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FONÉTICA E

FONOLOGIA
DO INGLÊS
Ubiratã Kickhöfel Alves
Andressa Brawerman-Albini
Mariza Lacerda
O sistema fonológico
do inglês: vogais,
consoantes e semivogais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Enumerar as consoantes da língua inglesa e determinar quais delas


não ocorrem no português brasileiro.
 Identificar as vogais e semivogais da língua inglesa, a fim de contrastá-
-las com os segmentos vocálicos e glides do português brasileiro.
 Ler transcrições fonéticas – realizadas com o Alfabeto Fonético
Internacional.

Introdução
Você sabia que, em inglês, as palavras aural e oral têm a mesma pronúncia?
E que as palavras man e men têm pronúncias diferentes?
Para se certificar das pronúncias das palavras, é importante ser capaz
de ler os símbolos fonéticos nos dicionários. Para isso, você precisa ter
um bom conhecimento não somente desses símbolos, mas também
saber dizer quais são os fonemas do inglês, bem como as possibilidades
de pronúncia (variantes alofônicas) de cada fonema.
Com este capítulo, você conseguirá entender melhor os símbolos
referentes à pronúncia das palavras, ao buscá-las no dicionário. Com
esse objetivo, você iniciará estudando os fonemas consonantais do in-
glês. Após isso, você estudará o sistema fonológico das vogais. Por fim,
você aprenderá um pouco mais sobre o uso dos símbolos fonéticos nos
dicionários.

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O sistema fonológico do inglês: vogais, consoantes e semivogais 37

As consoantes da língua inglesa


Antes de você verificar a descrição dos fonemas vocálicos e consonantais do
inglês, é preciso que você tenha clara a diferença entre fonemas e alofones.
O fonema corresponde às unidades sonoras da língua que apresentam a ca-
pacidade de diferenciar significado; apresentam, portanto, um status mental
e funcional na língua em questão. São elementos que, “[...] quando substitu-
ídos ou eliminados, mudam o sentido das palavras [...]” (SEARA; NUNES;
LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2015). Para verificar se dois sons constituem
fonemas em um dado sistema linguístico, basta fazer o teste da comutação:
substitua um som por outro e veja se você vai ter um novo item lexical. A partir
da comutação, verificamos a possibilidade de pares mínimos, ou seja, duas
palavras cujas cadeias sonoras se mostram idênticas exceto por um segmento,
na mesma posição estrutural (CRISTÓFARO-SILVA, 2011). Se realmente
houver um par mínimo, esses sons são capazes de modificar significado – é
o caso de // e //, no inglês.

São exemplos de pares mínimos, em inglês:


 taught // e thought // – que se diferenciam em função da consoante inicial;
 mood // e mud // – que se diferenciam em função da vogal que é núcleo
da sílaba;
 lack // e laugh // – que se diferenciam em função da consoante final.

As diversas variantes de um mesmo fonema podem ser chamadas de


alofones. A substituição de um alofone por outro não implica diferença de
significado. Por exemplo, em português, [] e [] são alofones de /t/, pois
são duas variantes fonéticas que não causam diferença de significado nessa
língua (a palavra “tia”, por exemplo, pode ser produzida como []ia ou []ia).
Como exemplo de alofonia no inglês, na variedade norte-americana, o fonema
/t/ pode ser pronunciado como uma plosiva [t] ou como um tepe (“tap”) [],
caracterizado por uma única e rápida batida da língua nos alvéolos. Essas
duas possibilidades podem ocorrer desde que o fonema /t/ se encontre entre
dois sons vocálicos e não esteja iniciando uma sílaba tônica, tanto dentro da
palavra (como em city) quanto entre palavras (com em at all).

