptores terão secções úteis adequadas ao número e natureza dos aparelhos que
servirem à área de drenagem e aos caudais previstos. Serão solidamente assentes
e facilmente inspeccionáveis em toda a sua extensão, particularmente nos troços
em que ano for possível evitar a sua colocação sob as edificações. Não serão
permitidas, em regra, inclinações inferiores a 2 centímetros nem superiores a 4
centímetros por metro, devendo, em todos os casos, tomar-se as disposições
complementares porventura necessárias, quer para garantir o perfeito escoamento
e impedir a acumulação de matérias sólidas depositadas, quer para obstar ao
retrocesso dos esgotos para as edificações, especialmente em zonas inundáveis.

CAPÍTULO V
Abastecimento de água potável

Artigo 101.º
As habitações deverão normalmente ter assegurado o seu abastecimento de água
potável na quantidade bastante para a alimentação e higiene dos seus ocupantes.
§ único. Salvo nos casos de isenção legal, os prédios situados em locais servidos
por rede pública de abastecimento de água serão providos de sistemas de canalizações
interiores de distribuição, ligadas aquela rede por meio de ramais
privativos, devendo dar-se a uns e outros traçados e dimensões tais que permitam
o abastecimento directo e contínuo de todos os inquilinos.

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Artigo 102.º
As canalizações, dispositivos de utilização e acessórios de qualquer natureza das
instalações de água potável dos prédios serão estabelecidos e explorados tendo em
atenção as disposições do presente regulamento e do Regulamento Geral do
Abastecimento de Água, de forma que possam rigorosamente assegurar a
protecção da água contra contaminação ou simples alteração das suas qualidades.
§ 1º As instalações de distribuição de água potável serão inteiramente distintas de
qualquer outra instalação de distribuição de água ou de drenagem. As canalizações de
água manter-se-ão isoladas das canalizações de esgoto em todo
o seu traçado.
§ 2º A alimentação, pelas instalações de água potável, das bacias de retrete,
urinóis ou quaisquer outros recipientes ou canalizações insalubres só poderá ser
feita mediante interposição de um dispositivo isolador adequado.
§ 3º Nas instalações de água potável é interdita a utilização de materiais que não seja
reconhecidamente impermeáveis e resistentes ou que não ofereçam
suficientes garantias de inalterabilidade da água até à sua utilização.

Artigo 103.º
As instalações de distribuição de água potável devem estabelecer-se de modo que
ela siga directamente da origem do abastecimento do prédio até aos dispositivos de
utilização, sem retenção prolongada em quaisquer reservatórios.
§ único. Quando seja manifestamente indispensável o emprego de depósitos de
água potável, terão estes, disposições que facilitem o seu esvaziamento total e
limpeza frequentes. Serão instalados em locais salubres e arejados, distantes das
embocaduras dos tubos de ventilação dos esgotos e protegidos contra o calor.
Quando necessário, serão ventilados, mas sempre protegidos eficazmente contra a
entrada de mosquitos, de poeiras ou de outras matérias estranhas.

Artigo 104.º
Os poços e cisternas deverão ficar afastados de origens de possíveis conspurcações de
água. Tomar-se-ão, além disso, as precauções necessárias para impedir a infiltração de
águas superficiais, assegurar conveniente ventilação e opor-se à entrada de mosquitos,
poeiras ou de quaisquer outras matérias nocivas. Para extrair a água apenas se poderão
utilizar sistemas que não possam ocasionar a sua inquinação.

Artigo 105.º
As paredes dos poços serão guarnecidas de revestimento impermeável nos seus
primeiros metros e elevar-se-ão acima do terreno no mínimo de 0,50m, devendo
evitar-se, em todos os casos, a infiltração de águas sujas, protegendo o terreno
adjacente ao perímetro da boca numa faixa de largura não inferior a 1,50m e com
declive para a periferia. As coberturas dos poços serão sempre estanques. Qualquer
abertura de ventilação deve obedecer as exigências mencionadas na última parte do §
único do artigo 103.º.

Artigo 106.º
As cisternas deverão ser providas de dispositivos eficazes que impeçam a recolha
das primeiras águas caídas nas coberturas do prédio e que retenham a todo o
momento quaisquer matérias sólidas das arrastadas pela água recolhida.
Terão sempre cobertura rigorosamente estanque e qualquer abertura para arejamento
deverá ser protegida contra a entrada de mosquitos, poeiras ou outras matérias estranhas.

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Artigo 107.º
Será interdita a utilização de poços ou cisternas para o abastecimento de água de
alimentação sempre que se verifiquem condições de deficiente segurança contra
quaisquer possibilidades de contaminação.

CAPÍTULO VI
Evacuação dos fumos e gases

Artigo 108.º
Os compartimentos das habitações e quaisquer outros destinados à permanência de
pessoas nos quais se preveja que venham a funcionar aparelhos de aquecimento
por combustão serão providos dos dispositivos necessários para a sua ventilação e
completa evacuação dos gases ou fumos susceptíveis de prejudicar a saúde ou o
bem-estar dos ocupantes.
§ único. (Revogado.)

Artigo 109.º
As cozinhas serão sempre providas de dispositivos eficientes para evacuação de
fumos e gases e eliminação dos maus cheiros.
§ único. Quando nelas se instalar chaminé com lareira, esta terá sempre
profundidade de 0,50m, pelo menos, e conduta privativa para a evacuação do fumo
e eliminação dos maus cheiros.

Artigo 110.º
1. As condutas de fumo que sirvam chaminés, fogões de aquecimento, caloríferos e
outras origens de fumo semelhantes serão independentes.
2. No entanto, poderão ser aplicadas soluções de execução de condutas colectivas
a que se ligam, com desfasamento de um piso, as fugas individuais.
3. É indispensável, como complemento às soluções definidas no n°2, instalação nas
saídas das chaminés de exaustores estáticos, convenientemente conformados e
dimensionados.

Artigo 111.º
As chaminés de cozinha ou de aparelhos de aquecimento e as condutas de fumo
serão construídas com materiais incombustíveis e ficarão afastadas, pelo menos,
0,20m de qualquer peça de madeira ou de outro material combustível. As condutas
de fumo, quando agrupadas, deverão ficar separadas umas das outras por panos de
material incombustível, de espessura conveniente e sem quaisquer aberturas. As
embocaduras das chaminés e as condutas de fumo terão superfícies interiores lisas
e desempenadas. Os registos das condutas de fumo, quando previstos, não deverão poder
interceptar por completo a secção de evacuação.

Artigo 112.º
As condutas de fumo deverão formar com a vertical um ângulo não superior a 30º.
A sua secção será a necessária para assegurar boa tiragem até ao capelo, porém
sem descer a menos de 4 decímetros quadrados e sem que a maior dimensão exceda três
vezes a menor.

Artigo 113.º

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As condutas de fumo elevar-se-ão, em regra, pelo menos, 0,50m acima da parte
mais elevada das coberturas do prédio e, bem assim, das edificações contíguas
existentes num raio de 10 metros. As bocas não deverão distar menos de 1,50m de
quaisquer vãos de compartimentos de habitação e serão facilmente acessíveis para
limpeza.

Artigo 114.º
As chaminés de instalações cujo funcionamento possa constituir causa de insalubridade
ou de outros prejuízos para as edificações vizinhas serão providas de dispositivos
necessários para remediar estes inconvenientes.

CAPÍTULO VII
Alojamento de animais

Artigo 115.º
As instalações para alojamento de animais somente poderão ser consentidas nas
áreas habitadas ou suas imediações quando construídas e exploradas em condições
de não originarem, directa ou indirectamente, qualquer prejuízo para a salubridade e
conforto das habitações.
Os anexos para alojamento de animais domésticos construídos nos logradouros dos
prédios, quando expressamente autorizados, não poderão ocupar mais do que 1/15
da área destes logradouros.
§ único. As câmaras municipais poderão interditar a construção ou utilização de
anexos para instalação de animais nos logradouros ou terrenos vizinhos dos prédios
situados em zonas urbanas quando as condições locais de aglomeração de
habitações não permitirem a exploração desses anexos sem risco para a saúde e
comodidade dos habitantes.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define o “logradouro” como “um espaço ao ar livre, destinado a funções de estadia, recreio e lazer, privado,
de utilização coletiva ou de utilização comum, e adjacente ou integrado num edifício ou conjunto de
edifícios”.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define o “edifício anexo” ou “anexo” como “um edifício destinado a um uso complementar e
funcionalmente dependente do edifício principal.”

Artigo 116.º
As instalações para alojamento de animais constituirão, em regra, construções
distintas das de habitação e afastadas delas. Quando tal, porém, não seja possível serão,
pelo menos, separadas das habitações por paredes cheias ou pavimentos contínuos que
dêem garantia de isolamento perfeito. Qualquer comunicação directa com os
compartimentos das habitações será sempre interdita.
Artigo 117.º
As cavalariças, vacarias, currais e instalações semelhantes serão convenientemente
iluminados e providos de meios eficazes de ventilação permanente, devendo na sua
construção ter-se em atenção, além das disposições do presente regulamento, as
constantes da legislação especial aplicável.
Artigo 118.º
As paredes das cavalariças, vacarias, currais e instalações semelhantes serão
revestidas interiormente, até á altura mínima de 1,50m acima do pavimento, de
material resistente, impermeável e com superfície lisa que permita facilmente
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frequentes lavagens. Os tectos e as paredes acima desta altura serão rebocados e
pintados ou, pelo menos, caiados, desde que a caiação seja mantida em condições
de eficácia. O revestimento do solo será sempre estabelecido de forma a impedir a
infiltração ou a estagnação dos líquidos e a assegurar a sua pronta drenagem para
a caleira de escoamento, ligada por intermédio de um sifão à tubagem de evacuação dos
esgotos do prédio.
§ único. Quando, nas zonas rurais, haja em vista o ulterior aproveitamento dos
líquidos acima referidos, o seu escoamento poderá fazer-se para depósitos
distantes das habitações, solidamente construídos e perfeitamente estanques, cuja
exploração só será permitida em condições de rigorosa garantia da salubridade
pública e quando não haja dano para os moradores dos prédios vizinhos.
Artigo 119.º
Os estrumes produzidos nas cavalariças, vacarias, currais e instalações
semelhantes serão tirados com frequência e prontamente conduzidos para longe
das áreas habitadas, dos arruamentos e logradouros públicos e bem assim das
nascentes, poços, cisternas ou outras origens ou depósitos de águas potáveis e das
respectivas condutas.
§ único. Nas zonas rurais pode autorizar-se o depósito dos estrumes em
estrumeiras ou nitreiras, desde que não haja prejuízo para a salubridade pública.
As estrumeiras ou nitreiras devem ficar afastadas das habitações ou locais públicos e serão
construídas de modo que delas não possam advir infiltrações prejudiciais no terreno e
fiquem asseguradas, em condições inofensivas, a evacuação e eliminação dos líquidos
exsudados ou a recolha destes em fossas que satisfaçam as condições especificadas no §
único do artigo anterior.
Artigo 120.º
Serão sempre tomadas precauções rigorosas para impedir que as instalações
ocupadas por animais e as estrumeiras ou nitreiras possam favorecer a propagação
de moscas ou mosquitos.
TÍTULO IV

CONDIÇÕES ESPECIAIS RELATIVAS À


ESTÉTICA DAS EDIFICAÇÕES

CAPÍTULO ÚNICO
Artigo 121.º
As construções em zonas urbanas ou rurais, seja qual for a sua natureza e o fim a
que se destinem, deverão ser delineadas, executadas e mantidas de forma que
contribuam para dignificação e valorização estética do conjunto em que venham a
integrar-se. Não poderão erigir-se quaisquer construções susceptíveis de
comprometerem, pela localização, aparência ou proporções, o aspecto das
povoações ou dos conjuntos arquitectónicos, edifícios e locais de reconhecido
interesse histórico ou artístico ou de prejudicar a beleza das paisagens.
Artigo 122.º
O disposto no artigo anterior aplica-se integralmente as obras de conservação,
reconstrução ou transformação de construções existentes.
Artigo 123.º
(Revogado).Artigo 124.º
Não são autorizáveis quaisquer alterações em construções ou elementos naturais
classificados como valores concelhios nos termos da Lei n.º 2032, quando delas
possam resultar prejuízos para esses valores.

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§ 1º As câmaras municipais poderão condicionar a licença para se executarem trabalhos
de reconstrução ou de transformação em construções de interesse
histórico, artístico ou arqueológico que, precedentemente, tenham sofrido obras
parciais em desacordo com o estabelecido neste artigo, a simultânea execução
dos trabalhos complementares de correcção necessários para reintegrar a
construção nas suas características primitivas. Este condicionamento só poderá
ser imposto se a importância das obras requeridas ou o valor histórico,
arqueológico ou artístico da construção o justificar.
§ 2º Das deliberações camarárias tomadas nos termos do presente artigo haverá
recurso para a entidade que tiver feito a classificação.
Artigo 125.º
As câmaras municipais poderão proibir a instalação de elementos ou objectos de
mera publicidade e impor a supressão dos já existentes quando prejudiquem o bom
aspecto dos arruamentos e parcas ou das construções onde se apliquem.

Artigo 126.º
As árvores ou os maciços de arborização que, embora situados em logradouros de
edificações ou outros terrenos particulares, constituam, pelo seu porte, beleza e
condições de exposição, elementos de manifesto interesse público, e como tais
oficialmente classificados, não poderão ser suprimidos, salvo em casos de perigo
iminente, ou precedendo licença municipal, em casos de reconhecido prejuízo para
a salubridade ou segurança dos edifícios vizinhos.

Artigo 127.º
(Revogado).

TÍTULO V
CONDIÇÕES ESPECIAIS RELATIVAS À SEGURANÇA DAS EDIFICAÇÕES

CAPÍTULO I
Solidez das edificações

Artigo 128.º
As edificações serão delineadas e construídas de forma a ficar sempre assegurada a sua
solidez, e serão permanentemente mantidas em estado de não poderem constituir
perigo para a segurança pública e dos seus ocupantes ou para a dos
prédios vizinhos.

Artigo 129.º
As disposições do artigo anterior são aplicáveis às obras de reconstrução ou
transformação de edificações existentes. Quando se trate de ampliação ou outra
transformação de que resulte aumento das cargas transmitidas aos elementos não
transformados da edificação ou as fundações, não podem as obras ser iniciadas
sem termo de responsabilidade do autor do projeto que certifique que a edificação
suportará com segurança o acréscimo de
solicitação resultante da obra projectada.

Artigo 130.º

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A nenhuma edificação ou parte de edificação poderá ser dada, mesmo
temporariamente, aplicação diferente daquela para que foi projectada e construída, e da
qual resulte agravamento das sobrecargas inicialmente previstas, sem que se verifique
que os elementos da edificação e as respectivas fundações suportarão com segurança o
correspondente aumento de solicitação ou se efectuem as necessárias obras de reforço.

Artigo 131.º
Quando as edificações, no todo ou em parte, se destinem a aplicações que
envolvam sobrecargas consideráveis, deverá ser afixada de forma bem visível em
cada pavimento a indicação da sobrecarga máxima de utilização admissível.

Artigo 132.º
Os materiais de que forem construídos os elementos das edificações deverão ser
sempre de boa qualidade e de natureza adequada as condições da sua utilização.
Todos os elementos activos das edificações e respectivas fundações deverão ser
estabelecidos de forma que possam suportar, com toda a segurança e sem
deformações inconvenientes, as máximas solicitações a que sejam submetidos.
As tensões limites correspondentes à solicitação mais desfavorável em ponto algum
deverão ultrapassar valores deduzidos dos limites de resistência dos materiais
constituintes, por aplicação de coeficientes de segurança convenientemente
fixados.
Artigo 133.º
Antes da execução das obras ou no seu decurso, especialmente quando se trate de
edificações de grande importância ou destinadas a suportar cargas elevadas, ou
ainda quando se utilizem materiais ou processo de construção não correntes,
poderá ser exigida a execução de ensaios para demonstração das qualidades dos
terrenos ou dos materiais, ou para justificação dos limites de tensão admitidos.
Igualmente poderá exigir-se que tais edificações sejam submetidas a provas, antes
de utilizadas, com o fim de se verificar directamente a sua solidez.
Artigo 134.º
Nas zonas sujeitas a sismos violentos deverão ser fixadas condições restritivas
especiais para as edificações, ajustadas à máxima violência provável dos abalos e
incidindo especialmente sobre a altura máxima permitida para as edificações, a
estrutura destas e a constituição dos seus elementos, as sobrecargas adicionais que se
devam considerar, os valores dos coeficientes de segurança e a continuidade e
homogeneidade do terreno de fundação.

CAPÍTULO II
Segurança pública e dos operários no decurso das obras

Artigo 135.º
Durante a execução de obras de qualquer natureza serão obrigatoriamente adoptadas as
precauções e as disposições necessárias para garantir a segurança do público e dos
operários, para salvaguardar, quanto possível, as condições normais do trânsito na via
publica e, bem assim, para evitar danos materiais, mormente os
que possam afectar os bens do domínio público do estado ou dos municípios, as
instalações de serviços públicos e os imóveis de valor histórico ou artístico.
Serão interditos quaisquer processos de trabalho susceptíveis de comprometer o
exacto cumprimento do disposto neste artigo.

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Artigo 136.º
Os estaleiros das obras de construção, demolição ou outras que interessem à
segurança dos transeuntes, quando no interior de povoações, deverão em regra ser
fechados ao longo dos arruamentos ou logradouros públicos por vedações do tipo
fixado pelas respectivas câmaras municipais, tendo em vista a natureza da obra e
as características do espaço público confinante.
§ único. Quando as condições do trânsito na via pública impossibilitem ou tornem
inconveniente a construção da vedação, poderão ser impostas, em sua substituição,
disposições especiais que garantam por igual a segurança pública, sem embaraço
para o trânsito.

Artigo 137.º
Os andaimes, escadas e pontes de serviço, passadiços, aparelhos de elevação de
materiais e, de um modo geral, todas as construções ou instalações acessórias e
dispositivos de trabalho utilizados para a execução das obras deverão ser construídos e
conservados em condições de perfeita segurança dos operários e do
público e de forma que constituam o menor embaraço possível para o trânsito.
§ único. As câmaras municipais poderão exigir disposições especiais, no que se
refere à constituição e modo de utilização dos andaimes e outros dispositivos em
instalações acessórias das obras, tendo em vista a salvaguarda do trânsito nas
artérias mais importantes.

Artigo 138.º
Na execução de terraplanagens, abertura de poços, galerias, valas e caboucos, ou
outros trabalhos de natureza semelhante, os revestimentos e escoramentos
deverão ser cuidadosamente construídos e conservados, adoptando-se as demais
disposições necessárias para impedir qualquer acidente, tendo em atenção a
natureza do terreno, as condições de trabalho do pessoal e a localização da obra
em relação aos prédios vizinhos.

Artigo 139.º
Além das medidas de segurança referidas no presente capítulo, poderão as câmaras
municipais, tendo em vista a comodidade e a higiene públicas e dos operários, impor
outras relativas à organização dos estaleiros.

CAPÍTULO III
Segurança contra incêndios
Artigo 140.º
(Revogado)

Artigo 141.º
(Revogado)
Artigo 142.º
(Revogado)
Artigo 143.º
(Revogado)
Artigo 144.º
(Revogado)
Artigo 145.º
(Revogado)

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Artigo 146.º
(Revogado)
Artigo 147.º
(Revogado)
Artigo 148.º
(Revogado)
Artigo 149.º
(Revogado)
Artigo 150.º
(Revogado)
Artigo 151.º
(Revogado)
Artigo 152.º
(Revogado)
Artigo 153.º
(Revogado)
Artigo 154.º
(Revogado)
Artigo 155.º
(Revogado)
Artigo 156.º
(Revogado)
Artigo 157.º
(Revogado)
Artigo 158.º
(Revogado)
Artigo 159.º
(Revogado)

TÍTULO VI
SANÇÕES E DISPOSIÇÕES DIVERSAS

CAPÍTULO ÚNICO

Artigo 160.º
As câmaras municipais terão competência para cominar, nos seus regulamentos, as
penalidades aplicáveis aos infractores do presente diploma, dentro dos limites
assinados nos artigos seguintes, bem como poderão tomar as demais medidas
adiante enunciadas, a fim de dar execução aos seus preceitos.

Artigo 161.º
Constituem contra-ordenações a violação do disposto no presente Regulamento e
nos regulamentos municipais neste previstos, competindo aos serviços de
fiscalização da câmara municipal competente a instrução do respectivo processo,
sem prejuízo das competências de fiscalização das autoridades policiais,
cumulativamente.

Artigo 162.º
A execução de quaisquer obras em violação das disposições deste Regulamento,
que não seja já objecto de sanção por via do disposto no Decreto-Lei nº445/91, de

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20 de Novembro, é punida com coima de 5000$ a 500000$ (€24,94 a €2493,99).
§ 1º A supressão das árvores ou maciços abrangidos pela disposição do artigo
126.º, quando os proprietários tenham sido previamente notificados da
interdição do respectivo corte, será punida com coima de 5000$ a 500000$
(€24,94 a €2493,99). (Redacção do Decreto-Lei nº463/85, de 4 de Novembro).
§ 2º A existência de meios de transporte vertical - ascensores, monta-cargas,
escadas ou tapetes rolantes -, quando exigidos pelo presente Regulamento, em
condições de não poderem ser utilizados permanentemente será punida com
coima de 2000$ a 5000$ (€9,98 a €24,94) por aparelho e por dia. § 3º A violação de
disposições deste Regulamento para que se não preveja sanção
especial, quer nos parágrafos anteriores, quer no Decreto-Lei nº445/91, de 20
de Novembro, é sancionada com coima de 5000$ a 500 000$ (€24,94 a
€2.493,99).

Artigo 163.º
Quando as coimas forem aplicadas a pessoas colectivas os mínimos fixados no
artigo anterior são elevados para o dobro, podendo os máximos atingir os limites
fixados no artigo 17.º do Decreto-Lei n.º 433/82, de 27 de Outubro.

Artigo 164.º
A negligência é sempre punida.

Artigo 165.º
(Revogado)
Artigo 166.º
(Revogado)
Artigo 167.º
(Revogado)
Artigo 168.º
(Revogado)

Artigo 169.º
Os serviços do Estado e das autarquias locais, as Misericórdias, os organismos
corporativos e de coordenação económica e, de uma maneira geral, todas as
entidades que promovam a distribuição de casas para pobres, casas para
pescadores, casas económicas, de renda económica ou de renda limitada,
comunicarão às câmaras, antes de efectuada a sua ocupação, os nomes e as
moradas dos respectivos beneficiários, para que verifiquem, em relação as casas
por eles desocupadas, a conformidade com as licenças concedidas e as condições
de habitabilidade e possam agir de harmonia com as disposições do presente
regulamento.

CÓDIGO DAS EXPROPRIAÇÕES (CE)


Lei n.º 168/99, de 18 de setembro

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A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da
Constituição, para valer como lei geral da República, o seguinte:

Artigo 1.º

É aprovado o Código das Expropriações, que se publica em anexo à presente lei e que
dela faz parte integrante.

Artigo 2.º

1 - A regulamentação do encargo de mais-valia e a delimitação a que se refere o n.º 2 do


artigo 17.º da Lei n.º 2030, de 22 de Julho de 1948, cabem exclusivamente à assembleia
municipal competente quando estejam em causa obras de urbanização ou de abertura de
vias de comunicação municipais ou intermunicipais.
2 - Compete à câmara municipal determinar as áreas concretamente beneficiadas, para
os efeitos do n.º 5 do artigo 17.º da Lei n.º 2030, de 22 de Julho de 1948, nos casos
previstos no número anterior.
3 - Os regulamentos e as deliberações da assembleia e câmara municipais a que se
referem os números precedentes entram em vigor 15 dias após a sua publicação na 2.ª
série do Diário da República.

Artigo 3.º

É revogado o Decreto-Lei n.º 438/91, de 9 de Novembro.

Artigo 4.º

A presente lei entra em vigor 60 dias após a data da sua publicação.


Aprovada em 2 de Julho de 1999.

O Presidente da Assembleia da República, António de Almeida Santos.


Promulgada em 2 de Setembro de 1999.
Publique-se.
O Presidente da República, JORGE SAMPAIO.
Referendada em 9 de Setembro de 1999.
O Primeiro-Ministro, António Manuel de Oliveira Guterres.

TÍTULO I
Disposições gerais

Artigo 1.º
Admissibilidade das expropriações

Os bens imóveis e os direitos a eles inerentes podem ser expropriados por causa de
utilidade pública compreendida nas atribuições, fins ou objecto da entidade
expropriante, mediante o pagamento contemporâneo de uma justa indemnização nos
termos do presente Código.

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Artigo 2.º
Princípios gerais

Compete às entidades expropriantes e demais intervenientes no procedimento e no


processo expropriativos prosseguir o interesse público, no respeito pelos direitos e
interesses legalmente protegidos dos expropriados e demais interessados, observando,
nomeadamente, os princípios da legalidade, justiça, igualdade, proporcionalidade,
imparcialidade e boa fé.

Artigo 3.º
Limite da expropriação

1 - A expropriação deve limitar-se ao necessário para a realização do seu fim, podendo,


todavia, atender-se a exigências futuras, de acordo com um programa de execução
faseada e devidamente calendarizada, o qual não pode ultrapassar o limite máximo de
seis anos.
2 - Quando seja necessário expropriar apenas parte de um prédio, pode o proprietário
requerer a expropriação total:
a) Se a parte restante não assegurar, proporcionalmente, os mesmos cómodos que
oferecia todo o prédio;
b) Se os cómodos assegurados pela parte restante não tiverem interesse económico para
o expropriado, determinado objectivamente.
3 - O disposto no presente Código sobre expropriação total é igualmente aplicável a
parte da área não abrangida pela declaração de utilidade pública relativamente à qual se
verifique qualquer dos requisitos fixados no número anterior.

Nota 1: Art.º 91.º (Expropriação de bens móveis)

Artigo 4.º
Expropriação por zonas ou lanços

1 - Tratando-se de execução de plano municipal de ordenamento do território ou de


projectos de equipamentos ou infra-estruturas de interesse público, podem ser
expropriadas de uma só vez, ou por zonas ou lanços, as áreas necessárias à respectiva
execução.
2 - No caso de expropriação por zonas ou lanços, o acto de declaração de utilidade
pública deve determinar, além da área total, a divisão desta e a ordem e os prazos para
início da aquisição, com o limite máximo de seis anos.
3 - Os bens abrangidos pela segunda zona ou lanço e seguintes continuam na
propriedade e posse dos seus donos até serem objecto de expropriação amigável ou de
adjudicação judicial, sem prejuízo do disposto no artigo 19.º
4 - Para o cálculo da indemnização relativa a prédios não compreendidos na primeira
zona definida nos termos do n.º 2 são atendidas as benfeitorias necessárias neles
introduzidas no período que mediar entre a data da declaração de utilidade pública e a
data da aquisição da posse pela entidade expropriante da respectiva zona ou lanço.
5 - A declaração de utilidade pública a que se refere o presente artigo caduca
relativamente aos bens cuja arbitragem não tiver sido promovida pela entidade
expropriante dentro do prazo de um ano, ou se os processos respectivos não forem
remetidos ao tribunal competente no prazo de 18 meses, em ambos os casos a contar do

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termo fixado para a aquisição da respectiva zona ou lanço.
6 - O proprietário e os demais interessados têm direito a ser indemnizados dos prejuízos
directa e necessariamente resultantes de o bem ter estado sujeito a expropriação.
7 - A indemnização a que se refere o número anterior é determinada nos termos do
presente Código, utilizando-se, na falta de acordo, o processo previsto nos artigos 42.º e
seguintes, na parte aplicável, com as necessárias adaptações.

Artigo 5.º
Direito de reversão

1 - Sem prejuízo do disposto no n.º 4, há direito a reversão:


a) Se no prazo de dois anos, após a data de adjudicação, os bens expropriados não forem
aplicados ao fim que determinou a expropriação;
b) Se, entretanto, tiverem cessado as finalidades da expropriação.
2 - Sempre que a realização de uma obra contínua determinar a expropriação de bens
distintos, o seu início em qualquer local do traçado faz cessar o direito de reversão sobre
todos os bens expropriados, sem prejuízo do disposto no n.º 9.
3 - Para efeitos do disposto no número anterior entende-se por obra contínua aquela que
tem configuração geométrica linear e que, pela sua natureza, é susceptível de execução
faseada ao longo do tempo, correspondendo a um projecto articulado, global e coerente.
4 - O direito de reversão cessa:
a) Quando tenham decorrido 20 anos sobre a data da adjudicação;
b) Quando seja dado aos bens expropriados outro destino, mediante nova declaração de
utilidade pública;
c) Quando haja renúncia do expropriado;
d) Quando a declaração de utilidade pública seja renovada, com fundamento em
prejuízo grave para o interesse público, dentro do prazo de um ano a contar de
verificação dos factos previstos no n.º 1 anterior.
5 - A reversão deve ser requerida no prazo de três anos a contar da ocorrência do facto
que a originou, sob pena de caducidade; decorrido esse prazo, assiste ao expropriado,
até ao final do prazo previsto na alínea a) do n.º 4, o direito de preferência na primeira
alienação dos bens.
6 - O acordo entre a entidade expropriante e o expropriado ou demais interessados sobre
outro destino a dar ao bem expropriado ou sobre o montante do acréscimo da
indemnização que resultaria da aplicação do disposto no n.º 8 interpreta-se como
renúncia aos direitos de reversão e de preferência.
7 - Se a entidade expropriante pretender alienar parcelas sobrantes, deve comunicar o
projecto de alienação ao expropriado e demais interessados conhecidos cujos direitos
não hajam cessado definitivamente, por carta ou ofício registado com aviso de recepção,
com a antecedência mínima de 60 dias, findos os quais, não sendo exercido o direito de
reversão ou, se for o caso, o direito de preferência, se entende que renunciam ao mesmo.
8 - No caso de nova declaração de utilidade pública ou de renovação da declaração
anterior, o expropriado é notificado nos termos do n.º 1 do artigo 35.º para optar pela
fixação de nova indemnização ou pela actualização da anterior ao abrigo do disposto no
artigo 24.º, aproveitando-se neste caso os actos praticados.
9 - Cessa o disposto no n.º 2 anterior se os trabalhos forem suspensos ou estiverem
interrompidos por prazo superior a dois anos, contando-se o prazo a que se refere o n.º 5
anterior a partir do final daquele.

Nota 1: Sobre a reversão dos bens expropriados, cf. art.º 75.º e segs. do CE e o art.º 45.º do RJUE.

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Nota 2: Nos termos do art.º 45.º, n.º 1, do RJUE, “O cedente tem o direito de reversão sobre as parcelas
cedidas (...) sempre que estas sejam afetas a fins diversos daqueles para que hajam sido cedidas.” E, nos
termos do n.º 4, deste preceito, em alternativa ao exercício do direito de reversão, o cedente pode exigir ao
município uma indemnização.

Artigo 6.º
Afectação dos bens do domínio público

1 - As pessoas colectivas de direito público têm direito a ser compensadas, em dinheiro


ou em espécie, como melhor convier aos fins públicos em causa, dos prejuízos efectivos
que resultarem da afectação definitiva dos seus bens de domínio público a outros fins de
utilidade pública.
2 - Na falta de acordo, o montante da compensação é determinado por arbitragem, nos
termos previstos neste Código, com as necessárias adaptações.
3 - Tornando-se desnecessária a afectação dos bens, estes são reintegrados no
património das entidades a que se refere o n.º 1.

Nota: Ac. do TCAN de 26.3.2009 (proc. (00949/06.7BECBR ), no qual se lê: “I. Existe,
sem margem para dúvidas, um domínio público autárquico e, em especial, um domínio
público municipal, tanto para mais que a sua existência é assumida e afirmada em vários
diplomas legais e aceite pela doutrina. II. No âmbito do nosso ordenamento existe
efectivamente apenas um domínio público aéreo estadual ou nacional, não havendo
um domínio público aéreo municipal constituído ou correspondente aos respectivos
limites territoriais e que comece para lá da altitude onde o interesse dos proprietários já
não chegue. III. Não se pode concluir, todavia, que os municípios não sejam
detentores de espaço aéreo sobrejacente ao seu domínio público, mormente, ao
domínio público rodoviário e que sobre esse espaço os mesmos não possam ou não
devam exercer seus poderes de administração, efectivando dessa forma seus direitos e
interesses. IV. Tal é reconhecido pelo próprio legislador ordinário [cfr. art. 19.º, als. b) e
c) da Lei n.º 42/98, de 06/08 - LFL à data dos factos vigente] quando afirma a sua
existência e a confere tais poderes aos municípios. V. Constitui “questão fiscal” para
a qual são competentes os tribunais tributários o apurar se assiste ao Município o direito
a exigir de determinados sujeitos o pagamento de certa quantia, acrescida de juros
moratórios, devida a título de taxas pela utilização/ocupação do espaço público aéreo
nos termos decorrentes do Regulamento de Taxas e Licenças daquele Município.”

Artigo 7.º
Expropriação de bens ou direitos relativos a concessões e privilégios

1 - Com o resgate das concessões e privilégios outorgados para a exploração de obras


ou serviços de utilidade pública podem ser expropriados os bens ou direitos a eles
relativos que, sendo propriedade do concessionário, devam continuar afectos à obra ou
ao serviço.
2 - A transferência de posse dos bens expropriados opera-se conjuntamente com a dos
que constituem objecto de resgate, ainda que a indemnização não esteja fixada.
3 - No caso previsto na parte final do número anterior, a entidade expropriante deve
proceder à cativação do saldo da dotação orçamental que suporta o encargo e renová-la
em cada ano económico enquanto se justificar, ou proceder à caução nos termos da lei.

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Nota 1: Art.º 91.º (Expropriação de bens móveis)

Artigo 8.º
Constituição de servidões administrativas

1 - Podem constituir-se sobre imóveis as servidões necessárias à realização de fins de


interesse público.
2 - As servidões, resultantes ou não de expropriações, dão lugar a indemnização
quando:
a) Inviabilizem a utilização que vinha sendo dada ao bem, considerado globalmente;
b) Inviabilizem qualquer utilização do bem, nos casos em que estes não estejam a ser
utilizados; ou
c) Anulem completamente o seu valor económico.
3 - À constituição das servidões e à determinação da indemnização aplica-se o disposto
no presente Código com as necessárias adaptações, salvo o disposto em legislação
especial.
Nota: Ac. do T de Conflitos: Conflito 26/16: São da competência material da ordem dos
tribunais judiciais as acções que têm como objecto o arbitramento da justa
indemnização devida ao proprietário pela oneração do seu direito, determinante da
desvalorização do bem pela constituição lícita de uma servidão administrativa por acto
de entidade concessionária de serviço público, decorrente de um precedente processo
expropriativo.

Artigo 9.º
Conceito de interessados

1 - Para os fins deste Código, consideram-se interessados, além do expropriado, os


titulares de qualquer direito real ou ónus sobre o bem a expropriar e os arrendatários de
prédios rústicos ou urbanos.
2 - O arrendatário habitacional de prédio urbano só é interessado, nessa qualidade,
quando prescinda de realojamento equivalente, adequado às suas necessidades e às
daqueles que com ele vivam em economia comum à data da declaração de utilidade
pública.
3 - São tidos por interessados os que no registo predial, na matriz ou em títulos
bastantes de prova que exibam figurem como titulares dos direitos a que se referem os
números anteriores ou, sempre que se trate de prédios omissos ou haja manifesta
desactualização dos registos e das inscrições, aqueles que pública e notoriamente forem
tidos como tais.

TÍTULO II
Da declaração de utilidade pública e da autorização de posse administrativa

Artigo 10.º
Resolução de expropriar

1 - A resolução de requerer a declaração de utilidade pública da expropriação deve ser


fundamentada, mencionando expressa e claramente:
a) A causa de utilidade pública a prosseguir e a norma habilitante;
b) Os bens a expropriar, os proprietários e demais interessados conhecidos;

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c) A previsão do montante dos encargos a suportar com a expropriação;
d) O previsto em instrumento de gestão territorial para os imóveis a expropriar e para a
zona da sua localização.
2 - As parcelas a expropriar são identificadas através da menção das descrições e
inscrições na conservatória a que pertençam e das inscrições matriciais, se não
estiverem omissas, ou de planta parcelar contendo as coordenadas dos pontos que
definem os limites das áreas a expropriar, reportadas à rede geodésica, e, se houver
planta cadastral, os limites do prédio, desde que situados a menos de 300 m dos limites
da parcela, em escala correspondente à do cadastro geométrico da propriedade ou, na
falta deste, em escala graficamente representada não inferior a 1:1000, nas zonas
interiores dos perímetros urbanos, ou a 1:2000, nas exteriores.
3 - Os proprietários e demais interessados conhecidos são identificados através do
nome, firma, denominação, residência habitual ou sede.
4 - A previsão dos encargos com a expropriação tem por base a quantia que for
determinada previamente em avaliação, documentada por relatório, efectuada por perito
da lista oficial, da livre escolha da entidade interessada na expropriação.
5 - A resolução a que se refere o n.º 1 anterior é notificada ao expropriado e aos demais
interessados cuja morada seja conhecida, mediante carta ou ofício registado com aviso
de recepção.

Artigo 11.º
Aquisição por via de direito privado

1 - A entidade interessada, antes de requerer a declaração de utilidade pública, deve


diligenciar no sentido de adquirir os bens por via de direito privado, salvo nos casos
previstos no artigo 15.º, e nas situações em que, jurídica ou materialmente, não é
possível a aquisição por essa via.
2 - A notificação a que se refere o n.º 5 do artigo anterior deve incluir proposta de
aquisição, por via de direito privado, que terá como referência o valor constante do
relatório do perito.
3 - No caso referido no n.º 2 do artigo 9.º, a proposta é apresentada como alternativa ao
realojamento nele previsto.
4 - Não sendo conhecidos os proprietários e os demais interessados ou sendo devolvidas
as cartas ou ofícios a que se refere o n.º 5 do artigo anterior, a existência de proposta é
publicitada através de editais a afixar nos locais de estilo do município do lugar da
situação do bem ou da sua maior extensão e das freguesias onde se localize e em dois
números seguidos de dois dos jornais mais lidos na região, sendo um destes de âmbito
nacional.
5 - O proprietário e os demais interessados têm o prazo de 20 dias, contados a partir da
recepção da proposta, ou de 30 dias, a contar da última publicação nos jornais a que se
refere o número anterior, para dizerem o que se lhes oferecer sobre a proposta
apresentada, podendo a sua contraproposta ter como referência o valor que for
determinado em avaliação documentada por relatório elaborado por perito da sua
escolha.
6 - A recusa ou a falta de resposta no prazo referido no número anterior ou de interesse
na contraproposta confere, de imediato, à entidade interessada na expropriação a
faculdade de apresentar o requerimento para a declaração de utilidade pública, nos
termos do artigo seguinte, notificando desse facto os proprietários e demais interessados
que tiverem respondido.

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7 - Se houver acordo, a aquisição por via do direito privado poderá ter lugar ainda que a
área da parcela, ou da parte sobrante, seja inferior à unidade de cultura.

Artigo 12.º
Remessa do requerimento

1 - O requerimento da declaração de utilidade pública é remetido, conforme os casos, ao


membro do Governo ou ao presidente da assembleia municipal competente para a
emitir, devendo ser instruído com os seguintes documentos:
a) Cópia da resolução a que se refere o n.º 1 do artigo 10.º e da respectiva
documentação;
b) Todos os elementos relativos à fase de tentativa de aquisição por via de direito
privado quando a ela haja lugar e indicação das razões do respectivo inêxito;
c) Indicação da dotação orçamental que suportará os encargos com a expropriação e da
respectiva cativação, ou caução correspondente;
d) Programação dos trabalhos elaborada pela entidade expropriante, no caso de
urgência, bem como a fundamentação desta;
e) Estudo de impacte ambiental, quando legalmente exigido.
2 - Se o requerente for entidade de direito privado, deve comprovar que se encontra
caucionado o fundo indispensável para o pagamento das indemnizações a que haja
lugar.
3 - A entidade requerida pode determinar que o requerente junte quaisquer outros
documentos ou preste os esclarecimentos que entenda necessários.

Artigo 13.º
Declaração de utilidade pública

1 - A declaração de utilidade pública deve ser devidamente fundamentada e obedecer


aos demais requisitos fixados neste Código e demais legislação aplicável,
independentemente da forma que revista.
2 - A declaração resultante genericamente da lei ou de regulamento deve ser
concretizada em acto administrativo que individualize os bens a expropriar, valendo
esse acto como declaração de utilidade pública para os efeitos do presente diploma.
3 - Sem prejuízo do disposto no n.º 6, a declaração de utilidade pública caduca se não
for promovida a constituição da arbitragem no prazo de um ano ou se o processo de
expropriação não for remetido ao tribunal competente no prazo de 18 meses, em ambos
os casos a contar da data da publicação da declaração de utilidade pública.
4 - A declaração de caducidade pode ser requerida pelo expropriado ou por qualquer
outro interessado ao tribunal competente para conhecer do recurso da decisão arbitral ou
à entidade que declarou a utilidade pública e a decisão que for proferida é notificada a
todos os interessados.
5 - A declaração de utilidade pública caducada pode ser renovada em casos
devidamente fundamentados e no prazo máximo de um ano, a contar do termo dos
prazos fixados no n.º 3 anterior.
6 - Renovada a declaração de utilidade pública, o expropriado é notificado nos termos
do n.º 1 do artigo 35.º para optar pela fixação de nova indemnização ou pela
actualização da anterior, nos termos do artigo 24.º, aproveitando-se neste caso os actos
praticados.
7 - Tratando-se de obra contínua, nos termos do n.º 3 do artigo 5.º, a caducidade não
pode ser invocada depois de aquela ter sido iniciada em qualquer local do respectivo

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traçado, salvo se os trabalhos forem suspensos ou estiverem interrompidos por prazo
superior a três anos.

Artigo 14.º
Competência para a declaração de utilidade pública

1 - Salvo nos casos previstos no número seguinte, é da competência do ministro a cujo


departamento compete a apreciação final do processo:
a) A declaração de utilidade pública da expropriação dos bens imóveis e direitos a eles
inerentes;
b) A declaração de utilidade pública do resgate, não prevista nos respectivos contratos,
das concessões ou privilégios outorgados para a exploração de obras ou serviços de
utilidade pública e ainda da expropriação dos bens ou direitos a eles relativos referidos
no artigo 7.º
2 - A competência para a declaração de utilidade pública das expropriações da iniciativa
da administração local autárquica, para efeitos de concretização de plano de urbanização
ou plano de pormenor eficaz, é da respectiva assembleia municipal.
3 - A deliberação da assembleia municipal prevista no número anterior deverá ser
tomada por maioria dos membros em efectividade de funções.
4 - A deliberação referida no número anterior é comunicada ao membro do Governo
responsável pela área da administração local.
5 - O reconhecimento do interesse público requerido pelas empresas e a declaração de
utilidade pública da expropriação dos imóveis necessários à instalação, ampliação,
reorganização ou reconversão das suas unidades industriais ou dos respectivos acessos é
da competência do ministro a cujo departamento compete a apreciação final do
processo.
6 - Nos casos em que não seja possível determinar o departamento a que compete a
apreciação final do processo ou que não sejam abrangidos pelo disposto nos números
anteriores é competente o Primeiro-Ministro, com a faculdade de delegar no ministro
responsável pelo ordenamento do território.

Artigo 15.º
Atribuição do carácter de urgência

1 - No próprio acto declarativo da utilidade pública, pode ser atribuído carácter de


urgência à expropriação para obras de interesse público.
2 - A atribuição de carácter urgente à expropriação deve ser sempre fundamentada e
confere de imediato à entidade expropriante a posse administrativa dos bens
expropriados, nos termos previstos nos artigos 20.º e seguintes, na parte aplicável.
3 - A atribuição de carácter urgente caduca se as obras na parcela não tiverem início no
prazo fixado no programa de trabalhos, salvo ocorrendo motivo devidamente
justificado.
4 - À declaração de caducidade aplica-se, com as necessárias adaptações, o disposto no
n.º 4 do artigo 13.º
5 - A caducidade não obsta à ulterior autorização da posse administrativa, nos termos
dos artigos 19.º e seguintes.

Artigo 16.º
Expropriação urgentíssima

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1 - Quando a necessidade da expropriação decorra de calamidade pública ou de
exigências de segurança interna ou de defesa nacional, o Estado ou as autoridades
públicas por este designadas ou legalmente competentes podem tomar posse
administrativa imediata dos bens destinados a prover à necessidade que determina a sua
intervenção, sem qualquer formalidade prévia, seguindo-se, sem mais diligências, o
estabelecido no presente Código sobre fixação da indemnização em processo litigioso.
2 - Sempre que possível, será promovida vistoria ad perpetuam rei memoriam, nos
termos previstos no artigo 21.º, cumprindo-se, com as necessárias adaptações, o
disposto nesse artigo.

Nota 1: Art.º 91.º (Expropriação de bens móveis)

Artigo 17.º
Publicação da declaração de utilidade pública

1 - O acto declarativo da utilidade pública e a sua renovação são sempre publicados, por
extracto, na 2.ª série do Diário da República e notificados ao expropriado e aos demais
interessados conhecidos por carta ou ofício sob registo com aviso de recepção, devendo
ser averbados no registo predial.
2 - Se o expropriado ou demais interessados forem desconhecidos é aplicável o disposto
no n.º 4 do artigo 11.º
3 - A publicação da declaração de utilidade pública deve identificar sucintamente os
bens sujeitos a expropriação, com referência à descrição predial e à inscrição matricial,
mencionar os direitos, ónus ou encargos que sobre eles incidem e os nomes dos
respectivos titulares e indicar o fim da expropriação.
4 - A identificação referida no número anterior pode ser substituída por planta, em
escala adequada e graficamente representada, que permita a delimitação legível do bem
necessário ao fim de utilidade pública.
5 - Quando se trate de expropriação por zonas ou lanços, da publicação do acto
declarativo consta a área total a expropriar, a sua divisão de acordo com o faseamento,
os prazos e a ordem de aquisição.
6 - São conjuntamente publicadas, por conta das empresas requerentes a que se refere o
n.º 2 do artigo 14.º, as plantas dos bens abrangidos pela declaração de utilidade pública,
cumprindo-lhes promover a sua afixação na sede do município ou dos municípios do
lugar em que aqueles se situam.
7 - A declaração de utilidade pública é também publicitada pela entidade expropriante
mediante aviso afixado na entrada principal do prédio, quando exista.

Artigo 17.º-A
Dever de comunicação

1 - Após a notificação da declaração de utilidade pública, o expropriado e os demais


interessados devem comunicar à entidade expropriante, por escrito, qualquer alteração
da sua residência habitual ou sede.
2 - A alteração da residência habitual ou da sede do expropriado e dos demais
interessados que não tenha sido comunicada nos termos descritos no número anterior
não constitui fundamento para a repetição de quaisquer termos ou diligências do
procedimento expropriatório.

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Artigo 18.º
Ocupação de prédios vizinhos

1 - A declaração de utilidade pública da expropriação confere à entidade expropriante o


direito de ocupar prédios vizinhos e de neles efectuar os trabalhos necessários ou
impostos pela execução destes, nos termos previstos nos estudos ou projectos
aprovados, ou daqueles que forem definidos em decisão da entidade que produziu
aquele acto.
2 - Se o proprietário ou outros interessados forem conhecidos, são previamente
notificados da ocupação por carta ou ofício sob registo com aviso de recepção, com a
antecedência mínima de 15 dias, podendo qualquer deles exigir a realização de vistoria
ad perpetuam rei memoriam, a qual tem lugar nos termos previstos no artigo 21.º e
precede sempre a ocupação.
3 - Se os proprietários ou outros interessados forem desconhecidos é aplicável o
disposto no n.º 4 do artigo 11.º
4 - Aos proprietários e demais interessados prejudicados pela ocupação são devidas
indemnizações nos termos gerais de direito, a determinar em processo comum, ao qual
se aplica, com as necessárias adaptações, o disposto nos artigos 71.º e 72.º do presente
Código.

Artigo 19.º
Posse administrativa

1 - Se a entidade expropriante for pessoa colectiva de direito público ou empresa


pública, nacionalizada ou concessionária de serviço público ou de obras públicas, pode
ser autorizada pela entidade competente para declarar a utilidade pública da
expropriação a tomar posse administrativa dos bens a expropriar, desde que os trabalhos
necessários à execução do projecto de obras aprovado sejam urgentes e aquela
providência se torne indispensável para o seu início imediato ou para a sua prossecução
ininterrupta.
2 - A autorização de posse administrativa deve mencionar expressa e claramente os
motivos que a fundamentam e o prazo previsto para o início das obras na parcela
expropriada, de acordo com o programa dos trabalhos elaborado pela entidade
expropriante.
3 - A autorização pode ser concedida em qualquer fase da expropriação até ao momento
de adjudicação judicial da propriedade.
4 - Se as obras não tiverem início dentro do prazo estabelecido nos termos do n.º 2
anterior, salvo motivo justificativo, nomeadamente por atraso não imputável à entidade
expropriante, o expropriado e os demais interessados têm o direito de ser indemnizados
pelos prejuízos que não devam ser considerados na fixação da justa indemnização.

Artigo 20.º
Condições de efectivação da posse administrativa

1 - A investidura administrativa na posse dos bens não pode efectivar-se sem que
previamente tenham sido:
a) Notificados os actos de declaração de utilidade pública e de autorização da posse
administrativa;
b) Efectuado o depósito da quantia mencionada no n.º 4 do artigo 10.º em instituição
bancária do lugar do domicílio ou sede da entidade expropriante, à ordem do

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expropriado e dos demais interessados, se aquele e estes forem conhecidos e não houver
dúvidas sobre a titularidade dos direitos afectados;
c) Realizada vistoria ad perpetuam rei memoriam destinada a fixar os elementos de
facto susceptíveis de desaparecerem e cujo conhecimento seja de interesse ao
julgamento do processo.
2 - A notificação a que se refere a alínea a) do número anterior deve conter o local, o dia
e a hora do acto de transmissão da posse.
3 - O acto de transmissão de posse deverá ter lugar no prédio, parcela ou lanço
expropriado.
4 - Se o expropriado e os demais interessados, estando ou devendo considerar-se
devidamente notificados, não comparecerem ao acto de transmissão de posse, esta não
deixará de ser conferida.
5 - O depósito a que se refere a alínea b) do n.º 1 pode ser substituído por caução
prestada por qualquer das formas legalmente admissíveis.
6 - O depósito prévio é dispensado:
a) Se a expropriação for urgente, devendo o mesmo ser efectuado no prazo de 10 dias,
contados nos termos do artigo 279.º do Código Civil, a partir da data da investidura
administrativa na posse dos bens;
b) Se os expropriados e demais interessados não forem conhecidos ou houver dúvidas
sobre a titularidade dos direitos afectados, devendo o mesmo ser efectuado no prazo de
10 dias a contar do momento em que sejam conhecidos ou seja resolvido o incidente
regulado no artigo 53.º
7 - Na situação prevista na alínea a) do número anterior, caso o depósito da quantia
mencionada no n.º 4 do artigo 10.º não seja efectuado no prazo fixado, são devidos juros
moratórios ao expropriado, os quais incidem sobre o montante do depósito.
8 - Atribuído carácter urgente à expropriação ou autorizada a posse administrativa, a
entidade expropriante solicita directamente ao presidente do tribunal da Relação do
distrito judicial do lugar da situação do bem ou da sua maior extensão a indicação de
um perito da lista oficial para a realização da vistoria ad perpetuam rei memoriam.
9 - Pode ser solicitada a indicação de dois ou mais peritos sempre que tal se justifique
pela extensão ou número de prédios a expropriar.

Artigo 21.º
Vistoria ad perpetuam rei memoriam

1 - Recebida a comunicação do perito nomeado, a entidade expropriante marca a data, a


hora e o local do início da vistoria ad perpetuam rei memoriam, notificando de tal facto
o perito, os interessados conhecidos e o curador provisório, por carta ou ofício registado
com aviso de recepção, a expedir de forma a ser recebido com a antecedência mínima
de cinco dias úteis, no qual indicará, ainda, se a expropriação é total ou parcial; a
comunicação ao perito será acompanhada de cópia dos elementos a que se referem as
alíneas a), b) e d) do n.º 1 do artigo 10.º e, sempre que possível, de indicação da
descrição predial e da inscrição matricial dos prédios; a comunicação ao expropriado e
demais interessados mencionará, ainda, a instituição bancária, o local, a data e o
montante do depósito a que se refere a alínea b) do anterior n.º 1 e, se for o caso, que o
mesmo se encontra à sua ordem.
2 - O perito que pretenda pedir escusa pode fazê-lo nos dois dias seguintes à notificação
prevista no número anterior, devendo a entidade expropriante submeter o pedido à
apreciação do presidente do tribunal da Relação para efeitos de eventual substituição.
3 - Os interessados, o curador provisório e a entidade expropriante podem comparecer à

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vistoria e formular por escrito os quesitos que tiverem por pertinentes, a que o perito
deve responder no seu relatório.
4 - O auto de vistoria ad perpetuam rei memoriam deve conter:
a) Descrição pormenorizada do local, referindo, designadamente, as construções
existentes, as características destas, a época da edificação, o estado de conservação e,
sempre que possível, as áreas totais construídas;
b) Menção expressa de todos os elementos susceptíveis de influírem na avaliação do
bem vistoriado, nos termos dos artigos 23.º e seguintes;
c) Plantas, fotografias ou outro suporte de captação da imagem do bem expropriado e da
área envolvente;
d) Elementos remetidos ao perito nos termos do n.º 8 anterior;
e) Respostas aos quesitos referidos no n.º 10 anterior.
5 - Nos 15 dias ulteriores à realização da vistoria ad perpetuam rei memoriam deve o
perito entregar à entidade expropriante o respectivo relatório, aplicando-se, com as
necessárias adaptações, o disposto no artigo 50.º
6 - Em casos devidamente justificados, designadamente pelo número de vistorias, o
prazo a que se refere o número anterior pode ser prorrogado até 30 dias pela entidade
expropriante, a requerimento do perito.
7 - Recebido o relatório, a entidade expropriante, no prazo de cinco dias, notificará o
expropriado e os demais interessados por carta registada com aviso de recepção,
remetendo-lhes cópia do mesmo e dos respectivos anexos, para apresentarem
reclamação contra o seu conteúdo, querendo, no prazo de cinco dias.
8 - Se houver reclamação, o perito pronunciar-se-á no prazo de cinco dias, em relatório
complementar.
9 - Decorrido o prazo de reclamação, sem que esta seja apresentada, ou recebido o
relatório complementar do perito, a entidade expropriante poderá utilizar o prédio para
os fins da expropriação, lavrando o auto de posse administrativa e dando início aos
trabalhos previstos, sem prejuízo do disposto na legislação aplicável sobre a
desocupação de casas de habitação.

Artigo 22.º
Auto de posse administrativa

1 - O auto de posse deve conter os seguintes elementos:


a) Identificação do expropriado e dos demais interessados conhecidos ou menção
expressa de que são desconhecidos;
b) Identificação do Diário da República onde tiver sido publicada a declaração de
utilidade pública e de urgência da expropriação ou o despacho que autorizou a posse
administrativa;
c) Indicação da data e demais circunstâncias susceptíveis de identificarem o relatório da
vistoria, que dele constará em anexo.
2 - Na impossibilidade de identificação do prédio através da inscrição matricial ou da
descrição predial, o auto de posse deve referir a composição, confrontações e demais
elementos que possam contribuir para a identificação física do terreno onde se encontra
o bem expropriado.
3 - No prazo de cinco dias, a entidade expropriante remete, por carta registada com
aviso de recepção, ao expropriado e aos demais interessados conhecidos cópias do auto
de posse administrativa.

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TÍTULO III
Do conteúdo da indemnização

Artigo 23.º
Justa indemnização

1 - A justa indemnização não visa compensar o benefício alcançado pela entidade


expropriante, mas ressarcir o prejuízo que para o expropriado advém da expropriação,
correspondente ao valor real e corrente do bem de acordo com o seu destino efectivo ou
possível numa utilização económica normal, à data da publicação da declaração de
utilidade pública, tendo em consideração as circunstâncias e condições de facto
existentes naquela data.
2 - Na determinação do valor dos bens expropriados não pode tomar-se em
consideração a mais-valia que resultar:
a) Da própria declaração de utilidade pública da expropriação;
b) De obras ou empreendimentos públicos concluídos há menos de cinco anos, no caso
de não ter sido liquidado encargo de mais-valia e na medida deste;
c) De benfeitorias voluptuárias ou úteis ulteriores à notificação a que se refere o n.º 5 do
artigo 10.º;
d) De informações de viabilidade, licenças ou autorizações administrativas requeridas
ulteriormente à notificação a que se refere o n.º 5 do artigo 10.º
3 - Na fixação da justa indemnização não são considerados quaisquer factores,
circunstâncias ou situações criadas com o propósito de aumentar o valor da
indemnização.
4 – (Revogada pela Lei n.º 56/2008, de 4 de Setembro.)
5 - Sem prejuízo do disposto nos n.º s 2 e 3 do presente artigo, o valor dos bens
calculado de acordo com os critérios referenciais constantes dos artigos 26.º e seguintes
deve corresponder ao valor real e corrente dos mesmos, numa situação normal de
mercado, podendo a entidade expropriante e o expropriado, quando tal se não verifique
requerer, ou o tribunal decidir oficiosamente, que na avaliação sejam atendidos outros
critérios para alcançar aquele valor.
6 - O Estado garante o pagamento da justa indemnização, nos termos previstos no
presente Código.
7 - O Estado, quando satisfaça a indemnização, tem direito de regresso sobre a entidade
expropriante, podendo, independentemente de quaisquer formalidades, proceder à
cativação de transferências orçamentais até ao valor total da dívida, incluindo os juros
de mora que se mostrem devidos desde a data do pagamento da indemnização.
Nota. Ac. do Tribunal de Conflitos, Conflito n.º 26/16: São da competência material da
ordem dos tribunais judiciais as acções que têm como objecto o arbitramento da justa
indemnização devida ao proprietário pela oneração do seu direito, determinante da
desvalorização do bem pela constituição lícita de uma servidão administrativa por acto
de entidade concessionária de serviço público, decorrente de um precedente processo
expropriativo.

Artigo 24.º
Cálculo do montante da indemnização

1 - O montante da indemnização calcula-se com referência à data da declaração de


utilidade pública, sendo actualizado à data da decisão final do processo de acordo com a
evolução do índice de preços no consumidor, com exclusão da habitação.

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2 - O índice referido no número anterior é o publicado pelo Instituto Nacional de
Estatística relativamente ao local da situação dos bens ou da sua maior extensão.
3 - Nos casos previstos na parte final do n.º 8 do artigo 5.º e no n.º 6 do artigo 13.º, a
actualização do montante da indemnização abrange também o período que mediar entre
a data da decisão judicial que fixar definitivamente a indemnização e a data do efectivo
pagamento do montante actualizado.

Artigo 25.º
Classificação dos solos

1 - Para efeitos do cálculo da indemnização por expropriação, o solo classifica-se em:


a) Solo apto para a construção;
b) Solo para outros fins.
2 - Considera-se solo apto para a construção:
a) O que dispõe de acesso rodoviário e de rede de abastecimento de água, de energia
eléctrica e de saneamento, com características adequadas para servir as edificações nele
existentes ou a construir;
b) O que apenas dispõe de parte das infra-estruturas referidas na alínea anterior, mas se
integra em núcleo urbano existente;
c) O que está destinado, de acordo com instrumento de gestão territorial, a adquirir as
características descritas na alínea a);
d) O que, não estando abrangido pelo disposto nas alíneas anteriores, possui, todavia,
alvará de loteamento ou licença de construção em vigor no momento da declaração de
utilidade pública, desde que o processo respectivo se tenha iniciado antes da data da
notificação a que se refere o n.º 5 do artigo 10.º
3 - Considera-se solo para outros fins o que não se encontra em qualquer das situações
previstas no número anterior.

Artigo 26.º
Cálculo do valor do solo apto para a construção

1 - O valor do solo apto para a construção calcula-se por referência à construção que
nele seria possível efectuar se não tivesse sido sujeito a expropriação, num
aproveitamento económico normal, de acordo com as leis e os regulamentos em vigor,
nos termos dos números seguintes e sem prejuízo do disposto no n.º 5 do artigo 23.º
2 - O valor do solo apto para construção será o resultante da média aritmética
actualizada entre os preços unitários de aquisições, ou avaliações fiscais que corrijam os
valores declarados, efectuadas na mesma freguesia e nas freguesias limítrofes nos três
anos, de entre os últimos cinco, com média anual mais elevada, relativamente a prédios
com idênticas características, atendendo aos parâmetros fixados em instrumento de
planeamento territorial, corrigido por ponderação da envolvente urbana do bem
expropriado, nomeadamente no que diz respeito ao tipo de construção existente, numa
percentagem máxima de 10%.
3 - Para os efeitos previstos no número anterior, os serviços competentes do Ministério
das Finanças deverão fornecer, a solicitação da entidade expropriante, a lista das
transacções e das avaliações fiscais que corrijam os valores declarados efectuadas na
zona e os respectivos valores.
4 - Caso não se revele possível aplicar o critério estabelecido no n.º 2, por falta de
elementos, o valor do solo apto para a construção calcula-se em função do custo da
construção, em condições normais de mercado, nos termos dos números seguintes.

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5 - Na determinação do custo da construção atende-se, como referencial, aos montantes
fixados administrativamente para efeitos de aplicação dos regimes de habitação a custos
controlados ou de renda condicionada.
6 - Num aproveitamento economicamente normal, o valor do solo apto para a
construção deverá corresponder a um máximo de 15% do custo da construção,
devidamente fundamentado, variando, nomeadamente, em função da localização, da
qualidade ambiental e dos equipamentos existentes na zona, sem prejuízo do disposto
no número seguinte.
7 - A percentagem fixada nos termos do número anterior poderá ser acrescida até ao
limite de cada uma das percentagens seguintes, e com a variação que se mostrar
justificada:
a) Acesso rodoviário, com pavimentação em calçada, betuminoso ou equivalente junto
da parcela - 1,5%;
b) Passeios em toda a extensão do arruamento ou do quarteirão, do lado da parcela -
0,5%;
c) Rede de abastecimento domiciliário de água, com serviço junto da parcela - 1%;
d) Rede de saneamento, com colector em serviço junto da parcela - 1,5%;
e) Rede de distribuição de energia eléctrica em baixa tensão com serviço junto da
parcela - 1%;
f) Rede de drenagem de águas pluviais com colector em serviço junto da parcela - 0,5%;
g) Estação depuradora, em ligação com a rede de colectores de saneamento com serviço
junto da parcela - 2%;
h) Rede distribuidora de gás junto da parcela - 1%;
i) Rede telefónica junto da parcela - 1%.
8 - Se o custo da construção for substancialmente agravado ou diminuído pelas
especiais condições do local, o montante do acréscimo ou da diminuição daí resultante é
reduzido ou adicionado ao custo da edificação a considerar para efeito da determinação
do valor do terreno.
9 - Se o aproveitamento urbanístico que serviu de base à aplicação do critério fixado nos
n.º s 4 a 8 constituir, comprovadamente, uma sobrecarga incomportável para as infra-
estruturas existentes, no cálculo do montante indemnizatório deverão ter-se em conta as
despesas necessárias ao reforço das mesmas.
10 - O valor resultante da aplicação dos critérios fixados nos n.º s 4 a 9 será objecto da
aplicação de um factor correctivo pela inexistência do risco e do esforço inerente à
actividade construtiva, no montante máximo de 15% do valor da avaliação.
11 - No cálculo do valor do solo apto para a construção em áreas críticas de recuperação
e reconversão urbanística, legalmente fixadas, ter-se-á em conta que o volume e o tipo
de construção possível não deve exceder os da média das construções existentes do lado
do traçado do arruamento em que se situe, compreendido entre duas vias consecutivas.
12 - Sendo necessário expropriar solos classificados como zona verde, de lazer ou para
instalação de infra-estruturas e equipamentos públicos por plano municipal de
ordenamento do território plenamente eficaz, cuja aquisição seja anterior à sua entrada
em vigor, o valor de tais solos será calculado em função do valor médio das construções
existentes ou que seja possível edificar nas parcelas situadas numa área envolvente cujo
perímetro exterior se situe a 300 m do limite da parcela expropriada.

Artigo 27.º
Cálculo do valor do solo para outros fins

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1 - O valor do solo apto para outros fins será o resultante da média aritmética
actualizada entre os preços unitários de aquisições ou avaliações fiscais que corrijam os
valores declarados efectuadas na mesma freguesia e nas freguesias limítrofes nos três
anos, de entre os últimos cinco, com média anual mais elevada, relativamente a prédios
com idênticas características, atendendo aos parâmetros fixados em instrumento de
planeamento territorial e à sua aptidão específica.
2 - Para os efeitos previstos no número anterior, os serviços competentes do Ministério
das Finanças deverão fornecer, a solicitação da entidade expropriante, a lista das
transacções e das avaliações fiscais que corrijam os valores declarados efectuadas na
zona e os respectivos valores.
3 - Caso não se revele possível aplicar o critério estabelecido no n.º 1, por falta de
elementos, o valor do solo para outros fins será calculado tendo em atenção os seus
rendimentos efectivo ou possível no estado existente à data da declaração de utilidade
pública, a natureza do solo e do subsolo, a configuração do terreno e as condições de
acesso, as culturas predominantes e o clima da região, os frutos pendentes e outras
circunstâncias objectivas susceptíveis de influir no respectivo cálculo.

Artigo 28.º
Cálculo do valor de edifícios ou construções e das
respectivas áreas de implantação e logradouros

1 - Na determinação do valor dos edifícios ou das construções com autonomia


económica atende-se, designadamente, aos seguintes elementos:
a) Valor da construção, considerando o seu custo actualizado, a localização, o ambiente
envolvente e a antiguidade;
b) Sistemas de infra-estruturas, transportes públicos e proximidade de equipamentos;
c) Nível de qualidade arquitectónica e conforto das construções existentes e estado de
conservação, nomeadamente dos pavimentos e coberturas, das paredes exteriores, partes
comuns, portas e janelas;
d) Área bruta;
e) Preço das aquisições anteriores e respectivas datas;
f) Número de inquilinos e rendas;
g) Valor de imóveis próximos, da mesma qualidade;
h) Declarações feitas pelos contribuintes ou avaliações para fins fiscais ou outros.
2 - No caso de o aproveitamento económico normal da área de implantação e do
logradouro não depender da demolição dos edifícios ou das construções, a justa
indemnização corresponde ao somatório dos valores do solo e das construções,
determinados nos termos do presente Código.
3 - No caso contrário, calcula-se o valor do solo, nele deduzindo o custo das demolições
e dos desalojamentos que seriam necessários para o efeito, correspondendo a
indemnização à diferença apurada, desde que superior ao valor determinado nos termos
do número anterior.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define o “logradouro” como “um espaço ao ar livre, destinado a funções de estadia, recreio e lazer, privado,
de utilização coletiva ou de utilização comum, e adjacente ou integrado num edifício ou conjunto de
edifícios”.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de 2019),
define as “infraestruturas urbanas” como “os sistemas técnicos de suporte direto ao funcionamento dos
aglomerados urbanos ou da edificação em conjunto”.

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Artigo 29.º
Cálculo do valor nas expropriações parciais

1 - Nas expropriações parciais, os árbitros ou os peritos calculam sempre,


separadamente, o valor e o rendimento totais do prédio e das partes abrangidas e não
abrangidas pela declaração de utilidade pública.
2 - Quando a parte não expropriada ficar depreciada pela divisão do prédio ou desta
resultarem outros prejuízos ou encargos, incluindo a diminuição da área total edificável
ou a construção de vedações idênticas às demolidas ou às subsistentes, especificam-se
também, em separado, os montantes da depreciação e dos prejuízos ou encargos, que
acrescem ao valor da parte expropriada.
3 - Não haverá lugar à avaliação da parte não expropriada, nos termos do n.º 1, quando
os árbitros ou os peritos, justificadamente, concluírem que, nesta, pela sua extensão, não
ocorrem as circunstâncias a que se referem as alíneas a) e b) do n.º 2 e o n.º 3 do artigo
3.º

Artigo 30.º
Indemnização respeitante ao arrendamento

1 - O arrendamento para comércio, indústria ou exercício de profissão liberal, ou para


habitação no caso previsto no n.º 2 do artigo 9.º, bem como o arrendamento rural, são
considerados encargos autónomos para efeito de indemnização dos arrendatários.
2 - O inquilino habitacional obrigado a desocupar o fogo em consequência de
caducidade do arrendamento resultante de expropriação pode optar entre uma habitação
cujas características, designadamente de localização e renda, sejam semelhantes às da
anterior ou por indemnização satisfeita de uma só vez.
3 - Na fixação da indemnização a que se refere o número anterior atende-se ao valor do
fogo, ao valor das benfeitorias realizadas pelo arrendatário e à relação entre as rendas
pagas por este e as praticadas no mercado.
4 - Na indemnização respeitante a arrendamento para comércio, indústria ou exercício
de profissão liberal atende-se às despesas relativas à nova instalação, incluindo os
diferenciais de renda que o arrendatário irá pagar, e aos prejuízos resultantes do período
de paralisação da actividade, necessário para a transferência, calculados nos termos
gerais de direito.
5 - Na indemnização respeitante a arrendamento rural atende-se, além do valor dos
frutos pendentes ou das colheitas inutilizadas, ao valor das benfeitorias a que o rendeiro
tenha direito e aos demais prejuízos emergentes da cessação do arrendamento,
calculados nos termos gerais de direito.
6 - O disposto nos números anteriores é também aplicável se a expropriação recair
directamente sobre o arrendamento e no caso de resolução do contrato de arrendamento
nos termos dos artigos 8.º e 11.º do Decreto n.º 139-A/79, de 24 de Dezembro.

Artigo 31.º
Indemnização pela interrupção da actividade comercial,
industrial, liberal ou agrícola

1 - Nos casos em que o proprietário do prédio nele exerça qualquer actividade prevista
no n.º 4 do artigo anterior, à indemnização pelo valor do prédio acresce a que
corresponder aos prejuízos da cessação inevitável ou da interrupção e transferência

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dessa actividade, pelo período de tempo objectivamente necessário, calculada nos
termos do mesmo preceito.
2 - Se da expropriação resultarem prejuízos para o conjunto da exploração agrícola
efectuada directamente pelo proprietário, à indemnização correspondente acresce a
relativa àqueles prejuízos, calculada nos termos gerais de direito.

Artigo 32.º
Indemnização pela expropriação de direitos diversos da
propriedade plena

Na expropriação de direitos diversos da propriedade plena, a indemnização é


determinada de harmonia com os critérios fixados para aquela propriedade, na parte em
que forem aplicáveis.
TÍTULO IV
Processo de expropriação

CAPÍTULO I
Expropriação amigável

Artigo 33.º
Tentativa de acordo

Antes de promover a constituição de arbitragem, a entidade expropriante deve procurar


chegar a acordo com o expropriado e os demais interessados nos termos dos artigos
seguintes.

Artigo 34.º
Objecto do acordo

Nas expropriações amigáveis podem constituir objecto de acordo entre a entidade


expropriante e expropriado ou demais interessados:
a) O montante da indemnização;
b) O pagamento de indemnização ou de parte dela em prestações, os juros respectivos e
o prazo de pagamento destes;
c) O modo de satisfazer as prestações;
d) A indemnização através da cedência de bens ou direitos nos termos dos artigos 67.º e
69.º;
e) A expropriação total;
f) Condições acessórias.

Artigo 35.º
Proposta da entidade expropriante

1 - No prazo de 15 dias após a publicação da declaração de utilidade pública, a entidade


expropriante, através de carta ou ofício registado com aviso de recepção, dirige proposta
do montante indemnizatório ao expropriado e aos demais interessados cujos endereços
sejam conhecidos, bem como ao curador provisório.
2 - O expropriado e demais interessados dispõem do prazo de 15 dias para responder,
podendo fundamentar a sua contraproposta em valor constante de relatório elaborado
por perito da sua escolha.

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3 - Na falta de resposta ou de interesse da entidade expropriante em relação à
contraproposta, esta dá início à expropriação litigiosa, nos termos dos artigos 38.º e
seguintes, notificando deste facto o expropriado e os demais interessados que tiverem
respondido.
4 - O expropriado e os demais interessados devem esclarecer, por escrito, dentro dos
prazos de oito dias a contar da data em que tenham sido notificados para o efeito, as
questões que lhes forem postas pela entidade expropriante.

Artigo 36.º
Formalização do acordo por escritura ou auto

1 - O acordo entre a entidade expropriante e os demais interessados deve constar:


a) De escritura de expropriação amigável, se a entidade expropriante tiver notário
privativo;
b) De auto de expropriação amigável, a celebrar perante o notário privativo do
município do lugar da situação do bem expropriado ou da sua maior extensão, ou, sendo
a entidade expropriante do sector público administrativo, perante funcionário designado
para o efeito.
2 - O disposto nas alíneas anteriores não prejudica o recurso ao notário público,
beneficiando os interessados de prioridade sobre o restante serviço notarial.
3 - O auto ou a escritura celebrado nos termos dos números anteriores, que tenha por
objecto parte de um prédio, qualquer que seja a sua área, constitui título bastante para
efeitos da sua desanexação.

Artigo 37.º
Conteúdo da escritura ou do auto

1 - O auto ou a escritura serão lavrados dentro dos oito dias subsequentes àquele em que
o acordo estabelecido for comunicado pela entidade expropriante ao notário, oficial
público ou funcionário designado nos termos da alínea b) do n.º 1 do artigo anterior, em
conformidade com o disposto no Código do Notariado.
2 - Do auto ou escritura deverão ainda constar:
a) A indemnização acordada e a forma de pagamento;
b) A data e o número do Diário da República em que foi publicada a declaração de
utilidade pública da expropriação;
c) O extracto da planta parcelar.
3 - A indemnização acordada pode ser atribuída a cada um dos interessados ou fixada
globalmente.
4 - Não havendo acordo entre os interessados sobre a partilha da indemnização global
que tiver sido acordada, é esta entregue àquele que por todos for designado ou
consignada em depósito no lugar do domicílio da entidade expropriante, à ordem do juiz
de direito da comarca do lugar da situação dos bens ou da maior extensão deles,
efectuando-se a partilha nos termos do Código de Processo Civil.
5 - Salvo no caso de dolo ou culpa grave por parte da entidade expropriante, o
aparecimento de interessados desconhecidos à data da celebração da escritura ou do
auto apenas dá lugar à reconstituição da situação que existiria se tivessem participado
no acordo, nos termos em que este foi concluído.
6 - A entidade expropriante deve facultar ao expropriado e aos demais interessados
cópia autenticada do auto ou da escritura de expropriação amigável, quando solicitada.

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CAPÍTULO II
Expropriação litigiosa

SECÇÃO I
Disposições introdutórias

Artigo 38.º
Arbitragem

1 - Na falta de acordo sobre o valor da indemnização, é este fixado por arbitragem, com
recurso para os tribunais comuns.
2 - O valor do processo, para efeitos de admissibilidade de recurso, nos termos do
Código de Processo Civil, corresponde ao maior dos seguintes:
a) Decréscimo da indemnização pedida no recurso da entidade expropriante ou
acréscimo global das indemnizações pedidas nos recursos do expropriado e dos demais
interessados, a que se refere o número seguinte;
b) Diferença entre os valores de indemnização constantes do recurso da entidade
expropriante e o valor global das indemnizações pedidas pelo expropriado e pelos
demais interessados nos respectivos recursos, a que se refere o número seguinte.
3 - Da decisão arbitral cabe sempre recurso com efeito meramente devolutivo para o
tribunal do lugar da situação dos bens ou da sua maior extensão.
Nota: Ac. do Tribunal de Conflitos, Conflito n.º 26/16: São da competência material da
ordem dos tribunais judiciais as acções que têm como objecto o arbitramento da justa
indemnização devida ao proprietário pela oneração do seu direito, determinante da
desvalorização do bem pela constituição lícita de uma servidão administrativa por acto
de entidade concessionária de serviço público, decorrente de um precedente processo
expropriativo.

Artigo 39.º
Autuação

1 - É aberto um processo de expropriação com referência a cada um dos imóveis


abrangidos pela declaração de utilidade pública.
2 - Quando dois ou mais imóveis tenham pertencido ao mesmo proprietário ou conjunto
de comproprietários é obrigatória a apensação dos processos em que não se verifique
acordo sobre os montantes das indemnizações.

Artigo 40.º
Legitimidade

1 - Têm legitimidade para intervir no processo a entidade expropriante, o expropriado e


os demais interessados.
2 - A intervenção de qualquer interessado na pendência do processo não implica a
repetição de quaisquer termos ou diligências.

Artigo 41.º
Suspensão da instância e nomeação de curador provisório

1 - O falecimento, na pendência do processo, de algum interessado só implica a


suspensão da instância depois de notificada à entidade expropriante a adjudicação da

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propriedade e posse, esta no caso de não ter havido investidura administrativa.
2 - Havendo interessados incapazes, ausentes ou desconhecidos, sem que esteja
organizada a respectiva representação, o juiz, oficiosamente ou a requerimento do
Ministério Público ou de qualquer interessado, nomeia-lhes curador provisório, que
será, quanto aos incapazes, na falta de razões ponderosas em contrário, a pessoa a cuja
guarda estiverem entregues.
3 - No caso de o processo de expropriação ainda não se encontrar em juízo, o juiz
determina a sua remessa imediata, para os efeitos do número anterior, pelo período
indispensável à decisão do incidente.
4 - A intervenção do curador provisório cessa logo que se encontre designado o normal
representante do incapaz ou do ausente ou passem a ser conhecidos os interessados cuja
ausência justificara a curadoria.
SECÇÃO II
Da tramitação do processo

SUBSECÇÃO I
Arbitragem
Artigo 42.º

Promoção da arbitragem

1 - Compete à entidade expropriante, ainda que seja de direito privado, promover,


perante si, a constituição e o funcionamento da arbitragem.
2 - As funções da entidade expropriante referidas no número anterior passam a caber ao
juiz de direito da comarca do local da situação do bem ou da sua maior extensão em
qualquer dos seguintes casos:
a) Se for julgada procedente a reclamação referida no n.º 1 do artigo 54.º;
b) Se o procedimento de expropriação sofrer atrasos não imputáveis ao expropriado ou
aos demais interessados que, no seu conjunto, ultrapassem 90 dias, contados nos termos
do artigo 279.º do Código Civil;
c) Se a lei conferir ao interessado o direito de requerer a expropriação de bens próprios;
d) Se a declaração de utilidade pública for renovada;
e) Nos casos previstos nos artigos 15.º e 16.º;
f) Os casos previstos nos artigos 92.º, 93.º e 94.º
3 - O disposto nas alíneas b), c), d) e e) do número anterior depende de requerimento do
interessado, decidindo o juiz depois de notificada a parte contrária para se pronunciar no
prazo de 10 dias.
4 - Se for ordenada a remessa ou a avocação do processo, o juiz fixa prazo para a sua
efectivação, não superior a 30 dias, sob pena de multa até 10 unidades de conta,
verificando-se atraso não justificado.

Artigo 43.º
Petições a apresentar no tribunal

1 - As petições a que se referem o n.º 2 do artigo 41.º, o n.º 3 do artigo anterior, o n.º 2
do artigo 51.º e a parte final do n.º 2 do artigo 54.º são apresentadas directamente na
secretaria do tribunal competente para o processo de expropriação litigiosa.
2 - Os processos originados pelas petições referidas no número anterior são dependência
do processo de expropriação; o juiz a quem este for distribuído determinará que aqueles
processos lhe sejam remetidos, ficando com competência exclusiva para os respectivos

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termos subsequentes à remessa.
3 - Os processos recebidos nos termos da parte final do número anterior são apensados
ao processo de expropriação.

Artigo 44.º
Natureza dos processos litigiosos

Os processos de expropriação litigiosa, bem como os que deles são dependentes, não
têm carácter urgente, sem prejuízo de os actos relativos à adjudicação da propriedade e
da posse e sua notificação aos interessados deverem ser praticados mesmo durante as
férias judiciais.

Artigo 45.º
Designação dos árbitros

1 - Na arbitragem intervêm três árbitros designados pelo presidente do tribunal da


Relação da situação dos prédios ou da sua maior extensão.
2 - Os árbitros são escolhidos de entre os peritos da lista oficial, devendo o presidente
do tribunal da Relação indicar logo o que presidirá.
3 - Para o efeito do disposto nos números precedentes, a entidade expropriante solicita a
designação dos árbitros directamente ao presidente do tribunal da Relação.
4 - O despacho de designação dos árbitros é proferido no prazo de cinco dias.

Artigo 46.º
Designação de grupos de árbitros

1 - Pode ser designado mais de um grupo de árbitros sempre que, em virtude da


extensão e do número de bens a expropriar, um único grupo de árbitros se mostre
manifestamente insuficiente para assegurar o normal andamento de todos os processos.
2 - A decisão prevista no número anterior é da competência do presidente do tribunal da
Relação da situação dos bens a expropriar ou da sua maior extensão, mediante proposta
fundamentada da entidade expropriante.
3 - Se os peritos da lista oficial forem insuficientes para a constituição do conveniente
número de grupos de árbitros, recorre-se a peritos incluídos nas listas de outros distritos,
com preferência, quando possível, para os das listas dos distritos contíguos.
4 - A distribuição dos processos pelos grupos de árbitros consta do despacho de
designação e respeita a sequência geográfica das parcelas, que a entidade expropriante
deve indicar no seu pedido, sem prejuízo do disposto no n.º 2 do artigo 39.º, com as
necessárias adaptações.

Artigo 47.º
Notificação da designação dos árbitros

1 - No prazo de 10 dias a contar da sua recepção, a entidade expropriante notifica na


íntegra a comunicação da designação dos árbitros:
a) Por carta ou ofício registado, com aviso de recepção, dirigido aos interessados de que
se conheça a respectiva residência e ao curador provisório;
b) Por edital, com dilação de oito dias, a afixar na entrada principal do edifício da
câmara municipal do concelho onde se situam os prédios ou a sua maior extensão,
relativamente aos interessados não abrangidos pela alínea anterior e àqueles que não for

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possível notificar nos termos nela prescritos;
c) Aos árbitros, devendo a comunicação dirigida ao respectivo presidente ser
acompanhada do processo de expropriação ou de cópia deste e, sempre que possível, de
indicação da descrição predial e da inscrição matricial do prédio.
2 - Na notificação e nos editais a que se refere o número anterior dá-se conhecimento ao
expropriado e aos demais interessados da faculdade de apresentação de quesitos nos
termos do artigo seguinte.

Artigo 48.º
Apresentação de quesitos

No prazo de 15 dias a contar da notificação podem as partes apresentar ao árbitro


presidente, em quadruplicado, os quesitos que entendam pertinentes para a fixação do
valor dos bens objecto da expropriação.

Artigo 49.º
Decisão arbitral

1 - O acórdão dos árbitros é proferido em conferência, servindo de relator o presidente.


2 - O acórdão, devidamente fundamentado, é tomado por maioria; não se obtendo uma
decisão arbitral por unanimidade ou maioria, vale como tal a média aritmética dos
laudos que mais se aproximarem ou o laudo intermédio, se as diferenças entre ele e cada
um dos restantes forem iguais.
3 - Os laudos são juntos ao acórdão dos árbitros, devem ser devidamente justificados e
conter as respostas aos quesitos com indicação precisa das que serviram de base ao
cálculo da indemnização proposta, bem como a justificação dos critérios de cálculo
adoptados e a sua conformidade com o disposto no n.º 4 do artigo 23.º
4 - A decisão dos árbitros é entregue à entidade expropriante no prazo máximo de 30
dias a contar da recepção da comunicação a que se refere a alínea c) do n.º 1 do artigo
47.º ou da apresentação dos quesitos.
5 - Em casos devidamente justificados, designadamente em razão do número de
arbitragens, o prazo a que se refere o número anterior pode ser prorrogado até 60 dias, a
requerimento de qualquer dos árbitros, dirigido à entidade expropriante.
6 - É aplicável o disposto no n.º 3 do artigo 21.º

Nota 1: Os laudos referidos no n.º 2, são os pareceres técnicos, os textos que contêm a opinião do
técnico (louvado. isto é, do técnico indicado para avaliar) ou do árbitro.

Nota 2: Os laudos, também chamados laudos periciais são os relato dos técnicos designado para proceder
à avaliação.

Artigo 50.º
Honorários

1 - Os honorários dos árbitros são pagos pela entidade expropriante, mediante


apresentação de factura devidamente justificada e de acordo com o Código das Custas
Judiciais.
2 - As despesas efectuadas pelos árbitros são pagas mediante entrega dos respectivos
comprovativos.

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3 - A entidade expropriante está dispensada do pagamento de honorários aos árbitros
que, salvo motivo justificativo, não entreguem o acórdão nos prazos legais.

Artigo 51.º
Remessa do processo

1 - A entidade expropriante remete o processo de expropriação ao tribunal da comarca


da situação do bem expropriado ou da sua maior extensão no prazo de 30 dias, a contar
do recebimento da decisão arbitral, acompanhado de certidões actualizadas das
descrições e das inscrições em vigor dos prédios na conservatória do registo predial
competente e das respectivas inscrições matriciais, ou de que os mesmos estão omissos,
bem como da guia de depósito à ordem do tribunal do montante arbitrado ou, se for o
caso, da parte em que este exceda a quantia depositada nos termos da alínea b) do n.º 1
ou do n.º 5 do artigo 20.º; se não for respeitado o prazo fixado, a entidade expropriante
deposita, também, juros moratórios correspondentes ao período de atraso, calculados
nos termos do n.º 2 do artigo 70.º, e sem prejuízo do disposto nos artigos 71.º e 72.º
2 - Se o processo não for remetido a juízo no prazo referido, o tribunal determina, a
requerimento de qualquer interessado, a notificação da entidade expropriante para que o
envie no prazo de 10 dias, acompanhado da guia de depósito, sob cominação de o
mesmo ser avocado.
3 - Decorrendo o processo perante o juiz, nos termos previstos no presente Código, este,
após entrega do relatório dos árbitros, notifica a entidade expropriante para proceder ao
depósito da indemnização no prazo de 30 dias; não sendo efectuado o depósito no prazo
fixado, determina-se o cumprimento do disposto na parte final do n.º 1 anterior, com as
necessárias adaptações.
4 - Se os depósitos a que se referem os números anteriores não forem efectuados nos
prazos previstos, é aplicável o disposto no n.º 4 do artigo 71.º
5 - Depois de devidamente instruído o processo e de efectuado o depósito nos termos
dos números anteriores, o juiz, no prazo de 10 dias, adjudica à entidade expropriante a
propriedade e posse, salvo, quanto a esta, se já houver posse administrativa, e ordena
simultaneamente a notificação do seu despacho, da decisão arbitral e de todos os
elementos apresentados pelos árbitros, à entidade expropriante e aos expropriados e
demais interessados, com indicação, quanto a estes, do montante depositado e da
faculdade de interposição de recurso a que se refere o artigo 52.º
6 - A adjudicação da propriedade é comunicada pelo tribunal ao conservador do registo
predial competente para efeitos de registo oficioso.

Artigo 52.º
Recurso

1 - O recurso da decisão arbitral deve ser interposto no prazo de 20 dias a contar da


notificação realizada nos termos da parte final do n.º 5 do artigo anterior, sem prejuízo
do disposto no Código de Processo Civil sobre interposição de recursos subordinados,
salvo quanto ao prazo, que será de 20 dias.
2 - Quando não haja recurso, o juiz observa, no que respeita à atribuição da
indemnização aos interessados, o disposto nos n.º s 3 e 4 do artigo 37.º, com as
necessárias adaptações.
3 - Se houver recurso, o juiz atribui imediatamente aos interessados, nos termos do
número anterior, o montante sobre o qual se verifique acordo, retendo, porém, se
necessário, a quantia provável das custas do processo no caso de o expropriado ou os

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demais interessados decaírem no recurso.
4 - Qualquer dos titulares de direito a indemnização pode requerer, no prazo de 10 dias
a contar da notificação da decisão a que se refere o número anterior, que lhe seja
entregue a parte da quantia sobre a qual não se verifica acordo que lhe competir,
mediante prestação de garantia bancária ou seguro-caução de igual montante.
5 - Não sendo exercido o direito a que se refere o número anterior, a entidade
expropriante pode requerer a substituição por caução do depósito da parte da
indemnização sobre a qual não se verifica acordo.

Artigo 53.º
Dúvidas sobre a titularidade de direitos

1 - Se o recebimento do depósito, nos termos do artigo precedente, depender da decisão


de questão prévia ou prejudicial respeitante à titularidade da indemnização, é esta
decidida provisoriamente no processo, precedendo produção da prova que o juiz tiver
por necessária.
2 - O incidente a que se refere o número anterior é autuado por apenso, devendo ser
decidido no prazo de 30 dias.
3 - Enquanto não estiver definitivamente resolvida a questão da titularidade do crédito
indemnizatório, não se procede a nenhum pagamento que dela dependa sem que seja
prestada caução; a caução prestada garante também o recebimento da indemnização por
aquele a quem, na respectiva acção, seja reconhecido definitivamente direito à mesma.
4 - Da decisão do incidente cabe recurso com efeito meramente devolutivo, que sobe
imediatamente no apenso.

