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Gestão dos Recursos Hídricos e

Planejamento Ambiental

Juliana Maria Oliveira Silva


Edson Vicente da Silva
Giovanni Seabra
José Manuel Mateo Rodriguez
(organizadores)
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento


Ambiental

Juliana Maria Oliveira Silva


Edson Vicente da Silva
Giovanni Seabra
José Manuel Mateo Rodriguez
(organizadores)

Editora Universitária da UFPB


João Pessoa – PB
2010

2
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Universidade Federal da Paraíba


Reitor
RÔMULO SOARES POLARI
Vice-Reitora
Maria Yara Campos Matos

EDITORA UNIVERSITÁRIA
DIRETOR
José Luiz da Silva
Vice-diretor
José Augusto dos Santos Filho

3
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

G393 Gestão dos recursos hídricos e planejamento


ambiental / Juliana Maria Oliveira Silva... [et al.]
(Organizadores).- João Pessoa: Editora
Universitária da UFPB, 2010.
xxxp.
ISBN: 978-85-7745-555-3
1. Recursos hídricos – gestão. 2. Recursos
hídricos – plane-jamento ambiental. 3.
Desenvolvimento sustentável. I. Silva, Juliana Maria
Oliveira. II. Silva, Edson Vicente da. III. Seabra,
Giovanni. IV. Rodriguez, José Manuel Mateo.

ISBN 978-85-7745-555-3

Nota: Este livro é resultado do II Workshop Internacional sobre Planejamento e


Desenvolvimento Sustentável em Bacias Hidrográficas realizado pelo Departamento de
Geografia, da Universidade Federal do Ceará; no período de 24 a 29 de agosto de 2009.

As opiniões externadas nesta obra são de responsabilidade exclusiva dos seus autores.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Sumário
Resenha do II Workshop Internacional sobre Desenvolvimento Sustentável em
Bacias Hidrográficas........................................................................................................... 11
José Manuel Mateo Rodriguez
Edson Vicente da Silva
Experiências de planejamento ambiental en Brasil usando la concepción de la
Geoecologia de los Paisajes.............................................................................................. 14
José Manuel Mateo Rodriguez
Antônio César Leal
Maira Celerio Chaple
Edson Vicente da Silva

GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS 28


O rio Longá e os territórios: cocais e carnaubais como forma de uso econômico...... 29
Accyolli Rodrigues Pinto de Sousa
José Luis Lopes Araújo
Roberta Celestino Ferreira
Modelagem dinâmica de escoamento superficial: bacia hidrográfica do Pontal –
Pernambuco.......................................................................................................................... 36
Ailton Feitosa
José Alegnoberto Leite Fechine
Aplicação da metodologia do DFC na microbacia do Município de Luís Gomes – RN. 34
Alexsandra Bezerra da Rocha
Paulo César Moura da Silva
Ramiro Gustavo Valera
As enchentes na BHRP – bacia hidrográfica do rio do Peixe, os sistemas 53
atmosféricos e os eventos climáticos intensos................................................................
Aloysio Rodrigues de Sousa
Gestão territorial em bacias hidrográficas e sua importância para a sustentabilidade
ambiental............................................................................................................................... 61
Andréa Bezerra Crispim
Marcos José Nogueira de Souza
Poços jorrantes do vale do rio Gurgéia (PI): caracterização de um espaço marcado
pelo desperdício hídrico...................................................................................................... 68
Antônio Joaquim da Silva
Alex Bruno Ferreira Marques do Nascimento
Daniel César Meneses de Carvalho
Reuryssom Chagas de Sousa Morais
Estuário do rio Acaraú (CE): aspectos ambientais e condições de uso e ocupação... 76
Aurilea Bessa Alves
Lidriana de Souza Pinheiro
Morsyleide de Freitas Rosa
Contexto hidroclimatológico da bacia do médio Jaguaribe – CE................................... 83
Cleuton Almeida Costa
Lidriana de Souza Pinheiro
A bacia do baixo Poti e as hortas comunitárias da zona norte de Teresina (PI):
sistemas multifuncionais e desenvolvimento local......................................................... 92
Daniel César Meneses de Carvalho
Alex Bruno Ferreira Marques do Nascimento
Antônio Joaquim da Silva
Charlene de Sousa e Silva
Maria do Socorro Lira Monteiro
Balanço hídrico do alto curso do rio Acaraú – CE............................................................ 99
Ernane Cortez Lima
Aplicação do geoprocessamento em cenários de inundação na bacia hidrográfica
do rio Anil, São Luís – MA................................................................................................... 106

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
Fabíola Geovanna Piga
Tatiana Cristina Santos de Castro
Paula Verônica Campos Jorge Santos
Franceleide Soares Conceição
Avaliação da eficiência do uso da água em sistema de irrigação no Perímetro
Irrigado Baixo Acaraú, Ceará.............................................................................................. 114
Fernando Bezerra Lopes
Nayara Rochelli de Sousa Luna
Francisco Antônio de Oliveira Lobato
Maria Jorgiana Ferreira Dantas
Elinelton de Sousa Mesquita
Gestão de bacias hidrográficas e dinâmica hidrológica no nordeste do semi-árido
brasileiro................................................................................................................................ 122
Flávio Rodrigues do Nascimento
Caracterização morfométrica da sub-bacia hidrográfica do rio Boa Hora, Urbano
Santos – MA.......................................................................................................................... 128
Franceleide Soares Conceição
Tatiana Cristina Santos de Castro
Fabíola Geovanna Piga
Suzana Araújo Torres
Irlan Castro Reis
Discussão sobre modelo tarifário pelo uso da água bruta.............................................. 133
Francisco Wellington Ribeiro
José Carlos de Araújo
O rio Apodi e a inundação de 2004 na área central da cidade de Pau dos Ferros –
RN........................................................................................................................................... 140
Franklin Roberto da Costa
Raquel Franco de Souza Lima
Açude Santo Anastácio: um estudo de caso..................................................................... 148
Helena Becker
Daniele Bras Azevedo
Renata de Oliveira Silva
Uso do IQA – CETESB na gestão da barragem Ayres de Souza..................................... 153
Jean Leite Tavares
Maria Vânisse Borges de Matos
Vicente Lopes de Frota
Análise da qualidade da água do riacho Maceió em Varjota – Fortaleza/CE: 160
implicações na gestão ambiental e formas de uso...........................................................
Judária Augusta Maia
João Capistrano de Abreu Neto
Mariana Monteiro Navarro
Análise dos indicadores de sustentabilidade dos perímetros irrigados das bacias
do baixo Acaraú e Curu....................................................................................................... 167
Kelly Nascimento Leite
Rochelle Sheila Vasconcelos
Luís de França Camboim Neto
Raimundo Nonato Farias Monteiro
Diagnóstico das condições ambientais do rio Parnaíba – PI........................................... 175
Laryssa Sheydder de Oliveira Lopes
Livânia Norberta de Oliveira
A importância do gerenciamento dos recursos hídricos no município de São João
da Fronteira – Piauí.............................................................................................................. 182
Livânia Norberta de Oliveira
Laryssa Sheydder de Oliveira Lopes
Estudos integrados em micro bacias hidrográficas da região do Jaguaribe: contexto
geoambiental......................................................................................................................... 187
Maria Araci Mendes
Flávio Rodrigues do Nascimento

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

A sub-bacia do médio vale do rio Jaguaribe: fatores do potencial ecológico e da


exploração biológica........................................................................................................... 192
Maria Daniely Freire Guerra
Marcos José Nogueira de Souza
Jacqueline Pires Gonçalves Lustosa
Estimativa de escoamento superficial na bacia do rio Granjeiro, Crato – CE................ 201
Maria Jorgiana Ferreira Dantas
Fernando Bezerra Lopes
José Vidal de Figueiredo
Francisco Antônio de Oliveira Lobato
José Carlos de Araújo
Degradação ambiental e impactos da salinização dos solos: desertificação nos
perímetros irrigados Araras Norte e Baixo Acaraú, na bacia hidrográfica do rio
Acaraú – CE........................................................................................................................... 209
Maria Losângela Martins de Sousa
Flávio Rodrigues do Nascimento
Aspectos do uso do solo e impactos ambientais na bacia hidrográfica do rio do
Peixe...................................................................................................................................... 217
Paulo Victor Paz de Sousa
Marcelo Henrique de Melo Brandão
Avaliação morfométrica de um trecho do médio curso do rio Pacoti – CE.................... 226
Pedro Henrique Balduino de Queiroz
Mara Celina Linhares Sales
Condições de uso e ocupação e degradação ambiental do rio Apodi – Mossoró no
trecho urbano da cidade de Mossoró – RN........................................................................ 234
Rodrigo Guimarães de Carvalho
Teores de alumínio trocável e percentual de saturação em uma área inserida na
bacia Coreaú......................................................................................................................... 242
Raimundo Nonato Farias Monteiro
Adrissa Mendes Figueiró
Kelly Nascimento Leite
V. da S. Lacerda
Messejana: uma discussão dos problemas sócioambientais........................................ 246
Raimundo Rodrigues dos Santos Júnior
Paulo Roberto Silva Pessoa
Auriela Bessa Alves
Contribuições da análise geoambiental integrada ao gerenciamento de recursos
hídricos em micro-bacia hidrográfica – Região Jaguaribana, Ibicuitinga – CE............ 252
Rosilene Aires
Flávio Rodrigues do Nascimento
Índice de degradação ambiental da bacia hidrográfica do arroio do Padre Ponta
Grossa – PR......................................................................................................................... 259
Sérgio Ricardo Rogalski
Karina Dolazoana
Thiago Felipe Schier de Melo
Sílvia Méri Carvalho
Avaliação temporal do processo de expansão urbana na bacia hidrográfica do rio
Anil, São Luís – MA............................................................................................................. 269
Suzana Araújo Torres
Tataina Cristina Santos de Castro
Franceleide Soares Conceição
Fabíola Geovanna Piga
Janaína Mendes Barros
Caracterização do relevo e sua influência no escoamento superficial na bacia
hidrográfica do rio Bacanga, São Luís – MA.................................................................... 274
Tatiana Cristina Santos de Castro
Franceleide Soares Conceição

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
Suzana Araújo Torres
Janaína Mendes Barros
Carla Danielle Paixão Melo

PLANEJAMENTO AMBIENTAL 278


Estuário do rio Paraíba: dinâmica ambiental e ocupação territorial............................... 279
Giovanni de Farias Seabra
Avaliação de fatores de produção com uso de tensiômetro em uma área
pertencente a bacia do Coreaú – CE................................................................................. 290
Adrissa Mendes Figueiró
Raimundo Nonato Farias Monteiro
Kelly Nascimento Leite
V. da S. Lacerda
O aterro sanitário de Aquiraz e o lixão de Cascavel sob o ponto de vista da gestão
ambiental............................................................................................................................. 294
Alan Ripoll Alves
Claúdia Maria Pinto da Costa
Clayton Tapety do Carmo
Edson Vicente da Silva
Francisco Leonardo Tavares
Análise de co-relação entre o tamanho da frota de ônibus de transporte público e os
índices de poluição atmosférica entre 2000 e 2001 em Fortaleza – Ceará..................... 302
Alan Ripoll Alves
Claúdia Maria Pinto da Costa
Clayton Tapety do Carmo
Edson Vicente da Silva
Francisca Ione Chaves
Caracterização de impactos ambientais na lagoa do Acaracuzinho – Maracanaú /
CE.......................................................................................................................................... 308
Alana de Aquino Cajazeira
Juliana Felipe Farias
O currículo escolar e a relação sociedade-natureza no desenvolvimento do semi-
árido...................................................................................................................................... 315
Alexandra Maria de Oliveira
Edson Vicente da Silva
Raimundo Castelo Melo Pereira
Maria Elia dos Santos Vieira
Francisco Davy Braz Rabelo
O processo de urbanização e implicações ambientais sobre os recursos hídricos
em Teresina – Piauí............................................................................................................. 324
Antônio Joaquim da Silva
Charlene de Sousa e Silva
Daniel César Meneses de Carvalho
Reuryssom Chagas de Sousa Morais
Desenvolvimento local e planejamento ambiental: extrativismo sustentável em área
de babaçual piauiense........................................................................................................ 330
Antônio Joaquim da Silva
José Luís Lopes Araújo
Charlene de Sousa e Silva
Daniel César Meneses de Carvalho
Reuryssom Chagas de Sousa Morais
Avaliação da dinâmica de macronutrientes e sua influência na biomassa algal do
açude Acarape do Meio – Região Metropolitana de Fortaleza – CE............................... 338
Carlos Henrique Andrade Pacheco
Sâmara Kersia Melo Sales
Raimundo Bemvindo Gomes
Beatriz Susana Ovruski de Ceballos
Walt Disney Paulino
Análise das alterações climáticas em Manaus no século XX......................................... 348

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
Carlossandro Carvalho de Albuquerque
Francisco Evandro de Aguiar
Edson Vicente da Silva
Análise integrada em bacias hidrográficas...................................................................... 362
Cícera Angélica de Castro dos Santos
Edson Vicente da Silva
Fatores Abióticos e Bióticos que influenciam o planejamento ambiental da área do
Parque Nacional da Serra da Capivara – PI...................................................................... 368
Christiane Carvalho Neres
Jorge Luís Paes de Oliveira Costa
Agostinho Paula Brito Cavalcante
Praia do Icaraí (RMF) – um diagnóstico urbano ambiental............................................. 375
Claúdia Wanderley Pereira de Lira
Impactos sócioambientais na vila Irmã Dulce – Terezina / Piauí.................................... 380
Denílson da Silva Rocha
Luzia Ferreira Cavalcante
Marcos Daniel Neves da Silva
Os impactos sócioambientais no Parque Estadual do Cocó em Fortaleza – Ceará:
especulação imobiliária, lazer e turismo.......................................................................... 384
Eudes André Leopoldo de Souza
Frederico de Holanda Bastos
Luzia Neide Menezes Teixeira Coriolano
Identificação de áreas susceptíveis à desertificação em bacia intermitente sazonal
no semi-árido brasileiro...................................................................................................... 390
Flávio Rodrigues do Nascimento
Geoprocessamento aplicado na caracterização do uso e ocupação do solo na sub-
bacia hidrográfica do rio Boa Hora, Urbano Sanots, MA................................................. 398
Franceleide Soares da Conceição
Tatiana Cristina Santos de Castro
Suzana Araújo Torres
Fabíola Geovanna Piga
Irlan Castro Reis
Análise do Sítio Urbano e subsídios ao planejamento de uso do solo de Pacoti – CE. 403
Francisca Leiliane Sousa de Oliveira
Frederico de Holanda Bastos
Maria Lúcia Brito da Cruz
Critérios para a criação e implantação de unidades de conservação no Estado do
Ceará...................................................................................................................................... 408
Helena Stela Sampaio
Edson Vicente da Silva
Consequências sócioambientais da urbanização de Maranguape (CE): usos e
consumos dos ambientes hídricos..................................................................................... 416
Ícaro Cardoso Maia
Avaliação do fluxo dos nutrientes inorgânicos dissolvidos no exutório do rio
Paciência, São Luís – MA..................................................................................................... 422
Janaína Mendes Barros
Odilon Teixeira de Melo
Tatiana Cristina Santos de Castro
Raíssa Neiva Martins
Suzana Araújo Torres
Aplicação da análise estrutural da cobertura pedológica nos estudos de
desertificação na microbacia hidrográfica do rio Missi – Irauçuba – CE....................... 426
Jacqueline Pires Gonçalves Lustosa
José Gerado Beserra de Oliveira
Identificação de áreas irrigadas com águas subterrâneas nos aquíferos Açu e
Jandaíra com o uso de GIS e Sensoriamento Remoto..................................................... 430
João Sílvio Dantas de Morais
Zulene Almada Teixeira

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
José Alves Carneiro
Léo Ávila França
Luciana Souza Toniolli
Caracterização faunística, florística e impactos ambientais – Parque Nacional da
Serra da Capivara – Município de São Raimundo Nontato – Pauí................................... 439
Jorge Luís Paes de Oliveira Costa
Agostinho Paula Brito Cavalcanti
Zoneamento Ambiental para o Monumento Natural das Falésias de Beberibe –
Ceará...................................................................................................................................... 446
Juliana Maria Oliveira Silva
Edson Vicente da Silva
Estação Ecológica do Castanhão – CE: Proposta de Gestão Ambiental...................... 454
Liana Mara Mendes de Sena
Análise dos principais fatores potenciais de degradação das unidades de
conservação de Sabiaguaba (Fortaleza – Ceará).............................................................. 459
Lílian Sorele Ferreira Souza
Edson Vicente da Silva
Vulnerabilidade Ambiental da bacia do baixo Mundaú (AL)............................................ 467
Maria Cléa B. de Figueiredo
Vicente de P.B.B. Perreira
Suetonio Mota
Morsyleide de F. Rosa
Samuel Antônio Miranda de Sousa
Oficinas Geográficas no contexto da formação docente: em debate a 476
interdisciplinaridade no curso de licenciatura em Geografia da UFC.............................
Maria do Céu de Lima
Adriana Marques Rocha
Estudo integrado dos fatores geoambientais da bacia do rio Cocó – CE...................... 486
Maria do Socorro Pereira Diógenes
Edson vicente da Silva
Perfil socioeconômico de famílias inseridas nas áreas de risco da bacia do rio Cocó
(CE) como subsídio ao planejamento ambiental............................................................... 493
Paulo Henrique Gomes de Oliveira Sousa
Antônio Augusto de Camargo Neves
Carlos Anselmo e Silva
Indicadores de sustentabilidade dos Municípios de Mossoró, Areia Branca e
Grosso/RN a partir do modelo Pressão – Estado – Resposta......................................... 500
Edna Margareth Santos de Sousa
Rodrigo Guimarães de Carvalho
Políticas Públicas e Participação Social: uma análise sobre a gestão ambiental no
bairro Pirambu – Fortaleza / CE.......................................................................................... 510
Rosane Morais Falcão Queiroz
Edson Vicente da Silva
Alternativas para um turismo sustentável no litoral do Iguape – CE.............................. 519
Tatiane Rodrigues Carneiro
Edson Vicente da Silva
Compartimentação Geoambiental da sub-bacia do alto curso do rio Acaraú – CE....... 526
Ticiane Rodrigues de Castro
Marcos José Nogueira de Souza
Maria Lúcia Brito da Cruz
Gestão ambiental e turismo: uma análise integrada da Praia de Morro Branco –
Beberibe – Ceará.................................................................................................................. 534
Terezinha Cassiano de Souza
Edson Vicente da Silva
Diagnóstico dos recursos hídricos do município do Crato – CE.................................... 545
Ana Cristina Torres Arraes
Elvir Batista da Silva
Edson Vicente da Silva

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÀVEL EM BACIAS


HIDOGRÁFICAS: RESENHAS DO II WORKSHOP INTERNACIONAL SOBRE
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS

Edson Vicente da SILVA


Jose M. MATEO RODRIGUEZ

I.-Introdução:

O presente artigo tem como propósito fazer uma discussão às questões relacionados com
o Planejamento no contexto da construção de processos de Desenvolvimento
Sustentável, particularmente em Bacias Hidrográficas, tendo como referencia a
apresentação dos trabalhos e conferencias do II Workshop Internacional sobre
Desenvolvimento Sustentável em Bacias Hidrográficas realizado pelo Departamento de
Geografia da Universidade Federal do Ceará. O objetivo do Workshop foi debater as
concepções e experiências de planejamento para a construção do desenvolvimento
sustentável em Cuba e no Brasil. No evento foram apresentadas 20 conferencias, por
profissionais de Brasil (representando os Estados de Ceará, São Paulo, Paraíba, Bahia, e
Distrito Federal) e os países Espanha e Cuba. O evento foi organizado em 8 atividades
que se resenharam a continuação:

Conferência da abertura: Planejamento e Sustentabilidade ambiental, ministrada pelo


professor Jose Mateo Rodriguez da Universidade da Havana em Cuba. Na conferência o
professor Mateo apresentou as idéias fundamentais de Planejamento e particularmente
de ordenamento ambiental, baseado na concepção da Landscape Planning “
(Planejamento da Paisagens), e como tem sido desenvolvida em Europa desde o século
XIX. Apresentou sua aplicação ao caso de América Latina, com estudos de caso em
Brasil e Cuba, pelo equipe formada pela Universidade da Havana e várias universidades
do Brasil, em particular dos estados do Ceará, São Paulo, Acre, Amazonas, Piauí e Mato
Grosso do Sul.

Mesa Redonda “Experiências de Gestão e Planejamento em Bacias Hidrográficas”.


O palestrante Dr. César Leal fez uma apresentação sobre as experiências
deplanejamento e gestão de Bacias Hidrográficas no Estado de São Paulo e do Paraná,
em particular na Bacia do rio Paranapema. Foram colocadas pelo apresentador as
concepções e os métodos de gestão em colaboração com os diferentes órgãos de
governo. O debatedor Prof. Jeovah Meireles colocou a idéia da importância de se estudar
os níveis de instabilidade das bacias metropolitanas. Também assinalou a importância da
contradição entre a utilização econômica e as propriedades dos sistemas ambientais. O
debatedor Prof. Jose Mateo falou da importância da analise política do uso das águas.
No debate foram analisadas as seguintes questões: o problema da privatização das
águas, a relação da hidrologia com a questão da água como bem comum, os problemas
do “stress” hídrico, falando de questões como “bacia social” e pacto das águas, para a
solução da contradição entre a água como valor de uso e a água como valor de
intercambio. Foi discutida a questão da gestão das bacias e sua descentralização como
base para o empoderamento dos grupos sociais. Sob essa ótica foi analisada a questão
da transposição do rio São Francisco. Em relação a esta questão colocaram-se duas
posições: alguns pensam que o projeto é viável e favorece a grande maioria da
população; outros acham que o projeto vai ter como consequência catástrofes ambientais
e o projeto será usado pelo grande poder econômico e não favorece a população. Em
resumo a mesa colocou que o problema de planejamento deve ter em conta as

11
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
propriedades dos sistemas ambientais naturais, as bacias como sistemas hidrológicos,
mas também as questões relacionadas com a propriedade da terra e das águas, e as
formas de gestão.

Mesa Redonda “Gestão do das unidade de conservação”.

Marcos Nogueira falou do zoneamento como base para a elaboração dos planos de
manejo das unidades de conservação. Colocou os princípios teóricos e os métodos
utilizados, e em particular referiu-se a tipologia das unidades no zoneamento ambiental.
O debatedor Giovanni Seabra discutiu a ideia de que a gestão deveria levar em conta os
conflitos sociais e as formas de ocupação das bacias pelos diferentes atores sociais e
agentes econômicos. Flavio Rodrigues Nascimento explanou o uso da analise estratégica
para o planejamento do manejo das unidades de conservação. No debate foi colocado
com clareza que o grande problema das unidades da conservação é a questão da
implementação, porque essa questão entra na esfera de poder. O problema então está
nos órgãos gestores que muitas vezes não querem aplicar os planos porque, entram em
contradição com o poder. A conclusão da mesa foi a necessidade de um maior
involucramento da sociedade, da academia e das universidades para a implementação
dos planos de manejo.

Mesa Redonda “Gestão de Bacias Hidrográficas” :

O palestrante Julien Burt explicou o problema do uso e planejamento de recursos


hidrográficos nos vales dos rios e dos açudes. Falou da importância do semi árido da
disponibilidade de água subterrânea e do lençol freático dos vales, para o uso e gestão
dos recursos hídricos. Neste sentido considerou a importância de conhecer a relação dos
diferentes grupos sociais e as formas de propriedade com a gestão destas águas, e em
particular a dinâmica temporal. Lançou o conceito de território das águas como o mesmo
comportamento dos agricultores, com o mesmo tipo de uso. Segundo ele existem três
tipos de território das águas nos vales do Ceara: ao longo dos grandes reservatórios, ao
longo do aqüífero aluvial e aqueles dos habitats dispersos. Foi colocada a existência de
grandes conflitos do uso da água, já que a grande propriedade controla os recursos, e a
maioria da população que é pobre, não tem recursos para a irrigação e a exploração
eficiente da água, e também o Estado não pode garantir a exploração de todos os
açudes. A debatedora Eunice Maria de Andrade, falou da importância das barragens
subterrâneas e dos problemas da degradação da água no processo de exploração dos
açudes. Vicente Lopes de Frota, explicou os procedimentos do Estado para o controle de
regulamento do uso da água. No debate o expositor colocou que a experiência do Brasil e
os arranjos entre os diferentes atores sociais e agentes econômicos, e destacou-se que a
solução dos problemas não ocorre de cima para baixo, mas começando desde as
comunidades. A platéia assinalou as experiências de processos sociais na América
Latina (Venezuela, Equador, Nicarágua, Cuba) do empoderamento da sociedade, e da
luta contra a privatização da água. Foi colocada a necessidade de que seja a comunidade
o ator principal do uso da água e não só o parceiro passivo. Como conclusão foi
assinalada a necessidade do papel da educação no empoderamento da sociedade , para
conseguir a quebra das dominações, a delegação do poder para as maiorias
despossuídas

Mesa Redonda Analise integrada e manejo de bacias hidrográficas:


O apresentador Jose Carlos de Araújo falou dos problemas ambientais que existem no
processo de gestão das bacias hidrográficas. Isso é devido a carência do planejamento e
da gestão, pela irracionalidade e pela falta de controle social. O professor fez uma

12
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
comparação entre os processos de formação e exploração de recursos hídricos em Cuba
e no Ceará. Em Cuba existe 10 vezes mas água nos rios que no Ceará, mas a
exploração e a gestão desenvolvida pelo Estado e com a participação da sociedade, e a
água é assim um bem que é explorada como uma concepção social, a água e
considerada como um direito humano. No Ceará existem os conflitos sociais porque a
água é explorada com uma concepção de propriedade particular. Assim no Ceará para
resolver o problema da água são necessárias mudanças estruturais, e mudanças nos
padrões de ocupação. A debatedora Maira Celeiro Chaple do Ministério de Meio Ambiente
de Cuba, colocou os desafios que Cuba tem em relação com a exploração e gestão dos
recursos hídricos, e a importância das mudanças globais e regionais incluindo as
mudanças climáticas, na criação de novos padrões de recursos hídricos e de
configurações espaciais na exploração das águas. Destacou as medidas que o governo
cubano junto com a sociedade está implementado para reduzir a vulnerabilidade das
águas nas mudanças climáticas. O debatedor Marcos Garrido da Universidade de Sevilla,
Espanha, colocou que o que está predominando na exploração das águas são os
problemas sociais e que os políticos não gostam de fazer mudanças estruturais que são
necessárias para otimizar a exploração dos recursos hídricos. No debate foi colocado
que no semi-árido o modelo do grandes açudes falhou, que a exploração tem que ser em
mini açudes, e com a participação direta dos pequenos proprietários rurais e que a gestão
da água tem que sair dos reservatórios e ir para a bacia como unidade maior de gestão.

Considerações Finais:

O debate demonstrou vários enfoques importantes:

1.- Foi reforçada a idéia de que Planejar o Meio Ambiente e o Território, constitui um
exercício acadêmico e intelectual, encaminhado a pensar de forma racional a ocupação e
o uso das diferentes partes da superfície do planeta Terra, tendo em conta um
instrumental cognitivo e um arcabouço de métodos, técnicas e procedimentos.
2.- Demonstrou-se a necessidade de pensar o Planejamento Ambiental e Territorial para o
Desenvolvimento Sustentável,como um processo real, necessário, complexo e
contraditório.
3.-Destacou que a questão da gestão dos recursos hídricos não é só um problema
técnico, mas um problema político e de poder. A questão está em definir quem vai ter o
rol protagônico na exploração, quem vai ficar com os custos e quem fica com os
benefícios. Existem assim duas modalidades de exploração e gestão dos recursos
hídricos: a modalidade elitista, com o poder da grande propriedade, ou a modalidade da
exploração das águas em benefício da maioria da população.
3.- Considerou a necessidade da promoção das novas idéias de Planejamento
Participativo, no empoderamento social e na construção de novas variantes de construção
cidadã.
4.- Ressaltou que a universidade não pode ficar de costas aos processos verdadeiros de
revolução silenciosa, de empoderamento social que estão acontecendo na América
Latina. Se a Universidade tomar o caminho da exclusão intelectual, de ser só um
instrumento das elites e das multinacionais, a ela corre o risco de desaparecer. Se optar
pela participação política e científica ela poderá ser absorvida pelos novos processos de
emancipação e libertação que já estão acontecendo na América Latina.

13
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

EXPERIENCIAS DE PLANEJAMENTO AMBIENTAL EN BRASIL USANDO LA CONCEPCIÓN


DE LA GEOECOLOGIA DE LOS PAISAJES ( “ LANDSCAPE PLANNING”)

Por:
José M. MATEO RODRIGUEZ1
Antonio Cezar LEAL2
Maira CELERIO CHAPLE3
Edson Vicente DA SILVA4

En el presente articulo se presentan los presupuestos teóricos y metodológicos de la


concepción de la Geoecologia de los Paisajes, que desde hace unos 20 años se esta
tratando de incorporar por medio de la colaboración de la Universidad de La Habana de
Cuba, la Universidade Estadual Paulista y la Universidade Federal de Ceara, en varios
trabajos en Brasil. Se expone como ejemplo algunos resultados obtenidos en la Bacia del
río Paranapanema, en los Estados de Sao Paulo y Parana. La concepción de la
planificación de Paisajes se ha incorporado además en todo el Brasil (a escala del Marco
Federal), y en otros estudios en la cuenca del río Amazonas (Estados de Acre, y
Amazonas), en Ceara, en Piaui. En Mato Grosso do Sul, y en otras regiones y estados de
Brasil.

La concepción de la Planificación de los Paisajes (Landscape Planning).

La Planificación del Paisaje puede ser definida como el conjunto de métodos y procedimientos que
se usan para crear una organización espacial de la actividad humana en particular de los paisajes.
Ello está dirigido a asegurar la gestión y el manejo de la naturaleza sostenible y la preservación de
las funciones básicas del paisaje que soportan la vida. (ANTIPOV, ET AL, 2006).

La Planificación del Paisaje, es una parte componente de la política ambiental y territorial,


encaminada a establecer a la organización espacio – temporal de la actividad vital de la sociedad
en el paisaje , espacio y territorio concreto, conservando o multiplicando sus propiedades útiles.
Es la máxima adaptación de las zonas de uso funcionales a la estructura paisajística y espacial
regional local y la creación de nuevas estructuras antropógeno – naturales. (DIAKONOV, 2008)

El objetivo general de la planificación del paisaje, es garantizar el uso racional y sostenible de la


naturaleza conservándose las funciones principales de los paisajes naturales y de sus
componentes como sistema de la biosfera, la geoesfera y de la humanidad en su
conjunto.(Diakonov, 2008). Constituyen objetivos específicos de la Planificación del Paisaje:

• La Sistematización, que implica sistematizar y articular el análisis de la información


concerniente al estatus principal, el significado y la vulnerabilidad de los medios ambientes
y complejos naturales.
• La evaluación comprensiva, que significa evaluar y valorar de la tierra en un sentido
amplio, incluyendo la posición geopolítica de las tierras, los rumbos estratégicos para su
uso, y la adaptación y las estipulaciones para el uso de la tierra en concordancia con las
normas internacionales

1
Facultad de Geografía, Universidad de La Habana, Cuba
2
Universidade Estadual Paulistas, Campus de Presidente Prudente (SP), Brasil
3
Instituto de Geografía Tropical, Ministerio de Ciencia, Tecnología y Medio Ambiente, Cuba.
4
Departamento de Geografia, Universidade Federal de Ceara, Fortaleza, Ceara, Brasil.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
• La negociación para la gestión, dirigida a articular a través de mecanismos de interacción
eficiente, a las varias agencias, instituciones, organismos y los diseñadores de política a
los diferentes niveles
• La involucración, encaminada a incorporar de manera extensiva a la población en el
proceso de planificación a través de la participación en la tomada de decisiones y en la
colección y elaboración del contenido de información de los documentos generados
• Balance , para contribuir a la búsqueda de las decisiones óptimas a partir de la selección
de diversas opciones en competencia, relacionadas con la utilización de los recursos y
complejos naturales, especialmente en el proceso de establecimiento de las relaciones de
mercado.
• Transparencia, debido a que el proceso de planificación conduce a la elaboración de varios
escenarios, evaluables de acuerdo a parámetros de costo/beneficio (económico, social y
ambiental) y a las diferentes categorías de sostenibilidad alcanzados a los mismos,
sirviendo de base clara y científicamente fundamentada para la toma de decisiones por
parte de las autoridades gubernamentales y os inversionistas.

En los momentos actuales a nivel mundial, está consolidándose cada vez más el proceso de la
planificación, del espacio, o sea de la superficie terrestre, como base fundamental de todos los
procesos de gestión ambiental y territorial La planificación de los sistemas espaciales se convierte
cada vez más en una exigencia como respuesta al incrementado impacto de los factores de
mercado . Esta planificación de espacio, exige de los siguientes requisitos:

• Los procedimientos de planificación se hacen más flexibles.


• Se implementa paulatinamente la Planificación “transversal” en todos los tipos de
sistemas
• La descentralización de los procesos de planificación
• Incremento del significado de las áreas urbanizadas para los proceso de planificación
encaminados a la construcción de procesos de desarrollo sostenible.
• El papel protagónico por el Estado como la instancia más alta en el diseño de los
procedimientos de toma de decisiones.

En este sentido, la Planificación del Paisaje tiene ventajas particulares, entre las cuales se pueden
distinguir las siguientes: (Antipov et al, op.cit.)

1. El concepto base de paisaje permite entender la articulación compleja entre el espacio o


paisaje natural, su transformación por las practicas sociales y productivas en espacio
geográfico (funcional, de hábitat, social), y su visualización como espacio o paisaje cultural,
en el que se imprimen las características afectivas, perceptivas en la morfología del
espacio.
2. El reconocimiento de la naturaleza y el paisaje como un sistema integral dinámico.
3. Asegura una visión holística sobre la especificidad del paisaje y la delineación de sus
elementos y valores ecológicos , históricos y estéticos sujetos a la protección especial
4. El carácter “transversal” y abarcador general.
5. Incorporar todos los componentes principales del paisaje (incluyendo los componentes
antropogénicos) y sus funciones interrelacionadas, así como la estructura espacial del
paisaje.
6. Se basa en la estructura del paisaje del territorio, y, simultáneamente tiene en cuenta el
patrón de uso de la tierra.
7. Se basa en la estructura del paisaje del territorio, y, simultáneamente tiene en cuenta el
patrón de uso de la tierra.
8. Incluir los objetos de las diferentes escalas, en las cuales se realizan diferentes tipos de
gestión de la naturaleza.
9. La posibilidad de establecer diferentes niveles de escala en la planificación, que se
incluyen espacialmente desde la categoría superior (el nivel federal y el programa del
paisaje) a la inferior (la elaboración de proyectos ejecutisov), teniendo en cuenta diferentes
visiones de generalización y de detalle de las informaciones y subsidios de partida, y los
resultados y productos a obtener.
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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
10. Autoriza y recomienda mas que limita y prohíbe
11. La articulación del proceso de planificación, con el de diseño, arquitectura e ingeniería del
paisaje.

La Planificación del Paisaje, parte de un concepto fundamental, que es el reconocimiento de la


naturaleza y el paisaje como un sistema integral dinámico. De tal manera, la Planificación del
Paisaje está dirigida a la identificación y descripción, basada en estudios, de la capacidad del
medio natural para resistir las tensiones (stress); a la investigación de las relaciones y nexos entre
el agua, el suelo, el aire y el clima, la vegetación y el mundo animal, la diversidad, la unicidad y
belleza de los paisajes, o sea de los valores escénicos y estéticos.

La planificación del paisaje incorpora todos los componentes principales del paisaje (incluyendo
los componentes antropogénicos) y sus funciones interrelacionadas, así como la estructura
espacial del paisaje. La planificación del paisaje incluye los objetos de las diferentes escalas, en
las cuales se realizan diversas formas de la gestión de la naturaleza.

La planificación del paisaje deberá enfocarse en la preservación de la salud de la naturaleza. Ello


deberá tener un carácter “transversal” y abarcador general. La determinación de los efectos sobre
ese sistema de las propuestas de planificación y las prácticas de gestión planificada de la
naturaleza, así como de las reacciones del sistema a las actividades humanas constituyen en este
sentido una cuestión fundamental. .

Cuando se generan los conceptos del desarrollo espacial, es importante la definición de los
criterios particulares de calidad de la naturaleza y el paisaje, cuales criterios deben de seguirse
para asegurar la conservación a largo plazo para los fundamentos de la vida humana. En este
caso, es importante precisar que medidas deben tomarse para el cumplimiento de las tareas
generales de conservación, así como para cumplir los requerimientos de los planes sectoriales, y
las necesidades de los actores de la gestión de la naturaleza.

Los planes del paisajes deberán de determinar los criterios de calidad ambientad para servir como
guía base para el desarrollo espacial y para la construcción y otros proyectos, así como las
medidas dirigidas a la regulación de los impactos ambientales y la modificación ecológicamente
basada de la modificación de los proyectos.

La Planificación de los Paisajes deberá sumariar y sintetizar los requerimientos ambientales, y las
medidas para el mantenimiento del paisaje, y proveer la reconciliación entre esos requerimientos y
los propósitos para el desarrollo de los proyectos en las áreas respectivas. Deberá asegurar la
base necesaria para el diseño de la toma de decisiones concerniente a la permisibilidad de los
proyectos

Relación entre la Planificación de los Paisajes y la Planificación Territorial:

La planificación de los paisajes constituye una etapa preliminar en la aplicación e integración de


los resultados obtenidos en los planes para el desarrollo socio económico de las áreas, que en
general es la tarea de la Planificación y el Ordenamiento Territorial. El Ordenamiento Territorial
tiene que ver con la búsqueda de otro nivel cualitativo para la implementación de nuevas
concepciones teóricas y nuevas tecnológicas y practicas en el desarrollo económico y social de
las diferentes unidades territoriales . En el Ordenamiento Territorial deberá lograrse un desarrollo
balanceado, determinado por la combinación de factores socio económicos y ecológico naturales.
Para las áreas de alto valor natural, se debe tener en cuenta los requerimientos ecológicos. En
este contexto, en la etapa actual del desarrollo del sistema social y ecológico, es de especial
significancia lograr una organización espacial del paisaje que sea coherente (ecológico) , y que
constituya un fundamento para la planificación socio económica, estratégica, y coherente. Este
concepto se enfoca en lograr el objetivo de regular los conflictos entre los interés económicos, y
sociales de acuerdo a los limites ecológicos del área. Las tareas a lograr en este caso son:

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

• El modelamiento de la utilización balanceada y racional de los recursos


• El desarrollo de las vías para la coordinación de las acciones enfocadas en la optimización
de las relaciones de los sistemas sociales y naturales (regulación normativa y legal del uso
de la tierra geoecológicamente orientado)
• El logro de un balance de los intereses nacionales, y la búsqueda de nuevos recursos
alternativos para el desarrollo de las áreas (la distribución del ingreso de la utilización de
los recursos naturales)
• El pronostico para la implementación de las experiencias de la planificación del paisaje
(geoecológica) y socio económica en las regiones modelo de los municipios y Estados .
• Garantizar el suministro de la información científica a las autoridades de los territorios por
medio de la elaboración de materiales educacionales y de procedimientos.

El municipio es el nivel primario de la gestión espacial. También representa un sistema


económico- natural espacial complicado, cuyo desarrollo en gran parte se determina por el grado
de madurez de las relaciones integrativas intra sistémicas entre el ambiente natural, el económico
y el social, y las autoridades. Un análisis de los patrones del desarrollo espacial da una
perspectiva y un diagnostico de la respuesta de los sistemas al nivel de distrito y de municipio y
de sus elementos (las comunidades rurales, los sectores del complejo económico etc.), para
prever los impactos a partir del ambiente económico combinado. De este modo pueden ser
pronosticadas las situaciones de crisis, y a partir de ello se pueden tomar las medidas para
eliminarlas, lo cual a su vez es una de las tareas de adaptación de la gestión del desarrollo
espacial.

La planificación espacial del desarrollo territorial está estructurada de acuerdo con los principios
generalmente aceptados del pronóstico espacial y se basa en las siguientes estipulaciones:

• Las características generales del municipio . Ello incluye la evaluación de la situación


económica geográfica del distrito, la lista de los índices técnico económicos que
caracterizan el rango del municipio en la entidad Estadual y Federal, y la situación general
de las esferas económicas y sociales del distrito.
• El análisis y la evaluación del potencial laboral y productivo, del nivel de involucramiento de
las fuerzas productivas y de su utilización, la caracterización y evaluación del nivel de
desarrollo de las infra estructuras sociales, de ingeniería y de transporte, y la evaluación
geoecológico – paisajística del uso de la tierra.
• La confección de mapas sectoriales comprensivos que reflejan las condiciones de ingreso,
el potencial, las atracciones a las inversiones y el pronostico del desarrollo económico y
social y de gestión del área.
• La elaboración de una estrategia para el desarrollo socio – económico = ambiental . Este
bloque incluye el determinar la posibilidad de escenarios para el desarrollo socio –
económico de los Estados y municipios y las recomendaciones para reconciliar las
estrategias sectoriales, el desarrollo de la agricultura y la industria, las inversiones, los
aspectos sociales y técnicos de la infraestructura del transporte, las relaciones de la tierra,
y la elaboración de los presupuestos locales y los flujos financieros.

Dificultades y problemas en la implementación de la Planificación del Paisaje

A nivel mundial, y en particular en América Latina, la concepción de paisaje, y en articular la


Planificación del Paisaje aun no se ha reconocido de manera institucional y legal, a pesar de las
evidentes ventajas que tiene dicha concepción.. La historia muestra que la planificación del
paisaje como una concepción peculiar geografía constructiva a nivel mundial no ha sido una tarea
muy fácil. Ello se debe a las siguientes causas:

1.- El paisaje ha sido simplemente ignorado, aun en los campos en que se ha enfocado a la
protección de la naturaleza. El “enfoque de paisajes” se ha introducido en muchas ramas de la
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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
gestión de la vida silvestre (por ejemplo la gestión de los bosques), pero frecuentemente no se
ha incorporado porque las iniciativas en esa esfera no han requerido de cambios radicales en los
conceptos comunes y en las practicas convencionales de gestión (KOLBOWSKY, 2007)
2.- Los arquitectos e ingenieros perciben al paisaje no como un organismo vivo con una
diferenciación interna compleja, sino solo como un lugar más o menos conveniente para la
construcción.
3.- Los documentos de la planificación de paisajes, incluyendo los espacios urbanos son
desarrollados muy lentamente y de este modo no sirven como respuesta a la brusca intrusión de
las inversiones. Como resultado de ello, la selección de un sitio se resuelve con anterioridad a la
propuesta del papel especifico que debe de cumplir el mismo en el mosaico ecológico y en el
mosaico de funciones dentro de su localización particular.
4.- El procedimiento de la evaluación de impacto ambiental (que acompaña a la planificación
urbana) originalmente entendido como un proceso de “ contra balance” del desarrollo, cuando es
posible, no ha sido nada mas que un procedimiento formal. El uso de tales rutinas rígidamente
normadas y establecidas no influyen significativamente en los proyectos debido a la pobre
atención que se le da a los fenómenos y la estructura especifica del paisaje.
5.-Las rutinas de investigación de la ingeniería ecológica de pre factibilidad han ocurrido de
manera desfasada y no pueden establecer las diferencias en el carácter y la intensidad de la
presión en el paisaje. Esto a su vez, se revierte en el dominio de vías primitivas y mayormente
incorrectas de preparación ingenieríl
6.-Los investigadores siguen las decisiones de diseño y reducen la investigación ingeniero
ecológica a los niveles de la ingeniería geológica.
7.-Los ingenieros recomiendan vías normadas para la planificación de cualquier territorio (por
ejemplo la plantación, la eliminación de los lentes de turba) encaminados a nivelar el relieve como
una matriz de la memoria de la estructura del paisaje.
8.-El arreglo del paisaje de los sitios desarrollados prácticamente no es reflejado en la parte
dedicada a la evaluación del impacto ambiental dentro del plan.

Para tratar de lograr la implantación efectiva de la Planificación del Paisaje como una concepción
privilegiada en las tareas de Ordenamiento Ambiental y Territorial, se considera pertinente sugerir
las siguientes acciones: (KOLBOWSKY,2007)

1.-Tratar de incluir la Concepción del Paisaje en las regulaciones jurídicas y administrativas y en la


práctica de la gestión ambiental y territorial . Para introducir los procedimientos crucialmente
importantes de la LP en la legislación, los expertos deben antes de todo analizar los documentos
normativos existentes.
2.-Reforzar la dimensión educativa e instructiva, incluyendo materiales sobre la concepción del
paisaje en programas educativos de todos los niveles, en la Educación Ambiental, y la Educación
Geográfica y de Ciencias Naturales y Sociales.
3.- Debe ser identificado, el propio nicho para los planificadores del paisaje dentro del dominio de
la planificación moderna.
4.-La planificación del paisaje deberá continuamente incorporar todos los logros del diseño del
paisaje, particularmente en relación con el ambiente urbano. Es extremadamente importante
considerar y concentrarse en la experiencia constructiva del arreglo del territorio usando las ideas
ecológicas del paisaje. Eso será absolutamente necesario para vencer la indeferencia ecológica
de muchas personas.

Para hacer más factible la incorporación de la Planificación del Paisaje, en calidad de fundamento
para los trabajos de Ordenamiento Ambientad, se deberá trabajar en las siguientes líneas
fundamentales de carácter científico y académico:

1.-Perfeccionar la descripción de la estructura del paisaje de un territorio como operación básica


para la LP., con el uso de los SIG y el sensoramento remoto
2.-Desarrollar de manera operativa un conjunto de nociones básicas de la Geoecología del
Paisaje, en particular la noción de estabilidad del paisaje.
3.- Las actuales condiciones socio – económicas, desempañan un papel significativo en la
transformación del desarrollo del patrón de la tierra, y de la dinámica y evolución de los sistemas

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
ambientales. Es este un factor externo de cambios en el mosaico del paisaje regional a escalas
del tiempo características comparable con el periodo de la perspectiva normal de la Planificación
del Paisaje, o sea, de 15 años. Todo ello planeta como desafió introducir en la Planificación del
Paisaje conceptos novedosos sobre la evolución y el desarrollo del paisaje. Ello plantea la
pregunta principal: ¿Es necesario considerar el componente tiempo en los planes de paisaje? Si la
respuesta es si, ¿como debemos de tener en cuenta ese concepto? De tal manera esas
transformaciones deberían ser consideradas en la planificación ambiental y territorial.
4.-El paisaje cultural, su preservación y desarrollo debería ser, al menos, uno de los propósitos de
los procedimientos del Planificación del Paisaje. . El mosaico espacial de un paisaje regional
cultural, si es cuidadosa y adecuadamente estudiado sirve como matriz con elementos culturales e
históricos que deberá ser un sujeto de la planificación. La metodología moderna de la Planificación
del Paisaje casi no considera las propiedades y los valores del paisaje cultural (histórico, étnico).
El paisaje como reflejo de una experiencia histórica de valor en la interacción entre el etnos y la
naturaleza está fuera de los fundamentos de los procedimientos de la Planificación del Paisaje.
5.-La estética del paisaje deberá ser considerada en el nivel de la planificación regional y local .
Las concepciones sobre la estética del paisaje, los símbolos del paisaje y el código del paisaje
están también estrechamente relacionados con las realidades del paisaje cultural, y en general
son poco incorporados a las tares de la planificación, y cuando se hace, se introduce de manea
aislada y fragmentaria, sin estar en articulación con las diferentes categorías paisajísticas y
espaciales.

Niveles de la Planificación de los Paisajes:

En la actualidad se acepta la existencia de cinco niveles de trabajo en la planificación del paisaje:


el marco federal, el programa del paisaje, EL Plano regional, el plan local y el proyecto ejecutivo.
Cada uno de ellos niveles se diferencian de acuerdo a la escala, la unidad territorial estudiada, el
objetivo a cumplir, la unidad de la clasificación e individualización del paisaje con que se debe
trabajar y las propiedades del paisaje que deben de estudiarse. En la tabla Numero 1, se resumen
las informaciones mencionadas.

Tabla Numero 1.- CONTENIDO DE LOS TRABAJOS REALIZAR EN LA PLANIFICACIÓN DEL


PAISAJE A LOS DIFERENTES NIVELES

NIVEL DE LA ESCALA UNIDAD OBJETIVO UIDAD DEL PROPIEDADES DEL


P.P. TERITO-RIAL PAISAJE PAISAJE
MARCO 1:4 000 -País -Directrices -Unidades -Estructura espacio –
FEDERAL 000 -Grupo de generales de superiores funcional regional
países uso y de la
protección regionalizaci
ón y la
tipología
PROGRAMA 1:1000000 -País/ Estados -Zonas - -Aptitud o potencial,
funcionales Agrupacione tipo y valor de
-Prioridades de s de recursos naturales y
gestión localidades culturales del paisaje
-Calidad del paisaje
-Organización
espacial
PLANO 1:250000 -Regiones o -Funciones - -Problemas
REGIONAL agrupaciones ambientales Localidades ambientales
(PLAN de municipios -Intensidad de -Estado Ambiental
DIRECTOR) uso -Capacidad de carga
-Modelo -Pronostico de
ambiental escenarios
(espacial/territ -Evaluación del
orial) Programa de Gestión.
-Articulación -Estado de la
con planes organización espacial
sectoriales
PLAN LOCAL 1:50000 Municipio -Propuesta de - Comarcas - Diagnostico
medidas para ambiental y de la

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
el organización
funcionamiento espacial: aptitud,
ambiental problemas, estado,
óptimo: intensidad de uso
búsqueda de -Impacto ambiental
soluciones -Peligros, riesgos y
concretas vulnerabilidad
-Implantación -Banalización,
de programas obsolescencia y
y proyectos disfunción
para la gestión Evaluación de
ambiental sistemas de gestión..
PROYECTO 1: 1000 - Distritos - Diseño - Facies - Pre factibilidad y
EJECUTIVO ambiental del factibilidad ambiental
(DISEÑO) sitio ; Estructura funcional
- Diseño de -Eficiencia del uso
sistemas de -Análisis de la
objetos identidad del : paisaje
-Elaboración cultural del lugar:
del programa coherencia, armonía,
de gestión singularidad
- Percepción de la
población
- Expresión visual y
estética del lugar.

La experiencia de la Bacia de Paranpanema (Estados de Sao Paulo y Parana, Brasil) ;

La Bacia do río Paranapanema, se encuentra ubicada en la región suroeste del Estado de São
Paulo abrangendo unos 105 000 kilómetros2 sendo compartida por os Estados de São Paulo y de
Paraná .Presenta una gran regulación de su caudal y no es posible soslayar este hecho, siendo el
soporte de uno de los sistemas hidroeléctricos mas importantes del país (contándose un total de
11 hidroeléctricas).

Sus recursos hídricos superficiales presentan un amplio desarrollo en toda el área, ya que ésta
cuenta con una red hidrográfica bien definida. Encontra-se dividida em seis Unidades de
Gerenciamento de Recursos Hídricos, três no Estado de São Paulo: Alto Paranapanema, Médio
Paranapanema y Pontal do Paranapanema y três no Estado de Paraná:
Itararé/Cinzas/Paranapanema I e II, Tibagi Alto e Baixo y Pirapó/Paranapanema III e IV

Com relação ao setor primário da economia predominam as atividades do setor agropecuário,


agroindústria e agricultura voltadas tanto para o consumo interno como externo. Os maiores
cultivos, tanto em valor como em área, são Cana- de açúcar, soja e milho, trigo, café, tomate,
cebola, uva, pêssego, maças, algodão, frutas de clima atemperado.Essa intensa atividade
econômica es garantida pela existência de potentes recursos hídricos superficiais y subterrâneos;

Justificación de las investigaciones ejecutadas :

La Bacia de Paranapanema es una de las mayores áreas de distribución y expansión de la cana


de azúcar y de usinas de azúcar y etanol, y en ella se expanden unas de los mayores superficies
de pasto para leche y carne, de granos y cultivos de diverso tipo. En ella se difunde una amplia
red de ciudades de tamaño medio, entre las que se distinguen Londrina, Maringa, Ponta Grossa y
Castro en el Estado de Parana, y Presidente Prudente, Ourinhos y Assis en el Estado de Sao
Paulo. En la misma viven y trabajan un total de 19 millones de personas habitantes, dedicada a
una bien diferenciada actividad económica.

Esa intensa actividad económica y social es garantizada por la presencia de recursos naturales de
amplio valor y significancia. En primer lugar sus recursos hídricos superficiales y de aguas

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
subterráneas; el predominio de suelos de alto y medio potencial agrícola, relieve plano a poco
inclinado, excepcionales condiciones climáticas. Desde hace unos 200 años en el Estado de Sao
Paulo, y desde hace unos 60 - a 100 años en el Estado de Parana, los esfuerzos humanos han
estado dirigidos a ocupar, y asimilar los recursos naturales, y construir lugares y espacios en los
cuales de forma racional se ejerce una actividad social de producción del espacio.(LEITE, 1998).

Sin embargo, tanto por condiciones naturales, como por los rigores de su evolución socio
histórica, se han presentado allí un conjunto de problemas ambientales que atentan contra la
capacidad productiva, a partir de lo cual se hacen palpables diversas afectaciones en el ámbito de
la calidad de vida humana (PASSOS, 2006, 2007)

Ese impacto humano intenso, esta conduciendo a la presencia de procesos que están degradando
el stock de recursos naturales, están deteriorando la calidad ambiental de los espacios, lo que se
manifiesta en una mayor tensión para mantener estándares adecuados de calidad de vida de la
población. Los ríos de la cuenca, manifiestan procesos de deterioro tales, como la falta de
drenaje, la contaminación, el asoreamiento, el aumento del nivel de las inundaciones es bastante
generalizado; la vegetación y la biodiversidad han decrecido de manera significativa debido al
desmatamiento generalizado, se difunden ampliamente procesos de erosión laminar y
concentrada (surcos, vocorocas, ravinas), se notan algunas tendencias a los cambios climáticos
(tales como el aumento de los picos de los fenómenos extremos), se ha perdido gran parte del
patrimonio natural. En los sistemas rurales, es significativo el daño de las estradas de todo tipo y
en particular las rurales, en los sistemas urbanos es perceptible con más clareza la presencia de
esos procesos negativos. La calidad ambiental urbana esta en diferentes grados de degradación,
debido a problemas en la coleta de lixo, la alteración del drenaje, la contaminación hídrica y
atmosférica; la población ha perdido de manera clara la capacidad de convivir con el medio y el
entorno en el que viven, y del cual viven.

Si bien las prefecturas, y diversos órganos de los Estados y la Federación (en particular los
consejos de cuenca) llevan a cabo proyectos y acciones para la protección y el mejoramiento de la
cuenca es significativa la falta de una articulación entre los diversos órganos. Ello es debido antes
de todo, a la carencia de un sistema de información básica sobre la situación de la cuenca a nivel
de todos los espacios, y en particular a la carencia de una planeación estratégica que sirva de
base para ejecutar acciones y llevar a cabo proceso de gestión coordinadas y articuladas. Menos
aun esos proyectos y acciones de articulan de manera coherente para conducir a un proceso de
desarrollo sustentable a nivel de toda la cuenca. Son perceptibles la falta de articulaciones entre
los diversos municipios, y en particular entre los dos Estados en los cuales se comparte la cuenca.
También es perceptible la falta de coordinación entre los diversos componentes de la gestión a
nivel de cuenca (el manejo de cuencas, la gestión ambiental urbana, la planificación ambiental, la
educación ambiental, etc.).

Todo ello conduce a afirmar que los problemas ambientales, institucionales y sociales generados
por el crecimiento económico incontrolado en la bacia del río Paranapanema exigen de una
decidida planificación de sus espacios, ambientes y territorios.(ITESP, 1998)

La elaboración de los mapas de paisajes naturales, constituyen un punto de partida esencial para
la aplicación de la Concepción de la Geoecologia y la Planificación de los Paisajes en los trabajos
de Ordenamiento Ambiental.

El Ordenamiento Ambiental se considera a nivel internacional como una herramienta de


planificación dirigida a sugerir la manera en que deberán ser utilizados, mejorados y
transformados los sistemas ambientales naturales. Implica al menos la obtención, para áreas de
tamaño relativamente grande (municipios, estados, países) de los siguientes productos (MATEO,
2008):

- Zoneamento Funcional
- Zoneamento Ambiental
- Medidas para la implementación del zoneamento

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
- Prioridades para la implementación del zoneamento
- Intensidad de uso a través de la capacidad de carga
- Diseño y evaluación de los escenarios del ordenamiento.

La Planificación del Paisaje puede ser definida como el conjunto de métodos y procedimientos que
se usan para crear una organización espacial de la actividad humana en particular de los paisajes.
Ello está dirigido a asegurar la gestión y el manejo de la naturaleza , la preservación de las
funciones básicas del paisaje que soportan la vida y la incorporación de la sostenibilidad ambiental
a los procesos de desarrollo (ANTIPOV, ET AL, 2006).

En esta concepción el paisaje se considera como una totalidad sistémica, que soporta
determinadas estructuras, funciones, dinámicas, tendencias evolutivas, estabilidades y
sustentabilidades, portadores de determinados potenciales y t tendencias a reaccionar a los
impactos y acciones humanas.(Monteiro, 2000) El enfoque de paisajes, permite ver la articulación
sistémica entre el espacio o paisaje natural como punto de partida para la construcción , a través
de prácticas productivas en espacios funcionales (sociales y productivos) y de paisajes culturales,
a través de sus características morfológicas, preceptúales y afectivas. (MATEO, DA SILVA E
CAVALCANTI, 2004).

Es esta una operación científica, que permite esclarecer las maneras en que el paisaje se ha ido
construyendo como espacio, lo cual constituye el primer paso para re pensar y enrumbar de una
forma diversa las prácticas para la edificación de la organización espacial. De eso, justamente se
ocupa la Planificación del Paisaje como contribución en el Ordenamiento Ambiental: constituir un
camino científicamente fundamentado para valorar las potencialidades y limitantes de los paisajes
y espacios creados, y sugerir las vías para su organización racional que conduzca a la conquista
de la sostenibilidad, a la incorporación de la sostenibilidad a los procesos de desarrollo.
(DIAKONOV E MAMAI, 2008)

Los resultados obtenidos en esta fase de la investigación, permiten de tal modo constituir un punto
de partida, para a través de un conjunto de investigaciones coordinadas y articuladas, obtener el
conocimiento necesario para implementar en la Bacia los diversos instrumentos de Planificación
Ambiental, que permitan optimizar y hacer más eficiente los procesos de gestión ambiental y
territorial.

Métodos de trabajo usados para la elaboración de los mapas de paisaje de la Bacia de


Parnapanema y la región de Pontal.

La elaboración de los mapas de paisajes se sustentó en la sobre posición de mapas de


componentes, en particular de carácter natural. Dicha sobre posición se llevo a cabo partiendo de
un análisis de las peculiaridades de la diferenciación del espacio natural, y sobre la base de
criterios de distinción de unidades taxonómicas, que en lo fundamental siguen los indicadores
adoptados para la elaboración del Mapa de Paisajes del Brasil (MATEO, DA SILVA, CAVALCANTI
E LEAL, 2004). En ambos casos se han realizado recorridos generales con el propósito de
fundamentar las distinciones obtenidas.

Para, mejorar y perfeccionar los mapas elaborados, se precisara en un futuro de la realización de


las siguientes actividades:

• Perfeccionamiento de la sobre posición, con el uso de los procedimientos de los Sistemas


de Información Geográfica.
• Detallamiento y perfeccionamiento de las unidades distinguidas, a partir de la
interpretación de fotos satelitales y áreas.
• Trabajos de campo para conferir los limites y las características de las unidades
distinguidas.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Descripción de las características de las unidades distinguidas

En los mapas se asume como concepto de paisaje (o espacio natural), la combinación dialéctica
de los componentes naturales, en dos escenarios:

- considerándose el tipo de formación vegetal original


- -considerándose el tipo de uso de la tierra actual.

Se uso el siguiente sistema de unidades taxonómicas: tipo, sub tipo, clase/subclase, grupo,
especie. Para el caso de Pontal se agregó la categoría de sub grupo.

La clasificación de los Paisajes de l a Bacia de Paranapanema:

En la bacia de Paranapanema se distinguen dos tipos de paisajes: el tropical y el sub tropical. Los
mismos se presentan como si fueran fajas geográficas, de acuerdo fundamentalmente al
predominio del régimen térmico. Dentro de cada Faja se distinguen las zonas geográficas o
paisajísticas, que dan lugar a la categoría de sub tipo de paisajes. En la faja tropical se distinguen
los subtipos: seco y sub seco; en la subtropical, los subtipos umido y super umido. Cada faja y
zona en la bacia se manifiestan de manera clara de acuerdo a las diferencias en latitud (en el
estado de Sao Paulo donde predominan las latitudes de 21 a 23 grados predominando de tal
modo la faja tropical; En Paraná predomina la faja subtropical, porque está entre las latitudes mas
meridionales que abarcan de 23 a 26 grados.

La descripción de las características de las fajas y las zonas para todo Brasil se presenta en el
libro sobre Geoecología de los Paisajes, publicado en el 2004 por Mateo, da Silva y Cavalcanti .
En líneas generales el subtipo tropical seco corresponde con la vegetación zonal de floresta
estacional semidecidual y el sub seco con la floresta estacional semi decidual y cerrado. El sub
tropical umido corresponde con el cerrado e floresta estacional semidecidual y, en tanto que la
super umida con floresta ombrofila mista.

A nivel de clase y sub clase, se distinguen cinco taxones, estos se determinaron de acuerdo a las
variantes altitudinales de planaltos y de montaña. Los mismos se dividieron en grupos que
correspondieron con especies, ésta distinción es determinada por factores azonales, en particular
las grandes variantes del mega relieve dentro de cada planalto, y el conjunto de las formas de
relieve. Se determinan las siguientes unidades taxonómicas:

• Planalto muito baixo, abarca la parte inferior de la bacia, fundamentalmente en el Tropical


seco. Se dividen en dos grupos/especies el plano aluvial y las colinas baixas e medias
(planalto muito baixo de arenito).
• Planalto Baixo: abarca la parte inferior y media de la bacia con el tipo tropical, sub tipo
semi seco, se divide en tres grupos/especies: a parte media, a parte alta e a parte muito
alta, cada una con tipos de litologías diferentes.
• Planalto Medio, abarca la parte media de la bacia en el sub tropical umido. Se divide en
tres grupos/especies: las cuestas de basalto, las colinas de la depresión periférica, a
colinas do planalto.
• Planalto Alto: abarca la parte superior de la bacia en el subtopical super umido, se divide
en tres grupos/especies: a parte baixa a alta e as vertentes.
• Montanha: las cabezadas de la bacia en el sub tropical súper umido, com un grupo/especie
de los topos de las montanha.

La distinción de estas unidades, y su clasificación taxonómica, responde a las regularidades de la


diferenciación físico geográfica de la bacia. La bacia esta enclavada en un macizo montañoso
que puede clasificarse como asimétrico, el frente atlántico de la macro vertiente oriental se
levanta de manera abrupta, ya que en solo unos 50-100 kilómetros, se pasa desde el nivel del mar
hasta alrededor de 1500 metros de altitud.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
La vertiente occidental, se extiende por unos 700 – 800 kilómetros, desde unos 200 a unos 1000
metros de altitud. En la literatura brasilera el Planalto, corresponde con la definición internacional
de llanuras altas, diseccionadas, con una clara ,manifestación de la zonalidad latitudinal y la
sectorialidad, y un comienzo de la manifestación de la zonalidad altitudinal, al constituir realmente
unidades de transición entre las planicies y las montañas. En realidad, a partir del topo de las
montañas se distinguen cuatro niveles de planaltos: el alto (más de 800 metros de altura), el
medio (de 600 a 800 metros), el baixo (de 400 a 600 metros), y el muito baixo (de 300 a 400
metros). Esos niveles por lo visto coinciden con superficies de planeación que corresponden con
el diferenciado rebajamiento y profundización de la superficie en el transcurso de un largo período
geológico.

En realidad la parte alta de la bacia, formada por los planaltos medio u alto se conforman por
depresiones (llamada de periférica en el estado de Sao Paulo, y de primeiro planalto en el Estado
de Parana) contorneadas por cuestas basálticas (en Sao Paulo) o por chapadas en el Estado de
Paraná. Hasta cierto punto, estas partes superiores del planalto coinciden con los llamados anillos
de alturas pre montañosos de los sistemas montañosos. Esta parte alta de la bacia, esta bastante
influenciada por el papel de la altura sobre el clima, y una determinada diversidad litológica
(arenitos, sialiticos y carbonatados ,basaltos, rocas ígneas y metamórficas).

Los planaltos medios, baixo y muito baixo, se distinguen de acuerdo a la composición litológica
(en arenitos y basaltos principalmente) que es muy homogénea. La diversa influencia de la altura
sobre el clima y la diversa profundidad de la yacencia del nivel freático.(SANTOS , 2006).

La clasificación de los Paisajes de la región de Pontal de Paranapanema:

La clasificación de los Paisajes de la región de Pontal de Paranapanema: siguió los mismos


principios de la clasificación de los paisajes de la bacia como un todo. Sin embargo, en realidad
se procedió a un mayor detallamiento del sistema de unidades taxonómicas al nivel de grupo y se
incluyó el nivel taxonómico de sub grupo. Para el sub grupo se consideraron las agrupaciones de
las meso formas del relieve. En el caso de las especies se colocó, además del suelo y la
vegetación (tal y como se había hecho para la bacia de Paranapanema como un todo), las meso
formas del relieve.
Se distinguieron 5 grandes grupos de paisajes:

• Planície aluvial do planalto muito baixo, divididos em duas espécies


• Vales do planalto muito baixo, divido do vale do rio principal e vales dos afluentes.
• Parte alta do planalto baixo divididos em colinas medias, morretes es espigões e em
colinas amplas (em espigões o em depressões).
• Parte media do planalto baixo, dividas em planicie aluvial, em colinas medias e em colinas
amplas. Estas dividerom se em dependência das características do conjunto de
mesoformas: diferentes posiciones dos espgioes, em depressões. Encostas, e planícies
pré aluviales.
• Parte media do planalto baixo de basalto, na planície aluvial em forma de colinas amplias.

La diferenciación morfológica del relieve, dada por su altitud, el grado de declividad, y la disección
vertical y horizontal, constituyen los principios rectores para la distinción de las unidades de
paisaje al nivel mas inferior. Esas características del relieve determinan el carácter y tipo de
drenaje, las variantes del tipo de suelo, la aptidao y potencial agrícola principalmente, y la
susceptibilidad a los procesos erosivos y la disponibilidad de los acuíferos. Para ello hay que
tener en cuenta que el papel de la litología en la diferenciación de los sub grupos y especies de
paisaje es casi inexistente, solo existe ese papel al nivel de grupos (divididos en arenitos o
basaltos).

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
La situación ambiental de la región de Pontal de Parnapenama:

Tomando como punto de partida el Mapa de Paisajes elaborado para la región de Pontal de
Paranapanema, se ha logrado elabora a nivel de hipótesis los mapas de compatibilidade de uso y
de situación ambiental , a escala 1: 250 000..

Para la elaboración del mapa de compatibilidad de uso se ha partido del siguiente procedimiento:
:
- Se tomó como punto de partida cada unidad de paisaje natural distinguida en el mapa.
- Se calculo para cada unidad la aptidao agrícola, tomado del Zoneamento Ecológico –
Económico de Pontal elaborado por el Governo del Estado de Sao Paulo en noviembre
del 1998.Las 5 categorías establecidas en el mencionado mapa se unificaron en tres
categorías: aptidao alta (básicamente caña), regular (pasto), baixa ( uso natural e
florestamento).
- Para cada unidad se calculó la relación entre el uso y el potencial, cruzando de acuerdo a
la matriz correspondiente el uso con el potencial, obteniéndose tres gradaciones:
compatible (cuando el uso corresponde con el aptidao), incompatible (cuando el uso o el
potencial difieren claramente), muito incompatible (cuando hay una significativa diferencia
entre el aptidao y el uso).

Para la elaboración del mapa de situación ambiental se ha partido del siguiente procedimiento:

- Se tomó como punto de partida cada unidad de paisaje natural distinguida en el mapa.
- Se calculo para cada unidad la susceptibilidad a los procesos erosivos tomado del
Zoneamento Ecológico – Económico de Pontal elaborado por el Governo del Estado de
Sao Paulo en noviembre del 1998. Las 5 categorías establecidas en el mencionado mapa
se unificaron en tres categorías: alta, media y baja.
- Para cada unidad se calculó la situación ambiental, cruzando de acuerdo a la matriz
correspondiente la compatibilidad de uso con la susceptibilidad a los procesos erosivos.
Obteniéndose tres gradaciones: situación ambiental favorable, situación ambiental regular,
situación ambiental crítica.

Estos mapas elaborados, deben considerarse a nivel hipotético, y deberán ser corregidos y
profundizados, con la ulterior elaboración del mapa de estado ambiental de unidades de paisajes
(de acuerdo a la extensión e intensidad de la manifestación de los problemas ambientales por
cada unidad de paisaje), y el cálculo mas detallado y de acuerdo de varios criterios del potencial
de recursos y servicios ambientales de cada unidad de paisaje.

Los resultados obtenidos sobre la compatibilidad de uso y de situación ambiental, pueden servir
de base para una evaluación preliminar de las formas en que han usado los paisajes en la región
de Pontal de Paranapanema.

En relación a la compatibilidad de uso prácticamente el 60 % del territorio de Pontal se encuentra


en una situación incompatible (con potencial bajo, y uso alto). Eso está aconteciendo
prácticamente en todas las colinas amplias y medias de la parte media del planalto baixo. Eso es
en particular crítico para las colinas amplas en los espigues principales (unidade numero 14).Ello
se manifiesta fundamentalmente por el hecho de que unidades que deberían según el potencial o
aptidao de ser usados de forma restrita para lavouras, son usadas para cana con una altísima
intensidad de uso. De acuerda a esa situación la expansión de la cana en la parte central y el
extremo occidental de la región de Pontal no está de acuerdo con su potencial, o sea que es
incompatible con su aptidao.

Se consideran como compatible o medianamente compatible fundamentalmente las areas de


pastagem e de floresta. Ellas corresponden con la parte alta del planalto baixo y con el planalto
de basalto. Se considera que la cana esta bien localizada en dichas unidades ,o sea el extremo
este y el extremo noroeste.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

En relación a la situación ambiental, el panorama es bastante semejante. De nuevo


prácticamente el 60 % del territorio de Pontal se encuentra en una situación ambiental critica. Se
encuentran en una situación ambiental favorable aproximadamente el 20 % del territorio
(unidades 12, 16, 19 y 22). Estas unidades usadas para cana y pasto son poco sensibles a
procesos erosivos, al corresponder con áreas planas o muy poco inclinadas. El 30 % restante esta
en una situación regular. Son áreas de declividad algo acentuada, usadas principalmente por
pasto.

Los resultados obtenidos, lleva a la necesidad de pensar seriamente en la organización espacial


del uso de la tierra en la región de Pontal, ya que los resultados obtenidos muestran de manera
preliminar que predomina un carácter irracional en la asimilación , ocupación y construcción de
los espacios geográficos en la región. Por ello se hace imprescindible en tomar medidas urgentes
para corregir la incompatibilidad de uso, y pensar la forma en que debe de expandirse la cana.

Consideraciones Finales:

Los resultados obtenidos constituyen solo el punto de partida para la aplicación de la concepción
de Planificación de los Paisajes, para su incorporación en los trabajos de Planificación y Gestión
ambiental y territorial de la Bacia de Paranapanema y de la región de Pontal.

Eso es particularmente importante para la región de Pontal, donde es perceptible una inmensa
presión por parte de empresas nacionales y transnacionales para implementar el agro negocio
como un modelo de uso muy intenso de los recursos naturales, en particular de la tierra y del
agua. (CBHPP, 2006).

En este sentido es de subrayar que la región de Pontal, se encuentran en espacios donde los
suelos arenosos, y de textura fina, junto con la marcada declividad, los hacen mas sensibles a los
procesos erosivos. Ello se refuerza por el carácter de salida de estos paisajes en el contexto del
sistema de la bacia como un todo. Ello significa que , la emergencia sistémica, el resultado de la
intensificación del uso en las partes altas y medias de la cuenca, se refleja de manera sistémica
en la salida de la cuenca, que es justamente la posición que ocupa la región de Pontal. En la
entrada de la bacia, el desmatamento, la construcción de hidroeléctricas, la compactación de la
tierra, la perdida de las matas filiares, conducen todos ellos a un aumento del escurrimiento, a una
disminución de la infiltración, y a un inmensa carga de sedimentos sólidos. Todo ello se refleja en
la región de Pontal, que constituye la salida del sistema. Aquí, se intensifica la erosión, el
assoramento, las oscilaciones bruscas del escurrimiento como resultado en gran parte de los
procesos de degradación y transformación que acontecen en la parte media y alta del sistema.

De tal manera, un trabajo dirigido a entender, planear , manejar y gestionar la bacia como un
todo, deberá remitir a verla como una totalidad, a re establecer sus funciones, su estabilidad, y
tratar de conciliar el uso con el potencial. Esa es una tarea que exige de ingentes esfuerzos
académicos e intelectuales, que pueden ser acometidos con ayuda de la realización de
investigaciones futuras dirigidas a cumplimentar todas las fases de la Planificación del Paisaje.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Gestão dos Recursos Hídricos

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O RIO LONGÁ E OS TERRITÓRIOS: COCAIS E CARNAUBAIS COMO FORMA DE


USO ECONÔMICO.

Accyolli Rodrigues Pinto de Sousa


Mestrando do PRODEMA/UFPI e- mail: accyolli.p@hotmail.com

Dr. José Luis Lopes Araújo


Profº do departamento de Geografia e História- UFPI e- mail: jlla@ufpi.edu.br

Roberta Celestino Ferreira


Mestranda do PRODEMA/UFPI e- mail: robertacelestino_the@hotmail.com

RESUMO

A bacia hidrográfica do rio Longá representa nos dias atuais um importante fator para o desenvolvimento do estado do
Piauí. Nessa bacia ocorrem atividades econômicas que ainda são de grande importância para as comunidades que vivem
ao longo da área da bacia que é de 22,900 Km2 . O extrativismo vegetal do babaçu e da carnaúba ainda são praticados
sendo que a extração do pó e da cera continuam a ser um dos principais produtos da pauta de exportação do Piauí nesta
primeira década do século XXI, pois o município de Campo Maior é o maior produtor de pó e cera do Estado sendo
que esse município se encontra localizado no alto curso do rio Longá. Além das tradicionais atividades econômicas
presentes na bacia do Longá desde os primórdios da colonização, neste início de século já se observa a utilização de
técnicas modernas de produção como o uso da irrigação, o que reforça a importância dos recursos hídricos ali presentes,
especialmente o rio principal, que é o Longá. Assim esse estudo desenvolveu-se com o objetivo geral: O presente
trabalho tem como objetivo geral: Analisar os diversos usos da bacia hidrográfica do rio Longá a partir dos territórios de
Cocais e Carnaubais. Objetivos específicos: 1) identificar as atividades econômicas mais expressivas que são
desenvolvidas nesses territórios e 2) caracterizar a atividade turística mais preponderante nessa bacia. A metodologia
caracteriza-se basicamente com uso de material bibliográfico referente ao tema como livros e a utilização da Codevasf
(2006) para uma melhor compreensão a cerca desses territórios aliada as consultas na internet. Sendo que ainda foram
utilizados dois programas de geoprocessamento para a elaboração dos mapas como: carta linx e o arc view

Palavras chaves: Bacia Hidrográfica. Atividades econômicas. Municípios

INTRODUÇÃO

A bacia hidrográfica do rio Longá situa-se na porção norte do estado do Piauí. Esse rio
constitui-se um dos principais afluentes do rio Parnaíba pelo lado do Piauí. A drenagem do rio
Longá é composta por rios e riachos de caráter intermitente, entre os quais se destacam: Matos,
Piracuruca, Surubim e Jenipapo. Uma bacia hidrográfica para se melhor compreendida se faz
necessário um entendimento acerca das suas potencialidades hídricas relacionando com as
atividades econômicas que melhor se adéquam as suas características sociais e naturais, ou seja,
essa compreensão é de grande valia para ações eficazes de empreendedores e principalmente do
poder público. Diante desse contexto, a bacia do rio Longá possui atividades econômicas que foram
organizadas na bacia a partir dos territórios Cocais e dos Carnaubais. Convém salientar que no rio
Longá situa-se a Cachoeira do Urubu um importante ponto turístico do estado localizado entre os
municípios de Esperantina e Batalha. As atividades econômicas que se destacam na área dessa bacia
são: pecuária, agricultura e extrativismo vegetal sendo que há alguns projetos de irrigação nessa
bacia em alguns municípios como: Buriti dos Lopes, Barras e Campo Maior.
O presente trabalho tem como objetivo geral: Analisar os diversos usos da bacia
hodrográfica do rio Longá a partir dos territórios de Cocais e Carnaubais. Objetivos específicos: 1)
identificar as atividades econômicas mais expressivas que são desenvolvidas nesses territórios e 2)
caracterizar a atividade turística mais preponderante nessa bacia. A metodologia caracteriza-se

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
basicamente com uso de material bibliográfico referente ao tema como livros e a utilização da
metodologia da Codevasf (2006) para uma melhor compreensão a cerca desses territórios aliada as
consultas na internet. Sendo que ainda foram utilizados dois programas de geoprocessamento para a
elaboração dos mapas como: carta linx e o arc view

A BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO LONGÁ: CARACTERÍSTICAS

A bacia do rio Longá está localizada na área da bacia hidrográfica do rio Parnaíba formando uma
das grandes sub-bacias do Parnaíba no lado piauiense. A bacia do rio Longá abrange uma área de
22.900km² representando cerca de 6,67% da área da bacia hidrográfica do Parnaíba (LIMA, 2006)
conforme se observa no Mapa 01.

Mapa 01 – Bacias Hidrográficas do Estado do Piauí


Fonte: SEMAR, apud LIMA, 2006.

A bacia do rio Longá localiza-se no baixo curso da bacia hidrográfica do rio Parnaíba e
configura-se como uma importante bacia para a região norte do estado do Piauí, com uma
capacidade hídrica de 5,4 bilhões de metros cúbicos (RIVAS, 1996). É importante salientar que na
classificação vigente do relevo piauiense segundo Lima (1987), a bacia do rio Longá se localiza em
duas feições geomorfológicas: 1- planalto oriental da bacia sedimentar do Piauí/ Maranhão e 2-
baixos planaltos do médio baixo Parnaíba. De acordo com Baptista (1981), a bacia do rio Longá
possui uma declividade de 0,4m e uma extensão de 320 km. O Mapa 02 apresenta a rede de
drenagem dessa bacia.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Mapa 02: Bacia hidrográfica do rio Longá


Fonte: SEMAR apud LIMA, 2006.

É importante ressaltar que na bacia do rio Longá há um predomínio de uma vegetação de


transição, com espécies de cerrado e de caatinga sendo um bom exemplo dessa realidade o
município de Campo Maior onde se localiza o “Complexo de Campo Maior”, no qual, existem as
chamadas ‘playas’ que são terrenos alagadiços formados em razão de possuírem uma camada ‘B’
praticamente impermeável no seu perfil de solo.

ATIVIDADES ECONÔMICAS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO LONGÁ

Ao analisar uma determinada bacia hidrográfica é de suma importância um entendimento


dos tipos de atividades econômicas presentes nesse espaço. Dessa forma para uma melhor
compreensão dessas atividades será tomado como parâmetro a compreensão dos territórios dos
cocais e dos carnaubais de acordo com Codevasf (2006). É importante ressaltar que território dos
cocais compreende os municípios de Barras, Batalha e Esperantina que nessa parte dessa bacia têm-
se as seguintes atividades econômicas: extrativismo vegetal, apicultura, ovinocaprinocultura,
cajucultura sendo que para um melhor uso desses recursos a psicultura deve ser uma tendência de
atividade econômica para essa parte da bacia, pois os municípios citados ocupam o médio curso do
rio. Por exemplo, o município de Batalha apresenta um grande rebanho de caprinos e anualmente
promove o Festival do Bode que já virou uma tradição nesse município. É importante ressaltar que
nesse território ocorrem diferentes formas de extrativismo vegetal como o babaçu e a carnaúba
sendo que a atividade apícola começa a ser desenvolvida no município de Esperantina através de
uma cooperativa sendo que para a Codevasf (2006) esse município já possui uma consolidação
dessa atividade, mas que pode aumentar ainda mais atuação na economia local.
O território dos carnaubais é outra forma de organização sócio-econômica da bacia do rio
Longá sendo que nessa parte da bacia tem- se como atividades preponderantes a extração dos
produtos da carnaúba como pó e cera sendo que também ocorre a criação extensiva de gado. A
extração da carnaúba é uma atividade de respaldo desde o final do século XIX e início do século

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
XX ocorre de uma maneira constante em razão da sua importância econômica para os diversos
sujeitos envolvidos nesse processo. Na primeira metade do século XIX, “a elevação dos preços da
cera de carnaúba no mercado internacional (final da década de 1930 até meados da década de
1940), intensificou as atividades que envolviam a sua produção com consequente forte circulação
monetária naquele estado” (ARAÚJO, 2008, p. 198). É preciso ressaltar que esse período áureo não
conseguiu manter uma estabilidade para todos os envolvidos nesse processo, pois o mercado da cera
era muito dependente do mercado externo continuando ainda cíclico e instável (SOUZA et al.,
2006). É importante destacar que em todos os municípios presentes na bacia do rio Longá há
extração da palha de carnaúba (Tabela 01).

Tabela 01: Produção de pó de carnaúba nos municípios da bacia do rio Longá – 2007

Municípios Produção
Pó (t)
Campo Maior 1.275
Barras 188
Esperantina 160
Batalha 395
Buriti dos Lopes 325
Coivaras 109
Nossa Senhora de Nazaré 133
Boqueirão do Piauí 126
Cabeceiras do Piauí 101
Boa hora 03
São José do Divino 160
Caraúbas 123
Caxingó 213
Murici do Portelas 170
Alto Longá 57
Fonte: IBGE, 2007

É importante ressaltar que o município no município de Campo maior há uma grande


quantidade de pó produzida. Diante desse contexto é preciso que ocorram medidas de conciliação
entre a extração do pó e da cera e o desenvolvimento social e econômico, pois é sabido que os
carnaubais dessa cidade recebem um processo de degradação preocupante. Essa discussão é
interessante, pois segundo o planejamento da Codevasf (2006) o extrativismo da carnaúba tem uma
forte tendência para expansão nessa bacia do rio Longá fazendo assim necessária a implementação
de ações para amenizar os efeitos negativos dessa atividade. É importante ressaltar que ao longo da
bacia do rio Longá existem outras atividades econômicas relacionadas ao extrativismo vegetal como
a extração de madeira e o babaçu dessa forma é preciso um planejamento ambiental para o uso
eficiente desse recurso e a conservação do meio natural nessa parte da bacia do rio Longá. É
importante ressaltar que aliada à extração vegetal também existe a criação de bovinos, suínos,
caprinos e ovinos nesse território. Na Foto 01 mostram-se animais pastando em campos de
pastagem natural, típicos da área no período chuvoso.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Foto 01 Criação extensiva de gado na bacia do rio Longa.


Fonte: Araújo (2008)

Na Foto 01 é possível verificar uma grande variedade de animais que são criados na sua
grande maioria por pequenos e médios proprietários que utilizam esses animais como uma forma de
subsistência e para a comercialização da carne e do couro. Ao analisar a Foto 01 é possível afirmar
que esse tipo de criação acaba por trazer algumas conseqüências para o meio natural em razão do
intenso pisoteamento o que pode trazer em uma compactação do solo. Essa forma de criação já era
feita há muitos séculos atrás, conforme visto nas páginas anteriores. Para Rivas (1996), a pecuária
no seu conjunto é em alguns casos realizada com técnicas rudimentares pela falta de assistência do
governo juntamente pela inexistência de um manejo apropriado para as pastagens. Diante desse
contexto essa atividade possui uma grande área de atuação nessa parte da bacia do rio Longá
fazendo necessária uma melhor organização dessa atividade, pois do pouco uso de manejo do solo e
de tecnologias para o melhoramento da criação. Na Tabela 02 tem-se a distribuição desses rebanhos
pelos os municípios:

Tabela 02: Rebanho de bovinos, caprinos, suínos e ovinos nos municípios da bacia do rio Longá –
2007

Rebanhos
Municípios Bovino Caprino
Suíno (cabeças) Ovino (cabeças)
(cabeças) (cabeças)
Campo Maior 30.629 25.528 33.458 29.480
Barras 18.642 33.841 22.428 7.979
Esperantina 14.528 15.888 18.713 6.521
Batalha 22.731 23.340 33.297 18.760
Buriti dos Lopes 15.275 4.045 2.338 2.015
Coivaras 3.946 3.439 4.838 5.024
Nossa Senhora
de Nazaré 5.024 8.061 4.853 11.233
Boqueirão do
3.671 4.381 3.699 3.535
Piauí
Cabeceiras do
7.917 7.126 13.410 13.410
Piauí
Boa hora 2.045 5.189 2.192 2.192
São José do
8.226 3.344 7.065 6.548
Divino
Caraúbas 9.442 4.212 2.720 2.623
Caxingó 5.985 2.412 2.372 1.991

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
Murici do
5.909 8.146 5.703 1.434
Portelas
Alto Longá 11.737 17.005 22.526 25.194
Fonte: IBGE, 2007

Diante dos dados apresentados é possível afirmar que os municípios que compõem a bacia
do rio Longá possuem uma variedade importante na criação de animais para oferta de carne e de
matéria-prima para a indústria do couro. No município de Campo Maior ainda há um predomínio
na criação de bovinos talvez seja em razão do seu passado que detinha uma grande de quantidade de
cabeças de bois para o mercado interno na época do Brasil Colônia. Assim, a atividade pecuária
ainda tem uma forte função social, pois esses rebanhos tais como: suínos, ovinos e caprinos têm um
caráter de subsistência para as pessoas de baixa renda principalmente nas zonas rurais desses
municípios. Aliada a pecuária os projetos de irrigação configuram-se como um importante
instrumento econômico em alguns municípios ao longo do seu curso como é o caso de Barras no
cultivo de melancia e Alto Longá e Buriti dos Lopes no cultivo do arroz.

ATIVIDADES TURÍSTICAS NO RIO LONGÁ.

Ao abordar sobre o uso do rio Longá na atividade turística é de grande importância ressaltar
o Parque Ecológico Cachoeira do Urubu. Esse parque localiza-se entre os municípios de
Esperantina e Batalha. Essa Unidade de Conservação possui uma área de 7,54ha sendo que a área
do parque ecológico possui uma diversidade de espécies vegetais em razão do caráter ecotonal ali
existente. No período chuvoso devido ao aumento das águas do rio é formada uma bela paisagem
através de um desnível no leito rochoso do rio na área do parque e que segundo Baptista (1981) essa
queda d’água possui uma altura de 13,40m formando um belo espetáculo natural, o qual pode ser
verificado na Foto 02.

Foto 02: Cachoeira do Urubu no rio Longá (Esperantina/Batalha-PI)


Fonte: Araújo (2008)

O desenvolvimento do turismo ecológico, no Parque Ecológico Cachoeira do Urubu, é de


suma importância para as cidades de Esperantina e Batalha e também para o Estado do Piauí, na
medida em que ressalta nos visitantes o interesse pelas questões ambientais, transmitindo uma
consciência ecológica, pautada na gestão racional dos recursos naturais. Dessa forma, a gestão
racional dos recursos naturais requer a conscientização de que os elementos que constituem o
ecossistema devem ser objetos de políticas harmônicas no âmbito de uma visão sistêmica. A
discussão a respeito da atividade turística é de grande valia em razão desse processo ainda ter uma
grande utilidade para um maior desenvolvimento da região que compreende a bacia do Longá, pois
segundo a Codevasf (2006) é necessário que se promovam estudos para se verificar os potenciais
turísticos como forma também de planejamento para essa parte da bacia. Dessa forma, o governo
estadual começa a desenvolver o projeto do ‘Pólo das águas’ que por sua vez abrange vários

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
municípios da bacia do Longá com o objetivo de um melhor uso das águas desse rio para a
promoção do turismo atrelado há um planejamento mais eficaz para que isso ocorra de uma maneira
mais satisfatória. A cachoeira do Urubu é considerada um dos grandes atrativos turísticos do estado
do Piauí, pois a cada ano reúne uma grande quantidade de turistas. Na década de 1990 já se faziam
estudos sobre o seu uso como atrativo turístico. Feitosa (1995, p. 45) enfatizava que os “turistas ao
visitarem o local causavam degradação, como pisoteamento da vegetação rasteira e de outras
espécies, pássaros são sacrificados, das rochas são retiradas amostras sem fins que justifiquem tais
atitudes”. Existem outras conseqüências relacionadas ao turismo praticado na cachoeira do urubu
como, por exemplo: lixo de vários materiais como: vidro, papel e restos de comida, sendo que é
muito comum no período de alta estação alguns turistas acenderem fogueiras para o preparo do
peixe. O certo é que a degradação não ocorre exclusivamente em razão do turismo, mas também
pelo fato da existência de outras atividades antrópicas. Assim, fica evidente uma realidade
preocupante no Parque Ecológico Cachoeira do Urubu, pois são verificadas ações antrópicas como
desmatamento, caça, pesca predatória, fogueiras e entre outras formas que comprometem
principalmente a biota presente nesse espaço. Faz-se necessário, então adotar medidas para reverter
essa situação através da educação ambiental e ainda um melhor planejamento para o turismo nessa
área.

CONCLUSÃO

Diante dos fatos apresentados, a bacia do rio Longá possui várias atividades econômicas,
mas que as mesmas devem ter maiores estudos para que se possa compreender com mais clareza
sobre às suas reais funções para uma melhor organização espacial da bacia hidrográfica do rio
Longá. É preciso ressaltar que o poder público deve realizar estudos para descobrir os potenciais
dessa bacia aliado a implantação do comitê de bacia desse rio para um uso eficaz das águas para o
uso industrial bem como pelas comunidades tradicionais. Esse aspecto é importante, pois faz com
que a bacia seja utilizada de uma forma racional em razão de se adequar as atividades econômicas
com o meio natural e ainda com as populações locais para um fortalecimento do desenvolvimento
sustentável ao longo dessa bacia. Sendo que deve existir uma maior fiscalização dos órgãos
competentes para atenuar os impactos ambientais que existem ao longo dessa bacia, por exemplo, o
corte de carnaubais próximo as margens do rio.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, José Luís Lopes. O rastro da carnaúba no Piauí. Revista mosaico. V. 1, n.2, p198-
205, jul/dez. 2008.
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Companhia de desenvolvimento dos vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF). Plano de
ação para o desenvolvimento integrado da Bacia do Parnaíba- PLANAP. Brasília: TDA, 2006.
CD- ROM
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- PI. Carta Cepro, Teresina. V. 16, p. 32-46, 1995.
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Ibge. gov.br. Acesso em: 30 maio. 2009, 11:30
LIMA, Iracilde Maria de Moura Fé. Elementos naturais da paisagem. In: ARAÚJO, José Luís
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SOUZA, Gildênio Assenço de et al. Os canais de comercialização internacionais da cera de
carnaúba do estado do Piauí. In: GOMES, Jaíra Maria de Alcobaça; SANTOS, Karla Brito dos;

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
MODELAGEM DINÂMICA DE ESCOAMENTO SUPERFICIAL: BACIA
HIDROGRÁFICA DO PONTAL - ESTADO DO PERNAMBUCO

Ailton Feitosa
(1)
.Professor Assistente da Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL) e Doutorando do Programa
de Pós-Graduação em Geografia da UFPE
a.feitosa@bol.com.br

José Alegnoberto Leite Fechine


Doutorando em Geografia no Departamento de Geografia na UFPE
fechini02@yahoo.com.br

RESUMO
O objetivo deste trabalho foi identificar os principais fluxos de escoamento superficial, através de
uma simulação computacional com os dados de precipitação efetiva na bacia hidrográfica do rio
Pajeú no trecho que compreende o município de Serra Talhada/PE, com a finalidade de identificar
as áreas sujeitas aos processos erosivos mais atuantes sobre os solos. Para a determinação do
escoamento superficial foi adotado o Modelo Hidrológico Curve Number – MHCN. Os resultados
obtidos na simulação do escoamento superficial contribuíram na identificação das áreas mais
susceptíveis ao escoamento dinâmico, cujas conseqüências podem ser observadas na erosão efetiva
dos solos a partir da declividade do terreno. Comparando-os com as correspondentes condições de
uso, cobertura da terra e tipos de solos, variando desde uma cobertura muito impermeável (limite
inferior), observada para os solos do GHS “D”, até uma cobertura muito permeável (limite
superior), como se observa para os solos do GHS “A”. No caso dos solos pertencentes ao GHS “B”
e “C”, observou-se que o comportamento do escoamento superficial é muito irregular, pois são
solos mal drenados e rasos, localizados nos Topos e Altas Vertentes do relevo ondulado.
PALAVRAS-CHAVE: Modelagem, SIG, escoamento superficial.

INTRODUÇÃO

A idéia de modelagem vem de um processo empírico, no qual os princípios de uma ou mais


teorias são aplicados para se reproduzir o comportamento de um fenômeno numa escala de tempo
estimada, através de um modelo sob uma ótica de uma determinada realidade (Ross, 1994).
A integração de modelos hidrológicos com sistemas de informação geográfica (SIG) tem sido
discutida, analisada e utilizada por muitos pesquisadores, tais como Ross (1994), Montoya (1999),
Tucci et. al (2000), Paiva et. al (2001), Druck et. al. (2004), entre outros, principalmente ligados as
ciências exatas e ambientais, a exemplo da engenharia, da hidrologia, da meteorologia e da
geomorfologia, cuja tendência é um reflexo da grande capacidade dos SIG de armazenar,
manipular, analisar, recuperar e visualizar informações geográficas.
O presente estudo teve como objetivo principal realizar uma simulação computacional do
escoamento superficial da água no município de Serra Talhada, a partir dos dados de precipitação,
drenagem, relevo e solos para identificar as áreas mais sujeitas aos processos erosivos,
transformando um Sistema de Informações Geográficas em uma representação realista dos
processos espaços-temporais para a área. Através do processo de Modelagem Ambiental é possível
avaliar os riscos de processos erosivos na área estudada, a partir da indicação da declividade e dos
solos mais susceptíveis à erosão, por conta da sua capacidade de retenção da água (Bertoni e
Lombardi Neto, 1993).
Neste estudo, a modelagem do escoamento superficial foi realizada utilizando o modelo
hidrológico Curve Number (CN) (SCS, 1972) para estimar o escoamento superficial da área, com

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
base nos dados de precipitação efetiva e nos valores obtidos para a vazão dentro da bacia do rio
Pajeú no município de Serra Talhada.

ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo está inserida na bacia de drenagem da microrregião do Rio Pajeú na porção
norte do Estado de Pernambuco, com uma área de 2.959 km2, localizada na região conhecida como
Serra Talhada que faz parte do chamado semi-árido pernambucano (Figura 1). O município de
Serra Talhada está inserido na unidade geoambiental da depressão sertaneja, que representa a
paisagem típica do semi-árido nordestino, caracterizada por uma superfície de pediplanação
bastante monótona, onde o relevo predominante é suave-ondulado, cortado por vales estreitos, com
vertentes dissecadas. A cobertura vegetal da área é composta basicamente por caatinga hiperxerófila
(em sua maior parte).

Figura 1 – Mapa de localização da área de estudo, no município de Serra Talhada-PE.

MÉTODO
BASE DE DADOS

Os dados de solos utilizados neste trabalho foram extraídos do mapa de solos do ZAPE
(Zoneamento Agroecológico do Estado de Pernambuco, 2001) na escala 1/100.000 e comparados
com o mapa de solos dos levantamentos da EMBRAPA (2000) para o município de Serra Talhada
(Figuras 2), com a finalidade de estabelecer uma classificação única para suas ocorrências e,
depois, agrupá-los de acordo com suas capacidades de infiltração (Figura 3)

Figura 2 – Mapa de solos do município de Serra Talhada – PE, na escala 1/100.000. RF – Neossolo
Flúvico; - RQ – Neossolo Quartzarênico; C – Cambissolo; T – Luvissolo; PA – Argissolo Amarelo;
PE – Argissolo Vermelho; S – Planossolo; PVA – Argissolos Vermelo-Amarelo; RL – Neossolo
Litólicos; RR – Neossolos Regolítico .

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
Fonte: ZAPE (2001)

Basicamente o município de Serra Talhada é composto por quatro tipos de solos dominantes:
Planossolos, Luvissolos, Argissolos, Neossolos Litólicos. Esses solos, com exceção dos Argissolos,
se apresentam rasos ou com pouca profundidade, sendo encharcados rapidamente durante eventos
pluviométricos intensos. Além disso, no caso dos solos Argilosos, a infiltração da água é
dificultada, se tornando extremamente lenta. Essas duas características dos solos, pouca
profundidade e textura argilosa contribuem para o aumento do escoamento superficial das águas.
Em função dessas características particulares dos solos na área de estudo, foi necessário uma
classificação dos mesmos de acordo com o GHS (Grupo Hidrológico dos Solos) proposto por
Lombardi Neto et al (1991) (Tabela 1).

Tabela: 1 – Classificação dos Grupos Hidrológicos dos Solos e características e capacidade de


infiltração correspondentes.
GHS Características Capacidade de
A Solos arenosos e argilosos, profundos e bem > 3,4 mm h-1
drenados.
B Solos arenosos, com pouca argila e orgânico. 2,5 e 3,4 mm h-1
C Solos mais argilosos que o GHS B, com baixa 1,4 e 2,5 mm h-1
permeabilidade
D Solos com pouca argila, rasos, pouco < 1,4 mm h-1
desenvolvidos e muito impermeáveis.
Fonte: Elaborado com base nos grupos hidrológicos conforme Lombardi Neto et al. (1991).

Na figura 3, têm-se os Planossolos, que são solos mal drenados, de fertilidade natural média
e problemas de sais e foram localizados nos Topos e Altas Vertentes de relevo plano e suave
ondulado; os solos Luvissolos, que são solos rasos a pouco profundos e de fertilidade natural alta,
que foram localizados nos Topos e Altas Vertentes do relevo ondulado; os Argissolos, que são
acentuadamente drenados e de fertilidade natural média, localizados nos relevos planos e nas
baixadas dos vales; e os solos Neossolos Litólicos rasos, pedregosos e de fertilidade natural média,
localizados nas Elevações Residuais.

Figura 3 – Mapa da Classificação dos Grupos Hidrológicos dos Solos para o município de Serra
Talhada – PE, na escala 1/100.000. Fonte: Elaborado com base no ZAPE (2001).

Os dados de precipitações foram obtidos a partir das séries do LAMEPE (2008) e os dados de
vazões associadas a essas precipitações, foram obtidos dos dados das séries históricas hidrográficas

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
da ANA (2007) coletados nos postos pluviográficos e fluviográficos localizados na bacia do rio
Pajeú.

