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Introdução
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A Polícia e a Política de IlIformações 110 Chile durallte o Govemo Pilloc/Jet
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especialmente quando as penalidades são severas.
Todas as instituições, dos casamentos aos mercados, enfrentam proble
mas de informações, e a polícia não é exceção. Na verdade, a polícia é um foco
particularmente apropriado para os estudantes de política também por outras
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Supremo da Nação". Alguns dos membros da comissão sugeriram, com base
no artigo 60 da Constituição de 1925, segundo o qual o presidente era o "chefe
do Estado e comandante supremo da nação", que a Junta havia assumido o
controle apenas da presidência, mas não do Legislativo. Mesmo que se tivesse
responsabilizado pelo Poder Legislativo, os membros da comissão também
discordavam de que a Junta houvesse assumido, em conseqüência, o poder
tituinte para redigir uma nova carta: no momento do gOEe, a Junta não
cons
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ADINA (1973-1977)
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A Polícia. aPolíticade IlIformações 110 C"ile dl/rallte o GO/lemo Pinoc".t
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Ano Número
1973 1.848
1974 401
1975 149
1976 155
1977 34
1978 13
1979 21
1980 27
•
1981 43
1982 13
1983 94
1984 91
1985 80
1986 70
1987 51
1988 48
1989 34
1990 6
Total 3.178
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A CNI (1977-1989)
A CNI foi mais que uma simples continuação da DINA com nome
diferente. No contexto de uma mudança geral no caráter do governo, a CNI foi
criada como uma "organização militar de caráter técnico e profissional" encar
regada de reunir e de processar informações de inteligência. Enquanto a DINA
havia sido um corpo autônomo, separado da hierarquia militar, a CNI foi posta
sob controle mais rígido, sob a jurisdição do Ministério da Defesa, e se reportava
ao presidente através do Ministério do Interior. Re resentou a vitória dos
B
"arquitetos" (como Mena) sobre os "exterminadores", ainda que estes jamais
tenham sido inteiramente marginalizados. Contreras deixou preciosos arquivos
para a nova liderança da CNI, mas, embora alguns de seus homens tenham
continuado a trabalhar sob o novo líder, sua cooperação para com ele foi definida
67
como "parcimoniosa".
Um exemplo da diferença entre as duas instituições está no fato de que
a liderança da CNI assumiu uma presença pública mais aberta. Quase não
houvera imagens públicas de Manuel Contreras, nenhuma entrevista, nem fotos
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nos jornais. Conhecia-se sua identidade, mas pouco mais que isso. Em nítido
contraste com essa prática, pouco depois de assumir o cargo Mena convocou uma
reunião com as autoridades eclesiásticas para "se apresentar". Embora os resul
tados dessa reunião tenham sido parcos devido ao contexto - o que, talvez, não
seja s �reendente - esse tipo de presença pública marcou uma mudança no
regime. 8
Durante o período em que Mena foi diretor da CNI (1977-1 980) a Vicarla
informou que o número de pessoas mortas também caiu drasticamente (ver
Tabela), e o Infonne Rettig (cujas informações vieram, em grande pane, dos
arquivos da Vicarla) observa que os poucos desaparecimentos que efetivamente
69
ocorreram nesse período não devem, provavelmente, ser atribuíveis à CNI.
Por volta de 1 980, contudo, o modus operandi da CNI começou a mudar.
Os membros do MIR voltaram do exílio e iniciaram operações clandestinas, e o
Partido Comunista renegou seu tradicional princípio pacifista e decretou que
"todas as formas" de resistência contra a ditadura eram legítimas - inclusive a
violência. Seu novo braço atmado foi chamado Frente Patri6tico Manuel RodTÍguez
(FPMR) e começou a operar no Chile por volta de 1980, junto com o MIR. Uma
das primeiras dessas atividades clandestinas foi o assassinato do tenente-coronel
Roger Vergara, pelo MIR, em julho de 1980. Pouco depois desse evento Mena foi
1°
substituído pelo general Humberto Gordon, mais "linha dura", e a CNI
aumentou suas ações repressivas contra o MIR e o FPMR.