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No material online do livro de Ladefoged e Johnson


(2011), você pode ouvir as diferenças da produção
de /t/ nas variedades britânica e norte-americana:

https://goo.gl/T4vx2c

Muitos dos fonemas consonantais do inglês já são conhecidos. Grande


parte deles, inclusive, é comum ao português e ao inglês. Os fonemas con-
sonantais do inglês são apresentados na Figura 1. Veja que os exemplos de
palavras empregados demonstram que, da comutação entre tais segmentos,
há mudanças de significado.

 buy
 die
 guy
 pie
 tie
 kite

w why
j (”y”) —
l lie
r rye

m my ram
n nigh ran
 rang

f fie
θ thigh
s sigh
 shy mission
h high
v vie
ð thy
z Zion mizzen
 vision

 chime
 jive

Figura 1. Os fonemas consonantais do inglês.


Fonte: Ladefoged (2005).

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Você poderá ouvir a produção das palavras da


Figura 1 ao acessar o link ou código a seguir:

https://goo.gl/4gypB8

A maioria dos símbolos fonéticos utilizados é muito semelhante às letras


do alfabeto. Chamam a atenção os símbolos ŋ (nasal velar – sing), θ (fricativa
interdental surda – think), ð (fricativa interdental sonora – those), ʃ (fricativa
palatoalveolar surda – shoe),  (fricativa palatoalveolar sonora – usual),  (afri-
cada palatoalveolar surda – cheap) e  (africada palatoalveolar sonora – gym).
Além de apresentar os símbolos correspondentes aos fonemas consonan-
tais, a Figura 1 organiza os segmentos em grupos, em função de seu modo
de articulação. As palavras do primeiro grupo são iniciadas pelos segmentos
plosivos. Tanto em português quanto em inglês, contamos com seis fonemas
plosivos: //, //, /, //, // e //. A uma primeira vista, você pode pensar que,
por termos os mesmos fonemas na língua materna, não é necessário incluí-
-los na aula de pronúncia. Entretanto, em cada uma das línguas, há muitas
diferenças entre o comportamento desses fonemas, bem como na maneira
como eles são produzidos. Primeiramente, é preciso considerar que, em inglês,
esses fonemas podem figurar em posição final de palavra, tal como em cop.
Tal fato já implica um desafio para o aprendiz brasileiro, uma vez que ele deve
aprender a não produzir um segmento vocálico ao final da plosiva, de modo
que sua produção não soe como copy. Além disso, produzir diferenças entre
pares mínimos como cap e cab, que se diferenciam em função da sonoridade
da consoante final, também implica desafios para o aprendiz brasileiro de
inglês. Há, ainda, a necessidade de aspiração em posição inicial de palavra
(port) e de sílaba tônica (report), o que não acontece em português.
O segundo grupo de fonemas consonantais agrupa a categoria das apro-
ximantes, com dois glides (//, //) e duas líquidas (//, //). Os glides têm
características fonéticas de vogais, mas se comportam como consoantes. No
que diz respeito às líquidas, uma delas não ocorre no inventário fonológico
do português: //, encontrada em palavras como rat e rope. Trata-se de uma
consoante com ponto de articulação retroflexo, então a ponta da sua língua

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tem de se curvar para produzi-la. Essa consoante é produzida como variante


alofônica em algumas variedades do português brasileiro em final de sílaba,
como em “par” e “por.ta” (o que caracteriza o denominado “sotaque do in-
terior”). Mesmo assim, produzir tal consoante em posição inicial de sílaba
pode representar um desafio para qualquer falante do português brasileiro.

Alguns autores também transcrevem a consoante retroflexa com o símbolo // (YAVAS,
2011).

O fonema /r/ diferencia as chamadas variedades róticas das não róticas, no


inglês. Enquanto nas variedades róticas (presentes em boa parte dos Estados
Unidos) a consoante /r/ é produzida foneticamente em final de sílaba ou pala-
vra, nas variedades não róticas (sobretudo no inglês britânico), tal consoante
tende a ser suprimida.

Para saber mais sobre a produção do /r/ final, ouça novamente o áudio do primeiro
link sugerido neste capítulo. Ao ouvir as palavras better e writer, note como a consoante
é plenamente pronunciada na variedade norte-americana, mas não é pronunciada
no inglês britânico.