SUBSECÇÃO II
Arguição de irregularidades

Artigo 54.º
Reclamação

1 - O expropriado, a entidade expropriante nos casos em que lhe não seja imputável ou
os demais interessados podem reclamar, no prazo de 10 dias a contar do seu
conhecimento, contra qualquer irregularidade cometida no procedimento administrativo,
nomeadamente na convocação ou na realização da vistoria ad perpetuam rei memoriam,
bem como na constituição ou no funcionamento da arbitragem ou nos laudos ou acórdão
dos árbitros, designadamente por falta de cumprimento dos prazos fixados na lei,
oferecendo logo as provas que tiverem por convenientes e que não constem já do
processo.
2 - Recebida a reclamação, o perito ou o árbitro presidente, conforme for o caso, exara
informação sobre a tempestividade, os fundamentos e as provas oferecidas, devendo o
processo ser remetido pela entidade expropriante ao juiz de direito da comarca da
situação dos bens ou da sua maior extensão no prazo de 10 dias a contar da apresentação
da reclamação, sob pena de avocação imediata do procedimento pelo tribunal, mediante
participação do reclamante, instruída com cópia da reclamação contendo nota de
recepção com menção da respectiva data.
3 - O juiz decide com base nas provas oferecidas que entenda úteis à decisão do
incidente e nos elementos fornecidos pelo procedimento, podendo solicitar
esclarecimentos ou provas complementares.
4 - Sendo a reclamação julgada improcedente, o juiz manda devolver imediatamente o

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processo de expropriação à entidade expropriante.
5 - No despacho que julgar procedente a reclamação, o juiz indica os actos ou
diligências que devem ser repetidos ou reformulados, sem prejuízo do disposto no n.º 2
do artigo 42.º
6 - Da decisão cabe recurso com efeito meramente devolutivo, que sobe com o recurso
da decisão final.

Nota 1: Sobre a vistoria ad perpetuam rei memoriam, cf. art.º 20.º , sobretudo art.º 21 .º , e art. 0 91 .º,
n.º 5, do CE.

SUBSECÇÃO III
Pedido de expropriação total

Artigo 55.º
Requerimento

1 - Dentro do prazo do recurso da decisão arbitral podem os interessados requerer a


expropriação total, nos termos do n.º 2 do artigo 3.º
2 - A entidade expropriante é notificada para, no prazo de 20 dias, responder ao pedido
de expropriação total.
3 - O juiz profere decisão sobre o pedido de expropriação total, no prazo de 10 dias,
dela cabendo recurso, com subida imediata em separado e com efeito meramente
devolutivo.
4 - Decretada a expropriação total, é a entidade expropriante notificada para efectuar
depósito complementar do montante indemnizatório, nos termos aplicáveis do n.º 3 do
artigo 51.º
5 - Enquanto não estiver definitivamente decidido o pedido de expropriação total, o
expropriado e os demais interessados só podem receber o acréscimo de indemnização
correspondente mediante prestação de garantia bancária ou seguro-caução de igual
montante.
6 - Na hipótese prevista neste artigo, podem adquirir a parte do prédio que não seja
necessária ao fim da expropriação as pessoas que gozem de preferência legal na
respectiva alienação e os proprietários de terrenos confinantes, por esta ordem, gozando
os segundos do direito de execução específica.

Artigo 56.º
Improcedência do pedido

1 - Quando a entidade expropriante pretender realizar obras na parte do prédio não


expropriada por forma a evitar a situação prevista no n.º 2 do artigo 3.º, improcede o
pedido de expropriação total.
2 - Para efeitos do disposto no número anterior, o juiz na decisão em que conhecer da
improcedência do pedido, fixa prazos para o início e a conclusão das obras pela
entidade expropriante.
3 - Se as obras não forem iniciadas no prazo fixado pelo juiz, a instância é renovada.
4 - Se as obras forem iniciadas mas não estiverem concluídas no prazo fixado pelo juiz,
este, ouvida a entidade expropriante, decide, de acordo com o respectivo estado de
execução, se a instância é renovada.

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Artigo 57.º
Caução

Enquanto não tiver transitado em julgado a decisão sobre o pedido de expropriação


total, a entidade expropriante só pode entrar na posse da parte do bem cuja expropriação
foi requerida pelo expropriado mediante prestação de caução.

SUBSECÇÃO IV
Recurso da arbitragem

Artigo 58.º
Requerimento

No requerimento da interposição do recurso da decisão arbitral, o recorrente deve expor


logo as razões da discordância, oferecer todos os documentos, requerer as demais
provas, incluindo a prova testemunhal, requerer a intervenção do tribunal colectivo,
designar o seu perito e dar cumprimento ao disposto no artigo 577.º do Código de
Processo Civil.

Artigo 59.º
Admissão do recurso

Interposto recurso, o processo é concluso ao juiz para se pronunciar sobre a sua


admissibilidade, fixar o respectivo efeito e ordenar a notificação da parte contrária para
responder, no caso de prosseguimento.

Artigo 60.º
Resposta

1 - A resposta a que se refere o artigo anterior é apresentada no prazo de 20 dias a


contar da notificação da decisão que admitir o recurso; no caso de o recorrido pretender
interpor recurso subordinado, a resposta conterá também o respectivo requerimento e as
razões da sua discordância, podendo a parte contrária responder no prazo de 20 dias a
contar da notificação do despacho que admitir tal recurso e ampliar o objecto da perícia.
2 - Com o recurso subordinado ou com a resposta devem ser oferecidos todos os
documentos, requeridas as demais provas, incluindo a prova testemunhal, requerida a
intervenção do tribunal colectivo e designado o perito, dando-se cumprimento, quando
for o caso, ao disposto no artigo 577.º do Código de Processo Civil.

Artigo 61.º
Diligências instrutórias

1 - Findo o prazo para a apresentação da resposta, seguem-se imediatamente as


diligências instrutórias que o tribunal entenda úteis à decisão da causa.
2 - Entre as diligências a realizar tem obrigatoriamente lugar a avaliação, a que o
tribunal preside, cabendo-lhe fixar o respectivo prazo, não superior a 30 dias, e resolver
por despacho as questões de direito suscitadas pelos peritos de que dependa a avaliação.
3 - É aplicável o disposto nos artigos 578.º e 588.º do Código de Processo Civil.
4 - Incumbe ao recorrente, e só a este, ainda que se trate de entidade isenta de custas, o
encargo de efectuar o preparo para despesas com a avaliação e a inspecção judicial, se a

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esta houver lugar.
5 - Quando se efectuar inspecção judicial, ficam a constar do respectivo auto todos os
elementos reputados necessários para a decisão da causa.
6 - Não há lugar a segunda avaliação.
7 - Sendo necessário obter esclarecimentos de quem não haja de ser chamado a depor ou
documento em poder de terceiro, o tribunal ordena a respectiva notificação, para o
efeito, fixando prazo adequado; em caso de incumprimento do prazo, sem motivo
justificativo, é aplicada multa até 10 unidades de conta.

Artigo 62.º
Designação e nomeação dos peritos

1 - A avaliação é efectuada por cinco peritos, nos termos seguintes:


a) Cada parte designa um perito e os três restantes são nomeados pelo tribunal de entre
os da lista oficial;
b) Se dois ou mais interessados tiverem designado peritos diferentes, são notificados
para, no prazo de cinco dias, declararem qual o nome definitivamente escolhido,
prevalecendo, na falta de acordo, a vontade da maioria, se desta fizer parte o
proprietário expropriado; faltando a designação válida de algum perito, devolve-se a
nomeação ao tribunal, aplicando-se o disposto na parte final da alínea anterior.
2 - A falta de comparência de qualquer perito determina a sua imediata substituição, que
é feita livremente pelo tribunal, nos termos da parte final da alínea a) do n.º 1.
3 - As regras de recrutamento de peritos, a sua integração nas listas oficiais e a forma de
publicação destas constam de decreto regulamentar, a publicar no prazo máximo de três
meses a contar da data da publicação do presente Código.

Artigo 63.º
Notificação para o acto de avaliação

1 - As partes são notificadas para, querendo, comparecerem no acto da avaliação.


2 - É entregue a cada perito cópia dos recursos, das respostas aos mesmos e do despacho
que tiver sido proferido nos termos do n.º 2 do artigo 578.º do Código de Processo Civil.

Artigo 64.º
Alegações

1 - Concluídas as diligências de prova, as partes são notificadas para alegarem no prazo


de 20 dias.
2 - O prazo para a alegação do recorrido ou dos recorridos corre a partir do termo do
prazo para alegação do recorrente, contando-se este último desde a notificação para
alegar.
3 - Recorrendo a título principal tanto a entidade expropriante como o expropriado,
alega aquela em primeiro lugar.

Artigo 65.º
Prazo de decisão

As decisões sobre os recursos da decisão arbitral são proferidas no prazo máximo de 30


dias a contar do termo fixado para as alegações das partes.

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Artigo 66.º
Decisão

1 - O juiz fixa o montante das indemnizações a pagar pela entidade expropriante.


2 - A sentença é notificada às partes, podendo dela ser interposto recurso com efeito
meramente devolutivo.
3 - É aplicável o disposto nos n.º s 2 a 4 do artigo 52.º, com as necessárias adaptações,
devendo o juiz ordenar que a entidade expropriante efectue o depósito que for
necessário no prazo de 10 dias.
4 - O disposto nos números precedentes é também aplicável no caso de o processo
prosseguir em traslado.
5 - Sem prejuízo dos casos em que é sempre admissível recurso, não cabe recurso para o
Supremo Tribunal de Justiça do acórdão do tribunal da Relação que fixa o valor da
indemnização devida.

TÍTULO V
Do pagamento das indemnizações

Artigo 67.º
Formas de pagamento

1 - As indemnizações por expropriação por utilidade pública são pagas em dinheiro, de


uma só vez, salvo as excepções previstas nos números seguintes.
2 - Nas expropriações amigáveis, a entidade expropriante, o expropriado e os demais
interessados podem acordar no pagamento da indemnização em prestações ou na
cedência de bens ou direitos de acordo com o previsto no artigo 69.º
3 - O disposto no número anterior aplica-se à transacção judicial ou extrajudicial na
pendência do processo de expropriação.
4 - Não são pagas quaisquer indemnizações sem que se mostre cumprido o disposto no
artigo 29.º do Código da Contribuição Autárquica.
5 - O pagamento acordado em prestações é efectuado dentro do prazo máximo de três
anos, podendo o montante das mesmas variar de acordo com as circunstâncias.

Artigo 68.º
Quantias em dívida

1 - As quantias em dívida vencem juros, pagáveis anual ou semestralmente, conforme


for acordado.
2 - Na falta de convenção entre as partes, a taxa de juro é a dos juros moratórios, nos
termos do artigo 70.º
3 - O montante das prestações vincendas é automaticamente actualizado no caso de
agravamento do índice de preços no consumidor, na zona em causa, com exclusão da
habitação, publicado pelo Instituto Nacional de Estatística.

Artigo 69.º
Cedência de bens ou direitos

As partes podem acordar que a indemnização seja satisfeita, total ou parcialmente,


através da cedência de bens ou direitos ao expropriado ou aos demais interessados.

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Artigo 70.º
Juros moratórios

1 - Os expropriados e demais interessados têm o direito de ser indemnizados pelos


atrasos imputáveis à entidade expropriante no andamento do procedimento ou do
processo expropriativo ou na realização de qualquer depósito no processo litigioso.
2 - Os juros moratórios incidem sobre o montante definitivo da indemnização ou sobre
o montante dos depósitos, conforme o caso, e a taxa respectiva é a fixada nos termos do
artigo 559.º do Código Civil.
3 - As cauções prestadas e os depósitos efectuados pela entidade expropriante
respondem pelo pagamento dos juros moratórios que forem fixados pelo tribunal.

Artigo 71.º
Depósito da indemnização

1 - Transitada em julgado a decisão que fixar o valor da indemnização, o juiz do


tribunal da 1.ª instância ordena a notificação da entidade expropriante para, no prazo de
10 dias, depositar os montantes em dívida e juntar ao processo nota discriminada,
justificativa dos cálculos da liquidação de tais montantes.
2 - A secretaria notifica ao expropriado e aos demais interessados o montante
depositado, bem como a nota referida na parte final do número anterior.
3 - O expropriado e os demais interessados podem levantar os montantes depositados,
sem prejuízo da sua impugnação nos termos do artigo seguinte e do disposto no n.º 3 do
artigo 53.º
4 - Não sendo efectuado o depósito no prazo fixado, o juiz ordenará o pagamento por
força das cauções prestadas pela entidade expropriante ou outras providências que se
revelarem necessárias, após o que, mostrando-se em falta alguma quantia, notificará o
serviço que tem a seu cargo os avales do Estado para que efectue o depósito do
montante em falta, em substituição da entidade expropriante.

Artigo 72.º
Impugnação dos montantes depositados

1 - No prazo de 30 dias a contar da notificação prevista no n.º 2 do artigo anterior, o


expropriado e os demais interessados podem impugnar os montantes depositados,
especificando os valores devidos e apresentando e requerendo todos os meios de prova.
2 - Admitida a impugnação, a entidade expropriante é notificada para responder no
prazo de 10 dias e para apresentar e requerer todos os meios de prova.
3 - Produzidas as provas que o juiz considerar necessárias, é proferida decisão fixando
os montantes devidos e determinando a realização do depósito complementar que for
devido, no prazo de 10 dias.
4 - Não sendo efectuado o depósito no prazo fixado, o juiz ordena o pagamento por
força das cauções prestadas, ou as providências que se revelarem necessárias,
aplicando-se ainda o disposto no n.º 4 do artigo anterior, com as necessárias adaptações,
quanto aos montantes em falta.
5 - Efectuado o pagamento ou assegurada a sua realização, o juiz autoriza o
levantamento dos montantes que se mostrem excessivos ou a restituição a que haja lugar
e determina o cancelamento das cauções que se mostrem injustificadas, salvo o disposto
no n.º 3 do artigo 53.º

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Artigo 73.º
Atribuição das indemnizações

1 - A atribuição das indemnizações aos interessados faz-se de acordo com o disposto


nos n.º s 3 e 4 do artigo 37.º, com as necessárias adaptações.
2 - No caso de expropriação amigável, decorridos 60 dias sobre a data prevista para o
pagamento de qualquer prestação ou respectivos juros sem que este seja efectuado, o
expropriado pode requerer as providências a que se refere o n.º 4 do artigo anterior,
devendo juntar a cópia do auto ou escritura a que se refere o n.º 6 do artigo 37.º
3 - A entidade expropriante é citada para remeter o processo de expropriação e efectuar
o depósito das quantias em dívida, nos termos do n.º 1 do artigo anterior, com as
necessárias adaptações, podendo deduzir embargos dentro do prazo ali fixado.

TÍTULO VI
Da reversão dos bens expropriados

Artigo 74.º
Requerimento

1 - A reversão a que se refere o artigo 5.º é requerida à entidade que houver declarado a
utilidade pública da expropriação ou que haja sucedido na respectiva competência.
2 - Se o direito de reversão só puder ser utilmente exercido em conjunto com outro ou
outros interessados, o requerente da reversão pode solicitar a notificação judicial destes
para, no prazo de 60 dias a contar da notificação, requererem a reversão dos respectivos
bens, nos termos do n.º 1, sob cominação de, não o fazendo algum ou alguns deles, a
reversão dos mesmos se operar a favor dos que a requeiram.
3 - O pedido de expropriação total, nos termos do n.º 2 do artigo 3.º não prejudica a
reversão da totalidade do prédio.
4 - Se não for notificado de decisão favorável no prazo de 90 dias a contar da data do
requerimento, o interessado pode fazer valer o direito de reversão no prazo de um ano,
mediante acção administrativa comum a propor no tribunal administrativo de círculo da
situação do prédio ou da sua maior extensão.
5 - Na acção prevista no número anterior, é cumulado o pedido de adjudicação,
instruído com os documentos mencionados no artigo 77.º, que o tribunal aprecia,
seguindo os trâmites dos artigos 78.º e 79.º, no caso de reconhecer o direito de reversão.

Nota: Sobre a reversão, cf. o art.º 45.º do RJUE: direito de reversão em caso de as parcelas cedidas serem
afetas a fins diversos daqueles para que hajam sido cedidas.

Nota: Cf. ainda ao cf. art.º 5.º do Código das Expropriações (direito de reversão no caso de os bens
expropriados não serem aplicados, no prazo de dois anos, ao fim que determinou a expropriação ou se,
entretanto, tiverem cessado as finalidades da expropriação. Sobre como se processa a reversão no caso de
expropriação, cf. 74.º e segs. do CE.

Artigo 75.º
Audiência da entidade e de outros interessados

1 - No prazo de 10 dias a contar da recepção do pedido de reversão, a entidade


competente para decidir ordena a notificação da entidade expropriante e dos titulares de
direitos reais sobre o prédio a reverter ou sobre os prédios dele desanexados, cujos
endereços sejam conhecidos, para que se pronunciem sobre o requerimento no prazo de

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15 dias.
2 - A entidade expropriante, dentro do prazo da sua resposta, remete o processo de
expropriação à entidade competente para decidir o pedido de reversão ou indica o
tribunal em que o mesmo se encontra pendente ou arquivado.
3 - No caso previsto na parte final do número anterior, a entidade competente para
decidir solicita ao tribunal a confiança do processo até final do prazo fixado para a
decisão.
4 - Se os factos alegados pelo requerente da reversão não forem impugnados pela
entidade expropriante, presume-se, salvo prova em contrário, que são verdadeiros.

Artigo 76.º
Publicidade da decisão

1 - A decisão sobre o pedido de reversão é notificada ao requerente, à entidade


expropriante e aos interessados cujo endereço seja conhecido.
2 - A decisão é publicada por extracto na 2.ª série do Diário da República.

Nota: cf. art.º 5.º do CE: Direito de reversão.

Artigo 76.º-A
Acordo de reversão

1 - Autorizada a reversão, podem a entidade expropriante, ou quem ulteriormente haja


adquirido o domínio do prédio, consoante o caso, e o interessado acordar quanto aos
termos, condições e montante indemnizatório da reversão.
2 - O acordo previsto no número anterior reveste a forma de auto de reversão ou outra
forma prevista na lei e segue, com as devidas adaptações, o regime previsto nos artigos
36.º e 37.º para o auto de expropriação amigável, com as devidas adaptações, devendo
conter os elementos exigidos na alínea b) do n.º 1 do artigo 44.º do Código do Registo
Predial.
3 - O acordo de reversão, celebrado nos termos do número anterior, constitui título
bastante para todos os efeitos legais, incluindo a inscrição matricial, a desanexação e o
registo predial.
4 - O pagamento do montante acordado da indemnização da reversão é efectuado
directamente à entidade expropriante ou a quem ulteriormente haja adquirido o domínio
sobre o bem, consoante o caso.
5 - O acordo de reversão deve ser formalizado no prazo de 90 dias a contar da data da
notificação da autorização da reversão.

Nota 1: cf. art.º 5.º do CE: Direito de reversão.

Nota 2: Sobre a reversão dos bens expropriados, cf. art.º 74.º e segs. do CE e o art.º 45.º do RJUE.

Nota 3: Nos termos do art.º 45.º , n.º 1, do RJUE, “O cedente tem o direito de reversão sobre as parcelas
cedidas (...) sempre que estas sejam afetas a fins diversos daqueles para que hajam sido cedidas.” E, nos
termos do n.º 4, deste preceito, em alternativa ao exercício do direito de reversão, o cedente pode exigir
ao município uma indemnização.

Artigo 77.º
Pedido de adjudicação

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1 - Não pretendendo recorrer ao acordo previsto no artigo anterior, ou na falta deste, o
interessado deduz, no prazo de 120 dias a contar da data da notificação da autorização,
perante o tribunal administrativo de círculo da situação do prédio ou da sua maior
extensão, o pedido de adjudicação, instruindo a sua pretensão com os seguintes
documentos:
a) Notificação da autorização da reversão;
b) Certidão, passada pela conservatória do registo predial, da descrição do prédio, das
inscrições em vigor, incluindo as dos encargos que sobre ele se encontram registados e
dos existentes à data da adjudicação do prédio à entidade expropriante ou de que o
mesmo se encontra omisso;
c) Certidão da inscrição matricial e do valor patrimonial do prédio ou de que o mesmo
se encontra omisso;
d) Indicação da indemnização satisfeita e da respectiva forma de pagamento;
e) Quando for o caso, estimativa, fundamentada em relatório elaborado por perito da
lista oficial à sua escolha, do valor das benfeitorias e deteriorações a que se refere o
artigo seguinte.
2 - No caso do n.º 2 do artigo 74.º, o pedido é deduzido pelos vários interessados que,
quando necessário, podem indicar o acordo sobre a forma como a adjudicação deverá
ser feita, sem prejuízo do disposto no n.º 3 do artigo seguinte.

Artigo 78.º
Oposição do expropriante

1 - A entidade expropriante ou quem ulteriormente haja adquirido o domínio do prédio


é citada para os termos do processo, podendo deduzir oposição, no prazo de 20 dias
quanto aos montantes da indemnização indicada nos termos da alínea d) do n.º 1 do
artigo anterior e da estimativa a que se refere a alínea e) do mesmo número.
2 - Na falta de acordo das partes, o montante a restituir é fixado pelo juiz, precedendo as
diligências instrutórias que tiver por necessárias, entre as quais tem obrigatoriamente
lugar a avaliação, nos termos previstos para o recurso em processo de expropriação,
salvo no que respeita à segunda avaliação, que é sempre possível.
3 - Determinado, com trânsito em julgado, o valor a que se refere o número anterior, o
juiz, na falta de acordo mencionado no n.º 2 do artigo anterior, determina licitação entre
os requerentes.

Artigo 79.º
Adjudicação

1 - Efectuados os depósitos ou as restituições a que haja lugar, o juiz adjudica o prédio


ao interessado ou interessados, com os ónus ou encargos existentes à data da declaração
de utilidade pública da expropriação e que não hajam caducado definitivamente, que
devem ser especificadamente indicados.
2 - Os depósitos são levantados pela entidade expropriante ou por quem ulteriormente
haja adquirido o domínio sobre o bem, conforme for o caso.
3 - A adjudicação da propriedade é comunicada pelo tribunal ao conservador do registo
predial competente para efeitos de registo oficioso.

TÍTULO VII
Da requisição

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Artigo 80.º
Requisição de imóveis

1 - Em caso de urgente necessidade e sempre que o justifique o interesse público e


nacional, podem ser requisitados bens imóveis e direitos a eles inerentes, incluindo os
estabelecimentos comerciais ou industriais, objecto de propriedade de entidades
privadas, para realização de actividades de manifesto interesse público, adequadas à
natureza daqueles, sendo observadas as garantias dos particulares e assegurado o
pagamento de justa indemnização.
2 - Salvo o disposto em lei especial, a requisição, interpolada ou sucessiva, de um
mesmo imóvel não pode exceder o período de um ano, contado nos termos do artigo
279.º do Código Civil.

Nota 1: a requisição de imóveis (e de direitos a eles inerentes) faz parte do poder policial das autoridades
administrativas (polícia administrativa). Também aqui estamos no âmbito da vinculação social da
propriedade privada, a qual admite a ingerência da autoridade por razões de interesse público e sempre
mediante justa indemnização, O art.º 80.º refere-se a situações de “urgente necessidade”, de interesse
público, de interesse nacional, requisitos que associa a um (falso) “pode”. A verificação destes requisitos
no caso concreto está sujeita ao controlo jurisdicional pleno, não se verificando neste âmbito qualquer
discricionariedade. Assim, perante uma situação de urgente necessidade a Administração pode, melhor,
deve requisitar o imóvel particular, por exemplo para “hospital de campanha”, para estacionamento, para
colocação de uma grua.

Nota 2: a “urgente necessidade” desencadeia o dever de ação, o dever de exercer a competência. Esta
situação assemelha-se à prevista no art.º 89.º, n.º 3, do RJUE, que diz: “A câmara municipal pode,
oficiosamente ou a requerimento de qualquer interessado, ordenar a demolição total ou parcial das
construções que ameacem ruína ou ofereçam perigo para a saúde pública. É também o que resultada
do 92.º, n.º 1, do mesmo diploma, que diz: “A câmara municipal pode ordenar o despejo sumário dos
prédios ou parte de prédios nos quais haja de realizar-se as obras... , sempre que tal se mostre necessário
à execução das mesmas.” Veja-se ainda o art.º 92.º, n.º 4, do mesmo diploma, que diz: “O despejo deve
executar-se .., salvo quando houver risco iminente de desmoronamento ou grave perigo para a saúde
pública, em que poderá executar-se imediatamente.” Neste caso, a intenção de vinculação do legislador
é evidente, não obstante ele ter recorrido, inexplicavelmente, a um “poderá”, em vez de um “terá”. O
“poderá” é inequivocamente um deverá, sempre que se verifique a situação de “risco iminente de
desmoronamento ou grave perigo para a saúde pública”. Em todos estes casos, a competência é vinculada,
há dever de agir, sendo esta uma competência de urgência de polícia administrativa (prevenção da boa
ordem).

Artigo 81.º
Uso dos imóveis requisitados

1 - Em casos excepcionais, devidamente fundamentados no acto de requisição, os


imóveis requisitados podem ser objecto de uso por instituições públicas ou particulares
de interesse público.
2 - Para efeitos do presente diploma consideram-se instituições particulares de interesse
público as de utilidade pública administrativa, as de mera utilidade pública e as de
solidariedade social.

Artigo 82.º
Acto de requisição

1 - A requisição depende de prévio reconhecimento da sua necessidade por resolução do


Conselho de Ministros, nomeadamente quanto à verificação da urgência e do interesse
público e nacional que a fundamentam, observados os princípios da adequação,

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indispensabilidade e proporcionalidade.
2 - A requisição é determinada mediante portaria do membro do Governo responsável
pela área, oficiosamente ou a solicitação de uma das entidades referidas no artigo
anterior.
3 - Da portaria que determine a requisição deve constar o respectivo objecto, o início e o
termo do uso, o montante mínimo, prazo e entidade responsável pelo pagamento da
indemnização, bem como a indicação da entidade beneficiária da requisição, sem
prejuízo do disposto no n.º 4 do artigo 85.º
4 - A portaria de requisição é publicada na 2.ª série do Diário da República e notificada
ao proprietário, podendo este reclamar no prazo de 15 dias úteis contado a partir da data
da notificação ou da publicação.

Artigo 83.º
Instrução do pedido de requisição

A requisição a solicitação das entidades referidas no artigo 81.º é precedida de


requerimento ao ministro responsável pelo sector, que conterá os seguintes elementos:
a) Identificação do requerente;
b) Natureza e justificação da importância das actividades a prosseguir;
c) Indispensabilidade da requisição;
d) Prova documental das diligências efectuadas com vista a acordo prévio com o
proprietário sobre o uso a dar ao imóvel, com indicação do montante da justa
indemnização oferecida e das razões do respectivo inêxito;
e) Tempo de duração necessário da requisição;
f) Previsão dos encargos a suportar em execução da medida de requisição;
g) Entidade responsável pelo pagamento da indemnização devida pela requisição;
h) Forma de pagamento da indemnização;
i) Documento comprovativo de se encontrar regularizada a sua situação relativamente às
suas obrigações fiscais e às contribuições para a segurança social.

Artigo 84.º
Indemnização

1 - A requisição de bens imóveis confere ao requisitado o direito a receber uma justa


indemnização.
2 - A justa indemnização não visa compensar o benefício alcançado pelo requisitante,
mas ressarcir o prejuízo que para o requisitado advém da requisição.
3 - A indemnização corresponde a uma justa compensação, tendo em conta o período da
requisição, o capital empregue para a construção ou aquisição e manutenção dos bens
requisitados e o seu normal rendimento, a depreciação derivada do respectivo uso e,
bem assim, o lucro médio que o particular deixa de perceber por virtude de requisição.
4 - A indemnização é fixada:
a) Por acordo expresso entre o beneficiário da requisição e o proprietário, nos termos
dos artigos 33.º e seguintes, com as necessárias adaptações;
b) Na falta de acordo, pelo ministro responsável pelo sector, sob proposta do serviço
com atribuições na área;
c) Se o proprietário não se conformar com o montante fixado nos termos da alínea
anterior, pelos tribunais comuns, nos termos previstos para o recurso da decisão arbitral
em processo de expropriação litigiosa, salvo no que se refere à segunda avaliação, que é
sempre possível.

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5 - A indemnização prevista no número anterior não prejudica aquelas a que haja lugar
por força do disposto no n.º 2 do artigo seguinte.
6 - O pagamento da indemnização tem lugar no prazo mínimo de 60 dias após a
publicação do acto de requisição.

Nota 1: No Estado de direito só lugar para uma indemnização: a justa indemnização. E Estado de direito
é ipso facto Estado de justiça. Assim, toda a indemnização pela restrição ao direito fundamental à
propriedade privada tem de ser sempre justa, sob pena de ser inconstitucional e ilegal.

Nota 2: Nos termos do art.º 62.º , n.º 2, da CRP, “2. A requisição e a expropriação por utilidade pública
só podem ser efetuadas com base na lei e mediante o pagamento de justa indemnização.”

Artigo 85.º
Obrigações do beneficiário

1 - São obrigações da entidade beneficiária da requisição:


a) Pagar os encargos financeiros emergentes da requisição no prazo determinado;
b) Assegurar os encargos resultantes da realização da actividade;
c) Não utilizar o imóvel para fim diverso do constante na requisição;
d) Avisar imediatamente o proprietário, sempre que tenha conhecimento de vício no
imóvel;
e) Proceder à retirada de todas as benfeitorias ou materiais que por ela tenham sido
colocados no imóvel;
f) Restituir o imóvel, no termo da requisição, no estado em que se encontrava.
2 - A entidade a favor de quem se operou a requisição é responsável pelos eventuais
danos causados no imóvel requisitado durante o período da requisição, salvo se esses
danos resultarem de facto imputável ao proprietário, de vício da coisa ou de caso
fortuito ou de força maior.
3 - Quando o requerente for instituição particular de interesse público, deve apresentar
documento comprovativo de se encontrar caucionado, nos termos da lei, o fundo
indispensável para o pagamento das indemnizações a que haja lugar.
4 - No caso de se tratar de entidade pública, a portaria de requisição deve indicar a
rubrica orçamental que suportará o pagamento das indemnizações a que houver lugar e
respectiva cativação.
5 - A pretensão presume-se indeferida se no prazo de 15 dias não for proferida decisão.
6 - O serviço público com atribuições na área, na fase de apreciação do requerimento,
deve procurar mediar os interesses em causa, e, em qualquer caso, proceder à audição
prévia dos proprietários dos imóveis requisitados.
7 - No caso previsto no n.º 2 anterior aplica-se o disposto no n.º 4 do artigo 84.º, com as
necessárias adaptações.

Artigo 86.º
Direitos e deveres do proprietário

1 - São direitos do proprietário do imóvel objecto de requisição:


a) Usar, com o seus trabalhadores e utentes em geral, durante o período de tempo que
durar a requisição, o imóvel, mantendo neste a actividade normal, desde que não se
mostre incompatível, afecte, impeça ou, por qualquer modo, perturbe a preparação e a
realização da actividade a assegurar;
b) Receber as indemnizações a que tenha direito, nos termos do presente diploma.

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2 - São deveres do proprietário do imóvel objecto de requisição entregar à entidade a
favor de quem se operar a requisição o imóvel requisitado e não perturbar o gozo deste
dentro dos limites da requisição.

Artigo 87.º
Recurso contencioso

Do acto de requisição cabe recurso para os tribunais administrativos, nos termos da lei.

TÍTULO VIII
Disposições finais

Artigo 88.º
Desistência da expropriação

1 - Nas expropriações por utilidade pública é lícito à entidade expropriante desistir total
ou parcialmente da expropriação enquanto não for investido na propriedade dos bens a
expropriar.
2 - No caso de desistência, o expropriado e demais interessados são indemnizados nos
termos gerais de direito, considerando-se, para o efeito, iniciada a expropriação a partir
da publicação no Diário da República do acto declarativo da utilidade pública.
3 - Se a desistência da expropriação se verificar após a investidura da entidade
expropriante na posse dos bens a expropriar, as partes podem converter, por acordo, o
processo litigioso em processo de reversão, previsto nos artigos 74.º e seguintes, através
de requerimento conjunto a apresentar em juízo.
4 - Sendo o acordo requerido admissível, o tribunal notifica a entidade que declarou a
utilidade pública, para informar os autos se autoriza a reversão pretendida pelas partes,
ordenando, em caso afirmativo, a sua conversão.

Artigo 89.º
Lista de peritos

Enquanto não forem publicadas as listas a que se refere o n.º 3 do artigo 62.º deste
Código, mantêm-se transitoriamente em vigor as actuais.

Artigo 90.º
Regiões Autónomas

1 - Nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira a declaração de utilidade pública


da expropriação de bens pertencentes a particulares ou às autarquias locais é da
competência do Governo Regional e reveste a forma de resolução, a publicar no boletim
oficial da Região.
2 - A declaração de utilidade pública da expropriação de bens pertencentes à
administração central e das necessárias para obras de iniciativa do Estado ou de serviços
dependentes do Governo da República é da competência do Ministro da República,
sendo publicada na 2.ª série do Diário da República.

Artigo 91.º
Expropriação de bens móveis

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1 - Nos casos em que a lei autorize a expropriação de bens móveis materiais,
designadamente no artigo 16.º da Lei n.º 13/85, de 6 de Julho, pode haver lugar a posse
administrativa, imediatamente depois de vistoria ad perpetuam rei memoriam, sem
dependência de qualquer outra formalidade, seguindo-se quanto ao mais,
nomeadamente quanto à fixação e ao pagamento da justa indemnização, a tramitação
prevista para os processos de expropriação litigiosa, aplicando-se o disposto no n.º 5 do
artigo 20.º, com as necessárias adaptações.
2 - A entidade expropriante solicita ao presidente do tribunal da Relação do lugar do
domicílio do expropriado a nomeação de um perito com formação adequada, para
proceder à vistoria ad perpetuam rei memoriam, podendo sugerir nomes para o efeito.
3 - Os árbitros e o perito são livremente designados pelo presidente do tribunal da
relação do lugar da situação do bem no momento de declaração de utilidade pública de
entre indivíduos com a especialização adequada.
4 - A designação do perito envolve a autorização para este entrar no local onde se
encontra o bem, acompanhado de representantes da entidade expropriante, a fim de
proceder à vistoria ad perpetuam rei memoriam, se necessário com o auxílio de força
policial.
5 - O auto de vistoria ad perpetuam rei memoriam descreve o bem com a necessária
minúcia.
6 - A entidade expropriante poderá recorrer ao auxílio de força policial para tomar posse
do bem.
7 - É competente para conhecer do recurso da arbitragem o tribunal da comarca do
domicílio ou da sede do expropriado.

Nota 1: Sobre a vistoria ad perpetuam rei memoriam, cf. art.º 20.º , sobretudo art.º 21 .º , e art.º 91 .º,
n.º 5, do CE.

Artigo 92.º
Aplicação subsidiária do processo de expropriação

1 - Sempre que a lei mande aplicar o processo de expropriação para determinar o valor
de um bem, designadamente no caso de não aceitação do preço convencionado de
acordo com o regime do direito legal de preferência, aplica-se, com as necessárias
adaptações, o disposto nos artigos 42.º e seguintes do presente Código, sem precedência
de declaração de utilidade pública, valendo como tal, para efeitos de contagem de
prazos, o requerimento a que se refere o n.º 3 do artigo 42.º
2 - Salvo no caso de o exercício do direito legal de preferência se encontrar associado à
existência de medidas preventivas, legalmente estabelecidas, a não aceitação do preço
convencionado só é possível quando o valor do terreno, de acordo com avaliação
preliminar efectuada por perito da lista oficial, de livre escolha do preferente, seja
inferior àquele em, pelo menos, 20%.
3 - Qualquer das partes do negócio projectado pode desistir deste; a notificação da
desistência ao preferente faz cessar o respectivo direito.
4 - Pode também o preferente desistir do seu direito, mediante notificação às partes do
negócio projectado.

Artigo 93.º
Áreas de desenvolvimento urbano prioritário e de construção prioritária

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1 - Os bens dos participantes que se recusem a outorgar qualquer acto ou contrato
previsto no regime jurídico das áreas de desenvolvimento urbano prioritário ou de
construção prioritária, ou nos respectivos instrumentos reguladores, são expropriados
com fundamento na utilidade pública da operação e integrados na participação do
município.
2 - A expropriação segue os termos previstos no presente Código com as seguintes
modificações:
a) É dispensada a declaração de utilidade pública, valendo como tal, para efeitos de
contagem de prazos, o requerimento a que se refere o n.º 3 do artigo 42.º;
b) A indemnização é calculada com referência à data em que o expropriado tiver sido
convocado para decidir sobre a aceitação da operação.

Artigo 94.º
Expropriação para fins de composição urbana

1 - As expropriações previstas nos n.º s 1 e 5 do artigo 48.º do Decreto-Lei n.º 794/76,


de 5 de Novembro, seguem os termos previstos no presente Código, com as seguintes
modificações:
a) É dispensada a declaração de utilidade pública, valendo como tal, para efeitos de
contagem de prazos, o requerimento a que se refere o n.º 3 do artigo 42.º;
b) A indemnização é calculada com referência à data em que o expropriado tiver sido
notificado nos termos do n.º 1 do artigo 48.º do Decreto-Lei n.º 794/76;
c) Os terrenos e prédios urbanos expropriados podem ser alienados, nos termos da lei,
para realização dos fins prosseguidos pelos n.º s 1 e 5 do artigo 48.º do Decreto-Lei n.º
794/76, sem direito à reversão nem ao exercício de preferência;
d) Os depósitos em processo litigioso serão efectuados por força das receitas da
operação, sendo actualizados nos termos dos n.º s 1 a 3 do artigo 24.º
2 - Para efeitos do disposto na alínea d) do número anterior deve a entidade
expropriante informar o tribunal das datas previstas e efectivas do recebimento das
receitas.

Artigo 95.º
Áreas com construções não licenciadas

Na expropriação de terrenos que por facto do proprietário estejam total ou parcialmente


ocupados com construções não licenciadas, cujos moradores devam vir a ser
desalojados e ou realojados pela administração central ou local, o valor do solo
desocupado é calculado nos termos gerais, mas com dedução do custo estimado das
demolições e dos desalojamentos necessários para o efeito.

Artigo 96.º
Expropriação requerida pelo proprietário

Nos casos em que, em consequência de disposição especial, o proprietário tem o direito


de requerer a expropriação de bens próprios, não há lugar a declaração de utilidade
pública, valendo como tal, para efeitos de contagem de prazos, o requerimento a que se
refere o n.º 3 do artigo 42.º

Artigo 97.º
Dever de informação

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A entidade expropriante é obrigada a comunicar à repartição de finanças competente e
ao Instituto Nacional de Estatística o valor atribuído aos imóveis no auto ou na escritura
de expropriação amigável ou na decisão final do processo litigioso.

Artigo 98.º
Contagem de prazos não judiciais

1 - Os prazos não judiciais fixados no presente Código contam-se, salvo disposição


especial, nos termos dos artigos 72.º e 73.º do Código do Procedimento Administrativo,
independentemente da natureza da entidade expropriante.
2 - Os prazos judiciais fixados no presente Código contam-se nos termos do disposto no
Código de Processo Civil.

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LEGISLAÇÃO DO AMBIENTE

Constituição Portuguesa

Legislação de direito internacional público

Legislação ambiental da UE

Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE)

Artigo 11.º
As exigências em matéria de proteção do ambiente devem ser integradas na definição e
execução das políticas e ações da União, em especial com o objetivo de promover um
desenvolvimento sustentável.

TÍTULO XX
O AMBIENTE

Artigo 191.º
(ex-artigo 174.ºTCE)

1. A política da União no domínio do ambiente contribuirá para a prossecução dos


seguintes objetivos:— a preservação, a proteção e a melhoria da qualidade do
ambiente,— a proteção da saúde das pessoas,— a utilização prudente e racional dos
recursos naturais,— a promoção, no plano internacional, de medidas destinadas a
enfrentar os problemas regionais ou mundiais do ambiente, e designadamente a
combater as alterações climáticas.
2. A política da União no domínio do ambiente terá por objetivo atingir um nível de
proteção elevado, tendo em conta a diversidade das situações existentes nas diferentes
regiões da União. Basear-se-á nos princípios da precaução e da ação preventiva, da
correção, prioritariamente na fonte, dos danos causados ao ambiente e do poluidor-
pagador.
Neste contexto, as medidas de harmonização destinadas a satisfazer exigências em
matéria de proteção do ambiente incluirão, nos casos adequados, uma cláusula de
salvaguarda autorizando os Estados-Membros a tomar, por razões ambientais não
económicas, medidas provisórias sujeitas a um processo de controlo da União.PTC
202/132 Jornal Oficial da União Europeia 7.6.2016
3. Na elaboração da sua política no domínio do ambiente, a União terá em conta:
— os dados científicos e técnicos disponíveis,
— as condições do ambiente nas diversas regiões da União,
— as vantagens e os encargos que podem resultar da atuação ou da ausência de
atuação,— o desenvolvimento económico e social da União no seu conjunto e o
desenvolvimento equilibrado das suas regiões.
4. A União e os Estados-Membros cooperarão, no âmbito das respetivas atribuições,
com os países terceiros e as organizações internacionais competentes. As formas de
cooperação da União podem ser objeto de acordos entre esta e as partes terceiras
interessadas.

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O disposto no parágrafo anterior não prejudica a capacidade dos Estados-Membros para
negociar nas instâncias internacionais e celebrar acordos internacionais.

Artigo 192.º
(ex-artigo 175.ºTCE)

1. O Parlamento Europeu e o Conselho, deliberando de acordo com o processo


legislativo ordinário e após consulta ao Comité Económico e Social e ao Comité das
Regiões, adotarão as ações a empreender pela União para realizar os objetivos previstos
no artigo 191.o.2.
Em derrogação do processo de decisão previsto no n.o1 e sem prejuízo do disposto no
artigo 114.o, o Conselho, deliberando por unanimidade, de acordo com um processo
legislativo especial e após consulta ao Parlamento Europeu, ao Comité Económico e
Social e ao Comité das Regiões, adotará:
a) Disposições de caráter fundamentalmente fiscal;
b) As medidas que afetem:
— o ordenamento do território,
— a gestão quantitativa dos recursos hídricos ou que digam respeito, direta ou
indiretamente, à disponibilidade desses recursos,
— a afetação dos solos, com exceção da gestão dos lixos;
c) As medidas que afetem consideravelmente a escolha de um Estado-Membro entre
diferentes fontes de energia e a estrutura geral do seu aprovisionamento energético.
O Conselho, deliberando por unanimidade, sob proposta da Comissão e após consulta
ao Parlamento Europeu, ao Comité Económico e Social e ao Comité das Regiões, pode
tornar o processo legislativo ordinário aplicável aos domínios a que se refere o primeiro
parágrafo.PT7.6.2016 Jornal Oficial da União Europeia C 202/133
3. O Parlamento Europeu e o Conselho, deliberando de acordo com o processo
legislativo ordinário, e após consulta ao Comité Económico e Social e ao Comité das
Regiões, adotarão programas gerais de ação que fixarão os objetivos prioritários a
atingir.
As medidas necessárias à execução destes programas são adotadas em conformidade
com as condições previstas no n.o1 ou no n.o2, consoante o caso.
4. Sem prejuízo de certas medidas adotadas pela União, os Estados-Membros
assegurarão o financiamento e a execução da política em matéria de ambiente.5. Sem
prejuízo do princípio do poluidor-pagador, nos casos em que uma medida adotada nos
termos do n.o1 implique custos considerados desproporcionados para as autoridades
públicas de um Estado-Membro, essa medida deve prever, sob a forma adequada:—
derrogações de caráter temporário e/ou— um apoio financeiro proveniente do Fundo de
Coesão criado nos termos do artigo 177.o.

Artigo 193.º
(ex-artigo 176.ºTCE)

As medidas de proteção adotadas por força do artigo 192.º não obstam a que cada
Estado-Membro mantenha ou introduza medidas de proteção reforçadas. Essas
medidas devem ser compatíveis com os Tratados e serão notificadas à Comissão.

É imensa a legislação da EU sobre o ambiente, refletindo a grande importância que a


União dá ao ambiente. Para cuidar especialmente do ambiente, foi criada, em 1990

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(entrou em vigor em 1993), a Agência Europeia do ambiente, com sede em Copenhaga
(Dinamarca).

A legislação europeia do ambiente é transversal a todas as áreas, destacando-se as


seguintes áreas:
Alterações climáticas, gestão de resíduos, poluição atmosférica, proteção e gestão das
águas, proteção da natureza e biodiversidade, proteção dos solos, proteção civil,
perturbações sonoras, cooperação com países terceiros.

LEI DE BASES DA POLÍTICA DO AMBIENTE (LBA)


Lei n.º 19/2014, de 14 de abril
(Define as bases da política de ambiente)

A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da


Constituição, o seguinte:

CAPÍTULO I
Âmbito, objetivos e princípios gerais da política de ambiente
Artigo 1.º
Âmbito

A presente lei define as bases da política de ambiente, em cumprimento do disposto nos


artigos 9.º e 66.º da Constituição.

Artigo 2.º
Objetivos da política de ambiente

1 - A política de ambiente visa a efetivação dos direitos ambientais através da promoção


do desenvolvimento sustentável, suportada na gestão adequada do ambiente, em
particular dos ecossistemas e dos recursos naturais, contribuindo para o
desenvolvimento de uma sociedade de baixo carbono e uma «economia verde», racional
e eficiente na utilização dos recursos naturais, que assegure o bem-estar e a melhoria
progressiva da qualidade de vida dos cidadãos.
2 - Compete ao Estado a realização da política de ambiente, tanto através da ação direta
dos seus órgãos e agentes nos diversos níveis de decisão local, regional, nacional,
europeia e internacional, como através da mobilização e da coordenação de todos os
cidadãos e forças sociais, num processo participado e assente no pleno exercício da
cidadania ambiental.

Notas: A Declaração de Estocolmo sobre o Ambiente Humano, de 1972, dispõe no seu princípio 1: “O
homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequadas,
em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna, gozar de bem-estar e é
portador solene de obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente, para as gerações presentes e futuras.”

Artigo 3.º
Princípios materiais de ambiente

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A atuação pública em matéria de ambiente está subordinada, nomeadamente, aos
seguintes princípios:
a) Do desenvolvimento sustentável, que obriga à satisfação das necessidades do
presente sem comprometer as das gerações futuras, para o que concorrem: a preservação
de recursos naturais e herança cultural, a capacidade de produção dos ecossistemas a
longo prazo, o ordenamento racional e equilibrado do território com vista ao combate às
assimetrias regionais, a promoção da coesão territorial, a produção e o consumo
sustentáveis de energia, a salvaguarda da biodiversidade, do equilíbrio biológico, do
clima e da estabilidade geológica, harmonizando a vida humana e o ambiente;
b) Da responsabilidade intra e intergeracional, que obriga à utilização e ao
aproveitamento dos recursos naturais e humanos de uma forma racional e equilibrada, a
fim de garantir a sua preservação para a presente e futuras gerações;
c) Da prevenção e da precaução1, que obrigam à adoção de medidas antecipatórias
com o objetivo de obviar ou minorar, prioritariamente na fonte, os impactes adversos no
ambiente, com origem natural ou humana, tanto em face de perigos imediatos e
concretos como em face de riscos futuros e incertos, da mesma maneira como podem
estabelecer, em caso de incerteza científica, que o ónus da prova recaia sobre a parte
que alegue a ausência de perigos ou riscos;
d) Do poluidor-pagador, que obriga o responsável pela poluição a assumir os custos
tanto da atividade poluente como da introdução de medidas internas de prevenção e
controle necessárias para combater as ameaças e agressões ao ambiente;
e) Do utilizador-pagador, que obriga o utente de serviços públicos a suportar os custos
da utilização dos recursos, assim como da recuperação proporcional dos custos
associados à sua disponibilização, visando a respetiva utilização racional;
f) Da responsabilidade, que obriga à responsabilização de todos os que direta ou
indiretamente, com dolo ou negligência, provoquem ameaças ou danos ao ambiente,
cabendo ao Estado a aplicação das sanções devidas, não estando excluída a
possibilidade de indemnização nos termos da lei;

1
Sobre o princípio da precaução, concluiu o STJ, no seu ac. de 28.3.2919: “Princípio da Precaução.
1) O anexo III da Diretiva 2008/98/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 19 de novembro de 2008,
relativa aos resíduos e que revoga certas diretivas, conforme alterada pelo Regulamento (UE) n.° 1357/2014
da Comissão, de 18 de dezembro de 2014, bem como do anexo, rubrica intitulada «Avaliação e
classificação», n.° 2, da Decisão 2000/532/CE da Comissão, de 3 de maio de 2000, que substitui a Decisão
94/3/CE, que estabelece uma lista de resíduos em conformidade com a alínea a) do artigo 1.° da Diretiva
75/442/CEE do Conselho relativa aos resíduos, e a Decisão 94/904/CE do Conselho, que estabelece uma
lista de resíduos perigosos em conformidade com n.° 4 do artigo 1.° da Diretiva 91/689/CEE do Conselho
relativa aos resíduos perigosos, conforme alterada pela Decisão 2014/955/UE da Comissão, de 18 de
dezembro de 2014, devem ser interpretados no sentido de que o detentor de um resíduo suscetível de ser
classificado mediante códigos espelho, mas cuja composição não é desde logo conhecida, deve, com vista
a esta classificação, determinar a referida composição e procurar as substâncias perigosas que nele podem
razoavelmente ser encontradas para estabelecer se esse resíduo apresenta características de perigosidade, e
pode, para o efeito, utilizar a amostragem, as análises químicas e os ensaios previstos no Regulamento (CE)
n.° 440/2008 da Comissão, de 30 de maio de 2008, que estabelece métodos de ensaio nos termos do
Regulamento (CE) n.° 1907/2006, do Parlamento Europeu e do Conselho, relativo ao registo, avaliação,
autorização e restrição dos produtos químicos (REACH), ou qualquer outra amostragem, análise química e
ensaio internacionalmente reconhecidos. 2) O princípio da precaução deve ser interpretado no sentido de
que quando, após uma avaliação dos riscos tão completa quanto possível tendo em conta as circunstâncias
particulares do caso concreto, o detentor de um resíduo suscetível de ser classificado quer em códigos
correspondentes a resíduos perigosos, quer em códigos correspondentes a resíduos não perigosos, está na
impossibilidade prática de determinar a presença de substâncias perigosas ou de avaliar as características
de perigosidade apresentadas pelo referido resíduo, devendo este último ser classificado como resíduo
perigoso.

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g) Da recuperação, que obriga o causador do dano ambiental à restauração do estado
do ambiente tal como se encontrava anteriormente à ocorrência do facto danoso.

Nota 1: Quando na al. c) se fala em “perigos imediatos e concretos como em face de riscos futuros e
incertos” e em “perigos ou riscos” estamos no âmbito de competências jurídico-policiais, de poder
vinculado e não discricionário.

Nota 2: Sobre o “princípio da solidariedade intergeracional”, cf. também o art.º 8.º do regime jurídico dos
instrumentos de gestão territorial, que impõe a “harmonização dos vários interesses públicos com
expressão territorial”. Cf. art.º 12.º, n.º 2, do mesmo diploma e o art.º 10.º, al. c), da Lei de Bases do
Ambiente.

Nota 3: Nos termos do art.º 3.º, al. x), do regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de
setembro, última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), a “prevenção” consiste na “adoção de medidas
antes de uma substância, material ou produto assumir a natureza de resíduo, destinadas a reduzir”:
I) a quantidade de resíduos produzidos, designadamente através da reutilização de produtos ou do
prolongamento do tempo de vida dos produtos; II) os impactes adversos no ambiente e na saúde humana
resultantes dos resíduos produzidos; ou III) o teor de substâncias nocivas presentes nos materiais e nos
produtos”

Nos termos do art.º 11.º, al. m), da Lei da responsabilidade ambiental (Decreto-Lei n.º 147/2008, de 29 de
julho), “medidas de prevenção” são “quaisquer medidas adotadas em resposta a um acontecimento, ato
ou omissão que tenha causado uma ameaça iminente de danos ambientais, destinadas a prevenir ou
minimizar ao máximo esses danos”.

Artigo 4.º
Princípios das políticas públicas ambientais

As políticas públicas de ambiente estão ainda subordinadas, nomeadamente, aos


seguintes princípios:
a) Da transversalidade e da integração, que obrigam à integração das exigências de
proteção do ambiente na definição e execução das demais políticas globais e sectoriais,
de modo a promover o desenvolvimento sustentável;
b) Da cooperação internacional, que obriga à procura de soluções concertadas com
outros países e organizações internacionais no sentido da promoção do ambiente e do
desenvolvimento sustentável;
c) Do conhecimento e da ciência, que obrigam a que o diagnóstico e as soluções dos
problemas ambientais devam resultar da convergência dos saberes sociais com os
conhecimentos científicos e tecnológicos, tendo por base dados rigorosos, emanados de
fontes fidedignas e isentas;
d) Da educação ambiental, que obriga a políticas pedagógicas viradas para a tomada de
consciência ambiental, apostando na educação para o desenvolvimento sustentável e
dotando os cidadãos de competências ambientais num processo contínuo, que promove
a cidadania participativa e apela à responsabilização, designadamente através do
voluntariado e do mecenato ambiental, tendo em vista a proteção e a melhoria do
ambiente em toda a sua dimensão humana;
e) Da informação e da participação, que obrigam ao envolvimento dos cidadãos nas
políticas ambientais, privilegiando a divulgação e a partilha de dados e estudos, a
adoção de ações de monitorização das políticas, o fomento de uma cultura de
transparência e de responsabilidade, na busca de um elevado grau de respeito dos
valores ambientais pela comunidade, ao mesmo tempo que assegura aos cidadãos o

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direito pleno de intervir na elaboração e no acompanhamento da aplicação das políticas
ambientais.

Nota 1: a educação ambiental referida na al. d), acentua o caráter cultural do direito do ambiente. O respeito
pela natureza e pelo ambiente são valências que devem fazer parte da formação escolar.

Nota 2: o art.º 66.º, n.º 1, da CRP), determina: “Todos têm direito a um ambiente de vida humano, sadio
e ecologicamente equilibrado e o dever de o defender.” E de saudar que, neste caso, a Constituição
portuguesa tenha associado um direito fundamental a um dever fundamental, exemplo que deveria ser
alargados a muitos outros direitos e liberdades fundamentais.

Nota 3: O ambiente necessita de uma proteção nacional, mas também internacional, pois a poluição e os
danos à natureza não conhecem frequentemente fronteiras. Como se sustentou, “o individual alia-se ao
coletivo, ao comum a todos os seres humanos, ao povo mundial, na sua unidade e diversidade, com as suas
tradições e vivências no tempo e no espaço, com as suas aspirações criadoras, portanto, orientadas para o
futuro; a união dos povos e a autoridade, a legitimidade e a responsabilidade que dela emana para a
realização da vontade coletiva, sempre renovada, dos cidadãos do mundo (We, the citizens of the world)”
(in: “Constituição universal como cultura prolegómenos para um tribunal constitucional internacional para
a democracia na sociedade da informação”, 2018, in: www.hotto os.com convenit29 index.htlïY

CAPÍTULO II
Direitos e deveres ambientais

Artigo 5.º
Direito ao ambiente

1 - Todos têm direito ao ambiente e à qualidade de vida, nos termos constitucional e


internacionalmente estabelecidos.
2 - O direito ao ambiente consiste no direito de defesa contra qualquer agressão à esfera
constitucional e internacionalmente protegida de cada cidadão, bem como o poder de
exigir de entidades públicas e privadas o cumprimento dos deveres e das obrigações, em
matéria ambiental, a que se encontram vinculadas nos termos da lei e do direito.

Nota 1: o art.º 66.º , n.º 1, da CRI), determina: “Todos têm direito a um ambiente de vida humano, sadio
e ecologicamente equilibrado e o dever de o defender.” E de saudar que, neste caso, a Constituição
portuguesa tenha associado um direito fundamental a um dever fundamental, exemplo que deveria ser
alargados a muitos outros direitos e liberdades fundamentais.

Nota 2: O ambiente necessita de uma proteção nacional, mas também internacional, pois a poluição e os
danos à natureza não conhecem frequentemente fronteiras. Como se sustentou, “o individual alia-se ao
coletivo, ao comum a todos os seres humanos, ao povo mundial, na sua unidade e diversidade, com as suas
tradições e vivências no tempo e no espaço, com as suas aspirações criadoras, portanto, orientadas para o
futuro; a união dos povos e a autoridade, a legitimidade e a responsabilidade que dela emana para a
realização da vontade coletiva, sempre renovada, dos cidadãos do mundo (We, the citizens of the world)”
(in: “Constituição universal como cultura prolegómenos para um tribunal constitucional internacional para
a democracia na sociedade da informação”, 2018, in: www.hotto os.com convenit29 index.htlïY

Artigo 6.º
Direitos procedimentais em matéria de ambiente

1 - Todos gozam dos direitos de intervenção e de participação nos procedimentos


administrativos relativos ao ambiente, nos termos legalmente estabelecidos.

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2 - Em especial, os referidos direitos procedimentais incluem, nomeadamente:
a) O direito de participação dos cidadãos, das associações não-governamentais e dos
demais agentes interessados, em matéria de ambiente, na adoção das decisões relativas a
procedimentos de autorização ou referentes a atividades que possam ter impactes
ambientais significativos, bem como na preparação de planos e programas ambientais;
b) O direito de acesso à informação ambiental detida por entidades públicas, as quais
têm o dever de a divulgar e disponibilizar ao público através de mecanismos adequados,
incluindo a utilização de tecnologias telemáticas ou eletrónicas.

Artigo 7.º
Direitos processuais em matéria de ambiente

1 - A todos é reconhecido o direito à tutela plena e efetiva dos seus direitos e interesses
legalmente protegidos em matéria de ambiente.
2 - Em especial, os referidos direitos processuais incluem, nomeadamente:
a) O direito de ação para defesa de direitos subjetivos e interesses legalmente
protegidos, assim como para o exercício do direito de ação pública e de ação popular;
b) O direito a promover a prevenção, a cessação e a reparação de violações de bens e
valores ambientais da forma mais célere possível;
c) O direito a pedir a cessação imediata da atividade causadora de ameaça ou dano ao
ambiente, bem como a reposição da situação anterior e o pagamento da respetiva
indemnização, nos termos da lei.

Nota 1: Nos termos dos art.º 2.º, n.º 1, do CPTAF, “o princípio da tutela jurisdicional efetiva compreende
o direito de obter, em prazo razoável, e mediante um processo equitativo, uma decisão judicial que aprecie,
com força de caso julgado, cada pretensão regularmente deduzida em juízo, bem como a possibilidade de
a fazer executar e de obter as providências cautelares, antecipatórias ou conservatórias, destinadas a
assegurar o efeito útil da decisão.”

Nota 2: Nos termos do art.º 9.º , n.º 2, do CPTAF, têm legitimidade ativa “independentemente de ter
interesse pessoal na demanda, qualquer pessoa, bem como as associações e fundações defensoras dos
interesses em causa, as autarquias locais e o Ministério Público têm legitimidade para propor e intervir,
nos termos previstos na lei, em processos principais e cautelares destinados à defesa de valores e bens
constitucionalmente protegidos, como a saúde pública, o ambiente o urbanismo o ordenamento do território
a qualidade de vida o património cultural e os bens do Estado, das Regiões Autónomas e das autarquias
locais, assim como para promover a execução das correspondentes decisões jurisdicionais.”

Nota 3: Nos termos do art.º 3.º, al. x), do regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de
setembro, última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), a “prevenção” consiste na “adoção de medidas
antes de uma substância, material ou produto assumir a natureza de resíduo, destinadas a reduzir”:
I) a quantidade de resíduos produzidos, designadamente através da reutilização de produtos ou do
prolongamento do tempo de vida dos produtos; II) os impactes adversos no ambiente e na saúde humana
resultantes dos resíduos produzidos; ou III) o teor de substâncias nocivas presentes nos materiais e nos
produtos”

Artigo 8.º
Deveres ambientais

1 - O direito ao ambiente está indissociavelmente ligado ao dever de o proteger, de o


preservar e de o respeitar, de forma a assegurar o desenvolvimento sustentável a longo
prazo, nomeadamente para as gerações futuras.
2 - A cidadania ambiental consiste no dever de contribuir para a criação de um ambiente
sadio e ecologicamente equilibrado e, na ótica do uso eficiente dos recursos e tendo em
vista a progressiva melhoria da qualidade vida, para a sua proteção e preservação.
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CAPÍTULO III
Âmbito de aplicação da política de ambiente

Artigo 9.º
Componentes

Na realização da política de ambiente, são indissociáveis os componentes ambientais


naturais e humanos.

Artigo 10.º
Componentes ambientais naturais

A política de ambiente tem por objeto os componentes ambientais naturais, como o ar, a
água e o mar, a biodiversidade, o solo e o subsolo, a paisagem, e reconhece e valoriza a
importância dos recursos naturais e dos bens e serviços dos ecossistemas,
designadamente nos seguintes termos:
a) A gestão do ar visa preservar e melhorar a respetiva qualidade no meio ambiente,
garantir a sua boa qualidade no interior dos edifícios e reduzir e prevenir as disfunções
ambientais, de forma a minimizar os efeitos adversos para a saúde humana e para o
ambiente;
b) A proteção e a gestão dos recursos hídricos compreendem as águas superficiais e as
águas subterrâneas, os leitos e as margens, as zonas adjacentes, as zonas de infiltração
máxima e as zonas protegidas, e têm como objetivo alcançar o seu estado ótimo,
promovendo uma utilização sustentável baseada na salvaguarda do equilíbrio ecológico
dos recursos, seu aproveitamento e reutilização e considerando o valor social, ambiental
e económico da água, procurando, ainda, mitigar os efeitos das cheias e das secas
através do planeamento e da gestão dos recursos hídricos e hidrogeológicos. A proteção
e a gestão dos recursos hídricos visam também salvaguardar o direito humano,
consagrado pelas Nações Unidas, de acesso a água potável segura, bem como o acesso
universal ao saneamento, fundamental para a dignidade humana e um dos principais
mecanismos de proteção da qualidade dos recursos hídricos, assegurando ainda o
princípio da solidariedade intergeracional.
c) A política para o meio marinho, abrangendo a coluna de água, o solo e o subsolo
marinho, deve assegurar a sua gestão integrada, em estreita articulação com a gestão da
zona costeira, garantindo a proteção dos recursos e ecossistemas marinhos, o que
implica o condicionamento dos usos do mar suscetíveis de afetarem de forma nociva o
equilíbrio ecológico ou que impliquem risco ou dano grave para o ambiente, pessoas e
bens;
d) A conservação da natureza e da biodiversidade como dimensão fundamental do
desenvolvimento sustentável impõe a adoção das medidas necessárias para travar a
perda da biodiversidade, através da preservação dos habitats naturais e da fauna e da
flora no conjunto do território nacional, a proteção de zonas vulneráveis, bem como
através da rede fundamental de áreas protegidas, de importância estratégica neste
domínio;
e) A gestão do solo e do subsolo impõe a preservação da sua capacidade de uso, por
forma a desempenhar as respetivas funções ambientais, biológicas, económicas, sociais,
científicas e culturais, mediante a adoção de medidas que limitem ou que reduzam o
impacte das atividades antrópicas nos solos, que previnam a sua contaminação e
degradação e que promovam a sua recuperação, bem como que combatam e, se

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possível, invertam os processos de desertificação, promovendo a qualidade de vida e o
desenvolvimento rural;
f) A salvaguarda da paisagem implica a preservação da identidade estética e visual, e da
autenticidade do património natural, do património construído e dos lugares que
suportam os sistemas socioculturais, contribuindo para a conservação das
especificidades das diversas regiões que conjuntamente formam a identidade nacional.

Nota: A expressão “risco ou dano grave para o ambiente” é uma cláusula que integra do direito de polícia
administrativa cuja interpretação e aplicação cai sob o controlo jurisdicional pleno.

Artigo 11.º
Componentes associados a comportamentos humanos

A política de ambiente tem, também, por objeto os componentes associados a


comportamentos humanos, nomeadamente as alterações climáticas, os resíduos, o ruído
e os produtos químicos, designadamente com os seguintes objetivos:
a) A política de combate às alterações climáticas implica uma visão integrada dos
diversos sectores socioeconómicos e dos sistemas biofísicos através de uma estratégia
de desenvolvimento assente numa economia competitiva de baixo carbono, de acordo
com a adoção de medidas de mitigação e medidas de adaptação, com vista a reduzir a
vulnerabilidade e aumentar a capacidade de resposta aos impactes negativos das
referidas alterações;
b) A gestão de resíduos é orientada para a prevenção da respetiva produção, através da
redução da sua quantidade e perigosidade, para a preservação dos recursos naturais,
através da consideração do valor económico dos resíduos enquanto potenciais fontes de
matérias-primas e energia, e para a mitigação dos impactes adversos para o ambiente e a
saúde humana decorrentes da sua produção através da criação de condições adequadas à
sua gestão, assente na otimização da utilização das infraestruturas existentes;
c) A redução da exposição da população ao ruído é assegurada através da definição e
aplicação de instrumentos que assegurem a sua prevenção e controlo, salvaguardando a
qualidade de vida das populações e a saúde humana;
d) A avaliação e gestão do risco associado aos elementos e produtos químicos,
biológicos e radioativos, aos organismos geneticamente modificados, e à incorporação
de novas tecnologias, durante o seu ciclo de vida, de modo a garantir a proteção do
ambiente e da saúde humana.

Nota: A “perigosidade” dos resíduos situa-se no âmbito das matérias jurídico-policiais, cuja apreciação é
um poder vinculado e não discricionário. A “A avaliação e gestão do risco” referida na al. c) faz-se no
exercício de poderes vinculados e não discricionários.

Nos termos do art.º 11.º, al. m), da Lei da responsabilidade ambiental (Decreto-Lei n.º 147/2008, de 29 de
julho), “medidas de prevenção” são “quaisquer medidas adotadas em resposta a um acontecimento, ato
ou omissão que tenha causado uma ameaça iminente de danos ambientais, destinadas a prevenir ou
minimizar ao máximo esses danos”.

Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. xx) do regime da prevenção e controlo das emissões de poluentes para o
ar (aprovado pelo Decreto-Lei n.º 39/2018, de 11 de junho) “resíduos” são “quaisquer substâncias ou
objetos de que o detentor se desfaz ou tem a intenção ou a obrigação de se desfazer”.

Artigo 12.º
Execução da política de ambiente
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A política de ambiente deve estabelecer legislação específica para cada um dos
componentes identificados nos artigos anteriores, consentânea com as políticas
europeias e internacionais aplicáveis em cada domínio, com vista à definição de
objetivos e à aplicação de medidas específicas.

CAPÍTULO IV
Conciliação da política de ambiente com outras políticas sectoriais

Artigo 13.º
Transversalidade e integração

1 - A transversalidade da política de ambiente impõe a sua consideração em todos os


sectores da vida económica, social e cultural, e obriga à sua articulação e integração
com as demais políticas sectoriais, visando a promoção de relações de coerência e de
complementaridade.
2 - No sentido de promover e acautelar os princípios e objetivos da política de ambiente,
os bens ambientais devem ser ponderados com outros bens e valores, incluindo os
intangíveis e os estéticos, de forma a assegurar a respetiva interdependência, num
exercício de compatibilização que inclua uma avaliação de cenários alternativos,
promovendo a realização do interesse público no longo prazo.

Capítulo V
Instrumentos da política de ambiente

Artigo 14.º
Instrumentos da política de ambiente

1 - A política de ambiente assenta, nomeadamente, em instrumentos de informação


ambiental, de planeamento económico e financeiro, de avaliação ambiental, de
autorização ou licenciamento ambiental, de melhoria contínua do desempenho
ambiental e de controlo, fiscalização e inspeção, os quais visam prevenir, reduzir e, na
medida do possível, eliminar os impactes ambientais negativos.
2 - Atentos a natureza e o carácter global das questões ambientais, os instrumentos da
política de ambiente são desenvolvidos e aplicados de forma integrada com as demais
políticas nacionais, regionais, locais ou sectoriais, com vista à prossecução dos
objetivos nacionais e dos compromissos internacionais assumidos por Portugal.
3 - Os instrumentos da política de ambiente são submetidos a revisão numa base
periódica ou sempre que o interesse público o justifique, sem prejuízo das disposições
especiais previstas nos respetivos regimes jurídicos.

Artigo 15.º
Informação ambiental

1 - A política de ambiente tem por base o melhor conhecimento e informação


disponíveis, cabendo a sua garantia ao Estado.
2 - A monitorização do estado do ambiente e a avaliação dos resultados das políticas
nesta matéria obrigam a assegurar a recolha, o tratamento e a análise dos dados
ambientais, de forma a obter informações objetivas, fiáveis e comparáveis.

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3 - As entidades públicas e privadas são responsáveis pelo cumprimento dos seus
deveres ativos de informação ambiental, presumindo-se a respetiva culpa em caso de
omissão.
4 - A política de ambiente promove e incentiva a existência de meios que permitam que
os dados recolhidos, tanto por entidades públicas como privadas, produtoras ou
detentoras de informação relevante, sejam tratados de forma apropriada ao estudo, ao
apoio à decisão e à fiscalização ambientais.
5 - Os dados de base em matéria ambiental, produzidos por entidades públicas ou
disponibilizados em cumprimento de obrigações legais, devem ser colocados de forma
gratuita à disposição do público.
6 - O disposto no número anterior não prejudica a possibilidade de cobrança de taxas,
no caso de ser necessário o tratamento significativo dos dados a disponibilizar, sem
prejuízo de poderem ser estabelecidas isenções em situações específicas devidamente
justificadas.
7 - O disposto nos n.º s 5 e 6 não prejudica a salvaguarda da confidencialidade dos
dados, ou da proteção devida a outros direitos existentes, nomeadamente o sigilo
comercial e industrial, ou os direitos da propriedade intelectual, quando devidamente
justificados.
8 - A informação ambiental deve ser amplamente divulgada e disponibilizada ao público
de forma acessível, através de aplicações de informação e comunicação que permitam
serviços de pesquisa, visualização e distribuição.

Artigo 16.º
Instrumentos de planeamento

1 - Constituem instrumentos de planeamento no âmbito da política de ambiente e do


desenvolvimento sustentável, as estratégias, os programas e os planos de âmbito
nacional, regional, local ou sectorial, que fixam orientações, objetivos, medidas e ações,
metas e indicadores e que determinam as entidades responsáveis pela sua execução e os
financiamentos adequados.
2 - A elaboração dos instrumentos de planeamento referidos no número anterior deve
incluir uma análise económica, refletir os contributos decorrentes de um período de
consulta pública e incluir mecanismos de avaliação da respetiva aplicação.
3 - A elaboração e a revisão dos instrumentos de planeamento implicam a participação
pública desde o início do respetivo procedimento.
4 - Os instrumentos de planeamento de âmbito nacional são obrigatoriamente aprovados
por diploma legal.

Artigo 17.º
Instrumentos económicos e financeiros

1 - A política de ambiente deve recorrer a instrumentos económicos e financeiros,


concebidos de forma equilibrada e sustentável, com vista à promoção de soluções que
estimulem o cumprimento dos objetivos ambientais, a utilização racional dos
recursos naturais e a internalização das externalidades ambientais.
2 - São instrumentos económicos e financeiros da política de ambiente,
designadamente:
a) Os instrumentos de apoio financeiro no domínio do ambiente, nomeadamente os
fundos públicos ambientais, com o objetivo de apoiar a gestão das prioridades da

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política de ambiente, através da afetação de recursos a projetos e dos investimentos
necessários e adequados;
b) Os instrumentos de compensação ambiental, que visam a satisfação das condições
ou requisitos legais de que esteja dependente o início do exercício de uma atividade,
através da realização de projetos ou de ações que produzam um benefício ambiental
equivalente ao dano ambiental causado;
c) Os instrumentos que garantam a adequada remuneração dos serviços
proporcionados pelo ambiente e pelas entidades públicas encarregadas da prossecução
da política de ambiente, os quais podem implicar a aplicação de taxas, preços ou tarifas
com vista a promover a utilização racional e eficiente dos recursos ambientais;
d) Os instrumentos contratuais, que visam permitir a participação das autarquias
locais, do sector privado, das organizações representativas da sociedade civil e de
outras entidades públicas na realização de ações e no financiamento da política de
ambiente, sempre que essa participação se revele adequada à prossecução dos objetivos
previstos no artigo 2.º;
e) A fiscalidade ambiental, que visa desonerar as boas práticas ambientais e, em
compensação, incidir sobre as atividades mais poluentes, numa ótica de fiscalidade
globalmente neutra e equitativa, podendo contribuir para direcionar comportamentos;
f) As prestações e as garantias financeiras decorrentes da aplicação do princípio da
responsabilidade ambiental, que visam assegurar uma cobertura eficaz às
obrigações financeiras dos responsáveis de danos ambientais e respetiva
reparação;
g) Os instrumentos de mercado, que assentam, designadamente, em mecanismos de
troca de direitos de uso ou de direitos de emissão de poluentes, conducentes à redução
de emissões com base na melhor relação entre os custos e a eficácia.
3 - Os instrumentos económicos e financeiros devem ser sujeitos a uma avaliação
periódica da sua eficácia.

Nota 1: O princípio da responsabilidade ambiental foi desenvolvido por Hans JONAS, em 1979, in: Das
Prinzip Verantwort.ung, Versuch einer Ethik fiir die technologische Zivilisation, Frankfurt/M. O autor
definiu, na pág. 36, o princípio da responsabilidade ambiental nos seguintes termos: “age de maneira a que
as tuas ações não comprometam a existência de uma vida humana autêntica sobre a Terra”.

Artigo 18.º
Instrumentos de avaliação

1 - Os programas, planos e projetos, públicos ou privados, que possam afetar o


ambiente, o território ou a qualidade de vida dos cidadãos, estão sujeitos a avaliação
ambiental prévia à sua aprovação, com vista a assegurar a sustentabilidade das
opções de desenvolvimento.
2 - A avaliação ambiental garante que o processo de tomada de decisão integra a
ponderação dos impactes relevantes em termos biofísicos, económicos, sociais,
culturais e políticos, tendo em conta, entre outros, o estado do ambiente, a avaliação
entre alternativas, o cenário de referência, e os impactes cumulativos com outros
desenvolvimentos programados ou implementados, bem como os contributos recebidos
através de consulta e participação pública, contemplando ainda uma análise do ciclo de
vida no caso de projetos suscetíveis de causarem impactes ambientais adversos
significativos.

Artigo 19.º

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Atos permissivos em matéria de ambiente

As atividades públicas ou privadas, potencial ou efetivamente poluidoras, ou ainda


suscetíveis de afetar significativamente o ambiente e a saúde humana, estão
sujeitas a prévio licenciamento ou autorização nos termos da legislação aplicável.

Artigo 20.º
Instrumentos de desempenho ambiental

1 - A política de ambiente recorre a instrumentos de melhoria contínua do desempenho


ambiental, designadamente a pegada ecológica, a rotulagem ecológica, as compras
públicas ecológicas e os sistemas de certificação, incentivando a adoção de padrões de
produção e consumo sustentáveis e estimulando a oferta e procura de produtos de
conceção ecológica e atividades e serviços com impacte ambiental cada vez mais
reduzido.
2 - A política de ambiente promove ainda a melhoria do desempenho ambiental das
atividades económicas, estimulando a ecoeficiência, a eco inovação e a adoção de
sistemas de gestão ambiental.

Artigo 21.º
Controlo, fiscalização e inspeção

O Estado exerce o controlo das atividades suscetíveis de ter um impacte negativo no


ambiente, acompanhando a sua execução através da monitorização, fiscalização e
inspeção, visando, nomeadamente, assegurar o cumprimento das condições
estabelecidas nos instrumentos e normativos ambientais e prevenir ilícitos ambientais.

Artigo 22.º
Outros instrumentos

Os instrumentos referidos na presente lei não excluem os demais instrumentos,


nomeadamente os de ordenamento do território, os estatutos de proteção de base
territorial de bens ambientais, bem como os de política de transportes e política
energética, devendo todos eles ser articulados e conjugados.

CAPÍTULO VI
Disposições finais

Artigo 23.º
Relatório e livro branco sobre o estado do ambiente

1 - O Governo apresenta à Assembleia da República, anualmente, um relatório sobre o


estado do ambiente em Portugal, referente ao ano anterior.
2 - O Governo apresenta à Assembleia da República, de cinco em cinco anos, um livro
branco sobre o estado do ambiente.

Artigo 24.º
Norma revogatória

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É revogada a Lei n.º 11/87, de 7 de abril, alterada pela Lei n.º 13/2002, de 19 de
fevereiro.
Aprovada em 20 de fevereiro de 2014.
A Presidente da Assembleia da República, Maria da Assunção A. Esteves.
Promulgada em 2 de abril de 2014.
Publique-se.
O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva.
Referendada em 3 de abril de 2014.
O Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho

Responsabilidade ambiental2
Decreto-Lei n.º 147/2008, de 29 de julho

Durante muitos anos a problemática da responsabilidade ambiental foi considerada


na perspectiva do dano causado às pessoas e às coisas. O problema central consistia na
reparação dos danos subsequentes às perturbações ambientais — ou seja, dos danos
sofridos por determinada pessoa nos seus bens jurídicos da personalidade ou nos seus
bens patrimoniais como consequência da contaminação do ambiente. Com o tempo,
todavia, a progressiva consolidação do Estado de direito ambiental determinou a
autonomização de um novo conceito de danos causados à natureza em si, ao património
natural e aos fundamentos naturais da vida.
A esta realidade foram atribuídas várias designações nem sempre coincidentes:
dano ecológico puro; dano ecológico propriamente dito; danos causados ao ambiente;
danos no ambiente. Assim, existe um dano ecológico quando um bem jurídico ecológico
é perturbado, ou quando um determinado estado -dever de um componente do ambiente
é alterado negativamente. É também sobre este tipo de danos que incide a Directiva n.º
2004/35/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de Abril. Por outro lado, se
num primeiro momento a construção do Estado de direito ambiental se alicerçou
sobretudo no princípio da prevenção, actualmente, a par deste princípio, surge como
fundamental o princípio da responsabilização, desde logo explicitado na alínea h) do
artigo 3.º da Lei de Bases do Ambiente. A essa recente evolução não é alheia a crescente
compreensão de que, em certas circunstâncias, um regime de responsabilização atributivo
de direitos aos particulares constitui um mecanismo economicamente mais eficiente e
ambientalmente mais eficaz do que a tradicional abordagem de mera regulação ambiental,
comummente designada de comando e controlo. O estudo dos instrumentos de tutela
ambiental a partir da análise económica do direito tem revelado que, sempre que os
particulares disponham de mais e ou melhor informação do que as autoridades
administrativas relativamente a um estado de conservação ambiental ou quanto ao risco
próprio das actividades económicas, é preferível dotá-los de direitos indemnizatórios,
investindo assim o cidadão na qualidade de verdadeiro zelador do ambiente, de modo a
obter uma alocação economicamente mais racional dos recursos. Por outro lado, não é
despiciendo o facto de um regime dessa natureza gerar necessariamente menores custos

2
Nota 1: O princípio da responsabilidade ambiental foi desenvolvido por Hans JONAS, em 1979, in: Das
Prinzip Verantwort.ung, Versuch einer Ethik fiir die technologische Zivilisation, Frankfurt/M. O autor
definiu, na pág. 36, o princípio da responsabilidade ambiental nos seguintes termos: “age de maneira a que
as tuas ações não comprometam a existência de uma vida humana autêntica sobre a Terra”.

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administrativos para o Estado e para o particular. Estes princípios encontram já
concretização ao nível da legislação ordinária, designadamente nos artigos 41.º e 48.º da
Lei de Bases do Ambiente e nos artigos 22.º e 23.º da Lei n.º 83/95, de 31 de Agosto (Lei
da Participação Procedimental e da Acção Popular).Todavia, esse complexo normativo
tem conhecido uma difícil aplicação prática, fruto, nomeadamente, da pouca clareza na
articulação entre as diversas normas legais. Ora, um regime de responsabilidade
(ambiental) que não queira redundar num défice de tutela jurídica tem de ultrapassar
pelo menos cinco tipos de problemas:
i) a dispersão dos danos ambientais, em que o lesado, numa análise custo
benefício, se vê desincentivado a demandar o poluidor;
ii) a concausalidade na produção de danos, que em matéria ambiental conhece
particular agudeza em razão do carácter técnico e científico e é susceptível de impedir a
efectivação da responsabilidade;
iii) o período de latência das causas dos danos ambientais, que leva a que um
dano só se manifeste muito depois da produção do(s) facto(s) que está na sua origem;
iv) a dificuldade técnica de provar que uma causa é apta a produzir o dano (e,
consequentemente, de o imputar ao respectivo autor), e, por último,
v) a questão de garantir que o poluidor tem a capacidade financeira suficiente
para suportar os custos de reparação e a internalização do custo social gerado.
O presente regime jurídico visa, consequentemente, solucionar as dúvidas e
dificuldades de que se tem rodeado a matéria da responsabilidade civil ambiental no
ordenamento jurídico português, só assim se podendo aspirar a um verdadeiro
desenvolvimento sustentável.
Assim, estabelece-se, por um lado, um regime de responsabilidade civil
subjectiva e objectiva nos termos do qual os operadores-poluidores ficam obrigados
a indemnizar os indivíduos lesados pelos danos sofridos por via de um componente
ambiental. Por outro, fixa-se um regime de responsabilidade administrativa destinado
a reparar os danos causados ao ambiente perante toda a colectividade, transpondo
desta forma para o ordenamento jurídico nacional a Directiva n.º 2004/35/CE, do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de Outubro, que aprovou, com base no
princípio do poluidor-pagador, o regime relativo à responsabilidade ambiental
aplicável à prevenção e reparação dos danos ambientais, com a alteração que lhe foi
introduzida pela Directiva n.º 2006/21/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho,
relativa à gestão de resíduos da indústria extractiva. A Administração assume, nesse
contexto, a tarefa de garantir a tutela dos bens ambientais afectados, superando as
dificuldades que podem advir da afectação de um universo alargado de lesados. Procura
-se também superar as apontadas dificuldades dos regimes de responsabilidade ambiental
consagrando um regime de responsabilidade solidária, tanto entre comparticipantes
quanto entre as pessoas colectivas e os respectivos directores, gerentes ou
administradores, e norteando a demonstração do nexo de causalidade para a
preponderância de critérios de verosimilhança e de probabilidade de o facto danoso
ser apto a produzir a lesão verificada. Por último, impõe-se ainda a um conjunto de
operadores a obrigação de constituírem garantias financeiras que lhes permita assumir a
responsabilidade ambiental inerente à actividade que desenvolvem. A implementação
dessa obrigação pressupõe, contudo, que o mercado financeiro esteja em condições de
fornecer as soluções adequadas aos operadores, pelo que, sem prejuízo de poderem (e
deverem, numa lógica cautelar) constituir desde já esses mecanismos, a sua
obrigatoriedade só é exigível a partir de 1 de janeiro de 2010. Foram ouvidos os órgãos
de governo próprio das Regiões Autónomas.

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Foram ouvidas, a título facultativo, as organizações não governamentais do
ambiente, a Associação Portuguesa de Seguradores e a Associação Portuguesa de Bancos.

CAPÍTULO I
Disposições gerais

Artigo 1.º Objecto

O presente decreto-lei estabelece o regime jurídico da responsabilidade por danos


ambientais e transpõe para a ordem jurídica nacional a Directiva n.º 2004/35/CE, do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de Abril de 2004, que aprovou, com base no
princípio do poluidor-pagador, o regime relativo à responsabilidade ambiental aplicável
à prevenção e reparação dos danos ambientais, com a alteração que lhe foi introduzida
pela Directiva n.º 2006/21/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, relativa à gestão
de resíduos da indústria extractiva.

Nos termos do art.º 11.º, al. n), da Lei da responsabilidade ambiental (Decreto-Lei n.º 147/2008, de 29 de
julho), “medidas de reparação” são qualquer ação, ou conjunto de ações, incluindo medidas de carácter
provisório, com o objetivo de reparar, reabilitar ou substituir os recursos naturais e os serviços danificados
ou fornecer uma alternativa equivalente a esses recursos ou serviços, tal como previsto no anexo V ao
presente decreto-lei, do qual faz parte integrante”

Artigo 2.º
Âmbito de aplicação

1 — O presente decreto-lei aplica-se aos danos ambientais, bem como às ameaças


iminentes desses danos, causados em resultado do exercício de uma qualquer
actividade desenvolvida no âmbito de uma actividade económica, independentemente
do seu carácter público ou privado, lucrativo ou não, abreviadamente designada por
actividade ocupacional
l.2 — O capítulo III não se aplica a danos ambientais, nem ameaças iminentes desses
danos:
a) Causados por qualquer dos seguintes actos e actividades:
i) Actos de conflito armado, hostilidades, guerra civil ou insurreição;
ii) Fenómenos naturais de carácter totalmente excepcional imprevisível ou que, ainda
que previstos, sejam inevitáveis;
iii) Actividades cujo principal objectivo resida na defesa nacional ou na segurança
internacional;
iv) As actividades cujo único objectivo resida na protecção contra catástrofes naturais;
b) Que resultem de incidentes relativamente aos quais a responsabilidade seja abrangida
pelo âmbito de aplicação de alguma das convenções internacionais, na sua actual
redacção, enumeradas no anexo I ao presente decreto-lei e do qual faz parte integrante;
c) Decorrentes de riscos nucleares ou causados pelas actividades abrangidas pelo
Tratado Que Institui a Comunidade Europeia da Energia Atómica ou por incidentes ou
actividades relativamente aos quais a responsabilidade ou compensação seja abrangida
pelo âmbito de algum dos instrumentos internacionais enumerados no anexo II ao
presente decreto-lei e do qual faz parte integrante.

Artigo 3.º
Responsabilidade das pessoas colectivas

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1 — Quando a actividade lesiva seja imputável a uma pessoa colectiva, as obrigações
previstas no presente decreto-lei incidem solidariamente sobre os respectivos
directores, gerentes ou administradores.
2 — No caso de o operador ser uma sociedade comercial que esteja em relação de grupo
ou de domínio, a responsabilidade ambiental estende-se à sociedade-mãe ou à
sociedade dominante quando exista utilização abusiva da personalidade jurídica ou
fraude à lei.

Artigo 4.º
Comparticipação

1 — Se a responsabilidade recair sobre várias pessoas, todas respondem


solidariamente pelos danos, mesmo que haja culpa de alguma ou algumas, sem prejuízo
do correlativo direito de regresso que possam exercer reciprocamente.
2 — Quando não seja possível individualizar o grau de participação de cada um dos
responsáveis, presume -se a sua responsabilidade em partes iguais.
3 — Quando a responsabilidade recaia sobre várias pessoas responsáveis a título
subjectivo ao abrigo do presente decreto-lei, o direito de regresso entre si é exercido na
medida das respectivas culpas e das consequências que delas advieram, presumindo -se
iguais as culpas dos responsáveis.

Artigo 5.º
Nexo de causalidade

A apreciação da prova do nexo de causalidade assenta num critério de verosimilhança


e de probabilidade de o facto danoso ser apto a produzir a lesão verificada, tendo em
conta as circunstâncias do caso concreto e considerando, em especial, o grau de risco e
de perigo e a normalidade da acção lesiva, a possibilidade de prova científica do percurso
causal e o cumprimento, ou não, de deveres de protecção.

Artigo 6.º
Poluição de carácter difuso

As obrigações decorrentes dos artigos anteriores são aplicáveis aos danos causados em
virtude de uma lesão ambiental causada por poluição de carácter difuso quando seja
possível estabelecer um nexo de causalidade entre os danos e as actividades lesivas.

CAPÍTULO II
Responsabilidade civil

Artigo 7.º
Responsabilidade objectiva

Quem, em virtude do exercício de uma actividade económica enumerada no anexo III ao


presente decreto-lei, que dele faz parte integrante, ofender direitos ou interesses alheios
por via da lesão de um qualquer componente ambiental é obrigado a reparar os danos
resultantes dessa ofensa, independentemente da existência de culpa ou dolo.

Artigo 8.º

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Responsabilidade subjectiva

Quem, com dolo ou mera culpa, ofender direitos ou interesses alheios por via da lesão
de um componente ambiental fica obrigado a reparar os danos resultantes dessa ofensa.

Artigo 9.º
Culpa do lesado

A reparação a que haja lugar nos termos dos artigos anteriores pode ser reduzida ou
excluída, tendo em conta as circunstâncias do caso, quando um facto culposo do lesado
tiver concorrido para a produção ou agravamento do dano.

Nos termos do art.º 11.º, al. n), da Lei da responsabilidade ambiental (Decreto-Lei n.º 147/2008, de 29 de
julho), “medidas de reparação” são qualquer ação, ou conjunto de ações, incluindo medidas de carácter
provisório, com o objetivo de reparar, reabilitar ou substituir os recursos naturais e os serviços danificados
ou fornecer uma alternativa equivalente a esses recursos ou serviços, tal como previsto no anexo V ao
presente decreto-lei, do qual faz parte integrante”

Artigo 10.º
Dupla reparação

1 — Os lesados referidos nos artigos anteriores não podem exigir reparação nem
indemnização pelos danos que invoquem na medida em que esses danos sejam reparados
nos termos do capítulo seguinte.
2 — As reclamações dos lesados em quaisquer processos ou procedimentos não exoneram
o operador responsável da adopção plena e efectiva das medidas de prevenção ou de
reparação que resultem da aplicação do presente decreto-lei nem impede a actuação
das autoridades administrativas para esse efeito.

