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ADAM SMITH EM PEQUIM

ORlGENS E FUNDAMENTOS DO SÉCULO XXI


GIOVANNI ARRIGHI
Trarlu;!IJJ Be�tri1:-Mc.dina
Llp,·esnrta(,/VJ Thootoo.io dos Sa.11co,

,�.,._,...-�,-.uv
lt, ti I t' o ft ! A 1
11
ESTADOS, MERCADOS E CAPITALISMO
NO ORIENTE E NO OCIDENTE

NlUlla conversa recente com Mearsheimer, Zbigniew Brzel:.Íllski fez uma ava­
li,11,,ll> da "ascensão pacífíca" d.i China que lembra ,múto a de Kissinger. "Clara­
"" nle, a China está sendo assimilada pelo sistema internacional. Seu� l!deres
t'•" 1·,cm perceber que Lentar desa.lojar os Estados Unidos seria inútil e que adis-
111inação cautelosa da inOuência chinesa é o caminho mais seguro para
1 p1cúominância global." Contra essa l\Valiação, Mearsheimer reiterou a opinião
I,• 11 u c "a China não pode crescer pacificamente''. Caso seu fabulosn cresciment()
, , 1111t,mico continue nas próximas décadas, "é provável que os Estados Unidos e a
• 11111:1 se envolvam numa intensa competição pela segurança, com considerável
l"'l,·11dal de guerra. ProvaYelmente a maioria dos vi7Jnhos da China, como !adia,
l,tp,10, Singapura, Coreia do Sul, Rússia e Vietnã, se unirá aos Estados Unidos paro
" ,lt 111gir o poder chinês"'.
l(s�;1s opiniões contrasrontes refletcJll diferenças de método. Mcnrshci111er pri­
tlq;ia a t�-oria em vez da realidade política, porque "uão podemos saber como
,1•1 ,1 ,l rcalídaJe política em 2025''. A teoria da ascensão das grandes potências, por
'"''" L,úo, pode nos di1er o que esperar "quando a China Liver um produto nacio-
11,,I h, uh1 bem 111,tior e suas forças armadas forem muito superiores às de hoje': Sua
1, 011,1 !cm uma "resposta simples e direta" sobre o que esperar: a China lentar.\
, 'l"tb,1r os Estados Uni.los da Asia, mais ou menos como os Estados Unidos
, 1111l�ar,11n JS gr.ondes pntências europeias do hemisfério ocidental"; e os Êstados
1 111dos "h1m'nr:lo conter n Chma e por fim enfraqut!eê-la a ponto de ela nào ser
r...
llh11 1 l',IJ'll1 ele 1lo111in:1r li Ásia J. 1�nmport,rnclo-scl di.mtc da China mais ou
,

1111 nu, ",nm ,�,0111por1,11,1m di,1n1c d,1 Uni,io Sovictica dur,111tc a Guerra Frin"!.

/b'F'*'l\ 111,, ,1111111-.1, h�hn J \tr •nh Hn«'f t t, h º' 1hc 111.uh� r •
11,1,11 Ili 11 ' '
aJ1smo no Orie nte e uo Ocide11tc
Adam Smith cm Pequim Estados, mercados e ca1>•· 1
ação final em
Chm
. a como coodi ·ção de sua transform
,mc· 0 da em seu es·
Brzez.insk:i, ao contrário, prMlegia a realidade política em vez da teoria, p(111111 cresci mento econÔ rmen te os "-' os Unidos. Mas, .
"·tad
apta a dcs afi ar milita.
, de potência poder militar que
n "teori a, ao menos nas relações Internaciona is, é essencialmente retrospedh l•ran - do po d er econôm'1co no tipo de
Quando aco11tece alguma coisa que 11ão se encaixa na teoria, cla é revista' '. 11 l\ uema, soment e a co v� � s n rsa
i dos pode t ransformar a China nmna
m,10s o Estad os Un
suspeita qu e ocorrerá o mesmo na relação entre Estados Unido s e China. Dt• 11111 hnje se concentra nas
cia.
lad o, as armas nucleares alteraram a política do poder. O fato de se ter eviltltlt, " ,.cr·dadeira grand e potên sua eco-
conflito direto no Impasse americano-soviético "deYeu-se muito ao armamcntu ... \ eles se e onc entrar l'lo no fortalecimento de
tos,[ . norte-americ ana. Então, poderão
que toma a eliminação total das sociedades parte da dinâmica crescente da guc.11, Se os chineses forem esper . r ue a ccononua
tom ma,o o em que
nomia até que ela se e estabelecer uma situa�
e
Diimuito o fato de os chineses não terem tentado adquirir capacida de militar po11• aem q
po erio
cl . m ili' t ar
traduiir essa força. econo•
m,c• e criar to d· o hpo de
atacar os Estados Unid os''. De outro lado, o mo do como as grandes potê nct,, -
çoes d e d'l a r os te1m os aos Estados da região Uru •·
'dos t..,n
, s. l ...IA grnnde vantagem que os Estados
. n,• em cond1 J
esteia
se comp o rtam não é predeterminado. "Se o s alemães e japoneses não tivessem • os Unido . de ame açar
probl ema p ara os l'.stad o no h enli·férlo oc,den1a
. • • caoai
1 que, seJa
comportado daquele modo, seus regimes talvez não tivessem sido destrní<lm
Nesse aspecto, "os lí deres chi nescs parecem muito mais ile:xíveis e sofisticado� ,h,
agora ê ""noe não há nenhu
de sob1·
m
e
Estad
. tno.
viv .- 3 nem os•de seg
=,·~
u,.. ,,... /\,;sim
.
· s
• elc- estão livres para
inclus
. a
,�c
nem se<IS inleressc$ • problemas no .
quinta l aIh et o • Outro s Estados,
que muitos aspirantes anteriores à condição de grande potência"3• percorrer o mundo e cnar os un\-
oculto em . problemas no quint al dos l:.stnd
cuar
Há muito a dizer sobre os dois méto dos. O que acontece no "curto prazo» de un" Interesse
China ' é claro. tém o 11tcnçào ali.. •
cm duas dé cadas é determinado por uma série de fatos contingentes e aleatórios q111 para que es �
t•� tenha m de concentrar sua .
dos contmua1.
de um p onto de vista mais distante, como explico u Mearsheimer, "são diluídos d.1 or p rte dos chine ses
, «esp . erto" p
a
u e seJa • mais o
equação� por tendências subjacentes mais duráveis, A menos que tenhamos um,, A possibilidade de q r cad
.
o rnterno e da
riqueza n acional com
, , d e seu me
usando a rap1da c:x:pa
nsa. o enquanto o sup os-
teoria apta a identificar e explicar essas tendên cias mais duráveis, nós nos pel'dcn•
1 e g lobal (corno .J3. ve. m fazendo'
Instru me ntos de poder
reg lraque) e
......,o está atolado no .
iona
mos tentando imaginar o q ue acontecerá quando a "poeir.t dos fatos contingente, 1 norte -ame n ·-•�
aparato milita r zmsk.1 de
;1lcntórios assentar. Entretamo, as tendências subjacentes duráveis não são imutáw1• tamente todo-p oderoso nosas hO
' desdenhar a tese de Brze
hist ó r�· as enga .
descartad a com bases rna improvável o con-
c
nem inelutáveis; e fatos contingentes e aleatórios não são mera "poeira� Em tcni1n�
cresc unc nt o econo • mico constante to
q ue o desejo chinês e lóoica deveria ter
ideais, a teoria da so ciedade e da política mundial de,·e r ia ser capai de explicar'" . os, M earshelmer argumenta que "essa o
d

mudanças, assim como a continuídade, do comportamento e elas interações mÍlhhl' flito com os ,Estados
U01d . a Guerra Mundial e à Alema11ha e ao
an tes da P rimeir .
dos atores principais; deveria permitir o aprendiZado, se não pela própria teo r ia, 110 S·,do aplicada à Aleroan.,
h a
l e u " ' np1·c .
s siona nle c:rescnneolo
n a to apesa
. r ee s 11
menos pela s experiências históricas que a teoria tenta descrever e explicar; e dov111·111 Japã o antes da Segw1da . No � � n ' as g uerras mundiais e o J
apão come·
deu m1c10 a mbas a
tumbém específicar as c ondições nas quais os fatos contingentes e aleatórios, em w, cconômicô, a Alemanha nem
a •
ª AI em anh a ante s da Primeira Guerr
de se "diluírem': po dem abalar as tendências estabelecidas e facilitar o surgimento d,· .
çou o conflito na As1•a;
. Na verdade,
• antes da Seuounda tiveram tanto SlLCes�
. "'O eco·
aeO fapa o . u ez8
novas. Não é tarefa Í'ácil. Mas, para� útil, a teoria das relações �-e gralldes QOl�ll Mundial nem a Alemanh sucesso industrial ' mas,
em termos de nq
, ia� dominantes e emergentes precisa atender a pelo menos duns exigências: tem dt• ..iveram, sim, gran . d e separava
116mlco assim. 1 .
r a
·<
dhe rença de renda per capita que os
,e bn�c,tr m1s experiências históricas mais coucern'êõresãii problema estudado e prt•
m1cional, mal consegrur • am reduz, de ser
os.Est ad os Unidos•.
O recurso à guerra po
, i�.1 pi-êvcr a possibilidade d,, rompimentÕ com-;;s tendênclns ,ubjnccntcs. Se (1 p111 avam atrâs d
tia Gr11-Brctanha e est
l>lcm., <la opioi:lo de Brzczinski é que ela não tem funda111ento teúrico, o prohk·1, 1,1
.111 d,• Mcal'shcin1cr é que ela exclui todo e qualquer desvio do rc�ulrndn previsto (011
�1•111, o .;onfiunh> militar) e tem cn1110 busc fu11dn111entos tott1l111cntc l11a1lcqu,1dm
/lk,11-..hl'in1cr �11hcs1i111n o papel ,111c os 111crcod11s e n c:ipll.,I dc,c111pc11h,11,11H
li1,1e11 k.11111·111� ,1111111 i11,tn11n<.'11h1 de poder pc1r dird1v p1 óp1 ln. l'll' v� 11 r1111t 1111111
Adam Smith em Pequim Estados, niercados e c.1pilll.lismo no Oriente e 110 Ocidente

interpretado, na verdade, como tentativa de obter por meios militares o pódor 1 u1•
1 em tennos econômicos (os Estados Unidos). Essa foi uma relação que evoluiu dt1
·não conseguiam obter por meios econômicos. profunda bostilídade mútua para a cooperação cada vez mais íntima, exatamcnll!
Os Estados Unidos, po.r sua vez, não tiveram necessidade de desafiar milil lu quando osEstados Unidos começaram a questionar reg'ional e globalmente a hegc
mente a Grã-Bretanha para consolidar seu crescente poder econômico. Com1l monia britânica7• Se já aconteceu antes, por que não pode acontecer novamente? t\
vimos no capítulo 8, tudo que precisaram fazer foi, e m primeiro lugar, deixar' ,1 teoria que não responde a e.çsa. pergunta e prevê que os .Estados Unidos e a Chinn
Grã-Bretanha e seus contendores se esgotarem em termos militares e financér rumam inevitavelmente para o confronto militar daqui ·a duas ou três décndm,
ms; em segundo lugar, enriquecer com o fornecimento de bens e de crédito ntl pode ser pior até do que nenhuma teoria. Essa avaliaçã.o se justifica principalml,nlc
contendor mais rico; e, �m terceiro lugar, intervir na guerra em fase tardia, pnr,1 diante do fato de que a teoria de Mearsheimer (assim como as posições de Kaplu n
ter condições de ditar os termos da paz e facilitar o e.,,ercício de se.u próprio p<1 e de Pinkerton discutidas no capitulo 10) deixa totalmente de lado a experiência
der econômico na maior escala geográfica possível. Hoje, não há potência mili histórica do sistema interestatal nativo da Ásia oriental. Q[>rincipal objetivo dcst� 1
tar e.m surgimento com tendência ou capacidade para desafiar a potência domi ca�ulo é mostrar que não só a China (como observou Kissinger), como também t)
nante. Contudo, a potência dominante está envolvida numa guerra sem desfecho t�do o sistema de relações intercstatais da Ásia oriental "..êm se caracterizando por �
previsível que visa demonstrar o que evidentemente não pode ser demonstrado, uma dinâmica de longo prazo que contrastá intens�nte co�a 1inâmica odeio,1 j
ou seja, que ela pode Impor ao mundo seus interesses e valores com base nt, de Meàisheimer. Essa dinâmica diferente resultou rn1
tal na .qual se baseia a teoria --
_,-:.......,.....--. -�---- -:-:;:··- '
poder destrutivo de suas forças armadas. Ness,1s circunstâncias, a melhor estrn• amplamente reconhecida primazia chinesa na formação do Estado e_ da econorn 1,1 (1
..d1J tégia de P�;!:.?�ª di�os Estados Unidos não eoderia ser uma varian­ nacional dttrante o século XVlil e no início do XIX. Mas também cnou_ condlçô�� J
J., ,N�' te da estratél2ia norte-americana anterior
Nt/If
V IJ..."' - g:_:;.; -- --
diante da Grã-Bretanha? Não seria d•i
""""
para a posterior incorporação subordinada do sistema da Ásia oriental a estn,111111
1 máximo
, ·� \ interesse da China, em primeiro lugar, deixar ;;-Est'idÕs Unidos s.e do sistema euroieu globali7,ante� Essa incorporação subordinada transformtru,
: ,1J,•
e�iii � teTõiÕs milhares e fiuanceirns numa guerra i��ni.mivel�--
ror; em segundo lugar, enriquecer com o fornecimento de bens e de cTédito a
mas 11ão destruiu, o sistema regional preexistente de relações internacionais, 11,
mais importante, contribuiu também para a transformação contínua do própr lo
uma superpotência �te-americana cada YÇ.?-..,[{)ai.�coerente; e, em 'ierc� sistema o cidental incorporador. O resultado foi uma formação político-econ/\1111, ,1
•� IÚgar,i.1wa expansão de seu mercado nacional e de sua riqueza para çanquistar híbrida, que criou um ambiente especi.ahnente favorável para o renascimento ec"
r:��'7 al� (i1,1.dusive algumas grandes em1)resas norte-amer!.S.anas) na cri'!,ÇiiO_de oônúco da Ásia oriental, e a consequente transformação do mundo para além dn
; - .,., u�a nova ordea1 n)a11d1al centrada na China, mas não necessariamente militar- que as teorias com base na experiência ocidental são capazes de compreender.
� .S. -----
f , r' , mente d omma . d a por e1a?
• •:f. �11", -A incapacidade ele Mearsheimer de ao menos pensar nessa possibilidade foz A paz de quinhentos anos
u� q. C\.�arte da tendência geral de as análises norte-americanas sobre as consequências
. Um dos grandes mitos da ciência social ocidental é o de que os Estados nncl o
lf°"'�fr • fntnras •
da ascensão da China se concentrarem exclusivamente en1 casos de relo-
nuis e sua organização num sistema interestatal são invenções europeias. Na VCI'
•1• • --\• çoes competitivas, e não cooperativas, entre as grandes potências dominnntes e
dadc, com exceção de alguns Estados que foram cria<;ão ele potências col()nh.1l,,

1
�':I�Ô;j( emer�entes�Assim, a relação slno-americarta con,temporânea costuma ser compa­
rada a relaçao da Alemanha com a Grã-Bretanha no fim do século XIX e iníció d1 1 europeias (principalmente Indonésia, Mal.á$ia e Filipinas), os países mai� írnpc,r

, -0•
\l
XX, com a relação entre o Tapão e os Estados Unidos no entrcgucrras ou c:um ,1s
relações soviético-americanas depois da Sc.gunda Cucrrn Mundinl. J1surprccntlun
·/ 'f'te que a maioria dos observadores 1101·tc-ame1•icnn1,s deixe d� lnd,1 n wmp11, ,1çnn
C 1ml0 obsc:r\'OU J\rad r>el .ong cm reíerênch, (•spcciílc:, à rossívcl cYt)luç.1,:t Íul\11'.1 tias ntu:\I,.. r�·lll� ,•11.
f.llH) Mn<"ru:i'.ln,1,,, 1:' ) nn dCcn1ln de 18110 tis Uslndos Uni1l<,s � a ( '" i r .i-Urcrnnhí' I ,111a$e '-'11' rill ' ,11H t-111 ltU
o
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r., c.•m v1r1u1.l t• ,Lu <lbput�,"i tcrrltc1n.1i1- 110 non)c:-tc dn PMiíln> e ,1,) h1a,1tivü i;(tml-rdo de pch•� quci 1111

