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Este texto tem por objetivo escrever uma resenha breve sobre quatro
autores que influenciaram o meu processo de criação em laboratório teatral da cena
aberta na construção da mostra de “A exceção e a Regra” durante os meses de
Janeiro e Maio. De cada autor será resenhada uma obra que foi lida para provocar o
entendimento da criação cênica em Brecht. De Gerd Bornheim, “Brecht: A estética
do Teatro”, e de Leando Konder “O que é dialética”, as aulas durante a matéria “O
Laboratório teatral de cena aberta” ministrados por Agamenon de Abreu, Eduardo
Tudella, e Gil Vicente Tavares. Este material tem por objetivo servir de registro, e
fichamento para retorno de estudos sobre Brecht e sua cena.
O primeiro material lido foi “O que é dialética” de Leandro Konder, que faz um
breve histórico sobre a origem e o conceito da palavra dialética. KONDER atravessa
o tempo desde a antiga Grécia até tempos de hoje discutindo dialética entre os mais
diversos filósofos, do grego Heráclito, até os principais modernos.
Na antiguidade, ela servia para ser um debate que poderia discutir o
conceito de “Bravura”, por exemplo, e mostrar a utilidade da filosofia. Enquanto, em
tempos modernos,
“é o modo de pensarmos as contradições
da realidade, o modo de compreendermos
a realidade como essencialmente
contraditória e em permanente
transformação.”
O Naturalismo e o Realismo
O professor Eduardo Tudella me disse uma vez: “Faz o realismo primeiro e depois cria as
intervenções brechtianas: o comentário, a música, o distanciamento”. Essa foi a dica que
me inspirou a mudar de paradigma na minha pesquisa sobre a interpretação brechtiana.
Como a maioria dos atores era inexperiente na abordagem de Brecht, eu decidi seguir esse
caminho. A minha escolha se confirmou quando eu li em Bornheim que, antes de Brecht, o
naturalismo e o realismo eram as tendências dominantes, e que o dramaturgo alemão teve
de desafiar essas escolas.
Brahm, em seu manifesto, defendeu que a verdade deveria ser o caminho e o fim do teatro.
Nesse sentido, as manifestações de luta de classe também ganharam espaço nas suas
encenações. Ele acreditava que o teatro deveria refletir a dinâmica da história e a
transformação do homem. Por isso, ele se perguntava se o teatro feito há séculos atrás
ainda teria o mesmo encanto para o homem de sua época. Essa questão atravessou sua
crítica à montagem de Antígona de 1840. Ele também se questionou sobre o impacto de
Shakespeare em sua época e séculos depois. Assim, ele buscava pensar na dinamização
da história e na transformação do ser humano através do teatro. Como remontar o sentido
pleno de Shakespeare nesta época? Talvez, transpor do passado ao estilo de hoje. Assim o
fez com Antígona de forma realista. Mas como adaptar peças do passado ao tempo de hoje,
aos estilos de hoje? Essa era uma pergunta que Brecht em sua época sempre teve em
mente, ao observar o bardo inglês.
O Expressionismo
No início do século XX, o expressionismo surgiu como uma reação às inovações científicas
e às grandes guerras que abalaram a humanidade. O movimento expressionista rompeu
com a tradição naturalista ou realista e trouxe para a cena alemã elementos de rebeldia,
misticismo, deformação e exagero, inclusive o niilismo. O expressionismo abrangeu os
extremos da cidade ao campo, da esquerda ao nazismo, do homem à máquina. Brecht se
fascinou pelo niilismo, que oscilava entre o derrotismo e a transfiguração, ou a reconstrução
de um mundo de sombras.
Em 1927, Heidegger publicou a obra Ser e tempo, na qual distinguiu entre a existência
autêntica e a inautêntica. Heidegger distinguiu entre o ser (Sein) e o ente (Seiende), e
afirmou que o ser não é um ente, mas a condição de possibilidade de todos os entes.
Heidegger também usou o termo Dasein, que significa “ser-aí”, para se referir ao modo de
ser do ser humano, que é marcado pela abertura, pela temporalidade e pela finitude. O
Dasein é o único ente que pode questionar o sentido do ser, e por isso tem uma
responsabilidade existencial de cuidar de si mesmo e de suas possibilidades de ser.
Essa distinção envolve uma profunda discussão sobre o real e o não real, que também está
presente nas artes abstratas. Heidegger propôs um estudo filosófico do ser, que vai além do
estudo dos entes, das coisas, dos fatos, dos acontecimentos, dos valores. Ele buscou uma
visão crítica das raízes, das essências comuns a todos os seres, do individualismo e do
coletivismo. Dessa forma, ele levantou duas questões fundamentais: O que é o eu e o que é
o todo?
