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Promovendo

CULTURA DE PAZ
na
CULTURA
UFRGSDE PAZ
CULTURA DE PAZ

Uma realização
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
______________________________________________________________________________

U58c Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Divisão de Promoção da Saúde

Promovendo a cultura de paz na UFRGS / organizado por Divisão de Promoção da Saúde. --


Porto Alegre: DAS/UFRGS, 2021.
32 p. il. (1 arquivo)
1.Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2. Gestão de pessoas. 3. Relações interpessoais.
4.Cultura da paz. I. Departamento de Atenção à Saúde. II.UFRGS. III.Título
CDU – 37.035
_______________________________________________________________________
Elaborada pela Biblioteca Central da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
APRESENTAÇÃO
Sob as perspectivas da universalidade, equidade, integralidade,
humanização, acesso à informação, capacitação e formação
permanentes - as quais constam nas diretrizes gerais de promoção
da saúde do servidor público federal (BRASIL, 2013) - a valorização
da diversidade humana, a prevenção à violência e o estímulo à
cultura de paz são temas transversais ao cuidado em saúde.

O conceito de paz está atrelado à possibilidade de viver em


harmonia, buscando minorar a criação de guerras e a ocorrência de
conflitos pessoais. Já a cultura está relacionada à produção de
significados mentais que compõem o conjunto de crenças, opiniões,
hábitos e atitudes de determinada comunidade em um momento
histórico definido. Assim, estar inserido em determinado contexto
cultural, tal como ocorre com aqueles que fazem parte da
comunidade da universidade, implica reproduzir crenças, mesmo que
nem sempre seja possível dar-se conta de que isso ocorre.

A presente cartilha faz parte das ações da Divisão de Promoção da


Saúde, do Departamento de Atenção à Saúde, da Superintendência
de Gestão de Pessoas, da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS) e visa estimular a promoção de saúde nos ambientes
de trabalho em sua conexão com a adoção de uma cultura de paz.
Ela está estruturada em cinco eixos temáticos que visam promover
atitudes, comportamentos e pensamentos consonantes com a cultura
de paz.

Boa leitura!
Porto Alegre, Fevereiro de 2022.

2
SUMÁRIO
1. O que é Cultura de Paz? 4

2. É possível falar sobre Paz sem falar sobre Violência? 6

3. Tolerância e Diversidade 9

4. Cultivando relações interpessoais saudáveis 12

5. Comunicação Não Violenta: um meio para


cultivar a paz nas relações interpessoais 26

6. Referências Bibliográficas 30

7. Créditos 32

3
1 O QUE É CULTURA
DE PAZ?
A Organização das Nações Unidas (ONU) define a CULTURA DE PAZ

como um conjunto de valores, atitudes, tradições, comportamentos e

estilos de vida de pessoas, grupos ou nações baseadas no respeito

pleno à vida, aos direitos humanos e às liberdades fundamentais.

Segundo Koch (2014), uma nova ética pode criar uma Cultura de Paz

passando por uma consciência construída na identificação das

violências. O movimento para a Cultura de Paz resulta de iniciativas

capazes de transformar valores, atitudes, comportamentos e estruturas

geradoras de violência.

COMO PODEMOS PROMOVER CULTURA DE

PAZ?
Consonante com o Manifesto 2000 por uma Cultura de Paz e Não

Violência¹, é respeitando a vida, rejeitando a violência, sendo generoso,

ouvindo para compreender, preservando o planeta e redescobrindo a

solidariedade que alcançaremos esse objetivo.

¹ O Manifesto 2000 por uma Cultura de Paz e Não-Violência foi escrito por um
grupo de prêmios Nobel da Paz, com o fim de criar um senso de
responsabilidade que se inicia em nível pessoal – não se trata de uma moção ou
petição endereçada às altas autoridades.

4
QUAIS FERRAMENTAS PODEMOS UTILIZAR

PARA INCENTIVAR A CULTURA DE PAZ?


Contemplando a educação para a paz; a igualdade entre homens e

mulheres; a participação democrática; o curso livre de informações; os

direitos humanos; o desarmamento e segurança humana; a resolução

não violenta de conflitos; a pluralidade étnico-racial; o desenvolvimento

sustentável; a desmilitarização; a paz e segurança internacionais

(GUIMARÃES, 2005)

OUÇA
Nesse episódio do DPScast, conversamos com o professor Adolar Koch,

do Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências

Humanas da UFRGS, sobre a cultura de paz e sua importância no

ambiente de trabalho..