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·11 . <Jue parece sera mais rélevantc, ou scj,1, ,,qucln Clll ,.,. 11·, 1�1.1,fk, ,in,, ,111wric,rr1,1S 1k 11\l'i 1 1 •,htth.t!t I tntt.lu" � 111
lil' ,,1,\IJL.tV,t, M,1, 11"°' c.l�,.,dw• sci1tulntc1111 ( :r11 Brctnnh� pn,ti:rlti 'iC 1,.: 0 111od,tr
\1·1 <I,, .111111111111 i.,�, c·,1b1l,C'lrH'l\\lo '"'H.. c,011\imh"'' ,. pnhth.:(\!i \,l(l,1 WJ/ lllíll'i c' ,Hrll11 . t ll,1do 11 1u
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hoje e as rulaçile.� �11trn u pntCnda lwgm,1ón1< ,1 d111nh1111II,· d,, J rm du •,&, 1il 1 , XI X 1, 11 <;1H11I h11 l 1 \, "� l I,,· l\'1UI \tt1'1'I
� 'b' infeto dn X X (n lklnu l hildCI) tl 11 11,11�11, hr 111111·ri,;1·111<• 111,11� lw111 'IH ,,,1 11 h,, 1111 ,11 '""1, ( 111 I\ IJI 1· N1·1I K1nl( 11.. � , ( hum'-. lt 11p1,.J I t onnml� l l1 \-1110101w111
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Ada. m Smith em Pequim
Estados, mercados e capitalismo no Oriente e no Ocidente
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11111lt'$ da Ásia oriental - de Japão, Coreia e Chin \'
a a Vietnã, Laos, Tailândia e Cam
h1,;a -, 1::ran{'f?tiÍcfo"s nacionm?muito antes de sistema político !PUltic�ntrico�na� oriental [ ...) com muitas característic as 1 ·\ ,°\')l
-
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1"'1"· Mais ainda, diretamente o u através do centro ---~ -----
todos os seus eguivalentes eu1·0
análogas � sistema interestatal da Europa" 10• •
.J!)
chinês, todos estavam ligado�
rn I rc si por relações comerciais e diplomáticas e assim - .&s as semefüanças tornam analiticame1ite importante a comparação entre os ,.; � 1, \,
eram mantidos pelo entcn
J () f' 1
dl111cnto conjunto dos princípios, das normas e dois sistemas. Mas qu�do comp arnmos sua dinâmica, fu!as diferença])fundamen-
das regras que regulamentavam 11
lutcrnção mútua, como num mundo entre outro tais tornam-se imediatamente evidentes. Em primeiro lugarª como discutido em W,
s mundos. A exemplo do qu,· . ,•1 ,
111os1 raram os estudiosos japoneses especializ c.'.!Pítulo§ anteriores, a dinf!i�?_sistema europe u ca1:1cte nzava-se Pel. a mcessan- . ' .!j i
ados na reconstrução do sistenm ,
, 1 1111crchil-tributário
centrado na China,_esse sistema apresentava seme �petição militu entre seus componentes 11aciona1s �m.:.la.t�.t:ll!ê�a. �f,!lUI- ' .
lhanças su ,
1 kic11tes com o sistema interestatal europeu para são geo&ráfica tanto do sistema qu�to_� �eu cen�o mutáve� �ougo � p".nodos de ,,.
que a coJUparação entre os dóli. _ 1
tosse importante em termos analíticos•. paz entre as potências europeias foram exceçao, nao regra. Assun, a paz dos cem
Ambos os sfatemas consistiam em uma multiplic anos" (1815-1914) que se seguiu às Gu erras Napoleônicas foi "um fenômeno nunca
idade de jurisdições polltl visto uos anais da civilização ocidental" ª . Além disso, mesmo durante essa paz os
, ,Is que bebiam da mesma herança cultural e com
erciavam extensamente dcntn1
\la rcgíão. Embora o comércio transfronteiras Estadoi europeus se em,olvermn em incontáveis guerras de conquista no mundo
tivesse maior regulamentação p1'1
l•lka na Ásia oriental do que na Europa, desd não europeu e.na escala da da corrida armamentisti\ que culminou com a industria-
e o período Song (960-1276) o
..,ornérdo privado ultramarino prosperou e liza�o da guerr a. Embora o resultado inicial desses envolvimentos tenha sido uma
transformou a natureza do comércio
1 rlhutado, cujo principal objetivo nas palavras de nova onda de expansão geográfica que redt1zi1 1 os conflitos dentro do sistema euro-
. Takeshi 1-Iarnashita, "veio a ser
11 hus,·n de lucro pelo comércio não peu, 0 resultado fmal foi uma nova rodada de guerras entre as potências europeias
oficial que em suplementar ao sistema ofl­
, l,11''. Também é possível perceber analogias na (1914-1945) que resultou em destrutividade sem precedentes12 .
r,,clcl'iwva os dois sistemas. Os domínios disti
competição ínterestatal que c:1,
ntos que se mantinham unidos
Em forte contr aste com essa dinâmica, o sistema de Estados nacion !is Asja \J 1ª
pdo sistema comercial-tributário centrado na oriental destacou-se oela quase ausência d��na: exp ao-
China eram "bastante próximo.� __._____,....� --... - - ' -
j\ P:1'." ' s� '.nfluenci a em entre si, mas 1--:1 dis tant
s�_g�a.e:te�- Assim, com exceção das guerras de fr' - ��
· d a Cluna,
te1ra
.
. as
. _ :. _ _ �s. demais �ara se assimilarem e quais discutiremos agora, os Estados nacionais do sistema as1atico-ortental, antes
\: ,1 •�111 ,1ssm11Jados . O sistema comerciaJ-tnbut ano
'.
oferecia um arcabouço sim
de sua incorporação s1tbordinada ao sistema europeu, viveram em paz quase
1 hólko de interaç,�o político-econômica mútlta que, nfto obstante, era s;fici;.,1c-
1
111cntc frouxo ara dotar· seus comeonentes ininterruptamente. não apenas durante cem anós, mas sim durante trezentos . , r:t\
� J).!'ri_férj!:9.s sfu;.p�nlvd autono•
1111,1 cm re!açao ao centro c� Assim, anos. Esse longo período de paz; ocorreu entre as duas invasões japonesas na Co-} · 1_; 1
Japão e Vietnã eram membi'll�
tf p�1·l íérlcos aõ sistema. mas eram também reia que precipitaram a guerra com a China - as guerras sino-japonesas de 1592 a 1 '• \
concorrentes da China 11 0 cxcrcicle1
d11 l"unçfio de conceder l:Ítulos imperiais: o Japão !598 e d.e l8.2f ª}_895. Entre L598 e 1894 houve apenas ?uas guerras que não e��-
volveram a China - as s.iamo-birmanesas de 1607 a 1618 e de 1660 a 1662 - e t1es 1 1.i1, (ff
quando esiabelece11 um rclacio
\ 1111mcnto de �po tributário com o reino R)•ukyu e o Viet
nã_ com relnçãú m1 Laos•.
) \111,tllturn detende expUcitamente que a difusão dos melhores conhccim guerras rápidas que a envolveraJll - as guerras de 1659 a 1660 e de 1767 a 17?1 '
lt\ nlcos e orga11iz acionais na região torna "pos c11to, com a Birmânia e a de 1788 a 1789 com o Vietnã. Na verdade, no que diz respeito ri,,,
sível pensar na prcscnçn de 11111
i1 China, devíamos falar de uma paz de quinhentos anos, já que, nos d11zentos '1,.
� 1'111 ,, u,11 1,11t1t1r.i1nr1 gcrnl d,t CôOlrihuii;fü• �lesse·� e�(lt<
e ,11111.dM W1wld,.S)'hlt\111 V-.'l:i Th� 1 lblôr)' n( H,L-.t�$uul .líc_♦s,,�. vur Síl1t1�h 1 lkc•(lu, ""Tl1<.\ 111-:1ory of 11 t4, 1 Knoru Su glh,,r.1, "'J bc .Eumpcan Miracle and U\e Ea-st Astan Miraclc: 1bwards II New Gtobal Eco-
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11 nn,i•mn1n l\l' pt:dodo de t 815 a J 914. houve ap enas tr�.s an� e �eio de gtle�ra tntre as potêi1c1as
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Onl..1r). e d,•k- 111.: (1Íw1l11 � nU1 ..1,1fü11lt1-. :-,01111• 11 1d1.l\1\1 , Nl(l
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Adam Smlrb ,m Pequim � ')� i'M'1'\!,:,-,.d,,Q,A on "1.t )'\- (� 1 ,L, tr.
Estados, mercados e capit.tli•mo no Orie?te e no Ocidenle
"6� &<Ã. ,-4 n,l'?JtH•!..
,,nos anteriores à invasão Japonesa• da Coreia e1•1 • 1592 , a Chma ' :.o entrou em
1:11crra contra outros Estados da Ãsfa oriental durante No norte e no noroeste, a China enfrentou povos m\lito mais poderosos e distintos do
a invasão do Vietnã, entre que nas outras fronteiras. All se tornou daro que a amenço de força dava sustentação;\
1-106 e 1428, para restaurar a dinastia Tranº.
ordem do rito comercial. Os Qin)l só puderam afirmar de fato que eram o pólo centrai
A baixa frequência de guerras entre os Estados asiáti inconteste de um sistema Íribii'tácio concentrado em Pequim depois de criar alianças
co-orientais associou-se 11
11111ª :eg nda difü�ª.111\1�.POrtJ!n.t�t�

- ·-
� �� asiático e ew-01)eu: militares com os mongóis Qrlenta.Ls, exterminar os mongóis ocidentais rivai�oquis-
·-
,, ausenaa de toda e qualquer tende· 11c·ia de os Es tad ·' ·co-on
� tar Xinjiru1g e garantir a suserooiã fÕrm'al do Tib"êie°."
, . os as1at1 entais competi-
'<• '.Ili entre
__ si para
___ cons1rulr hnpenos 1i_!!ramarinos e de se envolverem em corrida�
,1r'.1mmentistas minímamcnte c.omparáveís à europeia. A expansão territorial que se seguiu e as atíYidades militares que a sustentavam
Mas os Estados da Asitt estabeleceram ns fronteiras que todos os regimes chineses subsequentes tentaram
º'''.t'ntal competiam entre sL Sugibara, por exemplo, perce
be uma relação compc- preservar. O pri11cipal objetivo era transformar uma fronteira diflcU de defender

:,r"
1'.t,va em duas tendências complementares típicas
do Japão durame a dinaslln cm peiiferia pacillcada, em região-tampão contJ:a os invasores e os conquistadores iQ
lokugawa 0600-1868): a tentativa de criar um sistem :
a comercial-tributário cen ela Ásia central. l-!_a década de 1760, assim que o objeth•o foi atingido, a expansão •1 ·
Irado no Japão e nã.o mais na China e a extensa absor
ção de conhecimentos técni• territorial cessou e as atividades militares transformaram-se em atividades ,e�i- ,;;• ·
.:os e organizacionais da Coreia e da China no campo
da agr·1 culrur""• da 1111·. neraçuo d, :ils qtie�a7,;m co�olidar o mo!!OP.óllo do.!!.§2 da violênc�elo Estado chinê� � Q •
�· do manufatura. Como explica Heita Kawakatsu
, co1n � �•"s tend·enc1as · "o JapJo • dentro das fronteiras Tecém-criadas, Embora bastante substancial, essa expansão
tentava se tornar uma pequena China cm termos ideol
ógicos e materiais»,._ Entre 1drritori7J°�palidece quando comparada às ondas sucessivas de expansão euro-
t,rnto, esse tipo de competição direcionou e> ca�; , ""nho c,o
O desenvo1 v11nen· to d a Asin peia: a primeira expansão ibérica nas Américas e no sudeste da Asia, a expansão
orit'ntal parn a formação do Estado e d.a economia · ·
nacio11aJ, e nao para a guerrn c russa contemporânea no norte da Asia e a exp,msão holandesa no sudeste daAsia,
1'·11·•� •1 expa nsão territorlal - ou seja, na direção contr sem contar a ��o_postcr�Grã-B°retanha no sul da �sia_e na Ajrica e de
ária do caminho europeu.
Essa tese tah·ez pareça se opo r à longa s éne · d e guerras que a Chm �cus rebentos na América do Norte e na Austrália. Ao contrário dessas ondas su­
· a travou cm
,u•is · rroutei111•s duuu1· te os u'Itimo
· s anos eJa J 111astia Ming e nos primeiros J 50 ano� ,·cssivas, a expansão Qing foi estritamente limitada no espaço e no tempo pelo
d 1 dinastia Qlng. Como observou Pcter Perdue, a histó obíctivo de fortalecer as fronteiras, e não de ser um elo numa corrente "intermíná-
: ria do sistema centrado na
< hin,1 surge sob luz diferente quando é vista do "pon wl" de expansões interligadas.
to de ,ista da fronteira''. ,\
1 1r.•,cnça de ca,·aleiros nômades que atacavam as front A diferença não foi apenas quantitalivll, mas também qualitativa. A expansão
eiras e v.írias vezes conquis­
t,,,.,11 11 a ,apitai chinesa tornou a atividade militar tcfl'itorial da China durante a dinastia Qing não se inseria no tipo de "ciclo de
_ , espec ialmente Importante 1111
ltl,torrn <los limit es norte e noro este 1111tofortaledme111d: discutido no capitulo 8, no qual o aparato milltor dos Estados
_ _ ___ <ln • Ch'
, 1 na
_. " 1 ade m,·1·11ar d estacou-se
• at1·,,d
,uh,ctudo uando os conquistadores do norte estab europeus sustentava a expansão e era por ela sustentado à custa de outros povos e
? _ eleceram a dinnstia Qing. cm
1 M•I, e dec,d,r:1111 garanti!' que outros invnsores do norte
não fi 7.cssc111 com ele�., instituições políticas do globo. Não se observa nenhum ciclo desse tipo na Ásia
lf"X cl11s linlinin feito com os Ming. oriental. A expansão t�.!:)torial da China no período Qiag não foi impulsionada
,
P1:ULC0111p;tlção com outros Estados parn 'extrair recursos de periferi:is ultramar!•
11.1, nem nela resultou. A lógica da economia política associada a esse tlpo de com­

J(
p,•t içüo tem pouco e�omum com as práticas da China. ªEm vez de extrair recur­

p0Htic;1......_ �
p�n1 incorporar novas �...-.,..
ntétras -
•,1" da ncriferia, o mais provável era que o Estado chinês ln��sâo
... ----- o'-
compr�mcteu -
---com a remessa
governo
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,k 11·,1mos par., a periferia, não com sua extra ção. "16
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1
1
Adam Smith em Pequim Esrad·os. mercados e capil1llis,no no Orien1e e no Ocidente

