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Física e metafísica
do espaço e do tempo
Filosofia no laboratório

Shahen Hacyan

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Primeira edição, 2004


Primeira edição eletrônica, 2011

DR © 2004, Fondo de Cultura Económica


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ISBN 978-607-16-0501-6

Feito no México - Feito no México

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Para Arturo, Esther e León

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Sócrates: Um, dois, três, mas o nosso quarto,


querido Timeu... onde está?

Platão, Timeu (17 a)

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Sobre o autor

Shahen Hacyan é doutor em física teórica pela Universidade de Sussex, na Inglaterra, o autor
é membro da Academia Mexicana de Ciências e pesquisador do Instituto de Física da UNAM.
Até o momento, ele tem sete títulos publicados nas coleções científicas da FCE e realizou um
trabalho notável na divulgação científica, que inclui colaborações sobre vários temas, tanto em
revistas quanto em uma interessante seção científica de um jornal da Cidade do México. .

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Obrigado

Este livro é produto de muitas discussões com colegas e amigos e de minhas próprias reflexões.
Algumas das idéias aqui expostas foram esboçadas no passado em várias palestras e publicações
minhas; Retomei-os para desenvolvê-los sem todas as restrições práticas impostas pelo espaço e
pelo tempo.
Este trabalho foi possível graças ao apoio constante da Universidade Nacional Autônoma do
México, instituição pública que me proporcionou as condições necessárias para desenvolver minha
carreira profissional com total liberdade para investigar, especular e realizar trabalhos filosófico-
naturais. Comecei a escrever este livro durante um semestre sabático que tive o privilégio de passar
na École Normale Supérieure em Paris, pelo que também quero agradecer a hospitalidade desta
prestigiosa instituição e, em particular, o convite de Serge Haroche para sua famosa laboratório de
física quântica, um local muito apropriado e estimulante para desenvolver e concretizar ideias sobre
a filosofia natural moderna.

Quero agradecer especialmente a Déborah Dultzin, Beatriz Loria e Esperanza Verduzco pela
leitura meticulosa do manuscrito; Seus comentários e críticas pertinentes permitiram esclarecer
vários pontos obscuros e melhorar a redação. Claro que a responsabilidade final pelo texto é
inteiramente minha.
Por último, mas não menos importante (como dizem os falantes de inglês), agradeço ao Fondo
de Cultura Económica e à sua dinâmica coordenadora editorial, María del Carmen Farías, pelo
apoio de longo prazo às minhas atividades literárias.

Shahen Hacyan
Cidade do México
agosto de 2004

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Introdução

Este livro é sobre espaço e tempo - ou espaço-tempo, como dizem - bem como realidade
objetiva e compreensão científica, tudo dentro do contexto da física moderna e da filosofia não
tão moderna.
Os filósofos, ao longo da história, tentaram entender como nossa mente se relaciona com
o mundo sensível. Surgiram várias doutrinas, algumas se enfrentando, sem chegar a nenhum
consenso. Por fim, a mecânica desenvolvida por Galileu e Newton no século XVII levou a uma
nova visão do mundo, tão bem-sucedida que os problemas ontológicos foram relegados a
segundo plano. O que naquela época ainda era conhecido como "filosofia natural" começou a
se separar do resto da filosofia e a tomar sua própria forma para se tornar o que hoje
chamamos de física.
Para esses novos filósofos da natureza, o espaço era um mero palco no qual os objetos
materiais se movem, e o tempo um parâmetro com o qual seu movimento é descrito
matematicamente. Um século após a morte de Newton, a nova ciência já havia ultrapassado
o escopo das discussões filosóficas e começava a encontrar aplicações inesperadas,
fomentando uma revolução tecnológica que modificou profundamente as condições sociais e
o ambiente natural, a tal ponto que Karl Marx pôde sentenciar : “Os filósofos apenas
interpretaram o mundo de várias maneiras; trata-se de mudá-lo.”[1]

Mas, apesar de seus notáveis sucessos, a mecânica newtoniana foi questionada por
vários filósofos, inclusive George Berkeley como um típico representante da corrente idealista.
Berkeley argumentou que, se conhecemos o mundo apenas por meio de nossas percepções
e estas são produzidas pela mente, podemos prescindir da matéria e assumir que não há
realidade além de nossas ideias. Apesar de sua posição extrema, deve-se reconhecer que
Berkeley apontou claramente o que havia sido um problema fundamental para toda a filosofia
da ciência: o mundo que percebemos é a imagem fiel de uma realidade objetiva ou é uma
ilusão produzida por nossa mente? ? A resposta depende essencialmente do ponto de vista
filosófico que se adota. Para os idealistas, tudo é produto da mente e o mundo uma espécie
de alucinação coletiva. Por outro lado, para os materialistas existe uma realidade objetiva
independente do sujeito, cuja percepção é apenas um reflexo mais ou menos exato dela.

Quer o mundo seja realidade ou ilusão, não é evidente como nossa mente constrói (ou

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reconstrói) a imagem do que percebemos, e como a compreensão é produzida.


A este respeito, existem várias posições filosóficas encontradas. Segundo filósofos racionalistas
como Descartes e Leibniz, existem verdades que descobrimos antes de checá-las por meio
dos sentidos, o que implica que temos ideias inatas. Por outro lado, para filósofos empiristas
como Locke e Hume, a compreensão humana é construída a partir de percepções, portanto
nossa compreensão é posterior à experiência sensorial.

No meio dessas duas posições antagônicas está o vasto sistema filosófico de Immanuel
Kant, que sustentava que a mente é o que constrói o conhecimento do mundo a partir das
sensações. O ponto essencial de sua tese é que nosso conhecimento é baseado tanto no que
nossos sentidos fornecem quanto em estruturas inatas que nos permitem processar essa
informação. Kant distinguiu claramente entre coisas como aparências e coisas em si mesmas
que não são diretamente perceptíveis, mas causam sensações. Nesse contexto, um dos
aspectos mais revolucionários de sua obra em termos de sua relação com a física é a tese de
que o espaço e o tempo não são propriedades das coisas em si, mas "formas de percepção":
condições de sensibilidade do sujeito que permitem ordenar o conjunto de suas percepções e
dar sentido ao mundo apreendido.

Na época em que Kant escreveu sua famosa Crítica da Razão Pura — uma obra com a
qual se propôs a encontrar os limites da razão humana —, a única ciência que havia se
desenvolvido com sucesso era a física newtoniana. Embora suas principais teses ainda sejam
objeto de discussão, sua concepção de mundo não contradiz a física moderna. É o que
tentaremos mostrar nos próximos capítulos.

***

A física moderna é baseada em duas teorias fundamentais, a relatividade e a mecânica


quântica, que mudaram completamente nossas ideias sobre espaço, tempo e realidade física.
Na teoria da relatividade não há espaço e tempo absolutos, mas sim distâncias e intervalos
que dependem de cada observador em um espaço-tempo quadridimensional; Além disso, na
teoria da relatividade generalizada, esse espaço-tempo não é mais um simples cenário de
processos físicos, mas possui propriedades dinâmicas diretamente relacionadas à sua
geometria. A outra grande teoria da física moderna, a mecânica quântica, descreve o
comportamento dos átomos e das partículas subatômicas e nos revelou um mundo microscópico
no qual o espaço e o tempo aparecem apenas como variáveis matemáticas e onde conceitos
como

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medição e realidade física perdem seu significado usual.


A relatividade de Einstein é um modelo de precisão matemática: embora seus postulados
básicos não correspondam ao "senso comum", eles são perfeitamente claros e é possível
construir uma teoria completa e totalmente coerente com eles. A situação é muito diferente
para a mecânica quântica; apesar de seus sucessos impressionantes, seus princípios
fundamentais contradizem tão radicalmente o senso comum que, desde o início, deu origem
a várias interpretações rivais. Até agora, a chamada “interpretação de Copenhague” é a que
prevaleceu, apesar de seus aparentes paradoxos; no início foi aceito por razões puramente
pragmáticas, mas com o tempo passou por todos os testes a que foi submetido.

***

O objetivo deste livro é descrever a nova realidade revelada pela teoria da relatividade e pela
mecânica quântica e situar os conhecimentos mais recentes da física no esquema filosófico
que Kant desenvolveu um século antes da descoberta dos átomos. Para tanto, apontaremos
o fato notável de que a física moderna é compatível com as teses kantianas, particularmente
a inter-relação entre o observador e o mundo sensível, e a concepção de espaço e tempo
como formas de percepção.
Sem entrar em maiores detalhes, basta ressaltar que, segundo a interpretação de
Copenhague, a realidade atômica que percebemos depende parcialmente de nossa forma
de observar e dela não pode ser dissociada, não havendo, portanto, uma fronteira bem
definida entre sujeito e objeto observado. Por outro lado, as correlações espaciais que se
manifestam entre os sistemas atômicos contradizem nossos conceitos comuns de espaço;
da mesma forma, o tempo é interpretado apenas como um parâmetro e pode correr em duas
direções, para o passado ou para o futuro.

Até algumas décadas atrás, tudo isso parecia restrito ao âmbito estreito das discussões
acadêmicas. Mas agora, graças a grandes avanços na física atômica e na óptica quântica,
temos a capacidade de realizar muitos experimentos reais em laboratório que antes não
passavam de experimentos mentais. Não se trata mais de raciocinar e especular, mas de
projetar experimentos que permitam verificar os estranhos efeitos previstos pela mecânica
quântica. A física moderna nos apresenta uma nova oportunidade única de fazer filosofia no
laboratório.
Em suma, o conceito de realidade física, tal como o entendemos, atinge o fundo do poço
no mundo atômico, onde a interdependência entre realidade e sujeito é mais evidente. Por

onze
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Claro, Kant não estava em condições de prever os avanços da ciência moderna e nunca
imaginou os limites que a razão humana pode alcançar com a ajuda da matemática. Você
ficaria surpreso ao ver como a física quântica conseguiu descrever, com precisão
surpreendente, os fenômenos de um mundo ainda insuspeitado um século atrás. Esses são
os
tópicos que abordaremos a seguir. Nos primeiros cinco capítulos apresentaremos as
concepções de espaço, tempo e matéria desenvolvidas pelos filósofos naturais e matemáticos
até o final do século XIX, dando especial atenção às contribuições de Kant. A seguir, vamos
esboçar os princípios básicos da teoria da relatividade e da mecânica quântica, e depois
apresentá-los no contexto da física moderna. Nos últimos capítulos voltaremos às concepções
de Kant.

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[1] Karl Marx, Teses sobre Feuerbach, 1845.

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I. Espaço

O diâmetro do Aleph seria de dois ou três centímetros, mas o espaço


cósmico estava lá, sem diminuição de tamanho.

JL Borges, O Aleph

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Pitágoras e Euclides

Pouco se sabe sobre a vida do mítico Pitágoras, que viveu no século VI aC. C., e menos de
seus ensinamentos filosóficos, que preferiu manter em segredo no círculo de seus discípulos.
Atribui-se a ele a descoberta de uma harmonia existente entre o mundo dos números e o
mundo sensível, cujo paradigma é a relação numérica das notas musicais produzidas por
uma corda vibrante. Pitágoras intuiu que uma relação semelhante também deve existir entre
os planetas: segundo a lenda, ele podia ouvir a música dos corpos celestes. Seja como for,
parece que a ele devemos a visão profética de que a natureza pode ser descrita por meio
da matemática, o que se verificaria dois milênios depois de sua passagem pelo mundo.

Ele também é creditado com o famoso teorema que leva seu nome e que diz
explicitamente: "para todo triângulo retângulo, a soma dos quadrados dos catetos é igual ao
quadrado da hipotenusa". Sabe-se que esse resultado já era conhecido pelos babilônios,
pois foram encontradas várias tabuinhas que o mencionam, mas eles apenas relataram
alguns casos particulares e não parece que tenham provado esse teorema em geral. Como
veremos mais adiante, o teorema de Pitágoras revelou-se extremamente importante na
geometria, pois permite calcular algo tão fundamental como a distância entre dois pontos.

Após esse início misterioso, o próximo evento crucial na matemática foi o aparecimento
dos Elementos por Euclides, que viveu por volta de 300 a.C. C. e é sem dúvida o matemático
mais importante da Antiguidade.
Graças a esse livro, que tanto influenciou a história da humanidade, a geometria atingiu o
patamar de ciência.
Euclides estabeleceu uma forma de raciocínio que até hoje é um modelo de precisão
lógica. O método consiste em definir primeiro, com total clareza, alguns conceitos
fundamentais com base em ideias que todos temos intuitivamente. Alguns axiomas ou
postulados simples e auto-evidentes são então colocados como verdades que se aceitam
sem questionar. Então, a partir desses mesmos postulados, os conceitos são combinados
segundo algumas regras simples de lógica, até formular e provar um teorema. Assim,
provando um teorema após o outro, o grande edifício da matemática é construído com os
tijolos das definições e as regras básicas para combiná-los uns com os outros.

Continuando com este esquema, os Elementos começam com várias definições: o que
é um ponto, uma linha, uma reta, uma superfície, um ângulo, um círculo, etc. Armado com
essas definições, Euclides oferece ao leitor cinco postulados

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básicos, a partir dos quais irá demonstrando os teoremas da geometria e revelando as


propriedades do espaço.
Os primeiros quatro postulados dos Elementos são muito claros:

1. Uma reta passa por dois pontos.


2. Uma reta finita pode ser estendida por outra reta.
3. Um círculo pode ser construído com qualquer centro e raio.
4. Todos os ângulos retos são iguais entre si.

Então, praticamente do nada, Euclides traça um quinto postulado, bastante confuso, que
tem a ver com a possibilidade de duas retas se cruzarem em algum ponto:

5. Se uma linha intercepta duas linhas de tal forma que os ângulos internos do mesmo
lado somam menos de dois ângulos retos, as duas linhas estendidas indefinidamente
se cruzam no lado onde os dois ângulos somam menos de dois ângulos retos .

O quinto postulado contrasta com a simplicidade dos quatro anteriores. O leitor não pode
evitar a impressão de que Euclides não teve escolha a não ser incluí-lo apenas para evitar
cair em contradições posteriores. Obviamente, é um acréscimo que seria melhor dispensar;
tanto que Euclides consegue adiar seu uso até a proposição 28, onde tem que recorrer a ela
pela primeira vez.
O ideal teria sido provar aquele postulado pesado com base nos quatro anteriores, para
que deixasse de ser um axioma. Esse é o caminho que os matemáticos dos séculos seguintes
tentaram seguir, mas nenhum conseguiu. Dentre os muitos ataques ao quinto postulado, vale
destacar o de Proclus, um filósofo bizantino do século V dC, que conseguiu dar um pequeno
passo à frente ao mostrar que ele é inteiramente equivalente a outro postulado, mais simples
que o originalmente proposto por Euclides: "Dada uma linha reta e um ponto fora dela,
exatamente uma linha pode ser traçada através desse ponto que é paralela à linha reta."

Retas, pontos, paralelos... Todos temos uma ideia a que correspondem estes conceitos.
Podemos perfeitamente imaginar duas linhas paralelas que não estão nem mais próximas
nem mais distantes: essa é a sua definição. Mas como podemos saber que existem paralelos?
Para o leigo em matemática, a resposta é simples: as paralelas existem porque podemos
desenhá-las em uma folha de papel. No entanto, nada

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garante que ao prolongar cada uma das linhas sobre uma folha de extensão tão grande quanto
o Universo, elas não começam a se aproximar ou se afastar em algum lugar. É verdade que
nada nos impede de conceber um espaço em que as paralelas permaneçam sempre paralelas;
esse espaço imaginado será o espaço de Euclides. A questão que permanece, no entanto, é
se o Universo em que vivemos é realmente um espaço euclidiano.
Afirmar isso não era possível enquanto permanecia o obstáculo do quinto postulado. Se
pudesse ser demonstrado, provaria também que todo espaço é necessariamente euclidiano e
que não há lugar, nem no mundo material nem no mundo das ideias matemáticas, para outros
tipos de espaços. Mas não foi assim.

***

Depois de Euclides e outros grandes matemáticos da Grécia antiga, muitos séculos se


passaram na Europa cristã sem que nada de notável acontecesse nas ciências. Felizmente, o
mundo árabe experimentou um importante desenvolvimento científico, principalmente a partir
do século VIII; em matemática, os árabes estavam em muitos aspectos à frente de seu
renascimento na Europa renascentista. Eles são os responsáveis pela criação da álgebra,
outro importante ramo da matemática, bem como pelas primeiras tentativas de uni-la à
geometria.
A conjunção dos dois grandes ramos conhecidos na época, a álgebra e a geometria,
tomou sua forma final com a geometria analítica, cujos primórdios são atribuídos a René
Descartes. A grande vantagem dessa técnica é que a cada curva está associada uma equação
algébrica, de modo que as propriedades das figuras podem ser estudadas tanto pela geometria
clássica, como fizeram Euclides e seus seguidores, quanto pela álgebra.

Na geometria analítica, cada ponto de um plano é representado por suas coordenadas,


que são dois números que permitem localizá-lo em relação a um sistema de eixos pré-
determinados. Se for um ponto no espaço tridimensional, então três números são usados
como coordenadas. O essencial é que a distância entre dois pontos seja determinada mediante
o teorema de Pitágoras, a partir das coordenadas de ambos. A própria relação fundamental
entre álgebra e geometria seria impossível sem aquele teorema que associa distâncias com
coordenadas numéricas.
A geometria analítica foi extremamente frutífera e levou, na geração após Descartes, ao
próximo grande avanço da matemática: o cálculo diferencial e integral, desenvolvido simultânea
e independentemente por Newton e Leibniz.[2]
Em relação à própria essência do espaço, o próprio Descartes se posicionou

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próximo ao de Aristóteles. Negou a existência do vácuo, o que o levou a identificar o espaço


com a extensão material. Todo o espaço seria preenchido com ar grosseiro, como o que
respiramos na Terra, e um “ar sutil”, o Éter, que preencheria todo o Universo.
Essa identificação do espaço com a matéria, seja ela etérea, foi duramente criticada por
Newton, como veremos no capítulo III.

***

Depois de tantos avanços notáveis, parecia que havia chegado a hora de acertar velhas contas
com o irritante quinto postulado de Euclides. No entanto, o problema continuou a confundir os
melhores matemáticos. No século 18, já havia se tornado um "escândalo da geometria
elementar", nas palavras do matemático francês D'Alembert.
Seu colega e compatriota Legendre dedicou boa parte de sua vida profissional ao assunto,
sem sucesso, mas pelo menos encontrou uma nova forma equivalente ao quinto postulado: “A
soma dos ângulos de um triângulo é igual a dois ângulos retos ( 180 graus)”. Algo que os
alunos aprendem na escola.
Finalmente, no início do século XIX, alguns matemáticos visionários começaram a ver o
problema de uma nova perspectiva. Diante de tantos fracassos anteriores, ainda havia um
caminho a explorar: por que não esquecer o quinto postulado e ver até onde você pode ir sem
ele? Se em algum ponto surge um resultado contraditório, tudo o que resta a fazer é voltar
atrás e, a partir da contradição, provar a necessidade do quinto postulado. Esse é um método
frequentemente usado em matemática e é chamado de "reductio ad absurdum".

O grande matemático Karl Friedrich Gauss, por volta de 1817, retomou o velho problema
sob esta nova perspectiva. Ele logo se convenceu de que o quinto postulado é independente
dos quatro anteriores e, portanto, não havia razão para se apegar a ele. Se a esquecermos,
não chegaremos a nada de contraditório, mas a uma nova geometria na qual as paralelas
podem ser definidas de outra maneira. Mas, curiosamente, Gauss nunca publicou seu trabalho;
talvez não quisesse contradizer a geometria euclidiana, tão inquestionável em seu tempo.

Corresponde a János Bolyai e Nikolai Lobachevski, que trabalharam de forma independente


e sem nunca se conhecerem, a honra de terem publicado os primeiros estudos sobre
geometrias que não obedecem ao quinto postulado. Eles também se perguntaram o que
aconteceria se o irritante postulado fosse abandonado, e o resultado foi surpreendente. Longe
de cair em contradições, surgiu uma nova e insuspeita geometria, perfeitamente consistente e
coerente; uma geometria não euclidiana de um

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grande riqueza e complexidade. "Descobri coisas tão incríveis que fiquei impressionado... do
nada criei um estranho mundo novo", escreveu Bolyai a seu pai, também matemático. Mas
quando Bolyai comunicou sua descoberta a Gauss, a resposta que obteve foi decepcionante:
o grande matemático elogiou seu trabalho, mas informou que já havia obtido os mesmos
resultados anos antes, embora nunca os tivesse publicado.

O novo mundo da geometria não-euclidiana também foi descoberto, ao mesmo tempo,


por Lobachevski. Mas seu trabalho, datado de 1829, passou despercebido por vários anos
porque foi escrito em sua língua nativa e publicado em um jornal obscuro da Universidade de
Kazan, na Rússia. Foi até desprezado nos círculos acadêmicos de sua terra natal e teve que
esperar uma década para que uma tradução francesa aparecesse; só então o meio científico
tomou conhecimento de sua obra.
Lobachevski, naquela obra clássica, desenvolveu o que chamou de "geometria imaginária",
uma geometria na qual o quinto postulado não é utilizado. Pelo contrário, ele propôs uma
nova definição de paralelo: “Todas as linhas traçadas pelo mesmo ponto em um plano podem
ser distribuídas, em relação a uma dada linha nesse plano, em dois conjuntos: linhas que
interceptam a linha dada e linhas isso não. eles cortam A reta que corresponde ao limite
comum entre esses dois conjuntos é a reta paralela à reta dada. De acordo com esta
definição, verifica-se que existem duas paralelas a uma dada reta, uma de cada lado do ponto
dado (figura I.1).

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Figura I.1

É notável que Lobachevski não quis ficar no âmbito das construções mentais, pois propôs
verificar astronomicamente a verdadeira geometria do Universo medindo os ângulos de
grandes triângulos formados por dois pontos da órbita da Terra e uma estrela. Para a estrela
Keida na constelação de Eridanos, ele verificou, com os dados astronômicos de que dispunha,
que a soma dos ângulos do triângulo assim construído não diferia de 180° em mais de um
minuto de arco, o que não poderia ser distinguidos de possíveis erros de medição. Embora
não pudesse tirar nenhuma conclusão com os recursos técnicos da astronomia de seu tempo,
Lobachevski expressou profeticamente sua confiança de que a verdadeira geometria do
Universo poderia ser verificada no futuro, medindo distâncias muito maiores e com maior
precisão.

***

Os Elementos de Euclides estudam a geometria em uma superfície bidimensional plana, e as


generalizações para uma terceira dimensão aparecem apenas na

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capítulo onze. Da mesma forma, curvar uma folha na qual são realizadas demonstrações
geométricas não parece apresentar uma dificuldade específica.
As geometrias não euclidianas descrevem essencialmente espaços com uma curvatura
intrínseca. Em duas dimensões, a existência de um espaço curvo é bem conhecida e não
tem mistério; o exemplo mais simples é o da superfície da Terra.
Mas não vamos esquecer que o ser humano levou muitos séculos para perceber que a Terra
é redonda e não plana; assim também os geômetras acreditavam que o espaço é plano.
A superfície terrestre é um espaço curvo de duas dimensões contido no espaço comum
de três dimensões. A curvatura é uma questão de escala: em pequenas regiões da Terra,
sua superfície pode ser considerada plana para todos os propósitos práticos: os mapas das
cidades dão uma ideia muito boa das distâncias. Em vez disso, a curvatura se manifesta ao
descrever superfícies muito grandes; Como se sabe, em mapas planos é impossível "achatar"
um continente inteiro sem distorcer as distâncias; as regiões polares são ampliadas e uma
ilha relativamente pequena como a Groenlândia parece ser maior que a Europa.

A superfície de uma esfera é fácil de visualizar e podemos tomá-la como exemplo para
ilustrar algumas propriedades básicas de um espaço curvo. Qualquer ponto na superfície da
Terra é determinado com duas coordenadas, que geralmente são longitude e latitude. Para
medir a distância entre dois pontos, você pode usar o teorema de Pitágoras; embora isso se
aplique apenas a superfícies planas, também é válido para uma região da superfície da Terra
pequena o suficiente para parecer plana. Para fixar as ideias, notemos que a fórmula para
medir a hipotenusa dl de um triângulo retângulo cujos catetos valem dx e dy é dada pela
fórmula:[3]

dl² = dx² + dy².

Sua generalização para um pequeno triângulo na superfície da Terra assume a forma:

dl² = R²(dÿ² + sen²ÿ dÿ²),

onde R é o raio da Terra, e ÿ e ÿ são a longitude e a latitude, respectivamente (Figura I.2).

vinte e um
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Figura I.2

Agora, você sempre pode unir dois pontos dados, não necessariamente muito próximos,
por uma curva. Como medir o comprimento de uma curva? A ideia é medir os segmentos
da curva que são pequenos o suficiente para parecerem retos e, em uma próxima etapa,
adicionar todos os segmentos para obter o comprimento total de uma curva. O que é
importante neste processo é que o comprimento pode ser inequivocamente definido como
o limite obtido tornando cada segmento cada vez menor e seu número total cada vez maior.
Este processo pode ser aplicado com exatidão e rigor matemático usando as poderosas
técnicas de cálculo diferencial e integral desenvolvidas por Newton e Leibniz no século XVII.

O importante é que você pode definir com rigor o comprimento de uma curva que une
dois pontos em uma superfície curva. O próximo passo é generalizar o conceito de linha,
para o qual vamos lembrar o que todos aprendemos na escola: uma linha é a curva de
menor comprimento entre dois pontos. Essa definição envolve apenas um conceito:
comprimento, de modo que a noção de linha pode ser generalizada de maneira bastante
óbvia: como uma "curva de menor comprimento" ou, em linguagem matemática, "geodésica".
A essência é que esta definição se aplica a qualquer tipo de superfície curva; se tivermos
uma fórmula que generalize o teorema de Pitágoras e nos permita medir distâncias na
superfície, sempre podemos encontrar as geodésicas correspondentes. Por exemplo, para
a superfície de uma esfera, é evidente que a curva de comprimento mínimo que une dois
pontos dados é o arco máximo que passa

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por estes dois pontos (ver Figura I.3).

Figura I.3

Agora você vê porque não faz sentido definir paralelos em um espaço curvo como a
superfície da Terra. O quinto postulado só se aplica a uma pequena região da Terra, onde sua
curvatura não é perceptível. Como um arco máximo sempre cruza outro arco máximo, duas
geodésicas "paralelas" necessariamente se encontrarão em dois pontos, um antípoda ao
outro. O conceito de paralelo como duas linhas que nunca se encontram não faz sentido na
superfície de uma esfera.
Outros postulados da geometria euclidiana também não se aplicam a superfícies curvas.
Por exemplo, se definirmos um triângulo como uma figura geométrica formada por três
geodésicas, verifica-se que tal triângulo não cumpre um dos teoremas básicos da geometria
euclidiana: que a soma de seus três ângulos internos é igual a dois ângulos retos . Para
perceber isso, basta visualizar o "triângulo" formado pelo equador e meridianos de dois quartos
em uma esfera: a soma de seus ângulos é sempre maior que 180 graus.

Claro, a superfície de uma esfera não é o único exemplo de uma superfície curva. Outros
exemplos são a superfície de um hiperbolóide ou a superfície de uma sela (figura I.4). São
espaços chamados de curvatura negativa, ao contrário da superfície de uma esfera que possui
curvatura positiva. O espaço originalmente estudado por Lobachevski é de curvatura negativa;
nela duas "retas" podem

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passar pelo mesmo ponto e ser paralelo a uma determinada "linha"; Além disso, ao contrário
da esfera, em um espaço de curvatura negativa, a soma dos ângulos de um triângulo é
menor que 180 graus. Também ocorrem outras esquisitices que contradizem toda a
geometria elementar que aprendemos na escola. Porém, como já dissemos, é um mundo
com coerência própria.

Figura I.4

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espaços riemannianos

Uma superfície curva sempre pode ser visualizada como um espaço bidimensional imerso no
espaço tridimensional descrito pela geometria de Euclides. A curvatura, assim compreendida,
não seria algo intrínseco ao espaço, mas apenas a consequência de estar restrita a duas
dimensões dentro de um mundo que de resto é perfeitamente euclidiano. É essa concepção
estreita que impediu os matemáticos durante séculos de perceber que existem outras
geometrias. O espírito aventureiro dos matemáticos do século XIX e, principalmente, a visão
profética de Bernhard Riemann (1826-1866) foi necessário para que a razão humana
escapasse do espaço restrito das três dimensões e buscasse uma nova perspectiva do mundo.

Riemann foi o primeiro a conceber a curvatura não como consequência da restrição do


número de dimensões, mas como uma propriedade intrínseca e muito geral do espaço. Essa
ideia já aparece na tese de doutorado que ele preparou quando estudava na Universidade de
Göttingen, sob a orientação de ninguém menos que o próprio Gauss, onde também teve a
oportunidade de conhecer muitos dos grandes matemáticos de seu tempo.

Em 1854, Riemann preparou uma palestra sobre geometria como parte de seu diploma de
Habilitationsvortrag. A obra “Über die Hypothesen welche der Geometrie zu Grunde
liegen” (“Sobre as hipóteses nas quais a geometria se baseia”) se tornaria um clássico da
matemática. Nela, ele mostrou como um espaço com um número arbitrário de dimensões
poderia ser definido e como estender o conceito de espaço curvo para dimensões maiores
que dois, generalizando o teorema de Pitágoras para a medição de distâncias em múltiplas
dimensões. Na segunda parte de seu trabalho, Riemann discutiu a relação entre física e
geometria e perguntou qual deveria ser a verdadeira dimensão do espaço e qual deveria ser a
geometria que descreve o espaço físico. É verdade que vivemos num espaço tridimensional,
mas o conceito de dimensão é muito mais complexo do que parece à primeira vista.

Na verdade, Riemann estava muito à frente de seu tempo e apenas Gauss o entendeu.
Levaria sessenta anos para Einstein voltar ao problema e criar a teoria da relatividade geral.

***

Uma linha ou curva é um espaço unidimensional, a superfície de uma folha de papel.

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o papel tem duas dimensões, e o espaço em que nos movemos tem três dimensões. Podemos
facilmente visualizar tais espaços, mas como podemos conceber um espaço com mais de
três dimensões?
O conceito matemático não apresenta nenhuma dificuldade. Se um ponto no espaço
tridimensional é um conjunto de três números, tudo o que você precisa fazer é definir um
ponto no espaço n-dimensional como um conjunto de n números.
Em termos matemáticos, um espaço n-dimensional é simplesmente uma coleção de pontos,
sendo cada ponto uma combinação de n números, que são suas coordenadas. Além disso, o
resultado final é que uma definição de distância em n dimensões pode ser incluída
simplesmente generalizando o teorema de Pitágoras:

ds² = dx² + dy² + dz² + du² + dv² + dw² …

que determina a distância entre dois pontos em um espaço n-dimensional.


Mas a contribuição fundamental de Riemann consistiu em estender o conceito de
curvatura a espaços multidimensionais, de forma a definir um espaço curvo de n dimensões.
Como você bem notou, tal espaço deve incluir e generalizar uma característica importante do
espaço tridimensional, que é a possibilidade de definir distâncias.
Uma vez que uma fórmula é fixada para determinar a “distância” entre dois “pontos” no
espaço n-dimensional, pode-se prosseguir para explorar um novo mundo matemático que tem
consistência perfeita. Assim surgiu uma nova geometria, a geometria riemanniana, da qual a
geometria euclidiana é apenas um caso particular.
Como mencionamos anteriormente, existe uma fórmula para determinar a distância entre
dois pontos em qualquer superfície curva a partir de suas coordenadas. A geometria de
Riemann não apenas generaliza o teorema de Pitágoras para dimensões, mas também para
espaços curvos. A definição precisa de um espaço Riemanniano n-dimensional é dada por
meio de sua fórmula para medir distâncias, que tem a forma

ds² = gxx dx² + gyy dy² + gzzdz² + guudu² + gvvdv² + gwwdw² + gxydxdy + gxz dx dz + …

como uma generalização da fórmula acima. O elemento mais importante que aparece aqui é
o que se conhece, em linguagem técnica, como “tensor métrico”, um conjunto de funções da
forma gij , com as quais, pelo teorema de Pitágoras generalizado, se determina o comprimento
de qualquer curva. Além disso, saber medir curvas,

26
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pode determinar a geodésica do tensor métrico. Riemann desenvolveu o aparato matemático


de sua geometria em outro trabalho sobre… as propriedades térmicas dos sólidos! Aparece
o "tensor de Riemann", que indica se um espaço é curvo ou não, bem como a forma
explícita de encontrar geodésicas.
Certa vez, Riemann expressou sua esperança de que os espaços curvos
multidimensionais tivessem algo a ver com as propriedades físicas do mundo material.
Embora sua obra não tenha sido devidamente apreciada durante sua curta vida, suas ideias
começaram a germinar rapidamente. Assim, apenas cinco anos após sua morte, o
matemático inglês WK Clifford (1845-1879) já falava do fato de que o espaço não seria
plano em escalas muito pequenas, mas deveria ter algo análogo a "pequenas colinas"; Em
outras palavras, assim como uma superfície áspera parece lisa à distância, da mesma
forma o espaço seria plano apenas em grande escala; de acordo com suas idéias, a física
poderia ser reduzida às mudanças flutuantes dessa curvatura microscópica. Como veremos
no capítulo VI, essas ideias seriam retomadas seis décadas depois por Albert Einstein,[4]
que usaria a geometria de Riemann para formular sua teoria da gravitação.

27
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[2] Embora ambos se acusassem mutuamente de plágio, em um processo amargo.

[3] O leitor familiarizado com cálculo diferencial reconhecerá diferenciais de comprimento.

[4] De forma alguma quero deixar a impressão de que a matemática se esgotou com a geometria e, em particular,
com a geometria riemanniana. Assim, por exemplo, abandonando o conceito de distância e concentrando-se nas
propriedades qualitativas dos espaços, os matemáticos desenvolveram um vasto novo ramo da matemática: a
topologia.

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II. Tempo

Foi encontrado.

Que? A eternidade!

Rimbaud

É sabido que o tempo objetivo, o do calendário e do relógio, nem sempre coincide com o
tempo subjetivo: numa situação agradável sentimos que o tempo “voa”, enquanto em
circunstâncias desagradáveis a passagem de cada segundo se torna uma
tortura.
Para fins práticos, usamos um único tempo objetivo, que flui em uma direção e nunca
retorna. Acostumamo-nos tanto com essa ideia que nos esquecemos de quão diferente era a
concepção temporal de nossos remotos ancestrais. Embora os povos antigos também
medissem o tempo, eles o faziam com o passar dos dias e das estações, fenômenos cíclicos
que implicam um tempo circular e não linear.
O tempo linear e a história são invenções relativamente recentes. Mircea Eliade, o grande
historiador das religiões, mostrou como, para os chamados povos "primitivos", os eventos
importantes são repetições de eventos sobrenaturais e feitos de deuses, ocorridos em tempos
remotos, antes que o tempo humano começasse a correr. . Os povos primitivos sentiam um
verdadeiro "terror da história" e por isso repetiam periodicamente ritos de "abolição do tempo",
a fim de iniciar um novo ciclo que seria a representação de um roteiro já executado inúmeras
vezes e que representava o que o os deuses fizeram pela primeira vez, quando criaram o
Universo. "Para o homem tradicional, a imitação de um modelo arquetípico é uma nova
atualização do momento mítico em que o arquétipo foi revelado pela primeira vez."[5]

Em última análise, Eliade argumenta, todos os ritos de renovação são uma reencenação
do Arquétipo Primordial: a Criação do Mundo. Traços desses ritos podem ser encontrados em
festas religiosas, cerimônias de entronização ou renovação de governantes.

Em religiões complexas como o hinduísmo e em algumas variantes do budismo,


mencionam-se ciclos muito mais longos, de milhares de anos, ao fim dos quais o mundo
acabaria catastroficamente e depois renasceria de suas cinzas. Para os filósofos estóicos da
Grécia antiga, o mundo seria consumido pelo fogo

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cósmica, a "ecpirose", para depois se renovar mais uma vez.


Eliade aponta que os eventos históricos começam a aparecer apenas nas religiões
modernas. Na Bíblia, Deus se manifesta em momentos precisos da história: o tempo das
revelações é também o tempo do ser humano. O conceito pleno de tempo linear, no qual
ocorre o progresso, remonta apenas ao século XVII, quando Newton descobriu as leis que
regem o movimento da matéria.
Até então, tendia-se a supor que a verdadeira sabedoria fora herança da Antiguidade, e que
qualquer mudança apontava para uma degeneração do mundo e um agravamento da
condição humana; diante do qual era preferível pensar que a história se repete ciclicamente
ou aceitar que o fim do mundo estava relativamente próximo. História e Progresso são
conceitos modernos.

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Platão

Platão descreve a criação do Universo e o nascimento do Tempo no diálogo de Timeu.


Embora se trate de uma bela narrativa, não está claro o quanto de verdade ele atribuiu a
ela e o quanto dela pretendeu ser tomado de forma simbólica, o que, aliás, pode depender
do período em que a escreveu. Escusado será dizer que sua narração não corresponde
aos padrões modernos de investigação científica.
Platão conta, pela boca de Timeu, que o Demiurgo primeiro fez um modelo do Universo
que era uma Criatura Viva eterna. Quando ficou satisfeito com seu trabalho, passou a fazer
o próprio Universo de acordo com aquele modelo. Mas a cópia não podia ser perfeita
porque não era eterna e, portanto, o Demiurgo fez do Tempo uma "imagem móvel da
Eternidade", que "se move de acordo com os números (37 d)".[6]
O tempo, então, é algo mensurável que acompanha o mundo material e que não existia
antes dele. A esse respeito, o texto diz ao pé da letra:

O Tempo foi criado junto com os Céus, para que, tendo sido gerados juntos, eles também possam
se dissolver juntos... e foi feito de acordo com o plano da Natureza Eterna para ser o mais
semelhante possível a ela. Com efeito, o modelo é algo que existe desde toda a eternidade,
enquanto o céu... "foi", "é" e "será"... De onde o Demiurgo... para gerar o Tempo, criou o Sol, a Lua
e cinco outras estrelas, que são chamadas de "planetas" (errantes) para determinar e preservar os
números do Tempo. (38 aC)

O texto anterior pode ser entendido no contexto da teoria platônica das Formas ou
Ideias. Abramos aqui um parêntese bastante amplo para explicar essa concepção platônica,
pois voltaremos a ela mais adiante, no contexto da física moderna.

Um dos problemas que interessava a Platão era a percepção da realidade. Se o mundo,


para nós, é uma sucessão de sensações, como nossa mente pode perceber algo coerente?
Heráclito disse que ninguém entra no mesmo rio duas vezes, porque as águas do rio
mudam continuamente; e ainda assim podemos conceber um rio. A resposta de Platão é
que nossas concepções não se aplicam à experiência sensorial, que é sempre mutável,
mas a outro registro da realidade, um mundo de Ideias, Formas ou Imagens (as duas
palavras originais que ele usa indistintamente são: ideia e eidos, que são traduzidas ao
gosto de cada tradutor), entidades imutáveis que nos permitem dar sentido à realidade.
Sem as Formas, o mundo sensível seria para nós apenas um conjunto heterogêneo de
sensações.
De acordo com Platão, o mundo das Formas deve ser eterno e atemporal, e o mundo
material é sua cópia paralela. Essa concepção pode parecer estranha e esotérica, mas
podemos ilustrá-la com um exemplo familiar de como

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região desse mundo: a matemática.


Círculos, quadrados, triângulos são conceitos puros e abstratos, pois no mundo real só
existem objetos mais ou menos circulares, quadrados ou triangulares. Mas o conhecimento
das figuras geométricas nos permite perceber algo como redondo, etc. Onde estão essas
formas geométricas? Platão relutava em colocar suas ideias explicitamente por escrito, pois
esperava transmitir seu conhecimento para o futuro escrevendo em almas, em vez de
pergaminhos. Ainda temos o testemunho de seu discípulo Aristóteles que, em sua Metafísica,
conta que seu mestre colocava a matemática numa posição intermediária entre o mundo
das Formas e o da matéria sensível. Assim, nossa mente "constrói a experiência" conectando
as Formas com a realidade sensível por meio de uma estrutura simbólica, como a linguagem
matemática. Isso é o que Aristóteles diz que ouviu seu professor dizer.[7]

Se a matemática forma um mundo à parte, quão real é esse mundo? Isso leva à questão
fundamental: a matemática existe independentemente da mente humana? Questões mais
específicas relacionadas a isso são: existem verdades matemáticas se ninguém as prova?
O teorema de Pitágoras existia antes que houvesse seres humanos que o concebessem? A
que tipo de realidade se referem as conjecturas matemáticas, como a de Goldbach[8] ou a
de Riemann[9], que ainda não foram provadas?

A este respeito, existem diferentes escolas de pensamento. Para os formalistas, a


matemática é apenas uma linguagem, um conjunto de símbolos que não fazem mais sentido
do que aquele que damos a eles por convenção; assim, a prova de conjecturas como as de
Goldbach ou Riemann, se fossem encontradas, seria um conjunto de símbolos com algum
sentido para os matemáticos e nada mais. Para os intuicionistas, a matemática consiste em
construções intuitivas baseadas em números naturais, que são os únicos que possuem
realidade; o resto, teoremas ou conjecturas, seriam puras construções da mente humana.

A posição oposta às anteriores é a do platonismo matemático. Como mencionamos, o


mundo material, segundo Platão, é o reflexo de outro mundo, o das Formas. Existem figuras
geométricas como círculos ou triângulos perfeitos, cujas “sombras” ou cópias percebemos
no mundo material na forma de objetos mais ou menos circulares ou triangulares. Da mesma
forma, existem números infinitos que possuem propriedades reais, algumas desconhecidas
e outras conhecidas —como as conjecturas—, que não dependem de que algum matemático
as descubra. A matemática é uma porção do imutável mundo das Formas, o mais próximo
da matéria, e das verdades

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A matemática existe como um território que pode permanecer inexplorado sem deixar de ter
uma existência real.
Em resumo, pode-se dizer que a matemática existe fora do espaço e do tempo: qualquer
verdade matemática é eternamente válida e independente da situação espacial; os teoremas
são válidos em qualquer lugar do Universo e a qualquer momento. Ao contrário das coisas
materiais, que são efêmeras e mudam com o tempo, a matemática é imutável. Se aceitamos
que eles formam um mundo independente, também devemos aceitar que é um mundo no qual
o tempo não passa.

Se aceitarmos, além da matemática, a existência de um mundo imaterial mais amplo, o


das Formas, situado fora do tempo, podemos compreender melhor a cosmogonia delineada no
Timeu. O Universo material existe como a imagem de uma Forma, a Ideia do Universo, a
“Criatura Viva” que segundo Platão é eterna, assim como a matemática. O Universo material,
como o percebemos, existe graças ao fato de que o tempo passa nele, mas o tempo é uma
propriedade da matéria, não das Formas.

