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“capitulo l

POOOOSOPSPSOCOOOOOOOOOOOO

TEXTO 1 : O conceito de morfema -


15
GLEASON JR, HA introdução à Knadistica “descritiva.
Lisboa:Calouste Gulbenkian, [s/d] (cap. 5)

O morfema

5.1 Ao longo dos trés últimos capftulos, demonstrdmos que os


N elementos bésicos da prontincia do inglés são os seus quarenta e seis
fonemas. Se os descrevermos em pormenor (tarefa que aqui não ten-
tamos) e expusermos a distribuigio caracterfstica de cada um (que
nos limitémos a sugerir), ficaremos com um conhecimento bastante
vasto da lingua inglesa. Se gravarmos os fonemas ocorrentes numa
qualquer elooução possfvel do inglés, esta pode ser identificada a ponto
de ser possivél repeti-la com exactidio, partindo apenas do seu
registo escrito.
Estes são j& resultados valiosos, e constituem parte essencial
, de qualquer descrigio exaustiva da lingua; no entanto, ficam ainda
muito aquém duma anélise completa. Por muito que exploremos
esta linha de investigagio, nada nos serd revelado acerca dos signi-
ficados das elocugdes na lingua. E, contudo, a função social de qual-
quer linguagem é a de transmitir informagdes dum falante & um
1, ouvinte. Sem isso, a linguagem seria inútil do ponto de vista social
º re, provavelmente, nio existiria sequer./ Um estudo fonolégico da
AN
. linguagem, por mais detalhado que sejs, nada nos pode dizer acerca
Yot]do significado, porque os fonemas em si não têm correlagio directa
v com o conteúdo. Eles são apenas as unidades pelas quais o falante
A ) e o ouvinte identificam os morfemas., Assim, se pretendermos pros-
A

vt
d seguir no estudo da linguagem, teremos que examinar 0s morfemas e ,
\ . suas combinagdes. Procedendo desse modo, a análise da estrutura
a linguagem passa a processar-se num plano essencialmente diferente.

A 5.2 Os morfemas são, em geral, curtas sequéncias de fonemas.


¢ &\ es nem
— embora
Estas sequéncias são recorrent todas as sequén-
cias recorrentes sejam morfemas/ Por exemplo, a sequéncia /in/
ocorre treze vezes na leitura do téxto inglés correspondente ao pará-
grafo anterior; /av/ ocorre dez vezes. Sequéncias como /in/ e [ov/

