Você está na página 1de 2

O G3

lingulsticamente. Este é o motivo pe- semifechado -arbitrárias (não baseadas na arbitrariedade do signo); assim, o código
lo qual se prefere, cada vez mais, o Semifechada é uma vogal realiza-
termo global, tomado de empréstimo da etiqueta, dotado de certa relação com a expressividade natural,
da com a língua elevada em dire-
no inglês, de glide*, em vez dos dois ção ao palato, sem ficar tão alta co- será um sistema semiológico? A resposta é positiva, já que os signos
termos acima. mo para uma vogal fechada. O se- da etiqueta são empregados em função de uma regra (de um código)
Este tipo de som pode ser a rea- gundo grau de fechamento é utilizado e não por seu valor intrínseco.
lização de um fonema, ou ter, sim- fonologicamente nas línguas que apre-
plesmente, um valor de variante com- sentam dois graus de abrimento inter- R . B A R T H E S sublinha a atualidade destas pesquisas numa época
binatória de um fonema, vocálico ou mediário, como o português e o ita- de desenvolvimento das comunicações de massa. Mas a pobreza dos
consonântico: em italiano, o glide pa- liano ([e], [o]), ou o francês ([e]
latal é um fonema em início de sílaba [o], [</.]). etc. campos que se oferecem à análise semiológica (código de trânsito,
(iato "hiatus" ~ lato "lado") e um semáfora, etc.) leva-o a notar que cada conjunto semiológico impor-
alofone do fonema / i / , no fim da sí- semi-oclusivo tante demanda a passagem à língua: "Todo sistema semiológico se
laba (mai [jamais] é pronunciado As africadas* são também chamadas
[maj] ou [mai]; em veneziano, [w] impregna de linguagem." Assim, a semiologia seria um ramo ,da
semi-oclusivas, porque são oclusivas
é muitas vezes uma variante do fone- durante o começo de sua realização. lingiiística e não o inverso. A semiologia é a ciência das grandes uni-
ma / u / ou do fonema / v / . Este tipo Mesmo nesse momento, a oclusão não dades significantes do discurso: nota-se que tal definição da semiologia
de som pode também aparecer muito é, aliás, nunca tão completa quanto
fteqiientemente numa língua (na qual aproxima-a da semiótica, estudo das práticas significantes que tem
para as verdadeiras oclusivas: assim,
não tenha valor fonemático) como som como domínio o texto.
na realização das sequências [ts, dz,
de ligação* entre dois fonemas, como TJ, d3] das palavras italianas zio, zap-
apoio entre duas vogais, ou como pa, cena, giro, o ataque é menos oclu- no lingiiístico; pode-se, conforme J .
transição entre uma consoante e uma semiótica
sivo que para a realização dos fone- KRISTEVA, encontrar já no Curso de
vogal. mas [t, d]. A semiótica retoma o projeto da se-
Lingiiística Geral de F. DE SAUSSURE
miologia de F. DE SAUSSURE e se colo-
esta precaução. A semiótica deverá
ca como objeto o estudo da vida dos
semiologia refundir as sistematizações linguísticas,
signos no seio da vida social. Dife-
rentemente da semiologia provinda do bem como os modelos lógicos ou ma-
A semiologia nasceu de um projeto de F . D E S A U S S U R E . Seu objeto ensinamento de F. DE SAUSSURE, no
temáticos; ela deverá apoiar-se numa
é o estudo da vida dos signos no seio da vida social: ela se integra entanto, ela se recusa a destacar a lin- ciência sobre o sujeito e sobre a his-
na psicologia, como ramo da psicologia social. Neste caso, a linguís- guagem e a sociedade. A semiótica tória: esta prática anterior e indispen-
deseja ser uma teoria geral dos modos sável à semiótica será a semanálise.
tica não passa de um ramo da semiologia. O paradoxo sublinhado Encontraremos em J . DERRIDA a re-
de significar.
por F . D E S A U S S U R E é que, simples ramo da semiologia, a lingiiística cusa da problemática do signo como
é necessária à semiologia para a colocação conveniente do problema O termo semiótica, no seu em- fundamento da busca semanalítica.
prego moderno, foi utilizado, por pri- Reformulando-se em relação às ciên-
do signo. E m particular, um estudo do signo, anterior ao estabele- meiro, por Ch. S. PiERCE. A semió- cias, já que ela se postula como meta-
cimento de uma lingiiística científica, está fadado, por incapacidade, tica que ele visualizou é a doutrina ciência, já que ela assume a posição
a não distinguir nos sistemas semiológicos o que é específico ao sis- dos signos. Quais devem ser as ca- de observadora em relação aos sistemas
tema e o que é devido à língua. F . D E S A U S S U R E insiste, portanto, no racterísticas dos signos utilizados pela significantes, a semiótica visa aos mo-
inteligência humana na sua busca cien- dos da significação. O domínio da
carácter essencialmente semiológico do problema lingiiístico: "Se se tífica? Para os semióticos modernos
quiser descobrir a verdadeira natureza da língua, será mister consi- semiótica é o texto como prática signi-
( A . J . GREIMAS, J . KRISTEVA), a se-
ficante. Mas as questões colocadas
derá-la inicialmente no que ela tem de comum com todos os outros miologia de Pierce tem o defeito de
no texto serão bastante diferentes con-
sistemas da mesma ordem; e fatores lingíiísticos que aparecem, à pri- se preocupar, além do signo, com um
forme a orientação do pesquisador: ao
produto de tipo secundário, seja quan-
meira vista, como muito importantes (por exemplo: o funcionamento do este produto se reveste de uma lado de uma semiótica estruturalista,
do aparelho vocal), devem ser considerados de secundária importância com A. J. GREIMAS, encontramos uma
forma de valor (o bilhete, o cheque,
quando sirvam somente para distinguir a língua dos outros sistemas." a moda) ou de uma retórica (a "ex- semiótica baseada numa ótica gnoseo-
pressão" de um sentimento, a "lite- lógica (J. KRISTEVA).
Entre os outros sistemas semiológicos, F . D E S A U S S U R E enumera ratura").
os ritos e os costumes. Todavia, cabe indagar se a semiologia, em
A semiótica moderna deverá, por-
semivogol
seu espírito, deve incluir em seu domínio práticas significantes não- tanto, resguardar-se de destacar o sig- V. SEMICONSOANTE.