Como definir o tempo? Platão não encontra melhor definição do que em termos do
movimento dos corpos celestes. O Sol, a Lua e as estrelas geram a noite e o dia, assim como
os meses e os anos. Assim, ele identifica os números do tempo, ou seja, sua medida, com o
movimento planetário, que era a única forma confiável de medi-lo em sua época. Veremos no
Capítulo IX que a situação não mudou drasticamente por muitos séculos e que apenas
recentemente os átomos substituíram os corpos celestes como medidas de tempo.

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Aristóteles

Aristóteles, em sua Física, também tenta elucidar o conceito de tempo. Depois de enumerar o que não
é, ele não tem escolha a não ser definir o tempo como aquilo que pode ser medido com números. O
tempo é uma medida de movimento, mas não é movimento. O tempo é “o número do movimento, de
acordo com o que vem antes e o que vem depois” (“arithmos kineseos kata to proteron kai usteron”).
Nisso ele não acrescenta nada de novo ao que dizia Platão, para quem o tempo era, em essência, o que
se media pelo movimento das estrelas, mas critica a afirmação de seu mestre, exposta no Timeu, de que
o tempo era gerado juntamente com o mundo. A contradição é óbvia demais para Aristóteles não ter
percebido; para ele é evidente que o tempo deve ser infinito, pois não faz sentido falar em começo do
tempo, quando todo começo tem que ocorrer no próprio tempo.

3. 4
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Santo Agostinho

"Que é o tempo?" Santo Agostinho se pergunta como tantos outros mortais. No livro XI das
suas Confissões, ele coloca esta questão fundamental de várias maneiras e acaba por
reconhecer: “Se ninguém me pergunta; eu sei; Se alguém me perguntar e eu quiser explicar,
eu não sei”. No entanto, ele continua analisando o problema; note que, como é evidente, há
três tempos: futuro, presente e passado; o presente é apenas um passo entre o futuro e o
passado, enquanto o futuro continuamente se torna passado. Agimos de tal forma que
antecipamos o futuro e nos lembramos de coisas que aconteceram e se tornam parte do
passado; Futuro e passado são reais, tão reais quanto o presente que percebemos.

Mas onde estão o passado e o futuro? Se percebermos apenas o presente, então é


incorreto dizer que existem três tempos. Há apenas um presente que se manifesta de três
maneiras diferentes: um presente que lida com o passado e é uma memória; um presente que
lida com o presente e que é uma visão fugaz; um presente que trata do futuro e que é uma
expectativa. “Três vezes que vejo... três realidades.”
Então Santo Agostinho pergunta como medimos o tempo. Sua resposta é a mesma que
Platão deu: na prática, com relação ao movimento das estrelas que servem para marcar dias
e anos. Era assim no tempo dele (e ainda é em parte até hoje). Mas como medir, por exemplo,
a duração de um som? Como determinar que um som é mais longo que outro? “Não posso
fazer mais do que se eles já passaram e terminaram.
Portanto, não são eles que eu meço; eles não são mais nada; mas é algo que ficou gravado
na minha memória.”
“É em ti, minha alma, que meço os tempos… A impressão que as coisas te causam
quando acontecem e que, quando acontecem, fica, é ela que meço, e não as coisas, que
aconteceram quando meço o tempo . . ”[10] O tempo, então, seria uma propriedade da mente
que nos permite perceber o mundo. Essa concepção seria aprofundada por Kant, como
veremos no capítulo V.
Quanto a saber se Deus existia antes de criar o mundo, Santo Agostinho conclui que o
tempo é uma criação divina, juntamente com o mundo. Portanto, Deus existe fora do tempo:
para Ele não há passado e futuro, mas apenas um presente.
Mais uma vez nos encontramos com a ideia platônica de tempo.

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espaço e tempo newtoniano

O conceito de tempo objetivo remonta ao século XVII, quando Newton publicou sua magnum
opus, os Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, na qual estabeleceu as leis que regem
o movimento dos corpos materiais. Newton postulou a existência de um Tempo Absoluto: "um
tempo matemático que flui uniformemente sem relação com nada externo". Esse tempo é um
parâmetro nas equações de movimento pelo qual todos os intervalos de tempo são medidos.
É um momento completamente objetivo.

No primeiro capítulo dos Principia, depois de definir alguns conceitos físicos, Newton inclui
um escólio no qual tenta definir conceitos que deveriam ser familiares por serem de uso
comum: tempo, espaço e movimento. No entanto, observa que,[11]

não tendo considerado essas quantidades, exceto por suas relações com coisas sensíveis, vários
erros foram cometidos. Para evitá-los, é necessário distinguir tempo, espaço, lugar e movimento
entre absoluto e relativo, verdadeiro e aparente, matemático e vulgar.

I. O tempo absoluto, verdadeiro e matemático, sem relação com nada externo, flui
uniformemente e é chamado de duração. O tempo relativo, aparente e vulgar, é
aquela medida sensível e externa de qualquer parte da duração (igual ou desigual)
tomada do movimento: tais são as medidas de horas, dias, meses, etc., das quais
se faz uso comum. tempo verdadeiro.
II. O espaço absoluto, sem relação com as coisas externas, permanece sempre
semelhante e imóvel. O espaço relativo é aquela medida ou dimensão móvel do
espaço absoluto, que cai sob os nossos sentidos devido à sua relação com os
corpos, e que o povo comum confunde com o espaço imóvel.

Alguns parágrafos depois, Newton deixa claro o que tem em mente com o Espaço
Absoluto. Trata-se de retomar a relatividade de Galileu e mostrar que o movimento comumente
medido é sempre em relação a algum corpo como a própria Terra, independentemente de
como ele se move no espaço. No entanto, ele quer mostrar que tal relatividade tem suas
limitações quando se trata de movimentos não uniformes e em linha reta. De fato, é o mesmo
dizer que a Terra gira em torno de seu eixo e as estrelas são fixas, do que o contrário: as
estrelas giram em torno da Terra imóvel? Newton faz uma clara distinção entre as duas
interpretações, para as quais propõe a famosa experiência do balde que gira suspenso por
uma corda.

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torcido; a água no recipiente sente uma força centrífuga que curva sua superfície; Aqui está
uma clara distinção entre dois sistemas de referência que não são equivalentes: um observador
fixo em relação ao balde não pode fingir que o Universo gira em torno dele. A partir disso, ele
conclui que existe um Espaço Absoluto em relação ao qual todo movimento deve ser medido,
mas ele reconhece que tal medição seria extremamente difícil na prática. Anos depois, em sua
segunda grande obra, a Óptica, Newton ainda não havia encontrado uma definição convincente
e chegou a comparar o espaço cósmico com o sensório de Deus.[12]

Quanto ao Tempo Absoluto, Newton o iguala ao tempo astronômico.


Ele tenta uma explicação científica: mais uma vez recorre ao movimento das estrelas, mas
com o esclarecimento de que esse movimento, por meio de relações matemáticas, deve estar
relacionado ao Tempo Absoluto. Reconhecer, no entanto, que o problema não é simples

já que os dias naturais são desiguais, apesar de serem usualmente tomados como uma medida igual de tempo; e os
astrônomos corrigem essa desigualdade, a fim de medir os movimentos celestes com um tempo mais preciso.

É bem possível que não haja um movimento perfeitamente igual que possa servir como medida exata do tempo;
já que todos os movimentos podem ser acelerados ou retardados, mas o tempo absoluto deve sempre fluir da mesma
maneira.

Newton sabe que o tempo, na prática, é medido por meio de instrumentos que podem ser
mais ou menos precisos, mas ele tem que usar um único tempo que nada mais é do que um
parâmetro nas equações de movimento dos corpos.
O problema de definir o tempo alvo com precisão era bem conhecido dos astrônomos de sua
época. Os dias terrestres são desiguais, principalmente devido ao formato elíptico da órbita da
Terra e à inclinação de seu eixo de rotação; Para corrigir todas as variações, os astrônomos
inventaram um tempo idealizado que corresponde ao movimento uniforme de um sol imaginário
ao longo do equador celeste, e relacionaram esse tempo ideal com o tempo terrestre por meio
da chamada "equação do tempo". É a isso que Newton se refere na passagem que
mencionamos, mas devemos levar em conta que seu tempo absoluto, por mais astronômico
que seja, é, para todos os efeitos práticos, um tempo matemático; só pode ser determinado
matematicamente. Mas ele mesmo reconhece que não é evidente que esse tempo absoluto
possa ser medido de maneira prática.

Conhecendo as inclinações teológicas de Newton, é possível especular se o que ele tinha


em mente, ao falar em tempo relativo, era um tempo medido por seres imperfeitos, como os
humanos, enquanto o Tempo Absoluto seria o tempo de Deus.
Afinal, se ele chegou a comparar o espaço com o sensorium de Deus, ele poderia muito bem

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concebem que Deus tem seu próprio tempo — algo como o “Horário Oficial” do Universo —
com relação ao qual os relógios individuais estão sincronizados. Deus também é o Grande
Relojoeiro por uma razão! Por outro lado, a matéria estaria esvoaçando pelo Universo com
uma multiplicidade de tempos próprios de cada relógio, com todas as imperfeições causadas
por adiantamentos e atrasos comuns.
Em todo caso, Newton não se preocupa nos Principia como medir esse Tempo Absoluto.
Na verdade, ele nem volta a mencioná-lo em seu texto porque não precisa recorrer a esse
conceito. Na física, desde então, o tempo é, para todos os efeitos práticos, apenas um
parâmetro que aparece nas equações do movimento, uma variável matemática que pode ser
medida por algum processo natural cíclico, como a rotação da Terra ou as vibrações de uma
molécula .
Esse é o único sentido prático que pode ser dado ao tempo newtoniano. Daí a crítica
justificada de positivistas como Ernst Mach, para quem o Tempo Absoluto era um "conceito
metafísico ocioso". Aliás, de que adianta introduzir um conceito supostamente físico que, em
princípio, é impossível de medir? Se o Tempo Absoluto não é acessível aos humanos, não
tem lugar na ciência. Para os positivistas, era necessário livrar a ciência de todos os conceitos
inacessíveis em princípio à observação, e suas primeiras vítimas foram o Espaço e o Tempo
absolutos de Newton.

Apesar de o positivismo ter caído gradualmente em desuso ao longo do século XX, é


preciso reconhecer que, na época, suas críticas foram benéficas para o desenvolvimento da
nova física. Como veremos no capítulo VI, Einstein soube apropriar-se de algumas delas para
desenvolver sua teoria da relatividade.

38
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[5] Ver Mircea Eliade, O mito do eterno retorno, Alianza Editorial, Madrid, 1972.

[6] Deve-se reconhecer que o texto original é ambíguo e os especialistas não concordaram em como interpretá-lo. Em outras
traduções, a imagem em movimento da Eternidade é o próprio Universo.

[7] Aristóteles, Metafísica, livro I, cap. 6.

[8] A conjectura de Goldbach é que todo número par pode ser escrito como a soma de dois números primos. Conhecido desde a
época de Euler, não foi possível comprová-lo até hoje, embora tenha sido verificado por computadores para os primeiros 400
trilhões de trilhões de números.
pares.

[9] A conjectura de Riemann tem a ver com os zeros da chamada função de Riemann no plano
complexos, que estão relacionados, por sua vez, aos números primos.

[10] Ênfase minha.

[11] Sigo literalmente a tradução francesa dos Principia feita pela Marquesa de Châtelet no século XVIII, que tem a grande
vantagem de ter sido escrita apenas algumas décadas depois do original, em uma língua diretamente relacionada ao latim e,
portanto, , portanto, com o nosso espanhol. Embora não totalmente fiel ao original, a tradução da imortal Émilie é provavelmente
a mais clara e compreensível de todas.

[12] Ópticas, consulta 31.

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III. Movimento e ação à distância

Doutorados em Física:

não vá mal,; A coisa do


movimento é uma invenção pra ver

minha morena dançar...

Tomasito e Antonio de los Rios


"Minha morena" flamenco)

Segundo uma crença popular bastante difundida, a ciência avança esclarecendo um após o
outro os mistérios da natureza. O que antes era um mistério é resolvido graças a novas
descobertas, após o que vem uma próxima etapa em que novos mistérios parecem ser
resolvidos e assim por diante. No entanto, o que acontece na realidade não é tão simples:
Thomas Kuhn[13] apontou há algum tempo que o progresso da ciência não ocorre
gradualmente, mas aos saltos, passando de um sistema científico (paradigma) para outro por
meio de revoluções científicas que abruptamente mudar a visão do mundo. Mesmo assim, os
problemas fundamentais do antigo sistema que ficaram sem solução nem sempre são
esclarecidos; em vez disso, eles se tornam irrelevantes. Paul Feyerabend[14] observou que
tais problemas não são resolvidos, mas dissolvidos no novo sistema. Exemplo disso é o
problema da gravitação e sua aparente ação à distância, que tanto preocupou os filósofos da
era newtoniana, sem ser resolvido de forma aceitável para eles. É um problema que foi
dissolvido nas teorias físicas modernas. Vamos analisá-lo neste capítulo.

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Dois mundos

Aristóteles, e com ele os antigos filósofos, pensavam que havia dois mundos, o terrestre
e o celestial, cada um com características muito diferentes. O mundo terrestre, no qual se
aplicam as leis conhecidas da natureza, estendeu-se à esfera lunar, na qual a Lua está
colocada. A matéria, dentro dessa esfera, seria feita dos quatro elementos que nós mortais
conhecemos: água, ar, terra e fogo; além dela, os planetas e estrelas obedeceriam a
outras leis, inacessíveis à experiência humana; não haveria matéria como a que
conhecemos, mas outra substância, o quinto elemento ou "quintessência", do qual seriam
feitas as estrelas. De acordo com essa visão do mundo, o movimento dos corpos na Terra
e o movimento das estrelas no céu seriam de natureza essencialmente diferente.

A gravidade, sendo um fenômeno terrestre, deve ser típica do mundo sublunar.


Aristóteles, na ânsia de explicar tudo, afirmou que os corpos maciços descem e o fogo
sobe porque esse é o seu próprio "movimento natural". O que é apenas outra maneira de
dizer que os corpos caem e o fogo sobe porque é assim que deve ser.
Quanto ao movimento dos planetas, Aristóteles contentou-se em aceitar o modelo de
Eudoxo que consistia em nada menos que 52 esferas girando umas sobre as outras,
reproduzindo assim o movimento aparente dos planetas na abóbada terrestre. Era um
modelo mecânico para explicar o movimento das estrelas, sem procurar o motivo que
levava aquelas esferas a girar daquela forma.
Mas, afinal, tal móbile deve pertencer a esse outro mundo, o celeste, cujas leis são
incompreensíveis para os humanos. Bastava aceitar que os planetas se movem em círculo
porque, de todos os movimentos, o circular é o mais perfeito porque é completamente
uniforme.
O grande astrônomo antigo, Ptolomeu, desenvolveu um sistema complicado que
tornou possível descrever e prever o movimento dos planetas com maior precisão. Seu
sistema colocava a Terra no centro do Universo e o Sol girava em torno dela; os planetas
se moviam em epiciclos: círculos montados sobre outros círculos, tudo de acordo com a
perfeição do movimento circular.
Por vários séculos, os astrônomos usaram o modelo de Ptolomeu para prever o movimento
dos planetas, o que obviamente exigia cálculos pesados. No entanto, Ptolomeu não
conseguiu explicar por que os planetas se movem em epiciclos; tal problema excedia as
possibilidades de conhecimento em seu tempo.
Como se sabe, Copérnico teve a ideia de colocar o Sol no centro do Universo e os
planetas girando em torno dele. No entanto, o modelo heliocêntrico

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Tampouco Copérnico explicou por que os planetas se movem dessa maneira. O modelo
tinha o enorme mérito, colocado na perspectiva moderna, de colocar o Sol no centro do
Sistema Solar, mas deve-se reconhecer que, para fins práticos, não era melhor do que o
modelo de Ptolomeu para prever a posição dos planetas. Copérnico recorreu mais uma vez
aos incômodos epiciclos, pois não havia se livrado da perfeição do movimento circular; Ele
ainda teve que colocar o Sol ligeiramente deslocado do centro do Universo para explicar
melhor o movimento dos planetas. Em grande parte, se o modelo heliocêntrico de Copérnico
não era facilmente aceito, era porque não era mais simples que o de Ptolomeu; este, pelo
menos, tinha a vantagem de ser conhecido dos astrônomos há séculos.

O sistema de Copérnico encontrou um defensor entusiasta em Galileu Galilei. Muito


convenientemente, Galileu nunca levou em conta os incômodos detalhes do modelo de
Copérnico e se contentou com sua essência: o Sol é o centro em torno do qual giram os
planetas. Ele assumiu, para simplificar, que as órbitas planetárias são círculos centrados no
Sol e ignorou os pequenos desvios desse movimento perfeito.
Ele estava certo em não dar importância a detalhes que teriam de ser corrigidos uma
geração depois.
O próprio Galileu nunca procurou uma explicação física para o movimento dos planetas.
Apesar de ter estudado cuidadosamente o movimento dos corpos que caem na Terra, não
lhe ocorreu que a força da gravidade pudesse ter uma relação com o movimento das
estrelas. Talvez, inconscientemente, ele não tivesse se separado do velho preconceito
aristotélico de que os fenômenos celestes são de natureza diferente dos do céu.
terrestre.
Outro importante defensor de Copérnico foi Kepler, cujas observações cuidadosas do
movimento dos planetas lhe permitiram descobrir as famosas três leis que levam seu nome.
Com eles os filósofos puderam finalmente livrar-se da suposta perfeição do movimento
circular, para chegar à grande síntese matemática de Newton.

Descartes, contemporâneo de Galileu e Kepler, é responsável por uma das primeiras


tentativas de explicar o movimento dos planetas com base em fenômenos físicos. Segundo
ele, o espaço cósmico estaria repleto de uma substância invisível e muito sutil: o Éter, um
fluido "mais puro que o ar" cujo movimento em forma de redemoinhos ao redor do Sol
arrastaria os planetas. A teoria dos redemoinhos de Descartes tornou-se bastante aceita em
sua época; a ideia teve o atrativo de corresponder a uma imagem que é comum encontrar
em nossa experiência mundana, pois todos já vimos como um redemoinho de água arrasta
as folhas que flutuam em sua superfície. Mas,

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Enfim, era uma forma de relegar um problema para outro mais básico, pois qual era a origem
daquele Éter e por que ele teria que girar para arrastar os planetas com ele?

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ação à distância

Que o Sol tenha alguma influência mecânica no movimento dos planetas é tão pouco evidente
que nem Copérnico nem Galileu notaram algo assim. Naquela época, pensava-se que um
corpo não pode influenciar outro através do espaço vazio; apenas por meio de algum corpo
material. No entanto, o magnetismo foi um excelente exemplo de interação entre corpos sem
qualquer mediação tangível.
O primeiro estudo aprofundado do magnetismo deve-se a William Gilbert, filósofo natural
e médico pessoal da rainha Elizabeth I da Inglaterra. Gilbert publicou, em 1600, De magnete,
obra dedicada àquela estranha pedra que tem a propriedade de atrair o ferro sem intermediários.
Originalmente escrito em latim, ele começa, como todos os tratados de sua época, com uma
listagem detalhada dos textos antigos nos quais os imãs são citados: o próprio nome, explica
Gilbert, vem da cidade grega de Magnésia, onde abundavam as pedras. , embora não esteja
claro se é uma cidade da Macedônia ou outra homônima da Jônia. Nos capítulos seguintes, o
autor descreve vários experimentos que realizou para provar que a Terra é um ímã gigantesco,
o que explica por que uma agulha magnetizada aponta sempre para o norte. Da mesma forma,
descreve em detalhes o fenômeno da magnetização induzida, que consiste em um pedaço de
ferro em contato com um ímã adquirindo suas mesmas propriedades. É notável que De
magnete também envolva atração elétrica; naquela época, esse fenômeno era produzido
esfregando o âmbar com um pano e o próprio nome vem da palavra grega para âmbar:
elektron. Nos últimos capítulos, Gilbert volta-se para a astronomia e defende o sistema
heliocêntrico de Copérnico; Ele declara que a Terra gira sobre si mesma e também ao redor
do Sol, e infere que as estrelas estão a grandes e variadas distâncias.

A teoria do magnetismo influenciou Kepler e provavelmente Newton também. Kepler tentou


explicar o movimento dos planetas por alguns meios físicos; sua teoria, infelizmente, estava
repleta de erros, mas tornou-se bastante popular em sua época e é um bom ponto de referência
para ver a contribuição posterior de Newton no contexto. Primeiro, Kepler descobriu por meio
de observações muito precisas que a velocidade de um planeta no afélio e no periélio varia
inversamente com sua distância do Sol (agora sabemos que isso é verdade e se deve à
conservação do momento angular), mas a partir disso ele deduziu erroneamente que a
velocidade em geral satisfaz a mesma relação.[15] O próximo passo em seu raciocínio dedutivo
foi usar o conceito de Aristóteles de que uma força constante deve ser aplicada para manter
uma velocidade constante (que, como sabemos agora,

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só se aplica quando não há atrito). Continuando seu raciocínio, Kepler deduziu que deveria haver uma força motriz

no espaço cuja intensidade varia inversamente com a distância do Sol (observe outro erro fundamental: o momento

angular é constante ao longo do caminho de um planeta, mas cada planeta tem um momento angular diferente ).

Assim, Kepler deduziu a existência de uma força centrada no Sol que move os planetas e depende da distância
dessa estrela; Deve, portanto, ser uma força que emana dessa estrela. Naquela época, o tratado de Gilbert já era
conhecido e sabia-se que pelo menos uma força adicional à gravidade da Terra existe na natureza. Assim, foi fácil
para Kepler concluir que o Sol produzia uma força magnética… ou “quase magnética”, mas ele nunca especificou o
que queria dizer com isso.

Quatro cinco
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gravitação universal

Antes de Newton, a tentativa mais realista de explicar o movimento planetário deve-se a


Robert Hooke. Este cientista inglês, sem dúvida o mais importante físico experimental do
seu século, curador da Royal Society, deu inúmeras contribuições à ciência, mas a história
foi-lhe injusta: a sua maior desgraça foi ser contemporâneo de Newton e ver a sua fama
eclipsada por isso de seu poderoso rival.
Hooke publicou em 1674, doze anos antes do surgimento dos Principia, um livro intitulado
An Attempt to Prove the Motion of the Earth by Observations, no qual, pela primeira vez, o
problema do movimento planetário aparece corretamente formulado.
Suas suposições eram:[16]

Primeiro, que todos os corpos celestes, sem exceção, possuem uma atração ou poder gravitacional
para seus próprios centros, com o qual atraem não apenas suas próprias partes, e as impedem de se
dispersar, como podemos ver que a Terra faz, mas também atraem todos deles, os outros corpos
celestes que estão dentro da esfera de suas atividades... A segunda suposição é a seguinte. Que
qualquer corpo colocado em movimento direto e simples continuará a se mover em linha reta, até que
por algum outro poder efetivo seja desviado e dobrado em seu movimento, descrevendo um círculo,
uma elipse ou alguma outra linha curva composta. A terceira suposição é que esse poder de atração
opera com mais força, desde que o corpo sobre o qual ele atua esteja mais próximo de seu centro.
Agora, quais são esses vários graus, eu ainda não verifiquei...

Observe como Hooke intui corretamente o fenômeno gravitacional, além de antecipar a


primeira lei de Newton, mas sua descrição da força de atração é apenas qualitativa. Por
mais visionária que seja sua abordagem, Hooke nunca foi capaz de se aprofundar no
assunto. Daí para um sistema matematicamente bem fundamentado, quantitativo e rigoroso,
há uma distância muito longa que só Newton, naquela época, poderia percorrer.

Isaac Newton é creditado com a descoberta da gravitação universal, ou seja, o fato de


que todos os corpos do Universo são atraídos uns pelos outros por meio de uma força
gravitacional. Antes dele, com exceção de Hooke, ninguém havia pensado que poderia haver
uma relação entre a queda dos corpos na Terra e o movimento das estrelas no céu. Ao
contrário, como já mencionamos, pensava-se que as leis da natureza são diferentes para os
corpos no céu e na Terra.
Segundo uma lenda famosa, o jovem Newton estava um dia sentado sob uma macieira,
meditando sobre a razão que mantém a Lua em órbita ao redor da Terra e os planetas ao
redor do Sol, quando viu uma maçã cair. Este incidente teria lhe dado a chave para entender
que tal força é a gravidade, uma força típica de todos os corpos do Universo e não restrita à
Terra. Essencialmente, o seu

46
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Seu raciocínio teria consistido em comparar a força centrífuga da Lua em sua órbita (por
meio de uma fórmula que ele mesmo havia deduzido) com a força da gravidade na superfície
da Terra e verificar que a relação entre as duas forças é a mesma que a razão ao quadrado
entre o raio da Terra e a órbita lunar.
É provável que seja uma lenda inventada pelo próprio Newton em sua velhice.
A descoberta atual está necessariamente relacionada, por um lado, à terceira lei de Kepler —
que relaciona o quadrado do período de um planeta com o cubo de seu raio— e, por outro, à
fórmula da aceleração centrífuga —proporcional ao quadrado da da velocidade dividida pelo
raio da órbita - que Newton havia descoberto independentemente. O raciocínio a ser seguido
consiste, primeiramente, em postular que existe uma força de atração em relação ao Sol que
é exatamente equilibrada pela força centrífuga que atua sobre um planeta devido ao seu
movimento orbital. Dessa forma, verifica-se que a força de atração do Sol deve diminuir com
o quadrado do raio orbital. No entanto, não decorre necessariamente disso qual deve ser a
natureza da força com a qual o Sol atrai os planetas. Foi necessária a genialidade de Newton
para perceber que é a força da gravidade, a mesma força que atrai as maçãs, e para
desenvolver um poderoso método matemático que lhe permitiu descrever com precisão o
movimento dos planetas.

Newton formulou a lei da gravitação universal e demonstrou com todo rigor matemático
que as três leis de Kepler são consequência dela. Esta lei estipula que a força gravitacional
entre dois corpos maciços é diretamente proporcional às suas massas e inversamente
proporcional ao quadrado da distância que os separa. Newton publicou o resultado de seu
trabalho em seu famoso livro Principia, em 1686. Com esse trabalho, a física nasceu como
uma ciência matemática. Nas palavras de Alexandre Koyré:[17]

A pergunta: A quo moveantur planetae?... juntou-se ao famoso problema: A quo moveantur proyecta?... E
pode-se dizer que a ciência moderna, união da física celeste e da física terrestre, nasceu no dia em que a
mesma resposta poderia ser dado. dar esta pergunta dupla.

47
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ação mecânica?

Apesar de seu extraordinário sucesso, nem todos os contemporâneos de Newton ficaram


impressionados com a nova ciência da mecânica. Para alguns filósofos, o sistema
newtoniano era uma maneira muito inteligente de descrever as trajetórias dos planetas, mas
não revelava a própria essência da gravitação. O problema persistia: como dois corpos
materiais podem se atrair através do espaço vazio, sem a mediação de alguma outra
substância? A questão fundamental permaneceu sem resposta: por que os planetas se
movem? Newton apenas mostrou como eles se movem.
Todos sabem, por experiência própria, que para mover um objeto é necessário fazer
contato com ele, diretamente com as mãos ou com outro corpo que o puxe ou empurre:
uma corda, o vento, etc. Qualquer outro movimento seria magia ou feitiçaria... Porém, a
força da gravidade, apesar de tão familiar, não se encaixa nesse esquema e parece ser de
natureza totalmente diferente. Os corpos caem, mas não há nada visível ou palpável
empurrando-os para o chão.
Este problema não passou despercebido nem por Newton nem por seus contemporâneos.
Seus principais críticos, como Huygens e Leibniz, embora reconhecessem os méritos da
síntese teórica alcançada por seu colega, insistiam que a causa da gravitação estava longe
de ter sido elucidada, já que a descrição do fenômeno com fórmulas matemáticas era uma
coisa. gravitação, e outro sua explicação baseada em conceitos conhecidos. Para eles, o
princípio da atração pelo espaço vazio era simplesmente absurdo; o espaço deveria ser
preenchido com algo que produzisse a interação entre corpos distantes; que algo,
evidentemente, deve ser uma substância quase invisível e impalpável, mas real; Esperando
elucidar sua natureza, restava apenas recorrer ao conceito do misterioso Éter.

Huygens, em um esforço para encontrar uma explicação mecânica para a atração


gravitacional, desenvolveu um modelo baseado em redemoinhos. Em uma visita a Londres
em 1668, ele apresentou um experimento engenhoso. Ele girou um cilindro cheio de água
no qual flutuavam pedaços de cera; ao interromper abruptamente a rotação, eles foram
direcionados para o centro do cilindro; algo semelhante, de acordo com Huygens, deve ser
a causa da gravidade.[18]
Leibniz, por sua vez, não perdeu a oportunidade de criticar o colega e rival inglês e
expressou sua decepção por Newton não ter chegado à causa final da gravidade, que a seu
ver também deveria ser interpretada por meio de redemoinhos em um éter cósmico. (mais
uma vez!), que arrasta os planetas em um “movimento harmônico”,[19] de acordo com seu
conceito de harmonia pré-estabelecida.

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Em sua defesa, Newton enfatizou que não sabia a razão última da atração gravitacional
e havia apenas descoberto sua descrição matemática. Teve especial cuidado em esclarecê-
la muito bem nos Principia, quando afirmou, no General Scholium: Hypothese no fingo
(“Hipótese que não invento”), sua célebre frase para se resguardar das críticas que
procurava ocultas, propriedades praticamente mágicas na matéria. .
Para não deixar dúvidas sobre isso, Newton explicou sua posição em detalhes em uma
série de cartas ao clérigo Bentley,[20] que lhe pediu argumentos para refutar o ateísmo:

É inconcebível que a matéria bruta inanimada possa (sem a mediação de outra coisa que não seja material) afetar e
operar sobre outra matéria sem contato mútuo... Que a gravidade é inata, inerente e essencial à matéria de tal forma
que um corpo pode agir sobre o outro à distância através do vazio sem a mediação de qualquer outra coisa... para
mim é um absurdo tão grande que penso que ninguém competente em assuntos filosóficos poderia aceitá-lo. A
gravidade deve ser causada por algum agente agindo constantemente de acordo com certas leis, mas se esse agente
é material ou imaterial é uma questão que deixei à consideração de meus leitores.

No entanto, Newton estava convencido de que a gravidade não é devida à mediação


de alguma substância material comum; Ele o demonstrou de forma convincente no Livro II
dos Principia, onde analisa minuciosamente o movimento dos fluidos e rompe todo o
sistema cartesiano segundo o qual os planetas se movem arrastados pelo Éter, uma
substância muito sutil, mas afinal material. Além disso, Newton acreditava firmemente na
existência de átomos e pensava — mais uma vez contra Descartes! — que só poderia
existir um vácuo entre eles. O que então produz a atração entre dois corpos distantes
senão um meio material? Em vários de seus manuscritos ele alude a um espírito imaterial
que preenche todo o espaço e a quem se deve a ação à distância através do vazio; pode-
se especular que é Deus sabendo onde um corpo está atraindo outro, mas Newton nunca
esclareceu o que exatamente ele tinha em mente. De fato, ele não poderia sabê-lo com o
conhecimento de seu tempo, mas é certo que ele nunca considerou uma entidade material;
nisso, talvez ele tenha intuído qual é o campo da física moderna,[21] ao qual voltaremos no
capítulo IX.

49
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O campo

O problema da ação à distância, que tanto preocupava os filósofos naturais da época de


Newton e depois, parecia atolado. Antes de chegar a uma solução, ela começou a ser
relegada a um segundo plano, apenas para ressurgir — como veremos no capítulo VI —
de forma nova e inesperada. No século XIX, o interesse dos filósofos naturais deslocou-se
para outro fenómeno onde também se manifesta uma ação à distância: a eletricidade e o
magnetismo (que já tinham sido estudados pelo próprio Gilbert e Newton), bem como a
relação entre os dois fenómenos. A gravitação entrou temporariamente em recuo.

Mais de dois séculos depois de Gilbert e seu estudo dos ímãs, Hans Christian Oersted
descobriu um novo fenômeno relacionado ao magnetismo: o fato de uma corrente elétrica
desviar um ímã. Alguns anos depois, André-Marie Ampère — cujo sobrenome ficaria
imortalizado como a unidade de corrente elétrica — descobriu que duas correntes elétricas
se atraem ou se repelem, dependendo da direção em que fluem. Ampère concluiu que o
magnetismo é devido a correntes elétricas microscópicas na matéria; o que, como sabemos
agora, é essencialmente correto.
Assim começou a vislumbrar uma ligação entre eletricidade e magnetismo, dois fenômenos
que até então pareciam não ter relação entre si.
A próxima grande descoberta experimental deve-se a Michael Faraday, que mostrou
que mover um ímã perto de um fio condutor induz uma corrente elétrica no fio. Algumas
décadas depois, a lei da indução de Faraday se tornaria o princípio básico de todos os
mecanismos de geração e uso de energia elétrica. Por outro lado, para explicar como um
ímã atrai o ferro, Faraday inventou o conceito de linhas de força, que são linhas invisíveis e
impalpáveis que emanam de um ímã e influenciam objetos distantes.

Finalmente, por volta de 1860, James Maxwell reuniu tudo o que se sabia em sua época
sobre eletricidade e magnetismo e o expressou em termos de equações matemáticas. Um
dos principais sucessos de sua teoria foi mostrar que a luz é uma onda eletromagnética;
assim, pôs fim (aparentemente) a uma velha discussão sobre a natureza da luz.

Um conceito físico fundamental da teoria de Maxwell é o de campo. Continuando com


a ideia das linhas de força de Faraday, Maxwell definiu o campo como uma forma de
"energia sem matéria", que é descrita matematicamente da mesma forma que a gravidade
de Newton: em cada ponto do espaço, o campo tem um determinado valor que determina
como uma carga elétrica colocada ali se move. energia, um conceito

cinquenta
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Associado aos corpos materiais, agora aparecia sem relação com a matéria; algo que
poderia lembrar coisas tão polêmicas quanto a "mente sem corpo"...
A ciência do século XIX elucidou, tanto na teoria quanto na experiência, a natureza
das forças elétricas e magnéticas. Ao verificar que a matéria pode agir sem a mediação
de algo também material, a ideia que Leibniz considerava absurda foi finalmente aceita,
e ninguém mais se importava com isso! Ao invés do Éter de Descartes ou do Deus de
Newton que rege o Universo, surgiu o conceito de campo, uma entidade imaterial, mas
com efeitos perfeitamente tangíveis e tão reais quanto a matéria.
O que era um problema fundamental na época desses sábios deixou de sê-lo para os
filósofos naturais das gerações seguintes. Reconhecidamente, Newton estava mais
certo do que Leibniz: na física moderna, o campo é de fato uma substância imaterial,
que é descrita matematicamente como a gravitação.
Seja como for, o conceito de campo, graças ao seu sucesso na explicação dos
fenômenos naturais, finalmente passou a fazer parte da bagagem da ciência moderna.
Os físicos do século XX, ao contrário de seus colegas de épocas anteriores, pararam de
questionar a realidade dessa forma de "energia sem matéria". O problema, em todo
caso, estava longe de estar resolvido, mas iria tomar um novo rumo com o surgimento,
no século XX, da teoria da relatividade e da mecânica quântica, como veremos nos
próximos capítulos.

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[13] A estrutura das revoluções científicas, 18ª reimpressão, FCE (Breviarios), México, 2004.

[14] P. Feyerabend, Against the method, Ariel, Barcelona, 1974.

[15] Em termos modernos, o momento angular de um planeta é o produto triplo de sua massa, sua distância do Sol e sua velocidade
perpendicular à direção radial em direção ao Sol. É esse componente da velocidade, e não o total, que varia em proporção inversa à
distância do Sol.

[16] O texto pode ser encontrado, por exemplo, em A. Koyré, Newtonian Studies, University of Chicago Press,
1965.

[17] A. Koyré, “La gravitation universelle de Kepler à Newton”, Arch. Inst. Histoire des Sciences 4: 638, 1951.

[18] A. Koyré, “Huygens and Leibniz on Universal Attraction”, Estudos Newtonianos, Universidade de Chicago
Imprensa, 1965, pág. 115.

[19] Ibidem, pág. 130.

[20] Em Papers and Letters on Natural Philosophy de Isaac Newton, IB Cohen (ed.), Harvard University
Imprensa, 1978, p. 271.

[21] Ver, por exemplo, N. Lara Zavala, “Matéria, Newton e espaço vazio”, in M. Beuchot, L. Benítez, JA
Robles et al., O conceito de matéria, Colophon, México, 1992.

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4. Energia, entropia
e a direção do tempo

Para nós, físicos convictos, a diferença entre passado, presente e futuro


não faz mais sentido do que uma tenaz ilusão.

A. Einstein (carta a Michèle Besso)

Depois de Newton e suas dissertações sobre o Tempo Absoluto, os físicos não voltaram a se
preocupar muito com o conceito de tempo. De um ponto de vista puramente pragmático, eles
tomaram o tempo como uma variável t que aparece muito convenientemente nas equações da
mecânica. Porém, um detalhe não passou despercebido: ficou evidente que as equações de
Newton, que descrevem a evolução dinâmica de um sistema físico, não mudam de forma se o
sentido do tempo for invertido, para o que basta mudar o sinal de a variável t. Essa inversão
não afeta em nada as equações básicas, pois a velocidade muda de direção, mas a aceleração
não;[22] sendo a força proporcional à aceleração, as leis do movimento permanecem as
mesmas. Conseqüentemente, o tempo, na física newtoniana, pode fluir tanto em uma direção
quanto em outra, sem que haja distinção entre passado e futuro.

Essa simetria entre passado e futuro não deveria ser surpreendente. Afinal, a mecânica
newtoniana nasceu com o objetivo principal de explicar o movimento dos planetas e eles podem
girar tanto em uma direção quanto em outra; se o sentido do tempo for invertido, a direção da
velocidade muda, mas a força gravitacional não é alterada.
Se um observador alienígena filmasse o movimento dos planetas e então projetasse seu filme
para trás, ele veria os planetas girarem na direção oposta ao que eles fazem no mundo real,
mas isso seria perfeitamente possível de acordo com a lei da universalidade. gravitação. ; por
exemplo, as três leis de Kepler ainda seriam válidas. Nosso hipotético observador distante não
poderia determinar, apenas assistindo ao filme, em que sentido ele o está projetando; As leis
de Newton não lhe dariam nenhuma pista sobre isso.

Mas é um fato bem conhecido e confirmado que o tempo flui em apenas uma direção e que
nenhuma simetria entre passado e futuro se manifesta na vida cotidiana. Se empurrarmos uma
pedra no chão, ela não volta à sua posição inicial depois de soltá-la; Se deixarmos cair uma
bola de uma certa altura, ela quica cada vez menos; Sim

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derramamos um copo d'água, a poça não pula espontaneamente de volta para o copo.
A diferença básica com o movimento dos planetas está no fenômeno do atrito: quando um
corpo se move em contato com outro, o atrito produz calor, mas o contrário não é verdadeiro:
o calor assim produzido não produz movimento de retorno.
Em vez disso, os planetas se movem pelo espaço vazio sem sentir nenhum atrito, ao
contrário dos objetos materiais que se arrastam na Terra.
O calor gerado pelo atrito é uma forma de energia irrecuperável que não pode ser usada
para devolver as coisas ao seu estado inicial. Este processo é a única manifestação na física
clássica de uma diferença entre passado e futuro; os físicos começaram a se interessar
seriamente por ela durante a Revolução Industrial. Com o objetivo específico de descrever
como funcionam os motores a vapor, eles tiveram que criar um novo ramo da física, a
termodinâmica, e introduzir dois novos conceitos: energia e entropia.

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Energia

Às vezes, a linguagem científica assimila uma palavra de uso comum a tal ponto que sua
verdadeira origem é esquecida. Parece então que uma determinada palavra sempre teve o
sentido preciso que a ciência lhe impôs, quando é a ciência, com suas contínuas descobertas,
que tem de recorrer à herança da linguagem comum.
Um exemplo claro é a palavra "energia", que descreve um dos conceitos mais básicos da
física. Apesar do fato de ouvi-lo mencionado com frequência, é um conceito relativamente
novo. Newton nem sequer se refere a energia em sua obra e o mais próximo que podemos
encontrar na época é o conceito de vis viva de Leibniz, que é a massa de um corpo multiplicada
pelo quadrado de sua velocidade; na linguagem moderna, é simplesmente o dobro da energia
cinética; Leibniz notou que na colisão entre duas partículas, a vis viva total deve ser
conservada, o que antecipou o que mais tarde seria conhecido como conservação de energia.
Foi somente em meados do século XIX que a física se apropriou da palavra "energia" para
designar um conceito puramente teórico cuja utilidade e significado acabavam de ser
descobertos naquela época. Até então, a energia era um conceito bastante vago e puramente
qualitativo; Por exemplo, o dicionário moderno da Royal Academy atribui-lhe dois significados:
"Eficiência, poder, virtude para agir" e "força de vontade, vigor e tenacidade na atividade", e
só mais tarde passa às definições consagradas pela física.

A energia, como os físicos a conhecem, é uma descoberta teórica e, ao contrário do que


dizem alguns livros escolares, não é um conceito primário como distância, velocidade ou
massa. Como veremos com mais detalhes no capítulo IX, sua única definição é em termos
matemáticos: é uma determinada função matemática que depende, conforme o caso, da
posição, da velocidade, de parâmetros como a temperatura ou da intensidade do campo
eletromagnético. . A grande utilidade do conceito de energia reside em sua propriedade de
permanecer constante ao longo do tempo, o que é uma consequência direta da segunda lei
de Newton e pode substituí-la mais convenientemente. Na verdade, esse conceito veio
substituir o de força, pois se revelou extremamente rico e útil; sua conservação tornou-se uma
das leis mais fundamentais da física.

Em suma, ao batizar esta entidade matemática com o nome de energia, os físicos do


século XIX puderam falar coloquialmente da “conservação da energia”. Claro, não faria sentido
falar sobre a conservação da "virtude de agir" ou "força de vontade"! Assim, um conceito
matemático, com um nome bem escolhido, permitia situar toda uma série de fenômenos
(movimento,

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calor, trabalho realizado por uma máquina, etc.) que até então se manifestavam de forma
aparentemente desconexa. Independentemente das definições, o importante era revelar uma
lei fundamental da natureza: a lei da conservação da energia.