Nos termos do art.º 11.º, al. n), da Lei da responsabilidade ambiental (Decreto-Lei n.º 147/2008, de 29 de
julho), “medidas de reparação” são qualquer ação, ou conjunto de ações, incluindo medidas de carácter
provisório, com o objetivo de reparar, reabilitar ou substituir os recursos naturais e os serviços danificados
ou fornecer uma alternativa equivalente a esses recursos ou serviços, tal como previsto no anexo V ao
presente decreto-lei, do qual faz parte integrante”

CAPÍTULO III
Responsabilidade administrativa pela prevenção e
reparação de danos ambientais

SECÇÃO I
Disposições gerais

Artigo 11.º
Definições

1 — Para efeitos do disposto no presente capítulo, entende -se por:


a) «Águas» todas as águas abrangidas pelo regime jurídico das águas, constante da Lei
n.º 58/2005, de 29 de Dezembro, e respectiva legislação complementar e regulamentar;
b) «Ameaça iminente de danos» probabilidade suficiente da ocorrência de um dano
ambiental, num futuro próximo;
c) «Custos» todos os custos justificados pela necessidade de assegurar uma aplicação
adequada e eficaz do presente decreto-lei, nomeadamente os custos da avaliação dos

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danos ambientais, da ameaça iminente desses danos, das alternativas de intervenção,
bem como os custos administrativos, jurídicos, de execução, de recolha de dados, de
acompanhamento e de supervisão e outros custos gerais;
d) «Danos» a alteração adversa mensurável de um recurso natural ou a deterioração
mensurável do serviço de um recurso natural que ocorram directa ou indirectamente;
e) «Danos ambientais» os:
i) «Danos causados às espécies e habitats naturais protegidos» quaisquer danos com
efeitos significativos adversos para a consecução ou a manutenção do estado de
conservação favorável desses habitats ou espécies, cuja avaliação tem que ter por base o
estado inicial, nos termos dos critérios constantes no anexo IV ao presente decreto--lei,
do qual faz parte integrante, com excepção dos efeitos adversos previamente identificados
que resultem de um acto de um operador expressamente autorizado pelas autoridades
competentes, nos termos da legislação aplicável;
ii) «Danos causados à água» quaisquer danos que afetem adversa e
significativamente:
- O estado ecológico ou o estado químico das águas de superfície, o potencial ecológico
ou o estado químico das massas de água artificiais ou fortemente modificadas, ou o estado
quantitativo ou o estado químico das águas subterrâneas, nos termos da Lei da Água
aprovada pela Lei n.º 58/2005, de 29 de dezembro, na sua redação atua l;
- 'O estado ambiental das águas marinhas', conforme a definição constante do Decreto-
Lei n.º 108/2010, de 13 de outubro, alterado pelos Decretos-Leis n.os 201/2012, de 27 de
agosto, e 136/2013, de 7 de outubro, na medida em que os aspetos do estado ambiental
do meio marinho não estejam já cobertos pela Lei da Água ou legislação complementar;
iii) «Danos causados ao solo» qualquer contaminação do solo que crie um risco
significativo para a saúde humana devido à introdução, directa ou indirecta, no solo ou
à sua superfície, de substâncias, preparações, organismos ou microrganismos;
f) «Emissão» libertação para o ambiente de substâncias, preparações, organismos ou
microrganismos, que resulte de uma actividade humana;
g) «Espécies e habitats naturais protegidos» os habitats e as espécies de flora e fauna
protegidos nos termos da lei;
h) «Estado de conservação de um habitat natural» o somatório das influências que se
exercem sobre um habitat natural e sobre as suas espécies típicas e que podem afectar a
respectiva distribuição natural, estrutura e funções a longo prazo, bem como a
sobrevivência a longo prazo das suas espécies típicas na área de distribuição natural desse
habitat;
i) «Estado de conservação de uma espécie» o somatório das influências que se exercem
sobre uma espécie e que podem afectar a distribuição e a abundância a longo prazo das
suas populações, na área de distribuição natural dessa espécie;
j) «Estado inicial» a situação no momento da ocorrência do dano causado aos recursos
naturais e aos serviços, que se verificaria se o dano causado ao ambiente não tivesse
ocorrido, avaliada com base na melhor informação disponível;
l) «Operador» qualquer pessoa singular ou colectiva, pública ou privada, que execute,
controle, registe ou notifique uma actividade cuja responsabilidade ambiental esteja
sujeita a este decreto-lei, quando exerça ou possa exercer poderes decisivos sobre o
funcionamento técnico e económico dessa mesma actividade, incluindo o titular de uma
licença ou autorização para o efeito;
m) «Medidas de prevenção» quaisquer medidas adoptadas em resposta a um
acontecimento, acto ou omissão que tenha causado uma ameaça iminente de danos
ambientais, destinadas a prevenir ou minimizar ao máximo esses danos;

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n) «Medidas de reparação» qualquer acção, ou conjunto de acções, incluindo medidas
de carácter provisório, com o objectivo de reparar, reabilitar ou substituir os recursos
naturais e os serviços danificados ou fornecer uma alternativa equivalente a esses
recursos ou serviços, tal como previsto no anexo V ao presente decreto-lei, do qual faz
parte integrante;
o) «Recurso natural» as espécies e habitats naturais protegidos, a água e o solo;
p) «Regeneração dos recursos naturais», incluindo a «regeneração natural», no caso
das águas, das espécies e dos habitats naturais protegidos, o regresso dos recursos
naturais e dos serviços danificados ao seu estado inicial, e no caso dos danos causados
ao solo, a eliminação de quaisquer riscos significativos que afectem adversamente a
saúde humana;
q) «Serviços» e «serviços de recursos naturais» funções desempenhadas por um recurso
natural em benefício de outro recurso natural ou do público.
2 — Para efeitos do disposto na alínea h) do número anterior, o estado de conservação
de um habitat natural é considerado favorável quando:
a) A sua área natural e as superfícies abrangidas forem estáveis ou estiverem a aumentar;
b) A estrutura e funções específicas necessárias para a sua manutenção a longo prazo
existirem e forem susceptíveis de continuar a existir num futuro previsível;
c) O estado de conservação das suas espécies típicas for favorável, tal como definido no
número seguinte.
3 — Para efeitos do disposto na alínea i) do número anterior o estado de conservação de
uma espécie é considerado favorável quando:
a) Os dados relativos à dinâmica populacional da espécie em causa indiquem que esta se
está a manter a longo prazo enquanto componente viável dos seus habitats naturais;
b) A área natural da espécie não se esteja a reduzir e não seja provável que se venha a
reduzir num futuro previsível;
c) Exista, e continue provavelmente a existir, um habitat suficientemente amplo para
manter as suas populações a longo prazo.

Nos termos do art.º 3.º, al. m), do regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de setembro,
última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), a “eliminação” consiste em “qualquer operação que não
seja de valorização, nomeadamente as incluídas no anexo i do presente decreto-lei, ainda que se verifique
como consequência secundária a recuperação de substâncias ou de energia”.

Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. x), do regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de
setembro, última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), a “prevenção” consiste na “adoção de medidas
antes de uma substância, material ou produto assumir a natureza de resíduo, destinadas a reduzir”:
I) a quantidade de resíduos produzidos, designadamente através da reutilização de produtos ou do
prolongamento do tempo de vida dos produtos; II) os impactes adversos no ambiente e na saúde humana
resultantes dos resíduos produzidos; ou III) o teor de substâncias nocivas presentes nos materiais e nos
produtos”

SECÇÃO II
Obrigações de prevenção e reparação dos danos ambientais

Artigo 12.º
Responsabilidade objectiva

1 — O operador que, independentemente da existência de dolo ou culpa, causar um


dano ambiental em virtude do exercício de qualquer das actividades ocupacionais
enumeradas no anexo III do presente decreto-lei ou uma ameaça iminente daqueles
danos em resultado dessas actividades, é responsável pela adopção de medidas de

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prevenção e reparação dos danos ou ameaças causados, nos termos dos artigos
seguintes.
2 — O disposto no número anterior não prejudica a responsabilidade a que haja lugar nos
termos definidos no capítulo anterior.

Nos termos do art.º 11.º, al. m), da Lei da responsabilidade ambiental (Decreto-Lei n.º 147/2008, de 29 de
julho), “medidas de prevenção” são “quaisquer medidas adotadas em resposta a um acontecimento, ato
ou omissão que tenha causado uma ameaça iminente de danos ambientais, destinadas a prevenir ou
minimizar ao máximo esses danos”.

Nos termos do art.º 11.º, al. n), da Lei da responsabilidade ambiental (Decreto-Lei n.º 147/2008, de 29 de
julho), “medidas de reparação” são qualquer ação, ou conjunto de ações, incluindo medidas de carácter
provisório, com o objetivo de reparar, reabilitar ou substituir os recursos naturais e os serviços danificados
ou fornecer uma alternativa equivalente a esses recursos ou serviços, tal como previsto no anexo V ao
presente decreto-lei, do qual faz parte integrante”

Artigo 13.º
Responsabilidade subjectiva

1 — O operador que, com dolo ou negligência, causar um dano ambiental em virtude


do exercício de qualquer actividade ocupacional distinta das enumeradas no anexo III ao
presente decreto-lei ou uma ameaça iminente daqueles danos em resultado dessas
actividades, é responsável pela adopção de medidas de prevenção e reparação dos danos
ou ameaças causados, nos termos dos artigos seguintes.
2 — O disposto no número anterior não prejudica a responsabilidade a que haja lugar nos
termos definidos no capítulo anterior.

Artigo 14.º
Medidas de prevenção

1 — Quando se verificar uma ameaça iminente de danos ambientais o operador


responsável nos termos dos artigos 12.º e 13.º do presente decreto-lei adopta, imediata
e independentemente de notificação, requerimento ou acto administrativo prévio, as
medidas de prevenção necessárias e adequadas.
2 — Quando ocorra um dano ambiental causado pelo exercício de qualquer actividade
ocupacional, o operador adopta as medidas que previnam a ocorrência de novos danos,
independentemente de estar ou não obrigado a adoptar medidas de reparação nos termos
do presente decreto-lei.
3 — A determinação das medidas de prevenção de danos ou de prevenção de novos danos
realiza -se de acordo com os critérios constantes das alíneas a) a f) do n.º 1.3.1 do anexo
V ao presente decreto-lei.
4 — Os operadores informam obrigatória e imediatamente a autoridade competente de
todos os aspectos relacionados com a existência da ameaça iminente de danos ambientais
verificada, das medidas de prevenção adoptadas e do sucesso destas medidas da
prevenção do dano.
5 — Sem prejuízo do disposto no número anterior, a autoridade competente, pode em
qualquer momento:
a) Exigir que o operador forneça informações sobre a ameaça iminente de danos
ambientais, ou suspeita dessa ameaça;
b) Exigir que o operador adopte as medidas de prevenção necessárias;
c) Dar ao operador instruções obrigatórias quanto às medidas de prevenção necessárias,
ou se for o caso, revoga-las;

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d) Executar, subsidiariamente e a expensas do operador responsável, as medidas de
prevenção necessárias, designadamente quando, não obstante as medidas que o operador
tenha adoptado, a ameaça iminente de dano ambiental não tenha desaparecido ou, ainda,
quando a gravidade e as consequências dos eventuais danos assim o justifiquem.
6 — Sempre que se verifique a ameaça iminente de um dano ambiental que possa afectar
a saúde pública, a autoridade competente informa a autoridade de saúde regional ou
nacional, consoante o âmbito do dano.

Nos termos do art.º 11.º, al. m), da Lei da responsabilidade ambiental (Decreto-Lei n.º 147/2008, de 29 de
julho), “medidas de prevenção” são “quaisquer medidas adotadas em resposta a um acontecimento, ato
ou omissão que tenha causado uma ameaça iminente de danos ambientais, destinadas a prevenir ou
minimizar ao máximo esses danos”.

Artigo 15.º
Medidas de reparação

1 — Sempre que ocorram danos ambientais, o operador responsável nos termos dos
artigos 12.º e 13.º do presente decreto-lei:
a) Informa obrigatoriamente e no prazo máximo de vinte e quatro horas a autoridade
competente de todos os factos relevantes dessa ocorrência e mantém actualizada a
informação prestada;
b) Adopta imediatamente e sem necessidade de notificação ou acto administrativo
prévio todas as medidas viáveis para imediatamente controlar, conter, eliminar ou
gerir os elementos contaminantes pertinentes e quaisquer outros factores danosos,
de forma a limitar ou prevenir novos danos ambientais, efeitos adversos para a
saúde humana ou novos danos aos serviços;
c) Adopta as medidas de reparação necessárias, de acordo com o disposto no artigo
seguinte.
2 — A adopção das medidas de reparação exigíveis nos termos do presente decreto-lei
é obrigatória, mesmo quando não hajam sido cumpridas as obrigações de prevenção
estabelecidas no artigo anterior.
3 — Sem prejuízo do disposto nos números anteriores, a autoridade competente pode, em
qualquer momento:
a) Exigir que o operador forneça informações suplementares sobre os danos ocorridos;
b) Recolher, mediante uma inspecção, um inquérito ou qualquer outro meio adequado, as
informações necessárias para uma análise completa do acidente ao nível técnico,
organizativo e de gestão, com a colaboração de outras entidades públicas com atribuições
no domínio do ambiente, sempre que necessário;
c) Adoptar, dar instruções ou exigir ao operador que adopte todas as medidas viáveis para
imediatamente controlar, conter, eliminar ou de outra forma gerir os elementos
contaminantes pertinentes e quaisquer outros factores danosos, para limitar ou prevenir
novos danos ambientais e efeitos adversos para a saúde humana ou novos danos aos
serviços;
d) Exigir que o operador adopte as medidas de reparação necessárias;
e) Dar instruções obrigatórias ao operador quanto às medidas de reparação necessárias;
f) Executar subsidiariamente, a expensas do sujeito responsável, as medidas de reparação
necessárias quando a gravidade e as consequências dos danos assim o exijam.

Nos termos do art.º 11.º, al. n), da Lei da responsabilidade ambiental (Decreto-Lei n.º 147/2008, de 29 de
julho), “medidas de reparação” são qualquer ação, ou conjunto de ações, incluindo medidas de carácter
provisório, com o objetivo de reparar, reabilitar ou substituir os recursos naturais e os serviços danificados

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ou fornecer uma alternativa equivalente a esses recursos ou serviços, tal como previsto no anexo V ao
presente decreto-lei, do qual faz parte integrante”

Artigo 16.º
Determinação das medidas de reparação

1 — O operador submete à autoridade competente, no prazo de 10 dias a contar da data


da ocorrência do dano, uma proposta de medidas de reparação dos danos ambientais
causados, nos termos do anexo II ao presente decreto-lei, excepto se esta já as tiver
definido ou executado nos termos previstos nos números seguintes.
2 — Após prévia audiência ao operador e às restantes partes interessadas, incluindo os
proprietários dos terrenos onde se devam aplicar as medidas de reparação, a autoridade
competente fixa as medidas de reparação a aplicar, nos termos do disposto no anexo V ao
presente decreto-lei, e notifica os interessados da sua decisão.
3 — Quando se verifiquem simultaneamente diversos danos ambientais e sendo
impossível assegurar que as medidas de reparação necessárias sejam adoptadas
simultaneamente, a autoridade competente determina a ordem de prioridades que deve
ser observada, atendendo, nomeadamente, à natureza, à extensão e à gravidade de cada
dano ambiental, bem como às possibilidades de regeneração natural, sendo em qualquer
caso, prioritária a aplicação das medidas destinadas à eliminação de riscos para a saúde
humana.
4 — A autoridade competente pode solicitar a outras entidades públicas com atribuições
na área do ambiente ou em outras áreas relevantes em função do sector de actividade e
do tipo de danos que participem na fixação das medidas de reparação, devendo estas
prestar obrigatoriamente o auxílio solicitado com a maior brevidade possível.

Nos termos do art.º 11.º, al. n), da Lei da responsabilidade ambiental (Decreto-Lei n.º 147/2008, de 29 de
julho), “medidas de reparação” são qualquer ação, ou conjunto de ações, incluindo medidas de carácter
provisório, com o objetivo de reparar, reabilitar ou substituir os recursos naturais e os serviços danificados
ou fornecer uma alternativa equivalente a esses recursos ou serviços, tal como previsto no anexo V ao
presente decreto-lei, do qual faz parte integrante”

Artigo 17.º
Actuação directa da autoridade competente

1 — A autoridade competente pode em último recurso executar ela própria as


medidas de prevenção e reparação previstas no presente decreto-lei, quando:
a) O operador incumpra as obrigações resultantes do n.º 1 e das alíneas c), d) e e) do
n.º 3 do artigo 15.º;
b) Não seja possível identificar o operador responsável;
c) O operador não seja obrigado a suportar os custos, nos termos do presente decreto-
lei.
2 — Em casos de situações extremas para pessoas e bens, a autoridade competente
pode actuar sem necessidade de adopção dos procedimentos previstos no presente
decreto-lei para fixar as medidas de prevenção ou reparação necessárias ou para exigir a
sua adopção.
3 — Nos casos a que se referem os números anteriores, a autoridade competente fixa os
montantes dos custos das medidas adoptadas e identifica o responsável pelo seu
pagamento, podendo recuperá-los em regresso.

Artigo 18.º

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Pedido de intervenção

1 — Todos os interessados podem apresentar à autoridade competente observações


relativas a situações de danos ambientais, ou de ameaça iminente desses danos, de que
tenham tido conhecimento e têm o direito de pedir a sua intervenção nos termos do
presente decreto-lei, apresentando com esse pedido os dados e informações relevantes de
que disponham.
2 — Para efeitos do disposto no número anterior, considera-se interessado qualquer
pessoa singular ou colectiva que:
a) Seja afectada ou possa vir a ser afectada por danos ambientais; ou
b) Tenha um interesse suficiente no processo de decisão ambiental relativo ao dano
ambiental ou ameaça iminente do dano em causa; ou
c) Invoque a violação de um direito ou de um interesse legítimo protegido nos termos
da lei.
3 — A autoridade competente pode solicitar a apresentação de dados e informações
complementares sempre que os elementos fornecidos inicialmente suscitem dúvidas.
4 — A autoridade competente afere da viabilidade do pedido de intervenção a que se
refere o n.º 1 no prazo de 20 dias, determinando, designadamente, se existe um dano
ambiental e se assiste legitimidade ao requerente do pedido de intervenção, e comunica
às partes interessadas o respectivo deferimento ou indeferimento.
5 — Deferido o pedido de intervenção, a autoridade competente notifica o operador em
causa para que se pronuncie, no prazo de 10 dias, sobre o pedido de intervenção e as
observações que o acompanham.
6 — Depois de ouvido o operador em causa, a autoridade competente decide as medidas
a adoptar nos termos do presente decreto-lei, ouvida a autoridade de saúde
territorialmente competente quando esteja em causa a saúde pública.

Artigo 19.º
Custos das medidas de prevenção e reparação

1 — Os custos das medidas de prevenção e reparação adoptadas em virtude do disposto


no presente decreto-lei são suportados pelo operador.
2 — A autoridade competente exige ao operador, nomeadamente através de garantias
sobre bens imóveis ou de outras garantias adequadas, o pagamento dos custos que tiver
suportado com as medidas de prevenção ou reparação adoptadas em virtude do presente
decreto-lei.
3 — O direito de recuperação dos custos a que se refere o número anterior prescreve no
prazo de cinco anos a contar da data da conclusão das medidas adoptadas, excepto se a
identificação dos operadores ou dos terceiros responsáveis ocorrer posteriormente, caso
em que a contagem do prazo se inicia a partir dessa data.
4 — A autoridade competente pode decidir não recuperar integralmente os custos
referidos nos números anteriores quando o custo da recuperação for superior ao montante
a recuperar ou quando o operador não puder ser identificado.
5 — A parte dos custos das medidas de prevenção e reparação não suportada pelo
operador é financiada nos termos do artigo 22.º do presente decreto-lei.

Nos termos do art.º 11.º, al. m), da Lei da responsabilidade ambiental (Decreto-Lei n.º 147/2008, de 29 de
julho), “medidas de prevenção” são “quaisquer medidas adotadas em resposta a um acontecimento, ato
ou omissão que tenha causado uma ameaça iminente de danos ambientais, destinadas a prevenir ou
minimizar ao máximo esses danos”.

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Nos termos do art.º 11.º, al. n), da Lei da responsabilidade ambiental (Decreto-Lei n.º 147/2008, de 29 de
julho), “medidas de reparação” são qualquer ação, ou conjunto de ações, incluindo medidas de carácter
provisório, com o objetivo de reparar, reabilitar ou substituir os recursos naturais e os serviços danificados
ou fornecer uma alternativa equivalente a esses recursos ou serviços, tal como previsto no anexo V ao
presente decreto-lei, do qual faz parte integrante”

Artigo 20.º
Exclusão da obrigação de pagamento

1 — O operador não está obrigado ao pagamento dos custos das medidas de prevenção
ou de reparação adoptadas nos termos do presente decreto-lei, quando demonstre que o
dano ambiental ou a ameaça iminente desse dano:
a) Tenha sido causado por terceiros e ocorrido apesar de terem sido adoptadas as medidas
de segurança adequadas; ou
b) Resulte do cumprimento de uma ordem ou instrução emanadas de uma autoridade
pública que não seja uma ordem ou instrução resultante de uma emissão ou incidente
causado pela actividade do operador.
2 — Sem prejuízo do disposto no número anterior, o operador fica obrigado a adoptar e
executar as medidas de prevenção e reparação dos danos ambientais nos termos do
presente decreto-lei, gozando de direito de regresso, conforme o caso, sobre o terceiro
responsável ou sobre a entidade administrativa que tenha dado a ordem ou instrução.
3 — O operador não está ainda obrigado ao pagamento dos custos das medidas de
prevenção ou de reparação adoptadas nos termos do presente decreto-lei se demonstrar,
cumulativamente, que:
a) Não houve dolo ou negligência da sua parte;
b) O dano ambiental foi causado por:
i) Uma emissão ou um facto expressamente permitido ao abrigo de um dos actos
autorizadores identificados no anexo III ao presente decreto -lei e que respeitou as
condições estabelecidas para o efeito nesse acto autorizador e no regime jurídico aplicável
no momento da emissão ou facto causador do dano ao abrigo do qual o acto administrativo
é emitido ou conferido; ou
ii) Uma emissão, actividade ou qualquer forma de utilização de um produto no decurso
de uma actividade que não sejam consideradas susceptíveis de causar danos ambientais
de acordo com o estado do conhecimento científico e técnico no momento em que se
produziu a emissão ou se realizou a actividade.

Artigo 21.º
Prática de actos por meios electrónicos

1 — Os actos previstos no presente decreto-lei devem ser preferencialmente realizados


em suporte informático e por meios electrónicos.
2 — Os actos são acompanhados de declaração, elaborada e assinada pelo interessado ou
operador, ou por seu legal representante quando se trate de pessoa colectiva, que ateste a
autenticidade das informações prestadas, sendo a assinatura substituída, no caso de acto
apresentado em suporte informático e por meio electrónico, pelos meios de certificação
electrónica disponíveis.
3 — Quando o acto tiver sido realizado em suporte informático e por meio electrónico,
as subsequentes co-municações entre a autoridade competente e o interessado ou
operador no âmbito do respectivo procedimento são realizadas por meios electrónicos.
4 — Incumbe à autoridade competente:

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a) Elaborar formulários dos actos a realizar nos termos do presente decreto -lei e guias
para o seu preenchimento e realização;
b) Manter permanentemente disponível no seu sítio na Internet uma base de dados
contendo esses formulários e guias;
c) Manter de uma plataforma electrónica on -line que permita a realização de todos os
actos previstos no presente artigo, garantindo o seu normal e seguro funcionamento e que
a mesma se encontra em permanente actualizada.

SECÇÃO III
Garantias financeiras

Artigo 22.º
Garantia financeira obrigatória

1 — Os operadores que exerçam as actividades ocupacionais enumeradas no anexo III


constituem obrigatoriamente uma ou mais garantias financeiras próprias e autónomas,
alternativas ou complementares entre si, que lhes permitam assumir a responsabilidade
ambiental inerente à actividade por si desenvolvida.
2 — As garantias financeiras podem constituir -se através da subscrição de apólices de
seguro, da obtenção de garantias bancárias, da participação em fundos ambientais ou da
constituição de fundos próprios reservados para o efeito.
3 — As garantias obedecem ao princípio da exclusividade, não podendo ser desviadas
para outro fim nem objecto de qualquer oneração, total ou parcial, originária ou
superveniente.
4 — Podem ser fixados limites mínimos para os efeitos da constituição das garantias
financeiras obrigatórias, mediante portaria a aprovar pelos membros do Governo
responsáveis pelas áreas das finanças, do ambiente e da economia, nomeadamente
relativos:
a) Ao âmbito de actividades cobertas;
b) Ao tipo de risco que deve ser coberto;
c) Ao período de vigência da garantia;
d) Ao âmbito temporal de aplicação da garantia;
e) Ao valor mínimo que deve ser garantido.
Nota 1: O princípio da responsabilidade ambiental foi desenvolvido por Hans JONAS, em 1979, in: Das
Prinzip Verantwort.ung, Versuch einer Ethik fiir die technologische Zivilisation, Frankfurt/M. O autor
definiu, na pág. 36, o princípio da responsabilidade ambiental nos seguintes termos: “age de maneira a que
as tuas ações não comprometam a existência de uma vida humana autêntica sobre a Terra”.

Artigo 23.º
Fundo de Intervenção Ambiental

1 — Os custos da intervenção pública de prevenção e reparação dos danos ambientais


prevista no presente decreto-lei são suportados pelo Fundo de Intervenção Ambiental,
criado pela Lei n.º 50/2006, de 29 de agosto, abreviadamente designado por FIA, nos
termos do respectivo estatuto.
2 — Sobre as garantias financeiras, obrigatórias ou não, constituídas para assumir a
responsabilidade ambiental inerente a uma actividade ocupacional incide uma taxa, no
montante máximo de 1 % do respectivo valor, destinada a financiar a compensação dos
custos da intervenção pública de prevenção e reparação dos danos ambientais prevista no

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presente decreto-lei, a liquidar pelas entidades seguradoras, bancárias e financeiras que
nelas intervenham.
3 — O montante concreto da taxa referida no número anterior, bem como as suas regras
de liquidação e pagamento, são fixados por portaria a aprovar pelos membros do Governo
responsáveis pelas áreas das finanças, do ambiente e da economia.
4 — O produto da cobrança da taxa referida no n.º 2 constitui receita integral e exclusiva
do FIA.

SECÇÃO IV
Danos transfronteiriços

Artigo 24.º
Danos transfronteiriços

1 — Sempre que ocorra um dano ambiental que afecte ou seja susceptível de afectar o
território de um outro Estado membro da União Europeia, a autoridade competente
informa imediatamente os membros do Governo responsáveis pelas áreas dos negócios
estrangeiros, do ambiente e, quando se justifique, da saúde.2 — Nos casos a que se refere
o número anterior, compete ao membro do Governo responsável pela área do ambiente,
em colaboração com a autoridade competente e através dos serviços competentes do
Ministério dos Negócios Estrangeiros, adoptar as seguintes medidas:
a) Facultar às autoridades competentes dos Estados membros afectados toda a informação
relevante para que estes possam adoptar as medidas que considerem oportunas;
b) Estabelecer os mecanismos de articulação com as autoridades competentes de outros
Estados membros, para facilitar a adopção de todas as medidas de prevenção e reparação
dos danos ambientais.
3 — Sempre que seja identificada em território nacional a ocorrência de um dano
ambiental, ou ameaça iminente do mesmo, que tenha origem em território de outro Estado
membro, compete à autoridade competente adoptar as seguintes medidas:
a) Informar a Comissão Europeia, bem como os demais Estados membros interessados;
b) Formular recomendações de medidas de prevenção ou reparação dirigidas às
autoridades competentes do Estado membro no qual se verifique a origem do dano ou da
ameaça iminente do mesmo;
c) Iniciar procedimento de recuperação dos custos gerados pela adopção das medidas de
prevenção ou reparação em conformidade com o disposto no presente decreto-lei.

Nos termos do art.º 11.º, al. m), da Lei da responsabilidade ambiental (Decreto-Lei n.º 147/2008, de 29 de
julho), “medidas de prevenção” são “quaisquer medidas adotadas em resposta a um acontecimento, ato
ou omissão que tenha causado uma ameaça iminente de danos ambientais, destinadas a prevenir ou
minimizar ao máximo esses danos”.

CAPÍTULO IV
Fiscalização e regime contraordenacional

Artigo 25.º
Fiscalização

1 — A fiscalização do cumprimento do disposto no capítulo anterior é exercida pela


Inspecção-Geral do Ambiente e do Ordenamento do Território, abreviadamente
designada por IGAOT, pela autoridade competente e pelo Serviço de Protecção da

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Natureza e do Ambiente da Guarda Nacional Republicana, sem prejuízo das
atribuições próprias atribuídas por lei a outras entidades.
2 — As autoridades policiais prestam toda a colaboração necessária aos restantes
serviços de fiscalização.

Nota: no caso do n.º 2, deste art.º 25.º, as autoridades policiais (leia-se: forças policiais) são chamadas
como órgãos auxiliares de execução coativa, pelo seu especial treino, equipamento e permanente
disponvilidade (as 24h do dia). Neste caso, em geral, as forças policiais atuam sob a direção da autoridade
solicitante, salvo quanto à forma técnica de intervir, domínio em que as forças policiais têm autonomia. Cf.
também o art.º 13.º, n.º 2, al. a), do Regime jurídico das CCDRs.

Artigo 26.º
Contraordenações

1 — Constitui contra-ordenação ambiental muito grave:


a) A não adopção das medidas de prevenção exigidas pela autoridade competente ao
operador, nos termos da alínea b) do n.º 5 do artigo 14.º, quando dessa não adopção
resultar a produção do dano que se deveria evitar;
b) O incumprimento das instruções dadas pela autoridade competente nos termos da
alínea c) do n.º 5 do artigo 14.º, quando desse incumprimento resultar a produção do dano
que se pretendia evitar;
c) A não adopção das medidas de reparação exigidas pela autoridade competente ao
operador, nos termos dos artigos 15.º e 16.º, quando essa não adopção comprometer a
eficácia reparadora dessas medidas;
d) O incumprimento das instruções dadas pela autoridade competente nos termos dos
artigos 15.º e 16.º, quando esse incumprimento comprometer a eficácia reparadora dessas
medidas;
e) O incumprimento pelo operador do dever de informar a autoridade competente da
existência de um dano ambiental ou de uma ameaça eminente de um dano de que tenha
conhecimento, quando tenha como consequência a produção ou o agravamento do dano;
f) A inexistência de garantia financeira obrigatória válida e em vigor, quando a sua
constituição seja exigível nos termos do artigo 22.º
2 — Constitui contraordenação ambiental grave:
a) A não adopção de medidas de prevenção nos termos do n.º 1 do artigo 14.º;
b) A não adopção de medidas de prevenção nos termos do n.º 2 do artigo 14.º;
c) A não adopção das medidas de prevenção exigidas pela autoridade competente ao
operador, nos termos da alínea b) do n.º 5 do artigo 14.º, quando não constitua contra -
ordenação muito grave nos termos da alínea a) do número anterior;
d) O incumprimento das instruções dadas pela autoridade competente nos termos da
alínea c) do n.º 5 do artigo 14.º, quando não constitua contra -ordenação muito grave
nos termos da alínea b) do número anterior;
e) A não adopção das medidas previstas na alínea b) do n.º 1 do artigo 15.º;
f) A não adopção das medidas de reparação exigidas pela autoridade competente ao
operador, nos termos dos artigos 15.º e 16.º, quando não constitua contra -ordenação
muito grave nos termos da alínea c) do número anterior;
g) O incumprimento das instruções dadas pela autoridade competente nos termos dos
artigos 15. e 16.º, quando não constitua contra-ordenação muito grave nos termos da
alínea d) do número anterior;
h) O incumprimento pelo operador do dever de informar a autoridade competente da
existência de um dano ambiental ou de uma ameaça eminente de um dano de que tenha

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conhecimento, quando não constitua contra-ordenação muito grave nos termos da
alínea e) do número anterior;
i) O cumprimento não imediato pelo operador do dever de informar a autoridade
competente da existência de um dano ambiental ou de uma ameaça eminente de um dano
de que tenha conhecimento, nos termos do n.º 4 do artigo 14.º e da alínea a) do n.º 1 do
artigo 15.º, quando tenha como consequência a produção ou o agravamento do dano;
j) O não fornecimento da informação requerida pela autoridade competente ao operador,
nos termos dos artigos 14.º e 15.º;
l) O fornecimento da informação requerida pela autoridade competente ao operador, nos
termos dos artigos 14.º e 15.º, depois de decorrido o prazo fixado pela autoridade
competente e quando desse atraso resultar a produção ou o agravamento do dano.
3 — Constitui contra -ordenação ambiental leve:
a) O cumprimento não imediato pelo operador do dever de informar a autoridade
competente da existência de um dano ambiental ou de uma ameaça eminente de um dano
de que tenha conhecimento, nos termos do n.º 4 do artigo 14.º e da alínea a) do n.º 1 do
artigo 15.º, quando não constitua contra -ordenação grave nos termos da alínea i) do
número anterior;
b) O fornecimento da informação requerida pela autoridade competente ao operador, nos
termos dos artigos 14.º e 15.º, depois de decorrido o prazo fixado pela autoridade
competente, quando não constitua contra -ordenação grave nos termos da alínea l) do
número anterior;
c) A não apresentação do projecto de medidas de reparação dos danos ambientais
causados, nos termos da alínea c) do n.º 1 do artigo 15.º

Nos termos do art.º 11.º, al. m), da Lei da responsabilidade ambiental (Decreto-Lei n.º 147/2008, de 29 de
julho), “medidas de prevenção” são “quaisquer medidas adotadas em resposta a um acontecimento, ato
ou omissão que tenha causado uma ameaça iminente de danos ambientais, destinadas a prevenir ou
minimizar ao máximo esses danos”.

Artigo 27.º
Sanções acessórias e apreensão cautelar

1 — Sempre que a gravidade da infracção o justifique, pode a autoridade competente,


simultaneamente com a coima, determinar a aplicação das sanções acessórias que se
mostrem adequadas, nos termos previstos na Lei n.º 50/2006, de 29 de agosto.
2 — Pode ser objecto de publicidade, nos termos do disposto no artigo 38.º da Lei n.º
50/2006, de 29 de agosto, a condenação pela prática das infracções muito graves previstas
no n.º 1 do artigo anterior, bem como pela prática das infracções graves previstas no n.º
2 do mesmo artigo quando a medida concreta da coima aplicada ultrapasse metade do
montante máximo da coima abstracta aplicável.
3 — A autoridade administrativa pode ainda, sempre que necessário, determinar a
apreensão provisória de bens e documentos, nos termos previstos no artigo 42.º da Lei n.º
50/2006, de 29 de agosto.

Artigo 28.º
Instrução dos processos e aplicação das coimas

1 — Compete às entidades fiscalizadoras, com excepção das autoridades policiais,


instruir os processos relativos às contra -ordenações referidas nos artigos anteriores e
decidir da aplicação da coima e sanções acessórias.

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2 — Quando a entidade autuante não tenha competência para instruir o processo, o mesmo
é instruído e decidido pela IGAOT.

CAPÍTULO V
Disposições complementares, finais e transitórias

Artigo 29.º
Autoridade competente

A autoridade competente para efeitos de aplicação do presente decreto-lei é a Agência


Portuguesa para o Ambiente.

Artigo 30.º
Prevalência

1 — A efectivação de responsabilidade nos termos do capítulo III do presente decreto-lei


prejudica o dever de reposição resultante de qualquer processo contraordenacional,
relativamente aos mesmos factos que lhes estejam na origem.
2 — Os procedimentos de responsabilidade ambiental e contraordenacional a que haja
lugar relativamente aos mesmos factos correm em separado.
3 — Sem prejuízo do disposto no número anterior, os elementos probatórios produzidos
no âmbito de um dos procedimentos podem ser aproveitados no âmbito de outro
procedimento a pedido de qualquer uma das partes.

Artigo 31.º
Relatório

A autoridade competente elabora e apresenta à Comissão Europeia, até 30 de Abril de


2013, um relatório sobre a experiência obtida com a aplicação do presente decreto--lei
que deve incluir os dados e informações constantes do anexo VI ao presente decreto -lei
e que dele faz parte integrante.

Artigo 32.º
Contagem dos prazos

Os prazos previstos no presente decreto-lei são contínuos, não se suspendendo em


qualquer circunstância.

Artigo 33.º
Prescrição

Consideram-se prescritos os danos causados por quaisquer emissões, acontecimentos ou


incidentes que hajam decorrido há mais de 30 anos sobre a efectivação do mesmo.

Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. p) do regime da prevenção e controlo das emissões de poluentes para o ar
(aprovado pelo Decreto-Lei n.º 39/2018, de 11 de junho) “emissão” consiste na “descarga na atmosfera de
substâncias provenientes de fontes pontuais ou difusas com origem numa instalação”.

Artigo 34.º
Exigibilidade da garantia financeira obrigatória

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A garantia financeira obrigatória a que se refere o artigo 22.º do presente decreto-lei só é
exigível a partir de 1 de Janeiro de 2010.

Artigo 35.º
Aplicação no tempo

O disposto no capítulo III do presente decreto-lei não se aplica aos danos:


a) Causados por quaisquer emissões, acontecimentos ou incidentes, anteriores à data de
entrada em vigor do presente decreto-lei;
b) Causados por quaisquer emissões, acontecimentos ou incidentes, que tenham ocorrido
após a entrada em vigor do presente decreto-lei, mas decorram de uma actividade
específica realizada e concluída antes da referida data.

Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. p) do regime da prevenção e controlo das emissões de poluentes para o ar
(aprovado pelo Decreto-Lei n.º 39/2018, de 11 de junho) “emissão” consiste na “descarga na atmosfera de
substâncias provenientes de fontes pontuais ou difusas com origem numa instalação”.

Artigo 36.º
Regiões Autónomas

O presente decreto-lei aplica -se às Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, sem
prejuízo das necessárias adaptações à estrutura própria dos órgãos das respectivas
administrações regionais.

Artigo 37.º
Entrada em vigor

O presente decreto -lei entra em vigor no 1.º dia útil do mês seguinte ao da sua publicação.
Visto e aprovado em Conselho de Ministros de 5 de Junho de 2008. — José Sócrates
Carvalho Pinto de Sousa — Luís Filipe Marques Amado — Fernando Teixeira dos Santos
— Alberto Bernardes Costa — Francisco Carlos da Graça Nunes Correia —Manuel
António Gomes de Almeida de Pinho — Ana Maria Teodoro Jorge.
Promulgado em 15 de Julho de 2008.Publique -se.
O Presidente da República, ANÍBAL CAVACO SILVA.
Referendado em 18 de Julho de 2008.
O Primeiro -Ministro, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.

REGIME DE ACESSO À

INFORMAÇÃO ADMINISTRATIVA E AMBIENTAL (RAIAA)

Lei n.º 26/2016, de 22 de agosto (última alteração: Lei n.º 68/2021, de 26 de agosto)

Aprova o regime de acesso à informação administrativa e ambiental e de reutilização


dos documentos administrativos, transpondo a Diretiva 2003/4/CE, do Parlamento
Europeu e do Conselho, de 28 de janeiro, e a Diretiva 2003/98/CE, do Parlamento

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Europeu e do Conselho, de 17 de novembro.
A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da
Constituição, o seguinte:

CAPÍTULO I
Disposições gerais

Artigo 1.º
Objeto

1 - A presente lei regula o acesso aos documentos administrativos e à informação


administrativa, incluindo em matéria ambiental, transpondo para a ordem jurídica interna
aDiretiva 2003/4/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 28 de janeiro de 2003,
relativa ao acesso do público às informações sobre ambiente e que revoga a Diretiva
90/313/CEE do Conselho. 2 - A presente lei regula ainda a reutilização de documentos
relativos a atividades desenvolvidas pelos órgãos e entidades referidas no artigo 4.º,
transpondo para a ordem jurídica interna a Diretiva (EU) 2019/1024 do Parlamento
Europeu e do Conselho, de 20 de junho de 2019, relativa aos dados abertos e à reutilização
de informações do sector público
3 - O acesso a informação e a documentos nominativos, nomeadamente quando incluam
dados de saúde, produzidos ou detidos pelos órgãos ou entidades referidos no artigo 4.º,
quando efetuado pelo titular dos dados, por terceiro autorizado pelo titular ou por quem
demonstre ser titular de um interesse direto, pessoal, legítimo e constitucionalmente
protegido na informação, rege-se pela presente lei, sem prejuízo do regime legal de
proteção de dados pessoais
4 - A presente lei não prejudica a aplicação do disposto em legislação específica,
designadamente quanto:
a) Ao regime de exercício do direito dos cidadãos a serem informados pela Administração
Pública sobre o andamento dos processos em que sejam diretamente interessados e a
conhecer as resoluções definitivas que sobre eles forem tomadas, que se rege pelo Código
do Procedimento Administrativo;
b) Ao acesso a informação e a documentos relativos à segurança interna e externa e à
investigação criminal, ou à instrução tendente a aferir a responsabilidade
contraordenacional, financeira, disciplinar ou meramente administrativa, que se rege por
legislação própria;
c) Ao acesso a documentos notariais e registrais, a documentos de identificação civil e
criminal, a informação e documentação constantes do recenseamento eleitoral, bem como
ao acesso a documentos objeto de outros sistemas de informação regulados por legislação
especial;
d) Ao acesso a informação e documentos abrangidos pelo segredo de justiça, segredo
fiscal, segredo estatístico, segredo bancário, segredo médico e demais segredos
profissionais, bem como a documentos na posse de inspeções-gerais e de outras entidades,
quando digam respeito a matérias de que resulte responsabilidade financeira, disciplinar
ou meramente administrativa, desde que o procedimento esteja sujeito a regime de
segredo, nos termos da lei aplicável.

Artigo 2.º
Princípio da administração aberta

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1 - O acesso e a reutilização da informação administrativa são assegurados de acordo
com os demais princípios da atividade administrativa, designadamente os princípios da
igualdade, da proporcionalidade, da justiça, da imparcialidade e da colaboração com os
particulares.
2 - A informação pública relevante para garantir a transparência da atividade
administrativa, designadamente a relacionada com o funcionamento e controlo da
atividade pública, é divulgada ativamente, de forma periódica e atualizada, pelos
respetivos órgãos e entidades.
3 - Na divulgação de informação e na disponibilização de informação para reutilização
através da Internet deve assegurar-se a sua compreensibilidade, o acesso livre e
universal, bem como a acessibilidade, a interoperabilidade, a qualidade, a integridade e
a autenticidade dos dados publicados e ainda a sua identificação e localização.

Artigo 3.º
Definições

1 - Para efeitos da presente lei, considera-se:


a) «Documento administrativo» qualquer conteúdo, ou parte desse conteúdo, que esteja
na posse ou seja detido em nome dos órgãos e entidades referidas no artigo seguinte,
seja o suporte de informação sob forma escrita, visual, sonora, eletrónica ou outra forma
material, neles se incluindo, designadamente, aqueles relativos a;
i) Procedimentos de emissão de atos e regulamentos administrativos;
ii) Procedimentos de contratação pública, incluindo os contratos celebrados;
iii) Gestão orçamental e financeira dos órgãos e entidades;
iv) Gestão de recursos humanos, nomeadamente os dos procedimentos de recrutamento,
avaliação, exercício do poder disciplinar e quaisquer modificações das respetivas
relações jurídicas.
b) «Documento nominativo» o documento que contenha dados pessoais, na aceção do
regime jurídico de proteção das pessoas singulares no que diz respeito ao tratamento de
dados pessoais e à livre circulação desses dados;
c) «Formato aberto» um formato de dados disponibilizado ao público e reutilizável,
independentemente da plataforma utilizada, nos termos do regime jurídico que
estabelece a adoção de normas abertas nos sistemas informáticos do Estado;
d) «Formato legível por máquina» um formato de ficheiro estruturado de modo a ser
possível, por meio de aplicações de software, nele identificar, reconhecer e extrair dados
específicos, incluindo declarações de facto, bem como a sua estrutura interna;
e) «Informação ambiental» quaisquer informações de natureza administrativa, sob
forma escrita, visual, sonora, eletrónica ou outra forma material, relativas:
i) Ao estado dos elementos do ambiente, como o ar e a atmosfera, a água, o solo, a
terra, a paisagem e as áreas de interesse natural, incluindo as zonas húmidas, as zonas
litorais e marinhas, a diversidade biológica e seus componentes, incluindo os
organismos geneticamente modificados, e a interação entre esses elementos;
ii) A fatores como as substâncias, a energia, o ruído, as radiações ou os resíduos,
incluindo os resíduos radioativos, emissões, descargas e outras libertações para o
ambiente, que afetem ou possam afetar os elementos do ambiente referidos na alínea
anterior;
iii) A medidas políticas, legislativas e administrativas, designadamente planos,
programas, acordos ambientais e ações que afetem ou possam afetar os elementos ou
fatores referidos nas subalíneas anteriores, bem como medidas ou ações destinadas à sua
proteção;

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iv) A relatórios sobre a implementação da legislação ambiental;
v) A análises custo-benefício e outras avaliações e cenários económicos utilizados no
âmbito das medidas e atividades, em matéria ambiental, referidas na subalínea iii);
vi) Ao estado da saúde e à segurança das pessoas, incluindo designadamente a
contaminação da cadeia alimentar, as condições de vida, os locais de interesse cultural e
construções, na medida em que sejam ou possam ser afetados pelo estado dos elementos
referidos na subalínea i), ou, através desses elementos, pelos fatores ou medidas
referidas nas subalíneas ii) e iii);
f) «Norma formal aberta» uma norma estabelecida em forma escrita, que pormenoriza
especificações no que diz respeito aos requisitos para assegurar a interoperabilidade de
software;
g) «Reutilização» a utilização, por pessoas singulares ou coletivas, de documentos
administrativos ou dados na posse dos órgãos e entidades referidos no artigo seguinte,
ou detidos em nome destes, para fins comerciais ou não comerciais diferentes do fim
inicial para o qual os documentos foram produzidos.
h) 'Anonimização', o processo de transformar informações, dados ou documentos,
qualquer que seja a sua forma ou formato, de modo a que não possam revelar pessoa
singular identificada ou identificável neles referida, ou o processo de tornar anónimos os
dados pessoais, por forma a que a pessoa em causa não seja ou deixe de ser identificável;
i) 'Conjuntos de dados de elevado valor', documentos ou dados identificados por atos de
execução da Comissão Europeia cuja reutilização está associada a importantes benefícios
socioeconómicos;
j) 'Dados abertos', dados em formato aberto que podem ser utilizados, reutilizados e
partilhados por qualquer pessoa e para qualquer finalidade, nos termos da presente lei e
demais legislação sobre acesso à informação e documentos administrativos;
k) 'Dados dinâmicos', documentos ou dados em formato digital, sujeitos a atualizações
frequentes ou em tempo real, em particular devido à sua volatilidade ou rápida
obsolescência, como os dados gerados por sensores;
l) 'Dados de investigação', documentos ou dados em formato digital, com exceção das
publicações científicas, que são recolhidos ou produzidos no decurso de atividades de
investigação científica e utilizados como elementos de prova no processo de investigação,
ou que são geralmente considerados na comunidade de investigação como necessários
para validar os resultados da investigação.2 - Não se consideram documentos
administrativos, para efeitos da presente lei:
a) As notas pessoais, esboços, apontamentos, comunicações eletrónicas pessoais e outros
registos de natureza semelhante, qualquer que seja o seu suporte;
b) Os documentos cuja elaboração não releve da atividade administrativa,
designadamente aqueles referentes à reunião do Conselho de Ministros e ou à reunião de
Secretários de Estado, bem como à sua preparação;
c) Os documentos produzidos no âmbito das relações diplomáticas do Estado português.

Artigo 4.º
Âmbito de aplicação subjectivo

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1 - A presente lei aplica-se aos seguintes órgãos e entidades:
a) Órgãos de soberania e os órgãos do Estado e das regiões autónomas que integrem a
Administração Pública;
b) Demais órgãos do Estado e das regiões autónomas, na medida em que exerçam
funções materialmente administrativas;
c) Órgãos dos institutos públicos, das entidades administrativas independentes e das
associações e fundações públicas;
d) Órgãos das empresas públicas;
e) Órgãos das autarquias locais, das entidades intermunicipais e de quaisquer outras
associações e federações públicas locais;
f) Órgãos das empresas regionais, municipais, intermunicipais ou metropolitanas, bem
como de quaisquer outras empresas locais ou serviços municipalizados públicos;
g) Associações ou fundações de direito privado nas quais os órgãos e entidades
previstas no presente número exerçam poderes de controlo de gestão ou designem,
direta ou indiretamente, a maioria dos titulares do órgão de administração, de direção ou
de fiscalização;
h) Outras entidades responsáveis pela gestão de arquivos com caráter público;
i) Outras entidades no exercício de funções materialmente administrativas ou de poderes
públicos, nomeadamente as que são titulares de concessões ou de delegações de
serviços públicos.
2 - As disposições da presente lei são ainda aplicáveis aos documentos detidos ou
elaborados por quaisquer entidades dotadas de personalidade jurídica que tenham sido
criadas para satisfazer de um modo específico necessidades de interesse geral, sem
caráter industrial ou comercial, e em relação às quais se verifique uma das seguintes
circunstâncias:
a) A respetiva atividade seja maioritariamente financiada por alguma das entidades
referidas no número anterior ou no presente número;
b) A respetiva gestão esteja sujeita a um controlo por parte de alguma das entidades
referidas no número anterior ou no presente número;
c) Os respetivos órgãos de administração, de direção ou de fiscalização sejam
compostos, em mais de metade, por membros designados por alguma das entidades
referidas no número anterior ou no presente número.
3 - Ainda que já não integrem o seu âmbito de aplicação subjetivo, a presente lei aplica-
se ainda às entidades que preencheram os requisitos referidos nos números anteriores
em momento anterior, relativamente aos documentos correspondentes a esse período.
4 - As disposições relativas ao acesso a informação ambiental aplicam-se ainda a:
a) Qualquer pessoa singular ou coletiva, de natureza pública ou privada, que pertença à
administração indireta dos órgãos ou entidades referidas nos números anteriores e que
tenha atribuições ou competências, exerça funções administrativas públicas ou preste
serviços públicos relacionados com o ambiente, nomeadamente entidades públicas
empresariais, empresas participadas e empresas concessionárias;
b) Qualquer pessoa singular ou coletiva que detenha ou materialmente mantenha
informação ambiental em nome ou por conta de qualquer dos órgãos ou entidades
referidas nos números anteriores.

Artigo 5.º
Direito de acesso

1 - Todos, sem necessidade de enunciar qualquer interesse, têm direito de acesso aos
documentos administrativos, o qual compreende os direitos de consulta, de reprodução e

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de informação sobre a sua existência e conteúdo.
2 - O direito de acesso realiza-se independentemente da integração dos documentos
administrativos em arquivo corrente, intermédio ou definitivo.

Artigo 6.º
Restrições ao direito de acesso

1 - Os documentos que contenham informações cujo conhecimento seja avaliado como


podendo pôr em risco interesses fundamentais do Estado ficam sujeitos a interdição de
acesso ou a acesso sob autorização, durante o tempo estritamente necessário, através de
classificação operada através do regime do segredo de Estado ou por outros regimes legais
relativos à informação classificada.
2 - Os documentos protegidos por direitos de autor ou direitos conexos, designadamente
os que se encontrem na posse de museus, bibliotecas e arquivos, bem como os
documentos que revelem segredo relativo à propriedade literária, artística, industrial ou
científica, são acessíveis, sem prejuízo da aplicabilidade das restrições resultantes do
Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos e do Código da Propriedade Industrial
e demais legislação aplicável à proteção da propriedade intelectual.
3 - O acesso aos documentos administrativos preparatórios de uma decisão ou constantes
de processos não concluídos pode ser diferido até à tomada de decisão, ao arquivamento
do processo ou ao decurso de um ano após a sua elaboração, consoante o evento que
ocorra em primeiro lugar.
4 - O acesso ao conteúdo de auditorias, inspeções, inquéritos, sindicâncias ou
averiguações pode ser diferido até ao decurso do prazo para instauração de procedimento
disciplinar.
5 - Um terceiro só tem direito de acesso a documentos nominativos:
a) Se estiver munido de autorização escrita do titular dos dados que seja explícita e
específica quanto à sua finalidade e quanto ao tipo de dados a que quer aceder;
b) Se demonstrar fundamentadamente ser titular de um interesse direto, pessoal, legítimo
e constitucionalmente protegido suficientemente relevante, após ponderação, no quadro
do princípio da proporcionalidade, de todos os direitos fundamentais em presença e do
princípio da administração aberta, que justifique o acesso à informação.
6 - Um terceiro só tem direito de acesso a documentos administrativos que contenham
segredos comerciais, industriais ou sobre a vida interna de uma empresa se estiver munido
de autorização escrita desta ou demonstrar fundamentadamente ser titular de um interesse
direto, pessoal, legítimo e constitucionalmente protegido suficientemente relevante após
ponderação, no quadro do princípio da proporcionalidade, de todos os direitos
fundamentais em presença e do princípio da administração aberta, que justifique o acesso
à informação.
7 - Sem prejuízo das demais restrições legalmente previstas, os documentos
administrativos ficam sujeitos a interdição de acesso ou a acesso sob autorização, durante
o tempo estritamente necessário à salvaguarda de outros interesses juridicamente
relevantes, mediante decisão do órgão ou entidade competente, sempre que contenham
informações cujo conhecimento seja suscetível de:
a) Afetar a eficácia da fiscalização ou supervisão, incluindo os planos, metodologias e
estratégias de supervisão ou de fiscalização;
b) Colocar em causa a capacidade operacional ou a segurança das instalações ou do
pessoal das Forças Armadas, dos serviços de informações da República Portuguesa, das
forças e serviços de segurança e dos órgãos de polícia criminal, dos estabelecimentos de
reinserção e serviços prisionais e dos centros educativos previstos na Lei n.º 166/99, de

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14 de setembro, que aprova a Lei Tutelar Educativa, bem com a segurança das
representações diplomáticas e consulares e das infraestruturas críticas; ou
c) Causar danos graves e dificilmente reversíveis a bens ou interesses patrimoniais de
terceiros que sejam superiores aos bens e interesses protegidos pelo direito de acesso à
informação administrativa.
8 - Os documentos administrativos sujeitos a restrições de acesso são objeto de
comunicação parcial sempre que seja possível expurgar a informação relativa à matéria
reservada.
9 - Sem prejuízo das ponderações previstas nos números anteriores, nos pedidos de acesso
a documentos nominativos que não contenham dados pessoais que revelem a origem
étnica, as opiniões políticas, as convicções religiosas ou filosóficas, a filiação sindical,
dados genéticos, biométricos ou relativos à saúde, ou dados relativos à intimidade da vida
privada, à vida sexual ou à orientação sexual de uma pessoa, presume-se, na falta de outro
indicado pelo requerente, que o pedido se fundamenta no direito de acesso a documentos
administrativos.

Artigo 7.º
Acesso e comunicação de dados de saúde

1 - O acesso à informação de saúde por parte do seu titular, ou de terceiros com o seu
consentimento ou nos termos da lei, é exercido por intermédio de médico se o titular da
informação o solicitar, com respeito pelo disposto na Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro.
2 - Na impossibilidade de apuramento da vontade do titular quanto ao acesso, o mesmo é
sempre realizado com intermediação de médico.
3 - No caso de acesso por terceiros mediante consentimento do titular dos dados, deve ser
comunicada apenas a informação expressamente abrangida pelo instrumento de
consentimento.
4 - Nos demais casos de acesso por terceiros, só pode ser transmitida a informação
estritamente necessária à realização do interesse direto, pessoal, legítimo e
constitucionalmente protegido que fundamenta o acesso.

Artigo 8.º
Uso ilegítimo de informações

1 - Não é permitida a utilização ou reprodução de informações em violação de direitos de


autor e direitos conexos ou de direitos de propriedade industrial.
2 - Os documentos nominativos comunicados a terceiros não podem ser utilizados ou
reproduzidos de forma incompatível com a autorização concedida, com o fundamento do
acesso, com a finalidade determinante da recolha ou com o instrumento de legalização,
sob pena de responsabilidade por perdas e danos e responsabilidade criminal, nos termos
legais.

Artigo 9.º
Responsável pelo acesso

Cada órgão ou entidade referida no n.º 1 do artigo 4.º deve designar um responsável pelo
cumprimento das disposições da presente lei, a quem compete nomeadamente organizar
e promover as obrigações de divulgação ativa de informação a que está vinculado o órgão
ou a entidade, acompanhar a tramitação dos pedidos de acesso e reutilização e estabelecer

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a articulação necessária ao exercício das competências da Comissão de Acesso aos
Documentos Administrativos, doravante designada por CADA.

Artigo 10.º
Divulgação ativa de informação

1 - Os órgãos e entidades a quem se aplica a presente lei publicitam nos seus sítios na
Internet, de forma periódica e atualizada, no mínimo semestralmente:
a) Os documentos administrativos, dados ou listas que os inventariem que entendam
disponibilizar livremente para acesso e reutilização nos termos da presente lei, sem
prejuízo do regime legal de proteção de dados pessoais;
b) O endereço eletrónico, local e horário para consulta presencial, modelo de
requerimento ou outro meio adequado através do qual podem ser remetidos os pedidos
de acesso e reutilização da informação e documentos abrangidos pela presente lei;
c) A informação cujo conhecimento seja relevante para garantir a transparência da
atividade relacionada com o seu funcionamento, pelo menos, a seguinte:
i) Planos de atividades, orçamentos, relatórios de atividades e contas, balanço social e
outros instrumentos de gestão similares;
ii) Composição dos seus órgãos de direção e fiscalização, organograma ou outro modelo
de orgânica interna;
iii) Todos os documentos, designadamente despachos normativos internos, circulares e
orientações, que comportem enquadramento estratégico da atividade administrativa;
iv) A enunciação de todos os documentos que comportem interpretação generalizadora
de direito positivo ou descrição genérica de procedimento administrativo, mencionando
designadamente o seu título, matéria, data, origem e local onde podem ser consultados.
d) As regras e as condições de reutilização da informação aplicáveis em cada caso.
2 - A informação administrativa disponível nos sítios na Internet a que se refere o
número anterior é indexada no sistema de pesquisa online de informação pública, nos
termos do artigo 49.º do Decreto-Lei n.º 135/99, de 22 de abril, alterado pelos Decretos-
Leis n.º s 29/2000, de 13 de março, 72-A/2010, de 18 de junho, e 73/2014, de 13 de
maio.
3 - A informação referida no presente artigo deve ser disponibilizada em formato aberto
e em termos que permitam o acesso aos conteúdos de forma não condicionada,
privilegiando-se a disponibilização em formatos legíveis por máquina, que permitam o
seu ulterior tratamento automatizado.
4 - A informação administrativa referida na alínea c) do n.º 1 deve permanecer
disponível durante dois anos ou, no caso das autarquias locais, pelo período
correspondente à duração de cada mandato, excluindo o período de vigência, quando
seja o caso, ou durante o tempo adequado à divulgação satisfatória dos seus conteúdos,
se superior.
5 - A divulgação ativa da informação deve acautelar o respeito pelas restrições de
acesso previstas na presente lei, devendo ter lugar a divulgação parcial sempre que seja
possível expurgar a informação relativa à matéria reservada.
6 - A aplicação do disposto no presente artigo é facultativa para as freguesias com
menos de 10 000 eleitores, com exceção do previsto na alínea c) do n.º 1.

Artigo 11.º
Divulgação ativa de informação relativa ao ambiente

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1 - Os órgãos e entidades a quem se aplica a presente lei recolhem e organizam a
informação ambiental no âmbito das suas atribuições e asseguram a sua divulgação ao
público de forma sistemática e periódica, nomeadamente de forma eletrónica, devendo
assegurar a sua disponibilização progressiva em bases de dados facilmente acessíveis
através da Internet.
2 - A informação a que se refere o presente artigo deve ser atualizada no mínimo
semestralmente, e incluir, pelo menos:
a) Textos de tratados, convenções ou acordos internacionais e da legislação nacional e
europeia sobre ambiente ou com ele relacionada;
b) Políticas, planos e programas relativos ao ambiente;
c) Relatórios sobre a execução dos instrumentos referidos nas alíneas anteriores;
d) Um relatório nacional sobre o estado do ambiente, nos termos do número seguinte;
e) Dados ou resumos dos dados resultantes do controlo das atividades que afetam ou
podem afetar o ambiente;
f) Licenças e autorizações com impacto significativo sobre o ambiente, acordos sobre
ambiente ou referência ao local onde tais informações podem ser solicitadas ou obtidas;
g) Estudos de impacte ambiental e avaliações de risco relativas a elementos ambientais
mencionados na subalínea i) da alínea e) do n.º 1 do artigo 3.º, ou referência ao local
onde tais informações podem ser solicitadas ou obtidas.
3 - O relatório nacional sobre o estado do ambiente, cuja elaboração e publicação anual
compete ao membro do Governo responsável pela área do ambiente, inclui informação
sobre a qualidade do ambiente e as pressões sobre ele exercidas.
4 - Os órgãos e entidades públicas competentes devem garantir que, em caso de ameaça
iminente para a saúde humana ou o ambiente, causada por ação humana ou por
fenómenos naturais, sejam divulgadas imediatamente todas as informações ambientais
que permitam às populações em risco tomar medidas para evitar ou reduzir os danos
decorrentes dessa ameaça.

CAPÍTULO II
Exercício do direito de acesso e de reutilização dos documentos administrativos
SECÇÃO I
Direito de acesso
Artigo 12.º
Pedido de acesso

1 - O acesso aos documentos administrativos deve ser solicitado por escrito, através de
requerimento que contenha os elementos essenciais à identificação do requerente,
designadamente o nome, dados de identificação pessoal ou coletiva, dados de contacto e
assinatura.
2 - O modelo de requerimento de pedido de acesso deve ser disponibilizado pelas
entidades no seu sítio na Internet.
3 - A entidade requerida pode também aceitar pedidos verbais, devendo fazê-lo nos
casos em que a lei o determine expressamente.
4 - A apresentação de queixa à CADA, nos termos da presente lei, pressupõe pedido
escrito de acesso ou, pelo menos, a formalização por escrito do indeferimento de pedido
verbal.
5 - Aos órgãos e entidades a quem se aplica a presente lei incumbe prestar assistência ao
público na identificação dos documentos e dados pretendidos, nomeadamente

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informando sobre a forma de organização e utilização dos seus arquivos e registos, e
publicando no seu sítio na Internet a forma, meio, local e horário, se aplicável, para
efetuar o pedido de acesso.
6 - Se o pedido não for suficientemente preciso, a entidade requerida deve, no prazo de
cinco dias a partir da data da sua receção, indicar ao requerente a deficiência e convidá-
lo a supri-la em prazo fixado para o efeito, devendo procurar assisti-lo na sua
formulação, ao fornecer designadamente informações sobre a utilização dos seus
arquivos e registos.
Artigo 13.º
Forma do acesso
1 - O acesso aos documentos administrativos exerce-se através dos seguintes meios,
conforme opção do requerente:
a) Consulta gratuita, eletrónica ou efetuada presencialmente nos serviços que os detêm;
b) Reprodução por fotocópia ou por qualquer meio técnico, designadamente visual,
sonoro ou eletrónico;
c) Certidão.
2 - Os documentos são transmitidos em forma inteligível e em termos rigorosamente
correspondentes aos do conteúdo do registo.
3 - Quando houver risco de a reprodução causar dano ao documento, pode o requerente,
a expensas suas e sob a direção do serviço detentor, promover a cópia manual ou a
reprodução por outro meio que não prejudique a sua conservação.
4 - Os documentos informatizados são enviados por qualquer meio de transmissão
eletrónica de dados, sempre que tal for possível e desde que se trate de meio adequado à
inteligibilidade e fiabilidade do seu conteúdo, e em termos rigorosamente
correspondentes ao do conteúdo do registo.
5 - A entidade requerida pode limitar-se a indicar a exata localização, na Internet, do
documento requerido, salvo se o requerente demonstrar a impossibilidade de utilização
dessa forma de acesso.
6 - A entidade requerida não tem o dever de criar ou adaptar documentos para satisfazer
o pedido, nem a obrigação de fornecer extratos de documentos, caso isso envolva um
esforço desproporcionado que ultrapasse a simples manipulação dos mesmos.
Artigo 14.º
Encargos de reprodução
1 - O acesso através dos meios previstos nas alíneas b) e c) do n.º 1 do artigo anterior
faz-se através de um único exemplar, sujeito a pagamento, pelo requerente, da taxa
fixada, que deve obedecer aos seguintes princípios:
a) Corresponder à soma dos encargos proporcionais com a utilização de máquinas e
ferramentas de recolha, produção e reprodução do documento, com os custos dos
materiais usados e com o serviço prestado, não podendo ultrapassar o valor médio
praticado no mercado por serviço correspondente;
b) No caso de emissão de certidão, quando o documento disponibilizado constituir o
resultado material de uma atividade administrativa para a qual sejam devidas taxas ou
emolumentos, os encargos referidos na alínea anterior podem ser acrescidos de um valor
razoável, tendo em vista os custos diretos e indiretos dos investimentos e a boa

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qualidade do serviço, nos termos da legislação aplicável;
c) Às taxas cobradas pode acrescer, quando aplicável e exigido por lei, o custo da
anonimização dos documentos e os encargos de remessa, quando esta seja feita por via
postal;
d) No caso de reprodução realizada por meio eletrónico, designadamente envio por
correio eletrónico, não é devida qualquer taxa.
2 - Tendo em conta o disposto no número anterior, o Governo e os Governos Regionais,
ouvida a CADA e as associações nacionais representativas das autarquias locais, devem
fixar as taxas a cobrar pelas reproduções e certidões dos documentos administrativos.
3 - As entidades com poder tributário autónomo não podem fixar taxas que ultrapassem
em mais de 100 /prct. os valores fixados nos termos do número anterior, os quais se
aplicam enquanto não publicarem tabelas próprias.
4 - Os órgãos e entidades a quem se aplica a presente lei devem publicar no seu sítio na
Internet e afixar em lugar acessível ao público uma lista das taxas que cobram pelas
reproduções e certidões de documentos administrativos, bem como informação sobre as
isenções, reduções ou dispensas de pagamento aplicáveis.
5 - As organizações não-governamentais de ambiente e equiparadas, definidas nos
termos da legislação aplicável, gozam de uma redução de 50 /prct. no pagamento de
quaisquer taxas devidas pelo acesso à informação ambiental.
6 - Os beneficiários de apoio judiciário, como tal reconhecido nos termos da lei, gozam
de isenção de quaisquer taxas devidas pelo acesso a informação administrativa
necessária à instrução do processo relativamente ao qual lhes tenha sido concedido o
respetivo apoio.
7 - As vítimas de violência doméstica e as respetivas associações representativas, como
tal qualificadas nos termos da lei, gozam de isenção de quaisquer taxas devidas pelo
acesso a informação administrativa necessária à instrução de pedidos de proteção
administrativa ou de atuação judicial destinada a evitar ou perseguir atos de violência
doméstica praticados contra si ou contra os seus associados.

Artigo 15.º
Resposta ao pedido de acesso
1 - A entidade a quem foi dirigido o requerimento de acesso a um documento
administrativo deve, no prazo de 10 dias:
a) Comunicar a data, local e modo para se efetivar a consulta, se requerida;
b) Emitir a reprodução ou certidão requeridas;
c) Comunicar por escrito as razões da recusa, total ou parcial, do acesso ao documento,
bem como quais as garantias de recurso administrativo e contencioso de que dispõe o
requerente contra essa decisão, nomeadamente a apresentação de queixa junto da
CADA e a intimação judicial da entidade requerida;
d) Informar que não possui o documento e, se souber qual a entidade que o detém,
remeter-lhe o requerimento, com conhecimento ao requerente;
e) Expor à CADA quaisquer dúvidas que tenha sobre a decisão a proferir, a fim de esta
entidade emitir parecer.
2 - No caso da alínea e) do número anterior, a entidade requerida deve informar o
requerente e enviar à CADA cópia do requerimento e de todas as informações e

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documentos que contribuam para convenientemente o instruir.
3 - As entidades não estão obrigadas a satisfazer pedidos que, face ao seu carácter
repetitivo e sistemático ou ao número de documentos requeridos, sejam manifestamente
abusivos, sem prejuízo do direito de queixa do requerente.
4 - Em casos excecionais, se o volume ou a complexidade da informação o justificarem,
o prazo referido no n.º 1 pode ser prorrogado até ao máximo de dois meses, devendo o
requerente ser informado desse facto, com indicação dos respetivos fundamentos, no
prazo de 10 dias.
Artigo 16.º
Direito de queixa
1 - O requerente pode queixar-se à CADA em caso de falta de resposta decorrido o
prazo previsto no artigo anterior, indeferimento, satisfação parcial do pedido ou outra
decisão limitadora do acesso a documentos administrativos, no prazo de 20 dias.
2 - A apresentação de queixa interrompe o prazo para introdução em juízo de petição de
intimação para a prestação de informações, consulta de processos ou passagem de
certidões.
3 - Salvo em casos de indeferimento liminar, a CADA deve convidar a entidade
requerida a responder à queixa no prazo de 10 dias.
4 - Tanto no caso de queixa como no da consulta prevista na alínea e) do n.º 1 do artigo
15.º, a CADA tem o prazo de 40 dias para elaborar o correspondente relatório de
apreciação da situação, enviando-o, com as devidas conclusões, a todos os interessados.
5 - Recebido o relatório referido no número anterior, a entidade requerida comunica ao
requerente a sua decisão final fundamentada, no prazo de 10 dias.
6 - Tanto a decisão como a falta de decisão no termo do prazo a que se refere o número
anterior podem ser impugnadas pelo interessado junto dos tribunais administrativos,
aplicando-se, com as devidas adaptações, ao processo de intimação referido no n.º 2, as
regras do Código de Processo nos Tribunais Administrativos.
SECÇÃO II
Direito de acesso à informação ambiental
Artigo 17.º
Direito de acesso à informação ambiental
Os órgãos e entidades a quem se aplica a presente lei asseguram o direito de acesso à
informação ambiental nos termos previstos na secção anterior, devendo ainda:
a) Disponibilizar ao público, gratuitamente, listas com a designação de todos os órgãos
e entidades que detêm informação ambiental, preferencialmente em sítio único, na
Internet, que centralize os respetivos sítios onde a informação está acessível, e a
identidade do responsável pelo acesso, nos termos do artigo 9.º;
b) Criar e manter instalações adequadas à consulta da informação, prestando apoio ao
público no exercício do direito de acesso;
c) Adotar procedimentos que garantam a uniformização da informação ambiental, de
forma a assegurar uma informação exata, atualizada e comparável;
d) Indicar, quando fornecerem a informação ambiental referida nas subalíneas i) e ii) da
alínea e) do n.º 1 do artigo 3.º, onde pode ser encontrada e obtida, quando disponível, a
informação sobre os procedimentos de medição utilizados para recolha daquela,

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incluindo os métodos de análise, de amostragem e de tratamento prévio das amostras,
ou referência ao procedimento normalizado utilizado na recolha de informação.
Artigo 18.º
Indeferimento do pedido de acesso
1 - Os pedidos de acesso à informação ambiental podem ser indeferidos quando o
documento administrativo solicitado não esteja nem deva estar na posse do órgão ou
entidade a quem o pedido for dirigido, sendo que este, se tiver conhecimento que a
informação é detida por outra entidade, deve remeter-lhe diretamente e de imediato o
pedido, disso informando o requerente.
2 - Quando o pedido se refira a um procedimento em curso, a entidade remete-o à
entidade coordenadora do processo, a qual informa o requerente do prazo previsível
para a sua conclusão, bem como das disposições legais previstas no respetivo
procedimento, relativas ao acesso à informação.
3 - Quando o pedido se referir a informação constante de comunicações internas entre
entidades ou contemplar o acesso a documentos nominativos, o deferimento apenas
deve ter lugar caso o interesse público subjacente à divulgação da informação prevaleça
e, em qualquer caso, quando o pedido incidir sobre informação relativa a emissões para
o ambiente.
4 - Para além do disposto nos números anteriores, um pedido de acesso a documentos
administrativos que contenham informação ambiental apenas pode ser indeferido nos
seguintes casos:
a) Quando o pedido for manifestamente abusivo ou tiver por referência documentos ou
dados errados ou incompletos;
b) Quando não seja possível sanar a deficiência a que se refere o n.º 6 do artigo 12.º;
c) Quando a divulgação dessa informação prejudicar:
i) A confidencialidade do processo ou da informação, quando essa confidencialidade
esteja prevista na lei, designadamente em caso de segredo bancário, segredo estatístico e
sigilo fiscal;
ii) As relações internacionais, a segurança pública ou a defesa nacional;
iii) O segredo de justiça, o segredo em sede de procedimentos contraordenacionais,
disciplinares, financeiros ou meramente administrativos, desde que previstos na lei, o
acesso à justiça ou o seu bom funcionamento;
iv) A confidencialidade das informações comerciais ou industriais, sempre que essa
confidencialidade esteja legalmente prevista para proteger um interesse económico
legítimo, bem como o interesse público no segredo estatístico, fiscal e bancário;
v) Direitos de autor ou direitos conexos e direitos de propriedade industrial;
vi) Os interesses ou a proteção de quem tenha fornecido voluntariamente a informação,
sem que esteja ou venha a estar legalmente obrigado a fazê-lo, exceto se essa pessoa
tiver autorizado a divulgação dessa informação;
vii) A proteção do ambiente a que a informação se refere, designadamente a localização
de espécies protegidas.
5 - Os fundamentos de indeferimento e respetivos interesses protegidos devem ser
interpretados de forma restritiva face ao interesse público subjacente à divulgação da
informação, sendo que os referidos nas subalíneas i), iv), vi) e vii) do número anterior
não podem ser invocados quando o pedido incidir sobre informação relativa a emissões
para o ambiente.
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6 - A informação ambiental solicitada deve ser parcialmente disponibilizada sempre que
seja possível expurgar a informação que fundamentou o indeferimento.
SECÇÃO III
Da reutilização de documentos
Artigo 19.º
Âmbito de reutilização
1 - Os documentos administrativos cujo acesso seja autorizado, nos termos da presente
lei, podem ser reutilizados para fins comerciais ou não comerciais, salvo o disposto em
contrário na presente lei ou em legislação específica.
2 - As disposições da presente secção não prejudicam a utilização de textos de
convenções, leis, regulamentos, relatórios ou decisões administrativas, judiciais ou de
quaisquer órgãos ou entidades do Estado ou da Administração Pública, bem como a
utilização de traduções oficiais destes textos.
3 - As disposições da presente secção não são aplicáveis aos documentos detidos ou
elaborados por empresas de radiodifusão de serviço público, suas filiais e outras
entidades que cumpram funções de radiodifusão de serviço público.
4 - A troca de documentos administrativos entre os órgãos e entidades referidos no
artigo 4.º, exclusivamente no âmbito do desempenho das suas funções e dos fins de
interesse público que lhes compete prosseguir, não constitui reutilização.
5 - Salvo acordo da entidade que os detenha, quem reutilizar documentos
administrativos não pode alterar a informação neles vertida, nem deve permitir que o
seu sentido seja desvirtuado, devendo mencionar sempre as fontes, bem como a data da
última atualização da informação.
6 - Os documentos são disponibilizados no formato ou linguagem em que já existam e,
se adequado, em formatos abertos e legíveis por máquina, com os respetivos metadados,
devendo ambos respeitar normas formais abertas.
7 - O disposto no número anterior deve ser cumprido na medida do possível, não
implicando, para a entidade detentora, o dever de criar ou adaptar documentos ou de
fornecer extratos, caso isso envolva um esforço desproporcionado que ultrapasse a
simples manipulação dos mesmos.
8 - Não é exigível aos órgãos e entidades da administração pública que mantenham a
produção, disponibilização e o armazenamento de determinado tipo de documento com
vista à sua reutilização.
9 - As entidades sujeitas à presente lei devem procurar que os documentos e dados que
produzam ou disponibilizem sejam, sempre que possível, abertos desde a sua conceção,
tendo em vista a sua disponibilização futura.
10 - Os órgãos e entidades da administração pública não podem invocar o direito do
fabricante de uma base de dados de proibir a reutilização da totalidade ou de uma parte
substancial do conteúdo da mesma, conforme previsto no n.º 1 do artigo 12.º do Decreto-
Lei n.º 122/2000, de 4 de julho, com o intuito de impedir a reutilização de documentos
ou de a restringir para além dos limites estabelecidos na presente lei.
11 - A reutilização de documentos nominativos tem regime próprio, sendo o seu
tratamento e anonimização para efeitos de reutilização e divulgação em ambiente digital
realizados de acordo com o disposto no regime jurídico de proteção das pessoas singulares
no que diz respeito ao tratamento de dados pessoais e à livre circulação desses dados e
demais legislação aplicável.

Artigo 19.º-A

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Dados dinâmicos
1 - Os órgãos e entidades da Administração Pública disponibilizam dados dinâmicos
para reutilização imediatamente após a respetiva recolha, através de Interface de
Programação de Aplicações (IPA) adequado e sempre que se justifique, sob a forma de
descarregamento em bloco. 2 - Caso a disponibilização imediata dos dados dinâmicos,
nos termos do número anterior, seja suscetível de exceder as capacidades financeiras e
técnicas do organismo do setor público, impondo-lhe um esforço desproporcionado,
pode a mesma ocorrer num prazo razoável ou com restrições técnicas temporárias que
não prejudiquem injustificadamente a exploração do seu potencial económico e social. 3
- Os dados abertos que sejam disponibilizados através do recurso a IPA devem ser
registados nos catálogos de dados disponibilizados no portal dados.gov.

Artigo 20.º
Documentos excluídos
Não podem ser objeto de reutilização os documentos:
a) Decorrentes do exercício de uma atividade de gestão privada da entidade em causa;
b) Cujos direitos de propriedade intelectual sejam detidos por terceiros ou cuja
reprodução, difusão ou utilização possam configurar práticas de concorrência desleal;
c) Nominativos, salvo autorização do titular, disposição legal que a preveja
expressamente, fundamento legal ao abrigo da legislação aplicável em matéria de dados
pessoais para o seu tratamento ou quando os dados pessoais possam ser anonimizados
sem possibilidade de reversão, devendo nesse caso prever-se, no âmbito da autorização
concedida e nos termos do n.º 1 do artigo 23.º, medidas especiais de segurança
destinadas a proteger as categorias especiais dados, e em geral aqueles cujo acesso ou
reutilização seja excluído ou restrito por força do regime legal de proteção de dados
pessoais;
d) Que contenham apenas logótipos, brasões e insígnias;
e) Na posse de empresas públicas quando relacionados com atividades diretamente
expostas à concorrência;
f) Que contenham categorias especiais de dados em razão de:
i) Proteção da segurança interna ou defesa nacional;
ii) Confidencialidade de dados estatísticos;
iii) Confidencialidade de dados comerciais, nomeadamente, segredos comerciais,
profissionais ou empresariais;
g) Na posse de instituições culturais, exceto bibliotecas, incluindo bibliotecas de
estabelecimentos de ensino superior, museus e arquivos;
h) Na posse de estabelecimentos de educação de ensino básico e secundário, de
estabelecimentos de ensino superior e de estabelecimentos de investigação, incluindo
organizações criadas com vista à transferência de resultados de investigação, salvo
documentos de investigação, nos termos do artigo 27.º-B.

Artigo 21.º
Pedido de reutilização

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1 - A reutilização de documentos disponibilizados através da Internet não depende de
autorização da entidade que os detenha, exceto quando exista indicação contrária ou se
for claro para qualquer destinatário que o documento se encontra protegido por direitos
de autor ou direitos conexos.
2 - Nos restantes casos, a reutilização de documentos depende de autorização da
entidade que os detenha, mediante pedido formulado pelo requerente, aplicando-se o
disposto no artigo 12.º
3 - Quando a reutilização de documentos se destine a fins educativos ou de investigação
e desenvolvimento, o requerente deve indicá-lo expressamente.
Artigo 22.º
Resposta ao pedido de reutilização
1 - A entidade a quem foi dirigido o requerimento de reutilização do documento deve,
no prazo de 10 dias:
a) Autorizar a reutilização do documento, indicando, se existirem, quais as condições ou
licenças aplicáveis, nos termos do artigo seguinte; ou
b) Responder ao requerente da reutilização, indicando as razões da recusa, total ou
parcial, do pedido, bem como quais as garantias de recurso administrativo e contencioso
de que dispõe o requerente contra essa decisão, nomeadamente a apresentação de queixa
junto da CADA e a intimação judicial da entidade requerida.
2 - O pedido de reutilização do documento só pode ser indeferido com fundamento na
violação de disposições legais, nomeadamente de alguma das disposições da presente lei
relativa ao direito de acesso e reutilização, ou quando o órgão ou entidade já não tenha
uma obrigação de elaborar, deter ou armazenar a informação.
3 - O dever de indicar as razões de recusa compreende a indicação da pessoa singular ou
coletiva titular do direito de autor ou de direitos conexos sobre o documento ou, em
alternativa, a indicação da entidade licenciadora que cedeu o documento, quando essa
titularidade constitua o fundamento da recusa da reutilização pretendida.
4 - As indicações referidas no número anterior não são obrigatórias se a entidade
requerida for uma biblioteca, incluindo as bibliotecas das instituições de ensino
superior, um museu ou um arquivo.
5 - O prazo previsto no n.º 1 pode ser prorrogado uma vez, por igual período, nos casos
de pedidos extensos ou complexos, devendo o requerente ser informado desse facto,
com indicação dos respetivos fundamentos, no prazo máximo de cinco dias.
6 - O disposto nos números anteriores não é aplicável aos estabelecimentos de ensino,
organismos que realizam investigação e organismos financiadores de investigação.
7 - O cumprimento do dever de disponibilização de documentos ou dados para
reutilização, nos termos da presente lei, deve, sempre que possível, ser realizado através
da publicação, catalogação ou carregamento dos dados solicitados no portal dados.gov e
do envio ao requerente do endereço de acesso aos mesmos nesse portal.

Artigo 23.º
Condições de reutilização

1 - A autorização concedida nos termos do artigo anterior pode ser subordinada à


observância de distintas condições de reutilização, a definir pelas entidades, caso em que

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deve ser titulada por licença disponibilizada em formato digital, suscetível de
processamento eletrónico, designadamente:
a) Licença predefinida de acesso aberto, disponível em linha, que concede direitos de
reutilização mais amplos, sem limitações jurídicas, tecnológicas, financeiras ou
geográficas;
b) Licença predefinida, disponível em linha, de acesso com limitações jurídicas,
tecnológicas, financeiras, geográficas ou outras;
c) Licença não predefinida.
2 - A reutilização de documentos ou dados é tendencialmente gratuita, podendo estar
sujeita ao pagamento de taxas por parte do requerente, quando necessário, fixadas pelas
entidades de acordo com o disposto nos números seguintes.
3 - Sem prejuízo do disposto no artigo 15.º do Código do Procedimento Administrativo,
é gratuita a reutilização de:
a) Documentos disponibilizados através da Internet, nos termos dos artigos 10.º e 11.º;
b) Documentos disponibilizados para fins educativos ou de investigação e
desenvolvimento;
c) Conjuntos de dados de elevado valor, nos termos do artigo 27.º-A;
d) Dados de investigação, nos termos do artigo 27.º-B.
Artigo 23.º-A
Taxas devidas pela reutilização
1 - As taxas cobradas pela reutilização não podem exceder os custos marginais suportados
com a recolha, produção, reprodução, disponibilização e divulgação dos documentos ou
dados, bem como com a anonimização dos dados pessoais, com as medidas destinadas a
proteger informações comerciais de caráter confidencial, e com os encargos de remessa,
quando esta seja feita por via postal.
2 - Quando o documento disponibilizado constituir o resultado material de uma atividade
administrativa para a qual sejam devidas taxas ou emolumentos, os custos referidos no
número anterior podem ser acrescidos de um valor razoável, tendo em vista os custos
diretos e indiretos dos investimentos e a boa qualidade do serviço, nos termos da
legislação aplicável.
3 - Quando o documento ou dados requeridos integrarem uma biblioteca, incluindo uma
biblioteca das instituições de ensino superior, um museu ou um arquivo, as taxas incluem
também os custos da sua recolha, produção, preservação bem como do armazenamento e
da aquisição de direitos, e podem ser acrescidas de um retorno razoável do investimento
tendo em vista os custos diretos e indiretos dos investimentos e a boa qualidade do
serviço, nos termos do n.º 8 e demais legislação aplicável.
4 - Na fixação das taxas a cobrar nos termos dos números anteriores, a entidade requerida
deve basear-se nos custos durante o exercício contabilístico normal, calculados de acordo
com os princípios contabilísticos aplicáveis.
5 - As condições de reutilização e as taxas cobradas não devem restringir
desnecessariamente as possibilidades de reutilização, não podendo a entidade requerida,
por essa via, discriminar categorias de reutilização equivalentes, incluindo a reutilização
transfronteiriça, ou limitar a concorrência.

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6 - As entidades podem reduzir ou isentar de taxa a reutilização requerida por entidades
com ou sem fins lucrativos, desde que em prossecução de fins e atividades de reconhecido
interesse social.
7 - Os organismos do setor público que são obrigados a gerar receitas para cobrir uma
parte substancial dos seus custos relacionados com o desempenho das suas missões de
serviço público e as empresas públicas podem cobrar taxas de valor superior ao previsto
no n.º 1.
8 - As fórmulas de cálculo das taxas previstas no número anterior são fixadas por decreto
regulamentar, de acordo com os seguintes critérios:
a) Comutatividade, devendo a taxa assegurar a recuperação dos custos marginais, nos
termos do n.º 1;
b) Harmonização, devendo a taxa ser calculada de acordo com os princípios
contabilísticos aplicáveis à entidade;
c) Sustentabilidade, devendo a taxa permitir um retorno razoável do investimento,
mediante a aplicação de uma percentagem que acresça ao valor dos custos marginais, mas
que não exceda em mais de cinco pontos percentuais a taxa de juro fixa do Banco Central
Europeu.
9 - Os organismos do setor público referidos no n.º 7 constam de lista publicada no portal
dados.gov.
10 - Sem prejuízo do disposto no artigo seguinte, as fórmulas de cálculo das taxas
aplicáveis, fixadas nos termos do decreto regulamentar referido no n.º 8, são divulgadas
no portal dados.gov, o qual disponibiliza um simulador de cálculo das mesmas.
11 - Os órgãos e entidades públicas que reutilizem documentos só ficam sujeitos às taxas
e demais condições legais no âmbito da sua atividade de gestão privada.

Artigo 24.º
Publicidade
1 - As condições de reutilização e as taxas aplicáveis, incluindo o prazo, montante e
forma de pagamento e eventuais reduções ou isenções previstas, são preestabelecidas e
publicitadas, sempre que possível por via eletrónica, devendo ser indicada a base de
cálculo dos valores a cobrar, bem como os meios de tutela ao dispor do requerente no
caso de recusa da reutilização do documento.
2 - Os órgãos e entidades a quem se aplica a presente lei devem publicar no seu sítio na
Internet e afixar em lugar acessível ao público uma lista das taxas que cobram pelas
reproduções e certidões de documentos administrativos, bem como informação sobre as
isenções, reduções ou dispensas de pagamento aplicáveis.
3 - Nos casos em que a informação cuja reutilização seja requerida determinar, pela sua
relativa indisponibilidade, natureza ou complexidade, a aplicação de taxas que não
estejam predeterminadas, a entidade requerida informa previamente o requerente dos
fatores que são tidos em conta no cálculo dos valores a cobrar.
4 - Quando não tenham sido fixadas, predeterminadas ou publicitadas as taxas a aplicar,
e enquanto não o forem, a reutilização considera-se gratuita.
Artigo 25.º
Acordos de exclusividade

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1 - A reutilização de documentos é permitida a todos os potenciais intervenientes no
mercado.
2 - Os acordos celebrados entre órgãos e entidades da Administração Pública ou empresas
públicas que possuam esses documentos e terceiros não criam direitos de exclusividade.
3 - Nos casos em que seja necessário atribuir um direito de exclusividade para a prestação
de um serviço de interesse público, a respetiva fundamentação deve ser reavaliada, pelo
menos de três em três anos.
4 - Os acordos de exclusividade devem ser transparentes e publicados no portal
dados.gov, pelo menos dois meses antes da respetiva data de entrada em vigor e sempre
que sejam objeto de alteração.
5 - O disposto nos números anteriores não se aplica à digitalização de recursos culturais.
6 - Os direitos de exclusividade acordados para a digitalização de recursos culturais não
devem exceder o prazo de 10 anos, sem prejuízo do regime relativo a direitos de autor e
direitos conexos.
7 - Caso seja excedido o prazo previsto no número anterior, a respetiva fundamentação
deve ser reavaliada nesse ano, e posteriormente, se aplicável, a reavaliação deve ocorrer
de sete em sete anos.
8 - Nos acordos de exclusividade a que se refere o n.º 6 é prevista a entrega a título
gratuito, ao organismo do setor público, de uma cópia dos recursos culturais digitalizados,
que deve estar disponível para reutilização, se possível em formatos abertos, no termo do
período de exclusividade.
9 - As disposições legais ou regulamentares ou práticas que, embora não concedendo
expressamente um direito de exclusividade, visem ou sejam previsivelmente conducentes
a uma limitação da disponibilidade para reutilização de documentos por terceiros devem
ser transparentes e publicadas em linha no portal dados.gov, pelo menos dois meses antes
da sua entrada em vigor e sempre que sejam objeto de alteração.
10 - Os efeitos das disposições e práticas previstas no número anterior devem ser objeto
de reavaliação periódica e, em qualquer caso, revistos de três em três anos.
.
Artigo 26.º
Intimação para a reutilização de documentos
Quando o pedido de reutilização formulado nos termos da presente secção seja total ou
parcialmente indeferido, o interessado pode apresentar queixa à CADA nos termos do
artigo 16.º, aplicando-se as suas correspondentes disposições quanto à petição de
intimação da entidade requerida para autorização da reutilização, que pode ser
apresentada junto do tribunal administrativo competente, nos termos previstos no
Código de Processo nos Tribunais Administrativos.
Artigo 27.º
Divulgação de documentos disponíveis para reutilização

1 - As entidades abrangidas pelas disposições da presente secção devem disponibilizar,


no seu sítio na Internet, listas atualizadas dos documentos e dados disponíveis para
reutilização.
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2 - Sempre que possível, devem prever-se inventários dos documentos mais importantes,
juntamente com os metadados conexos acessíveis, e deve poder ser realizada uma
pesquisa multilingue de documentos e dados.
3 - As informações previstas nos números anteriores devem ser indexadas no portal
dados.gov, com vista a facilitar a pesquisa de documentos ou dados disponíveis para
reutilização.
4 - Os documentos e dados abertos devem ser localizáveis, acessíveis, interoperáveis e
reutilizáveis.
5 - O portal dados.gov constitui-se como o catálogo central de dados abertos em Portugal,
tendo como função agregar, referenciar, publicar e alojar dados abertos de diferentes
organismos e setores da Administração Pública central, regional e local, funcionando
também como um portal indexador de conteúdos alojados noutros portais ou catálogos de
dados abertos, setoriais ou descentralizados, pelo que:
a) Os dados abertos nele disponibilizados devem manter níveis de atualização e qualidade
permanente, para que possam ser reutilizados com fiabilidade por outras aplicações
informáticas;
b) Os metadados conexos dos dados abertos devem ser sempre disponibilizados de forma
atualizada ao portal dados.gov, com vista a facilitar a sua procura e localização como
dados abertos, incluindo aqui os casos em que a entidade produtora dos dados abertos os
torna acessíveis a partir de sistemas próprios;
c) Se a entidade produtora dos dados abertos não os tornar acessíveis a partir de sistemas
próprios, deve disponibilizar esses dados ao portal dados.gov para que sejam acessíveis a
partir desse sistema, devendo ainda garantir que estão aí sempre atualizados.

