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LOYOLA MUN

2023

CONSELHO DE SEGURANÇA
DAS NAÇÕES UNIDAS
Conflito Rússia x Ucrânia

Fernando Piterman
Diulia Hostalácio
Maria Gabriela Marques
Sumário

1. O CONSELHO DE SEGURANÇA DAS NAÇÕES UNIDAS.........................4

2. ANTECEDENTES HISTÓRICOS.................................................................6

2.1 DINÂMICA DA RELAÇÃO RÚSSIA-UCRÂNIA..........................................6

2.2 CONFLITO ENTRE RÚSSIA E OTAN.......................................................9

3. CONTEXTO ATUAL DO CONFLITO RÚSSIA E UCRÂNIA...........................11

3.1 VISÃO GERAL.............................................................................................11

3.2 REAÇÃO GLOBAL E SANÇÕES................................................................14

3.3 CRISE DE REFUGIADOS...........................................................................15

3.4 LINHA DO TEMPO......................................................................................16

3.5 QUESTÃO ENERGÉTICA...........................................................................18

3.6 QUESTÃO NUCLEAR.................................................................................19

4. MISSOES DE PAZ DA ONU..........................................................................20

4.1 Introdução................................................................................................... 20

4.2 O Caráter das Missões de Paz da ONU......................................................21

4.3 Conceitos-chave..........................................................................................23

4.4 Tipos de Missão de Peacekeeping..............................................................24

4.4.1 Manutenção de Acordos de Cessar-fogo e Separação de Forças...........24

4.4.2 Ação Preventiva....................................................................................... 25

4.4.3 Implementação de acordos globais..........................................................25

4.4.4 Proteção à ajuda humanitária durante os conflitos..................................26

5. BLOCK POSITION........................................................................................26

5.1 ESTADOS UNIDOS.....................................................................................26

5.2 FRANÇA......................................................................................................27

5.3 REINO UNIDO............................................................................................ 27

5.4 RÚSSIA.......................................................................................................27

5.5 CHINA......................................................................................................... 28
5.6 ALEMANHA.................................................................................................28

5.7 GRÉCIA.......................................................................................................29

5.8 CHILE..........................................................................................................29

5.9 EGITO......................................................................................................... 30

5.10 EMIRADOS ARABES................................................................................30

5.11 BRASIL......................................................................................................31

5.12 ÁFRICA DO SUL.......................................................................................31

5.13 JAPÃO.......................................................................................................32

5.14 ÍNDIA.........................................................................................................32

5.15 POLÔNIA.................................................................................................. 32

5.16 UCRÂNIA..................................................................................................33

5.17 FINLÂNDIA................................................................................................33
1. O CONSELHO DE SEGURANÇA DAS NAÇÕES UNIDAS

Criada em junho de 1945, a Organização das Nações Unidas (ONU) é a


tentativa encontrada para a busca da manutenção da paz no cenário
internacional, após o flagelo de duas guerras de proporções mundiais. A ONU é
dotada de personalidade jurídica internacional, que a possibilita atuar no plano
internacional como entidade distinta e independente dos Estados-membros
individuais1. A Carta das Nações Unidas, ou Carta de São Francisco, traz em
seu 7º artigo os principais órgãos da ONU: a Assembleia Geral (AG), o
Conselho Econômico e Social (ECOSOC), o Conselho de Tutela, a Corte
Internacional de Justiça (CIJ), o Secretariado e o Conselho de Segurança
(CSNU).
O Conselho de Segurança das Nações Unidas é o principal órgão de
poder decisório da ONU, de acordo com o capítulo V da Carta, com sede
própria localizada em Nova Iorque, Estados Unidos da América. Entre suas
funções e atribuições, explanados no artigo 24, é dever do conselho assegurar
meios para a manutenção da paz e segurança internacional frisando a
cooperação entre seus membros, como colocado nos princípios das Nações
Unidas, artigos 1 e 2.
O Conselho é a tentativa internacional mais ousada ao buscar conseguir
fazer valer seus propósitos de cooperação frente a interesses nacionais
particulares. De acordo com os capítulos VI e VII da Carta, o órgão possui a
primazia decisória sobre os procedimentos quanto às ameaças à paz, ruptura
da paz e atos de agressão, assim como pode incentiva a solução pacifica de
controvérsias, evitando que situações problemáticas culminem em soluções
armadas. O artigo 25 traz a característica da obrigatoriedade por todos
signatários da Carta em obedecer às decisões tomadas pelo Conselho,
acrescentada a possibilidade de represália no descumprimento dos acordos
obtidos ao Estado negligente.
A composição do Conselho inicial era totalizada em onze Estados, entre
membros permanentes e membros eleitos. Entre os membros permanentes,
encontram-se os países com maior influência política, econômica e militar ao

1
TRINDADE, Antonio Augusto Cançado. Direito das Organizações Internacionais. 3ª edição.
Belo Horizonte: Del Rey, 2003. (p. 73)
final da primeira metade do século XX. São eles a República da China 2, Reino
Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas, a França e os Estados Unidos da América. É atribuição à
Assembleia Geral das Nações Unidas realizar a eleição de membros
permanentes para mandatos de dois anos como membros eleitos, ou rotativos,
totalizando seis vagas a esses. A composição inicial foi mantida até 1963,
quando ocorreu a reforma nos artigos 23 e 27 da Carta, responsáveis pela
composição e pela votação, respectivamente. A nova configuração manteve os
membros permanentes, acrescentando mais quatro vagas à categoria eleitos,
totalizando quinze membros ao Conselho. A presença de membros convidados
é comum às reuniões, devido à sua ligação e interesses diretamente
envolvidos com as questões do debate. Possuem apenas a capacidade de
expressar-se por meio do discurso e votam apenas nas questões referentes ao
andamento dos debates e não em questões substantivas, presentes nas
resoluções3.
Os encontros do CSNU são realizados frequentemente. Por cada
membro, eleito e permanente, possuir um embaixador em regime de trabalho
exclusivamente voltado para as atividades do Conselho, as reuniões podem
acontecer de forma extraordinária, de acordo com as demandas políticas a
serem tomadas no momento. As reuniões, devido à sua gama de
complexidade, são realizadas ao longo de dias de debates, onde nem sempre
chega-se a uma resolução final votada e aprovada.
A importância do Conselho atribui a obrigação aos seus membros de
apresentar à comunidade internacional, imprensa e demais interessados nas
reuniões feedbacks a respeito de como andam as negociações. As resoluções
e coberturas midiáticas não são as únicas formas de mostrar o
desenvolvimento dos debates no órgão. As declarações presidenciais e à
imprensa4 são práticas regularmente adotadas ao final dos dias de
negociações para apresentar os pontos levantados durante o dia na Câmara do
Conselho.

