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Criado no Brasil.
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Epílogo
Agradecimentos
Sobre a Autora
Outras Obras
Dedicatória
Uma divagação mais longa foi suficiente para a menina, que tinha
chamado minha atenção, dar passos largos até a borda do navio e pular.
Nadei para longe do navio, contra a direção em que ele estava indo.
Logo uma cabeça surgiu e dei longas braçadas até a menina, que se assustou
com minha aproximação.
Rosnei para me dar forças para alcançá-la, ela sabia nadar tão bem
quanto eu. Mais velho e com mais músculos, eu a alcancei e a abracei.
Levantei-me e dei a brecha que ela precisava para agir. Assim que
elevei minha perna, para apoiar na lateral do bote, ele moveu a alavanca
para acelerar e dois homens foram para água, enquanto eu caí na parte de
dentro.
Fui até ela, coloquei outro cobertor em seu corpo e desliguei o bote.
Esfreguei seus braços e a ouvi chorar, seu sofrimento não combinava com
sua beleza jovial. Ela tinha um mundo pela frente, não deveria agir com tanta
imprudência.
— Está se divertindo com minha cara. Sua vida deve ser perfeita,
Vossa Majestade. — Saiu de perto e me encarou com mágoa. — Eu quero ir
embora.
A vida militar estava no meu DNA. A família Fiori lutou guerras, participou
de missões de paz e lidou com muitos conflitos no Hemisfério Norte. As mais atuais,
eu tinha orgulho de dizer que participei, tanto na linha de frente, quanto na base de
apoio.
Por mais que o dia tivesse muitos motivos para que eu celebrasse com
bebida alcoólica, eu sairia em missão no outro dia e precisava estar sóbrio.
— Não ter para quem voltar, depois de uma missão, não é tão inspirador.
— Fazer com que minha equipe volte é motivação suficiente, Senhor. Tenho
minha mãe e meus irmãos, não preciso de mais ninguém.
— Ele tem apenas trinta e cinco anos. Vamos ver se o discurso se mantém,
quando chegar nos quarenta e perceber que será avô dos filhos. — Outro General
interpôs sua opinião e apenas balancei a cabeça.
Minha irmã também vivia para os estudos, estava com saudades dela e das
suas conversas de menina.
— Quem é?
Saí do salão, o vento frio noturno, mesclado à brisa marítima, me fez ajeitar
os pulsos da minha roupa militar. Empinei o nariz e me aproximei daquele estranho,
que trajava um fardamento diferente dos que adotávamos no país.
— O que é isso?
— Como disse, sou o... oh! — Peguei no seu pulso e o trouxe para próximo.
Encarei suas pupilas dilatadas e o medo que transparecia. Eu nunca fui paciente com
homens, muito menos com aqueles que tinham treinamento para serem guerreiros. Na
dúvida do que poderia ser, algo banal ou uma ameaça, tratei como sendo inimigo. —
Por favor, eu não sei de nada.
— Como não sabe? — Usei a minha mão livre para o apalpar, em busca de
arma. Achei seu celular no bolso traseiro e o coloquei em seu rosto. — Recebeu uma
ligação e pediram para me entregar um envelope?
— Não sei, Senhor. Eu não vi. — Negou com a cabeça com desespero.
Passei outra foto, mais uma e minha adrenalina inflamou a fúria crescente.
Antes de exigir mais respostas daquele homem, busquei outro papel e tinha uma
mensagem impressa.
Para que isso não venha a público, desista da missão Caminho do Sul.
Não queira pagar para ver, farei com que a sua reputação seja manchada e a
monarquia no país acabe.
— Eu tinha um tio avô que morou aqui, Samuel Villares. Mas não tenho
contato, nem sei se tinha filhos, apenas que faleceu há quatro anos.
Não era coincidência que aquele fato combinava com o acidente de Clarice
no navio. Alguém que estava naquele evento, poderia ser parente daquele homem ou
seria beneficiado com a minha ausência na missão.
— Você vai. Mas antes, iremos conversar sobre sua história familiar.
— Lindo, com sotaque e fardado. Meio areia, meio tigre. Se foi por
ele que você se manteve careta até hoje, super te entendo. Senão, me
apresenta. — Abanou o rosto de forma exagerada.
— Obrigada.
Aproximei-me dela, dei um beijo em seu rosto e corri na direção
que ela tinha vindo. Meu coração acelerava tanto pelo esforço quanto pela
emoção. Sabia que as fotos oficiais, publicadas nos sites de notícias, não
fariam jus aquele homem imponente.
Era óbvio que ele viria, apenas por emergência. Parte da minha
emoção se esvaiu, mas continuei sorrindo, para disfarçar a decepção.
— Olá, moço. Sou Arlene e quero saber quais são suas intenções
com minha amiga. — A querida parceira de trabalho surgiu ao meu lado e
segurou em meu braço. Davi Lucca conhecia o idioma, por isso, eu
precisava sair dali.
Dei um pulo de leve, fui até o sofá e me sentei como um robô. Estava dura,
com a cabeça cheia de teorias e sonhos.
Davi Lucca olhou ao redor descontente. Foi até mim, se acomodou ao meu
lado e me desafiou com o olhar. Eu tinha feito algo de errado e não sabia o que era.
— Você gosta tanto de fotos, me manda várias, mas não há nenhum porta-
retratos. — Inclinou a cabeça para o lado, me analisando. — O que não me contou?
— Que eu saiba, você que veio até o Brasil para conversar pessoalmente
comigo. — Fiz uma careta e minha garganta queimou pelo ácido que o estômago
produzia.
— Sim. Temo que algum dos inimigos da família resolveu me usar como
bode expiatório para causar um escândalo. — Estendeu a mão e coloquei a minha em
cima da dele no automático. Céus, eu não me recordava o quanto era revigorante
sentir o calor da sua pele.
Davi Lucca alisou com o polegar o dorso dos meus dedos. Remexi as
pernas e me levantei, eu era apenas um caso de caridade, não uma candidata a
amante da Alteza Real.
— Poderia me dar o seu celular? — pediu baixo, sua voz estava rouca e
sensual demais para a minha imaginação fértil. A mão dele continuava com a palma
para cima, ele não queria me tocar, estava apenas exigindo algo de mim.
— O quê?
— Já tem. — Olhei ao redor tentando não chorar por conta do seu tom de
comando. — Encerramos nosso vínculo hoje. Vou fazer minhas malas e dormir
alguns dias na casa de Arlene, até a quitinete liberar. Eu dou um jeito.
Olhei para seus lábios, depois voltei para os olhos e senti meu rosto
esquentar. O que um homem como aquele iria ver em uma garota como eu? Sonhei
demais com uma ilusão e estava piorando a situação com os meus sentimentos
transbordando. Se não bastasse seus inimigos saberem que ele me bancava, imagine
ter um relacionamento em segredo com uma plebeia?
— Eu não quero mais o seu dinheiro, então, quem te ameaça, não terá mais
argumentos.
O homem pretendia cuidar de mim, mais uma vez, e minha boca não tinha
força para recusar.
Capítulo 4
Cada vez mais envergonhada, ela não era a mesma menina confusa e
deprimida de quatro anos atrás. Acompanhei sua evolução à distância, mas
nada se comparava a conversar pessoalmente. O contato da sua pele com a
minha, os olhares e cheiro estavam mexendo com algo que não imaginava
que poderia acontecer.
— Essa não era a carne que eu tinha em mente, mas ficará boa. —
Dei espaço para que ela se aproximasse e colocasse os temperos na panela
através da tábua. — Você corta bem pequeno.
— Aprendi com minha mãe. Meu pai reclamava, porque não sentia
o gosto e o almoço era sempre discussão. — Colocou os utensílios na pia e
abriu a torneira. — Enfim.
— Que bom.
— Clari...
Soltei seu joelho e ela pegou meu prato para nos servir. A fumaça e
o cheiro da comida, misturados ao cítrico e salgado de Clarice me fizeram
ter pensamentos impróprios.
— É feliz?
— Terá que perguntar a ele, mas da minha parte, posso dizer que faz
o seu melhor, todos os dias. — Ergui o garfo com macarrão e o coloquei em
minha boca. — Hum.
— E por mais que ficarei triste com esse rompimento, será melhor
para nós dois. — Ela pegou o copo com água e tomou um gole. — Pode ir
embora, eu vou me virar e você nunca mais saberá de mim.
— Não.
— Você disse que do seu lado, saberá lidar. Estou sendo um peso
muito grande para você carregar, deixe que eu faça o mesmo por aqui. —
Voltou a comer.
— Clarice, não estou negociando com você — rebati com meu tom
seco e ela se encolheu. — Será do meu jeito.
— Sim.
— Eu vou fazer.
— Sei que está disposta a retribuir sem medidas, mas não será
necessário. — Ele tirou o celular do bolso e encarou a tela. — É meu irmão
Vinicius, está perguntando em que missão me enfiei, que esqueci do nosso
compromisso.
— Um dos gêmeos.
— Vai perder seu emprego aqui. Terá que voltar comigo e enfrentar
não só a mídia, mas a minha família. Você será julgada, eu não perdoarei
aqueles que tornarem nossa união um escândalo maior do que já é.
Ele saiu, mas percebi que não foi embora do apartamento. Abriu a
porta da varanda e ficou lá, naquela posição, enquanto eu limpava a cozinha.
Sozinha.
— Ainda não gosto dessa opção, mas será o melhor para nós dois.
— Apontou para o quarto e tentou não olhar para o meu corpo. — Vá dormir,
amanhã faremos todos os ajustes.
— O que foi, Davi? Pode falar, a linha é segura e estou sozinho. — Seu
tom tinha uma mescla de repreensão e preocupação.
— Depois questione meus motivos. Recebi uma ameaça, com relação a uma
benfeitoria que tenho feito há quatro anos, para uma jovem mulher. Ela não mora
mais na ilha, nosso contato era estritamente fraternal e sigiloso.
— Foi omissão.
— Não, mas vou descobrir. Saí em viagem para resolver parte do assunto.
Querem manchar a monarquia com um escândalo e me impedir de participar de uma
missão.
— Tem que resolver o quanto antes, eu não preciso de outro assunto para
me preocupar.
— Enquanto descubro quem está por trás, eu e Clarice iremos assumir um
relacionamento público. Ficou oculto, para evitar o assédio da mídia.
— Depois falo dos meus motivos. Só queria que você soubesse da minha
estratégia, porque para todos os outros, será real.
— Sabe que é impossível, nossa mãe não carrega o título apenas por ter se
casado, ela sempre o mereceu. Mas... eu preciso encerrar esse assunto na minha
vida. Ela quer me ajudar de alguma forma, mesmo que não precise.
— Nem tenho vocação para me casar, como você, mas é uma saída.
— Confia nela?
— Obrigado, Arthur.
Encerrei a ligação e soltei o ar com força, com o apoio do meu irmão mais
velho, eu conseguiria continuar com aquela armação.
— Ainda estou acordado. Fez sua mala? — Apontei para o quarto. — Pode
deixar que eu preparo o café da manhã, vi que tem ovos na geladeira.
— Sim, mas ela está longe focada nos estudos. Tudo bem, deixemos para
outro dia.
— Do que se trata?
— Todas as minhas roupas e assessórios estão aí. — Ela foi até o armário,
tirou dois pratos e os colocou na mesa. — Sério que não quer dormir enquanto eu
resolvo sobre o meu afastamento?
— Não fale mal deles. — Ela nos serviu os ovos mexidos, deixou a
frigideira na pia e se sentou ao meu lado. — Sinto que vou tirar alguns dias de
férias.
— Talvez você não tenha dimensão do que está prestes a enfrentar, Clarice.
— Indiquei com a cabeça sua mala. — As roupas que você precisará usar para estar
comigo não comportam nesse pequeno espaço.
— Não gaste mais dinheiro comigo do que já fez. Estou feliz em retribuir
com a mentira, mas se eu tiver outra vantagem a não ser os eventos de gala, teremos
um problema.
— Deveria ter pensado nisso antes de aceitar. — Peguei o talher e coloquei
uma garfada na boca, encarando-a como se fosse a primeira vez. Por mais que suas
palavras tinham dúvidas implícitas, seu olhar exalava certeza. — Podemos mudar de
estratégia.
— Só depois que você pegar esse babaca que está te coagindo. — Ela
ergueu a faca, como se fosse uma espada e sorriu. — Estou pronta para o duelo, para
defender a honra do meu noivo.
Abri e fechei a mesa retrátil à minha frente, estava muito nervosa. Dentro do
avião particular da Família Real Fiori, estando com o meu futuro noivo ao meu lado
e mais ninguém para conversar, a insanidade estava tirando o meu pior.
