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Saco de pancada

(Agamenon Magalhães Júnior)

N
ove entre dez professores estão descontentes com a educação. As reclamações são as
mesmas: baixos salários, condições precárias de trabalho, falta de incentivo do Estado à
carreira, indisciplina crescente dos estudantes, sobrecarga de trabalho e desprestígio
social ao educador.
Sejamos francos: se analisarmos bem cada reclamação citada pelos profissionais, ainda
que nos cause indignação e surpresa, veremos que não há nada de novo, não existe problema
hoje que já não existisse, por exemplo, na década de 60. Com maior ou menor intensidade, os
percalços enfrentados pela educação sempre estiveram presentes.
Educar pressupõe uma luta incessante (às vezes injusta) contra as aberrações nascidas
na própria sociedade. Quem escolhe essa profissão tem conhecimento disso e sabe, de cor e
salteado, que o resultado positivo do processo educacional passa pela estrada dos problemas
de ordem política e social.
Dois ingredientes desse caldeirão dos infernos mostram-se novos ou, pelo menos,
renovados em seu poder de destruição: primeiro, o total descaso da família com a orientação
dos filhos e – por fim, coroando a tragédia pela qual passamos – a banalização do processo
educacional.
Essa “dobradinha” rebaixa a educação a estágios subterrâneos, também deixa os
educadores de cabeça quente porque não encontramos saída para tamanho retrocesso
educacional para os tempos pré-históricos.
Hoje os pais jogam toda a responsabilidade de educar os filhos nas costas da escola. Os
pais pagam à escola para ela dar conhecimento ao filho, deixá-lo consciente de suas
responsabilidades na sociedade, avisá-lo de que a família é a coisa mais importante da vida e
tentar convencê-lo de que Deus realmente existe. Acham pouco? Os “responsáveis” pelos seus
filhos jogam aos educadores a obrigação de cuidar desses jovens, de aconselhá-los nos mais
diversos assuntos (dos físicos aos psicológicos). E o interessante é que, se a escola consegue
(por um milagre divino) cumprir essa tarefa com sucesso, logo se diz que é obrigação; se ela
não consegue honrar seus compromissos educacionais, rapidamente sobre ela recaem todas
as culpas e pesarem da sociedade.
Para todos os problemas sociais, a escola existe para servir de saco de pancada. Se a
violência cresce, a culpa é da escola; se pagamos mais impostos, a escola tem
responsabilidade nisso; se faz frio ou calor, a escola deve ser punida porque se veem
irregularidades dela nesse assunto também...
O outro ponto sobre o qual cabe reflexão é o fato de que o estudante hoje não ser
reprovado, mesmo se não tiver condições (ou conhecimentos) para seguir para a série
seguinte. Aprova-se de qualquer jeito para que se faça depois pesquisa e se diga que a
educação está melhor “porque o índice de reprovação é insignificante”. Isso é educar? Essa
política para a educação tem lógica?
A sociedade deteriora-se à medida que a educação apodrece! Talvez porque sejam elas
partes que se integram, se completam e se harmonizam em prol do desenvolvimento da
população. Não deve haver educador, em sã consciência, satisfeito com esse quadro.

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