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==
podem ser proveitosamente estudadas como fenómenos da fonologia algo de significativo: como conceito bésico, o morfema não pode ser
do inglês, e podem ser feitas algumas generaliza ções
: importantes definido para além duma afirmação circular como aquela. Em vez
acerca destas e doutras sequências similares. Um estudo de /in/ de definir, portanto, teremos que limitar-nosa descrever certos
nestes moldes esgotará praticamente tudo o que for digno de atenção tragos dos morfemas, e a fornecer algumas regras gerais para a sua
no que respeita a essa sequência. Já o mesmo não acontece no caso identificagio. Eis o que passaremos a fazer agora e em capitulos
de /ov/, porque esta, álém de sequéncia de fonemas, é; em cada uma posteriores. '
das dez ocorrências, um morfema, e participa, por isso, dum nível
de organização mais elevado. Neste plano, [in/ não é relevante, 5.5 Alguns morfemas podem ser utilmente descritos como
e o facto de /in/ ser mais frequente do que /avj não altera em nada as unidades significativas minimas da estrutura da lingua. Uma
a situação. descrição mais precisa teria que ser feita em termos de relação entre
5.3 A diferença entre /ov/ e /in/ reside no facto de /ov/, em
. cada uma das suas dez ocorrências acima referidas, ter um signifi-
cado — ou seja, uma relação com um elemento da estrutura do nível destrua ou altere drasticamente o significado/ Por exemplo, ?flmw.:?_fl
do conteúdo da lingua—, ao passo que /in/ não tem significado, na forma strange, é um morfema, dotado, pois, de significado como '
excepto na medida em que constitui um fragmento de certas sequên- um todo. Se o segmentarmos, obteremos fragmentos como [str/
cias, como /kin/, can. ' ou [eynj/, que não possuem significado, ou ainda [strey/, como em
Enquanto morfema, /ov/ tem também relações demonstráveis — stray, ou [streyn/, como em strain, os quais tém significados sem
com outros morfemas da língua, relações que podem ser de duas qualquer relação aparente com o de sirange. Assim, qualquer seg-
espécies: na frase study of language, há certas relações significativas mentagio que operemos em /streynj/ destruird ou alterard drasti-
entre /av/ e os morfemas que o precedem e o seguem nesse fragmento camente o seu significado. Por conseguinte, [streynj| preenche as
particular duma elocução. Estas são marcas desta amostra da lin- condições da mossa descrigio de morfema como a unidade signifi-
gua mnglesa em si. Existem também certas relações mais-gerais do cativa minima da estrutura da linguagem. : B
morfema of, as quais não estão limitadas desta forma, e que, por- 7 7"J4 [streynjnis/, como em strangeness, não é um morfema simples,
tanto, constituem parte do sistema da língua como um todo. Estas embora tenha significado, e isto porque pode dividir-se em /streynj/
são generalizações & que chegamos comparando study of language e [nis/, tendo cada um destes segmentos um significado, e estando
com muitas outras sequéncias similares.. Por exenplo, of pode ser o significado da combinagio de ambos relscionado com os signifi-
seguido por um substantivo, mas não, habitualmente, por um verbo. cados de cada um. Em [stréynjnis/ existem, por isso, dois morfemas.
Em algumas construgdes, of pode ser substituido por on. Confronte-se
the hat of the man com the hat on the man. Doutra perspectiva ainda, of 5.6 Não podemos identificar morfema com sflaba. Por acaso,
pode ser substituido por 's. Compare-se the hat of the man com the *o morfefaa [streynj] tem uma só silaba, como acontese com muitos
man's hat Estas relações mais vastas são o assunto de estudo do outros morfemas do inglés. Mas j& [kenetikit/, como em Cannecticut,
.—SEc.m.mmbnflima-guranbvoq N_.uEnmm.w\ 3 6 um único morfema, embora contenha quatro sflabas. Tanto [gow/
como /z/, em goes, sio morfemas, embora em conjunto formem uma
5.4 O morfema foi referido em 1.13 como a segunda das duas única sflaba.
/Os morfemas podem, pois, ser formados
por uma ou V
unidades bésicas da linguistica. Não demos qualquer definição dele, várias sflabas completas, por paítes
de sílabas, ou, afinal,
por qualquer h
e afirmámos mesmo não ser possivel
dar uma definição exacta. - nw_.!:.vmuwwmo fonemas, independentemente do seu. status silábico..
dee
O mélhor que poderemos fazer será, talvez, definir o morfema como e e e qn to een =
a unidade minima gramaticalmente pertinente.. Mas seria necessá- 5.7 v de mesmo ser formado por um único fonems, |
rio, então, definir gramatica como o estido dos morfemas e suas como é o caso de ?v no exemplo que acabámos de citar. Porém,
combinagées. Trata-se, obviamente, duma circularidade, ‘e, logo, o fonema /z/ e este morfema não são de modo algum idénticos: !4
tais definições não são vélidas. Servem-nos, contudo, para apontar: º ?:2::.v ocorre muitas vezes sem ter nada a ver com este morfema,