2
Substituída em 1971 pela República Popular da China.
3
Maiores informações a respeito da votação e composição estarão presentes no Guia de
Regras.
4
Maiores informações a respeito das declarações presidenciais e à imprensa serão
explanadas no Guia de Regras.
2. ANTECEDENTES HISTÓRICOS

2.1 DINÂMICA DA RELAÇÃO RÚSSIA-UCRÂNIA


A relação entre a Rússia e a Ucrânia é complexa, sendo influenciada por
vínculos culturais e históricos que ao mesmo tempo unem e separam os dois
países. Portanto, para entender o conflito atual, é necessário entender o
passado desses povos.
Essa conflituosa história começou há mais de 1000 anos, no século IX, quando
Kiev, atual capital da Ucrânia, situava-se no centro do primeiro Estado eslavo,
chamado de Rússia de Kiev ou Rus de Kiev (nome que faz referência ao povo
dessa região, os “rus”). Esse Estado medieval serviu como base para a origem
tanto da Ucrânia, quanto da Rússia.
Em 988, Vladimir 1º de Kiev aceitou a fé cristã ortodoxa, fixando os Rus no
território que atualmente pertence à Rússia, Ucrânia, Belarus e se estende até
o Mar Báltico. Embora tenha ocorrido um momento em que a história desses
povos foi compartilhada, nos séculos seguintes, a Ucrânia foi invadida por
diversos povos, distanciando-se da trajetória russa
Algumas dessas invasões ocorreram no século XIII, quando o Império Mongol
do leste conquistou a Rússia de Kiev e no século XVI, quando exércitos
poloneses e lituanos invadiram o oeste do Estado Eslavo. Esta última invasão
acabou dividindo o território, as terras ao leste do rio Dniepre ficaram
conhecidas como a 'Margem Esquerda' da Ucrânia, enquanto o oeste, ou
'Margem Direita', ficaram a mando da Polônia. Isso fez com que a parte
ocidental da Ucrânia recebesse mais influência europeia, desde a
contrarreforma até o renascimento.
Mais de um século depois, em 1793, a Margem Direita (ocidental) da Ucrânia
foi anexada pelo Império Russo. Ao longo dos anos que se seguiram, uma
política conhecida como russificação proibiu o uso e o estudo da língua
ucraniana, e os habitantes foram pressionadas a se converter à fé ortodoxa
russa. Em paralelo, o nacionalismo se intensificou nas terras mais ocidentais,
que passaram da Polônia para o Império Austríaco, onde muitos começaram a
se chamar de "ucranianos" para se diferenciar dos russos.
Já no século XX, com a Revolução Comunista de 1917, a Ucrânia passou por
uma guerra civil e acabou sendo tomada por Joseph Stalin e o país passou a
fazer parte da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), sendo
chamada de República Socialista Soviética da Ucrânia. Na década de 1930,
esse líder russo promoveu uma campanha de coletivização das fazendas, que
gerou um período de grande fome, conhecido como Holodomor, causando a
morte de milhões de ucranianos. Depois disso, Stalin enviou um grande
número de cidadãos soviéticos para território ucraniano visando repovoar o
leste da região, mas muitos não tinham nenhum laço com o local e não falavam
o idioma.
Ainda no período do domínio soviético, na década de 1950, a Crimeia, região
localizada no Mar Negro, ao sul, e que tem grandes laços com a Rússia, foi
transferida de Moscou para a Ucrânia, atendendo a um pedido antigo deste
país.
Em 1991 com o fim da União Soviética após um colapso interno, as ex-
repúblicas pertencentes à mesma foram se tornando estados independentes, e
o mesmo não foi diferente no caso da Ucrânia que pela primeira vez desde a
idade média, pôde constituir seu próprio estado soberano a partir de um
referendo, com 90% dos ucranianos votando pela independência.
Apesar das tentativas soviéticas de influenciar culturalmente a Ucrânia, Moscou
nunca conseguiu de fato dominar os hábitos desse país como um todo. Isso
ocorreu, dentre outros fatores, devido ao fato de a parte ucraniana do oeste ter
sido influenciada pela Europa por muitos séculos e só ter sido controlada pela
Rússia bem mais tarde, diferentemente do leste, o que causou grandes
diferenças culturais através do país. Dessa forma, o leste possui mais
características comum com Moscou, fala o idioma russo, segue a religião
ortodoxa e tende a apoiar mais os líderes russos, enquanto o oeste segue a
religião católica, fala a língua local (ucraniano) e costuma apoiar mais políticos
ocidentais. Essa divisão entre as duas partes do país faz com que haja uma
profunda divisão entre os anseios de seus habitantes: voltar ao que muitos
consideram “pátria-mãe” ou continuar sua história de maneira independente.
Em 1994 o já formado Estado nacional ucraniano entregou suas ogivas
nucleares pertencentes à União Soviética remanescentes em seu território à
Rússia em troca do respeito absoluto da mesma pelas suas fronteiras, assim
constituindo Memorando de Budapeste.
Já no ano de 1997 foi firmado o “Grande Tratado” onde Moscou reconheceu as
fronteiras oficiais da Ucrânia, incluindo a Península da Crimeia, região que
abriga uma maioria étnica russa.
Nos primeiros anos como Estado independente, a Ucrânia teve governos
semiautoritários, que mostraram interesse em aproximar-se do ocidente, mas
continuavam tendo relações políticas e econômicas com a Rússia. Um exemplo
dessa aproximação foi, por exemplo, através da parceria colaborativa com a
OTAN, em que a Ucrânia desistiu do arsenal nuclear que possuía em troca de
um acordo assinado entre a Rússia, os EUA e o Reino Unido para proteger sua
soberania. No entanto, essa aproximação não foi suficiente, já que ainda
mantinham bastante contato com o país soviético, o que contribuiu para que
estourasse a Revolução Laranja de 2004, uma mobilização popular de
resistência que ocorreu na capital, Kiev, e que demonstrou a insatisfação da
população com esses governos semiautoritários e um apoio a uma maior
integração com a Europa, além de protestar contra as fraudes que ocorreram
nas eleições daquele ano. Uma boa parte da população ucraniana desejava
melhorias no país e apoiava o candidato da oposição do governo, que ganhou
a presidência após as primeiras eleições terem sido anuladas. Esse conflito
aumentou ainda mais a rivalidade entre o leste e o oeste, que reafirmaram seus
posicionamentos através do apoio a um dos candidatos, o leste em sua maioria
apoiava o governo da época e o oeste, a oposição. Reforçando suas opiniões
pró-rússia e pró-ocidente, respectivamente.
Alguns anos mais tarde, em 2008, os países líderes da OTAN, Organização do
Tratado do Atlântico Norte, concordaram que a Ucrânia tinha potencial para
entrar no bloco, o que gerou grande preocupação a Moscou. Na mesma época
vários conflitos político-comerciais entre Rússia e Ucrânia aconteceram, como
a disputa do gás, no qual houve interrupção no abastecimento de energia para
a Europa, de 2006 a 2009.
Em 2013, o presidente ucraniano Yanukovych negou, no último minuto, a
assinatura do acordo de entrada do país para a União Europeia, retomando as
relações econômicas com a Rússia. A mudança repentina de posicionamento
gerou manifestações conhecidas como EuroMaiden, em Kiev, que defendiam a
maior aproximação política com a Europa. A pressão popular depôs o
presidente Yanukovych, assim, uma junta pluripartidária tomou o poder, até que
a nova eleição levou à Presidência o pró-ocidente Petro Poroshenko.
Em março de 2014, Moscou anexou o território da Crimeia, península semi-
autônoma localizada ao sul da Ucrânia, alegando que estaria defendendo os
interesses dos cidadãos, em sua maioria leais à Rússia. A península está
localizada em uma área estratégica do Mar Negro, que favorece o transporte
marítimo tanto para fins comerciais quanto de defesa territorial por parte da
Rússia. Houve um referendo que completou a anexação, considerado pela
Ucrânia e por vários outros países como ilegítimos.
No mês seguinte, em resposta ao EuroMaiden, separatistas pró-Rússia das
regiões ucranianas de Donetsk e Luhansk, localizadas a leste do país e de
idioma majoritariamente russo, declararam-se independentes de Kiev, iniciando
uma série de conflitos. As autoproclamadas Repúblicas Populares de Donetsk
e Lugansk foram reconhecidas apenas pela Rússia anos mais tarde, em 2022.
Esses conflitos geraram um acordo conhecido como Acordo de Minsk, em
2015, que se resumia em um cessar-fogo entre os países, mas que teve
repetidas violações.
Em 2019, o parlamento ucraniano aprovou uma emenda constitucional
comprometendo o país a se tornar membro da OTAN e da União Europeia. Em
2020, já no governo de Volodymyr Zelensky, a Ucrania tornou-se um Parceiro
de Oportunidades Aprimoradas da OTAN, cooperando em missões e exércitos
militares.
No fim de 2021 e início de 2022, o exército russo reuniu mais de 130 mil
soldados perto da fronteira ucraniana. A Rússia criou três pontos de pressão na
Ucrânia: na Crimeia, ao sul, no lado russo da fronteira entre os dois países e
em Belarus, ao norte. Em 21 de fevereiro, a Rússia reconheceu as regiões das
Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk como independentes.
Por fim, em 24 de fevereiro de 2022 a Rússia iniciou a invasão à Ucrânia por
terra, ar e mar, intensificando o conflito no leste europeu que hoje envolve e
preocupa diversos países ao redor do mundo.
2.2 CONFLITO ENTRE RÚSSIA E OTAN
Dentre as causas da tensão envolvendo Rússia e Ucrânia está a aproximação
da Ucrânia com o Ocidente, mais especificamente a OTAN.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, a Europa ficou dividida em duas
esferas de influência, com o bloco ocidental liderado pelos Estados Unidos e
seus aliados, e o bloco oriental liderado pela União Soviética. Essa divisão
levou à formação da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em
1949, como uma aliança de defesa coletiva dos países ocidentais.
A OTAN foi criada como um contrapeso à influência soviética na Europa e tinha
como objetivo principal garantir a segurança e a defesa mútua dos seus
membros. Ou seja, a aliança militar nasceu de uma rivalidade com a Rússia,
que via a expansão da OTAN como uma ameaça direta ao seu território e aos
seus interesses.
Após o colapso da União Soviética em 1991, houve um período de relativa
cooperação entre a Rússia e a OTAN. No entanto, a relação começou a se
deteriorar à medida que a OTAN avançava com sua expansão para o leste,
incorporando países do antigo bloco soviético. A adesão de países como a
Polônia, Hungria, República Tcheca, Romênia e os Estados bálticos à OTAN foi
vista pela Rússia como uma violação das garantias de segurança dadas após a
reunificação alemã.
Do ponto de vista da Rússia, a expansão da OTAN para o leste é vista como
uma invasão de sua tradicional esfera de influência e ameaça sua segurança e
soberania nacional. O governo russo argumentou que essas ações
descumprem com a garantia que teria sido feita em 1990 de que a o bloco não
se expandiria para o leste.
Em contrapartida, a perspectiva da OTAN sobre a expansão é diferente. A
organização alega que a ampliação da aliança se baseia-se no princípio direito
soberano dos Estados escolherem seus arranjos de segurança e que não é
especificamente voltada contra a Rússia. A OTAN afirma que seu objetivo é
defensivo e visa promover a estabilidade e a cooperação na Europa.
Em relação a Ucrânia, este é um país possui grande importância para a
Rússia, especialmente em termos geopolíticos, uma vez que o país serve como
“escudo” contra uma possível invasão do território russo. Assim, os russos
enxergam a Ucrânia como um espaço fundamental para sua proteção,
principalmente com relação aos países da Europa Ocidental, já que uma
invasão terrestre da Rússia requer a mobilização de tropas e equipamentos
pelo extenso território russo.
Outro fator de preocupação para a nação russa é que com a crescente
aproximação com o ocidente por parte da Ucrânia ela perderia uma grande
área de influência de extrema importância. Principalmente porque, devido aos
laços históricos, os russos não conseguem reconhecer a identidade nacional
ucraniana como algo separado da Rússia.
Portanto, essa guerra envolve questões muito maiores do que desavenças
entre dois países. Há uma forte estruturação política, econômica e social por
trás que abrange as maiores potências do globo.

