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Discurso dos Media

O Discurso dos Media


Existem sete dimensões comuns entre as raízes dos estudos críticos do discurso:
1. Interesse pelas propriedades das enunciações naturais/espontâneas da linguagem em uso.
2. Enfoque nas unidades amplas da linguagem e não em frases e palavras isoladas.
3. A extensão da linguística para lá da frase gramatical, no sentido do estudo da interação.
4. Extensão do estudo do discurso para aspetos da interação não verbal: incluindo observação e análise
de gestos, imagens, filme, internet e multimédia.
5. Enfoque nos movimentos e estratégias sociocognitivas e internacionais dinâmicos.
6. Estudo das funções dos contextos (sociais, culturais, situacionais e cognitivos) da linguagem usada.
7. Análise de um vasto número de fenómenos de uso gramatical e de linguagem.

Todas as abordagens são orientadas para:


Þ um problema (exemplo: análise do discurso do ódio, do racismo, da construção da guerra ao terror).
Þ a desconstrução das ideologias e estruturas de poder através de semânticas e sinais, e dados de
descodificação semiótica.

“(…) discourse means anything from an historical monument, lieu de memoir, a policy, a
political strategy, narratives in a restricted or broad sense of the term, text, talk, a speech,
topic-related conversations, language” (Wodak&Meyer, 2016, page 3)

O que é ser crítico e fazer uma análise crítica?


Ser crítico é, acima de tudo, um estado de espírito, uma atitude, uma forma de discordar e muitas outras coisas,
mas não um método explícito para a descrição das estruturas ou estratégias de texto e de fala.

O Poder
A definição de Max Weber do conceito de poder é um denominador comum: o poder é definido enquanto
oportunidade criada pelo individual na relação social para alcançar a sua vontade contra a resistência de outros.

Os tipos de poder em exercício são o poder evidente (exibido na presença de conflito), o poder camuflado e o
poder para determinar desejos e crenças.

Processo circular dos estudos críticos do discurso


Dinis Marques – 130322018
Licenciatura em Comunicação Social e Cultural – 2.º semestre

Discurso e Poder Simbólico (Pierre Bourdieu)


Segundo Pierre Bourdieu, o discurso desempenha um papel fundamental na
reprodução e legitimação do poder simbólico.

O poder simbólico está enraízado nas estruturas sociais e é exercido por meio
de símbolos, e o discurso é uma das principais formas pelas quais esses
símbolos são articulados e transmitidos.

O discurso é usado por diferentes grupos e indivíduos para impor as suas visões
do mundo, reforçar a sua posição social e dominar os sistemas simbólicos
existentes.

No campo do discurso, as estruturas simbólicas são mobilizadas para


estabelecer e reproduzir as hierarquias sociais.

Þ Por exemplo, o uso de uma linguagem sofisticada pode conferir maior autoridade a um discurso,
enquanto o uso de gírias pode ser desvalorizado.

conceitos-Chave
São instrumentos da ‘integração social’ e podem assumir diversas formas (palavras, gestos, rituais,
Símbolos imagens, objetos, etc.). Enquanto instrumentos de conhecimento e de comunicação, permite a criação
de distinções sociais e contribui para a reprodução da ordem social.

É uma forma de poder invisível, muitas vezes sem que as pessoas se apercebam que estão a ser
Poder Simbólico influenciadas por ele. Esse poder, definido por sistemas simbólicos, está enraizado nas estruturas
sociais e nas relações presentes numa sociedade.

Corresponde a um conjunto de elementos que definem a organização da vida social. A estrutura é


Estrutura composta por diferentes elementos interligados, como as relações de poder, as hierarquias sociais, as
normas e valores culturais, etc.

Constitui-se enquanto terreno de combate de forças contrárias entre diferentes agentes, instâncias e
Campo
intervenientes, os quais se debatem pela respetiva legitimidade de posição no campo e pelo valor.