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como acontece em zoo, /zúw/ e rose /rówz], que contêm /z/ mas não de maneira a reunir esses elementos diversos da m.u.wmlwfi,_aw numa
têm qualquer significado em comum com o /z/ de goes. À maioria tnica categoria. O significado de go reside na correlagio do mor-
dos morfemas do inglês tem uma extensão intermediária entre /z/ fema [gow/ com o ponto dentro do sistema do contefido no qual esses
e /streynj/, contendo, em média, dois a seis fonemas. elementos convergem.
5.8 Sucede com frequência que dois elementos morfémicos 510 O sistema do conteido duma lingua não é observével
sejam iguais na expressão, mas diferentes no conteúdo. Estes pares directamente, e, por essa razio, só com grande dificuldade pode-
— chamam-se homófonos,o que quer dizer, esoamdo mesmo modo». remos comprovar uma afirmagio como a que acabamos de fazer.
Assim, /z/ é um morfema tanto em goes [géwz/, como em goers [géwarz/, Mas tem, por outro lado, esta fungdo de imensa utilidede: devemos
mas não o mesmo nos dois casos?’ /z/ significando tagente na 3.º pes tomé-lo como uma sdverténcia clara contra uma excessiva oloflmw”mw
soa do singular» e /z/ significando splurals são homéfonos/ Também nas traduções como via de acesso aos significados. Se a estrutura
há sequências de morfemas que podem ser homófonas, quer com do contetido impde um filtro entre o sistema de expressão e a expe-
outras sequências, quer com morfemas individuais. Compare-se riéncia humana, & tradução imporá um segundo. Por isso, ela-s6
Irowz| em He rows the boat: They stood in rows: That flower is - poderé ser exacta nas áreas em que as estruturas do conteúdo das
a rose. ' duas linguas coincidem,’e tais áreas são demasiado pouco frequentee
para que se possa depender delas. Sempre que tivermos de ser-
5.9 Para continuarmos a descrever o morfema como unidade vir-nos da tradução (e há muitos exemplos disso na prática da lin-
significativa mínima na estrutura da linguagem; teremos que ter guistica), não poderemos deixar de estar constantemente alerta
o cuidado de não interpretar mal os termos esignificativos ou esigni- contra os riscos que oferece.
ficado». wignificado) é o termo que representa a relação existente
R
entre os morfemas, como partes do sistema de expressão duma lin-
gua, e as unidades equivalentes no sistema do contetido da mesma
EEm
slguns morfemas, osignificado, no sentido de refe-
rência à experiéncia humana exterior à linguagem,
esté fotalmente —
“ lingus,”Um morfema é a unidade minima no sistema da expressão ou em larga medida susente. Consideremosto em I want to go.
que pode ser correlacionada directamente com alguma parte do Os elementos I, want e go são referfveis, por intermédio da estrutura
sistema do conteúdo” | do contetdo do inglés, & aspectos da experiéncia humans. Contudo,
Se usarmos o termo esignificado» no seu sentido familiar corrente, é impossivel achar um factor especifico na situação que possa conside-
sem um controlo atento, poderemos, em alguns casos, incorrer em * rar-se como o wsignificados de to. Todavis, to tem, sem dúvida, ums
equivocos sérios. Em muitos casos, contudo, poderá servir-nos uma vez que, prescindindo dele, *I want go nada significs.
*(fungao)
como um termo de aproximagao utilizivel, se o usarmos com a devida (O símbolo * é usado, como já dissémos, para indicar que uma forma
precaugio. Por exemplo, podemos dizer que cat tem um significado, citada ou não se encontra atestads ou é impossivel). To limita-se
uma vez que se refere, entre outras coisas, a uma variedade especi- a preencher um requisito da estrutura do inglés segundo o qual wan!
fica de animal. No entanto, é também aplicado a seres humanos não pode ser seguido por go sem fo. Tal função não pode incluir-se
com certas caracteristicas’ de personalidade. No mesmo sentido, dentro da acepção tradicional de esignificados, mas, no sentido em
podemos dizer que go tem um tipo semelhante de significado, visto que estamos a tomá-lo (correlagio entre expressio e conteido),
que se refere (entre outras coisas) a um movimento dum objecto. este pode — slargando-o talvez um pouco — abrangé-la.
No entanto, é dificil, e mesmo infrutifero, tentar especificar com
exactidio quais os movimentos indicados. Comparemos He goes O 512 O significado de cat podia ser explicado (parcialmente, —
home: John goes with Mary: The watch goes. Esta mesma forma decerto) a um nio-falante do inglés, apontando para o animal a que
pode inclusivamente usar-se referida a um objecto absolutamente a forma se refere. Contudo, não seria possivel explicar to deste modo.
imével, como em T'his road goes to Weston. Estas variagies de refe- Em vez disso, seria necessério cnumerar uma série de casos em que to
réncia ao mundo exterior podem ser parcialmente resolvidas, se admi- fosse empregue, e, partindo daf, apontaros contextos nos quais -
tirmos que um falante do inglés aprendeu a estruturar o conteúdo ocorre regularmente, aqueles em que -pode ocorrer e aqueles em nmm
2 e mee in