Essas dinâmicas diforentes dos sistemas europeu e asiático-oriental estavam in­ cursos fora do sistema, indica que o maior desequilíbrio de poder não consegue
li1110111e �te ligadas a outras duas e, em certos aspectos, foram determinadas por explicar sozinho a quase ausência desses dois tipos de concorrência no sistema
d,1$: u chfcrença da distribuição de poder entre as urúdades do sistema e a diferença asiático-oriental. Seria preciso que ourro ingc.>diente estivesse presente na "mistu­
do g rou com que a fonte primária de poder se locafü,ava dentro ou fora do sistema, ra'; europeia e .ausente da "mistura" asiático-oriental para que se produzisse esse
i\nlcs mesmo do século XVI "ampliado"· da história europeia (de l350 a 1650) e da padrão divergente de concorrência entre os Estados. O candidato mais plausível
,·1·,1 Ming da história asiático-oriental (de 1368 a 1643), o poder político, econômiCQ para isso éa maior ��são do caminho europeu de desenvolvimento em com­
,· cullnral nesta última estava muito mais concentrado no centro (Chi.na) do que na
. p aração c�ocifininb.o asi�ico-oricntal e em relãção a ele.
l:u ropa, onde era muito mais difícil identificar um centro propriamente dito. Mas a Embora o comércio dentro, entre e por intermédio das jurisdições políticas
.
diferença se acentuou ai.uda mais com a derrota do Tapão ao tentar desafiar militar­ tenha sido esse1icial para o funcionamento de ambos os slstemas, o peso econônli­
lllênte a centrali.dade dlinesa, entre 1592 e 1598, e com a institucionalização do co e político do comércio de grande distância em relação ao comércio de pequena
<.'1111llíb1io de poder europeu pelos Tratados de Vcstfália, em 1648. clistância era muito maior no sistema europeu do que no aSiátlco-oriental.. O co­
' A e�trut ma equili.brnd,1 de poder do sistema europeu contribuiu, por si só, mércio entre Oriente e Ocidente, especificamei1te, era uma fonte de riqueza e de
, _
, 11 �1,';l a d1spos1çao dos Estados europeus em travar guerras enn·e sl. Como desta­ poder muito mais importante para os Estados europeus do que para os asiáticos,
't' "
, ° 11_ "•;,1�':ri, os m�caiu�os de equilíbrio de poder - ou seja, mecanismos pelos sobretudo para a China. Foi essa assimetda fundamental que permitiu o sucesso
11uars Ires ou mais umdades capazes de exercer poder [ ... ] se comportam de
de Veneza e levou os Estados ibéricos, instigados e auxiliados pelos rivais genove-
J
' 111odo a combinar o poder das unidades mais fracas contra todo aumento de·po-
•k•r· das mais fortes" - foram ingrediente fundamental para a organização dos cem
ses dos venezianos, a buscar a ligação direta com os mercados orientais 19, J:� �
1
zJ[!i
mesma assimeJ.ría._c:QIDQ..:@X��. !I razão por trás dos baixos Juc;ros, �� relas:� 11 f �
11 ,lll(1� de paz do século XIX. Entretanto, em termos históricos, os mecanismos de
;;s custos, das expedições d���g He ao oceano Índico no sé�l ? XV. N�o fosse i • ,-1 ,
tquilfbrio de poder só atingiram o objetivo de manter a independência das uni­
1�1...ele E_?deria_ muitQ bem ter "circ�n 2.::.na�11 ado �.fric�escoberto' Port1;g� (·l
d11des f lllrlicipantes "com guerras constantes entre parceiros cambiáveis"ri, A , ')
várias décadas antes de as expedi Õfê§ do fnfante I)pQ11iennque çomeçarem a real- ,?
prl ncipal razão de esses mesntos n1ecanismos terem resultado em paz e não em
m�va11ça1 · pira o s� de Ceuta"'º· A ''descoberta" acidental elas Américas por 1
1111�1'ra no século X.L"{ foi que o poder político e econômico se concentrou de tal c'oiôinbo - enquanto procurava uma rota mais curta para a riqueza da Ásia - mu­
1)1° ' lo nas mãos da G,ã-Bretanha que isso permitiu que ela transformasse O equi-
1 . dou os termos da assimetria, porque deu aos Estados europeus novos meios para
, lfhno ele poder, mecanismo que nenhum Estado jamais controlara individual-
I
tentar ingressar nos mercados asiáticos, além de nova fonte de riqueza e de poder
111c111c e q ue funcionava por meio de guerras, em instn1ménto de domínio britâ-
11i('t1 informal para promover a pai.'". 1
" Giovanni Atrlghi, TheL011g 'l\.•entiel/J Century, çap. 2. A assinletria entre Orleme e Ocidente tem l
A nssodaç.iio do aumento do desequilíbrio de poder com a reduç.'io da freq uên­ 1) .istória longa, que rcmonra ao século XVI "ampliado" e ao período Ming. Ver ;\r <:hibald Lewis, 'l1re
,
, l 1 de ���1 c1 Tas ocorrida no século XIX dentro do sistema europeu indica que 0 Jslamlc World nnd tlU! West, AD. 622-1492, p. vii; Cario Cipolla, Before t/u, lndustnal Rewilut,on: Eu­
_ ropew, Societya11d Eco11om y, JIJ00-1700, p. 206; Janet Abu-Lugbod, Before E«ropea,1 Hcgeniony: The
d1'\Cq111hbno de poder t1pico do sistema asjático-oriental foi a razão da baixa fre•
World System A.D. 1250-1350; p. 106-7, Entretanto, neste estudo estamos interessados apen�s na ass,­
ci11é11ciri de i;ucrras entre os Estados daquela região. No Clltanto, o fato de a con­ me.tria espccífkn entre Oriente e Ocidente que configurou os fü.tos na Europa du.r�nte o seculo XVI
t 1·111 1'<11:�o ,lc poder nas m:ios britânicas, ocor.rida no sé culo XIX, ter sido acompa- "ampliadd1 e na ,\$ia oriental durante o período Mlng. e que foi transformada por eles.
11h11da da cscalnda da concorrência entre os Estados, tantc) na prod ução de mdos ,. Paul Kennedy, 71ie Rí$C a11d F.,1/ oflhe Great Powers: Btonomic Change and Military Conflld from
!SOO to 2000, 1'· 7 [cd, bras.; A,cemão e 'l'"d" das grande:s po/Bncias). Além disso, como explica
,lt H1 11·1-ra nindo mai s destrutivos quanto no uso desses meios parn t�r ncc:;,�o Li rc- McNeill, "i: fácil supor que, se os chineses tivessem pre(erido dar continuidade às viagens ultramar!•
na,; ck c.xpl or,1ção. um aJmiranle dünês que aproveitasse a corre1Hc do Japão poderia ter chegado à
, ,11.. l l't1l11t1)1J, l/1,• (,';� ,lt l't,nh)mnmffan, p. 5 haÍII ,to Sno Fr,1 11dsco ,'lidas décadas nntes de Colombo tropeçar nas AntiU1as" (William McNeilJ,
·; \uh,,• u li,lflWfo, llll.1\110 h,í1(íu1,11 eh• r11u1r1h�h>1.tlc• 1111tl1• "World I Hst,,ry und the m,c und Poli ofrlw West� p. 229). Com navios que provav �lmcnle trans�Qr­
Um·.m111 A trlHht ,, Un, r 1) 1. '-11li.--, •• f 'h,un mui ( Hil•'' 1111m1· f.lU\ 111'1!1 UIIH'I\IU \!1 1l111nh110 hlfíltnhil, \1.'I l,1\'.ill\ i,�(JO C(111\: 1 1,dni.., ,,o ntpM�dw: à 11,111 c11plti1nln de 300 10n"lndus. (h: v,�sco da ( ,omn, a capac1dn..
h1.1• ,111, •• .t.,11,, fl,il,111,l,,.lr ,,,, m11,ltrm• ,;.1,m111 m11u, i" m tltc'- J\,füd1·1 ,, Ht11M ,,.,,.+m, p 'IV ,, 1 fnl tlti 11,u,ill • hh1,•411 flt•,"-•' f'pm 1, 11,Ju l(ul1i 11 lv.11 Vtt1' 'Wnlhu'l1 M,:N(liU. '/'l,c /1ul'Jull ofl'mvt1r.- 'lhJlilnf()KY,
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Arnu ,I 1;.,,,1, 1wtl ,,,. tro· u,1t,1 •\ ,, JfKHI, I' 11


Adan1Smith em Pequim
llstlldos, mercados e capitalismo no Oriente e flO Ocidet1te

no Atlântico. No entanto, mesmo depois de dois séculos da descoberta, Charles


vocaram enormes migrações rumo às regiões do sul, especialmente atlequ:11111,
Davenant ainda afirmava que quem controlasse o comércio asiático teria con(II
para o cullivo de arroz com elevada produtividade. Já q_oe nesse tipo de cultura 11
ções de "impor a lei em todo o mundo comercial"".
chegada de mais mão de obra podia aumentar significativamente a produtivi,h1dc
No capítulo 8, argumentamos que essa extroversão da luta de poder europein
. da terra, a população daq_ue. las regiões cresceu com rapidez e atingiu densicfo,lc
fo1 um �os pri.ncipais determinantes para a combinação peculiar entre capitali�­ muito maior que na Europa. Além disso, a eficíência do cultivo de arroz para a$�t'
_ .-
mo, mil,tansmo e territorialismo que impulsionou a globalização do sistema euro­ g11rar excedentes de alimentos acima do n!vel da subsistência permitiu aos agrl
peu. A dinâmica oposta do sistema asiático-oriental, no qual a lntrovcrsnt) cultores aumentar a quantidade e a variedade de produtos cultivados e comerei"
crescente da luta pelo poder gerou uma combinação de forças políticas e econôm i lizados e dedicar-s e a atividades não agrícolasn.
cas se' n t �ndência à expansão territorial "interminável'; pode ser agora tomado Sob o impacto conjunto do comércio marítimo e do dese1wolvlmento do cuh 1
.
como 1�d1c10 contrafactual para apoüu- aquela tese. Mas assim como o surgiment1, vo de arroz, as regiões costeiras viveram uma longa retomada econômica bas<!ntln
do caminlio europeu extrovertido só pode ser entendido à luz da difüsão dases­ nos avanços da tecnologia de navegação, na consolidação da "rota marítima d,1
tratégias de poder iniciadas pela$ cidades-Estado italianas, o sw·gimento do caml sedà' e no florescimento de Cantão, Qua:nzhou e cidades portuárias menores n,1
nbo asiático-oriental introvertido só pode ser entendido à luz do sucesso das litoral sul como centros de comércio tributário. Ao mesmo tempo, os povond<1N
políticas dos períodos .Ming e Qing no desenvolvimento da economia de nrercad(l chineses em todo v sudeste insular da Ásia promoveram o comércio marítimo 111 1
que era, de longe. a maior da época. vado, que ultrapassou o comércio tributário oficial como principal forma de l l't '' ,1
econômica entre a China e a Asia macítima". O constante apoio estatal ao cvmér<: 1, >
A economia de mercado e o caminho "natural" marítimo privado e a migração parn o sudeste da Ásia no período Yuan ( 127'7 j
l
da China para a opulência -1368) levaram 1t forma.ção de redes comerciais ultramarinas chinesas nos mnrc� tln
sul e no oceano 1ndico tãç,s �tensas quanto a rede europeia da mesma épocíl. N il'•
Os mercados nacionais, assim como os Estados nacionais e os sistemas intercs­
pedodos Song e y�ã;t'rlen'áência que mais tarde se tornax.ia típica do ca111i11lw
tatais, não são invenção ocidental. Como vimos na primeira parte, Smith snbin
europeu de desenvolvimento já estava presente na Ásia oríc11tal".
muito bem aquilo que depois a ciência social ocidental esqueceu, ou seja, que du­
Entretanto, na Ásia oriental essa tendência não levou à conc.orrêJ1éia i.'llt rl! 11• 1

rante o século XVIII o maior mercado nacional não estava na Europa, mas n.1
_ Estados para construir imperios comerciais e territoriais ultrn:111arinos, an1111,
Ch �na. A formação desse mercado nacional levou muito tempo, mas sua cont1gu, aconteceu na Europa. Ao contrário, nó período l\1ing�a foi controlada com p1>ll
raçao no século XVITI resultou das atividades de formação do Estado do período ticas que priorizavam o comércio nacional e, às vezes, roib_gun o comércio çJ<I••
Ming e início do período Qing. rior. mu ança da capital de Nanquim para PeqL1i111, de modo a proteger ,·,1111
D�r. au �e o período Song (1127-1276 ), ao sul, as elevadas despesas militares e ns ,�elkiência a fronteira norte contra as invasões mongóis, levou para o 11011 1" .,,
.
'.nden1zaçoes de guerra aos povos mongóis e ttmguzes na fronteira norte dn China, circuitos de trocas de mercado que haviam se formado no sul. Além dis:;o, pm ,1
J untamente com a perda do controle da rota da seda e o enfraquecimento de mo­
nopólios governamentais lucrativos, como a produção de sal, ferro e viJ1ho, leva­
" e ;iovanni Ml'ighi, Po-keung Hui, J-lo-fung Hung e Mark Scldcn. "Historic�I Capitallsm, 11 ,l�I ,111,I
ram a corte Song a privilegiar o comércio madtimo como fonte de renda. Teve \\rcst': p. 269-70; Jung-pang Lo. "!vfarilinlc Commcrcc and its Rdati<111 to the Smtg Nnv)"', I', n 111
particular importância o estímulo <la tecnologia de navegação por· meio do upoi,i Fr ,mC.:S1.;n Br,:w, Thc Wcc Economics: Tecfmolf>g y ,md De.vclopment ;,r Asimr Soclat.les, p. 119: M,11 k 1 1
1

técnko e financeiro dos estaleiros. Depois de estrear o uso d:1 b1'1 ssoh 1 1111 navcgn vln, ·nu: J'11tli: of thc Chint•sc 1'1lSI. chp. 9; Ra\'I A. Palul, 1'Historí�1I 'frnnsJol'm:\U01\S. in A1\1111 l,111
n1

Sy$lcms IJuscd '"' WcL-Ricc Çuhlva1lon: Toward an Allcrnalivc Model o(Sotinl Chllng�•: P • �11•
ção, os chincs�s, ,0111 seus Juncos de pron aguçndu, popa r·crn e h.1�c c111 ponln, "'
' JtmH"Pª"S Lo. "Mnrltlme Commc:rcc nud lls Relolion tú lhê S\1ng Navy , p. 57 ..s� Po,k�u1114 1 hu,
puderam nnvegnr cm altu vclocidndc cm 111nrcs t11rb11le1110� como 1wnhum ou1 l' I > '
"'t)\·t•rm.w: t hi11t:)\C nu�inl!ss Nctwnrks: lfo.sl /\:ii�n B\'.<momic Dcvêk11>menL in l lhaorlel,l l'crt,prçtl
Vt''°,p, /,') ,'-0,
11,1v1n do mundo. A pn1��ílo rnilltnr e n� p<:rdns tcrrllorlnls 11<, 111,rw li1111h�·11; pro
t I hm �l ii.•n,� Yi\nU,, Mí '1tf)f mui ( ', ,•,/11 1111/tlwu li Slmr, I lii/r'fY: M11Jk l1 lvln, 'riu: P,111,•, n o/ ti,� f lt,

( lhulr, nn 1 1 h W, 1lí. f UMf,i' ,1111f 1/;,• l\•(1p1,, w1flumt t lldllt ,., 1• 1 i' l
n 1 ,l\w111011 "uº"' p 1 , MI
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111•,t /'mi, rnj1 t•h ,,P'<hl11uh 11 �hH111, ''fü1111< l M�lt{U T1Mk, lln Sc11p1,.• 111ul 01t\�1lli).Ult>1t", 1'· h1r, l
1 U\l lh'! t � 111 t111 1 \01111,lr,f ( ,11tm.i; 1,,,u ,li• J,,11,i._ll 1(), 1.111tM�·fo IU►H 1\11\io ,lt, < 1u1111��11t,1u (1 ,um\11)
Adam Smith em l'equlm Estados, m<r<adoo e capíralismo no Oriente e no Ocidente

.,ssegurar o suprimento de comida à capital e;\ região vizinha, os Ming recupera­ A assi 111etria já observada na busca de riqueza e poder entre os contextos euro­
rnm e ampliaram o sistema de canais que ligavam as regiões produtoras de arroz peu e asiático-oriental constitui uma �e.sposta simples a essa pergunta. Os �stados
no sul ao ce ntro político no norte, promoven do assim mais crescimento da econo­ europeus travaram guerras intermináveis para estabelecer o controle exclusivo das
mia de mercado e das "cidades de canal" oa região do baixo Yang-tsé. Também foi rotas marítimas que ligavam o Ocidente ao Oriente, porque o controle do comér­
importante a promoção da cultura de algodão no norte no inicio do período Ming. cio com o Oriente era recurso fundamental de sua busca de rique1.a e poder. Para
A especialização subsequente do norte na p1·odução de algodão cru e do baixo os govema,nes da Chit1a, ao conb·ário, o controle dessas rotas come� clais era m� ti­
\'ung-tsé na manufatura de tecidos de algoclão expandiu ainda mais o mercado to menos importante do que as relações pJdficas com os Estados .::nwhos e a m­
nacional, patrocinando o comércio norte-sul ao longo do grande canal". tegração de domínios populosos numa CCOi:!QllUa nacional de base agrícol�. Por­
Enquanto promo,•iam a formação e a expansão do mercado nacional, os Ming tanto foi extremamente sensato da parte dos Ming não desperdiçar recursos para
lentavam centraliU1r o contmlc da receita impondo restrições administrativas ao coni:olar as rotas madti ma� entre leste e oeste e se concentrar no desetwolvimen­
comércio marítimo e à migração chinesa para o sudeste da Ásia. As sete grandes to do mercado nacional, seguindo pela estrada que mais ta-rde Smith usaria corno
vi:1gcns do almirante Zheng Hc para o sudeste da Asia através do oceano fndiw exemplo do caml.nho "natural" para a opulência.
entre l405 e 1'133 também visavam ampliar o conlrole do Estado sobre o comércio . _
Na verdade, até O "co mércio tributário" da China - cujo alcan ce as expedLçoes
exterior. Entretanto, essas expedições se mostraram excessivamente caras e, quan­ de Zheng He tentaram ampliar e em seguida os Ming reduziram - tinha mais custos
do os Ming passaram a se preocupar mais com as ameaças militares imediatas na �
econômicos que beneflc\os. Desde a criação do sistema tribu tário unificado nas --, �
� ;
fronteira norte, fornm abandonadas. Por mais de um século depois de ter se volta­ dinastias Qin e Han, mais de mil anos untes, as relações tributárias coLre a corte f ,..'
d1• para o interior, o governo Ming continuou a promover o comércio interno, mas imperial chinesa e os Estados vassalos não env� lviam_ cobr nnça de impostos. Ao �Ífl.:
delimitou o comércio marítimo, atacou o comércio e.xterior não autorizado com contrârio os Estados vassalos ofereciam à corte unpenal chinesa present� as ll
., Asia marítima, restringiu o número de missões tributárias e chegou a proibir a simb6HCC:s ;;-;ecebiam em troca outros muito mais valiosos!..l'rincipalme�JlPi� �
�i\ ct1n�t-rução de navios mercantes'6• êia dinaslia Tang e com exceção única da dinastia Yuan. Ass_ im, o que nominalm�� -
,�1\it Janet Abu-Lughod afirma que a China dos Ming te1: abandonado o oceano ie era tn)uto" reve ou-se, na ver a e, uma tr ansação de mào dupla que perrmt1a
• Índico ''deixou os estucüosos perplexos e até desesperados durante os ítltimos cem ao Reino Médio "comprar" a aliança cios Estados vassalos e, ao mesmo tempo, con-
�,. ,. " · fi
,uu�, no nummo . E m termos ma,s cspecí cos: trolar O flu:co de gente e de mercadorias cm suas fronteiras mais distantcs'8.
1' ' Quase a ponto de dominar uma parcela signiâcativa do globo e de gozar de vantagem A sustentabilidade e a eficácia dessa prática- que, em termos históricos mun­
t\�,t) �técnica não só na produção p:,cll'icn, como também 110 poderio naval e militar [ ...J, por diais, é n ilustração muis importante da V'�lidade do lema de Hobbes ("a riq� e-t:l
) J.� •111c ln China! virou as costas, retirou a esquadro e deixou um enorme vazio de poder acwnulada com liberalidade é poder, porque traz amigos e criados") - dependiam
de várias condições. A economia chinesa tinha de gerar os recursos necessários
� •tnc os mercadores muçulmanos, sem o apoio dos poderes marltimos estatais, estavam
tu10l111cntc dcspreparados para ocupar, mas que seus colegas europeus se mostrarfam para comprar a aliança dos Estados vassalos; o Estado chinês tinha de estar

