Você está na página 1de 13

Fevereiro de 2016

OBSERVATÓRI@
DOS DIREITOS Conceito
E CIDADANIA DA
Interseccionalidade
MULHER Para pensar o feminismo.

Gênero e Lei
Projetos de Lei: Direitos das
Mulheres em Cheque

Como a bancada religiosa do


congresso vem ameaçando os
direitos das mulheres?

Acesse o
infográfico e
conheça esse
projetos de
Projetos de Lei.
Internacional
Feminismo Islâmico Personagem
O contexto geopolítico atual vem
reforçando através do meios de Djamila Ribeiro
comunicação estereótipos sobre a
cultura árabe e religião islâmica. Um dos
Conheça o trabalho dessa filósofa e
argumentos para desqualificar a religião,
feminista que tem contribuído tanto para a
cultura e modo de viver dos islâmicos é a
visibilidade do feminismo negro no Brasil.
opressão contra as mulheres. Mas afinal,
conhecemos a opinião das mulheres
islâmicas? Quais são seus questionamentos
e revindicações? Conheça alguns pontos
de vista sobre o uso do véu e seus tipos,
interpretação do Corão e liberdade.
Políticas Públicas
As políticas públicas não estão atingindo
as mulheres negras. Assista a entrevista
de Djamila Ribeiro para o Justificando.
Fevereiro de 2016

Internacional

FEMINISMO ISLÂMICO

O contexto geopolítico atual vem reforçando


através do meios de comunicação estereótipos
sobre a cultura árabe e religião islâmica.
Além disso é promovida a generalização
de comportamentos e práticas extremistas,
como se todos os islâmicos fossem iguais,
não considerando a diversidade cultural entre
as regiões e países. Um dos argumentos para
desqualificar a religião, cultura e modo de viver
dos islâmicos é a opressão contra as mulheres.

Mas afinal, conhecemos a opinião das


mulheres islâmicas?

Foto: Brasil 247


Quais são seus questionamentos
e revindicações?

Mapa 1: Mapa-infográfico fornece um breve panorama da situação dos direitos


das mulheres em diferentes países islâmicos e indica locais onde o uso do véu é
obrigatório. Clique para ver.
Fevereiro de 2016

Internacional

HIJAB
O QUE?

Hijabe ou hijab (do árabe: ‫باجح‬, translit. ħijāb,


‘cobertura’; “esconder os olhar”; pron.: [ħiˈdʒæːb])
é o conjunto de vestimentas preconizado pela
doutrina islâmica. No Islã, o hijab é o vestuário
que permite a privacidade, a modéstia e a
moralidade, ou ainda “o véu que separa o homem
de Deus”. O termo “hijab” é, por vezes, utilizado
especificamente em referência às roupas
femininas tradicionais do Islã, ou ao próprio véu.

O hijab é usado pela maioria das muçulmanas


que vivem em países ocidentais. A depender da
escola de pensamento islâmica, o hijab pode se
traduzir na obrigatoriedade do uso da burca,
que é o caso do Talibã afegão, até apenas uma
admoestação para o uso do véu, como ocorre
na Turquia. Na atualidade, o hijab é obrigatório
na Arábia Saudita e na República Islâmica do Irã,
além de governos regionais noutros países, como
na província Indonésia de Achém.

Hijab (‫ )باجح‬significa em árabe “cobertura”.


A palavra vem de ‫بجح‬, que significa “cobrir,
proteger de estranhos. Para eles o hijab foi
decretado para proteger a sua modéstia e honra.
Segundo o Alcorão Sagrado:

“Ó profeta, dizei a vossas esposas, vossas filhas


e às mulheres dos crentes que quando saírem
que se cubram com as suas mantas; isso é mais
conveniente, para que se distingam das demais
e não sejam molestadas; sabei que Deus é
Indulgente, Misericordiosíssimo” — 33.ª Surata,
Al-Ahzab, versículo 59.

Muitas mulheres não usam o véu sequer para a


celebração religiosa de sexta-feira, o dia sagrado
dos muçulmanos. Elas contam que usar ou não
usar o véu é uma questão pessoal, e que o mais
importante não é usar ou não usar, mas o motivo
que leva a mulher a querer usar.

Fonte: Wikipedia
Fevereiro de 2016

Internacional

O QUE É A CHARIA?

