Você está na página 1de 46

GAGUEIRA

Multifatorial em sua etiologia e


sintomatologia

Mirela Pollini Caputo


www.gagueira.org.br
www.ignesmaiaribeiro.com.br
mirelacaputo@gmail.com

Dezembro de 2014
Complexidade da Gagueira
• Um dos mais complexos distúrbios da comunicação
• Fatores biológicos:
– processamento neuromotor da fala
• funcionamento da musculatura laríngea, aspectos vocais,
coordenação pneumofonoarticulatória.
– o processamento linguístico e
– processamento auditivo.
• Aspectos psíquico:
– subjetividade da pessoa que gagueja,
– qualidade de vida.
• Questões ambientais
– Longitudinalmente: durante sua vida;
– Transversalmente: circula em sua rotina.
Para falar fluentemente:
 Minuciosa coordenação entre:

• Planejamento linguístico;

• Processamento motor;

• Processamento auditivo;

• Mecanismos sensoriais (supervisionam).


Fluência

 Para desenvolvimento da linguagem e da fluência:


 Características pessoais;
 Ambientais:
 Família;
 Companheiros;
 Qualidade das interações linguísticas.
FLUÊNCIA DA FALA
 É uma habilidade específica da linguagem.

• Adquirida gradualmente;
• Tende a ser pouco flexível;
• Mecanismos de processamentos automáticos e
pouco conscientes.
• Quanto mais fluente  menos atenção na fala.
(Merlo, 2006)
http://gagueira.org.br/conteudo.asp?id_conteudo=21
http://cutter.unicamp.br/document/?code=vtls000381660
Paramêtros da Fluência
 Continuidade
 Velocidade
 Ritmo
 Esforço
Fluência
 Varia de criança para criança;
 Altera-se durante o desenvolvimento da linguagem;
 Mais rupturas em crianças menores;
 Mais domínio da fala e da linguagem (linguístico, fonológico,
morfológico, sintático, semântico, pragmático)  mais fluência;
Gagueira do Desenvolvimento
O problema central:
 Dificuldade do cérebro em iniciar um som, sinalizar o término de um
som/ de uma sílaba e passar para o próximo;

 A pessoa se mantém “presa” até que o cérebro possa gerar


comandos necessários para dar continuidade.

Alm, P. 2004
www.gagueira.org.br
GAGUEIRA

Comparando as áreas cerebrais ativadas durante a fala fluente e


a fala gaguejada, Fox et al. (1996) qualificaram o
entendimento que se tinha até então sobre gagueira.

Descobriu-se que a fala espontânea fluente e a fala espontânea


gaguejada ativam áreas diferentes do cérebro
(Bohnen, 2009).

http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/21569/stats?type=0&showAll=1
•Indivíduos fluentes •Indivíduos que gaguejam

Fox et al., 1996


Falha na ativação normal do lóbulo temporal durante a fala, dificulta a
organização do planejamento fonológico processado nas regiões pré-
motoras do cérebro
(Roland et al.,1980; Fox et al., 1996; Schnitzler et al.,1997; De Nil et
al.,2000; Ingham et al., 2000, Ingham, 2001).
Preparação dos movimentos
•Indivíduos fluentes •Indivíduos que gaguejam

Fox et al., 1996


SMA e Área Pré-motora
Movimentos da boca
•Indivíduos fluentes Indivíduos que gaguejam

Fox et al., 1996


Área Pré-Motora Inferior
Execução dos movimentos
•Indivíduos fluentes Indivíduos que gaguejam

Fox et al., 1996


Área Motora Suplementar
Coordenação de movimentos
•Indivíduos fluentes •Indivíduos que gaguejam

Fox et al., 1996


Cerebelo
Disfunção maior nas áreas cortical e subcortical do sistema de
controle motor (Salmelin et al., 2000; Mulligan et al., 2001;
Sommer et al., 2002).
Feedback Auditivo
•Indivíduos fluentes •Indivíduos que gaguejam