ACESSE AQUI

5
2 É POSSÍVEL FALAR
SOBRE PAZ SEM FALAR
SOBRE VIOLÊNCIA?
Embora a proposta da Cultura de Paz seja romper com o paradigma da

cultura da violência, isso não significa dizer que devemos parar de falar

sobre esse assunto. Ao contrário, diante do complexo fenômeno que é a

violência, para que caminhemos em direção à promoção da Cultura de

Paz e prevenção da violência, faz-se necessário refletir sobre o tema.

Dessa forma, é o que abordaremos neste capítulo.

No Brasil, a violência começou a ser mais discutida principalmente a

partir da década de 1980. É um fenômeno social de enorme dimensão

que afeta toda a população, atingindo crianças, adolescentes, homens e

mulheres, durante diferentes etapas do ciclo vital ou mesmo ao longo de

toda a vida de algumas pessoas. Contribui, no mundo inteiro, por

adoecimento, perdas e mortes. Logo, a área da saúde não pode ser a

única responsável pelo enfrentamento das situações de violência. E,

além de atender aos envolvidos, têm a função de construir estratégias

de prevenção e promoção à saúde, que mitiguem a cultura da violência.

6
POR QUE PROMOVER A CULTURA DE PAZ?
Devemos promover uma cultura de paz como uma forma de mitigar os

danos de uma cultura da violência tão arraigada.

As violências interpessoais são a 6ª causa de morte na população

brasileira geral, segundo estudo Global Burden of Disease 2016

(GBD 2016) disponibilizado no site da Secretaria de Vigilância em

Saúde².

Segundo Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho

(SmartLab), apenas em 2020, foram notificados 1.866 acidentes de

trabalho no Brasil que resultaram em óbitos de trabalhadores com

vínculo regular de emprego³.

Pessoas vítimas de violência são mais vulneráveis a riscos que

predispõem a distúrbios ou transtornos mentais.

As vítimas de violência utilizam mais os hospitais e serviços de

emergência por apresentarem mais problemas de saúde, o que

compromete também seu desenvolvimento social e econômico

(BRASIL, 2009).

²Acesse o site da SVS aqui.


³http://antigo.fundacentro.gov.br/estatisticas-de-acidentes-de-trabalho/observatorios
Acessado em 15.12.2021
7
SOBRE A ORIGEM DA VIOLÊNCIA:
NOSSOS ANTEPASSADOS
PRÉ-HISTÓRICOS ERAM SELVAGENS
E GUERREIROS E A VIOLÊNCIA ESTÁ
IMPRESSA EM NOSSOS GENES?

Definitivamente, não! Conforme artigo produzido pela pesquisadora

Marylène Patou-Mathis para o Correio da UNESCO (2020), dados

arqueológicos mostram que uma forma de violência já existia na era

paleolítica, principalmente em cerimônias que envolviam o canibalismo.

Entretanto, até agora não se encontrou evidências de violência

coletiva. Na maioria dos casos estudados (fora do contexto do

canibalismo), apenas um indivíduo foi vítima de violência, o que pode

demonstrar a existência de conflitos interpessoais ou rituais de sacrifício.

Portanto, pode-se inferir que não ocorreram guerras no período

paleolítico. Alguns motivos podem explicar essa suposição, como uma

população pequena, um território de subsistência suficientemente rico e

diversificado e uma estrutura social igualitária e menos hierárquica.

Entre esses pequenos grupos de caçadores-coletores nômades do

paleolítico, a colaboração e o apoio mútuo entre todos os membros do

clã eram necessários para sua sobrevivência. Ademais, um bom

entendimento entre eles era essencial para garantir a reprodução e,

portanto, a descendência. A conhecida “selvageria” dos seres

humanos pré-históricos é, então, apenas um mito – criado na

segunda metade do século XIX e no início do século XX para reforçar o

8
discurso sobre o progresso alcançado desde o nascimento da

humanidade e o conceito de “civilização”. Essa imagem de seres

humanos pré-históricos violentos e guerreadores é o resultado de

uma construção acadêmica popularizada por artistas e escritores.

GOSTOU DAS INFORMAÇÕES?

Confira o artigo completo aqui para conhecer mais

a fundo sobre esse tema!

