Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SUMÁRIO
SIGLAS E ABREVIATURAS
1. OBJETIVO
O objetivo deste protocolo é uniformizar a conduta médica acerca do manejo clínico
dos pacientes com Cirrose Hepática que são atendidos no Hospital Universitário Alcides Carneiro
(HUAC).
2. JUSTIFICATIVA
A justificativa é de que os pacientes com este diagnóstico podem ser atendidos por
médicos de diversas especialidades em um primeiro contato com hospital. Desta forma, é de suma
importância a uniformização das condutas médicas para um melhor tratamento e seguimento
clínico.
A investigação etiológica da cirrose e o manejo de suas principais complicações serão
contempladas nesse protocolo, com base nas formas mais comumente observadas no serviço,
especialmente nas enfermarias, onde há maior potencial de evolução com gravidade e necessidade
de conduta mais ativa, além de maior vigilância.
5. INTRODUÇÃO
Cirrose é o estágio terminal de fibrose hepática, com distorção da arquitetura
hepática e formação de nódulos de regeneração. Sua história natural é caracterizada por uma fase
compensada assintomática seguida de uma fase descompensada, marcada pelo desenvolvimento
de sinais clínicos evidentes, sendo os mais frequentes ascites, sangramentos, encefalopatia e
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ALCIDES CARNEIRO
icterícia. O fator etiológico deve ser removido, pois tal estratégia está associada à diminuição do
risco de descompensação e aumento da sobrevida (II-2,1).
A biópsia hepática é o exame padrão ouro para documentá-la identificar a causa e
avaliar a extensão do comprometimento hepático. Alguns exames de imagem como a
ultrassonografia e tomografia computadorizada podem delinear as características típicas de um
fígado cirrótico e a presença de hipertensão portal quando associados com dados laboratoriais e
quadro clínico compatíveis podem auxiliar no diagnóstico de cirrose hepática.
Cirrose Hepática (CH) é responsável por 85% dos casos de ascite. O surgimento desta
marca uma nova fase da hipertensão portal e determina um prognóstico ruim, uma vez que 50%
dos pacientes morrerão ao final de 2 anos, portanto, são potenciais candidatos ao transplante
hepático.
Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE) é a infecção do líquido ascítico sem fonte
intra-abdominal identificável. Em portadores de CH são comuns supercrescimento bacteriano e
alterações da motilidade e permeabilidade intestinal que por sua vez facilitam a translocação
bacteriana, condição que predispõe a PBE.
A E.coli, antes responsável por até 70% das PBE, atualmente está presente em
apenas 25% das infecções. O número de bactérias gram-positivas aumentou, 20-25% para 50-70%
(Streptococcus sp e Enterococcus sp), assim como gram-negativos multidrogaresistentes, como
Staphylococcus aureus resistentes a oxacilina (MRSA), Staphylococcus aureus meticilina resistente
(MRSA), Enterococos resistentes à vancomicina (VRE).
A Síndrome Hepatorrenal é uma condição potencialmente reversível caracterizada
por insuficiência renal funcional que se instala em pacientes com insuficiência hepática aguda ou
crônica, na ausência de qualquer outra causa identificável de doença renal estrutural ou não
estrutural.
A Encefalopatia hepática é uma disfunção cerebral causada por insuficiência hepática
e/ou derivação porto-sistêmica (DPS); manifesta-se como um amplo espectro de anomalias
neurológicas ou psiquiátricas que variam de alterações subclínicas ao coma.
Além disso, estima-se que as varizes de esôfago estejam presentes em 30-40% dos
pacientes com cirrose compensada no momento do diagnóstico, e podem chegar a 60% na doença
descompensada. O sangramento por varizes é uma emergência médica associada a uma
mortalidade que, apesar dos progressos recentes, ainda é da ordem de 10-20% em 6 semanas.
6. ETIOLOGIA E DIAGNÓSTICO
Sugere-se este roteiro diagnóstico para investigação da etiologia de casos de
hepatite crônica ou cirrose de etiologia não definida, avaliando-se primeiramente as causas mais
comuns, e após sua exclusão, investigam-se causas menos frequentes.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ALCIDES CARNEIRO
7. FISIOPATOLOGIA
alterações são responsáveis pela hipertensão porta. Esta acaba por gerar vasodilatação venosa e
formação de conexões portossistêmicos, intra e extra-hepáticas, com irrigação inadequada dos
nódulos regenerativos. Esta vasodilatação ocorre principalmente no leito vascular esplâncnico, com
aumento do diâmetro da veia porta.
