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UNIVERSIDADE FEDERAL DO

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HOSPITAL DE DOENÇAS TROPICAIS
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1. SUMÁRIO

2.SIGLAS E CONCEITOS ..................................................................................................................2

3.OBJETIVOS .................................................................................................................................3

4.JUSTIFICATIVAS .........................................................................................................................3

5.CRITÉRIOS DE INCLUSÃO OU EXCLUSÃO .....................................................................................3

6. ATRIBUIÇÕES, COMPETÊNCIAS E RESPONSABILIDADES .............................................................3

7.HISTÓRIA CLÍNICA E EXAME FÍSICO .............................................................................................3

8.EXAMES DIAGNÓSTICOS INDICADOS .........................................................................................5

9. PROGNÓSTICO..........................................................................................................................7

10. TRATAMENTO INDICADO E PLANO TERAPÊUTICO................................................... .................7

10.1 HIDRATAÇÃO E REPOSIÇÃO VOLÊMICA..............................................................................7

10.2 ANALGESIA........................................................................................................................8

10.3 DIETA................................................................................................................................9

10.4 ANTIBIÓTICOS....................................................................................................................9

11. POSSÍVEIS COMPLICAÇÕES..............................................................................................................10

12. PREVENÇÃO DE EPISÓDIOS RECORRENTES DE PANCREATITE AGUDA .........................................10

13. CRITÉRIOS PARA ALTA HOSPITALAR................................................................................................11

14. ANEXOS............................................................................................................................................12

15. REFERÊNCIAS...................................................................................................................................19
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2. SIGLAS E CONCEITOS
PA: Pancreatite Aguda
SIRS: Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica
TNF: Fator de Necrose Tumoral
IL: Interleucinas
SDRA: Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo
LSN: Limite Superior da Normalidade
CPRE: Colangiopancreatografia Retrógrada Endoscópica
Na: Sódio
K: Potássio
PCR: Proteína C-Reativa
GGT: Gamaglutamiltranspeptidase
TGO: Transaminase Glutâmico-Oxalacética
TGP: Transaminase Glutâmico-Pirúvica
FC: Frequência Cardíaca
bpm: batimentos por minuto
mmHg: Milímetros de mercúrio → unidade para medir a pressão arterial
PAM: Pressão Arterial Média
FR: Frequência Respiratória
irpm: incursões respiratórias por minuto
mmoL/L: milimol por litro
mg/dL: miligrama por decilitro
BUN: Blood Urea Nitrogen (BUN(mg/dL) = uréia X 0,467). Valor de Referência para
mulheres 6-21 mg/dL e para homens 8-24 mg/dL
Cr: creatinina
UTI: Unidade de Terapia Intensiva
RL: Ringer Lactato
mEq/L: miliequivalente por litro
ITU: Infecção do Trato Urinário
DAC: Doença Arterial Coronariana
DPOC: Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica
PaCO2: Pressão parcial de gás carbônico
DM: Diabetes Mellitus
HIV: Vírus da Imunodeficiência Humana
HCV: Vírus da Hepatite C
LDH: Desidrogenase láctica
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3. OBJETIVOS
Orientar os profissionais médicos sobre o diagnóstico e manejo inicial da pancreatite
aguda, para que os pacientes diagnosticados com esta patologia sejam atendidos de forma
sistematizada.

4. JUSTIFICATIVAS
Necessidade de padronização das condutas na área assistencial médica em relação
aos casos de pancreatite aguda diagnosticados no Hospital Universitário de Doenças Tropicais do
Tocantins - HDT-UFT.

5. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E DE EXCLUSÃO


Inclusão: Pacientes que apresentem dois dos três critérios:
- Dor abdominal alta, podendo ser em faixa, com irradiação para dorso
- Elevação 3 vezes o limite superior da normalidade de amilase e/ou lipase
- Exame de imagem compatível com pancreatite aguda

Exclusão: Pacientes com diagnósticos diferenciais aos de pancreatite aguda (ver


anexos - tabela 1).

6. ATRIBUIÇÕES, COMPETÊNCIAS, RESPONSABILIDADES


A equipe Médica da área assistencial será responsável pela determinação do
diagnóstico, condutas, prescrições médicas e execução dos procedimentos necessários, ficando a
cargo da equipe de Enfermagem e Fisioterapia separar e fornecer os materiais, dar suporte
assistencial e seguimento dos casos.