PARA REFLETIR:

Na realidade o homem pré-histórico deveria ser cooperativo, em outras

palavras, deveria viver em paz com seus pares para sobreviver. Esse

fato tem alguma semelhança com os dias atuais? Através do exposto

acima podemos ter alguma aprendizagem para nossa vida?

O QUE É A VIOLÊNCIA?

A violência é definida como atos realizados por indivíduos, grupos,

classes e nações que provocam danos físicos, emocionais e/ou

espirituais a si próprios ou a outros. É um fenômeno social de grande

dimensão que afeta toda a sociedade.

9
QUAIS OS TIPOS DE VIOLÊNCIA
EXISTENTES?
A violência é dividida em três grandes categorias:

- Violência autoinfligida: está relacionada ao comportamento suicida

(tentativas de suicídio e pensamentos suicidas ou autolesões

deliberadas) e ao autoabuso (atos de automutilação).

- Violência interpessoal: relacionada à violência da família ou

parceiro íntimo (exemplos: abuso infantil, violência contra a mulher,

violência sexual, violência contra idosos, violência contra pessoas com

deficiência) e à violência comunitária que acontece entre pessoas sem

parentesco, nos espaços públicos (exemplos: casos de estupro por

desconhecidos, violência juvenil, violência institucional em escolas,

asilos, trabalho, prisões, serviços de saúde etc. e a violência no trabalho

como o assédio moral e sexual).

- Violência coletiva: pode ser social (exemplo:

crimes de ódio por grupos organizados, atos

terroristas e violências de multidões), política

(exemplo: guerras e conflitos de violência,

violência de estados e atos de grandes grupos)

e econômica (exemplo: ataques de grupos

maiores motivados por ganhos econômicos,

para interromper a atividade econômica de um

país ou região, negar acesso a serviços

essenciais ou criar fragmentação econômica).

10
OS ATOS PODEM SER DE NATUREZA:
- Física: Quando uma pessoa que está em relação de poder a outra

causa ou tenta causar dano não acidental (exemplos: socos, pontapés,

bofetões, tapas, dano com armas ou qualquer outro gesto).

- Sexual: Todo o ato no qual uma pessoa em relação de poder e por

meio da força física ou intimidação psicológica obriga a outra a executar

ato sexual contra a sua vontade. Pode ocorrer contra as crianças e

adolescentes, as mulheres, as pessoas com deficiência ou idosos.

- Psicológica: Toda ação ou omissão que causa ou visa causar dano à

autoestima, à identidade ou ao desenvolvimento dos indivíduos por

agressões verbais ou humilhações constantes (exemplos: ameaças de

agressão física, impedimento de trabalhar fora, de sair de casa, de ter

amizades, de telefonar, de conversar com outras pessoas).

- Negligência ou privação: Ausência de atendimento às necessidades

básicas, físicas e emocionais das crianças, adolescentes, adultos,

idosos ou pessoas com deficiência.

SE VOCÊ É VÍTIMA DE QUALQUER TIPO


DE VIOLÊNCIA PROCURE AJUDA! LIGUE:

190 Polícia civil

180 Central de atendimento à mulher

DISQUE

100
Disque Direitos Humanos
11
3 TOLERÂNCIA E
DIVERSIDADE
Agora que você aprendeu a identificar os diferentes tipos de violência,

vamos aprender a diferenciá-la dos conflitos? Com isso, poderemos

aprender a desenvolver relações permeadas pelo respeito à diversidade.

“Conflito é um fenômeno próprio das relações humanas. Eles acontecem por causa
de posições divergentes em relação a algum comportamento, necessidade ou
interesse comum. As incompreensões, as insatisfações de interesses ou
necessidades costumam gerar conflitos” (Vasconcelos, 2006).

Os conflitos são inerentes à vida humana, já que conciliar diferentes

demandas e necessidades é bastante desafiador. Os conflitos por si só

não são danosos e/ou patológicos, mas a forma de enfrentá-los e

administrá-los é que pode trazer consequências construtivas ou

destrutivas. A resolução de um conflito caracteriza uma nova etapa no

desenvolvimento de um grupo, amadurecendo as relações interpessoais

nele presentes. Isso envolve romper com a acomodação de ideias,

posições e papéis no desvendamento dos problemas, estimulando a

criatividade para sua solução.

A universidade é um ambiente de diversidade e inovação, impulsionada

pelas novas gerações que continuamente chegam até ela. Temos

assistido uma reformulação em diversas concepções em relação a

gênero, sexualidade, relações étnico-raciais, deficiências, entre outros.

