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ESCOLA DE BIODANZA SISTEMA ROLANDO TORO

POCOS DE CALDAS

CURSO DE FORMAÇÃO DOCENTE EM BIODANZA

MOVIMENTO HUMANO

Prof. Rolando Toro

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MOVIMENTO HUMANO

Sumário

CIÊNCIA E MOVIMENTO
Introdução 4
Descrição do Modelo Sistêmico do Movimento 6
Categorias do Movimento 7
Quadro Geral dos Movimentos 12
O Movimento Humano 13
O Sistema Nervoso Autônomo 14
Evolução da Motricidade 15
Ritmos Orgânicos e Motricidade 16
Psico-Diagnóstico das Cinesias 17
PSICOTERAPIA DA DISSOCIAÇÃO
Conceito de Dissociação 22
Dissociações Corporais mais Freqüentes 22
Dissociações do Esquema Corporal (Figura) 24
Diagnóstico da Dissociação Motora (Figura) 25
Diagnóstico da Dissociação Motora (Figura) 26
O CAMINHAR
Movimento em “Câmara Lenta” 27
Caminhar como Expressão Existencial 27
Mecânica do Caminhar 29
Exercícios de Caminhar 30
Consumo de Energia durante o Caminhar 30
A Postura Corporal 31
O Essencial em Reabilitação 31
O Corpo deve ser a nova Expressão Existencial 31
Código para Leitura Corporal 32
Categorias do Movimento (Ficha de Controle) 33

Copyright by Rolando Toro

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CIÊNCIA E MOVIMENTO

INTRODUÇÃO

É muito singular que a maioria das chamadas “Disciplinas Corporais“ não tenham uma
teoria do movimento que lhes dê coerência operatória. Assim, por exemplo, a Educação Física
que se ensina nos colégios, a Expressão Corporal, a Dança Clássica, o Esporte, a Antiginást i-
ca, etc. Não possuem a menor noção acerca da Teoria do Movimento.
Os fundamentos teóricos da Psicomotricidade e da Fisioterapia são insuficientes e, em
grande medida, ingênuos. A Cinesiologia não passa de um conjunto de conceitos neurofisio-
lógicos baseados em medições e aspectos parciais do movimento.
As recentes contribuições de Lapierre, que propõem a busca do núcleo emocional do
transtorno motor, anunciam uma visão mais profunda sobre os intrincados mecanismos que
intervêm no movimento humano.
Creio que chegou a hora de propor seriamente a necessidade de uma Ciência do Movi-
mento, com uma abordagem holística do ser humano.
Nesta Ciência do Movimento devem ser considerados aspectos tão variados como o
movimento intencional controlado, o movimento espontâneo, os automatismos, a postura, o
contato e a caricia, etc.
Relacionar todos estes conjuntos em uma visão coerente requer profundos conhecimen-
tos biológicos, antropológicos e psicológicos.
A crença de que a Ciência do Movimento é apenas Psicomotricidade retardou o acesso a
uma concepção integrativa.

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Com a mais profunda humildade, vou propor um modelo teórico abarcador, em que es-
tejam contidos aspectos muito diversos do movimento corporal, no qual se incluem fatores
complexos como a atitude existencial, a auto-estima, a função do vínculo.
Espero que este modelo dê inicio a investigações futuras nas quais o movimento corpo-
ral possa ser conhecido como uma expressão de conjunto do organismo como holograma.
Assim, as diferentes propostas, tais como Ginástica Isométrica, Tensão Dinâmica, Stret-
ching, Método Cooper, Ginástica Aeróbica, Psicocalistenia, Técnicas de Relaxamento e Mas-
sagem, etc., podem ser avaliadas dentro de uma visão de conjunto.
Estamos assistindo a um verdadeiro renascimento das chamadas disciplinas corporais. A
revalorização do corpo como um aspecto da totalidade da experiência humana de viver, esti-
mula milhões de pessoas a praticar ginástica, expressão corporal, corrida, artes marciais, dan-
ça, etc.
Chegou a hora de tentar uma avaliação séria sobre os mecanismos em jogo e efeitos re-
ais destas diferentes disciplinas não somente para a saúde, mas para o desenvolvimento dos
potenciais humanos e para o aumento da qualidade da vida. Até este momento todas estas
disciplinas são empíricas e não existe nenhum modelo que possa mostrar as relações de com-
plexidade entre os distintos tipos de movimento e suas relações com a unidade do sistema vi-
vo humano.
Vou propor um modelo no qual tento agrupar em conjuntos os distintos aspectos do
movimento corporal com relação a uma visão holística do ser humano. Este modelo tem, cer-
tamente, um caráter provisório e pretende apenas abrir novos campos de investigação e propor
critérios mais abarcadores, desmistificando o valor de efeito de muitas das disciplinas em vo-
ga. Indubitavelmente algumas disciplinas corporais baseadas em determinadas hipóteses re-
presentam uma redução ingênua do que é um ser humano. Por exemplo, as propostas de mus-
culação, alongamento, salto (pula-pula), corrida, constituem aspectos extraordinariamente res-
tringidos e empobrecedores do movimento corporal humano. Teorias mais pretensiosas como
Consciência pelo Movimento, de Feldelkreis; de Pulsação, de Tensão-Relaxamento de Martha
Graham; Eutonia, de Gerda Alexandre; Antiginástica, de Therese Bertherat; Rolfing, de Ida
Rolf; Exercícios de Catarse, da Bioenergética de Alexander Lowen; Técnicas de Massagem;
Técnicas de Relaxamento; Tai Kwon Do; Dança Clássica, Sapateado Americano e Dança Jazz
representam aspectos parciais do movimento humano e, por assim dizer, especializações de
um pequeno conjunto de cinesias.
Estas disciplinas são, no fundo, dissociativas, no sentido em que não abarcam as formas
profundas de integração e regulação do movimento, nem seus aspectos altamente diferencia-
dos.
Esta afirmação não desqualifica totalmente as técnicas mencionadas já que, em uma ci-
vilização que tende ao sedentarismo, qualquer forma de movimento é, em princípio, benéfica.
Durante os últimos 50 anos, surgiram centenas de disciplinas corporais e técnicas de de-
senvolvimento humano, baseadas em exercícios físicos; todavia não existe, atualmente, uma
Ciência do Movimento. Existem somente estudos isolados, às vezes bastante especializados,
sobre alguns aspectos de movimento humano. Mas não se dispõe de um modelo coerente e in-
tegrado que possa ajudar a compreender as diferentes disciplinas do movimento e suas rela-
ções com outras.
Uma Ciência do Movimento não é possível sem que se determinem as diferenças essen-
ciais para relacionar os movimentos dentro de um quadro coerente.
No II Congresso Latino-americano de Biodanza (São Paulo, 1984), propus um modelo
de organização científica das distintas classes de movimento. Em um sistema de coordenadas
distribuí diferentes tipos e características do movimento humano, de forma tal que qualquer
delas pudesse ser descrita dentro de critérios de totalidade.

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DESCRIÇÃO DO MODELO SISTÊMICO DO MOVIMENTO

No polo esquerdo da coordenada horizontal se agrupam os movimentos organizados pe-


la consciência e vinculados à aprendizagem (treinamento).
No polo direito se agrupam os movimentos organizados pela vivência e que possuem
conteúdo emocional.
No eixo vertical os movimentos estão ordenados de baixo para cima, partindo daqueles
geneticamente organizados para aqueles que se englobam em uma categoria que chamei a
“Graça”, ou seja, os movimentos perfeitamente integrados.
Em cada quadrante é possível encontrar os movimentos que se organizam com um mí-
nimo de dois componentes.
No quadrante inferior esquerdo: movimentos em que se combinam o genético e o cons-
ciente (aprendizagem). Exemplo: Ginástica Orgânica.
Quadrante superior esquerdo: movimentos em que se combinam a aprendizagem e a
graça. Exemplo: Tai-Chi-Chuan.
Quadrante inferior direito: movimentos em que se combinam o genético e o vivencial-
cenestésico. Exemplo: movimentos do ato sexual.
Quadrante superior direito: movimentos em que se combinam as vivências e a graça.
Exemplo: Dança livre de posições geratrizes.
Um segundo eixo de organização dos movimentos, colocado na vertical do modelo,
agrupa os movimentos em forma ascendente a partir de um núcleo de programação genética
dos potenciais do movimento até as formas mais sutis, complexas e evoluídas, corresponden-
tes ao polo que chamaremos “Graça”.
O polo da “Graça” se estrutura a medida que os movimentos se integram, se tornam
mais sutis, fluidos e leves, dando como resultado uma expressão de profunda harmonia e inte-
rioridade.

