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Copyright © Mari Sales

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Criado no Brasil.

Edição Digital: Criativa TI e Grupo Editorial Portal

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes,


personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação
da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.

Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e/ou


a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios —
tangíveis ou intangíveis — sem o consentimento escrito da autora.

Criado no Brasil. A violação dos direitos autorais é crime


estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Sumário
Dedicatória

Sinopse

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14
Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17

Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

Capítulo 21

Capítulo 22

Capítulo 23

Capítulo 24

Capítulo 25

Capítulo 26

Capítulo 27

Capítulo 28

Capítulo 29

Capítulo 30

Capítulo 31

Capítulo 32
Capítulo 33

Epílogo

Agora Leia a História do Rei Arthur

Agradecimentos

Sobre a Autora

Outras Obras
Dedicatória

Para aqueles que carregam uma dor diária e, mesmo assim,


seguem em frente com suas vidas, realizando os seus sonhos. Vocês são
merecedores da prosperidade.
Sinopse

Davi Lucca Fiori tinha um único objetivo em sua vida: alcançar a


mais alta patente do exército. O General era um solteiro cobiçado, fazia
parte da família real, era respeitado e exemplo de boa conduta.

A reputação do herdeiro Fiori estava por um fio, quando um inimigo


da monarquia descobriu seu segredo. Ele era um Príncipe e não poderia fugir
das suas obrigações.

Clarice Mattos queria esquecer sua adolescência. Se ela estava bem


naquele momento, devia ao Príncipe General, que cruzou o seu caminho
quando mais nova. Por anos, eles mantiveram contato à distância e se
tornaram amigos, mas tudo mudou quando a generosidade estava prestes a
ser revertida em um escândalo.

A oportunidade de Clarice retribuir à benfeitoria surgiu. Davi


Lucca não queria expor sua amiga plebeia, mas aceitou forjar um noivado
falso, para protegê-la mais de perto e à sua família.

Da mentira veio a atração. A amizade se transformou em desejo e o


amor, que deveria unir povos, poderia ser o elemento crucial para destruir a
monarquia.

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Prólogo

Quatro anos atrás...

A experiência que a vida militar me proporcionou fazia com que eu


antecipasse muitas ações, mas não aquela.

Em uma excursão com adolescentes prestes a se formarem antes de


ingressarem na faculdade, estávamos em um navio em alto mar no oceano
atlântico. Marinha, Exército e Aeronáutica se uniram para palestrar sobre a
carreira oficial.

Na proa, pegando a brisa e aproveitando a vista, os olhos dos


meninos brilhavam mais do que das meninas. Uma, em específico, olhava
demais para a lateral do navio e acreditei que poderia ser apenas
desinteresse na fala do cabo.

Cabelos castanhos revoltos no ar, semblante triste e lábios


pressionados com força. Sua linguagem corporal indicava desconforto, mas
suas mãos escondidas as suas costas guardavam o segredo do seu próximo
movimento.

O navio diminuiu a velocidade, estávamos prestes a dar a volta


para retornar a ilha. Grã-Aurora era meu país, o Reino que minha família
tinha orgulho de cuidar há gerações. Éramos prósperos e tínhamos os
melhores exemplos a seguir, Vossa Majestade Philip e Elizabeth Fiori, meus
pais.
Às vezes, eu me esquecia que era um Príncipe e pensava apenas no
meu título de Coronel. O segundo era o que me dava mais satisfação e
orgulho. Estar na família real tinha suas vantagens, mas também,
compromissos que eu não estava disposto a executar.

Uma divagação mais longa foi suficiente para a menina, que tinha
chamado minha atenção, dar passos largos até a borda do navio e pular.

Ela não hesitou.

— Homem ao mar! — um dos oficiais gritou e os alunos


começaram a se desesperar.

Da mesma forma estúpida que a garota fez, eu a acompanhei.


Normalmente, eu era centrado e calculista, mas constatar que uma estudante
menor de idade tinha se jogado no oceano, sob a minha supervisão, me
tornou imprudente.

Enquanto corria na mesma direção em que ela se jogou, eu me


esqueci do celular ou das armas que carregava, apenas segui.

— Coronel! — alguém me chamou, mas foi ignorado, assim que


mergulhei no oceano atrás da irresponsável.

Abri os olhos debaixo da água, senti-os arder, mas não me importei.


Não vi a garota, submergi e busquei de um lado para o outro, ela não estava
por perto.

— Merda — xinguei baixo, poucos sabiam que eu me permitia


algumas palavras chulas quando irritado. Eu era exemplo a ser seguido,
então, deixava a rebeldia para longe da minha equipe.
Pernas e braços se mexeram para que me mantivesse com a cabeça
para o lado de fora da água. Um barulho me chamou atenção, o bote estava
sendo preparado para nos buscar, mas a estudante ainda não tinha sido
encontrada.

E eu nem sabia o seu nome para chamar e indicar que eu iria


resgatá-la.

Nadei para longe do navio, contra a direção em que ele estava indo.
Logo uma cabeça surgiu e dei longas braçadas até a menina, que se assustou
com minha aproximação.

— Vai embora! — reclamou, fugindo de mim.

Rosnei para me dar forças para alcançá-la, ela sabia nadar tão bem
quanto eu. Mais velho e com mais músculos, eu a alcancei e a abracei.

— O que pensa que está fazendo? — perguntei, irritado, enquanto


ela se debatia.

— Me solta, eu não quero voltar.

— E vai ficar nesse oceano congelado?

— Sai! — Começou a me bater como dava, estando de costas para


mim.

Em outra situação, por menos, eu me afastaria daquela que não


queria minha aproximação. Mas era uma questão de vida ou morte, eu iria
ultrapassar alguns limites.

O bote chegou próximo de nós e, com dificuldade, coloquei a


menina para dentro. Ela tentou pular na água novamente, mas eu a imobilizei
com meu corpo, braços e pernas.

Os soldados me encararam com assombro, eu estava tendo trabalho


com uma menina. Cobertas foram postas em nós, mas ela não parou, porque a
desesperada queria ir para a água. Novamente!

Seria engraçado, se não fosse crítico.

— Me solta! — gritou, debatendo-se.

— De volta ao navio — ordenei.

— Sim, Senhor — o que estava pilotando acatou.

— Eu quero sair! Ah! — ela continuou, esbravejando.

— Se acalme, que eu te solto. — Baixo e próximo do seu ouvido,


meu tom surtiu efeito, porque ela parou instantaneamente e suspirou. — Boa
menina.

Muitos olhos estavam em nós quando paramos ao lado da escada


para subirmos no navio. Acenei para que os soldados fossem primeiro e
soltei a pressão dos meus braços e pernas, testando a reação da nadadora
imprudente.

— Está tudo bem? — perguntei quando me afastei dela e aceitei o


cobertor do meu subordinado, para me aquecer.

Ela não me encarou e nem respondeu, continuou com o mesmo jeito


de antes de pular. Daquela vez, eu não seria pego desprevenido.

Levantei-me e dei a brecha que ela precisava para agir. Assim que
elevei minha perna, para apoiar na lateral do bote, ele moveu a alavanca
para acelerar e dois homens foram para água, enquanto eu caí na parte de
dentro.

— Merda — ela xingou, mas não parou de seguir para longe.

Conferi meus homens, a equipe de apoio já os tirava da água.


Ajeitei-me sentado, encarei a menina tremendo de frio e olhando para frente,
determinada a fugir do que a assombrava.

Tirei os sapatos e tentei me aquecer com o cobertor. Em algum


momento, o corpo dela exigiria atenção e o desespero iria se dissipar.
Enquanto isso não aconteceria, eu iria exercitar minha paciência e
conhecimentos sobre linguagem não verbal.

Lábios pressionados, cenho franzido e semblante triste, ela não


estava em um bom momento. Seu olhar encontrou o meu, que a analisava sem
reservas. Soltou do volante, abraçou o corpo e começou a chorar. Era a
minha brecha para assumir o controle.

Fui até ela, coloquei outro cobertor em seu corpo e desliguei o bote.
Esfreguei seus braços e a ouvi chorar, seu sofrimento não combinava com
sua beleza jovial. Ela tinha um mundo pela frente, não deveria agir com tanta
imprudência.

— Você está bem? — perguntei, me agachando à sua frente enquanto


e mantendo a tentativa de aquecê-la esfregava suas laterais.

— Não. — O seu tom de birra quase me fez sorrir.

A tensão se dissipou e eu, ao invés de encerrar aquela missão de


salvamento, estava curioso para saber mais dela. Suas motivações deveriam
ser intensas, para agir de forma tão drástica.
— Qual o seu nome?

— Clarice. Eu não quero voltar para lá.

— Lá, o navio, ou lá, Grã-Aurora?

— Nenhum dos dois. — Ergueu a cabeça e mostrou o bico irritado.


— Odeio a minha vida.

— Acho que faz parte da transição da adolescência para ser adulto.


Amanhã, você ficará com vergonha e se esquecerá disso.

— Consegui acabar com a minha vida, finalmente. — Colocou as


mãos no rosto e segurei a coberta para não sair dos seus ombros.

— Pulou do navio, porque queria se matar?

— Não! Quero dizer... Urgh! — Rosnou com frustração, tomou a


coberta das minhas mãos e saiu de perto.

Sentei-me em seu lugar enquanto ela ia para a parte da frente, com


um equilíbrio perfeito, olhando para além.

O barulho longínquo que eu ouvia indicava que o navio da excursão


estava prestes a nos resgatar. Tinha que encontrar uma solução para aquele
conflito, rápido.

Se fosse um soldado, eu lhe daria uma ordem e acabaria com aquela


indecisão. Mas era uma menina, que lembrava a minha irmã e seus sonhos de
Princesa. Por ela, eu deixava a posição de Coronel e era apenas o irmão
mais velho, Davi Lucca. Para Clarice, estava agindo da mesma forma.

— Se está fugindo de algo ou alguém, eu posso ajudar.


— Quem é você para resolver os meus problemas? — Ela se virou
e empinou o nariz.

Cruzei os braços, sentindo a brisa me esfriar e a encarei com a


mesma imponência. Ela, finalmente, me encarou e reconheceu a pessoa que
estava à sua frente. A família real costumava estampar quase todos os sites
de notícias, nós movimentávamos o país.

— Oh, meu Deus, é o Rei. — Ela se agachou e abraçou ainda mais


o corpo. Sorri por conta da sua confusão, afinal, os gêmeos eram Vinicius e
Henrique, não eu e Arthur.

— Coronel Fiori. Ou me chame apenas de Davi Lucca, acho que


estamos íntimos depois desse mergulho no Atlântico. Eu posso te ajudar,
Clarice.

— Que vergonha, minha mãe vai me matar. — Ela se encolheu


ainda mais. — Me deixe ir, não quero ser presa.

— Talvez, sua punição será ter acompanhamento especializado.


Cadeia, acho exagero. — Suavizei o olhar, mas ela não me encarava. Tive
que ir à sua direção e me sentei ao seu lado, o barulho do barco estava cada
vez mais próximo. — Hey, pode conversar comigo.

Ela me surpreendeu, escorando seu corpo no meu em busca de


conforto. Abracei-a de forma fraternal, da mesma forma que fazia com
Helena quando perdia no xadrez para Vinicius.

— Nada dá certo na minha vida — resmungou, chorosa.

— Quantos anos tem?


— Dezessete. E não me venha dizer que não tenho motivos para
chorar, porque eu tenho sim! Sem notas boas, meu pai está morrendo, minha
mãe só reclama das coisas que eu faço, meu namorado terminou comigo uma
semana depois que eu me entreguei para ele e nunca serei bióloga, porque o
dinheiro da minha faculdade, meus pais usaram para o tratamento de saúde
do meu pai. Estou cansada.

— Respira fundo. — Executei o comando, porque meu instinto


protetor tinha sido acionado. Ela me acompanhou e se aninhou ainda mais em
mim. — Realmente, sua vida está uma merda.

Virou o rosto para mim, com os olhos arregalados e boca aberta.


Ela esperava consolo, mas dei o oposto, para chocá-la. Assim, ela poderia
sair do estado de vítima ou se afundar um pouco mais. Era um momento de
apostas altas.

— Está se divertindo com minha cara. Sua vida deve ser perfeita,
Vossa Majestade. — Saiu de perto e me encarou com mágoa. — Eu quero ir
embora.

— Se me prometer voltar para o navio, engolir o orgulho ferido e ir


para a sua casa em segurança, eu te garanto a faculdade de biologia.

— Não pode fazer isso.

— Você mora no meu país, então, sim. É uma promessa, se você


cumprir sua parte.

Estendi a mão e a buzina do navio soou, assustando-a. Ela encarou


além, depois para minha mão e suspirou.
— Desde pequena, quando ganhei uma pelúcia de tartaruga, eu
quero ser bióloga. Meus planos acabaram, não há mais dinheiro para que eu
possa fazer o curso no Brasil. Você não pode me dar o que quero, ninguém
tem o poder de me ajudar.

— Eu sou irmão do Rei Arthur e essa posição me permite te


contradizer. Sim, eu posso. Basta apertar minha mão e fazer como
combinado.

Trocamos um olhar cúmplice por um tempo, ela estava incrédula. Se


Arthur soubesse o que eu estava fazendo, iria elencar todas as brechas que
eu tinha aberto. Não era arbitrário, Clarice lembrava Helena e esperava que
minha irmã também conseguisse a atenção devida caso tivesse um surto
adolescente.

A menina estendeu a mão e apertou a minha, com força. Naquele


momento, tudo o que sentia por ela era um carinho fraternal, de um irmão
mais velho.

Fomos resgatados, Clarice voltou para a sua rotina estudantil e eu


segui meu caminho para obter o maior posto da hierarquia militar. Ser
General era meu objetivo e estava disposto a fazer tudo para conseguir.

Semanas depois, a menina que amava tartarugas ganhou uma bolsa


de estudos anônima e foi para o Brasil seguir seu sonho, longe de todos os
fantasmas que a assombravam. Eu mantinha contato com ela por mensagens
de celular, para saber se estava bem e para me colocar como figura
masculina em sua vida, uma vez que perdeu o pai há alguns dias daquele
incidente no barco.
Por muito tempo, o auxílio de Clarice foi um segredo para a minha
família e a sociedade. Uma ajuda sem interesse, envolvendo apenas o meu
dinheiro. Até que alguém resolveu transformar o ato nobre em um possível
escândalo, para manchar a reputação da monarquia.
Capítulo 1

Tomei um gole da minha água tônica e acenei afirmativo para a conversa


entre Generais. Eu era o mais novo no posto, título que alcancei com muita
dedicação e trabalho.

A vida militar estava no meu DNA. A família Fiori lutou guerras, participou
de missões de paz e lidou com muitos conflitos no Hemisfério Norte. As mais atuais,
eu tinha orgulho de dizer que participei, tanto na linha de frente, quanto na base de
apoio.

Por mais que o dia tivesse muitos motivos para que eu celebrasse com
bebida alcoólica, eu sairia em missão no outro dia e precisava estar sóbrio.

— Não pretende se casar, General Fiori? — Virei o rosto na direção de


quem tinha citado meu nome e franzi a testa. Todos sabiam da minha linhagem real e
do quanto a única família que me pertencia, era a de origem.

— Estou muito bem solteiro, dedicado à carreira, General Bianchi —


respondi com tranquilidade.

— Não ter para quem voltar, depois de uma missão, não é tão inspirador.

— Fazer com que minha equipe volte é motivação suficiente, Senhor. Tenho
minha mãe e meus irmãos, não preciso de mais ninguém.

— Ele tem apenas trinta e cinco anos. Vamos ver se o discurso se mantém,
quando chegar nos quarenta e perceber que será avô dos filhos. — Outro General
interpôs sua opinião e apenas balancei a cabeça.

A conversa continuou sobre família e casamento, eu me mantive divagando,


nas minhas próprias ambições.
A imagem da última foto que Clarice tinha me enviado brilhou na minha
mente. De certa forma, eu também a considerava parte da família, por mais que
ninguém soubesse daquele segredo. Ela estava feliz, cuidando de tartarugas, falando
outro idioma, em um país tropical. Longe da condição psiquiátrica da mãe, dos seus
pesadelos e perto do seu sonho juvenil.

Minha irmã também vivia para os estudos, estava com saudades dela e das
suas conversas de menina.

— Vossa Alteza. — Virei para o garçom desavisado. Com minha farda


desert tiger, em um evento militar, ninguém precisava me chamar daquela forma.
Apenas o cargo do meu irmão Arthur exigia um pronome de tratamento a altura, para
manter a hierarquia. — Há uma pessoa querendo conversar, no jardim.

— Quem é?

— Não sei, Senhor. — Abaixou a cabeça constrangido. — Quero dizer,


Vossa...

— Estou indo. — Virei-me para os Generais que me acompanhavam. —


Com licença, Senhores.

Afastei-me deles e andei pelo salão junto do garçom. Eram majestosos os


eventos no país, o baile de inverno e os enfeites natalinos. Naquele dia,
celebrávamos a conquista de novos títulos, incluindo o meu posto como General.

Saí do salão, o vento frio noturno, mesclado à brisa marítima, me fez ajeitar
os pulsos da minha roupa militar. Empinei o nariz e me aproximei daquele estranho,
que trajava um fardamento diferente dos que adotávamos no país.

Olhei para o lado, o garçom tinha desaparecido e estava apenas com o


desconhecido. Minha arma estava em um coldre velado do lado de dentro da minha
calça, então, se houvesse um confronto, eu estava preparado.
— Boa noite — cumprimentei mais próximo dele, sem oferecer um aperto
de mão. Ele me encarou e parecia assustado. — Quem é você?

— Se-Senhor. Eu sinto muito, sou apenas o mensageiro. — Ele colocou a


mão na lateral da calça e me preparei para pegar a minha arma. Ele tirou um
envelope do bolso e tremia.

— O que é isso?

— Como disse, sou o... oh! — Peguei no seu pulso e o trouxe para próximo.
Encarei suas pupilas dilatadas e o medo que transparecia. Eu nunca fui paciente com
homens, muito menos com aqueles que tinham treinamento para serem guerreiros. Na
dúvida do que poderia ser, algo banal ou uma ameaça, tratei como sendo inimigo. —
Por favor, eu não sei de nada.

— Quem te mandou aqui?

— Eu... eu não sei.

— Como não sabe? — Usei a minha mão livre para o apalpar, em busca de
arma. Achei seu celular no bolso traseiro e o coloquei em seu rosto. — Recebeu uma
ligação e pediram para me entregar um envelope?

— Sim. — Arregalou os olhos, como se fosse impossível de deduzir aquela


baboseira. — Como sabe?

— Você não é daqui. Farda multicam é padrão Europeu. Como veio?

— Estou em um barco, a pessoa no telefone me falou para trazer esse


envelope e ir embora, senão, iria prejudicar minha esposa e filho. Não poderia ir até
o meu superior, porque os dois estão desaparecidos. Eu só quero voltar e acabar
com isso. Meu menino tem apenas dois anos, Alteza.

— E o número era desconhecido? — Soltei-o com repulsa, tirando o


envelope da sua mão.
— Exatamente. — Cruzou os braços. — Posso ir?

— Não. — Toquei a superfície, sentindo o que tinha dentro. Pela minha


experiência, era apenas papel, mais precisamente, fotos. Abri e tirei o maço que
existia dentro, meu coração errou uma batida quando vi a mesma imagem de Clarice,
que passeava na minha mente aquela noite. — Que porra é essa?

— Não sei, Senhor. Eu não vi. — Negou com a cabeça com desespero.

Passei outra foto, mais uma e minha adrenalina inflamou a fúria crescente.
Antes de exigir mais respostas daquele homem, busquei outro papel e tinha uma
mensagem impressa.

Alteza Real, General Exemplar Fiori.

Sua sugar baby foi descoberta. Temos fotos, conversas e extratos


bancários que indicam que você sustenta Clarice Mattos nos últimos dois anos,
com o dinheiro dos impostos da Grã-Aurora. Ela é quatorze anos mais nova e não
duvido que esse relacionamento tenha acontecido sem consentimento. Nenhuma
jovem, em sã consciência, se relacionaria com alguém tão velho e focado no
serviço militar.

Para que isso não venha a público, desista da missão Caminho do Sul.
Não queira pagar para ver, farei com que a sua reputação seja manchada e a
monarquia no país acabe.

Olhei do papel para o homem, que me temia a cada encarada. Realmente,


ele era apenas um peão em meio à manipulação que estava acontecendo. Não
bastasse me retirar da missão para a qual eu partiria no outro dia, minha protegida
estava exposta por conta de um segredo que eu quis manter da minha família.

Mil vezes merda.

— Desbloqueie o celular — ordenei para o militar, estendendo minha mão


com o aparelho. Guardei todos os papéis de volta no envelope e o dobrei, colocando
no cós da calça, às minhas costas.

— Aqui. — Entregou sem fazer resistência, no aplicativo de chamadas


recebidas.

Número desconhecido, três minutos de ligação. Fiz uma busca rápida no


aparelho, vi as mensagens de texto, fotos e parecia tudo normal. Ele tinha sido
escolhido, por estar sob o radar, ao ser comum.

— Você conhece algum militar do meu país?

— Eu tinha um tio avô que morou aqui, Samuel Villares. Mas não tenho
contato, nem sei se tinha filhos, apenas que faleceu há quatro anos.

Não era coincidência que aquele fato combinava com o acidente de Clarice
no navio. Alguém que estava naquele evento, poderia ser parente daquele homem ou
seria beneficiado com a minha ausência na missão.

— Qual o seu nome, rapaz? — perguntei, indo nas configurações do seu


celular e desativando as senhas.

— Robert Kant, Senhor. Eu só quero voltar para a minha esposa e filho.

— Você vai. Mas antes, iremos conversar sobre sua história familiar.

Indiquei o final do jardim, que daria acesso ao estacionamento.


Caminhamos lado a lado e pensei em como resolver aquela situação, sem que
ninguém fosse prejudicado, a não ser o idiota que me ameaçava.
Capítulo 2

Tirei fotos para um casal de turistas e entreguei o aparelho para a


mulher sorridente, com barriga de gestante. O que mais amava no projeto,
era o quanto poderíamos mesclar o turismo com a seriedade de cuidar das
tartarugas.

Viciada no meu trabalho, eu fazia jornada dupla enquanto era parte


da equipe de biólogos que cuidava dos animais. Sempre que sobrava tempo,
servia de guia e entretinha os turistas, que se encantavam com o nosso
trabalho.

Eu amava a bolha que eu vivia e contava os dias para dizer ao meu


benfeitor que eu não precisaria mais dele. Sentia-me em dívida com Davi
Lucca Fiori, tanto por me salvar de um surto depressivo, quanto por
contribuir para realizar um sonho.

O General tentou amenizar a ajuda, dizendo que era apenas uma


forma de devolver o dinheiro investido na saúde do meu pai, que se foi
pouco tempo depois do incidente no barco.

O bullying que sofri depois daquilo me impulsionou a ir embora da


Grã-Aurora e me estabelecer no Brasil. Foi difícil aprender a língua, mas eu
tive motivação, que era cursar a minha faculdade dos sonhos.

Mas, estava na hora de voar solo. Efetivada no projeto, eu teria um


salário fixo e me mudaria para um apartamento menor, que eu pudesse
bancar.
Eu tinha que aprender a ser sozinha, uma vez que minha mãe não
estava presente, por mais que não tivesse morrido junto com meu pai. Em um
hospital especializado em sua condição psiquiátrica, eu recebia notícias dela
por uma enfermeira e não voltei a vê-la pessoalmente, por não ter recursos
próprios para viajar.

A tristeza poderia ser a pior das doenças degenerativas.

— Clari! — Arlene me chamou. Virei o rosto na sua direção, ela


estava sorridente demais para uma sexta-feira agitada. — Clari do céu!

— Apenas na terra, Arlene — respondi com diversão, quando ela


parou ao meu lado e colocou as mãos nas coxas. — Precisava correr tanto?

— Sim. Não é todo dia que vemos um gato fardado, cheio de


sotaque e perguntando por você. — Ela se endireitou e franzi o cenho. —
Achei que você iria virar freira, nem para os barzinhos você vai. Mas agora
entendi todo o celibato.

— Tá doida, mulher? Já falei que não chove dinheiro no meu colo.


Irei mês que vem, quando meu primeiro salário sair. — Pisquei o olho e bati
palmas, animada.

— Então, quem é o bonitão?

Rebobinei a sua fala e a imagem de Davi Lucca veio à minha mente


ao pensar em um homem fardado bonito. Apesar de reviver muitas vezes o
momento em que o Príncipe da Grã-Aurora me havia salvado do Atlântico,
em meus sonhos, eu acompanhava as notícias do meu país de origem e sabia
que ele estava cada vez mais lindo.
Alimentei um amor platônico na adolescência depois do que
aconteceu, que logo evaporou, quando eu comecei a me apaixonar uma
segunda vez pelas tartarugas. Se me perguntassem, eu preferia viver apenas
com elas, os seres humanos eram complexos demais, começando por mim
mesma.

Tinha amigos, lidava muito bem com meus colegas de faculdade,


mas como não saía, para não gastar o dinheiro do Príncipe com futilidades,
eu era a recatada da turma.

Já estava acostumada com aquele título, afinal, ninguém era meu


amigo de verdade. A única pessoa que se importava comigo e tinha uma
conexão mais profunda – por mais superficial que fossem as conversas por
mensagens de texto – era Davi Lucca.

— Clari! — Estralou os dedos na minha frente e pisquei várias


vezes. — Escutou o que eu falei?

— Tem um homem fardado me procurando? — perguntei,


pausadamente.

— Lindo, com sotaque e fardado. Meio areia, meio tigre. Se foi por
ele que você se manteve careta até hoje, super te entendo. Senão, me
apresenta. — Abanou o rosto de forma exagerada.

— Onde ele está?

— Na recepção do administrativo. Você acha que corri por quê?

— Obrigada.
Aproximei-me dela, dei um beijo em seu rosto e corri na direção
que ela tinha vindo. Meu coração acelerava tanto pelo esforço quanto pela
emoção. Sabia que as fotos oficiais, publicadas nos sites de notícias, não
fariam jus aquele homem imponente.

Eu o tinha visto molhado, com semblante acolhedor e braços


reconfortantes. Naquele dia do resgate, eu o via como um irmão mais velho,
mas depois da morte do meu pai, estava impossível encará-lo sem me
constranger. Meu interesse por ele mudou aos poucos e, além da nossa
diferença de idade, vivíamos em mundos diferentes. Um príncipe e uma
plebeia, era tão surreal quanto o conto de fadas com o mesmo enredo.

Sua relação comigo era apenas um ato de caridade. Os meus


sentimentos, desde que nunca revelados, poderiam ser mantidos em segredo.

Cheguei no prédio administrativo do projeto, invadi a recepção e vi


Davi Lucca se virar em minha direção. Meu corpo se arrepiou apenas por tê-
lo no mesmo ambiente em que eu estava. Parecia ter mudado o corte de
cabelo e aumentado os músculos do corpo, além de estar ainda mais bonito.

Seu semblante sério foi sendo substituído por um sorriso singelo,


que me transformou naquela adolescente apaixonada pelo seu salvador.
Caramba, eu não poderia agir com tanta imaturidade, o Príncipe não merecia
ter que lidar com um segundo surto da minha parte.

— Clarice. — Ele caminhou e parou na minha frente. A vontade era


de o estapear novamente, uma vez que eu mandava mensagens de áudio, fotos
minhas e o General se limitava às paisagens e textos curtos. Eu não estava
preparada para ouvir meu nome em seus lábios, os quais encarava com
desejo. — Você cresceu.
— Mandei fotos para acompanhar a evolução, diferente de certas
pessoas. — Meu rosto esquentou e dei um tapa de leve no seu braço. —
Também cresceu, General.

— Estou fazendo exercícios dobrados. — Franziu o cenho


preocupado e sorri. — Você está bem?

— Sim. — Olhei ao redor e vi muitos pares de olhos curiosos.


Além do militar estrangeiro, estávamos falando na nossa língua materna.
Muita atenção para quem queria passar despercebida, como eu. — O que
está fazendo aqui?

— Tem algum lugar que podemos conversar?

Era óbvio que ele viria, apenas por emergência. Parte da minha
emoção se esvaiu, mas continuei sorrindo, para disfarçar a decepção.

— Olá, moço. Sou Arlene e quero saber quais são suas intenções
com minha amiga. — A querida parceira de trabalho surgiu ao meu lado e
segurou em meu braço. Davi Lucca conhecia o idioma, por isso, eu
precisava sair dali.

— Depois conversamos, Arlene. — Arregalei os olhos para ela,


implorando para que não continuasse com aquela piada.

Peguei no pulso do meu benfeitor, puxei-o para fora da recepção e


longe dos olhares curiosos.

— Está de carro? — perguntei, indo para o estacionamento.

— Sim. Aquele. — Apontou para um carro discreto e popular.


Dei a volta no veículo, entrei no passageiro e ele ficou atrás do
volante. Toquei no painel central, coloquei a rota até o meu apartamento e
liguei o rádio em som baixo, para me ajudar a não surtar.

“A parte mais escura de mim

Eu vou queimar até as cinzas

Queimar até as cinzas

Deixe o fogo me limpar

De tudo que meu passado é

Vou queimar até as cinzas

Queimar até as cinzas”

Citizen Soldier – The Cage

— Meu Deus, não tem outra música? — resmunguei enquanto


encontrava uma estação menos agitada. O riso baixo que Davi Lucca soltou
não ajudou a me acalmar. — Pare.

— Não precisa ficar nervosa, Clari. — Encarei-o com o cenho


franzido. — É assim que as pessoas te chamam aqui?

— Um apelido, mas você pode me chamar como sempre.


— Gostei de Clari. — Ele respirou fundo e ficou sério. — Apesar
do assunto que me trouxe aqui demandar atenção, quero que você saiba que
continua sob os meus cuidados. Nunca iria te expor.

— Sobre isso, eu quero te livrar desse fardo no mês que vem. —


Desisti de mexer no som e cruzei os braços. — Consegui um emprego fixo,
vou viver minha vida sem precisar da sua caridade.

— Nunca foi sobre isso — rebateu, seco. — Veja bem...

— Não quero brigar, desculpa. Estou me sentido a adolescente


surtada daquela excursão traumática. Só estou um pouco nervosa, por você
ter vindo sem avisar. Ninguém sabe que eu tenho contato com um Príncipe e
prefiro que fique assim. — Dei dois tapinhas no seu braço e respirei fundo
várias vezes. — Falando nisso, cadê seus seguranças?

— Minha vinda é extraoficial e consigo me defender.

— Você não é highlander — ironizei, revirando os olhos.

— Tenho dois nos acompanhando à distância, é o suficiente. Não


vou me demorar muito no país. Preciso seguir para uma missão.

— Entendi. — Apontei para o prédio mais à frente. Pelo visto,


apenas eu tinha sentimentos por aquele homem. Mesmo que nossa relação
não fosse romântica, acreditava que Davi Lucca nunca me veria além de uma
amiga. — É naquele azul. Pode entrar no estacionamento, eu libero a sua
entrada com o porteiro.

Ele fez como instruí, estacionou no subsolo e me acompanhou até o


andar do meu apartamento. Iria ouvir o que ele tinha para dizer e encerraria
nosso vínculo, para sempre.
Mas, como eu sempre me enganava com previsões, aconteceu
exatamente o contrário.
Capítulo 3

Abri a porta do meu apartamento com o coração agitado. Nunca recebi


ninguém no meu canto, eu tentava preservar os gastos que o General tinha comigo.

— Por que está nervosa? — Ele me assustou se aproximando das minhas


costas.

Dei um pulo de leve, fui até o sofá e me sentei como um robô. Estava dura,
com a cabeça cheia de teorias e sonhos.

— Eu? Imagina. — Forcei o sorriso.

Davi Lucca olhou ao redor descontente. Foi até mim, se acomodou ao meu
lado e me desafiou com o olhar. Eu tinha feito algo de errado e não sabia o que era.

— Você gosta tanto de fotos, me manda várias, mas não há nenhum porta-
retratos. — Inclinou a cabeça para o lado, me analisando. — O que não me contou?

— Que eu saiba, você que veio até o Brasil para conversar pessoalmente
comigo. — Fiz uma careta e minha garganta queimou pelo ácido que o estômago
produzia.

— Sim. Temo que algum dos inimigos da família resolveu me usar como
bode expiatório para causar um escândalo. — Estendeu a mão e coloquei a minha em
cima da dele no automático. Céus, eu não me recordava o quanto era revigorante
sentir o calor da sua pele.

Há quatro anos, eu era apenas uma adolescente deprimida e com baixa


autoestima. Naquele momento, eu sabia como as relações funcionavam, mas não
poderia me permitir sonhar demais. Além do General do exército da Grã-Aurora, ele
era um dos herdeiros da coroa. Como seu irmão, ele deveria ter um casamento
arranjado o aguardando.

Davi Lucca alisou com o polegar o dorso dos meus dedos. Remexi as
pernas e me levantei, eu era apenas um caso de caridade, não uma candidata a
amante da Alteza Real.

— Poderia me dar o seu celular? — pediu baixo, sua voz estava rouca e
sensual demais para a minha imaginação fértil. A mão dele continuava com a palma
para cima, ele não queria me tocar, estava apenas exigindo algo de mim.

— O que aconteceu? — O nervosismo tomou conta das minhas ações. Tirei


o aparelho do bolso, desbloqueei-o e entreguei-lhe com as mãos tremendo. — Sei
que já abusei da sua generosidade. Mês que vem recebo meu primeiro salário e já
estou com tudo acertado para morar em outro lugar, com meu próprio dinheiro.

— Entendo. — Ele acenou afirmativo enquanto olhava meu telefone. —


Espero que você ainda se lembre da nossa última conversa, antes de você pegar o
avião para vir à América.

— É uma bolsa de estudos, para compensar o dinheiro gasto com a saúde


do meu pai. Você faria para qualquer um que estivesse na mesma situação. Mas,
Davi Lucca, eu não sou a única que tive um pai doente por um longo tempo e
precisou de ajuda extra oferecida pelo governo. — Mordi o canto do lábio e cruzei
os braços, ele ainda estava mexendo no meu aparelho. Por mais que não tivesse nada
a esconder, temia que ele visse o histórico de navegação do browser, só tinha
notícias sobre Grã-Aurora.

— Aqui. — Seu olhar sério para a tela do celular me congelou no lugar. —


Há um aplicativo espião no seu celular. Vou providenciar outro para você, mais
seguro. Espero que tenha backup das suas coisas, não poderemos correr mais riscos.
— Antes que eu pudesse contestar, ele desligou o aparelho, tirou o chip e o guardou
no bolso.
— Fiz merda — sussurrei, assustada, ainda sem entender o que realmente
estava acontecendo.

— Deve ter aberto algum e-mail suspeito ou clicado em um link de SMS. —


Apesar de sereno, eu o sentia me culpando por alguma coisa que o afetava. —
Precisamos conversar sobre outra coisa.

— Já estamos falando. — Joguei os braços para o ar e andei de um lado


para o outro. — Alguém estava me espionando, achou que eu era algo íntimo seu e
está estragando seu futuro casamento.

— O quê?

— É óbvio. — Parei na frente dele, que estava confuso. — O Rei acabou de


se casar, você é o próximo da linha de sucessão. Estou estragando tudo, você nunca
deveria ter me ajudado naquele dia.

— Está assistindo muitos filmes, Clarice. — Ele me puxou para que eu me


sentasse ao seu lado no sofá. — Apesar de não haver problema em um auxílio
extraoficial a um dos cidadãos do país, enfrentaríamos um período de espera de
alguns meses até a aprovação da sua bolsa pela comissão educativa. O dinheiro que
te repasso vem do meu bolso, mais precisamente, do salário que eu recebo como
irmão do Rei Arthur Fiori. Tenho outras fontes, mas optei por essa, por estar mais
acessível naquele momento.

Ergui as sobrancelhas com preocupação sobre o rumo daquela conversa. No


final, eu realmente era um ato de caridade, não uma estudante premiada.

— O erro foi meu, em querer resolver ao invés de seguir os trâmites legais.


Você era menor de idade, estava sofrendo e eu só pensava no quanto você lembrava
a minha irmã.

— Estou longe de ser a Princesa Helena. — Bufei, me afastando para o


mais distante no sofá dele. Odiava quando me comparava àquela mulher perfeita e
de cristal. Além de nos colocar na zona fraternal, eu estava longe de ser graciosa
como ela.

— Não é momento de ser teimosa, Clarice. Preciso da sua colaboração.

— Já tem. — Olhei ao redor tentando não chorar por conta do seu tom de
comando. — Encerramos nosso vínculo hoje. Vou fazer minhas malas e dormir
alguns dias na casa de Arlene, até a quitinete liberar. Eu dou um jeito.

— Não estou falando sobre o auxílio. Não pretendo parar de te ajudar.

— Vai me bancar pelo resto da vida, como uma concubina? — Coloquei a


mão na boca e me levantei com os olhos arregalados. Que escândalo, tudo fez
sentido assim que as palavras saíram da minha boca. — Eu sinto muito — murmurei
contra meus dedos.

— É isso. — Olhou para os seus sapatos e passou as mãos no cabelo. —


Ninguém da minha família sabe sobre você. Há um movimento contra a monarquia
acontecendo no país e o prato do Rei já está cheio o suficiente para lidar com um
segredo do General.

— O que eu preciso fazer? — Voltei a me sentar com a garganta trancada e


o estômago revolto. — Eu nunca deveria ter pulado daquele navio. Você não tinha
que ter ido atrás de mim. Que droga.

— Não me arrependo de te ajudar. — Seus dedos tocaram meu queixo e


encarei o militar. Os traços fortes e olhar firme, ao mesmo tempo que acolhedor, me
acalmaram. — Sua felicidade em realizar o sonho de cuidar das tartarugas é uma das
poucas coisas que me fazem dormir bem à noite. Amo o meu posto e estar de farda,
mas não há dia fácil.

Olhei para seus lábios, depois voltei para os olhos e senti meu rosto
esquentar. O que um homem como aquele iria ver em uma garota como eu? Sonhei
demais com uma ilusão e estava piorando a situação com os meus sentimentos
transbordando. Se não bastasse seus inimigos saberem que ele me bancava, imagine
ter um relacionamento em segredo com uma plebeia?

— Bom. — Ele piscou e se afastou de forma polida, como sempre fazia. —


Preciso conter os danos. Dispensei intermediários na nossa relação, então, vamos
juntos em busca de outro apartamento e faremos uma nova conta para receber as
transferências.

— O que eu disse era sério, Davi Lucca. — Levantei-me e cruzei os braços.


— Quero seguir com minhas próprias pernas, chega de dívidas. Estou formada, com
um trabalho legal e pessoas que gostam de mim. Ainda não sei como retribuir o que
fez, você realmente me salvou. Meu pai morreu e minha mãe está seguindo o mesmo
caminho. Estou sozinha no mundo, sem família e quero ter forças para continuar por
mim. Se não aceitar minha gratidão, farei com que a Grã-Aurora receba.

— Tem um coração nobre — constatou, hipnotizado. — Mas saiba que você


já fez sua parte, honrou o que recebeu ao se permitir viver uma nova vida. Prosperou
e esse é todo o pagamento que preciso.

Fiquei envergonhada novamente e olhei para a parede. Além do meu


orgulho, eu tinha que engolir meus sentimentos. Inalcançável, era isso que o General
Fiori era para mim.

— Eu não quero mais o seu dinheiro, então, quem te ameaça, não terá mais
argumentos.

— Ele tem as conversas, suas fotos e os extratos bancários. O passado não


pode ser apagado, tenho que encontrar uma explicação. Mas, primeiro, quero
garantir a sua segurança. Depois, eu lidarei com minha imprudência.

— Sei me virar, pode se preocupar apenas com o seu.

— Está me pedindo para ignorar algo importante da minha vida. — Virou e


seguiu para a cozinha. — Venha, me mostre onde estão as coisas na cozinha, vou nos
alimentar.

O homem pretendia cuidar de mim, mais uma vez, e minha boca não tinha
força para recusar.
Capítulo 4

Era uma sensação diferente, que me fazia esquecer até dos


compromissos. A intenção era ficar apenas vinte e quatro horas no país, para
garantir a segurança de Clarice, mas eu nem tinha começado a executar o
plano.

Por mais que meus homens não me esperassem para a missão, eu


precisava estar lá e investigar. Quem me ameaçava tinha culhões, mas não
hombridade, porque envolvia uma pessoa inocente na sua armadilha contra a
monarquia.

Olhei para o meu lado, vi o perfil pequeno e delicado de Clarice


cortando os temperos para uma macarronada improvisada. Eu mexia a carne
moída na panela e me recordava de invadir a cozinha do palácio para ajudar
a cozinheira em suas atividades.

Cada vez mais envergonhada, ela não era a mesma menina confusa e
deprimida de quatro anos atrás. Acompanhei sua evolução à distância, mas
nada se comparava a conversar pessoalmente. O contato da sua pele com a
minha, os olhares e cheiro estavam mexendo com algo que não imaginava
que poderia acontecer.

Ela tinha a idade da minha irmã e era daquela forma que eu


precisava vê-la. Carinho fraternal, nada mais. Em minha vida dedicada a
servir, não cabiam relacionamentos amorosos.
Estar com Clarice era adequado, exatamente por conta do nosso
vínculo ser limitado pela amizade. Nada mais.

— O cheiro está bom — ela comentou, tentando disfarçar seu


nervosismo. As pessoas tendiam a ficar mais tímidas, por conta do meu
posto e títulos. O convívio fazia com que essas atitudes diminuíssem, mas
não com Clarice. Havia algo extra que eu não conseguia identificar.

— Essa não era a carne que eu tinha em mente, mas ficará boa. —
Dei espaço para que ela se aproximasse e colocasse os temperos na panela
através da tábua. — Você corta bem pequeno.

— Aprendi com minha mãe. Meu pai reclamava, porque não sentia
o gosto e o almoço era sempre discussão. — Colocou os utensílios na pia e
abriu a torneira. — Enfim.

— Há um tempo você não fala deles comigo.

— É dolorido, sabe? — Sorriu com tristeza e começou a lavar a


louça. — Tem dias que acordo mais triste, mas a grande maioria, estou feliz,
porque tenho minhas tartarugas para cuidar.

— Que bom.