12
Isso traz à tona a importância e a

necessidade de falarmos sobre

diversidade e tolerância.

A tolerância é um dos princípios da

cultura de paz, segundo a UNESCO.

Segundo a Declaração de Princípios

sobre a Tolerância (UNESCO, 1995),

“A tolerância é o respeito, a aceitação e o apreço da riqueza e da diversidade das

culturas de nosso mundo, de nossos modos de expressão e de nossas maneiras de

exprimir nossa qualidade de seres humanos. É fomentada pelo conhecimento, a

abertura de espírito, a comunicação e a liberdade de pensamento, de consciência e

de crença. A tolerância é a harmonia na diferença. Não só é um dever de ordem

ética, é igualmente uma necessidade política e jurídica. A tolerância é uma virtude

que torna a paz possível e contribui para substituir uma cultura de guerra por uma

cultura de paz.”

Ao conviver e trabalhar com outras pessoas, nos deparamos com

diferentes concepções de vida e de mundo, sendo necessário o

exercício da tolerância, compreendido aqui também como respeito pelas

diferenças. Diversidade caracteriza tudo aquilo que é heterogêneo e que

tem multiplicidade, ou seja, é plural e não homogêneo. Aceitar o outro

em sua diferença, livre de preconceitos e discriminações, valorizando as

diferenças humanas e buscando conviver com o outro de forma

respeitosa e saudável, configura-se como princípio da tolerância. Para

isso é necessário compreender as limitações e potencialidades dos

13
outros, bem como as nossas próprias, ampliando as possibilidades de

qualificar as relações interpessoais. Tolerância é não aceitar injustiças,

desigualdades sociais, violação dos direitos humanos, e as diversas

formas de violência, buscando uma sociedade livre, justa e igualitária. O

exercício da tolerância contribui para a manutenção de uma cultura de

paz e não violência.

Nesse vídeo da Controladoria-Geral da União


- CGU, os conceitos de tolerância e
diversidade são explicitados de forma lúdica
através dos personagens da Turma da
Mônica. Assista antes de aprender mais
sobre cultivar relações interpessoais
saudáveis - próximo tema da cartilha.

ACESSE AQUI

14
4 CULTIVANDO RELAÇÕES
INTERPESSOAIS
SAUDÁVEIS
O QUE SÃO RELAÇÕES INTERPESSOAIS?
Podemos definir as relações interpessoais como um vínculo ou conexão

entre as pessoas em determinados locais e circunstâncias. Elas existem

em uma infinidade de momentos (familiares, escolares, no trabalho,

comunitários, etc), e são fundamentais para o desenvolvimento pessoal

e profissional de todos nós.

As relações interpessoais são bastante desafiadoras e os

comportamentos alheios podem nos afetar de forma negativa ou

positiva, dependendo do momento e de vários outros fatores. Isso se dá

pois elas são formadas por uma complexidade de aspectos, por

exemplo:

estão sempre inseridas num conjunto de normas comportamentais

que orientam as interações entre membros de uma sociedade;

implicam em lidar constantemente com diferentes personalidades;

se pautam em estratégias de comunicação, que podem ser

adequadas ou não ao contexto;

e necessitam de uma boa dose de compreensão dos nossos

sentimentos, necessidades e motivações, bem como os do outro

com quem estamos nos relacionando.

15
No contexto das organizações, as relações interpessoais são

fundamentais para o trabalho, pois para os objetivos da instituição serem

alcançados, precisa existir um fluxo de interações entre seus membros.

Se há boas relações interpessoais no ambiente de trabalho, se há apoio

dos colegas e da chefia, a tendência é as equipes estarem mais

motivadas para enfrentar os desafios, se sentirem mais pertencentes, e

terem um maior desempenho.

VAMOS FAZER UM EXERCÍCIO DE


REFLEXÃO?
Pense nas suas relações familiares e no trabalho, e nos feedbacks que

recebeste ao longo da vida. A partir disso, responda para si mesmo:

Quais são seus pontos fortes na relação interpessoal com os outros?

Que emoções e sentimentos te atrapalham na relação com os

outros?

Quais suas principais dificuldades na relação com outras pessoas?