O antigo pessoal da DINA começou a aparecer mais nessa época, à
11
medida que crescia a repressão, mas a CNI nunca reverteu às velhas táticas da
DINA. Depois do Decreto de Anistia de 1978 não mais haveria, tecnicamente,
nenhuma proteção legal para abusos dos direitos humanos.
Ao contrário da DINA, a CNI exerceu a coerção de maneira muito mais
dirigida, organizada e disciplinada. Enquanto a DINA utilizara a tortura gener
alizada e os desaparecimentos, a CNI usou a tortura mais seletivamente e, nos
poucos desaparecimentos que ocorreram depois de Mena (1989-1989), os agentes
da CNI não deix aram, virtualmente, quaisquer vestígios que pudessem ser
recolhidos pelas organizações de direitos humanos. A maior pane das vítimas da
CNI foi morta em falsos "choques" entre prisioneiros. A negação de responsabili
dade plausível, nesse caso, tomou a fOIDl3 de declarações de que as vítimas teriam,
ou atacado oficiais, ou, simplesmente, se matado umas às ounas em disputas
doutrinais. Os corpos não foram ocultados, mas devolvidos às respectivas
f:anu'I'las. 72
Resumindo, a CNI operou dentro de um contexto legal e polltico
radicalmente diver!\o e aprendeu com os erros da DINA, mesmo quando enfren
tou suas próprias pressões internas para aumentar a repressão em reposta a novas
circunstâncias estratégicas.
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A Policia e a Politica de Infonnações no Chile durante o GOlfemo Pinochet
prindo pena na prisão. Donoso admite seu erro, hoje, e afirma que se tivesse
sabido então o que sabe agora não teria posto sua carreira em risco por uma
n
declaração equivocada
As conseqüências políticas das renúncias, mais a dissolução da DI
COMCAR, sugerem que os assassinatos não estariam claramente vinculados
a um esquema mais amplo. Foram confusos, de uma maneira que lembrava a
DINA. Os advogados encarregados da acusação argumentaram que pelo
menos dois objetivos pareciam presentes no crime. Primeiro, o alto comando
dos Carabineros acreditava que policiais demais haviam sido mortos em confron
tos com manifestantes, muitos dos quais eram comunistas. Muito provavel
mente, a decisão de matar três proeminentes comunistas tinha a intenção de
enviar um recado a essa organização ou, no mínimo, de tirar uma certa dose de
vingança. O segundo objetivo parece relacionado com as confissões do ex-oficial
da Aeronáutica, Andrés Valenzuela Morales, que havia fornecido à Vicaria
informações detalhadas sobre o funcionamento interno do Comando ConjullIo,
uma organização altamente secreta de contra-revolução composta de membros
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de vários ramos das forças armadas, inclusive alguns antigos agentes da DINA
Pelo menos uma das vítimas, José Manuel Parada, parece ter sido selecionada
por seu conhecimento dessas declarações. (Como encarregado de informações na
Vicaria Parada havia sido, supostamente, responsável por documentar a con
'J9
fissão).
Uma possibilidade é que agentes da DICOMCAR teriam inferido que a
Vicaria, como a organização com informações mais extensas e sistemáticas sobre
o aparelho repressor da ditadura, teria vazado secretamente essas inform ações
aos comunistas (e à FPMR), que as teriam utilizado para planejar ataques contra
,
os Carabineros. E possível que os perpetradores tenham apontado Parada como o
elemento-chave na rede de informações: ele era comunista e, além disso, o
administrador das informações na Vicaria.80
81
Ainda que esse tenha sido o motivo dos assassinatos, a cooperação entre
a CNI e os tribunais indica que os Carabineros agiram sem coordenação com
outros ramos do governo e das Forças Armadas. E é dificil considerar as renúncias
e os julgamentos como outra coisa que não um fracasso de espantoso custo
, ' '82
poImco.