O MODELO HIDROLÓGICO CURVE NUMBER (MHCN)

Na aplicação do MHCN, as características físicas da bacia hidrográfica, tais como o grupo


hidrológico do solo (GHS) (Tabela 1), uso, condição hidrológica do solo e umidade, foram de
fundamental importância, para combinar as características da área de estudo e determinar a Curve
Number mais dinâmica, um parâmetro que representa e estima o escoamento superficial gerado por
uma chuva.
A chuva efetiva foi determinada a partir da equação proposta pelo SCS, cujos resultados
obtidos permitem determinar a precipitação efetiva da área que irá influenciar no escoamento
superficial, considerando-se como único parâmetro, a Curve Number (CN) (SCS, 1972). A equação
abaixo foi utilizada para medir o escoamento superficial (S) definida pelo modelo CN:

equação 1
Onde: Q = o escoamento superficial (em mm); P = a precipitação; S = o potencial de infiltração
máximo após o início do escoamento superficial. O parâmetro S está relacionado ao solo e a
condição de cobertura da bacia de drenagem, através do parâmetro CN, conforme a equação a
seguir:
equação 2
O parâmetro CN depende de três fatores: umidade do solo, tipo de solo e ocupação de solo.
Diante dos dados de precipitação e de solos da área de estudo, foi possível associar a classificação
hidrológica dos solos (Tabela 1) com os valores de CN (Tabela 2), comparando-os com as
correspondentes condições de uso e cobertura da terra, variando desde uma cobertura muito
impermeável (limite inferior da CN), observada para os solos Neossolos Litólicos, até uma
cobertura permeável (limite superior da CN), que é o caso observado para os solos Argissolos. No
caso dos solos Luvissolos e Planossolos, foi constatado que o comportamento do escoamento
superficial é muito irregular, pois são solos mal drenados e rasos (Figura 3).
Para a determinação da lâmina d’água gerada para uma precipitação efetiva na área, foi
utilizado o Método da Curva Number (SCS, 1972). Para a aplicação desse método se faz necessário,
inicialmente conhecimento do GHS dos Solos (Tabela 1), a determinação do valor correspondente
às condições de uso, cobertura da terra e tipos de solos da bacia hidrográfica (Tabela 2) e ao
escoamento superficial para a determinação da Curva Number. A definição do GHS foi feita a partir
do conhecimento dos tipos de solos correspondentes a área de estudo no trecho que compreende a
bacia do rio Pajeú, associado às suas características e à capacidade de infiltração (Figura 3). Com
essa informação, considerando o tipo de cobertura vegetal do local, o tratamento, a condição
hidrológica e o GHS, foram obtidos os valores da Curve Number para três condições específicas,
denominadas: CN-I, CN-II e CN-III. A condição CN-I representa os valores médios
correspondentes ao escoamento superficial para uma precipitação efetiva na condição CN-II, que
representa uma estimativa de valor percentual de 10 % a 100% para a precipitação efetiva ou para a
cobertura vegetal. Na condição CN-III, os valores máximos do escoamento superficial estão
diretamente relacionados com o percentual da cobertura vegetal para os fluxos anuais da
precipitação na condição CN-II (Tabela 3).

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Tabela 2 – Valores médios do parâmetro Curver Number (CN) para bacias hidrográficas rurais
(Tucci, 2000).

Tabela 3 – Condições da chuva e Curve Number para uma perda inicial (Ia) de 0,2S (SCS,
1972) a partir da cobertura do solo.

Fonte: SCS (1972)

A partir dos dados gerados com os valores da Tabela 1 e considerando os tipos de cobertura
dos solos correspondente a área com base na Tabela 2, verificou-se que a média da CN
correspondeu a 77. Esse valor representa um escoamento superficial de 83,25% da precipitação
efetiva na área, que se justifica pela cobertura vegetal e o GHS dos solos da área estudada. Então, a
partir dos valores da Tabela 3, foi feita a interpolação dos valores e foi determinado o valor da
CN na condição I igual a 0,772. Utilizando esses dados e sabendo que a precipitação média
histórica anual na região é de 639 mm (LAMEPE, 2008), foi determinado o potencial de infiltração
máximo (S). Com esses dados foi determinada a lâmina d’água escoada nos limites mínimos e
máximos das CN-I e CN-III para uma chuva efetiva nas condições da CN-II, através da Equação do
Escoamento Superficial, logo:
CNs(área) = CN-II.CN-I = 77 x 0,772 = 59,44

Uma vez feita à identificação da dinâmica dos fluxos do escoamento superficial mínimo e
máximo a partir da CN nas condições da CN-I e CN-III, para cada categoria de cobertura do solo,

40
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
foi necessário proceder com a transformação da chuva em vazão. Para isso, foi utilizado o Método
do Hidrograma Unitário (HU) da GPRH (2000). Ao usar o Método do HU determinou-se um
hidrograma sintético (Figura 4), que representa as estimativas da vazão na área para um período
de chuva efetiva média de 1 hora.

Figura 4 – Hidrograma para uma precipitação efetiva no município de Serra Talhada.

Para definir o HU do GPRH, foi necessário determinar algumas características físicas da


bacia, relacionadas com o intervalo de tempo da precipitação efetiva, o tempo de concentração e a
declividade da área da bacia hidrográfica.
Para simplificar todos os resultados obtidos, foi gerado um fluxograma representando todas as
etapas trabalhadas na modelagem dinâmica do escoamento superficial, para determinar sua
influência na suscetibilidade à erosão dos solos na área estudada (Figura 5). Na primeira parte do
estudo buscou-se conhecer os dados de precipitação do ano de 2008, para então estimar o
escoamento superficial d’água sobre diferentes tipos de solos, levando-se em consideração as
características físicas da bacia hidrográfica (solos, declividade, uso e cobertura da terra). Em
seguida, sabendo-se que parte da precipitação sofre a evaporação e a evapotranspiração, buscou-se
conhecer as características físicas dos solos para então determinar os seus respectivos GHS
(Tabela 1). Com as características físicas da bacia hidrográfica e os parâmetros superficiais
considerados para cada tipo de cobertura da terra na área (Tabela 2), estimou-se o escoamento
superficial e a vazão gerada a partir da precipitação efetiva anual (Equações 1 e 2, Figura 4).
Os resultados obtidos foram transformados em dados e utilizados na geração dos mapas de
declividade e drenagem (Figura 6) com o emprego do software ArcGIS, para então finalizar o
processo da modelagem dinâmica do escoamento superficial com a identificação das áreas dos solos
susceptíveis à diferentes tipos de erosão (Figura 7).

Figura 5 – Fluxograma do modelo da dinâmica do escoamento superficial dos solos de Serra


Talhada, município do semi-árido de Pernambuco.

Para se chegar aos resultados do modelo, foram aplicados o método do MHCN (SCS, 1972) e
o método do HU (GPRH, 2000) para fins de comparações com as características físicas da bacia

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
hidrográfica do rio Pajeú (área, declividade, tipos de solos, cobertura da terra) identificadas no
trecho que compreende o município de Serra Talhada (Figura 3 e 6).
Ajustado a aplicação das metodologias e seus resultados com as respectivas etapas do projeto
foi feita à delimitação das áreas propensas ao escoamento superficial com base nas informações
topográficas plani-altimétricas do Modelo Digital do Terreno (MDT). A partir do MDT foram
retiradas as curvas de nível da área de estudo utilizando recursos específicos do software ArcView.
Como resultado foi gerada a carta de curvas de nível, que serviu como base para a representação da
declividade da área estudada (Figura 6). Esta mesma carta foi utilizada para definir as direções de
fluxo da drenagem na área, permitindo determinar também, os locais onde o escoamento é mais
dinâmico.

Figura 6 - Mapa indicando o potencial da drenagem em solos de Serra Talhada, município do


semi-árido de Pernambuco.

Durante este processo foi possível identificar a ocorrência de diferentes tipos de solos em
uma mesma sub-bacia, o que permitiu uma determinação ponderada do valor da CN para identificar
os seus domínios, que de acordo com o processamento dos dados no computador, foi gerado o mapa
das áreas propensas a maior escoamento superficial (Figura 7). A imagem gerada representa as
maiores altitudes da área e, é nestes locais onde o escoamento superficial é mais atuante
influenciando a susceptibilidade à erosão dos solos. Cabe ainda observar que nas áreas mais
rebaixadas, o escoamento é lento e os solos são mais desenvolvidos e mais profundos.

Figura 7 - Mapa indicando as áreas propensas ao escoamento superficial em solos do município de


Serra Talhada, localizado no semi-árido de Pernambuco.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O método da CN tem sido muito utilizado para o dimensionamento das correlações entre a
drenagem, o escoamento superficial e os tipos de solos. Com esses objetos de referência é possível
fazer uma análise das áreas com solos susceptíveis à erosão. Nesse sentido, o escoamento
superficial das águas da precipitação efetiva anual no município de Serra Talhada-PE tem
contribuído para a erosão, principalmente em função dos grupos de solos predominantes, que em
sua maioria são rasos ou com pouca profundidade e textura argilosa. Essas características
contribuem para o aumento do escoamento superficial das águas, com arraste da fração
granulométrica mais fina do solo, trazendo prejuízo para sua fertilidade.
A partir dos valores obtidos para a CN com os dados das precipitações do ano de 2008 e de
solos nas condições CN-I e CN-III, foi possível identificar as áreas de maior fluxo e recarga d’água,
bem como as mais susceptíveis à erosão, como resultado da influência do escoamento superficial
para uma precipitação efetiva. Essas áreas apresentam um baixo potencial de infiltração e
permanência da umidade do solo. Porém, estão mais susceptíveis ao transporte de sedimentos e, por
extensão, para o empobrecimento e perda dos nutrientes do solo.
Quanto aos resultados obtidos na simulação do escoamento superficial, pode dizer que sua
contribuição está na identificação das áreas mais susceptíveis ao escoamento dinâmico, cujas
conseqüências podem ser observadas na erosão efetiva dos solos a partir da declividade do terreno,
aqui identificados, por extensão, como lento, baixo, médio, moderado, difuso e alto.

REFERÊNCIAS
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ANAIS XI SBSR, Belo Horizonte, Brasil, 05 – 10, abril, 2003, INPE, p. 2427 - 2434.
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236p.
DRUCK, S.; Carvalho, M.S.; Câmara, G.; Monteiro, A.V.M. (eds) "Análise Espacial de Dados
Geográficos". Brasília, EMBRAPA, 2004.
EMBRAPA - Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificação de solos. 2. ed. Rio
de Janeiro, 2006. 306p.
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gestão de pequenas bacias hidrográficas. Porto Alegre: Associação Brasileira de Recursos Hídricos, 2001.
cap 3, p. 33-112.
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technique as an interactive computer model. Computer & Geosciences, vol 21, 8:929-935, 1995.
MONTOYA, M. A. P.; Claros, M. E. A. C.; Medeiros, J. S. de. Identificacion de lãs áreas con riesgo de
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LAMEPE – Laboratório de Meteorologia de Pernambuco. Disponível em: http://www.itep.br/LAMEPE.asp.
Acesso em 14/12/2008.
LOMBARDI NETO, F.; Junior, R. B.; Lepsh, I. G.; Oliveira, J. B.; Bertolini, D.; Galeti, P. A.; Drugowich,
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Campinas, 1991, 39 p.
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Departamento de Geografia - FFLCH-USP, N.9. 1994. pp. 63-74.
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VILLELA, S. M.; MATTOS, A. Hidrologia aplicada. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1975.
ZAPE – Zoneamento Agroecológico do Estado de Pernambuco, 2001.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

APLICAÇÃO DA METODOLOGIA DO DFC NA MICROBACIA DO MUNICÍPIO DE


LUIS GOMES - RN

Alexsandra Bezerra da Rocha – (UERN)


Mestranda em Dinâmica Territorial e Ambiental – UFC. alexsandrarocha2@gmail.com

Paulo César Moura da Silva (UFERSA)


Profº. Dr. em Recursos Naturais, pesquisador do Departamento de Ciências Ambientais - –
paulo.moura@ufersa.edu.br

Ramiro Gustavo Valera Camacho (UERN)


Profº. Adjunto Dr. em Botânica, pesquisador do Departamento de Biologia
ramirogustavo@uern.br

RESUMO
Este trabalho é parte de uma monografia desenvolvida junto ao programa de especialização em
Geografia do Nordeste: Desenvolvimento Regional e Gestão do Território da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte – UERN com o objetivo de apresentar a metodologia desenvolvida
para análise do Diagnóstico Físico Conservacionista – DFC, que teve como finalidade, determinar o
potencial de degradação ambiental existente na área, bem como, a confecção de mapas sínteses da
evolução do uso e ocupação do solo e das áreas com diferentes riscos ambientais, além de mapas
geológico, geomorfologico. Desta forma, o presente estudo se propõe a testar, com algumas
adaptações, o Diagnóstico Físico Conservacionista – DFC na microbacia do Município de Luis
Gomes. A área de estudo situa-se na Messoregião do Alto Apodi e na microrregião da Serra de São
Miguel entre as latitudes 06° 24’ 50’’ sul e a longitude 38° 23’ 19’’ oeste, limitando-se com os
municípios de Coronel João Pessoa, Riacho de Santana, José da Penha, Major Sales e Venha Ver
(RN) e com o Estado da Paraíba, abrangendo uma área de 181 km². A metodologia parte da
definição de sete parâmetros: grau de semelhança entre a cobertura vegetal original e a atual, grau
de proteção fornecido ao solo pela cobertura vegetal atual, declividade média, erosividade da chuva,
potencial erosivo dos solos, densidade da drenagem e o balanço hídrico. A microbacia do município
de Luis Gomes foi subdividida em 4 setores (1, 2, 3 e 4), Os dados coletados e as informações
geradas representam uma importante base de dados necessários às tomadas de decisões para os
programas de extensão rural e/ou projetos que visem à recuperação ambiental da área, cujos
resultados qualitativos são transformados em quantitativos, espacializando as áreas mais degradadas
através do Mapa de Degradação Ambiental por setor.

Palavra Chave: DFC, Bacia Hidrográfica, Degradação e Uso do Solo

INTRODUÇÃO

Os problemas enfrentados quanto a utilização dos recursos hídricos, induziram à concepção


de utilização de bacias hidrográficas em pesquisas ambientais. Inicialmente, a prioridade era o
controle de enchentes, secas, abastecimento público, tanto residencial quanto industrial.
Atualmente, o enfoque é bem mais abrangente, onde todos os elementos que compõem este
ambiente são considerados como inter-relacionados.
Com o crescimento dos estudos envolvendo bacia hidrográfica surgiram novas
metodologias e novos termos: sub bacia, Zoneamento Ambiental, Planejamento Ambiental, Sócio-
Ambiental ou Ecológico-Econômico, DFC e microbacia.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
A criação do Programa Nacional de Microbacia Hidrográfica (PNMH), através da lei
94.074, de 05 de março de 1987, expandiu o uso do termo, que foi definido como sendo uma área
drenada por um curso d’água e seus afluentes, a montante de uma determinada seção transversal,
para a qual convergem as águas que drenam a área considerada (BRASIL, 1987). Portanto, o termo
microbacia esta relacionado com a dimensão para uma determinada área, o tamanho dessa área,
contudo não esta fixado. Mas as pesquisas mostram que a microbacia deve abranger uma área
suficientemente grande, para que se possam identificar as inter-relações existentes entre os diversos
elementos do quadro sócio-ambiental que a caracteriza, e pequena o suficiente para estar compatível
com os recursos disponíveis. Já o termo sub bacia esta relacionado ao número de bacias menores.

CARACTERÍSTICAS DA ÁREA DE ESTUDO

A área em estudo situa-se na Messoregião do Alto Apodi e na microrregião da Serra de São


Miguel limitando-se com os municípios de Coronel João Pessoa, Riacho de Santana, José da Penha,
Major Sales e Venha Ver (RN) e com o Estado da Paraíba, abrangendo uma área de 181 km².
Distando da capital do estado, cerca de 444 Km, sendo seu acesso, a partir de Natal, efetuado
através das rodovias pavimentadas BR 304 e BR 405(Figura 1).
Assim como a maior parte do território do Nordeste do Brasil, a morfologia da região é
resultado da erosão diferencial e da atuação de tipos climáticos sendo predominante o semi – árido.
A área de estudo é sustentada por rochas cristalinas e cristalofilianas dos grupos Serra de São José,
Suíte do Deserto e Complexo Jaguaretama. Já as principais unidades Geomorfológicas da área de
estudo são: Relevos Residuais e Depressão Sertaneja. Estas foram classificadas por Ab’ Saber
(1953, 1969), Andrade (1968), Bigarella e Andrade (1964), Salim, Lima e Mabesoone (1975);
Mabesoone e Castro (1975); Radam (1981) no que se refere a característica e classificação.
A temperatura anual varia de 28° a 30° C. A baixa latitude e o relevo com cotas que
ultrapassam 800m, são os principais agentes influenciadores na distribuição desta temperatura. A
umidade relativa do ar é em média 66%. A precipitação pluviométrica média de 909,4 mm,
possuindo máxima precipitação de 1.731,5 mm e mínima de 192,3 mm (IDEMA, 2001).
Quanto à cobertura vegetal, o Município de Luis Gomes possui floresta Caducifólia –
Vegetação que apresenta espécies e folhas caducas que caem no período mais crítico da seca. Nas
áreas com altitude acima de 600 m apresenta grande porte, e uma considerável devastação, por
queimadas ou derrube de árvores, com graves conseqüências para o ecossistema.
A rede hidrográfica esta representada principalmente pelo Rio Apodi – Mossoró, sendo
banhado apenas por cursos d’água secundários e intermitentes. Os mais importantes são: o Rio
Angicos e os riachos Pintada, Panela, do Saco e dos Oitis. Existem três açudes de médio porte:
Arapuá (4.295.000m3 / público), Luís Gomes (1.286.000m3 / público) e Major Sales (1.316.100m3 /
comunitário).
Os principais tipos de solos / associações pedológicas que ocorrem na área, segundo a
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – (EMBRAPA, 1999), são Argissolos Vermelho
Eutrófico (antes designado como Podzólico Vermelho - Amarelos Eutróficos) e Luvissolos
Crômicos (antes conhecido como solos Bruno não Cálcico). São pouco profundos, com 40 a 60 cm
de solo acima da rocha, relativamente rico em nutrientes e frequentemente apresentam uma camada
de pedras e cascalhos à superfície.
As principais atividades econômicas: agropecuária, extrativismo e comércio. Estas
atividades são importantes fontes de renda para o município de Luis Gomes. Segundo o Censo
agropecuário de 2006 as áreas dos estabelecimentos agropecuários eram de 11.247 hectares, sendo
que a área equivalente das lavouras era de 2.020 hectares, as pastagens naturais 3.240, áreas de
matas e florestas 3.999 (IDEMA, 2001).
As atividades referentes a este trabalho foram desenvolvidas dentro do âmbito dos projetos
Rio Apodi-Mossoró (Petrobrás Ambiental – Integridade Ambiental a Serviço de Todos-2008) e
Zoneamento Ambiental das bacias hidrográficas do RN – (FAPERN-2006-2007).

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
Buscou-se a sistematização do objetivo acima por meio da estruturação dos elementos
físicos, bióticos e socioeconômicos responsáveis pela dinâmica da microbacia do município de Luis
Gomes e da análise do estado ambiental da bacia.

Figura 1: Localização da área de estudo, Fonte: as imagens foram retiradas do site ambiente brasil, com
exceção do Mapa de NDVI do município de Luis Gomes, elaborado pela autora.

OBJETIVO

O objetivo deste trabalho é utilizar a metodologia do Diagnóstico Físico Conservacionista –


DFC a fim de determinar o potencial de degradação ambiental existente na área, através do
cruzamento dos mapas da evolução do uso e ocupação do solo, além de mapas geológicos,
geomorfológicos, hipsográfico e Drenagem.

REFERENCIAL DO DIAGNÓSTICO FÍSICO CONSERVACIONISTA - DFC

A partir da década de 1960 modelos estrangeiros de estudos ambientais são estudados na


intenção de se buscar adaptações destes à situação brasileira. Em 1978 foi estruturado um Comitê
Especial de estudos Integrados de Bacias Hidrográficas – CEEIBH, cuja linha de pesquisa
classificou os cursos d’água da união e a utilização racional dos recursos hídricos, não avaliando os
demais recursos naturais.
No Paraná, o Serviço de Extensão Rural desenvolveu vários projetos no âmbito de bacias e
microbacias, visando principalmente diagnósticos gerais, plano de ação e metas físicas,
cronograma, construção de terraços e recuperação de matas ciliares. As principais propostas tinham
por base: identificação dos problemas críticos (solo, água, florestas, transporte, uso e manejo do
solo, etc.); priorização dos problemas críticos, propostas envolvendo a comunidade, elaboração de
mapas temáticos, implantação e execução do plano proposto.
Esta proposta de DFC também foi objeto de estudo no trabalho realizado por Beltrame
(1994) na bacia do rio do Cedro, Município de Brusque – SC, por Ferreti (1998), na bacia do rio
Marreca - PR, Ferreti (2003), na bacia do rio Tagaçaba - PR, Carvalho (2004), na bacia do rio
Quebra – Perna, Ponta Grossa - PR, dentre outros.
Em Honduras O DFC foi utilizado na bacia Concepcion, abrangendo os municípios de
Lepaterique, Reitoca e Santa Ana. Segundo Beltrame (1994), os resultados foram objetivos
reforçando a viabilidade da metodologia como padrão para futuros planos de manejo de bacias
hidrográficas.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
Da mesma forma, o presente estudo se propõe a testar, com algumas adaptações, o DFC na
nascente do rio Apodi – Mossoró – RN, no Município de Luis Gomes, apoiando-se no
embasamento teórico dos trabalhos citados anteriormente.
O DFC tem como meta, determinar o potencial de degradação ambiental da bacia, a partir de
fatores naturais, como subsídio ao planejamento e manejo dos recursos naturais. Para isso é
necessário indicar os parâmetros potenciais que serão expressos em forma numérica, estabelecendo
o risco de degradação e possibilitando uma análise qualitativa e quantitativa quanto à preservação
desses recursos.

METODOLOGIA GERAL

O desenvolvimento da presente pesquisa consistiu em uma série de atividades de


fundamentação teórica e procedimentos técnicos para a aplicação do DFC na microbacia
hidrográfica do Município de Luis Gomes (Figura 2). Como ferramenta de auxilio utilizou-se o SIG
e o Geoprocessamento, o primeiro servindo sobremaneira no levantamento de campo, e o segundo
no processamento destas informações para estabelecer comparações da paisagem entre dois ou mais
períodos de tempo. Dentro do Geoprocessamento utilizou-se o sensoriamento remoto para indicar
as formas de uso e ocupação do solo e o GPS modelo Garmim 3 plus, referenciado em coordenadas
UTM, datum SAD 69, na freqüência L1 e cartas digitalizadas da Secretária Estadual de Recursos
Hídricos do Estado do Rio Grande do Norte - SERHID.
O Sistema Gerenciador de Informações Geográficas-SGIG5 utilizado foi GvSig 1.1.1. Esse
programa é desenvolvido pela empresa Generalitat Valenciana Conselleria d'Infra estructures e
Transport, é um software livre, disponível no site www.gvsig.gva.es e permite ao usuário
“visualizar, explorar, examinar e analisar dados geograficamente”.
De acordo com os estudos de Beltrame (1994) o DFC pode ser aplicado em qualquer bacia
hidrográfica, desde que sejam feitas as adaptações necessárias, pois cada bacia tem características
peculiares.

MÉTODOS DE TRABALHO

I – Setorização da bacia do Município de Luis Gomes: Constitui - se na digitalização das cartas


temáticas básicas e cálculos da morfometria para definição dos setores da bacia e elaboração da
Carta de setorização da Bacia.

II - Determinação dos parâmetros do DFC: com base nas atividades desenvolvidas na fase anterior,
fotointerpretação e classificação de imagens orbitais, foram determinados os parâmetros da
metodologia para cada setor da bacia.

III – Fórmula descritiva por setor – Aplicação da fórmula para determinar o grau de degradação
ambiental de cada setor da bacia.

IV – Cálculo e avaliação do valor crítico da degradação por setor: aplicação da equação da reta.
Desenvolvido a inter – relação do Mapa de Uso do Solo e o Mapa do Potencial Erosivo do Solo,
para gerar o Mapa de Degradação da área de estudo.

RESULTADOS

5
Sistema para designar o software utilizado, por exemplo: ARC/INFO, MGE (Intergraph), SPRING (INPE), Matias e
Ferreira (apud Matias, 2001).

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
Com base nas informações de solo, clima, geologia, geomorfologia, hidrografia, hipsografia
e formas de uso e ocupação do solo a microbacia do município de Luis Gomes foi dividida em 4
Sub Bacias, denominadas de setores, logo em seguida, cruzou-se essas informações gerando o Mapa
de Degradação. Na Tabela 1 tem-se a setorização (1,2,3 e 4) da microbacia do Município de Luis
Gomes.

Tabela 1: Setorização da Microbacia do Município de Luis Gomes - RN


SETORES HECTARES PORCENTAGEM
SETOR 1 7.394 56%
SETOR 2 3.339 25%
SETOR 3 1.400 11%
SETOR 4 1.118 8%
TOTAL 13.251 100%
Fonte: Elaborada pela Autora, 2008

A partir dos parâmetros determinados (Tabela 2) utilizou-se a fórmula descritiva da equação


da reta, adaptando-se os índices de cada parâmetro para a microbacia do município de Luis Gomes,
neste trabalho optou-se para determinar a degradação levando em consideração apenas quatro
parâmetros, uma vez que os sete parâmetros proposto pelo DFC não foi possível, pois o município
não detém de dados suficientes para o cruzamento das informações, mas os parâmetros selecionados
mostraram-se altamente satisfatórios para determinar o grau de degradação da microbacia. Cada
categoria foi divida em pesos, estes seguiram metodologia de Rocha (1997) adaptada por Kurtz et al
(2001):

Tabela 2: Parâmetros e valores ambientais utilizados no estudo da deterioração ambiental.


Parâmetros
Cob
Drenagem CATEGORIA Solo CARTEGORIA Relevo CATEGORIA Vegetal CATEGORIA
PESO PESO PESO PESO
1 PLANO 1 ARBOREA
D. FUND ARBUSTIVA
1 INEXISTENTE 3 MÉDIA 2 VALE 2 ARBOREA
2 ATÉ DUAS 5 FORTE 3 SUAVE OND 3 ARBUSTIVA
3 ATÉ TRÊS 4 FORT ONDUL 4 ARB RALA
MONTA E
4 ATÉ QUATRO 5 ESC 5 HERBACEA
>5 > QUE QUATRO 6 SOLO ESPOSTO
Fonte: Elaborada pela Autora, 2008

Portanto na equação da reta os parâmetros foram analisados a partir das seguintes categorias
classificadas por Beltrame(1990) :
E (f):, COa + CAb + DMc + E + PEe + DDf
Descrição da fórmula:
E (f): É o estado físico – conservacionista do setor que é proporcional aos parâmetros
COa : grau de semelhança entre a cobertura vegetal original e a atual; a é o índice específico.
CA: proteção da cobertura vegetal atual ao solo; “b” é o índice especifico do parâmetro, que varia
entre 1 (proteção máxima) e 7 (nenhuma proteção).
DM: declividade média, “c” é o índice especifico deste parâmetro, que varia entre 1 ( relevo
plano) e 5 (erosão excessiva).
E : Erosidade da chuva;
PE: potencial erosivo dos solos; “e” é o índice especifico do parâmetro, que varia de 1 (baixo) a 10
(muito alto).
DD: densidade de drenagem; “f” é o índice especifico do parâmetro, que varia de 1 (baixa) a 4
(muito alta).

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
De acordo com as classificações utilizada e/ou elaborada, o valor mínimo possível de ser
obtido na fórmula descritiva é 6 (somatório de todos os índices iguais a 1), o que representa o
melhor estado físico – conservacionista de que o setor poderia apresentar; o valor máximo possível
de se obter na fórmula descritiva para a microbacia do município de Luis Gomes é 22 (somatória de
todos os índices com valores máximos) representando o pior estado físico – conservacionista que o
setor poderia apresentar. Com estes valores mínimo de 6 e máximo de 22, tem-se o ângulo de
inclinação da reta. Geocodificando os valores, obtêm-se os índices de degradação ambiental dos
setores. Portanto após todos os cálculos chegou-se a equação da reta do município:
y = 6,25 - 37,5

Para o processo de geocodificação foi necessário distribuir pontos na área de estudo através
do GPS e em locais de difícil acesso os pontos foram retirados de uma imagem ortoretificada do
ano de 2002 e adequados aleatoriamente de modo a cobrir uniformimente toda a área de estudo,
sendo que cada ponto corresponde a uma área de 3,14Km2 ou 314 ha, equivalente a um raio de 1Km
para cada ponto determinado. Esta representação foi gerada na forma de mapa temático, tendo os
seguintes cenários:
Percebe-se que o setor 1 apresenta todos os valores de degradação ambiental sendo mais
característico o valor 52-67, portanto média degradação ambiental, equivalendo a 6.000 hectares.
No entanto o valor com alta degradação aparece em quatro ponto equivalente a 667 hectares.
A degradação no setor 2 mostra que 1.600 hectares apresentam média fragilidade e 230
hectares apresentam alta degradação. Este é o setor mais explorado da microbacia, todas as
atividades partem deste setor. O grau de degradação nos topos de morros varia entre 67 a 81
O setor 3 mostra média degradação em 4.500 hectares e baixa degradação em 300 hectares,
no setor 3 algumas projetos futuros pode comprometer esta área, como a ampliação do complexo
turístico mirante e a construção de um conjunto de apartamentos.
No setor 4 três pontos foram separados chegando ao resultado de média fragilidade
ambiental em 600 hectares, e degradação entre 50 a 62 esta área passa por intensas queimadas
todos os anos, as encostas da Serra de São José são bastante utilizada para agricultura de
subsistência. A figura 6 espacializa a deterioração ambiental indicando as áreas de maior incidência
de degradação.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 6: Mapa da Setorização da microbacia com o grau de degradação do município esta varia entre 44 menor
degradação e 81 maior valor de degradação aparecendo nos setores 1 e 2.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para a área de estudo, conseguiu-se identificar a problemática ambiental da microbacia,


avaliando o potencial dos recursos. Para isso, cruzou-se algumas informações e após o cruzamento
confeccionou-se o Mapa de Degradação Ambiental do Município, fundamentando a análise para
espacializar as regiões mais problemáticas.
Verifica-se que as áreas a serem mantidas com o mesmo uso são as que apresentam uso
correspondente, ou seja, adequadas às características do ambiente onde se encontram, como por
exemplo, cultivo em áreas de médio e baixo potencial erosivo, em ambientes que não sejam áreas
de proteção permanentes. Na microbacia de Luis Gomes encontram – se em todos os setores.
As áreas que devem ser otimizadas são aquelas que têm baixo potencial erosivo, áreas estas
que já existe algum tipo de ocupação, mata e outras (edificações), havendo a possibilidade de
exploração econômica como pastoreiro (com vegetação nativa) e cultivos nunca dissociados das
práticas conservacionistas recomendadas, além de atividades como visitação pública, turismo rural
e ecológico, obedecendo sempre parâmetros norteadores, como por exemplo, a capacidade
respectiva dos ambientes naturais, a partir da combinação da capacidade material, psicológica e
ecológica. Na microbacia do município a área da nascente do Apodi-Mossoró, a Serra de São José,
a Serra do Croatá, o complexo turístico mirante, a cachoeira do rela e o sítio de fruteiras.
As áreas que devem ser preservada no município são aquelas que apresentam vegetação
nativa em áreas de proteção permanentes – APP’s como nascentes (50m) margens dos cursos

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
d’água, ainda que intermitentes (30m) áreas com declividade acima de 45º, os topos de morros, ao
redor das lagoas e sítios de excepcional beleza ou de valor cientifico e histórico além das reservas
legais (20% das propriedades).

AGRADECIMENTOS

Ao laboratório de Geoprocessamento da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte –


UERN, departamento de biologia, por todo apoio logístico e pela confiança no uso dos
equipamentos, e pela ajuda financeira durante as viagens de campo especialmente ao professor e
amigo Dr. Ramiro Gustavo Valera Camacho e ao professor e amigo Dr. Paulo César Moura da Silva
pelas orientações e discussões durante a realização deste trabalho e do trabalho monográfico.

REFERENCIAS

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

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52
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

AS ENCHENTES NA BHRP - BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DO PEIXE, OS


SISTEMAS ATMOSFÉRICOS E OS EVENTOS CLIMÁTICOS INTENSOS.

Aloysio Rodrigues de Sousa


Doutorando em Geografia – UFC – alorodriguesousa@gamil.com

RESUMO
O texto em epígrafe trata de analisar a ocorrência de enchentes derivadas de precipitações intensas
conjugados com outros fatores de ordem topográficas e antrópicas causando intensos prejuízos à
população das cidades de São João do Rio do Peixe, Sousa e Aparecida localizados na Bacia do rio
do Peixe, no extremo oeste da Paraíba.
Palavras chave: Enchentes; Bacia Hidrográfica; Sistemas atmosféricos; Sertão

INTRODUÇÃO

Compondo a rede hidrográfica do Nordeste, o Rio do Peixe forma uma sub-bacia que integra
a drenagem do Alto curso da Bacia do rio Piranhas-Açu, localizada no extremo noroeste do semi-
árido paraibano, que tem como característica principal ser uma pequena área sedimentar interior e
por isso apresentar solos propícios à agricultura irrigada, incrustados dentro do cristalino que a
rodeia.
A localização da BHRP no Alto Sertão Paraibano inserem-se dentro das latitudes de 06° 20
e 7° 06 S e de 37° 57´ e 38° 46´W de Greenwich, portanto ocupando a parte noroeste do Nordeste
Brasileiro – NEB, que por sua vez se localiza entre os paralelos de 1° S e 18° S e os meridianos 35°
W e 47° W, com uma área aproximada de 1,5 milhões de Km2, sendo mais conhecida como região
problema do ponto de vista climático.
Regionalmente, a bacia do rio do Peixe encontra-se em uma zona deprimida, a Depressão
Sertaneja, que é limitada pelos “ombros de rifts” (os relevos altos da Serra do Padre em Bernardino
Batista) e que se elevam a NW, nas fronteiras com os estados do Rio Grande do Norte e Ceará,
respectivamente. Estas serras apresentam cotas variantes em torno de 700 m, formando os grandes
divisores regionais de bacias hidrográficas.
As serras ao S/SW formam o denominado Patamar Sertanejo, são os “ombros de rifts” da
linha de falha do Lineamento de Patos constituintes da Serra de Santa Catarina, que embasa parte
do alto curso do rio Piranhas, inclusive os divisores com a bacia hidrográfica do Rio Pajeú. Na
altimetria exibida pela imagem SRTM, este patamar apresenta cotas de 300 a 350 m, nas partes
mais baixas elevando-se para 600 a 700 m, quando se vincula a serra de Santa Catarina. (ver mapa
SRTM e perfis longitudinais). É um relevo de intensa dissecação em formas convexas e aguçadas.
Finalmente, formando os leitos e margens dos cursos de água das bacias do Piranhas e do Peixe,
ocorre a chamada Planície Interiorana, unidade de idade atual a subatual, correspondente aos
depósitos aluviais.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Mapa plani-altimétrico da Bacia do Rio do Peixe e adjacências


Fonte: Imagem SRTM disponível em http://srtm.csi.cgiar.org

O relevo da bacia sedimentar do rio do Peixe caracteriza-se por ser uma superfície de
aplainamento com altitude média em torno de 230 m, situado em nível mais baixo do que a área do
embasamento cristalino circundante, rochas que por serem muito mais resistentes, formam
elevações em torno da bacia sedimentar formando um leque aberto, em um dos lados pelo vale do
rio Piranhas.
Em relação às áreas de exposição dos sedimentos da bacia do rio do Peixe, o relevo
apresenta-se plano com pequenas variações nas diferentes unidades litológicas. Observa-se que os
arenitos apresentam-se em relevos irregulares enquanto os siltitos e argilitos formam um relevo de
aspecto mais suave.
Nessa depressão sedimentar, marcadas por nítidos níveis de erosão, em virtude das suas
características climáticas predominam os processos físicos de intemperismo, provocando ocorrência
de solos rasos, drenagem intermitente e canais fluviais semi-anastomosados ou anastomosados,
controlados pelo arcabouço estrutural de linhas de falhas.
Os processos físicos de intemperismo predominam sobre os processos químicos e biológicos,
provocando a ocorrência de feições idiossincráticas. As diáclases de descompressão que evoluem
para uma rede de diaclasamento ortogonal originam blocos que sob a ação de sua própria massa,
aliada à ação do clima local, provoca uma forma específica de desagregação, em forma de pétala.
É possível se identificar os processos físicos de degradação da rocha, a partir da
fragmentação gradual do corpo rochoso, que sob a ação de agentes intempéricos origina os
sedimentos que através da ação de agentes geomórficos locais, serão depositados nas cotas mais
baixas, originando assim a superfície pediplanada de Sousa; o mesmo processo ocorre na bacia de
Triunfo.
Ao longo do tempo geológico, estes materiais vão sendo gradativamente desagregados,
formando sedimentos cada vez menores que por sua vez serão transportados e depositados nas áreas
mais baixas do relevo, dando origem aos pedimentos.
Uma forma característica dessas áreas são os Inselbergues, termo alemão que significa
literalmente “monte ilha”, que, de acordo com DRESCH (1957) constitui uma forma típica de

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
condições climáticas de savana. As vertentes dos inselbergues sofrem alteração da rocha através de
2 processos de erosão : downwearing e backwearing, ambos resultando em exumação de blocos
graníticos intrudidos que evoluem por etchplanation, que por fim ascendem a superfície durante os
processos de formação do pediplano.
Especificamente na bacia do Rio do Peixe, os solos resultantes do intemperismo que ocorreu
nas rochas sedimentares e nos sedimentos quaternários inconsolidados são os Luvissolos, que, de
acordo com a Classificação de Solos da EMBRAPA (1999), compreendem solos minerais não
hidromórficos, com argila de atividade alta, saturação de bases alta e horizonte B textural ou B
nítico imediatamente abaixo de horizonte A fraco, ou moderado. Esta classe de solo abrange os
solos Bruno Não Cálcicos e os Podzólicos Vermelho-Amarelo Eutróficos (BRANDÃO, 2005).
O processo pedogenético que ocorreu nas rochas das formações Antenor Navarro, Sousa e Rio
Piranhas, compostos por conglomerados, arenitos, siltitos e folhelhos originam os Vertissolos e os
Neossolos (BRANDÃO, 2005 op. cit).
Os Vertissolos são constituídos por material mineral, apresentando horizonte vértico e pequena
variação textural ao longo do perfil. Estes solos apresentam variação de volume com o aumento da
umidade do solo, ocorrendo o fendilhamento nos períodos secos. São solos que se desenvolvem nas
áreas aplainadas e pouco movimentadas da bacia do Rio do Peixe. Esta classe de solos abrange os
Vertissolos e os Vertissolos com fase pedregosa (BRANDÃO, 2005 op.cit).
A BHRP localiza-se em uma área de 3 443 Km2 sendo aí reunidos 18 municípios que são:
Aparecida, Bernardino Batista, Bom Jesus, Cachoeira dos Índios, Cajazeiras, Lastro, Marizópolis,
Poço Dantas, Poço de José de Moura, Santa Cruz, Santarém, Santa Helena, São Francisco, São João
do Rio do Peixe, Sousa, Triunfo, Uiraúna e Vieirópolis.
As nascentes do Rio do Peixe localizam-se na Serra do Padre, município de Bernardino
Batista. Ao longo de seu curso recebe significativas contribuições de onze sub-bacias; sete delas à
margem esquerda: Riacho Poço Dantas, Riacho Morto 2, Riacho das Araras, Riacho da Serra,
Riacho Boi Morto, Riacho do Açude Chupadouro, Riacho Morto 1; as outras quatro à margem
direita: Riacho Condado, Riacho Jussara, Riacho Cacaré, Riacho Zé Dias, desaguando finalmente
na confluência com o Rio Piranhas, município de Aparecida.
A ordem, dos cursos d´água, se constitui numa classificação que reflete o grau de
ramificações ou bifurcação da rede hidrográfica. O Rio do Peixe é um rio de 7ª ordem na
Classificação de STHRALER (1957), com o exutório na confluência com o Rio Piranhas nas
proximidades da cidade de Aparecida. Sua rede de drenagem obedece ao substrato geológico das
falhas de Portalegre e de Malta e do Lineamento de Patos, encaixando- se o traçado dos canais de
drenagens a essas linhas de falhas.
Na classificação bioclimática de Gaussen, a área da bacia do Rio do Peixe apresenta um
clima do tipo semi-árido quente mediano, com 7 a 8 meses secos e uma má distribuição anual da
precipitação, correspondendo às regiões bioclimáticas 4ath e 4bth, tropical quente de seca
acentuada e tropical quente de seca média, respectivamente. Aliado as altas temperaturas e a
elevadas taxas de evapotranspiração a estiagem ocasiona sérios problemas de ordem sócio-
econômica peculiares à região (BRANDÃO, 2006).
O período chuvoso se estende por três ou quatro meses. As precipitações nesta região se
efetuam em torno de 3 a 4 meses, concentrando-se nos meses de dezembro a março, eventualmente
podem chegar a abril e excepcionalmente podem chegar a junho, quando se tratam de anos atípicos.
Sempre de distribuição irregular, as precipitações ocorrem de forma concentrada por vezes com
índices entre 100 e 200 mm em apenas um dia. Essas precipitações provocam o aparecimento de
algo inusitado na região seca dos sertões da Paraíba: as inundações observadas com maior
freqüência nos últimos 10 anos, conforme quadro abaixo.
Nas precipitações dos anos de 1977, 1985, 1996, 2000, 2008, todas superando mais que
1000 mm, ocorreram enchentes e inundações das cidades do Médio e Baixo curso do rio do Peixe.
Entretanto, também se verificou que em 2002, 2004, 2006 as precipitações também foram maiores
que 1000 mm, mas as enchentes alcançaram menor proporção e não acarretaram os transtornos e
perdas materiais de grande volume. Todavia, não é demais reafirmar que não houve nestes últimos

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
30 anos, um índice pluviométrico médio de 1700 mm, e nem tantos desabrigados e perdas maiores
que este ano de 2008.
Os prejuízos à população, como perdas de residências, de plantios e de animais, e aos órgãos
públicos com recolhimentos da população para lugares seguros e perdas de prédios escolares, de
estradas vicinais, além do ônus econômico do socorro aos desabrigados e vitimados pelas
enchentes, se constitui numa calamidade pública de um evento que tem vinculações naturais.
Igualmente, provoca o isolamento de partes e localidades distanciadas das sedes municipais,
dificultando o acesso e transporte de alunos as cidades circunvizinhas, bem como fornecendo as
condições básicas para o aparecimento de doenças vinculadas a água, tais como a dengue, a cólera e
diversos tipos de epidemias provocados por via hídrica.
As enchentes do rio do Peixe são reflexos de anos de precipitações atípicas para a região do
semi-árido paraibano, e presumisse conjugados com as das atividades sobre os solos (má condução
dos tratos culturais, irrigação ineficiente, procedimento agrícolas danosos ao ambiente) e com o
armazenamento d`água pelos açudes, construídos na bacia, (Lagoa do Arroz, Paraíso, Caldeirão e
vários pequenos açudes) que podem ter interferido na elevação do nível freático e ainda da
conjugação do incremento das precipitações pelo fenômenos La Nina e do desmatamento e
ocupação provocados pela ocupação da planície fluvial nas cidades supra citadas.

Figura 01 – Enchente nas cidades de São João do Rio do Peixe, Sousa e Aparecida (30 de março de 2008)

OS SISTEMAS ATMOSFÉRICOS
Para o NEB existem pelo menos 06 (seis) sistemas atmosféricos que interferem nas
condições de tempo, e quando sua ação conjunta ou não podem produzir precipitações na região. Os
principais sistemas atuantes para o NEB são: A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT); as
bandas de nebulosidades associadas as Frentes Frias, os Distúrbios de Leste, os Ciclones na média e
alta troposfera do tipo baixa fria conhecidos como Vórtice Ciclônico de Ar Superior (VCAS), as
Brisas terrestres e marinhas e um mecanismo de escala planetária como a Oscilação 30-60 dias.
(ALVES et al, 2006).
Esses sistemas atuam na região causando ora secas extremas, ora inundações e ainda uma
intensa variabilidade climática anual e mesmo sazonal, podendo em alguns casos se verificar
variabilidades em nível locais, fruto de conjugações de atuações do sistema em grande escala com
eventos de meso escala produzidos em níveis regionais com interferências locais tais como a
altimetria e vegetação.
Na Paraíba, essa variabilidade interanual é tão intensa, que chega a ser observado em alguns
anos poder existir precipitações no litoral superiores a 1500 mm e os Sertões, Curimataú e Agreste

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
apresentarem índices irregulares entre 800 mm decrescendo para o interior da isoeta de 300 mm,
como é o caso de Cabaceiras – PB.
Nas precipitações do NEB a ZCIT é o principal sistema atuante, ocorrendo nos meses de
fevereiro a maio, sendo que a distribuição se faz de forma desigual entre as regiões da faixa
litorânea, do Setor norte do NEB e Centro Oeste e do setor Sul já em transição para o Sudeste.
A ZCIT é a resultante principalmente da confluência entre os alísios de sudeste e alísios de
nordeste, se constituindo de bandas de nuvens circundando a faixa equatorial. O choque entre os
ventos alísios, em baixos níveis, faz com que o ar quente e úmido ascenda e provoque a formação
de nuvens, baixas pressões, altas temperaturas e intensa atividade convectiva e precipitações. Esse
sistema atua de fevereiro a maio, principalmente para os estados do Ceará, oeste do Rio Grande do
Norte e interior da Paraíba e Pernambuco.
Essa atividade convectiva sofre efeitos positivos (negativos) com o deslocamentos da ZCIT,
normalmente localizada aproximadamente entre 14° N em agosto-outubro para 2° a 4° S entre
fevereiro a abril. Esses deslocamentos estão relacionados aos padrões de temperaturas da superfície
do mar (TSM) do Atlântico Norte e Sul, da influência remota das anomalias das TSM`s do Pacífico
e ondas de Leste, denominados de ENOS (El Niño e Oscilação Sul).
Os Vórtices Ciclônicos de Ar Superior – VCAS são sistemas irregulares em termos de
posicionamento, que atuam de novembro a fevereiro, podendo produzir tanto chuvas intensas
quanto estiagens. As chuvas se localizam em bandas de nuvens que estão na sua periferia, enquanto
que o centro inibe e a formação de nuvens causando estiagens, ambos de atuação de meses. Os
VCAS estão relacionados com a circulação geral da atmosfera, com a Alta da Bolívia (AB), com a
posição da ZCAS e a penetração de Frentes Frias do Sul.
As frentes frias são para o NEB, o segundo principal mecanismo de produção de chuvas,
atua no sul e sudeste do Brasil, Minas Gerais e também no sul da Bahia, nos meses de novembro a
fevereiro com máximo em dezembro. Sua atuação é muito limitada por não possuírem o gradiente
térmico que é característico da sul e sudeste do Brasil.
Os Sistemas Frontais e a penetração das Frentes frias no NEB são importantes sistemas
produtores de chuvas, atuando na região sul nos meses de novembro a fevereiro com máximos em
dezembro e decrescendo para o norte (Bahia) e o segundo principal mecanismo, as frentes,
ocorrendo no sul e sudeste do Brasil, Minas Gerais e sul da Bahia.
Os Distúrbios de Leste atuam desde o Rio Grande do Norte até a Bahia, durante interstício
de maio a agosto, têm como principal características serem estes distúrbios existentes tanto no
Atlântico Norte e Atlântico Sul e estão intrinsecamente dependentes da TSM, do cisalhamento dos
ventos e dos efeitos das brisas marítimas e terrestres e da orografia que podem intensificar ou
dissipar seus efeitos.
Essa região também pode apresentar eventos pluviométricos intensos resultantes de
conjugações entre os sistemas atmosféricos Complexos Convectivos de Meso Escala - CCAS e da
Zona de Convergência do Atlântico Sul - ZCAS, que por sua vez já é resultante do posicionamento
dos VCAS e da persistência de frentes frias. Segundo NOBRE (1998), nos anos considerados
chuvosos (secos) no NEB a ZCAS situa-se mais ao norte (sul) de sua posição climatológica, durante
o mês de verão austral (Dezembro, Janeiro e Fevereiro).
Os fenômenos mencionados atuam em sub-regiões do NEB e algumas vezes sofrem
influências do albedo da orografia. Portanto, os sertões onde as áreas são aplainadas e onde a
vegetação é escassa, têm como resultante um decréscimo do balanço de radiação no topo da
atmosfera induzindo a subsidência que inibe a convecção e as precipitações.
A partir do mês de fevereiro é a ZCIT o principal sistema causador de chuvas no NEB,
sendo o mês de fevereiro o inicio do período chuvoso para o setor norte do NEB. As chuvas
intensas ou chuvas máximas têm uma distribuição irregular tanto temporal quanto espacialmente.
BUZZI et al. (1995) afirmaram que eventos de chuvas intensas são favoráveis pelas condições
meteorológicas de meso e grande escala, atuando na intensificação e tempo de duração dos
sistemas.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
EVENTOS ATMOSFÉRICOS INTENSOS NO ALTO E BAIXO SERTÃO PARAIBANO
Eventos atmosféricos intensos ressaltam a importância do aprofundamento na pesquisa da
gênese do tipo climático da BHRP e do setor do Baixo Sertão da Paraíba inseridas dentro de micro
regiões homogêneas de precipitações e que estão conjugadas com as enchentes nas cidades do Alto
Sertão e Baixo Sertão Paraibano representadas aqui pelas cidades de Poço Jose de Moura, Uiraúna,
São João do Rio do Peixe, Sousa e Aparecida para o Alto Sertão e Patos e região circunvizinhas,
para o Baixo sertão Paraibano.
Esses eventos demonstram a difícil tarefa de entender geneticamente os sistemas produtores
de tempo nestas áreas e abrem perspectivas de estudos detalhados sobre o recurso água para as
regiões supracitadas, de modo que as relações no ciclo hidrológico do oeste da Paraíba permitam o
entendimento das enchentes para aquelas áreas.

Os eventos de 30 de março de 2008 e 12 de abril de 2009 ocorridos na BHRP e no


município de Patos são resultantes de conjugações entre a ZCIT e a ocorrência de CCAS, presença
da ZCAS e ainda com variáveis locais como a presença de relevos de altitude na parte norte da
BHRP.
As precipitações de 2008 para o NEB e especificamente para a BHRP situaram-se acima da
média dos últimos 30 anos resultado de conjunções de diversos fatores tais como a incidência de La
Nina, do GRADIENTE positivo para o Atlântico Sul e ainda de CCAS que protagonizaram
precipitações entre 190 a 270 mm na área que compõe os municípios da Bacia do Rio do Peixe.
As imagens abaixo permitem analisar a ocorrência para o dia 30 de março de 2008, em que essas
precipitações fizeram com que o açude Lagoa do Arroz construído a mais de 20 anos viesse a
sangrar pela primeira vez e que o rio do Peixe recebendo os volumes dos seus afluentes a partir do
açude Pilões causasse inundações em São João do Rio do Peixe, Sousa e Aparecida.

Figura 02 – Nefanálise de Imagens do satélite GOES de 30 de março/2008 (Fonte: INPE/CPTEC)

Observa-se que a conjunção de massas de ar onde a presença dos sistemas da ZCIT


conjugada com um CCVC na Alta troposfera, pode-se observar que há o surgimento e mesmo uma
forma ciclônica em que o centro permanece sem nebulosidade, marcando a presença das massas
vinda do Atlântico sul e ainda das massas oriundas da Amazônia. Outra componente local, o relevo

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
da serra do Padre em torno de 800 metros (ver mapa), influiu sobremaneira na formação das chuvas
orográficas que somando-se a essa situação atípica para área contribuiu para que esse evento
tomasse proporções catastróficas.Nesse contexto verificou-se a ocorrência entre 20h00min às
23h:45min de precipitações da ordem de 270mm, com inundações das cidades de São João do Rio
do Peixe, Sousa e Aparecida.
Na imagem abaixo, o quadro registrado no dia 12 de abril de 2008, que resultou em
precipitações de 286 mm praticamente em 5 horas de chuvas intensas e continuas e resultando em
enchente na cidade e desalojando um grande número da população da cidade de Patos no Baixo
sertão da Paraíba.
Na análise dos sistemas conjugados é possível observar a ZCIT e as massas de ar do
Atlântico sul, em contato com as massas da Amazônia exibindo a forma ciclonal, claramente
presente, onde o estado da Bahia situando-se ao centro sem nebulosidade e toda a periferia
sustentado intensa nebulosidade e precipitações.

Figura 03 – Nefanálise de Imagens do satélite GOES do dia 30 de abril/2009 (Fonte: INPE/CPTEC)

Esse quadro de sistemas de massas de ar sofreu a influência das condições locais de altas
temperaturas e evaporação intensa, contribuindo para isto a localização geográfica, além da
incidência da ZCIT entrando em contato com relevo elevado do conjunto da Borborema, nesse caso
servindo de barreira orográfica, provocou precipitações intensas na área da cidade de Patos e
circunvizinhanças.

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60
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
GESTÃO TERRITORIAL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS E SUA IMPORTÂNCIA PARA
A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

Andrea Bezerra Crispim


Mestranda em Geografia (Universidade Estadual do Ceará). crispimab@gmail.com
Marcos José Nogueira de Souza
Prof° Doutor em Geografia Física (Universidade Estadual do Ceará).

RESUMO

A importância dada aos estudos ambientais em bacias hidrográficas nos últimos anos tem sido
acompanhada pela crescente preocupação com a qualidade e a forma de uso dos recursos naturais.
Partindo do entendimento da dinâmica e relacionamento entre os sistemas ambientais integrantes de
uma bacia hidrográfica, pauta-se pela necessidade de propor um planejamento territorial levando
em conta os riscos inerentes à maneira como o uso e ocupação do solo é gerida. É neste contexto,
que o presente artigo tem como principal objetivo ressaltar a importância dos estudos geoambientais
integrados em bacias hidrográficas para o planejamento e gestão do território.

Palavras-Chaves: Gestão Territorial, Bacias Hidrográficas, Análise Geoambiental Integrada.

INTRODUÇÃO

As relações estabelecidas entre sociedade e natureza diante dos novos modos de produção
capitalista, perpassam por uma série de discussões sobre o modo de utilização dos recursos naturais
e seu envolvimento no processo de desenvolvimento socioeconômico.
O desenvolvimento industrial, bem como o intenso processo de urbanização verificado nas últimas
décadas, ocasionou uma série de mudanças paisagísticas intrinsecamente relacionadas à forma de
como se deu a ocupação do espaço geográfico. Nessa perspectiva, tornou-se nítido que a relação
entre sociedade e natureza está calcada antes de tudo, na consideração dos recursos naturais como
fatores de produção e suas implicações na relação sociedade e natureza.
Com o processo de uso e ocupação da terra e o desenvolvimento das atividades
socioeconômicas, foram desencadeadas uma série de problemas, tais como o desmatamento de
áreas verdes, poluição dos mananciais, processos erosivos acelerados, poluição atmosférica
decorrente da intensa emissão de gases poluentes e outros impactos relacionados à falta de
planejamento voltados para a gestão do território e ocasionando, na maioria das vezes, o desgaste
dos componentes físico-ambientais. Esse problema também torna-se presente quando se discute
temas relacionados à sustentabilidade ambiental. O uso e ocupação da terra presumem discussões
muito mais complexas e que vão além da forma pragmática de como o uso do solo é regido. A
crescente demanda pelo uso dos recursos naturais leva a refletir em novas formas de pensar em um
modelo de desenvolvimento que siga os pressupostos do desenvolvimento sustentável. Desta forma
é que nos últimos anos, estudos voltados para as bacias hidrográficas têm sido consideravelmente
enriquecidos devido à enorme demanda pelos recursos hídricos e sua ligação com as atividades
humanas.
A falta de políticas ambientais conservacionistas sem considerar a capacidade de suporte do
ambiente, passa a causar desequilíbrios nos sistemas ambientais. As questões voltadas para a
implementação dessas políticas, torna-se um desafio, principalmente nas áreas onde as populações
socioeconomicamente vulnerabilizadas, ficam dependentes de decisões políticas, que, muitas vezes,
não condizem com a realidade local.
Partindo dessa concepção é que os estudos direcionados a bacias hidrográficas como unidade de
planejamento ambiental, ganham importante papel devido às suas peculiaridades ambientais.
Os recursos hídricos, bem como outros recursos naturais, são desestabilizados devido aos
impactos ambientais negativos decorrentes de práticas indevidas. É nesse contexto que as bacias

61
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
hidrográficas se inserem em um quadro físico-ambiental de extrema importância para as práticas de
manejo ambiental, adequadas à capacidade de suporte própria de cada um dos sistemas ambientais.
Diante do exposto, o presente artigo tem como principal objetivo, ressaltar a importância dos
estudos geoambientais integrados em bacias hidrográficas para o planejamento e gestão do
território.

A ANÁLISE GEOAMBIENTAL INTEGRADA EM BACIAS HIDROGRÁFICAS

As bacias hidrográficas se caracterizam por serem constituídas por um rio principal e seus
afluentes, que transportam água e sedimentos ao longo dos seus canais (ARAÚJO E GUERRA,
2005). Para Cunha (2004) o sistema de drenagem então formado, é considerado um sistema aberto
onde ocorrem entrada e saída de energia.

Sob o ponto de vista do auto-ajuste pode-se deduzir que as bacias hidrográficas


integram uma visão conjunta do comportamento das condições naturais e das
atividades humanas nela desenvolvidas uma vez que, mudanças significativas
em qualquer uma dessas unidades, podem gerar alterações, efeitos e/ou
impactos à jusante e nos fluxos energéticos de saída. (CUNHA, 2004, p.353).

Segundo Botelho (2007) o estado dos elementos que compõem o sistema hidrológico (solo,
água, ar, vegetação, etc.) e os processos a eles relacionados (infiltração, escoamento, erosão,
assoreamento, inundação, contaminação, etc.), viabilizam a possibilidade de avaliar o equilíbrio do
sistema ou ainda a qualidade ambiental nele existente.

A bacia hidrográfica, portanto, pressupõe múltiplas dimensões e expressões


espaciais (bacias de ordem zero, microbacias, sub-bacias) e que não
necessariamente guardam entre si relações de hierarquia. Acredita-se que a
funcionalidade implícita na escolha de uma bacia hidrográfica para a realização
de determinado estudo é o grande beneficio advindo de uma seleção criteriosa.
(BOTELHO, 2007, p.153).

As alterações ambientais verificadas nos recursos hídricos, bem como as ocupações


indevidas ocasionadas pelas atividades, sejam de cunho turístico, ou de ocupações residenciais por
parte da população que habita a região, destaca a necessidade de se pensar em estudos de caráter
integrativo, levando-se em consideração a análise dos componentes geoambientais da bacia
hidrográfica estudada.
Enquanto unidade de gestão e planejamento ambiental, Nascimento (2002) enfatiza a
importância de estudar as bacias hidrográficas sobre a égide sistêmico-holística, permitindo o
estudo de suas paisagens, tornando possível identificar os impactos ambientais ocasionados pelas
ações sócio-ambientais. Estudos sobre erosão, manejo e conservação do solo e da água e
planejamento ambiental são aqueles que mais têm utilizado a bacia hidrográfica como unidade de
análise (BOTELHO E SILVA, 2007, p.155). Desta forma, a importância da bacia hidrográfica
como célula de estudo ambiental, será melhor avaliada quando apoiada na análise integrada dos
sistemas ambientais e no entendimento da relação sociedade-natureza. A análise sistêmica
preconiza o entendimento das interações ambientais existentes em um sistema ambiental, em sua
dinâmica e estrutura, fortalecendo a ligação entre os elementos existentes em um mesmo sistema,
cada um com suas próprias características, mas com interdependência entre os mesmos.
Para tanto, a partir da Teoria Geral dos Sistemas proposta por Bertalanffy (1973), é que os
estudos voltados à análise ambiental ganharam suportes de outras metodologias baseadas no modelo
sistêmico.

62
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
Na abordagem sistêmica, diversas noções realizadas com os atributos e análise
dos sistemas surgem como implicitamente básicas, orientando as formulações
teóricas e a estruturação dos sistemas. (CHRISTOFOLLETTI, 1979, p.29).

Os elementos do ambiente seriam melhor estudados em uma escala temporo-espacial


determinada, possibilitando aprofundar os estudos relacionados à área, e avaliando sua capacidade
de suporte para intervenções humanas.
Considerando que as interferências sociais sobre os sistemas ambientais são fatores
preponderantes para a modificação da paisagem, Bertrand (1972) propõe um esboço de
hierarquização e classificação dessa paisagem, em unidades superiores: zona, domínio e região; e
unidades inferiores: Geossistema, Geofácies, Geótopos.

A principal concepção do geossistema é a conexão da natureza com a


sociedade, pois embora os geossistemas sejam fenômenos naturais, todos os
fatores econômicos e sociais influenciando sua estrutura e particularidades
especiais são levadas em consideração durante sua análise.
(CHRISTOFOLETTI, 1999, p.42).

Essa metodologia passou a desenvolver um trabalho onde predomina o estudo organizado


dos elementos que compõem o geossistema, passando a um significado importante para o
planejamento ambiental e territorial. Para Monteiro (2000) citado por Vitte (2007) os geossistemas
apresentariam uma grandeza espacial que resultaria de sua própria dinâmica ao longo do tempo,
tendendo a ser cada vez mais complexos, na medida em que, ao longo da história, se intensificasse a
ação humana na superfície da terra.
Tricart (1977) analisa os processos morfodinâmicos partindo da uma análise integrada dos
componentes geoambientais.

As contribuições de Tricart (1977) se completam quando este propõe que a


paisagem seja analisada pelo seu comportamento dinâmico, partindo da
identificação das unidades de paisagem que denomina de unidades
ecodinâmicas. (ROSS, 1999, p.46).

A fragilidade dos ambientes naturais, segundo Ross (2006) deve ser avaliada quando se
pretende considerá-la no planejamento territorial e ambiental, tomando-se o conceito de unidades
ecodinâmicas preconizadas por Tricart (1977).
O fato é que as intervenções humanas afetam sobremaneira a estabilidade do ambiente, e
dependendo da forma de como o ambiente é utilizado, a capacidade de suporte da área passa a
sofrer danos às vezes irreversíveis. Na metodologia proposta por Tricart (1977), o grau de
estabilidade e instabilidade do relevo é de suma importância para nortear o uso e ocupação da terra
na elaboração de zoneamentos ecológico-econômicos, que segundo Souza (2009) é necessário
considerar a ecodinâmica da paisagem associada ao uso e ocupação como critério básico para
definição da fragilidade ambiental existente nos diferentes sistemas ambientais.
Os aspectos físico-ambientais que englobam uma bacia hidrográfica passam a ser
caracterizados de formas interdependentes, ou seja, analisando seus componentes geoambientais
sempre de maneira integrada, considerando os aspectos geológicos, geomorfológicos, climáticos,
hidrológicos, pedológicos e a cobertura vegetal de cada sistema ambiental. O estudo das paisagens,
a partir da análise integrada, enfatiza as relações socioambientais que passariam a modificar
gradativamente e com intensidades diferenciadas para cada um dos sistemas ambientais passiveis de
delimitação.

A análise geoambiental é uma concepção integrativa que deriva do estudo


unificado das condições naturais que conduz a uma percepção do meio em que
vive o homem e onde se adaptam os demais seres vivos. (SOUZA, 2005,
p.127).

63
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

O estudo do uso e ocupação da terra a partir da análise geoambiental tem fundamental


importância para avaliar o estado de utilização dos recursos naturais nas bacias hidrográficas e de
que modo a sustentabilidade econômica dos mesmos passa estar comprometida pelo uso
desordenado.
A análise geoambiental dá ênfase ao conhecimento integrado e à delimitação dos espaços
territoriais modificados ou não pelos fatores econômicos e sociais (SOUZA, 2009). Segundo o
autor, os sistemas ambientais de uma bacia hidrográfica devem ser identificados e hierarquizados
conforme a inter-relação dos seus componentes, dimensões, características de origem e evolução.
Assim, a problemática ambiental passa a ser entendida não de forma fragmentada, em que
normalmente as informações são levantadas a respeito do meio natural ou apenas do meio
socioeconômico (PINTO, 2007, p.94).

A GESTÃO DO TERRITÓRIO COMO INSTRUMENTO À SUSTENTABILIDADE

A ordenação do território é uma expressão das políticas econômicas, sociais, culturais e


ecológicas da sociedade, cujo objetivo é o desenvolvimento equilibrado entre políticas voltadas ao
desenvolvimento socioeconômico e a preservação dos componentes físico-ambientais do espaço
(CHÁVEZ, 2008, p.56).

Conforme as finalidades e de acordo com a sua implementação, o ordenamento


territorial deve constituir um instrumento de planejamento que coleta, organiza
dados e informações sobre o território, propondo alternativas de preservação
e/ou recuperação da biodiversidade e a manutenção da qualidade ambiental
(SOUZA, 2006, p.12).

A principal finalidade de estudos voltados à gestão do território, do ponto de vista teórico-


metodológico, tem sido o estudo baseado em abordagens de caráter sistêmico-holístico. Souza
(2006) baseia o estudo territorial em três níveis de abordagem, conforme o Quadro 01.

Quadro 01: Níveis de abordagens para gestão territorial.


Analítica Decorre da identificação e caracterização dos componentes
geoambientais e socioeconômicos.
Sintética Visa à caracterização dos arranjos espaciais dos sistemas ambientais
produtivos.
Dialética Análise das potencialidades e limitações de uso de cada sistema
ambiental e os problemas que se afiguram em função do uso da terra.
Fonte: Souza (2006).

A própria concepção de gestão territorial, parte do pressuposto de estudos realizados tanto a


níveis socioeconômicos, quanto relacionados ao uso dos recursos naturais de forma a compatibilizar
desenvolvimento econômico e sustentabilidade ambiental. O desenvolvimento de políticas
ambientais remonta a uma série de indagações sobre o uso da legislação ambiental e urbanística e
suas aplicabilidades.
O gerenciamento de políticas públicas voltadas à gestão territorial tem se configurado diante
de um quadro onde as decisões, na maioria das vezes, não condizem com a realidade da população
local e nem são seguidos do estudo e análise das potencialidades e limitações dos sistemas
ambientais configurados em uma bacia hidrográfica. Seu caráter integrador compõe um quadro de
extrema importância no disciplinamento do uso do solo.

64
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
Partindo dessas indagações, o estudo dos componentes geoambientais torna-se um mecanismo
eficaz para o conhecimento do território no que condiz com os fatores estruturantes da capacidade
de suporte dos sistemas ambientais, definindo as vulnerabilidades ambientais de cada sistema
ambiental (SOUZA, 2006, p.124).
Esses estudos alinhados ao Sistema de Informações Geográficas (SIG) colocam alternativas
concretas no gerenciamento de atividades relacionadas à gestão do território.
A utlização do SIG permite empregar uma cartografia sobre o território de grande qualidade
podendo ser integrada posteriormente a estudos regionais e nacionais, e possibilitar sua atualização
e compilamento de informações sobre o uso do solo (CHÁVEZ, 2008).
Para Christofoletti (1999) os estudos dos padrões e fluxos espaciais, exibem as diferenças espaciais
em diversas dimensões podendo ser mostradas por representações estatísticas ou por resultados
gerados pelos SIG’s.

As perspectivas de análise espacial são importantes para as aplicações nos


estudos ambientais e socioeconômicos porque a distância entre os locais e os
eventos sempre é fator relevante para determinar as interações entre eles, de
maneira que as ocorrências distribuídas espacialmente não são independentes
(CHRISTOFOLETTI, 1999, p.29).

O Quadro 02 traz um esquema metodológico para a utilização do SIG aplicado em estudos voltados
a gestão territorial.
Quadro 02. Esquema metodológico do SIG para gestão territorial.

Fonte: Adaptado de Christofoletti (1999).

Como parte dos procedimentos técnicos, o uso do sensoriamento remoto para o mapeamento dos
sistemas ambientais e dos diversos tipos de ocupação da bacia hidrográfica em estudo, leva a
informações ambientais que passam a ser armazenadas, manipuladas e processadas, servindo de
subsídios para a tomada de decisões complexas direcionadas à gestão territorial.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao tratar do planejamento territorial, devem ser levados em conta os aspectos físico-ambientais da


bacia hidrográfica, bem como as condições socioeconômicas da população que habita a região.
Como descrito anteriormente, a análise geoambiental e o estudo da capacidade de suporte dos
sistemas ambientais, são peças chaves para se entender como planejar de forma sustentável o
território.

65
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
A bacia hidrográfica é o espaço de planejamento dos recursos hídricos e onde ocorrem as maiores
modificações ambientais devido aos variados usos da terra. A gestão e recuperação dos recursos
hídricos devem ser feitas pelos órgãos responsáveis, implementando políticas públicas concretas e
planos de gerenciamento e monitoramento de bacias hidrográficas. É preciso, entretanto, que a
legislação ambiental, como a própria política nacional dos recursos hídricos, sejam postas em
práticas.
No entanto, as atividades abaixo devem ser seguidas como um dos eixos estruturantes para o
gerenciamento de bacias hidrográficas:

• Monitoramento qualitativo e quantitativo dos recursos hídricos;


• Participação da população local nos comitês de bacias hidrográficas;
• Elaboração de diagnósticos geoambientais integrados para subsidiar os diversos tipos de
usos nas bacias hidrográficas;
• Atualização de dados socioeconômicos e ambientais;
• Operação e manutenção hidráulica dos recursos hídricos;
• Criar Unidades de Conservação seguindo as diretrizes do Sistema Nacional de Unidades de
Unidades de Conservação (SNUC);
• Elaboração e execução do Zoneamento Ecológico-Econômico;
• Maior articulação entre gestores municipais, estaduais e federais para execução de políticas
públicas concretas.

O aumento da consciência ecológica, a participação da sociedade civil organizada, ONG’s e


entidades voltadas para a questão ambiental através de políticas de planejamento e gestão
ambiental, remetem ao planejamento territorial voltado para a sustentabilidade ambiental e a gestão
participativa.

REFERÊNCIAS

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Bertrand Brasil, 2005.
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Ciências da Terra, v.13, p. 1-21. São Paulo, 1969.
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Qualidade Ambiental. In: VITTE, Antonio Carlos & GUERRA, Antonio José Teixeira da org.
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In: GREGORY, K.J. da org. A Natureza da Geografia Física. Ed. Bertrand Brasil, 1992. Rio de
Janeiro.

67
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
POÇOS JORRANTES DO VALE DO RIO GURGUÉIA (PI): CARACTERIZAÇÃO DE UM
ESPAÇO MARCADO PELO DESPERDÍCIO HÍDRICO

Antonio Joaquim da Silva


Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/TROPEN/UFPI
joakim.ufpi@yahoo.com.br

Alex Bruno Ferreira Marques do Nascimento


Bacharel em Administração, pela Universidade Estadual do Piauí - UESPI
alexadministracao@gmail.com

Daniel César Menêses de Carvalho


Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/TROPEN/UFPI
danielcmc@ymail.com

Reurysson Chagas de Sousa Morais


Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/TROPEN/UFPI
reurysson@yahoo.com.br

RESUMO
Este trabalho propõe analisar a dinâmica das águas subterrâneas na região do Vale do Rio Gurguéia
– PI, caracterizado pelo grande desperdício de recursos hídricos, através da má utilização e falta de
administração, contextualizado através dos poços jorrantes Violeta I e II, localizados no município
de Cristino Castro – PI. Considerou-se a inter-relação com a Bacia Hidrográfica do Rio Parnaíba,
sua análise geohidrológica, caracterizando os sistemas de aqüíferos locais, relacionando com o
sistema hidrológico maior ou fechado – como o ciclo hidrológico – contemplando a conservação
dos recursos hídricos e o planejamento ambiental voltados ao vale do Rio Gurguéia. A metodologia
utilizada deu-se através de referencial bibliográfico, além de visita aos poços jorrantes Violeta I e II.
Concluiu-se que a região dos poços, localizados no vale do Rio Gurguéia e em destaque os poços
Violeta I e II necessita ser melhor aproveitada, através do apoio público, em todas as esferas:
federal, estadual e municipal, para a devida conservação dos mesmos e a necessidade de um
estímulo ao Desenvolvimento Sustentável local.

Palavras-Chave: Águas subterrâneas, Ciclo hidrológico, Conservação ambiental, Poços jorrantes.

INTRODUÇÃO

Desde as últimas décadas do século XX, a humanidade defronta-se com uma série de
problemas, que, de certa forma, associam-se à Revolução Industrial, mundialização do capitalismo,
Revolução Verde, urbanização e à grande densidade demográfica, aumentando a carga de uso dos
recursos naturais, que visam atender as necessidades consumistas da sociedade contemporânea.
Consequentemente, os problemas globais mais evidentes relacionam-se à economia, às finanças, às
relações sociais, culturais, religiosas e ambientais.
Nessa perspectiva, este trabalho analisa o processo de uso e gestão dos recursos hídricos,
através da análise de planejamento ambiental voltados à hidrografia, interpolados através de um
estudo de caso dos poços jorrantes Violeta I e II, localizados no município de Cristino Castro – PI.
É exposto o problema do desperdício, a pouca estrutura para o aproveitamento deste recurso natural,
salientando uma maior necessidade de apoio político e da sociedade local.
A metodologia utilizada baseou-se em referências bibliográficas e visita aos poços jorrantes,
caracterizando a dinâmica mundial e local das águas superficiais e subterrâneas, relacionando à

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
Bacia Hidrográfica do Rio Parnaíba, sua análise hidrogeológica, com perspectivas de uma melhor
conservação desse recurso ambiental como forma de desenvolvimento sustentável.

CARACTERIZAÇÃO HIDROLÓGICA DO PLANETA

Nos últimos anos, as preocupações com o aquecimento global tomaram grande impulso,
através dos meios de comunicação, das Ong’s, da comunidade científica, entre outros. Porém, há
um problema que ganha cada vez mais a atenção dos mesmos atores citados acima e, que em épocas
diferentes da história da formação social do homem foi o centro de conflitos e guerras: a água. A
mesma está intrinsecamente contida na história de evolução da Terra, na origem e evolução das
espécies, como fonte essencial para a vida.
Segundo Rebouças (2002) ao longo da história geológica da Terra, as erupções vulcânicas,
associadas à tectônica de placas lançaram na sua atmosfera grandes quantidades de oxigênio,
hidrogênio e gases tais como dióxido de carbono, nitrogênio, dióxido de enxofre e monóxido de
carbono. Portanto, é a água que mantém a vida no planeta, através da fotossíntese, que produz
biomassa através da reação entre CO2 e H2 O, além de evidenciar no contexto biológico que 80 %
do corpo humano é composto por água (KARMANN, 2003).
Rebouças (2002, p.4) acrescenta que essa parte líquida da Terra concentra o maior
percentual, pois:
Da mesma perspectiva cósmica, a água existente na Terra forma também uma
esfera, a assim chamada hidrosfera. A água é de longe a substancia mais abundante
da Terra, cobrindo cerca de 77% da sua superfície, assim distribuído: 361,5
milhões km² de oceanos e mares, 17,5 milhões km² de calhas de rios e pântanos,
16,3 milhões km² de calotas polares e geleiras, e 2,1 milhões de lagos (...)
(REBOUÇAS, 2002, p.4)

Conti e Furlan (2005) descrevem o papel dos oceanos no clima como muito importante, com
71% de massa líquida cobrindo a superfície do Planeta. No hemisfério sul, 81% da superfície é
coberta por água; no hemisfério norte, essa porcentagem cai para 51%. A variável porcentagem
hídrica distribuída nos estados sólido, líquido e gasoso é também comentada por Silveira (2001),
pois a circulação da água na superfície terrestre e na atmosfera sistematiza o ciclo hidrológico.

Tabela 01: Áreas, volumes totais e relativos de água dos principais reservatórios da Terra
ÁREA VOLUME % DO VOLUME % DE VOLUME DE
RESERVATÓRIO
(10³ KM²) (106 KM³) TOTAL ÁGUA DOCE
OCEANOS 361.300 1.338 97,50 -
SUBSOLO 134.800 23,40 1,70 -
ÁGUA DOCE - 10,53 0,76 29,90
UMIDADE DO SOLO - 0,016 0,001 0,08
CALOTAS POLARES 16.227 24,10 1,74 68,90
ANTÁRTICA 13.980 21,60 1,56 61,70
GROENLÂNDIA 1,802 2,30 0,17 6,68
ÁRTICO 226 0,084 0,006 0,24
GELEIRAS 224 0,041 0,003 0,12
SOLOS GELADOS 21.000 0,300 0,022 0,86
LAGOS 2.059 0,176 0,013 0,26
ÁGUA DOCE 1.236 0,091 0,007 -
ÁGUA SALGADA 822 0,085 0,006 -
PÂNTANOS 2.683 0,011 0,0008 0,03
CALHA DOS RIOS 14.880 0,002 0,0002 0,006
BIOMASSA - 0,001 0,0001 0,003
VAPOR ATMOSFÉRICO - 0,013 0,001 0,04
TOTAIS 1.386 100 -
ÁGUA DOCE 35,00 2,53 100
Fonte: IHP/UNESCO, 1998

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Na tabela 01, são caracterizados os volumes totais e relativos de água dos principais
reservatórios da Terra. A análise confere que a distribuição das águas, de um total de 1.386 milhões
km³ é: 97,5% água salgada; 2,53% água doce; 68,90% estão nas calotas polares e geleiras; 29,90%
água subterrânea doce; 0,3% de água doce nos rios e lagos; e 0,9% outros reservatórios.
De acordo com Rebouças (2002), as águas da Terra encontram-se em permanente
movimento, caracterizando o ciclo hidrológico. Efetivamente desde os primórdios dos tempos
geológicos, a água em forma líquida ou sólida que é transformada em vapor pela energia solar
atinge a superfície terrestre e a transpiração dos organismos vivos, subindo à atmosfera, resfriando-
se, originando as nuvens.
Temos no ciclo a precipitação meteórica – condensação de gotículas a partir do vapor de
água presente na atmosfera, originando a chuva, associando-se à evapotranspiração (KARMANN,
2003). Há, portanto, três variáveis regionais que caracterizam a gênese local das águas: as
precipitações, o escoamento superficial e a recarga dos teores de umidade dos solos (REBOUÇAS,
2002). O mesmo autor também acrescenta que a maior mudança de chuvas no mundo é verificada
nas regiões intertropicais e temperadas.
O sistema terra, água e ar estão intrinsecamente ligados pela influência da insolação; esta é
difundida principalmente por moléculas de ar, vapor d’água e partículas naturais dentro da
atmosfera (AYOADE, 2003). Portanto, a terra e a água apresentam diferentes propriedades
térmicas, e reagem de modo diferente à insolação, com diferenças de temperatura entre ambos,
influindo na continentalidade (AYOADE, 2003) e no clima.
A origem da água na Terra relaciona-se à própria formação da atmosfera, a degaseificação
do Planeta (KARMANN, 2003), fenômeno de liberação de gases por um sólido ou líquido quando
este é aquecido ou resfriado, processo atuante até hoje, que iniciou-se na fase de resfriamento geral
da Terra, após a fase inicial de fusão parcial.
De acordo com o tempo geológico, o ciclo hidrológico divide-se em dois sub-ciclos: o ciclo
“rápido”, que opera em curto prazo, envolvendo a dinâmica externa da Terra (movido pela energia
solar e gravitacional) e o ciclo “lento”, movido pela dinâmica interna (tectônica de placas), onde a
água participa do ciclo das rochas – intemperismo químico (KARMANN, 2003).

DINÂMICA DA ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

Desde os primórdios das civilizações antigas, a água subterrânea é bastante utilizada como
fonte de abastecimento de grandes populações nas zonas áridas e semi-áridas. Durante a Revolução
Industrial, suas demandas aumentaram para o abastecimento das nascentes atividades industriais e
crescimento acelerado dos centros urbanos.
No Brasil, o uso da água subterrânea, sua captação para o abastecimento das populações
vem sendo realizada desde os tempos da colonização, com evidências de “cacimbões”, existentes
em fortes militares, conventos, igrejas e outras construções (REBOUÇAS, 2002). As águas
subterrâneas apresentam uma parcela significativa na Terra, tendo três origens principais: Meteórica
(97% dos estoques de água doce encontradas em estado líquido nas terras emersas), ocorrendo pela
infiltração de uma fração das precipitações; Conatas ou água de formação, pois estão retidas nos
sedimentos desde as épocas de formação dos depósitos; e Juvenil, a água gerada pelos processos
magmáticos da Terra.
Os maiores níveis de conhecimento hidrogeológico no Brasil, são encontrados nas áreas com
densidades demográficas mais elevadas, em especial nos domínios metropolitanos. No Nordeste do
Brasil, os principais trabalhos sobre a hidrogeologia da região foram desenvolvidos pela SUDENE
durante as décadas de 1960-1980, resultando no Inventário Hidrogeológico Básico do Nordeste
(REBOUÇAS, 2002).

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
POTENCIAL HÍDRICO SUBTERRÂNEO NO ESTADO DO PIAUÍ

O Estado do Piauí, com 250.934 km², apresenta na sua base litológica dois grandes grupos
de rochas: as rochas cristalinas e as rochas sedimentares; aproximadamente 83% da superfície do
Estado está no contexto da Bacia Geológica Sedimentar do Parnaíba (REBOUÇAS, 2002). As
rochas cristalinas são impermeáveis fazendo com que as águas das chuvas escoem pelas encostas e
serras, morros e também pelos rios, porém, as rochas sedimentares são permeáveis, permitindo que
a água das chuvas infiltre até grandes profundidades (LIMA, 2006).
O regime hídrico superficial e subterrâneo do Estado é condicionado pelo clima, pois,
Baptista (1975), utilizando a classificação de Köppen, define os climas no Estado em: Tropical –
AW, AW’ (Tropical com chuvas de verão retardadas) e Semi-árido – BSH (Quente, com inverno
seco). As temperaturas médias são superiores a 18° C, com pluviosidade média acima de 600mm,
apresentando apenas duas estações anuais, uma chuvosa e uma seca.
A Bacia do rio Parnaíba situa-se na porção ocidental da região Nordeste do Brasil, estando
75% de sua área no Estado do Piauí, 19% do Maranhão e 6% do Estado do Ceará (IBGE, 1996). As
seções geológicas permitem constatar dois sistemas genéticos de aqüíferos (águas localizadas em
grandes profundidades) de características distintas: o sistema fissural e o sistema intergranular. O
fissural envolve todas as rochas do embasamento cristalino do Cambriano, compondo a faixa norte-
nordeste e sudeste da Bacia Sedimentar do Maranhão-Piauí, com um volume de água de 17.500 km³
(ARAÚJO, 2006), e mais as vulcânicas basálticas datadas em diferentes períodos. O sistema
intergranular reúne sedimentos não consolidados e consolidados, onde o caminho de percolação das
águas subterrâneas é estabelecido de acordo com a permeabilidade e a porosidade.
Geologicamente, distinguem as seguintes unidades que formam os diferentes aqüíferos:
Formação Serra Grande, Pimenteiras, Cabeças, Longá, Poti, Piauí, Pedra-de-Fogo, Motuca,
Sambaíba, Pastos Bons, Cordas, Areado, Urucuía, Santana, Exu e Itapecuru, Grupos Barreiras e
sedimentos recentes (aluviões, coluviões e dunas); em ordem decrescente de potencialidade, têm-se
os principais aqüíferos: Serra Grande, Cabeças, Poti, Piauí, Motuca, Sambaíba, Corda e Itapecuru,
isto em extensão regional. Em âmbito local, os demais aqüíferos satisfazem pequenos projetos
agrícolas, com grande destaque à área aflorante e de melhores condições de exploração, aos
aqüíferos Cabeças, Serra Grande e Poti (IBGE, 1996).
De modo geral, o potencial hídrico subterrâneo para as rochas cristalinas e sedimentares
apresenta-se de muito fraco a fraco. Contudo, abaixo do paralelo 7° nos vales dos rios Parnaíba,
Uruçuí-Preto e Gurguéia (Micro-bacia do Rio Parnaíba) predomina um potencial que vai de fraco a
médio, apresentando áreas de forte a muito forte potencial (as regiões do alto Parnaíba, a área de
Tasso Fragoso, Gilbués e parte de Jerumenha).

A figura 01 caracteriza a Bacia do Rio Gurguéia e suas classificações do potencial hídrico


subterrâneo da região.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 01: Potencial Hídrico Subterrâneo da Bacia do Rio Gurguéia


Fonte: Adaptado do PLANAP, 2006.

A área do Vale do Gurguéia, situa-se em uma faixa de transição de climas tropical AW e


semi-árido BSH. Essas características climáticas influenciam a composição dos solos no Vale do
Rio Gurguéia, pois, segundo Baptista (1975) os principais solos encontrados na região são: Bruno
não-cálcicos, laterítico bruno avermelhado eutrófico, brunizem avermelhados, podzólicos
vermelho-amarelo equivalente eutrófico, areias quartzosas e vertissolos tipo A (solos aluviais
eutróficos e solos hidromórficos indiscriminados).
As influencias climáticas e de solos refletem-se nas vegetações do Vale, encontrando desde
a caatinga arbórea arbustiva ao cerrado campo e cerradão. Segundo Baptista (1975), 82,50% da área
do estado está inserido no Polígono das Secas, abrangendo 208.326 km² da área piauiense. Esses
dados são fatores que permitem caracterizar as políticas de combate à seca (que objetivaram a
construção de poços jorrantes, açudes, etc) orientadas pela SUDENE.
Nosso enfoque principal compreende o vale do rio Gurguéia, caracterizado pelas maiores
condições para captação de água subterrânea na Bacia, com ênfase no sistema intergranular
Cabeças, o mais explorado da região, apesar de sua superfície aflorante reduzida. Segundo
ARAÚJO (2006), as formações Serra Grande, Cabeças e Poti-Piauí, formam uma grande reserva de
água subterrânea, a terceira maior do Brasil, podendo ser utilizado um volume de 10 bilhões de m³
por ano, sem que haja um rebaixamento das águas dos aqüíferos, em um prazo de cinqüenta anos
seguidos.
De acordo com o IBGE (2006), vários poços já foram perfurados, alguns dos quais estão
jorrando centenas de m³/h há mais de trinta anos, esperando que haja bom senso e decisão político-
administrativa para o uso efetivo, tal como ocorre na região do Vale do Gurguéia.
Os poços jorrantes mais conhecidos no Estado encontram-se no município de Cristino
Castro, destacando-se os poços Violeta I e II, perfurados pela Petrobrás, com 1.000 metros de
profundidade, adentrando 250m na formação Serra Grande, como principais entradas de água na
formação Cabeças (PESSOA, 1979 apud IBGE, 2006).

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 02: Localização do Município de Cristino Castro – PI


Fonte: CPRM, 2004.

O grande desperdício hídrico nos poços Violeta I e II é criticado por ARAÚJO (2006),
acrescentando a falta de uso econômico, tornando o poço um símbolo de grande potencial
econômico e também de desperdício. A altura do jorro da água chega a mais de 60 metros e uma
vazão aproximada de 600 m³/h (ARAÚJO, 2006); a vazão dos poços é também discutido por Neto
(2003), admitindo uma vazão de 930.000 litros/h e jorrando mais de 60 metros de altura.

Figura 03: Poços jorrantes Violeta I e II


Fonte: Os autores (2006)

Na proposta de conservação dos recursos ambientais, e nela inserida as águas subterrâneas,


verifica-se a necessidade de planejamento para a utilização do ambiente. O manejo dos recursos
naturais tem sua melhor expressão no conceito de “Produção Sustentada” ou sustentabilidade dos
recursos. A conservação ambiental pode ser traduzida pela maximização das aptidões dos recursos e
pela minimização do impacto produzido. O planejamento ambiental deve adotar um enfoque
ecológico-holístico, no qual o homem integra esse sistema, devendo buscar o uso múltiplo do
território e a reutilização, como forma lógica de maximizar o aproveitamento dos recursos naturais,
como é o caso aqui citado das águas subterrâneas, para satisfazer as necessidades da produção,
lembrando que a sociedade deve ter participação intrínseca no processo.
Portanto, faz-se necessária maior atenção por parte do poder público e da sociedade local
para o grande desperdício de recursos hídricos, verificado nos poços jorrantes Violeta I e II. Há

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
necessidade, pois, da elaboração de projetos para o aproveitamento hídrico local com uso da
irrigação, principalmente para agricultura familiar e incentivos de orientação a pequenos
produtores.
Rebouças (2002) admite a necessidade de uma nova lei sobre águas subterrâneas,
substantiva, com normas gerais sobre o aproveitamento, avaliação, controle, proteção, utilização
racional de direitos e obrigações de seus usuários e não de gerenciamento das águas subterrâneas
que já está disciplinado pela lei 9.433/97 e pelas leis estaduais correspondentes.
A Gestão das Bacias Hidrográficas relacionam-se diretamente à Gestão dos recursos
hídricos no país (CUNHA, 2003). Portanto, vários esforços estão sendo feitos para a organização do
setor através da criação de comitês de bacias, priorizando uma política sustentável para o
desenvolvimento sócio-ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Brasil possui grandes potenciais de águas subterrâneas, seja na forma de umidade do solo,
seja como água que flui no subsolo. As reservas de águas subterrâneas móveis são estimadas em
112.000 km², sendo cerca de 5.000 m³/hab/ano poderiam ser extraídos de forma racional
(REBOUÇAS, 2006).
A globalização, através da sociedade consumista, torna o meio ambiente mais propenso à
explorações, ao uso exagerado dos recursos naturais, desequilibrando assim o ambiente. No Brasil,
a falta de vontade político-administrativa concorre para o agravamento dos grandes problemas da
sociedade, estendendo-se a várias áreas, como: saúde, educação, transportes, moradia,
abastecimento de água, etc.
As águas subterrâneas constituem-se em um dos insumos mais importantes do nosso
Planeta, sendo utilizada de forma inadequada e rapidamente apropriada pelos setores econômicos
dominantes do mercado. O exemplo dos poços jorrantes Violeta I e II no Estado do Piauí revelam a
falta de estrutura e bom senso do poder público para o uso adequado e correto desse recurso,
principalmente pela falta de projetos de aproveitamento, evitando assim o desperdício.
Mesmo com a criação de instituições como Agencia Nacional de Águas (ANA) e Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), voltadas à gestão e manejo da água e problemas
ambientais no Brasil, é necessária maior proteção jurídica e institucional, com a participação local
da sociedade no controle, uso e aproveitamento das águas subterrâneas, principalmente as
localizadas no Vale do Gurguéia, para que se garanta o direito de uso às gerações futuras.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
ESTUÁRIO DO RIO ACARAÚ/CE: ASPECTOS AMBIENTAIS E CONDIÇÕES DE
USO E OCUPAÇÃO

Aurilea Bessa Alves


Mestre em Geografia – UECE, leabessa@yahoo.com.br
Lidriana de Souza Pinheiro
Profª. Drª. Instituto de Ciências do Mar – UFC, lidriana.lgco@gmail.com
Morsyleide de Freitas Rosa
Pesq. Drª. EMBRAPA – Agroindústria Tropical, morsy@cnpat.embrapa.br

RESUMO
O processo de uso e ocupação do solo no Ceará e particularmente na bacia do Acaraú tem
sido realizado ao longo dos anos sem muito controle e planejamento. Na região circundante ao
estuário do rio Acaraú isso se repete, de modo que por vezes as formas de uso do solo e da água são
conflitantes. Este trabalho visa identificar as principais formas de uso e ocupação da região
estuarina do rio Acaraú, apontando suas condições atuais e suas interferências no ambiente. O local
encontra-se nos municípios de Cruz e Acaraú, na porção Norte do Estado. Para tanto a pesquisa
contou com um levantamento detalhado da região estuarina, reconhecimento dos atributos
ambientais e identificação das tipologias de uso. Dessa forma, acredita-se que estes resultados
possam servir como subsídios para o planejamento e a gestão do ambiente, buscando uma maior
eficiência dos usos do território dentro dos princípios da sustentabilidade.
Palavras-chave: rio Acaraú, uso e ocupação, problemas ambientais.

INTRODUÇÃO
Considera-se que o processo de uso e ocupação ocorre mediante a atuação dos agentes
organizadores do espaço, sendo eles os grupos políticos, econômicos e da sociedade em geral, que
passam a construir um determinado espaço local em função de suas práticas cotidianas e das suas
atividades econômicas (ALVES, 2008). A ação desses agentes gera inúmeras
contradições/problemas ambientais em virtude da apropriação inadequada da terra.
Na região estuarina do Acaraú, os principais agentes organizadores do espaço são o Estado,
os empresários industriais e comerciais, os pequenos e grandes proprietários agrícolas, as
comunidades de pescadores, os carcinicultores e a sociedade.
Estes agentes convivem em meio a conflitos e tensões fruto do crescimento de inúmeras
atividades econômicas, com destaque para a agricultura, pesca e carcinicultura. Os primeiros são
atividades realizadas com pouca infra-estrutura e o seguinte possui uma boa organização, inclusive
econômica. O somatório destas ações reflete em problemas ambientais.

METODOLOGIA
Para a realização da pesquisa o levantamento das informações de campo foi fundamental ao
entendimento e análise geral da área do estuário e suas particularidades, possibilitando a
identificação das tipologias de uso.
A classificação das formas de uso e ocupação da região estuarina do rio Acaraú resultou na
identificação dos seguintes tipos: recursos hídricos com ênfase nas formas de uso e problemas
correlatos, além de carcinicultura; ocupação urbana, comercial e industrial; e os agroecossistemas,
que congregam o extrativismo vegetal e agropecuária. As tipologias de uso utilizadas foram
adaptadas do trabalho do IBGE (2006) que realiza uma classificação hierárquica.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

TIPOLOGIAS DE USO E OCUPAÇÃO ADOTADAS

USOS DOS RECURSOS HÍDRICOS


As formas de uso da água em uma bacia hidrográfica podem ser diversificadas segundo
interesses de cada usuário. Diante disso, torna-se necessário que estes usos obedeçam a uma
hierarquização de acordo importância/prioridade de abastecimento. Daí, a relevância da adoção da
bacia hidrográfica como unidade de planejamento e gestão, o que pode resultar na organização dos
tipos consumos.
A dificuldade de planejamento para estes usos múltiplos é recorrente. Cada forma de
utilização da água possui uma demanda de quantidade e qualidade necessária para a sua
sustentação. Na bacia do Acaraú, por exemplo, a atividade agrícola realizada a partir da irrigação,
representa a maior parcela de consumo de água da bacia, cerca de 85% (PLANERH, 2000).
Particularmente, no estuário do rio Acaraú existem alguns locais estratégicos de reserva
hídrica como os açudes Piranhas e Bal que se encontram localizados no limite Norte da zona urbana
de Acaraú, próximo à margem direita do rio.
Estes açudes estão interligados, com caimento da drenagem do açude Piranhas para o açude Bal, e
deste para o rio Acaraú. Os açudes cruzam terrenos tabulares da Formação Barreiras, onde seus
usos principais estão associados ao abastecimento, pequenas irrigações, culturas de subsistência,
lazer e recreação, estes últimos, mais intensamente no açude Bal.
No açude Bal, a recreação da comunidade ocorre sem controle, provocando o acúmulo de
resíduos sólidos como garrafas plásticas e de bebidas alcoólicas, sacos plásticos e outros restos
orgânicos, que são jogados tanto no açude como nas áreas marginais. Vale destacar a existência de
uma significativa plantação de coco nas margens do manancial. Considerando que este tipo de
cultura normalmente necessita de agrotóxicos e fungicidas, o resultado é a possível alteração na
qualidade da água e por conseqüência aos usos.
No açude Piranhas os usos estão mais relacionados às pequenas atividades agrícolas, pesca,
abastecimento local e recreação. Contudo, não existe um disciplinamento dessas atividades. A
ausência de rede de esgotamento sanitário nas proximidades deste açude é também um elemento de
possível contaminação de solos e águas superficiais e subterrâneas. Esta carência de infra-estrutura
de saneamento, é uma das principais dificuldades ressaltadas pela população residente nas margens
do Acaraú, sobretudo no que diz respeito à ausência de rede geral de esgoto, coleta e disposição
adequada de lixo.
O reflexo de ocupações inadequadas dentro de Área de Preservação Permanente (APP) deve
ser destacado, pois correspondem a um dos maiores problemas ambientais percebidos na região.
Pode-se identificar facilmente em alguns trechos do estuário problemas decorrentes do
desmatamento de vegetação que margeia o rio, como a intensificação de processos erosivos, e que
por conseqüência resulta no assoreamento de determinados trechos do canal. Este assoreamento é
percebido a partir da presença de ilhas de pequeno a médio porte, além de bancos de areia que
dificultam a pesca e a navegação. Isso evidencia um grande aporte sedimentar ao longo do canal
estuarino e que diminui a capacidade de vazão do rio. (Figuras 1 e 2).

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Agricultura Exploração
de de
subsistência carnaúba

Figura 1 – Atividades desenvolvidas e formação de Figura 2 – Formação de bancos de areia em à


bancos de areia próximos à ponte de acesso entre montante do porto de Acaraú.
os municípios de Cruz e Acaraú.

Em vários trechos do estuário a comunidade utiliza do local como forma de lazer, isso se
intensifica nos finais de semana, onde as pessoas se reúnem levando consigo para as margens do
rio, bebida alcoólica e alimentos, ou optam pela pesca artesanal e ali permanecem durante várias
horas do dia. Os banhistas disputam o lugar com as demais atividades que são incompatíveis com a
balneabilidade. São exemplos, o comércio pesqueiro de considerável tamanho, a criação de gado e o
lançamento de esgoto da lagoa de estabilização situada também no bairro Mucunã.
Destaca-se ainda, como fator de comprometimento da qualidade dos recursos hídricos, o
lançamento inadequado de efluentes de abate animal. Dois são os locais oficiais de abate, os
matadouros dos municípios de Cruz e de Acaraú. Ambos os matadouros não oferecem nenhum tipo
de tratamento e destinação adequada ao efluente do abate, tampouco às fezes e chifres dos animais
mortos. A situação é grave, pois esses líquidos são ricos em nutrientes e podem comprometer a
qualidade da água através da infiltração no subsolo, chegando até a alcançar um manancial de
abastecimento.
Outra questão que deve ser ressaltada é a atividade de carcinicultura que ocupa uma área
representativa das margens do estuário, com aproximadamente 50 fazendas de camarão
(SUCUPIRA, 2006). Estimou-se uma área de aproximada de 69,47 km² correspondente aos tanques
de criadouros. A atividade conta com grandes estruturas de tanques e captação de água, juntamente
com canais artificiais para sua distribuição.
Em alguns empreendimentos estes lançamentos ocorrem com pouco controle, podendo
colocar em risco algumas espécies do sistema estuarino, e não apenas o local de instalação do
empreendimento, uma vez que o estuário é um ambiente onde ocorre mistura de água e dispersão de
outras substâncias, provocando danos até difíceis de mensurar em termos de escala temporal e
magnitude.

Ocupação urbana, comercial e industrial


A região estuarina encontra-se com aproximadamente 62.500 habitantes (Tabela 01), sendo
que a zona urbana conta com maior número de residentes, em torno de 32.000, representando
51,2% do total (IBGE, 2000).

