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As sensações táteis começam na pele, que pode ser do tipo glabra (sem pelos, como
palma das mãos e planta dos pés) ou pilosa. Lembrando que a pele possui uma camada
externa, a epiderme, e uma interna, a derme. A pele fornece nosso contato direto com o
mundo, e é o maior órgão sensorial que possuímos.
Uma das maiores áreas de capacidade discriminativa sensorial em seres humanos é a
polpa dos dedos das mãos. A pele na polpa do dedo indicador humano é sensível o suficiente
para discriminar um ponto saliente medindo apenas 0,006mm de altura por 0,04mm de largura
(ponto de Braile é 167 vezes maior).
3 MECANORRECEPTORES CUTÂNEOS
Cada folículo é ricamente inervado por terminações nervosas livres, que se enrolam
em torno do folículo piloso ou seguem paralelo a este. Alguns folículos contêm músculos
piloeretores (arrepio), e a inervação difere para cada tipo de folículo. Terminais nervosos são
estimulados pelo movimento dos pelos. O dobramento ou movimentação do pelo causa
deformação no folículo piloso levando ao estiramento, achatamento, ou inclinação das
terminações nervosas, o que muda sua atividade e essa informação é transmitida ao SNC
(potenciais de ação). Os mecanorreceptores dos folículos pilosos podem ser tanto de
adaptação lenta como de adaptação rápida.
Para animais, esse receptor dá informação de orientação espacial, de onde vem o
vento, por exemplo. Para uma leoa caçando na savana, o sentido que o vento está batendo e
desloca o pelo dá informações espaciais para esse animal.
São receptores cutâneos, mecânicos que estão associados à transmissão do tato mais
grosseiro.
Situam-se em profundidade na derme, por isso estão associados a sensações mais
profundas e eventualmente de maior intensidade. Podem ter L 2 mm x D 1 mm. Cada mão
humana possui cerca de 2.500 com a maior concentração nas polpas dos dedos, palma e dorso
das mãos. Detectam vibração (200 a 300 Hz), pressão ou toque mais grosseiro e são de rápida
adaptação. Possuem, além disso, campo receptivo grande.
Explicação da figura: o prolongamento periférico da terminação nervosa sofre uma
bifurcação e cada uma das terminações possui uma cápsula. A terminação nervosa (de um
aferente primário sensorial) é desmielinizada e envolvida por uma cápsula com 20 a 70
camadas concêntricas (como se fosse uma cebola) de tecido conjuntivo com um líquido
viscoso entre elas (que está associada à função de adaptação). Ao comprimirmos a pele,
haverá uma deformação dessas camadas e um movimento dos líquidos entre elas, o que
estimulará o terminal sensorial dentro da cápsula.
A propriedade de adaptação rápida desse tipo de receptor está associada às suas
características estruturais, a essa especialização (cápsula). Se pegarmos esse receptor,
corpúsculo de Pacini, e tirarmos as camadas de tecido conjuntivo, se retirarmos essa
especialização (cápsula) e testar a atividade elétrica desses receptores, eles mudam de
característica, o que significa que a estrutura está associada à função. Quando o receptor está
encapsulado, ele se comporta como um receptor do tipo fásico, ou seja, que denota o início e
fim dos estímulos.
Explicação da figura: ao realizar um estímulo mecânico nesse receptor (compressão),
há uma distorção das camadas e do líquido entre elas, quando o estímulo é retirado, há uma
tração dessas camadas no sentido contrário. Ao serem comprimidas, ele gera um potencial
receptor. Enquanto o estímulo está aplicado, paradinho, ele não dispara nada (silencia), e
quando o estímulo é retirado, essa distorção, tração no sentido contrário pelo retorno das
camadas gera um outro potencial de ação. Se retirar essas camadas, o receptor perde essas
características, tornando-se um receptor de adaptação lenta, isto é, o potencial receptor gerado
é de longa duração (dura durante todo o tempo de estímulo).
6 CAPACIDADE DISCRIMINATIVA
A pele está ricamente inervada por axônios que percorrem pela vasta rede de nervos
periféricos o trajeto em direção ao sistema nervoso central.
Os axônios que transmitem a informação dos receptores somatossensoriais à medula
espinal ou ao tronco encefálico são os axônios aferentes primários do sistema
somatossensorial. Os axônios aferentes primários adentram à medula espinal pelas raízes
dorsais e seus corpos celulares estão nos gânglios da raiz dorsal (DRG). Os axônios aferentes
primários apresentam diâmetros variados e seus tamanhos correlacionam-se com o tipo de
receptor sensorial do qual recebem a sinalização.
A maioria dos nervos periféricos comunica-se com o sistema nervoso central via
medula espinhal, a qual está envolta pela coluna vertebral óssea. O arranjo dos pares de raízes
dorsal e ventral está mostrado na figura abaixo, e se repete 30 vezes ao longo da extensão da
medula espinhal humana.
