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CRÉDITOS

Conteudista
Ana Beatriz Mendes Estrella

Renata Guarino Martins

Coordenação Pedagógica
Marizete da Silva Oliveira

Coordenação de EaD
Daniella Gonçalves Cabeceira

Revisão
Kátia Carolina dos Santos

Design e Diagramação
Allan Mendes de Jesus
SUMÁRIO

Unidade II Identificando e Gerindo As Demandas Repetitivas e de Massa 1

Introdução 1

Seção 1: Identificando as demandas repetitivas 3

1 Ações de massa e demandas repetitivas. 4

2 IRDR e IAC 7

2.1 Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas – IRDR 7

2 Incidente de Assunção de Competência – IAC 9

3 Recursos Repetitivos e Repercussão Geral 9

Vamos fazer uma revisão? 11

Seção 2: Soluções de gestão 12

1 Diretrizes para gerir o volume de processos 13

2 Qual tipo de precedente aplicar no caso concreto? 13

3 Núcleo de Gerenciamento de Precedentes – NUGEP 14

Referências 19
Unidade II
Identificando e Gerindo As Demandas
Repetitivas e de Massa

Introdução
Caro cursista, é com grande satisfação que iniciamos com vocês a segunda

unidade do curso Teoria e Prática dos Precedentes! Na primeira unidade vimos,

com a professora Mariana Marinho Machado, as bases teóricas necessárias para

compreender o nascimento e o funcionamento do sistema de precedentes no Brasil,

materializado nas normas contidas no Código de Processo Civil de 2015.

Como já visto, essas normas vieram para auxiliar o julgador a conferir

tratamento mais célere e uniforme ao julgamento de casos que se repetem, diante do

aumento astronômico do volume de distribuição de demandas repetitivas ocorrido,

principalmente nas últimas duas décadas, por diversos fatores.

A mudança se fez necessária porque a sistemática do código anterior trazia uma

metodologia notadamente individualista e mais artesanal de julgamento, que não

permitia ao julgador enfrentar com eficiência a enxurrada de ações, que passaram a

ser distribuídas ‘no atacado’.

Agora você deve estar se perguntando: como essas informações podem me

ajudar na gestão da minha unidade judiciária?

A boa notícia é que o objetivo específico da unidade II é justamente esse: dialogar

sobre gestão processual na era dos precedentes qualificados para aprimorarmos

1
nossos métodos de gestão.

No primeiro momento da unidade vamos desenvolver a capacidade de identificar

e classificar quais são as demandas repetitivas que causam congestionamento na

unidade judiciária. Na segunda etapa, desenvolveremos a habilidade de identificar

o que fazer em cada situação específica para sistematizar o trabalho, conferindo

segurança jurídica e celeridade à prestação jurisdicional. Na última seção veremos

uma série de ferramentas úteis para encontrar subsídios para a aplicação dos

precedentes qualificados.

A Unidade II está estruturada da seguinte forma:

Seção 1: Identificando as demandas repetitivas. 1 Ações de massa e demandas

repetitivas. 2 IRDR e IAC. 3 Recursos Repetitivos e Repercussão Geral.

Seção 2: Soluções de gestão. 1 Diretrizes para gerir o volume de processos. 2

Qual tipo de precedente aplicar no caso concreto? 3 Núcleo de Gerenciamento de

Precedentes - NUGEP.

2
1
Identificando as
demandas repetitivas

3
Para identificar as demandas repetitivas que compõe o acervo processual da

unidade judiciária convém, inicialmente, definir quais são aquelas que podem ser

assim chamadas e que integram o microssistema das demandas repetitivas. Na

lição de TALAMINI, citado por PORTO (2018, p. 3):

“surgem situações em que uma imensa quantidade de pessoas titulariza,


individualmente, um direito que é na essência idêntico ao dos demais. E
surgem situações em que estas pessoas têm, ao mesmo tempo, esses seus
respectivos direitos ameaçados ou violados por uma conduta ou conjunto
de condutas provenientes de um mesmo sujeito ou conjunto de sujeitos”

Nesse contexto, o julgador pode identificar quais são as demandas da sua unidade

judiciária que se encaixam nessa definição buscando, por exemplo, demandas com

sujeito passivo comum, distribuídas em espaço de tempo definido, podendo estar

ligadas, ou não, a um evento local específico, como obras no sistema de esgoto de

um bairro, que afeta várias residências.

Vamos tentar?