O que eu não contava, era que estar próxima e ser considerada noiva
daquele homem, faria com que sentimentos bobos e superficiais se tornassem densos.
— Nem preciso estar na sua cabeça para saber que está pensando demais,
Clarice. — Davi Lucca continuou de olhos fechados e apenas respirou fundo. —
Não há o que temer.
— Sei que vai. — Estendeu o braço e buscou minha mão em cima da minha
perna. Seus olhos se abriram e, ao invés de me reconfortarem, fez com que meu
corpo pegasse fogo. — Somos amigos acima de tudo. — Apertou meus dedos, me
fazendo recordar o que tínhamos acordado: nunca mencionar a farsa. — Não sou o
Rei, então, estamos livres de grande parte chata, como protocolos sociais.
Davi Lucca me surpreendeu, me puxando para cair em cima dele. Com sua
mão ainda na minha, ele beijou meu rosto e me fez arrepiar.
— Vou tentar manter minha mente nisso. — Soltei-me dele, meu rosto estava
quente e eu não conseguia encará-lo.
Foi desastrosa aquela noite com Reniel. Além da dor e a confusão mental,
pedi para parar no meio do ato e ele me mandou embora. Uma semana depois,
terminou comigo e espalhou para a turma do colégio que eu não sabia transar.
A verdade doía tanto quanto uma mentira. Eu não servia para ser ombro
amigo da minha mãe, nem tinha capacidade para trabalhar no lugar do meu pai, ou
ajudá-lo na sua situação terminal.
Pular daquele barco tinha sido imprudente e errado, mas era o único
caminho que eu via para fugir da minha dor, achando que o oceano era como uma
grande piscina. Eu não suportava mais ser insuficiente. Tudo ao meu redor parecia
pesado demais, até que Davi Lucca me abraçou e ofereceu-me a luz no fim do túnel.
— O pessoal do projeto aceitou bem a sua partida — ele atestou, ainda não
tínhamos conversado sobre meu discurso de afastamento.
— Estou bem. — Alisou meu braço e provocou mais arrepios pelo meu
corpo. — Quer um cobertor?
— Sim.
— E seus irmãos?
— Eles têm seus aposentos, mas vivem suas vidas mais fora do que dentro.
Não se preocupe em ter que lidar com todos, você não precisará seguir protocolos
ou outras regras. Seja você mesma.
— Há duas camas?
— Ele é grande tanto quanto minha cama. Vai ficar tudo bem. — Sorriu
encorajador. — Estamos no século vinte e um, se não for eu a quebrar alguns
padrões, serão meus irmãos. Não podemos esquecer que temos uma ameaça.
Tinha vinte e um anos, maturidade para viver sozinha, mas não para ter um
relacionamento amoroso com a realeza.
Seu olhar encontrou o meu e ficamos naquela posição por um longo tempo.
Senti sua respiração, curti a pegada e sua dominância, além da reação febril do meu
corpo. Pressionei as pernas e umedeci os lábios com a língua, ele estava me fazendo
perder a linha.
— Clarice.
Esmaguei seus dedos até que a aeronave tocou o solo e realizou o pouso
com sucesso.
Tinha chegado à minha cidade de origem, lugar que me trazia boas e más
recordações. Para minha vantagem, eu estava ao lado de Davi Lucca e, tão corajoso
quanto era, ele iria afastar todos os meus pesadelos reais.
Capítulo 8
— Vamos, Clari — Davi Lucca murmurou, colocou a mão nas minhas costas
e me conduziu até a grande porta de entrada. Ele me chamando pelo apelido me fazia
sentir mais íntima do que me achava por mensagens.
— Será levada para o meu aposento. Vamos falar com minha mãe primeiro.
A Rainha Elizabeth Fiori. Céus, nunca a vi pessoalmente, era uma
celebridade inalcançável. Tropecei nos meus próprios pés por conta do que estava
em iminência de acontecer e foi o braço forte do General que me segurou, circulando
a minha cintura.
— Sozinha?
— Obrigado.
— Boa tarde, mãe — ele cumprimentou e sua mão voltou para a minha
lombar. — Irmãos.
— Está aí uma grande novidade — não soube identificar qual dos dois
homens falou. — O General está acompanhado e não é pelo seu exército.
— Minha noiva.
Abri a boca para falar, mas acabou sendo de choque, porque a Rainha
arregalou os olhos e desfaleceu na sua poltrona. Tampei minha boca com as mãos
enquanto via os três homens se aproximarem dela, o General sendo mais direto,
tomando nota dos sinais vitais.
— Mãe! — O gêmeo mais sério alisou o rosto dela, que piscou e sugou o ar
com força. — Graças a Deus.
Meu rosto esquentou e ele sorriu antes de me soltar e voltar para a família.
Henrique me encarava de longe, desconfiado, mas também, se divertindo.
— Está ciente e conto com o apoio da família, para aceitar minha decisão.
Clarice não faz parte da nobreza, mas é a escolhida do meu coração.
— Iremos conversar sobre essa notícia ser dada para o mundo em outro
momento, Davi Lucca. — A Senhora deu um tapinha no rosto do General, que se
levantou e a ajudou a ficar de pé. Ela se virou na minha direção e estendeu a mão. —
Venha, criança.
— Falando assim, até parece que ela é nova demais. Já fez vinte e um anos,
Senhorita Mattos? — Passei o olhar em Henrique antes de fixar na Rainha. — Será
uma temporada interessante em Grã-Aurora. Também tem meu apoio, Davi.
— Clarice Mattos. — Ela nem precisou pedir, apenas o tom usado para
dizer o meu nome era o suficiente para identificar a pergunta escondida.
— Morei no país até os meus dezoito anos, meu pai é falecido e minha mãe
está no Hospital Nosso Lar. Fui para o Brasil cursar biologia e estou de volta, com
Davi Lucca.
— A Rainha não vai querer saber o poder da tecnologia na vida dos casais
modernos — Henrique se divertiu.
— Meu Deus, eu sabia que você era intenso, mas não nesse ponto, meu
filho. — Rainha Elizabeth encarou-o, depois a mim. — O que pretende desse
relacionamento, Clarice?
As intenções dela com a nossa união pareciam tão reais quanto meu coração
acelerado. Sentir seu corpo junto ao meu, o abraço e todo o seu calor parecia mais
certo do que meus propósitos de proteger o país.
Fui para a sacada, deixei que o frio e a brisa marítima tocassem meu rosto e
trouxessem a razão de volta ao controle. Minha missão era impedir que os inimigos
da monarquia expusessem minha família ou usassem Clarice, de forma a prejudicá-
la.
— Eles parecem ser legais. Talvez melhorem com a maneira que eu interajo
com eles, quando eu me sentir menos intimidada com tudo.
— Relaxe. — Saí do meu lugar para ficar atrás dela e esfregar seus braços.
Seu corpo se arrepiou e, pela recorrência, estava percebendo que tinha a ver com
outra coisa que não o frio.
— Vai se cansar de pedir isso. Quem sabe, daqui a dois anos de noivado ou
quando me tornar melhor amiga da Rainha. — Ela brincou, mas para a minha mente,
tinha tudo de verdade.
— Queria ir ver minha mãe. — Soltou o ar com força e se virou para ficar
de frente para mim. — Sei que o objetivo da minha vinda é outro, mas estou há
quatro anos sem a ver pessoalmente.
— Deveria ter te levado assim que chegamos, nem pensei nisso. — Pedi
desculpas com o olhar. — Pretendo viajar por três dias, para a missão que eu estava
designado e voltarei, para fazermos o anúncio oficial. Preciso estar pessoalmente
com meu time, para saber se algum deles está envolvido e quem poderia se
beneficiar com minha ausência.
Toquei sua bochecha, senti a palma da minha mão esquentar seu rosto e,
involuntariamente, dei um selinho em seus lábios. O choque foi de ambos, nem eu
sabia o que estava fazendo, mas mantive minha postura inabalável.
Afastei-me dela, dando passos para trás e saí do quarto. Minha última fala
era uma súplica, de que nós continuássemos como sempre fomos, amigos distantes
que trocavam mensagem.
Fui atrás do Rei, mas ele tinha saído com sua esposa para algum
compromisso social. Acionei meu chefe de operação pelo celular e confirmei minha
chegada no outro dia, apenas de passagem. Ninguém sabia o meu verdadeiro motivo,
apenas que um assunto familiar tomou prioridade.
Andando pelos corredores do palácio, próximo da noite se aproximar,
Vinicius cruzou meu caminho. O cabelo estava bagunçado e a roupa desajeitada.
Alinhou rapidamente a gravata e sorriu, para disfarçar o que quer que ele tinha feito
antes de me encontrar.
— É apenas um noivado.
— Por isso trouxe sua mulher para o palácio? — Bateu no meu braço e
sorriu. — Iria deixar esse romance debaixo do pano até quando?
— Muito.
— Por praticar muito, sei como me proteger. Mas, e você? Com ela longe,
deve ter criado calo nessa mão.
— Cale a boca. — Peguei-o com meu braço e envolvi seu pescoço, ele ria
e tentava escapar. — Não constranja a minha mulher.
Processei nossa conversa e percebi o quanto foi fácil dizer que Clarice era
minha mulher. De alguma forma, eu já a considerava como algo meu, mas não tão
íntimo e necessário.
Respirei fundo para acalmar meu coração, mas não foi o suficiente.
Engoli em seco e virei naquela posição imponente. Se existia algum luxo nas
minhas veias, eu desconhecia, mesmo estando naquele traje.
Era para um bem maior. Iria recompensar Davi Lucca por ter me
dado uma segunda chance e, assim, não mergulhar em depressão como a
minha mãe. Eu estava sozinha no mundo e precisava de toda a força que eu
tinha escondida nas minhas entranhas.
— Vai ficar tudo bem. — Ele parou atrás de mim e segurou nos
meus braços. Trocamos um olhar no espelho e apertei minhas pernas, aquela
posição estava fazendo com que minha imaginação viajasse além do sensato.
— Podemos ir?
O pouco que sabia sobre o atual regente daquele país não era muito
positivo. Diziam que o homem era sério demais e focado em resultados,
além de pouco amigável. Estava com receio de que minha presença fosse
rechaçada, por não ser digna de Davi Lucca, mas eu contava com o apoio da
mãe Elizabeth e os gêmeos.
— Ainda não. Preciso me ausentar por três dias, por causa de uma
missão, na volta falaremos sobre isso. — Davi Lucca colocou a mão
debaixo da mesa e alcançou meu joelho. Ao invés de me acalmar, me fez
aquecer por conta da intimidade.
— Seria prudente conseguir uma data que não interfira nos estudos
da sua irmã. Todos devem estar presentes.
— Onde ela está? — perguntei, curiosa. Pouco se falava da caçula
dos Fiori.
— Não tem isso aqui na Grã-Aurora. Vai largar tudo para ficar com
o General? — O outro pontuou, ergueu a sobrancelha e me deixou sem fala.
Claro que aceitei a indicação, ficaria três dias longe daquele homem e
agoniada para ver a minha mãe. Enquanto ele não chegasse, eu poderia fazer as horas
passarem mais rápido, mergulhando em um mundo de ficção.
Suspirei nas cenas finais do livro e senti um aperto no peito. Não consegui
falar com Davi Lucca e, mesmo que eu tivesse enviado textos e fotos, ele não
recebeu nenhum, por estar fora de área.
— Não era quem você esperava, sinto muito. Davi ainda não chegou?
— Acho que será mais tarde, não consegui falar com ele ainda. — Inclinei a
cabeça de lado. — Posso ajudar em algo?
— Cunhada, você passou três dias reclusa nesse quarto, saindo apenas para
almoçar. A família não morde.
— Eu acho melhor...
— E você, quem é?
— O que salva donzelas em perigo, até delas mesmas. Vamos, Clarice, você
está segura comigo.
— Sou aquele que adoro ser Príncipe, mas não tenho vocação para Rei.
Meu negócio são as embarcações e ser CEO. — Piscou um olho e ajeitou a gravata.
— Você escolheu o homem certo, Davi Lucca é o mais caseiro de todos. Já imagino
vocês com três filhos e minha mãe agradando todos eles.
— Nossa, depois são as mulheres que exageram no planejamento —
zombei, encabulada por acompanhar sua linha de pensamento. Um lado meu não
reclamaria de ter três filhos, ainda mais se fosse com o General.
— Como assim?
— Que bom, eu não sabia o que fazer para tirá-la daquele quarto. Davi
Lucca ainda não chegou?