A charia, xaria, xária, xaria, (em árabe: ‫;ةعيرش‬ O termo charia significa “caminho para a fonte” ou
transl.: sharīʿah, “legislação”), também grafado “rota para a fonte [de água]”, e é a estrutura legal
sharia, shariah, shari’a ou syariah, é o nome que dentro do qual os aspectos públicos e privados
se dá ao direito islâmico. Em várias sociedades da vida do adepto do islamismo são regulados,
islâmicas não há separação entre a religião e o para aqueles que vivem sob um sistema legal
direito, todas as leis sendo fundamentadas na baseado na fiqh (os princípios islâmicos da
religião e baseadas nas escrituras sagradas ou jurisprudência) e para os muçulmanos que vivam
nas opiniões de líderes religiosos. fora do seu domínio. A charia lida com diversos
aspectos da vida quotidiana, bem como política,
O Alcorão é a mais importante fonte da negócios, contratos, família, higiene, sexualidade
jurisprudência islâmica, sendo a segunda a e questões sociais.
Suna (obra que narra a vida e os caminhos do
profeta). Na Suna se encontram os ahadith, A charia é, atualmente, o sistema legal
as narrações do profeta. Também existe como religioso mais utilizado no mundo, e um dos
parâmetro de jurisprudência o ijma, o consenso três sistemas legais mais comuns do planeta,
da comunidade. O Qiyas, o raciocínio por juntamente com a common law anglo-saxônica
analogia, foi usado pelos estudiosos da lei e e o sistema romano-germânico. Durante a Era
religião islâmica para lidar com situações onde de Ouro Islâmica, a lei islâmica clássica pode ter
as fontes sagradas não providenciam regras influenciado o desenvolvimento da lei comum,
concretas. Algumas práticas incluídas na charia e também influenciaram o desenvolvimento de
têm também algumas raízes nos costumes diversas instituições da lei civil
locais.

A jurisprudência islâmica chama-se fiqh e está Fonte: Wikipedia


dividida em duas partes: o estudo das fontes e
metodologia (usul al-fiqh, “raízes da lei”) e as
regras práticas (furu’ al-fiqh, “ramos da lei”).

Opinião:
Poder de Escolha.
“Meu Hijab não tem nada
a ver com opressão. É
uma afirmação feminista”
(para assistir o vídeo é necessário
ter conta no facebook)
Fevereiro de 2016

Internacional

MULHERES DO ISLÃ
Mapeamos algumas personagens para oferecer
um breve panorama de diferentes experiências
de luta para ampliar os direitos das mulheres em
países islâmicos

Acesse o mapa e conheça a marroquina Fátima


Mernissi, pioneira no feminismo islâmico, Amina
Sboui, presa e submetida à exorcismo na Tunísia,
Alaa Murabit, fundadora do grupo The Voice of
Libyan Women (VLW). Além disso, apresentamos
o panorama das eleições na Arábia Saudita, onde
mulheres puderam votar e se candidatar pela
primeira vez em 2015 e a paquistanesa Benazir
Bhutto, a primeira mulher a assumir um cargo
de chefe de governo de um estado mulçumano
moderno.

DESTAQUE

Conheça Qahera, uma super-heroína criada


pela egípcia de codinome Deena. De acordo
com a própria autora, sua personagem nasceu
para expressar necessidades de mudança que
a mulher do mundo árabe demanda à suas
autoridades políticas e religiosas.

Publicados em tumblr, os quadrinhos mostram a


heroína que além de combater problemas típicos
sociedade árabe e islâmica,também enfrenta o
unilateralismo ocidental em relação às mulheres, Clique na imagem para conhecer
reforçando que a necessidade de conservar as aventuras de Qahera!
fundamentos da cultura islâmica ao mesmo
tempo que conquista suas revindicações naquela
sociedade. Deena/Qahera rejeitam o FEMEN e
outros grupos que reduzem a figura da mulher
árabe a uma pessoa oprimida e indefesa.