3. CONTEXTO ATUAL DO CONFLITO RÚSSIA E UCRÂNIA

3.1 VISÃO GERAL

Oficialmente, a guerra na Ucrânia começou na madrugada de 24 de fevereiro


de 2022, quando ocorreram os primeiros ataques russos à capital ucraniana,
Kiev, além de outras áreas do país.
Mas, na prática, a crise remonta desde o colapso da União Soviética.

Nos anos posteriores, a Ucrânia iniciou um movimento de aproximação com o


ocidente. O sucesso de países vizinhos que ingressaram para a União
Europeia despertou em boa parte da população o desejo de seguir o mesmo
caminho. Em 2013, após um recuo nas negociações com o bloco europeu,
ocorreram enormes protestos que levaram à deposição de Víktor Yanukóvytch
no ano seguinte e à ascensão de um governo pró-ocidente.
A Rússia sempre se posicionou contra essa aproximação, e assim desde o final
de 2021, o país reforçava a presença militar em torno da Ucrânia com milhares
de tropas e equipamentos. Em dezembro desse mesmo ano, o presidente
russo Vladmir Putin fez uma lista de exigências à Organização do Tratado do
Atlântico Norte (OTAN) incluindo a demanda de que a Ucrânia nunca
integrasse bloco, dado que a Rússia entende tal ação como uma ameaça à sua
segurança e integridade.
Apesar de diversos esforços diplomáticos em amparar o conflito em clara
iminência, a tensão entre os países foi aumentando, até que no dia 21/02/2022
o presidente russo, Vladmir Putin reconheceu oficialmente a independência de
duas regiões separatistas ucranianas: Donetsk e Luhansk, como retaliação à
intensificação das negociações entre a Ucrânia e a Otan, o que foi considerado
o estopim do conflito. Com essa ação, Putin elaborou um discurso
mencionando que a Ucrânia não é apenas um país vizinho, mas sim parte da
história e parente russa, e enviou tropas com o pretexto de manutenção de paz
e da proteção de cidadãos russos nessa área.

Consequentemente, a Ucrânia solicitou uma reunião de emergência no


Conselho de Segurança da ONU e alguns líderes de países ocidentais se
posicionaram em defesa à nação ucraniana, como foi o caso de Joe Biden que
disse: "o compromisso dos Estados Unidos com a soberania a integridade
territorial da Ucrânia".
No dia 24/02/2022 Rússia invade a Ucrânia. O chefe de Estado justificou a
ação por meio de uma declaração em que ele afirmava que estaria
acontecendo um “genocídio” no Leste da Ucrânia, por tropas “neonazistas”
do país, contra russos étnicos e separatistas.
“Era preciso pôr fim imediatamente a esse pesadelo: um genocídio
voltado contra milhões de pessoas que lá vivem e cuja única
esperança está na Rússia, pessoas que só têm esperança em nós,
ou seja, em mim e em vocês”