— Vocês, jovens, vão se divertir. Tente não chamar atenção, a coletiva para
apresentar Clarice será daqui a alguns dias. Não vamos antecipar.
— Pode deixar, ela não vai pular do barco. — Arregalei meus olhos com
vergonha e foi a vez dele abaixar a cabeça, arrependido. — Sinto muito, cunhada.
Sou péssimo com piadas, Henrique é melhor do que eu.
— Eu preciso ir, com licença. — A Rainha passou por nós e cruzei os
braços, com indignação.
Voltamos a caminhar, o clima tinha mudado entre nós. Citar o episódio que
me fez conhecer Davi Lucca era uma mescla de nostalgia e vergonha. O apelido
sereia do Atlântico me atormentou por um bom tempo, antes de ninguém mais falar
sobre o assunto.
— Bem. Fiquei no quarto, como pediu. Almocei com sua mãe e outros dias
com seus irmãos.
— Está segura, isso que importa. — Ele suspirou. — Senti sua falta.
Agir com emoção nos fazia cegar. Tinha que focar nos dados reais e ser
racional, para não ser injusto.
— Permissão concedida.
— Sim, Senhor.
Saí para o convés, reconheci o iate particular do meu irmão e fiz o sinal
para os meus subordinados, estava tudo bem. O que eu não estava entendendo era o
motivo dele ter vindo até mim e como sabia que eu estava naquela embarcação.
Olhei para o sol, que já estava se pondo e suspirei. Iria ver o que ele
queria, depois o repreenderia por atrapalhar meus planos. Fui até meus
subordinados, pedi que ajeitassem a escada e desci até o iate de Vinicius.
Dei passos largos até ela, envolvi-a com meus braços, levantando e nos
deixando com os rostos alinhados. Sabia que era uma farsa, que agirmos como
namorados deveria acontecer apenas sob o olhar dos outros, mas estava impossível
conter meus sentimentos.
Três dias longe dela, sem nos comunicarmos, mostrou que eu nutria
sentimentos por Clarice, mais do que apenas amizade.
Foi ela que aproximou seus lábios dos meus, tocando tão suavemente, que
parecia pedir permissão para mais. Coloquei-a contra a parede e abri minha boca,
empurrando meu corpo e língua para sentir muito mais que apenas o seu sabor.
Subi minha mão até seu rosto, coloquei-a no chão e deixei um beijo casto
nos seus lábios antes de me afastar. O muxoxo que fez, por conta da separação, me
excitou. O rubor das suas bochechas e o olhar de desejo quase me convenceram de
que ela também aceitaria novos termos para aquele noivado de mentira.
— Acho que todo mundo imagina que, sendo noivos, nós fazemos muito
mais do que segurar a mão um do outro. Quero dizer...
— Posso ser jovem e fui muito imprudente no passado, mas sou responsável
pelos meus atos hoje. Eu quis. — Engoliu em seco e estufou o peito, ela era valente,
mas ainda exalava inocência.
— Viu? E quando eu não quiser algo, vai ouvir minha negação. Sei que vai
parar, mas no momento, eu preferia que continuasse.
— Saiba que pode confiar em mim para isso. — Estendi a mão e ela se
aproximou, colocando sua palma na minha. — Te magoar é a única missão que não
vou executar.
— Tudo bem.
— Acho melhor eu voltar. Temos algumas coisas para fazer para o noivado,
eu já tenho boa parte das informações sobre o outro assunto.
— Sim, você prometeu me levar até minha mãe amanhã. — Droga, tinha
esquecido e deveria ter demonstrado no meu semblante, porque ela recuou,
envergonhada. — Mas se está falando de outras coisas, pode deixar que eu vou
sozinha. Eu entendo que não queira se envolver assim.
— Claro que vou. — Puxei-a pela cintura, segurei seu rosto e a encarei,
mostrando que por ela, eu faria mais do que estava disposto, porque era ela. — Volte
com Vinicius para a ilha, eu chegarei logo depois.
Ela ficou na ponta dos pés, uniu nossas bocas e me rendi, mais uma vez,
àquele doce sabor do proibido. Mesmo que estivéssemos vivendo uma mentira, sua
paixão estava me contagiando e não queria pensar no momento em que
encerrássemos aquele acordo.
Tudo ao meu redor parecia nuvem. Estava sorrindo como boba, desde os
beijos e abraços que troquei com o General. Ao invés de me conter e ser apenas a
amiga, eu resolvi me entregar e avançar o sinal, já que o homem parecia interessado
também.
Era apenas uma mentira, mas nem por isso, eu não poderia imaginar que
fosse real. Tão cavalheiro e honrado, ele tinha receio de ultrapassar limites, quando
eu estava disposta a ir muito além.
Para esperar meu noivo, comi um lanche rápido como jantar e me recolhi.
Estava sorrindo sem esforço, ainda não tínhamos dormido juntos e queria saber
como era.
Tentei ler, mas não fluiu nenhuma leitura. Coloquei o celular para tocar
músicas e deixei uma playlist aleatória.
Everfall – Superhero
Peguei no sono e acordei quando senti movimentos ao meu lado. Virei para
encarar o que era, Davi Lucca estava longe demais, mas virado na minha direção.
Ele se aproximou e me envolveu com seus braços. Apesar dele estar com
uma camiseta de pijama, era mais quente que o cobertor.
— Eu não quero te magoar. Nem agora, nem depois. Você é minha amiga
acima de tudo. Quero continuar trocando mensagens e fotos todos os dias, como
antes.
— Quase perdi o controle quando te vi, por conta disso. — Beijou minha
cabeça. — Não vai mais acontecer.
— Espero que sim. Não. — Ergui minha cabeça e, mesmo sem abrir os
olhos, ele entendeu o que eu queria e me beijou.
Seus lábios foram lentos nos meus, seu sabor mentolado era um afrodisíaco
que eu queria me viciar. Estiquei o corpo e o senti contra mim, estávamos de lado e
não o suficientemente pressionados.
De certa forma, fiquei aliviada que não avançamos para algo mais, porque a
minha última lembrança de intimidade com um homem não tinha nada de romântico.
Imaginava que com Davi Lucca poderia ser muito melhor, mas eu arriscaria apenas
beijos e abraços com meu noivo de mentira.
Descansei o suficiente e acordei com a cama vazia ao meu lado. O frio que
vinha da sacada aberta me fez lembrar que eu tinha poucos casacos para suportar a
mudança de clima na Grã-Aurora. Cobri minha cabeça e resmunguei, porque queria
o General comigo, não ficar sempre sozinha à sua espera.
— Hábito. — Ele veio até meu lado da cama e se sentou. — Quer mais
algumas horas de sono?
— Talvez, ser carregada até o banheiro — brinquei.
Arregalei meus olhos quando ele tirou a coberta do meu corpo, me pegou
como se eu fosse uma boneca de pano e fez como eu pedi. Colocou-me no chão do
banheiro e saiu do cômodo, fechando a porta atrás de si.
Assustei-me quando encontrei Davi Lucca no closet, ele tinha as mãos para
trás e um olhar clínico na minha mala.
— Não vou bagunçar seu guarda-roupa. Além do mais, não tem espaço. —
Peguei as peças e escondi a lingerie entre elas.
— Peguei um emprestado da minha irmã, mas acho que seria ideal comprar
um só para você.
— Obrigada, eu cuidarei muito bem do pertence da Princesa. — Fechei a
porta atrás de mim, fui até ele, vesti o casaco e seguimos para o fim do corredor. —
Eu poderia usar algo seu.
— Desculpe te atrapalhar.
Fiquei na ponta dos pés, abracei seu pescoço e abri minha boca, para
aprofundar o beijo. Antes que eu pudesse inclinar minha cabeça, para um melhor
encaixe, um pigarro fez com que nos afastássemos pelo susto. Meu rosto esquentou
ao perceber que a Rainha Elizabeth tinha nos pego em flagrante.
— Bom dia, mãe. — Ele se inclinou para beijar sua testa e entrou comigo.
Para o General, não houve nenhum constrangimento, ele estava muito confortável.
Fiquei no carro enquanto esperava Davi Lucca fazer o seu trabalho, liguei o
som e curti um pouco de música.
Naquele momento, o único lugar seguro e onde eu me sentia bem era com
Davi Lucca. A nossa separação seria dolorida, mas nem por isso iria me impedir de
viver aquele momento especial, ao lado do homem que me deu a oportunidade de
superar.
Quando voltou, ele estava sério demais e desligou o som antes de dar
partida na SUV.
— Sabe que pode contar comigo. Sou sua aliada, mesmo não sabendo lutar
ou usar uma arma, como você.
Ele sorriu e seus ombros aliviaram o peso. Apertei sua mão e ele retribuiu,
queria que Davi Lucca me enxergasse da mesma forma que eu o via.
— Eu vou me comportar.
— Acho que está olhando para o lado errado. Muitas mulheres gostam de
um fardado. — Minhas bochechas esquentaram e agradeci que ele focou na direção,
liberando minha mão.
— Não só isso, como o romance entre um Príncipe e a plebeia. Estão
alvoroçados para saber quem é a mulher que me conquistou. Eu não queria que você
fosse assediada, não hoje.
— Claro que não. Internamente, o surto é livre. Mas por fora, sou uma
donzela. — Pisquei os olhos várias vezes, buscando seu sorriso e ele me deu. — Vai
dar tudo certo e os seus inimigos não irão te julgar. Pessoas de idade diferentes
podem se relacionar.
— Como assim? — Aquela fala parecia ter mais significados do que estava
na superfície. Davi Lucca virou a esquina e o hospital que minha mãe morava
apareceu no meu campo de visão. — Preferia que você não repetisse isso, porque
nos beijamos e somos noivos. Chega de ser apenas a irmã caçula.
Ela não tinha um diagnóstico exato, alguns diziam ser esquizofrenia, outros
justificavam um surto depressivo, por ter acompanhado a saúde debilitada do meu
pai até a sua morte.
Abri a porta do quarto dela, dei passos até a cama e a observei dormir.
Parecia tranquila, tinha emagrecido e um semblante sereno.
— Pode conversar e tocar. Há uma semana está fora do ar, mas estímulos
externos ajudam a ter esses momentos de lucidez — a funcionária do hospital falou
ao meu lado, tranquilamente.
— Ela tem suporte e estamos capacitados para esse tipo de situação. Não é
sempre que acontece o episódio com vários dias dormindo. — A mulher tocou meu
braço e tentou sorrir. — Venha mais vezes. O apoio da família é imprescindível para
um paciente nesse estado.
A culpa em forma de bigorna foi colocada nos meus ombros e as lágrimas
escorreram. Imatura e buscando uma forma de sobreviver, porque sabia que ficaria
igual ou pior do que minha mãe, fui para longe dela e nunca mais olhei para trás.
Fui levada para algum lugar mais arejado, dei passos junto com Davi e não
abri meus olhos. Eu não o via como o Príncipe inalcançável, mas o homem que não
hesitou em pular do navio para me salvar.
Talvez, tivesse sido melhor que nada daquilo acontecesse. Mas, não
poderia mudar o passado, eu continuaria me fortalecendo na vida, mesmo que isso
me custasse a sanidade.
— Eu não acreditei que minha mãe estava tão ruim. — Afastei-me dele e
limpei as lágrimas do rosto. Olhei ao redor, estávamos no estacionamento e algumas
pessoas nos observavam. — Droga, estou estragando tudo. Sinto muito.
— Primeiro, sua mãe está clinicamente estável. Bem, para a condição dela.
Segundo, não há nada que se desculpar. — Segurou meu rosto com as mãos e me
obrigou a encará-lo. — Se tem uma coisa que eu tenho certeza nessa vida, é que para
alcançar o nosso objetivo, trilharemos um caminho com obstáculos. Para alguns, é a
concorrência, inveja ou inimigos da família. Para outros, são as dores e os amores.
— Claro. Não se preocupe com nada, eu darei um jeito. — Ele sorriu com
tanto carinho, que parte do meu desespero abrandou. — Quer que eu traga uma mala
de roupa ou comida?
Pisquei várias vezes e percebi que estava indo longe demais. Respirei
fundo em busca de controle, fiquei na ponta dos pés e uni meus lábios com os de
Davi Lucca. Suas mãos desceram pelos meus braços e se encontraram nas minhas
costas, me apertando contra ele. Pensar em ficar longe dele era mais aterrorizador
do que olhar para minha mãe.
Ainda não estava claro na minha mente, mas o meu coração implorava para
que eu continuasse ao lado daquele homem, não importasse a dor que eu poderia
sentir.
— Vamos embora. — Interrompi o beijo e fui para o carro.
— Clarice?