Você conhece
a luta por
direitos de
outras mulheres
islâmicas? Ajude
a construir
nosso mapa e
encaminhe sua
sugestão para
nós!
Fevereiro de 2016

Personagem

DJAMILA RIBEIRO

A santista, Djamila Ribeiro é conhecida pelo


seu trabalho como pesquisadora e feminista
negra. Em 2015 tornou-se mestra em filosofia
pela Unifesp, Pesquisadora bolsista na FAPESP;
Membro fundadora do MAPÔ – Núcleo de
Estudos Interdisciplinar em Raça e Gênero e
Sexualidade da Unifesp; Membro da Associação
Internacional de Mulheres Filósofas e da Simone
de Beauvoir Society. Tem artigos publicados em
revistas de Filosofia e já apresentou trabalho
nos EUA (Universidade do Oregon) e Argentina
(Universidade Nacional de La Plata). Feminista
negra desde o nascimento. Escreve para o
Blogueiras Negras, Escritório Feminista da
Carta Capital e Geledés discutindo temas
como racismo, gênero e política tendo em foco
mulheres negras. Djmila é mãe de Thulane.

Foto: geledes.org.br
Recomendamos também a leitura de seu texto
“E se sua mãe tivesse te abortado?”, no qual
Djamila conta que quando tinha 16 anos sua mãe
dividiu com ela a culpa de ter tentado aborta-la e
sua reflexão pessoal sobre o episódio.

FALA DJMILA!

“Há uma tentativa de se silenciar


mulheres negras. Conheci diversas
“Minha luta diária é para ser reconhecida como
feministas negras que passaram por isso,
sujeito, impor minha existência numa sociedade
e agora, com a minha geração, sinto
que insiste em negá-la. E, ao fazer isso, lutar
na pele. Uma vez, numa discussão com
coletivamente com outras mulheres para que
a página “Moça, você é machista”, fui
possamos enfrentar o machismo e o racismo.
banida. E fui porque reclamei de um post
Como feminista negra, luto por uma sociedade
racista e exigi retratação. A resposta
sem hierarquia de opressão onde possamos ser
da página foi: “você tem problemas
respeitadas na nossa humanidade e identidades.
de interpretação de texto; deve ser
Acredito que racismo, machismo e heterossexismo,
analfabeta funcional”. Ou seja, recorre-
apesar de serem opressões diferentes, estão
se ao racismo, para tentar nos calar.
subordinados a mesma estrutura e combater um
Porque, claro, como negra, eu só poderia
e reforçar outro não traz mudanças significativas,
ser analfabeta. Que tipo de feminismo
apenas se está reforçando o poder que se diz
é esse?” Para Blogeuiras Negras, em
combater. Minha luta é para que nós mulheres
Afasta de mim esse cálice (cale-se): o
negras possamos ser consideradas não mais
silenciamento de mulheres negras em
sujeitos implícitos, mas sujeitos protagonistas,
espaços de militância.
que não sejamos mais aviltadas em nossa
Fonte: Blogueiras Negras
Fonte: Revista TPM
Fevereiro de 2016

Conceito

INTERSECCIONALIDADE
Djamila utiliza o conceito de interseccionalidade “A interseccionalidade é uma conceituação do
em produção acadêmica e também na militância problema que busca capturar as conseqüências
como feminista negra. Trata-se de um estruturais e dinâmicas da interação entre
aporte teórico de grande relevância para o dois ou mais eixos da subordinação. Ela trata
feminismo, bem como para o movimento especificamente da forma pela qual o racismo,
social como um todo. o patriarcalismo, a opressão de classe e outros
sistemas discriminatórios criam desigualdades
O que é o Feminismo Interseccional? básicas que estruturam as posições relativas
de mulheres, raças, etnias, classes e outras”.
Como ele contribui para a desconstrução da (CRENSHAW, 2002: 177).
ideia de “universalidade” nas categorias que
pautam o movimentos sociais? Ela conta que também que Cristiano Rodrigues
em seu artigo “Atualidade do Conceito de
No artigo publicado em agosto de 2015 no Blog da Interseccionalidade para a pesquisa e prática
BoiTempo. Djamila Ribeiro destaca que esse feminista no Brasil” explica que no contexto
conceito é pouco discutido e disseminado no anglo-saxão houve, ao longo dos anos 1980 e
Brasil. Afirma que a abordagem inteseccional vem 1990, uma contínua apropriação do conceito
sendo desenvolvida por mulheres negras ativistas de interseccionalidade por feministas dos mais
há mais de um século e recebeu maior atenção diferentes matizes.
quando a crítica e teórica estadunidense Kimberlé
Crenshaw o utilizou como centro de uma tese, em
1989, para analisar como raça, gênero e classe se Ler o texto na íntegra
interseccionam e geram diferentes formas de
opressão.