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POR QUE AS RELAÇÕES INTERPESSOAIS
SÃO IMPORTANTES?
Robert Waldinger, um dos diretores do estudo mais longo realizado

sobre o tema “felicidade”, nos lembra que uma boa vida é feita de bons

relacionamentos: pessoas que têm boas relações e que convivem com

pessoas a quem podem recorrer em momentos de dificuldade,

envelhecem melhor, têm mais qualidade de vida na terceira idade, a

memória funciona melhor, têm mais tolerância à dor física, e mais bom

humor. Por outro lado, pessoas que se percebem como solitárias, ou

que estejam envolvidas em relacionamentos problemáticos, tendem a

desenvolver sintomas de depressão, ansiedade e dependência química,

podendo inclusive viver menos e com menos qualidade.

As ideias são sintetizadas em

um vídeo disponível no TED

talk. Convidamos

enfaticamente que você

reserve 14 minutos de seu

tempo para assistir. ACESSE AQUI

Gostou do vídeo? Você já tinha parado para pensar como as relações

interpessoais são essenciais para nossa saúde? Não é à toa que

promover uma cultura de paz tem tudo a ver com saúde, não achas?

17
COMO CULTIVAR RELAÇÕES
INTERPESSOAIS SAUDÁVEIS?

Primeiramente, cabe destacar alguns dos elementos fundamentais na

configuração daquilo que constitui um relacionamento saudável: a

empatia, o diálogo e a colaboração.

EMPATIA
A empatia consiste na capacidade de se colocar no lugar do outro, de

adotar a sua perspectiva (ou seja, “enxergar o mundo pelos olhos do

outro”) e compreender o seu estado emocional (isto é, os sentimentos

do outro). Trata-se de uma habilidade social que é inata, mas que pode

ser treinada: quanto mais a gente pratica, mais ela se desenvolve e se

torna algo natural.

A aplicação prática da empatia nos relacionamentos interpessoais

consiste na comunicação empática, que inclui componentes verbais (fala

não julgadora e centrada no outro) e não verbais (contato visual,

expressão facial, postura e gesticulação). Tudo começa com uma escuta

empática do outro (ou seja, ouvir a pessoa de maneira interessada e

atenta, sem interrupções ou emissão de julgamentos). O segundo passo

envolve a compreensão afetiva: tentar pensar e sentir como seria se

estivéssemos passando por situação semelhante à do outro. Por fim, o

terceiro passo envolve expressar o nosso entendimento da perspectiva

e sentimento do outro, de modo que a pessoa se sinta ouvida e

compreendida.

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Pense em como você costuma interagir com as outras pessoas e tente

identificar o que pode não estar funcionando tão bem. A seguir, veja

algumas dicas para uma comunicação empática efetiva:

Como ouvir o outro efetivamente?

Ouvir com atenção e disponibilidade

Não interromper

Entender os sentimentos da pessoa

Expressar respeito pelas opiniões e pelos valores da pessoa

Assumir uma postura honesta e autêntica

Mostrar sua preocupação, cuidado e afeição

Focalizar nos sentimentos do outro

Olhe sempre nos olhos

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Como expressar (verbalizar) a sua compreensão do

sentimento e perspectiva do outro?

Usar perguntas esclarecedoras para estimular a reflexão (por

exemplo: O que você pensa que pode acontecer agora?)

Usar paráfrases, ou seja, comunicar o seu entendimento do

que o outro falou nas suas palavras (por exemplo: Você disse

que ficou muito abalado.)

Usar sínteses, ou seja, fazer um resumo do que o outro disse

(por exemplo: Então você decidiu esclarecer tudo com ele.)

Fazer reflexão dos sentimentos (por exemplo: É

compreensível tudo o que você sentiu.)

O que NÃO fazer?


Competir com o sofrimento da pessoa que estamos escutando, com

frases como: “O meu problema foi muito mais complicado, aquilo sim

foi um problema.”

Tentar “educar” a pessoa, com comentários do tipo: “Você não

precisa ficar assim…”

Tentar “consolar” o outro

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Emitir julgamentos, com frases do tipo: “Mas você não deveria ter

feito isso...”

Emitir conselhos (a não ser que, após expressarmos a nossa

compreensão do outro, a pessoa nos peça um conselho).

Após as dicas acima, te convidamos a parar para refletir: Como está

sua capacidade de empatia? Você consegue perceber o sofrimento ou

alegria do outro? Você ajuda o outro a reconhecer suas próprias

emoções e necessidades? Você demonstra apoio e acredita que o

outro é capaz de encontrar uma solução e superar o conflito?