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i uA == 61
É (p. ex., * 1 can to go). Por qutras palavras, to tem uma dis-* Í, 5.14 Se uma pessos esth » analisar a sus própria lngua, muitos
j Para um estrangeiro, este é o traço mais ol
destes passos parecerão supérfiuos, pela simples razão dé que estas
facilmente observável dum tal morfema e, por consequência, a prin- comparações já foram feitas, repetidamente e 20 nível do subcons-
cipal chave para o seu significado. ciente, se não conscientemente, no pessado. Os falantés do inglês
Não são só os morfemas como to que têm uma distribuição podem identificar morfemas da sua lingus sem necessidade dums
característica. -Todos os morfemas a têm. Cat pode ocorrer em comparação minuciosa, porque & maioria deles já foi identificada
T saw the — mas não em I will — home. Go pode ocorrer na segunda anteriormente. Podemos demonstrar que esta afirmação é verda-
; sequéncia, mas não na primeira. /A distribuição do morfema6 a deira, mesmo em relação a crianças, stravés dum erro comum.
gf%i%ªçgª em contraste co! A criança ouve e aprende a associar show fiow/ a showed fsowd],
todos aqueles em que não pode. Uma compreensão total de qual- tow [tów] a towed [t6wd], etc. Assim, ela deduz que go [g6w] se deve
annn morfema implica o conhecimento da sua distribuição, bem associar, da mesma forma, & /gówd/. É evidents que esta dedugio
como o seu significado, no sentido familiar do termo. É em parte está errada neste particular, mas está certaem princípio, e a eriange
por esta razão que qualquer bom dicionário cita sempre exem- procedeu, assim, a uma análie morfémica. Pestar-lhe-é apenas
plos ilustrativos dos seus empregos. Se o não fizer, terá uma aprender os limites dentro dos quais o modelo que ela deseobrin
utilidade muito limitada, ou poderá, mesmo, tornar-se uma fonte de tem validade.
equivoco.
5.15 Certas %ihl\llrll.ln\
5.13 A única maneira de se poderem identificar os morfemas (os hifems
fixa.>Por exemplo, re—con—vene
_ordem(rigidsmente
é pela comparação
aração de
de amostras
várias duma :BWH- “Se pudermos tam-se a separar os morfemss) é uma palavra ingless familiar.
encontrar duas ou mais amostrasnas quais haja algum traço de - Masjá *con-re—vene ou *re-vene-con o D30 são; e D30 spezas
expressão que todas compartilhem, e um qualquer traço do conteúdo quanto so som e ao aspecto: para além disso, carecem de signifesão
que todos tenham em comum, atingimos um dos requisitos, e pode- Ni para um falante da _Ewfi\.&-cllt'-.r-lmll.f—
mos, s título experimental, identificar essas amostras como um pois, não só dos morfemas que nels intervém, mas também ds ordem
morfema e o seu significado. Assim, boys /bóyz/, girls [górlz/, em que estes ocorrem,” —
roads [réwdz], etc., assemelham-se todos por conterem ¢ /z/ e por Outras construgdes, porém, permitem slgums lLberdsde na
significarem «dois ou maiss. Por conseguinte, identificamos s /z/ ordem, mas spenss parcial. Then I went e I wen? thex são smbas
como um morfema, significando eplurab. Mas a verdade é que isto possiveis, e tém, quando muito, spenss wms lLigeirs diferença no
não é suficiente. Devemos ter ainda oposições entre amostras com , porque se sfasts