Área Temporal Superior


Fox et al., 1996
Ativação das áreas do hemisfério direito na produção de
palavras de um canto (Jeffries, Fritz e Braun, 2003).
Sommer et al., 2002

Anomalia anatômica nas áreas peri-silvianas responsáveis


pela fala e linguagem (Foundas et al., 2001 e Sommer et al., 2002)
e nas relações inter-hemisféricas (Forster e Webster, 2001).
Imagens de fluentes
ressonância
magnética
funcional (fMRI)
mostram o
córtex auditivo
mais ativo em não
fluentes. fluentes
Gagueira do Desenvolvimento
 Estruturas cerebrais envolvidas com a gagueira do desenvolvimento
 os núcleos da base.

 Os núcleos da base estão envolvidos na automação de sequencias motoras


rápidas não fornece pistas sobre a temporalização da fala de forma
adequada.
(Alm, P. 2004)
Gagueira do Desenvolvimento
Gagueira como uma condição neuroquímica: atividade acima do normal de
dopamina, um neurotransmissor que regular os movimentos nos núcleos
da base.
(Maguire, G. 2008)
Não tem causa psicológica:

http://gagueira.wordpress.com/2010/05/09/o-dossie-do-estudo-monstro
Genética
https://www.pinterest.com/gagueirapix/gagueira/
Gagueira - Etiologia
Multifatorial Poligênico: vários genes que atuam em sistema
conjunto com determinados fatores emocionais, ambientais e linguísticos.
• Hereditário
• Ambiental
• Orgânico
• Lingüístico
• Psicológico
(Ambrose et al., 1993; Yairi et al., 1996; )

 A genética influencia de modo marcante a tipologia da gagueira.


 A genética não influencia na gravidade da gagueira.
(Pereira, T. 2009)

 Condições tanto biológicas quanto psicológicas  severidade da gagueira.


Gagueira
 Inicia necessariamente durante a infância
até 12 anos;
• Observa-se :
 Esforço físico
 Tensão muscular
 Tensão vocal
 Esforço motor perceptível:

A fala não é suave, não é contínua.


Gagueira do Desenvolvimento

 Início:
Abrupto ----- Gradual ----- Cíclico

 Idade de incidência:
2 a 4 anos: principalmente.
até a puberdade: 12 / 14 anos.
Gagueira do Desenvolvimento

 Incidência: ao redor de 5% :
 50% meninas / 50% meninos

 Prevalência: ao redor de 1% :
 4 homens para 1 mulher.

(Andrews y Harris, 1964; Yairi y Ambrose, 1999; Mansson, 2000)


Gagueira
 INvoluntária
INtermitente
INdividual
E, de certo modo,
IMprevisível.

 A pessoa que gagueja não tem controle sobre as interrupções de sua


fala e não as consegue prever ou evitar, por mais que tente.

Gagueira persistente e gagueira recuperada:


 São distúrbios relacionados.

Seider et al., 1983; Yairi et al., 1996b;Ambrose et al.,


1997; Oliveira, 2004
Situações que tendem a agravar a gagueira:

 Falando em público;

 Falando por telefone;

 Situações que envolvem pressa;

 Situações que envolvem estresse;

 Situações que envolvem competição;


Redução ou desaparecimento temporário:
Cantar;
Falar sozinho;
Falar com animais;
Ler em coro;
Ler repetidamente um mesmo trecho: efeito de
adaptação;
Lentificar o ritmo habitual de fala;
Mudar o tom de voz;
Entre outros.
DISFLUÊNCIAS
• Rupturas que ocorrem na fala.
DISFLUÊNCIAS
 Tipologia:
1. Disfluências comuns ou típicas;
2. Disfluências atípicas ou gaguejadas.
(Yairi,1999; Gregory, 2005, Andrade,2006)