A presença de vasodilatação, shunts, ou ambos, pode levar ao desenvolvimento de
circulação hiperdinâmica, que consiste em alterações hemodinâmicas caracterizadas por aumento
do débito e da frequência cardíaca, que se associam à diminuição da resistência vascular sistêmica
e queda da pressão arterial. A patogenia da circulação hiperdinâmica ainda é pouco compreendida,
porém existem evidências que ela esteja associada a mecanismos locais e neuro-humorais
envolvidos na regulação da hemodinâmica e da excreção de sódio. Tal processo ocorre em graus
variáveis, de acordo com o estádio da doença hepática.
Os pacientes cirróticos descompensados geralmente apresentam ascite,
vasodilatação e hipotensão arterial, apesar dos níveis elevados de vasoconstritores circulantes
como angiotensina II e norepinefrina. Adicionalmente, nesses pacientes, o fluxo sanguíneo renal
está invariavelmente reduzido devido à vasoconstrição da arteríola aferente. Sendo assim, não é
sempre que a presença de circulação hiperdinâmica sistêmica está diretamente relacionada à
vasodilatação de um leito específico. Uma explicação para esses dados é a possibilidade de
reatividade vascular alterada na cirrose. Há uma tendência de alguns leitos vasculares se tornarem
mais vasoconstritos com a progressão da doença hepática. Isso pode ser atribuído a fenômenos de
hiporreatividade vascular, variando com o estádio da doença hepática ou com as mudanças nos
níveis circulantes de vasodilatadores e vasoconstritores. Dessa forma, a expansão do líquido
extracelular com pequenos volumes produz nesses pacientes um efeito mínimo em sua circulação,
que já se encontra em estado hiperdinâmico. Entretanto, uma grande expansão de volume, como a
que ocorre através de derivações peritônio-venosas, usadas para tratamento de ascite, produz
exacerbação da circulação hiperdinâmica, com aumento do débito cardíaco e queda da resistência
vascular periférica, apesar da elevação dos níveis plasmáticos de catecolaminas.
Paracentese:
Técnica:
Figura 1: Diagrama do abdome mostrando os três locais habituais para paracentese abdominal. Preferência
pelo quadrante inferior esquerdo
No caso de ascite hemorrágica, com mais de 10.000 hemácias, para cada 250
hemácias identificadas no líquido, deve ser descontada uma célula no total de neutrófilos.
O Gradiente de albumina soro-ascite (GASA) deverá ser calculado quando a causa da
ascite não é imediatamente evidente e/ou quando outras condições além da cirrose são suspeitas
(II-2; 1). É calculado subtraindo-se o valor da albumina encontrada no soro do nível da albumina do
LA. GASA ≥ 1,1 sugere hipertensão portal com 97% de acurácia, enquanto que um GASA < 1,1 sugere
ascite não relacionada a hipertensão portal.
A citologia deve ser realizada para diferenciar ascites relacionadas a malignidade e
não malignas (II-2; 1).
Se houver suspeita de infecção do LA, o material para cultura deverá ser inoculado
em frascos de hemocultura à beira do leito, antes da administração dos antibióticos (Classe I, nível
B).
Outros estudos sobre o LA podem ser solicitados com base na probabilidade de pré-
teste da doença (Tabela 1).
TABELA 1: Exames do LA
Gram ADA
Cirrose não Amarelo Leucócitos < 250 >1,1 < 2,5 Negativo
complicada citrino
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ALCIDES CARNEIRO
Peritonite Claro, turvo, Linfócitos 250-4.000 <1,1 >2,5 Esfregaço BAAR (+) <
tuberculosa hemorrágico, 5%
quiloso
Cultura BAAR (+) 20%
PMN > 250 células/mm³ PMN > 250 células/mm³ PMN < 250 células/mm³
Cultura (-) Cultura (+) Cultura (+)
Cabe ressaltar que qualquer fórmula baseada em creatinina sérica (SCr) superestima
a TFG em pacientes com cirrose, pois a insuficiência hepática, a sarcopenia e a desnutrição se
associam a uma redução da produção de creatinina (Cr). (II-2, 1). Não há evidência de que o
clearance de Cr medido em urina de 24hs seja superior à avaliação da SCr.