Ele não estava convencido, muito menos eu. Poderia ser uma nova fuga, mas
era a chama da vida, dentro de mim, que implorava para que eu não focasse no que
eu ainda não dava conta.
Ela fugia de todos, mas não de mim. Sabia que meu papel em sua
vida tinha se transformado em algo além das aparências. Também tinha
noção de que ela optaria em continuar distante, mesmo que eu oferecesse
meu coração.
Estacionei a SUV, saí e dei a volta para abrir a porta para Clari.
Pessoas começaram a se aglomerar e meus seguranças já estavam fazendo
um círculo de proteção.
— Você não precisa mais fugir. — Estava sério, mas meu peito se
enchia de compreensão pelo desconforto dela. — Aquele é o idiota que
ficou com você e depois terminou?
— Por isso, você deve esfregar na cara deles que a sereia agora
tem Príncipe. — Controlei-me para não gargalhar ao ver sua careta
horrorizada.
— Eu sei, mas vai lutar com ele até quando? Todos já sabem que
você se tornará minha noiva.
— Eu não previ que seria tão intenso e invasivo. — Ela tentou sair
do meu colo e a segurei. — Estou nervosa, prestes a surtar.
Era um caminho sem volta, nós iríamos fazer muito mais do que
mentir para a sociedade e minha família.
Para quebrar o clima, meu celular tocou e pela música que soava,
era do trabalho. Clarice saiu do meu colo, eu me levantei e atendi a chamada
enquanto voltávamos para o elevador, de mãos dadas.
Sonhei com aquele momento e o quanto seria diferente do meu ex, por muito
tempo. Arlene, minha amiga do Brasil, sempre me falou o quanto era bom depois de
romper o hímen, mas eu não me dei essa oportunidade.
Até que o General me fez sentir como uma mulher livre, desinibida e
confiante. Não tinha mais espaço para a adolescente preocupada, deprimida e sem
esperança.
A verdade era que eu estava confusa e minha fuga se resumia no calor dos
braços do Príncipe General. Meu conto de fadas moderno, com data de
encerramento, era tudo o que eu precisava para me fazer sentir melhor.
Uma das funcionárias da família trouxe duas refeições para mim, a pedido
da Rainha. Belisquei apenas, já que meu estômago estava revolto pela antecipação.
Chutando
Gritando
Dei passos apressados até ele, enquanto fechava a porta lentamente. Ele
tentou sorrir, mas pareceu uma careta. Eu não poderia perder o gancho da sua
promessa, não enquanto eu estava prestes a surtar.
— Como você está? — Ele tocou meu rosto e conferiu a minha roupa.
Vestia pijama de algodão, o aquecedor do quarto me permitia algo menos pesado.
— Acho que mesmo ruim, estou melhor do que você. Que cara péssima.
— Fiquei te esperando.
— Quer tomar banho comigo? — perguntou com sua voz rouca e respiração
acelerada.
— Pensei que você ia... queria... dentro. — Olhei para baixo e apontei para
a porta. — Cama.
— Cale minha boca, mas por favor, não me deixe repetir o que fiz no
passado.
— Eu também, mas não vou passar vergonha. — Ele foi mais rápido que eu,
ficou nu e ligou o chuveiro que subia o vapor quente.
Tentei não olhar para sua virilha, mas foi impossível. Seu corpo viril e o
membro ereto esquentaram meu corpo muito mais que a temperatura ao redor.
Davi Lucca me puxou para debaixo da água e dei um gritinho, não queria ter
molhado o cabelo. Ele afastou os fios do meu rosto, tocou meus lábios com os seus e
deixou as mãos escorregarem no meu corpo enquanto me beijava.
Com o General, eu não queria que terminasse, muito menos que ele
interrompesse sua adoração. Era assim que eu me sentia, como uma sereia sendo
venerada pelo pescador.
— Toque. — Ele interrompeu o beijo para sugar meu pescoço. Suas mãos
foram para a minha bunda e apertaram, enquanto eu, vagarosamente, encontrei sua
ereção. — Sinta. Não tenha vergonha de mim, nem do que iremos fazer aqui.
Muito mais intenso e prazeroso era tê-lo daquela forma para me fazer gozar.
Soltei-o para apreciar sua habilidade em me tocar e me degustar. Minhas mãos foram
para sua cabeça, puxei-o para voltar a me beijar e arfei, depois gemi e rebolei, até
que minhas pernas perdessem as forças. Ele me segurou enquanto eu recuperava o
fôlego.
Seu riso másculo e sensual fez meu corpo se arrepiar. Encarei-o com
satisfação, porque ele tinha um semblante muito melhor de quando entrou no quarto.
O tecido que cobria o meu corpo foi sendo desprendido aos poucos. Os
dedos firmes e as mãos ásperas de Davi Lucca me incendiavam a cada deslizar pela
minha pele.
A dinâmica ainda não estava muito clara para mim, por isso me permiti
receber mais do que fiz. Minha primeira vez foi mecânica, dolorida e nem um pouco
apaixonante como essa estava sendo.
— Você pode me tocar também. — O General deixou beijos pelo meu rosto
e desceu para os meus seios. — Se não começar agora, eu vou fazer apenas o que eu
quero.
— Acho que para mim está bom. — Arfei quando sua boca cobriu meu seio,
depois sugou e a língua se esfregou no bico. — Oh!
— O quê?
Deixando beijos pela minha barriga, ele foi descendo mais e mais, até que
sua cabeça se alinhou com a minha vagina. Davi me encarou alguns segundos antes
de abrir a boca e me lamber, com tanta intimidade, que me fez contorcer de prazer.
O último vestígio de vergonha tinha desaparecido, eu o queria cada vez
mais. Senti-me exposta e completamente entregue ao momento, sua atenção era
apenas para mim. A língua tocava os lugares mais sensíveis, meu clitóris pulsava e
eu só queria gravar aquela sensação para sempre na minha memória.
Meu corpo foi coberto pelo seu, apenas pele e sentimentos. Seus olhos
brilhavam e o sorriso de admiração alcançou minha alma. Divaguei demais, ele
estava nu e seu membro se esfregava no meu canal encharcado.
— Quero que você relaxe também. O conforto que me dá, também é seu. —
Passei a mão no seu cabelo e ele movimentou novamente, brincando com meu sexo,
me preenchendo.
— Eu vou.
— Vai?
Abri a boca em choque quando me senti expandir. Sua ereção tinha entrado
e, apesar de deslizar facilmente, ainda havia uma queimação. Respirei fundo e forcei
o sorriso, para indicar que continuasse. Ele saiu e entrou, repetiu o movimento e me
transformou em uma mulher realizada ao transformar o desconforto em excitação.
Davi Lucca fechou os olhos, apoiou as mãos nas laterais do meu rosto e
aumentou o ritmo. Dobrei uma perna e fiz movimentos contra os dele, que aumentou
ainda mais a sensação de prazer.
Com um braço, ele trouxe minha perna mais para cima e se curvou para
sugar um seio, daquela vez, com mais força. Meu coração acelerou e eu queria vê-lo
perder o controle e demonstrar o quanto estava desesperado para estar dentro de
mim. Ele estava cumprindo sua promessa.
Ergui a cabeça e mordi seu lábio inferior, ele rosnou e intensificou o vai e
vem. Mais, eu só queria que ele continuasse ou aumentasse o ritmo e as arremetidas.
Ele me deu um tapa estalado na bunda, desceu beijos até o meu pescoço e o
chupou. Força, intensidade e prazer, não tinham outro destino que não fosse me
entregar para mais uma onda de orgasmo.
Joguei a cabeça para trás enquanto meu corpo estremecia e minha boca
ecoava gemidos de satisfação. Davi Lucca me acompanhou, senti-o pulsar dentro de
mim e, com sua voz rouca e masculina, gemeu próximo do meu ouvido.
Nossos corpos cederam de lado, ele continuou o vai e vem, até que
suspirei, entregando-me ao fim. Mais do que maravilhoso, o sexo com o General
mudou meus conceitos e eu só pensava na nossa próxima vez.
— Aqui no palácio?
— Nesse frio?
— Quando você pulou ao mar, não pensou nisso. — Beijou minha testa e
suspirou. — Espero que não fique com uma marca no pescoço, eu fui um pouco
intenso.
— Mas...
— Sim. Como noiva do General, seria bom que participasse dos eventos
que são promovidos pelas mulheres da família.
— Se não for muita intromissão da minha parte, poderia nos contar o que
aconteceu com ela? — Tão educada e carinhosa, a atual Rainha destoava do sério e
intimidador Rei Arthur.
— Meu filho, Davi Lucca, não é muito conversador, quando o assunto não é
sobre ele.
— Quando eu era adolescente, meu pai descobriu que estava com câncer e
já estava espalhado pelo corpo. — Comecei do início e coloquei a xícara em cima
da mesa baixa à nossa frente. — Foram três anos intensos, comigo tentando estudar
enquanto imaginava que acordaria um dia e meu pai teria morrido. Minha mãe foi a
mais prejudicada, perdeu o emprego por conta das faltas e usaram todas as reservas
para pagar o tratamento, inclusive o meu fundo da faculdade.
— É uma situação difícil, muitos diziam que eu estava agindo como uma
criança mimada ao reclamar. Meus anos no colégio, antes de ir para o Brasil fazer
faculdade, não foram dos melhores.
— Sim, eu estava muito deprimida e tinha na cabeça que não queria morar
em Grã-Aurora. Achei que poderia sair nadando e chegar em outro continente.
Infantil e sem noção, eu sei. Tudo era dolorido demais até aquele resgate. Fiz
amizade com Davi Lucca, mas ele me via como a irmã mais nova naquela época.
Ela ficou encabulada e não julgava, a Rainha Elizabeth era uma matriarca
digna de admiração.
— De uns meses para cá, a conversa ficou mais íntima e nos apaixonamos.
— Mas você morava no Brasil e ele aqui. Como foi a dinâmica de tudo
isso?
Arregalei meus olhos com vergonha, dei margem para questionar o início
do meu namoro com Davi Lucca. Peguei o chá para tomar novamente e busquei
formas de explicar que tinha sido uma mescla de namoro virtual e presencial.
Não sabia identificar se a minha sogra tinha feito de propósito ou não, mas
agradeci com uma oração mesmo assim. Depois da minha primeira vez com Davi
Lucca, eu estava disposta a ser sua Princesa, mas estava longe de ser oficial, uma
vez que morávamos em hemisférios diferentes.
Mandei uma foto das minhas pernas para meu noivo de mentira e a legenda:
Estou com frio, esperando meu cobertor oficial para me esquentar.
Na legenda, um texto que só fez meu coração palpitar ainda mais: Continue
assim por mais alguns minutos, porque eu também quero você comigo.
Esfreguei as pernas e conferi todos os ângulos daquela imagem que ele
enviou. Nunca pensei que ficaria vidrada em um homem como eu estava com o
Príncipe General Davi Lucca.
Capítulo 19
A paixão que eu estava sentindo não foi prevista, mas era inevitável. Seria
inocente da minha parte, achar que eu ficaria com minha melhor amiga, em uma farsa
de relacionamento, sem mergulhar de cabeça – tinha feito literalmente, estava fácil
executar metaforicamente.
— Não é apenas comercial, mas também, faz parte de blindar o nosso país
da influência dos terroristas. — Encarei todos, lembrando-me de fragmentos da
conversa.
Meu olhar para Bianchi foi breve, mas o suficiente para entender que ele
tinha um problema comigo. Sempre exigindo que eu tomasse decisões para o bem do
meu cargo, estava percebendo que tinha um interesse além do amigável.
Passei por ele e controlei a vontade de bufar. Estava nítido que o General
Bianchi queria meu afastamento, acima do apoio para que eu tivesse boa reputação
no exército. Porém, não havia nada com que ele se beneficiasse com meu declínio,
apenas o líder de operações ganharia, tanto financeiro, quanto de poder.
Eu não deveria estar fazendo planos, ainda mais quando o nosso noivado
era apenas uma mentira. Clarice estava me ajudando, acreditando que poderia
retribuir o favor que lhe fiz, anos atrás. O que ela não imaginava, era que meu
coração estava sendo dominado pelos sentimentos que compartilhávamos a dois.
O susto ao ver uma moto cruzando a rua logo à frente me fez decidir. Virei o
volante, mirei em um carro estacionado rente a calçada e deixei que as leis da física
não me ferissem gravemente.
Ouvi gritos, fechei os olhos e respirei fundo várias vezes antes tentar sair
daquela posição. Forcei para tirar o cinto, mas ele estava travado, pelo menos isso
continuava funcionando. Peguei o canivete tático no meu bolso, cortei o que me
prendia com apenas um movimento e saí rastejando pela janela.