(Tabela 01) – distribuição da população no estuário


Local Urbana Rural
Acaraú 24.243 22.318
Cruz 7.830 8.250
total 32.073 30.568

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
No que diz respeito à atividade comercial local percebe-se uma diversificação de atividades
presente, sobretudo, em Acaraú (Tabela 02). O município possui uma variedade de comércios,
predominando os bares e restaurantes, postos de gasolina, pequenos mercados e lojas. O setor é
importante, pois movimenta a economia local a partir da geração de emprego e renda.
Tabela 02: Atividades comerciais em Cruz e Acaraú.
Atacadista Varejista Outras

Acaraú 5 534 2
Cruz 1 283 -
Fonte: Estados, IBGE (2005)

A exploração mineral é amplamente pronunciada nas proximidades da ponte de acesso à


Cruz. Correspondendo a uma importante atividade econômica, especialmente para a população de
baixa renda já que a maior parte da atividade é realiza de maneira quase artesanal. A indústria do
ramo aparece com apenas 02 estabelecimentos nas sedes municipais.
Em período de estiagem “verão” e por meio de técnicas rudimentares os trabalhadores
cavam imensos buracos no solo a fim de encontrar material argiloso, que posteriormente será posto
sob forma de telhas e tijolos nos fornos das pequenas olarias construídas às margens do rio (Figura
3). Esta prática causa dano ao ambiente, pois contribui para a degradação da paisagem,
favorecimento a processos erosivos, além do comprometimento dos microorganismos existentes no
solo ocasionando o empobrecimento deste.

Figura 03 – Olaria artesanal com retirada de argila da planície fluvial

Ainda próximo ao rio, a retirada de sedimentos arenosos da calha é prática comum


principalmente como matéria-prima na construção civil. Estes sedimentos possivelmente
encontram-se depositados nas margens e canal do rio neste trecho por conta da redução da descarga
fluvial à montante do local, em virtude dos constantes barramentos realizados em setores da bacia
do Acaraú.
De acordo com os dados do IPECE (2005), os municípios do estuário possuem apenas 55
indústrias, predominando a atividade de transformação (Tabela 03). Esta atividade se dedica à
transformação de matérias-primas em produtos intermediários ou em produtos finais.

Tabela 03 – Atividades industriais segundo tipo


Extração Construção Transformação
mineral civil
Acaraú 02 02 29
Cruz 00 01 21
Fonte: IPECE (2005)

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
São exemplos empresas deste ramo como as de produtos de minerais não metálicos,
metalurgia, material de transportes, madeira, indústria química e de plástico, produtos alimentares,
dentre outras.

AGROECOSSISTEMAS

EXTRATIVISMO VEGETAL
Uma das principais formas de extrativismo vegetal na região estuarina do rio Acaraú é a
exploração de lenha. Esta prática é comum, pois o material é necessário e empregado
principalmente no cotidiano das populações de baixa renda, utilizado na alimentação de fogões a
lenha, e ainda como matéria prima de cercas, obras civis, artesanato e demais usos.
A extração de lenha nos municípios de Cruz e Acaraú quantificam 42.130 m³. Deste total,
aproximadamente 78% corresponde à Acaraú (IPECE, 2005). Comparando com o Ceará, este
número é cerca de 10% de toda a exploração de lenha do estado. Valor alto considerando que o
Ceará possui 184 municípios que também extraem lenha.
Não se pode deixar de mencionar a produção de carvão vegetal, os municípios de Cruz e Acaraú
alcançaram cerca de 36 toneladas produzidas.
Outra forma de extrativismo que merece destaque é a exploração de carnaúba. Na área de
estudo, a planície fluvial se apresenta na transição de Acaraú e Cruz, onde se observa um extenso e
vistoso carnaubal.
Esta abundancia de carnaúbas possibilita a ampla exploração da espécie. Vale destacar que a
atividade é característica do baixo curso da bacia do Acaraú, e fornece emprego e renda para os
moradores locais.
A exploração da árvore é realizada de forma sustentável. Ocorre normalmente na estiagem,
período em que as folhas se encontram mais secas, onde é realizada sua retirada sem que haja
maiores danos à carnaúba. Juntos, os municípios de Cruz e Acaraú produzem cerca de 103
toneladas distribuídas entre fibra e palha de carnaúba (IBGE, 2006).

AGROPECUÁRIA
A produção agrícola no local se restringe praticamente às planícies fluviais e aos tabuleiros.
Nos tabuleiros o cultivo é normalmente permanente e encontram-se as seguintes plantações: banana
(Musa sapientum), coqueiro (Coco nucifer) e manga (Mangifera indica).
Já nas planícies as culturas desenvolvidas são temporárias e constituem-se de batata doce
(Ipomoea batatas), feijão (Phaseolos vulgaris), mandioca (Manihot esculenta), melancia (Citrillus
vulgaris) e milho (Lea mais). Estes tipos de culturas estão sumarizados na tabela 04.
Em virtude das condições pedo-climáticas, a localização destas áreas de cultivo é
normalmente próxima aos recursos hídricos, esta prática acaba por intensificar o problema de
degradação da qualidade da água, uma vez que, grande parte dos produtores se utilizam de
fertilizantes, pesticidas e outros agroquímicos para a melhor produção das culturas.
Tabela 04 – Tipos de culturas e sua produtividade
Cultura permanente Cultura temporária
Banana Coco- da- Manga Batata Feijão Mandioca Melancia Milho
baía doce
Área 124 4.721 46 125 5.710 5.800 761 4.930
Produção (ton) 2.378 21.886 305 757 1.603 38.161 25.442 893
Rendimento 19,18 4,64 6,63 6,06 0,28 6,58 33,43 0,18
médio (Kg/ha)
Fonte: Adaptado de IPECE (2005)

Segundo os dados apresentados, a cultura que possui a maior produção na região estuarina é
a mandioca, seguida pela melancia e o coco-da-baía. No entanto, na relação área plantada e
produção, a melancia é fruto que possui a maior produtividade.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
É relevante destacar a vasta plantação de coco observada em vários setores dos municípios.
Trata-se de uma cultura de fácil manejo e adaptação a condições adversas.
Sobre a atividade pecuarista, esta é realizada no local com pouco desempenho. A criação dos
animais normalmente é feita de forma extensiva (Tabela 05). Tal fato que constitui um problema,
pois a soltura dos animais resulta em disposição de fezes locais diversos, podendo ocasionar o
comprometimento da qualidade da água.
No total, a menor quantidade de cabeças corresponde ao gado eqüino com 2.667 unidades e
o maior número é de bovinos com 15.544 cabeças. No entanto, a criação de aves no estuário
desempenha maior destaque, visto que é de fácil criação e possui um curto período de tempo para o
abate, a população totalizou 164.195 aves.
Tabela 05 – Quantidade de gado existente em Cruz e Acaraú.
Bovinos Suinos Eqüinos Ovinos Caprinos Aves
Acaraú 11.370 7.871 1.846 6.511 1.772 84.639
Cruz 4.174 4.975 821 5.859 1.185 33.172
Fonte: IPECE (2005)

Destaca-se que a criação de ovinos e caprinos é bem menor, devendo ser estimulada. Estes
animais são criados de forma simples, não requerem maiores cuidados e se adaptam às condições
naturais do ambiente. Além de representarem melhor os hábitos culinários e culturais do Nordeste
brasileiro

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A identificação das tipologias de uso possibilitou uma maior análise dos problemas
ambientais correlatos aos tipos de uso. Dessa forma, estes problemas resultantes da ausência de
planejamento territorial serão mencionados a seguir.
A incompatibilidade da balneabilidade com as formas de uso atual é algo que merece
destaque. É comum perceber a população banhando-se nas proximidades do porto, de áreas de
criação de animais e da lagoa de estabilização.
Sobre a questão dos matadouros e seus efluentes e resíduos, deve-se pensar em uma
imediata modificação do atual sistema, pois sabe-se que este tipo de efluente é rico em material
orgânico e que ao alcançar um corpo hídrico pode causar o empobrecimento da qualidade da água,
além de proliferar doenças.
Em virtude da grande exploração mineral clandestina, deve-se haver a atuação efetiva dos
órgãos ambientais competentes para promover a conscientização, fiscalização e punição deste tipo
de atividade.
Com relação à exploração de lenha é necessário cautela em sua retirada pois trata-se de uma
prática degradante e causadora de muitos impactos ambientais, como a erosão, assoreamento e o
empobrecimento do solo entre outros.
A produção agrícola no local se restringe praticamente às planícies fluviais e aos tabuleiros,
em virtude desta proximidade com os cursos d’água existe uma maior possibilidade de
comprometimento da qualidade desses mananciais. Dessa forma o uso de defensivos agrícola,
fungicidas e outros deve ser utilizado com cuidado.
A partir da análise dos resultados por meio do emprego dos procedimentos metodológicos
seguidos na execução deste trabalho, tem-se a compreensão de sua utilidade não somente
acadêmica, mas também na aplicação de ações para o ordenamento do território e planejamento
ambiental e dos recursos hídricos.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

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Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2006.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
CONTEXTO HIDROCLIMATOLÓGICO DA
BACIA DO MÉDIO-BAIXO JAGUARIBE, CE.

Cleuton Almeida Costa


Mestre em Geografia/UECE – Cleutonalmeida@yahoo.com.br

Lidriana de Souza Pineiro


Profª. Dra. da UFC/ Profª. do Mestrado em Geografia da UECE - lidriana.lgco@gmail.com

RESUMO

A situação hídrica do Estado do Ceará reflete as influências de suas condições naturais, em especial
as ligadas a litologia e à irregularidade pluviométrica. No entanto, foi nos ambientes fluviais que se
iniciou a colonização de suas terras, devido as melhores condições de solos e disponibilidade
hídrica. A área em estudo situa-se na porção leste do Ceará, mais precisamente na área de transição
do médio para o baixo curso da Bacia do Jaguaribe. O recorte espacial da bacia de drenagem possui
uma área de aproximadamente 3.556 Km². Nesta pesquisa, busca-se conhecer o comportamento
hidroclimatológico da Bacia do Médio-Baixo Jaguaribe, fornecendo subsídios relevantes às formas
de uso/ocupação desse espaço. O entendimento da dinâmica fluvial a partir de uma visão integrada
da paisagem, implicou na utilização do método sistêmico como referencial desta pesquisa. A
sazonalidade das precipitações associados às condições litológicas, conferem a bacia do Jaguaribe
picos de altas vazões em um curto período de tempo. As médias mensais de vazão do rio Jaguaribe
na estação de Peixe Gordo para o intervalo de 41 anos (1961-2002), mostram que a descarga líquida
é maior entre os meses de março, abril e maio, sendo em abril registrada a maior vazão média (460
m³/s). Já a última década (1998-2008), denota uma vazão de 100 m³/s para o mês de maior
intensidade do escoamento, sendo inferior à média dos últimos 40 anos, reflexos do início de
operação do Açude Castanhão em 2002. A artificialidade imposta à bacia do Jaguaribe,
principalmente a partir da construção do Açude Castanhão implica no retardamento de vazões
máximas para setores a jusante deste reservatório. Apesar do controle hídrico exercido por grandes
açudes na bacia do Jaguaribe, em anos em que as chuvas excedem a média histórica como ocorridos
em 2008 e 2009, as cidades jaguaribanas são atingidas por inundações gerando prejuízos população
local.

Palavras-chave: Rio Jaguaribe, Açudes, Enchentes.

INTRODUÇÃO
A situação hídrica do Estado do Ceará reflete as influências de suas condições naturais,
em especial as ligadas a litologia dos terrenos e à irregularidade e má distribuição das chuvas. “A
distribuição da precipitação dentro do território cearense relaciona-se com a atuação de diferentes
sistemas atmosféricos sobre os fatores geográficos locais e regionais.” (ZANELLA, 2005).
Nas regiões serranas, a exemplo do Planalto da Ibiapaba e nas áreas que ficam a
barlavento da serra de Baturité, as precipitações chegam a ultrapassar 1700 mm anuais. No litoral
apesar das chuvas não acompanharem o mesmo padrão das registradas nas serras, as precipitações
ficam na casa de 1000 mm a 1350 mm por ano. Contrastando com o perfil pluviométrico observado
noutras unidades ambientais, no sertão, que possui maior dimensão territorial no Ceará, a
pluviometria varia de 550 mm a 850 mm, e em alguns locais é inferior a 550 mm, a exemplo de
Irauçuba e do sertão dos Inhamuns (ZANELLA, 2005).
Apesar das chuvas serem razoáveis em comparação com outras regiões semi-áridas do
mundo, a alta taxa de evaporação que chega a ultrapassar 2000 mm (TEIXEIRA, 2004), associado
ao domínio de terrenos cristalinos, reflete na intermitência dos rios. Isto reduz o armazenamento

83
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
natural da água no subsolo, sendo necessária a sua acumulação artificial, nos diversos barramentos
distribuídos no espaço cearense.
Os maiores açudes do Estado datam da década de 1960, a partir da construção do açude
Orós com 1,94 bilhões de m³ (1961), e do Arrojado Lisboa (Banabuiú) com 1,7 bilhões de m³ em
1966, ambos na bacia do Jaguaribe. Atualmente o Ceará possui aproximadamente 5 mil açudes,
entre públicos e particulares, onde 131 são monitorados pela COGERH (Companhia de Gestão dos
Recursos Hídricos do Ceará), e dentre os quais o Castanhão merece destaque, pois, é o maior do
Estado do Ceará com capacidade de acumular 6,7 bilhões de m³ de água.
A açudagem e o controle de vazões têm papel relevante na evolução geomorfológica
dos canais, processos erosivos e de sedimentação no vale do Jaguaribe, e que por sua vez controlam
a disponibilidade e a qualidade dos Recursos Hídricos. Portanto, nesta pesquisa objetiva-se
conhecer o comportamento hidroclimatológico da Bacia do Médio-Baixo Jaguaribe, fornecendo
subsídios relevantes às formas de uso/ocupação desse espaço.

CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA

A bacia hidrográfica do rio Jaguaribe ocupa uma área de 74.621 km², representando
48% da área do Estado do Ceará (SOUZA; OLIVEIRA; GRANGEIRO, 2002). Esta bacia é
subdividida em cinco sub-bacias (Baixo, Médio e Alto Jaguaribe, Banabuiú e Salgado).
A área em estudo situa-se na porção leste do Estado do Ceará, mais precisamente na
área de transição do médio para o baixo curso do rio Jaguaribe (Figura 1). O recorte espacial da
bacia de drenagem possui uma área de aproximadamente 3.556 Km², englobando pequenas bacias a
exemplo da bacia do rio Figueiredo, que contribui para o aumento da vazão do rio Jaguaribe no
período de chuvas.
A partir do açude Castanhão, limite escolhido dentro da bacia do médio curso, o rio
Jaguaribe recebe a contribuição de pequenos tributários drenando território dos municípios de Nova
Jaguaribara, Alto santo, São João do Jaguaribe, Tabuleiro do Norte e Limoeiro do Norte.

Esses tributários e canais secundários percorrem e bordejam rochas do Pré-cambriano e


do Cretácio, no entanto, com menor expressão as dos Tércio-Quaternários e Quaternários. Os
terrenos aluviais (Quaternário) assumem destaque principal. A partir do encontro das águas do
Figueiredo com o Jaguaribe, no município de São João do Jaguaribe, a deposição do material
transportado ao longo do rio, associado à morfologia local propiciara condições para o surgimento
de vasta planície, ganhando maiores proporções ao adentrar os municípios de Tabuleiro do Norte e
Limoeiro do Norte.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Peixe Gordo

Rio Jaguaribe

. Rio Figueiredo

Fig.1- Localização da área de estudo


Fonte: Organizado por Costa & Pinheiro, 2009.

MATERIAIS E MÉTODO

A necessidade do entendimento da dinâmica fluvial a partir de uma visão integrada dos


elementos naturais, associada ao estabelecimento do conjunto de atividades desenvolvidas na área,
requer o método sistêmico como referencial desta pesquisa. Segundo Christofoletti (1999, p.1), a
abordagem sistêmica é fundamental para compreender como as entidades ambientais, expressando-
se em diferentes organizações espaciais, se estruturam e funcionam.
Bertrand (1971) entende a paisagem, como resultado da dinâmica instável de elementos
físicos, biológicos e humanos que reagem simultaneamente uns sobre os outros, sendo a mesma um
conjunto indissociável em contínua evolução. Portanto, “A paisagem é o reflexo e a marca impressa
da sociedade dos homens na natureza.” (Bertrand, 2007, p. 262).

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
Objetivando conhecer as condições hidroclimatológicas do Médio-Baixo Jaguaribe,
foram realizados levantamentos bibliográficos e cartográficos da área, em consulta nas bibliotecas
da Universidade Estadual do Ceará (UECE), Superintendência Estadual do Meio Ambiente do
Estado do Ceará (SEMACE), Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), Fundação Cearense de
Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME), Universidade Federal do Ceará (UFC),
Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), Faculdade de Filosofia Dom Aureliano
Matos (FAFIDAM), Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (COGERH) e do Departamento
Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS).
Os dados de vazão foram cedidos pela Agência Nacional de Águas (ANA), onde na área
estudada encontram-se duas estações fluviométricas, uma localizada no Distrito de Peixe Gordo
município de Tabuleiro do Norte (Rio Jaguaribe), e outro no município de Alto Santo (Rio
Figueiredo). Os dados de chuvas foram obtidos em quatro postos pluviométricos monitorados pela
FUNCEME, conforme mostra o quadro abaixo. Vale ressaltar que apesar da existência de outros
postos na bacia, apenas estes apresentam uma uniformidade das leituras nas ultimas décadas.

CONTEXTO HIDROCLIMATOLÓGICO

O escoamento superficial, na qual dá origem à formação de rios, sofre influência das


condições climáticas. No Estado do Ceará, predomina o subtipo climático denominado de tropical
equatorial, também tipificado de semi-árido com 9 a 11 meses secos. (MENDONÇA; DANNI-
OLIVEIRA, 2007).
Ao estudar fatores que influenciam na determinação do clima da região Nordeste do
Brasil, Ferreira e Mello (2005) menciona alguns mecanismos que está ligado diretamente a
ocorrência de chuvas ou estiagens nessa região. Dentre eles, a Zona de Convergência Intertropical
merece destaque especial. Formada pela confluência dos ventos alísios do hemisfério norte e alísios
do hemisfério sul, sua migração da posição 14º N em agosto-outubro para a posição mais ao sul (2º
a 4º S) entre os meses de fevereiro a abril influencia a ocorrência de precipitações nesse período
(FERREIRA & MELLO, 2005).
O clima semi-árido que predomina no território cearense, influencia diretamente as
condições hidrológicas da bacia em estudo. Observando os dados de precipitações registrados em
quatro postos pluviométricos na bacia estudada, percebe-se a irregularidade das chuvas para período
de 30 anos (1979 - 2008).

QUADRO 1 – LOCALIZAÇÃO DE TODOS OS POSTOS PLUVIOMÉTRICOS DA BACIA

Posto Município Latitude Longitude Altitude(m)

IRACEMA Iracema 549 3818 140


ALTO SANTO Alto Santo 531 3815 79
SÃO JOÃO DO JAGUARIBE São João do Jaguaribe 517 3816 51

TABULEIRO DO NORTE Tabuleiro do Norte 515 3808 40


Fonte: FUNCEME, 2008 (http://www.funceme.br/DEMET/Index.htm)

Conforme expressa a figura 2, a variabilidade interanual das precipitações contribui para


a sazonalidade do escoamento fluvial do rio Jaguaribe e seus afluentes. Os totais anuais
pluviométricos variaram de 120 mm a 1.800 mm, com mínimas e máximas, observadas nos anos de
1993 e 1985, respectivamente. Os maiores índices de precipitação foram observados nos seguintes
anos: 1984, 1985, 1986, 1989, 2004 e 2008.

86
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

IRACEMA ALTO SANTO TABULEIRO DO NORTE SÃO JOÃO DO JAGUARIBE


2000
1800
Precipitação (mm)

1600
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1980
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
Fig. 2 – Distribuição das chuvas no intervalo de 30 anos (1979-2008) em quatro postos pluviométricos na bacia
estudada
Fonte: FUNCEME, 2008 (http://www.funceme.br)

No ano 2008, as chuvas registradas na região jaguaribana durante os quatro primeiros


meses foram de 773,1 mm, apresentando um desvio de 30,7% em relação à média histórica que é de
591 mm (FUNCEME, 2008). A irregularidade espaço temporal das precipitações em 2008 pode ser
percebida, quando se observa a variação das precipitações dos quatros postos (Figura 3).
A distribuição temporal foi semelhante às verificadas nas médias históricas, com valores
máximos de 410 mm, entre os meses de março e maio. As chuvas se tornam intensas a partir da
segunda quinzena de março. Em abril as precipitações são maiores no início do mês, levando
grande parte dos açudes a sangrarem. A partir de agosto as precipitações são nulas na região e o
escoamento fluvial é controlado exclusivamente pela vazão regularizada pelo Açude Castanhão.

Variação da Precipitação no ano de 2008


450

400
Iracema
350 Alto Santo
Precipitação (mm)

300 Tabuleiro do Norte

250 São João do Jaguaribe

200

150

100

50

0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
meses

Fig. 3 - Variação mensal das precipitações na bacia hidrográfica em estudo em 2008.


Fonte: Banco de dados da FUNCEME (2008).

A evaporação é muito elevada na região com totais de 1500 mm por ano. No período
chuvoso a média da evaporação é de 77 mm, enquanto no período de estio a perda média de água
das drenagens, solos e outros sistemas chegam próximas de 174 mm. As maiores perdas são
observadas no mês de setembro, pico da insolação nessas regiões, conforme mostra a figura 4.

87
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 4. Variação mensal das precipitações e evaporação na bacia


hidrográfica do Rio Figueiredo.
Fonte: Banco de Dados da FUNCEME (2008).

De porte dos dados da ANA, foram realizados gráficos que denota a sazonalidade da
vazão na bacia do médio e baixo Jaguaribe. No que tange ao rio Figueiredo, cuja área de drenagem
é de 2.448,9 Km² (BRASIL, 1996), foi observado a vazão média mensal para o intervalo 2000-
2007, além do ano de 2008, conforme mostra a figura 5. Sendo um rio intermitente, que ainda não
possui regularização de sua drenagem, é percebido que o escoamento fluvial é restrito ao primeiro
semestre do ano. Ressalta-se que a predominância de terrenos impermeáveis, associado a alta
temperatura não permite a concentração de água nesta bacia que proporcione um escoamento mais
uniforme. Para este intervalo, as maiores vazões são evidenciadas no mês de abril e maio.

Fig. 5 - Vazão média mensal do Rio Figueiredo no período de 2000-2007 e no ano de 2008.
Fonte: Banco de dados da ANA, 2008.

Em relação ao ano de 2008, é perceptível o pico de sua vazão máxima em fevereiro,


declinando a partir de março. Esse retrato mostra que as altas vazões registradas no rio Jaguaribe

88
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
durante esse ano não tem relação com as águas escoadas da bacia do Figueiredo, pois, a média de
vazão girou em torno de 3 m³/s.
Em relação ao rio Jaguaribe, a Figura 6 mostra as médias históricas de vazão na estação
de Peixe Gordo para três situações: intervalo temporal de 41 anos (1961-2002), antes do inicio de
operação do Açude Castanhão; o decênio (1998-2008); e 2004, na qual a vazão do rio Jaguaribe
nessa seção foi bem significativa.
As médias mensais para o intervalo de 41 anos (1961-2002), mostram que a descarga
líquida é maior entre os meses de março, abril e maio, sendo abril encontrado a maior vazão média
que gira em torno de 460 m³/s.
A última década (1998-2008), denota uma vazão média muito baixa em relação a média
dos últimos 40 anos. A diminuição da descarga líquida está associada ao início de operação do
Açude Castanhão que mantém o controle sobre o escoamento fluvial, liberando apenas uma vazão
mínima para os múltiplos usos a jusante. Uma média de 100 m³/s para o mês de maior intensidade
do escoamento, mostra a eficiência desta obra na regularização da drenagem.

500

1961-2002
400
1998-2008
2004*
Vazão (m3/s)

300

200

100

0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Período
Fig.6. Médias históricas da vazão do Rio Jaguaribe na localidade de Peixe-Gordo no período de 1961-
2002, 1998-2008 e em 2004. * a vazão deste ano não foi computada nas médias históricas em virtude de
ter sido considerada um evento anômalo.
Fonte: Banco de dados da ANA, 2008.

Quando se observa o ano de 2004, primeiro ano em que o açude castanhão teve suas
comportas abertas é percebido o escoamento intenso do rio Jaguaribe em curto espaço temporal.
Portanto, a vazão registrada no mês de março é comparável a média mensal dos anos em que não
existia esse barramento.
As chuvas em 2004 começaram no início do ano, ocorrendo assim um retardamento das
maiores vazões em relação a média registradas nos outros anos. Dos 123 açudes monitorados pela
COGERH em 2004, 95 sangraram, equivalendo a 77,2% (COGERH, 2007).
.Quatro anos depois, em 2008, o rio Jaguaribe novamente proporciona cheia. Os dados
fornecidos pela ANA através de curva-chave, denotam vazões muito altas na seção de Peixe Gordo,
ultrapassando 1600 m³/s. As vazões máximas são registradas a partir dos últimos dias do mês de
março, além do mês de abril e maio conforme indica a figura 7.

89
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

2000

Peixe-Gordo
1600

Vazão (m /s)

1200
3

800

400

0
1 31 61 91 121 151 181 211 241 271 301 331 361
Dias (2008)

Fig. 7 - Vazão diária do Rio Jaguaribe na localidade de Peixe-Gordo no ano de 2008.


Fonte: Banco de dados da ANA, 2008.

Na tabela 1, pode ser observado o controle exercido pelo Açude Castanhão na vazão do
rio Jaguaribe no ano 2008. Quando as chuvas se intensificaram, a vazão liberada era muito pequena,
como as verificadas entre os dias 26 de março a 1º de abril (2 m³/s). No entanto, a partir do dia 2 de
abril a vazão liberada foi de 588 m³/s devido o açude ultrapassar a cota 100. No dia 10 de abril as
comportas novamente são fechadas e a vazão liberada diminui (3 m³/s).

Tabela 1 - Vazões liberadas pelo Açude Castanhão (2008)


Data Vazão m³/s Data Vazão m³/s

21/02/08 - 25//03/08 8 30/04/08 -01/05/08 169

26/03/08 - 01//04/08 2 02/05/2008 375


02/04/08 - 09//04/08 588 03/05/08 -04/05/2008 509
10/04/08 3 05/05/2008 500
11/04/08- 16/04/08 15 06/05/2008 330
17/04/08 800 07/05/2008 500
18/04/08 400 08/05/08 -13/05/08 660
22/04/08-29/04/08 9 14/05/08 - 19/06/08 9

Fonte: Banco de dados da COGERH, 2008.

A alternância entre vazões máximas e mínimas, principalmente durante o mês de abril e


início do mês de maio, teve por objetivo controlar as cheias à jusante desse açude, já que a montante
o nível das águas estavam bastante elevado provocando inundações. Portanto, o regime de
escoamento do rio Jaguaribe, é o reflexo não somente da dinâmica dos elementos naturais (clima,
geologia, geomorfologia, pedologia, etc), mas, também da artificialidade imposta a esse ambiente
através da construção de grandes açudes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A irregularidade pluviométrica associada às condições litológicas, conferem a bacia do


Jaguaribe picos de altas vazões em um curto período de tempo. As médias mensais de vazão do rio
Jaguaribe na estação de Peixe Gordo para o intervalo de 41 anos (1961-2002), mostram que a
descarga líquida é maior entre os meses de março, abril e maio, sendo abril encontrado a maior

90
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
vazão média que gira em torno de 460 m³/s. Já a última década (1998-2008), denota uma vazão de
100 m³/s para o mês de maior deflúvio, reflexos do início de operação do Açude Castanhão em
2002, que mantém certo controle sobre o escoamento fluvial.
A artificialidade imposta à bacia do Jaguaribe na área pesquisada, principalmente a
partir da construção do Açude Castanhão implica no retardamento de vazões máximas para setores
a jusante deste reservatório. O retrato deste fenômeno foi observado em 2008, pois, apesar de
inundações nas áreas montantes o fluxo liberado pelo açude não correspondia à intensidade das
precipitações que caíram na bacia.
Apesar do controle de vazão exercido por grandes açudes na bacia do Jaguaribe, em
anos em que as chuvas excedem a média histórica como ocorridos em 2008 e 2009, as cidades
jaguaribanas são atingidas por inundações gerando prejuízos e transtornos a população local.

REFERÊNCIAS

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de Ciências da Terra, V.3, p.1-21, São Paulo, 1971.

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ambiente através dos territórios e das temporalidades. In: PASSOS, Messias Modesto dos.(Org.).
Maringá: Massoni, 2007.

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Ceará. Fortaleza:Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (COGERH), 2007.

BRASIL. CPRM. Avaliação das Potencialidades Hídrica e Mineral do Médio-Baixo Jaguaribe


- CE. V.4 (Série Recursos Minerais), Fortaleza-CE, 1996.

CHRISTOFOLETTI, A. Modelagem de Sistemas Ambientais. Editora: Edgard. Blücher Ltda.


1ed, São Paulo, 1999, 236p.
FERREIRA, Antonio Geraldo; MELLO, Namir Giovanni da Silva. Principais sistemas atmosféricos
atuantes sobre a região Nordeste do Brasil e a Influência dos Oceanos Pacífico e Atlântico no clima
da região. In: Revista Brasileira de Climatologia. N.1, V.1. Presidente Prudente, 2005, p.15-27.

FUNCEME. Avaliação de previsão de estação chuvosa de 2008. Disponível em: <


www.fuceme.br >Acesso em: 30 Out. 2008.

MENDONÇA, Francisco; DANNI-OLIVEIRA, Inês Moresco. Climatologia: Noções básicas e


climas do Brasil. São Paulo: Oficina de Textos, 2007.

SOUZA; M.J.N; OLIVEIRA, V.P.V; GRANGEIRO, C.M.M. Análise Geoambiental. In: ELIAS, D.
(org.). O Novo Espaço da Produção Globalizada: O Baixo Jaguaribe. Fortaleza: Funece, 2002,
p.23-89

TEXEIRA, Francisco José Coelho. Modelo de Gerenciamento de Recursos Hídricos: Análises e


Proposta de Aperfeiçoamento do Sistema do Ceará. 1ª ed. Brasília, 2004.

Zanella, Maria Elisa. As características climáticas e os recursos hídricos do Estado do Ceará. In:
José Borzacchiello da Silva; Tércia C. Cavalcante; Eustógio Wanderley Correia Dantas. (Org.).
Ceará: Um Novo Olhar Geográfico. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2005, v. Único, p. 169 –
188.

91
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
A BACIA DO BAIXO POTI E AS HORTAS COMUNITÁRIAS DA ZONA NORTE DE
TERESINA (PI): SISTEMAS MULTIFUNCIONAIS E DESENVOLVIMENTO LOCAL

Daniel César Menêses de Carvalho


Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/TROPEN/UFPI
danielcmc@ymail.com

Alex Bruno Ferreira Marques do Nascimento


Bacharel em Administração, pela Universidade Estadual do Piauí - UESPI
alexadministracao@gmail.com

Antonio Joaquim da Silva


Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/TROPEN/UFPI
joakim.ufpi@yahoo.com.br

Charlene de Sousa e Silva


Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/TROPEN/UFPI
charmenegeo@gmail.com

Maria do Socorro Lira Monteiro


Professora do Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/TROPEN/UFPI
socorrolira@uol.com.br

RESUMO
A agricultura em pequena escala é muito eficaz para o atendimento da classe menos favorecida da
população, pois essa parcela da população não tem poder aquisitivo e logístico suficiente para
acompanhar o mercado global. O Piauí, que se configura de acordo com a ocupação econômica do
território brasileiro, teve seu povoamento baseado na pecuária extensiva, na agricultura de
subsistência e no extrativismo vegetal. Seguindo esse mesmo caminho, verifica-se, na agricultura
familiar, em todo o estado e em sua capital, que essa prática (sem a devida acessória técnica e dos
poderes públicos), é na maioria das vezes danosa ao meio ambiente. As gerações posteriores irão
ser lesadas com o comprometimento dos recursos ambientais. As hortas comunitárias da zona norte
de Teresina – PI, que são abastecidas pela bacia do Baixo Poti, visam atender aos requisitos de
sustentabilidade das famílias que necessitam diretamente da produção, ao passo que promove a
conscientização e educação ambiental. O estudo de tais hortas teve como objetivos analisar a
estrutura do programa das Hortas Comunitárias na zona em questão, evidenciar os principais
problemas estruturais e aplicar os conceitos de multifuncionalidade e ecodesenvolvimento para a
produção agrícola regional.

Palavras-chave: Multifuncionalidade. Hortas Comunitárias. Rio Poti.

INTRODUÇÃO
A produção agrícola, nos parâmetros econômicos atuais, procura ofertar insumos que
promovam o acúmulo de capital. Entretanto, contrastando com a força produtiva da agroindústria, a
agricultura familiar mostra-se bastante eficaz para o atendimento da população mais carente, ao
passo em que esta forma de produzir não tem poder logístico suficiente para competir no mercado
global.
O Brasil, historicamente, apresenta-se como um país que tem sua economia fortificada pela
agricultura, que visa atender tanto o mercado interno quanto o externo. Essa estrutura provém da
sua colonização, onde a formação nacional foi pautada em princípios capitalistas; percebido nos

92
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
mais diversos setores econômicos, esse modo de produção é responsável, principalmente, pela atual
distribuição de terras e configuração do trabalho rural, tanto em pequena, quanto em larga escala.
O Estado do Piauí, que se configura economicamente em consonância com a ocupação do
território brasileiro, teve seu povoamento baseado na pecuária extensiva, na agricultura de
subsistência e no extrativismo vegetal (ARAÚJO, 2006). Dando ênfase à agricultura familiar
piauiense (mais precisamente na capital Teresina, foco do trabalho), verifica-se que essa prática,
sem a devida acessória técnica e dos poderes públicos, é na maioria das vezes predatória. As
gerações posteriores serão afetadas, pois haverá o comprometimento dos recursos ambientais.
Sendo assim, as hortas comunitárias de Teresina – PI visam atender aos requisitos de
sustentabilidade das famílias que necessitam diretamente da produção, ao passo que promove a
conscientização e educação ambiental. Para tanto, observa-se que o conceito de sistema
multifuncional agrícola pode ser aplicado nessa situação, contribuindo largamente para o
desenvolvimento local.
As Hortas Comunitárias da zona norte de Teresina, localizadas na porção da Bacia do
Baixo Poti caracterizarão esse estudo, que tem como objetivos analisar a estrutura do programa das
Hortas Comunitárias na zona em questão, evidenciar os principais problemas estruturais e aplicar os
conceitos de multifuncionalidade e ecodesenvolvimento para a produção agrícola regional.
A metodologia empregada foi a revisão bibliográfica acerca do assunto, pesquisas de
campo no local das hortas e visita aos órgãos competentes (Superintendência de Desenvolvimento
Urbano, IBGE, Prefeitura Municipal de Teresina).

AS HORTAS COMUNITÁRIAS DA ZONA NORTE DE TERESINA E SUA


MULTIFUNCIONALIDADE

CONCEITO DE MULTIFUNCIONALIDADE
No encontro realizado no ano de 1999, da Organização Mundial do Comércio (OMC), a
agricultura abre discussões sobre seu teor multifuncional. Mas, antes disso, na ECO-92, sediada no
Rio de Janeiro – em 1992 – houve a preocupação em ressaltar que a agricultura em pequena escala
apresenta aspectos multifuncionais muito importantes, particularmente quando se trata de
desenvolvimento sustentável e segurança alimentar.
Em um contexto geral, além de ser economicamente viável, a agricultura familiar também
assegura uma eficaz preservação ambiental. Essa importância, ressaltada na ECO-92, concede à
agricultura o seu caráter multifuncional; esse caráter de multifuncionalidade, segundo Soares
(2001), é oriundo do conceito de Agricultura e Desenvolvimento Rural Sustentável (ADRS).
Soares (2001) afirma que, além de sua função primária (produção de alimentos, fibras,
entre outros), a atividade agrícola pode também alterar a paisagem, prover benefícios ambientais e
contribuir para a gestão sustentável dos recursos naturais. Nesse caso identificam-se aqui as quatro
funções-chave da agricultura familiar: contribuição à segurança alimentar; função ambiental; função
econômica e; função social.
Assim, a partir das funções-chave da multifuncionalidade da agricultura familiar, podemos
fazer uma análise da aplicabilidade do conceito de sistema multifuncional para as Hortas
Comunitárias da zona norte de Teresina, podendo-se evidenciar a real contribuição desse tipo de
empreendimento para a sociedade e para o ambiente.

PERFIL SOCIOECONÔMICO E AGRÍCOLA DO MUNICÍPIO DE TERESINA – PI


Teresina, capital do estado do Piauí, está localizada na Mesorregião Centro-Norte
Piauiense e na Microrregião Teresina. Com uma área de 1.775,698 km², tem uma população de
793.915 habitantes. Seu Produto Interno Bruto (PIB) gira em torno de R$ 6.000.490,00, com uma
renda per capita de R$ 7.482,00 (IBGE, 2006/2008).

93
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 01: Localização do município


de Teresina–PI
Fonte: Adaptado do IBGE, 2009.

Segundo dados do Censo Agropecuário de 2006, Teresina conta com 7.026


estabelecimentos agropecuários (que totalizam uma área de 51.931 hectares). Deste montante, 1.864
estabelecimentos são destinados a lavouras permanentes (8.179 hectares), e 4.518 são locais de
lavouras temporárias (8.205 hectares).

CARACTERÍSTICAS DA BACIA DO RIO POTI


A Bacia hidrográfica do Rio Poti abrange uma área total de 52.202 km², sendo que destes,
37.750 km² inserem-se em território piauiense e 12.480 km² no estado do Ceará (SEMAR, 2007).
Abrange, total ou parcialmente, 81 (oitenta e um) municípios.
Consoante aos dados da Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMAR,
2007), a vazão média da foz do Poti é de 153,4 m³/s; sua precipitação média anual gira em torno de
1.250 mm e sua evapotranspiração potencial varia entre 2.500 e 1.800 mm.
A população urbana que encontra-se inserida na região da Bacia do Poti gira em torno de
150.000 habitantes, ao passo que a população rural estimada é de mais de 170.000 habitantes. A
demanda de água estimada para abastecimento humano urbano é de 247,96 l/s, enquanto verifica-se
uma demanda de apenas 198,31 l/s para o abastecimento humano rural.

Figura02: Bacia hidrográfica do Rio Poti


Fonte: Adaptado da SEMAR, 2009

94
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Em termos de produção, o rio Poti demonstra sua importância quando constatamos que
existem 544 produtores em seus limites, sendo a demanda por água para a produção agropecuária
elevada, em torno de 1.543,82 l/s (SEMAR, 2007).
Na região de Teresina, é observado um processo de eutrofização das águas do Poti,
causado, principalmente, pelo excesso de produtos químicos oriundos de indústrias e efluentes
agrícolas.

CARACTERIZAÇÃO DAS HORTAS COMUNITÁRIAS DA ZONA NORTE DE


TERESINA
O artigo 15º do Plano Diretor de Teresina se direciona para o uso e ocupação do solo
urbano; o objetivo, mostrado aqui, é de ampliar o Projeto de Hortas Comunitárias, visando atender
uma maior parcela da população (PLANO DIRETOR DE TERESINA, 2002). Esse objetivo
governamental, ao nos reportarmos aos dados estatísticos, mostra-se crível acerca da quantidade de
famílias que o programa atende. De acordo com a Prefeitura Municipal de Teresina, as Hortas
Comunitárias atendem cerca de 1.450 famílias das zonas periféricas, em uma área de mais ou
menos 177,2 hectares (dados de 2007).
Do ponto de vista histórico, o Programa de Hortas Comunitárias em Teresina teve seu
início em 1986. Tinha como principal objetivo, segundo Monteiro e Monteiro (2006), inserir na
prática agrícola crianças e adolescentes em situações de risco, a fim de coibir a marginalidade.
Ao passar do tempo, na medida em que as hortas cresciam, observou-se a inserção, na
agricultura, dos outros membros da família do menor horticultor. Dessa forma, o Programa cresceu
para abarcar as famílias da periferia da cidade, e tem atualmente como foco atender as pessoas
carentes que anseiam por uma fonte de renda.
Segundo Monteiro (2004), o desenvolvimento das Hortas tomou impulso ao se constatar a
favelização de algumas localidades teresinenses; com esses pontos da cidade aumentando
quantitativamente, houve a necessidade imediata de um programa assistencial, que atendesse a essa
“explosão” das favelas.

Faz-se necessária a adoção de políticas públicas de combate à pobreza e à miséria a


fim de reverter o efeito negativo produzido pelas altas taxas de crescimento
registradas ao longo de várias décadas, do fluxo migratório campo/cidade, além da
baixa oferta de trabalho, gerando piora nos níveis de distribuição da renda. Nessa
perspectiva, em Teresina, destacam-se as Hortas Comunitárias, implantadas pela
Prefeitura Municipal, as quais apresentam, na última década, o objetivo de gerar
emprego e renda às famílias carentes da periferia da cidade, bem como melhorar o
padrão alimentar dessas famílias e aumentar a oferta de hortaliças no Município.
(MONTEIRO, 2004, p. 02).

Seguindo essa premissa, a Prefeitura Municipal de Teresina segue a idéia de


desenvolvimento sustentável das famílias carentes e, em contrapartida, desenvolve a atividade de
forma que tais famílias (e o município) fiquem menos dependentes de outras localidades no que
tange o abastecimento de produtos cultivados pelos horticultores. Aqui, o ponto de vista do poder
municipal corrobora com o conceito de multifuncionalidade, onde as Hortas Comunitárias são
instrumento de seguridade social e alimentar.

95
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 02: Horta Comunitária da zona norte de


Teresina - PI.
Fonte: O autor, 2008

A segurança alimentar que as hortas comunitárias promovem (uma das funções-chaves do


sistema multifuncional agrícola) assegura, para os trabalhadores, condições que lhe conferem uma
maneira de fazer seu próprio abastecimento alimentício.

A BACIA DO BAIXO POTI E AS HORTAS COMUNITÁRIAS DA ZONA NORTE DE


TERESINA
Na zona norte teresinense, as Hortas Comunitárias se multiplicaram, consideravelmente,
com o surgimento de vilas e favelas. Com o crescimento urbano desordenado nessa região, os
problemas administrativos cresceram. Um bom exemplo disso é o tamanho dos lotes destinados ao
cultivo das hortaliças: eles, que deviam der padronizados, apresentam, segundo Bezerra et al (1996)
uma instabilidade. Comparando-se o tamanho dos lotes apresentados nas figuras 02 e 03, vemos a
ausência de padrão no tamanho.

Figura 03: Cultivo de hortaliças em horta


comunitária de pequeno porte.
Fonte: O autor, 2008.

Na pesquisa de campo realizada em janeiro de 2008, constatou-se que a maioria dos


agricultores das Hortas da zona norte é do sexo feminino (cerca de 60%). Grande parcela das
horticultoras divide o trabalho nas hortas com os afazeres de casa. Já os homens, para incrementar a
renda familiar, trabalham em outro lugar, quase sempre informalmente (subemprego).

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
PRODUÇÃO DAS HORTAS
Ao observar os produtos cultivados na zona norte teresinense, a variedade é modesta:
Cerca de 10 variedades são destaque de produção, segundo os horticultores. Os beneficiados pelo
programa comentam que a produtividade muda de acordo com a estação.
As pessoas que tiram o seu sustento das hortas comunitárias reportaram que a maioria dos
agricultores passou cerca de um ano sem produzir, por conta de cheia do Rio Poti, que ocorreu no
ano de 2004, causando assim perdas consideráveis de hortas.
Nesse período de tempo, a Prefeitura, segundo os beneficiados pelas hortas, não deu
suporte para revitalizar o empreendimento. Segundo a pesquisa, os próprios beneficiários tiveram
que bancar a revitalização dos lotes, mesmo sem ter produzido por um ano.
Em 2009, em outro aumento das águas do Rio Poti, toda a extensão ribeirinha das hortas
comunitárias da zona norte (como demais zonas teresinenses) sofreu perdas do ponto de vista
edáfico, produtivo e ambiental (figura 03).

Figura 04: Horta comunitária alagada pelo Poty


Fonte: O autor, 2009.

Uma das premissas do sistema multifuncional da agricultura – a integração social – é bem


visualizada no programa das hortas. No entanto, um problema apontado pelos que ali trabalham é a
falta de articulação social por parte de muitos horticultores. Alguns lotes, que deveriam ser geridos
por uma quantidade pré-determinada de famílias são subdivididos, para que cada unidade familiar
cuide de uma área específica.

Figura 05: Porcentagem de cultivo dos principais produtos das hortas


comunitáriasda zona norte de Teresina – PI
Fonte: Pesquisa direta, 2008.

Acerca das hortaliças, como observado na figura 05, as que têm maior produção são: a
cebolinha (42%), o Coentro (35%), a alface (15%) e o quiabo (6%). Outros alimentos giram em

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
torno dos 2%. O motivo da alta produtividade desses produtos, tornando-se maior em relação a
outros, se deve ao fato de estarem inseridos na dieta alimentar da população local, além de serem
produtos de rápida comercialização (CAMARGO, 2002).

CONCLUSÃO
Os programas governamentais, que visam amenizar os problemas sociais existentes, estão
se expandido quantitativamente em todo o território nacional, levando principalmente às famílias
mais necessitadas uma amenização dos problemas mais visíveis (nas esferas da saúde, moradia,
saneamento, entre outros). Contudo, concomitante a esse crescimento exponencial, o modelo
estrutural ideal de tais iniciativas (viés qualitativo) está longe de ser o preferível.
Ao nos reportamos ao conceito de sistema multifuncional da agricultura, percebemos que,
inserir as hortas comunitárias nessa categoria, mais do que um simples enquadramento científico,
estamos contribuindo para expandir os benefícios – a curto e a longo prazo – desse programa,
aumentando a área de atuação para a sociedade que não depende diretamente da agricultura familiar
na região em estudo.
A pesquisa entre os trabalhadores das Hortas da zona norte de Teresina só vêm a salientar
que os poderes, não só Municipal, mas também Estadual e Federal, devem incrementar os auxílios
econômicos e administrativos para que haja uma nova roupagem desse tipo de programa, aliando
desenvolvimento econômico e preservação ambiental, tão discutida, atualmente, no meio científico.
Dessa maneira, no futuro, as condições de uma vida digna podem estar cada vez mais perto do
conceito de ecodesenvolvimento.

REFERÊNCIAS
ARAÚJO, José Luis Lopes. (Coordenador). Atlas escolar do Piauí: Geo-histórico e cultural. João
Pessoa/PB: Ed.Grafset, 2006.
BEZERRA, A.M.E.; SOUSA A.A.G.; FARIA, G.S.; MACHADO F.A.; MENDES, J.B.S.
Panorama Geral das Hortas Comunitárias de Teresina – PI. Universidade Federal do Piauí –
UFPI. Teresina, 1999.
CAMARGO, L. de S. As hortaliças e o seu cultivo. Campinas: Fundação Cargill, 1992.
IBGE. Censo Agropecuário 2006. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/>. Acesso em 05 fev.
2009.
IBGE. Produção da extração vegetal e da silvicultura: Piauí em números. 7 ed, Teresina:
Fundação CEPRO, 2006-2008.
SOARES, Adriano Campolina. A multifuncionalidade da agricultura familiar. Rio de Janeiro:
Action Aid Brasil, 2001.
LEAL, Adão Firmino. Condições do extrativismo e aproveitamento das frutas nativas da
microrregião de Teresina – Piauí. Teresina, PI: UFPI, 2005. Dissertação (Mestrado
Desenvolvimento e meio ambiente).
MONTEIRO, Juliana Portela do Rego. Análise Sócio-Econômica e Ambiental das Hortas
Comunitárias de Teresina. Universidade Federal do Piauí – UFPI. Teresina, 2004.
______; MONTEIRO, Maria do Socorro Lira. Hortas comunitárias de Teresina: agricultura
urbana e perspectiva de desenvolvimento local. Revista Iberoamericana de Economía Ecológica
Vol. 5. 2006.
POPPER, K. A Lógica da pesquisa científica. 9ª ed. Tradução Leônidas Hegenberg e Octanny
Silveira da Mota. São Paulo. Cultrix, 1993.
PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA. Plano diretor de teresina. Disponível em:
< http://www.ufpi.br/downloads/uploads/noticias/plano_diretor.rtf>. Acesso em 05 fev. 2009.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

BALANÇO HIDRICO DO ALTO CURSO DO RIO ACARAÚ - CE

Ernane Cortez Lima


Doutorando em Geografia –UFC
Professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA
ernaneclima@bol.com.br

RESUMO

Este texto é uma pequena explanação sobre estudos do balanço hídrico realizados na Serra das
Matas, mais precisamente no alto curso da bacia hidrográfica rio do Acaraú – CE, servindo de dado
técnico para pesquisas sobre trabalhos ambientais e aplicação em planejamentos de cunho
econômico e social.
Palavras chave: balanço hídrico, semi-árido, rio, bacia hidrográfica, alto curso.

INTRODUÇÃO

O ciclo hidrológico da região norte do estado do Ceará é condicionado pela semi-aridez que
rege as condições climáticas ambientais e que, nitidamente, apresenta um período de deficiência
hídrica mais elevada temporalmente e espacialmente em relação ao excesso hídrico.
O estudo do balanço hídrico é de fundamental importância para se definir a disponibilidade
hídrica de uma região, no entanto, além da precipitação, deve-se admitir o retorno da água à
atmosfera através da evaporação e transpiração das plantas, pois a água disponível no solo é
proveniente da interação desses dois fatores.
O balanço hídrico consiste no confronto entre as necessidades hídricas das plantas e a
quantidade de chuva de uma determinada área, representando, portanto, a contabilidade de entrada e
saída de água no solo.

METODOLOGIA
Para a avaliação da disponibilidade hídrica do alto curso do rio Acaraú, foi efetuado o
balanço hídrico dos municípios de Monsenhor Tabosa e Tamboril, ambos parcialmente inseridos na
área em estudo. Utilizou-se o programa Balanço Hídrico - Varejão Silva (1990), com base em
Thornthwaite e Mather (1955), que traz informações também sobre índices climáticos - índice de
aridez, de umidade e hídrico, além de tipo climático.
O Programa em questão utiliza os valores de temperatura do ar (TºC) e a precipitação
pluviométrica (Pmm). Com base nesses valores, estima - se a quantidade de água consumida através
do processo de evapotranspiração em milímetros (ETP); a água no solo é contabilizada enunciando
os períodos de seca (DEF) e também os períodos de excesso hídrico (EXC). O conceito de balanço
hídrico propõe o solo como um reservatório fixo, onde a água armazenada, até o máximo da
capacidade de campo, só será removida através das plantas.
O balanço hídrico, além da evapotranspiração potencial, permite estimar a evapotranspiração
real (ETR), o excedente hídrico (EXC), a deficiência hídrica (DEF) e as etapas de reposição
(ARM), e retirada de água no solo. Pode-se aferir para a área da pesquisa a seguinte análise:
• A retirada hídrica corresponde aos meses de junho a agosto representando o período em que
a evapotranspiração gradativamente vai superando a precipitação, ou seja, o início da
estação seca (inverno);
• A deficiência hídrica corresponde aos meses de setembro a janeiro, representando o período
em que a precipitação é inferior a evapotranspiração real e potencial na estação seca
propriamente dita (primavera);

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
• A reposição hídrica corresponde aos meses de fevereiro a março representando o período de
reabastecimento das perdas hídricas, em que a precipitação gradativamente vai superando a
evapotranspiração no início da estação chuvosa (outono);
• O excesso hídrico corresponde ao mês de abril representando o período após a reposição do
déficit hídrico, em que a precipitação é superior à evapotranspiração real e potencial
corresponde ao ápice da estação chuvosa (verão).

ANÁLISE DO BALANÇO HÍDRICO DO MUNICÍPIO DE MONSENHOR TABOSA

Em Monsenhor Tabosa, os valores significativos de precipitação ocorrem de janeiro a maio.


No entanto, em janeiro, as precipitações de 62,5mm são inferiores ao potencial de
evapotranspiração, que é de 109 mm, com conseqüente déficit de água no solo. Em fevereiro, a
curva de precipitação ultrapassa a da evapotranspiração potencial, suficiente apenas para suprir a
necessidade das plantas ver tabela 1 e figura 1 .
Em março, apesar do índice pluviométrico de precipitação apresentar 161,0mm, não houve
excedente hídrico. Apenas em abril, que com um índice pluviométrico de 141,4mm ocorreu
excedente hídrico de 20 mm.
A partir do mês de maio, há um decréscimo das precipitações e o balanço hídrico sofre uma
alteração, ou seja, torna negativa a precipitação efetiva, que é de -4 mm. Inicia-se a estação de
deficiência de água, que irá se estender até janeiro, perfazendo um déficit anual de 523 mm, em
média.
A estação de precipitação efetiva negativa P-ETo inicia em maio e se estende até janeiro.
Por existir estoque de água nos solos ao início desta estação, o referido mês (maio) não possui
déficit hídrico, embora não seja caracterizado por excesso. Apesar das reservas hídricas do solo
esgotarem-se em setembro, a partir de junho e julho, os déficits de água para as plantas são
significativos, provocados pela drástica redução das precipitações pluviométricas.
Conforme o constatado, considera-se que Monsenhor Tabosa apresenta uma longa estação
seca, com 8 (oito) meses, de junho a janeiro, de elevado déficit hídrico, com 523 mm e índice de
aridez de 45,42 .
Conforme Vieira (2002) No semi-árido, com disponibilidade hídrica problemática e escassa,
a caracterização da água, como bem econômico, é complexa e diferenciada. Dentre os fatores que
colaboram para determinação de seu valor econômico, estão: tipo de uso, qualidade, forma de local
de oferta, nível de garantia, sazonalidade, e condições climáticas.
Os rigores da semi-aridez estão ainda condicionados a outros fatores climato-
meteorológicos, como temperatura, balanço hídrico, ventos e insolação. Conforme Pinheiro (2003),
no sertão cearence a insolação apresenta valores médios representativos, influenciados pelo efeito
da latitude, por situar-se entre latitudes onde os raios solares incidem com maior verticalidade e
maior intensidade durante mais de oitenta dias initerrúpitos de solstício, ou aproximadamente 2.800
horas.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

ANÁLISE DO BALANÇO HÍDRICO NO MUNICÍPIO DE TAMBORIL

Em Tamboril, as precipitações apresentam índices mais elevados de janeiro a maio. Contudo,


observa-se que em janeiro as precipitações de 75,7 mm são
inferiores ao potencial de evapotranspiração, que é de 147mm, resultando em déficit de água no
solo. No mês de fevereiro, a curva de precipitação ultrapassa a de evapotranspiração potencial,
bastante apenas para suprir a necessidade das plantas. Em março, o índice pluviométrico foi de
192,4mm, mas não houve excedente hídrico, apenas em abril, com um índice pluviométrico de
161.1mm, ocorreu um excedente hídrico de 21mm.
A partir do mês de maio, há um decréscimo das precipitações e o balanço hídrico sofre
alteração, torna negativa a precipitação efetiva com -58mm, dando início a estação de deficiência
hídrica, que se estende até janeiro, perfazendo um déficit de 882mm, em média.
Percebe-se que o déficit hídrico inicia-se logo no mês de maio, com 11mm, demonstrando
baixíssimo estoque de água devido aos índices acentuados da evapotranspiração potencial ETo.
A estação seca de Tamboril é de 9 (nove) meses, de maio a janeiro, e profundamente
deficitária em água, cerca de 882mm em média. Sua aridez é marcante, 57,03, e o clima local é
considerado semi-árido ver tabela 2 e figura 2 .
De acordo com SOUZA (2005), em razão das condições semi-áridas, com défict hídrico
superficial, o desenvolvimento de uma vegetação mais exuberante é dificultada, bem como o
acúmulo d´agua. Com pouca proteção vegetacional do solo que chega a ser exposto possui albedo
elevado, o que provoca, á noite, redução de temperatura, por conta da refletância solar incidente
durante o dia. Somente nas áreas próximas aos açudes Araras, Edson Queiroz, Ayres de Souza e
outras, na costa a partir da massa d´água do Atlântico, através do alto calor específico da água, a

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
energia solar recebida durante o dia e durante a noite, deslocada por ventos locais, mantendo mais
constante a radiação natura e, assim variação dia e noite.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A área em estudo está sob o domínio morfoclimático semi-árido que, por sua vez, vincula-se
a limites críticos de precipitação pluviométrica. Trata-se do Nordeste seco que, segundo Ab’ Saber
(1980) constitui uma região de condição climática marcadamente azonal, ao cinturão próprio das
faixas áridas tropicais e subtropicais do globo. No entanto, os climas do Nordeste caracterizam-se
como uma exceção referente aos climas zonais próprios às faixas de latitudes homogêneas.
De acordo com AOUAD (1986), a região climática semi-árida do Nordeste brasileiro não se
reveste de ocorrência espacial nitidamente contínua e definida, como sugere a delimitação oficial do
“Polígono das Secas” estabelecida pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas –
DNOCS, mas varia espacialmente sob o efeito indiscutível dos compartimentos morfológicos.
Monsenhor Tabosa apresenta uma longa estação seca, com 8 (oito) meses, de junho a
janeiro, de elevado déficit hídrico, com 523mm e índice de aridez de 45,42 .
A estação seca de Tamboril é de 9 (nove) meses, de maio a janeiro, e profundamente
deficitária em água, cerca de 882mm em média. Sua aridez é marcante, 57,03, e o clima local é
considerado semi-árido.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

REFERENCIA

AB’SABER,A.N. O Domínio Morfoclimático Semi-Árido das Caatingas Brasileiras.


Geomorfologia, Nº 43, SP, IGEOG, 1974.
AOUAD, M. dos Santos. Tentativa de Classificação climática para o Estado da Bahia.
Dissertação de Mestrado apresentada no Departamento de geografia da Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas da USP. 1978 (inédito).
LIMA, Ernane C. Análise e Manejo Geoambiental das Nascentes do Alto rio Acaraú: Serra das
Matas CE. Fortaleza: UECE (Dissertação Mestrado). 2004 187p.
PINHEIRO, Rosângela. M.P Microbacias Hidrográficas do Alto Jaguaribe (Tauá-CE) :
Vulnerabilidade ante a incidência de degradação/desertificação (Dissertação Mestrado) UFC
Fortaleza 2003. 179p.
SOUZA. Marcos J.N. Diagnóstico Geoambiental da Bacia Hidrográfica do rio Acaraú-
Relatório Preliminar Fortaleza: UECE/ EMBRAPA/UFF/COGEHR, 2005 P99.
VIEIRA, Vicente P.P.B. Água Doce no Semi-Árido In: Águas Doces no Brasil: capital ecológico,
uso e conservação. 2ª edição. São Paulo: Escrituras editora, 2002.p.507-530.
SOUZA. Marcos J.N. Diagnóstico Geoambiental da Bacia Hidrográfica do rio Acaraú-
Relatório Preliminar Fortaleza: UECE/ EMBRAPA/UFF/COGEHR, 2005 P99.
VICENTE DA SILVA, E. Geoecologia da Paisagem do Litoral Cearense:uma análise em nível
de escala regional e tipológica. 1998.256 p. Tese de Professor Titular Universidade Federal do
Ceará, Fortaleza, 1998.
VAREJÃO SILVA, M, A. Programa balanço hídrico. Recife: UFRPE / FUNCEME, 1990.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
APLICAÇÃO DO GEOPROCESSAMENTO EM CENÁRIOS DE INUNDAÇÃO NA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO ANIL, SÃO LUÍS-MA

Fabíola Geovanna Piga


Universidade Federal do Maranhão
fabipiga@gmail.com
Tatiana Cristina Santos de Castro
Paula Verônica Campos Jorge Santos
Franceleide Soares Conceição

RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo elaborar cenários de inundação na bacia hidrográfica do
Anil a partir de futuras projeções do aumento do nível do mar, feitas por especialistas e estudiosos
da área. Essas projeções foram definidas através de modelos onde o fator principal desse aumento
do nível do mar seria o aquecimento global, que acarretaria o derretimento das geleiras continentais
e expansão térmica da água do mar. Este estudo gerou essas projeções baseadas na topografia da
bacia. Através do geoprocessamento foram geradas curvas de nível em diferentes cotas,
constituindo assim cinco diferentes cenários de inundação. Sabe-se que a bacia hidrográfica do rio
Anil é uma bacia altamente urbanizada, com cerca de 58% de sua área ocupada e cerca de 300.000
pessoas instaladas. O crescimento desordenado da urbanização em áreas próximas a corpos d’água,
permite inferir a possibilidade da ocorrência de enchentes. Cerca de 42.828 pessoas podem ser
atingidas caso o nível do mar aumente até 6 metros. Além disso, a bacia possui uma das maiores
faixas de mangue do município de São Luís que, considerando esses cenários, estaria quase que
totalmente comprometida.

Palavras-chave: Aquecimento Global, Topografia, Geoprocessamento, Rio Anil.

INTRODUÇÃO
Segundo Nieuwolt e McGregor (1998), as “mudanças climáticas podem ser consideradas em
duas escalas temporais: mudanças de longa duração que são superiores a 20.000 anos, e mudanças
de curta duração que podem ocorrer entre 100 e 20.000 anos. A variabilidade climática refere-se a
mudanças de década a década e de ano a ano”. Para esses autores, as mudanças climáticas teriam
suas origens relacionadas a causas externas, fatores internos e às atividades humanas.
A criação de cenários futuros concernentes às mudanças climáticas ainda é bastante
especulativa, sobretudo devido à dificuldade da compreensão completa e satisfatória do dinamismo
da atmosfera na sua condição de corpo movente (MONTEIRO, 1991), como também à quase
imprevisibilidade da evolução das atividades humanas, sujeitas que são a fatores políticos, culturais,
econômicos e mesmo de intervenção natural na sua realização.
Este tipo de diagnóstico pode ser estudado através dos recursos oferecidos pelo
geoprocessamento, após a criação de um modelo digital de terreno, e de modelos hidrológicos, os
quais são capazes de quantificar e dinamizar numericamente os principais parâmetros da
precipitação e do escoamento superficial de determinada bacia hidrográfica (XAVIER-DA-SILVA,
2000).
A influência do processo de ocupação urbana, devido à expansão de áreas
impermeabilizadas, segundo Christofoletti (2001), se faz sentir diretamente no ciclo hidrológico
local, provocando redução da capacidade de infiltração, redução no escoamento subterrâneo,
favorecimento do escoamento superficial, interferindo na estocagem hídrica e na trajetória das
águas na bacia hidrográfica, produzindo efeitos adversos e imprevistos no que diz respeito ao uso
do solo.
Dessa forma, o uso do geoprocessamento nestes trabalhos tem se mostrado bastante eficaz
devido, à disponibilidade de softwares, de sistemas de informações geográficas (SIG) e banco de
dados cartográficos digitais, tornando-se assim uma forma rápida e barata de pesquisa.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
Na ilha de São Luís, a bacia hidrográfica do rio Anil concentra a maior área urbanizada
relativa, além de ser a mais densamente urbanizada. A expansão demográfica nessa área tem
resultado na ocupação por habitações em áreas baixas como várzeas inundáveis, propícias a futuras
inundações. A urbanização diminui a capacidade de infiltração do solo e compromete o escoamento
da água, aumentando as chances de enchentes no local. A projeção de elevações do nível do mar
torna-se assim indispensável para o planejamento e estruturação urbana, assim como a qualidade de
vida da população local.

MATERIAL E MÉTODOS
A bacia hidrográfica do rio Anil está localizada na porção NW da ilha de São Luís,
Maranhão entre as coordenadas 02°29”S, 44°12”W e 02°34”S, 44°18”W (Figura 01). Fazendo
limite com a bacia Litorânea, ao Norte; com a bacia do rio Bacanga ao Sul; com a bacia do rio
Paciência; a Leste e com a Baía de São Marcos, a Oeste (LABOHIDRO, 1980).
A bacia do rio Anil ocupa uma área da ordem de 4.384 ha, com uma densidade demográfica
em torno de 6.833,11 hab/km². Esta é uma bacia fortemente urbanizada, resultado do seu processo
histórico de ocupação, caracterizado pela ausência de planejamento e deficiência nos sistemas de
abastecimento hídrico e na infra-estrutura sanitária.

Figura 01. Mapa de localização da área de estudo.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

A base cartográfica utilizada é composta de mosaico de fotos áreas AEROCONSULT


(2001) de resolução de 5 metros, um mosaico de imagens satélite de 2008 georreferenciadas,
extraídas do software Google Earth com resolução de pixel de 1,0 metro, utilizado para a
interpretação visual e extração das informações sobre uso e ocupação do solo na área da bacia
hidrográfica do rio Anil, assim como para identificação das áreas supostamente afetadas por cada
cenário.
Foi elaborada a intersecção dos limites de bairros com setores do censo (IBGE, 2000) para
gerar o banco de dados georreferenciado do censo demográfico 2000. Para estimar o contingente
populacional instalado no local adotou-se o padrão do IBGE, que considera uma média de quatro
pessoas por domicílio.
Para a criação dos diferentes cenários de elevação do nível do mar levou-se em consideração
diversas projeções.
Cenário 1: baseado a partir do modelo INQUA (Comission on Sea Level Changes and
Coastal Evolution) abordado pelo especialista no assunto, o Prof. Nils-Axel Mörner, baseado nas
observações, do futuro nível do mar no ano 2100 chegou-se a um valor de 10 a 20 cm.
Cenário 2: baseou-se nas projeções do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change),
uma rede de cientistas patrocinada pela ONU. É apontado que o nível do mar se elevará muito
provavelmente no mínimo entre 20 e 60 centímetros (média de 40 cm) nos próximos 100 anos,
graças, principalmente, à expansão térmica do mar.
Cenário 3: projeções com a possibilidade de elevação de até 1,50 metros (em média) do
nível do mar, tal como aponta o climatologista Jim Hansen.
Cenário 4: uma elevação do nível do mar a partir da projeção do ambientalista e ex vice-
presidente dos Estados Unidos, Al Gore, no documentário “Uma Verdade Inconveniente” que alerta
para um possível aumento de 5,5 metros.
Cenário 5: Francisco Ferreira, da Quercus ANCN (Associação Nacional de Conservação da
Natureza, uma ONG portuguesa) Prevê-se o degelo da Groelândia e do Pólo Sul, o aumento do
nível do mar de 4 (cenário 5a) a 6 metros (cenário 5b).
A partir dos levantamentos altimétricos com curvas de eqüidistância de 1 metro, pode-se
determinar a cota representada por cada cenário. Determinadas as cotas, foram geradas as curvas de
nível com elevação referente a cada cenário e estas lançadas na base cartográfica para avaliação da
área e população possivelmente atingida e os danos causados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Devido ao fato das bacias hidrográficas integrarem uma visão conjunta do comportamento
das condições naturais e das atividades humanas nelas desenvolvidas, mudanças significativas em
qualquer dessas unidades, podem gerar alterações, efeitos e/ou impactos a jusante e nos fluxos
energéticos de saída (descarga, cargas sólidas e dissolvidas) (GUERRA & CUNHA, 2000).
Toda a área atualmente inundável por maré (abaixo da cota 4 metros IBGE) da bacia
hidrográfica ocupa aproximadamente uma área de 779 ha (17,76 % do total).
Como já mencionado, a bacia hidrográfica do rio Anil é fortemente antropizada,
confirmando-se isto pelo fato que cerca de 2.583 ha correspondem a área urbanizada, representando
58,92 % do total da área da bacia.
De acordo com Guerra & Cunha (2000), mudanças ocorridas no interior das bacias de
drenagem podem ter causas naturais, porém, nos últimos anos o homem tem sido um agente
acelerador dos processos modificadores e de desequilíbrios da paisagem.
O alto grau de urbanização não planejada na Bacia do Anil é preocupante, implicando em
modificações do uso do solo, diminuição da qualidade da água, impacto das obras hidráulicas sobre
o meio ambiente aquático e terrestre, e comprometimento da capacidade do ecossistema local em
escoar ou infiltrar a água que recebe.
A cota 4 metros IBGE representa o nível máximo da maré, sendo assim, para uma elevação
do nível do mar temos os seguintes cenários:

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Tabela 01. Cenários de inundação na bacia do rio Anil.


Projeção de Área N° de pessoas
Edificações
Cenários elevação do inundada afetadas
atingidas
nível do mar (há)
Cenário 1 20 cm 18,9 823 3.292
Cenário 2 50 cm 26,7 1.145 4.580
Cenário 3 1,50 m 53,7 2.459 9.836
Cenário 4 5,5 m 299,1 9.862 39.448
Cenário 5a 4,0 m 199,1 7.663 30.652
Cenário 5b 6,0 m 338,8 10.707 42.828

Considerou-se que o limite do cenário 1 é a cota 4,2 metros, ocupando uma área de cerca
18,9 ha. Dentro desse limite contabilizou-se que cerca de 823 edificações afetadas, ou seja, 3.292
pessoas seriam atingidas caso o nível do mar subisse 20 cm. O cenário abrange os bairros do
Centro, Liberdade, Camboa, Fé em Deus, Alemanha, Vila Palmeira, Conjunto de Maio, Santa
Eulália, Vila Independente e Renascença como demonstra a figura 02.

Figura 02. Mapa do cenário 1 na bacia do rio Anil.

Esse aumento de 20 cm é insignificante se levado em consideração a amplitude de maré que


a ilha de São Luís possui e as áreas atingidas neste cenário provavelmente já recebem um fluxo nas
marés de sizígia.
No cenário 2 a curva de nível utilizada foi de 4,5 metros. Nesse cenário o número de pessoas
atingidas seria 4.580, abrangendo uma área em torno de 26,7 ha. Além dos bairros já mencionados,
os bairros São Francisco, Santa Cruz, Anil, Rio Anil e Japão também seriam afetados.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 03. Mapa do cenário 2 na bacia do rio Anil.

Já no cenário 3, que levou em consideração uma elevação de 1,50 metros com uma cota de 5,5
metros, foi observado que cerca de 2.459 edificações, ou seja, 9.836 pessoas seriam atingidas pela
maré.
O cenário em questão abrangeria uma área de aproximadamente de 53,7 ha e atingiria mais os
bairros: Diamante, Barreto, Bequimão, Jaracaty, Vinhais IV e Belo Horizonte.

Figura 04. Mapa do cenário 3 na bacia do rio Anil.

No caso do nível do mar atingir uma altura de 5,5 metros como descrito no cenário 4, cerca
de 9.862 edificações e 39.448 pessoas seriam prejudicadas, abrangendo uma área de cerca de 299,1
ha. Na figura 05 podemos observar a situação deste cenário e os bairros atingidos como: Fabril,
Caratatiua, Ivar Saldanha, Sacavém, Santo Antonio, Ipase, Conjunto do Ipês, Jardim Monterrey,
Vinhais Velho, Vila Roseana, Cohafuma e Parque Olinda.

110
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 05. Mapa do cenário 4 na bacia do rio Anil.

De acordo com o cenário 5a com o nível do mar aumentando de 4 metros, os efeitos dessa
projeção abrangeram uma área de 199,1 ha, colocando em risco cerca de 7.663 edificações com
aproximadamente 30.652 pessoas. Além dos bairros já mencionados, este cenário atingiria os
bairros: Cutim Anil e Radional.

Figura 06. Mapa do cenário 5a na bacia do rio Anil.

111
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
No cenário 5b, a cota considerada foi de 10 metros. De acordo com essa projeção, uma área
cerca de 338,8 ha seria atingida pela maré, pondo em risco cerca 10.707 edificações, afetando
aproximadamente 42.828 pessoas e mais o bairro do Monte Castelo.

Figura 07. Mapa do cenário 5b na bacia do rio Anil.

Além de todas as pessoas que seriam desabrigadas caso esses eventos ocorressem, há ainda a
problemática da estruturação urbana que seria prejudicada, não só pelo fato de que ruas e avenidas
seriam tomadas pelas águas, mas também pelo fato de que na área da bacia encontra-se um grande
número de palafitas e quase toda a área de mangue localizada nas margens do rio Anil seria
inundada.
Segundo Tonello (2005), a declividade média de uma bacia hidrográfica tem importante
papel na distribuição da água entre o escoamento superficial e subterrâneo, dentre outros processos.
A ausência de cobertura vegetal, classe de solo com perfil pouco desenvolvido, alta intensidade de
chuvas, dentre outros, associados à maior declividade, conduzirá à maior velocidade de escoamento
superficial, menor quantidade de água armazenada no solo, resultando em enchentes mais
pronunciadas, sujeitando a bacia à degradação.

CONCLUSÃO
A bacia hidrográfica do rio Anil é uma bacia altamente urbanizada, com cerca de 58% de
sua área ocupada e cerca de 300.000 pessoas instaladas, tornando-se susceptível ao risco de
enchentes e degradação por causa do baixo escoamento e infiltração em razão não só da alta taxa de
urbanização, mas também por ser uma bacia de baixo declive.
A população mais atingida será a de baixa renda, contudo não significa que a população de
maior renda não será afetada, implicando que todos estão sujeitos ao risco de enchentes,
independente de sua condição social.
De acordo com o que foi observado, as inundações causariam impactos significativos apenas
em caso de elevação extrema. No cenário mais provável de 50 cm, em torno de 5.000 pessoas
seriam afetadas. Contudo isto seria um impacto a ser mitigado ao longo de décadas, o que
descaracteriza, portanto, o nível emergencial ou de significância do mesmo.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

REFERÊNCIAS
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planejamento. In: GUERRA, A. T. (org); CUNHA, S. B. Geomorfologia: uma atualização de
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Lawrence Bender Productions / Participant Productions, 2006. Filme (100 min), DVD, color, 35
mm.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO USO DA ÁGUA EM UM SISTEMA DE IRRIGAÇÃO


NO PERÍMETRO IRRIGADO BAIXO ACARAÚ, CEARÁ

Fernando Bezerra Lopes


Doutorando em Engenharia Agrícola, Departamento de Engenharia Agrícola – UFC, lopesfb@yahoo.com.br
Nayara Rochelli de Sousa Luna
curso de Irrigação e Drenagem do Instituto Federal do Ceará - FFCE, Campus de Sobral, CE -
nayararochelli@hotmail.com
Francisco Antonio de Oliveira Lobato
Mestrando em Engenharia Agrícola, UFC, lobatt18@yahoo.com.br
Maria Jorgiana Ferreira Dantas
Mestranda em Engenharia Agrícola, UFC, jorgianaferreira@hotmail.com
Elinelton de Sousa Mesquita
Graduado em Recursos Hídricos e Irrigação, elineutonsousa@yahoo.com.br

RESUMO
O crescimento populacional acelerado aliado à busca por uma melhor qualidade de vida leva à
supressão dos recursos naturais, a exemplo da água. O objetivo do presente trabalho foi avaliar o
desperdício de água em um lote, localizado no Perímetro Irrigado Baixo Acaraú,estado do Ceará,
por meio da avaliação do desempenho do sistema de irrigação, bem comocomparar a real
necessidade hídrica da cultura com o volume de água aplicado pelo irrigante. O estudo foi realizado
em uma área de 4 ha, implantada com a cultura do coqueiro-anão no espaçamento de 6 m x 6 m. As
vazões foram medidas em quatro pontos ao longo da linha lateral, ou seja, o primeiro emissor, o
emissor a 1/3, o emissor a 2/3 do comprimento da linha e o último emissor. As linhas laterais foram
selecionadas da mesma forma. O sistema de irrigação avaliado apresenta um baixo desempenho
com relação a distribuição da água, apresentando um Coeficiente de Uniformidade de Christiansen
– CUC de 74,85%, Coeficiente de Uniformidade de Distribuição – CUD de 72,70% e uma
eficiência de aplicação da água de 64,43%. No Perímetro Irrigado Baixo Acaraú, o desperdício de
água em um hectare de coqueiro-anão, a cada dia, variou de 9 a 28 m3, com um valor médio, ao
longo da estação seca, de 16 m3 ha-1 dia-1. A cultura do coqueiro-anão está sendo irrigada em
excesso, mesmo com o sistema funcionando com uma baixa eficiência de aplicação. O sistema
apresenta um CUC classificado como razoável e um CUD classificado como regular. A água está
sendo usada de forma inadequada, apresentando um grande desperdício.

Palavras-chave: Irrigação localizada. Eficiência de aplicação. Desperdício de água.

INTRODUÇÃO
O crescimento populacional acelerado aliado à busca por melhor qualidade de vida leva à
supressão dos recursos naturais, a exemplo da água. No século passado, enquanto a população
mundial dobrou, o consumo mundial de água aumentou em seis vezes. Em termos mundiais, a
tendência é que os recursos hídricos venham a se tornar mais escassos, devido à intensificação do
seu uso aliada a crescente poluição, caso não sejam tomadas medidas sérias no que diz respeito a
gestão da oferta e demanda. Manter o abastecimento d’água, não apenas em quantidade, mas
também em qualidade para atender à demanda dos múltiplos usos, será o maior desafio a ser
superado pela sociedade.
As regiões áridas e semi-áridas do globo caracterizam-se por verões longos e secos, alternados
por estações chuvosas de curta duração com alta variabilidade espacial e temporal. Por outro lado, a
produção agrícola dessas regiões depende, em parte, da dotação artificial da água (ANDRADE et
al., 2002). Em muitas situações, a irrigação é o único meio de garantir a produção agrícola em bases
sustentáveis e com segurança (AYERS; WESTCOT, 1999).
A agricultura irrigada é uma atividade imprescindível nos dias atuais, onde são observados
crescimentos contínuos da demanda de alimentos, devido ao crescimento populacional e a busca

114
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
incessante por uma melhor qualidade de vida. Esta atividade vem despontando no Nordeste
brasileiro como uma expressiva atividade de mercado acarretando produções e rendimentos mais
elevados ao setor, com destaque para a fruticultura que tem assumido lugar de destaque em tal
cenário (MOREIRA et al., 2005).
A utilização de sistemas de irrigação mais eficientes é uma busca constante na agricultura
irrigada, pois, existe tendência de aumento no custo da energia e de redução da disponibilidade
hídrica dos mananciais (BARRETO FILHO et al., 2000). Dentre os sistemas pressurizados, a
irrigação localizada é a que propicia a maior eficiência de irrigação, uma vez que as perdas na
aplicação da água são relativamente pequenas. Para que se obtenha sucesso com a técnica da
irrigação é necessário que o manejo seja bem efetuado. Vários são os parâmetros que auxiliam na
realização de uma irrigação eficiente. A uniformidade de distribuição é parâmetro importante para a
avaliação de sistemas de irrigação localizada, tanto na fase de projeto, quanto no acompanhamento
do desempenho após a implantação (FAVETTA; BOTREL, 2001).
O uso da irrigação é importante para viabilizar a exploração comercial da cultura do coqueiro,
principalmente na região Nordeste, devido as irregularidade das chuvas (MIRANDA; GOMES,
2006), mas, por não adotar um método de controle da irrigação, o produtor usualmente irriga em
excesso, temendo que a cultura sofra um estresse hídrico, o que pode comprometer a produção. Um
melhor manejo da irrigação tem sido objetivo de pesquisas de vários autores (BARRETO FILHO et
al. 2000; MOREIRA et al.; PEIXOTO et al., 2005; SOARES et al.; CHAVES et al.; CARVALHO
et al., 2006).
O objetivo do presente trabalho foi avaliar o desperdício de água em um lote irrigado no
Perímetro Irrigado Baixo Acaraú no Estado do Ceará, através da avaliação do desempenho do
sistema de irrigação e fazer uma comparação entre a necessidade hídrica da cultura e volume de
água aplicado pelo irrigante.
O objetivo do presente trabalho foi avaliar o desperdício de água em um lote, localizado no
Perímetro Irrigado Baixo Acaraú, estado do Ceará, por meio da avaliação do desempenho do
sistema de irrigação, bem como comparar a real necessidade hídrica da cultura com o volume de
água aplicado pelo irrigante.

MATERIAL E MÉTODOS

ÁREA EM ESTUDO
O trabalho foi desenvolvido no Perímetro Irrigado Baixo Acaraú (PIBAU), que apresenta uma
área de 12.407 ha, e está localizado na região Norte do Estado do Ceará (Figura 1). O estudo foi
realizado em uma área de 4 ha, implantada com a cultura do coqueiro-anão, no espaçamento de 6 m
x 6 m. A avaliação foi conduzida em uma sub-área de 0,63 ha, contando com 16 linhas laterais de
diâmetro de 16 mm, cada uma com 22 emissores, sendo dois emissores por planta. A vazão nominal
do microaspersor é de 36 L h-1. O produtor usa turno de rega (Tr) de dois dias, com um tempo de
irrigação de 12 horas. O lote avaliado é qualificado como de pequeno produtor, ou seja, apresenta
uma área de 8 ha.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 1 – Localização da área de estudo

O clima da região, de acordo com a classificação de Köppen, é Aw’, tropical chuvoso com
precipitação anual de 900 mm (Tabela 1).

Tabela 1 – Características climáticas para a Região do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú, Ceará
Parâmetros Valores Unidade
Evapotranspiração (tanque classe A) 1.600 mm ano-1
Insolação média 6.650 h ano-1
Precipitação 900 mm ano-1
Temperatura máxima anual 34,7 ºC
Temperatura média anual 28,1 ºC
Temperatura mínima anual 22,8 ºC
Umidade relativa média 70 %
Velocidade média dos ventos 3,0 m s-1
Fonte: Adaptada de DNOCS (2008).

Os solos, em geral, são profundos, bem drenados, de textura média ou média/leve e muito
permeáveis (DNOCS, 2008). O suprimento hídrico ocorre através de uma vazão contínua de
aproximadamente 1,15 L s-1 ha-1 para pequeno produtor e técnico, e, de 1,3 L s-1 ha-1 para o irrigante
tipo empresário. A água é liberada pela Barragem Santa Rosa. Essa é classificada como C1S2
(LOBATO et al., 2008).

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
AVALIAÇÃO DO SISTEMA DE IRRIGAÇÃO
Utilizou-se a metodologia proposta por Keller e Karmeli (1974), a qual recomenda a obtenção
das vazões em quatro pontos ao longo da linha lateral, ou seja, do primeiro emissor, do emissor a
1/3 e 2/3 do comprimento e do último emissor. As linhas laterais são selecionadas da mesma forma:
primeira, 1/3, 2/3 e última (Figura 2). Com esses valores foram determinados os seguintes
coeficientes:
Coeficiente de Uniformidade de Christiansen (CUC) pela Equação 1.
 n −
100 x 1 − ∑ qi − q 
CUC =  i =1  (1)
_
nq
em que: CUC – em %; qi - é a medida da vazão em cada emissor, L.h-1; q - é a media das vazões de
todos os emissores, L.h-1; n - números de emissores.
Para sistemas que estejam em operação por um ou mais anos, a ASAE (1996) apresenta o
seguinte critério geral para interpretação dos valores de CUC: maior que 90% - excelente, entre 80 e
90% - bom, entre 70 e 80% - razoável, entre 60 e 70% - ruim e menor que 60% - inaceitável.
Coeficiente de Uniformidade de Distribuição (CUD) pela Equação 2.
 
 qn 
CUD =  _  x 100 (2)
 q 
 
em que: CUD – em %; qn - média dos 25% das vazões, com menores valores, L h-1;
Merriam e Keller (1978) apresentaram o seguinte critério geral para interpretação dos valores
de CUD, para sistemas que estejam em operação por um ou mais anos: maior que 90% - excelente,
entre 80 e 90% - bom, entre 70 e 80% - regular e menor que 70% - ruim.

Figura 2 – Esquema de amostragem dos emissores para a determinação dos coeficientes

Calculou-se a eficiência de aplicação (Ea) sob irrigação completa estimada por Merrian;
Keller (1978) pela Equação 3.

Ea = Ks x CUD (3)
em que: Ea – eficiência de aplicação,%; Ks - coeficiente de transmissividade. Para este trabalho
utilizou-se o valor de 90%.

117
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

VOLUME DE ÁGUA APLICADO PELO IRRIGANTE


O volume de água aplicado (Va) pelo irrigante pode ser calculado pela Equação 4.

Va = Ti * Nep * qa * Ea (4)

em que: Va = volume de água a ser aplicado por planta, L; Ti = O tempo de irrigação, h; Nep =
número de emissor por planta; qa = vazão média dos emissores L h-1; Ea = eficiência de aplicação
do sistema de irrigação, decimal.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Figura 3 são apresentadas as vazões dos emissores ao longo das linhas laterais do lote
avaliado. Nota-se uma maior uniformidade das vazões ao longo das linhas, a 1/3 e na última. As
linhas no início e a 2/3 apresentam uma maior desuniformidade das vazões. Tal fato está associado
à forma manual de desobstrução dos emissores, o que provoca uma descaracterização hidráulica dos
mesmos, e ao uso de diferentes modelos de emissores na mesma parcela irrigada.

80
70
.

60
Vazão ( L h )

50
-1

40
30
20
10
0
Início
1 1/3
2 2/3
3 Último
4
Posição dos emissores
Primeira linha Linha a 1/3 do total Linha a 2/3 do total
Último linha Média no setor
Figura 3 – Vazão dos emissores ao longo das linhas laterais avaliadas

Os coeficientes indicadores do desempenho do sistema de irrigação em campo encontram-se


dispostos na Tabela 2.

Tabela 2 - Coeficientes resultantes da avaliação do sistema de irrigação por microaspersão


Coeficientes Unidade Valor
-1
Vazão média no setor Lh 34,94
CUC % 74,85
CUD % 72,70
Ea % 65,43

A partir dos resultados obtidos (Tabela 2), verifica-se que CUC foi de 74,85%. De acordo
com a classificação de ASAE (1996), o sistema funciona sob razoável condição de uniformidade de
distribuição. Peixoto et al. (2005), avaliando um sistema de irrigação por microaspersão em área de

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
coqueiro anão, encontraram valores de CUC superiores a 93%. Santos et al. (2005) obtiveram
resultados entre 70,99 e 86,21% para microaspersão.
Para o CUD, observa-se na Tabela 2, que o mesmo apresenta valor de 72,70%. Segundo
Merriam e Keller (1978) a performance do sistema em questão, classifica-se como regular. Barreto
Filho et al. (2000) encontraram resultados diferentes, com valores de CUD da ordem de 89 a 94%
em um sistema de irrigação por microaspersão. SOARES et al. (2006) encontraram resultados
semelhantes, os quais variaram de 69,32 a 94,81%.
Bernardo et al. (2006) recomendam, como faixa ideal, eficiência de aplicação (Ea) acima de
90%, mas, acima de 80% é aceitável para sistemas de irrigação localizados. O lote em estudo
apresenta Ea de 65,43%, encontrado-se em funcionamento ineficiente. Esta baixa eficiência deve-se
à obstrução dos emissores, cortes nas mangueiras, vazamento em conexões e uso de deferentes
modelos de emissores na mesma parcela irrigada, o que pôde ser verificada durante a avaliação.
Carvalho et al. (2006) encontraram resultados semelhantes (Ea igual a 61,28%), avaliando um
sistema de irrigação localizado por gotejamento, localizado no Sítio Almécegas pertencente à
Escola Agrotécnica Federal, situada no município de Crato – CE.
Observando a Tabela 3, verifica-se que a cultura do coqueiro-anão está sendo cultivada sob
excesso hídrico, mesmo com o sistema de irrigação funcionando com uma baixa eficiência de
aplicação (65,43%).

Tabela 3 - Comparação entre a necessidade hídrica do coqueiro-anão para o quinto ano em diante e
a realmente aplicada pelo produtor para o período de junho a dezembro (estação seca na
região)
Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Va (L planta-1 dia-1) 275 275 275 275 275 275 275
-1 -1
NRC* (L planta dia )** 173 186 227 240 244 237 217
-1 -1
Excesso (L planta dia ) 102 89 48 35 31 38 58
Excesso (%) 59 48 21 14 13 16 27
Desperdício de água (m3 ha-1 dia-1) 28 25 13 10 9 10 16
* Necessidade Real da Cultura**; Lopes et al. (2007).

O desperdício de água em um hectare de coqueiro-anão, por dia, no PIBAU variou de 9 a 28


m (Tabela 3), com um valor médio, ao longo da estação seca, de 16 m3 ha-1 dia-1.
3

CONCLUSÕES

A cultura do coqueiro-anão está sendo irrigada em excesso, mesmo o sistema funcionando


com uma baixa eficiência de aplicação. O sistema apresenta um CUC classificado como razoável e
um CUD classificado como regular. O sistema funciona com baixa eficiência de aplicação. A água
está sendo usada de forma inadequada.

REFERÊNCIAS

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121
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
GESTÃO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS E DINÂMICA HIDROLÓGICA NO
NORDESTE SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO
Flávio Rodrigues do Nascimento
Prof. Adjunto do Depart° e do Prog. de Pós graduação em Geografia da UFF-RJ.

RESUMO
O presente texto tem por objetivo discutir aspectos da gestão de bacias hidrográficas
intermitentes sazonais e suas dinâmicas hidrológicas no semi-árido nordeste. Neste caminho,
partindo-se do princípio de que uma dada bacia hidrográfica pode ser tomada enquanto unidade de
estudo, foram consideradas o contexto geoambientais das bacias do nordeste seco do Brasil,
apresentadas as últimas atualizações classificações para estudos sobre bacias hidrográficas como
subsídio à gestão, consideradas pelo Governo Federal, com destaque a Bacia Hidrográfica Atlântico
Nordeste Oriental – no bojo do conceito de Região Hidrográfica, isto é um conjunto de grandes
bacias hidrográficas limítrofes e com características hidrológicas e ambientais similares. Foram
ainda tratas das necessidades de gerenciamento dos recursos hídricos conforme disponibilidades per
capita, considerando a demanda de águas renováveis e o grau de necessidade de gestão e
investimento no gestor de gestão de bacias e gerenciamento de recursos hídricos. O trabalho foi
finalizado com a discussão que destacou as vantagens da concretude base análise das bacias
hidrográficas, como importante subsídio a gestão integrada dos recursos naturais e ao planejamento
ambiental.
Palavras-chave: Gestão de bacias hidrográficas, dinâmica hidrológica e semi-árido Brasileiro.

BACIAS INTERMITENTES SAZONAIS DO NORDESTE SEMI-ÁRIDO

O Brasil é o detentor do maior volume de águas doces do planeta, formando, segundo Cunha
(2001) uma das mais extensas e densas redes hidrográficas do mundo, com descarga média total da
ordem de 5.619 km³/ano. Isto representa aproximadamente 14% dos 41mil km³/ano de deflúvio dos
rios no mundo. Este montante chega a ser reduzido, proporcionalmente na região Nordestina seca.
A rigor, dentre os exemplos nacionais em que os recursos hídricos são controlados pelas condições
naturais, têm-se a bacia Amazônica, a região semi-árida do Nordeste e a região do pantanal, onde a
interação de litosfera, biosfera e atmosfera define o equilíbrio dinâmico para o ciclo hidrológico, o
que influenciará nas características e vazões das águas. O semi-árido é um típico caso com
criticidade de falta de recursos hídricos, onde a quantidade e a qualidade das águas doces estão em
função das condições climáticas, geológico-geomorfológicas do manejo e gestão de bacias
hidrográficas.
Os rios do Nordeste Brasileiro (NEB), em épocas do ano, atingem o mar tratando-se de um
dos fatores de originalidade dos sistemas hidrográficos e hidrológicos regionais, que ao contrário de
outras regiões semi-áridas do mundo, onde drenagens convergem para depressões fechadas, os rios
dessa região vão ter com o Atlântico. Os rios são de caráter intermitente – a exceção dos
perenizados por açudagens/barramentos -, com drenagem exorréica, que em grande escala não
permite a formação de solos originalmente salinos, principalmente nas vertentes e interflúvios. Os
sais dissolvidos da litologia cristalina, predominante na meso-estrutura, e aqueles provenientes das
chuvas carregadas de águas evaporadas do oceano, vão ter com o nível de base após arraste pelo
fluxo hídrico das torrentes.
A despeito da dinâmica hidrológica de bacias semi-áridas no NEB, uma dos estudos
referências foi o elaborado por Filho et. al., (1994). Sobre esta região, das 24 unidades hidrográficas
de planejamento (bacias integradas), consideradas por Filho et. al., (1994), em uma área total de
1.429,900 km², 19 são compostas por rios intermitentes sazonais, com uma superfície de 837.700
km², ou 58,58% do total. A disponibilidade hídrica, ”permanente” ou duradoura, é função da
regularização interanual dos deflúvios naturais por volumes constantes provenientes de

122
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
reservatórios (VIEIRA 2002). Para efeitos de exemplificação a Tabela 01 compara as principais
características de potencialidades e disponibilidades das regiões hidrográficas aludidas.da
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE).

Tabela 01 - Potencialidades, disponibilidade e demanda das regiões hidrográficas da Superintendência de


Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)
Unidade de Área (km²) Potencial (hm³/ano) em milhões Total Disponibilidade (hm³) Total
Planejament (hm³/ (hm³/ano)
o Escoam Escoamento ano) Superficia Subterraneo
. Subterrâneo em l
Superfi milh
cial ões
Total 1.663.230 148.62 58.405. 0207. 92.929.38 4.372.300 97.301.68
Nordeste da 5 830 1 1
SUDENE
Disponibilidades e evolução das demandas hídricas, até o ano 2020, em hm³/ano
Unidade de 1991 2000 2010 2020
Planejament
o Disponibil Demanand Disponibil Demanda Dispon Demanda Disponib Demanda
i-dade a i-dade i- ili-dade
bilidad
e.
Total 97.301,68 27.872.91 100.189,7 25.975.30 100.74 29.793,20 101.225, 33.428,527
Nordeste da 4 1 8 6,35 3 61
SUDENE

Fonte: Filho et. al., (1994).

No que condiz a disponibilidade hídrica de rios, a maioria dos estados nordestinos situa-se na
classe regular (1000-2000 m³/hab/ano). O Nordeste apresenta 1.657,601 m³/hab/ano, ou 4,6% da
disponibilidade hídrica social a partir de um potencial hídrico de 186,2 km³/ano (REBOUÇAS,
2002).
Segundo o Plano de Aproveitamento Integrado dos Recursos Hídricos do Nordeste do Brasil
– PLIRHINE - (FILHO et. al., 1994), a vulnerabilidade natural, em grande parte, pode provocar o
surgimento de conflitos e calamidades nas áreas econômicas e sociais. As bacias predispostas a
situações críticas no Nordeste são em número de nove (09), demonstrando o fato de que a
vulnerabilidade natural dessas bacias refere-se à semi-áridez e às secas periódicas, podendo ter seus
efeitos magnificados pelo não gerenciamento adequado das águas. Quando o Índice de
Regularidade Fluvial, “IRF”, (vazão mínima/vazão máxima) é igual a zero e o déficit de
evapotranspiração potencial relativo, “DETPR”, for maior do que 1, a bacia hidrográfica é
predisposta a situações críticas. Quer dizer, a bacia é naturalmente vulnerável com níveis de
criticidade. Esse plano ressalta que, na precipitação regional, apenas 12% do volume são escoados.
A média pluviométrica correspondente a uma área de 1.663.200km² é de 1.140mm (1.730 bilhões
m³/ano), distribuídos do seguinte modo: 1,523 bi m³ (88%) evaporam e/ou evapotranspiram, 149 bi
m³ (8,6%) escoam superficialmente e 58 bi m³ (3,4%) infiltram, fazendo parte do escoamento
subterrâneo.
Já na década de 1990, Segundo Cunha (2001), o Departamento Nacional de Águas e Energia
Elétrica (DNAEE) classifica o Brasil em oito (08) Bacias Hidrográficas: Amazônica; Tocantins;
Atlântico Sul, trecho Norte/Nordeste; São Francisco; Atlântico Sul, trecho Leste; Paraguai/Paraná;
Uruguai e Atlântico Sul, trecho Sudeste. No entanto, devido às particularidades de cada bacia em
função das características ambientais dominantes - como a distribuição espaciotemporal das
precipitações, fatores estruturais refletindo na importância e características de drenagem e
dissecação do Planalto Brasileiro (um importante dispersor de drenagem), tipo de solo e as formas
de uso e ocupação -, aquela autora as reclassificou a partir de 10 unidades, dentre as quais pode ser
destacada a Bacia do Atlântico Nordeste, comportando regimes fluviais temporários e intermitentes
(semi-áridos).

123
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
Esta bacia apresenta uma área de 953 mil km², com rios intermitentes sazonais que vertem
para o Oceano Atlântico. Administrativamente drena por completo as áreas dos Estados do
Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. E parcialmente o Amapá, Pará,
Pernambuco e Alagoas. Destacam-se como drenagem principal os rios Pindaré, Grajaú Mearim e
Itapecuru, que vão ter com o Golfo Maranhense, e o rio Parnaíba. Desconsiderando estes rios, que
são perenes, pode-se afiançar que os demais drenam setores concentrados e difusos do semi-árido
nordestino, marcando entre os interflúvios sertanejos paisagens que sofrem com as vicissitudes
climáticas e com vulnerabilidade as secas, intensificando a instável do meio físico e a distribuição
no tempo e no espaço das chuvas e das águas superficiais, promovendo a formação de rios que
cortam durante as estiagens.
Foram registrados valores de 600 mm anuais de chuvas no centro da Bacia do Atlântico
Nordeste, aumentado para suas extremidades. Embora a chuva média seja de 1.328mm/ano, o
regime fluvial é semi-árido, com vazão média de 5,7 l/s/km². As enchentes ocorrem na quadra
chuvosa de verão-outono, e as vazantes na primavera ou verão. No Maranhão, o regime tropical
austral mostra-se perene, com enchentes no outono e vazante na primavera marcam o regime fluvial
(CUNHA, op Cit.). Como tentativa de mais bem dedilhar informações sobre o NEB seco, alguns
dados relevantes que foram sintetizados a seguir (Quadro 01).
Quanto ao potencial hidrogeológico nas bacias semi-áridas, usualmente, constitui
reservatórios subterrâneos diversos desde zonas fraturadas ou de rochas intemperizadas do substrato
geológico pré-cambriano até depósitos quaternários aluviais, com dimensões variadas, geralmente
não grandes, contendo volumes de água acumulado que podem remontar às origens de suas
formações geológicas. Em regra, as águas subterrâneas do domínio cristalino são limitadas.
Segundo Rebouças (1997) a vazão média em poços tubulares é ínfima, da ordem de 5 m³/h, e
salinidade média da ordem de 2 mil mg/L, o que pode comprometer sua potabilidade.
Com índices de evaporação críticos na região favorecedores de balanço hídrico deficitário, as
águas subterrâneas se encontram mais bem protegidas, com uma parcela de perda hídrica
consideravelmente menor do que aquela perdida por mananciais de superfície. Esses poços
comportam-se como reservar hídricas que podem ser importantes principalmente durante as
estiagens para o aproveitamento prioritário humano, dessedentação de animais e outros. As
demandas para tal fim devem ser garantidas, em qualquer cenário considerável, conservando e
distribuindo equilibradamente aportes deste recurso vital, em quantidades e qualidades mínimas, em
consonância com as coleções hídricas de superficiais em planos de gerenciamento de bacias
hidrográficas.
Tabela 02 – Principais dados hidrológicos das bacias hidrográficas brasileiras,
período de 1961 a 1990
Bacias Vazão Média
hidrográficas Chuva Média Vazão Média Específica Evapotranspiração Produção
Área (km²) (mm/ano) (m³/s) (l/s/km²) Real (mm/ano) Hídrica (mm³/s)
Amazônica 6.112.000 2.460 209.000 34 1.382 120.000
Atlântico
Nordeste 953.000 1.328 5.390 6 1.150 9.050
Paraná 877.000 1.385 1.290 13 959 12.290
Tocantins 757.000 1.660 11.800 16 1.168 11.800

São Francisco 634.000 916 2.850 5 774 2.850


Atlântico Leste 551.000 1.062 2.175 8 827 4.350
Paraguai 368.000 1.370 11.000 4 1.259 12.290
Atlântico
Sudeste 224.000 1.394 4.300 19 789 4.300
Uruguai 178.000 1.567 4.150 23 832 4.150
Atlântico Norte 76.000 2.950 3.360 48 1.431 9.050
Brasil 8.512.000 1.954 257.790 24 1.195 168.770
Fonte: DNAEE, 1994 in Cunha (2001).