DIÁLOGO
A palavra diálogo vem do grego, onde dia significa “por intermédio de” e

logos significa “palavra”, ou seja “por meio da palavra”. Ainda que se

desenvolva com pontos de vista diferentes, o diálogo não é a

confrontação de opiniões, como uma discussão, que há disputa de

poder, de verdades. No diálogo, ninguém está competindo para ganhar.

21
Quando dialogamos, abrimos questões, ao invés de fechar significados.

Compartilhamos ideias. Mostramos exemplos. Questionamos e estamos

abertos a novos aprendizados. Nos fascinamos com a complexidade.

Buscamos emergir ideias, descobrir suas pluralidades, analisamos a

relação das partes com o todo, ao invés de analisá-las em separado,

descartando e reduzindo conceitos. O verdadeiro diálogo pressupõe um

clima de boa vontade e compreensão recíproca.

Para haver diálogo, portanto, precisa haver

escuta. E como escutamos os outros?

Christian Dunker, numa entrevista ao Casa

do Saber, traz reflexões importantes sobre

como aprender a escutar o outro. Assista

ao vídeo para saber mais! ACESSE AQUI

Conforme o que foi exposto acima sobre diversidade, precisamos

perceber a importância de valorizar as diferenças entre as pessoas,

mais que tolerá-las, pois é a multiplicidade de olhares que favorece a

resolução de problemas!

Imagine uma equipe que não se conhece, não cria espaços intencionais

para se conhecer e gerar vínculos. Haverá espaço para diálogos entre

esses colegas? O diálogo é elemento fundamental para a construção de

uma cultura de paz, pois é por meio da palavra que descobrimos

pluralidades, construímos significados para os conflitos e compomos

soluções possíveis.

22
VAMOS EXERCITAR ESSA HABILIDADE DE
DIÁLOGO?
Pense na sua equipe de trabalho. Como são as interações entre você e

seus colegas? Reflita sobre as perguntas a seguir:

Você dá oportunidade para outros falarem antes de pedir a palavra

novamente?

Em uma conversa coletiva, você fala para o centro do grupo e não

para uma pessoa específica?

Você se esforça para ouvir e perceber ideias e experiências

diferentes das suas?

Quando você está numa conversa, você não interrompe, não

compara, não classifica, não generaliza e não reage

impulsivamente?

Durante um bate-papo, você consegue perceber os valores, crenças

e pressupostos que dão forma aos significados?

Ao tentar entender o outro, você se preocupa em olhar o histórico e

o contexto?

Se você respondeu sim a todas as perguntas acima, parabéns! Você está

no caminho certo para a construção de diálogos saudáveis. Se respondeu

não para alguma das perguntas, essa é uma ótima oportunidade para

refletir sobre comportamentos que possam estar prejudicando suas

oportunidades de diálogo e relações saudáveis.

23
TRABALHO COLABORATIVO
Podemos entender uma instituição como um sistema vivo, e portanto

complexo. Cada pessoa é co-responsável pelos resultados do todo.

Cada um de nós vê, percebe e interpreta o mundo através de uma

“janela” de conceitos que inclui nossos valores, crenças, princípios,

premissas e conhecimentos. A visão limitada da "realidade" que esta

janela nos proporciona modela e afeta nossas decisões, ações,

interações e outros aspectos de nossa vida. Compreender isso é

importante para pensarmos na relevância do trabalho colaborativo, em

que todos “co-laboram”, ou seja, "trabalham junto”.

Quando falamos em um ambiente colaborativo, queremos

dizer que é aquele grupo de pessoas que “pega junto”, todos

se comprometem com os resultados e com o propósito da

atividade. Pensa aí: sua equipe de trabalho é colaborativa?

Como foi conceituado no primeiro capítulo, é difícil pensar na construção

de uma cultura de paz, sem pensar na colaboração de todos dentro da

instituição. Cada um tem uma grande potencialidade de contribuição

com sua própria bagagem. E é também impossível pensar em relações

interpessoais saudáveis , sem pensar em trabalho colaborativo.

No ambiente de trabalho, observar a diversidade é fundamental para

que as distintas competências sejam colocadas a serviço de projetos

conforme perfil e potencial, propósito e/ou anseio de desenvolvimento

de cada um.

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Para além disso, resolver os problemas pelos

outros tira a autonomia e a oportunidade de

aprendizagem, e acaba sobrecarregando quem não

deveria.