— Devo muito a você. — Ela fechou a torneira e se virou, enquanto


a panela chiava a cada movimento que eu dava. — E pensando nisso que eu
queria te ajudar. Por conta do meu celular, de um erro meu, estão te
coagindo.

— Não há culpa, quando o responsável sempre fui eu.


— Pois é, Davi Lucca, mas eu deixei de ser menor de idade há
muito tempo. Me deixe assumir as responsabilidades das minhas falhas.

— Clari...

— Posso fazer uma declaração pública. Eu conto minha história,


tenho muitos colegas de turma que eternizaram aquele dia me chamando de
sereia do atlântico, além do atestado da minha condição clínica. Todos
lembrarão e não vão questionar seus atos, vou me colocar como pobre
coitada e você será meu salvador.

— Antes fosse simples. Estamos falando do dinheiro do povo e uma


ajuda não oficial. Vivemos de aparências e bons costumes.

— Mas não é o seu salário? Você faz o que quiser.

— Sim, mas, novamente, se fosse fácil, eu já teria resolvido. —


Apontei para o molho de tomate pronto e ela me entregou. — Estou pensando
na frente, Clarice. Quem me ameaça quer fazer com que você pareça uma
sugar baby, um segredo perverso entre a realeza e uma plebeia. Estaria tudo
bem, se não me colocasse como um pervertido, além de manchar sua
reputação.

— Eu não pretendia voltar para Grã-Aurora mesmo. — Deu de


ombros.

— Esse tipo de notícia gera repercussão global. Todos saberão que


eu mantinha uma adolescente como minha... que palavra você usou?

— Concubina. — Tampou o rosto com as mãos e se afastou. — Eu


faço a declaração, foi apenas uma ajuda e estou disposta a pagar de volta.
— Não vou aceitar seu dinheiro.

— Nem eu aceito que se prejudique por minha causa. — Empinou o


nariz e me encarou com raiva. Nem precisava daquele gesto para admirar
sua bravura. — Como pretende resolver?

— Não se preocupe. Primeiro, vou te alimentar, depois iremos


buscar outro lugar para que você more. Amanhã, vamos ao banco e
compraremos um celular seguro.

— E você vai embora.

— Sim. Vou investigar a fundo e o fazer pagar.

Desliguei o fogo do molho, depois, o da panela do macarrão.


Clarice tinha se sentado em uma das cadeiras da pequena mesa, estava tão
pensativa quanto eu. Ajudá-la foi o certo a se fazer, em todos os momentos.
Além do coração bondoso, suas atitudes eram nobres, mesmo que
desnecessárias.

Escorri a água do macarrão, misturei com o molho e levei para a


mesa. Sentei-me ao seu lado, estiquei o braço para minha mão tocar seu
joelho e aquela sensação estranha me dominou novamente.

Ela se arrepiou, mas não fez nenhum movimento para afastar a


conexão. Esperei que erguesse o olhar para o meu e sorri de forma cordial,
para acalmá-la. Aquela preocupação era apenas minha, não dela.

— Cuidarei de tudo, você está segura.

— E quem te ajudará, se não eu?

— Não vou te expor.


— Eu não me importo de ser a vilã. — Ela se iluminou. — Já sei,
diga que eu também o ameaçava por algo.

— Clarice, pelo amor de Deus, você pode ir para a cadeia. É isso


que acontecerá com quem está me coagindo.

— Droga, pensei que mentiras não nos levavam para a prisão.

Soltei seu joelho e ela pegou meu prato para nos servir. A fumaça e
o cheiro da comida, misturados ao cítrico e salgado de Clarice me fizeram
ter pensamentos impróprios.

Eu era muito discreto com meus encontros e, focado em alcançar


meu posto de General, acabei negligenciando esse lado da minha vida. A
abstinência estava me tornando ainda mais imprudente, precisava resolver
esse assunto antes de seguir para a missão.

— Vi que seu irmão se casou — ela comentou, se servindo e


assoprando. — Estava tudo lindo nas fotos, apesar do Rei Arthur nunca
sorrir.

— Sim. A responsabilidade de governar um reino esteve em seus


ombros desde sempre. Ele é justo e coerente.

— É feliz?

— Terá que perguntar a ele, mas da minha parte, posso dizer que faz
o seu melhor, todos os dias. — Ergui o garfo com macarrão e o coloquei em
minha boca. — Hum.

— Muito bom mesmo — murmurou com a boca cheia. — Desculpe.


— Como imaginei, não é uma carne nobre, mas atende a
necessidade: fome. — Rimos baixo. — Espero que continue aceitando meu
auxílio, para que nunca te falte nada.

— Sei me virar, Alteza Real. — Desafiou-me colocando mais


comida na boca. Depois que mastigou, me encantou com seu sorriso genuíno.
— Estava tão acostumada a falar com você por mensagens que, tendo-o ao
vivo, às vezes, sinto que é um estranho. Mas ao mesmo tempo, é alguém com
quem falo diariamente.

— Sei do que está falando — concordei com a cabeça, eu


compartilhava daquela emoção.

— E por mais que ficarei triste com esse rompimento, será melhor
para nós dois. — Ela pegou o copo com água e tomou um gole. — Pode ir
embora, eu vou me virar e você nunca mais saberá de mim.

— Não.

— Você disse que do seu lado, saberá lidar. Estou sendo um peso
muito grande para você carregar, deixe que eu faça o mesmo por aqui. —
Voltou a comer.

— Clarice, não estou negociando com você — rebati com meu tom
seco e ela se encolheu. — Será do meu jeito.

— Vai me expor e salvar sua pele ou prejudicar sua família e me


proteger? — Soltou os talheres e me enfrentou. — Está claro o que deve ser
feito e eu estou de acordo. Não me importo.

Não sei se foi o assunto do casamento do meu irmão, ou o


desespero que eu sentia ao perceber que eu nunca mais receberia uma foto
de Clarice com seu sorriso e sua paixão. Minha mente foi longe, fez cálculos
e criou cenários para uma solução rápida.

Foi impulsivo e irracional. Como minha mãe dizia, eu tinha agido


com meu coração e o poder dele era imensurável.

— Um noivado, é isso. Falarei com o Rei e minha família, você


será apresentada como minha noiva prometida.
Capítulo 5

O choque daquela proposta só não era mais intenso que a imagem


dele comigo em um altar. Posso nunca ter sonhado em me casar, mas criar
uma mentira, além das minhas ilusões, parecia ter ultrapassado alguns
limites.

— Já aconteceu em outras monarquias. Para que você pudesse


cursar sua faculdade sem o assédio dos paparazzi, mantivemos o noivado em
segredo. Eu te salvei, mantivemos contato e só depois dos seus dezoito anos
que começamos a nos envolver. Naquela época, sua mãe ainda estava sã e
temos até uma foto antes de você ir até o aeroporto, lembra?

— U-hum — respondi em choque, ele estava considerando, de


verdade, aquela mentira.

— A diferença de idade será um grande problema, mas tenho


colegas Generais que se mantém com valores tradicionais. Eu te salvei,
criamos um vínculo e estamos envolvidos. Teremos a festa de noivado,
alguns eventos sociais, que eu já tenho agendados, depois anunciamos a
separação, por conta do relacionamento à distância.

— Sim.

Ele franziu a testa e me encarou, percebendo o incômodo que eu


estava com aquela situação. Não tinha nada a ver com ser ruim estar ao lado
dele, mas que não seria real.
— Seria uma alternativa, mas eu nunca pediria isso a você, Clarice.
— Ele voltou a comer. — Pensei alto.

— Eu vou fazer.

— Sei que está disposta a retribuir sem medidas, mas não será
necessário. — Ele tirou o celular do bolso e encarou a tela. — É meu irmão
Vinicius, está perguntando em que missão me enfiei, que esqueci do nosso
compromisso.

— Um dos gêmeos.

— Isso. O que adora jogo de xadrez. — Ele aproximou o celular da


boca. — Tive uma emergência, logo nos falamos. Reserve outro horário na
sua agenda para irmos ao Capadócia.

— Aquele pub elegante à beira-mar? — perguntei quando guardou o


aparelho. Imaginá-lo tão poderoso em um lugar cheio de pretendentes me
deixava em surto.

— Sim. Estou precisando de um tempo para mim, depois de voltar


da missão. — Apontou com o garfo para o meu prato. — Vai esfriar.

— É sério, Davi Lucca, aceito ser sua noiva de mentira. — Ajeitei-


me na cadeira e estufei o peito. — Acho que é a melhor solução. Assim,
pago minha dívida com você e podemos seguir nossas vidas sem a sombra
do passado nas nossas costas.

— Eu nunca deveria ter falado sobre isso. Estava pensando no meu


irmão, que teve o casamento arranjado pelo nosso pai e o quanto uniões
podem ser parte de um plano maior. A estratégia, transvestida de amor,
sempre foi a melhor arma entre a nobreza.
— Exatamente por isso, acho que sou a melhor pessoa para ser sua
parceira de farsa. Sou confiável, será breve e eu dou conta.

— Vai perder seu emprego aqui. Terá que voltar comigo e enfrentar
não só a mídia, mas a minha família. Você será julgada, eu não perdoarei
aqueles que tornarem nossa união um escândalo maior do que já é.

— A quem eu vou envergonhar, Davi Lucca? — Sorri com


arrogância, pensando nos meus antigos colegas de turma. — Sou sozinha e
ser a ex-noiva do irmão do Rei abrirá algumas portas. Tudo por interesse.

— Você não é esse tipo de pessoa, está forçando a situação.

— Sua vez de parar com a teimosia e ser prático. — Voltei a comer,


por mais que não sentisse o sabor da macarronada. — Você confia em mim,
certo?

— Não, Clarice — rebateu, seco.

— Que bom que não sou um de seus subordinados. Você deu a


ideia, lide com ela. — Coloquei mais comida na boca e o enfrentei,
mastigando de forma exagerada.

— Se descobrirem que tudo é armação, será pior para nós dois.

— Nunca saberão. Você vai contar? — Respirei fundo para jorrar


meu coração para aquele homem de honra. — Gosto de você e não tem nada
a ver com o que fez para mim. Admiro seu trabalho, sua paixão pela carreira
militar e o quanto se dedica pelo bem coletivo. Não será sacrifício dizer que
sou apaixonada por você, na verdade, é fácil demais.
— Está confundindo as coisas, eu nunca tocaria um dedo em você.
Esses sentimentos não são reais — ele se levantou e me encarou com frieza
—, você é como uma irmã e não a usarei para me livrar das consequências
do meu ato.

— Uau. — Controlei a vontade de chorar com um riso forçado. —


Sei que não sou digna de algo real, mas estou pronta para uma mentira. Para
você é fácil, não tem dívida com ninguém. Essa seria uma forma de pagar
sua benfeitoria, mesmo sabendo que nunca equilibrará a balança. Mas,
atenuará. — Eu me levantei com o resto de dignidade que existia e o encarei.
— Se essa é a sua palavra final, eu gostaria de ficar sozinha.

Ele movimentou os lábios, mas não emitiu som. Vestia uma


armadura emocional que me fez reconhecer que eu não o conhecia de
verdade. Conversas de texto e troca de fotos não construíam uma relação.

Além de ser da realeza, ele era treinado para enfrentar todos os


tipos de inimigos. O jovem General não iria perder seu tempo comigo, por
mais que em algum momento, tenha cogitado.

— Precisamos resolver os outros assuntos.

— Não. Você cuida da sua vida e eu faço o mesmo com a minha. —


Dei dois tapinhas no seu tórax e me virei para a mesa, para pegar nossos
pratos e colocar na pia. — Sou grata por tudo o que fez por mim e te ajudar
seria uma das formas que me tornaria digna do seu gesto. Mas não tem
problema, encontrarei outro caminho.

— Pare de querer me pagar de volta, eu não preciso.


— Que bom, General. — Pressionei os lábios e voltei para a mesa
para pegar os copos. — Com licença.

Ele saiu, mas percebi que não foi embora do apartamento. Abriu a
porta da varanda e ficou lá, naquela posição, enquanto eu limpava a cozinha.

Algumas lágrimas escorreram e a razão foi acalmando meu coração.


Era o melhor a ser feito, cortar relações e deixar que ele lidasse como
queria. Sabia que seria protegida, não precisava me preocupar com nada,
mesmo que a culpa quisesse me desestabilizar.

Eu nunca deveria ter pulado daquele navio. Mas, eu não conseguia


me arrepender, porque ele tinha sido a única pessoa que me deu conforto,
quando meu pai morreu. Fui forte para a minha mãe. Os amigos do colégio
não tinham coragem de se aproximar, depois de tanto bullying.

A sereia do atlântico, Clarice, precisou criar escamas próprias e


nadar para longe. O Brasil foi o meu recomeço, mas uma parte do meu
coração sempre estaria na Grã-Aurora.

Esperava que ele fosse embora para que eu pudesse pensar de


forma racional. Fui para o meu quarto, tomei um banho demorado e vesti o
meu pijama. Precisava assistir alguma coisa antes de dormir, mas sem
celular, eu precisaria lidar com minha nova realidade.

Sozinha.

Fui para a sala e me surpreendi com Davi Lucca de pé, me


esperando. Com os braços cruzados e seriedade, do jeito que eu estava
sentimental, se ele mandasse, eu obedeceria.
Seu olhar viajou pelo meu corpo e me lembrei que não usava nada
por baixo. Meu rosto esquentou, recordei do dia que em que me esqueci de
passar protetor solar e aprendi a dormir sem roupa íntima, para não
machucar a pele lesionada.

— Pensei que tinha ido embora. Desculpa, não estou vestida


apropriada. — Cruzei os braços e foi pior, o olhar dele veio para os meus
seios. — Merda. — Fiquei de costas e dei passos para o meu quarto.

— Noivos. — Parei de andar. — Será por pouco tempo, Clarice.


Respeitarei seu espaço e sua privacidade, lidaremos com o público e
encerraremos.

Inspirei profundamente em busca de controle. Tinha acabado de


firmar acordo para ser a noiva de mentira do General. Um lado de mim
queria surtar, o outro, estava em êxtase por realizar uma fantasia.

Virei-me devagar, fui até ele e abracei sua cintura, pegando-o de


surpresa. A mulher que conseguisse alcançar o coração desse homem, seria
afortunada. Enquanto ela não aparecesse, tiraria uma casquinha ao mesmo
tempo que o ajudaria.

— Obrigada por me deixar ajudar. — Afastei-me com um sorriso


que era impossível de conter.

— Ainda não gosto dessa opção, mas será o melhor para nós dois.
— Apontou para o quarto e tentou não olhar para o meu corpo. — Vá dormir,
amanhã faremos todos os ajustes.

Fui para o meu quarto, fechei a porta e me joguei na cama. Suspirei


apaixonada e me permiti sonhar com a realeza. A gata borralheira nunca
seria Princesa, se não fosse em um conto de fadas.

Estava prestes a ter um gostinho do que poderia ser a vida ao lado


do General Fiori. Tinha prazo de validade e seria muito bem aproveitada,
sem segundas intenções.
Capítulo 6

Meu irmão deveria estar acordando, eu não calculei o horário de acordo


com o fuso da Grã-Aurora, minha cabeça estava uma bagunça. Ainda no apartamento
de Clarice, com ela dormindo no quarto enquanto eu me mantive na cozinha, liguei
para o Rei Arthur.

— Alô — atendeu de pronto, já deveria estar trabalhando.

— Vossa Majestade, preciso tratar de um assunto confidencial.

— O que foi, Davi? Pode falar, a linha é segura e estou sozinho. — Seu
tom tinha uma mescla de repreensão e preocupação.

— Depois questione meus motivos. Recebi uma ameaça, com relação a uma
benfeitoria que tenho feito há quatro anos, para uma jovem mulher. Ela não mora
mais na ilha, nosso contato era estritamente fraternal e sigiloso.

— Nenhuma mentira dura por muito tempo.

— Foi omissão.

— Continua sendo mentira do mesmo jeito. — Soltou o ar com força. — Já


sabe quem está te coagindo?

— Não, mas vou descobrir. Saí em viagem para resolver parte do assunto.
Querem manchar a monarquia com um escândalo e me impedir de participar de uma
missão.

— Tem que resolver o quanto antes, eu não preciso de outro assunto para
me preocupar.
— Enquanto descubro quem está por trás, eu e Clarice iremos assumir um
relacionamento público. Ficou oculto, para evitar o assédio da mídia.

— Esperava isso de Henrique ou Vinicius, não de você, Davi. O General


Fiori, exemplo de comportamento e honra, está fora do seu padrão. Isso não é
você. O que está acontecendo?

— Depois falo dos meus motivos. Só queria que você soubesse da minha
estratégia, porque para todos os outros, será real.

— Mentir para a Rainha Elizabeth?

— Sabe que é impossível, nossa mãe não carrega o título apenas por ter se
casado, ela sempre o mereceu. Mas... eu preciso encerrar esse assunto na minha
vida. Ela quer me ajudar de alguma forma, mesmo que não precise.

— Então, arranjou um noivado de mentira? Eu não sabia que você se


importava com esse tipo de coisa.

— Nem tenho vocação para me casar, como você, mas é uma saída.

— Confia nela?

— Com a minha vida. Ela...

— Falaremos mais quando voltar.

— Obrigado, Arthur.

— Não me agradeça ainda. Estamos enfrentando muita pressão e você irá


me ajudar a conter os danos. Lembre-se, ela é uma plebeia se envolvendo com um
Príncipe, não conseguirá livrá-la do assédio da mídia.

— De acordo. — Fiz um breve silêncio. — Sinto muito, eu não deixarei que


minhas escolhas prejudiquem nossos irmãos e mãe.
— A minha esposa também faz parte.

— Sim, com certeza. Até mais.

Encerrei a ligação e soltei o ar com força, com o apoio do meu irmão mais
velho, eu conseguiria continuar com aquela armação.

Acostumado a estar em alerta e tendo poucas horas de sono, andei pelo


apartamento, fiquei no sofá e divaguei sobre todos os cenários que poderiam dar
certo e errado. Ao sair do país, a vida de Clarice iria mudar e não sabia se ela tinha
noção daquilo.

A porta do quarto fez barulho e, do sofá, observei-a caminhar lentamente


para a cozinha. Ajeitou a postura e arregalou os olhos quando me viu, tentando
ajeitar o cabelo bagunçado.

— Você dormiu aqui?

— Ainda estou acordado. Fez sua mala? — Apontei para o quarto. — Pode
deixar que eu preparo o café da manhã, vi que tem ovos na geladeira.

— Hoje? Agora? — Bocejou e ajeitou o pijama. — Davi Lucca, eu preciso


de algumas horas, para avisar o projeto sobre a minha ausência. Estou sem celular.

— Tudo bem, vamos juntos.

— Não vai dormir? — Fez uma careta.

— Estou bem. Você, vá trocar de roupa.

Ela voltou para o quarto e eu me aloquei na cozinha para preparar o


desjejum. Não tinha intenção de atrapalhar sua rotina, mas como aceitou a proposta e
ainda insistiu, seria do meu jeito.

Meu celular tocou e o ajeitei no meu ombro enquanto mexia os ovos na


panela.
— Oi, mãe.

— Meu filho, está em missão?

— Sim e não. Estou ocupado no momento.

— As Senhoras do clube de leitura requisitam sua presença no encontro


de sábado. Elas gostam da sua companhia e o quanto dá atenção para as nossas
conversas.

— Estarei indisponível por um tempo. Por que não chama Henrique ou


Vinicius?

— O único que tem paciência é você, Davi Lucca.

— Helena também tinha.

— Sim, mas ela está longe focada nos estudos. Tudo bem, deixemos para
outro dia.

— Então, mãe. Talvez seja necessário cancelar o encontro. Tenho


novidades, quando chegar, conversaremos.

— Do que se trata?

— Já falei com Arthur, não se preocupe.

— Ou seja, envolve a família e o destino de Grã-Aurora. O que aconteceu,


meu filho? Sempre tão prudente e cauteloso, espero surpresas dos seus irmãos
mais novos.

— Você e o Arthur combinaram, não é mesmo? — Desliguei o fogão e me


virei, Clarice estava na porta me observando. Ela parecia cansada e estava com uma
mala ao seu lado. — Estou voltando para a casa. Deixe a mente aberta.
— Se o Rei está de acordo, não serei eu a contrariar. Fique em segurança,
Deus te abençoe.

— Obrigado. — Encerrei a ligação e guardei o celular no bolso. — Só


isso?

— Todas as minhas roupas e assessórios estão aí. — Ela foi até o armário,
tirou dois pratos e os colocou na mesa. — Sério que não quer dormir enquanto eu
resolvo sobre o meu afastamento?

— No voo de volta eu faço isso.

— Você parece uma máquina. — Abriu a geladeira e me sentei à mesa. —


Quer café ou chá gelado?

— O que estiver mais fácil.

— Vamos acabar com esse mate — resmungou, colocando uma grande


garrafa na superfície e indo atrás de copos. — Obrigada pelos ovos. Há muito que
não os preparo assim. Por aqui, temos o hábito de comer torradas ou pão de sal.

— Essa é uma refeição completa. Para lidar com o projeto, como se


sustenta apenas com carboidratos?

— Não fale mal deles. — Ela nos serviu os ovos mexidos, deixou a
frigideira na pia e se sentou ao meu lado. — Sinto que vou tirar alguns dias de
férias.

— Talvez você não tenha dimensão do que está prestes a enfrentar, Clarice.
— Indiquei com a cabeça sua mala. — As roupas que você precisará usar para estar
comigo não comportam nesse pequeno espaço.

— Não gaste mais dinheiro comigo do que já fez. Estou feliz em retribuir
com a mentira, mas se eu tiver outra vantagem a não ser os eventos de gala, teremos
um problema.
— Deveria ter pensado nisso antes de aceitar. — Peguei o talher e coloquei
uma garfada na boca, encarando-a como se fosse a primeira vez. Por mais que suas
palavras tinham dúvidas implícitas, seu olhar exalava certeza. — Podemos mudar de
estratégia.

— Só depois que você pegar esse babaca que está te coagindo. — Ela
ergueu a faca, como se fosse uma espada e sorriu. — Estou pronta para o duelo, para
defender a honra do meu noivo.

Engoli em seco e a gravidade daquela mentira começou a pesar na minha


consciência. Eu a trataria como noiva e poderia mudar a visão que eu tinha daquela
amizade descomplicada.
Capítulo 7

Abri e fechei a mesa retrátil à minha frente, estava muito nervosa. Dentro do
avião particular da Família Real Fiori, estando com o meu futuro noivo ao meu lado
e mais ninguém para conversar, a insanidade estava tirando o meu pior.

Olhei para o lado, Davi Lucca descansava de olhos fechados e banco


reclinado. Como ele conseguia ser tão silencioso e relaxado, não sabia explicar, já
que eu estava prestes a surtar.

Eu tinha aceitado e insistido naquela situação. O homem que me ajudou a ter


uma perspectiva de vida palpável, que alimentou meus sonhos de plebeia, estava se
tornando uma mentira real. Tanto pela nobreza, quanto as ações que me cabiam, era a
melhor forma de retribuir o favor.

O que eu não contava, era que estar próxima e ser considerada noiva
daquele homem, faria com que sentimentos bobos e superficiais se tornassem densos.

Será que ele iria me beijar?

— Nem preciso estar na sua cabeça para saber que está pensando demais,
Clarice. — Davi Lucca continuou de olhos fechados e apenas respirou fundo. —
Não há o que temer.

— Eu estou ótima — menti, descaradamente. Ele sorriu e se ajeitou na


poltrona. — Farei o meu melhor.

— Sei que vai. — Estendeu o braço e buscou minha mão em cima da minha
perna. Seus olhos se abriram e, ao invés de me reconfortarem, fez com que meu
corpo pegasse fogo. — Somos amigos acima de tudo. — Apertou meus dedos, me
fazendo recordar o que tínhamos acordado: nunca mencionar a farsa. — Não sou o
Rei, então, estamos livres de grande parte chata, como protocolos sociais.

— Você comentou que teríamos eventos para ir.

— Sim, alguns militares, outros de família. Minha mãe te ajudará nas


questões femininas.

— Não queria que você gastasse ainda mais comigo — murmurei,


envergonhada e apertando seus dedos também.

Davi Lucca me surpreendeu, me puxando para cair em cima dele. Com sua
mão ainda na minha, ele beijou meu rosto e me fez arrepiar.

— Minha noiva não deve merecer menos que o melhor. Aproveite o


momento, Clarice. Lembra-se da sua vingança contra seus colegas?

— Vou tentar manter minha mente nisso. — Soltei-me dele, meu rosto estava
quente e eu não conseguia encará-lo.

Olhei para a janela e controlei a respiração, ele tinha beijado minha


bochecha e, se mudasse de posição apenas alguns centímetros, encostaria sua boca
na minha.

Nunca fui de muitos relacionamentos, meu primeiro namorado tinha me


traumatizado o suficiente. Não bastava a minha situação familiar, com meu pai
doente, minha mãe tendo que dar conta de tudo e me usando de desabafo, eu ainda fui
pressionada a ter a primeira vez.

Foi desastrosa aquela noite com Reniel. Além da dor e a confusão mental,
pedi para parar no meio do ato e ele me mandou embora. Uma semana depois,
terminou comigo e espalhou para a turma do colégio que eu não sabia transar.

A verdade doía tanto quanto uma mentira. Eu não servia para ser ombro
amigo da minha mãe, nem tinha capacidade para trabalhar no lugar do meu pai, ou
ajudá-lo na sua situação terminal.

Pular daquele barco tinha sido imprudente e errado, mas era o único
caminho que eu via para fugir da minha dor, achando que o oceano era como uma
grande piscina. Eu não suportava mais ser insuficiente. Tudo ao meu redor parecia
pesado demais, até que Davi Lucca me abraçou e ofereceu-me a luz no fim do túnel.

Respirei fundo e ganhei força, revivendo os momentos tenebrosos da minha


vida e aquela que me encontrava. Fingir ser noiva do irmão do Rei era o céu, perante
todo o inferno que vivi até chegar ali.

— O pessoal do projeto aceitou bem a sua partida — ele atestou, ainda não
tínhamos conversado sobre meu discurso de afastamento.

— Falei a nossa verdade, que eu estava envolvida com uma pessoa


importante e precisava de um tempo para organizar a minha vida. Que eu tinha
planos para voltar, mas que não esperassem por mim. — Virei na sua direção, ele
tinha voltado o banco à posição vertical. — Pode dormir, Davi Lucca. Estou
atrapalhando seu sono.

— Estou bem. — Alisou meu braço e provocou mais arrepios pelo meu
corpo. — Quer um cobertor?

— Você mora no palácio? — desconversei, cruzando e descruzando minhas


pernas.

— Sim.

— E seus irmãos?

— Eles têm seus aposentos, mas vivem suas vidas mais fora do que dentro.
Não se preocupe em ter que lidar com todos, você não precisará seguir protocolos
ou outras regras. Seja você mesma.

— Ficaremos no mesmo quarto?


— Apenas se ficar desconfortável. Prefiro estar próximo a você, se não te
constranger.

— Há duas camas?

— Poderia ficar em um hotel e deslocaria alguns seguranças para te


protegerem. Está tão relutante com roupas, acredito que essa alternativa será
descartada por você. Certo?

— Tudo bem, mesmo quarto.

— Ele é grande tanto quanto minha cama. Vai ficar tudo bem. — Sorriu
encorajador. — Estamos no século vinte e um, se não for eu a quebrar alguns
padrões, serão meus irmãos. Não podemos esquecer que temos uma ameaça.

— Isso não manchará a reputação da monarquia?

— Poderia, se eu trouxesse uma mulher por semana para ser apresentada à


sociedade. Não sou assim e, possivelmente, você será a única em minha vida. — Ele
parecia tão calmo ao citar aquelas palavras, enquanto eu explodia por dentro.

— Não quer ter uma família? Filhos?

— Minha missão é proteger meu país — respondeu com intensidade,


salientando com o olhar que aquela discussão estava indo para o caminho de revelar
a farsa. — Estou me permitindo uma experiência caseira, porque você é especial.

— Eu nunca te perguntei. — Engoli em seco, com vontade de chorar. — O


que te fez pular do navio atrás de mim?

— Estava sob a minha supervisão. Já perdi companheiros em confrontos,


mas fiz o meu melhor para salvá-los. Sempre farei de tudo para impedir que as
pessoas ao meu redor se machuquem.

— Isso não me torna diferente.


Sua mão foi para meu pescoço, deslizou para trás e apertou minha nuca.
Aproximou nossos rostos e olhou para os meus lábios, como se precisasse me calar
de alguma forma. Não deveria exigir que me colocasse em um pedestal, mas estava
confusa demais para agir com coerência.

Tinha vinte e um anos, maturidade para viver sozinha, mas não para ter um
relacionamento amoroso com a realeza.

Seu olhar encontrou o meu e ficamos naquela posição por um longo tempo.
Senti sua respiração, curti a pegada e sua dominância, além da reação febril do meu
corpo. Pressionei as pernas e umedeci os lábios com a língua, ele estava me fazendo
perder a linha.

— Ser noiva de Davi Lucca Fiori não é nada excepcional. Poderia


conseguir um casamento arranjado e criar minha família como a monarquia queria,
mas o destino cruzou nossos caminhos há quatro anos e, hoje, está nos entrelaçando
muito mais.

— Desculpe se estou pressionando, vou me comportar.

— Não você. Disciplina e rigidez eu tenho com meus subordinados.

— Farei o meu melhor. — Era só eu me aproximar que conseguiria beijar


seus lábios e experimentar seu sabor. — Davi.

— Clarice.

— Atenção, passageiros. Iniciaremos o procedimento de descida em solo


Real...

O General me soltou enquanto a voz no alto-falante continuou a dar


instruções sobre o que deveríamos fazer. Não tive coragem de encarar meu
acompanhante, nem quando ele segurou minha mão depois que eu fiquei observando
o nada à minha frente.
— Sou apreciador dos pequenos detalhes e gestos singelos, que podem ser
confundidos com a rotina — ele falou sério, enquanto o avião descia. — Não se
engane, Clarice, você é especial. Para mim.

Esmaguei seus dedos até que a aeronave tocou o solo e realizou o pouso
com sucesso.

Tinha chegado à minha cidade de origem, lugar que me trazia boas e más
recordações. Para minha vantagem, eu estava ao lado de Davi Lucca e, tão corajoso
quanto era, ele iria afastar todos os meus pesadelos reais.
Capítulo 8

O trajeto do aeroporto até o castelo foi rápido. O General ditou ordens


enquanto eu me mantive sorrindo e acenando, sem abrir a boca. Estava com medo de
errar, mas também, queria ser a melhor noiva. Não sabia as regras de etiqueta, então,
pecaria por não tomar a iniciativa.

“Então eu mantenho você á distância e deixo você ir

Mas eu não quero te entregar

Sim, eu mantenho você à distância e deixo você ir

Mas somente se você prometer ficar”

Bad Wolves – Killing Me Slowly

A música agitada marcou a minha saída do carro em frente à grande


construção. O palácio, o lugar que eu e todos os cidadãos admirávamos de longe,
seria meu lar provisório.

— Vamos, Clari — Davi Lucca murmurou, colocou a mão nas minhas costas
e me conduziu até a grande porta de entrada. Ele me chamando pelo apelido me fazia
sentir mais íntima do que me achava por mensagens.

— E minha bagagem? — Olhei para trás, mas continuei andando.

— Será levada para o meu aposento. Vamos falar com minha mãe primeiro.
A Rainha Elizabeth Fiori. Céus, nunca a vi pessoalmente, era uma
celebridade inalcançável. Tropecei nos meus próprios pés por conta do que estava
em iminência de acontecer e foi o braço forte do General que me segurou, circulando
a minha cintura.

As variações emocionais estavam me desestabilizando e ter a proximidade


daquele homem não colaborava.

— Relaxe. — Beijou minha testa e se manteve grudado comigo.

— Talvez, quando eu estiver dormindo — rebati, forçando a ironia.

Caminhamos por grandes salões e cômodos. Digno dos filmes medievais,


aquele palácio parecia ter saído do conto de fadas. A Princesa que nunca existiu em
mim queria dar pulinhos e ligar para a melhor amiga, para contar todos os detalhes
de estar com um dos homens mais poderosos do país.

— Alteza real, bem-vindo de volta. — Uma Senhora de uniforme parou à


nossa frente, estávamos em um longo corredor.

— Senhora Jones, estou procurando minha mãe.

— Ela está na sala de chá. — Olhou para mim, disfarçadamente e ajeitei


minha postura.

— Sozinha?

— As Altezas, Vinicius e Henrique, estão com ela.

— Obrigado.

Passamos pela funcionária do palácio, com ele ainda abraçado lateralmente


comigo. Seus passos largos exigiram que eu apressasse os meus, até parar em frente
a uma porta.
Davi Lucca bateu e a abriu, fazendo-me entrar primeiro. Os três pares de
olhos me encontraram, fazendo com que a vergonha tomasse conta. Vinicius e
Henrique eram muito semelhantes, mas tendo os dois próximos, era possível elencar
as diferenças, como o penteado e a postura.

Abaixei a cabeça para esconder meu rosto, que queimava de intimidação.

— Boa tarde, mãe — ele cumprimentou e sua mão voltou para a minha
lombar. — Irmãos.

— Está aí uma grande novidade — não soube identificar qual dos dois
homens falou. — O General está acompanhado e não é pelo seu exército.

— Henrique — a voz da Senhora repreendeu o gêmeo e ergui a cabeça em


respeito a ela. — Olá, seja bem-vinda. Quem é você?

— Minha noiva.

Abri a boca para falar, mas acabou sendo de choque, porque a Rainha
arregalou os olhos e desfaleceu na sua poltrona. Tampei minha boca com as mãos
enquanto via os três homens se aproximarem dela, o General sendo mais direto,
tomando nota dos sinais vitais.

— Mãe! — O gêmeo mais sério alisou o rosto dela, que piscou e sugou o ar
com força. — Graças a Deus.

— Desde quando você tem uma mulher, Davi? — Henrique se afastou


cruzando os braços, uma mescla de acusação e deboche.

— Eu estou bem, rapazes. Foi apenas uma queda de pressão, me deem


espaço.

— Sinto muito, eu não queria assustar a Senhora, apenas ser sucinto. — O


General encarava a mãe, segurava uma de suas mãos e colocou um dos joelhos no
chão.
— Você escolheu o mais difícil dos quatro. — O gêmeo se aproximou
estendendo a mão. — Sou Vinicius Fiori.

— Clarice Mattos. — Estava trêmula, tanto na voz, quanto no cumprimento.


O homem me surpreendeu ao levar o dorso da minha mão para os lábios e deixar um
beijo.

Meu rosto esquentou e ele sorriu antes de me soltar e voltar para a família.
Henrique me encarava de longe, desconfiado, mas também, se divertindo.

— Esse sobrenome não me é estranho. — A Rainha encarou o filho de tal


forma, que parecia ter lido toda a farsa com apenas aquele gesto. — Já conversou
com o Rei, presumo.

— Está ciente e conto com o apoio da família, para aceitar minha decisão.
Clarice não faz parte da nobreza, mas é a escolhida do meu coração.

— Sua família não é da nobreza?

— Exato, Clarice é uma plebeia.

— Ele não é romântico assim — Henrique zombou e já tinha conseguido


diferenciá-lo do outro gêmeo.

— Talvez, se viesse acompanhado de uma farda ou algumas munições, seria


compreensível. — Vinicius encarou a mãe e depois, o irmão mais velho. — Você
sempre terá meu apoio, nem precisava pedir.

— Iremos conversar sobre essa notícia ser dada para o mundo em outro
momento, Davi Lucca. — A Senhora deu um tapinha no rosto do General, que se
levantou e a ajudou a ficar de pé. Ela se virou na minha direção e estendeu a mão. —
Venha, criança.

— Falando assim, até parece que ela é nova demais. Já fez vinte e um anos,
Senhorita Mattos? — Passei o olhar em Henrique antes de fixar na Rainha. — Será
uma temporada interessante em Grã-Aurora. Também tem meu apoio, Davi.

Elizabeth segurou minhas mãos, me conferiu da cabeça aos pés e sorriu.


Tentei não me intimidar com o seu título de nobreza, mas estava difícil não me sentir
uma migalha no meio daquela imensidão.

— Clarice Mattos. — Ela nem precisou pedir, apenas o tom usado para
dizer o meu nome era o suficiente para identificar a pergunta escondida.

— Morei no país até os meus dezoito anos, meu pai é falecido e minha mãe
está no Hospital Nosso Lar. Fui para o Brasil cursar biologia e estou de volta, com
Davi Lucca.

— Se estava tão longe, como se comunicavam?

— A Rainha não vai querer saber o poder da tecnologia na vida dos casais
modernos — Henrique se divertiu.

— Está constrangendo a noiva do nosso irmão — Vinicius o repreendeu e


me encarou de forma amável. — Mas confesso que quero saber mais detalhes
também.

— É suficiente — o General intimidou os irmãos mais novos, depois se


colocou ao meu lado. — Lembra-se do incidente no navio, há quatro anos? Logo
depois, o funeral?

— Ela é a sereia do Atlântico? — o gêmeo intrometido recordou como eu


fiquei conhecida na cidade e meu humor foi para o ralo. Não acreditava que aquela
informação tinha chegado até o ouvido deles, provavelmente, pelo General. Que
vergonha!

— Vamos deixar os três conversando, nosso tempo aqui encerrou. — Não


sei se foi o passo na direção dos dois que fez Vinicius puxar o irmão e os dois
saírem da sala, ou apenas meu constrangimento.
— Mantivemos contato depois do que aconteceu, nos tornamos amigos, mas
foi apenas no ano passado que começamos a nos envolver. Decidimos assumir o
nosso relacionamento assim que percebemos que é sério.

— Meu Deus, eu sabia que você era intenso, mas não nesse ponto, meu
filho. — Rainha Elizabeth encarou-o, depois a mim. — O que pretende desse
relacionamento, Clarice?

— Eu... — Engoli em seco e busquei forças para responder, porque tinha


que ser convincente. — Achei que gostar dele e ser feliz ao seu lado era o suficiente,
Majestade.

— Acabamos de chegar, mãe. Podemos conversar mais no jantar?

— Claro. — A mulher tocou meu rosto, sorriu misteriosa e se virou para o


General. — Descansem um pouco, farei o mesmo.

— Precisa de ajuda, mãe?

— Eu estou bem. — Colocou a mão no coração e se despediu de nós com


um olhar de orgulho.

Soltei o ar com força, Davi Lucca me puxou para um abraço e me derreti no


seu calor. Se todas as vezes que lidasse com sua família fosse assim, não saberia
dizer se meu coração iria aguentar tanta pressão.
Capítulo 9

Entramos no meu quarto, Clarice viu a porta do banheiro aberta e foi


correndo se esconder. Deixei, porque mesmo eu, com todo o meu autocontrole,
estava precisando de um momento sozinho.

As intenções dela com a nossa união pareciam tão reais quanto meu coração
acelerado. Sentir seu corpo junto ao meu, o abraço e todo o seu calor parecia mais
certo do que meus propósitos de proteger o país.

Fui para a sacada, deixei que o frio e a brisa marítima tocassem meu rosto e
trouxessem a razão de volta ao controle. Minha missão era impedir que os inimigos
da monarquia expusessem minha família ou usassem Clarice, de forma a prejudicá-
la.

— É tudo tão lindo e exuberante. — Ela se aproximou de mim e colocou as


mãos na grade de cimento da sacada, havia uma manta nos seus ombros. — Desculpe
se eu fiz algo de errado durante o encontro com a sua mãe e irmãos.

— Fez tudo certo — respondi, ainda encarando a paisagem. Minha vontade


era de mantê-la em meus braços, seu cheiro estava me proporcionando um bom
momento.

— Seus irmãos estavam de terno e a Rainha de vestido elegante. Não sei se


tenho roupa adequada para o jantar de hoje, Davi Lucca.

— Será providenciado, não se preocupe.

— Não queria aceitar, mas não há outra forma. Quando as pessoas


relacionarem a minha pessoa com o incidente, espero que pelo menos, eu esteja
bem-vestida, para compensar.
— Henrique é o brincalhão, acha que nada nem ninguém o atingirá. Vinicius
é mais centrado, racional, mas também gosta de alimentar as ironias do gêmeo. Estão
à frente da Boreal Petróleo, mais distante da monarquia e a burocracia de serem da
nobreza.

— Eles parecem ser legais. Talvez melhorem com a maneira que eu interajo
com eles, quando eu me sentir menos intimidada com tudo.

— Relaxe. — Saí do meu lugar para ficar atrás dela e esfregar seus braços.
Seu corpo se arrepiou e, pela recorrência, estava percebendo que tinha a ver com
outra coisa que não o frio.

— Vai se cansar de pedir isso. Quem sabe, daqui a dois anos de noivado ou
quando me tornar melhor amiga da Rainha. — Ela brincou, mas para a minha mente,
tinha tudo de verdade.

— Não se esqueça do que conversamos antes de chegarmos aqui. —


Coloquei minhas mãos ao lado das suas na grade, ela retesou com a aproximação.
Éramos amigos, confiava nela, mas não poderíamos ultrapassar a barreira da
encenação. — Além de roupas, precisa de mais alguma coisa?

— Queria ir ver minha mãe. — Soltou o ar com força e se virou para ficar
de frente para mim. — Sei que o objetivo da minha vinda é outro, mas estou há
quatro anos sem a ver pessoalmente.

— Deveria ter te levado assim que chegamos, nem pensei nisso. — Pedi
desculpas com o olhar. — Pretendo viajar por três dias, para a missão que eu estava
designado e voltarei, para fazermos o anúncio oficial. Preciso estar pessoalmente
com meu time, para saber se algum deles está envolvido e quem poderia se
beneficiar com minha ausência.

— Se preferir, eu vou sozinha. Pego um táxi e...


— Além da minha família, não confie em ninguém. Se possível, fique no
quarto enquanto eu estiver fora. Prometo que recompensarei tudo. Estamos lidando
com uma ameaça real e não sei até que ponto o inimigo está disposto a nos
prejudicar.

— Claro. Eu espero. — Ela não conseguiu disfarçar a decepção.

Toquei sua bochecha, senti a palma da minha mão esquentar seu rosto e,
involuntariamente, dei um selinho em seus lábios. O choque foi de ambos, nem eu
sabia o que estava fazendo, mas mantive minha postura inabalável.

