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ECONOMIA • NEGÓCIOS

'Estamos entrando na
era do pós-emprego',
diz executivo da Ânima,
um dos maiores grupos
privados de educação
Daniel Castanho, que preside o
Conselho da empresa, avalia que a
nova geração vai trabalhar por projetos
e não ficar anos na mesma companhia

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Glauce Cavalcanti
02/01/2022 - 04:30 / Atualizado em 02/01/2022 - 08:07

Castanho, da Ânima Educação: alunos não vão mais


escolher um curso para entrar na universidade, vão
eleger as competências que querem desenvolver Foto:
Divulgação

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RIO - A educação precisa se


adaptar a um mercado de
trabalho em que os profissionais
trabalham por projetos, em
períodos mais curtos, avalia
Daniel Castanho, presidente do
Conselho de Administração da
Ânima Educação, um dos
maiores grupos no ensino
superior privado no país.

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Para ele, a transformação da


educação é determinante para a
economia: “O grande problema
deste país é produtividade,
porque não há indissociabilidade
entre o que você aprende e o que
você, depois, tem de agregar em
valor à sociedade”, afirma, em
entrevista ao GLOBO.

Carreira:Veja as 15 profissões
mais promissoras para 2022

Na Ânima, as parcerias com


empresas vão seguir crescendo,
conta Castanho. No início de
dezembro, a companhia fechou
acordo com a DNA Capital,
gestora de fundos com foco em
saúde, que fez um aporte de R$ 1
bilhão na Inspirali, subsidiária
de educação da Ânima, ficando
com 25% do capital da empresa.

SEM EMPREGO, AUMENTA O NÚMERO DE


TRABALHADORES POR CONTA PRÓPRIA
NA PANDEMIA

1 de 6

Ambulantes no Largo da Concórdia, Brás, na cidade


de São Paulo Foto: Edilson Dantas / Agência O
Globo

Há no radar mais
aquisições? Qual é o foco da
empresa hoje?

Nenhuma negociação dura


menos do que quatro a seis
meses, principalmente com as
instituições com as quais a gente
lida. Elas têm 50 anos, são as
famílias (que comandam o
negócio). Sempre são conversas
longas. E a gente está tendo
conversas o tempo inteiro com
outras instituições. A integração
é um tema fundamental nosso,
tem muita coisa a ser feita.

Há a construção da cultura. E
tem a pauta, que já era do
Conselho, que é a de
transformação da educação. O
que a gente tem hoje em
produto, vamos chamar assim,
não é mais baseado no currículo
por disciplinas. É um currículo
por competências. E a tecnologia
vai impactar efetivamente a sala
de aula. Não é o presencial ou o a
distância, é o híbrido.

Leu?‘Com o 5G, exceção vai ser


o que não estiver conectado’, diz
Cristiano Amon, CEO da
Qualcomm

Conteúdo não é mais fim, é meio.


O que é o fim são as experiências
para que o aluno possa aprender.
A avaliação tem que ser encarada
por um assessment, e não
simplesmente para verificar se o
cara memorizou ou não, com
uma prova que tem gabarito,
porque se ela tem gabarito, ela
cabe no algoritmo, e aí a pessoa
poderia ser substituída por um
robô. Assim, tem uma enorme
pauta acadêmica.

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E pelo lado financeiro?

Para além da questão financeira


da operação, um dos temas
importantíssimos é affordability
(acessibilidade), olhar no curto
prazo a possibilidade de
financiamento de aluno, de
desconto. Isso é muito
sofisticado para ser feito hoje.

É preciso cruzar dados de preço


por praça, turno, curso,
concorrentes com os daquela
pessoa (estudante), saber o
quanto ela pode pagar. Se a
diferença for de até 15% entre
dois alunos na mesma sala de
aula, não tem problema, mas
você está dando a possibilidade
(de o jovem estudar).

Eu tenho que criar outros


modelos de negócio, inclusive.
Será que o cara vai entrar para
Administração e fazer um curso
inteiro? Ou vai ser um modelo
tipo Netflix, em que ele paga e é
unlimited, e estuda o que quiser?

Parceria:Kroton e TIM vão ser


sócias em nova empresa de
ensino à distância 100% via
celular

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Parcerias como as com a


DNA e a Vivo (operadora de
telefonia com a qual Ânima
tem projetos em comum)
são pontes para conexão
com o mercado?

Há alguns anos, para suprir esse


gap (lacuna) entre a
universidade e o mercado, várias
empresas criaram universidades
corporativas. O grande problema
deste país é produtividade,
porque não há indissociabilidade
entre o que você aprende e o que
você, depois, tem de agregar em
valor à sociedade.