Quando é feito um diagnóstico de LRA, sua causa deve ser investigada o mais rápido
possível para evitar a sua progressão. Mesmo na ausência de uma causa óbvia, o gerenciamento
deve ser iniciado imediatamente. Atenção máxima na triagem e tratamento de infecções deve ser
realizada (II-2,1).
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ALCIDES CARNEIRO
Infecções
Bacteremia Espontânea
Hipovolemia
Choque
Vômitos, diarreia
Hemorragia Digestiva
Diuréticos em excesso
Síndrome Hepatorrenal
Nefropatias Intrínsecas
Glomerulonefrite membranosa
Glomerulonefrite membranoproliferativa
Poliaterite nodasa
Nefropatia diabética
Nefropatia hipertensiva
Uropatias Obstrutivas
Entre as causas de LRA em cirróticos, a SHR é que apresenta pior prognóstico, com
sobrevida em 3 meses de apenas 15% (73% para nefropatias parenquimatosas, 46% para LRA
hipovolêmica e 31% para LRA relacionada a infecções).
Na SHR há uma profunda disfunção hemodinâmica sistêmica, caracterizada por:
vasodilatação arterial sistêmica, principalmente no leito esplâncnico, com redução na pressão
arterial média (PAM); vasoconstrição arterial renal, cerebral e hepática; débito cardíaco ineficiente.
Clinicamente pode ser dividida em dois tipos: SHR tipo 1, de início rápido; e SHR tipo
2, de progressão lenta.
Em pacientes com cirrose, o diagnóstico de LRA deve basear-se nos critérios KDIGO
adaptados, portanto, um aumento na SCr > 0,3 mg / dl da linha de base em 48 horas ou um aumento
de ≥50% da linha de base em três meses (II -2,1). Todavia, o valor absoluto da creatinina parece ter
um valor prognóstico, visto que os que apresentam LRA com um valor máximo de Cr inferior a
1,5mg/dL apresentam taxas de mortalidade menores do que aqueles com Cr máxima superior a
1,5mg/dl e semelhantes àquelas observadas em pacientes sem LRA. Portanto, o estadiamento da
LRA deve basear-se distinguindo no estágio 1 os estágios 1A e 1B, de acordo com um valor de SCr
<1,5 ou ≥1,5 mg / dl respectivamente.
TABELA 7: LRA
Cr de base: O valor de SCr obtido previamente nos últimos 3 meses, quando disponível, pode
ser usado como a SCr de base. Em pacientes com mais de um valor obtido nos últimos 3 meses,
o valor mais próximo do tempo de admissão hospitalar deverá ser utilizado. Naqueles sem SCr
prévia, o valor da admissão deve ser usado como base.
Definição da LRA:
Aumento na Cr ≥ 0,3mg/dl dentro de 48hs ou ≥ 50% do valor basal nos últimos 7 dias.
Ausência de melhora sustentada da SCr, após pelo menos 48hs de suspensão de diuréticos e
expansão plasmática com albumina (1g/kg de peso/dia; máximo de 100g/dia)
Ausência de choque
Classificação:
A EH deve ser classificada de acordo com todos os seguintes quatro fatores.
Relacionada a doença subjacente:
• Tipo A: associada à insuficiência hepática aguda
• Tipo B: associada à shunts porto-sistêmicos sem doença hepatocelular intrínseca.
• Tipo A: associada à insuficiência hepática aguda
As manifestações clínicas dos tipos B e C são semelhantes, ao passo que o tipo A tem
características distintas e, em particular pode associar-se a aumento da pressão intracraniana e risco
de herniação cerebral. O manejo da EH tipo A não está incluído no presente documento.
