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RESUMO
O presente trabalho tem como tema as contribuições de Emmi Pikler para a compreensão do desenvolvimento de
crianças bem pequenas. Tem-se como objetivo depreender dessas contribuições o papel do educador frente a
esse desenvolvimento. Para tanto, foram consultadas obras da própria autora e de seus intérpretes e
colaboradores. O trabalho está dividido em três seções: a primeira está destinada à compreensão da história de
vida de Emmi Pikler; a segunda ao entender a abordagem da pesquisadora; e, a terceira à pensar na função do
educador na primeira infância nos momentos de cuidados, na valorização do vínculo e no tempo de qualidade
dedicado aos bebês. A abordagem baseada em Pikler destaca a relação entre o adulto e a criança pequena como
importante no campo da pedagogia; diz respeito a uma educação infantil de qualidade, humanizada e dedicada
aos cuidados essenciais e destaca, ainda, o papel das observações e da reflexão constante do educador para o
reconhecimento das crianças de zero a três anos como indivíduos, para que possam descobrir todas as formas
possíveis de se movimentar e se desenvolver.
Palavras-chave: Autonomia. Criança 0 a 3 anos. Cuidados. Educador. Vínculo.
Introdução
1
Maria Montessori (1870-1952) foi uma psiquiatra italiana que, a partir de observações do comportamento das
crianças em liberdade, desenvolvou sua abordagem de educação caracterizada pela autonomia, liberdade com
limites e respeito pelo desenvolvimento natural das habilidades físicas, sociais e psicológicas das crianças, em
ambientes e com materiais que proporcionem condições para esse desenvolvimento.
3
o dia a dia das crianças. Assim, a respeito disso, Soares (2017, p. 18) destaca que
depois de alguns meses no instituto Emmi Pikler percebeu que as crianças estavam
sendo cuidadas de forma mecanizada e apressadas contrariando suas convicções já
que os momentos de cuidados representam a melhor oportunidade para a construção
do vínculo afetivo entre a criança e o adulto de referência.
Essa constatação enriqueceu bastante sua pesquisa e, com o passar dos anos, Pikler
comprovou a eficácia da abordagem baseada na relação afetiva, na liberdade de movimento e
na importância da convivência com adultos delicados e afetivos. Isso, inclusive, durante os
cuidados como alimentação, banho e troca de fraldas, de modo a considerar as necessidades
individuais e reagir a cada manifestação da criança, dando a oportunidade para o bebê
interagir.
Em 2006, a União Europeia determinou que o atendimento às crianças em situação de
risco fosse realizado por famílias acolhedoras, iniciando, dessa forma, o processo de
fechamento dos abrigos. Em Soares (2017, p. 20) vemos que
o Instituto foi desativado aos poucos, não recebendo novas crianças a partir desta
data e, em 2011, foram transferidos os últimos abrigados que lá viviam. Desde
então, o prédio da rua Lóczy funciona como centro de educação infantil, que atende
a crianças de 0 a 3 anos e 11 meses, segundo a abordagem Pikler. Neste mesmo
prédio, encontra-se a associação Pikler-Lóczy, um centro de estudos e divulgação,
que promove cursos de formação em diversas línguas, atraindo profissionais de
várias partes do mundo.
2 A Abordagem Pikler
[...] o bebê é um ser capaz ativo se o adulto de referência espera e recebe os sinais de
reciprocidade. O vínculo afetivo com o adulto é fundamental para o
desenvolvimento pleno e o momento dos cuidados é o mais propício para que ele
aconteça. Com segurança afetiva, o bebê e a criança pequena podem se movimentar
livremente por longos períodos, sempre assistidos de um adulto. O brincar livre em
ambiente seguro desenvolve iniciativa e autonomia e provoca flexibilidade,
equilíbrio e alegria.
as sinapses neurais produzidas nos três primeiros anos de vida modelam o cérebro
em relação à motricidade, à psique, à aprendizagem e a experiências afetivas e
amorosas, que são resultantes das interações. Dessa forma, as experiências
vivenciadas pela criança pequena, sejam positivas ou negativas, e as condições
afetivas, materiais, sociais e culturais são determinantes para a maturação, a saúde
mental e a expressão de suas potencialidades e competências. (SOARES, 2017, p.
30)
consideramos fundamental que a criança participe dos cuidados de seu corpo e que,
ainda que não possa se vestir sozinha nessa idade, observe os detalhes, acompanhe o
processo de fala da educadora mesmo que não esteja em condições de participar
concretamente. A cadeia de interação se interromperá de quando em quando, mas as
educadoras devem procurar atrair intencionalmente o olhar da criança e se esforçar
por fazer ressurgir a interação (FALK, 2011, p. 88).
Ademais, de acordo com Falk (2011, p. 20), a partir das observações, regulares e
permanentes, sobre o desenvolvimento de sua primeira filha, Anna Tardos, Pikler destacou
que
se o adulto nomeia o que está sendo feito e antecipa o que vai acontecer em seguida
facilita o início da construção de imagem em sua mente- as primeiras representações
mentais-, base do pensamento. As codificações e decodificações de sinais e gestos
antecipados que se transformarão, mais tarde, na linguagem verbal (SOARES, 2017,
p. 22).
educador deve ser delicado com a criança e explicar o que está acontecendo”.
Desse modo, para que a autonomia do bebê seja respeitada e a troca aconteça com
segurança, Soares (2017, p. 26) complementa que “para que isso seja possível, sem riscos, os
trocadores são cercados por uma grade de segurança e projetados na altura do adulto”.
Ademais, o momento da retirada das fraldas é muito importante na vida da criança
pequena e não deve ser escolhido pelo adulto, mas, sim, definido pela necessidade de cada
criança, sendo esse um passo imprescindível em direção à autonomia e ao autocontrole.
Conforme apresentado por Papalia e Feldman Duskin (2013, p. 228), “o treinamento do
controle das necessidades fisiológicas é um passo importante em direção à autonomia e ao
autocontrole; o mesmo acontece com a linguagem”.
As referidas autoras ainda acrescetam que
ela em palavras ou gestos; falar sobre as parte do corpo que estão sendo tocadas; apresentar os
objetos que estão sendo utilizados durante o banho e a troca de roupa e deixar a criança
manipula-los, ajudam o bebê a construir seu esquema corporal. Conforme reiteirado por
Soares (2017, p. 23),
quando o educador fala sobre a parte do corpo que está sendo tocada, ajuda o bebê a
construir seu esquema corporal, que é a experiência imediata da unidade dos
segmentos do corpo e a posição que ele ocupa no espaço. O esquema corporal
resulta da organização cognitiva e afetiva de cada um, sendo construído e
reconstruído pelas continuas alterações da posição do corpo no espaço. Ele favorece
a aquisição das habilidades motoras.