Atividade proposta: identifique pelo menos um caso ou

situação que tenha gerado a distribuição de demandas

repetitivas em sua unidade judiciária e discuta com

seus colegas no fórum de debates, quais as dificuldades

enfrentadas para gerir o volume de processos gerado.

4
1 Ações de massa e demandas repetitivas
Antes mesmo do advento do Código de Processo Civil de 2015, já era possível

encontrar em leis esparsas – tais como a Lei n. 7.347/85, que disciplina a Ação Civil

Pública ou o Código de Defesa do Consumidor, que ampliou a sua abrangência –

instrumentos para viabilizar a tutela de direitos coletivos, difusos ou individuais

homogêneos, denominados ações coletivas, que, se regularmente propostas por

seus legitimados, não demandam maiores reflexões nesse momento do curso, pois

exigem do magistrado, quando recebe a petição inicial, apenas a verificação de sua

adequação e regularidade formal.

Entretanto, em relação aos direitos individuais coletivamente considerados,

observa PORTO (2018, P. 13) citando CAMBI e FOGAÇA, que a sistemática atual das

ações coletivas fracassou no intento de conter a enxurrada de ações que são ajuizadas

em prol da tutela de direitos originados de um mesmo contexto fático-jurídico. Com

isso, a solução de grande parte dos problemas de massa é buscada com demandas

individuais repetitivas. Todavia, esses litígios exigem soluções rápidas e eficazes,

não se justificando mais a adoção dos instrumentos tradicionais de condução de

processos judiciais. Daí a necessidade de encontrar tipos alternativos de solução

desses conflitos.”1

1 (CAMBI, Eduardo. FOGAÇA, Mateus Varga. Incidente de resolução de demandas repetitivas no novo Código de
Processo Civil. Revista de Processo. v. 243, mai./2015, p. 336-337.)

5
Então, o que fazer com as ações individuais repetitivas?

Em relação às ações individuais que trazem temas repetitivos e que poderiam

ser objeto de ação coletiva, o projeto do atual Código de Processo Civil trazia em seu

artigo 333, inovação que permitia ao julgador, a requerimento do Ministério Público

ou da Defensoria Pública, converter demandas individuais em coletivas, atendidos

os requisitos nele elencados.

Entretanto, o referido dispositivo foi vetado pela então Presidente da República,2

remanescendo a previsão do artigo 139, X3, que confere ao juiz, quando se deparar com

diversas demandas individuais repetitivas, o poder-dever de oficiar o Ministério Público,


2 Razões do veto: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2015/03/17/novo-codigo-de-processo-civil-recebe-
sete-vetos e https://www.conjur.com.br/2015-mar-17/leia-razoes-sete-vetos-dilma-rousseff-cpc
Críticas ao veto: https://www.conjur.com.br/2016-abr-19/tribuna-defensoria-conversao-acao-individual-coletiva-cpc
3 Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: (...) X - quando se deparar
com diversas demandas individuais repetitivas, oficiar o Ministério Público, a Defensoria Pública e, na medida do
possível, outros legitimados a que se referem o art. 5º da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, e o art. 82 da Lei nº 8.078,
de 11 de setembro de 1990, para, se for o caso, promover a propositura da ação coletiva respectiva.

6
a Defensoria Pública e, na medida do possível, outros legitimados a que se referem o art.

5° da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, e o art. 82 da Lei n° 8.078, de 11 de setembro

de 1990, para, se for o caso, promover a propositura da ação coletiva respectiva.

Por outro lado, identificando que se trata de demanda individual, e que já existe

ação coletiva ajuizada sobre o tema, é impositiva a observância do Tema n. 60 do

STJ, objeto do REsp n. 1.203.244/SC, no qual se fixou a seguinte tese: “Ajuizada ação

coletiva atinente a macro-lide geradora de processos multitudinários, suspendem-

se as ações individuais, no aguardo do julgamento da ação coletiva”.

Vale a leitura do artigo “A coletivização das demandas individuais no NCPC e sua

convivência com as demandas coletivas” e, para melhor compreender qual o espaço a ser

ocupado pelas ações coletivas e pelos procedimentos de resolução de casos repetitivos no

Brasil, recomenda-se a leitura do artigo “Ações Coletivas, IRDR e Recursos Repetitivos”, de

André Vasconcellos Roque.