Os nossos pais, com 70 a 80


anos hoje, entravam no trabalho
como estagiário no financeiro e,
se desse tudo certo, ele se
aposentava naquela mesma
empresa depois de 40 anos como
diretor financeiro. A carreira de
quem tem 40 e poucos ou 50
anos, como eu, que tenho 46, já é
de trabalhar dez anos num lugar,
oito no outro, seis no outro.

Viu isso? ‘Trabalho híbrido é


ainda mais desafiador que o
100% remoto’, diz presidente da
Microsoft Brasil

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Nossos filhos vão trabalhar seis


meses em cada lugar. Estamos
entrando na era do pós-emprego,
do trabalho por projetos. Não
tem mais de entrar para cursos
de Administração, Direito ou
Engenharia. Tem de entrar na
universidade. A Ânima é assim
hoje. Você entra na universidade,
olha aquelas três mil
competências e escolhe. Eu não
tenho mais Matemática 1,
Estatística 1.

Eu tenho Análise de Business


Plan. O que é isso? É o professor
de matemática com o de
contabilidade. Tenho Estatística
da Decisão, que é o professor de
estatística com o professor de
Teoria Geral de Administração.
Tudo prático. O aluno chega e
escolhe as competências que ele
quer desenvolver, que têm a ver
com aquele momento em que ele
está no trabalho. Você não sabe
mais quando está aprendendo e
quando está trabalhando.

São mudanças difíceis de


pôr em prática, não?

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Sim, mas tem uma mudança no


core. Primeiro porque conteúdo
não é fim, mas meio para
desenvolver habilidades e
competências. Então, a escola
não tem de ficar vendendo curso
e cobrando uma prova que não
tem significado nenhum para o
aluno.

A escola tem de ser


personalizada, primeiro. O aluno
escolhe o percurso formativo
dele. Aí, ele terá prazer em
aprender. E vai continuar para o
resto da vida. Na escola, depois
de quatro anos, o cara estoura
um rojão porque se formou. Não
pode. Ele tem que falar: “Não
quero sair daqui”.

Para isso tem de se oferecer


alguma coisa que tenha
significado para o aluno, não de
ter só um certificado.

Além do crédito estudantil


público, como financiar
estudantes?

Muitas vezes, as pessoas pensam


a educação da maneira mais
tradicional. Se a lição de casa em
papel não mudou ao ser dada
pelo Google Classroom, está
errado.

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A mudança tem de ser profunda,


não é só mudar a tecnologia. Se
você pensar que a estrutura virá
só do modelo de Fies
(financiamento estudantil), não é
por aí. Temos de pensar inclusive
outros modelos de negócios.
Imagina a gente, aqui, criar uma
moeda virtual, o Ânimoney,
digamos,que o aluno possa pagar
a faculdade de outras maneiras.

Por exemplo, se ele trabalhar em


um projeto social nosso, ele paga
a faculdade. Imagina se o meu
aluno, mesmo pagando
mensalidade, se prontifica a dar
aula particular a alunos de
ensino médio de escolas
públicas? Se eu tiver 20 alunos
incríveis meus dando aula
particular para esses estudantes
da rede pública, eles vão querer
estudar com a gente.

Piketty: O tamanho da
desigualdade brasileira: Renda
média dos 10% no topo é 29
vezes maior que a dos 50% na
base da pirâmide

E aí, eu diminuo o meu custo de


marketing, porque eu consigo
cobrar menos na mensalidade e
esse cara que está trabalhando
acaba atraindo outros alunos
mais para frente. Hoje, a gente
tem mais de 200 empresas
parceiras, como a Siemens, por
exemplo. (Em aula), entra um
professor nosso de Engenharia e
outro da Siemens, ele é um
profissional daquela companhia.
E ele vai ensinar Engenharia 4.0.
Se interessa pelo aluno e, na
hora, já está contratando.

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É o modelo dual. Tem alguns


formatos. Não se pode pensar
que a solução simplesmente é
financiamento estudantil e falar
que a culpa é do MEC
(Ministério da Educação), do
Ministério da Economia. Temos
aqui, muita coisa dentro da
Ânima, na qual o aluno pode
trabalhar. Tem um programa de
tecnologia, na área de marketing.
O call-center é feito só de alunos
porque é peer-to-peer, de aluno
para aluno. Tem o Instituto
Ânima, muito relevante, com
orçamento de R$ 20 milhões, R$
30 milhões nossos e de
parceiros. Vários alunos
trabalham lá.

Ele também pode fazer uma


pesquisa aplicada. É o sistema
que tem de ampliar essa sua
gama de atividades. Tem
empresa que precisa, por
exemplo, de um sistema de
gerenciamento de controle de
remédios para um asilo. E meus
alunos fazem, entregam e
recebem por isso. Eles estão
aprendendo numa questão
prática, agregando valor para a
sociedade e ainda ajuda a pagar a
faculdade.

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