muis do que capncitados e dispostos a preenche,· depois de um hiato de aproximnd,t· condições de exigir esses recursos; e os Estados vizinhos ünliam de ser convcnCL·
_
dos de que a tentativa de tomar recursos da economia e d� �tado ch'.neses � or
meio� {IUC fossem contrários à autoridade do governo chines (como 1�� oes.
1,10,.mm Arr,ghl, 1\-,.kcung l lul. 1lo-(ung Ilung e :11ar� Sl'lden, ·ttistorlcal Cop1t•lis111, E•st nml conq ui>tas, guerras ou apenas comércio ilegal) não valeria a pena. No 1111cm � o
\\, ,t� 1• l71: 1111 fm>s I lung. •1mpcrlol China and C:1r11.111>t l!uropc in 1hc l!lghtcenth·Ccntury Cllo sécnlo XVI, apesar ou J.ilvei: por causa do sucesso na consolidação e na expansao
h.111 \,11Htmf, p.•11/l ?.
1 ,1111j\w11 W,11111, "�llu� l',,,,·,vn Rel11llo111: Southcosl i\�111". p.•11(,,23; Wllllum 1\1<'Nclll, 1/11• 1'111,1111 dn ccu,rnmlu nndonal, ns introvertidas pollticas Ming encontraram cada vez mais
l l',llh ,., I' 4�,, Hlm.hu1 ,n í'IHHIJ-t, liMlnH<JIII� IMl<ri:ll:111H lllílil)'I ,hcn�... c: h1�u,u1?l :hour I/\ 11ulrtl, dt•
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11111, •, h..-, �·'"' t hlnr .- flmlllC''' N,h,,,,�,. p '1 8. � l • , , , \\,HlPI )! , ,,.1, '"" ,1,m.r 1,,,.Ju ,lt- /i,tt,1X1J'"' u, f Jr,u.,...-trr,:'t"ºX""'"" IA n•l.,,,iu rnlrr" ( hln�
f .1111 t \bu I up,hml ''•,._,, I w1>J•• 1111 I l1 1 the'tl\· I' \ 11 • frt, 1 t•1lm1 \(111 t11h11I U htl! lhl t1 M;t\, uu ,lr1 li 1) I' 1 'li
1
Adam Smith em Pequim Estados, mercados e capitalismo no Otiente e no Ocidente

dificuldades para reproduzir essas condições. A corrupção generalizada, o aumen­ chegavam à China via Manila tenham reduzido a crise fiscal e social do pah, ,1'
to da inflação e o déficit fiscal crescente n a frente interna foram acomp a nhados de dificuldades, financeiras dos Ming aumenta ram por causa dú custo elêvnd,i il,1
uma p ressão externa cada vez maior, provocada pela expansão dos manchus ao guerra com o Japão na década de 1590, da declaração de gL1erra aos manchw, 1111
norte e pelo comércio ilegal que escapava ao cont role dos coletores de impostos do década de 1610 e da corrupção cada vez maior na cor te e cm todo o go,·crno. i\
go\·emo Ming no litoral sul. O comércio ilegal, realizado por mercadores chineses imposição, feita pelo Tapão, de políticas restritivas a o comércio na décucla d<·
1630, combinada com o declínio a centuado do fornecimento de prata curop�11
e japoneses armados, era ativamente e1\corajado pelos Hderes guerreiros japone­
nas décadas de 1630 e 1640, foi a gota d'água que fez o copo tl'ansbordar: a ciL·v,1
ses, que usavam o comercio lucrativo de produtos chineses para financlar suas
ção do preço da prata agravou o fardo da tributação sobre o campesinato e prn
guerras m út uas. Como os Miug estavam financeiramente compromet idos, obriga­
,·ocou o ressurgimento da agitação em todo o império, culminando com a de, 1 o
dos a reduzi r despesas no caro comércio tributário e inc ap azes de exercer controle
cada dos Ming em 1644".
militar eficaz nas regiões costeiras do sul, o comércio privado tomou-se m ais uma
Com a consolidação do domínlo Qi11g, a antiga polltica Ming de privilégi•• .lu
vez a principal forma de troca econômica na rcgião29 •
comércio interno em detrimento do externo voltou com aind a mais vigor. E11l11·
A degradação in terna e as pressões externas fortaleciam-se mutuamente, ger.rn­
1i¼I e 1683, os 91ng_proibira_E1�nova1:;;�o comér�o�rítimoJ:.riv�o e aclr11.1
do �túrbios sociais explosivos. Diante da crescente ingovernabilidade do império,
ram uma polltica de terr a arrasada gl!LlraJ!Sfonnou p litoral sudeste da Chi1111
os �g tentaram resolver a crise por meio de reformas tributárias e de exploração
·um elÕfündmientâI � ligação do 1nercido chinescom o mercado mundial- n11111,1
do prospero comércio privado que pudessem reduzi r o descontentamento dos cam­
te rra de ning\1ém que separúu os dois. A proibição marítim a foi suspensa cm I t,ll 1,
poneses. A corveia e a tribut.ação na forma de produtos - duas das principais causas mas foi estabelecida uma regulamentação estrila à indústria naval que restrillflhl"
da 1�is�ria e da agitação dos camponeses - foram substituídas em grande parte por
_ tamanho e a tonelagem dos juncos comercia is; foi proibido manter armas dr 1 "li"
um umco imposto que deveria ser pago em prata. O enfraquecido papel-moeda foi a bordo. Iniciava-se assim uma nova época em que o comércio era legal, 111.i. ,,
abandonado em favor do p adrão-prata, e na década de 1560, para aumentar o fluxo China marítima perdeu sua frágU autonomia. Além disso, em l 717, os súdito�, ht
de prata vindo do exterior, as restrições ao comércio com o sudeste da Ásia foram neses foram proibidos novamente de se lançar ao mar em navios privad(l, 1'. 1•111
reduzidas e os mercadores licenciados passaram a ser tributados�. 1757, a nomea ção de Cantão como único porto legal para o comêrcili cxtc1 lo, "'
Ess a mudança da pol ÍI ic a fiscal, monetária e comercial foi possibilitada e en­ lou o destino de todo o litoral sudeste por quase um século''.
corajada pelo fluxo maciço de prata gerado pelo comércio exterior, primeir amen­ Enquanto o comércio exterior era desencorajado, a incorpornçãu de 11· 11,11
te com O Japão (o maior fornecedor de pr at a d a região) e em seguida com :i Euro­ fronteiriças por todos os lados não apenas aun1enlou a escala do 111ercudr11111111111,11
p a e as Amérlcas31 • Embora as remessa s espanhola s de pr at a americana q1w como também reduziu o custo dn proteção em todo o império, rcdu�,itl ,p,1· 111
governantes Qing repassaram aos súditos oa forma de impostos baixo, e t·,t,1"'',
" lam<s \V. Toog, Disordtr Under Htm·tn: Collectivt Viok11ce in llre Ming D}'nruly, p. I IS-29· Fml• i\ tributação baixa e estável foi acompanhada da ação estatal vigorosa p.1rJ d 11111
eric _ l\'•knnan, '11,e Gre,,t E11t,rpn's,: TI« 1"1andrn R«o1i,/ruction of lmp,r/al Orda /11 &w11;w11/,.
nur a corrupção burocrática e n evasão fiscal por meio de recenseamento; cm111tl11
Ct11tury C/11'.'.ª• 'ª_P 1: Ray flunng, "Ftsrnl Adminlsrrolion During the Ming Dynasty� p. 105-23; IJu,
: n império, reformas fiscais e sistemas mais eficientes de coleta de informnçtic,, 1-111
f'.tng Hung, Mnr1tome Capitallsrn ln Seventccnth-Century Chino: Thc Rise ond Fnll of !snxlugu 111
Compararlve Pc,.pcctlve� p. 12•8; John 1\, Wllls Jr., "Moritime China l'rom Wang Chih to �hlh I M(I: ii;unlmellte importante a promll<;:'lo da redistribuição e da recupernçuo de 1,•11,1,
Thein<s rn P,rlpheral Hlstory': p. 210-1. P,1r,1 consolida r seu poder diante dos senhores de terras Han, os primcim, Qltit
" Jamo \V. Tong, Disorder U1td,r Hea,-.n: l-\1llfan, S. A1wdl, -Som, Ol>scí\,lho"' 011 lhe
;«cnt �• �· .C<ntury Cri,ls' ln China and J•p•n� p. 223-44; Dennis O. 1•1)•nn e Mlurn (iir,il,ltt cncornjacam a divisão constante Jns grandes propriedades em pc<111cno� lnln r,
llorn w,th S1lvcrSpoon':ThcO1·igln ofWorld Tm,lc 111 1571"' t•. 201-11• /ohu J, ' Wi ll, /r "'1 IY itlll n1'
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ti"'. ." r• �0111 \V011g C.hih
' lo s 1ih L<mu", p. 2 1 1: Jurgí, Eli,1111"' "Thc11,,or,11·,1[,lv l't h111y: J., 1 ui' ,, lldl,,
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Adam Smith em Pequim Estados, mercados e capitalismo no Oriente e no Ocidente

conversão dos trabalhadores servis sob contrato em meeiros. Ao mesmo tempo, crescente população da China tanto quanto seus antecessores, ou talvez mais.
inici,lram uma grande variedade de programas de recuperação de terras a fün de Contudo, soperou-os todos quando pôs a população a salvo das vicis,�itudes do
restabelecer a ba$e fiscal sem aumentar os ímpostos". mercado de grãos com um sistema de celeiros que permitia que comprasse e u r·
A dupla "democratização" da posse da terra, com a divisão das grandes pro­ mazenasse cereais em épocas de abundância a preço babco e os ve1,desse a pte�o
priedades e a recuperação das terras, exigiu ação estatal maciça para manter e ex­ abaixo do mercado em épocas de escassez e de preços anormalmente altos. Alt\111
pandir a infraestrutura hidráulica. Com:o explicou Chen Hongmou, autoridade disso, autoridades de alto escalão coordenavam o fluxo dos grãos entre os celeiros
muito influente: locais para garantir que todos pudessem e11frentar de maneira rápida e efü:a'l, :1s
37
excessivas flutuações cicl.icas dos preços •
Quando os pobres com�rn a culth>ar novas terras, cabe ao governo fornecer auxilio
O ,resultado conjunto dessas pollticas foi paz, rospJridade e crescímento de•�
oportuno para o desenvolvimento de sistemas locais de irrigação. Se o custo for alto
mogr.áfico notáveiS, ue :s:T..ll..Jn , 11M, no s�ulo XVIll, o exe�ploje caminltu ,11
demais para a sociedade local, é preciso fornecer fundos dos cofres oficiais. Se a decisão
de quais obras hidráulicas construir for tomada coru base apenas no q_ue o próprio p ovo "!!aturai'; para a opulênçia de Smith, assim como �e de inspiração para os defoi1 f
economia oacl<>m1l lf
pode pagar, muito -pouco será reamado." •ores europeus
o :::...::::.::J:.;;.;;;;..;;.;..;;;.;..;;.;- __, - , da meritO'<iracia e da
do absolutismo benévolo
d�ase agrícola. Embora nenhum pensador chinês do século XVIJl tenha tcorl'l,i\ ._
O envolvimento do governo no aprimoramento agrícola, na irrigação e no do a contri.bulção da empresa autointeressada para a economia nacioilal, con 10
tran�-porte fluvial foi parte Integrante da ação dos Qing para contrabalançar a de­ observa Rowe, o já citado Chen Hoogmou estimou que o mercado era instrumQ n ,
sigualdade espacial e temporal do desenvolvimento econômico. Como já observa - to de governo, a.ssim como haviam feito Smith, Hobbes, Locke e Montesquieu. �
do, essa desigualdade foi compensada com políticas que estimulavam as tendên­
cias de mercado por meio do apoio econômico das periferias internas. Essas
Chen não hesitou em apelar para o motivo do Lucro para fazer com que a populi11,li t �
local se engajasse cm seus vários projetos de desenvolvimento, como a coJ1strnçno '1r !
políticas indlúam o estímulo à migração para regiões menos povoadas por meio
novas estradas, a introd11ção de novas mercadorias para ex'Portações regionais, n ,,, 1,, 1
de informação, infraestrutura e empréstimos; iniciativas para disseminar novas ção de celeiros comunitários e assim por diante. Numa formulação não muito dlsh111lr
formas de cultivo e especializações artesanais; grande investimento em infn,estru­ da ''m� de Adam Smith, Chen defende que esses projetos trarão Juur1 1I l<l \
tura para assegurar a subsistência em áreas ecologicamente marginais; e políticas dos [...] exatamente do mesmo modo como dão ll1cro aos indivíduos:"
t1ibutárias territoriais que favoreciam as regiões mais pobres'•. •
Quanto à desigualdade temporal, a peça central da ação dos Qing foi a grande Entretanto, nem Chen nem seus co11teinporâneos chineses "rejeitavam ü íd, 111
expansão e a extraordinária coordenação da prática dos "celeiros sempre normais''. confucionista de harmonia social em favor da ideia de luta irrestrita no merc,ull •
O governo Qing confiava nos mecanismos de mercado para alimentar a in1ensa e [ ... ] e a política generalizada do laissez-faire";t. Embora Smith não fosse nenhum
confucionista, como vimos no capítulo 2, a ideia de pôr em risco a paz sücl 111 e "
segurança nacional em virtude da política generalizada do I�ez-faire em ll\11 ci.
:u Yeh-cbien \Vaog. Land 'faxmio,i in lmperinJ Chhm, 1750... 1.91 !; Peter C. Perdoe. Ex/l(msti11g the
fktrth: Sta/e nnrl Peasanl iJJ Hunan, 1500-18S0, p. 78-9; Ho-fung Hung, •.early Modemities ond Con­ traíi11a a ele quanto. a Chen. Se estivesse no logar de Chen, é difícil imaginar o q,w
tcntious J>olitics in Mid-Qltlg China, e. 1740,1839� p. -182-3; Be:itrlce S. Bartlett, ,\4'onarchs nnd ,\-//. teria feito de diferente.� verdade que achava que o maior envolvimento no com fr
11/sfer;: 7'/ie Grnnd Co1111cil in Mid-Cliing China, I 723-1820; Philip C. C. Huong, 7'11, Pensa/li Economy
mrcl Social Chang, ln Sorti, China, p. 97-IOS; /unjlan Jing. "Hierarchy in the Qing Dynosty•: p. 169-81. cio exterior, ainda mais se realizado com navios chineses, poderia am11entar ai11d11
Quãn<l<> as politkas: dos Qing resulta.ram num cresd.mento demográfico explosivo, o obJetivo do mais a riqueza nacional da China. Mas a prioridade desenvolvimentista qué \l liº
111dhoramcnto da lerra pa.ssou do testabdccim.ento da base fiscal do govemo ccntrnl para Q busca de veroo Qing atribuiu ao melhoramento agrícola, à redistribuição e à rccupera1,11u
novttS fontes de alimento a .flm de.: st1stentar a populnção cm l'áptdo crescimento (William 1: llowe, 1