7. HISTÓRIA CLÍNICA E EXAME FÍSICO

A pancreatite aguda ocorre devido a um processo inflamatório agudo do pâncreas.


Esta patologia deve ser pensada naqueles pacientes que apresentam dor abdominal aguda,
localizada na parte superior do abdome, com possível irradiação para o dorso, podendo ou não estar
associada a quadro de náuseas e vômitos.
Este processo inflamatório ocorre no pâncreas exócrino e está associado ao
acometimento das células acinares gerando uma resposta inflamatória sistêmica que pode ser leve,
moderada ou grave onde podemos observar, nos casos mais severos, desde necrose pancreática
até falência de múltiplos órgãos. A SIRS* da pancreatite é mediada pelas ativação das enzimas
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pancreáticas (fosfolipase, elastase, tripsina, etc) e citocinas inflamatórias (TNF, fator de ativação
plaquetária, IL 1, 6 e 8), que são liberadas na corrente sanguínea pelo pâncreas inflamado, podendo
levar a quadros sistêmicos como, por exemplo, SDRA, insuficiência renal, choque, miocardite, etc.
A pancreatite aguda pode ser classificada em:
 Leve ausência de falência orgânica e complicações locais ou sistêmicas.
 Moderada falência orgânica transitória (que se resolve em menos de 48
horas) e/ou complicações locais ou sistêmicas sem persistência de falência
orgânica.
 Severa / Grave persistência de falência orgânica (um ou múltiplos órgãos) por
mais de 48 horas.
O diagnóstico de pancreatite aguda é feito quando temos, pelo menos, dois dos três
seguintes critérios:
- Sintomas condizentes com pancreatite aguda
- Amilase ou lipase elevadas (pelo menos 3X o LSN)**
- Imagem radiológica compatível com pancreatite aguda.
Quanto à etiologia, a pancreatite pode ser idiopática em até 30% dos casos (quadros
em que o fator desencadeante não pode ser identificado). Etiologia biliar e ingestão de álcool
podem ser responsáveis por até 80% dos casos.

* Ver definição em anexos - tabela 2


** As tabelas 3 e 4 do anexo trazem outras causas de aumento de lipase e amilase

Outras causas de pancreatite aguda se encontram na tabela a seguir:

Patogênese Etiologia

Obstrução Ductal Cálculos biliares


Álcool
Pós CPRE
Neoplasias
Tumores mucinosos do pâncreas
Pâncreas divisum
Disfunção do esfíncter de Oddi
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Injúria às células acinares Álcool


Trauma
Isquemia
Drogas***(corticóides,azatioprina,tiazídicos)
Infecções virais

Transporte intracelular não efetivo Álcool


Hereditário
Hipercalcemia
Hipertrigliceridemia
Autoimune

Ao exame físico, o paciente com suspeita de pancreatite aguda pode se encontrar


com sinais de hipovolemia, podendo apresentar diaforese, taquicardia e taquipneia.
Febre pode ocorrer seja pela reação devido à cascata inflamatória ou como sinal de
complicação do quadro.
O exame do abdome pode evidenciar diminuição ou ausência de ruídos hidroaéreos
devido ao íleo adinâmico ocasionado pelo quadro. Geralmente o abdome se encontra flácido,
distendido, podendo o paciente apresentar defesa abdominal voluntária durante o exame físico.
A hemorragia pancreática é um quadro raro que pode se apresentar clinicamente
com presença de equimoses na região periumbilical (sinal de Cullens), em flancos (sinal de Grey
Turner) e também na topografia dos ligamentos inguinais (sinal de Fox).

8. EXAMES DIAGNÓSTICOS INDICADOS


Tendo em vista a suspeita do paciente com quadro de pancreatite aguda, após
realizada uma anamnese e exame físico completos, seguimos para a investigação com exames
complementares.
Exames laboratoriais a serem solicitados no primeiro atendimento:
- Hemograma completo
- Ureia
- Creatinina
- Na
-K
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- PCR
- Amilase
- Lipase
- Glicose sanguínea

Se suspeita de etiologia Biliar:


- Bilirrubinas (total e frações)
- GGT
- Fosfatase Alcalina
- TGO

- TGP

Se suspeita de outras causas:


- Cálcio
- Triglicerídeos

Em paciente com predição para doença grave solicitar gasometria arterial.