— Estou sendo idiota ao te pedir que se esconda no meu quarto, mas é a


única forma de te proteger, comigo longe.

— Davi Lucca — ela murmurou, hipnotizada. Merda de impulso de luxúria,


eu não poderia confundir o noivado de mentira com meus envolvimentos de uma
noite. Clarice era importante para mim, a única amizade que me permiti, para que eu
pudesse ter alguns momentos de paz.

— Ligue o celular e use a internet do palácio, vou te passar a senha.

Afastei-me dela, dando passos para trás e saí do quarto. Minha última fala
era uma súplica, de que nós continuássemos como sempre fomos, amigos distantes
que trocavam mensagem.

Fui até a sala dos funcionários do palácio e pedi para a governanta


providenciar vestuário para a minha acompanhante. Apesar deles reagirem com
surpresa à minha ordem, não comentaram, eram bons subordinados.

Fui atrás do Rei, mas ele tinha saído com sua esposa para algum
compromisso social. Acionei meu chefe de operação pelo celular e confirmei minha
chegada no outro dia, apenas de passagem. Ninguém sabia o meu verdadeiro motivo,
apenas que um assunto familiar tomou prioridade.
Andando pelos corredores do palácio, próximo da noite se aproximar,
Vinicius cruzou meu caminho. O cabelo estava bagunçado e a roupa desajeitada.
Alinhou rapidamente a gravata e sorriu, para disfarçar o que quer que ele tinha feito
antes de me encontrar.

— Então, futuro pai de família, quando será a data do enlace oficial?

— É apenas um noivado.

— Quem está se iludindo com a semântica do “apenas”: você ou a Clarice?

— Como está a empresa?

— Próspera e produtiva. — Cruzou os braços à sua frente e franziu o cenho


ao perceber minha seriedade. — Algo para me cuidar?

— Sim. Temos alguns inimigos rondando a família.

— Os mesmos que estão pressionando o Rei Arthur? — Bufou, irritado. —


Não se preocupe com ratos, eles não vão sair do buraco.

— Não sei, apenas fique em alerta.

— Por isso trouxe sua mulher para o palácio? — Bateu no meu braço e
sorriu. — Iria deixar esse romance debaixo do pano até quando?

— O suficiente. E não fale como se não fizesse o mesmo.

— Pior. — Piscou um olho e ampliou o sorriso. — Mas eu sei disfarçar o


suficiente para não precisar assumir ninguém. Elas estão protegidas estando longe de
mim.

— Seus dias estão agitados, então.

— Muito.

— Espero que não me apareça com ninguém grávida.


Ele soltou uma gargalhada e cruzei os braços o intimidando. Por mais que o
surpreendente estava acontecendo comigo, ele e Henrique eram poços de situações
inusitadas.

— Por praticar muito, sei como me proteger. Mas, e você? Com ela longe,
deve ter criado calo nessa mão.

— Cale a boca. — Peguei-o com meu braço e envolvi seu pescoço, ele ria
e tentava escapar. — Não constranja a minha mulher.

— Não fique nervoso, eu sou do seu time. — Bateu no meu antebraço e o


soltei. — Andou malhando? Achei que os oficiais ficavam mais acomodados
conforme a patente alta.

— Estou sempre na academia, você que deixou de frequentá-la.

— Porque estou queimando calorias de outra forma. — Deu passos para


trás e apontou o dedo para mim. — Nos vemos daqui a pouco, no jantar. A vida é
muito breve para você continuar tão rígido, Davi. Aproveite o momento e largue um
pouco o dever. Curtir também faz parte.

Processei nossa conversa e percebi o quanto foi fácil dizer que Clarice era
minha mulher. De alguma forma, eu já a considerava como algo meu, mas não tão
íntimo e necessário.

Meu celular vibrou, peguei-o do bolso e sorri de forma involuntária quando


percebi que era uma mensagem de Clarice. Havia uma foto dela, olhando para longe
na sacada. Na legenda, o texto:

Clarice>> Cheguei de viagem e estou em um lugar que nunca imaginei


pisar. É tudo lindo e espero cumprir com meu dever ao lado do nobre cavalheiro,
longe das tartarugas.
Davi Lucca>>Esse cenário combina com você, tanto quanto o projeto.
Seja você mesma, dará conta da missão. Tenho certeza de que o homem ao seu
lado está honrado com sua colaboração.

Clarice>>Então, falou meu coração.

Não tinha compreendido a sua mensagem e nem tive a oportunidade de


questioná-la, porque um dos funcionários do palácio me encontrou, para que eu
aprovasse as roupas que seriam ofertadas a Clarice.

Nossa primeira aparição oficial, para a família, estava prestes a acontecer.


Capítulo 10

O vestido de cetim e as joias que me adornavam destoavam do meu


jeito simples de viver. Encarei-me no espelho, tocando o colar e encarando
as ondulações da minha roupa. A ficha estava caindo, eu era a plebeia que
estava se envolvendo com um Príncipe. Não só o primeiro na linha de
sucessão, como um dos Generais mais respeitados de Grã-Aurora.

Respirei fundo para acalmar meu coração, mas não foi o suficiente.
Engoli em seco e virei naquela posição imponente. Se existia algum luxo nas
minhas veias, eu desconhecia, mesmo estando naquele traje.

Era para um bem maior. Iria recompensar Davi Lucca por ter me
dado uma segunda chance e, assim, não mergulhar em depressão como a
minha mãe. Eu estava sozinha no mundo e precisava de toda a força que eu
tinha escondida nas minhas entranhas.

O barulho da porta sendo aberta me assustou e virei para ver quem


entrava nos aposentos. Claro que era o meu noivo de mentira, que me estava
despertando sentimentos reais. Com o traje formal dos militares, ele me
buscou com o olhar no cômodo e sorriu quando me encontrou mais afastada,
no closet.

— Está linda, Clarice. — Eu não queria me iludir com seu tom


sedutor e brilho nos olhos. Aproximando-se sem cautela, ele me digitalizou
dos pés à cabeça, parou na minha frente e tocou minha bochecha com o dorso
da mão. — Gostei da maquiagem, preservou sua beleza natural.
— Não precisa fazer isso. — Pressionei os lábios e encarei seus
sapatos. Lembrei-me do selinho que me deu e o quanto de autocontrole eu
precisei para não pular no seu pescoço como uma namorada apaixonada.

— É o que sinto, apesar de tudo. — Seus dedos escorregaram até


meu queixo e ele ergueu minha cabeça. Encontrei seu olhar, a intensidade
estava me fazendo ferver por dentro. — Mas eu posso parar, se te deixa
desconfortável. Pensei que seria normal, entre os casais, trocar elogios.
Somos amigos há um bom tempo, temos liberdade para isso.

— Eu sempre fui a tagarela, você o monossilábico. — Dei um


passo para trás e voltei a me encarar no espelho. Precisava de foco, não
surtar com a confusão de sentimentos que eu estava fazendo por conta
daquela mentira. — Esqueça, pode continuar. Estou me sentindo bonita e
nervosa, por jantar com sua família. Apenas isso.

— Vai ficar tudo bem. — Ele parou atrás de mim e segurou nos
meus braços. Trocamos um olhar no espelho e apertei minhas pernas, aquela
posição estava fazendo com que minha imaginação viajasse além do sensato.

— Podemos ir?

— Tire uma foto nossa. — Ele pegou o celular, desbloqueou e me


entregou. — Sei que gosta de registrar tudo.

— São minhas companhias, quando me sinto solitária. Um diário em


forma de imagens.

Beijou minha cabeça e tirei algumas virada para o espelho e outras


de frente. Queria ter a mesma ousadia dele e lhe roubar um selinho, mas me
contive, senão eu ficaria sem jantar, por conta de tanto nervosismo.
De mãos dadas, saímos do seu quarto e caminhamos pelos
corredores do palácio até chegarmos na sala de jantar oficial. Muitas obras
de arte, esculturas e riqueza eram ostentadas em cada canto daquele lugar.
As peças contavam histórias silenciosas, de quando o primeiro Rei assumiu
Grã-Aurora e o que os seus herdeiros fizeram desde então.

O pouco que sabia sobre o atual regente daquele país não era muito
positivo. Diziam que o homem era sério demais e focado em resultados,
além de pouco amigável. Estava com receio de que minha presença fosse
rechaçada, por não ser digna de Davi Lucca, mas eu contava com o apoio da
mãe Elizabeth e os gêmeos.

Apenas a matriarca estava no recinto, sentada ao lado da cabeceira,


onde deveria ficar o Rei. Ela se levantou quando nos aproximamos e,
parecendo alegre demais, me recebeu com um abraço forte e beijos no rosto.

— Está linda, uma perfeita Princesa.

— Tenho muito a aprender até chegar nesse patamar, Majestade.

— Pode contar comigo no que precisar. — Ela cumprimentou o


filho e nos sentamos ao seu lado da mesa. — Já pensaram na data para
oficializar o noivado?

— Ainda não. Preciso me ausentar por três dias, por causa de uma
missão, na volta falaremos sobre isso. — Davi Lucca colocou a mão
debaixo da mesa e alcançou meu joelho. Ao invés de me acalmar, me fez
aquecer por conta da intimidade.

— Seria prudente conseguir uma data que não interfira nos estudos
da sua irmã. Todos devem estar presentes.
— Onde ela está? — perguntei, curiosa. Pouco se falava da caçula
dos Fiori.

— Estudando na melhor universidade. A Princesa tem outros


assuntos para se preocupar. — O tom que a mulher usou me fez calar, uma
vez que parecia encerrar o assunto. — Posso providenciar o necessário na
sua ausência, Davi Lucca. Sua noiva estará por perto, ela poderá opinar no
que for de interesse para os dois.

— Agradeço, mãe, mas eu prefiro cuidar disso por mim mesmo. —


O General pegou a minha mão e levou para boca, deixando um beijo
demorado. Seu olhar no meu era um pedido de apoio e, sem pensar sobre o
assunto, acenei afirmativo.

— Gratidão pela disponibilidade, Majestade. Estou de férias,


então, não há pressa. O que o General decidir, eu estou de acordo.

— Ninguém precisa inflar mais o ego dele. — Virei-me e encarei


Henrique entrando com Vinicius. Além do tom usado, consegui identificar
outras características que os diferenciavam. — Boa noite, mãe.

Levantamo-nos para cumprimentar os recém-chegados. Eles se


sentaram do outro lado da mesa e deixaram uma cadeira do lado da
cabeceira livre, para a Rainha.

— Estamos discutindo sobre a festa de noivado dos dois. — Rainha


Elizabeth encarou os filhos que estavam à nossa frente. — Preferem fazer no
tempo deles.

— Se fosse eu, levaria o namoro por muito mais tempo. — Vinicius


sorriu, demonstrando que estava brincando. — Mas, se o amor falou mais
alto, é justo oficializar o enlace.

— Não se falará em outra coisa que não seja o Príncipe e a plebeia.


Estava na hora dos jornais mudarem o foco do casamento arranjado do Rei,
para o segundo irmão. — Henrique ergueu um sino e o balançou. — Gostaria
de uma taça de vinho.

— Devemos esperar o Rei — Davi Lucca o repreendeu.

— Estamos em família, algumas formalidades podem ser ignoradas.


Você puxou o bonde, irmão mais velho. — Vinicius pegou a taça vazia e
ergueu em um brinde divertido.

Uma funcionária uniformizada apareceu e recitou as opções de


bebidas que queríamos. Peguei o mesmo que meu noivo, para dar menos
trabalho que o mínimo.

— O que você faz da vida, futura cunhada? — O gêmeo menos


brincalhão perguntou, realmente interessado.

— Sou bióloga e trabalho em um projeto que cuida de tartarugas


resgatadas.

— Não tem isso aqui na Grã-Aurora. Vai largar tudo para ficar com
o General? — O outro pontuou, ergueu a sobrancelha e me deixou sem fala.

— Como está a Boreal? Vi que teve um incidente em uma das


plataformas, alguns funcionários precisaram de atendimento médico. — O
General intercedeu a meu socorro.

— Estou revendo os protocolos de manutenção e outros


procedimentos que não servem mais. Modernizamos alguns aparelhos, mas
ainda falta capacitar as pessoas. Ninguém se feriu gravemente, todos estão
sendo atendidos e indenizados.

Funcionários entraram na sala para encher nossos copos. Antes que


pudéssemos continuar com a conversa, o Rei e a Rainha apareceram e todos
se levantaram.

Eles eram lindos juntos, exalavam confiança e beleza. O olhar da


esposa encontrou o meu e me confortou, não havia julgamento, apenas
aceitação.

Observei a Rainha Elizabeth cumprimentar os dois e observei para


fazer o mesmo, havia etiquetas que eu desconhecia. Quando os dois se
aproximaram de mim, meu rosto esquentou e queria me esconder atrás de
Davi Lucca.

— Clarice Mattos. — A voz de comando do Rei me desconcertou.

— Vossa Majestade — gaguejei. — Eu...

— O jantar já está pronto e eu estou com fome. Podemos? —


Vinicius interrompeu nossa interação e quando o encarei, percebi que foi
uma tentativa de me ajudar.

O General me abraçou de lado, beijou minha testa e me ajudou a


sentar na cadeira.

Era apenas um jantar familiar, com a diferença de que aquelas


pessoas eram as mais importantes do país. Aquela se tornaria a minha
realidade por alguns dias, eu precisava me acostumar.
Capítulo 11

Virei na cama, olhando para a tela do celular e devorando um livro de


romance indicado pela minha sogra de mentira. Ela tinha um clube de leitura e,
segundo ela, Davi Lucca participava das reuniões com as Senhoras, por ser um
devorador de histórias, dos mais diversos gêneros.

Claro que aceitei a indicação, ficaria três dias longe daquele homem e
agoniada para ver a minha mãe. Enquanto ele não chegasse, eu poderia fazer as horas
passarem mais rápido, mergulhando em um mundo de ficção.

A trilogia Amor e Honra, da autora brasileira Cláudia Castro, tinha todos os


elementos de que eu gostava. Militares, amor maduro e superação. Se eu precisava
me controlar com as fantasias que estava tendo, depois de ler Miguel, Otávio e
Adriano, não havia mais salvação para mim.

Suspirei nas cenas finais do livro e senti um aperto no peito. Não consegui
falar com Davi Lucca e, mesmo que eu tivesse enviado textos e fotos, ele não
recebeu nenhum, por estar fora de área.

Ao concluir o livro e largar meu celular de lado, batidas soaram na porta.


Empolgada por acreditar que poderia ser aquele de quem eu mais desejava estar
perto, pulei da cama e fui recepcioná-lo. Era o irmão, Vinicius, de terno impecável e
sorriso travesso. Minha animação murchou e ele cruzou os braços, me avaliando.

— Não era quem você esperava, sinto muito. Davi ainda não chegou?

— Acho que será mais tarde, não consegui falar com ele ainda. — Inclinei a
cabeça de lado. — Posso ajudar em algo?

— Na verdade, eu que quero te ajudar. — Conferiu-me da cabeça aos pés e


estendeu a mão. — Coloque um calçado e vamos dar uma volta.
— O quê?

— Cunhada, você passou três dias reclusa nesse quarto, saindo apenas para
almoçar. A família não morde.

— Eu acho melhor...

— Leve um casaco também. Vou te apresentar a Boreal Petróleo e Naval.


— Ergueu as sobrancelhas quando não fiz nenhum movimento. — Eu sou o gêmeo
legal, prometo.

— Henrique não parece ser ruim.

— Ele é o brincalhão, Helena é nossa Princesa romântica, o General é


corajoso e o Rei é o Rei.

— E você, quem é?

— O que salva donzelas em perigo, até delas mesmas. Vamos, Clarice, você
está segura comigo.

Mesmo desconfiada e com receio de que poderia estar fazendo algo de


errado, corri para o closet, coloquei meias grossas, botas e peguei um casaco de
tecido grosso. Coloquei o celular no bolso da calça e saí ao lado do meu cunhado.

Começamos a caminhar pelos corredores do palácio em silêncio.

— Você é o segundo ou terceiro na linha de sucessão? — perguntei por


impulso, já que sendo gêmeos, a ordem deveria ser bagunçada.

— Sou aquele que adoro ser Príncipe, mas não tenho vocação para Rei.
Meu negócio são as embarcações e ser CEO. — Piscou um olho e ajeitou a gravata.
— Você escolheu o homem certo, Davi Lucca é o mais caseiro de todos. Já imagino
vocês com três filhos e minha mãe agradando todos eles.
— Nossa, depois são as mulheres que exageram no planejamento —
zombei, encabulada por acompanhar sua linha de pensamento. Um lado meu não
reclamaria de ter três filhos, ainda mais se fosse com o General.

— Alguns me chamam de vidente, mas sou bom em estatística e leitura de


pessoas. Você o ama.

— Sim — respondi, acanhada e abaixando minha cabeça.

— Foi o que tranquilizou minha mãe. Sempre nos preocupamos com


interesseiros e oportunistas. Não seria a primeira vez.

— Como assim?

— Filho! — Paramos de andar e nos viramos, a Rainha estava se


aproximando de nós, por trás. — Pensei que tinha voltado para o trabalho.

— Vou levar Clarice para um passeio. Quer vir, mãe?

— Olá, Majestade — cumprimentei a mulher, que sorriu ao me encarar.

— Que bom, eu não sabia o que fazer para tirá-la daquele quarto. Davi
Lucca ainda não chegou?

— Nem atende ao celular. Então, ele lidará com as consequências. —


Vinicius parecia ter segundas intenções, mas me distraí com a Rainha gesticulando
animada.

— Vocês, jovens, vão se divertir. Tente não chamar atenção, a coletiva para
apresentar Clarice será daqui a alguns dias. Não vamos antecipar.

— Pode deixar, ela não vai pular do barco. — Arregalei meus olhos com
vergonha e foi a vez dele abaixar a cabeça, arrependido. — Sinto muito, cunhada.
Sou péssimo com piadas, Henrique é melhor do que eu.
— Eu preciso ir, com licença. — A Rainha passou por nós e cruzei os
braços, com indignação.

Voltamos a caminhar, o clima tinha mudado entre nós. Citar o episódio que
me fez conhecer Davi Lucca era uma mescla de nostalgia e vergonha. O apelido
sereia do Atlântico me atormentou por um bom tempo, antes de ninguém mais falar
sobre o assunto.

Chegamos ao lado de fora do palácio e estava na ponta da língua recusar


aquele passeio. Vinicius ficou na minha frente e me pediu desculpas com o olhar, ele
estava arrependido, mas meu coração continuava magoado.

— Falei besteira, só queria quebrar a tensão.

— Vinicius, eu acho melhor voltar para o quarto e esperar Davi Lucca


chegar. Ele está preocupado com a minha segurança.

O meu celular tocou, tirei-o do bolso e meu rosto se iluminou quando vi a


foto dele na tela. Atendi e me afastei do cunhado para falar com meu noivo de
mentira.

— Você chegou? — perguntei, afobada.

— Estou em alto mar, conferindo algumas coisas. Devo chegar de


madrugada. — Ele riu baixo e o barulho do vento abafou a sua voz. — Como você
está?

— Bem. Fiquei no quarto, como pediu. Almocei com sua mãe e outros dias
com seus irmãos.

— Está segura, isso que importa. — Ele suspirou. — Senti sua falta.

— Eu também. — Pressionei os lábios e fechei os olhos, meu coração


estava acelerado por saber que o veria mais tarde.
— Ainda vou te levar para andar de barco, para esquecer aquela
lembrança. A vista aqui é linda.

— Vou aceitar a oferta.

— Bem, só liguei para avisar da minha chegada. De madrugada estarei


aí.

— Estou aguardando. Beijo.

Encerrei a ligação e me virei para o irmão curioso. Ele sorria, era um


homem elegante e charmoso, com ar jovial, mas que não me atraía como Davi Lucca.

— O que o General falou? — perguntou, intrometido.

— Está em alto mar e voltará a qualquer momento — exagerei. — Acho


melhor voltar para meus aposentos.

— Ou, você pode ir comigo e o encontramos no meio do caminho. — Seus


olhos brilharam e se aproximou de mim. — Se ele está em algum barco, nós
saberemos a localização e você poderá fazer uma surpresa para o seu noivo.

— A Rainha pediu para não chamar atenção.

— E não haverá nada demais com o encontro do CEO da Boreal e o


General da Grã-Aurora. São apenas irmãos, você será o elemento surpresa
escondido no andar debaixo.

Pegou no meu braço e me puxou, aceitando meu silêncio como confirmação


para seus planos. Acreditei que todos da nobreza fossem cautelosos e seguissem
regras, mas pelo visto, os gêmeos saíram fora do padrão.

— Vinicius, será que é uma boa ideia tudo isso?

— Claro que sim, cunhada. — Parou em frente a um carro conversível,


abriu a porta e me ajudou a entrar. — Me agradeça depois.
Respirei fundo e aceitei ser conduzida pelo meu cunhado de mentira. Até
que não seria uma má ideia se tudo fosse real.
Capítulo 12

Em uma mesa grande, conferia os papéis espalhados, relatórios e a tela do


notebook. A missão não tinha saído como o esperado e todos os meus subordinados
tinham se tornado suspeitos.

Analisei cada ficha pessoal, busquei histórico de todas as operações que


eles participaram comigo e não achei nada que os comprometessem. Quem ganharia
com meu declínio eram apenas os inimigos do Rei.

Eu tinha muito para conferir e, pela minha intuição, o chefe de operação


tinha algo a esconder. Não encontrei nada que o condenasse, mas olhando para sua
foto, na ficha pessoal, eu sentia meu coração acelerar com raiva.

Agir com emoção nos fazia cegar. Tinha que focar nos dados reais e ser
racional, para não ser injusto.

— Senhor, permissão para entrar. — Um dos meus Tenentes apareceu na


porta.

— Permissão concedida.

— Um iate da Boreal Naval se aproxima. O capitão da embarcação falou


que era o seu irmão, Vinicius Fiori.

— Tem certeza? — Levantei-me preocupado, juntei a papelada em cima da


mesa e fechei o notebook.

— Sim, Senhor.

— Vou ligar para ele e confirmar a informação. — Peguei o aparelho e


xinguei mentalmente, tinha descarregado. — Teremos que conferir por nós.
Guardei o celular e saí da pequena sala com o Tenente, trancando a porta.
Andamos por um corredor frio, subimos uma escada e chegamos na parte de cima.
Era um barco pequeno, que me levou até o local da missão que eu não pude
participar e estava indo de volta, em marcha lenta. Precisava analisar tudo, antes de
chegar e ninguém saber que eu estava desconfiado.

Saí para o convés, reconheci o iate particular do meu irmão e fiz o sinal
para os meus subordinados, estava tudo bem. O que eu não estava entendendo era o
motivo dele ter vindo até mim e como sabia que eu estava naquela embarcação.

Assim que nos aproximamos, vi meu irmão acenando e o observei


atentamente. Fez um gesto com a mão, para que eu fosse até ele e bufei com ironia.
Quem mandava era eu.

— Hey! Trouxe um presente para você, General — Vinicius gritou assim


que as embarcações se alinharam lado a lado. Cruzei os braços e o observei
gesticular, parecia a nossa mãe. — Venha.

— Estou trabalhando, depois participo isso — rebati, sério.

— É de seu interesse. Está no quarto, ande logo, para não se arrepender.

Olhei para o sol, que já estava se pondo e suspirei. Iria ver o que ele
queria, depois o repreenderia por atrapalhar meus planos. Fui até meus
subordinados, pedi que ajeitassem a escada e desci até o iate de Vinicius.

Ele me cumprimentou com um abraço, tapas nas costas e apontou para a


escada interna.

— Pode me colocar como padrinho.

— O que está dizendo? — Encarei-o confuso. — Não somos mais


adolescentes para pregar peças.

— Vá e tire suas próprias conclusões, General Fiori.


Desci a escada, abri a porta do primeiro quarto e não achei ninguém. Estava
prestes a reclamar enfurecido com Vinicius, quando a entrada de outro cômodo me
chamou atenção e a cabeça de Clarice apareceu. Ela estava envergonhada, mas
quando me viu, sorriu com as bochechas coradas.

— Oi, surpresa — falou, baixo.

Entre tantas intrigas e conflitos, focado em blindar minha família, não


percebi que Clarice também fazia parte daqueles que eu queria proteger. Estava
preocupado com sua segurança e se iria brigar comigo na volta, por estar ausente,
por mais que eu tinha avisado.

O relacionamento de mentira estava, cada vez mais, tornando-se de


verdade. E nem precisou de muito tempo de convivência, as ações faziam efeito
mesmo sendo tão cotidianas quanto eu me ausentar por conta do trabalho.

Dei passos largos até ela, envolvi-a com meus braços, levantando e nos
deixando com os rostos alinhados. Sabia que era uma farsa, que agirmos como
namorados deveria acontecer apenas sob o olhar dos outros, mas estava impossível
conter meus sentimentos.

Três dias longe dela, sem nos comunicarmos, mostrou que eu nutria
sentimentos por Clarice, mais do que apenas amizade.

Foi ela que aproximou seus lábios dos meus, tocando tão suavemente, que
parecia pedir permissão para mais. Coloquei-a contra a parede e abri minha boca,
empurrando meu corpo e língua para sentir muito mais que apenas o seu sabor.

Seus braços rodearam meu pescoço, ela inclinou a cabeça e acompanhou


meu ritmo, sem hesitar. Gostar dela era fácil, uma pessoa que não vivia no meu
mundo, não tinha interesse na minha família, apenas compartilhava sua vida comigo.

Toquei a lateral do seu corpo e estava prestes a ir mais além, só que o


alerta de que não acordamos ser amigos com benefícios me fez recuar. Eu era
homem, estava no comando e não abusaria do meu poder, apenas para satisfazer
meus desejos.

Subi minha mão até seu rosto, coloquei-a no chão e deixei um beijo casto
nos seus lábios antes de me afastar. O muxoxo que fez, por conta da separação, me
excitou. O rubor das suas bochechas e o olhar de desejo quase me convenceram de
que ela também aceitaria novos termos para aquele noivado de mentira.

— Você me surpreendeu — confessei, dando passos para trás e me sentando


na cama.

— Foi ideia de Vinicius. — Colocou os braços para trás e forçou a cabeça


para cima, mesmo que sua linguagem corporal indicasse que queria se encolher. —
Eu... gostei.

— Não deveria ter te tocado assim.

— Acho que todo mundo imagina que, sendo noivos, nós fazemos muito
mais do que segurar a mão um do outro. Quero dizer...

— Estamos ultrapassando alguns limites do que conversamos antes de


chegarmos em Grã-Aurora. — Enrijeci minha postura, para nos colocarmos como
amigos, não amantes. Seus ombros cederam e Clarice forçou o sorriso, ela tinha
ficado chateada. — Além do meu posto como General, temos uma grande diferença
de idade. Não vou abusar do meu poder, não com você.

— Posso ser jovem e fui muito imprudente no passado, mas sou responsável
pelos meus atos hoje. Eu quis. — Engoliu em seco e estufou o peito, ela era valente,
mas ainda exalava inocência.

— Sim, você é muito mandona quando quer.

— Viu? E quando eu não quiser algo, vai ouvir minha negação. Sei que vai
parar, mas no momento, eu preferia que continuasse.
— Saiba que pode confiar em mim para isso. — Estendi a mão e ela se
aproximou, colocando sua palma na minha. — Te magoar é a única missão que não
vou executar.

— Tudo bem.

Ela se inclinou e voltou a me beijar. Naquela posição, minhas mãos


alcançaram suas costas, os quadris e chegaram na bunda. Antes que eu a colocasse
no meu colo e fosse além, eu me levantei e interrompi nosso beijo. A neblina de
luxúria não poderia me cegar.

— Acho melhor eu voltar. Temos algumas coisas para fazer para o noivado,
eu já tenho boa parte das informações sobre o outro assunto.

— Sim, você prometeu me levar até minha mãe amanhã. — Droga, tinha
esquecido e deveria ter demonstrado no meu semblante, porque ela recuou,
envergonhada. — Mas se está falando de outras coisas, pode deixar que eu vou
sozinha. Eu entendo que não queira se envolver assim.

— Claro que vou. — Puxei-a pela cintura, segurei seu rosto e a encarei,
mostrando que por ela, eu faria mais do que estava disposto, porque era ela. — Volte
com Vinicius para a ilha, eu chegarei logo depois.

Ela ficou na ponta dos pés, uniu nossas bocas e me rendi, mais uma vez,
àquele doce sabor do proibido. Mesmo que estivéssemos vivendo uma mentira, sua
paixão estava me contagiando e não queria pensar no momento em que
encerrássemos aquele acordo.

Novamente, fui eu quem interrompeu nosso beijo, deixei-a no quarto e subi


até o andar que estava a escada para o meu barco. Vinicius tinha um olhar astuto e
não o deixei me analisar por muito tempo, senão descobriria que tinha acertado na
surpresa.
— De nada! — ele gritou atrás de mim e sorri com satisfação sem que
ninguém pudesse me ver.

Apesar de subir os degraus, eu estava descendo, gradativamente, em


direção aos pés de Clarice Mattos.
Capítulo 13

Tudo ao meu redor parecia nuvem. Estava sorrindo como boba, desde os
beijos e abraços que troquei com o General. Ao invés de me conter e ser apenas a
amiga, eu resolvi me entregar e avançar o sinal, já que o homem parecia interessado
também.

Era apenas uma mentira, mas nem por isso, eu não poderia imaginar que
fosse real. Tão cavalheiro e honrado, ele tinha receio de ultrapassar limites, quando
eu estava disposta a ir muito além.

O amigo se tornou amor platônico. O noivado de mentira estava se


transformando em romance dos sonhos.

Para esperar meu noivo, comi um lanche rápido como jantar e me recolhi.
Estava sorrindo sem esforço, ainda não tínhamos dormido juntos e queria saber
como era.

Os lençóis tinham o seu cheiro e minha mente viajava para os beijos


trocados no quarto do iate. Vinicius era um cunhado muito querido e torcia pela
felicidade do irmão.

Tentei ler, mas não fluiu nenhuma leitura. Coloquei o celular para tocar
músicas e deixei uma playlist aleatória.

“Então eu poderia pegar menos de volta

E eu poderia dar mais

E lute por todos os fracos, os arruinados, os pobres


Eu saio da minha porta

E não sei para quê

As massas imploram por mais”

Everfall – Superhero

Peguei no sono e acordei quando senti movimentos ao meu lado. Virei para
encarar o que era, Davi Lucca estava longe demais, mas virado na minha direção.

— Desculpe te acordar, pode voltar a dormir.

— Está tudo bem?

— Sim. — Ele tirou o cabelo do meu rosto. — E você?

— Com frio. — Puxei a coberta para me esquentar e me encolhi.

Ele se aproximou e me envolveu com seus braços. Apesar dele estar com
uma camiseta de pijama, era mais quente que o cobertor.

— Estamos indo para um caminho sem volta, Clarice. Você me atrai,


estaremos vivendo como um casal, mas nosso tempo está contado.

— Não pare — murmurei, fechando os olhos.

— Eu não quero te magoar. Nem agora, nem depois. Você é minha amiga
acima de tudo. Quero continuar trocando mensagens e fotos todos os dias, como
antes.

— Mas ficou três dias sem dar notícia.

— Quase perdi o controle quando te vi, por conta disso. — Beijou minha
cabeça. — Não vai mais acontecer.
— Espero que sim. Não. — Ergui minha cabeça e, mesmo sem abrir os
olhos, ele entendeu o que eu queria e me beijou.

Seus lábios foram lentos nos meus, seu sabor mentolado era um afrodisíaco
que eu queria me viciar. Estiquei o corpo e o senti contra mim, estávamos de lado e
não o suficientemente pressionados.

Minha perna dobrou e envolveu a dele, seu quadril se esfregou e eu gemi de


prazer. Deveria ter ficado calada, porque Davi Lucca interrompeu nosso momento,
virou-me de costas para ele e nos fixou naquela posição.

— Durma, amanhã iremos ver sua mãe.

Respondi dando um longo bocejo, apertei seus braços ao redor da minha


cintura e deixei que minha bunda sentisse a sua animação. Queria me esfregar,
esperava que ele fizesse mais, mas acabamos rendidos ao cansaço.

De certa forma, fiquei aliviada que não avançamos para algo mais, porque a
minha última lembrança de intimidade com um homem não tinha nada de romântico.
Imaginava que com Davi Lucca poderia ser muito melhor, mas eu arriscaria apenas
beijos e abraços com meu noivo de mentira.

Descansei o suficiente e acordei com a cama vazia ao meu lado. O frio que
vinha da sacada aberta me fez lembrar que eu tinha poucos casacos para suportar a
mudança de clima na Grã-Aurora. Cobri minha cabeça e resmunguei, porque queria
o General comigo, não ficar sempre sozinha à sua espera.

— Estou pronto para irmos tomar café da manhã. — Abaixei o cobertor e


encarei o homem em traje militar. — Bom dia, Clari.

— Dormiu de madrugada e acordou primeiro que eu? — perguntei, fingindo


indignação.

— Hábito. — Ele veio até meu lado da cama e se sentou. — Quer mais
algumas horas de sono?
— Talvez, ser carregada até o banheiro — brinquei.

Arregalei meus olhos quando ele tirou a coberta do meu corpo, me pegou
como se eu fosse uma boneca de pano e fez como eu pedi. Colocou-me no chão do
banheiro e saiu do cômodo, fechando a porta atrás de si.

— Não é proibido se apaixonar mesmo — murmurei para o nada, tirando


minha roupa e seguindo minha rotina de higiene matutina, adquirida ao morar no
Brasil.

Tomei banho, escovei os dentes e ajeitei o cabelo. Saí com a toalha ao


redor do corpo, o quarto estava com uma temperatura confortável, pois a porta da
varanda estava fechada e o aquecedor ligado.

Assustei-me quando encontrei Davi Lucca no closet, ele tinha as mãos para
trás e um olhar clínico na minha mala.

— Por que não a desfez?

— Não vou bagunçar seu guarda-roupa. Além do mais, não tem espaço. —
Peguei as peças e escondi a lingerie entre elas.

— Essa jaqueta jeans não vai te aquecer.

— Aceito um dos seus casacos emprestado. Acabei sujando o único que


tinha, estou acostumada com o calor.

Voltei para o banheiro, troquei-me rapidamente e meu noivo não estava


mais no cômodo. Abri a porta, olhei para o corredor e o vi se aproximar, com um
casaco nas mãos.

— Peguei um emprestado da minha irmã, mas acho que seria ideal comprar
um só para você.
— Obrigada, eu cuidarei muito bem do pertence da Princesa. — Fechei a
porta atrás de mim, fui até ele, vesti o casaco e seguimos para o fim do corredor. —
Eu poderia usar algo seu.

— Não há necessidade, posso providenciar o que se ajusta melhor no seu


corpo. — Pegou na minha mão e entrelaçou nossos dedos. — A Rainha está nos
esperando para o café da manhã. Vou deixar uma pasta no quartel e depois, iremos
ver sua mãe.

— Desculpe te atrapalhar.

— Nunca. — Parou-nos próximo da sala de jantar. Segurou meu rosto,


olhou nos meus olhos e aproximou nossos lábios. Enquanto ele vinha cuidadoso, eu
estava pronta para sua intensidade, como no outro dia.

Fiquei na ponta dos pés, abracei seu pescoço e abri minha boca, para
aprofundar o beijo. Antes que eu pudesse inclinar minha cabeça, para um melhor
encaixe, um pigarro fez com que nos afastássemos pelo susto. Meu rosto esquentou
ao perceber que a Rainha Elizabeth tinha nos pego em flagrante.

— Bom dia, meu filho. Clarice.

— Sinto muito, Majestade. — Abaixei a cabeça e Davi Lucca me puxou


para o seu lado, com um braço na minha cintura.

— Eu também já fui jovem, não se desculpe por amar. — Ela se afastou da


porta. — Vamos, o café nos espera.

— Bom dia, mãe. — Ele se inclinou para beijar sua testa e entrou comigo.
Para o General, não houve nenhum constrangimento, ele estava muito confortável.

Ajudou-me a sentar, a Rainha ficou à nossa frente e tivemos um bom


momento, falando sobre comida e hábitos alimentares. Eu adorava bolos, enquanto a
família real apreciava as tortas.
Depois do desjejum, fomos de SUV até o quartel. Percebi os carros atrás de
nós, os seguranças que escoltavam o General eram menos discretos no país do que
fora dele.

Fiquei no carro enquanto esperava Davi Lucca fazer o seu trabalho, liguei o
som e curti um pouco de música.

“Tudo bem ter medo,

Está tudo bem não estar bem,

Eu não estou bem às vezes,

Você ficará bem se ficar dentro de casa.”

Saint Slumber – It’s Okay To Be Afraid

Naquele momento, o único lugar seguro e onde eu me sentia bem era com
Davi Lucca. A nossa separação seria dolorida, mas nem por isso iria me impedir de
viver aquele momento especial, ao lado do homem que me deu a oportunidade de
superar.

Eu o ajudaria a proteger sua família e os interesses do Rei, mesmo que


custasse a integridade do meu coração.
Capítulo 14

Quando voltou, ele estava sério demais e desligou o som antes de dar
partida na SUV.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntei, inquieta.

— Nada com que você precise se preocupar. — Esticou o braço e acariciou


minha perna. — Vamos ver sua mãe.

— Sabe que pode contar comigo. Sou sua aliada, mesmo não sabendo lutar
ou usar uma arma, como você.

Ele sorriu e seus ombros aliviaram o peso. Apertei sua mão e ele retribuiu,
queria que Davi Lucca me enxergasse da mesma forma que eu o via.

— Sim, Clarice. Estamos juntos nessa missão. — Respirou fundo. — Estou


irritado, mas não é com você. Alguém nos viu juntos e precisaremos antecipar nossa
coletiva para depois da visita à sua mãe. Não estamos preparados.

— Eu vou me comportar.

— Estou longe da vida burocrática do palácio por um motivo. Seja apenas


você, não há necessidade de mudar. — Trouxe minha mão para os lábios e beijou. —
Acreditei que a mídia iria nos dar uma folga, já que o Rei tem sua Rainha e eu nunca
chamei atenção. As pessoas não gostam de militares.

— Acho que está olhando para o lado errado. Muitas mulheres gostam de
um fardado. — Minhas bochechas esquentaram e agradeci que ele focou na direção,
liberando minha mão.
— Não só isso, como o romance entre um Príncipe e a plebeia. Estão
alvoroçados para saber quem é a mulher que me conquistou. Eu não queria que você
fosse assediada, não hoje.

— Dou conta do recado. — Ajeitei-me no banco e olhei ao redor. — Vão


perguntar como nos conhecemos e o tempo que levou para nos apaixonarmos.
Seguimos o enredo de sempre, trocamos uma conversa fraternal em um dos passeios
do ensino médio, eu fui embora, mas continuamos a conversar e apenas no último
ano que rolou algo.

— Está mais tranquila do que eu.

— Claro que não. Internamente, o surto é livre. Mas por fora, sou uma
donzela. — Pisquei os olhos várias vezes, buscando seu sorriso e ele me deu. — Vai
dar tudo certo e os seus inimigos não irão te julgar. Pessoas de idade diferentes
podem se relacionar.

— Você lembrava a minha irmã e o quanto eu queria que ela tivesse um


homem honrado para não se aproveitar dela.

— Como assim? — Aquela fala parecia ter mais significados do que estava
na superfície. Davi Lucca virou a esquina e o hospital que minha mãe morava
apareceu no meu campo de visão. — Preferia que você não repetisse isso, porque
nos beijamos e somos noivos. Chega de ser apenas a irmã caçula.

— Acredite, tudo mudou quando entramos no avião e viemos para Grã-


Aurora. — Ele parou o carro e me encarou por alguns segundos. Cogitei sonhar que
os sentimentos dele eram os mesmos que os meus, mas sabia que tinha que me
controlar. — Eu vivo para o exército e você se dedica às tartarugas. Estamos nos
dando uma chance, mas já sabemos a conclusão, somos de mundos distintos. Nunca
exigiria que você abandonasse o seu sonho para ser apenas minha esposa.

Não consegui processar suas palavras, porque saiu do carro e eu fiz o


mesmo. Um nó se formou na minha garganta, estava curtindo aquele momento, sem
pensar na volta, que a desilusão de forma abrupta me tirou o chão.

Junto com os seguranças, entramos no hospital e Davi Lucca chamou


atenção. Por um lado, foi bom tê-lo por perto, porque conseguimos autorização para
ver minha mãe em seu quarto sem estar agendada a visita.

Passamos por corredores, a profissional de saúde discorreu sobre o estado


de saúde dela e os poucos momentos de lucidez. Muita coisa eu já sabia por
acompanhar à distância, mas estando presente, a informação era muito mais
impactante.

Ela não tinha um diagnóstico exato, alguns diziam ser esquizofrenia, outros
justificavam um surto depressivo, por ter acompanhado a saúde debilitada do meu
pai até a sua morte.

Focada nos estudos e indo embora de Grã-Aurora, eu não me permitia sentir


metade do que acontecia. Internalizava, de muitas formas, o quanto meus pais
estavam desaparecendo da minha vida, mas era dolorido demais vivenciar aquele
momento.

Abri a porta do quarto dela, dei passos até a cama e a observei dormir.
Parecia tranquila, tinha emagrecido e um semblante sereno.

— Pode conversar e tocar. Há uma semana está fora do ar, mas estímulos
externos ajudam a ter esses momentos de lucidez — a funcionária do hospital falou
ao meu lado, tranquilamente.

— Como vai ao banheiro ou come? — Meu coração começou a acelerar. Se


havia uma coisa que minha mãe prezava, era por preservar a intimidade.

— Ela tem suporte e estamos capacitados para esse tipo de situação. Não é
sempre que acontece o episódio com vários dias dormindo. — A mulher tocou meu
braço e tentou sorrir. — Venha mais vezes. O apoio da família é imprescindível para
um paciente nesse estado.
A culpa em forma de bigorna foi colocada nos meus ombros e as lágrimas
escorreram. Imatura e buscando uma forma de sobreviver, porque sabia que ficaria
igual ou pior do que minha mãe, fui para longe dela e nunca mais olhei para trás.

Estava bem, vivendo o meu sonho, com as tartarugas, mas à custa da


sanidade dela. Meu pai se foi, ela poderia ir a qualquer momento e eu era a filha
egoísta que só queria ser feliz.

