Você está na página 1de 26

Linguística Aplicada

Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro

Terapia da Fala
1º Ano

Docentes:
Catarina Oliveira
Aula 4
• Abordagens Linguísticas
– Estruturalismo
• O signo linguístico de Saussure

Catarina Oliveira Linguística Aplicada 2


Estruturalismo
• Europa: teorias psicológicas
influenciam a linguística
– Ferdinand de Saussure (1857- 1913)
• EUA: teoria do comportamento
(que relacionava estímulo e
resposta) influencia a linguística
– Leonard Bloomfield (1887- 1949)
• Criação do Círculo Linguístico de
Praga (1926)
– Baudouin de Courtenay (1845-1929)
– Nicolai Trubetzkoi (1890-1938)
– Roman Jakobson (1896-1982)
Catarina Oliveira Linguística Aplicada 3
Estruturalismo de Saussure
• Estruturalismo de Saussure é influenciado por outras
áreas do conhecimento
– Jacques Lacan (psicanálise )
– Claude Lévi Strauss (antropologia)
– Louis Althusser (filosofia)
– Roland Barthes (crítica literária)

• Curso de Linguística Geral (1916)


– Obra póstuma reconstruída a partir de notas dos alunos de três
cursos (entre 1907 e 1911), Universidade de Genebra

Catarina Oliveira Linguística Aplicada 4


Estruturalismo de Saussure
• A língua é considerada um sistema, ou seja, um
conjunto de unidades que obedecem a certos
princípios de funcionamento (regras),
constituindo um todo coerente (estrutura)
– e.g. sistema solar, sistema respiratório

• Neste contexto, a tarefa do linguista é analisar


a organização e o funcionamento dos
elementos constituintes do sistema
linguístico
Catarina Oliveira Linguística Aplicada 5
Princípios estruturalistas
• Princípio da Estrutura
– os elementos que compõem uma língua só podem ser propriamente
caracterizados a partir da organização global em que se integram
(unidades dependentes do sistema)
• Princípio da Autonomia
– o único e verdadeiro objeto de estudo da Linguística é a língua,
considerada em si mesma e por si mesma.
– a língua é um sistema de signos que se define exclusivamente pelas
suas relações internas (sistema autónomo) → estudo imanente da
língua
– toda preocupação extralinguística deve ser abandonada, uma vez que
a estrutura da língua deve ser descrita apenas a partir das suas
relações internas
• Ficam , assim , excluídas as seguintes relações: língua e sociedade, língua e cultura,
língua e distribuição geográfica, língua e literatura, etc.

Catarina Oliveira Linguística Aplicada 6


Estruturalismo
• Rutura com estudos anteriores que concebiam o
estudo da linguagem como uma prática auxiliar
para outros estudos:
– Crítica literária, Filologia, Gramática tradicional
• A linguística passa a ser concebida como uma
teoria da linguagem
– Ciência autónoma, com ponto de vista próprio, não
subordinada a outras áreas do conhecimento.

Catarina Oliveira Linguística Aplicada 7


Dicotomias saussureanas
• Língua e fala
• Sincronia e diacronia
• Signo linguístico : significante e significado
• Relações sintagmáticas e relações
paradigmáticas

Catarina Oliveira Linguística Aplicada 8


Língua e Fala
Língua Fala
• Forma de atualização da linguagem. • Uma parcela concreta e individual da língua,
• Conhecimento convencional, partilhado pela que um falante põe em ação em cada uma
comunidade linguística que fala a mesma de suas situações comunicativas concretas.
língua. • Real
• Sistema supra individual • Variável
• Meio de comunicação entre os membros de • Heterogénea
uma comunidade • Não se presta a uma análise objetiva e
• Social científica
• Coletiva
• Abstrata
• Homogénea
• Pode ser submetida a uma abordagem
científica → objeto de estudo da linguística
estrutural

Catarina Oliveira Linguística Aplicada 9


Sincronia e Diacronia
Sincronia Diacronia
• Linguística estática • Linguística evolutiva
• Descrição de determinado • Estudo que pretende fazer
estado da língua em uma comparação entre (pelo
determinado momento do menos) dois momentos da
tempo. evolução histórica de uma
determinada língua

O linguista deve estudar principalmente o sistema da língua, observando


como se configuram as relações internas entre os seus elementos num
determinado momento do tempo.

Para os falantes, a realidade da língua é o seu estado sincrónico

Catarina Oliveira Linguística Aplicada 10


Signo linguístico
• "la langue est un système de signes exprimant des
idées”
Saussure (1916), Introduction § 3
Signo Linguístico
• O signo é uma
entidade psíquica de
duas faces: o
conceito e a imagem
acústica

“ O signo linguístico não é uma


coisa e um nome, mas um
conceito e uma imagem acústica.”
(Saussure, Curso de Linguística Geral,
1978, p.122)

Catarina Oliveira Linguística Aplicada 12


Signo Linguístico

• Conceito
As imagens acústicas são
– Abstrato variáveis consoante as
• Significado línguas; os conceitos são
• Imagem acústica universais. (Aristóteles)
– Não é o som exterior, físico, material
– Representação interna da palavra na mente
• Significante
Catarina Oliveira Linguística Aplicada 13
Propriedades do signo
linguístico