3.2 REAÇÃO GLOBAL E SANÇÕES

Sendo assim, nas semanas iniciais do conflito representantes de ambos os


países se reuniram diversas vezes, tentando chegar em um acordo de paz.
Nesses encontros, a nação russa fazia diferentes reindivincações, como, o
comprometimento de uma neutralidade militar — o que, na prática, faria com
que a Ucrânia não entrasse na Otan e a desmilitarização e “desnazificação”
da Ucrânia, o reconhecimento da independência de Donetsk e Luhansk, bem
como o entendimento de que a Crimeia faz parte do território russo desde
2014.
Com o desenrolar do conflito, o governo da Ucrânia acusou a Rússia de atacar
deliberadamente alvos civis e cometer crimes contra os direitos humanos, e o
presidente ucraniano Volodymyr Zalensky requestou a outros países sanções
econômicas contra a Rússia e o envio de equipamentos militares para a defesa
do país.
Nesse sentido, sanções em diferentes áreas foram aplicadas desde o início da
guerra o que gerou um aumento acentuado nos preços de fertilizantes, trigo,
metais e energia, propiciando uma crise alimentar e uma onda inflacionária na
economia global. Ativos russos em outros países foram congelados e os
bancos russos foram excluídos do sistema global de pagamentos Swift,
isolando a Rússia de negócios internacionais e fazendo com que o rublo,
moeda russa, atingisse sua mínima. No quesito militar, nações ocidentais
auxiliaram a Ucrânia com o repasse de armamentos militares de defesa.
Ademais, o Parlamento Europeu reconheceu, em um ato simbólico, a Rússia
como um “Estado patrocinador do terrorismo e como um Estado que usa
meios de terrorismo”, continuando o isolamento diplomático em que o país se
encontra desde então.

3.3 CRISE DE REFUGIADOS

A Organização das Nações Unidas (ONU) calcula que mais de 360 civis foram
mortos até agora. Muitos estão tentando deixar o país, com estimativas de que
mais de 1,5 milhão de pessoas tiveram que deixar suas casas.
Na perspectiva da ONU, essa é a crise de refugiados na Europa mais
acelerada desde a Segunda Guerra Mundial, assim grandes
congestionamentos foram registrados nas estradas que levam às fronteiras dos
países vizinho, como Lituânia, Letônia, Polônia, Hungria, Eslováquia e
Romênia e Moldávia. Tais nações disseram que esperam uma onda de
refugiados da Ucrânia, no entanto, não todas que possuem estrutura para
receberem essa avalanche de indivíduos, o que gera problemas para o país
acolhedor e aos refugiados.
Também aconteceram tentativas para a criação de "corredores humanitários",
que permitiram que os refugiados saíssem das áreas de conflito, como
Mariupol, com mais segurança, mas, na prática, essas tentativas falharam, com
acusações de que o cessar-fogo foi desrespeitado de ambos os lados.
3.4 LINHA DO TEMPO

Essa breve linha do tempo sintetiza eventos importantes que ocorreram desde
o início do conflito, em fevereiro de 2022 até a sua concretização de 1 ano, em
fevereiro de 2023.
Em 21 de fevereiro de 2022, a independência das províncias separatistas de
Donetsk e Luhansk, localizadas no Donbass, território no leste ucraniano. O
episódio foi considerado o estopim do conflito. Em 24 de fevereiro de 2022,
Putin autorizou o início de uma “operação militar especial” com a justificativa de
proteger a população das regiões separatistas, “desmilitarizar” e “desnazificar”
o território ucraniano.
Em março de 2022, a Rússia reivindicou o controle da cidade de Kherson, no
sul ucraniano, onde também foram feitos bombardeios constantes contra a
cidade portuária de Mariupol. Dias depois, tropas russas tomaram a usina
nuclear de Zaporizhzhia. Localizada no sul da Ucrânia, a instalação de
produção de energia é a maior da Europa. No fim deste mesmo mês Moscou
anunciou a retirada de forças de Kiev e de regiões próximas a capital
ucraniana. Militares russos passaram a se concentrar mais na região de
Donbass.
Já em abril, após a retirada russa de Kiev, centenas de corpos de civis
deixados nas ruas e em valas comuns foram encontrados. Muitos deles
apresentaram sinais de tortura e houve indícios de que os civis mortos foram
“executados” por militares russos. A Rússia negou ter cometido os crimes, e o
episódio ficou conhecido como “massacre de Bucha”.

Em maio Mariupol passou a ser controlada de fato pela Rússia. A perda da


cidade foi considerada uma derrota significativa para a Ucrânia. Ainda em maio,
a Finlândia e a Suécia entregaram o pedido oficial de ingresso na Otan
(Organização do Tratado do Atlântico Norte). A decisão, apressada pela
invasão russa à Ucrânia, foi considerada uma mudança significativa na
segurança da Europa. No mês seguinte, junho, a União Europeia oficializou o
status da Ucrânia como candidata a entrar no bloco econômico, o que foi
considerado uma decisão histórica.

Julho foi um mês de longas negociações entre a Rússia e a Ucrânia, com a


mediação da Turquia e da ONU, que levou à um acordo para reabrir os portos
ucranianos do mar Negro e retomar a exportação de grãos. O fornecimento
ajudou na solução de um impasse que ameaçava a segurança alimentar global.

Em agosto explosões atingiram uma base aérea militar da Rússia na Crimeia.


Ao todo, 6 pessoas ficaram feridas e uma pessoa morreu.

Em setembro forças ucranianas lançaram uma contra-ofensiva em Kharkiv,


cidade no nordeste do país. O ato forçou a Rússia a se retirar da região e
representou uma grande vitória para a Ucrânia. Mais tarde no mesmo mês,
Moscou iniciou referendos em 4 regiões ocupadas na Ucrânia. Kiev e aliados
afirmaram que a Rússia queria usar a votação para justificar a anexação dos
territórios e não reconheceram a legitimidade do pleito. Dias depois, Putin
oficializou a anexação dos territórios ucranianos de Donetsk, Luhansk,
Zaporizhia e Kherson à Rússia. Juntas, as regiões representam 15% da
Ucrânia. O Ocidente não reconhece as adesões. No mesmo dia, o presidente
da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, anunciou que pediu formalmente a adesão do
país à OTAN.
O mês de outubro foi marcado pela explosão da ponte que liga a Crimeia ao
território contineltal da Rússia, devido à explosão de um caminhão carregado
de explosivos. Putin atribuiu o ataque à Ucrânia. A Rússia respondeu com
ataques de mísseis às instalações de energia da Ucrânia e outras
infraestruturas importantes. Em 29 de outubro, o Ministério da Defesa da
Rússia declarou que iria suspender sua participação no acordo de exportação
de grãos em portos ucranianos, fechado em julho. Segundo o governo russo, a
medida foi tomada em resposta aos ataques.

Em novembro, a Rússia anunciou uma retirada da cidade de Kherson depois


de uma contra-ofensiva ucraniana. A saída completa das tropas russas se deu
2 dias depois do anúncio, em 11 de novembro. O episódio foi considerado
humilhante para o Kremlin.

A primeira viagem ao exterior do presidente ucraniano foi em dezembro, para


os Estados Unidos. Zelensky se reuniu com o presidente Joe Biden e
conversaram sobre as maneiras de fortalecer a Ucrânia em 2023 para que o
país continue a lutar pela “liberdade e independência”.
Depois, o líder ucraniano discursou ao Congresso dos Estados Unidos em uma
sessão conjunta da Câmara e do Senado. Disse que a Ucrânia está “viva e
forte” e que os europeus, norte-americanos e ucranianos venceram “os russos
na batalha pelas mentes do mundo”.

