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REFERÊNCIA:

BRASIL. Orientações Técnicas: Serviço de Acolhimento para Crianças e Adolescentes.


Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. – 1. ed. – Brasília:
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2009. Disponível em:
https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/
orientacoes-tecnicas-servicos-de-alcolhimento.pdf. Acesso em: 01 abri. 2023.

RESUMO:
O texto expõe orientações para a realização de práticas em serviços de
acolhimento destinado a crianças e adolescentes no que tange seus desenvolvimentos e
posterior conhecimento sobre suas histórias de vida, assim como a representação da
família acolhedora e dos educadores/acolhedores como agentes influentes nesse aspecto.
Ademais, tal serviço deve manter e promover relações com a comunidade e a família de
origem também, a fim de manter afetividades já pré-estabelecidas. Da mesma forma, se
faz necessário construir um projeto futuro de autonomia para a criança e ao adolescente
que será adotado, restituído em sua família de origem ou desligado ao atingir a
maioridade, logo, projetos que visem o estabelecimento gradativo de autonomia e
empregabilidade devem ser aplicados.

CITAÇÕES DIRETAS (CURTAS OU LONGAS) E PARÁFRASES:

3.5.3 Organização de registros sobre a história de vida e desenvolvimento de cada


criança e adolescente

A equipe técnica do serviço de acolhimento deverá organizar prontuários


individuais com registros sistemáticos que incluam: histórico de vida, motivo
do acolhimento, data de entrada e desligamento, documentação pessoal,
informações sobre o desenvolvimento (físico, psicológico e intelectual),
condições de saúde, informações sobre a vida escolar, etc. (BRASIL, 2009, p.
52).

Para o casos de crianças e adolescentes com deficiência a organização de


registros deverá conter informações que possibilitem a prestação de cuidados adequados
relativos à sua saúde também. De modo geral, para cada criança e adolescente há
registros semanais que relatam sinteticamente sua rotina, progressos, socialização e
entre outros aspectos (BRASIL, 2009).
Tais registros devem conter, ainda, informações sobre a família de origem, o
trabalho desenvolvido com vistas à reintegração familiar (visitas,
encaminhamentos, acompanhamento em grupo, encontros da família com a
criança ou adolescente, preparação para a reintegração, etc.) e o
acompanhamento da família acolhedora, se for o caso. Esses registros devem
ser consultados apenas por profissionais devidamente autorizados, devendo
os serviços de acolhimento ter uma política clara de confidencialidade desses
dados, observada por todos os profissionais (BRASIL, 2009, p. 52).

O técnico responsável pelas informações de atendimento das crianças e


adolescentes pode transmiti-las aos educadores e família acolhedora desde se paute em
princípios éticos de atuação. Além disso, nos casos de novo acolhimentos os registros
devem estar sempre disponíveis à equipe (BRASIL, 2009).

Sempre que possível, a fim de promover um sentido de identidade própria, a


criança e o adolescente - com o apoio de um educador/cuidador, família
acolhedora ou pessoa previamente preparada - devem ter a oportunidade de
organizar um livro de sua história de vida que reúna informações, fotografias
e lembranças referentes a cada fase de sua vida, ao qual poderão ter acesso ao
longo do ciclo vital (BRASIL, 2009, p. 52).

Ao ocorrer o desligamento desse indivíduo, tal produção irá fazer parte dos
objetos pessoais dessa criança ou adolescente e conter fotos e criações da mesma,
possibilitando recordações (BRASIL, 2009).

3.5.4 Definição do papel e valorização dos educadores/cuidadores e da família


acolhedora

Os educadores/cuidadores e famílias acolhedoras vão representar um notório


reflexo no desenvolvimento das crianças e adolescentes, mediante sua postura e
qualidade na interação estabelecida com eles. Por conta disso, no PPP deverão estar
previstas estratégias de seleção, acompanhamento e capacitação desses profissionais e
famílias (BRASIL, 2009).
A família acolhedora, bem como o educador devem estar atentos a certos
comportamentos incorretos como “se apossar” do indivíduo em acolhimento, competir
ou desvalorizar sua família de origem, por exemplo. Devem, na verdade, reforçar o
vínculo de afeto a fim de contribuir para a construção de um ambiente familiar, o qual
irá favorecer o processo de reintegração familiar dessa criança ou adolescente
(BRASIL, 2009).