• LINEARIDADE DO
SIGNIFICANTE
• ARBITRARIEDADE
• IMUTABILIDADE
• MUTABILIDADE

Catarina Oliveira Linguística Aplicada 14


Linearidade do significante
• “o significante, porque é de natureza
auditiva, desenvolve-se no tempo e ao
tempo vai buscar as suas características (…)
os significantes acústicos só dispõem da
linha do tempo; os seus elementos
apresentam-se uns após outros.” p. 128

– os componentes que integram um


determinado signo apresentam-se um
após o outro, tanto na fala como na escrita
• fonemas, sílabas, palavras são emitidas em
ordens linear ou sucessiva na cadeia da fala

Catarina Oliveira Linguística Aplicada 15


Arbitrariedade do signo

Catarina Oliveira Linguística Aplicada 16


Arbitrariedade do signo
• É arbitrária a relação que une
o significado e o significante
– Não há relação necessária e natural
(motivação) entre a imagem acústica e o
conceito
– O signo linguístico não é motivado, mas cultural, convencional
• resulta do acordo implícito realizado entre os membros de uma determinada
comunidade

“a ideia de pé não está ligada por nenhuma relação à cadeia de sons


[p]+[ɛ] que lhe serve de significante; poderia ser tão bem representada
por qualquer outra: provam-no as diferenças entre as línguas e a
própria existência de línguas diferentes”
Catarina Oliveira Linguística Aplicada 17
Onomatopeias
• Nas onomatopeias, parece existir uma
ligação aproximada entre o seu
significante e o seu significado
– “tic-tac” → som representativo do relógio
• Variam de língua para língua
• Pouco frequentes
• Convencionais em si mesmas

Catarina Oliveira Linguística Aplicada 18


Imutabilidade do signo linguístico

• Não podemos mudar o nome de um


elemento por vontade própria
– se já existe um nome para o objeto, a
tendência lógica é que esse nome permaneça
• em certo momento, convencionou-se chamar ao
objeto [ˈmezɐ]

• Língua é um produto herdado de gerações


anteriores

Catarina Oliveira Linguística Aplicada 19


Mutabilidade do signo linguístico
 O sistema linguístico está sujeito a
alterações
- no latim plicare (matar) evoluiu para o francês
noyer (afogar)
- No árabe suq (mercado) evoluiu para o português
açougue (talho; matadouro).

O tempo altera tudo: não há motivos para que a


língua seja excepção a esta lei universal.
Catarina Oliveira Linguística Aplicada 20
Relações sintagmáticas e
relações paradigmáticas
• Se a língua é um sistema, de que forma
as unidades constitutivas desse sistema
se encontram relacionadas umas com as
outras?
– Relações sintagmáticas
– Relações paradigmáticas

Catarina Oliveira Linguística Aplicada 21


Relações paradigmáticas e
sintagmáticas
Relações sintagmáticas Relações paradigmáticas
• Relação entre • Relações entre a associação mental que se
dá entre a unidade linguística que ocupa um
elementos presentes no mesmo determinado contexto e todas as outras
nível do enunciado unidades ausentes que, por pertencerem à
• Baseia-se no carácter linear do mesma classe daquela que está presente,
signo poderiam substitui-la nesse mesmo contexto
• Relações de associação ou in
• Relação in praesentia
absentia
– entre dois ou mais termos que estão
– entre um termo que está presente num
presentes num mesmo contexto determinado contexto com outros que estão
sintático ausentes desse contexto

Catarina Oliveira Linguística Aplicada 22


Relações sintagmáticas
• Nível fonológico: as unidades (fonemas) combinam-se
para formar as sílabas.
– Restrição: não pode haver, no português, sílaba sem vogal:
• Casa (CV-CV), bar (CVC)

• Nível morfológico: as unidades (morfemas) unem-se


para formar uma palavra.
– Restrição: prefixos antecedem o radical; sufixos sucedem o radical.
• Infelizmente (PREF-RAD-SUF)

• Nível sintático: as unidades (palavras) combinam-se


para formar frases.
– Restrições relativas à posição dos elementos dentro de um sintagma ou
dos sintagmas numa frase.
• O miúdo gosta de gelado (SN[Det + N] + SV[V + P + SN])
• *De gosta gelado menino o

Catarina Oliveira Linguística Aplicada 23


Relações paradigmáticas
• Adjetivo • Substantivo

Catarina Oliveira Linguística Aplicada 24


Relações paradigmáticas e
sintagmáticas

Catarina Oliveira Linguística Aplicada 25


Leituras recomendadas
• SAUSSURE, Ferdindand de. Curso de Lingüística Geral.
São Paulo: Editora Cultrix, 2006
• Costa, Marcos Antonio. Estruturalismo. In: Martelotta ,
Mário Eduardo (org.). Manual de lingüística . 2º ed. São
Paulo: Contexto, 2011. p. 113-126.

Catarina Oliveira Linguística Aplicada 26

Você também pode gostar