6 - A aplicação do disposto no presente artigo é facultativa para as freguesias com


menos de 10 000 eleitores.
Artigo 27.º-A
Conjuntos de dados de elevado valor
1 - Os conjuntos de dados de elevado valor têm as seguintes categorias temáticas:
a) Geoespaciais;
b) Observação da Terra e do ambiente;
c) Meteorológicas;
d) Estatísticas;
e) Empresas e propriedade de empresas;
f) Mobilidade.
2 - Consideram-se incluídas no número anterior as categorias temáticas de dados de
elevado valor que venham a ser acrescentadas pela Comissão Europeia ao abrigo do
capítulo v da Diretiva 2019/1024 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 20 de junho
de 2019, para refletir a evolução tecnológica e do mercado.
3 - Os conjuntos específicos de dados de elevado valor, identificados pela Comissão
Europeia por ato delegado ao abrigo do capítulo v da Diretiva 2019/1024 do Parlamento

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Europeu e do Conselho, de 20 de junho de 2019, nas categorias temáticas previstas no n.º
1 ou que sejam acrescentadas nos termos do número anterior devem ser:
a) Disponibilizados gratuitamente, sem prejuízo do disposto no número seguinte;
b) Legíveis por máquina;
c) Acessíveis através de IPA; e
d) Fornecidos sob a forma de descarregamento em bloco, sempre que se justifique.
4 - A disponibilização sem encargos prevista no número anterior não se aplica aos
conjuntos específicos de dados de elevado valor na posse de:
a) Empresas públicas, quando conduza a uma distorção da concorrência nos mercados
relevantes;
b) Bibliotecas, incluindo bibliotecas universitárias, museus ou arquivos;
c) Organismos do setor público que são obrigados a gerar receitas para cobrir uma parte
substancial dos seus custos relacionados com o desempenho das suas missões de serviço
público, quando tenha um impacto substancial no respetivo orçamento, até ao termo do
prazo de dois anos após a entrada em vigor do ato delegado da Comissão Europeia
referido no número anterior.
Artigo 27.º-B
Dados de investigação
1 - Os dados de investigação podem ser reutilizados para fins comerciais ou não
comerciais, quando:
a) Sejam financiados por fundos públicos; e
b) Os investigadores, os organismos que realizam investigação ou os organismos
financiadores de investigação já os tenham disponibilizado ao público através:
i) De um repositório institucional ou temático;
ii) De outras infraestruturas de dados, ou publicações de acesso aberto; ou
iii) Do portal dados.gov.
2 - Os organismos que realizam investigação e os organismos financiadores de
investigação devem assegurar, na divulgação de dados de investigação, os direitos de
propriedade intelectual preexistentes, a proteção dos dados pessoais, a confidencialidade,
a segurança e os interesses comerciais legítimos e as atividades de transferência de
conhecimentos, procurando que os dados sejam tão abertos quanto possível, mas tão
fechados quanto necessário.
3 - O acesso a dados da investigação deve ser promovido mediante políticas de acesso
aberto por defeito e que assegurem que os dados são localizáveis, acessíveis,
interoperáveis e reutilizáveis.
4 - A reutilização de dados de investigação ao abrigo do presente artigo é gratuita.

CAPÍTULO III
Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos
Artigo 28.º
Natureza
1 - A CADA é uma entidade administrativa independente, que funciona junto da
Assembleia da República, e a quem cabe zelar pelo cumprimento das disposições da
presente lei.

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2 - A CADA dispõe de orçamento anual, cuja dotação é inscrita no orçamento da
Assembleia da República.
Artigo 29.º
Composição
1 - A CADA é composta pelos seguintes membros:
a) Um juiz conselheiro do Supremo Tribunal Administrativo, designado pelo Conselho
Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais, que preside;
b) Duas personalidades de integridade e mérito reconhecidos, eleitas pela Assembleia da
República segundo o método da média mais alta de Hondt;
c) Um professor de Direito designado pelo Presidente da Assembleia da República;
d) Duas personalidades designadas pelo Governo;
e) Uma personalidade designada por cada um dos Governos Regionais;
f) Uma personalidade designada pela Associação Nacional de Municípios Portugueses;
g) Um advogado designado pela Ordem dos Advogados;
h) Um membro designado, de entre os seus vogais, pela Comissão Nacional de Proteção
de Dados.
2 - Os titulares são substituídos por um suplente, designado pelas mesmas entidades.
3 - Os membros da CADA tomam posse perante o Presidente da Assembleia da
República nos 10 dias seguintes à publicação da sua designação na 1.ª série do Diário da
República.
4 - Os mandatos dos titulares são de três anos, sem prejuízo do disposto no número
seguinte, cessando apenas com a posse dos novos titulares.
5 - A Assembleia da República elege no início de cada legislatura e pela duração desta
os membros referidos na alínea b).
6 - Os mandatos são renováveis duas vezes.
Artigo 30.º
Competência
1 - Compete à CADA:
a) Elaborar a sua regulamentação interna, a publicar na 2.ª série do Diário da República;
b) Apreciar as queixas que lhe sejam apresentadas nos termos dos artigos 16.º e 26.º;
c) Emitir parecer sobre o acesso aos documentos administrativos, nos termos da alínea
e) do n.º 1 do artigo 15.º;
d) Emitir parecer sobre a comunicação de documentos entre serviços e organismos da
Administração Pública, a pedido da entidade requerida ou da interessada, a não ser que
se anteveja risco de interconexão de dados, caso em que a questão é submetida à
apreciação da Comissão Nacional de Proteção de Dados;
e) Pronunciar-se sobre o sistema de registo e de classificação de documentos;
f) Emitir parecer sobre a aplicação da presente lei, bem como sobre a elaboração e
aplicação de diplomas complementares, por sua iniciativa ou a solicitação da
Assembleia da República, do Governo e dos órgãos e entidades a que se refere o artigo
4.º;
g) Elaborar um relatório anual sobre a aplicação da presente lei e a sua atividade, a
enviar à Assembleia da República para publicação e apreciação e ao Primeiro-Ministro;
h) Elaborar um relatório, de três em três anos, sobre a disponibilidade de informações

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do setor público para reutilização e sobre as condições da sua disponibilização, em
particular no que respeita às taxas devidas pela reutilização de documentos que sejam
superiores aos custos marginais, bem como sobre as práticas no que diz respeito a vias
de recurso, o qual deve ser enviado à Assembleia da República, para publicação e
apreciação, e ao Primeiro-Ministro, com vista ao seu envio à Comissão Europeia;
i) Contribuir para o esclarecimento e divulgação das diferentes vias de acesso aos
documentos administrativos no âmbito do princípio da administração aberta;
j) Emitir deliberações sobre aplicação de coimas nos processos de contraordenação
previstos na presente lei.
2 - Os projetos de pareceres e deliberações são elaborados pelos membros da CADA,
com o apoio dos serviços técnicos.
3 - Os pareceres são publicados nos termos do regulamento interno.
Artigo 31.º
Cooperação da administração
1 - Todos os dirigentes, funcionários e agentes dos órgãos e entidades a quem se aplique
a presente lei têm o dever de cooperação com a CADA, sob pena de responsabilidade
disciplinar ou de outra natureza, nos termos da lei.
2 - Para efeitos do número anterior devem ser comunicadas todas as informações
relevantes para o conhecimento das questões apresentadas à CADA no âmbito das suas
competências.
Artigo 32.º
Estatuto dos membros da CADA
1 - Não podem ser membros da CADA os cidadãos que não se encontrem no pleno gozo
dos seus direitos civis e políticos.
2 - São deveres dos membros da CADA:
a) Exercer o cargo com isenção, rigor e independência;
b) Participar ativa e assiduamente nos trabalhos da CADA.
3 - Os membros da CADA não podem ser prejudicados na estabilidade do seu emprego,
na sua carreira profissional, nomeadamente nas promoções a que entretanto tenham
adquirido direito, nem nos concursos públicos a que se submetam e no regime de
segurança social de que beneficiem à data do início do mandato.
4 - Os membros da CADA são inamovíveis, não podendo as suas funções cessar antes
do termo do mandato, salvo nos seguintes casos:
a) Morte;
b) Impossibilidade física permanente ou com uma duração que se preveja ultrapassar a
data do termo do mandato;
c) Renúncia ao mandato;
d) Perda do mandato.
5 - A renúncia ao mandato torna-se eficaz com a apresentação da respetiva declaração
escrita ao presidente da CADA e é publicada na 2.ª série do Diário da República.
6 - Perdem o mandato os membros da CADA que venham a ser abrangidos por
incapacidade ou incompatibilidade prevista na lei ou que faltem, no mesmo ano civil, a
três reuniões consecutivas ou a seis interpoladas, salvo motivo justificado.

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7 - A perda do mandato é objeto de deliberação a publicar na 2.ª série do Diário da
República.
Artigo 33.º
Estatuto remuneratório
1 - O presidente aufere a remuneração e outras regalias a que tem direito como juiz
conselheiro do Supremo Tribunal Administrativo, bem como um abono mensal para
despesas de representação no valor de 20 /prct. do respetivo vencimento base.
2 - À exceção do presidente, todos os membros podem exercer o seu mandato em
acumulação com outras funções e auferem um abono correspondente a 25 /prct. do valor
do índice 100 da escala salarial do pessoal dirigente da função pública.
3 - À exceção do presidente, todos os membros auferem um abono correspondente a 5
/prct. do valor do índice 100 da escala salarial do pessoal dirigente da função pública
por cada sessão da CADA em que participem.
4 - Todos os membros têm direito a ajudas de custo e ao reembolso de despesas com
transportes e com telecomunicações nos termos previstos para o cargo de diretor-geral.
5 - Nas deslocações das personalidades designadas pelos Governos Regionais o abono
das ajudas de custo é processado segundo o regime vigente nas respetivas
administrações regionais.
Artigo 34.º
Competência do presidente
1 - No quadro das orientações dadas pela CADA, o presidente exerce, com
possibilidade de delegação no secretário, as competências fixadas na lei para o cargo de
dirigente máximo de organismo autónomo em matéria de gestão de pessoal, financeira,
patrimonial e administrativa.
2 - A CADA pode delegar no presidente poderes para apreciar e decidir:
a) Queixas manifestamente infundadas ou extemporâneas;
b) Desistências;
c) Casos de inutilidade superveniente;
d) Queixas sobre questões que já tenham sido apreciadas pela CADA de modo uniforme
e reiterado.
Artigo 35.º
Serviços de apoio
A CADA dispõe de serviços próprios de apoio técnico e administrativo, previstos em
regulamento orgânico aprovado em diploma próprio.
CAPÍTULO IV
REGIME SANCIONATÓRIO
Artigo 36.º
Acesso indevido a dados nominativos
1 - Quem, com intenção de aceder indevidamente a dados nominativos, declarar ou atestar
falsamente perante órgão ou entidade referida no n.º 1 do artigo 4.º ser titular de um
interesse direto, pessoal, legítimo e constitucionalmente protegido que justifique o acesso

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à informação ou documentos pretendidos, é punido com pena de prisão até um ano ou
com pena de multa.
2 - A tentativa é punível.

Artigo 37.º

Contraordenações
1 - Praticam contraordenação punível com coima as pessoas singulares ou coletivas que:
a) Reutilizem documentos do setor público sem autorização da entidade competente;
b) Reutilizem documentos do setor público sem observar as condições de reutilização
estabelecidas no n.º 1 do artigo 23.º;
c) Reutilizem documentos do setor público sem que tenham procedido ao pagamento do
valor previsto no n.º 2 do artigo 23.º
2 - As infrações previstas nas alíneas a) e c) do número anterior são puníveis com as
seguintes coimas:
a) Tratando-se de pessoa singular, no mínimo de 300 (euro) e no máximo de 3500 (euro);
b) Tratando-se de pessoa coletiva, no mínimo de 2500 (euro) e no máximo de 25 000
(euro).
3 - A infração prevista na alínea b) do n.º 1 é punível com as seguintes coimas:
a) Tratando-se de pessoa singular, no mínimo de 150 (euro) e no máximo de 1750 (euro);
b) Tratando-se de pessoa coletiva, no mínimo de 1250 (euro) e no máximo de 12 500
(euro).
4 - A tentativa é punível.

Artigo 38.º

Aplicação das coimas


1 - A instrução do processo de contraordenação compete aos serviços da Administração
Pública que tenham detetado a infração, podendo ser completada pelos serviços de apoio
da CADA.
2 - A aplicação de coimas é competência exclusiva da CADA e a respetiva deliberação
constitui título executivo bastante, caso não seja impugnada no prazo legal.

Artigo 39.º
Destino das receitas cobradas
O montante das importâncias cobradas, em resultado da aplicação das coimas, reverte:
a) Em 40 % para a CADA;

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b) Em 40 % para o Estado;
c) Em 20 % para a entidade lesada com a prática da infração.

Artigo 40.º
Omissão de dever
Sempre que a contraordenação resulte da omissão de um dever, a aplicação da sanção e
o pagamento da coima não dispensam o infrator do seu cumprimento, se este ainda for
possível.

Artigo 41.º
Impugnação Judicial

1 - A impugnação de deliberações da CADA reveste a forma de reclamação, a apresentar


no prazo de 10 dias a contar da respetiva notificação.
2 - Em face dessa impugnação, a CADA pode modificar ou revogar a sua decisão,
notificando os arguidos da nova deliberação final.
3 - Caso mantenha a anterior deliberação, a CADA remete a reclamação, no prazo de 10
dias, ao Ministério Público junto do Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa.
Artigo 42.º
Decurso do processo judicial
1 - Compete à CADA remeter toda a informação necessária e relevante para o processo
ao Ministério Público, para que este conclua os autos e os apresente ao juiz.
2 - O juiz pode decidir a questão nos termos da presente lei por simples despacho, se a
tal não se opuserem a defesa, o Ministério Público ou a CADA.
3 - Se houver audiência, as respetivas formalidades são reduzidas ao mínimo
indispensável, não havendo lugar à gravação de prova, nem à audição de mais de três
testemunhas por cada contraordenação imputada.
4 - O juiz tem sempre competência para arbitrar uma indemnização a quem entenda ter
a ela direito.
5 – Da decisão final do juiz cabe recurso per saltum para o Supremo Tribunal
Administrativo, que decide de direito.
CAPÍTULO V
Alterações legislativas

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Artigo 43.º
Alteração ao Regulamento Orgânico da CADA
O artigo 3.º do Regulamento Orgânico da CADA, aprovado em anexo à Lei n.º 10/2012,
de 29 de fevereiro, passa a ter a seguinte redação:
«Artigo 3.º
[…]
1 - ...
2 - ...
3 - ... –4 - Aos técnicos superiores juristas a que se refere o n.º 1 é aplicável, enquanto
desempenharem funções na CADA, o disposto no artigo 26.º do Decreto-Lei n.º 545/99,
de 14 de dezembro, alterado pelo Decreto-Lei n.º 197/2015, de 16 de setembro. –5 - Os
demais trabalhadores a que se refere o n.º 1, enquanto desempenharem funções na
CADA, auferem a remuneração correspondente à posição remuneratória imediatamente
seguinte da respetiva categoria ou carreira.»
Artigo 44.º
Alteração ao Decreto-Lei n.º 16/93, de 23 de janeiro
O artigo 17.º do Decreto-Lei n.º 16/93, de 23 de janeiro (Estabelece o regime geral dos
arquivos e do património arquivístico), alterado pelas Leis n.os 14/94, de 11 de maio, e
107/2001, de 8 de setembro, passa a ter a seguinte redação:
«Artigo 17.º
[...] –1 - É garantido o acesso à documentação conservada em arquivos públicos, salvas
as limitações decorrentes dos imperativos de conservação das espécies, aplicando-se as
restrições decorrentes da legislação geral e especial de acesso aos documentos
administrativo. –2 - São acessíveis os documentos que integrem dados nominativos:
a) Desde que decorridos 30 anos sobre a data da morte das pessoas a que respeitam os
documentos; ou
b) Não sendo conhecida a data da morte, decorridos 40 anos sobre a data dos
documentos, mas não antes de terem decorrido 10 anos sobre o momento do
conhecimento da morte. –3 - Os dados sensíveis respeitantes a pessoas coletivas, como
tal definidos por lei, são comunicáveis decorridos 30 anos sobre a data da extinção da
pessoa coletiva, caso a lei não determine prazo mais curto.
4 - ...»
Artigo 45.º
Alteração à Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro
O artigo 3.º da Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro (Informação genética pessoal e
informação de saúde), passa a ter a seguinte redação:
«Artigo 3.º
[...]
1 - ...
2 - ... –3 - O acesso à informação de saúde por parte do seu titular, ou de terceiros com o
seu consentimento ou nos termos da lei, é exercido por intermédio de médico, com
habilitação própria, se o titular da informação o solicitar. –4 - Na impossibilidade de
apuramento da vontade do titular quanto ao acesso, o mesmo é sempre realizado com
intermediação de médico.»

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CAPÍTULO VI
Disposições finais e transitórias
Artigo 46.º
Disposições transitórias–1 - Os acordos de exclusividade existentes que não respeitem
o disposto no artigo 25.º caducam no termo do respetivo contrato.
2 - O disposto no artigo 25.º da presente lei não prejudica a caducidade dos acordos
exclusivos que já se tenha operado.
3 - As freguesias com menos de 10 000 eleitores dispõem de um período transitório de
adaptação até 1 de maio de 2017 para assegurarem a publicitação da informação
prevista na alínea c) do n.º 1 do artigo 10.º
4 - Os mandatos dos membros da CADA anteriores à entrada em vigor da presente lei,
bem como os mandatos em curso no momento da sua entrada em vigor, não relevam
para a aplicação da limitação de mandatos prevista no n.º 6 do artigo 29.º
Artigo 47.º
Norma revogatória
São revogadas:
a) A Lei n.º 19/2006, de 12 de junho, alterada pelo Decreto-Lei n.º 214-G/2015, de 2 de
outubro;
b) A Lei n.º 46/2007, de 24 de agosto, alterada pelo Decreto-Lei n.º 214-G/2015, de 2
de outubro.
Artigo 48.º
Entrada em vigor e aplicação da lei no tempo
1 - A presente lei entra em vigor no primeiro dia do segundo mês posterior à sua
publicação, sem prejuízo do disposto nos números seguintes.
2 - O artigo 43.º da presente lei entra em vigor a 1 de janeiro de 2017.
3 - O disposto no artigo 29.º aplica-se à designação dos membros da CADA que tenha
lugar em 2016.

Aprovada em 20 de julho de 2016.


O Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues.
Promulgada em 9 de agosto de 2016.
Publique-se.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Referendada em 10 de agosto de 2016.
O Primeiro-Ministro, António Luís Santos da Costa.

LEI QUADRO DAS

CONTRAORDENAÇÕES AMBIENTAIS

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(Lei n.º 50/2006, de 29 de Agosto, última alteração dada pela Lei n.º 25/2019, de 26/03)

A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da


Constituição, o seguinte:

PARTE I
Da contraordenação e da coima

TÍTULO I
Disposições gerais
Artigo 1.º
Âmbito
1 - A presente lei estabelece o regime aplicável às contraordenações ambientais e do
ordenamento do território.
2 - Constitui contraordenação ambiental todo o facto ilícito e censurável que preencha
um tipo legal correspondente à violação de disposições legais e regulamentares
relativas ao ambiente que consagrem direitos ou imponham deveres, para o qual se
comine uma coima.
3 - Para efeitos do número anterior, considera-se como legislação e regulamentação
ambiental toda a que diga respeito às componentes ambientais naturais e humanas, tal
como enumeradas na Lei de Bases do Ambiente.
4 - Constitui contraordenação do ordenamento do território a violação dos planos
municipais e intermunicipais e das medidas preventivas, como tal previstas no título
V da parte I.
5 - Sem prejuízo do disposto no número anterior, a violação dos regulamentos de gestão
dos programas especiais constitui a prática de uma contraordenação ambiental, como tal
previstas nos respetivos regimes legais especiais.

Nota: Ao direito do urbanismo e ambiente aplicam-se em primeiro lugar as normas contraordenacionais


próprias e, subsidiariamente, o regime geral das contraordenações, previsto e regulado no DL n.º 433/82,
de 27 de outubro, que aprovou o “Ilícito de Mera Ordenação Social”, alterado pela última vez pela Lei
n.º 109/2001.

Artigo 2.º
Regime

1 - As contraordenações ambientais e do ordenamento do território são reguladas pelo


disposto na presente lei e, subsidiariamente, pelo regime geral das contraordenações.
2 - (Revogado).
3 - Para efeitos do número anterior, consideram-se regimes especiais os relativos à reserva
agrícola nacional e aos recursos florestais, fitogenéticos, agrícolas, cinegéticos,
pesqueiros e aquícolas das águas interiores.

Artigo 3.º
Princípio da legalidade

Só é punido como contraordenação o facto descrito e declarado passível de coima por lei
anterior ao momento da sua prática.

Artigo 4.º
Aplicação no tempo

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1 - A punição da contraordenação é determinada pela lei vigente no momento da prática
do facto ou do preenchimento dos pressupostos de que depende.
2 - Se a lei vigente ao tempo da prática do facto for posteriormente modificada, aplica-
se a lei mais favorável ao arguido, salvo se este já tiver sido condenado por decisão
definitiva ou transitada em julgado.
3 - Quando a lei valer para um determinado período de tempo, continua a ser punível
como contraordenação o facto praticado durante esse período.

Artigo 5.º
Aplicação no espaço

Salvo tratado ou convenção internacional em contrário, a presente lei é aplicável aos


factos praticados:
a) Em território português, independentemente da nacionalidade ou sede do agente;
b) A bordo de aeronaves, comboios e navios portugueses.

Artigo 6.º
Momento da prática do facto
O facto considera-se praticado no momento em que o agente atuou ou, no caso de
omissão, deveria ter atuado, independentemente do momento em que o resultado típico
se tenha produzido.

Artigo 7.º
Lugar da prática do facto

O facto considera-se praticado no lugar em que, total ou parcialmente e sob qualquer


forma de comparticipação, o agente atuou ou, no caso de omissão, devia ter atuado, bem
como naquele em que o resultado típico se tenha produzido.

Artigo 8.º
Responsabilidade pelas contraordenações

1 - Os administradores, gerentes e outras pessoas que exerçam, ainda que somente de


facto, funções de administração em pessoas coletivas, ainda que irregularmente
constituídas, e outras quaisquer entidades equiparadas são subsidiariamente
responsáveis:
a) Pelas coimas aplicadas a infrações por factos praticados no período do exercício do
seu cargo ou por factos anteriores quando tiver sido por culpa sua que o património da
sociedade ou pessoa coletiva se tornou insuficiente para o seu pagamento;
b) Pelas coimas devidas por factos anteriores quando a decisão definitiva que as aplicar
for notificada durante o período do exercício do seu cargo e lhes seja imputável a falta
de pagamento;
c) Pelas custas processuais decorrentes dos processos instaurados no âmbito da presente
lei.
2 - A responsabilidade subsidiária prevista no número anterior é solidária se forem
várias as pessoas a praticar os atos ou omissões culposos de que resulte a insuficiência
do património das entidades em causa.
3 - Presume-se a insuficiência de património, nomeadamente, em caso de declaração de

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insolvência e de dissolução e encerramento da liquidação.
4 - (Revogado).

Artigo 9.º
Punibilidade por dolo e negligência

1 - As contraordenações são puníveis a título de dolo ou de negligência.


2 - A negligência nas contraordenações é sempre punível.
3 - O erro sobre elementos do tipo, sobre a proibição ou sobre um estado de coisas que,
a existir, afastaria a ilicitude do facto ou a culpa do agente exclui o dolo.

Artigo 10.º
Punibilidade da tentativa

A tentativa é punível nas contraordenações classificadas de graves e muito graves, sendo


os limites mínimos e máximos da respetiva coima reduzidos a metade.

Artigo 11.º
Responsabilidade solidária

Se o agente for pessoa coletiva ou equiparada, respondem pelo pagamento da coima,


solidariamente com esta, os respetivos titulares do órgão máximo das pessoas coletivas
públicas, sócios, administradores ou gerentes.

Artigo 12.º
Erro sobre a ilicitude

1 - Age sem culpa quem atua sem consciência da ilicitude do facto, se o erro lhe não for
censurável.
2 - Se o erro lhe for censurável, a coima pode ser especialmente atenuada.

Nota: 1. Acórdão da Relação do Porto de 23-03-2011 - CONTRA-ORDENAÇÃO. ERRO SOBRE A


ILICITUDE. ERRO SOBRE AS CIRCUNSTÂNCIAS DE FACTO. NEGLIGÊNCIA. (REN) I - Se, no
desconhecimento de que o terreno estava classificado como área de Reserva Ecológica Nacional, o
agente, autorizado pelo proprietário daquele, que também desconhece tal classificação, lança nele um
camião de terra, não age em erro sobre a ilicitude, age em erro sobre as circunstâncias de facto. II - Sendo
aquele desconhecimento imputável a uma falta de informação a uma falta de informação ou de
esclarecimento, conforma o mesmo, quando censurável, o específico tipo de censura da negligência. Proc.
800/10.3TBVLG.P1.

Artigo 13.º
Inimputabilidade em razão da idade

Para os efeitos da presente lei consideram-se inimputáveis os menores de 16 anos.

Artigo 14.º
Inimputabilidade em razão de anomalia psíquica

1 - É inimputável quem, por força de uma anomalia psíquica, é incapaz, no momento da


prática do facto, de avaliar a ilicitude deste ou de se determinar de acordo com essa
avaliação.
2 - Pode ser declarado inimputável quem, por força de uma anomalia psíquica grave,
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não acidental e cujos efeitos não domina, sem que por isso possa ser censurado, tem, no
momento da prática do facto, a capacidade para avaliar a ilicitude deste ou para se
determinar de acordo com essa avaliação sensivelmente diminuída.
3 - A imputabilidade não é excluída quando a anomalia psíquica tiver sido provocada
pelo agente com intenção de praticar o facto.

Artigo 15.º
Autoria

É punível como autor quem executar o facto, por si mesmo ou por intermédio de outrem,
ou tomar parte direta na sua execução, por acordo ou juntamente com outro ou outros, e
ainda quem, dolosamente, determinar outra pessoa à prática do facto, desde que haja
execução ou começo de execução.

Artigo 16.º
Cumplicidade

1 - É punível como cúmplice quem, dolosamente e por qualquer forma, prestar auxílio
material ou moral à prática por outrem de um facto doloso.
2 - É aplicável ao cúmplice a sanção fixada para o autor, especialmente atenuada.

Artigo 17.º
Comparticipação
1 - Se vários agentes comparticiparam no facto, qualquer deles incorre em
responsabilidade por contraordenação mesmo que a ilicitude ou o grau de ilicitude do
facto dependam de certas qualidades ou relações especiais do agente e estas só existam
num dos comparticipantes.
2 - Cada comparticipante é punido segundo a sua culpa, independentemente da punição
ou do grau de culpa dos outros comparticipantes.

TÍTULO II
Do direito de acesso e dos embargos administrativos

Artigo 18.º
Direito de acesso

1 - Os procedimentos de inspeção e de fiscalização ambientais não devem ser


antecedidos de comunicação ou notificação às entidades visadas ou aos responsáveis
pelas instalações e locais a inspecionar.
2 - Excetuam-se do número anterior os casos em que, justificadamente, a comunicação
prévia constitua um requisito fundamental para que a atividade de inspeção ou de
fiscalização não fique condicionada ou prejudicada, nomeadamente:
a) Quando se tratem de procedimentos de inspeção ou fiscalização que impliquem a
consulta de elementos documentais, ou outros, que devam ser previamente preparados
pelos responsáveis dos espaços referidos no número anterior;
b) Quando seja necessário à entidade realizar diligências, com vista à preparação da
inspeção ou fiscalização.
3 - Sempre que existir comunicação prévia, nos termos do número anterior, esta deve
ser fundamentada por escrito.
4 - Às autoridades administrativas, no exercício das funções inspetivas, de fiscalização

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ou vigilância, é facultada a entrada livre nos estabelecimentos e locais onde se exerçam
as atividades a inspecionar.
5 - Os responsáveis pelos espaços referidos no número anterior são obrigados a facultar
a entrada e a permanência às autoridades referidas no número anterior e a apresentar-
lhes a documentação, livros, registos e quaisquer outros elementos que lhes forem
exigidos, bem como a prestar-lhes as informações que forem solicitadas.
6 - Em caso de recusa de acesso ou obstrução à ação inspetiva, de fiscalização ou
vigilância, pode ser solicitada a colaboração das forças policiais para remover tal
obstrução e garantir a realização e segurança dos atos inspetivos.
7 - O disposto neste artigo é aplicável a outros espaços afetos ao exercício das
atividades inspecionadas, nomeadamente aos veículos automóveis, aeronaves, comboios
e navios.

Nota: no caso do n.º 2, al. a), as autoridades policiais (leia-se: forças policiais) são chamadas como
órgãos auxiliares de execução coativa, pelo seu especial treino, equipamento e permanente disponvilidade
(as 24h do dia). Neste caso, em geral, as forças policiais atuam sob a direção da autoridade solicitante,
salvo quanto à forma técnica de intervir, domínio em que as forças policiais têm autonomia.

Artigo 19.º
Embargos administrativos

1 - As autoridades administrativas, no exercício dos seus poderes de vigilância,


fiscalização ou inspeção, podem determinar, dentro da sua área de atuação geográfica, o
embargo de quaisquer construções em áreas de ocupação proibida ou condicionada em
zonas de proteção estabelecidas por lei ou em contravenção à lei, aos regulamentos ou
às condições de licenciamento ou autorização.
2 - As autoridades administrativas podem, para efeitos do artigo anterior, consultar
integralmente e sem reservas, junto das câmaras municipais, os processos respeitantes
às construções em causa, bem como deles solicitar cópias, que devem com caráter de
urgência ser disponibilizados por aquelas.

TÍTULO III
Das coimas e das sanções acessórias

CAPÍTULO I
Da sanção aplicável

Artigo 20.º
Sanção aplicável

1 - A determinação da coima e das sanções acessórias faz-se em função da gravidade da


contraordenação, da culpa do agente, da sua situação económica e dos benefícios
obtidos com a prática do facto.
2 - Na determinação da sanção aplicável são ainda tomadas em conta a conduta anterior
e posterior do agente e as exigências de prevenção.
3 - São ainda atendíveis a coação, a falsificação, as falsas declarações, simulação ou
outro meio fraudulento utilizado pelo agente, bem como a existência de atos de
ocultação ou dissimulação tendentes a dificultar a descoberta da infração.

Artigo 20.º-A
Suspensão da sanção

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1 - Na decisão do processo de contraordenação, a autoridade administrativa pode
suspender, total ou parcialmente, a aplicação da coima, quando se verifiquem as
seguintes condições cumulativas:
a) Seja aplicada uma sanção acessória que imponha medidas adequadas à prevenção de
danos ambientais, à reposição da situação anterior à infração e à minimização dos
efeitos decorrentes da mesma;
b) O cumprimento da sanção acessória seja indispensável à eliminação de riscos para a
saúde, segurança das pessoas e bens ou ambiente.
2 - Nas situações em que a autoridade administrativa não suspenda a coima, nos termos
do número anterior, pode suspender, total ou parcialmente, a execução da sanção
acessória.
3 - A suspensão pode ficar condicionada ao cumprimento de certas obrigações,
designadamente as consideradas necessárias para a regularização de situações ilegais, à
reparação de danos ou à prevenção de perigos para a saúde, segurança das pessoas e
bens e ambiente.
4 - O tempo de suspensão da sanção é fixado entre um e três anos, contando-se o seu
início a partir da data em que se esgotar o prazo da impugnação judicial da decisão
condenatória.
5 - A suspensão da execução da sanção é sempre revogada se, durante o respetivo
período, ocorrer uma das seguintes situações:
a) O arguido cometer uma nova contraordenação ambiental ou do ordenamento do
território, quando tenha sido condenado pela prática, respetivamente, de uma
contraordenação ambiental ou do ordenamento do território;
b) O arguido violar as obrigações que lhe tenham sido impostas.
6 - A revogação determina o cumprimento da sanção cuja execução estava suspensa.

Nota: A Lei Quadro das Contraordenações Ambientais (Lei n.º 50/2006, de 29 de agosto, última
alteração dada pela Lei n.º 25/2019, de 26/03) define a contraordenação ambiental como “todo o facto
ilícito e censurável que preencha um tipo legal correspondente à violação de disposições legais e
regulamentares relativas ao ambiente que consagrem direitos ou imponham deveres, para o qual se comine
uma coima”.

CAPÍTULO II
Coimas

Artigo 21.º
Classificação das contraordenações

Para determinação da coima aplicável e tendo em conta a relevância dos direitos e


interesses violados, as contraordenações classificam-se em leves, graves e muito graves.

Nota: Jurisprudência
1. Acórdão da Relação de Lisboa de 17-02-2011
CONTRA-ORDENAÇÃO AMBIENTAL. ARMAZENAGEM DE RESÍDUOS.
RECOLHA DE RESÍDUOS. REENVIO PREJUDICIAL.
I - O conceito de armazenagem não pode ser coincidente com o de recolha, isto é, tem
que entender-se que a preparação de resíduos para o seu transporte, ainda que implique
deposição, mistura e mudança de transporte, não constitui armazenamento.
II - Armazenamento sujeito à licença é a deposição temporária e controlada de resíduos,

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por prazo determinado, antes do seu tratamento, que excluí as operações de apanha,
selectiva ou indiferenciada, de triagem e ou mistura de resíduos com vista ao seu
transporte, que constituem a recolha de resíduos.
III - Sendo certo que os tribunais nacionais estão sujeitos ao princípio da interpretação
conforme ao direito comunitário, não o é que o Tribunal da Relação esteja obrigado a
suscitar o reenvio prejudicial.
IV - Uma vez que a decisão da Relação que decide o recurso em processo contra-
ordenacional é passível de recurso extraordinário de fixação de jurisprudência, nos
termos do disposto no art. 437.º n.º 2, do Código de Processo Penal, na esteira de João
Mota de Campos, nestes casos não é obrigatório o reenvio prejudicial.

Artigo 22.º
Montantes das coimas

1 - A cada escalão classificativo de gravidade das contraordenações corresponde uma


coima variável consoante seja aplicada a uma pessoa singular ou coletiva e em função
do grau de culpa, salvo o disposto no artigo seguinte.
2 - Às contraordenações leves correspondem as seguintes coimas:
a) Se praticadas por pessoas singulares, de (euro) 200 a (euro) 2 000 em caso de
negligência e de (euro) 400 a (euro) 4 000 em caso de dolo;
b) Se praticadas por pessoas coletivas, de (euro) 2 000 a (euro) 18 000 em caso de
negligência e de (euro) 6 000 a (euro) 36 000 em caso de dolo.
3 - Às contraordenações graves correspondem as seguintes coimas:
a) Se praticadas por pessoas singulares, de (euro) 2 000 a (euro) 20 000 em caso de
negligência e de (euro) 4 000 a (euro) 40 000 em caso de dolo;
b) Se praticadas por pessoas coletivas, de (euro) 12 000 a (euro) 72 000 em caso de
negligência e de (euro) 36 000 a (euro) 216 000 em caso de dolo.
4 - Às contraordenações muito graves correspondem as seguintes coimas:
a) Se praticadas por pessoas singulares, de (euro) 10 000 a (euro) 100 000 em caso de
negligência e de (euro) 20 000 a (euro) 200 000 em caso de dolo;
b) Se praticadas por pessoas coletivas, de (euro) 24 000 a (euro) 144 000 em caso de
negligência e de (euro) 240 000 a (euro) 5 000 000 em caso de dolo.

Nota: 1. Acórdão da Relação de Guimarães de 03-05-2011


RECURSO DE CONTRA-ORDENAÇÃO. IMPUGNAÇÃO DA MATÉRIA DE
FACTO. CONSTITUCIONALIDADE. DIREITO DO AMBIENTE. UTILIZAÇÃO
DO DOMÍNIO HÍDRICO. NEGLIGÊNCIA. GESTÃO DE VEÍCULOS EM FIM DE
VIDA.
I - As normas contidas nos artigos 66º e 75º, n.º1 do RGCO, as quais impedem o recurso
da matéria de facto, não violam os direitos de audiência e defesa constantes do artigo
32º, n.º10 da Constituição da República Portuguesa, por neste último preceito se não
incluir o direito a um duplo grau de jurisdição.
II - O artigo 22.º, n.º 4, b) da Lei n.º 50/2006, de 29/8, com as alterações introduzidas
pela Lei n.º 89/09, de 31/8, ao punir o incumprimento, por parte de pessoas colectivas,
das obrigações impostas pelo título de utilização do domínio hídrico previsto no artigo
81.º, n.º 3, c) do DL n.º 226-A/07 de 31/5, a título negligente, com uma coima abstracta
que varia entre 38.500,00 a 70.000,00, não viola o disposto no artigo 18.º, n.º 2 e 25.º,
n.º 2 da Constituição da República Portuguesa.
III - A referida norma limita-se ao necessário e é perfeitamente adequado e proporcional
à importância dos objectivos visados pela Lei-Quadro das contra-ordenações

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ambientais, ou seja, a criação de um novo regime específico para as contra-ordenações
ambientais, capaz de dar pleno cumprimento às tarefas que, em matéria ambiental, estão
confiadas ao Estado, nos termos da Constituição e da Lei de Bases do Ambiente.
IV - As normas contidas no artigo 20º, n.ºs 4 e 5, do Decreto-Lei n.º 64/2008, de 8 de
Abril, que disciplinam o exercício da actividade de gestão de veículos em fim de vida,
não violam o disposto nos artigos 61º, n.º1 e 66º, n.º1, ambos da Constituição da
República Portuguesa
Proc. 6146/10.0TBBRG.G1
2. Acórdão da Relação de Coimbra de 01-06-2011
INCONSTITUCIONALIDADE DA NORMA
1.- A arguida que no seu recurso se limita a reagir contra a medida da coima, com base
na violação de preceitos constitucionais por parte da decisão judicial, não consubstancia
a invocação da inconstitucionalidade da norma com base na qual foi sancionada.
2.- Não há sentenças inconstitucionais. O que pode haver é normas interpretadas nas
sentenças que em determinadas situações violem disposições constitucionais, mas para
tal a recorrente tem de expressamente invocar a inconstitucionalidade da norma de que a
decisão recorrida tenha feito aplicação.
Proc. 574/10.8 TBTND.C1
3. Cfr. Acordão N.º 557/2011 do Tribunal Constitucional, que decidiu...
'Não julgar inconstitucional a norma do artigo 22.º, n.º 4, alínea a), da Lei n.º 50/2006,
de 29 de Agosto, na redacção dada pela Lei n.º 89/2009, de 31 de Agosto, na medida em
que prevê a quantia de euros 20 000 como montante mínimo da coima aplicável às
pessoas singulares pela prática de uma contra-ordenação qualificada como muito grave;'
4. Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 110/2012. D.R. n.º 72, Série II de 2012-04-
11:
Não julga inconstitucional a norma do artigo 22.º, n.º 4, alínea b), da Lei n.º 50/2006, de
29 de agosto, na redação dada pela Lei n.º 89/2009, de 31 de agosto, na medida em que
prevê o montante de (euro) 38 500 como coima mínima aplicável às pessoas coletivas
pela prática de contraordenação ambiental qualificada como muito grave.

Nota: Nota: A Lei Quadro das Contra-Ordenações Ambientais (Lei n.º 50/2006, de 29 de agosto, última
alteração dada pela Lei n.º 25/2019, de 26/03) define a contraordenação ambiental como “todo o facto
ilícito e censurável que preencha um tipo legal correspondente à violação de disposições legais e
regulamentares relativas ao ambiente que consagrem direitos ou imponham deveres, para o qual se
comine uma coima”.

Artigo 23.º
Critérios especiais de medida da coima

A moldura da coima nas contraordenações muito graves previstas nas alíneas a) e b) do


n.º 4 do artigo 22.º é elevada para o dobro nos seus limites mínimo e máximo quando a
presença ou emissão de uma ou mais substâncias perigosas afete gravemente a saúde, a
segurança das pessoas e bens e o ambiente.

Artigo 23.º-A
Atenuação especial da coima

1 - Para além dos casos expressamente previstos na lei, a autoridade administrativa


atenua especialmente a coima, quando existirem circunstâncias anteriores ou posteriores
à prática da contraordenação, ou contemporâneas dela, que diminuam por forma

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acentuada a ilicitude do facto, a culpa do agente ou a necessidade da coima.
2 - Para efeito do disposto no número anterior, são consideradas, entre outras, as
circunstâncias seguintes:
a) Ter havido atos demonstrativos de arrependimento do agente, nomeadamente a
reparação, até onde lhe era possível, dos danos causados e o cumprimento da norma,
ordem ou mandado infringido;
b) Terem decorrido dois anos sobre a prática da contraordenação, mantendo o agente
boa conduta.
3 - Só pode ser atendida uma única vez a circunstância que, por si mesma ou
conjuntamente com outras circunstâncias, der lugar simultaneamente a uma atenuação
especialmente prevista na lei e à prevista neste artigo.

Artigo 23.º-B
Termos da atenuação especial

Sempre que houver lugar à atenuação especial da coima, os limites mínimos e máximos
da coima são reduzidos a metade.

Artigo 24.º
Cumprimento do dever omitido

Sempre que a contraordenação consista na omissão de um dever, o pagamento da coima


não dispensa o infrator do seu cumprimento, se este ainda for possível.

Artigo 25.º
Ordens da autoridade administrativa

1 - Constitui contraordenação leve o incumprimento de ordens ou mandados legítimos


da autoridade administrativa, transmitidos por escrito aos seus destinatários, quando à
mesma conduta não seja aplicável sanção mais grave.
2 - O incumprimento de ordens ou mandados legítimos, a que se refere o número
anterior, após a respetiva notificação, constitui contraordenação grave.
3 - A notificação das ordens ou mandados legítimos, nos termos do n.º 1, inclui
expressamente o prazo fixado para o cumprimento da ordem ou mandado e a
informação do agravamento da medida da contraordenação em caso de incumprimento,
nos termos do número anterior.
4 - Os documentos, nomeadamente mapas, guias de transporte, relatórios e boletins que
o agente ou o arguido esteja obrigado a enviar por força da lei ou a solicitação da
autoridade administrativa, são tidos, para todos os efeitos legais, como não enviados
quando omitam dados ou sejam remetidos incorretamente.

Artigo 26.º
Reincidência

1 - É punido como reincidente quem cometer uma infração muito grave ou grave,
depois de ter sido condenado por uma infração muito grave ou grave.
2 - (Revogado).
3 - A infração pela qual o agente tenha sido condenado não releva para efeitos de
reincidência se entre as duas infrações tiver decorrido o prazo de prescrição da primeira.

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4 - Em caso de reincidência, os limites mínimo e máximo da coima são elevados em um
terço do respetivo valor.

Artigo 27.º
Concurso de contraordenações

1 - Quem tiver praticado várias contraordenações é punido com uma coima cujo limite
máximo resulta da soma das coimas concretamente aplicadas às infrações em concurso.
2 - A coima a aplicar não pode exceder o dobro do limite máximo mais elevado das
contraordenações em concurso.
3 - A coima a aplicar não pode ser inferior à mais elevada das coimas concretamente
aplicadas às várias contraordenações.

Artigo 28.º
Concurso de infracções

1 - Se o mesmo facto constituir simultaneamente crime e contraordenação, o agente é


sempre punido a título de crime, sem prejuízo da aplicação das sanções acessórias
previstas para a contraordenação.
2 - Quando se verifique concurso de crime e contraordenação, ou quando, pelo mesmo
facto, uma pessoa deva responder a título de crime e outra a título de contraordenação, o
processamento da contraordenação cabe às autoridades competentes para o processo
criminal, nos termos do regime geral das contraordenações.
3 - (Revogado).

CAPÍTULO III
Sanções acessórias

Artigo 29.º
Procedimento

A lei pode, simultaneamente com a coima, determinar, relativamente às infrações graves


e muito graves, a aplicação de sanções acessórias, nos termos previstos nos artigos
seguintes e no regime geral das contraordenações.

Artigo 30.º
Sanções acessórias

1 - Pela prática de contraordenações graves e muito graves podem ser aplicadas ao


infrator as seguintes sanções acessórias:
a) Apreensão e perda a favor do Estado dos objetos pertencentes ao arguido,
utilizados ou produzidos aquando da infração;
b) Interdição do exercício de profissões ou atividades cujo exercício dependa de
título público ou de autorização ou homologação de autoridade pública;
c) Privação do direito a benefícios ou subsídios outorgados por entidades ou serviços
públicos nacionais ou comunitários;
d) Privação do direito de participar em conferências, feiras ou mercados nacionais
ou internacionais com intuito de transacionar ou dar publicidade aos seus produtos ou às
suas atividades;
e) Privação do direito de participar em arrematações ou concursos públicos que

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tenham por objeto a empreitada ou concessão de obras públicas, a aquisição de bens e
serviços, a concessão de serviços públicos e a atribuição de licenças ou alvarás;
f) Encerramento de estabelecimento cujo funcionamento esteja sujeito a autorização
ou licença de autoridade administrativa;
g) Cessação ou suspensão de licenças, alvarás ou autorizações relacionados com o
exercício da respetiva atividade;
h) Perda de benefícios fiscais, de benefícios de crédito e de linhas de financiamento de
crédito de que haja usufruído;
i) Selagem de equipamentos destinados à laboração;
j) Imposição das medidas que se mostrem adequadas à prevenção de danos
ambientais, à reposição da situação anterior à infração e à minimização dos efeitos
decorrentes da mesma;
l) Publicidade da condenação;
m) Apreensão de animais.
2 - No caso de ser aplicada a sanção prevista nas alíneas c) e h) do número anterior,
deve a autoridade administrativa comunicar de imediato à entidade que atribui o
benefício ou subsídio com vista à suspensão das restantes parcelas dos mesmos.
3 - No caso do recebimento pelo infrator da totalidade ou parte do benefício ou
subsídio, pode o mesmo ser condenado a devolvê-lo.
4 - As sanções referidas nas alíneas b) a j) do n.º 1 têm a duração máxima de três anos,
contados a partir da data da decisão condenatória definitiva.
5 - Quando se verifique obstrução à execução das medidas previstas nas alíneas f), i) e j)
do n.º 1 do presente artigo, pode igualmente ser solicitada às entidades competentes a
notificação dos distribuidores de energia elétrica para interromperem o fornecimento
desta.
6 - No caso de ser aplicada a sanção prevista na alínea m) do n.º 1, deve a autoridade
administrativa comunicar de imediato à entidade licenciadora da respetiva atividade,
para que esta a execute.

Artigo 31.º
Pressupostos da aplicação das sanções acessórias

1 - A sanção referida na alínea a) do n.º 1 do artigo anterior só pode ser decretada


quando os objetos serviram ou estavam destinados a servir para a prática de uma
contraordenação ou por esta foram produzidos.
2 - A sanção prevista na alínea b) do n.º 1 do artigo anterior só pode ser decretada se o
arguido praticou a contraordenação em flagrante e grave abuso da função que exerce ou
com manifesta e grave violação dos deveres que lhe são inerentes.
3 - A sanção prevista na alínea c) do n.º 1 do artigo anterior só pode ser decretada
quando a contraordenação tiver sido praticada no exercício ou por causa da atividade a
favor da qual é atribuído o subsídio.
4 - A sanção prevista na alínea d) do n.º 1 do artigo anterior só pode ser decretada
quando a contraordenação tiver sido praticada durante ou por causa da participação em
conferência, feira ou mercado.
5 - A sanção prevista na alínea e) do n.º 1 do artigo anterior só pode ser decretada
quando a contraordenação tiver sido praticada durante ou por causa dos atos públicos ou
no exercício ou por causa das atividades mencionadas nessa alínea.
6 - A sanção prevista nas alíneas f) e g) do n.º 1 do artigo anterior só pode ser decretada
quando a contraordenação tenha sido praticada no exercício ou por causa da atividade a
que se referem as autorizações, licenças ou alvarás ou por causa do funcionamento do

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estabelecimento.
7 - A sanção prevista na alínea h) do n.º 1 do artigo anterior só pode ser decretada
quando a contraordenação tiver sido praticada no exercício ou por causa da atividade a
favor da qual é atribuído o benefício ou financiamento e estes tenham sido atribuídos
direta ou indiretamente pelo Estado ou provenham da União Europeia.
8 - A sanção prevista na alínea i) do n.º 1 do artigo anterior só pode ser decretada
quando a contraordenação tiver sido praticada através do equipamento em causa ou com
o concurso daquele.
9 - A sanção prevista na alínea m) do n.º 1 do artigo anterior só pode ser decretada
quando os animais objeto de apreensão serviram ou estavam destinados a servir para a
prática de uma contraordenação.

Artigo 32.º
Interdição e inibição do exercício da actividade

1 - Pode ser aplicada aos responsáveis por qualquer contraordenação a interdição


temporária, até ao limite de três anos, do exercício da profissão ou da atividade a que a
contraordenação respeita.
2 - A sanção prevista neste artigo só pode ser decretada se o arguido praticou a
contraordenação em flagrante e grave abuso da função que exerce ou com manifesta e
grave violação dos deveres que lhe são inerentes.

Artigo 33.º
Perda de objectos

1 - Podem ser declarados perdidos os objetos que serviram ou estavam destinados a


servir para a prática de uma contraordenação ou que em consequência desta foram
produzidos, quando tais objetos representem, pela sua natureza ou pelas circunstâncias
do caso, grave perigo para a saúde, segurança de pessoas e bens ou ambiente, ou exista
sério risco da sua utilização para a prática de um crime ou de outra contraordenação em
matéria ambiental ou de ordenamento do território.
2 - Salvo se o contrário resultar da presente lei ou do regime geral das contraordenações,
são aplicáveis à perda de objetos as regras relativas à sanção acessória de perda de
objetos.

Artigo 34.º
Perda do valor

Quando, devido a atuação dolosa do agente, se tiver tornado total ou parcialmente


inexequível a perda de objetos que, no momento da prática do facto, lhe pertenciam, pode
ser declarada perdida uma quantia em dinheiro correspondente ao valor daqueles.

Artigo 35.º
Efeitos da perda

O caráter definitivo ou o trânsito em julgado da decisão de perda determina a transferência


da propriedade para o Estado.

Artigo 36.º
Perda independente de coima

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A perda de objetos ou do respetivo valor pode ter lugar ainda que não possa haver
procedimento contra o agente ou a este não seja aplicada uma coima.

Artigo 37.º
Objetos pertencentes a terceiro

A perda de objetos pertencentes a terceiro só pode ter lugar:


a) Quando os seus titulares tiverem concorrido, com culpa, para a sua utilização ou
produção ou do facto tiverem tirado vantagens; ou
b) Quando os objetos forem, por qualquer título, adquiridos após a prática do facto,
conhecendo os adquirentes a proveniência.

Artigo 38.º
Publicidade da condenação

1 - A lei determina os casos em que a prática de infrações graves e muito graves é


objeto de publicidade.
2 - A publicidade da condenação referida no número anterior pode consistir na
publicação de um extrato com a caracterização da infração e a norma violada, a
identificação do infrator e a sanção aplicada:
a) Num jornal diário de âmbito nacional e numa publicação periódica local ou regional,
da área da sede do infrator, a expensas deste;
b) Na 2.ª série do Diário da República, no último dia útil de cada trimestre, em relação
aos infratores condenados no trimestre anterior, a expensas destes.
3 - As publicações referidas no número anterior são promovidas pelo tribunal
competente, em relação às infrações objeto de decisão judicial, e pela autoridade
administrativa, nos restantes casos.

Artigo 39.º
Suspensão da sanção

(Revogado).

TÍTULO IV
Da prescrição

Artigo 40.º
Prescrição

1 - O procedimento pelas contraordenações graves e muito graves prescreve logo que


sobre a prática da contraordenação haja decorrido o prazo de cinco anos, sem prejuízo
das causas de interrupção e suspensão previstas no regime geral.
2 - O procedimento pelas contraordenações leves prescreve logo que sobre a prática da
contraordenação haja decorrido o prazo de três anos, sem prejuízo das causas de
interrupção e suspensão previstas no regime geral.
3 - O prazo de prescrição da coima e sanções acessórias é de:
a) Três anos, no caso das contraordenações graves ou muito graves;
b) Dois anos, no caso de contraordenações leves.
4 - O prazo referido no número anterior conta-se a partir do dia em que se torna

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definitiva ou transita em julgado a decisão que determinou a sua aplicação, sem prejuízo
das causas de interrupção e suspensão previstas no regime geral.

Nota: 1. Acórdão da Relação de Coimbra de 06-04-2011


PRAZO DE PRESCRIÇÃO. AMBIENTE. CONTRA-ORDENAÇÃO. PRINCÍPIO DA
PROPORCIONALIDADE.(Sucata e veículos em fim de vida)
1.- No caso de a norma não distinguir, o montante máximo da coima que por
comportamento negligente pode ser sancionado, tem como limite metade do montante
da coima prevista para o comportamento doloso.
2.- Assim constitui esse o limite máximo abstracto da coima que tem de ser considerado
para o efeito de determinação do prazo de prescrição do procedimento contra-
ordenacional, de acordo com o Regime Geral.
3.- Não viola o princípio da proporcionalidade a norma que sanciona com a coima
mínima de 20.000,00, a contra-ordenação prevista pelo nº 1 do art. 20º e pela al. d) do nº
1 e 4 do art. 24º do Decreto-lei nº 196/2003 de 23 de Agosto, na redacção do Decreto-lei
nº 64/2008 de 08 de Abril e punida nos termos do art. 22 nº 4 al. a) da lei nº 50/2006 de
29-08, com as alterações da Lei 89/2009 de 31-08, pois se trata de infracção ambiental
muito grave e, sendo infracção muito grave tem a sanção de ser condizente.
Proc. 1755/10.0T2AGD.C1

TÍTULO V
Contraordenações do ordenamento do território

Artigo 40.º-A
Contraordenações por violação de planos territoriais

1 - Constitui contraordenação muito grave, punível nos termos do disposto na


presente lei, a prática dos seguintes atos em violação de disposições de plano
intermunicipal ou de plano municipal de ordenamento do território:
a) As obras de construção, ampliação e demolição;
b) A execução de operações de loteamento;
c) A instalação de depósitos de sucata, de ferro-velho, de entulho ou de resíduos ou de
qualquer natureza;
d) A ocupação e transformação do uso do solo para a construção, alteração, ampliação
ou utilização de pedreiras.
2 - Constitui contraordenação grave, punível nos termos do disposto na presente lei, a
prática dos seguintes atos em violação de disposições de plano intermunicipal ou de
plano municipal de ordenamento do território:
a) As obras de alteração ou de reconstrução;
b) A utilização de edificações ou a ocupação e transformação do uso do solo para o
exercício de atividades não admitidas pelo plano;
c) A instalação ou ampliação de infraestruturas, nomeadamente de produção,
distribuição e transporte de energia elétrica, de telecomunicações, de armazenamento e
transporte de gases, águas e combustíveis ou de saneamento básico;
d) A abertura de estradas, caminhos ou de novas vias de comunicação ou de acesso;
e) A realização de aterros ou escavações;
f) As demais operações urbanísticas que correspondam a trabalhos de remodelação dos
terrenos.
3 - Constitui contraordenação grave a violação das limitações decorrentes do
estabelecimento de medidas preventivas ou das disposições estabelecidas por normas

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provisórias.
4 - As contraordenações previstas nos números anteriores são comunicadas ao Instituto
da Construção e do Imobiliário, I. P..
Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. ee), do regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de
setembro, última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), “resíduos” são “quaisquer substâncias ou
objetos de que o detentor se desfaz ou tem a intenção ou a obrigação de se desfazer”.

Artigo 40.º-B
Contraordenações por violação de programas especiais

As contraordenações por violação do disposto nos regulamentos de gestão dos programas


especiais são contraordenações ambientais e encontram-se definidas e tipificadas nos
respetivos regimes legais aplicáveis.

Artigo 40.º-C
Competências para a fiscalização

1 - A fiscalização do cumprimento das normas previstas nos planos territoriais


intermunicipais e municipais compete às câmaras municipais e, sempre que esteja
em causa a salvaguarda de valores nacionais ou regionais, à comissão de coordenação e
desenvolvimento regional territorialmente competente.
2 - O disposto no número anterior não prejudica os poderes de fiscalização que, em
razão da matéria, competem às demais autoridades públicas, designadamente no que se
refere à proteção e salvaguarda dos recursos naturais.

Artigo 40.º-D
Competências para a instauração e decisão

1 - É competente para a instauração e decisão do processo de contraordenação por


violação de plano intermunicipal ou municipal, o presidente da câmara municipal, em
cuja circunscrição se tiver consumado a infração ou, caso a infração não tenha chegado
a consumar-se, onde tiver sido praticado o último ato de execução.
2 - No caso previsto no número anterior, quando a contraordenação resulte de violação
de plano intermunicipal e não for possível determinar a circunscrição em que foi
consumada a infração, ou onde foi praticado o último ato de execução, aplica-se o
disposto no artigo 37.º do regime geral das contraordenações.
3 - É, ainda, competente para a instauração e decisão do processo de contraordenação,
por violação de plano intermunicipal ou municipal, o presidente da comissão de
coordenação e desenvolvimento regional territorialmente competente, quando esteja em
causa a prossecução de objetivos de interesse nacional ou regional.
4 - São competentes para a instauração e decisão do processo de contraordenação por
violação dos regulamentos de gestão dos programas especiais referidas no n.º 5 do
artigo 1.º as entidades que são competentes em matéria de proteção e salvaguarda de
recursos e valores naturais e o inspetor-geral da Agricultura, Mar, Ambiente e
Ordenamento do Território.
5 - Quando a entidade autuante não tenha competências para instruir o processo, o
mesmo deve ser remetido às entidades competentes referidas nos números anteriores.

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PARTE II
Do processo de contraordenação

TÍTULO I
Das medidas cautelares

Artigo 41.º
Determinação das medidas cautelares

1 - Quando se revele necessário para a instrução do processo de contraordenação


ambiental ou quando estejam em causa a saúde, a segurança das pessoas e bens e o
ambiente, a autoridade administrativa pode determinar uma ou mais das seguintes
medidas:
a) Suspensão da laboração ou o encerramento preventivo no todo ou em parte da
unidade poluidora;
b) Notificação do arguido para cessar as atividades desenvolvidas em violação dos
componentes ambientais;
c) Suspensão de alguma ou algumas atividades ou funções exercidas pelo arguido;
d) Sujeição da laboração a determinadas condições necessárias ao cumprimento da
legislação ambiental;
e) Selagem de equipamento por determinado tempo;
f) Recomendações técnicas a implementar obrigatoriamente quando esteja em causa a
melhoria das condições ambientais de laboração;
g) Imposição das medidas que se mostrem adequadas à prevenção de danos ambientais,
à reposição da situação anterior à infração e à minimização dos efeitos decorrentes da
mesma.
2 - A determinação referida no número anterior vigora, consoante os casos:
a) Até à sua revogação pela autoridade administrativa ou por decisão judicial;
b) Até ao início do cumprimento de sanção acessória de efeito equivalente às medidas
previstas no artigo 30.º da presente lei;
c) Até à superveniência de decisão administrativa ou judicial que não condene o arguido
às sanções acessórias previstas no artigo 30.º, quando tenha sido decretada medida
cautelar de efeito equivalente;
d) Até à ultrapassagem do prazo de instrução estabelecido pelo artigo 48.º
3 - Quando se verifique obstrução à execução das medidas previstas no n.º 1 deste
artigo, pode ser solicitada pela autoridade administrativa às entidades distribuidoras de
energia elétrica a interrupção do fornecimento desta aos arguidos por aquela indicados.
4 - A determinação da suspensão e do encerramento preventivo previstos no n.º 1
podem ser objeto de publicação pela autoridade administrativa, sendo as custas da
publicação suportadas pelo infrator.
5 - Quando, nos termos da alínea c) do n.º 1, seja determinada a suspensão total das
atividades ou das funções exercidas pelo arguido e este venha a ser condenado, no
mesmo processo, em sanção acessória que consista em interdição ou inibição do
exercício das mesmas atividades ou funções, é descontado por inteiro no cumprimento
da sanção acessória o tempo de duração da suspensão preventiva.

Artigo 42.º
Apreensão cautelar

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1 - A lei pode determinar a apreensão provisória pela autoridade administrativa, nos
termos desta lei e do regime geral das contraordenações, nomeadamente dos seguintes
bens e documentos:
a) Equipamentos destinados à laboração;
b) Licenças, certificados, autorizações, aprovações, guias de substituição e ou outros
documentos equiparados;
c) Animais ou plantas de espécies protegidas ilegalmente na posse de pessoas singulares
ou coletivas.
2 - No caso de apreensão nos termos da alínea a) do número anterior, pode o seu
proprietário, ou quem o represente, ser designado fiel depositário, com a obrigação de
não utilizar os bens cautelarmente apreendidos, sob pena de crime de desobediência
qualificada.

TÍTULO II
Do processo

CAPÍTULO I
Das notificações

Artigo 43.º
Notificações

1 - As notificações em processo de contraordenação são efetuadas por carta registada,


com aviso de receção, sempre que se impute ao arguido a prática de contraordenação da
decisão que lhe aplique coima ou admoestação, sanção acessória ou alguma medida
cautelar, bem como a convocação para este assistir ou participar em atos ou diligências.
2 - As notificações são dirigidas para a sede ou para o domicílio dos destinatários.
3 - Se, por qualquer motivo, a carta registada, com aviso de receção, for devolvida à
entidade competente a notificação é reenviada ao notificando para o seu domicílio ou
sede, através de carta simples.
4 - Na notificação por carta simples deve expressamente constar, no processo, a data de
expedição da carta e do domicílio para o qual foi enviada, considerando-se a notificação
efetuada no 5.º dia posterior à data ali indicada, cominação esta que deve constar do ato
de notificação.
5 - Sempre que o notificando se recusar a receber ou assinar a notificação, o agente
certifica a recusa, considerando-se efetuada a notificação.
6 - As notificações referidas nos números anteriores podem ser efetuadas por telefax ou
via correio eletrónico, sempre que haja conhecimento do telefax ou do endereço de
correio eletrónico do notificando.
7 - Quando a notificação for efetuada por telefax ou via correio eletrónico, presume-se
que foi feita na data da emissão, servindo de prova, respetivamente, a cópia do aviso
onde conste a menção de que a mensagem foi recebida com sucesso, bem como a data,
hora e número de telefax do recetor ou o extrato da mensagem efetuada, o qual é junto
aos autos.
8 - O despacho que ordene a notificação pode ser impresso e assinado por chancela.
9 - Constitui notificação o recebimento pelo interessado de cópia de ata ou assento do
ato a que assista.
10 - As notificações efetuadas por simples carta registada presumem-se feitas no 3.º dia
posterior ao do registo ou no 1.º dia útil seguinte a esse, quando esse dia não seja útil.
11 - Havendo aviso de receção, a notificação considera-se efetuada na data em que ele

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for assinado e tem-se por efetuada na própria pessoa do notificando, mesmo quando o
aviso de receção haja sido assinado por terceiro presente na sede ou domicílio do
destinatário, presumindo-se, neste caso, que a carta foi oportunamente entregue àquele.
12 - Os interessados que intervenham em quaisquer procedimentos contraordenacionais
nas autoridades administrativas de fiscalização ou inspeção ambiental comunicam, no
prazo de 10 dias úteis, qualquer alteração da sua sede ou domicílio.
13 - A falta de recebimento de qualquer aviso ou comunicação, devido ao não
cumprimento do disposto no número anterior, não é oponível às autoridades
administrativas, produzindo todos os efeitos legais, sem prejuízo do que se dispõe
quanto à obrigatoriedade da notificação e dos termos por que deve ser efetuada.

Artigo 44.º
Notificações ao mandatário

1 - As notificações aos arguidos que tenham constituído mandatário são, sempre que
possível, feitas na pessoa deste e no seu domicílio profissional.
2 - Quando a notificação tenha em vista a convocação de testemunhas ou peritos, além
da notificação destes é ainda notificado o mandatário, indicando-se a data, o local e o
motivo da comparência.
3 - Para os efeitos do número anterior, o arguido, sempre que arrolar testemunhas, deve
fornecer todos os elementos necessários à sua notificação, designadamente indicar
corretamente a morada e o respetivo código postal relativo a cada uma delas.
4 - As notificações referidas nos números anteriores são feitas por carta registada, com
aviso de receção, aplicando-se às mesmas o disposto nos n.º s 3, 4 e 5 do artigo anterior.

CAPÍTULO II
Processamento

Artigo 45.º
Auto de notícia ou participação

1 - A autoridade administrativa levanta o respetivo auto de notícia quando, no exercício


das suas funções, verificar ou comprovar pessoalmente, ainda que por forma não
imediata, qualquer infração às normas referidas no artigo 1.º, o qual serve de meio de
prova das ocorrências verificadas.
2 - Relativamente às infrações de natureza contraordenacional cuja verificação a
autoridade administrativa não tenha comprovado pessoalmente, a mesma deve elaborar
uma participação instruída com os elementos de prova de que disponha.

Artigo 46.º
Elementos do auto de notícia e da participação

1 - O auto de notícia ou a participação referida no artigo anterior deve, sempre que


possível, mencionar:
a) Os factos que constituem a infração;
b) O dia, a hora, o local e as circunstâncias em que a infração foi cometida ou detetada;
c) No caso de a infração ser praticada por pessoa singular, os elementos de identificação
do infrator e da sua residência;
d) No caso de a infração ser praticada por pessoa coletiva ou equiparada, os seus
elementos de identificação, nomeadamente a sua sede, identificação e residência dos

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respetivos gerentes, administradores e diretores;
e) A identificação e residência das testemunhas;
f) Nome, categoria e assinatura do autuante ou participante.
2 - As entidades que não tenham competência para proceder à instrução do processo de
contraordenação devem remeter o auto de notícia ou participação no prazo de 10 dias
úteis à autoridade administrativa competente.

Artigo 47.º
Identificação pelas autoridades administrativas

As autoridades administrativas competentes podem exigir ao agente de uma


contraordenação a respetiva identificação sob pena de crime de desobediência.

Artigo 47.º-A
Advertência

1 - Após confirmar a receção do auto de notícia, a autoridade administrativa pode optar


por não proceder à instrução e decisão do processo de contraordenação, advertindo o
autuado, quando se verifiquem, cumulativamente, as seguintes situações:
a) Esteja em causa apenas a prática de contraordenações ambientais classificadas como
leves;
b) Não exista, nos últimos cinco anos, qualquer condenação do autuado por
contraordenação ambiental grave ou muito grave;
c) Tenha decorrido um período superior a três anos sobre advertência anterior relativa à
mesma contraordenação ambiental.
2 - Na situação prevista no número anterior, a autoridade administrativa adverte o
autuado para, em prazo determinado, demonstrar que se encontra a cumprir a norma
ordem ou mandado a que se refere o auto de notícia e que promoveu a reparação da
situação anterior ao mesmo auto.
3 - Sempre que necessário, a autoridade administrativa notifica o autuado para a adoção
das medidas necessárias para reparar a situação.
4 - Se o autuado cumprir o disposto nos n.º s 2 e 3, a autoridade administrativa
determina o arquivamento dos autos.
5 - Se o autuado não cumprir o disposto nos n.º s 2 e 3, o procedimento
contraordenacional prossegue os seus termos legais, sendo aplicável ao incumprimento
o disposto no n.º 1 do artigo 25.º
6 - A decisão de aplicação da advertência prevista no presente artigo não constitui uma
decisão condenatória.

Nota: A Lei Quadro das Contra-Ordenações Ambientais (Lei n.º 50/2006, de 29 de agosto, última alteração
dada pela Lei n.º 25/2019, de 26/03) define a contraordenação ambiental como “todo o facto ilícito e
censurável que preencha um tipo legal correspondente à violação de disposições legais e regulamentares
relativas ao ambiente que consagrem direitos ou imponham deveres, para o qual se comine uma coima”.

Artigo 48.º
Instrução

1 - O autuante ou participante não pode exercer funções instrutórias no mesmo


processo.
2 - O prazo para a instrução é de 180 dias contados a partir da data de distribuição ao

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respetivo instrutor.
3 - Se a instrução não puder ser concluída no prazo indicado no número anterior, a
autoridade administrativa pode, sob proposta fundamentada do instrutor, prorrogar o
prazo por um período até 120 dias.

Artigo 49.º
Direito de audiência e defesa do arguido

1 - O auto de notícia, depois de confirmado pela autoridade administrativa e antes de ser


tomada a decisão final, é notificado ao infrator conjuntamente com todos os elementos
necessários para que este fique a conhecer a totalidade dos aspetos relevantes para a
decisão, nas matérias de facto e de direito, para, no prazo de 15 dias úteis, se pronunciar
por escrito sobre o que se lhe oferecer por conveniente.
2 - No mesmo prazo deve, querendo, apresentar resposta escrita, juntar os documentos
probatórios de que disponha e arrolar testemunhas, até ao máximo de duas por cada
facto, num total de sete.
3 - Consideram-se não escritos os nomes das testemunhas que no rol ultrapassem o
número legal, bem como daquelas relativamente às quais não sejam indicados os
elementos necessários à sua notificação.

Artigo 49.º-A
Redução da coima

1 - No prazo máximo de 15 dias úteis após a notificação efetuada nos termos do n.º 1 do
artigo anterior, o arguido pode requerer a redução da coima relativa a contraordenações
leves e graves até 25 /prct. do montante mínimo legal.
2 - No prazo previsto no número anterior, o arguido pode requerer, também, o
pagamento faseado da coima até quatro prestações mensais, desde que comprove que a
sua situação económica não permite o pagamento da coima numa prestação única.
3 - A redução da coima e o pagamento faseado da coima só podem ter lugar se o
arguido comprovar, cumulativamente, as seguintes condições:
a) Que cessou a conduta ilícita, por ação ou omissão, objeto da contraordenação ou
contraordenações cuja prática lhe foi imputada;
b) Que não é reincidente.
4 - Para efeitos do n.º 1, é considerado como montante mínimo da coima o estabelecido
para os casos de negligência.
5 - Quando sejam apresentados pedidos nos termos dos n.º s 1 e 2, compete à autoridade
administrativa determinar o montante da redução da coima e o pagamento em
prestações, em função da situação económica do arguido.
6 - A coima deve ser paga nos 10 dias úteis posteriores à notificação para pagamento,
sob pena do respetivo procedimento contraordenacional prosseguir os seus trâmites
legais.
7 - O pagamento da coima nos termos do presente artigo equivale a condenação para
efeitos de reincidência, não excluindo a possibilidade de aplicação de sanções
acessórias.
8 - O não pagamento de qualquer das prestações, que tenham sido definidas em
conformidade com o disposto no presente artigo, dá lugar à prossecução do respetivo
procedimento contraordenacional.
9 - A apresentação do requerimento nos termos do n.º 1 não suspende o prazo previsto
no n.º 1 do artigo anterior.

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Artigo 49.º-B
Certidão de dívida

1 - Quando se verifique que a coima ou as custas não foram pagas, decorrido o prazo
legal de pagamento, contado a partir da data em que a decisão se tornou definitiva, é
extraída certidão de dívida com base nos elementos constantes do processo de
contraordenação.
2 - A certidão de dívida contém os seguintes elementos:
a) Identificação do agente da infração, incluindo o nome completo ou denominação
social, a residência e o número do documento legal de identificação ou, quando se trate
de pessoa coletiva, o número de identificação fiscal e o domicílio fiscal;
b) Descrição da infração, incluindo dia, hora e local em que foi cometida;
c) Número do processo de contraordenação;
d) Proveniência da dívida e seu montante, especificando o montante da coima e o das
custas;
e) A data da decisão condenatória da coima ou custas, a data da sua notificação ao
devedor e a data em que a decisão condenatória se tornou definitiva;
f) Quaisquer outras indicações úteis para o eficaz seguimento da execução.
3 - A assinatura da certidão de dívida pode ser efetuada por assinatura autógrafa
autenticada com selo branco ou por assinatura digital qualificada com certificado
digital.
4 - A certidão de dívida serve de base à instrução do processo de execução a promover
pelos tribunais competentes, nos termos do regime geral das contraordenações.

Artigo 50.º
Comparência de testemunhas e peritos

1 - As testemunhas e os peritos devem ser ouvidos na sede da autoridade


administrativa onde se realize a instrução do processo ou numa delegação daquela,
caso esta a possua.
2 - As testemunhas podem ser ouvidas pela autoridade policial, a seu requerimento ou
a pedido da autoridade administrativa.
3 - Se por qualquer motivo a autoridade de polícia não puder ouvir as testemunhas,
estas são obrigatoriamente ouvidas nas instalações da autoridade administrativa
competente para a instrução do processo.
4 - As testemunhas são obrigatoriamente apresentadas, por quem as arrola, na data e
hora agendadas para a diligência.
5 - Considera-se justificada a falta motivada por facto não imputável ao faltoso que o
impeça de comparecer no ato processual.
6 - A diligência de inquirição de testemunhas ou peritos apenas pode ser adiada uma
única vez, ainda que a falta à primeira marcação tenha sido considerada justificada.
7 - (Revogado).
8 - (Revogado).

Artigo 51.º
Ausência do arguido, das testemunhas e peritos
A falta de comparência do arguido, das testemunhas e peritos, devidamente notificados,
não obsta a que o processo de contraordenação siga os seus termos.

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Artigo 52.º
Envio dos autos ao Ministério Público

1 - Recebida a impugnação judicial, deve a autoridade administrativa enviar os autos ao


Ministério Público no prazo de 20 dias úteis, que os torna presentes ao juiz, valendo este
ato como acusação.
2 - Aquando do envio dos autos pode a autoridade administrativa juntar alegações.
3 - Até ao envio dos autos, pode a autoridade administrativa revogar, total ou
parcialmente, a decisão de aplicação da coima ou sanção acessória.
4 - Sem prejuízo do disposto no artigo 70.º do Decreto-Lei n.º 433/82, de 27 de outubro,
a autoridade administrativa pode juntar outros elementos ou informações que considere
relevantes para a decisão da causa, bem como oferecer meios de prova.
5 - A desistência da acusação pelo Ministério Público depende da concordância da
autoridade administrativa.

Artigo 52.º-A
Preclusão da impugnação

O pagamento da coima após a notificação da decisão administrativa que a aplicou


preclude o direito de impugnação judicial relativamente à mesma.

Artigo 53.º
Juros

No final do processo judicial que conheça da impugnação ou da execução da decisão


proferida em processo de contraordenação, e se esta tiver sido total ou parcialmente
confirmada pelo tribunal, acresce ao valor da coima em dívida o pagamento de juros
contados desde a data da notificação da decisão pela autoridade administrativa ao arguido,
à taxa máxima estabelecida na lei fiscal.

Artigo 54.º
Pagamento voluntário da coima

1 - Relativamente a contraordenações leves e graves, bem como a contraordenações


muito graves praticadas com negligência, o arguido pode proceder ao pagamento
voluntário da coima, exceto nos casos em que não haja cessação da atividade ilícita.
2 - Se a infração consistir na falta de entrega de documentos ou na omissão de
comunicações obrigatórias, o pagamento voluntário da coima só é possível se o arguido
sanar a falta no mesmo prazo.
3 - Fora dos casos de reincidência, no pagamento voluntário, a coima é liquidada pelo
valor mínimo que corresponda ao tipo de infração praticada.
4 - O pagamento voluntário da coima equivale a condenação para efeitos de
reincidência, não excluindo a possibilidade de aplicação de sanções acessórias.
5 - O pagamento voluntário da coima é admissível em qualquer altura do processo, mas
sempre antes da decisão.

Artigo 54.º-A
Pagamento da coima a prestações

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1 - Sem prejuízo do disposto no regime geral das contraordenações, a autoridade
administrativa ou o tribunal podem autorizar o pagamento da coima em prestações, não
podendo a última delas ir além dos quarenta e oito meses subsequentes ao carácter
definitivo ou ao trânsito em julgado da decisão, nos seguintes casos:
a) Quando o valor da coima concretamente aplicada for superior a (euro) 2 000, no caso
de pessoas singulares;
b) Quando o valor da coima concretamente aplicada for superior a (euro) 20 000, no
caso de pessoas coletivas.
2 - A falta de pagamento de uma prestação implica o vencimento de todas as prestações.
Artigo 55.º
Participação das autoridades administrativas
1 - O tribunal comunica à autoridade administrativa a data da audiência para, querendo,
esta poder participar na audiência.
2 - O tribunal notifica as autoridades administrativas para estas trazerem à audiência os
elementos que reputem convenientes para uma correta decisão do caso.
3 - O tribunal deve comunicar à autoridade administrativa que decidiu o processo os
despachos, a sentença, bem como outras decisões finais.
4 - Dos despachos e sentenças que ponham termo ao processo em sede judicial cabe
recurso, a interpor no prazo de 20 dias contados nos termos do disposto no regime geral
das contraordenações

TÍTULO III
Processo sumaríssimo

Artigo 56.º
Processo sumaríssimo
(Revogado).

TÍTULO IV
Custas

Artigo 57.º
Princípios gerais

1 - As custas do processo revertem para a autoridade administrativa que aplicou a


sanção.
2 - Se o contrário não resultar desta lei, as custas em processo de contraordenação
regulam-se pelos preceitos reguladores das custas em processo criminal.
3 - As decisões das autoridades administrativas que decidam sobre as matérias do
processo devem fixar o montante das custas e determinar quem as deve suportar,
incluindo no caso de advertência ou de termo do processo com o pagamento voluntário
da coima.
4 - O processo de contraordenação que corra perante as autoridades administrativas não
dá lugar ao pagamento da taxa de justiça, nem a procuradoria.
5 - A suspensão da sanção prevista no artigo 20.º-A não abrange as custas.

Artigo 58.º
Encargos

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1 - As custas compreendem, nomeadamente, os seguintes encargos:
a) As despesas de transporte e as ajudas de custo;
b) O reembolso por franquias postais, comunicações telefónicas, telegráficas, por
telecópia e telemáticas;
c) Os emolumentos devidos aos peritos;
d) O transporte e o armazenamento de bens apreendidos;
e) O pagamento devido a qualquer entidade pelo custo de certidões ou outros elementos
de informação e de prova;
f) O reembolso com a aquisição de suportes fotográficos, magnéticos e áudio,
necessários à obtenção da prova;
g) Os exames, análises, peritagens ou outras ações que a autoridade administrativa tenha
realizado ou mandado efetuar na decorrência da inspeção que conduziu ao processo de
contraordenação.
2 - As custas são suportadas pelo arguido em caso de aplicação de uma coima,
admoestação, sanção acessória ou medida cautelar e de desistência ou rejeição da
impugnação.
3 - Nos demais casos as custas são suportadas pelo erário público.

Artigo 59.º
Impugnação das custas

1 - O arguido pode, nos termos gerais, impugnar judicialmente a decisão da autoridade


administrativa relativa às custas, devendo a impugnação ser apresentada no prazo de 10
dias úteis a partir do conhecimento da decisão a impugnar.
2 - Da decisão do tribunal de 1.ª instância só há recurso para o Tribunal da Relação
quando o montante exceda a alçada daquele tribunal.

Artigo 60.º
Execução de custas

1 - Decorrido o prazo de pagamento das custas sem a sua realização, a autoridade


administrativa envia, nos 20 dias úteis seguintes, o processo ao Ministério Público para
a instauração da competente ação executiva.
2 - Consideram-se títulos executivos as guias de custas passadas pela autoridade
administrativa.
3 - Ao valor das custas em dívida acrescem juros de mora à taxa máxima estabelecida
na lei fiscal a contar da data da notificação pela autoridade administrativa.

Artigo 61.º
Prescrição do crédito de custas

O crédito de custas prescreve no prazo de cinco anos.

PARTE III
Cadastro nacional

Artigo 62.º
Princípios

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1 - O cadastro deve processar-se no estrito respeito pelos princípios da legalidade,
veracidade e segurança das informações recolhidas.
2 - A Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) acompanha e fiscaliza, nos
termos da lei sobre proteção de dados pessoais, as operações referidas nos artigos
seguintes.

Artigo 63.º
Objeto

1 - O cadastro nacional tem por objeto o registo e o tratamento das sanções principais e
acessórias, bem como das medidas cautelares aplicadas em processo de contraordenação
e das decisões judiciais, relacionadas com aqueles processos, após decisão definitiva ou
trânsito em julgado.
2 - Estão ainda sujeitas a registo:
a) A suspensão das sanções;
b) A prorrogação da suspensão das sanções;
c) A revogação da decisão tomada no processo de contraordenação;
d) A advertência.
3 - O cadastro nacional é organizado em ficheiro central informatizado, dele devendo
constar:
a) A identificação da entidade que proferiu a decisão;
b) A identificação do arguido;
c) A data e a forma da decisão;
d) O conteúdo da decisão e dos preceitos aplicados;
e) O pagamento da coima e das custas do processo;
f) A eventual execução da coima e das custas do processo.

Artigo 64.º
Entidade responsável pelo cadastro nacional

1 - A Inspeção-Geral da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território é o


organismo responsável pelo cadastro nacional.
2 - Cabe à Inspeção-Geral da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território
assegurar o direito de informação e de acesso aos dados pelos respetivos titulares, a
correção de dados, bem como velar pela legalidade da consulta ou da comunicação da
informação.
3 - Podem ainda aceder aos dados constantes do cadastro:
a) Os magistrados judiciais e do Ministério Público para fins de investigação criminal e
de instrução de processos criminais;
b) As entidades que, nos termos da lei processual penal, recebam delegação para a
prática de atos de inquérito ou instrução;
c) As entidades oficiais para a prossecução de fins públicos a seu cargo.

Artigo 65.º
Registo individual

1 - A autoridade administrativa deve organizar um registo individual dos sujeitos


responsáveis pelas infrações ambientais, do qual devem constar as medidas cautelares e
as sanções principais e acessórias aplicadas em processos de contraordenação.
2 - Os registos efetuados pela autoridade administrativa podem ser integrados e tratados

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em aplicações informáticas, nos termos e com os limites da lei sobre proteção de dados
pessoais.
3 - Os dados constantes dos registos previstos no número anterior, bem como os dados
constantes de suporte documental, podem ser publicamente divulgados nos casos de
contraordenações muito graves e de reincidência envolvendo contraordenações graves.

Artigo 66.º
Envio de dados

Todas as autoridades administrativas têm a obrigação de enviar à Inspeção-Geral da


Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território em relação aos processos de
contraordenação por si decididos, no prazo de 30 dias úteis, informação onde constem
os dados referidos no n.º 3 do artigo 63.º

Artigo 67.º
Certificado de cadastro ambiental

1 - Todas as entidades que possam aceder aos dados constantes do cadastro devem
efetuar o seu pedido junto da Inspeção-Geral da Agricultura, Mar, Ambiente e
Ordenamento do Território que, para o efeito, emite o certificado de cadastro ambiental
onde constem todas as informações de acordo com o artigo 63.º
2 - Pela emissão do certificado de cadastro ambiental é devida uma taxa nos termos a
definir por decreto-lei e cujo montante é fixado por portaria do ministro responsável
pela área do ambiente.

Artigo 68.º
Cancelamento definitivo

São cancelados automaticamente e de forma irrevogável, no cadastro ambiental, todos


os dados:
a) Com existência superior a cinco anos relativos a infrações graves e muito graves;
b) Com existência superior a três anos relativos a infrações leves.

PARTE IV
Fundo de Intervenção Ambiental

Artigo 69.º
Criação

(Revogado.)

Artigo 70.º
Fundo Ambiental

O Fundo Ambiental arrecada parte das receitas provenientes das coimas aplicadas, nos
termos definidos no artigo 73.º, que se destinam à prossecução dos objetivos
estabelecidos no artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 42-A/2016, de 12 de agosto.

PARTE V
Disposições finais

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Artigo 71.º
Competência genérica do inspetor-geral da Agricultura, Mar,
Ambiente e Ordenamento do Território

1 - Sem prejuízo da competência atribuída por lei a qualquer autoridade administrativa


para a instauração e decisão dos processos de contraordenação, o inspetor-geral da
Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território é sempre competente para os
mesmos efeitos relativamente àqueles processos.
2 - O inspetor-geral da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território é ainda
competente para a instauração e decisão de processos de contraordenação cujo ilícito
ainda que de âmbito mais amplo, enquadre componentes ambientais.
3 - (Revogado).
4 - (Revogado).

Artigo 71.º-A
Instrução genérica de processos e aplicação de sanções

Quando a entidade autuante não tenha competência para instruir o processo o mesmo é
instruído e decidido pela Inspeção-Geral da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento
do Território.

Artigo 72.º
Atualização das coimas

(Revogado).

Artigo 73.º
Destino das coimas

1 - Independentemente da fase em que se torne definitiva ou transite em julgado a


decisão condenatória, o produto das coimas aplicadas na sequência de processos de
contraordenação tramitados ao abrigo do presente regime, bem como nos casos
previstos nos artigos 49.º-A e 54.º, é repartido da seguinte forma:
a) 45 /prct. para o Fundo de Intervenção Ambiental;
b) 30 /prct. para a autoridade que a aplique;
c) 15 /prct. para a entidade autuante;
d) 10 /prct. para o Estado.
2 - Enquanto não entrar em vigor o decreto-lei referido no n.º 2 do artigo 69.º, a parte
das coimas atribuível ao Fundo continua a ser receita do Estado.

Artigo 74.º
Autoridade administrativa

Para os efeitos da presente lei, consideram-se autoridade administrativa os


organismos a quem compita legalmente a instauração, a instrução e ou a aplicação das
sanções dos processos de contraordenação ambiental e do ordenamento do território.
Nota: A Lei Quadro das Contra-Ordenações Ambientais (Lei n.º 50/2006, de 29 de agosto, última
alteração dada pela Lei n.º 25/2019, de 26/03) define a contraordenação ambiental como “todo o facto
ilícito e censurável que preencha um tipo legal correspondente à violação de disposições legais e

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regulamentares relativas ao ambiente que consagrem direitos ou imponham deveres, para o qual se
comine uma coima”.

Artigo 75.º
Reformatio in pejus

Não é aplicável aos processos de contraordenação instaurados e decididos nos termos


desta lei a proibição de reformatio in pejus, devendo essa informação constar de todas
as decisões finais que admitam impugnação ou recurso.

Artigo 75.º-A
Impugnação judicial de contraordenações

Caso o mesmo facto dê origem à aplicação, pela mesma entidade, de decisão por
contraordenação do ordenamento do território, prevista na presente lei, e por
contraordenação por violação de normas constantes do Regime Jurídico da Urbanização
e Edificação, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de dezembro, a apreciação da
impugnação judicial da decisão adotada pela autoridade administrativa compete aos
tribunais administrativos

Artigo 76.º
Salvaguarda do regime das contraordenações no âmbito do meio marinho

A presente lei não prejudica o disposto no regime das contraordenações no âmbito da


poluição do meio marinho nos espaços marítimos sob jurisdição nacional, aprovado
pelo Decreto-Lei n.º 235/2000, de 26 de setembro.

Artigo 77.º
Disposição transitória

(Revogado)

DOMÍNIO PÚBLICO HÍDRICO (DPH)


(Recursos hídricos)

Lei n.º 54/2005, de 15 de novembro


A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do
artigo 161.º da Constituição, o seguinte:

Artigo 1.º
Âmbito

1 - Os recursos hídricos a que se aplica esta lei compreendem as águas, abrangendo


ainda os respetivos leitos e margens, zonas adjacentes, zonas de infiltração máxima
e zonas protegidas.

2 - Em função da titularidade, os recursos hídricos compreendem os recursos dominiais,


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ou pertencentes ao domínio público, e os recursos patrimoniais, pertencentes a
entidades públicas ou particulares.

