Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Sugestoes de Atividades Produção Textual 9
Sugestoes de Atividades Produção Textual 9
(EF89LP36) Parodiar poemas conhecidos da literatura e criar textos em versos (como poemas concretos,
ciberpoemas, haicais, liras, microrroteiros, lambe-lambes e outros tipos de poemas), explorando o uso de
recursos sonoros e semânticos (como figuras de linguagem e jogos de palavras) e visuais (como relações
entre imagem e texto verbal e distribuição da mancha gráfica), de forma a propiciar diferentes efeitos de
sentido.
(EF09LP03) Produzir artigos de opinião, tendo em vista o contexto de produção dado, assumindo posição
diante de tema polêmico, argumentando de acordo com a estrutura própria desse tipo de texto e utilizando
diferentes tipos de argumentos – de autoridade, comprovação, exemplificação princípio etc.
(Por @gomezstudios.
Por @tomcotrim_
Disponível em: https://www.instagram.com/p/C2fIzivuA1U/)
Disponível em: https://www.instagram.com/p/CyOCJKpun5x/
(EF89LP35) Criar contos ou crônicas (em especial, líricas), crônicas visuais, minicontos, narrativas de
aventura e de ficção científica, dentre outros, com temáticas próprias ao gênero, usando os conhecimentos
sobre os constituintes estruturais e recursos expressivos típicos dos gêneros narrativos pretendidos, e, no
caso de produção em grupo, ferramentas de escrita colaborativa.
ÚLTIMO DESEJO
(Sandro Villar)
Noel Rosa que me perdoe lá no céu. Peço licença ao ilustre compositor para denominar esta crônica
com o título do seu famoso samba-canção (presumo que o ritmo seja esse). Evidente que pensei em outros
títulos, mas o de Noel me pareceu mais adequado.
Bem, depois da explicação necessária, narremos a história de seu Gigio, italiano da Calábria com uma
penca de filhos e netos, todos nascidos no Brasil. Com a idade mais avançada do que jogador impedido,
seu Gigio caiu doente, atacado por uma pneumonia dupla.
Alguns parentes irônicos, de olho na herança dele, disseram que o velho estava com pneumonia tripla.
Ele ficou uns dez dias internado naquela tenda dos hospitais denominada de UTI, que deveria ser chamada
de loteria da vida.
Ali, o doente está pela bola sete, na marca do pênalti ou, se preferem outra metáfora ou exemplo
comparativo, está no bico do corvo ou do urubu. Tanto faz, dá na mesma, seja corvo ou urubu.
Bem que o médico fez de tudo para salvar seu Gigio. O doutor acabou entregando os pontos e,
derrotado, chamou os filhos e a mulher do doente terminal. “Podem levá-lo. Ele manifestou o desejo de
morrer em casa ao lado de vocês”, contou o médico aos parentes. “Mas o estado do Gigio é tão grave assim,
doutor?”, perguntou dona Ernestina, mulher do velho. “É”, respondeu o médico de forma monossilábica,
acrescentando que o paciente teria apenas mais algumas horas de vida. “Acho que não passa de hoje”,
alertou. Uma ambulância levou seu Gigio para casa, um sobrado que ele construiu vendendo linguiça
calabresa no mercado municipal.
Com o diagnóstico e a previsão do médico, a família tratou logo de preparar o velório. Qualquer família
agiria do mesmo modo diante de uma previsão tão sombria, para não dizer sinistra, macabra e por aí vai
(escolha aí, leitor, o verbete mais apropriado).
Parentes que moravam em outras cidades foram avisados em conversas demoradas no telefone, para
alegria das companhias telefônicas. Os mais abastados viajaram de avião.
Já dona Ernestina estava preocupada em preparar algum prato para servir à parentada e aos amigos
durante o velório. Sim, também se come e se bebe nos velórios. Vai ver é para evitar que alguém caia morto
de fome diante do morto.
Dizíamos que Ernestina estava envolvida no preparo de algum prato, e ela optou por fazer uma torta de
calabresa com cebola e queijo. Além desses ingredientes, muito orégano para deixar a torta cheirosa, coisa
para levantar doente terminal.
Do quarto, Gigio sentiu o cheiro da torta, sua preferida, e, com a voz mais fraca do que o salário mínimo,
chamou um dos netos. “Totonho, fala pra tua avó me dar um pedaço de torta”, ordenou. O menino foi à
cozinha e explicou para a avó que esse poderia ser o último desejo do nono, o de comer um pedaço de
torta. A velha recusou. Ao voltar ao quarto, o neto contou ao avô sobre a decisão de Ernestina. “Porca
miséria! Maledeta!”, esbravejou Gigio. E quis saber do neto o motivo da recusa: “A vó disse que a torta é
para ser servida no velório”.