Antes de ficar de pé, voltei para dentro, encontrei a sacola com o presente
de Clarice, eu não poderia voltar para casa sem ele.
Quase trombei com Vinicius, que também vestia um robe e estava com olhar
preocupado enquanto tinha o celular no ouvido.
— É Davi na ambulância?
— Vou dizer a mesma coisa quando for sua noiva — rebati, nervosa, por
cima do ombro.
Atravessei dois salões e andei por corredores, até chegar próxima da porta
de entrada. Davi Lucca caminhava sozinho, segurando uma sacola e fazendo uma
careta de dor. Quando me viu, soltou o ar com alívio, mas não melhorou sua feição.
— E Henrique e Helena?
— E os seguranças?
— Demitidos.
— Enquanto você cuida da sua vida, eu também cuido dela e da minha. Sou
um homem de muitas habilidades.
— Não é hora de conversar essas coisas. Você foi para o hospital? Precisa
de algum remédio?
Fiquei sem palavras e emocionada, havia uma nostalgia que eu não sabia
explicar. A preocupação com a saúde de Davi Lucca, mesclada à sua consideração
pelos sentimentos que não compartilhei, me fizeram ver estrelas. Estava apaixonada
e depois daquele momento, descobri que era amor.
— Quero muito mais do que isso. — Tirei a parte de cima da sua farda e
ele tirou minha blusa. — Davi Lucca!
Sim! Antes que eu pedisse que fosse além, ele entrou e saiu da minha
vagina, com desejo e pressa. Sugou meu lábio inferior, desceu com beijos até o meu
seio enquanto sua pélvis não deu trégua. Gemeu e insistiu, imprimindo mais
velocidade a cada arrepio que eu sentia.
Cheguei ao ápice jogando minha cabeça para trás e lhe oferecendo mais do
meu corpo. Assim que os tremores diminuíram, ele me pegou no colo mantendo a
conexão, fomos para o banheiro e ele ligou a ducha em cima de nós.
Seus ombros cederam e cambaleou para trás, ele estava sem forças.
— Não. Meus braços estão dormentes e a dor não me deixa pensar direito.
— Ele soltou um riso e segurou no meu rosto. — Valeu a pena, cada segundo. Todos
eles.
Peguei o sabonete líquido ao lado, espumei a mão e comecei a passar no
seu tórax. Quando cheguei no seu membro, percebi que poderia concluir o ato de
outra maneira e joguei água, antes de me ajoelhar.
Era a vez dele se foder. Com o meu sorriso mais sacana, segurei na base do
seu pênis e o coloquei em minha boca. Era estranho, diferente, mas me tornou
poderosa, quando o vi se entregar ao prazer que lhe proporcionei.
Sua mão foi para meu cabelo, apertou e ditou o vai e vem. Se existia alguém
mais forte que Davi Lucca, eu desconhecia. Encontrando equilíbrio, ele me dominou
e eu o suguei, amando a sensação de tê-lo em minha boca.
— Gostou?
— Sinto muito.
— Não estou falando de você. — Virei-me para encará-lo, ele não parecia
ofendido. — É apenas que... ser uma Princesa de verdade requer muito empenho. Eu
nem sabia que eu precisava me curvar para cumprimentar a família real.
— Respeito ao título.
— Não quero que mude para se adaptar. Faça apenas se você quiser, o que
te deixar confortável. — Ele respirou fundo e olhei seu tórax definido. Coloquei as
mãos e me sentei em suas pernas, era a minha vez de explorá-lo. — Você não precisa
forçar, Clarice. Seu prato está cheio para ter que lidar com meus problemas.
— Não foi minha intenção te seduzir. Nunca pensei em você do jeito que
estamos, naquela época.
— Você deixava muito claro que me imaginava como sua irmã. — Fiz uma
careta e ele também. — Sempre odiei quando falava isso.
— Sou muitos anos mais velho do que você, além de termos nos conhecido
em uma situação de vulnerabilidade.
— Exatamente.
Sua mão subiu para o meu ventre e me posicionou para seu membro entrar
no meu canal encharcado. Ele me subiu e desceu, com movimentos lentos, para me
preencher aos poucos, enquanto gemíamos.
— Ainda sou, mas gosto de pensar que sou um homem sem obrigações
quando estou com você. — Ele me virou para me encarar. — Meu único
compromisso quando estamos juntos é te deixar satisfeita.
— Missão cumprida, General. — Beijei seu nariz e me levantei. — Vamos
tomar uma ducha e ir para a cama. Você precisa dormir.
— Quem disse foi você. Eu topo. — Olhou para os lados e franziu a testa.
— Como você é a primeira com quem eu transo no aposento real, preciso me
municiar.
— Como assim? Que mente poluída! — Dei um tapinha em seu braço e ele
gargalhou. — Foco nas aparências e bons costumes.
— Não sei da vida sexual dos meus irmãos, mas te garanto, nenhum Fiori é
santo entre quatro paredes. — Ele começou a murmurar uma canção, me puxou para
próximo e me balançou. — Quero queimar com você, sereia.
eu vou
eu estarei lá
E se queimar
Ligaram do hospital da minha mãe e avisaram que ela acordou. Ainda não
estava lúcida por completo, mas falou algumas palavras e combinei de ir vê-la assim
que as festividades com a realeza terminassem.
Não vi Davi Lucca pelo dia, mas troquei uma mensagem com ele, que
estava com saudades.
Tanto tempo me sentindo deslocada mesmo estando com meus pais, aquela
farsa me conectava muito mais do que o passado.
Batidas soaram e uma das funcionárias foi abrir a porta. Reconheci o rosto
de Helena e forcei o sorriso, por estar nervosa e querer fazer mil e uma caretas de
desespero. Seu vestido era elegante e salientava a sua silhueta fina. A postura
impecável e passos cronometrados me mostravam o quanto eu estava longe de ser
digna daquele posto.
— Olá, cunhada. — Ela se aproximou animada e me abraçou. — Ainda bem
que com você posso fugir um pouco da etiqueta.
— Eu amo Davi Lucca — confessei por impulso. Senti minha pressão cair e
me firmei em pé, para não cambalear. — Quer dizer...
— Oh, caramba, vai estragar sua maquiagem. — Ela virou, pegou um lenço
de papel em cima de uma mesa e me entregou. — Estenda o braço.
— É lindo.
Bateram à porta, uma mulher do cerimonial avisou que minha presença era
esperada no salão e saí com minha cunhada. Ela tomou um caminho diferente do meu
e, com passos cautelosos, andei pelo corredor, atravessei o grande portal e parei no
mezanino.
Antes que eu pudesse sentir minhas mãos suando, por conta dos convidados
e jornalistas presentes, virei o rosto e encarei o General Fiori, em seu traje militar
de gala. Seus ferimentos foram cuidadosamente disfarçados e ele sorria para mim.
— Clarice Mattos.
— Podemos ir?
Quando nos chamaram para a valsa, percebi que era o momento ideal.
Mesmo sem saber como dançar, confiei no meu parceiro e nos deixei deslizar pela
pista, olhando em seus olhos e me apaixonando cada vez mais por aquele momento.
Eu, finalmente, teria uma família.
— Você está certo, mas não tem o poder de dominar meus sentimentos. Ou
nada do que fizemos tem importância para você?
— Eu ainda...
Davi Lucca me fez vestir sua roupa, mesmo que eu soubesse que talvez isso
não fosse permitido por conta de alguma regra de etiqueta. Fechei os olhos
brevemente e me virei, para descer os poucos degraus e caminhar na grama gélida.
O noivado nunca poderia se tornar real, mesmo que meu amor nunca tenha
sido de mentira.
Capítulo 23
— Pelo olhar dele, não foi nada do que você está pensando. — Vinicius
trocou um olhar com ele antes que eu me sentasse na poltrona, completamente
derrotado. — O que aconteceu?
— Não se eu puder evitar — rebati antes dele sair. Eu poderia tornar nosso
casamento melhor, mas eu via o sacrifício que ela estaria fazendo, sem que eu
pudesse compensar a altura.
— Vai lá, conte tudo. — O gêmeo mais sério cruzou os braços e se encostou
na pia ornamentada.
Antes que eu pudesse abrir a boca para dizer outra mentira disfarçada de
verdade, a porta do banheiro se abriu e o Rei entrou, deixando um dos seguranças do
lado de fora.
— Merda — resmunguei.
— O caso é sério, Arthur. Davi Lucca xingando, quer dizer que temos
problemas no paraíso.
— Seu acidente foi abafado por causa do noivado, mas nem todo escândalo
é possível omitir. — O Rei se aproximou e encarei meu irmão mais velho, que por
muitas vezes precisou abandonar as brincadeiras comigo – quando jovem –, para
lidar com as responsabilidades do seu futuro cargo. — Tudo o que vi foi muito real.
— Nem todo enlace começa com o amor. Ele pode vir de outras formas,
como a convivência.
— Então, vá atrás da sua noiva e não a deixe sozinha, enquanto temos uma
ameaça. Eu vi — ergueu as sobrancelhas — vocês dançando e não tinha nada
arranjado.
— Experiência própria?
Então lembrei quem era aquele idiota, que estava contando uma mentira e
perdi o controle. Dei um passo ameaçador para frente, prestes a destruir a cara
daquele ex-namorado, que a chamou de sereia do Atlântico na coletiva de imprensa.
— Não. Vamos para dentro. — Clarice abraçou minha cintura, foi o
suficiente para congelar no lugar e a obedecer.
— Fique longe dela — ameacei-o também com o olhar, mas a vontade era
de apontar o dedo ou lhe desferir um murro naquela cara de panaca.
Marchei determinado para longe, não iria voltar para o salão, mas para
algum lugar que pudéssemos ter privacidade. A propriedade era grande o suficiente
para nos perdermos ou escondermos.
— A culpa não é sua. — Respirou fundo e espiou por cima do meu ombro.
— Obrigada por ser um Príncipe, de todas as formas. Mas temos um dever para
cumprir, o rapaz está certo. É nosso noivado.
Fui dormir primeiro e nem vi Davi Lucca se deitar na cama comigo. Não
conversamos e achei melhor que continuássemos focados em sermos o casal
inusitado do momento.
Surtei, porque queria ser uma Princesa de verdade, mas voltei à coerência.
Era um sonho para se realizar, se não tivéssemos feito um acordo antes de tudo isso
começar. Eu confundi. Homens sabiam separar amor de paixão. Inexperiente e
solitária, a primeira demonstração de carinho me fez entregar meu coração.
— Como foi? — Ele ficou em silêncio. — Davi! — Como ele não parecia
disposto a me soltar, fiz carinho na sua mão espalmada na minha barriga. — Tudo
bem, pode continuar dormindo, a Rainha Elizabeth irá comigo.
— Não, eu vou.
— Sim, você fica. — Virei, deixei um beijo casto nos seus lábios e ele
abriu a boca para ir mais além do que eu estava intencionada. Meu corpo se
incendiou, era como se todo momento íntimo que tivéssemos fosse o último. — Davi,
não posso me atrasar.
— Sua mãe. Minha mãe. Decidam nosso futuro depois, porque o presente,
quem fará sou eu.
Cobriu meu corpo com o dele, senti seu membro se esfregar entre minhas
pernas enquanto circulava o clitóris com a ponta dos dedos.
— Minha noiva precisa do café da manhã dela, digna de uma futura Fiori.
— Beijou meu pescoço e subiu para a orelha. — Diga sim.
— Desde que cheguei sou sua, Davi Lucca — murmurei, querendo que ele
ouvisse ao mesmo tempo que não.
Aumentou o ritmo e não deu indicação de que aquela confissão lhe fizesse
mudar de ideia. Foi me preenchendo, impulsionando e me levando ao céu da luxúria
enquanto minha mente colocava algemas de sensatez. Entregar-me, mas sem apego.
Ele não me devia nada além do que aquele momento.
Seus gemidos ficaram mais agudos, ele colocou as mãos ao lado da minha
cabeça e abriu minhas pernas com as dele. Segurei nos seus pulsos e me deixei ser
possuída, o homem intensificava cada vez mais a junção entre nós, fundo e marcante.
Meu corpo se movimentava para frente e para trás, sua pélvis se chocava
com minha bunda, fazendo barulho e tornando tudo mais excitante. Aquela conexão
carnal clamava por sentimentos, tinha meu amor e a entrega do meu prazer. Estava
apaixonada e tinha os melhores momentos com o General.
Despertei para a realidade pela segunda vez quando ele se jogou ao meu
lado e suspirou. Virei o rosto para encontrar o dele sonolento, mas feliz.