Busquei Davi Lucca ao redor e não o encontrei. Mais lágrimas caíram


enquanto eu saía do quarto até os braços do meu amigo. No fim do corredor, assim
que ele me viu, se afastou dos seguranças para me receber.

Os soluços vieram primeiro. Apertei-o em um abraço desesperado, não me


sentindo merecedora de consolo, muito menos de poder ser amada – mesmo que de
mentira.

Escutei vozes, mas não quis saber da conversa, mergulhei no meu


sofrimento e no quanto eu me sentia sozinha. Sempre busquei minha independência e
constatei que essa jornada me tornava solitária.

Fui levada para algum lugar mais arejado, dei passos junto com Davi e não
abri meus olhos. Eu não o via como o Príncipe inalcançável, mas o homem que não
hesitou em pular do navio para me salvar.

Talvez, tivesse sido melhor que nada daquilo acontecesse. Mas, não
poderia mudar o passado, eu continuaria me fortalecendo na vida, mesmo que isso
me custasse a sanidade.

— Vai ficar tudo bem — o General murmurou enquanto acariciava o meu


cabelo. — Respira fundo, eu estou aqui.

— Oh... Ela... Eu...

— Os exames da sua mãe estão bons, ela só precisa de um descanso extra.


— Beijou minha cabeça e me apertou ainda mais nos seus braços. — Pode acreditar,
Clari.

— Eu fugi. — Levantei a cabeça e o encarei. — Agora, estou pagando o


preço por querer viver meu sonho. Deveria ter ficado com ela.

— Talvez. — Engoli em seco ao perceber que ele poderia me julgar. —


Então, você seria uma jovem triste, que não escreveria para um estranho, nem
mandaria fotos sorridentes.

— Eu não acreditei que minha mãe estava tão ruim. — Afastei-me dele e
limpei as lágrimas do rosto. Olhei ao redor, estávamos no estacionamento e algumas
pessoas nos observavam. — Droga, estou estragando tudo. Sinto muito.

— Primeiro, sua mãe está clinicamente estável. Bem, para a condição dela.
Segundo, não há nada que se desculpar. — Segurou meu rosto com as mãos e me
obrigou a encará-lo. — Se tem uma coisa que eu tenho certeza nessa vida, é que para
alcançar o nosso objetivo, trilharemos um caminho com obstáculos. Para alguns, é a
concorrência, inveja ou inimigos da família. Para outros, são as dores e os amores.

— Eu queria ficar mais com a minha mãe.

— Claro. Não se preocupe com nada, eu darei um jeito. — Ele sorriu com
tanto carinho, que parte do meu desespero abrandou. — Quer que eu traga uma mala
de roupa ou comida?

Pisquei várias vezes e percebi que estava indo longe demais. Respirei
fundo em busca de controle, fiquei na ponta dos pés e uni meus lábios com os de
Davi Lucca. Suas mãos desceram pelos meus braços e se encontraram nas minhas
costas, me apertando contra ele. Pensar em ficar longe dele era mais aterrorizador
do que olhar para minha mãe.

Ainda não estava claro na minha mente, mas o meu coração implorava para
que eu continuasse ao lado daquele homem, não importasse a dor que eu poderia
sentir.
— Vamos embora. — Interrompi o beijo e fui para o carro.

— Clarice?

— Um assunto de cada vez. Vamos falar com os jornalistas, depois eu vejo


a melhor estratégia para lidar com minha dor.

Ele não estava convencido, muito menos eu. Poderia ser uma nova fuga, mas
era a chama da vida, dentro de mim, que implorava para que eu não focasse no que
eu ainda não dava conta.

Descobri que deixar assuntos pendentes em uma área atrapalhava todas as


outras.
Capítulo 15

A profissional de saúde que me passou as informações sobre o


estado de saúde da mãe de Clarice não precisou ser específica. Havia uma
condição psíquica na mulher, que a levaria a qualquer momento ou
continuaria assim por tempo indeterminado.

Eu vi a morte do meu pai, acompanhei o luto da minha mãe, mas


também, a grandeza que existia naqueles que me deram a vida. Dedicados a
servir o país e educando os filhos para serem os melhores governantes,
enxergava aquela situação como o ciclo. Era dolorido ao mesmo tempo que
me dava força.

Claro que a minha maturidade e experiência pessoal me ajudavam a


ter esse pensamento. Não poderia exigir de Clarice algo tão racional, ainda
mais quando ela não se permitia render ao emocional.

Ela fugia de todos, mas não de mim. Sabia que meu papel em sua
vida tinha se transformado em algo além das aparências. Também tinha
noção de que ela optaria em continuar distante, mesmo que eu oferecesse
meu coração.

Caramba, meus sentimentos estavam transbordando. Eu gostava de


Clarice, muito mais do que poderia controlar.

“Quando eu estou triste


É difícil ir embora

Porque nada parece mudar

O sol nunca vai curar a chuva”

Lacuna Coil – Downfall

A música dentro do carro me fez querer jogar tudo para o ar e levar


Clarice para longe. O sol poderia não curar a chuva, mas eu tinha o poder de
tornar aquele dia melhor, pelo menos por um momento.

Entrei no estacionamento do hotel, que faríamos uma aparição. A


assessoria de imprensa do Rei pediu – salientando que vinha diretamente do
meu irmão –, que eu desse atenção para a mídia antes que revirassem o
passado e deduzissem o início do meu relacionamento de forma errada.

Apesar de eu ser um bom cumpridor de ordens, eu também tinha


uma veia dominadora, que gostava de ser rebelde.

Estacionei a SUV, saí e dei a volta para abrir a porta para Clari.
Pessoas começaram a se aglomerar e meus seguranças já estavam fazendo
um círculo de proteção.

— Meu Deus — ela murmurou, limpando as lágrimas do rosto que


não pararam de cair desde o hospital.

— Será rápido e indolor, eu prometo. — Puxei-a para meus braços,


beijei sua testa e caminhei com ela, ladeado pela equipe, até a recepção.
Um funcionário do lugar nos direcionou até o salão de festas do
primeiro andar. A imprensa estava em peso e logo que aparecemos, flashes e
burburinho soaram, assustando ainda mais minha Princesa.

Fui para frente, tinha duas poltronas e funcionários da família nos


esperando. Neguei quando um deles se aproximou de mim, eu fui direto para
o microfone e encarei a multidão à minha frente.

— Bom dia, Senhores. Fico contente de saber do interesse de vocês


no meu relacionamento, mas gostaria de pedir um pouco mais de tempo antes
de entrar em detalhes como tudo aconteceu.

— Davi Lucca — Clarice murmurou e saiu do seu casulo ao meu


lado. Ergueu a cabeça e ajeitou o cabelo, forçando o sorriso para não me
deixar cancelar tudo.

Virei a cabeça para o lado, o funcionário do meu irmão não estava


feliz e eu precisava conter os danos. Tínhamos inimigos e eu não daria
brecha para nos prejudicar.

A sala estava um alvoroço, pessoas querendo perguntar e outras


tirando fotos. Pelo menos, minha acompanhante estava se recuperando do
choque e erguendo a cabeça para o mundo.

— Serei breve e permitirei que vocês compareçam à recepção da


minha festa de noivado, para compensar. — A maioria começou a ficar em
silêncio. — Conheci Clarice Mattos antes da sua ida para o Brasil, para se
dedicar ao cuidado do resgate de tartarugas marinhas. Fomos cordiais e
tínhamos interesses em comum, mantivemos contato à distância e apenas
alguns meses atrás que a amizade se transformou em algo mais.
— Sereia do Atlântico? — alguém gritou no fundo e todos viraram
na direção do rapaz, que estava em choque. Droga, alguém conhecido
desenterrou aquela história.

Enfurecido, ditei uma ordem apenas com o olhar para a assessoria


de imprensa da família real e afastei-me de todos. Protestaram e continuaram
a falar daquele apelido idiota, que eu sabia que afetava Clarice.

Tinha me esquecido daquele detalhe. Não adiantava fugir do


passado, o melhor era entrar em acordo com ele, para não sofrer no presente.

— Eu não acredito — Clarice começou a repetir aquelas palavras


enquanto a levava para fora do salão.

Ao invés de ir até o estacionamento, que também estava lotado de


pessoas, encontrei a porta do elevador aberta no hall. Avisei aos seguranças
para não deixarem ninguém nos seguir, entrei com ela na caixa de metal e
fomos até a cobertura.

— Você o conhece? — perguntei, controlando minha vontade de


ensinar uma lição para aquele idiota que ofendeu minha mulher.

— É um colega de colégio — negou com a cabeça —, meu ex.

— Foi seu namorado? — Ergui as sobrancelhas, surpreendido.

Chegamos ao terraço, saímos para a parte aberta e o vento nos


congelou. Pelo menos estávamos sozinhos e longe do escrutínio de todos.
Havia um grande jardim, a parte coberta tinha sofás, cadeiras e uma lareira.

Levei-nos até um canto mais quente, sentei-me na poltrona e a puxei


para meu colo. Clarice olhava para todos os lados, mas eu queria seus olhos
em mim.

— Você não precisa mais fugir. — Estava sério, mas meu peito se
enchia de compreensão pelo desconforto dela. — Aquele é o idiota que
ficou com você e depois terminou?

— Ficar em partes. A culpa foi minha, eu pedi para parar no meio.


— Ela se levantou e andou de um lado para o outro, nervosa. — Davi Lucca,
achei que poderia te ajudar, mas vou piorar a situação. E se descobrirem que
larguei minha mãe?

— Menos — pedi, suavemente, negando com a cabeça. Ela fez uma


careta e voltou para o meu colo, nós não poderíamos conversar sobre nada
comprometedor fora do meu quarto no palácio. — Está tudo bem, só respira.
Daqui a pouco voltamos para casa.

— Eles nunca vão esquecer.

— Por isso, você deve esfregar na cara deles que a sereia agora
tem Príncipe. — Controlei-me para não gargalhar ao ver sua careta
horrorizada.

— Eu odeio esse apelido.

— Eu sei, mas vai lutar com ele até quando? Todos já sabem que
você se tornará minha noiva.

— Eu não previ que seria tão intenso e invasivo. — Ela tentou sair
do meu colo e a segurei. — Estou nervosa, prestes a surtar.

— Então me deixe te acalmar. — Segurei no seu queixo e trouxe sua


boca para a minha.
— Alguém pode vir — rebateu enquanto me dava selinhos.

— Esse momento é nosso, Clari. Me deixa te relaxar.

Sentada de lado, eu mexi no seu quadril enquanto a beijava


superficialmente. Encostava os lábios e afastava, mais uma provocação do
que a paixão que eu ansiava.

Ajeitei-a de frente para mim, seus braços rodearam meu pescoço e


nossos corpos se esquentaram. Ela inclinou a cabeça e minhas mãos
entraram debaixo do casaco para alisar suas laterais e costas.

Fiquei satisfeito quando ela soltou suspiros e se entregou ao


momento. Minhas mãos ousaram por lugares íntimos e pararam na sua bunda,
apertando e a forçando a rebolar no meu colo.

Puta merda, eu a queria para acalmar o bicho enjaulado que estava


no meu peito. Deixei que ela conduzisse os movimentos, aumentou o vai e
vem enquanto saboreava sua língua e seu sabor.

Quando a percebi perdendo o controle, liberei seus lábios para


chupar seu pescoço. Uma das minhas mãos foi para seu seio e ela gemeu,
esfregando seu sexo na minha ereção e demonstrando que tinha gozado.

Era um caminho sem volta, nós iríamos fazer muito mais do que
mentir para a sociedade e minha família.

— Oh, Davi Lucca. Eu... que vergonha. — Escondeu o rosto no meu


pescoço enquanto eu acariciava seu corpo. A cada sugada de ar, meu pau
inchava um pouco mais. — Estou fora de mim.

— Então volte, porque eu quero estar dentro de você.


Ela me encarou e me deu todos os indicativos não verbais de que
estava de acordo com o meu pedido.

Para quebrar o clima, meu celular tocou e pela música que soava,
era do trabalho. Clarice saiu do meu colo, eu me levantei e atendi a chamada
enquanto voltávamos para o elevador, de mãos dadas.

O dever me chamava, mas eu tinha motivos extras para resolver


meus assuntos e voltar o quanto antes.
Capítulo 16

Não consegui dormir, pensando em tudo o que tinha acontecido. A


adrenalina ainda corria em minhas veias e, para abafar o momento mais dolorido do
meu dia, eu focava na possibilidade de ter a minha primeira vez – de verdade.

Sonhei com aquele momento e o quanto seria diferente do meu ex, por muito
tempo. Arlene, minha amiga do Brasil, sempre me falou o quanto era bom depois de
romper o hímen, mas eu não me dei essa oportunidade.

Até que o General me fez sentir como uma mulher livre, desinibida e
confiante. Não tinha mais espaço para a adolescente preocupada, deprimida e sem
esperança.

A verdade era que eu estava confusa e minha fuga se resumia no calor dos
braços do Príncipe General. Meu conto de fadas moderno, com data de
encerramento, era tudo o que eu precisava para me fazer sentir melhor.

Sentada na poltrona próxima ao closet, escutava música no celular enquanto


encarava a porta do quarto. Pouco conversei com a Rainha quando voltei para o
palácio, Davi Lucca conseguiu me blindar para me refugiar no seu canto enquanto
ele resolvia problemas no trabalho.

Uma das funcionárias da família trouxe duas refeições para mim, a pedido
da Rainha. Belisquei apenas, já que meu estômago estava revolto pela antecipação.

“Bem-vinda ao meu mundo

Onde todos os que já precisei


Sempre me deixaram sozinho no final

Mais uma censura queimada

E eu estou me afogando nas cinzas

Chutando

Gritando

Bem-vinda ao meu mundo”

Sick Puppies – My World

Levantei-me apressada quando a porta se abriu e Davi Lucca apareceu. Seu


semblante era exausto e o longo suspiro que deu quando me viu, me confundiu.

Dei passos apressados até ele, enquanto fechava a porta lentamente. Ele
tentou sorrir, mas pareceu uma careta. Eu não poderia perder o gancho da sua
promessa, não enquanto eu estava prestes a surtar.

— Como você está? — Ele tocou meu rosto e conferiu a minha roupa.
Vestia pijama de algodão, o aquecedor do quarto me permitia algo menos pesado.

— Acho que mesmo ruim, estou melhor do que você. Que cara péssima.

— Tive que lidar com alguns problemas no quartel e a assessoria de


imprensa da família no meu pé. — Deu um passo para o lado e começou a se despir.
Segui para o banheiro e o acompanhei, como uma desesperada por conexão. — Vou
tomar um banho. Já jantou?

— Fiquei te esperando.

Tirou os coturnos, se livrou da parte de cima da farda e começou a


desabotoar a calça camuflada. Estávamos no banheiro, ele hesitou um segundo
enquanto eu admirava seu dorso nu.

— Quer tomar banho comigo? — perguntou com sua voz rouca e respiração
acelerada.

— Pensei que você ia... queria... dentro. — Olhei para baixo e apontei para
a porta. — Cama.

— Podemos começar aqui. — Ele segurou na barra da minha blusa, me


puxou para próximo e a tirou por cima. Tampei meus seios, eu não vestia nada por
baixo. — Vai se esconder de mim até quando?

— Acho que você é o único para quem eu me mostro. — Encarei-o


ofegante. — De verdade.

— Vou cuidar de você. — Passou as mãos pelas minhas costas e chegou na


barra do meu short. — Se quiser parar, é só falar.

— Cale minha boca, mas por favor, não me deixe repetir o que fiz no
passado.

Ele se agachou para remover o resto da roupa e não consegui me cobrir.


Suas mãos espalmaram as laterais das minhas pernas e foram subindo, me fazendo
arrepiar e meu coração acelerar.

Voltou a ficar de pé, beijou um lado da minha bochecha, depois a outra e


sussurrou no meu ouvido:

— Sua vez de me despir, sereia. — Ele me encarou com um brilho diferente


no olhar. Tentei me incomodar com o apelido que me trazia más recordações, mas eu
só conseguia pensar naquele momento. — A única coisa que você vai lembrar
quando ouvir essa palavra, é do prazer que vou te proporcionar. Esse momento é
nosso. Eu sou todo seu.
Engoli em seco e soltei meus braços, para que minhas mãos alcançassem o
cós da calça e a abaixasse. Deixei-o de cueca, não queria pressa, estava eternizando
aquele momento do meu jeito.

Empurrei-o para debaixo da gigantesca ducha e ele riu, sem fazer


resistência para a minha ação.

— Precisa tirar mais uma peça minha — comentou com diversão.

— Estou com frio.

— Eu também, mas não vou passar vergonha. — Ele foi mais rápido que eu,
ficou nu e ligou o chuveiro que subia o vapor quente.

Tentei não olhar para sua virilha, mas foi impossível. Seu corpo viril e o
membro ereto esquentaram meu corpo muito mais que a temperatura ao redor.

Davi Lucca me puxou para debaixo da água e dei um gritinho, não queria ter
molhado o cabelo. Ele afastou os fios do meu rosto, tocou meus lábios com os seus e
deixou as mãos escorregarem no meu corpo enquanto me beijava.

Com cuidado para não me assustar, explorou os lugares menos íntimos e me


fez relaxar. Lento e sensual, aos poucos foi se esfregando em mim, senti o latejar
entre minhas pernas e a excitação me dominar.

Tão diferente de quando eu me entreguei para alguém que não gostava de


mim. Retraída e com medo das consequências, eu só conseguia pensar em colocar
camisinha e que terminasse de uma vez.

Com o General, eu não queria que terminasse, muito menos que ele
interrompesse sua adoração. Era assim que eu me sentia, como uma sereia sendo
venerada pelo pescador.

O Príncipe tinha conseguido reverter a memória ruim em boa.


Enquanto o beijava, toquei seus músculos, senti a textura da sua pele e o
quanto ele era rígido. Fui até a cintura e queria ir até seu membro, mas eu ainda
estava com receio.

— Toque. — Ele interrompeu o beijo para sugar meu pescoço. Suas mãos
foram para a minha bunda e apertaram, enquanto eu, vagarosamente, encontrei sua
ereção. — Sinta. Não tenha vergonha de mim, nem do que iremos fazer aqui.

Suguei o ar antes de envolvê-lo nos meus dedos. Ele gemeu enquanto ia


trilhando beijos cada vez mais para baixo no meu corpo. Movimentei para cima e
para baixo, experimentando a flexibilidade da pele que cobria seu pênis enquanto
ele chegava ao meu seio.

Não consegui raciocinar enquanto ele tomou um mamilo na boca e o sugou,


depois usou a língua para brincar com o bico. Fechei os olhos e me deixei ser
dominada, as mãos que estavam na minha bunda tomaram rumos diferentes, uma
apertou o seio livre enquanto a outra mergulhou entre minhas pernas.

Muito mais intenso e prazeroso era tê-lo daquela forma para me fazer gozar.
Soltei-o para apreciar sua habilidade em me tocar e me degustar. Minhas mãos foram
para sua cabeça, puxei-o para voltar a me beijar e arfei, depois gemi e rebolei, até
que minhas pernas perdessem as forças. Ele me segurou enquanto eu recuperava o
fôlego.

Seu riso másculo e sensual fez meu corpo se arrepiar. Encarei-o com
satisfação, porque ele tinha um semblante muito melhor de quando entrou no quarto.

— Agora, eu vou te dar um banho e vamos continuar na cama.

— Sim, Senhor — respondi, imitando um subordinado.

Ele me soltou, pegou sabonete líquido e me ensaboou enquanto eu fazia o


mesmo com ele. Fui perdendo a timidez, toquei sua ereção novamente, mas ele me
impediu de ir muito além.
— Vou gozar e pretendo fazer isso, pela primeira vez, dentro de você.

Queria entender o poder daquela frase, o motivo de me sentir inteira,


quando ele dizia que queria estar dentro de mim.

Esperava que, metaforicamente, eu conseguisse estar dentro dele também.


Capítulo 17

Envolvidos em um roupão felpudo e quente, fomos para a cama e voltamos


a nos beijar. Puxei a parte de baixo para o lado, ansiando o contato entre as minhas
pernas, além de aumentar a nossa conexão.

O tecido que cobria o meu corpo foi sendo desprendido aos poucos. Os
dedos firmes e as mãos ásperas de Davi Lucca me incendiavam a cada deslizar pela
minha pele.

A dinâmica ainda não estava muito clara para mim, por isso me permiti
receber mais do que fiz. Minha primeira vez foi mecânica, dolorida e nem um pouco
apaixonante como essa estava sendo.

— Você pode me tocar também. — O General deixou beijos pelo meu rosto
e desceu para os meus seios. — Se não começar agora, eu vou fazer apenas o que eu
quero.

— Acho que para mim está bom. — Arfei quando sua boca cobriu meu seio,
depois sugou e a língua se esfregou no bico. — Oh!

— Gosta assim? — Ele me colocou mais ao centro da cama e deixou seu


corpo por cima, enquanto dava atenção para meus mamilos. Minhas pernas se
abriram e meu quadril queria mais contato com ele do que o roupão. — Estou louco
para sentir o seu sabor um pouco mais.

— O quê?

Deixando beijos pela minha barriga, ele foi descendo mais e mais, até que
sua cabeça se alinhou com a minha vagina. Davi me encarou alguns segundos antes
de abrir a boca e me lamber, com tanta intimidade, que me fez contorcer de prazer.
O último vestígio de vergonha tinha desaparecido, eu o queria cada vez
mais. Senti-me exposta e completamente entregue ao momento, sua atenção era
apenas para mim. A língua tocava os lugares mais sensíveis, meu clitóris pulsava e
eu só queria gravar aquela sensação para sempre na minha memória.

Subindo e descendo a cabeça, sugando e circulando meu monte com seus


lábios, Davi Lucca estava determinado em me deixar louca de tesão. Por tempo
demais, acreditei que tinha algum problema, mas era apenas a minha insegurança
falando mais alto.

Uma pressão me fez querer fechar as pernas. Contraí os músculos do ventre,


fechei os olhos com força e vibrei por dentro, como uma caixa de som tocando as
músicas preferidas do General. Puxei o lençol com minhas mãos, gemi alto e
encontrei meu clímax, de uma forma totalmente diferente.

Não imaginava o quanto poderia ser bom estar naquela posição. Se


soubesse do poder que o sexo oral tinha, teria feito diferente no passado. Mas eu não
queria mudar o que já foi, porque tudo aconteceu para que Davi Lucca fosse aquele
homem marcante na minha vida.

Meu corpo foi coberto pelo seu, apenas pele e sentimentos. Seus olhos
brilhavam e o sorriso de admiração alcançou minha alma. Divaguei demais, ele
estava nu e seu membro se esfregava no meu canal encharcado.

— Você está molhada e pronta para me receber. — Movimentou a pélvis e


retesei, preocupada que poderia vir a dor. — Eu vou devagar, pode se despreocupar.
Somos eu e você.

— Quero que você relaxe também. O conforto que me dá, também é seu. —
Passei a mão no seu cabelo e ele movimentou novamente, brincando com meu sexo,
me preenchendo.

— Eu vou.
— Vai?

— Depois de te fazer gozar mais uma vez.

— Mais? — não estava conseguindo raciocinar.

Abri a boca em choque quando me senti expandir. Sua ereção tinha entrado
e, apesar de deslizar facilmente, ainda havia uma queimação. Respirei fundo e forcei
o sorriso, para indicar que continuasse. Ele saiu e entrou, repetiu o movimento e me
transformou em uma mulher realizada ao transformar o desconforto em excitação.

Eu só conseguia sentir amor.

Davi Lucca fechou os olhos, apoiou as mãos nas laterais do meu rosto e
aumentou o ritmo. Dobrei uma perna e fiz movimentos contra os dele, que aumentou
ainda mais a sensação de prazer.

Com um braço, ele trouxe minha perna mais para cima e se curvou para
sugar um seio, daquela vez, com mais força. Meu coração acelerou e eu queria vê-lo
perder o controle e demonstrar o quanto estava desesperado para estar dentro de
mim. Ele estava cumprindo sua promessa.

Ergui a cabeça e mordi seu lábio inferior, ele rosnou e intensificou o vai e
vem. Mais, eu só queria que ele continuasse ou aumentasse o ritmo e as arremetidas.

Abracei-o com as minhas pernas e o General me surpreendeu, abraçando


meu corpo e me puxando para me sentar em seu colo. Não parou os movimentos, ele
me fazia subir e descer em seu membro. A mudança me proporcionou uma nova
perspectiva de sentir prazer.

Naquela posição, eu conseguiria rebolar e tinha mais liberdade para


encontrar o meu prazer. Voltei a beijá-lo, com muito mais sexualidade e luxúria.

Ele me deu um tapa estalado na bunda, desceu beijos até o meu pescoço e o
chupou. Força, intensidade e prazer, não tinham outro destino que não fosse me
entregar para mais uma onda de orgasmo.

Joguei a cabeça para trás enquanto meu corpo estremecia e minha boca
ecoava gemidos de satisfação. Davi Lucca me acompanhou, senti-o pulsar dentro de
mim e, com sua voz rouca e masculina, gemeu próximo do meu ouvido.

Nossos corpos cederam de lado, ele continuou o vai e vem, até que
suspirei, entregando-me ao fim. Mais do que maravilhoso, o sexo com o General
mudou meus conceitos e eu só pensava na nossa próxima vez.

— Não — resmungou, quando tentei me soltar dos seus braços. — Fica


mais um pouco.

— Eu só vou ao banheiro. — Beijei sua testa e bocejei. — Ou eu posso


ficar assim até amanhã.

— Essa é a melhor opção. — Ele saiu de dentro de mim, acomodou-nos no


meio da cama e nos cobriu. Abraçar de conchinha era bom, mas de frente, estava
melhor ainda. — Pronto.

— Vou ficar mal-acostumada, Davi. — Fechei os olhos e bocejei mais uma


vez. — Eu poderia dormir assim todos os dias.

— Com certeza... — fez uma pausa e suspirou. — Com certeza.

— Não houve mentira no que fiz — achei importante salientar. — Gosto de


você, Davi, mas também sei o meu lugar. Só queria que você soubesse.

Respirei profundamente e me consolei com o silêncio em seus braços.


Transformar tudo em verdade não era possível, eu sabia da sua paixão pelas forças
armadas e eu tinha minhas tartarugas. Existia uma atração para estar mais próxima da
minha mãe, mas quando eu pensava nela, eu só enxergava dor e depressão.

— Nossa amizade é real, sempre foi — ele conseguiu jogar um pouco de


água fria nos meus sentimentos, mas tentei não me abalar. Apesar de sofrer, eu sabia
onde estava pisando. — Eu prometi não te magoar. Enquanto você quiser me ter,
estarei pronto para entrar em ação.

— Podemos fazer tudo isso amanhã? — sussurrei, me aconchegando um


pouco mais à sua frente. Eu confiava nele e que no fim do noivado falso, tudo ficaria
bem.

— Sim. Também podemos fazer em outros lugares.

— Aqui no palácio?

— No banheiro, no jardim, na biblioteca... mas também podemos pegar um


dos iates da Boreal. O Atlântico também precisa de uma ressignificação, não acha?

— Nesse frio?

— Quando você pulou ao mar, não pensou nisso. — Beijou minha testa e
suspirou. — Espero que não fique com uma marca no pescoço, eu fui um pouco
intenso.

— Gostei assim, todo desesperado para me encontrar, mesmo eu estando à


sua frente.

— Eu estava estressado. Fiquei irritado com um colega General, que


insinuou inverdades com uma matéria veiculada na internet.

— O que estão falando?

— Bobagens. Não se deixe abalar com o que estão falando de nós, eu


resolvo. — Alisou minhas costas, para me fazer relaxar ainda mais. — Minha
família e sua mãe é que importa, o resto, apenas ignore.

— Mas...

— No Brasil, você estará protegida da mídia e dos inimigos da família real.


— Beijou minha testa e buscou meus lábios. — Durma, sereia.
— Eu confio em você.

Com o coração partido e eufórico ao mesmo tempo, me rendi ao sono e o


poder que a ignorância me proporcionava. O que os olhos não veem, o coração não
sente.
Capítulo 18

Entrei na sala de chá da Rainha com um misto de terror e coragem. Quando


vi que a Rainha Beatriz também estava com ela, tive vontade de fugir e me esconder
no quarto.

— Olá, bom dia, Clarice. Venha, o chá está esfriando.

— Bom dia, Majestade. Vossa Majestade. — Abaixei a cabeça e os joelhos,


levemente, para cumprimentar as duas.

— Bom dia. — A voz graciosa de Beatriz me encantou. — Pretendemos


fazer uma visita ao orfanato e gostaria que você fosse conosco.

— Sim. Como noiva do General, seria bom que participasse dos eventos
que são promovidos pelas mulheres da família.

Sentei-me ao lado da Rainha mãe e peguei a xícara de chá, para bebericar.


O doce do capim-cidreira acalmou meus nervos.

— O que posso fazer para ajudar? — ofereci-me, solícita.

— Antes de mais nada, gostaria de saber como está. — Rainha Elizabeth


mudou o semblante e Beatriz também. — Foi visitar sua mãe ontem.

— Sim. Vou superar. — Tomei outro gole do meu chá.

— Se não for muita intromissão da minha parte, poderia nos contar o que
aconteceu com ela? — Tão educada e carinhosa, a atual Rainha destoava do sério e
intimidador Rei Arthur.

— Meu filho, Davi Lucca, não é muito conversador, quando o assunto não é
sobre ele.
— Quando eu era adolescente, meu pai descobriu que estava com câncer e
já estava espalhado pelo corpo. — Comecei do início e coloquei a xícara em cima
da mesa baixa à nossa frente. — Foram três anos intensos, comigo tentando estudar
enquanto imaginava que acordaria um dia e meu pai teria morrido. Minha mãe foi a
mais prejudicada, perdeu o emprego por conta das faltas e usaram todas as reservas
para pagar o tratamento, inclusive o meu fundo da faculdade.

— Nossa! — A Rainha Beatriz colocou as mãos na boca em choque.

— É uma situação difícil, muitos diziam que eu estava agindo como uma
criança mimada ao reclamar. Meus anos no colégio, antes de ir para o Brasil fazer
faculdade, não foram dos melhores.

— Sabemos do incidente no navio. — A Rainha mãe me encarou com outras


perguntas no olhar. Fiquei acanhada e abaixei a cabeça, tomando o cuidado para não
falar além do combinado com o General.

— Sim, eu estava muito deprimida e tinha na cabeça que não queria morar
em Grã-Aurora. Achei que poderia sair nadando e chegar em outro continente.
Infantil e sem noção, eu sei. Tudo era dolorido demais até aquele resgate. Fiz
amizade com Davi Lucca, mas ele me via como a irmã mais nova naquela época.

— Ele sempre se sentiu responsável por todos da família.

— O protetor é o Vinicius — corrigi e a minha sogra de mentira ampliou o


sorriso.

— Ambos. Henrique é aquele que domina o ambiente. Helena é nossa


caçula sonhadora.

— O Rei Arthur é dedicado a fazer o melhor para o país — a Rainha


Beatriz falou com orgulho e sorri para o quanto seus olhos demonstravam o amor que
sentia por ele. Mesmo com casamentos arranjados, era possível construir um
sentimento tão nobre.
— Justo e racional. — Nossa sogra se inclinou e tocou o queixo de Beatriz.
— Você veio trazer um pouco de leveza para a vida dele. Nem tudo precisa ser oito
ou oitenta. Dia ou noite.

Ela ficou encabulada e não julgava, a Rainha Elizabeth era uma matriarca
digna de admiração.

— E quando você descobriu que a amizade se transformou em algo mais?


— Rainha Beatriz perguntou como se fosse o acontecimento mais incerto no mundo.
Para a sua realidade de acordos comerciais e aparências, com certeza era inusitado.

— De uns meses para cá, a conversa ficou mais íntima e nos apaixonamos.

— Mas você morava no Brasil e ele aqui. Como foi a dinâmica de tudo
isso?

Arregalei meus olhos com vergonha, dei margem para questionar o início
do meu namoro com Davi Lucca. Peguei o chá para tomar novamente e busquei
formas de explicar que tinha sido uma mescla de namoro virtual e presencial.

Caramba, eu tinha sido enquadrada.

— Estamos ficando sem tempo. — Rainha Elizabeth olhou para o relógio de


pulso. — Vamos fazer os acertos, depois voltamos para a conversa pessoal. Tudo
bem para vocês?

— Claro — respondi ao mesmo tempo que Beatriz.

Não sabia identificar se a minha sogra tinha feito de propósito ou não, mas
agradeci com uma oração mesmo assim. Depois da minha primeira vez com Davi
Lucca, eu estava disposta a ser sua Princesa, mas estava longe de ser oficial, uma
vez que morávamos em hemisférios diferentes.

Conversamos sobre outros assuntos e logo chegou o horário do almoço. O


General e os irmãos apareceram, bem como o Rei, sem sorrisos ou cumprimentos
afetivos.

Apenas Beatriz ganhou um beijo no dorso da mão antes de se sentar na


cabeceira da mesa.

— Oi — Davi Lucca me cumprimentou, sussurrado.

— Olá — respondi, apaixonada e lembrando-me da nossa noite.

— Agora seremos bombardeados pela demonstração de afeto movido pelo


matrimônio. Se acostume, Henrique, você pode ser o próximo. — Vinicius comentou
e sorriu para mim.

— Se depender de mim para a continuidade da família, teremos um grande


problema. — O gêmeo brincalhão olhou para a mãe, que o encarava séria. — Olha a
sorte que tem, os mais velhos já estão muito bem encaminhados. Quando planejam os
bebês?

Beatriz tossiu e eu apertei a coxa do General, por debaixo da mesa, pedindo


auxílio naquele tipo de comentário.

— Tudo em seu devido tempo. Atenha-se para os assuntos que competem a


Boreal — o Rei foi gracioso ao dizer para o irmão que se calasse.

— Poderíamos fazer um passeio em família no iate. O que acham? — O


gêmeo mais calmo tomou um gole da sua água.

— Temos a festa de noivado, que o General prometeu a presença da


imprensa. — Encolhi-me quando percebi o ar de acusação do Rei. — O quanto
antes, Davi Lucca.

— O nosso tempo não é o mesmo da Vossa Majestade. — Henrique segurou


o riso e o clima com o Rei pesou.
— As mulheres da família estão planejando uma visita ao orfanato. Será um
momento especial. — Sempre sábia e apaziguadora, a Rainha Elizabeth iniciou uma
conversa que não causaria conflitos entre os irmãos.

Sem que eu percebesse, a festa de noivado ficou marcada para o fim de


semana e a visita na melhor loja de roupas foi agendada para o outro dia. A vida de
luxo e eventos enchia meus olhos, mas não preenchia o vazio que eu estava sentindo
no peito.

Tendo Davi Lucca trabalhando na maior parte do tempo, eu estava entregue


para os livros de romances românticos com fardados – como o Tenente, da autora
Nathany Teixeira – e a música. Queria me permitir espiar as notícias na internet, mas
tive receio de surtar, como aconteceu ao ver minha mãe.

Depois de todos os compromissos do dia, fiquei no quarto, que estava se


tornando cada vez mais meu lugar favorito. Eu me sentia em casa e confortável,
andava descalça e ficava sem lingerie, vestia apenas uma camiseta grande e folgada
do General.

Mandei uma foto das minhas pernas para meu noivo de mentira e a legenda:
Estou com frio, esperando meu cobertor oficial para me esquentar.

Eu me expressava muito melhor pelo celular do que ao vivo. Depois que me


entreguei e estávamos íntimos, tudo pareceu fluir, como se fôssemos namorados há
muito tempo.

Meu celular apitou e meu coração acelerou quando Davi Lucca me


respondeu, com uma foto da sua mesa e seu quadril, sua mão entre sua coxa e a
virilha. Ele não era adepto de fotos tão pessoais, ou seja, nosso relacionamento
estava mudando, se tornando real.

Na legenda, um texto que só fez meu coração palpitar ainda mais: Continue
assim por mais alguns minutos, porque eu também quero você comigo.
Esfreguei as pernas e conferi todos os ângulos daquela imagem que ele
enviou. Nunca pensei que ficaria vidrada em um homem como eu estava com o
Príncipe General Davi Lucca.
Capítulo 19

Eu só conseguia pensar nela, na festa de noivado e o quanto estava me


apegando à mulher que não tinha raízes em Grã-Aurora. Não iria aprisionar Clarice
e estava disposto a tornar mais interessante seu momento passageiro no país.

Deveria prestar atenção nos assuntos burocráticos do exército. Em uma sala


segura e cheia de homens de altas patentes, estava me sentindo como um adolescente
que transou pela primeira vez. Queria descobrir todos os pontos erógenos de
Clarice, bem como atender às suas necessidades.

A paixão que eu estava sentindo não foi prevista, mas era inevitável. Seria
inocente da minha parte, achar que eu ficaria com minha melhor amiga, em uma farsa
de relacionamento, sem mergulhar de cabeça – tinha feito literalmente, estava fácil
executar metaforicamente.

— General Fiori? — Marco Bianchi chamou minha atenção e o encarei,


neutralizando minha expressão facial para não dar a entender que não tinha prestado
atenção na sua última fala.

— Esse não é o tipo de assunto que se resolve com uma assinatura. —


Outro General se interpôs. — Temos missões de paz na Europa, é de nosso interesse
comercial continuar enviando equipes até alcançarmos o objetivo.

— Não é apenas comercial, mas também, faz parte de blindar o nosso país
da influência dos terroristas. — Encarei todos, lembrando-me de fragmentos da
conversa.

— Pretende continuar ausente das missões? — O General Bianchi foi duro


em sua colocação. Eu tinha abdicado de participar, por conta da ameaça.
— Estou lidando com assuntos da família real, que também é de interesse
desse conselho.

— Política não faz parte da nossa discussão.

— Se o regime político mudar, muita coisa será alterada nos nossos


procedimentos. Então sim, deveria fazer parte.

— General Fiori sempre foi um bom negociador, não há necessidade de


discutirmos esse assunto. — Dante Matias, um dos Generais mais antigos da sala,
encerrou o assunto de forma cordial.

Meu olhar para Bianchi foi breve, mas o suficiente para entender que ele
tinha um problema comigo. Sempre exigindo que eu tomasse decisões para o bem do
meu cargo, estava percebendo que tinha um interesse além do amigável.

Assim que a reunião foi encerrada e todos foram dispensados, recolhi


alguns papéis em cima da mesa e me despedi de quem estava ao meu lado. Iria
desviar de qualquer conversa paralela, uma vez que estava ansioso para ver Clarice
e entregar o presente que tinha comprado, mas o General Bianchi ficou na minha
frente antes que eu saísse da sala.

— Está disperso, algo aconteceu.

— Meu foco é do exército — respondi, seco.

— Tem algo a mais. Amanhã será a sua festa de noivado.

— Ter uma família faz parte de me manter na patente. Certo? — Dei um


sorriso amarelo e ele fez o mesmo.

— Claro, tinha me esquecido desse evento. — Sua apreciação se tornou


sincera, mas ainda havia uma motivação estranha por trás da sua alegria. — Tire o
tempo que for necessário para aproveitar a sua esposa.
— Quem se casou foi meu irmão. Eu não preciso pular etapas, sou apenas o
primeiro na linha de sucessão. — Estendi a mão para cumprimentá-lo de despedida.
— Estarei de volta na próxima reunião, não preciso de folga.

— Mas deveria. É sua futura esposa, ela também precisa de atenção.

— Como pontuado na reunião, minha presença nas missões é tão importante


quanto minha vida pessoal. — Apertei seus dedos, ele fez o mesmo e empinou o
nariz. — Até logo.

— Bom descanso merecido. Pense na sua felicidade também.

Passei por ele e controlei a vontade de bufar. Estava nítido que o General
Bianchi queria meu afastamento, acima do apoio para que eu tivesse boa reputação
no exército. Porém, não havia nada com que ele se beneficiasse com meu declínio,
apenas o líder de operações ganharia, tanto financeiro, quanto de poder.

Saí do prédio refletindo um pouco mais sobre as suspeitas que eu tinha


sobre meus colegas de trabalho. Marchei até o estacionamento e entrei no meu carro,
com a intuição gritando que havia algo de errado.

Estiquei o braço para o banco de trás, peguei a sacola e conferi a pelúcia


em forma de tartaruga que eu tinha comprado. Com a inauguração da árvore de Natal
e a energia de união daquela época, eu me sentia cada vez mais compelido a agradar
aquela que estava ao meu lado.

Era noite, deveria chegar depois do jantar e encontraria minha mulher na


cama me esperando. Poderia ser algo maravilhoso, se eu não estivesse apagando
uma parte dela, que era seu sonho.

Apesar de ter a alma de uma Princesa Fiori, viver exclusivamente de ações


da monarquia não combinava com ela. Enxergava, em seu olhar, o quanto o trabalho
no projeto estava fazendo falta.
Seria egoísmo demais da minha parte aceitar a parte boa, sem olhar o
sacrifício que ela estava fazendo.

Liguei o carro, escolhi uma música e guiei em direção ao palácio. Meus


irmãos tinham um apartamento fora do nosso lar, mas eu ainda era apegado demais
em estar próximo de Arthur e minha mãe. Mas, com a vinda de Clarice, algumas
dessas vontades estavam perdendo força, eu queria um espaço só para nós dois.

“Todos esses fogos apagados

E eu sei que você não começou o fogo

Mas você viu e deixou queimar

E você sabe (você sabe)

Você sabe que isso é quase pior”

Written by Wolves – Let It Burn

Eu não deveria estar fazendo planos, ainda mais quando o nosso noivado
era apenas uma mentira. Clarice estava me ajudando, acreditando que poderia
retribuir o favor que lhe fiz, anos atrás. O que ela não imaginava, era que meu
coração estava sendo dominado pelos sentimentos que compartilhávamos a dois.

Um barulho me deixou alerta. O pneu da SUV tinha estourado, mantive o


controle do carro em linha reta para não puxar o volante com força e capotar. Estava
em uma descida, a velocidade só aumentava e o acidente seria eminente. Pisei no
freio devagar, mas não surtiu efeito, a avaria deveria ter afetado muito mais do que
imaginava.
De noite, com pouco movimento na avenida, eu tinha que calcular os dados
rapidamente e agir, antes que ferisse alguém.

O susto ao ver uma moto cruzando a rua logo à frente me fez decidir. Virei o
volante, mirei em um carro estacionado rente a calçada e deixei que as leis da física
não me ferissem gravemente.