Artigo 2.º
Domínio público hídrico

1 - O domínio público hídrico compreende o domínio público marítimo, o domínio


público lacustre e fluvial e o domínio público das restantes águas.
2 - O domínio público hídrico pode pertencer ao Estado, às regiões autónomas e aos
municípios e freguesias.

Artigo 3.º
Domínio público marítimo

O domínio público marítimo compreende:


a) As águas costeiras e territoriais;
b) As águas interiores sujeitas à influência das marés, nos rios, lagos e lagoas;
c) O leito das águas costeiras e territoriais e das águas interiores sujeitas à
influência das marés;
d) Os fundos marinhos contíguos da plataforma continental, abrangendo toda a zona
económica exclusiva;
e) As margens das águas costeiras e das águas interiores sujeitas à influência das
marés.

Artigo 4.º
Titularidade do domínio público marítimo

O domínio público marítimo pertence ao Estado.

Artigo 5.º
Domínio público lacustre e fluvial

O domínio público lacustre e fluvial compreende:


a) Cursos de água navegáveis ou flutuáveis, com os respetivos leitos, e ainda as
margens pertencentes a entes públicos, nos termos do artigo seguinte;
b) Lagos e lagoas navegáveis ou flutuáveis, com os respetivos leitos, e ainda as margens
pertencentes a entes públicos, nos termos do artigo seguinte;
c) Cursos de água não navegáveis nem flutuáveis, com os respetivos leitos e margens,
desde que localizados em terrenos públicos, ou os que por lei sejam reconhecidos como
aproveitáveis para fins de utilidade pública, como a produção de energia elétrica,
irrigação, ou canalização de água para consumo público;
d) Canais e valas navegáveis ou flutuáveis, ou abertos por entes públicos, e as respetivas
águas;
e) Albufeiras criadas para fins de utilidade pública, nomeadamente produção de energia
elétrica ou irrigação, com os respetivos leitos;
f) Lagos e lagoas não navegáveis ou flutuáveis, com os respetivos leitos e margens,
formados pela natureza em terrenos públicos;
g) Lagos e lagoas circundados por diferentes prédios particulares ou existentes dentro de
um prédio particular, quando tais lagos e lagoas sejam alimentados por corrente pública;
h) Cursos de água não navegáveis nem flutuáveis nascidos em prédios privados, logo

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que as suas águas transponham, abandonadas, os limites dos terrenos ou prédios onde
nasceram ou para onde foram conduzidas pelo seu dono, se no final forem lançar-se no
mar ou em outras águas públicas.

Artigo 6.º
Titularidade do domínio público lacustre e fluvial

1 - O domínio público lacustre e fluvial pertence ao Estado ou, nas regiões autónomas,
à respetiva região.

2 - Sem prejuízo do domínio público do Estado e das regiões autónomas, pertencem ainda:
a) Ao domínio público hídrico do município os lagos e lagoas situados integralmente
em terrenos municipais ou em terrenos baldios e de logradouro comum municipal;
b) Ao domínio público hídrico das freguesias os lagos e lagoas situados integralmente
em terrenos das freguesias ou em terrenos baldios e de logradouro comum paroquiais.
3 - O disposto nos números anteriores deve entender-se sem prejuízo dos direitos
reconhecidos nas alíneas d), e) e f) do n.º 1 do artigo 1386.º e no artigo 1387.º do Código
Civil.

Nota 1: A Lei n.º 68/93, de 4 de setembro, define, no seu art.º 1.º, n.º 1, baldios como “os terrenos possuídos
e geridos por comunidades locais”. Estas comunidades locais são constituídas pelos respetivos universos
de compartes. E o n.º 3, do art.º 1.º, determina que os compartes, como “moradores de uma ou mais
freguesias ou parte delas, segundo os usos e costumes, têm direito ao uso e fruição do baldio”.

Nota 2: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de
2019), define o “logradouro” como “um espaço ao ar livre, destinado a funções de estadia, recreio e lazer,
privado, de utilização coletiva ou de utilização comum, e adjacente ou integrado num edifício ou conjunto
de edifícios”.

Artigo 7.º
Domínio público hídrico das restantes águas

O domínio público hídrico das restantes águas compreende:


a) Águas nascidas e águas subterrâneas existentes em terrenos ou prédios públicos;
b) Águas nascidas em prédios privados, logo que transponham abandonadas os
limites dos terrenos ou prédios onde nasceram ou para onde foram conduzidas pelo seu
dono, se no final forem lançar-se no mar ou em outras águas públicas;
c) Águas pluviais que caiam em terrenos públicos ou que, abandonadas, neles corram;
d) Águas pluviais que caiam em algum terreno particular, quando transpuserem
abandonadas os limites do mesmo prédio, se no final forem lançar-se no mar ou em
outras águas públicas;
e) Águas das fontes públicas e dos poços e reservatórios públicos, incluindo todos os
que vêm sendo continuamente usados pelo público ou administrados por entidades
públicas.

Artigo 8.º
Titularidade do domínio público hídrico das restantes águas

1 - O domínio público hídrico das restantes águas pertence ao Estado ou, nas regiões
autónomas, à região, no caso de os terrenos públicos mencionados nas alíneas a) e c) do
artigo anterior pertencerem ao Estado ou à região, ou no caso de ter cabido ao Estado
ou à região a construção das fontes públicas.

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2 - Sem prejuízo do domínio público do Estado e das regiões autónomas, o domínio
público hídrico das restantes águas pertence ao município e à freguesia conforme os
terrenos públicos mencionados nas citadas alíneas pertençam ao concelho e à freguesia
ou sejam baldios municipais ou paroquiais ou consoante tenha cabido ao município ou à
freguesia o custeio e administração das fontes, poços ou reservatórios públicos.
3 - O disposto nos números anteriores deve entender-se sem prejuízo dos direitos
reconhecidos nas alíneas d), e) e f) do n.º 1 e no n.º 2 do artigo 1386.º, bem como no
artigo 1397.º, ambos do Código Civil.

Nota: A Lei n.º 68/93, de 4 de setembro, define, no seu art.º 1.º, n.º 1, baldios como “os terrenos possuídos
e geridos por comunidades locais”. Estas comunidades locais são constituídas pelos respetivos universos
de compartes. E o n.º 3, do art.º 1.º, determina que os compartes, como “moradores de uma ou mais
freguesias ou parte delas, segundo os usos e costumes, têm direito ao uso e fruição do baldio”.

Artigo 9.º
Administração do domínio público hídrico

1 - O domínio público hídrico pode ser afeto por lei à administração de entidades de
direito público encarregadas da prossecução de atribuições de interesse público a que
ficam afetos, sem prejuízo da jurisdição da autoridade nacional da água.
2 - A gestão de bens do domínio público hídrico por entidades de direito privado só
pode ser desenvolvida ao abrigo de um título de utilização, emitido pela autoridade
pública competente para o respetivo licenciamento.

3 - Até 1 de janeiro de 2016, a autoridade nacional da água identifica, torna acessíveis


e públicas as faixas do território que, de acordo com a legislação em vigor, correspondem
aos leitos ou margens das águas do mar ou de quaisquer águas navegáveis ou flutuáveis
que integram a sua jurisdição, procedendo igualmente à sua permanente atualização.
4 - A forma e os critérios técnicos a observar na identificação da área de jurisdição da
autoridade nacional da água são definidos em portaria do membro do Governo
responsável pela área do ambiente.

Artigo 10.º
Noção de leito; seus limites

1 - Entende-se por leito o terreno coberto pelas águas quando não influenciadas por cheias
extraordinárias, inundações ou tempestades. No leito compreendem-se os mouchões,
lodeiros e areais nele formados por deposição aluvial.
2 - O leito das águas do mar, bem como das demais águas sujeitas à influência das marés,
é limitado pela linha da máxima preia-mar de águas vivas equinociais. Essa linha é
definida, para cada local, em função do espraiamento das vagas em condições médias de
agitação do mar, no primeiro caso, e em condições de cheias médias, no segundo.
3 - O leito das restantes águas é limitado pela linha que corresponder à estrema dos
terrenos que as águas cobrem em condições de cheias médias, sem transbordar para o solo
natural, habitualmente enxuto. Essa linha é definida, conforme os casos, pela aresta ou
crista superior do talude marginal ou pelo alinhamento da aresta ou crista do talude
molhado das motas, cômoros, valados, tapadas ou muros marginais.

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Artigo 11.º
Noção de margem; sua largura

1 - Entende-se por margem uma faixa de terreno contígua ou sobranceira à linha que
limita o leito das águas.

2 - A margem das águas do mar, bem como a das águas navegáveis ou flutuáveis
sujeitas à jurisdição dos órgãos locais da Direção-Geral da Autoridade Marítima ou das
autoridades portuárias, tem a largura de 50 m.
3 - A margem das restantes águas navegáveis ou flutuáveis, bem como das albufeiras
públicas de serviço público, tem a largura de 30 m.
4 - A margem das águas não navegáveis nem flutuáveis, nomeadamente torrentes,
barrancos e córregos de caudal descontínuo, tem a largura de 10 m.
5 - Quando tiver natureza de praia em extensão superior à estabelecida nos números
anteriores, a margem estende-se até onde o terreno apresentar tal natureza.
6 - A largura da margem conta-se a partir da linha limite do leito. Se, porém, esta linha
atingir arribas alcantiladas, a largura da margem é contada a partir da crista do alcantil.
7 - Nas regiões autónomas, se a margem atingir uma estrada regional ou municipal
existente, a sua largura só se estende até essa via.

Artigo 12.º
Leitos e margens privados de águas públicas

1 - São particulares, sujeitos a servidões administrativas:


a) Os leitos e margens de águas do mar e de águas navegáveis e flutuáveis que forem
objeto de desafetação e ulterior alienação, ou que tenham sido, ou venham a ser,
reconhecidos como privados por força de direitos adquiridos anteriormente, ao abrigo de
disposições expressas desta lei, presumindo-se públicos em todos os demais casos;
b) As margens das albufeiras públicas de serviço público, com exceção das parcelas que
tenham sido objeto de expropriação ou que pertençam ao Estado por qualquer outra via.
2 - No caso de águas públicas não navegáveis e não flutuáveis localizadas em prédios
particulares, o respetivo leito e margem são particulares, nos termos do artigo 1387.º do
Código Civil, sujeitos a servidões administrativas.
3 - Nas regiões autónomas, os terrenos junto à crista das arribas alcantiladas e bem assim
os terrenos inseridos em núcleos urbanos consolidados, tradicionalmente existentes nas
margens das águas do mar nas respetivas ilhas, constituem propriedade privada,
constituindo a presente lei título suficiente para o efeito.

Nota: A desafetação corresponde à cessação da utilidade pública e do regime jurídico do domínio público.
A desafetação é, por vezes, (impropriamente) designada de desclassificação. Porém, a desclassificação é
mais abrangente, na medida em que corresponde ao ato inverso da classificação de uma coisa (como de
valor histórico, de valor arquitetónico, de valor monumental, etc.). O ato da lei ou da Administração que
desclassifica um a coisa declara que essa coisa deixou de possuir as caraterísticas próprios da categoria de
bens dominiais a que pertencia. A desclassificação pode ser explícita ou implícita.

Artigo 13.º
Recuo das águas

Os leitos dominiais que forem abandonados pelas águas, ou lhes forem conquistados, não
acrescem às parcelas privadas da margem que porventura lhes sejam contíguas,

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continuando integrados no domínio público se não excederem as larguras fixadas no
artigo 11.º e entrando automaticamente no domínio privado do Estado no caso contrário.

Artigo 14.º
Avanço das águas

1 - Quando haja parcelas privadas contíguas a leitos dominiais, as porções de terreno


corroídas lenta e sucessivamente pelas águas consideram-se automaticamente integradas
no domínio público, sem que por isso haja lugar a qualquer indemnização.
2 - Se as parcelas privadas contíguas a leitos dominiais forem invadidas pelas águas que
nelas permaneçam sem que haja corrosão dos terrenos, os respetivos proprietários
conservam o seu direito de propriedade, mas o Estado pode expropriar essas parcelas.

Artigo 15.º
Reconhecimento de direitos adquiridos por particulares sobre
parcelas de leitos e margens públicos

1 - Compete aos tribunais comuns decidir sobre a propriedade ou posse de parcelas de


leitos ou margens das águas do mar ou de quaisquer águas navegáveis ou flutuáveis,
cabendo ao Ministério Público, quando esteja em causa a defesa de interesses coletivos
públicos subjacentes à titularidade dos recursos dominiais, contestar as respetivas ações,
agindo em nome próprio.
2 - Quem pretenda obter o reconhecimento da sua propriedade sobre parcelas de leitos ou
margens das águas do mar ou de quaisquer águas navegáveis ou flutuáveis deve provar
documentalmente que tais terrenos eram, por título legítimo, objeto de propriedade
particular ou comum antes de 31 de dezembro de 1864 ou, se se tratar de arribas
alcantiladas, antes de 22 de março de 1868.
3 - Na falta de documentos suscetíveis de comprovar a propriedade nos termos do número
anterior, deve ser provado que, antes das datas ali referidas, os terrenos estavam na posse
em nome próprio de particulares ou na fruição conjunta de indivíduos compreendidos em
certa circunscrição administrativa.
4 - Quando se mostre que os documentos anteriores a 1864 ou a 1868, conforme os casos,
se tornaram ilegíveis ou foram destruídos, por incêndio ou facto de efeito equivalente
ocorrido na conservatória ou registo competente, presumir-se-ão particulares, sem
prejuízo dos direitos de terceiros, os terrenos em relação aos quais se prove que, antes de
1 de dezembro de 1892, eram objeto de propriedade ou posse privadas.
5 - O reconhecimento da propriedade privada sobre parcelas de leitos ou margens das
águas do mar ou de águas navegáveis ou flutuáveis pode ser obtido sem sujeição ao
regime de prova estabelecido nos números anteriores nos casos de terrenos que:
a) Hajam sido objeto de um ato de desafetação do domínio público hídrico, nos termos
da lei;
b) Ocupem as margens dos cursos de água previstos na alínea a) do n.º 1 do artigo 5.º,
não sujeitas à jurisdição dos órgãos locais da Direção-Geral da Autoridade Marítima ou
das autoridades portuárias;
c) Estejam integrados em zona urbana consolidada como tal definida no Regime Jurídico
da Urbanização e da Edificação, fora da zona de risco de erosão ou de invasão do mar, e
se encontrem ocupados por construção anterior a 1951, documentalmente comprovado.
6 - Sem prejuízo do disposto nos números anteriores, compete às Regiões Autónomas dos
Açores e da Madeira regulamentar, por diploma das respetivas Assembleias Legislativas

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o processo de reconhecimento de propriedade privada sobre parcelas de leitos e margens
públicos, nos respetivos territórios.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos técnicos para a área do urbanismo (de setembro de
2019) define “área urbana consolidada” como “uma área de solo urbano que se encontra estabilizada em
termos de morfologia urbana e de infraestruturação e está edificada em, pelo menos, dois terços da área
total do solo destinado a edificação”.

Artigo 16.º
Constituição de propriedade pública sobre parcelas
privadas de leitos e margens de águas públicas

1 - Em caso de alienação, voluntária ou forçada, por ato entre vivos, de quaisquer parcelas
privadas de leitos ou margens públicos, o Estado ou as regiões autónomas gozam do
direito de preferência, nos termos dos artigos 416.º a 418.º e 1410.º do Código Civil,
podendo a preferência exercer-se, sendo caso disso, apenas sobre a fração do prédio que
se integre no leito ou na margem.
2 - O Estado ou as regiões autónomas podem proceder à expropriação por utilidade
pública de quaisquer parcelas privadas de leitos ou margens públicos sempre que isso se
mostre necessário para submeter ao regime da dominialidade pública todas as parcelas
privadas existentes em certa zona.
3 - Os terrenos adquiridos pelo Estado ou pelas regiões autónomas de harmonia com o
disposto neste artigo ficam automaticamente integrados no seu domínio público.

Artigo 17.º
Delimitação

1 - A delimitação do domínio público hídrico é o procedimento administrativo pelo qual


são fixados os limites dos leitos e das margens dominiais confinantes com terrenos de
outra natureza.
2 - A delimitação dos leitos e margens dominiais confinantes com terrenos de outra
natureza compete ao Estado ou às regiões autónomas, que a ela procedem oficiosamente,
quando necessário, ou a requerimento dos interessados.
3 - As comissões de delimitação são constituídas por iniciativa dos membros do Governo
responsáveis pelas áreas do ambiente, da agricultura e do mar, no âmbito das respetivas
competências, e integram representantes dos ministérios com atribuições em matéria de
defesa nacional, agricultura e, no caso do domínio público marítimo, mar, bem como
representantes das administrações portuárias e dos municípios afetados e, ainda,
representantes dos proprietários dos terrenos confinantes com os leitos ou margens
dominiais a delimitar.
4 - Sempre que às comissões de delimitação se depararem questões de índole jurídica que
não estejam em condições de decidir por si, podem os respetivos presidentes requerer a
colaboração ou solicitar o parecer do delegado do procurador da República da comarca
onde se situem os terrenos a delimitar.
5 - O procedimento de delimitação do domínio público hídrico, bem como a composição
e funcionamento das comissões de delimitação são estabelecidos em diploma próprio.
6 - A delimitação, uma vez homologada por resolução de Conselho de Ministros, e no
caso das regiões autónomas por resolução do Conselho de Governo Regional, é publicada
no Diário da República ou no Jornal Oficial das regiões autónomas, respetivamente.
7 - A delimitação a que se proceder por via administrativa não preclude a competência
dos tribunais comuns para decidir da propriedade ou posse dos leitos e margens ou suas

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parcelas.
8 - Se, porém, o interessado pretender arguir o ato de delimitação de quaisquer vícios
próprios deste que se não traduzam numa questão de propriedade ou posse, deve instaurar
a respetiva ação especial de anulação.
9 - Sem prejuízo do disposto nos números anteriores, nas Regiões Autónomas dos Açores
e da Madeira, o processo de delimitação dos leitos e margens dominiais e as comissões
de delimitação que lhe são inerentes constituem uma competência dos respetivos
Governos Regionais e são regulamentados por diploma próprio das Assembleias
Legislativas daquelas regiões autónomas.

Artigo 18.º
Águas patrimoniais e águas particulares

1 - Todos os recursos hídricos que não pertencerem ao domínio público podem ser
objeto do comércio jurídico privado e são regulados pela lei civil, designando-se como
águas ou recursos hídricos patrimoniais.
2 - Os recursos hídricos patrimoniais podem pertencer, de acordo com a lei civil, a
entes públicos ou privados, designando-se neste último caso como águas ou recursos
hídricos particulares.
3 - Constituem designadamente recursos hídricos particulares aqueles que, nos termos
da lei civil, assim sejam caracterizados, salvo se, por força dos preceitos anteriores,
deverem considerar-se integrados no domínio público.

Artigo 19.º
Desafetação

Mediante despacho dos membros do Governo responsáveis pela área das finanças, pela
área a que o imóvel está afeto e pela área da defesa nacional, podeser desafetada do
domínio público qualquer parcela do leito ou da margem que deva deixar de ser afeto
exclusivamente ao interesse público do uso das águas que serve, passando a mesma, por
esse facto, a integrar o património do ente público a que estava afeto.

Nota 1: Segundo Marcelo Caetano a afetação é “o acto ou prática que consagra a coisa à produção
efectiva de utilidade pública” (Direito Administrativo, 1990: 922 e 923). A desafetação (do domínio
público) é, como inverso da afetação, o ato, da lei ou da Administração, de retirar ou subtrair a utilidade
pública de determinada coisa, retirando-a do regime jurídico do domínio público.

Nota 2: A desafetação corresponde à cessação da utilidade pública e do regime jurídico do domínio


público. A desafetação é, por vezes, (impropriamente) designada de desclassificação. Porém, a
desclassificação é mais abrangente, na medida em que corresponde ao ato inverso da classificação de uma
coisa (como de valor histórico, de valor arquitetónico, de valor monumental, etc.). O ato da lei ou da
Administração que desclassifica um a coisa declara que essa coisa deixou de possuir as caraterísticas
próprios da categoria de bens dominiais a que pertencia. A desclassificação pode ser explícita ou implícita.

Artigo 20.º
Classificação e registo

1 - Compete ao Estado, através da Agência Portuguesa do Ambiente, I. P., na


qualidade de autoridade nacional da água, organizar e manter atualizado o registo das
águas do domínio público, procedendo às classificações necessárias para o efeito,

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nomeadamente da navegabilidade e flutuabilidade dos cursos de água, lagos e lagoas, as
quais devem ser publicadas no Diário da República.
2 - Em complemento do registo referido no número anterior deve a autoridade nacional
da água organizar e manter atualizado o registo das margens dominiais e das zonas
adjacentes.
3 - Os organismos que dispuserem de documentos ou dados relevantes para o registo
referido no n.º 1 devem informar de imediato desse facto a Agência Portuguesa do
Ambiente, I. P., coadjuvando-se na realização ou correção do registo.

Artigo 21.º
Servidões administrativas sobre parcelas privadas de leitos e
margens de águas públicas

1 - Todas as parcelas privadas de leitos ou margens de águas públicas estão sujeitas às


servidões estabelecidas por lei e nomeadamente a uma servidão de uso público, no
interesse geral de acesso às águas e de passagem ao longo das águas da pesca, da
navegação e da flutuação, quando se trate de águas navegáveis ou flutuáveis, e ainda da
fiscalização e policiamento das águas pelas entidades competentes.
2 - Nas parcelas privadas de leitos ou margens de águas públicas, bem como no respetivo
subsolo ou no espaço aéreo correspondente, não é permitida a execução de quaisquer
obras permanentes ou temporárias sem autorização da entidade a quem couber a
jurisdição sobre a utilização das águas públicas correspondentes.
3 - Os proprietários de parcelas privadas de leitos e margens de águas públicas devem
mantê-las em bom estado de conservação e estão sujeitos a todas as obrigações que a lei
estabelecer no que respeita à execução de obras hidráulicas necessárias à gestão adequada
das águas públicas em causa, nomeadamente de correção, regularização, conservação,
desobstrução e limpeza.
4 - O Estado, através das administrações das regiões hidrográficas, ou dos organismos a
quem estas houverem delegado competências, as regiões autónomas nos respetivos
territórios, e o município, no caso de linhas de água em aglomerado urbano, podem
substituir-se aos proprietários, realizando as obras necessárias à limpeza e desobstrução
das águas públicas por conta deles.
5 - Se da execução das obras referidas no n.º 4 resultarem prejuízos que excedam os
encargos resultantes das obrigações legais dos proprietários, o organismo público
responsável pelos mesmos indemnizá-los-á.
6 - Se se tornar necessário para a execução de quaisquer das obras referidas no n.º 4
qualquer porção de terreno particular, ainda que situado para além das margens, o Estado
ou as regiões autónomas nos respetivos territórios, podem expropriá-la.

Artigo 22.º
Zonas ameaçadas pelo mar

1 - Sempre que se preveja tecnicamente o avanço das águas do mar sobre terrenos
particulares situados além da margem, pode o Governo, por iniciativa da autoridade
nacional da água, ou do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, I. P., no
caso de áreas classificadas ou sujeitas ao regime florestal, ou os Governos Regionais das
respetivas regiões autónomas, classificar a área em causa como zona adjacente.
2 - A classificação de uma área ameaçada pelo mar como zona adjacente é feita por
portaria do membro do Governo responsável pelas áreas do ambiente e da conservação
da natureza, ouvidos os órgãos locais da Direção-Geral da Autoridade Marítima em

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relação aos espaços dominiais sujeitos à sua jurisdição e, quando aplicável as autoridades
portuárias, em relação aos trechos sujeitos à sua jurisdição, devendo o referido diploma
conter a planta com a delimitação da área classificada e definindo dentro desta as áreas
de ocupação edificada proibida e ou as áreas de ocupação edificada condicionada.
3 - Nas regiões autónomas podem ser classificadas como zonas adjacentes as áreas
contíguas ao leito do mar, nos termos do n.º 5 do artigo 24.º

Artigo 23.º
Zonas ameaçadas pelas cheias

1 - O Governo, ou os Governos Regionais das respetivas regiões autónomas, podem


classificar como zona adjacente por se encontrar ameaçada pelas cheias a área contígua
à margem de um curso de águas.
2 - Tem iniciativa para a classificação de uma área ameaçada pelas cheias como zona
adjacente:
a) O Governo;
b) Os Governos Regionais, no território das respetivas regiões autónomas;
c) A Agência Portuguesa do Ambiente, I. P., como autoridade nacional da água;
d) O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, I. P., nas áreas classificadas
e nos terrenos submetidos ao regime florestal por ele administrados;
e) O município, através da respetiva câmara municipal.
3 - A classificação de uma área como zona adjacente é feita por portaria do membro do
Governo responsável pelas áreas do ambiente e da conservação da natureza, ouvidas as
autoridades marítimas e, quando aplicável as autoridades portuárias, em relação aos
trechos sujeitos à sua jurisdição e as entidades referidas no número anterior, quando a
iniciativa não lhes couber.
4 - A portaria referida no número anterior contém em anexo uma planta delimitando a
área classificada.
5 - Podem ser sujeitas a medidas preventivas, nos termos do capítulo II do Decreto-Lei
n.º 794/76, de 5 de novembro, as áreas que, de acordo com os estudos elaborados, se
presumam venham a ser classificadas ao abrigo do presente artigo.
6 - (Revogado.)

Artigo 24.º
Zonas adjacentes

1 - Entende-se por zona adjacente às águas públicas toda a área contígua à margem que
como tal seja classificada por se encontrar ameaçada pelo mar ou pelas cheias.
2 - As zonas adjacentes estendem-se desde o limite da margem até uma linha
convencional definida para cada caso no diploma de classificação, que corresponde à
linha alcançada pela maior cheia, com período de retorno de 100 anos, ou à maior cheia
conhecida, no caso de não existirem dados que permitam identificar a anterior.
3 - As zonas adjacentes mantêm-se sobre propriedade privada ainda que sujeitas a
restrições de utilidade pública.
4 - O ónus real resultante da classificação de uma área como zona adjacente é sujeito a
registo, nos termos e para efeitos do Código do Registo Predial.
5 - Nas regiões autónomas, se a linha limite do leito atingir uma estrada regional ou
municipal, a zona adjacente estende-se desde o limite do leito até à linha convencional
definida no decreto de classificação.

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Artigo 25.º
Restrições de utilidade pública nas zonas adjacentes

1 - Nas zonas adjacentes pode o diploma que procede à classificação definir áreas de
ocupação edificada proibida e ou áreas de ocupação edificada condicionada, devendo
neste último caso definir as regras a observar pela ocupação edificada.
2 - Nas áreas delimitadas como zona de ocupação edificada proibida é interdito:
a) Destruir o revestimento vegetal ou alterar o relevo natural, com exceção da prática de
culturas tradicionalmente integradas em explorações agrícolas;
b) Instalar vazadouros, lixeiras, parques de sucata ou quaisquer outros depósitos de
materiais;
c) Realizar construções, construir edifícios ou executar obras suscetíveis de constituir
obstrução à livre passagem das águas;
d) Dividir a propriedade em áreas inferiores à unidade mínima de cultura.
3 - Nas áreas referidas no número anterior, a implantação de infraestruturas
indispensáveis, ou a realização de obras de correção hidráulica, depende de licença
concedida pela autoridade a quem cabe o licenciamento da utilização dos recursos
hídricos na área em causa.
4 - Podem as áreas referidas no n.º 1 ser utilizadas para instalação de equipamentos de
lazer desde que não impliquem a construção de edifícios, mediante autorização de
utilização concedida pela autoridade a quem cabe o licenciamento da utilização dos
recursos hídricos na área em causa.
5 - Nas áreas delimitadas como zonas de ocupação edificada condicionada só é
permitida a construção de edifícios mediante autorização de utilização dos recursos
hídricos afetados e desde que:
a) Tais edifícios constituam complemento indispensável de outros já existentes e
devidamente licenciados ou que se encontrem inseridos em planos já aprovados; e, além
disso,
b) Os efeitos das cheias sejam minimizados através de normas específicas, sistemas de
proteção e drenagem e medidas para a manutenção e recuperação de condições de
permeabilidade dos solos.
6 - As cotas dos pisos inferiores dos edifícios construídos nas áreas referidas no número
anterior devem ser sempre superiores às cotas previstas para a cheia com período de
retorno de 100 anos, devendo este requisito ser expressamente referido no respetivo
processo de licenciamento.
7 - São nulos e de nenhum efeito todos os atos ou licenciamentos que desrespeitem
o regime referido nos números anteriores.
8 - As ações de fiscalização e a execução de obras de conservação e regularização a
realizar nas zonas adjacentes podem ser efetuadas pelas autarquias, ou pelas
autoridades marítimas ou portuárias, a solicitação e por delegação das autoridades
competentes para a fiscalização da utilização dos recursos hídricos.
9 - A aprovação de planos de urbanização ou de contratos de urbanização bem como o
licenciamento de quaisquer operações urbanísticas ou de loteamento urbano, ou de
quaisquer obras ou edificações relativas a áreas contíguas ao mar ou a cursos de água
que não estejam ainda classificadas como zonas adjacentes, carecem de parecer
favorável da autoridade competente para o licenciamento de utilização de recursos
hídricos quando estejam dentro do limite da cheia com período de retorno de 100 anos
ou de uma faixa de 100 m para cada lado da linha da margem do curso de água quando
se desconheça aquele limite.
10 - A autoridade competente para o licenciamento do uso de recursos hídricos na

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área abrangida pela zona adjacente é competente para promover diretamente o embargo
e demolição de obras ou de outras instalações executadas em violação do disposto neste
artigo, observando-se o disposto nas alíneas seguintes:
a) A entidade embargante intima o proprietário ou o titular de direito real de uso e
fruição sobre o prédio, ou arrendatário, se for o caso, a demolir as obras feitas e a
repor o terreno no estado anterior à intervenção no prazo que lhe for marcado.
Decorrido o prazo sem que a intimação se mostre cumprida, proceder-se-á à
demolição ou reposição por conta do proprietário, sendo as despesas cobradas pelo
processo de execução fiscal e servindo de título executivo a certidão passada pela
entidade competente para ordenar a demolição extraída dos livros ou documentos,
donde conste a importância gasta;
b) As empresas que prossigam obras ou ações que estejam embargadas, nos termos da
alínea anterior, mesmo não sendo proprietárias, podem, sem prejuízo de outros
procedimentos legais, ser impedidas de participar em concursos públicos para
fornecimentos de bens e serviços ao Estado por prazo não superior a dois anos ou ser
privadas de benefícios fiscais e financeiros;
c) As sanções previstas na alínea anterior são comunicadas à Comissão de Classificação
de Empresas de Obras Públicas e Particulares, a qual pode determinar a aplicação, como
sanção acessória, da suspensão ou cassação do respetivo alvará.

Artigo 26.º
Contraordenações

1 - A violação do disposto no artigo 25.º por parte dos proprietários, dos titulares de
outros direitos reais de uso e fruição sobre os prédios, ou dos arrendatários, seus
comissários ou mandatários, é punível como contraordenação, cabendo à autoridade
competente para o licenciamento de utilização dos recursos hídricos na área em causa a
instrução do processo, o levantamento dos autos e a aplicação das coimas.
2 - O montante das coimas é graduado entre o mínimo e o máximo fixados pela Lei da
Água.
3 - O produto das coimas aplicadas ao abrigo da presente lei é repartido da seguinte
forma:
a) 55 /prct. para o Estado;
b) 35 /prct. para a autoridade que a aplique;
c) 10 /prct. para a entidade autuante.
4 - A tentativa e a negligência são sempre puníveis.

Artigo 27.º
Expropriações

1 - Sempre que, em consequência de uma infraestrutura hidráulica realizada pelo


Estado, ou pelas regiões autónomas, ou por eles consentida a um utilizador de recursos
hídricos, as águas públicas passarem a inundar de forma permanente terrenos
privados, o Estado ou as regiões autónomas devem expropriar, por utilidade pública
e mediante justa indemnização, estes terrenos, que passam a integrar, consoante o
caso, o domínio público do Estado ou das regiões autónomas.
2 - Se o Estado, ou as regiões autónomas, efetuarem expropriações nos termos desta lei
ou pagarem indemnizações aos proprietários prejudicados por obras hidráulicas de
qualquer natureza, o auto de expropriação ou indemnização é enviado à repartição de

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finanças competente para que se proceda, se for caso disso, à correção do valor matricial
do prédio afetado.

Artigo 28.º
Aplicação nas regiões autónomas

1 - A presente lei aplica-se às Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira sem


prejuízo do diploma regional que proceda às necessárias adaptações.
2 - A jurisdição do domínio público marítimo é assegurada, nas regiões autónomas,
pelos respetivos serviços regionalizados na medida em que o mesmo lhes esteja afeto.
3 - O produto das coimas referido no artigo 26.º reverte para as regiões autónomas nos
termos gerais.

Artigo 29.º
Norma revogatória

São revogados o artigo 1.º do Decreto n.º 5787-IIII, de 18 de maio de 1919, e os capítulos
I e II do Decreto-Lei n.º 468/71, de 5 de novembro.

Artigo 30.º
Entrada em vigor

A presente lei entra em vigor no momento da entrada em vigor da Lei da Água.

LEI DA ÁGUA
(Lei n.º 58/2005, de 29 de dezembro, na última versão dada pela
Lei n.º 82/2023, de 29/12)
Aprova a Lei da Água, transpondo para a ordem jurídica nacional a Directiva n.º
2000/60/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de Outubro, e
estabelecendo as bases e o quadro institucional para a gestão sustentável das águas.
A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da
Constituição, o seguinte:
CAPÍTULO I
Disposições gerais
Artigo 1.º
Objetivos
1 - A presente lei estabelece o enquadramento para a gestão das águas superficiais,
designadamente as águas interiores, de transição e costeiras, e das águas subterrâneas,
de forma a:
a) Evitar a continuação da degradação e proteger e melhorar o estado dos
ecossistemas aquáticos e também dos ecossistemas terrestres e zonas húmidas
diretamente dependentes dos ecossistemas aquáticos, no que respeita às suas
necessidades de água;
b) Promover uma utilização sustentável de água, baseada numa proteção a longo

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prazo dos recursos hídricos disponíveis;
c) Obter uma proteção reforçada e um melhoramento do ambiente aquático,
nomeadamente através de medidas específicas para a redução gradual e a cessação ou
eliminação por fases das descargas, das emissões e perdas de substâncias prioritárias;
d) Assegurar a redução gradual da poluição das águas subterrâneas e evitar o
agravamento da sua poluição;
e) Mitigar os efeitos das inundações e das secas;
f) Assegurar o fornecimento em quantidade suficiente de água de origem superficial
e subterrânea de boa qualidade, conforme necessário para uma utilização sustentável,
equilibrada e equitativa da água;
g) Proteger as águas marinhas, incluindo as territoriais;
h) Assegurar o cumprimento dos objetivos dos acordos internacionais pertinentes,
incluindo os que se destinam à prevenção e eliminação da poluição no ambiente
marinho.
2 - A presente Lei da Água assegura a transposição da Diretiva n.º 2000/60/CE, do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de outubro, que estabelece um quadro de
ação comunitária no domínio da política da água.
Artigo 2.º
Âmbito
1 - A presente lei tem por âmbito de aplicação a totalidade dos recursos hídricos
referidos no n.º 1 do artigo anterior qualquer que seja o seu regime jurídico,
abrangendo, além das águas, os respetivos leitos e margens, bem como as zonas
adjacentes, zonas de infiltração máxima e zonas protegidas.
2 - O disposto na presente lei não prejudica a aplicação dos regimes especiais relativos,
nomeadamente, às águas para consumo humano, aos recursos hidrominerais, aos
recursos geotérmicos e às águas de nascente, às águas destinadas a fins terapêuticos e às
águas que alimentem piscinas e outros recintos com diversões aquáticas.
Artigo 3.º
Princípios
1 - Para além dos princípios gerais consignados na Lei de Bases do Ambiente e dos
princípios consagrados nos capítulos seguintes da presente lei, a gestão da água deve
observar os seguintes princípios:
a) Princípio do valor social da água, que consagra o acesso universal à água para as
necessidades humanas básicas, a custo socialmente aceitável, e sem constituir fator de
discriminação ou exclusão;
b) Princípio da exploração e da gestão públicas da água, aplicando-se
imperativamente aos sistemas multimunicipais de abastecimento público de água e de
saneamento;
c) Princípio da dimensão ambiental da água, nos termos do qual se reconhece a
necessidade de um elevado nível de proteção da água, de modo a garantir a sua
utilização sustentável;
d) Princípio do valor económico da água, por força do qual se consagra o
reconhecimento da escassez atual ou potencial deste recurso e a necessidade de garantir
a sua utilização economicamente eficiente, com a recuperação dos custos dos serviços

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de águas, mesmo em termos ambientais e de recursos, e tendo por base os princípios do
poluidor-pagador e do utilizador-pagador;
e) Princípio de gestão integrada das águas e dos ecossistemas aquáticos e terrestres
associados e zonas húmidas deles diretamente dependentes, por força do qual importa
desenvolver uma atuação em que se atenda simultaneamente a aspetos quantitativos e
qualitativos, condição para o desenvolvimento sustentável;
f) Princípio da precaução, nos termos do qual as medidas destinadas a evitar o
impacte negativo de uma ação sobre o ambiente devem ser adotadas, mesmo na
ausência de certeza científica da existência de uma relação causa-efeito entre eles;
g) Princípio da prevenção, por força do qual as ações com efeitos negativos no
ambiente devem ser consideradas de forma antecipada por forma a eliminar as próprias
causas de alteração do ambiente ou reduzir os seus impactes quando tal não seja
possível;
h) Princípio da correção, prioritariamente na fonte, dos danos causados ao ambiente e
da imposição ao emissor poluente de medidas de correção e recuperação e dos
respetivos custos;
i) Princípio da cooperação, que assenta no reconhecimento de que a proteção das
águas constitui atribuição do Estado e dever dos particulares;
j) Princípio do uso razoável e equitativo das bacias hidrográficas partilhadas, que
reconhece aos Estados ribeirinhos o direito e a obrigação de utilizarem o curso de água
de forma razoável e equitativa tendo em vista o aproveitamento otimizado e sustentável
dos recursos, consistente com a sua proteção.
2 - A região hidrográfica é a unidade principal de planeamento e gestão das águas, tendo
por base a bacia hidrográfica.
Artigo 4.º
Definições
Para efeitos de aplicação da presente lei, entende-se por:
a) «Abordagem combinada» o controlo das descargas e emissões em águas superficiais,
de acordo com a abordagem definida no artigo 53.º;
b) «Águas costeiras» as águas superficiais situadas entre terra e uma linha cujos pontos
se encontram a uma distância de 1 milha náutica, na direção do mar, a partir do ponto
mais próximo da linha de base a partir da qual é medida a delimitação das águas
territoriais, estendendo-se, quando aplicável, até ao limite exterior das águas de
transição;
c) «Águas de transição» as águas superficiais na proximidade das fozes dos rios,
parcialmente salgadas em resultado da proximidade de águas costeiras mas que são
também significativamente influenciadas por cursos de água doce;
d) «Águas destinadas ao consumo humano» toda a água no seu estado original, ou
após tratamento, destinada a ser bebida, a cozinhar, à preparação de alimentos ou a
outros fins domésticos, independentemente da sua origem e de ser ou não fornecida a
partir de uma rede de distribuição, de camião ou navio-cisterna, em garrafas ou outros
recipientes, com ou sem fins comerciais, bem como toda a água utilizada na indústria
alimentar para o fabrico, transformação, conservação ou comercialização de produtos ou
substâncias destinados ao consumo humano, exceto quando a utilização dessa água não
afeta a salubridade do género alimentício na sua forma acabada;
e) «Águas interiores» todas as águas superficiais lênticas ou lóticas (correntes) e
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todas as águas subterrâneas que se encontram do lado terrestre da linha de base a partir
da qual são marcadas as águas territoriais;
f) «Águas subterrâneas» todas as águas que se encontram abaixo da superfície do solo,
na zona saturada, e em contacto direto com o solo ou com o subsolo;
g) «Águas superficiais» as águas interiores, com exceção das águas subterrâneas, águas
de transição, águas costeiras, incluindo-se nesta categoria, no que se refere ao estado
químico, as águas territoriais;
h) «Águas territoriais» as águas marítimas situadas entre a linha de base e uma linha
distando 12 milhas náuticas da linha de base;
i) «Áreas classificadas» as áreas que integram a Rede Nacional de Áreas Protegidas e
as áreas de proteção e preservação dos habitats naturais, fauna e flora selvagens e
conservação de aves selvagens, definidas em legislação específica;
j) «Aquífero» uma ou mais camadas subterrâneas de rocha ou outros estratos
geológicos suficientemente porosos e permeáveis para permitirem um escoamento
significativo de águas subterrâneas ou a captação de quantidades significativas de águas
subterrâneas;
l) «Autoridade Nacional da Água» o órgão da Administração Pública responsável pela
aplicação da presente lei e pelo cumprimento da Diretiva n.º 2000/60/CE, do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de outubro, em todo o território nacional;
m) «Bacia hidrográfica» a área terrestre a partir da qual todas as águas fluem para o
mar, através de uma sequência de rios, ribeiros ou eventualmente lagos, desaguando
numa única foz, estuário ou delta;
n) «Bom estado das águas subterrâneas» o estado global em que se encontra uma
massa de águas subterrâneas quando os seus estados quantitativo e químico são
considerados, pelo menos, «bons»;
o) «Bom estado das águas superficiais» o estado global em que se encontra uma
massa de águas superficiais quando os seus estados ecológico e químico são
considerados, pelo menos, «bons»;
p) «Bom estado ecológico» o estado alcançado por uma massa de águas superficiais,
classificado como Bom nos termos de legislação específica;
q) «Bom estado químico das águas superficiais» o estado químico alcançado por uma
massa de águas superficiais em que as concentrações de poluentes cumprem as normas
de qualidade ambiental definidas em legislação específica;
r) «Bom estado químico das águas subterrâneas» o estado químico alcançado por um
meio hídrico subterrâneo em que a composição química é tal que as concentrações de
poluentes:
i) Não apresentem efeitos significativos de intrusões salinas ou outras;
ii) Cumpram as normas de qualidade ambiental que forem fixadas em legislação
específica;
iii) Não impeçam que sejam alcançados os objetivos ambientais específicos
estabelecidos para as águas superficiais associadas nem reduzam significativamente a
qualidade química ou ecológica dessas massas;
iv) Não provoquem danos significativos nos ecossistemas terrestres diretamente
dependentes das massas de águas subterrâneas;
s) «Bom estado quantitativo» o estado de um meio hídrico subterrâneo em que o nível
freático é tal que os recursos hídricos subterrâneos disponíveis não são ultrapassados
pela taxa média anual de captação a longo prazo, não estando sujeito a alterações
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antropogénicas que possam impedir que sejam alcançados os objetivos ambientais
específicos para as águas superficiais que lhe estejam associadas, deteriorar
significativamente o estado dessas águas ou provocar danos significativos nos
ecossistemas terrestres diretamente dependentes do aquífero, podendo ocorrer
temporariamente, ou continuamente em áreas limitadas, alterações na direção do
escoamento subterrâneo em consequência de variações de nível, desde que essas
alterações não provoquem intrusões de água salgada ou outras e não indiquem uma
tendência antropogenicamente induzida, constante e claramente identificada, suscetível
de conduzir a tais intrusões;
t) «Bom potencial ecológico» o estado alcançado por uma massa de água artificial ou
fortemente modificada, classificado como Bom nos termos das disposições de
normativo próprio;
u) «Controlos das emissões» os controlos que exijam uma limitação específica das
emissões, designadamente um valor limite de emissão, ou que de outro modo
especifiquem limites ou condições quanto aos efeitos, à natureza ou a outras
características de uma emissão ou das condições de exploração que afetem as emissões;
v) «Descarga direta nas águas subterrâneas» a introdução de poluentes nas águas
subterrâneas, sem percolação através do solo ou do subsolo;
x) «Disposição de águas residuais» a recolha, transporte, tratamento e descarga de águas
residuais, assim como a descarga de lamas provenientes do tratamento de águas
residuais;
z) «Estado das águas subterrâneas» a expressão global do estado em que se encontra
uma massa de águas subterrâneas, determinado em função do pior dos seus estados,
quantitativo ou químico;
aa) «Estado das águas superficiais» a expressão global do estado em que se encontra
uma massa de águas superficiais, determinado em função do pior dos seus estados,
ecológico ou químico;
bb) «Estado ecológico» a expressão da qualidade estrutural e funcional dos
ecossistemas aquáticos associados às águas superficiais, classificada nos termos de
legislação específica;
cc) «Estado quantitativo das águas subterrâneas» uma expressão do grau em que uma
massa de águas subterrâneas é afetada por captações diretas ou indiretas;
dd) «Impacte significativo sobre o estado da água» o resultado da atividade humana
que cause uma alteração no estado das águas, ou coloque esse estado em perigo, ou que
preencha os requisitos definidos para o efeito pelos organismos competentes para a
gestão das águas;
ee) «Infraestruturas hidráulicas» quaisquer obras ou conjuntos de obras, instalações ou
equipamentos instalados com caráter fixo nos leitos ou margens destinadas a permitir a
utilização das águas para fins de interesse geral;
ff) «Lago» ou «lagoa» um meio hídrico lêntico superficial interior;
gg) «Largura da margem» a margem das águas do mar, bem como das águas navegáveis
ou flutuáveis sujeitas atualmente à jurisdição das autoridades marítimas ou portuárias,
com a largura de 50 m; margem das restantes águas navegáveis ou flutuáveis com a
largura de 30 m; margem das águas não navegáveis nem flutuáveis, nomeadamente
torrentes, barrancos e córregos de caudal descontínuo, com a largura de 10 m; quando
tiver a natureza de praia em extensão superior à estabelecida anteriormente, a margem
estende-se até onde o terreno apresentar tal natureza; a largura da margem conta-se a
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partir da linha limite do leito; se, porém, esta linha atingir arribas alcantiladas, a largura
da margem é contada a partir da crista do alcantil;
hh) «Leito» o terreno coberto pelas águas, quando não influenciadas por cheias
extraordinárias, inundações ou tempestades, nele se incluindo os mouchões, lodeiros e
areais nele formados por deposição aluvial, sendo o leito limitado pela linha da máxima
preia-mar das águas vivas equinociais, no caso de águas sujeitas à influência das marés;
ii) «Linha de base» a linha que constitui a delimitação interior das águas costeiras, das
águas territoriais e da zona económica exclusiva e a delimitação exterior das águas do
mar interiores;
jj) «Margem» a faixa de terreno contígua ou sobranceira à linha que limita o leito das
águas com largura legalmente estabelecida;
ll) «Massa de água artificial» uma massa de água superficial criada pela atividade
humana;
mm) «Massa de água fortemente modificada» a massa de água superficial cujas
características foram consideravelmente modificadas por alterações físicas resultantes
da atividade humana e que adquiriu um caráter substancialmente diferente, designada
como tal em normativo próprio;
nn) «Massa de águas subterrâneas» um meio de águas subterrâneas delimitado que faz
parte de um ou mais aquíferos;
oo) «Massa de águas superficiais» uma massa distinta e significativa de águas
superficiais, designadamente uma albufeira, um ribeiro, rio ou canal, um troço de
ribeiro, rio ou canal, águas de transição ou uma faixa de águas costeiras;
pp) «Monitorização» o processo de recolha e processamento de informação sobre as
várias componentes do ciclo hidrológico e elementos de qualidade para a classificação
do estado das águas, de forma sistemática, visando acompanhar o comportamento do
sistema ou um objetivo específico;
qq) «Norma de qualidade ambiental» a concentração de um determinado poluente ou de
grupo de poluentes na água, nos sedimentos ou no biota, que não deve ser ultrapassada
para efeitos de proteção da saúde humana e do ambiente;
rr) «Objetivos ambientais» os objetivos definidos nos artigos 45.º a 48.º da presente lei;
ss) «Poluente» qualquer substância suscetível de provocar poluição, definida em
normativo próprio;
tt) «Poluição» a introdução direta ou indireta, em resultado da atividade humana, de
substâncias ou de calor no ar, na água ou no solo que possa ser prejudicial para a saúde
humana ou para a qualidade dos ecossistemas aquáticos ou dos ecossistemas terrestres
daqueles diretamente dependentes, que dê origem a prejuízos para bens materiais ou que
prejudique ou interfira com o valor paisagístico ou recreativo ou com outras utilizações
legítimas do ambiente;
uu) «Recursos disponíveis de águas subterrâneas» a diferença entre o caudal médio
anual a longo prazo de recarga total do meio hídrico subterrâneo e o caudal anual a
longo prazo necessário para alcançar os objetivos de qualidade ecológica das águas
superficiais associadas, para evitar uma degradação significativa do estado ecológico
dessas águas e prejuízos importantes nos ecossistemas terrestres associados;
vv) «Região hidrográfica» a área de terra e de mar constituída por uma ou mais bacias
hidrográficas contíguas e pelas águas subterrâneas e costeiras que lhes estão associadas,
constituindo-se como a principal unidade para a gestão das bacias hidrográficas;
xx) «Rio» a massa de água interior que corre, na maior parte da sua extensão, à
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superfície mas que pode também escoar-se no subsolo numa parte do seu curso;
zz) «Serviços de águas» todos os serviços prestados a casas de habitação, entidades
públicas ou qualquer atividade económica através de:
i) Represamento, captação, armazenamento, tratamento, elevação, adução e distribuição
de águas superficiais ou subterrâneas;
ii) Recolha, tratamento e rejeição de águas residuais;
aaa) «Sub-bacia hidrográfica» a área terrestre a partir da qual todas as águas se escoam,
através de uma sequência de ribeiros, rios e eventualmente lagos, para um determinado
ponto de um curso de água, normalmente uma confluência ou um lago;
bbb) «Substâncias perigosas» as substâncias ou grupos de substâncias tóxicas,
persistentes e suscetíveis de bioacumulação, e ainda outras substâncias que suscitem
preocupações da mesma ordem;
ccc) «Substâncias prioritárias» as substâncias definidas como tal em normativo próprio
por representarem risco significativo para o ambiente aquático ou por seu intermédio,
sendo a sua identificação feita através de procedimentos de avaliação de risco
legalmente previstos ou, por razões de calendário, através de avaliações de risco
simplificadas;
ddd) «Substâncias perigosas prioritárias» as substâncias identificadas como
apresentando um risco acrescido em relação às substâncias prioritárias, sendo a sua
seleção feita com base em normativo próprio relativo a substâncias perigosas ou nos
acordos internacionais relevantes;
eee) «Utilização da água» os serviços das águas e qualquer outra atividade que tenha
um impacte significativo sobre o estado da água;
fff) «Valores limite de emissão» a massa, expressa em termos de determinados
parâmetros específicos, a concentração ou o nível de uma emissão que não podem ser
excedidos em certos períodos de tempo, a definir em normativo próprio;
ggg) «Zona ameaçada pelas cheias» a área contígua à margem de um curso de água
que se estende até à linha alcançada pela cheia com período de retorno de 100 anos ou
pela maior cheia conhecida no caso de não existirem dados que permitam identificar a
anterior;
hhh) «Zona adjacente» a zona contígua à margem que como tal seja classificada por um
ato regulamentar por se encontrar ameaçada pelo mar ou pelas cheias;
iii) «Zona de infiltração máxima» a área em que, devido à natureza do solo e do
substrato geológico e ainda às condições de morfologia do terreno, a infiltração das
águas apresenta condições especialmente favoráveis, contribuindo assim para a
alimentação dos lençóis freáticos;
jjj) «Zonas protegidas» - constituem zonas protegidas:
i) As zonas designadas por normativo próprio para a captação de água destinada ao
consumo humano ou a proteção de espécies aquáticas de interesse económico;
ii) As massas de água designadas como águas de recreio, incluindo zonas designadas
como zonas balneares;
iii) As zonas sensíveis em termos de nutrientes, incluindo as zonas vulneráveis e as
zonas designadas como zonas sensíveis;
iv) As zonas designadas para a proteção de habitats e da fauna e da flora selvagens e a
conservação das aves selvagens em que a manutenção ou o melhoramento do estado da
água seja um dos fatores importantes para a sua conservação, incluindo os sítios

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relevantes da rede Natura 2000;
v) As zonas de infiltração máxima.
CAPÍTULO II
Enquadramento institucional
Artigo 5.º
Administração Pública
Constitui atribuição do Estado promover a gestão sustentada das águas e prosseguir as
atividades necessárias à aplicação da presente lei.
Artigo 6.º
Regiões hidrográficas
1 - No quadro da especificidade das bacias hidrográficas, dos sistemas aquíferos
nacionais e das bacias compartilhadas com Espanha e ainda das características próprias
das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, são criadas as seguintes regiões
hidrográficas:
a) Minho e Lima (RH 1), que compreende as bacias hidrográficas dos rios Minho e
Lima e das ribeiras da costa entre os respetivos estuários e outras pequenas ribeiras
adjacentes;
b) Cávado, Ave e Leça (RH 2), que compreende as bacias hidrográficas dos rios
Cávado, Ave e Leça e das ribeiras da costa entre os respetivos estuários e outras
pequenas ribeiras adjacentes;
c) Douro (RH 3), que compreende a bacia hidrográfica do rio Douro e outras pequenas
ribeiras adjacentes;
d) Vouga, Mondego e Lis (RH 4), que compreende as bacias hidrográficas dos rios
Vouga, Mondego e Lis, das ribeiras da costa entre o estuário do rio Douro e a foz do rio
Lis;
e) Tejo e Ribeiras do Oeste (RH 5), que compreende as bacias hidrográficas de todas
as linhas de água a sul da foz do Lis até ao estuário do rio Tejo, exclusive, e a bacia
hidrográfica do rio Tejo e outras pequenas ribeiras adjacentes;
f) Sado e Mira (RH 6), que compreende as bacias hidrográficas dos rios Sado e Mira e
outras pequenas ribeiras adjacentes;
g) Guadiana (RH 7), que compreende a bacia hidrográfica do rio Guadiana;
h) Ribeiras do Algarve (RH 8), que compreende as bacias hidrográficas das ribeiras do
Algarve;
i) Açores (RH 9), que compreende todas as bacias hidrográficas do arquipélago;
j) Madeira (RH 10), que compreende todas as bacias hidrográficas do arquipélago.
2 - As regiões hidrográficas do Minho e Lima, do Douro, do Tejo e Ribeiras do Oeste e
do Guadiana integram regiões hidrográficas internacionais por compreenderem
bacias hidrográficas compartilhadas com o Reino de Espanha.
3 - O Governo define por normativo próprio, nos termos do n.º 3 do artigo 102.º, a
delimitação georreferenciada das regiões hidrográficas.
Artigo 7.º
Órgãos da Administração Pública

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1 - A instituição da Administração Pública a quem cabe exercer as competências
previstas na presente lei é a Agência Portuguesa do Ambiente, I. P. (APA, I. P.), que,
como autoridade nacional da água, representa o Estado como garante da política
nacional e prossegue as suas atribuições, ao nível territorial, de gestão dos recursos
hídricos, incluindo o respetivo planeamento, licenciamento, monitorização e
fiscalização ao nível da região hidrográfica, através dos seus serviços desconcentrados.
2 - A representação dos setores de atividade e dos utilizadores dos recursos hídricos é
assegurada através dos seguintes órgãos consultivos:
a) O Conselho Nacional da Água (CNA), enquanto órgão consultivo do Governo em
matéria de recursos hídricos;
b) Os conselhos da região hidrográfica (CRH), enquanto órgãos consultivos da APA, I.
P., em matéria de recursos hídricos, para as respetivas bacias hidrográficas nela
integradas.
3 - A articulação dos instrumentos de ordenamento do território com as regras e
princípios decorrentes da presente lei e dos planos de águas nelas previstos e a
integração da política da água nas políticas transversais de ambiente são asseguradas em
especial pelas comissões de coordenação e desenvolvimento regional (CCDR).

Nota: A Agência Portuguesa do Ambiente, I. P., tem por missão, “propor, desenvolver e acompanhar a
gestão integrada e participada das políticas de ambiente e de desenvolvimento sustentável”. Ela exerce,
nomeadamente, funções de Autoridade Nacional da Água, de Autoridade Nacional de Segurança de
Barragens, de Autoridade Nacional de Resíduos, de Autoridade Nacional para a Prevenção e Controlo
Integrados da Poluição, de Autoridade Nacional de Avaliação de Impacte Ambiental e de Autoridade de
Avaliação Ambiental Estratégica de Planos e Programas, de autoridade competente para o regime de
responsabilidade ambiental.
Artigo 8.º
Autoridade nacional da água
1 - À autoridade nacional da água compete assegurar a nível nacional a gestão das águas
e garantir a consecução dos objetivos da presente lei, além de garantir a representação
internacional do Estado neste domínio.
2 - Compete, nomeadamente, à autoridade nacional da água:
a) Promover a proteção e o planeamento das águas, através da elaboração e execução
do plano nacional da água, dos planos de gestão de bacia hidrográfica e dos planos
específicos de gestão de águas, e assegurar a sua revisão periódica;
b) Promover o ordenamento adequado dos usos das águas através da elaboração e
execução dos planos de ordenamento das albufeiras de águas públicas, dos planos de
ordenamento dos estuários e dos planos de ordenamento da orla costeira, e assegurar a
sua revisão periódica;
c) Garantir a monitorização a nível nacional, coordenando tecnicamente os
procedimentos e as metodologias a observar;
d) Promover e avaliar os projetos de infraestruturas hidráulicas;
e) Inventariar as infraestruturas hidráulicas existentes que possam ser qualificadas como
empreendimentos de fins múltiplos e propor o modelo a adotar para o seu financiamento
e gestão;
f) Assegurar que a realização dos objetivos ambientais e dos programas de medidas
especificadas nos planos de gestão de bacia hidrográfica seja coordenada para a
totalidade de cada região hidrográfica;
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g) Definir a metodologia e garantir a realização de análise das características de cada
região hidrográfica e assegurar a sua revisão periódica;
h) Definir a metodologia e garantir a realização de análise das incidências das atividades
humanas sobre o estado das águas e garantir a sua revisão periódica;
i) Definir a metodologia e garantir a realização de análise económica das utilizações da
água, assegurar a sua revisão periódica e garantir a sua observância nos planos de gestão
de bacia hidrográfica;
j) Garantir que se proceda ao registo das zonas protegidas em cada região hidrográfica e
garantir a sua revisão periódica;
k) Instituir e manter atualizado o sistema nacional de informação dos recursos
hídricos;
l) Garantir a aplicação do regime económico e financeiro dos recursos hídricos;
m) Pronunciar-se sobre programas específicos de prevenção e combate a acidentes
graves de poluição, em articulação com a Autoridade Nacional de Proteção Civil e
outras entidades competentes;
n) Declarar a situação de alerta em caso de seca e iniciar, em articulação com as
entidades competentes e os principais utilizadores, as medidas de informação e atuação
recomendadas;
o) Promover o uso eficiente da água através da implementação de um programa de
medidas preventivas aplicáveis em situação normal e medidas imperativas aplicáveis em
situação de secas;
p) Aplicar medidas para redução de caudais de cheia e criar sistemas de alerta para
salvaguarda de pessoas e bens;
q) Estabelecer critérios e procedimentos normativos a adotar para a regularização de
caudais ao longo das linhas de águas em situações normais e extremas, através das
necessárias infraestruturas;
r) Inventariar e manter o registo do domínio público hídrico;
s) Decidir sobre a emissão e emitir títulos de utilização dos recursos hídricos e fiscalizar
essa utilização;
t) Promover a requalificação e valorização dos recursos hídricos e a sistematização
fluvial;
u) Aprovar os programas de segurança de barragens, delimitar as zonas de risco e
garantir a aplicação do Regulamento de Segurança de Barragens;
v) Promover a divulgação junto das entidades públicas, incluindo as entidades regionais
a que se refere o artigo 101.º, de toda a informação necessária ao cumprimento do
disposto na presente lei, nomeadamente toda a informação necessária a assegurar o
cumprimento das obrigações impostas pela Diretiva n.º 2000/60/CE, do Parlamento
Europeu e do Conselho, de 23 de outubro.
3 - A autoridade nacional da água, na medida em que tal se revele necessário ao
cumprimento das suas obrigações como garante da aplicação da presente lei, deve:
a) (Revogada.)
b) (Revogada.)
c) Solicitar aos restantes organismos públicos dotados de atribuições no domínio hídrico
informação sobre o desempenho das competências dos seus órgãos com vista à
aplicação da presente lei;
d) (Revogada.)
e) (Revogada.)
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f) (Revogada.)
g) Propor ao Governo a aprovação dos atos legislativos e regulamentares que se revelem
necessários ou convenientes;
h) Celebrar com outros organismos públicos e com utilizadores dos recursos hídricos os
contratos-programa necessários à prossecução das suas atribuições;
i) Definir uma estratégia e critérios para o estabelecimento de parcerias no setor dos
recursos hídricos, incluindo os mecanismos de aplicação e acompanhamento.
4 - Podem ser delegadas total ou parcialmente pela APA, I. P., através do seu órgão
diretivo, nos termos da lei, as seguintes competências nos órgãos das entidades a seguir
indicadas, mediante a prévia celebração de protocolos ou contratos de parceria:
a) Nas autarquias, poderes de licenciamento e fiscalização de utilização de águas e
poderes para elaboração e execução de planos específicos de gestão das águas ou
programas de medidas previstas nos artigos 30.º e 32.º;
b) Nas associações de utilizadores e em concessionários de utilização de recursos
hídricos, poderes para elaboração e execução de planos específicos de gestão das águas
ou para a elaboração e execução de programas de medidas previstas nos artigos 30.º e
32.º
5 - A APA, I. P., pode celebrar contratos-programa com qualquer das entidades
indicadas no número anterior com vista a garantir a execução das medidas previstas nos
artigos 30.º e 32.º que tais entidades hajam acordado executar por delegação da APA, I.
P.
Artigo 9.º
Administrações das regiões hidrográficas
(Revogado.)
Artigo 10.º
Comissões de coordenação e desenvolvimento regional
1 - As CCDR são os órgãos desconcentrados do Ministério da Agricultura, do Mar, do
Ambiente e do Ordenamento do Território a quem cabe, em termos regionais:
a) A proteção e valorização das componentes ambientais das águas integradas na
ponderação global de tais componentes através dos instrumentos de gestão territorial;
b) O exercício das competências coordenadoras que lhe são atribuídas por lei no
domínio da prevenção e controlo integrados da poluição.
2 - Para os efeitos previstos no número anterior, as CCDR contam com a necessária
colaboração técnica da autoridade nacional da água.
Artigo 11.º
Conselho Nacional da Água
1 - O CNA é o órgão de consulta do Governo no domínio das águas, no qual estão
representados os organismos da Administração Pública e as organizações profissionais,
científicas, sectoriais e não governamentais mais representativas e relacionadas com a
matéria da água.
2 - Ao CNA cabe em geral apreciar e acompanhar a elaboração do Plano Nacional da
Água, dos planos de gestão de bacia hidrográfica e outros planos e projetos relevantes
para as águas, formular ou apreciar opções estratégicas para a gestão sustentável das

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águas nacionais, bem como apreciar e propor medidas que permitam um melhor
desenvolvimento e articulação das ações deles decorrentes.
3 - Ao CNA cabe igualmente contribuir para o estabelecimento de opções estratégicas
de gestão e controlo dos sistemas hídricos, harmonizar procedimentos metodológicos e
apreciar determinantes no processo de planeamento relativamente ao Plano Nacional de
Água e aos planos de bacia hidrográfica, nomeadamente os respeitantes aos rios
internacionais Minho, Lima, Douro, Tejo e Guadiana.
Artigo 12.º
Conselhos da região hidrográfica
(Revogado.)
Artigo 13.º
Administrações portuárias
1 - Nas áreas do domínio público hídrico afetas às administrações portuárias, a
competência da autoridade nacional da água para licenciamento e fiscalização da
utilização dos recursos hídricos considera-se delegada na administração portuária com
jurisdição no local, sendo definidos por portaria dos membros do Governo responsáveis
pelas áreas das obras públicas, dos transportes, das comunicações e do ambiente os
termos e âmbito da delegação e os critérios de repartição das respetivas receitas.
2 - A portaria prevista no número anterior constitui igualmente título de utilização dos
recursos hídricos pela administração portuária, fixando as respetivas obrigações e
condicionamentos, de acordo com um regime equiparado, para este efeito, ao regime
dos empreendimentos de fins múltiplos previstos no artigo 76.º
3 - O exercício pelas administrações portuárias das competências delegadas nos termos
do n.º 1 observa as regras decorrentes da presente lei e dos planos aplicáveis e as
orientações do delegante, sem prejuízo da respetiva avocação em casos devidamente
justificados e as regras especiais a definir nos termos do n.º 4 do artigo 80.º
CAPÍTULO III
Ordenamento e planeamento dos recursos hídricos

SECÇÃO I
Disposições gerais
Artigo 14.º
Princípio
1 - O ordenamento e planeamento dos recursos hídricos visam compatibilizar, de forma
integrada, a utilização sustentável desses recursos com a sua proteção e valorização,
bem como com a proteção de pessoas e bens contra fenómenos extremos associados às
águas.
2 - Devem ser planeadas e reguladas as utilizações dos recursos hídricos das zonas que
com eles confinam de modo a proteger a quantidade e a qualidade das águas, os
ecossistemas aquáticos e os recursos sedimentológicos.
Artigo 15.º
Âmbito de intervenção

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1 - As medidas de ordenamento e planeamento dos recursos hídricos têm como âmbito
de intervenção, para além dos seus próprios limites geográficos, o território envolvente
com incidência nesses recursos e as zonas objeto de medidas de proteção dos mesmos.
2 - Entende-se por «território envolvente com incidência nos recursos hídricos» as
margens dos lagos e albufeiras de águas públicas e as orlas costeira e estuarina nas quais
importa impor regras de harmonização das suas diversas utilizações com a preservação
dos recursos e meios hídricos.
3 - As zonas objeto de medidas de proteção dos recursos hídricos compreendem os
perímetros de proteção e as áreas adjacentes às captações de água para consumo
humano, as áreas de infiltração máxima para recarga de aquíferos e as áreas vulneráveis
à poluição por nitratos de origem agrícola.
4 - Podem também vir a ser objeto dessas medidas de proteção determinadas áreas,
nomeadamente partes de bacias, aquíferos ou massas de água, que, pelas suas
características naturais e valor ambiental, económico ou social, assumam especial
interesse público.
Artigo 16.º
Instrumentos de intervenção
O ordenamento e o planeamento dos recursos hídricos processam-se através dos
seguintes instrumentos:
a) Planos especiais de ordenamento do território;
b) Planos de recursos hídricos;
c) Medidas de proteção e valorização dos recursos hídricos.
Artigo 17.º
Articulação entre ordenamento e planeamento
1 - O Programa Nacional de Política de Ordenamento do Território e o Plano Nacional
da Água devem articular-se entre si, garantindo um compromisso recíproco de
integração e compatibilização das respetivas opções, e por sua vez os planos e
programas sectoriais com impactes significativos sobre as águas devem integrar os
objetivos e as medidas previstas nos instrumentos de planeamento das águas.
2 - Os instrumentos de planeamento das águas referidos nos artigos 23.º a 26.º vinculam
a Administração Pública, devendo as medidas preconizadas nos instrumentos de gestão
territorial, designadamente nos planos especiais de ordenamento do território e nos
planos municipais de ordenamento do território, ser com eles articuladas e
compatibilizadas, bem como com as medidas de proteção e valorização previstos no
artigo 32.º
3 - As medidas pontuais de proteção e valorização dos recursos hídricos devem ser
compatíveis com as orientações estabelecidas nos planos de recursos hídricos.
SECÇÃO II
Ordenamento
Artigo 18.º
Ordenamento
Compete ao Estado, através do ordenamento adequado das utilizações dos recursos
hídricos, compatibilizar a sua utilização com a proteção e valorização desses recursos,

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bem como com a proteção de pessoas e bens contra fenómenos associados aos mesmos
recursos.
Artigo 19.º
Instrumentos de ordenamento
1 - Os instrumentos de gestão territorial incluem as medidas adequadas à proteção e
valorização dos recursos hídricos na área a que se aplicam de modo a assegurar a sua
utilização sustentável, vinculando a Administração Pública e os particulares.
2 - Devem ser elaborados planos especiais de ordenamento do território tendo por
objetivo principal a proteção e valorização dos recursos hídricos abrangidos nos
seguintes casos:
a) Planos de ordenamento de albufeiras de águas públicas;
b) Planos de ordenamento da orla costeira;
c) Planos de ordenamento dos estuários.
3 - A elaboração, o conteúdo, o acompanhamento, a concertação, a participação, a
aprovação, a vigência e demais regimes dos planos especiais do ordenamento do
território observam as regras constantes dos atos legislativos que regem estes
instrumentos de gestão territorial e as regras especiais previstas na presente lei e nos
atos legislativos para que esta remete.
Artigo 20.º
Planos de ordenamento de albufeiras de águas públicas
1 - As albufeiras de águas públicas podem ser consideradas protegidas, condicionadas,
de utilização limitada e de utilização livre.
2 - Os planos de ordenamento das albufeiras de águas públicas estabelecem,
nomeadamente:
a) A demarcação do plano de água, da zona reservada e da zona de proteção;
b) A indicação do uso ou usos principais da água;
c) A indicação das atividades secundárias permitidas, da intensidade dessas utilizações e
da sua localização;
d) A indicação das atividades proibidas e com restrições;
e) Os valores naturais e paisagísticos a preservar.
3 - Sem prejuízo de outras interdições constantes de legislação específica, nas zonas de
proteção das albufeiras são interditas as seguintes ações:
a) O estabelecimento de indústrias que produzam ou usem produtos químicos tóxicos ou
com elevados teores de fósforo ou de azoto;
b) A instalação de explorações pecuárias intensivas, incluindo as avícolas;
c) O armazenamento de pesticidas e de adubos orgânicos ou químicos;
d) O emprego de pesticidas, a não ser em casos justificados e condicionados às zonas a
tratar e quanto à natureza, características e doses dos produtos a usar;
e) O emprego de adubos químicos azotados ou fosfatados, nos casos que impliquem
risco de contaminação de água destinada ao abastecimento de populações e de
eutrofização da albufeira;
f) O lançamento de excedentes de pesticidas ou de caldas pesticidas e de águas de
lavagem com uso de detergentes;
g) A descarga ou infiltração no terreno de esgotos de qualquer natureza não

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devidamente tratados e, mesmo tratados, quando excedam determinados valores fixados
nos instrumentos de planeamento de recursos hídricos dos teores de fósforo, azoto,
carbono, mercúrio e outros metais pesados;
h) A instalação de aterros sanitários que se destinem a resíduos urbanos ou industriais.
4 - Os planos de ordenamento de albufeiras de águas públicas podem ter por objeto
lagoas ou lagos de águas públicas, em condições a definir em normativo próprio.

Nos termos do art.º 3.º, al. j), do regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de setembro,
última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), a “descontaminação de solos” consiste no “o
procedimento de remoção da fonte de contaminação e o confinamento, tratamento, in situ ou ex situ,
conducente à remoção e ou à redução de agentes poluentes nos solos, bem como à eliminação ou
diminuição dos efeitos por estes causados”.

Artigo 21.º
Planos de ordenamento da orla costeira
1 - Os Planos de ordenamento da orla costeira têm por objeto as águas marítimas
costeiras e interiores e os respetivos leitos e margens, assim como as faixas de proteção
marítima e terrestre, definidas em legislação específica ou no âmbito de cada plano.
2 - Os planos de ordenamento da orla costeira estabelecem opções estratégicas para a
proteção e integridade biofísica da área envolvida, com a valorização dos recursos
naturais e a conservação dos seus valores ambientais e paisagísticos, e, nomeadamente:
a) Ordenam os diferentes usos e atividades específicas da orla costeira;
b) Classificam as praias e disciplinam o uso das praias especificamente vocacionadas
para uso balnear;
c) Valorizam e qualificam as praias, dunas e falésias consideradas estratégicas por
motivos ambientais e turísticos;
d) Enquadram o desenvolvimento das atividades específicas da orla costeira e o
respetivo saneamento básico;
e) Asseguram os equilíbrios morfodinâmicos e a defesa e conservação dos ecossistemas
litorais.
3 - Os planos de ordenamento da orla costeira são regulados por legislação específica.
Artigo 22.º
Planos de ordenamento dos estuários
1 - Os planos de ordenamento dos estuários visam a proteção das suas águas, leitos e
margens e dos ecossistemas que as habitam, assim como a valorização social,
económica e ambiental da orla terrestre envolvente, e, nomeadamente:
a) Asseguram a gestão integrada das águas de transição com as águas interiores e
costeiras confinantes, bem como dos respetivos sedimentos;
b) Preservam e recuperam as espécies aquáticas e ribeirinhas protegidas e os respetivos
habitats;
c) Ordenam a ocupação da orla estuarina e salvaguardam os locais de especial interesse
urbano, recreativo, turístico e paisagístico;
d) Indicam os usos permitidos e as condições a respeitar pelas várias atividades
industriais e de transportes implantadas em torno do estuário.

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2 - O regime dos planos de ordenamento dos estuários consta de legislação específica a
publicar para o efeito.
SECÇÃO III
Planeamento
Artigo 23.º
Planeamento das águas
Cabe ao Estado, através da autoridade nacional da água, instituir um sistema de
planeamento integrado das águas adaptado às características próprias das bacias e das
regiões hidrográficas.
Artigo 24.º
Objetivos e instrumentos de planeamento
1 - O planeamento das águas visa fundamentar e orientar a proteção e a gestão das águas
e a compatibilização das suas utilizações com as suas disponibilidades de forma a:
a) Garantir a sua utilização sustentável, assegurando a satisfação das necessidades das
gerações atuais sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras satisfazerem as
suas próprias necessidades;
b) Proporcionar critérios de afetação aos vários tipos de usos pretendidos, tendo em
conta o valor económico de cada um deles, bem como assegurar a harmonização da
gestão das águas com o desenvolvimento regional e as políticas sectoriais, os direitos
individuais e os interesses locais;
c) Fixar as normas de qualidade ambiental e os critérios relativos ao estado das águas.
2 - O planeamento das águas é concretizado através dos seguintes instrumentos:
a) O Plano Nacional da Água, de âmbito territorial, que abrange todo o território
nacional;
b) Os planos de gestão de bacia hidrográfica, de âmbito territorial, que abrangem as
bacias hidrográficas integradas numa região hidrográfica e incluem os respetivos
programas de medidas;
c) Os planos específicos de gestão de águas, que são complementares dos planos de
gestão de bacia hidrográfica e que podem ser de âmbito territorial, abrangendo uma sub-
bacia ou uma área geográfica específica, ou de âmbito sectorial, abrangendo um
problema, tipo de água, aspeto específico ou setor de atividade económica com
interação significativa com as águas.
Artigo 25.º
Princípios do planeamento das águas
O planeamento das águas obedece aos seguintes princípios específicos:
a) Da integração - a atividade de planeamento das águas deve ser integrada
horizontalmente com outros instrumentos de planeamento da administração, de nível
ambiental, territorial ou económico;
b) Da ponderação global - devem ser considerados os aspetos económicos, ambientais,
técnicos e institucionais com relevância para a gestão da água, garantindo a sua
preservação quantitativa e qualitativa e a sua utilização eficiente, sustentável e
ecologicamente equilibrada;
c) Da adaptação funcional - os instrumentos de planeamento das águas devem

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diversificar a sua intervenção na gestão de recursos hídricos em função de problemas,
necessidades e interesses públicos específicos, sem prejuízo da necessária unidade e
coerência do seu conteúdo planificador no âmbito de cada bacia hidrográfica;
d) Da durabilidade - o planeamento da água deve atender à continuidade e estabilidade
do recurso em causa, protegendo a sua qualidade ecológica e capacidade regenerativa;
e) Da participação - quaisquer particulares, utilizadores dos recursos hídricos e suas
associações, podem intervir no planeamento das águas e, especificamente, nos
procedimentos de elaboração, execução e alteração dos seus instrumentos;
f) Da informação - os instrumentos de planeamento de águas constituem um meio de
gestão de informação acerca da atividade administrativa de gestão dos recursos hídricos
em cada bacia hidrográfica;
g) Da cooperação internacional - no âmbito da região hidrográfica internacional, o
planeamento de águas deve encarar, de forma concertada, os problemas de gestão dos
recursos hídricos.
Artigo 26.º
Participação no planeamento
Na elaboração, revisão e avaliação dos instrumentos de planeamento das águas é
garantida:
a) A intervenção dos vários departamentos ministeriais que tutelam as atividades
interessadas no uso dos recursos hídricos e dos organismos públicos a que esteja afeta a
administração das áreas envolvidas;
b) A participação dos interessados através do processo de discussão pública e da
representação dos utilizadores nos órgãos consultivos da gestão das águas;
c) A publicação prévia, nomeadamente no sítio eletrónico da autoridade nacional da
água, de toda a informação relevante nos termos do artigo 85.º, incluindo o projeto de
plano e todas as propostas e pareceres recebidos ao longo do processo de discussão.
Artigo 27.º
Regulamentos
No caso de um instrumento de planeamento das águas concluir pela necessidade de
submeter algumas atividades dos administrados aos condicionamentos ou restrições
autorizados por lei, impostos pela proteção e boa gestão das águas, são fixadas em
regulamento, aprovado por portaria do membro do Governo responsável pela área do
ambiente, as normas que estabeleçam tais condicionamentos e restrições.
Artigo 28.º
Plano Nacional da Água
1 - O Plano Nacional da Água, enquanto documento estratégico e prospetivo, é o
instrumento de gestão das águas que estabelece as grandes opções da política nacional
da água e os princípios e as regras de orientação dessa política, a aplicar pelos planos de
gestão de bacias hidrográficas e por outros instrumentos de planeamento das águas.
2 - O Plano Nacional da Água é constituído por:
a) Uma análise dos principais problemas das águas à escala nacional que fundamente as
orientações estratégicas, as opções e as prioridades de intervenção política e
administrativa neste domínio;

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b) Um diagnóstico da situação à escala nacional com a síntese, articulação e
hierarquização dos problemas e das potencialidades identificados;
c) A definição de objetivos que visem formas de convergência entre os objetivos da
política de gestão das águas nacionais e os objetivos globais e sectoriais de ordem
económica, social e ambiental;
d) A síntese das medidas e ações a realizar para atingir os objetivos estabelecidos e dos
consequentes programas de investimento, devidamente calendarizados;
e) Um modelo de promoção, de acompanhamento e de avaliação da sua aplicação.
3 - O Plano Nacional da Água deve compreender as seguintes temáticas:
a) Água e serviços dos ecossistemas;
b) Água, energia e alterações climáticas;
c) Água e agricultura;
d) Água e florestas;
e) Água e economia;
f) Gestão de bacias hidrográficas partilhadas;
g) Ciclo urbano da água;
h) Valorização de rios e litoral;
i) Gestão do risco;
j) Conservação das espécies e habitats naturais.
4 - O Plano Nacional da Água é aprovado por decreto-lei, devendo o seu conteúdo ser
também disponibilizado através do sítio eletrónico da APA, I. P.
5 - O Plano Nacional da Água deve ser revisto periodicamente, devendo a primeira
revisão do atual Plano Nacional da Água ocorrer até final de 2010.
Artigo 29.º
Planos de gestão de bacia hidrográfica
1 - Os planos de gestão de bacia hidrográfica são precedidos de avaliação ambiental,
nos termos do Decreto-Lei n.º 232/2007, de 15 de junho, e constituem instrumentos de
planeamento das águas que, visando a gestão, a proteção e a valorização ambiental,
social e económica das águas ao nível da bacia hidrográfica, compreendem e
estabelecem:
a) A caracterização das águas superficiais e subterrâneas existentes na região
hidrográfica ou de cada secção da região hidrográfica internacional, incluindo a
identificação dos recursos, a delimitação das massas de águas superficiais e subterrâneas
e a determinação das condições de referência ou do máximo potencial ecológico
específico do tipo de águas superficiais;
b) A identificação das pressões e descrição dos impactes significativos da atividade
humana sobre o estado das águas superficiais e subterrâneas, com a avaliação, entre
outras, das fontes tópicas e difusas de poluição, das utilizações existentes e previstas e
das alterações morfológicas significativas e o balanço entre as potencialidades, as
disponibilidades e as necessidades;
c) A designação como artificial ou fortemente modificada de uma massa de águas
superficiais e a classificação e determinação do seu potencial ecológico, bem como a
classificação e determinação do estado ecológico das águas superficiais, de acordo com
parâmetros biológicos, hidromorfológicos e físico-químicos;
d) A localização geográfica das zonas protegidas e a indicação da legislação
comunitária ou nacional ao abrigo da qual essas zonas tenham sido designadas;
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e) A identificação de sub-bacias, setores, problemas ou tipos de águas e sistemas
aquíferos que requeiram um tratamento específico ao nível da elaboração de planos
específicos de gestão das águas;
f) A identificação das redes de monitorização e a análise dos resultados dos programas
de monitorização sobre a disponibilidade e o estado das águas superficiais e
subterrâneas, bem como sobre as zonas protegidas;
g) A análise económica das utilizações da água, incluindo a avaliação da recuperação de
custos dos serviços de águas e a identificação de critérios para a avaliação da
combinação de medidas com melhor relação custo-eficácia;
h) As informações sobre as ações e medidas programadas para a implementação do
princípio da recuperação dos custos dos serviços hídricos e sobre o contributo dos
diversos setores para este objetivo com vista à concretização dos objetivos ambientais;
i) A definição dos objetivos ambientais para as massas de águas superficiais e
subterrâneas e para as zonas protegidas, bem como a identificação dos objetivos
socioeconómicos de curto, médio e longo prazos a considerar, designadamente no que
se refere à qualidade das águas e aos níveis de descargas de águas residuais;
j) O reconhecimento, a especificação e a fundamentação das condições que justifiquem:
i) A extensão de prazos para a obtenção dos objetivos ambientais;
ii) A definição de objetivos menos exigentes;
iii) A deterioração temporária do estado das massas de água;
iv) A deterioração do estado das águas;
v) O não cumprimento do bom estado das águas subterrâneas ou do bom estado ou
potencial ecológico das águas superficiais;
l) A identificação das entidades administrativas competentes e dos procedimentos no
domínio da recolha, gestão e disponibilização da informação relativas às águas;
m) As medidas de informação e consulta pública, incluindo os resultados e as
consequentes alterações produzidas nos planos;
n) As normas de qualidade adequadas aos vários tipos e usos da água e as relativas a
substâncias perigosas;
o) Os programas de medidas e ações previstos para o cumprimento dos objetivos
ambientais, devidamente calendarizados, espacializados, orçamentados e com indicação
das entidades responsáveis pela sua aplicação.
p) Uma estratégia de mitigação dos efeitos das alterações climáticas e da seca,
articulada com o disposto no Plano Nacional da Água e com objetivos calendarizados e
definidos territorialmente, que pode prever a identificação dos tipos de cultura agrícola
compatíveis com a disponibilidade hídrica projetada para os próximos 50 anos,
restrições ao uso da água para determinadas atividades económicas, sempre que tal não
seja compatível com a disponibilidade hídrica, ou a garantia de implementação de
planos de uso eficiente da água;
q) Um programa de remoção das infraestruturas hidráulicas obsoletas, de promoção de
rios vivos e caudais ecológicos sustentáveis e de recuperação dos ecossistemas afetados,
que preveja objetivos calendarizados, definidos territorialmente e orçamentados, com
indicação das entidades responsáveis pela sua aplicação e mecanismos de monitorização
da sua execução;
r) Um plano de incentivos que garanta o apoio à conversão da agricultura existente nas
margens dos rios e ribeiros para modo biológico.
2 - O conteúdo dos planos de gestão de bacia hidrográfica é objeto de normas a aprovar
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nos termos do n.º 3 do artigo 102.º
3 - Os planos de gestão de bacia hidrográfica são revistos de seis em seis anos,
precedidos de avaliação ambiental, nos termos do Decreto-Lei n.º 232/2007, de 15 de
junho, e assegurando o disposto no n.º1.
4 - No caso de regiões hidrográficas internacionais, a autoridade nacional da água
diligência no sentido da elaboração de um plano conjunto, devendo, em qualquer caso,
os planos de gestão de bacia hidrográfica ser coordenados e articulados entre a
autoridade nacional da água e a entidade administrativa competente do Reino de
Espanha, assegurando em toda a sua extensão a existência de rios vivos e caudais
ecológicos sustentáveis.
5 - Os planos de gestão de bacia hidrográfica devem ser publicados no Diário da
República e disponibilizados no sítio eletrónico da autoridade nacional da água.
Artigo 30.º
Programas de medidas
1 - Com vista à concretização do quadro normativo relativo à proteção da água e à
realização dos objetivos ambientais estabelecidos, o plano de gestão da bacia
hidrográfica assegura o estabelecimento de um programa de medidas para cada região
hidrográfica ou para a parte de qualquer região hidrográfica internacional que pertença
ao seu território.
2 - Os programas de medidas a elaborar para cada região hidrográfica compreendem
medidas de base e medidas suplementares, funcionalmente adaptadas às características
da bacia, ao impacte da atividade humana no estado das águas superficiais e
subterrâneas e que sejam justificadas pela análise económica das utilizações da água e
pela análise custo-eficácia dos condicionamentos e restrições a impor a essas
utilizações.
3 - Os programas de medidas de base, enquanto requisitos mínimos a cumprir,
compreendem as medidas, projetos e ações necessários para o cumprimento dos
objetivos ambientais, ao abrigo das disposições legais em vigor, nomeadamente:
a) Medidas destinadas à prevenção e controlo da poluição causada por fontes tópicas,
incluindo a proibição da descarga de poluentes na água ou o estabelecimento de um
regime de licenciamento, ou registo baseado em regras gerais de caráter obrigatório,
incluindo controlos de emissões para os poluentes em causa, nos termos dos artigos 46.º
e 53.º;
b) Medidas destinadas à prevenção e controlo da poluição causada por fontes difusas,
que podem assumir a forma da exigência de uma regulamentação prévia, como a
proibição da descarga de poluentes na água ou o estabelecimento de um regime de
licenciamento, ou registo baseado em regras gerais de caráter obrigatório;
c) Medidas destinadas à prevenção e controlo integrados da poluição proveniente de
certas atividades, incluindo o estabelecimento de medidas destinadas a evitar ou reduzir
as emissões dessas atividades para o ar, a água ou o solo;
d) Medidas destinadas ao controlo das captações de águas superficiais, incluindo a
criação de represas e outras infraestruturas hidráulicas, e de águas subterrâneas, através
do estabelecimento de um regime de licenciamento ou registo;
e) Medidas destinadas à cessação ou redução progressiva da poluição das águas
superficiais causada por substâncias prioritárias perigosas e substâncias prioritárias,
respetivamente, e à redução progressiva da poluição causada por outras substâncias