O ser se identifica com o todo, ou com um tipo ou uma classificação dentro da sociedade,
que determina o seu modo de viver. Assim, o ser se define pela sua função cristalizada, seja
individual ou coletiva: o soldado, o amante, a vítima. O que importa é ver o tipo ou o
arquétipo, a pesquisa pela origem do mal comum.
Um ponto que gera debate é a relação dramática com o público. O expressionismo buscava
uma comunicação/pedagogia que envolvesse o espectador em uma experiência emocional
e existencial. Muitas vezes, isso implicava na quebra da quarta parede, que é a convenção
teatral de separar a cena do público. Essa quebra não é uma invenção de Brecht, como
muitos leigos pensam. Muito antes dele, já havia Molière, e o próprio expressionismo. Além
disso, a pedagogia expressionista tinha uma orientação ideológica de pacifismo,
fraternidade e transformação social.
A distinção entre ôntico e ontológico está relacionada à filosofia. O termo "ôntico" refere-se
ao nível do ser relativo aos entes individuais e concretos, enquanto "ontológico" diz respeito
ao nível do ser em geral, abordando questões sobre a existência, natureza e estrutura do
ser como tal. Em resumo, o ôntico lida com entes específicos, enquanto o ontológico
explora o ser como um todo.
A visão subjetiva do dramaturgo deve levar todo o processo de figurino ao cenário em que
tudo é o exterior. Tudo deve ser A Arte da dos exageros do subjetivo utilizando-se máscaras
maquiagens exagerada , cenários que não definem um espaço um território de a luz não
deve só apenas iluminar e apresentar e deixa as pessoas enxergarem mas também dão
volume e cores distintas para gerar coisas novas ou delírios do subjetivo do autor.
Neste momento que surge o diretor teatral como figura central desmarginalizada, tendi por
exemplo a cidade de Berlin que recebia 20 espetáculos por noite com os maiores da sua
época.
O teatro expressionista pode ser visto como expressão maior de uma desmedida
decorrência de qualquer coisa como a visão do caos o sentimento dos sem sentido serem
instaurador da desmedida.
“Quando certas pessoas vem em nossas formas exclamam queixos “formalismo!” Mas elas
próprias são as piores formalistas adoradoras a qualquer preço das velhas formas pessoas
que só tem olhos para as formas só cuidam delas só delas fazem objeto de sua
investigação. O não saber fazer o não saber fazer algo de determinado e realmente um
precondição para saber fazer Algo de diferente.”
Brecht indica um caminho que envolve a pesquisa das diversas formas e abordagens dos
conteúdos, visando adquirir a habilidade de realizar e compreender, permitindo transcender
o convencional. Entender as regras do jogo é crucial para alcançar algo que desperte
interesse ou surpreenda. É fundamental dominar o que já está estabelecido nos clássicos
antes de tentar reinventar a roda, coisa que não existe, diga-se de passagem. Como diria
Tudella, Teatro é sobre o que se fez.
Enfim, não é atoa que Brecht soube fazer o seu Teatro, porque conhecia a fundo os
clássicos passados, e suas formas.
A ruptura
O termo jovem Brecht não é sobre imaturidade, mas sim sobre “uma obra que soube
assimilar e traduzir possivelmente como nenhum outro dramaturgo dos primeiros decênios
do século conseguiu fazê-lo a instabilidade visceral que permeável à vida social daqueles
anos” ou seja estava aberto às influências e avesso a definições.
Brecht nessa fase estava aberto ao niilismo, seguindo ao realismo social, o esporte, o teatro
do absurdo, e os estudos com as peças didáticas tudo para alcançar a grande ópera mais
tarde. Para mais tarde iniciar sua fase mais estável e com filosofia mais definida a partir de
uma inquietação e pesquisa constante para romper a totalidade da tradição do Teatro
Ocidental. Brecht meditou sobre o fazer teatral à medida que o praticava e questionava sua
serventia. E tudo questionava: dramaturgia, a poética do espetáculo, o trabalho do ator, e
todos os elementos que compõe a realidade cênica, e sem esquecer a realidade histórica e
movediça do público. Também de submeter o teatro a crítica racional, de breves ensaios
estudos sobre suas novas peças e práticas dramaturgicas, a sua estética . Ou seja,
enquanto fazia teorizava e anunciava uma quebra de paradigmas no teatro ocidental.
Esta ruptura de Brecht com as correntes artísticas anteriores se dá de forma gradual
durante sua biografia. Em dado momento de sua vida, enfrentou a guerra, e ao invés de ir à
frente de combate ou ficar em casa, preferiu cuidar dos doentes, e feridos, como
enfermeiro. E um poema que marcou essa trajetória foi: “cresci como filho de pessoas bem
situadas. Meus pais puseram-me um colarinho, educaram-me nos costumes de ser-servido
e ensinaram minha arte dá ordens. Mas quando cresci e olhei em torno de mim as pessoas
de minha classe não me agradaram nem o da ordens nenhum ser servido e eu abandonei
minha classe e juntei minhas pessoas inferiores”.