Já em janeiro de 2023 O presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenou um


cessar-fogo no conflito com a Ucrânia durante o Natal Ortodoxo. A sugestão,
contudo, foi rejeitada pela Ucrânia. Além disso, nesse mês Alemanha e
Espanha anunciaram o envio de tanques de guerra avançados para a Ucrânia
depois de meses de apelos do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

Finalmente, dia 24 de fevereiro de 2023 a guerra entre Rússia e Ucrania


completou 1 ano. Apesar de todo esse tempo passado a perspectiva é de que a
guerra iniciada não tem um fim a vista, dado que os objetivos de ambos os
lados envolvidos estão longe de serem alcançados. A nação russa tem um
claro objetivo de barrar a influência ocidental e anexar regiões ucranianas,
enquanto a Ucrânia visa expulsar seu invasor de seu território, até mesmo da
Crimeia. No momento presente, os dois propósitos estão longe de serem
atingidos, e o conflito segue a se desenrolar.

Essa longa crise está destruindo a Ucrania ao mesmo tempo que suga
recursos de ambos os lados. No caso da Ucrania tais custos estão sendo
predominantemente bancados por algumas potências ocidentais enquanto a
Rússia arca sozinha tais custos.

3.5 QUESTÃO ENERGÉTICA

Acerca da questão energética é importante apontar que grande parte dos


países da Europa não são autossuficientes em sua matriz energética, ou seja,
dependem de importações de petróleo e gás natural de outros países para
suprirem a demanda. Além disso, o clima da região faz com que a energia seja
um recurso fundamental para a sobrevivência, porque esquenta casas no frio,
por exemplo.

Dado esse cenário, a Rússia passou a usar o gás natural como arma
geopolítica, já que é uma grande exportadora dessa fonte energética, inclusive
vários países são dependentes desse recurso russo.

Assim, as ameaças de fechar o fornecimento de gás foram sucessivas por


parte da Rússia obtiveram resultados positivos para a potência.

Um exemplo concreto dos efeitos desse impasse energético foi a supensão


da construção do gasoduto NordStream 2, um grande e importante projeto
para transporte de combustível fóssil entre Rússia e Europa.
3.6 QUESTÃO NUCLEAR

Desde o início da guerra, uma das maiores preocupações era a possibilidade


de uma escalada para a utilização de armamento nuclear. Putin, inclusive,
disse em certo momento que não descartava usar armas nucleares táticas contra a
Ucrânia. Além da utilização desse tipo de armamento, a questão nuclear
apresenta outra ameaça, que é a destruição, proposital ou não, de usinas
nucleares Ucranianas, utilizadas pelo país na obtenção de energia. Por
exemplo, a usina Zaporizhizhia está sob controle russo, e é comum o relato de
misseis que caíram próximos a ela.

4. MISSOES DE PAZ DA ONU

4.1 Introdução

A Carta das Nações Unidas, assinada em 26 de Junho de 1945 em São


Francisco por cinquenta nações5, foi o marco de fundação da Organização das
Nações Unidas e postulou que a manutenção ou a criação da paz internacional
pós-Segunda Guerra Mundial seria baseada na cooperação entre os países
5
Mais informações disponíveis em inglês em:
http://www.un.org/aboutun/charter/history/declaration.shtml
aliados – França, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), Reino
Unido, Estados Unidos e China. As negociações que ocorreram na ocasião
resultaram na criação de um Conselho de Segurança das Nações Unidas
(CSNU), assumindo que o papel desempenhado pelos cinco membros
permanentes seria decisivo na manutenção da paz mundial por meio de
negociações multilaterais neste foro.
Em tempos de Guerra Fria, o CSNU não conseguiu agir de maneira
efetiva. As tensões entre Estados Unidos e URSS eram o pano de fundo de um
cenário mundial no qual eclodiam, sistematicamente, diversos conflitos, e com
frequência as duas potências estavam em lados opostos, dando apoio
financeiro, bélico e ideológico para seus respectivos aliados.
As missões de peacekeeping das Nações Unidas foram criadas em um
contexto de necessidade de minimizar o atrito entre os dois lados da Guerra
Fria. Tais operações se tornaram a medida mais eficaz encontrada para
solucionar questões sobre as quais os esforços diplomáticos foram
insuficientes para reestabelecer a normalidade em zonas de conflito. Suas
primeiras metas eram: efetuar e manter acordos de cessar-fogo e manter a
ordem nos respectivos locais de conflito. Durante quatro décadas, as
negociações políticas em regiões de conflito foram o principal objetivo das
missões de peacekeeping.
Com o fim da Guerra Fria, a demanda das operações de paz para a
resolução de conflitos tem crescido drasticamente. Uma nova brecha para
resolução de conflitos com intervenções foi aberta, com a dissolução do
cenário de permanente tensão em um mundo então bipolar. A participação
efetiva dos Estados Unidos e da Rússia no Conselho de Segurança fez com
que tal órgão de deliberação multilateral se tornasse estratégico nas tentativas
de controle ou resolução de situações de conflito.
Inaugurou-se então uma nova perspectiva sobre as missões de paz.
Atualmente, elas não buscam apenas fiscalizar os acordos de cessar-fogo ou
manter estável a situação em zonas de conflito, como também incorporaram a
necessidade de garantir a preservação dos direitos humanos nas regiões em
questão.
Com relação às suas novas atribuições, as peacekeeping operations
atuam agora com policiamento civil, monitoramento de eleições,
reestabelecimento de instituições civis e reintegração de envolvidos em
combate à sociedade civil. Nesse sentido, sua composição se transformou:
agregaram-se às forças militares voluntários, especialistas em acordos,
negociadores, investigadores, observadores e diversas outras funções civis.

4.2 O Caráter das Missões de Paz da ONU

As missões de paz da ONU estão baseadas no principio de que a


presença imparcial nos territórios designados pode acalmar as tensões entre
partes hostis de um conflito e criar um ambiente propício a negociações. As
missões de paz da ONU podem ajudar a construir uma ponte entre o fim de
hostilidades e a paz durável, caso as partes envolvidas nos conflitos estejam
dispostas a negociar saídas que tenham a paz como objetivo comum.
Inicialmente, o intuito principal das missões de paz era lidar com conflitos entre
Estados, mas, com o tempo, passaram a cumprir o papel de mediadoras de
conflitos intraestatais e guerras civis, que são comumente caracterizados pela
participação de diversos grupos armados que se diferem por suas aspirações
políticas e pela fragmentação nas linhas de comando.
Essa nova conjuntura transformou a estrutura das missões de paz. Ainda
que um bom número de operações ainda esteja baseado no modelo
“tradicional” de operações militares, elas envolvem atividades que estão
relacionadas a outras áreas que não a militar. Monitoramento de acordos de
cessar-fogo estabelecidos e o patrulhamento de buffer zones são exemplos de
atividades praticadas dentro dos diferentes tipos de missões de paz pelos
“capacetes azuis” – como são conhecidos os agentes militares que atuam em
missões de paz em nome da Organização das Nações Unidas.
Historicamente, as missões de paz que demandaram a presença de
militares nos mais diferentes territórios também incluíram atividades não-
militares em sua execução. As operações se tornaram cada vez mais
diversificadas, e passaram a ser compostas por diferentes frentes de atuação
que incluem o trabalho nas áreas de policiamento civil, especialistas em
questões políticas locais e regionais, em direitos civis, em direitos humanos e
em ajuda humanitária, (re)construção de territórios destruídos por conflitos,
equipe de comunicação e informação pública e questões de gênero. Ademais,
algumas operações não incluem componentes militares em seu staff, pois seu
foco é providenciar suporte a forças de pacificação nacionais ou regionais.
Dependendo do mandato, as operações de paz podem dar suporte à
implementação de acordos de paz e monitoramento de cessar-fogo e de
hostilidades entre as partes, assim permitindo que surjam brechas para
negociação.
Os perigos aos quais os participantes de operações dentro das missões
de paz estão vulneráveis são consideráveis. Em ambientes de pouca
estabilidade política, os “capacetes azuis” também podem ser responsáveis
pela segurança de determinadas regiões para que o cotidiano civil seja
retomado. Além do mais, o monitoramento de fronteiras, sejam elas entre
países ou entre regiões, tem como fim prevenir que novos conflitos ocorram, e
essa é mais uma entre o leque de atividades de missões de paz.
Já no que diz respeito ao ambiente político das zonas de conflito, as
missões de paz também podem ser responsáveis por encabeçar governos de
transição em estados ou territórios, sempre baseados nos princípios de
democracia, boa governança, desenvolvimento econômico e social, tomando
para si todas as responsabilidades que um governo em condições normais
teria.
Enquanto a presença de componentes militares nas missões de paz
permanence vital para que se implementem seus diferentes objetivos, o papel
dos civis tem crescido cada vez mais, e estes componentes têm adquirido
grandes responsabilidades para com os processos de implementação da paz.
O papel dos civis pode ser variado, indo desde atividades de negociação com
lideranças quando da implementação de acordos de paz complexos até o
diálogo com atores da sociedade civil e policy makers; suporte às ações de
ajuda humanitária; e auxílio em processos de Desarmamento, Desmobilização
e Reintegração (DDR) de antigos combatentes.
Para além disso, é importante atentar ao fato de que as diferentes
operações de paz também podem cumprir atividades que visem a estabilização
das instituições políticas de um Estado ou território, entendendo que tal passo
é fundamental no processo de consolidação da paz e da independência. Nesse
sentido, é possível que o setor civil das missões fique responsável por conduzir
ou supervisar eleições, apoiar a implementação de rule of law, promover o
respeito aos direitos humanos e investigar possíveis violações.
Os “peacekeepers”, como também são chamados os componentes das
missões de paz, também têm sido convocados para dar suporte a atividades de
organizações nãogovernamentais e outras organizações que possuem como
objeto prover assistência humanitária para vítimas de conflito. Em alguns locais
onde há ou já ouve missões, um Representante Especial do Secretário-Geral é
enviado para que fique sob sua responsabilidade a coordenação do orçamento
das missões e da atuação das equipes – tanto civis quanto militares.