Diz respeito ao conjunto de recursos objetivos e simbólicos que definem e caracterizam os agentes
Capital
potenciando a sua capacidade de exercer poder sobre os restantes agentes no campo de disputa.

Corresponde ao sistema de disposições duradouras adquiridas pelo sujeito ao longo da vida e do seu
Habitus
processo de socialização. Esse sistema contempla estruturas objetivas que determinam a prática.

Os sistemas simbólicos correspondem a universos, formas ou classificações que definem as possibilidades de


significados dos elementos que aí operam, e que decerto correspondem a instrumentos de conhecimento e de
construção do mundo, sendo também estruturados, e estruturantes, para além de instrumentos de dominação.

SISTEMAS SIMBÓLICOS:

Correspondem a instrumentos
Consubstanciam e
de conhecimento e de Os sistemas ideológicos são
correspondem a instrumentos
comunicação – sendo por isso homólogos à estrutura de
de dominação que dividem
estruturas estruturantes e classes hierarquizantes.
grupos de classe.
estruturadas.

Exemplos de análise do poder simbólico no discurso da imprensa online:


- sondagens enquanto consagração e legitimação dos agentes no campo de produção (media);
- celebridades e disputas (sobre quem tem autoridade) no campo de produção;
- disputas pelas audiências no campo televisivo (sobre quem tem valor).

Em suma, Bourdieu enfatiza a importância do discurso na reprodução do poder simbólico, pois é através do
discurso que os símbolos são mobilizados, as hierarquias são estabelecidas e as estruturas simbólicas são
legitimadas. O discurso é uma ferramenta crucial para a luta pelo poder simbólico e para a manutenção das
desigualdades sociais.

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Dinis Marques – 130322018
Licenciatura em Comunicação Social e Cultural – 2.º semestre

Unidades e Formações Discursivas (Michel Foucault)


Michel Foucault desenvolveu o conceito de unidades e formações discursivas como parte da sua análise do poder
e do conhecimento.

Foucault convida-nos a questionar e compreender as continuidades e regularidades do discurso, procurando


perceber de onde vêm e porque estamos familiarizados com elas.

Uma unidade discursiva, segundo Foucault, refere-se a um conjunto específico de práticas discursivas que
partilham certas regras, normas e convenções linguísticas. É uma formação de discurso que se estabelece
e que define os limites e as possibilidades do que pode ser dito e pensado sobre um determinado tema.

Þ A questão a colocar corresponde a procurar descobrir “segundo que regras foi este enunciado construído
e, por conseguinte, segundo que regras poderiam outros enunciados semelhantes ser construídos?”

Uma formação discursiva, por sua vez, é um conjunto mais amplo de unidades discursivas que estão
interrelacionadas e que operam dentro de uma determinada época, cultura ou contexto histórico.

Foucault acredita que as formações discursivas não são apenas uma expressão de ideias ou conhecimentos, mas
também são instrumentos de poder. Elas exercem controlo sobre o que é dito, como é dito e por quem é dito.

As formações discursivas estabelecem as condições de possibilidade para a produção de conhecimento


e para a constituição de identidades e práticas sociais.

“No caso em que se puder descrever, entre um certo número de enunciados, semelhante sistema de dispersão,
e no caso em que entre os objetos, os tipos de enunciação, os conceitos, as escolhas temáticas, se puder
definir uma regularidade, diremos, por convenção, que se trata de uma formação discursiva.”

O termo “formação discursiva“ evita palavras inadequadas como “ciência”, “ideologia” ou “teoria”.

Ao analisar as formações discursivas, Foucault destaca como elas moldam


e restringem os discursos, influenciando o que é considerado verdadeiro,
legítimo ou desviante dentro de uma determinada sociedade. O poder está
intrinsecamente ligado à produção e à circulação do discurso.