 Frequência de disfluências esperada em


adultos:
10% totais (comuns + atípicas);
2% atípicas/gaguejadas.
DISFLUÊNCIAS COMUNS
 Ocorrem na fala de qualquer pessoa;
 Maior incidência no período de aquisição da linguagem;

 Ocorrem principalmente por:


 incertezas no planejamento linguístico;
 uso de palavras pouco conhecidas ;
 uso de frases complexas.
DISFLUÊNCIAS comuns :

 Não há movimentos motores concomitantes;


 Respiração silenciosa nos marcadores
linguísticos;
 Não dificultam a comunicação;
 Não há tensões/força musculares.
(Yaruss,1998)
DISFLUÊNCIAS atípicas/gagas
• Há evidência de tensões;
• Chama a atenção;
• Presente nos distúrbios da fluência;
• Pode apresentar concomitantes físicos.
 Hesitação
Disfluências Comuns
 Silenciosas: 1 a 2”
 Audíveis: ah, hum, eh
 Interjeição
 Uma palavra ou expressão que não se relaciona com o texto.
 tipo assim, mas, daí, entende
 Palavra não terminada
 Palavra incompleta, não retomada posteriormente.
 Ele comprou uma bó, um jogo novo.
 Revisão
 Refazer o discurso.
 Comum depois de uma palavra não terminada.
• Repetição de palavra
 Palavras com mais de uma sílaba
 Quero – quero – quero sim.

• Repetição de segmento
 Repetição de pelo menos 2 palavras completas
 Estou muito - estou muito feliz hoje!
• Repetição de frase
 Meu pai foi trabalhar. Meu pai foi trabalhar.
Disfluências atípicas (gaguejadas)
• Repetição de palavras monossilábicas (eu-eu-eu).

• Repetição de sílaba (pe-pe-pe-perigo)

• Repetição de som (s-s-s-s-sapato)

• Prolongamento _ (f_aca)

• Bloqueio / (/pato)

• Pausa ----- (silêncio > 2 segundos)

• Intrusão de som ou segmento (ririri; kiukiukiu)


Avaliação da Fluência
• Quantitativa e Qualitativa.

• Protocolos Quantitativos:
– Perfil da Fluência da Fala. (Andrade, 2006).
– SSI 3. (Ryley, 1994).
Avaliação da Fluência
• Filmar diversos tipos de linguagem;
• Transcrever amostra de fala auto-expressiva;
• Calcular porcentagem de disfluências na fala.
ANÁLISE DE CASOS

• Infantil.
• Adulto.
Diagnóstico
 História clínica e familial;
 Observação da interação comunicativa (com avaliador e no caso de
crianças mãe/filho);
 Levantamento dos fatores de risco (raciocínio clínico);
 Avaliação da fluência da fala;
 Avaliação da fala, linguagem;
 Motricidade oral;
 Voz;
 Comorbidades;
 Outros.

 Análise dos dados;


 Devolutiva;
 Relatório.
Gagueira do Desenvolvimento
Manifestações clínicas (1 ou mais sintomas):

– Disfluências comuns e atípicas acima do esperado para idade e


gênero;
– Evitações, substituições / desistências de palavras / situações de fala;
– Perda do contato visual;
– Movimentos involuntários concomitantes às disfluências.
Disfluências em crianças

 manifestação: entre 2 e 6 anos;


curto tempo de duração:

 6 a 10 semanas – Bohnen,2005
Fatores de Risco
• Gênero
• Idade
• Tipo de surgimento
• Tempo de surgimento das rupturas
• Fatores qualitativos
• Fatores estressantes próximos ao surgimento
• Histórico gestacional/parto/desenvolvimento NPM
• Histórico familial
• Reação familial e social
• Tipo de orientação anterior
http://www.ignesmaiaribeiro.com.br/
mirelacaputo@gmail.com
www.ignesmaiaribeiro.com.br
www.gagueira.org.br

Rua Urussuí, 71 conj 112 – Itaim Bibi – São Paulo s SP


11 3853-6667

Você também pode gostar