A grande experiência do século a primeira grande guerra levou ao tema recorrente do
século: a decadência do ocidente. No início de sua carreira Brecht escrevia pequenas
críticas de espetáculos que estavam entre o abstratismo e o Expressionismo. E aqui nessas
críticas o inconformismo de Brecht interpõe a questão: para que novas pedras se podemos
trilhar sobre as antigas, mas com outra perspectiva, sendo algo novo, em resumo.
Em 1914, aos 16 anos, Brecht já demonstrava seu talento com poesias, ensaios críticos e
pequenas crônicas publicadas em um jornal na Alemanha. Ao ingressar na idade adulta,
retoma a escrita, debutando como diretor em 1922 com a peça "Bronnen" e atuando na
obra de Karl Valentin. Contudo, seu envolvimento com a escrita teatral teve início já em
1918, quando iniciou a criação da peça "Baal".
Baal serve de crítica não ao Expressionismo mas a ideia burguesa do herói e sua exaltação
espiritual e o culto materialista. Um comentário às avessas do texto de Johst. De uma
história realmente acontecida, na peça o herói não passa de um marginal alcoólatra ele é
poeta e assassino que interpreta canções em locais noturnos para acabar morrendo
lameado numa Cabana abandonada ao som da área final de Tristão e Isolda de Wagner
substituindo a música de Beethoven pela de Jost tocada no pequeno órgão de som
rascante.
Não se trata de um drama porque o personagem é um anti-herói. A estrutura da peça não
permite que se costura um personagem inserido numa ação dramática na acepção própria.
A peça se dá sobre um fundo niilista. Em resumo um símbolo a própria terrena, sobre a
felicidade de viver. Um personagem cheio de lirismo, apesar de ser uma crítica ao
romantismo.
No início de sua carreira Brecht dirige duas peças Expressionistas do Bronnen, “Parricidio” ,
uma atualização do mito de Édipo e outro texto de Hans Jahns “Pastor Ephraim Magnus”
sobre o materialismo do corpo. Em seguida Baal no seu formato que se aproxima do
Expressionismo, sem desenvolvimento de personagens, com ações dramáticas de
stationedrama, fragmentação da ação. Tudo isso é bebido em Expedição ao Polo Este
(Bronnen) e Woyzek (Buchner). Além do drama-monólogo atravessar a obra Baal,
acrescentando-se músicas, assim como Wedekind, bem aquém de consciência crítica, as
cantorias reafirmavam o aspecto lirista de Baal.
Os três aspectos ressaltados na obra de Baal são a postura de brecha em face da
sociedade, sua versão consciente ao mundo dos valores burgueses, construção da peça
em cenas independentes, e a introdução de canções que ainda não quebram a cena
dramaticamente não quer quebrar o teatro hipnótico.
Tambores da noite começaram a escrita em 1918 foi realizado com o intuito de arrecadar
dinheiro. Agora vê se uma obra que busca a superação das fórmulas expressionistas
principalmente no tratamento das personagens e no primeiro ato vê se o recurso da
tipificação das figuras compondo personagens individualizados também também atendo ao
mundo mais real o mundo centrado no social a política apresenta um relevo decisivo.
A história de “tambores da noite” apresenta um soldado cansado de guerra que volta para
sua cidade e encontra a sua noiva grávida de outro e isto é um espelho para a realidade de
Alemanha retornando da Guerra e formando um burguesia que um pequeno ou um
pequeno burguês para qual a cama e o dinheiro são valores determinantes. Embalar os
personagens são definidos pelo prenome ou pela função desprovido de individualidade
enquanto que tambores da noite os personagens apresentam uma divisibilidade bem
desenvolvida identidade especificadas completa bem datados são pessoas inseridas no
complexo histórico numa sociedade com nuances e contradições. Uma estrutura de unidade
de espaço e fragmentada em diferentes lugares. Mas respeita o tempo, tudo acontece em
uma noite. Brejo consegue contrapor duas esferas um espelho entre objetiva os conflitos
sociais e subjetiva dos problemas privados.
Mas o que fica para a gente sempre nessa pesquisa é a linguagem em que contrapõe o
social privado e o público, assim sendo sempre dialético até o fim.
Com influência de Carl Valentim brest pesquisou sobre a linguagem popular e aplicou isso
ao seu teatro voltando-se contra o expressionismo.