seu significado. Já *Went then I é inint
significado e conteúdo semelhantes, algumas das quais contenham * j da estruturs.do inglês estabelecida.
o morfema hipotético, enquanto outras o não contenham. Podemos fntimas, ãl&â enquanto
tomar boy /boy/ para termo de comparação, e ele serviria para con- V_.,,Ía..o-bããncn- mais soltas, como ss frases, permitem ums
firmar o exemplo que acabamos de discutir. A necessidade desta liberdade maior/ Porém, mesmo as sequências mais longas apre-
condição é-nos revelada pelos seguintes exemplos: bug [bóg/, bee [biy], * sentam restrições definidas quanto i ordem, embora, por veses,
beetle] [biytil], butterfly [bstorflay/. Parecer-nos-4 ridicula a suges- bastante subtis. Tomemos como exemplo Jokn came, He went
tão de que, visto todas estas formas incluirem /b/ e significarem todas - away. Esta sequência poderis implicar que Jois fez ambas as
«<las uma variedade de insecto, /b/ deveria ser uma morfema. Mas coisas. Mas He came. John went away já não poderá, decerto, ter
isto é apenas porque, como falantes da lingua, nés sabemos que /og/, esse significado. É necessário que uma referência específica a uma
liyl, [iytil] e [storflay/ não existem como morfemas associáveis & pessoa preceda uma referência pronominal s esss pessoa, s menos
estas palavras. Fmalmente, é necessirio assegurarmo-nos de que que se utilize algum artifício especial. Esta é ums peculiari-
aquilo que isolémos são, na verdade, morfemas simples, e nio com- dade da estrutura do inglês, não da lógica, nem do cardcter geral
binações (cf. 5.5.). O método para levar a cabo tal anslise será esbogado da linguagem, visto que outras linguas apresentam regras bastante
nos dois capftulos que se seguem. diferentes.
— — —