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Quadro 01 - Comparação entre aspectos hidrológicos no Mundo, Brasil e Nordeste seco


Discriminação Características

Escoamento Cerca de 50% do total mundial ocorrem na zona intertropical (22.000 km³/ano), acrescidos mais 2% (800
mundial e km³/ano) das zonas áridas e semi-áridas, dentro daquela faixa ou não. Com evapotranspiração da ordem de
Fluxo hídrico 38.000 mm/ano e 6.20 km³/ano. Águas subterrâneas no semi-árido oscila entre 10 a 100 mm/ano.
subterrâneo

Déficit hídrico Regiões áridas e semi-áridas precipitação menor que evapotranspiração.

Precipitação e América do Sul apresenta a maior precipitação anual entre os continentes, com 1.600 mm/ano em média,
excedente ou 28.400 km³/ano. A evapotranspiração também é a maior com 910 mm/ano/média. Por isto, promove o
hídrico maior excedente hídrico do Planeta, com 690mm/ano, ou 30,9% do total que é de 2.229 mm/ano.

Descargas dos No mundo é de 41.000km³/ano, quando as demandas estimadas para o ano 2000 foram de 11%. Na
rios América do Sul esses montantes representam 10.377 km³/ano ou 3% dos potenciais em uso. Tais valores
são relativizados no espaço e tempo, com as zonas intertropicais úmidas e temperadas detendo 98% das
descargas mundiais.

Água per Em 1995 a América do Sul era a mais rica neste crivo, enquanto os países africanos eram os mais pobres.
capta As reservas sociais permitem corrigir a influência das grandes diferenças de densidade populacionais.

Elaborado a partir de Rebouças (1997) e Nascimento (2006).

ATUALIZAÇÕES DE ESTUDOS SOBRE BACIAS HIDROGRÁFICAS COMO SUBSÍDIO


À GESTÃO

Para fins de implementação da gestão compartilhada dos recursos hídricos no plano federal,
foi efetivado Governo Federal no Ano Internacional da Água Doce, por meio do Decreto
Presidencial n° 4.755, de 20 de junho de 2003, o Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH).
Trata-se de documento-guia para orientação das decisões de governo e das instituições que
compõem o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos – SINGREH (Lei 9.433, de
08/01/1997). O PNRH tem como base a Divisão Hidrográfica Nacional, aprovada no Conselho
Nacional de Recursos Hídricos (Resolução N° 30/11/2002), com orientações do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) e de outras instituições federais, que definem metodologia de
codificação e procedimentos de subdivisões em agrupamentos de bacias e regiões hidrográficas, a
partir de 12 regiões hidrográficas. Estas regiões hidrográficas servem para implantação de base de
dados referenciadas por bacia, com fins a integração de informações sobre recursos hídricos
(BRASIL, 2004). Observemos a Tabela 03, que mostra a divisão hidrográfica do Brasil.

Tabela 03 – Divisão Hidrográfica Nacional Atual


Regiões Hidrográficas Constituição População e Área
Habitantes km²
Amazônica Bacia homônima situada no território nacional constituída também pelas bacias 7.609.424 6.974.410
dos rios existentes na ilha de Marajó, além das bacias dos rios situados do
Amapá que deságuam no atlântico norte.
Tocantins/ bacia hidrográfica do Tocantins até a sua foz no oceanoa atlântico 7.890.714 967.059
Araguaia
Atlântico Nordeste bacias hidrográficas de rios que deságuam no Atlântico – trecho norte- 4.724.431 254.100
Ocidental nordeste, estando limitada a oeste pela região hidrográfica do
Tocantins/Araguaia, e a leste pela b.h do Parnaíba.
Parnaíba bacia hidrográfica homônima 3.630.431 344.112
Atlântico Nordeste bacias hidrográficas intermitentes de rios que deságuam no Atlântico – trecho 21.606.881 287.348
Oriental nordeste, estando limitada ao oeste pela bacia do Parnaíba, ao norte e ao leste
pelo Atlântico e ao Sul pela região hidrográfica do São Francisco.
São Francisco bacia hidrográfica homônima 12.823.013 638.324
Atlântico Leste bacias de rios que deságuam no Atlântico – trecho Leste, estando limitada ao 13.641.045 374.677
norte e ao oeste pela bacia do São Francisco e ao Sul pelas bacias do
Jequitinhonha, Mucuri e São Mateus.
Atlântico Sudeste bacias hidrográficas de rios que deságuam no alântico – trecho sudeste, 25.644.396 229.972
estando limitada ao norte pela bacia do rio Doce, inclusive, a oeste pelas
regiões hidrográficas do São Francisco e do Paraná, e ao sul pela Bacia do rio
Ribeira.
Paraná bacia do rio Paraná situada no território nacional. 54.639.523 879.860

125
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
Uruguai bacias do rio Uruguai situada no território brasileiro, estando limitada ao norte 3.834.654 147.612
pela região hidrográfica do Paraná, a oeste pela Argentina e ao sul pelo
Uruguai.
Atlântico Sul bacias hidrográficas com rios que deságuam no atlântico –trecho sul, estando 11.592.481 185.856
limitada ao note pelas bacias dos rios Ipiranguinha, Iririaia Mirim, Candapuí,
Serra Negra, Tabagaça, e Cacnhoeria, inclusive, a oeste pelas regiões
hidrográficas do Paraná e do Uruguai e ao sul pelo Uruguai.
Paraguai bacia hidrográfica do rio Paraguai situada em território nacional. 1.887.401 363.445
Fonte: Brasil, 2004; MMA/SRH, 2004.

A despeito das bacias intermitentes sazonais, assinala-se a região hidrográfica do Atlântico


Nordeste Oriental, que verte suas águas por meio das bacias que deságuam no Oceano Atlântico.
Esta região hidrográfica é a 3ª mais habitada do País, com uma população superior a 21 milhões de
habitantes, comportando-se como a 8ª em área, com 287.348 km². Em seu contexto, existem cinco
importantes capitais do Nordeste (Fortaleza, Natal, João Pessoa e Recife), dezenas de grandes
núcleos urbanos e um representativo parque industrial MMA/SRH, (2004). Em conjunto com outras
bacias intermitentes, a unidade em foco drena setores concentrados e difusos do semi-árido
nordestino, marcando entre os interflúvios sertanejos paisagens que sofrem com as vicissitudes
climáticas e com vulnerabilidade às secas, produzindo irregularidades na distribuição
espaciotemporal das chuvas, com reflexos nas águas superficiais, promovendo a formação de rios
que cortam durante as estiagens.

GESTÃO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS INTERMITENTES SAZONAIS

A crise de água no país, sobretudo no Nordeste, decorre no geral de: um crescimento rápido e
desordenado das demandas; degradação da qualidade dos mananciais normalmente utilizados em
níveis inimagináveis; e pela baixa eficiência dos serviços de saneamento básico. Nesta perspectiva
as potencialidades e limitações hidro-ambientais merecem destaque especial, como alternativa de
acesso a água (REBOUÇAS, 1997, e NASCIMENTO, 2006). A rigor, os recursos hídricos devem
ser estudados em um contexto amplo de planejamento e gestão ambiental, extrapolando a visão
exclusivamente limnológica, atinando a bacia hidrográfica como unidade físico-territorial, para que
possam ser mais bem entendidos no domínio do ciclo hidrológico, como elemento fundamental à
vida ou como recurso natural nas mais variadas etimologias da relação sociedade x natureza.
Por conta da crescente demanda por água para consumo humano e atividades produtivas, há
que se adequar a relação água/sociedade (cada habitante da bacia hidrográfica) a um processo de
gerenciamento integrado, o qual Rebouças (ibid) chamou de disponibilidade hídrica social dos rios.
Por que à proporção que a demanda por água aumenta, alcançando determinados níveis de
disponibilidade social – disponibilidade per capita –, a demanda por gerenciamento é fundamental.
Em nível global, a Tabela 04 afere sobre esse assunto os seguintes preceitos:

Tabela 04 - Necessidade de gerenciamento dos recursos hídricos conforme disponibilidades per capita
Demanda de águas renováveis: vazões totais Grau de necessidade de gestão e investimentos
médias (fluxos superficial + subterrâneo)
≤ 5%
Baixo: água como bem livre, sob respeito ambiental e legal
5% a 10%
Moderado: pode ocorrer a necessidade a partir de um pequeno investimento
para solucionar os conflitos locais
10% a 20% Alta: indispensável. Investimentos médios
> 20% Altíssima: situação crítica. Investimento e gerenciamento intensivos

Fonte: Elaborado com base em Falkenmark e Lindh, 1976 in Rebouças (1997).

Enquanto na maioria dos países desenvolvidos o consumo per capita de água oscila entre 24%
e 92%, em quase todo o Nordeste estes valores são inferiores a 10% dos potenciais de águas dos
rios (REBOUÇAS, 1997), portanto com necessidade de gerenciamento hidro-ambiental. Alternativa
126
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
histórica buscada para esta questão são os sistemas de barramentos, porém estes enfrentam
problemas em relação ao seu uso ótimo no contexto hidroclimático semi-árido (alta evaporação e
salinidade), além de produzir modificações ambientais a montante ou a jusante das barragens. De
pronto, alteram o ciclo hidrológico. Cabe ressalva que muito do que se debate hoje sobre o
abastecimento de água no Nordeste, mormente nos Estados setentrionais do Ceará, Rio Grande do
Norte, Paraíba e Pernambuco, concentra-se na conveniência, ou não, de promover a transposição
nas águas do São Francisco, questão polêmica e até o momento não consensual, cuja problemática
foge ao escopo desse ensaio.
Porquanto, é inquestionável que qualquer uso dispersivo da água afeta o equilíbrio
hidrológico da própria bacia, sobretudo em regiões de altas vulnerabilidades ambientais como os
sertões semi-áridos do NE. Amiúde, a vocação econômica, os aspectos geoambientais e o uso
cultural de cada bacia tornam-nas singulares. Por estes fatores, a bacia hidrográfica é a unidade
natural mais adequada para a gestão dos recursos hídricos. No entanto, a administração de uma
bacia não é uma tarefa fácil. Apenas um pequeno detalhe neste domínio: além de unidades naturais,
as mesmas ainda sofrem injunções enquanto unidades político-administrativas.
Enquanto últimas observações cabem registrar que muitos fatores concorrem para se destacar
a bacia hidrográfica como unidade referencial de planejamento e gestão ambiental, com prioridade
aos recursos hídricos. Finalmente é possível registrar que:
 Em seu âmbito, é possível subsidiar o desenvolvimento de parcerias e resolução de conflitos
para usos dos recursos naturais; como ainda analisar a degradação ambiental a partir de sistemas
fluviais;
 Estimula e permite a participação popular, democraticamente, com relação ao poder público,
Organizações Não Governamentais (ONG’s) e entidades privadas. No que descentraliza os
trabalhos de conservação e proteção ambiental, estimulando as integrações comunitária e
institucional;
 Comporta-se como uma unidade fisiográfica indissociável passiva de ser
geocompartimentada em trabalhos geoambientais integrados;
 Possibilita uma forma racional de organização de banco de dados, além de garantir
alternativas para o uso dos mananciais e de seus recursos;
 Evidencia o estado de degradação ambiental pela eutrofização, bem como pelo assoreamento
dos corpos hídricos;
 Apresenta um arcabouço jurídico-ambiental bem consubstanciado (Lei n° 9.433/97).

REFERÊNCIAS
BRASIL Recursos Hídricos: conjunto de normas legais. 3ª ed., Brasília: Ministério do Meio
Ambiente/Sec. dos Recursos Hídricos, 2004b. p.149-158.
NASCIMENTO, Degradação ambiental e desertificação no Nordeste Brasileiro: o contexto da
Bacia Hidrográfica do rio Acaraú – CE. (Tese de Doutorado) UFF: Rio de Janeiro, 2006. 325p.
FILHO, Joaquim G.C. (Org.). Projeto Áridas: uma estratégia de desenvolvimento sustentável
para o Nordeste. GTII. Recursos Hídricos: II.2 – Sustentabilidade do Desenvolvimento do
Semi-árido sob o ponto de vista dos Recursos Hídricos. Brasília, 1994. 102 p.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA) e SECRETÁRIA DE RECURSOS HÍDRICOS
(SRH). Documento de Introdução. Plano Nacional de Recursos Hídricos. Iniciando um processo
de debate nacional. Brasília: MMA/SRH, 2004. 51p.
VIEIRA, Vicente P.P.B. Água Doce no Semi-árido. In: Águas Doces no Brasil: capital ecológico,
uso e conservação. 2ª edição. São Paulo: Escrituras Editora, 2002. p. 507-530.
REBOUÇAS, Aldo da C. Água na região Nordeste: desperdício e escassez. In: Revista Estudos
Avançados. 11(29). São Paulo: Edusp, 1997. p.127-152.
___. Água Doce no Mundo e no Brasil. In: Rebouças, A. da C.; Braga, B.; e Tundisi, J. G. (orgs.).
Águas doces no Brasil: capital ecológico, uso e conservação. 2ª edição. São Paulo: Escrituras
Editora, 2002. p 01-37.

127
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
CARACTERIZAÇÃO MORFOMÉTRICA DA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO
BOA HORA, URBANO SANTOS-MA

Franceleide Soares Conceição


Universidade Federal do Maranhão, leda.soares@yahoo.com.br
Tatiana Cristina Santos de Castro
Universidade Federal do Maranhão
Fabíola Geovanna Piga
Universidade Federal do Maranhão
Suzana Araújo Torres
Universidade Federal do Maranhão
Irlan Castro Reis
Universidade Leonardo Da Vinci

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi elaborara a caracterização morfométrica a partir de alguns parâmetros
físicos da sub-bacia hidrográfica do rio Boa Hora, Urbano Santos-MA . Através do software de
computador SPRING 4.3 foi criado um projeto de banco de dados SIG’s (Sistemas de Informações
Geográficas) para a sub-bacia, definido pela projeção UTM/SAD-69. A área de drenagem
encontrada foi de 559,637 km² e o perímetro, de 139,633km. A Sub-bacia hidrográfica do rio Boa
Hora tem formato alongado, fator de forma de 0,360. A densidade de drenagem obtida para a bacia
foi de 0,411km/km². A forma mais alongada da bacia hidrográfica indica que a precipitação
pluviométrica sobre ela se concentra em diferentes pontos, concorrendo para amenizar a influência
da intensidade de chuvas, as quais poderiam causar maiores variações da vazão do curso d’água.

Palavras-chave: Morfometria, Rio Boa Hora, Urbano Santos.

INTRODUÇÃO
O comportamento hidrológico de uma bacia hidrográfica é em função de suas características
geomorfológicas (forma, relevo, área, geologia, rede de drenagem, solo, dentre outros) e do tipo da
cobertura vegetal (LIMA, 1986). Desse modo, as características físicas e bióticas de uma bacia
possuem importante papel nos processos do ciclo hidrológico, influenciando, dentre outros, a
infiltração, a quantidade de água produzida como deflúvio, a evapotranspiração e os escoamentos
superficial e sub-superficial.
Muitas dessas características físicas da bacia hidrográfica, por sua vez, são, em grande parte,
controladas ou influenciadas pela sua estrutura geológica. Para investigar as características das
diversas formas de relevo, as bacias hidrográficas se configuram como feições importantes,
principalmente no que se refere aos estudos de evolução do modelado da superfície terrestre. Assim,
é evidente a necessidade do emprego de métodos quantitativos para estudos dessa natureza (ALVES
e CASTRO, 2003).
Em estudos das interações entre os processos, do ponto de vista quantitativo, utiliza-se o
método de análise morfométrica através dos seguintes parâmetros: densidade de drenagem,
coeficiente de compacidade, índice de circularidade e forma da bacia, dentre outros (ALVES e
CASTRO, 2003; GUERRA e GUERRA, 2003; POLITANO e PISSARRA, 2003; POLITANO et
al., 2004). Esses parâmetros podem revelar indicadores físicos específicos para determinado local,
de forma a qualificarem as alterações ambientais (ALVES e CASTRO, 2003).
Para VILLELA & MATTOS (1975), as características físicas de uma bacia constituem
elementos de grande importância para avaliação de seu comportamento hidrológico, pois, ao se
estabelecerem relações e comparações entre eles e dados hidrológicos conhecidos, podem-se
determinar indiretamente os valores hidrológicos em locais nos quais faltem dados.
CHRISTOFOLETTI (1970) ressaltou ainda que a análise de aspectos relacionados a drenagem,

128
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
relevo e geologia pode levar à elucidação e compreensão de diversas questões associadas à
dinâmica ambiental local.
Diante do exposto, o objetivo deste trabalho compreendeu a obtenção e análise das
características morfométricas da sub-bacia hidrográfica do rio Boa Hora, Urbano Santos-MA.

MATERIAL E MÉTODO
A sub-bacia do rio Boa Hora está situado entre as coordenadas geográficas: 03°12’47”;
03°29’17” de latitude Sul e 43°24’34”; 43°07’04” de longitude Oeste, abrangendo os municípios de
Urbano Santos, Anapurus e Santa Quitéria do Maranhão é o principal afluente do Rio Mocambo,
apresentando uma área de 559,63 km² .

Figura 1: Localização da área de estudo, Sub-bacia do rio Boa Hora, Urbano Santos-MA, Brasil.

De posse da delimitação da área da sub-bacia, obtiveram se diferentes características físicas,


como: área da bacia, perímetro, fator de forma, índice de circularidade, altitude, densidade de
drenagem e ordem dos cursos d’água., sendo que o fator de forma da sub-bacia hidrográfica da Boa
Hora foi calculado através do índice de circularidade onde tende para a unidade à medida que a

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
bacia se aproxima da forma circular e diminui à medida que a forma torna alongada. Para isso,
utilizou se a seguinte equação:
Ic=A/Ac
Onde:Ic = índice de circularidade; A = área da bacia considerada; Ac = área do circulo de perímetro
igual ao da bacia considerada.
Os procedimentos adotados para o estabelecimento da hierarquia da rede fluvial da sub-
bacia em questão consistiu em organizar a ordem dos cursos d’água, onde foi determinada seguindo
os critérios introduzidos por HORTON (1945) e STRAHLER (1957).
Nesse trabalho a classificação apresentada por STRAHLER, em que os canais sem
tributários são designados de primeira ordem, os canais de segunda ordem são os que se originam
da confluência de dois canais de primeira ordem, podendo ter afluentes também de primeira ordem,
os canais de terceira ordem originam se da confluência de dois canais de segunda ordem, podendo
receber afluentes de segunda e primeira ordens, e assim sucessivamente (SILVEIRA, 2001).
O sistema de drenagem, formado pelo rio principal e seus tributários, indica a maior ou
menor velocidade com que a água deixa a bacia hidrográfica e representa o grau de
desenvolvimento do sistema de drenagem, ou seja, fornece uma indicação da eficiência da
drenagem da bacia, sendo expressa pela relação entre o somatório dos comprimentos de todos os
canais da rede – sejam eles perenes, intermitentes ou temporários – e a área total da bacia.
O índice foi determinado utilizando a equação:
Dd = Lt/A
Sendo: Dd a densidade de drenagem (km/km²), Lt comprimento total de todos os canais (km) e A a
área de drenagem (km²).
As informações sobre altitude média, máxima e mínima do relevo da sub-bacia foi
determinado pela função “GEOESTATÍSTICA – ANÁLISE EXPLORATÓRIA” executando a
função “ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS” no SPRING 4.3, tendo como base os dados altimétricos
(SRTM, 2004).

RESULTADOS DISCUSSÃO

O Quadro 1, apresenta os resultados da caracterização da sub-bacia hidrográfica do rio Boa


Hora. A área de drenagem encontrada na sub-bacia foi de 559.637 km² e seu perímetro, de 139.633
km, sendo considerada uma bacia pequena, a maior parte da área de estudo está ocupada por
agroecossistemas com culturas anuais diversificadas.
De acordo com os resultados, pode-se afirmar que a sub-bacia hidrográfica do rio Boa Hora
mostra-se pouco suscetível a enchentes em condições normais de precipitação, excluindo-se eventos
de intensidades anormais. Tal fato pode ainda ser comprovado pelo índice de circularidade,
possuindo um valor de 0,360 considerando uma bacia do tipo alongada.
Em bacias hidrográficas com forma circular, há maiores possibilidades de chuvas intensas
ocorrerem simultaneamente em toda a sua extensão, concentrando grande volume de água no
tributário principal. Em estudo realizado em Teixeira de Freitas na Bahia, constatou-se que em uma
bacia com área igual a 0,589 km2, 67,3% ocupada por floresta e outra com área de 0,257 km2, com
ocupação de 100% de pastagem, foram encontrados índices de circularidade de 2,96 e 2,01,
respectivamente. Observou-se que picos de vazão com aumento da precipitação proporcionaram a
saída rápida da água dessas bacias logo após a precipitação (AZEVEDO, 1995).
A densidade de drenagem encontrada na sub-bacia hidrográfica do rio Boa Hora foi de
0,411, considerando a sub-bacia com drenagem muito pobre. De acordo com VILLELA &
MATTOS (1975), esse índice pode variar de 0,5 km/km², em bacias com drenagem pobre a 3,5
km/km2 ou mais, em bacias bem drenadas, indicando, assim, que a sub-bacia em estudo possui
capacidade baixa de drenagem.
A densidade de drenagem é um fator importante na indicação do grau de desenvolvimento
do sistema de drenagem de uma bacia. Esses valores ajudam substancialmente o planejamento do
manejo da bacia hidrográfica. O sistema de drenagem da bacia em estudo, de acordo com a

130
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
hierarquia de STRAHLER, possui ramificação de sexta ordem, o que significa que a sub-bacia é
bem ramificada.
A maioria dos canais são intermitentes durante quase todo ano, cerca de 206,3 km, e os
canais permanentes, inclusive o rio principal, é de aproximadamente 24,1 km, totalizando 230, 4 km
de comprimento dos canais, a intermitências dos canais é indicada pela pobreza de drenagem em
que a sub-bacia se encontra. A sub-bacia apresenta como ponto mais elevado na parte sul com
altitude máxima de 114 m e altitude mínima ao norte de 36 m, chegando a uma média de altitude de
36m.

Características Morfométrica Valores e Unidades


Área 559, 637 (km2)
Perímetro 139,633 (km)
Comprimento da bacia 43,917 (km)
Fator de forma 0.360
Comprimento total dos canais 230,450 (km)
Canal Permanente 24,125 (km)
Canais Intermitentes 206,325 (km)
Densidade de drenagem 0.411
Altitude máxima 114 (m)
Altitude média 78 (m)
Altitude mínima 36 (m)
Ordem do curso 6º

CONCLUSÃO
A caracterização morfométrica de bacias é de grande importância para estudos ambientais
principalmente quando o ambiente em questão está sofrendo alterações em parte de seu curso
d’água, pois eles desempenham papéis importantes dentro do ecossistema e contribuem para futuras
ações de conservação e recuperação da mesma. A análise dos dados e a interpretação dos resultados
obtidos nas condições atuais da bacia hidrográfica permitiram concluir que a sub-bacia do rio Boa
Hora possui a forma alongada, evidenciando menor risco de cheias em condições normais de
pluviosidade anual. O padrão de drenagem indica que essa bacia é mal drenada, consequentemente
pela elevada permeabilidade ou preciptação escassa, possui sexta ordem e, é bastane ramificada.

REFERÊNCIAS

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Paulo: Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, 1986. 242p.

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rio Tanque (MG) baseada no estudo de parâmetros morfométricos e análise de padrões de
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POLITANO, W.; PISSARRA, T.C.T.; FERRAUDO, A. S. Avaliação de características


morfométricas na relação solo-superfície da bacia hidrográfica do córrego rico, Jaboticabal
(SP). Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 28, p. 297-305, 2004.

GUERRA, A.T.; GUERRA, A.J.T. Novo dicionário geológico-geomorfológico. 3. ed. Rio de


Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. 652p.

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Caldas. 1970. 375 f. Tese (Livre Docência) – Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 1970.

131
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VILLELA, S. M.; MATTOS, A. Hidrologia aplicada. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil,1975.


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rio Turvo Sujo, Viçosa, MG. 2001. 141f. Tese (Doutorado em Recursos Hídricos), Universidade
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MG. 1992. 66 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola) – Universidade Federal de
Viçosa, Viçosa, 1992.

AZEVEDO, E.C. Vazão e características físicas e químicas do deflúvio de microbacias


hidrográficas cobertas com mata nativa, pastagem e Eucalyptus grandis. 1995. 92 f.
Dissertação (Mestrado em Solos e Nutrição de Plantas) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa,
1995.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
DISCUSSÃO SOBRE MODELO TARIFÁRIO PELO USO DA ÁGUA BRUTA

Francisco Wellington Ribeiro


Mestrando em Engenharia Hidráulica - UFC
José Carlos de Araújo
Prof. Departamento de Engenharia Agrícola

RESUMO
A discussão sobre modelos tarifários pelo uso da água bruta é questão muito recente no Brasil.
Apesar do estabelecimento da cobrança no marco legal federal e das unidades federativas, este
instrumento ainda é pouco formulado e utilizado na gestão das águas no território brasileiro,
especialmente pela dificuldade de definição de um modelo de aferição de valores de tarifas que
tenha possibilidades efetivas de aplicação. O presente trabalho tem como objetivo a apresentação e
discussão de um modelo tarifário – CPS –, o qual apresenta uma formulação que considerada o
contexto da realidade socioeconômica e institucional da região Nordeste. As conclusões apontam o
modelo, proposto e discutido, como aplicável ao contexto nordestino atinente à cobrança pelo uso
(consuntivo) dos recursos hídricos por diversos setores usuários.
Palavras-chave: modelo tarifário, recursos hídricos, região Nordeste.

INTRODUÇÃO
A água é considerada um bem imprescindível para a vida humana e o desenvolvimento
da sociedade. Pelo seu caráter de escassez deve-se fazer imperativa sua boa gestão para que se
possa sempre ter disponível em quantidade e qualidade este recurso elementar à reprodução social.
Nesse sentido o Brasil institui a Política Nacional dos Recursos Hídricos (PNRH) em 1997,
admitindo a cobrança como instrumento de gestão das águas. Apesar do estabelecimento da
cobrança na legislação pertinente, são poucas as experiências de efetiva implantação de tal
instrumento. Um dos motivos encontra-se na dificuldade de formulação de modelos tarifários que
tenham aceitabilidade pública (ente estatal, usuários e sociedade civil), que sejam aplicáveis aos
contextos das diferentes partes interessadas.
Os objetivos deste trabalho são a proposta e a discussão de modelo tarifário pelo uso da
água bruta por setores usuários. Tem-se como intuito apresentar a formulação de um modelo que
seja aplicável ao contexto da região Nordeste do Brasil. Considera-se para tanto, entre outros
elementos, os diferentes níveis de capacidade de pagamento dos diversos setores usuários,
admitindo inclusive isenção tarifária, bem como a prestação de serviço de oferta de água bruta pelo
sistema de gestão dos recursos hídricos, assim como limitações desse sistema de gestão.
São apresentadas, primeiramente, algumas considerações sobre o referencial teórico
acerca da cobrança pelo uso da água bruta. Aborda-se de forma introdutória a cobrança como
instrumento de gestão dos recursos hídricos, o marco institucional que respaldar a cobrança e
modelos de cobrança pelo uso da água bruta. Em seguida apresenta-se o modelo tarifário proposto,
finalizando com uma discussão de pontos atinentes ao referido modelo.

REVISÃO DA LITERATURA
Instrumento Econômico de Gestão dos Recursos Hídricos
Um recurso só assume a característica de econômico quando existe uma demanda por
tal, tornando-o um recurso escasso. Quando não há problema de escassez relativo a determinado
recurso, este não é objeto da ciência econômica, logo, não é lógico falar de desperdício ou de uso
racional do mesmo. A água constitui-se como um bem escasso, portanto, econômico. Não podendo,
sobretudo, ser tratada como uma mercadoria, sob a égide da lei de oferta e demanda do mercado.
A formação de preços para os recursos hídricos deve ser balizada tanto pelos aspectos
econômicos como pelos aspectos sociais, políticos e ambientais. A definição de preços, para o uso
das águas, dificilmente expressa o pleno custo pelo seu uso. Desta forma Pearce e Turner (1990),
colocam que expressar pelo menos parte desse custo já é algo válido. Realmente é objetivo muito

133
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
difícil expressar o valor da água, mas vários governos já incorreram na prática dessa aferição. Para
Pessoa, Fontes e Souza (2001) o Instrumento Econômico (IE) tem a função de minimizar o custo
social, tentando internalizar as externalidades, mas não é apenas função deste a promoção do uso
mais racional, devendo ser considerado outros instrumentos, como a outorga. Segundo Correia
(2005), o IE tem dois objetivos: o primeiro e mais nobre consiste na indução ao uso mais racional; o
segundo concerne à obtenção de recursos financeiros para suprir a infraestrutura hídrica,
especialmente para as regiões que são carentes nesse aspecto. É crível admitir o Nordeste como uma
dessas regiões, devido a determinantes ambientais, bem como contextos socioeconômicos.
A legislação vigente no Brasil, ao caracterizar a água como um bem econômico e
escasso, enuncia que seu uso envolve impreterivelmente custo e disponibilidade do recurso hídrico.
Esses dois aspectos assumem grandes dimensões. Em especial no Nordeste brasileiro, a
disponibilidade de água, em sua grande maioria, é função de serviços prestados pela infraestrutura
hídrica pública, sem a qual a escassez do bem natural, ocasionada especialmente pela irregularidade
pluviométrica (inter e intra-anual), não poderia ser mitigada, conforme Fontenele e Araújo (2001) e
Araújo et al (2005). Basta lembrar que maior parte do território nordestino encontra-se sobre
substrato cristalino, com pouca disponibilidade de águas subterrâneas. Logo, faz-se imperativo o
uso de águas superficiais, as quais são disponibilizadas e distribuídas via infraestrutura de
reservação e adução, já que os corpos fluviais da região não são perenes.
A falta de precificação dos recursos hídricos pode ocasionar uso perdulário pelos seus
usuários. Entretanto, a precificação da água não implica em sua venda e compra, mas em um
elemento da cobrança pelo uso, que se pretende induzir ao uso racional. Também se admite que a
precificação da água fundamentada na eficiência econômica de sua utilização possa não ser a
melhor forma de aferição de um valor cobrado pelo seu uso, por tratar-se de um bem natural e
constituído de grande valor socioambiental, portanto, não comportado por sistemas de preços de
mercado.
Com efeito, a aplicação do IE na gestão das águas tem fundamento pela escassez do
bem (quantidade e qualidade). Por considerar-se a água como um bem escasso, esta adquire valor
econômico, ao mesmo tempo em que seu uso implica em custo social. Logo, dados a escassez e o
custo social, a externalidade incorrida pelo seu uso deve de algum modo ser internalizada pelo
usuário. No entanto, a cobrança deve constitui-se como um instrumento de gestão e deve considerar
as diversas dimensões que envolvem seu uso, não apenas a racionalidade econômica.
O marco institucional configura-se como elemento legitimador da aferição do valor
econômico da água e da cobrança pelo seu uso. Reconhece-se, também, que para além do valor
econômico, a água é dotada de valor social e ambiental. Mesmo antes dos marcos legais brasileiros
admitirem a água com bem econômico, este bem já o era, e tinha custo zero. Continua sendo a custo
zero na maioria dos estados da nação, bem com na maioria dos países.

MARCO INSTITUCIONAL
A PNRH é instituída pela Lei 9.433/97, tendo como alguns fundamentos a consideração
da água como um bem público, escasso e dotado de valor econômico, além de admitir a gestão
compartilhada entre poder público, usuários e sociedade civil. Apresenta, ainda, alguns
instrumentos de gestão, entre eles, a cobrança. Os instrumentos de gestão previstos na lei são: (i)
planos de recursos hídricos, (ii) enquadramento dos corpos hídricos, (iii) outorga do direito de uso
da água, (iv) cobrança pelo uso da água e (v) sistema de informações dos recursos hídricos
(BRASIL, 1997).
Vários estados anteciparam-se à PNRH e instituíram instrumentos de gestão das águas
em suas políticas. São Paulo foi o primeiro estado a editar sua Política Estadual dos Recursos
Hídricos (PERH) em 1991, o Ceará foi o segundo em 1992 e como esses mais oito estados
anteciparam-se à lei federal de 1997. O último estado a editar sua política das águas foi Roraima em
2006. Atinente à cobrança poucos estados implantaram tal instrumento de gestão. Em 1996 o Ceará
foi o precursor na aplicação da cobrança. A segunda experiência dada de 2003, em águas de
domínio da União, na bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul (São Paulo, Minas Gerais e Rio de

134
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
Janeiro). Outras experiências de cobrança são: bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (águas
de domínio da União em São Paulo e Minas Gerais) em 2006; Rio de Janeiro em 2004; Bahia em
2006; e São Paulo em 2007.
Entende-se que a boa gestão das águas dá-se com implantação conjunta dos vários
instrumentos previstos na legislação. A integração dos instrumentos de gestão ainda é desafio para o
Estado e a sociedade. A adoção de um instrumento isoladamente, sem consonância com os demais,
tem grandes chances de desvirtuar o objetivo maior da política de gestão, o uso da água de modo
sustentável (social, econômico, político e ambientalmente). A interação dos instrumentos dar-se-ia
fundamentalmente com a elaboração de um plano dos recursos hídricos que teria como suporte um
sistema de informações das águas; desta forma, definir-se-ia a outorga pelo uso da água, a qual
serveria como componente de definição da cobrança, com base em critérios como o enquadramento
dos corpos d’água.
Em grande parte do Brasil há uma limitação na implantação conjunta dos instrumentos
de gestão, especialmente na região Nordeste. Alguns estados limitam-se à realização de planos de
recursos hídricos, à produção de informações e à emissão de outorgas. A cobrança é incipiente e
pontual e o enquadramento praticamente inexiste.

MODELOS DE COBRANÇA PELO USO DOS RECURSOS HÍDRICOS


Estudos atinentes à cobrança no Brasil são realizados mesmo antes da Lei das Águas de
1997 instituir tal instrumento como um componente da gestão dos recursos hídricos. Carrera-
Fernandez e Garrido (2000) apresentam vários exemplos de estudos brasileiros e admitem as
controvérsias de se aferir valores pelo uso da água e grande diversidade de metodologias. Ribeiro e
Lanna (1997) em análise de diversas práticas estrangeiras e propostas brasileiras afirmam que os
modelos tarifários, em sua maioria, são norteados para viabilizar os investimentos nos sistemas de
gerenciamento.
Carrera-Fernandez (2005) e Kelman e Ramos (2005) discutem que a tarifa não é aferida
com base na eficiência econômica (alocação ótima), sendo esta um verdadeiro incentivo ao uso
racional. Carrera-Fernandez (2005) admite que, sendo a água um bem público, não está sujeita ao
interesse do mercado. Pessoa, Fontes e Souza (2001) reconhecem a problemática de gestão das
águas utilizando-se de mecanismos de regulação baseados em sistemas de preços que reflitam a
lógica do mercado.
Na literatura sobre modelos tarifários de cobrança pelo uso da água existem dois
conjuntos: modelos econômicos e modelos ad hoc. Os primeiros primam pelo uso fundado na
eficiência econômica, na alocação ótima dos recursos hídricos. Já os segundos consideram várias
dimensões para aferição de tarifas, como os custos do sistema de gestão ou as capacidades de
pagamento dos usuários. Reconhece-se que há dificuldades de se formular modelos tarifários que
afiram tarifas ótimas (que internalizem as externalidades), por se tratar de um recurso natural e
público. Ainda assim, a aplicação dessas tarifas poderia excluir segmentos menos capitalizados das
atividades produtivas, por não alcançarem os níveis de eficiência econômica. É imprescindível a
consideração da alocação eficiente do ponto de vista social, sobretudo pelos níveis de disparidade
socioeconômica existentes no Nordeste, assim como no Brasil. Conforme Correia (2005), os custos
associados à água estabelecidos por sistemas de preços eficientes não têm verificação empírica no
mundo real, não sendo os cálculos econômicos determinantes exclusivos dos valores cobrados.
Vários modelos tarifários formulados em estudos no Brasil consideram a cobrança pelo
uso pleno dos recursos hídricos, ou seja, admitindo tanto os usos consuntivo e não consuntivo como
o uso diluidor, conforme os modelos propostos por Forgiarini, Silveira e Cruz (2008), Silva e
Ribeiro (2006) e Fontes e Souza (2004). A aplicabilidade de modelos de cobrança que consideram o
uso diluidor requer um aparato de monitoramento dos corpos d’águas de modo que haja
informações sobre lançamento de efluentes. Do contrário, modelos com essa característica tornam-
se pouco aplicáveis. Nas regiões Sudeste e Sul do país já existem infraestruturas de monitoramente
capaz de subsidiar a formulação e aplicação da cobrança por poluição. No Nordeste, assim como no
Norte, há uma ausência desses mecanismos de modo a tornar aplicável um modelo tarifário que

135
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
contemple a cobrança por lançamento de cargas poluidoras.

PROPOSTA METODOLÓGICA

ÁREA DE ESTUDO
A formulação e discussão do modelo tarifário no presente estudo tomam como base o
Nordeste brasileiro. Essa região tem características que são admitidas pelo modelo: grande
assimetria de capacidade de pagamento inter e intrassetorial; oferta de água é derivada da prestação
de serviço da rede hídrica estatal; não há monitoramente de cargas poluidoras nos corpos d’água.

MÉTODO DE ANÁLISE
Alguns aspectos são considerados para dimensionar o modelo tarifário: (i) a base de
cálculo da tarifa média é a capacidade de pagamento (CP) dos setores; (ii) admite-se discriminação
de tarifas em nível inter e intrassetorial; e (iii) o somatório das cobranças é referenciado pelos
custos de Operação, Administração e Manutenção (OAM), tomados como o montante a arrecadar
pelo sistema de gestão.
DESCRIÇÃO DO MODELO
O modelo tarifário proposto e discutido no presente estudo foi concebido por Araújo
(2002) e denomina-se CPS (Capacidade de Pagamento e Subsídio Cruzado). A formulação do
cálculo da tarifa unitária pelo CPS é determinada conforme a Equação (1).
Ti = (1 + r ) ⋅ Tk (1)
sendo: Ti = tarifa unitária do setor usuário ou da classe de usuário de um setor (R$/m3); r = fator de
subsídio cruzado; Tk = tarifa média do setor usuário k (R$/m3).
Um dos preceitos do modelo é a relação da tarifa média (Tk) com a capacidade de
pagamento média do setor usuário, ou seja, o modelo admite a tarifa média como sendo uma fração
da capacidade de pagamento média, expressa por um parâmetro como demonstrado na Equação (2).
Tk = τ ⋅ CPU k (2)
sendo: τ = parâmetro que define a fração da capacidade de pagamento a ser tarifada (em que: 0 < τ <
1); CPUk = Capacidade de Pagamento Unitária do setor usuário k (R$/m3).
A formulação do modelo admite ainda a utilização de um fator de subsídio cruzado (r)
que irá expressar a aplicação de subsídio ou de sobretarifa. Esse fator pode ser utilizado nos casos
em que há grande assimetria de capacidade de pagamento entre usuários de um mesmo setor ou
entre localização de atividades de usuários de referido setor, ver Equação (3).
α
r= − γ (3)
1 + e − β ⋅VE
2

sendo: α, β e γ = parâmetros; VE = volume utilizado ou volume declarado (m3/ano).


Os parâmetros α, β e γ da Equação (3) são calibrados com os dados obtidos pelas
Equações (4) a (6), que são condições de contorno do modelo, decisões políticas.
S = ∑ (Ti ⋅VE ) (4)
r (Vi ) = −1 (5)
r (Vk ) = 0 (6)
sendo: S = montante a arrecadar (R$/ano); r(Vi) = fator de subsídio cruzado para volume de isenção;
r(Vk) = fator de subsídio cruzado para volume de tarifa média.
Atinente às três equações apresentadas anteriormente, observe que: (i) o montante a
arrecadar (S) deve ser igual à soma do produto das tarifas (Ti) e volumes (VE); (ii) para o cálculo da
tarifa de isenção deve-se admitir o fator de subsídio cruzado igual a menos um (r = –1), de modo
que a tarifa seja igual a zero (Ti = 0); e (iii) para o cálculo da tarifa média admite-se o fator de
subsídio cruzado igual a zero (r = 0), implicando no cálculo de tarifa média (Ti = Tk).
Ressalta-se que o tipo de uso admitido no modelo toma com referência apenas a
cobrança pelo uso consuntivo (consumo), apesar de se compreender que a cobrança por poluição é

136
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
igualmente importante na perspectiva do uso racional. No entanto, pelo atual estágio da estrutura
institucional no Nordeste, não se verifica a existência de aparato de monitoramento de poluentes
para subsidiar a cobrança sobre efluentes.

DESCRIÇÃO DE VARIÁVEIS
As variáveis exógenas, consideradas básicas, utilizadas e necessárias para a aplicação
do modelo tarifário proposto são: (i) produto (R$/ano) dos setores usuários, expresso pela Renda
Bruta (RB); (ii) volume demandado (m3/ano) pelos setores usuários; e (iii) montante a arrecadar
(R$/ano) pelo sistema de gestão para cobrir os custos de OAM.
Atinente ao volume demandado e ao montante a arrecadar, como são variáveis sobre as
quais o sistema de gestão tem controle, consideram-se as suas obtenções com base em dados
fornecidos pelo próprio sistema. No caso do produto dos setores usuários, adotam-se os valores
disponíveis em fontes de sites oficiais do governo. E para obtenção da CPT como uma fração da RB
por cada setor, aplica-se o seguinte método, conforme Equação (7):
CPT = η1 ⋅ (1 − η 2 ) ⋅ RB (7)
sendo: CPT = Capacidade de Pagamento Total (R$/ano); η1 = expressa a capacidade de pagamento
em relação ao custo de oportunidade; η2 = expressa os riscos do setor; RB = Renda Bruta.
Os parâmetros η1 e η2 indicam a relação custo de oportunidade e riscos com o uso da
água. Assim, adotam-se os critérios: (i) setor que tem a água como um fator de produção e baixo
risco sistêmico, η1.(1–η2)=1%; (ii) setor que tem a água como bem final ou amplamente extensivo
na atividade e apresenta riscos sistêmicos relativamente baixos, η1.(1–η2)=4%; e (iii) setor que tem
a água como insumo amplamente extensivo e apresenta elevados riscos sistêmicos, η1.(1–η2)=1%
No caso (i) pode-se considerar a indústria, pois seu custo de oportunidade de uso da
fonte hídrica original é baixo devido às grandes possibilidades de uso de fonte alternativa, como o
reuso. Além disso, tem suas atividades associadas à baixa probabilidade de sofrerem riscos
sistêmicos, como estiagem/inundação. Portanto, η1 e η2 diminuem, implicando em CPT = 1%RB.
No caso (ii) pode-se admitir setores que apresentam alto custo de oportunidade: saneamento básico
(água é bem final), e aquicultura (uso extensivo da água). Além disso, as atividades destes são
associadas a baixos riscos sistêmicos. Portanto, o aumento de η1 é compensado pela diminuição de
η2, implicando em CPT = 4%RB. No caso (iii) pode-se tomar a agricultura irrigada, por ter alto
custo de oportunidade pelo uso da água e por não dispor de fonte hídrica alternativa. Logo, com os
altos riscos sistêmicos inerentes à atividade, η1 e η2 elevam-se, implicando em CPT = 1%RB.
Ressalta-se que alguns estudos já adotaram 1% da RB para aferir a CPT, como: trabalho
sobre cobrança pelo uso da água em São Paulo, CORHI (1997); estudo sobre tarifa de água bruta no
Ceará, Araújo e Souza (1999), estudo de impacto da cobrança na irrigação no Ceará, Barbosa,
Teixeira e Gondim (2006).
Com efeito, de posse da CPT (R$/ano) e do volume demandado (m3/ano), calcula-se a
CPU (R$/m3), que servirá de base para o cálculo da tarifa média (ver Equação 2). Observe a
formulação da CPU conforme a Equação (8).
CPT
CPU = (8)
VE
A capacidade de pagamento unitária dos usuários dos recursos hídricos é um indicador
relevante para o cálculo das tarifas unitárias pelo uso da água.

137
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

DISCUSSÕES E CONCLUSÕES SOBRE O MODELO TARIFÁRIO

A tarifação pelo uso da água bruta constitui-se como um importante instrumento de


gestão dos recursos hídricos. Apesar de este instrumento ter respaldo legal, a mais de uma década,
são poucas as experiências de aplicação da cobrança. Uma das dificuldades de sua implantação é a
formulação de modelos tarifários que sejam aplicáveis aos reais contextos dos atores sociais.
O modelo CPS é capaz de aferir tarifas pelo uso da água considerando a capacidade de
pagamento (CP) dos diversos setores usuários, admitindo que as tarifas cobradas sejam
comportadas pelos diferentes setores. Ao considerar a CP setorial, incorre-se na prática de
discriminação tarifária entre setores usuários, tarifando mais quem tem maior CP e vice-versa. A CP
é de fundamental importância na formulação de um modelo de aferição de tarifas.
O modelo admite ainda a utilização de subsídios cruzados entre usuários de um mesmo
setor. Esse mecanismo é bastante válido em um contexto de assimetria de CP entre usuários,
podendo-se isentar, subsidiar ou sobretarifar determinadas categorias de usuários. No caso de
setores como a agricultura irrigada esse mecanismo pode ser utilizado para isentar pequenos,
subsidiar médio e sobretarifar grande irrigantes. Ou ainda, no caso do setor de saneamento básico,
subsidiar tarifas nas localidades mais longínquas e sobretarifar nas regiões metropolitanas.
Evidencia-se, portanto, um caráter de justiça social do referido modelo.
Algumas experiências de tarifação no Brasil admitem a diferenciação de tarifas
conforme o setor usuário e a CP (como ocorre no Ceará), outras aferem tarifas iguais para os
diferentes setores da economia, discriminando tarifas apenas para os tipos de usos (como acontece
no Sudeste). Considera-se equivocada essa uniformidade de tarifas para setores com características
tão diferentes, como a agricultura irrigada, o saneamento básico e a indústria, por exemplo.
O CPS tem o princípio de discriminação tarifária, mostrando uma tendência de
subvenção entre usuários, o que é extremamente plausível pelo contexto de disparidades
intersetorial e intrassetorial, tendo ainda como base da cobrança os custos de Operação,
Administração e Manutenção (OAM) do sistema de gestão. Essa referência dá-se principalmente
pelo fato de no Nordeste, especialmente, a oferta hídrica ser derivada de serviços de reservação e
adução. Esse parâmetro também é importante pelo fato de se arrecadar apenas o necessário para
cobrir os custos com a oferta de água, não incorrendo em viés arrecadatório da cobrança.
O modelo tarifário CPS é denominado na literatura como modelo ad hoc por não se
inserir dentro da categoria de modelos econômicos, ou seja, modelos que se fundamentam na
eficiência econômica. O CPS considera que a aferição de tarifas não deva ser respaldada na
alocação ótima da água, a qual visa sempre maior retorno econômico para o uso. Dentro dessa
lógica haveria grandes chances de se usar a água apenas em atividades de maior rentabilidade em
detrimento daquelas com menor rentabilidade. Incorrer-se-ia, assim sendo, em um processo de
segregação, no qual todos seriam estimulados, por exemplo, a plantar apenas alimentos com alto
valor econômico (como a uva) em detrimento de alimento com baixo valor (como a banana).
Ressalta-se, ainda, que o modelo CPS foi formulado no âmbito da discussão da política
tarifária pelo uso da água bruta no estado do Ceará, tendo servido de base para a aferição da matriz
tarifária cearense. Matriz a qual apresenta elementos enunciados pelo referido modelo, como
discriminação de tarifas entre setores usuários, considerando CP setorial; além da aplicação de
subsídios cruzados, com estabelecimento de isenção de tarifa e de tarifas subsidiadas e
sobretarifadas para determinadas categorias de usuários.

138
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

O RIO APODI E A INUNDAÇÃO DE 2004 NA ÁREA CENTRAL


DA CIDADE DE PAU DOS FERROS – RN
Franklin Roberto da Costa
Professor Auxiliar III da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte –UERN/CAMEAM Pau dos Ferros e
mestrando do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/UFRN.
E-mail: franklincosta@uern.br.
Raquel Franco de Souza Lima
Professora Doutora do Departamento de Geologia/UFRN - PRODEMA/UFRN.
e-mail: raquel@geologia.ufrn.br

RESUMO
Drenagens da bacia do Rio Apodi atravessam a área urbana de Pau dos Ferros, RN.
Inundações eventuais ocorrem durante o período chuvoso, em áreas indevidamente ocupadas. As
drenagens do curso superior desta bacia serão perenizadas com o advento da integração do Rio São
Francisco às bacias setentrionais do nordeste. Este trabalho objetiva delimitar as áreas de inundação
e analisar a relação entre áreas inundáveis e crescimento urbano. Para efeito de delimitação das
áreas de inundação, foram considerados os dados do ano de 2004, quando a precipitação foi acima
da média regional. Os resultados preliminares permitem visualizar o adensamento populacional com
maior intensidade na porção centro-sul da cidade, em áreas inundáveis e não inundáveis. A
expansão urbana nos moldes atuais, sem planejamento adequado, pode ocasionar a ocupação
inadequada de áreas inundáveis. Este fato, acoplado à maior geração de resíduos,
impermeabilização do solo e retirada de vegetação, são fatores que contribuem para a intensificação
das cheias na área. Esta situação pode ser agravada pela Integração do São Francisco, que
perenizará o rio principal da bacia, a partir do eixo norte do Projeto.

Palavras chave: geotecnologias, transposição do Rio São Francisco, inundações

INTRODUÇÃO
O processo de ocupação das cidades começou próximo às margens dos rios. Este
processo se deu pela necessidade de utilização do rio como fluxo de pessoas e mercadorias e pela
proximidade das melhores terras agrícolas. Com o avanço tecnológico, a cidade passou a ser o
espaço da produção econômica e social, seja pelo comércio ascendente, como também pelos
serviços básicos, tais como saúde, educação e lazer. Neste caso, os impactos gerados por este
avanço refletiram (e ainda refletem) sobre a infra-estrutura urbana, ocasionando impactos sociais,
econômicos e ambientais em função do uso inadequado do meio físico na qual se instalaram.
No caso das áreas ribeirinhas brasileiras, pode-se dizer que o processo de ocupação vem
se realizando de forma contínua, tendo como justificativa a realização, com custo menor, da
captação das águas para o consumo humano, como também para o escoamento dos resíduos
produzidos pelas indústrias, comércios e residências. Também é ocasionado pelo processo de
exclusão das classes mais baixas, que se vêem obrigado a habitar em lugares insalubres, geralmente
nas periferias da cidade, e tem como conseqüência, o aumento dos casos de impactos ambientais
urbanos.
Segundo Tucci (2004), a falta de um planejamento urbano coerente com as normas de
ocupação do solo pode ser considerada um dos responsáveis pelas inundações existentes
atualmente, pois este vem sendo realizado no Brasil, apenas para partes das cidades ocupadas pela
população de média e alta renda, enquanto que para as áreas de baixa renda e de periferia o
processo se dá de forma irregular ou clandestina.
No município de Pau dos Ferros - RN a situação não é diferente. Localizado na parte
oeste do Estado do Rio Grande do Norte, o município é considerado um dos Pólos Regionais do

140
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
Estado, por agregar os principais serviços públicos prestados pelo Estado na Região denominada
Alto Oeste Potiguar. A implantação destes serviços gerou como conseqüência, um processo de
urbanização crescente e desordenado, fazendo com que o fluxo migratório também seguisse o
mesmo caminho. O resultado foram construções em áreas inadequadas, como vale de rios, próximos
à rede de energia e lugares insalubres, o que acarretou diversos impactos ambientais, além de perdas
econômicas e sociais com certa freqüência.
A inundação em Pau dos Ferros aparece neste cenário como um dos impactos
decorrentes deste processo de ocupação indevida, às margens do Rio Apodi e em um dos seus
afluentes, o riacho Cajazeiras, os quais circundam a cidade de Pau dos Ferros, à leste e à oeste
respectivamente. Todos os anos, durante o período chuvoso na Região, nos meses de fevereiro a
maio, parte do centro urbano, assim como bairros periféricos sofrem com a inundação decorrida do
transbordamento das águas do rio Apodi. Como conseqüência, casas são invadidas pela água, parte
da população fica desabrigada, e há dificuldade de acesso em determinados bairros, pelo
alagamento das vias rodoviárias.
O processo de inundação em Pau dos Ferros pode vir a se agravar pela inserção das
águas provenientes da Integração da Bacia do São Francisco. A conseqüência direta deste projeto
será a perenização do Rio Apodi, modificando a realidade local nos setores econômicos, políticos,
sociais e principalmente ambientais, uma vez que o rio principal da bacia, antes intermitente, terá
um volume constante, tornando-se perene. Com as chuvas, a tendência deste rio será a expansão da
área de inundação.
Neste sentido, este trabalho tem como proposta a identificação das principais áreas de
inundação do município de Pau dos Ferros provenientes da cheia do Rio Apodi, a partir da
produção de cartas temáticas. Até onde se sabe, este trabalho é pioneiro na Região do alto curso do
rio Apodi. Para tanto, já foram realizadas atividades em campo e laboratório, assim como obtenção
de informações com a população local, além de uma revisão bibliográfica a partir dos conceitos e
metodologias aplicadas no cenário nacional e internacional. Acredita-se que esta identificação
ajudará na construção da carta de risco de inundação municipal, subsidiando os gestores na
implementação de políticas públicas voltadas para a amenização destes problemas.

MATERIAIS E MÉTODOS
Área de Estudo

A Bacia Hidrográfica do Rio Apodi faz parte de uma das mais importantes para o Estado,
abrangendo, segundo SERHID (2000), uma área de 14.276 km² de superfície, correspondendo
acerca de 26,8% do território norteriograndense. Esta bacia, localizada a oeste do Estado, limita-se
ao sul com o Estado da Paraíba, a oeste com o Estado do Ceará, ao norte com o Oceano Atlântico e
a leste com os municípios pertencentes à Bacia Hidrográfica do rio Piranhas-Assú. (ALMEIDA et
al, 2006). Segundo Almeida et al (2006), a Bacia Hidrográfica do Apodi engloba o total de 48
municípios, que abrange o total de 579.211 habitantes, de acordo com o censo do IBGE 2000.
O município de Pau dos Ferros – RN, que faz parte desta bacia, possui uma população de
26.728 habitantes (IBGE, 2007), e está localizado na porção oeste potiguar, tendo como
coordenadas geográficas a latitude 6º 06’ 33” Sul e longitude 38º 12’ 16” Oeste. Sua área total é de
259,96 km², equivalente a 0,52% da superfície estadual. (Figura 01).

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Francisco Dantas

Pau dos Ferros

Rafael Fernandes
Limites municipais

Figura 01: Localização Geográfica de Pau dos Ferros – RN

O municipio de Pau dos Ferros é caracterizado por um clima muito quente e semiárido, com
estação chuvosa atrasando-se para o outono. Segundo IDEMA (2009), a precipitação pluviométrica
anual possui uma média de 721,3 mm sendo o periodo chuvoso entre os meses de fevereiro a junho.
No ano de 2009, até o mês de junho, a média foi de 748,0 mm, ocorrendo um desvio de +26,7 mm
(EMPARN, 2009). Como o periodo de chuvas está chegando ao seu término para o ano, este valor
não deve sofrer grandes alterações.
Ainda em relação à precipitação, de acordo com EMPARN (2009), março foi considerado o
mês mais chuvoso em 2008, enquanto novembro aparece como o menos chuvoso. O acumulado do
ano de 2008 manteve-se na média entre os 600 e 800 mm de chuvas anuais.
A temperatura média anual para o municipio é de 28,1º C, sendo a máxima de 36º C e a
mínima de 21ºC em 2008. (Figura 05)
Em relação a umidade relativa do ar, Pau dos Ferros possui um percentual baixo, em torno
de 66%, sendo o mês de abril o mais úmido, com valor entre 70 e 80% e o de novembro o menor,
com menos de 60%. Figuras 06 e 07. (EMPARN, 2009)
A vegetação característica do municipio é a Caatinga Hiperxerófila - vegetação de caráter
mais seco, com abundância de cactáceas e plantas de porte mais baixo e espalhadas. Entre outras
espécies destacam-se a jurema-preta, mufumbo, faveleiro, marmeleiro, xique-xique e facheiro.
(IDEMA, 2009)
O município de Pau dos Ferros encontra-se inserido, geologicamente, na Província
Borborema, sendo constituído pelos litotipos do Complexo Jaguaretama, das Suítes Poço da Cruz
(PP3 pc) e Calcialcalina de Médio e Alto Potássio Itaporanga (NP3 2cm), da Formação Antenor
Navarro (K1an) e pelos depósitos Colúvio-eluviais (NQc), como pode ser observado na figura 09
(CPRM, 2005).
Geomorfologicamente predominam formas tabulares de relevos, de topo plano, com
diferentes ordens de grandeza e de aprofundamento de drenagem, separados geralmente por vales
de fundo plano (IDEMA, 2009).

142
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
O município de Pau dos Ferros é formado por três tipos de solos: podzólico vermelho-
amarelo, bruno não cálcico e rendizna, como pode ser visto na figura 10 (CPRM, 2005). Dentre eles
o predominante é o podzólico vermelho-amarelo. Segundo o IDEMA (2009), este tipo de solo
possui fertilidade alta, textura média e média cascalhenta, acentuadamente drenado, relevo suave.
Em relação ao uso, este tipo de solo é restrito a culturas resistentes a seca, recomendando o uso
intensivo de práticas de controle de erosão.

INUNDAÇÕES EM PAU DOS FERROS – O CASO DE 2004.

O município de Pau dos Ferros está totalmente inserido na Bacia Hidrográfica do Rio
Apodi, e seu centro urbano foi edificado nas proximidades do rio principal da Bacia, o Apodi, e de
seu afluente Riacho Cajazeiras. Como os rios são intermitentes, a necessidade de moradia faz com
que as áreas ribeirinhas sejam ocupadas pela população. No período de estiagem, os leitos secam.
Durante e posteriormente ao período de chuvas na região algumas áreas da cidade são inundadas em
função da sangria dos açudes que se encontram à montante (Açudes Pau dos Ferros e 25 de Março).
O resultado são áreas que inundam no período de cheia do rio, já que algumas
construções foram inseridas no seu leito maior. Casas e lojas são tomadas pelas águas, ruas tornam-
se intransitáveis, gerando perdas econômicas e sociais neste período do ano.
Nos primeiros dias de fevereiro de 2004, fortes chuvas ocorreram nas nascentes e no
alto curso da Bacia, inundando parte do centro da cidade de Pau dos Ferros e os bairros de Riacho
do Meio e São Geraldo. Nos primeiros 05 dias do mês foram registradas grandes precipitações
pluviais, que totalizaram 99,8 mm apenas em Pau dos Ferros (EMPARN, 2009).
Registros destes fatos são encontrados nos jornais locais, conforme reportagem do
Jornal de fato, de 05 de fevereiro (Jornal de Fato, 2004):
[...] “Para os comerciantes que trabalham na Rua Devenuto Fialho, localizada no centro da
cidade, o dia de ontem foi de transtornos devido à inundação que ocorreu logo nas primeiras horas
da manhã. O alagamento foi causado devido às chuvas que caíram terça-feira, 3, o que
proporcionou a sangria da barragem de Pau dos Ferros com a lâmina de 1m30cm, suficiente para
causar grandes prejuízos.Diversos comerciantes tiveram que proteger seus objetos e produtos para
evitar perdas. Assim também agiram os moradores da região que já retiraram móveis e
eletrodomésticos de suas casas. Muitos temem que o nível da água possa aumentar com a
continuidade das chuvas. Segundo o técnico do Departamento de Obras Contra as Secas (DNOCS),
Euzamar Marinho, o nível da água que inundou casas e pontos comerciais foi de meio metro e
atingiu desde o Açougue Público até o Posto de Combustível Segundo Melo.”

Nos municípios a montante do rio que passa por Pau dos Ferros, houve grandes
precipitações, como afirma o Engenheiro Fausto Magalhães, na mesma reportagem (Jornal de Fato,
2004):
[...]“O engenheiro e também técnico do Dnocs, Fausto Magalhães, diz que a inundação aconteceu
devido às chuvas que caíram nas cidades de Major Sales (83 mm); José da Penha (52 mm); Luis
Gomes (53 mm) e Riacho de Santana (50 mm). Fausto explica que os rios existentes nestes
municípios após receberem as águas das chuvas deságuam na bacia do açude público de Pau dos
Ferros, o que acarretou o aumento para 1m30cm. Ele diz que a situação dos moradores do Centro
é instável e alerta que os moradores fiquem atentos, caso ocorra fortes chuvas, pois a situação
tende a se agravar.”

Verifica-se que os moradores e lojistas do centro da cidade foram os mais prejudicados


com as chuvas deste período.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

METODOLOGIA
Os recursos básicos para a definição das áreas de inundação em Pau dos Ferros foram as
imagens do satélite CBERS 2B com instrumento imageador High Resolution Panchromatic Camera
- HRC, que possui uma resolução espacial de 2,7 metros (obtida em 11 de outubro de 2008) e
fotografias aéreas do município obtidas em agosto de 1987 com escala de imageamento 1:17.000,
além da base cartográfica da Secretaria de Recursos Hídricos do Rio Grande do Norte – SERHID e
pontos obtidos em campo via aparelho GPS . Estes dados foram trabalhados em laboratório via o
software SPRING 5.0. Tal software possibilitou armazenar os dados obtidos, permitindo um
reconhecimento suficiente das unidades geoambientais da área em estudo, além da realização do
mosaico e georreferenciamento das fotografias aéreas. Juntamente ao tratamento digital das
imagens, os trabalhos de reconhecimento de campo em algumas áreas do Rio Apodi permitiram
resolver problemas relacionados ao processo de identificação de objetos geográficos observados nas
imagens.
A imagem do satélite refere-se às órbitas 149 a 107 no canal pancromático HRC.
Utilizou-se o sistema de projeção UTM, datum horizontal SAD-69, meridiano central 39°,
hemisfério sul, enquadrado no retângulo envolvente para georeferenciamento da base cartográfica
da SERHID com coordenadas planas:X1: 577.332 e X2: 607.755 e Y1:9.309.395 e Y2: 9.337.725.
Após a obtenção dos dados, o próximo passo foi organizar o Banco de Dados no
software, a partir da construção do Projeto chamado Projeto Rio Apodi. A tabela 1 exemplifica esta
organização.
Tabela 1: Organização das categorias utilizadas no trabalho
Categorias Modelo de Dados Plano de informação Classes
Açude 25 de março
Barragem Pau dos Ferros
Hidrografia Cadastral Hidrografia_cad
Rios
Açudes
Amostras
Altimetria MNT Mapa Altimetria
Grade retangular
Limite municipal Pau dos
Localidades Cadastral Limites Ferros
Localidades menores
Pontos GPS MNT Pontos GPS Mapa pontos GPS
CBERS 2B HRC 2008
Imagem Imagem Imagem
Fotos aéreas 1987
Área urbana Área urbana Mapa da área urbana Área urbana

Após a criação dos planos de informação, foi realizada a importação dos dados de
altimetria, hidrografia, divisões municipais e limite da bacia, em formato .SHP, que foram
transformados em formato *.SPR para se tornar compatível com o software utilizado para o
presente trabalho. Tais dados foram obtidos via Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos
Hídricos – SEMARH/RN.
Após a importação dos vetores, o próximo passo foi a importação das imagens. A
imagem do satélite CBERS era ortoretificada. Neste caso foram utilizados poucos pontos de
controle para o georreferenciamento da imagem, a partir da base vetorial já instalada.
As fotografias aéreas foram digitalizadas para posterior georreferenciamento. Neste
caso foram necessários mais pontos de controle para que as fotografias pudessem ser inseridas no
SPRING com as coordenadas compatíveis com os demais produtos já presentes no projeto.
Utilizou-se a imagem do satélite CBERS como base cartográfica, já que na análise visual percebeu-
se uma maior facilidade de identificação dos objetos existentes no município.
Com as imagens inseridas no software SPRING 5.0, deu-se início ao processo de
identificação da área urbana nos anos de 1987 e 2008. A vetorização da área urbana de 1987 foi
realizada a partir das fotografias aéreas mosaicadas no Projeto, sendo possível identificar toda a
área urbana no período, desde a parte central da cidade (mais antiga) à parte da periferia.

144
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
A área urbana de Pau dos Ferros no ano de 2008 foi vetorizada a partir da imagem
CBERS 2B na faixa pancromática, com resolução 2,7 metros abrangendo quase a totalidade da
cidade. A cobertura por nuvens de uma pequena parte da cidade dificultou sua identificação. A
solução para este problema foi a identificação em campo, tendo como ferramenta de auxílio o
Sistema de Posicionamento Global – GPS. Estas informações permitiram complementar o processo
de vetorização da área urbana de Pau dos Ferros para o período atual (ano 2008).
Além da área urbana, foram realizadas correções e melhorias na vetorização referente à
hidrografia municipal, com vistas a delimitar as principais áreas de inundação na cidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

INUNDAÇÃO X CRESCIMENTO URBANO EM PAU DOS FERROS: RESULTADOS


PRELIMINARES

A partir das reportagens encontradas em anos distintos, além de consultas informais a


moradores e lojistas desta parte da cidade, juntamente com a análise da imagem de satélite e das
fotografias áreas trabalhadas no Software SPRING 5.0, foi possível definir preliminarmente, o
curso principal do rio Apodi durante o período das cheias, delimitando assim as áreas passíveis de
inundação.
Além da delimitação do percurso do rio nos períodos de cheia, cada ponto assinalado na
figura 02 identifica locais na cidade atingidos pela inundação com a elevação do nível das águas
durante o ano de 2004. Verifica-se que áreas que sofreram inundações estão localizadas onde já
existiam residências e comércios locais na delimitação de 1987 (Pontos 1, 2, 3, 4, 5 e 6). Esta área,
por estar mais próxima ao centro, sofreu um adensamento populacional que propiciou um aumento
no número de famílias e proprietários de comércios, principalmente feirantes que desenvolvem suas
atividades neste local aos sábados. O mercado público também funciona nesta área. Durante o
período da cheia, as lojas, feira e mercado público são invadidos pelas águas do rio Apodi.

3
2
1 4
5
Centro
da 6
cidade 7
8

Figura 02.
Carta do percurso do rio na cheia e pontos de
inundação em Pau dos Ferros – RN.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Outra área de inundação, ainda no centro, localiza-se nas proximidades da prefeitura


(pontos 7 e 8). Neste caso, as águas pluviais descem por gravidade para o leito do rio; a velocidade
e o volume das águas aumentam e estas não conseguem seguir seu curso natural pela deficiência na
rede de drenagem ali existente, inundando consequentemente toda a área próxima ao rio.
A população ocupa de forma irregular as margens do Rio Apodi, em função da
expansão urbana desordenada. Fatores como a impermeabilização do solo, aliado a retirada da
vegetação nativa e a emissão de resíduos clandestinos tem gerado como conseqüência a inundação e
alagamento de diversas residências construídas nas proximidades do rio. Isto provavelmente ocorre
em função do aumento do volume e da velocidade de escoamento da água, advinda dos bairros a
montante, através da vias públicas e galerias pluviais, dos afluentes do Rio Apodi, e do próprio Rio
Apodi. O aporte hídrico das fontes citadas, acrescido do volume proveniente da sangria da
Barragem de Pau dos Ferros acarreta um transbordamento maior, com conseqüente aumento das
áreas alagadas, atingindo locais anteriormente não inundados, como ocorrido no início de fevereiro
de 2004.
A complementação deste trabalho deve ser feita através de levantamento topográfico
que permita a definição das cotas de inundação, o que possibilitará a elaboração das manchas de
inundação municipal com maior precisão no SIG SPRING 5.0.
É necessário que estas informações sejam levadas em consideração na elaboração do
planejamento urbano da cidade (p. ex. plano diretor, plano de limpeza urbana, defesa civil), para
que o processo de ocupação do solo seja organizado de forma a amenizar as perdas decorrentes
deste fenômeno natural.

CONCLUSÕES

O objetivo principal deste trabalho foi a identificação preliminar das áreas de inundação
em Pau dos Ferros – RN, a partir do rio principal da Bacia Hidrográfica do Rio Apodi. A
metodologia utilizada permitiu a visualização dos locais atingidos na área central da cidade de Pau
dos Ferros, no início do mês de fevereiro de 2004.
A expansão urbana desordenada ao longo dos últimos 22 anos tem sido responsável
pelo o aumento de águas pluviais durante o período chuvoso, principalmente pela deficiência de
uma drenagem urbana com capacidade para permitir o fluxo das águas para o seu curso natural, sem
causar maiores impactos e problemas à população.
Os resultados preliminares deste estudo permitiram visualizar a rápida expansão da área
urbana de Pau dos Ferros, que duplicou em um período de 22 anos. A expansão ocorre em áreas
periféricas anteriormente não ocupadas. O adensamento populacional verifica-se com maior
intensidade na porção centro-sul da cidade, em áreas inundáveis e não inundáveis. A expansão
urbana nos moldes atuais, sem planejamento adequado, pode ocasionar a ocupação inadequada de
áreas inundáveis. Este fato, acoplado à maior geração de resíduos sólidos, impermeabilização do
solo e retirada de vegetação, são fatores que contribuem para a intensificação das cheias na área.
Esta situação pode ser agravada pela Integração do São Francisco, que perenizará o rio principal da
bacia, a partir do eixo norte do Projeto.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

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através das imagens do satélite CBERS 2 e análise sócio-econômica. Revista Fapern. Natal, v.1,
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Organizado [por] João de Castro Mascarenhas, Breno Augusto Beltrão, Luiz Carlos de Souza
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147
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

AÇUDE SANTO ANASTÁCIO: UM ESTUDO DE CASO.


Helena Becker
Laboratório de Química Ambiental. Departamento de Química Analítica e Físico-Química.
Universidade Federal do Ceará. becker@ufc.br

Daniele Brás Azevedo Farias


Renata de Oliveira Silva

RESUMO
O açude Santo Anastácio faz parte da bacia do Maranguapinho, está localizado no campus do
Pici/UFC e a população utiliza esse açude para irrigação, pesca e agricultura, e lazer. A análise das
águas e sedimentos desse açude mostra que ele está contaminado por coliformes, assoreado e
hipereutrófizado, além da poluição visual devido ao aporte de lixo.

PALAVRAS CHAVE: Eutrofização, Assoreamento, Metais, Sedimentos.

INTRODUÇÃO
A bacia do Maranguapinho, situada a oeste do município de Fortaleza, apresenta os rios
Maranguapinho, como principal e Ceará, bem como as lagoas da Parangaba, do Mondubim, do Sítio
Urubu e o açude Santo Anastácio (PICI). Esta bacia corresponde a 28,7% do total do município de
Fortaleza, correspondendo a uma área de 86,8 km2. O açude Santo Anastácio está localizado,
parcialmente, no campus do Pici, em Fortaleza, Ceará, Brasil, onde 42% da área inundada estão
dentro da Universidade Federal do Ceará. A densidade demográfica dessa bacia é a maior de
Fortaleza, com uma população de 1.007.190 habitantes (IBGE, 2000). O Açude Santo Anastácio foi
construído em 1918, pelo represamento do riacho oriundo da sangria da Lagoa de Parangaba, sendo
parte do Rio Maranguapinho. O represamento foi feito com a construção de uma barragem de terra,
tendo um sangradouro em concreto na ombreira esquerda sobre o qual foi construída a ponte de
acesso ao campus (OLIVEIRA, 2001). Segundo Araújo (2000), o valor de acumulação inicial ao
final de sua construção, em 1918 é estimado em 508.000 m3. O fundo do açude, em 1975, era
composto basicamente por lama (60%) e areia fina (25%) e na superfície existia um grande banco
de macrófitas que funcionava como um filtro retendo os sólidos em suspensão (OLIVEIRA, 2001).
Geograficamente, a localização do açude fica compreendida entre os pontos de 3°44’36” de latitude
S e 38°34'13" longitude W (Figura 1), envolvendo uma bacia hidráulica com cerca de 12,8 hectares
e uma bacia hidrográfica com aproximadamente 143.400 m2 (FAUSTO FILHO, 1988) com uma
barragem de 182 m de comprimento. O Açude Santo Anastácio é um exemplo de corpo hídrico
superficial situado em uma grande cidade sofrendo grande pressão antrópica. Suas águas são
reabastecidas tanto por chuvas como pelas águas de drenagem da lagoa da Parangaba, as quais
circulam por um canal que atravessa os bairros do Panamericano, Bela Vista e Amadeu Furtado,
recebendo efluentes domésticos sem tratamento e razoável aporte de lixo. Até o momento não
existiam estudos sistemáticos sobre a situação e nem monitoramento da água desse açude, o qual é
usada pela população circunvizinha, para balneabilidade, pesca e agricultura, assim sendo, este
trabalho tem como objetivo efetuar o diagnóstico sobre as características físicas e químicas nas
águas e metais nos sedimentos do açude Santo Anastácio visando compreender sua dinâmica e obter
informações básicas que possibilitem subsidiar tanto programas de gerenciamento, proteção e
aproveitamento adequado desse recurso hídrico.

148
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram realizadas quatro campanhas de coleta de água e sedimentos, realizadas em junho e
novembro de 2007, novembro de 2008 e maio de 2009, em quatro pontos diferentes do açude,
sendo o ponto 1 em frente a uma comunidade, o ponto 2 localizado no ponto de descarga de
efluentes sem tratamento, principalmente domésticos, o ponto 3 na parte mais profunda do açude e,
o ponto 4, em frente a barragem (Figura 1). As seguintes variáveis foram analisadas na água: pH,
temperatura, salinidade, condutividade, cloreto, material particulado em suspensão, oxigênio
dissolvido, demanda bioquímica de oxigênio, sulfeto, sulfato, dureza, alcalinidade, nutrientes
(NH3,4, NO2-, NO3-, PO43-, N e P total), clorofila, metais (Na, K, Mn, Fe, Ni, Cr, V, Zn e Pb),
potencial elétrico e análise microbiológica (coliformes totais e termotolerantes). Os parâmetros
temperatura (T), potencial hidrogeniônico (pH), condutividade elétrica (C), salinidade (S), oxigênio
dissolvido (OD) foram determinados no campo, por uma sonda multiparamétrica de marca YSI
INCORPORATED, modelo 556 MPS. Os demais parâmetros foram analisados segundo APHA
(2005).

Figura 1. Localização do açude Santo Anastácio, em Fortaleza-CE.

Os sedimentos foram coletados utilizando uma draga do tipo Van Veen, transferidos para
sacos plásticos, mantidos em isopor com gelo até a chegada em laboratório e congeladas até a
realização da análise, quando as amostras foram secas a 60°C e peneiradas (<63 µm). A
determinação dos metais potencialmente biodisponíveis foi feita por lixiviação com HCl 0,1mol.L-1,
sob agitação por 2 horas e filtradas; A concentração total dos metais foi determinada utilizando-se
água régia e ácido fluorídrico concentrado, em bombonas de teflon e aquecimento por 4 horas, em
bloco digestor; os metais Mn, Fe, Ni, Cr, V, Zn e Pb foram determinados por espectrometria de
emissão em plasma (ICP-OES Perkin Elmer, modelo Plasma 4300 DV). O teor de matéria orgânica
foi obtido por gravimetria e as concentrações das frações de fósforo total (PT), fósforo inorgânico
(PI) e fósforo orgânico (PO) foram analisadas segundo Berner&Rao (1994).As análises foram feitas
em triplicatas e a concentração do ortofosfato resultante foi determinada por espectrofotometria
UV-Vis, em 880nm, utilizando-se o método de Murphy & Riley.

149
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Pelos resultados obtidos (Tabela 1) constata-se que as águas do açude Santo Anastácio são
uniformes quanto a maioria das variáveis físicas e químicas analisadas, com a água sendo doce, no
período chuvoso (salinidade menor que 0,5) e tendendo a salobra (salinidade 0,57), na época de
estiagem, de dureza moderada, com baixa razão de adsorção de sódio e média tendência de
salinização dessa água para o solo. Os altos valores obtidos nas análises microbiológicas (mínimo
de 9.300 e máximo de 240.000 NPM/100 mL) inviabilizam todos os usos da água, descritos na
Resolução CONAMA 357, para água doce classe 3, inclusive balneabilidade. O teor de sulfeto (em
média 0,67 mg.L-1), bem acima do VMP da legislação brasileira, confere um forte odor de “ovo
podre” à água. A concentração dos metais foi sempre abaixo do valor máximo permitido pela
legislação anteriormente citada, mas, a análise dos nutrientes (NH3,4, NO2-, NO3-, PO43-, N e P total)
juntamente com a da clorofila mostraram que o açude já está hipereutrófico, sendo que para calcular
esse grau de trofia foi aplicado o clássico Índice de Estado Trófico (IET) desenvolvido por Carlson
e modificado por Toledo et al (1983). Também é verificada a poluição visual do açude onde,
quebrando a harmonia paisagística, observa-se uma grande quantidade de lixo, principalmente
plástico, boiando ou soterrado, animais em estado de decomposição e móveis velhos em suas
margens, gerando um visual de descaso. Apesar da Prefeitura do Campus do Pici da UFC efetuar
periodicamente a retirada das macrófitas e limpeza das margens do açude, a situação volta a se
repetir, principalmente no relativo ao lixo descartado pela população, nas margens do mesmo. Num
mapeamento batimétrico feito pela Prefeitura Municipal de Fortaleza em conjunto com o
Laboratório de Ciências do Mar, da UFC, nas lagoas de Fortaleza, que incluiu o açude Santo
Anastácio, em 2006, foi verificado que ele possuía, em uma profundidade média de 2,29 m e
máxima de 4,97 m. Neste presente estudo verificou-se que a profundidade máxima não ultrapassou
os 4 metros.

Tabela 1. Concentração das variáveis analisadas nas amostras de água do açude Santo Anastácio.
Parâmetros VMP Média Coeficiente de variação (%)
pH 6a9 8,04 4,76
T (ºC) - 27,49 1,27
Salinidade Até 0,5 0,46 26,48
OD (mg/L) >5 4,29 93,88
Profundidade Secchi (cm) - 31,67 18,14
Alcalinidade (mg de
- 146,48 17,00
CaCO3/L)
Condutividade (mS/cm) - 0,99 24,47
Dureza (mg de CaCO3/L) - 132,43 17,68
MPS (mg/L) - 45,78 25,35
Cloreto (mg/L) 250 138,63 69,88
Sulfato (mg/L) 250 89,37 53,01
Sulfeto (mg/L) 0,002 1,34 51,98
Clorofila (µg/L) até 30 37,69 89,17
Feofitina (µg/L) - 30,69 114,06
Namoniacal (mg/L) 2,58 1,19 120,25
Nitrato (mg/L) 45 5,66 92,10
Nitrito (mg/L) 3,29 1,37 34,53
Fosfato (mg/L) 0,061 1,11 90,34

150
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
Os resultados obtidos nas análises dos sedimentos mostraram altas concentrações, para todos
os metais estudados (Fe, Ni, Cr, Cu, V, Zn, Pb e Mn) e estão apresentados na figura 2.

Figura 2. Distribuição de metais nos sedimentos do açude Santo Anastácio.

Coeficientes de correlação superiores a 0,9 foram obtidos para todos os metais com a matéria
orgânica. Em relação aos metais totais, o ponto 2 foi o que apresentou concentrações mais altas,
seguido do ponto 1; os menores valores foram obtidos no ponto 4, com exceção do Pb, que teve seu
menor valor no ponto 3. A variação dos metais biodisponíveis foi semelhante as dos metais totais.
As concentrações obtidas, para todos os metais totais, nos pontos 1 e 2, são comparáveis as
existentes em lodos de esgoto (FERNANDES et al, 1997), embora não ultrapassem os limites
máximos de metais estabelecidos pela Environmental Protection Agency (EPA) para esses lodos.
Segundo os valores orientadores para solos da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
(CETESB, 1995), as concentrações ultrapassam o valor de prevenção (VP), o qual indica a
qualidade de um solo capaz de sustentar as suas funções primárias, protegendo-se os receptores
ecológicos e a qualidade das águas subterrâneas. Analisando-se as altas concentrações de metais
fracamente adsorvidos, fica a preocupação de que esse corpo hídrico, se sofrer variação do pH da
água (atualmente de 7,7), possa liberar esses metais para a coluna d’água.
O P é considerado o responsável pelo processo de eutrofização e os sedimentos são
importantes na avaliação da intensidade e formas de impacto dos sistemas aquáticos, pois são fontes
e sumidouros de P. Nos sedimentos estudados, a concentração de fósforo total foi extremamente
elevada, variando de 57 a 130 mg.g-1, sendo que 85,8% era, em média, de fósforo orgânico. Essas
altas concentrações já eram esperadas, uma vez que o açude é classificado como hipereutrófico,
com a qualidade da água ruim, destacando-se a presença de coliformes nas amostras analisadas.
As piores condições encontradas, para todas as variáveis analisadas, foram no ponto 2,
localizado na descarga do canal da lagoa de Parangaba, o qual atravessa vários bairros, onde são
liberados esgotos domésticos in natura, além de resíduos sólidos; o ponto 1, localizado em frente a
uma comunidade, apresenta condições semelhantes ao ponto 2; o ponto 4, situado na descarga do
açude, apresentou condição ligeiramente melhor, devido a dinâmica de sua localização.

CONCLUSÃO
Os resultados obtidos mostram que os principais impactos sofridos pelo açude Santo
Anastácio são: contaminação por coliformes, assoreamento, eutrofização e aporte de lixo,
ressaltando-se que deve ser dado um enfoque a essa questão, que envolve problemas de natureza
não só ambiental mais também social, política, econômica e sanitária.

151
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

REFERÊNCIAS

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wastewater. 20ª Ed.
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Validação. Revista Brasileira de Recusos Hídricos, v. 8, p. 39-56.
Berner, R. A.; Rao, J. L.; Geochim. Cosmochim. Acta. 1994, 58, 2333.
CETESB. 2005. Decisão de diretoria nº 195-2005- E, de 23 de novembro de 2005.
Fausto-Filho, J. 1988. Aspectos Bioecológicos do açude Santo Anastácio do Campus do Pici da
Universidade Federal do Ceará. Dissertação de Graduação, 84p.
Fernandes, F; Anreoli, C.V.; Domaszak, S.C. 1997. Sanare. p. 15-21
Fernandes, E. G. 1978. Contribuição ao estudo limmnológico do Açude Santo Anastácio
(Fortaleza, Ceará, Brasil), no período de setembro a novembro de 1978 – Estudos físicos e
químicos. Dissertação de graduação do DEP-UFC1, 978. 22 p. (mimeografado).
IBGE – Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censos Demográficos. 1991-
2000.
Oliveira, M. A. 2001. Eutrofização antrópica: aspectos ecológicos e uma nova abordagem para
modelagem da cadeia trófica pelágica em reservatórios tropicais de pequena profundidade.
Tese (Doutorado em Engenharia Civil) – Centro de Tecnologia, Universidade Federal do Ceará,
Fortaleza, 2001.
Toledo, Jr., A.P.; Talarico, M.; Chinez, S.J.; Agudo, E.G. 1983. Anais do 12° Congresso
Brasileiro de Engenharia Sanitária. 34p.

152
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

USO DO IQA - CETESB NA GESTÃO DA BARRAGEM AYRES DE SOUZA.

Jean Leite Tavares


Professor Efetivo do Curso Superior de Tecnologia em Saneamento Ambiental – IFCE – Sobral, :
jeanltavares@ifce.edu.br.
Maria Vânisse Borges de Matos
Graduanda do Curso Superior de Tecnologia em Saneamento Ambiental – IFCE - Sobral.
Vicente Lopes de Frota
Gerente da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos – COGERH na Bacias Acaraú e Coreaú.

RESUMO
A gestão das águas deve envolver o acompanhamento dos fatores quantitativos e
qualitativos. O presente trabalho utilizou o índice de qualidade de água (IQA) estabelecido pela
National Sanitation Foundation e adaptado pela Companhia de Tecnologia de Saneamento
Ambiental de São Paulo – CETESB. Foi aplicado no açude Ayres de Souza, inserido na bacia
hidrográfica do Rio Acaraú, localizado entre as coordenadas geográficas 3°47’39’’ S e 40°30’10’’
W, distrito de Jaibaras, zona rural do município de Sobral – CE. A pesquisa objetivou apresentar o
uso do IQA – CETESB como ferramenta útil na gestão dos conflitos gerados pelos múltiplos usos
no citado manancial. O monitoramento da qualidade da água foi realizado no período de outubro de
2008 a abril de 2009, as amostras foram coletadas com freqüência mensal em duas estações
amostrais situadas em pontos estratégicos, a primeira localizada a montante do cultivo de peixes
(03°47.0”S e 040°030’08”W) e a segunda localizada a jusante do sistema de captação de água para
o abastecimento do distrito (03°46’43.6’’ S e 040°30’03.0’’ W). Foram analisadas nove variáveis
(pH, oxigênio dissolvido e seu percentual de saturação, Demanda Bioquímica de Oxigênio, fósforo
total, nitrogênio total, temperatura, turbidez, sólidos totais e coliformes fecais). Para cada dia de
coleta, nas duas estações amostrais, foi calculado um índice de qualidade da água (IQA), através do
método produtório (IQAM). Através do IQAM foi possível classificar a água do açude Ayres de
Sousa como boa e ótima. Em contrapartida, a análise individual de parte das variáveis envolvidas,
notadamente o fósforo total e o oxigênio dissolvido, indicaram um sério avanço das pressões
antrópicas, com marcante indício de forte processo de eutrofização do ambiente aquático. Estes
dados indicam a necessidade de modificações no gerenciamento integrado do manancial, com
ênfase no controle do uso do solo no entorno e da atividade de piscicultura realizada em seu
interior.
Palavras-chaves: Índice de Qualidade da Água; gestão dos recursos hídricos; múltiplos usos.

INTRODUÇÃO

A diversificação dos usos múltiplos dos recursos hídricos depende evidentemente do grau
de concentração da população humana, do estágio de desenvolvimento econômico regional e da
intensidade das atividades nas bacias hidrográficas. Aproximadamente 90% dos recursos hídricos
do Brasil são utilizados para produção agrícola, produção industrial e consumo humano (TUCCI et
al, 2000; in TUNDISI, 2003). A gestão dessas demandas envolve o controle quantitativo e
qualitativo dos mananciais hídricos.
A preocupação com a qualidade da água e não somente com sua quantidade, inseriu entre as
ferramentas de gestão dos recursos hídricos, os índices indicadores ambientais como ferramenta
para responder de forma inteligível à população sobre a água utilizada em seus múltiplos usos,
principalmente o voltado à potabilidade.
O açude Ayres de Souza pereniza o rio Acaraú a montante do município de Sobral,
principal pólo urbano do norte do Ceará. O citado manancial além do uso para abastecimento

153
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
humano, tem importância vital na economia local, com suas águas sendo utilizadas para a
sustentação do incipiente processo de industrialização local, atividades agrícolas e com bastante
ênfase a piscicultura de água doce.
Como forma de acompanhar a variabilidade qualitativa das águas do citado manancial,
aplicou-se ao mesmo uma das técnicas mais usuais para a avaliação da qualidade da água o IQA -
Índice de Qualidade da Água. O índice adotado na pesquisa foi originalmente desenvolvido pela
National Sanitation Foundation Institution, dos Estados Unidos e posteriormente adaptado pela
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo-CETESB às
condições climáticas tropicais. Consiste em uma média harmônica ponderada de um conjunto de
indicadores específicos, tendo como determinante principal a utilização da água para seu uso mais
restritivo, o abastecimento público.
A adaptação trazida pela CETESB ao IQA resumiu sua base de cálculo a nove variáveis,
consideradas as mais importantes na qualificação da água a ser utilizada para abastecimento
humano e para cada uma definiu-se um peso significativo da sua importância na determinação do
índice. Na tabela 1 estão sumarizados os componentes do IQA, bem como seus respectivos pesos. A
interpretação dos resultados é feita com base na tabela tabela 2 que indica a qualidade da água em
função da faixa representativa do IQA. Há duas possibilidades para o cálculo do IQA, para este
trabalho foi realizado o método produtório resuntante da multiplicação dos resultados das diferentes
análises e que em trabalhos anteriores mostrou resultados mais rigorosos que o do método
somatório.
Tabela 1: Variáveis e Pesos para cálculo do IQA.
N° Variáveis Unidade Peso (w)
01 Coliformes Fecais NMP/100 mL 0,15
02 pH - 0,12
03 DBO5 mg/L 0,10
04 Nitrogênio Total mg/L 0,10
05 Fósforo Total mg/L 0,10
06 Temperatura °C 0,10
07 Turbidez UNT 0,08
08 Sólidos Totais mg/L 0,08
09 Oxigênio Dissolvido % saturação 0,17
Fonte: CETESB, 2009
Tabela 02 - Classificação da qualidade das águas segundo o IQA – CETESB.
Índice – IQA Qualidade
80-100 Ótima
52-79 Boa
37-51 Aceitável
20-36 Ruim
0-19 Péssima
Fonte: CETESB, 2009
A retirada de amostras da água foi realizada em dois pontos escolhidos de acordo com os
usos preponderantes realizados na represa: retirada para abastecimento de água e piscicultura. A
figura 1 a seguir apresenta uma foto de satélite com a indicação das duas estações amostrais.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Estação
Amostral 2

Estação
Amostral 1

Figura 1 – Distribuição dos pontos amostrais no interior do açude Ayres de Souza


Fonte: Adaptado do programa livre google earth.

A estação amostral 1 foi localizada à montante do cultivo de piscicultura, com referência


geográfica: 03°47.0”S e 040°030’08”W. A figura 2 a seguir apresenta o referido ponto.

Figura 2 – Ponto amostral 1 nas proximidades da atividade de piscicultura - Foto dos autores.

A estação amostral 2, apresentada na figura 3 a seguir, foi localizada à jusante do sistema


de captação de água para o abastecimento da Companhia de Água e Esgoto do Ceará - CAGECE,
com referência geográfica: 03°46’43.6’’ S e 040°30’03.0’’ W.

155
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 3 – Ponto amostral 2 nas proximidades do ponto de captação de águas

As coletas de águas ocorreram no período de 22/10/2008 a 22/04/2009, com freqüência


mensal e eram realizadas no período matutino no intervalo de 7h 30mim às 8h 30mim e processadas
em triplicata. Durante as coletas foram realizadas medidas in situ de temperatura da água. As
demais análises foram realizadas nos Laboratórios do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Ceará – IFCE - Campus Sobral e também no laboratório do Serviço Autônomo de
Água e Esgoto - SAAE, de Sobral. A tabela 3 a seguir apresenta as metodologias empregadas nas
análises.
Tabela 3: Variáveis analisadas e suas respectivas metodologias e referências
Análise Metodologia Fonte
Temperatura (ºC) - Temp Termômetro de Mercúrio APHA, 1998
pH Potenciométrico APHA, 1998
Demanda Bioquímica de Oxigênio (mg/L) - T Respirometria BODfast
Oxigênio Dissolvido (% sat) - OD Winkler Modificado APHA, 1998
Nitrogênio Total (mg/L) - NT Nesslerização Direta APHA, 1998
Fósforo Total (mg/L) - FT Espectofotométrico APHA, 1998
Sólidos Totais e frações (mg/L) - ST Gravimétrico APHA, 1998
Turbidez (UT) - Turb Nefelométrico APHA, 1998
Escherichia coli (NMP/100 mL) - EC Membrana Filtrante APHA, 1998

Os resultados médios, máximos e mínimos obtidos para as variáveis nas duas estações
amostrais são apresentadas na tabela 4 a seguir.
Tabela 4 - Valores médio, máximo, mínimo das variáveis analisadas nas estações amostrais 1 e 2.
Análises Estação Amostral 1 Estação Amostral 2
Méd. Máx. Mín. DP Méd. Máx. Mín. DP
EC 7 28 0 11,313 8 28 4 8,225
pH 7,6 7,8 7,4 0,1733 7,5 7,7 7,3 0,1202
DBO 3,6 7 2 2,8867 4 8 2 3,464
NT 0,12 0,13 0,12 0,0075 0,11 0,15 0,03 0,0386
FT 0,5 0,8 0,1 0,2053 0,3 0,8 0,1 0,3212
Temp 25,8 29,3 23 1,8804 25 28 24 1,5584
ST 114 140 94 18,551 78 112 30 28,632
Turb 6,2 9,3 3,7 2,356 6 8,3 3,8 1,498

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
OD (%sat.) 58,6 76,9 39,8 - 47,7 55,7 41,1 -

A tradução dos resultados obtidos a partir do IQAM é apresentada graficamente nas figuras
4 e 5 a seguir.

Figura 4 - Variação temporal da qualidade da água (IQAM) na estação amostral 1.

Figura 5 - Variação temporal da qualidade da água (IQAM) na estação amostral 2.

A partir da análise dos resultados do IQA calculado nas sete campanhas realizadas,permite-
se inferir que o pior índice encontrado foi 63,4 (janeiro de 2009 na estação amostral 2) e melhor
índice 82,1 (dezembro de 2008 na estação amostral 1). Apesar dessa variação, conforme pode ser
observado nas figuras 4 e 5, acima, a qualidade das águas do açude Ayres de Souza foram
classificadas entre boa e ótima, resultado também encontrado por LOPES et al (2007) aplicando a
metodologia do IQA em diversos corpos aquáticos na bacia do Rio Acaraú. No entanto, ressalta-se
que a estação amostral 2, ponto nas proximidades do núcleo urbano do distrito de Jaibaras e locado

157
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
a jusante de onde há captação para abastecimento humano, apresenta-se mais próximo das margens,
sofrendo maior impacto das ações antrópicas do entorno.
É importante destacar que os maiores valores para o índice foram identificados na estação
amostral que fica localizada na parte central do açude, concluindo-se que apesar da intensa
atividade de piscicultura, esta ainda não foi suficiente para alterar a qualidade da água em níveis
que comprometam os usos mais exigentes.
Algumas das variáveis qualitativas analisadas no decorrer da pesquisa apresentaram
valores bastante dispersos conforme observação dos desvios padrões, entre elas a DBO foi a que
apresentou valor máximo de 8mg/L na estação amostral 2, indicando a presença de um aporte
considerável de material orgânico biodegradável, proveniente do mau uso que é feito das margens
do manancial em estudo.
A maioria dos valores de oxigênio dissolvido esteve abaixo da média estabelecida para
consumo humano e para a prática da piscicultura, apresentando valor mínimo de 3,0 mg/L. Este
valor se torna preocupante, principalmente quando comparado aos dados obtidos para a mesma
variável na pesquisa de RIPARDO (2004), ano em que ocorreu uma grande mortandade de peixes
no açude Ayres de Souza.
O fósforo total também se apresentou fora do padrão de potabilidade e com concentrações
que indicam que o quadro de enriquecimento nutrivo do reservatório se encontra evoluindo para a
hipereutrofização, um fenômeno que, a longo prazo, pode trazer sérias complicações ao uso das
águas para abastecimento humano.
Os resultados obtidos indicam haver uma disparidade entre a classificação da qualidade da
água apontada para o IQAM e os valores de algumas das variáveis, principalmente aquelas
relacionadas ao processo de eutrofização, caracterizado por ESTEVES (1998) como o
“envelhecimento” do corpo aquático.
Há a necessidade de aprofundamento dos estudos de modo a estabelecer uma massa de
dados que permita configurar com maior exatidão as evidências mostradas na presente pesquisa.
No entanto, já é marcante a importância da utilização do índice IQA como ferramenta na gestão
dos recursos hídricos, ocorre que o citado índice deve ser avaliado em conjunto com as análises
específicas, inclusive comparado com outros índices como os relacionados ao estado trófico do
corpo aquático.
Uma recomendação importante é a de que a captação de água para abastecimento do
distrito de Jaibaras, ocorra em outro ponto do açude, no qual o impacto das atividades do entorno
seja menor.
Recomenda-se o combate mais incisivo ao lançamento de despejos domésticos e uma
coleta mais eficaz dos resíduos sólidos gerados pelo núcleo urbano de Jaibaras. Outro ponto que
deve ser avaliado é a possibilidade de um maior controle das agências ambientais e gestora dos
recursos hídricos quanto à quantidade de ração lançada aos peixes. Esta preocupação tem base nas
elevadas concentrações de fósforo total observadas nos pontos de análise, tendo como principal
fonte observada a atividade de piscicultura local.

REFERÊNCIAS

APHA; AWWA; WPC. Standard Methods for the Examination of Water and Wasterwater.
American Public Health Association. 20ª Ed. – Washington D.C. 1998.

CETESB, Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado


deSãoPaulo,2009.Disponívelem:<http://www.cetesb.sp.gov.br/Agua/rios/indice_iap_iqa.asp>.
Acesso em 04 Abril. 2009.

158
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
CONAMA, Resolução n° 357, de 17 de março 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos de
água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelecido as condições e
padrões de lançamentos de efluentes, e da outras providências. Ministério do Meio Ambiente,
2005.

DUARTE, M. A. C.; CEBALLOS, B. S. O.; FREITAS, E. B. P.; MELO, H. N. S.; KÖNIG, A.


Utilização dos Índices do Estado Trófico (IET) e de Qualidade da Água (IQA) na
Caracterização Limnológica e Sanitária das Lagoas de Bonfim, Extremóz e Jiqui/RN - Análise
Preliminar. In: 19 Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, 1997, Foz do
Iguaçu-PR. 19 Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, 1997.

ESTEVES, F. A. Fundamentos de Limnologia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Interciência, 1998.

LOPES, F. B. ; AQUINO, D. N ; ANDRADE, E. M. ; PALÁCIO, H. A. Q . Enquadramento das


águas do Rio Acaraú, Ceará, pelo uso de um índice de qualidade de água. In: 24º Congresso
Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, 2007, Belo Horizonte - MG. Saneamento
Ambiental: Compromisso ou Discurso?, 2007. p. 1-7.

RIPARDO, MARIA JANIELLE COSTA. Avaliação preliminar da influencia da piscicultura


intensiva na qualidade da água da represa Ayres de Sousa - Sobral-Ceará. Sobral, 2004.
Monografia. (Graduação em Tecnologia em Saneamento Ambiental). Instituto de Ensino
Tecnológico – Centec unidade Sobral.

TUNDISI, J. G. Água no Século XXI: Enfrentando a Escassez. São Carlos: RIMA, 2003.

159
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

ANÁLISE DA QUALIDADE DA ÁGUA DO RIACHO MACEIÓ EM VARJOTA


FORTALEZA-CE: IMPLICAÇÕES NA GESTÃO AMBIENTAL E FORMAS DE USO.