É importante perceber que hoje em dia, em física, não sabemos o que é energia... Porém, existem fórmulas para
calcular algumas grandezas numéricas, e quando somamos tudo dá sempre... o mesmo número. É uma coisa abstrata
no sentido de que nada nos diz sobre o mecanismo ou a razão das várias fórmulas.[23]

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entropia

Aristóteles afirmava algo que deveria ser do senso comum: para manter constante a
velocidade de um corpo (uma pedra, uma carroça, etc.), uma força deve ser aplicada
continuamente sobre ele. Mas, por outro lado, a primeira lei de Newton estipula que um
corpo, posto em movimento, deve continuar a se mover em linha reta e com velocidade
constante na ausência de forças aplicadas a ele. A contradição é resolvida observando que,
a rigor, as leis de Newton são válidas para corpos que se movem sem atrito, como os
planetas. Quando se trata de corpos mundanos que precisam se arrastar pelo chão, o atrito
estraga a perfeição simples dessas leis.
O fenômeno do atrito cabe com grande dificuldade no sistema newtoniano.
Sabe-se agora que o atrito produz calor, que é uma forma de energia, e a eficiência de uma
máquina a vapor depende da quantidade de calor gerada, como bem entendiam os físicos
do início do século XIX. Assim, por exemplo, o conde de Rumford realizou uma experiência
clássica que consistia em medir o calor produzido por uma broca que fura um barril e
quantificá-lo. O ponto principal é que o trabalho de uma máquina produz calor que não pode
ser recuperado para retornar a máquina ao seu estado inicial.

Uma vez estabelecidos conceitos como energia, trabalho e calor, ficou claro que havia
uma profunda conexão entre eles. Ainda em meados do século XIX, pensava-se que o calor
era um tipo de substância e que sua quantidade total no Universo era conservada. No
entanto, em uma obra clássica de 1850, Rudolf Clausius a identificou claramente como uma
manifestação da energia cinética das partículas de um corpo e formulou as duas leis
fundamentais da termodinâmica. A primeira lei relaciona o calor à energia intrínseca e ao
trabalho realizado, e a segunda lei afirma que o calor sempre flui de um corpo quente para
um frio, e nunca vice-versa.
Clausius continuou a ponderar o problema pelos quinze anos seguintes e, em 1865,
publicou um novo artigo no qual o conceito fundamental de "entropia" apareceu pela primeira
vez. A entropia pode ser interpretada como uma medida de energia que não pode mais ser
aproveitada.
As duas leis da termodinâmica, postuladas por Clausius, assumiram então a forma:

1. A energia total do Universo é constante.


2. A entropia do Universo tende a aumentar.

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A rigor, a entropia de um corpo é definida como uma quantidade que aumenta na mesma
proporção que o calor gerado, sendo o fator de proporcionalidade o inverso da temperatura.
Ou seja, a mudança na quantidade de calor é igual à temperatura multiplicada pela mudança
na entropia.
De acordo com a primeira lei da termodinâmica, quando um sistema físico sofre alguma
modificação, sua energia muda de duas maneiras diferentes. Uma é uma mudança que produz
algum movimento e se manifesta na execução de algum trabalho. A outra é a geração de
energia na forma de calor, proporcional à variação da entropia, e não aproveitável.

Por sua vez, a segunda lei da termodinâmica postula que, em qualquer processo físico, a
entropia deve aumentar ou pelo menos permanecer constante com o passar do tempo. Esta
é a única lei da física clássica em que aparece uma distinção entre passado e futuro, mas é
uma lei totalmente empírica, pelo menos na forma em que Clausius a propôs. Nem as
equações da mecânica, nem qualquer lei fundamental da física clássica implicam que deva
haver uma direção do tempo. Apesar de a experiência nos ensinar o contrário, passado e
futuro são apenas conceitos relativos na mecânica de Newton e deduzir a segunda lei da
termodinâmica dessa mecânica perfeitamente reversível não é possível, a menos que um
elemento adicional: a probabilidade.

A primeira lei da termodinâmica pode ser deduzida de uma interpretação molecular da


matéria. Se observarmos o comportamento de um gás com um microscópio, veremos
moléculas movendo-se com diferentes velocidades e em todas as direções possíveis,[24]
continuamente colidindo umas com as outras. Microscopicamente, a temperatura é
simplesmente uma medida da energia cinética média de todas as moléculas: quanto mais
quente é um corpo, mais rápido as moléculas se agitam.

Quanto à segunda lei, os físicos depois de Clausius tentaram prová-la a partir de princípios
fundamentais, mas Ludwig Boltzmann é o único a quem se pode atribuir um sucesso parcial.
O cerne da questão é que as partículas têm uma certa energia cinética[25] e colidem
continuamente umas com as outras; e em cada colisão, eles trocam parte de sua energia
entre si. Embora a energia total de um gás seja conservada, mais e mais informações são
perdidas sobre as condições iniciais sob as quais as partículas começaram a se mover.

Boltzmann acreditava firmemente na existência de moléculas e desenvolveu o que hoje é


conhecido como a teoria cinética dos gases, um ramo da física que estuda o comportamento
estatístico de sistemas compostos por um número muito grande de partículas. Como já
mencionamos, as moléculas de um gás se movem e colidem umas com as outras.

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com os outros constantemente. Em princípio, o movimento de cada molécula poderia ser


descrito por meio das equações de Newton, mas, na prática, tal programa seria impossível
de realizar, já que o comportamento de algumas moléculas teria que ser calculado; por outro
28
10 lado, também não faz sentido fazer tal cálculo já que, afinal, não estamos interessados
no que cada partícula faz individualmente, mas no comportamento da matéria como um
bloco. O que faz sentido é calcular a probabilidade de uma determinada molécula ter uma
certa velocidade e estar em uma determinada posição. A partir dessa probabilidade, você
pode obter as principais características de um gás, como densidade, temperatura, velocidade
média, sem ter que se preocupar com o que cada molécula faz individualmente. Essa
probabilidade evolui dinamicamente, e sua mudança temporal deve ser deduzida das
equações de Newton. Esse é o programa que Ludwig Boltzmann empreendeu.

Boltzmann usou uma abordagem estatística. A partir de las leyes básicas de la mecánica,
mostró que existe una cierta cantidad física, a la que llamó función H, que depende justamente
de la probabilidad de encontrar una partícula con una cierta velocidad y en cierta posición, y
que esa cantidad debe disminuir com o tempo. Isso é chamado de teorema H de Boltzmann.
A função H, com o sinal trocado, pode ser identificada com entropia; o fato de sempre
aumentar é o resultado de múltiplas colisões entre moléculas: cada colisão torna mais difícil
rastrear as condições iniciais de uma molécula, de modo que, após múltiplas colisões, a
informação sobre o estado inicial do gás é perdida. Essa perda de informação corresponde
justamente ao aumento da entropia. Em outras palavras, qualquer sistema físico composto
por um grande número de partículas, quando evolui livremente e sem interferência externa,
tende a passar de um estado bem ordenado para um estado desordenado.

A entropia é, de certo modo, uma medida de desordem e tende a aumentar com o passar do
tempo. Este é o único processo na física clássica que distingue entre passado e futuro.[26]

Podemos ilustrar o que foi dito acima com um exemplo pitoresco. Suponha que temos
uma pequena caixa contendo algumas dezenas de pulgas (figura IV.1), colocadas em uma
caixa muito maior. Quando descobrimos a caixa, as pulgas saem e começam a pular
aleatoriamente em todas as direções; como resultado, com o passar do tempo, o conjunto de
pulgas se espalha cada vez mais na caixa grande. Inicialmente, sabemos que cada pulga
estava na caixa inicial, mas depois de algum tempo, o sistema fica mais confuso e é cada
vez mais difícil dizer onde está uma pulga individual e quantas estão em uma determinada
região. Assim, passamos de um estado com muita informação para outro com pouca
informação, ou, de forma equivalente, de um estado com pouca entropia para outro com
muita. Por outro lado, se

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Se filmássemos todo o processo e projetássemos o filme de trás para frente, veríamos algo
altamente improvável: que as pulgas coordenassem seus movimentos de tal forma que, em
um instante preciso, todas saltassem simultaneamente de volta para a caixinha.
Porém, se seguirmos o movimento de uma pulga individualmente, não conseguiríamos
deduzir que o filme está sendo projetado ao contrário, pois veríamos apenas que ele pula
aleatoriamente e que, em algum momento, acidentalmente entra na caixinha. A diferença
entre passado e futuro se manifesta apenas como propriedade conjunta de todas as pulgas.

Figura IV.1

Boltzmann chegou a uma definição mais profunda do conceito de entropia de duas


direções diferentes. A primeira, que acabamos de mencionar, é um tratamento dinâmico; a
segunda é uma concepção muito mais geral relacionada com a

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probabilidade. A conexão entre entropia e perda de informação o levou a desenvolver uma


definição de entropia que não depende de processos físicos entre moléculas ou de seu
movimento. Em sua nova forma, mais fundamental porque se baseia em argumentos
estatísticos muito gerais, a entropia é expressa por meio da famosa equação de Boltzmann:

S = –k ln P,

que relaciona diretamente a entropia S de um sistema físico com o logaritmo natural (ln) da
probabilidade P de encontrá-lo em um determinado estado. O fator de proporcionalidade k
é conhecido como constante de Boltzmann e tem o valor k = 1,38 ×
–16
10 erg/K.
De acordo com a física estatística e a interpretação de Boltzmann, o tempo flui em
apenas uma direção, do passado para o futuro, porque é imensamente mais provável que
isso aconteça... mas não é absolutamente impossível de outra forma. Em outras palavras,
o sentido do tempo é uma propriedade estatística.
Para ilustrar a relação entre probabilidade e entropia, vamos pegar um exemplo comum:
um copo d'água cujo conteúdo cai no chão. Nesse processo, a energia potencial que a água
possuía inicialmente devido à sua posição é transformada em energia cinética (de
movimento) das moléculas ao atingirem o solo, o que é percebido como um aumento do
calor contido na água. Claro, como é bem sabido, essa energia na forma de calor não pode
mais ser devolvida à poça de forma que ela salte de volta para o copo; Se algo assim
acontecesse, estaríamos diante de um milagre. Qual a probabilidade de tal milagre ocorrer?
Visto através de um microscópio, a poça no chão é composta de trilhões e trilhões de
moléculas que se movem aleatoriamente; Se seguirmos a trajetória de uma única molécula,
veremos que ela se move em ziguezague devido às constantes colisões com outras
moléculas. No entanto, se filmarmos o movimento dessa única molécula e projetarmos o
filme para trás, tudo o que veremos é uma molécula no chão que, devido à constante colisão
com outras moléculas, ora sobe, ora desce; nada que indique a violação de qualquer lei
fundamental da física. As leis de Newton descrevem perfeitamente um processo ascendente;
na verdade, é assim que as moléculas de água evaporam e sobem para as partes mais
altas da atmosfera.

Ora, pode acontecer, em princípio, que todas as moléculas de uma poça, por pura
coincidência, coordenem espontaneamente seus movimentos de tal maneira que saltem de
volta para o vidro, como no exemplo das pulgas voltando para a caixa.

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Já vimos que tal processo é muito improvável, muito mais para moléculas do que para
26
pulgas, pois uma poça de água contém cerca de 10 moléculas. Uma situação milagrosa
pode acontecer; seria extremamente improvável, mas de forma alguma violaria as leis de
Newton.
A fórmula de Boltzmann para entropia nos permite calcular a probabilidade[27] de que
as velocidades e posições das moléculas sejam tais que a poça retorne ao vidro. Para fazer
isso, você deve combinar sua energia potencial da água com o calor produzido pela queda.
Em geral, um corpo de massa m e altura h possui uma energia potencial mgh, onde g é a
aceleração da gravidade; essa mesma energia dividida pela temperatura T é a entropia S
gerada pela queda:

Usando a fórmula de Boltzmann, podemos ter uma ideia de qual é a probabilidade de


todas as moléculas se coordenarem acidentalmente e pularem de volta para o vidro. Para
fazer isso, substituímos nessa fórmula o valor da entropia que obtivemos e verificamos que
essa probabilidade é:

P=e –mgh/kT

Vejamos alguns exemplos concretos. Para um corpo de um quilo à temperatura ambiente


(cerca de 300 K), a probabilidade de saltar para uma altura de um metro é da ordem de uma
21 10
parte em 10. Observe que o número de átomos no . Para efeito de comparação,
80
universo visível é cerca de 10 uma poça pular de volta em um copo é . portanto veja
tão improvável quanto ganhar o jackpot em uma loteria na qual existem cerca de 10
19 10
Universos. números de competidores para cada átomo no

Para comparação, vamos calcular o que acontece com uma única molécula de oxigênio.
Na atmosfera da Terra, as moléculas colidem continuamente umas com as outras; se
seguirmos a trajetória de um único, veremos que às vezes ele se aproxima do solo e às
vezes sobe vários quilômetros de altura devido a esses choques que o lançam em diferentes
direções ao acaso. Tomando en cuenta que la masa de una molécula de oxígeno es de
-25
unos 2.5 × 10 gramos, un cálculo enteramente análogo utilizando la fórmula anterior muestra
que la probabilidad de que una molécula en el suelo regrese espontáneamente a una altura
de un kilómetro es de un 87 por cento. Uma molécula que "caiu" de um quilômetro de altura
quase certamente voltará a essa mesma altura

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altura. É isso que faz com que nossa atmosfera tenha certa espessura e não se concentre no
nível do solo. Como a segunda lei da termodinâmica não se aplica a moléculas individuais, a
atmosfera que respiramos existe!
De fato, voltando ao exemplo da poça, as moléculas da água derramada evaporam
continuamente até que não haja mais nenhuma e o solo esteja seco. Em princípio pode
acontecer, por puro acaso, que algumas dessas moléculas retornem ao vidro de onde caíram.
Isso não é tão improvável; o que é imensamente improvável é que todas as moléculas, por
pura coincidência, cheguem ao vidro simultaneamente (como no exemplo das pulgas na caixa).

Isso parece indicar que a direção do tempo é de fato uma propriedade estatística que se
aplica a sistemas compostos por trilhões de partículas, mas não faz sentido para uma única
molécula. A passagem do tempo é semelhante à temperatura, calor e entropia como
propriedade estatística; Todos esses conceitos se referem a manifestações em larga escala
do movimento das moléculas, mas não podem ser aplicados a apenas uma. Se vemos o
tempo fluir em uma direção e não em outra, é porque somos seres feitos de um número
imenso de moléculas. Com base no que sabemos da física, o tempo fluindo para trás não é
impossível, apenas extremamente improvável.[28]

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Eletromagnetismo

Todos os fenômenos elétricos e magnéticos obedecem às leis descritas matematicamente


pelas equações de Maxwell. Estes, no entanto, não implicam nenhuma direção temporal,
pois não mudam de forma se o sinal do tempo for invertido sobre eles. Conseqüentemente,
a luz, que é uma onda eletromagnética, deveria se propagar tanto para o futuro quanto
para o passado; evidentemente, só percebemos o primeiro caso.

Vejamos um exemplo concreto. Quando uma lâmpada é acesa, a luz é irradiada na


forma de uma frente de onda: uma esfera que se expande na velocidade da luz. Mas as
equações de Maxwell também admitem uma segunda solução: uma frente de onda no
passado que abarca todo o Universo, que, contraindo-se à velocidade da luz, atinge o foco
justamente no instante em que se ilumina.
Claro, a segunda solução contradiz nossas ideias de causalidade. Isso implica que, há
bilhões de anos, formou-se uma onda eletromagnética que "soube" quando a lâmpada
acenderia, para convergir ali mesmo. O importante, porém, é que se trata de uma solução
das equações de Maxwell perfeitamente válida do ponto de vista matemático. A priori, não
há razão para excluí-la.
Uma forma de contornar o problema é “esquecer” a solução que descreve a onda
originada no passado, argumentando que tal não é observado na realidade. Mas esse
recurso ad hoc não esclarece por que apenas a onda de saída é observada e, pior ainda,
leva a outra classe de contradições relacionadas ao modo como as cargas elétricas
irradiam energia.
Uma proposta com implicações mais profundas foi elaborada por vários físicos na
década de 1920 e retomada algumas décadas depois por John A. Wheeler e Richard
Feynman. Esta é a teoria do absorvedor, que assume essencialmente que, para um corpo
emitir radiação eletromagnética, deve necessariamente haver outro corpo que absorva
essa radiação em algum momento no futuro... e a reemita para o passado!
Assim, quando uma lâmpada é acesa, a radiação eletromagnética que ela emite viaja
para o futuro e é absorvida por outro corpo, talvez em outra galáxia, que emite radiação
para o passado que atinge a lâmpada justamente quando ela é acesa. Pode-se dizer,
então, que a radiação existe aos pares, entre um emissor e um receptor, como em um
jogo de pingue-pongue em que uma bola se desloca em uma direção no tempo,
simultaneamente com outra que se desloca na direção oposta. Desta forma, a simetria
entre passado e futuro implícita nas equações de Maxwell é mantida.
Porém, na prática, há uma infinidade de corpos distribuídos por todo o

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Universo que absorverá a radiação emitida pelo meu foco no futuro. Em princípio, eles podem
reemiti-lo de volta para o futuro, bem como para o passado, para a fonte original de radiação.
O ponto essencial do argumento de Wheeler e Feynman é que as contribuições para o
passado de todos os absorvedores do Universo se cancelam se o número de absorvedores
for muito grande: é por isso que vemos apenas a radiação se propagando do passado para o
futuro.
Claro, esta explicação entra em conflito com nossos conceitos comuns de causalidade. O
físico H. Tetrod, um dos proponentes originais da teoria do absorvedor, colocou-a muito
claramente em seu artigo de 1922 (citado por Wheeler e Feynman, Review of Modern Physics,
17: 157):

O Sol não irradiaria se estivesse sozinho no espaço e nenhum outro corpo pudesse absorver sua radiação...
Se, por exemplo, eu olhei pelo meu telescópio na noite passada para uma estrela que está, digamos, a 100 anos-
luz de distância, então eu sei não apenas que a luz que atingiu meus olhos foi emitida há cem anos, mas também
que aquela estrela ou seus átomos individuais sabiam há cem anos que eu, que nem existia naquela época, iria
olhar para ele ontem à noite...

Mas, como já mencionamos, a passagem do tempo parece ser uma propriedade


estritamente estatística da matéria. Até agora, a única explicação física para o fluxo do tempo
é em termos de probabilidades: é muito mais provável que o tempo flua do passado para o
futuro do que o contrário.
A teoria do absorvedor é bastante consistente e parece livre de contradições teóricas,[29]
se for aceito que não há distinção entre passado e futuro, e que a ação à distância — a mesma
que tanto incomodou Newton e seus contemporâneos — é uma ação que se propaga à
velocidade da luz, mas… tanto para o futuro como para o passado! É mais um indício de que
o tempo não faz parte do mundo material, mas é uma forma de percepção própria do nosso
aparato cognitivo.

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CPT

O fato de não haver distinção entre passado ou futuro para uma partícula do mundo atômico
se manifesta de maneira muito notável se levarmos em conta as antipartículas. No mundo
das partículas subatômicas, existe uma simetria tal que cada partícula corresponde a uma
antipartícula, com essencialmente as mesmas características, exceto pela carga elétrica,
que é de sinal oposto; Por exemplo, o elétron corresponde ao pósitron, que é idêntico a ele
exceto por sua carga, que é positiva.

Existe uma simetria entre partículas e antipartículas, no sentido de que as leis físicas
que regem seu comportamento são as mesmas. Mas a simetria só é completa se o espaço
e o tempo forem incluídos. Mais precisamente, pode-se demonstrar rigorosamente, no
âmbito da teoria quântica das partículas elementares, que as leis da física permanecem
inalteradas se o espaço e o tempo forem invertidos e as partículas forem trocadas
simultaneamente por antipartículas. Em outras palavras, uma antipartícula se comporta
exatamente como uma partícula, vista em um espelho, viajando para trás no tempo. Esta
simetria total é consequência do chamado teorema CPT (Charge, Parity and Time
Symmetry) que é, por sua vez, uma consequência matemática do princípio da relatividade
aplicado à teoria quântica de campos (ao qual voltaremos no capítulo IX). . Ou seja, uma
violação da simetria CPT também implicaria uma violação do princípio da relatividade.

Até meados do século 20, acreditava-se que as leis da física são invariantes a mudanças
de paridade, ou seja, são as mesmas neste mundo e naquele visto no espelho. Não há
como distinguir a realidade pelo seu reflexo (se olho no espelho, vejo as letras ao contrário,
mas nenhuma lei física proíbe escrever ao contrário). Mas em 1956, dois físicos nascidos
na China, TD Lee e CN Yang, propuseram uma nova explicação teórica para o decaimento
beta, uma reação nuclear que ocorre em alguns núcleos atômicos que emitem
espontaneamente um elétron. De acordo com Lee e Yang, você deve ver mais elétrons
emitidos em uma determinada direção, definida pelo spin do núcleo, do que na direção
oposta. Visto em um espelho, isso corresponderia a uma reação que não ocorre no mundo
real: os elétrons seriam vistos sendo emitidos na mesma direção, mas o núcleo seria visto
girando na direção oposta. A previsão foi confirmada naquele mesmo ano, no laboratório
da Universidade de Columbia, por Chien-Shiung Wu.[30]

Apesar dessa descoberta, os físicos teóricos perceberam que a simetria não estava
totalmente perdida: o que você vê no espelho seria idêntico ao que você vê no espelho.

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daria um antinúcleo atômico, composto de antiprótons e antinêutrons, que emitiria um


pósitron por decaimento beta. As leis da física são as mesmas no antimundo, desde que
você se olhe no espelho. Isso é o que em termos técnicos é chamado de simetria CP (C
para carga, P para paridade).
Mas a natureza acabou sendo mais complicada. Além das partículas elementares que
mencionamos acima, existem outras que têm vida muito curta e só podem ser produzidas
em grandes aceleradores de partículas. Uma dessas partículas exóticas é o chamado
kaon, que vive menos de um trilionésimo de segundo e se decompõe em outro tipo de
partícula elementar chamada píon.
Agora, de acordo com as leis do mundo quântico, o kaon neutro é na verdade uma
superposição de dois estados: um kaon e um antikaon. De acordo com a sobreposição,
existem dois tipos de kaons, um com vida longa e outro com vida curta. A teoria prevê que,
se a simetria CP for mantida, o primeiro decai para três píons e o segundo para dois píons.

Mas em 1964 os físicos descobriram que o kaon de vida longa também decai
ocasionalmente em dois píons, o que implica que a simetria CP não é uma simetria perfeita
da natureza. A única simetria perfeita também deve incluir uma reversão do tempo: se você
olhar para as antipartículas em um espelho, o que você vê é o que as partículas fariam se
o tempo fluísse para trás. As antipartículas se comportam como partículas viajando para
trás no tempo, e a assimetria CP é a única evidência de que existe uma distinção entre
passado e futuro no mundo atômico. (Isso não implica que a antimatéria sirva como uma
máquina do tempo: o sentido do tempo surge como uma propriedade estatística de objetos
macroscópicos compostos de bilhões e bilhões de átomos… ou antiátomos.)

A falta de simetria completa do CP pode ser a chave para resolver um dos grandes
mistérios do Universo: se matéria e antimatéria são tão parecidas, por que o mundo é feito
de matéria e não de antimatéria? Voltaremos ao assunto no Capítulo X.

***

Em suma, o tempo surge apenas quando percebemos sistemas de trilhões de trilhões de


átomos (como todas as coisas que observamos diretamente).

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[22] A aceleração é a segunda derivada da posição em relação ao tempo t e, portanto, é


independente do sinal de t.

[23] RP Feynman, The Feynman Lectures on Physics, vol. 1, cap. 4, Addison Wesley, 1963.

[24] A velocidade média é percebida como a velocidade de bloco do gás.

[25] Eles também possuem energia potencial, devido à sua posição no espaço. No entanto, em uma colisão entre
partículas, que ocorre no mesmo ponto do espaço, a energia potencial não muda e, portanto, não desempenha um
papel importante.

[26] Como veremos mais adiante neste capítulo, existe uma assimetria no tempo para alguns processos subnucleares,
mas não tem relevância para processos macroscópicos como os que descrevemos aqui.

[27] A análise que se segue é inspirada em um artigo de JJ Prentis, “Obrigado, Boltzmann, que seu
constante é tão pequena”, American Journal of Physics 34: 392, 1996.

[28] Huw Price, em Time's Arrow and Archimedes' Point, Oxford University Press, 1996, propôs outra maneira muito
interessante de abordar o problema da direção do tempo. Em essência, pode-se argumentar que o fato de um copo
d'água ter existido no passado é tão improvável quanto a poça se juntar novamente e pular para trás. De acordo
com as leis da física, a existência do copo (e dos humanos que o fizeram e dos que o encheram), como
consequência da distribuição inicial da matéria no Universo, é o resultado de uma disputa de circunstâncias
imensamente improvável . Em outras palavras, o problema não é por que a entropia está aumentando, mas por que
ela era tão baixa no passado que permitia a existência de coisas tão improváveis.

[29] Mas não é sem dificuldades. Para uma crítica aprofundada, ver H. Price, op. cit.

[30] Lee e Yang receberam o Prêmio Nobel (mas não Wu).

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V. Espaço e tempo como formas de percepção

Devemos usurpar o poder, tomar o lugar da natureza e não depender das


informações que ela nos fornece.

Picasso

Temos certeza de que o Sol nascerá amanhã e que uma pedra cairá ao cair. De onde vem
essa certeza? Sabemos, graças aos nossos sentidos, que isso aconteceu até agora, mas a
experiência não nos revela o que acontecerá no futuro. Para deduzir eventos futuros, temos
que recorrer à razão e não aos sentidos, o que nos remete à pergunta original: como
podemos ter certeza de que isto ou aquilo acontecerá novamente?

Percebemos o mundo com os nossos sentidos e o compreendemos e interpretamos


através do nosso entendimento. Estamos convencidos de que o mundo não é uma
alucinação porque a realidade parece ser a mesma para todos: não há contradições entre
o que percebo e o que os outros dizem perceber — com exceção dos chamados loucos,
mas isso é outra matéria. Essa coerência entre nossas percepções e as dos outros nos leva
à ideia de uma realidade externa, um mundo objetivo independente do sujeito que o observa.

No entanto, as informações captadas pelos nossos sentidos devem ser processadas


pela nossa mente para reconstruir uma imagem da realidade. Como chegamos ao que
pensamos saber sobre o mundo? Até que ponto podemos ter certeza de que nossos
sentidos não nos enganam? Quão correta é nossa capacidade de entender o que é
percebido? Durante séculos, os filósofos tentaram responder a essas questões fundamentais
sobre a compreensão humana, mas longe de chegar a um consenso, elaboraram várias
doutrinas que se contradizem, se entrelaçam e se opõem. Por um lado, os filósofos
materialistas sustentam que existe uma realidade objetiva, totalmente independente da
mente, cuja percepção é uma cópia mais ou menos fiel dela. Por outro lado, para os
filósofos idealistas, a realidade que percebemos é um produto da mente e é nela que
devemos buscar a origem do mundo percebido.
A posição mais radical do idealismo é o solipsismo, que nega a possibilidade de
conhecer a realidade material e reduz toda percepção à própria imaginação; se vejo um
livro em minhas mãos, é porque o estou imaginando; se uma pedra me atinge e eu sinto
dor, todo o processo também é fruto da minha imaginação. por muito

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Ao contrário do solipsismo ser nossa intuição, não é óbvio como refutar a tese de que o
mundo é um sonho individual.
Para elucidar o conceito de uma realidade externa, Descartes se propôs a construir um
sistema filosófico baseado em argumentos puramente racionais, sem recorrer a experiências
sensoriais questionáveis. Cansado de repetir doutrinas antigas e ansioso por começar a
filosofia do zero, ele refletiu sobre o mundo sem dar nada como certo desde o início. Para
começar, ele descobriu que nem mesmo temos certeza de que nossos sentidos não nos
enganam; Não temos o exemplo dos sonhos, que nos parecem reais enquanto dormimos?
Portanto, para entender o mundo, é melhor analisar aquelas ideias que não dependem de
experiências sensoriais. Em seus escritos,[31] Descartes primeiro questionou a existência de
qualquer coisa, para, em uma próxima etapa, verificar se ele pensava, de onde concluiu que
ele (pelo menos) existia como uma substância pensante; Até agora todos concordam com
ele. Então ele também descobriu que podia se mover e mudar de lugar, então deduziu que a
substância pensante está ligada a uma substância corpórea. Se isso não é uma ilusão, então
nada resta senão aceitar também a existência de um mundo sensível fora de nós; nisto
também todos (ou quase todos) concordariam.

Descartes continuou meditando: nós humanos somos finitos e, entretanto, podemos


conceber algo infinito como Deus; de onde deduziu que a ideia de infinito, que não se baseia
na nossa experiência sensorial, devia vir-nos de fora, de um ser com esse atributo. Assim,
ele chegou à conclusão de que podemos ter certeza, pelo menos, da existência de Deus,
pois de outra forma seres finitos como nós seriam incapazes por nós mesmos de ter a ideia
de um Ser Infinito;[32] portanto, nós devemos concluir que a ideia de Deus foi colocada por
Ele em nossa mente. E se aceitarmos este fato, também podemos aceitar que outras ideias
sejam implantadas em
nossa mente.
A existência de ideias inatas é um ponto central em qualquer teoria do conhecimento.
Além da ideia de Deus, Descartes viu na matemática um bom exemplo de ideias que nos
ajudam a perceber o mundo. Seu argumento é:

física, astronomia, medicina e todas as outras ciências que dependem da consideração de objetos
compostos são muito duvidosas e incertas; enquanto a aritmética, a geometria e outras ciências
dessa natureza, que lidam apenas com coisas muito simples e gerais, sem se importar muito se
estão na natureza ou não, contêm algo certo e indubitável. Esteja eu dormindo ou acordado, dois
e três serão sempre cinco e um quadrado terá quatro lados...[33]

E o inventor da geometria analítica chegou à conclusão fundamental de que: "Nós


percebemos os próprios corpos apenas pela faculdade de compreensão que está em nós, e
não pela imaginação ou pelos sentidos." [34] Ou seja, temos ideias inatas, antes de

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experiência sensível, que nos permitem compreender o mundo.


Além disso, Descartes distinguiu duas classes de certezas:[35]

A primeira é a chamada moralidade, que basta para regular nossos costumes, ainda que saibamos
que pode ser que, absolutamente falando, sejam falsos. Assim, quem nunca visitou Roma não
tem dúvidas de que se trata de uma vila na Itália, embora possa acontecer que todos aqueles de
quem souberam disso estejam enganados.

Temos esse tipo de certeza, diz Descartes, porque faz sentido; da mesma forma que, quando
um texto codificado que conseguimos decifrar faz sentido, estamos convencidos de que o
interpretamos corretamente.
"O outro tipo de certeza é aquele que temos quando pensamos que não é possível que a coisa
seja diferente de como a julgamos." Por exemplo, a certeza de que Deus é a fonte de toda verdade,
assim como das verdades matemáticas. Trata-se da certeza a que chegamos através da razão.

Descartes e os filósofos “racionalistas” desconfiavam da compreensão baseada nos sentidos


se não fosse acompanhada de uma teoria[36] que unificasse as percepções e lhes desse
coerência; confiaram mais nas ideias a priori, aquelas que são anteriores à verificação no mundo
sensível. Exemplos de tais idéias são verdades matemáticas: elas são demonstradas usando
apenas a razão. Assim, por exemplo, podemos ter certeza de que o teorema de Pitágoras se aplica
a todos os triângulos porque o deduzimos com razão das ideias que temos de triângulo e quadrado.
Dessa forma, segundo Descartes, a razão nos permite construir nosso conhecimento do mundo
externo, assim como deduz verdades matemáticas; Nesse sentido, a matemática seria o paradigma
da ciência e a razão, a base confiável do conhecimento.

***

Claro, nem todos os filósofos concordaram que a razão pode alcançar verdades profundas sem
recorrer à experiência sensorial. A posição oposta, que se costuma chamar de empirismo e à qual
se associam os nomes de Locke e Hume, sustenta que todo o conhecimento humano tem origem
na experiência que adquirimos por meio dos nossos sentidos. Sabemos como é o mundo e o
compreendemos depois da experiência sensorial, ou seja: a posteriori. Por exemplo, se sabemos
que o Sol nascerá amanhã, é porque sempre nasceu até agora, do que deduzimos que é
extremamente provável que também nasça amanhã.

Locke, contemporâneo de Newton, afirmou categoricamente que não existe tal coisa

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como ideias inatas. Ele dedicou boa parte de seu Ensaio sobre o entendimento humano para
refutar sua existência, pois, segundo ele, a mente humana é uma lousa em branco, algo
como uma pintura em branco, na qual são coladas as experiências sensoriais. Nossa
percepção da realidade é um produto deles e todos os conceitos básicos foram forjados pela
experiência.
Meio século depois, Hume levou o empirismo ao extremo: afirmou que todas as ideias
são cópias das impressões que recebemos do mundo externo e negou a existência de
verdades universais que se apliquem a todos os casos. Como é impossível verificar
empiricamente cada experiência, na melhor das hipóteses podemos dizer que a prática nos
ensina que em tal e tal situação geralmente acontece tal e tal.
Hume prestou atenção especial ao problema da relação entre causa e efeito; O fato de uma
causa produzir determinado efeito é produto da experiência: sei que quando eu deixar cair
uma pedra ela cairá no chão e quando eu colocar minha mão no fogo sentirei dor; Se espero
tais efeitos, é porque ao longo da minha vida tenho visto e verificado que assim é sempre.
Tudo é questão, então, de costumes adquiridos pela experiência.
Uma posição ainda mais radical é a do bispo irlandês George Berkeley, considerado o
principal representante do puro idealismo. Colocada em seu contexto histórico, sua filosofia
é em grande parte uma reação contra as expectativas despertadas pelos enormes sucessos
da mecânica newtoniana em descrever com precisão o movimento da matéria. Berkeley não
apenas negou a existência de ideias a priori, mas também rejeitou a possibilidade de
conhecer a matéria. Se tudo o que sabemos sobre o mundo externo é por meio de sensações
mentais, podemos dispensar a matéria como seu substrato e ver a experiência diretamente
como uma produção de ideias em nossas mentes.
mente.
Pode-se objetar que, nesse caso, as coisas deveriam desaparecer quando ninguém está
olhando, mas Berkeley argumentou que as ideias são coletivas porque são dadas por Deus.
Temos certeza de que existem outros seres semelhantes a nós porque nos comunicamos
com eles, assim como Deus se comunica conosco na linguagem da natureza. Por isso, deve-
se fazer uma distinção entre as idéias que são produto da imaginação individual — como os
sonhos — e as percepções mais permanentes que "são impressas nos sentidos pelo Autor
da natureza".
De qualquer forma, Berkeley não negou a existência da matéria, mas fez uma observação
sobre ela.[37] Ele esclareceu que por ideia ele quis dizer não ficções ou fantasias da mente,
mas "objetos imediatos de compreensão, ou coisas sensíveis, que não podem existir sem
serem percebidas ou fora de uma mente". Por exemplo, uma árvore real

existe na mente infinita de Deus... o próprio ser de uma árvore, ou de qualquer outra coisa sensível, implica
uma mente na qual ela está... A disputa entre mim e os materialistas não é se as coisas têm uma existência

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reais fora da mente desta ou daquela pessoa, mas se tiverem uma existência absoluta, distinta de serem
percebidas por Deus, e exteriores (distintas) a todas as mentes.

Assim, o relato bíblico da criação refere-se a coisas que vêm a ser não "com respeito a
Deus, mas com respeito às suas criaturas". O que Berkeley rejeita não é a existência de coisas
materiais, mas a de um "substrato, instrumento, ocasião ou existência absoluta" para elas. O
Deus de Berkeley parece estar mais próximo do demiurgo do Timeu e do mundo das Formas.

***

Situado entre as posições extremas do racionalismo e do empirismo, Immanuel Kant elaborou


um vasto sistema filosófico que incorpora alguns princípios básicos de cada uma dessas
doutrinas em uma estrutura muito mais coerente e elaborada. Sua obra abrange inúmeros
campos da filosofia, mas nosso propósito é analisar apenas alguns aspectos específicos que
podem ser relacionados à física, como sua concepção de espaço e tempo, bem como sua
interpretação da realidade objetiva.
Em sua Crítica da Razão Pura,[38] Kant se propõe a elucidar a origem do conhecimento
humano e determinar os verdadeiros limites da razão. Esse famoso tratado começa com a
frase: "Não há dúvida de que todo o nosso conhecimento começa com a experiência", mas
algumas linhas abaixo, seu autor especifica:

Embora todo o nosso conhecimento comece com a experiência, de forma alguma se infere que tudo se
origina da experiência. Pelo contrário, é muito possível que nosso conhecimento empírico seja uma
combinação do que recebemos por meio de nossos sentidos e do que a capacidade de cognição fornece
por si mesma (B 1) .[39]

Assim, o conhecimento tem duas fontes: a sensibilidade e a compreensão: “Através da


primeira, os objetos nos são dados; pelo segundo, são pensados” (A 15/ B 29).

Kant, como os racionalistas, aceita a existência de um conhecimento a priori que é anterior


a qualquer experiência. Mas, ao contrário de seus predecessores, ele não tenta prová-lo com
argumentos lógicos, mas primeiro inverte o problema e se pergunta: como reconhecer se um
conceito é a priori? A resposta que ele oferece é, em si, uma prova de existência: nosso
entendimento é baseado em idéias universalmente válidas e necessárias, mas a universalidade
e a necessidade não podem ser verificadas com a experiência dos sentidos. Isso, para Kant, é
precisamente a indicação de que esses são conceitos a priori: se não vêm da experiência,
devem estar em nossas mentes.

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Ou seja, todos os conceitos que possuem validade universal e necessária devem ser a priori.
Tomemos, por exemplo, a ideia de que "todo efeito tem uma causa". Não é algo que se
deduz da experiência, pois essa afirmação não pode ser verificada para todas e cada uma
das causas e seus respectivos efeitos que existiram, existem e existirão. Ao contrário, é a
mente, dotada de uma ideia a priori, que busca uma relação de causa e efeito em tudo o que
percebe. Sem a ideia a priori dessa relação, o mundo percebido seria incompreensível e sem
sentido.
Em geral, Kant inverteu o problema de como percebemos e entendemos o mundo, que
ele comparou, sem falsa modéstia, à revolução copernicana. O movimento dos planetas
parece extremamente complicado se assumirmos que a Terra está fixa no centro do Universo,
mas torna-se compreensível se observarmos que ela está em movimento. De forma análoga:
“se o nosso modo de perceber deve adaptar-se à constituição dos objetos, não... nada
podemos saber deles a priori; mas... objetos (como objetos dos sentidos)... devem se
conformar à nossa faculdade de percepção (B XVII)”. Ou seja, você tem que mudar seu
ponto de vista e reconhecer que o mundo é como o percebemos porque é assim que nossa
mente o estrutura. “A mente humana é, por natureza, arquitetônica. Ou seja, considera todo
nosso conhecimento como pertencente a um sistema possível” (A 474/B 502).

Isso não significa que o mundo seja uma ilusão e Kant tem o cuidado de se distanciar da
filosofia que chamou de idealismo materialista, pois assume que a matéria é ideia. Na seção
“Refutação do Idealismo” do CPR ele identifica duas classes de idealismos: “teorias que
declaram a existência de objetos no espaço fora de nós duvidosos e improváveis, ou falsos
e impossíveis” (B 274). A primeira é o idealismo de Descartes, para quem a única certeza é
"eu existo"; o segundo é o idealismo de Berkeley, que sustenta que os objetos localizados
no espaço e no tempo são entidades imaginárias. Para Kant, é inevitável cair nessas
posições se insistirmos em acreditar que o espaço e o tempo são propriedades da matéria e
não formas de percepção que nos permitem ordenar nossas sensações para dar-lhes
significado.

A refutação do idealismo materialista reside no fato de que a experiência interna é


impossível sem a experiência do mundo externo (o que Descartes não negou de qualquer
maneira). Mais especificamente, estou ciente de minha própria experiência porque percebo
a passagem do tempo; sem tempo eu não conseguia nem dizer "eu acho".
Mas todas as mudanças temporárias dizem respeito a algo permanente; caso contrário, você
não perceberia nenhuma mudança. A chave da refutação está, então, nesse permanente:
sua percepção “só é possível por meio de uma coisa fora de mim”, diz Kant; portanto, existo
no tempo porque existem coisas reais fora de mim.

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Claro, a mente às vezes pode divagar e produzir sonhos ou alucinações, mas são casos
individuais de percepção que reproduzem experiências vividas anteriormente, com objetos
que já foram reais. "A experiência interior só é possível em geral através da experiência
exterior em geral", escreve Kant.

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espaço e tempo

Assim, sem negar a existência de um mundo independente do sujeito, Kant enfatizou a


diferença entre a aparência e o que a produz:

Tudo o que se intui no espaço e no tempo e, portanto, todos os objetos de qualquer experiência
possível para nós, são apenas aparências, ou seja, meras representações que, da maneira como
são representadas, como existências estendidas, ou como séries de alterações, não têm existência
independente fora de nossos pensamentos (A 491/B 519).

Para explicar como as aparências são produzidas, Kant recorreu a uma concepção
original de espaço e tempo, não como propriedades das coisas, mas como parte essencial
da estrutura que nos permite compreender o mundo.
O mundo não faria sentido se não tivéssemos uma representação do espaço na qual
colocar todos os objetos percebidos. A partir dessa observação, Kant chegou à conclusão
de que o espaço não é algo inerente ao mundo em si, mas à nossa forma de percebê-lo. Se
vejo uma cadeira aqui ou uma montanha ali, é porque minha mente tem uma forma de
percepção que me permite colocar objetos fora de mim e formar uma imagem coerente do
que vejo. Caso contrário, minha experiência do mundo seria um conjunto heterogêneo de
sensações. A tese revolucionária de Kant consistia em inverter o problema: em vez de
procurar o espaço no mundo, propunha procurá-lo no nosso modo de ver o mundo, como
um "modo de percepção".
Algo inteiramente análogo pode ser dito do tempo: se percebo o mundo como ele é, em
constante mudança, é graças ao fato de que o tempo existe em meu aparelho de percepção.
O tempo, Kant nos diz, não é algo empírico que pode ser deduzido da experiência. Pelo
contrário: "Somente com a pressuposição do tempo podemos representar as coisas como
existindo todas ao mesmo tempo (simultaneidade) ou em tempos diferentes
(sucessivamente)" (A 30/B 46). O tempo é uma forma de percepção que nos permite ordenar
nossas experiências sensoriais e dar-lhes significado, bem como estruturar pensamentos; o
tempo “... nada mais é do que a forma do sentido interno, isto é, da intuição de si mesmo e
do nosso estado interno”.
De fato, segundo Kant, o espaço e o tempo são as duas formas de percepção que nos
permitem perceber, de forma coerente, o mundo externo e o interno, respectivamente.
Que um corpo ocupe um lugar no espaço não é algo que se possa demonstrar; pelo
contrário, percebemos um corpo porque nossa mente o coloca no espaço. O mesmo se
pode dizer do tempo: não é demonstrável que todo acontecimento tenha uma causa que o
precede; ao contrário, é graças ao tempo que podemos perceber uma sucessão de causa e
efeito. Nossas sensações ocorrem no espaço e no tempo,

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condições necessárias para toda experiência sensorial; fora deles nenhuma experiência
pode ser concebida.