Entre os 4 pólos do Modelo:

1. Consciência do Movimento
2. Experiência Oceânica
3. Potenciais e Matrizes
4. Graça

São localizados diferentes níveis de integração:

1. Integração do Esquema Corporal e da Postura (quadrante inferior esquerdo);


2. Integração Energética Homeostase e Autorregulação Sistêmica (quadrante inferior
direito);
3. Integração da Ação. Criatividade. Decisão (quadrante superior esquerdo);
4. Integração Biocósmica, Neoprogramação do Argumento Vital (quadrante superior
direito).

A partir do polo de potenciais sobem os movimentos característicos das 5 linhas de po-


tenciais descritas em Biodanza, orientadas uma para o lado direito e outras para o lado es-
querdo em ativa pulsação.

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Examinando cuidadosamente este esquema podemos localizar com facilidade os aspec-
tos parciais que são desenvolvidos pelas disciplinas mencionadas no início.
Pode-se observar que a maior parte das disciplinas corporais se orientam a partir da base
até o lado esquerdo do Modelo, auxiliando a integração postural e a integração criativa da
ação.
Quero destacar a ausência quase total de disciplinas que implicam movimentos unidos à
vivência e à emoção. Esta trágica dissociação afetivo-motora impede a auto-organização sis-
têmica e a integração visceral, como também a modificação profunda no argumento de vida.
A Biodanza se propõe integrar o ser humano trabalhando todos os aspectos do movi-
mento em suas relações de complexidade e unidade. Devido a esta abordagem podemos defi-
nir a Biodanza como um sistema de integração humana, renovação orgânica e reaprendizagem
de funções originais de vida.

CATEGORIAS DO MOVIMENTO

1. Ritmo.

É a sucessão regular, periódica e cadenciada do movimento. Ritmo é ordem.


O sistema vivo humano possui muitos e diferentes ritmos: do coração, da respiração, da
digestão, dos rins. O sistema nervoso possui diversos ritmos.
O ritmo é a manifestação musical mais primitiva, anterior à melodia e à harmonia.
O ritmo é uma música que pode facilitar a mudança dos ritmos biológicos. Assim, um
depressivo pode animar-se e hipercinético se tranqüilizar.
Dançar seguindo o compasso de uma música, age despertando e ativando o sentido do
ritmo de quem dança.
O primeiro estudo de integração corporal é a interação auditivo-motora-rítmica: adap-
tação motora a diversos tipos de ritmo.
Em Biodanza propomos dois tipos básicos de movimentos rítmicos:
 Centrais: têm um efeito colinérgico, induzem o transe.
 Periféricos: têm um efeito adrenérgico, induzem o aumento da consciência em si
mesmo e do mundo.
A dificuldade de dançar o ritmo pode ser vencida com aprendizagem e prática.

Embalo: É a oscilação em relação ao eixo vertical do corpo. O ser humano tem uma oscila-
ção própria, por sua condição de bípede. As pernas funcionam como duas potentes colunas,
com movimentação, mas principalmente sustentando o peso de nosso corpo.

2. Potência

É a força do movimento muscular, é também energia disponível, eficácia de ação, in-


fluência exercida sobre situações ou pessoas.
A potência do movimento pode ser desenvolvida com o treinamento. Mas o componente
genético é invariável. Está relacionado com o tipo morfológico. O tipo somatotônico é de po-
tência mais elevada que os tipos cerebrotônico ou viscerotônico.
Ímpeto Vital: é a disposição à ação; o impulso para realizar os propósitos. É sentido
existencial, impulso para viver, coragem para enfrentar a vida. Seu contrário é a falta de moti-

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vações para viver. O ímpeto vital se manifesta no salto, no sorriso, no riso, no entusiasmo.
Também no assumir iniciativas: para avançar, para encontrar.

3. Controle Voluntário (intencional)

É a capacidade para dirigir os movimentos através da vontade, de realizar movimentos


com um propósito. São os movimentos pragmáticos ou formais. Os movimentos voluntários
proporcionam uma forte consciência da estrutura corporal com seus ossos, músculos e articu-
lações. A tensão muscular torna compacto a percepção do corpo.
Tensão Dinâmica: é o aumento progressivo do tônus muscular, através do movimento
voluntário. O resultado subjetivo é uma sensação generalizada de força e consistência corpo-
ral, sem rigidez.

4. Resistência

É a capacidade de opor-se ou de contrastar forças externas, mantendo a própria posição.


É também robusteza, solidez, capacidade de sustentar esforços físicos prolongados. É a capa-
cidade de defesa contra o estresse existencial ou de agentes patógenos.
A resistência, como categoria do movimento, está vinculada ao controle da fadiga, ao
uso apropriado da energia.

5. Coordenação

É a sintonia e sincronização de todos os movimentos. A Coordenação Geral necessita de


uma perfeita harmonia dos movimentos dos músculos, em repouso e em movimento, que al-
cança seu desenvolvimento definitivo depois dos 15 anos de idade.
A Coordenação Estática (em repouso) resulta do equilíbrio entre a ação dos grupos
musculares antagonistas (p.ex. estar de pé). Permite a conservação voluntária das atitudes.
A Coordenação Dinâmica é a ação simultânea de grupos musculares diferentes com o
objetivo de realizar movimentos voluntários mais ou menos complexos.
O cérebro é o órgão que cumpre a função central reguladora, moduladora e de controle
da coordenação e do tônus muscular.
Em Biodanza propomos a Coordenação Rítmica em Par (caminhar com outro em sinto-
nia e conexão), um exercício básico para induzir a comunicação com o outro.

6. Equilíbrio

É a capacidade de permanecer, dinâmica ou estaticamente, em postura natural, sem des-


vios ou oscilações. “A orientação no espaço (Equilíbrio dinâmico) depende, em grande parte,
dos receptores do labirinto do ouvido, mas as informações visuais também são muito impor-
tantes.
O labirinto é um órgão sensorial complexo no qual se originam reflexos que contribu-
em para a manutenção da postura normal através da adaptação da posição do tronco e mem-
bros à posição da cabeça. Os receptores vestibulares estimulados tanto pela gravidade como
pelos movimentos rotatórios dão origem a impulsos que contribuem para a “atitude” postural
e informam no córtex sobre a posição e os movimentos.
A função de orientação no espaço requer que sejam sintetizados a nível do córtex cere-
bral:
a) Impulsos vestibulares (labirinto do ouvido interno)
b) Impulsos visuais
c) Impulsos articulares (informação sobre a posição relativa dos membros)
d) Impulsos cutâneos tácteis e de pressão

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A este complexo mecânico de interação proprioceptiva e exteroceptiva têm que ser
agregados os componentes da memória de reconhecimento de sinais.
O Dr. Arturo Tello (Chile) descobriu uma relação íntima entre transtornos emocionais e
existenciais com sintomas vertiginosos. Estabeleceu que certas perturbações córtico-
diencefálicas de origem emocional influem na função vestibular.
As observações clínicas de Tello são do mais alto interesse por suas conseqüências nos
novos modelos teóricos sobre “orientação existencial”.
Na “função labiríntica” intervém também o cerebelo, órgão situado atrás do cérebro e
que regula os mecanismos relacionados com a coordenação motora, o sinergismo e o equilí-
brio do corpo. O cérebro está associado aos movimentos corticalmente controlados; além dis-
so, relaciona-se com mecanismos posturais-tônicos e com a locomoção, que é de natureza
mais automática.
A estes mecanismos devemos agregar os componentes afetivos e instintivos, regulados
pelo sistema-integrador-adaptativo-límbico-hipotalâmico e por todo o contexto sensório-
neuro-motor, relacionado com os impulsos para a ação com as motivações.

7. Sinergismo

Em relação o movimento humano, representa a ação conjunta e coordenada de diferen-


tes estruturas e sistemas que participam na realização de uma única ação.
Observa-se sobretudo no caminhar, na corrida e nos saltos, onde o movimento voluntá-
rio e involuntário dos braços, sincronizando-se com uma lateralidade cruzada com relação às
pernas, mantém o equilíbrio e aumenta o impulso para avançar.
(ver “O caminhar como expressão existencial” e “Mecânica do Caminhar”).

8. Elasticidade

É a capacidade que têm certas estruturas do corpo humano, como a pele e os músculos,
de deformar-se por ação da força e de recuperar a forma original quando esta termina. A elas-
ticidade é uma das condições essenciais para que ocorra o movimento humano.

9. Extensão

Esta categoria do movimento permite alargar, ampliar o próprio âmbito de ação. Está
baseada na elasticidade de certas estruturas do corpo como a pele e os músculos, e na presen-
ça de articulações, que permitem deslocar e alongar os membros.
Objetivo: ativar tendões, músculos e articulações, estimulando a integração motora.