Para exercer sua função o educador/cuidador ou a família acolhedora deve ter


capacitação adequada para desempenhar seu papel com autonomia e ser
reconhecido como figura de autoridade para a criança e ao adolescente e,
como tal, não ser desautorizado pelos outros profissionais do serviço
(técnicos, coordenadores), sobretudo na presença da criança e do adolescente.
Além disso, devem contar com apoio e orientação permanente por parte da
equipe técnica do serviço, bem como de espaço para trocas, nos quais possam
compartilhar entre si experiências e angústias decorrentes da atuação,
buscando a construção coletiva de estratégias para o enfrentamento de
desafios (BRASIL, 2009, p. 53).

Os estudos de caso periódicos são uma alternativa de manter o constante


aprimoramento dos cuidados prestados pela equipe técnica e educadores, pois propiciam
a reflexão, identificação de dificuldades e planejamento de intervenções para melhoria
das atividades ofertadas (BRASIL, 2009).

É importante que a equipe técnica do serviço de acolhimento auxilie os


educadores/ cuidadores ou as famílias acolhedoras na oferta de um cuidado
individualizado para cada criança e adolescente, baseado na avaliação de suas
condições emocionais, história de vida, impacto da violência ou do
afastamento do convívio familiar, situação familiar, vinculações
significativas e interações estabelecidas (BRASIL, 2009, p. 53).

Ainda, cabe a equipe técnica considerar opiniões emitidas pela família


acolhedora ou educador/cuidador quando se faz necessário tomadas de decisões sobre a
vida daquela criança e adolescente, visto que os vínculos afetivos mais significativos
devem ser considerados para que se conheça da melhor maneira desejos e interesses
(BRASIL, 2009).

3.5.5 Relação do Serviço com a família de origem

Trabalhar com as famílias das crianças e dos adolescentes acolhidos em


abrigos ou nas famílias acolhedoras implica compreender sua configuração,
buscar suas competências e entender sua inserção na comunidade. O trabalho
com essas famílias precisa favorecer a superação das questões, por vezes
bastante complexas, que contribuíram para o afastamento da criança ou
adolescente do convívio familiar. É importante compreender como as
famílias estão vivenciando a situação de afastamento de seus filhos e
potencializá-las para a retomada do convívio e exercício de seu papel de
proteção e cuidados (BRASIL, 2009, p. 54).

Os significados atribuídos vão influenciar as relações do serviço de acolhimento,


nesse sentido, é importante observar como se faz referência às famílias acolhedoras e de
origem, pois é necessário que haja um sentido de cooperação entre elas (BRASIL,
2009).
Todos os profissionais do serviço de atendimento precisam receber orientações
caso necessário agir como mediadores da relação entre a família e a criança ou
adolescente, além de propiciar momentos a sós entre eles (BRASIL, 2009).

Os profissionais do serviço de acolhimento, famílias acolhedoras e pessoas


com as quais a criança ou o adolescente venham a ter contato em razão do
acolhimento não devem se referir de modo pejorativo à família de origem.
Ainda que o afastamento tenha ocorrido por motivos graves, a criança e ao
adolescente devem ter sua origem – família, comunidade, cultura - tratada
com respeito (BRASIL, 2009, p. 54).

Há certas ações que o PPP promove para fortalecer vínculos das crianças e
adolescentes com suas famílias de origem, dentre elas estão: devida preparação do
serviço para aceitar e acolher esses familiares, flexibilidade nos horários de visitas,
participação da família em datas comemorativas, apoio e permissão de saída das
crianças e adolescentes para visitas à família, telefonemas, realizar atividades
recreativas e culturais, promover oficinas para desenvolver habilidades, rodas de
conversas e participação em reuniões escolares e consultas de saúde, além de prever a
elaboração do Plano de Atendimento Individual e Familiar (BRASIL, 2009).