“Embora o conceito seja aberto a diferentes interpretações e a aprofundamento teóricos


novos, ele propõe, no seu cerne, que:

1) Classe, raça, gênero, orientação sexual, pertencimento religioso etc. são eixos de
opressão ou eixos de subordinação. Logo, eles não são meros construtores de “identidade”.
A preocupação da perspectiva interseccional não é simplesmente adiferença entre pessoas,
mas e desigualdade entre elas.

2) Esses eixos de subordinação apresentam-se na realidade material de forma transversal ou


interseccional. Isso significa dizer que eles se cruzam e se perpassam criando situações de
subalternidade e exploração particulares. Considerando isso,é possível por exemplo que uma
pessoa seja simultaneamente privilegiada em alguns aspectos e subalternizada em outros
(por exemplo, um homen negro da burguesia ou uma mulher branca da classe trabalhadora).

3) Não há uma hierarquia pré-definida entre os diferentes eixos de opressão.


Esse deve ser o ponto mais problemático para os marxistas apegados á classe como o
centro fulcral da desigualdade social. Mas em termos das lutas “específicas”, essa colocação
é importantéssima ao eliminar a chamada “olimpíada das opressões”, tentativa de madir
quem é mais ou menos oprimido dependendo da “soma” de opreessões ou de qual tipo de
opressão é mais grave.”

Fonte: Capitalismo em Desencanto


Fevereiro de 2016

Conceito
3ª Onda: Teve início da década de 90,
Ondas do Feminismo começou-se a discutir os paradigmas
Acadêmico no Brasil estabelecidos nas outras ondas, colocando
Feminismo
em discussão a micropolítica. Apesar de que, Interseccional
as mulheres negras estadunidenses, como
1ª Onda: Início do século XIX. As reivindicações Beverly Fisher, já na década de 70, começaram
eram voltadas para assuntos como o direito a denuncias a invisibilidade das mulheres
ao voto e à vida pública. Um grande nome negras dentro da pauta de reivindicação do
dessa onda é Nísia Floresta. Em 1922, nasce movimento. No Brasil, o feminismo negro
a Federação Brasileira pelo Progresso começo a ganha força no fim dessa década,
Feminino, que tinha como objectivo lutar pelo começo da de 80, lutando para que as
sufrgio feminino e o direito ai trabalho sem a mulheres negras fossem sujeitos políticos.
autorizaçnao do marido.

Fonte: Djamila Ribeiro, para Carta Capital


2ª Onda: Teve início nos anos 70 num momento de crise da democracia. Além de
lutar pela valorização do trabalho da mulher, o direito ao prazer, contra a violência
sexual, também lutou contra a ditadura militar. O primeiro grupo que se tem notícia
foi formado em 1972, sobretudo por professoras universitárias. Em 1975 fromou-se o
Movimento Feminino pela Anistia.

Através de seu estudo acerca do impacto da interseccionalidade


das formas de discriminação – como raça e gênero – sobre as
mulheres negras nos Estados Unidos, Kimberlé Crenshaw (2000)
demonstrou a insuficiência e a ineficácia das leis para proteger
mulheres negras (e outras não brancas), posto que os instrumentos
legais não previam o julgamento de processos que se pautavam
pela intersecção das discriminações de gênero e raça. Um exemplo
utilizado por Crenshaw foi o da discriminação que essas mulheres
sofriam no trabalho. A autora constatou que sexismo e racismo no
ambiente de trabalho eram interpretados pelas cortes judiciais como
questões distintas, de forma que, para estabelecer as diretrizes do
processo na corte, ou este seguia a lógica de acusação de racismo
ou a de sexismo, mas nunca as duas juntas. (SANTOS, 2009.)

Em texto publicado em 2015 pela própria Kimberlé Crenshaw,


Kimberlé Crenshaw
intitulado “Porque a interseccionalidade não pode esperar” Foto: Thinking of the world