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as coisas em si

Kant chamou sua doutrina de "idealismo transcendental" e a distinguiu enfaticamente do


idealismo puro que nega, ou pelo menos duvida, da existência de um mundo externo
independente do sujeito. Ele não questionou “a realidade dos objetos da intuição externa,
como intuídos no espaço, e de toda mudança, como representados nos sentidos internos”,
mas “Este espaço e este tempo, e com eles todas as aparências, não são coisas em eles
mesmos; Eles são apenas representações e não podem existir fora de nossa mente.
(A 492/ B 520).
Espaço e tempo, então, são "condições para a existência das coisas como aparências (B
XXV)". Agora, como se origina tudo o que percebemos através do espaço e do tempo? Kant
postulou a existência de coisas inacessíveis diretamente aos sentidos, que ele chamou de
coisas em si mesmas, que fazem parte de uma realidade que existe independentemente da
consciência. As próprias coisas produzem aparências em nossa mente, que reconstrói a
realidade graças às suas formas de percepção.

Não podemos conhecer nenhum objeto como coisa em si, mas apenas enquanto objeto da intuição
sensível, isto é, fenômeno. pelo menos na possibilidade de pensá-los como coisas em si; caso
contrário, chegaríamos à conclusão absurda de que pode haver aparências sem que nada apareça
(B XXVI).

Assim, Kant distingue entre as coisas como "objetos de experiência" ou coisas para mim
(fenômenos) e "coisas em si mesmas" (numena); os primeiros manifestam-se no espaço e no
tempo, tendo origem nos segundos, que independem do sujeito.

***

A existência de ideias inatas que nos permitem compreender o mundo pode ser colocada em
termos próximos de nossa experiência moderna. Seguindo a linguagem da computação, se
compararmos o cérebro com um computador, podemos dizer que nossa mente possui um
software ou um sistema operacional que permite processar as informações fornecidas pelos
sentidos, a fim de ordenar e dar coerência às experiências sensoriais. O problema, então, é
saber de onde vem esse software.
Nascemos com ela ou ela se desenvolve com a experiência? É software a priori ou a
posteriori?
Kant, como Descartes, aceita que nascemos com software já integrado em

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nossa mente, mas também postula que o espaço e o tempo fazem parte dela, não o mundo,
e que nossas percepções são uma combinação do que as próprias coisas produzem e do
que esse software fornece.
Como mostraremos nos próximos capítulos, essas ideias não são incompatíveis com a
física quântica, ao menos com a versão consagrada pela interpretação de Copenhague. Na
verdade, essa interpretação é amplamente inspirada na teoria do conhecimento de Kant.

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[31] No Discurso do Método, Os Princípios da Filosofia e as Meditações Metafísicas.

[32] Não esqueçamos, porém, que o Deus dos filósofos não é o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, como
Pascal apontou isso muito apropriadamente.

[33] Descartes, Meditações Metafísicas, Primeira Meditação, 1642.

[34] Ibid., Segunda Meditação.

[35] Os Princípios da Filosofia, Parte iv.

[36] Ver, por exemplo, DM Clarke, Descartes' Philosophy of Science, Alianza Editorial, Madrid, 1982.

[37] Em Três diálogos entre Hylas e Philonus, Espasa-Calpe, Buenos Aires, 1952.

[38] I. Kant, Crítica da Razão Pura, 1781 e 1787; doravante abreviado como CPR.

[39] Eu sigo a “notação acadêmica” na numeração das passagens do CPR.

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SERRA. Espaço, tempo e gravitação

Estes são os meus princípios, e se você não gosta


deles... bem, eu tenho outros.

Groucho Marx

Nossos conceitos de espaço e tempo mudaram radicalmente depois de 1905.


Naquele ano, Albert Einstein publicou seu famoso artigo "Sobre a eletrodinâmica dos
corpos em movimento", que deu origem à teoria da relatividade. O propósito original de
Einstein era resolver a aparente contradição entre o eletromagnetismo de Maxwell e a
relatividade de Galileu.
O princípio da relatividade na física clássica foi levantado por Galileu para explicar
por que a rotação da Terra e seu movimento ao redor do Sol não são perceptíveis, se
de fato nosso planeta não está estacionário no centro do Universo. Galileu observou
corretamente que é impossível detectar movimento uniforme: em um navio, carruagem
ou qualquer veículo que se mova com a mesma velocidade e em linha reta, os
passageiros não podem perceber nenhum movimento; eles percebem isso apenas
quando o veículo freia, acelera ou vira.[40]
Um sistema de referência pode ser tão válido quanto outro. De acordo com o
"princípio da relatividade de Galileu", as leis da física são as mesmas em qualquer
referencial cujo movimento seja uniforme; Escolher o mais adequado é uma questão de
conveniência. Para a maioria de nossos propósitos práticos, devemos usar a Terra como
nosso referencial, mesmo que ela esteja se movendo pelo espaço. Por outro lado, para
descrever o movimento dos planetas, o Sol é mais conveniente, pois, com relação a ele,
os planetas se comportam regularmente; em vez disso, em relação à Terra, eles têm
trajetórias complicadas.
Se um veículo frear, acelerar ou virar, aparecem forças sobre seus passageiros que
os empurram para frente, para trás ou para o lado do veículo. São forças fictícias que
se devem unicamente ao fato de que os corpos dentro do veículo tendem a continuar
em movimento retilíneo e uniforme; tais forças são chamadas inerciais.
Um referencial que se move em linha reta e sem alterar sua velocidade é chamado de
referencial inercial.
Com sua teoria especial, Einstein estendeu o princípio da relatividade de Galileu aos
fenômenos eletromagnéticos e, em particular, ao movimento da luz, cuja velocidade

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É o mesmo em qualquer quadro de referência. Mais tarde, com a relatividade geral, ele
estendeu a teoria para incluir sistemas não inerciais, relacionando os efeitos inerciais à
gravitação. A ideia básica, porém, é sempre a mesma: as leis da física não devem depender
do referencial escolhido.

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Relatividade especial

Mencionamos no capítulo III como o conceito fundamental de campo surgiu no quadro da teoria
de Maxwell. Ao expressar as leis básicas dos fenômenos elétricos e magnéticos na forma de
equações, Maxwell conseguiu sistematizar esses fenômenos de forma equivalente à que
Newton fez para a gravitação. Além disso, como importante corolário de sua teoria, Maxwell
demonstrou rigorosamente que a luz é uma onda eletromagnética que se propaga no espaço.

O conceito de onda remete-nos sempre para um meio que vibra: o som é uma onda no ar,
as ondas são ondas na água... o que vibra para transportar uma onda electromagnética? Na
época de Maxwell, os físicos não tinham escolha a não ser recorrer — mais uma vez! — ao
famoso Éter, aquela substância imaterial que preenche todo o Universo. Agora o Éter deveria
servir de suporte, não para a força da gravidade como se pensava na época de Newton, mas
para a eletricidade e o magnetismo e, em particular, para a luz como onda eletromagnética.

A existência hipotética do Éter está relacionada a um grande problema da teoria de


Maxwell: o fato de suas equações serem incompatíveis com o princípio da relatividade de
Galileu. Ao passar de um referencial para outro, verifica-se que as equações de Maxwell
mudam de forma, o que implica que elas são válidas apenas em um determinado referencial e
não em nenhum. Mas essa situação não preocupava muito os contemporâneos de Maxwell;
afinal, se o Éter cósmico é invocado, ele define um sistema privilegiado por excelência. De
certa forma, é reconfortante saber que existe algo imutável no Universo, um sistema absoluto
ao qual se referem todos os fenômenos e as leis matemáticas que os descrevem.

Claro, tudo o que foi dito acima implicava a possibilidade de realizar experimentos físicos
para determinar se a Terra está em movimento em relação a esse sistema absoluto. A maneira
mais simples de verificar seria medir a velocidade da luz: se ela tem um determinado valor em
relação ao Éter fixo, sua velocidade deve ser diferente em outro sistema de referência que se
mova em relação a ela. O famoso experimento do interferômetro de Michelson e Morley,
realizado em 1887, foi projetado justamente para detectar mudanças na velocidade da luz
devido ao movimento da Terra em sua órbita ao redor do Sol. Sem entrar nos detalhes desse
experimento clássico, basta apontar salientou que seu esquema consistia em comparar dois
feixes de luz direcionados em duas direções perpendiculares e refletidos com um conjunto de
espelhos e prismas; uma pequena diferença de velocidade se manifestaria na interferência
entre as duas ondas de luz. Como a Terra se move em sua órbita ao redor do Sol a uma
velocidade

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de cerca de 30 quilômetros por segundo, seria esperada uma diferença dessa ordem entre
dois feixes perpendiculares entre si, o que era possível medir com a precisão do
interferômetro. Como se sabe, o resultado encontrado foi totalmente negativo: a velocidade
da luz parecia ser a mesma independente da direção de seu movimento, ou seja, a
velocidade da Terra em relação ao hipotético Éter não foi percebida.
Houve várias tentativas de explicar o resultado negativo de Michelson e Morley, mas
nenhuma até Einstein ter sucesso. Enquanto uma explicação física foi encontrada, HA
Lorentz e H. Poincaré independentemente se propuseram a estudar em profundidade a
estrutura matemática das equações de Maxwell e a elucidar por que o princípio da
relatividade de Galileu foi violado. Em particular, se essas equações mudam de forma ao
fazer uma transformação de coordenadas que descreve a passagem de um sistema de
referência para outro, então eles se propõem a determinar como seria uma transformação
de coordenadas mais geral que não alterasse a forma dessas mesmas equações . Lorentz
descobriu que existe sim uma transformação de coordenadas com essa propriedade, mas
que tem a particularidade de misturar espaço e tempo, como se o tempo fosse uma quarta
coordenada. Para o físico holandês, seu resultado tinha interesse apenas acadêmico.
Poincaré chegou a um resultado semelhante, mas mais geral, e talvez se tivesse mais
tempo, teria encontrado o significado físico de seus resultados. Foi Einstein quem recebeu
o grande crédito por descobrir o verdadeiro significado das transformações de Lorentz e
mostrar que elas não são uma simples curiosidade matemática.

***

A teoria que Einstein apresentou em 1905 estendeu o conceito de relatividade à própria


eletrodinâmica. Ao contrário da relatividade de Galileu, que inclui apenas mudanças de
coordenadas espaciais, a nova teoria considerou o tempo como uma quarta coordenada no
espaço quadridimensional. Seu postulado básico é que todas as leis da física são invariantes
ao passar de um sistema a outro. A consequência mais imediata desse princípio é que a
velocidade da luz deve ser a mesma para qualquer observador, independentemente de seu
movimento: afinal, é isso que indica o experimento de Michelson e Morley.

O que foi dito acima parece contradizer o conceito de velocidade que aprendemos na
escola; o senso comum nos diz que ao correr atrás de um sinal de luz, devemos vê-lo com
menos velocidade. No entanto, as velocidades não adicionam ou subtraem na teoria da
relatividade, mas obedecem a uma fórmula mais complicada,[41]

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que leva em conta o fato de que o tempo se contrai ao passar de um referencial para outro,
de forma que a velocidade da luz permanece sempre a mesma.
Nenhum experimento permite privilegiar um sistema inercial em detrimento de outros. Isso
inclui os fenômenos eletromagnéticos —especialmente a luz— que, até o surgimento da teoria
de Einstein, pareciam escapar a essa lei fundamental. Na ausência de um sistema de
referência privilegiado, o Éter caiu novamente no esquecimento.
Na teoria da relatividade não existe tempo absoluto, mas períodos de tempo que
dependem de cada observador. Einstein mostrou que existe uma conexão básica entre espaço
e tempo, de modo que um intervalo de tempo ou uma seção do espaço varia de acordo com
o observador, e a duração dos processos depende do referencial a partir do qual são
observados. Assim, por exemplo, o tempo gasto em uma nave espacial viajando a uma
velocidade muito próxima da velocidade da luz seria significativamente menor do que o medido
por aqueles que permanecem na Terra: os viajantes podem retornar e encontrar seus filhos
ou netos mais tarde. .
É importante notar, no entanto, que "tempo adequado" é um conceito perfeitamente
definido na teoria da relatividade: é o tempo medido por um relógio em movimento, não
importa como ele se mova. Cada sistema físico tem seu próprio tempo, que está relacionado
aos fenômenos físicos que nele ocorrem. O que é relativo é a medição do tempo em diferentes
sistemas de referência.[42] No exemplo da nave hipotética, o tempo que decorre para os
tripulantes, aquele que medem e percebem, é o seu "tempo próprio", tão real como o "tempo
próprio" decorrido para os que ficaram na Terra; a teoria da relatividade implica que os dois
tempos próprios não são iguais entre si, mas nos permite calcular exatamente a relação entre
os dois.

O efeito da contração do tempo foi perfeitamente verificado experimentalmente. Por


exemplo, partículas subatômicas que são geradas em grandes aceleradores de partículas e
se movem com velocidades próximas à da luz se desintegram em bilionésimos de segundo —
seu tempo próprio— em seus próprios referenciais, mas sobrevivem muito mais tempo no
referencial de laboratório. Da mesma forma, a contração do tempo foi confirmada para
velocidades mais mundanas. Graças aos instrumentos extremamente precisos para medir o
tempo, os efeitos relativísticos estão se tornando cada vez mais claros e sem dúvida. Tanto
que o Sistema de Posicionamento Global, que determina a posição na superfície da Terra
medindo o tempo que um sinal de rádio leva para ir de um satélite a um transmissor, requer
uma precisão de alguns nanossegundos para estabelecer essa distância; para isso, os efeitos
da contração relativística do tempo devem necessariamente ser levados em conta.

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Em suma, a teoria da relatividade revelou uma estreita relação entre espaço e tempo. Em
princípio, o conceito de tempo como quarta dimensão não deveria ser nada extraordinário:
afinal, para descrever um evento que ocorre em determinado lugar e em determinado
momento, precisamos de três coordenadas espaciais que indiquem a posição espacial e,
ainda, o momento em que ocorre, que pode ser interpretado como uma quarta coordenada.
Na física newtoniana, essa interpretação do tempo não tem grandes consequências porque
as coordenadas espaciais nunca se misturam com as temporais. Em contraste, na teoria da
relatividade eles estão necessariamente ligados.

A teoria da relatividade também tem consequências dinâmicas importantes, pois nos


permite interpretar a massa e a energia de uma maneira completamente nova. A famosa
fórmula de Einstein relacionando energia com massa tem a seguinte forma geral para um
objeto massivo em movimento:

onde v é a velocidade do objeto e m sua “massa inercial”. Por definição, esta é a massa em
um sistema no qual o objeto está em repouso (que é a forma mais conveniente de medi-la).
Uma consequência dessa fórmula é que um corpo em repouso também possui energia na
forma de massa, mas o fato de esta poder ser transformada em energia depende, na prática,
de condições muito especiais. Quando Einstein publicou seu trabalho, não era óbvio como
conseguir essa conversão; ela se concretizaria três décadas depois, com a descoberta das
reações nucleares. O que se vê diretamente dessa fórmula é que um corpo massivo nunca
pode atingir a velocidade da luz porque exigiria uma quantidade infinita de energia para isso.

Apenas uma partícula sem massa, como um fóton, pode se mover nessa velocidade limite;
na verdade, o fóton é uma partícula de pura energia.
A existência de um limite de velocidade na natureza não tem equivalente na mecânica
clássica. Revela uma estrutura geométrica típica da relatividade: o espaço-tempo
quadridimensional, proposto por Herman Minkowski (1864-1909).
Cada ponto no espaço de Minkowski é um evento, descrito por três coordenadas de
espaço e uma coordenada de tempo. Além disso, o conceito de distância é generalizado para
o de "pseudodistância" por meio de uma extensão do teorema de Pitágoras para quatro
dimensões. Especificamente, a pseudo-distância entre dois eventos, descrita pelas
coordenadas (t, x, y, z) e (t + dt, x + dx, y + dy, z + dz) é dada pela fórmula

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ds² = dx² + dy² + dz² – c²dt²,

que lembra o teorema de Pitágoras, exceto pelo fato muito importante de que o “quadrado da
hipotenusa” pode assumir valores positivos e negativos devido ao sinal negativo que aparece
antes da “perna do tempo”, dt. Em particular, verifica-se que a pseudodistância entre dois
eventos unidos por um caminho de luz é igual a
zero.
Do ponto de vista físico, o movimento de uma partícula corresponde a uma curva no
espaço de Minkowski. Além disso, o pseudocomprimento dessa curva, calculado de acordo
com a fórmula de pseudoalcance, é o tempo próprio medido no próprio relógio dessa partícula
(Figura VI.1). Se for um fóton, seu caminho no espaço de Minkowski é uma linha de 45 graus,
e o pseudo-comprimento desse caminho, medido entre qualquer par de pontos nele, é sempre
zero. Pode-se dizer que, para fótons e qualquer partícula que se move na velocidade da luz, o
tempo se contrai infinitamente e, portanto, deixa de passar; a luz percorre qualquer distância,
até mesmo o Universo inteiro, no que para ela é estritamente um instante: um intervalo de
tempo zero.

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Figura VI.1

Vejamos com um pouco mais de detalhes a estrutura do espaço-tempo de Minkowski.


Devido ao limite natural que é a velocidade da luz, um evento S só pode influenciar aqueles
eventos que podem ser alcançados a partir de S com uma velocidade menor ou no máximo
igual à da luz. Para cada evento S, existe um conjunto de eventos que residem em seu futuro
causal, ou seja, eventos que S pode influenciar, ou seja, pode haver uma relação de causa e
efeito; da mesma forma, existe um conjunto de eventos que podem influenciar S (ver figura
VI.2); o primeiro conjunto é o futuro causal de S e o segundo é seu passado causal. Tanto o
futuro causal quanto o passado estão dentro do que é conhecido como cones de luz. O cone
de luz futuro é o conjunto de todas as linhas de mundo dos fótons emanados de S, e o cone
de luz passado é o conjunto de todas as linhas de mundo dos fótons recebidos em S. Fora
desses cones existe uma região de espaço-tempo que é causalmente inacessível para S.

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Figura VI.2

É importante notar que o tempo pode se contrair ou se estender de acordo com cada
observador, mas uma reversão do tempo não pode ocorrer entre dois eventos conectados
causalmente. Se o evento B estiver dentro do futuro cone do evento A, então A precede B e
parecerá dessa forma em qualquer referencial. A duração temporal pode mudar, mas a ordem
temporal é invariante ao passar de um sistema de referência para outro (figura VI.3a). Se uma
partícula é emitida de um determinado emissor e é recebida em outro local distante por um
receptor, os dois eventos — emissão e recepção — seguem uma ordem causal, porque quem
observa tal processo verá primeiro a emissão da partícula e após a sua recepção.

No entanto, quando se trata de eventos que não estão ligados causalmente, a ordem
temporal deixa de fazer sentido, pois depende do sistema de referência utilizado. Se o evento
C estiver fora do cone de luz de A, então C será visto antes ou depois de A, dependendo de
onde no espaço-tempo ele for visto (ver Figura VI.3b). A ordem temporal entre causa e efeito
não tem um sentido invariante para eventos causalmente desconectados.

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Figura VI.3

Por mais espetacular que seja a relatividade do tempo prevista pela relatividade de
Einstein, essa teoria, como a física newtoniana, não explica por que o tempo flui em apenas
uma direção. Se mudarmos o sentido do tempo, as leis da física permanecem as mesmas,
tanto na mecânica newtoniana quanto na mecânica einsteiniana.
Por isso, a esse respeito, a interpretação de Boltzmann que mencionamos no capítulo IV,
que enfatiza a manifestação estatística dos processos microscópicos, talvez seja mais
fundamental.

***

A luz é muito rápida para todos os propósitos práticos na Terra, mas muito lenta para
atravessar o Universo. Basta lembrar que a luz leva cerca de sete minutos para ir do Sol à
Terra e quatro anos para a próxima estrela mais próxima, cem mil anos para atravessar a
galáxia, cerca de dois milhões de anos para ir da galáxia mais próxima e mais de dez
bilhões anos para atravessar o universo visível. As possibilidades de comunicação com
hipotéticos seres extraterrestres são extremamente limitadas... a menos que existam
partículas mais rápidas que a luz, ou "atalhos" para se mover no espaço-tempo. Trataremos
dessas possibilidades a seguir.

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táquions

Como mencionamos, a teoria da relatividade prevê que nenhum corpo material pode
atingir a velocidade da luz porque exigiria uma quantidade infinita de energia para isso.
Mas, por outro lado, não há nenhuma razão fundamental para que não possa haver
partículas sempre mais rápidas que a luz. Em princípio, a velocidade da luz pode ser
uma barreira de duas maneiras: assim como as partículas comuns não podem ultrapassá-
la, pode haver algum tipo de partícula que nunca pode desacelerar abaixo da velocidade
da luz. Essas partículas hipotéticas, ainda não descobertas, receberam o nome de
táquions, palavra que vem do grego tajos: velocidade.
Embora a teoria da relatividade não exclua a existência de partículas mais rápidas
que a luz, ela implica, no entanto, que para elas não há distinção entre passado e futuro.
Devido à geometria peculiar do espaço-tempo, ultrapassar a velocidade da luz equivale
inteiramente a inverter o sentido do tempo, o que nos permitiria nos comunicar com o
passado e até mesmo construir uma máquina do tempo como nos filmes de ficção
científica. .
Seja como for, se existissem táquions, eles seriam completamente diferentes das
partículas que compõem a matéria comum. Em particular, sua massa não se presta a
definição no sentido usual. A este respeito, deve-se notar que a massa de uma partícula
elementar não pode ser medida diretamente, mas é deduzida indiretamente de sua
energia e velocidade. Para táquions, a energia pode ser definida sem ambiguidade, mas
ao custo de sua massa ser uma quantidade imaginária, no sentido matemático deste
termo: o quadrado da massa de um táquion é uma quantidade negativa. Seria mais
correto, entretanto, dizer que o conceito comum de massa não se aplica a partículas
mais rápidas que a luz, embora os conceitos de energia e velocidade possam ser
estendidos a elas.
Embora seja viável, em princípio, detectar algo semelhante a um táquion em
laboratório, nenhuma evidência de sua existência foi encontrada até o momento. A esse
respeito, lembremos que a maioria das partículas elementares é detectada pelas
reações que ocorrem entre elas e que provocam transformações umas nas outras (por
exemplo, um nêutron isolado transforma-se espontaneamente em próton, elétron e
neutrino). Se alguma reação produzisse, além das partículas comuns, um táquion, sua
presença poderia ser detectada medindo-se a energia e a velocidade das outras
partículas produzidas por essa reação. Além disso, uma partícula que se move mais
rápido que a luz deve produzir algum tipo de radiação eletromagnética que revelaria
sua presença. Com o exposto acima, vários

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experimentos, mas os resultados sempre foram negativos.


Por outro lado, os táquions, se existissem, implicariam várias das mais paradoxais
situações, particularmente em relação à possibilidade de comunicação com o passado. Como
apontamos acima, o tempo decorrido entre a emissão e a recepção de um sinal, visto por algum
observador, depende de como este se movimenta.
Para uma partícula comum não é possível inverter a ordem temporal entre emissão e recepção,
mas para um táquion é possível: se um observador na Terra vê um táquion emitido de seu
planeta e recebido em Marte, um marciano verá o mesmo processo em reverso: pois o mesmo
táquion deixará Marte e chegará mais tarde à Terra.
Mais precisamente, pode-se mostrar que, se um emissor e um detector de táquions
estivessem disponíveis, os sinais poderiam ser enviados ao passado ajustando apropriadamente
a velocidade relativa entre os observadores.[43] Embora as leis da física não o proíbam, muitas
situações paradoxais seriam criadas: por exemplo, o que aconteceria se alguém se comunicasse
consigo mesmo quando criança e lhe contasse sobre sua vida posterior? E se alguém se
encontra como uma criança e "é" assassinado? Se quisermos evitar situações paradoxais,
devemos assumir que não há meio de comunicação mais rápido que a luz, mas isso será por
razões mais lógicas do que físicas.
Voltaremos à questão do tempo circular no capítulo X, mas não sem antes, nos capítulos
seguintes, apresentar argumentos para sustentar que o tempo, e em particular sua direção,
tem outra realidade no nível atômico. Como mencionamos no capítulo anterior, o tempo na
física moderna é antes uma propriedade estatística de objetos e seres macroscópicos como
nós, feitos de trilhões e trilhões de moléculas; podemos apenas dizer que é extremamente mais
provável (mas não absolutamente impossível!) que o tempo passe em uma direção e não em
outra.

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Relatividade geral

Depois de apresentar a teoria da relatividade, Einstein passou quase uma década pensando
em como explicar os efeitos não inerciais. Finalmente, em 1916, ele apresentou uma versão
mais geral de sua teoria que também incluía o fenômeno da gravidade de uma forma
completamente nova. A ideia básica da teoria da relatividade generalizada é que o espaço-
tempo é um espaço de Riemann, ou seja, um espaço curvo quadridimensional. O que
percebemos como a força da gravidade é uma manifestação dessa curvatura: a gravitação é
uma propriedade geométrica do espaço-tempo.

Essa ideia é geralmente ilustrada com o exemplo de uma bola de gude rolando sobre uma
superfície; se for plana, a bola de gude se moverá em linha reta, em vez disso, seguirá um
caminho curvo em uma superfície deformada. Da mesma forma, pode-se dizer que os planetas
giram em torno do Sol porque esse corpo deforma o espaço-tempo ao seu redor e os planetas
se movem seguindo essa curvatura. A diferença fundamental com o exemplo do mármore é
que a gravidade atua em um espaço-tempo quadridimensional: tanto o espaço quanto o tempo
são distorcidos. Na prática, a curvatura devido a uma estrela ou planeta comum é quase
imperceptível, mas ela se manifesta mais plenamente perto de objetos muito densos, como
buracos negros, ou em escala muito grande no Universo como um todo. Mas, numa boa
aproximação, o espaço-tempo na Terra, no Sistema Solar e, em geral, em quase todo o
espaço cósmico, é praticamente plano.

Onde há atração gravitacional, não há linhas: um raio de luz segue um caminho curvo. Na
teoria de Einstein, o espaço-tempo é Riemanniano e, na ausência de corpos maciços, reduz-
se ao espaço de Minkowski, que é um espaço plano. A fórmula para medir pseudodistâncias
é a que vimos no final do Capítulo III: o tensor métrico gij é inteiramente determinado pela
distribuição de matéria e energia no espaço.

Na teoria geral, a geometria é física: o espaço não é mais um simples palco para
fenômenos físicos, mas possui propriedades dinâmicas. Riemann teria ficado muito satisfeito
ao ver como o mundo matemático que ele descobriu e explorou encontrou uma correspondência
no mundo físico.

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buracos negros

Embora a curvatura do espaço-tempo seja muito difícil de detectar na Terra e no Sistema


Solar, ela pode se manifestar em toda a sua magnitude em torno de grandes concentrações
de massa. O caso mais espetacular é o dos chamados buracos negros, que produzem
uma distorção extrema do espaço e do tempo de uma forma que só a relatividade geral
pode descrever.
A história começou poucos meses depois da publicação do artigo de Einstein em 1916,
quando o astrônomo Karl Schwarzschild encontrou uma solução para as equações da
teoria relativística que descrevem o campo gravitacional — equivalentemente: espaço-
tempo — gerado por uma distribuição esférica de massa.
A solução de Schwarzschild é inteiramente determinada por um único parâmetro, a massa,
e corresponde à generalização relativística do que seria, na física newtoniana, o campo
gravitacional de uma esfera massiva como o Sol ou um planeta.
Uma peculiaridade do espaço-tempo de Schwarzschild é que se um objeto tem uma
certa massa concentrada em um raio menor do que o que é conhecido como raio de
Schwarzschild – cerca de 3 km para cada massa solar – [44] então a gravidade é tão
extrema que nada, nem mesmo mesmo a luz, pode escapar dela. Na linguagem geométrica,
o espaço-tempo é tão curvo que se fecha sobre si mesmo; Já o raio de Schwarzschild
corresponde ao de uma superfície esférica, o “horizonte de eventos”, que só pode ser
atravessado em uma direção: de fora para dentro. O interior do horizonte de eventos está
causalmente desconectado do resto do Universo: nada do que acontece ali pode influenciar
o exterior, e um hipotético navegador espacial que entre em um buraco negro jamais
conseguirá escapar dele ou enviar mensagens para o exterior.
Sem entrar nos detalhes da formação dos buracos negros, vamos mencionar que
existem várias evidências astronômicas da existência de tais objetos no Universo que são
reveladas pela atração gravitacional exercida ao seu redor, pela absorção de matéria de
outras estrelas próximas. Quanto à sua origem, os astrofísicos pensam que são formados
pelo colapso gravitacional de estrelas muito massivas, depois de esgotarem seu
combustível nuclear e se apagarem; outra possibilidade é que buracos negros gigantes
tenham se formado em tempos muito remotos do Universo e que, atualmente, se encontrem
nos núcleos de galáxias.[45]
No que diz respeito ao tempo, os buracos negros apresentam o caso mais extremo de
sua relatividade. Se você observar um determinado objeto cair em direção ao horizonte, o
tempo desse objeto parecerá congelar quando visto de longe; em vez disso, no próprio
objeto ele passará normalmente. Visto à distância, chegada ao raio de Schwarzschild

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levará um tempo infinito; por outro lado, o viajante que entrar no buraco não perceberá, em
seu próprio sistema de referência, nada de particular e o tempo continuará a correr
normalmente para ele mesmo depois de ter cruzado o horizonte fatídico dos acontecimentos.
Logo após a publicação do artigo de Schwarzschild, os físicos teóricos Reissner e
Nordstrom encontraram uma generalização da solução de Schwarzschild que também inclui
uma carga elétrica. Então, várias décadas se passaram antes, em 1963, RP Kerr encontrou
outra solução para as equações de Einstein que descrevem um buraco negro em rotação com
massa; esta mesma solução foi generalizada logo depois por ET Newman et al., incluindo
também uma carga útil.
O que agora é conhecido como a solução de Kerr-Newman descreve o espaço-tempo de
um buraco negro massivo, rotativo e eletricamente carregado. Com muito trabalho, foi possível
demonstrar com rigor que, na teoria da relatividade geral, não pode haver um espaço-tempo
mais geral que tenha um horizonte de eventos. Ou seja, o buraco negro é um objeto
relativamente simples já que é inteiramente determinado por apenas três parâmetros: massa,
carga e momento angular; nisso é bastante reminiscente de uma partícula elementar que
também é descrita por um número reduzido de parâmetros físicos.

Ao contrário do buraco negro de Schwarzschild, os buracos negros Reissner-Nordstrom e


Kerr e Kerr-Newman têm dois horizontes de eventos, um dentro do outro. A peculiaridade
desses espaços-tempos é sua topologia, pois podem ser interpretados como vários universos
conectados entre si por meio de horizontes de eventos que se repetem em cada universo. É
até possível que um viajante do espaço possa entrar em um buraco negro cruzando primeiro
seu horizonte externo, depois seu horizonte interno e, em seguida, percorrendo uma trajetória
reversa para fora do buraco negro. Para um observador externo, ele emergiria de um "buraco
branco": um corpo no qual nada pode entrar e do qual tudo é expelido. Para onde irá o
navegador?: talvez para uma região distante deste universo, ou talvez para um universo
paralelo.

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buracos de minhoca

Os chamados "buracos de minhoca" são outros integrantes do zoológico das curiosidades


geométricas do espaço-tempo. Eles são semelhantes aos buracos negros, pois também
têm um horizonte e, por fora, se parecem com eles. No entanto, o seu interior é muito
diferente: dentro do horizonte existe um túnel no espaço-tempo que permite a comunicação
com outro universo, que se pode identificar, conforme o gosto, com um universo paralelo
ou com alguma outra região nossa. . Neste segundo caso, um buraco de minhoca seria um
meio de comunicação muito conveniente entre regiões muito distantes do Universo, pois
serviria de atalho no espaço-tempo. Para todos os propósitos práticos, seria uma viagem
feita a uma velocidade arbitrariamente grande; mas, como já vimos, um movimento mais
rápido que a luz equivale a uma inversão entre o passado e o futuro. Pode acontecer,
portanto, que uma espaçonave penetre em um buraco de minhoca para emergir em uma
região distante do Universo e depois, voltando pelo mesmo caminho, chegue à Terra antes
de partir. O buraco de minhoca funcionaria exatamente como uma máquina do tempo.

Por enquanto, tais possibilidades pertencem ao reino da ficção científica. Ao contrário


dos buracos negros, cuja origem é compreensível a partir da evolução das estrelas, os
buracos de minhoca não podem se formar em algum momento, mas devem ser objetos
eternos. No mínimo, pode-se argumentar que eles se originaram em tempos muito remotos
do Universo, na chamada era de Planck (que mencionaremos no capítulo IX), quando o
espaço e o tempo eram regidos por flutuações quânticas; esses túneis seriam os resquícios
dessas flutuações primordiais. Tudo isso, é claro, é apenas especulação baseada em
propriedades matemáticas dos espaços riemannianos e não tem necessariamente nenhuma
conexão com o mundo material.
Tudo isso soa como ficção científica. Se o mencionamos, é apenas com a intenção de
mostrar a enorme variedade e riqueza matemática do espaço-tempo riemanniano.
Se descreve algo real é outra questão. Por ora, tomaremos isso como uma indicação de
que o mundo das ideias matemáticas pode ser mais vasto em certas direções do que o
mundo dos objetos sensíveis.

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O universo

Quando Isaac Newton descobriu que a gravitação é um fenômeno universal e que todos
os corpos se atraem, ele se deparou com um problema muito sério: como é possível que
todas as estrelas não acabem reunidas em um ponto devido às suas atrações mútuas? ?
A única explicação que lhe ocorreu foi que o Universo é infinito, de modo que não existe
um centro para o qual a matéria possa colapsar. Em um universo infinito e perfeitamente
homogêneo, a atração da matéria de um lado é sempre contrabalançada pela atração do
lado oposto.
Claro, um universo infinito não está isento de problemas conceituais.
Depois de Newton, seguiram-se dois séculos de discussões metafísicas até que, em 1916,
Albert Einstein propôs uma nova solução baseada em sua teoria geral da relatividade. Para
resolver a velha disputa sobre se o Universo é finito ou infinito, ele imaginou um universo
limitado em extensão, mas sem fronteiras, no qual o espaço cósmico tridimensional se
curva para fechar-se sobre si mesmo. Algo semelhante à superfície bidimensional da Terra.
Uma espaçonave que sempre se move na mesma direção no universo de Einstein acabaria
voltando ao seu ponto de partida, assim como um Magalhães cósmico.

Quando Einstein publicou seu modelo cosmológico, a expansão cósmica ainda não
havia sido descoberta, então o universo que ele originalmente imaginou era estático e
imutável. Mas o problema do colapso de toda a matéria devido à gravidade permaneceu;
Para resolvê-lo, Einstein teve a ideia de incluir um termo adicional em suas fórmulas, a
chamada “constante cosmológica”, que corresponde fisicamente a uma repulsão cósmica
cujo efeito é impedir o colapso do universo. Mas tal solução nunca satisfez o próprio
Einstein, pois implicava acrescentar à sua teoria um elemento adicional praticamente fora
do saco.
O universo finito fechado de Einstein tinha uma certa densidade de massa. No ano
seguinte à publicação de seu trabalho, o astrônomo holandês Willem de Sitter descobriu
que as equações da teoria da relatividade também admitem, como solução possível, um
universo infinito desprovido de matéria, expandindo-se justamente por repulsão cósmica.
Em tal universo, duas partículas se afastariam continuamente, aumentando
exponencialmente a distância entre elas, ou seja, dobrando-a de vez em quando.

A descoberta teórica de De Sitter foi uma grande surpresa na época, pois implicava
que, de acordo com a teoria da relatividade, um corpo material pode se mover mesmo em
um espaço completamente vazio. Isso, por sua vez, refutou o "princípio da

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Mach”, segundo o qual a massa inercial de um corpo seria determinada pela atração
gravitacional de todas as massas existentes no Universo. O próprio Einstein havia usado
esse princípio para lançar as bases conceituais de sua teoria, mas o modelo cosmológico
de De Sitter, consequência dessa mesma teoria, era um exemplo de que tal princípio poderia
ser perfeitamente dispensado, pois era possível que, em um planeta sem estrelas, universo,
as partículas poderiam se mover apenas pelas propriedades dinâmicas do espaço, sem a
influência da matéria.
A expansão do espaço, como no modelo simples de De Sitter, é algo perfeitamente real
e verificável. Devido ao chamado efeito Doppler, a luz de uma galáxia que se afasta chega
até nós com menos energia (mais vermelha) do que a emitida. De fato, no início da década
de 1920, ficou claro que a relatividade geral, mesmo sem recorrer à "constante cosmológica",
implicava expansão cósmica.
Einstein chamou a constante cosmológica de "o maior erro da minha vida" e De Sitter
escreveu que "arruinou a simetria e a elegância de sua teoria, um dos principais méritos de
explicar tanto sem introduzir novas hipóteses ou constantes empíricas". Mas o Universo não
precisa ser tão simples quanto se gostaria, como veremos no Capítulo X.

Em 1922, o físico russo Alexander Friedmann publicou um artigo mostrando que, de


acordo com a relatividade geral, o Universo deve se expandir indefinidamente ou até certo
ponto a partir do qual começaria a se contrair.
Friedmann descobriu que as equações fundamentais da teoria de Einstein permitem várias
possibilidades, muito mais interessantes que o universo estático, com ou sem a controversa
constante cosmológica. Por exemplo, o Universo pode ser curvo ou plano, e de extensão
infinita; tudo depende da densidade da matéria. Se isso fosse menor que um certo valor
crítico, o espaço real seria, em grande escala, como o de Bolyai e Lobachevski, não o de
Euclides. Por outro lado, se essa densidade de matéria ultrapassasse um determinado valor
crítico, o Universo seria fechado e finito; nesse caso, a expansão pararia em algum momento
devido à atração gravitacional de sua própria matéria, para iniciar uma contração.

Em suma, o Universo poderia ser infinito e em expansão, caso em que seria análogo a
uma superfície de borracha infinita estendendo-se uniformemente em todas as direções. Ou
poderia ser finito e fechado em si mesmo, como Einstein originalmente imaginou, e ser como
a superfície de um balão inflando.
Tudo depende da quantidade de matéria.
Inicialmente, o trabalho de Friedmann não foi levado a sério pela comunidade científica,
inclusive pelo próprio Einstein. Mas uma década depois de sua publicação, Edwin Hubble
conseguiu medir a distância das galáxias pela primeira vez e descobriu que

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todos apresentam velocidade de recessão; assim ele verificou que o Universo realmente se
expande. (Naquela época, Friedmann havia morrido na Rússia, vítima de uma epidemia de
febre tifóide.)
A teoria da relatividade geral nos oferece uma ampla gama de universos teoricamente
possíveis; mas para descobrir em que tipo de universo realmente vivemos, não há escolha
a não ser recorrer a observações astronômicas. As evidências astronômicas mais recentes
concordam muito bem com as previsões teóricas e indicam que o Universo teve um começo
há cerca de 14 bilhões de anos. Da mesma forma, essas mesmas evidências são
consistentes com um universo perfeitamente plano. A ideia original de Einstein de um
universo fechado não se sustenta, apesar da maneira engenhosa com que resolve o dilema
da finitude sem limites. Estamos mais uma vez em um universo plano, aparentemente
infinito, com a única diferença que agora sabemos que ele está em expansão. Voltaremos
ao assunto no Capítulo X.

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[40] Estritamente falando, um ponto na superfície da Terra se move quase em linha reta e com velocidade uniforme. O
efeito da rotação da Terra em seu eixo e seu movimento circular são praticamente imperceptíveis.

[41] Se um veículo se move com velocidade v1 em uma direção e outro veículo se move na mesma direção com
velocidade v2 , a velocidade do primeiro em relação ao segundo, de acordo com a teoria da relatividade, é:

[42] O tempo do viajante contrai, em relação ao tempo do observador fixo, por um fator ,
onde você vê a velocidade do viajante.

[43] Veja, por exemplo, S. Hacyan, Relatividade especial para estudantes de física, UNAM-FCE (Ediciones
Cientistas da Universidade), México, 1996.

[44] Por exemplo, o raio de um buraco negro com 10 vezes a massa do Sol seria de cerca de 30 quilômetros. O

A fórmula exata para o raio de Schwarzschild é Newton, M , onde G é a constante gravitacional de


a massa do objeto ec a velocidade da luz.

[45] Ver S. Hacyan, Black holes and the curvature of space-time, 3rd ed., FCE-SEP-Conacyt (La
Ciência para Todos, n. 50), México, 2003.

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VII. o quanto

O que observamos não é a natureza em si, mas a natureza exposta


aos nossos métodos de questionamento.

Werner Heisenberg

A teoria eletromagnética de Maxwell foi uma ponte entre a física clássica e a moderna,
pois serviu de prelúdio para as duas grandes teorias que transformaram completamente
nossa visão de mundo: a relatividade e a mecânica quântica. A primeira, que
mencionamos no capítulo anterior, foi principalmente obra de Einstein; a segunda foi
inicialmente desenvolvida por Max Planck, o próprio Einstein e Niels Bohr, que foram
seguidos por muitos outros notáveis fundadores dessa nova física.
O elétron, partícula constituinte do átomo, foi descoberto em 1897 por JJ
Thomson, e a estrutura do átomo foi elucidada por Ernest Rutherford em 1911. Muito
em breve, essas descobertas revelaram que a física de Newton, embora descreva
perfeitamente o mundo macroscópico, não se aplica aos fenômenos físicos que ocorrem
no mundo dos átomos. Para descrever essa realidade, houve a necessidade de criar
uma nova teoria, a mecânica quântica, drasticamente diferente da newtoniana em seus
princípios básicos.
Essa nova teoria não apenas modificou os conceitos de espaço e tempo, mas
também veio reafirmar o problema filosófico da existência de uma realidade objetiva. Na
interpretação de Bohr e Heisenberg, que veremos a seguir, o observador não pode ser
abstraído daquilo que está observando, pois o mundo microscópico que estuda é
produto, em parte, daquilo que ele mesmo contribui para colocar em prática com sua
dispositivos de observação.

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quantização

O nascimento da mecânica quântica pode ser situado no ano de 1900, quando Max Planck,
após muitas tentativas, finalmente encontrou a fórmula matemática que descreve a radiação
emitida por um corpo negro (essencialmente, uma fornalha fechada cujas paredes estão
em equilíbrio térmico com a radiação eles emitem e absorvem).
Quando um corpo é aquecido, suas moléculas vibram com frequências diferentes e emitem
luz. Um problema básico da física do século XIX era determinar a forma dessa radiação em
função da temperatura corporal. Em seu trabalho original, Planck teve a ideia de postular o
que, na época, parecia apenas um truque matemático: que a energia vibracional das
moléculas não pode assumir valores contínuos, mas deve ser um múltiplo inteiro de alguma
energia fundamental. A relação entre essa energia fundamental E e a frequência de
vibração ÿ é dada pela fórmula

E = hÿ,

onde h é a chamada constante de Planck. A energia vibracional de uma molécula, postulou


Planck, é quantizada, como se existisse em unidades de energia que podem ser contadas
uma a uma: E, 2E, 3E, 4E e assim por diante.
A constante de Planck acabou sendo, juntamente com a velocidade da luz, uma das
constantes fundamentais da natureza. Para Planck, entretanto, sua descoberta foi apenas
um truque matemático. Foi Einstein quem, em um famoso artigo publicado em 1905,
mostrou o verdadeiro significado físico do que seu colega havia descoberto: a luz é formada
por partículas que são pacotes de energia, e a energia de cada pacote é dada pela fórmula
de Planck, onde ÿ corresponde à frequência da luz. Na verdade, é a energia da luz que é
quantizada. Alguns anos depois, a partícula de luz foi batizada com o nome de fóton: é uma
partícula de pura energia, sem massa.

