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SUMÁRIO
Introdução
A origem da teoria do Modelo Mental e sua evolução
Análise do Modelo Mental como instrumento de apoio à
tomada de decisão
O lançamento da bomba atômica à luz do modelo mental
Conclusão
* Artigo adaptado do Trabalho de Conclusão do Curso de Estado-Maior para Oficiais Superiores (C-Emos) da
Escola de Guerra Naval (EGN), 2019. Título original: A Teoria do Modelo Mental de Kenneth Craik:
sua aplicabilidade no processo decisório de Hiroshima e Nagasaki.
** Foi comandante do Rebocador de Alto-Mar Triunfo e imediato do Navio-Patrulha Parati. Serve atualmente
na Assessoria de Relações Institucionais do Gabinete do Comandante da Marinha.
1 O acrônimo Vuca vem do idioma inglês e significa: Volatile, Uncertain, Complex and Ambiguous. É uma
denominação criada pelo Exército norte-americano que faz alusão à volatilidade, incerteza, complexidade
e ambiguidade do mundo (KOK, 1997).
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mento do mundo e para a atuação nele. padrões que expliquem a realidade, cuja
Ele alega que duas pessoas com Modelos percepção seria dependente da crença do
Mentais diferentes podem observar o mes- indivíduo. Suscita, portanto, o conceito do
mo evento e descrevê-lo diferentemente, Realismo Dependente de Crença (RDC):
em virtude da discordante percepção indi-
vidual. Peter alerta que o revés do Modelo Formamos nossas crenças por
Mental não é se eles estão corretos ou não, uma variedade de razões subjetivas,
mas sim quando eles existem abaixo do pessoais, emocionais e psicológicas
nível de consciência do indivíduo. num contexto de ambientes criados
Observa-se, então, a existência do pela família, amigos, colegas, cultura
segundo viés na aplicação do Modelo e sociedade em geral; depois de formar
Mental, uma vez não anuído o seu próprio nossas crenças, as defendemos, justifi-
uso. No entanto, é relevante aperceber-se camos e racionalizamos com uma série
da pouca importância dada por Peter para de razões intelectuais, argumentos
a correta formulação do Modelo Mental, convincentes e explicações racionais.
o que se traduz numa certa naturalidade Crenças vêm em primeiro lugar, e
quanto ao consentimento de observações depois suas explicações. Chamo esse
divergentes sobre um mesmo fenômeno. processo de Realismo Dependente de
Já Stephen Hawking (2010), físico Crença, em que nossas percepções so-
britânico de renome, abordou a mesma bre a realidade dependem das crenças
semântica de Kenneth Craik, porém com que mantemos sobre ela. A realidade
uma pequena variação de terminologia. existe independente da mente humana,
Chamou a simplificação da realidade mas a nossa compreensão dela depende
externa de Realismo Dependente de das crenças que mantemos em um dado
Modelo (RDM), expondo-o como não momento (SHERMER, 2011, p. 11,
aplicável somente ao modelo científi- tradução nossa).
co, mas também ao consciente e sub-
consciente dos Modelos Mentais que Em que pese Michael Shermer afirmar
os indivíduos criam para interpretar e que a percepção da realidade depende da
compreender o mundo. crença do indivíduo, ela nada mais é do
Interessante notar que Stephen que o próprio Modelo Mental de Craik,
Hawking, exímio físico, legitima a as- sendo também provedor dos mesmos
sociação de ideias de Craik quando traz Retornos Kennethianos.
da própria Física a definição de Modelo Percebe-se que, na atualidade, a deno-
Mental como sendo uma representação da minação de Modelo Mental derivou para
realidade. Tal advento poderia até mesmo Realismo Dependente de Modelo (RDM)
ser entendido como uma sanção da expe- e Realismo Dependente de Crença (RDC).
rimentação física de Hawking para com Não obstante, ambas designações corro-
a associação de ideias de Craik. boram com a teoria de Kenneth Craik,
Ainda nesse contexto, sobre a variação contribuindo para a perenidade desta.
de terminologia acerca do conceito de Percebe-se, ainda, um estreito alinha-
Modelo Mental, Michael Shermer (2011) mento entre os autores supramencionados
declara que o ser humano, por forças da neste capítulo e Kenneth Craik quanto
evolução e da preferência por um mundo à representação da realidade externa ao
ordenado, tornou-se um ser procurador de indivíduo por meio de Modelo Mental.
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2 N.A.: Expressão em latim cujo significado em português é “sem ela não”, entendendo-se como uma condição
essencial para uma determinada causa.
3 Startup Publisher OnLine é uma editora online cujos artigos por ela aprovados são publicados na plataforma
Medium, no endereço eletrônico https://medium.com.