Existem diversos escores para predição de gravidade da doença, porém, atualmente,
utiliza-se a PCR (na admissão e seriada) para indicar a severidade e prognóstico da doença.
É pertinente salientar que a dosagem de amilase e lipase é importante para o
diagnóstico de pancreatite aguda, porém a dosagem seriada destas enzimas não é útil para predizer
severidade, prognóstico ou alteração do manejo da doença, portanto, não devem ser solicitadas
para o seguimento dos pacientes com PA.
Em relação a exames de imagem, sabe-se que estes não são essenciais para o
diagnóstico de pancreatite aguda, podendo ser solicitados em caso de dúvida diagnóstica e também
para determinar etiologia.
O primeiro exame a ser solicitado, se pensarmos em etiologia biliar, deve ser o
ultrassom abdominal, pois é um método não invasivo, disponível, eficaz e barato.
O RX de tórax pode ser também solicitado para avaliar possíveis complicações como
derrame pleural e atelectasias.
A tomografia abdominal com contraste não deve ser solicitada como exame para
diagnóstico inicial. Ela deve ser utilizada quando houver dúvida diagnóstica e também naqueles
pacientes em que não se observa uma melhora clínica em 48-72 horas e/ou quando suspeita-se de
complicações como abscessos, coleções peripancreáticas, necrose, etc.
A colangioressonância pode ser solicitada em casos de suspeita de coledocolitíase e
também para uma avaliação mais detalhada do pâncreas, principalmente naqueles pacientes que
apresentam contra indicação ao uso de contraste.
A CPRE não deve ser solicitada rotineiramente para diagnóstico de pancreatite aguda
e nem realizada de urgência a não ser em casos de pancreatite biliar complicada com quadro de
colangite.
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9. PROGNÓSTICO
Diversos escores prognósticos são utilizados para predizer o prognóstico da
pancreatite aguda (ver tabelas 6-9 nos anexos).
Dados clínicos como presença de SIRS na admissão e sua persistência, sem evidência
de melhora, em 48 horas, prediz um quadro de maior severidade. A SIRS quando persistente está
associada a uma mortalidade de até 25% se comparada com 8% em casos de SIRS transitória.
O exame de PCR na admissão e seriada tem sido um bom marcador para controle de
presença e evolução da resposta inflamatória de pacientes acometidos pela pancreatite aguda.
Os pacientes que devem ser encaminhados para leito de monitoramento em UTI são
os que apresentam:
PA severa / grave
PA e um ou mais dos seguintes parâmetros
FC < 40 ou > 150 bpm
Pressão Arterial sistólica < 80 mmHg; PAM < 60 mmHg ou Pressão Arterial diastólica
> 120 mmHg
FR > 35 irpm
Na sérico < 110 mmoL/L ou > 170 mmoL/L
K sérico < 2 mmoL/L ou > 7 mmoL/L
PaO2 < 50 mmHg
pH < 7,1 ou > 7.7
Glicose sérica >800 mg/dL
Ca sérico > 15mg/dL
Anúria
Coma

Devemos considerar transferência para leito de UTI nos pacientes que seguem com
SIRS persistente por mais de 48 horas; elevação do hematócrito (>44%), BUN > 20 mg/dL ou Cr > 1,8
mg/dL; aqueles com idade superior a 60 anos e para os que são portadores de doenças crônicas
cardiológicas, pulmonares e os que apresentam obesidade.