4.3 Conceitos-chave

No que diz respeito às operações englobadas nas missões de paz da


ONU, é possível identificar alguns tipos distintos. Fica a critério do Conselho de
Segurança das Nações Unidas deliberar sobre o caráter que uma possível
missão de paz teria, mas as especificidade da missão ficam todas a cargo do
departamento de missões de paz6 (NOTA: Do inglês ‘United Nations
Peacekeeping Operations Department’). A seguir, abordamos as principais
operações e suas especificidades, ressaltando que todas elas são passíveis de
serem implementadas dentro de uma mesma missão de paz.
A medida mais simples ou primaria a ser tomada é a Diplomacia
Preventiva, que consiste em evitar o desenvolvimento de uma disputa entre as
partes ou, na existência de disputa, evitar que ela se expanda e crie novos
focos de conflito.
Peacemaking é a uma ação diplomática que traz as partes hostis de um
conflito a encontrarem um acordo através de meios pacíficos previstos no
capítulo VI da Carta das Nações.
Peacekeeping é a presença das Nações Unidas na região do conflito
com o consentimento das partes envolvidas, a fim de monitorar a
implementação de acordos relativos à estabilização política e controle do
conflito, ou para assegurar a entrega segura de ajuda humanitária.

6
Do inglês “United Nations Peacekeeping Operations Department”
(http://www.un.org/en/peacekeeping/)
Quando nenhuma das medidas citadas anteriormente teve resultado
efetivo, é necessária a implementação de peace enforcement (“imposição da
paz”). Essa medida é legitimada pelo capítulo VII da Carta das Nações Unidas,
e incluiu o uso de força na manutenção ou reestabelecimento da paz e da
segurança internacional em situações em que o CSNU reconheceu a existência
de uma ameaça, ruptura ou ato de agressão à paz.
Após o fim de um conflito, pode ser fundamental a presença das forças
de peacebuilding. Tais forças têm o objetivo de colocar em vigor medidas e
estruturas que promovam a paz, além de construir e fortalecer a confiança
entre os antigos inimigos, evitando possíveis retomadas do conflito.
Esta gama de ações fornece certa quantidade de flexibilidade na
resposta aos diferentes tipos de conflito que a comunidade internacional pode
enfrentar.

4.4 Tipos de Missão de Peacekeeping

4.4.1 Manutenção de Acordos de Cessar-fogo e Separação de Forças


Essas missões são conhecidas como “tradicionais”, pois foram as mais
utilizadas durante o auge da Guerra Fria. Apesar do aspecto tradicional,
representam um atual trabalho das Nações Unidas e é certo que serão
utilizadas no futuro. “Manutenção de acordos cessar-fogo e separação de
forças” pode ser dividida em duas categorias: missões de observadores e
missões de manutenção de paz, ambas militares. A primeira consiste em
apenas algumas dezenas ou centenas de militares desarmados com o objetivo
de observar a região: eles são responsáveis pelos relatórios encaminhados ao
Secretariado, à Assembleia Geral e ao Conselho de Segurança. A segunda, por
sua vez, é composta por militares armados, variando entre milhares e dezenas
de milhares de soldados. As missões de paz no Chipre 7, nas Colinas de Golã8 e
na Caxemira9 exemplificam as missões tradicionais.
7
Mais informações acerca da UNFICYP estão disponíveis em inglês em:
http://www.unficyp.org/nqcontent.cfm?a_id=1
Último acesso em: 05/08/2012
8
Mais informações acerca da UNIFIL estão disponíveis em inglês em:
http://www.un.org/en/peacekeeping/missions/unifil/
Último acesso em: 05/08/2012
9
Mais informações acerca da UNMOGIP estão disponíveis em inglês em:
http://www.un.org/en/peacekeeping/missions/unmogip/
4.4.2 Ação Preventiva

O uso desse tipo de missão ainda é uma novidade. O seu fundamento é


levar a missão de paz até a região antes de um conflito começar de fato, com o
objetivo de prevenir e criar um ambiente propício para as negociações. A ação
preventiva começou a ser executada em fevereiro do ano passado na
República Iugoslava10.

4.4.3 Implementação de acordos globais

Essas missões começaram a ser praticadas no fim da década passada,


com a diversificação das ações. Como o próprio nome da missão diz, os
acordos globais envolvem reintegração de civis combatentes a sociedade, além
de seu desarmamento, combate às minas terrestres, coordenação do retorno
dos refugiados, assistência humanitária, supervisão das estruturas
administrativas existentes, estabelecimento de novas forças policiais, garantia
do respeito aos direitos humanos, além dos deveres tradicionais de supervisão
do cessar-fogo e separação de forças. As últimas operações estabelecidas pela
ONU têm esse caráter.

4.4.4 Proteção à ajuda humanitária durante os conflitos

Durante um conflito, autoridades auto-proclamadas, facções ou milícias


podem dificultar a entrada de forças da ONU por exigências de guerra. Essas
entidades irregulares também podem desviar os suprimentos enviados à
população civil. Assim, as missões de “proteção à ajuda humanitária durante os
conflitos” foram criadas com o objetivo exclusivo de auxiliar a população civil e
garantir que ela será assistida enquanto o conflito durar.