Cada nervo espinhal consiste em axônios da raiz dorsal e da raiz ventral, que passam
através de um forame entre as vértebras da coluna. Existe o mesmo número de nervos
espinhais que o de forames entre as vértebras, ou seja, 30 pares de nervos espinais. Os 30
segmentos espinhais estão divididos em quatro grupos, e cada segmento recebe a
denominação da vértebra seguinte adjacente à origem do nervo: cervical (C) 1 a 8, torácico
(T) 1 a 12, lombar (L) 1 a 5 e sacral (S) 1 a 5.
A informação sobre o tato ou a vibração da pele segue uma via em direção ao encéfalo
que é totalmente distinta da via em que seguem as informações sobre a dor e a temperatura.
Diferentemente da via espino-talâmica, em que o neurônio fazia sinapse na medula espinal e o
neurônio de segunda ordem cruzava na medula (decussação), na via do tato, o cruzamento
ocorrerá na altura do bulbo na região chamada de lemnisco medial.
Assim, até que a informação alcance os núcleos da coluna dorsal no bulbo a
informação está relacionada ao mesmo lado do corpo. A partir deste ponto (decussação), a
informação sensorial que trafega de um lado do encéfalo está relacionada com as sensações
originadas do lado oposto.
Nos pontos de sinapse ao longo da via a informação sensorial pode ser modificada por
grupos adjacentes de aferências e por eferências do córtex. Então, em cada ponto de sinapse
pode haver interferência de outras vias que estão se projetando por ali. Porque cada ponto de
sinapse é um ponto de processamento neuronal, pois é onde a informação é transmitida, então
se houver uma mudança no status neuroquímico isso pode influenciar na passagem da
informação adiante. Isso é comum em muitos circuitos neuronais.
11 O CÓRTEX SOMATOSSENSORIAL
Assim como para todos os demais sistemas sensoriais, os níveis mais complexos do
processamento somatossensorial ocorrem no córtex cerebral. A maior parte do córtex
relacionada ao sistema somatossensorial está localizada no lobo parietal. A área de Brodmann
3b, reconhecida como o córtex somatossensorial primário (S1), situa-se no giro pós-central
(logo atrás do sulco central). O giro pré-central corresponde à área motora. Outras áreas
corticais que também processam informação somatossensorial estão ao lado de S1, incluindo:
as áreas 3a, 1 e 2 no giro pós-central, e as áreas 5 e 7 no córtex parietal posterior adjacente
(ver na figura abaixo).
11.1 Área 3b: córtex somatossensorial primário (S1)
- A projeção da área 3b para a área 1 (3b 1) envia principalmente informação sobre textura.
- A projeção da área 3b para a área 2 (3b 2) enfatiza informação sobre tamanho e forma.
Pequenas lesões restritas às áreas 1 e 2 produzem deficiências esperadas na
discriminação da textura, do tamanho e da forma.
11.2 Organização colunar do córtex somatossensorial
O conceito de coluna vertical foi descrito pela primeira vez para o córtex
somatossensorial pelo cientista Vernon Mountcastle, da Universidade John Hopkins.
Diferenças entre os campos receptores (em violeta) de neurônios encontrados nas
várias áreas somestésicas. Em algumas áreas há neurônios cujos campos se estendem por
vários dedos, e até bilateralmente.
O que acontece ao mapa somatotópico no córtex quando uma aferência for removida,
como, por exemplo, a de um dedo? A “área do dedo” no córtex ficaria simplesmente sem
utilidade? Ou esse tecido passaria a ser utilizado pelas aferências originadas de outras fontes?
As respostas a essas questões poderiam ter implicações importantes para a recuperação
de uma função após lesão de um nervo periférico. Na década de 1980, o neurocientista
Michael Merzenich e colaboradores, da Universidade da Califórnia, iniciaram uma serie de
experimentos para testar essas hipóteses (figura abaixo)
Primeiro, as regiões de S1 que são sensíveis à estimulação da mão em um macaco-da-
noite adulto foram cuidadosamente mapeadas com microeletrodos. Então, um dedo da mão (o
dígito 3) foi removido cirurgicamente.
Após vários meses, o córtex foi novamente mapeado. Qual foi o resultado? A área do
córtex destinada originalmente ao dígito amputado respondia agora à estimulação dos dígitos
adjacentes. Houve uma evidente reorganização da circuitaria subjacente à somatotopia
cortical. O mapa somatotópico pode ser reorganizado a partir da deficiência de aferências de
partes do corpo.
No experimento da amputação, o motivo da reorganização desse mapa foi a ausência
de aferências do dígito que estava faltando. O que aconteceria se a atividade da sinalização
aferente de um digito estivesse aumentada? Para responder a essa questão, os macacos foram
treinados para utilizar dígitos específicos para realizar uma tarefa, pela qual eles recebiam um
alimento como recompensa.
Após várias semanas de treino, os experimentos de mapeamento com microeletrodos
mostraram que a representação dos dígitos estimulados tinha expandido em comparação a dos
dígitos adjacentes, não estimulados. Esses experimentos revelaram que os mapas corticais são
dinâmicos e que seu ajuste depende da quantidade de experiência sensorial. Experimentos
subsequentes em outras áreas do córtex (visual, auditiva, motora) têm mostrado que é comum
esse tipo de plasticidade do mapa cortical.