Relacionada a gravidade das manifestações:
De acordo com o seu curso no tempo, a EH subdivide-se em:
• EH episódica ou aguda: um episódio isolado em um período de 6 meses.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ALCIDES CARNEIRO
Drogas psicoativas
Hemorragia gastrointestinal
Infecções
Acidose metabólica
Obstipação
Desidratação/hipovolemia
Vômitos, diarreia
Sangramentos
Shunts portossistêmicos
Naturais
Hepatite alcoólica
Trombose da VP
Carcinoma hepatocelular
O diagnóstico é realizado com base nos dados da história clínica e exame físico e pela
exclusão de outras causas de alteração mental. O quadro clínico abrange um amplo espectro de
manifestações inespecíficas, que incluem alterações de personalidade, consciência e função
motora, distúrbios do ciclo sono-vigília, desorientação, sonolência ou agitação, esturpor e coma. No
exame físico de pacientes não comatosos, podem ser observados hipertonia, hiperreflexia e sinal
de Babinski positivo, rigidez muscular, bradicinesia, fala lentificada, tremor e presença de Asterix
(ou flapping), que não é patognômico de EH.
Exames de imagem como a tomografia de encéfalo (TC) ou ressonância magnética
(RM) estão indicados quando os achados clínicos sugerem outra causa (por ex. alteração estrutural
ou vascular). O risco de hemorragia intracerebral é pelo menos 5 vezes superior neste grupo de
doentes e os sintomas podem ser indistinguíveis, justificando a realização de tais exames na EH
inicial.
O diagnóstico de EH é feito através da exclusão de outras causas de disfunção
cerebral (GRADE II-2, A, 1).
A EH deve ser dividida em vários estádios de gravidade, refletindo o grau de
autossuficiência e a necessidade de cuidados (GRADE III, B, 1).
A encefalopatia hepática evidente é diagnosticada por critérios clínicos e pode ser
classificada de acordo com os Critérios de West Haven (tabela 9) e Escala de Coma de Glasgow
(GRADE II-2, B, 1). Valores séricos aumentados de amônia, isoladamente, não adicionam qualquer
valor ao diagnóstico, estadiamento, ou prognóstico da EH em doentes com doença hepática crônica.
Um valor normal necessita de reavaliação do diagnóstico (GRADE II-3, A, 1).
O diagnóstico e a classificação de EH mínima (EHM) e EH inobservável ou encoberta
(EHI) podem ser feitos usando vários testes neurofisiológicos e psicométricos que devem ser
realizados por examinadores experientes (GRADE II-2, B, 1). Entretanto, em virtude da dificuldade
para se obterem pontos de corte uniformizados, da necessidade de validação em diferentes
populações e da influência da escolaridade na performance de vários deles, nenhum é utilizado
rotineiramente. Os testes de EHM e EHI poderiam ser usados nos doentes que mais beneficiariam
desses testes, tais como os doentes com comprometimento da qualidade de vida ou com
implicações laborais ou de saúde pública (GRADE III, B, 2)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ALCIDES CARNEIRO
HIPOVOLEMIA Anamnese
OBSTIPAÇÃO Anamnese
de sódio <125 mmol/L), lesão renal aguda, agravamento da encefalopatia hepática ou quando
cãibras musculares incapacitantes se desenvolvem (III; 1).
A Furosemida deverá ser interrompida se houver hipocalemia grave (<3 mmol/L).
Espironolactona deverá ser interrompida se ocorrer hipercalemia grave (> 6 mmol/L) (III; 1).
Administração de baclofeno (10 mg / dia, com um aumento semanal de 10 mg / dia até 30 mg / dia)
são recomendados em pacientes com cãibras (I; 1).
Embora o Consenso Europeu publicado em 2010 tenha autorizado ingesta de maiores
quantidades de sal (80–120 mmol/dia, correspondendo a 4,6–6,9 g de sal por dia) (I; 1), a maioria
dos serviços brasileiros recomenda o uso de 2g/dia de forma rotineira. Educação nutricional
adequada dos pacientes também é recomendado (II-2; 1). O repouso prolongado na cama não pode
ser recomendado porque não há evidências suficientes de que seja benéfico no tratamento de
ascites (III; 1).