S,w;ug tlte World: Ch,·u flcmgmcm mui EIUe Cousclou�wsr. 111 Wstel•nf/J .. Ccmury<:hilu,, ,-.. 56•7).
Citado ,:m Willinm 11: Rowc, Sm1iug //,p Wodd. p. 223. •· l'i�nc.• l'Ur1111r Vl1II ,. Hoy Bin \"lôug_, Noitrlsh tlh.' J>�•opfo: '/'lu• Swtc Civl/;rm (i'nmt1t) Sl$l1 1tt m
1 1
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('/ 1u1, lo�rl 1�,11. Wlllrn111 I'. ll<>wc, Sr11•h1g 11/í' IV11r//l, 1•. 1 ,;.�;.
11' Kc1111cth
l'l)l11Cíitll/\ ' /,1• (itc'(ll nh'f'f!{('lllr Uwi1pc. Chfn11, (tlt(/ 11,•• MIIÁIHJ! o/tlw /Vlot/1•,·u W(Jt/tl
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h""º"'>'• t• ��U, \111t1111 1\t1111n1 '"I hn1"1•holcl f lundlul,lh 1H)ll Stnlc Pultt v ln IJhitt 'I h11r,". 1• Ht1, uuy • Wllll,1111 t 111,,,, \111111x 1/11'1\101'11l,1,. 201 1.
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o oH
Adam Snuth em Peqtúm Estados. mercados e capilalismo no Oriente e no Ocide.nlc

de terras e à consolidação e à expansão do mercado interno é exatamente o que ele ajudam não só a resolver a ambiguidade como a identificar a natureza do dcNc 11
aconselhava em A riqueza das nações. volvimento com base no mercado no período Ming e no i1.1ício do período Ql1111,
?. y
rcJeiç
roblem da concep ã o de desenvolvimento de Chen e dos Qiog não é a
�. �
A primeira delas é que o flm da servidão e da ocupação de terras corno tal 0�111
ao da pohtica geuerah,,ada de lalssez-faire, mas a cegueira diante da tempes­ riam no período Qing levou ao "surgimento de um tipo essencia lmente novo t lv
_
tade que e �tava prestes a atingir as praias cbines3s. Como Smith, deixaram de ver sociedade rural". E a segunda é que "as inovações e as invenções tecnológicas ,hr
que o cammho europeu para a opulência, aparentemente wantinatural� estava re- rante o período entre 800 e 1300 produziram mudanças tão grandes que só w
faic.ndo o mundo num processo de des trUtçao · · crml1va
· · sem precedentes na histó- pode descrever corretamente o resultado como 'revolução', e o crescimento chinc1 �,
• un do McNe1II:
·. Seg
r aa.
. "
Na verdade, os navios europeus viraram a Eurásia do dal em diante, desacele r ou-se não só em comparação com a aceleração daEurn.,,,,
avesso. A fronteira ma r itima superou a fronteira cstépica como principal ponto mas também com seu próprio desempenho anterior=.
de encontro com estrangeiros, e a autonomia dos Estados e dos povos asiáticos O desenvolvimento chinês ocorrido antes de l300 está além do alcance dr,1,1
co �eçou a desmoronar"••. Se Smith, que estava no epicentro da tempci;tade nilo
investigação. Para os nossos propósitos, basta dizer qu e os i1.1dfclos disponfvul,,
a viu ch �gar, Chen e os Qing são desculpáveis por também não tê-la visto. � que
inclusive os de El vin, dão credibilidade à tese de Christopher Chase-Dunn ,. dr
tod ?s dcuar�m de perceb��nda acontece com_muitos de nossos contem­
Thomas Hall ele que o capitalismo "praticamente ocorreu primeiro" na Ch1t1,1
raneos, foi n diferença fundamental entre os desenvo!Yimcntos com base no
- -
� - ·
m_crc ado: o capitalista e o nâo capitalísta. Song43• Nós mesmos já Õbservamos, neste cap[tulo, que as tendências que se lrn
� típicas do caminho capita lista europeu no século XVI "ampliado" já c�l,t
Capitalistas numa economia de mercado não capitalista vam presentes na China durante os períodos Song e Yuan. Seja como foi, ,,
desacel eração do crescimento chi.nês depois de 1300 pode ser inte rprel11dn ('011111
Ao con �luir seu estudo clássico sob re n formação do "maior Estado duradouro
_ a primeira armadilha de equilíbrio de alto 1.1ível, a exemplo do que parece for,·, ,1
d � mundo,. Ell•m sugere que a queda da China na armadilha de equilíbrio de alto
próprio Smith quando afiona que a China, •ta lvez até muito antes d,, époc,1 1,1,·
mv �I foi resultad� de seu próprio sucesso no desenvohimento do imenso mercado
nac.tonal O crescimento nlpido dª pro duçao - e d a populaçao tomou escassos to- Mt1rco Polo], tenha adquirido todo aquele conjunto de riquezas que 11 11atu1<•1,1
.
dos, os •.�ursos, �xceto a mao de obra, e isso, por sua vez, tornou cada ve-L mais de suas leis e de mas instituições lhe permite adquirir"''·
prob lemaacas as inovações lucrativas. Entretanto, essa interpretação se choca com o ex1raordi11ário crescimcnlu ,., 11
nômico que Sugihara chama de "milagre chinês" do século XVUI e qu1• 1 wnh•
Com a queda do excedente da agriculturn e, portanto, da renda e du demanda i>er capita mostra a Figura 1.1, pennitiu que a participaç.'ío da Ásia oriental no PIH 1111111111111
, ' '
com o barateornento da mão-de-obra� porém com recursose-p't•• - 1 a.1c.n da Vel maJs caros,
. aumentasse ainda mais por quase meio século depois do principio ela Rcv11lu\ .t"
com tecnolog,a agrkcla e de lrllnsportt Ião boa que não havia pos.,ibilldade de aprimo-
_ Industrial britânica. Se a China entrou em estado estaci onário PQr voh,1 ,lc I lfNI
1'\lme ntos �mples, a est_rntégla racional tanto para os camponeses quanto para 0$ merca­
d ore:_ te11dta a seg uir uao canto em direção às mil<Juinas que poupam mão-de-obra, mas ou untes, o que explica esse novo surto de crescimento econômico? As nlivi1h11l1•�
_ _
s,m a econornrn de recursos e de capital tlxo, o mercado ímenso, porém qua.s e estálico ele formação do Estado e da economia nacional dos Ming e dos primcirns CJh1r, ,.
nilo criava gargalo$ no sistem• de produçao • que pudessem estimular a cri3tMdade. o �urgimenlo de "um tipo essencialmente novo de sociedade rural " no Sº"•rn11
Qu �ndo havia . carcslia
. re porâcias, a versatilidade mercantil, com base no tr:inspurte
� � ,lestes últimos não ajudarnn1 a China a se libertar da armadilha de cqull ih1'W , ln
bar,l!o, era remédio mar! rop1do e mais certo que a invenção de mâquiMs. füsa situação aho nível ? Tendo em mente a distinção que traçamos no capítu lo 3 cnlre os d1•,1•11
pode ser descrita oomo armadJlha de equilíbrio de alto nlwr"

Há certa ambiguidade nessa descrição de qunndo, exatmncntc, ri China fi,I pcgu " lhl<le111,11. � 1tt,
1<•; r:,,m11111·f1111 \\'CJl'lrl·S)'s/<'1111, 11 ,i,
na arrnnchlhn de cquil ihrio de 11lto níve l . No c11hrnlo, nlvin foz dun, ull i-m:ii·t,cs •JUC " e :111 l,1nphP1' t 'h,1\c-l)u1111 • ·1 hnmos llnll, lfü, m1d /l,•111/.
\'.a < uc dc:nu1H. I,\ 111ul,l1rtufd.\tlC'.' tot'mrlh.inh· �
hnc:,ll,1t.1nu-ntt", "nioh t.11 "._."""'·' 11n.m.�lh.- 11m.t rci.0,,11 1
nllhlU rm nl.1�111 c..1o1, iun.\rto •, C 111111,, toocu1lo
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Oriente e no Ocidente
Estados. mercados e capit•lismo no
Adam Smich em Pequim
•111
.1ta]'ism o da Europa das cidades-Estado it111h111.1•.
vnlvimcntos capitalísta e não capitalista com ba se no mercado, podemos respon­ que se 1-dentificaram com o cap Grã-llrehmha) ""
findando no Estado nacional (a
der dn seguinte maneira: em primeiro lugar, a tendência do crescimento smithiano proto-Estado nação ho1 d' itorial que tl,w,1 ,,
: de um império madtimo e terr
de ser pego numa armadilha de equilíbrio de aJto nível não exclui n existência de processo de se Lornar oª:e��o a sequcn� \,,,
t amos em capltulos anteriores. ess
equilíbrios ainda mais altos, que pod em ser atingidos com n1ud anças adequad as vot 1 a ao mundo· Como argumen eudedesenvolv11. 11t•11
r out ra .
coi.sa , i'denlJ.,,1 1ca o cam.inboeurop
no ambiente geográfico e institucional no qual se insere a �anomia; em segundo mai . s d oq q ual quc �1
e, algo comparável a essuscq1111
ue
.ia 'e
lugar, pode-se interpretar melhor o "milagre" econômico chinês do século XVID to como cap1tn . I'ista. D�esmo mo do a aus•�nc o Qin " �,
de ue no ' [od o Ming_ e no-- inicio do-períod • ,
CJ clai"Q
· ___.___ q ,_ P!:!___
como a passagem da economia de um equilíbrio alto para outro mais alto ainda, l ncrmaneceu nao c11p1111 11 '
em virtude principalmente das mudanças do ambiente institucional e geográfico qesenvo1vunent com ° _ba s_e no n1e rca d o na Ási · a orie nta;.,e
sn10 d,•
ent e liga da a iss.o estava a aus ê_ n�e algo que lembrasse, mc
ta. Intimam .,
reali?.adas pelas políticas Ming e Qing; em lerceiro lugar, apesar dess a elevação, o
- . remota , a corrida armamentista mcess • ante e a ex pansão tenitor ulti ial
desenvolvimento com base no mercado avançou na China numa direção diferente mane ira , ,_
..,,.,••�• -
. � , ...,
eus. eorno explica
.-ong· _,,..,.
"'
do da Europa, porque sua orientação se tomou menos e não mais capitalista". marina típica dos Estados europ · 1IÃ- ,• .-,1

t", "'
Como argumentado nos capítulos 3 e 8, o car:íter capitalista do desenvolvimen­ e d a nq . cza com erc .
ia 1 eur ope,.ia " '01· suo"ada por governos oecessitJd 'I
noa part
. as despesas sempre ,,·c,tt• uli ,
u
.
to com base no mercado não é determinado pela presença de instituições e de pro- . sua rcce,l� par� cobrir
oo.stavam por cxpandir a bMe de 05 se bcncl1, "' 1,1111
.d\��- pensões capitalistas, mas sim pela relação entre o poder do Estado e o capital. Pode­ das guerras. [...l Tan10 os mercad
· s europeus, qua,nto seus goveI11
ore • '"
r .«\� 'lrse acrescentar quantos capitalistas se queira à economia de mercado; se o Estado p 1 exa . os rímeiros por apurar
1 ucros fabulos. os e os último• 1>01
dess :i re!a ç om
nü,í tl,•-,•11
i..1e• s n0 fim do período lmpol'ial
loc
. .� do e1,.
.t'f não e stiver subordinado ao interesse de classe destes, a economia de mercado con­ gutar o receita l.ao necessana . O Esta merrndores ricos Sem a<« ,11 • ,1,

• , ,\\'U tinua não capitalista. O próprio Braude.l adota a China imperial corno o exemplo volveu o mesmo tipo . de dcpcndCncia mútua com os
. s encontradas na Europa entre os séculos X.Vl e XVlll, a, ,111h•
,-.\ )( que "mais oportumunen[e su stenta [suaj insistência em separar economia de merca- dificul dad es f anc eira •1llu
.,, ar novas formas de finnncin1111 ,
ui
,o pura tma . o'n
1\ iI do de capitalismo". Não só a Ch.ina "[tinha.! uma economia de mercado solidamente ridades. eh'mes. •.tinham menos raz. t.'
es e o conceito de dMda púbhca e
prh •Jd,

\, \' estabelecida [ ... ] com cadeias de mercados locais, população numerosíssima de pe­ imenSos cmprostim05 de. 111ercador
\��'\,:-1 quenos artesãos e mercadores itinerantes. movimentadas ruas comerciais e centros . definhou com isso. Na China, COl
ll\l ) 1 ,11 ld
. nd es 0rganizaçõc�, º'"'''
o c;ap.1tahsmo na 1\,.�ia oriental 11ão
, )!• urbanos: como, além disso, os mercadores e os banqueiros da p rovincia de Shanxi . ion al, des env oh• eram-se g.ra
mtegr.mte d a eco norn ia nac
'xJ1, e os chineses ultramarinos originários da s pro,•íncias fujia.nas e do litoral sul se pa­ . . s que con tro13\·am redes extensas de .tnLerroedi,árlos e fornecedo
res. M,1, ,•1111,, i
cia1 . is fácil e accsslvtl p,11,, ,,
reciam multo com os comrulidades empresariais que constituíram as principais or­ a d'is lilncia era muito ma
para o comércio, mesmo de 1 ong ti.tll•,
ganizações capitalistas da Europa no século XVI. Ainda assil11, a "hos1llidade incon­
de tod o o p do q ue era _na Eu rop • a.s Consequentemente. O\ c,,p
indivíd uo ais

. do, •·em capacidade de suh1n1•1t
s
fundível a qualquer individuo que se tornasse 'anormalmenté rico" significaVll que . o socia ! sub or dina
tas contmuaram a ser llDl grup melhores opm 1111 11
"não podia haver capitalismo, a não ser dentro de algwJS grupos bem definidos, sua p róp.· 1 ta lasse De fato as
apoiados e supervisionados pelo Estado e sempre mais ou menos à sua mercê"••. o interesse geral ao i11teresse de . .º . t l.não estavam no c(nll••
pitalismo nae Á
Braudcl exagera a indefesa dos capitalistas diante do Estado hostil nos períodos dndes de desenvolvimento do c.l : \ �::,d:s do sistemu. A nh1lCt l,1
ers t'1 cial me nte ' na or l a ex t ern a o
111as hca ' vam, .m t . nc,-n, ruj111t•
Ming e Qing, sem contar as dinastias anteriores. Ainda assim é verdade que, na
ma is des tac ada des sa ev � lu w
�_ fo1 ª d•. �s.p�ra ultramarina chi
llwção . pou,os pnr,1kl11•
Ásia oriental, não há paralelo para a sequência de Estados cada ve1. mnis poderosos nnc,a econonnca u.rad.tmra tê m
. •cnc.ia, ncxfüilida• de e ilnporr
s1s1
. ª·
11.1 hls1nr.111 111und·1 1 Apesar das · rcstnç . r:>es d os M'tn"o• cio� reveses e dos
,1t,1q111·1
" Em rcrmos da reprcsentaç4o gráfica da Figura 3.1. • segunda proposiçaa di«1•• o "nul,111rc" r«m(,
mico chin� do século XVIIJ é mo.i� hem rcprcscnl.ldO pcln. indh111ç.ió 11�\',·nde11h� ,\ dfrcil ,, d11 i.:urv11 pcr iód itl> � de 11111 çul 11111110$ e d� . .., .
outros cons;1111cnl e,, e•la' ohtcvc
lucro ext rtl 11111
rno

1/y/y, A terccirn pruposlçlo Jiz que, apesar dcs'>ll lnchnaçJo ••«odent,·, CI ckwn1·,�vt111cntn cl., ( htn•
t()m b3$e no mcrc:. ..,Jo nli<1 mr,o,11ou 1rnc.lênd,11h• tipo Jc N.pan•..10 111111th t•h., r 1lé1 ,.11!ll'�tn t.•1111111 1,,1,t
1e1.•4wr1,:n1c..:i e de <.'"il,tla ,:.1c.h1 \t't nmlor dl·"'utlJu nn ,,1phulu H.
• l'trn,uul Ih ,uulrl, l tw/1,:.,twu ,wd n,puolhrh, t ,- J H 1,, u11u )'• \ J t hr H l11, h ,,J, ,,,,,1,h'f11', I' 1 , ,,
ttr•t htun \lfl mla:111.al
---
1
1"°1 ,,.
Adam Smilh em Pequiru
Est11dos, mercados e capitalismo no Oriente e no Ocklen1e
rio e fomeceu um t1\lleo constantc .
de receita para os governos locais
tle valores para as regiões 1 1·1o,_.. . e de remessas jeitou várias vezes as ofertas dos Qing de semiautonomia e propôs, em conlrnpar­
..,,eas d a Cluna"
No século XVll, a transição do dom tida, que fossem reconhecidos como vassalos tributários dos Qing, com base nos
ínio Mi�g par • a O Qu . ig crio. u condições precedentes da Coreia e de Ryukyu. Entrehmto, o imperador Kangxi insistiu que
uma evo.luçâo que Jem para
. ·
império comercial comparavc
b rava o que

oco rrl.n
, •

na Europa. fi81111,1•ia Zheng crio
u um "os ladrões de Taiwan são fu)ianescs, T,t.iwan não é comparável à Coreia e ao
, 1 ao unp erto holandês· Com ª mobihza .. •