Capotei uma vez e meia antes de bater na lateral de um automóvel parecido


com o meu. O cinto me manteve inteiro, o airbag não foi acionado, mas minha cabeça
latejava, além dos vidros terem sidos estilhaçados com o movimento brusco.

Ouvi gritos, fechei os olhos e respirei fundo várias vezes antes tentar sair
daquela posição. Forcei para tirar o cinto, mas ele estava travado, pelo menos isso
continuava funcionando. Peguei o canivete tático no meu bolso, cortei o que me
prendia com apenas um movimento e saí rastejando pela janela.

Antes de ficar de pé, voltei para dentro, encontrei a sacola com o presente
de Clarice, eu não poderia voltar para casa sem ele.

Pessoas se aglomeravam ao redor, o barulho da sirene não me acalmou e a


dor de cabeça irradiava por todo o meu corpo.

— O Senhor está bem? — uma mulher perguntou.

— É o Príncipe — outra pessoa murmurou.

— Agradeço quem chamou o resgate, eu estou bem. — Toquei minha testa e


senti o sangue escorrer. Droga, eu tinha uma festa amanhã, minha mãe iria me matar
por conta das marcas de guerra.

Olhei ao redor, em busca de suspeitos, mas só tinham olhares curiosos.


Conferi o carro, percebi que o pneu da frente estava destruído. A perícia iria me
dizer como tudo aconteceu, não estava parecendo que foi apenas um acidente.
Clareei minha mente enquanto apaziguava com todos os cidadãos. O resgate
chegou, pedi que me levassem em casa enquanto tratavam das minhas feridas. O bom
de ser militar e também da família real, era que poucos discutiam sobre protocolos
que eu quebrava. Era feita a minha vontade, ponto final.

Enquanto eu chacoalhava no lado de trás da ambulância, segurando a sacola


com o presente, os seguranças da família não apareceram. Talvez, a ameaça à
monarquia estivesse indo longe demais.
Capítulo 20

O barulho de sirenes me fez correr para a sacada, no frio gélido da noite.


Meu coração sabia que tinha a ver com Davi Lucca, por isso voltei para dentro,
coloquei o primeiro robe que encontrei no closet e saí do quarto.

Quase trombei com Vinicius, que também vestia um robe e estava com olhar
preocupado enquanto tinha o celular no ouvido.

— Isso não é desculpa. Converse com o RH amanhã. — Ele encerrou a


ligação, colocou a mão nas minhas costas e andou apressado ao meu lado. — Ele
está bem.

— É Davi na ambulância?

— Sim. Capotou o carro no dia em que o segurança teve um imprevisto e


não avisou. Não acredito em coincidências.

— Oh, meu Deus! — Coloquei as mãos na boca e comecei a correr.

— Ele está bem, Clarice. Não precisa...

— Vou dizer a mesma coisa quando for sua noiva — rebati, nervosa, por
cima do ombro.

Atravessei dois salões e andei por corredores, até chegar próxima da porta
de entrada. Davi Lucca caminhava sozinho, segurando uma sacola e fazendo uma
careta de dor. Quando me viu, soltou o ar com alívio, mas não melhorou sua feição.

Conferi os curativos e marcas de sangue que tinha pela cabeça, pescoço e


mãos.

— Estou bem — resmungou, me puxando para um abraço.


— Claro que não, você capotou. — Tentei não o apertar, mas o homem não
colaborou e fez isso por conta própria. — Cuidado.

— Já avisei a mãe e o Rei. — Vinicius apareceu ao nosso lado e tocou o


ombro do irmão.

— E Henrique e Helena?

— Sou seu irmão, não secretária. — Encarei o gêmeo em choque, ele


sorriu, tranquilo. — Também foram avisados. Você não é feito de titânio, Davi.

— E os seguranças?

— Demitidos.

— Preciso que alguém de confiança faça a perícia no carro.

— Tudo encaminhado, minha secretária está lidando com isso.

— Desde quando você tem secretária? — O General resmungou de dor e o


apoiei na minha lateral para irmos até o quarto.

— Enquanto você cuida da sua vida, eu também cuido dela e da minha. Sou
um homem de muitas habilidades.

— Não é hora de conversar essas coisas. Você foi para o hospital? Precisa
de algum remédio?

— Sim, você — murmurou no meu ouvido e meu rosto esquentou. Olhei


para os lados e não vi Vinicius por perto, ele deveria ter saído enquanto eu tentava
controlar meu constrangimento.

— Vou te ajudar a tomar banho, apenas isso.

— Aqui. — Estendeu a sacola e a peguei enquanto caminhava ao seu lado.


Ele não precisava da minha ajuda, mas não mudou nossa posição. — Não vai abrir?
— Céus, como consegue pensar em outras coisas que não sejam suas
próprias feridas?

— Porque há coisas mais importantes. — Ele colocou a mão no saco e tirou


a tartaruga de pelúcia. — Você não fala, mas sei que está sentindo falta do projeto.

Fiquei sem palavras e emocionada, havia uma nostalgia que eu não sabia
explicar. A preocupação com a saúde de Davi Lucca, mesclada à sua consideração
pelos sentimentos que não compartilhei, me fizeram ver estrelas. Estava apaixonada
e depois daquele momento, descobri que era amor.

— Você torna tudo mais difícil, Davi — murmurei, engolindo minhas


lágrimas e abraçando a tartaruga.

— Para a minha Princesa, apenas o melhor.

Fiquei em silêncio até chegar ao corredor com os quartos. A Rainha estava


do lado de fora da sua porta, colocou a mão no coração e suspirou quando viu o
filho.

— Pode dormir tranquila, mãe. Clarice vai cuidar de mim.

— Sei que vai.

— E não precisa cancelar o compromisso de amanhã. O noivado vai


acontecer. — Paramos em frente à mulher, que tocou no rosto do filho e sorriu.

— Descansa, amanhã falaremos sobre isso.

Caminhamos mais um pouco pelo corredor até chegar ao nosso aposento.


Levei-o até a cama e deixei meu presente na poltrona próxima. Tranquei o quarto,
ajustei o aquecedor e ajudei-o a tirar suas roupas, começando pelo coturno.

As mãos dele encontraram o cinto do meu robe e o tiraram do meu corpo,


me fazendo corar. Lembrei-me do seu desejo e controlei meu impulso de atendê-lo.
— Nós vamos tomar banho.

— Quero muito mais do que isso. — Tirei a parte de cima da sua farda e
ele tirou minha blusa. — Davi Lucca!

— Foda-se. — Arregalei os olhos, porque ele raramente xingava. — Eu


poderia ter morrido e eu só pensava que nunca mais ia sentir você. — Abraçou
minha cintura, fechou os olhos e lambeu um dos meus seios. — Um pedaço do meu
manjar favorito nem chega aos pés do seu sabor. — Sugou e foi para o outro, me
fazendo derreter com suas palavras e gestos.

— Não quero te machucar — murmurei, cedendo ao seu anseio. Abaixei


meu short, me livrei do robe e, por não vestir calcinha, fiquei nua em sua frente.

— Desde que me deixe continuar, faça o que quiser comigo. — Fez-me


sentar em seu colo, uma das mãos foi para o vão entre minhas nádegas e me tocou de
forma pecaminosa.

— Tomou algum remédio?

— Você é o único de que preciso. — Beijou minha boca, se afastou, e


mordeu meu pescoço. — Rebola para mim, sereia.

Tirando o melhor e o pior das minhas lembranças, obedeci ao seu comando,


forcei sua cabeça a levantar e tomei sua boca. Comandando os movimentos, abri sua
calça enquanto suas mãos passeavam pelo meu corpo em brasa.

Ele se levantou rapidamente, para se livrar da calça e me abraçou ainda


mais, para pressionar a ereção na minha entrada. Abracei seu pescoço quando o
dedo provocador encontrou meu buraco mais íntimo. Ele estava insano e me
contagiava com a neblina de luxúria.

— Seu louco, acabou de sofrer um acidente. — Tentei parar e contê-lo,


escondendo meu rosto em seu pescoço, mas a mão não parou sua exploração,
encontrando minha vagina encharcada de tesão. — Oh!
— Para me derrubar, precisa de muito mais do que isso. — Mordeu meu
queixo e depois chupou, me fazendo revirar os olhos. — Continue rebolando, você
está se controlando demais.

Suas palavras me fizeram descartar a cautela. Voltei a beijá-lo com fervor,


minha virilha se esfregou em seu membro, enquanto seus dedos faziam mágica no
meu sexo. Mordi seu lábio inferior e ele rosnou, jogou-me na cama e ficou por cima,
entrando com tudo dentro de mim.

Sim! Antes que eu pedisse que fosse além, ele entrou e saiu da minha
vagina, com desejo e pressa. Sugou meu lábio inferior, desceu com beijos até o meu
seio enquanto sua pélvis não deu trégua. Gemeu e insistiu, imprimindo mais
velocidade a cada arrepio que eu sentia.

Cheguei ao ápice jogando minha cabeça para trás e lhe oferecendo mais do
meu corpo. Assim que os tremores diminuíram, ele me pegou no colo mantendo a
conexão, fomos para o banheiro e ele ligou a ducha em cima de nós.

A água veio morna e me assustou, antes da quente nos colocar novamente no


clima. Ele me pressionou contra a parede e meteu um pouco mais. O homem estava
desesperado e demonstrava o quanto teve medo. Até os mais imponentes tinham
fraquezas.

Ele insistiu, gemeu e me preencheu, até que fraquejou e me colocou no chão,


com os membros tremendo.

Seus ombros cederam e cambaleou para trás, ele estava sem forças.

— Está louco. Pensa em sexo ao invés de recuperar as energias. — Conferi


as feridas molhadas, bufei para a sua ereção ainda imponente. — Você não gozou?

— Não. Meus braços estão dormentes e a dor não me deixa pensar direito.
— Ele soltou um riso e segurou no meu rosto. — Valeu a pena, cada segundo. Todos
eles.
Peguei o sabonete líquido ao lado, espumei a mão e comecei a passar no
seu tórax. Quando cheguei no seu membro, percebi que poderia concluir o ato de
outra maneira e joguei água, antes de me ajoelhar.

— Você não precisa...

Era a vez dele se foder. Com o meu sorriso mais sacana, segurei na base do
seu pênis e o coloquei em minha boca. Era estranho, diferente, mas me tornou
poderosa, quando o vi se entregar ao prazer que lhe proporcionei.

Sua mão foi para meu cabelo, apertou e ditou o vai e vem. Se existia alguém
mais forte que Davi Lucca, eu desconhecia. Encontrando equilíbrio, ele me dominou
e eu o suguei, amando a sensação de tê-lo em minha boca.

Quando se arrepiou, ele me afastou e gozou, mirando nos meus seios.


Levantei-me preocupada, sua mão foi na minha nuca e me puxou para um beijo na
boca sensual.

Com aquela dominância, nem precisava dizer, eu era toda dele.


Capítulo 21

Ele não quis dormir, enchemos a banheira e ficamos relaxados, comigo em


sua frente. Suas mãos não se cansavam de tocar meu corpo, massagear meus seios e
sentir a umidade entre minhas pernas, que ia além da água ao nosso redor.

— Já te agradeci pelo presente? — comentei, bocejando de sono e


contentamento.

— Gostou?

— Sim. Eu, realmente, estava pensando nas tartarugas e o quanto essas


férias já estão começando a mexer comigo.

— Sinto muito.

— Não estou falando de você. — Virei-me para encará-lo, ele não parecia
ofendido. — É apenas que... ser uma Princesa de verdade requer muito empenho. Eu
nem sabia que eu precisava me curvar para cumprimentar a família real.

— É apenas uma formalidade.

— Respeito ao título.

— Não quero que mude para se adaptar. Faça apenas se você quiser, o que
te deixar confortável. — Ele respirou fundo e olhei seu tórax definido. Coloquei as
mãos e me sentei em suas pernas, era a minha vez de explorá-lo. — Você não precisa
forçar, Clarice. Seu prato está cheio para ter que lidar com meus problemas.

— Está arrependido de ser meu noivo? — Pressionei os lábios e senti os


músculos do seu abdômen.
— Apenas de te colocar em perigo. — Suas mãos seguraram no meu quadril
e me puxou para próximo da sua pélvis. — Não vou mentir, estou gostando de estar
com você.

— Eu também. — Sorri, buscando seu olhar e encontrando intensidade. —


Gosto de você, Davi Lucca.

— Não foi minha intenção te seduzir. Nunca pensei em você do jeito que
estamos, naquela época.

— Você deixava muito claro que me imaginava como sua irmã. — Fiz uma
careta e ele também. — Sempre odiei quando falava isso.

— Sou muitos anos mais velho do que você, além de termos nos conhecido
em uma situação de vulnerabilidade.

— Manteve distância emocional o suficiente, Alteza.

— Precisamos continuar assim. — Negou com a cabeça e fez meu tesão


evaporar, ao perceber que tudo não passava de um ato carnal. — Prometi nunca te
magoar, isso vai além do que eu sinto, mas a realização dos seus sonhos.

— Eu sei, Davi Lucca. — Abaixei a cabeça e me deitei nele. — O projeto é


importante para mim, meu futuro profissional.

— Exatamente.

— Mas tenho a minha mãe. Talvez...

— Podemos ir vê-la novamente quantas vezes você quiser.

— Que tal ser menos maravilhoso? — Virei-me de costas e apoiei minha


cabeça no seu ombro. Suas mãos foram para meus seios e os massagearam enquanto
minha bunda se esfregou em sua ereção.
— Pode acreditar, sou muito menos do que você merece. — Desceu a mão
entre minhas pernas e testou minha entrada, colocando um dedo dentro de mim.
Lambeu minha orelha e murmurou: — Posso te fazer gozar novamente?

— Sim — respondi, cheia de excitação.

Sua mão subiu para o meu ventre e me posicionou para seu membro entrar
no meu canal encharcado. Ele me subiu e desceu, com movimentos lentos, para me
preencher aos poucos, enquanto gemíamos.

Aquela posição era diferente, me deixava exposta ao mesmo tempo que


pressionava os lugares certos, no meu sexo. Suas mãos possessivas me apertavam e
conduziam ao mesmo tempo que me deixavam livre para buscar a melhor fricção.

Água começou a espirrar quando eu acelerei o sobe e desce. Virei o rosto e


tomei seus lábios nos meus, para os estímulos me levarem ao ápice. Seus dedos
ajudaram na mágica sensual, esfregando meu clitóris com movimentos circulares e
prolongando o momento de extremo tesão.

Meu corpo estremeceu e rebolei antes de me entregar à exaustão. Assim que


suspirei, ele saiu de dentro de mim e se masturbou até gozar. Beijou meus ombros e
pescoço, depois me abraçou e escondeu o rosto no meu cabelo.

— Precisamos dormir, teremos muita coisa para fazer no nosso noivado.

— U-hum — resmungou, me apertando ainda mais.

— Você parece um Príncipe rebelde, Davi Lucca. Sempre te achei o mais


centrado.

— Ainda sou, mas gosto de pensar que sou um homem sem obrigações
quando estou com você. — Ele me virou para me encarar. — Meu único
compromisso quando estamos juntos é te deixar satisfeita.
— Missão cumprida, General. — Beijei seu nariz e me levantei. — Vamos
tomar uma ducha e ir para a cama. Você precisa dormir.

— Confesso que esse acidente me deixou com tesão. — Ele também se


levantou e me acompanhou na ducha. Deu um tapa de leve na minha bunda e
escondeu o membro com sua mão. — Se deixar, vou querer mais.

— Só se for em outro buraco, porque eu já estou... — Arregalei os olhos,


ao perceber que tinha dupla interpretação no que falei. O sorriso safado aqueceu
meu corpo, a alma e o coração. — Davi!

— Quem disse foi você. Eu topo. — Olhou para os lados e franziu a testa.
— Como você é a primeira com quem eu transo no aposento real, preciso me
municiar.

— Como assim? Que mente poluída! — Dei um tapinha em seu braço e ele
gargalhou. — Foco nas aparências e bons costumes.

— Esse é com o Rei, você está com o Príncipe General. — Roubou-me um


beijo, depois pegou o sabonete. — Vamos para a cama, senão você não dormirá.

— Você acha que seu irmão é conservador demais? — perguntei, por


curiosidade e impulso.

— Não sei da vida sexual dos meus irmãos, mas te garanto, nenhum Fiori é
santo entre quatro paredes. — Ele começou a murmurar uma canção, me puxou para
próximo e me balançou. — Quero queimar com você, sereia.

“Quando o fogo sobe mais alto

eu vou

eu estarei lá
E se queimar

Vamos morrer juntos e eu

Eu vou queimar com você”

Egypt Central – Burn With You

Fechei os olhos e deixei que me conduzisse, com a voz sensual, me fazendo


queimar com ele. Esqueci a preocupação do momento, do noivado que nos
aguardava e as aparências que deveriam ser mantidas, mesmo estando apenas nós
dois.

Eu estava apaixonada, queria ser a noiva de verdade e esquecer meus


sonhos, para poder viver aquele momento. Mas, Davi Lucca era muito mais do que o
meu salvador de anos atrás, um homem maduro e que seria difícil de esquecer.
Capítulo 22

Foram horas de salão, cuidado com o corpo e a pele. O vestido delicado e


de mangas compridas se ajustava perfeitamente ao meu corpo fora do padrão real.
Eu me sentia linda, uma verdadeira Princesa e estava no ápice da minha euforia.

Ligaram do hospital da minha mãe e avisaram que ela acordou. Ainda não
estava lúcida por completo, mas falou algumas palavras e combinei de ir vê-la assim
que as festividades com a realeza terminassem.

Não vi Davi Lucca pelo dia, mas troquei uma mensagem com ele, que
estava com saudades.

A festa aconteceria ao entardecer em um salão anexo ao palácio. Todos


estavam agitados e meu coração acelerava ao pensar que entraria para uma família.
Por mais que o acordo fosse manter uma mentira, o evento era real e as emoções que
eu sentia também.

Tanto tempo me sentindo deslocada mesmo estando com meus pais, aquela
farsa me conectava muito mais do que o passado.

Olhei-me mais uma vez no espelho e minha perna chacoalhou. Estava em um


cômodo exclusivo, aguardando ser convocada para ir até o salão. Mal tinha
almoçado e não consegui lanchar, meu estômago revirava de antecipação.

Batidas soaram e uma das funcionárias foi abrir a porta. Reconheci o rosto
de Helena e forcei o sorriso, por estar nervosa e querer fazer mil e uma caretas de
desespero. Seu vestido era elegante e salientava a sua silhueta fina. A postura
impecável e passos cronometrados me mostravam o quanto eu estava longe de ser
digna daquele posto.
— Olá, cunhada. — Ela se aproximou animada e me abraçou. — Ainda bem
que com você posso fugir um pouco da etiqueta.

— Olá, Alteza. No meu caso, eu preciso aprender. — Tentei me curvar, mas


ela não deixou.

— Apenas Helena, por favor. — A mulher delicada e graciosa me encantou


com sua humildade. — Vim conferir se está feliz ou foi obrigada a participar dessa
loucura. Foi tudo rápido e imprevisível.

— Eu amo Davi Lucca — confessei por impulso. Senti minha pressão cair e
me firmei em pé, para não cambalear. — Quer dizer...

— Perfeito. Espero poder me casar por amor também. — Seus olhos se


encheram de lágrimas. — Trouxe algo especial, acredito que combina com o vestido.

Ela pegou um saco de veludo de um bolso escondido na saia da sua roupa.


Tirou de dentro uma pulseira e a ergueu, tinha um pingente de tartaruga. Impossível
não chorar, era o segundo presente que me fazia lembrar dos meus sonhos e tudo o
que sacrifiquei para realizá-los.

— Oh, caramba, vai estragar sua maquiagem. — Ela virou, pegou um lenço
de papel em cima de uma mesa e me entregou. — Estenda o braço.

— É lindo.

— Davi comentou sobre sua paixão pelos animais marinhos. Me senti


tocada e trouxe para você. Só não conte para meus irmãos, nenhum deles ganhará
presente.

— Obrigada. — Tentei limpar as lágrimas sem borrar a maquiagem. Ela


terminou de colocar no meu pulso e me ajudou a secar o rosto. — Preciso me
controlar.
— Por favor, não o faça. Apesar de estar entrando na família real, aproveite
todos os momentos que você puder para não seguir o protocolo. Postura, etiqueta e
bons costumes não nos tornam melhores nem piores, apenas distantes.

— Não quero desrespeitar o Rei.

— A Rainha Beatriz está amolecendo o coração de gelo de Arthur. E, você


tem Davi Lucca como aliado. — Ela se afastou e conferiu meu rosto. — Está pronta.

Bateram à porta, uma mulher do cerimonial avisou que minha presença era
esperada no salão e saí com minha cunhada. Ela tomou um caminho diferente do meu
e, com passos cautelosos, andei pelo corredor, atravessei o grande portal e parei no
mezanino.

Antes que eu pudesse sentir minhas mãos suando, por conta dos convidados
e jornalistas presentes, virei o rosto e encarei o General Fiori, em seu traje militar
de gala. Seus ferimentos foram cuidadosamente disfarçados e ele sorria para mim.

— Clarice Mattos.

— Davi Lucca Fiori.

— Podemos ir?

Estendeu a mão, coloquei a minha em cima da dele e descemos a escada


com suavidade. Meu coração parecia que pularia pela boca a cada degrau. Busquei
reconhecer alguém na imensidão de curiosos e, infelizmente, meu ex estava presente.

Posamos para fotos, Davi conversou brevemente com alguns jornalistas e


seguimos para o segundo ambiente, para mais sorrisos e fotografias. Não consegui
pronunciar nenhuma palavra, deixei que me conduzisse, por medo de falhar.

O olhar julgador daquele que pertenceu ao meu passado me incomodou, mas


não me fez perder a postura elegante. Assim que a recepção com a imprensa
terminou, fomos para a parte principal da festa.
— Está tudo bem? — Davi Lucca perguntou e sua preocupação seria
percebida como fofa em outro momento, se não fosse meu nervosismo.

— Sim. Não estou acostumada, apenas isso. — Respirei fundo e empinei


meu nariz, para não perder a pose altiva enquanto andava ao lado dele.

— O pior já passou. Agora, vamos aproveitar com minha família e amigos


próximos.

Acenei com a cabeça e paramos em frente a uma porta de madeira


estilizada. A cerimonial nos deu instrução para andarmos até o final do salão e nos
sentarmos ao lado do Rei, na grande mesa destinada à família real. Quando fosse o
momento, ela nos indicaria a valsa e a recepção de felicitações dos convidados.

A porta se abriu, uma música instrumental soou e aplausos nos


acompanharam enquanto eu caminhava com Davi Lucca ao meu lado. Naquele lugar,
não reconheci ninguém e, apesar de ser uma situação triste, eu imaginava que
poderia me abrir para conhecer novas pessoas.

Não conseguia me conter, eu queria fazer parte de tudo aqui. Com o


General, eu me sentia protegia e acolhida, em todos os lugares que estávamos. Nem
mesmo o meu ex-namorado, o trauma do passado e o assédio da imprensa me
intimidaram.

Sentamo-nos à mesa, a Rainha mãe estava radiante enquanto o Rei e sua


esposa estavam contidos na emoção. A comida foi servida e sorri para a conversa
entre os irmãos, que aliviou o clima de tensão que eu sentia. Confesso que não
consegui prestar atenção aos detalhes, minha língua coçava por querer me declarar,
de verdade, para Davi Lucca.

Quando nos chamaram para a valsa, percebi que era o momento ideal.
Mesmo sem saber como dançar, confiei no meu parceiro e nos deixei deslizar pela
pista, olhando em seus olhos e me apaixonando cada vez mais por aquele momento.
Eu, finalmente, teria uma família.

— Te amo, Davi — sussurrei próxima do seu ouvido, sendo conduzida de


um lado para o outro. — Como nunca pensei que eu sentiria isso por alguém.

— A pulseira. — Ele desviou o olhar e o assunto. Engoli em seco e tentei


não ficar mais nervosa do que já estava ficando.

— Helena me presenteou. Tem uma tartaruga, ela se lembrou de mim.

— Esse é o seu sonho, Clarice. Nunca tiraria isso de você. — Forçou o


sorriso, mas não era verdadeiro, apenas de aparências. Mantive a feição serena, por
mais que a vontade fosse de entrar em conflito. — Você irá conquistar o mundo e
desbravar oceanos. Compromissos reais não combinam com seu espírito livre.

— Você está certo, mas não tem o poder de dominar meus sentimentos. Ou
nada do que fizemos tem importância para você?

Parei a dança e o Príncipe General tomou o controle, nos conduzindo para


longe do público. Vi a parede de vidro que mostrava o jardim e mudei a nossa
direção, ficando em frente à porta que dava acesso ao lado de fora.

— Está muito frio — ele comentou com reprovação.

— Quero continuar a nossa conversa.

— Aquele assunto está mais do que esclarecido.

— Eu ainda...

— Podemos falar depois. Tudo bem?

— Sim. — Bufei e indiquei com a cabeça para fora. — Preciso de ar. —


Encarei o funcionário, que olhou para o General, antes de atender ao meu pedido
indireto de abrir a porta. — Você pode vir comigo ou me dar alguns minutos para
espairecer.
— Vou ao toilette, mas voltarei para te buscar. — Inclinou-se para beijar
minha testa. — Tome meu paletó.

Davi Lucca me fez vestir sua roupa, mesmo que eu soubesse que talvez isso
não fosse permitido por conta de alguma regra de etiqueta. Fechei os olhos
brevemente e me virei, para descer os poucos degraus e caminhar na grama gélida.

Abracei meu corpo e senti seu cheiro, eu o queria comigo, estava


apaixonada, mas não sabia se tinha forças para lutar pelos meus sentimentos. Quando
achei que a mentira poderia ser ofuscada por se tornar real, percebi que caí em uma
armadilha feita por mim mesma.

O noivado nunca poderia se tornar real, mesmo que meu amor nunca tenha
sido de mentira.
Capítulo 23

A cena dela se jogando do barco se repetia em minha mente, todavia, eu não


estava indo para buscá-la como fiz anos atrás. Meu peito estava apertado por mais
de um motivo. Eu estava prestes a magoá-la, para que ela não se sacrificasse por um
relacionamento em que apenas ela abria mão de algo.

Entrei no banheiro reservado para a família e encontrei os gêmeos


conversando. Assim que me viram, perceberam a ausência de parte da minha roupa e
franziram o cenho.

— Estou com medo de perguntar o que aconteceu — Henrique, o mais


brincalhão de todos, segurou o riso.

— Pelo olhar dele, não foi nada do que você está pensando. — Vinicius
trocou um olhar com ele antes que eu me sentasse na poltrona, completamente
derrotado. — O que aconteceu?

— Preocupado com os inimigos da família — exagerei, mas não deixava de


ser uma verdade.

— Temos seguranças para isso. Estou cuidando, pessoalmente, de tudo


desde o seu acidente.

— Esse assunto está muito sério para mim. — O brincalhão se aproximou,


apertou meu ombro e sorriu. — O paranoico é o Vini. Relaxe e aproveite o início de
relacionamento. Dizem que é a parte boa, antes da rotina te fazer transar apenas uma
vez por mês.

— Não se eu puder evitar — rebati antes dele sair. Eu poderia tornar nosso
casamento melhor, mas eu via o sacrifício que ela estaria fazendo, sem que eu
pudesse compensar a altura.
— Vai lá, conte tudo. — O gêmeo mais sério cruzou os braços e se encostou
na pia ornamentada.

Antes que eu pudesse abrir a boca para dizer outra mentira disfarçada de
verdade, a porta do banheiro se abriu e o Rei entrou, deixando um dos seguranças do
lado de fora.

— O que está acontecendo? — perguntou com seu habitual olhar sério e


analítico. — Por que está sem o paletó da sua roupa?

— Emprestei para Clarice andar pelo jardim.

— Está muito frio. Por que a deixou ir?

— A monarquia continua com alguns costumes conservadores, mas as


mulheres tomaram a independência e não precisam fazer o que os homens mandam
— Vinicius comentou com seriedade, apesar do sorriso contido.

— Não é sobre domínio, mas bom senso. Há jornalistas e muitas pessoas


desconhecidas no palácio, além do frio. Os seguranças fazem a parte deles, contando
com nossa prudência. — O Rei me encarou com desaprovação e me senti ainda mais
culpado. Coloquei a mão na testa e fechei os olhos, estava tudo errado comigo, mas
eu ainda precisava colocar minhas ideias em ordem antes de voltar a falar com
Clarice.

— Merda — resmunguei.

— O caso é sério, Arthur. Davi Lucca xingando, quer dizer que temos
problemas no paraíso.

— Vocês podem usar o banheiro. — Apontei para as cabines e bufei. — Só


preciso de alguns minutos e voltarei para a minha mulher.

— Seu acidente foi abafado por causa do noivado, mas nem todo escândalo
é possível omitir. — O Rei se aproximou e encarei meu irmão mais velho, que por
muitas vezes precisou abandonar as brincadeiras comigo – quando jovem –, para
lidar com as responsabilidades do seu futuro cargo. — Tudo o que vi foi muito real.

— Esse é o problema, não pode ser. — Levantei-me da poltrona e me


encarei no espelho.

— Nem todo enlace começa com o amor. Ele pode vir de outras formas,
como a convivência.

— Arthur, vivemos em outro mundo. Casamento como o seu está fora da


nossa realidade. — Vinicius deu passos para o lado e abaixou a cabeça como
reverência, o Rei não estava aberto a piadinhas. — Com licença.

— Recomponha-se, General — Arthur ordenou, baixo, assim que ficamos


sozinhos.

— Sei das minhas responsabilidades. — Encarei-o com a mesma


imponência.

— Então, vá atrás da sua noiva e não a deixe sozinha, enquanto temos uma
ameaça. Eu vi — ergueu as sobrancelhas — vocês dançando e não tinha nada
arranjado.

— Não a quero obrigar...

— Às vezes, o dever é o empurrão necessário para unir duas pessoas.

— Experiência própria?

— Não te devo satisfação, eu sou o Rei.

Vi a sombra de um sorriso no seu olhar, mas deveria ter sido a minha


imaginação. Rainha Beatriz não deveria ter conseguido mudar meu irmão em tão
pouco tempo, não o menino que foi talhado a ser um homem tão frio quanto o clima
do país.
Usei o banheiro e ele fez o mesmo, depois lavamos as mãos em silêncio,
mas o olhar que trocamos foi o suficiente para me aprumar.

Saímos do banheiro, Arthur voltou para o salão e eu fui em direção ao


jardim. Apesar do frio e de estar sem a roupa adequada, fui atrás de Clarice, para
explicar todos os motivos de não a prender em Grã-Aurora, como parte da família
real.

— Me solta! — escutei a voz irritada da minha noiva e a avistei próximo do


jardim com cercas vivas até a altura da cintura. Havia um homem com ela, que
ergueu sua câmera quando me viu aproximar.

Onde estavam os seguranças que não impediram aquilo?

— Saia — ordenei assim que me notaram. Clarice percebeu minha


aproximação apenas naquele momento e correu para ficar atrás de mim. O idiota
continuou tirando fotos e me controlei para não quebrar aquele equipamento na sua
cabeça. — Pare de assédio.

— São apenas fotos, Alteza. — O tom de deboche não me passou


despercebido. Se eu não fosse um Fiori, já teria partido para a briga, sem me
preocupar com a repercussão da agressão física. — Então, vocês estão namorando
desde á época do colégio?

— Ofensas não serão toleradas também. Volte para o local destinado à


imprensa. — Coloquei meu braço protetor em Clarice, que se encolheu e me trouxe
um pouco de calor.

— Lembro-me do que aconteceu naquele navio. Um dia depois, ela


terminou o namoro e sou traumatizado por isso.

Então lembrei quem era aquele idiota, que estava contando uma mentira e
perdi o controle. Dei um passo ameaçador para frente, prestes a destruir a cara
daquele ex-namorado, que a chamou de sereia do Atlântico na coletiva de imprensa.
— Não. Vamos para dentro. — Clarice abraçou minha cintura, foi o
suficiente para congelar no lugar e a obedecer.

— Fique longe dela — ameacei-o também com o olhar, mas a vontade era
de apontar o dedo ou lhe desferir um murro naquela cara de panaca.

Virei dando passos largos em direção à porta do salão e Clarice começou a


correr para me acompanhar. Peguei-a no colo de surpresa, ela deu um gritinho
assustado, mas logo abraçou meu pescoço.

Marchei determinado para longe, não iria voltar para o salão, mas para
algum lugar que pudéssemos ter privacidade. A propriedade era grande o suficiente
para nos perdermos ou escondermos.

Escutei passos me acompanhando e olhei para o lado. Dois seguranças


tentavam me alcançar e minha vontade era de demiti-los também.

— Senhor! O Rei pediu para que dispensasse a imprensa e que a família se


reunisse no salão.

Às vezes, eu me esquecia que, apesar de exigir prioridade, o meu irmão


estava acima de todos. Parei meus passos e Clarice ergueu a cabeça para me
encarar. Ela tinha a maquiagem borrada e lágrimas escorrendo, fazendo minha culpa
me esmagar.

— Prometi não te magoar. Sinto muito.

— A culpa não é sua. — Respirou fundo e espiou por cima do meu ombro.
— Obrigada por ser um Príncipe, de todas as formas. Mas temos um dever para
cumprir, o rapaz está certo. É nosso noivado.

— Preciso conversar com você.

— Depois. — Tocou meu rosto e fez um movimento com as pernas.


Coloquei-a no chão e ela me entregou o paletó, mesmo eu negando com a cabeça. —
Você não pode aparecer desse jeito.

— Está tudo errado.

— Faça o certo, obedecendo ao Rei. Eu estou bem, você me salvou daquele


predador.

Coloquei o paletó, ajeitei seu rosto e a beijei, não me importando se o


batom iria borrar tanto quanto o resto da maquiagem estava. Ela retribuiu com desejo
e abraçou meu pescoço, eu a amava, mas me faltava experiência para expressar meus
sentimentos.

— Vamos. — Ela interrompeu o beijo e me puxou de volta para o salão. —


Estou morrendo de frio e preciso arrumar a maquiagem. O Senhor pode ver com
alguém do cerimonial?

— Sim, farei isso — o segurança respondeu, aguardou meu aceno de


aprovação e se antecipou.

Nós teríamos mais algumas horas de aparência antes de expormos as minhas


verdades.
Capítulo 24

Fui dormir primeiro e nem vi Davi Lucca se deitar na cama comigo. Não
conversamos e achei melhor que continuássemos focados em sermos o casal
inusitado do momento.

Surtei, porque queria ser uma Princesa de verdade, mas voltei à coerência.
Era um sonho para se realizar, se não tivéssemos feito um acordo antes de tudo isso
começar. Eu confundi. Homens sabiam separar amor de paixão. Inexperiente e
solitária, a primeira demonstração de carinho me fez entregar meu coração.

Assumia a responsabilidade dos meus atos. Apesar de não ser madura o


suficiente, engoli minhas lamúrias e reclamações para ter as férias dos meus sonhos,
sendo a noiva de um Príncipe General. Depois, acenaria em despedida e voltaria
para a minha vida de plebeia, com o projeto, minhas tartarugas e turistas.

Senti-o me apertar o corpo quando me remexi. O celular despertou, estiquei


meu braço e desliguei o alarme.

— Bom dia — ele resmungou, não me soltando.

— Preciso ir ao banheiro e, depois, visitar minha mãe.

— Vamos mais tarde, eu cancelei todos os compromissos para hoje.


Cheguei a pouco, estava com a perícia do meu carro.

— Como foi? — Ele ficou em silêncio. — Davi! — Como ele não parecia
disposto a me soltar, fiz carinho na sua mão espalmada na minha barriga. — Tudo
bem, pode continuar dormindo, a Rainha Elizabeth irá comigo.

— Não, eu vou.
— Sim, você fica. — Virei, deixei um beijo casto nos seus lábios e ele
abriu a boca para ir mais além do que eu estava intencionada. Meu corpo se
incendiou, era como se todo momento íntimo que tivéssemos fosse o último. — Davi,
não posso me atrasar.

— Sua mãe. Minha mãe. Decidam nosso futuro depois, porque o presente,
quem fará sou eu.

Ele me virou de bruços na cama, ergueu a blusa do meu pijama e deixou


uma trilha de beijos nas minhas costas até chegar à lombar. Abaixou o short e
pressionei minhas pernas, eu queria ao mesmo tempo que necessitava fazer um certo
charme.

Beijou de boca aberta e deu leves mordidas na minha bunda, conseguindo


me relaxar. O gemido saiu para incentivá-lo a continuar, porque eu estava
apreciando. Tirou minha rouba de baixo, ergueu meu quadril e posicionou sua mão
por baixo, na minha vagina.

Cobriu meu corpo com o dele, senti seu membro se esfregar entre minhas
pernas enquanto circulava o clitóris com a ponta dos dedos.

— Minha noiva precisa do café da manhã dela, digna de uma futura Fiori.
— Beijou meu pescoço e subiu para a orelha. — Diga sim.

— Sim — respondi de olhos fechados.

— Eu te quero, Clarice. Seja minha.

Ele se encaixou na minha entrada e, com movimentos contidos, entrou e saiu


de mim.

— Desde que cheguei sou sua, Davi Lucca — murmurei, querendo que ele
ouvisse ao mesmo tempo que não.
Aumentou o ritmo e não deu indicação de que aquela confissão lhe fizesse
mudar de ideia. Foi me preenchendo, impulsionando e me levando ao céu da luxúria
enquanto minha mente colocava algemas de sensatez. Entregar-me, mas sem apego.
Ele não me devia nada além do que aquele momento.

Apesar de querer promessas e consideração, tinha que focar no acordo e em


retribuir a benfeitoria. Manter a mentira enquanto meu amor por ele se tornava cada
vez mais imensurável.

Seus gemidos ficaram mais agudos, ele colocou as mãos ao lado da minha
cabeça e abriu minhas pernas com as dele. Segurei nos seus pulsos e me deixei ser
possuída, o homem intensificava cada vez mais a junção entre nós, fundo e marcante.

Meu corpo se movimentava para frente e para trás, sua pélvis se chocava
com minha bunda, fazendo barulho e tornando tudo mais excitante. Aquela conexão
carnal clamava por sentimentos, tinha meu amor e a entrega do meu prazer. Estava
apaixonada e tinha os melhores momentos com o General.

Tentei me concentrar apenas no ato sexual, mas não consegui chegar ao


ápice. A frustração não era só minha, mas dele e na velocidade dedicada para me
fazer gozar.

Afastou-se, me virou de frente e esfregou meu clitóris com seu membro


antes de nos conectar novamente. Com seu olhar no meu, naquela posição, foi mais
fácil de me entregar à ilusão de que teríamos um futuro juntos.

Sentia a ereção entrar e sair, pressionando meu clitóris com determinação.


Meu corpo estremeceu, fechei os olhos de satisfação e o orgasmo me relaxou.
Mesmo parecendo difícil, Davi Lucca conseguia tornar tudo mais fácil e intenso.
Logo depois foi a vez dele gozar, saiu de mim para lambuzar minha barriga, me
marcando com seu cheiro e fluído.

Despertei para a realidade pela segunda vez quando ele se jogou ao meu
lado e suspirou. Virei o rosto para encontrar o dele sonolento, mas feliz.
— Bom dia, noiva. — Ah, se ele soubesse que era uma punhalada com os
espinhos das flores, economizaria no romance.

— Muito bom. — Coloquei a mão na barriga para não escorrer e saí da


cama. — Vou tomar um banho e ir.

— Eu vou junto. — Ele nem se mexeu na cama, estava exausto.

— Não, você fica. Depois me leva para tomar um chocolate quente no


centro.

— Tudo bem. Qualquer coisa, me ligue.

Tomei um banho rápido, coloquei uma roupa confortável e optei por usar o
casaco que Davi tinha me emprestado, da irmã. Andei silenciosa pelos corredores
até a sala principal do palácio, em busca da Rainha.

A antecipação de ver minha mãe, consciente, começou a tomar conta de


mim. Um misto de nervosismo e culpa, por não estar tão presente na vida dela,
poderia me prejudicar aos olhos da minha acompanhante.

Dei um pulo assustada quando a mulher apareceu, sorridente e amorosa.


Tentei fazer uma reverência, seguir o protocolo e ela me puxou para um abraço.

— Etiqueta é bom, mas gosto do ar jovial e rebelde que há em você. Não


precisa mudar.

— Sinto muito, Majestade. É que...

— Tudo bem. Já tomou café da manhã? — Ela se afastou e segurou no meu


braço.

— Acordei atrasada, prefiro não me delongar.

— Podemos tomar algo na cidade, café da manhã é a melhor refeição.


Vamos, então, estou animada para conhecer a Senhora Mattos.
— Obrigada por se disponibilizar em me acompanhar.

— Você faz parte da família agora. — Deu um tapinha no meu braço e


seguimos em direção à porta de saída.

Céus, outra rosa com espinhos!

Forcei o sorriso, dois seguranças nos aguardavam do lado de fora e


caminhamos ladeadas até a limusine. Bem acomodada ao lado da Rainha, que mais
parecia a minha mãe me levando ao primeiro dia de aula, ficamos em silêncio
cômodo enquanto éramos conduzidas em direção ao hospital.

“Você ficaria?

Com fé quebrada, uma asa quebrada

Você pode acreditar em mim?

Quando tudo poderia virar fumaça

Uma alma perversa sem controle está esperando

Você pode me responder?

Você ficaria?”

Damn Nation – Would You Stay

A música baixa não acalmou meus nervos, mas me fez pensar em Davi
Lucca e nos nossos momentos. Era o estilo que a gente gostava, um dos muitos gostos
que compartilhávamos.
Chegamos ao hospital e como foi com o General, tudo fluiu sem muita
demora. Entramos no quarto da minha mãe, ela sorriu quando me viu e fui abraçá-la,
estando sentada em uma cadeira ao lado da cama.

— Que saudades, minha filha. Como está? E a escola? — Ela estava


amável e não me cobrava ou julgava, queria saber de mim. Controlei o choro, eu já
tinha derramado lágrimas demais naqueles últimos dias.

— Bem, mãe. — Afastei-me para encará-la. — Estou formada, chega de


escola.

— Claro. Minha cabeça não é mais a mesma, você já é uma mulher.

— Sim.