REFLITA:
Você contribui para um trabalho colaborativo?

Veja abaixo 04 dicas para cultivar a colaboração no ambiente de trabalho:

Envolva a equipe na tomada Crie espaços colaborativos,


de decisões. como sala de reuniões, onde
todos possam compartilhar
experiências, conhecimentos
e habilidades.

Estimule o engajamento e a Reconheça o trabalho da


participação dos membros da equipe e valorize!
equipe.

25
5 COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA: UM
MEIO PARA CULTIVAR A PAZ NAS
RELAÇÕES INTERPESSOAIS

"O que eu quero em minha vida é compaixão, um fluxo entre mim mesmo

e os outros com base em uma entrega mútua, do fundo do coração”.

Marshall B. Rosenberg

A Cultura de Paz envolve a prática da não violência por meio da

EDUCAÇÃO, do DIÁLOGO e da COOPERAÇÃO. A Comunicação Não

Violenta (CNV) é um componente da Cultura de Paz. Pressupõe uma

comunicação compassiva, onde uma ou mais pessoas envolvidas estão

em sintonia com si próprios e com os outros, em uma entrega mútua.

Do ponto de vista de Marshall Rosenberg, autor do livro Comunicação

Não Violenta (CNV), é a FORMA COMO OUVIMOS E CONVERSAMOS

com os outros que funciona como chave na solução de desavenças e

discórdias entre as pessoas.

A Comunicação Não-Violenta (CNV) é uma abordagem que foi

desenvolvida pelo psicólogo Marshall Rosenberg, e representa

habilidades de comunicação verbal (escrita ou falada) e não verbal

(gestos, expressões faciais ou corporais, imagens ou códigos) que

buscam criar compaixão e empatia para fortalecer as conexões

humanas. O exercício da Comunicação Não-Violenta permite ao

interlocutor enxergar o mundo a partir da perspectiva da outra pessoa e

entender possíveis razões para suas atitudes.

26
A CNV não é uma fórmula mágica para manipular resultados em

diálogos difíceis, mas, sim, um caminho para reconhecermos quem

somos, quem são as pessoas que nos cercam e o que é possível

construir juntos, através das nossas escolhas de como seguir. Com isso

em mente, podemos seguir com empatia ou honestidade.

Destaca-se que a essência da CNV está na consciência de quatro

processos – observação, sentimento, necessidade e pedido – e não nas

palavras que são trocadas diretamente no diálogo pelos interlocutores.

Marshall Rosenberg, sintetizador da CNV, nos convida a respirar, mudar

nosso foco de atenção e se perguntar: o que realmente aconteceu?

(Observação); quais sentimentos surgem? (Sentimentos); o que preciso

nesse momento? (Necessidades); e, assim, conectado com essas três

respostas, fazer um Pedido.

SENTIMENTOS

C
O
N
OBSERVAÇÃO E NECESSIDADES
X
Ã
O

PEDIDOS

27
Vamos conferir um exemplo da aplicabilidade da Comunicação

Não-Violenta?

“Luiz, quando você fala gritando comigo no trabalho

(observação), me sinto desqualificado e irritado

(sentimento) porque preciso sentir que sou respeitado

e quero me desenvolver com o auxílio de meus

colegas (necessidades). Você poderia me chamar para

conversar em particular quando tiver algum comentário

para fazer? (pedido).

Quanto mais praticamos a CNV, mais vamos fortalecendo

as nossas habilidades para reconhecer julgamentos, fazer

uma checagem de como estamos diante de uma situação,

expressar nossa honestidade e ouvir o outro com mais

empatia. A CNV busca se contrapor ao julgamento

moralizador, comparações, negação de responsabilidade e

comunicar desejos na forma de exigências - que são

compreendidas como comunicação alienante da vida.

28
Vamos colocar a
cultura de paz em
prática ?

Em uma sociedade atravessada pela violência, competitividade, conflitos

e disputas, implementar uma cultura de paz exige de nós um processo

ativo.

O objetivo dessa cartilha é instrumentalizar os diferentes servidores

docentes e técnicos-administrativos para adotarem práticas consonantes

com a Cultura de Paz, ampliando o bem-estar e qualidade de vida no

trabalho. A Cultura de Paz estando presente nas relações de trabalho

afetará os serviços oferecidos pela universidade, interferindo na maneira

como nos relacionamos, produzimos conhecimento e formamos

profissionais cidadãos.