Outro fator importante para o desenvolvimento do bebê é a hora de dormir; o que não
não deixa de ser, também, um momento de cuidado. Essa não deve se tornar tortura, o que
normalmente ocorre ao colocar a criança deitada até que durma.
A Abordagem Pikler nos mostra que, se o bebê tem regularidade, a ação do educador
mostrará a ele que chegou o momento de descansar um pouco. Assim, conforme Soares
(2017, p. 27), “a educadora não deve forçar a criança a dormir, mas acalmá-la durante o
processo de troca, por meio de um diálogo suave, explicando que está chegando a hora de
dormir e descansar, e que logo mais poderá retornar à brincadeira”.
A partir das observações de Emmi Pikler, portanto, podemos compreender a maneira
que o bebê percebe a si mesmo e o seu entorno, por meio das funções do seu próprio corpo e
de toda a manipulação feita nele, quando carregado, alimentado, na hora do banho, da troca de
fraldas e roupas, e nas atividades relacionadas aos cuidados.
Como apresentado por Falk (2017, p. 66),
prontos, e o cronograma interno de cada bebê é que dirá quando isso acontecerá”
(GONZALEZ-MENA; WIDMEYER-EYER, 2014, p. 145). Por esse motivo, os bebês e as
crianças pequenas precisam de liberdade para se moverem e experimentarem uma variedade
de formas; para utilizarem as habilidades que já possuem e desenvolverem-se de maneira
saudável.
Portanto, é imprescindível permitir que o bebê mude de posição sozinho, sem
intervenção. Conforme reiterado por Gonzalez-Mena e Widmeyer-eyer (2014, p. 145), “o
processo de posicionar-se é mais importante do que estar na posição - esse processo incentiva
o desenvolvimento. Os bebês ficam prontos para levantar depois de conseguirem sentar e
engatinhar, e não porque alguém os coloca em pé”.
O adulto não precisa ensinar aos bebês suas habilidades motoras básicas, como
agarrar, sentar, engatinhar ou andar; eles precisam de espaço e autonomia para se movimentar
em liberdade. Papalia e Fedman (2013, p. 159) afirmam que o desenvolvimento motor
acontece quando o “sistema nervoso central, músculos e ossos estão preparados e o ambiente
oferece as devidas oportunidades para a exploração e a prática, os bebês continuam
surpreendendo os adultos ao seu redor com novas habilidades”. Isto é, não é preciso forçar as
habilidades do bebê, uma vez que o ser humano é perfeito, com seu corpo, e sabe a hora certa
de realizar suas capacidades, basta estar seguro e preparado.
Logo, as funções do educador, na perspectiva da Abordagem Pikler, passam a ser de
preparar bem o ambiente, permitindo, assim, que a criança possa vivenciar experiências ricas;
garantir a segurança e manter o foco nela.
Além disso, outras condições para assegurar a liberdade de movimento são roupas que
não atrapalhem e calçados flexíveis, quando necessário. Sempre que for possível, é importante
deixar a criança descalça, pois os dedos dos pés fazem o equilíbrio e são os reguladores da
postura.
De acordo com Falk (2011, p. 48),
Considerações finais
Por tudo que sua abordagem representa, Emmi Pikler nunca foi tão atual. A adoção de
13
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017.
Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf
Acesso em: 20 mar. 2020.
FALK, Judit. Abordagem Pikler educação infantil. 1ª ed. São Paulo: Omnisciência, 2010.
FALK, Judit. Abordagem Pikler educação infantil. 2ª ed. São Paulo: Omnisciência, 2017.
FALK, Judit. Educar os três primeiros anos: a experiência de Lóczy. Araraquara, São
Paulo: Junqueira&Marin, 2011.
MARTINS FILHO, Altino José (coord.). Educar na creche: uma prática construída com os
bebês para os bebês. Porto Alegre: Mediação, 2016.
SOARES, Suzana Macedo. Vínculo movimento e autonomia educação até três anos. São
Paulo: Omnisciência, 2017.
Visando contribuir para tomada de decisões de um retorno seguro e de qualidade para as crianças,
os profissionais da educação e as famílias, nos pautamos nos quatro princípios fundamentais da
Abordagem Pikler que formam uma unidade indissociável e coerente:
Esses princípios, que não tem um grau de importância vertical e que são combinados para que
haja um ambiente sócioemocional equilibrado, subsidiam os Direitos preconizados pela Aborda-
gem Pikler, que norteiam as ações de quem cuida e educa bebês e crianças pequenas. São eles:
O valor da atividade livre iniciada pela própria iniciativa, que a criança realiza livremente de manei-
ra autônoma tem um valor fundamental para o desenvolvimento infantil. Com isso, ela aprende a
observar, a agir, a utilizar seu corpo, sentir os limites as possibilidades, a modificar o movimento,
seus atos; aprende a aprender, ou seja, desenvolve sua competência.
Realizar ações competentes, utilizando o repertório de comportamentos que dispõe em determina-
da fase de seu desenvolvimento é importante para desenvolver a valoração positiva e conhecimento
de si mesma.
*O movimento livre é um princípio transversal. Ele está presente nos momentos de atenção pessoal -
alimentação, trocas, banho e sono - assim como no brincar ou em qualquer ação no cotidiano.
O valor das relações afetivas estáveis em contexto institucional: Relação afetiva e qualidade do
cuidado.
O valor das relações pessoais estáveis da criança – e dentre estas, o valor da relação com uma
pessoa em especial - o educador de referência. O adulto a quem a criança busca e se reporta e
oferta à criança atenção individualizada e contínua, em diferentes situações, inclusive naquelas de
cuidado individualizado, durante os momentos de atenção pessoal.
Toda equipe realiza um esforço constante para conhecer a forma e a qualidade na atenção que se
oferece à criança, a fim de lhe garantir segurança e bem-estar.
A criação de um clima afetivo positivo para as crianças permitirá que participem do ambiente se-
gundo seu grau de interesse, - determinado pela maturidade funcional e pela riqueza dos experi-
mentos e experiências anteriores, compreendendo que a atividade autônoma guia a ação de quem
cuida da criança, ao estabelecer as condições para esta atividade.