Último acesso em: 05/08/12


10
Mais informações acerca da UNPROFOR estão disponíveis em inglês em:
http://www.un.org/en/peacekeeping/missions/past/unprofor.htm
Último acesso em: 05/08/2012
5. BLOCK POSITION

5.1 ESTADOS UNIDOS

A maior potência mundial e maior representante do Ocidente e do mundo


democrático são os Estados Unidos da América. Uma das teorias sobre a
ordem mundial, a ordem monopolar, coloca os EUA como potência
incontestável, que é responsável por manter a liberdade no contexto anárquico
internacional. No entanto o século XXI anda mostrando um caminho diferente,
dado que além da ascensão chinesa, a Rússia se reergueu e constrói mais
uma vez um projeto de dominação local. Nesse contexto, é de interesse
americano que a Ucrania se aproxime do Ocidente, assim como era a vontade
do governo e da população ucranianos. Isso seria fundamental para a
estratégia americana de conter, por meio de um cerco, a expansão russa que
poderia ameaçar sua hegemonia. Entretanto, foi afirmado pelo governo
americano que, apesar do apoio à Ucrânia, a potência não interferiria no
conflito diretamente caso não haja ataque a algum país membro da OTAN.

5.2 FRANÇA

A França, país influente europeu e integrante da União Europeia (UE) e OTAN,


desde o início do conflito defende uma resolução pacífica, pela via diplomática
e de diálogos. Apesar de manter uma relação estável com os dois países
envolvidos, Rússia e Ucrânia, a nação francesa deixa seu posicionamento claro
ao condenar as ações russas. A França vem trabalhando em um cessar-fogo e
uma retirada militar russa de todo o território ucraniano, se compromete em
adotar sanções contra a Rússia e iniciou missões de apoio humanitário,
político, econômico e militar à nação ucraniana, e torce que a soberania,
estabilidade e segurança sejam mantidas.
5.3 REINO UNIDO

O Reino Unido é o país que mais forneceu apoio financeiro à Ucrânia, com
cerca de 2,3 bilhões de libras, além de ser a segunda potência que mais
ofereceu apoio militar à nação. O novo chefe militar afirma querer derrotar em
combate, mesmo que o Reino Unido não esteja em guerra, ele afirma que os
soldados devem estar preparados. Vale ressaltar que após o Brexit, o país não
faz mais parte da União Europeia, no entanto, continua a colaborar e coordenar
suas ações de acordo com os Estados membros da EU, OTAN, além de ser
defensor da expansão desses blocos. O país investe cada vez mais para o fim
da guerra e para que a paz seja estabelecida.

5.4 RÚSSIA

A Rússia, como uma potência militar e econômica, desempenha um papel


significativo no cenário geopolítico global. Sua relação com a Ucrânia começa a
se deteriorar com a expansão da OTAN para este país. O líder russo Vladimir
Putin defende que a Otan é "apenas um instrumento da política externa dos
EUA", ou seja, uma forma do ocidente estabelecer sua própria ordem nas
relações internacionais. Dessa forma, a presença dessa organização próxima
ao seu território é uma ameaça não apenas aos interesses do país, mas à
própria existência e à soberania do Estado.
Além disso, para a Rússia, a intervenção na Crimeia e o apoio aos separatistas
no leste da Ucrânia são medidas legítimas para proteger a população de língua
russa dentro deste território e para garantir sua autodeterminação diante de um
governo ucraniano considerado hostil. Nesse contexto, o país luta pela
desmilitarização e pela desnazificação da Ucrânia.

5.5 CHINA

A China e a Rússia mantêm uma parceria estratégica que se fortaleceu ao


longo dos anos, estabelecendo uma relação de cooperação abrangente em
diversas áreas. No entanto, a China tem evitado tomar uma posição
abertamente favorável a qualquer uma das partes envolvidas no confronto
entre a Rússia e a Ucrânia e tem enfatizado a importância de se evitar a
escalada militar e a intensificação do combate. Em meio aos esforços para
manter a neutralidade, o país recusa nomear o conflito de “invasão” e critica
ativamente as sanções econômicas impostas pelos países ocidentais,
afirmando que elas só criam novos problemas.
Além disso, o país tem expressado seu interesse em realizar o papel de
mediador de paz neutro, buscando uma solução para o conflito, desde que seja
através de meios pacíficos e respeitando os interesses de todas as partes
envolvidas. Exercer tal função é uma oportunidade para consolidar sua posição
como um ator global, aumentar sua influência e liderança e desenvolver laços
comerciais com os países envolvidos no conflito.

5.6 ALEMANHA

A Alemanha é hoje, devido ao seu poder econômico e político, um dos líderes


mais importantes. Além da questão energética, por ela protagonizada, é
importante perceber a questão militar. Após a reunificação alemã, que
aconteceu ao final da Guerra Fria, o país se projetou como potência pregando
a paz e se preocupando menos com defesa. O cenário de estabilidade após a
Guerra Fria e o fato de os alemães saberem que uma escalada militar não
agradaria a comunidade internacional, devido ao histórico das Primeira e
Segunda Guerra Mundial, foram responsáveis por essa postura.
A agressividade russa em relação à Ucrânia, porém, fez com que se tornasse
consenso no país, mesmo entre os líderes mais pacifistas, que era hora de
elevar o orçamento de defesa.
A atual dependência do país em relação ao gás russo divide opiniões
internamente. Além da demora em decidir pela paralisação da obra do Nord
Stream 2, ainda não há resposta para o que será feito em relação ao Nord
Stream 1.

5.7 GRÉCIA
O primeiro-ministro grego, Mitsotakis, reiterou o apoio da Grécia à Ucrânia
durante o congresso do Partido Popular Europeu em Roterdã, Holanda. Mas
também mencionou as "relações relativamente próximas da Grécia com a
Rússia devido à geografia e à tradição da Igreja Ortodoxa". Segundo ele,
"estava claro desde o primeiro momento que deveríamos fazer a coisa certa,
que era apoiar a Ucrânia de todas as maneiras possíveis", ainda por cima,
alguns gregos foram mortos por soldados russos, visto que há presença de
cidadãos gregos na cidade de Mariupol. Por isso, a Grécia enviou para a
Ucrânia, em troca de equipamentos modernos alemães, veículos militares da
era soviética

5.8 CHILE

Enquanto a maior parte da américa-latina apresenta um posicionamento neutro


ante o conflito Rússia e Ucrânia, principalmente em virtude aos seus grandes
laços econômicos estabelecidos com a China (parceira da nação Russa), O
Chile é uma posição que quebra essa regra, já que desde o início do conflito
ele foi enfático em condenar Putin pela invasão. O presidente ucraniano,
Volodymyr Zelensky, se reuniu virtualmente com alguns dos líderes da região,
incluindo o presidente do Chile, Gabriel Boric, com quem conversou em 21 de
março. Os dois discutiram a possibilidade de conseguir "maior consolidação"
do apoio dos países latinos a seu país.
Durante a invasão russa, em fevereiro de 2022, o Partido Comunista Chileno,
que ajudou Boric chegar ao poder, condenou a Rússia, mas também os
Estados Unidos e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) pelos
seus “desejos expansionistas” que, segundo eles, “aumentaram o perigo de
guerra”.