Judária Augusta Maia


Universidade Estadual do Ceará, judariamaia@yahoo.com.br
João Capistrano de Abreu Neto
Universidade Estadual do Ceará, joaoabreuneto@gmail.com
Mariana Monteiro Navarro
Universidade Estadual do Ceará, marimn@gmail.com

RESUMO
As atividades humanas têm causado grandes impactos nos sistemas aquáticos, sobretudo pela
remoção da mata ciliar, visando especulação imobiliária. Além disso, o descarte de efluentes
industriais e domésticos causa significativas mudanças no sistema natural, através da entrada de
evidentes quantidades de substâncias tóxicas ao corpo hídrico, alterando as características químicas
da água, bem como suas características biológicas. Os rios, riachos e lagoas urbanas enfrentam
constantes problemas devido à falta de ações de preservação ambiental e preocupação com
problemas futuros, tais como doenças, alagamentos, soterramentos, dentre outros. O Riacho Maceió
nos últimos anos vem sendo alvo de diversas agressões ambientais, por descartes efluentes
domésticos, deposição de lixo, tornando suas margens acúmulos de lixões, as comunidades
ribeirinhas que por sua vez se alocam nas margens, ocasionando o assoreamento do riacho. O
presente trabalho pretende realizar uma breve avaliação ambiental e caracterização química da água
do Riacho Maceió, mais precisamente próximo a sua foz, localizada na Praia do Mucuripe. No
intuito de produzir, a partir dos resultados realizados, indicadores de desempenho ambiental para
avaliação da eficiência de medidas mitigadoras, para recuperação e preservação dos corpos hídricos
urbanos.

Palavras chaves: Riacho Maceió, Indicadores de Poluição e Agressões Ambientais.

INTRODUÇÃO
De acordo com o quadro atual que o planeta, relacionando às mudanças climáticas, escassez
de água, desmatamentos, dentre outros. A degradação ambiental tem sido de tal ordem que vem
comprometendo a possibilidade das futuras gerações virem a usufruir desses recursos, e ameaçando
o próprio presente provocando desastres ecológicos, contribuindo para o agravamento das
condições sociais e levando mesmo a possibilidade de escassez de algumas matérias primas (Merico
et al., 1997).
A urbanização e o crescimento acelerado das cidades tornam os sistemas de saneamento
muitas vezes ineficazes e, portanto responsáveis por inúmeras alterações nos meios físicos e
biológicos. Tais alterações vêm atingindo de forma cada vez mais intensiva os corpos hídricos,
como as lagoas, rios e riachos, localizados nos centros urbanos. Vale salientar que essas alterações
também interferem diretamente na qualidade de vida das comunidades que vivem em suas
proximidades, tornando-as alvo de doenças respiratórias e de pele, dentre outros problemas, a
exemplo dos deslizamentos de terras devido a construções indevidas e de risco.
As atividades humanas têm causado grandes impactos nos sistemas aquáticos, sobretudo pela
remoção da mata ciliar, visando especulação imobiliária. Além disso, o descarte de efluentes
industriais e domésticos causa significativas mudanças no sistema natural, através da entrada de

160
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
evidentes quantidades de substâncias tóxicas ao corpo hídrico, alterando as características físico-
químicas da água, bem como suas características biológicas.
Os rios, riachos e lagoas urbanas enfrentam constantes problemas devido à falta de ações de
preservação ambiental e preocupação com problemas futuros, tais como doenças, alagamentos,
soterramentos, dentre outros. O Riacho Maceió está diretamente inserido dentro desse contexto,
tendo em vista que nos últimos anos vêm sendo alvo de diversas agressões ambientais, tanto pelo
descarte de efluentes domésticos, deposição de lixo, tornando suas margens verdadeiros acúmulos
de lixões, como também devido as comunidades ribeirinhas que por sua vez se alocam nessas áreas
por falta de melhores condições de moradia, desmatando as margens, ocasionando
consequentemente o assoreamento do riacho.
O presente trabalho pretende realizar uma breve avaliação ambiental e caracterização química
da água do Riacho Maceió, mais precisamente próximo a sua foz, localizada na Praia do Mucuripe.
Procedeu-se uma análise por meio de estudo, observação, monitoramento e identificação dos
parâmetros ambientais, objetivando diagnosticar o comportamento do ecossistema, definindo
indicadores de degradação ambiental da qualidade das águas do Riacho Maceió. Assim como as
principais fontes de poluição, através de analises da qualidade da água em pontos estratégicos de
monitoramento, no intuito de produzir, a partir dos resultados realizados, indicadores de
desempenho ambiental para avaliação da eficiência de medidas mitigadoras, para recuperação e
preservação dos corpos hídricos urbanos.

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

GEOMORFOLOGIA
O contexto geomorfológico da área em estudo pode ser considerado por agrupar dois
principais domínios os glacis pré-litorâneos e planície litorânea. Segundo Ribeiro (2001) essa
compartimentação geomorfológica está associada diretamente à litologia dos fatores eustático e
morfodinâmicos, podendo essas feições se configurar como área de recarga e de descarga. De
acordo com Brandão et.al (1995), os Glacis Pré-litorâneos são formados por sedimentos
miopleistocênico pertencentes a Formação Barreiras que distribuem-se com uma largura variável,
formando relevos tabulares, dissecados por vales alongados e de fundo chato, evidenciado por
baixas e suaves cotas altimétricas em direção ao mar.
A Planície Litorânea está comprometida pelos campos de dunas, planícies fluviais, flúvio-
marinhas e praias. As dunas são formadas por cordões contínuos e paralelos a linha de costa, sendo,
algumas vezes, interrompidos pela interferência de planícies aluviais e flúvio-marinhas. De acordo
com Silva (2000), as planícies flúvio-marinhas são formadas pela ação conjunta de processos
continentais e marinhos, com a predominância de sedimentos argilosos deposicionados, ricos em
matéria orgânica, caracterizada por vegetação de manguezal.
É considerada região estuarina onde se encontra a mistura das águas salgadas do mar com as
águas doces dos rios e riachos, fortemente dinamizados pela a ação das marés. Este é o caso do
Riacho Maceió, predominante de grande vulnerabilidade e instabilidade ambiental, ocasionando
diversos impactos, dentre eles a descaracterização das margens, flora e fauna local, bem como o
comprometimento da balneabilidade no litoral devido o descarte de efluentes, os quais são levados
pelo curso do riacho em direção ao mar.

LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO


O Complexo Hídrico Papicú\Maceió, encontra-se delimitado ao sul e oeste de Fortaleza,
respectivamente ao norte com o Oceano Atlântico. O referido sistema é parte integrante da Bacia da
Vertente Marítima, formado pela Lagoa do Papicu, riachos Papicu e Maceió com sua foz localizada
na Praia do Mucuripe, ocupando uma área de 6km² drenando o bairro do Papicu, Varjota, Mucuripe,
e Vicente Pinzon. Vale salientar que a área em recorte apresenta dados da sua foz, já na praia do
Mucuripe (Figura01).

161
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 01. Localização dos Pontos de Monitoramento. Fonte: Maia,2009.

METODOLOGIA
O referente trabalho partiu de um levantamento bibliográfico da área em estudo em
bibliotecas universitárias, tais como da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e Laboratório de
Estudos do Mar (Labomar - UFC), no intuito de enriquecer o contexto histório-temporal das
principais formas de uso do Riacho Maceió. As amostras de água foram coletadas através de Van
Dorn e acondicionadas em garrafas esterilizadas e apropriados para coleta, as quais logo foram
refrigeradas para diminuição do metabolismo.
As amostras de água foram encaminhadas e realizadas em duplicata no Laboratório de
Geologia e Geomorfologia Costeira e Oceânica da Universidade Estadual do Ceará – UECE. Os
procedimentos de análises corresponderão às orientações da APHA (1998) e da Resolução
CONAMA N° 357/2005.

ATIVIDADES EM CAMPO
Os pontos de monitoramento foram estabelecidos e georrefenciados, através do uso de um
GPS (Sistema de Posicionamento Global) (Tabela 01), onde foram demarcadas quatro seções de
monitoramento, as quais foram estabelecidas de forma estratégica de acordo com a maior
concentração de fontes poluidoras associadas aos principais usos locais.
Tabela 1. Localização Geográfica dos Pontos.

Pontos Latitude Longitude


1 9588576 0557341
2 9588480 0557321
3 9588376 0557503
4 9588309 0557529

162
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
Foram feitos registros fotográficos e realizada coleta de 6 amostras de água no meio e nas
margens do riacho distribuídas em pontos demarcados no período chuvoso, onde foram coletadas
com o uso de uma garrafa do tipo Van Dorn. Todas as amostras foram etiquetadas com a descrição
de cada secção e condicionadas em garrafas próprias para tal experimento e levadas ao laboratório
de análise.

EXPERIMENTOS EM LABORATÓRIO
As amostras foram levadas ao laboratório, as quais foram analisadas através de um kit de
reagentes para as análises de qualidade de água abordando os seguintes parâmetros químicos:
amônia e nitrito os quais mostram os índices e grau de poluição das fontes de efluentes em
determinado corpo hídrico. Tal processamento foi realizado no Laboratório de Geologia e
Geomorfologia Costeira e Oceânica (LGCO-UECE). As analises avaliaram os indicadores de
poluição de acordo com a presença de componentes químicos no referente corpo hídrico.

QUALIDADE DA ÁGUA ASSOCIADA ÀS FORMAS DE USOS

FORMAS DE USOS
As características hidroquímicas e geoquímicas dos ambientes flúvio-estuarinos e praiais são
influenciados pelo tipo de ocupação e escoamento da bacia de drenagem. O levantamento das fontes
de poluição nos rios, riachos, lagoas, estuários e praias se dão pelo gerenciamento e controle da
qualidade das águas.No estudo de caso do Riacho Maceió utiliza-se esse principio.

No Trecho em estudo foram identificadas diversas atividades de uso por comunidades


ribeirinhas locais (Figura 02 e03). As quais vivem as margens do riacho sujeitas à enchentes,
desabamentos de suas casas, fazendo uso do riacho para deposito de lixos e descartes de fluentes,
tendo em vista que boa parte das casas não possuem saneamento básico.

Figura 02 e 03. Casas às margens do riacho e acumulo de lixos domésticos

Também é evidenciado o problema relacionado a doenças causadas pelo acúmulo de


verdadeiros lixões e claras evidências do descaso de investimentos por parte da prefeitura da cidade
no que tange a coleta seletiva de lixo. Com isso vem causando um aumento de problemas de saúde
principalmente em crianças que moram nas localidades. Por falta de saneamento básico, as galerias
pluviais acabam fazendo o papel de valas de escoamento de esgotos domésticos (Figura 04 e 05).

163
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 04 e 05. Galerias Fluviais transportando efluentes domésticos

Dentre outras atividades, a pesqueira se enquadra na mais antiga, contudo devido ao seu
manuseio arcaico, desenvolve papel significativo na contribuição da poluição pelos restos dos
animais pescados no mar, pois os mesmo são tratados em local e jogados à praia sem nenhum
tratamento prévio. As barracas turísticas também poluem, pois algumas não possuem sistema de
esgoto regulamentado e outras até mesmo usam as galerias fluviais para descartes dos mesmos,
contaminando assim o lençol freático e comprometendo a balneabilidade local (Figura 06 e 07).

Figura 06 e 07. Atividades pesqueiras e barracas turísticas.

O descarte de efluentes acarretado pela vazão do riacho deságua a céu aberto da Praia do
Mucuripe, considerado fator degradante em relação à qualidade de água, tanto no regime fluvial,
como nas águas das praiais adjacentes, tendo em vista a intensa dinâmica costeira (Figura 08 e 09).

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 08 e 09. Galerias Fluviais e foz do Riacho Maceió

PARÂMETROS QUÍMICOS
Foram monitoradas 03 seções onde se obteve os resultados químicos de amostras de água
coletadas. Os parâmetros químicos da água referente à amônia, nitrito e cloro foram observados no
período chuvoso. Tais parâmetros são indicadores de poluição em corpos hídricos, onde na seção 01
a amônia variou de 0,75 mg\L a 1,5 mg\L, o nitrito variou de 0,20 mg\L a 1,0 mg\L, enquanto que
o cloro 0 mg\L. Já na seção 02 a amônia permaneceu a 1,5 mg\L, o nitrito 0 mg\L, enquanto que o
cloro permaneceu 0 mg\L. Na seção 03 a amônia predominou a 1,5 mg\L, o nitrito 1 mg\L, já o
cloro continuou 0 mg\L.
Esses resultados evidenciam a demanda constante de efluentes domésticos no complexo
hídrico do Riacho Maceió, principalmente por comunidades que vivem às suas margens. Os
resultados mostram que os valores obtidos pelas análises químicas da água estão em desacordo com
o limite da presença de tais componentes químicos estabelecidos pela Resolução 357\CONAMA
(Gráfico 01).

Gráfico 01. Amostragem de parâmetros químicos da água.

165
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com os parâmetros químicos analisados, a qualidade da água do Riacho Maceió


apresentou-se com o uso inadequado para os parâmetros de qualidade que envolve os recursos
hídricos. Tendo em vista que os mesmos vêm sofrendo agressões diversas, desde o despejo de
efluentes domésticos, industriais, até o despejo de efluentes provenientes de barracas turísticas a
beira mar e da atividade pesqueira que se desenvolve há muito tempo no litoral fortalezense.

Podemos então concluir que o Riacho Maceió apresenta um quadro bastante preocupante e
comprometedor não somente em relação ao contexto ambiental, mesmo em período chuvoso, onde
as concentrações de componentes químicos tornam se mais dispersos.

Assim faz se necessária a implantação de um programa de recuperação do Riacho Maceió,


bem como da implantação de um sistema de saneamento eficaz. Também se torna necessário o
controle de lançamento de efluentes das barracas turísticas e pesqueiras, de certa forma em que as
condições estabelecidas se enquadrem dentro dos parâmetros exigidos pela resolução
357\CONAMA. Sugerindo uma elaboração de um instrumento de planejamento que permita
estabelecer a qualidade do complexo hídrico de forma a atender seus usos específicos. No intuito de
fazer a utilização dos recursos hídricos de tal forma, a qual não venha a comprometer o meio
ambiente, para o uso do mesmo em gerações futuras.

REFERÊNCIAS

APHA (American Public Health Association).(1989). Standard methods for the examination of
water and waste water. 17. ed. New York: Ed. APHA, 1989. 685p.

BRANDÃO, R. L. Diagnóstico Geoambiental e os Principais Problemas de Ocupação do Meio


Físico da Região Metropolitana de Fortaleza. Fortaleza: Companhia de Pesquisa de Recursos
Minerais, 1995.88p. (Projeto SINFOR).

MERICO. et al. Avaliação do Desenvolvimento Econômico através de Indicadores Ambientais:


Proposta Metodológica para uma experiência piloto em Blumenau- SC. In: Revista Brasileira
de Ecologia (1), p. 152-155,1997.

RIBEIRO, A. C. A. Análise e Planejamento Ambiental do Sistema Hidrográfico


Papicu/Maceió, Fortaleza-CE, 2001. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio
Ambiente), Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2001.

RIBEIRO, J. A. P. Características Hidrogeológicas e Hidroquímicas da Faixa Costeira Leste


da Região Metropolitana de Fortaleza-Ceará, 2001. Dissertação (Mestrado em Geologia),
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2001.

SILVA, J. G. – Hidrogeologia da Faixa Costeira de Aquiraz-CE, 2000. 90p. Dissertação


(Mestrado em Geociências e Meio Ambiente) – Instituto de Geociências e Ciências Exatas,
Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2000.

166
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

ANÁLISE DOS INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE DOS PERÍMETROS


IRRIGADOS DAS BACIAS DO BAIXO ACARAÚ E CURU

Kelly Nascimento Leite


Mestranda em Engenharia Agrícola/Irrigação e Drenagem, do Curso de Pós Graduação da
Universidade Federal do Ceará. email: kellyleite14@hotmail.com
Rochele Sheila Vasconcelos
rochelesheila17@hotmail.com.
Luiz de França Camboim Neto
rayyar19@hotmail.com.
Raimundo Nonato Farias Monteiro
Doutor em Engenharia Agrícola, camboim@ufc.br.

RESUMO
O trabalho objetivou analisar os indicadores de desempenho de auto- sustentabilidade, levando em
conta seu potencial de produção, nos perímetros irrigados localizado na bacia do Baixo Acaraú
(perímetro Baixo Acaraú) e Curu (Curu-Pentecoste, Curu-Paraípaba). Realizou-se o levantamento
de informações disponiveis sobre os perímetros estudados, reunindo-se as bibliografias existentes e
materiais com dados estatisticos disponíveis. Avaliou-se seu desempenho, através da análise dos
valores dos indicadores para o ano de 2008, apartir de dados fornecidos pelo site DNOCS, e pela
associação dos distritos de irrigação dos perímetros. Para o perímetro Curu-Paraípaba encontrou-se
indicador de auto-sustentabilidade de 1,0. O desejável é que este valor seja igual ou o mais próximo
possível de 1.0, representando assim, que o perímetro está conseguindo arrecadar valores
suficientes para cobertura total dos custos de operação e manutenção, o perímetro de irrigação.
Curu-Pentecoste, comporta-se da mesma forma. Devendo-se o indicador de 1,05, o perímetro teria
condições de pagar as despesas com operação e manutenção a partir do valor de K2 arrecadado, os
sistema organizacional do perímetro, observado na literatura, mostra que a cobrança é feita de
forma coerente, ou seja, por volume de água utilizado no lote. Concuindo-se que os três perímetros
possui capacidade de auto-sustentabilidade, noentanto há problemas com inadiplência da tarifa do
K2 . O perímetro Baixo Acaraú apresenta-se com o indicador de custo de um hectare em produção
mais elevado que os demais. Os três perímetros de irrigação apresenta-se com o indicador referente
a taxa de ocupação médiano.

Palavras-chave: Indicadores de auto-sustentabilidade. Tarifa K2. Perímetros irrigado.

INTRODUÇÃO

A decisão de interligar as bacias hidrográficas do Ceará, foi de fundamental importância


para o desenvolvimento do mesmo, o estado conta com um dos perímetros irrigados mais modernos
do país , que é o Baixo Acaraú, estando mais avançado que os outros estados em relação a gestão
dos recursos hídricos.
Segundo a Companhia de Gerenciamento dos Recursos Hídricos, o Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal investirá até 2010 R$ 482 milhões em cinco
perímetros de irrigação do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), órgão
vinculado ao ministério da integração nacional, sendo três no Ceará e dois no Piauí, na expansão da
área irrigada em mais 25 mil hectares. Os projetos irrigados do Ceará que têm segunda etapa em
obras até 2010 são o Tabuleiros de Russas, com adição de 3.600 hectares, beneficiado com

167
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
investimento de R$ 84 milhões; o Baixo Acaraú, que terá expansão de 4.140 hectares na qual são
investidos R$ 102 milhões e o Araras-Norte, com ampliação de 1.619 hectares e com investimento
inicial de R$ 14,1 milhões.
Hoje a responsabilidade pela administração e condução dos perímetros é do ministério
da integração nacional (MI), vinculado a Codevasf – Companhia de Desenvolvimento do Vale do
São Francisco e Parnaíba e ao DNOCS.
Os perímetros irrigados implantados pelo DNOCS desde 1970 não atingiram sua
autonomia, necessitando de recursos financeiros da União, para despesas de gestão e manutenção. A
idéia do ministério da integração nacional é que esses perímetros tornem-se auto suficientes na
perspectiva de desenvolvimento sustentável, nas dimensões sociais econômicas e ambientais.
Tornado-se assim, cada vez mais, necessário a observação dos orçamentos operacionais
governamentais. por mais de 40 anos têm-se comprovado a incapacidade dos dirigentes para cobrar
dos usuários dos perímetros de irrigação as despesas efetuadas com obras, manutenção de canais e
adução de água, necessitando-se de estudos relacionados a indicadores de desempenho do
perímetro, assim como alocação de recursos para cobrança de tarifas, que contribuam com a
independência do perímetro.
Diante essa problematica este trabalho teve como objetivo analisar os indicadores de
desempenho de auto-sustentabilidade, levando-se em conta o potencial de produção dos perímetros
irrigados, localizado na bacia do Baixo Acaraú (perímetro Baixo Acaraú) e Curu (Curu-Pentecoste,
Curu-Paraípaba).

OS PERIMETROS IRRIGADOS NO ESTADO DO CEARÁ

Os distritos de irrigação, no estado do Ceará, foram criados com o objetivo de produzir


alimentos e matérias primas, gerar empregos em atividades rurais e urbano-rurais, aumentar e
melhorar a distribuição de renda e criar condições para a conquista da cidadania. (LIMA;
MIRANDA, 2000)
Os indicadores do DNOCS mostram que o crescimento da economia entre 1975 e 2000
dos municipios contemplados com os perímetros irrigados teve um aumento de 6,43% a.a e a taxa
de alfabetização da população com mais de 15 anos em 2000 foi de 79,5%. (PERÍMETROS....,
2008).
A irrigação agrícola, têm-se mostrado importante seja em função da necessidade de
produzir alimentos, seja para a preservação do solo e recursos hídricos. Além disto, tem
influênciado no uso da mão-de-obra, estimulando a substituição do trabalho temporário pelo
permanente. (PINO, 2003).

PERÍMETRO IRRIGADO BAIXO ACARAÚ.

Segundo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (2009), o projeto Baixo


Acaraú tem sua localização privilegiada, sendo um ponto estratégico para a exportação de produtos,
encontra-se assente em terras dos municípios de Marco, Bela Cruz e Acaraú, na região noroeste do
estado do Ceará, no trecho final da bacia do rio Acaraú, em um percurso total de Fortaleza/Acaraú
de aproximadamente de 220 km.
O perímetro irrigado é considerado um modelo de referência. Localizado na região
norte do estado, o Baixo Acaraú, iniciado em 2001, está dotado de moderna infra-estrutura,
idealizada, primordialmente, para produção de melão, tendo em vista o mercado internacional.
Problemas prematuros na produção e comercialização evidenciaram a histórica perpetuação das
dependências dos recursos estatais. Como estratégia para promover a emancipação dos produtores,
o DNOCS, em 2004, celebrou uma parceria com a Embrapa para implantação de um projeto de
transferência de tecnologia, visando à emancipação dos irrigantes. A substantiva alteração nas
relações sociais e de trabalho. (VASCONCELOS, 2008).

168
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

PERÍMETROS IRRIGADOS VALE DO CURU.

As operações trabalhistas na Bacia do Curu, no que se refere à gestão de recursos


hídricos, refletem as ações tomadas em nível de Nordeste para o combate as secas, sendo essa
região visada a nível estadual. Ações tomadas pelo governo federal remontam ao ano de 1877, ano
em que a região foi assolada por uma grande seca. (STUDART, [199-]).
Até a metade do atual século, a política de combate às secas contemplava,
principalmente, a formação de uma infra-estrutura hidráulica e a implantação de postos agrícolas
como indutores da irrigação na região. (MAGALHÃES; GLANTZ, 1992).
A irrigação foi introduzida no Vale do Curu nos anos 60, quando o DNOCS implantou
um posto agrícola, com o propósito de transmitir experiência e incentivos para a agricultura irrigada
da região. Na mesma propriedade, pouco tempo depois, o DNOCS construiu o projeto de irrigação
Curu-Pentecoste para irrigantes particulares. (STUDART, [199-]).

INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE:

Segundo Brito e Bos (1997), os indicadores tendem a avaliar o desempenho dos


perímetros de maneira detalhada, entretanto, o nível de detalhes dentro do processo de desempenho
depende do propósito da avaliação.
O desempenho de um sistema engloba as atividades de aquisição dos insumos e a
transformação dos mesmos em produtos finais e intermediários e os efeitos destas atividades no
próprio sistema e no ambiente externo (SMALL; SVENDSEN, 1992). A gestão da água gera custos
de funcionamento (energia, salários, manutenção de rotina) e investimento (renovação periódica dos
equipamentos), que a gerência do distrito tem de assumir para garantir a perenidade de sua
atividade. Para fazê-lo, a gerência implanta um sistema de tarifa de água, que assumirá formas
variáveis conforme sua estrutura, sua base de cálculo e seu montante. (MONTGINOUL; RIEU,
1996).
Contudo os indicadores de desempenho para perímetros irrigados, segundo Oliveira et
al. (2004), devem ser divididos em (a) indicadores de desempenho do serviço de operação e
manutenção, (b) indicadores de desempenho da atividade agrícola, (c) indicadores sócio-
econômicos.

SISTEMAS DE CALCULO PARA INDICADORES TÉCNICOS.

Brasil (2002), o Tribunal de Contas da União-TCU utiliza para monitoramento dos


perímetros irrigado, indicadores que são utilizados como ferramenta de avaliação sistemática,
constituindo-se como subsidio para determinar as deficiências de programação e de execução.
Costa et al. (2007), define as variáveis utilizadas no Tribunal de contas como:

a) Auto-sustentabilidade
Definido pela relação entre custo de operação e Manutenção (O &M) necessário para
manter o perímetro irrigado, e os recursos financeiros arrecadados da tarifas de água (K).
CustoM & O
IAS =
K 2 arrecadado
Onde:
IAS: indicador de auto-sustentabilidade (R$.R$-1)
Custo O&M: custo anual de operação e manutenção do perímetro (R$);
K2 arrecadado: recursos arrecadados no perímetro no ano (R$).
A tendência de desenvolvimento sustentável implica no aproveitamento racional dos
recursos naturais com base na capacidade de suporte do ambiente. Porém, agregados aos problemas

169
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
ambientais, existem os desafios sócio-econômicos, geralmente caracterizados pela
operacionalização dos produtores agrícolas. (MELO 1999; LUIZ; SILVEIRA, 2000).

b) Custo de um Hectare em Produção


Definido por Costa et al. (2007), como sendo o valor necessário para operar e manter
um hectare cultivado em produção, a despesa anual realizada para aduzir a água necessária para
irrigação normal do hectare cultivado, nas condições do perímetro irrigado, sendo expresso pela
relação entre o custo de O&M pela área cultivada:
CustoM & O
ICHP =
áreacultivada
ICHP: indicador do custo de um hectare em produção (R$ ha-1)
Custo O&M: custo anual de O & M do Perímetro Irrigado (R$)
Área cultivada: área anual cultivada no perímetro (ha).

c) Percentual da Produção necessária a O & M.


È importante avaliar vários indicadores a fim de comparar sistemas tarifários que difere
tanto no equilíbrio entre as partes fixa e variável quanto em sua estrutura, no caso das tarifas
opcionais. (MAGALHÃES; GLANTZ, 1992).
O&M
IVPBNM =
VBP
Onde:
IVPNM: percentual do valor bruto da produção necessária à operação e manutenção do perímetro
(R$ R$ ).
VBP: valor bruto de toda produção do perímetro no ano (R$).
Custo O&M: custo anual de O & M do perímetro (R$).

d) Geração de Receita por Hectare (IGCH)


Um índice ou indicador é uma ferramenta que permite a obtenção de informações sobre
uma dada realidade, sendo como principal característica o poder de sintetizar um conjunto
complexo de informações, retendo apenas o significado essencial dos aspectos analisados.
(SILVEIRA; ANDRADE, 2002; FOSSATTI; FREITAS, 2004).
VBP
IGCH =
AC
IGCH: índice de geração de receita por hectare (R$ ha).
VBP: valor bruto de toda produção do perímetro no ano (R$).
AC: área colhida (ha).
e) Produtividade da Água (IPA)
VBP
IPA =
volumedeágua
IPA: índice de produtividade da água (R$ m-1)
VBP: valor bruto de toda produção do perímetro no ano (R$).

f) Coeficiente de Utilização da Terra (CUT)


Este indicador tem como definição a ocupação anual da terra com culturas no espaço e
no tempo, podendo apresentar variação de acordo com o ciclo da cultura explorada, expresso pela
relação.
areairrigada
CUT =
areairrigadaentregue
em que:
CUT: Coeficiente de Utilização da Terra (ha ha-1)
Área irrigada: Área irrigada no perímetro (ha).

170
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
Área entregue ao irrigante: Área total do perímetro que foi entregue ao irrigante (ha).
Essa variável indica a importância de determinar a destinação de novos investimentos,
incrementando o retorno por real investido.

METODOLOGIA

Realizou-se levantamento de informações disponiveis sobre os perímetros Baixo


Acaraú, Curu-Pentecoste, Curu-Paraípaba. Nessa fase, reuniram-se as bibliografias existentes e
materiais com dados estatisticos disponíveis, assim como informações fornecidas pelo DNOCS,
propiciando uma visão global das condições gestacionais dos perímetros de irrigação. Em seguida
procedeu-se com a segunda etapa do trabalho, avaliando-se o desempenho dos perímetros irrigados,
sendo realizado através da análise dos valores dos indicadores para o ano de 2008, apartir de dados
existentes.
O processamento dos dados obtidos na pesquisa foram realizados com o auxilio de uma
planilha confeccionada no programa computacional Excel, foram avaliados três indicadores, (a)
auto-sustentabilidade, (b) custo de um hectare em produção, (c) coeficiente de utilização da terra -
CUT. onde utilizou-se como referência os calculos utilizados pelo Tribunal de contas da união.
(BRASIL, 2002), conforme descrito no item 2.4 desse trabalho.
Foram adquiridos os dados referentes ao ano de 2008 dos perímetros Baixo Acaraú
Curu-Paraípaba e Curu-Pentecoste, através dos sites dos distritos de irrigação e em trabalhos
realizados no local, sendo importante ressaltar que os indicadores obtidos neste trabalho foram
estimados potencialmente, ou seja sem levar em conta a inadiplência da tarifa de K2 . A Tabela 1
mostra os dados de produção dos perímetros irrigados adiquiridos na literatura, nos site e através do
relatório anual de operação e manutenção do perímetros irrigados fornecido pelo Departamento
Nacional de Obras Contra as Secas-DNOCS.

Tabela 1: Dados de produção do Perímetro de Irrigação para o ano de 2008


Area Área Area Area Dias Custo anual K2arrecada
cultivada colhida entregue utilizada trab(ano) de O&M do(R$)
(ha) (ha) (ha) (ha) (R$)
Curu- 5381 520 743,02 569 150 156.2175 148.5765
pentecoste
Curu- 2.794,001 2.634 3.279,002 2.864,003 150 777.0735 775.9765
Paraipaba
Baixo 7901 700 1.388,222 5984 150 1.264.742 1.471.3265
Acaraú
1
(SOUZA, 2008), 2(PERÍMETROS...., 2009), 3(ASSOCIAÇÃO... 2009), 4(BAIXO ACARAÚ, 2009),
5
(DEPARTAMENTO NACIONAL DE OBRAS CONTRA AS SECAS, 2008).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tabela 2 descreve os indicadores de sustentabilidade dos perímetros estudados.


Tabela 2: Indicadores dos Perímetros de Irrigação.
Baixo Acaraú Curu-Pentecoste Curu-Paraípaba
Auto-sustentabilidade 0,85 1,05 1,00
Custo de um Hectare em Produção(R$) 1.600,93 290,37 278,12
Coeficiente de Utilização da Terra CUT 0,724 0,873 0,583

A idéia de tornar o perímetro auto-sutentável não é um perspectiva isolada, e vem sendo


discultida a tempos. Conforme descreve Companhia de Gerenciamento de Recursos Hídricos
(2002), o objetivo de ações conjuntas para despertar os irrigantes, os órgãos públicos e toda a
sociedade para a necessidade urgente de implementar conjunto de ações que possam assegurar o
processo de sustentabilidade do perímetro irrigado Curu-Paraipaba.
De acordo com o indicador de auto-sustentabilidade calculado 1,0. Este indicador dá
indícios da capacidade do perímetro irrigado em gerar recursos necessários à sua auto-gestão.

171
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
Segundo Costa et al. (2008), o desejável é que este valor seja igual ou o mais próximo possível de
1,0, representando assim, que o perímetro está conseguindo arrecadar valores suficientes para
cobertura total dos custos de O & M, ficando a inadimplência desta tarifa próxima de zero. Neste
caso, o nível de organização da comunidade apresenta-se elevado e a auto-sustentabilidade estaria
possivelmente garantida (BRASIL, 2002). A pesquisa mostra que se não houvesse inadimplência da
tarifa de K2, o distrito teria potencial de emancipação o que não é possível no momento devido ao
elevado índice de inadimplência.
Para o perímetro do Baixo Acaraú, o mesmo teria condições de pagar as despesas com
operação e manutenção a partir do valor de K2 arrecadado, os sistema organizacional do perímetro,
observado na literatura, mostra que a cobrança é feita de forma coerente, ou seja, por volume de
água utilizado no lote. Conforme Costa et al. (2008), uma situação em que não ocorra
inadimplência na taxa mensal de água K2 a gerência do distrito pode, a partir deste indicador,
ajustar as despesas de administração, operação e manutenção ao seu nível de gasto médio, buscando
uma alternativa racional de conduzir e controlar as despesas extras, ou alternativamente em
consonância com os produtores e promover um incremento médio na taxa mensal de água K2,
tomando como base o resultado deste indicador.
O perímetro de irrigação Curu-Pentecoste, comporta-se da mesma forma do Curu-
Paraípaba, apresentando um valor de indicador de sustentabilidade de 1,05, sendo ainda a melhor
forma a de cobrança do K2 por água consumida, conforme cobrada no perímetro Baixo Acaraú. A
gestão da água gera custos de funcionamento (energia, salários, manutenção de rotina) e
investimento (renovação periódica dos equipamentos), que a gerência do distrito tem de assumir
para garantir a perenidade de sua atividade. Para fazê-lo, a gerência implanta um sistema de tarifa
de água, que assumirá formas variáveis conforme sua estrutura, sua base de cálculo e seu montante
(MONTGINOUL; RIEU, 1996). Essa dimensão econômica impõe uma segunda questão estratégica,
fonte freqüente de tensões entre o gerente e seus clientes agricultores (DINAR; SUBRAMANIAN,
1997).
Os demais indicadores mostra que o maior custo de um hectare em produção é no
perímetro irrigado Baixo Acaraú, atribuindo-se ao fato do perímetro proporcionar uma alta
tecnologia para produção e pós-colheita. Conforme descrito por Pimentel (2007), no Baixo Acaraú
existem quatro “packing house” estando em plena atividade destinando-se a seleção e embalagem
do fruto produzido.
Para o indicador de utilização da terra os três apresentaram um índice mediano sendo
ele quanto mais próximo de 1 melhor, o coeficiente de utilização da terra constitui uma variável de
avaliação da assistência técnica e extensão rural (BRASIL, 2002), refletindo a consciência do uso
racional e intensivo da área irrigada como veículo de desenvolvimento e gerador de receita,
considerando que o valor arrecadado é proporcional à área efetivamente em operação. Contudo,
valores elevados de CUT têm demonstrado criar um ambiente promissor junto às organizações de
produtores que atuam nos perímetros. (MANTOVANI et al., 2006).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Concuiu-se que os três perímetros possui capacidade de auto-sustentabilidade, no


entanto há problemas com inadiplência da tarifa do K2 . O perímetro Baixo Acaraú apresenta-se com
o indicador de custo de um hectare em produção mais elevado que os demais. Os três perímetros de
irrigação apresenta-se com o indicador referente a taxa de ocupação mediano.

172
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
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174
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

DIAGNÓSTICO DAS CONDIÇÕES AMBIENTAIS DO RIO PARNAÍBA

Laryssa Sheydder de Oliveira Lopes


UFPI
sheydder@yahoo.com.br
Livânia Norberta de Oliveira
UFPI
livaniageo@hotmail.com

RESUMO

O Parnaíba é um dos mais importantes rios da região nordeste, contribuindo principalmente para o
desenvolvimento dos estados do Piauí e Maranhão. No entanto, o processo de ocupação
desordenada, tanto no campo quanto nos aglomerados urbanos, o desmatamento, o extrativismo
mineral e as atividades agropecuárias têm causado a degradação ambiental e o esgotamento deste
recurso natural. O presente trabalho tem por objetivo detectar os problemas enfrentados pelo rio
Parnaíba e apresentar algumas ações governamentais como meios de reverter a situação de
degradação em que ele se encontra atualmente. O tema foi escolhido após algumas atividades de
campo realizadas às nascentes do rio Parnaíba, à Barragem de Boa Esperança, ao município de
Gilbués e ao Delta do Parnaíba, onde foram observados, além da degradação ambiental, o potencial
e a importância que o rio tem para a região. Coletados os dados em campo, fotos e mapas, foi
também realizado um levantamento bibliográfico. De posse desses instrumentos, os dados foram
organizados e analisados com informações suficientes para subsidiar a realização desta pesquisa.
Espera-se com este trabalho chamar a atenção para a necessidade que se tem de se adotar um
planejamento ambiental com urgência à este recurso tão valioso.

Palavras-Chave: Bacia hidrográfica. Degradação. Planejamento.

INTRODUÇÃO

O Parnaiba, segundo maior rio do Nordeste, nasce na Chapada das Mangabeiras e percorre
1.485 km até desembocar no Oceano Atlântico, em forma de delta. Em todo o seu percurso,
constitui o divisor territorial e geográfico entre os estados do Piauí e Maranhão sendo um
importante recurso natural para a população destes dois estados porém sofre sérios problemas de
degradação ambiental.
O presente trabalho tem por objetivo detectar os problemas enfrentados pelo rio Parnaíba e
apresentar algumas ações governamentais como meios de reverter a situação de degradação em que
ele se encontra atualmente.
Inicialmente faz-se uma caracterização da área de estudo desde sua nascente até a foz. São
apresentadas sua área, os estados que o compõe e seus respectivos municípios, suas sub-bacias e sua
importância econômica, principalmente quanto à geração de energia na Usina Presidente Castelo
Branco, instalada na Barragem de Boa Esperança.
Foram diagnosticados os principais problemas que atingem ao rio Parnaíba em virtude da
ocupação desordenada e da falta de adoção de técnicas de manejo nas atividades antrópicas
realizadas ao longo do seu curso. Dentre as atividades que causam impactos negativos ao rio estão:
a pecuária extensiva, a agricultura mecanizada, a exploração de diamantes, o extrativismo
madeireiro e a deposição de resíduos sólidos e esgotos sem tratamento em suas águas.
Apesar de existirem leis que protegem os recursos naturais e programas que visam a
conservação, preservação e a sustentabilidade do rio Parnaíba, ainda é necessário uma maior

175
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
conscientização tanto do poder público quanto da sociedade dos efeitos que as atividades antrópicas
causam ao rio e do quanto é importante manejá-lo de forma ambientalmente correta.
O tema foi escolhido após algumas atividades de campo realizadas às nascentes do rio
Parnaíba, à Barragem de Boa Esperança, ao município de Gilbués e ao Delta do Parnaíba, onde
foram observados, além da degradação ambiental, o potencial e a importância que o rio tem para a
região. Coletados os dados em campo, fotos e mapas, foi também realizado um levantamento
bibliográfico. De posse desses instrumentos, os dados foram organizados e analisados com
informações suficientes para subsidiar a realização desta pesquisa. Espera-se com este trabalho
chamar a atenção para a necessidade que se tem de se adotar um planejamento ambiental com
urgência à este recurso tão valioso para o nordeste.

CARACTERÍSTICAS GERAIS DO RIO PARNAÍBA

O Rio Parnaíba e seus afluentes constituem a Bacia Hidrográfica do Parnaíba (figura 01), a
segunda mais importante do Nordeste, possuindo 330.020 km2, dos quais, 75% correspondem ao
estado do Piauí, 19% correspondem ao estado do Maranhão e 6% ao estado do Ceará. Dentre todas
as suas subbacias, as que mais se destacam são: a do rio das Balsas, no Maranhão; e no Piauí, as dos
rios Uruçuí Preto, Gurguéia, Longá, Poti e Canindé. (CEPRO, 2003)

Figura 01: Mapa da Bacia Hidrográfica do Parnaíba


Fonte: codevasf.gov.br (2009)

A Bacia do Parnaíba é formada por 278 municípios dos estados do Ceará, Maranhão e Piauí.
No estado do Ceará, 20 municípios compõem a bacia, ocupando uma área de 23.126,92 km2; no
Maranhão, 36 municípios compõem a bacia, ocupando uma área de 88.173,57 km2; e o Piauí
abrange a maior área, um total de 251.129,5 km2, abrangendo todos os seus municípios, com
176
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
exceção do município Cajueiro da Praia, correspondendo a um total de 222 municípios (BRASIL,
2006).
O rio Parnaíba nasce nos contrafortes da Chapada das Mangabeiras, numa altitude de 709 m,
ainda com o nome Riacho Água Quente e só recebe o nome de Parnaíba quando se encontra com a
foz do rio Uruçuí Vermelho. Há uma divergência quanto à esta informação, alguns autores afirmam
que o rio só recebe o nome de Parnaíba quando há o encontro do riacho Água Quente coma foz do
rio Curriola (figura 02). Com um percurso de 1.485 km, o Parnaíba desemboca no Oceano Atlântico
formando cinco bocas: Tutóia, Caju, Carrapato, Canários e Igaraçu (ARAÚJO, 2006).

Figura 02: Encontro do Riacho Água Quente com a foz do rio Curriola
Fonte: Lopes, 2007.

Divisor natural entre os estados do Piauí e Maranhão, o Parnaíba possui um regime


semelhante ao do Rio São Francisco. É um rio de curso perene, recebendo em sua margem
esquerda, afluentes perenes e pela margem direita, afluentes temporários, em sua maioria. A
perecidade do rio, independente de dois terços de sua bacia hidrográfica estar contida no polígono
das secas e sofrerem problemas de disponibilidade hídrica, devem-se aos seus tributários do alto
curso e da sub-bacia do rio das Balsas, na porção maranhense. Entre os meses de janeiro a março
ocorrem as cheias do rio e cada vez mais frequentes, as inundações (ARAÚJO, 2006).
O Rio Parnaíba é dividido em: Alto, Médio e Baixo Parnaíba:
Alto Parnaíba: vai de suas nascentes até a foz do Gurguéia; com 784 km, é nesse trecho que fica a
Barragem de Boa Esperança. Seus principais afluentes pelo Maranhão são: Balsas, Parnaibinha,
Medonho, Pedra Furada, Curimatá, Pedra de Fogo e mais 52 riachos; pelo Piauí: Uruçuí Preto,
Gurguéia, Taguara, Riosinho, Volta Cataporas, Prata e mais 92 riachos. Os municípios piauienses
banhados pelo alto curso são: Gilbués, Santa Filomena, Ribeiro Gonçalves, Uruçuí, Antônio
Almeida, Guadalupe e Jerumenha (RODRIGUES, 2004).
Médio Parnaíba: com 312 km, estende-se da confluência do Gurguéia ao Poti. Seus afluentes mais
importantes são, pelo Maranhão: Rio Riachão e 7 riachos; pelo Piauí: Itaueira, Canindé, Mulato,
Poti e mais 25 riachos. Os municípios piauienses banhados neste trecho são: Floriano, Amarante,
Palmeiras e Teresina (RODRIGUES, 2004).
Baixo Parnaíba: estende-se do Poti até a foz no Oceano Atlãntico. Este trecho tem 389 km. Pelo
Maranhão, os principais afluentes são riachinhos em numero de oito; pelo Piauí, são: o rio Raiz,
Piranha, Pirangi e mais 10 riachos. Os municípios piauienses banhados pelo baixo Parnaíba são:

177
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
Teresina, Miguel Alves, Porto, Matias Olímpio, Luzilândia, Joaquim Pires, Burití dos Lopes,
Parnaíba (RODRIGUES, 2004).
No período chuvoso, a navegação é viável em praticamente todo o seu curso e apenas em
pequenas embarcações. A possibilidade de navegação até há tempos atrás, facilitou o povoamento e
as comunicações.
O rio Parnaíba contribui para o progresso do Estado do Piauí e um grande exemplo é a
geração de energia pela Usina Presidente Castelo Branco, instalada na Barragem de Boa Esperança.
A construção da Barragem de Boa Esperança no município de Guadalupe possibilitou a navegação,
em corrente livre, à cerca de 350 km à montante da barragem, entre as cidades de Uruçuí e Santa
Filomena e nos 669 km à jusante da barragem (MARTINS, 2003).

A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL
Os problemas enfrentados pelo rio não são recentes. Desde o início da colonização do Piauí,
o modelo de desenvolvimento adotado foi a criação extensiva de gado, que durante muitos anos,
destruiu o solo por causa do pisoteio e compactação, propiciando o transporte de excessivo volume
de terra pelas águas das chuvas até o leito do rio (MARTINS, 2003).
Atualmente os rebanhos que mais vêm assumindo importância no estado do Piauí são os
ovinos, caprinos e bovinos; os dois primeiros servem principalmente como uma poupança para as
adversidades enfrentadas pelo pequeno produtor rural, enquanto o bovino é mais voltado para o
corte. As pecuárias bovina, caprina e ovina, embora sejam de grande interesse econômico para o
estado, passam por limitações decorrentes principalmente do sistema de criação extensivo e da
fragilidade das políticas governamentais de apoio (MARTINS, 2003).
Grande parte dos bancos de areia, facilmente avistados no período de seca, tem origem
nestas atividades, hoje reforçadas pela agricultura desprovida de técnicas conservacionistas. A
devastação das matas, principalmente nas margens do rio para a prática da agricultura, torna o solo
vulnerável à ação das águas de enchente (BRASIL, 2006).
No Maranhão e Piauí, principalmente na região dos cerrados, tem sido alvo da expansão da
cultura mecanizada da soja e outras culturas vinculadas ao seu processo de expansão, como o arroz
e o milho. Apesar de movimentar a economia, a agricultura mecanizada e em larga escala, quando
não dotadas de técnicas de manejo, geram sérios problemas ambientais, principalmente quando se
trata de perca da biodiversidade, assoreamento de rios e riachos e a erosão dos solos (ARAÚJO,
2006).

Verifica-se um abundante transporte de material carregado pelo rio, em


conseqüência da intensa erosão que vem se processando em suas
margens, relacionada ao seu regime torrencial e à própria natureza
arenosa do material que se encontra nos terrenos sob ação da corrente. A
ocupação predatória de sãs margens vem acelerando o processo de
desmatamento e assoreamento, formando um cenário preocupante quanto
à sobrevivência do rio (BRASIL, 2006).

Outro fator que gerou impactos negativos ao rio Parnaíba foi o garimpo de diamantes no
município de Gilbués (figura 03). São cerca de 958 km2 de área no estado do Piauí que apresentam
um acelerado processo de desertificação, apresentando alterações na paisagem, com percas de
vegetação e de solos, assoreamento da drenagem, e isto se deve, em partes, aos efeitos da
garimpagem de diamante, da ocupação desordenada e predatória do território, além das causas
naturais (ARAÚJO, 2006).

178
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 03: Leito seco de rio no município de Gilbués


Fonte: Lopes, 2007

Outras atividades relacionadas ao extrativismo vegetal e que são fontes de arrecadação e de


renda no estado são as relacionadas à carnaúba e ao babaçu, ambas com um papel social, de
conservação e preservação ambiental; e o extrativismo madeireiro, onde a exploração de matas
nativas para a produção de carvão e lenha, muitas vezes ocorre de forma ilegal, sem manejo
adequado, ocasionando grandes impactos ambientais (MARTINS, 2006).
Mas não só as atividades rurais geraram impactos negativos. Em Teresina, principalmente
nos trechos de mais urbanizados, o grande inchaço populacional, provocado pelo desenvolvimento
econômico da capital, acarretou problemas graves ao rio, principalmente em relação ao despejo de
esgoto e lixo em suas águas e nas suas margens (PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA,
2002).
Nos maiores aglomerados urbanos como Teresina, Parnaíba, Picos, Floriano e Timon, a
disposição e o tratamento dado aos resíduos sólidos são críticos, acarretando problemas como a
poluição dos solos e das águas subterrâneas e superficiais por meio do chorume. O tratamento dado
ao esgoto, na maioria dos municípios, não existe, ou passa apenas por uma desinfecção por
cloração. Em Teresina, apenas 13% do esgoto é tratado, o restante é jogado livremente no rio
Parnaíba (PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA, 1993).

INTERVENÇÕES GOVERNAMENTAIS PARA A PRESERVAÇÃO DO RIO PARNAÍBA

Em termos gerais, a degradação do rio Parnaíba não tem um espaço localizado e limites definidos;
ela ocorre ao longo de todo o rio, desde sua nascente até a foz. Melhorar as condições não
representaria grandes dispêndios de dinheiro e tempos se fossem adotadas medidas preventivas e
ambientalmente corretas (MORAES; VELOSO FILHO, 2005). É necessária a ação do poder
público no sentido de proteger determinadas áreas consideradas importantes, e para isto existem
leis, que embora muitas vezes não sejam cumpridas, podem garantir a preservação e conservação
das margens dos rios, assegurando às gerações futuras, os benefícios que suas águas propiciam. Um
bom exemplo é a Lei de Recursos Hídricos do Estado do Piauí n° 5.165 de 17 de agosto de 2000,
que define em seu capítulo II, seus objetivos:
Art. 2 – São objetivos da Política Estadual de Recursos Hídricos:
I. Assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de
água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos;

179
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
II. Propiciar a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, com
vistas ao desenvolvimento sustentável;
III. Buscar a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de
origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais;

Ainda na mesma Lei, em seu artigo 3, dispõe as diretrizes gerais que constituem a ação de
implementação da Política Estadual de Recursos Hídricos:

I. A gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação dos


aspectos de quantidade e qualidade;
II. A adequação da gestão de recursos hídricos às diversidades físicas,
bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais das diversas
regiões do Estado;
III. A integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental;
IV. A articulação do planejamento municipal, estadual, regional e
nacional;
V.A articulação da gestão de recursos hídricos com o uso do solo;

Em janeiro de 2000, com a criação da Lei 9.954, a Companhia de Desenvolvimento dos


Vales do São Francisco e Parnaíba – CODEVASF passou a atuar também no vale do Parnaíba,
passando a atuar em colaboração com os demais órgãos públicos federais, municipais e estaduais
(BRASIL, 2006).
Em setembro de 2003, ocorreu na cidade de Teresina, o seminário para a elaboração do
Plano de Ação para o Desenvolvimento Integrado do Vale do Parnaíba, o PLANAP. Este projeto
visa o desenvolvimento de ações integradas para o desenvolvimento integrado da bacia do Parnaíba.
Consta de um inventário dos diagnósticos e estudos técnicos já realizados na bacia por diversas
instituições e utiliza em sua formulação uma metodologia de planejamento ambiental e participativo
(BRASIL, 2006).
Apesar da legislação brasileira sobre a proteção do meio ambiente ser rígida para os
chamados crimes ambientais, ela vem sendo descumprida em toda a bacia do rio Parnaíba.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O rio Parnaíba, apesar de ser um recurso natural de grande importância para o nordeste, em
especial para os estados do Piauí e Maranhão, vem sofrendo sérias agressões ambientais desde sua
nascente, na Chapada das Mangabeiras, até sua foz, no Delta do Parnaíba.
Foram observados formas de uso e ocupação sem nenhuma técnica de manejo adequada. A
agricultura mecanizada; a pecuária extensiva; o extrativismo, seja de metais metálicos ou não-
metálicos e madeireiro; e o despejo de resíduos sólidos e esgoto ao longo do rio, causaram impactos
negativos ao meio ambiente como o desmatamento, queimadas, compactação do solo, erosão,
desertificação, perca da biodiversidade, assoreamento do leito dos rios, contaminação edáfica e
hídrica, dentre outros.
Faz-se necessário estudos mais detalhados, o cumprimento das leis de proteção aos recursos
naturais e práticas de educação ambiental para que tomem medidas de proteção mais eficientes ao
rio Parnaíba, devendo estas serem adotadas pela população, garantindo o uso sustentável daquele
espaço.

180
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

REFERENCIAS

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CODEVASF. Plano de Ação para o Desenvolvimento Integrado da Bacia do Parnaíba,
PLANAP: relatório final: Plano de Ações Estratégicas da Bacia do Parnaíba. Brasília: TDA
Desenho & Arte Ltda, 2006.

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rev. Teresina: CEPRO, 2003.

CUNHA, S.B.da; GUERRA, A.J.T. Avaliação e perícia ambiental. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 1996.

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2°ed. Teresina: SEMAR, 2002.

MARTINS, A de S. Piauí: evolução, realidade e desenvolvimento. 3°ed. Teresina: CEPRO, 2003.

MORAES, A. M. de. VELOSO FILHO, F. A. A gestão ambiental no município de Teresina.


Teresina: CEPRO, vol.3, n.1, jan/jun, 2005.

PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA. Perfil de Teresina: aspectos e características.


Teresina: SEMPLAN, 1993.

______. Teresina agenda 2015. Teresina: SEMPLAN, 2002.

RODRIGUES, J. L. P. Geografia e História do Piauí: estudos regionais. Teresina: Halley, 2004.

181
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

A IMPORTÂNCIA DO GERENCIAMENTO DOS RECURSOS HÍDRICOS NO


MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DA FRONTEIRA – PIAUÍ

Livânia Norberta de Oliveira


Universidade Federal do Piauí - UFPI
livaniageo@hotmail.com

Laryssa Sheydder de Oliveira Lopes


Universidade Federal do Piauí – UFPI
sheydder@yahoo.com.br

RESUMO
O município de São João da Fronteira está localizado na microrregião do Litoral Piauiense
compreendendo uma área de aproximadamente 1.086 km2 distanciando 226 km de Teresina. Com
população de 5.008 habitantes e densidade demográfica de 4,50 hab/km2. Em termos de domínio
hidrogeológico, predominam as rochas da Bacia Sedimentar do Parnaíba, que possuem porosidade
primária e boa permeabilidade, proporcionando boas condições de armazenamento e fornecimento
de água. A precipitação pluviométrica média anual é entre 800 a 1.600 mm, com cerca de 5 a 6
meses chuvosos e período restante do ano de estação seca. Embora este município se encontre na
região semi-árida, apresenta condições favoráveis a ocorrência de água subterrânea, com um
potencial considerado de médio a forte num estado onde a maioria dos municípios sofre com altas
temperaturas e escassez de água. Daí a gestão integrada desses recursos hídricos se tornarem tarefa
indispensável ao desenvolvimento sustentável local, devendo seguir um modelo que reconheça a
necessidade de descentralizar o processo decisório, e não somente as diversidades e peculiaridades
físicas, sociais, econômicas, culturais e políticas, tanto regionais como estaduais e municipais. A
contribuição deste trabalho reside no aspecto de elaborar um estudo sobre o gerenciamento dos
recursos hídricos existentes em São João da Fronteira, além identificar as condições geoambientais
deste, enfatizando os aspectos e aproveitamento, uso e manejo desses recursos em favorecimento da
população. Usando-se como metodologia, o levantamento bibliográfico e documental referente ao
potencial hídrico fluvial e subterrâneo do município, bem como uma análise do gerenciamento de
abastecimento d’água para sua população pelo poder publico, apoiada em pesquisas feitas aos
órgãos competentes a este abastecimento, além do levantamento de dados estatísticos
socioeconômicos.

Palavras-chave: Semiárido. Águas subterrâneas. Desenvolvimento sustentável.

INTRODUÇÃO

O Semi-Árido brasileiro constitui-se em uma das sub-regiões que mais dependem de uma
intervenção estatal eficiente, voltada para a eliminação dos efeitos desestruturadores decorrentes das
adversidades climáticas a que está submetido. De acordo com o (PDSA) Plano de Desenvolvimento
para o Semi-árido (2005), dificuldades para a criação de condições que assegurem seu
desenvolvimento durável são persistentes. A coexistência de relações sociais de produção arcaicas e
o avanço tecnológico restrito mantêm a desigualdade, a pobreza e a exclusão social de boa parte da
população desta região.
O gerenciamento da rede de drenagem de uma Bacia Hidrográfica nesse contexto, torna-se
imperativo para o enfrentamento do problema a articulação dos diversos programas de combate à
pobreza, de segurança alimentar e de combate à fome, de segurança hídrica, saúde e educação com

182
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
os diversos programas de desenvolvimento regional, na implementação de ações que conduzam a
sustentabilidade das atividades econômicas e à inserção produtiva da população local.
Considerando os estados do Nordeste pertencentes ao semi-árido, apenas o Piauí está em
situação confortável (considerando um Estado rico em ofertas hídricas, pelo fato de fornecer
volumes superiores a 5.000 m3/hab/ano) fato este advindo de riqueza significativa pertencentes a
água em seu subsolo e da existência de um grande rio perene – o Parnaíba, que faz fronteira com o
Estado do Maranhão. Porém este conforto não é socializado com quem mais precisa da água como
fonte de sobrevivência (ÁGUA: FONTE DE VIDA, 2005).
No entanto é preciso entender que no paradigma da globalização econômica-financeira,
como fator competitivo dos mercados, as águas subterrâneas representam um insumo mais
importante do que o petróleo, na medida em que a água é um recurso insubstituível, devendo,
portanto ser bem gerenciado para evitar desperdícios (REBOUÇAS, 2002).

IMPORTÂNCIA DO GERENCIAMENTO DOS RECURSOS HÍDRICOS NO PIAUÍ

Para um desenvolvimento socioeconômico em níveis local e regional aconteça, é necessário


que sejam preservados os recursos naturais e hídricos tanto em quantidade como em qualidade. Para
que assim as futuras gerações tenham as mesmas necessidades fundamentais que as nossas para a
sua manutenção, embora provavelmente venha desenvolver técnicas mais adequadas para o manejo
e a utilização dos recursos hídricos.
Estima-se que 70% do volume da água do subsolo nordestino estejam localizados na
bacia sedimentar do Piauí/Maranhão (REBOUÇAS, 1997). Com isso a água subterrânea está se
tornando cada vez mais importante no gerenciamento e desenvolvimento de recursos hídricos, em
especial nas regiões áridas e semi-áridas, devendo seu gerenciamento ser integrado ao
gerenciamento da água de superfície das bacias hidrográficas. Devendo-se também dar ênfase aos
programas baseados no uso da terra que utilizem as melhores práticas de manejo, e custo mais
efetivo, para proteger a qualidade da água subterrânea nas áreas geológicas vulneráveis, em áreas de
bombeamento e nas áreas de recarga de água.
As águas subterrâneas representam 97% da água doce liquida do planeta, o que por si só
mostraria seu valor, desempenhando um papel fundamental no abastecimento público e privado do
mundo. No Piauí ainda apresenta níveis de atendimento muito inferiores à média brasileira, mesmo
dispondo de um rico potencial hídrico. Sendo este recurso de grande valor econômico, pois o uso
agrícola na irrigação de pequenas e grandes propriedades tem aumentado, permitindo a
regularização no suprimento de água em épocas de seca (TEXEIRA, 2003).
Entre as regiões brasileiras o Semi-Árido é a região que mais requer atenção do Governo
Federal em razão de suas características naturais peculiares e seus fatores históricos que fragilizam
sua economia. Em vista disso, acredita-se que políticas públicas voltadas para o estímulo ao
potencial econômico endógeno da região e ao fortalecimento da estrutura social em bases sub-
regionais compõem um caminho viável para a promoção do desenvolvimento econômico e social
desta.
Através de um estudo a ser realizado espera-se chegar a dados que nos leve a demonstrar a
realidade do gerenciamento do aproveitamento hídrico feito no Estado do Piauí e principalmente no
que concerne ao município de São João da Fronteira, onde mesmo pertencendo à região semi-árida,
se encontra a principio um rico potencial hídrico, tornando-se necessário um estudo sobre o
aproveitamento desses recursos hídricos para se buscar um meio de fortalecimento e
restruturamento da base econômica e social para a população local.
Pois possibilitando a otimização dos investimentos do poder público em intervenções
hídricos com critérios definidos para a captação de água para consumo final, inclusive
abastecimento público, e para qualquer outro uso que implica alteração no regime, na quantidade e
na qualidade dos corpos d'água, beneficia o gerenciamento tanto para acompanhar a quantidade e a
qualidade das águas, que a população utiliza e tira sua sobrevivência.

183
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

ASPÉCTOS SOCIOAMBIENTAIS DE SÃO JOÃO DA FRONTEIRA

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2007), o município de São


João da Fronteira (Figura 01) possui uma população de aproximadamente 5.008 habitantes e uma
densidade demográfica de 4,50 hab/km2, onde 66,99% das pessoas estão na zona rural. Com
relação à educação, 55,40% da população acima de 10 anos de idade é alfabetizada. Nesse cenário,
a má distribuição de água no município constitui um forte entrave ao desenvolvimento
socioeconômico e, até mesmo, à subsistência da população mais carente.

Figura 01: Mapa de localização do município de São João da Fronteira


Fonte: MME, 2004.

Este município pertence a Bacia do rio Longá (Figura 02) que está totalmente contida no
domínio da Bacia Sedimentar do Parnaíba, a qual constitui a principal bacia sedimentar da região
nordeste brasileira. A Bacia do Longá possui uma área da ordem de 22.634 km2, e corresponde a
9,02% da área total do Estado do Piauí, contendo 41 municípios. Os principais cursos d’água que
drenam este município são: rios Lontra e Jaburu, que correm na Chapada da Ibiapaba e vão
desaguar no rio Piracuruca, pertencente também a esta Bacia (MME, 2004).

]]
Figura 02: Mapa das Bacias do Poti e Longá.
Fonte: ANA, 2008.

184
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Também no município de São João da Fronteira podem-se distinguir dois domínios


hidrogeológicos distintos: rochas sedimentares e os depósitos colúvio-eluviais. Sendo que as rochas
sedimentares pertencem à Bacia do Parnaíba são representadas pela Formação Serra Grande e
Formação Pimenteiras. A Formação Serra Grande é composta por arenitos e conglomerados que
normalmente apresentam um potencial médio, no que diz respeito à ocorrência de água subterrânea,
tanto do ponto de vista quantitativo quanto qualitativo. Essa formação ocorre em cerca de 70% da
área do município (MME, 2004).
Diante deste contexto de potencial dos recursos hídricos vale ressaltar a falta de acesso a
água que a população do estado do Piauí vem sofrendo sem, contudo poder reaproveitar as riquezas
existentes dentro de nosso próprio estado e especificamente no município em análise. Conforme um
levantamento realizado pelo MME (2004) no município, registrou a presença de 101 pontos d’água,
sendo todos poços tubulares para abastecimento da população local. Porém quanto à propriedade do
terreno onde se encontram, os poços foram classificados em: 37 públicos, quando estão em terrenos
de servidão pública e; 64 particulares, quando estão em propriedades privadas. A situação dessas
obras, levando-se em conta seu caráter público ou particular, é apresentada em números absolutos
no quadro 1, onde percebemos um exemplo de mau gerenciamento do poder público quanto a esse
recurso de abastecimento a população, pois os poços desativados e não instalados devem entrar em
programas de recuperação e instalação de equipamentos de bombeamento, visando o aumento da
oferta de água à região.

Quadro 1 - Situação atual dos poços cadastrados com relação a finalidade de uso da água
Natureza do Abandonado Em Operação Não Instalado Paralisado
poço
Público 0 16 16 5
Particular 1 39 15 9
Total 1 55 31 14
Fonte: MME, 2004

Sabendo-se da dificuldade de abastecimento de água que a maioria dos municípios do


Estado do Piauí passa durante o ano, aonde se chega a alguns há passarem até dez meses sem chuva.
O presente trabalho vem abordar a abundância das águas subterrâneas neste estado principalmente
no que concerne ao município de São João da Fronteira, de um potencial hídrico considerado de
médio a forte (ARAUJO, 2006), enfatizando a importância do gerenciamento desse potencial para
minimizar os problemas de acesso, uso e manejo pela população local como condição para seu
desenvolvimento.
Propondo-se assim a redução dos problemas decorrentes das condições climáticas no
município de São João da Fronteira, bem como, estimular investimentos produtivos locais e em
infra-estrutura, fortalecendo e reestruturando a base econômica e social com a geração de trabalho,
emprego e renda, e incentivar a convergência de políticas públicas multissetoriais para um
desenvolvimento socioeconômico local.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É de extrema importância um gerenciamento dos potenciais hídricos no estado do Piauí e


especificamente no município de São João da Fronteira, bem como em qualquer município do semi-
árido brasileiro, onde as condições de acesso aos recursos hídricos para um manejo adequado é
muitas vezes impossibilitado por falta de conhecimento, ou quando ocorre, acontece de maneira
inadequada para preservação dos seus recursos hídricos. Espera-se, portanto sensibilizar a
otimização dos investimentos do poder público em intervenções hídricas, além de demonstrar a
importância do gerenciamento tanto para acompanhar a quantidade e a qualidade das águas, que a
população do município utiliza e tira sua sobrevivência. O alcance desses resultados envolve o

185
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
equacionamento dos desafios e dos problemas citados e relaciona-se com as perspectivas de
consolidação e continuidade das iniciativas voltadas para o desenvolvimento regional e local como
prioridade no âmbito maior da administração pública.

REFERÊNCIAS

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São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
AGUIAR, Robério Bôto de; GOMES, José Roberto de C. (org.). Projeto cadastro de fontes de
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Hidrográficas dos Rios Poti e Longá. Disponível em: www.ana.gov.br/potilonga/. Acesso em:
Outubro de 2008.
ARAUJO, José Luis Lopes, coord. Atlas Escolar do Piauí: geo-histórico e cultural. João Pessoa,
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2001.
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MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL. Secretaria de Políticas de Desenvolvimento
Regional. Plano Estratégico de Desenvolvimento do Semi-Árido. Brasília: MI-SDR, 2005.
MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL. Programa de Desenvolvimento Integrado e
Sustentável do Semi-Árido. Cartilha CONVIVER, Brasília, 2005
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teresina. Rio de Janeiro, 1973
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capital ecológico, uso e conservação. 2ª ed., São Paulo: Escrituras Editora, 2002.
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TEIXEIRA, Wilson [et al]. Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de Textos, 2000. 2ª
reimpressão, 2003.

186
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

ESTUDOS INTEGRADOS EM MICRO-BACIAS HIDROGRÁFICAS DA REGIÃO DO


JAGUARIBE: CONTEXTO GEOAMBIENTAL

Maria AracI Mendes


Graduação do Curso de Geografia da Universidade Estadual do Ceará – UECE/FAFIDAM,
aracimendess@yahoo.com.br
Flávio Rodrigues do Nascimento
Prof. Dr. do Dept° de Geografia Universidade Federal Fluminense – UFF,
frngeo2001@yahoo.com.br

RESUMO
O trabalho que segue refere-se a uma pesquisa realizada pela Universidade Estadual do Ceará, em
parceria com a Embrapa Agroindústria Tropical, através do programa Vigilantes da Água, em três
micro-bacias da região do Jaguaribe, Muquém, Riacho das Pedras e Neblina, no período de agosto
de 2007 a julho de 2008. Trata-se de uma análise geoambiental com o intuito de caracterizar
ambientalmente as áreas de drenagem em questão e evidenciar processos de degradação ambiental
na bacia como um todo. A partir desse estudo, foi possível conhecer melhor a realidade das micro-
bacias, através da sistematização de dados a respeito de suas características ambientais e
socioeconômicas, objetivando a obtenção de informações suficientes para identificar e caracterizar
as áreas degradadas afim de elaborar propostas de recuperação e aproveitamento das mesmas.
Contudo, os resultados da pesquisa subsidiaram o Programa Vigilantes da água, com fins a gestão
participativa dos recursos hídricos.

Palavras-chaves: Análise Geoambiental; Bacia Hidrográfica; Comunidades Rurais

INTRODUÇÃO
Esse trabalho tem como objetivo diagnosticar as principais características geoambientais
de micro-bacias semi-áridas realizado em parceria com a Embrapa Agroindústria Tropical, através
do Programa, Vigilantes da Água, no intuito de encontrar evidências de degradação do ambiente
para servir de subsídio à gestão comunitária dos recursos hídricos nas comunidades de Santa
Bárbara (micro-bacia de Riacho das Pedras), Neblina (micro-bacia de Neblina) e Muquém (micro-
bacia de Muquém).
Nada obstante, o Programa Vigilantes da Água objetiva contribuir para a melhoria da
qualidade de vida, a sustentabilidade, o despertar da consciência crítica e a organização social de
comunidades rurais, por meio da gestão comunitária das condições ambientais que reflete na
qualidade das fontes hídricas.
O estudo geoambiental é imprescindível para conhecer um ambiente em toda sua
complexidade, considerando-se todos os aspectos físicos e socioeconômicos em uma dada bacia,
por exemplo, para que possa servir de base ao estudo integrado da mesma, especialmente
destacando as potencialidades e limitações dos recursos naturais frente aos usos e ocupações da
terra. Neste contexto, a desertificação como conseqüência da degradação ambiental pode emergir
com uma forte problemática em bacias intermitentes sazonais, como as destacadas em seguida.
O Ceará detém 136.328 km² de áreas semi-áridas, tendo a maior área proporcional do
Nordeste seco (cerca de 92,1% de seu território). Esse território possui características climáticas que
podem evidenciar a degradação do ambiente, que, juntamente com as atividades humanas e as secas
eventuais, podem provocar o surgimento de áreas desertificadas (NASCIMENTO, op. Cit).
A bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, a mais importante em tamanho e volume de água no
Ceará, apresenta uma grande diversidade de ambientes com potencialidades e limitações ligadas às
condições de semi-aridez, denotando vulnerabilidades geoambientais (SOUZA, 2000). Deste modo,
se justifica o presente trabalho para o tratamento de micro-bacias hidrográficas, enquanto unidades
de estudo, no contexto da vulnerabilidade de ambientes semi-áridos. A rigor, a pesquisa foi

187
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
realizada em três micro-bacias da região do Jaguaribe: Riacho das Pedras (Médio Jaguaribe);
Neblina (Banabuiú) e Muquém (Baixo Jaguaribe) - Figura 01.

Figura 01: Localização das micro-bacias estudadas.

Tais unidades foram selecionadas pela Embrapa Fortaleza para o desenvolvimento do


Programa Vigilantes da Água, tomando como critérios: problemas severos de degradação ambiental
comprometedores, especialmente, dos recursos hídricos e boa articulação social das comunidades e
localização geográfica na Bacia do rio Jaguaribe. Isto para que, o referido programa conseguisse
trabalhar os seguintes objetivos:
• Realizar um diagnóstico geoambiental, identificando e avaliando as fontes hídricas
das comunidades atendidas;
• Capacitar pessoas das comunidades na metodologia dos Vigilantes da Água para
monitorar de forma participativa a qualidade da água de abastecimento humano.
• Implementar alternativas de acesso, qualidade e racionalização do uso da água.
• Divulgar os resultados do projeto em palestras, cursos, comitês de bacias e eventos
científicos.

METODOLOGIA
Para determinar as condições geoambientais em qualquer área de planejamento, como por
exemplo, em uma bacia hidrográfica é imprescindível a realização de estudos multidisciplinares,
geralmente baseados em um modelo sistêmico, evitando-se dessa forma, estudos setoriais.
A bacia hidrográfica pode ser entendida como um espaço territorial, independente de
limites político-administrativos, delimitada por divisores de água, onde toda a água que nela
precipita é drenada por cursos d’água secundários até um curso d’água principal e deste até outra
bacia ou o oceano.
O uso dessa unidade natural possibilita uma visão sistêmica e integrada devido,
principalmente, à possibilidade de sua delimitação e a natural interdependência de processos
climatológicos, hidrológicos, geológicos e ecológicos. Sobre esses subsistemas atuam as forças

188
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
antropogênicas, em que interagem as atividades e sistemas econômicos, sociais e biogeofísicos
(AB’SABER, 1987).
O estudo em micro-bacia hidrográfica possibilita trabalhos em escala de detalhe, onde o
estudo integrado pode demonstrar com mais propriedade as potencialidades, limitações dos recursos
naturais e as formas de uso e ocupação da terra dando, portanto, mais subsídios para o tratamento da
desertificação.
De acordo com Nascimento et al (2007), um dos enfoques base nos estudos geoambientais
é a consideração do conjunto como elemento indispensável na análise ambiental integrada, por meio
dos elementos e aspectos naturais e sociais, em face de sua diversidade e heterogeneidade.
Ademais, também se faz necessária à eleição de uma metodologia e de procedimentos que reúnam
possibilidades de entendimento e integração dos elementos e fenômenos que indiquem as
potencialidades/limitações para o uso e ocupação dos recursos naturais.
Para Souza (2000), os objetivos da análise geoambiental devem contemplar alguns
aspectos fundamentais, os quais podem ser relacionados à questão da desertificação. A saber:
conhecer e avaliar os componentes geoambientais e os processos desenvolvidos no meio natural;
levantar e avaliar o potencial de recursos naturais das regiões; executar mapeamentos temáticos
setoriais ou integrados que tratam dos recursos naturais e do meio ambiente; identificar as
condições de uso e de ocupação da terra e as implicações ambientais derivadas; cenarizar as
perspectivas da evolução ambiental em função de impactos que têm sido produzidos; promover
zoneamentos geoambientais e/ou socioambientais; utilizar produtos de sensoriamento remoto para
executar mapeamentos, levantar problemas em áreas vulneráveis visando recuperá-las ou conservá-
las e promover avaliações integradas do meio físico natural.
O reconhecimento da área é imprescindível, pois possibilita retificar e ratificar
mapeamentos assim como verificar as características do meio e suas formas de uso e ocupação.
Dessa maneira foram realizados trabalhos de campo para reconhecimento da área de drenagem,
assim como a observação de suas características geoambientais, registros fotográficos e de
coordenadas UTM e ratificação dos mapas elaborados, assim como a análise de dados
geocartográficos como, por exemplo: folha plani-altimétrica da Sudene (SB.24-x-IV- Jaguaretama)
na escala de 1:100.000; Mapa Geológico do Estado do Ceará, do Governo do Estado, na escala de
1:500.000; mapas de levantamento de recursos naturais do projeto RADAMBRASIL (folhas
SB.24/25 Jaguaribe/Natal) na escala de 1:1.100.000; mapa de infra-estrutura hídrica do estado do
Ceará, na escala de 1:700.000; assim como mapas das micro-bacias os quais encontram-se em
elaboração.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir desse estudo foi possível conhecer melhor a realidade geoambiental das micro-
bacias através das comunidades que as representam – Santa Bárbara (micro-bacias de Riacho das
Pedras, Neblina (micro-bacia de Neblina) e Muquém (micro-bacia de Muquém). Com isto, ter
informações suficientes para identificar e caracterizar as áreas degradadas a fim de elaborar
propostas de recuperação e aproveitamento das mesmas, interagindo com as comunidades no intuito
subsidiar elementos para que haja uma convivência harmoniosa com o meio ambiente,
considerando as questões biofísicas, sociais e políticas nos contextos em que se insere cada micro-
bacia estudada.
No trabalho de campo, foi possível observar em cada micro-bacia, variações de mosaicos
de solos, de complexos vegetacionais – com destaque as caatingas –, de relevo, bem como dos
recursos hídricos. Trabalhos com mapeamentos retificaram e ratificaram informações sobre
levantamentos bibliográficos dos recursos naturais feitos em gabinete. Ademais foram feitos
diversos registros fotográficos sobre unidades de paisagens. Desse modo, foi possível apresentar
alguns resultados, os quais serão expostos a seguir:
Na micro-bacia do Riacho das Pedras registra-se a ocorrência de diferentes tipos de
sistemas ambientais, os quais compreendem a planície fluvial e quatro tipos de sertões, nota-se
também a presença significativa de afloramentos rochosos em meio aos solos das classes

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
Planossolos, Neossolos Regolíticos, Neossolos Litólicos e Neossolos Flúvicos. O principal curso
d´água existente é o riacho das Pedras, afluente do riacho do Sangue, um dos principais tributários
do rio Jaguaribe, sendo o responsável pelo fornecimento de água para abastecimento do município
de Jaguaretama. A vegetação predominante é a caatinga arbustiva e herbácea, que se apresenta com
maior porte nas áreas dos sertões de pé de serra, e mais aberta e esparsa, nos sertões rebaixados.
A comunidade situa-se às margens do açude de mesmo nome o qual recebe contribuição de
esgotos sanitários da Escola de Ensino Fundamental Lar Fabiano de Cristo, construída às margens
do reservatório, e de outras fontes de poluição difusas, geradas principalmente por atividades
agropecuárias, como por exemplo, um estábulo, situado a montante do açude. A fonte de captação
de água para consumo humano é o açude Alegre, situado a 8 km já em outro assentamento rural,
denotando assim a perspectiva integrada de manejo de bacias hidrográficas.
A maioria das casas possui cisternas, e atualmente as águas do açude Santa Bárbara são
utilizadas para irrigação de pequenas lavouras de feijão e sorgo, para dessedentação de animais e
banho. Como principais atividades econômicas citam-se: a agricultura, a pecuária e a extração
vegetal.
Na micro-bacia de Muquém, já nota-se uma maior variedade de sistemas ambientais, com
maior desnível topográfico a par da ocorrência de sertões da depressão sertaneja, planície fluvial e
serras. Encontra-se como principal açude, o de mesmo nome, que apresenta em sua margem
esquerda, vegetação bastante conservada. Um dos principais riachos da micro-bacia é o Timbaúbas,
o qual indica seu potencial de escavar vale com a presença de afloramentos rochosos no seu leito.
Os solos encontrados são das classes planossolos, argissolos vermelho-amarelos e
neossolos litólicos. A vegetação aparece com uma mata de carnaúbas, além das caatingas arbustivas
de porte denso, que em certos trechos transicionais encontram a mata de tabuleiro. Observa-se
também as Serras de Palhano, que ocasionam chuvas orográficas, recobertas pela mata seca bem
conservada.
A comunidade de Muquém localiza-se na margem direita do açude, suas principais
atividades consistem na agropecuária e mineração, que ocorrem principalmente nos tabuleiros.
Também é praticada a pesca artesanal no açude. Os produtores cultivam feijão, milho, forragem e
caju. Os animais (ovinos, bovinos, aves e suínos), são criados soltos à margem do açude.
Na micro-bacia de Neblina pôde-se também perceber a presença de diferentes sistemas
ambientais, tais como: planície fluvial, planície flúvio-lacustre, depressão sertaneja, tabuleiros
interiores e áreas de transição. Os desníveis topográficos têm pouca variação, já as feições de relevo
dos tabuleiros e dos sertões se intercalam com mudanças tênues percebidas através da cor e
aspectos texturais dos solos e nas feições da vegetação, que se permutam entre vegetação de
tabuleiros interiores e as caatingas nos sertões rebaixados.
Ocorrem luvissolos em pequenas porções dessa micro-bacia, sua principal característica é a
presença de cascalhos, ou pavimentos desérticos mostrando que sua gênese se deu sob fortes rigores
de intemperismo mecânico.
Tem como principal recurso hídrico o açude Chico Vieira, um açude de pequeno porte,
com a qualidade da água muito influenciada por atividades agrícolas, pocilgas, criação de ovinos,
caprinos e de outros animais que vivem ao longo de sua margem. A água desse pequeno
reservatório é utilizada para dessedentação de animais e lavagem de roupas. Foi possível observar
amplas áreas de uso agrícola ocupadas por plantações de cajueiros e a atividade da apicultura.
Seu principal riacho, sem denominação, apresenta leito fluvial como um filete de água,
com presença de inúmeros seixos, nota-se também a presença de afloramentos rochosos e mata
ciliar bastante degradada. Seu processo de formação foi alterado pelos barramentos construídos a
montante.
Suas principais atividades econômicas são a agricultura de sequeiro (caju, milho, feijão,
mandioca, sorgo), a apicultura e a agricultura de vazante, no leito do açude principal, com o cultivo
de hortaliças, feijão, milho e capim.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, pôde-se concluir que a interferência humana nos ambientes vem
propiciando condições favoráveis à degradação, principalmente do solo, dos recursos hídricos e da
vegetação. Através da parceria com a Embrapa com o Programa Vigilantes da Água, já se pode
perceber algumas mudanças de comportamento dos habitantes das comunidades em questão.
A partir da organização comunitária eles estão aos poucos se conscientizando de que é
melhor conviver harmoniosamente com o ambiente do que realizarem atividades que o agridam,
sendo assim se sentem sujeitos históricos participantes da produção do espaço que ocupam e
passam a se organizar socialmente pela luta de melhores condições de vida em comunidades rurais,
em micro-bacias semi-áridas.
Todavia, é urgente que o governo coloque em prática políticas públicas voltadas para a
proteção ambiental e melhoria da qualidade de vida da população afetada, para que assim, essas
ações de preservação sejam legitimadas.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AB’SABER, Aziz Nacib. Zoneamento ecológico e econômico da Amazônia: questões de escala


e método. 1987. 25p. Seninar on Technology for Human Settlements in the Humid Tropics,
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191
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
A SUB-BACIA DO MÉDIO VALE DO RIO JAGUARIBE: FATORES DO POTENCIAL
ECOLÓGICO E DA EXPLORAÇÃO BIOLÓGICA

Maria Daniely Freire Guerra


Universidade Estadual do Ceará (UECE/FAFIDAM)
danielyguerra@hotmail.com
Marcos José Nogueira de Souza
Universidade Estadual do Ceará (UECE)
mestgeo@uece.br
Jacqueline Pires Gonçalves Lustosa
Universidade Federal de Campina Grande campus Cajazeiras – PB (UFCG)
jacque.gaya@gmail.com

RESUMO
Este artigo propõe-se à análise dos fatores do potencial ecológico e da exploração biológica da sub-
bacia do médio Jaguaribe, a luz da teoria geossistêmica, como subsídio ao entendimento dos
cenários de desertificação inscritos nas áreas sertanejas desta sub-bacia.
Palavras-chave: Sub-bacia do médio Jaguaribe – teoria geossistêmica – desertificação

INTRODUÇÃO
Toda a dinâmica econômica tecida no vale do Jaguaribe, no contexto histórico do Brasil-
colônia e nos dias de hoje, sempre esteve influenciada aos componentes da natureza, aqui chamados
de fatores do potencial ecológico e da exploração biológica.
Em decorrência da relação entre o potencial ecológico e a exploração biológica,
originaram-se os sistemas ambientais, que possuem em seu interior subcompartimentos
homogêneos, denominados de subsistemas ambientais.
São provindos de um esforço pretérito, impulsionados pelos processos paleoclimáticos e
paleobotânicos, emersos de um contexto fisiográfico de grandes potencialidades naturais dentro do
domínio do semiárido (AB’SABER, 1974).

O CONTEXTO NATURAL DA SUB-BACIA DO MÉDIO JAGUARIBE


A bacia hidrográfica do Jaguaribe é um das áreas mais representativas no contexto do
semiárido regional, pois abrange uma conjuntura típica do semiárido nordestino, tanto do ponto de
vista natural quanto econômico e cultural.
Trata-se, sobretudo, de uma superfície morfologicamente recente, que teve o Pleistoceno
como período-chave de sua evolução e o clima como elemento fundamental. Como resultado, têm-
se hoje os relevos pediplanados esculpidos como testemunho desta evolução.
Em virtude desta evolução essencialmente transfiguradora, dotada de alto potencial
erosivo, as áreas compostas de rochas tenras foram sendo desagregadas e entulhadas em depósitos a
jusante, nas áreas mais rebaixadas da superfície.
Simultaneamente, vão sendo instaladas as redes hidrográficas, bastante ramificadas com
padrão dendrítico, nascendo nos altos dos maciços a barlavento e canalizadas para o oceano
Atlântico (SOUZA et. al., 1998b).
Como expressão desse contexto, há os solos predominantemente rasos e pedregosos, com
exceção para as áreas de planícies fluviais, de tabuleiros interiores e no topo dos maciços residuais a
barlavento. Há predominância de associações de Neossolos Litólicos, Neossolos Flúvicos (Solos
Aluviais), Luvissolos (Bruno não-Cálcicos), Planossolos (Planossolos Solódicos + Solonetz
Solodizado), Vertissolos (Solos Vérticos), Argissolos Vermelho-Amarelos (Podzólico Vermelho-
Amarelos) e afloramentos rochosos (SOUZA et. al., 1998b).

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
Da interação dos componentes naturais, surge a diversificação da vegetação, ocorrendo
desde Caatinga arbórea, Caatinga arbustiva, subarbustiva e herbáceas; Matas Ciliares e Mata Seca;
revestindo as depressões sertanejas, as planícies fluviais, encostas e topos serranos.
No conjunto, a sub-bacia do médio Jaguaribe forma um ambiente complexo, característico
do semiárido. Em virtude das potencialidades naturais abrigadas por este contíguo, fixaram-se os
primeiros povoamentos, mais tarde fortalecidos pelas atividades econômicas.
Esta sub-bacia possui uma extensão de 10.509 km² por onde escoam o rio Jaguaribe e seus
afluentes, apresentando alta densidade de canais, com expressão fiel de um padrão dendrítico, em
alguns pontos obedecendo ao controle estrutural, desenvolvendo uma estreita planície fluvial,
encravada nas extensas colinas sertanejas que se avultam, embutidas entre os maciços, cristas
residuais e inselbergs. Estes últimos possuem presença marcante, merecendo destaque o maciço do
Pereiro e a disposição das cristas e inselbergs paralelos a este e ao canal principal do Jaguaribe.
Evidencia-se, desse modo, um mosaico de compartimentos ambientais naturais. Trata-se,
todavia, de uma herança morfogenética que deu origem a este complexo de sistemas ambientais
(figura 1).

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 1: Mapa de Sistemas Ambientais da Sub-bacia do Médio Jaguaribe


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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
A cada compartimento registra-se uma dinâmica particular, impulsionada pela herança
morfogenética, aliada às contingências atuais do clima, da ação da sociedade, influenciando
diretamente sobre a vegetação e os solos, resultando na morfodinâmica atual e na configuração dos
cenários tendenciais, conforme o mapa de cenários.
Para tanto, traçam-se brevemente as características dos componentes naturais da sub-bacia
do médio Jaguaribe, atentando-se para o que foi posto anterior, relativamente à formação territorial
do vale do Jaguaribe.

Fatores do potencial ecológico


Os fatores do potencial ecológico correspondem à geologia-geomorfologia, clima e
hidrografia. Para tanto, pautam-se as características principais destes componentes na sub-bacia do
médio Jaguaribe e suas repercussões para o processo de desertificação instalado nessas áreas.

LITOESTRATIGRAFIA
A geologia regional aponta para o domínio das rochas cristalinas, predominantemente
metamórficas, com grande variedade litológica, onde prevalece o domínio dos escudos antigos,
segundo CPRM (1974), com eventuais coberturas sedimentares correspondentes aos depósitos
aluvionares.
O embasamento é constituído de rochas do Grupo Ceará – sequência de rochas
metamórficas pré-Cambrianas, constituída de xistos argilosos e quartizitos; Complexo Caicó –
constituído de biotita-gnaisses, gnaisses-fracoidais, gnaisses quartzo-feldspáticos, gnaisses
leptoniticos, migmatitos variados, incluindo lentes de anfibolitos e corpos granitóides (augen
gnaisses) -; e Complexo Nordestino – compreende migmatitos, gnaisses, gnaisses migmatizados e
granitóides, anfibolitos, quartzitos, metarcóseos, calcários cristalinos, xistos, itabiritos,
calcossilicatadas e rochas cataclásticas (RADAMBRASIL, 1981, p.43-62-98).
De maneira sintética pode-se asseverar que a geologia do médio Jaguaribe é representada
pelo Complexo Caicó/Nordestino de Idade Arqueana (620 m.a), seguido do Grupo Orós, de Idade
Proterozóica Média e capeado por coberturas sedimentares não metamorfizadas Tércio-
Quaternárias nas áreas periféricas do rio Jaguaribe (RADAMBRASIL, 1981, p.45).
As coberturas sedimentares são pouco representativas do ponto de vista de sua abrangência
espacial. São os Tabuleiros Interiores da Formação Faceira e os sedimentos aluvionares que formam
os baixos níveis de terraços e as planícies fluviais. São representados por sedimentos argilosos,
sendo estes tabuleiros penecontemporâneos aos Tabuleiros da Formação Barreiras. Ambos têm
idades provavelmente plioQuaternárias.
No conjunto, têm-se nesta área grandes evidências de movimentos diastróficos passados,
representados pelo arcabouço da estrutura regional.

RELEVO
Exprime-se a ocorrência de superfícies de aplainamento escalonadas, oriundas de uma
herança que, grosso modo, corresponde a três condicionantes: eventos tectônicos remotos, evolução
paleoclimática Quaternária e a morfodinâmica atual.
Os eventos tectônicos foram responsáveis pela formação de estruturas fortemente
deformadas, em vastos anticlinais e sinclinais em litotipos, predominantemente metamórficos. Essas
deformações plásticas são acompanhadas de deformações oriundas da tectônica ruptural,
mascaradas pelos processos de pediplanação e pela ocorrência eventual de pedimentos detríticos
com clásticos grosseiros frutos da morfogênese mecânica.
Seguidamente, a evolução paleoclimática foi determinante para a morfoesculturação e a
instalação de largas depressões embutidas nas periferias dos planaltos sedimentares, ora embutidas
entre estes e maciços e cristas residuais, localizando-se nas áreas de sombra destas e daquelas
estruturas. Constituem superfícies pediplanadas ou moderadamente dissecadas em colinas rasas.
A morfodinâmica atual é fortemente influenciada pelos processos de morfogênese
mecânica impostos pela semiaridez. Há também esculturações impostas por processos erosivos

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
presentes, bem como as tensões motivadas por atividades socioeconômicas que têm repercussões na
incidência e expansão dos processos de desertificação.
É importante salientar que, na transição destas fases – tectônica, paleoclimática e
morfodinâmica – é deixado um legado que repercute nas condições ambientais da atualidade,
principalmente no comportamento climático de hoje, nas expressões dos solos e da vegetação, além
do modelado do relevo. Justifica-se, portanto, a diversidade de unidades geomórficas, que se
penetram ou compõem resíduos contínuos resultante dos efeitos das referidas fases evolutivas.
Cumpre salientar que os quadros pedológicos e fitogeográficos são peculiares em cada
compartimento. Para Souza (2000, p.42, 43), “os solos do Ceará têm uma distribuição estreitamente
relacionada com a compartimentação morfológica”. E completa, “a vegetação representa a resposta
última que deriva do complexo das relações mútuas entre os componentes do potencial ecológico”.

CLIMA
Impera sobre a sub-bacia do médio Jaguaribe a rusticidade do clima semiárido, com grande
variabilidade e imprevisibilidade, justificadas pela atuação dos sistemas atmosféricos, denotando
uma característica azonal de semi-aridez com expressão regional (SOUZA et al., 1996).
Os principais sistemas atmosféricos que atuam no Nordeste brasileiro são impulsionados,
fundamentalmente, pelas oscilações da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT); pelas condições
termodinâmicas dos oceanos Atlântico e Pacífico tropicais; por invasões das frentes polares, além
das influências dos alísios e dos anticiclones do Atlântico Sul (sistemas de alta pressão) (SOUZA,
2003).
No Estado do Ceará, a ZCIT (Zona de Convergência Intertropical) é o principal sistema
atmosférico, cuja migração define chuva ou seca. Quando a migração dá-se ao sul do equador, as
nuvens carregadas trazem chuvas para o semiárido nordestino. Quando a migração é ao norte, os
períodos de estiagem ocorrem de modo evidente.
Além do mais, o fator topográfico também interfere no deslocamento das massas de ar,
funcionando como verdadeiras barreiras orográficas e diversificando micro e mesoclimas. Este fato
agrava, em especial, as áreas sertanejas situadas a sotavento dos níveis serranos. As precipitações,
além de irregulares e mal distribuídas no tempo, ficam também subordinadas à má distribuição
espacial, gerando o ressecamento sazonal das fontes hídricas, dos solos e condicionando o
xeromorfismo às espécies das caatingas.
As influências da ZCIT associada aos demais sistemas atmosféricos imperantes no
Nordeste, como El Niño, La Niña, entre outros, trazem influências diretas nas precipitações e na sua
distribuição espacial, elevando as temperaturas e originando uma evapotranspiração superior às
índices pluviométricos.

HIDROGRAFIA
Em virtude dos condicionantes já mencionados – litoestatigrafia, relevo e clima –,
desenvolve-se uma rede hidrográfica complexa, como já referido, que possui padrão dedrítico e alta
ramificação, exceto na porção do maciço do Pereiro, que figura um padrão retangular, assumindo
um controle estrutural (SOUZA, 1998). O grande papel é da litologia, pelo fato de sua rigidez não
propiciar grandes potenciais de armazenamento, fazendo com que haja maior escoamento
superficial e pequeno armazenamento sub-superficial.
Em geral, ocorrem nesta área os aquíferos classificados como fissurais. Souza et.al. (1998)
definem estes pela “permeabilidade muito baixa, as águas em geral são salinas, implicando baixa na
qualidade e são aqüíferos de pequena importância hidrogeológica”. (P.119).
Em proporções menores, ocorrem os aquíferos Aluviões, Faceiras e Açu. Os aluviões
apresentam boas vazões, são classificadas como livres, pois não são confinadas como as fissurais;
“[...] encontram-se resguardados dos prejuízos da evaporação direta sob a lâmina d’água aflorante”.
(SOUZA, et.al. 1998, p. 121).

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
Relativo à capacidade total de acumulação de águas superficiais, até o ano de 1998, atingia
802,13 hm³, totalizando 1210 açudes (SOUZA et.al., 1998). Atualmente, com o açude Castanhão,
este total passou para 6.860.905 hm³.
No total, a sub-bacia do médio Jaguaribe detém 7,09% das águas superficiais do Estado do
Ceará. Deste total, no tocante à sub-bacia, corresponde a 83,99% de águas superficiais, em relação a
16,01% de águas subterrâneas, fato amplamente expresso pelos frequentes barramentos ao longo do
rio, como por exemplo, a figura 29. Os principais afluentes do rio Jaguaribe nesta área são os
riachos Figueiredo e o do Sangue (www.cogerh-srh.gov.br).
No conjunto, verifica-se, com base nos fatores do potencial ecológico, a conformação de
áreas rebaixadas embutidas entre maciços e cristas residuais, onde seus relevos foram moldados em
estrutura geológica bastante rígida de Idade pré-Cambriana, atualmente subordinados ao clima
semiárido, marcado pela sazonalidade e imprevisibilidade. Tais fatores concorreram para uma
hidrologia essencialmente de superfície, desenvolvendo redes hidrográficas excessivamente
ramificadas e de baixo volume.
O resultado de tudo isso é a formação de um ambiente natural com baixo potencial hídrico,
onde é dificultado o desenvolvimento dos fatores da exploração biológica, condicionando a um
baixo potencial de suporte destes ambientes naturais, aliados a um baixo potencial de resiliência,
expressando, desta forma, a susceptibilidade à desertificação.

Fatores da exploração biológica


Os fatores da exploração biológica correspondem a solos, vegetação e fauna.

SOLOS
Embora apresente as limitações ora mencionadas, “os solos nordestinos possuem um
“stock” global de solos muito mais ricos em massa e em importância agro-pastoril do que a média
das regiões semi-áridas conhecidas” (AB’SABER, 1974, p.17).
Na área do médio Jaguaribe, conforme Souza (2000) tem-se nas planícies fluviais e
terraços associações de Neossolos Flúvicos (Solos Aluviais) + Planossolos (Planossolos Solódicos)
+ Vertissolos. Nos Tabuleiros interiores predominância de Argissolos Vermelho-amarelo
(Podzólico Vermelho-amarelo) com associações eutróficas e distróficas.
Nos maciços residuais, há diferenças entre as vertentes, sendo a barlavento solos mais
profundos, essencialmente Argissolos vermelho-amarelo (Podzólico vermelho-amarelo) e nas
vertente a sotavento associações de Neossolos litólicos (solos litólicos) + afloramentos rochosos
(SOUZA 2000).
As depressões sertanejas dividem-se em níveis rebaixados e elevados. Nos níveis
rebaixados, há uma preponderância para as associações de Planossolos (Planossolos + Solonetz
Solodizado) + Vertissolos + Neossolos Litólicos (Litólicos) + afloramentos de rochas. Nos níveis
mais elevados dos topos e vertentes de colinas rasas, os Luvissolos (Bruno não-Cálcicos), nas
vertentes altas Argissolos Vermelho-Amarelos (Podzólico Vermelho-amarelos) + Neossolos
Litólicos (Litólicos) + afloramentos rochosos (SOUZA 2000).
Capeando esse mosaico de solos, existem as Caatingas que, segundo Fernandes (1990,
p.69), “se instalaram nas depressões interplanálticas do Nordeste brasileiro durante o Terciário”.

VEGETAÇÃO
No Nordeste brasileiro, com um recobrimento florístico formado por um conjunto
vegetacional individualizado por um padrão generalizado pelas Caatingas, conferidas pela
caducifolia de seus fundamentais elementos botânicos, encontra-se num espaço ecologicamente
caracterizado pela depressão sertaneja, com a vegetação xerófila.
Caatinga, de etimologia indígena (caa= mata e tinga= clara, branca), significa mata
aberta ou clara, pela fácil penetração do sol, em contraste com as matas úmidas sempre fechadas e
escuras (FERNANDES, 2006).

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
A vegetação xerófila possui composição heterogênea quanto à sua fisionomia e estrutura,
embora apresente certa conformidade na sua composição, em virtude do expressivo conjunto de
plantas arbóreo/arbustivas.
Desse modo, confere-se à Caatinga o caráter tropofílico, caracterizado pela caducifolia,
como forma de vitalidade ou sobrevivência das plantas na estação seca, que se mantêm em virtude
da água armazenada no seu sistema subterrâneo, como visto, formando as raízes tuberosas (batatas)
ou os xilopódios (FERNANDES, 2006).
Trata-se, evidentemente, de uma vegetação adaptada às condições de climas semiáridos,
com expressão particular de uma formação xérica, como bem enfatiza Fernandes (2006). Sua
fisionomia é garranchenta, por vezes com plantas afilas, espinhosas e até suculentas. “Todas as
particularidades se consubstanciam no natural xerofilismo, expresso nos regulares ajustamentos e na
seletividade taxinômica correspondentes principalmente aos componentes regionais”.
(FERNANDES, 2006, p. 144).
De modo específico, contatam-se, no interior das Caatingas, tipos de representação
florística não originários desta vegetação, mas que estão ali, por vezes, como testemunho de uma
evolução pretérita transfiguradora que conservou tal flora, ou, por outras vezes, também como
testemunho de que, em condições de ajustamento ecológico, é possível que haja adaptação de
espécies pioneiras, em outros tipos climáticos. Ainda, em faixas com grandes potencialidades
naturais, ante outras com maiores limitações, quer seja por ordem topográfica ou pedológica,
desenvolve-se uma flora peculiar, mostrando uma feição de exceção. Um bom exemplo desse
quadro de exceção é constituído pelas planícies fluviais, que se destacam com flora verdejante em
meio à flora das Caatingas.
Deve ser acrescida a ocorrência das matas ciliares, em regra, com uma cobertura
diferencial, em relação ao padrão geral, por sua origem procedem das matas serranas vizinhas,
tendo como exemplo as espécies Hymenaea velutina (Jatobá), Erythrina velutina (Mulungu),
Copernícia prunífera (Carnaúba) (FERNANDES – comunicação oral).
Outro quadro específico é marcado pela vegetação mesófila (Mata Seca) que se distingue
das Caatingas pelas condições ecológicas e florísticas, embora seja enriquecida por espécies da
caatinga. Encontra-se recobrindo encostas subúmidas/secas ou serras isoladas com níveis
altimétricos entre 500-600m, fazendo-se presente no maciço do Pereiro, limítrofe ao Município de
Jaguaribe (FERNANDES, 1990, p.176).
Assim como as matas de tabuleiro, que são um complexo vegetacional de significados
pouco precisos dentro da terminologia fitogeográfica brasileira. “[...] É marcado por um complexo
florístico, pela cooparticipação de elementos da vegetação vizinha: mata, caatinga e formação
esclerofila – Cerrado e Cerradão”. (FERNANDES, 2006, p. 89). Este conjunto vegetacional tem
pouca expressão na sub-bacia do médio Jaguaribe, apenas nas áreas limítrofes do médio para o
baixo Jaguaribe.
Eis, portanto, o contexto vegetacional da sub-bacia do médio Jaguaribe, mantido por
respostas de natureza comportamental e de expressão regional.

