Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
O enfermeiro da UTI se confronta diariamente com pacientes de diagnósticos diversos e
graves, susceptíveis de desenvolver Lesão Renal Aguda. Ele está diretamente relacionado a
esse processo, uma vez que o compromisso profissional vincula-se à assistência. A partir daí,
foi realizada uma revisão de literatura sobre a importância dos cuidados de enfermagem
prestados a pacientes críticos em hemodiálise venovenosa contínua (CVVHD). Visando a
demonstrar fatores que contribuam para a importância da assistência de enfermagem na
CVVHD em UTI, bem como destacar a atuação do enfermeiro nessa assistência, a pesquisa
buscou na literatura, como referencial, o posicionamento assistencial do enfermeiro em UTI
(Unidade de Terapia Intensiva) frente ao paciente em uso de CVVHD. Foi realizada pesquisa
bibliográfica sobre Insuficiência Renal Aguda, Insuficiência Renal Crônica e Hemodiálise,
focalizando a Assistência de Enfermagem em Hemodiálise Contínua Venovenosa. Foram
selecionados os artigos publicados entre os anos de 2000 e 2012. Para os livros encontrados,
não houve limite de ano ou edição. Todo o material pesquisado estava no idioma português e
foi encontrado em bibliotecas públicas, nos acervos da biblioteca virtual de saúde e biblioteca
virtual da UFBA (Universidade Federal da Bahia). De acordo com os autores analisados, o
enfermeiro tem papel relevante em terapia intensiva no que se refere a procedimentos
hemodialíticos venovenosos contínuos. Foram também traçados fatores que contribuem para
a importância dessa assistência.
Palavras-chave
Insuficiência Renal Aguda e Crônica. Hemodiálise. Assistência de Enfermagem em Hemodiálise.
(Universidade Federal da Bahia). Na busca surge gradativamente, mas também pode ocorrer
desses materiais, foram estabelecidos os como resultado de um episódio agudo
seguintes descritores: Insuficiência Renal Aguda precedente. 2.1. Insuficiência Renal Aguda
e Crônica, Hemodiálise e Assistência de (IRA)
Enfermagem em Hemodiálise.
A injúria renal aguda é caracterizada por uma
Para a análise dos dados obtidos, todo o material rápida queda do ritmo de filtração glomerular,
recolhido foi submetido a uma triagem, que podendo ser acompanhada de retenção de
levou a um plano de leitura, atenta e sistemática, produtos nitrogenados e distúrbios
acompanhada de anotações e fichamentos. hidroeletrolíticos. É uma síndrome complexa, de
Foram selecionados os que continham subsídios etiologias múltiplas e variáveis e, como critérios
que correspondiam ao tema proposto, formando diagnósticos, apresenta alteração do débito
embasamento para compor a pesquisa, urinário (diminuição inferior a 0,5 ml/kg/min por
direcionando os resultados, que foram analisados mais de 6 horas - oligúria) ou alterações agudas
com relação aos objetivos propostos e dos níveis séricos da creatinina (aumento
apresentados na conclusão da pesquisa, em um absoluto de creatinina superior a 0,3 mg/ dL ou
texto redigido de forma concisa e clara. relativo de 50% em relação ao valor basal). A
creatina fosfato é uma proteína sintetizada no
2. Desenvolvimento fígado e, posteriormente, armazenada nos
A Insuficiência Renal sobrevém quando os rins músculos.
não conseguem remover os resíduos metabólicos
Após a sua geração, a creatinina é lançada na
do corpo nem realizar as funções reguladoras.
corrente sanguínea, sendo eliminada do corpo
As substâncias normalmente eliminadas na urina
pelos rins. Se não estão conseguindo eliminar a
acumulam-se nos líquidos corporais em
creatini na produzida diariamente pelos
consequência da excreção renal prejudicada,
músculos, os rins, provavelmente, também
levando a uma ruptura das funções metabólicas e
estarão tendo problemas para eliminar diversas
endócrinas, bem como a distúrbios hídricos,
outras substâncias do nosso metabolismo,
eletrolíticos e ácido-básico. (SMELTZE; BARE,
incluindo toxinas. Portanto, um aumento da
2008).