10. TRATAMENTO INDICADO E PLANO TERAPÊUTICO


O alívio dos sintomas assim como evitar possíveis complicações são os principais
objetivos do manejo inicial da pancreatite aguda, sendo os três principais pilares: a ressuscitação
volêmica, analgesia e suporte nutricional.
Aqueles pacientes com sinais de gravidade e falência orgânica (ver critérios acima)
devem ser manejados em leito de monitorização, preferencialmente em UTI.
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10.1 - HIDRATAÇÃO E REPOSIÇÃO VOLÊMICA


Sabe-se que a hidratação endovenosa adequada, em um primeiro momento, nos
pacientes acometidos por pancreatite aguda, é o pilar mais importante para a redução de falência
orgânica devido à resposta inflamatória sistêmica assim como da mortalidade intra hospitalar.
Como objetivo inicial principal do manejo do paciente com pancreatite aguda, deve-
se assegurar acesso venoso calibroso e iniciar hidratação com ringer lactato ou soro fisiológico 0,9%.
A quantidade de infusão deve ser individualizada, levando em conta o estado inicial do paciente,
status cardiológico, renal e, se possível, deve haver controle do débito urinário.
Em pacientes sem histórico de cardiopatia, doença renal ou qualquer outro fator que
torne a hidratação vigorosa proibitiva, deve-se iniciar a terapia de reposição volêmica com 5-
10mL/Kg por hora de solução isotônica (salina a 0,9% ou RL).
Nos pacientes que apresentam quadro de pancreatite aguda grave com sinais de
hipovolemia tais como hipotensão e taquicardia, a hidratação inicial deve ser de 20 mL/Kg nos
primeiros 30 minutos, seguida de 3 mL/Kg/horas nas 8-12 horas que seguem.
O uso de RL é contra indicado nos pacientes que apresentam quadro de pancreatite
aguda por hipercalcemia, já que a solução contém 3 mEq/L de cálcio.
A necessidade volêmica do paciente com quadro de pancreatite aguda deve ser
reavaliada de perto pelo médico responsável (seja do pronto atendimento ou da enfermaria),
preferencialmente nas primeiras 6, 12, 24 e 48 horas da admissão.
Os melhores parâmetros para avaliação da reposição volêmica adequada são:
FC < 120 bpm
PAM entre 65-85 mmHg
Débito urinário de 0,5 - 1 mL/Kg/hora
Redução do hematócrito (meta 35-44%)
BUN
A monitorização do BUN é de grande importância, uma vez que os valores do BUN na
admissão e nas 24 horas que seguem podem predizer mortalidade.
É importante, também, notar que um débito urinário baixo, não necessariamente
está refletindo hidratação inadequada, uma vez que o paciente possa estar fazendo um quadro de
necrose tubular aguda. Neste caso, o paciente precisa ser avaliado, pois o aumento inadequado de
volume pode levá-lo a quadros como edema agudo pulmonar.

10.2 ANALGESIA
A dor abdominal geralmente é o sintoma primordial da pancreatite aguda e, se não
controlada, pode contribuir para a instabilidade hemodinâmica do paciente.
Os opióides são as drogas de escolha para o manejo primário da dor em pacientes
com pancreatite aguda. Pode-se utilizar meperidina, morfina e até mesmo o fentanil para alívio da
dor.
Alguns estudos preferem o uso da meperidina à morfina já que esta segunda pode
causar aumento na pressão do esfíncter de Oddi, porém não existem dados clínicos suficientes que
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demonstrem que a morfina possa agravar ou causar pancreatite ou colecistite.


Por ser uma droga de ampla disponibilidade, opta-se, nesta instituição pelo uso da
morfina.
Além do uso de opióide podemos lançar mão dos analgésicos simples como dipirona
e hioscina intravenosos para auxílio do controle da dor.
A prescrição da medicação analgésica deve ser individualizada e com doses tituladas
de acordo com a particularidade de cada pacientes.

10.3 DIETA
Num momento inicial o paciente com diagnóstico de pancreatite aguda deve ser
mantido em jejum, porém, assim que houver melhora da dor abdominal, náuseas e vômitos e
ausência de íleo adinâmico, a alimentação por via oral deve ser reintroduzida de forma precoce,
diminuindo, assim, translocação bacteriana.
A dieta a ser iniciada deve ser branda, com baixo teor de gordura e conforme a
aceitação do paciente.
Nos casos mais severos em que a dieta por via oral não pode ser iniciada (seja por
não aceitação do paciente ou alguma contra indicação clínica), orienta-se aguardar por até, no
máximo, 5 dias e iniciar dieta por via enteral, através de sonda nasoentérica ou nasogástrica. A
dieta enteral deve ser, preferencialmente polimérica. Sugere-se, porém, que, a medida que o
paciente inicie com aceitação da dieta via oral, esta seja otimizada até a retirada por completo da
dieta enteral.
Em casos mais graves, onde o paciente não tolera dieta enteral, deve-se considerar
dieta parenteral total.