Paracentese de grande volume (PGV) é a terapia de primeira linha em pacientes com
ascite grau 3, associada a expansão do volume plasmático para evitar disfunção circulatória pós
paracentese (I; 1). Em pacientes submetidos a PGV superior a 5 L de ascite, a expansão do volume
plasmático deve ser realizada com a infusão de albumina (remoção de 8 g/L de ascite), pois é mais
eficaz. Outros expansores de plasma não são recomendados para essa configuração (I; 1).
Pacientes submetidos a paracenteses de grande volume com menos de 5 L de ascite,
o risco de desenvolver disfunção circulatória pós paracentese é baixo. Após a paracentese os
pacientes devem receber a dose mínima de diuréticos necessária para evitar novo acúmulo de ascite
(I; 1).
Como o desenvolvimento de ascite de grau 2 ou 3 em pacientes com cirrose está
associado à redução da sobrevida, o transplante hepático deverá ser considerada como uma
possível opção de tratamento (II-2; 1). Os anti-inflamatórios não esteroides não devem ser usados
em pacientes com ascite devido ao alto risco de desenvolver mais retenção de sódio, hiponatremia,
e injúria renal aguda (II-2; 1).
Os inibidores da enzima de conversão da angiotensina, os antagonistas da
angiotensina II ou os bloqueadores dos receptores adrenérgicos tipo alfa, não devem ser utilizados
em pacientes com ascite devido ao risco aumentado de comprometimento renal (II-2; 1).
O uso de aminoglicosídeos é desencorajado, pois está associado a um risco
aumentado de lesão renal aguda. Seu uso deve ser reservado para pacientes com infecções
bacterianas graves que não podem ser tratadas com outros antibióticos (II-2; 1).
Em pacientes com ascite e função renal preservada, o uso de contraste não parece
estar associado com um risco aumentado de insuficiência renal (II-2). No entanto, recomenda-se o
uso cauteloso de meios de contraste e o uso de medidas preventivas para insuficiência renal (III; 1).
O diagnóstico de ascite refratária baseia-se na avaliação da resposta à terapia
diurética e à restrição de sal. Essa avaliação deve ser feita em pacientes estáveis, sem complicações,
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ALCIDES CARNEIRO
como sangramento ou infecção, após verificação de adesão ao paciente (III; 1). Estes pacientes
devem ser encaminhados para o Transplante Hepático (III; 1).
que o Inibidor de Bomba de Prótons (IBP) pode aumentar o risco para o desenvolvimento da PBE,
seu uso deve ser restrito àqueles com indicação clara (II-2,1).
Pacientes com LRA estádio 1 que respondem às medidas iniciais devem ser
acompanhados com dosagem da Cr a cada 2-4 dias durante a internação e, posteriormente, a cada
2-4 semanas, por um período mínimo de 6 meses.
De acordo com a nova definição de LRA-SHR, a resposta completa ao tratamento
deve ser definida por um retorno da SCr para um valor dentro de 0,3 mg/dl (26,5 µmol/L) do valor
basal, enquanto a resposta parcial deve ser definida pela regressão do estágio da LRA com redução
da SCr ≥ 0.3 mg/dl (26,5 µlmol / L) acima do valor basal (III;1). Ausência de resposta quando não há
regressão no estádio de LRA. Eventos adversos relacionados à Terlipressina ou Noradrenalina
incluem eventos isquêmicos e cardiovasculares. Portanto, recomenda-se uma triagem clínica
cuidadosa, incluindo eletrocardiograma, antes de iniciar o tratamento. Os pacientes podem ser
tratados em enfermarias regulares, mas a decisão de transferir para um atendimento de maior
dependência deve ser avaliada em cada caso. Durante a duração do tratamento, é importante
monitorar de perto os pacientes. De acordo com o tipo e a gravidade dos efeitos colaterais, o
tratamento deve ser modificado ou descontinuado (I; 1).
Nos casos de recorrência do LRA-SHR após a interrupção do tratamento, deve-se
repetir o curso da terapia (I; 1).
Terlipressina e albumina também são eficazes no tratamento da SHR fora dos
critérios da LRA, conhecida como SHR tipo II. Infelizmente, a recorrência após a retirada do
tratamento é a norma, e existem dados controversos sobre o impacto do tratamento no resultado
clínico a longo prazo, particularmente na perspectiva do Transplante Hepático. Dessa forma,
vasoconstritores e albumina não são recomendados nesse cenário clínico (I; 1).