2 IRDR e IAC
O incidente processual é uma questão controversa, secundária e acessória, que

surge no curso de um processo e que precisa ser julgada antes da decisão do mérito

da causa principal. As espécies de incidentes processuais que merecem nossa

atenção nesse estudo são: incidente de resolução de demandas repetitivas – IRDR

7
e o Incidente de Assunção de Competência – IAC, que foram integrados ao sistema

processual brasileiro com a entrada em vigor do Código de Processo Civil de 2015.

Esses incidentes veiculam, respectivamente, a discussão de questões de direito

que se repetem em vários processos ou que tenham grande repercussão social, cuja

decisão se torna obrigatória, devendo ser reproduzida em todos os demais casos

que discutem o mesmo tema.

2.1 Incidente de Resolução de Demandas


Repetitivas – IRDR
É possível conceituar o IRDR, previsto nos artigos 976 a 987 do Código de Processo Civil,

como o incidente processual instaurado para, mediante julgamento único e vinculante,

assegurar interpretação isonômica à questão jurídica controvertida em demandas

repetitivas que busquem tutela jurisdicional a interesses individuais homogêneos4.

Os requisitos legais necessários para a sua instauração são: a efetiva repetição

de processos; que se trate de controvérsia sobre a mesma questão, unicamente de

direito; que se verifique risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica; bem como

a inexistência de afetação da matéria pelos Tribunais Superiores para definição de

tese sobre questão de direito material ou processual repetitiva.

A quem é dirigido e quem pode instaurar o IRDR?

Nos termos do artigo 977 do Código de Processo Civil, o pedido de instauração

do incidente será dirigido ao presidente do Tribunal pelo juiz ou relator, por ofício

ou pelas partes, Ministério Público ou pela Defensoria Pública, por petição. O


4 DANTAS, Bruno. Comentário ao artigo 976. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim et al. [coords.]. Breves comentários
ao novo Código de Processo Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. Acesso eletrônico.)

8
pedido deverá ser instruído com os documentos necessários à demonstração do

preenchimento dos pressupostos para a instauração do incidente. Registre-se que se

tem admitido a instauração de IRDR tanto no âmbito dos tribunais locais, quanto do

Superior Tribunal de Justiça, em ações de competência originária daquele Tribunal.

PORTO (2018, p. 128) considera salutar a escolha do Código de Processo Civil

de indicar o juiz como o primeiro sujeito que pode pedir a instauração do IRDR em

algum processo que envolva a questão repetitiva (artigo 977, I), já que é o magistrado

de primeiro grau que tem o primeiro contato, a primeira percepção de que o tema

se repete assiduamente. Cita, inclusive doutrina em que se chega a afirmar que o

juiz de primeira instância seria o legitimado ideal para a instauração.

Observa, também que, para que possa requerer a instauração, o magistrado

deve possuir no seu acervo de processos, algum a envolver a matéria repetida. Afinal,

soaria bastante estranho que o juiz atuasse como fiscal dos acervos de seus colegas.

Mesmo nessa peculiar hipótese, embora não legitimado apto a instaurar o incidente,

poderia oficiar outro magistrado ou relator de processo sobre o tema já em grau

recursal para que, sendo estes legitimados na forma do artigo 977, procedessem ao

ofício de instauração.

2 Incidente de Assunção de Competência – IAC


O IAC, por sua vez, é regulado pelo artigo 947 do Código de Processo Civil e é

admissível quando o julgamento de recurso, de remessa necessária ou de processo

de competência originária, envolver relevante questão de direito, com grande

repercussão social, sem repetição em múltiplos processos.

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Nesse caso, configurada a hipótese de assunção de competência, o relator

proporá, de ofício ou a requerimento da parte, do Ministério Público ou da Defensoria

Pública, que seja o recurso, a remessa necessária ou o processo de competência

originária julgado pelo órgão colegiado que o regimento interno do tribunal indicar.

Para a sua instauração é necessário que se trate de relevante questão de direito

a respeito da qual seja conveniente a prevenção ou a composição de divergência

entre Câmaras ou Turmas do Tribunal, a matéria apresente grande repercussão

social e não exista repetição de processos.

3 Recursos Repetitivos e Repercussão Geral


Como vimos no item 1.2.1 acima, o código elenca como requisito negativo

para a instauração de IRDR, a inexistência de afetação da matéria pelos Tribunais

Superiores para definição de tese, sobre a questão de direito material ou processual

repetitiva, ou seja, incidente de julgamento de recurso repetitivo já admitido pelo

Superior Tribunal de Justiça ou pelo Supremo Tribunal Federal, no âmbito de suas

competências constitucionais.