“Interseccionalidade é uma sensibilidade analítica, uma maneira de pensar sobre a identidade e sua
relação com o poder. Articulada originalmente em favor das mulheres negras, o termo trouxe à luz a
invisibilidade de muitos cidadãos dentro de grupos que os reivindicam como membros, mas que muitas
vezes não conseguem representá-los. O apagamento interseccional não é exclusivo das mulheres
negras. Pessoas negras ou de outras raças/etnias dentro dos movimentos LGBT; meninas negras ou de
outras raças/etnias na luta contra o sistema que empurra os jovens da escola para a cadeia; mulheres
nos movimentos de imigração; mulheres trans dentro dos movimentos feministas; e as pessoas com
deficiência lutando contra o abuso policial — todas essas pessoas sofrem vulnerabilidades que refletem
as interseções entre racismo, sexismo, opressão de classe, transfobia, capacitismo e muito mais. A
interseccionalidade deu a muitas dessas pessoas uma forma de destacar as suas circunstâncias e lutar
por sua visibilidade e inclusão.”
Fevereiro de 2016

Conceito

NA PRÁTICA:

Selecionamos
alguns artigos que
expressam as diferentes
circunstâncias nas quais
a interseccionalidade é
evocada como proposta
norteadora na luta por
conquistas por direitos.

• Uma Feminista Interseccional Contra o


Feminismo Imperial

“Em seu livro fundador Orientalismo (1978), Edward Said


escreveu sobre o conceito opressivo ocidental relativamente
“à diferença básica entre Oriente e Ocidente enquanto ponto
de partida para elaborar teorias, épicos, novelas, descrições
sociais e relatos políticos sobre o Oriente, seus povos, costumes,
ideias, destino, etc.” O Orientalismo é a construção interesseira
que o Ocidente faz do “Oriente”. O Orientalismo de gênero é
a construção que o Ocidente faz do Oriente como inferior e
necessitando de “intervenção” ocidental e “ajuda humanitária”.

“É isto que é o Feminismo Imperial, também conhecido,


mais corretamente, por Orientalismo de Gênero. É o tipo de
feminismo centrado em narrativas brancas que oblitera a
agência das mulheres que não o são. Coloca o ocidente num
pedestal de empoderamento de gênero ignorando assim
a misoginia sistemática das nações ocidentais. Generaliza
as culturas não ocidentais. Promove a dicotomia do homem
“escuro” e perigoso e do homem branco “salvador”. É o
feminismo dos “brancos” (especialmente dos homens, mas não
só) tentando salvar as mulheres de cor. Apropria os movimentos
dos direitos das mulheres ao serviço do paternalismo e do
império. Por esta razão precisamos da interseccionalidade:
lutar contra ideologias opressivas que usam e abusam da ideia
de justiça para perpetuar injustiças. Não podemospermitir
que se continue a explorar ideias de igualdade de gênero para
perpetuar o racismo.”
Fevereiro de 2016

Conceito

• Sobre transexualidade, feminismo interseccional e


sororidade. Por Zaíra Pires, para Blogeuiras Negras.

“(...) o incômodo que me levou a escrever essa postagem foi observar que nós
ainda precisamos caminhar um bocado para incluir as demandas transfeministas
na agenda dos direitos humanos. Precisamos ainda rever nossos privilégios
cissexuais (simploriamente,(...). Seria o contrário de transexual), assim como
queremos que os homens o façam com relação às mulheres, os brancos o façam
com relação aos não brancos, os heterossexuais o façam com relação aos bi e
homossexuais, a classe média o faça com relação aos mais pobres etc infinito.

(...) enquanto conscientes dessa situação, incluir na pauta da militância as


necessidades das pessoas transexuais. Mas tendo o cuidado de não protagonizar
sua luta, incluindo a partir da sua voz, não da minha, que pouco ou nada sei
de como é ser trans, apenas TENTO exercer minha empatia. Assim como não
quero homens como meus defensores. Eles são coadjuvantes na minha luta! No
entanto, são bem vindos ao meu lado.”

• Por um primeiro de maio interseccional.


Por Stephanie Ribeiro para Blogueiras Negras

“Interseccionar é compreender que não existe uma única opressão, mas que
essas estão interligadas. É ter um olhar mais profundo sobre as desigualdades
sociais e os grupos marginalizados existentes e saber que enquanto um não for
livre, nenhum será, mesmo que as lutas sejam distintas. Eu, mulher negra e pobre,
protagonizo algumas lutas porque vivencio elas, como a luta das mulheres, dos
negros e de classe. Fato é que isso não me impede de APOIAR outras que não
protagonizo, como a LGBTs e a dos servidores públicos com enfoque para os
professores (...) ” Leia o texto na íntegra http://blogueirasnegras.org/2015/05/01/
por-um-primeiro-de-maio-interseccional/

• Por um feminismo que vá além das mulheres.