10. Agilidade

É a condição de ligeireza e prontidão, agilidade de um movimento. É também destreza.


Trata-se de uma categoria de movimento oposta ao torpor.

11. Leveza

O movimento leve tem pouco peso, não fadiga, é delicado. A pessoa que dança com
leveza tende a sentir-se como perdendo peso, como elevando-se, suave, sem sofrer os efeitos
da gravidade.

12. Flexibilidade
É a capacidade do corpo humano de dobrar-se, graças à existência das articulações.

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Esta categoria de movimento é desenvolvida com os Movimentos Segmentares e com as
Danças de Fluidez, Elasticidade e Extensão.
13. Fluidez
O movimento fluido é continuo e se desenvolve como ondas em constantes transforma-
ções. Propicia a integração motora e vivencial (Metodologia do Êxtase).
Procura-se conseguir um equilíbrio dinâmico, uma harmonia pulsante. O movimento
fluido é sem detenções; diante de um obstáculo, adapta-se a este e segue.
Fluir é a capacidade de permitir o fluxo contínuo da energia. Os movimentos de fluidez
comprometem todo o corpo em um processo de deslocamento sensível no espaço, de modo
que se produza uma conexão táctil com o ar. Um dos efeitos importantes dos exercícios de
fluidez é a desaceleração e a harmonia orgânica.
A Fluidez é uma categoria de movimento contrária à rigidez. São aspectos vinculados à
Fluidez, facilmente observáveis nas danças a dois e em grupo:
 A complementaridade, ou seja, a disposição para deslocar-se ocupando os espaços
vazios, evitando chocar-se contra as outras pessoas.
 A sincronicidade, ou seja, a capacidade de dançar ao mesmo tempo com os demais.
 A reciprocidade, ou seja, a capacidade de relacionar-se em feed-back.

14. Eutonia
É o equilíbrio do tônus muscular. Os exercícios de Eutonia em Biodanza têm por obje-
tivo a equalização do tônus muscular entre duas ou mais pessoas, para que o nível de tensão e
relaxamento entre ambas possa igualar-se. O resultado é a superação progressiva da tendência
a estabelecer relações interpessoais de domínio-submissão. Busca-se recuperar a capacidade
de estabelecer relações baseadas na reciprocidade.

15. Sintonização
Referimo-nos aqui à capacidade de entrar em correspondência, acordo e harmonia.
Chamamos de Sintonização ou “Magnetismo Inicial”, o primeiro momento do encontro:
quando duas pessoas se olham nos olhos, sorriem e os olhares se acendem. O outro não é
mais um estranho, torna-se um semelhante. Podemos dizer que a pessoa se olha a partir dos
olhos do outro. Então pode sentir-se que tudo aquilo que sucede a um, sucede também ao ou-
tro.
Neste momento inicial se estabelece um circuito de magnetismo que têm diferentes qua-
lidades e intensidades para cada pessoa.
Em uma pessoa sã se manifesta sempre uma resposta, é a resposta mais antiga, a respos-
ta da espécie.
(Ver “Ritmos Orgânicos e Motricidade”)

16. Expressão
“O movimento corporal tende naturalmente a tomar a vertente expressiva ou a vertente
rítmica”.
“Os movimentos expressivos são originados por impulsos interiores carregados de emo-
ção”.
(Ver “Ritmos Orgânicos e Motricidade”, Passagem do Ritmo à Melodia).

17. Eurritmia
Uma função ainda mais difícil é a eurritmia ou sintonização motor com o grupo. É típi-
ca das pessoas que têm profundas patologias do eu; sua incapacidade para sintonizar com as
pautas de movimentos globais do grupo. O psicopata, o esquizofrênico, o obsessivo, o depres-
sivo, o histérico, apresentam uma grande dificuldade para sincronizar seus movimentos a ní-

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vel grupal. Podemos afirmar que o diagnóstico de patologia do eu é correlativo com a incapa-
cidade de sincronização motora dentro de um grupo. A compulsão do ego a transformar-se em
emergente, a autosegregar-se, a chamar a atenção, a dominar, a competir, a agredir, arrasam
toda possibilidade de conciliação e integração ao grupo como totalidade. Nos coros livres se
observa idêntico fenômeno: a falta de eurritmia. O enfermo se move e canta a serviço de seu
próprio ego, sem ressonância com o grupo.
Esta patologia, muitas vezes, é estimulada pelos sistemas de Educação competitivos, ba-
seados no pueril ideal do êxito individual.

18. Passagem do Ritmo à Melodia


A dança rítmica é, talvez, a forma mais arcaica de baile. Nas tribos primitivas são ob-
servados ritmos simples e monótonos, uma espécie de perseveração motora, que se dá por
igual nos Mapuches de Chile e Argentina, nos índios do Amazonas ou em certas tribos da
África. Mas em populações mais avançadas, como no Zaire, entre os Lamas da Índia – com
suas seqüências rítmicas em “tablas” – os ritmos são mais complexos e se combinam com
elementos melódicos.
Nas crianças débeis mentais e mongolóides se observa uma clara resposta motora frente
a ritmos simples e acentuados. Desde nosso ponto de vista, o primeiro passo na reabilitação
dessas crianças consiste em alcançar sua adaptação motora a diversos tipos de ritmo. Mas um
avanço verdadeiramente significativo se produz quando essas crianças são capazes de passar
do ritmo à melodia, vale dizer, que os padrões rítmicos rígidos e estáveis podem ser modifica-
dos por sutis perturbações “melódicas”. Mesmo sendo correto que os ritmos “progressivos”
tendem a uma eclosão final explosiva e triunfante, como em certas formas de Jazz tradicional
e na música Beat, só há uma modificação no sentido da intensidade da força instintiva.
É a melodia que incorpora o fator afetivo, comunicante, cordial. Em termos neurológi-
cos, a passagem do ritmo à melodia é a passagem do instinto à emoção. A força vital do ritmo
é modulada pela fluente doçura da afetividade. A genitalidade do ritmo se integra à afetivida-
de da melodia. Veremos depois que o terceiro passo de integração é a harmonia musical. Os
fenômenos de angústia, medo, violência, estão relacionados com a ruptura da harmonia, com
a estridência, com as mudanças bruscas em qualquer dos planos: rítmico, melódico ou harmô-
nico.
Estas considerações são estritamente biológicas. Não estamos propondo uma ética nem
uma estética musical.

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DISTRIBUIÇÃO DE DIFERENTES DISCIPLINAS DENTRO
DO QUADRO GERAL DO MOVIMENTO

B
MOVIMENTOS
NATURAIS
ORGÁSMICOS
Integração Integração
Sensitivo ao Cosmos
Motora Jogos espontâneos Danças da linha
Tai-Chi-Chuan da Transcendência
Assanas-Yoga Danças arquetípicas
Expressão Corporal Danças de êxtase
Método Laban Cerimônias de regressão
Artes Marciais Cerimônias
Capoeira Religiosas
Anti-Ginástica
A Educação Física C
MOVIMENTOS BlODANZA MOVIMENTOS
ORGANIZADOS ORGANIZADOS-
PELA CONSCIÊNCIA BIODANZA PELA VIVÊNCIA

Jogos de destreza Danças da linha Danças de prazer cenestésico


Esportes da Criatividade Dança de amor
Ginástica Olímpica Danças tropicais Danças eróticas
Dança Clássica Danças expressivas Acariciamento
Ginástica Consciente Danças rítmicas Dar e receber continente
Musculação Natação orgânica Grupos Compactos
Integração Posturas Militares Danças de Vitalidade Túnel de Carícias Integração
ldeo-Motora Biodanza Aquática Afetivo-Erótica

D
MOVIMENTOS
ORGANIZADOS
A- Coordenação, Flexibilidade, Resistência GENETICAMENTE C- Sintonia, Afetividade, Sensualidade
B- Graça, Harmonia, Leveza, Fluidez, Agilidade, D- Equilíbrio, Potência, Sinergismo, Ritmo,
Velocidade (Reflexos), Vísceras Motoras. Automatismos Viscerais 12
O MOVIMENTO HUMANO

Quando se pensa no movimento de um indivíduo isolado é fácil estabelecer as categori-


as cenestésicas dentro dos padrões convencionais de “ritmo”, “extensão”, “fluidez”, etc.
Algo muito diferente é o abordagem do “movimento com outro”, (o movimento vincu-
lante”). Neste caso se ingressa na “complexidade”; intervêm novos fatores que abarcam a afe-
tividade, a eutonia, o erotismo, a coordenação recíproca, etc.
Para alcançar a “comunicação no movimento” se requer uma maior evolução motora,
sensibilidade da percepção, empatia e um nível de “distinção” que se caracteriza pelo feed-
back.
Enunciamos aqui algumas das Categorias do “Movimento com Outro”:

1. Reciprocidade e Eutonia:
O movimento com outro requer uma forma de conexão sensível em que nenhum dos
participantes “domina” o movimento do outro. Cada um toma iniciativas que sucessivamente
permitem o avanço e a receptividade. Deste modo, se atualiza o tônus muscular de ambos até
que se alcance a sensação de formar um só corpo; ocorre, então, um intercâmbio sutil de es-
tados de relaxamento e tensão.
As pessoas com autoritarismo ou inflação do ego têm grande dificuldade em realizar
movimentos eutônicos devido a suas tendências dominantes.