O próximo passo importante foi a descoberta de Rutherford e seus colaboradores de


que o átomo é composto de um núcleo atômico carregado positivamente cercado por
elétrons, partículas carregadas negativamente. Niels Bohr propôs em 1913 um modelo
teórico do átomo que rompeu com todos os elementos da mecânica clássica.
Continuando com as ideias de Planck e Einstein, ele mostrou que a luz emitida pelo átomo
de hidrogênio pode ser explicada assumindo que os elétrons só podem ter energias bem
definidas. No modelo de Bohr, os elétrons giram em torno do núcleo.

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atômico, como os planetas giram em torno do Sol, mas com uma diferença fundamental: os
elétrons só podem estar em órbitas bem definidas. No átomo de hidrogênio, o mais simples
dos átomos, apenas as órbitas com uma energia

onde E0 é a energia da órbita básica, e n é um inteiro de 1 a

infinito; ou seja, a energia de um elétron é negativa e de magnitude O , etc


salto de um elétron de uma órbita para outra produz a emissão ou absorção de um fóton
com uma energia definida pela fórmula de Planck (figura VII.1) e correspondente à mudança
de energia do elétron.

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complementaridade

A velha controvérsia sobre a natureza da luz —onda ou partícula?— parecia definitivamente


resolvida no século XIX graças ao sucesso da teoria de Maxwell: foi demonstrado que a luz
é uma onda eletromagnética. Mas eis que no início do século XX surgiram novos fenômenos
físicos, indicando claramente que a luz também se comporta como uma partícula. Este
aparente paradoxo não encontraria solução no quadro de uma descrição clássica da
realidade, mas lançaria as bases para uma nova teoria em que a dualidade entre onda e
partícula seria um princípio fundamental, em vez de um problema a resolver.

A coexistência de duas propriedades contraditórias em um mesmo ser é um conceito


bem conhecido em muitas doutrinas filosóficas, mas adquire uma característica especial na
mecânica quântica. Uma partícula do mundo atômico, como um fóton ou um elétron, às
vezes se comporta como uma onda e às vezes como uma partícula. Assim como a luz,
antes considerada uma onda, exibe propriedades de partícula sob certas circunstâncias,
uma partícula como um elétron pode se comportar como uma onda. Este é o princípio da
dualidade onda-partícula, que foi explicitamente proposto pela primeira vez por Louis de
Broglie em 1924.

Figura VII.1

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Uma onda é um objeto extenso que pode cobrir uma região relativamente grande do
espaço e passar por vários lugares simultaneamente; uma partícula, por outro lado, é um
objeto compacto e localizado que só pode estar em um lugar por vez. As ondas têm a
importante propriedade de interferir umas nas outras quando se sobrepõem, ou seja, somam
e subtraem. Quando duas ondas de luz atingem uma tela de fontes diferentes, elas produzem
o que é chamado de padrão de interferência, que é uma sucessão alternada de franjas
brilhantes e escuras:[46] onde um pico encontra outro ou um vale encontra outro, eles se
somam , mas onde uma crista e um vale coincidem, os dois se anulam (figura VII.2). Esse
comportamento é completamente diferente do das partículas: elas só podem se somar e
empilhar umas sobre as outras sem apresentar nenhuma interferência (figura VII.3).

Figura VII.2

Como a natureza dual dos elétrons se manifesta? Se forem ondas, então um feixe de
elétrons passando por dois orifícios em uma parede deveria se dividir em duas ondas, que
formariam um padrão de interferência ao chegar em uma tela (figura VII.4). E, de fato, assim
é, como mostram numerosos experimentos que hoje são clássicos. Até aqui parece que não
há problema conceitual, mas o que acontece se algum experimentador indiscreto resolver
observar por qual abertura cada elétron passa, um a um? Isso pode ser conseguido
colocando em cada buraco na parede algum detector de elétrons que "clique" quando uma
partícula passa, após o que é localizado onde chega na tela. Mas se você observar por onde
passa cada elétron... o padrão de interferência desaparece! Os elétrons simplesmente se
acumulam na frente de cada buraco, assim como as partículas comuns fariam. O

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A situação pode ser resumida da seguinte forma: se um observador humano projeta um


experimento para ver os elétrons como ondas, eles se comportam como ondas, e se ele
projeta um experimento para vê-los como partículas, então eles se comportam como
partículas. Não é que os elétrons adivinhem as intenções do experimentador; em vez disso,
é o tipo de experimento que determina como eles se manifestarão. Este experimento
contém o mistério fundamental da mecânica quântica, como Richard Feynman apontou
corretamente (recomendamos a discussão original de Feynman ao leitor interessado).[47]

Figura VII.3

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Figura VII.4

Niels Bohr reconheceu a necessidade de recorrer a uma descrição dual da natureza,


para a qual propôs o princípio da complementaridade: duas descrições diferentes e até
contraditórias complementam-se para apreender a realidade.
Mas o ponto essencial sobre o qual Bohr insistiu é que o ato de observar a realidade
influencia qual desses aspectos se manifestará, de forma que, ao apreender um dos
aspectos, devemos renunciar ao outro. Se vemos o elétron como onda, excluímos qualquer
possibilidade de percebê-lo como partícula e vice-versa.
A complementaridade também se manifesta em outro aspecto: a descrição em termos
espaciais e dinâmicos. Em princípio, na mecânica clássica, pode-se

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especificar simultaneamente a posição de uma partícula e seu momento (massa multiplicada


pela velocidade). Mas a posição e o momento na mecânica quântica são descrições
complementares. De acordo com o famoso princípio da incerteza de Werner Heisenberg,
determinar a posição de uma partícula influencia seu momento e vice-versa. No mundo
quântico, se decidirmos medir com grande precisão a posição de um elétron no espaço,
teremos necessariamente que alterar seu momento e isso à custa de perder a precisão com
que podemos determinar suas propriedades dinâmicas; da mesma forma, um experimento
destinado a determinar com grande precisão o momento de um elétron afetará sua posição
e não nos permitirá saber exatamente onde ele está.

Então, a posição e o momento têm existências objetivas, independentes de um


observador? Parece que, como observadores, temos a possibilidade de influenciar a
realidade objetiva. Esse aparente paradoxo é fundamental na mecânica quântica, e
voltaremos a ele mais adiante.

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mecânica matricial

As bases físicas e conceituais da mecânica estavam bastante bem estabelecidas na década


de 1920, mas faltava um aparato matemático que permitisse resolver problemas específicos
de forma sistemática. O primeiro passo nessa direção se deve a Werner Heisenberg, que
formulou em 1925 o que hoje se conhece como mecânica das matrizes em um artigo
bastante obscuro, mas cujas concepções, vistas à distância de anos, revelaram-se
perfeitamente corretas e coerentes. A ideia básica era usar objetos matemáticos mais gerais
do que números simples para descrever a natureza.

Todos sabemos que 2 vezes 3 é igual a 3 vezes 2 e que, em geral, "a ordem dos fatores
não altera o produto". Essa regra parece muito natural, mas como o mundo da matemática
é tão vasto e complexo, por que deveria limitar suas leis a conceitos baseados no que
sabemos dos números comuns? Esta é a pergunta que alguns matemáticos começaram a
fazer no século XIX.
Uma das grandes invenções matemáticas é a álgebra, que usa símbolos em vez de
números específicos. Em vez de falar de produtos como 2 vezes 3, 2 vezes 4 e assim por
diante ad infinitum, os matemáticos árabes perceberam que era mais simples escrever “a
vezes b”, onde a e b representam qualquer número. Desta forma, a regra da ordem dos
fatores é enunciada simplesmente: “a vezes b é igual a b vezes a”.
O próximo passo importante foi reconhecer que os símbolos podem significar muitas
coisas, e não necessariamente números como ensinado nos cursos de álgebra elementar.
Por que não deveria haver, no mundo da matemática, “objetos” semelhantes a números,
mas com outras regras de multiplicação? Por exemplo, "objetos" matemáticos que não
precisavam satisfazer a regra de que "a ordem dos fatores não altera o produto". Um
exemplo são as chamadas matrizes, que são conjuntos de números "normais" com suas
próprias regras de "multiplicação". Foi no século 19 que os matemáticos começaram a
explorar novas álgebras, com operações mais gerais do que adição e multiplicação de
números comuns.
As novas álgebras não ficaram restritas por muito tempo ao mundo da matemática, mas
encontraram uma correspondência no mundo material graças à mecânica quântica de
Heisenberg. Em seu artigo de 1925, ele mostrou que os conceitos básicos que correspondem
a quantidades tão comuns quanto posição, velocidade ou energia, transpostas para o mundo
quântico, não podem ser descritos com números sem cair em contradições, mas podem ser
descritos com matemáticas mais gerais. objetos. . Números comuns só aparecem como
resultado de medições, mas não fazem sentido

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digamos, por exemplo, que a velocidade de um elétron é tantos metros por segundo se
ainda não foi medida.
Heisenberg usou matrizes em vez de números, criando assim o que chamou de
mecânica matricial. Mais tarde, John von Neumann generalizou o conceito para objetos
mais gerais, que os matemáticos chamam de operadores em um espaço abstrato concebido
por Hilbert: são símbolos adequados para representar conceitos físicos como a posição ou
a velocidade das partículas no mundo atômico. Para esses objetos matemáticos, a famosa
regra da multiplicação não se aplica: não é o mesmo medir a velocidade e depois a posição
de um elétron e vice-versa. O resultado das medições depende da ordem dos fatores. Além
disso, ao termos a liberdade de escolher essa ordem, nós, como sujeitos, influenciamos o
que observamos. Portanto, na física quântica, não é possível separar o sujeito de suas
medições.

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função de onda

Um ano após Heisenberg ter apresentado sua mecânica matricial, Erwin Schrödinger encontrou
um formalismo teórico mais prático que publicou em um notável artigo onde aparece pela
primeira vez a famosa equação que leva seu nome.
Schrödinger mostrou que os problemas que surgem na mecânica quântica podem ser
resolvidos formalmente calculando o que os matemáticos chamam de "autovalores" de alguma
função complexa, a função de onda ÿ. À distância, é possível .
reconstruir qual deve ter sido o raciocínio de Schrödinger. sua formulação matemática. A
essa altura já havia aparecido o modelo de Bohr do átomo mencionado acima, baseado na
hipótese fundamental de que as energias dos átomos têm apenas certos valores determinados
por números inteiros. Por outro lado, na mecânica clássica, as propriedades físicas dos objetos
são geralmente descritas por números reais, isto é, um contínuo inteiro de números positivos
e negativos. Certamente Schrödinger se perguntou: em que condições físicas especiais os
números inteiros aparecem? Talvez então você tenha se lembrado de que a vibração de uma
corda exibe exatamente essa propriedade. Como todo músico desde a época de Pitágoras
sabe, uma corda, segurada em suas extremidades, vibra com uma frequência fundamental
(sua nota musical), bem como com frequências que são múltiplos inteiros dessa fundamental.
O movimento de uma corda vibrante e, em geral, qualquer movimento de onda, pode ser
descrito matematicamente com o que é chamado, em termos técnicos, de equação de onda.
Num golpe de inspiração, Schrödinger encontrou a equação fundamental que descreve todos
os processos atômicos; apenas uma equação de onda, cuja forma precisa depende do tipo de
interação atômica que se propõe (por exemplo, uma atração elétrica entre o núcleo atômico e
seus elétrons circundantes).

O artigo de Schrödinger de 1926 é um dos mais importantes da ciência do século XX. Ele
estabelece os fundamentos da física quântica e também da química moderna, pois permite
explicar pela primeira vez a configuração eletrônica dos átomos e a maneira como eles podem
se combinar para formar moléculas.
Desde a sua descoberta, a equação de Schrödinger continua sendo a base da maioria dos
trabalhos em física quântica. Funciona maravilhosamente bem, pois permite calcular e prever
efeitos do mundo atômico com enorme precisão, embora sua derivação pareça dever-se a um
ato de intuição e ainda seja tão obscura quanto seu autor originalmente apresentou.

Schrödinger originalmente pensou que sua equação descrevia as "vibrações" de

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algum meio, de modo que as partículas atômicas não eram realmente entidades indivisíveis,
mas semelhantes a ondas em um fluido. Na verdade, ele pensava que uma partícula atômica,
como o elétron, era literalmente uma onda, então tivemos que voltar ao conceito de matéria
como um contínuo, contra a hipótese dos átomos. No entanto, Max Born propôs uma
interpretação alternativa que, até agora, é a mais aceita e que Niels Bohr imediatamente
adotou. Na interpretação de Born, a função de onda (ou mais precisamente sua magnitude ao
quadrado) representa a probabilidade de encontrar uma partícula com certas propriedades.
Seriam, assim, “ondas de probabilidade”. Por exemplo, a função de onda de um elétron,
expressa em termos de coordenadas espaciais, descreve a probabilidade de encontrar a
partícula em cada ponto do espaço ao redor do núcleo central. O próprio Schrödinger nunca
gostou dessa interpretação, mas é a que sobreviveu até hoje.

Em todo caso, a interpretação probabilística de Born não estava isenta de dificuldades


conceituais, como ele próprio sabia, pois escreveu: “Apesar do fato de que os movimentos das
partículas são determinados apenas por probabilidades, essas mesmas probabilidades
evoluem de acordo com leis causais”. Para esclarecer esse problema e muitos outros
relacionados, surgiu o que veio a ser conhecido como a interpretação de Copenhague da
mecânica quântica, em homenagem à cidade natal de Niels Bohr, seu principal proponente.

Quanto ao formalismo de Heisenberg, que à primeira vista parece tão diferente do de


Schrödinger, logo se estabeleceu que, de um ponto de vista puramente formal, os dois são
perfeitamente equivalentes. É possível, por meio de transformações matemáticas, passar de
uma descrição em termos de matrizes para uma em termos de funções de onda. É apenas
uma questão de conveniência qual usar para cada problema específico.

112
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copenhague

Em 1930, o formalismo matemático da mecânica quântica estava totalmente estabelecido,


mas as interpretações filosóficas ainda eram muito debatidas. Aos poucos, a chamada
interpretação de Copenhague foi se impondo, apesar da resistência de físicos de prestígio
como Einstein, Planck e Schrödinger. [48]

De acordo com esta interpretação, a função de onda descreve todos os estados de um


objeto atômico (um átomo, um elétron, etc.) porque está efetivamente em todos esses estados
possíveis simultaneamente enquanto não é observado; o ato de observá-lo o obriga a passar
para um desses estados e nele se manifestar; a função de onda dá a probabilidade de que ele
esteja em um determinado estado. Esta interpretação coloca especial ênfase na
indissociabilidade do sujeito e do objeto, de modo que o conceito de realidade objetiva perde
seu significado óbvio: de fato, o que é a realidade antes de fazer uma observação? É o ato de
observar que confere realidade às coisas, como Bohr insistiu ao longo de sua vida, em seus
escritos filosóficos.[49]
Na mecânica clássica, se a posição inicial e a velocidade de uma partícula, ou em geral as
condições iniciais de qualquer sistema físico, são conhecidas, então as equações do movimento
permitem calcular, pelo menos em princípio, a posição, velocidade ou qualquer outra condição
do sistema posteriormente. Nesse sentido, a mecânica clássica é uma teoria causal: cada
causa corresponde a um único efeito, e esse efeito é passível de ser conhecido. É claro que,
na prática, um problema pode ser tão complicado que é impossível encontrar uma solução
exata, mas isso não se deve a restrições de princípios da mecânica clássica, mas sim a
dificuldades técnicas e limitações de nosso conhecimento da situação real. A física clássica é
uma teoria completa, embora na prática muitas vezes tenhamos que recorrer a uma descrição
em termos de probabilidades. Assim, por exemplo, calcular o resultado de um lançamento é
tão complicado que, para fins práticos, é mais simples afirmar que a probabilidade de uma
moeda cair em um determinado lado é de 50%. Onde houver conhecimento incompleto ou
forem necessários cálculos muito complexos, é melhor recorrer a uma descrição estatística,
por mais completa que seja a teoria.

A situação é muito diferente na mecânica quântica, pelo menos na interpretação de Bohr.


É necessário recorrer a uma interpretação em termos de probabilidades porque uma descrição
causal não é possível em princípio. O determinismo implícito na mecânica clássica desaparece
completamente na mecânica quântica.
Bohr sempre insistiu que, com a mecânica quântica, deveríamos desistir da pretensão de
entender o mundo atômico com conceitos de nosso próprio mundo.

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macroscópico. Por exemplo, os elétrons fazem "saltos quânticos" de uma órbita para outra de
maneira imprevisível. Embora seja comum imaginar o átomo como um sistema solar em
miniatura, a analogia fica aquém de um fato fundamental: ao contrário dos planetas, que
podem estar, em princípio, a qualquer distância do Sol, os elétrons só podem ocupar "órbitas".
e “salto quântico” de uma órbita para outra. É um salto espontâneo durante o qual a partícula
perde toda a “realidade física”. Podemos calcular a probabilidade de que eles darão um salto,
mas não quando exatamente isso acontecerá.

A interpretação em termos de probabilidades tem uma aparente contradição.


O pleno conhecimento da função de onda permite-nos calcular a probabilidade deste estado
ser o resultado da medição efetuada; mas, por outro lado, a equação de Schrödinger nos
permite calcular exatamente a função de onda para qualquer tempo se ela for conhecida em
algum momento inicial: portanto, a mecânica quântica deveria ser uma teoria perfeitamente
determinística. Cabe, portanto, questionar a interpretação desta teoria em termos de
probabilidades, uma vez que a probabilidade é utilizada quando não é possível um
conhecimento completo e causal da realidade.
A solução do problema anterior foi oferecida por Heisenberg, com base no princípio da
incerteza que leva seu nome. A indeterminação do estado de um sistema físico tem sua
origem no ato de observá-lo, pois há um limite inerente à certeza com que suas propriedades
podem ser medidas. Desde que um sistema físico não sofra interferência da observação, sua
função de onda contém todas as possibilidades em “potência”: no sentido usado por
Aristóteles!, apontou Heisenberg.
Quando um observador obtém um resultado, há uma “redução” do conjunto de possibilidades
que equivale a uma passagem abrupta do possível ao real. Portanto, as probabilidades
implícitas na função de onda antecipam uma possível medição: nesse sentido, são
“probabilidades potenciais” que não afetam a precisão com que o estado de um sistema pode
ser estudado.[50]
Em suma, a mecânica quântica é uma teoria causal e completa, e as incertezas
associadas às probabilidades se devem apenas à intervenção de um observador. A equação
de Schrödinger descreve de forma completamente determinística a evolução da função de
onda, como um conjunto de todas as possibilidades. A observação reduz esse conjunto:
costuma-se dizer que a função de onda “colapsa”.
Este colapso não é determinístico e apenas a probabilidade da função de onda colapsar para
tal e tal estado pode ser calculada.
Por muito tempo, tentou-se evitar aparentes paradoxos argumentando que a mecânica
quântica é uma descrição estatística que se aplica a um grande conjunto de partículas, mas
não apenas a uma. Assim, dizer que um elétron tem

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uma probabilidade de 50% de estar em determinado local implicaria apenas que, após medir
a posição de muitos elétrons, metade deles se encontraria no local especificado; mas a
mecânica quântica não nos permitiria prever onde estaria um elétron solitário. Por outro lado,
segundo a interpretação de Copenhague, faz sentido descrever um único elétron: ele está em
uma superposição de vários estados, um dos quais o coloca aqui; ao fazer uma medição,
aparece com 50% de chance de estar lá. As duas interpretações não se contradizem desde
que grandes conjuntos de partículas sejam considerados, o que ainda era a situação em
meados do século XX. No entanto, agora é perfeitamente possível fazer experimentos com
partículas isoladas e testar as previsões da interpretação de Copenhague (como veremos
mais adiante).

***

A interpretação de Copenhague coloca especial ênfase na inseparabilidade do sujeito e do


objeto, de forma que o conceito ingênuo de realidade objetiva perde seu significado óbvio,
pois o que é a realidade antes de fazer uma observação? É notório o fato de as concepções
de Niels Bohr parecerem inspiradas pela filosofia de Kant; embora o físico nunca tenha
mencionado o nome do filósofo, é muito provável que ele tenha sido influenciado por seus
colegas filósofos em Copenhague, como mencionado por Murdoch.[51] Por exemplo, Bohr
chega a falar explicitamente de "formas de percepção" no mesmo sentido que Kant lhes dá:

... existe uma estreita ligação entre o fracasso de nossas formas de percepção, baseadas na
impossibilidade de uma separação estrita entre fenômeno e meio de observação, e os limites
gerais da capacidade humana de criar conceitos, que têm suas raízes em nossa diferenciação
entre sujeitos e objeto.[52]

Mais uma vez, o que foi dito acima leva a questões filosóficas fundamentais sobre a
existência da realidade objetiva. Por exemplo, se medirmos a velocidade de um elétron com
precisão absoluta, essa partícula poderia, pelo princípio da incerteza, estar em qualquer lugar
do Universo. A posição desse elétron no espaço faz sentido objetivo, então? Segundo a
interpretação de Bohr, Heisenberg e outros fundadores da física moderna, os objetos do
mundo quântico adquirem sua realidade como consequência de nossas observações.

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rodar

Podemos ilustrar algumas das peculiaridades da interpretação de Copenhague com o conceito


de spin, propriedade fundamental das partículas elementares descoberta no mesmo ano em
que apareceu o artigo de Heisenberg. Embora a rotação de uma partícula subatômica não
faça parte de nossa experiência cotidiana, ela pode ser descrita com precisão por conceitos
matemáticos. Os objetos matemáticos exatos que descrevem adequadamente o spin são as
matrizes, que seguem regras algébricas diferentes dos números comuns.

O spin está relacionado ao fato de uma partícula elementar como o elétron ter um
comportamento semelhante ao de um ímã em um campo magnético.
Como se sabe, um imã macroscópico, como a agulha de uma bússola, colocado em uma
direção arbitrária gira até se alinhar com o campo magnético. No entanto, a diferença
fundamental com um elétron é que ele só pode ter duas orientações em relação ao campo
magnético: uma direção paralela ou antiparalela; cada uma dessas duas direções corresponde
a dois estados, um com energia maior que o outro. Em vez de girar como uma bússola, o
elétron antiparalelo alinhado dá um salto quântico para a posição de menor equilíbrio em um
tempo que só pode ser previsto em média.

O spin do elétron foi descoberto por Stern e Gerlach, em 1923, passando um feixe de
elétrons por um campo magnético distorcido, de forma que agisse de forma diferente sobre os
elétrons dependendo de sua orientação. O resultado do experimento foi que os elétrons se
separaram em dois feixes bem definidos, revelando assim as duas possíveis orientações de
seus spins. Agora, pode-se perguntar em que direção o spin de um elétron está orientado se
não for observado, mesmo que não haja nem mesmo um campo magnético. A resposta é que
o elétron, antes de ser observado, está em uma superposição de dois estados de spin em uma
direção que pode ser totalmente arbitrária. É no momento de colocá-lo em um campo
magnético que o elétron se manifesta em um de seus dois estados possíveis.

Se alguém insistir que a mecânica quântica é uma descrição estatística que só se aplica a
um grande conjunto de partículas, seria preciso dizer que o experimento de Stern e Gerlach
determina o que um grande conjunto de elétrons faz: por exemplo, em uma certa situação
experimental, 70% vão para um lado e 30% para outro. Mas o que acontece quando é um
único elétron? Neste caso, de acordo com a interpretação de Copenhague, o elétron está em
dois estados simultaneamente antes de ser observado; a única coisa que pode ser “prevista”
é que tem 70% de chance de ter seu giro

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apontando em uma determinada direção, mas apenas a observação o determina. Até então,
o elétron está em uma superposição de estados (assim como o gato de Schrödinger, que
veremos a seguir).
O fóton, assim como o elétron, também possui um spin, que está relacionado à
polarização. Classicamente, a luz é uma onda que vibra em uma determinada direção; em
situações gerais, é uma superposição de estados com todas as direções possíveis de
polarização; Ao passar por um filtro polarizador, somente a luz polarizada na direção por
ele definida é transmitida (figura VII.5). Se a luz polarizada assim obtida passar por um
segundo filtro, a intensidade da luz transmitida em relação à incidente, segundo a óptica
clássica, é dada por um fator cos²ÿ, onde ÿ é o ângulo entre o filtro e a direção de
polarização da luz incidente.

Figura VII.5

Como a polarização de um fóton é interpretada quântica? Mais especificamente: o que


acontece com um único fóton quando atinge um filtro polarizador?
Claro, uma fração cos²ÿ dele não pode ser reivindicada para passar, porque o fóton é
indivisível. De acordo com a interpretação de Copenhague, o estado de um fóton polarizado
é uma superposição de dois estados correspondentes a duas orientações possíveis de seu
spin. De fato, esse estado de polarização pode ser interpretado como uma certa
superposição de dois estados de spin, antiparalelos entre si. Isso implica que um fóton tem
dois ângulos de polarização, um perpendicular ao outro, antes de ser observado, e que
após a observação, apenas um desses estados se torna real. Se o fóton passa por um filtro
polarizador, sua polarização torna-se paralela ao filtro e adquire realidade como tal; se não
passar, sua polarização se torna perpendicular ao filtro. É importante notar que em ambos
os casos, a realidade do fóton é determinada pelo ângulo do polarizador, que depende da
vontade do observador. O sujeito observador decide uma parte da realidade observada, a
outra parte depende do fóton porque o fato de acontecer ou não é algo que não pode ser
determinado segundo leis causais; no máximo, sua probabilidade pode ser calculada.

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Gato de Schrodinger

Schrödinger não gostou da interpretação de Copenhague, então elaborou um famoso


paradoxo para expor as aparentes inconsistências do princípio da superposição. Suponha o
seguinte experimento mental: um gato é trancado em uma caixa, juntamente com um
detector de radiação (por exemplo, um contador Geiger), que pode ativar um mecanismo
para abrir uma garrafa de gás venenoso; um átomo de alguma substância radioativa é
colocado na caixa para que, no momento em que ele emita radiação, seja acionado o
mecanismo que mata o gato. Agora, de acordo com a interpretação favorita de Bohr e
Heisenberg, desde que ninguém esteja observando o que está acontecendo dentro da caixa,
o átomo está simultaneamente em dois estados - ele emitiu radiação e não emitiu - e,
portanto, o gato está vivo. morto ao mesmo tempo. Somente quando você observa o que
aconteceu na caixa é que o destino do gato é definido.
Por que o gato de Schrödinger não se manifesta em nosso mundo macroscópico?
Agora está claro que a resposta deve ser buscada em um processo conhecido como
"descoerência quântica". Quando um sistema está em interação com um dispositivo de
medição macroscópica ou, em geral, com seu ambiente — ou simplesmente com o resto do
mundo — a função de onda perde a coerência entre suas várias partes e rapidamente se
torna uma soma estatística; por exemplo: tal probabilidade de o gato estar vivo ou de estar
morto.
A esse respeito, lembremos que as ondas apresentam um fenômeno de interferência em
que ambos se somam e se subtraem. Algo inteiramente análogo acontece com os vários
estados superpostos descritos pela função de onda: a coerência entre todos esses estados
se manifesta pela propriedade puramente quântica de que eles podem interferir uns nos
outros, assim como as ondas. Quando a coerência é perdida, os efeitos de onda desaparecem
e as probabilidades dos estados simplesmente se somam, assim como acontece com as
partículas no mundo macroscópico.
No mundo dos átomos, a decoerência é relativamente lenta em comparação com os
tempos característicos dos processos atômicos e, conseqüentemente, é possível haver
superposições simultâneas de vários estados. Em 1996, uma equipe de físicos da
Universidade de Boulder conseguiu construir um estado equivalente ao gato de Schrödinger,
mas usando um átomo de berílio ionizado em vez de um gato; o mesmo átomo apareceu
em duas posições simultaneamente, separados por uma distância muito maior que o
tamanho de um átomo.[53] O experimento consistia em isolar esse átomo, colocá-lo em uma
armadilha eletromagnética e, por meio de lasers acoplados às frequências do átomo,
influenciar seus elétrons a colocá-lo em um

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superposição de dois estados diferentes. O próximo passo foi separar esses dois estados e
verificar se eles estão localizados em dois lugares diferentes. Os detalhes técnicos estão
além do escopo deste livro, mas a conclusão a que chegaram os físicos de Boulder é que o
mesmo átomo em dois estados diferentes foi separado por uma distância de até 80
milionésimos de milímetro. Essa separação é muito pequena em nossa escala comum para
invocar o milagre da ubiquidade, mas é considerável no nível atômico porque corresponde
a cerca de mil vezes o tamanho típico do átomo de berílio. O importante, porém, é que o
experimento parece confirmar uma das previsões da mecânica quântica que mais
diretamente se choca com o nosso senso comum.

Experimentos semelhantes também foram repetidos para estados de fótons, tornando


possível rastrear até mesmo a decoerência,[54] e mais recentemente com estados atuais
em supercondutores,[55] que representam estados macroscópicos com propriedades
quânticas.

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computadores quânticos

Na última década do século 20, surgiu a ideia de construir um computador quântico.


No momento em que escrevo estas linhas, ainda estamos longe de tornar esse sonho
realidade, mas os mais recentes avanços tecnológicos nos aproximam cada vez mais do
objetivo. Por exemplo, é fato que o tamanho dos circuitos eletrônicos em computadores
vem diminuindo ao longo dos anos e, se essa tendência continuar,[56] é possível que em
algumas décadas os mesmos átomos possam ser usados como componentes. Os novos
computadores seriam então regidos pelas leis da mecânica quântica, com possibilidade de
fazer cálculos em paralelo, em estados sobrepostos. Inclusive já são conhecidos alguns
algoritmos que permitiriam operações que estão fora do alcance dos computadores atuais.
[57] Os computadores quânticos, caso se materializassem, seriam os dignos herdeiros do
gato de Schrödinger, pois trabalhariam segundo o mesmo princípio. Por outro lado, pode-se
especular que um computador quântico poderia reproduzir com mais fidelidade o
comportamento do cérebro.
Em um ábaco, cada número corresponde a um certo arranjo de bolas em movimento
amarradas em fios. Da mesma forma, em um computador comum, os números podem ser
expressos como tensões em um transistor. Em vez disso, um computador quântico poderia
usar, por exemplo, a orientação das partículas atômicas, seu spin, que pode assumir dois
valores possíveis. Em um computador quântico, uma "fileira" de átomos ou elétrons, cada
um orientado ao longo de uma de suas duas direções possíveis, serviria para "escrever" um
número.
Mas a característica fundamental do mundo quântico, o princípio da superposição, é
aquela que os físicos tentam explorar. Um computador comum armazena informações, que
são medidas em bits, e as manipula para realizar operações aritméticas. Em vez disso, um
computador quântico funcionaria com bits quânticos, qubits.
Cada partícula atômica pode armazenar não um bit de informação, mas um qubit, uma
superposição quântica de 0 e 1. Além disso, a interferência entre os dois estados leva a
efeitos que podem acelerar bastante a execução dos cálculos. Isso, por sua vez, possibilita
a construção de algoritmos especiais e extremamente rápidos que não funcionariam em um
computador comum.
No entanto, a principal dificuldade reside no fato de que os fenômenos quânticos têm
uma meia-vida extremamente curta, quando entram em contato com seu ambiente, devido
ao fenômeno de decoerência mencionado acima. Portanto, um computador quântico deve
atender simultaneamente a duas condições que parecem incompatíveis: estar o mais isolado
possível e, ao mesmo tempo, poder ser manipulado de fora. ELE

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eles tentaram várias técnicas e, embora ainda haja muito a ser alcançado, os princípios
físicos estão bem estabelecidos. As vantagens seriam enormes, pois a velocidade e a
capacidade de um computador quântico excederiam em muito a de qualquer computador
clássico.

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[46] Para a luz visível, o tamanho de cada franja é de apenas alguns mícrons, então o efeito não é detectado em
à vista.

[47] R. Feynman, Lecture Notes in Physics, vol. III, Addison Wesley, 1968. Ver também Six Easy Pieces, Addison Wesley,
1995.

[48] É curioso que esses físicos que lançaram as bases da mecânica quântica, mas teimavam em manter uma atitude
conservadora, já estivessem maduros e fizessem parte do establishment científico nos anos vinte. Em vez disso, o
desenvolvimento acelerado da mecânica quântica naqueles anos deveu-se a jovens como Heisenberg, Pauli, Dirac,
Landau, etc. Bohr desempenhou para eles o papel de pai espiritual.

[49] N. Bohr, Philosophical Writings, vols. I, II, III, Ox Bow Press, 1998.

[50] W. Heisenberg, Física e Filosofia, Harper, 1958.

[51] Ver D. Murdoch, Niels Bohr's Philosophy of Physics, Cambridge University Press, Cambridge, 1987.

[52] Citado por Murdoch, op. cit.

[53] C. Monroe et al., “A Schrödinger Cat Superposition State of an Atom”, Science 272: 1131, 1996.

[54] M. Brune et al., “Observando a decoerência progressiva do medidor em uma medição quântica”,
Physical Review Letters 77: 4887, 1996.

[55] G. Blatter, “Schrödinger's Cat is now fat”, Nature 406: 25, 2000.

[56] Deve-se esclarecer, no entanto, que esta tendência não pode ser extrapolada sem limite, pois em algum momento
aparecerão efeitos de “ruído” que criarão novos problemas nos circuitos.

[57] D. Bouwmester, AK Ekert e A. Zeilinger, The Physics of Quantum Information, Springer, 2000.

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VIII. realidade e ação assustadora

A verdade é que ninguém entende


mecânica quântica.

R. P. Feynman

A interpretação de Copenhague não agradou a todos os físicos, e ninguém menos que


Einstein se destacou entre seus críticos mais severos. O criador da relatividade sempre
pensou que a mecânica quântica, cujos sucessos ele não questionava, era uma preliminar
para uma teoria mais profunda que surgiria no futuro e daria origem a uma concepção da
realidade de acordo com nossas ideias intuitivas. “A Lua deixa de existir quando ninguém
olha para ela?”, perguntou certa vez, ao que Bohr respondeu que a Lua é um objeto
macroscópico que não é afetado pelo fato de ser observado; por outro lado, para "ver" um
átomo é necessário bombardeá-lo com luz, o que necessariamente perturba seu estado.

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RPE

Em um famoso artigo de 1936, Einstein e dois de seus colaboradores, Boris Podolsky e


Nathan Rosen (EPR),[58] tentaram demonstrar por meio de um paradoxo que a mecânica
quântica não é uma teoria completa, no sentido de que existe uma realidade que não pode
ser descrita em princípio. EPR imaginou um experimento no qual é possível determinar as
propriedades de uma partícula fazendo medições em outra distante. O paradoxo é que a
observação de uma partícula determina quais propriedades da outra adquirem realidade
física e quais não, independentemente da separação entre elas. A mecânica quântica
implicaria então a existência de uma “ação fantasmagórica”, como diria Einstein alguns
anos depois: algo ainda mais absurdo do que a “ação à distância” de Newton.

No referido artigo, os três autores propõem pela primeira vez uma definição de realidade:
“Se, sem perturbar um sistema, podemos prever com absoluta certeza o valor de uma
quantidade física, então existe um elemento da realidade física que corresponde a essa
quantidade física . ” Eles então descrevem um experimento mental com duas partículas
inicialmente interagindo e depois separadas. Eles mostram que é possível determinar
remotamente a posição ou a velocidade de um medindo a posição ou a velocidade do
outro, o que contradiz o princípio da incerteza de que a realidade física não pode ser
atribuída simultaneamente a ambas as quantidades físicas. Em particular, se a posição da
partícula distante for determinada, a realidade física será atribuída a essa quantidade ao
custo da perda de velocidade da realidade física (princípio da incerteza). Da mesma forma,
você pode optar por determinar a velocidade, caso em que será esta quantidade que
adquire realidade física em detrimento da outra, a posição.

Consequentemente, as propriedades de um sistema atômico tornam-se reais


dependendo do que se decide medir em um lugar distante. Se se deve acreditar na
interpretação de Copenhague, então deve-se admitir que essa "aquisição da realidade
física" é um processo que pode ser controlado remotamente, instantaneamente.
Mas se uma medição não pode influenciar o que acontece em um lugar distante, deve-se
aceitar que elementos da realidade física existem antes da medição. E se a mecânica
quântica não pode descrevê-los, deve ser uma teoria incompleta.
Em suma, uma de duas coisas: ou a transmissão de informações pode ocorrer em
velocidade infinita ou as partículas atômicas devem possuir e transportar certas informações
que não têm contrapartida na mecânica quântica. A primeira opção viola flagrantemente a
teoria da relatividade, segundo a qual nada pode exceder a velocidade

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da Luz. EPR conclui, então, que a mecânica quântica não cobre toda a realidade, pois deve
haver quantidades físicas que ela não pode descrever. Seriam variáveis ocultas... ocultas
para a mecânica quântica! Sem negar o valor desta teoria, eles supõem que deveria haver
alguma mais fundamental e completa que descrevesse a realidade física independente de
qualquer observador. Eles não dão nenhuma indicação de como seria, apenas afirmando:
"Acreditamos que tal teoria é possível."
Em outras palavras, o problema essencial da interpretação de Copenhague, como o
EPR claramente mostrou, é sua incompatibilidade com o que se costuma chamar de
"realismo local", isto é, com o fato de que em determinado lugar um evento está localizado
muito longe. Mais precisamente, apenas aquelas causas que estão em seu cone de luz
passado podem influenciar um evento. Qualquer violação deste princípio é incompatível com
a teoria da relatividade... a não ser que se aceite a possibilidade de retroceder no tempo,
como vimos no capítulo IV.

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estados emaranhados

Como Schrödinger apontou logo após a publicação do artigo EPR, o cerne da questão é o
fato de que dois ou mais sistemas atômicos podem estar em um "estado emaranhado", uma
situação que não tem equivalente no mundo macroscópico. A distância espacial entre dois
sistemas em um estado emaranhado não desempenha nenhum papel; o fato de fazer uma
medição em um deles colapsa a função de onda de ambos, mesmo que os dois estejam em
galáxias diferentes.
A situação é consequência do princípio da superposição, o mesmo que leva ao paradoxo
do gato de Schrödinger. Continuando com a analogia, podemos imaginar dois gatos,
digamos um na Terra e outro na Lua, em uma superposição de dois estados: em um, o gato
terrestre está vivo e o gato lunar está morto, e no outro a situação é o mesmo. Se olharmos
agora para o estado do gato na Terra e o encontrarmos vivo, colapsamos a função de onda
de ambos os gatos e matamos o da Lua, e vice-versa.

Existe algum mistério nisso? Claro que não! Posto assim, o assunto parece
extremamente banal, mas é porque existe uma correlação perfeita entre os estados dos
gatos: se um está vivo, o outro certamente está morto, e vice-versa. Não vejo necessidade
de chamar uma ação fantasma à distância. Porém, a estranheza da mecânica quântica se
manifesta plenamente em situações em que não há uma correlação perfeita, ou seja,
quando uma medição em um local determina o resultado de outro apenas com alguma
probabilidade e não de forma absoluta. Essa é a essência do teorema de Bell, que veremos
com mais detalhes a seguir.

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Sino

Na década de 1950, David Bohm propôs uma versão um pouco mais realista do experimento
mental EPR. A idéia de Bohm [59] consistia em usar duas partículas com spin, emitidas em
duas direções opostas, e medir sua orientação. Por exemplo, podem ser dois elétrons se
encontrando com seus spins alinhados em direções opostas, de modo que o spin total do
par seja zero. Nesse caso, se medirmos a direção de um dos spins, podemos deduzir à
distância a orientação do outro, que, dessa forma, adquire realidade física; mas isso
dependerá de como orientamos nosso dispositivo de medição. Esta é a mesma situação
paradoxal apontada pelo EPR: uma medida em um lugar decide a realidade física em outro,
distante, contrariando o princípio do realismo local.

Um esquema inteiramente semelhante pode ser reproduzido com pares de fótons. A


mecânica quântica prevê que, se emitidos em um estado com spin total zero, os dois fótons
ficam em um estado emaranhado: uma superposição de um estado com o primeiro fóton
polarizado horizontalmente e o segundo polarizado verticalmente, e de outro estado com a
configuração invertida. . Claro, a direção da polarização não é definida antes de uma
observação. O paradoxo surge do fato de que se um filtro polarizador é colocado na frente
de um dos fótons e passa por ele, tanto a polarização desse fóton quanto a do outro
adquirem realidade física.
Tudo o que foi dito acima teria permanecido no domínio dos experimentos mentais, não
fosse pelo fato de que, em 1963, John Bell mostrou que é possível distinguir
quantitativamente entre as previsões da mecânica quântica e uma teoria local como a
mecânica clássica. Se duas partículas são emitidas em direções opostas, a probabilidade
de que cada uma tenha uma certa direção de rotação ou polarização pode ser medida. Bell
mostrou que as probabilidades conjuntas para as duas partículas, conforme previstas pela
mecânica quântica, não podem ser reproduzidas de forma alguma invocando variáveis
ocultas; o que permite verificar experimentalmente se tais variáveis existem.[60]

O esquema proposto é baseado na versão de Bohm do experimento mental EPR.


Suponha que emitimos dois fótons em direções opostas, de modo que ambos tenham
rotação total zero e que se separem por uma distância arbitrariamente grande. Em cada
local medimos a polarização do fóton que chega ali colocando um filtro em uma determinada
direção (figura VIII.1). Somos livres para escolher o ângulo de cada um dos filtros. Fazemos
medições com um número muito grande de pares de fótons e, no final, obtemos um
conjunto de medições que nos diz quais.

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passou o filtro em cada local. Juntamos então os dados recolhidos em ambos os lados,
comparamo-los e obtemos uma correlação entre as medições nos dois locais, que dependerá
inevitavelmente dos ângulos em que os filtros estão localizados.

Figura VIII.1

Mais especificamente, suponha que os filtros estejam orientados nos ângulos ÿ1 e ÿ2 ,


conforme mostrado na (figura VIII.1). Se um dos fótons de um par, digamos o da esquerda, passa
pelo filtro 1, então, de acordo com a mecânica quântica, sua polarização adquire uma realidade
física na direção ÿ1 . Mas então, a polarização do fóton à direita também adquire realidade física!:
torna-se perpendicular à de seu parceiro; se fizermos com que ele atinja um filtro colocado em um
ângulo ÿ2 , então a probabilidade de que ele também o passe é sen²(ÿ1 – ÿ2 ). Remetemos o
leitor ao Apêndice para uma demonstração técnica detalhada.