Por Inês Castilho, para Outras Palavras

“(...) Judith Butler, que há 25 anos questionou


a possibilidade de não mais fazer das
mulheres o motor da política feminista. Se a
partir dali parecia que ela anunciara o fim do
feminismo, de fato suas provocações estavam
apontando um paradoxo importante: de nada
adiantava primeiro exigir das mulheres uma
configuração estabilizada em uma identidade
para depois pretender libertá-las. Era preciso,
argumentava Butler, interrogar as próprias
exigências de identidade. Tratava-se de
poder pensar um feminismo que não seja
feito em função de representar o “sujeito
mulher”, o que exige uma identidade prévia
do referente mulher a ser representado e,
contraditoriamente, obriga a um fechamento
no lugar onde se quer reivindicar abertura.”

Foto: Nympheminist
Fevereiro de 2016

Conceito

Somos muito diferentes entre nós para


sermos reduzidas à categoria mulher. E ao
mesmo tempo estamos, nessa categoria,
reduzidas ao lugar de subalternidade. É um
problema político estabelecer os termos
contra os quais se vai lutar contra a hierarquia
de gênero, que é também uma hierarquia de
raça e de classe. Por isso, com Butler talvez

Foto: filopol.milharal.org
se possa pensar em fazer política em direção
a um referente vazio de conteúdo, capaz
de representar não um grupo previamente
restrito a certas características identitárias,
mas a todas as singularidades (o que, a rigor,
redunda numa outra forma de universalidade,

O problema é que nós, mulheres, também podemos incorrer no equívoco político


de produzir novas subalternidades em relação a nós. Hierarquias entre intelectuais
e ativistas, entre brancas e negras, entre hetero e homossexuais, cis e trans, por
exemplo, são facilmente percebidas no interior do movimento de mulheres.

“Pensar a subalternidade como fundamento contingente pode ser tentar colocar


em prática novas formas de fazer política, nas quais não se precise ou procure
um denominador comum unificador, mas se encontre pontos de contato em
tornos dos quais alianças podem frutificar. Pontos de contato que não exijam
configurações únicas, mas partidas. Talvez essas possam vir a ser as nossas
heranças, talvez não. É nesse talvez que está a nossa possibilidade de provocar
alguma mudança, pensando sobre as estruturas falogocêntricas de poder e
buscando formas políticas de parti-las.”

• Interseccionalidade nas
Políticas Públicas (em espanhol)

Este documento sintetiza a atividade organizada


pela Área de Gênero do Centro Regional do PNUD,
com apoio da Agencia Catalã de Cooperação
(ACCD) para o Desenvolvimento, no Projeto
“Superando Obstáculos para la Transversalidade
de Gênero na América Latina e Caribe”.
Fevereiro de 2016

Conceito

REFLEXÃO
• Um marxismo interseccional é possível?
Pontapé inicial para um debate. por Bárbara Araújo

Pontapé inicial para um debate. Por Bárbara Araújo para capitalismo em


desencanto “Por fim, volto à pergunta com a qual iniciei esse texto: será que
tudo é mesmo fundamentalmente uma questão de classe? Não. Mas antes de me
atirarem tomates, o que quero dizer é: não é possível compreender e combater
a desigualdade olhando só para a questão de classe. Porque tudo é questão de
classe e tudo também é questão de gênero e tudo também é questão de raça.
Não é estranho ao marxismo reconhecer que a realidade material é complexa e
determinada por múltiplos fatores, pelo contrário. A esquerda, portanto, precisa
parar de cortar a realidade em fatias — até porque, em geral, nesse processo o
gênero e a raça são as gorduras que se joga fora”

Leia na íntegras aqui

• O falso feminismo interseccional ou o que importa é representar.


Por Naila Chaves para as Blogueiras Feministas

Desde quando o conceito de interseccionalidade foi difundindo pelos espaços


feministas, muita coisa vem sendo (re)pensada. A existência de múltiplas formas
de subordinação em um único corpo feminino fez com que repensássemos a ideia
de mulher como categoria homogênea. Questões de raça, classe, sexualidade,
etnia e corporalidades não hegemônicas foram sendo incorporadas nos debates
feministas, que há pouco tempo restringiam-se aos problemas enfrentados pela
mulher branca, magra e de classe média. Obviamente, essa visibilidade seria
muito profícua e benéfica se houvesse uma real preocupação com a incorporação
destas pautas de forma central. Seria. Mas não é assim que tem funcionado.”