Com relação a /l/ – uma vez que, em português, temos palavras como
“leite” e “anel” –, você poderia pensar, também, que não haveria necessidade
de estudar a pronúncia de tal fonema. De fato, em posição inicial de sílaba, a
produção desse fonema é semelhante em ambas as línguas; dessa forma, não é
difícil produzir o /l/ de palavras como like e delicious. Entretanto, em posição
final de palavra, tal fonema é produzido com velarização. Não é trivial, então,
ensinar a produção de tal fonema em posição final de sílaba.
No terceiro grupo da Figura 1, você encontra os fonemas nasais do inglês:
//, // e //. Nesse grupo, você pode ver um espaço vazio para a nasal velar //.

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Isso acontece porque, em inglês, essa consoante somente é produzida em


posição final de sílaba (como em ring e sing.ing). É por isso que uma segunda
coluna é apresentada – para que se demonstre que tal consoante é capaz de
modificar significado, considerando-se a comutação de segmentos em final
de sílaba.

Em posição final de sílaba, as produções dos fonemas // e // são diferentes em
português e em inglês. Em inglês, essas consoantes finais são plenamente articuladas,
diferentemente do que acontece em português.

A nasal velar, por sua vez, é um alofone em português, também ocorrendo


somente em posição final de sílaba. A nasal velar [], ainda que tampouco
seja plenamente articulada, pode ser encontrada em palavras de nossa língua
como “manca” e “manga”, por exemplo. Ela é produzida porque a nasal, nessa
posição, já adapta seu ponto de articulação à da consoante inicial da sílaba
anterior. Entretanto, em inglês, essa consoante pode ser produzida em posição
final absoluta de palavra, como em king [], o que torna a sua produção
bastante difícil.
No penúltimo conjunto de fonemas da Figura 1, temos as fricativas. Nova-
mente, temos um espaço em branco no fonema //. Isso porque somente palavras
que correspondem a empréstimos estrangeiros podem ser iniciadas com essa
consoante. Um exemplo é a palavra genre, trazida do francês. Em posição
inicial de sílaba, a produção fonética desse fonema não é difícil, uma vez
que temos palavras como “jeito” e “rejeitar” em português. Entretanto, sua
produção em posição final de sílaba é, sim, difícil para brasileiros.
Das fricativas, há três fonemas que não ocorrem em português: //, // e //.
Com relação às fricativas interdentais, essas ocorrem tanto em posição inicial
(//, think; //, this) quanto em final de palavra (//, teeth; //, bathe). Nessa
última posição, é ainda mais difícil para o aprendiz conseguir pronunciá-las.
Por sua vez, a fricativa // é glotal e surda e ocorre em palavras como hot e
high, por exemplo. Para produzi-la, faça de conta que você está sem ar e expire
forte: sua língua deve estar em posição de descanso. Em termos fonéticos,
algumas variedades do português produzem tal fricativa em palavras como
“parto” e “corpo”, em que o /R/ é seguido de uma consoante surda. Ainda

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assim, a produção de tal consoante em posição inicial, tal como em house e


her, é difícil para qualquer brasileiro, independentemente do dialeto.

Em inglês, // não pode figurar em posição final de sílaba.

Finalmente, o último grupo é o dos dois fonemas africados. É preciso que


o aprendiz aprenda que esses dois sons, ao contrário de no português, não
são alofones de /t/ e /d/ e que a troca de [] por [], ou de por [] por [], pode
causar mudanças de significado, tais como em till – chill e dim – gym.

As vogais da língua inglesa


O Português conta com 7 fonemas vocálicos: //, //, //, //, //, // e //. Em
inglês, o número de fonemas vocálicos é bem maior.

O número de vogais do inglês varia em função do dialeto que está sendo descrito,
bem como em função do autor que descreve as vogais.

Considerando-se monotongos e ditongos, a variedade norte-americana


conta com um quadro de 15 elementos (LADEFOGED, 2005).