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cópia da Ilíada sob seu travesseiro. los, deixando-os instáveis. Além disso,
Quando a Academia Militar dos EUA as pessoas possuem a propensão de criar
foi fundada, em 1802, o Presidente Modelo Mental com base em superstições
John Adams defendeu um ambicioso e crenças injustificadas (HAGSTROM,
programa de leitura para seus oficiais. 2013). Aqui se perfaz o terceiro viés
Hoje, cada ramo das Forças Armadas acerca dos Modelos Mentais. Assim,
tem-se no total três vieses, a saber: a) a
tem sua própria lista de leitura. O Exér-
cito tem pelo menos seis, supervisiona- percepção seletiva do indivíduo, apontado
das pelo chefe do Estado-Maior, pela por Wind et al. b) o uso inconsciente do
Biblioteca da Escola de Guerra e pelo Modelo Mental, apontado por Senge; e c)
Centro de Liderança do Exército. Os a elaboração ou o uso incorreto do Modelo
Fuzileiros Navais têm dezenas de listas Mental, apontado por Hagstrom.
de leitura e a Marinha tem seu Progra- Dado um conjunto de Modelos Mentais,
ma de Leitura Profissional, que inclui oa tendência do indivíduo é igualar o valor
Billy Budd, de Melville (HAGSTROM, representado por cada Modelo Mental. No
2013, p. 155, tradução nossa). entanto, o ideal é que os modelos tenham
seus potenciais de
Observa-se a lei- contribuição ajusta-
tura como um gran- No Modelo Mental dos (HAGSTROM,
de recurso utilizável 2013). Assim, pode-
na elaboração dos Inversão, o indivíduo pensa -se dizer que os Mo-
Modelos Mentais, melhor numa solução ao delos Mentais devem
cuja compilação possuir o Princípio
pode girar em torno
percorrer o problema de Hagstrom, ou
de cem modelos. no sentido reverso, para seja, que sejam atri-
E a repetida leitura posterior ação antagônica buídos seus pesos
destes suscita a ideia equivalentes aos seus
de poder alcançar os potenciais de contri-
insights que levam à antecipação aos fa- buição para a resolução dos problemas.
tos, um dos RK. Assim, dentro dessa con-
catenação de leituras e Modelos Mentais, Concepção dos Modelos Mentais
é importante aperceber-se que instituições para aplicação
seculares, hoje, ainda permeiam listas
de obras literárias ditas essenciais para Com o intuito de clarificar os Modelos
seus respectivos colegiados, inclusive as Mentais, serão descritos de forma sucinta
Forças Armadas dos EUA. cinco tipos, que mais adiante serão aplica-
No entanto, pesquisas mostram que, dos no contexto do lançamento da bomba
frequentemente, o uso do Modelo Mental atômica na 2a GM.
é falho. Os indivíduos constroem repre-
sentações incompletas dos fenômenos, e Modelo Mental 1: Inversão
mesmo quando estas são precisas, não são “Tudo o que eu quero saber é onde
usadas apropriadamente. Há uma tendên- vou morrer, pois assim nunca irei para lá”
cia a esquecer detalhes acerca dos Mode- (MUNGER, 2008, p. 63, tradução nossa)4.
4 Original em inglês: All I want to know is where I'm going to die, so I'll never go there.
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6 General Omar Bradley foi o comandante norte-americano tático mais significativo no teatro de operações
europeu na 2a GM (ALPEROVITZ, 1996).
7 Em setembro de 1933, o físico Leo Szilard vislumbrou a possibilidade de uma reação nuclear em cadeia por
meio da divisão de átomos. Cinco anos depois, em dezembro de 1938, os cientistas alemães lograram êxito
na divisão do átomo de urânio. A notícia se espalhou entre os grandes físicos, os quais tentaram duplicar o
experimento alemão. Assim iniciou-se a corrida pelo desenvolvimento da bomba atômica (KELLY, 2007).
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8 Original em inglês: His Majesty the Emperor, mindful of the fact that the present war daily brings greater
evil and sacrifice upon the peoples of all belligerent powers, desires from his heart that it may be quickly
terminated (ALPEROVITZ, 1996, p. 34).
9 Original em inglês: Once the enemy’s European air forces are transferred to the Pacific, our damages will
exceed anything we can imagine, so that we may be facing the same situation that led to the downfall
of Hitler Germany (ALPEROVITZ, 1996, p. 31).
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cenário mundial. Ou seja, o uso da bomba Aérea dos aliados sobre o Japão, finali-
seria um curto ato com grandes efeitos. zado o conflito na Europa. Por outro lado,
Com relação às outras duas opções sabia-se que os japoneses sustentavam
em análise, a participação da URSS e a uma vontade infinita de lutar pelo seu
invasão do Japão, somadas ou separadas, país, conforme a alegação do embaixador
não trariam um benefício à altura daquele japonês na URSS, em maio de 1945, de
alcançável pelo uso da bomba atômica. que a Guerra do Pacífico era uma ques-
Apenas ajudariam os EUA no processo de tão de vida ou morte para o Japão e que
finalização da guerra, o propósito imediato eles não tinham outra escolha a não ser
norte-americano. continuar lutando.
