Entre os séculos XVI e XVIII, a presença e atuação da Companhia de Jesus
desempenhou um papel importante na sociedade colonial brasileira (Camenietzki, 1999). Fundada em 1540 por Inácio de Loyola, como explica Lübeck (2005), a ordem dos jesuítas tinha como objetivo propagar a fé católica e combater os avanços da Reforma Protestante. No Brasil colonial, os jesuítas tiveram um enfoque diferente, que consistiu na fundação de instituições de ensino e a catequese dos povos indígenas. Posteriormente os jesuítas mudaram o foco do ensino, que passou a ser direcionado não apenas para os povos indígenas. Mas também para os filhos de colonos e até mesmo para os filhos de escravos, que eram alfabetizados com o objetivo de serem convertidos ao cristianismo (Scachetti, 2013). Scachetti (2013) cita o exemplo do padre Antônio Vieira, um renomado jesuíta que produziu muitos sermões direcionados aos escravos trazidos ao Brasil. Seu objetivo era transmitir a concepção cristã de mundo aos escravos, buscando sua adesão e obediência a esses valores religiosos. Além de suas atividades educacionais e missionárias, os jesuítas exerceram um papel importante em diversas áreas da vida colonial. Entre essas, destaca-se o seu engajamento no estudo da ciência. Como discutido por Lübeck (2005), uma das áreas em que os jesuítas se destacaram foi a observação astronômica. Eles construíram lunetas e observatórios para estudar o céu do hemisfério sul. Essas observações eram essenciais para determinar a melhor época para plantio e colheita, além de serem úteis para a navegação marítima.
Expulsão dos Jesuítas e o Marques de Pombal
Em 1759, sob a determinação do Marquês de Pombal, Sebastião José de
Carvalho e Melo, os jesuítas foram expulsos de Portugal e do Brasil. E então, como explica Scachetti (2013), Pombal iniciou uma reforma educacional com o objetivo de atualizar o reino de Dom José I. Como parte dessa reforma, foram criadas as aulas régias, substituindo as instituições de ensino lideradas pelos jesuítas. As aulas régias foram estabelecidas para substituir o ensino das escolas jesuítas, entretanto, os efeitos dessa mudança foram percebidos alguns anos depois. No ano seguinte, em 1760, aconteceu o primeiro concurso público para professores, porém eles só foram chamados para assumir o cargo após mais de uma década depois. E nesse período, estudavam apenas os que possuíam condições de contratar um tutor particular (Scachetti, 2013). No início, o ensino público tinha como objetivo ter um sistema educacional laico, mesmo que o catolicismo ainda tivesse influência. Entretanto, não era necessária uma formação específica para se tornar professor, então, como explica Scachetti (2013) “eram selecionados os que tinham alguma instrução, muitas vezes padres”. As reformas educacionais introduzidas por Pombal permaneceram em vigor até a morte de Dom José I, em 1777. Após sua morte, houve mudanças políticas, mas o sistema de ensino público permaneceu. E embora tenha havido uma mudança na nomenclatura das aulas de régias para públicas, o ensino permaneceu o mesmo (Scachetti, 2013).
Academia Real Militar
Em 1810, no Rio de Janeiro, foi fundada a Academia Real Militar do Brasil, que visava formar militares especializados em matemática para melhorar o serviço militar, especialmente após a chegada da família real portuguesa. Os professores foram orientados a usar compêndios baseados em obras europeias renomadas, suprindo a falta de livros didáticos (Martines, 2013). Em 1842, Pedro II estabeleceu o doutorado em Ciências Matemáticas na Escola Militar, e dessa forma, como explica Martines (2013), preparou os engenheiros para estudos avançados e incentivando a inovação. O regulamento para obtenção do grau foi aprovado em 1846, representando um avanço significativo no ensino e formação de profissionais na área de matemática no Brasil do século XIX. Esses eventos demonstram a importância da Academia Real Militar no desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil, contribuindo para a formação de profissionais capacitados e inovadores na área de matemática, conforme a visão de progresso do Imperador Pedro II (Martines, 2013).
Referências
CAMENIETZKI, Carlos Ziller. A companhia de Jesus e a ciência na América
Portuguesa entre 1663 e 1759. In: Anais do III Seminário Nacional de História da Matemática. Vitória, Espírito Santo, 29-31 de março de 1999. p. 156-165. LÜBECK, Marcos. Retrato de uma história das matemáticas nas reduções jesuíticas dos sete povos das missões. In: Anais do VI Seminário de História da Matemática. Brasília, 20-23 de março de 2005. p. 225-231. MARTINES, Mônica de Cássia Siqueira. O ensino de matemática na Academia Real Militar e o Decreto de 1846. X Seminário Nacional de História da Matemática, 2013. SCACHETTI, Ana Ligia. Ensino com catecismo. Nova Escola. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/3433/ensino-com-catecismo. Acesso em: 17 de março de 2024. SCACHETTI, Ana Ligia. Mestres quase nobres. Nova Escola. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/3442/mestres-quase-nobres. Acesso em: 17 de março de 2024.