— Bom dia, noiva. — Ah, se ele soubesse que era uma punhalada com os
espinhos das flores, economizaria no romance.
Tomei um banho rápido, coloquei uma roupa confortável e optei por usar o
casaco que Davi tinha me emprestado, da irmã. Andei silenciosa pelos corredores
até a sala principal do palácio, em busca da Rainha.
“Você ficaria?
Você ficaria?”
A música baixa não acalmou meus nervos, mas me fez pensar em Davi
Lucca e nos nossos momentos. Era o estilo que a gente gostava, um dos muitos gostos
que compartilhávamos.
Chegamos ao hospital e como foi com o General, tudo fluiu sem muita
demora. Entramos no quarto da minha mãe, ela sorriu quando me viu e fui abraçá-la,
estando sentada em uma cadeira ao lado da cama.
— Sim.
— Está queimada do sol. — Tocou meu rosto e alisou meu cabelo. — Passe
protetor solar. Por mais que esteja frio, os raios solares vão além dos flocos de gelo.
— Por isso vim. — Mordi a língua para desviar meu foco da emoção. —
Gostaria de apresentar a mãe do meu noivo.
— Sou Eugênia. Sinto muito termos que nos conhecer assim. Não tenho nem
uma xícara de chá para oferecer. — Minha mãe tentou se levantar, mas não tinha
forças. — Estou ficando fraca.
— Não se preocupe. — A Rainha puxou uma cadeira e apontou para a
cama, para que eu me sentasse. — Podemos improvisar, o que importa é estarmos
juntas. Concorda, Clarice?
— Que bom que está aqui. Depois traga o rapaz para que eu conheça.
— Sei que não posso sair daqui e que já atrapalhei demais sua vida. Hoje,
eu só quero te ver assim: feliz.
A última recordação que eu tinha da minha mãe não era das melhores, por
isso tinha sido fácil ignorar seu estado, quando ela foi internada. Mas, tendo mudado
muitos conceitos e aberto meu coração para o amor, me fez encarar meus pais e os
sacrifícios feitos no passado, de outra maneira.
Tinha visto meu pai definhando e foi difícil. Acompanhar minha mãe
naquele estado estava sendo pior, porque não havia raiva em meu coração, apenas
uma forte necessidade de agradecer tudo o que foi feito.
Era triste saber que nem tudo era suficiente. O amor não curava todos os
males, nem resolvia os problemas. Estava sentindo falta do meu trabalho, da rotina
que eu tinha no Brasil, ao mesmo tempo que ficar longe da minha mãe não deveria
ser minha opção.
Peguei meu celular, tirei uma foto no espelho e enviei para o General. O
velho hábito não iria embora tão cedo, antes de tudo, nós éramos amigos.
Davi Lucca>>Se formos seguir essa regra, eu ficarei muitos Natais sem
presente. Esse ano está sendo... diferente.
Clarice>> Sim.
Enviei outra foto, apenas do meu rosto e parte do decote, que seria coberto
pelo casaco de frio estilizado. Eu queria provocar uma reação mais enérgica, que o
fizesse me carregar no ombro como um homem das cavernas em uma missão. Mas,
além dele ser cavalheiro, ele cumpriria sua promessa de manter a farsa.
Entre altos e baixos emocionais, aquele evento era um dos que mais estava
animada para participar. Quando criança, eu já fui uma daquelas beneficiadas por um
presente entregue pela família real e sabia da importância que tinha.
Era uma memória que estava se desfazendo, mas retornou como se tivesse
acontecido no dia anterior. Amei aquele brinquedo, uma pelúcia de tartaruga muito
parecida com a que ele tinha me dado recentemente.
Tão surrada, minha mãe doou ou jogou fora, quando me tornei adolescente.
A paixão pelo animal marinho ficou, o rapaz e todos da Família Real perderam a
importância enquanto eu crescia, até Davi Lucca me salvar de um ato imprudente.
Em êxtase ao descobrir que meu passado e presente estavam cada vez mais
conectados, saí com as Rainhas e fomos distribuir os presentes. Beatriz era graciosa
e tinha uma nobreza nata. Eu deveria me sentir diferente ou rebaixada, já que eu não
tinha metade da postura delas.
Mas... o sorriso das duas e o tratamento, como se eu fosse uma igual – parte
da família –, fazia toda a diferença para que eu agisse com naturalidade.
Nunca pensei que poderia ser uma celebridade, além de ovacionada por um
ato bondoso. Iludi-me achando que só tinha defeitos, mas na verdade, só precisava
encontrar o meu lugar.
Continuei a fazer o meu papel, ignorei aquele apelido – que mais me fazia
lembrar sexo com o General do que o bullying que sofri. Inabalável seria meu
segundo nome.
Pelo meu canto de olho, percebi que meu ex-namorado tentou chamar
atenção, convencer quem estava do lado, mas desistiu ao ser convidado pelos
seguranças a se afastar, porque cidadãos ao seu redor estavam incomodados.
O sol estava pronto para se pôr quando voltamos para o palácio. Não
paramos de falar um segundo, meu entrosamento com as Rainhas parecia ser de
outras vidas.
Como se tivesse ganhado na loteria, fui para o quarto de Davi Lucca dando
pulinhos e comendo pedaços de chocolate ao leite. Eram pequenas bolas, que
explodiam em sabor a cada mastigada.
Por mais que nos fôssemos nos reunir para a ceia em uma hora, eu não teria
problema de estragar meu paladar ao consumar um dos presentes que recebi.
— Pela sua decepção, acho que precisarei tomar mais um banho. O que
acha? — Ele puxou o meu casaco dos ombros e sorriu ao ver o meu decote. — Eu
queria ser um bom menino, mas só tenho pecados para pagar.
Sorri com deboche e comecei a correr quando tentou me pegar. Foi fácil me
alcançar, entramos no quarto e larguei tudo, para abraçar Davi Lucca e recepcioná-
lo como prometido.
Forcei-o a deitar de costas, ele nos virou e me empurrou para ficar no meio
da cama. Abracei-o com minhas pernas e nossa conexão nunca se desfez. Ele me
sugava e lambia a cada arremetida no meu núcleo. Era muito bom estar com o
General, pois ele sabia me tocar tão bem quanto eu mesma.
— O quê?
Mas Davi Lucca não estava saciado. Ele nos virou novamente, meu corpo
ficou por cima e ele continuou a me tocar enquanto entrava e saía de mim. Seu
membro me expandia, cada nervura e sensação entre minhas pernas refletiam em
todo o meu corpo.
Rimos ainda naquela posição, minhas costas estavam bem alinhadas com
sua frente. Logo ele me colocou ao seu lado e apoiou seu cotovelo na cama, para me
encarar.
— O que foi?
— Que bom que finalmente estão todos aqui. — Minha mãe olhou para cada
um de nós e abriu um enorme sorriso.
Por debaixo da mesa, Clari colocou sua mão na minha e apertou com
carinho. Troquei um olhar com ela, que tinha lágrimas não derramadas. Sua
felicidade iria impedir que se transformasse em um choro.
— Ficam mais velhos, mas não crescem nunca — resmungou Arthur, com
sua costumeira carranca.
Meu Deus, meu irmão estava mudado e não sabia dizer se era uma boa ou
má coisa. A Rainha era doce e recatada, mas pelo relacionamento arranjado, eu não
imaginava que poderia surgir o amor. Pelo menos, não um como o que eu sentia por
Clarice.
— Arthur, quando teremos bebês? — Minha irmã se virou para o Rei, que
ficou um tanto sem jeito com a pergunta.
— Por falar em bebês, General tem que se casar logo para também me dar
sobrinhos. — Helena se virou para mim, me fazendo recuar no assento da cadeira de
madeira escura e bem trabalhada.
Ah, se ela soubesse o trabalho que tivemos para que a segurança delas,
nesse Natal, não falhasse. Com a ameaça do assédio e a minha reputação, eu não
poderia me arriscar, nem minha noiva.
Troquei um olhar com Arthur, mas ele estava hipnotizado demais por sua
Rainha. Estava sem apoio, teria que dissuadi-la da minha maneira.
— Tenho outros planos. Acho que você deve ir, Davi Lucca — Arthur
comentou e se levantou da cadeira, ajudando sua esposa a fazer o mesmo. — Vamos
nos recolher.
— Tudo estava maravilhoso, obrigada, Rainha Elizabeth.
— Vou dar um beijo nos meus meninos e também seguirei como vocês. —
Ganhei um abraço da minha mãe e minha noiva também. — Feliz Natal.
— Feliz Natal — falei junto com Clari, que não estava mais radiante como
antes.
— Sim.
— Não precisa mentir sobre isso. É sua mãe? Eu tentei trazê-la, mas o
hospital achou melhor não causar esse tipo de agitação na rotina dela.
— Da mesma forma que você tem os seus sonhos e sente falta do Brasil, eu
tenho minha vida aqui. Sou General, não posso abdicar de mais missões para seguir
um protocolo de aparência.
Fiquei em silêncio e caminhamos até o quarto. Sabia que tinha sido direto
demais, mas era a verdade. Bem, pelo menos, há alguns dias, antes de perceber que
imaginar Clarice longe de mim me irritava profundamente.
Como eu pediria para ela largar tudo e ficar comigo, se apenas com um
evento, eu não conseguia pensar com racionalidade por conta da sua proteção? Ela
não merecia um homem tão velho, por mais nobre e sensato que eu sabia que era.
— Clarice.
— Está tudo bem, eu não me ofendi. — Ela ergueu a cabeça e não conseguiu
esconder a mágoa, não de mim. — Sei o meu lugar e o que combinamos. Gosto de
estar com você, vou continuar te infernizando com mensagens bobas e minha rotina
sem graça. — Ergueu o celular e foi como se uma espada atravessasse meu peito. —
Se perguntarem, fala que estou viajando a trabalho. Nunca precisei seguir etiqueta ou
formalidades. Sou plebeia e tenho essa liberdade, certo?
Sentei-me na cama, encarei-a com todo o amor que eu sentia por ela e
fraquejei. Ao invés de me impor, erguer minha bandeira e me declarar, acolhi suas
inverdades, como fiz desde o começo.
— É o que você quer? — Tentei ser brando, mas havia uma pitada de
rancor no meu tom.
— Não vou te deixar sem amparo, até que você consiga se estabelecer.
Você poderia fazer isso ao meu lado, eu quis rosnar, mas acenei afirmativo
e fui para o banheiro manter distância.
Windrunner - Lotus
Fui para cama sozinho embalado por aquela música com múltiplos sentidos.
Durante à noite, eu a senti se aninhar nos meus braços e a acolhi, porque com
Clarice, mesmo com meu coração massacrado, eu faria tudo o que ela quisesse.
Acordei sozinho e aquela seria uma rotina que eu apreciaria com muita dor.
Clarice não era mais minha e eu a estava deixando partir.
O clima entre nós estava tão tenso, que nem despedida tivemos. Depois do
Ano-Novo, usei o avião da família para levá-la de volta para o Brasil.
Nunca imaginei que aquela situação me faria reavaliar toda a minha vida.
Questionei minhas metas pessoas e profissionais, o cargo de General não parecia tão
atraente sem Clarice ao meu lado.
Coloquei a água para ferver e preparei a garrafa térmica para fazer o café.
Arlene foi muito querida em me deixar ficar em sua casa em troca de ajudar com a
limpeza dos quartos e a cozinha. Há muitos dias eu era a primeira a acordar, com
dores no corpo por estar em um colchonete no chão, enquanto não recebia o meu
primeiro salário no projeto.
Voltei para o Brasil, estava tentando reconstruir a minha vida, mas o meu
coração tinha ficado em Grã-Aurora.
— Eu estou bem. Bom dia para você. — Forcei o sorriso e coloquei duas
colheres de açúcar na água que estava prestes a ferver no fogão. — Quer que eu faça
as panquecas?
Não tinha contado em detalhes tudo o que aconteceu, nem meus sentimentos.
Amar ia muito além de estar junto, mas permitir que a pessoa voasse mesmo não
estando ao meu lado.
Ele queria me deixar ir... eu fiz o mesmo. Para todo o mundo, ainda
estávamos noivos e eu tinha feito uma viagem sem data para voltar. Apenas Arlene
tinha conhecimento da minha história. Nem todos da cidade se atentavam às notícias
sobre a família real de Grã-Aurora, por mais destaque que meu noivado tenha
ganhado nas mídias sociais.
— Ainda vou te levar para beber e você vai jorrar todos esses sentimentos
guardados. — Ela se levantou e veio até mim, deixar um beijo no meu rosto. — Vou
tomar um banho e vamos para o projeto. Lá, você sorri sem forçar a barra.