1 – Direito de ser aceita em sua singularidade, a ser tratada com compreensão, cuidado e respeito
e a ser protegida de toda manifestação de violência, implícita ou explícita, seja física ou verbal;
2 – Direito de desfrutar de uma relação atenta, amistosa e de apoio por parte dos adultos cuidado-
res, que a conhecem e levam em conta suas necessidades físicas e psíquicas;
3 – Direito a uma vida saudável, com zelo pelo seu bem-estar físico, cuidado com sua alimentação,
vestuário e momentos de descanso, assim como de suas atividades e brincadeiras livres, sempre
segundo suas necessidades individuais;
4 – Direito de receber cuidados pessoais sem pressa, e de experimentar um tratamento individuali-
zado, pessoal e delicado durante a satisfação de suas necessidades físicas;
5 – Direito à continuidade e estabilidade de suas relações pessoais, condições de vida e ambiente ma-
terial, e que os eventos de sua vida diária sejam previsíveis e transparentes para ela. A criança tem o
direito de influenciar seu ambiente e, através disso, desenvolver uma imagem positiva de si mesma;
6 – Direito à observação e promoção de seu desenvolvimento, respeitando seu ritmo individual, sem
confrontá-la com expectativas além de seu estado de desenvolvimento;
7 – Direito de ter oportunidades para sua atividade autônoma, que sejam apropriadas e suficientes
para desenvolver-se a partir do movimento e do brincar livres, descobrindo seu entorno por sua pró-
pria iniciativa e com o acompanhamento de um adulto interessado em seus desejos e descobertas;
8 – Direito de receber o apoio para que possa se sentir bem e segura dentro de um grupo pequeno
de crianças em seu processo de socialização, levando em conta suas possibilidades de convivência
e de interação com seus pares;
9 – Direito de expressar suas emoções, compartilhando sua alegria e sua dor em um ambiente
empático, que a console quando necessário e a ajude a dominar seus impulsos;
10 – Direito de receber dos adultos que cuidam dela um apoio que constitua uma ponte entre a
escola e a casa, por meio do qual seus pais possam acompanhar os acontecimentos do seu dia a
dia e poder sentir que, durante o tempo em que permanece na escola, o mais importante para ela
é sua família.
Na mudança histórica que afeta a todos nós, decorrente da pandemia do COVID-19, o acesso à
informação de modo horizontal e um olhar atento e agregador para os profissionais cuidadores
determinará o percurso de cada instituição com a implementação de novos protocolos de retorno
às atividades. Cada profissional necessitará de um espaço de escuta qualificada, para que possa ir
se assegurando sobre seus limites e possibilidades. Entendemos ser fundamental, antes de tudo,
cuidar de quem cuida.
Neste momento de transformação social com impacto em todas as políticas públicas, pensar a se-
gurança e a qualidade dos espaços escolares, prevê uma apropriação adequada das orientações de
higiene e limpeza, mas requer também, e sobretudo, uma postura e um envolvimento profissional
que assegure o Afeto como ferramenta de qualificação do cuidado.
A partir dos princípios norteadores da Abordagem Pikler, e em consonância com as legislações de
proteção à criança, entendemos que, num momento de retomada da rotina institucional, devemos
pensar e atuar os cuidados através de mãos gentis, de corpos repletos de inteireza afetiva, refle-
xo de um adulto cuidador atento às necessidades de saúde física e emocional das crianças.
A Rede Pikler Brasil convoca todos os profissionais que estão em contato com as crianças nesse pro-
cesso de retorno às atividades presenciais voltadas à atenção à Primeira Infância, a afirmarem o com-
promisso do respeito ao bebê e à criança, reconhecidos como pessoa em desenvolvimento, que requer
uma atenção personalizada, estabelecida através de uma relação afetiva com seu adulto cuidador.
Esta relação de boas práticas de prevenção, preconizadas pelos órgãos sanitários, são aqui apre-
sentadas e incentivadas com o desafio e o compromisso de garantir o direito da criança e a atenção
às famílias, à luz da Abordagem Pikler.
São objetivos essenciais das ações preventivas propostas neste protocolo de cuidados, a constru-
ção de um senso coletivo de prevenção e a redução de riscos de transmissão por contato direto
pessoa-pessoa, e indireto, pessoa-ambiente-pessoa.
Entende-se por senso coletivo de prevenção o efeito positivo gerado por um novo comportamento
frente às boas práticas de prevenção. Quando praticadas de forma mútua, cultivam o respeito à
vida do outro no mesmo momento que nos respeitam e cuidam. A partir do controle diário de tem-
peratura, do distanciamento social, da individualização de pertences e objetos e da prática correta
da etiqueta respiratória, poderemos promover um ambiente seguro, tanto sob o aspecto do acolhi-
mento quanto do aspecto sanitário, de grande importância para este momento.
A ampla e transparente informação sobre a doença Covid-19, a organização de pequenos encontros
para dar voz à equipe e a clareza sobre a transmissão predominantemente por contato respirató-
rio, também se constituem como importante forma de acolhimento e segurança; gradativamente o
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Universidade Estadual Paulista – UNESP, campus de Presidente Prudente, SP. E-mail: renatapavesi@hotmail.com
RESUMO
O artigo é proveniente dos estudos realizados sobre a abordagem Pikler para promover a formação
de professores e aprimoramento do trabalho desenvolvido em uma creche universitária, tendo como
enfoque a organização dos espaços para bebês. O objetivo é apresentar contribuições piklerianas
para a organização do espaço institucional para bebês (crianças com até 1 ano e 6 meses de idade).
Como metodologia adotamos a pesquisa bibliográfica. A abordagem Pikler tem origem em Budapeste
com a médica húngara Emmi Pikler que conduziu os trabalhos de educação e cuidados de crianças
órfãs a partir de 1946. Ao estudar a abordagem Pikler entendemos o espaço como suporte para
apoiar os bebês em suas aquisições motoras e na sua inserção no mundo. O espaço amplo, com
pouco, mas adequado mobiliário e com materiais pensados e selecionados para as especificidades da
faixa etária, possibilita que o bebê vivencie o espaço com o seu corpo e, desta maneira, consiga
gradualmente perceber e se inserir no mundo que o rodeia. As ações de organização do espaço, à luz
da abordagem Pikler, coloca o bebê no centro do processo pedagógico e suprimi a evidência e
protagonismo do adulto, ainda tão presente nesta etapa da Educação Básica. O bebê, potente, capaz
e atuante, precisa de um contexto que o apóie e o permita vivenciar a sua infância com liberdade e
cuidados.