Portanto, o uso do Modelo Mental do Além disso, sabia-se que o Japão não
Princípio de Pareto aponta para o uso da mais possuía aliados, que a Marinha
bomba atômica como o principal meio japonesa estava destruída, que o país
para finalizar a guerra contra o Japão, estava vulnerável aos ataques aéreos, que
desvalorizando a participação da URSS e os japoneses também lutavam contra a
a invasão do Japão. Ainda assim, será dada ascensão da China e a ameaça da URSS,
continuidade com a aplicação dos demais que a estimativa de baixas para a invasão
Modelos Mentais para verificar se corrobo- girava em torno de 40 mil vidas norte-
ram ou não com o uso da bomba atômica. -americanas e que a invasão estava previs-
ta para iniciar-se em novembro de 1945.
Aplicação do Modelo Mental 3: Em suma, muitas informações corro-
Círculo de Competência boravam para a invasão, e a princípio,
Em observância ao Modelo Mental do se faltavam dados, estes não eram im-
Círculo de Competência, o qual idealiza a portantes ao ponto de se ter um revés
diferença entre o “saber corrente” e o “sa- durantes as operações de conquista das
ber requerido” necessário para tomar uma ilhas japonesas.
decisão, serão analisadas as três ações Em relação à participação da URSS,
relevantes encontradas com o Modelo sabia-se que os russos se motivaram a
Mental da Inversão: o uso da bomba atô- entrar na Guerra do Pacífico devido ao fim
mica, a invasão do Japão e a participação da guerra na Europa e à possibilidade de
da URSS na guerra contra o Japão. posse do território da Manchúria. Sabia-
No tocante ao uso da bomba atômica, -se também que a apreciação da Junta de
sabia-se do seu sucesso nos testes, mas Inteligência dos EUA, em 11 de abril de
tinha-se a anuência de que havia a possi- 1945, apontava para a inevitabilidade da
bilidade de falhas. Salvo essa observação, derrota japonesa com a entrada da URSS
todas as demais informações sobre a utili- na Guerra do Pacífico. No entanto, em
zação da bomba atômica eram conhecidas meados de julho de 1945, num momento
pelos EUA. em que a guerra estava em seu estágio
Em relação à invasão do Japão, obser- final, os norte-americanos desistiram da
va-se, sensivelmente, a possibilidade de participação da URSS.
que haveria uma oposição branda por oca- Portanto, o uso do Modelo Mental do
sião das conquistas das ilhas japonesas, Círculo de Competência deixa claro que a
uma vez que as mensagens interceptadas diferença entre o “saber corrente” e o “sa-
indicavam o desejo do Japão de findar a ber requerido” acerca do uso da bomba,
guerra e o receio em lidar com a Força da invasão do Japão e da participação da
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URSS é muito pequena, sendo até nula no guerra; b) Quais evidências confirmam a
caso da participação da URSS, que se tra- manutenção dessa presunção? Inexistência
duziu na renúncia dos EUA pela atuação de aliados ao Japão, inexistência de uma
daquele país. Assim, descarta-se a atuação Marinha para se contrapor, vulnerabilidade
da URSS e mantêm-se para análise nos do Japão aos ataques aéreos e possibili-
demais Modelos Mentais o uso da bomba dade de haver combate em mais de uma
e a invasão do Japão. frente de batalha em virtude da China e
da URSS; e c) Essa presunção é uma falsa
Aplicação do Modelo Mental 4: dependência? Não, pois a história mostra
Navalha de Ockham inúmeras finalizações de guerras por meio
Em observância ao Modelo Mental da invasão no Estado beligerante.
da Navalha de Ockham, o qual idealiza Portanto, o uso do Modelo Mental da
a subtração do irrelevante por meio da Navalha de Ockham alude à invasão do
divisão do problema em presunções, serão Japão. Prosseguindo, será dada continui-
analisadas as duas ações relevantes encon- dade à aplicabilidade da teoria do Modelo
tradas com o Modelo Mental da Inversão Mental com o emprego do último Modelo.
