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LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO

AULA 1
TEXTUALIDADE

Prof.ª Ma. Nilce Lucchese


O QUE É UM TEXTO?
Vamos construir o nosso próprio
conceito sobre texto?
TEXTUALIDADE

Princípios da circunstância
comunicativa Pistas linguísticas

– Coesão – Reconhecimento de
– Coerência palavras.
– Intencionalidade – Utilização de
– Aceitabilidade elementos do texto para
inferência sobre ele.
– Situacionalidade
– Identificação das
– Informatividade principais ideias.
– Intertextualidade
COESÃO
Bye, bye, Brasil
(Roberto Menescal e Chico Buarque)

Oi, coração
No Tocantins
Não dá pra falar muito não
o chefe dos Parintintins
Espera passar o avião
vidrou na minha calça Lee
Assim que o inverno passar
Eu vi uns patins prá você
Eu acho que vou te buscar
Eu vi um Brasil na tevê
Aqui tá fazendo calor
Capaz de cair um toró
Deu pane no ventilador
Estou me sentindo tão só
Já tem fliperama em Macau
Oh! tenha dó de mim
Tomei a costeira em Belém do
Pintou uma chance legal
Pará
um lance lá na capital
Puseram uma usina no mar
Nem tem que ter ginasial
Talvez fique ruim pra pescar
Meu amor [...]
Meu amor
A coesão vai garantir a um texto maior legibilidade, ou seja, vai permitir que exista
ligação entre os enunciados, evitando que o texto se transforme em um amontoado de
frases sem lógica.
A coesão é feita através de elementos como as preposições, conjunções, pronomes,
advérbios, locuções adverbiais e palavras denotativas (não possuem nenhuma
classificação morfológica específica em língua portuguesa.
Exemplos:
- palavras denotativas de inclusão: até, inclusive, mesmo, até mesmo, também.
- Palavras denotativas de exclusão: apenas, senão, salvo, só, somente.
- Palavras denotativas de realce: cá, lá, só, é que.
- Palavras denotativas de retificação: aliás, ou melhor, ou antes, isto é, melhor
dizendo.
- Palavras denotativas de situação: afinal, agora, então, mas, e aí.

Chamamos esses elementos de conectivos e sua presença no texto confere uma


melhor articulação de ideias.
COERÊNCIA

blogdoespacoaberto.blogspot.com
Espaço Aberto: Charge - Duke
Coerência é a relação lógica das ideias de um texto que decorre da
sua argumentação – resultado especialmente dos conhecimentos do
transmissor da mensagem.
A coerência favorece o entendimento daquilo que foi dito (ou da
intenção) numa situação comunicativa.
A interpretação daquilo que as pessoas querem dizer.

Exemplo:
Você aceita um café?
Preciso acordar cedo, amanhã.
INTENCIONALIDADE

Jorge Méndez Blake, um artista mexicano de mídia mista,


apresentou sua instalação tridimensional chamada “The
Castle” (“O castelo”), de Franz Kafka
A INTENCIONALIADE surge da maneira como o
produtor/autor organiza o seu texto de forma a
realizar as suas intenções, produzindo os efeitos
desejados.
O trabalho artístico de instalação do artista Blake
mostra o enorme impacto que um livro tem para a
nossa sociedade.
ACEITABILIDADE

[...] quando duas pessoas interagem por meio da linguagem, elas se


esforçam por fazer-se compreender e procuram calcular o sentido do
texto do(s) interlocutor(es), partindo das pistas que ele contém e
ativando seu conhecimento de mundo, da situação, etc. Assim, mesmo
que um texto não se apresente, à primeira vista, como perfeitamente
coerente, [...] o receptor vai tentar estabelecer a sua coerência, dando-
lhe a interpretação que lhe pareça cabível, [...].