=
de guerra e armas de fo à modª çao de nav ios R}'Uk1•u". No fim das contas, por terem pedido demais, os Zheng não conseguiram

.
go eu ropela os Zlieng eJJm, · · nara m a nada e seu domínio acabou com a derrota militar de 16835'.
portuguesa, enfrentaram com _.__ . con corr ênci a
11o os c:o1etore ' s de lmp ostos e as � •' O rps A própria comparabilidade entre os Zheog e os impérios comerciais holande­
Mmg, monopolizamm o com"'"1 nava is dos
. ·º . •--· 0 de seda e cera• m,c .
a e estabe1cceram uma áre-.i de ses torna seus destinos opostos ainda mais iJ1strutivos. No contexto europeu, os
nu meneia que seestend'a 1 de Guangdong e Fu•i.. an até o Japao
• ' - , .,,
,aiw
• an e o sudeste da holandeses tornaram-se Hderes da institucionalização do equilibrio de poder en­
Asia. Em 1650, tambem · cna • raOJ um Esta, do rebelde no lito . ral sudeste da China Em tre os Estados, da passagem do poder para os estratos capi1alistas dentro desses
1662,quandonão conseguiram de. . .
., . 11.otar os manchus· no co 11 fmente, recuaram pam Esr.ados e da intc11sificaçáo do concorrência entre estes na construção de impérios
1 a1wan, expulsaram os boia ndeses . .
e cria ram seu própr,o . remo. Um ex-governador ultramarinos. Na Ásia oriental, ao contrário, a queda do império Zheng abriu
holandês de Taiwan • ficou 1•ao ,• mpres.�tonado com•
essas rca lizaçoes - que, em 1675' caminho para a desmilitarizacã.Q..Pos merc.'l.l!oo:,s.chin.es� a consolidação da for­
comparou a ascens•ão do.5 ZIieng com
o potência ma r rttm · a a, asccn$ãO dos mação d,1 economia nadonnl, tanto na China dos Qing g\tanto no Japão dos
ses,um século antes, na Europa. .E hol.U1de-
ssa
. comparaç�o � é um tanto exagerada, mas Chu- Tokugawa, e o declínio acentuado do poder da China ultramarln.1 em relação aos
mci Ho tem bases sóüdas para afl
1rmar que "as redes de info • rmações come�iais e Estados territoriais da região. Corno observa Pomecanz, o império Zheng
pollticas dos Zheng dcven1 ter �, .
'do no mlnuno tão
• eficotes qu anto as de seus prln• "destaca-se como exemplo esclarecedor de um tipo de atividade bastante compa­
dpais inimigos' os manchus e oS l101a
, . ' ndeses f...) . Comprovadamente, a org rável à colonização e ao comércio armado europeus, mas que nüo fazia parte nor­
Zheng tinha allrnmas caractº . a.nização
, o �rIsIJC3 . ais às da voe !viereerugd
S igu · e Oostindisch mal do sistema estatnl chinês"5i.
( .ompagnie, ou Compan ' hia d,s e
·, , " 1nd'ias Onen . ta1s . r�. Apesar do sucesso na promoção da Revolução lndustriosa da Asia oriental e
E igualmente importante o fato de
que os Zh eng nao forrun atores ins oo ntivo aumento da participação da Ásia oriental na produção mundial, as po­
ks na transição dinásti-- i gnifican-
•·• Al'iad os respeita .
dos dos,M'ing nos primeiros estágios liticas introvertidas da China dos Qing e do Japão dos Tokugawa. como admite
fut,1, quando muitos membros d
. ª
fa-
•u.u "'ta Zheng se torn�am o. oficia1 · •s e generais do
da
o próprio Sugihara, resultaram em forte contração do comércio entre os países
�xfrcito Ming' Zh � eng Zhilong tentou trocar de J d
ln\'adiu PuJ'ian' em 1647. A ten1alv
ª 0 depo1s ,
que o ex.ército Qlng asiáticos a partir do início do século XVIIP,. Pior ainda, deixaram um vazio po­
1 a� ,racassou' ;·á que os Qrng rcagi. ra lítico na Ásia oriental marltil'l'la que os mercadores chi.ncses desmilltarizados
th-.Ls de Zheng Zhilong prendeu m às inichl-
do-o e cxecutand°-o. No entant estavnm mal equipados para preencher. Aos poucos, o vaz.io foi preenchido por
Chcnggong' o poder do·' Zheng at • o, com Zheng
· 1 ng1u novo pat • amar. Durante as décadas de 1660 Estados, companhias e mercadores europeus cuja capacidade de dominar a Ásia
<' 1 Ci70, o regime deles e1n"' .
,aiwan permaneceu' 118 pra, tica •
, como reino indepen- oriental marítima aumentou rapidamente na virada do século XVill para o XIX.
•fl·nh:, que cobrava impos•o .
' s e comerciava com as Filipm - as espanholas, os Ryukyus Foi fundamental nesse caso o declínio constante da indústria naval e da tt:cnolo­
e drios reinos do sudeste da�s,a. . Zh eng Tmg .
, sucessor de Zheng Chenggong, gia de navegação chinesas numa época em que os europeus avançavam rapida­
rc-
mente c111 ambas14•

,. 1 h• l' u nu I hing, "M,1rilitHc c,, 1�il11lh,lll in Scvcnlccnlh�Ccntury Chin:t", p. 33..j_

l\•11111 �"li'"·"·· "l fi, 1 "'"I'"·"' Mh.,do ...., 1hr ,,._, 1\,l,lll MlrólCIC� l'
� K,,nm·1I, l'i 11nc1;11,,, ·, l,r Gt('11t l >1l'C''}:Cnf(, 1'· 20�.
,R.•1.
• h11nllrr \\.i) 10- t u,lun�n, I, 1,1' }Mm t/11 �,,, C lu11r•.- /r111J.. IMfk u 1tl1 �,,,,,, dmut.J( 1l11• l 1Ht l 1.�l1
'"'"'" ,m,I I mh \JH11 t1,nlh t, ,11wt1•1 1 p t lf1, 1',t lst·un� l lul, 'tht"hl ',,..., ( lil11r-i«- Uurn1r,·, �t l\\ork,
I' 11 kll
Adam Smith em Pequim Estad<», mercados e capilnlísmo no Odenle e no Ocide111c

Nesse aspecto, a avaliação já citada de Smilh de que o comércio exterior mais oc.identt,l
deveram basicamente à vantagem competitiva da iniciativa econômica
extenso seria d o interesse nacional da China ("ainda mais se parte considerável amos no ca-
em relação à asiático -oriental, principalmente a chinesa. Como antecip
[dele] fosse realizad o com navios chineses") tinha alguma validade, não tanto em baratas
ítulo 3, ao contrário da afirmativa de Marxe§Jgels de que as mercadorias
bases estritamente econômicas, mas com base na segurança nacional, ou seja, a �3 •artilharia pesada" com que a b!:!fb'llesia e_\lroQcia "destru[il:!) to das as mu ra•
capacidade da China de monitorar e enfrentar o cresce11te desafio naval represen­ o " mu­
lhas da Chlna", mesrno_depois de as canho neiras britânicas terem derrubad .
tado pelos euro peu s. Entretanto, durante pelo meno s um século, o principal pro ­ �tos go,-ernamenui�que impediam o acess.oà ec onomia acional n
blema de segurança dos Qing localizava-se na fronteira noroeste e na China Hao, para vencer
chinesa, os mercadores e� pr�dutorcs britànicos_;,ive.!:m dificuldade
o nde sua legitimidade, como governo de conquistadores estrangeiro s, aind a era
o s c o legas chineses nabase da �ocorrência. A
parlir da década de 1830, a ,mportn­
precária. Ne.�sas circunstâncias, investir recursos na construção naval, na n avega­ regiões d�
ção de teciãÕs de algodão da Grã-Hretanha devastou algu_ns s�tor�s e
ção e no comércio parecia, necessariamente e na melhor das hipóteses, um luxo e, nunca con­
economia chi nesa. Mas no mercado rural o tecido de algodao britânico
na pior delas, a estrada mais segura para exigir mais do que se poderia do s recurso s as import�­
seguiu competir com o tecido chinês, mais forte. Além disso, quando
do império. Além disso, por que correr esse risco se os europeus competiam fero1r fio n:n 1•
ções estrangeiras substituiram a fiação rn�nual do algodão, � uso do
mente entre si p ara despejar prata na China em troca de suas mercadorias? Como tecelng1;m ,
barato • produ zido em máquinas, deu novo 1mpeto no setor nac1onal de
resultad o da exportação altamente competitiva de seda, porcelana e chá e da de­ · , se expandir�• As empresas ocidentais que instalaram
qu.e consegu,usem ant••c - até .
manda de prata qu e levou o preço do metal ao dobro do nível predominante em vasto 111te•
unidades de produção na China j amais conseguiram penetrar de rato no
outras 1·egiões do mundo, do século XVI até b o a parte d o sécul o XVlll, mais de três c ompror
rior do pais e tiveram de contar com os comerciantes chineses para .
quartos da prata do "Novo Muodd' acabou desembarcando na China". É realmen­ .ils
m atéria-prima e comercializar seus produtos. Os produtos e as cmp r= oodcnt
te dificU imaginar como seria possível que o sucesso do desenvolvimento autocen­ � m
tiveram êxito em alguns setores, mas, com exceção das ferrovias e das minas, �
trado da China, que tant o impressionou até os europeus, 11ã o cegasse os Qing para chinês foi em geral sinôrum o de frustra ção para os mercadores �ge1ros
cado
o novo poder que os "bárbaros" agressivos vindos do mar ll'll7.iam para a região. /i
Longe de destruir as formas nativas de capitalismo, a incorporaçao da Chhrn
Em resumo, a sinergia entre militarismo, industrialismo e capitalismo, t /pica · ·
· 11sta ce1·1trada no Re'1110 Unido provo c u no va cxpnn
estrutura da ecooonua capita o
. •
do caminho eur opeu de desenvolvimento e que impulsionou a incessante expan­ · 1 ntcri;t1
- das comum'dades mercantt s chinesas que haviam se desenvolvido nos
sao
são territorial ultramarina, e foi por ela sustemada, estava a\L..ente da Ásia oriental. Guerraç ti0
cios do sistema comercial-lributário centrado na China. Quando as
Em con sequência, os Estad os dessa regiã o viveram períodos de paz muito mais ulamentar "
Ópio e as revoltas internas abalaram a capacidade da corte Qing de reg
longos qu e os Estados europeus, e a China pôde consolidar sua posição de maior ·
ílllXO de rnercadonas e de pessoas nas fron.eu..., -o- m in(1111c1-.,,
• · �0 da China , sumira
economia de mercado do mundo. Contudo , a falta de envolYimento na expansão
o p�r t unidades lucrativas para essas comunidades.
O comércio de ópio foi um,,
ultramarina e na corrida armamentista à mo da europeia tornou a China e todo o cio de Ir.,
fonte importante de oportunidades, mas a maior delas surgiu no "comé r
sistema asiático-oriental vuluerávels ao massacre militar das p otê ncias �uro peias "'°
b(i l!mdores" _ fornecimento e transporte marilimo de trabalhadores sob cont•·
em expansão. Quando houve o massacre, a conclusão inevitável foi a incorpomç·ão :1 Chinn.
tfe servidão e transações financeiras associadas oo reenvio de fundos para
subordinada da Ásia oriental ao sistema e11ropeu globalizante. o comércio de coolies enriqueceu não só os mercadores individualmente com o
Incorporação e hibridação
/\ incorporação subordinada da Ásia orient al no sis tcnm europeu e o ílm da
par licip.1çJo tia rcgifo nn produçJo mundial, como mostmdo na Flgur,1 1.1. n,10 �e

' 1 hmnh C > ltJ y1111 <' Ath1tt1 t ,11,,ld,•1, ' ..; p.11w1h P111fll11l11h1y rn 1h, 1•1111111 11t,, l'hl1 111111111 li 111 tlu•
1

1.itur.•,uh liihl ,•. ,, ulr1-·111II t ,•11tu111,, 1• J 1 1


Adam Smith em l?eq�im Estados, mercados e capitaJismo no Oriente e no Ocidente

também as cidades portuárias de Singapura, Hong Kong, Penang e Macau, que se A necessidade de e:;<pandir o comércio entre lndia e China para facilitai' nH
tornaram "recipientes" prív.ilegiados da riqueza da diáspora empresarial chinesa. "operações de receita" entre 1nclia e Inglaterra foi, desde o início, o principal esli
Com ele, intensificou-se também o povoamento chiots em todo o sudeste da Ásia, rnulo por trás da expansão do comércio de ópio. Já em 1786, lorde Cornwall!s, nn
fortalecendo assim a capacidade do capital externo chinês de lucrar com a interme­ época governador-geral da fodia, destacou que a expansão do comércio enfre l11-
diação comercial e fmanceira na região, dentro das jurisdições e entre elas'8• dia e China era essencial para pagar ao menos parte das exportações chinesas de
As pressões fiscais e financeiras geradas por guerras, rebeliões, condições co­ d1 á e seda para a Grã-Bretanha e para outros países europeus e, acima de tudo,
merciais adversa.s e desastres naturais forçaram a corte Qing não só a reduzir o para transferir pai-a a Inglaterra a imensa receita tributária de Bengala sem gra11dcs
controle das atividades dos chineses ultramarinos como também a buscar a ajuda prejuízos devidos à depreciação da moeda"'. Depois que se aboliu o monopólio do
financeira destes. Em troca dessa ajuda, a corte Qing concedeu-lhes cargos, títu­ Companhia das índias Orientais sobre o comércio da lndia em 1813, esta redo•
los, proteção para propriedades e sociedades na China, assim como o acesso ao brou os esforços para promover o contrabando de ópio para a China. As remessns
comércio de armas e ao negócio dos empréstímos governamentais, ambos muito aumentaram rapidamente - mais de três vezes entre as décadas de 1803 a IS 13 i;
lucratiYos. Essa "troca política'' não salvou os Qing; porém, até a derrocada final de 1.823 a 1833, e a sensatez do argumento de Cornwallis justificou-se. De acordn
em 1911, foi grande fonte de enriquecimento para os capitalist�s chioeses estabe­ com um relato contemporâneo,
lecidos no exterior 59•
Como observamos no capítulo 3, o próprio Marx não tinha tanta certeza do com o comércio de ópio] a honorável Companbia teve durante anos uma receita lmcu
1