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perigosas suscetíveis de impedir que sejam alcançados os objetivos para estas águas;
f) Medidas destinadas à concretização dos princípios da recuperação dos custos dos
serviços de águas e do utilizador-pagador, através do estabelecimento de uma política
de preços da água e da responsabilização dos utilizadores, em consonância com a
análise económica das utilizações da água e com a correta determinação dos custos dos
serviços de águas associados com as atividades utilizadoras dos recursos hídricos;
g) Medidas destinadas à proteção das massas de água destinadas à produção de água
para consumo humano, incluindo medidas de salvaguarda dessas águas de forma a
reduzir o tratamento necessário para a produção de água potável com a qualidade
exigida por lei;
h) Medidas destinadas à proteção e melhoria da qualidade das águas balneares;
i) Medidas destinadas à conservação das aves selvagens;
j) Medidas destinadas à prevenção de riscos de acidentes graves que envolvam
substâncias perigosas;
l) Medidas a adotar por força de avaliação prévia de impactes ambientais;
m) Medidas relativas à utilização de lamas de depuração na agricultura por forma a
evitar os seus efeitos nocivos, promovendo a sua correta utilização;
n) Medidas relativas à proteção das águas contra descargas de águas residuais urbanas;
o) Medidas relativas à utilização de produtos fitofarmacêuticos que contenham
substâncias ou produzam resíduos nocivos para a saúde humana ou animal ou para o
ambiente;
p) Medidas contra a poluição causada por motivos de origem agrícola;
q) Medidas relativas à conservação de habitats naturais e de flora e fauna selvagens;
r) Proibição das descargas diretas de poluentes nas águas subterrâneas, salvo situações
específicas indicadas no n.º 4 que não comprometam o cumprimento dos objetivos
ambientais, e controlo da recarga artificial destas águas, incluindo o estabelecimento de
um regime de licenciamento;
s) Medidas destinadas a promover a utilização eficaz e sustentável da água a fim de
evitar comprometer o cumprimento dos objetivos especificados nos artigos 45.º a 48.º;
t) Definição dos requisitos e condições da atribuição de títulos de utilização;
u) Medidas destinadas à manutenção e melhoria das condições hidromorfológicas das
massas de água que podem assumir a forma da exigência de licenciamento, ou registo
baseado em regras gerais de caráter obrigatório, quando essa exigência não esteja já
prevista na legislação;
v) Medidas destinadas à prevenção de perdas significativas de poluentes de instalações
industriais para prevenir e reduzir o impacte de casos de poluição acidental,
nomeadamente através de desenvolvimento de sistemas de alerta e deteção desses
incidentes, tendo em vista a minimização dos impactes e a redução dos riscos para os
ecossistemas aquáticos;
x) Programa de investimentos a realizar para atingir os objetivos definidos e
calendarizados no Plano Nacional da Água.
4 - Constituem situações específicas em que pode ser autorizada a descarga direta de
poluentes nas águas subterrâneas, nos termos da alínea r) do n.º 2, as seguintes:
a) A injeção de água que contenha substâncias resultantes de operações de exploração e
extração de hidrocarbonetos ou de atividades mineiras e injeção de água por motivos
técnicos em formações geológicas de onde se extraíram hidrocarbonetos ou outras
substâncias ou em formações geológicas que, por razões naturais, são permanentemente
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inadequadas para outros fins, não devendo essas injeções conter outras substâncias além
das resultantes das atividades acima mencionadas;
b) A reinjeção de água bombeada de minas e pedreiras ou de água relacionada com a
construção ou manutenção de obras de engenharia civil;
c) A injeção natural ou de gás de petróleo liquefeito (GPL) para fins de armazenamento
em formações geológicas que, por razões naturais, são permanentemente inadequadas
para outros fins;
d) A injeção de gás natural ou de GPL para fins de armazenamento noutras funções
geológicas quando exista uma necessidade imperiosa de segurança de abastecimento de
gás e quando a injeção se destine a prevenir qualquer perigo, presente ou futuro, de
deterioração da qualidade de quaisquer águas subterrâneas recipientes;
e) A construção, obras de engenharia civil em geral e atividades semelhantes, à
superfície ou subterrâneas, que entrem em contacto com águas subterrâneas, podendo,
para estes fins, determinar-se que essas atividades devem ser consideradas como tendo
sido autorizadas, na condição de se realizarem segundo regras gerais obrigatórias
relativamente a essas atividades;
f) Descargas de pequenas quantidades de substâncias com objetivos científicos, para
caracterização, proteção ou reparação de massas de água, limitadas ao volume
estritamente necessário para os fins em causa.
g) A injeção de fluxos de dióxido de carbono para efeitos de armazenamento em
formações geológicas que, por razões naturais, são permanentemente inadequadas para
outros fins, desde que tal injeção seja efetuada nos termos previstos no regime jurídico
relativo ao armazenamento geológico de dióxido de carbono, ou excluída do seu âmbito,
por força do n.º 3 do artigo 2.º do respetivo diploma.
5 - As medidas previstas no n.º 3 são acompanhadas pelas providências necessárias para
se não aumentar a poluição das águas marinhas e delas não pode resultar direta ou
indiretamente o aumento da poluição das águas superficiais, salvo se a omissão de tais
medidas causar o aumento da poluição ambiental no seu todo.
6 - Os planos de gestão de bacia hidrográfica integram outras medidas suplementares
para conseguir uma maior proteção ou uma melhoria adicional das águas abrangidas
pela presente lei sempre que tal seja necessário para o cumprimento de acordos
internacionais relevantes.
7 - São publicados os atos legislativos necessários para que possam ser adotados nos
planos de gestão da bacia hidrográfica os programas de medidas previstas neste
preceito, devendo as medidas novas ou revistas incluídas na revisão dos planos estar
plenamente operacionais no prazo máximo de três anos a partir da sua adoção.
Artigo 31.º
Planos específicos de gestão das águas
1 - Os planos específicos de gestão das águas, complementares dos planos de gestão de
bacia hidrográfica, constituem planos de gestão mais pormenorizada a nível de sub-
bacia, setor, problema, tipo de água ou sistemas aquíferos.
2 - Os planos específicos de gestão das águas podem incluir medidas de proteção e
valorização dos recursos hídricos para certas zonas.
3 - Os planos específicos de gestão das águas e as suas atualizações devem ter um
conteúdo similar ao dos planos de gestão de bacia hidrográfica, com as necessárias
adaptações e simplificações, e cumprir as demais obrigações que resultem da presente
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lei e da legislação complementar nela prevista.
4 - Uma vez aprovado o Plano Nacional da Água e os respetivos planos de gestão de
bacia hidrográfica, devem os planos específicos de gestão das águas ser revistos em
conformidade com aqueles.
5 - Os planos específicos de gestão das águas estabelecem o prazo da sua avaliação e
atualização.
6 - Os planos específicos de gestão das águas devem ser publicados no Diário da
República e disponibilizados no sítio eletrónico da autoridade nacional da água.
SECÇÃO IV
Proteção e valorização
Artigo 32.º
Tipos de medidas
1 - É estabelecido um conjunto de medidas para sistemática proteção e valorização dos
recursos hídricos, complementares das constantes dos planos de gestão de bacia
hidrográfica.
2 - Essas medidas têm por objetivo:
a) A conservação e reabilitação da rede hidrográfica, da zona costeira e dos estuários e
das zonas húmidas;
b) A proteção dos recursos hídricos nas captações, zonas de infiltração máxima e zonas
vulneráveis;
c) A regularização de caudais e a sistematização fluvial;
d) A prevenção e a proteção contra riscos de cheias e inundações, de secas, de acidentes
graves de poluição e de rotura de infraestruturas hidráulicas.
3 - Tendo em vista a sua preservação e perenidade, as zonas objeto das referidas
medidas devem ser tidas em conta na elaboração e na revisão dos instrumentos de
planeamento e de ordenamento dos recursos hídricos.
4 - O regime das medidas para proteção e valorização dos recursos hídricos, bem como
das zonas de intervenção, deve ser objeto de legislação ou regulamentação específica.
Artigo 33.º
Medidas de conservação e reabilitação da rede hidrográfica e zonas ribeirinhas
1 - As medidas de conservação e reabilitação da rede hidrográfica e zonas ribeirinhas
compreendem, nomeadamente:
a) Limpeza e desobstrução dos álveos das linhas de água, por forma a garantir
condições de escoamento dos caudais líquidos e sólidos em situações hidrológicas
normais ou extremas;
b) Reabilitação de linhas de água degradadas e das zonas ribeirinhas;
c) Prevenção e proteção contra os efeitos da erosão de origem hídrica;
d) Correção dos efeitos da erosão, transporte e deposição de sedimentos,
designadamente ao nível da correção torrencial;
e) Renaturalização e valorização ambiental e paisagística das linhas de água e das zonas
envolventes;
f) Regularização e armazenamento dos caudais em função dos seus usos, de situações de
escassez e do controlo do transporte sólido;
g) Criação de reservas estratégicas de água, quando e onde se justifique;

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h) Amortecimento e laminagem de caudais de cheia;
i) Estabelecimento de critérios de exploração isolada ou conjugada de albufeiras.
2 - A correção dos efeitos da erosão, transporte e deposição de sedimentos que implique
o desassoreamento das zonas de escoamento e de expansão das águas de superfície, quer
correntes quer fechadas, bem como da faixa costeira, e da qual resulte a retirada de
materiais, tais como areias, areão, burgau, godo e cascalho, só é permitida quando
decorrente de planos específicos.
3 - Os planos específicos de desassoreamento definem os locais potenciais de
desassoreamento que garantam:
a) A manutenção das condições de funcionalidade das correntes, a navegação e
flutuação e o escoamento e espraiamento de cheias;
b) O equilíbrio dos cursos de água, praias e faixa litoral;
c) O equilíbrio dos ecossistemas;
d) A preservação das águas subterrâneas;
e) A preservação das áreas agrícolas envolventes;
f) O uso das águas para diversos fins, incluindo captações, represamentos, derivação e
bombagem;
g) A integridade dos leitos e margens;
h) A segurança de obras marginais ou de transposição dos leitos;
i) A preservação da fauna e da flora.
4 - A adequação de uma atividade de extração de inertes como medida de
desassoreamento constitui requisito necessário para o exercício dessa atividade, nos
termos do n.º 3 do artigo 60.º, e sem prejuízo do regime de avaliação de impacte
ambiental e do plano de recuperação paisagística.
5 - As medidas de conservação e reabilitação da rede hidrográfica devem ser executadas
sob orientação da autoridade nacional da água, sendo da responsabilidade:
a) Dos municípios, nos aglomerados urbanos;
b) Dos proprietários, nas frentes particulares fora dos aglomerados urbanos;
c) Dos organismos dotados de competência, própria ou delegada, para a gestão dos
recursos hídricos na área, nos demais casos.
Artigo 34.º
Medidas de conservação e reabilitação da zona costeira e estuários
1 - As medidas de conservação e reabilitação da zona costeira e dos estuários
compreendem, nomeadamente:
a) Limpeza e beneficiação das margens e áreas envolventes;
b) Reabilitação das margens e áreas degradadas ou poluídas;
c) Proteção das orlas costeiras e estuarinas contra os efeitos da erosão de origem hídrica;
d) Desassoreamento das vias e das faixas acostáveis;
e) Renaturalização e valorização ambiental e paisagística das margens e áreas
envolventes.
2 - As medidas de conservação e reabilitação da zona costeira e dos estuários devem ser
executadas sob orientação da autoridade nacional da água, sendo da responsabilidade:
a) Dos municípios, nos aglomerados urbanos;
b) Dos proprietários, nas frentes particulares fora dos aglomerados urbanos;
c) Dos organismos dotados de competência, própria ou delegada, para a gestão dos
recursos hídricos na área, nos demais casos.
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Artigo 35.º
Medidas de conservação e reabilitação das zonas húmidas
1 - As medidas de conservação e reabilitação das zonas húmidas compreendem,
nomeadamente:
a) A garantia do equilíbrio hidrodinâmico e a qualidade das águas de superfície e
subterrâneas;
b) A preservação das espécies aquáticas e ribeirinhas protegidas e os respetivos
habitats;
c) A ordenação da ocupação das zonas periféricas e a salvaguarda dos locais de
especial interesse ecoturístico e paisagístico;
d) A definição dos usos permitidos e as condições a respeitar pelas atividades
económicas implantadas em torno das zonas húmidas;
e) A renaturalização e recuperação ambiental das zonas húmidas e das zonas
envolventes.
2 - A declaração e a delimitação das zonas húmidas com especial interesse para a
conservação da natureza e da biodiversidade são objeto de legislação específica.
Artigo 36.º
Medidas de proteção especial dos recursos hídricos
1 - Os perímetros de proteção e zonas adjacentes às captações, zonas de infiltração
máxima e zonas vulneráveis são consideradas zonas objeto de medidas de proteção
especial dos recursos hídricos, sendo condicionadas, restringidas ou interditas as
atuações e utilizações suscetíveis de perturbar os seus objetivos específicos, em termos
de quantidade e qualidade das águas.
2 - Nas zonas referidas no número anterior, os utilizadores do domínio hídrico podem
ser obrigados a cumprir ou respeitar ações e instruções administrativas, designadamente
nos domínios da construção de infraestruturas, da realização de medidas de
ordenamento e da sujeição a programas de fiscalização.
3 - Se das medidas referidas no número anterior resultar uma compressão substancial do
título autorizativo dos utilizadores do domínio hídrico, o Estado é obrigado a
indemnizar os utilizadores, nos termos gerais.
4 - Para as águas das zonas que são objeto de medidas de proteção especial de recursos
hídricos são definidos objetivos e normas de qualidade, cuja aplicação deve ser sujeita a
programas de monitorização e de controlo.
Artigo 37.º
Medidas de proteção das captações de água
1 - As áreas limítrofes ou contíguas a captações de água devem ter uma utilização
condicionada, de forma a salvaguardar a qualidade dos recursos hídricos superficiais e
subterrâneos utilizados.
2 - O condicionamento referido no número anterior deve ser tipificado nos planos de
recursos hídricos e nos instrumentos especiais de gestão territorial, que podem conter
programas de intervenção nas áreas limítrofes ou contíguas a captações de água do
território nacional.
3 - As medidas de proteção das captações de água subterrânea para abastecimento
público de consumo humano desenvolvem-se nos respetivos perímetros de proteção,

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que compreendem:
a) Zona de proteção imediata - área da superfície do terreno contígua à captação em
que, para a proteção direta das instalações da captação e das águas captadas, todas as
atividades são, por princípio, interditas;
b) Zona de proteção intermédia - área da superfície do terreno contígua exterior à
zona de proteção imediata, de extensão variável, onde são interditas ou condicionadas as
atividades e as instalações suscetíveis de poluírem, alterarem a direção do fluxo ou
modificarem a infiltração daquelas águas, em função do risco de poluição e da natureza
dos terrenos envolventes;
c) Zona de proteção alargada - área da superfície do terreno contígua exterior à zona
de proteção intermédia, destinada a proteger as águas de poluentes persistentes, onde as
atividades e instalações são interditas ou condicionadas em função do risco de poluição.
4 - Nas zonas sujeitas a risco de intrusão salina podem ser limitados os caudais de
exploração das captações existentes e interdita a construção ou a exploração de novas
captações de água ou condicionado o seu regime de exploração.
5 - Aos proprietários privados dos terrenos que integrem as zonas de proteção e as
zonas adjacentes é assegurado o direito de requerer a respetiva expropriação, nos
termos do Código das Expropriações.
6 - A declaração e a delimitação dos perímetros de proteção e das zonas adjacentes às
captações de água para abastecimento público de consumo humano são objeto de
legislação específica, que define as áreas abrangidas, as instalações e as atividades
sujeitas a restrições.
7 - As propostas de delimitação e respetivos condicionamentos são elaboradas pela
autoridade nacional da água, com base nas propostas e estudos próprios que lhe sejam
apresentados pela entidade requerente da licença ou concessão de captação de águas, em
conformidade com os instrumentos normativos aplicáveis.
8 - As entidades responsáveis pelas captações de água para abastecimento público já
existentes, quer estejam em funcionamento quer constituam uma reserva potencial,
devem promover a delimitação dos perímetros de proteção e das zonas adjacentes nos
termos previstos nos números anteriores.
9 - Os perímetros de proteção e as zonas adjacentes das captações de água para
abastecimento público são revistos, sempre que se justifique, por iniciativa da
autoridade nacional da água ou da entidade responsável pela captação.
Artigo 38.º
Zonas de infiltração máxima
1 - As áreas do território que constituam zonas de infiltração máxima para recarga de
aquíferos para captação de água para abastecimento público de consumo humano devem
ter uma utilização condicionada, de forma a salvaguardar a qualidade dos recursos
hídricos subterrâneos, nomeadamente através de:
a) Delimitação de zonas especiais de proteção para a recarga de aquíferos;
b) Definição e aplicação de regras e limitações ao uso desse espaço, condicionante do
respetivo licenciamento.
2 - O condicionamento da utilização deve ser tipificado nos planos de recursos hídricos
e nos planos especiais de ordenamento do território, que podem conter programas de
intervenção nas áreas de maior infiltração do território nacional.
3 - A declaração e a delimitação das zonas de infiltração máxima para recarga de
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aquíferos para captação de água para abastecimento público de consumo humano devem
ser objeto de legislação específica, onde se definam as instalações e atividades sujeitas a
restrições.
4 - As propostas de delimitação e os respetivos condicionamentos são elaborados pela
autoridade nacional da água.
5 - A delimitação das zonas de infiltração máxima para recarga de aquíferos pode ser
revista, sempre que se justifique, por iniciativa da autoridade nacional da água ou da
entidade responsável pela captação.
Artigo 39.º
Zonas vulneráveis
1 - As áreas do território que constituam zonas vulneráveis à poluição das águas causada
ou induzida por nitratos de origem agrícola devem ter uma utilização condicionada, de
forma a salvaguardar a sua qualidade, nomeadamente através de:
a) Delimitação dessas zonas especiais de proteção;
b) Definição e aplicação de regras e limitações ao uso desse espaço, condicionante do
respetivo licenciamento.
2 - O condicionamento da utilização deve ser tipificado e regulado nos planos
específicos de gestão das águas e nos planos especiais de ordenamento do território, que
podem conter programas de intervenção nas zonas vulneráveis do território nacional.
3 - A declaração e a delimitação das zonas vulneráveis à poluição causada ou induzida
por nitratos de origem agrícola devem ser objeto de legislação específica, onde se
definam as restrições a respeitar.
4 - As propostas de delimitação e os respetivos condicionamentos são elaborados pela
autoridade nacional da água, a quem igualmente compete a sua revisão, sempre que se
justifique.
Artigo 40.º
Medidas de proteção contra cheias e inundações
1 - Constituem zonas inundáveis ou ameaçadas pelas cheias as áreas contíguas à
margem dos cursos de água ou do mar que se estendam até à linha alcançada pela
maior cheia com probabilidade de ocorrência num período de retorno de um século.
2 - As zonas inundáveis ou ameaçadas pelas cheias devem ser objeto de classificação
específica e de medidas especiais de prevenção e proteção, delimitando-se
graficamente as áreas em que é proibida a edificação e aquelas em que a edificação é
condicionada, para segurança de pessoas e bens.
3 - Uma vez classificadas, as zonas inundáveis ou ameaçadas pelas cheias ficam sujeitas
às interdições e restrições previstas na lei para as zonas adjacentes.
4 - Os instrumentos de planeamento de recursos hídricos e de gestão territorial devem
demarcar as zonas inundáveis ou ameaçadas por cheias e identificar as normas que
procederam à sua criação.
5 - Na ausência da delimitação e classificação das zonas inundáveis ou ameaçadas por
cheias, devem os instrumentos de planeamento territorial estabelecer as restrições
necessárias para reduzir o risco e os efeitos das cheias, devendo estabelecer
designadamente que as cotas dos pisos inferiores das edificações sejam superiores à cota
local da máxima cheia conhecida.

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6 - É competência da autoridade nacional da água a aplicação de medidas para redução
dos caudais de cheia, de acordo com critérios e procedimentos normativos
estabelecidos.
7 - Até à aprovação da delimitação das zonas inundáveis ou ameaçadas pelas cheias,
estão sujeitos a parecer vinculativo da autoridade nacional da água o licenciamento de
operações de urbanização ou edificação, quando se localizem dentro do limite da cheia,
com período de retorno de 100 anos, ou de uma faixa de 100 m para cada lado da linha
de água, quando se desconheça aquele limite.
8 - É competência da autoridade nacional da água, em articulação com a Autoridade
Nacional de Proteção Civil, a criação de sistemas de alerta para salvaguarda de pessoas
e bens.
Artigo 41.º
Medidas de proteção contra secas
1 - Dos programas de intervenção em situação de seca deve constar a definição das
metas a atingir, as medidas destinadas aos diversos setores económicos afetados e os
respetivos mecanismos de implementação.
2 - As medidas de intervenção em situação de seca devem contemplar, designadamente,
a alteração e eventual limitação de procedimentos e usos, a redução de pressões no
sistema e a utilização de sistemas tarifários adequados.
3 - As áreas do território mais sujeitas a maior escassez hídrica devem ser objeto de
especial atenção na elaboração dos programas de intervenção em situação de seca.
4 - Deve ser prioritariamente assegurada a disponibilidade da água para o abastecimento
público e, em seguida, para as atividades vitais dos setores agropecuário e industrial.
Artigo 42.º
Medidas de proteção contra acidentes graves de poluição
1 - Nos programas de prevenção e de combate a acidentes graves de poluição,
nomeadamente os constantes dos planos de recursos hídricos, devem ser:
a) Identificados e avaliados os riscos de poluição de todas as fontes potenciais,
nomeadamente unidades industriais, estações de tratamento de águas residuais e antigas
minas abandonadas, depósitos de resíduos e circulação de veículos de transporte de
substâncias de risco;
b) Identificadas todas as utilizações que possam ser postas em risco por eventuais
acidentes de poluição, muito em particular as origens para abastecimento de água que
sirvam aglomerados mais populosos;
c) Definidas as medidas destinadas às diversas situações previsíveis nos setores de
atividade de maior risco e os respetivos mecanismos de implementação, estruturadas de
acordo com os níveis de gravidade da ocorrência e da importância dos recursos em
risco.
2 - Deve ser estabelecido um sistema de aviso e alerta, com níveis de atuação de
acordo com o previsto nos programas, cabendo em primeiro lugar à entidade
responsável pelo acidente a obrigação de alertar as autoridades competentes.
3 - As águas devem ser especialmente protegidas contra acidentes graves de poluição,
de forma a salvaguardar a qualidade dos recursos hídricos e dos ecossistemas, bem
como a segurança de pessoas e bens.

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Nota 1: Quando na al. c), do art.º 3.º da LBA, se fala em “perigos imediatos e concretos como em face de
riscos futuros e incertos” e em “perigos ou riscos” estamos no âmbito de competências jurídico-policiais,
de poder vinculado e não discricionário.
Artigo 43.º
Medidas de proteção contra rotura de infraestruturas hidráulicas
1 - A segurança das infraestruturas hidráulicas, sobretudo das grandes barragens, deve
ser assegurada de forma a salvaguardar a segurança de pessoas e bens.
2 - Os correspondentes programas de segurança devem incluir cartas de riscos, tendo em
conta o estudo de ondas de inundação apresentado no projeto, que inclui a determinação
das alturas da água a atingir nas zonas inundáveis e dos respetivos tempos de
concentração, bem como níveis de atuação para o sistema de aviso e alerta.
3 - Os programas de segurança devem especificar as condições de utilização admitidas
para as infraestruturas hidráulicas e condicionar as utilizações e os respetivos
licenciamentos a jusante, tendo nomeadamente em consideração os cenários de risco
característicos de cada infraestrutura hidráulica, esvaziamentos rápidos, sismos e
galgamentos rápidos.
4 - As zonas de risco devem ser objeto de classificação específica e de medidas
especiais de prevenção e proteção, delimitando-se graficamente as áreas nas quais é
proibida a edificação e aquelas nas quais a edificação é condicionada, para segurança de
pessoas e bens.
5 - Os condicionamentos de utilização do solo devem ser tipificados nos planos de
recursos hídricos e nos instrumentos de gestão territorial.
6 - Cabe aos proprietários das infraestruturas hidráulicas elaborar os respetivos
programas de segurança, de acordo com a legislação específica aplicável, comunicando-
os à autoridade nacional da água e à Autoridade Nacional de Proteção Civil, devendo
tais programas, no caso de barragens, observar o Regulamento de Segurança de
Barragens e ser também submetidos à aprovação da autoridade nacional da água.
7 - No âmbito dos mesmos programas de segurança, os proprietários são responsáveis
pelo estabelecimento de sistemas de aviso e alerta, cabendo-lhes ainda a obrigação de
alertar as autoridades competentes em caso de necessidade.
8 - A autoridade nacional da água deve delimitar as eventuais zonas de risco, ouvidas as
câmaras municipais com jurisdição nas áreas abrangidas.

Nota: O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de setembro de
2019), define o “índice de utilização do solo” (Iu) como “o quociente entre a área total de construção
(∑Ac) e a área de solo (As) a que o índice diz respeito”.

Artigo 44.º
Estado de emergência ambiental
1 - Em caso de catástrofes naturais ou acidentes provocados pelo homem que
danifiquem ou causem um perigo muito significativo de danificação grave e irreparável,
da saúde humana, da segurança de pessoas e bens e do estado de qualidade das águas,
pode o Primeiro-Ministro declarar, em todo ou em parte do território nacional, o estado
de emergência ambiental, sob proposta do membro do Governo responsável pela área
do ambiente, se não for possível repor o estado anterior pelos meios normais.
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2 - Caso seja declarado o estado de emergência ambiental nos termos do número
anterior, é criado um conselho de emergência ambiental, presidido pelo membro do
Governo responsável pela área do ambiente, composto pelas entidades por este
nomeadas que, em função das circunstâncias excecionais verificadas, possam contribuir
para a reposição do estado ecológico anterior ou para a diminuição dos riscos e danos
criados.
3 - No período de vigência do estado de emergência ambiental, a autoridade nacional da
água pode:
a) Suspender a execução de instrumentos de planeamento das águas;
b) Suspender atos que autorizam utilizações dos recursos hídricos;
c) Modificar, no respeito pelo princípio da proporcionalidade e atendendo à duração do
estado de emergência ambiental, o conteúdo dos atos que autorizam utilizações dos
recursos hídricos;
d) Definir prioridades de utilização dos recursos hídricos, derrogando a hierarquia
estabelecida na lei ou nos instrumentos de planeamento das águas;
e) Impor comportamentos ou aplicar medidas cautelares de resposta aos riscos
ecológicos;
f) Apresentar recomendações aos utilizadores dos recursos hídricos e informar o público
acerca da evolução do risco.
4 - Os atos de emergência ambiental referidos no número anterior devem ser ratificados
pelo membro do Governo responsável pela área do ambiente.
5 - O estado de emergência ambiental tem a duração máxima de três meses.

CAPÍTULO IV
Objetivos ambientais e monitorização das águas
Artigo 45.º
Objetivos ambientais
1 - Os objetivos ambientais para as águas superficiais e subterrâneas e para as zonas
protegidas são prosseguidos através da aplicação dos programas de medidas
especificados nos planos de gestão de bacias hidrográficas.
2 - Os programas de medidas devem permitir alcançar os objetivos ambientais definidos
referentes ao bom estado e bom potencial das massas de água, o mais tarde até 2015,
sem prejuízo das prorrogações e derrogações previstas nos artigos 50.º e 51.º
3 - No caso de massas de água transfronteiriças, a definição dos objetivos ambientais é
coordenada com as entidades responsáveis do Reino de Espanha, no contexto de gestão
coordenada da região hidrográfica internacional.
4 - No caso de mais de um objetivo ser estabelecido para uma mesma massa de água,
prevalece o que for mais exigente.
5 - O estado da água adequado aos vários tipos de usos considerados na presente lei é
determinado, tendo em conta os fins e os objetivos enunciados, através das normas de
qualidade previstas:
a) Na presente lei e respetivas disposições complementares;
b) Nos planos de gestão de bacia hidrográfica e restantes instrumentos de planeamento
das águas;

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c) Nas zonas especiais de proteção de recursos hídricos;
d) Nos títulos de utilização dos recursos hídricos.
6 - Nos instrumentos indicados no número anterior podem também ser determinados
parâmetros quantitativos para tipos ou usos específicos de águas.
7 - O estado da água exprime uma ponderação adequada, necessária e proporcional dos
bens e interesses associados.
Artigo 46.º
Objetivos para as águas superficiais
1 - Devem ser aplicadas as medidas necessárias para evitar a deterioração do estado de
todas as massas de água superficiais, sem prejuízo das disposições seguintes.
2 - Com o objetivo de alcançar o bom estado das massas de águas superficiais, com
exceção das massas de águas artificiais e fortemente modificadas, devem ser tomadas
medidas tendentes à sua proteção, melhoria e recuperação.
3 - Com o objetivo de alcançar o bom potencial ecológico e bom estado químico das
massas de águas artificiais ou fortemente modificadas devem ser tomadas medidas
tendentes à sua proteção e melhoria do seu estado.
4 - Deve ainda ser assegurada a redução gradual da poluição provocada por substâncias
prioritárias e cessação das emissões, descargas e perdas de substâncias prioritárias
perigosas.
5 - São definidas em normas a aprovar, nos termos do n.º 3 do artigo 102.º, a classificação
e apresentação do estado ecológico das águas de superfície e a monitorização do estado
ecológico e químico das águas de superfície.
Artigo 47.º
Objetivos para as águas subterrâneas
1 - Devem ser aplicadas as medidas destinadas a evitar ou limitar a descarga de
poluentes nas águas subterrâneas e prevenir a deterioração do estado de todas as massas
de água.
2 - Deve ser alcançado o bom estado das águas subterrâneas, para o que se deve:
a) Assegurar a proteção, melhoria e recuperação de todas as massas de água
subterrâneas, garantindo o equilíbrio entre as captações e as recargas dessas águas;
b) Inverter quaisquer tendências significativas persistentes para o aumento da
concentração de poluentes que resulte do impacte da atividade humana, com vista a
reduzir gradualmente os seus níveis de poluição.
3 - Os estados quantitativo e químico das águas subterrâneas e a sua monitorização são
regulados por normas a aprovar, nos termos do n.º 3 do artigo 102.º
4 - A descarga direta de poluentes nas águas subterrâneas é proibida, à exceção de
descargas que não comprometam o cumprimento dos objetivos específicos
estabelecidos na presente lei, que podem ser autorizadas nas condições definidas por
normas a aprovar, nos termos do n.º 3 do artigo 102.º
Artigo 48.º
Objetivos para as zonas protegidas
1 - Devem ser assegurados os objetivos que justificaram a criação das zonas protegidas,
observando-se integralmente as disposições legais estabelecidas com essa finalidade e

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que garantem o controlo da poluição.
2 - Deve ser elaborado um registo de todas as zonas incluídas em cada região
hidrográfica que tenham sido designadas como zonas que exigem proteção especial no
que respeita à proteção das águas superficiais e subterrâneas ou à conservação dos
habitats e das espécies diretamente dependentes da água.
3 - O registo das zonas protegidas de cada região hidrográfica inclui os mapas com
indicação da localização de cada zona protegida e uma descrição da legislação ao abrigo
da qual essas zonas tenham sido criadas.
4 - Devem ser identificadas em cada região hidrográfica todas as massas de água
destinadas a captação para consumo humano que forneçam mais de 10 m3 por dia em
média ou que sirvam mais de 50 pessoas e, bem assim, as massas de água previstas para
esses fins, e é referida, sendo caso disso, a sua classificação como zonas protegidas.
Artigo 49.º
Massas de água artificiais ou fortemente modificadas
1 - Uma massa de água superficial pode ser designada como artificial ou fortemente
modificada se ocorrerem cumulativamente as duas seguintes condições:
a) Se as alterações a introduzir nas características hidromorfológicas dessa massa de
água, necessárias para atingir bom estado ecológico, se revestirem de efeitos adversos
significativos sobre:
i) O ambiente em geral;
ii) A capacidade de regularização de caudais, proteção contra cheias e drenagem dos
solos;
iii) Utilizações específicas, nomeadamente a navegação, equipamentos portuários,
atividades de recreio, atividades para as quais a água esteja armazenada, incluindo o
abastecimento de água potável, a produção de energia ou a irrigação; ou
iv) Outras atividades igualmente importantes para o desenvolvimento sustentável;
b) Se os benefícios produzidos pelas características artificiais ou fortemente
modificadas da massa de água não puderem, por motivos de exequibilidade técnica ou
pela desproporção dos custos, ser razoavelmente obtidos por outros meios que
constituam uma melhor opção ambiental.
2 - A designação de uma massa de água como artificial ou fortemente modificada e a
respetiva fundamentação constam do plano de gestão de bacia hidrográfica, sendo
obrigatória a sua revisão de seis em seis anos.
Artigo 50.º
Prorrogações de prazo
O prazo estabelecido no n.º 2 do artigo 45.º pode ser prorrogado para efeitos de uma
realização gradual dos objetivos para as massas de água, uma vez que estejam
preenchidos os requisitos do artigo 52.º, desde que, em alternativa, não se verifique
mais nenhuma deterioração no estado de massa de água afetada ou se verifiquem todas
as seguintes condições:
a) As necessárias melhorias no estado das massas de água não poderem ser todas
razoavelmente alcançadas devido, pelo menos, a uma das seguintes razões:
b) A escala das melhorias necessárias só poder ser, por razões de exequibilidade técnica,
realizada por fases que excedam o calendário exigível;

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c) Ser desproporcionadamente dispendioso complementar as melhorias nos limites do
calendário exigível; ou
d) As condições naturais não permitirem melhorias atempadas do estado da massa de
água; e
e) A prorrogação do prazo bem como a respetiva justificação serem especificamente
referidas e explicadas no plano de gestão de bacia hidrográfica; e ainda
f) As prorrogações serem limitadas a períodos que não excedam o período abrangido
por duas atualizações do plano de gestão de bacia hidrográfica, exceto no caso de as
condições naturais serem tais que os objetivos não possam ser alcançados nesse
período; e finalmente
g) Tenham sido inscritos no plano de gestão de bacia hidrográfica uma breve descrição
das medidas para que as massas de água venham progressivamente a alcançar o estado
exigido no final do prazo prorrogado, a justificação de eventuais atrasos significativos
na aplicação dessas medidas e o calendário previsto para a respetiva aplicação e tenha
sido incluída na atualização do plano de gestão de bacia hidrográfica uma análise de
execução das medidas previstas e uma breve descrição de quaisquer medidas adicionais.
Artigo 51.º
Derrogações
1 - Podem ser adotados objetivos ambientais menos exigentes do que os previstos nos
artigos 46.º e 47.º, quando as massas de água estejam tão afetadas pela atividade
humana, conforme determinado pelas análises previstas no n.º 2 do artigo 30.º, ou o seu
estado natural seja tal que se revele inexequível ou desproporcionadamente dispendioso
alcançar esses objetivos e desde que se verifiquem, para além dos requisitos definidos
no artigo 52.º, todas as condições seguintes:
a) As necessidades ambientais e socioeconómicas servidas por tal atividade humana não
possam ser satisfeitas por outros meios que constituam uma opção ambiental melhor,
que não implique custos desproporcionados; e
b) Seja assegurado, no caso das águas de superfície, a consecução do mais alto estado
ecológico e químico possível, dados os impactes que não poderiam razoavelmente ter
sido evitados devido à natureza de atividade humana ou de poluição;
c) Seja assegurado, no caso das águas subterrâneas, a menor modificação possível no
estado destas águas, dados os impactes que não poderiam razoavelmente ter sido
evitados devido à natureza de atividade humana ou de poluição; e
d) Não ocorram novas deteriorações do estado da massa de água afetada; e
e) Sejam especificamente incluídos no plano de gestão de bacia hidrográfica os
objetivos ambientais menos exigentes e a sua justificação e que os mesmos sejam
revistos de seis em seis anos.
2 - A deterioração temporária do estado das massas de água não é considerada um
incumprimento dos objetivos estabelecidos em conformidade com a presente lei desde
que, além dos requisitos do artigo 52.º, se observem os requisitos dos n.º s 3 e 4 e se a
mesma resultar de:
a) Circunstâncias imprevistas ou excecionais; ou
b) Causas naturais ou de força maior que sejam excecionais ou não pudessem
razoavelmente ter sido previstas, particularmente inundações extremas e secas
prolongadas; ou
c) Circunstâncias devidas a acidentes que não pudessem ter sido razoavelmente
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previstas.
3 - A deterioração temporária admitida no n.º 2 só se considera justificada desde que
estejam preenchidos os seguintes requisitos:
a) Sejam tomadas todas as medidas para evitar uma maior deterioração do estado das
águas e para não comprometer o cumprimento dos objetivos ambientais noutras massas
de água não afetadas por essas circunstâncias;
b) Se encontrem indicadas no plano de gestão de bacia hidrográfica as condições em
que podem ser declaradas as referidas circunstâncias imprevistas ou excecionais,
incluindo a adoção dos indicadores apropriados;
c) As medidas a tomar nestas circunstâncias excecionais estejam incluídas no programa
de medidas e não comprometam a recuperação da qualidade da massa de água quando
essas circunstâncias deixarem de se verificar;
d) Os efeitos das circunstâncias excecionais ou que não pudessem razoavelmente ter
sido previstas sejam analisados anualmente e sejam justificados à luz dos motivos
indicados no artigo 50.º e sejam tomadas todas as medidas para restabelecer a massa de
água no estado em que se encontrava antes de sofrer os efeitos dessas circunstâncias tão
cedo quanto for razoavelmente viável;
e) Seja incluída na atualização seguinte do plano de gestão de bacia hidrográfica uma
breve descrição dos efeitos dessas circunstâncias e das medidas tomadas ou a tomar nos
termos deste número.
4 - É admissível o incumprimento dos objetivos ambientais definidos neste capítulo
para as massas de água, desde que se observem os requisitos do n.º 5 e do artigo 52.º,
quando:
a) O facto de não se restabelecer o bom estado das águas subterrâneas, o bom estado
ecológico ou, quando aplicável, o bom potencial ecológico, ou de não se conseguir
evitar a deterioração do estado de uma massa de águas superficiais ou subterrâneas,
resultar de alterações recentes das características físicas de uma massa de águas
superficiais ou de alterações do nível de massas de águas subterrâneas; ou
b) O facto de não se evitar a deterioração do estado de uma massa de água de
classificação Excelente para Bom resultar de novas atividades humanas de
desenvolvimento sustentável.
5 - O incumprimento de objetivos, permitido no n.º 4, pressupõe ainda a observância de
todos os seguintes requisitos:
a) Que sejam tomadas todas as medidas exequíveis para mitigar o impacte negativo
sobre o estado da massa de água;
b) Que as razões que expliquem as alterações estejam especificamente definidas e
justificadas no plano de gestão de bacia hidrográfica e sejam revistas de seis em seis
anos;
c) Que as razões de tais modificações ou alterações sejam de superior interesse público
ou os benefícios para o ambiente e para a sociedade decorrentes da realização dos
objetivos definidos, nos termos deste capítulo, sejam superados pelos benefícios das
novas modificações ou alterações para a saúde humana, para a manutenção da
segurança humana ou para o desenvolvimento sustentável;
d) Que os objetivos benéficos decorrentes dessas modificações ou alterações da massa
de água não possam, por motivos de exequibilidade técnica ou de custos
desproporcionados, ser alcançados por outros meios que constituam uma opção
ambiental significativamente melhor.
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Artigo 52.º
Condições aplicáveis às prorrogações e derrogações
As prorrogações e derrogações estão sujeitas às seguintes condições:
a) Não constituam perigo para a saúde pública;
b) Não comprometam os objetivos noutras massas de água pertencentes à mesma região
hidrográfica;
c) Não colidam com a execução da restante legislação ambiental;
d) Não representem um menor nível de proteção do que o que é assegurado pela
aplicação da legislação em vigor à data da entrada em vigor da presente lei.
Artigo 53.º
Abordagem combinada
1 - Todas as descargas para águas superficiais são controladas de acordo com a
abordagem combinada estabelecida no presente artigo.
2 - São estabelecidos, ao abrigo da legislação aplicável, nos planos de gestão de bacia
hidrográfica:
a) Controlos de emissões com base nas melhores técnicas disponíveis;
b) Valores limites de emissão pertinentes;
c) No caso de impactes difusos, controlos que incluam, sempre que necessário, as
melhores práticas ambientais.
3 - Sempre que um objetivo ou uma norma de qualidade estabelecidos nos termos da lei
tornar necessária a imposição de condições mais estritas que as que resultariam da
aplicação do número anterior, são instituídos, nesse sentido, controlos de emissões mais
estritos.
Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. p) do regime da prevenção e controlo das emissões de poluentes para o
ar (aprovado pelo Decreto-Lei n.º 39/2018, de 11 de junho) “emissão” consiste na “descarga na atmosfera
de substâncias provenientes de fontes pontuais ou difusas com origem numa instalação”.

Artigo 54.º
Monitorização do estado das águas de superfície e subterrâneas e zonas protegidas
1 - Devem ser definidas para cada região hidrográfica redes de recolha de dados para
monitorização de variáveis biológicas, hidrológicas e climatológicas, físico-químicas,
de sedimentos e da qualidade química e ecológica da água.
2 - Deve estar operacional até 2006 um programa nacional de monitorização do estado
das águas superficiais e subterrâneas e das zonas protegidas que permita uma análise
coerente e exaustiva desse estado em cada região hidrográfica, assegurando a
homogeneidade e o controlo de qualidade e a proteção de dados e a operacionalidade e
atualização da informação colhida pelas redes de monitorização.
3 - Para as águas superficiais o programa deve incluir:
a) O volume e o nível de água ou o caudal na medida em que seja relevante para a
definição do estado ecológico e químico e do potencial ecológico;
b) Os parâmetros de caracterização do estado ecológico, do estado químico e do
potencial ecológico.
4 - Para as águas subterrâneas o programa deve incluir a monitorização do estado
químico e do estado quantitativo.
5 - Para as zonas protegidas o programa é complementado pelas especificações

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constantes de legislação no âmbito da qual tenha sido criada cada uma dessas zonas.
6 - As especificações técnicas e os métodos normalizados de análise e de controlo do
estado de água são estabelecidos em normas a aprovar, nos termos do n.º 3 do artigo
102.º
Artigo 55.º
Revisão e ajustamentos
Se os dados de monitorização ou outros indicarem que não é possível que sejam
alcançados os objetivos definidos nos termos dos artigos 45.º a 48.º, a autoridade
nacional da água investiga as causas do eventual fracasso e, se as mesmas não
decorrerem de causas naturais ou de força maior, promove:
a) A análise e revisão dos títulos de utilização relevantes, conforme adequado;
b) A revisão e ajustamento dos programas de controlo conforme adequado;
c) A adoção de eventuais medidas adicionais necessárias para atingir esses objetivos,
incluindo o estabelecimento de normas de qualidade, adequadas segundo os
procedimentos fixados em normativo próprio.
CAPÍTULO V
Utilização dos recursos hídricos
Artigo 56.º
Princípio da necessidade de título de utilização
Ao abrigo do princípio da precaução e da prevenção, as atividades que tenham um
impacte significativo no estado das águas só podem ser desenvolvidas desde que ao abrigo
de título de utilização emitido nos termos e condições previstos nesta lei e em decreto-lei
a aprovar ao abrigo do n.º 2 do artigo 102.º, o qual regula ainda as matérias versadas na
alínea a) do n.º 1 do artigo 63.º, do n.º 3 do artigo 66.º, do n.º 5 do artigo 67.º, do n.º 9 do
artigo 68.º e do n.º 1 do artigo 69.º
Artigo 57.º
Deveres básicos dos utilizadores
1 - Os utilizadores dos recursos hídricos devem atuar diligentemente, tendo em conta as
circunstâncias, de modo a:
a) Evitar qualquer perturbação do estado da água, determinado nos termos da presente
lei, e, em especial, qualquer contaminação ou alteração adversa das suas capacidades
funcionais;
b) Obter um uso económico da água sustentável e compatível com a manutenção da
integridade dos recursos hídricos.
2 - As águas são usadas de modo a evitar a criação de riscos desrazoáveis ou de perigos
para a sua integridade, para a qualidade do ambiente ou para as reservas públicas de
abastecimento.
3 - Quem construa, explore ou opere uma instalação capaz de causar poluição hídrica
deve, em caso de acidente, tomar as precauções adequadas, necessárias e proporcionais
para, tendo em conta a natureza e extensão do perigo, prevenir acidentes e minimizar os
seus impactes.
Nos termos do art.º 3.º, al. j), do regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de setembro,
última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), a “descontaminação de solos” consiste no “o

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procedimento de remoção da fonte de contaminação e o confinamento, tratamento, in situ ou ex situ,
conducente à remoção e ou à redução de agentes poluentes nos solos, bem como à eliminação ou
diminuição dos efeitos por estes causados”.

Artigo 58.º
Utilização comum dos recursos hídricos do domínio público
Os recursos hídricos do domínio público são de uso e fruição comum, nomeadamente nas
suas funções de recreio, estadia e abeberamento, não estando este uso e fruição sujeito a
título de utilização, desde que seja feito no respeito da lei geral e dos condicionamentos
definidos nos planos aplicáveis e não produza alteração significativa da qualidade e da
quantidade da água.
Nota: 1- O domínio público compreende os bens incomerciáveis afetados a um fim de utilidade pública
pertencentes a um ente de população e território, incomerciáveis. O domínio público pode ser terrestre, de
subsolo (incluindo jazigos minerais e lençóis freáticos), aquático e aéreo. Também construções sobre o solo
podem integrar o domínio público, como portos, aeroportos, barragens, caminhos de ferro, estradas,
edifícios (incluindo instalações militares), direitos públicos sobre imóveis (incluindo servidões prediais).

Artigo 59.º
Utilização privativa dos recursos hídricos do domínio público
1 - Considera-se utilização privativa dos recursos hídricos do domínio público aquela
em que alguém obtiver para si a reserva de um maior aproveitamento desses recursos do
que a generalidade dos utentes ou aquela que implicar alteração no estado dos mesmos
recursos ou colocar esse estado em perigo.
2 - O direito de utilização privativa de domínio público só pode ser atribuído por licença
ou por concessão qualquer que seja a natureza e a forma jurídica do seu titular, não
podendo ser adquirido por usucapião ou por qualquer outro título.
Artigo 60.º
Utilizações do domínio público sujeitas a licença
1 - Estão sujeitas a licença prévia as seguintes utilizações privativas dos recursos
hídricos do domínio público:
a) A captação de águas;
b) A rejeição de águas residuais;
c) A imersão de resíduos;
d) A ocupação temporária para a construção ou alteração de instalações, fixas ou
desmontáveis, apoios de praia ou similares e infraestruturas e equipamentos de apoio à
circulação rodoviária, incluindo estacionamentos e acessos ao domínio público hídrico;
e) A implantação de instalações e equipamentos referidos na alínea anterior;
f) A ocupação temporária para construção ou alteração de infraestruturas hidráulicas;
g) A implantação de infraestruturas hidráulicas;
h) A recarga de praias e assoreamentos artificiais e a recarga e injeção artificial em
águas subterrâneas;
i) As competições desportivas e a navegação, bem como as respetivas infraestruturas e
equipamentos de apoio;

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j) A instalação de infraestruturas e equipamentos flutuantes, culturas biogenéticas e
marinhas;
l) A sementeira, plantação e corte de árvores e arbustos;
m) A realização de aterros ou de escavações;
n) Outras atividades que envolvam a reserva de um maior aproveitamento desses
recursos por um particular e que não estejam sujeitas a concessão;
o) A extração de inertes;
p) Outras atividades que possam pôr em causa o estado dos recursos hídricos do
domínio público e que venham a ser condicionadas por regulamentos anexos aos
instrumentos de gestão territorial ou por regulamentos anexos aos planos de gestão da
bacia hidrográfica.
2 - No caso de a utilização estar também sujeita no todo ou em parte a concessão,
aplicar-se-á unicamente este último regime a toda a utilização.
3 - A extração de inertes em águas públicas deve passar a ser executada unicamente
como medida necessária ou conveniente à gestão das águas, ao abrigo de um plano
específico de gestão das águas ou de uma medida tomada ao abrigo dos artigos 33.º ou
34.º
Artigo 61.º
Utilizações do domínio público sujeitas a concessão
Estão sujeitas a prévia concessão as seguintes utilizações privativas dos recursos
hídricos do domínio público:
a) Captação de água para abastecimento público;
b) Captação de água para rega de área superior a 50 ha;
c) Utilização de terrenos do domínio público hídrico que se destinem à edificação de
empreendimentos turísticos e similares;
d) Captação de água para produção de energia;
e) Implantação de infraestruturas hidráulicas que se destinem aos fins referidos nas
alíneas anteriores.
Artigo 62.º
Utilização de recursos hídricos particulares
1 - Estão sujeitas a autorização prévia de utilização de recursos hídricos as seguintes
atividades quando incidam sobre leitos, margens e águas particulares:
a) Realização de construções;
b) Implantação de infraestruturas hidráulicas;
c) Captação de águas;
d) Outras atividades que alterem o estado das massas de águas ou coloquem esse estado
em perigo, para além das referidas no número seguinte.
2 - Estão sujeitas a licença prévia de utilização e à observância do disposto no plano de
gestão de bacia hidrográfica as seguintes atividades quando incidam sobre leitos,
margens e águas particulares:
a) Rejeição de águas residuais;
b) Imersão de resíduos;
c) Recarga e injeção artificial em águas subterrâneas;
d) Extração de inertes;

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e) Aterros e escavações.
3 - Na medida em que tal não ponha em causa os objetivos da presente lei, pode ser
dispensada pelo regulamento anexo ao plano de gestão de bacia hidrográfica ou pelo
regulamento anexo ao plano especial de ordenamento do território aplicável a
necessidade de autorização prévia prevista no n.º 1 ou substituída pela mera
comunicação às autoridades que fiscalizam a utilização dos recursos hídricos.
4 - A captação de águas particulares exige a simples comunicação do utilizador à
entidade competente para a fiscalização de utilização de recursos hídricos quando os
meios de extração não excedam os 5 cv, salvo se a referida captação vier a ser
caracterizada pela autoridade competente para o licenciamento como tendo um impacte
significativo no estado das águas.
Artigo 63.º
Requisitos e condições dos títulos de utilização
1 - A atribuição dos títulos de utilização deve assegurar:
a) A observância das normas e princípios da presente lei e das normas a aprovar,
previstas no artigo 56.º;
b) O respeito pelo disposto no plano de gestão de bacia hidrográfica aplicável;
c) O respeito pelo disposto nos instrumentos de gestão territorial, nos planos específicos
de gestão das águas e nos regulamentos previstos no artigo 27.º;
d) O cumprimento das normas de qualidade e das normas de descarga;
e) A concessão de prevalência ao uso considerado prioritário nos termos da presente lei,
no caso de conflito de usos.
2 - O título de utilização deve determinar que o utilizador se abstenha da prática de atos
ou atividades que causem a degradação do estado das massas de águas e gerem outros
impactes ambientais negativos ou inviabilizem usos alternativos considerados
prioritários.
Artigo 64.º
Ordem de preferência de usos
1 - No caso de conflito entre diversas utilizações do domínio público hídrico são
seguidos os critérios de preferência estabelecidos no plano de gestão de bacia
hidrográfica, sendo em qualquer caso dada prioridade à captação de água para
abastecimento público face aos demais usos previstos, e em igualdade de condições é
preferido o uso que assegure a utilização economicamente mais equilibrada, racional e
sustentável, sem prejuízo da proteção dos recursos hídricos.
2 - Ao ponderar a situação de conflito referida no n.º 1, são considerados não só os
novos pedidos de títulos de utilização como os títulos de utilização em vigor que
possam ser revogados.
3 - Em caso de declaração de situação de escassez, a ordem de prioridade referida nos
números anteriores pode ser alterada pela autoridade nacional da água, ouvido o
conselho de região hidrográfica.
4 - São consideradas como utilizações principais do domínio público hídrico as
referidas no artigo 61.º e como complementares todas as restantes.
Artigo 65.º
Pedido de informação prévia

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Qualquer interessado pode dirigir à autoridade nacional da água um pedido de informação
prévia sobre a possibilidade de utilização dos recursos hídricos para o fim pretendido,
mas a informação prestada só constituirá direitos ou interesses legalmente protegidos na
esfera do requerente se tal vier a ser reconhecido no diploma complementar previsto no
artigo 56.º
Artigo 66.º
Regime das autorizações
1 - Uma vez apresentado o pedido de autorização, o mesmo considera-se deferido se
não for comunicada qualquer decisão no prazo de dois meses, desde que se não
verifique qualquer dos pressupostos que impusesse o indeferimento.
2 - Por força da obtenção do título de utilização e do respetivo exercício, é devida uma
taxa de recursos hídricos pelo impacte negativo da atividade autorizada nos recursos
hídricos.
3 - Pelas normas a aprovar nos termos do artigo 56.º é definida a tramitação dos pedidos
de autorização e o respetivo regime e bem assim são fixados objetivamente os
pressupostos que permitam o respetivo indeferimento.
Artigo 67.º
Regime das licenças
1 - A licença confere ao seu titular o direito a exercer as atividades nas condições
estabelecidas por lei ou regulamento, para os fins, nos prazos e com os limites
estabelecidos no respetivo título.
2 - A licença é concedida pelo prazo máximo de 10 anos, consoante o tipo de
utilizações, e atendendo nomeadamente ao período necessário para a amortização dos
investimentos associados.
3 - A licença pode ser revista em termos temporários ou definitivos pela autoridade que
a concede:
a) No caso de se verificar alteração das circunstâncias de facto existentes à data da sua
emissão e determinantes desta, nomeadamente a degradação das condições do meio
hídrico;
b) No caso de necessidade de alteração das suas condições para que os objetivos
ambientais fixados possam ser alcançados nos prazos legais;
c) Para adequação aos instrumentos de gestão territorial e aos planos de gestão de bacia
hidrográfica aplicáveis;
d) No caso de seca, catástrofe natural ou outro caso de força maior.
4 - Por força da obtenção da licença de utilização e do respetivo exercício são devidas:
a) Uma taxa de recursos hídricos;
b) Uma caução adequada destinada a assegurar o cumprimento das obrigações do
detentor do título que sejam condições da própria utilização.
5 - Por normas a aprovar nos termos do artigo 56.º é definido o procedimento de
atribuição e o regime de licença.
Artigo 68.º
Regime das concessões

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1 - A concessão de utilizações privativas dos recursos hídricos do domínio público é
atribuída nos termos de contrato a celebrar entre a administração e o concessionário.
2 - A concessão confere ao seu titular o direito de utilização exclusiva, para os fins e
com os limites estabelecidos no respetivo contrato, dos bens objeto de concessão, o
direito à utilização de terrenos privados de terceiros para realização de estudos,
pesquisas e sondagens necessárias, mediante indemnização dos prejuízos causados, e
ainda, no caso de ser declarada a utilidade pública do aproveitamento, o direito de
requerer e beneficiar das servidões administrativas e expropriações necessárias, nos
termos da legislação aplicável.
3 - A escolha do concessionário pela administração é realizada através de:
a) Decreto-lei, nos termos previstos no número seguinte;
b) Procedimento pré-contratual de concurso público;
c) Procedimento iniciado a pedido do interessado, nos termos do disposto n.º 5 do
presente artigo.
4 - A escolha do concessionário apenas pode ser realizada por decreto-lei quando a
mesma recaia sobre empresas públicas a quem deva caber a exploração de
empreendimentos de fins múltiplos, referidos no artigo 75.º, ou de empreendimentos
equiparados, nos termos do n.º 2 do artigo 13.º
5 - A administração poderá escolher como concessionário o interessado que apresente
um pedido nesse sentido, desde que, durante um prazo não inferior a 30 dias contados a
partir da afixação dos editais e da publicação no jornal oficial, não seja recebido outro
pedido com o mesmo propósito, sendo que, sempre que, no decurso desse prazo, outro
interessado apresentar um idêntico pedido de atribuição de concessão, a administração
abre um procedimento concursal entre os interessados, gozando o primeiro requerente
de direito de preferência em igualdade de condições.
6 - O contrato de concessão de utilização do domínio público hídrico menciona todos os
direitos e obrigações das partes contratantes e o seu prazo de validade, que não é
superior a 75 anos.
7 - As condições de concessão podem ser revistas nos termos previstos no contrato de
concessão.
8 - Em contrapartida da utilização do domínio público hídrico é devida uma taxa de
recursos hídricos por força da utilização dominial, do impacte efetivo ou potencial de
atividade concessionada, no estado das massas de águas, e ainda, se for caso disso, uma
renda pelos bens e equipamentos públicos afetos ao uso e fruição do concessionário.
9 - O regime e o modo de atribuição de concessões, incluindo as cauções adequadas
para assegurar o cumprimento das obrigações do concessionário, constam de decreto-
lei.
Artigo 69.º
Cessação dos títulos de utilização
1 - O título de utilização extingue-se com o termo do prazo nele fixado e nas demais
condições previstas nas normas a aprovar nos termos do artigo 56.º
2 - Findo o prazo fixado no título:
a) No caso de concessão, as obras executadas e as instalações construídas no estrito
âmbito da concessão de utilização de recursos hídricos revertem gratuitamente para o
Estado;
b) No caso de licença, as instalações desmontáveis são removidas e as instalações fixas
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são demolidas, salvo se a administração optar pela reversão a título gratuito.
3 - No caso de remoção ou demolição, o titular de licença deve repor a seu cargo a
situação que existia anteriormente à execução das obras.
4 - Constituem causas de revogação dos títulos de utilização:
a) O não cumprimento dos requisitos gerais e elementos essenciais do título;
b) A não observância de condições específicas previstas no título;
c) O não início da utilização no prazo de seis meses a contar da data de emissão do
título ou a não utilização durante um ano;
d) O não pagamento, durante seis meses, das taxas correspondentes;
e) A invasão de áreas do domínio público não licenciado ou concessionado;
f) A não constituição do depósito requerido para a reparação ou levantamento da obra
ou instalação;
g) A ocorrência de causas naturais que coloquem em risco grave a segurança de pessoas
e bens ou o ambiente, caso a utilização prossiga.
5 - Uma vez revogado o título de utilização e comunicada a decisão ao seu detentor,
deve cessar de imediato a utilização dos recursos hídricos, sob pena da aplicação de
sanções pela utilização ilícita, devendo presumir-se haver grave dano para o interesse
público na continuação ou no recomeço da utilização pelo anterior detentor do título
revogado.
6 - Os títulos de utilização podem ser revogados fora dos casos previstos no número
anterior, por razões decorrentes da necessidade de maior proteção dos recursos hídricos
ou por alteração das circunstâncias existentes à data da sua emissão e determinantes
desta, quando não seja possível a sua revisão.
7 - No caso da situação referida no número anterior, o detentor do título, sempre que
haja realizado, ao abrigo do título, investimentos em instalações fixas, no pressuposto
expresso ou implícito de uma duração mínima de utilização, deve ser ressarcido do
valor do investimento realizado em ações que permitiriam a fruição do direito do titular,
na parte ainda não amortizada, com base no método das quotas constantes, em função
da duração prevista e não concretizada.
Artigo 70.º
Associações de utilizadores
1 - A totalidade ou parte dos utilizadores do domínio público hídrico de uma bacia ou
sub-bacia hidrográfica pode constituir-se em associação de utilizadores ou conferir
mandato a estas com o objetivo de gerir em comum as licenças ou concessões de uma
ou mais utilizações afins do domínio público hídrico.
2 - As associações são pessoas coletivas de direito privado cujo modo de criação,
reconhecimento, estatutos e regras de funcionamento são objeto de normas a aprovar,
nos termos do n.º 3 do artigo 102.º
3 - Pode a autoridade nacional da água atribuir como incentivo à constituição da
associação de utilizadores e à sua colaboração na gestão dos recursos hídricos parte dos
valores provenientes da taxa dos recursos hídricos, através da celebração de contratos-
programa.
4 - Sempre que for reconhecido pelo Governo como vantajoso para uma mais racional
gestão das águas, podem ser concedidos direitos de preferência às associações de
utilizadores já constituídas na atribuição de novas licenças e concessões.
5 - Podem ser delegados à associação de utilizadores pela autoridade nacional da água
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competências de gestão da totalidade ou parte das águas abrangidas pelos títulos de
utilização geridos pela associação.
6 - Pode ser concedida pelo Estado à associação de utilizadores a exploração total ou
parcial de empreendimentos de fins múltiplos.
Artigo 71.º
Instalações abrangidas por legislação especial
1 - O pedido de utilização suscetível de causar impacte transfronteiriço, e como tal
enquadrável nas disposições da Convenção para a Proteção e o Aproveitamento
Sustentável das Águas das Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas, implica por parte da
entidade competente para a atribuição do título de utilização a comunicação à autoridade
nacional de água para efeitos de consulta às autoridades responsáveis do Reino de
Espanha.
2 - Quando o pedido de título de utilização respeitar a atividade sujeita a licenciamento
ambiental no quadro da prevenção e controlo integrado da poluição, a emissão de título
de utilização deve ser requerida e apreciada no procedimento de licença ambiental, sendo
as condições do título de utilização parte integrante dos termos dessa licença.
3 - As utilizações que correspondam a projetos sujeitos a prévia avaliação do impacte
ambiental ficam sujeitas à observância do regime jurídico da avaliação prévia do impacte
ambiental.
Artigo 72.º
Transmissão de títulos de utilização

1 - Os títulos de utilização de recursos hídricos particulares são transmissíveis mediante


mera comunicação prévia à autoridade competente para a respetiva emissão, com
antecedência mínima de 10 dias relativamente à data da transmissão, desde que se
mantenham os requisitos que presidiram à sua atribuição, ficando por esse efeito o
adquirente sub-rogado em todos os direitos e deveres do cedente enquanto durar o
respetivo título de utilização.
2 - Os títulos de utilização de recursos hídricos de domínio público são transmissíveis
mediante autorização da autoridade competente para a respetiva emissão.
3 - A autorização referida no número anterior é concedida se for demonstrado que se
mantêm os requisitos que presidiram à atribuição do título, ficando por esse efeito o
adquirente sub-rogado em todos os direitos e deveres do cedente enquanto durar o prazo
do respetivo título de utilização.
4 - O pedido da autorização referida nos n.os 2 e 3 é apresentado com os seguintes
elementos:
a) Identificação do transmitente e do transmissário;
b) Demonstração pelo transmissário de que este cumpre as condições e requisitos que
determinaram a atribuição do título.
5 - O disposto nos n.os 2, 3 e 4 aplica-se também à transmissão de participações sociais
que assegurem o domínio da sociedade detentora do título, nos termos do Código dos
Valores Mobiliários.

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6 - A decisão de autorização da transmissão é emitida em 20 dias contados desde a data
da apresentação do pedido, formando-se deferimento tácito caso a decisão não seja
notificada aos requerentes findo esse prazo.
7 - Em caso de deferimento, a decisão de autorização deve ser averbada ao respetivo título
de utilização, que para o efeito é remetido ao novo titular.
8 - A violação do disposto nos n.os 1, 2 e 5 importa a nulidade do ato de transmissão ou
oneração do título de utilização privativa de recursos hídricos, sem prejuízo de outras
sanções que ao caso couberem.
9 - Os títulos de utilização de recursos hídricos de pessoas singulares transmitem-se aos
seus herdeiros e legatários, podendo a entidade competente declarar a caducidade do título
no prazo de seis meses após a transmissão se constatar que não subsistem as condições
necessárias à emissão do título ou que o novo titular não oferece garantias de observância
das condições dos títulos.
10 - O Governo, através do decreto-lei emanado do Ministério da Agricultura, do Mar,
do Ambiente e do Ordenamento do Território, pode instituir para certa bacia hidrográfica
ou parte dela a possibilidade de serem transacionados títulos de utilização de água,
regulamentando o respetivo mercado, de modo a garantir a necessária transparência na
formação dos respetivos preços e fixando as respetivas condições que podem envolver a
dispensa da prévia autorização ou a substituição desta por prévia verificação ou registo.
Artigo 73.º
Sistema de informação das utilizações dos recursos hídricos
Revogado.)
CAPÍTULO VI
Infraestruturas hidráulicas
Artigo 74.º
Princípio da autorização da utilização de recursos hídricos
com recurso a infraestruturas hidráulicas
A utilização de recursos hídricos mediante infraestruturas hidráulicas deve ser
autorizada sempre que constitua uma utilização sustentável e contribua para a
requalificação e valorização desses recursos ou para a minimização de efeitos de
situações extremas sobre pessoas e bens.
Artigo 75.º
Infraestruturas hidráulicas públicas e privadas
1 - Constituem infraestruturas hidráulicas públicas aquelas cuja titularidade pertença a
pessoas coletivas públicas ou a sociedade por elas dominadas e cuja gestão lhes caiba
diretamente ou, no caso de concessão, seja atribuída a sociedades dominadas por
pessoas coletivas públicas.
2 - Constituem infraestruturas hidráulicas privadas aquelas cuja titularidade pertença a
entidades privadas ou cuja gestão seja atribuída, no caso de concessão, a entidades
privadas, nomeadamente a associação de utilizadores.
3 - Compete ao Estado, através dos organismos da administração central, regional e
local competentes ou de empresas públicas ou concessionárias, a promoção de
infraestruturas hidráulicas que visem a segurança de pessoas e bens, a garantia de água

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para abastecimento público das populações e para atividades socioeconómicas
reconhecidas como relevantes para a economia nacional, bem como as que respeitem ao
tratamento de efluentes de aglomerados urbanos.
Artigo 76.º
Empreendimentos de fins múltiplos
1 - As infraestruturas hidráulicas públicas de âmbito regional ou nacional, concebidas e
geridas para realizar mais uma utilização principal, são consideradas como
empreendimentos de fins múltiplos.
2 - Consideram-se infraestruturas de âmbito:
a) Municipal aquelas cujos objetivos ou efeitos se confinem à área de um município e
de uma região hidrográfica;
b) Regional aquelas cujos objetivos ou efeitos se estendam a mais de um município,
mas se confinem aos limites de uma região hidrográfica;
c) Nacional aquelas cujos objetivos ou efeitos se estendam a mais de uma região
hidrográfica.
3 - Pelas normas a aprovar nos termos do n.º 2 do artigo 102.º, deve ser estabelecido o
regime económico e financeiro, bem como as condições em que são constituídos e
explorados por entidades públicas ou privadas os empreendimentos de fins múltiplos, de
acordo com os seguintes princípios:
a) Sempre que o empreendimento seja explorado por uma pessoa coletiva de direito
privado, ainda que de capitais públicos, a exploração deve ser titulada por contrato de
concessão;
b) São administrados pela entidade exploradora do empreendimento os bens do domínio
público hídrico afetos ao empreendimento, podendo ser transmitidos a esta entidade,
pelo contrato de concessão, total ou parcialmente, as competências para licenciamento e
fiscalização da utilização por terceiros de tais recursos hídricos públicos;
c) As concessões atribuídas às entidades exploradoras dos empreendimentos são
outorgadas pelo membro do Governo responsável pela área do ambiente, em nome do
Estado, cabendo a tutela sobre a concessionária a esse membro do Governo
conjuntamente com o ministro responsável pelo setor de atividade em causa.
CAPÍTULO VII
Regime económico e financeiro
Artigo 77.º
Princípio da promoção da utilização sustentável dos recursos hídricos
1 - O regime económico e financeiro promove a utilização sustentável dos recursos
hídricos, designadamente mediante:
a) A internalização dos custos decorrentes de atividades suscetíveis de causar um
impacte negativo no estado de qualidade e de quantidade de água e, em especial, através
da aplicação do princípio do poluidor-pagador e do utilizador-pagador;
b) A recuperação dos custos das prestações públicas que proporcionem vantagens aos
utilizadores ou que envolvam a realização de despesas públicas, designadamente através
das prestações dos serviços de fiscalização, planeamento e de proteção da quantidade e
da qualidade das águas;
c) A recuperação dos custos dos serviços de águas, incluindo os custos de escassez.

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2 - Os utilizadores dos recursos hídricos que utilizem bens do domínio público e todos
os utilizadores de recursos hídricos públicos ou particulares que beneficiem de
prestações públicas que lhes proporcionem vantagens ou que envolvam a realização de
despesas públicas estão sujeitos ao pagamento da taxa de recursos hídricos prevista no
artigo 78.º
3 - Os utilizadores de serviços públicos de abastecimento de água e drenagem e
tratamento de águas residuais ficam sujeitos à tarifa dos serviços das águas prevista no
artigo 82.º
4 - As políticas de preços da água devem constituir incentivos adequados para que os
utilizadores utilizem eficientemente os recursos hídricos, devendo atender-se às
consequências sociais, ambientais e económicas da recuperação dos custos, bem como
às condições geográficas e climatéricas da região ou regiões afetadas.
5 - As políticas referidas nos números anteriores são fundamentadas na análise
económica das utilizações de água referida no artigo 83.º, tendo em conta os princípios
de gestão dos recursos previstos no artigo 3.º
Artigo 78.º
Taxa de recursos hídricos
1 - A taxa de recursos hídricos (TRH) tem como bases de incidência objetiva separadas:
a) A utilização privativa de bens do domínio público hídrico, tendo em atenção o
montante do bem público utilizado e o valor económico desse bem;
b) As atividades suscetíveis de causarem um impacte negativo significativo no estado
de qualidade ou quantidade de água, internalizando os custos ambientais associados a
tal impacte e à respetiva recuperação.
2 - A utilização de obras de regularização de águas superficiais e subterrâneas realizadas
pelo Estado constitui também base de incidência objetiva da TRH, proporcionando a
amortização do investimento e a cobertura dos respetivos custos de exploração e
conservação, devendo ser progressivamente substituída por uma tarifa cobrada pelo
correspondente serviço de água.
3 - A TRH corresponde à soma dos valores parcelares aplicáveis a cada uma das bases
de incidência objetivas.
4 - As bases de incidência, as taxas unitárias aplicáveis, a liquidação, a cobrança e o
destino de receitas da TRH, bem como as correspondentes competências
administrativas, as isenções referidas no n.º 3 do artigo 80.º e as matérias versadas no
n.º 2 do artigo 79.º e no n.º 2 do artigo 81.º, são reguladas por normas a aprovar nos
termos do n.º 2 do artigo 102.º
Artigo 79.º
Aplicação da taxa de recursos hídricos
1 - As receitas obtidas com o produto da taxa de recursos hídricos são aplicadas:
a) No financiamento das atividades que tenham por objetivo melhorar a eficiência do
uso da água e a qualidade dos recursos hídricos;
b) No financiamento das ações de melhoria do estado das águas e dos ecossistemas
associados;
c) Na cobertura da amortização dos investimentos e dos custos de exploração das
infraestruturas necessárias ao melhor uso da água;

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d) Na cobertura dos serviços de administração e gestão dos recursos hídricos, objeto de
utilização e proteção.
e) No apoio à sustentabilidade dos serviços urbanos de águas, com vista a promover o
acesso universal à água e ao saneamento, a custo socialmente aceitável, em
cumprimento da alínea a) do n.º 1 do artigo 3.º
2 - As normas a aprovar nos termos do n.º 2 do artigo 102.º definem o critério de
repartição das receitas pelos órgãos a quem cabe exercer as competências previstas na
presente lei ao nível da região hidrográfica e ao nível nacional, tendo em atenção os
respetivos planos de atividades.
Artigo 80.º
Lançamento e cobrança da taxa de recursos hídricos
1 - A taxa é cobrada pelas autoridades licenciadoras, quando da emissão dos títulos de
utilização que lhe der origem e periodicamente, nos termos fixados por estes títulos.
2 - O Governo promove a introdução progressiva da taxa, em função das necessidades
de financiamento dos planos de gestão e proteção das águas e das instituições
responsáveis pelos mesmos, mas considerando igualmente as consequências
económicas, sociais e ambientais da sua aplicação.
3 - Não são sujeitas à taxa as utilizações que sejam reconhecidas por decreto-lei como
insuscetíveis de causar impacte adverso significativo no estado das águas e dos
ecossistemas associados, nem de agravar situações de escassez.
4 - Pode ser aplicado um regime especial às administrações portuárias, a aprovar por
decreto-lei.
Artigo 81.º
Outras receitas
1 - As receitas emergentes da execução de obras ou trabalhos previstos no plano de
gestão de bacia hidrográfica ou dos planos específicos de gestão das águas ou do
funcionamento corrente da autoridade nacional da água, são receitas próprias da mesma.
2 - O produto das coimas aplicadas constitui receita própria da autoridade nacional da
água na proporção definida nas normas previstas no n.º 4 do artigo 78.º
3 - Os saldos de gerência transitados constituem receita própria da autoridade nacional
da água.
Artigo 82.º
Tarifas dos serviços de águas
1 - O regime de tarifas a praticar pelos serviços públicos de águas visa os seguintes
objetivos:
a) Assegurar tendencialmente e em prazo razoável a recuperação do investimento inicial
e de eventuais novos investimentos de expansão, modernização e substituição,
deduzidos da percentagem das comparticipações e subsídios a fundo perdido;
b) Assegurar a manutenção, reparação e renovação de todos os bens e equipamentos
afetos ao serviço e o pagamento de outros encargos obrigatórios, onde se inclui
nomeadamente a taxa de recursos hídricos;
c) Assegurar a eficácia dos serviços num quadro de eficiência da utilização dos recursos
necessários e tendo em atenção a existência de receitas não provenientes de tarifas.

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2 - O regime de tarifas a praticar pelas empresas concessionárias de serviços públicos de
águas obedece aos critérios do n.º 1, visando ainda assegurar o equilíbrio económico-
financeiro da concessão e uma adequada remuneração dos capitais próprios da
concessionária, nos termos do respetivo contrato de concessão, e o cumprimento dos
critérios definidos nas bases legais aplicáveis e das orientações definidas pelas entidades
reguladoras.
3 - O Governo define em normativo específico, nos termos do n.º 3 do artigo 102.º, as
normas a observar por todos os serviços públicos de águas para aplicação dos critérios
definidos no n.º 1.
Artigo 83.º
Análise económica das utilizações da água
1 - À autoridade nacional da água cabe assegurar que:
a) Em relação a cada região hidrográfica ou a cada secção de uma região hidrográfica
compartilhada com o Reino de Espanha, se realize uma análise económica das
utilizações da água nos termos da legislação aplicável;
b) A análise económica contenha as informações suficientes para determinar, com base
na estimativa dos seus custos potenciais, a combinação de medidas com melhor relação
custo-eficácia para estabelecer os programas de medidas a incluir nos planos de gestão
de bacia hidrográfica;
c) A política de preços da água estabeleça um contributo adequado dos diversos setores
económicos, separados, pelo menos, em setor industrial, doméstico e agrícola, para a
recuperação dos custos;
d) O contributo referido na alínea anterior seja baseado numa análise económica que
tenha em conta os princípios do poluidor-pagador e do utilizador-pagador e que atenda
às condições geográficas e climatéricas da região afetada e às consequências sociais,
económicas e ambientais da recuperação dos custos, nos termos do n.º 4 do artigo 77.º;
e) A política de preços contribua para uma utilização eficiente da água.
2 - A decisão de não aplicar a uma determinada atividade de utilização da água o
disposto nas alíneas c), d) e e) do número anterior não constitui uma violação da
presente lei, desde que não comprometa a prossecução dos seus objetivos, devendo ser
incluídas no plano de gestão de bacia hidrográfica as razões subjacentes à decisão.
CAPÍTULO VIII
Informação e participação do público
Artigo 84.º
Princípio da participação
Compete ao Estado, através da autoridade nacional da água, promover a participação ativa
das pessoas singulares e coletivas na execução da presente lei, especialmente na
elaboração, revisão e atualização dos planos de gestão de bacia hidrográfica, bem como
assegurar a divulgação das informações sobre as águas ao público em geral e em especial
aos utilizadores dos recursos hídricos, nos termos e com os limites estabelecidos na
legislação aplicável.
Artigo 85.º
Conteúdo da informação

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1 - A informação sobre as águas compreende, sob qualquer forma de expressão e em
todo o tipo de suporte material, os elementos relativos:
a) Ao estado das massas de água, abrangendo, para este efeito, os ecossistemas
terrestres e aquáticos e as zonas húmidas diretamente dependentes dos ecossistemas
aquáticos;
b) Aos fatores, atividades ou decisões destinados a proteger as massas de água e os
referidos ecossistemas e zonas húmidas, ou que os possam afetar, incluindo quaisquer
elementos sobre as respetivas consequências para a saúde pública e a segurança das
pessoas;
c) Aos planos, programas e estudos em que se apoiam as decisões das autoridades
competentes, com incidência nas massas de água.
2 - Em relação a cada região hidrográfica e no âmbito da elaboração, revisão e
atualização dos planos de gestão de bacia hidrográfica, a informação a publicar e a
facultar ao público, incluindo os utilizadores, para efeitos de consulta e envio de
comentários escritos, compreende:
a) O calendário e programa de trabalhos para a elaboração do plano de gestão de bacia
hidrográfica, incluindo as medidas de consulta a adotar, até três anos antes do início do
período a que se refere o plano de gestão;
b) A síntese das questões significativas relativas à gestão da água identificadas na bacia
hidrográfica, até dois anos antes do início do período a que se refere o plano de gestão;
c) O projeto do plano de gestão de bacia hidrográfica, até um ano antes do período a que
se refere o plano de gestão;
d) Outros elementos considerados relevantes para a discussão e participação do público
pela autoridade nacional da água ou exigidos pela legislação aplicável, incluindo os
critérios de avaliação.
3 - O acesso aos documentos de apoio e à informação de base utilizados na elaboração e
atualização dos projetos de planos de gestão de bacias hidrográficas deve ser assegurado
pela autoridade nacional da água, mediante pedido dos interessados.
4 - O disposto nos n.º s 2 e 3 visa promover a participação ativa das pessoas singulares
ou coletivas na elaboração dos planos de gestão das bacias hidrográficas, pelo que é
garantido o período mínimo de seis meses, a contar da data de publicação da informação
referida nesses números, para o envio de comentários e pareceres, os quais são
divulgados no sítio eletrónico da autoridade nacional da água.
Artigo 86.º
Origem da informação
1 - As informações a que se refere o artigo anterior são as que têm origem ou são detidas
por quaisquer entidades públicas ou por entidades privadas que, sob controlo de uma
entidade pública, tenham responsabilidades pelo interesse público, exerçam funções
públicas ou prestem serviços públicos relacionados com as águas.
2 - As informações sobre águas detidas pelas entidades referidas no número anterior
devem ser regularmente atualizadas e encaminhadas para a autoridade nacional da água.
Artigo 87.º
Sistema nacional de informação de recursos hídricos

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1 - A gestão integrada das informações sobre as águas, incluindo a sua recolha,
organização, tratamento, arquivamento e divulgação, é assegurada pela autoridade
nacional da água, através de um sistema nacional de informação das águas.
2 - Compete à autoridade nacional da água desenvolver e gerir o sistema nacional de
informação de recursos hídricos tendo em conta os seguintes objetivos:
a) O planeamento de recursos hídricos, compreendendo não só os planos previstos nos
artigos 19.º e 24.º e os planos de gestão dos riscos de inundações previstos em diploma
específico, mas também outros planos previstos em iniciativas comunitárias e
internacionais e de incidência específica ou de âmbito multissectorial com interseção no
domínio da água;
b) A gestão da água enquanto recurso e elemento de manutenção dos ecossistemas,
apoiando as ações de licenciamento e de verificação de conformidade assim como a
emissão de avisos e alertas relacionados com fenómenos extremos e acidentes de
poluição;
c) A troca de informação decorrente do normativo comunitário e de acordos
internacionais, e da cooperação intersectorial nacional com vista à redução de custos
pela mobilização de sinergias;
d) O maior conhecimento do estado e tendências dos meios hídricos de forma a apoiar a
investigação científica, o ensino, as capacidades de estudo e projeto e o controlo pelo
cidadão da própria gestão e planeamento.
3 - O sistema nacional de informação de recursos hídricos abrange os seguintes módulos
de conteúdos:
a) Hidrologia;
b) Utilizações dos recursos hídricos;
c) Informação em tempo real para avisos e alertas.
4 - Incumbe à autoridade nacional da água criar uma rede nacional de informações
respeitantes às águas e colocá-la à disposição tanto das entidades que tenham
responsabilidades, exerçam funções públicas ou prestem serviços públicos direta ou
indiretamente relacionados com as águas como da comunidade técnica e científica e
público em geral.
5 - A informação de base desse sistema é atualizada pelos dados recolhidos nos pontos
de medição da APA, I. P., e pelos dados de outros organismos relevantes para a gestão,
controlo e planeamento dos recursos hídricos, por forma que o sistema nacional de
informação de recursos hídricos apoie as ações de planeamento e de gestão da água,
bem como de outros setores com interseção no domínio hídrico.
6 - A autoridade nacional da água deve enviar à Comissão Europeia e a qualquer outro
Estado membro interessado cópia dos planos de gestão de bacia hidrográfica e das
respetivas atualizações, bem como dos relatórios intercalares de execução dos
programas de medidas previstas nesses planos, bem como das análises previstas nas
alíneas g) e h) do n.º 2 do artigo 8.º e dos programas de monitorização previstos no
artigo 54.º, num prazo de três meses a contar da sua publicação.
Artigo 88.º
Direito de acesso à informação
1 - No âmbito dos procedimentos administrativos conexos com as águas, todas as
pessoas singulares ou coletivas têm direito de informação procedimental nos termos do
Código do Procedimento Administrativo e da legislação em matéria de acesso à
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informação ambiental.
2 - Todas as pessoas singulares ou coletivas têm direito de acesso às informações
respeitantes às águas originadas ou detidas por quaisquer das entidades referidas no
artigo 86.º, nos termos do disposto no Código do Procedimento Administrativo e na
legislação em matéria de acesso à informação ambiental.
3 - O acesso às informações respeitantes às águas pode estar sujeito ao pagamento de
uma taxa destinada a cobrir os custos envolvidos na disponibilização de informação, nos
termos da tabela previamente aprovada por portaria do membro do Governo responsável
pela área do ambiente.
CAPÍTULO IX
Fiscalização e sanções
Artigo 89.º
Princípio da precaução e prevenção
Na aplicação da presente lei, os organismos de Administração Pública devem observar o
princípio da precaução e da prevenção, sem prejuízo de fiscalização das atividades que
envolverem utilização dos recursos hídricos.
Artigo 90.º
Inspeção e fiscalização
1 - A verificação do cumprimento das normas previstas na presente lei pode revestir a
forma de:
a) Fiscalização, a desenvolver de forma sistemática pelas autoridades licenciadoras, no
cumprimento da obrigação legal de vigilância que lhes cabe sobre os utilizadores dos
recursos hídricos, quer disponham ou não de títulos de utilização, e de forma pontual
em função das queixas e denúncias recebidas relativamente à sua área de jurisdição;
b) Inspeção a efetuar pelas entidades dotadas de competência para o efeito de forma
casuística e aleatória, ou em execução de um plano de inspeção previamente aprovado,
ou ainda no âmbito do apuramento do alcance e das responsabilidades por acidentes de
poluição.
2 - A fiscalização compete à autoridade nacional da água na área da utilização e às
demais entidades a quem for conferida legalmente competência para o licenciamento da
utilização dos recursos hídricos nessa área, cabendo-lhes igualmente a competência para
a instauração, a instrução e o sancionamento dos processos de contraordenações por
infrações cometidas na sua área de jurisdição.
3 - Colaboram na ação fiscalizadora as autoridades policiais ou administrativas
com jurisdição na área, devendo prevenir as infrações ao disposto nesta lei e
participar as transgressões de que tenham conhecimento.
4 - A inspeção compete à Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do
Ordenamento do Território.
5 - As entidades fiscalizadoras referidas no n.º 2 devem manter um registo público das
queixas e denúncias recebidas e do encaminhamento dado às mesmas.
Nota: Cf. o art.º 18.º, n.º 6, da Lei Quadro das Contraordenações Ambientais (Lei n.º 50/2006, de 29 de
agosto, última alteração dada pela Lei n.º 25/2019, de 26/03), nos termos do qual, “em caso de recusa
de acesso ou obstrução à ação inspetiva, de fiscalização ou vigilância, pode ser solicitada a

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colaboração das forças policiais para remover tal obstrução e garantir a realização e segurança
dos atos inspetivos”.

Artigo 91.º
Sujeição a medidas de inspeção e fiscalização
1 - Em geral, estão sujeitas a medidas de inspeção e fiscalização todas as entidades
públicas e privadas, singulares ou coletivas, que exerçam atividades suscetíveis de
causarem impacte negativo no estado das massas de água.
2 - Estão especialmente sujeitos a medidas de inspeção e fiscalização:
a) Os titulares de autorizações, licenças ou concessões de utilização dos recursos
hídricos;
b) Os proprietários e operadores das instalações cuja construção ou operação seja
regulada pela presente lei;
c) As entidades gestoras de sistemas de abastecimento público de água para consumo
humano e de tratamento de águas residuais;
d) Os proprietários e possuidores de produtos, instalações ou meios de transportes
suscetíveis de causar risco aos bens protegidos na presente lei;
e) As pessoas que desenvolvam atividades suscetíveis de pôr em risco bens protegidos
pela presente lei ou que tenham requerido título de utilização para desenvolver tais
atividades.
Artigo 92.º
Planos de inspeção e de fiscalização
1 - No âmbito da aplicação do princípio da precaução e prevenção, a autoridade
nacional da água, conjuntamente com as entidades licenciadoras, de inspeção e de
fiscalização competentes, deve promover a elaboração de planos de inspeção e de
fiscalização, dos quais devem constar o âmbito espacial, temporal e material, os
programas e procedimentos adotados e o modo de coordenação das entidades
competentes em matéria de fiscalização e de inspeção.
2 - Os planos de inspeção e de fiscalização são públicos, devendo ser objeto de
divulgação nas componentes que não comprometam a sua eficácia.
Artigo 93.º
Acesso a instalações, à documentação e à informação
1 - No exercício das suas funções, deve ser facultada às entidades com competência de
inspeção e de fiscalização devidamente identificadas a entrada livre nas instalações
onde se exercem as atividades sujeitas a medidas de fiscalização ou de inspeção.
2 - Os responsáveis pelas instalações sujeitas a medidas de inspeção ou de fiscalização
são obrigados a facultar a entrada e a permanência às entidades referidas no número
anterior e a prestar-lhes a assistência necessária, nomeadamente através da apresentação
de documentação, livros ou registos solicitados, da abertura de contentores e da garantia
de acessibilidade a equipamentos.
3 - No âmbito da ação inspetiva ou fiscalizadora, o respetivo pessoal pode recolher

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informação sobre as atividades inspecionadas, proceder a exames a quaisquer vestígios
de infrações, bem como a colheitas de amostras para exame laboratorial.
Artigo 94.º
Dever de informar em caso de perigo
1 - As pessoas e entidades sujeitas a medidas de fiscalização devem informar
imediatamente a autoridade nacional da água e as entidades licenciadoras, fiscalizadoras
e autoridades de saúde de quaisquer acidentes e factos que constituam causa de perigo
para a saúde pública, para a segurança de pessoas e bens ou para a qualidade da água.
2 - Qualquer entidade administrativa que tome conhecimento de situações que indiciem
a prática de infrações às normas de proteção da qualidade da água ou que se traduzam em
perigo para a saúde, para a segurança de pessoas e bens ou para a qualidade da água deve
dar notícia à autoridade nacional da água e às entidades licenciadoras, fiscalizadoras e
autoridades de saúde.
Artigo 95.º
Responsabilidade civil pelo dano ambiental
1 - Quem causar uma deterioração do estado das águas, sem que a mesma decorra de
utilização conforme com um correspondente título de utilização e com as condições nele
estabelecidas, deve custear integralmente as medidas necessárias à recomposição da
condição que existiria caso a atividade devida não se tivesse verificado.
2 - A obrigação prevista no número anterior, no caso de a atividade lesiva ser imputável
a uma pessoa coletiva, incide também solidariamente sobre os respetivos diretores,
gerentes e administradores.
3 - (Revogado.)
4 - A autoridade nacional da água e as entidades competentes em matéria de fiscalização
podem igualmente determinar a posse administrativa do imóvel onde está a ser realizada
a infração de modo a permitir a execução coerciva das medidas previstas.
5 - O disposto nos números anteriores não prejudica a responsabilidade civil pelos
danos causados a terceiros, nos termos gerais da lei.
Artigo 96.º
Realização voluntária de medidas
1 - No âmbito da aplicação das medidas previstas na legislação, a autoridade nacional
da água e as entidades competentes em matéria de licenciamento, fiscalização e de
inspeção podem determinar ao infrator a apresentação de um projeto de recuperação que
assegure o cumprimento dos deveres jurídicos exigíveis.
2 - Caso o projeto seja aprovado pela autoridade nacional da água, com modificações e
medidas suplementares se necessário, deve ser objeto de um contrato de adaptação
ambiental, com a natureza de contrato administrativo, a celebrar entre a entidade
licenciadora e o infrator.
3 - A autoridade nacional da água e as entidades competentes em matéria de
licenciamento e de fiscalização podem também, com o consentimento do infrator e em
conjunto com o projeto de recuperação previsto no número anterior, estabelecer um
sistema de gestão ambiental e determinar a realização de auditorias ambientais
periódicas por uma entidade certificada.

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4 - O incumprimento pelo utilizador do contrato de adaptação ambiental ou do sistema
de gestão previsto no número anterior constitui, para todos os efeitos, violação das
condições do título de utilização, sem prejuízo de execução das garantias reais ou
pessoais que houverem sido prestadas ao abrigo desse contrato.
Artigo 97.º
Regime de contraordenações
1 - O regime especial de contraordenações, embargos administrativos e sanções
acessórias pelas infrações às normas da presente lei e dos atos legislativos nela previstos
é definido em normativo próprio, observando os princípios e regras da presente lei.
2 - Até à publicação do normativo referido no n.º 1, aplicam-se as disposições legais em
vigor, sem prejuízo do disposto nos números seguintes.
3 - As coimas aplicáveis variam entre um limite mínimo de (euro) 250 e um limite
máximo de (euro) 2 500 000 e a fixação de coima concreta depende da gravidade da
infração, da culpa do agente, da sua situação económica e do benefício económico
obtido.
4 - A coima deve, sempre que possível, exceder o benefício económico que o agente
retirou da prática da infração.
5 - A valorização dos bens dominiais de que beneficiam os utilizadores não titulares de
título de utilização válido é fixada por estimativa pela autoridade nacional da água,
devendo a coima devida ser sempre superior ao valor da taxa que deixou de ser paga,
calculada tendo por base essa estimativa.
6 - Sem prejuízo da responsabilidade criminal por desobediência, as entidades
competentes em matéria de fiscalização podem fixar uma sanção pecuniária
compulsória nos termos a definir no normativo referido no n.º 1.
7 - (Revogado.)
CAPÍTULO X
Disposições finais e transitórias
Artigo 98.º
Revogação e alteração da legislação anterior
1 - A presente lei, na data da sua entrada em vigor, derroga as normas legais e
regulamentares contrárias ao que nela se dispõe.
2 - A presente lei, na data da entrada em vigor dos atos legislativos previstos nos n.º s 1
e 2 do artigo 102.º, revoga expressamente os seguintes atos legislativos:
a) Decreto-Lei n.º 70/90, de 2 de março;
b) Decreto-Lei n.º 45/94, de 22 de fevereiro;
c) Decreto-Lei n.º 46/94, de 22 de fevereiro;
d) Decreto-Lei n.º 47/94, de 22 de fevereiro;
e) Capítulos iii e iv do Decreto-Lei n.º 468/71, de 5 de novembro;
f) Decreto-Lei n.º 254/ 99, de 7 de julho.
3 - É alterado o artigo 42.º do Decreto-Lei n.º 380/99, de 22 de setembro, na redação
que lhe foi dada pelos Decretos-Leis n.º s 53/2000, de 7 de abril, e 310/2003, de 10 de
dezembro, que passa a ter a seguinte redação:
«Artigo 42.º
1 - ...