No caso de acolhimento em Famílias Acolhedoras, é importante que estas


possam contar com a orientação da equipe técnica acerca do relacionamento
com a família de origem, na perspectiva do fortalecimento de vínculos com a
criança e o adolescente. Nestes casos é igualmente importante que o papel
das famílias acolhedoras fique claro tanto para estas, quanto para as famílias
de origem, de modo a evitar rivalidades (BRASIL, 2009, p. 55).

3.5.6 Preservação e fortalecimento da convivência comunitária

Os serviços de acolhimento devem estar localizados em áreas residenciais,


sem distanciar-se excessivamente, do ponto de vista geográfico e sócio-
econômico, do contexto de origem das crianças e adolescentes. Salvo
determinação judicial em contrário, quando necessário afastamento do
convívio familiar e encaminhamento para serviço de acolhimento esforços
devem ser empreendidos para manter a criança e o adolescente o mais
próximo possível de seu contexto de origem, a fim de facilitar o contato com
a família e o trabalho pela reintegração familiar (BRASIL, 2009, p. 56).

Idealmente a criança e ao adolescente devem permanecer na mesma escola em


que estavam antes do acolhimento, assim como continuar realizando atividades
esportivas, culturais e religiosas para preservar seu contexto de origem e vínculos já
criados. Nos serviços de acolhimento não devem estar concentrados espaços de lazer e
ofertas de diversos serviços, justamente para promover uma interação maior dessa
criança e adolescente com a comunidade, e não somente dentro do serviço de
acolhimento (BRASIL, 2009).

Além de oportunizar o contato de crianças e adolescentes acolhidos com


crianças e adolescentes da comunidade, essas medidas têm como objetivo
propiciar o desenvolvimento da autonomia e da socialização dos mesmos. O
acesso aos serviços na rede local tem como objetivo, ainda, inserir a criança e
o adolescente em atividades que possam continuar a frequentar após a
reintegração familiar (BRASIL, 2009, p. 57).

A criança e adolescente acolhido não deve ser estigmatizado, para tanto, o uso de
uniformes ou transporte com identificação deve ser evitado, assim como o constante
acompanhamento ao circular pela comunidade. Logo, experiências individualizadas
devem ser pensadas para trazer benefícios a esse convívio comunitário (BRASIL,
2009).

[...] é importante destacar que visitas esporádicas daqueles que não mantêm
vínculo significativo e freqüentemente sequer retornam uma segunda vez ao
serviço de acolhimento, expõem as crianças e os adolescentes à permanência
de vínculos superficiais. Estes podem, inclusive, contribuir para que não
aprendam a diferenciar conhecidos de desconhecidos e tenham dificuldades
para construir vínculos estáveis e duradouros, essenciais para seu
desenvolvimento. Por esse motivo, Programas de Apadrinhamento Afetivo
ou similares devem ser estabelecidos apenas quando dispuserem de
metodologia com previsão de cadastramento, seleção, preparação e
acompanhamento de padrinhos e afilhados por uma equipe interprofissional,
em parceria com a Justiça da Infância e Juventude e Ministério Público
(BRASIL, 2009, p. 57).

O Programa de Apadrinhamento Afetivo será destinado as crianças e


adolescentes com poucas chances de retorno ao convívio familiar ou adoção, pois eles
necessitam de vínculos afetivos mais significativos para construir sua rede de apoio
(BRASIL, 2009).

3.5.7 Fortalecimento da autonomia da criança, do adolescente e do jovem


A opinião da criança e adolescente deve ser respeitada e considerada em toda
tomada de decisão, a mesma deve participar de projetos que tratem sobre seu futuro e é
direito dela ter acesso a informações atualizadas da situação familiar, motivos do
acolhimento e história de vida (BRASIL, 2009).