concentração de creatinina no sangue é um sinal
Ainda, delimitando a definição de Insuficiência de insuficiência renal (GALLO, 1994;
Renal, pode-se analisá-la sob a ótica de Arone SMELTZER; BARE, 2008; PADILHA et al,
(1994) como uma síndrome caracterizada pala 2010; PONCE et al, 2011).
redução da velocidade de filtração glomerular,
Acrescentando outra definição, Sallium (2010)
limitando a capacidade renal de manutenção do
relata a Insuficiência Renal Aguda como uma
ambiente interno do organismo. Com isso, os
síndrome de perda abrupta, na maioria dos casos
rins são incapazes de remover água, eletrólitos e
reversível, da função renal. Isso pode ocorrer
escórias metabólicas do organismo,
dentro de algumas horas ou levar dias, e manter-
consequentemente, essas substâncias se
se por períodos variáveis, podendo desencadear
acumulam nos líquidos corporais, prejudicando
um aumento das escórias, entre elas, a ureia,
as funções homeostáticas, endócrinas e
creatinina e outros resíduos de produtos
metabólicas. A insuficiência renal pode ser
nitrogenados e da desregulação do volume
aguda ou crônica (uremia). A aguda tem início
súbito e é, com frequência, reversível. A crônica
redução de perfusão renal, que pode ser decorren levar a uma deterioração irreversível,
te de uma diminuição da volemia ou de uma progressiva e lenta da função renal, que resulta
isquemia renal. A categoria intrarrenal na incapacidade dos rins de eliminarem os
representa 20% a 40% dos casos da lesão renal produtos residuais e manterem o equilíbrio
aguda e é determinada por fatores intrínsecos ao hidroeletrolítico. Por fim, ela leva à doença renal
rim. E a categoria pós-renal representa 5% a em estágio terminal e à necessidade de terapia de
10% dos casos de lesão renal aguda, reposição renal ou transplante renal para
caracterizando-se pela obstrução do fluxo sustentar a vida. As condições que causam a
urinário desde os canais coletores do rim até o lesão terminal renal incluem as doenças
orifício uretral externo. sistêmicas, como diabetes mellitus, hipertensão,
glomérulo, nefrite crônica, pielonefrite
Sallium (2010) descreve a categoria pré-renal
(inflamação da pelve renal), obstrução do trato
como a redução do fluxo plasmático renal e do
urinário, lesões hereditárias como na doença do
ritmo de filtração glomerular, causado por
rim policístico, distúrbios vasculares, infecções,
hipovolemia, diminuição do débito cardíaco,
medicamentos ou agentes tóxicos (MORTON;
vasodilatação periférica, vasoconstricção renal.
FONTAINE, 2011).
A categoria intrarrenal decorre de lesões ao
parênquima renal, causadas por nefrotóxicos,
2.2.1. Quadro Clínico da IRC
metais pesados, solventes orgânicos, entre
outros. E a categoria pós -renal, secundária à A insuficiência renal crônica afeta quase todo o
obstrução intra ou extrarrenal por cálculos, sistema orgânico, com isso, os pacientes exibem
traumas, coágulos, tumores e fibrose retro- inúmeros sinais e sintomas. A gravidade desses
peritoneal. sinais e sintomas depende, em parte, do grau do
comprometimento renal, de outras condições
2. 2. Insuficiência Renal Crônica (IRC) subjacentes e da idade do paciente. Podem
ocorrer alterações cardiovasculares, como
Segundo Fermi (2003) e Smeltzer e Bare (2008), hipertensão, devido à retenção de sódio e água;
a IRC é uma deterioração progressiva na função alterações dermatológicas, como o depósito de
renal, em que os mecanismos homeostáticos do cristais de ureia na pele; alterações
organismo – que são o controle das condições gastrointestinais, como anorexia, náuseas,
estáveis no meio interno, através das quais vômito, soluços e hálito com odor de urina;
fatores como a manutenção das concentrações alterações neurológicas, como nível de
normais dos elementos sanguíneos, temperatura, consciência alterado, contratura muscular,
pressão arterial e outras substâncias são, a todo agitação, confusão, podendo chegar a convulsões
instante, equilibradas no organismo – entram em (SMELTZER; BARE, 2008; ARONE, 1994).