Desses custos políticos, os mais importantes giram em torno dos termos
estabelecidos pelos "arquitetos" do regime na Constituição de 1980. Eles esta
beleceram um plebiscito em 1988 para determinar se Pinochet continuaria no
poder por outros nove anos. Embora parte da oposição tenha defendido um
boicote ao plebiscito, alegando que ele legitimaria a constituição de Pinochet,
• outro setor advogava a tentativa de derrotar a ditadura no contexto dos termos
que ela mesma havia estabelecido para sua própria transição, indo às urnas e
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14. Ver Pierre Bourdieu, Oulline Dfa (Nova York, Vintage Books, (958); e
Iheory Dfpracrice, tradução de Richard Charles Tilly, "War making and state
Nice (Cambridge, Cambridge University making as organized crime", in Peter
Press, 1977). Também Sabel argumenta Evans et al" Bringing lhe state back in Para
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24. Ver Eugenio Abum.da et. aI., Chile: lo. 29. Por exemplo, o general Alejandro
",emcru. prohbida,
i p. 386. A natureza Medina, chefe, nesse período, da unidade
dessa reunião tornou-se, recentemente, de elite dos boinas negras do Exército,
objeto de debate. Os jornalistas acreditava que "o país estivera em um
informaram que, de acordo com o estado de guerra até, pelo menos,
ex-membro da Junta e ex-director general novembro de 1973". Seu suvenir de
dos Carabineros, César Mendoza, Aylwin combate é uma boina com um buraco de
entrou na reunião "com um sorriso que bala recebido enquanto a tinha na cabeça.
achei surpreendente, considerando que "Estou vivo", disse ele com insolência
ainda se ouviam úros nas ruas", Mendoza característica, "graças à má pontaria
disse ainda que Aylwin simplesmente se desses 1010s". (Entrevista, 26 de outubro
apresentou e declarou que ele e os de 1995).
democratas cristãos estavam agradecidos
à Junta por (Cf livrado o país do jugo 30. bz/OIme Rettig, capítulo n. Ver
marxista. Aylwin, por outro lado, recorda também Elías Padilla, La me ..mia y el
que o propósito e a natureza da reunião olvido: detenidos desaparecidos en Chile
foram simplesmente "esclarecer o recesso (Santiago, Ediciones Orígenes, 1995).
político" no país e expressar a
preocupação de seu panido ante os 3J. O general Gustavo Leigh,
abusos contra os direitos humanos que comandante em chefe da Aeronáutica e
vinham sendo cometidos. Segundo um dos quatro membros da Junta,
Aylwin, o revólver de Merino era o procurou, em novembro de 1973, se
indicador mais claro das intenções da aconselhar sobre um plano para impor
Junta. (Ver "Polémica por visita de ordem a um processo de detenções
Aylwin a la Junta",La Tereera, 8 de abril reconhecidamente caótico. Consultou o
de 1997, p. 9.) advogado Miguel Schweitzer, que
elaborou um projeto de reorganização
25. Ver 1nfo17l1e Rettig, p. 47.
que não envolvia a criação de wna
26. Decreto-Lei nO 527. organização do tipo da DINA. Seu
projeto, claro, jamais foi adotado.
27. Decreto-Lei nO 806, de 16 de
(Miguel Schweirzer, Entrevista, 17 de
dezembro de 1974.
dezembro de 1996).
28. Ver Genaro Arriagada, Pinoehet: the
politics ofpower (Boston, Unwin Hyman, 32. Citado em Pamela Constable e Arruro
1988). Ver, também, Carlos Huneeus, "EI Valenzuela,A nalion Dfenemics, p. 20.