2. Fluidez com Outro:


O estado de fluidez obtido durante as três series de exercícios de fluidez de Biodanza se
complica quando se tem que fluir com outro. Neste caso, ambos devem regular a velocidade
do movimento em relação com a velocidade do companheiro. Progressivamente, cada um
ocupa os espaços vazios do outro; não há choques causados por movimentos rígidos ou brus-
cos. É como se dois corpos líquidos se fundissem na experiência de dissolver-se um no outro.
É evidente que para poder realizar a fluidez com outro requer-se uma grande sensibili-
dade, afetividade e adaptação sutil...

3. Sincronização Rítmica com Outro


As pessoas, tomadas pela mão, caminham no mesmo ritmo seguindo o compasso da
música. Esta “Sincronização” requer escutar a música, seguir o ritmo e ao mesmo tempo, per-
ceber os movimentos do companheiro. É um exercício simples e eficaz de adaptação e cone-
xão.

4. Sincronização Melódica com Outro:


A melodia desperta impulsos de conexão afetiva. Os movimentos são ondulantes, sua-
ves e possuem uma qualidade emocional, romântica. São fáceis de realizar quando as pessoas
estão bem integradas, despertando vivências de intensa afetividade e ternura.
Vemos nestes movimentos de Sincronização melódica que o tempo interior nos partici-
pantes de equalizar por intermédio da afetividade é diferente.

5. Ressonância Anímica com a Música:


Durante a dança é necessário que os participantes compartam um mesmo estado de
ânimo (alegre, erótico, transcendente, etc.). Quando isto não sucede a “comunhão” é pobre ou
nula. O estado de ânimo de ambos os participantes alcança um nível endógeno de extraordiná-
rio valor integrador, sob a mesma percepção musical.

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6. Coordenação com Outro:
A Coordenação com Outro requer previamente a coordenação do movimento a nível
individual, isto é, a integração das diferentes partes do corpo com uma harmonia global.
O movimento coordenado requer que se sinta o outro e, de certo modo, que se adivinhe
seus impulsos através da prolepse, adiantando-se às ações do outro.
Por esta razão, o exercício deve ser realizado inicialmente “em câmara lenta”.

7. Prazer Cenestésico com Outro:


O exercício de prazer cenestésico realizado individualmente consiste em permitir que a
emoção musical mova o corpo por sua própria energia. Não se trata de “dançar a música”
mas que “a música dance no corpo”.
Busca-se alcançar um estado de mediunidade musical, no qual ficam suspensos os im-
pulsos voluntários. É uma dança em semi-transe, que induz intenso prazer cenestésico.
Este exercício pode ser realizado com um contato mínimo entre os corpos, transmitindo
sutilmente o prazer recíproco em um estado quase telepático.

8. Encontro em Feed-back:
O movimento para encontrar-se com outro deve ser lento, dirigido efetivamente ao
companheiro, dando sinais gestuais de recepção afetiva.
Neste tipo de movimento cada um dos participantes conduz sua energia afetiva de doa-
ção e recepção. Ao encontrar-se ambos, gera-se uma energia superior em adição às duas ener-
gias individuais e com uma qualidade diferente.
O movimento de encontro é muito complexo. Intervêm a fluidez, a coordenação, a afe-
tividade e o feed-back (reciprocidade do nível de contato)

O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO

O Sistema Nervoso Autônomo apresenta várias características específicas:


1. Consiste somente em nervos motores.
2. Possui uma inervação dupla para cada víscera: do simpático e do parassimpático.
3. A transmissão dos impulsos motores não se dão por meio de um só neurônio, mas
por intermédio de dois ou mais.
Os corpos celulares do primeiro neurônio estão situados no encéfalo e na medula es-
pinhal; os do segundo neurônio estão localizados nos gânglios situados fora do sis-
tema nervoso central.
Os impulsos nervosos transmitidos pelas fibras simpáticas e parassimpáticas produ-
zem efeitos antagônicos nos órgãos enervados por elas.
Esquematicamente, podemos dizer que chegam ao cérebro impulsos tanto do córtex ce-
rebral como dos receptores situados nos músculos, nos tendões e nas articulações, sensíveis ao
estado de tensão muscular e aos movimentos dos membros, e aos receptores labirínticos do
ouvido interno, sensíveis aos movimentos e à posição da boca. Em resposta a estes estímulos,
o cérebro envia impulsos ao córtex cerebral e à medula espinhal.
O córtex cerebral responde enviando impulsos ao córtex cerebeloso.

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MOVIMENTO

TRANSE MUSICAL SENSIBILIZAÇÃO

UNIDADE HARMONIA

FLUIDEZ EQUILÍBRIO

MOVIMENTO MELÓDICO

LEVEZA VELOCIDADE
ADAPTATIVA

AGILIDADE
(GIRO)

ELASTICIDADE EXTENSÃO

DESLOCAMENTO

ÍMPETO RESISTÊNCIA

RITMO

EVOLUÇÃO DA MOTRICIDADE

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VELOCIDADE ORGÂNICA
(6)

CAMINHAR ADAPTATIVO
(5)

MOTIVAÇÃO AFETIVA DO CAMINHAR


(4)

INTEGRAÇÃO PEITO – PÉLVIS


(3)

INTEGRAÇÃO PERNAS – TRONCO


(2)

SINERGISMO
(1)

RITMOS ORGÂNICOS E MOTRICIDADE

Os estudos mencionados sobre o ritmo se referem, em geral, aos ritmos orgânicos e a


outros ritmos de natureza, sejam astronômicos ou atômicos. Pois bem, o ser humano é um sis-
tema semi-aberto e, como já vimos, o organismo tem ritmos próprios assegurados por “feed-
backs” neurológicos e endócrinos, mas possui também a capacidade de sincronizar-se com
ritmos externos que vêm de fora. Para nosso objetivo, o treinamento de sincronização rítmica
com outra pessoa é da maior importância. Ajustar o compasso, sincronizando-se a um ritmo
diferente, exige da pessoa abandonar o ego como centro impulsor e por-se receptivo à infor-
mação de movimento humano que vem de fora. De alguma forma, a co-participação dentro de

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um mesmo ritmo, envolve um ato de mediunidade e de concentração. Trata-se, no fundo, de
alcançar um nível de empatia corporal até perder a consciência do esquema corporal individu-
al e participar de um corpo duplo, movido dentro de uma pauta rítmica única.
Que implicância psicológica possui o ato de sincronização motora com outra pessoa?
Indubitavelmente, obriga o aluno a escutar o corpo do outro, a conectar-se com o movimento
do outro e sair, por alguns momentos, da inércia do eu. A compulsão motora e a rigidez são,
através deste exercício, lentamente superadas. Uma mulher expressa:
“É curioso o que me sucede: posso seguir o compasso com quase todos os meus
companheiros, mas não com meu marido. Andamos com o passo trocado”.
Não é necessário considerar sobre as facilidades recíprocas de adaptação que o casal
apresentava nestes terrenos.
A sincronização rítmica com outra pessoa representa não só um sinal de evolução moto-
ra, mas também um grau elevado de interação afetivo-motora.