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u.—a A ordem fixa dos morfemas em %bl cede ed. Todos estes factos e muitos outros serelhantes podem
resumir-se num número relativamente escasso de observações sim- -
seu grau definivel de liberdade são caracteres básicos da linguagem.
ples acerca das classes dos morfemas. Por outro lado, o inventário
dadeira essência da linguagem humana.” É tarefa da linguística completo de todas as sequências possíveis e impossíveis, mesmo dentro
descrever estes princípios de ordenação da forma mais abrangente dos limites duma amostragem relativamente restrita da lngua
e concisa possível. Tal descrição é a gramática da lingua. O termo inglesa, seria incómodo, e depresea se torna de todo impossível,
tem pouca reputação para alguns, em larga medida devido à falta 4 medida que sumenta o número de morfemas tratados.
de precisão no seu emprego, e ainda devido a0 facto de ter frequente-
mente servido de etiqueta à perspectiva normativa de como deve 5.18 classes mais vastas e de morfemss, no
umas língua ser usada, em vez de funcionar como descrição de como inglés, e as em do mundo são a
33 línguas
é realmente utilizada. É evidente que estas implicações não estão e a dos afixos. Walk, talk, folloz, ete., é uma classe
dosradicais
necessariamente contidas no termo, mas é preciso evitá-las cuidado- de radicais. ÉNJ&É«K é outra. A grande maioria dos
samente. Tal como vai ser empregue neste livro, a gramática inclui » morfemas do inglês pertence & classe dos radicais, stingindo o
duas subdivisões convenientes, embora não delimitáveis com preci- seu número muitos milhares. Morfemas como —s, —d, —ing, ete.
são: s morfologia, ou descrição das combinações
mais íntimas dos são afixos. Daqui por diante, assinalaremos gerslmente os afizos
morfemas, ou seja, daquilo a que, grosso modo, chamamos corrente- com hifens, para indicar a maneira como eles se ligam s outros
mente «palavras:; e a sintaxe, ou descrição ɪavíu&ou_ãoãa.l \ morfemas.
envolvendo, como unidades bésicas, as combinagdes descritas na .y Se tentissemos ums definição universalmente aplicivel destas
morfologia da lingus. Alguns linguistas usam o termo morfologia . duas classes, ela Tesultaria imensamente complexs e, squi, será
cobrindo ambas as subdivisões, pelo que será então equivalente a * provavelmente desnecessria. E, no entanto, possivel uma def-
gramática, tal como iremos usá-lo 5&.\ nição que se adapte às uª&h dums lingus especifica. Em gers!,
5.17 A gramática duma língua dada não pode ser convenien-
temente descrita em termos da disposigio de morfemas especificos, 08 radicais são mais extensos que os afixos, e, em mfl.r.. =muito mais
pois o ntmero total de morfemas em qualquer lingua é demasia- numerosos do que estes no vocabulário.
damente vasto para o permitir. Contudo, verifica-se sempre que os ,
em certas(classes;cada uma das quais 519 Podemos definir, neste momento, dois tipos distinios
%%J.» estrutura das frases na lin- de ‘afixos. Ambos estio presentes no inglés e em muitas outras
gua pode, então, ser descrita em termos dessas classes de morfemas. linguas. Chamaremos prefiros dqueles afixos gue precedem o radi-
Desta forma, é possivel reduzir a proporgdes manobriveis o mate- cal a que estio mais estreitamente associsãos. Como exemplas,
risl a ser descrito. S temos: [priy~|
em prefiz, [riy-] em refll
e fig-] em incompletz. Os pre-
Por exemplo, walk, talk, follow, call, ete., formam uma classe YV fixos são também vulgares em muitas outras linguas. Como exemplo
extenss de morfemas. Também do mesmo modo & (marca de 3.º pes- Ú do hebreu, temos: /ba-/, em em /babáyit/, "numa casa’, e /bsb-/,
sos do singular), ed e ing formam uma classe menor. Estas últimas ‘a’, em /habbáyit/, *a casa'; confrontem-se com /báyit/, ‘essa’. Os
só podem ocorrer imediatamente a seguir a um dos primeiros (ou a sufixos são afixos que se seguem 80 radical a que estão mais intima
uma construção sua equivalente). Os membros do primeiro grupo mente ligados. Alguns exemplos do inglês: /-iz/, em su/fizes, (-i9/, em .
podem encontrar-se precedendo imediatamente um membro do
going e [-iã/ em boyish. Os sufixos são também comuns em muitas
/. outras linguas. No sueco, por exemplo, temos —en, “o', em dagen,
segundo grupo, ou, ainda, sozinhos. Assim, podem oco.ter walks,
walked, walking e walk. Já em *swalk ou *ingualk a ordem está y * odia' e —ar plural' em dagar ‘dias’; of. dag, "dia’.
errada, sendo as formas, pois, impossíveis. *walkeding é ininteligível, " Repare-se que, em inglds, muitos falantes tém simultsneamente
porque ing não pode seguir-se a ed. Também não encontramos . um prefixo fig-/ e um sufixo [-ig/. Ambos podem ocorrer com os
*shelfed, porque shelf pertence a outra classe, a qual nunca pre- mesmos morfemas. Contudo, incomplete finkompliyt/ e completing