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la Comisión Naconal
i
Reco�eiliaei6n (Santiago, La Nación e 39. José Zalaquett observou que "a partir
Ediciones Ornitorrinco, 1991), p. 42·8, de fevereiro de 1974 os métodos
451·8. Contreras era um oficial mudaram, súbita e radicalmente. Os
condecorado, mas não um especialista em serviços de inteligência não mais
serviços de informações. O general divulgavam as morres, c as pessoas
Odlanier Mena erigiu sua carreira no detidas começaram a desaparecer",
campo da inteligência militar e tomou-se (Discurso perante o Subcomitê de
um dos mais sérios críticos de Contreras. Organizações Internacionais, Câmara dos
(Mena viria, mais tarde, a ser o chefe da Estados Unidos, 1976, citado in Eugenio
CNI depois da queda de Contreras). Ver Abumada et. ai., Chile: la menut1Ía
Ascanio Cavallo, Manuel Salazar e Oscar prohibida [Santiago, Pehuén, 1989], p.
Sepúlveda, Chile, 1973·1988: la hisrmia 389).
oculta deI régimen militar (Santiago,
Editorial Antártica, 1990), p. 134 46. 40. Uma cópia do convite para essa
reunião existe em Assunção, no "Archivo
35.No Chile, as leis não entram em vigor
del Te/fOi" (os arquivos do Departamento
antes de sua publicação no Diana Oficial.
de Polícia de Assunção descobertos em
Dessa fonna, os artigos secretos
1992). Data de outubro de 1975 e diz: "O
atendiam, tecnicamente, à exigência de
Coronel Contreras roga ao Sr. General
publicação.
Brites (Chefe de Polícia de Assunção)
36. Ver Informe Ret1Íg, p. 62·9. José honrá-lo com sua presença,
Zalaquen, um importante advogado acompanhado por alguns assessores, se
defensor dos direitos humanos à época, assim o desejar, já que espera que esta
que participou da criação do Comité por la Reunião possa ser a base de uma
paz en Chile, notou que os observadores excelente coordenação e melhor atuação
de direitos humanos, com base nas em beneficio da Segurança Nacional de
operações da DINA, deduziram com nossos respectivos países". A reunião
bastante precisão o conteúdo desses realizou-se em Santiago, de 2S de
artigos secretos. (Entrevista, 16 de novembro a I de dezembro de 1975. Um
setembro de 1996). relatório interno do Sr. Brites em
resposta ao convite, que também está
37. O mesmo é verdade para
guardado no arquivo, sugere que a
I1lvestigaeio1les de Chile, a força policial
coordenação entre as agências de
civil do país.
informações do Chile e do Paraguai
38. Durante o período inicial um grande carecia de algumas peças básic.as de
número de pessoas de todo o espectro informação. Escreve Brites: "E de
político foi morto pelas Forças Armadas. surpreender que não se tenha feito
Esse grupo incluiu indivíduos da nenhuma consulta prévia a este respeito.
esquerda, do centro, da direita e até A Polícia da Capital não atua em nível
muitos que não tinham qualquer ftliação nacional". (Folia 47.DI, Centro de
política Ver InfOime Reuig, capo 2. Elías Documentación y Archivo para la
PadHla relata que a maior parte dos Defensa de los Derechos Humanos,
desaparecidos antes da DINA não tinha Assunção, Paraguai). O Paraguai aderiu
filiação política conhecida, enquanto oficialmente à Operación Condor em julho
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relatório da OEA sobre a situação dos
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A Polícia c a Política de Informações no Chile durante o GOllentO Pinochet
instituição, são julgados em tribunais 84. "Se é preciso falar com o Diabo, pois
militares e não nas cortes civis. que se fale com o Diabo!"
74. Inlomle Re/tig; Maldonado, 85. Jaime Castilio, entrevista em 1 3 de
"Carabineros" . novembro de 1995; e Andrés
75. Ver Nelson Caucoto e RéclOr Salazar, Domínguez, entrevista em 1 6 de agosto
Un verde manto de impllnidad (Santiago, de 1995.
Ediciones Academia e FASIC, 1994),
86. Castillo, entrevista e Domínguez,
relato do caso escrito pelos advogados da
entrevista.
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ClrCUnStanC13S e componamen[Qs
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