PSICODIAGNÓSTICO DE CINESIAS

A - Alterações quantitativas da motricidade:


1. Hipercinesia: É o aumento da “quantidade” de movimento. O doente necessita estar
em continua atividade.
2. Taquiocinesia: É o aumento da velocidade dos movimentos.
Estes dois sintomas se dão dentro do quadro geral da “excitação psicomotora”, na qual
se observa uma aceleração geral dos processos psicofísicos.
Estes enfermos têm facilidade para os movimentos rítmicos da dança e uma tendência a
elevar seu dinamismo; gritos, exclamação e canto podem acompanhar suas atividades. Expe-
rimentam uma euforia contagiosa, uma sensação de bem-estar físico e de energia. Em seu
grau máximo de agitação motora, o enfermo não pode estar tranqüilo, se move mais rapida-
mente de um lugar a outro, dá a impressão de não esgotar-se jamais. Sem dúvida, quando este
estado se prolonga, pode produzir um esgotamento profundo e até a morte. O doente com agi-
tação motora continua falando e gesticulando, embora sua voz enrouquecida chegue a ser
inaudível.
Os exercícios de Biodanza indicados nestes casos, são danças de ritmo acentuado e eu-
fórico, para ir gradualmente moderando a velocidade até chegar a danças em câmara lenta; é
preciso alcançar, passo a passo, a harmonização psicomotora.
3. Acinesia: é a diminuição da quantidade de movimento. Este quadro se caracteriza
por uma notória inibição de movimentos espontâneos. O doente tem dificuldade para
iniciar o caminhar. A acinesia aparece freqüentemente em os doentes depressivos; é
também um sintoma do mal de Parkinson.
A diminuição da linguagem e das atividades da consciência são dois sintomas que vão
unidos na acinesia. Em casos graves, o enfermo pode chegar ao estupor.
Segundo o grau de profundidade, os estupores podem classificar-se na seguinte ordem:
a) Leve embotamento da consciência
b) Sonolência
c) Torpor
d) Coma (o grau máximo de coma se chama cárus)
Segundo o estado de tônus muscular, classifica-se o estupor em:

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1. Estupor flácido: os músculos estão relaxados. Ocorre principalmente na Depressão e
na Histeria.
2. Estupor tenso: grupos musculares estão contraídos. Observa-se na esquizofrenia ca-
tatônica e em algumas enfermidades cerebrais orgânicas.
No estupor de origem psicológico existe uma facilidade para passar do estado estuporo-
so ao de atividade franca. É possível que estes enfermos saiam facilmente de seu estupor atra-
vés de Biodanza.
No estupor de origem orgânica a transição é mais gradual. Os exercícios de Biodanza
devem começar com danças melódicas suaves e lentas para ir, gradualmente, aumentando a
euforia do ritmo e a agilidade dos movimentos. O mesmo esquema de procedimentos se aplica
em sessões sucessivas.

B - Alterações qualitativas da motricidade:


1. Alterações da atividade expressiva:
A expressividade corporal e a motricidade geral variam notoriamente nos diferentes
quadros clínicos.
Durante uma sessão de Biodanza é fácil diferenciar a simples vista, por seus gestos e
movimentos, os diversos tipos de enfermos mentais. A observação através de sessões sucessi-
vas, permite também estimar a evolução dos pacientes no curso do processo curativo.
Descreveremos as alterações qualitativas da motricidade em geral e logo suas caracterís-
ticas específicas em diferentes quadros clínicos.
a) Ações bizarras: são gestos estranhos ou grotescos que saem dos padrões expressi-
vos habituais.
b) Expressões crônicas do rosto em relação a uma determinada emoção: tristeza,
indiferença, ódio, desprezo, temor, ironia, aflição, ansiedade, euforia, etc.
c) Modos de caminhar alterados: rígido, vacilante, arrastado, precipitado, com os pés
obliquamente adiantados com relação à cabeça (fatalismo), com os pés obliquamente
atrasados com relação à cabeça (obcecado por seus objetivos), amaneiramento, mo-
vimentos de marcha militar, etc.
d) Modos de sentar-se alterados: rígidos, bizarros, pressionando os músculos, defen-
sivamente, etc.
e) Gestos gerais alterados: tenso, amaneirado, cerimoniosos, empolados, rudes, des-
controlados, exageradamente enfáticos, ambíguos, etc.
2. Alterações da harmonia e do equilíbrio psicomotor:
a) Perseverança motora: é a repetição inadequada dos movimentos ou gestos, com
graves dificuldades para deter o padrão repetitivo uma vez iniciado. Este sintoma se
apresenta em estados de fadiga, tóxicas ou toxi-infecciosas, de lesões orgânicas do
cérebro (arteriosclerose, sífilis, demência senil, tumores). A perseverança está ligada
à função fisiológica do cérebro e a suas alterações. Muitas vezes aparece a perseve-
rança verbal.
b) Ecopraxia: é a tendência a executar qualquer ação que se realize diante do indiví-
duo. O enfermo repete compulsivamente os gestos da outra pessoa, como em situa-
ção de espelho. Apresenta-se em casos orgânicos e em esquizofrenia.
c) Estereopatia da atitude: é a tendência a manter de forma prolongada uma postura
ou atitude. Observa-se em esquizofrênicos.
d) Estereopatia de movimento: é a repetição freqüente e monótona de uma “ação mo-
tora”. A estereopatia de atitude e de movimento se dão combinadas na estereopatia
da linguagem: repetição freqüente, e sem motivação aparente, de uma frase ou pala-
vra.

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e) Estereopatia do lugar: tendência a permanecer de forma prolongada e habitual no
mesmo lugar. Observa-se nos esquizofrênicos. As estereopatias têm, em geral, uma
gênese psicógena. Com o tempo, podem converter-se em hábito e perder sua signifi-
cação original.
Não se deve confundir a estereopatia com a repetição de movimentos automáticos de
origem neurológico. Estes últimos representam um nível de integração mais baixo e primitivo.
Na estereopatia trata-se geralmente de movimentos de ordem mais complexa, como arrumar-
se a roupa, esfregar-se as mãos. As estereopatias são sempre “ações motrizes” e não movi-
mentos simples e rítmicos. Na catatonia pode ocorrer dificuldade ou diagnóstico diferencial
entre uma atitude rígida estereotipada e uma rigidez de origem neurológica. Alguns autores
chegaram a considerar a catatonia como manifestação patológica do sistema nervoso. Embora
isto possa ser assim, em alguns casos, não o é em todos, porquanto a motivação psíquica de
algumas atitudes estereotipadas é claramente manifesta.
f) Cerimonial: pode ser descrito como uma estereotipia de ordem mais complexa, que
se apresenta frente a determinadas circunstâncias. Observa-se nos neuróticos obses-
sivos; realizam cerimoniais para vestir-se, sentar-se à mesa, etc. A seqüência de
ações é sempre a mesma.
g) Amaneiramento: As ações, movimentos ou expressões verbais, perderam sua natu-
ralidade, porque lhe foram agregados adornos pomposos ou afetados. O amaneira-
mento produz a impressão de falsidade ou falta de espontaneidade; este transtorno
não é tão rígido como a estereotipia.
Esterotipias, cerimoniais e amaneiramento desaparecem com exercícios de Biodanza,
nos quais se estimula a fluidez de movimento, a sinceridade expressiva, a espontaneidade dos
impulsos: danças expressivas, danças rítmicas euforizantes, danças “dionisíacas”, expressão
de sentimentos, grupos compactos.
h) Tique: é a execução breve, súbita, irresistível, inapropriada, recorrente de um movi-
mento isolado ou de um complexo de movimentos. Em sua forma pode ser como um
gesto natural ou exagerado, caricaturesco e ainda compulsivo.
Existe um passo de transição entre o tique e a estereotipia e não se pode falar de uma di-
ferença essencial entre eles; ambos são de origem psicógena. O tique chega, com o tempo, a
ser um automatismo reflexo de ordem mais primitiva que a estereopatia. Pode ser reproduzi-
do voluntariamente.
i) Espasmos: é a contração involuntária de um ou vários músculos que não podem res-
ponder por si mesmos isoladamente à vontade. Bissaud propôs excluir do conceito de
espasmo todas aquelas contrações musculares de origem psicógena.
As diferenças entre tique e espasmo são as seguintes:

O tique nunca afeta a um só músculo;


O tique pode ser detido pela vontade e o espasmo não;
O tique pode ser imitado voluntariamente e o espasmo não;
O tique tende a desaparecer mais facilmente que o espasmo durante o sono;
O tique é de origem psicógena (permanecem como uma interrogação os chamados
espasmos histéricos).