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b___d IPA b___d IPA


1 bead  9 bode 
2 bid  10 booed 
3 bayed  11 bud 
4 bed  12 bird 
5 bad  13 bide 
6 bod(y)  14 bowed 
7 bawd  15 Boyd 
8 budd(hist) 

Figura 2. Fonemas vocálicos do inglês norte-americano.


Fonte: Ladefoged (2005).

Você poderá ouvir a produção das palavras da


Figura 2 ao acessar o link ou código a seguir.

https://goo.gl/UfpBGf

Os aprendizes brasileiros tendem a apresentar mais dificuldades com vogais


do que com consoantes, tanto em termos de percepção quanto de produção.
Dentre essas dificuldades, pares de palavras tais como beat, // – bit, //
e pool, // – poll, // são geralmente confundidos em termos perceptuais e
não são produzidos de modo que a diferença entre os membros desses pares
seja clara. Cabe mencionar, por ora, que os primeiros membros desses pares
tendem a ser mais longos e mais altos, com maior tensão muscular.
Sobretudo na variedade norte-americana do inglês, a diferença entre pares
mínimos como men // e man // é, também, difícil. A impressão que o
aprendiz brasileiro tem é de que está ouvindo sempre a vogal da palavra “pé”.
Para produzir a diferença entre essas duas vogais, é preciso saber que a vogal
de man é mais baixa (a vogal é mais aberta) e, consequentemente, mais longa.

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A vogal [] é representada, por muitos autores e dicionários, como [e].

Há vogais cujos símbolos fonéticos podem não parecer muitos simples. Dois
bons exemplos são // e //. A vogal // é central, de altura média, produzida
em monossílabos tônicos tais como cup e love. A produção dessa vogal não
se mostra muito difícil para o aprendiz brasileiro. Ainda mais estranho pode
parecer o símbolo da vogal []. Essa vogal é encontrada em palavras como bird
e fur. Ela evidencia o fenômeno de r-coloring: quando uma vogal é seguida
de um /r/, essa consoante tem a capacidade de afetar a qualidade de tal vogal.
Esse é o caso de //: ela é uma vogal roticizada, que, no inglês americano, se
diferencia de // justamente por demonstrar os efeitos de // sobre ela. Por sua
vez, na variedade britânica, a consoante final /r/ não é pronunciada. Por esse
motivo, neste dialeto, // e // são produzidas com uma qualidade distinta,
sendo // realizada com a altura da língua um pouco mais baixa.

A vogal // sempre será ortograficamente representada por um grafema vocálico


seguido da letra <r>: learn, bird, fur.

Há, ainda, uma vogal que não é apresentada na Figura 2, mas que é mui-
tíssimo comum em qualquer variedade do inglês: trata-se do schwa []. Essa
é a vogal mais frequente na língua inglesa. Ela não se encontra nesse quadro
porque é, na verdade, o resultado de uma redução vocálica – trata-se de uma
vogal não acentuada. Por exemplo, em atom, a vogal inicial é []. Já em atomic,
em que a vogal inicial não é mais acentuada, tem-se a produção do schwa [].
O aprendiz brasileiro precisa não se deixar levar pela influência da ortografia
e produzir schwas nos contextos átonos. Por exemplo, em around, o aprendiz
brasileiro tende a produzir a vogal inicial como [], com bastante intensidade
e sem redução, de modo que soe como a round.

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É possível que você encontre, nas transcrições de dicionários de inglês


britânico, o símbolo //. No inglês britânico, essa vogal ocorre em palavras
como body, hot e clock (que, na variedade norte-americana, seriam produzidas
como [] ou até mesmo como [], dependendo do dialeto). A vogal // é mais
posterior e um pouco mais arredondada do que [].