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vy N P A A ATAT A T RT A P S

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—— —— NNE EA ——— S . su—p—
[kemplfytin/ são claramente distintos. A posição destes afixos ma buir para a compreensão da história deste trago do inglês, mas não é
palavra permite distingui-los sem margem para dúvidas. relevante de qualquer outra forma para a estrutura do inglês.
5.20 Os afixos podem acrescentar-se directamente aos radi- — \ 5.22 Alguns morfemas têm uma única forma em todos os con- -
7 cais, ou & construgdes formadas por um radicsl mais um ou vários *x textos. O morfema inglês [-in/, em coming, walking, ete., pode
f morfemas. Podemos chamar a todos eles temas.Um tema é qual- ; servir de exemplo. (O facto de alguns falantes o pronunciarem f-in/
* quer morfema ou combinagio de morfemas aos quais se acrescenta - . 7 ou [-iyn] nfo altera a questão. O que é caracteristico é o facto de
um sfixo.- O vocábulo inglés friends [fréndz/ contém um tema [frend/, um falante pronunciar ~ing sempre da mesma forma em todos os
que é também um radical, e um afixo, /(-z/. Friendships [fréndsips/ — | -\ contextos linguisticos, independentemente de qual & pronúncia
contém em afixo /-s/ e um tema [fréndSip/, o qual, contudo, não ? % que utiliza). Noutros casos, pode haver variagdes consideréveis.
é um radical, pois é formado por dois morfemas. Alguns temss ' 0 plural -s pronuncia-se de trés maneiras diferentes:em boys, [boyz/,
ou palavras contém dois ou mais radicais, e chamam-se. conipostos: 6 |-z[; em cats, /kets/, 6 |-s/; e em roses frówziz] é [-iz]. Apesar
Blackbird fblékbird/ 6 uma palavra composta, contendo dois radi- destas diferenças de forma, nenhum falante da língua teria dúvidas
cais, /blek/ e /bard/. Blackbirds contém um tema composto e um em afirmar que são todas elas de algum modo, & mesma coisa.
afixo. A impressão do falante da língua é corroborada pelo exame das cir-
cunstâncias em que são usadas as três formas. Uma análise de volu-
5.21 Em algumas línguas, certos afixos funcionam primordial- mes extensos de material revelars que /iz/ só ocorre depois de
mente na formação de temas, e, como tal, não tém outro significado 18,2,5,2,6, )/ e que nenhuma das outras formas ocorre nests posi-
que não seja essa função lingufstica. Morfemas como esses podem ção; que /-s/ só ocorre depois de [p, t, k,f,6/, e que nenhuma das
chamar-se formativos de tema: A palavra grega [thermos/ ‘quente’ outras jamais ocorre aqui; que /-z/ ocorre depois de todss as outras
consiste num radical, /therm-/, num formstivo de tema, /-0-/, consoantes e depois de todas as vogais. A selecção da forma correcta
e num afixo terminal, /-s/. Este último, que indica, entre outras é puramente automética por parte do falante ds lingua, que só muito
coisas, que s palavra pode ser o sujeito duma frase, não pode ligar-se raramente poderé errar. É mesmo necessirio um esforgo consciente
. directamente so radical. Isto 6, [*therms/ é impossivel. Forma- para contrariar tais padroes.
tivos de tema como estes são muito comuns em grego. Não interessa para o caso se o falante já ouviu a mw_hfl.m EK!E,.
As palavras compostas do grego sio, geralmente, formadas por — < mente. Dada uma sequéncia como fwo tazemes, & maioria dos falan-
temas compostos, e não por radicais. Os vocábulos ingleses derivados tes lê-a [tQw*tdksiymz/. Embora nem todos posssm estar de acordo
do grego, ou formados segundo o modelo grego, normalmente perdem quanto & prontincia do tema lazeme, todos serão unânimes em pro-
ou deformam os sufixos no final da palavra, mas c formativo do nunciar -s, neste caso, como /-z/.
primeiro tema mantém-se, em geral, bastante evidente. Thermometer 5 Para poderem descrever estes casos, que são frequentes, os
é composto pelos temas thermo- e meter. O primeiro destes é for- 2 linguistas fazem a distinção entre alomorfes e morfemss. Um alo-
mado a partir da raiz therm—, juntando-se-lhe o formativo —o—. X morfe é uma variante de morfema que ocorre em certos ambientes
É este facto que explica & ocorréncia muito comum de —o— em pala- fonéticos identificiveis. Um morfema é um grupo de um ou mais
vras deste tipo. Veja-se morph-o-logy, ge-o-graphy, phil-o-sophy, etc. alomorfes que obedecem a certos critérios de distribuição e signi- —
Impde-se nesta altura, porém, uma sdverténcia: -o- é um ficado, definíveis, em geral com bastante clareza. Assim, [-z/, /-s/
morfema em inglês, não porque o seja em grego, mas sim porque e [iz/, que vimos acima, são três alomorfes dum único morfema, *
há certos factos na estrutura do inglês que exigem que seja inter- pois não só mostram a distribuição fixa definível que referimos,
pretado como tal. Na verdade, não se revela satisfatório dividir como têm o mesmo ãe?% N
thermometer como thermo-meter nem como therm-omeler. À compa- Y
ração com isotherm indica-nos que therm é um morfema. Meter tem o 523 0 .hEE!S ma ...—eEE.».aa e morfomas, bem como de outros
existência autónoma como palavra. Logo, nem thermo- nem —ometer ¢ " ealoss p semas», 6 um dos mais basilarés da lingufstica descritiva. A sua