Era verdade, o único lugar que preenchia o vazio no meu peito, era com as
tartarugas.
Passei o café, servi em nas canecas estilizadas e fui para o meu quarto
trocar de roupa. Espiei a tela do meu celular e sorri, era uma foto de Davi e o mar.
No dia anterior, eu tinha enviado uma das tartarugas e meus pés.
Voltamos à rotina de compartilhar nosso dia, apenas sendo amigos. Mas não
era a mesma coisa. Estávamos mais profundos e cada palavra tocava meu coração de
uma forma diferente.
Ele não me deixaria abandonar meus sonhos. Eu não permitiria que ele
deixasse o exército, para seguir compromissos da família, porque ele tinha se
tornado um homem compromissado.
Esperei sua resposta, mas não veio, então guardei o aparelho e fui para a
cozinha. Arlene me encarava com preocupação e mostrei-lhe a língua, apenas para
mudar o clima tenso que eu emanava.
— Adoro ele frio. — Tomei com um gole e fiz uma careta por conta do
sabor, havia coisas mais amargas do que a difícil vida de uma apaixonada. —
Vamos.
Ela ligou o som e começou a cantar, minha mente viajou sem desvio até
Grã-Aurora. Aquela música era uma das muitas que vivenciei com o General e
percebi que seria mais difícil esquecê-lo, se continuasse me permitindo ter gatilhos
que me lembrassem.
Mantive a compostura até chegarmos ao projeto. Arlene fingiu não ver meu
semblante triste e caminhou ao meu lado até a parte administrativa, para deixar
nossos pertences. Depois me acompanhou até o pátio e iniciamos nossa rotina, entre
colher dados, atualizar outros e conversar com os funcionários.
Entre um intervalo e outro, conferia meu celular, mas não tive notícia
daquele que eu amava. Porém, havia mensagens do hospital que minha mãe morava,
a enfermeira me atualizava diariamente sobre sua rotina. Ela tinha perguntado de
mim e queria saber quando eu poderia visitá-la novamente.
Droga, eu queria ir, mas estava longe demais para realizar aquele pedido.
Inventei uma desculpa e deixei meu coração acelerar, pela culpa de não ter
aproveitado o suficiente com ela.
— Clari! — Um funcionário me chamou e guardei o celular para atender ao
seu chamado. — Tem um pessoal precisando de orientação. Você pode atender?
Tive sorte por ter uma mãe que apenas me empurrou para a vida sem se
importar com minhas escolhas. Vá... e eu fui.
— Estou pronta.
Usava o dinheiro que Davi Lucca me deu apenas para refeições e, assim
que eu pudesse me sustentar, devolveria tudo. Não haveria mais vínculo, eu tinha
pagado a minha dívida e não estava feliz por isso.
Capítulo 28
— Apenas calor.
Concordei com a cabeça e gemi baixo, meu corpo estava estranho também.
Não era momento de pegar uma virose, faltavam poucos dias para receber meu
primeiro pagamento.
Senti o celular no bolso de trás e tentei não chorar. Há dias não tinha
notícias de Davi Lucca, mas isso não me impediu de me torturar, enviando fotos e
textos, contando sobre o meu dia. Ele tinha se tornado meu porto seguro, um diário e
amor da minha vida.
— Estou bem.
— Ando comendo tanto quanto você — rebati, tomei mais um gole de água
e forcei o sorriso. — Já estou melhor, vou deixar essa garrafa comigo.
— Não é só isso, tem mais. — Ela me analisou e apertou meus ombros com
carinho. — Provei que sou alguém de confiança, não precisa ser tão misteriosa.
Pode falar o que está acontecendo.
— Mas...
— Não conheço sua mãe, mas sei que ela iria querer que eu fizesse isso em
seu nome. — Ajudou-me a levantar e andou comigo me dando apoio. — Tem um
postinho há duas quadras daqui.
Fui chamada e olhei para a minha amiga, que também estava nervosa como
eu.
Ainda bem que estava com minha amiga ao meu lado, porque a notícia me
deixou tão em choque quanto se tivesse confirmado as minhas suspeitas. Eu não
estava doente, mas grávida e, provavelmente, com falta de vitaminas no sangue.
Sabia que coito interrompido não era o melhor método contraceptivo, mas
me iludi. Mesmo vivendo no século XXI, com instrução e acesso a muitas
informações – além de ser bióloga –, eu fui vítima da imprudência.
Não tinha ninguém para culpar, senão a mim mesma. Apesar de não ter feito
o filho sozinha e a inexperiência com o sexo me fez deixar Davi Lucca me conduzir,
eu poderia ter exigido outra forma, mas aceitei, porque eu o amava.
— Eu sei.
— Espero que a Rainha mãe lhe dê um puxão de orelha ou uma surra bem
dada, porque isso não é atitude de um Príncipe.
— Você não viu o olhar dele. Eu não quero ser a culpada por fazer com que
ele destrua seus sonhos.
— Então, vem o universo e dá um tapa na cara dos dois, mostrando que não
importa o que vocês achem, há algo maior envolvido: um bebê.
— E vou entrar para a estatística de casais que estão juntos só por causa de
um filho. Isso é enredo de livro de romance, dos mais açucarados.
— Eu digo amém para aquelas pessoas que vieram ao mundo para causar.
Passear, só se for de avião, lá nas Ilhas Maldivas, no Resort Paradise. Já viu como
são os hotéis por lá? Meu sonho é estar em um bangalô daqueles. — Piscou um olho
e suavizou o semblante quando a encarei com vontade de chorar. — Essa é sua
história. Não se limite a um sonho, mas tenha vários e experimente todos eles, antes
de definir que só uma coisa serve. Você não veste apenas um tipo de roupa.
— Amei fazer parte da família dele e não tem nada a ver com o luxo ou o
poder. Eu me sinto em casa quando estou com Davi Lucca, essa é a verdade. Posso
falar com ele sobre tudo, porque não tenho medo de ser julgada.
— Seria muito sacrifício dos dois lados. Ele prometeu que nunca me
magoaria e eu quero fazer o mesmo.
— Esses homens corajosos e protetores têm cada uma. Eles não podem
mandar no coração, nem em como se sentem. Inclusive, fez um filho em você e,
agora, vocês serão obrigados a enfrentarem a realidade. Onde vão morar? Quais
serão seus novos planos profissionais?
— Então, você pode reclamar e voltar a morar na minha casa. Você tentou,
deu o seu melhor e tem todo o direito de se tornar uma mãe galinha protetora. —
Sorriu amplamente. — Será um prazer cuidar do meu sobrinho ou sobrinha, como se
fôssemos uma família moderna, com mãe e tia, sem homens envolvidos no nosso
mundinho.
— Dever, querer e poder não estão alinhados na minha vida. Eu não quero
mudar, mas você, tem os olhos brilhando ansiando pela transformação. Ligue para
Davi Lucca, converse sobre o futuro, os medos e receios.
— Você sumiu — acusei-o na nossa língua materna, saindo dos seus braços
e socando sua barriga, devagar.
— Sinto muito, Clari. Imaginei que estaria assim, por isso vim
pessoalmente. — Tocou meu rosto e não suavizei o olhar em sua direção. —
Conseguimos eliminar a ameaça. Meu companheiro General e o chefe de operações
foram presos, por atentarem contra a monarquia em associação com Natan Galo,
líder da oposição.
— Parabéns. Rainha Beatriz não precisa passar por mais transtornos do que
aconteceu. — Cruzei os braços. — Eu li as notícias.
— Então, entende que estive trabalhando sem descanso para que tudo
ficasse bem. Eu faço parte daqueles que cuidam da segurança do país.
Peguei no seu pulso, puxei-o pelo caminho e fui até o final, próximo ao
armazém. Davi Lucca me seguiu sem protestar, entrou no pequeno cômodo com
cheiro de mar e animais marinhos e me encostou contra a porta.
Eu não precisei explicar minhas intenções, ele me beijou com fervor e deu
tudo o que eu ansiava. Esfregou sua pélvis contra a minha, meu núcleo pulsava e não
precisava de nada além do seu toque profundo.
— Não mais do que eu, Clarice. Você é meu mundo. — Abracei seu
pescoço e gemi, sentindo sua ereção me preencher, me proporcionando o prazer que
só ele conseguia. — Também te amo — murmurou com desejo.
— Continua — implorei.
Meu coração acelerou quando o vi congelar com minha fala. Ele me soltou
e deu um passo para trás, aproveitei o momento para sair do depósito e ir me
esconder longe dele e da sua negativa quanto ao meu estado.
Seu amor poderia ser real, mas foi colocado a prova com aquela revelação.
Tendo Arlene como apoio caso tudo desse errado, eu só esperava que meu coração
pudesse ser colado depois de partido em milhões de pedaços por sua rejeição.
Capítulo 30
Tive que me afastar da minha noiva, para focar na família real. Muito estava
acontecendo, Rei Arthur precisou do meu apoio e abdiquei da minha vida para
resolver a dele.
Então, percebi que fiz uma segunda grande burrada. Ninguém estava acima
da minha felicidade, nem meu dever com a segurança de Grã-Aurora. Eu poderia
continuar trabalhando e focado na minha missão, Natan Galo e seus associados não
seriam os últimos a ameaçarem a monarquia. Iria fazer meu papel como General,
mas conciliaria com minha vida ao lado de Clarice.
Achei que seria fácil, mas a notícia de que eu era pai me balançou. Deixei
Clarice desprotegia por tanto tempo, algo tão ruim poderia ter acontecido a ela,
como foi com a Rainha Beatriz.
Um noivado de conveniência não deveria nutrir o amor verdadeiro, mas
ninguém poderia mandar no coração. Nem eu mesmo, no meu.
Ansiei por rever Clarice enquanto eu voltava para o meu carro, mas só
encontrei aquela amiga dela. Sorriu e acenou para mim, eu retribuí preocupado,
queria estar com minha noiva e obrigá-la a ficar comigo.
Machucados e espancados
Isso é guerra”
A música parou de tocar e meu celular soou no lugar. Conectado com o som
do carro, sorri ao ver o nome do meu irmão na tela.
— Está sendo.
— Como assim?
— O que ela pode querer aí, que não podemos oferecer aqui? Não faz
sentido. Vocês se gostam, os compromissos reais podem ser mais flexíveis, para
atender à necessidade. Tudo é negociável.
— Pena que demorei demais para entender isso. Está tudo sob controle,
preciso de tempo, Arthur.
— Sim, nós iremos fazer isso. — Ao perceber que ela era uma aliada
tentando ajudar, não rebati que esse era um assunto pessoal.
— O único peso que carrego, é de não ter visto que ela sempre esteve
acima de tudo. Nada mais importa, se ela não está feliz ao meu lado.
— Nem tudo precisa ser retribuído. — Apontou o dedo para mim. — Mas
corto suas bolas, sendo Príncipe ou não, se não colocar Clarice nos ombros e a fizer
feliz. Vocês podem conversar e descobrirem outras oportunidades de serem
realizados profissionalmente. Esse bebê não precisa nascer sabendo que os pais se
amam, mas não podem viver juntos, porque a mãe gosta de tartarugas e o pai só
pensa no exército.
— Mensagem recebida.
— Também dei bronca nela. Não quero nenhum dos dois na minha casa, vão
para um motel. — Ela abriu a porta e começou a rir. — Ou melhor, conversem,
depois vão para um hotel cinco estrelas, luxuoso, com banheira e tudo mais. Só se
vive uma vez, Príncipe.
Ele abriu a porta do quarto e me deu espaço para entrar primeiro. Olhei
para o corredor, cruzei os braços e dei passos cautelosos, recordando do luxo em
que vivi estando com a família Fiori.
O silêncio tinha imperado entre nós. Nobre e respeitoso, como sempre foi,
Davi Lucca estava esperando o meu tempo, enquanto eu só queria que ele me
atacasse novamente.
— Não.
Fiquei na ponta dos pés, abracei seu pescoço enquanto sua boca se abria
para recepcionar a minha. Ele envolveu minha cintura, deu passos para frente, mas
neguei com a cabeça.
— Para o banheiro. Eu preciso de uma ducha — resmunguei e voltei a
beijá-lo, como se aquela tivesse sido a primeira vez depois de muito tempo, não há
algumas horas.
Era insano pensar que ele poderia não ser honrado o suficiente. Por Deus,
era Davi Lucca Fiori. Talvez, fosse mais fácil aceitar que ele me abandonaria do que
se obrigasse a ser um bom marido, sendo infeliz.
Ele me puxou para cima e abraçou minhas pernas, que rodearam o seu
quadril. Enquanto nos beijávamos, ele entrou no banheiro, acendeu a luz e se sentou
na beirada da banheira redonda.