[KOCK, Ingedore Grunfeld Villaça & TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Intencionalidade e


aceitabilidade. In: A coerência textual. 17 ed. São Paulo: Contexto, 2007.]
A ACEITABILIDADE é a contraparte
da intencionalidade, ou seja, o autor ao produzir
um enunciado (texto) tem uma intenção ou
objetivo provável com o leitor, e o leitor, por sua
vez, esforça-se (intuitivamente) para
compreender e entender o enunciado.
SITUACIONALIDADE
A adequação do texto a uma situação
comunicativa. A SITUACIONALIDADE orienta o
sentido do discurso tanto na sua produção
quanto na sua interpretação.

O texto é pertinente ao contexto que ele está?


INFORMATIVIDADE
Textos com menor ou maior grau de INFORMATIVIDADE,
fato esse que depende daqueles fatores básicos que
norteiam a finalidade da escrita:
por que, para quê e para quem escrevemos, cujos
aspectos, uma vez cumpridos, tendem a fazer com que a
interlocução se materialize de forma significativa.

O grau de informatividade define-se pelo nível de


conhecimento de que dispõem as pessoas de uma forma
geral.
INTERTEXTUALIDADE
INTERTEXTUALIDADE

Epígrafe:
PRÁTICA

• Interpretação do texto poético de Manoel de


Barros: “O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS”

Material de apoio,(2020, p.7)


O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS
Manoel de Barros

Tenho em mim um atraso de


Uso a palavra para compor meus nascença.
silêncios. Eu fui aparelhado
Não gosto das palavras para gostar de passarinhos.
fatigadas de informar. Tenho abundância de ser feliz por
Dou mais respeito isso.
às que vivem de barriga no chão Meu quintal é maior do que o
tipo água pedra sapo. mundo.
Entendo bem o sotaque das Sou um apanhador de desperdícios:
águas Amo os restos como as boas moscas.
Dou respeito às coisas Queria que a minha voz tivesse um
desimportantes formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
e aos seres desimportantes. eu sou da invencionática.
Prezo insetos mais que aviões. Só uso a palavra para compor meus
Prezo a velocidade silêncios.
das tartarugas mais que a dos
mísseis.
LEITURA COLETIVA DE IMAGEM

• Retirantes é um quadro de Candido Portinari,


pintado em 1944 em Petrópolis, no Rio de
Janeiro.

• O painel é um óleo sobre tela e tem 190 X 180


cm, faz parte do acervo do Museu de Arte de São
Paulo (MASP) e retrata uma família de retirantes,
pessoas que se retiram de uma região para outra
em busca de condições melhores de vida.
ASA BRANCA
Luiz Gonzaga
Quando "oiei" a terra ardendo Hoje longe muitas légua
Qual fogueira de São João Numa triste solidão
Eu "preguntei" a Deus do céu, uai Espero a chuva cair de novo
Por que tamanha judiação
Pra mim vortar pro meu sertão
Espero a chuva cair de novo
Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de "prantação" Pra mim vortar pro meu sertão
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão Quando o verde dos teus "óio"
Por farta d'água perdi meu gado Se "espaiar" na "prantação"
Morreu de sede meu alazão Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu "vortarei", viu
Inté mesmo a asa branca Meu coração
Bateu asas do sertão
Eu te asseguro não chore não, viu
"Intonce" eu disse adeus Rosinha
Que eu "vortarei", viu
Guarda contigo meu coração
"Intonce" eu disse adeus Rosinha Meu coração
Guarda contigo meu coração
VIDAS SECAS
GRACILIANO RAMOS

NA PLANÍCIE avermelhada os juazeiros alargavam duas


manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro,
estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas
como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem
progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma
sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos
galhos pelados da catinga rala.
Arrastaram-se para lá, devagar, Sinha Vitória com o filho mais
novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano
sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia
presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino
mais velho e a cachorra Baleia iam atrás. Os juazeiros aproximaram-
se, recuaram, sumiram-se. O menino mais velho pôs-se a chorar,
sentou-se no chão (Capítulo 1, Mudanças).
Vamos construir o nosso próprio conceito
sobre texto?

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