Não há dados suficientes para advogar o TIPS em LRA-SHR, mas isso pode ser sugerido
em pacientes selecionados (II-2; 2).
O transplante hepático é a melhor opção terapêutica para pacientes com SHR,
independentemente da resposta à terapia medicamentosa (I; 1).
A decisão de iniciar a terapia renal substitutiva deve ser baseada na gravidade
individual da doença (I; 2).
A indicação para transplante de fígado e rim permanece controversa. Este
procedimento deve ser considerado em pacientes com DRC significativa ou com LRA sustentada,
incluindo LRA-SHR sem resposta à terapia medicamentosa.
Albumina (1,5 g/kg no diagnóstico e 1g/kg no terceiro dia) deve ser administrada em
pacientes com PBE para prevenir LRA (I; 1).
Norfloxacino (400 mg/dia) deve ser administrada como profilaxia da PBE para
prevenir LRA-SHR (I; 1).
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ALCIDES CARNEIRO
FUROSEMIDA: o uso EV deve ser evitado já que se associa a risco aumentado de piora
hemodinâmica em portadores de cirrose hepática, com consequente piora da função renal. O
seu uso para equilibrar o balanço hídrico pode induzir LRA e não deve ser feito.
ALBUMINA: Infusão de albumina é feita em duas fases. Fase inicial (D1 de vasoconstritor):
dose total diária de 1g/kg/dia (máxima de 100g/dia) administrado sob infusão EV contínua em
4-6hs, com velocidade máxima de até 2ml/min. Fase de manutenção (a partir de D2 do
vasoconstritor): dose total diária de 20-40g/dia em doses administradas a cada 8-12hs, sob
infusão contínua EV, com velocidade máxima de 2ml/min.
VASOCONSTRITOR:
Terlipressina (ampola com 1mg/5ml): dose inicial de 0,5-1mg a cada 4-6hs, em bolus, EV. A
cada 3 dias, a dose pode ser ajustada conforme SCr: não havendo redução > 25% da dosagem
anterior, pode-se dobrar a dose até o limite máximo de 12mg/dia (2mg a cada 4hs). Duração
até reversão da SHR ou até o máximo de 14 dias de terapia. Contraindicado na doença cardíaca
grave; insuficiência hepática terminal; Cr basal > 7mg/dl. Considerar interrupção na ausência
de redução da Cr de pelo menos 50% em relação ao seu valor basal após 6 dias de tratamento,
com pelo menos 3 dias de dose máxima; presença de fenômenos isquêmicos ou arritmia
cardíaca.
Norepinefrina (ampola de 4mg com 4mg/1ml): dose inicial de 0,5mg/hora (equivalente a
0,1µg/kg/min), em infusão EV contínua. A cada 4hs, a dose pode ser ajustada conforme a
pressão arterial média e o débito urinário (DU). Não havendo aumento da PAM ≥ 10mmHg em
relação a basal ou aumento do DU > 200ml/4hs, pode-se aumentar a dose em etapas de
0,5mg/hora (0,1µg/kg/min) até o máximo de 3mg/hora (0,7µg/kg/min). Diluição padrão: 4
ampolas em 234ml de SF0,9% ou SG5% (concentração de 64µg/ml). Duração: até reversão da
SHR ou até o máximo de 14 dias de terapia. Reiniciar tratamento em caso de recorrência.
Atenção especial deve ser dada ao aspecto nutricional. Recomenda-se ingestão diária
de 35-40kcal/kg de peso, com ingestão proteica de 1,2-1,5g/kg/dia, com pequenos lanches nos
intervalos das principais refeições e lanche noturno, evitando períodos longos de jejum.
A suplementação de BCAA (aminoácidos de cadeia ramificada) por via oral pode
permitir atingir e manter a ingestão de nitrogênio recomendada em doentes com intolerância à
proteína dietética (GRADE II-2, B, 2).