Esperamos que as informações e

concepções aqui presentes possam se

inserir dentro das práticas de trabalho,

implementando uma universidade mais

pacífica, inclusiva e justa para todos.

22
29
6 REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
BOBBIO, Norberto. O problema da Guerra e as vias da Paz. São

Paulo: UNESP, 2003.

BOSI, Alfredo. Dialética da Colonização. São Paulo: Companhia das

Letras, 2013.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.

Departamento de Atenção Básica. Por uma cultura da paz, a

promoção da saúde e a prevenção da violência. Brasília: Ministério

da Saúde, 2009.

GALTUNG, Johan. Peace by peaceful means. London: Sage, 1995.

GUIMARAES, Marcelo. Educação para a paz: sentidos e dilemas.

Caxias do Sul: EDUCS, 2005.

KOCH, Adolar. Cultura da Paz: Perspectivas. In: DOS SANTOS, José

Vicente Tavares, e MADEIRA, Lígia Mori (Orgs.) Segurança cidadã.

Porto Alegre: Tomo Editorial, 2014.

MOULIN, Erika. Comunicação Não- Violenta (CNV): O que é e como

praticar. Instituto CNV Brasil. Disponível em:

<https://www.institutocnvb.com.br/single-

post/comunica%C3%A7%C3%A3o-n%C3%A3o-violenta-cnv-o-que-

%C3%A9-e-como-praticar>. Acesso em: 20 de jan. de 2022.

MENDES, Tatyane. O que é Comunicação Não-Violenta (CNV) e como

aplicar o conceito. Na prática, 2021. Disponível em:

https://www.napratica.org.br/comunicacao-nao-violenta/

30
​PATOU-MATHIS, Marylène. (2020). As origens da violência. O Correio

da Unesco, 2020 (1). Disponível em https://pt.unesco.org/courier/2020-

1/origens-da-violencia.

ROSENGER, Marshall B. Comunicação não violenta: técnicas para

aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. São Paulo:

Ágora, 2006.

TREVISAM, Elisaide; LEISTER, Margareth A. A TOLERÂNCIA ÀS

DIVERSIDADES: BASE DA EFETIVAÇÃO DA SOCIEDADE

DEMOCRÁTICA. In: Seminário Internacional de Direito - SEMIDI, III,

2014, Lorena. Anais eletrônicos. Lorena, 2014, p. 1-12. Disponível em

http://www.lo.unisal.br/direito/semidi2014/publicacoes/livro4/Elisaide%20

Trevisam%20e%20Margareth%20Anne%20Leister.pdf.

UNESCO. Declaração de princípios sobre a tolerância. Tradução da

Universidade de São Paulo. São Paulo: USP, 1997.

VASCONCELOS, Carlos Eduardo de. Educação para a Paz. Relações

Interpessoais e Mediação de Conflitos. Recife: Fundação Joaquim

Nabuco, 2006.

WEIL, Pierre. A arte de viver em paz. São Paulo: Gente, 1990.

31
7 CRÉDITOS
Essa cartilha foi elaborada durante o ano de 2021, como parte do

Projeto de Educação para a Saúde sobre a Cultura de Paz e envolveu

os seguintes profissionais da Divisão de Promoção da Saúde da

UFRGS:

Andrei Gaviraghi – Bolsista DAS/DPS

Camila Menezes Ferreira Guerreiro – Psicóloga

Carine Gatto – Assistente Social

Carolina Meira Moser – Médica Psiquiatra

Djanir de Freitas Brião – Enfermeira

Fernanda Arioli Heck – Psicóloga

Francisca Maria de Freitas Marcelino - Auxiliar de Enfermagem

Gislaine Thompson dos Santos – Enfermeira

Glaci Rodrigues Leal - Auxiliar de Enfermagem

José Menna Oliveira – Médico Psiquiatra

Luciani Mendes de Oliveira da Fonsêca – Médica Pediatra

Mariana Bello Porciuncula – Enfermeira

Mariana Valls Atz - Psicóloga

Milton Humberto Schanes dos Santos – Médico

Patrícia Costa Azevedo – Assistente Social

Viviane Cordova Jardim Votto – Auxiliar de Enfermagem

Viviane Fernandes Silveira Almeida - Auxiliar de Saúde

Willian Mella Girotto – Psicólogo

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