o
são morfemas simples. A origem grega do morfema -0~ pode contri- “importancia, quer como instrumento, quer como compreensio da
s s

R
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86 que se limitam a ser diferentes, cada uma parecendo inteiramente
forma como a língua opera, dificilmente poderá ser exagerada. É ele natural aos seus falantes.
que está por detrás das duas unidades básicas da deserigio
tica, o fonema e o morfema, bem como doutros conceitos menores, “ pode olªâ
por exemplo o de grafema. O princípio em causa é largamente res- onada. e caso, & selecção é determinada pelo
ponsável pelo grande desenvolvimento da teoria e tócnicas lingufs- morfema ou Ea_.».uBl especificos que formam os contextos, e não
ticas. A inaplicabilidade (tanto quanto sabemos) do conceito a certas por qualquer trago forolégico. O plural de oz é ozen [áksin/. [-in] é
disciplinas afins constitui o-principal factor de diferenciação entre a um alomorfe do morfema de plural, o qual só é usado com este radical,
ciência lingufstica e outros tratamentos do comportamento humano. laks/. Para o falante que conheça esta forma (de uso muito limitado,
excepto como exemplo gramatical), [-in/ é seleccionado sutomatica-
5.24 Diz-se de qualquer fenémeno que 6 condicionadose ocorre mente depois de [áks/, e [*4ksiz| é rejeitado como incorrecto. Não há
sempre que se verificam certas condigdes definfveis, o que não equi- nenhum aspecto fonológico nesta seleoção. Bozes, fozes, azes são
vale a dizer que ele é causado por essas condições. Tudo o que se pre- foneticamente semelhantes, mas usam f[iz/. A peculiaridade reside
tende dizer é que ambos ocorrem, de algum modo, simultaneamente, em /aks/ como morfema; a selecção é morfologicamente condicionada.
de tal forma que poderemos predizer um s partir do outro. «Não há
fumo sem fogos e endo hd fogo sem fumos, são duas afirmagdes tipicas 5.26 Os conceitos de alomorfe e de morfema necessitam dumsa
de condicionamento. Só uma delas pode ser, hipoteticamente, uma notação adicional que evite longas circunlocuções. À variação,
sfirmagio de causa, e não hé razão para presumirmos que alguma como a que se verifica entre alomorfes, será indicsãs pelo simbolo ~,
das duss o seja necessariamente. Os trés alomorfes do morfema de que deverá ler-se ¢varia coms, ou «alterns com», ou simplesmente, «ou».
plural, [-z], |-s] e |-iz] são condicionados, uma vez que cada um Podemos, pois, escrever [~z — —s — —iz/ para indicar que estes devem
deles ocorre spenas quando certas condições claramentedefinidas | ser tomados como alomorfes dum só morfems. A mesma téenica
se % Neste caso, o factor condicionante 6 a natureza foné- pode ser utilizada para identificar o morfema.
“tica dos fonemas precedentes: /-z/ só ocorre depois de sons sono- Se o morfema tiver numerosos alomorfes, como scontece com
ros, /-s/ só depois de sons surdos e /-iz/ só depois de fricátivas e afri- tantos, seré incémodo ter que os emumerar s todos sempre que O
cadas. Podemos, pois, dizer que são fonologicamente neuw_eouwmou morfema é mencionado. Em vez disso, é sconselhável termos um
Isto significa que, se 35«—8«3««9%9.;%&9?% da di: único simbolo para indicar o morfems como tal, sbrangendo todss as
%ÉSE todo o rigor qual dos três formas variantes sob as qusis possa sparecer. Utilizaremos, pars esse
| quer local em que qualquer deles possa aparecey/ Como falantes fim, a chaveta, { ). Dentro desta podemos colocar quslquer designação
1do inglés, fazemos esta seleeção dum modo inconsciente e automático. * do morfema que acharmos conveniente. Como é evidente, uma vez
“ Como linguistas, podemos formular uma descrição dos nossos próprios seleccionada uma, já não teremos liberdsde pars escolber outrs arbi-
hábitos, e, com base nessa descrição, proceder deliberadamente selec- trariamente. Por exemplo, poderiamos escolher {-s} ou {~z}, ou diver-
“ção correcta. A descrição formal só será válida na medida em que pro- sas outras designagdes, para o morfems de plursl em inglés. Contudo,
duza o mesmo resultado do hábito subconsciente do falante da língua. para seguirmos uma notação já estabelecida, seleccionsmos o sim-
Esta seleceção automática faz parte da estrutura do inglês e bolo {~Z,}. Se definirmos prevismente este simbolo como equivalente
terá que ser aprendida. Não é apenas maturals, mesmo que assim @ [~z -8 u iz ~=in .../, não teremos outrs vez que especificar os
nos pareça. A um estrangeiro pode até parecer muito pouco natural. alomorfes inclufdos. (-Z,) ler-se-4 «o morfems Z ums.
A verdade 6 que ela nem sequer é um trago universal do ingls.
Nas Montanhas Azuis da Virginia, [-iz/ 6 usado não só depois 5.27 Será conveniente, nesta alturs, recapitulsr os vérios
de [s,7,5,% ¢/, mas também depois de [spstsk/. Deste modo, tipos de notagio que irão ser utilisados:
wasps, posts e tasks pronunciam-se [whspiz/ [péwstiz/ e fteskiz/, [ ] indica uma transerigio fonétics, ns qual a pronúncia é
e não /wásps/, pówsts/ e /tésks/, como na maioria dos dialectos. reproduzida tal qual é ouvids, sem representar, necessariamente,
Em ambas as variedades dialectais, a forma é fonologicamente condi- os tragos significantes.
cionads; em ambas a selecção é completamento automática e regular.
| | indica uma transcrição fonémica, na qual a pronúncia é
reproduzida de forma a representar todos os traços distintivos, ou
pertinentes, e nada mais.
( ) indica uma representação morfémica; na qual um símbolo í
seleccionado arbitrariamente é usado para representar um morfema, !
abrangendo todos os seus alomorfes. Esta representação não nos ;
dá qualquer informação directa sobre a pronúncia. Í
0 stdlico indica a ortografia, a maneira tradicional de grafar,
a qual tanto pode aproximar-se da representagio fonémica como
pode não dar quase nenhuma informagdo directa acerca da prontncia.
A relagio entre a grafia e a pronúncia varia de lingua para lingua.
* * indica glosas, tradugdes ou outras indicagdes sobre o signi-
ficado de unidades lexicais ou morfolégicas.
* indica que uma forma é impossivel ou desconhecida.

= A utilizagio de [ ] e / [ esté j& bem fixada e é comum à grande


maioria dos linguistas americanos. [ ) 6 usado por um grupo consi-
) derável, mas há outras notações também em voga. Não há con-
|venções universalmente estabelecidas para reproduzir a ortografia
jou as glosas, mas as que utilizamos aqui são bastante habituais.

G/v 4i

Digitalizado com CamScanner

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