As medicações específicas atualmente disponíveis baseiam-se nas hipóteses e
patogênese. Assim sendo, visam a redução da produção, aumento na fixação e/ou excreção de
amônia, têm ação neurológica direta, modificam níveis de aminoácidos circulantes ou atuam nas
colaterais portossistêmicas.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ALCIDES CARNEIRO
LACTULOSE (dissacarídeo não Dose necessária para 2-3 Recomendada como terapia
absorvível) evacuações pastosas ao dia. de 1ª escolha. Eventos
Em geral 15-45ml 8/8hs a adversos (EA): flatulência,
6/6hs diarreia, hipernatremia e
desidratação.
REMOÇÃO DE AMÔNIA
REDUÇÃO DE SUBSTRATOS
AMONIOGÊNICOS
Tanto os BBNS tradicionais (propranolol, nadolol) como carvedilol podem ser usados
na 1ª linha de tratamento. O carvedilol parece ser mais efetivo em reduzir o GPVH. O tratamento
deve ser por tempo indefinido se não houver sangramento, exceto se ocorrer melhora da pressão
portal por outras causas (abstinência, cirurgia, transplante, etc.).
Em pacientes com hipotensão progressiva (pressão arterial sistólica <90 mmHg) ou
em pacientes que desenvolvem intercorrências agudas como sangramento, sepse, PBE ou LRA, os
BBNS devem ser descontinuados (III, 1). Após a recuperação, é possível tentar a sua reintrodução
(III, 2). Quando a intolerância ou contraindicação do BBNS persistir, o risco de sangramento dos
pacientes deve ser tratado com LE por um médico experiente (III, 1).
Na profilaxia secundária recomenda-se a terapia combinada de BBNS + LE uma vez
que reduz o risco de ressangramento em comparação com a monoterapia (I,1). Recomendações
semelhantes às da profilaxia primária podem ser feitas com relação ao uso de BBNS em pacientes
com ascite ou no desenvolvimento de uma intercorrência aguda (III, 2).
Se o paciente continuar intolerante ao BBNS, recomenda-se a colocação de TIPS
recoberto, desde que não haja contra-indicação absoluta. (III, 1).
Sangramento agudo do trato gastrointestinal por qualquer etiologia acarreta alta
incidência de complicações e mortalidade na cirrose descompensada e, portanto, requer
monitoramento rigoroso (II-2; 1).
A reposição do volume deve ser iniciada prontamente para restaurar e manter a
estabilidade hemodinâmica (III; 1). Coloides e/ou cristaloides podem ser utilizados (III; 1). Uma
estratégia restritiva de transfusão é recomendada na maioria dos pacientes com um limiar de
hemoglobina para transfusão de 7 g/dl e um intervalo alvo de 7 a 9 g/dl (I; 1).
A profilaxia antibiótica é recomendada em pacientes cirróticos com sangramento
gastrointestinal agudo, pois reduz a incidência de infecções e melhora o controle do sangramento
e sobrevivência. O tratamento deve ser iniciado com a apresentação de sangramento e continuado
por até sete dias (I; 1). A Ceftriaxona (1g/24h) é a primeira escolha em pacientes com cirrose
descompensada, aqueles que já fazem profilaxia com quinolona e em ambientes hospitalares com
alta prevalência de infecções bacterianas resistentes à quinolona. Quinolonas orais (Norfloxacina
400 mg 2x ao dia) devem ser usadas nos demais pacientes (I; 1).
A terapia medicamentosa vasoativa deve ser iniciada assim que houver suspeita de
sangramento agudo das varizes e antes da endoscopia. Terlipressina, Somatostatina ou Octreotide
são opções aceitas. Em pacientes com sangramento agudo por varizes, a terapia medicamentosa
deve ser administrada por três a cinco dias (I; 1).
A EDA deve ser realizada nas primeiras 12 horas após a admissão, uma vez alcançada
a estabilidade hemodinâmica, para determinar a causa da hemorragia e para fornecer terapia
endoscópica (II-2; 1).
Quando o sangramento agudo das varizes é confirmado por endoscopia, a ligadura
das varizes deve ser realizada dentro do mesmo procedimento (I; 1).
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ALCIDES CARNEIRO
Como Carvedilol ainda não foi comparado com os tratamentos convencionais, ainda
não está indicado na profilaxia secundária.
BBNS, suplementação de ferro e/ou hemotransfusão, são recomendados como
terapia de primeira linha para hemorragia crônica por Gastropatia da Hipertensão Portal (GHP) (I;
1).