10.4 ANTIBIÓTICOS

O uso de antibioticoprofilaxia não deve ser realizado, pois não há benefícios para o
paciente com pancreatite aguda, independente da severidade da doença.
O uso de antibióticos, nestes pacientes, está restrito a casos de forte suspeita ou
confirmação de infecção associada, seja pancreática ou extra pancreática (pneumonia, ITU, etc), já
que estas estão associadas com aumento de mortalidade.
Caso a infecção suspeitada não seja confirmada por culturas ou o foco infeccioso não
seja identificado, os antibióticos instituídos devem ser descontinuados.
A classe de antibiótico a ser utilizado deve levar em consideração o foco de infecção
suspeito e o perfil epidemiológico de cada instituição.
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11. POSSÍVEIS COMPLICAÇÕES


Os pacientes que se apresentam com quadros moderados ou severos de pancreatite
aguda, sinais de sepse ou deterioração clínica nas primeiras 72 horas do início dos sintomas devem
ser submetidos a uma TC abdominal contrastada para avaliação de possíveis complicações que
podem ser as seguintes:
Locais:
Coleção peripancreática aguda
Pseudocisto pancreático
Necrose pancreática estéril ou infectada
Necrose pancreática encarcerada (walled-off necrosis)
Complicações vasculares peripancreáticas:
Trombose venosa esplâncnica
Pseudoaneurisma
Síndrome compartimental abdominal
Complicações Sistêmicas:
Exacerbação de comorbidades já existentes (DAC, DPOC, etc)
Os pacientes que apresentarem quadro de pancreatite complicada devem ser
avaliados pelo especialista (Gastroenterologista) via pedido de consultoria, para definir, juntamente
com o médico assistente, a conduta mais adequada, individualizando cada caso.
Sabe-se também que pacientes que com quadro de pancreatite aguda apresentam
um risco maior de desenvolver pré diabetes e diabetes após o episódio. Outros fatores que
predispõem a complicações futuras em pacientes com quadro pregresso de pancreatite aguda são
a obesidade, tabagismo e continuidade de consumo de bebidas alcoólicas naqueles com pancreatite
aguda por álcool. Portanto, torna-se fundamental orientações na alta hospitalar, assim como o
acompanhamento ambulatorial continuado.

12. PREVENÇÃO DE EPISÓDIOS RECORRENTES DE PANCREATITE AGUDA


Naqueles pacientes que apresentam pancreatite aguda de etiologia biliar orienta-se
a colecistectomia, preferencialmente, durante a mesma internação para aqueles que apresentam
adequado status cirúrgico, uma vez que a demora para a realização do procedimento pode
aumentar a chance de recorrência do quadro. Os pacientes que não apresentam bom status
cirúrgico podem ser submetidos a esfincterotomia via CPRE ou drenagem biliar cirúrgica, reduzindo,
porém, não eliminando totalmente os riscos de nova recorrência. Esses pacientes devem ser
avaliados pela equipe de cirurgia geral do hospital via pedido de consultoria.
Pacientes com quadro de pancreatite aguda de etiologia alcoólica devem receber
avaliação da equipe de psiquiatria via consultoria antes da alta hospitalar, assim como orientações
sobre o não consumo de álcool e importância de acompanhamento com grupo de apoio como
Alcoólicos Anônimos (AA).
Para os quadros de pancreatite por hipertrigliceridemia, os pacientes devem receber
orientações sobre dieta, medicação via oral, se necessário e acompanhamento ambulatorial com
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controle do perfil lipídico pós alta hospitalar.


Todos os casos de pancreatite devem ser encaminhados para o ambulatório de
Gastroenterologia ou Clínica Médica para avaliação após alta hospitalar.