FAUNA
Sobre a fauna não há muitas considerações a fazer, haja vista os escassos trabalhos sobre as
espécies dos sertões. Encontram-se facilmente estudos relacionados à fauna do maciço de Baturité,
da Chapada do Araripe, da Serra Grande, de áreas litorâneas, mas dos sertões não foram localizadas
as devidas referências.
Um ensaio, porém, foi dado pelo naturalista George Gardner (1836-1841), que descreve
sua passagem pelo vale do rio Jaguaribe, e nas áreas entendidas como pertencentes hoje ao médio
Jaguaribe, ele registra, inclusive, a existência de avestruzes.
Ouviu-se relato do grupo de trilheiros do Município de Jaguaribe, que traçam seus
caminhos a pé pelas serras (maciços e cristas) da região do médio Jaguaribe, fazendo alusão à
pequena existência de espécies faunísticas. Em alguns pontos observaram até a quase inexistência
de aves.

198
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
No conjunto, os fatores da exploração biológica correspondem às respostas do potencial
ecológico e refletem diretamente a configuração dos cenários tendenciais. No tocante ao médio
Jaguaribe, como expresso, os fatores do potencial ecológico condicionaram à formação de fatores
da exploração biológica, sujeitos ao baixo potencial de capacidade de suporte e de resiliência,
configurando um ambiente natural susceptível à desertificação, haja vista as contingências impostas
pelos fatores retrocitados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nota-se, portanto, que a sub-bacia hidrográfica do médio Jaguaribe resguarda múltiplos


compartimentos morfológicos e, portanto, diversos quadros geológico-geomorfológicos,
vegetacionais, hidroclimáticos e pedológicos, originando cenários complexos, submetidos aos
processos morfodinâmicos atuais.
Para tanto, traçou-se a análise dos sistemas ambientais, que indicam, dentre outros fatores,
os agrupamentos de áreas particulares quanto às relações mútuas do potencial ecológico e da
exploração biológica, sobretudo, na identificação de áreas susceptíveis à desertificação na sub-bacia
do médio Jaguaribe.
Contatou-se, por meio destes, a existência de ambientes favoráveis aos efeitos
degradacionais, impulsionados por uma herança natural, no entanto, a ocorrência da
degradação/desertificação advém da participação da sociedade sobre esses espaços, aqui
denominados de sistemas ambientais.
Daí a importância de discutir sobre a formação territorial do vale do Jaguaribe. Esta área
que foi celeiro produtivo dentro do semi-árido regional nos fins do século XVIII a início do século
XX, hoje apresenta extensas áreas dilapidadas, com fortes evidências de desertificação.
Dos municípios mais degradados da sub-bacia do médio Jaguaribe, merece destaque o
município de Jaguaribe, abrigando um total de 37,76% dos 1.876,79 km² da extensão municipal
(GUERRA, 2009, p. 157).
No conjunto, a sub-bacia do médio Jaguaribe apresenta um quadro ambiental fortemente
alterado. Os componentes naturais colaboram para a formação de ambientes naturalmente
susceptíveis à desertificação, mas é a sociedade que tem intensos encargos, sobretudo no
desencadeamento dos processos de desertificação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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na microrregião do Médio Jaguaribe e parte das microrregiões do Baixo Jaguaribe e Serra do
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GEORGE GARDNER, M. D. F. L. S. Viagens no Brasil: principalmente no Norte e nos Distritos
de Ouro Preto e Diamantina durante os anos de 1836-1841. Tradução: Albertino Pinheiro. São
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200
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

ESTIMATIVA DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL NA


BACIA DO RIO GRANJEIRO, CRATO/CE.

Maria Jorgiana Ferreira Dantas


Mestranda em Engenharia Agrícola, Depto. de Engenharia Agrícola, UFC, Fortaleza – CE, ,
bolsista CNPq, jorgianaferreira@hotmail.com.
Fernando Bezerra Lopes
Doutorando em Engenharia Agrícola, Depto. de Engenharia Agrícola, UFC, Fortaleza – CE
José Vidal de Figueiredo
Mestrando em Engenharia Agrícola, UFC, Fortaleza- CE
Francisco Antonio de Oliveira Lobato
Mestrando em Engenharia Agrícola, UFC, Fortaleza- CE
José Carlos de Araújo
Professor Doutor, Departamento de Engenharia Agrícola, DENA/UFC, Fortaleza- CE

RESUMO
O escoamento superficial é considerado, entre as fases do ciclo hidrológico, a mais importante
devido a maioria dos estudos hidrológicos está ligado ao aproveitamento da água superficial.
Alguns procedimentos são disponíveis para o cálculo da chuva excedente, ou seja, daquela que
efetivamente contribui para o escoamento superficial. Nesse trabalho, objetivou-se calcular a
precipitação efetiva pelos métodos das abstrações usando a equação de Green-Ampt e do Serviço de
Conservação do Solo (SCS) e obter os hidrogramas pelo método das isócronas de Clark e pelo
hidrograma unitário de Snyder para a bacia do rio Granjeiro, Ceará que possui uma área de
drenagem de 18,59 km2, perímetro de 23,61 km, comprimento do rio principal de 9,51 km,
declividade média de 11 %, apresentando coeficiente de compacidade de 1,53 e fator de forma de
0,20. O tempo de concentração calculado foi de aproximadamente 1 hora. O método unitário
sintético de Snyder gerado a partir da CN aplicado subestimou a vazão de pico e superestimou o
tempo de descarga, esse método, portanto, não pode ser aplicado de forma generalizada sem que se
obtenha medidas de campo para se promover ajustes para situações locais. O método de Clark por
apresentar maior vazão de pico seria mais indicado para projetos de obras hidráulicas, por dar uma
maior margem de segurança. O pico de descarga do método do hidrograma unitário sintético de
Snyder ocorreu quatro horas após o término da chuva, o que pode ser atribuído ao fato de que o
método não se aplica a bacia estudada.

Palavras-chave: Precipitação efetiva. Hidrograma. Bacia hidrográfica.

INTRODUÇÃO
Dentre as fases básicas do ciclo hidrológico a do escoamento superficial talvez seja a mais
importante, por tratar da ocorrência e transporte de água na superfície terrestre, tendo em vista que a
maioria dos estudos hidrológicos está ligado ao aproveitamento da água superficial e à proteção
contra os fenômenos provocados pelo seu deslocamento (VILLELA e MATTOS, 1975).
O escoamento superficial pode ser dividido em componentes, com destaque para o
escoamento superficial direto e o escoamento de base ou subterrâneo. O primeiro componente
resulta da parcela da precipitação que excede a capacidade de infiltração do solo e escoa sobre a sua
superfície, gerando cheias; é freqüente quando ocorrem precipitações muito intensas e/ou quando o
solo já está muito umedecido e com capacidade de infiltração reduzida. Esta parcela do escoamento
é conhecida como precipitação efetiva ou deflúvio superficial e sua importância está diretamente
associada a dimensionamentos hidráulicos, como barragens, terraços, bacias de contenção e
controle da erosão hídrica (TUCCI, 2001 e PRUSKI et al., 2003 apud SILVA et al., 2008).

201
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
O hidrograma representa a resposta da bacia hidrográfica em função de suas características
fisiográficas que regem as relações entre precipitação e escoamento. Um hidrograma unitário (HU),
por definição, é um hidrograma de escoamento superficial direto, resultante de uma chuva efetiva
com intensidade e duração unitárias (PORTO et al, 1999).
A determinação do hidrograma de projeto de uma bacia hidrográfica depende de dois
componentes principais, a separação do volume de escoamento superficial e a propagação deste
volume para jusante. Este último componente dos modelos hidrológicos geralmente utiliza da teoria
de sistemas lineares, ou seja, o hidrograma unitário (TUCCI, 2002).
O presente trabalho objetivou calcular a precipitação efetiva pelos métodos das abstrações
usando a equação de Green-Ampt e do Serviço de Conservação do Solo (SCS) e obter os
hidrogramas pelo método das isócronas de Clark e pelo hidrograma unitário de Snyder para a bacia
do rio Granjeiro, Ceará.

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA
A bacia do rio Granjeiro, localizada no município de Crato, Ceará (Figura 1). Seu rio
principal é o Granjeiro e a rede drenagem apresenta cursos de terceira ordem. O clima da região,
segundo a classificação de Köppen, é do tipo Aw’ – tropical chuvoso com precipitação média anual
de 1.033 mm (DNPM, 1996 apud MENDONÇA et al., 2009).

Figura 1 – Localização da área de estudo

MATERIAL E MÉTODOS
Na delimitação da bacia foram usados dados de SRTM com resolução espacial de 92 m. A
partir desses dados foi gerada a rede de drenagem da bacia utilizando a extensão ArcHydro do
software ArcMap 9.2.
Após a delimitação, usando a extensão X Tools do ArcMap 9.2, foi calculado: a área e o
comprimento do rio principal. Determinou-se também a ordem dos rios por meio da ferramenta
Spatial Analyst Tools do ArcMap 9.2.
O tempo de concentração da bacia (tc) foi calculado pela equação de Kirpich (1940 apud
CHOW et al, 1988) (equação 1).
tc = 0,0078 L0, 77 S −0,385 (1)
-1
Em que: L – comprimento do rio principal (ft) e S – declividade média da bacia (m m )
Em seguida foram feitos os hidrogramas pelo método das isócronas de Clark e o hidrograma
unitário sintético de Snyder. Para o primeiro método, a precipitação efetiva foi calculada pelo

202
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
método de abstrações usando a equação de infiltração de Green-Ampt e para o segundo utilizou-se o
método SCS.
3.1 – Precipitação efetiva pelo método das abstrações usando a equação de infiltração de Green-
Ampt e o hidrograma das isócronas de Clark
A bacia foi divida em sub-áreas e depois foi feita uma translação destas para que todas
contribuíssem na vazão. As sub-áreas são limitadas por linhas denominadas isócronas que são
formadas por pontos que têm o mesmo tempo de translação até o exutório da bacia.
Para delimitar as isócronas foi feito um grid dos tempos de viagem (tv). Em seguida foi feita
uma interpolação desses tempos pelo método da krigagem, obtendo assim, as sub-áreas definidas
pela isócronas.
O tempo de viagem é o somatório dos tempos de viagem na encosta (tve) e no rio (tvr). O
tve foi calculado pela equação 2.
∆x
tve = (2)
vm
em que: ∆x – comprimento do escoamento (m) e vm – velocidade média do escoamento (m s-1)
obtido pela equação 3.
vm = k S 0 (3)
em que: k – coeficiente de velocidade (tabelado) e S0 – declividade da encosta (%).
Já o tvr foi calculado usando a equação 4.
∆L
tvr = (4)
v
em que: ∆L – comprimento de cada trecho de rio (m) e v – velocidade do escoamento no rio (m s-1)
obtida por meio da equação de Manning (equação 5).
1 2 1
v = R 3S 2 (5)
n
em que: n – coeficiente de Manning (tabelado); R – raio hidráulico (m) e S – declividade do rio (m
m-1).
O raio hidráulico foi estimado a partir de dados de vazão do exutório da bacia e da largura
do rio.
Vale ressaltar que um trecho do rio é canalizado com alvenaria, que corresponde à parte que
passa por dentro da cidade de Crato. Por esse motivo foi usado dois coeficientes de Manning.
Tendo as isócronas, foram calculadas as áreas limitadas por elas e usados os dados de
intensidade de uma precipitação de tempo aproximadamente igual ao tempo de concentração.
Foi estimada a infiltração acumulada pela equação Green-Ampt (equação 6), considerando
que o solo se encontrava empoçado. O solo foi classificado como franco areno argiloso (61% de
areia, 32,88% de argila e 5,67% de silte) a partir de uma amostra de solo coletada na região. Os
parâmetros de Green-Ampt utilizados se encontram na Tabela 1. Foi também considerado a
interceptação nos quinze minutos iniciais da precipitação. A precipitação efetiva é o resultado da
diferença entre a precipitação acumulada e os valores de infiltração acumulada e interceptação
acumulada.
 F (t ) 
F (t ) = Kt + Ψ∆θ ln1 +  (6)
 Ψ∆θ 
em que: F(t) – infiltração acumulada (mm); K – condutividade hidráulica (mm h-1); ψ – potencial
matricial (mm) e ∆θ – variação de umidade (equação 7)
∆θ = (1 − s e )θ e (7)
em que: Se – saturação efetiva do solo e θe – porosidade efetiva

203
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
Tabela 1 – Parâmetros de Green-Ampt para a classe de solo utilizada
Se K (mm h-1) ψ (mm) θe ∆Ө
0,7 1,5 218,5 0,33 0,099

A vazão (Q) foi encontrada pela equação 8.


Qi = Ai I i
em que: Ai – área de cada isócrona (km2) e Ii – intensidade da precipitação efetiva para cada
isócrona (mm h-1)

3.2 – Precipitação efetiva pelo método SCS e vazão pelo método do hidrograma unitário sintético
de Snyder
Inicialmente foi calculada a precipitação efetiva pelo método SCS. Para isso foi necessário
encontrar a Curve Number (CN) que é função do tipo de solo e de seu uso. Para se saber a CN da
bacia, foi feita a classificação de uma imagem do satélite LANDSAT 5 TM por meio do software
Erdas Imagine 8.5. Após classificada a imagem, obteve-se três classes de ocupação: urbana (41,4%
da área), vegetação rala (18,6%) e vegetação densa (40%). A CN da bacia foi obtida pela
ponderação das curvas das três classes de ocupação. O tipo de solo se enquadrou no tipo B (TUCCI,
2000).
A CN tabelada corresponde ao valor para solo de umidade moderada. Como para o método
de Greem-Ampt foi considerado que o solo estava empoçado, a curva foi corrigida para solo úmido
[CN(III)] por meio da equação 8.
23CN ( II )
CN ( III ) = (8)
10 + 0.13CN ( II )
em que: CN(II) – CN para solo com umidade moderada
Em seguida foi calculado o armazenamento potencial da bacia (equação 9), as abstrações
inicial (equação 10) e continuada (equação 11).
 1000 
S = − 10 25,4 (9)
 CN 
em que: S – armazenamento potencial da bacia (mm)
Ia = 0,2 S (10)
em que: Ia – abstração inicial (mm)
S ( P − Ia )
Fa = (11)
P − Ia + S
em que: Fa – abstração continuada (mm) e P – precipitação acumulada (mm)
A precipitação efetiva foi encontrada pela equação 12.
Pe = P − Ia − Fa (12)
Por último, foi calculada a vazão pelo método do hidrograma unitário sintético de Snyder,
admitindo o Ct igual a 2 e o Cp de 0,625. Para definir o hidrograma foram calculados o tempo de
retardamento (tp) e vazão de pico (qp) por meio das equações 13 e 14.
t p = C1Ct ( LLc ) 0,3 (13)
em que: tp em horas; C1 = 0,75; Ct – coeficiente numérico, variável de 1,8 a 2; L – comprimento do
rio principal (km) e Lc – distância do centróide da bacia ao seu exutório (km)
C2C p
qp = (14)
tp
em que: qp em m3 s-1 km-2 por cm de chuva efetiva; C2 = 2,75; Cp – coeficiente numérico variável
entre 0,56 e 0,69

204
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
As características fisiográficas da bacia em estudo foram: área de drenagem de 18,59 km2,
perímetro de 23,61 km, comprimento do rio principal de 9,51 km, declividade média de 11 %,
apresentando coeficiente de compacidade de 1,53 e fator de forma de 0,20. O tempo de
concentração calculado foi de 52 minutos, ou seja, aproximadamente 1 hora.
4.1 – Precipitação efetiva pelo método das abstrações usando a equação de infiltração de Green-
Ampt e o hidrograma das isócronas de Clark
A Tabela 2 apresenta os valores calculados para o hietograma de excesso de precipitação
(Pe) e a Tabela 3 se refere aos parâmetros para o cálculo das vazões para geração do hidrograma de
Clark.
Tabela 2 – Cálculo do hietograma de excesso de precipitação de acordo com a equação de
infiltração de Green-Ampt
Tempo Precipitação Acumulada F1 Interceptação Acumulada Pe2
(h) ----------------------------------------- (mm) ---------------------------------------
0.00 0,0 0,0 0.0 0,0 0,0 0.0
0.08 9,5 9,5 2.4 1,4 1,4 5.7
0.17 9,9 19,4 3.5 2,9 4,3 11.6
0.25 8,9 28,3 4.3 4,2 8,6 15.4
0.33 12,2 40,5 5.0 0,0 8,6 27.0
0.42 3,8 44,3 5.6 0,0 8,6 30.1
0.50 4,1 48,4 6.2 0,0 8,6 33.6
0.58 2,5 50,9 6.7 0,0 8,6 35.6
0.67 4,4 55,3 7.3 0,0 8,6 39.4
0.75 2,8 58,1 7.7 0,0 8,6 41.8
0.83 2,8 60,9 8.2 0,0 8,6 44.1
0.92 2,3 63,2 8.7 0,0 8,6 46.0
1.00 0,8 64,0 9.1 0,0 8,6 46.3
1
Infiltração acumulada obtida pelo método do Green-Ampt
2
Precipitação efetiva acumulada

Tabela 3 – Parâmetros usados no cálculo do hidrograma de Clark


Isócronas
Tempo (min) 0 - 15 15 - 30 30 - 45 45 - 60
Pe (mm) 15,4 18,2 8,2 4,6
Intensidade (mm/h) 61,8 72,7 32,6 18,2
Área (km²) 0,8 6,8 3,3 7,6

As vazões parciais e totais do hidrograma de Clark são apresentadas na Tabela 4.


Tabela 4 – Cálculo das vazões pelas isócronas de Clark, para geração do hidrograma
Tempo Vazão parcial (mm km² h-¹) Q total Q total
(min) A1 A2 A3 A4 (mm.km². h-¹) m³ s-1
0 0,0 0.0 0.0
15 47,5 0,0 47.5 13.2
30 56,0 422,8 0,0 478.7 133.0
45 25,1 497,8 206,6 0,0 729.5 202.6
60 14,0 223,4 243,3 471,0 951.7 264.4
75 0,0 124,9 109,2 554,6 788.6 219.1
90 0,0 61,0 248,9 309.9 86.1
105 0,0 139,1 139.1 38.6
120 0,0 0.0 0.0

205
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

3.2 – Precipitação efetiva pelo método SCS e vazão pelo método do hidrograma unitário sintético
de Snyder
A Tabela 5 apresenta os valores calculados para o hietograma de excesso de precipitação
pelo método SCS.

Tabela 5 – Cálculo do hietograma de excesso de precipitação pelo método SCS


Precipitação Abstrações Excesso
Tempo Precipitação Pe
Acumulada Acumulada (mm) de chuva
(min) (mm) (mm) Ia Fa (mm) (mm)
0 0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
5 9,5 9,5 5,2 3,7 0,6 0,6
10 9,9 19,4 5,2 9,2 5,0 4,4
15 8,9 28,3 5,2 12,2 10,9 5,9
20 12,2 40,5 5,2 14,9 20,4 9,5
25 3,8 44,3 5,2 15,6 23,5 3,2
30 4,1 48,4 5,2 16,2 27,0 3,5
35 2,5 50,9 5,2 16,5 29,2 2,2
40 4,4 55,3 5,2 17,1 33,0 3,9
45 2,8 58,1 5,2 17,4 35,5 2,5
50 2,8 60,9 5,2 17,7 38,0 2,5
55 2,3 63,2 5,2 17,9 40,1 2,1
60 0,8 64,0 5,2 18,0 40,8 0,7

Para os cálculos da precipitação efetiva por esse método utilizou-se os parâmetros de acordo
com a Tabela 6.
Tabela 6 – Parâmetros método SCS
Parâmetros Valores Parâmetros Valores
He (mm) 40,83 Tp (h) 5,22
Área da bacia km² 18,59 qp ((m³/s).km²)/cm 0,36
C1 0,75 qp' (m³/s).km² 1,48
Ct 2,00 qp'' m³/s 27,64
Cp 0,625 CN (II) 81,00
L (km) 9,51 CN (III) 90,74
Lc (km) 4,80 S (mm) 25,90
tp (horas) 4,72 Ia (mm) 5,18

Na Tabela 7 são apresentados os tempos e as vazões obtidos pelas abstrações para obtenção
do hidrograma unitário sintético de Snyder.
Tabela 7 – Cálculo das abstrações (método SCS)
t/Tp t(h) q/qp q (m³/s)
0,0 0,0 0,0 0,0
0,5 2,6 0,5 13,8
1,0 5,2 1,0 27,6
1,5 7,8 0,6 16,6
2,0 10,4 0,3 8,3
2,5 13,0 0,2 5,0
3,0 15,7 0,1 2,2
3,5 18,3 0,1 1,4
4,0 20,9 0,0 0,7
5,0 26,1 0,0 0,0

206
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

A Figura 2 mostra os hidrogramas obtidos pelos métodos de Clark e Snyder


300

Green-Ampt e Clark SCS e Snyder


250

200
Q (m³/s) .

150

100

50

0
0 5 10 15 20 25 30
Tempo (horas)
Figura 2 - Hidrogramas gerados pelos métodos das isócronas de Clark e unitário sintético de
Snyder
Os valores obtidos no hidrograma gerado pelo método das isócronas de Clark apresentam
maiores valores estimados do pico de descarga do que o hidrograma gerado pelo método unitário
sintético de Snyder.
Pode-se inferir que o método unitário sintético de Snyder gerado a partir da CN aplicado
subestimou a vazão de pico e superestimou o tempo de descarga, esse método, portanto, não pode
ser aplicado de forma generalizada sem que se obtenha medidas de campo para se promover ajustes
para situações locais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 O método de Clark por apresentar maior vazão de pico seria mais indicado para projetos de
obras hidráulicas, por dar uma maior margem de segurança;
 O pico de descarga do método do hidrograma unitário sintético de Snyder ocorreu quatro
horas após o término da chuva, o que pode ser atribuído ao fato de que o método não se
aplica a bacia estudada.

207
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
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DESERTIFICAÇÃO NOS PERÍMETROS IRRIGADOS ARARAS NORTE E BAIXO
ACARAÚ, NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ACARAÚ (CE)

Maria Losângela Martins de Sousa


UECE-FAFIDAM – losangela.tab@hotmail.com
Flávio Rodrigues do Nascimento
UFF-RJ – frngeo2001@yahoo.com.br

RESUMO

A degradação ambiental se apresenta como um dos mais fortes impactos sofridos pelos recursos
naturais a partir das intervenções humanas no meio físico. As sociedades humanas vêm
contribuindo através das suas formas de uso e ocupação desordenadas como uma das principais
causas da degradação ambiental. As conseqüências são inúmeras, sendo que a desertificação ganha
destaque pela sua severidade e grau de abrangência. A mesma é conceituada e publicada na Agenda
21 como sendo a “degradação da terra nas regiões áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas,
resultante de diversos fatores, entre eles as variações climáticas e as atividades humanas”. A Bacia
Hidrográfica do Rio Acaraú, área de estudo deste trabalho, vem enfrentando problemas de
desertificação principalmente a partir do uso e ocupação do solo inadequada e da salinização pela
agricultura irrigada, especialmente nos agropólos Araras Norte e Baixo Acaraú. Os impactos
provocados pela salinização do solo são baixo rendimento das culturas, podendo provocar morte
generalizada das plantas; contaminação química, decorrente da incorporação de fertilizantes ao
lençol freático; contaminação dos cursos fluviais; degradação do solo e abandono de terras. As
sociedades humanas também são atingidas por esse processo, sendo que as condições sociais,
econômicas, políticas, culturais são fortemente alteradas. As análises pedológicas realizadas na
Bacia do Acaraú dão conta do risco de salinidade que a bacia possui tanto nas áreas irrigadas quanto
nas áreas de mata nativa.

Palavras-chaves: Bacia Hidrográfica, Desertificação, Salinização do solo.

INTRODUÇÃO

A degradação ambiental no Brasil, assim como no mundo, se apresenta de diversas


formas. Embora possa ter origem natural, pode ser produto da relação conflituosa entre a sociedade
e a natureza possuindo assim inúmeras causas e conseqüências. Uma das principais causas é o
manejo inadequado dos recursos naturais, enquanto que entre as principais conseqüências estão à
erosão do solo, o desmatamento e a desertificação. Esta se apresenta não somente como um fator
ambiental, mas também como um fator social.
A porção semiárida do Nordeste brasileiro se apresenta susceptível ao desencadeando da
desertificação do ponto de vista ecoclimático e socioeconômico, pois é uma região pobre, marcada
por ações depredatórias contra os recursos naturais ali disponíveis ao longo de sua história de
ocupação.
No Ceará, o processo de desertificação vem aparecendo de forma bastante representativa
nos sertões semi-áridos. Os mesmos apresentam características que possibilita a degradação, como
as condições ambientais vulneráveis e as atividades humanas degradantes. A primeira se refere às
irregularidades pluviométricas e as secas freqüentes, enquanto a segunda se dá pelo mau uso dos
recursos naturais, como queimadas, extrativismo, etc. Em algumas partes do sertão cearense a
degradação já atinge condições irreversíveis, exibindo marcas nítidas de desertificação. Para
Nascimento (2006) de modo geral as causas da desertificação estão associadas a dois grandes
conjuntos de problemas: a agricultura tradicional, descapitalizada e com nível tecnológico e

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
agricultura irrigada, quando manejada de forma inadequada pode provocar diversos problemas,
inclusive a salinização dos solos.
Alguns municípios cearenses apresentam graves problemas de conservação, a despeito de
Jaguaribe e Jaguaretama (Bacia do Médio Jaguaribe), Irauçuba (Bacia do Litoral), Caridade (Bacia
do Curu) Santa Quitéria e Sobral (Bacia do Acaraú) e outros na zona Norte do Ceará. Nesse
contexto a salinização dos solos pela irrigação é uma possibilidade real de degradação ambiental
que pode convergir para a desertificação, ultrapassando a capacidade de suporte dos recursos
naturais, o que afeta dentre outros aspectos, os solos e a vegetação.
O Ceará se converteu rapidamente em uma referência na produção e exportação de frutas e
flores (Sabadia, et al., 2006) a partir da agricultura irrigada. A Bacia Hidrográfica do rio Acaraú,
possui diversos projetos de irrigação, onde se destacam para o presente trabalho dois perímetros
irrigados: o Baixo Acaraú e o Araras Norte (Figura 1).

Figura 1: Localização do DIPAN e do DIBAU, Bacia do Acaraú, Ceará


Fonte: Lopes et al, (2006)

Por consequência, em função de manejo inadequado a irrigação acaba trazendo inúmeros


prejuízos ambientais com preocupantes reflexos socioeconômicos, em face de um desenvolvimento
econômico voltado ao enriquecimento de empresas agroindustriais, em detrimentos ao pequeno e,
por vezes, ao médio produtor rural. Esses fatores geram impactos que vão desde a ordem social,
traduzidos na desestruturação familiar, agravamento das desigualdades sociais, até a ordem física, a
degradação ambiental propriamente dita.
Desta feita, o presente trabalho tem como objetivo principal identificar os processos de
degradação dos recursos naturais que provocam desertificação na Bacia Hidrográfica do Acaraú, a
partir da salinização dos solos por irrigação nos perímetros irrigados Araras Norte e Baixo Acaraú.
Com relação aos objetivos específicos se destacam três, são eles: Esboçar os aspectos
geoambientais da Bacia Hidrográfica do Rio Acaraú, com ênfase nos perímetros irrigados Araras
Norte e Baixo Acaraú; Estudar os principais impactos emergentes da degradação ambiental na
Bacia do Acaraú; e Avaliar os riscos de salinização/degradação dos solos devido ao manejo de
irrigação nos agropólos Araras Norte e Baixo Acaraú.

BASES CONCEITUAIS E ASPECTOS METODOLÓGICOS

O processo de desertificação é estudado por muitos autores sendo que cada um deles
aborda o tema a partir de viés diversificado. As mais diversas conceituações sobre desertificação
apresentam idéias ambíguas, concordantes ou discordantes. Entretanto todas as definições possuem
pontos em comum, as ecozonas climáticas (NASCIMENTO, 2006).

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
O termo desertificação foi usado pela primeira vez por Albert Aubreville, em 1949, mas o
fenômeno não foi exatamente definido, foi apenas conceituado como a conversão de terras férteis
em desertos conseqüentes da erosão do solo vinculada às atividades humanas. A partir de 1972
muitas conferências internacionais contribuíram para as discussões da temática, como a Conferência
das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no ano de 2002 (CNUMAD), em
Johannesburgo na África do Sul (DIAS, 2006 e NASCIMENTO, op Cit.) e Conferência
Internacional sobre Variações Climáticas e Desenvolvimento Sustentável no semi-árido (ICID), em
Fortaleza.
Contudo, foi durante a conhecida Rio-92, que se definiu o conceito oficial de
desertificação, apresentado na Agenda 21: “degradação da terra nas regiões áridas, semi-áridas e
subúmidas, resultantes de vários fatores, entre eles as variações climáticas e as atividades humanas”
(Brasil, 2004).
Nessa perspectiva a desertificação pode acontecer mediante dois vieses, as variações
climáticas, na qual a seca se destaca como um fenômeno típico das regiões semiáridas; e a
degradação das terras induzidas pelo homem. As ações humanas degradantes podem ser entendidas
a partir da degradação de vastas áreas semiáridas, do solo, provocada por fatores físicos (erosão e
compactação do solo) e químicos (sodificação/sodicidade ou salinização); das águas superficiais e
da qualidade de vida dos assentamentos humanos.
Para Nascimento (2006), o conceito que melhor contempla a problemática se refere ao
processo de degradação das terras áridas, semiáridas e subúmidas secas, resultantes de diversos
fatores entre eles as atividades humanas e/ou as mudanças climáticas. A diferença entre o conceito
da ONU e do referido autor reside em afirmar que as atividades humanas são fundamentalmente as
responsáveis pelo fenômeno, enquanto que as mudanças climáticas podem ou não acontecer de fato.
Para Araújo, et al, (2005), a degradação das terras acontece mediante dois fatores, os
diretos e os facilitadores, diante de condições naturais e ações do homem. O primeiro se refere ao
uso de máquinas, a condução de gado, o encurtamento do pousio. O segundo diz respeito ao
desmatamento, o sobrepastoreio, o uso excessivo da vegetação. Concomitante a estes, estão à
topografia, a textura e composição do solo, entre outros elementos naturais, que favorece a
degradação. Vale ressaltar que o Nordeste possui fatores de degradação colocados pelo autor, e que
o Ceará e a Bacia do Acaraú não fogem a essas características.
O Ceará se encontra vulnerável do ponto de vista ambiental, uma vez que a ocupação
desordenada aliada aos fatores de vulnerabilidade climática do Estado potencializam cada vez mais
a degradação ambiental, e desencadeia os processos de desertificação. Detém 136.328 km²
submetidos à semi-aridez (92% do território), com 117 municípios totalmente incluídos nessas
condições (OLIVEIRA, 2006).
As áreas de agricultura irrigada, quando manejada de forma inadequada provoca enormes
prejuízos, e pode causar entre tantos problemas a salinização do solo. Esta por sua vez, aumenta a
vulnerabilidade ambiental à desertificação, podendo esgotar a capacidade de suporte dos recursos
naturais disponíveis (NASCIMENTO, 2006).

METODOLOGIA:

A pesquisa se dividiu em duas etapas: o gabinete e o campo. Em gabinete, foram


desenvolvidos estudos bibliográficos sobre degradação ambiental, desertificação, agricultura
irrigada, salinização dos solos, agronegócio, recursos hídricos, semiárido, análise ambiental.
Levantamento de mapas sobre o Nordeste, o Ceará e a Bacia do Acaraú, pesquisas na Internet,
análise do relatório parcial do Projeto de pesquisa - n° 545 do Banco do Nordeste: Análise
geoambiental e mapeamento das áreas degradadas susceptíveis à desertificação na Bacia
hidrográfica do Acaraú (Ce) –documento base para o trabalho-, além de outros trabalhos também
foram desenvolvidos em gabinete.
Entre as atividades realizadas no campo, destaca-se o reconhecimento dos sistemas
ambientais da bacia (Planície Litorânea, Planície Fluvial, Tabuleiros, Serras e Cristas Residuais,

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
Planalto da Ibiapaba e Sertões), visitas aos perímetros irrigados Araras Norte e Baixo Acaraú, aos
canais de água que abastecem os perímetros e ao sistema de tratamento de água, na cidade de
Varjota.
Estudos de salinização dos solos foram aplicados em duas partes da Bacia. No perímetro
irrigado Araras Norte (Área A) e no Baixo Acaraú (Área B). A seleção das duas áreas se deu em
função da necessidade de se identificar à interconexão dos recursos naturais entre as duas porções
da Bacia. As identificações dos pontos de coleta de solos foram realizadas sobre uma linha
transversal a área irrigada.
As amostras foram coletadas mediante trado holandês de 3” nas profundidades de 0 a
30cm, 30 a 60cm, 60 a 90 cm, 90 a 120 cm de maneira a avaliar o acúmulo de sais na profundidade
do sistema radicular da maioria das culturas. Além da realização da amostragem de solos na mata
nativa para se ter conhecimento do status salino das áreas não irrigadas. As amostras reuniram
dados de 2003, agregados a dados de 2004 a 2007, havendo assim um enriquecimento de nosso
banco de dados. Tal metodologia foi elaborada e executada por Andrade, et al, (2006) através de
análises de solos realizadas no Laboratório de água e solos da Embrapa Agroindústria Tropical, em
Fortaleza.

IMPACTOS EMERGENTES DA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL

O desenvolvimento da agricultura moderna e a introdução do meio técnico científico


informacional no campo trouxeram uma série de mudanças para os sistemas de cultivos e
consequentemente uma série de impactos ao meio físico e social. A saber.

MUDANÇAS NO MEIO SOCIAL DE PRODUÇÃO

A agricultura irrigada vem transformando as áreas agrícolas em pólos de desenvolvimento


através de tecnologias modernas. Entretanto, os impactos negativos causados pelo implemento da
modernização são fortes. Provoca de imediato uma dicotomia, pois de um lado gera riqueza e
acumulação de capital, e de outro impulsiona fatores que alimentem o êxodo rural dos pequenos
produtores. Como consequencia essas populações modificam não somente os hábitos alimentares,
mas também as condições de trabalho, de saúde, de educação, de lazer, de habitação, enfim, de
vida.
Diante disso, o meio social sofre uma profunda desestruturação, como foi verificado nos
perímetros estudados. Araújo et. al., (2005) comentam a cerca dos impactos da degradação e
argumentando que a mesma se reflete no meio social, uma vez que provoca a limitação da
produtividade, o que induz a possível regressão das condições de vida humana e conseqüentemente
o agravamento da fome e da pobreza.

DEGRADAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS E SALINIZAÇÃO DO SOLO

A salinização consiste no acréscimo de sais solúveis de sódio, cálcio e magnésio ao solo


advindo de muitos fatores e pode ultrapassar a capacidade de suporte de todos os recursos naturais
ali disponíveis. Esse processo depende da qualidade da água aplicada na irrigação, das
características físico-químicas do solo e das técnicas de manejo do solo, segundo Andrade e
D’Almeida (2006).
São nas áreas de agricultura irrigada que a salinização do solo acontece com mais
freqüência. Principalmente quando a irrigação ocorre de forma mal manejada, a drenagem é
inadequada. Nesse caso os sais que estavam distribuídos nos horizontes mais profundos são trazidos
para a superfície do solo através do movimento ascendente da água capilar ou do lençol freático, o
qual sobe devido à água adicionada com a irrigação.
Dentre os impactos provocados pela salinização do solo está o baixo rendimento das
culturas, que em caso mais graves provoca a morte generalizada das plantas. Gheyi (2000)

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
considera que os efeitos da salinidade para as plantas podem ser divididos em osmótico, tóxico e
indireto. Os osmóticos acontecem quando aumenta a concentração de sais no solo e
conseqüentemente a pressão osmótica do meio, diminuindo a absorção de água pelas plantas. O
segundo efeito se refere à toxidade dos solos, o que reduz a germinação e causa anormalidades no
desenvolvimento das plantas. Os efeitos indiretos se referem ao desequilíbrio nutricional que as
plantas podem sofrer prejudicando o crescimento e o desenvolvimento das mesmas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O Distrito de Irrigação Baixo Acaraú (DIBAU), está localizado no trecho final da Bacia do
Acaraú, abrange áreas dos municípios Acaraú, Bela Cruz e Marco (vide Figura 1). Possui
microclima tropical chuvoso com precipitação média anual de 900mm, insolação muito forte com
aproximadamente 2.650 horas anuais, a evaporação média anual é da ordem de 1.600 mm (DNOCS,
2007). O DIBAU possui uma área desapropriada e irrigável de 12.407,00 ha, com 8.816,61 ha
implantadas.
Seus solos, em geral, são profundos e bem drenados, de textura leve e muito permeáveis.
Pertencentes às classes dos Argissolos, Latossolos e Neossolos, possuem fertilidade baixa - segundo
Andrade et. al, (2006). Os usuários do DIBAU se dividem em pequenos produtores, profissionais da
área das ciências agrícolas e empresários. A sua produção varia da cultura de abacaxi, manga,
melão, melancia, cajú, até feijão e milho, (DNOCS, 2007).
O sistema de irrigação do perímetro se dar por micro aspersão e por gotejamento. É um
dos perímetros que possui atualmente uma das tecnologias mais avançada de todo o Nordeste
(NASCIMENTO, 2006).
O Distrito de irrigação Projeto Araras Norte (DIPAN) está localizado nos municípios de
Varjota e Reriutaba, influenciando, também, o município de Cariré (LOPES et al., 2006). Com
estação chuvosa de fevereiro a abril, possui temperatura média anual é de 28,2°C, evaporação
média anual de 1.942mm e precipitação média anual de 797 mm, (ANDRADE et.al, (2006).
Os solos do DIPAN são de textura média a leve e fertilidade entre natural e baixa.
Predomina os argissolos que apresentam melhores condições para a irrigação, podendo se
identificar os planossolos aluviais e coluviais, regossolos e litossolos, (DNOCS, 2007).
O projeto possui uma área de 6.407,39 ha sendo que desta, somente 3.200,00 ha estão
implantadas. Diferentemente do DIBAU, os usuários são irrigantes, pequenos produtores, técnico
agrícola, engenheiro agrônomo e empresas (DNOCS, 2007). Oferece boa variedade de frutas, como
mamão, cajú, banana, etc. A aspersão convencional predomina com aproximadamente 89%,
enquanto o restante fica com a micro-aspersão. Embora o DIBAU também apresente suas
dificuldades quanto a pagamentos de financiamentos e de manutenção infra-estrutural, está em
condições melhores que o DIPAN, é considerado o maior projeto de irrigação do Estado, do ponto
de vista da engenharia, é um dos mais modernos do mundo.
No DIPAN e no DIBAU, foram avaliadas as concentrações de sais no solo no período de
2003 a 2007. Essas análises fornecem um panorama geral da situação dos solos em setores do
médio e do baixo curso da Bacia com relação ao risco de salinização tanto em áreas irrigadas como
em áreas de mata nativa.
Verificou-se que o DIPAN tem maior risco de salinidade em relação ao DIBAU, devido à
diferença de seus solos. Enquanto o DIPAN apresenta solos com horizontes de textura média a
argilosa (Luvissolos), o DIBAU possui solos bem drenados e de textura leve. Quanto ao risco de
sodicidade o DIBAU apresenta risco maior que o DIPAN, pois contém baixos teores de cálcio e
magnésio.
As Figuras 2 e 3 (a seguir) se referem à análise de solos do DIPAN e do DIBAU, com
relação a adição de sais. A figura 2, referente ao DIPAN, mostra a existência de um acúmulo de sais
em todas as camadas nas áreas irrigadas em relação à mata nativa; Nas camadas superficiais esse
acúmulo é mais significativo. Tal fato se deve a fortes evaporações das áreas semiáridas, ocorrendo

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
assim à ascensão da água capilar e conseqüentemente as deposições dos sais nas camadas
superficiais, informa Andrade et al (2006).

Figura 2: Análise da Condutividade elétrica do solo no DIPAN.


Fonte: Andrade et, al (2006).

A Figura 3 mostra que houve um incremento na concentração de sais totais da área irrigada
em relação à mata nativa no DIBAU. Ocorreu uma redução nos valores da condutividade elétrica
(CE) no período chuvoso de 2004, tanto da área irrigada quanto da mata nativa, chegando a
praticamente igualares seus valores. Isso se justifica pela lixiviação dos sais adicionados ao solo da
área irrigada, decorrentes das precipitações naquele ano ultrapassando a média anual da região. Nos
anos seguintes os valores da CEes voltaram a crescer, tal fato pode ter ocorrido devido o manejo da
irrigação, ou pelos adubos químico introduzidos na área.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 3: Análise da Condutividade elétrica do solo no DIBAU.


Fonte: Andrade et, al (2006).

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

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Agricultura Irrigada. Fortaleza: Instituto Agropólos do Ceará, 2006. 94.:il.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

ASPECTOS DO USO DO SOLO E IMPACTOS AMBIENTAIS NA BACIA


HIDROGRÁFICA DO RIO DO PEIXE-PB

Paulo Victor Paz de Sousa


Aluno do Mestrado em Geografia -UFC.(paulovictorpaz@hotmail.com)
Marcelo Henrique de Melo Brandão
Profo Adjunto - UFCG/CFP/UACS. (mhmb64@gmail.com)

RESUMO

A área onde se desenvolve este trabalho é a bacia hidrográfica do Rio do Peixe, localizada no
extremo noroeste do Estado da Paraíba. Esta bacia é constituída por 18 municípios; a população é
estimada em 215.787 habitantes, distribuídos em uma área de 3.991 km². Nele descreve-se a
situação atual do uso do solo da referida bacia hidrográfica identificando os principais processos de
degradação ambiental. Ao final elabora-se uma série de propostas que podem minimizar o atual
processo de degradação, onde através destas propostas seria possível recuperar a qualidade
ambiental da bacia hidrográfica do Rio do Peixe.

Palavras-Chave: Uso do Solo, Degradação, Rio do Peixe.

LOCALIZAÇÃO DA ÁREA

Ocupando o extremo noroeste do semi-árido paraibano, a bacia hidrográfica do Rio do Peixe


é uma sub-bacia do rio Piranhas; representa uma das áreas mais promissoras para a expansão agro-
pecuária do Estado da Paraíba.
Com uma extensão de aproximadamente 3.453,61 km², abrange 18 municípios; localiza-se
entre os paralelos de 6°20’ e 7°06’ Lat. S e os meridianos de 37°57’ e 38°46’ Long. W de
Greenwich.
Observa-se nesta área uma grande vocação para as atividades agropecuárias e até industriais,
com o beneficiamento e agregação de valores aos seus produtos. A bacia tem importância
estratégica para o abastecimento alimentar e oferta de serviços, não apenas para os municípios que a
compõem bem como para os estados vizinhos do Ceará e Rio Grande do Norte.
As duas cidades mais próximas, Sousa e Cajazeiras atuam como pólos regionais,
centralizando a oferta de serviços e centro de abastecimento das demais cidades de sua hinterlândia.

MUNICÍPIOS QUE COMPÕEM A BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DO PEIXE


Dezoito municípios integram a bacia hidrográfica do Rio do Peixe: Aparecida, Bernardino
Batista, Bom Jesus, Cachoeira dos Índios, Cajazeiras, Lastro, Marizópolis, Poço Dantas, Poço de
José de Moura, Santa Cruz, Santarém, Santa Helena, São Francisco, São João do Rio do Peixe,
Sousa, Triunfo, Uiraúna e Vieirópolis.
A Tabela 1 apresenta os municípios com as respectivas áreas, população e Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal, relativo ao ano 2000 (IDH-M/2000).

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Tabela 1. Municípios que compõem a Bacia Hidrográfica do Rio do Peixe

Fonte: Dados demográficos do Censo 2000 (IBGE).

A população total de 215.787 habitantes representa 6,11% da população total do Estado. De


acordo com o censo demográfico de 2000, a população total do Estado era de 3.444.794 habitantes.
Com uma área de 3.991 km², a bacia do Rio do Peixe apresenta uma densidade demográfica
de 54,07 hab/km². O declínio do ritmo de crescimento populacional verificado nos municípios
mencionados é um fenômeno que ocorre em todo o país, devido a queda da taxa de fecundidade.
Segundo a classificação do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),
valores que estejam contidos no intervalo de 0,5 a 0,8, correspondem a municípios inseridos em
regiões de médio desenvolvimento humano.

USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DO PEIXE


Entende-se como uso do solo a forma como o homem ocupa o espaço geográfico. Esse uso
vem sendo feito de diferentes formas ao longo dos séculos, nesse sentido, o conhecimento dos
ciclos econômicos regionais foi imprescindível para a realização deste trabalho. A partir deste
estudo foi possível analisar como tem sido processada a ocupação da área.
Historicamente, a bacia do Rio do Peixe é considerada como uma das áreas que compunham
o subsistema gado-algodão. Silva (1982) diz:

“... o sistema produtivo que caracteriza a área se baseia no binômio algodão-


pecuária. O algodão, além de ser o produto de maior expressão na agricultura
desse subespaço é, também, aquele que tem participação mais significativa na
produção agrícola do Sertão Norte e do próprio Nordeste. Dados referentes ao ano
de 1974 indicam que, naquele ano, a participação da área na produção algodoeira
desses espaços foi de 81,1 e 48,9% respectivamente.”
Nos dias atuais, ainda é possível perceber a ocorrência desse subsistema na bacia do Rio do
Peixe. Porém, ocorreu o declínio na produção do algodão em decorrência da praga do “bicudo”.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
Em substituição ao algodão, incentivou-se a fruticultura irrigada, a exemplo das áreas de
São Gonçalo, distrito de Sousa, com a produção de culturas perenes como o coco da bahia e a
banana. Além dessas culturas ainda é possível perceber um acréscimo na produção de goiaba e caju,
para fins industriais. A rizicultura também é de grande importância na agricultura local.
Sazonalmente, ainda resiste o consórcio milho-feijão, plantados nos períodos invernosos.
O segundo componente mais importante do sistema produtivo é a pecuária, daí a existência
de áreas destinadas à formações herbáceas, formadoras de campos de pastagem para suporte ao
rebanho.
Para a elaboração do cartograma de uso do solo, tomou-se como base a imagem do sensor
LANDSAT (agosto/2002). Para auxiliar o processo de identificação das informações extraídas da
imagem foram preparadas chaves de interpretação através de um processo de comparação entre as
características dos alvos identificados em campo com as características contidas na imagem.
Baseados nestas informações foram definidas as categorias de uso do solo, agrupadas quanto as
suas semelhanças. Para o mapeamento do uso do solo foi proposta a seguinte tipologia:
• Solo Desnudo
• Formação herbácea
• Caatinga Arbustiva
• Caatinga Arbustivo-arbórea
• Caatinga Arbórea
• Cultura temporária
• Cultura Permanente
• Lâmina d’água

Na tabela 1, quantificam-se as áreas de cada uma das classes de uso do solo, por km2. Estas
áreas estão determinadas por sub-bacia. No cartograma 2 é possível visualizar o uso do solo.
A ocupação urbana não foi quantificada em virtude da escala da imagem utilizada ser muito
pequena, não proporcionando uma visão adequada das áreas urbanas.
O estudo possibilitou a identificação e o efetivo reconhecimento proporcional do atual uso
do solo nas sub-bacias e na bacia do Rio Peixe.
Na sub-bacia do Riacho Cacaré há grande ocorrência de caatinga arbórea, o que se dá em
virtude da influência topográfica; a ocorrência deste tipo de vegetação ainda prevalece nas áreas
serranas da região. Já as caatingas arbustiva e arbustivo-arbórea, por se localizarem freqüentemente
nas porções médias e na baixa encosta, são mais facilmente exploradas, conseqüentemente são
percentualmente menos ocorrentes.
Na sub-bacia do Açude Chupadouro, apresenta-se uma forte ocorrência de caatinga
arbustiva em detrimento das outras formações vegetais. Além disso, é possível destacar a ocorrência
das formações herbáceas que associadas à caatinga arbustiva, servem de suporte alimentar à
pecuária regional.A sub-bacia do riacho da Serra, de uma forma semelhante às outras, caracteriza-se
pelo binômio “formações herbáceas e caatinga arbustiva” que também suportam a atividade
pecuária da região. Na sub-bacia do Riacho das Araras, segue o comportamento das sub-bacias
anteriores.
Na sub-bacia do Boi Morto, a baixa declividade favorece o cultivo de pastos, a vegetação
natural tem sua maior representação na caatinga arbustiva, que associada aos pastos são utilizadas

219
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
como pastagem para as atividades pecuárias. Na sub-bacia do riacho Morto I, o sistema formação
herbácea (pastos) e caatinga arbustiva atuam dando suporte às atividades pecuárias da região.
De acordo com os dados gerais do uso e ocupação do solo na área em estudo, constata-se a
forte presença das formações herbáceas, constituídas por espécies forrageiras, para o pastoreio. São
áreas onde houve a retirada da vegetação natural ou onde a pastagem foi formada conservando
espécies arbóreas dispersas com o objetivo de sombreamento para o gado: ocupam cerca de 29% da
área total da bacia hidrográfica do Rio do Peixe.
A presença da caatinga arbustiva, que ocorre em 27% da área, está totalmente antropizada e
descaracterizada. Representa uma vegetação secundária, historicamente depredada para o
fornecimento de lenha a carvoarias, padarias, caieiras, cerâmicas e uso doméstico.
Esta mesma caatinga arbustiva, associada aos pastos, serve de suporte alimentar à pecuária local,
processo que caracteriza a existência de uma pecuária nos moldes extensivos, bastante danosa ao
meio ambiente.
A caatinga arbórea é representativa de apenas 13% da área estudada. Só nas áreas serranas é
possível ainda encontrar algumas espécies remanescentes. Porém, pesquisas de campo detectaram
algumas áreas serranas sendo invadidas para o cultivo agrícola e pastoreio, o que pode levar a uma
diminuição ainda maior dessa categoria.
Já a caatinga arbustivo-arbórea, ocorrendo em apenas por 11% da área, apresenta-se
fortemente degradada, devido a sua exploração ser mais fácil e por possuir espécies lenhosas de
grande calorimetria.
Um fato preocupante é a ocorrência de 10% da área total da bacia hidrográfica com solos
desnudos. Especificamente, em algumas sub-bacias é possível detectar valores de até 15% da área
das sub-bacias (sub-bacias do riacho morto 1 e 2) com solos desnudos.
As características pedo-climáticas, associadas ao mau uso do solo e a um forte processo de
desmatamento, estão provocando impactos ambientais, agravando ainda mais a qualidade de vida da
população local. Este processo pode ser progressivo se não forem tomadas algumas medidas
preventivas que minimizem esses impactos.
Dorst (1973) ao comentar sobre a erosão em seus diferentes tipos diz:
“Existe uma erosão natural, inevitável, evidentemente. Efetua-se em ritmo
lento. O desaparecimento de uma parte das matérias que constituem o solo é
compensado, pari passu, pela decomposição da rocha mãe e por elementos alóctones
carreados por forças físicas. Assim, os solos encontram-se geralmente em equilíbrio,
pelo menos nas condições médias que reinam atualmente à superfície do globo.
Paralelamente, porém, a esse fenômeno geológico normal, que faz parte da própria
evolução da Terra, existe uma erosão acelerada, fenômeno artificial, conseqüência dos
maus cuidados dispensados aos solos pelo homem; nesse processo acelerado as
perdas já não são compensadas pelas transformações locais do substrato geológico ou
pelas contribuições aluviais. Essa forma brutal da evolução dos solos é a
conseqüência direta da modificação profunda, ou mesmo da destruição total, dos
habitats originais, que já não estão protegidos por uma cobertura vegetal suficiente.”
Este processo acelerado de erosão já pode ser visto em diversos pontos da bacia hidrográfica
do Rio do Peixe, alguns deles passíveis de evoluir para um efeito irreversível.

220
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

ATIVIDADES ANTROPOGÊNICAS
A área da bacia hidrográfica do Rio do Peixe, reiteramos, insere-se no sistema produtivo
gado-algodão, onde a pecuária e a cotonicultura - em menor proporção -, são os elementos
representativos nas formas de produção do espaço. Apesar de predominantes, essas atividades não
são exclusivas. Juntamente com o algodão associam-se outras culturas, sobretudo o milho e o feijão.
Outra forma de produção no contexto agrícola da bacia hidrográfica do Rio do Peixe é a
fruticultura. Os processos de irrigação permitem obter uma produção representativa, a exemplo da
banana, caju, goiaba, e outras espécies frutíferas.
Tanto na pecuária como na agricultura, prevalecem os processos produtivos extensivos, que
por sua vez caracterizam-se pela baixa produtividade e provocam grande impacto ambiental, tanto
no desmatamento para implantação de pastos e lavouras, como no uso das espécies da caatinga
como suplemento alimentar dos rebanhos.
Especificamente na produção agrícola, as práticas danosas ao ambiente ainda prevalecem:
broca, derrubada, aceiramento, encoivaramento, queimada, ainda bastante usuais na região.
Normalmente, antes das chuvas, final do mês de novembro e início de dezembro, intensificam-se
essas atividades na preparação do solo para a implantação das lavouras.
O setor industrial, ainda incipiente, apresenta algumas atividades tradicionais como a
produção de rapadura, queijos, doces, fiação, beneficiamento de grãos, olarias e caieiras. Essas duas
últimas utilizam como matriz energética em sua produção a lenha retirada da caatinga, agravando
ainda mais os impactos ambientais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No contexto do espaço semiárido nordestino, as bacias sedimentares representam áreas de


exceção, em função de suas características mesológicas que repercutem na diferenciação dos graus
de limitações condicionantes nas atividades produtivas e em seus aspectos geo-sócio-econômicos.
Esses espaços, as bacias sedimentares, possuem características geoambientais que os
individualizam. São áreas que, em virtude de suas características ambientais possuem uma
potencialidade produtiva maior que as áreas circunvizinhas.
Mesmo sob o domínio do clima semiárido, existe um aporte de precipitação bastante
considerável, além disso, as águas superficiais e os aqüíferos estão disponíveis para o uso racional.
A própria vegetação natural, sendo recuperada, pode servir de suporte a outras atividades
produtivas, a exemplo da apicultura.
Deve ter ficado claro que o modelo de desenvolvimento atual está ultrapassado, dado que
não leva em consideração o equilíbrio entre as potencialidades e as limitações do quadro natural:
daí as conseqüências danosas que resultam inexoravelmente na degradação ambiental.
A falta de proteção às nascentes, o desmatamento indiscriminado da vegetação natural e das
matas ciliares, os processos de salinização dos solos decorrentes da falta de drenagem, as práticas
agrícolas inadequadas, podem levar ao processo de desertificação. Razão suficiente para se postular
um novo modelo de apropriação do espaço, contribuindo para um uso adequado dos recursos
oferecidos pelo meio ambiente e conseqüente melhoria na qualidade de vida da sociedade.
Urge a implantação de ações mitigadoras que atenuem o quadro vigente. A ação efetiva no
âmbito da bacia reclama um comitê de bacia hidrográfica atuante, que identifique os problemas e
proponha formas alternativas de produção do espaço semiárido fora de palanques políticos, que

221
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
assegurem efetivamente o equilíbrio da própria dinâmica ambiental e a proteção aos recursos
naturais.
As ações mitigadoras dos problemas ambientais atuais podem ser de diversas ordens:
o Recuperação das matas ciliares e de espécies arbóreas diversificadas;
o Incentivo à pequena produção familiar;
o Extensão rural;
o Educação ambiental em todos os níveis;
o Uso racional das águas superficiais e dos aqüíferos;
o Controle na perfuração e cadastramento dos poços artesianos;
o Agricultura de xerófitas e a caprinocultura;
o Fruticultura irrigada.
Estas seriam algumas das ações que poderiam atenuar os problemas sócio-ambientais na
bacia hidrográfica do Rio do Peixe. Entre a realidade que se apresenta e a realidade que se imagina,
existe a necessidade de uma ação efetiva do poder público na gestão do espaço semiárido.
Desta forma a bacia hidrográfica do Rio do Peixe pode atuar como espaço polarizador,
dinâmico na economia regional, produzindo e gerando trabalho e renda, promovendo a cidadania de
uma forma sustentável.

222
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.
Tabela 1. Classes de Uso do Solo na Bacia Hidrográfica do Rio do Peixe.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

AVALIAÇÃO MORFOMÉTRICA DE UM TRECHO DO MÉDIO CURSO DA BACIA


HIDROGRÁFICA DO RIO PACOTI-CE.

Pedro Henrique Balduino de Queiroz


Mestrado em Geografia – UFC –
pedrobalduino@ hotmail.com
Prof.ª Dr.ª Marta Celina Linhares Sales- UFC
–mcls@uol.com.br.

RESUMO
O uso dos recursos hídricos e sua conservação é um dos principais desafios do desenvolvimento
sustentável, devido ao aumento da população e a falta de controle dos impactos das atividades
humanas sobre o espaço natural. A Agenda 21, documento emanado da Conferência das Nações
Unidas sobre o meio ambiente e desenvolvimento,dedicou o Capitulo 18 à proteção da qualidade e
do abastecimento dos recursos hídricos. O documento aborda temas como a integração de medidas
de proteção e conservação dos mananciais; o desenvolvimento de técnicas de participação do
público na tomada de decisões; a mobilização dos recursos hídricos, especialmente em zona áridas e
semi-áridas; o desenvolvimento de novas alternativas de abastecimento de água,reúso e reposição
de águas subterrâneas,etc.Nesse sentido a gestão de bacias hidrográficas vem assumindo uma
importância cada vez maior no Brasil, à medida que aumentam os efeitos da degradação ambiental
sobre a disponibilidade de recursos hídricos e sobre os corpos d’água em geral. Este artigo é parte
da pesquisa de mestrado intitulada “Caracterização Geoambiental e Morfométrica de um trecho do
médio curso da Bacia Hidrográfica do rio Pacoti”, desenvolvida junto ao Programa de Pós-
Graduação em Geografia da Universidade Federal do Ceará. (UFC), com apoio da Fundação
Cearense de Apoio a Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico (FUNCAP).Pretende-se abordar
apenas dois objetivos da pesquisa; um referente à caracterização geoambiental da área e outro
relativo à análise morfométrica deste trecho da bacia hidrográfica. Pretende-se direcionar os
resultados para uma política mais eficaz de planejamento ambiental que leve a um manejo adequado
dos recursos naturais da bacia.

Palavras- chave: Rio Pacoti, Morfometria, Planejamento Ambiental

INTRODUÇÃO

O uso dos recursos hídricos e sua conservação é um dos principais desafios do


desenvolvimento sustentável, devido ao aumento da população e a falta de controle dos impactos
das atividades humanas sobre o espaço natural. Nesse sentido, a gestão de bacias hidrográficas vem
assumindo uma importância cada vez maior no Brasil, à medida que aumentam os efeitos da
degradação ambiental sobre a disponibilidade de recursos hídricos e sobre os corpos d’água em
geral.
O estudo da dinâmica ambiental de bacias hidrográficas destaca-se como uma importante
ferramenta no que tange o manuseio dos recursos naturais de uma determinada área. Os fatores que
compõem este ambiente interagem entre si, originando processos inter-relacionados, definindo
paisagens geográficas que apresentam potencial de utilização de acordo com as características de
seus componentes; substrato geológico, formas e processos geomorfológicos, mecanismos
hidrometereologicos e hidrogeologicos (CHRISTOFOLETTI, 1980).
O objetivo deste trabalho é realizar a caracterização morfométrica de um trecho do médio
curso da bacia hidrográfica do rio Pacoti, direcionando os resultados para a elaboração de uma

226
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

política de planejamento ambiental mais eficaz, no que diz respeito ao manejo dos recursos naturais
da bacia.

LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO E CARACTERIZAÇÃO DOS COMPONENTES


GEOAMBIENTAIS

O rio Pacoti tem um curso de cerca de 112,5 Km com uma área aproximada de 1.257 km²
estando suas nascentes localizadas, na vertente setentrional do Maciço de Baturité, em nível
altimétrico entre 700m e 900m, abrangendo os municípios de Pacoti e Guaramiranga, na Latitude de
S 4º 12’ e Longitude de W 38º 54’ e sua foz localiza-se no município de Aquiraz na faixa costeira
delimitada pelas coordenadas geográficas S 3° 49’ 05’’e W 38° 23’ 28’’. O rio banha os municípios
de Pacoti, Redenção, Acarape, Pacajus, Guaiúba, Horizonte, Itaitinga, Fortaleza, Eusébio e Aquiraz.
A área escolhida para o estudo trata-se de um trecho do médio curso da bacia hidrográfica do
rio Pacoti, abrangendo aproximadamente 247,6km², abrangendo maior parte dos municípios de
Redenção e Acarape, com acesso realizado através das rodovias CE- 060, BR-116 e CE-354. Para
delimitação da área de estudo foram utilizados os critérios hidrográficos, divisor de águas, bem
como as cotas altimétricas da área. Para isso foram analisadas as cartas topográficas da SUDENE,
na escala de 1:200.000, em meio digital – Folha Baturité – SB.24-X-A-T MI-751 (DSG,1977).

Figura 01: Mapa de Localização da área de estudo

É uma região composta essencialmente por rochas cristalinas representadas no atual mapa
tectônico do Brasil, dentro do complexo de estruturas brasilianas não diferenciadas (550 a 900
M.A.), sua maior parte no pré-cambriano indiviso, rejuvenescido no Ciclo Brasiliano, representado
por gnaisses, quartzitos e migmátito.
De acordo com o Mapa Geológico do Estado do Ceará- CPRM (2003), nesse trecho da bacia
afloram três unidades litoestratigráficas: Unidade Canindé e Unidade Independência do Complexo
Ceará (de idade Paleo-proterozóica), e a Formação Barreiras- Indiviso ( de idade Cenozóica)
A área em estudo é formada por três unidades morfoestruturais: os maciços residuais (á área
serrana), o pé-de-serra e a depressão sertaneja (sertão periférico). Os maciços residuais são
definidos por Oliveira (2002) com sendo formas residuais formadas sobre litologias diversas do
complexo cristalino que resistiram aos processos de erosão diferencial, e foram modificando o
relevo das superfícies antigas até dar lugar à sua forma atual.

227
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Ás áreas que margeiam a região serrana, conhecida por pés-de-serra, são ambientes de
transição entre o maciço residual e a depressão sertaneja. Atingem níveis altimétricos entre 200 e
400m, possuem um relevo de forma conservada, formado por depósitos de cobertura de sedimentos
coluvial, colúvio-eluvial ou aluvial, sofrendo manifestações do escoamento superficial difuso. Por
sua vez a depressão sertaneja agrupa todo conjunto de planícies e depressões interplanálticas que se
concentram, em sua maioria, no setor centro-sul dos sertões da região nordestina. Trata-se de
superfícies de erosão desenvolvidas em rochas cristalinas, eventualmente sedimentares, constituídas
por amplos pedimentos de topografia geralmente plana, e que desde a base dos maciços, se
estendem com inclinação suave em direção aos fundos de vale e planície periféricos.
Com relação às condições climáticas, a região apresenta valores máximos mensais no período
de agosto a dezembro, enquanto que o valor mínimo mensal corresponde aos meses de março a
abril. Em média as temperaturas máximas são da ordem de 34º a 36º C, de setembro a dezembro,
enquanto a média das temperaturas mínimas atinge 23º a 24º, após o final da estação chuvosa. O
clima pode ser classificado como do tipo Bshw de Koppen, onde se obtêm índices pluviométricos
compreendidos entre 800 e 1000 milímetros por ano.
De acordo com estudo realizado pela SUDENE (1972), as principais classes de solos da área
são: Argissolos Vermelho-amarelo Eutrófico, Luvissolos, Planossolos, Neossolos Quartzarênicos.
Os principais tipos vegetacionais da área são: Floresta úmida Semi-perenifólia, Floresta Úmida
Semi-Caducifólia, Floresta Caducifólia, Caatinga Arbustiva Densa e Mata Ciliar. (CPRM, 2003).

METODOLOGIA

REFERENCIAL TEÓRICO.

As diferentes formas de relevo presentes na superfície terrestre são oriundas da interação entre
processos tectônicos, pedogenéticos e intempéricos, que atuam de forma diversificada nos
diferentes materiais rochosos. As bacias hidrográficas, como um sistema individualizado, podem ser
consideradas como fontes de dados relevantes para a obtenção de informações sobre a evolução do
modelado da superfície da Terra.
As análises morfométricas em geomorfologia, com a preocupação de mediar às formas de
relevo através de processos sistemáticos e racionais, tiveram grande impulso no final do século
XIX. Esta fase inicial dos estudos morfométricos acabou sendo suplantada pela expansão das novas
concepções geomorfológicas oriundas do continente americano, e por outras tendências
geomorfológicas já existentes na própria Alemanha (HENRI apud CHRISTOFOLETTI, 1969).
Cabe à morfometria, segundo Cooke e Doornkamp (1992) ‘....a mensuração e análise
matemática da configuração as superfície terrestre e da forma e dimensões de sua paisagem”. Tais
autores afirmam que as características morfométricas podem ser usadas na inferência sobre
prováveis efeitos da interferência humana no sistema e nas estimativas das características de um
rio da bacia numa área remota, fundamental ao levantamento de recursos naturais, ou em partes não
monitoradas de áreas já desenvolvidas (RAFAELI NETO ,1994).
Os parâmetros quantitativos em bacias hidrográficas constituem um meio de análise das
condições hidrológicas que, associados a outros elementos de sua estrutura, permitem a
compreensão das dinâmicas naturais e evolução dos fenômenos decorrentes das intervenções
antrópicas.
De acordo com Christofoletti (1980):
Os aspectos morfométricos de bacias hidrográficas refletem algumas das
interrelações mais significativas entre os principais fatores responsáveis pela evolução e
organização do modelado, em particular a geomorfologia. O cálculo de parâmetros
relacionando caracteres espaciais, lineares e hipsométricos da drenagem contribui para
melhor caracterizar as unidades geomorfológicas, evitando a descrição puramente
verbal, cuja qualidade e precisão variam conforme a especialidade redacional do
pesquisador e de acrodo com a conceituação dada à nomenclatura utilizada (p.).

228
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Leal (2000) relata que a análise morfométrica da drenagem tem como objetivo subsidiar o
disciplinamento do uso e ocupação do solo, pois as medidas de controle do escoamento das águas
superficiais, de proteção da vegetação e de controle da erosão têm reflexo na proteção dos recursos
hídricos tanto quantitativa como qualitativamente. A morfometria das bacias de drenagem fornece
indicadores para a compreensão dos recursos hídricos que serão utilizados para a viabilização de um
desenvolvimento sustentável a partir das potencialidades dos recursos naturais existentes na bacia
hidrográfica do rio Pacoti.

PROCEDIMENTOS TÉCNICOS

Os índices adotados neste trabalho são abordados em três itens: hierarquia fluvial, que
abrange basicamente a classificação dos cursos d’água dentro da bacia, a análise linear, envolvendo
ás medições efetuadas ao longo das linhas de escoamento (comprimento do rio principal) e análise
areal, que corresponde ás medições planimétricas e lineares (área da bacia no trecho, forma,
densidade de rios e densidade de drenagem). No que se refere a hierarquização dos canais fluviais
foi utilizada a proposta de STRALHER (1952), onde os segmentos de canais formadores, sem
tributários, são denominados de primeira ordem; da confluência de dois canais de primeira ordem
surgem os segmentos de canais de segunda ordem que só recebem afluentes de ordem inferior. Da
confluência de dois segmentos de canais de segunda ordem surgem os segmentos de terceira ordem
que recebem afluentes de ordens inferiores (no caso, segmentos de primeira e segunda ordens).

Figura 01- Os dois casos demonstram o procedimento para


determinar a ordem ou hierarquia das bacias hidrográficas,
conforme Horton (A) e Strahler (B).
Fonte: Christofoletti,1980

Para o cálculo de tais parâmetros foram utilizadas as ferramentas do software GVsig1.1. A


seguir estão destacados os parâmetros utilizados para caracterização morfométrica da área:

229
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Padrão e Forma da bacia


Parâmetro Fórmula Descrição Significado
Lt= comprimento total Os valores elevados
Dd = Lt dos canais. indicam áreas de pouca
Densidade de A infiltração e melhor
Drenagem(Dd) A= área da bacia esculturação dos canais
(Christofoletti, 1968)

Densidade Nt = Nº total de canais Indica a capacidade em


Hidrográfica(Dh) Dh = Nt gerar novos cursos
A A= área da bacia d´água
(Christofoletti,1969)
Coeficiente de Relaciona a bacia a uma
Compacidade (Cc)K= 0,28 P P= Perímetro da área forma circular. Valores
√A próximos da unidade 1,0
A= área da bacia a bacia tende a ser circular
Índice de Ic = 12,57 .A P= Perímetro da área Relaciona a bacia a uma
Circularidade P² forma circular. Valores
A= área da bacia próximos da unidade 1,0
a bacia tende a ser circular
Coeficiente de Indica a área mínima necessária
Manutenção (Cm) Cm= 1 . 100 Dd = Densidade de drenagem. Para existir um metro de canal
Dd de escoamento = a capacidade de
manter cursos perenes.
(Schumm, 1956).
Índice de Lv= comprim. verdadeiro do Indica a tendência do canal
Sinuosidade (Is) Is = Lv canal principal. principal em ser retilíneo e/ou
Lr Lr = comprim. em linha reta tortuoso,transicionais
do canal principal
Extensão do Representa a distância média
Percurso Eps= 1 Dd= Densidade de drenagem. Percorrida pelas águas pluviais
Superficial (Eps) 2Dd (Horton,1945).

Quadro 01: Parâmteros Mofométricos utilizados na pesquisa


Elaboração:Queiroz,2009.

RESULTADOS

Para este trecho da bacia foram encontrados os seguintes resultados: a área da bacia, no trecho
é 247,61 km² e o perímetro 84,13km. O comprimento verdadeiro (projeção ortogonal) do rio
principal é da ordem de 30,18 km ,e a distância vetorial que representa o comprimento em linha
reta entre os dois pontos extremos do canal é da ordem de 25,55 km. No que abrange a hierarquia
fluvial foram identificados um total de 54 canais com um comprimento total de 140 km. Desses 54
canais, 42 segmentos são de1ª ordem, 9 de 2ª ordem, 2 de 3ª ordem, e 1 de 4ª ordem. Os segmentos
de primeira ordem possuem 81,7 km ,os de segunda 26.5km ,os de terceira 19,5 km ,e o de quarta
ordem 12,3km. Obteve-se que os canais de primeira ordem têm comprimento médio em torno de
1,94 km, os de segunda ordem 2,94 km , os de terceira 9,75 km e o de quarta ordem 12,3 km..
Segundo Christofolleti (1980), no sistema de ordenação de Strahler (1952), verifica-se que o
resultado obtido na relação de bifurcação nunca pode ser inferior a 2, sendo que valores padrão,

230
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

variam entre 3 a 5. Nesse trecho da bacia a relação variou de 2 a 4,6, tendo uma média de 3,72
,sendo considerado um canal normal.

Figura 02: Mapa de Hierarquização Fluvial.

A densidade de rios é de 0,21 rios/km² e a densidade de Drenagem foi de 0,56 km/km², De


acordo com Villela e Mattos (1975), esse índice pode variar de 0,5 km/km2 em bacias com
drenagem pobre a 3,5 km/km2, ou mais, em bacias bem drenadas, indicando, assim, que o trecho em
estudo possui média capacidade de drenagem. Quando o valor de (Dd) é superior ao (Dr), reflete
um acentuado controle estrutural, alongando o comprimento dos canais, o que reflete num menor
número de canais, no entanto, com comprimento mais elevado.
Foi determinado o Coeficiente de Manutenção, que indica a área mínima necessária para
existir um metro de canal de escoamento, ou seja, indica a capacidade de manter cursos perenes.
SCHUMM apud LANA (2001) destacam este índice como um dos valores numéricos mais
importantes para a caracterização do sistema de drenagem, limitando sua área mínima necessária
para o desenvolvimento de um canal. Para a área o Coeficiente de Manutenção é de 1785 m²/m,
sendo área mínima necessária para a manutenção de um metro de canal de escoamento nesse trecho
da bacia.
Um terceiro índice analisado refere-se a Extensão do Percurso Superficial, (Eps),que
representa a distância média percorrida pelas enxurradas entre o interflúvio e o canal permanente
(HORTON, 1945). O valor obtido pela determinação da extensão do percurso superficial é similar,
quanto à interpretação, ao coeficiente de manutenção. Na área esse índice é em torno de 892,8 m de
extensão. Segundo Rocha (1997), em termos ambientais, a determinação deste parâmetro é de
fundamental importância, podendo ser relacionado ao indicativo de erosão. Dessa maneira, quanto
maior o resultado, mais forte é a predisposição à erosão, e vice-versa, pois o sistema está buscando
ajustamento às condições naturais.
De acordo com Lima (1968), a forma geométrica de uma bacia hidrográfica está diretamente
ligada a interação de fatores fisicos-ambientais como clima e geologia. Em geral, é representada em
plano semelhante a uma pera, em razão do alargamento dos interflúvios,com direcionamento da

231
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

rede de drenagem para o exultório comum, onde se verifica o afunilamento,mas,em qualquer


situação, a bacia hidrográfica é côncava determinando o direcionamento geral do fluxo.
A interpretação visual da geometria de bacias hidrográficas é muito subjetiva. Nesse sentido
foram elaborados uma série de parâmetros morfométricos com propostas de processos diferentes
para a caracterização da forma de uma bacia hidrográfica, por meios quantitativos, dentre eles:
Fator de forma (Ff) , índice de circularidade (Ic), e o Coeficente de Compacidade (Kc). Por esta
razão, neste estudo, foram aplicados os dois últimos parâmetros (Ic e Kc), na perspectiva de atenuar
tal subjetividade.
A mensuração da forma de bacias hidrográficas conforme o procedimento estabelecido por
D.R. Lee e T. Salle. No exemplo abaixo, o valor do índice para o circulo é de 0,313; de 0,367 para o
retângulo e de 0,22 para o triângulo.

Figura 03: Formas Geométricas de Bacias Hidrográficas.

Fonte: Christofoletti,1980

Tanto o Coeficiente de Compacidade (Kc) como o índice de Circularidade (Ic) relaciona a


forma da bacia com um círculo. Constitui a relação entre o perímetro da bacia e a circunferência de
um círculo de área igual à da bacia. De acordo com Villela e Mattos (1975), esse coeficiente é um
número adimensional que varia com a forma da bacia, independentemente de seu tamanho.

Quanto mais irregular for a bacia, maior será o coeficiente de compacidade. Um coeficiente
mínimo igual à unidade corresponderia a uma bacia circular e, para uma bacia alongada, seu valor é
significativamente superior a 1. Uma bacia será mais suscetível a enchentes mais acentuadas
quando seu Kc for mais próximo da unidade. Já um índice de circularidade igual a 0,51 representa
um nível moderado de escoamento; maior que 0,51 indica que essa bacia tende a circular; menor
que 0,51 a bacia tende a ser mais alongada , o que favorece um maior escoamento.
De acordo com os resultado obtidos (Kc = 1,50 e Ic = 0,43 ), pode-se afirmar que esse trecho
da bacia hidrográfica do rio Pacoti mostra-se pouco suscetível a enchentes em condições normais de
precipitação (ou seja, excluindo-se eventos de intensidades anormais) pelo fato de o coeficiente de
compacidade apresentar o valor acima da unidade e o índice de circularidade ser menor que 0,51.
Assim, há uma indicação de que a bacia não possui forma circular, possuindo, portanto, uma
tendência de forma alongada. De um modo geral numa bacia alongada com Ic e Kc que se distância
da unidade, os tributários atingem o curso d’água principal em vários pontos ao longo do mesmo.
Em bacias com forma circular, há maiores possibilidades de chuvas intensas ocorrerem
simultaneamente em toda a sua extensão, concentrando grande volume de água no tributário
principal
Entende-se ainda que, em condições naturais de equilibrio hidrológico, esse trecho da bacia
do Pacoti, ao apresentar a forma irregular, favorece a movimentação mais lenta para os fluxos, e
dessa maneira aumenta o tempo de formação para o deflúvio. Enquanto que na forma regular,
ocorre de maneira mais rápida com deflúvio.

232
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Por fim foi calculado o Índice de Sinuosidade (Is), que determina a tendência do canal
principal do rio em ser retilíneo, sinuoso ou transicional De acordo com Schumm (1952), valores
próximos a 1,0 indicam que o canal tende a ser retilíneo, já valores superiores a 2,0, indicam que os
canais tendem a ser tortuosos e os valores intermediários indicam formas transicionais, regulares e
irregulares. A sinuosidade dos canais é influenciada pela carga de sedimentos, pela característica
litológica, estrutura geológica e pela declividade dos mesmos (LANNA,2001) . Para Schumm apud
Cunha e Guerra (1996), as diferentes sinuosidades dos canais são determinadas muito mais pelo
tipo de carga detrítica do que pela descarga fluvial. O índice de sinuosidade encontrado para a área
foi de 1,18 (adimensional). Este valor informa que o canal principal da bacia tende a ser transicional
entre canais sinuosos e retilíneos.

REFERÊNCIAS

CPRM- ATLAS DIGITAL DO ESTADO DO CEARA- 2003.


HORTON, R.E. Erosional development of streams and their drainage basians: hidrophysical
approach to quantitative morphology. Geol. Soc. America Bulletin,1945.
LANA,C.E; ALVES,J.M. de P; CASTRO, P.T.A. Análise Morfométrica da Bacia do Rio do
Tanque, MG-BRASIL.REM. Ouro Preto- MG,2001.
LIMA,W.P. Príncipios de Hidrologia Florestal para o Manejo de Bacias Hidrográficas. São
Paulo: Universidade de São Paulo.1986.242p.
OLIVEIRA,V.P.V.de. Prospección, Caracterización y cartografia edafopaisajística em uma
región montañosa del semiárido brasileño: la Sierra de Uruburetama (Sertão Nordestino- Ceará-
Brasil). Almería: Universidad de Almería,2002 (Tese de Doutorado).
ROCHA,J.S.M. Manual de Projetos Ambientais. Santa Maria:Imprensa Universitária,1997.423p.
SCHUMM,S.A. Evolution of drainage systems and slopes in badlands of Perth Amboy. Bulletin
of Geological Society of America, n.67,1956.
STRAHLER, A. N. Hypsometric (area-altitude) analysis of erosional topography. Geol. Soc.
America Bulletin,19520
SUDENE, Mapa Exploratório. Reconhecimento de Solos do Estado do Ceará. Recife, 1972.
VILLELA,S.M.; MATTOS, A. Hidrologia Aplicada. São Paulo,ed. Mcgraw- Hill do Brasil,1975.

233
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

CONDIÇÕES DE USO E OCUPAÇÃO E DEGRADAÇÃO AMBIENTAL DO RIO


APODI/MOSSORÓ NO TRECHO URBANO DA CIDADE DE MOSSORÓ - RN

Rodrigo Guimarães de Carvalho


Departamento de Gestão Ambiental da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte/UERN, Mossoró (RN) – Brasil
rodrigo.ufc@gmail.com

RESUMO
Os recursos hídricos existentes em áreas urbanas no Brasil, em sua maioria, têm sido
progressivamente degradados em função de atividades de uso e ocupação de alto impacto ambiental
que se desenvolvem à revelia de qualquer planejamento ou fiscalização por parte do poder público.
A cidade de Mossoró, no estado do Rio Grande do Norte, tem apresentado uma significativa
expansão de sua área urbana nos últimos anos, alavancada sobretudo pelo incremento de atividades
econômicas como a produção de petróleo e de sal marinho. O rio Apodi-Mossoró, no trecho que
corta a área urbana de Mossoró, apresenta um grave quadro de degradação ambiental, objeto de
análise da presente pesquisa. Através de fotointerpretação de imagens aéreas e visitas de campo foi
possível compartimentar as atividades de uso e ocupação do solo em três tipos: a zona de uso pouco
adensado, a zona de ocupação urbana adensada e a zona de intenso uso agrícola. Entre os processos
de degradação ambiental identificados, merecem destaque a ploriferação da espécie Prosopis
juliflora, a supressão da vegetação para diversos usos, o uso e ocupação de APPs, a descarga de
esgoto doméstico no leito do rio e o despejo de resíduos sólidos no rio e em suas margens.

Palavras chave: recursos hídricos; áreas urbanas; uso e ocupação do solo; rio Apodi-Mossoró.

INTRODUÇÃO

O aumento significativo da população urbana no Brasil a partir de 1940 e o forte crescimento


do parque industrial, a partir da década de 50, foram acompanhados da ocupação de áreas sem infra-
estrutura de saneamento básico, o que contribuiu para a rápida degradação da qualidade das águas
(BOTELHO; DA SILVA, 2004). Fatores como a degradação das áreas de preservação permanente,
ocupação de áreas de várzea para a produção agrícola e a falta de saneamento com descarga de
efluentes in natura em cursos d’água, fazem das atividades humanas as principais promotoras de
degradação dos recursos hídricos a despeito de todo arcabouço legal existente no Brasil com intuito
de manter a integridade ecológica desse importante componente ambiental e dos ecossistemas
associados.
Para Tucci (2006), com o crescimento populacional, fatores como a poluição doméstica e
industrial se agravam, alterando a qualidade ambiental e propiciando o desenvolvimento de doenças
de veiculação hídrica, a contaminação da água subterrânea, entre outros problemas. Esse processo
mostrou que o desenvolvimento urbano sem qualquer planejamento ambiental resulta em prejuízos
significativos para a sociedade.
A bacia hidrográfica do rio Apodi/Mossoró, encravada no semi-árido nordestino é a maior
bacia e única inteiramente situada dentro dos limites do estado do Rio Grande do Norte ocupando
26% deste território. As nascentes do rio estão nas serras próximas do município de Luís Gomes, no
alto oeste potiguar, a uma altitude de 831 m aproximadamente, na região da Serra de São José,
Parati e Serra Negra. Possui uma extensão de 210 km até sua foz, no Oceano Atlântico, em forma
de estuário (IDEMA, 2008).
O município de Mossoró conta com uma população de 234.390 habitantes e área de 2110 Km
quadrados (IBGE, 2007). A cidade vem passando por um momento singular com crescimento
virtuoso, alavancado em grande parte pelo aumento da produção de petróleo. No entanto, Mossoró,

234
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

do ponto de vista econômico, é bem mais diversificada, com atividades ligadas ao setor salineiro,
fruticultura irrigada, comércio e serviços. Esse crescimento tem um reflexo direto na expansão da
área urbana com a construção de novas estruturas, verticalização e ocupação de áreas de risco pela
população de baixa renda.
A cidade tem sua área urbana seccionada pelo Rio Apodi-Mossoró. Nesse setor, podem ser
observados vários problemas ambientais com impacto direto à qualidade ambiental do rio como o
desmatamento e ocupação das áreas de preservação permanente regulamentadas pela resolução
CONAMA 303 de 2002, existência de diversos barramentos muitas vezes construídos pela própria
população e a descarga direta de efluentes urbanos. Sazonalmente, no período de maior
pluviosidade, são comuns as inundações das áreas marginais atingindo vários equipamentos
urbanos, desalojando famílias e mais uma série de transtornos para a população de Mossoró. Tucci
(op cit.) considera que as enchentes em áreas urbanas são devidas a dois processos, que ocorrem
isoladamente ou de forma integrada: enchentes devido à urbanização, que é provocada devido a
ocupação do solo com superfícies impermeáveis e redes de condutos de escoamento; enchentes em
áreas ribeirinhas, que são enchentes naturais que atingem a população que ocupa o leito maior dos
rios.
O rio Apodi-Mossoró, no trecho que drena a área urbana do município, sofreu intervenções
para a alteração do seu curso natural, sendo construídos canais artificiais. Um canal maior, chamado
de Canal Dix-Huit Rosado, construído em 1976 e outro menor, denominado Canal de
Tricotomização, construído em 1986. Além desses canais de desvio do leito principal, o rio possui
um sistema de quatro micro-barramentos sucessivos que controlam a vazão da água, principalmente
durante o período de baixa pluviosidade, que são: barragem do Genésio, barragem do Centro,
barragem de Baixo ou das Barrocas e barragem Passagem de Pedras (VARELA, 2008).
Considerando todas essas intervenções antrópicas sobre o rio e as atividades de uso e
ocupação do solo, a presente pesquisa teve como objetivo geral avaliar os processos de degradação
ambiental impulsionados pelo uso e ocupação desordenados do rio Apodi-Mossoró no trecho
urbano da cidade de Mossoró. Foram objetivos específicos:

- Avaliar os diferentes tipos de uso e ocupação desenvolvidos na planície fluvial;


- Elaborar um mapa de compartimentação do uso e ocupação do solo;
- Descrever os processos de degradação ambiental instalados;
- Analisar o estado de conservação das áreas de preservação permanentes;

LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A área geográfica a ser estudada corresponde à planície fluvial do rio Apodi-Mossoró, no


trecho em que este secciona o núcleo urbano da cidade de Mossoró no estado do Rio Grande do
Norte. A área delimitada para o estudo tem aproximadamente 3.000 ha com um perímetro de 29
km. Já a área urbana total possui 14.700 ha com um perímetro de 47 km. A área pode ser
visualizada na figura 1.

235
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 1 – Localização da área de estudo

METODOLOGIA

Esta pesquisa, de acordo com os parâmetros estabelecidos em Gil (2002), pode ser
considerada como descritiva. Buscou-se alcançar os objetivos propostos por meio de técnicas de
interpretação de imagens aéreas associadas a visitas de campo. A cartografia digital também
auxiliou na sistematização dos resultados possibilitando mensurações territoriais e a construção de
mapa temático.

ROTEIRO METODOLÓGICO

Para o alcance dos objetivos foram seguidas as seguintes etapas operacionais:

• Levantamento bibliográfico, onde foram consultados livros, trabalhos científicos como


dissertações e teses, periódicos e demais produções científicas relacionadas à temática.
• Investigação documental, com a coleta de documentos na Gerencia Municipal de Gestão
Ambiental de Mossoró acerca de dados sobre a área estudada como mapas, quantidade e
distribuição de habitações e o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano;
• Análise de fotografias aéreas de 2005 disponibilizadas pela Prefeitura Municipal de
Mossoró. A fotointerpretação gerou informações acerca dos limites da área a ser estudada,
estrutura da cobertura vegetal e condições de uso e ocupação das margens.
• Etapa de campo para a visualização das condições ambientais in loco. Foi utilizada uma
caderneta para anotações e máquina fotográfica digital para a tomada de imagens de
interesse desta pesquisa.
• Etapa de gabinete onde foram trabalhados os dados coletados, estruturados os mapas e
redigido o relatório final desta pesquisa.
236
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NA PLANÍCIE FLUVIAL

A planície fluvial do trecho urbano da cidade de Mossoró apresenta um uso e ocupação


diversificado, apresentando atividades relacionadas a agricultura, extrativismo, ocupação urbana,
pastagem de rebanhos, entre outras. A partir da análise das fotografias aéreas e de checagens de
campo, foi possível estabelecer critérios para o agrupamento de determinadas atividades e
delimitação de zonas de uso e ocupação do solo. Foram definidas três grandes áreas de uso e
ocupação: a zona de uso pouco adensado, a zona de ocupação urbana adensada e a zona de intenso
uso agrícola (FIGURA 2).

Figura 2 – Uso e ocupação na planície fluvial do rio Apodi-Mossoró


Fonte: Elaboração própria

237
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

A área territorial das zonas é mostrada na tabela 1:

Tabela 1 – Área territorial das zonas


Zona Tamanho aproximado em
hectares
Zona de uso pouco adensado 1190
Zona de ocupação urbana adensada 732
Zona de intenso uso agrícola 1153
Fonte: Elaboração própria

A zona de uso pouco adensado possui mínimas edificações em seu perímetro. Apresenta
algumas lagoas isoladas residuais dos períodos de maior pluviometria e maior vazão do rio, quando
este extravasa seus limites marginais atingindo áreas de inundação sazonal. Dentro dessa zona está
situada a Ilha da Coroa, mais ao sul, que apresenta um contexto de uso e ocupação de subsistência.
A população que mora no entorno costuma acessar a ilha por meio de pontes de pedra que são
construídas durante os períodos de baixa pluviometria e destruídas quando do aumento da vazão do
rio. Outras formas de acesso são por meio de barcos ou até mesmo a nado. Varela (2008)
pesquisando sobre o uso e ocupação dessa ilha constatou um uso agrícola de baixo impacto, uso
para pastagem de gado e rebanho suíno, extração de areia e o que provoca mais impacto que é a
extração de madeira para diversos fins. As áreas de preservação permanente encontram-se bastante
degradadas e, em muitos trechos, com predomínio da Prosopis juliflora, conhecida popularmente
como algaroba, uma espécie invasora que se adaptou muito bem a região. Nesta zona também são
encontrados os maiores remanescentes da Copernicia prunifera, conhecida tradicionalmente como
carnaúba, vegetação que ocupa normalmente as margens inundáveis das bacias hidrográficas
inseridas no bioma caatinga (FIGURA 3).

Figura 3 – Aspectos da zona de uso pouco adensado. Foto do autor, 2008.

Dentro do contexto de uso e ocupação de toda a planície fluvial da zona urbana de Mossoró, é
nesta área que se encontra a maior potencialidade para a conservação a partir da implementação de
instrumentos de gestão ambiental como a criação de unidades de conservação, recuperação
ambiental e paisagística, manejo agrícola de subsistência, entre outros.
Na zona de ocupação urbana adensada encontramos a situação de maior degradação ambiental
com a supressão quase que total da vegetação natural e vasta degradação das áreas de preservação
permanente. Entre os principais problemas ambientais podemos citar o lançamento, através de
238
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

galerias subterrâneas, de esgoto in natura diretamente no leito do rio e o despejo de resíduos sólidos
de diversas naturezas no leito e nas margens (FIGURA 4).

Figura 4 – Poluição no leito e margens da zona de ocupação urbana adensada. Foto do autor, 2008.

Outro ponto importante que deve ser abordado é que parte da população que está inserida
nessa zona tem sofrido de forma recorrente com as inundações gerando problemas sociais e
ambientais. Das três zonas consideradas nesse estudo, esta é certamente, a mais problemática e que
precisa de mais investimentos para a recuperação. Entre as medidas que devem ser adotadas estão o
saneamento ambiental, retiradas de edificações das faixas de preservação permanente e recuperação
da mata ciliar.
A zona de intenso uso agrícola está situada em uma área relativamente distante da ocupação
urbana. As atividades agrícolas são favorecidas pela existência de neossolos flúvicos com boa
fertilidade natural. A vegetação de porte arbóreo e arbustiva foi quase que completamente
suprimida para dar lugar às culturas, sobrando apenas alguns exemplares remanescentes (FIGURA
5). A degradação da vegetação natural, principalmente nas áreas de preservação permanente, é um
fator que favorece o transporte de sedimentos para dentro do canal principal aumentando os
problemas de enchentes de uma forma gradativa. Como medidas de contenção dessa degradação
deve haver um controle maior do poder público no sentido de fiscalizar e negociar a recuperação
das matas ciliares. Outro fator preocupante é a possibilidade de uso de fertilizantes que podem
deteriorar a qualidade ambiental da água e provocar impactos para a fauna aquática, bem como,
para as populações que ainda praticam a pesca nesse setor do rio Apodi-Mossoró.
A tabela 2 apresenta uma síntese dos principais processos de degradação ambiental
distribuídos nas três zonas de uso e ocupação consideradas neste trabalho.

239
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 5 – Padrão poligonal das áreas com uso agrícola. Fotografia aérea, 2005.

Tabela 2 – Síntese dos processos de degradação ambiental


ZONA PRINCIPAIS PROCESSOS DE
DEGRADAÇÃO AMBIENTAL
Zona de uso pouco adensado Ploriferação da espécie Prosopis
juliflora;
Supressão da vegetação para diversos
usos;
Uso e ocupação de APPs.
Zona de ocupação urbana Ploriferação da espécie Prosopis
adensada juliflora;
Supressão da vegetação para diversos
usos;
Uso e ocupação de APPs;
Descarga de esgoto doméstico no leito
do rio;
Despejo de resíduos sólidos no rio e
em suas margens;
Microbarramento do curso natural do
rio.
Zona de intenso uso agrícola Supressão da vegetação para uso
agrícola;
Uso e ocupação de APPs;
Risco de contaminação por
fertilizantes e agrotóxicos.
Fonte: Elaboração própria

240
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dentro das três classes de uso e ocupação identificadas nesse trabalho foi constatado elevado
grau de degradação dos recursos naturais. A zona que mais apresenta modificações no sistema
hidroambiental natural em função de intervenções antrópicas é a zona de ocupação urbana
adensada. O comprometimento da qualidade ambiental dos recursos hídricos se dá pela inexistência
de políticas de planejamento e gestão que tragam garantias de conservação das águas e das matas
ciliares, responsáveis por proteger o rio de assoreamentos e de manter o suprimento nutricional da
fauna limnológica. Essa zona é considerada de intervenção urgente com o objetivo de recuperar as
funções ecossistêmicas do rio e associações vegetais. Nas zonas de intenso uso agrícola e de uso
pouco adensado, as intervenções devem ser menos complexas em face da existência de poucas
edificações. Notadamente na zona de uso pouco adensado, são encontradas potencialidades para a
recuperação ambiental e implementação de instrumentos de maior controle do uso e ocupação do
solo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

BOTELHO, R. G. M.; DA SILVA, A. S. Bacia hidrográfica e qualidade ambiental. in: VITTE,


A. C.; GUERRA, A. J. T. Reflexões sobre a geografia física no Brasil.Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2004.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4a Ed. São Paulo: Atlas, 2008.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Disponível em:


http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1. Acesso: 15/11/2008.

IDEMA - Instituto de Desenvolvimento Econômico e do Meio Ambiente. Disponível em:


www.idema.rn.gov.br/perfildoseumunicipio-censo de 2007. Acesso: 15/11/2008.

VARELA, M. C. Viabilidade ambiental para a criação de unidades de conservação na Ilha da


Coroa, Mossoró. Trabalho de conclusão de curso. Curso de Graduação em Gestão Ambiental –
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, 2008.

TUCCI, C. E. M. Água no meio urbano. In: REBOUÇAS, A. da C. et al. Águas doces no Brasil:
capital ecológico, uso e conservação . 3a Ed. São Paulo: Escrituras Editora, 2006.

241
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

TEORES DE ALUMÍNIO TROCÁVEL E PERCENTUAL DE SATURAÇÃO EM UMA


ÁREA INSERIDA NA BACIA COREAÚ

R. N. F. Monteiro
Mestrando em Engenharia Agrícola, Depto. de Engenharia Agrícola, UFC, rayyar19@hotmail.com

A. M. Figueiró
Mestranda em Engenharia Agrícola, Depto. de Engenharia Agrícola, UFC,
drissamendes@hotmail.com
V. da S. Lacerda
Mestranda em Engenharia Agrícola, Depto. de Engenharia Agrícola, UFC,
vivi.esam@hotmail.com

K. N. Leite
Mestranda em Engenharia Agrícola, Depto. de Engenharia Agrícola, UFC,
kellyleite14@hotmail.com

RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo fazer um levantamento do número de amostras e dos teores
de alumínio trocável e percentagem de saturação por alumínio, encontrados em solos analisados
pelo laboratório de análise de solo, água para irrigação e tecido vegetal da FATEC-Sobral, de
Ibiapina - Ceará no ano de 2007. Foram analisadas e avaliadas trinta e nove amostras. Dentre elas
observou-se que em relação ao alumínio trocável (mmolc /dm3) quatro apresentaram valores alto,
entre 13,5 e 10,0, quatro médio, entre 7,5 e 5,5 e as demais baixo com valores entre 4,0 e 0,0, destes
somente quatro não apresentaram alumínio. Em relação a percentagem de saturação por alumínio
(m%), constatou-se que duas amostras apresentaram valores muito alto, 64 e 53, quatro valores
entre 41, e 55, considerado alto, sete entre 12 e 33 considerado médio e os demais baixo, onde em
cinco a percentagem foi zero e os demais variando de 1 a 15. A presença de alumínio trocável no
solo é um fator indesejável ao tratar-se de agricultura tecnificada e todo esforço deve ser aplicado
para que os valores dessa determinação sejam zero.

Palavras-chave: Levantamento de dados, percentagem de saturação, agricultura tecnificada.

INTRODUÇÃO

O teor de alumínio trocável é importante na avaliação da capacidade de troca de cátions


(CTC) dos solos, ou da saturação da CTC efetiva em alumínio. Em algumas regiões do Brasil, o
teor de Al trocável no solo é utilizado como referência para o cálculo da necessidade de calagem
dos solos. Como o alumínio é considerado o cátion predominante da acidez trocável na maioria dos
solos brasileiros, o resultado obtido na titulação do extrato de solo em KCl 1 mol L-1 com NaOH
0,025 mol L-1 é considerado como sendo o teor de Al (EMBRAPA, 1997).
Solos ácidos são comuns em vários partes do mundo, de fato, a toxicidade de Al limita a
produção muito mais que qualquer outro estresse abiótico, exceto a seca. Os solos brasileiros, em
sua maioria, são velhos e intemperizados, apresentando acidez e elevados teores de alumínio, o que

242
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

traz sérios problemas para o desenvolvimento do sistema radicular das plantas, as quais limitam o
aproveitamento da água e nutrientes adicionados ao solo por meio dos fertilizantes.
Para uma agricultura tecnificada, com alta produtividade, é inaceitável a presença de
alumínio trocável no solo. Todo esforço deve ser aplicado para que os valores dessa determinação
sejam zero. Por outro lado, apenas o teor de Al trocável nem sempre e suficiente para caracterizar
sua toxidez para as plantas, pois esta depende também da proporção que o Al ocupa na CTC efetiva.
A tolerância de várias espécies vegetais ao alumínio tem sido atribuída à capacidade das
plantas manterem em suas raízes ou na parte aérea níveis adequados de certos nutrientes essenciais
(Mendonça et al., 2003). A toxicidade provocada pelo alumínio manifesta-se inicialmente pela
redução da taxa de elongação radicular após o contato com a solução contendo alumínio (Custódio
et al., 2002) e drástica redução no crescimento da parte aérea (Beutler et al., 2001).
O município de Ibiapina localiza-se no Estado do Ceará na região serrana do Planalto da
Ibiapaba. A região da Ibiapaba está a norte do Estado do Ceará, abrangendo áreas dos municípios de
Tianguá, Ubajara, Viçosa, Ibiapina, São Benedito, Guaraciaba do Norte, Carnaubal, Croatá e Ipú. O
valor bruto da produção agrícola na região movimenta anualmente cerca de R$ 33 milhões, numa
área de 862 hectares com culturas diversas gerando algo em torno de 1.300 empregos diretos.
Baseado no exposto o presente trabalho teve como objetivo fazer um levantamento do
número de amostras e dos teores de alumínio trocável e percentagem de saturação de alumínio,
encontrados em solos analisados pelo laboratório de análise de solo, água para irrigação e tecido
vegetal da Faculdade de Tecnologia CENTEC - FATEC Sobral, de Ibiapina, município do Planalto
da Ibiapaba - Ceará no ano de 2007.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de análises de solo, água para irrigação e tecido
vegetal da Faculdade de Tecnologia CENTEC – FATEC Sobral. Pretendeu-se avaliar o teor de
alumínio trocável dos solos das amostras enviadas ao laboratório por produtores de hortaliças do
município de Ibiapina em 2007. Foram analisadas e avaliadas trinta e nove amostras.
O método analítico utilizado para determinação do alumínio encontra-se descrito em Silva
(1999) e a classificação para os teores de alumínio trocável foram os indicados no Manual de
Recomendação de Adubação e Calagem para o Estado do Ceará (Fernandes 1993). Para o teor de
saturação por alumínio (m%) a classificação deu-se pelo Manual para Interpretação de Análise de
Solo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tabela a seguir mostra a distribuição dos valores de alumínio trocável e o percentual da


saturação do Al, classificando em não prejudicial, levemente prejudicial, prejudicial e muito
prejudicial. De acordo com esses parâmetros encontram-se os resultados alcançados.
Tabela 1 - Interpretação dos valores de alumínio trocável e m%.
Classificação
Determinação Unidade
Baixo Médio Alto Muito Alto
mmolc/dm³ 0-5 06-10 >10
Alumínio
Trocável m 0-15 (não 16-35 (levemente 35-50 > 50 (muito
%
prejudicial) prejudicial) (prejudicial) prejudicial)
Fonte: Tomé Jr., 1997.