A sistemática dos recursos especiais ou extraordinários repetitivos e da

repercussão geral, esta referente apenas aos recursos extraordinários, no Código

de Processo Civil de 2015, seguem o mesmo procedimento, como se observa dos

artigos 1.036 a 1.041.

Os IRDRs que tramitam perante os tribunais locais e os recursos repetitivos

também ostentam semelhança procedimental, entretanto, a decisão proferida nos

primeiros gera tese que vincula os órgãos judiciários do tribunal local, enquanto

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as teses geradas quando do julgamento dos recursos excepcionais pelos tribunais

superiores vincula todos os órgãos judiciários de todos os tribunais do país.

No que tange especificamente aos recursos repetitivos e com repercussão

geral, a despeito da unificação procedimental, observa-se que a repercussão geral,

cuja apreciação compete exclusivamente ao Supremo Tribunal Federal, deve ser

demonstrada em todos os recursos extraordinários, repetitivos ou não, a teor

do que dispõe o artigo 1.035 e seus parágrafos e constitui, assim, um requisito

de admissibilidade recursal. Para que o Supremo Tribunal Federal a reconheça,

deverá ser demonstrado pelo recorrente a existência de questões relevantes em seu

recurso do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico, que ultrapassem os

interesses subjetivos do processo.

A presença da repercussão geral se revela presente sempre que o recurso

impugnar acórdão que contrarie súmula ou jurisprudência dominante do Supremo

Tribunal Federal, ou quando este tenha reconhecido a inconstitucionalidade de

tratado ou de lei federal, nos termos do artigo 97 da Constituição Federal.

Reconhecida a repercussão geral, dispõe o Código de Processo Civil, que o

relator no Supremo Tribunal Federal determinará a suspensão do processamento de

todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que versem sobre a questão

e tramitem no território nacional.

Frise-se que, nos recursos extraordinários repetitivos, haverá sempre, por

imposição constitucional, repercussão geral, mas nem todo recurso extraordinário

com repercussão geral será repetitivo.

11
2
Soluções de gestão

12
Vamos fazer uma revisão?
Como vimos no item 1 da seção 1, identificadas as demandas individuais

repetitivas com matérias apreciáveis por ação coletiva, o magistrado deve oficiar os

respectivos legitimados para, se for o caso, promoverem a propositura da ação coletiva

respectiva ou, já existindo ação coletiva ajuizada sobre o tema, deverá suspender o

seu trâmite até o julgamento definitivo da ação coletiva, em conformidade com o

tema n. 60 do STJ.

No item 1.2.1 acima, vimos também como o julgador pode encaminhar ao

presidente do tribunal pedido de instauração de IRDR se presentes os pressupostos

legais. E, finalmente, vimos que o requisito negativo para a instauração de IRDR é

a inexistência de afetação da matéria pelos Tribunais Superiores para definição de

tese sobre a questão de direito material ou processual repetitiva.

Na seção anterior desenvolvemos a habilidade de identificar as demandas

repetitivas em uma unidade judiciária e analisamos, dentre outras ferramentas,

o IRDR e os recursos repetitivos, com ou sem repercussão geral, mecanismos de

enfrentamento de demandas repetitivas previstos no Código de Processo Civil.

Vamos ver como aplicar essas novas competências na prática?

1 Diretrizes para gerir o volume de processos


Após identificar uma demanda como repetitiva em uma unidade judiciária o

próximo desafio a ser enfrentado pelo magistrado-gestor é selecionar a ferramenta

processual adequada para enfrentar o volume processual gerado.

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Atividade proposta: A partir do(s) caso(s) que você selecionou na atividade anterior procure

identificar se é possível a aplicar alguma das 4 ferramentas estudadas até aqui (ofício ao

legitimado para ajuizamento de ação coletiva, suspensão do processo aplicando o Tema nº

60 do STJ, instauração de IRDR ou aplicação de precedente gerado em julgamentos de RR

pelos Tribunais Superiores).

2 Qual tipo de precedente aplicar no caso concreto?


Considerando, inicialmente, que, como já vimos, a instauração de IRDR não é

possível se a matéria já foi afetada para apreciação pelos Tribunais Superiores, a

primeira indagação que precisamos resolver para saber qual ferramenta utilizar no

caso concreto é: Como saber se a matéria já foi afetada pelos Tribunais Superiores

ou se já existe IRDR instaurado no âmbito do Tribunal local?