papel que a artilharia metafórica de mercadorias baratas desempenhou realmente Sá e, por meio dela, o governo e a nação britânicos t;unbém amealharam q_uantid�d,,
9 na reconstrução do mundo para se adequar aos interesses da burguesia europeia; incalculável de vantagens políticas e financeiras. A mudan�a da balança comercial e1111,·
:p/t 1\ <;.mencionou de modo explicito as Guerras do Ópio como exemplo da lmportân- Gi:ã-Brctanha e China a favor da primeiro permitiu que a índia aumenta.s.se de:i. \'O>,r, 11
consumo de m:1nufaturados britânicos; contribu iu diretamente para sustenta,· a v.1�111
':J\
1 • -s,rl: 0'l' �íl constante da força mílitar como "parteira" da transformação. Na verdade, a
)).} estrutura do domínio b1itânico no Oriente, reduzir as despesas do governo de Su.1 M,1
,si• �\l·!lrorça militar foi a chave par,ll a sujel.ÇiW��ntal ao Ocidente. Mais ,únda,
jestade na lndia e, com as op erações de câmbio e as remessas de chá, injetar recch,t
1 , � " irieu uso foi resultado direto d11 i��ca<!:>res britânic.Qt.de p�e.­
11 ci abw1dante no Tes.ottro britânico e beneficiar a nação com 6 milhões de Ul;;.ra� 1101· 1111t1,•
�•. o Irar eor meios legais no merca.do_ch.inês.
' Y11 �<Y: - Durante a primeira metade do século XlX, observa Joseph Esherick, o ópio foi O fim do monopólio da Companhia das índias Orientais na Chim1, c1n 181 \,
,,\,"#°.11,.!il "a (mica via de entrada factível do Ocidente no mercado da China"'°. No caso da
t' '
intensificou a concorrência nesse ramo lucrativo do comércio britânico e eJ1C01 ,1
�r �-Bretanl1a, foi rnuito �laiS do que isso, porque O fato de �s bri t:ârucos venderem jou os mercadores britâ,úcos a exigir que o "braço forte da Inglaterra" derrubo,�◄!
� _
f•
_
opio indiano à China foi ftmdmnental para a t:ransterência de tributos da lndia as restrições que o governo chfoês impunha ao comérci,o de ópio. Longe de �od,• 1
i,ríVlt ·
para Londres. Como explicou o chefe do departamento estatístico da Câmara da às pressões britânicas, o governo chinês agiu rapidamente para suprimir esse w
Índia Oriental, mércio tão pernicioso para a China quanto benéfico para a Grã-13retanhil. _!'lê111
A f.ridia, ao exportar ópio,.awcilia o fornecimeJtto de chá à Inglaterra. A China, ao con­ do impacto deletério sobre o tecido social, com o número crescente ele vici�do�.
sumir ópio, facilita as opera�ôes de receita entre a fodia e a Inglaterra. A lt1glaterm, ao o comércio de ópio tinha efe�xl:r.elm!!!1tn�trutivos sobre a economia pt>
consumir chá, contrlbui para aumentar a demanda do ópio indiail0.61 li,\js1!..fb.inesa. Os lucros do contrabando de ópio ac.:iba.ram chegandÕ1"5 au1oriJ11,
des chinesas, cuja corrupção prejudicou a execução da política oficial cm todn$ ,, '•
5� Po•kcnng HuJ, ''Ovetseas CWoesc Business Networks': cap. 3; David Norrlm(>; lmlcmmt1d J abor fu �sfcrn$ e, diretn e indirel'amentc, alimentou n agitação sncinl. Ao mesmo lcmpo, ü
tire .>lgc 0JT111perl11/ism, 1831-1922; Daniel R. Headrick, 'rhe 1,;111,,r/r,, of P,·osre5s: 'li!dwolog}' 'Jh111.1/i'r comércio cio úpin provocou enorme csroam,·11to de p ratn chi Chiua pül';\ 11 [11<1!,1,
i11 lltc Age of/111pel'ir1li.<111, 1850-J!).I(), p. 259-�03,
' Jung-fanij 'l�ai, H01t$ K,111g in Chhu:$t' ll/'fll1()': <"•11tum111flv 11ml 81u /fll (f11rrt.t Ju thc.- lf,i11M1 ( 101.>u;�
IHl/2 19/;), I'• r.J: l',1 kcuut 11\11, "Ow111C�s I l1h1('\f llu,l11e" N1•1\,mh•� ,.,,, 1 • /\tni)• l\1111\111 11,,x,hl, l/1/'J\1/1/1111/ l'1,1111,1111•t,/ V111lt1</twlt1/1111"11I, 1' •)(,; �11,11.1,,f (,r,,nhr•M•
"" /,,1çph fo lh,•11,k, '1 llu ,,1111
"" ( hh1•· 111• A 1•nh•�•II" 111 l111111•t1,11i,111·; r 111 /lo 1//1/, /'r,11/1• 1111,I t/,o 0/'fll/11)/ 11/ 1 /111111 IHII/J Ili 1 ', • �f • J
� 1 (lw,11,I I ho1 u111n, lm/1r1 •11 ,,,m muf / ,11,,,,. t, r 11•1 • 1 o.,,,.. "" Mi.ti.,, 11,tt "''" 'li< 11,111,/1 '"'"'''"'' 1/1,• 11/1111//1// "' 1 /111111 /H/Nl Ili,, ,, li�,
1 1
Adam Smith em Pequim Estados, mercados e c,ipitalismo nc) Oriellle e no Ocidente
que subiL1 de 1,6 milhão de taéis por ano entre 1814 e
1824 para 5,6 milhões de tes, dois postos militares e uma batyia costeir�68• Depois de uma guerra desastro­
taéis por ano nos dois anos que precederam a primeira
Guerra do Ópio... Como sa, da eclosão de,grandes revoltas e de uma segunda guerra igualmente desastrosa
enfatizava o édito imperial de 1838, que anunciava a decis
ão de destruir esse co­ com a Grã-Bretanha (dessa vez com a ajuda da França), a China praticamt!_!1te
mércio, os efeitos da evas.-to para a integridade fiscal
e financeira do .Estado chi­ deíxon de ser o centro de um sistema interestatal asiático-oriental centrado em s 1
nês foram devastadores. "Caso nào se tornem providênci
as em nossa defosà', de­ me�ãecurso de cerca de um século, ela tO!]).Ql!•Se �embro
clarava o édito, "a riqueza .títil da China será jogada
no abismo sem fundo das subordinado e cada vez mais periférico do sistema capitalista global. Esse staJ:us
regiões ultramarinas"6>_
crescentemente periférico não fõfresuitad() al'!!_las da inco1-poração subordiu�da
Ao encanegar o vigoroso e incorruptível lin Zexu de exting
uir o contrabando da Asia oriental ao sistema europet�mbém foi Unport����.\11!5!!..!l'dical
de ópio, o governo chinês não tinha a intenção de preju
dicar as oportunidades co• cÍa?relii"ções interestãtais dentro da Ásia oriental, precipitada pelas tentativas chi·
merciais em. outros ramos do comércio exterior, como
seda, chá e algodão, os quais nesa e Jaeonesa_de seg\Ití'1"�g�d� dQ c.aminho europ_ eu de deseny_oJyirnento.
continuou a promover. O próprio Lin teve o cuidado de-di
stinguir o comércio ilegal '• Como ressaltaram Kawakatsu e Hamashita, a modernização e a expansão tcrri •
de ópio, cuja supressão ele estava decidido a determinar
com ou sem a cooperação torial do Japão no fim do século XlX e início do XXfo.ram a continuação, por novos
do governo britânico, das formas legais de comércio, as
quais foram objeto de um meios, das tentativas japonesas de séculos antes de se tornar o centro do sistemo
pedido seu ao governo britânico para serem estimulada
s como substitutas do co· comercial-tributário da Asia oriental"', No entanto, a mudança do contexto sistf,­
mércio ilegal••. Como não conseguiu convencer a Grã-B
retanha a cooperar na eli­ mico transformou radicalmente a natureza da concorrência Jnterestata'I que c:arí1c­
minação do tráfico em nome da lei internacional e da mora
lidade comum, passou terizou o sistema asiático-oriental desde a consolidação dos regimes Tokugawa l•
a confiscar e a destruir o ópio contrabandeado e a prend
er os contrabandistas. Essa Qing. No .novo contexto, a concorrência entre os Estados na Ásia oriental tomou•�c
operação policial em território chinês foi acusada no Parla
mento Britânico de "pe· inseparável da tentativa de alcançar a perícia ocidental nos setores de bens de capi 0
cado grave, ofensa cruel, violação atroz da justiça, para
qual a lnglaterra tem O dí- tal, cuja modernização (tanto na Asia oriental quanto na Europa) estava intim,,
1ceito, o direito estrito e inegável'; pefa "lei de Deus e do
homem'; de "exigir repara­ mente associada ,lo aprimoramento da capacidade mi.litar. A corrida anname111is11,,
ção pela força caso os apelos pacíficos não sejam atend
idos"•7• havia muito caracterlstica do sistema eucopeu, foi assUn "internalizada� pelo si�l<:
Evidentemente, duas visões bem diferentes cfa lei intern
acional e da moralida­ ma asiático-orientaFº.
de comum dotnma\"am a Grã-Bretanha. e a China. Mas
enquanto o ponto de vista Durante cerca de 25 anos depois de seu início, o esforço de industrialli,1�.10
chinês reivindicava o direito de impor e de fazer cump
rir a lei somente em seu produziu resultados econômicos semelhantes na China e no Japào. À� véspçr,1•1
território, o ponto de vista b1itânico reivindicava o direit
o de impor e de fazer
cumprir a lei nãô só em seu território, mas também na
China Para parafrasear­ " (;eoffre r Parker, "Taklng Up the Gun� p. 96. Como explica Kirti N. Cbaudhuri, "Quandu, der• ,1,
mos Marx, entre direitos iguais a força decide, e a Grã-B
retanha tinha todo o po­ dé uma guerra desastm.'ia (1839-1842), o-governo chinês concórçlou em abrlr os portos ans comut
der de fogo necessário para fazer sua interpretação de dnntl!S b r ilanicos de ópio, não o fez por optar er1tre o certo e o e.rrndo; a opção era entre u sobrtYI\'� n
certo e errado predominar

--
sobre a chinesa. A �-t!uha como responder ao d,1 < a dc.SLrulção" (Aíin be/ore B 11rope: Econo,ny a,11/ Civ/UzaHon o/ tl,c ittdia11 0mm from ll1t• IU1t �/
navio de guerra a w,12or /;/11111 to J 750. 1'· 99).
que num só dia, em fevereiro de 1841, destrui.u nove junco
s de guerra, cinco for: '' J .kltn Ka,\·ílk..\lsti. "His todca1 Backg rou1\d': p. 6-7; 1àkeshl T-famashita, ,.,.['he. Tribule Tnule S��lc:li\
,,f M<><lcrn Asia''. p. 20.
•·• Ycl' �hongplng et ai., Zlro11gg110 _iíudni ji11gjls/ll tongji (Colelân<"l " 1\n rê!/da!' ,'lolcntmucnte tôdi.s as conscquêncbs dn superioridade mililar oci1lcntal. tt-S (iuc:rr.1, do

ccônünuca moderna chinesa], p. 34; Lin Manhong. (1The Silvcr Drnln<lc d:1/los e$1ntísik�s d,l hlsl(irl� új,1tJ d�spcrtar�m os 1,rupos (lomi11;1ntcs da Chinae dt:t J,1pJ() parn a nc..:es,1th1dc de 11n1rt mo(fornl1--1, 1111
World Silvcrand Ookl Pmducljnn (]81-1-1850)': p. t'I. oíChina nnd tht.• l{cd�icll(Hl ln mllU.11·n..:dcr,tdr t. fü'íC dcsp-err.11· levou \Alei Yunn, autoridnck :\cndêmk1l chtncs.1 ,, n traMfornuu' l\ ,11\lllW
1' Cll�do cm Michael �recnbcrg, l. .h,l,1 tlc u,nr \l:'tbárhMll<I p;,ra ern,trol n r os hárhi,ros 11;\ novn idd� de tts.1r os ,tnm�,m�urns b��l'llJr'\l'I (eº"
� flr//isl, 'lí'11r/i• 1111,/ tlw <Jrwí11_ç 111 18()1), 1 �rl2. I'• f.lJ
,. Ar1h11r W,,lcy, 'l'hd)p/11111 11',ir 1/11·,wgh e '/1111,•,c• ")';,, 1' 1a, 2R Iof'('/,/1 1nc\11\ d1 • 1u 1 1�h11\ lo•:) p.u•,1 coutrofor os bárharo!.. N,l Chi1111, t:�";' 14.klil íol 1..1 4,:1JIIII\► d,1M,wimc:ri\111,11
,,w,... u,f m1 w f110r'1t in N1nl'l,1,•ntl1 < 'rlllm'•, ( \/ll11u, 1• 11 l 'i,
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1. ,1(,, 1 �11 Yr11 11'111111 lm,, / itr t "'" 1t,(1 11l,dt•\'c1..li11 ,1ur "'""'","ºº .iu1,ult. tl 11 �ct1iunt.lo Ci11t111,, (to úp10. 1\h�ullJ\ ,mos dtlhtl�, ,l 1�•,1"'u,.,i.;,HJ
Mt\Jjl IMlll�w "'º•l\ílO ,\ hlt•f,11• l1;.wo11 O Jup.ltl ,,rio IU('\1110 t,,m,uho \k mod�uH,'n\ ,i.. , 1�rul1� v�, 1H IH
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1 1
Adam ·Smith e,n Pc:quim
Estados, mercados e capihtlismo no Oriente e no Oddente

da guerra silio-japon esa de 1894, "a d i sparidade entre o grau de desenvolvimen­


e sua capacidade de obter recursos adicionais para a expansão industr ial no país e
to econômico moderno dos dois países ainda não era flagraute""1• No entanto, a
a expansão impedalista no exterior".
vitória do Japão foi sintomática da diferença fundamental do impulso de indus­
Essa bifurcação dos caminhos de desenvolvimento chinês e japo nês culminou,
tri alização entre os dois países. Na China, o principal fator para esse impulso
na década de 1930, com a substituição da Grã-Bretanha pelo Japão como polência
foram as autoridades provinciai.s, cujo poder em relação ao governo central cres­
dominante na região. Com a conquista da Manchúria pelos Japoneses em 193�,
cera consideravelmente durante a repressão das revoltas da década de 1850 e que
seguida da ocupação do n orte da China em J 935 e da invasão total do paí� a partu·
usaram a industrialização para consolidar sua autonomia. No Japão, ao contrá­
de 1937, e com a conquista subsequente de partes da Ásia central e de boa parte do
rio, o i �1pulso de i ndustrialização foi parte ií\tegrante da restauração Meij i , que
Sudeste Asiático, final.mente pareceu que o Japão consegulra ocupar o centro da
centralizou o poder nas mãos do governo nacional em detrimento das autorida­
região. Entretanto. a ap osta japonesa na supremacia regional não se manteve.
des pro vinciais".
? resuJtado da guerra sino -japonesa, p or sua vez, aprofundou a diYergên ci a
Como mostrou a destruição maciça que a campanha de bombardeios estratégicos
dos Estados Unidos causou no Japão n os últimos meses da Segunda Guerra, antes
subiacente entre as trajetórias de industrialização chinesa e japon esa. A derrota
mesmo de Hiroshima e Nagasaki, o avanço dos japoneses no campo da tecnologia
�a China enfraqueceu a coesão nacional e deu in (cio a meio século de caos polJ­
militar ocideittal não p odia se comparar ao avanço dos norte-americanos. Mas a
ttco, marcado por mais restrições à soberani a, enormes indeniza ções de gueua, a
aposta japonesa também fr acassou porque suscitou forças contrárias na China qt •e
derr�cada final do regin1e Qing e a autonomia crescente de senhores de guerra .
resistiam com a mesma firmeza tanto ao domínio japonês quanto ao domímo
seD1Jssoberanos, e seguido da invasão japonesa e de repetidas guerras cívis enlre
oci.dental. Após a derrota do Japão, a formação da República Popular da China
as forças nacionalistas é comunistas. Respondendo à pergunta de O'Brien que
dtamos no capítulo 1, é provável que esse colapso catastrófico do Estado seja a resistiria aos impulsos hegemónicos ocide ntais numa luta pela centralidade na
_ _ Ásia oriental que desde então con :figuron as tendências e os fatos da região.
razao �rus importante para que a China tenha levado tanto tempo para recuperar
_
a pos1 çao e o status econômico de que gozaYa em termos globais em meados do
século XVIII. A hegemonia norte-americana e a ascensào japonesa
cm compensação, a vitória sobre a China em 1894, segui da da vitór i a sobre a A hibridação dos caminhos de desenvolvimento o cidental e asiático-orienlal foi
Rússia n a guerra d e 1904-1905, transformou ó Japão em "participante respeitável um process o de mão dupla .Enquanto no fün do século XIX e inlcio do s� culu X X
_
do Jogo da política i mperialL�ta"73, para parafrasearmos Altira foye. A obtenção de a convergência ia basicamente da Asia oriental em direção ao canunho oc,d �nlnl
território chinês - mais notadamente de Taiwan, em 1895, e em seguid a da penín­ com consequências desastrosas para todos os Estados daqnela parte do contmentc,
sula de Liaodong- e a conquista de todos os direitos e privilégios russos no sul da inclusive para o Japão, cujo sucesso inicial no jogo da política imperi alistúerniint,11
!vfanchúria, em 1905 - que culminou com o reconheci mento por parte da China no holocausto nuclear deHiroshima e Nagasaki-, na segunda metade do século X.X
d.a suserania japonesa na Coreia, anexada c omo colônia e.m 1910 -, forneceram foi a vez de o caminho ocide11tal convergir para a Ál.ia oriental. Essa co1wcrgêncl11
postos avançados valiosos ao Japão, de onde ele poderia lançar futuros ataques à pouco notada começou com a criàção do regime norte-americano da Guerra ::rin.
Cl,u.na, além de assegurar o suprimento tútramarino -de alimentos baratos A o cupação militar do Japão pelos Estad os lJnidos, em 1945, e a d1V1$aO thl
matérias-primas e mercados. Ao mesmo temp(), li$ indenizações de guerra düne� região em dois blocos antagônicos depois da Guerca da Coreia criaram, nas pala •
SHS, que chegavam a mais de wn terço da renda nacional do fapão, aJudaram O país vra� de Cumings, um "regime vertic al [norte-americano] consolidado com trnlll
_
a financiar a expansão da indústria pesada e a adequar sua moeda ao padrão-oLu·o. dos li c.: defesa bilateral (com Japão, Coreia do Sul, Taiwan e Filipinas) e reg ido pélu
Isso, por sua vez, melhorou a clas_�ificação do risco de crédito d (I Japíi(I <'111 Londres Dcp11rLnmen10 de Estado, que se elevou ,\cima dos ministério� d�1 Exlerior Jcsqc,,
.
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1•1111" I' 1 11 1/ ,i •, ! Irriu >1 1 ,,1, / 11�1/lt /Ir,• \\.,1/1/\ /1111/Ã(I, 1 H 'li IW 11, I' 1.J 1 l
Adam Smith em Pequim