(...)
É muito difícil escancarar estas questões pessoalmente, mas meu texto é um
apelo para que o feminismo tenha responsabilidade com as pautas que diz
representar. A representação é sim muito importante para alguns grupos, mas a
simples representação sem uma real preocupação com os motivos pelos quais
aquilo precisa ser representado e incorporado nas pautas cotidianamente e não
apenas em datas esporádicas, nada mais é do que praticar um falso feminismo
interseccional, em que o que importa é a utilização de mulheres negras, gordas,
pobres, lésbicas e bissexuais, trans ou com deficiência como cartas na manga
para poder dizer que o seu feminismo não é hegemônico.”

Leia a matéria completa em:


O falso feminismo interseccional
ou o que importa é representar -
Geledés

Mais Referências
Foto: Naomekahlo.com

Se interessou?
Acese esse aqui para ver a
Lista de links para artigos sobre
interseccionalidade produzidos
no Brasil, México, Espanha,
Alemanha, Chile e Guatemala.
Fevereiro de 2016

Conceito

OPINIÃO FFC

Interseccionalidade no âmbito jurídico

Como vimos, conceito de interseccionalidade já era utilizado por feministas


negras nos E.U.A. durante a década de 60 e 70, porém ganhou notoriedade
quando Crenshaw apontou a “insuficiência e a ineficácia das leis para proteger
mulheres negras (e outras não brancas), posto que os instrumentos legais não
previam o julgamento de processos que se pautavam pela intersecção das
discriminações de gênero e raça. (SANTOS, 2009)”

É importante salientar que, ao elaborar e refletir acerca de teses jurídicas, @s


juristas enfrentam o contexto em que várias categorias jurídicas se sobrepõem.
É necessária a sensibilidade para compreender os sujeitos em todas as suas
dimensões: gênero, raça, classe, cultura, religião, etc. Não adentrando na
análise estrutural das leis, tendo-se em vista sua adequação à forma capitalista
(PACHUKANIS,1977) e androcentrista, essa perspectiva contribui para a
materialização de direitos não somente em uma demanda pontual, mas também
para a harmonização de várias dimensões da vida humana, diante de conflitos
especificamente colocados.

Essa compreensão no universo jurídico implica em concluir que o bem jurídico


tutelado só é de fato tutelado se observadas na relação jurídica as particularidades
e complexidades dos sujeitos envolvidos.

Por isso, nós do FFC Advogadas primamos pela escuta, valorizando a diversidade
humana e as particularidades de cada experiência em relação ao contexto em
que ela se dá. Se considerarmos classe, raça e gênero eixos de poder, é cabível
retomar o pensamento de Foucalt, quando afirmava que o poder não é uma
propriedade, senão uma relação. As relações estão sujeitas à mudanças com o
surgimento de novos conflitos e novos pontos de resistência, que por sua vez,
produzem novos sujeitos (FOUCAULT, 1995).

Assim, buscamos construir as teses levando em


consideração as especifidades e complexidade caso
a caso, na tentativa de aplicar na prática o conceito
de interseccionalidade não apenas para alcançar
resultados satisfatórios para o cliente em si, mas
também para contribuir para o reconhecimento dos
vários eixos de poder que oprimem determinados
segmentos da sociedade, bem como, para contribuir
para a emancipação e a mobilização política dos
indivíduos.

FOUCAULT, Michel. O sujeito e o poder. In: DREYFUS, Hubert L.;


RABINOW, Paul (Orgs.). Michel Foucault: uma trajetória filosófica – para
além do estruturalismo e da hermenêutica. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 1995

CRENSHAW, Kimberlé. Documento para o Encontro de Especialistas


em Aspectos da Discriminação Racial Relativos ao Gênero. Estudos
Feministas, n. 10, p. 171-188, 2002.

PACHUKANIS, Evgeni. A teoria geral do direito e o marxismo, trad.


Soveral Martins, Coimbra, Centelha, 1977.

Foto: Señora Milton para Pikara Magazine SANTOS, Sônia B. dos. As ONGs de mulheres negras no Brasil, in revista
de Soc. e Cult., Goiânia, v. 12, n. 2, p. 275-288, 2009.

Você também pode gostar