536 537
também dele diferir quanto a seu valor semântico. J . A P R E S J A N ,
sentido que trabalhou com este postulado, chegará a interessantes conclusões
1 . Deixar-se-á de lado, por não ser lingiiística, a acepção da palavra sobre a significação sintatica das unidades lexicais.
sentido como a relação entre um objeto e uma palavra. Para F. D E
3. Para A . M A R T I N E T , O sentido coloca em relação o conceito e a
S A U S S U R E , O sentido de um signo lingiiístico é constituído pela repre-
unidade da primeira articulação, o monema. Já que a glossemática
sentação sugerida por este signo quando de sua enunciação. Contudo,
postula uma organização do sentido, análoga à da forma fônica, A .
o linguista genebrino, ao não ter definido o termo sentido, concebeu
M A R T I N E T precisa o caráter sucessivo das duas articulações; no iní-
enfoques múltiplos para este problema, como se faz mister assinalar
cio, em monemas, depois em fonemas (colocando-se num ponto de
aqui; o sentido aparecia como resultado de uma segmentação, como -vista não-genético, bem entendido). Uma vez que o sentido aparece
um valor que emanava do sistema, como um fenómeno associativo. ao nível da primeira articulação, os fonemas são a "garantia da arbi-
A imagem da língua como folha de papel, tendo o pensamento trariedade do signo".
por verso e o som por reverso, não o foi sem constituir problema:
depois de dado este exemplo, a língua passou a ser definida como 4. A questão do sentido, essencial em gramática descritiva, sejam
intermediária entre pensamento e som. Embora o pensamento tenha quais forem as atitudes assumidas pelos lingiiistas, perde muito de sua
sido definido como "caótico por natureza", não se pode impedir a agudeza em lingiiística gerativa: a dificuldade se transfere para a teo-
crença de que, nesta imagem, o sentido não seja interpretado como ria semântica*, onde a distinção entre sentido, significação, valor, etc.
preexistente. N o pensamento de F . D E S A U S S U R E , contudo, trata-se perde seu interesse. A teoria lingiiística deve permitir chegar à inter-
de fazer esta soma, trata-se de uma recusa em colocar o problema pretação semântica de todo o enunciado gramatical engendrado regu-
massa amorfa do pensamento e da massa amorfa de sons. Por outro larmente; longe de se perguntar "qual é o sentido desta unidade,
lado, o valor de um termo não é senão um elemento de sua significação: desta construção?", ou melhor, "em que consiste o sentido desta uni-
a significação de sheep, do inglês e de mouton do francês é idêntica, dade, desta construção?" a gramática gerativa deve produzir os enun-
mas seu valor é diferente, já que o primeiro tem a seu lado um ciados semanticamente correios, isto é, permitir explicar a inter-
segundo termo mutton, enquanto o termo francês é único. pretação semântica de todo o enunciado que pertença à língua sob
consideração. As conseqiiências de tal atitude são:
As diferentes metáforas consagradas por F. D E S A U S S U R E ao sen-
tido permitem, assim, a seguinte abordagem: o sentido provém de ( 1 ) que o sentido de duas frases difere, como decorrência da dife-
uma articulação do pensamento e da matéria fônica, no interior de rença de seus indicadores sintagmáticos:
um sistema lingiiístico que determina negativamente as unidades. = um livro que ele escreveu
Eu recebi seu livro
2. O behaviorismo americano vai recusar esta concepção. Para L . = um livro que ele me enviou
BLOOMFIELD, O sentido de uma unidade é a soma das situações onde (2) que a gramática distingue frases gramaticais e frases que têm
ela aparece como estímulo e das respostas comportamentais que este um sentido.
estímulo desencadeia no interlocutor. Havendo a impossibilidade A conhecida frase Incolores ideias verdes dormem furiosamente
de fazer esta soma, trata-se de uma recusa em colocar o problema é gramatical e assemântica, enquanto Mim querer comer é agramatical
do sentido. O estudo do sentido é, então, transferido para uma e semântica.
psicologia do comportamento (estudo das condutas estímulo-resposta)
e para ciências particulares: a maçã poderá ser definida como " u m
sentimento lingiiístico sequência
fruto que. . . etc." pelo botânico, mas não pelo lingiiista. Em lugar
Dá-se o nome de sentimento lingiiís- Em linguística, chama-se seqiiência
de ser o ponto de partida dos estudos lingíiísticos, o sentido será tico à intuição que permite ao falante uma cadeia ordenada de elementos que
rejeitado, seja como excluído da linguística, seja sob o termo, sempre aplicar às frases julgamentos sobre sua pertencem a um conjunto não-vazio.
valorizado, de análise formal. Z . S . H A R R I S visualiza, contudo, a gramaticalidade. Sequência designa uma sucessão de
possibilidade para o estudo distribucional, de encaminhar, sob certas elemento reunidos pela operação de
separável concatenação*. Assim, SN -f- SV (sin-
conclusões que dizem respeito ao sentido, unidades ou construções;
Sin. de ISOLXVEL. tagma nominal seguido de sintagma
todo morfema, diferente de outro quanto à sua distribuição, deve

539

Você também pode gostar