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AULA 14

ESTABILIDADE DE TALUDES

1. INTRODUÇÃO

Talude: qualquer superfície inclinada que limita um maciço de terra ou de rocha.

Taludes naturais: são as encostas dos morros.


Taludes artificiais: aterros em geral, cortes em encostas de morros, taludes de
barragens de terra.

Figura 1

A ruptura de um talude envolve um movimento de uma massa de solo para baixo e


para fora da situação inicial. Esse movimento é genericamente denominado de
escorregamento ou deslizamento de terra.

A ruptura ocorre ao longo de uma superfície, denominada superfície de ruptura, em


geral curva.

Figura 2
2

No talude, tem-se três tipos de forças:


- forças devidas ao peso de terra;
- forças devidas ao escoamento da água
- forças devidas à resistência ao cisalhamento.

As duas primeiras tendem a movimentar a massa de solo encosta abaixo enquanto


que a última age como freio ao movimento.

2. TIPOS DE MOVIMENTOS

a) Rastejo ou “creep” – Movimento muito lento (ex. milímetros por ano) que se
observa em encostas naturais principalmente devido à ação cíclica calor – frio,
encharcamento – ressecamento. Presente em taludes íngremes da Serra do Mar. É de
menor importância salvo quando deformações possam afetar estruturas situadas na
massa em movimento (ex. adutoras).

Podem provocar encurvamento de árvores, deslocamento de cercas e estradas, ruptura


de tubulações ancoradas na superfície do terreno, etc. Podem ser parcialmente
identificadas pela existência de árvores com o tronco curvo, postes inclinados, etc.

Figura 3 - Indícios de
rastejo

b) Erosão – Causada pelo arraste das partículas de solo pela água em movimento.
Comum em encostas naturais em que a vegetação tenha sido destruída e em aterros
sem drenagem superficial e / ou sem proteção adequada.

c) Liquefação – Problema causado pela súbita perda de resistência ao cisalhamento


de grandes massas de solo saturado que então fluem como uma massa viscosa (areias
finas saturadas e argilas extra sensíveis). O agente desencadeador pode ser uma
explosão ou terremoto que provoca elevada sobrepressão neutra passando a tensão
efetiva a próximo de zero. Movimentos rápidos podem atingir grandes distâncias e
envolver massas de centenas de metros cúbicos.
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Quedas de blocos – Ocorre em taludes íngremes de argila dura ou material rochoso,


freqüentemente às margens dos rios. Em geral, os blocos são condicionados pro
“estruturas” pré-existentes no maciço.

Figura 4

Ruptura de corpo de talude

Neste caso, existem dois tipos


principais de movimentos.
Movimentos translacionais:
geralmente em encostas
naturais envolvendo uma
massa de solo em que o
comprimento é predominante
em relação à espessura. A
superfície de ruptura é em geral próxima de um plano.
Figura 5

Movimentos rotacionais:
geralmente ocorrem em
massas homogêneas. Três
tipos de rupturas: ruptura do
corpo do talude, ruptura pelo
pé do talude e ruptura de
base, em geral tangenciando
uma camada mais resistente
profunda.

F
Figura 6
4

3. ANÁLISE DE ESTABILIDADE

Tem como objetivo verificar o quão estável está o talude, nas condições em que está
sujeito (fluxo d’água, sobrecarga, etc.).

O parâmetro que se utiliza para medir a estabilidade é o fator de segurança (F).

A análise é feita sempre considerando a porção do talude que desliza como um


“corpo rígido”, com um comportamento tensão – deformação do tipo “rígido –
plástico”, o que é uma super-simplificação do comportamento.

F = Esforço resistente disponível ao deslizamento


Esforço atuante que provoca o deslizamento

O esforço pode ser força ou momento, dependendo do tipo de problema.

F<1 talude instável; caso o talude venha ser implantado (corte ou aterro) nestas
condições deverá ocorrer ruptura.

F = 1 condição limite de estabilidade associada a iminência de ruptura.

F > 1 condição estável; quanto mais próximo de 1, mais precária é a condição de


estabilidade.

F>>1 condição estável; quanto maior F, menores as possibilidades do talude sofrer


ruptura.

Um talude com F = 1,5 é em geral considerado estável. Valores em torno de 1,3 são
considerados aceitáveis para taludes de menor responsabilidade.

Elementos básicos a serem conhecidos:

- geometria do talude;
- perfil do subsolo, mostrando as várias camadas de solo que constituem o talude;
- resistência ao cisalhamento dos solos presentes no talude;
- pressões neutras atuantes no maciço, na situação mais desfavorável à estabilidade;
- posição e forma da superfície de ruptura, compatível com a geologia e geometria do
talude.
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Exemplo de cálculo de estabilidade para um bloco apoiado sobre um plano inclinado:

Figura 7

T = Pseni tende a provocar o movimento

A força S é a força resistente à movimentação.