— Está queimada do sol. — Tocou meu rosto e alisou meu cabelo. — Passe
protetor solar. Por mais que esteja frio, os raios solares vão além dos flocos de gelo.

— Pode deixar. — Voltei para o lado da Rainha, que sorria acolhedora.

— Espero que você tenha conseguido tudo o que queria no Brasil. Um


homem bom e uma família.

— Por isso vim. — Mordi a língua para desviar meu foco da emoção. —
Gostaria de apresentar a mãe do meu noivo.

— Oh! — Seus olhos brilharam de euforia.

— Elizabeth. — Ela se aproximou e estendeu a mão. Minha mãe a


cumprimentou e acreditei que tinha reconhecido quem a mulher era, mas nada
aconteceu. — Como a Senhora está?

— Sou Eugênia. Sinto muito termos que nos conhecer assim. Não tenho nem
uma xícara de chá para oferecer. — Minha mãe tentou se levantar, mas não tinha
forças. — Estou ficando fraca.
— Não se preocupe. — A Rainha puxou uma cadeira e apontou para a
cama, para que eu me sentasse. — Podemos improvisar, o que importa é estarmos
juntas. Concorda, Clarice?

— Sim. — Estendi a mão para minha mãe e me acomodei no seu leito.


Ainda não entendi como tudo estava fluindo tão bem, como se nós não tivéssemos
ficado tanto tempo sem nos comunicarmos pessoalmente.

— Que bom que está aqui. Depois traga o rapaz para que eu conheça.

— Eu vim, mas a senhora estava dormindo.

— Isso não é desculpa, filha. Preciso ver se é um bom moço. Sim?

— Pode deixar, mãe.

— Sei que não posso sair daqui e que já atrapalhei demais sua vida. Hoje,
eu só quero te ver assim: feliz.

— Clarice é muito querida e inteligente — a Rainha iniciou uma conversa e


pude respirar fundo, várias vezes, para não me desmanchar.

A última recordação que eu tinha da minha mãe não era das melhores, por
isso tinha sido fácil ignorar seu estado, quando ela foi internada. Mas, tendo mudado
muitos conceitos e aberto meu coração para o amor, me fez encarar meus pais e os
sacrifícios feitos no passado, de outra maneira.

Aquele sofrimento que mais parecia uma ferida aberta na minha


adolescência tinha se transformado em uma cicatriz. Com a candura da Rainha e a
paciência da minha mãe, tudo parecia perfeito. Mesmo sendo mentira, era melhor
que dona Eugênia Mattos soubesse que a filha estava bem cuidada longe da sua
guarda.

Tinha visto meu pai definhando e foi difícil. Acompanhar minha mãe
naquele estado estava sendo pior, porque não havia raiva em meu coração, apenas
uma forte necessidade de agradecer tudo o que foi feito.

Saímos do hospital com promessas de voltar e com o sorriso da minha mãe


na memória. Quando entramos no carro, foi impossível não desmoronar e, daquela
vez, quem me consolou foi a Rainha Elizabeth. Davi Lucca tinha a quem puxar e eu
me apaixonava um pouco mais por aquele Príncipe General inalcançável.
Capítulo 25

Estava tendo mais momentos longe de Davi Lucca do que gostaria. O


noivado tinha passado e o Natal estava próximo, aquela época mexia com as minhas
emoções.

Comigo ao lado do General, eu tinha atenção e ele atendia minhas


necessidades, mas não estava sendo o suficiente. A mentira, que eu impus para pagar
minha dívida de gratidão, estava custando muito caro.

Divagando no closet, olhando para a roupa natalina que me foi designada,


eu me permitia sofrer pelo noivo que nunca seria meu de verdade. Nossa conexão na
cama, no banheiro e contra a parede estava perfeita. Por mais que minha experiência
fosse apenas com Davi – aqui estou ignorando o ex –, eu não queria nenhum outro
para comparar.

Era triste saber que nem tudo era suficiente. O amor não curava todos os
males, nem resolvia os problemas. Estava sentindo falta do meu trabalho, da rotina
que eu tinha no Brasil, ao mesmo tempo que ficar longe da minha mãe não deveria
ser minha opção.

Coloquei as meias grossas, o vestido e a bota, ajeitando o meu cabelo o


mais simples possível. As Rainhas tinham funcionários e pessoas as servindo a todo
momento. Ainda bem que o General economizou naquela mordomia, porque eu
gostava de ficar sozinha, ouvindo meus pensamentos, sem plateia.

Peguei meu celular, tirei uma foto no espelho e enviei para o General. O
velho hábito não iria embora tão cedo, antes de tudo, nós éramos amigos.

Clarice>> Pronta para distribuir presentes na cidade.


Davi Lucca>> Eu também vou ganhar um?

Clarice>> Você foi um bom menino, Príncipe General Fiori?

Davi Lucca>>Se formos seguir essa regra, eu ficarei muitos Natais sem
presente. Esse ano está sendo... diferente.

Clarice>>Não há nada para celebrar?

Davi Lucca>> Talvez eu seja muito egoísta ao agradecer o que tenho.


Já está saindo com minha mãe e a Rainha?

Clarice>> Sim.

Enviei outra foto, apenas do meu rosto e parte do decote, que seria coberto
pelo casaco de frio estilizado. Eu queria provocar uma reação mais enérgica, que o
fizesse me carregar no ombro como um homem das cavernas em uma missão. Mas,
além dele ser cavalheiro, ele cumpriria sua promessa de manter a farsa.

Davi Lucca>>Vai me esperar assim?

Clarice>>Você anda muito ocupado. Talvez eu me divirta sozinha.

Davi Lucca>> De onde surgiu essa noiva ousada e cheia de palavras


com duplo sentido?

Clarice>>Ficar longe das minhas tartarugas está afetando meu lado


recatado. Volte cedo, General.

Davi Lucca>> Seu pedido é minha missão.


Dei um gritinho assustado quando bateram à porta. Guardei meu celular,
peguei a pequena bolsa que levaria comigo e saí do cômodo, tendo uma das
funcionárias me aguardando.

— Vim chamá-la. A Rainha Elizabeth e a Rainha Beatriz estão terminando


de se aprontar.

— Claro. Pronta para sorrir até dar câimbra.

Entre altos e baixos emocionais, aquele evento era um dos que mais estava
animada para participar. Quando criança, eu já fui uma daquelas beneficiadas por um
presente entregue pela família real e sabia da importância que tinha.

Os Fiori eram mais que um legado, mas uma referência de esperança e


prosperidade. Se eles estavam naquele lugar e nos davam algo, era porque teríamos
sorte para o resto das nossas vidas.

Congelei no meio do caminho para sair do castelo, com as mãos na boca e


olhos arregalados, ao lembrar que minha paixão pelas tartarugas veio dali. Meu
coração acelerado sabia que o rapaz que estendeu o embrulho e me desejou Feliz
Natal tinha todas as características de Davi Lucca.

Era uma memória que estava se desfazendo, mas retornou como se tivesse
acontecido no dia anterior. Amei aquele brinquedo, uma pelúcia de tartaruga muito
parecida com a que ele tinha me dado recentemente.

Tão surrada, minha mãe doou ou jogou fora, quando me tornei adolescente.
A paixão pelo animal marinho ficou, o rapaz e todos da Família Real perderam a
importância enquanto eu crescia, até Davi Lucca me salvar de um ato imprudente.

Meu Deus, será que estava escrito nas estrelas?

Em êxtase ao descobrir que meu passado e presente estavam cada vez mais
conectados, saí com as Rainhas e fomos distribuir os presentes. Beatriz era graciosa
e tinha uma nobreza nata. Eu deveria me sentir diferente ou rebaixada, já que eu não
tinha metade da postura delas.

Mas... o sorriso das duas e o tratamento, como se eu fosse uma igual – parte
da família –, fazia toda a diferença para que eu agisse com naturalidade.

Ao chegarmos, havia um cordão de isolamento entre a rua e as pessoas que


se aglomeravam nas laterais. Rainha Beatriz arrastou um saco de brinquedos e fiz o
mesmo, descendo do trenó e me aproximando das pessoas.

Nunca pensei que poderia ser uma celebridade, além de ovacionada por um
ato bondoso. Iludi-me achando que só tinha defeitos, mas na verdade, só precisava
encontrar o meu lugar.

Cercada por seguranças e a população, me distanciei das Rainhas, para


atender outras pessoas. Muitas fotos e cumprimentos foram despejados e tentei
atender cada um deles.

— Olha a sereia do Atlântico — escutei a voz conhecida e não esmoreci


meu sorriso.

Eu era melhor do que as palavras de ódios direcionadas a mim.

Continuei a fazer o meu papel, ignorei aquele apelido – que mais me fazia
lembrar sexo com o General do que o bullying que sofri. Inabalável seria meu
segundo nome.

Pelo meu canto de olho, percebi que meu ex-namorado tentou chamar
atenção, convencer quem estava do lado, mas desistiu ao ser convidado pelos
seguranças a se afastar, porque cidadãos ao seu redor estavam incomodados.

Nem vi a hora passar, as pessoas estavam dispostas a celebrar o Natal


conosco. Com alguns presentes em mãos, me aproximei da Rainha Beatriz, que
contagiava com seu sorriso amoroso e brilhou seus olhos ao me ver.
— Isso foi incrível! — comentei, ainda empolgada e disposta a continuar,
apesar da fome.

— Muito! — Ela sorriu para as cartas, flores e chocolates.

O sol estava pronto para se pôr quando voltamos para o palácio. Não
paramos de falar um segundo, meu entrosamento com as Rainhas parecia ser de
outras vidas.

Como se tivesse ganhado na loteria, fui para o quarto de Davi Lucca dando
pulinhos e comendo pedaços de chocolate ao leite. Eram pequenas bolas, que
explodiam em sabor a cada mastigada.

Por mais que nos fôssemos nos reunir para a ceia em uma hora, eu não teria
problema de estragar meu paladar ao consumar um dos presentes que recebi.

Dei um grito quando mãos rígidas apertaram minha cintura e me ergueram


no ar. Ao ser posta no chão, virei para encarar Davi Lucca, que já estava com uma
roupa social, algo diferente do costumeiro fardamento.

— Você já está pronto. — Meus olhos brilharam e coloquei mais um


chocolate na boca.

— Pela sua decepção, acho que precisarei tomar mais um banho. O que
acha? — Ele puxou o meu casaco dos ombros e sorriu ao ver o meu decote. — Eu
queria ser um bom menino, mas só tenho pecados para pagar.

— Quem disse que eu presenteio o homem nobre e suas boas intenções?

Sorri com deboche e comecei a correr quando tentou me pegar. Foi fácil me
alcançar, entramos no quarto e larguei tudo, para abraçar Davi Lucca e recepcioná-
lo como prometido.

Tirei a sua gravata, desabotoei o paletó e o colete, com pressa.


— Hum, temos alguém com fome — Davi brincou.

— Então, me ajude a devorar você.

Ficamos nos encarando alguns segundos antes de começarmos a nos despir.


Posicionei-o sentado na cama, fiquei apenas com a meia grossa e me ajoelhei entre
suas pernas.

Toquei seu membro ereto e o masturbei, já familiarizada com o seu corpo e


como ele gostava. Lambi da base até a glande, depois o mergulhei na minha boca, me
sentindo realizada e poderosa. Não sabia explicar como era possível que alguém,
com a vida bagunçada como a minha, se permitia ser feliz com a rotina de um casal
recém-apaixonado.

Talvez, a perfeição estivesse nas pequenas instabilidades que nos


balançavam, mas que permanecíamos de pé.

Suguei-o sem reservas, senti o salgado em minha língua do líquido pré-


sêmen e me excitei ao ter seus gemidos ecoados pelo quarto. Olhei para cima
enquanto subia e descia com minha cabeça, ele me admirava, como se eu fosse sua
Princesa de verdade.

— Sobe em mim — implorou, sabendo que aquela era a minha posição


favorita.

Levantei-me, coloquei um joelho em cada lado da sua perna e o posicionei


na minha entrada. Subi e desci várias vezes antes de tomar sua boca na minha e me
perder na luxúria que nos cercava.

— Esse quarto nunca mais será o mesmo depois de você — comentou, me


causando um misto de sensações. Eu deveria pensar pelo lado positivo ou negativo?

Forcei-o a deitar de costas, ele nos virou e me empurrou para ficar no meio
da cama. Abracei-o com minhas pernas e nossa conexão nunca se desfez. Ele me
sugava e lambia a cada arremetida no meu núcleo. Era muito bom estar com o
General, pois ele sabia me tocar tão bem quanto eu mesma.

— Vire — ordenou, saindo de mim e me ajudando a fazer o movimento.


Deu um tapa na minha bunda e mal tive tempo para raciocinar, ele entrou e me cobriu
com seu corpo. — Ergue esse quadril, Clari. Esse é o momento que farei a sereia
cantar para mim.

— O quê?

Sua mão mergulhou debaixo de mim, encontrou meu clitóris e acelerou as


arremetidas. Os gemidos foram difíceis de controlar, eu gozei por causa da
intensidade e a surpresa arrebatadora daquela posição.

Mas Davi Lucca não estava saciado. Ele nos virou novamente, meu corpo
ficou por cima e ele continuou a me tocar enquanto entrava e saía de mim. Seu
membro me expandia, cada nervura e sensação entre minhas pernas refletiam em
todo o meu corpo.

A mão livre encontrou meu seio, apertou o bico e me entreguei a um


segundo orgasmo arrebatador. Ele saiu de dentro de mim, mas não deixou de fazer
movimentos circulares no meu clitóris, até que ele mesmo se saciou e esporrou na
minha coxa.

— Oh, Clari, isso foi...

— O seu presente de Natal, porque eu não comprei nada para você.

Rimos ainda naquela posição, minhas costas estavam bem alinhadas com
sua frente. Logo ele me colocou ao seu lado e apoiou seu cotovelo na cama, para me
encarar.

Eu sorria como a boba apaixonada que era enquanto o meu Príncipe, o


mesmo que me deu esperança quando muito pequena, me contava uma longa história
com seu olhar intenso.
— Você merece o mundo, Clarice. Nunca deixe que te falem ao contrário.
Não só pelo sexo, mas o quão maravilhoso é estar ao seu lado. Nenhum homem
deveria ser merecedor de tanta devoção.

— Ao lado da sua família, eu não tenho dúvida sobre meu destino. —


Pisquei um olho, para quebrar o clima tenso e a veracidade da minha confissão. —
O dia foi maravilhoso.

— A volta foi melhor.

— Quase — provoquei, para cutucar o seu ego. — Eu me lembrei de algo.


— Toquei seu tórax definido e senti seu coração bater.

— O que foi?

— Eu já estive do outro lado desse evento. Entregar os presentes me fez


recordar da única vez que também estive lá.

— Costumava ser mais participativo quando criança, mas os compromissos


do trabalho me afastaram dessa obrigação. — Sua mão ficou em cima da minha e
sorriu. Queria contar sobre a revelação, mas percebi que aquela memória seria
apenas minha. — Eu comprei um presente para você.

— Sim, a tartaruga de pelúcia. Que amei, a propósito.

— Um Príncipe tem muito mais a oferecer. — Beijou meus lábios e se


levantou da cama. — Vamos, chegaremos atrasados na ceia se não tomarmos banho
agora.

— Claro! — Dei um gritinho animado e pulei da cama, imaginando que


aquele Natal seria o primeiro que não passaria em meio à melancolia e solidão.

Se eu soubesse que tudo o que eu precisava era ocupar meu tempo e me


envolver com a família, teria ido em busca de criar laços de amizade muito mais
fortes. Ou, quem sabe, um namorado.
Não. O único que me interessava era Davi Lucca.
Capítulo 26

Ao redor da mesa, todos estavam reunidos e aguardando a chegada do Rei e


da Rainha. Minha mãe direcionava a conversa animada com Clarice, sobre o dia que
tiveram, numa tentativa de acalmar os gêmeos impacientes.

— Senhoras e Senhores, o Rei e a Rainha de Grã-Aurora — disse o gêmeo


brincalhão.

— Henrique! — Arthur o repreendeu, com um olhar sério.

— Que foi? Só estou fazendo as honras já que não temos um mestre de


cerimônia.

— Estamos em família, não precisa disso. — Arthur se sentou à cabeceira


da mesa e a Rainha ao seu lado direito.

— Que bom que finalmente estão todos aqui. — Minha mãe olhou para cada
um de nós e abriu um enorme sorriso.

Por debaixo da mesa, Clari colocou sua mão na minha e apertou com
carinho. Troquei um olhar com ela, que tinha lágrimas não derramadas. Sua
felicidade iria impedir que se transformasse em um choro.

— Esse é o momento mais especial do Natal. — Rainha Elizabeth moveu a


cabeça, passeando os olhos por cada um dos filhos inclusive minha noiva e a atual
Rainha. — Apesar de sermos quem somos e toda a cobrança que o país deposita em
nós, ainda podemos desfrutar de momentos especiais em família.

— Acho que toda família tem seus problemas e dilemas — comentou


Vinicius, o gêmeo que era mais contido.
— O importante é estarmos aqui.

— E comermos o jantar de véspera de Natal.

— Henrique! — Helena torceu os lábios para o irmão, que deu uma


gargalhada, descontraindo a todos.

— Comprou o meu presente, né, irmãzinha?

— Só se você tiver comprado o meu.

— Acho que esqueci, hein!

— Ficam mais velhos, mas não crescem nunca — resmungou Arthur, com
sua costumeira carranca.

— Eles são divertidos. — Beatriz tombou a cabeça e lançou um olhar


brincalhão para o Rei, que acabou rindo.

Meu Deus, meu irmão estava mudado e não sabia dizer se era uma boa ou
má coisa. A Rainha era doce e recatada, mas pelo relacionamento arranjado, eu não
imaginava que poderia surgir o amor. Pelo menos, não um como o que eu sentia por
Clarice.

Eu estava disposto a sacrificar a minha felicidade, para que ela pudesse


continuar em busca dos seus sonhos, no Brasil.

— Arthur, quando teremos bebês? — Minha irmã se virou para o Rei, que
ficou um tanto sem jeito com a pergunta.

— Não deveria estar preocupada com isso, Helena.

— O país inteiro está pensando nisso, irmão. — Ela deu de ombros e


limpou a boca no guardanapo antes de tomar um gole do seu vinho.
— Tenho certeza de que ele está se empenhando. — Henrique olhou para
Beatriz, que corou instantaneamente. — A nossa Rainha nem anda mais congelada.

— Henrique, depois o Arthur quer te esfolar e você não sabe o porquê. —


Vinicius balançou a cabeça em negativa, repreendendo a atitude do irmão.

— O que seria do Natal sem um pouco de diversão? — Deu de ombros ao


fincar o garfo em uma das vieiras e colocá-la na boca.

— Esse é um momento sagrado, Henrique — repreendi em uma postura


firme e tom sério. — Não deve subvertê-lo com seus deboches e brincadeiras.

— Essa família não seria a mesma sem mim.

— Disso eu não tenho dúvidas — concordou Vinicius.

— Por falar em bebês, General tem que se casar logo para também me dar
sobrinhos. — Helena se virou para mim, me fazendo recuar no assento da cadeira de
madeira escura e bem trabalhada.

— Na verdade, nem casar precisa. — Henrique não conseguia se controlar


e jogou mais lenha na fogueira.

— Somos o exemplo do país. — Arthur se impôs chamando a atenção da


família de volta para si. — Por mais que o mundo tenha mudado, ainda somos vistos
como um modelo de regras e de bom comportamento.

— Bom comportamento... — Henrique deu uma risadinha, mas se encolheu


quando levou um beliscão do seu gêmeo.

— Devem se casar primeiro e esperar para ter filhos depois. — O Rei


olhou sério para mim. Porra, ele sabia muito bem da minha situação, por mais que eu
estivesse empenhado em esconder meus sentimentos.

— Farei o que é certo — respondi seco.


— Confio em você, Davi Lucca.

— Obrigado, irmão. — Coloquei minha mão com a de Clarice em cima da


mesa e respirei fundo. A vontade de xingar ainda continuava, mas busquei forças no
sorriso da minha noiva, que merecia o melhor Natal da sua vida.

O jantar seguiu o mesmo ritmo, com Henrique fazendo brincadeiras e os


demais irmãos tentando contê-lo. O Príncipe CEO se esforçava para trazer um clima
mais descontraído e familiar às reuniões, enquanto Vinicius tentava equilibrar. Mas
nenhum dos dois me enganava, ambos tinham algo para esconder e toda aquela
atenção era para ofuscar a verdade.

— Teremos outro evento, para o Ano-Novo. — Minha mãe chamou atenção


das suas noras.

Henrique, Vinicius e Helena estavam na sala, conversando alto e rindo


enquanto apenas os cinco ficaram à mesa, em uma conversa mais formal.

— Estou pronta, Rainha. — Clarice me cutucou. — Vamos também, Davi?


É muito legal e as pessoas esperam vê-los.

Ah, se ela soubesse o trabalho que tivemos para que a segurança delas,
nesse Natal, não falhasse. Com a ameaça do assédio e a minha reputação, eu não
poderia me arriscar, nem minha noiva.

Troquei um olhar com Arthur, mas ele estava hipnotizado demais por sua
Rainha. Estava sem apoio, teria que dissuadi-la da minha maneira.

— Melhor não — fui seco.

— Ela tem razão, meu filho.

— Tenho outros planos. Acho que você deve ir, Davi Lucca — Arthur
comentou e se levantou da cadeira, ajudando sua esposa a fazer o mesmo. — Vamos
nos recolher.
— Tudo estava maravilhoso, obrigada, Rainha Elizabeth.

— O primeiro de muitos, com a família crescendo. — Minha mãe se


levantou, abraçou os dois e voltou a me encarar.

— Tenho compromissos do exército. Sinto muito, eu não posso participar e


acho que vocês também não devem.

— Bobagem. — Ela balançou a mão na minha frente e sorriu para Clari. —


Iremos apenas nós.

— Não quero atrapalhar. Se não for...

— Decidiremos depois. — Levantei-me e Clarice fez o mesmo. — Vamos


nos deitar.

— Vou dar um beijo nos meus meninos e também seguirei como vocês. —
Ganhei um abraço da minha mãe e minha noiva também. — Feliz Natal.

— Feliz Natal — falei junto com Clari, que não estava mais radiante como
antes.

— Está tudo bem? — Puxei-a para o meu lado, abracei-a e caminhamos em


direção ao nosso quarto.

— Sim.

— Não precisa mentir sobre isso. É sua mãe? Eu tentei trazê-la, mas o
hospital achou melhor não causar esse tipo de agitação na rotina dela.

— Talvez. — Deu de ombros e suspirou. — Saudades do meu canto


também. Mas vai passar. — Ela forçou o sorriso e se pendurou no meu pescoço para
beijar meu rosto. — Hoje foi maravilhoso. Seria muita ingratidão da minha parte não
continuar feliz por isso.

— Você pode se permitir ficar triste.


— Não agora. — Ela voltou a caminhar comigo. — Acho que poderíamos
aparecer em algum evento juntos, que não seja o noivado.

— Esse não é o momento.

— Sei do combinado, mas é importante para todo o conjunto.

— Da mesma forma que você tem os seus sonhos e sente falta do Brasil, eu
tenho minha vida aqui. Sou General, não posso abdicar de mais missões para seguir
um protocolo de aparência.

— Entendido, Senhor — debochou.

Fiquei em silêncio e caminhamos até o quarto. Sabia que tinha sido direto
demais, mas era a verdade. Bem, pelo menos, há alguns dias, antes de perceber que
imaginar Clarice longe de mim me irritava profundamente.

Como eu pediria para ela largar tudo e ficar comigo, se apenas com um
evento, eu não conseguia pensar com racionalidade por conta da sua proteção? Ela
não merecia um homem tão velho, por mais nobre e sensato que eu sabia que era.

Clarice entrou no quarto primeiro, foi até a poltrona mais afastada e se


jogou nela. Eu ia abrir a boca para me desculpar, quem sabe, tentar entender o que se
passava com ela, mas minha noiva foi mais rápida:

— Quando eu puder, gostaria de voltar para o Brasil. — Pegou a pelúcia de


tartaruga que estava ao seu lado, colocou no colo e olhou para o celular. Quase
explodi quando ela deu de ombros e forçou um sorriso debochado. — Já que não
precisaremos aparecer juntos e o evento principal aconteceu, tudo está encaminhado.

— Clarice.

— Está tudo bem, eu não me ofendi. — Ela ergueu a cabeça e não conseguiu
esconder a mágoa, não de mim. — Sei o meu lugar e o que combinamos. Gosto de
estar com você, vou continuar te infernizando com mensagens bobas e minha rotina
sem graça. — Ergueu o celular e foi como se uma espada atravessasse meu peito. —
Se perguntarem, fala que estou viajando a trabalho. Nunca precisei seguir etiqueta ou
formalidades. Sou plebeia e tenho essa liberdade, certo?

Sentei-me na cama, encarei-a com todo o amor que eu sentia por ela e
fraquejei. Ao invés de me impor, erguer minha bandeira e me declarar, acolhi suas
inverdades, como fiz desde o começo.

Tinha sido o melhor e o pior noivado de mentira que eu pude almejar.

— É o que você quer? — Tentei ser brando, mas havia uma pitada de
rancor no meu tom.

— Tem algum problema eu fazer isso? Afinal, ou eu aparecerei sozinha nos


eventos, ou ficarei trancada nesse quarto. Eu sabia que tinha prazo de validade e,
assim que voltar para o meu canto, sentirei que a dívida foi paga.

— Não vou te deixar sem amparo, até que você consiga se estabelecer.

— E eu só vou usar o necessário, como sempre fiz. Não precisamos mais


desse vínculo.

— Está decidida — não era uma pergunta.

— Sim. Será o melhor para nós dois. — Pressionou os lábios e focou no


celular. — Vou dar uma navegada, já vou para a cama. Tudo bem?

Você poderia fazer isso ao meu lado, eu quis rosnar, mas acenei afirmativo
e fui para o banheiro manter distância.

Quem eu queria enganar? Apaixonado e com vontade de me ajoelhar, pedi-


la em casamento e acabar com essa farsa. O presente que eu comprei queimava no
meu bolso e não tive coragem de entregar, preocupado que ela poderia confundir que
eu a queria para sempre.
O mundo parecia estar acabando na minha frente. Eu poderia sugerir que ela
encontrasse uma nova vocação ao meu lado, ao invés de jogar na minha cara que não
precisávamos mais ser como homem e mulher.

Porra, caralho, puta que pariu!

“Cego pelos sons do canto dos pássaros

Estamos caindo neste caminho de destruição

Você vai me colocar de volta para dormir

Você vai simplesmente tirar essas correntes

Não há nada mais que vaidade

Você vai me colocar de volta para dormir, para dormir”

Windrunner - Lotus

Fui para cama sozinho embalado por aquela música com múltiplos sentidos.
Durante à noite, eu a senti se aninhar nos meus braços e a acolhi, porque com
Clarice, mesmo com meu coração massacrado, eu faria tudo o que ela quisesse.

Acordei sozinho e aquela seria uma rotina que eu apreciaria com muita dor.
Clarice não era mais minha e eu a estava deixando partir.

O clima entre nós estava tão tenso, que nem despedida tivemos. Depois do
Ano-Novo, usei o avião da família para levá-la de volta para o Brasil.
Nunca imaginei que aquela situação me faria reavaliar toda a minha vida.
Questionei minhas metas pessoas e profissionais, o cargo de General não parecia tão
atraente sem Clarice ao meu lado.

Mas eu a amava... e por causa daquele sentimento arrebatador, eu a deixei


ir.
Capítulo 27

Coloquei a água para ferver e preparei a garrafa térmica para fazer o café.
Arlene foi muito querida em me deixar ficar em sua casa em troca de ajudar com a
limpeza dos quartos e a cozinha. Há muitos dias eu era a primeira a acordar, com
dores no corpo por estar em um colchonete no chão, enquanto não recebia o meu
primeiro salário no projeto.

Voltei para o Brasil, estava tentando reconstruir a minha vida, mas o meu
coração tinha ficado em Grã-Aurora.

— Bom dia — minha amiga resmungou entrando no cômodo, me abraçou


por trás e foi até a cadeira se jogar. — Ainda abatida.

— Eu estou bem. Bom dia para você. — Forcei o sorriso e coloquei duas
colheres de açúcar na água que estava prestes a ferver no fogão. — Quer que eu faça
as panquecas?

— Quero que você me explique, novamente, os motivos que te levaram a


voltar a ser plebeia, sendo que poderia ter uma vida de Princesa, literalmente.

Não tinha contado em detalhes tudo o que aconteceu, nem meus sentimentos.
Amar ia muito além de estar junto, mas permitir que a pessoa voasse mesmo não
estando ao meu lado.

Ver o sofrimento de Davi Lucca, por não poder participar da missão e


limitar nossa aparição social partiu meu coração. Ele reforçava o quanto não me
obrigaria a nada, que meus sonhos vinham em primeiro lugar, então, não seria digno
da minha parte não retribuir.

Ele queria me deixar ir... eu fiz o mesmo. Para todo o mundo, ainda
estávamos noivos e eu tinha feito uma viagem sem data para voltar. Apenas Arlene
tinha conhecimento da minha história. Nem todos da cidade se atentavam às notícias
sobre a família real de Grã-Aurora, por mais destaque que meu noivado tenha
ganhado nas mídias sociais.

A sereia do Atlântico tinha se tornado Princesa, como se fosse um conto de


fadas nem um pouco emocionante. Ou melhor, para mim, era tudo, mas para o resto
do mundo, apenas fofocas para estampar os sites.

— Posso fazer ovos mexidos — sugeri, tentando desviar sua curiosidade do


que nem eu conseguia explicar. Era dolorido, ao mesmo tempo que libertador, não
ser a responsável por proporcionar aquele olhar.

— Ainda vou te levar para beber e você vai jorrar todos esses sentimentos
guardados. — Ela se levantou e veio até mim, deixar um beijo no meu rosto. — Vou
tomar um banho e vamos para o projeto. Lá, você sorri sem forçar a barra.

Era verdade, o único lugar que preenchia o vazio no meu peito, era com as
tartarugas.

Passei o café, servi em nas canecas estilizadas e fui para o meu quarto
trocar de roupa. Espiei a tela do meu celular e sorri, era uma foto de Davi e o mar.
No dia anterior, eu tinha enviado uma das tartarugas e meus pés.

Voltamos à rotina de compartilhar nosso dia, apenas sendo amigos. Mas não
era a mesma coisa. Estávamos mais profundos e cada palavra tocava meu coração de
uma forma diferente.

Ele não me deixaria abandonar meus sonhos. Eu não permitiria que ele
deixasse o exército, para seguir compromissos da família, porque ele tinha se
tornado um homem compromissado.

Davi Lucca>> Antigamente, eu olhava essa imensidão e imaginava


muitas possibilidades. Hoje, eu me senti... estranho. Muita coisa mudou, Clarice.
Meu contentamento é saber que você vive o seu sonho.

Clarice>>Felizes aqueles que têm o amor e a realização profissional


andando juntos. Bom dia, ou melhor, boa tarde, General.

Davi Lucca>> Já está de pé?

Clarice>> Literalmente. Vou tomar café e começar o expediente. Tenho


uma mamãe para cuidar.

Davi Lucca>> Será que aqueles ovos irão eclodir?

Clarice>>Tudo indica que sim. Te manterei informado.

Esperei sua resposta, mas não veio, então guardei o aparelho e fui para a
cozinha. Arlene me encarava com preocupação e mostrei-lhe a língua, apenas para
mudar o clima tenso que eu emanava.

— Seu café já esfriou — reclamou, empurrando a caneca na minha direção.

— Adoro ele frio. — Tomei com um gole e fiz uma careta por conta do
sabor, havia coisas mais amargas do que a difícil vida de uma apaixonada. —
Vamos.

Pegamos nossas bolsas, saímos para a calçada e entramos no carro. Era


antigo, mas conservado, minha amiga conseguia ser o exemplo de independência.

Ela ligou o som e começou a cantar, minha mente viajou sem desvio até
Grã-Aurora. Aquela música era uma das muitas que vivenciei com o General e
percebi que seria mais difícil esquecê-lo, se continuasse me permitindo ter gatilhos
que me lembrassem.

Tudo me remetia a ele.


“Nunca foi sua culpa

Agora você está desmoronando

E esses cortes (esses cortes)

Eles nunca curam”

ENMY – Never Healing

Mantive a compostura até chegarmos ao projeto. Arlene fingiu não ver meu
semblante triste e caminhou ao meu lado até a parte administrativa, para deixar
nossos pertences. Depois me acompanhou até o pátio e iniciamos nossa rotina, entre
colher dados, atualizar outros e conversar com os funcionários.

Algumas horas depois, a visitação seria aberta e eu lidaria com os turistas e


suas curiosidades sobre a espécie. Antes de ser a noiva de mentira do General,
minha vida agitada me fazia esquecer as dores da minha família. Depois que me
permiti vivenciar o amor ao lado de Davi Lucca, o trabalho estava se tornando mais
um peso do que a plenitude de tudo o que mais queria.

Entre um intervalo e outro, conferia meu celular, mas não tive notícia
daquele que eu amava. Porém, havia mensagens do hospital que minha mãe morava,
a enfermeira me atualizava diariamente sobre sua rotina. Ela tinha perguntado de
mim e queria saber quando eu poderia visitá-la novamente.

Droga, eu queria ir, mas estava longe demais para realizar aquele pedido.
Inventei uma desculpa e deixei meu coração acelerar, pela culpa de não ter
aproveitado o suficiente com ela.
— Clari! — Um funcionário me chamou e guardei o celular para atender ao
seu chamado. — Tem um pessoal precisando de orientação. Você pode atender?

— Claro, vamos lá.

Forcei o sorriso, lidei com a família de turistas e ajudei tirando muitas


fotos. A criança, que não deveria ter mais do que dois anos, ficou encantada com as
tartarugas e minha pulseira.

Céus, eu até entregaria aquele pertence, se não fosse um presente tão


importante, do meu noivado. Mesmo que o combinado fosse manter uma mentira,
para mim, tinha sido real.

— Estude bastante, para se tornar um biólogo e vir me ajudar com as


tartarugas — falei carinhosa, agachada na altura da criança, que me encarava com
atenção.

— Medicina ou engenharia seriam opções melhores. — A mãe da criança a


pegou no colo e sorriu para mim, sem malícia. Apesar das suas palavras pesadas,
ela projetava no seu filho o que achava que era o melhor.

Tive sorte por ter uma mãe que apenas me empurrou para a vida sem se
importar com minhas escolhas. Vá... e eu fui.

Quando o expediente terminou e voltei para o setor administrativo pegar


minha bolsa, encontrei Arlene me esperando sentada no sofá da recepção.

— Vamos para casa, viciada em trabalho. Quero passar no mercado e


comprar a nossa janta.

— Estou pronta.

Usava o dinheiro que Davi Lucca me deu apenas para refeições e, assim
que eu pudesse me sustentar, devolveria tudo. Não haveria mais vínculo, eu tinha
pagado a minha dívida e não estava feliz por isso.
Capítulo 28

Outros dias se passaram e minha rotina continuava a mesma. Naquele


momento, minha cabeça não parava de latejar e o sol estava contribuindo para que
não melhorasse a situação. Ajoelhei no chão próximo do tanque com a mamãe
tartaruga, terminei de contar os filhotes e catalogar na minha prancheta.

Senti uma tontura e me sentei no chão, apoiando minhas costas em um dos


pilares. Caramba, eu deveria ter ficado destreinada com o calor, ao passar uma
temporada de frio em Grã-Aurora.

— Você está bem? — Arlene apareceu no meu campo de visão e precisei


fechar os olhos, para não cair de lado. — Clari?

— Apenas calor.

— Vou buscar um copo de água.

Concordei com a cabeça e gemi baixo, meu corpo estava estranho também.
Não era momento de pegar uma virose, faltavam poucos dias para receber meu
primeiro pagamento.

Senti o celular no bolso de trás e tentei não chorar. Há dias não tinha
notícias de Davi Lucca, mas isso não me impediu de me torturar, enviando fotos e
textos, contando sobre o meu dia. Ele tinha se tornado meu porto seguro, um diário e
amor da minha vida.

Minha paixão e realização profissionais estavam se tornando um fardo


muito pesado para carregar. Abdicar da felicidade conjugal estava doendo demais e
nada poderia ser feito, a não ser, aceitar.
— Aqui. — Abri os olhos e peguei a garrafa de água gelada. — Você está
pálida, amiga.

— Estou bem.

— Claro que não. — Ajudou-me a levantar e continuei apoiada no pilar. —


Está fraca.

— Ando comendo tanto quanto você — rebati, tomei mais um gole de água
e forcei o sorriso. — Já estou melhor, vou deixar essa garrafa comigo.

— Não é só isso, tem mais. — Ela me analisou e apertou meus ombros com
carinho. — Provei que sou alguém de confiança, não precisa ser tão misteriosa.
Pode falar o que está acontecendo.

Meus lábios tremeram e as lágrimas vieram com força. Joguei-me em seus


braços e chorei, por amar o General e outras coisas que não sabia explicar. Com
minha mãe, havia saudade, mas pensar nela não me fazia sentir tanta dor.

Recebi carinho e apoio. Arlene me levou até a parte administrativa e me fez


descansar no sofá, com a cabeça apoiada nas suas coxas. Ela fez carinho e alisou
meu cabelo, era tudo o que estava precisando no momento.

— Estou esperando — cobrou, com tom suave.

— É só que... eu me sinto tão só. — Respirei fundo e percebi o quão


injustas eram minhas palavras. — Quero dizer...

— Não me ofendi, Clari. Na verdade, eu te entendo e me sinto igual. —


Passou a mão no meu cabelo e suspirou. — Tenho cara de vinte anos, mas estou
chegando próximo aos quarenta. Escolhi viver minha independência e percebi que
fui longe demais, a ponto de acolher uma colega de trabalho dentro de casa como se
fosse uma filha.
— Desculpe. — Sentei-me no sofá e ela parecia tão triste quanto eu. —
Nunca perguntei como você está, só falamos de mim.

— Porque eu não tenho nada para contar, essa é a verdade. — Deu um


sorriso amarelo e colocou o meu cabelo atrás da orelha. — Por isso, me permita te
ajudar. Está difícil te fazer falar.

— Pensei que iria me levar para tomar um porre.

— Não posso, porque te vejo pálida e ofegante há alguns dias. Estou


preocupada. Até que ponto esses sintomas são físicos ou mentais, só você poderá me
dizer.

— Eu o amo, isso resume tudo. — Abaixei a cabeça. — Mas temos


objetivos de vida diferentes. Impossível ter um namoro à distância, então, preciso
aceitar e viver minha vida.

— Fui autossuficiente por muito tempo, então posso te dar um sábio


conselho: não é tarde para mudar e explorar novos horizontes. — Ergui as
sobrancelhas sem entender. — Não tenho ideia de como é Grã-Aurora, mas há
animais marinhos espalhados pelo mundo, ainda mais estando em uma ilha. Será que
tartaruga é o único bicho que te completa?

— É mais do que isso. — Toquei a pulseira e o pingente. — Se eu ficar,


teremos compromissos e eventos para participar, que impedirão o General de
executar o seu trabalho, que faz parte do seu sucesso profissional.

— Ah, entendi. — Ela bateu a palma da mão na minha testa e revirou os


olhos. — Dois cabeças-duras. Cadê o machado para quebrar essa armadura de
frescura?

— Não é assim. — Toquei a cabeça, porque a tontura tinha voltado. Senti


minha pressão instável e minha respiração falhar.
— Clari? Desculpa, foi apenas um empurrão. — Ela segurou meus ombros
e me encarou com preocupação. — Você está doente, precisamos ir ao médico.

— Mas...

— Não conheço sua mãe, mas sei que ela iria querer que eu fizesse isso em
seu nome. — Ajudou-me a levantar e andou comigo me dando apoio. — Tem um
postinho há duas quadras daqui.

— Precisa avisar o supervisor.

— Eu me entendo com a equipe. Amor não deixa a gente doente dessa


forma. Venha!

Obedeci Arlene, porque imaginei minha mãe, ao lado dessa amiga


inusitada, me forçando a ser cuidadosa comigo mesma. Fomos até seu carro,
seguimos até o postinho e aguardamos na recepção para ser atendida.

Sentadas e de mãos dadas, a perna dela chacoalhava enquanto eu tentava


não surtar. E se eu tivesse o mesmo problema que meu pai ou minha mãe? Lembrei
que ambos começaram a adoecer daquela forma, passando mal enquanto trabalhava e
protelando para ir ao médico.

Caramba, o universo não poderia ser tão cruel.

Fui chamada e olhei para a minha amiga, que também estava nervosa como
eu.

— Quer que eu entre com você? — murmurou.

— Sim, por favor.

Ainda bem que estava com minha amiga ao meu lado, porque a notícia me
deixou tão em choque quanto se tivesse confirmado as minhas suspeitas. Eu não
estava doente, mas grávida e, provavelmente, com falta de vitaminas no sangue.
Sabia que coito interrompido não era o melhor método contraceptivo, mas
me iludi. Mesmo vivendo no século XXI, com instrução e acesso a muitas
informações – além de ser bióloga –, eu fui vítima da imprudência.

Não tinha ninguém para culpar, senão a mim mesma. Apesar de não ter feito
o filho sozinha e a inexperiência com o sexo me fez deixar Davi Lucca me conduzir,
eu poderia ter exigido outra forma, mas aceitei, porque eu o amava.

Saí do postinho e fiquei sentada no banco do carro de Arlene por muito


tempo, muda e impactada. Eu carregava não só um bebê, mas o filho do Príncipe de
Grã-Aurora.

Se eu queria deixar o homem voar e realizar seus sonhos, com aquela


informação, conseguiria destruir todos eles.

— Primeira coisa, parabéns. — Arlene segurou a minha mão e apertou. Eu


ainda estava estática e digerindo o conteúdo. — Segundo ponto a ser conversado,
não há necessidade de ser a mulher maravilha e criar esse bebê sozinha, só porque
você respeita os anseios profissionais dele.

— Eu sei.

— Ótimo. — Ela suspirou e eu também. — Terceira questão é cuidar mais


de você. Vamos comprar as vitaminas e tirar dois dias de folga, para repor suas
energias.

— Não posso, tenho...