Em alguns casos os traços não são claros e é bastante difícil fazer o diagnóstico diferen-
cial.
j) Torcicolo: contraturas intermitentes e/ou atitudes tônicas de rotação ou inclinação do
pescoço. Alguns casos são de origem orgânica (lesão do sistema nervoso central) e
outros são de origem psicógena e têm parentesco com os tiques.
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k) Automatismo fisiológico: pertencem à esfera neurobiológica. O protótipo dos ór-
gãos automáticos é o coração. O estômago, os intestinos (peristaltismo), são também
bons exemplos. Estes automatismos não são absolutamente independentes dos im-
pulsos externos, mas tampouco estão totalmente condicionados por eles (Hober).
Em Biodanza se promove a costume de “permitir” e respeitar os automatismos: respira-
tório, cardíaco e do aparelho digestivo, sem a intervenção da vontade. A beleza fisiológica de
tais automatismos consiste justamente em que são automáticos.
l) Atos automáticos: deve-se estabelecer uma diferença entre os automatismos fisioló-
gicos, que são normais, e os atos automáticos.
Ignacio Matte Blanco ordena os atos automáticos em progressão crescente:
1º - O enfermo crê que deseja fazer as coisas que faz, mas não sabe os motivos.
2º - Realiza uma ação automática (por ex.: quebrar um vidro) embora realmente não
deseja fazê-lo.
3º - Luta contra o impulso que surge, que sente como uma força que o empurra. Sua in-
teligência e sua vontade se opõem ao impulso, mas este se torna mais poderoso e se impõe.
4º - Realiza as ações como se estivesse em um estado de sono ou de transe, e o impulso
realizado aparece como algo estranho a ele mesmo. Neste caso, o indivíduo não tem senti-
mento de compulsão real.
5º - Realiza certos atos que correspondem a suas intenções, como pedir alimento ou dar
a mão a certas pessoas, mas tem a sensação de que o braço se move por si mesmo, sem parti-
cipação dele.
6º - Em um grau mais avançado ainda, a ação automática é completamente desprendida
da personalidade consciente do enfermo. Nestes casos, suas pernas fazem algo do qual ele tem
informação através de seu sentido, como se fosse um observado externo.
A esta categoria pertence a linguagem automática e a escrita automática que represen-
tam automatismos no pleno sentido da palavra e não são compulsões, uma vez que o enfermo
não apresenta oposição a eles.
Entre os atos automáticos deste último tipo podemos considerar a fuga e o sonambulis-
mo.
A fuga é a realização de uma série de atos (vagar, deslocar-se de lugar) em um estado de
baixo nível de consciência. O enfermo pode empreender uma viagem, mesmo a outra cidade,
sem relação com suas atividades anteriores e, subitamente, voltar a si, com desorientação e
amnésia parcial ou total. Ocorre na epilepsia e, ocasionalmente, na histeria.
O sonambulismo pode ser descrito como uma fuga que se inicia durante o sono. Não há
intervenção da consciência e o contato com a realidade externa é alucinatório. A fuga requer
um maior contato com o mundo externo que o sonambulismo.
m) Cataplexia: é a perda súbita do tônus muscular, que geralmente dura poucos se-
gundos, muitas vezes desencadeada por uma emoção (raiva, riso, pranto). O enfermo
pode cair ao solo e ser incapaz de falar, embora esteja consciente do que sucede ao
seu redor. Este sintoma é habitualmente de origem neurológica. Ocorre na narcolep-
sia e em diversas enfermidades orgânicas (encefalite, tumor cerebral, esclerose em
placas, etc.). Aparece, em ocasiões, em psicopatas, sem nenhum outro sintoma motor
deste tipo.
n) Paralisia do sono: é o despertar brusco com incapacidade de mover-se e falar, mas
conservando plenamente a consciência. Alguns casos pertencem ao grupo de narco-
lepsias, outros são de origem histérico.
o) Flexibilidade cérea: capacidade de adotar qualquer posição imposta a um membro,
mesmo a mais estranha, e de mantê-la prolongadamente sem esforço voluntário. A
flexibilidade cérea supõe a catalepsia; a diferença consiste na plasticidade da flexibi-

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lidade. Pseudo-flexibilidade cérea e pseudo-catalepsia são reconhecidas porque nes-
tes casos intervém a vontade.
p) Intercepção cinética: interrupção súbita de um movimento em meio à sua realiza-
ção. O enfermo pode ficar em posições mais ou menos estranhas.
q) Obediência automática: execução, sem nenhuma intervenção crítica, de qualquer
sugestão externa. Aparece na flexibilidade cérea e na ecopraxia.
r) Negativismo: tendência do enfermo a não fazer o que os demais esperam, ou mes-
mo, a fazer exatamente o contrário.
s) Compulsão: inclui o ato compulsivo e a tendência compulsiva. Ato compulsivo é
aquele que se realiza sob um impulso imperioso, contra a vontade. A não realização
do ato produz angústia ao enfermo (que o executa para liberar-se da angustia). Ten-
dência compulsiva é a tendência a executar atos compulsivos. Ex: contar os postes
da rua, subir escadas começando com o pé direito, etc.)
t) Catatonia: síndrome que contém todas ou algumas das seguintes manifestações: ca-
talepsia, flexibilidade cérea, pseudo-catalepsia, estupor, movimentos grotescos, este-
reotipias, amaneramentos, negativismo, automatismo ao mandato, ações impulsivas.
As estereotipias, a flexibilidade cérea, a interceptação cinética, o negativismo e a obedi-
ência automática, podem estar presentes na esquizofrenia. Os cerimoniais e as compulsões são
típicas nas neuroses obsessivas. Estes transtornos motores são parte dos sintomas de cada
quadro clínico e estão vinculados às alterações da percepção corporal.
Convém enfatizar que, embora a Biodanza, em muitos casos, não basta para curar o en-
fermo, a harmonização psicofísica e a integração que se obtém através do trabalho nesta dis-
ciplina, constituem uma parte necessária e indispensável da motricidade. Sem nenhuma dúvi-
da, a Clínica Psiquiátrica permanecerá em seu atual estado larvário enquanto não desenvolver
as novas técnicas psicoterapêuticas centradas nas vivências corporais da saúde e na participa-
ção ativa dos pacientes dentro de grupos de encontros e vinculação.

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PSICOTERAPIA DA DISSOCIAÇÃO

CONCEITO DE DISSOCIAÇÃO:

Dissociação é a separação das partes dentro de uma totalidade.


Do ponto de vista gestálico, é a perda da relação entre a parte e o todo.
A dissociação dentro de um organismo representa, portanto, diversos níveis de desinte-
gração da unidade intra-orgânica.
Dissociação não deve ser confundida com a diferenciação funcional de uma parte. A
dissociação é um transtorno grave, uma enfermidade dentro de um sistema. A diferenciação
de funções, por outro lado, é a manifestação de um processo evolutivo que mostra pautas cada
vez mais ótimas de funcionamento.
Dissociação é sinônimo de enfermidade. Integração, ao contrário, é equivalente a saúde.
A dissociação se expressa como separação (“tanatos”), enquanto que a integração se
expressa como união (“eros”).
As dissociações são detectadas objetivamente no corpo.
As pessoas com grave repressão, permitem apenas a intervenção dos glúteos. O cami-
nhar apresenta, além do impulso sagital, um impulso lateral. No pé há movimentos de báscula
subastragaliana. O joelho não intervém para nada no impulso lateral; os quadris, ao contrário,
têm uma decisiva participação através dos músculos perônios, tibiais posteriores e glúteos
médios.
Os movimentos do tronco e da cintura escapular acompanham a progressão. Há um per-
feito sinergismo na oscilação do eixo dos ombros e o eixo horizontal da pélvis. Há uma com-
pensação escapular da torção pélvica que se conjuga com a sub-astragaliana.
A dissociação das pernas em relação ao resto do corpo, altera completamente o cami-
nhar, dando lugar a um “caminhar de robô”, em que só se movem as pernas e o corpo perma-
nece rígido.
Já dissemos que o processo do caminhar deve comprometer a totalidade do corpo. Nos-
sas observações indicam que as pessoas que aprendem o caminhar fisiológico melhoram o es-
tado das veias das pernas (varizes), devido a que este caminhar facilita o retorno venoso. Por
outro lado, os acúmulos de gordura dos quadris e a celulite, freqüentes nas mulheres, tendem
a desaparecer, devido, provavelmente, às mudanças do metabolismo muscular nos membros
inferiores.

DISSOCIAÇÕES CORPORAIS MAIS FREQÜENTES:

1. Dissociação do rosto: contradição entre a olhar e a sorriso. Ex.: Olhos tristes e boca
sorridente.
2. Dissociação do rosto e resto do corpo: dissociação entre pensar e sentir. Ex.: Rosto
indiferente e corpo com grande mobilidade (histérica, prostitutas, jogadores de poc-
ker, psicopatas, bailarinas clássicas, modelos).
3. Dissociação braçostronco: dissociação entre sentir e agir (inautenticidade, incon-
sistência).

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4. Dissociação entre braço e antebraço.
5. Dissociação de mão em relação ao resto do braço.
6. Dissociação entre a parte superior e inferior do corpo, a partir da linha da cintura:
conflito entre impulsos sexuais e conceitos morais. Repressão sexual, Histeria. A
parte superior é vivida como sublime e a inferior como degradante. Grande mobili-
dade de tronco e braços, com rigidez de quadris e pernas. Tendência à idealização
neurótica. Mobilidade ao inverso. Exibicionismo sexual.
7. Dissociação “troncopernas”: adaptação conformista às normas.
8. Dissociação entre coxas e perna.
9. Dissociação entre pernas e pés.
10. Dissociação entre lado direito e esquerdo: valorização emocional de lado. Simboli-
zações mágicas. Obsessivos.
11. Dissociação anteroposterior: tensão defensiva posterior. Parancia. Delírio sensiti-
vo de autorreferência.
12. Dissociação entre a coluna vertebral e o resto do corpo. Estas dissociações se tor-
nam evidentes ao iniciar o treinamento.