Para ver e ouvir o quadro de vogais do inglês britânico


(LADEFOGED, 2005), acesse o link ou código a seguir:

https://goo.gl/3Yqx8E

Por fim, cabe falar sobre os ditongos. O número de ditongos também


varia em função da variedade de inglês. No dialeto norte-americano, temos
cinco ditongos (Figura. 2). Pronunciá-los não é complicado para um aprendiz
brasileiro, e seus símbolos fonéticos não são difíceis de entender. Note que os
ditongos apresentados na Figura 2 são todos decrescentes. Isso porque ditongos
crescentes, tais como os encontrados em one // e yet //, são produzidos
com um glide seguido de uma vogal, de modo que apenas o segundo elemento
ocupe o núcleo da sílaba. Nos ditongos da Figura 2, não se considera a vogal
mais fraca como glide consonantal: é por isso que tais ditongos estão sendo
apresentados no quadro de vogais, de modo que ambos os segmentos do
ditongo ocupem o núcleo da sílaba.

Aprendendo a pronúncia de palavras em


dicionários
Uma das habilidades mais importantes a serem adquiridas com o estudo da
Fonética e Fonologia do inglês diz respeito à capacidade de ler os símbolos
fonéticos que se encontram nos dicionários de língua estrangeira. Essa ca-

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pacidade é muito importante, uma vez que possibilita ao aluno descobrir a


pronúncia de qualquer palavra do léxico.
Com os símbolos de vogais e consoantes que você viu até agora, você já
se mostra instrumentalizado para “ler” os símbolos e produzir corretamente
as palavras de cuja pronúncia você tem dúvidas. Trata-se de um exercício de
prática que você vai desenvolvendo conforme for lendo mais e mais palavras
–mas atenção: nem todos os dicionários de língua estrangeira apresentam
os mesmos símbolos fonéticos! Dessa forma, os símbolos empregados neste
capítulo não necessariamente serão os utilizados em seu dicionário. Por esse
motivo, a primeira coisa que você deve fazer é buscar o quadro de símbolos
fonéticos empregados no dicionário que você estiver usando.

A listagem de símbolos fonéticos empregados no dicionário tende a estar nas primeiras


ou últimas páginas do dicionário. Ao lado de cada símbolo empregado, há sempre
um exemplo de palavra com o som correspondente.

Geralmente, os dicionários comerciais de inglês em língua estrangeira


tendem a fazer uma mistura entre transcrição fonética e transcrição fono-
lógica. Grande parte dos dicionários usa barras / / em suas transcrições (o
que denotaria uma transcrição fonológica), mas, ao mesmo tempo, apresenta
aspectos fonéticos em tais transcrições, tal como a marcação da sílaba tônica. É
importante ter em mente que os dicionários tendem a omitir aspectos fonéticos
que sejam previsíveis pelo contexto. Dessa forma, na transcrição de palavras
como report, por exemplo, dificilmente você encontrará um dicionário que
apresente o símbolo [], correspondente à aspiração da plosiva //. Isso acontece
porque tal fenômeno já é esperado: uma vez que tal consoante se encontra em
posição inicial de uma palavra monossílaba, não há dúvida de que é necessário
aspirar – dessa forma, os autores de dicionário presumem que não é necessário
acrescentar essa informação.

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No caso de /l/ em final de sílaba, os dicionários não tendem a transcrever a velarização,


representável pelo símbolo []. É esperado, mesmo assim, que você realize tal variante
alofônica em palavras como feel e ball, por exemplo.

Tampouco os dicionários tendem a trazer todas as variantes alofônicas que


podem ocorrer em um mesmo contexto fonológico. No caso da palavra bit, por
exemplo, o dicionário possivelmente transcreverá a palavra como //, sem
mencionar que a consoante final pode ser produzida com explosão normal, sem
explosão audível (símbolo []) ou até como uma plosiva glotal (símbolo []),
dentre outras formas. No que diz respeito às variedades regionais, a maioria
dos dicionários comerciais tende a apresentar dois dialetos: as variedades
consideradas como padrão do inglês norte-americano e do inglês britânico.
Existem dicionários específicos de pronúncia. Nesses dicionários, você não
encontrará definições para os itens lexicais, apenas transcrições fonéticas das
possibilidades de pronúncia já atestadas para uma determinada palavra. São
dicionários, portanto, que abrangem uma maior gama de variedades regionais.