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2 - ...
3 - Os planos especiais de ordenamento do território são os planos de ordenamento de
áreas protegidas, os planos de ordenamento de albufeiras de águas públicas, os planos
de ordenamento da orla costeira e os planos de ordenamento dos estuários.»
Artigo 99.º
Prazos a observar na aplicação da presente lei
Devem ser observados os prazos a seguir indicados para as matérias seguintes referidas
na presente lei que se encontrem ainda por executar:
a) Até seis meses após a entrada em vigor desta lei a identificação de massas da água
para consumo humano, nos termos da alínea i) do n.º 6 do artigo 9.º e do n.º 4 do artigo
48.º, e o registo das zonas protegidas, previsto na alínea g) do n.º 6 do artigo 9.º e no n.º
2 do artigo 48.º;
b) Até seis meses após a entrada em vigor desta lei a análise de características das
regiões hidrográficas, o estudo do impacte das atividades humanas sobre o estado das
águas e a análise económica das utilizações da água, previstos nas alíneas g), h) e i) do
n.º 2 do artigo 8.º e na alínea c) do n.º 6 do artigo 9.º;
c) Até final de 2010 a revisão do Plano Nacional da Água prevista no n.º 4 do artigo
28.º;
d) Até 2006 os programas de monitorização referidos na alínea l) do n.º 6 do artigo 9.º e
no artigo 54.º;
e) Até 2009 a aprovação dos planos de gestão de bacia hidrográfica previstos no artigo
29.º;
f) Até 2010 as políticas de preços previstas nas alíneas c), d) e e) do n.º 1 do artigo 83.º;
g) Até 2012 a aplicação dos programas de medidas previstos no artigo 30.º e a aplicação
da abordagem combinada para o controlo das descargas poluentes nos termos da
legislação referida no artigo 53.º;
h) Até 2015 a consecução dos objetivos ambientais, nos termos do artigo 45.º, e a
revisão dos programas de medidas previstos no artigo 30.º
Artigo 100.º
Disposição transitória sobre títulos de utilização
1 - Os títulos de utilização emitidos ao abrigo da legislação anterior mantêm-se em
vigor nos termos em que foram emitidos, sem prejuízo da sujeição dos seus titulares às
obrigações decorrentes da presente lei e dos atos legislativos que os complementem.
2 - No caso de infraestruturas hidráulicas tituladas por mera licença, podem os seus
titulares requerer a sua conversão em concessão, sempre que à luz da presente lei
devesse ser esta a modalidade a adotar, mas a concessão assim atribuída não pode ter
prazo superior ao necessário para concluir a amortização dos investimentos realizados
ao abrigo do título.
3 - No caso de títulos de utilização existentes em que estejam reunidas as condições
necessárias para a qualificação da infraestrutura como empreendimento de fins
múltiplos, pode a mesma ser submetida ao regime previsto no artigo 76.º sob proposta
da autoridade nacional da água e decisão do membro do Governo responsável pela área
do ambiente.
4 - O Governo promove, através das normas que vierem a regular o regime de

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utilização, nos termos do n.º 2 do artigo 102.º, as condições necessárias para a
progressiva adaptação de títulos referidas nos números anteriores e para a regularização
de todas as utilizações não tituladas de recursos hídricos existentes nesta data que se
revelem compatíveis com a aplicação desta lei e das normas nela previstas, fixando,
designadamente, o prazo e as condições dessa regularização e, bem assim, a
possibilidade de isenção total ou parcial de coima pela utilização não titulada anterior à
data da publicação desta lei, no caso de a regularização se dever a iniciativa do
interessado.

REGIME JURÍDICO DA CONSERVAÇÃO DA


NATUREZA E DA BIODIVERSIDADE
(aprovado pelo DL n.º 142/2008, de 24 de julho,
última alteração dada pelo DL n.º11/2023, de 10/02)

A Lei n.º 11/87, de 7 de Abril, que define as bases da política de ambiente, enquadrou,
nos últimos 20 anos, toda a legislação produzida sobre conservação da natureza e da
biodiversidade. Dela emanou, designadamente, a Estratégia Nacional de Conservação
da Natureza e da Biodiversidade (ENCNB), adoptada pela Resolução do Conselho de
Ministros n.º 152/2001, de 11 de Outubro. A ENCNB formula 10 opções estratégicas
para a política de conservação da natureza e da biodiversidade, de entre as quais avulta a
opção n.º 2, relativa à constituição da Rede Fundamental de Conservação da Natureza
(RFCN) e do Sistema Nacional de Áreas Classificadas (SNAC), integrando neste a
Rede Nacional de Áreas Protegidas (RNAP), criada pelo Decreto-Lei n.º 19/93, de 23
de Janeiro.
Concretizando a referida opção, o presente decreto-lei cria a RFCN, a qual é composta
pelas áreas nucleares de conservação da natureza e da biodiversidade integradas no
SNAC e pelas áreas de reserva ecológica nacional, de reserva agrícola nacional e do
domínio público hídrico enquanto áreas de continuidade que estabelecem ou
salvaguardam a ligação e o intercâmbio genético de populações de espécies selvagens
entre as diferentes áreas nucleares de conservação, contribuindo para uma adequada
protecção dos recursos naturais e para a promoção da continuidade espacial, da
coerência ecológica das áreas classificadas e da conectividade das componentes da
biodiversidade em todo o território, bem como para uma adequada integração e
desenvolvimento das actividades humanas.
Ainda em concretização da mesma opção estratégica, o presente decreto-lei estrutura o
SNAC, constituído pela RNAP, pelas áreas classificadas que integram a Rede Natura
2000 e pelas demais áreas classificadas ao abrigo de compromissos internacionais
assumidos pelo Estado Português, assegurando a integração e a regulamentação
harmoniosa dessas áreas já sujeitas a estatutos ambientais de protecção. Ao nível da
RNAP, com o objectivo de clarificar e actualizar o regime actual, o presente decreto-lei
dispõe sobre as categorias e tipologias de áreas protegidas - prevendo no nosso
ordenamento jurídico, expressamente, a possibilidade da existência de parques
nacionais nas Regiões Autónomas -, os respectivos regimes de gestão e estrutura

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orgânica e ainda sobre os objectivos e os procedimentos conducentes à sua
classificação.
Por outro lado, com o objectivo de simplificar e adaptar o regime vigente às
características específicas das reservas naturais, das paisagens protegidas e dos
monumentos naturais de âmbito nacional, bem como das áreas protegidas de âmbito
regional ou local, é introduzida, com carácter inovatório, a ponderação casuística da
necessidade de existência de planos de ordenamento para as duas primeiras tipologias -
aquando da respectiva classificação - e a dispensa de elaboração de tais instrumentos de
gestão territorial no caso dos monumentos naturais e das áreas protegidas de âmbito
regional ou local.
Em consequência das alterações introduzidas ao regime actual são revogadas as
disposições ainda vigentes do Decreto-Lei n.º 19/93, de 23 de Janeiro. Relativamente à
Rede Natura 2000, dado que a dimensão e a complexidade da respectiva
regulamentação aconselham a que a mesma continue a constar de diploma próprio,
aliado ao facto do respectivo regime, constante do Decreto-Lei n.º 140/99, de 24 de
Abril, estar ainda em consolidação após uma profunda revisão efectuada pelo Decreto-
Lei n.º 49/2005, de 24 de Fevereiro, no sentido de garantir a plena transposição da
Directiva n.º 79/409/CEE, do Conselho, de 2 de Abril (Directiva Aves), e da Directiva
n.º 92/43/CEE, do Conselho, de 21 de Maio (Directiva Habitats), o presente decreto-lei
contém apenas uma remissão enquadradora. Tal sucede igualmente com alguns regimes
de conservação e protecção decorrentes de iniciativa nacional, ao nível da protecção de
espécies selvagens ao abrigo de legislação comunitária e ao nível de alguns regimes
decorrentes de instrumentos jurídicos internacionais, nomeadamente da Convenção
sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas
de Extinção ou da Convenção Relativa à Conservação da Vida Selvagem e dos Habitats
Naturais da Europa (Convenção de Berna), cujas complexidade e especificidades,
designadamente ao nível procedimental, aconselham também que a respectiva
regulamentação nacional continue a constar de diplomas próprios.
Por fim, quanto às áreas classificadas ao abrigo de compromissos internacionais
assumidos pelo Estado Português, destaca-se a criação da figura dos espaços naturais
protegidos de carácter transfronteiriço, designados «áreas protegidas transfronteiriças»,
e a consagração legal das áreas abrangidas por designações de conservação de carácter
supranacional.
Em termos de política de conservação da natureza e da biodiversidade, a par da ENCNB
e da referida RFCN, importa assinalar, ao nível da organização da informação, a
consagração do Sistema de Informação sobre o Património Natural (SIPNAT) e a
criação do Cadastro Nacional dos Valores Naturais Classificados. Resumidamente, o
SIPNAT é constituído pelo inventário da biodiversidade e dos geossítios presentes no
território nacional e nas águas sob jurisdição nacional, enquanto que o Cadastro
Nacional dos Valores Naturais Classificados - instrumento mais operacional -, é um
arquivo de informação sobre os valores naturais classificados ou considerados sob
ameaça pela autoridade nacional.
Face aos compromissos assumidos internacionalmente pelo Estado Português, são
reforçados os mecanismos que permitam a Portugal cumprir as obrigações assumidas
quer no âmbito da União Europeia quer no âmbito da Organização das Nações Unidas -
suster a perda de biodiversidade até 2010 e para além -, de acordo com um conceito
dinâmico de conservação da biodiversidade, na relação desta última com as alterações
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climáticas, no combate à desertificação e erradicação da pobreza, no seu papel
transversal ao desenvolvimento sustentável, na necessidade de alargar o reconhecimento
público da biodiversidade, integrando-a no sistema económico e empresarial, e no
reconhecimento de cada cidadão como directa e simultaneamente beneficiário e
implicado na gestão da biodiversidade.
Na verdade, com uma dimensão e complexidade crescentes nas sociedades modernas, a
política de conservação da natureza e da biodiversidade enfrenta o desafio de se assumir
como um serviço público que garanta a gestão ambiental do território, num quadro de
valorização do património natural e de adequado usufruto do espaço e dos recursos. Por
outro lado, a conservação da natureza e da biodiversidade constitui também um motor
de desenvolvimento local e regional, associado à identificação de caracteres próprios e
distintivos que urge valorizar, através de uma actividade de gestão e aproveitamento
sustentável dos recursos naturais, com o envolvimento e participação de toda a
sociedade, numa lógica de benefício comum. Neste contexto, o presente decreto-lei
define orientações estratégicas e instrumentos próprios, visando os seguintes objectivos
essenciais:
i) Garantir a conservação dos valores naturais e promover a sua valorização e uso
sustentável;
ii) Promover a conservação da natureza e da biodiversidade como dimensão
fundamental do desenvolvimento sustentável, nomeadamente pela integração da política
de conservação da natureza e da biodiversidade na política de ordenamento do território
e nas diferentes políticas sectoriais;
iii) Integrar critérios de conservação da natureza e da biodiversidade nos sistemas
sociais, empresariais e económicos;
iv) Definir e delimitar uma infra-estrutura básica de conservação da natureza, a citada
RFCN;
v) Contribuir para a prossecução dos objectivos fixados no âmbito da cooperação
internacional na área da conservação da natureza, em especial os definidos na
Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica, adoptada no Rio de
Janeiro em 5 de Junho de 1992;
vi) Promover a investigação científica e o conhecimento sobre o património natural,
bem como a monitorização de espécies, habitats, ecossistemas e geossítios;
vii) Promover a educação e a formação da sociedade civil em matéria de conservação da
natureza e da biodiversidade e assegurar a informação, sensibilização e participação do
público, incentivando a visitação, a comunicação, o interesse e o contacto dos cidadãos
com a natureza;
viii) Promover o reconhecimento pela sociedade do valor patrimonial, intergeracional,
económico e social da biodiversidade e do património geológico.
Especial destaque merece o novo regime económico e financeiro da conservação da
natureza e da biodiversidade, que constitui uma componente essencial do presente
decreto-lei, dada a importância que tal regime reveste para a inversão do ciclo de
degradação e desinvestimento na política de conservação da natureza e da
biodiversidade verificado nos últimos anos. Assim, a este nível, cumpre assinalar a
previsão da constituição do Fundo para a Conservação da Natureza e da Biodiversidade,
que terá como objectivo apoiar, através da afectação de recursos a projectos e
investimentos necessários e adequados, a gestão da infra-estrutura básica de suporte à
conservação da natureza, designadamente das áreas que compõem a RFCN.
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Todavia, dado que a prossecução dos objectivos visados com o presente decreto-lei
exige o envolvimento, a participação e a responsabilização de toda a sociedade na
alocação dos recursos financeiros e materiais que os viabilizem, conforme já referido,
recorrer-se-á ainda, quando adequado:
i) À adequada remuneração dos serviços proporcionados pela conservação da natureza e
seus sistemas, quer através da aplicação de taxas, designadamente pelo acesso e visita às
áreas integradas no Sistema Nacional de Áreas Classificadas que sejam da titularidade
do Estado e que se encontrem sob a gestão da autoridade nacional, quer através do
pagamento directo de bens e serviços prestados;
ii) À intervenção da autoridade nacional em actividades de conservação, incluindo
acções de sensibilização social para a conservação da natureza e da biodiversidade, seja
assumindo a responsabilidade directa, seja colaborando com entidades públicas e
privadas;
iii) À promoção de actividades económicas geradoras de valor ao abrigo de contratos de
parceria, de acordos, de concessões ou, ainda, de prestação de serviços celebrados com
entidades públicas ou privadas;
iv) À utilização de instrumentos de compensação ambiental, mediante os quais se visa
garantir a satisfação das condições ou requisitos legais ou regulamentares de que esteja
dependente o início de exercício de uma actividade por via da realização de projectos ou
acções que produzam um benefício ambiental equivalente ao custo ambiental causado e
que decorram da aplicação da legislação em vigor, nomeadamente do regime jurídico da
avaliação de impacte ambiental ou do regime jurídico da Rede Natura 2000.
Aproveitando o ensejo reformista, o presente diploma promove ainda a actualização e a
adaptação do regime de fiscalização e inspecção e do regime contra-ordenacional e
sancionatório ao novo regime constante da Lei n.º 50/2006, de 29 de Agosto, que
aprovou a lei quadro das contra-ordenações ambientais, ainda que, quanto ao segundo,
não em termos exaustivos dada a grande dispersão legislativa existente ao nível da
tipificação de condutas ilícitas com implicações na conservação da natureza e da
biodiversidade.
Em síntese, o presente decreto-lei estabelece o novo regime jurídico da conservação da
natureza e da biodiversidade, dando cumprimento ao objectivo assumido no Programa
do XVII Governo de rever o complexo regime jurídico que a regulamenta, consolidando
a implantação da política de conservação da natureza em Portugal e redefinindo,
simultaneamente, os respectivos instrumentos e as políticas nacionais face às novas
competências e incumbências do Estado nesta matéria, no seguimento, aliás, do
processo iniciado com a reestruturação do Instituto da Conservação da Natureza,
concretizada com o Decreto-Lei n.º 136/2007, de 27 de Abril, que aprovou a Lei
Orgânica do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, I. P.
Foram ouvidos os órgãos de governo próprio das Regiões Autónomas, a Associação
Nacional dos Municípios Portugueses e o Conselho Nacional do Ambiente e do
Desenvolvimento Sustentável.
Foram ouvidas, a título facultativo, as organizações não governamentais do ambiente.
Assim:
No desenvolvimento da Lei de Bases do Ambiente, aprovada pela Lei n.º 11/87, de 7 de
Abril, em concretização da Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e da
Biodiversidade, adoptada pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 152/2001, de 11

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de Outubro, e nos termos das alíneas a) e c) do n.º 1 do artigo 198.º da Constituição, o
Governo decreta o seguinte:

CAPÍTULO I
Disposições gerais, princípios e enquadramento institucional
Artigo 1.º
Objeto
O presente decreto-lei estabelece o regime jurídico da conservação da natureza e da
biodiversidade.
Artigo 2.º
Âmbito
1 - O regime jurídico estabelecido no presente decreto-lei é aplicável ao conjunto dos
valores e recursos naturais presentes no território nacional e nas águas sob jurisdição
nacional.
2 - O disposto no presente decreto-lei não prejudica a aplicação de regimes especiais,
designadamente os relativos à classificação e gestão de áreas marinhas protegidas para
além do mar territorial, à reserva ecológica nacional, ao domínio público hídrico, à
reserva agrícola nacional e aos recursos florestais, fitogenéticos, agrícolas, cinegéticos,
pesqueiros e aquícolas das águas interiores.
Artigo 3.º
Definições
Para os efeitos do disposto no presente decreto-lei, entende-se por:
a) «Áreas classificadas» as áreas definidas e delimitadas cartograficamente do território
nacional e das águas sob jurisdição nacional que, em função da sua relevância para a
conservação da natureza e da biodiversidade, são objeto de regulamentação específica;
b) «Biodiversidade» a variedade das formas de vida e dos processos que as relacionam,
incluindo todos os organismos vivos, as diferenças genéticas entre eles e as
comunidades e ecossistemas em que ocorrem;
c) «Conservação da natureza e da biodiversidade» o conjunto das intervenções
físicas, ecológicas, sociológicas ou económicas orientadas para a manutenção ou
recuperação dos valores naturais e para a valorização e uso sustentável dos recursos
naturais;
d) «Conservação ex situ» a conservação de espécies da fauna e da flora selvagens fora
dos seus habitats naturais;
e) «Conservação in situ» a conservação de espécies da fauna e da flora selvagens nos
seus habitats naturais;
f) «Ecossistemas» os complexos dinâmicos constituídos por comunidades vegetais,
animais e de microrganismos, relacionados entre si e com o meio envolvente,
considerados como uma unidade funcional;
g) «Espécies» o conjunto de indivíduos inter-reprodutores com a mesma morfologia
hereditária e um ciclo de vida comum, incluindo quaisquer subespécies ou suas
populações geograficamente isoladas;

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h) «Espécie não indígena» qualquer espécie, da flora ou da fauna, não originária de um
determinado território e nunca aí registada como ocorrendo naturalmente e com
populações autossustentadas durante os tempos históricos;
i) «Geossítio» a área de ocorrência de elementos geológicos com reconhecido valor
científico, educativo, estético e cultural;
j) «Habitat» a área terrestre ou aquática natural ou seminatural que se distingue por
características geográficas abióticas e bióticas;
l) «Monitorização» o processo de recolha e processamento de informação sobre um ou
mais valores naturais, visando acompanhar o seu estado de conservação;
m) «Património geológico» o conjunto de geossítios que ocorrem numa determinada
área e que inclui o património geomorfológico, paleontológico, mineralógico,
petrológico, estratigráfico, tectónico, hidrogeológico e pedológico, entre outros;
n) «Património natural» o conjunto dos valores naturais com reconhecido interesse
natural ou paisagístico, nomeadamente do ponto de vista científico, da conservação e
estético;
o) «Recursos genéticos» o material genético, designadamente de origem vegetal,
animal ou microbiológica, contendo unidades funcionais de hereditariedade, com um
valor de utilização real ou potencial;
p) «Recursos naturais» os componentes ambientais naturais com utilidade para o ser
humano e geradores de bens e serviços, incluindo a fauna, a flora, o ar, a água, os
minerais e o solo;
q) «Serviços dos ecossistemas» os benefícios que as pessoas obtêm, direta ou
indiretamente, dos ecossistemas, distinguindo-se em:
i) «Serviços de produção», entendidos como os bens produzidos ou aprovisionados
pelos ecossistemas, nomeadamente alimentos, água doce, lenha, fibra, bioquímicos ou
recursos genéticos, entre outros;
ii) «Serviços de regulação», entendidos como os benefícios obtidos da regulação dos
processos de ecossistema, nomeadamente a regulação do clima, de doenças, de cheias
ou a destoxificação, entre outros;
iii) «Serviços culturais», entendidos como os benefícios não materiais obtidos dos
ecossistemas, nomeadamente ao nível espiritual, recreativo, estético ou educativo, entre
outros;
iv) «Serviços de suporte», entendidos como os serviços necessários para a produção de
todos os outros serviços, nomeadamente a formação do solo, os ciclos dos nutrientes ou
a produtividade primária, entre outros;
r) «Valores naturais» os elementos da biodiversidade, paisagens, territórios, habitats
ou geossítios;
s) «Valores naturais classificados» os valores naturais que, em razão da sua relevância
para a conservação da natureza e da biodiversidade, estão sujeitos a regimes legais de
proteção.
Artigo 4.º
Princípios
Para além dos princípios gerais e específicos consignados na Lei de Bases do Ambiente,
a execução da política e das ações de conservação da natureza e da biodiversidade deve
observar os seguintes princípios:
a) Princípio da função social e pública do património natural, nos termos do qual se
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consagra o património natural como infraestrutura básica integradora dos recursos
naturais indispensáveis ao desenvolvimento social e económico e à qualidade de vida
dos cidadãos;
b) Princípio da sustentabilidade, nos termos do qual deve ser promovido o
aproveitamento racional dos recursos naturais, conciliando a conservação da natureza e
da biodiversidade com a criação de oportunidades sociais e económicas e garantindo a
sua disponibilidade para as gerações futuras;
c) Princípio da identificação, por força do qual deve ser promovido o conhecimento, a
classificação e o registo dos valores naturais que integram o património natural;
d) Princípio da compensação, pelo utilizador, dos efeitos negativos provocados pelo uso
dos recursos naturais;
e) Princípio da precaução, nos termos do qual as medidas destinadas a evitar o
impacte negativo de uma ação sobre a conservação da natureza e a biodiversidade
devem ser adotadas mesmo na ausência de certeza científica da existência de uma
relação causa-efeito entre eles;
f) Princípio da proteção, por força do qual importa desenvolver uma efetiva
salvaguarda dos valores mais significativos do nosso património natural,
designadamente dos presentes nas áreas classificadas.
Artigo 5.º
Rede Fundamental de Conservação da Natureza
1 - É criada a Rede Fundamental de Conservação da Natureza, abreviadamente
designada por RFCN, a qual é composta:
a) Pelo Sistema Nacional de Áreas Classificadas, que integra as seguintes áreas
nucleares de conservação da natureza e da biodiversidade:
i) Áreas protegidas integradas na Rede Nacional de Áreas Protegidas;
ii) Sítios da lista nacional de sítios e zonas de proteção especial integrados na Rede
Natura 2000;
iii) As demais áreas classificadas ao abrigo de compromissos internacionais assumidos
pelo Estado Português;
b) Pelas áreas de continuidade a seguir identificadas, nos termos do número seguinte e
com salvaguarda dos respetivos regimes jurídicos:
i) A Reserva Ecológica Nacional (REN);
ii) A Reserva Agrícola Nacional (RAN);
iii) O domínio público hídrico (DPH).
2 - As áreas de continuidade referidas no número anterior estabelecem ou salvaguardam
a ligação e o intercâmbio genético de populações de espécies selvagens entre as
diferentes áreas nucleares de conservação, contribuindo para uma adequada proteção
dos recursos naturais e para a promoção da continuidade espacial, da coerência
ecológica das áreas classificadas e da conectividade das componentes da biodiversidade
em todo o território, bem como para uma adequada integração e desenvolvimento das
atividades humanas.
Artigo 6.º
Ações de conservação ativa e de suporte

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A conservação da natureza e da biodiversidade compreende o exercício:
a) De ações de conservação ativa, que correspondem ao conjunto de medidas e ações de
intervenção dirigidas ao maneio direto de espécies, habitats, ecossistemas e geossítios,
bem como o conjunto de medidas e ações de intervenção associadas a atividades
socioeconómicas, tais como a silvicultura, a mineração, a agricultura, a pecuária, a caça
ou a pesca, com implicações significativas no maneio de espécies, habitats,
ecossistemas e geossítios, tendo em vista a sua manutenção ou recuperação para um
estado favorável de conservação;
b) De ações de suporte, que correspondem à regulamentação, ordenamento,
monitorização, acompanhamento, cadastro, fiscalização, apoio às ações de conservação
ativa, visitação, comunicação e vigilância dos valores naturais classificados.
Artigo 7.º
Comissão de Coordenação Interministerial
Compete à Comissão de Coordenação Interministerial (CCI), criada pela Resolução do
Conselho de Ministros n.º 41/99, de 17 de maio, a integração da política de conservação
da natureza e do princípio da utilização sustentável da biodiversidade nas diferentes
políticas sectoriais, bem como o acompanhamento e avaliação da execução da
Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e da Biodiversidade.
Artigo 8.º
Autoridades para a conservação da natureza e da biodiversidade
Sem prejuízo das competências próprias de outras entidades públicas que concorrem
para a conservação da natureza e da biodiversidade, cabe:
a) Ao Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, I. P., exercer as
funções de autoridade nacional para a conservação da natureza e da biodiversidade,
abreviadamente designada por autoridade nacional, competindo-lhe promover a nível
nacional a conservação da natureza e da biodiversidade e garantir, nos moldes previstos
nos capítulos seguintes e na respetiva lei orgânica, a consecução dos objetivos do
presente decreto-lei;
b) Às comissões de coordenação e desenvolvimento regional executar, avaliar e
fiscalizar, ao nível regional, a política de conservação da natureza e da biodiversidade
em articulação com a autoridade nacional;
c) Às associações de municípios e aos municípios gerir as áreas protegidas de âmbito
regional ou local, respetivamente, e participar na gestão das áreas protegidas de âmbito
nacional, designadamente por via da integração nos respetivos conselhos estratégicos.

CAPÍTULO II
Sistema Nacional de Áreas Classificadas
Artigo 9.º
Âmbito do Sistema Nacional de Áreas Classificadas
1 - O Sistema Nacional de Áreas Classificadas, abreviadamente designado por SNAC, é
constituído pela Rede Nacional de Áreas Protegidas, pelas áreas classificadas integradas
na Rede Natura 2000 e pelas demais áreas classificadas ao abrigo de compromissos

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internacionais assumidos pelo Estado Português.
2 - Sem prejuízo da existência dos programas e planos territoriais previstos na lei,
podem ser adotados planos de gestão para áreas classificadas ou planos específicos de
ação para a conservação e recuperação de espécies e habitats no âmbito do SNAC.
Artigo 9.º-A
Marcas associadas ao Sistema Nacional de Áreas Classificadas e sinalização
1 - Nas áreas que integram o SNAC, a autoridade nacional deve definir uma abordagem
integrada assente na promoção das potencialidades dos territórios e no desenvolvimento
local sustentável, designadamente através da criação de marcas comerciais registadas e
de uma imagem identitária.
2 - A gestão da marca Natural.PT é definida por regulamento administrativo aprovado
pela autoridade nacional.
3 - A sinalização para efeitos de identificação e informação relativa às áreas
classificadas dentro dos seus limites territoriais consta de modelos próprios, a aprovar
por portaria do membro do Governo responsável pela área da conservação da natureza.

SECÇÃO I
Rede Nacional de Áreas Protegidas
Secção I
Rede Nacional de Áreas Protegidas

Artigo 10.º
Constituição

1 - A Rede Nacional de Áreas Protegidas, abreviadamente designada por RNAP, é


constituída pelas áreas protegidas classificadas ao abrigo do disposto no presente
decreto-lei e dos respectivos diplomas regionais de classificação.
2 - Devem ser classificadas como áreas protegidas as áreas terrestres e aquáticas
interiores e as áreas marinhas em que a biodiversidade ou outras ocorrências naturais
apresentem, pela sua raridade, valor científico, ecológico, social ou cénico, uma
relevância especial que exija medidas específicas de conservação e gestão, em ordem a
promover a gestão racional dos recursos naturais e a valorização do património natural e
cultural, regulamentando as intervenções artificiais susceptíveis de as degradar.
3 - A classificação de áreas protegidas pode abranger o domínio público e o domínio
privado do Estado, a zona económica exclusiva e, em geral, quaisquer bens imóveis.
4 - As áreas protegidas delimitadas exclusivamente em águas marítimas sob jurisdição
nacional e as áreas de «reservas marinhas» e «parques marinhos» demarcadas nas áreas
protegidas constituem a rede nacional de áreas protegidas marinhas.

Nota 1: Os bens que integram o domínio público podem pertencer ao Estado, às regiões autónomas ou às
autarquias locais (domínio público estadual, domínio público regional e domínio público autárquico). Só
os entes públicos de população e território (ou “de base territorial”) são titulares de bens do domínio
público. Certos bens integram necessariamente, pela sua ligação à soberania do Estado, o domínio público
do Estado, como é o caso do domínio público marítimo e domínio público aéreo. No entanto, os entes
públicos também são titulares de bens do domínio privado, integrem estes o património financeiro
(património privado disponível) ou o património administrativo (património privado indisponível).

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Os bens do património financeiro ou bens do património privado disponível estão sujeitos ao regime
jurídico-privado.

Nota 2: O património do Estado é constituído pelos bens do seu domínio público e privado, e ainda pelos
direitos e obrigações com conteúdo económico de que o Estado é titular. Integram o domínio público do
Estado os seguintes bens: “a) águas territoriais com os seus leitos, as águas marítimas interiores com os
seus leitos e margens e a plataforma continental; b) lagos, lagoas e cursos de água navegáveis ou flutuáveis
com os respetivos leitos e margens e, bem assim, os que por lei forem reconhecidos como aproveitáveis
para produção de energia elétrica ou para irrigação; c) barragens de utilidade pública, portos artificiais,
docas, aeroportos, aeródromos de interesse público e outros bens do domínio público hídrico; d) camadas
aéreas, jazigos minerais e petrolíferos, nascentes de águas mineromedicinais, recursos geotérmicos, e outras
riquezas naturais do subsolo, com exclusão dos minerais utilizados na construção; e) linhas férreas de
interesse público, autoestradas, estradas nacionais e acessórios, e obras de arte; f) obras e instalações
militares e zonas territoriais adstritas à defesa militar; g) navios da armada, aeronaves militares, carros de
combate e outro equipamento militar de natureza e durabilidade equivalente; h) linhas telefónicas, cabos
submarinos, obras, canalizações e redes de distribuição pública de energia elétrica; i) palácios,
monumentos, museus, bibliotecas, arquivos e teatros nacionais, e palácios escolhidos pelo Chefe de Estado,
para a Presidência, para sua residência e das pessoas da sua família; j) direitos públicos sobre imóveis
privados classificados ou de uso e fruição sobre quaisquer bens privados; k) servidões administrativas,
restrições de utilidade pública ao direito de propriedade; l) outros bens do Estado sujeitos por lei ao regime
de direito público” (art.º 4.º do D.L. 477/80, de 15 de outubro). Diferentemente, integram o domínio
privado do Estado bens como: a) imóveis: prédios rústicos e urbanos e direitos a eles inerentes; b) direitos
de arrendamento dos quais ocupe a posição de arrendatário; c) direitos reais; d) bens móveis corpóreos
(com exceção das coisas consumíveis e daquelas que, sem se destruírem imediatamente, se depreciam muito
rapidamente). Estes bens são suscetíveis de comércio privado (cf. art.º 1304º do Código Civil), mas nem
todos eles são comerciáveis, pelo que há que distinguir entre bens do domínio privado disponível e bens do
domínio privado indisponível (art.º 5.º do D.L. 477/80, de 15 de outubro).

Artigo 11.º
Categorias e tipologias de áreas protegidas

1 - As áreas protegidas podem ter âmbito nacional, regional ou local, consoante os


interesses que procuram salvaguardar.
2 - Sem prejuízo do disposto no n.º 6, as áreas protegidas classificam-se nas seguintes
tipologias:
a) Parque nacional;
b) Parque natural;
c) Reserva natural;
d) Paisagem protegida;
e) Monumento natural.
3 - As áreas protegidas de âmbito nacional podem adoptar qualquer das tipologias
referidas no número anterior.
4 - Com excepção da tipologia «parque nacional», as áreas protegidas de âmbito
regional ou local podem adoptar qualquer das tipologias referidas no n.º 2, devendo as
mesmas serem acompanhadas da designação «regional» ou «local», consoante o caso.
5 - Sempre que uma área protegida, qualquer que seja a sua tipologia, seja delimitada
exclusivamente em águas marítimas sob jurisdição nacional, deve ser acrescentado à
tipologia usada a expressão «marinha».
6 - Podem ainda ser classificadas áreas protegidas de estatuto privado, designadas
«áreas protegidas privadas», nos termos previstos no artigo 21.º

Artigo 12.º
Objectivos da classificação

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A classificação de uma área protegida visa conceder-lhe um estatuto legal de protecção
adequado à manutenção da biodiversidade e dos serviços dos ecossistemas e do
património geológico, bem como à valorização da paisagem.

Artigo 13.º
Gestão das áreas protegidas

1 - A gestão das áreas protegidas de âmbito nacional compete à autoridade nacional.


2 - A gestão das áreas marinhas protegidas no solo e subsolo marinho e na coluna e
superfície de água para além do mar territorial compete à Direção-Geral de Recursos
Naturais, Segurança e Serviços Marítimos, em articulação com a autoridade nacional.
3 - A gestão das áreas protegidas de âmbito regional ou local compete às
comunidades intermunicipais, às associações de municípios ou aos respetivos
municípios.
4 - As tarefas de gestão das áreas protegidas de âmbito nacional, regional ou local, ou
suas partes, bem como o exercício de acções de conservação activa ou de suporte,
podem ser contratualizadas com entidades públicas ou privadas.
5 - Os bens imóveis do domínio público ou privado do Estado situados nas áreas
protegidas de âmbito nacional e com relevância para a prossecução dos fins destas
podem ser geridos pela autoridade nacional mediante cedência de utilização, a realizar
nos termos previstos no Decreto-Lei n.º 280/2007, de 7 de Agosto.
6 - Os bens imóveis que integram o património próprio da autoridade nacional, bem
como os bens que integram o domínio privado do Estado situados nas áreas protegidas
de âmbito nacional que não estejam afetos à prestação de serviço público, podem ser
objeto de transmissão, cedência de utilização ou exploração onerosas e arrendamento a
terceiros, nos termos do Decreto-Lei n.º 280/2007, de 7 de agosto.
7 - Tendo em conta o reforço dos objectivos de classificação de determinada área
protegida de âmbito nacional, regional ou local, podem ser celebrados, sempre que
adequado, acordos ou convenções internacionais de gestão transfronteiriça das áreas
terrestres ou marinhas por ela abrangidas.

Artigo 14.º
Classificação de áreas protegidas de âmbito nacional

1 - A classificação de áreas protegidas de âmbito nacional pode ser proposta pela


autoridade nacional ou por quaisquer entidades públicas ou privadas, designadamente
autarquias locais e associações de defesa do ambiente, devendo a respectiva proposta
ser acompanhada dos seguintes elementos:
a) Caracterização da área sob os aspectos geológicos, geográficos, biofísicos,
paisagísticos e sócio-económicos;
b) Justificação da necessidade de classificação da área protegida, que inclui
obrigatoriamente uma avaliação científica qualitativa e quantitativa do património
natural existente e as razões que impõem a sua conservação e protecção;
c) Tipologia de área protegida considerada mais adequada aos objectivos de
conservação visados.
2 - As propostas de classificação efetuadas por quaisquer entidades públicas ou privadas
nos termos do número anterior são apresentadas à autoridade nacional, que procede à
sua apreciação técnica e, em caso de concordância, propõe ao membro do Governo
responsável pela área da conservação da natureza a respetiva classificação como área
protegida de âmbito nacional.

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3 - Sem prejuízo do disposto no número seguinte, a classificação é feita por resolução
de Conselho de Ministros, que define:
a) O tipo e delimitação geográfica da área e seus objectivos específicos;
b) [Revogada];
c) Os recursos financeiros, materiais e humanos mínimos para a gestão da área
protegida;
d) As ações, atos e atividades interditas ou condicionadas a autorização da autoridade
nacional, suscetíveis de prejudicar a biodiversidade, o património geológico ou outras
características da área protegida.
4 - Quando seja obrigatória a elaboração de programa especial nos termos do presente
decreto-lei, a resolução do Conselho de Ministros a que se refere o número anterior
pode suspender os planos territoriais de âmbito intermunicipal e municipal abrangidos
pela área protegida e estabelecer medidas preventivas para evitar a alteração das
circunstâncias.
5 - À suspensão dos planos territoriais de âmbito intermunicipal e municipal e à
aplicação de medidas preventivas referidas no número anterior é aplicável o regime
jurídico dos instrumentos de gestão territorial.
6 - A classificação é obrigatoriamente precedida de um período de discussão pública
visando a recolha de observações e sugestões sobre a classificação da área protegida,
devendo, durante o mesmo período, ser também promovida a audição das autarquias
locais envolvidas.
7 - A abertura do período de discussão pública é feita através de aviso a publicar no
Diário da República e a divulgar através da comunicação social e da página da Internet
da autoridade nacional, do qual consta a indicação do período da discussão e dos locais
onde se encontra disponível a proposta final de classificação e a forma como os
interessados devem apresentar as suas observações ou sugestões.
8 - O período de discussão pública deve ser anunciado com a antecedência mínima de
10 dias e não pode ser inferior a 20 nem superior a 30 dias.
9 - O decurso do prazo de suspensão dos planos territoriais de âmbito intermunicipal ou
municipal e de aplicação de medidas preventivas não determina a caducidade da
classificação da área protegida.

Artigo 15.º
Classificação de áreas protegidas de âmbito regional ou local

1 - As comunidades intermunicipais, as associações de municípios e os municípios


podem classificar áreas protegidas de âmbito regional ou local, nos termos previstos nos
números seguintes.
2 - Com observância do disposto no n.º 4 do artigo 11.º, a classificação de áreas
protegidas de âmbito regional ou local é determinada pelos órgãos deliberativos das
entidades intermunicipais, das associações de municípios ou dos municípios.
3 - É aplicável ao procedimento de classificação de áreas protegidas de âmbito regional
ou local o disposto nas alíneas a) e c) do n.º 3 e nos n.º s 6 a 8 do artigo anterior, com as
devidas adaptações.
4 - Concluída a discussão pública e aprovada a classificação da área protegida de âmbito
regional ou local, a mesma é publicada em 2.ª série do Diário da República, mediante
aviso e objeto de publicitação nos boletins municipais e na página na Internet das
entidades responsáveis pela gestão da área protegida.
5 - A deliberação que aprova a classificação da área protegida de âmbito regional e local
é submetida a parecer da autoridade nacional, para efeitos da sua integração na RNAP.

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6 - Os objetivos específicos da criação da área protegida de âmbito regional ou local, a
competência e a composição dos órgãos de gestão, os meios financeiros, materiais e
humanos para a gestão da área, os atos e atividades interditos e condicionados, as
normas de fiscalização e o regime contraordenacional são estabelecidos por
regulamento de gestão.
7 - O modelo de gestão das áreas protegidas de âmbito regional e local é definido no
respetivo regulamento de gestão, tendo presentes as orientações gerais a estabelecer pela
autoridade nacional da conservação da natureza e biodiversidade.
8 - Na elaboração do regulamento de gestão previsto no número anterior, as entidades
intermunicipais, as associações de municípios ou os municípios devem promover a
participação da autoridade nacional, das entidades públicas competentes, por forma
garantir a articulação e coerência da proposta com os objetivos, princípios e regras
aplicáveis ao território em causa, definidos por lei especial ou por quaisquer outros
programas e planos territoriais, assim como das associações representativas dos
interesses ambientais, económicos, sociais e culturais envolvidos.
9 - Os planos territoriais de âmbito intermunicipal ou municipal devem consagrar os
regimes adequados de proteção da área protegida de âmbito regional e local e
estabelecer as ações permitidas, condicionadas ou interditas com incidência urbanística.
10 - A autoridade nacional avalia periodicamente a manutenção dos pressupostos
subjacentes à classificação, designadamente ao nível da adequação da tipologia adotada
e dos regimes de proteção constante dos planos territoriais de âmbito intermunicipal e
municipal, aplicáveis na área em causa.
11 - A avaliação prevista no número anterior determina a integração ou a exclusão das
áreas protegidas de âmbito regional ou local na RNAP.

Artigo 16.º
Parque nacional

1 - Entende-se por «parque nacional» uma área que contenha maioritariamente


amostras representativas de regiões naturais características, de paisagens naturais
e humanizadas, de elementos de biodiversidade e de geossítios, com valor
científico, ecológico ou educativo.
2 - A classificação de um parque nacional visa a protecção dos valores naturais
existentes, conservando a integridade dos ecossistemas, tanto ao nível dos elementos
constituintes como dos inerentes processos ecológicos, e a adopção de medidas
compatíveis com os objectivos da sua classificação, designadamente:
a) A execução das acções necessárias para a manutenção e recuperação das espécies,
dos habitats e dos geossítios em estado de conservação favorável;
b) O estabelecimento de um regime de visitação que garanta objectivos culturais,
educativos e recreativos;
c) A regulamentação das atividades permitidas, condicionadas ou proibidas,
considerando as necessidades das populações locais num quadro de uso sustentável dos
recursos naturais;
d) A promoção de actividades que constituam vias alternativas de desenvolvimento
local sustentável e que não constituam uma ameaça para os valores naturais e funções
do ecossistema a conservar.

Artigo 17.º
Parque natural

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1 - Entende-se por «parque natural» uma área que contenha predominantemente
ecossistemas naturais ou seminaturais, onde a preservação da biodiversidade a longo
prazo possa depender de actividade humana, assegurando um fluxo sustentável de
produtos naturais e de serviços.
2 - A classificação de um parque natural visa a protecção dos valores naturais
existentes, contribuindo para o desenvolvimento regional e nacional, e a adopção de
medidas compatíveis com os objectivos da sua classificação, designadamente:
a) A promoção de práticas de maneio que assegurem a conservação dos elementos da
biodiversidade;
b) A criação de oportunidades para a promoção de actividades de recreio e lazer, que no
seu carácter e magnitude estejam em consonância com a manutenção dos atributos e
qualidades da área;
c) A promoção de actividades que constituam vias alternativas de desenvolvimento
local sustentável.

Artigo 18.º
Reserva natural

1 - Entende-se por reserva natural uma área que contenha características ecológicas,
geológicas e fisiográficas, ou outro tipo de atributos com valor científico, ecológico ou
educativo, e que não se encontre habitada de forma permanente ou significativa.
2 - A classificação de uma reserva natural visa a protecção dos valores naturais
existentes, assegurando que as gerações futuras terão oportunidade de desfrutar e
compreender o valor das zonas que permaneceram pouco alteradas pela actividade
humana durante um prolongado período de tempo, e a adopção de medidas compatíveis
com os objectivos da sua classificação, designadamente:
a) A execução das acções necessárias para a manutenção e recuperação das espécies,
dos habitats e dos geossítios em estado de conservação favorável;
b) O condicionamento da visitação a um regime que garanta níveis mínimos de
perturbação do ambiente natural;
c) A limitação da utilização dos recursos, assegurando a manutenção dos atributos e das
qualidades naturais essenciais da área objecto de classificação.

Artigo 19.º
Paisagem protegida

1 - Entende-se por «paisagem protegida» uma área que contenha paisagens


resultantes da interacção harmoniosa do ser humano e da natureza, e que
evidenciem grande valor estético, ecológico ou cultural.
2 - A classificação de uma paisagem protegida visa a protecção dos valores naturais e
culturais existentes, realçando a identidade local, e a adopção de medidas compatíveis
com os objectivos da sua classificação, designadamente:
a) A conservação dos elementos da biodiversidade num contexto da valorização da
paisagem;
b) A manutenção ou recuperação dos padrões da paisagem e dos processos ecológicos
que lhe estão subjacentes, promovendo as práticas tradicionais de uso do solo, os
métodos de construção e as manifestações sociais e culturais;
c) O fomento das iniciativas que beneficiem a geração de benefícios para as
comunidades locais, a partir de produtos ou da prestação de serviços.

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Artigo 20.º
Monumento natural

1 - Entende-se por monumento natural uma ocorrência natural contendo um ou


mais aspectos que, pela sua singularidade, raridade ou representatividade em
termos ecológicos, estéticos, científicos e culturais, exigem a sua conservação e a
manutenção da sua integridade.
2 - A classificação de um monumento natural visa a protecção dos valores naturais,
nomeadamente ocorrências notáveis do património geológico, na integridade das suas
características e nas zonas imediatamente circundantes, e a adopção de medidas
compatíveis com os objectivos da sua classificação, designadamente:
a) A limitação ou impedimento das formas de exploração ou ocupação susceptíveis de
alterar as suas características;
b) A criação de oportunidades para a investigação, educação e apreciação pública.

Artigo 21.º
Áreas protegidas de estatuto privado

1 -Visando os objectivos previstos no artigo 12.º, pode ser atribuída a designação de


'área protegida privada' a terrenos privados não incluídos em áreas protegidas.
2 - A designação é feita a pedido do respectivo proprietário, mediante um processo
especial de candidatura e reconhecimento pela autoridade nacional a regular por portaria
do membro do Governo responsável pela área do ambiente.
3 - Os terrenos a que for atribuída a designação de «área protegida privada» integram
a RNAP e ficam sujeitos ao protocolo de gestão que for acordado com a autoridade
nacional na sequência do seu reconhecimento.
4 - O reconhecimento previsto no presente artigo não confere ao respectivo proprietário
quaisquer direitos ou prerrogativas especiais de autoridade nem condiciona a aplicação
dos instrumentos de gestão territorial existentes, mantendo-se apenas enquanto se
mantiverem os valores e objectivos de conservação da natureza e da biodiversidade que
justificaram a sua concessão.
5 - O acto de atribuição da designação de «área protegida privada» pode interditar ou
condicionar a autorização da autoridade nacional, no interior da área protegida, as
acções, actos e actividades de iniciativa particular susceptíveis de prejudicar a
biodiversidade, o património geológico ou outras características da área protegida, salvo
tratando-se de uma acção de interesse público ou de um empreendimento com
relevante interesse geral, como tal reconhecido por despacho conjunto dos membros
do Governo responsáveis pela área do ambiente e em razão da matéria.

Artigo 22.º
Delimitações especiais

1 - Nos actos de classificação de áreas protegidas podem ser demarcadas:


a) Zonas de protecção integral, denominadas reservas integrais, com o objectivo de
manter os processos naturais num estado dinâmico e evolutivo, sem o desenvolvimento
de actividades humanas regulares e em que a investigação científica, a monitorização
ambiental ou a visitação carecem de autorização prévia da autoridade nacional;
b) Zonas de protecção dirigida, denominadas microreservas, quando esteja em causa a
conservação de uma pequena área isolada de ocupação de uma espécie, ou grupo de
espécies, ou de um habitat, ou grupo de habitats, muito raros ou ameaçados, com o

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objectivo de desenvolver as acções de conservação adequadas à manutenção ou
recuperação do seu estado de conservação favorável, designadamente programas de
gestão próprios.
2 - A delimitação das zonas previstas no número anterior e as normas que regulamentam
os respetivos regimes de salvaguarda que condicionem a ocupação, o uso e a
transformação do solo são integradas nos planos territoriais de âmbito intermunicipal e
municipal abrangidos.
3 - Uma vez demarcadas as reservas integrais previstas na alínea a) do n.º 1, ficam as
áreas em causa sujeitas a expropriação nos termos da lei.
4 - Nas áreas protegidas que abranjam meio marinho até ao limite do mar territorial
podem ainda ser delimitadas, nos programas especiais e nos instrumentos de
ordenamento do espaço marítimo nacional, áreas denominadas reservas marinhas ou
parques marinhos, com os seguintes objetivos:
a) Nas reservas marinhas, a adopção de medidas dirigidas para a protecção das
comunidades e dos habitats marinhos sensíveis, de forma a assegurar a biodiversidade
marinha;
b) Nos parques marinhos, a adopção de medidas que visem a protecção, valorização e
uso sustentado dos recursos marinhos, através da integração harmoniosa das actividades
humanas.

Artigo 23.º
Programas especiais das áreas protegidas

1 - Os parques nacionais, os parques naturais de âmbito nacional e as reservas


naturais e paisagens protegidas de âmbito nacional dispõem obrigatoriamente de
um programa especial.
2 - Aos programas especiais das áreas protegidas é aplicável o disposto no regime
jurídico dos instrumentos de gestão territorial, em articulação com o regime jurídico que
desenvolve as bases da política de ordenamento do espaço marítimo nacional,
competindo a respetiva elaboração, execução e avaliação à autoridade nacional.
3 - Os programas especiais das áreas protegidas estabelecem, em função da salvaguarda
dos recursos e valores naturais, as ações permitidas, as ações condicionadas ao
cumprimento de determinados parâmetros e condições neles estabelecidas e as ações
proibidas.
4 - As normas dos programas especiais de áreas protegidas que, em função da sua
incidência territorial urbanística, condicionem a ocupação, o uso e a transformação do
solo são obrigatoriamente integradas nos planos territoriais de âmbito intermunicipal e
municipais abrangidos.
5 - As normas dos programas especiais relativas aos regimes de salvaguarda de recursos
e valores naturais das áreas marinhas protegidas e dos volumes relevantes para a
conservação da natureza e da biodiversidade são integradas nas normas de execução dos
instrumentos de ordenamento do espaço marítimo nacional.
6 - A integração das normas dos programas especiais prevista no número anterior deve
atender ao disposto no n.º 3 do artigo 25.º do Decreto-Lei n.º 80/2015, de 14 de maio.
7 - As normas dos programas especiais que constituam normas de gestão das áreas
protegidas podem ser desenvolvidas em regulamento administrativo, designado por
regulamento de gestão das áreas protegidas, nos termos definidos no programa especial.
8 - O regulamento de gestão da área protegida contém normas jurídicas gerais e
abstratas que, no exercício de poderes jurídico-administrativos, visam produzir efeitos

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jurídicos externos, aplicando-se-lhe, nomeadamente, o regime previsto no Código do
Procedimento Administrativo.

Artigo 23.º-A
Áreas sujeitas a regimes de proteção

1 - O regime de proteção de cada área protegida é definido de acordo com a importância


dos valores e recursos naturais presentes e a respetiva sensibilidade ecológica, podendo
ser delimitadas na planta de síntese do programa especial:
a) Áreas de proteção total - as quais correspondem a espaços onde os valores naturais
e paisagísticos assumem um caráter de excecionalidade do ponto de vista da
conservação da natureza e da biodiversidade e que se caracterizam pela elevada
sensibilidade ecológica, destinando-se a garantir a manutenção ou recuperação do
estado de conservação dos valores naturais em presença e a integridade dos processos
ecológicos que lhes estão associados, com o mínimo de perturbação humana;
b) Áreas de proteção parcial - as quais correspondem a espaços que contêm valores
naturais e paisagísticos que se assumem, no seu conjunto, como relevantes para a
garantia da biodiversidade e manutenção do estado de conservação favorável de habitats
naturais e de espécies da fauna e da flora, onde as atividades humanas e os usos do solo
devem estar particularmente adaptados aos objetivos de conservação, promovendo os
valores naturais em presença;
c) Áreas de proteção complementar - as quais correspondem a espaços que
estabelecem o enquadramento, a transição ou o amortecimento de impactes que afetam
de forma negativa as áreas sujeitas a níveis de proteção total e proteção parcial e que
incluem elementos naturais e paisagísticos com um elevado potencial de valorização
mediante o desenvolvimento de ações de gestão que promovam o uso sustentável dos
recursos e o desenvolvimento socioeconómico local e a compatibilização da intervenção
humana com os valores naturais e paisagísticos, incentivando a fixação das populações
e a melhoria da qualidade de vida.
2 - Podem ainda ser delimitadas áreas de intervenção específica, para as quais,
independentemente dos níveis de proteção aplicáveis, é previsto o desenvolvimento de
um plano, programa ou projetos de intervenção específica.
3 - A delimitação dos regimes de proteção previstos nos números anteriores deve fazer-
se tendo em conta as construções existentes e direitos juridicamente consolidados, sem
prejuízo do dever de indemnização sempre que tal não seja possível.

Artigo 23.º-B
Atividades condicionadas

1 - Os programas especiais das áreas protegidas podem sujeitar a execução de


determinadas ações, atos ou atividades a parecer prévio vinculativo ou autorização da
autoridade nacional.
2 - Salvo nos casos expressamente previstos nos programas especiais, o parecer da
autoridade nacional não incide sobre o uso, a ocupação e a transformação do solo em
matéria urbanística.
3 - O prazo para a emissão de autorizações e pareceres pela autoridade nacional, no
âmbito da aplicação dos programas especiais, é de 30 dias, sem prejuízo do disposto no
regime jurídico da urbanização e edificação.
4 - A ausência de autorização ou parecer no prazo fixado nos termos do número anterior
equivale à emissão de autorização ou parecer favorável.

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5 - Quando a pretensão em causa esteja sujeita a procedimento de avaliação de impacte
ambiental ou de avaliação de incidências ambientais em fase de projeto de execução, a
pronúncia favorável expressa ou tácita da autoridade nacional no âmbito desses
procedimentos dispensa a necessidade de obtenção de autorização ou parecer previstos
neste artigo.
6 - Os pareceres ou autorizações da autoridade nacional caducam no prazo de dois anos,
salvo quando integrados em procedimentos no âmbito dos regimes de controlo prévio
de operações urbanísticas ou de regulamentação do exercício de atividades, caso em que
prevalecem os prazos neles previstos.
7 - Quando sejam previsíveis impactes sobre o património natural, o programa especial
das áreas protegidas pode fazer depender a prática de determinadas ações ou projetos de
análise de incidências ambientais.
8 - Os programas especiais das áreas protegidas podem estabelecer que determinadas
atividades, ações ou projetos por eles, em geral, não admitidos, possam ser autorizados
pela autoridade nacional, devendo estabelecer expressamente os condicionalismos em
que tal se pode verificar.
9 - A autorização a que se refere o número anterior está sempre condicionada à ausência
de impactes negativos significativos em matéria de proteção e salvaguarda de recursos
naturais.

Artigo 24.º
Sinalização
[Revogado]

SECÇÃO II
Rede Natura 2000
Artigo 25.º
Âmbito
1 - A Rede Natura 2000 é uma rede ecológica de âmbito europeu resultante da aplicação
da Diretiva n.º 79/409/CEE, do Conselho, de 2 de abril (Diretiva Aves), alterada pelas
Diretivas n.º s 91/244/CEE, da Comissão, de 6 de março, 94/24/CE, do Conselho, de 8
de junho, e 97/49/CE, da Comissão, de 29 de junho, bem como da Diretiva n.º
92/43/CEE, do Conselho, de 21 de maio (Diretiva Habitats), com as alterações que lhe
foram introduzidas pela Diretiva n.º 97/62/CE, do Conselho, de 27 de outubro.
2 - A Rede Natura 2000 compreende as áreas classificadas como zona especial de
conservação (ZEC) e as áreas classificadas como zona de proteção especial (ZPE),
constando o respetivo regime de diploma próprio.
SECÇÃO III
Outras áreas classificadas
Artigo 26.º
Áreas protegidas transfronteiriças
1 - Por via da celebração de acordos ou convenções internacionais com outros Estados,
podem ser classificados espaços naturais protegidos de caráter transfronteiriço,
designados «áreas protegidas transfronteiriças».

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2 - A classificação das «áreas protegidas transfronteiriças» incide sobre áreas terrestres
ou marinhas dedicadas particularmente à proteção e à manutenção da biodiversidade e
dos recursos naturais e culturais associados a estas, que estejam integradas, pelo menos,
por uma área protegida estabelecida em conformidade com o presente decreto-lei e por
uma área natural adjacente, situada em território não nacional ou nas águas marítimas de
um Estado que partilhe uma fronteira terrestre ou marítima com Portugal e aí sujeita a
um regime jurídico especial para a conservação da natureza e da biodiversidade.
Artigo 27.º
Áreas abrangidas por designações de conservação de caráter supranacional
1 - Tendo por objetivo o reforço da proteção e a manutenção da biodiversidade e dos
recursos naturais e culturais associados, podem ficar abrangidas por designações de
conservação de caráter supranacional, em particular as estabelecidas por convenções ou
acordos internacionais de que Portugal seja parte, áreas delimitadas no território
nacional ou nas águas marítimas sujeitas a jurisdição nacional, coincidentes com áreas
protegidas integradas na RNAP ou com áreas que integrem a Rede Natura 2000, cujos
valores naturais sejam reconhecidos como de relevância supranacional.
2 - São consideradas áreas classificadas por instrumentos jurídicos internacionais
de conservação da natureza e da biodiversidade de que Portugal seja parte todas as
áreas que obtenham tal reconhecimento nos termos previstos no instrumento jurídico
internacional aplicável em função das suas características, designadamente ao abrigo:
a) Do Programa ManBiosphere, da Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), lançado em 1970;
b) Da Convenção sobre Zonas Húmidas de Importância Internacional
Especialmente como «Habitat» de Aves Aquáticas (Convenção de Ramsar), adotada
em Ramsar em 2 de fevereiro de 1971;
c) Da Convenção Relativa à Proteção do Património Mundial, Cultural e Natural,
adotada em Paris em 16 de novembro de 1972, na parte relativa aos valores naturais;
d) Das Resoluções do Comité de Ministros n.º s (76) 17 - Reservas Biogenéticas do
Conselho da Europa - e (98) 29 - Áreas Diplomadas do Conselho da Europa;
e) Da Convenção para a Proteção do Meio Marinho do Atlântico Nordeste
(Convenção OSPAR), adotada em Paris em 22 de setembro de 1992;
f) Da Decisão do Conselho Executivo da UNESCO (161 EX/Decisions, 3.3.1), adotada
em Paris em 2001, relativa aos geossítios e geoparques.
3 - Quando as áreas previstas no presente artigo coincidam com áreas protegidas de
âmbito nacional, regional ou local, é-lhes aplicável o regime constante dos respetivos
atos de classificação ou programas especiais de áreas protegidas, quando existentes.
CAPÍTULO III
Organização da informação sobre o património natural e os
valores naturais classificados
Artigo 28.º
Sistema de Informação sobre o Património Natural
1 - O Sistema de Informação sobre o Património Natural, abreviadamente designado por
SIPNAT, é constituído pelo inventário da biodiversidade e do património geológico

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presentes no território nacional e nas águas sob jurisdição nacional.
2 - Compete à autoridade nacional, em articulação com outros organismos do Estado e
com as entidades competentes das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira,
promover o desenvolvimento do SIPNAT, validar a informação nele constante e
assegurar a sua gestão e divulgação ao público.
Artigo 29.º
Cadastro Nacional dos Valores Naturais Classificados
1 - O Cadastro Nacional dos Valores Naturais Classificados, adiante designado por
Cadastro, é um arquivo de informação sobre os valores naturais classificados e as
espécies vegetais ou animais a que seja atribuída uma categoria de ameaça pela
autoridade nacional de acordo com critérios internacionais definidos pela The World
Conservation (IUCN).
2 - O Cadastro, a aprovar por decreto regulamentar, sob proposta da autoridade
nacional, contém informação sobre:
a) Os territórios definidos no continente e nas Regiões Autónomas e as áreas
demarcadas nas águas sob jurisdição nacional, com interesse internacional, nacional,
regional ou local, cartografadas a uma escala adequada à sua gestão;
b) Os ecossistemas, habitats, espécies e geossítios, identificados de acordo com os
seguintes parâmetros, quando aplicáveis:
i) Descrição e distribuição geográfica;
ii) Razões que lhe conferem um reconhecimento internacional, nacional, regional ou
local;
iii) Estado de conservação;
iv) Ameaças à sua conservação e, se atribuído, o respetivo estatuto de ameaça;
v) Medidas de conservação já adotadas;
vi) Objetivos e níveis de proteção a assegurar;
vii) Medidas de conservação e orientações de gestão a adotar.
3 - A informação relativa aos territórios das Regiões Autónomas referidos na alínea a)
do número anterior é prestada à autoridade nacional pelas entidades competentes das
Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.
4 - O Cadastro é atualizado, por inclusão ou exclusão, a cada quatro anos e sempre que
tal se justificar por imperativos de conservação da natureza e da biodiversidade,
devendo a respetiva proposta de atualização ser objeto de consulta pública, a promover
pela autoridade nacional.
5 - Na elaboração da proposta de atualização a autoridade nacional deve ter em conta as
propostas apresentadas por qualquer entidade pública ou privada ou pessoa singular,
desde que devidamente fundamentadas em informação científica.

CAPÍTULO IV
Conservação de espécies e habitats

SECÇÃO I
Conservação in situ

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Artigo 30.º
Regimes de iniciativa nacional
Constam de diplomas próprios decorrentes de iniciativa nacional, sem prejuízo de
outros, os regimes de exploração e gestão dos recursos cinegéticos, pesqueiros,
aquícolas das águas interiores, de conservação e proteção do lobo ibérico, dos
mamíferos marinhos na zona costeira e zona económica exclusiva continental
portuguesa, dos animais selvagens, necrófagos e predadores, do azevinho espontâneo,
do sobreiro e da azinheira e da introdução na natureza e detenção de espécies não
indígenas da flora e da fauna.

Artigo 31.º
Regimes decorrentes de instrumentos jurídicos internacionais
1 - Decorrentes de instrumentos jurídicos internacionais, constam igualmente de
diplomas próprios:
a) O regime do comércio internacional de espécies da fauna e da flora selvagens
ameaçadas de extinção, no âmbito da Convenção sobre o Comércio Internacional das
Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção, adotada em
Washington em 3 de março de 1973, complementado pelo disposto nos regulamentos
comunitários aplicáveis;
b) O regime de proteção de espécies inscritas no âmbito da Convenção Relativa à
Conservação da Vida Selvagem e dos Habitats Naturais da Europa (Convenção de
Berna), adotada em Berna em 19 de setembro de 1979.
2 - Para além dos diplomas referidos no artigo e número anteriores, assume ainda
particular relevância para a conservação e proteção de espécies a participação de
Portugal nos instrumentos jurídicos internacionais referidos no n.º 2 do artigo 27.º e nos
seguidamente identificados, sem prejuízo de outros:
a) Convenção sobre a Conservação das Espécies Migradoras Pertencentes à Fauna
Selvagem (Convenção de Bona), adotada em Bona em 23 de junho de 1979;
b) Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica, adotada no Rio de
Janeiro em 5 de junho de 1992.

Artigo 32.º
Proteção de espécies e habitats ao abrigo de legislação comunitária
Sem prejuízo do disposto nos artigos anteriores, o regime de proteção de espécies
selvagens e de habitats naturais e seminaturais ao abrigo de legislação comunitária,
designadamente da Diretiva Aves e da Diretiva Habitats, consta de diploma próprio.

SECÇÃO II
Conservação ex situ

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Artigo 33.º
Rede Nacional de Centros de Recuperação para a Fauna
1 - A atividade de recolha e tratamento de animais selvagens visando, sempre que
possível, a sua devolução ao meio natural, bem como de detenção de animais
irrecuperáveis, é assegurada pela Rede Nacional de Centros de Recuperação para a
Fauna, a promover pela autoridade nacional em articulação com outras entidades
públicas com competências em matéria de fauna, bem como com outras entidades
idóneas do ponto de vista ambiental, social e económico, designadamente organizações
não governamentais de ambiente.
2 - A regulamentação da Rede Nacional de Centros de Recuperação para a Fauna consta
de portaria dos membros do Governo responsáveis pela área da conservação da natureza
e da tutela das outras entidades públicas com competências em matéria de fauna.

Artigo 34.º
Espécies ameaçadas inscritas no Cadastro
1 - Relativamente a espécies ameaçadas inscritas no Cadastro, a autoridade nacional
promove, sempre que adequado, a cooperação com e entre autoridades públicas e
privadas, designadamente organizações não governamentais de ambiente, jardins
botânicos e zoológicos e universidades, tendo em vista o desenvolvimento de programas
de criação em cativeiro ou de propagação fora do respetivo habitat.
2 - A autoridade nacional colabora ainda na criação de bancos de tecidos biológicos e
germoplasma, com o objetivo de garantir uma reserva de recursos genéticos de espécies
selvagens, de variedades cultivares, de raças autóctones e dos parentes selvagens de
espécies domésticas.

CAPÍTULO V
Regime económico e financeiro da conservação da natureza e da biodiversidade

Artigo 35.º
Instrumentos contratuais
1 - A autoridade nacional promove a participação das autarquias locais, do setor
privado, das organizações representativas da sociedade civil e de outras entidades
públicas no exercício de ações de conservação ativa e de suporte e no financiamento do
SNAC, sempre que essa participação se mostre possível, adequada e útil à prossecução
dos objetivos de conservação fixados no presente decreto-lei.
2 - A participação a que se refere o número anterior pode ser realizada por recurso a
parcerias, acordos, contratos de gestão e de concessão ou por meio de quaisquer outros
instrumentos contratuais, cabendo à autoridade nacional fiscalizar o respetivo
cumprimento e assegurar a correta prossecução dos objetivos de conservação da
natureza e da biodiversidade.
3 - A autoridade nacional, desde que estejam em causa parcerias público-privadas
excluídas da aplicação do regime jurídico das parcerias público-privadas,

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designadamente em função do respetivo valor, pode:
a) Conceder a entidades privadas, por prazo determinado e mediante uma contrapartida
ou uma renda periódica, a prossecução, por conta e risco próprio, de algumas das suas
atribuições e nelas delegar os poderes necessários para o efeito;
b) Delegar em entidades privadas, por prazo determinado, com ou sem remuneração, a
prossecução de algumas das suas atribuições e os poderes necessários para o efeito,
assumindo o delegado a obrigação de prosseguir essas atribuições ou colaborar na sua
prossecução sob orientação da autoridade nacional.
4 - Para efeitos do número anterior, a escolha do concessionário ou do delegado é
efetuada nos termos do Código dos Contratos Públicos e os termos e condições da
parceria constam de contrato escrito a comunicar aos membros do Governo
responsáveis pelas áreas da conservação da natureza e das finanças.

Artigo 36.º
Instrumentos de compensação ambiental
1 - A conservação da natureza e da biodiversidade pode ser promovida através de
instrumentos de compensação ambiental que visam garantir a satisfação das condições
ou requisitos legais ou regulamentares de que esteja dependente a execução de projetos
ou ações, nomeadamente decorrentes do regime jurídico da avaliação de impacte
ambiental ou do regime jurídico da Rede Natura 2000.
2 - Sem prejuízo do disposto no número seguinte, a compensação ambiental concretiza-
se pela realização de projetos ou ações pelo próprio interessado, previamente aprovados
e posteriormente certificados pela autoridade nacional, que produzam um benefício
ambiental equivalente ao custo ambiental causado.
3 - Mediante iniciativa e financiamento pelo interessado, dependente de acordo com a
autoridade nacional, a compensação ambiental pode também ser concretizada através da
realização de projetos ou ações pela autoridade nacional.
4 - Sempre que nos termos do número anterior haja lugar a financiamento pelo
interessado de projetos ou ações a realizar pela autoridade nacional, os pagamentos em
causa ficam obrigatoriamente adstritos às finalidades de compensação ambiental que
lhes subjazem.

Artigo 37.º
Fundo para a Conservação da Natureza e da Biodiversidade
(Revogado.)

Artigo 38.º
Taxas
1 - A autoridade nacional pode cobrar taxas pelo acesso e visita às áreas integradas no
SNAC que sejam da titularidade do Estado e que se encontrem sob a sua gestão,
destinadas a contribuir para o financiamento da conservação da natureza e
biodiversidade e para regular naquelas áreas o impacte da presença humana.

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2 - A autoridade nacional pode ainda cobrar taxas pela disponibilização concreta e
efetiva de quaisquer outros bens ou serviços aos particulares, orientando-as sempre a
um princípio de cobertura de custos, nomeadamente pela utilização de equipamentos
coletivos cuja gestão esteja a seu cargo, pela prestação de serviços de formação e
informação ou pela disponibilização de serviços de transporte e acompanhamento.
3 - Estão isentos do pagamento da taxa de acesso referida no n.º 1:
a) Os casos em que o acesso resulte de operações de implementação ou manutenção de
infraestruturas de suporte a atividades de interesse geral, bem como de operações de
limpeza das faixas de proteção dessas infraestruturas;
b) Os residentes dos concelhos abrangidos.
4 - O produto das taxas de acesso e visita às áreas integradas no SNAC deve ser
preferencialmente aplicado pela autoridade nacional em ações com incidência na
respetiva área classificada.
5 - As taxas a que se refere o presente artigo são disciplinadas por portaria do membro
do Governo responsável pela área da conservação da natureza, constituindo o respetivo
produto receita própria da autoridade nacional.
Artigo 39.º
Receitas patrimoniais
Para além de outras receitas patrimoniais, a conservação da natureza e da biodiversidade
é financiada pela exploração comercial das marcas associadas ao SNAC, cujo emprego
por terceiros fica genericamente sujeito a autorização prévia da autoridade nacional, que
estabelecerá a remuneração devida.

CAPÍTULO VI
Fiscalização e inspecção

Artigo 40.º
Inspeção e fiscalização
1 - A verificação do cumprimento do disposto no presente decreto-lei e na legislação em
vigor aplicável aos valores naturais classificados pode revestir a forma de:
a) Fiscalização, a desenvolver de forma sistemática pelas autoridades competentes, no
cumprimento da obrigação geral de vigilância que lhes está cometida, e de forma
pontual em função das queixas e denúncias recebidas;
b) Inspeção, a efetuar pelas entidades dotadas de competência para o efeito, de forma
casuística e aleatória ou em execução de um plano de inspeção previamente aprovado,
ou ainda no apuramento do alcance e das responsabilidades por acidentes que afetem
valores naturais classificados.
2 - A fiscalização compete à autoridade nacional, especialmente através do serviço de
vigilantes da natureza, à Guarda Nacional Republicana, especialmente através do
Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA), às demais autoridades
policiais e aos municípios.
3 - O disposto no número anterior não prejudica o exercício dos poderes de fiscalização
e polícia que, em razão da matéria, competem às demais autoridades públicas,

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nomeadamente marítimas e portuárias.
4 - A inspeção compete à Inspeção-Geral da Agricultura, Mar, Ambiente e do
Ordenamento do Território (IGAMAOT).

Nota: Cf. o art.º 90.º, n.º 3, da Lei da Água (Lei n.º 58/2005, de 29 de dezembro, na última versão dada
pela Lei n.º 44/2017, de 19/06), segundo o qual, “colaboram na ação fiscalizadora as autoridades
policiais ou administrativas com jurisdição na área, devendo prevenir as infrações ao disposto nesta
lei e participar as transgressões de que tenham conhecimento”.

Nota: Nos termos do art.º 40.º, n.º 2, do Regime Jurídico da Conservação da Natureza e da Biodiversidade
(aprovado pelo DL n.º 142/2008, de 24 de julho, última alteração dada pelo DL 42-A/2016), “a fiscalização
compete à autoridade nacional, especialmente através do serviço de vigilantes da natureza, à Guarda
Nacional Republicana, especialmente através do Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente
(SEPNA), às demais autoridades policiais e aos municípios.

Artigo 41.º
Planos de inspeção e de fiscalização
1 - No âmbito da aplicação dos princípios da precaução, da proteção e da prevenção, a
autoridade nacional, conjuntamente com as restantes entidades de inspeção e
fiscalização competentes, deve promover a elaboração de planos de inspeção e
fiscalização, dos quais deve constar o âmbito espacial, temporal e material, os
programas e procedimentos adotados e o modo de coordenação das entidades
envolvidas.
2 - Os planos de inspeção e de fiscalização são públicos, devendo ser objeto de
divulgação nas componentes que não comprometam a eficácia das ações a desenvolver.
Artigo 42.º
Direito de acesso e embargos administrativos
Nos termos estabelecidos nos artigos 18.º e 19.º da Lei n.º 50/2006, de 29 de agosto:
a) É facultada às autoridades administrativas no exercício das funções de inspeção e
fiscalização a entrada livre nas instalações e locais onde se exerçam as atividades a
inspecionar ou a fiscalizar;
b) As autoridades administrativas no exercício das funções de inspeção e fiscalização
podem determinar, dentro da sua área de atuação geográfica, o embargo de quaisquer
construções em áreas de ocupação proibida ou condicionada em zonas de proteção
estabelecidas por lei ou em contravenção à lei, aos regulamentos ou às condições de
licenciamento ou autorização.
CAPÍTULO VII
Regime contraordenacional e sanções
Artigo 43.º
Contraordenações em áreas protegidas
1 - Constitui contraordenação ambiental muito grave, punível nos termos da Lei n.º
50/2006, de 29 de agosto, a prática dos seguintes atos e atividades quando previstos
como proibidos ou interditos nos regulamentos de gestão das áreas protegidas:
a) A alteração à morfologia do solo, excetuando as atividades previstas no âmbito do

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Sistema Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios, nomeadamente pontos de
água destinados ao combate de incêndios florestais;
b) A modificação do coberto vegetal, excetuando as situações devidamente enquadradas
em instrumentos válidos de planeamento e ordenamento florestal, as medidas e ações a
desenvolver no âmbito do sistema defesa da floresta contra incêndios e as medidas e
ações de proteção fitossanitárias e as operações de manutenção e limpeza das faixas de
proteção a infraestruturas de suporte a atividades de interesse geral decorrentes da
aplicação de disposições legais e regulamentares;
c) A instalação ou ampliação de depósitos de ferro-velho, de sucata, de veículos, de
areia ou inertes ou de outros resíduos sólidos que causem impacte visual negativo ou
efeitos negativos no ambiente;
d) O abandono, depósito ou vazamento de entulhos ou sucatas ou quaisquer outros
resíduos não urbanos fora dos locais para tal destinados;
e) A alteração da configuração ou topologia das zonas lagunares e marinhas;
f) [Revogada];
g) [Revogada];
h) O depósito ou lançamento de águas residuais industriais ou domésticas na água, no
solo ou no subsolo, sem tratamento adequado ou de forma suscetível de causar efeitos
negativos no ambiente;
i) O corte, extração, pesquisa ou exploração de recursos geológicos, nomeadamente de
massas minerais e inertes;
j) A captação, o armazenamento, o desvio ou a condução de águas, bem como a
drenagem, a impermeabilização ou a inundação de terrenos, e demais alterações à rede
de drenagem natural ou ao caudal ou à qualidade das águas superficiais ou subterrâneas;
l) [Revogada];
m) A remoção ou danificação de quaisquer substratos marinhos;
n) [Revogada];
o) A instalação de atividades económicas, quando isentas de controlo prévio
urbanístico, designadamente viveiros, aquicultura e estufas;
p) [Revogada];
q) A destruição ou delapidação de bens culturais inventariados ou geossítios;
r) A realização de queimadas ou outros fogos, exceto nas áreas com infraestruturas a
isso destinadas ou para prevenção de fogos (fogos prescritos ou controlados), e o
lançamento de foguetes ou balões com mecha acesa, bem como outras atividades
pirotécnicas;
s) A colheita, captura, apanha, abate, detenção, transporte ou comercialização de
indivíduos ou parte de indivíduos de quaisquer espécies vegetais ou animais sujeitas a
medidas de proteção e com categoria de ameaça atribuída, em qualquer fase do seu ciclo
biológico, incluindo a destruição de ninhos ou a apanha de ovos, a perturbação ou a
destruição dos seus habitats;
t) A introdução de espécies não indígenas invasoras;
u) [Revogada];
v) [Revogada];
x) [Revogada].
2 - Constitui contraordenação ambiental grave, punível nos termos da Lei n.º 50/2006,
de 29 de agosto, a prática não autorizada dos atos e atividades previstos no número
anterior quando, nos termos do regulamento de gestão das áreas protegidas, sejam
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permitidas mediante autorização ou parecer da autoridade nacional.
3 - Constitui, ainda, contraordenação ambiental grave, punível nos termos da Lei n.º
50/2006, de 29 de agosto, a prática dos seguintes atos e atividades quando previstos
como proibidos ou interditos nos regulamentos de gestão das áreas protegidas:
a) A prática de atividades turísticas ou desportivas motorizadas suscetíveis de
provocarem poluição sonora ou aquática ou que pela sua natureza específica ponham
em risco objetivo os valores naturais presentes na área protegida;
b) O exercício de caça ou de pesca;
c) A obstrução de qualquer tipo de passagem nos caminhos públicos e de acesso às
linhas ou aos planos de água;
d) A introdução de espécies não indígenas, sem prejuízo do disposto na alínea t) do n.º
1;
e) A reintrodução de espécies indígenas da fauna ou flora selvagens.
4 - Constitui contraordenação ambiental leve, punível nos termos da Lei n.º 50/2006, de
29 de agosto, a prática dos seguintes atos e atividades proibidos ou interditos e a prática
não autorizada dos seguintes atos e atividades condicionados, desde que previstos como
tal nos regulamentos de gestão das áreas protegidas:
a) A instalação, afixação, inscrição ou pintura mural de mensagens de publicidade ou
propaganda, temporárias ou permanentes, de cariz comercial ou não, incluindo a
colocação de meios amovíveis;
b) A introdução, a circulação e o estacionamento de pessoas, veículos ou animais;
c) A entrada, circulação ou permanência na área protegida sem o pagamento da taxa
devida;
d) A prática de campismo ou caravanismo, bem como qualquer forma de pernoita;
e) O abandono, depósito ou vazamento de resíduos sólidos urbanos fora dos locais para
tal destinados;
f) A instalação de estruturas construídas com materiais ligeiros, designadamente
prefabricados, que permitam a sua fácil desmontagem e remoção;
g) A utilização comercial ou publicitária de referências à área protegida, salvo em
produtos ou serviços devidamente credenciados;
h) A colheita, a detenção e o transporte de amostras de recursos geológicos,
nomeadamente minerais, rochas e fósseis;
i) A prática de quaisquer atos que perturbem a fauna selvagem, incluindo a prestação de
alimentos;
j) O sobrevoo de aeronaves com motor abaixo de 1000 pés, fora dos casos em que tal
sobrevoo tenha por finalidade trabalhos agrícolas, ações de fiscalização, de socorro ou
de controlo para fins de manutenção e segurança por parte das entidades gestoras de
infraestruturas de serviço público ou se insira na normal atividade concessionada de
exploração de infraestrutura aeroportuária;
k) A destruição ou o desmantelamento de muros, divisórias ou outras construções que
integrem o valor natural paisagístico classificado;
l) A realização de mercados ou feiras;
m) A prática de atividades desportivas não motorizadas, designadamente mergulho,
alpinismo, escalada ou montanhismo, e de atividades turísticas suscetíveis de
deteriorarem os valores naturais da área;
n) A utilização da marca «Natural.PT», sem estar devidamente registado e credenciado
para o efeito.
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5 - Relativamente às contraordenações ambientais previstas no presente artigo, e sem
prejuízo do disposto no artigo 20.º da Lei n.º 50/2006, de 29 de agosto, na determinação
da medida da coima a aplicar deve ser tomado em conta o estatuto de proteção atribuído
ao local da prática da contraordenação, conforme estabelecido nos programas especiais
e nos regulamentos de gestão das áreas protegidas.
6 - Em caso de concurso legal ou aparente entre contraordenações ambientais previstas
no presente artigo e contraordenações previstas em regimes especiais, designadamente
os elencados no n.º 2 do artigo 2.º, é aplicável o regime contraordenacional e sanções
definidos nesses regimes.
7 - As contraordenações resultantes da violação das normas dos programas especiais
relativas à transformação, uso e ocupação do solo com incidência urbanística integradas
nos planos territoriais de âmbito intermunicipal e municipal são consideradas
contraordenações do ordenamento do território sendo-lhes aplicável o regime previsto
nos artigos 40.º-A a 40.º-D da Lei n.º 50/2006, de 29 de agosto.

Nota: A Lei Quadro das Contra-Ordenações Ambientais (Lei n.º 50/2006, de 29 de agosto, última
alteração dada pela Lei n.º 25/2019, de 26/03) define a contraordenação ambiental como “todo o facto
ilícito e censurável que preencha um tipo legal correspondente à violação de disposições legais e
regulamentares relativas ao ambiente que consagrem direitos ou imponham deveres, para o qual se
comine uma coima”.

Artigo 44.º
Outras contraordenações ambientais
1 - Para além do disposto no artigo anterior e em diplomas legais relativos à
conservação ou proteção da natureza e da biodiversidade, a colheita, captura, apanha,
abate, detenção, transporte ou comercialização de indivíduos ou parte de indivíduos de
quaisquer espécies vegetais ou animais, em qualquer fase do seu ciclo biológico,
incluindo a destruição de ninhos ou a apanha de ovos, a perturbação ou a destruição dos
seus habitats, constitui contraordenação ambiental, punível nos termos da Lei n.º
50/2006, de 29 de agosto:
a) Muito grave, quando a espécie em causa esteja inscrita no Cadastro com a categoria
de ameaça «criticamente em perigo»;
b) Grave, quando a espécie em causa esteja inscrita no Cadastro com a categoria de
ameaça «em perigo»;
c) Leve, quando a espécie em causa esteja inscrita no Cadastro com a categoria de
ameaça «vulnerável».
2 - [Revogado].
3 - A prática das ações referidas no n.º 1 não constitui contraordenação desde que
autorizada pela autoridade nacional.
Artigo 45.º
Instrução de processos e aplicação de sanções
1 - Sem prejuízo do disposto nos números seguintes, compete à autoridade nacional ou à
IGAMAOT instruir os respetivos processos contraordenacionais e decidir da aplicação
da coima e sanções acessórias.

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2 - Nos casos previstos nas alíneas a) a d) e f) a i) do n.º 1 do artigo 43.º, os municípios
têm também competência para o processamento das contraordenações e para a aplicação
das coimas e sanções acessórias.
3 - No caso referido no número anterior, o início do processamento da contraordenação
implica, imediata e obrigatoriamente, a notificação da autoridade nacional.
4 - A competência para o processamento das contraordenações e a aplicação das
respetivas coimas e sanções acessórias relativamente às infrações praticadas em áreas
sujeitas à jurisdição marítima cabe ao capitão do porto territorialmente competente, caso
em que os autos de notícia, participações e denúncias lhe são enviados, com recurso
para os tribunais marítimos.
5 - Quando a entidade fiscalizadora não tenha competência para instruir o processo, o
mesmo é instruído e decidido pela IGAMAOT.
Artigo 46.º
Publicidade
A condenação pela prática das contraordenações ambientais muito graves e graves
previstas no presente decreto-lei pode ser objeto de publicidade, nos termos do disposto
no artigo 38.º da Lei n.º 50/2006, de 29 de agosto, quando a medida concreta da coima
aplicada ultrapasse metade do montante máximo da coima abstrata aplicável.
Artigo 47.º
Apreensão cautelar e sanções acessórias
A entidade competente para a aplicação da coima pode proceder a apreensões cautelares
e aplicar as sanções acessórias que se mostrem adequadas, nos termos do disposto na
Lei n.º 50/2006, de 29 de agosto.
Artigo 48.º
Reposição da situação anterior
1 - Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, o infrator está obrigado a remover as
causas da infração e a reconstituir a situação anterior à prática da mesma.
2 - Sempre que o dever de reposição da situação anterior não seja voluntariamente
cumprido, a autoridade nacional atua diretamente por conta do infrator, podendo as
respetivas despesas, se necessário, ser cobradas coercivamente através do processo
previsto para as execuções fiscais.
3 - Para efeitos do disposto no número anterior, a certidão passada pela autoridade
nacional, comprovativa das quantias despendidas, serve de título executivo.
CAPÍTULO VIII
Disposições transitórias e finais
Artigo 49.º
Áreas protegidas existentes
1 - Sem prejuízo do disposto nos números seguintes, mantém-se em vigor a
classificação das áreas protegidas feita ao abrigo da Lei n.º 9/70, de 19 de junho, e dos
Decretos-Leis n.º s 613/76, de 27 de julho, e 19/93, de 23 de janeiro.
2 - Os sítios classificados seguidamente identificados, definidos e constituídos ao abrigo
do Decreto-Lei n.º 613/76, de 27 de julho, devem, quando se justifique e no prazo

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máximo de dois anos a contar da publicação do presente decreto-lei, ser objeto de
reclassificação na tipologia de monumento natural:
a) Sítio classificado do Monte de São Bartolomeu (ou de São Brás), definido e
constituído pelo Decreto-Lei n.º 108/79, de 2 de maio;
b) Sítio classificado da Gruta do Zambujal, definido e constituído pelo Decreto-Lei n.º
140/79, de 21 de maio;
c) Sítios classificados dos Açudes de Monte da Barca e da Agolada, definidos e
constituídos pelo Decreto-Lei n.º 197/80, de 24 de junho;
d) Sítios classificados da Rocha da Pena e Fonte Benémola, criados pelo Decreto-Lei n.º
392/91, de 10 de outubro;
e) Sítios classificados da Granja dos Serrões e de Negrais, criados pelo Decreto-Lei n.º
393/91, de 11 de outubro;
f) Sítio classificado de Montes de Santa Olaia e Ferrestelo, criado pelo Decreto-Lei n.º
394/91, de 11 de outubro.
3 - O incumprimento do disposto no número anterior determina a perda do estatuto
conferido pelo Decreto-Lei n.º 613/76, de 27 de julho.
4 - No prazo máximo de dois anos a contar da publicação do presente decreto-lei e sob a
cominação de perda dos atuais estatutos de proteção, deve ser objeto de ponderação:
a) A reclassificação numa das tipologias de áreas protegidas previstas no presente
decreto-lei:
i) Da paisagem protegida da Reserva Ornitológica de Mindelo, criada por decreto
publicado no Diário do Governo, 2.ª série, n.º 204, de 2 de setembro de 1957, com
retificação de área efetuada por decreto publicado no Diário do Governo, 2.ª série, n.º
115, de 15 de maio de 1959;
ii) Da Reserva Botânica do Cambarinho, criada pelo Decreto n.º 364/71, de 25 de
agosto, ao abrigo do estabelecido no n.º 4 da base iv da Lei n.º 9/70, de 19 de junho;
iii) Do Refúgio Ornitológico Monte Novo do Roncão, criado pela Resolução do
Conselho de Ministros n.º 7/91, de 12 de março, ao abrigo do estabelecido no Decreto-
Lei n.º 264/79, de 1 de agosto;
b) A manutenção do estatuto conferido pelo Decreto-Lei n.º 613/76, de 27 de julho, ao
sítio classificado do Centro Histórico de Coruche, definido e constituído pelo Decreto-
Lei n.º 28/79, de 10 de abril, face aos regimes de proteção do património arquitetónico
em vigor.
Artigo 50.º
Gestão de bens imóveis do domínio público ou privado do Estado
O disposto no n.º 4 do artigo 13.º do presente decreto-lei não prejudica a manutenção
das situações já existentes de gestão pela autoridade nacional de bens imóveis do
domínio público ou privado do Estado situados nas áreas protegidas de âmbito nacional
e com relevância para a prossecução dos fins destas.
Artigo 51.º
Planos de ordenamento
[Revogado]
Artigo 52.º
Cadastro Nacional dos Valores Naturais Classificados

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O primeiro Cadastro Nacional dos Valores Naturais Classificados é aprovado no prazo
máximo de dois anos a contar da entrada em vigor do presente decreto-lei.
Artigo 53.º
Norma revogatória
1 - São revogados:
a) Os artigos 3.º, 4.º, 5.º, 6.º, 7.º, 8.º, 9.º e 12.º do Decreto n.º 162/75, de 27 de março;
b) O n.º 3 do artigo 2.º e os artigos 3.º, 4.º, 5.º, 6.º, 7.º, 8.º, 9.º e 11.º do Decreto-Lei n.º
565/76, de 19 de julho, na redação dada pelo Decreto-Lei n.º 487/77, de 17 de
novembro;
c) O Decreto-Lei n.º 264/79, de 1 de agosto;
d) Os artigos 3.º, 5.º, 6.º, n.º s 1 e 2, 7.º, 8.º, 9.º, 10.º e 12.º do Decreto-Lei n.º 430/80, de
1 de outubro;
e) Os artigos 7.º e 8.º do Decreto-Lei n.º 67/82, de 3 de março;
f) Os artigos 6.º, 7.º, 8.º, 10.º e 11.º do Decreto-Lei n.º 237/83, de 8 de junho;
g) Os artigos 7.º, 8.º e 9.º do Decreto-Lei n.º 168/84, de 22 de maio;
h) O Decreto-Lei n.º 19/93, de 23 de janeiro, na redação dada pelos Decretos-Leis n.º s
151/95, de 24 de junho, 213/97, de 16 de agosto, 227/98, de 17 de julho, 221/2002, de
22 de outubro, 117/2005, de 18 de julho, e 136/2007, de 27 de abril.
2 - A revogação das disposições mencionadas nas alíneas a) e b), bem como nas alíneas
d) a g) do número anterior produz efeitos a partir da data da entrada em vigor dos planos
de ordenamento das respetivas áreas protegidas.
3 - Todas as remissões legais e regulamentares para disposições do Decreto-Lei n.º
19/93, de 23 de janeiro, consideram-se feitas para as correspondentes disposições do
presente decreto-lei.
Artigo 54.º
Regiões Autónomas
1 - O presente decreto-lei aplica-se às Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira,
sem prejuízo dos diplomas regionais que procedam às necessárias adaptações,
nomeadamente face às especificidades decorrentes da localização destas Regiões em
meio oceânico e numa região biogeográfica restrita e singular, a macaronésia.
2 - A gestão das áreas classificadas integradas no SNAC existentes nas Regiões
Autónomas dos Açores e da Madeira compete aos respetivos Governos Regionais.
3 - A tipologia de parque nacional pode ser adotada nas Regiões Autónomas dos Açores
e da Madeira, devendo os diplomas regionais de adaptação referidos no número anterior
prever:
a) A possibilidade de a autoridade nacional apresentar aos órgãos regionais competentes
propostas nesse sentido;
b) A obrigatoriedade de consulta prévia à autoridade nacional aquando do respetivo
procedimento de classificação.