Palavras Chave: Educação Infantil – abordagem Pikler – bebês – espaço – organização espacial
THE PIKLER APPROACH AND THE ORGANIZATION OF BABY SPACE IN CHILD EDUCATION
ABSTRACT
The article comes from the studies carried out on the Pikler approach to promote teacher training and
improvement of the work developed in a university day care center, focusing on the organization of
spaces for babies. The objective is to present piklerian contributions for the organization of the
institutional space for infants (children up to 1 year and 6 months of age). As methodology, we
adopted bibliographic research. The Pikler approach originated in Budapest with the Hungarian
physician Emmi Pikler who conducted the education and care of orphaned children from 1946. In
studying the Pikler approach we understand space as a support to support babies in their motor
acquisitions and their insertion in the world. The ample space, with little but adequate furniture and
materials thought and selected for the specifics of the age range, allows the baby to experience the
space with his body and, in this way, can gradually perceive and insert himself in the world that
surrounds him . The actions of space organization, in the light of the Pikler approach, place the baby
at the center of the pedagogical process and suppress the evidence and protagonism of the adult, still
so present in this stage of Basic Education. The baby, powerful, capable and active, needs a context
that supports him and allows him to experience his childhood with freedom and care.
Keywords: Child education – approach Pikler – babies – space – space organization
Colloquium Humanarum, vol. 15, n. Especial 2, Jul–Dez, 2018, p. 1-7. ISSN: 1809-8207. DOI: 10.5747/ch.2018.v15.nesp2.001067
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INTRODUÇÃO
O artigo é proveniente dos estudos realizados sobre a abordagem Pikler para promover a
formação de professores e aprimoramento do trabalho desenvolvido em uma creche universitária,
tendo como enfoque a organização dos espaços para bebês.
A abordagem Pikler foi escolhida para subsidiar o trabalho na instituição por oferecer
elementos teóricos e práticos acerca da educação e cuidados dos bebês, com ênfase no
desenvolvimento motor autônomo, possibilitando que a ação docente, no que tange a organização do
espaço, possa ser estruturada respeitando as características de crianças de até 18 meses de idade.
Esta abordagem tem origem em Budapeste com a médica húngara Emmi Pikler que conduziu
os trabalhos de educação e cuidados de crianças órfãs a partir de 1946 (FALK, 2010), no Instituto
Lóczy, hoje chamado Instituto Emmi Pikler.
Acreditamos que as práticas relacionadas à Educação Infantil no Brasil, mesmo tendo leis que
amparam, ainda se edificam em ações e práticas de senso comum. Evidenciamos também que os
espaços institucionais muitas vezes são adaptados e/ou não são adequados para o uso dos bebês.
Considerando ainda que muitas crianças ficam até 10 horas por dia nas instituições, o espaço que
ocupam se torna algo que precisa ser pensado criticamente, com cuidado e atenção aos detalhes.
Nesta perspectiva consideramos que pesquisas voltadas para o trabalho institucional com bebês são
necessárias e a estruturação do trabalho pedagógico com fundamentação científica é essencial na
Educação Infantil.
Este trabalho tem como objetivo apresentar contribuições piklerianas para a organização do
espaço institucional para bebês (crianças com até 1 ano e 6 meses de idade).
METODOLOGIA
A pesquisa caracteriza-se como qualitativa do tipo bibliográfica. Buscamos contribuições para
compreendermos a abordagem Pikler e nos fundamentamos em: Kálló e Balog (2017), Soares (2017),
Falk (2016), Fochi (2015), Gonzalez-Mena (2015), Gonzalez-Mena e Eyer (2014), Falk (2011). E para os
estudos sobre organização do espaço nos embasamos em: Cocito (2017), Ceppi e Zini (2013), Tuan
(2013), Barbieri (2012), Carvalho e Rubiano (2008), Horn (2004) e Forneiro (1998).
RESULTADOS
Na década de 30 a Drª. Emmi Pikler dedicou-se a estudar o desenvolvimento de bebês e
crianças pequenas: “formada em medicina e licenciada em pediatria, em Viena, na década de 20,
Pikler postulou conceitos importantes sobre o desenvolvimento motor de bebês, associando-se a
aspectos sociais, afetivos e cognitivos *...+” (FOCHI, 2015, p.51). Observando atentamente o
desenvolvimento de bebês e crianças pequenas Emmi Pikler, “não acreditava que o ser passivo se
tornasse uma pessoa ativa pelo impulso do adulto *...+” (FALK, 2011, p. 19), considerava qualquer tipo
de intervenção e instrução do adulto desnecessária.
Com base em suas convicções, ao nascer seu primeiro filho, Emmi Pikler e seu marido
decidem adotar alguns princípios: não acelerar etapas do desenvolvimento, respeito ao ritmo da
criança, incentivo a autonomia, movimento e brincar livre. Sobre a educação e cuidados do bebê de
Emmi Pikler, a primogênita Anna Tardos, Falk (2011, p.19) evidencia que:
Os pais nunca colocavam o filho numa posição que ele não pudesse adotar e abandonar
sozinho; nunca lhe propunham nem impunham diferentes classes de movimentos e se
abstinham de exercer uma influência direta sobre o seu desenvolvimento motor. Em troca,
criavam condições para que o filho pudesse passar dias com tranqüilidade e equilíbrio, que
tivesse sempre possibilidade de espaços e lugares necessários para a liberdade de
Colloquium Humanarum, vol. 15, n. Especial 2, Jul–Dez, 2018, p. 1-7. ISSN: 1809-8207. DOI: 10.5747/ch.2018.v15.nesp2.001067
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movimentos – inclusive mais possibilidades do que aquelas que a criança pudesse aproveitar
naquele momento.
Emmi Pikler passou a trabalhar com pediatria familiar e desenvolveu este trabalho, orientando
famílias por mais de 10 anos. Em 1940 ela publica seu primeiro livro: O que sabe fazer o seu recém-
nascido? E logo após o fim da 2ª Guerra Mundial (1945), Emmi Pikler passa a coordenar um orfanato,
localizado na Rua Lóczy em Budapeste na Hungria. É neste local que todos os ideais da Drª. Emmi
Pikler se consolidam, se tornando uma referência para a educação e cuidados de crianças em diversas
partes do Mundo (FALK, 2011).
Suas pesquisas permitiram que o desenvolvimento motor autônomo da criança, um dos eixos
estruturantes de sua abordagem, fosse descrito de maneira minuciosa através de 10 fases: partindo
do decúbito dorsal (fase 1) e chegando ao caminhar (fase 10): a criança passa da postura dorsal para a
elaboração do rolar a partir de movimentos laterais repetitivos até atingir a postura ventral (de
bruços), posteriormente desloca-se arrastando, engatinhando e exercita a escalada,
concomitantemente permite-se ficar na postura de lado acotovelada, semisentada com apoio da
mão, e com as pernas flexionadas para trás e pernas flexionadas (a base de apoio vai diminuindo a
medida que ganha equilíbrio e segurança). A partir da conquista desses movimentos posturais e,
consegue manter-se de quatro apoios, de joelho e gradativamente em pé com apoio e, por fim,
ergue-se sem apoio e consegue consolidar a marcha.