Quando tiver dúvida sobre as diversas possibilidades de pronúncia de uma palavra,


consulte o Longman Pronunciation Dictionary (WELLS, 2008).

Além dos símbolos de vogais e consoantes, os dicionários são muito impor-


tantes por apresentarem a sílaba tônica (ou seja, a sílaba mais forte) da palavra.
É também importante verificar, na lista de símbolos utilizados, como a sílaba
tônica é demarcada. Na maioria dos dicionários comerciais de língua inglesa,
geralmente é utilizado o símbolo [] para demonstrar que a sílaba tônica é a
seguinte. Nas palavras que apresentam acento secundário (não tão forte quanto
o primário), utiliza-se o diacrítico [] antes de tal sílaba.

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No MacMillan Dictionary (c2017), a palavra de duas sílabas giraffe é transcrita como


//. Por sua vez, a palavra de três sílabas chimpanzee, com acento primário e
secundário, é transcrita como //.

1. Sobre as consoantes // e //, 3. Em qual das alternativas todas as


pode-se dizer que, em inglês: palavras podem ter o fonema /t/
a) Ambas podem tanto iniciar produzido como um tap?
quanto terminar uma sílaba. a) attend – city – at all
b) Nenhuma das duas b) exotic – photo – worked a lot
pode iniciar sílabas. c) attic – active – at all
c) Nenhuma das duas pode d) exotic – active – put it
terminar sílabas. e) attic – photo – put it
d) // somente inicia sílabas, e 4. Um dicionário apresenta as seguintes
// somente termina sílabas. transcrições: //, //, // e //.
e) // apenas inicia sílabas, e // A que palavras essas transcrições
somente termina sílabas. se referem, respectivamente?
2. Considere as seguintes afirmações: a) pull – ship – bet – caught
I. A nasal velar // é um b) pull – ship – bat – cut
alofone em português, mas c) pool- sheep – bet – caught
é um fonema em inglês. d) pool – sheep – bat – cut
II. A fricativa glotal // é um e) pull – sheep – bet – caught
fonema em português, mas 5. As transcrições das palavras
é um alofone em inglês. shut, shot, shoot e sheet
III. A africada surda // é um são, respectivamente:
alofone em português, mas a) //, //, //, //
é um fonema em inglês. b) //, //, //, //
Estão certas: c) //, //, //, //
d) //, //, //, //
e) //, //, //, //

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O sistema fonológico do inglês: vogais, consoantes e semivogais 49

CRISTÓFARO-SILVA, T. Dicionário de fonética e fonologia. São Paulo: Contexto, 2011.


LADEFOGED, P. Vowels and consonants. 2nd ed. [S.l.]: Blackwell Publishing, 2005. Áudios
e figuras disponíveis em: <http://www.phonetics.ucla.edu/vowels/contents.html>.
Acesso em: 15 ago. 2017.
LADEFOGED, P.; JOHNSON, K. A course in phonetics. 6th ed. Boston: Wadsworth Cen-
gage Learning, 2011. Áudios e material suplementar disponível em: <http://www.
phonetics.ucla.edu/course/contents.html>. Acesso em: 15 ago. 2017.
MACMILLAN DICTIONARY. [S.l.]: MacMillan, c2017. Disponível em <http://www.mac-
millandictionary.com/>. Acesso em: 17 ago. 2017.
SEARA, I.; NUNES, V. G.; LAZZAROTTO-VOLCÃO, C. Para conhecer fonética e fonologia
do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2015.
WELLS, J. C. Longman pronunciation dictionary. 3rd ed. Essex: Pearson, 2008.
YAVAS, M. Applied English phonology. 2nd ed. West Sussex: Wiley-Blackwell, 2011.

Leituras recomendadas
CELCE-MURCIA, M. et al. Teaching pronunciation: a course book and reference guide.
Cambridge: Cambridge University, 2010.
ZIMMER, M. C.; SILVEIRA, R.; ALVES, U. K. Pronunciation instruction for Brazilians: bringing
theory and practice together. Newcastle Upon Tyne: Cambridge Scholars, 2009.

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