PREVENÇÃO E CONTROLO
DAS

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EMISSÕES DE POLUENTES PARA O AR
Decreto-Lei n.º 39/2018, de 11 de junho (última versão dada pelo DL n.º 11/2023, de
10/02)
Estabelece o regime da prevenção e controlo das emissões de
poluentes para o ar, e transpõe a Diretiva (UE) 2015/2193

A revisão da política da União Europeia para o ar, vertida no Programa «Ar mais limpo
para a Europa» publicada em dezembro de 2013 pela Comissão Europeia, veio atualizar
os objetivos em matéria de qualidade do ar para 2020 e 2030, visando alcançar o pleno
cumprimento das normas adotadas em matéria de qualidade do ar e criar condições para
que a União Europeia não exceda, a longo prazo, os valores-guia da Organização Mundial
de Saúde para a saúde humana, bem como as cargas e níveis críticos que definem os
limites de tolerância dos ecossistemas.
Esta revisão, para além de reforçar a implementação dos instrumentos já existentes, prevê
a adoção de medidas adicionais de redução de emissões de poluentes atmosféricos, tendo
em vista reduzir a mortalidade e os danos nos ecossistemas. Entre essas medidas, assume
particular relevância a adoção da Diretiva n.º (UE) 2015/2193, do Parlamento Europeu e
do Conselho, de 25 de novembro de 2015, relativa às médias instalações de combustão.
Com efeito, esta diretiva veio colmatar uma lacuna no quadro do direito da União
Europeia, regulando as emissões de poluentes provenientes da queima de combustíveis
em médias instalações de combustão, por contribuírem cada vez mais para a poluição
atmosférica.
Neste contexto, a diretiva que ora se transpõe prevê um conjunto de normas relativas ao
controlo de emissões para a atmosfera provenientes destas instalações, que são
transversais a vários setores da atividade económica, determinando que o exercício da sua
atividade está dependente da obtenção de uma licença, com base em informações
transmitidas pelo operador, para além da criação de um sistema de acompanhamento e de
verificação do cumprimento dos requisitos que lhe são impostos.
Ao nível do direito interno, para além de se assegurar a transposição, aproveita-se a
oportunidade para atualizar e simplificar o regime jurídico aplicável, procedendo-se,
desde logo, à integração da emissão do Título de Emissões para o Ar no âmbito do Regime
de Licenciamento Único de Ambiente, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 75/2015, de 11 de
maio, na sua redação atual.
No quadro do programa de simplificação e consolidação legislativa que o Governo tem
vindo a promover, o presente decreto-lei procede à revisão do regime jurídico atualmente
em vigor, adequando-o ao conhecimento e ao progresso técnico, promovendo a
atualização dos procedimentos administrativos definidos, apostando na simplificação de
procedimentos e prevenindo o aumento dos custos de contexto para as pessoas e para as
empresas.
A revisão que ora se opera permite incluir num único diploma as obrigações decorrentes
do Decreto-Lei n.º 78/2004, de 3 de abril, que estabelece o regime jurídico em vigor no
domínio da prevenção e controlo das emissões atmosféricas e das portarias que garantem
a sua regulamentação, que ora se revogam, bem como o regime aplicável às médias
instalações de combustão.

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A adoção do presente decreto-lei permitirá, assim, clarificar o regime jurídico em vigor
no domínio da prevenção e controlo das emissões atmosféricas, como um todo.
Por outro lado, introduz-se racionalização e coerência no sistema jurídico, ao afastar do
âmbito de aplicação do presente diploma as instalações de combustão até 1 MWth, até
esta data abrangidas pelo Decreto-Lei n.º 78/2004, de 3 de abril, que submete ao seu
regime todas as instalações de combustão acima de 0,1 MWth. Esta opção prossegue,
assim, o objetivo de diminuição da imposição de encargos desproporcionados às
empresas de pequena dimensão.
Procede-se também à criação de um sistema de cumprimento de obrigações de
comunicação único e harmonizado, através da utilização de uma plataforma eletrónica
que constitui o repositório de dados comum às entidades competentes e aos operadores.
Pretende-se, assim, assegurar que a informação fornecida pelos operadores respeita um
formato único e viabilizar o carregamento e armazenamento dos dados de forma
harmonizada e centralizada, bem como a disponibilização de informação atempada, com
manifestos ganhos de eficiência e eficácia e em matéria de redução de encargos para os
operadores.
A utilização da referida plataforma eletrónica assegura, deste modo, a criação de um
registo único para as emissões para o ar, garantindo a melhoria da qualidade e fiabilidade
da informação, através da imposição de requisitos de acreditação dos laboratórios.
No que toca aos valores limite de emissão, importa salientar que se mantêm os valores
associados às instalações de combustão existentes acima de 1 MWth para as regiões
autónomas.
Foram ouvidos os órgãos de governo próprios das regiões autónomas e a Associação
Nacional de Municípios Portugueses.

Assim:
Nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 198.º da Constituição, o Governo decreta o
seguinte:
CAPÍTULO I
Disposições gerais
Artigo 1.º
Objeto
1 - O presente decreto-lei estabelece o regime da prevenção e controlo das emissões de
poluentes para o ar, transpondo para a ordem jurídica interna a Diretiva n.º (UE)
2015/2193, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 25 de novembro de 2015, relativa
à limitação das emissões para a atmosfera de certos poluentes provenientes de médias
instalações de combustão.
2 - O presente decreto-lei procede ainda:
a) À primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 75/2015, de 11 de maio, que aprova o
Regime de Licenciamento Único de Ambiente (LUA);
b) À terceira alteração ao Decreto-Lei n.º 169/2012, de 1 de agosto, que aprova o
Sistema de Indústria Responsável (SIR).

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Artigo 2.º
Âmbito de aplicação
1 - O presente decreto-lei é aplicável às fontes de emissão de poluentes para o ar
associadas às seguintes instalações, complexos de instalações e atividades:
a) Instalações de combustão, com uma potência térmica nominal igual ou superior a 1
MW e inferior a 50 MW, designadas por médias instalações de combustão (MIC),
independentemente do tipo de combustível utilizado;
b) Complexos constituídos por MIC novas referidas no n.º 1 da parte 1 do anexo III ao
presente decreto-lei, do qual faz parte integrante, incluindo o complexo em que a potência
térmica nominal total seja igual ou superior a 50 MW, exceto se esse complexo constituir
uma instalação de combustão abrangida pelo capítulo III do Decreto-Lei n.º 127/2013, de
30 de agosto, na sua redação atual;
c) Atividades industriais, nos termos previstos na parte 2 do anexo i do presente decreto-
lei, e do qual faz parte integrante, com exceção das instalações de combustão, fornos de
processo e secadores com potência térmica nominal inferior a 1 MW;
d)(Revogada.)
e) (Revogada.)
2 - Excluem-se do âmbito de aplicação do presente decreto-lei:
a) Os geradores de emergência, na aceção da alínea z) do artigo seguinte, sem prejuízo
do disposto na alínea h) do artigo 8.º;
b) As atividades de investigação, de desenvolvimento ou de ensaio de novos produtos ou
processos, bem como as atividades de investigação, de desenvolvimento ou de ensaio
relacionadas com MIC;
c) Os crematórios;
d) Os permutadores de calor de altos-fornos;
e) As instalações de combustão abrangidas pelo Decreto-Lei n.º 236/2005, de 30 de
dezembro, na sua redação atual, e pelo Decreto-Lei n.º 47/2006, de 27 de fevereiro, na
sua redação atual;
f) As instalações de combustão inseridas em explorações pecuárias com uma potência
térmica nominal total não superior a 5 MW, que utilizem exclusivamente como
combustível o chorume, constituído por cama de aves de capoeira, na aceção da alínea
a) do artigo 9.º do Regulamento (CE) n.º 1069/2009, do Parlamento Europeu e do
Conselho, de 21 de outubro de 2009, que define regras sanitárias relativas a subprodutos
animais e produtos derivados não destinados ao consumo humano;
g) As instalações de combustão em que os produtos gasosos resultantes da combustão
sejam utilizados em equipamentos de aquecimento a gás destinados a aquecer espaços
interiores;
h) Os equipamentos técnicos utilizados para a propulsão de veículos, embarcações ou
aeronaves;
i) As turbinas a gás, motores a gás e motores diesel utilizados em plataformas off-shore.
3 - O presente regime jurídico aplica-se subsidiariamente às instalações abrangidas pelo
Decreto-Lei n.º 127/2013, de 30 de agosto, nas matérias por este não reguladas.

Artigo 3.º
Definições
Para efeitos do presente decreto-lei, entende-se por:
a) «Aerossóis», partículas sólidas ou líquidas em suspensão num meio gasoso, com
uma velocidade de queda irrelevante e com uma dimensão que excede a de um coloide,

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de 1 nanómetro a 1 micrómetro;
b) «Atividade sazonal», atividade cujo desenvolvimento está limitado a uma
determinada época do ano, não totalizando um período de funcionamento superior a 6
meses durante um ano civil;
c) «Biomassa», produtos compostos por uma matéria vegetal agrícola ou silvícola
suscetível de ser utilizada como combustível para efeitos de recuperação do seu teor
energético, bem como os seguintes tipos de resíduos:
i) Resíduos vegetais provenientes da agricultura e da silvicultura;
ii) Resíduos vegetais provenientes da indústria de transformação de produtos
alimentares, se o calor gerado em resultado da sua utilização for recuperado;
iii) Resíduos vegetais fibrosos provenientes da produção de pasta virgem de papel e da
produção de papel a partir de pasta, se forem coincinerados no local de produção e o
calor gerado for recuperado;
iv) Resíduos de cortiça;
v) Resíduos de madeira, com exceção dos resíduos de madeira que possam conter
compostos orgânicos halogenados ou metais pesados resultantes de tratamento com
conservantes de madeira ou com revestimento, incluindo, nomeadamente, os resíduos
de madeira deste tipo provenientes de resíduos de construção e demolição;
d) «Capacidade nominal da instalação»:
i) A capacidade produtiva de uma instalação para um período de laboração de 24 horas,
365 dias por ano, independentemente do seu regime, turnos, horário de laboração ou
valor da produção efetiva para resposta à procura do mercado; ou
ii) A capacidade máxima de projeto de uma instalação, nas condições de funcionamento
normal, e com o volume de produção para que foi projetada no caso das MIC; ou
iii) A adição das capacidades de incineração dos fornos que constituem uma instalação
de incineração de resíduos ou uma instalação de coincineração de resíduos tal como
definidas pelo construtor e confirmadas pelo operador, tendo em conta o valor calorífico
dos resíduos, expressas em quantidade de resíduos incinerados por hora; ou
iv) A entrada máxima, expressa em massa de solventes orgânicos, calculada em média
diária, para uma instalação nas condições normais de funcionamento com o volume de
produção para que foi projetada;
e) «Caudal mássico», a quantidade emitida de um poluente atmosférico, expressa em
unidades de massa por unidade de tempo;
f) «Chaminé», órgão de direcionamento ou controlo da exaustão dos efluentes
gasosos, através do qual se faz a sua descarga para a atmosfera;
g) «Combustível», qualquer matéria combustível sólida, líquida ou gasosa;
h) «Combustível de refinaria», combustível originado durante as etapas de destilação
e conversão do processo de refinação de petróleo bruto, incluindo o gás de refinaria, o
gás de síntese, o fuelóleo e o coque de petróleo;
i) «Composto orgânico», qualquer composto que contenha pelo menos o elemento
carbono e um ou mais dos seguintes elementos: hidrogénio, halogéneos, oxigénio,
enxofre, fósforo, silício ou azoto, com exceção dos óxidos de carbono e dos carbonatos
e bicarbonatos inorgânicos;
j) «Composto orgânico volátil» ou «COV», um composto orgânico, bem como a fração
de creosoto, com uma pressão de vapor igual ou superior a 0,01 kPa a 293,15 K, ou com
uma volatilidade equivalente nas condições de utilização específicas;
k) «Condições normais de pressão e temperatura», as condições referidas à temperatura
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de 273,15 K e à pressão de 101,3 kPa;
l) «Conduta», órgão de direcionamento ou controlo de efluentes gasosos de uma fonte
de emissão, através do qual se faz o seu confinamento e transporte para uma chaminé;
m) «Conduta de ventilação», órgão de exaustão associado a um sistema de ventilação;
n) «Diluição», introdução de ar secundário na conduta ou chaminé que transporta o
efluente gasoso, não justificada do ponto de vista do funcionamento do equipamento ou
sistemas a jusante, com o objetivo de promover a diminuição da concentração dos
poluentes presentes nesse efluente;
o) «Efluente gasoso», fluxo de poluentes atmosféricos sob a forma de gases, partículas
ou aerossóis;
p) «Emissão», a descarga na atmosfera de substâncias provenientes de fontes pontuais
ou difusas com origem numa instalação;
q) «Emissão difusa», emissão que não é feita através de uma chaminé, incluindo as
fugas e as emissões não confinadas para o ambiente exterior, através de janelas, portas e
aberturas afins, bem como de válvulas e empanques;
r) «Fuelóleo pesado»:
i) Um combustível líquido derivado do petróleo abrangido pelos códigos NC 2710 19
51 a 2710 19 68, 2710 20 31, 2710 20 35 ou 2710 20 39; ou
ii) Um combustível líquido derivado do petróleo, com exceção do gasóleo, na aceção da
alínea y), que, dado o seu intervalo de destilação, fica abrangido na categoria de óleo
pesado destinado a ser utilizado como combustível e do qual menos de 65 /prct. em
volume, incluindo perdas, destile a 250ºC através método ASTM D86. Caso as
condições de destilação não sejam determináveis pelo método ASTM D86, o produto
petrolífero é igualmente classificado como fuelóleo pesado;
s) «Fonte de emissão», ponto de origem de uma emissão;
t) «Fonte difusa», ponto de origem de emissões difusas;
u) «Fontes múltiplas», conjunto de fontes pontuais idênticas, com as mesmas
características técnicas, associadas aos mesmos tipo e fase de processo produtivo e à
mesma instalação, cujos efluentes gasosos têm a mesma natureza e a mesma
composição qualitativa e quantitativa;
v) «Fonte pontual», ponto de origem de uma emissão efetuada de forma confinada
através de uma chaminé;
w) «Funcionamento normal», períodos de tempo de funcionamento de uma instalação,
com exceção das operações de arranque, de paragem e de manutenção do equipamento;
x) «Gás natural», metano em estado livre com um teor de gases inertes e outros
constituintes não superior a 20 /prct. (em volume);
y) «Gasóleo»:
i) Um combustível líquido derivado do petróleo abrangido pelos códigos NC 2710 19
25, 2710 19 29, 2710 19 47, 2710 19 48, 2710 20 17 ou 2710 20 19; ou
ii) Um combustível líquido derivado do petróleo do qual menos de 65 /prct. em volume,
incluindo perdas, destile a 250ºC e pelo menos 85 /prct. em volume, incluindo perdas,
destile a 350ºC pelo método ASTM D86;
z) «Gerador de emergência», motor estacionário de combustão interna, utilizado apenas
em situações de falha de energia não controladas pelo operador, como fonte secundária
de energia elétrica ou mecânica e funcionando somente em situações de emergência ou
de ensaio;
aa) «Horas de funcionamento», o período de tempo, expresso em horas, durante o qual
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uma instalação de combustão funciona total ou parcialmente e liberta emissões para a
atmosfera, excluindo os períodos de arranque e de paragem;
bb) «Instalação», uma unidade técnica onde são desenvolvidas uma ou mais atividades,
bem como quaisquer outras atividades diretamente associadas que tenham uma relação
técnica com as atividades exercidas no local e que possam ter efeitos sobre as emissões
e a poluição;
cc) «Instalação de combustão», um equipamento técnico em que sejam oxidados
produtos combustíveis;
dd) «Instalação existente», qualquer:
i) Instalação licenciada ou autorizada nos termos da legislação aplicável até à data de
entrada em vigor do presente decreto-lei;
ii) Instalação para a qual tenha sido apresentado e esteja em condições de ser instruído
pela entidade coordenadora do licenciamento, o pedido de autorização, ou
licenciamento, até à data de entrada em vigor do presente decreto-lei, desde que esse
pedido venha a ter decisão favorável e a instalação entre em funcionamento no prazo
máximo de 12 meses após aquela data;
iii) Instalação que tenha apresentado a mera comunicação prévia até à data de entrada
em vigor do presente decreto-lei;
iv) Média instalação de combustão colocada em funcionamento antes da entrada em
vigor do presente decreto-lei ou para a qual tenha sido concedida uma licença antes de
19 de dezembro de 2017 ao abrigo da legislação nacional, desde que a instalação entre
em funcionamento até à entrada em vigor do presente decreto-lei;
ee) «Instalação nova», qualquer instalação que não seja enquadrada pela definição de
instalação existente;
ff) «Limiar mássico máximo», valor do caudal mássico de um dado poluente
atmosférico acima do qual se torna obrigatória a monitorização em contínuo desse
poluente;
gg) «Limiar mássico médio», valor do caudal mássico de um dado poluente atmosférico
que define a periodicidade de monitorização pontual desse poluente, de duas vezes por
ano ou de uma vez de três em três anos;
hh) «Limiar mássico mínimo», valor do caudal mássico de um dado poluente
atmosférico abaixo do qual a monitorização pontual desse poluente é efetuada uma vez
de cinco em cinco anos;
ii) «Micro-rede isolada», rede cujo consumo anual, em 1996, tenha sido inferior a 500
GWh e em que não haja qualquer ligação a outras redes;
jj) «Mistura», uma mistura de soluções composta por duas ou mais substâncias,
conforme o ponto 2 do artigo 3.º do Regulamento (CE) n.º 1907/2006 do Parlamento
Europeu e do Conselho, de 18 de dezembro de 2006, relativo ao registo, avaliação,
autorização e restrição de substâncias químicas (REACH) e que cria a Agência Europeia
dos Produtos Químicos;
kk) «Motor», um motor a gás, um motor diesel ou um motor de combustível duplo;
ll) «Motor a gás», um motor de combustão interna que funciona segundo o ciclo de Otto
e que utiliza ignição por faísca para queimar combustível;
mm) «Motor de combustível duplo», um motor de combustão interna que utiliza ignição
por combustão e funciona segundo o ciclo de Diesel para queimar combustíveis líquidos
e segundo o ciclo de Otto para queimar combustíveis gasosos;
nn) «Motor diesel», um motor de combustão interna que funciona segundo o ciclo de
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Diesel e que utiliza ignição por compressão para queimar combustível;
oo) «Obstáculo», qualquer estrutura física que possa interferir com as condições de
dispersão normal dos poluentes atmosféricos;
pp) «Obstáculo próximo», qualquer obstáculo situado num raio até 300 metros da
fonte emissora, incluindo o edifício de implantação da chaminé, que cumpra as
condições definidas no artigo 26.º;
qq) «Operações de arranque ou de paragem», as operações efetuadas com a finalidade
de colocar ou retirar de funcionamento uma instalação ou um equipamento;
rr) «Operador», pessoa singular ou coletiva, pública ou privada, que explora ou
controla a instalação, na qual tenha sido delegado o poder económico de decisão sobre o
funcionamento técnico da instalação;
ss) «Óxidos de azoto» ou «NO(índice x)», somatório dos níveis do monóxido de azoto e
do dióxido de azoto, expressos em dióxido de azoto (NO(índice 2));
tt) «Partículas», partículas de qualquer formato, estrutura ou densidade, dispersas na
fase gasosa nas condições dos pontos de amostragem, que possam ser recolhidas por
filtração em condições específicas após uma amostragem representativa do gás a
analisar, e que permaneçam a montante do filtro e no filtro depois de secarem em
condições específicas;
uu) «Pequena rede isolada», rede cujo consumo anual, em 1996, tenha sido inferior a
3000 GWh e em que menos de 5 /prct. do consumo anual seja obtido por interligação a
outras redes;
vv) «Poder calorífico inferior» (PCI): a quantidade específica de energia libertada como
calor quando um combustível ou material é objeto de combustão completa com
oxigénio em condições normais, após dedução do calor de vaporização da água que se
tenha formado;
ww) «Potência térmica nominal de uma instalação», quantidade de energia térmica
contida no combustível, expressa em PCI, suscetível de ser consumida por unidade de
tempo em condições de funcionamento contínuo e à carga máxima, a qual deve ser
expressa em MWth ou num dos seus múltiplos;
xx) «Resíduos», quaisquer substâncias ou objetos de que o detentor se desfaz ou tem a
intenção ou a obrigação de se desfazer, na aceção da alínea ee) do artigo 3.º do Decreto-
Lei n.º 178/2006, de 5 de setembro, na sua redação atual;
yy) «Sistema de exaustão», sistema que funciona a pressões próximas da pressão
atmosférica, com ou sem carácter regular, constituído por um órgão mecânico
designado por ventilador e um conjunto de condutas, que promove a captação e o
direcionamento de poluentes atmosféricos para uma chaminé, e pode ter como objetivo
a minimização de emissões difusas e a sua transformação em emissões pontuais;
zz) «Título de emissões para o ar» (TEAR), decisão emitida de acordo com o presente
decreto-lei que permite o desenvolvimento de atividade que tem emissões significativas
de poluentes para o ar e que faz parte integrante do Título Único Ambiental (TUA);
aaa) «Turbina a gás», máquina rotativa que converta energia térmica em trabalho
mecânico, constituída fundamentalmente por um compressor, por um dispositivo
térmico que permite oxidar o combustível a fim de aquecer o líquido de transmissão, e
por uma turbina, incluindo turbinas a gás de ciclo aberto, as de ciclo combinado e
turbinas a gás em modo de cogeração, com ou sem queima suplementar;
bbb) «Valor limite de emissão» (VLE), a massa expressa em função de determinados
parâmetros específicos, a concentração ou o nível de uma emissão, que não deve ser
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excedido durante um ou mais períodos determinados;
ccc) «Zona», a área geográfica de características homogéneas, em termos de qualidade
do ar, ocupação de solo e densidade populacional delimitada para fins de avaliação e
gestão da qualidade do ar, nos termos do disposto no Decreto-Lei n.º 102/2010, de 23 de
setembro, na sua redação atual.
Artigo 4.º
Entidades competentes
1 - Compete à Agência Portuguesa do Ambiente, I. P., (APA, I. P.), no âmbito do presente
decreto-lei:
a) Emitir e atualizar o TEAR para as instalações obrigadas à monitorização em contínuo
das emissões atmosféricas de, pelo menos, um poluente;
b) Manter, atualizar e disponibilizar a plataforma única para o acompanhamento das
instalações sujeitas a monitorização das emissões atmosféricas;
c) Comunicar e assegurar a articulação com a União Europeia, no que respeita à aplicação
do presente decreto-lei às MIC;
d) Disponibilizar informação ao público, nos termos da Lei n.º 26/2016, de 22 de agosto;
e) Acompanhar os dados da monitorização das instalações abrangidas pelo regime de
monitorização em contínuo das emissões atmosféricas de, pelo menos, um poluente.
2 - Compete às Comissões de Coordenação e de Desenvolvimento Regional (CCDR) em
função da respetiva competência territorial:
a) Emitir e atualizar o TEAR para as instalações não obrigadas à monitorização em
contínuo das emissões atmosféricas de, pelo menos, um poluente;
b) Assegurar o acompanhamento dos dados da monitorização das instalações abrangidas
pela monitorização pontual, no caso das instalações não abrangidas pelo regime de
monitorização em contínuo;
c) Comunicar mensalmente à APA, I. P., as notificações recebidas ao abrigo da alínea d)
do artigo 8.º, relativamente às instalações abrangidas pela monitorização em contínuo de,
pelo menos, um poluente.
Artigo 5.º
Título de emissões para o ar
1 - Os títulos, as licenças ou autorizações de exploração emitidas pelas entidades
coordenadoras do licenciamento das atividades e instalações abrangidas pelo presente
decreto-lei dependem do deferimento, tácito ou expresso, do pedido de TEAR integrado
no TUA.
2 - As alterações introduzidas nas instalações, complexos de instalações e atividades
abrangidas pelo presente decreto-lei que conduzam à modificação dos valores limite de
emissão (VLE) aplicáveis ou do tipo de monitorização, bem como a alteração da altura
de chaminé, nos termos do artigo 26.º, ou a apresentação de planos alternativos de
monitorização, nos termos do n.º 3 do artigo 14.º e do n.º 8 do artigo 15.º, determinam a
emissão de um TEAR ou a alteração do TEAR já emitido para a instalação.
3 - O indeferimento, pela entidade coordenadora do processo de licenciamento da
atividade, do pedido de atribuição de título, licença ou autorização de exploração para o
exercício de atividades ou instalações abrangidas pelo presente decreto-lei, determina a
caducidade do TEAR com efeitos imediatos.

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4 - Sem prejuízo do disposto no n.º 2, estão dispensadas do procedimento de TEAR as
instalações abrangidas pelo Decreto-Lei n.º 127/2013, de 30 de agosto, na sua redação
atual, desde que disponham ou venham a dispor de TUA do qual constem as condições
de emissão de poluentes para o ar.

Artigo 6.º
Tramitação do procedimento do título de emissões para o ar
1 - O pedido de TEAR é apresentado pelo operador junto da entidade coordenadora do
processo de licenciamento da atividade.
2 - O pedido de emissão do TEAR deve ser efetuado até 60 dias antes do termo dos
prazos estabelecidos nos n.os 1 a 4 do artigo 42.º
3 - A entidade coordenadora prevista no n.º 1 remete o pedido de TEAR à entidade
competente, no prazo de 5 dias, nos termos do artigo 4.º
4 - A entidade competente verifica, no prazo de 10 dias, se o pedido de TEAR se
encontra devidamente instruído e decide:
a) Solicitar ao operador, via entidade coordenadora, por uma única vez, a prestação das
retificações necessárias e dos elementos em falta ou das informações complementares;
b) Indeferir liminarmente o pedido, com a consequente extinção do procedimento, no
caso de deficiente instrução do pedido de TEAR, que não seja suscetível de suprimento
ou correção;
c) Dar prosseguimento ao procedimento, nos termos dos números seguintes.
5 - O operador deve enviar as informações solicitadas, nos termos do disposto na alínea
a) do número anterior, no prazo de 45 dias, sem prejuízo dos prazos previstos nos
regimes específicos do exercício da respetiva atividade económica, sob pena de
indeferimento liminar do pedido a emitir pela entidade competente.
6 - Não se verificando o indeferimento liminar do pedido, a entidade competente
assegura a avaliação técnica e decisão do pedido de emissão do TEAR.
7 - A decisão sobre o pedido ou alteração de TEAR é emitida pela entidade competente,
nos termos do disposto do artigo 4.º, no prazo de 30 dias a contar da data da receção
pela entidade coordenadora do pedido, sem prejuízo de outros prazos resultantes de
outros procedimentos administrativos de controlo prévio.
8 - O prazo para emissão do TEAR suspende-se com o pedido de informações ou
elementos complementares até à receção pela entidade competente de todos os
elementos adicionais solicitados.
9 - A tramitação de procedimento para emissão ou alteração do TEAR é efetuada nos
termos do presente artigo, em conjugação com as portarias de regulamentação do
regime do LUA.
Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. p) do regime da prevenção e controlo das emissões de poluentes para o
ar (aprovado pelo Decreto-Lei n.º 39/2018, de 11 de junho) “emissão” consiste na “descarga na atmosfera
de substâncias provenientes de fontes pontuais ou difusas com origem numa instalação”.

Artigo 7.º
Plataforma eletrónica única de comunicação de dados
1 - A comunicação de dados por parte dos operadores e dos laboratórios, no âmbito do
autocontrolo das emissões atmosféricas, deve ser efetuada de forma desmaterializada,

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através de uma plataforma eletrónica a disponibilizar pela APA, I. P.
2 - A APA, I. P., em colaboração com as demais entidades competentes, garante a
interoperabilidade da plataforma eletrónica e a utilização da informação para efeitos de
cumprimento da obrigação de comunicação à Comissão Europeia.
3 - A APA, I. P., faculta às entidades coordenadoras de licenciamento o acesso aos dados
inseridos na plataforma referida no n.º 1.
CAPÍTULO II
Obrigações dos operadores e laboratórios e requisitos aplicáveis às instalações
Artigo 8.º
Obrigações dos operadores
Constituem obrigações dos operadores abrangidos pelo âmbito de aplicação do presente
decreto-lei:
a) Assegurar o cumprimento dos VLE aplicáveis e as condições de monitorização
associadas;
b) Garantir a monitorização das emissões atmosféricas, nos termos do disposto no artigo
13.º, e a comunicação dos resultados às entidades competentes nos termos do disposto
no artigo 16.º;
c) Assegurar o cumprimento dos requisitos aplicáveis relativos à descarga de poluentes
atmosféricos, nos termos do disposto no artigo 26.º;
d) Notificar a CCDR territorialmente competente, no prazo máximo de quarenta e oito
horas, das situações de funcionamento deficiente ou de avaria do sistema de tratamento
de efluentes gasosos;
e) Prestar a assistência necessária à realização das inspeções, fiscalizações, visitas à
instalação, à colheita de amostras e à recolha das informações necessárias ao
desempenho das suas funções;
f) Manter e comunicar um registo do número de horas de funcionamento das instalações
que funcionem menos de 500 horas/ano ou 1000 horas/ano e, se exigível, o tipo e
quantidade anual de combustível consumido, nos termos do disposto nos n.os 2 e 3 do
artigo 20.º,
g) Manter os dados e as informações a que se referem os n.os 1 e 4 do artigo 16.º, pelo
menos, durante seis anos.
h) Manter e comunicar um registo do número de horas de funcionamento dos geradores
de emergência na aceção da alínea z) do artigo 3.º;
i) Comunicar à entidade competente a cessação definitiva total ou parcial das atividades
de que resulte a desativação das fontes de emissão, no prazo de 30 dias contados a partir
da data de desativação.
Artigo 9.º
Obrigações dos operadores para efeitos de minimização das emissões difusas
1 - Constitui obrigação dos operadores, sem prejuízo de outras disposições aplicáveis
em matéria de construção e de exploração das instalações de segurança e saúde no
trabalho, a adoção das seguintes medidas para minimizar as emissões difusas:
a) Assegurar a captação e confinamento das emissões difusas de poluentes atmosféricos,
para um sistema de exaustão sempre que técnica e economicamente viável;
b) Confinar, por regra, a armazenagem de produtos de características pulverulentas ou

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voláteis;
c) Equipar com dispositivos de captação e exaustão, os equipamentos de manipulação,
trasfega, transporte e armazenagem, desde que técnica e economicamente viável;
d) Garantir, sempre que técnica e economicamente viável, meios de pulverização com
água ou aditivos, caso se verifique a necessidade imperiosa de armazenamento ou
desenvolvimento de atividades ao ar livre;
e) Armazenar em espaços fechados, sempre que possível, os produtos a granel que
possam gerar a emissões de poluentes para a atmosfera;
f) Assegurar que o pavimento da área envolvente da instalação, incluindo vias de
circulação e locais de parqueamento, possui revestimento adequado para evitar a
ressuspensão de poeiras.
2 - O operador deve assegurar, quando aplicável, ou por indicação da CCDR
territorialmente competente, o uso das técnicas disponíveis em conjunto com a adoção
de boas práticas de gestão para a eliminação e minimização de compostos odoríferos.
Artigo 10.º
Obrigações dos laboratórios
1 - Os laboratórios de ensaios de efluentes gasosos devem efetuar o registo na plataforma
eletrónica única de comunicação de dados, nos termos do disposto no artigo 7.º
2 - Os laboratórios devem comunicar à APA, I. P., a informação relativa aos certificados
de acreditação e de controlo de qualidade efetuadas, de acordo com o disposto no artigo
7.º
3 - Os laboratórios devem ser acreditados pelo Instituto Português de Acreditação, I. P.
(IPAC, I. P.), para a realização de ensaios de efluentes gasosos e possuir acreditação para
todos os ensaios realizados de acordo com os métodos do Comité Europeu de
Normalização (CEN), sempre que existentes ou, caso não existam, acreditação para as
normas da Organização Internacional de Padronização (ISO), ou com normas nacionais
ou internacionais que garantam dados de qualidade científica equivalente.
Artigo 11.º
Sistemas de tratamento de efluentes gasosos
1 - Os operadores das instalações abrangidas pelo presente decreto-lei devem
dimensionar corretamente os equipamentos de despoeiramento e de tratamento de gases
poluentes por forma a reduzir os níveis de poluentes emitidos e a dar cumprimento aos
VLE aplicáveis.
2 - O funcionamento dos equipamentos referidos no número anterior deve abranger,
sempre que tecnicamente viável, todas as situações de operação da instalação incluindo
as operações de arranque e de paragem.
3 - A exploração e manutenção dos equipamentos deve ser a adequada, de modo a
permitir um nível de eficiência elevado e reduzir ao mínimo os períodos de
indisponibilidade, não devendo exceder 120 horas em cada ano civil.
4 - Para efeitos do disposto no número anterior, o operador deve, no prazo de 24 horas,
em caso de impossibilidade de retorno à situação normal, reduzir ou cessar a operação,
ou assegurar o funcionamento da instalação com recurso a combustíveis mais limpos.
Artigo 12.º
Instalações que utilizam solventes orgânicos

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1 - As instalações que utilizem substâncias e misturas às quais sejam atribuídas ou
devam ser acompanhadas das advertências de perigo H340, H350, H350i, H360D ou
H360F, devido ao seu teor de Compostos Orgânicos Voláteis (COV) classificados como
cancerígenos, mutagénicos ou tóxicos para a reprodução, nos termos do Regulamento
(CE) n.º 1272/2008, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 16 de dezembro, devem,
envidar todos os esforços para proceder à sua substituição por substâncias ou misturas
menos nocivas.
2 - As instalações referidas no número anterior ficam abrangidas pelo regime de
monitorização a realizar duas vezes em cada ano civil, nos termos do n.º 1 do artigo
15.º, não se lhes aplicando o disposto nos n.os 4, 5 e 7 do mesmo artigo.
CAPÍTULO III
Monitorização das emissões
Artigo 13.º
Monitorização e métodos
1 - A monitorização das emissões sujeitas a VLE da responsabilidade do operador é
obrigatória.
2 - As novas instalações nos termos do disposto no artigo 3.º, devem proceder à
primeira monitorização até quatro meses contados a partir da data de obtenção do
TEAR ou da data da sua entrada em funcionamento.
3 - O operador das MIC deve assegurar a monitorização das emissões do poluente CO.
4 - A frequência de monitorização, contínua ou pontual, é estipulada de acordo com o
caudal mássico emitido, cujos limiares são definidos nos termos na parte 1 do anexo II
ao presente decreto-lei.
5 - As medições de poluentes atmosféricos e parâmetros operacionais devem ser
efetuadas em condições normais e representativas do funcionamento da instalação,
excluindo os períodos de arranque e paragem.
6 - A amostragem deve ter em conta os objetivos da monitorização, o período
especificado nas normas aplicáveis, o intervalo temporal associado ao VLE, os limites
de deteção e de quantificação dos métodos de medição, o tempo de resposta dos
equipamentos e as variações no processo produtivo e, ainda, respeitar os requisitos
estabelecidos no n.º 2 da parte 2 do anexo II ao presente decreto-lei.
7 - A amostragem e a análise das substâncias poluentes e as medições dos parâmetros de
processo relevantes, bem como, a garantia de qualidade dos sistemas de medição
automáticos e os métodos de medição de referência utilizados para calibrar esses
sistemas, são os fixados nas normas do CEN.
8 - Em caso de inexistência de normas CEN, aplicam-se normas da ISO, ou normas
nacionais ou internacionais que garantam dados de qualidade científica equivalente.
9 - O autocontrolo das emissões é efetuado de acordo com o presente artigo, o disposto
nos artigos 14.º e 15.º e as condições fixadas no TEAR
Artigo 14.º
Monitorização em contínuo
1 - Os operadores das instalações abrangidas pelo presente decreto-lei sujeitos à
obrigação de monitorização em contínuo de poluentes, devem recorrer a sistemas de
medição automáticos de acordo com o disposto no artigo 25.º

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2 - A monitorização das emissões de poluentes cujo caudal mássico de emissão
ultrapasse o limiar mássico máximo fixado no n.º 1 da parte 1 do anexo II ao presente
decreto-lei é efetuada em contínuo, devendo respeitar os requisitos estabelecidos no n.º
1 da Parte 2 do anexo II ao presente decreto-lei.
3 - Nas situações em que se comprove não ser tecnicamente possível proceder à
monitorização em contínuo das emissões de poluentes atmosféricos, o operador deve
apresentar um plano de monitorização alternativo, junto da entidade coordenadora do
licenciamento, que o remete à APA, I. P., para aprovação.
4 - A APA, I. P., aprecia o plano de monitorização alternativo e decide no prazo de 30
dias, a contar da data da sua receção.
Artigo 15.º
Monitorização pontual
1 - A monitorização das emissões de poluentes cujo caudal mássico de emissão seja
inferior ou igual ao limiar mássico máximo e superior ou igual ao limiar mássico médio
fixado no n.º 1 da parte 1 do anexo II ao presente decreto-lei é realizada duas vezes por
ano civil, com um intervalo mínimo de dois meses entre as medições, devendo respeitar
os requisitos estabelecidos no n.º 2 da parte 2 do anexo II ao presente decreto-lei.
2 - A entidade competente nos termos do artigo 4.º pode exigir uma periodicidade de
monitorização diferente, sempre que, de uma forma fundamentada, se verifique que a
monitorização pontual, efetuada nos termos do número anterior, não é suficiente para
assegurar o correto acompanhamento das emissões para a atmosfera.
3 - No caso de fontes pontuais abrangidas pelo disposto no n.º 1 associadas a instalações
onde são desenvolvidas atividades sazonais, a monitorização deve ser efetuada, no
mínimo, uma vez por ano, durante o período em que se encontrem a laborar.
4 - A monitorização das emissões de poluentes cujo caudal mássico por poluente é
consistentemente inferior ao seu limiar mássico médio e superior ou igual ao limiar
mássico mínimo fixados no n.º 1 da parte 1 do anexo II ao presente decreto-lei, pode ser
realizada no mínimo, uma vez de três em três anos, desde que a instalação mantenha
inalteradas as suas condições de funcionamento.
5 - A monitorização das emissões de poluentes cujo caudal mássico por poluente é
consistentemente inferior ao seu limiar mássico mínimo fixado no n.º 1 da parte 1 do
anexo II ao presente decreto-lei pode ser realizada no mínimo, uma vez de cinco em
cinco anos, desde que a instalação mantenha inalteradas as suas condições de
funcionamento.
6 - No caso de fontes pontuais, associadas a instalações que funcionem por um período
anual inferior a 500 horas, em média móvel estabelecida ao longo de um período de
cinco anos para as instalações existentes e de três anos para as novas instalações, a
periodicidade de monitorização a efetuar, é no mínimo, de cinco em cinco anos.
7 - No caso de fontes múltiplas em que todos os poluentes estão sujeitos a
monitorização nos termos do n.º 1, o autocontrolo pode ser efetuado, com carácter
rotativo, num número representativo de fontes pontuais, estimando-se as emissões das
restantes fontes com base num fator de emissão médio, calculado a partir das fontes
caracterizadas.
8 - Para efeitos do disposto no número anterior, o operador apresenta à entidade
coordenadora do licenciamento ou da autorização um plano de monitorização para as
fontes múltiplas, que inclui os elementos fixados na parte 3 do anexo II ao presente
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decreto-lei, que dele faz parte integrante, que o remete à entidade competente para
efeitos de aprovação.
9 - O previsto nos n.os 4 e 5 não se aplica às fontes múltiplas.
Artigo 16.º
Comunicação de resultados da monitorização
1 - Os resultados da monitorização são remetidos à APA, I. P., no caso da
monitorização em contínuo de, pelo menos, um poluente e à CCDR territorialmente
competente, nos restantes casos, através da plataforma eletrónica única referida no
artigo 7.º
2 - Os resultados do autocontrolo relativos à monitorização em contínuo são remetidos
mensalmente, até ao final do mês seguinte a que os mesmos se referem, e devem conter
a informação constante de portaria do membro do Governo responsável pela área do
ambiente.
3 - A comunicação dos resultados da monitorização pontual é efetuada no prazo de 45
dias corridos contados da data da realização da monitorização pontual e deve conter a
informação contida na portaria referida no número anterior.
4 - Os operadores devem, ainda, reportar anualmente, até 30 de abril do ano seguinte, a
informação exigida na portaria referida no n.º 2.

CAPÍTULO IV
Valores limite de emissão
Artigo 17.º
Regras de cálculo
1 - Para efeitos de verificação do cumprimento dos VLE, as concentrações medidas
devem ser corrigidas para terem em conta as condições normalizadas de pressão e
temperatura e o teor de oxigénio de referência, quando aplicável e expressos nas
unidades do Sistema Internacional (SI).
2 - Os valores de caudal mássico obtidos devem ser corrigidos para as condições
normalizadas de pressão e temperatura e expressos nas unidades do Sistema
Internacional (SI), para efeitos de comparação com os limiares previstos na Parte 1 do
anexo II ao presente decreto-lei.
3 - Nos cálculos efetuados para obtenção dos valores referidos no número anterior, o
arredondamento só deve ser efetuado uma única vez e no final recorrendo à regra
comercial de arredondamento.
Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. p) do regime da prevenção e controlo das emissões de poluentes para o
ar (aprovado pelo Decreto-Lei n.º 39/2018, de 11 de junho) “emissão” consiste na “descarga na atmosfera
de substâncias provenientes de fontes pontuais ou difusas com origem numa instalação”.

Artigo 18.º
Valores limite de emissão
1 - Os VLE aplicáveis às novas fontes de emissão das MIC são os fixados no n.º 3 da
parte 1 do anexo III ao presente decreto-lei.
2 - Os VLE aplicáveis às MIC existentes são os fixados no n.º 2 da parte 1 do anexo III

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ao presente decreto-lei.
3 - Sem prejuízo do disposto no capítulo II do Decreto-Lei n.º 127/2013, de 30 de
agosto, na sua redação atual, aplicam-se às MIC os VLE referidos nos números
anteriores.
4 - Os VLE aplicáveis a fornalhas e queimadores são os fixados na parte 2 do anexo III
ao presente decreto-lei.
5 - Os VLE de aplicação setorial são fixados por portaria do membro do Governo
responsável pela área do ambiente, ouvidos os responsáveis pelas áreas de tutela das
instalações, complexos de instalações e atividades abrangidas pelo presente Decreto-
Lei.
6 - Os VLE aplicáveis a fontes não abrangidas pelos números anteriores são fixados por
portaria do membro do Governo responsável pela área do ambiente, ouvidos os
responsáveis pelas áreas de tutela das instalações, complexos de instalações e atividades
abrangidas pelo presente Decreto-Lei.
7 - Os VLE e o teor de oxigénio aplicáveis à junção de efluentes numa chaminé comum,
de dois ou mais equipamentos independentes, são determinados através da metodologia
a aprovar por portaria do membro do Governo responsável pela área do ambiente,
ouvidos os responsáveis pelas áreas de tutela das instalações, complexos de instalações
e atividades abrangidas pelo presente decreto-lei.
8 - Os VLE aplicáveis à queima simultânea de dois ou mais combustíveis são
determinados através da metodologia a aprovar por portaria do membro do Governo
responsável pela área do ambiente, ouvidos os responsáveis pelas áreas de tutela das
instalações, complexos de instalações e atividades abrangidas pelo presente Decreto-
Lei.
9 - Nas zonas ou partes de zonas que não cumprem os VLE relativos à qualidade do ar
definidos no regime de avaliação e gestão da qualidade do ar ambiente, aprovado pelo
Decreto-Lei n.º 102/2010, de 23 de setembro, na sua redação atual, a entidade
competente avalia a necessidade de aplicar, às instalações individuais em zonas ou
partes dessas zonas, VLE mais rigorosos do que os estabelecidos no presente decreto-
lei, desde que a aplicação de tais VLE possa contribuir de forma eficaz para o
cumprimento dos objetivos de qualidade do ar e observe os planos de qualidade do ar a
que se refere o seu artigo 25.º
Artigo 19.º
Derrogação de valores limite de emissão
1 - Os operadores podem apresentar, junto da APA, I. P., um pedido de derrogação dos
VLE fixados nos n.os 2 e 3 da parte 1 do anexo III ao presente decreto-lei, nos seguintes
casos e condições:
a) Instalações de combustão que, por regra, utilizam um combustível com baixo teor de
enxofre podem não aplicar o VLE de dióxido de enxofre, quando não estiverem em
condições de observar este valor limite devido a uma interrupção no abastecimento de
combustível com baixo teor de enxofre, resultante de uma situação de escassez grave e
comprovada pela respetiva entidade coordenadora do licenciamento;
b) Instalações de combustão que só utilizem combustível gasoso e que possam,
excecionalmente, utilizar outros combustíveis, devido a uma interrupção brusca do
fornecimento de gás.
2 - O período de derrogação tem a duração máxima de seis meses, no caso da alínea a), e
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de 10 dias no caso da alínea b) do número anterior, salvo se o operador demonstrar
fundamentadamente à APA, I. P., que se justifica um prazo mais alargado.
3 - A derrogação referida nos números anteriores é comunicada de imediato, através das
plataformas eletrónicas disponíveis nos termos do presente decreto-lei, sem prejuízo de a
APA, I. P., poder cancelar ou estabelecer um período de derrogação diverso do requerido.
4 - A APA, I. P., informa a CCDR territorialmente competente das decisões adotadas ao
abrigo do presente artigo.
Artigo 20.º
Isenções de aplicação de valores limite de emissão
1 - Os operadores beneficiam da isenção, até 1 de janeiro de 2030, da aplicação dos
VLE estabelecidos na parte 1 do anexo III ao presente decreto-lei, nos seguintes casos:
a) MIC existentes com uma potência térmica nominal superior a 5 MW, desde que pelo
menos 50 /prct. da produção útil de calor da instalação, em média móvel estabelecida ao
longo de um período de cinco anos, seja fornecida sob a forma de vapor ou de água
quente a uma rede pública para o aquecimento urbano, não podendo os VLE
estabelecidos pelas entidades competentes exceder 1100 mg/Nm3 para o (SO(índice 2))
e 150 mg/Nm3 para as partículas;
b) MIC existentes com uma potência térmica nominal superior a 5 MW, que sejam
utilizadas para o funcionamento de estações de compressão de gás necessárias para
garantir a proteção e a segurança de um sistema nacional de transporte de gás, no que
respeita ao VLE de NO(índice x);
c) MIC que queimem biomassa sólida como principal combustível, situadas em zonas
em que, de acordo com avaliações efetuadas ao abrigo do Decreto-Lei n.º 102/2010, de
23 de setembro, na sua redação atual, é garantido o cumprimento dos valores limite aí
estipulados, não podendo os VLE fixados pelas entidades competentes exceder 150
mg/Nm3 para as partículas.
2 - A exigência de cumprimento dos VLE fixados no n.º 2 da parte 1 do anexo III ao
presente decreto-lei não se aplica às MIC existentes que não funcionem mais do que 500
horas por ano, em média móvel estabelecida ao longo de um período de cinco anos.
3 - O limite referido no número anterior passa para 1000 horas nas situações de
emergência ou de ocorrência de circunstâncias extraordinárias, para as MIC usadas para
a produção de calor em caso de fenómenos meteorológicos de frio excecional.
4 - Nas situações referidas nos n.os 2 e 3 e caso se proceda à queima de combustíveis
sólidos é aplicável um VLE de partículas de 200 mg/Nm3.
5 - As MIC novas que não funcionem durante mais de 500 horas por ano, em média
móvel estabelecida ao longo de um período de três anos, ficam isentas da obrigação de
cumprimento dos VLE estabelecidos no n.º 3 da parte 1 do anexo III ao presente
decreto-lei.
6 - No caso previsto no número anterior, caso se proceda à queima de combustíveis
sólidos é aplicável um VLE para partículas de 100 mg/Nm3.
Artigo 21.º
Condições de cumprimento de valores limite de emissão
1 - O cumprimento dos VLE considera-se assegurado quando observado o disposto no
presente artigo e nos artigos 13.º a 27.º

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2 - No caso da monitorização em contínuo, o cumprimento dos VLE considera-se
observado se a avaliação dos resultados demonstrar que, para as horas de
funcionamento da fonte pontual, durante um ano civil, se verificam cumulativamente as
seguintes condições:
a) Nenhum valor médio de um mês de calendário validado excede o VLE
correspondente;
b) Nenhum valor médio diário validado excede em mais de 30 /prct. o VLE
correspondente, sendo que no caso das MIC deve considerar-se 10 /prct.;
c) 95 /prct. dos valores médios horários validados durante o ano civil não excedem 200
/prct. dos VLE correspondentes;
d) No caso das MIC compostas apenas por caldeiras que utilizem carvão com uma
potência térmica nominal total superior ou igual a 1 MW e inferior a 50 MW, nenhum
valor médio diário validado excede 150 /prct. dos VLE correspondentes, definidos nos
n.os 2 e 3 da parte 1 do anexo III ao presente decreto-lei.
3 - No caso da monitorização pontual, o cumprimento dos VLE considera-se observado
se nenhum dos resultados das medições efetuadas para determinado poluente ultrapassar
o VLE respetivo.
4 - Para as instalações abrangidas pelos n.os 7 e 8 do artigo 18.º, o cumprimento dos
VLE, determinados de acordo com as metodologias a aprovar por portaria do membro
do Governo responsável pela área do ambiente, ouvidos os responsáveis pelas áreas de
tutela das instalações, complexos de instalações e atividades abrangidas pelo presente
Decreto-Lei, considera-se observado caso se verifiquem as condições previstas nos n.os
2 e 3, respetivamente.
Artigo 22.º
Tolerâncias
1 - Em situações excecionais e devidamente fundamentadas, os VLE podem ser
ultrapassados durante períodos de avaria ou de mau funcionamento dos sistemas de
tratamento dos efluentes gasosos.
2 - Para efeitos do disposto no número anterior, os períodos máximos admitidos não
podem exceder 16 horas seguidas e a sua duração total em cada ano civil não pode
ultrapassar 120 horas, por fonte pontual.
3 - As situações abrangidas pelo disposto no n.º 1 são obrigatoriamente comunicadas à
entidade competente, no prazo de 48 horas.
Artigo 23.º
Situações de incumprimento de valores limite de emissão
1 - Sempre que o operador verifique uma situação de incumprimento de um VLE, tem o
dever de o comunicar à entidade competente nos termos do artigo 4.º, no prazo máximo
de 48 horas, e de adotar, de imediato, as medidas corretivas adequadas, que incluem
obrigatoriamente um programa de vigilância.
2 - Caso as situações de incumprimento de VLE ponham em risco o cumprimento dos
valores limite da qualidade do ar ou o cumprimento dos limiares de alerta da qualidade
do ar, a CCDR territorialmente competente notifica o operador para que este, no prazo
que lhe for fixado:
a) Reduza a capacidade de laboração; ou

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b) Utilize um combustível menos poluente; ou
c) Adote qualquer outra medida que promova a rápida redução das emissões do
poluente atmosférico em causa.
3 - Se das situações referidas nos números anteriores resultar comprovadamente perigo
para a saúde pública ou para o ambiente, a CCDR territorialmente competente notifica o
operador, nos termos do artigo 33.º, para suspender a laboração no prazo que lhe for
determinado.
4 - A CCDR competente deve manter a APA, I. P., bem como a entidade coordenadora
do licenciamento ou da autorização da atividade, informadas da ocorrência e
desenvolvimentos das situações referidas no presente artigo.
Artigo 24.º
Situação de não sujeição ao cumprimento de valores limite de emissão
1 - As fontes de emissão de instalações e atividades a que se referem as alíneas c), d) e e)
do n.º 1 do artigo 2.º não estão sujeitas ao cumprimento de um VLE fixado para um
determinado poluente, caso se constate que as emissões desse poluente, com a instalação
a funcionar à sua capacidade nominal, registam um caudal mássico inferior ao limiar
mássico médio fixado na parte 1 do anexo II ao presente decreto-lei, para esse poluente.
2 - Considera-se que uma instalação se encontra na situação prevista no número anterior
se estiver abrangida pelo regime da monitorização pontual nos termos do disposto nos
n.os 4 e 5 do artigo 15.º, desde que a medição tenha sido realizada à capacidade nominal.

Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. p) do regime da prevenção e controlo das emissões de poluentes para o ar
(aprovado pelo Decreto-Lei n.º 39/2018, de 11 de junho) “emissão” consiste na “descarga na atmosfera de
substâncias provenientes de fontes pontuais ou difusas com origem numa instalação”.

CAPÍTULO V
Controlo do equipamento de medição
Artigo 25.º
Sistemas de medição automáticos
1 - Os equipamentos de medição utilizados para efeitos de monitorização em contínuo
são submetidos ao controlo metrológico, com periodicidade mínima anual, recorrendo a
laboratórios acreditados pelo IPAC, I. P., para cada ensaio realizado.
2 - Os equipamentos referidos no número anterior devem ser acompanhados de uma
ficha técnica atualizada da realização das operações de verificação ou calibração com a
indicação dos procedimentos utilizados para assegurar a rastreabilidade e a exatidão dos
resultados das medições, que devem ser sempre disponibilizados às entidades que
exercem funções de fiscalização e de inspeção.
3 - Os operadores devem utilizar sistemas de medição automáticos adequados à gama de
valores a medir, à incerteza associada e aos parâmetros de desempenho definidos na
legislação aplicável.
4 - Os sistemas de aquisição de dados associados ao sistema de medição automático
devem recolher informação adequada dos equipamentos de medição, garantindo um
intervalo de consulta igual ou inferior a um minuto.

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5 - Os sistemas de medição automáticos não devem gerar períodos de indisponibilidade
de dados superiores a um total de 10 dias num ano, devido a mau funcionamento ou à
sua reparação ou manutenção.
CAPÍTULO VI
Descarga de poluentes atmosféricos
Artigo 26.º
Descarga para a atmosfera
1 - A descarga de poluentes para a atmosfera é efetuada através de uma chaminé cuja
altura é calculada de acordo com a metodologia a aprovar por portaria do membro do
Governo responsável pela área do ambiente, ouvidos os responsáveis pelas áreas de
tutela das instalações, complexos de instalações e atividades abrangidas pelo presente
decreto-lei.
2 - Sempre que tecnicamente viável, a velocidade de saída dos gases, em regime de
funcionamento normal da instalação, deve ser, pelo menos, 6 m.s(elevado a -1) se o
caudal ultrapassar 5000 m3.h(elevado a -1), ou 4 m.s(elevado a -1), se o caudal for
inferior ou igual a 5000 m3.h(elevado a -1).
3 - Nos casos em que a aplicação do disposto no número anterior seja comprovadamente
inviável, do ponto de vista técnico ou económico, o operador submete, junto da entidade
coordenadora do licenciamento, pedido de autorização para chaminé de altura diferente
da resultante da aplicação da metodologia a que se refere o n.º 1, que o remete à
entidade competente, nos termos do artigo 4.º, para aprovação.
4 - No caso de se verificar a impossibilidade técnica e económica, devidamente
comprovada, de construção de uma chaminé numa fonte de emissão dotada de sistemas
de tratamento do efluente gasoso (STEG), o operador submete, junto da entidade
coordenadora do licenciamento, pedido de autorização para chaminé de altura diferente
das resultantes da aplicação da metodologia a que se refere o n.º 1 ou a isenção de
obrigatoriedade de construção de chaminé, que o remete à entidade competente, nos
termos do artigo 4.º, para efeitos de aprovação.
5 - A portaria a que se refere o n.º 1 identifica, ainda, os casos especiais em que o
cálculo da altura adequada das chaminés é condicionado à apresentação, pelo operador,
de um estudo das condições locais de dispersão e difusão atmosféricas, mediante o
emprego de modelos matemáticos de dispersão, ou de ensaios analógicos em modelo
reduzido, tendo em atenção os parâmetros climatológicos e as características
topográficas particulares da região.
6 - As chaminés não devem ter uma altura inferior a 10 metros, exceto quando os
caudais mássicos de todos os seus poluentes atmosféricos sejam inferiores aos
respetivos limiares mássicos médios e a sua cota máxima seja superior, em três metros,
à cota máxima do obstáculo próximo mais desfavorável.
7 - Nas centrais betuminosas móveis, a chaminé pode ter uma altura de oito metros,
desde que o VLE de partículas estipulado na portaria referida no artigo 18.º seja
cumprido.
8 - No caso das hottes laboratoriais que não estão sujeitas a VLE, deve a cota máxima
das respetivas chaminés ser sempre superior, em pelo menos um metro, à cota máxima
do edifício onde estão instaladas.
9 - No caso das estufas de secagem de madeira e de folha de madeira existentes na

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indústria da fileira da madeira que não estão sujeitas a VLE, a cota máxima das
respetivas chaminés deve ser sempre superior, em pelo menos um metro, à cota máxima
do obstáculo próximo mais desfavorável.
10 - É proibida a diluição dos efluentes gasosos.
Artigo 27.º
Requisitos relativos à construção de chaminés
1 - A chaminé deve ter uma secção circular, o seu contorno não deve ter pontos
angulosos, e a variação da secção em altura deve ser contínua e gradual.
2 - No topo das chaminés associadas a processos de combustão não é permitida a
colocação de 'chapéus' ou outros dispositivos similares que condicionem a boa
dispersão dos poluentes atmosféricos.
3 - No topo de chaminés associadas a processos não abrangidos pelo número anterior,
podem ser colocados dispositivos, desde que não diminuam a dispersão vertical
ascendente dos gases.
4 - A chaminé deve ser dotada de tomas de amostragem para captação de emissões e,
sempre que necessário, devem ser construídas plataformas fixas por forma a possibilitar
a realização, em segurança, das amostragens e de outras intervenções.
5 - Nos casos em que não se justifique a construção de plataformas fixas, o operador
deve adotar as medidas de construção de apoios que facilitem a intervenção por parte de
entidades externas, nomeadamente das autoridades de fiscalização e de inspeção.
6 - A localização das secções da chaminé onde se proceda às amostragens, bem como as
respetivas plataformas, devem satisfazer os requisitos estabelecidos nas normas NP
2167:2007 e EN 15259.

CAPÍTULO VII
Disposições complementares, transitórias e finais

SECÇÃO I
Fiscalização e regime contraordenacional e sancionatório
Artigo 28.º
Fiscalização
1 - A fiscalização do cumprimento do disposto no presente decreto-lei compete à
Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território
(IGAMAOT) e às CCDR.
2 - O disposto no número anterior não prejudica o exercício dos poderes de fiscalização
e polícia que competem às demais autoridades públicas, nomeadamente às entidades
coordenadoras do licenciamento ou de autorização da respetiva atividade.
Artigo 29.º
Contraordenações
1 - Constitui contraordenação ambiental leve, punível nos termos da Lei n.º 50/2006, de
29 de agosto, que aprovou a Lei-Quadro das Contraordenações Ambientais, a prática
dos seguintes atos:

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a) A violação da obrigação de manter e comunicar o registo do número de horas de
funcionamento nos termos das alíneas f) e h) do artigo 8.º;
b) A violação da obrigação de captação e canalização das emissões difusas, desde que
tecnicamente viável, para um sistema de exaustão, nos termos da alínea a) do artigo 9.º;
c) A violação de obrigação de proceder à armazenagem confinada, desde que
tecnicamente viável, de produtos com características pulverulentas ou voláteis, nos
termos da alínea b) do artigo 9.º;
d) A violação da obrigação de munir os equipamentos de manipulação, trasfega, e
transporte, desde que tecnicamente viável, com dispositivos de captação e exaustão, nos
termos da alínea c) do artigo 9.º;
e) A violação da obrigação de pulverização com água ou aditivos dos produtos
armazenados ao ar livre, nos termos da alínea d) do artigo 9.º;
f) A violação da obrigação de armazenamento de produtos a granel, desde que
tecnicamente viável, em espaços fechados, nos termos da alínea e) do artigo 9.º;
g) A violação da obrigação de pavimentação da instalação com revestimento adequado
ou violação da obrigação de manter as instalações em condições de higiene e limpeza,
nos termos da alínea f) do artigo 9.º;
h) O incumprimento das obrigações de registo na plataforma eletrónica, nos termos do
n.º 1 do artigo 10.º;
i) O incumprimento do dever de comunicar a informação prevista no n.º 2 do artigo
10.º;
j) A violação da obrigação de dimensionamento adequado dos equipamentos de
despoeiramento e de tratamento de efluentes gasosos, nos termos do n.º 1 do artigo 11.º;
k) A violação da obrigação de exploração e manutenção adequada dos equipamentos
referidos na alínea anterior, nos termos do n.º 3 do artigo 11.º;
l) A violação da obrigação de utilização de substâncias ou preparações menos nocivas,
nos termos do n.º 1 do artigo 12.º;
m) O incumprimento da obrigação de apresentação de um plano alternativo de
monitorização à entidade coordenadora do licenciamento, nos termos do n.º 3 do artigo
14.º
2 - Constitui contraordenação ambiental grave, punível nos termos da Lei n.º 50/2006,
de 29 de agosto, que aprovou a Lei-Quadro das Contraordenações Ambientais, a prática
dos seguintes atos:
a) O funcionamento das instalações ou atividades referidas no artigo 2.º sem TEAR
válido, nos termos do disposto no n.º 1 do artigo 5.º;
b) O incumprimento da obrigação de proceder à alteração do TEAR nos termos do n.º 3
do artigo 5.º;
c) O não cumprimento do prazo estabelecido no n.º 2 do artigo 6.º;
d) A violação da obrigação de cumprimento dos VLE, estabelecidos nos artigos 18.º e
21.º;
e) A violação do dever de realização da monitorização e de comunicação dos resultados
de monitorização nos termos da alínea b) do artigo 8.º;
f) O incumprimento da obrigação de comunicação à entidade competente nos termos do
artigo 22.º;
g) O incumprimento das medidas previstas nos n.os 1 e 2 do artigo 23.º, nas situações
de incumprimento de VLE;
h) A violação da obrigação de descarga de poluentes para a atmosfera através de uma
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chaminé, nos termos do n.º 1 do artigo 26.º;
i) O incumprimento da altura mínima da chaminé nos termos dos n.os 4, 5, 6, 7 e 8 do
artigo 26.º;
j) A violação da proibição de diluição dos efluentes gasosos, nos termos do n.º 9 do
artigo 26.º;
k) O incumprimento dos requisitos relativos à construção de chaminés, previstas no
artigo 27.º
3 - A condenação pela prática das infrações graves previstas no número anterior pode
ser objeto de publicidade, quando a medida concreta da coima aplicada ultrapasse
metade do montante máximo da coima abstratamente aplicável, nos termos do disposto
na Lei-Quadro das Contraordenações Ambientais.
Nota: A Lei Quadro das Contra-Ordenações Ambientais (Lei n.º 50/2006, de 29 de agosto, última
alteração dada pela Lei n.º 25/2019, de 26/03) define a contraordenação ambiental como “todo o facto
ilícito e censurável que preencha um tipo legal correspondente à violação de disposições legais e
regulamentares relativas ao ambiente que consagrem direitos ou imponham deveres, para o qual se
comine uma coima”.

Artigo 30.º
Sanções acessórias e apreensão cautelar
1 - Sempre que a gravidade da infração o justifique, pode a autoridade competente,
simultaneamente com a coima, determinar a aplicação das sanções acessórias que se
mostrem adequadas, nos termos da Lei n.º 50/2006, de 29 de agosto, que aprovou a Lei-
Quadro das Contraordenações Ambientais, consoante o tipo de contraordenação em
causa.
2 - As entidades referidas no artigo 28.º podem ainda, sempre que necessário,
determinar a apreensão provisória de bens e documentos, nos termos do artigo 42.º da
Lei-Quadro das Contraordenações Ambientais.
3 - A aplicação de sanções acessórias ao abrigo do presente artigo deve ser comunicada
à entidade coordenadora do licenciamento ou de autorização da respetiva atividade.
Artigo 31.º
Instrução e decisão dos processos
1 - A instauração e a instrução dos processos relativos às contraordenações referidas no
artigo 29.º é da competência da IGAMAOT e das CCDR, nas áreas sob a sua jurisdição.
2 - Compete ao dirigente máximo da entidade que assegura a instrução do processo de
contraordenação a decisão sobre a aplicação de coimas e de sanções acessórias.
Artigo 32.º
Produto das coimas
A afetação do produto das coimas resultante da aplicação das contraordenações
ambientais previstas no presente decreto-lei é feita, nos termos do artigo 73.º da Lei-
Quadro das Contraordenações Ambientais.
Artigo 33.º
Medidas cautelares

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1 - O Inspetor-Geral da IGAMAOT ou o dirigente máximo da CCDR territorialmente
competente podem, sempre que seja detetada uma situação de perigo grave para o
ambiente ou para a saúde humana adotar as medidas cautelares que, em cada caso, se
justifiquem para prevenir ou eliminar a situação de perigo, nomeadamente a suspensão
da laboração da instalação, o encerramento no todo ou em parte da instalação ou a
apreensão do todo ou parte do equipamento, mediante selagem.
2 - A cessação das medidas cautelares previstas no número anterior é determinada, a
requerimento do operador, por despacho do Inspetor-Geral da IGAMAOT ou do dirigente
máximo da CCDR territorialmente competente, após verificação de que a situação de
perigo grave para o ambiente ou para a saúde humana cessou.
3 - A adoção de medidas cautelares ao abrigo do presente artigo, bem como a sua
cessação, é comunicada de imediato à APA, I. P., e à entidade coordenadora do
licenciamento ou de autorização da respetiva atividade.
SECÇÃO II
Taxas
Artigo 34.º
Taxas para emissão do título de emissões para o ar
1 - Os operadores ficam sujeitos ao pagamento de uma taxa pelo procedimento de
emissão do TEAR, a qual integra a taxa ambiental única.
2 - Os operadores das instalações existentes que apresentem o pedido de TEAR até 30
de junho de 2023 ficam isentos do pagamento da taxa.
3 - As alterações previstas no n.º 2 do artigo 5.º estão sujeitas ao pagamento de taxa.
4 - Os montantes e o modo de repartição das taxas previstas nos n.os 1 e 3 são fixados
por portaria, que altera a Portaria n.º 332-B/2015, de 5 de outubro.
SECÇÃO III
Alterações legislativas
Artigo 35.º
Alteração ao Decreto-Lei n.º 75/2015, de 11 de maio
(……..)

SISTEMA DA INDÚSTRIA RESPONSÁVEL

Alteração ao Decreto-Lei n.º 169/2012, de 1 de agosto


(que aprova o Sistema da Indústria Responsável, na sua redação atual)

Outra legislação ambiental importante:

LICENCIAMENTO ÚNICO DE AMBIENTE - DL n.º 75/2015, de 11 de Maio


(última alteração: DL n.º 119/2019, de 21/08)
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Decreto-Lei n.º 150/2015 –D.R. N.º 151/2015, Série I DE 2015-08-05 Estabelece o
regime de prevenção de acidentes graves que envolvem substâncias perigosas e de
limitação das suas consequências para a saúde humana e para o ambiente, transpondo a
Diretiva n.º 2012/18/UE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 4 de julho de 2012,
relativa ao controlo dos perigos associados a acidentes graves que envolvem substâncias
perigosas.

Decreto-Lei n.º 38/2013. D.R. n.º 53, Série I de 2013-03-15 - Regula o regime de
comércio de licenças de emissão de gases com efeito de estufa a partir de 2013,
concluindo a transposição da Diretiva n.º 2009/29/CE, do Parlamento Europeu e do
Conselho, de 23 de abril de 2009, a fim de melhorar e alargar o regime comunitário de
comércio de licenças de emissão de gases com efeito de estufa.

Decreto-lei n.º47/207-Diário da República, 1.ª série —N.º 90 —10 de maio de


2017O presente Decreto-lei procede à segunda alteração ao Decreto-Lei n.º 102/2010, de
23 de setembro, alterado pelo Decreto-Lei n.º 43/2015, de 27 de março, que estabelece o
regime da avaliação e gestão da qualidade do ar ambiente, transpondo para a ordem
jurídica interna a Diretiva (UE)2015/1480 da Comissão, de 28 de agosto de 2015, que
altera vários anexos das Diretivas 2004/107/CE e2008/50/CE do Parlamento Europeu e
do Conselho, que estabelecem as regras relativas aos métodos de referência, à validação
dos dados e à localização dos pontos de amostragem para a avaliação da qualidade do ar
ambiente.

REGIME GERAL DA GESTÃO DE RESÍDUOS


(DL n.º 178/2006, de 5 de setembro, última alteração:

DL n.º 152-D/2017, de 11/1)

Diploma revogado pelo DL n.º 102-D/2020, de 10 de dezembro

ORGANIZAÇÕES NÃO-GOVERNAMENTAIS DE AMBIENTE (ONGAs)

(Lei n.º 35/98 - última alteração dada pela Lei n.º 36/2021, de 14/06 )

CAPÍTULO I
Disposições gerais

Artigo 1.º
Objecto

A presente lei define o estatuto das organizações não governamentais de ambiente,


adiante designadas por ONGA.

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Nota. Cf. especialmente o art.º 51.º (associações e partidos políticos), que consagra a “liberdade
de associação compreende o direito de constituir ou participar em associações”. As ONGAs legitimam-se
neste preceito constitucional, assim como, quanto à sua atividade, no art.º 52.º (direito de petição e direito
de ação popular), que diz: “todos os cidadãos têm o direito de apresentar, individual ou
coletivamente, aos órgãos de soberania, aos órgãos de governo próprio das regiões autónomas ou a
quaisquer autoridades petições, representações, reclamações ou queixas para defesa dos seus direitos, da
Constituição, das leis ou do interesse geral e, bem assim, o direito de serem informados, em prazo
razoável, sobre o resultado da respetiva apreciação”. E o n.º 3 deste preceito diz que “é conferido a
todos, pessoalmente ou através de associações de defesa dos interesses em causa, o direito de ação
popular nos casos e termos previstos na lei, incluindo o direito de requerer para o lesado ou lesados a
correspondente indemnização, nomeadamente para: a) Promover a prevenção, a cessação ou a perseguição
judicial das infrações contra a saúde pública, os direitos dos consumidores, a qualidade de vida, a
preservação do ambiente e do património cultural”.

Artigo 2.º
Definição

1 - Entende-se por ONGA, para efeitos da presente lei, as associações dotadas de


personalidade jurídica e constituídas nos termos da lei geral que não prossigam
fins lucrativos, para si ou para os seus associados, e visem, exclusivamente, a defesa
e valorização do ambiente ou do património natural e construído, bem como a
conservação da Natureza.
2 - Podem ser equiparados a ONGA, para efeitos dos artigos 5.º, 6.º, 13.º, 14.º e 15.º
da presente lei, outras associações, nomeadamente sócio-profissionais, culturais e
científicas, que não prossigam fins partidários, sindicais ou lucrativos, para si ou para os
seus associados, e tenham como área de intervenção principal o ambiente, o
património natural e construído ou a conservação da Natureza.
3 - Cabe ao Instituto de Promoção Ambiental, adiante designado por IPAMB,
proceder, no acto do registo, ao reconhecimento da equiparação prevista no número
anterior.
4 - São ainda consideradas ONGA, para efeitos da presente lei, as associações dotadas
de personalidade jurídica e constituídas nos termos da lei geral que não tenham fins
lucrativos e resultem do agrupamento de várias ONGA, tal como definidas no n.º 1,
ou destas com associações equiparadas.

Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. qq), do regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de
setembro, última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), “valorização” é qualquer operação,
nomeadamente as constantes no anexo ii do presente decreto-lei, cujo resultado principal seja a
transformação dos resíduos de modo a servirem um fim útil, substituindo outros materiais que, caso
contrário, teriam sido utilizados para um fim específico ou a preparação dos resíduos para esse fim na
instalação ou conjunto da economia”.

CAPÍTULO II
Estatuto das ONGA

Artigo 3.º
Atribuição do estatuto

O estatuto concedido às ONGA pela presente lei depende do respectivo registo, nos
termos dos artigos 17.º e seguintes.

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Artigo 4.º
Utilidade pública
(Revogado).

Artigo 5.º
Acesso à informação
1 - As ONGA gozam, nos termos da lei, do direito de consulta e informação junto dos
órgãos da Administração Pública sobre documentos ou decisões administrativas com
incidência no ambiente, nomeadamente em matéria de:
a) Planos e projectos de política de ambiente, incluindo projectos de ordenamento ou
fomento florestal, agrícola ou cinegético;
b) Planos sectoriais com repercussões no ambiente;
c) Planos regionais, municipais e especiais de ordenamento do território e instrumentos
de planeamento urbanístico;
d) Planos e decisões abrangidos pelo disposto no artigo 4.º da Lei n.º 83/95, de 31 de
Agosto;
e) Criação de áreas protegidas e classificação de património natural e cultural;
f) Processos de avaliação de impacte ambiental;
g) Medidas de conservação de espécies e habitats;
h) Processos de auditoria ambiental, certificação empresarial e atribuição de rotulagem
ecológica.
2 - A consulta referida no número anterior é gratuita, regendo-se o acesso aos
documentos administrativos, nomeadamente a sua reprodução e passagem de certidões,
pelo disposto na lei geral.
3 - As ONGA têm legitimidade para pedir, nos termos da lei, a intimação judicial das
autoridades públicas no sentido de facultarem a consulta de documentos ou processos e
de passarem as devidas certidões.

Artigo 6.º
Direito de participação

As ONGA têm o direito de participar na definição da política e das grandes linhas de


orientação legislativa em matéria de ambiente.

Artigo 7.º
Direito de representação

1 - As ONGA de âmbito nacional gozam do estatuto de parceiro social para todos os


feitos legais, designadamente o de representação no Conselho Económico e Social, no
conselho directivo do IPAMB e nos órgãos consultivos da Administração Pública, de
acordo com a especificidade e a incidência territorial da sua actuação, com vista à
prossecução dos fins previstos no n.º 1 do artigo 2.º
2 - As ONGA de âmbito regional ou local têm direito de representação nos órgãos
consultivos da administração pública regional ou local, bem como nos órgãos
consultivos da administração pública central com competência sectorial relevante, de
acordo com a especificidade e a incidência territorial da sua actuação, com vista à
prossecução dos fins previstos no n.º 1 do artigo 2.º
3 - Para efeitos do direito de representação previsto no presente artigo, entende-se por:
a) ONGA de âmbito nacional - as ONGA que desenvolvam, com carácter regular e

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permanente, actividades de interesse nacional ou em todo o território nacional e que
tenham pelo menos 2000 associados;
b) ONGA de âmbito regional - as ONGA que desenvolvam, com carácter regular e
permanente, actividades de interesse ou alcance geográfico supramunicipal e que
tenham pelo menos 400 associados;
c) ONGA de âmbito local - as ONGA que desenvolvam, com carácter regular e
permanente, actividades de interesse ou alcance geográfico municipal ou inframunicipal
e que tenham pelo menos 100 associados.
4 - O disposto no número anterior aplica-se também às ONGA que resultem do
agrupamento de associações, relevando apenas, para apuramento do número de
associados, as associações que preencham os requisitos fixados no n.º 1 do artigo 2.º
5 - O exercício do direito de representação pelas ONGA que resultem do agrupamento
de associações exclui o exercício do mesmo direito pelas associações agrupadas.
6 - Cabe ao IPAMB, no acto do registo, a atribuição do âmbito às ONGA.

Artigo 8.º
Estatuto dos dirigentes das ONGA

1 - Os dirigentes e outros membros das ONGA que forem designados para exercer
funções de representação, nos termos do artigo 7.º, gozam dos direitos consagrados nos
números seguintes.
2 - Para o exercício das funções referidas no número anterior, os dirigentes das ONGA
que sejam trabalhadores por conta de outrem têm direito a usufruir de um horário
de trabalho flexível, em termos a acordar com a entidade patronal, sempre que a
natureza da respectiva actividade laboral o permita.
3 - Os períodos de faltas dados por motivo de comparência em reuniões dos órgãos em
que os dirigentes exerçam representação ou com membros de órgãos de soberania são
considerados justificados, para todos os efeitos legais, até ao máximo acumulado de
10 dias de trabalho por ano e não implicam a perda das remunerações e regalias
devidas.
4 - Os dirigentes das ONGA referidos no n.º 1 e que sejam estudantes gozam de
prerrogativas idênticas às previstas no Decreto-Lei n.º 152/91, de 23 de Abril, com as
necessárias adaptações.

Artigo 9.º
Meios e procedimentos administrativos

1 - As ONGA têm legitimidade para promover junto das entidades competentes os meios
administrativos de defesa do ambiente, bem como para iniciar o procedimento
administrativo e intervir nele, nos termos e para os efeitos do disposto na Lei n.º 11/87,
de 7 de Abril, no Decreto-Lei n.º 442/91, de 15 de Novembro, e na Lei n.º 83/95, de 31
de Agosto.
2 - As ONGA podem solicitar aos laboratórios públicos competentes, por requerimento
devidamente fundamentado, a realização de análises sobre a composição ou o estado de
quaisquer componentes do ambiente e divulgar os correspondentes resultados, sendo
estes pedidos submetidos a parecer da autoridade administrativa competente em razão da
matéria e atendidos antes de quaisquer outros, salvo os urgentes ou das entidades públicas.

Artigo 10.º
Legitimidade processual

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As ONGA, independentemente de terem ou não interesse directo na demanda, têm
legitimidade para:
a) Propor as acções judiciais necessárias à prevenção, correcção, suspensão e cessação
de actos ou omissões de entidades públicas ou privadas que constituam ou possam
constituir factor de degradação do ambiente;
b) Intentar, nos termos da lei, acções judiciais para efectivação da responsabilidade
civil relativa aos actos e omissões referidos na alínea anterior;
c) Recorrer contenciosamente dos actos e regulamentos administrativos que violem as
disposições legais que protegem o ambiente;
d) Apresentar queixa ou denúncia, bem como constituir-se assistentes em processo
penal por crimes contra o ambiente e acompanhar o processo de contra-ordenação,
quando o requeiram, apresentando memoriais, pareceres técnicos, sugestões de exames
ou outras diligências de prova até que o processo esteja pronto para decisão final.

Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. x), do regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de
setembro, última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), a “prevenção” consiste na “adoção de medidas
antes de uma substância, material ou produto assumir a natureza de resíduo, destinadas a reduzir”:
I) a quantidade de resíduos produzidos, designadamente através da reutilização de produtos ou do
prolongamento do tempo de vida dos produtos; II) os impactes adversos no ambiente e na saúde humana
resultantes dos resíduos produzidos; ou III) o teor de substâncias nocivas presentes nos materiais e nos
produtos”

Artigo 11.º
Isenção de emolumentos e custas

1 - As ONGA estão isentas do pagamento dos emolumentos notariais devidos pelas


respectivas escrituras de constituição ou de alteração dos estatutos.
2 - As ONGA estão isentas de preparos, custas e imposto do selo devidos pela sua
intervenção nos processos referidos nos artigos 9.º e 10.º
3 - A litigância de má fé rege-se pela lei geral.

Artigo 12.º
Isenções fiscais
(Revogado).

Artigo 13.º
Mecenato ambiental

Aos donativos em dinheiro ou em espécie concedidos às ONGA e que se destinem a


financiar projectos de interesse público previamente reconhecido pelo IPAMB será
aplicável, sem acumulação, o regime do mecenato cultural previsto nos Códigos do IRS
e do IRC.

Artigo 14.º
Apoios

1 - As ONGA têm direito ao apoio do Estado, através da administração central,


regional e local, para a prossecução dos seus fins.
2 - Incumbe ao IPAMB prestar, nos termos da Lei n.º 11/87, de 7 de Abril, e dos

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regulamentos aplicáveis, apoio técnico e financeiro às ONGA e equiparadas.
3 - A irregularidade na aplicação do apoio financeiro implica:
a) Suspensão do mesmo e reposição das quantias já recebidas;
b) Inibição de concorrer a apoio financeiro do IPAMB por um período de três anos;
c) Responsabilidade civil e criminal nos termos gerais.
4 - O IPAMB procede, semestralmente, à publicação no Diário da República da lista
dos apoios financeiros concedidos, nos termos da Lei n.º 26/94, de 29 de Agosto.
5 - Uma quota equivalente a 0,5 /prct. do imposto sobre o rendimento das pessoas
singulares, liquidado com base nas declarações anuais, pode ser destinada pelo
contribuinte, para fins ambientais, a uma entidade referida no artigo 1.º à qual tenha
sido atribuído o estatuto de utilidade pública, através da indicação dessa entidade na
declaração de rendimentos, e desde que essa entidade tenha requerido o respetivo
benefício fiscal.
6 - As verbas destinadas, nos termos do número anterior, às ONGA são entregues pelo
Tesouro às mesmas, que apresentam à Autoridade Tributária e Aduaneira um relatório
anual do destino dado aos montantes recebidos.
7 - O contribuinte que não a faculdade prevista no n.º 5 pode fazer uma consignação
fiscal equivalente a favor de uma pessoa coletiva de utilidade pública de fins
ambientais, que indica na sua declaração de rendimentos.
8 - Para efeitos do disposto nos n.º s 5 e 7, a Agência Portuguesa do Ambiente, I. P.,
deve proceder à criação e manutenção de um registo do qual constem as entidades
beneficiárias.
9 - A informação constante do referido registo deve ser comunicada anualmente à
Autoridade Tributária e Aduaneira, para efeitos de verificação da possibilidade de
consignação prevista nos n.º s 5 e 7.
10 - A Autoridade Tributária e Aduaneira publica, na página das declarações
eletrónicas, até ao primeiro dia do prazo de entrega das declarações, previsto no artigo
60.º do Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares, todas as
entidades que se encontram em condições de beneficiar da consignação fiscal prevista
nos n.º s 5 e 7.
11 - As verbas a entregar às entidades referidas nos n.º s 5 e 7 devem ser inscritas em
rubrica própria no Orçamento do Estado.
12 - Da nota demonstrativa da liquidação de imposto sobre o rendimento das pessoas
singulares deve constar a identificação da entidade beneficiada, bem como o montante
consignado nos termos dos n.º s 5 e 7.
13 - As verbas referidas nos n.º s 5 e 7, respeitantes a imposto sobre o rendimento das
pessoas singulares liquidado com base nas declarações de rendimentos entregues dentro
do prazo legal, devem ser transferidas para as entidades beneficiárias até 31 de março
do ano seguinte ao da entrega da referida declaração.
14 - A consignação fiscal prevista no presente artigo não é cumulável com a
consignação fiscal prevista na Lei n.º 16/2001, de 22 de junho, sendo alternativa face a
essa consignação.

Artigo 15.º
Direito de antena

1 - As ONGA têm direito de antena na rádio e na televisão, nos mesmos termos das
associações profissionais.
2 - O exercício do direito de antena pelas ONGA que resultem do agrupamento de

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associações, nos termos do n.º 4 do artigo 2.º, exclui o exercício do mesmo direito pelas
associações agrupadas.

Artigo 16.º
Dever de colaboração

As ONGA e os órgãos da Administração Pública competentes devem colaborar na


realização de projectos ou acções que promovam a protecção e valorização do
ambiente.
Nota: Nos termos do art.º 3.º, al. qq), do regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de
setembro, última alteração: DL n.º 152-D/2017, de 11/1), “valorização” é qualquer operação,
nomeadamente as constantes no anexo ii do presente decreto-lei, cujo resultado principal seja a
transformação dos resíduos de modo a servirem um fim útil, substituindo outros materiais que, caso
contrário, teriam sido utilizados para um fim específico ou a preparação dos resíduos para esse fim na
instalação ou conjunto da economia”.

CAPÍTULO III
Registo e fiscalização

Artigo 17.º
Registo

1 - O IPAMB organiza, em termos a regulamentar, o registo nacional das ONGA e


equiparadas.
2 - Só são admitidas ao registo as associações que tenham pelo menos 100 associados.
3 - As associações candidatas ao registo remetem ao IPAMB um requerimento instruído
com cópia dos actos de constituição e dos respectivos estatutos.
4 - O IPAMB procede anualmente à publicação no Diário da República da lista das
associações registadas.

Nota. A ONGAs também podem ser constituídas pelo método “associação na hora”. O
RNOG pode ser consultado em: https://onga.apambiente.pt/

Artigo 18.º
Actualização do registo

1 - As associações inscritas no registo estão obrigadas a enviar anualmente ao IPAMB:


a) Relatório de actividades e relatório de contas aprovados pelos órgãos estatutários
competentes;
b) Número de associados em 31 de Dezembro do ano respectivo.
2 - As associações inscritas no registo estão obrigadas a enviar ao IPAMB todas as
alterações aos elementos fornecidos aquando da instrução do processo de inscrição, no
prazo de 30 dias a contar da data em que ocorreram tais alterações, nomeadamente:
a) Cópia da acta da assembleia geral relativa à eleição dos órgãos sociais e respectivo
termo de posse;
b) Cópia da acta da assembleia geral relativa à alteração dos estatutos;
c) Extrato da alteração dos estatutos publicada no Diário da República;
d) Alteração do valor da quotização dos seus membros;
e) Alteração da sede.

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Artigo 19.º
Modificação do registo

O IPAMB promove a modificação do registo, oficiosamente ou a requerimento da


interessada, sempre que as características de uma associação registada se alterem por
forma a justificar classificação ou atribuição de âmbito diferente da constante do registo.

Artigo 20.º
Fiscalização

1 - Compete ao IPAMB fiscalizar o cumprimento da presente lei, nomeadamente


através de auditorias periódicas às associações inscritas no registo.
2 - O IPAMB pode efectuar auditorias extraordinárias às associações inscritas no
registo sempre que julgue necessário, nomeadamente:
a) Para verificação dos dados fornecidos ao IPAMB no acto de registo;
b) No âmbito da prestação do apoio técnico e financeiro.
3 - Das auditorias pode resultar, por decisão fundamentada do presidente do IPAMB, a
suspensão ou a anulação da inscrição das associações no registo quando se verifique o
incumprimento da lei ou o não preenchimento dos requisitos exigidos para efeitos de
registo.

CAPÍTULO IV
Disposições transitórias e finais

Artigo 21.º
Transição de registos

1 - As associações de defesa do ambiente inscritas no anterior registo junto do IPAMB


transitam oficiosamente para o novo registo nacional das ONGA e equiparadas quando
preencham os requisitos previstos na presente lei.
2 - O IPAMB, no prazo de 30 dias a contar da entrada em vigor da presente lei, notifica
as associações interessadas da transição referida no número anterior.
3 - Se da aplicação da presente lei resultar a alteração da classificação ou do âmbito a
atribuir, ou o não preenchimento dos requisitos exigidos para efeitos de registo, o
IPAMB notifica desse facto as associações interessadas, concedendo-lhes um prazo de
180 dias para comunicarem as alterações efectuadas.
4 - Na falta da comunicação das alterações a que se refere o número anterior, considera-
se, consoante os casos, automaticamente modificado o registo nos termos da notificação
feita pelo IPAMB ou excluída a associação do registo nacional das ONGA ou
equiparadas.

Artigo 22.º
Regulamentação

A presente lei será objecto de regulamentação no prazo de 90 dias após a data da sua
publicação.

Artigo 23.º
Revogação

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É revogada a Lei n.º 10/87, de 4 de Abril.

Artigo 24.º
Entrada em vigor

1 - Na parte que não necessita de regulamentação esta lei entra imediatamente em vigor.
2 - As disposições da presente lei não abrangidas pelo número anterior entram em vigor
com a publicação da respectiva regulamentação.

Aprovada em 4 de Junho de 1998.


O Presidente da Assembleia da República, António de Almeida Santos.
Promulgada em 3 de Julho de 1998.
Publique-se.
O Presidente da República, JORGE SAMPAIO.
Referendada em 9 de Julho de 1998.
O Primeiro-Ministro, António Manuel de Oliveira Guterres.

Direito internacional público do ambiente


Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas;
Convenção sobre Diversidade Biológica (Convenção da Biodiversidade);
Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação.
Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (montego Bay, 1982)
Acordo de Paris a 4 de novembro de 2016, a comunidade internacional procura dar uma
resposta global e eficaz à necessidade urgente de travar o aumento da temperatura
média global e resolver, com determinação, os desafios ligados às alterações climáticas.
“O Acordo de Paris visa alcançar a descarbonização das economias mundiais e
estabelece como um dos seus objetivos de longo prazo limitar o aumento da temperatura
média global a níveis bem abaixo dos 2ºC acima dos níveis pré-industriais e prosseguir
esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC, reconhecendo que isso reduzirá
significativamente os riscos e impactos das alterações climáticas.”

DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

LEGISLAÇÃO DO AMBIENTE
O Programa Nacional para as Alterações Climáticas 2020/2030 (PNAC 2020/2030)
“visa garantir o cumprimento das metas nacionais em matéria de alterações climáticas
dentro das áreas transversais e de intervenção integrada tendo em vista uma organização
das medidas mais vocacionada para a sua implementação. É considerado um plano de
“2.ª geração” que aposta na integração da política climática nas políticas setoriais e uma
maior responsabilização dos setores alicerçado no nível de maturidade alcançado pela
política nacional de clima.”

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Decreto-Lei n.º 93/2010, de 27 de Julho, “estabelece o regime de comércio de licenças
de emissão de gases com efeito de estufa das actividades da aviação, transpondo para a
ordem jurídica nacional a Directiva n.º 2008/101/CE, do Parlamento Europeu e do
Conselho, de 19 de Novembro de 2008, que altera a Directiva n.º 2003/87/CE, do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 13 de Outubro de 2003, de modo a incluir as
actividades da avaliação no regime de comércio de licenças de emissão de gases com
efeito de estufa.”

Decreto-Lei n.º 38/2013 de 15 de março, que “transpõe para a ordem jurídica nacional a
Diretiva n.º 2003/87/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 13 de outubro de
2003, relativa à criação de um regime de comércio de licenças de emissão de gases com
efeito de estufa na Comunidade e que altera a Diretiva n.º 96/61/CE, do Conselho,
alterada pela Diretiva n.º 2004/101/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 27 de
outubro de 2004, no que diz respeito aos mecanismos baseados em projetos do Protocolo
de Quioto, pelo Regulamento (CE) n.º 219/2009, do Parlamento Europeu e do Conselho,
de 11 de março de 2009, e pela Diretiva n.º 2009/29/CE, do Parlamento Europeu e do
Conselho, de 23 de abril de 2009, a fim de melhorar e alargar o regime comunitário de
comércio de licenças de emissão de gases com efeito de estufa, doravante designado
regime CELE”

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