Tudo o que precisa ser notado, em geral, é que a probabilidade conjunta de que ambos os
fótons passem por seus respectivos filtros é ½sin²(ÿ1 – ÿ2 ) , e a probabilidade conjunta de que
um passe e o outro não seja ½cos²(ÿ1 – ÿ2 ) . Todas as quatro possibilidades têm probabilidades
conjuntas:

P++ (ÿ1 , ÿ2 ) = ½sen²(ÿ1 – ÿ2 ),


P+– (ÿ1 , ÿ2 ) = ½cos²(ÿ1 – ÿ2 ),
P–+ (ÿ1 , ÿ2 ) = ½cos²(ÿ1 – ÿ2 ),
P–– (ÿ1 , ÿ2 ) = ½sen²(ÿ1 – ÿ2 ),

onde os subscritos + e – correspondem aos casos em que cada fóton passa ou não pelo filtro que
é colocado em seu caminho. Claro, a soma das quatro probabilidades tem

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o valor de 1, que é considerado por convenção como uma probabilidade absoluta de 100%.

As probabilidades acima não parecem ter nenhuma propriedade misteriosa. No entanto, a


quantidade fisicamente interessante é a correlação, que mede, como o nome indica, quanta correlação
existe entre as medidas de um lado e do outro.
Essa correlação é geralmente definida como:

C (ÿ1 , ÿ2 ) = P++ (ÿ1 , ÿ2 ) + P–– (ÿ1 , ÿ2 ) – P+– (ÿ1 , ÿ2 ) – P–+ (ÿ1 , ÿ2 ),

e no caso de probabilidades previstas pela mecânica quântica assume o valor:

C (ÿ1 , ÿ2 ) = –cos2(ÿ1– ÿ2 ) .

Esta fórmula de aparência inocente contém uma profunda contradição com


qualquer interpretação realista da física.
O teorema de Bell estipula, de forma muito geral, que a correlação entre as medidas conjuntas, se
forem baseadas na existência de variáveis ocultas, deve satisfazer alguma desigualdade matemática.
A correlação dada pela fórmula acima viola essa desigualdade. A conclusão é tão simples quanto
profunda: a determinação experimental das correlações entre partículas em estados emaranhados
permite discriminar entre a mecânica quântica e qualquer teoria baseada na existência de variáveis
ocultas (veja o Apêndice para uma explicação um pouco mais técnica) .

Claro, como já indicamos, a ausência de variáveis ocultas implica que existem quantidades físicas
que adquirem realidade física por meio de medições distantes, ou seja: não locais. Esse mecanismo
permite que informações instantâneas sejam transmitidas de um ponto a outro no espaço? Por
exemplo, se pares de fótons forem enviados a dois laboratórios, um na Terra e outro em Marte, é
possível deduzir o ângulo em que o filtro polarizador foi colocado em Marte, apenas medindo quantos
fótons passam ou não por ele? o filtro no laboratório terrestre de Marte? A resposta é negativa: apesar
de as probabilidades conjuntas dependerem dos dois ângulos dos filtros, o observador terrestre não
pode conhecer as estatísticas de Marte se não forem informadas por algum meio tradicional; Enquanto
você não receber essa informação, você só pode ter certeza de que seu colega marciano recebeu
fótons, mas não sabe quais deles passaram ou não pelo seu filtro.

Isso significa que a probabilidade de um dos fótons passar, não importa quão

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o que acontece com o outro, é:

P++(ÿ1 , ÿ2 ) + P+– (ÿ1 , ÿ2 ) = ½cos²(ÿ1– ÿ2 ) + ½sen²(ÿ1 – ÿ2 ) = ½;

o que simplesmente implica que na metade das vezes isso acontecerá. O importante é que essa probabilidade
de 50% não depende do ângulo em que o outro filtro foi colocado e, portanto, é impossível determiná-lo apenas
com medições locais. O mecanismo não permite estabelecer condições distantes, mantendo assim uma
“coexistência pacífica”[61] entre a teoria da relatividade e a mecânica quântica. No entanto, o fato inescapável é
que as probabilidades previstas por este último não são locais, no sentido de que dependem de medições
conjuntas em locais que podem ser causalmente desconectados. Este é um dos mistérios fundamentais da
mecânica.

quantum.

Depois do trabalho original de Bell, foram encontrados outros esquemas em que nem é necessário recorrer
a variáveis contínuas e desigualdades. Greenberg et al.[62] propuseram um experimento mental com três
partículas em que, usando correlações perfeitas, resultados diferentes são obtidos dependendo se a existência
ou não de variáveis ocultas é postulada. Da mesma forma, um esquema análogo, sem recorrer a desigualdades
e com apenas duas partículas, foi descrito por Hardy.[63]

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experimentos e aplicações

Graças ao trabalho de Bell, que possibilitou quantificar as correlações quânticas e


mostrar claramente a diferença com as previsões clássicas, foi possível propor
experimentos reais e transcender as fronteiras dos experimentos mentais pela primeira
vez. O primeiro experimento desse tipo foi realizado em 1982 por Aspect e colaboradores
em um laboratório francês usando pares de fótons emitidos em direções opostas.[64] Ao
medir as correlações entre os ângulos de polarização dos fótons, foi encontrado um
resultado que correspondia exatamente à previsão da mecânica quântica; os dados
experimentais violavam as desigualdades de Bell, como se houvesse alguma ação
fantasmagórica à distância.
Desde então, esse experimento foi repetido de várias formas. Em uma de suas
versões mais recentes, realizada em 1997 em Genebra, os pares de fótons foram
enviados por meio de fibras ópticas a duas regiões separadas por 10 km. Dessa forma,
não há dúvida de que não houve influência de uma medida sobre a outra por algum
mecanismo clássico: mais uma vez, os resultados confirmaram a previsão da mecânica
quântica.[65]
O interessante de todo esse assunto não é apenas a verificação dos postulados
quânticos, mas também as possíveis aplicações tecnológicas desses estranhos efeitos.
Nos últimos anos surgiu uma nova disciplina: informação e comunicação quântica, com
aplicações em criptografia,[66] transmissão segura de informações,[67] "teletransporte"
de estados,[68] e assim por diante. A ideia é usar correlações quânticas em combinação
com métodos tradicionais de transmissão de informações, o que não viola a localidade,
mas pode economizar canais de comunicação e também torná-los mais seguros.

Para deixar claro que a filosofia tem aplicações tecnológicas, apontaremos que o
tipo de correlação proposto por Einstein et al., pode ser usado para transmitir informações
parcialmente de um lugar para outro. Esta aplicação da física quântica já se tornou uma
realidade. O método consiste em transportar uma parte da informação por meios
convencionais (por exemplo, metade dos "bits" necessários para reconstruir uma imagem
ou um texto) e o restante por interação quântica.
Dando continuidade a essa ideia, surgiu recentemente uma ciência da “comunicação
quântica”, com importantes aplicações tecnológicas. Assim, desde o ano 2000 começou
a ser utilizada uma interessante aplicação de “ação assustadora”: a criptografia quântica,
[69] que utiliza técnicas para transmitir informações quânticas. Nesse esquema, pares
de fótons em estados emaranhados são enviados por fibras ópticas para dois receptores.

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diferente; um deles mede as polarizações de seus fótons variando o ângulo de seu


polarizador de acordo com alguma informação que deseja transmitir, e envia os resultados
de suas observações para seu parceiro distante, que, com os outros fótons emaranhados,
pode reconstruir a mensagem original . Desta forma, parte da informação é transmitida por
ação fantasmagórica e outra parte por algum meio convencional que não ultrapasse a
velocidade da luz; A teoria da relatividade não é violada porque somente juntando as duas
informações o original pode ser reconstruído.

O método tem a grande vantagem de ser totalmente à prova de espionagem. A


informação enviada pelos canais tradicionais é incompleta e tem que ser forçosamente
combinada com os fótons emaranhados para reconstruir a mensagem. Se algum intruso
interceptar esses fótons, eles colapsam sua função de onda e os atribuem à realidade física
antes que cheguem ao seu destino legítimo, destruindo assim qualquer possibilidade de
reconstruir a informação enviada.

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[58] A. Einstein, B. Podolsky e N. Rosen; “A descrição mecânica quântica da realidade pode ser considerada
Completo?”, Physical Review 47: 777, 1935.

[59] D. Bohm, Teoria Quântica, Prentice Hall, 1951.

[60] JS Bell, "On the Einstein-Podolsky-Rosen paradox," Physics 1: 195, 1964; veja também Speakable e
Indizível em Mecânica Quântica, Cambridge, 1987.

[61] A. Shimony, Internat. Philos. Trimestralmente 18:3, 1978.

[62] DM Greenberg, MA Horne, A. Shimony e A. Zeilinger, "Teorema de Bell sem desigualdades", Am. J.
Phys. 58: 1131, 1990.

[63] L. Hardy, "mecânica quântica, teorias realistas locais e teorias realistas invariantes de Lorentz", Phys.
Rev A 68:2981, 1992.

[64] A. Aspect et al., Realização experimental do experimento Gedanken de Einstein-Podolsky-Rosen-Bohm: Uma nova
realização das desigualdades de Bell”, Physical Review Letters 49: 91 1982; “Teste experimental das desigualdades
de Bell usando analisadores variantes no tempo”, Physical Review Letters 49: 1804, 1982.

[65] W. Tittel et al., "Violação de desigualdades de Bell por fótons com mais de 10 km de distância", Revisão Física
Cartas 81: 3563, 1998.

[66] Veja, por exemplo, T. Jennewein et al., "Quantum cryptography with emred photons", Phys. Rev.
Deixe 84: 4729, 2000; DS Naik et al., “Criptografia quântica de estado emaranhado: espionagem no protocolo Ekert”,
ibid., p. 4733; W. Tittel et al., “Criptografia quântica usando fótons emaranhados em estados de energia-tempo de
Bell”, ibid.

[67] CH Bennett e SJ Wiesner, Physical Review Letters 69: 2881, 1992.

[68] CH Bennett et al., Physical Review Letters 70: 1895, 1993; D. Boschi et al., Physical Review Letters 80:
1121, 1998; A. Furusawa et al., Nature 282: 706, 1998.

[69] T. Jennewein et al., "Criptografia quântica com fótons emaranhados", Physical Review Letters, 84: 4729, 2000; DS
Naik et al., “Criptografia quântica de estado emaranhado: espionagem no protocolo Ekert”, ibid.: 4733; W. Tittel et al.,
“Criptografia quântica usando fótons emaranhados em estados de energia-tempo de Bell”, ibid. :4737.

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IX. Espaço, tempo, massa e energia

A linguagem comum é totalmente inadequada para expressar o que a física


realmente afirma, já que as palavras da vida cotidiana não são
suficientemente abstratas. Somente a matemática e a lógica matemática
podem dizer o pouco que o físico tenta dizer.

Bertrand Russell, The Scientific Outlook, 1931

O conceito físico de energia nasceu no século XIX e meio século depois foi descoberta a
sua faceta mais surpreendente e inesperada: a famosa relação entre massa e energia. Que
a massa-energia total é conservada em todos os processos físicos, com a possível
transformação de energia em massa e vice-versa, tornou-se uma lei fundamental da física.
Como apontamos anteriormente, os conceitos básicos das teorias científicas nunca
foram bem estabelecidos e definidos. Ao contrário, com o passar do tempo, de tanto usá-
los, nos acostumamos a vê-los como naturais. É o caso da energia, que examinamos no
capítulo IV e que, hoje em dia, tende a ser considerada um conceito mais fundamental do
que a massa. Vejamos agora o conceito mais antigo e aparentemente básico de massa,
com o qual a energia está intimamente relacionada na perspectiva da física moderna.

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Massa na física clássica

Os livros didáticos definem a massa de várias maneiras: geralmente é dito que é a quantidade
de matéria... mas nunca especifica como medir essa quantidade! Além disso, existe uma
confusão geral entre massa e peso, pois, para fins práticos, a massa é totalmente equivalente
ao peso e é medida assim: em uma balança. No entanto, isso só é correto na superfície da
Terra; na Lua, um corpo maciço pesa seis vezes menos que na Terra e, no espaço, o peso
de qualquer corpo é estritamente zero. Claro, isso não era conhecido na Antiguidade e a
“quantidade de matéria” era igualada à atração gravitacional exercida sobre ela, que, para
fins práticos, era mais do que suficiente. Mesmo na antiguidade, tamanho era confundido
com peso, pois objetos grandes costumam ser mais pesados que os pequenos. Arquimedes
ajudou a esclarecer esse ponto quando estudou a flutuabilidade dos corpos, mas nunca deu
uma definição de massa.

Mas a matéria não só tem gravidade, mas também inércia, que é a resistência à mudança
no movimento. O conceito de inércia, que independe da gravidade, foi introduzido por Kepler
em sua tentativa de encontrar a causa física do movimento dos planetas: ele postulou que a
matéria apresenta uma resistência para mudar seu estado de movimento ou repouso,
portanto, um O planeta permaneceria imóvel se não fosse por algum "poder de movimento"
vindo do Sol, que se opõe à "impotência" dos planetas de se moverem sozinhos. O próprio
Kepler especulou que essa força solar deve ser de origem magnética, mas foi Isaac Newton
quem descobriu que é a gravidade, uma força universal entre todos os corpos do Universo:
estrelas, planetas ou maçãs. Newton também foi o primeiro a distinguir claramente a
diferença entre a massa relacionada à inércia e a relacionada à força gravitacional, e chegou
a fazer experimentos com pêndulos feitos de materiais diferentes para se convencer de que
existe uma equivalência estrita entre inércia e gravidade.

Antes de Newton, Galileu havia mostrado com argumentos lógicos que todos os corpos
caem exatamente com a mesma velocidade (segundo a lenda, ele provou isso deixando cair
duas pedras de pesos desiguais do topo da Torre de Pisa). Isso implica que a força
gravitacional sobre um corpo é sempre proporcional à sua inércia (a fricção do ar pode
influenciar a queda, como uma pena, mas isso não tem nada a ver com a gravidade). Em
linguagem moderna, dizemos que existem dois tipos de massa, a inercial e a gravitacional,
e que as duas são inteiramente equivalentes entre si: este é o Princípio da Equivalência.

Mas, por que essa equivalência entre inércia e gravidade, se são duas

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fenômenos que, à primeira vista, nada têm em comum? Para entender que isso não é algo
que deveria ser óbvio, basta observar que nada semelhante acontece com as forças
elétricas ou magnéticas. Se um imã atrai um pedaço de ferro que tem muita massa inercial,
vai dar a ele uma velocidade muito pequena e, inversamente, se for uma bolinha, será
atraído com muita velocidade. A carga magnética é completamente independente da inércia.
Da mesma forma, as cargas elétricas podem ser positivas ou negativas e se anulam; corpos
carregados se atraem ou se repelem de acordo com seus sinais, e suas cargas nada têm a
ver com suas massas inerciais. Além disso, sempre é possível envolver uma carga elétrica
em um material que a isole da força elétrica de outra carga. Por outro lado, a "carga
gravitacional" de um corpo é sempre igual à sua massa inercial: a única forma de
"descarregar" a gravidade de um objeto é removendo sua massa inercial, ou seja, sua
própria massa. O Princípio da Equivalência é um dos grandes mistérios da física, apesar de
ser normalmente relegado ao sótão dos conceitos óbvios e naturais. Até hoje, a única
tentativa de explicação deve-se a Ernst Mach, que propôs que a inércia de um corpo é
produzida pela força gravitacional de toda a matéria do Universo sobre ele, mas isso não
foi confirmado. Embora o princípio de Mach tenha inspirado Einstein a desenvolver sua
teoria relativística da gravitação, ele não pode ser deduzido diretamente dessa teoria, como
mostra a existência do modelo cosmológico de De Sitter mencionado no capítulo anterior.

Voltando a Newton, a definição de massa que ele dá nos Principia é em termos de


"quantidade de matéria" que é "a medida dela, que resulta conjuntamente da densidade e
do volume". De onde podemos inferir que para Newton, e provavelmente para seus
contemporâneos, a densidade era um conceito mais primário do que a massa; afinal, é
claro que alguns corpos são mais densos que outros, embora hoje em dia tendemos a
pensar mais em termos de massa.
Uma vez que a massa é apresentada aos leitores, Newton passa a definir o movimento
como "a medida conjunta de velocidade e quantidade de matéria". Depois disso, ele
postulou sua famosa segunda lei em sua forma original: "A mudança de movimento é
proporcional à força motriz impressa."
A segunda lei na forma "força é igual a massa vezes aceleração", conforme ensinado
nas escolas, não é encontrada na obra de Newton, mas é devida a Leonard Euler, que
desenvolveu a mecânica no século 18 e a deu a ele. deu a forma que é usado atualmente.
Para Euler, o conceito primário era a força, já que a massa só pode ser medida observando
o movimento de um corpo ao qual é aplicada uma força de certa magnitude.
Consequentemente, Euler definiu a massa de um corpo como a razão entre a força aplicada
e a aceleração produzida. A rigor, este é o

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definição de massa inercial, sem qualquer referência à gravidade.


No entanto, a força como um conceito primário não era isenta de críticas.
Jammer[70] aponta que, devido à nova atitude positivista no século XIX: “O que outrora
desempenhou um papel central na física newtoniana passou a ser considerada uma obscura
noção metafísica a ser banida da ciência”.
É possível medir a massa de um corpo sem recorrer a uma força, em geral, ou à gravidade,
em particular? Na tentativa de esclarecer esse problema, Ernst Mach mostrou que a razão das
massas (inerciais) entre dois corpos pode ser medida, pelo menos em princípio, com um
complicado esquema que consiste em fazê-los colidir entre si e medir suas velocidades. Mas
o método é de interesse apenas acadêmico e sua precisão é muito limitada porque os choques,
na vida real, não são perfeitamente elásticos.[71] Em todo caso, o esquema de Mach se baseia
no axioma da conservação do momento, sem o qual nada poderia ser deduzido.

Estamos, então, diante do fato de que força e massa não podem ser definidas
independentemente uma da outra. Eles estão relacionados pela aceleração, que é um conceito
primário associado ao movimento, mas nenhum deles pode ser tomado como um conceito
básico. Você pode definir massa como a razão entre força e aceleração, ou definir força como
o produto de massa e aceleração.
A esse respeito, em um ensaio sobre os fundamentos da mecânica clássica, Poincaré
escreveu:[72] “a ideia de força é uma noção primitiva, irredutível, indefinível; todos nós
sabemos o que é, temos uma intuição direta disso. Essa intuição vem da noção de esforço,
familiar desde a infância. Mas, advertiu ele, para que uma definição de força seja útil, "deve
nos mostrar como medi-la". Conseqüentemente, ele considerou várias maneiras possíveis de
medir força ou massa, mas se deparou com problemas tão intransponíveis que finalmente
admitiu o fracasso de qualquer tentativa de definir massa.
Por isso, propôs uma definição "que nada mais é do que uma confissão de impotência: as
massas são coeficientes que devem ser introduzidos nos cálculos". Assim, Poincaré poderia
muito bem parafrasear a famosa afirmação de Santo Agostinho sobre o tempo: “O que é então
a missa? Se ninguém me perguntar, eu sei; se eu quiser explicar para alguém que me
pergunte, eu não sei."

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Massa na física moderna

Como apontamos anteriormente, o conceito de força foi gradativamente substituído pelo de


energia, mais abstrato, porém mais prático para o cálculo. A energia tem a importante
propriedade de ser conservada, que é um dos princípios básicos da física. Assim, da massa
à força, e da força à energia, faltava apenas mais um passo para fechar o círculo das
definições. Isso aconteceu quando Planck descobriu a relação entre energia e frequência, e
Einstein descobriu a equivalência entre massa e energia. O círculo de definições sucessivas
foi então estendido a três membros: massa, força e energia.

Apesar da falta de uma definição precisa, na prática o lojista mede a massa de um corpo
pesando-o em uma balança. Mas quando se trata de uma partícula atômica, sua massa
deve ser inferida a partir de observações indiretas. Nem mesmo é possível defini-lo em
termos da soma de todas as partículas subatômicas que compõem um corpo, pois, devido à
equivalência entre massa e energia, os núcleos atômicos pesam um pouco menos que suas
partículas constituintes individuais.
Em geral, o que costuma ser medido em laboratório é a razão e/m entre a carga elétrica
e e a massa inercial m de uma partícula. Em seu clássico experimento de 1897, JJ
Thomson determinou essa proporção a partir da deflexão dos raios catódicos (elétrons,
como se descobriu mais tarde) e descobriu que era mil vezes maior que a proporção
correspondente para o hidrogênio ionizado.[73] No entanto, seu experimento não determinou
a massa ou carga separada do elétron. Isso só foi possível alguns anos depois com o
clássico experimento da gota de óleo de RA Millikan, que mostrou que a carga é quantizada
e conseguiu medir sua unidade elementar, encontrando assim o valor preciso da massa do
elétron do óleo.
Na prática, a forma mais comum de "pesar" uma partícula elementar é por meio do
caminho visível que ela deixa em uma câmara de nuvens ou bolhas. Isso pode ser feito
diretamente para uma partícula carregada ou indiretamente para uma partícula neutra de
suas reações com outras partículas. Mas, mesmo assim, deve-se supor que tal trajetória
obedece às leis da eletrodinâmica clássica. Mais precisamente, considera-se válida a fórmula
de Lorentz para a força exercida por um campo eletromagnético sobre uma partícula
clássica, fórmula que envolve a razão entre carga e massa de uma partícula, e/m, mas não
cada um desses parâmetros separadamente.

O experimento de Millikan mostrou pela primeira vez que a carga das partículas
elementares é quantizada e é sempre igual a um múltiplo inteiro da carga do

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elétron[74] (pelo menos, assim parece até agora). Sem essa quantização seria extremamente
difícil deduzir a massa de uma partícula observando sua trajetória, porque a massa não é
quantizada. De qualquer forma, a massa de uma partícula elementar é sempre deduzida
indiretamente, com base na eletrodinâmica clássica.

O conceito de massa é ainda mais estranho para os quarks. Os quarks não podem ser
isolados, então não faz sentido pensar em um quark colocado em uma balança. No entanto,
as massas dos quarks são parâmetros que aparecem perfeitamente bem definidos nas
equações da física quântica e determinam as interações entre hádrons.[75] Na verdade, os
quarks podem ser considerados "livres" apenas quando estão próximos o suficiente, mas é
obviamente impossível pesar um quark diretamente.
Outro fenômeno previsto pela mecânica quântica é a existência de flutuações quânticas
no vácuo. Partículas podem aparecer e desaparecer continuamente, sem violar o princípio
de conservação de massa, desde que sejam partículas "virtuais", cujos tempos de vida são
tão curtos que não podem ser detectados devido ao princípio de incerteza de Heisenberg
para energia-massa e tempo. [76] Por exemplo, os bósons W e Z, que são 100 vezes mais
pesados que um próton, produzem as interações fracas em um núcleo, mas não acrescentam
massa adicional porque, nessas circunstâncias, são partículas "virtuais": ficam apenas por
uma vida útil da ordem de um milionésimo de um milionésimo de segundo, e o princípio da
incerteza não permite detectá-los.

Ainda mais estranho é o caso do neutrino, que ilustra como a massa se manifesta de
maneiras estranhas no mundo quântico. A existência do neutrino foi confirmada
experimentalmente em 1953, e alguns anos depois descobriu-se que existem três classes
diferentes dessa partícula: o neutrino do elétron, associado à matéria comum de que somos
feitos, e outros dois tipos de neutrinos , associadas às partículas mu e tau, que pertencem
a outras duas famílias de partículas subatômicas. A princípio, o neutrino parecia ser uma
partícula sem massa de energia pura, assim como o fóton. Mas em 2001 descobriu-se que
ele tem uma massa muito pequena, muito menor que a de um elétron.

A propriedade mais notável do neutrino é que ele não tem massa definida, mas é a
superposição de três estados com três massas diferentes, o que faz com que eles mudem
de identidade periodicamente: o que se chama de "oscilações de neutrinos". Assim, um
neutrino de uma determinada classe tem três massas diferentes. Se projetarmos um
experimento para medir sua massa, o encontraremos com um dos três possíveis. E quanto
ao princípio da conservação da massa? O que acontece com as outras duas massas,
aquelas que não observamos? A resposta, mais uma vez, está no começo

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da incerteza de Heisenberg. Se a massa de um neutrino for medida com muita precisão,


aumenta a incerteza sobre a posição de onde se originou e onde foi detectado, o que, por sua
vez, implica incerteza sobre a classe a que pertence.
Um objeto pode estar em vários estados ao mesmo tempo? Isso é comum no mundo dos
átomos, onde a "realidade" só existe como consequência de nossa ação de observar. Como
apontamos no Capítulo IV, as partículas atômicas "existem" em uma superposição de todos
os estados possíveis enquanto não são observadas; É o princípio da superposição formulado
por Niels Bohr, e se choca com o nosso senso comum, como Schrödinger mostrou com seu
famoso paradoxo do gato. Como esse animal fictício, o neutrino pode existir em uma
superposição de três massas, ou de três tipos.

Seguindo Poincaré, devemos dizer que é conveniente descrever o neutrino com três
massas e não uma. Mas isso não é um truque matemático, mas um fato real que tem
consequências físicas muito específicas e sujeitas a confirmação experimental.
Mais uma vez chegamos à conclusão de que a massa é um parâmetro nas equações da física
que só faz sentido no reino das ideias matemáticas – ao contrário do que dizem os livros
didáticos.

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mundo de Planck

A relação entre massa, espaço e tempo tornou-se aparente com o aparecimento da constante de
Planck, h. Junto com a velocidade da luz, c, é um fator de conversão entre comprimento, tempo e
massa no mundo atômico. Quanto à gravidade, ela também pode entrar em ação por meio da
constante G de Newton.
Quando Max Planck obteve sua famosa fórmula na qual aparece a constante que hoje leva
seu nome, ele também percebeu que isso, combinado com a velocidade da luz e a constante da
gravitação, poderia ser usado para definir unidades de comprimento, tempo e massa, que seriam
“independentes de objetos ou substâncias particulares, necessariamente manteriam seu significado
para todos os tempos e todas as culturas, incluindo extraterrestres e não humanos…”.[77]

As unidades propostas por Planck são obtidas combinando hyc com a constante de gravitação
de Newton. Explicitamente, são dados pelas combinações (hc/G)½, (hG/c 3 )½ e (hG/c 5 )½, para
massa, comprimento e tempo, respectivamente.
Nossas unidades usuais - metro, grama, segundo - são, na verdade, relacionadas às escalas
humanas, que são acidentes no planeta Terra. Por outro lado, as novas unidades de Planck são
realmente naturais, mas sofrem de uma falha grave: não correspondem a nada do que conhecemos
da natureza: o comprimento de 20 Planck é 10
vezes menor que o tamanho típico de um átomo e a massa de Planck vezes
17 é 10 maior que a massa típica de uma partícula elementar. No entanto, a existência de tais
unidades naturais é uma indicação de que comprimento, tempo e massa são as condições básicas
e irredutíveis que tornam possível toda intuição do mundo físico. Outras quantidades físicas
podem ser reduzidas a combinações dessas três quantidades fundamentais, mas elas são
"incondicionadas".
As unidades de Planck relacionam entre si a gravidade e a luz —fenômenos do mundo
macroscópico— com processos atômicos cuja escala é determinada pela constante de Planck.
Em um extremo da escala, a teoria newtoniana e sua generalização einsteiniana descrevem muito
apropriadamente todos os processos regidos pela gravidade. Mas, no outro extremo da escala, a
gravidade não tem relevância óbvia: no mundo dos átomos dominam as forças nucleares e
eletromagnéticas, submetidas às leis da mecânica quântica. Pareceria, então, que é no mundo na
escala de Planck que os efeitos quânticos e a gravidade se encontrariam. Mas, apesar de muitas
tentativas, até o momento não existe uma teoria quântica convincente da gravidade. Unificar a
relatividade geral com a mecânica quântica ainda é o grande sonho de alguns físicos; embora

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outros veem as tentativas de fazer isso com ceticismo.


A esse respeito, vale mencionar que, em 1972, Stephen Hawking descobriu uma curiosa
relação entre gravitação e efeitos quânticos: ele mostrou que se as fórmulas básicas da
mecânica quântica forem extrapoladas diretamente para um espaço-tempo curvo, verifica-se
que um buraco deve emitir radiação, como um corpo negro a uma determinada temperatura.
Assim, um buraco negro que não emite de acordo com a relatividade geral, poderia emitir
radiação se os processos quânticos forem levados em consideração. Uma consequência é
que chegaria um momento em que um buraco negro evaporaria completamente, transformando
toda a sua massa em energia e irradiando-a. No entanto, o tempo de vida de um buraco negro
com massa comparável à de uma estrela é extremamente longo, equivalente a milhares de
vezes a idade do Universo. O efeito Hawking não produz nenhum fenômeno visível real; pode
ser relevante apenas para buracos negros microscópicos, com alguns milhares de toneladas
de tamanho, mas não há evidências de que existam. Na época, causou muitas expectativas,
pois parecia que finalmente havia sido encontrada uma relação entre a gravidade e os
processos quânticos, mas os desenvolvimentos subsequentes não levaram a uma
compreensão mais profunda de ambos os fenômenos.

Independentemente de fazer sentido procurar uma teoria quântica da gravidade, pode-se


especular que, se o espaço-tempo é curvo, também deve ser extremamente turbulento na
escala do mundo de Planck. Seria semelhante ao mar, que parece plano e calmo visto de
uma grande altura, mas é agitado por ondas e redemoinhos. Alguns físicos acham que algo
assim poderia acontecer com o espaço-tempo: no mundo de Planck, os buracos negros
poderiam estar continuamente se formando e evaporando devido ao efeito Hawking. O espaço-
tempo seria então "espumoso" e turbulento.

Deve-se esclarecer, porém, que tudo isso, até agora, nada mais é do que o resultado de
extrapolações infundadas para limites completamente desconhecidos. Quando os físicos
falam em medir o tempo que dura um determinado processo atômico, na verdade estão se
referindo a calcular esse tempo indiretamente a partir de certos fenômenos atômicos que
envolvem a luz. Mais precisamente, eles medem a energia das partículas de luz emitidas
pelos átomos, e essa energia está indiretamente relacionada a distâncias e tempos. No mundo
atômico, como apontamos ao longo deste texto, espaço e tempo não têm o significado que
comumente lhes atribuímos, portanto, está longe de ser claro que extrapolações imprudentes
para o mundo de Planck possam ser justificadas.

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teoria quântica de campos

Quanto à origem física da massa, continua sendo um dos grandes problemas da física
moderna. Apenas a Teoria Quântica de Campos (QTF) tenta dar uma explicação parcial da
massa em termos de algo que parece ser mais fundamental: o campo. Na física moderna, o
campo é a substância fundamental do mundo: é descrito por meio de uma função que
depende de variáveis espaço-temporais, associando uma quantidade matemática a cada
ponto do espaço quadridimensional (generalizações para dimensões superiores, como em
supercordas teoria, também foram exploradas). Partículas elementares são interpretadas
como vibrações de um campo; a energia dessas vibrações é quantizada e cada quantum de
energia é identificado com uma partícula elementar.

Na física moderna, o campo, e não a massa, tornou-se o substrato do mundo material, a


realidade irredutível última, algo semelhante à substância para os filósofos clássicos. A esse
respeito, Einstein escreveu em 1953:[78]

O conceito de objetos materiais foi gradativamente substituído, como conceito fundamental da física,
pelo de campo. Sob a influência das ideias de Faraday e Maxwell, desenvolveu-se a noção de que
talvez toda a realidade física pudesse ser representada como um campo cujos componentes
dependiam dos quatro parâmetros do espaço-tempo.

O campo é uma função matemática medida em unidades de energia (ou massa).


Assim, a massa-energia está indissoluvelmente relacionada com o campo, pois lhe dá uma
dimensão.
Por outro lado, vale a pena notar que as equações fundamentais da CBT contêm
parâmetros constantes que são identificados com as massas das partículas elementares:
mas esses parâmetros nem mesmo são observáveis. As massas que aparecem nas equações
de campo são interpretadas como massas “nuas”, que devem ser multiplicadas por alguns
coeficientes numéricos – formalmente infinitos! – para se obter o que se chama de “massa
renormalizada”, ou seja, uma massa medida experimentalmente. Apesar de sua total falta de
rigor matemático, a CBT é atualmente a descrição mais precisa da natureza já alcançada, o
que é um grande mistério. Este é um bom exemplo do que Eugene Wigner certa vez chamou
de "a eficiência irracional da matemática".[79]

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Massa matemática?

Vamos agora considerar o conceito de massa no contexto da descrição matemática.


Na física teórica, são utilizadas equações diferenciais que descrevem a evolução espaço-
temporal das funções que representam as propriedades dinâmicas de um sistema; Tanto
na mecânica newtoniana quanto na CBT, essas funções podem ser a posição e a velocidade
de um corpo no primeiro caso e vários campos no segundo.

Alguns físicos do século 20 sonhavam em reduzir todas as equações da física a


fórmulas contendo apenas números puros – isto é, números dimensionais – ou, no máximo,
escritas em termos de unidades de Planck e talvez alguns parâmetros adicionais. Assim,
por exemplo, pode-se conjecturar que a massa do elétron pode ser expressa como a massa
de Planck multiplicada por algum fator numérico, e que esse fator deve vir de uma teoria
fundamental. Uma dificuldade prática com tal programa é que a massa de Planck é cerca
de dezesseis ordens de grandeza maior que a massa típica de um objeto atômico; mas,
mesmo assim, pode-se argumentar que números muito grandes também resultam de
argumentos puramente teóricos.

Como curiosidade histórica, vale mencionar que Arthur Eddington, o fundador da


astrofísica moderna, levou muito a sério tal programa. Eddington[80] acreditava que os
números adimensionais que aparecem na física poderiam ser deduzidos de argumentos
puramente matemáticos. Assim, por exemplo, ele tentou derivar a chamada constante de
estrutura fina (que está relacionada à carga elétrica do elétron)[81] com base em argumentos
obscuros e chegou à conclusão de que é o inverso de um inteiro exato: 137 (mais tarde,
medições mais precisas deram um valor de 137.035…). Nenhum físico hoje levaria a sério
tal programa, mas ainda há esperança de que pelo menos algumas constantes fundamentais
possam ser derivadas de uma teoria mais geral.

Examinemos então o problema do ponto de vista claro da linguagem matemática. Para


começar, notemos que os objetos físicos são descritos com quantidades dinâmicas
expressas como funções de coordenadas espaço-temporais. Estas são as variáveis a priori
que devemos aceitar em qualquer descrição de fenômenos físicos. Além disso, temos
variáveis dinâmicas como força, energia, momento, momento angular, etc., que
necessariamente incluem a massa – ou, de forma equivalente, a energia – como fator em
suas unidades, e o mesmo vale para as variáveis da teoria quântica de campos.

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É possível, então, obter todos os parâmetros fundamentais da física a partir de argumentos


puramente matemáticos? Tal programa, que encontra suas origens remotas em Pitágoras e
sua visão de mundo baseada em números puros – dos quais a teoria de Eddington poderia
ser vista como uma versão moderna – é pura ilusão. Por exemplo, o Modelo Padrão de
partículas elementares, que descreve com tanto sucesso os fenômenos subatômicos, contém
nada menos que dezoito parâmetros. Uma delas é a massa da hipotética partícula de Higgs,
que ainda não havia sido descoberta (no momento em que este livro foi escrito). Teorias mais
gerais foram propostas, como a Grande Unificação, que tenta unificar as interações básicas
entre partículas e explicar os valores de algumas constantes naturais. Também temos a teoria
ainda mais fundamental das “supercordas” ou sua versão mais recente, a “teoria-M”. Mas
todos eles pressupõem a existência de unidades de Planck. No caso mais ideal, uma teoria
absolutamente fundamental deveria conter pelo menos um parâmetro adicional, como, talvez,
a tensão de uma supercorda. Mas uma teoria totalmente livre de parâmetros é um sonho
impossível.

Assim, chegamos à conclusão de que a física teórica, em sua formulação matemática das
leis da física e na descrição dos fenômenos naturais, deve recorrer à síntese de espaço e
tempo com um terceiro conceito, dado a priori, que aparece em múltiplas formas: massa,
energia, força ou campo.

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permanência da matéria

Como pode um filósofo pesar a fumaça? Para Kant, a resposta é simples: “Subtraia do peso
da madeira queimada o peso das cinzas restantes e você terá o peso da fumaça”. Mas Kant
esclarece que, com tal raciocínio, está sendo utilizado o princípio da permanência, segundo
o qual “em toda mudança das aparências, a substância permanece” e sua quantidade não
muda. Em outras palavras: nada vem do nada. Sem este princípio que devemos aceitar a
priori, seria impossível compreender o mundo e dar coerência às nossas percepções.

Do ponto de vista da física moderna, a proposição de Kant é correta, desde que os


termos usados sejam especificados. Atualmente, diríamos que, quando a madeira é
queimada, suas moléculas reagem com o oxigênio da atmosfera e liberam a energia química
que mantinha seus átomos unidos, sem alterar seu número. Em outras palavras, massa e
energia são conservadas.
Kant descreveu o princípio da conservação da substância como "analogia da
experiência". Com relação à massa, seu exemplo do peso da fumaça é baseado na
suposição de que "a matéria (substância) não desaparece, mas sofre uma modificação de
forma" (B 228). Isso, porém, só pode ser conhecido a priori, com base em um princípio de
permanência.
Os filósofos clássicos chamavam de "substância" o elemento fundamental e permanente
do mundo. Segundo Kant, é necessário "pressupor sua existência através de todos os
tempos" (B 228), pois "a unidade da experiência nunca seria possível se estivéssemos
dispostos a aceitar que coisas novas, isto é, novas substâncias, pudessem adquirir
existência ." ” (B 229). Mas, como mencionamos acima, a substância não tem mais lugar na
física moderna como substrato do mundo material; essa função agora corresponde ao
campo. Quanto à matéria, ela aparece como uma percepção de massa ou força, mas Kant
não considerou a massa como uma forma pura de intuição; nisso ele é bem explícito: "a
possibilidade de síntese do predicado 'peso' com o conceito 'corpo'... baseia-se na
experiência" (B 12).
No que diz respeito ao princípio da permanência, hoje os físicos se referem mais à
conservação da energia-massa. Embora este princípio físico seja plenamente aceito, ele é
baseado na experiência e, portanto, carece de "estrita universalidade e certeza apodítica",
como Kant exigia de um conceito a priori. Mas podemos então falar de um princípio de
conservação independente da experiência? Parece que sim: suponha que um dia um
fenômeno físico fosse descoberto no qual a massa-energia não fosse conservada; nesse
caso, os físicos procurariam algum

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outro princípio mais geral que implica a conservação de alguma quantidade, pois, caso
contrário, seria impossível fazer qualquer previsão teórica. Em outras palavras, haveria que
apelar, em todo caso, ao princípio da permanência por ser a priori, para o qual uma teoria
física mais geral teria que ser construída.
De fato, é muito esclarecedor que o princípio da conservação da massa-energia tenha
sido seriamente questionado. Por volta de 1930, os fenômenos relacionados à radioatividade
dos núcleos atômicos eram bastante conhecidos, em particular o chamado “decaimento
beta”, processo pelo qual um núcleo radioativo emite um elétron e se transmuta no próximo
elemento da tabela. periódica. Mas, ao medir a energia dos elétrons liberados e dos núcleos
restantes, os físicos descobriram que faltava quase metade da energia que deveria estar ali.

Niels Bohr então corajosamente propôs abandonar o princípio da conservação da


massa-energia na escala atômica e assumir que ele só se aplica em grande escala, na
forma estatística. Em vez disso, Wolfgang Pauli era da opinião de que esse princípio deveria
ser válido em todas as circunstâncias, e propôs que o resultado aparentemente contraditório
do decaimento beta se devia ao fato de que, além do elétron, o núcleo emite outra partícula,
quase imperceptível, que leva uma boa parte da energia.
Descobriu-se que tal partícula realmente existe: é o neutrino, cuja interação com a
matéria é tão fraca que pode passar por milhões de anos-luz de chumbo sem ser absorvido.
Pauli seguiu o raciocínio do hipotético filósofo de Kant, mencionado no início desta seção:
em vez de fumaça, ele pesou uma partícula fantasma. O princípio da permanência deu sua
coerência ao mundo atômico.
Nesse caso, a unidade da experiência, postulada por Kant, não só foi preservada como
também levou à descoberta de um novo componente do mundo. Mas se Bohr tivesse razão
naquela ocasião, abrir-se-ia a possibilidade de haver uma nova física, baseada no princípio
da permanência de algo mais geral do que a energia de massa. O ponto importante é que,
com base na experiência, é impossível descartar completamente a violação de um princípio
de conservação física, mas se isso ocorrer, seria indicativo de novos fenômenos.

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conclusões

Nas equações que descrevem fenômenos físicos, é possível eliminar todas as unidades das
variáveis dinâmicas, exceto as três unidades básicas: comprimento, tempo e massa (ou
equivalentemente energia). Uma redução adicional não é possível. Isso lembra o que Kant
disse sobre o tempo, como uma forma pura de intuição: “Todas as aparências podem
desaparecer; mas o próprio tempo (como condição universal de sua possibilidade) não pode
ser retirado” (B 46).
Mas algo semelhante pode ser dito da energia-massa. Nenhum objeto pode ser
representado sem espaço, tempo e massa. Na física moderna, é impossível imaginar qualquer
parte do espaço sem energia. Até o vácuo está cheio de flutuações de origem quântica, que
são perfeitamente reais, pois produzem efeitos bem estabelecidos.

Em Space-Time-Matter, publicado logo após o surgimento da teoria da relatividade geral,


Weyl escreveu em um espírito kantiano:[82] "O espaço e o tempo são comumente considerados
como formas de existência do mundo real, a matéria como sua substância... É na ideia
composta de movimento que essas concepções fundamentais entram em íntima relação”.

No entanto, o conceito de movimento não faz sentido na física quântica, onde foi
substituído por conceitos mais pragmáticos, como "transições entre níveis de energia". É
verdade que a teoria da relatividade revelou “a fusão do Espaço e do Tempo”, nas palavras
de Weyl, mas a ligação entre eles é a velocidade da luz; Da mesma forma, a constante de
Planck relaciona a energia ao espaço-tempo no mundo atômico.

Uma medida de distância ou tempo na física moderna é sempre em termos de energia.


Atualmente, a unidade de tempo é definida em termos do número de oscilações de uma micro-
ondas com uma energia que corresponde exatamente a uma certa transição atômica em um
átomo de césio, e a unidade de comprimento é definida como a distância percorrida pela luz.
determinada fração de segundo. Assim, o que realmente se mede não é o espaço e o tempo,
mas a diferença de energia entre dois níveis atômicos, em combinação com a velocidade da
luz e a constante de Planck. No mundo atômico, o espaço e o tempo, como parâmetros
medidos, são indistinguíveis da energia, que é, por sua vez, uma manifestação da massa.
Assim, espaço e tempo, formas de intuição, estão entrelaçados no mundo atômico, com
massa ou energia massiva.