falência, resultando, fatalmente, em uremia
(excesso de ureia e outras escórias nitrogenadas O quadro clínico da IRC também é relatado por
no sangue), a menos que seja feita a hemodiálise Sallium (2010) como manifestações clínicas
ou um transplante de rim. incomuns, mas o paciente pode apresentar febre,
mal -estar, problemas cutâneos e sintomas
Pode ser causada por glomerulonefrite crônica, musculares e articulares que podem estar
pielonefrite, hipertensão não controlada, associados a nefrites intersticiais, vasculites ou
depleção de sódio e água, distúrbios vasculares, gromerulonefrites, dor lombar ou suprapúbica,
uropatia obstrutiva, doença renal secundária a dificuldade de micção, cólica nefrética e
drogas ou agentes tóxicos e infecções, podendo hematúria.
fístula arteriovenosa (FAV). Geralmente, essa bomba de sangue, própria para hemodiálise,
cirurgia é de pequeno porte, realizada no braço passando pelo hemofiltro (dialisador) e
não dominante do paciente, onde ocorre uma retornando ao cliente pela linha venosa, que se
anastomose da artéria e a veia. É fundamental encontra conectada ao lúmen venoso do cateter
que o vaso evolua com boa dilatação para duplo lúmen. A velocidade com que o sangue
permitir a punção de duas agulhas bastante “passa” pelo circuito, ou seja, o fluxo de sangue,
calibrosas, isto significa que, após é comandada pela bomba de sangue em ml∕ min,
confeccionada, deve-se aguardar um tempo de sendo determinada pelo estado geral do cliente e
maturação, para posterior uso (SMELTZER; sua necessidade de remoção de líquido e escórias
BARE, 1998). nitrogenadas e eletrólitos. A anticoagulação é
quase sempre necessária, para evitar a
Em UTI, preferencialmente, devido à maioria
coagulação do sistema extracorpóreo, e a dose
dos casos serem em caráter emergencial, a opção
varia de acordo com a membrana e o fluxo de
de escolha é pelo cateter venoso, com um
sangue empregado e o estado clínico do
procedimento de hemodiálise contínuo, por
paciente, sendo a heparina o mais utilizado.
causa da hemodinâmica instável do paciente
Também é possível realizar procedimento
(PADILHA et al., 2010). A hemodiálise
dialítico com CEC sem o emprego de
convencional intermitente é, com frequência,
anticoagulantes, neste caso, utilizam-se
difícil de ser realizada como tratamen to para
frequentes lavagens do circuito da CEC com
corrigir os desequilíbrios metabólicos da IRA
solução fisiológica a 0,9%, conforme prescrição
em pacientes críticos, pois, como estão
médica.
hemodinamicamente instáveis, necessitam mais
do que as 3 a 4 horas habituais. Assim, os Outra descrição para CVVHD também é relata
tratamentos de reposição renal contínua da por Smeltzer e Bare (2008), quando o sangue
oferecem uma alternativa para a hemodiálise no é bombeado a partir de um cateter venoso com
ambiente de cuidados intensivos (GALLO, luz dupla, através de um hemofiltro, e devolvido
1994). ao paciente através do mesmo cateter. Utiliza um
gradiente de concentração para facilitar a
A CVVHD é um procedimento que utiliza fluxo
remoção das toxinas urêmicas e do líquido. Os
sanguíneo de, aproximadamente, 100 ml/min,
efeitos hemodinâmicos são brandos, as
por um cateter venoso, e obtido com uma bomba
enfermeiras de cuidados intensivos necessitarão
de sangue no sistema extracorpóreo e com
de alguma instrução para operar o equipamento,
reduzido fluxo de solução dialisadora (15 a 30
mas, uma vez aprendida, é facilmente
ml/min de solução). O banho circula no sentido
manuseável pela equipe de enfermagem.