S = sA

onde s = resistência ao cisalhamento no contacto bloco – plano inclinado.

s = c + σtgϕ

Admitindo c = 0, s = σtgϕ

N P cos i
Mas σ = = e então
A A

P cos i
s= tgϕ e S = P cos itgϕ
A

Na condição de equilíbrio limite: Pseni = P cos itgϕ → tgi = tgϕ → i = ϕ

Numa condição genérica:

esforço resistente disponível S P cos itgϕ tgϕ


F= = = =
esforço solicitante T Pseni tgi
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4. TALUDE INFINITO, SEM PERCOLAÇÃO D´ÁGUA

Figura 8

A força peso no elemento indicado na figura vale


P = γ n bz

e pode ser decomposta nas forças:

N = P cos i = γ n bz cos i

T = Pseni = γ n bzseni

A força que resiste ao movimento vale:

c' b
S = sA = (c'+ σ' tgϕ' )A = c' A + Ntgϕ = + γ n bz cos itgϕ'
cos i

e portanto, resulta o seguinte fator de segurança:

c' b
+ γ n bz cos itgϕ'
F= cos i
γ n bzseni

c'+ γ n z cos 2 itgϕ'


F=
γ n zseni cos i

tgϕ'
observe para c’=0 → F =
tgi
7

Exemplo

Para o talude abaixo,

- determinar a profundidade corresponde a fator de segurança igual a 1.


- determinar a variação do fator de segurança com a profundidade.

Figura 9

20 + 18z cos 2 35tg30 20 + 6,97z


F= → F=
18zsen35 cos 35 8,46z

F=1 → 20 + 6,97 z = 8,46z → z = 13,42 m

z (m) F 0

0,5 5,55 

1 3,19 2

2 2,01 4
3 1,61 
5 1,30 6
10 1,06 8
13,42 1,00
15 0,98 10 

12

14

16
0 1 2 3 4 5 6
FATOR DE SEGURANCA

Figura 10
8

5. TALUDE INFINITO, COM FLUXO D’ÁGUA PARALELO AO TALUDE

Quando há percolação de água através do maciço, o escorregamento ocorre com


taludes mais brandos. Para condição de chuvas intensas e prolongadas, costuma-se
assumir uma rede de percolação constituída de linhas de fluxo paralelas ao talude e as
equipotenciais perpendiculares a ele.

Figura 11

No elemento de solo, além das forças que já existiam no caso anterior surge agora
uma força U, resultante da ação da pressão neutra u na base do elemento. A força U
vale:

ub
U=
cos i

Seja zw a espessura da lâmina de água. Da rede


de fluxo esquematizada na figura 12 é fácil
verificar que:

u = hwγw

Figura 12
9

mas

h w = z w cos 2 i

e portanto

u = z w γ w cos 2 i

e então

U = z w γ w b cos i
Figura 13

A força peso no elemento indicado na figura 11 vale

P = γ n bz

e pode ser decomposta nas forças:

N = P cos i = γ n bz cos i

T = Pseni = γ n bzseni

A força que resiste ao movimento vale:

c' b σ' btgϕ'


S = sA = (c'+ σ' tgϕ' )A = +
cos i cos i

mas neste caso:

N' N − U γ n bz cos i − z w γ w b cos i


σ' = = = = ( γ n z − γ w z w ) cos 2 i
A A b
cos i

e então

c' b
S= + ( γ n z − γ w z w )b cos itgϕ'
cos i

e portanto, resulta o seguinte fator de segurança:


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c' b
+ ( γ n z − γ w z w )b cos itgϕ'
F= cos i
γbzseni

c'+ ( γ n z − γ w z w ) cos 2 itgϕ'


F=
γ n zseni cos i

se zw =z, tem-se γn=γsat e:

c'+ γ sub z cos 2 itgϕ'


F=
γ sat zseni cos i

γ sub tgϕ'
observe para c’=0 → F =
γ sat tgi

Exemplo:

Resolver o mesmo exercício anterior (figura 9), para situação de fluxo d’água
paralelo ao talude com zw =z. Admitir que a densidade e os parâmetros de resistência
do solo não variam com a saturação.

20 + 8z cos 2 35o tg30o 20 + 3,1z


F= → F=
18zsen35o cos 35o 8,46z

F=1 → 20 + 3,1z = 8,46z → z = 3,73 m


0
z (m) F z 
z 

0,5 5,09 2 z 

1 2,73 z
z 
4
2 1,55 z 

3 1,15 6

3,73 1 8
5 0,84  sem fluxo

z com fluxo
10 0,60 10 z 

15 0,52 12


14
z 
16
0 1 2 3 4 5 6
FATOR DE SEGURANCA

Figura 14

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