A conquista postural e motriz, que passa da horizontalidade/deitada para a
verticalidade/caminhar, é desenvolvida numa suceção de movimentos entrelaçados, onde um
depende do outro para se consolidar. Soares (2017, p. 51) destaca que:
Emmi Pikler observou, em suas pesquisas, que as crianças que se movem em liberdade
seguem a mesma seqüência de posições baseadas na maturidade biológica e raramente pulam
etapas, embora existam diferenças individuais importantes no ritmo desse desenvolvimento.
Por isso, Pikler evidenciava que não há necessidade de estímulos e intervenção do adulto, pois
o bebê é capaz de assumir posturas corporais de forma autônoma, condizente com o seu ritmo e
desenvolvimento físico e cognitivo. Colocar o bebê em uma superfície firme e na posição deitada, com
as costas sobre o chão, é a postura ideal para o bebê. Desta forma ele se movimentará de acordo
com as suas possibilidades. A abordagem Pikler evidencia que nenhum bebê deve ser colocado em
uma posição corporal que ainda não tenha a capacidade de assumir sozinho, ou seja, se a criança
ainda não consegue assumir a posição sentado se movimentando sozinha elas não deve ser colocada
sentada, se ela não se apóia e fica em pé sozinha, não devemos segurá-la pelas mãos e forçá-la a
caminhar (Gonzalez-Mena e Eyer, 2014). As posturas corporais são conquistas de cada criança. A
modificação da maneira da criança posicionar-se no espaço, permite que ela amplie o seu campo de
visão e a sua capacidade de atuação no entorno.
A criança “aprende” o mundo pelo movimento, o seu corpo é a porta de entrada para o
mundo que ela encontra “pronto” ao nascer. As oportunidades, oferecidas pelo adulto, é que farão a
diferença na sua relação com o mundo e no seu desenvolvimento. Nesta perspectiva, quando
estudamos a abordagem Pikler entendemos o espaço como suporte para apoiar os bebês em suas
aquisições motoras e na sua inserção no mundo.
DISCUSSÃO
Quando falamos de organização de espaço estamos nos referindo ao posicionamento,
disponibilidade e acessibilidade do mobiliário, materiais e ambientação que compõe determinado
local. Esses elementos devem estar relacionados às necessidades dos bebês de maneira que o espaço
Colloquium Humanarum, vol. 15, n. Especial 2, Jul–Dez, 2018, p. 1-7. ISSN: 1809-8207. DOI: 10.5747/ch.2018.v15.nesp2.001067
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físico possa ser base para um ambiente aconchegante e acolhedor e, assim, ter potencial para ser
apropriado e interiorizado, adquirindo o “status” de lugar (lugar = laço afetivo do sujeito com o
espaço/ambiente) (TUAN, 2013). Baseada na abordagem Pikler, Gonzalez-Mena (2015, p.185) ressalta
que “*...+ o ambiente é um professor, indicando que não basta simplesmente ter um espaço amplo
para as crianças brincarem e jogas brinquedos de plástico no meio”.
Considerando os apontamentos acerca do espaço/ambiente e a necessidade da criança de se
movimentar, a primeira inferência que fazemos é que o espaço, necessariamente, precisa permitir a
movimentação ampla e a exploração do espaço e dos materiais pelos bebês. Precisamos organizar um
espaço de oportunidades de experiências para o bebê.
O espaço amplo, com pouco mobiliário e com materiais pensados e selecionados para as
especificidades da faixa etária, possibilita que o bebê vivencie o espaço com o seu corpo e, desta
maneira, consiga gradualmente perceber e se inserir no mundo que o rodeia.
Nesta configuração de espaço físico para bebês o chão emerge como um protagonista na
organização espacial, um material essencial que merece acuidade pedagógic. Cocito (2017, p.125)
evidencia que “quando o espaço for utilizado por bebês, o tipo do piso necessita de mais atenção
ainda, haja vista que os pequenos utilizam o chão como um espaço de apoio e exploração para suas
vivências na instituição”. Kálló e Balog (2017, p.37) evidenciam que “a resistência de um chão duro
impulsiona a verticalidade, apoia seus esforços repetidos para manter-se na posição correta e a
tonicidade necessária. Do nosso ponto de vista, um chão de espuma é inadequado *...+”. Por sua vez,
Ceppi e Zini (2013, p.140) consideram o chão “*...+ como um dos elementos mais flexíveis e
transformáveis para todas as crianças de todas as idades. Essa ampla área de superfície oferece
possibilidades intermináveis”.
Com relação ao tipo de brinquedos que podemos disponibilizar para os bebês, consideramos
pertinente, primeiramente, nos apoiar nas palavras Sommerhalder e Alves (2011, p.15): “o corpo é o
nosso primeiro e mais versátil brinquedo”. Partindo desta premissa consideramos que os materiais a
serem disponibilizados precisam “conversar com o corpo do bebê”, portanto para cada faixa etária
um tipo de brinquedo ou objeto de brincar (material não estruturado) deve ser oferecido, alinhado as
possibilidades e necessidade do bebê. Gonzalez-Mena evidencia que “os brinquedos no Instituto
Pikler são simples – criados para explorar e aprender, em vez de simplesmente entreter” (p.185,
2015).
Soares (2017, p.36-38) evidencia que dos 3 a 6 meses o primeiro brinquedo para o bebê é um
tecido de 35x35cm de cor intensa e estampa clara (preferencialmente bolinha brancas), pois permite
que o bebê agarre e explore com autonomia o objeto de brincar; além disso a autora indica objetos
leves e fácies de pegar e que permitam a exploração dos sentidos (variando formas, texturas,
temperaturas, cores, por exemplo). A partir dos 6 meses materiais mais pesados podem ser
oferecidos e as bolas são oferecidas quando já conseguem se deslocar e se direcionar ao objeto
desejado. A partir de 1 ano brinquedos e objetos que contribuam com as aquisições motoras de subir,
descer e andar são os mais indicados. Esta indicação tem como base o crescimento cefalocaudal e
proximodistal:
O desenvolvimento dos bebês se dá da cabeça aos pés e é chamado de desenvolvimento
cefalocaudal; isso significa que os bebês começam a controlar primeiro os músculos
localizados ao redor da cabeça e, depois, dos músculos localizados mais abaixo. O
desenvolvimento também é proximodistal, o que significa do meio às extremidades. Você
pode observar essas duas progressões facilmente: os bebês levantam a cabeça antes do peito,
controlam os braços antes das mãos, e as mãos antes dos pés. No início seus movimentos são
reflexivos: os braços balançam e as mãos seguram sem intenção consciente (Gonzalez-Mena,
p.266, 2015).