No processo de apurar a diversidade e dispersão de enunciações, o autor


propõe que se definam sistemas de dispersão, estudando as formas de
repartição e dispersão de forma a produzir formações discursivas.

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Dinis Marques – 130322018
Licenciatura em Comunicação Social e Cultural – 2.º semestre

Discurso, Ideologia e Hegemonia em Antonio Gramsci


Antonio Gramsci desenvolveu conceitos-chave que são centrais para a sua análise da luta política e do poder em
sociedades complexas.

Para Gramsci, o discurso é mais do que uma simples troca de palavras - é uma forma de construção e
disseminação de significados que influencia as perceções, as crenças e as ações das pessoas.

Resgate da definição marxista de ‘ideologia’ e que diz respeito a todo o conjunto de práticas de
Ideologia significação e de ideias com impacto na produção política, artística e intelectual de uma determinada
época e contexto.

Diz respeito à forma e processos mediante os quais uma determinada classe dominante na sociedade
Hegemonia consegue manter a liderança sobre as restantes. A análise de tais processos pressupõe a compreensão
da tensão e do equilíbrio entre o consentimento e a coerção de forma a manter a liderança.

A ideologia desempenha um papel crucial no discurso e na política, servindo os interesses da classe dominante,
justificando e naturalizando as relações de poder existentes. A hegemonia é a capacidade dessa classe de exercer
o seu poder por meio do consenso e da liderança intelectual.

A hegemonia é mantida pela dominação ideológica, pelo controlo da educação, dos media e da produção
cultural, que difundem e reforçam a ideologia dominante.

O legado para a análise crítica do discurso:


Þ Intelectual tradicional – posição de supremacia e liderança perante os restantes, levando-os a acreditar
que a sua visão do mundo constitui a visão objetiva.

Þ Intelectual orgânico – remete para os sujeitos que, fazendo parte de uma determinada classe social,
tendem a ganhar proeminência de forma orgânica, ou seja, é o intelectual que se mantém ligado à classe
social de origem, atuando como seu porta-voz.

Em resumo, para Antonio Gramsci, o discurso, a ideologia e a hegemonia são conceitos interrelacionados que
desempenham um papel central na luta política. O discurso molda as perceções e as crenças, enquanto a
ideologia serve aos interesses da classe dominante. A hegemonia representa a dominação cultural e política dessa
classe, estabelecendo uma direção para a sociedade.

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Dinis Marques – 130322018
Licenciatura em Comunicação Social e Cultural – 2.º semestre

Discurso visual e Retórica de imagem (Roland Barthes)

Modalidades discursivas (integram diferentes sistemas de linguagem)

discursos, expressões faciais, linguagem gestual, postura, imagem, cor, likes, moda e estilo, entoação, sentidos, práticas...

Signos e Sistemas de Significação

Significante Palavra, imagem, sinal inscrito num sistema de linguagem;

Significado Conceito/representação mental, sentidos conotativos e denotativos;

Objeto relativamente ao qual os conceitos e os significantes são referentes podendo ser


Referente materializáveis ou não.

“To belong to a culture is to belong to roughly the same conceptual and linguistic universe, to know how
concepts and ideas translate into different languages, and how language can be interpreted to refer to or
reference the world.” (Hall, 1997, pág. 22)

MITOLOGIA E RETÓRICA DA IMAGEM

Sentido
Diz respeito ao nível de significado literal partilhado pelos membros de uma mesma cultura.
Denotativo

Corresponde aos sentidos gerados uma vez associados o significante às considerações culturais mais
Sentido
vastas. Aqui, a produção de sentido está associada a outros códigos culturais mais vastos. Os sentidos
Conotativo
conotativos tendem também a naturalizar-se.

O mito é uma metalinguagem para Barthes – é uma segunda linguagem que se trata da dimensão simbólica e
ideológica do signo.

Os signos são sempre polissémicos carregando mais do que um sentido. Há que ter atenção à forma como
as mensagens linguísticas são usadas, pois podem criar ambivalências do ponto de vista estrutural.

A cultura, a história, a política e as relações de poder desempenham um papel fundamental na forma como as
imagens são criadas, interpretadas e usadas para influenciar o público.

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Dinis Marques – 130322018
Licenciatura em Comunicação Social e Cultural – 2.º semestre

Discurso, Persuasão, Manipulação e Propaganda (Patrick Charaudeau)


O discurso, a persuasão, a manipulação e a propaganda são fenómenos interrelacionados que têm como objetivo
influenciar a opinião e o comportamento das pessoas.

Patrick Charaudeau propõe a análise dos discursos dos “sujeitos falantes” e não das suas ideologias. Mediante
tal análise é possível compreender “as suas identidades e as relações de força que se instauram entre os
indivíduos que vivem em sociedade”.

A lógica discursiva poder-se-á designar de triangular pois envolve:


Þ Sujeitos falantes (pretendem ser credíveis);
Þ Objeto/sujeito da fala (imputáveis);
Þ Recetores (poderão ser vítimas nos discursos da manipulação, mas também conferem legitimação ao
sujeito falante).

Os discursos da propaganda integram os da persuasão e da manipulação.

• Relações sociais são relações de influência.


POSTULADOS • Relações de influência operam de acordo com o princípio diferenciador – eu falante e os outros.
TEÓRICOS • O ato de linguagem define uma posição de legitimidade dos sujeitos falantes.
• É importante que “os sujeitos falantes ganhem credibilidade e saibam captar o interlocutor ou o público”.

ESTRATÉGIAS DISCURSIVAS PROPAGANDISTAS


Ethos Pathos Logos
Construir uma imagem de si mesmo, Encontrar um modo de “tocar no afeto Encontrar modos de organização do
supostamente credível em quem é para seduzir e persuadir o recetor” – discurso que permitem descrever o
possível ter confiança e que se torna recurso a estratégias de dramatização mundo e explicá-lo segundo o princípio
por isso carismática. para chegar ao recetor. da verdade – racionalização.

A situação de comunicação do discurso propagandístico é definida por expetativas e visadas:


1. Visada de prescrição – o sujeito falante quer fazer fazer e transmite ao recetor o dever fazer – relação
assente numa hierarquia de poder.
Exemplo: “Portugueses devem votar”.
2. Visada da informação – o ‘eu’ quer fazer saber alguma coisa ao recetor: aqui o sujeito falante encontra-
se numa posição de poder e de legitimação.
Exemplo: “Portugueses devem saber que o meu partido...”
3. Visada de incitamento – o ‘eu’ quer fazer fazer alguma coisa a ‘tu’, como na prescrição, mas aqui não
está numa situação de autoridade, pelo que apenas pode incitar o recetor.
Exemplo: “Portugueses, acreditem que se votarem no meu partido, terão acesso a...”

O DISCURSO PUBLICITÁRIO

De acordo com o autor, o discurso publicitário desenvolve-se entre a instância publicitária, a de concorrência e o público.
É uma forma de discurso que procura persuadir e influenciar os consumidores a adquirirem produtos, serviços ou ideias.

O DISCURSO PROMOCIONAL

Um discurso promocional não enaltece a marca, mas visa prevenir riscos, persuadindo a população a agir de uma
determinada maneira.

O DISCURSO POLÍTICO: DA PERSUASÃO E MANIPULAÇÃO

Persuasão e sedução é constitutiva do discurso político para atingir o maior número com recurso a estratégias emotivas, de
reclame da credibilidade e da narrativa e argumentação.

A manipulação é a influência, o controlo ou a ação indevida ou ilegítima no desenrolar de um processo.

As estratégias de manipulação passam pelas narrativas dramáticas, pelos discursos de promessa e pelos
discursos de provocação de afeto.

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Dinis Marques – 130322018
Licenciatura em Comunicação Social e Cultural – 2.º semestre

A propaganda impõe a verdade pela ilusão. Dota-se de meios de espectacularização comunicativa, com grandes
aparelhos que inculcam os factos. O público é levado pela falsa aparência.

Tipos de propaganda:
Tática – lança falsa informação, visando tranquilizar o interlocutor e a opinião pública.
Profetizante – consiste em levar as massas a aderirem a um projeto de idealização social ou humana.

Discurso Mediático e Pânico Moral


Designar algo de ‘Pânico Moral’ não equivale a negar a existência do acontecimento base que o motiva, mas a
destacar o processo de construção que o transforma na perda da ordem moral numa dada sociedade.

O pânico moral ocorre quando um problema social, um comportamento ou uma prática são exagerados,
amplificados e moralmente condenados pelos média, pela opinião pública ou por autoridades. O pânico
moral é frequentemente associado a questões de ordem social, como crime, drogas, sexualidade, imigração.

O pânico moral pode ser utilizado como estratégia política para mobilizar o apoio público, reforçar valores
tradicionais ou justificar políticas repressivas. Alimentado e reforçado por discursos e ideologias dominantes, o
pânico moral pode ser utilizado como forma de controlo social.

Os objetos de pânico moral são previsíveis e tendem a ser apresentados enquanto novidades, embora sejam
antigos na sua existência. São danosos, mas também sinais de aviso do real.

Como os
Uso indevido de
Jovens homens Violência escolar, Violência, sexo e Os abusadores do refugiados e
drogas pelas Abusos juvenis e
violentos e de bullying e responsabilização sistema e as exilados inundam
pessoas erradas rituais satânicos;
classe operária; insubordinação; dos média; mães solteiras; um dado país e
no sítio errado;
os seus serviços.

“As sociedades parecem estar sujeitas, de vez em quando, a períodos de pânico moral. Uma condição, episó-
dio, pessoa ou grupo de pessoas emerge para se definir como uma ameaça aos valores e interesses da
sociedade; a sua natureza é apresentada de forma estereotipada pelos média.” (Cohen, 2021, pág. 1)

Reação oficial relativamente a uma pessoa, ou grupos de pessoas e série de eventos é


desproporcional à real ameaça do problema.
Como identificar um pânico moral?

Quando especialistas percebem a ameça em todos os termos menos os equivalentes e parecem


falar numa só voz sobre as estatísticas, os diagnósticos e as soluções.

Quando as representações mediáticas sublinham o aumento dramático e repentino de um dado


problema, bem como a sua novidade para lá do que é fundamentável.

Quando temos uma reação pública ansiosa pedindo medidas imediatas para resolver o assunto -
alcança-se consentimento e restitui-se a hegemonia das classes dominantes.

Quando há um subsequente reforço dos procedimentos legais e judiciais de forma a restituir a


ordem moral social pública.

Quais são as consequências dos discursos promotores do pânico moral?


- naturalização e normalização de certos sistemas de valores e práticas.
- exclusão, desvio, estigmatização de um outro.

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Dinis Marques – 130322018
Licenciatura em Comunicação Social e Cultural – 2.º semestre

Narrativa e Discurso de “Guerra ao Terrorismo” (Adam Hodges)


A narrativa e o discurso de guerra ao terrorismo referem-se às representações discursivas e discursos políticos
que surgiram após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos. Essa narrativa foi
amplamente adotada pelos governos, especialmente pelos Estados Unidos, como uma estratégia para justificar
ações militares, políticas de segurança e restrições às liberdades civis.

A CONSTRUÇÃO
A narrativa diz respeito ao conjunto de histórias que são discursivamente
NARRATIVA DA
REALIDADE
narradas por meio de artifícios retóricos de modo a criar relações de causalidade
SOCIOPOLÍTICA entre elementos enunciativos de acordo com uma lógica temporal.

A narrativa de guerra ao terrorismo apresenta o terrorismo como uma ameça global que exige uma resposta militar
e de segurança agressiva para combater essa suposta ameaça. Ela enfatiza a ideia de uma luta entre o bem e o
mal, onde o terrorismo é retratado como uma força maligna que precisa de ser eliminada.

Essa narrativa muitas vezes simplifica a complexidade dos problemas políticos, sociais e culturais envolvidos no
fenómeno do terrorismo, reforçando uma visão binária do mundo.

Discurso de George W. Bush inicia uma guerra ao terrorismo logo após o


11 de setembro, assente numa infundada relação entre Saddam Hussein
no Iraque e Osama Bin Laden – discurso de propaganda e manipulação da
opinião pública.

O discurso de guerra ao terrorismo utiliza uma série de estratégias retóricas para mobilizar o apoio público
e justificar ações militares e políticas de segurança. Essas estratégias incluem o uso de terminologia e
imagens fortes para evocar medo e indignação, a criação de inimigos e ameaças externas para unir a
população em torno de uma causa comum e a apresentação de narrativas heróicas que destacam a ação
decidida e corajosa do governo na proteção dos cidadãos.

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Dinis Marques – 130322018
Licenciatura em Comunicação Social e Cultural – 2.º semestre

Discursos Orientalistas (Edward said)


Na sua obra, Edward Said apresenta uma grelha conceptual do termo ‘orientalismo’, contribuindo, por conseguinte,
para a reprodução desta ordem normativa do conhecimento e das representações orientais, concebidas por
oposição ao Ocidente.

Os discursos orientalistas referem-se a representações culturais, estereótipos e imagens construídas sobre o


Oriente pelo Ocidente, principalmente a partir do século XVIII. Esses discursos foram moldados pela visão
eurocêntrica e colonizadora das sociedades ocidentais em relação às culturas, povos e territórios do Oriente.

Refere-se à maneira como o conhecimento e a representação do Oriente foram produzidos e


disseminados pelo discurso académico, literatura, arte, média e outras formas de expressão
Orientalismo cultural no Ocidente.
Essas representações frequentemente apresentavam o Oriente como exótico, primitivo,
bárbaro, atrasado, místico e perigoso.

Os discursos orientalistas tendiam a reforçar a superioridade


cultural, política e moral do Ocidente sobre o Oriente.

Além disso, esses discursos muitas vezes justificavam a


colonização, a exploração económica e as intervenções
políticas no Oriente, como se fossem uma missão civilizada.

Essas representações orientalistas não refletiam a diversidade,


a complexidade e a riqueza das culturas e sociedades
orientais. Em vez disso, criaram uma imagem estereotipada do
Oriente, moldada pelos interesses e preconceitos do Ocidente.

As críticas aos discursos orientalistas tem como objetivo promover diálogos mais justos e inclusivos entre as
diferentes culturas e regiões do mundo.

PRESSUPOSTOS DO AUTOR E ABORDAGEM EPISTEMOLÓGICA:


- O Oriente não constitui uma realidade natural na sociedade que possa ser encontrada algures.

- Não poderemos estudar culturas, ideias, histórias e discursos fora das configurações de poder. A relação entre
o Oriente e o Ocidente sempre foi de poder, de dominação e assente em mecanismos complexos de hegemonia.

- A durabilidade dos discursos orientalistas depende não só da consistência dos mesmos, mas também da relação
estreita que demonstram estabelecer com as instituições políticas e socioeconómicas, e que contribui para a
criação de uma consciência ocidental.

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Dinis Marques – 130322018
Licenciatura em Comunicação Social e Cultural – 2.º semestre

Media e Discurso Populista (Ruth Wodak)


Os discursos populistas são fundados numa política do medo que usa como estratégia a transgressão de tabus e
das normas de vergonha e da boa educação, já que tais líderes acreditam afirmar algo que supostamente todos
pensam, mas não dizem.

Wodak explica que a partir de 2014 emergiram movimentos políticos que passaram a instrumentalizar o medo e
a esperança enquanto estratégia de persuasão e manipulação. As redes sociais assumem aqui um papel
proeminente, porque correspondem ao novo palco da política populista, que procura espaços alternativos para
criar echo chambers.

Temas como a crise financeira, a crise de refugiados, a intensificação dos movimentos sociais sobre a crise
climática e toda a política de austeridade, vieram aumentar a incerteza e o sentimento de insegurança.

Abriram caminho para estratégias de instrumentação por parte de partidos de extrema-direita


que passaram a criar o medo e a propagar cenários apocalípticos em torno destas temáticas.

Características do Populismo de Extrema-Direita

Defesa da
renacionalização do
Perda de confiança Revisionismo Lógica do “vale tudo”
país com o
nas democracias histórico (resgate de Uso abusivo das e quebra de tabus em
estabelecimento de
liberais e suas um passado glorioso, redes sociais. torno de
um laço natural entre
instituições. mesmo que ficcional). determinados temas.
o Estado-Nação e a
cidadania.

Os pressupostos da autora são de que os partidos de extrema-direita:


Þ instrumentalizam minorias de diversa ordem (religiosa, cultural, étnica, política, linguística) construindo-
as enquanto bode expiatório.
Þ instrumentalizam o medo para criar uma política de esperança, prometendo uma solução para a
resolução do problema, e apresentando-se enquanto salvadores e representantes da verdade.
Exemplo: “Make America Great Again”.
Þ empregam políticas de emoção, apelando ao senso comum e anti-intelectualismo por oposição à lógica
da evidência e da especialidade.
Þ alcançam o espaço dominante e adquirem um enorme grau de normalização do seu próprio discurso –
adotando uma lógica em que tudo pode ser dito de uma forma desavergonhada.

Há uma nova era de democracia que se faz nos média, com a emergência de desempenho da política
profundamente conhecedora do mundo dos média – mediatização da política, mas de uma era em que a política
passou a instrumentalizar os média digitais para propagar as suas ideologias.

1) Escandalização, implicando referências a líderes carismáticos que tornam omnipresentes e


solucionadores de problemas e crises.
2) Dramatização, caracterizada pela geração de uma tensão que apoia o partido.
3) Uso e abuso das redes sociais que facilita o desenvolvimento de echo chambers.
4) A dimensão simbólica da prática política é central para a performance do político.

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Dinis Marques – 130322018
Licenciatura em Comunicação Social e Cultural – 2.º semestre

Discursos de Ódio nos media (Marisa Torres da Silva)

Os discursos de ódio nos média referem-se às expressões


comunicativas que promovem a hostilidade, o preconceito, a
discriminação e a violência contra certos grupos com base em
características como raça, etnia, religião, género, orientação sexual,
nacionalidade, entre outros.

Esses discursos podem ser veiculados em diferentes formatos de média,


incluindo jornais, revistas, televisão e redes sociais.

Marisa Torres da Silva afirma que a noção de discursos de ódio é muito complexa e controversa, sendo que
assume um carácter performativo visando “silenciar, humilhar, intimidar, discriminar, perseguir, ameaçar, incitar à
violência, atacar, desumanizar, amedrontar (...)”.

O conceito e as considerações em torno dos discursos de ódio variam em função do contexto a que nos referimos.

Nos EUA, predomina um “mercado livre de ideias”, sendo que o discurso não é visto como ação. Na Europa, o
discurso de ódio assume-se como ação, pelo que se constitui enquanto limite ao direito de liberdade de expressão.

Definição de Discurso de Ódio (Comissão Europeia):

“O uso de um ou mais modos particulares de expressão – nomeadamente, a defesa, a promoção ou a incitação


à discriminação, ódio ou desrespeito a uma pessoa ou grupo de pessoas, assim como qualquer forma de
assédio, insulto, estereótipo negativo, estigmatização ou ameaça a essa pessoa ou grupo de pessoas, bem
como qualquer forma de justificação de todos estes modos de expressão – que sejam baseados em caracte-
rísticas pessoais ou estatutos.”

A internet é o palco privilegiado dos discursos de ódio. Será a literacia mediática a solução?

COMO É QUE OS MÉDIA PODEM CONTRIBUIR PARA COMBATER O DISCURSO DO ÓDIO?


Þ Contextualizando a informação de forma rigorosa;
Þ Dando visibilidade aos atos de discriminação;
Þ Fazendo um alerta e contribuindo para a consciencialização dos perigos dos estereótipos;
Þ Dando voz e visibilidade aos grupos e comunidades marginalizadas e/ou minoritárias;
Þ Desenvolvendo campanhas de combate ao discurso de ódio.

Marisa Torres da Silva estuda como os discursos de ódio nos media


são recebidos e interpretados pelo público, examinando como essas
mensagens podem afetar as atitudes, os valores e os
comportamentos das pessoas em relação aos grupos alvo.

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Dinis Marques – 130322018
Licenciatura em Comunicação Social e Cultural – 2.º semestre

Diálogo socrático e Discurso de Mudança Social (Abenoza & Fonseca)


A Filosofia Ubuntu visa a melhor compreensão do sujeito humano, da sua formação enquanto pessoa coletiva,
e não individualizada, já que o Homem vive em comunhão com o outro.

PILARES DO UBUNTU
Autoconhecimento Autoconfiança Resiliência Empatia Serviço

É no princípio da humanidade que surge a reflexão sobre diálogo enquanto meio para a criação de pontes, e
resolução de conflitos.

Abenoza e Fonseca baseiam-se no conceito de Diálogo de Sócrates, bem como nas reflexões de outros autores,
sobre a verdade e diálogo. É esse o pressuposto da extensão da nossa individualidade e da verdade.

MÉTODO SOCRÁTICO

O método de Sócrates baseia-se no questionamento de modo a alcançar o


conhecimento, e de forma a procurar inconsistências.

1) o primeiro mecanismo do diálogo é destrutivo – este visa “examinar e


destruir as crenças morais que o outro expressa”.
2) o segundo mecanismo é construtivo – visa convidar as pessoas a
“examinarem as suas vidas para que vivam uma vida melhor”.

O diálogo socrático baseia-se no sistema de perguntas e respostas mediado por


um facilitador que deverá fazer as perguntas certas, sendo que as pessoas se
devem expressar livremente, com intenção de partilhar e contribuir para chegar
à verdade.

PRESSUPOSTOS DO DIÁLOGO:

- Abertura de uns face aos outros de modo a construir pontes mediante as quais se torna possível comunicar e
encontrar a verdade;
- Eliminar a postura defensiva de modo a racionalizar sobre questões complexas;
- Receção e aprovação da palavra de um por parte do outro. As conclusões só podem ser verdadeiras e manter
o seu vigor argumentativo se incluírem os pensamentos dos outros;
- Explorar e buscar novos significados, sem buscar o consenso, abrindo caminho para acolher as diferenças;
- Partilhar significados e descoberta de novas realidades;
- Aproximação de “princípios, ideias, decisões e normas, cada vez mais justas e integradoras da experiência e
das necessidades de cada um”;
- Ver o outro como igual deixando de parte as diferenças de poder;

O diálogo não é... consenso, debate/persuasão, adoção de uma postura defensiva, julgamento do outro.

Em suma, o diálogo socrático oferece uma abordagem colaborativa e reflexiva para a busca de conhecimento
e a exploração de ideias. Ele pode ser uma ferramenta poderosa para promover o pensamento crítico, a
aprendizagem colaborativa e a compreensão mais profunda dos assuntos discutidos.

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