13. CRITÉRIO PARA ALTA HOSPITALAR


A alta hospitalar deve ser pensada para aqueles pacientes que apresentam os
seguintes critérios:

Ausência de dor abdominal ou dor controlada com analgésicos simples via oral.
Aceitação de dieta via oral
Queda da PCR
Ausência de sinais de gravidade ou complicações orgânicas sistêmicas.
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14.ANEXOS

Tabela 1. Possíveis Diagnósticos Diferenciais de Pancreatite Aguda

Doença ulcerosa péptica


Doenças das vias biliares (colelitíase, coledocolitíase, colecistite, colangite, etc)
Isquemia mesentérica
Obstrução intestinal aguda
IAM de parede inferior
Dissecção aórtica aguda
Gestação ectópica
Perfuração de víscera oca
Hepatite aguda

Tabela 2. Definição de SIRS

SIRS - dois ou mais dos seguintes achados:

Temperatura > 38,30C ou < 360C


FC > 90 bpm
FR > 20 irpm ou PaCO2 < 32 mmHg
Leucócitos > 12000, < 4000 ou >10% de formas jovens
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Tabela 3. Possíveis causas de elevação de lipase sérica

Pancreatite aguda
Pancreatite crônica
Falência renal
Colecistite aguda
Obstrução ou isquemia intestinal
Úlceras duodenais
Tumores pancreáticos
DM tipo 2
Cetoacidose diabética
Infecção pelo HIV
Infecção pelo HCV
Pós CPRE
Pós trauma abdominal
Sarcoidose
Doença celíaca
Drogas
Idiopática
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Tabela 4. Possíveis causas de hiperamilasemia

Doença / Condição Clínica Procedência da amilase

Doenças Pancreáticas Pancreática


Pancreatite aguda ou crônica
Pós CPR
Pseudocistos
Ascite pancreática

Colecistite aguda Pancreática

Doenças Intestinais Pancreática


Trauma
Cirurgias
Radiação
Cálculos
Obstruções
Isquemias

Neoplasias com produção ectópica de amilase Salivar

Acidose ou Cetoacidose Salivar ou Pancreática

Falência renal Salivar ou Pancreática

Doenças das Trompas de Falópio Salivar


Gestação ectópica rota
Salpingite

Miscelânia Salivar e/ou Pancreática


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Alcoolismo
Anorexia nervosa / bulimia
Cirrose

Tabela 5. Medicações que podem causar pancreatite aguda

Classe Ia Classe Ib Classe II Classe III Classe IV

Alfametildopa Ác. Acetaminofeno Alendronato Adrenocorticoides


transretinóicos
Bezafibrato Clozapina Atorvastatina Ampicilina
Amiodarona
Canabis Didanosina Carbamazepina Bendroflumetiazida
Azatioprina
Carbimazol Eritromicina Captopril Benazepril
Clomifeno
Codeína Estrogênio Ceftriaxone Betametasona
Dexametasona
Citarabina / L-asparginase Cetorolaco Capecitabina
Citosina Isofosfamida
Pegaspargase Clortalidona Cisplatina
Dapsona Lamivudina
Propofol Cimetidina Colchicina
Enalapril Losrtana
Tamoxifeno Claritromicina Ciclofosfamida
Estibogluconato 6-
Cliclosporina Danazol
mercaptopurina
Furosemida
Hidroclorotiazida Diazóxido
Meglumina
Isoniazida
Indometacina Diclofenaco
Metimazol
Mesalazina
Interferon/ Doxorrubicina
Mestranol
Metronidazol Ribavirina
Famciclovir
Nelfinavir
Pentamidina Irbesartana
Finasterida
Omeprazol
Pravastatina Isotretinoína
5-fluoracil
Premarin
Procainamida Lisinopril
Fluvastatina
Sulfametoxazol/
Piritonol Metolazona
Genfibrozila
Trimetoprima
Sinvastatina Metformina
Cetoprofeno
Sulfametoxazol
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Sulindac Minociclina Lovastatina


Tetraciclina Mirtazapina Ác. mefenâmico
Ác. Valpróico Naproxeno Nitrofurantoína
Ouro Octreotide
Paclitaxel
Penicilina
Ponatinibe
Ramipril
Prednisona
Rifampicina
Prednisolona
Risperidona
Ritonavir
Rosuvastatina
Sertralina
Tacrolimus
Vigabatrina/
Lamotrigina
Vincristina
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Tabelas 6 e 7. Scores de Gravidade / Critérios de Ranson


Critérios de Ranson

Admissão 48 horas

Idade > 55 anos Queda do hematócrito > 10%


Leucócitos > 16000 Aumento da Uréia > 10
Glicose sérica > 200 Sequestro líquido > 6 litros
LDH > 350 pO2 < 60 mmHg
TGO > 250 Excesso de base < - 4
Cálcio < 8 mg/dL

A presença de 1-3 critérios indica pancreatite leve. Mais que 4 critérios indicam pancreatite grave.
A mortalidade aumenta de forma significativa com 4 ou mais critérios (> 40% com 6 ou mais critérios).