Colloquium Humanarum, vol. 15, n. Especial 2, Jul–Dez, 2018, p. 1-7. ISSN: 1809-8207. DOI: 10.5747/ch.2018.v15.nesp2.001067
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Outra proposta que pode ser inserida ao organizarmos um espaço para bebês é o “Cesto dos
tesouros”. Originalmente criado por Elinor Goldshimied (Goldshimied e Jackson, 2006), esta proposta
consiste em fazer uma seleção de objetos de uso cotidiano (exceto os feitos de plástico) e os reunir
em um cesto de aproximadamente 35cm de diâmetro feito, preferencialmente de material natural.
Esses materiais não estruturados tem como finalidade ser uma fonte de aprendizagem e de
exploração para o bebê, onde ele possa criar e descobrir diferentes possibilidades e propriedades a
partir da manipulação. A utilização do “Cesto dos Tesouros” em um espaço para bebês exige certos
critérios e cuidados, um deles diz respeito a observação atenta do professor e ao brincar livre da
criança, ou seja, com a supervisão do adulto mas sem a intervenção excessiva.
O mobiliário para o espaço de uso dos bebês pode assumir dupla função: acomodar objetos e
ser suporte/apoio seguro para os bebês. Como explicitado anteriormente, o mobiliário pode servir de
apoio para o bebê se posicionar verticalmente. Os bebês vão testar as propriedades e possibilidades
também da mobília – vão tocar, tentar puxar, empurrar, escalar e se apoiar na mobília, por exemplo –
por toda estas possibilidades de envolvimento do bebê precisamos de critérios ao dispor o mobiliário,
pensar em sua funcionalidade e utilidade para o espaço com bebês. Consideramos que estantes
baixas e/ou com base larga (para evitar tombamento) é um mobiliário básico para o espaço de uso
dos bebês, se tiver rodízios que os mesmos possam ser travados, que não tenham arestas
pontiagudas e/ou farpas.
A exploração da posição vertical pode ser favorecida pelo espaço, Gonzalez-Mena (p.269,
2015) sugere que o ambiente seja planejado “*...+ de modo a incluir corrimãos, sofás e mesas baixas –
o que proporcionar um apoio seguro para as crianças que estiverem ansiosas por ficar em pé mas
ainda não conseguem por conta própria”.
Destacamos que a abordagem Pikler possui uma série de equipamentos em madeira que
podem compor o espaço para bebês, são túneis/labirintos, módulos e rampas em diferentes
tamanhos e altura, propícios para o desenvolvimento motor autônomo. Constituem-se em um
mobiliário específico que possibilitam a exploração de diferentes capacidades motoras como subir,
descer, engatinhar, arrastar-se e ainda permite a construção de alguns conceitos como alto/baixo,
dentro/fora, subir/descer. Soares (2017, p. 51) aponta que estes implementos em madeira tem “*...+ a
finalidade de estimular indiretamente a criança”.
No âmbito institucional, a organização do espaço passa pela percepção e ação do professor
que precisa edificar um espaço/ambiente “*...+ calmo e luminoso que a criança possa explorá-lo
livremente, respondendo a suas necessidades de desenvolvimento, afirmação, de confiança em si
mesma e de autonomia” (SOARES, 2017, p.31).
O espaço precisa ser seguro o suficiente para que o bebê possa brincar e explorar o entorno,
sem a necessidade de ter intervenção constante do professor. O espaço/ambiente edificado pela ação
do adulto e pela relação criança-crinça/criança-adulto é uma das condições necessárias para que a
criança se desenvolva de maneira equilibrada nos aspectos emocional, afetivo, psicomotor e cognitivo
(FALK, 2010).
CONCLUSÕES
Com base nas aproximações com a abordagem Pikler e na experiência formativa junto com a
equipe de trabalho da creche universitária, ficou evidente que os ideais piklerianos contribuem para
que a organização do espaço esteja alinhada com o que de fato os bebês precisam. A organização
espacial tendo como plano de fundo a abordagem Pikler possibilita um direcionamento assertivo com
relação a organização dos espaços para bebês, pois esta fundamentada e alinhada ao seu
desenvolvimento integral da criança. A abordagem Pikler nos apresenta possibilidades e caminhos
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possíveis de serem trilhados nas instituições de Educação Infantil que buscam a qualificação de seus
espaços e de sua ação docente.
As ações de organização do espaço, à luz da abordagem Pikler, coloca o bebê no centro do
processo pedagógico e suprimi a evidência e protagonismo do adulto, ainda tão presente nesta etapa
da Educação Básica.
Ressaltamos que um trabalho institucional inspirado na experiência da Drª. Emmi Pikler
precisa estar associado e “ancorado” na formação e orientação pedagógica, visto que, interpretações
de cunho espontaneísta podem ser tecidas neste contexto, decorrentes do olhar simplista (pouco
aprofundado teoricamente). Nesta perspectiva, considerando o âmbito da Educação Infantil,
observamos que a prática do professor e sua atenção ao desenvolvimento do bebê é primordial, pois
mesmo a criança desenvolvendo os movimentos por iniciativa própria o professor precisa edificar um
espaço/ambiente afetivamente favorável para a construção de vínculos afetivos e onde a liberdade
seja uma constante.
Neste artigo evidenciamos a organização do espaço físico, no entanto cabe ressaltar que a
formação continuada dos profissionais precisa ir além e englobar o modo de acolher o bebê no
espaço da instituição, como o adulto deve se posicionar com relação a movimentação do bebê, o
quanto deve interferir e o quanto deve “se recolher”, enfim, é preciso que o olhar do professor seja
humanizado e sensível.
A análise feita por Emmi Pikler acerca do desenvolvimento motor da criança, de sua
autonomia postural e motriz comprovam que temos muito para aprender com as crianças e que
precisamos confiar na capacidade delas. O bebê, potente, capaz e atuante, precisa de um contexto
que o apóie e o permita vivenciar a sua infância com liberdade e cuidados.