Um século depois de Poincaré, ainda não há definição de massa, energia ou

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força. (Na vida real, a massa foi definida em termos de uma amostra mantida no pavilhão
de Sèvres, mas isso é de pouca utilidade para pesar partículas elementares.) Comprimento,
tempo e massa são parâmetros nas equações básicas da física, mas os físicos usam esses
conceitos com muito sucesso. A conclusão é que não é necessária uma definição precisa
de cada conceito físico, mas coerência e consistência em toda teoria matemática que
pretenda descrever a natureza. Essa coerência, entretanto, não pode ser encontrada a
posteriori, mas a priori em nossas teorias matemáticas da natureza.

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[70] M. Jammer, Concepts of Mass in Classical and Modern Physics, Harvard University Press, 1961.
[71] O mesmo.

[72] H. Poincaré, La science et l'hypothèse, Flammarion, Paris, 1968.

[73] A explicação moderna é que o próton (ou, o que é o mesmo, hidrogênio ionizado) pesa 982 vezes
mais do que o elétron.

[74] Ou um terço dessa carga para quarks (veja abaixo).

[75] As partículas que compõem a matéria são divididas em hádrons e léptons. Os primeiros são feitos de quarks: os
bárions, como o próton ou o nêutron, consistem em três quarks; os mésons, como o pion, consistem em um quark e
um antiquark. O elétron e o neutrino são léptons.

[76] Se ÿM é a incerteza na massa de uma partícula, e ÿt a incerteza no tempo durante o


que tem essa massa, então o produto ÿMc 2ÿt deve ser maior que h.

[77] M. Planck, citado em MJ Klein, Physics Today 19: 23, 1966.

[78] A. Einstein, prefácio de M. Jammer, Concepts of Space, Harvard University Press, 1954.

[79] E. Wigner, Comunicações sobre Matemática Pura e Aplicada, vol. XIII, 1, 1960.

[80] AS Eddington, Teoria Fundamental, Cambridge University Press, 1948.

[81] A constante de estrutura fina, assim chamada por razões históricas, é a combinação da carga do , Onde é
elétron e é um número puro: não depende do sistema de unidades usado.

[82] H. Weyl, Espaço, Tempo, Matéria, Dover, 1922.

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X. O universo

Eu disse “apertado como anchovas” em vez de usar uma figura de


linguagem: realmente não havia espaço nem para espremer. Cada ponto
de cada um de nós coincidia com cada ponto de cada um dos outros num
único ponto...

Italo Calvino, Cosmicomics

No início do século 20, não havia ideia, nem remotamente correta, do tamanho do
Universo. Os astrônomos debateram a natureza das nebulosas e a que distância elas
estão, até que Edwin Hubble finalmente determinou as verdadeiras dimensões cósmicas
e descobriu ainda que o Universo está se expandindo. Mesmo assim, a cosmologia
permaneceu por muito tempo uma ciência altamente especulativa, baseada em
observações discutíveis e alguns dados imprecisos. Mas nas últimas décadas do século
XX, nossa concepção do Universo começou a sofrer uma mudança radical graças ao
extraordinário avanço das técnicas de observação astronômica, e a cosmologia pôde
adquirir o caráter de uma ciência exata.
Todas as evidências obtidas por satélites e grandes telescópios tendem a reforçar a
teoria do Big Bang. No entanto, deve-se lembrar que a astronomia, ao contrário de
outras ciências, baseia-se na observação e interpretação dos fenômenos cósmicos, sem
a possibilidade de realizar experimentos para confirmar as hipóteses; você não pode
nem mesmo medir diretamente o espaço cósmico. O objetivo da cosmologia é, então,
construir uma teoria coerente do Universo que explique todas as observações de forma
unificada; isso é o que foi alcançado em grande parte pela teoria do Big Bang e é a
razão pela qual ela foi tão amplamente aceita.

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medir o universo

Para os povos antigos, o Universo era essencialmente o que envolvia a Terra e não parecia
se estender muito além das nuvens. Era um mundo em escala terrestre, delimitado pela
abóbada celeste, no qual os homens ocupavam um lugar central.

A ideia da Terra esférica começou a ser aceita na Grécia, na época de Platão e


Aristóteles. No século II a. C., Eratóstenes conseguiu medir o raio da Terra com um método
engenhoso que consistia em comparar as sombras nas cidades egípcias de Siena e
Alexandria: o valor que obteve foi muito próximo do correto. Mais ou menos na mesma
época, Hiparco calculou a distância até a Lua medindo o tempo que nosso satélite leva
para cruzar a sombra da Terra durante um eclipse: ele deduziu que essa distância é
equivalente a 605/6 raios da Terra, o que é um excelente resultado em comparação com o
valor correto de 60,3. Hipparco também tentou medir a distância ao Sol, mas seu método
não foi preciso o suficiente e obteve um valor dez vezes menor que o real. Concluindo, os
gregos da época já tinham uma ideia bastante correta do tamanho da Terra e da distância
da Lua, mas colocaram o Sol muito perto. Quanto às estrelas, sua verdadeira localização
permaneceria um mistério por muitos mais séculos.

Um dos argumentos mais fortes contra o sistema heliocêntrico de Copérnico era que as
estrelas não apresentavam nenhuma paralaxe. Se a Terra se move ao redor do Sol, a
posição das estrelas deve mudar ao longo do ano, assim como a posição aparente de um
objeto distante muda de um veículo em movimento. Hoje em dia, sabemos que as estrelas
apresentam uma paralaxe, mas esta é tão pequena que só é perceptível aos mais próximos.
A primeira medição bem-sucedida da paralaxe de uma estrela foi feita em 1838, o que
permitiu determinar sua distância por triangulação com o diâmetro da órbita da Terra; Desde
então, o método foi aplicado a uma centena de estrelas próximas ao Sol.

No século 17, com o sistema heliocêntrico já bem estabelecido, os astrônomos haviam


aceitado a ideia de que o Sol deveria ser mais uma estrela, que parece muito mais brilhante
apenas por sua proximidade. Com base nesse fato, Christian Huygens tentou medir a
distância até Sirius, comparando seu brilho com o do Sol para determinar suas distâncias
relativas. Supondo que as duas estrelas tenham o mesmo brilho intrínseco, ele calculou
que Sirius deveria estar cerca de 28.000 vezes mais longe do nosso planeta do que o Sol.
Essa distância não deixou de surpreendê-lo, apesar de ser vinte vezes menor que o
verdadeiro.

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O método usado pela Huygens é basicamente o único disponível aos astrônomos para
determinar grandes distâncias cósmicas. Trata-se de comparar o brilho aparente de um objeto
distante com seu brilho real, para deduzir sua distância a partir de uma lei simples: a
luminosidade aparente diminui com o quadrado da distância. Claro, para aplicar este método,
o brilho real deve ser conhecido com precisão suficiente: este é o problema real da medição
de distância em astronomia.

Felizmente, os astrônomos descobriram que existem várias classes de estrelas e podem


ser classificadas, de modo que é possível deduzir suas luminosidades intrínsecas com
bastante precisão de acordo com a categoria a que pertencem.
Por exemplo, existe um tipo de estrela chamada "Cefeidas" com a propriedade de variar sua
luminosidade periodicamente, e o período, que é fácil de medir, determina com precisão o
brilho intrínseco. Assim, partindo de estrelas próximas, estabeleceram-se as distâncias para
estrelas cada vez mais distantes, numa cadeia cósmica que chega até... as galáxias.

Com a invenção e uso dos telescópios, os astrônomos descobriram que existem no céu,
além de estrelas e planetas, alguns objetos luminosos com formas indefinidas e estendidas:
eles os chamaram de nebulosas. Em um de seus primeiros trabalhos, Kant havia proposto a
hipótese de que as nebulosas de forma elíptica são conglomerados de milhões de estrelas,
semelhantes à nossa própria Via Láctea, mantidas em equilíbrio por sua própria gravidade e
aceleração centrífuga, assim como os planetas ao seu redor. del Sol, mas a proposta não
pôde ser confirmada com os meios disponíveis na altura.
Se o Universo se restringe à nossa galáxia, a Via Láctea, ou se as nebulosas são objetos
localizados fora e longe dela, foi assunto de acaloradas discussões entre os astrônomos até
as descobertas de Hubble. Usando o telescópio de um metro de diâmetro do Mount Wilson
Observatory, na Califórnia, o maior do mundo na época, o Hubble tirou fotos da Nebulosa de
Andrômeda que mostraram claramente que ela era composta de uma infinidade de estrelas.
Mas, além disso, Hubble identificou estrelas Cepheid entre eles, e assim foi capaz de deduzir
sua distância: Andrômeda estava a dois milhões de anos-luz de distância. Não havia dúvida
de que era um corpo localizado fora da nossa Via Láctea.

Agora sabemos que muitas das nebulosas são na verdade aglomerados de bilhões de
estrelas: o que agora chamamos de galáxias. Hubble conseguiu medir a distância de várias
galáxias próximas, primeiro identificando Cefeidas nelas; e, em um próximo passo, tomando
como referência as grandes nuvens de gás ionizado que têm mais ou menos o mesmo brilho
em todas as galáxias espirais. Para as mais distantes, ele notou que as galáxias tendem a se
agrupar em aglomerados de galáxias, nos quais sempre se destaca

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um gigante de forma elíptica, cujo brilho intrínseco é aproximadamente o mesmo em todos


os casos. Desta forma, Hubble conseguiu estabelecer, ainda que de forma aproximada, as
dimensões cósmicas: a imagem do Universo que obteve excedeu em muito tudo o que se
concebia na sua época.
Mais surpresas se seguiram. Os astrônomos podem determinar a composição de
estrelas e galáxias a partir de uma análise espectral da luz que emitem. Em geral, quando
a luz passa por um prisma, ela revela, sobreposta às cores do arco-íris, uma série de linhas
claras ou escuras, produzidas pelos átomos e que permitem identificar cada elemento
químico por sua posição no espectro. Quando Hubble estudou a luz das galáxias, descobriu
o fato inesperado de que todas elas mostram as linhas mudando sistematicamente para o
lado vermelho do espectro. Isso, de acordo com o efeito Doppler,[83] implica que as
galáxias estão se afastando de nós. Mas, além disso, quando Hubble comparou a
velocidade da recessão com a distância, descobriu uma relação direta entre as duas:
quanto maior a distância, maior a velocidade. A conclusão mais óbvia é que o Universo
está se expandindo, assim como os modelos de Friedmann haviam previsto alguns anos
antes.[84]

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A grande explosão

Se o Universo realmente está se expandindo, sua densidade no passado deveria ser muito
maior do que é agora. Se retrocedermos mentalmente no tempo, chegaremos a uma situação
em que a densidade da matéria cósmica era praticamente infinita; esse seria o momento
que podemos tomar como o nascimento do Universo e o início dos tempos: o Big Bang.

Com base nas descobertas de Hubble e na relatividade geral de Einstein, George


Lemaître desenvolveu a teoria do “átomo primordial”, segundo a qual o Universo teria
começado a se expandir a partir de um estado de alta densidade. No final da década de
1940, George Gamow formulou uma versão mais refinada dessa hipótese, propondo que o
Universo no passado remoto era muito mais quente. O propósito original era explicar a
formação de elementos químicos por meio de reações nucleares que requerem temperaturas
muito altas; a ideia não funcionou para esse propósito, Gamow previu que a temperatura
cósmica agora teria caído alguns graus acima do zero absoluto, o que se manifestaria como
radiação de micro-ondas vinda uniformemente de todas as regiões do Universo.

Essa radiação foi descoberta por A. Penzias e R. Wilson em 1965 acidentalmente.[85]


Originalmente, eles apenas mediram em um comprimento de onda de rádio muito específico,
mas observações subsequentes confirmaram todos os detalhes, assim como a teoria prevê.

A explicação mais natural é que, durante os primeiros 300 milênios, a temperatura do


Universo era tão alta que a matéria estava em estado de plasma (gás ionizado, composto de
núcleos atômicos e elétrons livres): o Fogo Primordial.
Como o plasma (ou fogo) não é transparente, a luz, naquela época, não podia se propagar
livremente. Mas quando a temperatura cósmica caiu para cerca de 5 mil graus, os primeiros
átomos puderam ser formados, e o Fogo Primordial se apagou: naquele momento, o
Universo tornou-se transparente. Atualmente, observamos o Fogo Primordial como pano de
fundo cósmico, distribuído por todo o céu e recuando quase à velocidade da luz devido à
expansão cósmica. A radiação que ele emitiu pela última vez, quando saiu, recebemos com
muito menos energia devido ao efeito Doppler: na forma de micro-ondas.

Com o recente desenvolvimento das técnicas de observação, tornou-se possível medir a


radiação cósmica com enorme precisão. Assim, a temperatura atual do Universo é de 2,73
graus Kelvin. Além disso, a radiação de fundo é praticamente homogênea em grande escala,
mas variações muito pequenas de temperatura foram medidas, de

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ordem de dez milésimos de grau, que correspondem às regiões do Fogo Primordial onde
as galáxias começaram a se formar. Tais variações concordam muito bem com as previsões
teóricas e podem dar indicações muito precisas sobre as propriedades do Universo.

Se voltarmos ainda mais no tempo, a teoria prevê que, nos primeiros segundos, a
temperatura ambiente estava na casa dos trilhões de graus; nessas condições, os núcleos
atômicos colidiam violentamente uns com os outros, e as reações nucleares continuamente
produziam e destruíam núcleos de hidrogênio, hélio e outros elementos.
Cálculos indicam que cerca de três minutos após o Big Bang, a temperatura caiu para um
bilhão de graus, justamente quando o hélio representava 25% da massa cósmica e quase
todo o resto era hidrogênio, com apenas vestígios de outros elementos.[86] Essa proporção
foi mantida posteriormente, pois, à medida que a temperatura continuou caindo, as reações
de fusão nuclear que destroem o hélio não podiam mais ocorrer. O importante é que a
proporção prevista teoricamente corresponde muito bem com as estimativas astronômicas
de qual era a abundância primordial de hélio, antes que as galáxias começassem a se
formar. Esta é uma das evidências mais fortes a favor da teoria do Big Bang.

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o universo plano

A matemática nos oferece uma ampla gama de universos possíveis. No entanto, para saber
em que tipo de universo vivemos, só falta recorrer às observações astronômicas.
Atualmente, o universo que Einstein inicialmente imaginou, estático, imutável, sustentado
por uma força de repulsão cósmica totalmente ad hoc para não entrar em colapso, não tem
mais suporte astronômico.
Os parâmetros básicos do Universo que podem ser deduzidos de observações
astronômicas são a constante de Hubble —que fixa a relação direta entre a velocidade de
recessão e a distância de uma galáxia—, a desaceleração cósmica —desvio a distâncias
muito grandes em relação à lei linear de Hubble —, a densidade total da massa cósmica e
a temperatura atual. Nos últimos anos, graças ao grande desenvolvimento das técnicas de
observação, conseguiram-se medições de alta precisão; todos são consistentes com um
universo em expansão, mas totalmente planos.
Mais especificamente, dados astronômicos, em combinação com cálculos teóricos,
fixam a idade do Universo em cerca de 13,7 bilhões de anos (com um erro de não mais de
200 milhões de anos) e o momento em que a luz se apagou. 380 mil anos após o Big Bang.
Além disso, verifica-se que o Universo, em escala cósmica e em média, é espacialmente
plano, ou seja, não se curva sobre si mesmo.[87] No entanto, para ajustar todos os dados
às previsões teóricas, os cosmólogos precisam recorrer à "constante cosmológica" que
Einstein se arrependeu de ter introduzido em suas fórmulas. Esse fato é consistente com a
descoberta recente, baseada no estudo de supernovas em galáxias distantes, de que o
Universo parece acelerar em distâncias muito grandes, em vez de desacelerar: como se
houvesse uma repulsão gravitacional em escala cósmica.

Como mencionamos no Capítulo VI, Einstein e De Sitter conceberam essa constante


como uma propriedade intrínseca do espaço:[88] hoje, os cosmólogos tendem a interpretá-
la mais como uma propriedade do vácuo quântico.
No mundo subatômico, o "vácuo" é preenchido com partículas que estão continuamente
sendo criadas e destruídas em tão pouco tempo que é impossível detectá-las.[89] O
problema é que, a rigor, essa energia deveria ser infinita, enquanto, por outro lado,
observações astronômicas indicam que ela deve ser diferente de zero, mas muito pequena.
Como conciliar essas duas estimativas diametralmente opostas? Até agora, existem apenas
hipóteses sem justificativas claras.
Outra peça do quebra-cabeça cósmico que não se encaixa é a densidade de massa.
Um universo plano deveria conter mais massa do que é observado, mas a densidade

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da matéria visível, aquela que se encontra formando estrelas e galáxias, representa apenas
4% do que é necessário para que o Universo seja tão plano quanto parece. De acordo com
modelos teóricos, o restante deve consistir em 23 por cento de "matéria escura", cuja
composição é objeto de especulação, e 73 por cento de "energia escura", associada à
repulsão cosmológica, cuja natureza é ainda mais escura. 90]
A teoria do Big Bang tem o mérito indiscutível de explicar coerentemente os fatos básicos
da cosmologia moderna, mas sua fraqueza reside em ter que postular massas e energias
“escuras” para ajustar os dados; este é o grande problema não resolvido da cosmologia
moderna.
Seja como for, o fato é que a ideia original de Einstein de um universo fechado em si
mesmo, que resolvia o dilema da finitude ilimitada, não mais se sustenta.
Estamos mais uma vez situados em um universo plano, aparentemente infinito; a única
diferença é que agora sabemos que ela se expande. Em vez da superfície de um balão
inflado, o Universo se assemelha a uma folha de borracha que se estende.

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Tempo zero e inflação

Se aceitarmos a ideia de que o Universo "nasceu" há cerca de quatorze bilhões de anos,


também devemos aceitar que o tempo teve um começo. Mas como definir o zero do tempo?
Para entender a origem do Universo, seria necessária uma teoria que explicasse o
comportamento do espaço-tempo em condições de curvatura extrema e da matéria em
densidades nucleares e superiores, quando dominavam os efeitos quânticos e gravitacionais.
Mas uma teoria quântica da gravidade ainda é um sonho, cuja realização nem é óbvia.

Até o surgimento de uma unificação conceitual da gravitação e da mecânica quântica,


pode-se especular sobre os limites de validade da relatividade geral, que é a base teórica
do Big Bang. Como observamos no capítulo anterior, os limites comumente aceitos são
definidos pelas unidades de Planck: presume-se que a teoria de Einstein seja válida para
comprimentos, tempos e massas muito maiores do que a de Planck.

Felizmente, esses limites são muito generosos, a tal ponto que os cosmólogos não
resistem à tentação de descrever o Universo quando sua idade mal ultrapassava o tempo
de Planck. Em vez disso, é amplamente aceito que as condições antes do tempo de Planck,
–44
cerca de 10 segundos, estão fora do campo de aplicação da física
moderna e que, portanto, não faz sentido falar de um zero do tempo cósmico.
No máximo, pode-se dizer que a descrição física do Universo poderia começar na época de
Planck. Naquela época, a temperatura cósmica devia ser de cerca de 1032 graus Celsius,
que é a temperatura associada à energia de Planck.[91]
Outro dado feliz é que o conhecimento atual sobre o mundo das partículas subatômicas
nos permite voltar mentalmente aos momentos iniciais do Universo, construindo, numa
ousada extrapolação, uma imagem bastante plausível do que poderia ter acontecido desde
a época de Planck. Neste contexto, utiliza-se a chamada teoria da Grande Unificação,
segundo a qual as interações fundamentais da natureza —nuclear e eletromagnética—
tornam-se uma e só entre partículas elementares com energias extremamente grandes. A
energia necessária para a hipotética Grande Unificação está totalmente fora do alcance dos
laboratórios terrestres, mas a teoria leva a uma série de previsões cosmológicas que
poderão ser verificadas no futuro. O Universo como um todo pode ser tomado como um
imenso laboratório no qual está disponível literalmente toda a energia possível; daí a
interação frutífera entre cosmologia e física de partículas elementares que tem sido
testemunhada nos últimos anos.

159
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O modelo do universo inflacionário, que complementa a teoria do Big Bang, oferece um


cenário possível do que poderia ser o início cósmico. Segundo esse modelo, no início era o
campo (algo como energia distribuída pelo espaço); então, de acordo com as previsões da
Grande Unificação, quando a era
força cósmica chegou –32
a 10segundos
graus, as e
interações
a temperatura
nucleares
caiu para
se separaram das 27
cerca de 10 demais, o que
se manifestou em uma liberação de energia tão grande que o Universo inflou, aumentando
de tamanho em um quintilhão – 32 vezes em apenas 10
de segundo.
Antes da inflação, devia haver exatamente tantas partículas quanto antipartículas, embora
fosse mais correto falar de campos em vez de partículas. Porém, como vimos no Capítulo IV,
existe uma pequena assimetria, confirmada experimentalmente, entre reações envolvendo
partículas e antipartículas. Se o cenário descrito estiver correto, durante a inflação o levíssimo
excesso de matéria poderia ser produzido sobre a antimatéria devido à assimetria CP, que
foi mantida posteriormente. Um segundo depois do Big Bang, quando a temperatura caiu
para um bilhão de graus, todas as antipartículas se aniquilaram com suas partículas
correspondentes, deixando apenas o leve excesso de partículas de matéria ordinária.

O modelo inflacionário tem o mérito de explicar várias propriedades do Universo de forma


coerente. Por exemplo, o fato de o Universo parecer essencialmente o mesmo em todas as
direções é explicado da seguinte forma: durante o período de inflação, regiões cósmicas que
estavam praticamente em contato de repente se encontraram em extremos opostos do
universo. Todo o nosso universo visível estava, antes da inflação, concentrado em uma
região de apenas alguns centímetros de raio. Isso também explica por que o Universo parece
ser tão plano; o motivo é que ele “inflou” repentinamente, assim como um balão que, quando
estourado de forma desproporcional, fica quase achatado.

Tudo o que foi dito acima pode soar muito especulativo, mas essa história do Universo é
o que se pode deduzir das teorias matemáticas que descrevem as partículas do mundo
atômico. São extrapolações extremas, mas plausíveis, de nossas teorias físicas, e nos
permitem vislumbrar, graças à matemática, quais poderiam ter sido os momentos iniciais do
Universo. Claro, não houve testemunha disso: nossas inferências são obviamente indiretas.

Por fim, cabe perguntar se faz sentido falar em tempos tão curtos. A resposta é que, na
verdade, mais do que intervalos de tempo, trata-se de energias: lembre-se que no mundo
quântico o tempo está associado à energia através da constante de Planck: existe uma
relação recíproca entre tempo e energia. Quando uma partícula tem energia extremamente
alta, como deveria

160
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Sendo a situação do Universo primitivo, sua escala de tempo deveria ser,


consequentemente, extremamente curta. Mais do que tempos curtos, estamos falando
de energias extremamente grandes.

161
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outras cosmologias

Atualmente, a maioria dos cosmólogos aceita a ideia de um Universo em plena evolução. A


expansão cósmica implica necessariamente que o Universo teve um começo? A resposta
não precisa necessariamente ser afirmativa. A este respeito, Fred Hoyle propôs, nos anos
cinquenta, a teoria do estado estacionário, segundo a qual o Universo nunca teve um
começo e foi sempre o mesmo por toda a eternidade... apesar de estar em expansão. Para
reconciliar expansão com densidade constante, Hoyle levantou a hipótese de que a matéria
está sendo continuamente criada a partir do nada, de modo que a densidade do Universo
permanece a mesma para sempre. Como surge a nova matéria neste esquema? Hoyle não
deu nenhuma explicação, mas postulou a criação como um fato da natureza que algum dia
teria de ser entendido com uma nova física.
Embora essa teoria inicialmente tenha despertado algum interesse, ela caiu em desuso
quando a "radiação de fundo" foi descoberta, uma forte evidência de que o Universo era
muito mais quente no passado e, portanto, está em plena evolução.
Em uma tentativa de ajustar sua teoria, Hoyle então propôs que a radiação de fundo seria
devida a grandes nuvens de gás intergaláctico aquecidas por estrelas. Mas o problema é
que a quantidade de gás intergaláctico observada não é suficiente para reproduzir a
radiação de fundo.
Outra possibilidade mais radical é que o deslocamento das linhas espectrais não se
deva ao efeito Doppler, mas a algum outro mecanismo físico ainda desconhecido. Por
exemplo, sabe-se que um campo gravitacional também produz um desvio para o vermelho,
mas não uniformemente, além disso, desvia os raios de luz e, consequentemente, as linhas
espectrais também se alargam e a imagem de um corpo cósmico fica borrada. . Mas tais
efeitos não foram observados.
Pode acontecer, porém, que os fótons, ao percorrerem o espaço cósmico, percam
energia de maneira uniforme, produzindo também um desvio para o vermelho, sem que
isso se deva ao movimento das galáxias. Segundo essa hipótese, chamada de “fóton
cansado”, o Universo seria estático; no entanto, não há explicação de por que a luz deveria
perder energia ao passar pelo espaço vazio.
Também é importante notar que a base teórica do Big Bang é a relatividade geral de
Einstein, que foi confirmada com muita precisão na escala do Sistema Solar (movimento
dos planetas, deflexão de sinais eletromagnéticos, etc.). Mas que seja válido à escala do
Universo é, para já, uma hipótese de trabalho.
Pode até ser que a lei de Newton não se aplique a escalas cósmicas, que não podem ser
verificadas diretamente. Talvez no futuro se encontrem razões para não

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pode ser aplicado ao Universo como um todo. Afinal, temos apenas um Universo e não
podemos fazer experimentos ou estudos estatísticos com ele.
Em qualquer caso, é justo reconhecer que as alternativas à teoria do Big Bang propostas
até agora são baseadas em hipóteses inteiramente ad hoc e carecem da coerência e
consistência lógica que a teoria do Big Bang possui, razões pelas quais ela tem sido tão
amplamente aceita . Embora nem todos os detalhes se encaixem, outras opções apresentam
mais problemas do que pretendem resolver.

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Outros universos?

Se no começo, na era de Planck, era o campo, e se acreditarmos no modelo inflacionário


do Universo, então o universo visível é apenas um pedaço de algo muito maior, como uma
bolha em um campo que se expandiu repentinamente. Mas o que podemos dizer sobre
esse campo? Outros universos podem se formar em regiões causalmente desconectadas
de nós. Novos universos podem até surgir no nosso, como "Little Bangs": universos
continuamente criando uns aos outros.

Seria preciso definir, então, o que é um “universo”. Aquilo que inclui tudo?
Não seria melhor falar de "multiversos"? Tudo isso parece loucura, mas essas especulações
são baseadas em teorias mais ou menos bem confirmadas da matéria no mundo
subatômico. As teorias da física moderna não foram testadas nas condições fantásticas
dos primeiros segundos do Universo, muito menos naquelas postuladas no modelo de
inflação. Estas são extrapolações ousadas de uma teoria para limites imprevistos. Quão
válidos eles são é algo que só podemos verificar indiretamente, comparando observações
astronômicas com previsões teóricas.

As especulações que mencionamos neste capítulo chocariam qualquer positivista, para


quem só faz sentido o que pode ser verificado empiricamente. Mas já estamos muito longe
do positivismo tão em voga há um século.

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[83] A luz emitida por uma fonte de luz que se afasta é percebida com menos energia ou, o que é o mesmo, com um
comprimento de onda maior. O aumento do comprimento de onda é proporcional à velocidade de
a fonte.

[84] Ver capítulo IV.

[85] A intenção original era classificar os sinais de rádio vindos do céu para não confundi-los com
aqueles usados para comunicações de rádio.

[86] Os demais elementos químicos se originam no interior de estrelas muito massivas, que explodem como
supernovas e espalham novo material no espaço, a partir do qual se formam novas estrelas e planetas, com
composição química mais variada.

[87] Veja G. Brumfiel, “Cosmology get real”, Nature 422: 108-110, 2003.

[88] Ver capítulo VI.

[89] Ver capítulo IX.

[90] Ver G. Brumfiel, op. cit.

[91] A temperatura de Planck é a energia de Planck dividida pela constante de Boltzmann.

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XI. Antinomias

Deus move o jogador, e o jogador a peça.


Que deus por trás de Deus a trama começa...?

JL Borges, Xadrez

Se o tempo teve um começo, o que havia antes do tempo? Se o espaço é finito, o que está
além de suas fronteiras? Se a matéria é indivisível, qual é o seu menor constituinte? Se
tudo o que acontece obedece às leis naturais, somos responsáveis por nossas ações? Se
o mundo teve uma causa, que outra causa o precedeu?
Na Crítica da Razão Pura, Kant investigou os limites a que chega a razão humana ao
tentar responder a questões como essas. Sua conclusão é que a razão, por mais poderosa
que seja, se perde quando se aventura fora dos domínios da experiência e acaba caindo
em especulações pseudo-racionais. Para realçar o exposto, desenvolveu um “método
cético” que consiste em apresentar uma tese juntamente com a sua antítese, e argumentar
tanto a favor de uma como de outra, recorrendo a um raciocínio que, em ambos os casos,
soa perfeitamente lógico. Dessas contradições, chamadas antinomias, Kant identificou
quatro básicas, a primeira das quais tem a ver com a finitude ou infinitude do espaço e do
tempo, a segunda com a existência de um substrato último da matéria, a terceira com
causalidade e livre arbítrio, e o quarto com uma primeira causa do mundo.

Vejamos essas quatro antinomias básicas da perspectiva da física moderna.

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1. Finito ou infinito

O Universo é finito ou infinito? É eterno ou teve um começo? Santo Agostinho respondia, meio
brincando, aos que perguntavam o que Deus fazia antes de criar o mundo: "Inferno para quem
pergunta essas coisas".
No esforço de nos libertar desse inferno, Kant desenvolveu a primeira antinomia que se
refere à finitude ou infinitude do espaço e do tempo. Na tese, ele mostrou que o Universo deve
ter tido um começo e ser delimitado espacialmente; e na antítese ele provou o contrário.

Não é nosso propósito analisar os argumentos de Kant, mas situar o problema no contexto
da cosmologia moderna. Afinal, o conhecimento científico de dois séculos atrás era muito
diferente do que é hoje e, embora a física de Newton estivesse firmemente estabelecida na
época, praticamente nada se sabia sobre o que se estendia além do Sistema Solar. Além
disso, a existência de espaços curvos com geometrias não euclidianas e a profunda relação
que eles poderiam ter com a física era desconhecida.

Hoje, um cosmólogo deve recorrer, não a voos de sua imaginação, mas a observações
astronômicas e teorias físicas. Graças à matemática, a razão conseguiu atingir novos limites,
ainda insuspeitos há dois séculos. Mas esses limites, por mais que tenham recuado, não
desapareceram. Em particular, o que podemos dizer agora sobre a primeira antinomia
kantiana, baseada na cosmologia moderna?
Mencionamos no capítulo anterior que, após a descoberta da expansão cósmica, surgiram
duas teorias cosmológicas rivais. De acordo com a teoria do estado estacionário, o Universo
é eterno e imutável em geral, enquanto a teoria do Big Bang postula um começo e uma
evolução cósmica. A questão foi resolvida satisfatoriamente com a descoberta da radiação
cósmica de fundo, que deu forte sustentação à ideia de que o Universo teve uma origem e foi
muito diferente no passado.

Pode-se dizer, então, que o tempo não é infinito, mas que seu início pode ser localizado
no "instante" do Big Bang. Porém, segundo a física moderna, tal zero está além do
conhecimento atual, pois os conceitos de espaço e tempo perdem o sentido onde os
fenômenos quânticos e a gravitação se entrelaçam, o que deve ocorrer no tempo de Planck.

Mesmo que um dia houvesse uma teoria quântica da gravidade, seria necessário levar em
conta que o tempo no mundo dos átomos perde completamente o significado que comumente
lhe damos. Lá, o tempo não é medido diretamente, mas

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mudanças energéticas. Como descrever o que precedeu o tempo de Planck se não podemos
nem mesmo aplicar o conceito de tempo aos átomos?
No que diz respeito à extensão espacial do Universo, deve-se lembrar que desde a
época de Kant nossos conceitos de espaço mudaram radicalmente graças à descoberta de
novas geometrias que descrevem espaços curvos. Inicialmente, o próprio Einstein pensou
que poderia resolver o problema do infinito espacial com um modelo de universo fechado,
mas as observações astronômicas não sustentam essa interpretação: o espaço cósmico
parece ser perfeitamente plano em grande escala.
Cabe perguntar, então, até onde ela se estende e se faz sentido conceber um espaço infinito.

A solução atual para o problema da extensão cósmica deve levar em conta a existência
de um horizonte cósmico, que se relaciona, por sua vez, com o início dos tempos. Como a
velocidade da luz é finita, quanto mais longe olhamos para o Universo, mais para trás vemos
no tempo também; Por exemplo, uma galáxia a dois milhões de anos-luz de distância parece
hoje como era há dois milhões de anos. Se o Universo nasceu há 13,5 bilhões de anos, só
podemos saber sobre eventos que ocorreram em um raio de 13,5 bilhões de anos-luz: esse
é o horizonte cósmico. Além disso, a situação é mais complicada porque o Universo está em
expansão e, portanto, objetos distantes apresentam um desvio para o vermelho (ou seja,
perda de energia da luz que emitiram) que depende de sua distância.

A cerca de 13 bilhões de anos-luz de distância, vemos o Universo em forma de plasma,


quando os primeiros átomos ainda não haviam sido formados: é o Fogo Primordial que,
devido à expansão cósmica, observamos se afastando de nós a uma velocidade próxima ao
da luz. Se pudéssemos penetrar no Fogo Primordial, "veríamos", no limite, o próprio Big
Bang, recuando à velocidade da luz, mas seu desvio para o vermelho seria infinito, o que
significa que não podemos detectar nenhuma luz emitida naquele momento inicial . A posição
do Big Bang marca o horizonte cósmico que nos envolve de forma completa, homogênea.
Além de cerca de treze bilhões de anos-luz, tudo está causalmente desconectado de nossa
posição no espaço e no tempo, e não podemos perceber nada.

Assim, o que se pode dizer no âmbito da cosmologia moderna a respeito da primeira


antinomia kantiana é que a física não pode, por enquanto, perscrutar a era de Planck, nem
descrever o que está além do horizonte cósmico (o que não impede, porém, de desenvolvendo
teorias e especulando sobre isso). Em todo caso, não se trata de uma resolução da
antinomia, mas sim de uma aceitação das limitações de nossas teorias e de uma clara
delimitação de seus limites... embora a tentação de ultrapassá-los permaneça latente.

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2. O último átomo

Demócrito disse que a matéria é feita de partículas indivisíveis; a realidade última e


incondicionada da matéria seria o “átomo”, que etimologicamente é incortável.
A concepção concorda com o conhecimento moderno, mas os físicos foram muito rápidos em
nomear o que parecia ser o constituinte mais básico da matéria. O que há um século é
conhecido como átomo é, na verdade, um objeto feito de partículas ainda mais elementares:
elétrons e quarks.
A natureza se assemelha àquelas bonecas russas contidas uma dentro da outra.
Existe uma boneca final e menor? Ou é uma sucessão hierárquica sem fim? A segunda
antinomia kantiana aborda o problema de saber se a matéria é ou não indefinidamente
divisível. Se o mundo não fosse feito de partes simples, ele argumentou
Kant na tese, poderíamos dividi-lo até que, no limite, nada reste e não haja substância. Mas a
antítese é igualmente válida: se há partes simples, elas se encontram no espaço sempre
divisível, então o que é supostamente indivisível também teria partes. Do que se conclui que
qualquer raciocínio que tente elucidar essa questão cai inevitavelmente em contradições.

Qual é o status desse problema à luz da física moderna? Como já mencionamos, os


constituintes mais básicos da matéria são elétrons e quarks. Mas nada garante que sejam
indivisíveis: talvez um dia se descubra experimentalmente que são feitos de entidades ainda
mais fundamentais.
Até prova em contrário, quarks e elétrons, nas teorias modernas, são considerados
partículas pontuais, sem tamanho algum. É importante notar, entretanto, que o tamanho de
um átomo não é determinado por suas partículas constituintes, mas pelo campo eletromagnético
que envolve o núcleo e os elétrons; da mesma forma, o tamanho de um núcleo atômico é
devido ao campo de força entre os quarks. Ao contrário da concepção original de Demócrito,
para quem só havia átomos e o vazio entre eles, entre os constituintes pontuais do átomo
moderno está o campo. Na verdade, uma partícula pontual seria a fonte do campo que
preenche todo o espaço.

Mas uma partícula pontual é um conceito puramente matemático que não corresponde a
nada tangível no mundo material. Os elétrons ou quarks têm alguma estrutura ou são
estritamente pontuais? Até agora, os cálculos baseados na suposição de que são pontos
concordam muito bem com os dados experimentais, mas talvez, no futuro, discrepâncias
sejam reveladas com medições mais precisas.

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A esse respeito, vale mencionar que nos anos sessenta surgiu uma teoria engenhosa
que consistia em supor que os tijolos mais elementares da natureza não são partículas
pontuais, mas cordas. Cada modo de vibração destes corresponderia a uma determinada
partícula elementar, assim como uma corda de violão emite notas diferentes dependendo
da frequência de vibração. Continuando com esta analogia, as partículas elementares
seriam diferentes "notas" de uma corda microscópica.
A teoria era interessante, mas infelizmente esbarrou em vários problemas que a fizeram
cair no esquecimento, até porque, mais ou menos na mesma época, surgiram os quarks
que vieram para ficar. Mas alguns anos depois surgiu uma nova versão que na época
causou grande expectativa entre os especialistas: a teoria das supercordas.[92]

Uma peculiaridade da teoria das supercordas é que ela só funciona em um espaço


multidimensional hipotético. Na versão mais recente da teoria, as supercordas deveriam
existir em um mundo de… dez dimensões! Destes, percebemos apenas os quatro de nosso
espaço-tempo comum; nas demais dimensões, o espaço "enrola" sobre si mesmo e, para
detectá-los, seria preciso "ver" distâncias extremamente pequenas, da ordem do comprimento
de Planck. Este fato é muitas vezes ilustrado com o exemplo de uma mangueira: de perto é
uma superfície bidimensional, mas em escala maior parece uma linha unidimensional.

O tamanho característico de uma supercorda seria o comprimento de Planck e suas


vibrações corresponderiam a partículas elementares. Infelizmente, a ideia em sua versão
mais simples não funciona porque a primeira partícula que ela prevê deveria ter uma massa
comparável à de Planck, que é trilhões de vezes a de qualquer partícula conhecida. No
entanto, os fanáticos da teoria encontraram maneiras de contornar essa dificuldade, embora
à custa da introdução de hipóteses adicionais. O fato é que, após um começo muito
promissor, a teoria não conseguiu prever nada testável; poderia muito bem ser considerado
um novo ramo da matemática, mas parece que a coisa toda se restringe a esse misterioso
mundo paralelo das ideias matemáticas.

De qualquer forma, no que diz respeito à divisibilidade do espaço, deve-se levar em


conta que a medição de distâncias no mundo atômico tem suas peculiaridades.
Como consequência do princípio da incerteza de Heisenberg, determinar a posição de uma
partícula com grande precisão requer “vê-la” com luz de maior energia. No limite, a rigor,
você não pode "ver" nada menor que o comprimento de Planck, e para isso você precisa de
luz com energia comparável à energia de Planck. Isso está totalmente fora de questão,
mesmo em situações extremas de fenômenos cósmicos, exceto no início da era Planck.

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Do universo. Nos grandes aceleradores modernos, as partículas elementares colidem


entre si a velocidades muito próximas da velocidade da luz para determinar suas
estruturas a partir das reações produzidas, mas as energias que atingem são quinze
ordens de grandeza inferiores à da luz: a energia de Planck. Devido a limitações
práticas de potência, a detecção de uma estrutura só pode ser feita com uma certa
margem de erro.
Quanto a saber se uma supercorda é simples ou tem partes, uma resposta não
pode ser dada dentro da estrutura da própria teoria. Mais uma vez nos deparamos com
o mundo de Planck, onde os conceitos de espaço e tempo perdem seu significado
usual. O campo é o incondicionado. A segunda antinomia de Kant permanece sem
solução, uma vez que a razão não pode penetrar em um suposto constituinte último e
mais fundamental do mundo. O que, no entanto, não impede que a física moderna tente
mergulhar cada vez mais fundo no poço sem fundo que parece ser a estrutura da matéria.

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3. Causalidade e liberdade

O princípio da causalidade diz que toda causa corresponde a um efeito, e vice-versa. Isso
parece evidente para a matéria inanimada que obedece às leis naturais, mas leva a
problemas intransponíveis na hora de entender os seres vivos e pensantes dotados de livre
arbítrio.
Há uma tendência entre alguns cientistas de querer reduzir o funcionamento da mente
a processos físico-químicos no cérebro, como se fosse um computador e cada um de seus
estados internos correspondesse a algum pensamento ou ação.
Levando essa suposição ao limite, um criminoso não seria mais responsável por seus atos
do que uma pedra caindo devido à gravidade. Este é obviamente um ponto de vista
excessivamente simplista dada a imensa variedade e complexidade dos fenômenos
psíquicos, mas como explicar que há liberdade em um mundo regido por leis naturais?

Aparentemente, existem apenas duas possibilidades. Ou as leis da natureza não se


aplicam aos processos mentais, ou não existe livre arbítrio e tudo se resume, em última
análise, à física e à bioquímica. A terceira antinomia de Kant aborda esse problema. Kant
mostrou que, com discursos lógicos, ambas as possibilidades podem ser demonstradas, de
onde concluiu que se trata de um problema metafísico que a razão pura não pode resolver.

Não entraremos nos detalhes de seus argumentos, mas revisaremos o problema da


liberdade e da causalidade do novo ponto de vista que a física moderna nos oferece.
Apontamos no capítulo VII que, no mundo macroscópico, a causalidade não se aplica de
maneira tão simples; Mesmo antes de descer ao mundo atômico, nos deparamos com o
fato de que a física clássica também é limitada em suas habilidades preditivas.

Segundo a física de Newton, se conhecemos as condições iniciais de um sistema (por


exemplo, sua posição e velocidade), podemos prever suas condições posteriores com as
leis matemáticas que regulam sua evolução: o futuro seria inteiramente determinado por
algumas equações! ! Uma concepção mecanicista do mundo dessa natureza costuma ser
atribuída a Pierre Simon Laplace, mas tudo se deve a uma interpretação errônea de uma
passagem da introdução à sua Teoria das Probabilidades:

Devemos considerar o estado atual do universo como o efeito de seu estado anterior e como a
causa do seguinte. Uma inteligência que, por um instante, conhecesse todas as forças com que
se anima a natureza e a respectiva situação dos seres que a compõem, se fosse vasta o suficiente
para submeter esses dados à Análise, incluiria na mesma fórmula os movimentos do objetos.