A comunicação dessas informações deverá pautar-se na consideração do seu


grau de desenvolvimento e na avaliação dos benefícios ou prejuízos que
poderão resultar deste conhecimento. O acesso a essas informações deverá
respeitar o processo individual de apropriação da história de vida – devendo
ser conduzido por profissionais orientados e preparados, com os quais a
criança e o adolescente mantenham vinculação afetiva significativa
(BRASIL, 2009, p. 57).

O ambiente de acolhimento deve visar o desenvolvimento de habilidades que


fortaleçam aos poucos sua autonomia, de acordo com a fase desenvolvimento na qual
esse indivíduo se encontra (BRASIL, 2009).

Os serviços de acolhimento devem propiciar a organização de espaços de


escuta e construção de soluções coletivas com a participação das crianças e
adolescentes. Nesse sentido, podem ser organizados, por exemplo, espaço
para a realização das chamadas “assembléias” nas quais crianças e
adolescentes sob cuidados em serviços de acolhimento possam desempenhar
um papel participativo, discutindo e construindo alternativas para a melhoria
do serviço, para a ampliação das estratégias para viabilizar o contato com a
família de origem, etc. (BRASIL, 2009, p. 58).

É igualmente importante que as crianças e adolescentes acolhidos consigam


contribuir para a definição da rotina na instituição, que possam realizar pequenas
mudanças nos espaços, fazer escolhas, ajudar com cuidados domésticos, zelar pelo
cuidado com seus pertences e ser responsáveis por cumprir horários de seus
compromissos. A autonomia financeira também deve ser levada em consideração, nesse
sentido, é interessante incentivar atividades rotineiras que lidem com dinheiro (como ir
no supermercado por exemplo), para que as crianças e adolescentes adquiram esse tipo
de conhecimento. Se faz necessário também incentivar a participação social no que se
refere a criação de políticas públicas, tanto de crianças e adolescentes que se encontram
no acolhimento como adultos que já se beneficiaram desse serviço (BRASIL, 2009).

O atendimento deve favorecer a construção de projetos de vida e o


fortalecimento do protagonismo, desenvolvendo gradativamente a capacidade
do adolescente responsabilizar-se por suas ações e escolhas. Visando apoiar
os adolescentes acolhidos após o alcance da maioridade, devem ser
organizados serviços de acolhimento em Repúblicas, como uma forma de
transição entre o serviço de acolhimento para crianças e adolescentes e a
aquisição da autonomia. (BRASIL, 2009, p. 59).

3.5.8 Desligamento gradativo


O desligamento deve ser gradativo, oportunizando um devido preparo e
despedida de todos aqueles que mantinham vínculo afetivo, já que separações abruptas
podem causar danos, em especial aqueles que permaneceram um longo período no
serviço de acolhimento. A criança e o adolescente deve se sentir à vontade para contar
sobre suas expectativas e inseguranças nesse processo de transição, contudo, o
acompanhamento deve ser contínuo e não apenas pontual, mesmo após a saída do
indivíduo anteriormente acolhido (BRASIL, 2009).

Particularmente no que diz respeito aos adolescentes, a preparação para o


desligamento deve incluir o acesso a programas de qualificação profissional e
inserção no mercado de trabalho, como aprendiz ou trabalhador – observadas
as devidas limitações e determinações da Lei nesse sentido, visando sua
preparação para uma vida autônoma. Sempre que possível, ainda, o serviço
manterá parceria com Repúblicas, utilizáveis como uma forma de transição
entre o abrigo e a aquisão de autonomia e independência. (BRASIL, 2009, p.
61).

Nos casos de desligamento de adolescentes grávidas ou com filhos, por exemplo,


se faz necessário a destinação aos serviços especializados de atendimento às mulheres.
Em suma, a etapa do desligamento não deve ser considerado como uma situação à parte,
mas sim, a resultante de contínuo investimento no acompanhamento do indivíduo e
desenvolvimento de sua autonomia. (BRASIL, 2009).

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