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A abordagem de Emmi Pikler:
olhares sobre contextos educativos para
bebês e crianças pequenas
Resumo: É objeto de estudo e investigação do Grupo de Estudos e Pesquisa Ana Paula Gaspar Melim
em Educação da Infância - (GREEI – MS), os fundamentos teórico-práticos, Universidade Católica Dom Bosco
que carregam em si concepções de infância, e subsidiam o desenvolvimen- (UCDB)
to de práticas educativas junto às crianças de 0 até 6 anos, especialmente, anamelim@terra.com.br
aqueles que se voltam à compreensão dos processos de constituição dessas
Ordália Alves Almeida
práticas. No decorrer de nossos estudos e pesquisas, nos certificamos do
Universidade Federal de Mato
reconhecimento das crianças como atores sociais, que assumem papel im- Grosso do Sul (UFMS)
portante na consolidação de contextos educativos que lhe são oferecidos. Tal ordalia.almeida@ufms.br
certificação levou-nos a reconhecer a importância de se realizar estudos de
aprofundamento e incursões prático-reflexivas em instituições educativas que
têm a abordagem de Emmi Pikler como referência para o desenvolvimento
dos processos de cuidar e educar dos bebês e crianças pequenas. O desen-
cadeamento dos estudos levou-nos, no ano de 2013, a realizar um processo
de a realizar visitas de conhecimento em institutos e escolas infantis na
Europa, Paris/França e Barcelona/Espanha, para conhecermos experiências
que favorecem a criação de circunstâncias formativas, por meio de reflexões
importantes à consolidação das bases teórico-práticas e propiciem a criação
de novos olhares sobre os contextos educativos da infância, promovendo
mudanças na qualidade de vida das crianças. A perspectiva que se apresenta
para nós é de partilhar as experiências vividas, de tal modo que as mesmas
possam suscitar desdobramentos de estudos que contribuam para o delinea-
mento de olhares críticos sobre referenciais teóricos importantes à formação
de professores e a efetivação de práticas educativas que valorizem as crianças
como sujeitos sociais.
Palavras-Chave: Abordagem de Emmi Pikler. Bebês. Educação Infantil.
Introdução
A constituição de um grupo de estudos voltado à infância
pressupõe a abertura de possibilidades para a realização de estudos
e pesquisas que abarquem as vidas dos bebês e das crianças
pequenas em diversos contextos sociais, históricos e culturais, e,
na medida em que conhecimentos produzidos sobre a infância
propagam-se, novos desafios surgem, favorecendo a criação de
circunstâncias investigativas que provoquem estudos e reflexões à
consolidação das bases teóricas que trazem mudanças na qualidade
de vida das crianças, sustentam práticas docentes e de formação
de professores e propicie a criação de novos olhares investigativos
sobre os contextos educativos da infância.
96
Nesse sentido, apontamos que a abordagem de Pikler possibilita
entender como o adulto pode atuar para contribuir no processo de
desenvolvimento infantil.
98
em seus estudos a importância de se promover o desenvolvimento
dos bebês aliado à sua integração com o meio.
Concomitante a sua atividade profissional, Emmi Pikler
e seu esposo, um pedagogo progressista, decidiram observar
seu primeiro filho respeitando seu ritmo de desenvolvimento,
preparando espaços para auxiliar sua desenvoltura e autonomia.
Além disso, passaram a atentar para a maneira de cuidá-lo, falando
previamente o que iriam fazer na hora do seu banho, alimentação,
higiene, sempre com um toque amável, olhando em seus olhos. As
experiências iniciais de Emmi Pikler, resultaram na escrita do livro,
publicado na Hungria em 1940 –O que o seu bebê já consegue fazer?
Ao assumir a responsabilidade de organizar e dirigir uma
instituição de acolhida a crianças órfãs e abandonadas, em Budapeste
na Hungria, buscou criar as condições para que os bebês e as crianças
pequenas se desenvolvessem do ponto de vista físico e psíquico.
Realizou também estudos e observações longitudinais dos bebês e
das crianças pequenas em seus contextos cotidianos, objetivando
acompanhar o processo de regularidade do desenvolvimento
psicológico, de maneira a reconhecer a singularidade e especificidade
das crianças.
Muitas foram as contribuições deixadas por essa pediatra e
seus colaboradores, que hoje têm servido de referência para se
pensar em propostas educativas que reconheçam a vivência de
processos interativos e possibilitem aos bebês desenvolver em todo
seu potencial, favorecendo a construção da autoestima, autonomia
e segurança afetiva em uma relação de respeito e confiança.
Dessa experiência exitosa e inovadora, Emmi Pikler
compartilhou outro olhar sobre a educação de bebês, estabelecendo
quatro princípios que devem ser observados: valorizar a atividade
autônoma das crianças; valorizar as relações pessoais estáveis; a
construção de uma imagem positiva da criança para desenvolver-
se; e a manutenção da saúde física e mental da criança com ênfase
no brincar e no cuidar. Por exemplo, ao não intervir diretamente
nas suas brincadeiras e nos seus movimentos, cria-se condições
favoráveis para que a criança inicie suas atividades, e criando seus
próprios desafios. O respeito aos horários de dormir e acordar;
o oferecimento de uma alimentação equilibrada que respeite a
vontade da criança e a oportunidade de usufruir o máximo de
horas ao ar livre, são condições necessárias ao desenvolvimento
autônomo dos bebês.
100
pensar os espaços, os tempos, as relações e interações entre crianças
e adultos nas instituições de educação infantil, se reconhece o
crescente interesse de educadores e pesquisadores na produção de
conhecimento sobre a criança seu desenvolvimento, rompendo com
as representações e concepções tradicionais de criança.
Pesquisas e estudos realizados apontam para a necessidade
de um diálogo aproximativo em relação às práticas com crianças
e o conhecimento produzido no Instituto Pikler sobre a forma
do bebê ser e estar no mundo. Suas contribuições permitem-nos
compreender a importância das interações e do papel do adulto na
relação com a criança, constituindo-se em referências importantes
para pensar a infância e a formação dos profissionais que trabalham
com a criança pequena.
Emmi Pikler, ao considerar a realização do trabalho com
crianças, ressalta o valor da autonomia, da motricidade livre e do
respeito pelo ritmo individual da criança, de modo a possibilitá-las a
aprenderem no próprio ritmo natural, tornando-as mais confiantes,
alegres e ativas.
As contribuições de Emmi Pikler e Judit Falk ressaltam ainda a
importância da observação para garantir as melhores condições de
bem-estar físico e psíquico, defendendo que a “atividade autônoma,
escolhida e realizada pela criança – atividade originada de seu
próprio desejo – é uma necessidade fundamental do ser humano
desde seu nascimento”. (FALK, 2004, p. 46)
Tal constatação é importante para se pensar em como as
instituições de Educação Infantil no Brasil, estão concebendo os
espaços educativos para às crianças de zero a três anos. Isto porque
é imprescindível compreender que crianças, nessa faixa etária,
necessitam que sejam criadas pelos adultos as condições para seu
desenvolvimento. Pois, é importante garantir:
102
experiências vividas, de tal modo que as mesmas possam suscitar
novos desdobramentos de investigação, que contribuam para o
delineamento de novos olhares críticos sobre referencias teóricos
importantes à formação de professores e à efetivação de práticas
educativas que valorizem as crianças como sujeitos sociais.