Felizmente essa informação é de fácil acesso, pois os Tribunais Superiores e os

tribunais locais mantêm bancos de dados atualizados e ferramentas de pesquisa

que permitem ao usuário localizar as informações das quais necessita realizando

consulta por número, assunto ou palavra chave.

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Para agilizar a sua pesquisa, já colocamos aqui para você os links diretos de pesquisa por

assunto dos bancos de dados do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça.

A título de exemplo segue link para consulta, também por assunto, dos IRDRs que

tramitam ou já tramitaram no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.

3 Núcleo de Gerenciamento de Precedentes – NUGEP


Antes do advento do Código de Processo Civil de 2015, o Conselho Nacional de

Justiça – CNJ, em 2012, por intermédio da Resolução n. 160/2012, dispôs sobre a

organização do Núcleo de Repercussão Geral e Recursos Repetitivos – NURER, no

âmbito dos Tribunais Superiores, dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito

Federal e dos Tribunais Regionais Federais.

As atribuições do NURER consistiam em auxiliar na identificação de recursos

representativos de controvérsia, realizar o acompanhamento dos recursos

paradigmas e o encaminhamento de relatório ao Supremo Tribunal Federal, ao

Conselho Nacional de Justiça e ao Superior Tribunal de Justiça, trimestralmente,

com dados referentes aos processos sobrestados que aguardam julgamento do

mérito dos temas da repercussão geral e dos recursos repetitivos.

Em 2016, já na vigência do Código de Processo Civil atual, adveio a Resolução n. 235

do CNJ, que dispôs sobre a padronização de procedimentos administrativos decorrentes

de julgamentos de repercussão geral, de casos repetitivos e de incidente de assunção de

competência previstos na Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).


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A referida Resolução 235 dispôs, no capítulo III, sobre o Núcleo de Gerenciamento

de Precedentes (NUGEP) no âmbito do STJ, TST, TSE, STM, Tribunais de Justiça

dos Estados e do Distrito Federal, TRFs e TRTs, e mencionou expressamente que,

para sua organização, os tribunais deveriam aproveitar os servidores e a estrutura

administrativa do NURER, que atuassem diretamente na gestão da repercussão

geral e dos recursos repetitivos.

A referida Resolução n. 235, no art. 6º, § 1º, fixou o prazo de 90 dias para

implantação dos NUGEPs, vinculados à Presidência ou Vice-Presidência dos

tribunais e supervisionados por uma Comissão Gestora composta por ministros ou

desembargadores, de acordo com o regimento interno de cada tribunal.

No que tange à Comissão Gestora, a Resolução n. 235 foi alterada pela Resolução

n. 286/2019, que prevê a realização de reuniões, ao menos semestrais, para definição

e acompanhamento das medidas necessárias à gestão dos dados e acervo de

processos sobrestados em decorrência da repercussão geral, dos casos repetitivos e

do incidente de assunção de competência no respectivo tribunal.

Com o claro propósito de uniformizar a composição e atuação dos Núcleos

de Gerenciamento de Precedentes, o CNJ previu a necessidade de haver quatro

servidores, dos quais pelo menos 75% devem integrar de forma efetiva o quadro de

pessoal do respectivo tribunal, além de possuir graduação em Direito.

Naqueles tribunais com grande número de processos, o Conselho Nacional de

Justiça facultou a designação de Magistrados para compor o Nugep, de modo a

assegurar uma melhor coordenação dos trabalhos.

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Conheça aqui as atribuições do NUGEP, cuja criação incumbe a cada tribunal, dispostas no

art. 7º da Resolução 265/2016:


I – informar ao Nugep do CNJ e manter na página do tribunal na internet dados atualizados de seus integrantes, tais
como nome, telefone e e-mail, com a principal finalidade de permitir a integração entre os tribunais do país, bem
como enviar esses dados, observadas as competências constitucionais, ao STF, ao STJ e ao TST, sempre que houver
alteração em sua composição;
II – uniformizar, nos termos desta resolução, o gerenciamento dos procedimentos administrativos decorrentes da
aplicação da repercussão geral, de julgamentos de casos repetitivos e de incidente de assunção de competência;
III – acompanhar os processos submetidos à técnica dos casos repetitivos e da assunção de competência em todas
as suas fases, nos termos dos arts. 8º e 11 desta resolução, alimentando o banco de dados a que se refere o art. 5º,
observado o disposto nos Anexos I (julgamento de casos repetitivos) ou V (incidente de assunção de competência)
desta resolução;
IV – controlar os dados referentes aos grupos representativos previstos no art. 9º desta resolução, bem como
disponibilizar informações para as áreas técnicas de cada tribunal quanto à alteração da situação do grupo, inclusive
se admitido como Controvérsia ou Tema, conforme o tribunal superior, alimentando o banco de dados a que se refere
o art. 5º, observado o disposto no Anexo II desta Resolução;
V – acompanhar a tramitação dos recursos selecionados pelo tribunal como representativos da controvérsia
encaminhados ao STF, ao STJ e ao TST (art. 1.036, § 1º, do CPC), a fim de subsidiar a atividade dos órgãos jurisdicionais
competentes pelo juízo de admissibilidade e pelo sobrestamento de feitos, alimentando o banco de dados a que se
refere o art. 5º, observado o disposto no Anexo III (controvérsia recebida pelo tribunal superior) desta resolução;
VI – auxiliar os órgãos julgadores na gestão do acervo sobrestado;
VII – manter, disponibilizar e alimentar o banco de dados previsto no art. 5º, com informações atualizadas sobre os
processos sobrestados no estado ou na região, conforme o caso, bem como nas turmas e nos colégios recursais e
nos juízos de execução fiscal, identificando o acervo a partir do tema de repercussão geral ou de repetitivos, ou de
incidente de resolução de demandas repetitivas e do processo paradigma, conforme a classificação realizada pelos
tribunais superiores e o respectivo regional federal, regional do trabalho ou tribunal de justiça, observado o disposto
no Anexo IV desta resolução;
VIII – informar a publicação e o trânsito em julgado dos acórdãos dos paradigmas para os fins dos arts. 985; 1.035,
§ 8º; 1.039; 1.040 e 1.041 do Código de Processo Civil;
IX – receber e compilar os dados referentes aos recursos sobrestados no estado ou na região, conforme o caso, bem
como nas turmas e colégios recursais e nos juízos de execução fiscal;
X – informar ao Nugep do CNJ a existência de processos com possibilidade de gestão perante empresas, públicas e
privadas, bem como agências reguladoras de serviços públicos, para implementação de práticas autocompositivas,
nos termos do art. 6º, VII, da Resolução CNJ 125/2010.

17
Com a finalidade de conferir padronização no tocante à divulgação dos casos

repetitivos, a Resolução n. 235/2016 dispôs que os tribunais devem manter, em sua

página na internet, banco de dados pesquisável com os registros eletrônicos dos

temas para consulta pública com informações padronizadas de todas as fases dos

casos repetitivos.

No Superior Tribunal de Justiça o Núcleo de Gerenciamento de Precedentes

– Nugep, unidade vinculada ao Gabinete da Presidência, possui como atribuição

assessorar o Presidente do Superior Tribunal de Justiça nas competências definidas

pelo seu Regimento Interno e pela Resolução CNJ n. 235, de 13 de julho de 2016 com

as alterações da Resolução CNJ n. 286, de 25 de junho de 2019).

Para conhecer melhor o NUGEP do Superior Tribunal de Justiça e nos tribunais locais

consulte estes links.

NUGEPS, Links para outros NUGEPS e Boletim NUGEP.

Vê-se, pois, que os NUGEPs desempenham papel fundamental na engrenagem

que compõe a sistemática dos precedentes qualificados, sendo, portanto,

imprescindíveis seu bom funcionamento e organização.

Chegamos ao fim da nossa Unidade II, mas o curso ainda não terminou.

Preparem-se para mais novidades com o professor Frederico Koehler na Unidade III,

18
que abordará com você instrumentos interessantes como a Improcedência liminar

do pedido, a Tutela antecipada de evidência, a Suspensão de segurança para várias

liminares em casos repetitivos (Lei n. 8.437/1992, art. 4º, § 8º; Lei n. 12.016/2009, art.

15, § 5º) e muito mais! Até breve!

19
Referências
ASSIS, Guilherme Bacelar Patrício. Precedentes vinculantes em recursos

extraordinário e especial repetitivos. 1. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017. 315 p.

ALVIM, Rafael; MOREIRA, Felipe. Incidente de Resolução de Demandas

Repetitivas (IRDR). Blog – Instituto de Direito Contemporâneo, 12 de jan de 2017.

Disponível em <https://cpcnovo.com.br/blog/incidente-de-resolucao-de-demandas-

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20
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CONTEMPORÂNEO: DE ONDE VIEMOS, ONDE ESTAMOS E PARA ONDE VAMOS?

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______. Direitos individuais homogêneos e seu substrato coletivo: ação coletiva

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