Em pacientes com GHP dependente de transfusão nos quais os BBNS falham ou não
são tolerados, a colocação de TIPS recoberto pode ser usada desde que o paciente não tenha
contraindicação para TIPS (II-3; 2).
O sangramento agudo por GHP pode ser tratado com análogos de Somatostatina ou
Terlipressina, mas os dados substanciais são limitados (I; 2).
FÁRMACOS VASOATIVOS:
Terlipressina: 2mg EV a cada 4hs por 24-48hs, seguida de 1mg EV a cada 4hs por 2-5
dias; hiponatremia foi descrita e deve ser monitorizada.
Somatostatina: 250mcg em bolus, seguida de infusão de 250mcg/hora por 2-5 dias
(ou 24hs sem sangramento). O bolo inicial pode ser repetido em até 3 vezes na 1ª hora se a
hemorragia se mantiver.
Octrotide: 50mcg EV em bolus, seguida de infusão de 25-50mcg/hora por 2-5 dias.
Diluir 6 ampolas em SG5%250ml – 22ml/hora.
Efeitos adversos: dor abdominal e náusea. Isquemia miocárdica ou periférica é rara.
LIGADURA ELÁSTICA:
Programar sessões a cada 2-4 semanas até a erradicação completa das varizes,
depois, manter revisões a cada 6-12 meses.
Efeitos adversos: disfagia para sólidos por 3-5 dias (esperado); dor ou sangramento
(geralmente no 7º ao 14º dia: queda do elástico); estenose esofágica (rara e de fácil resolução).
14. FLUXOGRAMA
Não se aplica
15. MONITORIZAÇÃO
Monitorização especificada no item 8.
16. REFERÊNCIAS
1. Angeli P, Bernardi M, Villanueva C, Francoz C, Mookerjee RP, Trebicka J, et. al. EASL Clinical
Practice Guidelines for the management of patients with decompensated cirrhosis. J Hepatol, 2018
(69):406–460.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ALCIDES CARNEIRO
2. Angeli P, Gines P, Wong F, Bernardi M, Boyer TD, Gerbes A, et al. Diagnosis and management
of acute kidney injury in patients with cirrhosis: Revised consensus recommendations of the
International Club of Ascites. J Hepatol 2015 (62): 968-974.
4. Runyon BA. AASLD Practice Guidelines Committee. Management of adult patients with ascites due
to cirrhosis: update 2012. Hepatology, 2013 (57): 1651-1653.
5. Hepatic Encephalopathy in Chronic Liver Disease: 2014. Practice Guideline by the European
Association for the Study of the Liver and the American Association for the Study of Liver
Diseases. J Hepatol. 2014 (61): 642-659.
6. Ferraz MLG, Silva AEB, Shiavon JLN Manual de Hepatologia para Clínicos e Residentes. 1. Ed.
Rio de Janeiro: Atheneu; 2018.
7. Costa JKL, Assis SLM, Brilhante V, Guimarães APR. Perfil epidemiológico dos pacientes
portadores de cirrose hepática atendidos no Ambulatório de Hepatologia do Centro de
Especialidades Médicas do CESUPA (CEMEC), em Belém –PA. GED gastroenterol. endosc. dig.
2016: 35(1):01-08
8. Silva MO, Pereira, RM, Araújo, AG, Madureira, F, Lopes, MG, Silva, ACS. Papel dos
mediadores endógenos na fisiopatologia da cirrose hepática. Rev. Med. Minas Gerais. 2004:
14.3:189-196.
Elaboração:
Gabrielle Diniz de França Costa - Médica gastroenterologista Data: 22/07/2020
Ivanna Bezerra Santos - Médica gastroenterologista
Revisão: Gabrielle Diniz de França Costa - Médica
Data: 23/01/2021
gastroenterologista
Análise
Xênia Sheila Barbosa Aguiar Queiroz – Técnica em enfermagem Data: 01/12/2021
do Setor de GQVS
Validação
Data: 01/12/2021
Andreia Oliveira Barros Sousa – Chefe do Setor de GQVS
Aprovação
Data: 23/01/2021
Lígia Cristina Lopes de Farias – Chefe da UCM