— Muito dinheiro. Pelo amor de Deus, o cara é um Príncipe! — rebateu,


indignada e conseguiu minha atenção. — Você vivia com o dinheiro dele antes de ir
viajar, estou deduzindo. Então, pelo amor de Deus, só o use.

— Estou em dívida com Davi Lucca.


— E você pagará com muito amor e carinho, é assim que funcionam os
relacionamentos conjugais. — Soltou um riso debochado. — Não que eu tenha
experiência, eu consigo afastar todos os homens, pelo simples fato de que ninguém
parece estar à minha altura.

— Que confusão, Arlene. — Coloquei as mãos no rosto e gemi. — Há dias


que ele não me manda mensagem. E se eu for apenas um fardo?

— Espero que a Rainha mãe lhe dê um puxão de orelha ou uma surra bem
dada, porque isso não é atitude de um Príncipe.

— Ele pode ter achado outra pessoa e não sabe dizer.

— Ou, simplesmente, está trabalhando, mas morrendo de saudades de você.


— Cutucou meu braço. — Pare de lamentar as suposições que vivem na sua mente.
Aja, depois chore pelo resultado.

— Você não viu o olhar dele. Eu não quero ser a culpada por fazer com que
ele destrua seus sonhos.

— Então, vem o universo e dá um tapa na cara dos dois, mostrando que não
importa o que vocês achem, há algo maior envolvido: um bebê.

— E vou entrar para a estatística de casais que estão juntos só por causa de
um filho. Isso é enredo de livro de romance, dos mais açucarados.

— E daí? — Elevou a voz e me assustei. — Essa é a história dos nossos


pais, Clarice. Alguns tiveram histórias felizes para contar, outras foram tristes. Há
casos de relacionamento abusivo, porque a mulher se obrigou a estar em um
casamento para o bem do filho, mas outros, tiveram amor. E daí que sua história fará
com que muitas pessoas julguem seus atos? Não transou com camisinha,
irresponsável, retrógrada... — Fez uma careta e tentei não rir pelo seu jeito leve de
ver a minha situação. — Quem sabe da sua vida é você.
— Serei uma complicação. O General está noivo de uma plebeia e, agora,
engravidou antes do casamento oficial.

— Eu digo amém para aquelas pessoas que vieram ao mundo para causar.
Passear, só se for de avião, lá nas Ilhas Maldivas, no Resort Paradise. Já viu como
são os hotéis por lá? Meu sonho é estar em um bangalô daqueles. — Piscou um olho
e suavizou o semblante quando a encarei com vontade de chorar. — Essa é sua
história. Não se limite a um sonho, mas tenha vários e experimente todos eles, antes
de definir que só uma coisa serve. Você não veste apenas um tipo de roupa.

— Amei fazer parte da família dele e não tem nada a ver com o luxo ou o
poder. Eu me sinto em casa quando estou com Davi Lucca, essa é a verdade. Posso
falar com ele sobre tudo, porque não tenho medo de ser julgada.

— Virgula, né? Conversas sobre o futuro, vocês não tiveram.

— Seria muito sacrifício dos dois lados. Ele prometeu que nunca me
magoaria e eu quero fazer o mesmo.

— Esses homens corajosos e protetores têm cada uma. Eles não podem
mandar no coração, nem em como se sentem. Inclusive, fez um filho em você e,
agora, vocês serão obrigados a enfrentarem a realidade. Onde vão morar? Quais
serão seus novos planos profissionais?

— Ele nunca largaria Grã-Aurora por mim.

— Você apostaria? — Apontou para a minha barriga e coloquei a mão em


cima dela. — Não é mais apenas sobre você. O bebê merece que os pais sejam
valentes o suficiente para conversarem.

— E se não der certo?

— Então, você pode reclamar e voltar a morar na minha casa. Você tentou,
deu o seu melhor e tem todo o direito de se tornar uma mãe galinha protetora. —
Sorriu amplamente. — Será um prazer cuidar do meu sobrinho ou sobrinha, como se
fôssemos uma família moderna, com mãe e tia, sem homens envolvidos no nosso
mundinho.

— Você deveria ter sua própria família.

— Dever, querer e poder não estão alinhados na minha vida. Eu não quero
mudar, mas você, tem os olhos brilhando ansiando pela transformação. Ligue para
Davi Lucca, converse sobre o futuro, os medos e receios.

— Sim. Eu vou tentar. — Inclinei-me para abraçá-la e ela retribuiu. — Me


sinto menos desesperada, nem sei como te agradecer.

— Aceito conhecer seu país como pagamento. — Ela interrompeu nosso


momento e ligou o carro. — Vamos voltar para o projeto, avisar o supervisor e ir
para a casa. Vou te fazer uma sopa e iremos assistir filme de comédia.

— “As Branquelas” de novo não.

— Tudo bem. Você escolhe.

Respirei fundo e deixei que a conversa me enchesse de motivação. Ainda


não estava com coragem de ligar para Davi, mas faria, porque eu não aceitaria o
fracasso do nosso relacionamento sem antes tentar.
Capítulo 29

Ajeitei a mangueira, para repor um pouco da água de um dos tanques e


quase caí dentro dele. Uma mão firme me segurou e pelo calor que meu corpo sentiu,
reconhecia de quem era o dono.

Virei assombrada ao ver o General em sua roupa típica militar e sorriso


contido. Precisei de alguns segundos para processar que ele estava na minha frente,
no Brasil, para mim.

Joguei-me em seus braços e deixei as lágrimas escorrerem. Eu deveria ter


ligado há muitos dias para avisar sobre a minha gravidez, mas não fiz, por medo e
chateação. Apenas enviava mensagens para Davi Lucca e ele não me respondia, o
que me fez parar de me comunicar.

Eu tinha feito o primeiro ultrassom e não conseguia animação suficiente


para enviar-lhe uma foto. Ou talvez, o fizesse e o bloqueasse, para que não tivesse a
chance de responder.

O conflito de sentimentos não me impediu de matar a saudade do calor do


seu corpo com um abraço forte. Ele me ergueu e inspirou meu cheiro, meu corpo se
aqueceu e minha ira também.

— Você sumiu — acusei-o na nossa língua materna, saindo dos seus braços
e socando sua barriga, devagar.

— Sinto muito, Clari. Imaginei que estaria assim, por isso vim
pessoalmente. — Tocou meu rosto e não suavizei o olhar em sua direção. —
Conseguimos eliminar a ameaça. Meu companheiro General e o chefe de operações
foram presos, por atentarem contra a monarquia em associação com Natan Galo,
líder da oposição.
— Parabéns. Rainha Beatriz não precisa passar por mais transtornos do que
aconteceu. — Cruzei os braços. — Eu li as notícias.

— Então, entende que estive trabalhando sem descanso para que tudo
ficasse bem. Eu faço parte daqueles que cuidam da segurança do país.

— Claro. — Sorri amarelo e me afastei dele. — Preciso trabalhar.

— Não faça assim.

— Podemos conversar depois. Eu termino às dezoito horas. — Parei em


outro tanque e olhei para as tartarugas, apenas para me distrair do homem ao meu
lado.

— Claro, eu espero o seu tempo. — Tocou minhas costas e meu corpo se


arrepiou. Para piorar, ele beijou minha bochecha e parou os lábios no meu ouvido.
— Senti sua falta, sereia.

Fechei os olhos e tomei uma decisão, porque eu também estava com


saudades e com os hormônios explodindo, sem poder extravasar.

Peguei no seu pulso, puxei-o pelo caminho e fui até o final, próximo ao
armazém. Davi Lucca me seguiu sem protestar, entrou no pequeno cômodo com
cheiro de mar e animais marinhos e me encostou contra a porta.

Eu não precisei explicar minhas intenções, ele me beijou com fervor e deu
tudo o que eu ansiava. Esfregou sua pélvis contra a minha, meu núcleo pulsava e não
precisava de nada além do seu toque profundo.

Desabotoei sua calça e ele tomou a frente, agilizando o processo. Tirei o


short e as sandálias, ergui uma perna e permiti que se encaixasse. Seu olhar
encontrou o meu e vi o amor brilhar. O cômodo tinha pouca iluminação, mas era o
suficiente para que eu enxergasse muito mais do que ele queria demonstrar.
— Eu te amo, Davi. Senti tanto a sua fala — confessei, emocionada e ele
foi movimentando seu quadril. Entrou e saiu, sem pressa, mas determinado a me
preencher profundamente.

— Não mais do que eu, Clarice. Você é meu mundo. — Abracei seu
pescoço e gemi, sentindo sua ereção me preencher, me proporcionando o prazer que
só ele conseguia. — Também te amo — murmurou com desejo.

Dei impulso e o abracei com minhas pernas. Ele acelerou os movimentos e


me segurou, sem muito esforço, enquanto me proporcionava um orgasmo. Esfregou-
se em mim, até que meu corpo parasse de estremecer. Tentou me colocar no chão e
saiu de mim, ele iria gozar fora como sempre fez, mas daquela vez, não havia
necessidade.

— Continua — implorei.

— Eu não trouxe... nós...

— Por favor. — Uni nossos lábios e aprofundei o beijo. Ele voltou a se


encaixar em mim e, rapidamente, pulsou em um orgasmo que me levou ao céu. —
Oh!

Ele continuou as investidas um pouco mais, mesmo depois de entregue.


Apertou minhas coxas e bunda, Davi Lucca demonstrava seus sentimentos com mais
clareza através das ações. O descontrole. A intensidade.

— Porra — soltou imprudente e rimos. — Sinto muito pelo palavrão.

— Nessas horas, eu acho bom. — Respirei fundo e me soltei dele,


colocando os pés no chão. — Desculpe te atacar.

— Faça quando quiser.

— Preciso voltar ao trabalho. — Encontrei um rolo de papel higiênico em


cima de uma caixa, me limpei e me vesti.
— Melhor sairmos separados, para que não saibam o que fizemos aqui.

— Claro! — Fechei os olhos brevemente, me sentia culpada. — Que


loucura, o Príncipe em uma rapidinha com a plebeia tarada. Eu não estava pensando
direito.

— Toda a responsabilidade é minha, não sua. — Ele segurou no meu braço


quando eu estendi a mão para a maçaneta da porta. — Estou de acordo com as
consequências, não importa quais sejam. Eu te amo, Clarice. Mas quero conversar.
Ultrapassamos um limite e não tem nada a ver com o local.

— Está falando sobre gozar dentro? — Ergui a sobrancelha e ele acenou


afirmativo. — Acho que essa linha a gente ultrapassou há muito tempo. Não tem
como engravidar duas vezes.

Meu coração acelerou quando o vi congelar com minha fala. Ele me soltou
e deu um passo para trás, aproveitei o momento para sair do depósito e ir me
esconder longe dele e da sua negativa quanto ao meu estado.

Seu amor poderia ser real, mas foi colocado a prova com aquela revelação.
Tendo Arlene como apoio caso tudo desse errado, eu só esperava que meu coração
pudesse ser colado depois de partido em milhões de pedaços por sua rejeição.
Capítulo 30

Sabia do poder que as mulheres tinham, principalmente da minha mãe, mas


nunca imaginei que poderia prever o futuro.

Saí de Grã-Aurora com determinação e bênção da minha mãe: traga sua


família de volta ao lar. Era visível que ela não estava se referindo apenas a Clarice,
mas ao filho que ela esperava. Como sabia? Elas estavam conversando sem que eu
soubesse?

Tive que me afastar da minha noiva, para focar na família real. Muito estava
acontecendo, Rei Arthur precisou do meu apoio e abdiquei da minha vida para
resolver a dele.

Então, percebi que fiz uma segunda grande burrada. Ninguém estava acima
da minha felicidade, nem meu dever com a segurança de Grã-Aurora. Eu poderia
continuar trabalhando e focado na minha missão, Natan Galo e seus associados não
seriam os últimos a ameaçarem a monarquia. Iria fazer meu papel como General,
mas conciliaria com minha vida ao lado de Clarice.

Eu precisava me redimir e começaria com aprender a viver no Brasil. Em


algum momento, precisaria voltar para Grã-Aurora e continuar o legado da família,
mas demonstraria minha devoção à amiga, que se transformou em minha mulher,
dando aquele passo.

Achei que seria fácil, mas a notícia de que eu era pai me balançou. Deixei
Clarice desprotegia por tanto tempo, algo tão ruim poderia ter acontecido a ela,
como foi com a Rainha Beatriz.
Um noivado de conveniência não deveria nutrir o amor verdadeiro, mas
ninguém poderia mandar no coração. Nem eu mesmo, no meu.

Saí do depósito em choque, olhei para os lados e não encontrei Clarice.


Respeitaria sua vontade, ela trabalharia até as dezoito horas e eu a esperaria, no
estacionamento, para que decidíssemos nossa vida.

Peguei o celular, acionei os seguranças que me acompanhavam, para que


não tirassem os olhos da minha noiva. A mentira tinha sido retirada do nosso
relacionamento, ela seria minha em definitivo, se assim ela quisesse.

Caso contrário... eu a convenceria. Nós nos amávamos, não havia nada no


mundo que pudesse combater esse sentimento.

Ansiei por rever Clarice enquanto eu voltava para o meu carro, mas só
encontrei aquela amiga dela. Sorriu e acenou para mim, eu retribuí preocupado,
queria estar com minha noiva e obrigá-la a ficar comigo.

Sem movimentos equivocados, eu tinha que ser respeitoso com suas


vontades.

Cheguei ao meu carro, liguei o ar-condicionado e o som. Fechei os olhos e


relembrei nosso momento, o sabor dos seus lábios e o quanto sua língua estava ávida
pela minha. Sorri com safadeza, imaginando que aquele fogo poderia durar longos
meses, até que nosso bebê nascesse.

Um filho, eu me tornaria pai. Meu legado não seria o exército e lições de


vida para os soldados, mas um bebê que tinha o mesmo sangue que o meu. Menino
ou menina, eu ansiava que tivesse saúde e pudesse ter as melhores oportunidades.

“Nós somos a tempestade

Esta é a nossa guerra


Enquanto os mundos colidem, nós lutaremos

E vamos sair vivos

Machucados e espancados

Nós vamos batalhar

Até o sol da manhã nascer

Nós somos a tempestade

Isso é guerra”

Halocene – This Is Our War

A música parou de tocar e meu celular soou no lugar. Conectado com o som
do carro, sorri ao ver o nome do meu irmão na tela.

— Vossa Majestade — cumprimentei-o.

— Davi. Como foi com sua noiva?

— Está sendo.

— Agilize o processo. Ninguém mais precisa se arriscar, estando longe da


família. Estamos seguros no palácio.

— Minha estratégia diverge um pouco da sua, Arthur.

— Como assim?

—Clarice está grávida.

— Mais um motivo para colocá-la em um avião e voltar para Grã-Aurora.


Nenhum Fiori deve ser criado longe do Reino.
— Concordo. — Tive que rir, porque a determinação do meu irmão tinha
muito a ver com o que ele passou há alguns dias. — Me dê um tempo. Estou de
licença e não vou apressar as coisas.

— Não somos pessoas normais, Davi Lucca. Está correndo risco


desnecessário estando no Brasil.

— Confie em mim, meu Rei. Irmão.

— O que ela pode querer aí, que não podemos oferecer aqui? Não faz
sentido. Vocês se gostam, os compromissos reais podem ser mais flexíveis, para
atender à necessidade. Tudo é negociável.

— Pena que demorei demais para entender isso. Está tudo sob controle,
preciso de tempo, Arthur.

— Tudo bem. — Soltou o ar com força e suavizou o tom. — Me mantenha


informado. Beatriz gosta de Clarice, também está preocupada e almeja que ela se
efetive na família.

— De acordo. Até mais.

Encerrei a ligação e sorri, meu irmão tinha se rendido ao amor. O que a


Rainha Beatriz fez para derreter a frieza que sempre existiu nele, nunca saberíamos.

Coloquei a mão na lateral do banco, pronto para pegar a arma escondida


debaixo dele, quando a porta ao meu lado foi aberta. Percebi o movimento dos
seguranças – tardio por estarem focados na minha noiva –, mas sinalizei com a mão
que estava tudo bem. A amiga de Clarice se sentou ao meu lado, sorriu e fechou a
porta, exalando confiança.

— Pelo visto, vocês conversaram e não conseguiram se entender. — Bufou


e me desafiou com o olhar. Apesar de estar enferrujado com o idioma, consegui
entender grande parte do que falou.
— Quem é você?

— Arlene, a amiga, mas pode me chamar de juízo, porque eu vou fazer


vocês entenderem de uma vez por todas que, se vocês se gostam, tudo é possível de
se resolver. Conversem!

— Sim, nós iremos fazer isso. — Ao perceber que ela era uma aliada
tentando ajudar, não rebati que esse era um assunto pessoal.

— Não foi o que aconteceu lá no depósito. — Cruzou os braços e me


repreendeu com o olhar de forma maternal. — Ela está grávida e com os hormônios
em explosão. Seja a coerência no meio da química que existe entre vocês. Clari nem
precisou me falar, estava escrito na testa dela, que matou a saudade antes de colocar
as cartas na mesa.

— Entendo sua preocupação, mas é desnecessária. Eu vou cuidar dela e do


nosso filho.

— Ah, você não fugiu com medo de assumir esse fardo?

— O único peso que carrego, é de não ter visto que ela sempre esteve
acima de tudo. Nada mais importa, se ela não está feliz ao meu lado.

— Meu Deus, tem algum outro Príncipe apaixonado para me indicar?


Talvez eu não seja tão exigente tendo um homem da nobreza. — Abri a boca para
responder, ela balançou a mão na minha frente. — Enfim, Majestade...

— Alteza — corrigi e ela franziu o cenho, confusa. O momento estava tenso


demais para que eu ensinasse a forma adequada de se dirigir a mim. — Não importa.
Agradeço seu cuidado e carinho com minha noiva. Você demonstra determinação e
humildade, deverá ser recompensada.

— Nem tudo precisa ser retribuído. — Apontou o dedo para mim. — Mas
corto suas bolas, sendo Príncipe ou não, se não colocar Clarice nos ombros e a fizer
feliz. Vocês podem conversar e descobrirem outras oportunidades de serem
realizados profissionalmente. Esse bebê não precisa nascer sabendo que os pais se
amam, mas não podem viver juntos, porque a mãe gosta de tartarugas e o pai só
pensa no exército.

— Mensagem recebida.

— Também dei bronca nela. Não quero nenhum dos dois na minha casa, vão
para um motel. — Ela abriu a porta e começou a rir. — Ou melhor, conversem,
depois vão para um hotel cinco estrelas, luxuoso, com banheira e tudo mais. Só se
vive uma vez, Príncipe.

— Seja feliz também, Arlene.

Ela saiu do carro e a observei seguir para a entrada do projeto. Minha


mulher merecia ter boas amizades como aquela e, com certeza, teria também apoio
em minha mãe e Beatriz.

Conferi o horário, relaxei no banco e esperei. Exercitaria minha paciência


enquanto eu não pudesse expor meu lado apaixonado.
Capítulo 31

Ele abriu a porta do quarto e me deu espaço para entrar primeiro. Olhei
para o corredor, cruzei os braços e dei passos cautelosos, recordando do luxo em
que vivi estando com a família Fiori.

O silêncio tinha imperado entre nós. Nobre e respeitoso, como sempre foi,
Davi Lucca estava esperando o meu tempo, enquanto eu só queria que ele me
atacasse novamente.

Bem, tinha sido eu a dar o primeiro passo lá no projeto.

Virei bruscamente, abri a boca para chamar o General e trombei nele.


Estava próxima da cama, eu cheirava a mar enquanto ele tinha o maravilhoso odor
de um homem que passou o dia inteiro em um carro, me esperando.

— Você quer conversar aqui ou descer para o restaurante? — Ele segurou


meus braços e suas palmas me incendiaram. Seu olhar era terno e, por mais que eu
estivesse surtando por ele não ter falado da minha gravidez, eu só queria curtir um
pouco mais antes de enfrentar a verdade.

— Não.

— Me diga o que deseja, Clari.

— Ter você mais uma vez.

Fiquei na ponta dos pés, abracei seu pescoço enquanto sua boca se abria
para recepcionar a minha. Ele envolveu minha cintura, deu passos para frente, mas
neguei com a cabeça.
— Para o banheiro. Eu preciso de uma ducha — resmunguei e voltei a
beijá-lo, como se aquela tivesse sido a primeira vez depois de muito tempo, não há
algumas horas.

Preferia culpar os hormônios ao invés do meu desespero de acreditar que


ele poderia ir embora a qualquer momento. Eu não teria mais um noivo, meu
Príncipe me deixaria e eu teria que lidar com as notícias sobre sua vida perfeita e
um bebê, sozinha.

Era insano pensar que ele poderia não ser honrado o suficiente. Por Deus,
era Davi Lucca Fiori. Talvez, fosse mais fácil aceitar que ele me abandonaria do que
se obrigasse a ser um bom marido, sendo infeliz.

Ele me puxou para cima e abraçou minhas pernas, que rodearam o seu
quadril. Enquanto nos beijávamos, ele entrou no banheiro, acendeu a luz e se sentou
na beirada da banheira redonda.

Além de estar com ele, tudo ao meu redor me lembrava casa. O lar que
sempre almejei estava em Grã-Aurora e tartaruga nenhuma poderia suprir aquela
vontade de pertencer.

Ajeitei-me no seu colo, sentada de frente, eu inspirava seu cheiro enquanto


me esfregava, rebolando e buscando meu prazer. Davi deixou uma trilha de beijos
pelo meu pescoço e eu sabia que não estava limpa o suficiente para o sexo com um
nobre.

— Vou tomar banho. — Saí do seu colo e me despi. Ele fez o mesmo, se
livrando do coturno enquanto eu ficava nua.

— Não. — Segurou meu pulso e me puxou de volta para ele. — Quero você
assim.

— Além de suor, estou coberta de maresia e o que fizemos mais cedo. —


Arfei ao sentir sua língua e lábios contornando o meu mamilo. — Davi!
— Esse é um novo sabor e que tem tudo a ver com a sereia por quem me
apaixonei. — Encarou-me enquanto dava atenção para meus seios. — Eu sei fazer
suado e sujo, Clarice.

— Me convenceu. — Busquei os botões da sua farda e o despi,


aproveitando sua devoção e os gemidos que compartilhávamos. Suas mãos firmes
em meu corpo, os apertos de desejo e o calor me impulsionavam a esquecer pudores
e apenas... fluir.

Ele se levantou para se despir da calça e o resto da roupa que ficou no


corpo. Nus, ele me fez sentar em seu colo e voltamos aos beijos, tendo sua pele
queimando a minha.

Cada movimento e fricção nos faziam suar. Beijando-me de forma obscena,


ele nem estava dentro de mim e eu já gritava por conta de um orgasmo arrebatador.

Joguei a cabeça para trás e me movimentei para frente e para trás, me


esfregando na sua ereção e o enlouquecendo como eu estava. Não parei de incitá-lo,
ele me chupava e dava mordidas suaves, intensificando o momento.

Nossos sexos se encaixaram naturalmente. Tão excitada e molhada, senti-o


me preencher aos poucos, me expandindo e contraindo. Voltei a beijá-lo, cavalguei
sua ereção e deslizei por seu corpo, tendo a nossa transpiração como elemento tabu.

— Eu te amo — Davi se declarou, quando conseguiu alguns segundos livres


dos meus lábios. Eu o cavalgava, a neblina da luxúria tomou conta e sorri com
arrogância, porque aquele Príncipe era meu. — Eu te amo, Clarice Mattos.

— Sim — gemi, mudando a direção do vai e vem, rebolando e friccionando


meu clitóris contra sua pélvis. — Ah, Davi!

Seus dedos se afundaram no meu quadril quando o senti pulsar dentro de


mim. O som agudo e animalesco que ele emitiu era tão atraente como todo o pacote.
Gozei com ele, fechei os olhos e me entreguei ao seu despudor, quando a mão
deslizou para minha lombar e mergulhou entre minhas nádegas.

Gostava de saber sobre o seu lado antagonista e safado, que apenas eu


conhecia. O exemplo de conduta e honra não media toques para proporcionar prazer
para sua Princesa.

— Também te amo — murmurei, abraçando seu pescoço e não querendo


que ele fosse embora. — E por isso que me faz sofrer.

Com uma manobra ágil, ele nos colocou dentro da banheira e estendeu o
braço para acionar a água. Enquanto eu não queria me desgrudar dele, Davi Lucca
alisou minhas costas e fez muitas carícias, como se fossem promessas por toda uma
vida.

— Chega de mentiras. — Dei um longo suspiro. — Eu me apaixonei, mas


não sei se sou a melhor escolha.

— Pensei que a dúvida tinha sido esclarecida. Você está esperando um filho
meu, é perfeita para mim.

Neguei com a cabeça e me virei, para ficar de costas para ele. Abracei
minhas pernas dobradas, a água já estava na metade e ele me rodeou com suas
pernas torneadas. Suas mãos espalhavam a água na minha pele, a tranquilidade que
ele exalava estava irritando a minha insegurança.

— Sua paixão é o exército, Davi. Se eu entrar oficialmente na sua vida, terá


que abdicar de mais missões, por conta da família.

— Com ou sem você, eu tenho minhas responsabilidades como Príncipe.

— Mas com o casamento, há muito mais a ser feito.

— Nosso destino só tem uma direção concreta, Clari. Teremos um filho, eu


não vou ficar longe de vocês.
— E viver uma vida infeliz? — Encarei-o por cima do ombro e seu olhar
era tão neutro, que me fez reagir. — Caramba, Davi, só diga de uma vez a verdade!

— Eu te amo e isso basta. — Ele me ajudou a rodar e ficar na mesma


posição, mas de frente para ele. Aos poucos, com seu sorriso terno e mãos ásperas,
foi desfazendo meus braços cruzados e minhas pernas dobradas. — Esse era o meu
plano inicial, quando entrei no exército? Não. Sempre sonhei em ter uma família
apenas para mim? — Ele hesitou e vi a dor no seu semblante. — Não. Mas quando
penso um pouco mais fundo, havia sim, um desejo de ser a referência de alguém.
Tenho tantos subordinados que me admiram, mas não o sangue do meu sangue.

— Sinto que serei responsável por sua infelicidade. Eu vi seu olhar, quando
teve que abdicar da missão, para ir a um evento social comigo. — Pressionei os
lábios e seus suspiros me tensionaram.

— Por isso você quis voltar? — Tocou meu rosto e sorriu. — Achou que eu
estava triste por ter que ficar ao seu lado?

— E não foi?

— A monarquia estava sob ameaça e a última coisa que eu queria era nos
expor. A segurança tinha falhado mais de uma vez e eu não sabia em quem eu
poderia confiar.

— Por que não me contou?

— Queria te proteger de mais uma aflição. Você tinha ido ver sua mãe, mas
estava fora do ar.

— Mas a missão...

— Sim, eu queria ter ido, mas — deu de ombros — não foi a primeira que
não fui e nem será a última. Na minha mente, no momento, só penso em uma coisa.
Sua mão tocou minha barriga e o olhar também foi para ela. Tentei não me
emocionar com suas carícias, o homem estava nitidamente entregue. Se ele estava
ficando cego, eu tinha que ser a luz.

— Quero fazer dar certo, Davi Lucca. — Acenei afirmativo e ele me


encarou. — Vamos voltar para Grã-Aurora, vou aprender a ser uma Princesa de
respeito e te fazer feliz. Mas, se algum dia, a rotina te entediar, por favor, não se
obrigue a ficar comigo.

Sua testa franzida e as mãos que se recolheram me assustaram. Droga, eu


tinha entendido tudo errado, mais uma vez.
Capítulo 32

— De onde está tirando tudo isso? — ele perguntou, assombrado.

— Só estamos juntos, porque há um bebê. Meu trabalho e minha


vida estão no Brasil, o seu é com o exército de Grã-Aurora. Por isso, quero
deixar tudo muito bem alinhado. Conversar, como um casal maduro.

— Eu vim até você, para ficar aqui. — Pegou minha mão, puxou até
seu coração e o senti bater. — Namorar à distância não vai funcionar
conosco, eu entendo. Então, estou me dando a oportunidade de descobrir
uma nova vocação ao seu lado.

— Mas você tem a família real!

— E você não pensou duas vezes em largar tudo e ir atrás de mim.


— Inclinou a cabeça para o lado e abaixei a minha, envergonhada. — Agora,
tudo faz sentido e entendi o que sua amiga queria dizer.

— Arlene? — assustei-me.

— Sim. Ameaçou cortar minhas bolas. Violenta, ela. — Suavizou o


clima e meus ombros relaxaram.

— Ela acha que não importa como os casais são formados, por mais
retrógrado que seja se casar por conta de um filho.

— Arthur ficou noivo de uma adolescente e se casou até pouco


tempo atrás. Um acordo entre meu pai e os pais da noiva. Mais
inconveniente que isso, impossível. — Ergueu uma sobrancelha e fiz uma
careta.

— Não foi escolha de Beatriz?

— Mas, meu irmão mudou. De forma voluntária ou um acordo


comercial, esse foi o relacionamento que ele teve a oportunidade de ter. O
nosso começou com uma mentira, eu fui imprudente e queria te proteger, por
mais que estivesse te colocando no olho do furacão.

— Eu não me sinto mais em dívida com você.

— Que bom, porque nosso relacionamento, a partir de agora, está


em equilíbrio. — Estendeu a mão para fechar a água e me trouxe para me
acomodar no seu colo. Deitei minha cabeça no seu ombro e seus braços,
mais a água quente, se transformaram no meu casulo preferido. — Já deu
para entender que vamos respeitar os anseios individuais de cada um. Você
tem uma vida com a biologia e eu continuo amando minha carreira militar.
Contudo, me apaixonar por você me fez ter uma nova percepção.

— E se algo te fizer se arrepender?

— E se não? — Beijou minha cabeça. — Está tentando prever o


futuro, Clarice. Quero vivenciar cada momento, sem criar expectativa ou
plano B. Quando acontecer, a gente senta, transa, depois conversa.

— Davi! — Bati no seu ombro e ele riu baixo. — São os


hormônios, não sou tão descarada assim.

— E se quiser ser, eu estou pronto para te receber. — Deslizou suas


mãos pelo meu corpo e me esquentou. Parou na minha barriga e a massageou
com carinho. — Um filho, meu filho.
— Pode ser menina.

— Para o bem dela, melhor ser a terceira ou quarta, quando eu


estiver mais maleável ao invés de um pai surtado por protegê-la.

— Três? — Arregalei meus olhos e o encarei. — E o discurso de


não fazer planos e prever futuro?

— Se for o seu desejo, podemos ter apenas um. — Deu-me um


selinho. — Mas deixo aberta a possibilidade de aumentarmos a família
sempre que desejarmos. Essa é a nossa vida a partir de agora.

Voltei a me deitar em seu colo, fechei os olhos e suspirei. Meu


coração estava acelerado, tudo estava perfeito demais e eu queria encontrar
um defeito, algo que eu pudesse apontar e acabar com tudo. Eu já estava
conformada em trocar as tartarugas pela minha felicidade pessoal, mais
ainda quando ele falou que ficaria no Brasil, por mim.

— Não há nada para você aqui, Davi. Também entendo que não há
razão para te manter longe, de um lugar, que eu mesma gosto. Amo sua mãe e
sua família, além de me sentir em casa em seu quarto.

— Seria melhor encontrarmos um lugar só nosso, não acha?

— Podemos ficar até o bebê nascer e eu enjoar? — Senti meu rosto


esquentar, pois admitira minha fragilidade. — Eu não tenho ninguém e saber
que as Rainhas poderão me fazer companhia na gestação, já que minha mãe
não poderá estar por perto, será de grande apoio.

— Claro, com certeza. — Ele respirou fundo e me apertou nos seus


braços. — Também gosto de estar com eles.
— Combinado.

— Lá vem você com mais planos. — Tocou minha cabeça com o


dedo. — Estou observando seu cérebro fazendo mil e uma listas. Relaxe,
Clari.

— Além de acompanhar sua mãe nos projetos, quero ter algo para
mim. Quando fiz vestibular, lembro que em Grã-Aurora não tinha nada
específico da minha área.

— Porque está restrito. — Ajeitou-me para que eu ficasse de frente


e o encarasse. — Há um projeto de resgate de animais, com a Marinha, que
envolve uma equipe multidisciplinar, inclusive biólogos. Não são apenas
tartarugas, mas quem sabe, poderá ampliar seus horizontes.

— Como não vi isso?

— Porque precisa seguir carreira para estar dentro.

— E eu terei que ser militar para isso? — Fiz uma careta e ele riu.
— De fardado, já basta você. Não tenho vocação para segurar em arma.

— Ah, tem sim, mas é outra. — Pegou minha mão e a levou para o
seu membro, que estava ereto. Olhou para meus seios e passou a língua nos
lábios, ele estava excitado e eu me acendi de forma tão instantânea quanto
ele. — Assim que nos casarmos, o sobrenome Fiori te dará esse passe livre.
Parte do treinamento será necessário, mas não se preocupe, eu serei seu
instrutor.

— Não, você será o meu marido, Príncipe e pai do meu bebê.


Beijei-o sentido a alegria nos contagiar. Ainda tinha muito para ser
conversado, as inseguranças ainda estavam em meu coração, mas a certeza
do seu amor me deu forças.

Daria certo, era só uma questão de adaptação.

Ele se encaixou em mim e, aos poucos, fui subindo e descendo,


pronta para mais uma rodada de carícias, desejo e paixão. Nenhuma mentira
valia a pena, eu sofri por conta dela, mas não poderia rechaçá-la, porque foi
a oportunidade ideal para transformar a amizade platônica com o General em
amor verdadeiro.

— Eu te amo — soltei entre os ofegos, espalhando água e o


montando movida pela minha excitação.

— Sou todo seu, Clari.

Tivemos mais alguns momentos quentes, tomamos banho e fomos


para a cama, saciados. Apenas de robe, deitei-me abraçada ao homem que
estava me prometendo o mundo e assistimos um pouco de televisão.

Cochilei e acordei com uma música suave tocando.

“Agora que acabou

Eu posso ver suas mentiras

Agora que acabou

Podemos dizer adeus

Mas estamos envelhecendo


E nós percebemos

Que nada acabou

Até o dia em que morrermos”

Day/Four – Nothing’s Over

A televisão estava ligada e Davi acompanhava a canção


melancólica, mas reconfortante. Aproveitei para me aconchegar melhor e
curtir o momento, mesmo sabendo que poderíamos repetir mil vezes.

— A Rainha ligou — ele comentou, despreocupado.

— Beatriz está bem?

— Não, foi minha mãe. — Riu baixo. — Ela tem pressa, mas eu a
dissuadi sobre te pressionar a deixar o país.

— Por que não vamos amanhã? — brinquei.

— Dessa vez, não tem volta. — Beijou minha testa. — Faça tudo o
que precisa, aproveite Arlene e encaixotaremos todas as suas coisas, para
levarmos para Grã-Aurora.

— Nossa, é verdade.

Senti um frio na barriga e meu coração acelerou. Seria uma


mudança drástica, além de definitiva. Eu queria e, por mais que o medo
tentasse nublar minha decisão, deixei que os braços de Davi Lucca me
tirassem a dúvida.
Fechei os olhos e me entreguei, definitivamente, para o sono. A
sereia do Atlântico estava grávida, virou Princesa e tinha outras
preocupações do que relembrar o passado e ter medo do futuro.
Capítulo 33

Abracei minha mulher por trás e senti o vento no rosto acolhendo meu
alívio. Em um cruzeiro, na área comum próximo às grades, como se estivesse
aproveitando a minha lua de mel, seguíamos para o Norte, em direção a Grã-Aurora.

Em menos de um mês, Clarice se despediu do Brasil e aceitou fazer parte


da família Real. Nosso relacionamento tinha tudo para dar errado, as ameaças à
monarquia e nossa diferença de idade, além dela ser plebeia, tudo junto poderia ser
uma força contra o amor.

Superamos e, no momento, aguardávamos a chegada do nosso primeiro


filho.

Toquei sua barriga e ela suspirou. Ainda não dava para perceber sua
gestação, mas depois do ultrassom e de ouvir o coração bater, a ficha tinha caído e
minha determinação foi renovada. Ter uma família próspera estava acima de
qualquer conquista profissional. Entendi que ser feliz no âmbito pessoal, não
importava o que eu escolhesse fazer para o labor, tudo seria bom.

— Ainda bem que não fiquei enjoada — comentou, acariciando minha mão
em cima da dela.

— Só sono. Além de precisar tomar muitas vitaminas. Já avisei para a


equipe da cozinha reforçar todas as suas refeições.

— Sim, General — zombou.

Beijei seu pescoço e encarei o horizonte, estava ansioso para chegar em


casa e, finalmente, fazer o pedido de casamento. O anel tinha sido comprado no
Natal, mas troquei por algo exclusivo do Brasil, tanto para homenagear o país que
foi o seu segundo lar, quanto para aplacar minha pressa.
Antes, a farsa era uma sombra dos nossos sentimentos. Naquele momento, a
sinceridade nos acompanhava.

— Aí estão vocês. — Viramos a cabeça na direção da voz. Vinicius


apareceu e foi o responsável por providenciar aquela viagem. De avião, poderíamos
chegar em horas. Pelos oceanos, teríamos tempo para aproveitar antes de iniciarmos
a vida a dois.

Real.

— O navio está cheio, irmão. Tem muita coisa para curtir, não precisa se
preocupar conosco — brinquei, para provocá-lo e ele riu alto.

— Davi — Clarice me repreendeu, mas também estava se divertindo.

— Eu sei, mas como Henrique não está por perto, farei o papel de
debochado no lugar dele. — Ele parou ao nosso lado e apoiou as mãos na grade. —
Terei um sobrinho.

— Não, eu serei pai.

— Ciumento? — Meu irmão revirou os olhos e sorriu para a minha mulher.


— Pode contar comigo para cuidar do filho do General.

— Você não tem cara de que sabe lidar com bebês, Vinicius.

— Constatou certo, Clarice. Ele quase derrubou nossa irmã recém-nascida.


— Vinicius tossiu e eu bati forte nas suas costas. — Lembra?

— Eu era criança, não foi de propósito.

— Ou seja, a inabilidade vem desde o berço. — Percebi que ele se


incomodou com a brincadeira, mas foi Clarice que estendeu o braço e tocou a mão
dele.
— Podemos mudar e aprender. Nunca pensei que poderia trocar as
tartarugas por outro sonho e cá estou. — Ela me cutucou e franziu o cenho,
indignada. — Você também.

— Faz parte dos requisitos de ser o irmão mais velho, ser chato e
responsável. — Vinicius piscou o olho para ela e me enfrentou. — Quando te vir
trocando uma fralda, vou me lembrar das suas palavras.

— Por isso teremos muitas babás.

— E ele vai aprender a fazer tudo isso e mais um pouco. O tio estará
convidado a brincar. — Minha mulher apaziguou.

— A mãe vai ficar feliz em saber que teremos muitos bebês a caminho —
Vinicius murmurou, olhando para o horizonte.

— Não tenho tanta pressa. Nem sabia que ficaria tão feliz por estar grávida
e formar uma família — Clarice não entendeu o que meu irmão queria dizer, mas eu
estava percebendo as palavras não ditas na sua afirmação.

— Quem é ela?

— A... como assim? — Arregalou os olhos e me encarou, quase revelando


o que não queria.

— Experiência própria, assuma logo ou vai sofrer sem necessidade.

— Do que vocês estão falando? — Ela entrou na conversa e beijei sua


testa, rindo do desconforto do meu irmão.

— Seu noivo vê coisa onde não tem.

— Não há vergonha em assumir o sossego, quando a gandaia não tem mais


sentido. Pule, irmão. A piscina dos casados é muito boa. Tenho certeza de que
Arthur também concorda.
— Diz o homem dentro do Oceano Atlântico — zombou.

— E foi assim que tudo começou. — Clarice se virou e me abraçou. —


Apesar de vê-lo como alguém para confiar naquela época, apenas isso, sei que tudo
fazia parte do plano do destino.

— Não acredito que nosso futuro esteja escrito. Escolhas fazem o nosso
caminho. — Vinicius bateu no meu braço e sorriu. — Bem, vou deixar os pombinhos
aproveitarem o passeio. Qualquer coisa, me acione pelo celular.

— Quando chegarmos em Grã-Aurora nos falamos. Tchau — despedi-me


preocupado, mas não o suficiente para tirar a paz que eu sentia estando com Clarice.

E, impulsionado pelo meu amor, dei um passo para trás, ajoelhei-me na


frente dela e tirei a caixa de joia delicada, que eu mantinha no meu bolso de joelho
da farda.

— O que está fazendo, Davi Lucca? — perguntou com as mãos na boca. —


Nós já somos noivos.

— E não pretendo apagar o passado, mas ressignificar o nosso presente. —


Abri a caixinha e tirei o anel. — Clarice Mattos, a amiga que sempre me confortou
com suas fotos e mensagens de texto, a menina com medo de julgamento que se
transformou na mulher disposta a enfrentar o mundo. No momento certo, eu me
permiti te amar e não me arrependo do que passamos, apenas que demorei demais
para fazer o pedido real: quer ser minha esposa?

— Meu Deus! Claro, Davi — respondi, entre lágrimas. Ele colocou o anel e
percebi que as pedras verdes e azuis me lembravam do mar.

— Não poderei garantir que serão sempre risos e alegrias, estar na família
Real é garantia de fortes emoções. Prometo te amar, honrar nossa família e sempre
dialogar, depois de tra...
— Não fale. — Ela colocou as mãos na minha boca e riu entre suas
lágrimas. Olhou ao redor e pulou no meu pescoço, eu a ergui, abraçando sua cintura.
— Eu te amo e prometo me dedicar.

— Ser feliz, Clari. — Beijei seus lábios e a fiz chorar um pouco mais. —
Se for para fazer algo, que seja porque te faz bem, não para me agradar. Seu bem-
estar é o meu.

— Me leva para o quarto.

— Com maior prazer, minha noiva.

Mudei a nossa posição, peguei-a no colo como uma Princesa – que ela era
de todas as formas – e a levei para nosso aposento.

Preocupado em proporcionar um bom momento ao outro, esquecemos que


nos sentirmos bem já era o suficiente. Se estamos felizes, a nossa alegria iria
contagiar.

Conversar. Mas não antes de muita paixão e luxúria, porque eu estava


apenas começando a me entregar de corpo para Clarice Mattos Fiori.
Epílogo

Meses depois...

