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Redação

PROPOSTA DE REDAÇÃO 9 – UFRGS

Leia, abaixo, o texto de Vera Iaconelli, doutora em psicologia pela USP, publicado no jornal “Folha de
São Paulo” em 3 de abril de 2023.

Mídias sociais têm sido os interlocutores das crianças.

Cadê o filhinho que vinha correndo pro colo do papai e da mamãe na saída da escola como se tivesse voltando de um
ano de intercâmbio? Que falava tanto que os adultos tinham que pedir um tempo? Ou talvez fosse do tipo caladão, mas
permanecia ao alcance de mais uma pergunta a ser respondida laconicamente.
Pois é, foi-se.
Com a chegada da adolescência e suas portas fechadas e olhos revirando nas órbitas, desconfiamos que nunca mais
teremos afinidade com as crianças. Jovens se isolarem dos adultos não é nenhuma novidade, é fato esperado para quem tem
como missão se emancipar. A diferença enfrentada pelos pais hoje é que agora há um armário de Nárnia ao alcance de cada
criança, através do qual ela se projeta em um mundo infinitamente maior —e mais obscuro— do que o proporcionado por um
gravador, walkman, televisão ou similar genérico das gerações anteriores.
Governos têm tentado regular o uso das mídias, que se transformaram no grande interlocutor das novas gerações. É ali
que o jovem encontra seus pares, obtém informações —da pior e da melhor qualidade—, se educa e adoece.
Na esperança de recuperar a ligação com as crianças e evitar os danos já fartamente comprovados à sua saúde física e
mental, pais e legisladores propõem abordagens que vão da proibição total até a regulação das redes feita pelas próprias big
techs.
As opiniões se dividem entre tratar as mídias como drogas a serem totalmente banidas da infância, de um lado, e sua
utilização eficientemente moderada, de outro. A primeira solução desconsidera que há ganhos no uso mediado das redes pelas
crianças e que soluções radicais tendem a fracassar. Resta saber se ameaçar as empresas com o risco de perderem seus
consumidores mais vorazes pode ser estrategicamente eficiente para que se mexam em busca de soluções de fábrica, inseridas
no bojo do produto.
Parece que saímos da inércia negacionista ou derrotista em direção a soluções e responsabilizações da sociedade e,
principalmente, dos criadores desses produtos. Estamos diante de uma longa batalha, capaz de unir democratas e republicanos
norte-americanos em prol das novas gerações.
Vencida a batalha, teremos nossos filhinhos de volta? De volta da zumbiland que se tornaram as redes? Com sorte, sim.
Mas de volta ao diálogo é outra coisa.
Pais e mães, mas também avós e professores, se queixam da dificuldade de conversar com o adolescente e estão cobertos
de razão. Mas o que geralmente esquecem é de se perguntar o quanto estão dispostos a escutá-los ou se se propõem ao velho
truque do "senta que lá vem história", que o jovem fareja de longe.
Ouvir seus sofrimentos, por vezes tolos ou excessivos, suas reivindicações injustas ou impraticáveis, não é fácil para
aqueles que vivem em função de cuidar da vida do reclamante. Tomando para si a tarefa impossível de fazer o filho feliz e satisfeito,
fica difícil escutar seus sofrimentos, medos e anseios, infundados ou não.
Chamar um filho para conversar é, muitas vezes, sustentar um silêncio angustiante diante das interpretações e escolhas
ingênuas de quem nos é mais caro. É descobrir o quanto apostamos neles para sustentarem seus dilemas sem nós. Tarefa das
mais árduas e gratificantes a que se propõem os cuidadores.
A criança que corre em direção aos pais na porta da escola não sabe ainda do que eles são feitos. A que abre a porta do
quarto para eles está prestes a descobrir.

Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/colunas/vera-iaconelli/2023/04/midias-sociais-tem-sido-os-interlocutores-das-criancas.shtml>.


Acesso em 09 de março de 2023.

Vera Iaconelli, já no título de seu texto, apresenta o assunto sobre o qual se debruça: a interlocução
entre as crianças e as mídias sociais. Em seu argumento, ela discorre sobre a presença da tecnologia, que
opera como um mundo à parte, pois a criança de hoje tem amigos e acessa informações, por exemplo, por
meio da internet.
A autora, então, trata das opiniões presentes na sociedade: há a ideia de que as mídias sociais não
deveriam fazer parte da infância, mas também existe o pensamento de que o uso moderado das redes
poderia apresentar benefícios. Vera Iaconelli admite que o assunto enseja uma “longa batalha”.
A problematização vai além. Para a doutora em psicologia, outra questão a ser objeto de reflexão é
o diálogo entre pais e filhos – assunto que demanda, segundo ela, uma postura em que aqueles ouviram os
sofrimentos e as reivindicações destes últimos, sustentando um silêncio respeitoso. De acordo com Iaconelli,
os pais têm uma tarefa árdua e gratificante nessa situação.
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Enfim, o texto que você leu apresenta uma opinião acerca do uso das mídias sociais por crianças, da
postura dos pais quanto a esse uso e da importância do diálogo. Diversos recursos linguísticos são
mobilizados para esse fim, como perguntas em meio à reflexão, frases curtas cheias de impacto e figuras de
linguagem.
Tudo isso, sem dúvida, marca a opinião de Vera Iaconelli e estimula o debate, de modo que, com
certeza, você, após a leitura do texto, também formulou uma opinião acerca das ideias nele contidas.
Você pode ter concordado integralmente com o texto ou apenas parcialmente; discordado
integralmente ou apenas parcialmente.
É assim mesmo! Os leitores sabem que é sempre assim, e os autores também. O mais importante,
porém, é reconhecer que o debate, qualquer que seja, deve ser feito com tolerância e ética.
Assim, considere que, após a leitura do texto acima, você decide apresentar o seu ponto de vista, por
meio de um texto a ser enviado ao jornal “Folha de São Paulo”, que poderá publicá-lo na sessão “Opinião do
Leitor”.
Observe que é muito importante que, em seu texto, as ideias estejam expressas com clareza, para
que os demais leitores do portal possam compreendê-las sem maiores dificuldades.

Em resumo, você deverá escrever um texto dissertativo que

apresente o seu ponto de vista acerca das ideias veiculadas pelo texto de Vera Iaconelli, doutora em
psicologia pela USP.

Para tanto, você deve:


a) escolher uma ou mais ideias do texto, defendê-la(s) e/ou contestá-la(s);
b) apresentar argumentos que justifiquem a sua opinião a respeito dessas ideias.

O importante é que você explicite claramente o que pensa sobre as ideias presentes no texto de Vera
Iaconelli.
Bom trabalho!

Instruções:
A versão final do seu texto deve:
1 - conter um título na linha destinada a esse fim.
2 - ter a extensão mínima de 30 linhas, excluído o título – aquém disso, seu texto não será avaliado –, e máxima de 50
linhas. Segmentos emendados, ou rasurados, ou repetidos, ou linhas em branco terão esses espaços descontados do
cômputo total de linhas.
3 - ser escrita, na folha definitiva, à caneta e com letra legível, de tamanho regular.

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