Uma observação mais profunda do mecanismo das dissociações nos levou a estabelecer
quatro grandes formas de Dissociação Existencial:

1. Dissociação psico-somática.
2. Dissociação entre a vida e a obra.
3. Dissociação entre o indivíduo e a espécie.
4. Dissociação entre o indivíduo e a natureza.

Estas quatro formas de dissociação podem ser reconhecidas por diversos sinais motores
e psicológicos.
O diagnóstico das dissociações permite fazer as prescrições terapêuticas de Biodanza.

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O CAMINHAR

MOVIMENTO EM “CÂMARA LENTA”

O que ocorre no organismo durante a execução de uma dança em “câmara lenta”? Que
significado fisiológico tem o movimento em escala retardada?
Em uma primeira aproximação, nos damos conta de que ocorre uma mudança de plano
neurofisiológico. O movimento rápido, ou ainda, o de velocidade “natural” parece correspon-
der a um imanentismo motivacional ajustado à praxis, isto é, a uma tarefa de conteúdo prag-
mático imediato.
O movimento em “câmara lenta”, no entanto, é induzido pela emoção. É como se o
mundo emocional tivesse uma velocidade suave que oscila em um titubeio no abismo espaci-
al. Esses movimentos lentos possuem o tempo apropriado para a integração afetivo-motota.
Os movimentos a velocidade natural estão estruturados neurofisiologicamente em torno a ob-
jetivos traçados pela vontade ou pelos automatismos das funções músculoesqueléticas. O
movimento em “câmara lenta” não tem objetivo e isto abre um canal para a percepção cenes-
tésica. A importância do movimento humano em “câmara lenta” é fundamental em Biodanza
para a indução de transe, concomitante com a anulação do ego. O movimento lento provoca,
possivelmente, a desconexão de numerosas vias aferentes do córtex motor e a ativação de vias
eferentes. O movimento em câmara lenta cumpre, no meu modo de ver, duas funções impor-
tantíssimas:

1. A integração afetivomotora;
2. A diminuição da força do ego e a indução do estado do transe.

O movimento natural ou rápido, provém das ordens emanadas da 2ª área de Brodman e


das vias piramidais. São movimentos intencionais que se orientam teleonomicamente ao
mundo. No movimento lento predominam os processos de integração extrapiramidais e cere-
belosos. Poderíamos dizer que o movimento em câmara lenta provoca uma ressonância est i-
mulante na região límbicohipotalâmica, facilitando as emoções e sensações corporais.
O movimento em câmara lenta atualiza a percepção cenestésica e facilita as vivências.

CAMINHAR COMO EXPRESSÃO EXISTENCIAL

A reabilitação do homem “normal” poderia começar com a aprendizagem do caminhar.


O caminhar é a expressão mais clara da atitude do homem frente à vida.
O homem caminha não só com as pernas, mas com todo o corpo. Centenas de músculos
se põem em tensão e relaxamento para originar essa ação complexíssima que é o caminhar.
Os movimentos das pernas se realizam em perfeito sinergismo com os braços. Ainda mais, a
projeção do rosto, a harmonia geral, a vivacidade dos movimentos, a extensão do passo, a for-
ça do impulso propulsor da perna de trás, a fluidez, a elasticidade motora, etc., são expressões
da estrutura total da personalidade e, para dizer em linguagem fenomenológica, o caminhar
representa “um modo de caminhar pela vida”.

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Pedro Lain Entralgo caracterizou a condição itinerante do ser humano na fórmula “ho-
mo ambulatorio”.
O caminhar é, em síntese, uma expressão existencial. É o modo de “ir pelo mundo”.
Uma qualidade inerente ao ser humano é o caminhar e ser o caminho. A análise do caminhar
revela profundos estados internos; esses passos através do fio abismal do destino podem mos-
trar o retardo infinito de um projeto existencial jamais cumprido ou a triunfante qualidade de
uma existência que avança sem pressa. Existe o caminhar do depressivo, lento e pesado e o
caminhar acelerado do maníaco, sobreprogramado e ansioso. Existe o caminhar do histérico,
do angustiado, do psicótico ou do toxicômano, avançando pelos labirintos de suas próprias pa-
tologias.
A análise do caminhar permite um diagnóstico rápido da personalidade e reflete as dis-
sociações mais graves do indivíduo.
Biodanza propõe, como exercício inicial, a restauração do caminhar fisiológico, que de-
ve cumprir com os requisitos seguintes:

a. Sinergismo: alternância dos eixos coxofemural e úmeroescapular.


b. Integração das pernas ao tronco.
c. Integração peitopélvis.
d. Motivação afetiva do caminhar.
e. Regulação adaptativa do caminhar.
f. Regulação da velocidade do caminhar dentro do tempo orgânico.

A restauração do caminhar fisiológico tem o efeito de: regular a função motora integral,
restabelecendo o tônus apropriado, não só das pernas, mas também da pélvis, peito e múscu-
los cervicais e faciais. O caminhar fisiológico tende a restabelecer as curvaturas normais da
coluna vertebral e induz mudanças no metabolismo, na função gênitourinária e na função
cardiorespiratória. Por outro lado, reativa a primordial vivência de se abrir caminho no mun-
do, de avançar pela existência com a graça animal e o ímpeto vital dos selvagens.
A patologia do caminhar revela não só os transtornos da motricidade, mas também os
conflitos emocionais. Não trataremos aqui os grandes transtornos motores como a hemiplegia,
as seqüelas da paralisia infantil, a corea de Huntington, acinesia, atetosis, miastenia gravis,
etc.
O caminhar de um depressivo, por exemplo, apresenta flacidez da musculatura paraver-
tebral, ausência de ímpeto vital e do momento de apoio posterior do impulso, a caída da cabe-
ça para diante e flacidez da musculatura do rosto. Completamente diferente é o caminhar do
maníaco, no qual os músculos paravertebrais endireitam com forte tensão a coluna e o cami-
nhar “onipotente” está pleno de exagerado ímpeto.
O caminhar espástico e dissociado do esquizofrênico permite sua caracterização a dis-
tância. O caminhar dos histéricos é caprichoso e instável, apresenta notórias variações rítmi-
cas, amaneiramentos e teatralidade. O obsessivo apresenta rigidez, estereotipia e movimentos
simbólicos no caminhar.
Uma das perturbações de origem psicógena mais freqüentes do caminhar é a síndrome
de repressão sexual. A tensão crônica dos músculos abdominais e pelvianos, causados pela
repressão dos impulsos sexuais, foi já perfeitamente descrita por Wilhelm Reich.
Ao ocultar o sexo, em um movimento de retirada antero-posterior, o indivíduo põe em
tensão crônica os músculos abdominais, psoas mayor, ilíaco, músculos acessórios (retrofemu-
ral, sartório, tensor da fascia lata e os adutores do quadril: grande adutor curto, adutor largo,
pectíneo e grácil). Os joelhos tendem a juntar-se em ginovalgus para manter fechadas as co-
xas, o que produz uma inversão dos pés para dentro. Esta atitude altera os flexores do joelho:
quadriceps femoral, vasto intermediário, vasto médio e vasto lateral. A coluna vertebral se de-
forma ao acentuar-se a lordose lombar pelo esforço de esconder o sexo. Esta lordose deve ser
compensada alterando as curvaturas dorsal e cervical da coluna.

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Mais de 90% das pessoas normais têm distintos graus de dissociação do caminhar por
repressão sexual. Mesmo as pessoas que intelectualmente dizem não ter preconceitos sexuais,
apresentam estes transtornos do caminhar. A repressão em nosso ambiente é inconsciente e
não nos damos conta até que ponto estamos paralisados.
As grandes dissociações se dão nos seguintes níveis:
1. Dissociação da cabeça em relação ao tronco.
2. Dissociação dos braços em relação ao peito.
3. Dissociação a nível da cintura (parte superior e inferior do corpo).
4. Dissociação das pernas em relação ao resto do corpo.