O intercâmbio que realizamos com nossos pares, em Instituições
de Educação Superior espalhadas pelo Brasil, tem nos permitido
ampliar conhecimentos e, consequentemente, resultam na
qualificação de nossas práticas. Ao buscarmos localizar no tempo e
no espaço nossos primeiros contatos com as contribuições de Emmi
Pikler, resgatamos a participação em uma banca de doutorado na
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp) de
Marília no ano de 2005, ocasião em que tivemos acesso à tradução do
livro Educar os três primeiros anos: a experiência de Lóczy,de Judit Falk,
realizada por Suely Amaral Mello. Ao mesmo tempo em que tomamos
conhecimento do livro, e por entender que o mesmo traria grandes
contribuições aos estudos e formação de professores de Educação
Infantil, especialmente de 0 a 3 anos, assumimos a responsabilidade
junto a Suely de levar alguns exemplares para Campo Grande/
MS para que mais pessoas pudessem tomar conhecimento desses
estudos. Desde então, estamos criando as circunstâncias teórico-
metodológicas para que os acadêmicos do curso de Pedagogia e
alunos do curso de especialização em Educação Infantil possam se
apropriar desse conhecimento. Conforme expressa o prefácio do
livro à edição brasileira:
104
O propósito do ponto, segundo a diretora, é criar entre a
instituição e os familiares uma atitude compromissada com a
frequência e a constituição do vínculo da criança, visto que se torna
visível o registro e, portanto, a participação efetiva das crianças
na instituição. Uma vez que o tempo de permanência pressupõe o
envolvimento familiar no processo educativo vivido pelas crianças.
Outro aspecto importante, e que nos causou surpresa, foi
que, ao entrarmos na primeira sala, as crianças ouviam a música
“Tocando em Frente” interpretada por Almir Sater e Renato
Teixeira, essa música tomava conta do ambiente e as crianças
se movimentavam ao seu ritmo. No diálogo com a diretora, foi
enfatizado o quão importante é para as crianças terem contato com
outros universos culturais e que a música muito contribui para isso.
Na ocasião, observamos que prevalecia um clima de
tranquilidade na instituição e os adultos que trabalham com as
crianças, agiam calmamente e se comunicavam em um tom bem
baixo, solicitando que as crianças participassem das atividades e da
organização dos ambientes. Esses se intercomunicam, favorecendo
que as crianças transitem de um lugar para outro. Nas salas, existem
brinquedos que são manuseados pelas crianças, sem interferência
direta dos adultos, nas paredes estão expostos alguns quadros
e relatórios que oportunizam aos pais acompanharem aspectos
importantes, sobre alimentação, saúde e participação em atividades
diariamente.
Na área externa, algumas crianças brincavam com motocas
e outros brinquedos, observamos que os adultos acompanhavam
as atividades das crianças sem interferir, e mesmo aquelas que
se mantinham fora do grupo eram respeitadas em suas decisões.
Como já havíamos sidos informados que não deveríamos questionar
as profissionais sobre as situações observadas, registramos essa
situação para que em ocasião oportuna, na reunião na Associação
Pikler-Lóczy que aconteceria mais tarde, pudéssemos ter maior
conhecimento sobre suas atitudes e, portanto, entender a dinâmica
empreendida.
Na sala dos bebês, assim denominada porque é um espaço
em que não há predominância de berços e sim de bebês, vimos
que eles ficavam em grandes colchonetes espalhados pelo chão
e constatamos que, conforme expressa a abordagem de Pikler, os
bebês tinham perto de si objetos que os estimulavam a olhar para
os lados, movimentarem-se, a agirem autonomamente sem, no
106
A experiência vivida em Barcelona, na Associació de Mestres
Rosa Sensat, permitiu-nos observar que os grupos de trabalho
reúnem professores e profissionais da educação com interesses
comuns. A tarefa de reflexão e produção de materiais é uma das
atividades mais significativas da Associação, e permite articular o
debate e as propostas pedagógicas. Seu trabalho é conhecido por
meio das formações que realiza, revistas e outras publicações. Nosso
grupo de estudo pode se reunir e discutir as práticas formativas
com crianças de zero a três anos, oportunizando-nos reflexões sobre
os diversos contextos formativos.
Muitos outros aspectos da experiência vivida poderiam ser
destacados, contudo, privilegiamos aspectos que podem suscitar
outras discussões, aprofundamentos e diálogos construtivos para o
delineamento de propostas que reconheçam os bebês e as crianças
como sujeitos competentes.
Considerações Finais
A escrita deste artigo resultou do nosso encontro com a
abordagem de Emmi Pikler e sua apropriação em contextos sociais
diferentes da realidade brasileira,no entanto, oportunizou-nos a
aquisição de conhecimentos e reflexões imprescindíveis à ação
de professores de bebês e crianças pequenas. A interlocução
estabelecida provoca-nos a reiterar o quão urgente é a reestruturação
de contextos formativos para que os professores possam se
apropriar dessa abordagem e ressignificar suas práticas educativas.
Estamos vivendo circunstâncias complexas em relação aos
princípios que devem nortear a educação das crianças, em seus
primeiros anos de vida. Posicionamo-nos a favor do direito de a
criança viver plenamente a infância, explorando o seu contexto
de vida e tendo a oportunidade de conhecer outros espaços
fundamentais ao seu desenvolvimento humano.
Reiteramos que, conforme expressa a abordagem de Emmi
Pikler, o princípio que orienta ação do profissional que atua junto
às crianças é de reconhecimento e valorização do desenvolvimento
autônomo. Desse modo, é fundamental criar as circunstâncias
propícias para que as crianças possam viver em espaços formais
plenamente a infância. Nosso compromisso profissional nos
direciona para a busca de criação de contextos formativos que
permitam aos interessados pela educação da infância a realização
108
nuevas miradas sobre los contextos educativos de la infancia, promoviendo
cambios em la calidad de vida de los niños. La perspectiva que se presenta
para nosotros es de compartir las experiencias vividas de tal modo que las
mismas puedan suscitar desdoblamientos de estudios que contribuyan al
delineamiento de miradas críticas sobre referenciales teóricos importantes a
la formación de profesores y la efectividad de prácticas educativas que valor
en los niños como sujetos sociales.
Palabras clave: Enfoque de Emmi Pikler. Bebés. Educación Infantil.
Referências
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