=
Estado,, mercados e capit.'1i.smo no Oriente e no Ocidenle

.
Todos se 1omanun "·tado5 sem1•-sou ,___ _ os. com profunda pent
=a11
mll,rares nor1e-runericanas (controle oper
tração das estruturas
acional das forças armadas sul-core.inas pa­
enquanto seus Estados vassalos na Asia oriental se especializar.im no comércio e
tn,lhnmento d(> cstreilo de Pormosa pel:t Sétim • na busca do lucro..Essa relação de troca política teve papel decisivo na promoção
a Esquadra• ·mstaJaçoes
- de def,esa nos
..
q uatro pa1ses e bases milit da espetacular expansão econômica japo11esa que deu Inicio ao renascimento da
_ ares nos n:.specüvos territórios). e incapazes
ciativa de defesa ou política externa inde
de manter lni- região. Como escreveu Schurmann na fase inicial dessa expansão: "Libertos do
. � pendente. j•••] Medidas diplomáticas sem
muita importânci crnzarrun a cortina militar fardo dos gastos corn a defesa, os governos japoneses [ ... ] direcionaram todos os
� a partir de meados da década de l 950.
[••• J Mas a tendência prcdominame .u� os anos 1970 · • recursos e toda a energia para o expansionismo econô01ico, que trOlL'<e riqueza
• a as• fo i 0 reg·une norte -american o um­
1 ater,,,1, com forte tendencl formas milítares de comunicação." para o Japão e levou suas empresas aos mais distantes confins do globo"".
A segunda diferença é que o regime da Guerra Fria ccntrndo nos Estados Uni­
Não ha,ia precedentes na Asia oriental d
.• no lmil. atera
essa nat..
-�=� mili....
•=•S.. ta do regime dos, ao contrário dos regimes anteriores centrados na China, era extremamente
norte-amenca l, com exceção parcial do regime Yuan do fim
do século instável na região e começou a desmoronar pouco depois de sua criação. A Guerra
�� e lnícl? do século XIV e do regime centrado no Japão que se inte da Coreia instituiu o regime centrado nos Estados Unidos na Asia oriental quando
1nlc10 do secu!o XX· Ainda ••1ss'tm, o regll · lle rrompeu no
nmt e-am ·
enca excluiu a República Popular da China da relação comercial e diplomática normal
. . rtan no mos trav a três seme-
lhanças impo tes com o sistema comercial-tributário centrado
na Chln3. Llll r... prt• com a parte não comunista da região, por meio de bloqueios e ameaças de guerrn
mei' ro Jugar, o mercado intemo do Estado cent
ral era incomparavelmente maior que apoiados por "um arquipélago de instalações militares norte-americanas"''· Mas a
o dos Estados vassalos. Em segundo lugar, para
receber a legitimação do regime e ter derrota na Glleua do Vietnã forçou os Estados Unidos a readmitir a China na re­
acesso ao �e:rcado interno do Estado central,
os Estados vassalos tiveram de aceitar lação comercial e diplomática normal com o resto da Á.sia oriental. Assim, o alcan.
uma relaçao de subo ação pol/t ica ao Estado central E. em terce ce da integração e da expansão econômicas da região ampliou-se consideravel­
_ � iro lugar, em
troca dessa subo �mnç ao política, OR Estados vass,tlos recebiam "pre mente, mas a capacidade dos Estados Unidos de controlar o processo reduziu-sé
_ : sentes" e tinhalll
relaçoes comerc1a1s extremamente vantajosa na mesma proporção'1.
s com o Esta do central. ,,••• ,01
, · o regi-
me •magnam • ·mo• de comércio L.>OC
e auxllio da pax americana no pós-guerra A crise do regime militarista dos Estados Unidos e a expansão contemporánc,1
tanto Ozawu quanto Sugihara atribuem a orig ao quol
em do renascimento da Ásia ;,ientaF'. do mercado nacional e da rede comercial regional do Japão marcaram o ressurgi
À luz dessas semelhanças, podemos dizer mento de um padrão de relações entre Estados que era mais próxlmo do padn\o
que a supremacfa norte-americana
11ª Asia oriental depois d Segunda Guerra nativo (asiático-oriental) - no qual a centralidade era determinada, em primeiro
� Mundial se concretizou por meio da
tr�sformação da penfer1a do antigo siste lugar, pelo tamanho relativo e pela sofisticação das economias nacionais do slsk
ma comercial-tributário ccntrado na
Chtna em pe rueria · de um siste
.
ma con,ercial-tributário centrado nos Esta ma-, do que o padrão transplantado {ocidental), no qual a centralidade p0Sb.ir,1,1
dos. No entanto, havia duas diferenças imp dos U . -
· · ser determinada, em primeiro lugar, pela força relativa dos complexos lndust rinl
. ortantes entre os do1s s1stemas. A pn-
me1r. a era que o sistema centrado nos Esta "'.
militares do sistema. Enquanto II derrota dos Estados UnJdos no Vietnã des11ml11l',l
• . dos Urudos na·o só posswa estruturn e
0ri entaçao muito lllaJS . .. . os limites do militarismo industrial como fonte de poder, a influência crescente do
militanstas que os sistemas anteriores cent
rados na China,
como também patroonava a especializaçã Japão na polftica mundial da década de 1.980 mostrava a eficácia cada vez maior cl.i
o funcional entre o Estado imperial e os
vassalos al"o que não encont rava prec fonte econômica de poder em comparação com a fonte militar. Não foi o ap:irnt11
. 0 na' •. " • edcotes nesses sistemas antigos. Assim
�001 militar poderoso, mas sim as mercadorias e o crédito baratos japoneses que 11,1
�laçao de trocas políticas ibero-genovesas durante o século XVI nn Eu-
ropa, analisada no copítulo 8 • os Esta'dos década de 1980 possibilitaram aos Estados Unidos reverter o declf11io vcrllgino�o
Unidos espec1·a1·1zara111-sc no lomeci-
mc11to <1e proterão ,, e na· bu�co de pou · em termos regio
�er po1·llrco que seu poder conhecera na década de 1970. 1\ relação anterior de dependênd,,
nais e globais,

1 tJ07 Sthurmanu. 77,r lé)J:ir c1/ \forld /Jowt� 1\11 Iuqwn, 11110 1lic O,lxim. C1u1l•11fi, .iml ( •.,,,,,,,4/J♦
tmm o/ 11\.,/d fü/11/0, t•· t41,
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•t 1111, J.- 1-..11111,ul Uu• llr1Cl 111ul j•ulllt• AI J ,uo,,myof, .,...,, "''• 1QI� 1•;11 t,•
Adam Smith em Pequim Estod0$, mercados• capitalismo no Oriente e no Ocidente

política e econômica do Japão para com os Estados Unidos transformou-se. assim Não temos poderio militar. Não bá como os empt-esários japoneses influenciarem ns de­
_ cisões políticas de outros países. [..• ) Essa é a diferença do empresariado norte-americano,
11 �•�a relaçao de dependência mútua: o Japão continuou dependente da proteçã�
e é algo em que os empresários Japoneses tem de pensar."
militar norte-americana, mas a repro duçao • do aparato norte-americano como for-
neced �r �e p roteção passou a depender basicamente da indústria e do sistema fl­ Essa diferença não significava apenas que o Japão não conseguiria igualar a capa­
na11ce1ro Japoneses. cidade dos Estados Unidos de influenciar a política de outros países. Também signi­
O crescente poder econônúco do Japão na década de 1980 não se baseou em fLcava < 1ue as políticas do próprio Japão eram muito mais suscetíveis de serem mol­
nenhum gr ande avanço tecnológico. Seu principal alicerce era organizacional. dadas pelos interesses norte-americanos do que a política norte-americana pelos
Como defendemos no capítu lo 6, a prollferaç"ão mund,·a 1 de graudes empresas interesses japoneses. fl.ssa assimetria não seria problema enquanto o regime "magnâ­
. . _ .
multmaoonais verticalmente integradas intensificou a concorrência entre elas e nimo" de comércio e de auxílio do pós-guerra dos Estados Unidos estivesse cm vi­
obrigou-as a terceirizor ati\�dadcs antes realizadas dentro da própria organi?.ação gor. Entretanto, como afirmamos no capítulo 9, na década de L980 e no inicio da
p:,ssa�do-as a empresas menores. Assim, a tendência à Integração vertical e à bu� década de 1990 esse regime foi s11bstitufdo por um verdadeiro golpe de proteção, que
rocrattzaçào das empresas. que fez o capital norte-americano prosperar a partir da pretendia extorquir concessões comercia.is do Tapão, como a enorme valorização do
l �écada de 1870, começou a ser superada pela tendência à rede informal e ;i revita- iene e as restrições voluntárias de exportação, assím como pagamentos diretos por
lização subordinada dos pequcn · E ssa nova tendência se tomou evi-
• os negócios. proteção, corno o que foi imposto para custear a Guerra do Golfo. Nessas circuns­
dc nte por Ioda parte, mas em lugar nenhum teve tanto sucesso quanto na Ásia tâncias, a lucratividade da relação de troca política do fapão com os Estados Unidos
_
0nental. De acordo com a Organização do Comércio Exterior do fapão. sem a começou a murchar.
_
"Juda das camadas múltiplas de fornecedores fonnalmente independentes "as Pior a.inda, as empresas norte-americanas come�aram a se reestruturar para
'
g m nde� empresas Japonesas 11atúragariam e afundari'am" ' • A p•,u ·tir d O 111 ' . da
· JCIO competir de modo mais eficaz com as empresas japonesas na exploração das
� écada de 1970, o tamattho e o alcance desse sistema de terceirização de várias ricas jazidas de mão de obra e de recursos empresariais da Ásia oriental, não ape­
l

,amadas aumentaram rapidamente e transbordararn para uni numero • crescente nas com investimentos diretos, mas também, e sobretudo, com todo tipo de siste­
de Bstndos da Ásia orientalw. mas de terceirização em estruturas organizacionais de integração frouxa. Como
Embora o ator príncipal desse transbordamento fosse a capital Japonesa, ele de­ observamos no capítulo 1 O, essa tendência levou à substituição das grandes empre­
_
pendeu muito das redes comerciais dos chineses ultramarinos, que, desde O princí- sas verticalmente integradas, a exemplo da General Motors, por grandes
l>ío Coram os prmc1prus · · · mterme
·
diários entre os japoneses e as empresas ]ocnis, não empresas terceirizadas, como o Wal-Mart, como principais organizações empresa­
.,,u, "'m • .
• Smgapu a, Hong Kong e 1âiwan, como na maioria dos países do sudeste da
� riais norte-americana.,. A exemplo do que mostraram Gary Hamilton e Wei-an
.
Á�,a, nnde a llllnOria étnica chinesa ocupava pos·u;ao · preponderante nas redes co- Chang, os sistemas de terceirização "dírigldos pelo comprador•. como o do Wal­
. . .
•:•�'.�'.ª�.s locais. �endo assi�, a expansão do sistema japonês de terceirização em •Mart, foram característica distintiva das grandes empresas da China no fün do
1 ,\ 1 1,1s ,.1 m:idas foi apoinda nao sóem cima, pelo patroc,·n,·o pol'tí"
r co nor 1c-amencano período imperial e até hoje continuam a ser a fonna predominante de organização
· . . '
111ns lmnbém embaixo, pelo patrocínio comercial e finanr• .. _., •
-rro ehl.lk;, empresarial em Taiwan e Hong Kongº. Portanto, _podemos interpretar a formação
Com o te�po, porém, o duplo patrocínio começou a restringir a capacidade e a expansão das redes norte-americanas de terceir:ização como outro caso de con­
d.1� e�1prcsns Japonesas de liderar o processo de integração e de expansão ecouô- vergência ocidental na direção dos padrões da Asia oriental. Mns, apesar dessa
111icas dn regl5o. Como lamentou um representante das grandes empresas jnpone­ converg�ncia, o principal beneficiário da mobilização das redes de terceirl1.nçí\o <ln
,,1, no inicio da década de 1990, Ásia oríentol na competição c:ida vez mais acirrada entre as principais organl1:1-
çõcs cnpll'nllstas do mundo não foi o capitnl Japonês nem o capital 11orte-nmerlc11110,

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Ada(l) Smith em Pequim Estados, mercados e capitalismo no Orieote e no Ocidente

Ao contrário, foi outra herança do caminho de desenvolvimento da Asla oriental: Assim, o capital ultramarino chinês estava muito bem posicionado para lucrar
a diáspora capitalista ultrama ri.na chinesa. com a expansão transfronteiras do sistema japonês de terceirização em várias ca­
Como já observado, as maiores oportunidades de crescimento da diáspora madàs e com a demanda crescente das empresas norte-americanas por parceiros
ultramarina chiaesa, que durante séculos foi o principal viveiro das sementes comerciais na região. Quanto mais se acirrava a concorrência pelos recursos hu­
de capitalismo que brotaram nos interstícios do sistema comercia l-tributário manos de baixo custo e de elevada qualidade da Asia oriental, mais os chineses
centrado na China, surgiram com a incorporação subordinada da Asia oriental ultramarinos se transformavam numa das redes capitalistas mais poderosas da
il estrutura do sistema globalizante centrado no Reino Unido. No início do sé­ região, superando em vários aspectos as redes de multinacionais norte-americanas
culo XX, elementos da diáspora tentaram transformar seu crescente poder eco­ e japonesas"'. Mas a maior oportunidade de aumento de sua riqueza e poder veio
nômico em influência política na China continental, apoiando a revolução de com a reintegração da China continental ao mercado regional e global, na década
1911 e o Kuomintang (KMT) na época dos senhores guerreiros. Mas a tentativa de J 980. Nesse sentido, foi fundamental a abertura da República Popular da China
ao comércio e aos investimentos externos, cujo êxito deu início a uma fase inteira­
fracassou por causa do caos político cada vez maior, da ocupação Japonesa nas
mente nova do renascimento da Ásia oriental: a fase da volta da China ao centro
regiões litorâneas da China e, finalmente. da derrota do Kuomintang diante do
da economia regional É dessa nova fase que trataremos agora.
Partido Comunista Chinês (PCC)".
Ao gerar um novo surto de migração chinesa para o sudeste da Ásia, princi­
palmente Hong Kong e Taiwan, e para os Estados Unidos, a vitóáa comunista
reforçou as fileiras empresadais da diáspora. Pouco depois, a Guerra da Coreia
reviveu o fluxo de comércio inter-regional e criou novas oportunidades de negó­
cios para os cbineses ultramarinos; a sa(da das grandes empre.sas europelas e
norte-americanas da época colonial e a chegada de novas empresas multinacio,
nais em busca de parceiros competentes para joint vencures tiveram o mesmo
efeito"'· No entanto, sob o regime unilateral norte-americano que surgiu após a
Guerra da Coreia, o papel dos- chineses ultramarinos como intermediários co­
merciais entre a China continental e a região marítima circundante foi sufocado
tanto pelo embargo norte-americano ao comércio com a República Popular da
China quanto pelas restrições desta ao comércio. Além disso, nas décadas de
l %O e 1960 a expansão do capital ultramarino chinês foi impedida pela dissemi­
nação do nacionalismo e das ideologias e práticas de desenvolvimento nacional
no sudeste da Ásia. Apesar desse ambiente desfavorável, as redes comerciais ul­
tramarinas chinesas conseguiram consolidar o controle das elites dominantes
sobre a maioria das econolltias da região••.

'" �obre n relação cutre t\ dinsporn uJtramnrina chinesa e o m\cionnlismo d1inês, ver Pnt$tmJit Omtra,
"N111lonnlis1s 1\monR Tronsnnllonnls: Ovcrscn, C:hinésc nod 11,c ldcn of China, 1900-L9l l 1', p. 39-59.
• $111 ..lun Wong. 1:mfgrm,t Ht,t,·cprcncursi Jumlc Mnçkic. 14Uu�hrnss Succct-:'\ Among �0111l ums 1 J\ sh\n
\ ,hlnc.,c: 'l'hc fluiu ofCulturo. Vnluc,:, ""d So,1111 Slrllcl111c· ;'; p, 142.
,.. Chi JJitop1H'r ll11kcl'.'t 1'lknr\í11)1h.. llcdrK11illí"llón •111<1 lhe M111np ln S111Hht•,1•,I /\%1� p, Jil •l•ft: \»111111..lf
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