ainda restantes: o uso da bomba atômica
e a invasão do Japão. Para cada presunção Aplicação do Modelo Mental 5:
serão feitas as seguintes perguntas: a) Essa Segunda Ordem de Consequências
presunção realmente precisa estar aqui?; Em observância ao Modelo Mental
b) Quais evidências que confirmam a da Segunda Ordem de Consequências, o
manutenção dessa presunção?; e c) Essa qual idealiza a observação não somente
presunção é uma falsa dependência? do impacto imediato da decisão, mas
Assim, seguindo o Modelo Mental também uma segunda ordem de impacto,
em lide, tem-se como presunções para a serão analisadas as duas ações relevantes
resolução do problema as próprias ações encontradas com o Modelo Mental da
do uso da bomba e da invasão do Japão. Inversão ainda restantes: o uso da bomba
Logo, serão respondidas as perguntas atômica e a invasão do Japão.
supramencionadas, em separado: Sobre a utilização da bomba atômica,
i) Uso da bomba atômica: a) Essa pre- tem-se como segundo impacto, além do
sunção realmente precisa estar aqui? Sim, fim da guerra, a possível hegemonia dos
tendo em vista o seu potencial para decidir EUA, mesmo que temporária, quanto à
a guerra; b) Quais evidências confirmam tecnologia do armamento nuclear. Como
a manutenção dessa presunção? O poder um terceiro impacto, estão os benefícios
destrutivo observado quando realizado o para a segurança mundial, conforme
teste com o protótipo da bomba na área antecipado pelo Presidente Truman ao
Trinity; e c) Essa presunção é uma falsa fim da 2a GM, ao declarar que potenciais
dependência? Sim, pois, em toda a história, países agressores poderiam ser cerceados
as guerras foram finalizadas com armas por este tipo de artefato nuclear. Já com
sem essa capacidade. Ou seja, em algum relação à invasão do Japão, não se observa
dado momento a guerra terminará por outro impacto a não ser o fim da guerra.
outros meios, mesmo sem o uso da bomba. Portanto, a aplicação do Modelo Men-
ii) Invasão do Japão: a) Essa presunção tal da Segunda Ordem de Consequências
realmente precisa estar aqui? Sim, tendo indica o uso da bomba atômica como so-
em vista o seu potencial para decidir a lução para findar a guerra contra o Japão.
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tais poderia ter aflorado na reedição do Modelos Mentais, menor será a restrição.
processo decisório em lide e interferido no Ou seja, a busca pelo domínio pleno da
resultado. De fato, isso incorreria em outra teoria traduz-se no uso atemporal dos
solução que não o uso da bomba atômica. Modelos Mentais, independente de prazos
Em que pese ter existido, à época, para solução.
outras opções que poderiam ter sido Para o enfrentamento do então mundo
utilizadas para findar a guerra, a decisão Vuca, o domínio pleno da teoria é a con-
final, sob o amparo da teoria do Modelo dição ideal a ser atingida pelo indivíduo
Mental, apontou para o uso da bomba que passará a atuar no modus operandi
atômica sobre o Japão, conforme foi a de respostas rápidas diante de mutáveis
decisão tomada há 74 anos. Posto isto, contrariedades. Nesse nexo, firma-se a
respondida está a questão apresentada no relevância deste trabalho pelo consen-
início deste trabalho. timento da adaptabilidade do processo
Conclui-se portanto, que a teoria do decisório do indivíduo mediante constante
Modelo Mental de Kenneth Craik possui atualização de seus Modelos Mentais.
uma eficiente aplicabilidade como ins- Sugere-se, como um salutar desafio,
trumento de apoio à tomada de decisão, um sucinto estudo sobre quais livros de-
uma vez que ela propicia ao indivíduo veriam compor, a posteriori, as listas ou
uma adequada simplificação da realidade, os programas de leituras da Marinha do
uma acurada compreensão do problema e Brasil (MB), aos moldes da Marinha dos
uma ponderada solução, a qual perfaz-se EUA. Cabe então ao órgão responsável a
dos Retornos Kennethianos sob o aspecto segmentação das listas por Especialidade,
de adaptabilidade do processo decisório por Corpo, por Distrito, por Organização
ante a mutabilidade do entorno mundano. Militar ou por outras opções que sejam
No entanto, restringe-se o uso prin- posteriormente vislumbradas. Assim,
cipiante da teoria para as circunstâncias poder-se-ia obter, mesmo que a modus im-
com suficiente tempo para a aplicabilidade plícito, uma harmonização de desejáveis
dos Modelos Mentais deliberados para o Modelos Mentais nos militares da MB.
problema, de forma a mitigar os vieses Por fim, sugere-se como temática
inerentes à subjetividade da construção, para futuras pesquisas um estudo mais
assimilação, interpretação e utilização aprofundado sobre os vieses atinentes aos
dos Modelos. Assim, a restrição é sobre Modelos Mentais, de maneira que permita
o próprio indivíduo e não sobre a teoria um uso principiante mais seguro da teoria
em si. Quanto maior o domínio acerca dos do Modelo Mental de Kenneth Craik.
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