243
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Conforme a Figura 2, das trinta e nove amostras avaliadas observou-se que em relação ao
alumínio trocável (mmolc /dm3) quatro apresentaram valores alto, entre 13,5 e 10,0, quatro médio,
entre 7,5 e 5,5 e as demais baixo com valores entre 4,0 e 0,0, destes somente quatro não
apresentaram alumínio. Dos pontos de Al trocável 10% foram classificados em alto e médio e 80%
foi considerado baixo.
Foram detectados valores nulos de Al trocável nos solos analisados. Segundo Pavan (1983) e
Alcântara (1997) esse fato ocorre provavelmente devido aos valores de pH, reduzindo a
solubilidade de Al, e também pela provável reação de complexação de Al com compostos
orgânicos.
A solubilidade do alumínio no solo e, conseqüentemente, sua toxidez são influenciadas por
diversos fatores, incluindo o pH, tipo de argila predominante, concentração de sais na solução e teor
de matéria orgânica do solo. Solos com toxidez de alumínio representam altos índices de Al
trocável, recomenda-se o processo da calagem onde é feita com base em indicadores de acidez do
solo e na resposta das culturas à elevação de pH.

Figura 2 - Valores dos teores de alumínio trocável e percentagem de saturação por alumínio.

Em relação a percentagem de saturação por alumínio (m%) apresentados na mesma figura,


constatou-se que duas amostras apresentaram valores muito alto, 64 e 53, quatro valores entre 41, e
55, considerado alto, sete entre 12 e 33 considerado médio e os demais baixo, onde em cinco a
percentagem foi zero e os demais variando de 1 a 15. Sousa et al 2005, estudou 149 amostras
enviadas para analise desta região e observou que apenas 1,4% apresentavam valores altos de
Alumínio trocável. Do percentual de saturação por alumínio foi considerado 5% muito alto, 10%
alto, 18% médio e 67% baixo.
Foy (1974) relata que, em solução nutritiva, baixas concentrações de alumínio (0,25 a 0,30
-1
mg L ) estimularam o crescimento de milho. Os mecanismos pelos quais pequenas quantidades de
alumínio beneficiam o crescimento das plantas ainda não são bem claros, e pode ser diferente para
cada cultivo e para cada meio de crescimento.
A determinação do teor de Al é importante na avaliação da capacidade de troca de cátions
(CTC) dos solos, ou da saturação da CTC efetiva em alumínio. Quanto ao alumínio (Al), os valores
toleráveis para que não ocorra, ou favoreça a acidez do solo, são da ordem de 0,50 mmolc/dm3. Na
análise constatou-se valores acima e abaixo dessa ordem, demonstrando que, em relação a esse
elemento químico, não foi necessário delinear qualquer alteração no teor observado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos resultados obtidos com os solos em condições de estudo aqui apresentados, pode-
se concluir que a presença de alumínio trocável no solo é um fator indesejável ao tratar-se de

244
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

agricultura tecnificada e todo esforço deve ser aplicado para que os valores dessa determinação
sejam zero.
A partir destas observações deve-se procurar estudar as causas que estão contribuindo para o
aumento crescente do número de amostras com teores de alumínio acima de 0,5, na da Ibiapaba.

REFERÊNCIAS

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Guaíba-RS, 1997, 247p.

245
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

MESSEJANA: UMA DISCUSSÃO DOS PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS

Raimundo Rodrigues dos Santos Júnior


Graduando em Geografia – UECE, rodriguesjuniorgeo@yahoo.com.br
Paulo Roberto Silva Pessoa
Prof. Msc. Geografia – UECE, paulorpessoa@gmail.com
Aurilea Bessa Alves
Mestre em Geografia – UECE, leabessa@yahoo.com.br

RESUMO
Este estudo trata de uma análise atual sobre os principais mecanismos de impacto socioambientais
que atingem a Lagoa de Messejana e sua área adjacente, considerando também o crescimento
urbano que possibilitou a reestruturação socioespacial do local. A área está localizada na região
sudeste de Fortaleza e possui grande valor histórico, social e econômico, afirmando-se como um
bairro que concentra atividades econômicas importantes em ascensão neste setor da cidade de
Fortaleza. Esta análise busca apontar e compreender as principais causas da degradação
socioambiental e analisar o grau de comprometimento na área. Como referencias teóricas deve-se
destacar a análise de outros autores, a partir das definições de ambientes e vulnerabilidade
ambiental como as propostas por SOUZA (2000), estudos sobre a qualidade de vida da população e
meio ambiente de MENDONÇA (2005), os impactos ambientais urbanos abordados nos estudos de
GUERRA & CUNHA (2001) e a história do bairro relatada por AMARAL (1996), além da
discussão de MOTA (2006), sobre avaliação e quantificação de impactos. A pesquisa bibliográfica
foi construída com assuntos relativos ao tema, posteriormente realizaram-se análises dos impactos
no campo, complementadas por comparações e classificações obtidas através do estudo de registros
fotográficos e fotografias aéreas. O trabalho mostrou claramente que no bairro a falta de infra-
estrutura contribui fortemente na forma e organização espacial dos usos no entorno da lagoa, o que
associado ao processo de ocupação imobiliário recente, que se consolidou nos últimos 20 anos, são
os principais fatores que contribuíram para a ocorrência e agravamento de uma série de impactos
identificados. A essa condição deve ser somado também o pouco envolvimento da comunidade que
culmina com e desconhecimento e falta de cobrança de políticas públicas e ambientais corretas e
adequadas neste setor da cidade de Fortaleza, o que evidencia que grande parte do bairro encontra-
se em estado de comprometimento elevado.
P
Palavras- chave: Messejana, organização socioespacial, problemas ambientais

INTRODUÇÃO
O bairro Messejana está situado na porção sudeste de Fortaleza, no início de sua ocupação
era marcado por áreas de grande recobrimento vegetacional em virtude da elevada quantidade de
sítios e chácaras encontrados no local. O ambiente natural abrigava ainda, importantes corpos
lacustres como identifica AMARAL (1996), que podiam proporcionar abastecimento humano,
animal e recreação. Com o passar do tempo sua condição espacial sofreu várias transformações e o
bairro foi se reestruturando socioespacialmente.
O desenvolvimento urbano ao longo dos anos além de benefícios sociais e econômicos
trouxe uma grande quantidade de impactos, estes por sua vez foram se intensificando, e a
diversidade de uso do território se consolidando.
SOUZA (2000) destaca que certos ambientes são muito vulneráveis ao uso e a ocupação
antrópica. No caso particular de Messejana, o desequilíbrio socioambiental atingiu de forma grave
vários locais no bairro.

246
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

À medida que a urbanização foi se afirmando, Messejana sofreu e ainda sofre com o
descaso, desconhecimento, descumprimento e/ou com a omissão da legislação ambiental. Um dos
maiores problemas diz respeito à infra-estrutura no caso precária, estes são problemas encontrados
freqüentemente em espaços urbanos brasileiros relatados nos trabalhos de GUERRA & CUNHA
(2001).

METODOLOGIA
A pesquisa trata do estudo de caso do bairro Messejana a partir dos principais impactos
socioambientais ocorridos no local em decorrência do crescimento urbano, dentro de uma análise
atual. Os procedimentos metodológicos da pesquisa foram feitos considerando um levantamento
bibliográfico inicial, mas que encontra-se presente em todas as fases da pesquisa, além dos estudos
realizados a partir das incursões de campo, considerando também a análise de fotografias aéreas.
Com o auxilio dos referenciais bibliográficos adotados passou-se a identificar e delimitar
melhor os objetivos a alcançar na pesquisa, cabendo referências a SOUZA et al.(2000) que
demonstra os critérios de definição das categorias ambientais e da tipologia da vulnerabilidade
ambiental, cabendo adequações para atender os objetivos. Em MENDONÇA (2005), buscou-se as
devidas contribuições sobre os estudos ambientais e os casos da qualidade de vida da população.
GUERRA & CUNHA (2001) e MOTA (2006), como referencia aos estudos dos impactos
ambientais urbanos no Brasil. AMARAL (1996), contando de maneira didática a história do bairro
Messejana e QUINTILIANO & LIMA (2008), descrevendo a reestruturação socioespacial do
estado do Ceará.
As verificações em campo possibilitaram identificar, descrever, registrar com fotografias e
comparar as áreas mais vulneráveis e degradadas, auxiliando na compreensão sobre a temática
abordada, a identificação dos principais causadores dos impactos, relacionando com a qualidade de
vida da população e a segregação social presente no cotidiano do espaço local.
Foram utilizadas fotografias aéreas multitemporais (Figura, 01), para facilitar a identificação
dos ambientes degradados, para uma comparação com a atualidade apontando o processo de
reestruturação socioespacial do bairro. Diante desta condição os dados coletados foram
organizados, comparados e sistematizados para favorecer o desenvolvimento e a compreensão do
objeto em estudo. Por fim, ocorreram análises detalhadas das fotografias aéreas para identificar e
evidenciar as principais modificações presentes atualmente no bairro.

Figura 01 – Fotografia aérea do bairro Messejana

247
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
A partir da metodologia empregada até esta etapa da realização da pesquisa, pode-se apontar
os seguintes resultados e elementos de discussão:
O rápido crescimento urbano sem planejamento adequado, acompanhado pela falta de infra-
estrutura física e social em Messejana torna evidente as precárias condições e quase inexistência de
saneamento básico. Este problema atua como veículo no comprometimento dos recursos hídricos,
acúmulo de lixo, aterramento de uma parcela importante da lagoa e o aumento do processo de
favelização, como exemplos de grandes favelas no bairro: a favela do Pau do gato, Pôr do Sol,
Mangueira, São Miguel, dentre outras;
Contraditoriamente, a procura por lucros desperta o interesse de grandes investidores no
ramo de imóveis, reforçando a especulação imobiliária, fato notado no local em foco. Por
conseqüência da valorização do bairro, com construção de obras civis, como apartamentos,
condomínios, casas, mercados, lojas e outras atividades comerciais, houve a necessidade de retirada
da cobertura vegetal, ocasionando o desmatamento e em alguns casos o desrespeito à legislação
ambiental, impactando e gerando a desapropriação de famílias carentes que já habitavam o local.
Esta condição é percebida na leitura de CARLOS (1999), quando afirma que:
“As necessidades da sociedade estão relacionadas com a capacidade de
produção da sociedade pois a relação que se estabelece entre o homem e o
meio é mediada pelo processo do trabalho, através do qual a sociedade produz
o espaço no momento em que produz sua própria existência”.

Contudo os problemas socioambientais das grandes cidades atingem muito mais as classes
sociais de menor poder aquisitivo, de vez que estas se instalam, muitas vezes, em locais com
condições precárias e insalubres com falta de saneamento, segurança e planejamento, já que as de
maior poder aquisitivo podem usufruir de áreas mais seguras e melhor estruturadas. A área objeto
deste trabalho não está fora desta discussão, ao contrário, é palco de todas estas questões
construindo a dialética do contraditório urbano e ambiental.
Assim, as alterações no ambiente como o empobrecimento da qualidade da água, (figura 02),
o desmatamento indiscriminado e a poluição, representam problemas ambientas comuns na
atualidade, observados e discutidos também na leitura de MENDONÇA (2005) que afirma:
“Essa degradação têm comprometido a qualidade de vida da população de
várias maneiras, sendo mais perceptível na alteração da qualidade da água e
do ar, nos “acidentes” ecológicos ligados ao desmatamento, queimadas,
poluição marinha, lacustre, fluvial e morte de inúmeras espécies animais que
hoje se encontram em extinção”.
Os variados impactos sobre os recursos hídricos (lagoas e afluentes) como poluição e
contaminação da água, podem contribuir para a proliferação de doenças de veiculação hídrica no
local. Estes problemas são decorrentes, muitas vezes, da grande quantidade de esgotos clandestinos
que deságuam na Lagoa e em seus afluentes e da falta de políticas que orientem e eduquem a
população que esta mais diretamente associada à área.

248
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 02 - Riacho Canaã, uma das fontes de recarga da Lagoa de Messejana


Fonte: Junior (2009)

Para ALVES (2008) essas modificações da natureza estão relacionadas às formas de uso do
solo no caos o urbano, quando afirma que:
“a velocidade de transformação da natureza varia na medida em que se
processam os diversos tipos de usos, e quando considerada a atuação do
homem com a satisfação das necessidades individuais e coletivas, constata-se
que os efeitos se traduzem em modificações da paisagem”.

Em Messejana percebe-se um estado de desorganização socioespacial, onde se verifica que


as formas contribuem negativamente de maneira a comprometer a estrutura socioambiental do
bairro. Como retrato desta condição, verifica-se que a lagoa de Messejana é bordejada por um
calçadão, onde existe uma praça e uma estátua da personagem Iracema do escritor José de Alencar,
ambos construídos pela prefeitura com o intuito de promover o turismo e o lazer, entretanto, este
equipamento a exemplo de outros encontra-se em total abandono, impossibilitando o caráter
turístico e de lazer proposto inicialmente.
É fato que somente a compreensão do ambiente como elemento intrínseco a vida e as
atividades do homem, pode levar ao zelo deste também nos ambientes urbanos, como destaca
MOTA (2006), quando afirma que:
“O surgimento de problemas ambientas graves, com reflexos sobre o próprio
homem, levou-o a procurar compreender (...) e a entender que deve agir como
parte integrante do sistema natural”.

Diante disso, reflexões sobre este estado atual, considerando as condições de uso, podem
indicar ações no sentido de mitigar estes impactos ambientais, podendo ser apontadas algumas
ações principais, temporais e de reorganização espacial com baixo custo e que envolvam de certo
modo a comunidade local. São elas:
Ações de curto prazo:
- Limpeza do bairro com poda de árvores e limpeza de terrenos baldios;
- Coleta seletiva de lixo;
- Manutenção de áreas verdes como Áreas de Preservação Permanente (APP);
- Palestras com sensibilização para ações de educação ambiental e cidadania.

Ações de médio prazo:


- Revitalização da Lagoa;
- Reordenamento da área urbana;
- Restauração e arborização das ruas mais degradas;

249
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

- Revitalização e manutenção dos principais pontos turísticos, implementando segurança e estrutura


adequada.

Ações de longo prazo:


- Despoluição dos corpos hídricos;
- Implantação de infra-estrutura sanitária;
- Construção de centros que promovam cursos de educação ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo possibilitou o conhecimento de vários pontos dentro da área estudada, pontos estes
que se encontram comprometidos devido aos fortes impactos socioambientais existentes no espaço
do bairro Messejana.
A análise dos resultados nos permite concluir que:
- O bairro encontra-se altamente impactado em decorrência do crescimento urbano
desordenado;
- Os recursos hídricos (lagoa e afluentes) estão poluídos e contaminados e há a proliferação
de doenças de veiculação hídrica;
- A Lagoa de Messejana teve boa parte de sua área aterrada em decorrência do crescimento
urbano;
- Existe um acumulo de lixo nas margens e no leito da lagoa;
- Grandes áreas são desmatadas como conseqüência da especulação imobiliária;
- Várias ruas carecem de reparos e serviços para tapar buracos, valas e recolher a grande
quantidade de lixo que se acumula nas calçadas e nos terrenos baldios;
- Falta planejamento urbano e infra-estrutura adequada às necessidades dos moradores
tornando precário, principalmente, o saneamento básico e a segurança da população.
- O bairro apresenta grandes índices de violência e criminalidade
- A segregação social fica evidenciada quando percorremos os locais mais críticos do bairro,
como por exemplo, favelas e pequenas vilas amplamente desestruturadas.

Com a pesquisa foram obtidos resultados satisfatórios, levando-nos a crer que estes são de
fundamental importância já que demonstram a situação atual do bairro e exibem os principais
pontos por onde se deve começar a trabalhar na melhoria da estrutura física, social e ambiental de
Messejana. Sugerimos ações a curto, médio e longo prazo, citadas nos Resultados e Discussão, com
o sentido de mitigar os problemas identificados no bairro.
Referências
REFERÊNCIAS

ALVES, A. B. Estuário do rio Acaraú – CE: Impactos ambientais e implicações na qualidade


dos recursos hídricos. 2008. 131p. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Geografia) –
Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2008.

AMARAL, Ernesto Gurgel do. História de Messejana. Fortaleza: Ensaio publicado pela Sociedade
Educadora de Messejana, 1996.

CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (CONAMA). Resolução N° 357 de 17 de


março de 2005, publicado no D.O.U. de 28/04/2005. Brasília – DF. Disponível em:
www.conama.gov.br

250
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

GUERRA, Antonio José Teixeira; CUNHA, Sandra Baptista da. (Orgs.). Impactos Ambientais
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MAGALHÃES, Jomali Lima. Vocabulário Geográfico. Teresina: Ibiapina, 2008.

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QUINTILIANO, Aridenio Bezerra; LIMA, Luiz Cruz. Reestruturação Socioespacial do Ceará:


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SOUZA, Marcos José Nogueira de. et al. Compartimentação Territorial e Gestão Regional do
Ceará. Fortaleza: FUNECE, 2000.

251
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE GEOAMBIENTAL INTEGRADA AO


GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS EM MICROBACIA HIDROGRÁFICA -
REGIÃO JAGUARIBANA, IBICUITINGA - CE.

Rosilene Aires
Mestre pela Universidade Estadual do Ceará. Email: rosileneaires@yahoo.com.br
Flávio Rodrigues do Nascimento
Doutor em Geografia professor da Universidade Federal Fluminense. E-mail:
flaviogeo@bol.com.br

RESUMO
A busca de maior eficiência no uso dos recursos hídricos tornou-se crescente no Ceará dada a
importância ambiental que este elemento resguarda aos diversos agrupamentos humanos em face
dos seus usos múltiplos e gerenciamento integrado. Neste sentido, este trabalho mostra as principais
contribuições da análise ambiental integrada da microbacia hidrográfica do rio Palhano, para gestão
integrada de seus recursos naturais, notadamente, os hídricos. Para tanto, caracteriza-se o histórico
de ocupação da comunidade rural de Muquém, bem como alguns dos seus principais problemas
sociais e ambientais. No segundo momento, relaciona-se alguns problemas ambientais identificados
nas unidades de paisagens existentes com as possibilidades que a comunidade rural tem de utilizar
as informações levantadas para o uso sustentável dos recursos naturais. Esta comunidade rural
localiza-se no município de Ibicuitinga, é atendida pelas ações do Programa Vigilantes Globais da
Água desde 2006. Este programa tem motivado a formação de agentes locais de transformação e a
gestão participativa das águas nessa comunidade. Acredita-se que os resultados do levantamento
geoambiental da microbacia hidrográfica do rio Palhano, forneça informações sobre os atributos
naturais dos sistemas ambientais, os seus estados de conservação ou de degradação, bem como suas
potencialidades e restrições para o uso e ocupação do solo pela população e que sirva de subsídios
ao planejamento do território pelos tomadores de decisão política. Além disso, soma-se a
incorporação dos resultados obtidos as ações do programa supracitado, na medida em que os dados
gerados poderão ser utilizados no desenvolvimento de ações que ampliem a gestão das águas e dos
demais recursos naturais que compõem a microbacia.

Palavras chaves: análise geoambiental; microbacia hidrográfica; Muquém; semiárido;Ceará;

INTRODUÇÃO

Os processos degradacionais que comprometem as unidades geoambientais nas


microbacias hidrográficas sertanejas é função da relação sociedade-natureza, muito embora seja
crescente o movimento pela busca de maior eficiência no uso dos recursos hídricos, dada a
importância ambiental que eles tiveram ao longo da formação dos diversos agrupamentos humanos
com seus traços culturais e históricos característicos.
As comunidades rurais nordestinas e cearenses vivem em meio à ocorrência de processos e
conflitos que refletem um quadro caótico das suas demandas sociais e ambientais atuais. Dentre os
principais processos geradores de conflitos, cabe ressaltar o desigual acesso à água e à terra, bem
como a ínfima, ou inexistente, participação efetiva da maioria da população na gestão dos recursos
hídricos.
Nesse sentido, algumas instituições governamentais e não-governamentais têm orientado
ações direcionadas a conservação e gestão dos recursos hídricos, o despertar da consciência crítica e
da organização de comunidades rurais, por meio de programas educativos com oficinas, projetos de
monitoramento, campanhas de conscientização ambiental, entre outros.
Nesta égide, a EMBRAPA – Agroindústria Tropical, a Universidade de Auburn, no
Alabama (EUA), e demais entidades parceiras, como o Centro Federal de Educação Tecnológica -
CEFET, a Cáritas Diocesana de Limoeiro do Norte e o Grupo Espírita Paulo Estevão – GEPE, a

252
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Universidade Estadual do Ceará – UECE/Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos -


FAFIDAM, as quais desenvolvem ações que compuseram o Programa Vigilante Globais da Água,
junto às comunidades rurais do rio Jaguaribe-Ceará.
O Programa busca motivar a gestão participativa das águas em comunidades rurais e a
formação de agentes locais de transformação, para o uso e a gestão adequada das fontes hídricas.
Para tanto, escolheu comunidades rurais para desenvolver suas ações mediante alguns critérios
socioeconômicos e ambientais. A comunidade rural de Muquém que localiza-se no município de
Ibicuitinga, atendeu aos propósitos do programa citado e constitui-se um dos focos de sua atuação
desde o ano de 2005.
O objetivo deste trabalho é de subsidiar e levantar informações goeambientais sobre a
microbacia hidrográfica do rio Palhano, em Ibicuitinga - CE. A perspectiva de estudar esta
microbacia hidrográfica na ótica da análise ambiental integrada com reais benefícios à comunidade
de Muquém necessitou de estudos setoriais e integrados. Tais estudos, segundo Souza (2000),
compõem o diagnóstico geoambiental que é o levantamento integrado de todos os elementos
componentes de um determinado ambiente, etapa fundamental à avaliação dos recursos naturais.
De acordo com Aires (2009) a microbacia hidrográfica pode ser considerada como:

[...] paisagens complexas, dados os seus diferentes arranjos e atributos naturais


característicos. Ao mesmo tempo, constitui paisagens dinâmicas, pois tais atributos mantêm
certas conexões e interações funcionais. Essas conexões entre os elementos são comumente
alteradas, modificadas e até transformadas pelas ações dos seus agentes organizadores do
espaço. (AIRES, 2009 p.36-37)

De acordo com Aires e Nascimento (2007), os estudos de análise ambiental integrada de


microbacias hidrográficas oferecem vantagens, pois nomeiam ou reconhecem os atributos naturais
dos geossistemas e permitem revelar os seus estados de conservação ou de degradação e suas
potencialidades e limitações.
Nesse sentido, caracteriza-se o histórico de ocupação da comunidade rural de Muquém,
bem como alguns dos seus principais problemas sociais e ambientais. E, tendo em vista que a
microbacia hidrográfica do rio Palhano, a qual banha a comunidade de Muquém foi adotada como
unidade de estudo, busca-se no segundo momento, relacionar os problemas ambientais da relação
sociedade-natureza nos sistemas físicos ambientais existentes na microbacia, com as possibilidades
que a comunidade rural têm de utilizar as informações levantadas para o uso e a gestão sustentável
dos seus recursos naturais.

METODOLOGIA
Realizou-se levantamento bibliográfico sobre: análise ambiental integrada, microbacias
hidrográficas e o modelo teórico do Programa Vigilantes Globais das Águas. Em seguida, escolheu-
se a comunidade rural de Muquém por ser área de atuação desse programa delimitando-se,
conforme os critérios geomorfológicos, a microbacia hidrográfica do rio Palhano que banha a
comunidade.
Na etapa seguinte, procedeu-se com a análise integrada dos componentes ambientais da
microbacia do rio Palhano. Por fim, as informações sobre os recursos naturais foram
correlacionados aos problemas ambientais encontrados na comunidade bem como na forma de
minimizá-los. Estas informações foram sintetizados em mapeamentos da microbacia.

A COMUNIDADE RURAL DE MUQUÉM E AS CARACTERISTICAS GEOAMBIENTAIS


DA MICROBACIA DO RIO PALHANO

A microbacia do rio Palhano, localiza-se na porção norte do Município de Ibicuitinga e na


porção centro-oeste do Município de Morada Nova, pertencendo aos limites da sub-Bacia do Baixo
Jaguaribe, conforme demonstra a Figura 1.

253
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

A microbacia drena uma área de 60km2 e seu principal curso d’água é o rio Palhano, que
possui 12 km de extensão longitudinal e dista cerca de 135 km de Fortaleza. Abrange dois
municípios cearenses, ficando cerca de 45 km2 de sua área na porção norte do Município de
Ibicuitinga (75% da área total) e cerca de 15 km2 de sua área na porção centro-oeste de Morada
Nova (25% dos 60km2 da microbacia).
Os principais povoados que estão na sua área de drenagem são Muquém e Jardim,
atendidos pelo Programa Vigilantes Globais das Águas, além de Melancias e Pedra Branca,
visualizados na Figura 2. Os núcleos rurais de Jardim e Muquém ficam situados no Município de
Ibicuitinga e distam cerca de 20km da sua Sede.
O nome da comunidade Muquém, de acordo com Brasil (2008a), é de origem indígena e
deriva de uma vegetação típica que era abundante na época em que viviam os índios na região.
Trata-se de uma árvore que hoje é conhecida por canafistula (Cassia ferrugínea), uma leguminosa
com alto valor nutritivo, utilizado como alimento para o gado no período de seca. Essa vegetação
distribuía-se nas margens do rio Palhano e nas fazendas da região, formando uma mata densa, a
qual foi diminuindo no decorrer dos anos, ficando restrita a algumas porções de terras na
microbacia.

Figura 2: Mapa básico da Microbacia do rio Palhano.


Figura 1: Localização da microbacia do rio Palhano na Fonte: Elaborados por Nascimento, F.; Santos, J., com
sub-bacia do baixo Jaguaribe. base na carta da SUDENE em escala 1: 100.000, sendo
Fonte: Elaborado por Aires, R. Guerra, M. D. F. a folha BONHU, 1960.
Adaptação: Sérgio Fuck e Samuel Miranda.

Conforme apontou o trabalho de Aires (2009), nos mapeamentos realizados sobre os


sistemas ambientais encontrados em Muquém, as Serras Palhano e as superfícies de pedimentação
dissecadas, aplainadas e levemente onduladas são vulneráveis aos problemas de degradação
ambiental a exemplo das queimadas e dos desmatamentos. Entretanto, ao mesmo tempo,
resguardam em algumas áreas vegetação secundária moderadamente conservadas com espécies de

254
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

mata seca na serra e de caatingas esparsa e arbustiva nos sertões. O que reflete diretamente, as
formas de usos da terra relacionada a agricultura itinerante pelas comunidades rurais desses
sistemas ambientais da microbacia ao longo do seu processo de ocupação.
Segundo lideranças comunitárias, a ocupação inicial do local onde hoje se encontra a
comunidade de Muquém, se deu em 1903, quando José Monteiro de Lima comprou as terras e
construiu sua fazenda. Mais tarde, por volta de 1940, João Lopes comprou outras terras na região e
constituiu sua propriedade.
Atualmente essas terras estão legalmente divididas e pertencem às famílias dos Lopes e
dos Monteiros. São pequenas e médias propriedades essencialmente encontradas no sistema
ambiental dos tabuleiros interiores, caracterizando-se uma área plana com solos arenosos que
compõem os agroecossistemas em que se encontram atividades agrícolas, agropastoris e
extrativismo vegetal.
Em razão das inúmeras áreas transicionais entre as unidades de deposição recente dos
tabuleiros interiores e os terrenos antigos das superfícies de pedimentação, que totalizam 2,3km2 da
área total da microbacia, essas superfícies distribuídas de maneira dispersa e descontinua resultam
em um mosaico de interação dos ambientes, o que a tornou heterogênea quanto às condições
pedológicas. Nestas áreas transicionais há, também, a comunidade rural de Jardim.
Entretanto, apesar dessas potencialidades em Muquém são restritas as condições de
emprego e renda, haja vista a baixa qualificação profissional da população, os poucos investimentos
financeiros, baixos rendimentos econômicos e desempregos, bem como o baixo nível tecnológico
empregado na agropecuária, que é uma das atividades econômicas existentes que oferece condições
precárias de trabalho.
A população que habita esse núcleo rural, segundo a associação de moradores, é de 102
pessoas, que compõem 31 famílias. Existe na comunidade um grupo de voluntários com cerca de 20
pessoas que monitora a qualidade da água, atuando em defesa do meio ambiente. Esse grupo são os
Vigilantes da Água na microbacia e atuam desde 2006 com o apoio da EMBRAPA/CNPAT, Cáritas
e de outras entidades
Essa população vive em meio às condições de saúde, educação, de saneamento básico e
outros serviços que são ofertados precariamente pela Prefeitura do município. Todas as famílias da
comunidade mencionada têm acesso à rede elétrica e apenas um telefone público. Usufruem do
mesmo posto de saúde, da mesma escola e da mesma capela, que é também a sede da associação
dos moradores.
Cabe sublinhar, entretanto, que a infraestrutura de saúde e educação ofertada pela
Prefeitura não atendem todas as demandas da comunidade mencionada, sendo necessário buscar
atendimento de saúde na Sede municipal. É registrada, também, a ausência de vagas em escolas
próximas à comunidade; sem contar com o fato de que apenas um telefone público instalado não
atende as demandas e dificulta o acesso a comunicação com os moradores, sendo necessária a
instalação de outros aparelhos públicos.
Segundo os dois agentes de saúde que cadastram e realizam o acompanhamento das
famílias, quase todas têm o cartão-cidadão e são assistidas por programas sociais, como o Bolsa
Escola e o Bolsa Família. Quanto às enfermidades e os problemas de saúde, os mais evidenciados
são diarréia, verminoses e micoses, rubéola, reumatismo e pressão arterial (BRASIL 2008ab).
A ocorrência de algumas dessas doenças, segundo Brasil (2008ab), decorre, provavelmente
dos focos de contaminação hídrica, os quais estão associados à inexistência de saneamento básico,
pois, de acordo com a associação de moradores, cerca de 90% dessa população tem fossa séptica, e
10% fazem suas necessidades de dejeção a céu aberto. Não há coleta de lixo, nem abastecimento de
água tratada, significando dizer que as famílias dessa comunidade padecem de saneamento.
Além disso, a ausência de saneamento básico contribui para a poluição hídrica e
possivelmente agrava as condições de saúde dos moradores, pois, conforme os depoimentos de
moradores, não há coleta dos resíduos sólidos pela Prefeitura. Os resíduos sólidos da comunidade
são, geralmente, queimados nos quintais, gerando poluição do ar, do solo e das águas, pois quando
acumulados no solo, os resíduos sólidos produzem o chorume, que pode infiltrar e contaminar os

255
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

rios e o lençol freático, tornando a água um foco transmissor de doenças e imprópria para consumo
humano e animal.
Em se tratando das condições de educação, existe na comunidade uma unidade escolar,
porém, está desativada desde 2004 e os alunos foram transferidos para a escola da comunidade de
Melancias - Escola de Ensino Fundamental José Vitorino da Silva, no Município de Ibicuitinga.
Esta escola atende a um universo de 153 alunos vindos de Muquém e dos povoados de Jardim e
Pedra Branca. Seu abastecimento hídrico é feito por uma cisterna com capacidade de 20 mil litros,
que é insuficiente para a demanda, principalmente no período seco.
Segundo os moradores, a luta atual é pela construção de uma cisterna de placa com
capacidade de armazenar 100 mil litros para esta escola, além de campanhas educativas com
moradores, alunos e funcionários pelo manejo adequado das águas da cisterna.
O bebedouro da Escola de Melancias é outro foco gerador de doenças por veiculação
hídrica aos alunos e funcionários, porque oferece sérios riscos de contaminação caso a água não seja
devidamente tratada. A comunidade enfrenta outros problemas, como: a desorganização e a falta de
planejamento comunitário, a produção de alimentos que é pequena e dependente das condições
climáticas, as condições precárias da estrada que dá acesso à comunidade, a falta de apoio ao
crédito na agricultura, a dificuldade de transporte das pessoas para a cidade, o roubo de animais, a
dificuldade de acesso a medicamentos e a poluição da água do açude; sem esquecer a pequena
participação na Igreja, a elevada concentração de terra, a falta de renda para os jovens e mulheres e
a falta de áreas de lazer (Brasil, 2008ab).
O sistema ambiental mais importante dessa microbacia, de acordo com Aires (2009), é a
planície fluvial do rio Palhano, pois é nela que as populações realizam os usos múltiplos dos
recursos naturais encontrados tendo em vista a oferta de água, a existência de vegetação e de solos
férteis.
A maior disponibilidade hídrica superficial acumulada da microbacia é representada pelo
açude Muquém, com área de 0.3km2, o qual atende, ainda que minimamente, as diversas demandas
de uso das comunidades de Muquém e Jardim, pois não se tem estação de tratamento de água e
esgoto e nem se tem volume de água suficiente para as demandas durante todo o ano.
Notou-se que a potencialidade e a disponibilidade das reservas subterrâneas são baixas em
virtude: da pouca oferta de água dos aqüíferos fissurais predominantes na área; da incipiente
quantidade de poços instalados utilizados; e da qualidade adequada das águas, uma vez que, só
poderá ser aproveitada em solos bem drenados irrigando plantas com elevada tolerância à
salinidade.
Dos cinco poços identificados, deveriam ter sido instalados mediante estudos geológicos
prévios e consistentes, com monitoramento constante da qualidade de suas águas e assistência
funcional para que não se tenham águas salinizadas nestas reservas.
A cobertura vegetal da planície fluvial deveria ser de mata ciliar conservada, no entanto,
essa mata apresenta diferentes padrões e estados de conservação, uma vez que as áreas marginais da
planície fluvial são utilizadas com lavouras e pastagem para os animais, promovendo assim a
remoção das espécies vegetais típicas das margens fluviais, o que resultou na dispersa presença das
Copernicia prunifera (carnaúbas) associadas às caatingas de estrato arbustivo denso e aberto.
A intensa ocupação das margens fluviais por atividades econômicas voltadas a subsistência
das famílias da comunidade de Muquém, ocasionam problemas de degradação ambiental das
margens fluviais, sobretudo, no que se refere a sua ocupação, a degradação de sua mata ciliar e a
poluição das suas águas.
Vale ressaltar que tais práticas decorrem tanto das condições socioeconômicas precárias
das famílias, que vêem nos recursos naturais suas principais ou únicas fontes de alimento ou de
renda, quanto do fato de essa população não ter acesso a formas sustentáveis de exploração desses
recursos mediante políticas de crédito rural e políticas públicas adequadas, sem esquecer da devida
organização social para tal fim.

256
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

PROGRAMA VIGILANTES DA ÁGUA NA MICROBACIA


Em virtude da ocorrência dos problemas de degradação ambiental advindos dos usos da
terra realizados as suas margens, este ambiente é alvo de monitoramentos realizados pelo Programa
Vigilantes Globais das Águas, desde o ano de 2006, com coletas da água nos pontos escolhidos pela
comunidade, conforme mostra a Figura 3
Os monitoramentos realizados pela EMBRAPA junto com os membros da comunidade
desde o ano de 2006, junto a comunidade rural de Muquém e suas imediações, detectaram que as
águas se tornaram contaminadas, contendo micro-organismos patogênicos ou substâncias químicas
causadoras de doenças, oferecendo, assim, riscos à saúde das populações nas comunidades rurais.
Os resultados dos monitoramentos tiveram elevados percentuais do organismo patogênico
mencionado, conforme visto em Girão e Fuck Júnior (2007), Brasil (2008b), Figueirêdo et al
(2008).
Segundo estes autores os reservatórios de superfície dessa microbacia denominados açudes
Melancias, Jardim e Caboco foram os que apresentaram elevados índices de E.coli. Destacaram
também, a contaminação no bebedouro da escola que foi de 900 em cada 100ml e reduziu para 33
em cada 100ml na última coleta realizada em 2007.

Figura 3: Pontos de monitoramento na microbacia em Ibicuitinga e Morada Nova - CE.


Fonte: Vigilantes Globais da Água, EMBRAPA 2008. Adaptação: Sergio Fuck.

No entanto, observou-se que os pontos monitorados, são insuficientes para avaliar a


potabilidade das águas dos mananciais de toda a microbacia, uma vez que, existem áreas ainda não
monitoradas e que o controle desses poluentes deve ser buscado. Além disso, há que se atentar para
o manuseio e gestão das águas para além dos reservatórios considerando a planície fluvial como
principal unidade de monitoramento e manejo adequado dos solos, das águas e da vegetação.
Diante do quadro apresentado os Vigilantes da Água de Muquém organizaram, com o
apoio da EMBRAPA e da Cáritas, reuniões com os demais membros da comunidade a fim de
mostrar os resultados encontrados nas análises da água, para conscientizar a todos sobre os
problemas diagnosticados e promover assim campanhas e ações, visando a recuperar e proteger as
fontes de água.
Em decorrência, algumas ações de caráter corretivo e ou preventivo foram introduzidas,
tais como: incentivos ao manejo adequado das águas das cisternas das residências e da escola;

257
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

reuniões periódicas para mostrar os resultados dos monitoramentos às outras comunidades;


estabelecimento dos usos permitidos para as águas do principal açude público; limpeza e coleta dos
resíduos sólidos das margens do açude Muquém; campanhas educativas junto aos barraqueiros e
aos freqüentadores do reservatório para o seu manejo adequado.
Faltam realizar, no entanto, algumas ações necessárias para a melhoria da qualidade de
vida dessa comunidade rural: ampliar os pontos de monitoramento e o número de vigilantes;
disciplinar a construção das fossas sépticas e a instalação de poços e implantar um sistema de coleta
e tratamento de esgotos e de resíduos sólidos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acredita-se que este estudo com a geração de informações e as sugestões para o plano de
ações, possibilitou repensar a prática dos Vigilantes da Água, seus pontos positivos e desafios a
serem enfrentados junto à comunidade de Muquém que padece de inúmeras carências sociais e
econômicas. Neste sentido, a caracterização e mapeamento das unidades geoambientais contribui
para o tratamento holístico e integrado da bacia.
Este levantamento revelou ainda que os usos múltiplos das águas são realizados sem o
manejo adequado, e constituem os principais focos da poluição hídrica, uma vez que, o volume de
detritos e rejeitos despejados nos cursos d’água supera sua capacidade de depuração, tornando as
águas inadequadas para o uso e consumo humano e animal causando doenças na população.
Além disso, o levantamento geoambiental considerou os aspectos naturais e sociais da
comunidade que é banhada pela microbacia; revelou alguns dos problemas de degradação ambiental
nos sistemas ambientais e mostrou as ações sustentáveis que foram realizadas pela comunidade de
Muquém na busca da divulgação das informações e da gestão das águas.

REFERÊNCIAS

AIRES, R . NASCIMENTO, F. R.; A análise ambiental integrada e estudo de microbacias


hidrográficas em áreas rurais do Ceará. In: XV Encontro Nacional de Geógrafos-ENG. São
Paulo: USP, 2007b 10p.
AIRES, R. Análise ambiental integrada de microbacias hidrográficas no Vale do Jaguaribe
como subsídio ao Programa Vigilantes Globais da Água. (Dissertação de Mestrado) Fortaleza:
UECE 2009. 209p.
BRASIL/EMBRAPA AGROINDÚSTRIA TROPICAL. Revista do Centro Nacional de Pesquisa
Agropecuária Tropical n0127 (Julho - Setembro). Fortaleza: EMBRAPA, 2008a p.8-10.
_______/EMBRAPA AGROINDÚSTRIA TROPICAL. Características das comunidades rurais
e monitoramento participativo dos recursos hídricos em Muquém e Riacho das Pedras.
Fortaleza: EMBRAPA, 2008b. Disponível em www.embrapa.cnpat.gov.br/vigilantesdaagua.
Acesso em10/10/20008.
FIGUEIRÊDO, M. C. B.; VIEIRA, V. P. P. B.; MOTA, S.; ROSA, M de F.; ARAÚJO, L de F. P.;
GIRÃO, E. G.; DUCAN, B. L.; Monitoramento comunitário da qualidade da água: uma ferramenta
para a gestão participativa dos recursos hídricos. In: Revista de Gestão da Água – REGA, V.5, nº
1, jan/jun. Porto Alegre, 2008, 22p.
GIRÃO, E.; FUCK JÚNIOR, S. O Programa Vigilantes da Água no Ceará: Monitoramento
Participativo da Qualidade da Água em uma Comunidade Rural da Bacia Hidrográfica do Rio
Jaguaribe In: Simpósio: Experiências em Gestão dos Recursos Hídricos por Bacia Hidrográfica
(ANAIS). São Pedro - SP , 2007, 13p.
SOUZA, M.J.N. Bases Geoambientais e Esboço do Zoneamento Geoambiental do Estado do Ceará.
In: Lima, L. C. (Org) Compartimentação Territorial e Gestão Regional do Ceará. Fortaleza:
FUNECE, 2000a p. 06- 98.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

ÍNDICE DE DEGRADAÇÃO AMBIENTAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO ARROIO


DO PADRE, PONTA GROSSA, PR

Sérgio Ricardo Rogalski


Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia – Mestrado em Gestão do Território –
Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG (sergiorogalski@yahoo.com.br).
Karine Dalazona.
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia – Mestrado em Gestão do Território –
Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG (karine.bio@ibest.com.br).
Thiago Felipe Schier de Melo
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia – Mestrado em Gestão do Território –
Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG (tigo_geo@hotmail.com).
Michele do Nascimento
Aluna especial do Programa de Pós-Graduação em Geografia – Mestrado em Gestão do Território –
Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG (michelegeo01@hotmail.com).
Silvia Méri Carvalho
Docente do Departamento de Geociências e do Programa de Pós-Graduação em Geografia -
Mestrado em Gestão do Território - Universidade Estadual de Ponta - UEPG
(silviameri@brturbo.com.br).

RESUMO
As bacias hidrográficas ao longo das décadas vêm sofrendo degradação por falta de planejamento
urbano ou ambiental, acarretando em ocupação irregular e no uso inadequado do solo. Essa
combinação é a principal fonte de problemas ambientais e indicadora das desigualdades sociais,
geralmente resultantes em condições precárias de moradia, saúde pública, qualidade de vida e
custos à gestão pública. Assim, como na grande maioria das cidades brasileiras, o município de
Ponta Grossa apresenta problemas com relação ao planejamento urbano, principalmente se tratando
da sua topografia peculiar, que de certo modo influenciou o desenvolvimento urbano. O processo de
expansão urbana de Ponta Grossa partiu de um espigão central, de onde irradia uma rede de
drenagem radial, com 12 bacias hidrográficas urbanas convergidas por quatro principais arroios,
cujas nascentes seguem para o perímetro urbano da cidade. Existem diversas metodologias
aplicadas no diagnóstico e mensuração da degradação ambiental dos ecossistemas, incluindo bacias
hidrográficas, contudo a maioria dos modelos não considera o fator antrópico em relação ao
contexto ambiental. Para tanto, esse trabalho tem como objetivo identificar o grau de degradação
ambiental da Bacia Hidrográfica do Arroio do Padre, município de Ponta Grossa - PR, considerando
aspectos do meio físico, biológico e o fator antrópico por meio da aplicação do Índice de
Degradação Ambiental (IDA) proposto por Brandão (2005).

INTRODUÇÃO

Muitos dos atuais problemas ambientais ocorrem devido aos efeitos combinados das
pressões demográficas e da crescente necessidade tecnológica da sociedade. De acordo com o IBGE
81,2% da população brasileira concentra-se nos centros urbanos, e segundo a Organização das
Nações Unidas (ONU) no ano de 2005 esse número atingiu uma taxa de urbanização de 84,2% no
Brasil (IBGE, 2000). Essa realidade aponta uma série de problemas de ordem sócio-econômica e
ambiental, que é resultado do grande número de ocupações em áreas inadequadas, sendo a
degradação ambiental uma das evidências da iniqüidade das áreas urbanas, visto que, os riscos

259
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

ambientais, a poluição hídrica e alteração da paisagem estão concentradas, invariavelmente, nas


áreas onde se encontram as camadas mais pobres da população urbana (GUSMÃO, 2001).
Neste sentido, as bacias hidrográficas vêm sofrendo degradação ambiental em virtude,
principalmente da ocupação irregular, seja em áreas de preservação permanente (APP) ou de risco
geoambiental. Esse fenômeno constitui uma das principais fontes de problemas ambientais e é
indicador das desigualdades sociais, geralmente demonstradas por precárias condições de moradia,
saúde pública e qualidade de vida, acarretando em custos à gestão pública.
O conceito de degradação ambiental é entendido como conseqüência dos modos de uso e
ocupação do espaço que, sendo utilizado sem um devido planejamento ou na ausência de política
pública para ordenamento, tem a sua qualidade ambiental degradada (BELTRAME, 1994). Deste
modo, a degradação ambiental refere-se a “qualquer alteração adversa dos processos, funções ou
componentes ambientais, ou como alteração adversa da qualidade ambiental” (SÁNCHEZ, 2006, p.
27). Na esfera legislativa, a Lei da Política Nacional de Meio Ambiente define degradação
ambiental como “alteração adversa das características do meio ambiente” (BRASIL, 1981).
A Política Brasileira sobre as Águas instituiu a Lei 9.433/97 de 08 de janeiro de 1997, na
qual em seu primeiro artigo estabelece a bacia hidrográfica como unidade territorial para
implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de
Gerenciamento dos Recursos Hídricos. Tendo isto como um ponto de partida, “a bacia hidrográfica
como unidade de estudos pode ser considerada como a expressão, em diversas escalas, da interação
da sociedade e natureza na produção do espaço” (CARVALHO, 2004, p. 36).
A escolha da bacia hidrográfica como unidade de estudo decorre do fato de ser considerada
uma unidade ambiental que constitui características singulares, com entrada e saída de energia bem
definidas. Numa bacia hidrográfica os elementos do quadro natural e social interagem e evoluem no
espaço e no tempo. A necessidade de uma abordagem geossistêmica nos estudos ambientais remete
a uma visão integrada do ambiente físico e dos processos antrópicos que se desenvolvem na área.
Sendo assim, é possível observar a qualidade ambiental de uma bacia hidrográfica através da
paisagem circundante, elaborada pelo homem e desenvolvida em função de seus próprios interesses.
Do mesmo modo que a grande maioria das cidades brasileiras, o Município de Ponta
Grossa apresenta problemas em relação ao planejamento urbano, principalmente quanto se a sua
topografia peculiar, que influenciou seu desenvolvimento urbano. A expansão urbana do Município
de Ponta Grossa aconteceu a partir de um espigão central, de onde se propaga uma rede de
drenagem radial, com 12 bacias hidrográficas urbanas, que convergem em quatro principais arroios,
cujas nascentes estão localizadas em diversas direções dentro do perímetro urbano, seja no centro
comercial da cidade ou em suas imediações (MEDEIROS e MELO, 2001).
Para tanto, esse trabalho tem como objetivo identificar o grau de degradação ambiental da
Bacia Hidrográfica do Arroio do Padre no Município de Ponta Grossa, PR, considerando aspectos
do meio físico, biológico e o fator antrópico, por meio da aplicação do Índice de Degradação
Ambiental (IDA) proposto por Brandão (2005).

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A Bacia Hidrográfica do Arroio do Padre encontra-se na porção sudoeste do espaço urbano


de Ponta Grossa (PR) e é um dos afluentes da margem esquerda do Arroio da Ronda que deságua
no Rio Tibagi (Figura 01). Seguindo os critérios definidos por Strahler (1957) a bacia do Arroio do
Padre, é uma bacia de terceira ordem, apresentando 24 canais, sendo 18 de primeira ordem, 5 de
segunda ordem e um de terceira ordem (BARBOSA, 2006).

260
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 01. Localização da Bacia Hidrográfica do arroio do Padre, município de Ponta Grossa – PR.
Fonte. Laboratório de Geoprocessamento da Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG.

Os solos que compõem essa bacia hidrográfica são principalmente os latossolos,


cambissolos, solos hidromórficos, solos litólicos arenosos e solos com textura areno-argilosa
(Figura 02). Sua vegetação é representada predominantemente por campos limpos, com áreas de
gramíneas, com arbustos isolados ou em grupos, além da presença de capões de Floresta Ombrófila
Mista, que formando corredores ripários constituem a mata ciliar da Bacia, em diferentes estados de
sucessão vegetacional.
Quanto aos aspectos geológicos inclui Formações Furnas e Ponta Grossa o Grupo Itararé
(Figura 03), e, ainda, uma seqüência de falhas e fraturas, algumas preenchidas por diques de
diabásio. Segundo Melo e Godoy (1997) a Formação Furnas constitui a unidade basal do Grupo
Paraná, possuindo uma transição para unidades sobrepostas gradual, ao passar para Formação Ponta
Grossa, ou erosiva, quando rochas do Grupo Itararé sucedem o arenito Furnas. A Formação Ponta
Grossa assenta-se sobre a Formação Furnas, com um contato gradual, e é sobreposta por rochas do
Grupo Itararé, através de contatos erosivos (MEDEIROS e MELO 2001).

261
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 02. Mapa de solos da bacia Figura 03. Mapa da geologia da bacia
hidrográfica do arroio do Padre. hidrográfica do arroio do Padre.
Fonte: Material disponibilizado da Fonte: Medeiros e Melo, 2001.
disciplina Gestão de Bacias
Hidrográficas do Mestrado – UEPG.

METODOLOGIA

Existem diversas metodologias possíveis de aplicação para o diagnóstico e mensuração da


degradação ambiental tanto em ecossistemas como em bacias hidrográficas. Contudo esses modelos
de análise, como por exemplo, de Ross (1994) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais -
INPE, (1996), não consideram a pressão antrópica sobre o contexto ambiental.
Visto isso, o IDA (Índice de Degradação Ambiental), se apresenta como uma valiosa
ferramenta metodológica proposta por Brandão (2005) pelo fato de não se restringir apenas aos
elementos do quadro natural, passando a incluir o fator antrópico, diferencia-se dos demais índices.
O Índice de Degradação Ambiental (IDA) é baseado nos estudos geossistêmicos, correlacionando
às variáveis do quadro natural (solo, vegetação, declividade) com o fator antrópico (densidade
populacional).
A fórmula proposta para geração do Índice de Degradação Ambiental é apresentada
abaixo.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

  V + S   D + P 
1 −  2  +  2 
   
IDA = 
2

Onde:
V: Vegetação (percentual de cobertura vegetal);
S: Características do horizonte A do solo;
D: Declividade;
P: Pressão Antrópica (Densidade Demográfica).

Para aplicação do método IDA no Arroio do Padre utilizou-se o programa de


geoprocessamento Arcview GIS ® 3.2, disponibilizado pelo Laboratório de Geoprocessamento da
Universidade Estadual de Ponta Grossa (LABGEO/DEGEO/UEPG), para a combinação das
variáveis e elaboração do diagnóstico através da sobreposição dos parâmetros do meio físico e
antrópico. Foram elaboradas matrizes com o fim de sintetizar as informações obtidas a partir das
variáveis, permitindo gerar um mapa síntese que demonstra o Índice de Degradação Ambiental para
as diferentes situações ambientais da bacia hidrográfica do Arroio do Padre.
Com relação a variável solo, baseada nas características do horizonte A, a metodologia
propõe que solos com textura arenosa recebam valor 0, com textura mais argilosa valor 1,0 e com
textura média recebam valor 0,5. A textura dos solos na região é bastante variável, principalmente
em relação ao embasamento geológico e lito-pedologia predominantes na área de estudo. Devido a
esse fato, foi elaborada uma matriz de correlação (Tabela 01) quanto à textura das associações
identificadas, levando em consideração trabalhos já realizados na área, consulta a profissionais
especializados e literatura.

Solos Associação Associação Associação


Geologia Neossolo + Gleissolo Latossolo + Cambissolo Cambissolo + Neossolo
Itararé 0,5 0,5 0,5
Ponta Grossa 1 1 1
Quartenário 1 1 0,5
Serra Geral 1 1 1
Tabela 01: Matriz de correlação quanto à textura dos solos.

Para estruturação da variável vegetação na bacia hidrográfica estabeleceu-se que apenas as


áreas com presença de vegetação nativa como floresta, campos, brejos em seus diferentes estágios
sucessionais seriam consideradas como cobertura vegetal nativa e, posteriormente calculadas as
suas proporções em cada polígono estudado. Calculadas as devidas dimensões ocupadas pela
vegetação, ou seja, porcentagem das áreas do polígono dividido por 100, cada polígono recebeu um
índice que varia de 0 a 1, onde 0 representa ausência total, e 1 seria a presença de vegetação
ocupando 100% do polígono.
O parâmetro declividade seguiu os intervalos de classe (Quadro 01) propostos por Brandão
(2005). Gerou-se um mapa de declividade, expresso em porcentagem, com o fim de estabelecer a
correlação deste fator com os demais parâmetros da análise.

Porcentagem % Característica Valor considerado no IDA


0 – 2,5 Plano 0,025
2,5 – 12 Suave ondulado 0,12
12 – 50 Muito ondulado 0,5
50 – 75 Montanhoso 0,75
75 – 100 Escarpado 1
Quadro 01: Características da declividade para o método IDA.

263
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

A pressão demográfica foi estabelecida a partir do valor da densidade demográfica da bacia


hidrográfica dividido por 100. Este valor poderá variar de 0 a 1, onde valores próximos deste
indicam pressão demográfica superior a 100 hab/km², e próximos àquele indicam uma baixa
pressão demográfica exercida no local. A bacia hidrográfica do Arroio do Padre possui uma área de
378,65 ha e uma população de 15.431 habitantes, resultando numa densidade demográfica
representada pelo valor 1 em toda a sua extensão.
Foi realizada uma saída de campo na área de estudo a fim de observar a realidade local,
com o intuito de identificar in loco os padrões espaciais exibidos na imagem de satélite.

RESULTADOS

De acordo com as observações em campo pode-se citar dentre as principais espécies


vegetais encontradas no Arroio do Padre, as arbóreas nativas Bauhinia forficata Link. (pata-de-
vaca), Mimosa scabrella Benth. (bracatinga), Tabebuia alba (Cham.) Sandw. (ipê), Syagrus
romanzoffiana (Cham.) Glassman (jerivá) e Schinus terebenthifolius Raddi (aroeira). Também
foram encontradas as lianas como Smilax brasiliensis Spreng. (cipó de beira de capão) e
Pithecoctenium crucigerum (L.) A.H.Gentry (pente-de-macaco).
Dentre as espécies exóticas observadas, as mais freqüentes foram Eriobotrya japonica
Lindl. (nêspera ou ameixa amarela), Ricinus communis L. (mamona), Impatiens walleriana Hook
(beijinho) e Melia azedarach L. (cinamomo). Nos ambientes mais alterados, encontravam-se as
espécies ruderais Bambusa taquara L. (taquara), Pennisetum purpureum Schum. (capim-elefante) e
Brachiaria errecta Hack. (capim-braquiária) com bastante frequência.
A bacia hidrografica do arroio do Padre, de modo geral, apresenta alguns segmentos
relativamente conservados, apesar que, em alguns trechos apresentar situações de assoreamento,
contaminação por lixo doméstico, ocupação irregular, lançamento indevido de esgoto e invasão de
espécies exóticas e ruderais.
Com relação ao Índice de Degradação Ambiental (IDA), foram identificadas três das
quatro classes propostas pela metodologia (Figura 3). A porção norte da bacia apresenta uma menor
qualidade ambiental devido ao fato de englobar uma área fortemente urbanizada, com um solo
variando entre argiloso e médio arenoso, com relativa declividade. Nessa área observam-se também
ocupações irregulares, sobretudo nas áreas de preservação permanente (APP), sem as menores
condições sanitárias e de segurança. Contudo alguns setores na porção norte da bacia ainda exibem
qualidade ambiental moderada e alta por apresentar cobertura vegetal, com matas de galeria e áreas
de preservação ambiental, como o Parque Municipal Marguerita Massini.

264
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 03. Mapa do índice de degradação ambiental


da bacia hidrográfica do arroio do padre, PR.

Ao longo do leito do arroio as condições ambientais demonstram-se aparentemente


constantes, sendo favorecidas pelo tipo de solo que é bastante argiloso, pelo embasamento
geológico e pela relativa presença de matas de galeria (Floresta Ombrófila Mista Aluvial), campos
nativos (Estepe stricto sensu) ou brejos (Estepe Higrófila ou Várzeas).
A Porção Sul da bacia é ocupada por agricultura e por trechos de reflorestamento com
espécies exóticas, pressões antrópicas estas que acarretam na diminuição da qualidade ambiental da
área. A maioria das áreas agricultadas goza ainda de um solo frágil de textura média arenosa,
favorecendo a erosão no local, que apresenta relevo suave ondulado. Contudo nas áreas de
reflorestamento a declividade varia entre 12% e 50%, significando que as áreas apresentam elevado
potencial erosivo. Deve-se considerar ainda o fato que as espécies utilizadas na silvicultura, (Pinus
spp e Eucalyptus spp) apresentam alelopatia, não permitindo o desenvolvimento de outras espécies
nas áreas em que se desenvolvem, deixando o solo descoberto e por conseqüência vulnerável à
erosão.
A tabela 02 apresenta os parâmetros utilizados, para cada setor, na determinação do Índice
de Degradação Ambiental da bacia hidrográfica do Arroio do Padre.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Densidade
Setor Vegetação Solo Declividade Valor IDA
Demográfica
1 0,98 1 0,5 1 0,38
2 1 1 0,5 1 0,38
3 0,02 1 0,12 1 0,53
4 0,97 1 0,5 1 0,38
4.1 0,98 1 0,5 1 0,38
5 0,96 1 0,5 1 0,39
6 0,98 1 0,5 1 0,38
7 1 1 0,5 1 0,38
7.1 0,19 1 0,12 1 0,48
8 0,98 1 0,5 1 0,38
9 0,72 1 0,5 1 0,45
10 0,99 1 0,5 1 0,38
11 0 1 0,12 1 0,53
12 0,92 0,5 0,5 1 0,52
13 0 0,5 0,025 1 0,63
14 0,03 0,5 0,12 1 0,65
15 0 0,5 0,5 1 0,75
16 0,98 0,5 0,5 1 0,51
17 0,96 0,5 0,5 1 0,51
18 0,91 0,5 0,5 1 0,52
19 0,05 0,5 0,5 1 0,74
20 0,04 0,5 0,12 1 0,65
21 0 1 0,5 1 0,63
22 0 1 0,025 1 0,51
23 0,09 1 0,12 1 0,51
24 0 1 0,12 1 0,53
25 0,03 0,5 0,5 1 0,74
26 0,02 0,5 0,12 1 0,65
27 0,01 0,5 0,5 1 0,75
28 0,58 1 0,5 1 0,48
29 0,89 1 0,025 1 0,25
30 0,94 0,5 0,12 1 0,42
31 0,04 0,5 0,12 1 0,65
32 0,74 0,5 0,12 1 0,47
33 0,11 0,5 0,025 1 0,60
34 0,98 0,5 0,5 1 0,51
35 1 0,5 0,5 1 0,50
36 0,94 0,5 0,12 1 0,42
37 0,05 0,5 0,5 1 0,74
38 0,02 0,5 0,12 1 0,65
39 0,87 0,5 0,12 1 0,44
40 0,99 1 0,5 1 0,38
41 0,89 1 0,025 1 0,25
42 0,3 0,5 0,12 1 0,58
43 0,21 0,5 0,12 1 0,60
44 0,34 0,5 0,12 1 0,57
45 0,29 0,5 0,025 1 0,56
46 0,43 0,5 0,12 1 0,55
47 0,69 0,5 0,025 1 0,46
48 0,04 0,5 0,12 1 0,65
49 0,03 0,5 0,025 1 0,62

Tabela 02. Índice de Degradação Ambiental (IDA) para cada situação ambiental identificado na
Bacia Hidrográfica do Arroio do Padre, Ponta Grossa, PR.

266
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No contexto do espaço urbano do município de Ponta Grossa, as bacias hidrográficas vêm


sendo degradadas ao longo de décadas, seja pela falta de planejamento urbano, pela especulação
imobiliária ou pela inépcia política dos gestores municipais.
A bacia hidrográfica do Arroio do Padre apresenta características particulares, como por
exemplo, a presença de fragmentos de vegetação nativa relativamente conservada em plena área
urbana. Existem trechos em que a situação é aviltante, a ocupação irregular chega literalmente à
margem do arroio, o solo descoberto é assoreado, há lixo por todo lugar, e a pouca cobertura vegetal
existente é formada por espécies indicadoras de perturbação ambiental.
Considerando a crescente expansão urbana no município de Ponta Grossa, é necessário que
haja regulamentação nos processos de expansão e fiscalização por parte da gestão municipal em
relação ao cumprimento das determinações locais e da legislação ambiental vigente, visto que é
notório o aumento das áreas ocupadas por condomínios fechados e loteamentos na área de estudo.
A metodologia empregada neste estudo pode ser considerada uma ferramenta de grande
valia tanto para os profissionais da gestão ambiental e do território quanto aos gestores municipais,
uma vez que considera as variáveis ambientais aliadas ao fator antrópico, subsidiando assim um
melhor planejamento para o município. Sendo assim, a metodologia IDA mostrou-se viável para
uma bacia menor e inteiramente urbana, como a bacia hidrográfica do arroio do Padre.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Quebra-Perna, Ponta Grossa – PR. 2004. 165 f. Tese
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<http://www.ibge.gov.br/censo/>. Acesso em: 14 de jul. 2009.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

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do departamento de geografia n.º 05, FFLCH-USP, São Paulo, 1994.

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Un., v. 38, p. 913-920, 1957.

268
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

AVALIAÇÃO TEMPORAL DO PROCESSO DE EXPANSÃO URBANA NA BACIA


HIDROGRÁFICA DO RIO ANIL, SÃO LUÍS-MA

Suzana Araújo Torres


Universidade Federal do Maranhão
Tatiana Cristina Santos de Castro
Universidade Federal do Maranhão
Franceleide Soares Conceição
Universidade Federal do Maranhão
Fabíola Geovanna Piga
Universidade Federal do Maranhão
Janaína Mendes Barros
Universidade Federal do Maranhão

RESUMO
A expansão urbana representa parte do processo de desenvolvimento socioeconômico e cultural de
um povo. A população do Brasil encontra-se em sua maioria localizada nas zonas urbanas,
ocasionando aumento na utilização dos recursos naturais o que acelera consideravelmente o
processo de degradação ambiental. A bacia hidrográfica é considerada a principal unidade territorial
em estudos sobre o processo de expansão urbana. A bacia hidrográfica do rio Anil destaca-se, entre
as demais bacias da Ilha de São Luís, como a mais densamente urbanizada resultado do seu
processo histórico de ocupação, caracterizado pela ausência de planejamento e deficiência nos
sistemas de abastecimento hídrico e na infra-estrutura sanitária esse trabalho tem como objetivo
efetuar uma avaliação temporal do processo de expansão urbana na bacia hidrográfica do rio Anil e
desenvolver uma análise sobre as condições ambientais na região.
Palavras-chave: Urbanização, Bacia hidrográfica e rio Anil.

INTRODUÇÃO
A expansão urbana representa parte do processo de desenvolvimento socioeconômico e
cultural de um povo. De acordo com CÔRTES (2000), durante esse processo o qual ocorre em
escala temporal e espacial, diversos impactos promovem alterações na paisagem e perdas das
funções ecológicas do sistema ambiental.
A população do Brasil encontra-se em sua maioria localizada nas zonas urbanas,
ocasionando aumento na utilização dos recursos naturais o que acelera consideravelmente o
processo de degradação ambiental.
A bacia hidrográfica é considerada a principal unidade territorial em estudos sobre o
processo de expansão urbana. De acordo com ALCÂNTARA (2003), as conseqüências do processo
de expansão urbana em bacias hidrográficas, no sentido hidrológico, provocam alterações
significativas no balanço hídrico, resultando em alterações na qualidade ambiental devido o
crescimento desordenado das populações nessas áreas.
De acordo com DAMAZIO (1995) a bacia hidrográfica do rio Anil destaca-se, entre as
demais bacias da Ilha de São Luís, como a mais densamente urbanizada resultado do seu processo
histórico de ocupação, caracterizado pela ausência de planejamento e deficiência nos sistemas de
abastecimento hídrico e na infra-estrutura sanitária.
Nesse sentido, esse trabalho tem como objetivo efetuar uma avaliação temporal do processo
de expansão urbana na bacia hidrográfica do rio Anil e desenvolver uma análise sobre as condições
ambientais na região.

269
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

MATERIAL E MÉTODO

A bacia hidrográfica do rio Anil ocupa a porção noroeste da Ilha do Maranhão, fazendo
parte do município de São Luís, entre as coordenadas 02º 35’ 12”S a 02º 28’ 27”S e 44º 20’ 33”w a
44º 11’ 12”W (Figura 1). Apresenta como limites: ao norte pequenas bacias costeiras; ao sul e a
leste, o divisor de águas que a separa da bacia do rio Paciência; e finalmente, a oeste pelo divisor de
águas que a separa da bacia do rio Bacanga (DAMAZIO, 1995).

Figura 1. Localização da área de estudo, Bacia Hidrográfica do Rio Anil, São Luís-MA.

A avaliação temporal do processo de expansão urbana na bacia hidrográfica do rio Anil foi
realizada através da vetorização de imagens de satélite LANDSAT TM5, adquiridas gratuitamente
no site do INPE (Instituto de Pesquisas Espaciais) para duas épocas distintas, com o auxilio do
software SPRING (versão 4.2).
Para a vetorização das imagens de satélites foram adotadas as seguintes classes temáticas:
curso d’água, manguezal, áreas verdes (vegetação secundária), solo exposto e urbanizado. As
imagens de satélites utilizadas foram: LANDSAT TM 5, órbita 220, ponto 62, de 10 de junho de
1984 e LANDSAT TM 5, órbita 220, ponto 62, de 17 de setembro de 2008, além de arquivos
digitais em formato SHAPE (limite da bacia, limite da Ilha de São Luís e Estados do Brasil).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A avaliação do processo de urbanização da bacia hidrográfica do rio Anil, realizada através


do mapeamento temático no intervalo de 24 anos, constatou uma diminuição das áreas com
cobertura vegetal e um aumento significativo da área urbanizada na região. De acordo com
ALCANTARA (2003), o desmatamento da cobertura vegetal (manguezal e áreas verdes) para o
provimento do desenvolvimento e urbanização, influênciam nas etapas do ciclo hidrológico,
causando a redução da evapotranspiração, maior escoamento superficial, e alterações no microclima
na bacia do rio Anil.
Para o ano de 1984 observa-se que a ocupação da bacia caracteriza-se de forma
desordenada, onde as diferentes ocupações, especialmente a concentração de palafitas instaladas ao
270
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

norte na região do baixo curso e em direção ao sul, a construção de conjunto habitacionais


apresenta-se bastante significativo, inclusive provocando o assoreamento e aterro dos canais
fluviais, assim como nas demais regiões da bacia.
Para o ano de 2008 observa-se uma redução significativa das áreas verdes na região da bacia
(vegetação secundária). O que antes representava 1.137 hectares, com 25,72% do território,
atualmente representa 732 hectares, com 16,56% da região, ou seja, uma perda de aproximadamente
405 hectares de áreas verdes, substituídas por áreas densamente urbanizadas, com solos
impermeáveis.
Com relação às demais classes temáticas adotadas nesse estudo notaram-se redução nos
cursos d’água, uma perda de aproximadamente 34 hectares, pois antes o que recobria 278 hectares,
com 6,29%, atualmente representa 224 hectares, com 5% do território. Notou-se também redução
nas áreas de manguezal, uma perda de aproximadamente 115 hectares, antes essa região
representava 569 hectares, hoje representa 454 hectares, com 10,2% do território. As áreas de solo
exposto tiveram um aumento, o que antes representava 21 hectares, no ano de 1984, atualmente
representa 75 hectares, o que corresponde a 1% da área total da bacia.
O processo de ocupação na bacia continua com o padrão desordenado dos 24 anos atrás, a
população na região aumentou rapidamente, além de perdas na região de manguezal para dar lugar a
mais palafitas e casas as margens do rio. Segundo CARDOSO (2007) mais de 66% da bacia do rio
Anil encontra-se ocupada com áreas urbanas, variando desde aquelas densamente ocupadas, até
áreas com baixa densidade de urbanização (pequenas porções do território na região leste). Essa
redução da vegetação nativa ocasiona alterações dos processos que ocorre dentro desse ecossistema.
De acordo com TUCCI (2002) a ocupação urbana sem planejamento entre outros fatores, é
responsável pela destruição das matas ciliares e zonas ripárias proporcionando assim a erosão, o
carreamento de sedimento e conseqüentemente à piora da qualidade da água e principalmente a
diminuição da capacidade de armazenamento das bacias hidrográficas, levando a redução da vazão
do lençol freático.

Tabela 1:Unidades de paisagem identificadas na bacia do rio Anil nos anos de 1984 e 2009.
Unidades de Ano de 1984 Ano de 2008
Paisagem

Área (ha) Porcentagem (%) Á Porcentagem (%)


rea (ha)

Curso D’água 278,457 6,29 224,855 5,04

271
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Manguezal 569,952 12,89 454,549 10,27

Áreas verdes 1.137,175 25,72 732,398


(vegetação 6,56
secundária)

Solo Exposto 21,131 0,47 75,654 1,69

Urbanizado 2.413,942 54,60 2.931,829 66,31

Total 4.420,659 100 4.420,659 100

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O mapeamento das Unidades de Paisagem no estudo de avaliação temporal do processo de


urbanização na bacia hidrográfica do rio Anil permitiu observar que na região da bacia o processo
de uso e ocupação do solo permanece em constante desenvolvimento, estendendo-se lateralmente
por todo o espaço disponível, principalmente pela margem esquerda da bacia.
A bacia hoje, caracteriza-se fortemente urbanizada, resultado do seu processo histórico de
ocupação, caracterizado pela ausência de planejamento e deficiência nos sistemas de abastecimento
hídrico e na infra-estrutura sanitária. Atualmente, acredita-se que a população esteja acima dos
300.000 habitantes, totalizando um recobrimento da ordem de 65% de sua superfície disponível.

272
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

REFERÊNCIAS

ALCÂNTARA, E. H.; SILVA, G. C. 2003. Consequências Ambientais da Intensa Urbanização


da Bacia Hidrográfica do Rio Anil, São Luís – MA. In: VI Congresso de Ecologia do Brasil.
Fortaleza – CE, Vol. VI p.271-271-273.

CARDOSO, Gisele Martins. Uso de Geotecnologias como subsídio a plano diretor de


drenagem: estudo de caso de bacias hidrográficas dos rios Anil e Paciência – MA. São Luís.
Monografia graduação em Ciências Aquáticas curso de ciências Aquáticas. Universidade Federal do
Maranhão, 2007.

CÔRTES, M.R. et al. Uso e ocupação da terra na área urbana. In: Espínola, E.L.G. et al. A bacia
hidrográfica do Rio Monjolinho; uma abordagem ecossistêmica e a visão interdisciplinar. São
Carlos: RiMa editora, 2000. 114-132p.

DAMÁZIO, Eduardo. Aspectos Geo-Ambientais da Bacia do Rio Bacanga, Ilha do Maranhão,


1995.

273
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

CARACTERIZAÇÃO DO RELEVO E SUA INFLUÊNCIA NO ESCOAMENTO


SUPERFICIAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO BACANGA, SÃO LUÍS-MA

Tatiana Cristina Santos de Castro


Universidade Federal do Maranhão
castro_tatiana@hotmail.com
Franceleide Soares Conceição
Universidade Federal do Maranhão
Suzana Araújo Torres
Universidade Federal do Maranhão
Janaína Mendes Barros
Universidade Federal do Maranhão
Carla Danielle Paixão Melo
Universidade Federal do Maranhão

RESUMO
A bacia hidrográfica do rio Bacanga, localiza-se na região noroeste do município de São Luis,
capital do Estado. A caracterização do relevo na bacia foi realizada a partir da geração automática
da amplitude altimétrica, curvas de nível e a declividade do terreno, através de softwares com
aplicação em Sistemas de Informações Geográficas (SIG). A bacia apresenta amplitude altimétrica
de aproximadamente 56 metros, relevo suave e plano, em cotas acima de 40 metros e relevo
ondulado a fortemente ondulado, assentados em cotas inferiores a 40 metros, que representam as
maiores porções do território na região da bacia do rio Bacanga.

Palavras-chave: Relevo, Escoamento superficial, Bacia hidrográfica.

INTRODUÇÃO
A caracterização do relevo em uma bacia hidrográfica apresenta grande relevância, pois
permite conhecermos como se comporta o escoamento superficial e sub-superficial, ou seja, o
tempo de duração que leva a água para atingir e concentrar-se nos canais fluviais.
A bacia hidrográfica compreende uma área definida topograficamente, cujo escoamento,
superficial ou subterrâneo, alimenta o deflúvio em determinada seção transversal do curso d’água,
compõe-se, basicamente, de um rio principal e seus afluentes GARCEZ & ALVAREZ (1988).
Em uma bacia hidrográfica urbana o modo de ocupação humana reflete na qualidade dos
recursos naturais, principalmente os recursos hídricos, pois todos os processos de intervenção do
homem conseqüentemente têm no corpo d’água o seu destino final. E, quase que inevitavelmente
provocam alterações na qualidade e quantidade dos recursos hídricos da bacia.
De acordo com SANTOS (2004), a bacia hidrográfica é considerada a principal unidade do
espaço a tratar assuntos ambientais, de abastecimento de água e outros. Segundo este autor o
planejamento e gerenciamento ambiental de bacias hidrográficas devem incorporar, além dos
recursos hídricos, os demais aspectos ambientais, físicos, sociais, econômicos e políticos de uma
região.
Desse modo esse estudo tem como objetivo caracterizar os aspectos físicos a partir do estudo
do relevo e sua influência no escoamento superficial na bacia hidrográfica do rio Bacanga, São
Luís, Maranhão.

274
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

MATERIAL E MÉTODO
A bacia hidrográfica do rio Bacanga, localiza-se na região noroeste do município de São
Luis, capital do Estado. Está compreendida entre as coordenadas geográficas 2° 31’ 30’’ a 2° 39’
13’’ de Latitude Sul e 44° 14’ 25’’ a 44° 20’ 27’’ a Oeste do Meridiano de Greenwich (Figura 1).
Apresenta como limites: ao Norte Baía de São Marcos; ao Sul o Tabuleiro Central da Ilha na região
do Tirirical; a Leste as bacias dos rios Anil, Paciência e Tibiri e a Oeste as bacia litorâneas
(Cachorros, Irinema, Araporaí e Anjo da Guarda).

Figura 1. Localização da área de estudo, Bacia hidrográfica do rio Bacanga, São Luís-MA.

A caracterização do relevo na bacia hidrográfica do rio Bacanga se deu através do estudo


hipsométrico e da declividade do terreno, gerados automaticamente a partir do uso de software com
aplicação em Sistema de Informações Geográficas (SIG).
De acordo com GUERRA (1993) apud SILVA (2001) a declividade do terreno indica as
áreas de maior ou menor inclinação em relação ao horizonte. Para TONELO (2005) a declividade
do terreno é expressa como a variação de altitude entre dois pontos do terreno em relação à
distância que os separa.
O estudo hipsométrico representa análise do relevo por curvas de nível, ou seja, a variação
na elevação do terreno de uma bacia hidrográfica com referência ao nível do mar (SANTOS, 2004).
A partir do modelo digital de elevação do terreno, grade regular de pontos altimétricos em
formato ASCII, dados aerofotogramétricos (SEMTHURB, 2001), escala 1:35.000 foi gerado a
amplitude altimétrica, as curvas de nível e a declividade do terreno na região da bacia hidrográfica
do rio Bacanga.
A declividade do terreno apresenta-se distribuído em classes, consideradas em função das
características morfológicas da área, apresentadas em porcentagem. A Tabela 1 apresenta a
distribuição das classes de declividade adotas para a bacia do rio Bacanga que seguiu a classificação
de ROSA & BRITO (2003).
As curvas de nível foram geradas em classes, com intervalos de 5 metros e apresentadas com
variação de atitude em intervalos de 20 metros. As classes adotadas foram contabilizadas
275
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

individualmente em termos de área e em porcentagem quanto à área total da bacia. Assim pode-se
observar a representação da variação de altitude na área de estudo.

Tabela 1. Distribuição das classes de declividade adotadas para a bacia do rio Bacanga.
Classes Características
0 a 3% Áreas de relevo suave ondulado ou quase plano com escoamento superficial
lento a muito lento
3 a 8% Áreas de relevo suave ondulado com interflúvios extensos a aplainados
8 a 12% Áreas de relevo mediamente ondulado com as mesmas características
apresentadas pela categoria 3 a 8%
12 a 20% Áreas de relevo ondulado com escoamento superficial rápido
> 20% Áreas de relevo fortemente ondulado formado por morros com declives fortes
Fonte: ROSA & BRITO (2003).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A bacia hidrográfica do rio Bacanga apresenta amplitude altimétrica de 56 metros. As áreas
mais elevadas dessa bacia, com cotas altimétricas acima de 40 metros, concentram-se na região
sudeste bacia e em pequenas regiões a sudoeste. Essas áreas representam 8,2% do território,
aproximadamente 846,7 hectares. Essa região destaca-se por estar assentada sobre o Tabuleiro
Central da Ilha de São Luís, na região do Tirirical, cuja declividade varia entre 0 a 3% o que
caracteriza a área como regiões altas e planas, com escoamento superficial lento a muito lento.
De acordo com a Lei n0 4.669/06, as regiões do Município de São Luís, assentadas em cotas
acima de 40 metros, representam as áreas de recarga de aqüífero. Na bacia do Bacanga, essa região
apresenta solo poroso e bastante permeável e embora esteja inserida em área antropizada, ainda
apresenta boa cobertura vegetal, devido a Presença do Parque Estadual do Bacanga.
As áreas com altitudes intermediárias, acima de 20 metros e inferiores a 40 metros, ocupam
4.487 hectares, correspondente a 43.8% do território. Essas áreas concentram-se a oeste, com
declividade de 0 a 3%, com escoamento superficial lento a muito lento, em pequenas áreas na
região sul e leste, com declividade de 3 a 8% o que caracteriza essas regiões com relevo suave a
ondulado e escoamento superficial lento a acelerado.
As cotas inferiores a 20 metros em relação ao nível do mar ocupam 4.879 hectares,
correspondente a 47,7% da região da bacia. Essas regiões distribuem-se em pequenas áreas na
região oeste e leste, com declividade acima de 20%, o que caracteriza áreas de relevo fortemente
ondulado, constituído por morros com declives fortes e escoamento superficial muito rápido.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na bacia hidrográfica do rio Bacanga a amplitude altimétrica é relativamente pequena e


indica que a área está assentada sobre cotas baixas o que permite a influência da maré atingir a
região média da bacia.
A declividade na área caracterizou-se bastante variável com diferentes inclinações do
terreno em uma mesma região, com destaque para as áreas altas, cotas acima de 40 metros, ao
sudeste e sudoeste da bacia, de relevo suave e plano, com escoamento superficial lento a muito
lento, que apresentam forte potencial para infiltração, contribuindo para a recarga do Aqüífero
Barreiras na região.
As áreas de relevo suave a ondulado, com escoamento superficial lento a acelerado e áreas
de relevo fortemente ondulado, constituído por morros com declives fortes, com escoamento
superficial muito rápido, ocupam respectivamente as maiores poções do território e estão assentadas
em cotas inferiores a 40 metros.

276
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

REFERÊNCIAS

COELHO, Cristiano Jackson da Costa. Aspectos da Disponibilidade e dos Usos da Água na


Bacia do Bacanga/Ilha do Maranhão (Ilha de São Luis)-MA. São Luis, 2006, 125 p. Monografia
(Curso Ciências Aquáticas). Departamento de Oceanografia e Limnologia, Universidade Federal do
Maranhão.

GARCEZ, Lucas Nogueira; ALVAREZ, Guillermo Acosta. Hidrologia. 2ª ed. São Paulo: Editora
Edgar Blucher LTDA, 1988, 291p.

Lei Nº 4.669. Macrozoneamento Ambiental. Prefeitura Municipal de São Luis. Plano Diretor do
Município de São Luis, 2006.

ROSA, Roberto; BRITO, Jorge Luis. Mapa de hipsometria e declividade do terreno da bacia
hidrográfica do rio Araguari-MG. Urbelândia, 2003. II Simpósio Regional de Geografia. Instituto
de Geociência. Universidade Federal de Urbelândia.

SANTOS, Rozely Ferreira dos. Planejamento Ambiental: teoria e prática. São Paulo: Editora
Oficina de Textos, 2004. 184 p.

SEMTHURB – Secretária Municipal de Terras, Habitação, Urbanismo e Fiscalização Urbana.


Prefeitura Municipal de São Luís. Levantamento Aerofotogramétrico do Município de São Luís,
2001.

SILVA, Quésia Duarte da. Proposta de Zoneamento Geoambiental da bacia hidrográfica do


Tibiri, São Luis-Ma. Fortaleza, 2001, 154 p. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio
Ambiente). Universidade Federal do Ceará.

TONELLO, Kelly Cristina. Análise hidroambiental da bacia hidrográfica da Cachoeira das


Pombas, Gunhães-Mg. Viçosa, 2005. Dissertação (Mestrado de em Ciências Florestais).
Universidade Federal de Viçosa.

277
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Planejamento Ambiental

278
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

ESTUÁRIO DO RIO PARAÍBA


DINÂMICA AMBIENTAL E OCUPAÇÃO TERRITORIAL

Giovanni de Farias Seabra6

RESUMO

Situado no extremo oriental do Estado da Paraíba, o Estuário do Rio Paraíba está inserido na
Microrregião de João Pessoa, ocupando parte dos municípios de Bayeux, Cabedelo, João Pessoa,
Lucena e Santa Rita. O objetivo deste trabalho é suscitar reflexões em torno dos elementos que
atuam na paisagem estuarina do Rio Paraíba e propor medidas conservacionistas, evitando
desequilíbrio ainda maior do ecossistema. Aplicando a metodologia geossistêmica nas diversas
representações espaciais, é possível propor um melhor direcionamento para análise mais ampla e
integrada dos elementos que estão inseridos no ambiente estuarino.

PALAVRAS-CHAVES: Estuário; Recursos Hídricos; Unidades de Conservação; Gestão


Ambiental.

Os estuários são vales fluviais afogados pelo mar, e por isso constituem ambientes de
transição entre o fluvial e o marinho, sendo, portanto, influenciados tanto pelas correntes fluviais,
como pelas correntes de maré. Os ambientes estuarinos são encontrados, freqüentemente, em costas
planas e baixas, comumente associados à vegetação de mangue. Apesar da quantidade de material
detrítico transportado pelo rio ser considerável, o sistema de circulação marinho não favorece, nesse
caso, a formação de deltas, consequentemente apresentam poucas ilhas entremeadas de canais
livres.
Segundo SUGUIO (1980), os estuários constituem corpos de água rasa e salobra, situados na
desembocadura de vales fluviais afogados, formados pela submergência do continente ou da
elevação do nível do mar. O afogamento dos estuários deve-se às transgressões marinhas
provocadas pelos movimentos epirogenéticos e elevação do nível do mar resultante do aquecimento
global. Na maior parte das vezes, os estuários atuais são vales fluviais afogados (rias) que ainda
não se recuperaram da rápida ascensão do nível do mar, após a última fase glacial ocorrida no
Pleistoceno. É uma região onde ocorre dinâmico encontro ambiental, onde os rios desembocam no
oceano, diluindo a água do mar nas proximidades. A permanente influência das marés oceânicas faz
a sua salinidade variar, e esta é a característica mais evidente de um estuário.
Como o ambiente estuarino é diretamente influenciado pelas marés, as águas marinhas
salgadas, ao penetrarem nesse ambiente, formam a chamada maré de salinidade. A maré de
salinidade se distingue da maré dinâmica, em que ocorre a propagação de ondas de maré, rio acima,
sem que ocorra invasão de águas salgadas. O alcance continental da maré dinâmica é bastante
variável, dependendo do volume da massa hídrica e da força da maré. As marés dinâmicas penetram
apenas doze quilômetros no rio Capibaribe, em Pernambuco, enquanto no rio Amazonas ocorre o
bloqueio das águas doces pela ação das marés até 1.500 quilômetros foz. Quando as correntes de
maré dinâmica se antepõem ao fluxo fluvial do Amazonas, ocorrem violentas vagas denominadas
pororoca.
Os mangues estão localizados nos estuários e expandem-se para o interior da planície até
onde se façam presentes as influências das marés. Constituem uma formação vegetal perenifólia,
com espécies altamente adaptadas ao tipo de ambiente flúviomarinho, de salinidade elevada e solos
instáveis, pantanosos, com alto teor de matéria orgânica em decomposição. As raízes suportes e
respiratórias são expedientes usados pelas plantas para existirem e sobreviverem nesse tipo de
ambiente.
6
Doutor em Geografia Física, Professor Associado da Universide Federal da Paraíba.
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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

A influência da globalização nos ambientes costeiros


A globalização compreende uma nova ordem econômica e geopolítica que ocorre em
nível mundial. Este novo modelo econômico e social é fundamentado nas teses neoliberais,
implicando na conquista de novos mercados de consumo, quebra das barreiras alfandegárias,
redução ou eliminação de mercados pouco rentáveis – a exemplo do continente africano e o sudeste
asiático - e estímulo aos novos mercados em expansão, como a China, a Rússia e a Coréia do Sul.
Como resultado desse processo, tem-se a padronização de hábitos, costumes e dos bens
de consumo, redução da vida útil dos produtos e grande aumento na produção de resíduos sólidos e
químicos, causando danos ao meio ambiente nunca vistos.
A consequência mais imediata da globalização é a mundialização dos problemas
ambientais associados, principalmente, ao grande volume de poluentes e materiais descartáveis
agregados aos produtos comercializados de forma compulsiva, e que atingem, inclusive a camada
social formada pelos excluídos. O lixo acumulado nos continentes, nos lixões a céu aberto e
depositado nos rios e córregos tem como destino final os estuários, a partir dos quais são
distribuídos nos diferentes ambientes costeiros pela ação dos ventos e correntes marinhas,
agravando a poluição e comprometendo a estética da paisagem.
A poluição e o acúmulo de lixo, antes restritos aos grandes centros urbanos, tornaram-se
grandes ameaças aos pequenos lugarejos, à qualidade da água e as praias. As comunidades
tradicionais, habituadas outrora a conviverem com um ambiente dotado de baixos níveis de
poluição, são agora vitimadas pela quebra de fronteiras dos problemas ambientais.
As chamadas sociedades tradicionais, existentes e resistentes no mundo globalizado, em
virtude de barreiras sociais, culturais e naturais, expõem-se com uma velocidade impressionante às
intempéries da modernidade, sobretudo em função da abertura e pavimentação de estradas,
facilitando a ocupação dos territórios mais remotos. O resultado imediato do impacto provocado
pela facilidade dos acessos e modernização de áreas isoladas, é a consequente descaracterização
cultural, remoção e empobrecimento das populações indígenas, ribeirinhas, caboclas e quilombolas,
que constituem as sociedades tradicionais do Brasil, alvos últimos do desenvolvimento sustentável e
da educação ambiental.
Por outro lado, os grandes empreendimentos hoteleiros também estão comprometidos pelo
acúmulo do lixo nas praias. As redes hoteleiras nacionais e internacionais têm escolhido ambientes
praiais e estuarinos para construção de grandes meios de hospedagem tipo resort, contudo os
lugares destinados a este fim estão comprometidos pelos impactos ambientais continuados.
Comparados à mundialização dos problemas ambientais, os programas de educação
ambiental parecem destinados ao fracasso em função, principalmente, do consumo compulsivo e a
alarmante produção de resíduos. Educação ambiental somente é possível a partir da renúncia aos
produtos e reciclagem dos resíduos, com a gradativa substituição por produtos biodegradáveis e
pouco poluentes.
Conjuntamente à globalização, surgiu o meio informacional e o espaço relacional. Assim,
a rede de informática e de comunicações que reduz as distâncias e permite comunicar-se, em
segundos, com os cantos mais remotos da Terra, tem a função de padronizar hábitos, costumes e
cultura, causando o extermínio de grupos étnico-culturais, dando lugar a pesadas estruturas
empresariais, fundamentadas não na produção de bens-de-consumo, e sim com função comercial e
de serviços.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Metodologia

As mudanças ocasionadas no ambiente como efeitos da ação antrópica refletem as


alterações significativas no equilíbrio dos sistemas naturais, principalmente no decorrer do
crescente aumento da população e o acelerado processo de urbanização, intensificando-se os
impactos da interferência humana na paisagem. Estes processos transformaram toda a estrutura
ecológica e social, provocando, assim, uma maior fragilidade e vulnerabilidade do ambiente.
A abordagem geossistêmica dos sistemas ambientais físicos revela uma organização espacial
complexa e individualizada, segundo os variados elementos componentes da natureza. De acordo com
SOTCHAVA (1977), os geossistemas possuem formações naturais que atuam na esfera terrestre de um
sistema em que os valores sociais e econômicos estão vinculados ao geossistema em nível planetário.
Por outro lado, a concepção de BERTRAND (1971) apresenta o elemento antrópico mais
vinculado aos geossistemas do que a definição de Sotchava. Bertrand redefiniu o geofácies como
um setor fisionomicamente homogêneo, onde se desenvolve uma mesma fase da evolução geral do
geossistema com algumas centenas de metros quadrados. O geótopo constitui os setores internos do
geofácies, sendo a menor unidade geográfica homogênea que possui maior interrelação dos
elementos componentes.
Para o desenvolvimento desta pesquisa, que busca analisar unidades da paisagem com
enfoque na geografia física, torna-se pertinente a utilização do conceito de geossistema. Em estudo
ambiental na Chapada Diamantina, SEABRA (1991) empregou a classificação geoambiental
baseada na teoria dos geossistemas, na qual identificou, classificou e analisou os elementos
componentes do Sistema Cárstico da Região do Andaraí. A metodologia utilizada neste estudo parte
da análise de características físicas e sociais da região estuarina, sendo desenvolvida em várias
etapas. Os procedimentos utilizados na pesquisa seguem os critérios abaixo mencionados.
A primeira fase consistiu no levantamento bibliográfico sobre os conceitos e questões
referentes ao estuário, envolvendo os assuntos abordados no tema da pesquisa. No segundo
momento, ocorreu a pesquisa de campo, com observação direta da região estuarina, para coleta de
dados in loco.
A etapa posterior consistiu na elaboração de mapas digitais, na qual foi necessário um
período de treinamento com a mesa digitalizadora e utilização do programa AutoCAD 2000, no
Laboratório de Ensino e Pesquisa em Análise Espacial do Departamento de Geociências.
O levantamento do material cartográfico incluiu a seleção de cartas topográficas da
SUDENE, nas escalas de 1:100.000 e 1:25.0000 e imagem de satélite SPOT de 1995. Além de
diversos mapas temáticos relacionados ao Estuário do Rio Paraíba.
Através de cartas topográficas e de imagens que cobrem a área em estudo, foram
elaborados mapas com zoneamento das planícies flúviomarinhas, tabuleiros costeiros e restingas,
para delimitação dos sistemas naturais.

O Estuário do Rio Paraíba

Os ambientes estuarinos encontram-se entre os ecossistemas costeiros de maior fragilidade


ambiental, principal motivo para a preservação dessas áreas, e também em virtude de sua
importância ecológica, econômica e social. É neste contexto que se insere o Estuário do Rio
Paraíba, sobretudo por representar um santuário ecológico de inestimável valor, passível de
utilização sustentada dos recursos fluviomarinhos, terrestres e culturais.
O rio Paraíba nasce no Planalto da Borborema, na serra de Jabitacá, no município de
Monteiro, sendo o mais extenso do Estado da Paraíba. O seu comprimento total compreende cerca
de 380 km e a bacia hidrográfica correspondente drena uma área de 19.375 km², estando
predominantemente disposta sobre terrenos do complexo cristalino.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

O Estuário do Rio Paraíba possui uma área aproximada de 345 km² e as feições tipicamente
estuarinas, como a salinidade da água e a vegetação de mangue, ocorrem desde a desembocadura do
rio, até a cidade de Bayeux, numa distância aproximada de 24 km. Dados censitários revelam uma
população correspondente a 782.224 habitantes e a densidade demográfica é de 2.227 hab./km²
(IBGE,2000).

Figura 1. Estuário do Rio Paraíba

O ambiente é constituído por planícies arenosas, com solos indiscriminados de mangue


e a presença dos baixos planaltos costeiros no seu entorno. O clima da região é tropical-úmido com
chuvas de outono/inverno (março a agosto). As condições ambientais asseguram a ocorrência de
vegetação predominantemente perenifólia, cuja distribuição fitogeográfica ocorre em mosaicos,
segundo fatores geomorfolóficos, topográficos, edáficos e antrópicos. Merece destaque a vegetação
típica de praia, a mata de restinga, o mangue e a vegetação florestal das encostas orientais do baixo
planalto costeiro. Esta formação arbórea constitui um dos últimos testemunhos regionais da Mata
Atlântica.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 2. Praia do Jacaré, Estuário do Rio Paraíba.

A estratigrafia da região estuarina apresenta pacote sedimentar assentado sobre o


embasamento cristalino. Trata-se da cobertura sedimentar do Grupo Barreiras com alguns
afloramentos de calcários da formação Gramame.
A gestão dos recursos hídricos compreende ações objetivas para redução ou eliminação dos
principais problemas de natureza ambiental e sociocultural. Dentre os problemas relacionados à
degradação ambiental no Estuário do Rio Paraíba, podem ser apontados o uso indiscriminado de
agrotóxicos na lavoura de cana (Santa Rita); despejos domésticos e sanitários in natura nos corpos
d’água superficiais (João Pessoa, Cabedelo, Santa Rita, Bayeux e Lucena; saneamento básico
ineficiente nos municípios envolvidos; coleta e destino final do lixo; nascentes e margens dos rios
desprotegidas; uso indevido de embarcações; destruição da vegetação de mangue e de matas
ciliares; pesca predatória, especulação imobiliária e ocupação desordenada, entre outros.

Figura 3. Porto de Cabedelo, Estuário do Rio Paraíba.

Esses fatores de desequilíbrio ecológico são agravados pela falta de conhecimentos


básicos sobre os ecossistemas locais, associada à insuficiência de instrumentos reguladores da

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

ocupação do solo e uso dos recursos naturais, tendo como agravante o descumprimento da
legislação federal, estadual e municipal.
Os mecanismos controladores do uso e gestão dos recursos naturais são melhor
definidos a partir das diretrizes fundamentadas no zoneamento ambiental do espaço geográfico em
questão. O zoneamento ambiental é definido como sendo a

definição de setores ou zonas em uma unidade de conservação com objetivos de manejo e


normas específicos, com o propósito de proporcionar os meios e as condições para que todos os
objetivos da unidade possam ser alcançados de forma harmônica e eficaz (SNUC, 2000).

O Estuário do Rio Paraíba, embora seja um território protegido pela legislação federal e
estadual, não possui normatização de uso dos recursos naturais e nem mecanismos disponíveis para
monitoramento dos ecossistemas locais. Contudo, existem categorias de unidades de conservação
(SNUC, op. cit.) que podem ser adotadas, para utilização sustentável dos recursos naturais do
Estuário, como a Área de Proteção Ambiental – APA e a Reserva Particular do Patrimônio Natural
– RPPN, além da aplicação pura e simples do Código Florestal e da Lei de Crimes Ambientais.
Ambas as categorias de unidades de conservação adotadas, devem ser precedidas pela
caracterização sócio-ambiental e sócio-econômica, através de levantamentos expeditos de campo e
pesquisas em gabinete, por equipes multi e transdisciplinares. Esse procedimento conduz ao
zoneamento ambiental, ou seja, a associação entre o ordenamento do espaço físico e econômico de
uma dada região, baseada na definição de áreas homogêneas, e as diretrizes a serem implementadas
em cada área proposta, de forma a respeitar-se a vocação ecológica e econômica de cada uma delas.
As estratégias e ações para o ordenamento territorial do Estuário do Rio Paraíba devem
incluir programas de educação ambiental, saneamento básico para as populações ribeirinhas, como
também o recolhimento sistemático, depósito do lixo em local apropriado e o seu tratamento
adequado.
O desenvolvimento de atividades turísticas em áreas de preservação, como os estuários,
requer a realização de estudos ambientais, necessários à definição, caracterização e gestão das zonas
de uso econômico, visando harmonizar o desenvolvimento com a sustentabilidade ecológica, social
e cultural.
O diagnóstico e zoneamento ambiental da Região Estuarina do Rio Paraíba, compreende:
• Estruturação e operacionalização de um sistema de informações sobre o Estuário,
fundamentadas nos dados biofísicos e sócio-econômicos levantados;
• Realização de inventário e diagnóstico ambiental integrado dos ambientes natural e sócio-
econômico;
• Identificação de impactos ambientais e sócio-ambientais e sugestão de medidas para reduzi-los
ou eliminá-los;
• Definição e caracterização das zonas geoambientais, considerando as variáveis físico-bióticas e
sócio-econômicas;
• Identificação de áreas com aptidão para expansão urbana e riscos em consequência do processo;
• Análise da situação atual e potencial do turismo, os programas e modelos oficiais e privados
implantados, e seus reflexos no meio ambiente natural, cultural e social.
As estratégias de ocupação do solo e o uso dos recursos naturais devem ser implementadas
em obediência aos princípios da sustentabilidade, mediante a elaboração do Zoneamento Ecológico
- Econômico e a execução do Plano de Gestão Ambiental Integrada para a Região Estuarina do Rio

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Paraíba. As metas somente poderão ser atingidas, com a participação dos diversos atores sociais,
incluindo os setores público e privado.
Assim, o estabelecimento de parcerias para a operacionalização dos programas definidos no
Projeto Rio Paraíba, possibilitará o desenvolvimento regional com equidade social e controle
ambiental, inclusive quanto à viabilidade econômica e ecológica do ecoturismo, turismo rural e
turismo histórico e cultural.

A dinâmica estuarina do Rio Paraíba

A relação do homem com a natureza atingiu uma situação crítica, na medida em que as
mudanças realizadas tornaram-se irreversíveis, trazendo consigo imprevisíveis alterações nos
sistemas ambientais. De acordo com Drew (1986),

em qualquer região que o homem chegue, como espécie animal que é, ele introduz mudanças e
variações no habitat (...). O homem já deixou de ser um mero aspecto da biogeografia (simples
unidade de um ecossistema), para se tornar cada vez mais um elemento afastado do meio físico e
biológico em que vive (Drew, 1986:04).