MECÂNICA DO CAMINHAR

Descreveremos quatro tempos sucessivos do caminhar: impulso, oscilação, recepção e


apoio unilateral.
 Primeiro tempo: duplo apoio posterior do impulso.
As pernas estão separadas, uma adiante e outra para atrás. O membro de trás é propulsor, o
que imprime o impulso. Este momento foi denominado duplo apoio posterior do impul-
so.
 Segundo tempo: período oscilante ou de elevação.
O membro direito se separou do solo e cruza o membro esquerdo de trás para adiante.
 Terceiro tempo: duplo apoio de recepção.
O membro direito toca o solo, se apoia e recebe o peso do corpo. Esta perna mede, freia e
regula a progressão. Tem uma função adaptativa e harmonizadora.
 Quarto tempo: apoio unilateral.
O membro direito é agora a única sustentação. Está em apoio unilateral.
O equilíbrio de todo animal e sua progressão para frente são tanto mais complexos e de-
licados quanto mais reduzida é a base de sustentação. É o caso do caminhar bípede do “Homo
erectus”. O homem avança em equilíbrio sobre os pés e sobre o pé; ao avançar transfere seu
centro de gravidade do pé de trás ao da frente. Como já dissemos,, o membro de trás é o que
vai dar o impulso de progressão.
As formas articulares e sua amplitude de movimentos se orientam, portanto, no sentido
desta progressão: metatarsofalângica, tibiotarsiana e do joelho que tem só movimentos de fle-
xão. O quadril contribui para esta ação motora. Os poderosos músculos tríceps, quadriceps e
glúteo maior, atuam no ato de progressão para frente (as pessoas com grave repressão apenas
permitem a intervenção dos glúteos). O caminhar apresenta, além do impulso sagital, o impul-
so lateral. No pé há movimentos de báscula subastragaliana. O joelho não intervém para nada
no impulso lateral; os quadris, porém, têm uma decisiva participação através dos músculos pe-
rônios, tibiais posteriores e glúteos médios.
Os movimentos do tronco e da cintura escapular acompanham a progressão. Há um per-
feito sinergismo na oscilação do eixo dos ombros e o eixo horizontal da pélvis. Há uma co m-
pensação escapular da torção pélvica que se conjuga com a sub-astragaliana.
A dissociação das pernas em relação ao resto do corpo, altera completamente o cami-
nhar, dando lugar a um “caminhar de robô”, em que só se movem as pernas e o corpo perma-
nece rígido.

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Já dissemos que o processo do caminhar deve comprometer a totalidade do corpo. Nos-
sas observações indicam que as pessoas que aprendem o caminhar fisiológico melhoram o es-
tado das veias das pernas (varizes), devido a que este caminhar facilita o retorno venoso. Por
outro lado, os acúmulos de gordura dos quadris e a celulite, freqüentes nas mulheres, tendem
a desaparecer, devido, provavelmente, às mudanças do metabolismo muscular nos membros
inferiores.

EXERCÍCIOS DE CAMINHAR

Em Biodanza propomos três tipos de caminhar:


 Caminhar Sinérgico: Consiste em caminhar seguindo o compasso da música, em
modo natural, permitindo a alternância de lateralidade nos movimentos dos membros
superiores e inferiores.
Quando algum participante da sessão manifesta falta de sinergia entre os braços e as
pernas, sugere-se exagerar o giro da cintura durante a deambulação, de modo a indu-
zir o relaxamento do diagrama natural.
 Caminhar Fisiológico: Consiste em aumentar a participação dos glúteos, incremen-
tando a tensão nos músculos comprometidos. A esse efeito se propõe também alon-
gar o passo, o que facilita o desbloqueio da pélvis.
 Caminhar com Motivação Afetiva: O impulso a caminhar nasce no peito (e não na
cabeça ou na pélvis e pernas)

CONSUMO DE ENERGIA DURANTE O CAMINHAR

Uma pessoa cujo trabalho exige caminhar, pode dar uns 19.000 passos por dia. Se ela
pesa 75 Kg, somaria em seus pés aproximadamente 1.500.000 Kg por dia. Em um caminhar
de 120 passos de 90 cm. por minuto, pode avançar a uma velocidade de 6,5 Km./h.
O consumo de energia em calorias por minuto, por Kg. de peso, pode ser calculado com
precisão segundo a equação:

E (cal/min/kg)=29 + 0,0053 v2

Onde v é a velocidade em metros por minuto.


Existem algumas variações individuais no gasto de energia, que são determinadas pelo
comprimento do pé, o treinamento, a eficiência muscular, o peso do calçado e a roupa, as di-
ferenças de postura, a freqüência do passo e o ritmo do movimento.
O gasto de energia do caminhar uniforme é aproximadamente 10% menor nas mulheres
que nos homens.
O caminhar harmônico de base fisiológica proporcionado em Biodanza influi na regula-
ção do consumo de energia músculoesquelética, evitando a fadiga.

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A POSTURA CORPORAL

A postura corporal é o resultado de um longo processo de relação com o mundo.


É um erro querer modificar a postura de um dia para outro, através de massagens vio-
lentas ou exercícios especiais.
Se não muda a atitude frente ao mundo e com relação a si mesmo, a postura volta a ser a
mesma em pouco tempo.
A postura corporal é um modo de encarar a vida.
Os exercícios de Biodanza melhoram a postura na medida em que melhora o estilo de
vida, a percepção do mundo e a auto-estima.
É falso pensar que melhorar a postura com métodos externos modifique a vivência de
estar no mundo.
A expansão do tórax e o endireitamento da coluna vertebral melhoram quando aumenta
a coragem de viver e a auto-estima.
Uma atitude onipotente pode manter a coluna vertebral direita mas rígida, sem a flexibi-
lidade própria da saúde.
Profundos sentimentos de inferioridade tendem a produzir sofrocis (cifose?) dorsal cri-
ando uma curva que leva o tronco para frente.
A insegurança existencial permanente gera escoliose.
A repressão sexual origina lordose lombar.
A carência afetiva induz o afundamento do peito e a projeção dos ombros para frente.

O ESSENCIAL EM REABILITAÇÃO

A reabilitação clássica trabalha sobre o problema.


Biodanza trabalha com o centro afetivo motor que integra a motricidade.
Não há mudança do estilo de vida nem evolução sem mudança do esquema corporal.

O CORPO DEVE SER A NOVA EXPRESSÃO EXISTENCIAL

1. Coluna 6. Energia
2. Peso 7. Sonhos
3. Rosto (tensão) 8. Atividade
4. Movimento 9. Atividade Sexual
5. Voz 10. Regulação do Apetite.
O movimento, a postura e as expressões reforçam com vigor a consciência de si.
O desenvolvimento embriológico da identidade é paralelo e coerente com o desenvol-
vimento psíquico.
A identidade sexual, a identidade criativa e seletiva, a identidade afetiva e a identidade
como identificação amorosa e cósmica, são dimensões cada vez mais diferenciadas da identi-
dade. Negar a própria identidade é uma perversão expressiva grave que leva à destruição do
indivíduo.

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CÓDIGO PARA LEITURA CORPORAL

Cada indivíduo gera sua própria dança e nela expressa os argumentos e conteúdos fun-
damentais de sua existência.
É possível, por meio da intuição imediata, ler uma dança triste ou alegre, agitada ou se-
rena. A elaboração de um código para a leitura corporal se mostra, sem dúvida, bastante reve-
lador
Proponho aqui algumas linhas referenciais para a construção desse código.

A. Estrutura Geral da Dança:

1. Motivação formal (teatralidade)


2. Motivação expressiva (conteúdos vivenciais autênticos)
3. Reiteração mecânica (bloqueio da criatividade)
4. Movimentos caóticos (dissociação)

B. Aspectos Energéticos:

1. Dança Hipercinética (excesso de atividade; descompensação ergotrópica)


2. Dança Astênica (sem energia; bloqueio da vitalidade)
3. Dança Eutônica (integrando harmonicamente tensão e relaxamento)
4. Dança Tensa (tendência ao domínio opressor)
5. Dança Relaxada (tendência à submissão)

C. Relação com o Mundo e Consigo Mesmo:

1. Movimentos de liberação para fora a partir do peito (abertura para o mundo)


2. Movimentos de interiorização de fora para o peito (intimidade consigo mesmo)
3. Movimentos fetais (estados regressivos)
4. Movimentos heróicos (plenitude e coragem)
5. Dança lúdica (imaturidade, inocência e jogo)
6. Dança erótica (motivações sexuais)
7. Movimentos centrais (consistência existencial)
8. Movimentos periféricos (extroversão, exterioridade)

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CATEGORIAS DO MOVIMENTO

NOME: ______________________________________________________

CONTROLES
1º 2º 3º 4º

1. Ritmo

2. Sinergismo

3. Animação

4. Fluidez

5. Eutonia

6. Equilíbrio

7. Leveza

8. Sensualidade

9. Extensão

10. Coordenação Harmônica

11. Sincronização Melódica


com outro.

12. Expressividade

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