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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE-UNICENTRO

SETOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE


DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

GABRIELA VIVIANE NABOZNY RIBEIRO

RESUMO DO PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO “A PSICOLOGIA E O PROBLEMA


MENTE-CORPO”

Trabalho apresentado ao prof° César Rey Xavier, na


disciplina de História, Teorias e Sistemas da
Psicologia, como requisito parcial de avaliação
semestral.

IRATI
2015
A necessidade de se esclarecer sobre a filosofia de René Descartes, mais
especificamente sobre a sua reflexão acerca do problema mente-corpo, vem do fato
de que muitos historiadores deturparam seus estudos e seu pensamento, os
interpretando de maneira anacrônica e esquecendo das contingências em que eles
foram elaborados.
Alguns estudiosos julgam Descartes de ter separado a mente o corpo, mas
ele, em livros e publicações, mostra que entre estas duas “substâncias” existem
distinções, mas não independência, como afirmam erroneamente. Essas pessoas,
pouco informadas sobre o pensamento deste filósofo, por não entenderem de fato o
que ele quis dizer através de seu “dualismo”, preferem adulterar o que foi dito ao
invés de se dedicarem a entender a profundidade desse conhecimento.
Não pode-se deixar de ressaltar também a genialidade desse filósofo,
considerando que, mesmo depois de séculos, seu raciocínio ainda vem sendo
aplicado, analisado e estudado na pós-modernidade em que nos encontramos,
mostrando que foi um pensador muito a frente de seu tempo e diferente dos
mecanicistas da época, pois não reduziu a mente ao corpo, não valorizou apenas a
“máquina”. Não só valorizou, como pôs-se a esclarecer ao máximo o abstrato, o que
não pode ser pego nem visto, a alma humana.
Este notável interesse pela mente provém de seus princípios idealistas, da
valorização do logos, isto é, da razão, sendo ela a base para a elaboração de uma
das suas mais conhecidas teorias: o método da dúvida. Cabe aqui mencionar
também um encanto de Descartes pelo conceito de “espírito”, provavelmente
oriundo do período Renascentista, onde, diferentemente do Mecanicismo e do
Positivismo, ciência e religião, misticismo e magia andavam lado a lado e nenhum
era considerado mais importante que outro. Sendo assim muitos o caracterizam
acertadamente como racionalista-idealista.
No capítulo “Descartes: Um Bode Expiatório da Modernidade?” nos são
elucidados os fundamentos do pensamento cartesiano, seu contexto histórico, os
termos usados, as bases epistemológicas, algumas citações do próprio filósofo, bem
como a sua relação com o objeto da psicologia: a psique, a alma, a mente.
Vimos até agora o quanto um erro de nomenclatura utilizado para interpretar
uma ideia, pode deturpar um pensamento, nesse caso as palavras são “separar”, a
qual é empregada por certos estudiosos de maneira equivocada, pois remete a ideia
de divisão, o que Descartes obviamente nada quis dizer com isso; e “diferenciar” a
palavra mais adequada ao caso, pois essa explica que mente e corpo mesmo
formadas por propriedades distintas são correlatas, uma via de mão dupla.
Analisando mais afundo esse fato, pode-se considerar também que quando
alguns profissionais de certas áreas, como a neurologia, por exemplo, usam a ideia
equivocada de “separatismo” de Descartes, estão apenas tentando se beneficiar de
uma epistemologia calcada em más interpretações, como se quisessem trazer o
filósofo supracitado para “o lado deles”, implantando em seu pensamento ideias
materialistas e reducionistas.
Voltando à questão, deve-se levar em conta que mais um motivo para que o
problema abordado pelo pensador fosse interpretado de forma errada, pode ter sido
o Zeitgeist em que ele se consolidou. O século das máquinas deixou seu legado nas
palavras de Descartes, na medida que estas foram sendo entendidas com um olhar
mecanicista, fazendo alusão à época. Retorno a mencionar que, exatamente por
este motivo, o filósofo deve ser considerado um gênio, pois não deixou-se ser
apropriado pelos conceitos do século em que viveu, mas elaborou ideias próprias e
originais, independentes e livres de qualquer concepção pré-definida. Percebe-se,
exclusivamente neste caso, uma visão personalista, pois concentra-se nas
realizações e contribuições do filósofo, independente do contexto.
Um adendo a ser feito é que além de diferenciar mente e corpo, Descartes
estabeleceu um relação entre os dois conteúdos, e não um paralelismo, como ele
próprio salientou em suas obras. Vemos atualmente a frequência que este assunto
vem sendo abordado cada vez mais em pesquisas e artigos com o termo
“psicossoma”, conclui-se então que Descartes, já no século XVII, fez essa sacada
digna de reconhecimento. “É evidente, portanto, que para Descartes a união dos
dois entes era tão importante quanto sua distinção.” (XAVIER, 2012, p. 66).
Para complementar a sua teoria da relação entre mente e corpo, físico e
abstrato, Descartes sugere que, mesmo que as duas substâncias fossem de
natureza totalmente distintas, a sua interação ocorria em uma parte material do
corpo humano chamada de glândula pineal, hoje em dia conhecida por epífise. Ele
acreditava ser esta a localização da alma no corpo pois a epífise fica exatamente no
centro do cérebro, ou seja, está muito bem protegida, bem como porque é algo
único no corpo, assim como também é a mente, única e singular. Como todo ser
humano está passível de erros, este foi o de Descartes, pois afirmara uma teoria
não muito bem fundamentada, sem provas ou comprovações. Mesmo assim, não se
pode resumir toda a sua brilhante ideia em um erro e julgar este pensador como
sendo um tolo, considera-se a priori suas contribuições para as ciências e teorias
que viriam a emergir, como a área da filosofia da mente, que toma o problema
mente-corpo como uma de suas principais reflexões.
Não podemos passar por esse filósofo, sem mencionar que ele é como se
fosse o pai do modo de pensar ocidental moderno, em suma, diversos campos da
ciência beberam dessas ideias cartesianas. O fato deste pensador ter abordado o
tema “mente” no século mecanicista fez com que este termo se tornasse um tanto
quanto “maquinal”, daí percebemos hoje em dia o receio que a Psicologia,
influenciada em partes por Descartes, tem de utilizar esta palavra no seu sentido
primário, espiritual e metafísico e a necessidade dos psicólogos de substituir o
objeto de estudo (intrínseco na própria palavra “psicologia”) por outros mais
observáveis, como comportamentos e processos cognitivos.
Descartes viveu brilhantemente a passagem do pensamento renascentista
para o pensamento mecanicista e assim soube ponderar as tantas divergências que
surgiram neste espaço de tempo. Como existe em alguns seres humanos a
necessidade de enquadrar as pessoas em caixinhas e rotulá-las, estes não
conseguem compreender que em uma só teoria pode haver ideias diferentes, porém
que se complementam e acabam sim fazendo sentido. Isto resume parcialmente o
que aconteceu com René Descartes.

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