Critérios de Ranson para Pancreatite Biliar

Admissão 48 horas

Idade > 70 anos Queda do hematócrito > 10%


Leucócitos > 18000 Aumento da Uréia > 4
Glicose sérica > 220 Sequestro líquido > 4 litros
LDH > 400 pO2 < 60 mmHg
TGO > 250 Excesso de base < - 5
Cálcio < 8 mg/dL

A presença de 1-3 critérios indica pancreatite leve. Mais que 4 critérios indicam pancreatite grave.
A mortalidade aumenta de forma significativa com 4 ou mais critérios (> 40% com 6 ou mais critérios).
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Tabela 8. Critérios de Gravidade / Bedside Index of Severity in Acute Pancreatitis (BISAP)

BUN > 25 mg/dL (1 ponto)


Estado mental alterado com Escala de Coma de Glasgow < 15 (1 ponto)
Evidência de SIRS (1 ponto)
Idade > 60 anos (1 ponto)
Exame de imagem com evidência de derrame pleural (1 ponto)

0-2 pontos - baixa mortalidade (<2%)


3-5 pontos - alta mortalidade (>15%)

Tabela 9. Score APACHE II para Pancreatite Aguda


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2. Working Group Iap/Apa Acute Pancreatitis Guidelines. Iap/Apa Evidence-based Guidelines For
The Management Of Acute Pancreatitis. Pancreatology 2013; 13:E1.
3. Crockett Sd, Wani S, Gardner Tb, Et Al. American Gastroenterological Association Institute
Guideline On Initial Management Of Acute Pancreatitis. Gastroenterology 2018; 154:1096.
4. Vege Ss, Dimagno Mj, Forsmark Ce, Et Al. Initial Medical Treatment Of Acute Pancreatitis:
American Gastroenterological Association Institute Technical Review. Gastroenterology 2018;
154:1103.
5. Johnson C, Charnley R, Rowlands B, Et Al. Uk Guidelines For The Management Of Acute
Pancreatitis. Gut 2005; 54 Suppl 3:1.
6. Wu Bu, Banks Pa. Clinical Management Of Patients With Acute Pancreatitis. Gastroenterology
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7. Wu Bu, Conwell Dl. Acute Pancreatitis Part I: Approach To Early Management. Clin
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8. Basurto Ona X, Rigau Comas D, Urrútia G. Opioids For Acute Pancreatitis Pain. Cochrane
Database Syst Rev 2013; :Cd009179.
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Gastroenterology. Practice Guidelines In Acute Pancreatitis. Am J Gastroenterol 2006; 101:2379.
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Atlanta classification and definitions by international consensus. Gut 2013; 62:102.
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Gastroenterology. Practice guidelines in acute pancreatitis. Am J Gastroenterol 2006; 101:2379.
15. Wu BU, Johannes RS, Sun X, et al. Early changes in blood urea nitrogen predict mortality in acute
pancreatitis. Gastroenterology 2009; 137:129.
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Governing Board. AGA Institute technical review on acute pancreatitis. Gastroenterology 2007;
132:2022.
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VERSÃO DATA DESCRIÇÃO DA ALTERAÇÃO

01 22/06/2019 Elaboração do Protocolo

Elaboração Data: 22/06/2019


Marcelia Cleonice Brandelli Vieira dos Santos -
Médica Gastroenterologista

Validação Data: 22/10/2019


Setor de Vigilância em Saúde e Segurança do Paciente

Aprovação (Nome, Função, Assinatura) Data: 22/10/2019


Maurício Teixeira Martins da Costa Filho – Chefe da Divisão
Médica

Permitida a reprodução parcial ou total, desde que indicada a fonte

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