A facilidade de aceitar aquele apartamento veio com a garantia de que o


quarto de Davi Lucca, no castelo, não seria desfeito. Sem conseguir explicar em
palavras, aquele era o lugar que tinha se tornado o meu refúgio, apenas do homem
que ficava nele ser muito mais do que isso para mim.

Ajeitei os talheres na mesa e alisei minha barriga, estava prestes a ganhar


Cecília. O General Fiori teria que aprender a ser protetor na medida com a
primogênita e tínhamos planos de não parar no primeiro.

Não havia momento ruim que ofuscasse os bons que estavam me cercando.
Eu tinha acesso à minha mãe, mas nem sempre ela estava lúcida para me receber.
Esteve no meu casamento por poucos minutos e foi o suficiente para que eu
recebesse a sua bênção e a do meu pai, em meu coração.

Não havia estatística ou estudos que me garantissem como seria a sua


saúde, por isso, o meu mantra quando eu me lembrava dela era: um dia de cada vez.

E, para aquele momento, eu tinha feito um jantar especial para a minha


sogra, para falarmos do chá de bebê. Rainha Elizabeth estava eufórica por estar se
tornando avó e lidando com muito mais do que os projetos sociais. A família estava
em expansão e algo me dizia que viria muito mais do casamento do Rei e o do
General.

Aqueles gêmeos estavam escondendo algo e percebi na nossa última


reunião no castelo. Henrique se escondia por trás dos seus comentários sarcásticos
enquanto Vinicius ignorava as provocações de Davi Lucca. Eu amava fazer parte
daquela família, mesmo que eu estivesse longe de ser tão nobre quanto a Rainha
Beatriz.

— Cheguei. — Ouvi Davi Lucca e as chaves sendo colocadas dentro do


pote na porta de entrada. — Clari?

— Aqui. Sala de jantar. — Conferi, mais uma vez, os talheres e meus


ombros caíram quando vi o meu marido, sem minha sogra. — Onde está sua mãe?

— Ela está a caminho.

— Você falou que iria buscá-la. — Aproximei-me para beijar seus lábios e
alisar sua farda. — Como foi o trabalho?

— Tudo tranquilo. A esposa do General Berthe perguntou quando será o chá


de bebê.

— Assim que eu conseguir me organizar com sua mãe, que não está aqui,
porque o filho a deixou vir sozinha. — Franzi o cenho, exagerando na minha bronca
e ele sorriu em provocação.

— Ela é maior de idade e sabe se virar, Clari. — Ele me puxou e deixou


beijos nos meus lábios.

— Vai borrar meu batom. É a primeira vez que sua mãe virá no nosso
apartamento.

— Por isso, acho que você precisa de um remedinho para relaxar.

— Tenho que ver...

— Estrelas, Clari. — Ele me beijou e conseguiu me fazer esquecer todas as


inseguranças, como sempre fazia.

De vez em quando, ele massageava meus ombros. Outras vezes, ele cantava
para me acalmar. Mas, o que dava resultado instantâneo e meu corpo reagia a todas
as suas segundas intenções, era a paixão.

Com a barriga avantajada, não era possível uma rapidinha de frente, como
eu adorava fazer. Andamos apressados para o nosso quarto, fechamos a porta e o
empurrei para a cama.

De vestido, tirei a calcinha enquanto ele abria a calça e não se dava ao


trabalho de ficar nu para me tomar.

— Tem que tomar banho antes do jantar.

— Concordo, faremos novamente debaixo do chuveiro. Vem, esposa. —


Estendeu o braço, me puxou para ficar sentada de costas para ele e nos encaixamos.

Ele acariciou a minha barriga antes de descer até entre minhas pernas e
fazer movimentos circulares enquanto eu subia e descia lentamente. Eu tinha pouca
força e resistência naquele estado, mas meu marido tinha porte atlético e conseguia
nos estimular com precisão.

Assim que eu gozei e ele me seguiu, a campainha tocou. Eu dei um grito


desesperado, saí do seu colo e corri para o banheiro. A ajudante do lar
recepcionaria a Rainha, mas eu também precisava fazer meu papel.

— Para o banho, Davi! — ordenei enquanto ele ria.

— Sim, Senhora — respondeu em tom militar e meu coração se aqueceu.

Aquela era minha vida, a família que tanto almejei e apenas o início da
minha história com a Família Real Fiori. Nem todas as mentiras plantadas produziam
frutos podres. O amor prosperou.
Agora Leia a História do Rei
Arthur

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Sinopse: Arthur Fiori é o rei de Grã-Aurora, um país insular que vive em


monarquia em pleno século XXI. Sendo um homem frio e impopular, ele
sempre esteve muito mais preocupado com números do que com fotos e
aparições públicas. Enquanto o povo queria adorá-lo, ele focava na gerência
do país e suas atitudes contribuíam para o crescimento de um partido
republicano que queria acabar com a monarquia.

Desde a adolescência, Beatriz estava prometida ao rei de Grã-Aurora.


Criada para ser rainha, ela só via o seu noivo através de notícias na internet,
mas com a chegada do casamento, aquilo que não passava de uma ideia se
tornou real. A jovem gentil e carismática logo ganhou a atenção e o coração
do povo, mas a vida dentro do palácio não era tão simples. Um casamento ia
muito além de um acordo, papéis assinados e alianças trocadas.

Um rei distante e frio.

Uma rainha jovem e gentil.

Um casamento de conveniência.

Arthur queria manter a menina longe, pensava que o casamento não


precisava ir além das aparências, porém, tudo o que Beatriz mais desejava
era um espaço no seu coração.
Agradecimentos

Meu agosto/2021 foi marcado por esse universo da monarquia. Foi


um desafio pessoal – meu primeiro contato com reis e príncipes
contemporâneos –e agradeço a Jéssica Macedo por sugerir o tema dessa
série. A parceria e o apoio que recebo dessa amiga não cabe no peito, por
isso, colocamos no papel.

Fabricio, Amanda e Daniel, meus amores e inspiração diária,


gratidão por me permitirem ser Mari Sales para o mundo literário. Estar com
vocês e com meus leitores fazem parte da minha realização pessoal.

Pai, mãe, Waleska e Wilson Fernando, vocês também contribuíram


para o desenvolvimento dessa história. Vejo o quanto está difícil e
acompanhar de longe também é um desafio. Que Deus continue nos
iluminando e a resiliência seja nosso mantra. Há força em todos nós.

Se tenho cada vez mais organização e tempo, é porque Liziane está


em minha vida. Aquela que me ajuda muito mais do que como parceira,
vamos e estamos crescendo juntas. Gratidão por estar presente comigo e
torcer pelo sucesso de mais essa obra.

Sou abençoada por ter uma equipe maravilhosa comigo. Amigas,


parceiras e colegas, o universo literário é único e motivador, porque comigo,
há amor compartilhado. Para ir mais longe, que seja muito bem acompanhada
das Legalzonas, Ventas, Divulguerreiras, DesafioMariSales, Foquinhas e LS.
O melhor clã de coworking virtual é o meu!
Minha querida Rayanne, que está sempre pronta e disponível para
ler minha obra antes de ser publicada. Com seu carinho e paixão, o General
ficou muito mais lindo.

Gratidão a todas as pessoas que participam do ecossistema da


literatura nacional, como blogueiros, influenciadores, autores, leitores, etc.
Mesmo distantes, o compartilhamento, curtidas e comentários fazem a
diferença em cada lançamento. Vocês são importantes, bem como a opinião
de vocês.

Lindas e poderosas, minhas leitoras dos grupos “Leitoras da Mari


Sales” e “Vicio em Livros DLM” são as melhores. Sempre animadas para
me ouvirem cantar, surtar ou liberar um spoiler, vocês encantam o meu dia a
cada interação. Saibam que vocês moram em meu coração.

Extra!!! Minhas leitoras queridas e apaixonadas por um mocinho


literário, que estão sempre dispostas a embarcarem nas aventuras que eu
crio. Vocês participaram da última leitura coletiva no grupo, do livro “Por
Você: A Virgem e o Quarterback” e merecem um agradecimento mais que
especial: Lizi, Paula Beatriz, Danusa, Duda, Enaê Ezequiel, Nay, Ana Roen,
Juliana Lelis, Tatiane Pereira, Luize Casal, Patrícia Almeida, Cristina,
Lauryen, Lorrany, Myslannia, Elena Ribeiro, Elizangela Paiva, Ana Karina
Pereira, Michele Moura, Mariana Telles, Bruna Correia, Jaqueline Silva,
Paloma, Ivana Sandes, Thais Rachetti, Rosi, Yslai, Adriana, Giane Silveira,
Helineh, Thatyana, Lúcia Cristina, Adolane, Ray, Clelia, Márcia Leão, Jaréd,
Luana Vitoria, Daiany, Luciana, Isabella Cristina, Carina Timm, Regina
Fabbris, Beatriz Soares, Aline Gomes, Ionara Consuelo, Marisa Gomes,
Scarllat Verde, Arlene Lopes, Priscilla Cordeiro, Luciana Dias, Rosana,
Luciana Dias, Carol Gaspar, Roseane Ferreira, Renata Ferreira, Alcilene,
Gislaine, Rosi Dante, Gislaine Cristina, Lívia Ravani, Cristiane Mauch,
Verônica Ten Caten, Roseli, Josy, Marcelle, Andréia, Cristina Franco,
Karina Stoco, Fabiana, Patricia, Lisie, Daniele Pacheco, Aymee, Adelle,
Sandra Alves, Tatiana Lima, Luciana Dias, Beatriz Leite, Kleia Faria,
Cassia, Sônia Orbe, Rosyh Ferreira, Nathana Biehl, Carina Barreira,
Fernanda Fernandes e Cilene.

Para você que chegou até aqui, gratidão. Além da história, saber um
pouco mais dos bastidores é uma forma de enriquecer o livro e explicar um
pouco das minhas motivações. Que seu coração se encha de amor e
esperança com meu clichê inusitado.

Com Amor, Respeito e Gratidão.

Mari Sales
Sobre a Autora
Mari Sales é conhecida pelos dedos ágeis, coração aberto e
disposição para incentivar as amigas. Envolvida com a Literatura Nacional
desde o nascimento da sua filha, em 2015, escutou o chamado para escrever
suas próprias histórias e publicou seu primeiro conto autobiográfico em
junho de 2016, "Completa", firmando-se como escritora em janeiro de 2017,
com o livro "Superando com Amor". Filha, esposa e mãe de dois, além de
ser formada em Ciência da Computação, com mais de dez anos de
experiência na área de TI, dedica-se exclusivamente à escrita desde julho de
2018 e publicou mais de 100 títulos na Amazon – entre contos, novelas e
romances.

Site: http://www.autoraMariSales.com.br

Instagram: https://www.instagram.com/autoraMariSales/

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Outras Obras

Por Você: A Virgem e o Quarterback: https://amzn.to/3gS6cs8

Sinopse: O rebelde Paulo Victor não agia como o esperado. Veterano no


curso de Administração e quarterback do time da cidade, ele era admirado
pelos seus colegas e cobiçado pelas garotas. Sua dedicação para o futebol
americano não contribuía para a carreira política que seu pai tinha
planejado.

Entrar na faculdade era o sonho de Milena Swagger. Disfarçada de Melissa


Silva, ela conseguiu a oportunidade de ter uma vida normal, longe de
perseguições e constantes mudanças. Para continuar segura, ela teria que
seguir alguns protocolos, como não se envolver com ninguém.
Quebrar todas as regras se tornou irresistível quando a rotina estudantil
começou. A atração pelo proibido e o mistério que envolvia Paulo Victor e
Melissa os conectaram muito além das conversas de corredor e festas
universitárias.

Eles não estavam preparados para que suas vidas fossem abaladas pelas
escolhas dos seus pais. O amor era forte para unir, mas também, o argumento
necessário para deixar a outra pessoa partir.
Pai por Acidente: https://amzn.to/3m6zjeQ

Sinopse: O atual CEO do Grupo Ferraro era dedicado ao sucesso


da empresa. Na vida pessoal, Nicolas Ferraro marcava encontros com
mulheres da mesma forma que agendava suas reuniões de trabalho. Apenas
assim conseguiria manter tudo sob controle para evitar decepções.

Sua vida perfeitamente programada sofreu mudanças quando um


bebê foi abandonado em seu escritório. Com dúvidas se a criança era sua,
ele escolheu descobrir a verdade antes que aquele acontecimento se
transformasse em um escândalo.

Para os cuidados com o bebê, Nicolas precisaria de uma babá.

Lane Simioni estava perdida. Em busca do seu verdadeiro


propósito de vida, ela tinha trancado a matrícula da faculdade de
Enfermagem sem avisar sua mãe. E, movida pela expectativa de ter novas
experiências, aceitou a oferta de emprego provisória.

Um bebê abandonado.

Uma babá inexperiente.

Um pai sem intenção.

Enquanto Nicolas Ferraro mudava de visão sobre o seu passado


doloroso, aquele acidente se transformava na sua melhor escolha.
Sua Para Proteger: https://amzn.to/3B9sZbp

Sinopse: O que eu mais queria era me redimir, depois das


consequências da minha ilusão amorosa. Comecei pela vida profissional e
me encontrei nas pistas de corrida.

Fazer o certo ia além de agradar os outros. Meus irmãos tinham


suas famílias e estavam felizes com suas escolhas. Eu precisava me permitir
amar novamente e encontrei minha segunda chance em uma festa, indicada
pela mesma pessoa que um dia me fez sofrer.

Rosyh Johnson não me permitiu tornar o momento de luxúria em


algo mais. Sem ter o seu contato, pensei nela enquanto foquei nas corridas e
socializei ao estilo do solteiro Mazzi.

Meu caminho cruzou com o de Rosyh meses depois, em outros


termos. Ela não era mais uma mulher desapegada, que queria apenas
diversão, mas uma grávida retraída. Diferente da nossa primeira vez, eu
insisti e mostrei que era diferente de todos os homens que ela conheceu.

Sua confiança em mim me permitiu que eu a protegesse do seu


passado. Só não imaginava que ser altruísta pudesse colocar em risco a
família que tanto ansiei formar.

Aviso: Sua Para Proteger, livro 4 da Família Sartori, é um volume


único. Por ser com casais diferentes, cada livro da série pode ser lido
separadamente, mas o posterior contém spoilers do anterior.
O Acordo: https://amzn.to/3q2BHDb

Sinopse: Samuel Vitta Dan era um CEO de sucesso na área de


investimentos financeiros. Rígido e intimidante, nas horas vagas, lecionava
empreendedorismo para o último ano do curso de Análise e
Desenvolvimento de Sistemas. Essa atividade extra lhe rendia muito mais do
que satisfação profissional.

Nem todos apreciavam o professor Samuel. Scarllat Mancini não se


adequava em sua família e estava difícil se adaptar aquela metodologia de
ensino. Ela tinha sido julgada desde o seu nascimento e nunca se acostumou
a ter que provar seu potencial, muito além das notas escolares.

Com um diploma na mão e órfã, Scarllat recebeu uma oportunidade


de mostrar sua capacidade, ela iria trabalhar na área de tecnologia da Dan
Financeira.
Novos desafios surgiram quando ela descobriu que o CEO da
empresa era aquele professor odiado. Mesmo que ainda guardasse mágoa,
Samuel estava se tornando um chefe misterioso e irresistível. Para saber
mais daquele homem, Scarllat iria se render a um acordo e descobriria muito
mais do que os segredos do CEO.
Tristan e a Sugar Baby (Amante Secreto): https://amzn.to/33YRBVa

Sinopse: O CEO da Ludwing Motors estava enfrentando


complicações no seu divórcio e, por ser um pai protetor, não queria que sua
filha fosse afetada. Tristan Adams estava decidido a aproveitar seu atual
estado civil se cadastrando em um site de encontros.

Annelise Ortiz ganhou uma bolsa de estudos na faculdade de


Stanford e perdeu o namorado virtual. Ela foi iludida e estava disposta a não
sofrer pelo término do relacionamento. Por impulso, acordou com sua
melhor amiga para serem sugar baby por um dia.

Tristan só queria uma companhia para o evento empresarial, sem


que houvesse complicações posteriores. Annelise esperava uma diversão
inocente com o homem mais velho, não acabar perdendo a virgindade.
Eles não deveriam se encontrar novamente, mas aconteceu muito
mais do que tinha sido planejado. As complicações que rodeavam aquela
relação aumentavam a cada dia. Tristan era o pai da melhor amiga de
Annelise e um final feliz estava longe de acontecer... a não ser que o amor
falasse mais alto.
Contrato com o CEO: https://amzn.to/3nUwZpV

Sinopse: Para Rico Lewis, trabalho se misturava com prazer. Ele


não sabia se relacionar com as mulheres se não fosse baseado no que estava
definido em um contrato. Essa era a forma que encontrou para nunca mais ser
enganado.

A seleção para secretária executiva do CEO da ReLByte era


concorrida. Alice Reis não achava que poderia ser a escolhida, na verdade,
nem queria. Sua confiança estava abalada ao ser humilhada pelo homem que
se dizia seu namorado.

Tudo estava acontecendo ao mesmo tempo e não havia mais nada a


perder. Sem companheiro, sem dinheiro e sem um lugar para morar, Alice
aceitaria qualquer proposta para assumir o controle da sua vida. E ela
conseguiu a vaga. Por impulso, assinou o contrato e aceitou as consequências
de ser a realização do fetiche CEO e secretária.

Ela nunca tinha sido tocada daquele jeito. Senhor Lewis não queria
sentir o coração acelerar novamente. Era a iminência de um desastre, mas
eles ignorariam qualquer emoção para se protegerem de uma nova decepção.
Valentine (Tríade Moto Clube – Livro 1): https://amzn.to/3aq5yib

Sinopse: O Doutor Brian Powell, ou Doc como era conhecido pelos


amigos, acompanhava de perto o sofrimento do presidente do Selvagem
Moto Clube devido a uma grave doença. A morte se aproximava e a
sucessão do seu legado estava gerando uma grande disputa.

⠀ John Savage nunca quis que a família se envolvesse com seus


negócios, mas sua filha Valentine estava disposta a lutar pelo cargo que lhe
era de direito. Ninguém a conhecia o suficiente para dar apoio, no entanto
isso não a desmotivaria a alcançar seu objetivo.

⠀ O primeiro contato que Valentine teve com um dos membros do


Moto Clube foi explosivo, mas Doc estava determinado a ser um aliado,
além de um bom amante. Ele já a queria muito antes mesmo de a ver pela
primeira vez.

⠀ Entre atentados e preconceito, Doc e Valentine terão que lutar


para preservar a paz do Selvagem e não se perderem entre as armadilhas
causadas pela superproteção.
Sempre Minha (Família Mazzi Sartori - Livro 3):
https://amzn.to/3gumRm3

Sinopse: A ideia de tê-la era tão dolorida quanto a de afastá-la de


mim.

Fiz mal a pessoa que amava em segredo. A única que eu deveria


proteger acabou sendo vítima dos meus desejos. Izabel Mazzi estava
comemorando seus vinte e um anos quando me pediu um beijo e eu lhe dei
meu coração.

Eu não a merecia. Nossa diferença de idade e a forma como tudo


aconteceu naquela festa me impediam de ter uma conversa franca e assumir o
meu erro. A culpa me corroía e por seis anos eu a afastei.

Mas ela tinha outros planos. Além de assumir os negócios da


família, Izzi estava disposta a destruir a barreira que construí para que não
se aproximasse. Ela merecia mais do que aquele momento descuidado que
proporcionei.

Não me achava digno daquele anjo, mas não consegui aceitar outro
homem em sua vida, nem mesmo sendo um Sartori. E, para comprovar isso,
eu teria que esclarecer o mal-entendido do passado e assumir que Izabel
Mazzi sempre foi minha.

Escrito em parceria por Jéssica Macedo e Mari Sales.


Comprada por Raphael: https://amzn.to/3atzIS1

Sinopse: O misterioso dono do Pub dos Fetiches foi influenciado


por seu parceiro de negócios a comprar uma virgem no Site Secreto. Liberto
de pudores, essa deveria ser apenas uma noite dentre tantas outras que
compartilharia uma companhia.

Tyr, como Raphael Kuhn era conhecido, ficou encantado pela


mulher que adentrou o seu camarote. Ela era bem mais nova do que ele,
inocente, mas não perdia uma oportunidade de o provocar. Querendo saber
os limites da virgem que havia comprado, Raphael estava disposto a ter mais
uma noite com essa mulher.

Hannah Braun tinha apenas um objetivo na vida, cuidar da sua Oma,


que a criou e lhe deu amor. Com sua avó enfrentando sérios problemas de
saúde e as contas atrasadas, em um momento de desespero, Hannah fez o
impensável e aceitou a proposta indecente do Site Secreto, e acabou se
entregando de corpo e alma para o momento de luxúria. Se o seu destino era
aquele, que aproveitasse a jornada antes que a ilusão acabasse.

ATENÇÃO! Essa história contém cenas impróprias para menores


de dezoito anos. Contém gatilhos, palavras de baixo calão e conduta
inadequada de personagens.
A Virgem e o Lutador: Meu Protetor: https://amzn.to/32xfzWL

Sinopse: Deveria ser mais um trabalho para o agente secreto Adam


Soares. Disfarçado de lutador, para prender o chefe de uma quadrilha
perigosa, ele não esperava que seu inimigo tivesse uma filha refém de
crueldades, ou que ela desviaria sua atenção do foco principal.

Carina Andrade vivia um dia de cada vez. Responsável pela


limpeza da academia do pai, tentava passar despercebida pelos homens que
a rodeavam. Mas um deles a viu, em seu pior momento, e parecia disposto a
tirá-la do seu sofrimento.

Para que o romance entre Adam e Carina acontecesse, eles teriam


um alto preço a pagar. Restava saber se existiria vida a dois após o
encerramento da investigação.
ATENÇÃO! Essa história contém cenas impróprias para menores
de dezoito anos. Contém gatilhos, palavras de baixo calão e conduta
inadequada de personagens.
O Segredo do Milionário: https://amzn.to/2MpBYAR

Sinopse: Ícaro Duarte estava disposto a concluir o maior sonho da


sua falecida mãe, mesmo que contrariasse as ordens do seu pai. Colocou a
mão na massa e foi para a cidade em que nunca pensou que voltaria a pôr os
pés. Não seria uma viagem rápida, mesmo assim ele não estava disposto a
criar raízes.

A construção de Elias Duarte, abandonada por anos, era conhecida


por toda Dualópis. Quando uma empreiteira resolveu assumir a conclusão da
obra, as histórias que cercavam a família começaram a ser desenterradas.

Natália Costa regressou para a casa da sua mãe depois de concluir


a faculdade e se viu desempregada. Vizinha da mais famosa construção
abandonada da cidade, ela relembrou seus tempos de menina subindo no pé
de seriguela e acompanhando o trabalho dos pedreiros.

Ícaro e Natália se apresentaram, se conheceram e descobriram que


tinham muito mais em comum do que o segredo que os pais escondiam deles.
Para que pudessem ter uma segunda chance, alguns amores precisavam
repetir por gerações até que encontrassem a redenção.
Sua Para Sempre (Família Sartori - Livro 2): https://amzn.to/2MdeX48

Sinopse : A irreverência e alegria eram minhas marcas registradas.


Já tinha sido julgado por minhas escolhas, mas nada me abalava, eu estava
em meu melhor momento.

CEO da ERW, a marca de roupas referência no mercado, eu tinha


em minha equipe a melhor estilista. Joan era, além de excepcional, minha
melhor amiga desde o colégio.

Dedicada e, por muitas vezes, solitária, ela atendia as exigências da


supervisora e me acompanhava nas excentricidades.

Por mais que eu tivesse mulheres para me satisfazer e eu


aproveitava todos os momentos, era com Joan que me sentia realizado. A
dependência dela era justificada pela conexão que criamos há anos.
Então, o meu bom momento estava prestes a se tornar caótico
quando foi necessária a presença do meu irmão Ryder. A amizade que tanto
prezei com Joan estava se transformando e, para manter o meu sorriso de
sempre estampado, eu precisaria tomar uma importante decisão. Restava
saber se estava pronto para lidar com as consequências.
As Confusões de Jesse Louis: https://amzn.to/3qOI3VM

Sinopse: Ir de penetra em um baile de carnaval, que Jesse Louis


tinha sido proibida de aparecer, deveria proporcionar histórias divertidas.
Nove meses depois, ela estava com um filho no colo sem a paternidade
reconhecida, um irmão superprotetor implicando com suas escolhas e uma
loja de doces para cuidar.

Igor era um homem que escondia suas origens. Ele preferia cuidar
de um escritório de investigação particular com seu melhor amigo do que
viver no luxo ofertado pela sua família. Ninguém precisava saber que ele
tinha outras motivações para estar próximo dos irmãos Louis.

Jesse e Igor tinham um relacionamento amigável e distante, até o


momento em que ela decide ir atrás do pai do seu bebê.

Deveria ser uma ação simples, mas tudo o que envolvia a doceira
se transformava em uma grande confusão. E, daquela vez, teve uma pitada de
fraldas sujas, intimidações e um homem protetor para ser só dela.
Decisão Perfeita: https://amzn.to/2WgcK9n

Sinopse: Pedro Montenegro perdeu a esposa e a esperança de ter


uma família ideal. CEO do Grupo Montenegro, deixou o comando com seus
diretores para estar mais próximo do seu filho recém-nascido.

Quando ele retornou ao trabalho, começou a descobrir que sua


esposa guardava segredos. O mais surpreendente de todos bateu à porta e
queria se relacionar com o seu filho: uma cunhada desconhecida.

Depois que sua querida meia-irmã faleceu, Adriana só pensava em


conhecer o sobrinho. Humilde e determinada, ela escolheu se aproximar do
viúvo rabugento, apesar do desgaste emocional. Pedro só queria proteger o
filho, mesmo que Adriana tivesse boas intenções e não houvesse o que temer.
O primeiro contato entre os dois não tinha sido nada amistoso.
Quanto mais Pedro descobria que o interesse de Adriana pelo seu filho era
genuíno, mais ela conseguia entrar na vida dos dois, alcançando também seu
coração.

Influenciado pelas revelações sobre o passado da falecida esposa,


Pedro tomaria a decisão mais importante da sua vida, que afetaria não só seu
filho, mas o amor que descobriu sentir por Adriana.
Sua Por Obrigação (Família Sartori – Livro 1): https://amzn.to/37onw2l

Sinopse: Fui desafiado a provar o quanto era bom no poker e


ganhei uma mulher onze anos mais jovem do que eu. Mesmo que fosse
apenas uma provocação, fui inconsequente e segui até o fim naquele jogo.
Deveria imaginar que não era apenas um local estranho para se fazer
apostas. ⠀

O juiz Marcelo Sartori tinha a posse de uma mulher! ⠀

O ódio pelos bandidos só aumentava. Ao invés de abandonar


Mercedes Smith a própria sorte, eu iria protegê-la. ⠀

Enquanto estivesse me esforçando para colocar atrás das grades


uma quadrilha de jogos ilegais, ofereceria meu sobrenome para Mercedes.
Um contrato de casamento, a proteção ideal para que ninguém ousasse tocá-
la.

Seria simples, se não fosse a atração que comecei a sentir,


mesclada a culpa de estar obrigando-a a ser minha. Não me importava com o
papel dado pela casa de jogos ilegal, eu deveria seguir a lei e não me deixar
corromper.

Pouco tempo foi necessário para que o desejo tomasse conta. Não
consegui mais focar apenas no grande plano, meu coração estava envolvido
demais para desapegar.

Ela não seria minha por obrigação, mas por sua própria vontade.
Cedendo à Paixão: https://amzn.to/3kpvtd8

Sinopse: Quando o grande empresário Bernardo Camargo cruzou


com Alícia em um supermercado, não esperava que a mulher fosse mais do
que uma coincidência. Ambos estavam tendo um péssimo dia, o desabafo
sobre seus tormentos foi involuntário, afinal, eles eram estranhos que nunca
mais se cruzariam.

Bernardo lutava para esquecer o passado que o marcou.

Alícia estava disposta a renunciar sua própria felicidade para ser


uma boa mãe para seus filhos.

Um momento não deveria definir um relacionamento, muito menos


abrir a brecha para que a vida amorosa de Alícia voltasse a ativa. Bernardo
queria ser visto além do homem poderoso em um terno e estava disposto a
ter mais do que apenas em um encontro casual com aquela mulher.

Restava saber se a paixão avassaladora entre os dois seria o


suficiente para superar tantos segredos.
A Filha Virgem do Meu Inimigo: https://amzn.to/2DwGGYZ

Sinopse: Antonio “Bulldog” era conhecido na cidade por seu


temperamento explosivo e trabalho árduo na presidência da AMontreal. Com
um histórico familiar de traumas com mulheres, ele era um homem solitário
que se apegava apenas ao seu ofício.

Nada o deixava mais irritado do que lidar com o seu rival, o


candidato a prefeito Ivan Klein. Ele estava ausente da cidade há muito
tempo, mas voltou para destruir com a AMontreal e ser o chefe maior de
Jargão do Sul.
Bulldog estava pronto para defender seus protegidos do ambicioso
político, mas ele não contava com a presença da filha do seu inimigo.
Deborah não só tinha quinze anos a menos do que ele, mas era uma mulher
doce, de sorriso contagiante e que tentava influenciar as pessoas, de forma
positiva, a favor do seu pai.

Ninguém disse que o destino jogava limpo. Ele não só unia pessoas
de lados opostos a uma guerra, mas confrontava segredos e revelava a
verdadeira face das pessoas. Cabia a Bulldog e Deborah escutarem seus
corações e não caírem na armadilha da ganância alheia.
Box – Quarteto de Noivos: https://amzn.to/2JQePU2

Sinopse: Essa é a história de quatro primos solteiros que encontram


o amor. Coincidência ou não, o movimento para que eles se permitissem
amar iniciou com a matriarca da família, avó Cida, em uma reunião de
família. Ela mostrou, sem papas na língua, o quanto eles estariam perdendo
se buscassem apenas relacionamentos vazios.

O que era para ser um encontro casual se tornou em uma grande


história sobre a próxima geração da família Saad.

Nenhuma das mulheres que se envolveram com o quarteto de primos


era convencional. Quem as visse de longe, julgariam suas escolhas ou
mesmo se afastariam.

Fred, Guido, Bastien e Leo aceitaram o ponto de vista da avó de


forma inconsciente, mas se apaixonaram por completo com a razão e o
coração em sintonia.

Envolva-se com as quatro histórias e se permita olhar para a família


Saad de uma forma completamente diferente.

Obs: Esse BOX contém:

1- Enlace Improvável

2- Enlace Impossível

3 - Enlace Incerto

4 - Enlace Indecente

Epílogo Bônus
BOX – Família Valentini: https://amzn.to/2RWtizX

Sinopse: Esse e-book contém os seis livros da série família


Valentini:

1 - Benjamin

2 - Carlos Eduardo

3 - Arthur

4 - Antonio
5 - Vinicius

6 – Rodrigo

1 - Benjamin – sinopse: Marcados por uma tragédia em sua


infância, os irmãos Valentini estão afastados há muito tempo uns dos outros.
Benjamin, o irmão mais velho, precisou sofrer uma desilusão para saber que
a família era o pilar de tudo e que precisava unir todos novamente.

Embora a tarefa parecesse difícil, ele encontra uma aliada para essa
missão, a jovem Rayanne, uma mulher insegura, desempregada e apaixonada
por livros, que foi contratada para organizar a biblioteca da mansão e
encontrar os diários secretos da matriarca da família.

Em meio a tantos mistérios e segredos, o amor familiar parece se


renovar tanto quanto o amor entre um homem e uma mulher de mundos tão
distintos.
Box Flores e Tatuagens: https://amzn.to/2LLjA4D

Sinopse: Eles eram ricos, intensos e poderosos em seus ternos e


tatuagens.

O CEO Tatuado Erik se apaixonou pela irmã do seu tatuador.


Orquídea fugia de um passado que a atormentava.

O Executivo Tatuado San Marino encontrou a estrela que brilharia


na sua vida. Daisy tentava escapar de um relacionamento abusivo com um
homem perigoso.

O Chefe Tatuado Dário era protetor e não hesitou em agir quando


conheceu a mãe de Enzo Gabriel. Gardênia fugia do pai do seu filho e de
uma vida submissa.

O Sócio Tatuado Laerte Azevedo era o vilão. Ele estava disposto a


contar a sua versão da história, mesmo que soubesse que não era digno de
perdão. Jasmim foi vítima da crueldade da família Azevedo e estava
disposta a superar seus medos.

Quatro casais, quatro histórias. Eles estavam dispostos a reconstruir


suas almas com o mais belo dos sentimentos, o amor.

ATENÇÃO! Essa história contém cenas impróprias para menores


de dezoito anos. Contém gatilhos, palavras de baixo calão e conduta
inadequada de personagens. ⠀
Vendida Para Bryan (Clube Secreto): https://amzn.to/2VTZTKb

Sinopse: Proprietário do Paradise Resort nas Ilhas Maldivas, Bryan


Maldonado construiu seu patrimônio com dedicação na administração de sua
herança. Além do sucesso profissional, ele explorava sua sexualidade ao
extremo. Sem compromisso ou paixões que durassem mais que uma noite,
Bryan era racional e sabia como lidar com as mulheres, tomando o que ele
queria e dando a elas o que necessitavam.

Convidado para participar do exclusivo Clube Secreto, ele estava


disposto a investir altas quantias para experimentar uma nova forma de sentir
prazer. Ao descobrir que se tratava de um leilão de mulheres, percebeu que
estava além do seu limite, ele tinha princípios. Todavia, não conseguiria ir
embora sem tentar salvar pelo menos uma delas.

Valkyria não sabia o que tinha acontecido com ela até acordar em
um quarto desconhecido. Até que chegasse nas mãos de Bryan, ela conheceu
o pior do ser humano, ela não sabia o que tinha feito para merecer tanto.

Ele não era um salvador, muito menos um príncipe, Bryan estava


mais para o perfeito representante do deus Afrodite.

Disposto a libertá-la, a última coisa que ela queria era rever


aqueles que poderiam ser os causadores da sua desgraça. E, enquanto ela
não decidia o que fazer da sua vida, tornou-se parte da rotina de Bryan,
conheceu seus gostos, experimentou suas habilidades e tentou não se
apaixonar pela melhor versão de homem que já conheceu.

O único problema era que Bryan tinha limitações e Valkyria parecia


disposta a ultrapassar todas elas antes que seu tempo com ele terminasse.

ATENÇÃO! Essa história contém cenas impróprias para menores


de dezoito anos. Contém gatilhos, palavras de baixo calão e conduta
inadequada de personagens.
Scorn: e a inevitável conexão (Série Dark Wings – Livro 02):
https://amzn.to/2YZfb0O

Sinopse: Scorn era um dos líderes vampiros do Dark Wings Moto


Clube. Apreciava sua imortalidade impondo seu poder enquanto degustava
as variedades de tipos sanguíneos de mulheres. Insensível e meticuloso,
Scorn acreditava que sabia de tudo e sobre todos. Sua maior frustração era
não ter impedido que seu irmão Trevor se unisse a Diana e gerassem o bebê
proibido, Thomy. Ele desprezava aquela criança.

Shantal Davis foi criada por caçadores, para ser a mulher do


inabalável Mestre Isaac. Alienada sobre o mundo que a cercava, ela não
imaginava que o homem que conheceu na madrugada deveria ser seu maior
inimigo. Sedutor e com o poder de deixar suas pernas bambas, ela cedeu a
todos os seus caprichos enquanto descobria seu verdadeiro propósito no
mundo.

Scorn estava na direção contrária de suas convicções. Shantal


acreditava que todos mereciam uma segunda chance.

Um novo bebê estava a caminho, fazendo com que o mais cruel dos
vampiros voltasse a sentir. Restava saber se era tarde demais para Scorn
assumir a inevitável conexão com a mãe da sua filha.
Thorent (Feitiço do Coração): https://amzn.to/3fVjxhA

Sinopse: Insensível e manipulador, Thorent era um bruxo de raio


aliado as forças das trevas. Estando em desvantagem na Dimensão Mágica
após o fim da guerra, ele se viu obrigado a viver entre os humanos. O CEO
da TMoore Tecnology era temido, mas não o suficiente para ser confrontado
com a nova rainha bruxa. Ele não iria se submeter as suas leis e, como
castigo, teve seus poderes retirados até que aprendesse a amar. ⠀

Como poderia um bruxo sem sentimentos se apaixonar? Thorent


havia trancado o seu coração e queimado a chave há muito tempo, junto com
seus amigos Bastiaan e Áthila. ⠀
Sem a magia que mantinha a empresa protegida, ataques
cibernéticos começaram a acontecer. Irritado e tão humano quanto a maioria
dos seus colaboradores, Thorent estava em busca de se vingar de quem se
aproveitou da sua vulnerabilidade. ⠀

Nayara morava na mesma casa em que acontecia o mais agressivo


dos ataques virtuais. Vítima da raiva do bruxo sem poder, ela teve a sua vida
bagunçada ao se deparar com um universo desconhecido. Não estava nos
planos se apaixonar por tamanha arrogância, mas era inevitável entregar seu
coração para alguém que parecia não ter um. Restava saber se esse
sacrifício seria o suficiente para sobreviver a Thorent Moore. ⠀ :
Operação CEO: https://amzn.to/2Chlamo

Sinopse: Sabrina é uma profissional da área de TI que está tentando


sobreviver aos trinta dias de férias repentinas do seu chefe setorial. Sua
primeira atividade será ajudar o mais novo CEO da empresa, que possui um
sotaque irresistível e olhos hipnotizantes.

Enrico Zanetti assumiu a posição de CEO de forma repentina,


depois que seu pai foi afastado por causa de um infarto. Em poucos dias de
presidência descobriu que a empresa possui um rombo em suas finanças, e
agora está disposto a encontrar o responsável a qualquer custo.

Com a ajuda do setor de TI, Enrico descobrirá não só o responsável


pelas falcatruas em sua empresa, mas também uma mulher competente,
destemida e que, aos poucos, despertará seus sentimentos mais profundos e
nem um pouco profissionais.
No meio dessa complexa investigação, Enrico e Sabrina
descobrirão afinidades, traição e amor.
Vicenzo: https://amzn.to/2Qrcgv5

Sinopse: Uma mulher enganada conseguiria confiar em outro


homem para estar ao seu lado?

Júlia passou de mulher sedutora a mãe solo insegura quando


descobriu a traição do companheiro e se viu sozinha para cuidar de uma
criança não planejada. Apesar das dificuldades, ela não desistiria, porque
Pedro havia se tornado sua razão de viver.

Ao mudar-se de apartamento para economizar, ela não sabia que sua


vida mudaria tanto quanto a de todos ao seu redor. Estar sob a proteção da
Irmandade Horus, mais precisamente de Vicenzo Rizzo, era recobrar sua
confiança, seu lado mulher e independência.
Enquanto Júlia lutava contra a atração e dedicação de Vicenzo, ele
encontrava maneiras de expor seus segredos para a mulher que não merecia
ter nenhuma mentira no seu caminho. O que era para ser apenas um acordo
entre adultos se tornou em uma nova chance para o amor.
James Blat: https://amzn.to/2ttZHG8

Sinopse: O dono da JB Notícias estava no auge da sua carreira com


a compra da MB News. Certo de que nada poderia atrapalhar o período de
transição da união dessas duas empresas, James Blat não imaginou que uma
mulher sincera ao extremo poderia cruzar seu caminho na festa de
confraternização. Flaviane era uma colaboradora, se envolver
emocionalmente não deveria estar em seus planos, por mais que ela havia
anunciado que estava cumprindo aviso prévio.

O que deveria ser apenas um momento de desabafo se tornou em


uma conexão intensa que marcou ambos. Flaviane escolheu fugir, encerrou o
vínculo de uma vez com a MB News apenas para não cruzar com aquele
homem que mexeu demais com sua cabeça e coração.
Ele fingia não se importar com o que aconteceu, ela manteve
distância do seu passado na antiga empresa. No momento que eles ignoraram
o sentimento poderoso que os uniram, a vida tratou de criar um vínculo que
nunca poderia ser quebrado.

Uma frustração profissional, um filho inesperado e familiares com


atitudes duvidosas fizeram com que James Blat e Flaviane fossem obrigados
a se olharem, porém, reconhecer que aquela noite significou muito mais do
que suas consequências poderia ser o início de uma grande batalha.
Amor de Graça: https://amzn.to/35V0tdW

Sinopse: Anderson Medina, dono da Meds Cosméticos, não


conseguia descansar por conta de problemas no trabalho e o término do seu
noivado. Frustrado, ele toma um porre e logo em seguida vai atrás de
remédios em uma drogaria para dormir.

Acostumado a comprar tudo e todos, ele se surpreendeu quando a


farmacêutica Gabriela o ajudou em um momento humilhante sem pedir nada
em troca. Ela não queria seu dinheiro.

Como Anderson não conseguia tirar Gabriela da cabeça e tinha um


enorme problema de marketing nas mãos, voltou para a drogaria em busca de
resolver suas pendências com um contrato de casamento. Ele buscava não
perder mais dinheiro e também se vingar da sua ex-noiva.
Gabs tentou fazer sua parte sem se envolver emocionalmente, mas
não conseguiu controlar os sentimentos que eram singelamente retribuídos
pelo CEO que não acreditava que o amor vinha de graça.
Escolha Perfeita: https://amzn.to/357gflE

Sinopse: Nem sempre a vida de Murilo Antunes foi assim. Sua


família agora era apenas ele e sua filha de cinco anos, que cuidava com
muito carinho e proteção. Ele não deixaria que o abandono da mãe afetasse a
criança que não tinha culpa pelas escolhas maternas.

Ele seria autossuficiente.

Ter uma rotina agitada como advogado e sensei, era quase certeza
de que Murilo deixaria algo passar. O olhar observador e quase triste de Iara
chamou atenção de Maria Augusta, professora de balé e curiosa de plantão.
Envolvidos em uma competição de Judô, em plena comemoração da escola
do Dia dos Pais, Guta e Murilo se veem envolvidos através de Iara.

Primeiro ela se apaixonou pela criança e depois, sem perceber, já


estava completamente admirada por esse pai dedicado e amoroso.
Será que Murilo daria brecha para a aproximação dela? Não
importava a resposta, uma vez que Guta estava disposta a tudo por conta da
forte conexão que sentiu por eles.

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