5.9 EGITO

O país africano desde o princípio do conflito tomou uma atitude de não-


intervenção, mantendo assim uma posição neutra. Entretanto, documentos
classificados consultados pelo The Washington Post e publicados na plataforma
Discord mostram uma série de conversas entre Al-Sisi (líder do Egito) e
funcionários do Governo sobre possíveis vendas de armas à Rússia. Tal
acusação não foi contrariada nem comprovada, mas fontes oficiais egípcias
afirmaram que o Egito segue uma política equilibrada com todas as partes
internacionais, cujos princípios são a paz, estabilidade e desenvolvimento e que
o que o jornal publicou é uma frivolidade informativa que não é verdadeira.
Além disso, a guerra na Ucrânia trouxe uma grande crise ao Egito, maior
importador de trigo no mundo. O país que depende da Rússia e da Ucrânia
para 80% de suas importações de trigo, agora paga US$ 435 por tonelada
frente aos US$ 270 que pagava no ano passado, segundo o governo. A
invasão também prejudicou a indústria de turismo do Egito. Os turistas russos e
ucranianos costumavam representar um terço dos visitantes anuais do país,
mas esses números caíram. Isso deixou o governo cambaleando sob uma crise
de caixa e dívidas no valor de 85% do tamanho de sua economia.

5.10 EMIRADOS ARABES

Os Emirados Árabes Unidos pediram uma “solução pacífica” para a “crise da


Ucrânia de uma forma que garanta os interesses e a segurança nacional de
todas as partes”. O país, um dos aliados mais próximos dos Estados Unidos no
Oriente Médio se absteve em uma resolução do Conselho de Segurança das
Nações Unidas, CSNU, redigida pelos EUA, que condenava a Rússia pela
invasão à Ucrânia, indicando um posicionamento mais neutro. Isso pode ter se
dado uma vez que os Emirados Árabes, apesar da parceria com os Estado
Unidos, não querem serem vistos como fantoches da potência ocidental, além
do fato que o comércio entre os Emirados Árabes Unidos e a Rússia cresceu
dez vezes desde 1997, e os líderes de ambos os países parecem manter um
vínculo.

5.11 BRASIL

O Brasil, como um país de destaque no cenário global, estabelece parcerias


estratégicas com diversas nações, sendo um grande parceiro tanto da Rússia e
da China, como dos Estados Unidos, buscando uma política externa
equilibrada e diversificada. Nesse sentido, ele mantém uma neutralidade em
relação ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Entretanto, o país vem
manifestando uma inclinação na direção da Ucrânia, ao votar a favor de uma
resolução da Assembleia Geral da ONU condenando a invasão russa, sendo o
único dentre os países do BRICS a se posicionar dessa forma.
Apesar disto, o Brasil é contra as sanções aplicadas a Moscou até agora e não
apoia o envio de armamentos para a Ucrânia. Sua única posição certeira é
favorável ao fim do confronto, que deve ser através de um acordo de paz
baseado no diálogo, no respeito ao Direito Internacional e na preservação das
soberanias nacionais. Para isso a nação tenta se colocar como mediadora do
conflito pois o presidente, Luís Inácio Lula da Silva, considera que o Conselho
de Segurança da ONU, no formato que ele funciona, não é capaz de solucionar
um conflito que envolva seus próprios membros.

5.12 ÁFRICA DO SUL

A África do Sul mantém uma posição neutra em relação ao conflito entre a


Rússia e a Ucrânia. Nesse contexto, O Presidente sul-africano, Cyril
Ramaphosa, nega as acusações feitas pelo embaixador dos EUA, de que o
país teria fornecido armamento a Rússia, embora militares da África do Sul
terem realizado, na costa do país, um treinamento com tropas russas e
chinesas no dia 24 de fevereiro.
O chefe de Estado sul-africano afirma que "Continuaremos a resistir aos apelos
de qualquer lado para abandonar a nossa política externa independente e não-
alinhada”, apesar da pressão externa para tomar partido numa disputa que
seria “entre Rússia e ocidente”.

5.13 JAPÃO

O governo japonês foi um dos primeiros em manifestar apoio a Ucrânia devido


à invasão russa. Também foi ágil ao impor sanções econômicas contra
Moscou, ainda em fevereiro, quando começou o conflito. Essa posição
interferiu nas negociações de um acordo de paz definitivo entre o Japão e a
Rússia, que vinham desde à Segunda Guerra Mundial. Além disso, a nação
permaneceu calada quando o presidente da Ucrânia anunciou que o país
poderia renunciar ao status de nação não nuclear, indo contra a sua posição a
favor da desnuclearização, já que foi vítima do único ataque com bombas
nucleares por outro Estado.

5.14 ÍNDIA

A Índia é um país neutro na guerra entre Rússia e Ucrânia, o primeiro-ministro


já declarou que o país fara tudo o possível para auxiliar na resolução do conflito
e expressou uma profunda angústia com a perda de vidas.
Por conta de sua política externa 'multilateral', ou seja, que atende aos
interesses nacionais com todos os parceiros, independentemente de quais
sejam eles, a nação não aderiu às sanções contra Moscou, o que está
fortalecendo, ainda mais, a relação entre os dois países. Após o início do
conflito o comércio entre eles cresceu, a exportação do petróleo russo para a
Índia atingiu seu ápice e Putin está auxiliando na construção de um espaço de
diálogo com a China, país com o qual a Índia tem uma relação fragmentada,
em especial devido a disputas territoriais.

5.15 POLÔNIA

A Polônia se posiciona a favor da Ucrânia no conflito, pois possuem um tratado


de amizade e cooperação de longa data, enquanto mantém relações
turbulentas com a Rússia. A nação, por fazer fronteira com o território
ucraniano, recebeu enormes quantidades de refugiados em um curto período, e
por isso anda necessitando do apoio de países como Estados Unidos para lidar
com essa questão.
Para o país, a defesa da integridade territorial da Ucrânia e a manutenção da
paz e estabilidade na região são fundamentais para garantir sua própria
segurança e soberania. Portanto, ela compartilha do interesse americano em
conter a expansão russa, busca fortalecer a presença da OTAN na região e
aumentar a atuação militar contra qualquer possível agressão russa. Além
disso, a Polônia apoia a imposição de sanções econômicas à Moscou como
uma medida para responsabilizar suas ações no conflito.
5.16 UCRÂNIA

A Ucrânia é um ex-membro da União da República Socialista Soviética, o que


chama atenção da nação russa em virtude aos seus objetivos expansionistas,
fator responsável por um longo histórico de disputas territoriais no país. Além
disso, grande parte da população, principalmente aquela concentradas em
Donbass, se identifica com a população russa, incitando conflitos separatistas.
Nesse sentido, a região da Crimeia foi anexada em 2014 à Rússia.
O governo ucraniano nega atuação de grupos neonazistas em seu território e
se posiciona contrário a guerra e condena a Rússia por suas ações. Sendo
assim, a nação suplica a outros países sanções contra a Rússia e demanda o
envio de equipamentos militares para a sua defesa.
O presidente ucraniano deixa claro seu desejo de fazer parte da União
Europeia e da OTAN, e propõe a criação de uma nova aliança internacional
enquanto tal entrada não pode ser efetivada.

5.17 FINLÂNDIA

O conflito entre a Rússia e a Ucrânia fez, pela primeira vez, a Finlândia sair da
sua posição de neutralidade. O país declarou apoio à Ucrânia, fornecendo
assistência militar e econômica. Além disso, o conflito motivou a nação a aderir
à OTAN, acirrando ainda mais as tensões entre Ocidente e Rússia, que agora
divide oficialmente uma fronteira de mais de 1.300 quilômetros com um país
membro da aliança. A entrada do país na OTAN pode trazer mais segurança
pois agora ela é membro de uma rede de proteção militar, porém pode também
trazer mais riscos, pois em 2022 o vice-chefe do serviço de segurança da
Rússia, Dmitri Medvedev, prometeu "consequências indesejáveis" caso a
Finlândia fosse até o fim no processo de adesão à Otan.

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