Ao escrever baú e tambores brecha apresenta um entendimento consciência da função do
teatro e do metier. Sobre a pesquisa de Brecht em Tambores na relação: língua o corpo do
ator e a encenação. Ou seja brejo já estava preocupado com a palavra na boca do ator que
fosse acessível e entendidas pelo público:
“Brecht dramaturgo porque sua linguagem é sentida ao mesmo tempo como corpórea e
espacial. Ele estrutura seus personagens através da ação sobre os outros personagens e
evita por isso de um lado a declamação lírica e de outro a caracterização do indivíduo
isolado Brecht alcança as suas coordenadas e o seu plano de fundo espiritual tão somente
a partir da concepção cênica”Jehring
Ele o Alves burguense não podia ouvir a língua se um gesto o símbolo linguístico tem os
seus gestos reconhecíveis na própria língua até mesmo na poesia Brecht mímico.
Portanto um fenômeno teatral deve representar uma unidade de raiz e essa unidade já se
encontra garantida na plasticidade que se emprestaram ao tratamento da língua de certa
forma o texto escrito como que antecipa em si o espetáculo.
Brecht começa a acrescentar em seu teatro cartazes cenários mais simples ilustrativos
simbólicos para quebrar com o teatro hipnotizador, para lembrar o público que ele estava no
teatro, o que mais tarde o ajudaria a escrever sobre o Teatro épico.
Em seus programas era comum escrever textos sobre seu processo e incluir textos sobre
Karl Valentin, quem ele era?
Karl Valentin
Karl Valentin foi uma grande referência de Brecht, tal qual seria um Charles Chaplin hoje,
mas com pouco fama e divulgação, sendo um artista cômico com obras de teatro, cinema e
música. Brecht filmou o cômico no cinema para a obra Mistérios de um salão de beleza.
Brecht atuou em peças de variedade, onde teve como referência Wedekind e Valentin, onde
começou formar as bases do pensamento do trabalho de ator. A questão levantada a partir
de Valentin, foi qual seria o papel do clown no teatro. Nas suas conferências, e diários
Brecht traz o cinema mudo de Valentin, circo ao ar livre, e o dramalhão melodramático
(plarrer). No ensaio Der Messingkauf que Brecht analisa a atuação do estilo Cabaret, e a
cantoria.
Um relato de Max ophuls sobe Valentim em sua atuação no filme “A noiva perdida”:
Tudo se passa portanto no reino da duplicidade digamos que a arte de Valentim se envolve
entre o ser e o nada não adere simplesmente a ordem do real tal como ela se oferece mas
se se afasta de tal ordem não é para decidir no vazio insosso a respeito de intérpretes que
procuram aproximar nosso artista do niilismo dadaísta. Valentim buscava cantar sem
melisma assim melodias complexas modulações sem altos e baixos sua voz explorava
secura ali a qualquer tipo de entusiasmo mas falado tem dia comentar a criticar o conteúdo
da canção cantada e o tom da voz conjugava com a utilização do corpo. Longe da finura da
mímica o corpo adquire um peso uma economia expressiva que coincide com um certo jogo
inibitório próprio do cômico essa frieza quase apatia é justamente o elemento que
desencadeia a comicidade brecha sentia simpatia por esse comportamento distanciado do
artista e de seus músicos gente que trabalha por dinheiro e cuidem em receber esses
salários mínimo de esforço possível. Brecht encontrou em Valentim as premissas básicas
do ponto de vista prático desse novo tipo de atuação. Sendo assim, Valentim é origem da
atuação épica.
Brecht escreveu, mas não publicou, quatro breves textos inspirados em Valentin: “O
Casamento” (uma sátira política que foi encenada no Senado de Frankfurt em 1926, mas
fracassou) onde usou a linguagem mais popular, “O Mendigo ou o Cão Morto” (uma farsa
sobre a miséria e a hipocrisia da sociedade burguesa), “Ele Exorciza um Demônio Hilux em
Tenebres” (uma paródia do expressionismo alemão). Seria fácil aproximar essas peças do
teatro do absurdo, como o de Ionesco, pois elas apresentam situações grotescas e
irracionais. No entanto, Brecht não usa o absurdo pelo absurdo, mas sim como uma forma
de criticar a realidade social e política de sua época, com exceção de O Mendigo, que é
mais uma homenagem ao humor de Valentin.
● 1921-22 Brecht traz um trabalho mais pretensioso em “Na selva das cidades”, com
um cenário mais absurdo, cujo tema está no prólogo:
“Estamos em Chicago em 1912 vereis a luta inexplicável entre dois homens e assistireis à
decadência de uma família vindo da região de savanas para a selva das grandes cidades.
Não deveis quebrar a cabeça sobre os motivos dessa luta melhor é participar dos riscos de
tal situação humana julgar sem tomar partido o método dos adversários e reservar seu
interesse para o final”
JEHRING: