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Bion fala de uma parte psicótica da personalidade desenvolvendo-se

paralelamente em relação a uma outra parte, não psicótica. Se, nos sujeitos
saudáveis, essas partes estão em comunicação, no esquizofrênico, haveria um
fosso entre elas.

Distúrbio esquizofrênico (meio e traços de personalidade)


Personalidade esquizofrênica
Conflito insolúvel entre as pulsões, com predominância de impulsos destrutivos
sobre os amorosos
Ódio à realidade externa e interna, e tudo o que, no aparelho psíquico, leva a
percebê-las
Pavor de aniquilamento iminente
Relações de objeto precoces, delgadas (fáceis de romper) e adesivas; na
transferência, também se dão prematuramente, e se caracterizam por serem
profundamente dependentes (conforme se alarga, suscita poderosas
identificações projetivas – produção de estados confusionais, empobrecimento
da personalidade).

Ataques ao aparelho perceptivo


Assim como o bebê ataca o seio, também pode atacar o aparelho perceptivo,
que a realidade externa mobiliza.
Por quê? Aparelho mobilizado pelas exigências da realidade, segundo o
princípio de realidade.
Mecanismo: cisões minúsculas e identificação projetiva das partes. (se teu olho
te incomoda, arranca-o!)
O desenvolvimento da percepção está intimamente ligado ao desenvolvimento
do pensamento verbal; o ataque afeta a ambos.
A partir desses ataques sádicos muito precoces, alarga-se, progressivamente,
o fosso entre a parte psicótica e a não-psicótica no esquizofrênico, até que toda
comunicação entre ambas seja interrompida.

Resultado no self: sensação de não estar nem vivo, nem morto; sensação de
aprisionamento; fantasia de estar rodeado pelas partes expelidas do aparelho
perceptual do Eu, depositadas nos objetos, ora dominando o objeto, ora sendo
dominadas pelo objeto.
Objetos bizarros: condensados resultantes do encapsulamento de objetos
físicos do entorno do paciente por um pedaço do aparelho perceptivo.
Exemplo: minha tia, que dizia que a televisão falava com ela; entendo que fazia
identificação projetiva de uma parte da visão, aquela que insistia em perceber a
falta do filho de onze anos, morto em um acidente automobilístico. A parte
projetada da personalidade agora falava com ela, de modo que o aparelho de
televisão não era mais um objeto inanimado, mas tornara-se animado com
aquilo que, do Eu, foi excindido e projetado para dentro dele.
Esses objetos são protótipos e substitutos de ideias. O esquizofrênico “pensa”
coisas e fica atônito se as coisas não seguem as leis de seu pensamento.
Pergunta: será que poderíamos pensar no animismo, tão característico do
narcisismo, como uma modalidade de excisão de partes do aparelho
perceptivo? Em Totem e Tabu, Freud fala do animismo, característico dos
primórdios da mente individual e coletiva, como “psicologia projetada”. Se a
psicose é uma regressão ao narcisismo (ou, em Klein, uma manifestação de
um narcisismo ineliminável e sempre presente, como uma parte psicótica da
mente), não seria de se esperar que ela fosse também animista, com todas as
formações características do animismo?
Introjeção por “identificação projetiva ao inverso”. Fragmentos não são
sintetizados ao serem reintrojetados no Eu; em vez disso, são amontoados e
comprimidos, sendo sentidos como perseguidores em busca de retaliação
pelos ataques perpetrados. Essas introjeções trazem as marcas das coisas em
que estavam depositadas, de modo que, ao serem trazidas de volta ao Eu, o
Eu sente-se cindido por elas.

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