contrário ao sangue e é coletado em um sistema
Contudo, a capacidade de observação do
fechado, sendo este volume medido a cada troca
enfermeiro, a avaliação de sintomas e as ações
da solução. A diferença entre o volume
adequadas podem fazer a diferença entre uma
infundido e o drenado equivale à ultrafiltração
hemodiálise suave, com problemas mínimos, e
obtida (SALLIUM, 2010).
um temível procedimento, com uma série de
Segundo Yako (2000), na CVVHD, o sangue crises para o paciente e o enfermeiro.
flui através de um dos lumens do cateter, dito
lúmen arterial, que se encontra conectado à linha 2. 3.1.1. Cuidados de
arterial do sistema, sendo “puxado” ou enfermagem em hemodiálise
“impulsionado” através de um sistema por uma
(CVVHD) a | Quanto à
manipulação
da Máquina Extracorpórea
Para Morton e Fntaine (2011), a enfermeira
precisa ter treinamento teórico e prático em
ambiente clínico antes de manipular a máquina,
com referência aos manuais de instrução do
fabricante, que propiciam diretrizes para uma
operação segura do equipamento.
Com isso, foram traçados fatores que contribuem A enfermagem, através dos tempos, conquista
para a importância da assistência de enfermagem seu espaço, com assistência e responsabilidades
em CVVHD em UTI, como conhecimento no cuidado ao ser humano, influenciando e
científico e embasamento teórico sobre adquirindo respeito como profissão direcionada
hemodiálise e possíveis complicações do ao trabalho especializado. Exige de seus
procedimento, com preparo para atuar quando profissionais capacitação para o desempenho
necessário; treinamento e capacitação para profissional, bus cando a qualidade da
instalar, manter e desligar a máquina assistência, aprimorando seus conhecimentos,
extracorpórea; consciência do seu papel e direcionando suas ações o mais cientificamente
postura, como agente transformador e possível, para prestar o cuidado em sua
direcionador de uma assistência especializada totalidade do modo mais individual possível,
em terapia hemodialítica contínua; atuação respeitando os limites dos pacientes críticos e o
direito à vida.
Abstract
The ICU nurse is confronted daily with patients of different diagnoses and severe, likely to
develop acute kidney injury, and is directly related to this process, since the professional
commitment is bound to assist. Thus, we conducted a literature review on the importance of
nursing care provided to critically ill patients in continuous venovenous hemodialysis
(CVVHD). The research sought in the literature as a reference, which the positioning of the
attending nurse in the ICU (Intensive Care Unit) compared to patients using CVVHD.
Aiming to demonstrate factors that contribute to the importance of nursing care in the ICU
CVVHD and highlight performance of nurses that care. We performed a literature search on
Acute Renal Failure, Chronic Renal Failure and Hemodialysis, focusing Nursing Care
Hemodialysis Continuous venovenous. We selected articles published between the years
2000-2012, for the books found there was no year limit or editing, but all material in
Portuguese, these were found in public libraries, in the collections of virtual health library,
virtual library UFBA (Federal University of Bahia). According to the authors analyzed the
nurse has an important role in intensive care with regard to hemodyalisis venovenosos
continuous, and have been traced factors that contribute to the importance of such assistance.
CARPENITO L.H, Manual de diagnósticos de PONCE, Daniele et al. Injúria Renal Aguda em
enfermagem. 6 ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, Unidade de Terapia Intensiva: Estudo Prospectivo
1999. sobre a Incidência, Fatores de Risco e Mortalidade.
Formato do Arquivo: PDF/Adobe Acrobat, 2011.
FERMI, Márcia Regina Valente. Manual de Diálise Revista Brasileira de terapia Intensiva v.23 n.3 São
para Enfermagem. Rio de Janeiro: Medsi, 2003. Paulo July/Sept. 2011. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/rbti/v23n3/ v23n3a10.pdf.
GALLO, B.M.; HUDAK, C. M.; Modalidades
Acesso em: 1 abr. 2013.
Terapêuticas: Sistema Renal. In:___ Cuidados
Intensivos de Enfermagem: uma abordagem SALLIUM, Ana Maria Calil. PARANHOS, Wana
holística. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, Yeda. O Enfermeiro e as Situações de Emergência.
1994. 2. ed São Paulo: Atheneu, 2010.