Além de estar com ele, tudo ao meu redor me lembrava casa. O lar que
sempre almejei estava em Grã-Aurora e tartaruga nenhuma poderia suprir aquela
vontade de pertencer.
— Vou tomar banho. — Saí do seu colo e me despi. Ele fez o mesmo, se
livrando do coturno enquanto eu ficava nua.
— Não. — Segurou meu pulso e me puxou de volta para ele. — Quero você
assim.
Com uma manobra ágil, ele nos colocou dentro da banheira e estendeu o
braço para acionar a água. Enquanto eu não queria me desgrudar dele, Davi Lucca
alisou minhas costas e fez muitas carícias, como se fossem promessas por toda uma
vida.
— Pensei que a dúvida tinha sido esclarecida. Você está esperando um filho
meu, é perfeita para mim.
Neguei com a cabeça e me virei, para ficar de costas para ele. Abracei
minhas pernas dobradas, a água já estava na metade e ele me rodeou com suas
pernas torneadas. Suas mãos espalhavam a água na minha pele, a tranquilidade que
ele exalava estava irritando a minha insegurança.
— Sinto que serei responsável por sua infelicidade. Eu vi seu olhar, quando
teve que abdicar da missão, para ir a um evento social comigo. — Pressionei os
lábios e seus suspiros me tensionaram.
— Por isso você quis voltar? — Tocou meu rosto e sorriu. — Achou que eu
estava triste por ter que ficar ao seu lado?
— E não foi?
— A monarquia estava sob ameaça e a última coisa que eu queria era nos
expor. A segurança tinha falhado mais de uma vez e eu não sabia em quem eu
poderia confiar.
— Queria te proteger de mais uma aflição. Você tinha ido ver sua mãe, mas
estava fora do ar.
— Mas a missão...
— Sim, eu queria ter ido, mas — deu de ombros — não foi a primeira que
não fui e nem será a última. Na minha mente, no momento, só penso em uma coisa.
Sua mão tocou minha barriga e o olhar também foi para ela. Tentei não me
emocionar com suas carícias, o homem estava nitidamente entregue. Se ele estava
ficando cego, eu tinha que ser a luz.
— Eu vim até você, para ficar aqui. — Pegou minha mão, puxou até
seu coração e o senti bater. — Namorar à distância não vai funcionar
conosco, eu entendo. Então, estou me dando a oportunidade de descobrir
uma nova vocação ao seu lado.
— Arlene? — assustei-me.
— Ela acha que não importa como os casais são formados, por mais
retrógrado que seja se casar por conta de um filho.
— Não há nada para você aqui, Davi. Também entendo que não há
razão para te manter longe, de um lugar, que eu mesma gosto. Amo sua mãe e
sua família, além de me sentir em casa em seu quarto.
— Além de acompanhar sua mãe nos projetos, quero ter algo para
mim. Quando fiz vestibular, lembro que em Grã-Aurora não tinha nada
específico da minha área.
— E eu terei que ser militar para isso? — Fiz uma careta e ele riu.
— De fardado, já basta você. Não tenho vocação para segurar em arma.
— Ah, tem sim, mas é outra. — Pegou minha mão e a levou para o
seu membro, que estava ereto. Olhou para meus seios e passou a língua nos
lábios, ele estava excitado e eu me acendi de forma tão instantânea quanto
ele. — Assim que nos casarmos, o sobrenome Fiori te dará esse passe livre.
Parte do treinamento será necessário, mas não se preocupe, eu serei seu
instrutor.
— Não, foi minha mãe. — Riu baixo. — Ela tem pressa, mas eu a
dissuadi sobre te pressionar a deixar o país.
— Dessa vez, não tem volta. — Beijou minha testa. — Faça tudo o
que precisa, aproveite Arlene e encaixotaremos todas as suas coisas, para
levarmos para Grã-Aurora.
— Nossa, é verdade.
Abracei minha mulher por trás e senti o vento no rosto acolhendo meu
alívio. Em um cruzeiro, na área comum próximo às grades, como se estivesse
aproveitando a minha lua de mel, seguíamos para o Norte, em direção a Grã-Aurora.
Toquei sua barriga e ela suspirou. Ainda não dava para perceber sua
gestação, mas depois do ultrassom e de ouvir o coração bater, a ficha tinha caído e
minha determinação foi renovada. Ter uma família próspera estava acima de
qualquer conquista profissional. Entendi que ser feliz no âmbito pessoal, não
importava o que eu escolhesse fazer para o labor, tudo seria bom.
— Ainda bem que não fiquei enjoada — comentou, acariciando minha mão
em cima da dela.
Real.
— O navio está cheio, irmão. Tem muita coisa para curtir, não precisa se
preocupar conosco — brinquei, para provocá-lo e ele riu alto.
— Eu sei, mas como Henrique não está por perto, farei o papel de
debochado no lugar dele. — Ele parou ao nosso lado e apoiou as mãos na grade. —
Terei um sobrinho.
— Você não tem cara de que sabe lidar com bebês, Vinicius.
— Faz parte dos requisitos de ser o irmão mais velho, ser chato e
responsável. — Vinicius piscou o olho para ela e me enfrentou. — Quando te vir
trocando uma fralda, vou me lembrar das suas palavras.
— E ele vai aprender a fazer tudo isso e mais um pouco. O tio estará
convidado a brincar. — Minha mulher apaziguou.
— A mãe vai ficar feliz em saber que teremos muitos bebês a caminho —
Vinicius murmurou, olhando para o horizonte.
— Não tenho tanta pressa. Nem sabia que ficaria tão feliz por estar grávida
e formar uma família — Clarice não entendeu o que meu irmão queria dizer, mas eu
estava percebendo as palavras não ditas na sua afirmação.
— Quem é ela?
— Não acredito que nosso futuro esteja escrito. Escolhas fazem o nosso
caminho. — Vinicius bateu no meu braço e sorriu. — Bem, vou deixar os pombinhos
aproveitarem o passeio. Qualquer coisa, me acione pelo celular.
— Meu Deus! Claro, Davi — respondi, entre lágrimas. Ele colocou o anel e
percebi que as pedras verdes e azuis me lembravam do mar.
— Não poderei garantir que serão sempre risos e alegrias, estar na família
Real é garantia de fortes emoções. Prometo te amar, honrar nossa família e sempre
dialogar, depois de tra...
— Não fale. — Ela colocou as mãos na minha boca e riu entre suas
lágrimas. Olhou ao redor e pulou no meu pescoço, eu a ergui, abraçando sua cintura.
— Eu te amo e prometo me dedicar.
— Ser feliz, Clari. — Beijei seus lábios e a fiz chorar um pouco mais. —
Se for para fazer algo, que seja porque te faz bem, não para me agradar. Seu bem-
estar é o meu.
Mudei a nossa posição, peguei-a no colo como uma Princesa – que ela era
de todas as formas – e a levei para nosso aposento.
Meses depois...
Não havia momento ruim que ofuscasse os bons que estavam me cercando.
Eu tinha acesso à minha mãe, mas nem sempre ela estava lúcida para me receber.
Esteve no meu casamento por poucos minutos e foi o suficiente para que eu
recebesse a sua bênção e a do meu pai, em meu coração.
— Você falou que iria buscá-la. — Aproximei-me para beijar seus lábios e
alisar sua farda. — Como foi o trabalho?
— Assim que eu conseguir me organizar com sua mãe, que não está aqui,
porque o filho a deixou vir sozinha. — Franzi o cenho, exagerando na minha bronca
e ele sorriu em provocação.
— Vai borrar meu batom. É a primeira vez que sua mãe virá no nosso
apartamento.
De vez em quando, ele massageava meus ombros. Outras vezes, ele cantava
para me acalmar. Mas, o que dava resultado instantâneo e meu corpo reagia a todas
as suas segundas intenções, era a paixão.
Com a barriga avantajada, não era possível uma rapidinha de frente, como
eu adorava fazer. Andamos apressados para o nosso quarto, fechamos a porta e o
empurrei para a cama.
Ele acariciou a minha barriga antes de descer até entre minhas pernas e
fazer movimentos circulares enquanto eu subia e descia lentamente. Eu tinha pouca
força e resistência naquele estado, mas meu marido tinha porte atlético e conseguia
nos estimular com precisão.
Aquela era minha vida, a família que tanto almejei e apenas o início da
minha história com a Família Real Fiori. Nem todas as mentiras plantadas produziam
frutos podres. O amor prosperou.
Agora Leia a História do Rei
Arthur
Um casamento de conveniência.
Para você que chegou até aqui, gratidão. Além da história, saber um
pouco mais dos bastidores é uma forma de enriquecer o livro e explicar um
pouco das minhas motivações. Que seu coração se encha de amor e
esperança com meu clichê inusitado.
Mari Sales
Sobre a Autora
Mari Sales é conhecida pelos dedos ágeis, coração aberto e
disposição para incentivar as amigas. Envolvida com a Literatura Nacional
desde o nascimento da sua filha, em 2015, escutou o chamado para escrever
suas próprias histórias e publicou seu primeiro conto autobiográfico em
junho de 2016, "Completa", firmando-se como escritora em janeiro de 2017,
com o livro "Superando com Amor". Filha, esposa e mãe de dois, além de
ser formada em Ciência da Computação, com mais de dez anos de
experiência na área de TI, dedica-se exclusivamente à escrita desde julho de
2018 e publicou mais de 100 títulos na Amazon – entre contos, novelas e
romances.
Site: http://www.autoraMariSales.com.br
Instagram: https://www.instagram.com/autoraMariSales/
Eles não estavam preparados para que suas vidas fossem abaladas pelas
escolhas dos seus pais. O amor era forte para unir, mas também, o argumento
necessário para deixar a outra pessoa partir.
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Um bebê abandonado.
Ela nunca tinha sido tocada daquele jeito. Senhor Lewis não queria
sentir o coração acelerar novamente. Era a iminência de um desastre, mas
eles ignorariam qualquer emoção para se protegerem de uma nova decepção.
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Não me achava digno daquele anjo, mas não consegui aceitar outro
homem em sua vida, nem mesmo sendo um Sartori. E, para comprovar isso,
eu teria que esclarecer o mal-entendido do passado e assumir que Izabel
Mazzi sempre foi minha.
Igor era um homem que escondia suas origens. Ele preferia cuidar
de um escritório de investigação particular com seu melhor amigo do que
viver no luxo ofertado pela sua família. Ninguém precisava saber que ele
tinha outras motivações para estar próximo dos irmãos Louis.
Deveria ser uma ação simples, mas tudo o que envolvia a doceira
se transformava em uma grande confusão. E, daquela vez, teve uma pitada de
fraldas sujas, intimidações e um homem protetor para ser só dela.
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Pouco tempo foi necessário para que o desejo tomasse conta. Não
consegui mais focar apenas no grande plano, meu coração estava envolvido
demais para desapegar.
Ela não seria minha por obrigação, mas por sua própria vontade.
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Ninguém disse que o destino jogava limpo. Ele não só unia pessoas
de lados opostos a uma guerra, mas confrontava segredos e revelava a
verdadeira face das pessoas. Cabia a Bulldog e Deborah escutarem seus
corações e não caírem na armadilha da ganância alheia.
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1- Enlace Improvável
2- Enlace Impossível
3 - Enlace Incerto
4 - Enlace Indecente
Epílogo Bônus
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1 - Benjamin
2 - Carlos Eduardo
3 - Arthur
4 - Antonio
5 - Vinicius
6 – Rodrigo
Embora a tarefa parecesse difícil, ele encontra uma aliada para essa
missão, a jovem Rayanne, uma mulher insegura, desempregada e apaixonada
por livros, que foi contratada para organizar a biblioteca da mansão e
encontrar os diários secretos da matriarca da família.
Valkyria não sabia o que tinha acontecido com ela até acordar em
um quarto desconhecido. Até que chegasse nas mãos de Bryan, ela conheceu
o pior do ser humano, ela não sabia o que tinha feito para merecer tanto.
Um novo bebê estava a caminho, fazendo com que o mais cruel dos
vampiros voltasse a sentir. Restava saber se era tarde demais para Scorn
assumir a inevitável conexão com a mãe da sua filha.
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Ter uma rotina agitada como advogado e sensei, era quase certeza
de que Murilo deixaria algo passar. O olhar observador e quase triste de Iara
chamou atenção de Maria Augusta, professora de balé e curiosa de plantão.
Envolvidos em uma competição de Judô, em plena comemoração da escola
do Dia dos Pais, Guta e Murilo se veem envolvidos através de Iara.