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os maiores corpos do universo e os átomos mais leves: nada seria incerto para ela, e tanto o futuro
quanto o passado estariam presentes diante de seus olhos.

Mas Laplace nunca afirmou que tal análise fosse possível. muito para ele
Em vez disso, ele escreveu abaixo, em um parágrafo que muitas vezes é esquecido:

O espírito humano oferece, na perfeição que soube dar à Astronomia, um débil esboço dessa inteligência.
Suas descobertas na mecânica e na geometria, juntamente com as da gravitação universal, colocam-no
em condições de compreender com as mesmas expressões analíticas os estados passados e futuros
do Sistema Mundial... Todos os seus esforços na busca da verdade tendem a trazê-lo está cada vez
mais próxima da inteligência que acabamos de conceber, mas sempre ficará infinitamente distante dela.

Por isso, declarou Laplace, podemos recorrer, no máximo, a conceitos estatísticos para
estabelecer a probabilidade de algum fenômeno ocorrer, mas nunca teremos certeza absoluta
de que isso acontecerá.
A advertência de Laplace foi muito precisa e o tempo provou que ele estava certo, uma
vez que o indeterminismo está presente no cerne da própria mecânica newtoniana. Um século
depois de Laplace, Henri Poincaré estudou cuidadosamente um problema matemático que
parecia bastante simples: como três corpos que se atraem se movem de acordo com a lei da
gravidade de Newton? Até então o problema de dois corpos havia sido resolvido exatamente,
mas o de três ou mais só permitia obter soluções aproximadas. Poincaré descobriu que o
problema dos três corpos, apesar de sua aparente simplicidade, escondia uma estrutura
matemática de complexidade insuspeitada.

Mais recentemente, com o uso dos computadores, as ideias de Poincaré ressurgiram e


estão na base do que hoje é popularmente conhecido como teoria do caos. A essência dessa
teoria é que mesmo leis de movimento simples e precisas – perfeitamente determinísticas –
produzem um comportamento caótico que só pode ser estudado estatisticamente. Isso porque
as leis não são suficientes para prever a evolução de um sistema físico, mas também é
necessário conhecer as condições iniciais; mas acontece, em muitos casos práticos, que a
evolução é tão sensível a essas condições que qualquer incerteza inicial, por menor que seja,
é ampliada ao longo do tempo a ponto de se tornar impossível fazer qualquer previsão.

Ao longo dos anos, tornou-se cada vez mais evidente que muitos sistemas físicos exibem
um comportamento imprevisível, apesar de obedecerem a leis perfeitamente determinísticas.
Exemplos bem conhecidos são condições atmosféricas, tempo prolongado, movimento de
areia, fluxo turbulento de um líquido, etc. Qualquer previsão é impossível além de alguns
momentos

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iniciais.
Pode-se argumentar que as dificuldades em descrever um sistema caótico são técnicas
e não de princípios. Talvez no futuro, com computadores cada vez mais rápidos e versáteis,
seja possível calcular como um sistema caótico se comportaria. Mas, mesmo assim, há
uma limitação de princípio com a qual você inevitavelmente se depara na escala dos
átomos.
Segundo a mecânica quântica, como já mencionamos, um sistema atômico está em
uma superposição de múltiplos estados e é somente quando observado que ele se
manifesta em um deles. A probabilidade de encontrá-lo em um determinado estado pode
ser calculada, mas é impossível prever com certeza em qual ele aparecerá. Esta é uma
limitação inerente às nossas possibilidades de observar o mundo atômico, impossível em
princípio de ser superada.
Isso implica que pode haver uma parte inerentemente imprevisível no funcionamento
físico do cérebro. Um ilustre defensor desse ponto de vista foi o neurologista John Eccles,
que recebeu o Prêmio Nobel por seu trabalho sobre os mecanismos da sinapse. Eccles,
junto com o filósofo Karl Popper, argumentou que a consciência não pode ser reduzida
apenas a processos físico-químicos no cérebro devido à indeterminação irredutível da física
atômica. Ele chegou a calcular a probabilidade, de acordo com a mecânica quântica, da
transmissão sináptica ocorrer. No entanto, não é óbvio que a física quântica contribua com
algo concreto para a compreensão de como o cérebro funciona, além da verificação de que
existem processos imprevisíveis e que lançam alguns números.

Nesse sentido, a crítica de Kant a esse tipo de tentativa de explicação ainda é válida.
Para ele, a contradição desaparece se aceitarmos o fato de que um objeto deve ser
entendido em dois sentidos: como uma aparência (para nós) e como uma coisa em si.
Essa posição, aliás, coincide perfeitamente com a interpretação de Copenhague: as leis da
física — como o princípio da incerteza — só se aplicam a objetos como aparências.

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4. A causa do Universo

Faz sentido perguntar qual foi a causa do Universo? Para decidir, convém estabelecer o que
se entende por “causa”. Pensemos em termos de causas e efeitos: todo fenômeno tem uma
causa que o produziu, mas que, por sua vez, foi produzida por outro, e assim por diante. A
questão básica, então, é se existe uma cadeia de causas e efeitos que termina em uma
última causa que não depende de nenhuma outra. Mas nada nos impede de perguntar qual
foi a causa dessa última causa, e assim por diante...
Tudo consiste, então, em decidir o que vamos aceitar como "incondicionado", ou seja, o
que não precisa de outras condições para sua existência e estamos dispostos a aceitar sem
maiores explicações. Os filósofos têm se preocupado com o incondicionado há séculos; No
passado, eles falavam da "substância" como o incondicionado e dos objetos sensíveis como
acidentes dessa substância.
A quarta (e última) antinomia de Kant aborda o problema da existência de um ser
absolutamente necessário ao Universo. Mais uma vez, Kant mostra que argumentos lógicos
levam a resultados contraditórios.
Como é esse conflito do ponto de vista da cosmologia moderna? Atualmente, os
cosmólogos teóricos têm feito uso de todas as teorias físicas desenvolvidas no século XX
para explicar a origem do Universo. Mas já vimos que em todas as tentativas, o conceito
básico que se utiliza é, como sempre, o de campo. Os cosmólogos modernos preferem falar
sobre a era Planck, quando o espaço e o tempo flutuavam de forma imprevisível por efeitos
quânticos. Naquela época não havia partículas ou luz, apenas um "campo". Então ocorreu a
inflação, uma fase de expansão muito violenta do Universo. O que produziu a “inflação”?:
um campo! Até lhe deram um nome: o “inflaton”.

A série de causas e efeitos termina aí? Alguém pode muito bem perguntar qual é a
causa do inflaton, mas para isso não há resposta. Os físicos modernos aceitam o campo
como o incondicionado, assim como a substância dos antigos filósofos.
Graças aos grandes avanços da física e da astronomia do século passado, algo coerente
pode ser dito sobre as causas mais remotas do Universo, descrever sua evolução e fazer
previsões concretas e testáveis. Essa é a grande diferença com a ciência da época de Kant.
A astronomia e a matemática moderna nos permitiram alcançar causas cada vez mais
remotas no mundo, mas a causa primeira e necessária sempre escapará à razão.

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Tese e antítese

Ao tentar resolver os problemas acima, Kant mostrou que existem dois caminhos, que ele
chamou de tese e antítese. A primeira consiste em parar em algum ponto e postular que
encontramos a causa primeira e "incondicionada", que aceitamos sem exigir maiores
explicações. A segunda leva a buscar sempre uma causa que precede a outra, sem nunca
chegar a uma básica e irredutível.
Nesse sentido, a física moderna estabeleceu um limite para o conhecimento do pequeno
e do grande que nos permite ver o problema sob uma nova perspectiva. Se seguirmos o
primeiro caminho, temos que aceitar que não faz sentido falar sobre o início do tempo ou a
fronteira do espaço; pode-se até especular que o espaço e o tempo na escala de Planck
formam uma estrutura turbulenta e imprevisível. Quanto aos limites do espaço, o problema
pode ser contornado graças ao fato de que o Universo está em expansão e existe um
horizonte cósmico além do qual não pode ser visto. O mesmo pode ser dito da constituição
da matéria: os átomos são feitos de dois tipos de quarks e elétrons; ainda se pode especular
se estes são feitos de objetos ainda mais básicos, como as chamadas “supercordas”, mas
essas teriam que ser as entidades mais fundamentais do mundo material. Quanto ao
problema do livre-arbítrio, embora haja discussões sobre seus limites, a verdade é que
aceitamos na prática que, exceto em casos extremos de loucura, somos responsáveis por
nossos atos; caso contrário, não haveria leis éticas e morais, mas apenas física e bioquímica.
Finalmente, quanto à causa do Universo, os crentes invocam a intervenção divina, enquanto
os astrofísicos e cosmólogos, independentemente da sua fé, procuram uma explicação
científica baseada na existência de um "campo".

Kant apontou o fato notável de que nossa razão se sente mais calma da primeira
maneira, ao aceitar uma causa original e irredutível que não requer mais questionamentos.
Por outro lado, a segunda via, que consiste em buscar sempre uma causa anterior, é
perfeitamente válida como método lógico, mas não satisfaz a razão, que se cansa de buscar
causas cada vez mais profundas.
Numa perspectiva moderna, podemos dizer que a razão se contenta em parar no
horizonte cósmico, em voltar apenas ao tempo de Planck, em aceitar que quarks e elétrons
– e talvez supercordas – são os constituintes mais fundamentais da matéria, em admitir que
a a vontade é irredutível às leis naturais, e acredita numa causa primeira do Universo. No
entanto, a segunda forma também é válida e não há razões óbvias para descartá-la.

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[92] O prefixo super refere-se ao fato de que a nova teoria trata dois tipos diferentes de partículas
elementares no mesmo plano: os férmions, associados à matéria, e os bósons, associados às
interações. Qualquer descrição que unifique os dois tipos de partículas merece a descrição de
super para os físicos.

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XII. tempo circular

Costumo voltar eternamente ao eterno retorno...


JL Borges, "Tempo circular",
História da eternidade

No Timeu (39-c), Platão escreve que o tempo é medido pelos movimentos cíclicos do Sol e
da Terra, mas os planetas também definem ciclos. Sendo as velocidades dos sete corpos
celestes e da esfera estelar desiguais, todos levam um certo tempo, o Ano Perfeito, para
completar um ciclo e voltar à mesma posição. Platão não poderia calcular a duração desse
ciclo com os dados de que dispõe, mas é da ordem de várias centenas de milhares de anos,
dependendo da precisão com que se queira definir uma coincidência das posições planetárias.

A ideia subjacente, independentemente de qualquer especulação metafísica, é que os


corpos em movimento sempre retornarão à mesma posição se tiverem tempo suficiente. O
futuro torna-se passado e o passado futuro, em ciclos intermináveis, em aparente violação
da Segunda Lei; mas, como já indicamos, esta lei apenas diz que é imensamente mais
provável ir para o futuro do que para o passado, mas não que seja impossível. Tudo acaba
acontecendo se você esperar o suficiente. Entraremos no mesmo rio de Heráclito quando
seus átomos e os de nosso corpo se reencontrarem na mesma configuração em um futuro
muito remoto.
Na "Doutrina dos Ciclos", Borges resume assim o Eterno Retorno:
O número de todos os átomos que compõem o mundo é, embora excessivo, finito e apenas capaz como tal de
um número finito (embora também excessivo) de permutações. No tempo infinito, o número de permutações
possíveis deve ser alcançado e o universo deve se repetir.

Ele então faz uma contagem simples do número de permutações possíveis em um


suposto universo com apenas dez átomos, então declara que, para quantidades maiores,
sua paciência não permite que ele prossiga com um "desperdício casto e indolor de
números". Felizmente, a notação exponencial nos permite fazer tal desperdício sem muita
dificuldade : o número de átomos no universo visível é calculado como sendo da ordem de
10, e o número de permutações desse número desordenado de átomos acaba sendo algo como
82 10 como 10 .
No entanto, Borges não leva em conta que, além de trocarem átomos entre si, eles
também se movem no espaço e mudam continuamente de velocidade.

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Considerando todas essas possibilidades, nos deparamos com o que na física matemática
é conhecido como o “ciclo de Poincaré”, um conceito mais rigoroso do que o Ano Platônico.
Há um século, o grande matemático francês mostrou que todo sistema mecânico que
obedece às leis da física de Newton deve retornar ao seu ponto de partida em algum
momento. Esse fato parece contradizer flagrantemente a segunda lei da termodinâmica,
mas o paradoxo pode ser resolvido levando-se em conta que um ciclo de Poincaré leva, em
casos comuns, bilhões de vezes a idade do Universo. O Eterno Retorno não é proibido
pelas leis da física, mas sua duração excede qualquer coisa concebível. Porém, se o
Universo é eterno, então, em algum futuro muito distante, a mesma situação poderá se
repetir, por mais improvável que seja: talvez uma nova Terra surja novamente, com seres
idênticos aos que atualmente a habitam, em um tempo que nos pareceria infinito, mas não
o seria estritamente. Se você tem uma eternidade, é só uma questão de paciência.

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Gödel, Einstein, Kant

O nome de Kurt Gödel está permanentemente associado ao famoso teorema que demonstra
a impossibilidade de construir um sistema lógico livre de contradições e no qual, além disso,
qualquer proposição pode ser provada ou refutada.
Gödel fugiu de sua terra natal, a Áustria, no início da Segunda Guerra Mundial e se
estabeleceu na Universidade de Princeton, onde conheceu Albert Einstein, outro ilustre
refugiado político. Os dois grandes cientistas desenvolveram uma estreita amizade que duraria
até a morte do físico em 1955.
Certamente influenciado por seu amigo, Gödel se interessou pela teoria da relatividade
geral. Em 1947, ele publicou um artigo que continua a despertar interesse até hoje por causa
de suas estranhas implicações; é uma solução das equações de Einstein que representa um
universo em rotação. O curioso é que, no universo de Gödel, é possível dar meia-volta e
retornar não apenas ao mesmo ponto do espaço – assim como no universo fechado de
Einstein – mas também ao mesmo instante no tempo. Em outras palavras, há trajetórias de
eterno retorno, sem distinção entre passado e futuro.

Para entrar em um ciclo de retorno eterno, uma espaçonave teria que se mover próximo à
velocidade da luz e percorrer uma distância comparável ao raio do Universo. Na verdade,
nada indica que o verdadeiro Universo seja semelhante ao modelo de Gödel, mas esse não é
o ponto. Em vez disso, a conclusão é que a distinção entre passado e futuro não está implícita
na teoria da relatividade, uma vez que essa teoria não exclui a recorrência eterna. A construção
de uma máquina do tempo deve ser limitada por algum outro princípio fundamental.

É claro que voltar no tempo implicaria uma série de paradoxos relacionados à possibilidade
de se encontrar no passado. Mas o ciclo pode ser equivalente a milhões de vezes a idade
atual do Universo, o que não exclui que em algum momento do passado remoto tenhamos
existido nas mesmas condições. “Tal doutrina abominável”, nas palavras de Borges, não é
fácil de refutar.
Em um ensaio filosófico[93-94] que escreveu por ocasião do septuagésimo aniversário de
Einstein, Gödel retoma a ideia de Kant de que o tempo nada mais é do que uma forma de
percepção. Em particular, ele argumenta que a teoria da relatividade elimina a noção de tempo
absoluto e o conceito de simultaneidade, o que, para Gödel, é uma evidência de que o tempo
não tem realidade objetiva. Mesmo essa teoria nem mesmo exclui a possibilidade do tempo
circular, como mostra a existência de uma solução como a que ele encontrou. Assim, conclui:
"Temos prova inequívoca para

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o ponto de vista daqueles filósofos como Parmênides, Kant e os idealistas modernos, que
negam a objetividade da mudança e a consideram uma ilusão ou uma aparência produzida
por nosso modo especial de percepção.
Em resposta à declaração do amigo, Einstein[95] reconhece a gravidade do problema.
O fato de o futuro não poder influenciar causalmente o passado está relacionado à lei do
aumento da entropia, mas isso só se aplica a dois eventos próximos o suficiente. Dizer que
o evento A precede o evento B faz sentido fisicamente por causa dessa lei, mas não é
óbvio, reconhece Einstein, que a ordem causal ainda faça sentido se A e B estiverem
distantes no espaço, como é o caso no espaço. .

Gödel deixou vários manuscritos ao morrer que não havia decidido tornar públicos. Entre
elas estão várias versões anteriores do referido ensaio,[96] nas quais apresenta de forma
mais elaborada sua posição em relação à filosofia de Kant, com a qual afirma concordar em
parte: admite sua concepção do tempo como uma forma de percepção , mas ele duvida que
o mesmo possa ser aplicado ao espaço.
Deve-se lembrar, no entanto, que ele escreveu em uma época em que a existência da ação
fantasmagórica ainda não estava totalmente estabelecida, levando a uma reconsideração
do conceito de espaço.
Além disso, Gödel apresenta sua própria interpretação das coisas em si mesmas, cuja
semelhança com as coisas do mundo quântico não se perde para ele: os átomos são
diretamente inacessíveis aos nossos sentidos e sua existência é estranha ao espaço e ao
tempo. A esse respeito, considera que o ponto de vista de Kant “…deve ser modificado se
se deseja estabelecer um acordo entre sua doutrina e a física moderna; isto é, deve-se
supor que o conhecimento científico é capaz, ao menos parcialmente e passo a passo, de
ir além das aparências e abordar o mundo das coisas em si mesmas”.
Em outra parte desses manuscritos aparece uma passagem significativa que Gödel, por
razões desconhecidas, removeu da versão final. Ele menciona as contradições da viagem
no tempo: era possível voltar ao passado, encontrar a si mesmo e fazer (fazer) algo que,
segundo a própria memória, nunca aconteceu. Mas esta situação é baseada em:

certas decisões por parte do viajante, cujas possibilidades se pressupõem vagamente a partir da
convicção do livre-arbítrio. Praticamente as mesmas inconsistências... podem ser derivadas da
suposição de causalidade estrita e livre arbítrio... Conseqüentemente... [o universo de Gödel] não é
mais absurdo do que um mundo sujeito a causalidade estrita.

Assim, Gödel retorna apropriadamente ao velho problema de saber se o livre-arbítrio


existe em um mundo governado por leis naturais. Se todos os nossos processos mentais
podem ser reduzidos a processos físico-químicos no cérebro, como podemos

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afirmam que somos responsáveis por nossas ações? O fato de voltar ao passado e decidir
"se matar" quando criança não é menos absurdo do que tomar qualquer outra decisão
livremente. Podemos ficar presos em um ciclo de Poincaré.
No entanto, as contradições desaparecem se, como aponta Kant em sua primeira
Crítica, entendermos um objeto em dois sentidos: como aparência (para nós) e como uma
coisa em si. As leis da física só se aplicam aos objetos como fenômenos, do que se conclui
que não há contradição no fato de a vontade ser livre e, ao mesmo tempo, sujeita às leis
da natureza. Citando Borges mais uma vez (em “Doutrina dos ciclos”):

Na ausência de um arcanjo especial para acompanhar, o que significa que passamos pelo ciclo três mil
quinhentos e quatorze, e não o primeiro da série ou número trezentos e vinte e dois com o expoente dois
mil? Nada, para a prática - que não faz mal ao pensador. Nada, pois a inteligência — que já é
sério.

Se o tempo é apenas uma forma de percepção, se é encontrado apenas nos fenômenos,


nas coisas para nós, se é apenas uma variável nas equações da física, então o tempo
circular de Gödel, o Eterno Retorno e o tempo das máquinas do tempo não são conceitos
contraditórios. Eles não levam a nenhum paradoxo no mundo das coisas em si, porque o
tempo não flui lá.

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[93] P. Yourgrau, Gödel Meets Einstein: Time Travel in the Gödel Universe, Open Court, 1999.
[94] K. Gödel, “Uma observação sobre a relação entre a teoria da relatividade e a filosofia idealista”, em Albert
Einstein: Philosopher Scientist, P. Schilpp (eds.), Cambridge University Press, 1949.
[95] Ibidem.

[96] K. Gödel, “Algumas observações sobre a relação entre a teoria da relatividade e a filosofia kantiana”, em
Kurt Gödel: Collected Works, vol. III, S. Feferman (eds.), Oxford University Press, 1995, p. 202.

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XIII. conclusões

Isto não é um cano.


magritte

Ao longo deste livro, apresentei vários argumentos para mostrar que os conceitos de
espaço e tempo não podem ser definidos de forma clara e coerente, apesar de estarem
sempre presentes e serem partes essenciais de nossa experiência cotidiana. Essa
dificuldade é encontrada até no âmbito da física clássica, mas é muito mais notória quando
se trata de descrever o mundo atômico: aí, além do espaço e do tempo, a própria noção de
realidade carece do significado que comumente lhe é atribuído.
Uma possível solução (ou pelo menos dissolução) do problema consiste em adotar a
tese de Kant segundo a qual espaço e tempo não são propriedades das coisas em si, mas
formas de percepção que permitem ordenar as informações fornecidas pelos sentidos. De
acordo com esse ponto de vista filosófico, nossa compreensão do mundo seria baseada
em uma combinação da contribuição do mundo externo e das estruturas da mente.

O exposto parece contradizer o objetivismo que costuma ser apresentado como base
dos sucessos da ciência moderna, e cuja premissa fundamental é que toda verdade
científica deve ser verificada e quantificada sem recorrer a sensações individuais e
subjetivas. Nesse sentido, a nova ciência foi defendida por filósofos naturais como Galileu,
para quem o livro da natureza foi escrito na linguagem da matemática. Assim surgiu, no
século XVII, uma nova forma de ver e estudar a natureza que implicava uma ruptura
drástica com o passado.[97] O deslocamento do sujeito foi um passo fundamental na
história da ciência e se deu graças à abstração matemática, mas esta, por outro lado,
sacrificou uma percepção mais direta da natureza; na Antiguidade, ao contrário, o contato
com a natureza era mais imediato e pouco se recorria a conceitos abstratos. Paradoxalmente,
o mundo tornou-se objetivo graças à abstração, e a ciência encontrou respaldo em verdades
matemáticas, que são universalmente válidas porque os números são os mesmos para
todos os humanos.

Deve-se reconhecer, no entanto, que a matematização da ciência não foi tão


universalmente bem-sucedida quanto inicialmente esperado. Em particular, o notável
desenvolvimento da biologia mostrou que a descrição matemática nem sempre leva a resultados.

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fundamental, sendo sua utilidade mais limitada do que no estudo da matéria inanimada.
Mesmo dentro da estrutura da física, muitos sistemas naturais estudados no século 20
revelaram-se muito elusivos para se prestarem a uma descrição quantitativa. Claro que as
dificuldades são ainda mais evidentes nas chamadas ciências humanas, onde a inevitável
intervenção do sujeito põe em dúvida qualquer tentativa de interpretação objetiva e quantificável.

Nesse contexto, um dos méritos da filosofia de Kant foi recolocar o sujeito humano no
centro de seu universo. Kant elaborou sua filosofia sem rejeitar de forma alguma os triunfos
da mecânica newtoniana; talvez por isso tenha sido mais convincente do que Berkeley, que
também tentou resgatar a subjetividade diante dos ataques da nova ciência, mas a encarou
de frente e sem conseguir convencer adequadamente seus contemporâneos. É certo que
depois de Kant, em plena revolução industrial, os grandes avanços científicos e tecnológicos
mais uma vez deslocaram o sujeito para situá-lo em um universo estranho, infinito e inatingível,
mas no século seguinte, a mecânica quântica, com a interpretação de Copenhagen , ele o
colocou de volta no palco. Ainda assim, essa interpretação foi severamente questionada por
importantes cientistas —como o próprio Einstein, que tanto contribuiu para modificar as noções
de espaço e tempo—, que insistiam em preservar o caráter objetivo e “realista” da física.

Atualmente não há dúvida de que, qualquer que seja a interpretação que se queira adotar,
coisas muito estranhas acontecem no mundo dos átomos que põem em questão as noções
comuns de espaço e tempo. Felizmente, as técnicas de laboratório progrediram tanto nos
últimos anos que agora é possível fazer experimentos reais — não mentais! — com partículas
atômicas ou fótons individuais; até agora todos os resultados são perfeitamente consistentes
com a interpretação de Copenhague. Assim, podemos afirmar que a própria realidade perdeu
seu significado usual, pois não pode ser dissociada do processo de observação. Esta é uma
vingança interessante sobre o subjetivismo que devemos a pensadores como Bohr e
Heisenberg.

Retirar o caráter objetivo do espaço e do tempo, como fez Kant, leva ao reconhecimento
de que, por mais vasto e profundo que seja o Universo, o que sabemos dele é uma imagem
construída por nós mesmos. Por isso JP Sartre poderia afirmar que: "Não há outro universo
senão o universo humano, o universo da subjetividade humana".[98]
Como afirmar tal coisa se a Terra, com seus habitantes, é apenas um insignificante ponto
perdido na imensidão do Universo? A resposta é que todo o nosso conhecimento de estrelas
e galáxias, de moléculas e átomos, faz parte do mundo humano e subjetivo, mesmo que a
existência desses objetos não dependa da nossa.

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ter. Nesse sentido, estamos efetivamente no centro do nosso universo: o espaço e o tempo
fazem parte dele, ainda que se estendam sem limites.
A física quântica confirma a afirmação de Kant: [99] “É apenas do ponto de vista humano
que podemos falar sobre espaço, objetos estendidos, etc. ” De fato, os objetos do
mundo atômico não têm extensão: eles são descritos apenas com alguns parâmetros
específicos, como massa, carga elétrica ou spin. Da mesma forma, são objetos que às vezes
se comportam como partículas e outras vezes como ondas, dependendo de como o sujeito
planeja um experimento para observá-los. Além disso, elétrons e fótons podem estar
simultaneamente em vários locais e influenciar uns aos outros como se o espaço e o tempo
não existissem.
Embora Kant não pudesse prever os avanços da ciência moderna, hoje podemos ver que
a física quântica e a teoria da relatividade nos aproximaram das coisas em si de uma forma
que era impossível imaginar em seu tempo.

***

Os grandes avanços da física foram alcançados graças ao uso da linguagem matemática para
descrever a natureza. Nesta linguagem, o espaço e o tempo são noções matemáticas
fundamentais que estão relacionadas com a ideia intuitiva que temos deles. Os processos
físicos são descritos por meio de equações diferenciais, nas quais aparecem funções, variáveis
e parâmetros que se identificam com espaço, tempo, massa, energia, campo, etc. Os
resultados são, em muitos casos, surpreendentemente precisos, e as principais previsões
teóricas foram totalmente confirmadas em laboratórios. No entanto, embora a realidade
matemática seja uma representação magnífica do mundo, não é idêntica a ele... assim como
o desenho de um cachimbo não é um cachimbo.

La Trahison des images, René Magritte. (DR © René Magritte/Adagp,

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Paris/Somaap, México, 2004. Reproduzido com permissão. )

Em suma, as equações da física são muito convenientes para descrever a realidade.


Mas, apesar de sua indubitável relação com conceitos intuitivos e fenômenos observáveis,
a identificação de ideias matemáticas com objetos e propriedades materiais leva, mais cedo
ou mais tarde, a situações paradoxais. Em capítulos anteriores, argumentei que uma forma
de eliminar as contradições é interpretar o espaço e o tempo como propriedades dos
fenômenos, ou seja, manifestações para o sujeito, próprias de suas estruturas mentais,
como propôs Kant há dois séculos.
De qualquer forma, permanece um problema importante que não era óbvio antes dos
sucessos científicos do século XX: por que a matemática é tão eficiente em descrever uma
parte substancial do mundo? Talvez este seja o mistério mais profundo da física moderna...
mas isso será assunto para outro livro.

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[97] Na nova ciência, a geometria de Euclides, com seu método de axiomas, definições e teoremas, tornou-se
o modelo a seguir. Grandes pensadores como Descartes, Newton, Leibniz, Spinoza e muitos outros,
esforçaram-se para criar uma ciência universal baseada no raciocínio lógico puro. Assim, por exemplo,
Leibniz queria basear todo conhecimento científico em processos lógicos que seriam aplicados seguindo
regras bem estabelecidas; um pouco como os computadores de hoje. Tal programa começou a tomar forma
nos Principia de Newton, que começam, como era de se esperar, com uma
estrutura semelhante à de Euclides.

[98] JP Sartre, Existentialism is a humanism, Quinto Sol, México, 1985.

[99] I. Kant, Crítica da Razão Pura.

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Apêndice

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Correlações quânticas e desigualdades de Bell[100]

O objetivo deste apêndice é analisar as correlações entre os fótons, a fim de contrastar as


previsões clássicas com as quânticas e chegar à essência do teorema de Bell. Este apêndice
complementa o exposto no capítulo VII; seu conteúdo é um pouco mais técnico, podendo
ser omitido caso o leitor não esteja familiarizado com conceitos básicos de óptica e mecânica
quântica. O que é importante são as conclusões apresentadas no parágrafo final.

Polarização

De acordo com a óptica clássica, se a luz polarizada passa por um filtro polarizador, a
intensidade da luz transmitida diminui por um fator cos²ÿ em relação à luz incidente, onde ÿ
é o ângulo entre o filtro e a direção de polarização da luz ( Fig. A.1). Em princípio, algo
semelhante poderia ser dito se a luz fosse interpretada como um conjunto de fótons e uma
interpretação estatística fosse adotada: de N fótons chegando a um polarizador, N cos²ÿ
deles passariam. Mas o que acontece se um único fóton chegar?

A física quântica, na interpretação de Copenhague, oferece a seguinte explicação. O


estado de um fóton, antes de ser observado, é uma superposição de dois estados de
polarização, perpendiculares entre si; após a observação, apenas um desses estados se
torna real. Isso pode ser expresso da seguinte forma em termos da função de onda do fóton:
[101]

onde c0 e c90 são as amplitudes de probabilidade de observar o fóton em algum ângulo de


polarização, digamos 0° e 90° em relação a uma determinada direção, e onde |0 e |90 são
as funções de onda de cada um desses dois estados.

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Figura A.1

É importante observar que os estados são definidos em relação a uma direção


completamente arbitrária, mas se colocarmos um filtro polarizador, é conveniente tomar
essa direção como a direção do filtro. Pode-se dizer, então, que se o fóton passa pelo filtro,
sua polarização torna-se paralela a ele e ele adquire realidade como tal; e se não passar,
sua polarização torna-se perpendicular. Conseqüentemente, a função de onda, originalmente
dada pela equação (1), colapsa para |0 ou |90 , dependendo do resultado da observação e
da orientação do filtro.

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estados emaranhados

Consideremos agora o caso de dois fótons emitidos de uma origem comum (isso pode
ocorrer por transições eletrônicas em alguns átomos). A mecânica quântica prevê que, se
o spin total do par for zero, sua função de onda terá a forma:

onde |0 i e |90 i (i = 1, 2) são os estados de polarização de cada fóton em relação a uma


direção arbitrária. A equação (2) define um estado emaranhado típico.
Segundo a interpretação de Copenhagen, ao colocar um filtro na passagem de um dos
fótons e registrar se passou ou não, as polarizações de ambos os fótons adquirem realidade
física, ficando perpendiculares entre si. Se, por exemplo, o fóton 1 for observado no estado
paralelo, a função de onda dada pela equação (2) colapsa para |0 1 | 90 2 e, portanto, o
fóton 2 torna-se realidade no estado perpendicular. , mas com relação ao filtro que observou
fóton 1.

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clássico vs. quântico

Em seu artigo de 1964, Bell mostrou que é possível distinguir quantitativamente entre a previsão
da mecânica quântica e a de qualquer outra teoria baseada em um mecanismo clássico. Para
descrever a essência da análise de Bell, vejamos o caso de dois fótons descrito no parágrafo
anterior. Vejamos o que esperaríamos observar segundo a ótica clássica e segundo a
interpretação de Copenhague.

versão clássica

Suponha que um fóton atinja um filtro; se o ângulo entre ele e sua polarização é a, então a
probabilidade de que ele passe é

P+ (ÿ) = cos²ÿ,

e o que não acontece é

P– (ÿ) = sin²ÿ,

“ ”
(doravante, o subscrito passa). + qualquer

“–” indicará o fato de que o fóton passa ou não


Levando em conta que o ângulo de polarização é completamente aleatório, podemos integrar
sobre todos os ângulos possíveis (dividindo, ainda, por um fator de ponderação 2ÿ) e obter:

o que simplesmente nos diz que o fóton, em geral, passará pelo filtro com uma probabilidade
geral de ½.

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Figura A.2

Até aqui não há mistério. Consideremos agora o caso de dois fótons emitidos com suas
polarizações aleatórias, mas mutuamente perpendiculares, conforme mostra a figura A.2.
Suponha que o fóton à esquerda passe pelo seu filtro; portanto, a probabilidade do da direita
passar pelo outro filtro é sen²(ÿ – ÿ), onde ÿ é o ângulo entre os dois filtros. A probabilidade
conjunta de que os dois fótons passem por seus respectivos filtros passa a ser, então:

P++ (ÿ, ÿ) = cos²ÿ sin²(ÿ – ÿ)

em notação óbvia. Se agora integrarmos sobre todos os ângulos ÿ, chegamos ao resultado:

Cálculos inteiramente análogos, que não vale a pena repetir, levam às probabilidades
conjuntas de ambos os fótons passarem ou não passarem:

Por enquanto, podemos tirar algumas conclusões dessas fórmulas. Primeiro, embora as
probabilidades conjuntas dependam do ângulo ÿ entre os dois filtros, o

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O mecanismo não permite que você adivinhe esse ângulo fazendo medições em apenas um lado. Se
tivermos acesso aos dados de um dos filtros e não soubermos os resultados do outro, então a única coisa
que podemos dizer é que a probabilidade de os fótons passarem por um dos filtros, por exemplo o da a
esquerda é:

P++ (ÿ) + P+– (ÿ) = ½, (4)

que não depende de ÿ.


Outra conclusão importante é que todas essas probabilidades conjuntas, dadas por
as equações (3) oscilam entre 1/8 , e 3/8 , . A este respeito, é conveniente definir a correlação:

C(ÿ) = P++ (ÿ) + P–– (ÿ) – P+– (ÿ ) – P–+ (ÿ), (5)

que serão de crucial importância na análise que se segue. No caso concreto considerado:

C(ÿ) = –½cos(2ÿ), (6)

de onde se pode ver que a correlação máxima que se pode obter é de 50%, que se produz quando os dois
filtros se alinham perpendicularmente entre si.
outro.

versão quântica

Agora vamos ver a versão quântica do mesmo processo. Como já mencionamos, a diferença fundamental é
que se um dos fótons passa por um filtro, sua polarização passa a ser paralela à direção desse filtro e, além
disso, a do outro fóton adquire instantaneamente realidade física em uma direção perpendicular à de sua
direção. amigo.
Continuando com esta ideia, vamos analisar a situação representada na figura A.2.
Suponha que o fóton à esquerda passe; A probabilidade disso acontecer é simplesmente:

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P+ = ½,

após o que sua polarização já tem realidade física e está em uma direção paralela à do
filtro. Mas então o fóton da direita também adquire uma polarização, que é perpendicular à
de seu parceiro. A probabilidade de o da direita passar é, portanto:

P+ = sen²ÿ,

e a probabilidade conjunta de que os dois fótons passem é:

P++ (ÿ) = ½sen²ÿ.

Da mesma forma, pode-se verificar que as quatro probabilidades conjuntas são:

P++ (ÿ) = P–– (ÿ) = ½sin²ÿ, (7a)

P+– (ÿ) = P–+(ÿ) = ½cos²ÿ . (7b)

Embora o ângulo entre os filtros apareça nessas fórmulas, ele não pode ser determinado
fazendo medições em apenas um lado. A situação, neste aspecto, é semelhante ao caso
clássico descrito acima, pois a equação (4) continua a ser satisfeita.

No entanto, há uma diferença essencial. Cada probabilidade conjunta oscila entre 0 e


½, enquanto no caso clássico, como já vimos, essas mesmas probabilidades variam entre
1/8 e 3/8 . Se calcularmos a correlação quântica, dada pela equação (5), ela será:

C(ÿ) = –cos(2ÿ), (8)

ou seja, o dobro do clássico, e oscila entre –1 e +1. Em particular, o máximo

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a correlação que se pode obter é de 100%, o que corresponde ao caso em que os dois
polarizadores estão a 90° um em relação ao outro. Essa diferença com a situação clássica
é fundamental.

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Correlações perfeitas?

A diferença entre os casos clássico e quântico se manifesta nas correlações. O caso extremo
corresponde ao dos dois filtros perpendiculares entre si, caso em que a mecânica quântica
prevê uma correlação perfeita de 100%, enquanto a óptica clássica prevê apenas 50%.

Aqui pode-se especular que talvez o mecanismo baseado na ótica clássica, embora
pareça muito natural, não funcione no mundo microscópico. Podemos inventar algum outro
mecanismo que reproduza as mesmas correlações quânticas?
Suponha, por exemplo, que a condição para um fóton passar seja que o ângulo entre sua
polarização e o filtro seja menor que 45°, e que o fóton não passe de outra forma (esta é
uma versão ligeiramente modificada do caso discutido). por Bell). De acordo com esse
mecanismo, o fóton passará em média metade do tempo, o que corresponde ao esperado.
Além disso, se os dois polarizadores forem colocados perpendicularmente um ao outro, é
evidente que se obtém uma correlação de 100% entre os dois fótons.
A princípio, parece que esse mecanismo, embora menos natural, reproduz efeitos
quânticos. A diferença, no entanto, se manifesta quando os dois polarizadores não são
perpendiculares entre si, mas em um determinado ângulo ÿ. O leitor pode deduzir, com um
pouco de geometria, que as probabilidades conjuntas de ambos os fótons passarem ou não
passarem são:

ÿ
P++ (ÿ) = P–– (ÿ) = /ÿ

1
P+– (ÿ) = P–+(ÿ) = ÿ /2 – /ÿ

onde o ângulo ÿ é expresso em radianos. Acontece então que a correlação é dada pela
fórmula:

4ÿ
C(ÿ) = /ÿ –1,

para ÿ entre 0 e ÿ/2 . A partir desta última fórmula, pode-se ver diretamente que este
mecanismo clássico, embora reproduza o resultado quântico para filtros colocados
paralelamente ou perpendicularmente, não concorda em geral com a previsão quântica dada
pela equação (8). Por exemplo, para um ângulo ÿ = ÿ/3 , a correlação clássica é 1/3 ,

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enquanto o quantum é ½.

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Variáveis ocultas e o teorema de Bell

Nos dois exemplos clássicos acima, pode-se dizer que o ângulo de polarização, ÿ, de cada fóton
é uma variável oculta. Escondido para a mecânica quântica! Segundo a interpretação realista
do EPR, tal polarização deveria ter uma existência objetiva, ao passo que, segundo a
interpretação de Copenhague, é o filtro que a determina.
Os exemplos acima mostram que é possível, em princípio, distinguir entre um esquema e
outro medindo as correlações entre um número suficientemente grande de fótons emitidos em
pares. Embora em nenhum dos dois exemplos clássicos que discutimos tenha sido encontrado
um mecanismo que geralmente reproduza a correlação quântica, o leitor pode se perguntar se
não existe, de qualquer maneira, algum outro mecanismo clássico que o faça. Talvez seja uma
questão de continuar procurando... mas o teorema de Bell nos diz que isso é inútil.

Em seu artigo de 1964, Bell demonstrou com argumentos muito simples que qualquer
esquema baseado na existência de variáveis ocultas necessariamente implica alguma
desigualdade para as correlações. Mais especificamente, se os dois polarizadores forem
colocados em vários ângulos, ÿ1 e ÿ2 , ÿ1 e ÿ2 , então a correlação deve satisfazer a
desigualdade:

|C(ÿ1 , ÿ2 ) – C(ÿ1 , ÿ2 )| + |C(ÿ1 , ÿ2 ) + C(ÿ1 , ÿ2 )| ÿ2.

Por outro lado, a correlação quântica que derivamos acima, que tem a forma geral C(ÿ1 ,
ÿ2 ) = –cos2(ÿ1– ÿ2 ) para orientações arbitrárias ÿ1 e ÿ2 dos filtros, viola essa desigualdade
para certos valores dos ângulos. É fácil verificar colocando, por exemplo, ÿ1 = 0, ÿ2 = 3ÿ/8 , ÿ 1
= –ÿ/4 , e ÿ2 = ÿ/8 .
Para a prova da desigualdade, remetemos o leitor ao artigo original de Bell.[102]

200
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[100] Este apêndice matemático é baseado no artigo mais longo de S. Hacyan: “Correlações quânticas e
variáveis ocultas: onde está o mistério?”, Boletim da Sociedade Mexicana de Física, janeiro-março de 2003.

[101] Usamos a notação “kets” de Dirac.

[102] Ver nota 3, capítulo VIII.

201
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202
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203
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Índice
preliminares 2

Física e metafísica do espaço e do tempo 4

Obrigado 8
Introdução 9

I. Espaço 14
Pitágoras e Euclides quinze

Espaços riemannianos 25

II. tempo 29
platô 31
Aristóteles 3. 4

Santo 35

Agostinho Newtoniano espaço 36

e tempo III. Movimento e ação à distância 40


Dois mundos 41
ação à distância 44

Gravitação universal Ação 46


mecânica? 48
O campo cinquenta

4. Energia, entropia e a direção do tempo 53


Energia 55
entropia 57
Eletromagnetismo 64
CPT 66

V. Espaço e tempo como formas de percepção Espaço e 69


tempo As coisas 76
em si 78

SERRA. Espaço, tempo e gravitação 81


Relatividade especial 83
táquions 91
Relatividade geral 93
buracos negros 94

204
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buracos de minhoca 96

O universo 97

VII. quanto 101


Quantização 102

C omplementaridade 104

La mecanica nicamatricial 109

A função de onda 111

C openha g e Spin 113

S 116

chrödinger's Cat Quantum C 118

omputers VIII. Fato e Ação Fantasma 120

123
RPE 124

nós estivemos emaranhados 126

Sino 127

Tempo de ap li cações de e xp er im entos 131

IX. Espaço , , ma saye ne rgia 134


Massa na física clássica 135

massa na física moderna 138

mundo de Planck 141

Teoria dos campos quânticos Massa 143

matemática? 144

Permanência da matéria 146

Conclusões 148

X. O Universo 151
M edir o U niverso 152

T e xp lo s io d e B ag o U n 155

iverso T epoceroeinflação 157

plana Otras cosm og o g ies Outros 159

universos ? 162

164

XI. Ant eu não sou meu ás 166


1. Fin it o in fin it o 167

2. O último átomo 169

205
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3. Causalidade e liberdade 172


4. A causa do Universo 175

Tese e antítese 176

XII. Tempo circular Gödel, 178


Einstein, Kant 180

XIII. conclusões 184


Apêndice 189
Correlações Quânticas e Desigualdades de Bell 190
estados emaranhados 192
clássico vs. quântico 193

Correlações perfeitas? 198

Variáveis ocultas e o teorema de Bell 200

Contracapa 202

206

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