Ambientalmente, o Estuário do Rio Paraíba encontra-se em estado regular de conservação,


com algumas áreas ainda em razoável estados de conservação. Contudo, a franca expansão urbana
denota um caráter de destruição de um habitat que mantém e preserva muitos organismos
necessários à sobrevivência da população local. O desmatamento associado á especulação
imobiliária e à ocupação irregular das margens do estuário, põe em risco a existência de inúmeras
espécies da fauna e da flora, como também da população local. A degradação da vegetação e o uso
indiscriminado do solo estão alterando a dinâmica ecossistêmica, comprometendo todo o equilíbrio
ecológico desse ambiente.
Os estuários são um dos principais ecossistemas da biosfera, apresentando uma grande
diversidade de vida, sendo responsáveis pelo recebimento de nutrientes para o ambiente fluvio-
marinho. Esses ambientes litorâneos se caracterizam por apresentar alto grau de fertilidade, sendo
considerados como berçário de peixes e outros animais que procuram refúgio para o seu
desenvolvimento inicial. Odum destaca a importância dos estuários como

locais de criação para espécies que permanecem nesses ambientes durante todo o seu ciclo vital e
espécies que iniciam a sua vida nos estuários, onde o alimento é abundante e a proteção contra os
predadores aumenta a capacidade de sobrevivência e o seu rápido crescimento (Odum, 1983:380).

Contudo, os estuários constituem ambientes frágeis que estão sendo agredidos e destruídos
pela ação antrópica.
Os fragmentos de Mata Atlântica na região estuarina do rio Paraíba apresentam três grupos
faunísticos, compreendendo aves, insetos e pequenos mamíferos. As aves são o conjunto mais
representativo com cerca de 66 espécies.
Entre os impactos ambientais mais evidentes são apontados o depósito de resíduos sólidos
à margem dos rios, sendo transportados pela maré e acumulados nas croas ou nos manguezais;
despejo de esgoto no rio Paraíba e afluentes; e a erosão na margem do canal de Forte Velho,
ocasionada pela ocupação indevida e pela retirada da vegetação ciliar e do mangue. Este processo
associado ao crescente desmatamento nas margens dos rios e córregos estuarinos fornece grande
quantidade de sedimentos, causando assoreamento e alargamento da lâmina de água no canal de
Forte Velho e no leito do rio Sanhauá.
Os vários elementos geográficos que caracterizam a área em estudo foram enfocados nos
seus respectivos compartimentos, integralizando todas as singularidades para melhor compreensão
das relações e conexões entre eles, permitindo o norteamento das ações de planejamento futuras.
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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Unidades geoambientais

A análise de componentes do sistema estuarino evidencia uma compreensão mais integrada


de todos os seus elementos que formam esta unidade da paisagem. Assim, na compartimentação
geoambiental da área são destacados os elementos que compõem o sistema Estuário do Rio Paraíba
e suas relações com o ambiente.

Figura 4. Compartimentação Geoambiental do Estuário do Rio Paraíba.

A partir da abordagem geossistêmica foi definida a compartimentação do ambiente


estuarino do Rio Paraíba. Como primeira unidade geoambiental, delimitou-se a Planície Flúvio-
marinha, que compreende uma superfície plana, com altitude inferior a 10 metros. O clima atua
como fator preponderante nos tipos de solo da região, com presença de areias quartzosas de
granulometria fina a média e solos indiscriminados de mangue, cuja cobertura vegetal é
caracterizada por manguezais e vegetação típica de praia. A rede de drenagem é bastante densa e
significativa. Nessa unidade da paisagem o Rio Paraíba recebe o maior número de tributários da
área em estudo, com destaque para os rios Paroeira, Guia, Sanhauá, Mandacaru e Jaguaribe.
Os Tabuleiros Costeiros formam a segunda unidade. Apresentam cobertura sedimentar do
Grupo Barreiras de origem do período Terciário. As altitudes nesta unidade apresentam-se em dois
níveis topográficos. Ao sul do estuário, onde se localiza a malha urbana de João Pessoa, as altitudes

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

médias variam entre 40 e 60 metros, configurando vales encaixados em forma de V, com uma área
relativamente dissecada em virtude da erosão fluvial.
A parte norte do estuário apresenta altitudes próximas a 100 m. Neste setor ocorre a maior
expansão de áreas cultivadas, com predomínio da monocultura de cana-de-açúcar. O tipo de solo
predominante é o Podzólico Vermelho-Amarelo. A formação vegetal de Mata Atlântica apresenta-
se em alguns setores isolados da área em estudo, como a Mata do Gargaú e a Mata do Buraquinho.
A primeira localiza-se a sudoeste do estuário, no topo do tabuleiro em Santa Rita; já a segunda está
inserida na área urbana de João Pessoa, a qual passou a ser denominada Jardim Botânico Benjamin
Maranhão.
A terceira unidade delimitada constitui a Planície de Restinga, que é formada por uma
faixa litorânea entre o Rio Paraíba e o oceano, de aproximadamente 15 quilômetros, desde o
município de Cabedelo até o bairro de Manaíra, em João Pessoa. Sua configuração morfológica é
extremamente plana com altitudes médias de 6 metros que indicam um lençol freático bastante
denso. A presença de sedimentos arenosos predomina nesta unidade, as suas praias são protegidas
por recifes de arenitos que se apresentam de forma retilínea.
A vegetação de Restinga é compreendida em três áreas dessa unidade: Mata da AMEM,
Reserva Florestal do Estado e um pequeno trecho próximo à faixa litorânea, denominada Ponta de
Campina.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 5. Impactos ambientais no Estuário do Rio Paraíba.

Verificamos que a área estudada possui grande diversidade morfológica e fitogeográfica.


Contudo, a região estuarina que no início do ano 2000 apresentava forte descontinuidade de
vegetação, com vazios demográficos e imobiliários, sofre atualmente intenso processo de
urbanização, como resultado da conurbação entre as cidades de João Pessoa e Cabedelo.
A partir deste estudo analítico propomos medidas para minimizar os impactos ambientais
sobre o estuário do Rio Paraíba, incluindo a conscientização da população e ações de gestão
pública, como necessidades urgentes para sua conservação. A universidade através da pesquisa
acadêmica cumpre o papel social fornecendo subsídios para o ordenamento territorial de modo a
propiciar mais equilíbrio ambiental diante das intervenções humanas.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Referências

CÂMARA DOS DEPUTADOS/COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, MEIO


AMBIENTE E MINORIAS. Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC. Projeto Lei
Nº 2.892, de 2000.
BERTRAND, G. Paisagem e Geografia Física Global – Esboço Metodológico. Cadernos de
Ciências da Terra, 13. São Paulo: IGUSP, 1972.
ODUM, Eugene P. Ecologia. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1986.
DREW, David. Processos Interativos Homem Meio Ambiente. Trad. João A. dos Santos. São Paulo:
Difel, 1986.
SEABRA, Giovanni de F. Pesquisa Científica: O Método em Questão. João Pessoa: Editora
Universitária / UFPB, 2009.
____________________. Estudo geomorfológico da região cárstica de Andaraí: uma
contribuição à conservação de cavernas (Dissertação de Mestrado). Recife: Departamento de
Geografia/UFPE, 1991.
_______________. Do garimpo aos ecos do turismo: O Parque Nacional da Chapada Diamantina.
(Tese de Doutorado). São Paulo: FFLCH/USP, 1998.
_______________. (coord.) Projeto Rio Paraíba: Gestão Ambiental Integrada da Região
Estuarina. Departamento de Geociências/CCEN/UFPB. João Pessoa, 2000.
SOTCHAVA, V. B. O estudo de geossistemas. Trad. Carlos A. F. Monteiro e Dora Romariz.
Métodos em Questão, 16. São Paulo: IGUSP, 1977.
www.ibge.gov.br

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

AVALIAÇÃO DE FATORES DE PRODUÇÃO COM O USO DE TENSIÔMETRO EM


UMA ÁREA PERTENCENTE À BACIA DO COREAÚ - CEARÁ

Adrissa Mendes Figueiró


Mestranda em Engenharia Agrícola, Depto. de Engenharia Agrícola, UFC
drissamendes@hotmail.com

R. N. F. Monteiro
Mestrando em Engenharia Agrícola, Depto. de Engenharia Agrícola, UFC
rayyar19@hotmail.com

V. da S. Lacerda
Mestranda em Engenharia Agrícola, Depto. de Engenharia Agrícola, UFC
vivi.esam@hotmail.com

K. N. Leite
Mestranda em Engenharia Agrícola, Depto. de Engenharia Agrícola, UFC
kellyleite14@hotmail.com

RESUMO
Este trabalho foi desenvolvido, em área de cultivo de pimentão, do Sitio Santa Maria, localizado no
município de Tianguá – CE, e teve como objetivo avaliar a perda de insumos e de água ocasionada
pela falta de um uso e/ou manejo racional da água. Observa-se que a falta do mesmo pode acarretar
excessivo gasto de energia e lixiviação de nutrientes e água para fora do sistema radicular da
cultura. Ao contrário da maioria dos perímetros irrigados em funcionamento, cujo um dos maiores
problemas é a salinização do solo pela baixa freqüência de irrigação, na serra da Ibiapaba pela
abundancia hídrica disponível, um dos maiores problemas é o excesso de irrigação. Na área
avaliada foi determinado à curva de retenção de água do solo através do uso do tensiômetro em
amostra indeformada. Com um tensiômetro instalado em campo foi determinado o excesso na
irrigação e consecutivamente o desperdício de água energia e nutrientes. Com isso observou-se a
necessidade não só do tensiômetro, mas de qualquer método que consiga o correto manejo da
irrigação, pois esse vem a ser um fator decisivo no agronegócio como ferramenta essencial para
aumentar o lucro e controlar a degradação ambiental.

Palavras Chave: Serra da Ibiapaba, desperdício, economia de insumos.

INTRODUÇÃO

O manejo adequado da irrigação consiste na aplicação de água em momento oportuno e em


quantidade suficiente para atender às necessidades hídricas das culturas. Procedimento esse que é de
fundamental importância para obtenção de altas produtividades com economia de água e energia
(FARIA; COSTA, 1987).
Instrumento desenvolvido em 1922, por Gardner e colaboradores, o tensiômetro fornece de
forma direta o potencial ou a tensão de água no solo e de forma indireta a umidade. O tensiômetro
utilizado por RICHARDS & NEAL (1936) citado por TEIXEIRA (2003), era composto,
basicamente, por uma membrana porosa, a qual consiste na parte sensível do equipamento, e de um
medidor de pressão capaz de medir a energia com que a água é retida no solo, conectados por uma
tubulação em um sistema vedado para a atmosfera.
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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

O princípio de funcionamento do tensiômetro baseia-se na formação do equilíbrio entre a


solução do solo e a água contida no interior do aparelho. O equilíbrio ocorre quando a cápsula
porosa entra em contato com o solo e a água do tensiômetro entra em contato com a água do solo.
Caso a água do solo esteja sob tensão, ela exerce uma sucção sobre o instrumento, retirando água
deste, fazendo com que a pressão interna diminua. Como o instrumento é vedado, ocorre a
formação do vácuo; a leitura dessa pressão negativa fornece o potencial matricial da água no solo
(TEIXEIRA, 2003).
Saad & Libardi (1992) e Libardi (1999) enfatizaram a importância do tensiômetro com
manômetro de mercúrio, o qual apesar da sua limitação de funcionamento na faixa de 0 a 85 kPa de
tensão se adapta bem ao manejo da irrigação, pois normalmente o solo é irrigado antes dessa tensão
ser atingida.
Schmugge et al. (1980) destaca como vantagens do tensiômetro a facilidade de construção e
o seu baixo custo. No entanto algumas limitações como: o problema com a possível contaminação
do solo e da água com derramamento do mercúrio metálico; a barreira física que o manômetro
mercúrio representa em áreas mecanizadas e a necessidade freqüente de manutenção.
O adequado suprimento de água às plantas é um dos fatores mais importantes para o pleno
desenvolvimento dessas, potencializando a eficiência dos insumos aplicados. O manejo correto de
água deve proporcionar condições adequadas de aeração do sistema radicular além de disponibilizar
essa água (solução do solo) com o mínimo de tensão. Se excesso de água for aplicada o solo poderá
ficar encharcado dificultando a troca de gases além de ocorrer perda de água por escoamento
superficial ou por drenagem profunda.
O presente trabalho teve por objetivo, contabilizar mediante técnicas de tensiometria os
gastos excessivos que podem ser acarretados com o excesso de irrigação com insumos do tipo
fertilizantes aplicados via fertirrigação, energia elétrica e desperdício de recursos hídricos mediante
o mau manejo da irrigação localizada do tipo gotejamento.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada no Sitio Santa Maria, no município de Tianguá – CE. Localizada na
serra de Ibiapaba, um dos principais pólos de produção de hortaliças do Ceará, com altitude de 776
m, longitude 40º59´30"W, latitude 3º43´55"S (IBGE, 2000).
A área estudada apresentava o cultivo de pimentão, utilizando-se um sistema de irrigação localizada
por gotejamento.
O Rio Coreaú nasce na confluência dos Riachos Jatobá e Caiçara, oriundos do sopé da Serra
da Ibiapaba, e desenvolve-se por 167,5 km até o oceano Atlântico, possui uma área de drenagem de
10.657 km², correspondente a 7,19% do território Cearense (COGERH, 2009)
Na região em estudo escolheu-se, uma gleba aleatoriamente a fim de determinar o volume
de água bombeado e a capacidade de campo. Determinou-se as dimensões da área cultivada,
calculou-se a vazão aplicada na área utilizando a equação de Bernolli e Equação da continuidade,
obtendo-se um grau de precisão maior e a vazão foi confirmada por medições diretas no emissor.
Na área foi coletada uma amostra indeformada de solo em um cilindro de alumínio, que foi
levado para laboratório, para determinação da curva de retenção de água com o auxílio do
tensiômetro. Os dados obtidos foram transformados respectivamente em potencial matricial e
umidade do solo. Para confirmar o valor da capacidade de campo achada pelo valor literário foi
feito o teste da trincheira o que da um valor confiável e prático.
Em campo foi instalado um tensiômetro de acordo com as especificações indicadas para a
cultura do pimentão, 15 cm de profundidade, durante uma semana foram coletadas as alturas da
coluna de mercúrio e diariamente a área escolhida foi irrigada. Sendo que durante a realização do
experimento não ocorreu precipitação natural. Obtendo-se a altura da coluna de mercúrio, potencial
matricial, lâmina aplicada, lâmina necessária, e lâmina excedente.

291
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

O desperdício de água foi alcançado através da lâmina aplicada em excesso multiplicada


pela área irrigada, que indicou o volume de água que era bombeada mais ficava indisponível para a
planta em m3/ dia.
Os adubos eram aplicados via fertirrigação, considerando que ficam todos diluídos ou
dissolvidos na água e desconsiderando possíveis precipitações dentro das tubulações, o percentual
de adubo perdido é igual ou aproximado do percentual de água que fica indisponível para a planta.
Estimando a eficiência de aplicação em 90%, que é o mínimo desejado para uma irrigação
localizada, e que a potência elétrica gasta pelo motor e de 10% maior que a potência nominal do
motor que tem uma eficiência de 80%, baseada na curva da altura manométrica versus a vazão
calculada.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A vazão foi encontrada através da equação da continuidade com a equação de Bernolli,


tendo as pressões de dois pontos distintos próximos de mesma altura e com diâmetros diferentes, foi
possível constatar que a vazão da área é de 18,84 m3/h, o que é confirmada pelo método de medição
direta nos emissores com 18,63 m3/h, sendo uma lâmina aplicada de 11,78 mm/h na área analisada
que tem 1600 m2. Com uma vazão desta neste sistema hidráulico o motor ligado por 1 h e 55 min
que é o tempo em que ele funciona na área por dia já daria uma lâmina de 22,31 mm que nos dados
históricos da cidade que tem uma média evapotranspiratória de 9 mm daria para irrigar 2,5 áreas
iguais analisadas ou uma perda por lixiviação ou percolação de 21,8 m3/dia (área irrigada).
Com a coleta de dados obtida com as pesagens da amostra e medição da coluna de mercúrio,
transformada respectivamente em umidade (θ) e potencial matricial (ψm) interpoladas em um eixo
(X, Y), foi conseguida a curva de retenção, que apresentou um coeficiente de correlação de 0,9308,
tendo assim um grau adequado de retenção de água.
A água desperdiçada foi avaliada com base no sistema de irrigação que é diariamente ligado
por 1h e 55 min dando uma lâmina aplicada de 22,32 mm que multiplicada pela área irrigada dará
uma perda em 35.71 m3/dia.
Foi observada que em todas as vezes que a área foi irrigada a umidade do solo estava acima
ou bem próxima da capacidade de campo indicando que não era necessária a irrigação. No
tensiômetro instalado a 30 cm de profundidade foi observado um grande movimento no fluxo de
água, pois ele sempre estava com a coluna de mercúrio bem próxima a ponto de saturação, sendo
esta área radicular já indicada como uma área que tem baixa influência para essa cultura.
A percentagem média da lâmina de água lixiviada é de 50% portanto o percentual de adubo
perdido por lixiviação e bem próximo deste, sem considerar as possíveis perdas de adubos por
volatilização ou precipitação dentro da tubulação. Por semana estavam tendo uma perda de 32,5 kg
de adubo com isso sendo impossível contabilizar as perdas na produção.
Como na maioria das vezes a área era irrigada com a sua umidade acima da capacidade de
campo, fica disprósio o cálculo do tempo excedente de irrigação, mais baseado na
evapotranspiração, se consegue uma base da energia elétrica perdida com o excedente bombeado. O
motor tem uma capacidade de 10 CV uma potência útil de 8 CV e uma potência de consumo em
média de 11.5 CV o que resulta em um gasto 8.464 kw/h, tendo como base que o motor funciona
108 minutos a mais por área desnecessariamente, por dia isso daria uma economia de 9.6 kw.

292
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A baixa divulgação dos métodos de manejo de irrigação prejudica não só os agricultores que
perdem insumos e diminuem seus lucros, mais também a todos que utilizam energia elétrica.
A utilização de tensiômetro ou de outros métodos de manejo da irrigação é indispensável na
agricultura moderna, que tende a ter áreas com maiores produtividades e menores custos.
É essencial que a lâmina de irrigação seja bem controlada principalmente quando o produtor
se utiliza de fertirrigação, pois as perdas de adubos já são grandes por precipitação na tubulação e
por volatilização no solo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

COMPANHIA DE GESTAO DE RECURSOS HIDRICOS, COGERH. Dados da bacia


hidrográfica do Coreau – CEARÁ. Disponível em: < http://portal.cogerh.com.br/eixos-de-
atuacao/gestao-participativa/comites-de-bacias/comite-da-bacia-hidrografica-do-coreau>. Acesso
em 05 de julho de 2009.

FARIA, R.T.; COSTA, A.C.S. Tensiômetro: construção, instalação e utilização; um aparelho


simples para se determinar quando irrigar. Londrina, IAPAR, 1987, 24p. (IAPAR, Circular, 56).

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA ESTATÌSTICA, IBGE (2000). Dados do


município de Tianguá – CEARÁ. http://www.tiangua.ce.probrasil.com.br/. Acesso: 15 de maio de
2009.

SAAD, A.M. & LIBARDI, P.L. Uso prático do tensiômetro pelo agricultor irrigante. IPT 2002.
São Paulo, 1992. 27p.

SCHMUGGE, T.J.; JACKSON, T.J.; MCKIM, H.L. Survey of methods for soil moisture
determination. Water Resources Research. 16:.961-979. 1980

TEIXEIRA, A.S.; COELHO S.L. Desenvolvimento e calibração de um tensiômetro eletrônico


de leitura automática. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA, 32.,
2003, Goiânia. Anais. Jaboticabal: Sociedade Brasileira de Engenharia Agrícola, 2003.

293
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

O ATERRO SANITÁRIO DE AQUIRAZ E O LIXÃO DE CASCAVEL SOB O PONTO DE


VISTA DA GESTÃO AMBIENTAL

Alan Ripoll Alves


Universidade Federal do Ceará. PRODEMA. alanripoll@gmail.com

Cláudia Maria Pinto da Costa


Universidade Federal do Ceará. Departamento de Geologia. claudinhapc@gmail.com

Clayton Tapety do Carmo


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia. ITQMA. ctcarq@hotmail.com

Edson Vicente da Silva


Universidade Federal do Ceará.
Departamento de Geografia.
cacau@ufc.br
Francisco Leonardo Tavares
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia. ITQMA. leo.tavares@hotmail.com

RESUMO
A disposição inadequada dos resíduos urbanos gera impactos ambientais e sociais que demandam
uma análise integrada e sistêmica dos problemas, levando à proposição de novos sistemas de gestão.
Tanto os aterros sanitários quanto os lixões recebem resíduos de natureza diversa, os quais estão sob
responsabilidade diferenciada de acordo com os materiais considerados. A transformação do Aterro
Sanitário de Cascavel em um lixão caracteriza a alteração do mecanismo administrativo adotado no
local. O Aterro Sanitário de Aquiraz, mesmo ainda em funcionamento, não dispõe de nenhuma
usina de triagem para segregação de resíduos. Dessa forma, a construção de um equipamento de
apoio como esse, contendo atividades relacionadas à compostagem, traria grandes benefícios, a
citar: aumento da vida útil do aterro e o envolvimento da população local em cooperativas de
reciclagem, propiciando melhores condições de vida a essas pessoas. A expansão urbana
desordenada nos arredores do aterro e do lixão constitui um sério quadro que traz desdobramentos
sociais, econômicos e ambientais altamente danosos. Frente ao atual caos no Lixão de Cascavel,
uma possível solução para torná-lo um aterro seria inicialmente fazer estudos de contaminação das
águas subterrâneas, do solo e do ar na área, associando-se ao estudo geológico e topográfico da
região. Ao mesmo tempo, seriam criadas trincheiras sanitariamente corretas e devidamente
controladas, permitindo a sua operação de forma legal e eficiente. O Aterro Sanitário de Aquiraz,
por sua vez, para melhorar o seu padrão de funcionamento, necessitaria rever os atuais parâmetros
de gestão adotados.

Palavras-chave: Gestão de resíduos; Organização territorial; Resposabilidade social.

294
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

INTRODUÇÃO
A disposição inadequada dos resíduos urbanos gera impactos ambientais e sociais que
demandam uma análise integrada e sistêmica dos problemas para a proposição de novos sistemas de
gestão.
Além da disseminação de conceitos e práticas sustentáveis é necessário mudar também
a maneira de conceber e administrar os resíduos urbanos, considerando uma ampla participação das
áreas de governo responsáveis no âmbito estadual e municipal, dos cidadãos e dos catadores de
forma integrada.
Dentro desse contexto é necessário conhecer a dinâmica de geração dos resíduos e os
tipos diferenciados de resíduos, já que para cada tipo existem formas específicas de
acondicionamento, coleta, transporte, disposição final e tratamento. E para todas essas ações deve-
se estar atento às normas legais que as regulamentam.
O poder público tem a sua responsabilidade na coleta, no transporte, na disposição e no
tratamento adequado de resíduos para promover o acesso universal aos serviços de limpeza pública
e à inclusão social, através de um sistema efetivo de coleta seletiva. Os municípios precisam
elaborar alternativas que possam agregar políticas de redução, reciclagem e reuso dos resíduos – os
3 R’s, com a adoção de uma logística que incorpora a presença de unidades de transbordo e
tratamento, visando à redução dos custos de transporte e ao apoio ao reaproveitamento de todos os
resíduos possíveis (MOTA, 1997).
Portanto, a gestão adequada dos resíduos urbanos envolve uma série de ações em
cadeia, interligadas e interdependentes, que se iniciam na origem da geração dos resíduos, passando
pela quantidade gerada, tipos e formas de coleta, áreas disponíveis para transbordo, recursos
humanos, técnicos e financeiros viáveis para as municipalidades.
De modo a especificar este estudo, tendo inicialmente os locais de destino do lixo
determinados por este relatório, procede-se à seguinte diferenciação:

Lixão Aterro Sanitário


Nenhuma preparação anterior do solo Terreno preparado previamente através do
nivelamento de terra e do selamento da base
com argila e mantas de PVC
Nenhum sistema de efluentes líquidos – o Com a impermeabilização do solo, o lençol
lixiviado freático não será contaminado pelo lixiviado
Lixiviado penetra pela terra, levando O lixiviado é coletado por meio de drenos
substâncias contaminantes para o solo e
lençol freático
Moscas, pássaros e ratos convivem com o O lixiviado acumulado é encaminhado para a
lixo estação de tratamento de efluentes
Lixo fica exposto Prevê a cobertura diária do lixo
Fonte: Resíduos sólidos (2008)

A comparação supracitada permite compreender a distinção dos dois espaços, muitas


vezes confundidos na sociedade de uma maneira geral. Enquanto o primeiro representa um local de
disposição inadequada de resíduos urbanos, o segundo se trata de um ambiente controlado e dentro
dos padrões tidos como ambientalmente aceitáveis.
A transformação do Aterro Sanitário de Cascavel em um lixão caracteriza a alteração do
mecanismo administrativo adotado no local. A manutenção operacional acompanhada da
fiscalização periódica são dois elementos imprescindíveis para a existência de um aterro sanitário.
Tanto os aterros sanitários quanto os lixões recebem resíduos de natureza diversa, os
quais estão sob responsabilidade diferenciada de acordo com os materiais considerados. O quadro
abaixo expõe as divisões básicas segundo o lixo em questão:

295
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Origem do lixo Responsável pelo manejo/ Leis e normas federais


tratamento
Domiciliar
Lei Federal Nº 11.445/07
Comercial Poder público municipal/ Decreto Federal Nº 5.940/06
prefeitura Constituição Federal 1988
Público
Industrial Resolução CONAMA Nº 313/03
Resolução CONAMA Nº 06/88
Resolução CONAMA Nº 358/05
Serviços de saúde Resolução ANVISA RDC Nº
Gerador do resíduo 306/04
Entulho/ RCC Resolução CONAMA Nº 307/02
Portos, aeroportos e Resolução CONAMA Nº 313/02
terminais ferroviários Resolução ANVISA RDC Nº
342/02
Fonte: Resíduos sólidos (2007)

O destino correto dos resíduos acima é de fundamental importância para o


funcionamento correto de um aterro sanitário. A desobediência das leis e normas implica em
punições aplicadas por órgãos federais e estaduais.

ASPECTOS TÉCNICOS E ADMINISTRATIVOS

ATERRO SANITÁRIO DE AQUIRAZ

PARÂMETROS TÉCNICOS

Localizado em Aquiraz, município pertencente à Região Metropolitana de Fortaleza


com forte vocação turística, encontra-se o Aterro Sanitário Metropolitano Leste (Figura 1).
Acessado pela CE-040, o aterro foi construído na década de 80, período em que ainda
não havia grandes conhecimentos na região com relação a esse tipo de equipamento.

Figura 1 - Imagem de satélite do Aterro Sanitário de Aquiraz, revelando a proximidade da área


urbana

Erguido com verba estadual, suas obras foram executadas através de processo
licitatório, tendo como ganhadora a Construtora Queiroz Galvão. Atualmente, os direitos de
operação pertencem à Construtora Marquise (RESÍDUOS SÓLIDOS, 2007).
Recebendo resíduos domiciliares, entulhos de obras e podas dos municípios de Eusébio
e Aquiraz, um total estimado em 200 ton/ dia, o aterro funciona em dois turnos. O mesmo utiliza
um contingente de 16 funcionários, incluindo o administrador, o fiscal, o vigilante, o balanceiro, os
296
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

motoristas e os tratoristas. No momento, são utilizados nos trabalhos diários de transporte,


deposição e compactação dos resíduos equipamentos como uma pá carregadora, um trator esteira e
uma caçamba.
Implantado em terreno arenoso – com alta taxa de permeabilidade, portanto –, de
topografia suavemente inclinada, com cota mais alta próxima à entrada. O aterro apresenta-se
organizado espacialmente de forma linear, possuindo na sua entrada uma guarita de controle de
acesso, áreas destinadas à administração e a pesagem dos caminhões, bem como uma pequena
bomba de combustível. Contém única via de acesso central, ladeada por trincheiras, e ao fundo as
lagoas de estabilização de líquido percolado formado por uma lagoa aeróbia, duas anaeróbias e uma
de maturação. Vale salientar que o conjunto mencionado se encontra cercado por um cinturão
verde, constituído predominantemente por eucaliptos.
Através da organização em trincheira e em área, o aterro apresenta alguns maciços terra-
lixo já selados, sendo sua estabilidade reforçada pela introdução de vegetação rasteira em suas
laterais e na parte superior.
Na ocasião da visita, notou-se que uma trincheira estava sendo aberta, possibilitando
evidenciar parte do seu sistema horizontal de drenagem do “chorume”, com disposição em espinha
de peixe, e do sistema vertical para captação dos gases provenientes da decomposição anaeróbia dos
resíduos orgânicos. O metano é o principal componente dessa eliminação (MOTA, 1999).
O aterro é composto de 34 trincheiras nas dimensões de 70 m x 40 m x 2 m (método da
trincheira) e 70 m x 40 m x 6 m (método da superfície), correspondendo a um volume total de
761.600 m3. Ressalta-se ainda que a inclinação da base é da ordem de 1%.

RECOMENDAÇÕES

A partir da visita feita ao local, verificou-se que na atualidade não existe uma usina de
triagem para segregação dos resíduos (Figura 2). Dessa forma, a construção de um equipamento de
apoio como esse, contendo ainda atividades relacionadas à compostagem, traria grandes benefícios,
a citar: aumento da vida útil do aterro, uma vez que boa parte dos resíduos depositados poderia ser
reciclada reduzindo o volume nas trincheiras; redução dos custos de coleta, permitindo a aplicação
de recursos públicos em outros setores; envolvimento da população local em cooperativas de
reciclagem, propiciando melhores condições de trabalho e vida a essas pessoas.

Figura 2 - Espaço compreendido por trincheiras supersaturadas

Embora tenha sido observada a existência de drenos verticais para a captação e exaustão
de gases, não há um sistema de coleta dos mesmos. Poderia se pensar em formas de captação dos
gases gerados (principalmente metano) a partir da decomposição anaeróbia dos resíduos. Esses
gases poderiam ser usados para o funcionamento das instalações da usina de triagem, bem como
para iluminação de vários ambientes do aterro, reduzindo-se gastos. Além disso, os riscos de
explosões nas células seriam reduzidos.
A expansão urbana desordenada nos arredores do aterro constitui um sério quadro que
traz desdobramentos sociais, econômicos e ambientais altamente prejudiciais. Problemas ligados à

297
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

saúde pública, ao conflito dos administradores do aterro com invasores, à desvalorização imobiliária
dos terrenos próximos e às possibilidades de contaminação do solo, ar e dos corpos hídricos são de
preocupação constante. Faz-se necessária uma fiscalização que coíba a fixação de pessoas nas
proximidades do aterro.
Durante a visita, constatou-se a abertura de uma trincheira que não apresentava
impermeabilização tanto de seu fundo como de suas canaletas destinadas à captação e condução do
percolado. Tomou-se a informação de que esse tipo de tratamento não foi realizado em nenhuma
das trincheiras, inclusive naquelas já seladas e estabilizadas. Agrava mais a situação o fato de o solo
local ser arenoso, em consequência, extremamente permeável, e de não existir nenhum sistema de
monitoramento geotécnico e ambiental contra possíveis contaminações do solo e das coleções
subterrâneas de água (Figura 3).

Figura 3 - Solo arenoso selado e de baixa estabilidade

Problemas foram levantados no que condiz à operação do aterro. Algumas células de


lixo não eram recobertas com terra ao final do dia, o que atraía vetores de doenças. A presença de
mau-cheiro e a sensação de instabilidade no terreno prejudicam sobremaneira o trabalho dos
operadores do aterro e a circulação do maquinário sobre os resíduos. Notou-se ainda uma possível
instabilidade do aterro em decorrência da deficitária forma de compactação dos resíduos, uma vez
que o maquinário existente (uma pá carregadora, um trator-esteira e uma caçamba) não seria
suficiente para o porte do aterro.
Percebeu-se certo descaso nos aspectos limpeza e pavimentação do acesso central que
cruza toda a área de trincheiras, dificultando a circulação do maquinário e criando uma visão
desagradável (Figura 4).

Figura 4 - Parte do acesso central do aterro comunicado a uma área selada

298
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Seria interessante pensar-se no aumento da densidade da vegetação no entorno do


equipamento com o intuito de minimizar odores desagradáveis, criar uma barreira contra os ventos
mais fortes e fixar um elemento demarcador do espaço, atuando contra as invasões do local.
Ainda que o aterro possa receber entulhos e podas, a sua disposição não está
acontecendo de forma correta, pois não há uma segregação efetiva dos mesmos em função dos
resíduos domiciliares.
Nos maciços terra-lixo já selados não foi encontrado sistema de drenagem superficial,
fato este que aumenta as chances de erosão e desestabilização do maciço como um todo. Notou-se
de modo bastante reduzido a utilização de vegetação para estabilizar as laterais dos maciços já
selados. Tal medida deveria ser tomada de maneira mais expressiva.

LIXÃO DE CASCAVEL

PARÂMETROS TÉCNICOS

Concebido inicialmente para funcionar como aterro sanitário, o atual equipamento


apresenta-se em total desconformidade com o uso o qual se prestaria, tendo se transformado em um
imenso lixão, a exemplo do que infelizmente acontece em vários municípios brasileiros (Figura 5).
Facilmente identificado pela presença de sacos plásticos voando, mau-cheiro e urubus
que reforçam o desagradável aspecto paisagístico e estético daquela região, encontra-se o lixão. Os
resíduos, lançados de forma clandestina, são jogados diretamente ao solo sem nenhum tratamento
ou acondicionamento adequado. Há uma diversidade de resíduos, que vão desde os domiciliares até
os hospitalares, o que torna a situação mais crítica.

Figura 5 - Ex-sede administrativa do Aterro Sanitário de Cascavel com parte do espaço destinado à
balança, à esquerda

Poças formadas pela chuva são comuns, aumentando-se perigosamente a produção de


chorume que corre a céu aberto nos pontos mais baixos da área (Figura 6).

299
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 6 - Lixo disposto irregularmente associado a poças de água de chuva e chorume

O acesso, totalmente coberto pelo lixo, dificulta deslocamentos na área. Uma vez que
não há cobertura, problemas relacionados a deslizamentos, atração de vetores, espalhamento dos
resíduos e proliferação de maus odores se intensificam.
Atualmente restam apenas as ruínas da antiga administração, assim como a plataforma
da balança para pesagem dos caminhões. Próximo do espaço é possível evidenciar a existência de
precários barracões em madeirite e papelão, onde habitam catadores, que vão desde crianças até
idosos. Os mesmos convivem com jumentos, cachorros, porcos, urubus, ratos e insetos,
contribuindo para um cenário mais desolador (Figura 7).

Figura 7 - Membro de uma família que trabalha cotidianamente no lixão

O cheiro do metano que emana diretamente das pilhas de resíduos úmidos é um


perigoso sinal, pois não se vê os drenos verticais coletores de gases. Esse descaso aumenta
consideravelmente as chances de explosão. É comum se observar alguns focos isolados onde há
pouco tempo foram feitas queimas de resíduos.

RECOMENDAÇÕES

Frente ao atual panorama, uma possível solução para tornar o lixão em aterro seria
inicialmente fazer estudos de contaminação das águas subterrâneas, do solo e do ar na área,
associando-se ao estudo geológico e topográfico da região.
Uma vez constatada que a área suportaria equipamento de tal tipo, autorizado por órgão
ambiental estadual competente, seria realizada a limpeza do terreno, criando-se maciços que
passariam por uma segregação prévia, infra-estrutura básica com acessos, setor de pesagem e lagoas
300
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

de estabilização do chorume e usina de triagem. Paralelamente, seria iniciado um programa


socioambiental de conscientização e de produção de fontes alternativas de renda com os atuais
catadores e invasores. Atrelada a essa política, a identificação e devida aplicação de penalidades aos
principais depositantes de resíduos no lixão consistiria em uma ação primordial. Nesta fase, iniciar-
se-ia o processo de desapropriação daqueles que se encontrassem em área de risco ou de expansão
do aterro.
Ao mesmo tempo, seriam criadas trincheiras sanitariamente corretas e devidamente
controladas que receberiam os resíduos já segregados por classes. À medida que essas trincheiras
alcançassem seu limite, as mesmas seriam seladas e estabilizadas, devendo-se redobrar os cuidados
no monitoramento.
Concluído o processo, o aterro começaria a operar de forma legal e eficiente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise final do relatório será formulada conforme a legislação vigente, amparada


pelas observações e pelos dados levantados na visitação.
Segundo o estabelecido pela Resolução CONAMA nº 404, de 11 de novembro de 2008,
é possível citar os seguintes critérios e diretrizes para o licenciamento ambiental de aterro sanitário
de pequeno porte de resíduos sólidos urbanos (RESÍDUOS SÓLIDOS ..., 2008):

- A disposição inadequada de resíduos sólidos constitui ameaça à saúde pública e agrava a


degradação ambiental, comprometendo a qualidade de vida das populações;
- As dificuldades que os municípios de pequeno porte enfrentam na implantação e operação de
aterro sanitário de resíduos sólidos, para atendimento às exigências do processo de licenciamento
ambiental; e
- A implantação de aterro sanitário de resíduos sólidos urbanos deve ser precedida de
Licenciamento Ambiental por órgão ambiental competente, nos termos da legislação vigente.

O município de Aquiraz apresenta controle contínuo sobre o seu aterro, ainda que
possua falhas estruturais e no seu funcionamento. Em contrapartida, Cascavel, por questões
políticas, não conseguiu assegurar a condição de aterro ao seu empreendimento, que foi
transformado em lixão. As causas dessa mudança são provenientes, em especial, do descaso político
e da deficiência de medidas públicas para garantir a manutenção do aterro.

REFERÊNCIAS

MOTA, Suetônio. Introdução à Engenharia Ambiental. Rio de Janeiro: ABES, 1997.

MOTA, Suetônio. Urbanização e Meio Ambiente. Rio de Janeiro: ABES, 1999.

RESÍDUOS SÓLIDOS: processamento de resíduos sólidos orgânicos: guia profissional em


treinamento: nível 02/ Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (Org.). Belo Horizonte:
ReCESA, 2007. 68 p.

RESÍDUOS SÓLIDOS: processamento de resíduos sólidos urbanos: guia profissional em


treinamento: níveis 01 e 02/ Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (Org.). Salvador:
ReCESA, 2008, 73 p.

301
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

ANÁLISE DE CO-RELAÇÃO ENTRE O TAMANHO DA FROTA DE ÔNIBUS DE


TRANSPORTE PÚBLICO E OS ÍNDICES DE POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA
ENTRE 2000 E 2001 EM FORTALEZA-CE

Alan Ripoll Alves


Universidade Federal do Ceará. PRODEMA.
alanripoll@gmail.com
Cláudia Maria Pinto da Costa
Universidade Federal do Ceará. Departamento de Geologia.
claudinhapc@gmail.com
Clayton Tapety do Carmo
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia. ITQMA.
ctcarq@hotmail.com
Edson Vicente da Silva
Universidade Federal do Ceará.
Departamento de Geografia.
cacau@ufc.br
Francisca Ione Chaves
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia. ITQMA.
ionechaves@hotmail.com

RESUMO
O principal contribuinte para a poluição atmosférica nos centros urbanos é o setor de transporte. Os
ônibus, no geral, produzem poluição atmosférica mais do que deveriam. No caso brasileiro, em
primeiro lugar, porque consomem um combustível de má qualidade, com excesso de enxofre, entre
outros fatores que impedem uma combustão eficiente, produzindo excesso de fuligem. Em segundo
lugar, porque muitos motores que equipam os ônibus nacionais são de concepção mecânica
defasada e com pouco ou nenhum mecanismo de proteção ambiental, como catalisadores. O
propósito deste trabalho foi de apontar a existência ou não de relação entre os índices de medida da
qualidade do ar e a quantidade de ônibus que circularam mensalmente em Fortaleza durante os anos
de 2000 e 2001, com o uso das técnicas estatísticas fornecidas pela co-relação e regressão. O
interesse em averiguar a relação qualidade do ar com a quantidade de ônibus fez com que a
pesquisa se concentrasse nos dados poluentes de fumaça e nas partículas totais em suspensão, pois
os mesmos estão vinculados à emissão dos veículos automotores. Após a apresentação dos
resultados, verificou-se que não foi possível realizar uma análise de regressão múltipla precisa
devido à inexistência de dados para alguns meses. Detectou-se que a co-relação entre as variáveis
era baixa, não existindo, portanto, uma relação consistente entre elas, par a par. Determinou-se,
finalmente, que havia relação entre a qualidade do ar e a quantidade de ônibus que circulava em
Fortaleza no intervalo de 2000 a 2001. Estudos mais apurados, isto é, com um maor número de
observações, deveriam ser realizados pelos órgãos de controle responsáveis, porque através desta
investigação foi possível afirmar que as empresas locais de transporte coletivo urbano possuíam
uma parcela de contribuição na garantia da qualidade do ar de Fortaleza.

Palavras-chave: Poluição atmosférica; Transporte público; Qualidade do ar.

302
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

INTRODUÇÃO

Existe no mundo uma demanda crescente por recursos que possam acompanhar as
novas mudanças. A velocidade com que as relações sociais tem se dado eleva a necessidade de
deslocamento do homem. O ônibus, neste contexto, está entre os principais meios para a realização
de tal processo.
A descarga de gases de combustão dos veículos automotores leva ao ar, óxidos de
carbono (CO e CO2), hidrocarbonetos diversos, alguns considerados cancerígenos, partículas de
carbono em suspensão com gases, produtos químicos vaporizados, entre outras substâncias – de
toxicidade variável (SALA, 1999).
O principal contribuinte para a poluição atmosférica nos centros urbanos é o setor de
transporte. Os ônibus produzem poluição atmosférica mais do que deveriam. No caso brasileiro, em
primeiro lugar, porque consomem um combustível de má qualidade, com excesso de enxofre, entre
outros fatores que impedem uma combustão eficiente, produzindo excesso de fuligem. Em segundo
lugar, porque muitos motores que equipam os ônibus nacionais são de concepção mecânica
defasada e com pouco ou nenhum mecanismo de proteção ambiental, como catalisadores.
Segundo Dias (2006), apenas os modelos mais recentes de automotores começam a
apresentar recursos para a redução da emissão de poluentes, seguindo as normas do Programa de
Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores (PROCONVE) do Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
De acordo com o PROCONVE (apud Dias (2006)), a cada ano as montadoras
brasileiras deveriam apresentar ao mercado modelos com índices decrescentes de emissão de
poluentes, até atingirmos os padrões europeus, ou seja, 2 g/km de monóxido de carbono, 0,6 g/km
de óxidos de nitrogênio, 0,3 g/km de hidrocarbonetos, dentre outros. Os valores atuais da nossa
frota estão doze vezes maiores para o monóxido de carbono, três vezes maiores para os óxidos de
nitrogênio e sete vezes maiores para os hidrocarbonetos.
A falta de harmonia entre o Departamento Nacional de Combustíveis, que altera as
especificações dos combustíveis, e a indústria automobilística gera um atraso nas medidas práticas
para promover a melhoria da qualidade do ar nos centros urbanos.
Atrelada a esse aspecto, a incongruência das responsabilidades dos órgãos públicos e
privados envolvidos na questão da poluição do ar produz consequências ambientais irreversíveis.
Na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), os veículos automotores (veículos
leves e pesados, incluindo ainda as motocicletas e similares) correspondem à principal fonte de
emissão de poluentes, com um contribuição de cerca de 95% das emissões de CO, 94% das
emissões de HC, 96% das emissões de NOx e 65% das emissões de SOx (CETESB, 1999). Os
veículos leves, que são movidos a gasool (gasolina com adição de álcool) e álcool, contribuem com
63% das emissões de CO, 28% das emissões de HC, 32% das emissões de HC evaporativo, 17%
das emissões de NOx e 17% das emissões de SOx. Já os veículos pesados, que são movidos a diesel,
contribuem com maior emissão de SOx (48%) e NOx (78%) (CETESB, 1999).
Convém considerar que boa parte do CO despejado na atmosfera pelos veículos ocorre
em decorrência de uma ineficiente de combustão. Em um ônibus à gasolina, a reação química
esperada seria:
2 C8H18(l) + 25 O2(g) → 16 CO2(g) + 18 H2O(g)
Porém, como os motores se comportam melhor quando há um excesso de gasolina e
uma deficiência de oxigênio no carburador, tem-se combustões incompletas, com formação de CO
em lugar do gás carbônico (CO2), bem menos perigoso:
2 C8H18(l) + 17 O2(g) → 16 CO2(g) + 18 H2O(g)
No caso do óleo diesel, combustível mais comumente empregado nos ônibus de
transporte público da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), há um efeito poluente superior ao
da gasolina, pois sua combustão é menos eficiente.

303
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Na cidade de Fortaleza, o único documento publicado em relação ao combate de fumaça


negra proveniente dos transportes coletivos movidos a óleo diesel data dos anos 1990 e 1991,
produzido pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Ceará (Semace).
Atualmente, segundo o Núcleo de Análises de Monitoramento (Nuam), não vem sendo
realizada nenhuma medida de controle sobre a qualidade do ar na cidade de Fortaleza.
A Lei 11.411/87 cria o Conselho Estadual do Meio Ambiente (Coema), a Semace e dá
outras providências. Em seu artigo 9º, item VIII – revela que esses órgãos criados devem exercer o
controle das fontes de poluição, de forma a garantir o cumprimento dos padrões de emissão
estabelecidos.
O Decreto Nº 20.764/90 dispõe sobre os padrões de qualidade do ar no território
cearense para fins de preservação e controle da poluição atmosférica de veículos automotores do
ciclo diesel.
A Resolução Conama Nº 03, de 28/06/90, cita a definição dos padrões de qualidade do
ar para os parâmetros: Partículas Totais em Suspensão (PTS); SO2; CO; ozônio (O3); e NO.

OBJETIVOS

O propósito deste trabalho é apontar a existência ou não da relação entre os índices de


medida da qualidade do ar e a quantidade de ônibus que circularam mensalmente em Fortaleza
durante os anos de 2000 e 2001, com o uso das técnicas estatísticas fornecidas pela co-relação e
regressão. Optou-se em adotar essas técnicas porque são consideradas ferramentas adequadas à
análise das variáveis em estudo, como também, fornecedoras de dados substanciais à predição de
relação das mesmas.
Com base no aumento do número de ônibus de transporte público em circulação na RMF,
buscou-se, especificamente:

a) Co-relacionar o tamanho da frota de ônibus no município com os índices de poluição do ar


em três estações da cidade, a saber: Centro, Maracanaú e Leste; e
b) Estudar, cronologicamente, a ação que a poluição do ar vem desempenhando no ambiente e
na qualidade de vida dos habitantes da RMF.

METODOLOGIA

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA

Existem dois tipos de amostradores: os passivos e os ativos. Os amostradores passivos


são classificados em desenvolvidos ou em desenvolvimento para a maioria dos poluentes urbanos
gasosos, entre eles: NO2, SO2, NH3, COV (Compostos Orgânicos Voláteis) e O3. Os amostradores
ativos são mais utilizados para medir o SO2 e o Material Particulado (MP). No presente, o
monitoramento de gases vem sendo realizado principalmente por amostradores automáticos
(LISBOA; KAMANO, 2007).

AMOSTRADOR DE SO2

Para medir a concentração de dióxido de enxofre (SO2) no ar atmosférico, existem,


entre outros, dois métodos: método da pararosanilina (NBR 9546 – Dióxido de enxofre no ar
ambiente – Determinação da concentração pelo método de pararosanilina) e o método do peróxido
de hidrogênio (NBR 12979 – Atmosfera – determinação da concentração de dióxido de enxofre,
pelo método do peróxido de hidrogênio). Em ambos os métodos, para a coleta dos poluentes é
utilizado um sistema de borbulhadores, onde um determinado volume do ar ambiente, mediante o

304
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

uso de uma bomba de vácuo, é succionado e borbulhado em solução de reagentes específicos para
cada poluente por um tempo de normalmente 24 horas.
Posteriormente, a amostra é analisada em laboratório, sendo então estabelecida a
concentração do poluente.

AMOSTRADOR DE MATERIAL PARTICULADO (FUMAÇA)

Segundo Lisboa e Kawano (2007), há dois métodos para quantificar a “nuvem de


fumaça” gerada pelo Material Particulado (MP): o opacímetro e a bomba de sucção. O opacímetro
mede a atenuação da luz em uma coluna de gás através de métodos fotoelétricos e registra o
máximo valor do processo de aceleração descrito anteriormente. A bomba de sucção utiliza um
filtro de papel, o qual muda de cor (torna-se negro) em função da qualidade do gás. A mudança de
cor é conseguida através da passagem dos gases, provenientes do escapamento durante a aceleração,
pelo filtro. O tempo de sucção, neste caso, é de 6 segundos.
A metodologia para as medidas foi baseada na Escala de Ringelmann, que é utilizada
para a medição da cor do fluxo de fumaça emitido em cada veículo. A Escala de Ringelmann – da
NBR 225 – consiste em uma escala gráfica para avaliação calorimétrica de densidade de fumaça,
constituída de seis padrões com variações uniformes de totalidade entre o preto e o branco. Os
padrões numerados de 0 a 5 são apresentados por meio de quadros retangulares, com redes de linhas
de espessura e espaçamento definidos sobre o fundo branco. O padrão Nº 0 é inteiramente branco e
Nº 5 é inteiramente preto.

AMOSTRADOR DE MATERIAL PARTICULADO EM SUSPENSÃO (PARTÍCULAS


TOTAIS EM SUSPENSÃO)

Para a amostragem de partículas totais em suspensão existe o método do amostrador de


grandes volumes – Hi Vol (NBR 9547). Este método é o mais utilizado no Brasil. Nele o ar
ambiente é succionado para o interior de um abrigo, através de uma bomba, passando por um filtro
de fibra de vidro de 8” X 10”, a uma vazão de 1,1 a 1,7 m3/min e por um período de 24 horas
corridas (cerca de 2000 m3.dia-1). O material particulado com diâmetro entre 0,1 e 100 micra é
retido no filtro. Um medidor de vazão registra a quantidade de ar succionada. A concentração de
partículas em suspensão no ar ambiente (mg/m3) é, por sua vez, gravimetricamente determinada,
relacionando-se a massa retida no filtro com o volume de ar succionado.

PADRÕES DA QUALIDADE DO AR

Os padrões de qualidade do ar estabelecidos pela Portaria Normativa Nº 348/90 do


Ibama e utilizados nacionalmente são os que se encontram discriminados no quadro:

POLUENTES PADRÃO (µS.m-3) OBSERVAÇÕES

80 Concentração média geométrica anual.


Partículas em Suspensão
Concentração máxima diária a não ser
240 excedida mais de uma vez por ano.

80 Concentração média aritmética anual.


Dióxido de Enxofre

305
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Concentração máxima diária a não ser


365 excedida mais de uma vez por ano.

Concentração máxima de 8 horas a não ser


10.000 excedida mais de uma vez por ano.
Monóxido de Carbono
Concentração máxima horária a não ser
40.000 excedida mais de uma vez por ano.

Oxidantes Fotoquímicos 160 Concentração máxima horária a ser excedida


mais de uma vez por ano.
Fonte: Conama (1986)

CO-RELAÇÃO E REGRESSÃO

A co-relação ou co-relacionamento tem como objetivo medir o grau de relação entre


duas ou mais variáveis, partindo das hipóteses apresentadas por Kazmier (1982), nas quais “(1) as
variáveis envolvidas na análise são aleatórias, (2) as relações são todas lineares, (3) as variâncias
condicionais são todas iguais, e (4) as distribuições condicionais são todas normais”. Essas
hipóteses são muito restritivas e difíceis de serem satisfeitas por completo, mas, no caso de violação
de alguma delas, a validade dos resultados não se colocará em risco. A co-relação pode ser simples,
quando trabalhamos com duas variáveis, ou múltipla, quando trabalhamos com mais de duas
variáveis. Neste trabalho utilizar-se-á a co-relação múltipla, sendo os conceitos aqui mencionados
também voltados para a mesma.
A análise de regressão está intimamente ligada ao conceito de co-relação. A regressão
linear entre duas ou mais variáveis procura determinar a equação que melhor explica o
comportamento das variáveis e as formas de se fazer previsões de uma variável com base em
valores conhecidos da outra. A regressão é considerada simples quando se trabalha com duas
variáveis, e múltipla, quando mais de duas variáveis estão envolvidas na análise.
De acordo com Kazmier (1982), a regressão múltipla se baseia nas seguintes hipóteses:
“(1) a variável dependente é aleatória, enquanto as variáveis independentes não necessitam ser
aleatórias, (2) a relação entre as diversas variáveis independentes e a variável dependente á linear, e
(3) as variâncias das distribuições condicionais da variável dependente, dadas as várias
combinações de valores das variáveis independentes, são todas iguais”.

METODOLOGIA APLICADA AO TRATAMENTO DE DADOS

Inicialmente, foram coletados os dados relativos à qualidade do ar na Semace.


Como este trabalho está voltado para a cidade de Fortaleza, foram consideradas as
medições da estação I (Centro), estação II (Maracanaú) e estação III (Leste-Oeste), que contribuem
diretamente para o seu transporte público.
O interesse em averiguar a relação qualidade do ar com a quantidade de ônibus fez com
que a pesquisa se concentrasse nos dados poluentes de fumaça e nas partículas totais em suspensão,
pois os mesmos estão vinculados à emissão dos veículos automotores, enquanto que os demais
poluentes dizem respeito à emissão das indústrias.
Os dados fornecidos são a média geométrica mensal do material coletado a cada seis
dias nas estações, que funcionam ininterruptamente, e são expressos em mg/m3.
O período de análise foi de fevereiro de 2000 a agosto de 2001.
A outra variável foi obtida na Empresa Técnica de Transporte Urbano S. A. (ETTUSA),
que é a quantidade de frota circulante mensal em Fortaleza.

306
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a apresentação dos resultados, verificou-se que não foi possível realizar uma
análise de regressão múltipla precisa devido à inexistência de dados para alguns meses, do intervalo
de tempo estudado, consequência dos registros não terem ocorrido em mais de 50% das estações
durante o período.
Das observações realizadas, apesar dos dados existentes serem absolutamente
confiáveis, a quantidade de observações não permitiu apresentar conclusões enfáticas sobre a
análise. Todavia, tentou-se avaliar preliminarmente a relação das variáveis estudadas, mesmo com
pouco sucesso.
Detectou-se que a co-relação entre as variáveis era baixa, não existindo, portanto, uma
relação consistente entre elas, par a par. O coeficiente de co-relação múltipla (R múltiplo) foi
avaliado em 86%, significando que a co-relação múltipla, ou o relacionamento entre os poluentes, a
fumaça, as partículas em suspensão e a frota circulante era forte. O coeficiente de determinação (R2)
mostrou um grau de consistência relevante (75%), bem como o F de Significação, o qual revelou
que a possibilidade dessa consistência ser elevada era de aproximadamente 65%, considerada
razoável.
Determinou-se que havia relação entre a qualidade do ar e a quantidade de ônibus que
circulava em Fortaleza no intervalo de 2000 a 2001.
Estudos mais apurados, isto é, com um maior número de observações, deveriam ser
realizados, porque através desta investigação foi possível afirmar que as empresas locais de
transporte coletivo urbano possuíam uma parcela de contribuição na garantia da qualidade do ar de
Fortaleza.

REFERÊNCIAS

CEARÁ (Superintendência Estadual do Meio Ambiente do Ceará – Semace). Avaliação do


Programa de Combate à Fumaça Negra no Município de Fortaleza/CE. Fortaleza-CE, 1992, 32
p.

COMPANHIA de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB). Relatório de Qualidade do


Ar no Estado de São Paulo – 1999. São Paulo-SP, 1999.

CONAMA. Resolução 018/86 (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos


Automotores).

DIAS, Genebaldo Freire. Educação ambiental: princípios e práticas. São Paulo-SP: Gaia, 9ª ed.,
2004, 551 p.

ETTUFOR. Disponível em: www.ettufor.com.br. Acessado em: 11/10/2008

KAZMIER, Leonard J.. Estatística Aplicada à Administração. São Paulo-SP: Makron, 1982.
LISBOA, Mauricy; KAWANO, Henrique de Melo. Controle da Poluição Atmosférica. Cap. IV,
2007.

SALA, J. F.. Valoração dos Custos Ambientais Relacionados à Saúde – Estudo de Caso: Setor
de Transporte da Cidade de São Paulo. Dissertação de Mestrado, COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro-
RJ, Brasil, 1999.

STEVENSON, William J.. Estatística Aplicada à Administração. São Paulo: Harbra, 2001.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

CARACTERIZAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA LAGOA DO


ACARACUZINHO, MARACANAÚ-CE

Alana de Aquino Cajazeira


Universidade Federal do Ceará
alana.geoufc@gmail.com
Juliana Felipe Farias
Universidade Federal do Ceará
julianafelipefarias@yahoo.com

RESUMO

O trabalho busca o entendimento das alterações no sistema composto pela Lagoa do Acaracuzinho e
seus arredores, localizada no município de Maracanaú, CE. Realizou-se um estudo introdutório dos
impactos ambientais no referido sistema lacustre, a partir da identificação de problemas causados
pelas atividades realizadas no Distrito Industrial de Maracanaú, situado no entorno da referida
lagoa. O estudo foi realizado a partir de observações de aspectos, como vegetação, solo,
biodiversidade e água, verificando a ocorrência de contaminação ou não, oriunda do despejo de
efluentes líquidos não tratados das atividades industriais. Dessa forma, o trabalho consiste em
verificar impactos que possam comprometer a preservação dos recursos naturais presentes nos
arredores da lagoa, buscando elaborar propostas de manejo e conservação da lagoa com a finalidade
de promover o uso racional dos recursos naturais existentes no município, pressupostos primordiais
para a confecção de um planejamento ambiental eficaz e coerente.

Palavras chave: Lagoa do Acaracuzinho, atividades industriais, impactos ambientais e qualidade


ambiental

INTRODUÇÃO

Considera-se que a qualidade ambiental constitui, hoje, fator determinante para o alcance de
uma melhor qualidade de vida. Os reflexos do acelerado processo de urbanização e industrialização,
e a ausência de um planejamento adequado para tal crescimento, vem sendo alvo de inúmeros
debates no meio cientifico, em especial, o geográfico.
A relação entre o uso dos recursos naturais e o processo de urbanização se dá em função da
concepção de cidade estabelecida pela sociedade capitalista moderna, haja vista o rápido
crescimento populacional e o consumismo exacerbado, conseqüências do atual sistema econômico.
A degradação ambiental surge, então, como um dos mais graves problemas enfrentados pela
civilização atual.
Avaliar a qualidade ambiental, em específico dos recursos hídricos, nos remete a análise das
atividades antrópicas que comprometem a qualidade da água e a manutenção dos mananciais,
surgindo assim à necessidade de se discutir sobre os impactos que alteram tais sistemas.
Nesse sentido, a análise introdutória de impactos ambientais na Lagoa do Acaracuzinho,
localizada no município de Maracanaú, insere-se no contexto atual de preocupações com a
preservação e a conservação dos recursos naturais. O interesse por estudá-la surge, principalmente,
do fato de a mesma situar-se no Distrito Industrial de Maracanaú e ser alvo do lançamento de
esgotos industriais e residenciais.
Sendo o maior espelho d’água do município, a Lagoa do Acaracuzinho permite o exercício
de uma série de atividades aos moradores dos conjuntos habitacionais que residem na periferia do
Distrito Industrial. Entre estas se destacam, principalmente, à pesca e o banho. A Lagoa também se
constitui como pólo de lazer, servindo de fundo paisagístico para o Clube da Parceria, mantido pelo
SESI (Serviço Social da Indústria), funcionando às margens da lagoa.

308
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Dessa forma, o trabalho objetivou verificar impactos no referido sistema lacustre em


decorrência das atividades industriais praticadas no entorno da lagoa, seus reflexos na qualidade da
água e nos recursos naturais presentes nos arredores na Lagoa, bem como, avaliar o
comprometimento da qualidade ambiental em Maracanaú.

MARACANAÚ: ATIVIDADES INDUSTRIAIS E A QUALIDADE AMBIENTAL

Maracanaú localiza-se na porção norte do Estado do Ceará, fazendo parte da Região


Metropolitana de Fortaleza (RMF) junto a outros 11 municípios, cujos indicadores socioeconômicos
demonstram algumas especificidades inerentes a este contexto. Os limites do município
correspondem ao Norte com Fortaleza e Caucaia; ao Sul e Leste com Pacatuba, e a Oeste com
Maranguape.
O município de Maracanaú é relativamente novo. Foi criado a partir da lei estadual Nº.
10.811, emancipando-se em 1983 de sua condição de distrito de Maranguape. Segundo dados de
população estimada do IBGE (projeção IBGE - 2008), Maracanaú possui população de 199.808
habitantes, dos quais 99,68% habitam a zona urbana (2000). Entre os municípios que formam a
RMF, é o terceiro colocado em termos de contingente populacional, abaixo somente de Fortaleza e
Caucaia. Encontra-se entre as maiores economias do Ceará, sendo o segundo município em
arrecadação de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) do
Estado, com Produto Interno Bruto (PIB) centralizado fundamentalmente no setor secundário da
economia, já que detém o maior Distrito Industrial do Ceará. O Distrito reúne cerca de 100
empresas de diversas áreas de atuação, como as têxteis, metalurgia e mecânica, papel e papelão,
material elétrico, químico, de vestuário e calçados e serviços de construção (MARACANAÚ,
2009).
De ritmo relativamente lento desde sua fundação, a dinâmica de ocupação da cidade a partir
da instalação do distrito Industrial em 1966, e da construção de grandes conjuntos habitacionais em
seu entorno, passou a se processar de forma acelerada e intensiva, gerando problemas que alteraram
profundamente a sua dinâmica ambiental.
Esse processo de urbanização desordenada acarretou em elevados níveis de degradação
ambiental e de qualidade de vida da população local decorrentes, principalmente, da concentração
de equipamentos urbanos como edificações comerciais, residenciais (Conjuntos habitacionais
Jereissati I e II, Novo Maracanaú, Industrial, Acaracuzinho, Novo Oriente e Timbó), e atividades
industriais (Distrito Industrial I, Distrito Industrial 2000, Distrito Industrial III).
Acredita-se que a qualidade ambiental constitui, hoje, fator determinante para o alcance de
uma melhor qualidade de vida. Nesse sentido, a análise de impactos ambientais nos mais diversos
setores que compõe o sistema ambiental das cidades ganha destaque, tendo em vista que o meio
natural representa um dos elementos mais afetados pelo processo de urbanização de nossa moderna
sociedade. De acordo com Botelho e Silva (2004):

É preciso entender qualidade ambiental como reflexo da ação do homem sobre o


espaço e seus componentes em um dado momento [...] A qualidade ambiental deve
ser encarada não só como o somatório da qualidade de cada um dos componentes do
meio, mas como condição essencial ligada à qualidade de vida das populações.
(BOTELHO; SILVA, 2004. p. 154)

Deste modo, a realização desse trabalho objetivou detectar impactos ambientais ocorridos
na Lagoa do Acaracuzinho, causados pela proximidade da mesma com o Distrito Industrial de
Maracanaú, bem como os reflexos no sistema ambiental maior no qual a lagoa se insere. E assim,
fornecer propostas e medidas que possam nortear o poder público, as indústrias e a população local,
a um trato mais consciente com os recursos naturais, proporcionando, desse modo, melhorias na
qualidade ambiental e de vida para as populações que ali residem.

309
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

BREVES CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS

As atividades industriais, o crescimento demográfico acelerado, as ocupações desordenadas,


a deficiência de infra-estrutura básica, as desigualdades socioeconômicas, repercutem no ambiente.
Nesse contexto, os recursos hídricos representam uma das dimensões do ambiente cujos estudos
têm oferecido importantes contribuições ao equacionamento da questão ambiental.
Desse modo, propõe-se uma análise introdutória dos principais impactos ambientais na
Lagoa do Acaracuzinho, provocadas pelas atividades desenvolvidas no Distrito Industrial de
Maracanaú, e seus reflexos na qualidade de vida da população residente no lugar.
Segundo resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), considera-se
impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio
ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que,
direta ou indiretamente, afetam a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades
sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente e a qualidade dos
recursos ambientais (Resolução CONAMA n° 001, de 23 de janeiro de 1986).
Caracterizado como uma alteração significativa no meio ambiente, segundo Macedo (1991,
p. 29) “o impacto ambiental constitui-se em qualquer modificação dos ciclos ecológicos em um
dado ecossistema”. De acordo com Brandão et al. (1998, p. 28) a poluição dos mananciais hídricos
surge como um dos maiores problemas na atualidade, oriundo do uso e ocupação inadequada do
meio físico, ocasionando os impactos ambientais.
Conforme Sotchava (1976), não se deve estudar somente os componentes da natureza por si,
mas as conexões entre eles, “não se deve restringir à morfologia da paisagem e suas subdivisões,
mas, de preferência, projetar-se para o estudo de sua dinâmica, estrutura funcional, conexões, etc.”.
Dessa forma, a fundamentação teórica da pesquisa em questão encontra-se baseada na
abordagem sistêmica, apoiada nas metodologias de Bertrand (1968), Sotchava (1976) e Tricart
(1977). Tais autores procuram realizar um estudo integrado da paisagem, fundamentado na Teoria
Geral dos Sistemas (TGS), proposta por L.V. Bertalanffy (1968).
Essa proposta metodológica resulta em combinações dinâmicas dos elementos físicos,
biológicos e antrópicos da paisagem, que interagem entre si, resultando em conjuntos ou unidades
geoambientais. Segundo Bertrand (apud SOUZA, 2000), o geossistema “é um sistema geográfico
natural ligado a um território, e deriva das relações mútuas entre os componentes do potencial
ecológico e da exploração biológica, e deste com a ação antrópica”.
Ainda segundo Sotchava (1976), o estudo de geossistemas configura-se em um novo ponto
de desenvolvimento da ciência geográfica, aumentando as “perspectivas para utilização prática de
seus resultados”. Dessa forma, foi escolhida tal metodologia para ser aplicada ao objeto em questão,
pois as atividades industriais praticadas na área de estudo, mostram-se, também, como um dos
agentes responsáveis pelas alterações na dinâmica ambiental do local.

Embora os geossistemas sejam fenômenos naturais, todos os fatores econômicos e


sociais, influenciando sua estrutura e peculiaridades espaciais, são tomados em
consideração durante o seu estudo e suas descrições verbais ou matemáticas
(SOTCHAVA, 1976, p.6).

O trabalho se desenvolveu baseado em tais aplicações teórico-metodológicas, partindo da


análise das inter-relações existentes na área de estudo, verificando os fatores sociais, econômicos e
ambientais. Tal metodologia permitiu a geração de algumas propostas que visam mitigar os
possíveis efeitos adversos das atividades praticadas no entorno da Lagoa do Acaracuzinho,
principalmente, através de programas de Educação Ambiental relacionados à preservação dos
recursos naturais encontrados no município.

310
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

LAGOA DO ACARACUZINHO: IDENTIFICANDO IMPACTOS E ELABORANDO


PROPOSTAS

As características hidrográficas do município são condicionadas principalmente pelo regime


de chuvas no local. O município encontra-se inserido na Bacia Metropolitana, representada por duas
bacias de drenagem natural: a composta pelo Rio Maranguapinho e a composta pelo Rio Timbó,
afluente do Rio Cocó. “Os cursos d'água, assim como predominam em quase todo o estado, são
intermitentes sazonais. A rede de drenagem local é dendrítica próximo aos maciços, assumindo
padrão paralelo nos tabuleiros” (ALMEIDA, 2005).
Maracanaú (1998) aponta que a degradação dos recursos naturais de Maracanaú, em especial
os hídricos, resulta “da ocupação desordenada dos espaços municipais, tanto pela população,
mesmo em atividades agrícolas tradicionais, quanto pela implantação do Distrito Industrial”. Em
consonância com tal afirmação, ALMEIDA (2005), aponta que a poluição dos recursos hídricos em
Maracanaú se deu a partir do momento em que:

(...) o crescimento e a concentração urbano-industrial realizaram-se sem


planejamento, principalmente no que concerne à destinação dos efluentes líquidos
industriais. Ao longo dos dois principais rios de Maracanaú, o Timbó e o
Maranguapinho, e em boa parte de suas lagoas, ocorre à liberação constante de
efluentes líquidos não tratados ou com tratamento ineficiente (ALMEIDA, 2005).

Segundo Maracanaú (1998), observações de campo indicam quantidades visualmente acima


do normal de resíduos sólidos em todos os corpos d'água, notadamente naqueles mais próximos de
vias públicas, onde são constantes os processos induzidos de assoreamento dos corpos d'água,
principalmente as lagoas. Em Maracanaú, a turbidez das águas das lagoas, açudes, rios e riachos é
bastante elevada, sendo visualmente observada em qualquer recipiente transparente
(MARACANAÚ, 1998):
(...) notam-se lavadeiras nas margens das lagoas, bem como criação de animais, culturas e
muitas dessas lagoas são cercadas por muros de tijolos, cercas de madeira e cercas vivas. A
contaminação das águas com diversos materiais e resíduos (esgoto, lixo industrial, lixo
urbano, lixo domiciliar, animais, terra proveniente da erosão) são exemplos de impactos
negativos presentes atualmente, onde se percebe lixos perecíveis (resto de comida,
excrementos, etc.), combustíveis (papéis, plásticos, madeiras, tecidos, etc.), não combustíveis
(pedras, vidros, metais, etc.) (MARACANAÚ, 1998).

A Lagoa do Acaracuzinho é margeada por grandes grupos industriais como o CEASA


(Centrais de Abastecimento do Ceará S/A), GERDAU (Gerdau S/A) e Jangadeiro Têxtil (mapa 1).
Possui uma área de aproximadamente 1.322.018.2 m², com um volume d’água de 37, 800 m³ e uma
profundidade em torno de 2,5m aproximadamente.

311
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Mapa 1: localização da área de estudo


Fonte: Google Earth. Adaptação: Rocha, 2008.

Sua formação se dá a partir de grandes precipitações do período chuvoso, no qual é drenada


por seu sangradouro que irá alimentar a Lagoa do Mingau. (MARACANAÙ, 2009). Inseri-se num
complexo de oito Lagoas que formam o espelho lacustre do município: Lagoas Jarí, Jaçanaú,
Raposa, Acaracuzinho, Japaba, Maracanaú, Pajuçara e Mingau.
Segundo levantamentos do Inventário Ambiental de Maracanaú (2009), verificou-se que a
mata ciliar existe apenas em alguns pontos de suas margens, sendo o restante coberto por vegetação
do tipo herbácea, gramínea, constatando-se que houve supressão bastante considerável de sua
proteção ciliar (figura 1). A Lagoa do Acaracuzinho possui ainda, fauna tipicamente da Caatinga e
exótica, no qual faz parte do corredor ecológico das lagoas que permite uma comunicação entre as
demais lagoas da região.
Observou-se também, a existência de processos erosivos nas margens e lançamento de
poluentes (figura 2). Dessa maneira, mesmo apresentado baixos teores de poluição, de acordo com
o diagnóstico fornecido pelo Inventário Ambiental (2009), a Lagoa encontra-se imprópria para o
desenvolvimento de atividades humanas, como banho e pesca, pois os odores na Lagoa e o índice
de eutrofização são perceptíveis.

312
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 1: retirada da mata ciliar Figura 2: efluentes lançados na Lagoa


Fonte: Inventário Ambiental de Maracanaú. Fonte: Inventário Ambiental de Maracanaú.

O Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Maracanaú (1998) identificou as principais


fontes de poluição nas bacias dos Rios Maranguapinho e Timbó, e nas lagoas que compõe o sistema
lacustre do município entre elas, a Lagoa do Acaracuzinho, objeto de estudo deste trabalho. Dentre
tais fontes podemos citar a retirada da vegetação nas margens dos rios, lagoas e riachos, praticada
em todo o município; esgotos domésticos dirigidos aos corpos d'água, pela falta de uma rede de
coleta urbana desses rejeitos, ou por seu mau funcionamento; esgotos industriais, advindos do
Distrito Industrial despejados no riacho Timbó, um dos afluentes do Rio Cocó, entre outras.
Dessa maneira, visando minimizar os impactos ambientais ocorridos na Lagoa, faz-se
necessário uma série de propostas para uma gestão ambiental coerente, dentre os quais podemos
destacar:
• Elaboração de estudos específicos de manejo e conservação para a Lagoa do Acaracuzinho,
bem como para os demais recursos hídricos do município
• Desenvolvimento de projetos de recomposição da vegetação que foi suprimida;
• Fiscalização rígida quanto às possíveis instalações industriais que sejam fontes poluidoras
da Lagoa;
• Estabelecer programas de educação ambiental que orientem a população, o poder público e
o segmento empresarial quanto à importância de se utilizar os recursos naturais de forma
racional em prol de melhorias na qualidade ambiental do município;

As propostas de manejo dos recursos naturais abrangem o bem estar social, o


desenvolvimento econômico e a conservação da natureza. Dessa forma, um planejamento ambiental
é a base para a realização de medidas conservacionistas, pois se apresenta como ferramenta
institucional para a realização de intervenções necessárias a gestão ambiental e sustentável da
Lagoa do Acaracuzinho, bem como de todo o sistema natural que a compõe.
Tais propostas só poderão ser concretizadas a partir do envolvimento de vários segmentos da
sociedade, como as instituições acadêmicas, o poder público, o segmento empresarial e as
comunidades locais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partindo-se do contexto analisado, constatou-se que Maracanaú vem sofrendo graves


problemas ambientais decorrentes das atividades industriais e da expansão urbana desordenada,
como os desmatamentos, processos erosivos, poluição do ar e dos corpos hídricos, o que gera forte
comprometimento da qualidade ambiental, e conseqüentemente, brusca queda na qualidade de vida
da população local.

313
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

A Lagoa do Acaracuzinho, em especifico, vem sofrendo alterações decorrentes de uma série


de atividade impactantes, dentre as quais podemos destacar a descarga de esgotos industriais e
domésticos, oriundos dos distritos industriais e dos conjuntos habitacionais.
Documentos fornecidos pela prefeitura de Maracanaú afirmavam que a Lagoa do
Acaracuzinho trata-se de uma área própria para o consumo e atividades de lazer, onde não são
constatados, nos lançamentos de efluentes industriais, teores de poluentes prejudiciais à qualidade
da água da Lagoa. Porém, o que se percebe é que a área vem sofrendo forte degradação ambiental
em decorrência do uso indevido de seus elementos.
Tais impactos geram comprometimento das atividades de lazer, como o banho e a pesca,
historicamente praticados na localidade. A redução da mata ciliar e extinção de algumas espécies da
fauna e flora local refletem nas várias esferas que formam o ecossistema natural da lagoa.
A introdutória analise realizada, bem como as propostas aqui relacionadas, só poderão ser
executadas com o apoio dos órgãos competentes e com a finalidade única de promover um uso
racional dos recursos naturais existentes em nosso estado. Para tanto, necessita-se do apoio e da
compreensão das partes formadoras da sociedade maracanauense para a efetivação das propostas
ora apresentadas.

REFERÊNCIAS

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econômico de Maracanaú, região metropolitana de fortaleza. Estudos Geográficos (UNESP), v.
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município de Maracanaú – CE. Caminhos de Geografia, Uberlândia, v. 15, 2005.
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GOMES, M. A. S.; SOARES, B. R. Reflexões sobre qualidade ambiental urbana. Estudos
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SOUZA, Marcos José Nogueira. Compartimentação territorial e gestão regional do Ceará.
Fortaleza: FUNECE, 2000.

314
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

O CURRICULO ESCOLAR E A RELAÇÃO SOCIEDADE-NATUREZA NO


DESENVOLVIMENTO DO SEMI-ÁRIDO

Profa. Dra. Alexandra Maria de Oliveira


Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará-UFC
E-mail: alexandra.oliveira@ufc.br
Prof. Dr. Edson Vicente da Silva
Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará-UFC
E-mail: cacau@ufc.br
Prof. Ms. Raimundo Castelo Melo Pereira
Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará-UFC
E-mail: castelo.melo@hotmail.com
Profa. Ms. Maria Elia dos Santos Vieira
Curso de Turismo da Faculdades Cearenses – FAC
E-mail: mariaelia8@hotmail.com
Aluno Francisco Davy Braz Rabelo
Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/CNPq
E-mail: davirabelo@yahoo.com.br

RESUMO
A reflexão sobre currículo escolar e a relação sociedade-natureza no desenvolvimento do campo
tem como objetivo discutir a contribuição da Geografia escolar na leitura da realidade social em
assentamentos rurais. Partimos dos pressupostos de que a Geografia tem papel relevante no
entendimento dos processos que envolvem a vida de professores assentados e de que a construção
da chamada escola do campo nasceu de demandas dos movimentos camponeses na construção de
uma política educacional para os assentamentos de reforma agrária. Esse é um fato relevante na
compreensão da realidade que envolve a escola do campo que se encontra no processo de
espacialização da luta camponesa. Nesse sentido, a educação do campo deve ser compreendida
como um processo, em construção, que contempla em sua lógica a política que pensa a educação
como parte constitutiva para o desenvolvimento do campo.

Palavras-chave: escola básica, geografia escolar, professores assentados.

INTRODUÇÃO
Na perspectiva de estreitar a relação Universidade e Escola Básica os cursos de licenciatura
da Universidade Federal do Ceará (UFC) têm realizado diferentes atividades de acordo com suas
especificidades. Além dos já conhecidos estágio supervisionados temos intensificado: visitas ao
Campus Universitário; eventos científicos e didático-pedagógicos, estudos sobre o ambiente
escolar; mini-cursos oferecidos aos professores da Rede Municipal de Ensino nas áreas específicas
entre outras atividades. Com relação à atuação do departamento de Geografia merece destaque sua
participação efetiva no trabalho com a educação formal e seu envolvimento na organização de
atividades com formas de educação diferenciadas como os trabalhos de pesquisa e extensão
desenvolvidos nos laboratórios de Ensino de Geografia com professores das escolas do campo; o de
Climatologia e Recursos Hídricos com os Jenipapo/Canindé da Lagoa do Mineiro e o de Estudos
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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Agrários e Territoriais com a organização anual do curso sobre a realidade brasileira com jovens de
acampamentos e assentamentos em parceria com o Núcleo de Estudo de Gênero, Idade e Família do
departamento de Economia Doméstica e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
no Ceará. Essas pesquisas revelam contribuições teóricas e práticas para a formação dos que nelas
se envolvem e para a necessidade de que (elas) tenham continuidade com o envolvimento de um
número, ainda, maior de alunos e professoras de licenciaturas e escolas.
Na direção de fortalecer a relação Universidade e Escola básica, a pesquisa transformações
territoriais no campo: práticas, saberes e poderes na relação sociedade-natureza têm procurado
analisar o currículo escolar da geografia do Semi-Árido como parte constitutiva da luta pelo
desenvolvimento do campo que tem por base os assentamentos rurais. Nesse texto específico,
abordamos acerca de um momento no processo de socialização de professores e aluno do
departamento de Geografia da UFC com professores e alunos da Escola de Ensino Fundamental
Jette Joop localizada no Assentamento 25 de Maio em Madalena, Ceará.
Na construção do diálogo a idéia da escola como laboratório de estudo foi substituída pela
idéia da escola como o lugar de trocas e construção de conhecimentos e aprendizagens
significativas. Nesse contexto, a Geografia, como disciplina escolar, tem papel relevante no
entendimento dos processos que envolvem a relação sociedade e natureza e na leitura da
denominada escola do campo, vista como uma proposta que nasceu de demandas dos movimentos
camponeses na construção de uma política educacional para os assentamentos de reforma agrária.
Essas são interpretações relevantes na compreensão da realidade que envolve a escola do campo
que se encontra no processo de espacialização da luta camponesa. Os processos de espacialização e
territorialização dos movimentos sociais no campo (Fernandes, 1996) e a contribuição da Geografia
agrária na leitura das transformações territoriais presentes no campo brasileiro (Oliveira, 1998) tem
sido o fundamento de uma matriz teórica que tem por base a teoria social de Marx a partir da leitura
de autores como Shanin (1983), Martins (1981; 1995) e Oliveira (1991; 1998). Intelectuais que
desenvolveram com base na dialética materialista marxista, um conjunto de trabalhos de
importância fundamental para a compreensão do movimento contraditório do desenvolvimento do
capitalismo no campo, dedicando especial atenção à questão do campesinato. E, ainda, Freire
(1992; 1996), Arroyo (1986), Arroyo e Fernandes (1999) com trabalhos pioneiros na análise sobre a
educação do campo, movimentos sócio-territoriais no Brasil com ênfase em metodologias de
pesquisa que buscam na construção de aprendizagens em conjunto, com respeito, autonomia e
dignidade valores necessários à educação do campo.
Escola do campo e a geografia nas lutas no campo
A reflexão sobre a escola formal em assentamento rural tem como pressuposto a educação
do campo que se encontra na denominada Pedagogia do Movimento (Caldart, 2004). A discussão
original dos conceitos de educação do campo, pedagogia do movimento, escola do campo, nasceu
de demandas dos movimentos camponeses na construção de uma política educacional para os
assentamentos de reforma agrária. Esse é um fato extremamente relevante na compreensão dos
processos que envolvem a escola do campo que se encontra em movimento. De acordo com
Fernandes (2006), foi dessa demanda específica que, também, nasceu o Programa Nacional de
Educação na Reforma Agrária (Pronera) e a Coordenação Geral de Educação do Campo. Nesse
sentido, a Educação do campo deve ser compreendida como um processo em construção que
contempla em sua lógica a política que pensa a educação como parte constitutiva e essencial para o
desenvolvimento do campo. Essa leitura encontra-se referenciada na coleção “Por uma educação
do campo” organizada pela Articulação Nacional Por uma Educação do Campo sediada em Brasília
no Distrito Federal.
Na Geografia Agrária, o estudo do território como categoria primordial de investigação tem
sido fundamentado em livros, teses e dissertações com autores como Raffestin (1993), Oliveira
(1998) e Fernandes, (2006). Para Oliveira (1998) o território deve ser entendido como síntese
contraditória da espacialidade que a sociedade tem e desenvolve. Logo, a construção do território é
contraditoriamente o desenvolvimento desigual, simultâneo e combinado. O território é, assim,
316
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

produto concreto da luta de classes travada pela sociedade no processo de produção de sua
existência. Sociedade capitalista que está assentada em conflituosas relações entre diferentes classes
sociais fundamentais: proletários, burguesia, camponeses e proprietários de terra. Nessa leitura, a
análise sobre a compreensão dos processos de desenvolvimento do campo brasileiro considera que
as relações sociais são partes constitutivas de territórios ou dimensões territoriais. E, ainda, os
territórios são espaços geográficos e políticos, onde os sujeitos sociais discutem, planejam e
constroem seus projetos de vida e luta no trabalho com a terra. Nesse processo, os sujeitos sociais
organizam-se por meios de relações de classe para desenvolver seus territórios. Isso quer dizer que a
educação não existe fora do território, assim, como a cultura, a economia e outras dimensões mais
(Fernandes, 2006).
De acordo com Oliveira (1998), a formação territorial capitalista no campo brasileiro, esta
marcada pelos processos de territorialização do capital e monopólio do território pelo capital e,
ainda, esse fenômeno encontra-se, contraditoriamente, marcado pelo processo de expansão da
agricultura camponesa. Essa tem nas ocupações, nos acampamentos e nos assentamentos rurais
ações efetivas de resistência e luta pela terra.
Oliveira (2008) ao analisar os saberes e as práticas presentes na unidade camponesa nos
sertões do Ceará, foi demonstrando que no processo de constituição da vida de assentado, a terra
camponesa se revela como uma fração do território capitalista apropriada pelos camponeses. Sendo
os assentamentos rurais frações do território capitalista que estão sendo apropriadas pelos
camponeses na luta pela terra. Desse modo, os assentamentos rurais tornam-se um recurso poderoso
na espacialização da luta camponesa que vai desenvolvendo no território conquistado o sentido de
trunfo proposto por Raffestin (1993) ao defender esse como um poderoso conceito do campo
geográfico.
A analisa sobre a reprodução do campesinato e a luta pela educação do campo no seio da
sociedade capitalista perpassa a leitura da realidade presente no projeto popular que pensa o
desenvolvimento do campo brasileiro. E é através dessa lógica contraditória que procuramos
entender a relação sociedade e natureza no campo e as práticas sociais e educativas presentes nos
assentamentos rurais organizados pelo MST no Ceará.
A construção de uma leitura sobre o campesinato brasileiro e a luta por uma educação que
contemple os saberes, as práticas e as experiências no campo tem sido desenvolvida por Stedile e
Fernandes (1999) e Arroyo e Fernandes (1999) entre outros. A manutenção de diferentes formas de
produção e trabalho na terra camponesa, a luta por direitos e, ainda, por uma educação do campo é
parte constitutiva da luta pela reforma agrária dinamizada no seio dos movimentos sociais.
No Ceará, a luta pela terra construída historicamente por sujeitos sociais, muitas vezes,
geograficamente isolados nos sertões tem nos dias atuais a resposta de suas ações na conquista de
frações do território capitalista que vai para a mão dos camponeses organizados em movimentos
sociais. Assim, não há, portanto, como desconsiderar a importância dos assentamentos rurais no
país (Leite, Heredia e Medeiros, 2004). Para esses autores, os assentamentos são vistos como ponto
de chegada de um processo de luta pela terra e tornam-se ponto de partida para uma nova condição
de vida. Eles estão produzindo um novo perfil produtivo nos municípios, na organização social da
produção e da família, nas condições de vida e na participação política local e regional.
Nesse processo de luta camponesa, o MST trouxe para o conjunto da sociedade a
possibilidade de discutir cultura da igualdade, direito a terra, ao conhecimento, ao trabalho, a
educação entre outros. Assim, conforme Arroyo (2004), organização social, luta por direitos,
trabalho e educação são condições constitutivas de um o processo em que ele (o campesinato) se
constitui sujeito cultural. Por isso, não se deve separar produção de educação, nem separar produção
de escola. A produção na leitura pedagógica do movimento é mais do que produção. Desse modo,
estudar saberes e práticas pedagógicas do campo nos coloca diante do desafio de dar sentido às
palavras a partir das experiências individuais e coletivas construídas na convivência com o povo do
campo.
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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

A compreensão da pesquisa passa, também, por construções metodológicas consideradas


importantes na análise da Geografia agrária e do movimento de educação do campo no Ceará.
Assim, a mesma tem caminhado pelo viés qualitativo, tendo por princípio: ouvir o campesinato e a
partir daí mobilizar recursos teóricos que permitam decifrar a fala do camponês (Martins, 1995).
Para isso, tem sido priorizada a observação participante; as entrevistas em profundidade com
alunos, professores, lideranças entre outros sujeitos, a participação em reuniões e a vivência nos
assentamentos e, ainda, o levantamento de documentos referentes à educação do campo no período
estudado.
A formação dos professores, os currículos escolares e o material didático que se encontra na
escola do campo no Ceará, de uma maneira geral, desconsideram as especificidades da educação do
campo e a diversidade da realidade local, realizando, assim, um ensino estagnado,
descontextualizado, porém comprometido com a construção da aceitação passiva de novas formas e
relações proposta pela política educacional vigente.
Ao analisar trajetórias camponesas e a relação trabalho e educação, Oliveira (2009) foi
revelando como os saberes referente à dinâmica da natureza, as formas de uso da terra, aos tipos de
solo e vegetação são completamente desconsiderados ou conduzidos por uma lógica pautada no
urbano industrial presente nos livros didáticos. Nesse contexto, o trabalho com as diferentes formas
de uso da terra: uso comum, uso individual, uso coletivo entre outras, precisam ser sistematizada de
forma criativa e aberta para o diálogo e o confronto com outros saberes e culturas. E o trabalho
familiar na relação casa-de-moradia, quintal e roçado, casa-de-farinha devem ser reconhecidos
como lugares de encontro, troca e aprendizagem de saberes. A produção do conhecimento é
cumulativa e acontece na prática cotidiana com o trabalho na unidade de produção. Uma prática
social plena de espacialidade.
Esta pesquisa sobre o currículo escolar e a relação sociedade e natureza no semi-árido,
também, insere-se dentro de uma leitura da ecologia da paisagem (Silva, 1993). Para esse autor, a
análise da paisagem deve basear-se na interpretação de processos e componentes de classificação de
áreas e sub-áreas presentes na unidade geoambiental. O cognitivo e o perceptivo estão sendo
referenciais para a construção de identificações, através de intercâmbios entre os saberes
tradicionais da comunidade e os conhecimentos científicos de professores e alunos envolvidos na
pesquisa.
O processo de investigação tem sido desenvolvido de forma progressiva e regressiva com
momentos articulados. Cada etapa tem sido caracterizada por um trabalho de campo, com vivência
nos assentamentos, articulação de atividades junto aos alunos e professores, gravação de
depoimentos e registro fotográfico, seguido da transcrição de fitas, sistematização e análise dos
dados coletados, antes do retorno ao campo. Assim, tem sido possível um acompanhamento
constante da pesquisa à realidade estudada, permitindo um redimensionamento no sentido da
melhor apreensão e colaboração com os problemas verificados em campo.
OFICINAS PEDAGÓGICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO CAMPO: UMA
CONTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA.

A proposta de trabalhar na pesquisa uma oficina pedagógica com professores do campo foi
um desafio que surgiu durante as visitas de acompanhamento da pesquisa nos assentamentos rurais.
No processo de construção, após o contato inicial com a comunidade do Quieto via visitas de
campo, participação em reuniões pedagógicas na secretaria de educação do município Madalena
nos propomos a construir uma oficina pedagógica para professores da escola básica, acreditando
que assim, poderíamos fortalecer a leitura e o ensino da Geografia discutida na escola. A proposta
foi aceita pelo grupo e encaminhada pelos colegas que viabilizaram o trabalho com o compromisso
de ser estabelecido uma atividade em conjunto.
O Assentamento 25 de Maio está composto por dezoito comunidades distribuídas em sua
área localizada entre os municípios de Madalena, Boa Viagem e Quixaramobim na depressão
318
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

sertaneja do sertão central cearense, distante cerca de 150km da cidade de Fortaleza e 30km do
núcleo urbano do município de Madalena. A escolha da comunidade do Quieto se deu em uma
viagem de reconhecimento das escolas regulares presentes no sertão cearense. Decidimos por essa
comunidade quando fomos informados da proposta pedagógica desenvolvida com traços da
pedagogia da terra e a disponibilidade da comunidade-escola em trabalhar com a universidade.
O 25 de Maio foi fruto de uma ocupação organizada pelos camponeses e apoiada pelos
sindicatos rurais, Comissão Pastoral da Terra e MST. De acordo com os camponeses havia a
necessidade de uma organização política capaz de superar a situação de submissão em que se
encontravam. O dia 25 de Maio, data marcada para a ocupação organizada pelo MST, denomina
hoje a antiga fazenda São Joaquim. Essa foi de propriedade do sr. Wicar Parente Pessoa abrangendo
uma área de 22.992,00 hectares, imóvel considerado improdutivo no cumprimento de sua função
social, compreendendo terras exploradas e mata virgem. Nela residiam cinqüenta famílias na
condição de moradores que estão inseridos no assentamento e na luta pela reforma agrária.
Completados 15 dias da ocupação foi assinada a emissão de posse da terra, era 09 de junho de 1989.
Foi o processo mais rápido até então ocorrido. A organização do Movimento, bem como a
conjuntura existente a nível estadual e federal em relação ao Plano Nacional de Reforma Agrária
levou a este feito (Azevedo, 1992).
O atual prédio da escola no assentamento foi construído a partir da doação de uma cidadã
alemã (Jette Joop) que via Cruz Vermelha Brasileira (em parceria com a Prefeitura de Madalena)
doou os recursos financeiros necessários para a construção da escola na forma como se encontra,
hoje. Essa atitude contribuiu para que a comunidade a homenageasse colocando seu nome na placa
comemorativa apresentada no descerramento do novo prédio da escola. A escola do Quieto (como é
conhecida na localidade) além de ser referência em termos de organização e trabalho no
assentamento se apresenta em um excelente estado de conservação, condição necessária para a
prática pedagógica. O prédio tem cerca de dois anos e possui seis salas de aula, uma secretaria, uma
cozinha, três banheiros e ao lado um posto de saúde. Antes do prédio atual a escola funcionou por
muitos anos em um antigo galpão da cooperativa que hoje, ainda, mantém salas de aula e área de
estocagem de parte dos produtos produzidos no assentamento.
A experiência de trabalho com a escola Jette Joop teve como objetivo desenvolver a
aproximação Universidade e escola básica do campo e, ainda, criar instrumentos que possam
contribuir para o trabalho da escola com a Geografia e vice-versa.
Nas visitas a escola, sempre fomos recepcionados por professoras que motivavam a proposta
e contribuíam com a construção na abertura do diálogo, com entrevistas e doação de material
didático. Após oito meses de observação, levantamento e sistematização dos dados, a oficina
proposta para o período do planejamento pedagógico municipal.
Na construção do diálogo, muitos dos professores mostraram a necessidade de um
instrumental que os ajudasse na sua prática cotidiana. As atividades foram compostas por aulas
expositivas dialogadas com temáticas como: a questão agrária no campo brasileiro e a luta pela terra
e, ainda, paisagens geoambientais e educação ambiental na prática pedagógica dos professores de
Geografia. Também, foi proposto um trabalho de campo no entorno da área do assentamento com o
objetivo de se discutir em campo as questões teóricas propostas. Nesse sentido, o trabalho de campo
emergiu das necessidades reais do professorado local.
A abertura dos trabalhos foi iniciada com uma mística que enfatizou a educação do campo e
a troca entre os sujeitos moradores da cidade e do campo na luta por uma reforma agrária: com
escola, terra e dignidade.
Segundo Stedile e Fernandes (1999) a mística é a força, a energia cotidiana, que tem
animado a família Sem Terra a continuar na luta, ajudando cada pessoa a enxergar e a manter a
utopia coletiva. A mística é aquele sentimento materializado em símbolos, que nos faz sentir que
não estamos sozinhos e são os laços que nos unem uns aos outros lutadores que nos dão mais força
para prosseguir na construção de um projeto coletivo. No MST a mística tem uma dimensão
educativa muito importante: para os militantes mais antigos, ajuda a cultivar os valores e a memória
simbólica que os matem a caminho; para as novas gerações ou para cada sem-terra que entra no

319
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

movimento, ajuda na disposição pessoal de entrar no processo e a vivenciar as ações de forma mais
humana e plena, sendo uma espécie de ritual de acolhida, que faz as pessoas se sentirem parte do
movimento mesmo antes de conhecer toda a dinâmica.
Toda a dimensão da formação humana, da sociabilidade, da integração entre os grupos
esteve posta nesse momento de acolhida considerado por todos repleto de sentimentos e
intencionalidades. Nessa leitura, concordamos com Maia (2008) quando essa analisa a mística no
MST como um processo educativo. Ao final da mística e como uma forma de mostrar o orgulho, a
organização e a força do Movimento os militantes entoaram o hino do MST e passaram a palavra
para nós professores da UFC.
Após uma breve apresentação, colocamos os objetivos da oficina demonstrando
compromisso e respeito ao movimento de educação do campo proposto pelo MST. A questão da
luta pela reforma agrária foi abordada com base em uma leitura marxista sobre o papel da
propriedade privada da terra. No debate foi possível uma ampla discussão sobre a função social da
terra e o significado dos movimentos sociais no campo brasileiro.
A leitura sobre as diferentes paisagens existentes no território brasileiro foi mais um tema
abordado. Mata Atlântica, Floresta Equatorial, Caatinga, Cerrado entre outras formas de paisagens
encontravam-se expostas em painéis construídos com fotografias e postais, previamente
organizados no galpão. As aulas expositivas dialogadas prezaram por desvelar a especificidade dos
diferentes ambientes que compõem o território brasileiro e, em especial, explorou a realidade
cearense.
O trabalho de campo foi proposto como um instrumento fundamental na prática docente
com o ensino de Geografia. Iniciamos o trabalho de campo no interior do assentamento,
inicialmente discutindo a questão da propriedade privada e a constituição das relações sociais no
campo. Durante o trajeto Madalena – Quixaramobim – Quixadá – Choro - Madalena foram feitas
paradas para se fazer a leitura geográfica da diversidade paisagística presente nas sub-áreas contidas
na paisagem dominante, formas de relevos e as relações com o clima e a vegetação na formação dos
solos. Temas como educação ambiental, qualidade de vida, características e condições gerais dos
tipos, formas de uso e desgaste dos solos foram intensamente trabalhadas com os professores. No
processo, uma nova leitura geográfica da diversidade ambiental presentes no sertão central cearense
foi sendo formada. Em todo o trabalho de campo foram feitas colocações, anotações e
questionamentos sobre as condições sócio-ambientais presentes na área percorrida.
Ao final da oficina houve um momento de socialização do trabalho de campo que resultou
no encaminhamento da construção de um relato. E, ainda, foram distribuídos e indicados textos que
contribuíram com o embasamento teórico e com a reflexão da prática docente. Essa atividade
procurou atender alguns princípios: trabalhar o conhecimento dos professores/comunidade como
base para o ensino de Geografia; levar ao conhecimento do professorado diferentes linguagens
propostas para a construção da Geografia escolar; elaborar práticas metodológicas de ensino que
permitam explorar leituras do Campo a partir das paisagens geoambientais. Foi, portanto, um
trabalho que não teve nada a ver com os famosos “pacotes educativos” desenvolvidos no interior de
gabinetes burocráticos.
Desenvolver a pesquisa acadêmica com a formação de professores tem sido uma proposta
bastante discutida e desenvolvida no trabalho docente (Pontuschka e Oliveira, 2002). A prática com
os professores da escola do campo foi uma opção construída em conjunto e considerada uma
surpresa gratificante por parte dos sujeitos sociais envolvidos. Essa leitura revela, por um lado, que
a relação universidade - escola básica do campo está posta como um desafio em nossa formação e,
por outro lado que, mesmos com todos os seus limites, a Geografia tem muito a contribuir com a
escola do campo. Como mostrou as falas que seguem:
O trabalho de vocês foi bom porque a gente vai conhecendo o que nunca conheceu. O rio
São Francisco, os açudes no Ceará e isso vai ajudando uns e outros a se unir e se entender
(Sr. Vicente – liderança).

A troca de experiência vivenciada na interação entre os participantes nos possibilitou uma


troca de experiência, ou seja, mais aprendizagem sobre o nosso lugar (Profa. Eliane).

320
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Foi muito bom trabalharmos juntos. Fortaleceu bastante possibilitando-nos mais subsídios
para intervir de forma consciente junto aos nossos educandos. Espero que outros momentos
aconteçam (Profa. Ecília).
Os relatos apresentados pelos professores foram fundamentais para se fazer um
encaminhamento na perspectiva da continuidade na construção da relação proposta inicialmente.
Encerramos esse primeiro momento com satisfação em relação aos objetivos propostos no período
especifico, também, ficou evidente a necessidade do retorno ao assentamento no sentido de produzir
instrumentos cada vez mais eficazes no trabalho de leitura e conhecimento da pedagogia da terra e a
didática da Geografia escolar do campo cada vez mais comprometida com a luta por uma reforma
agrária, com escola, terra e dignidade.
4 - Considerações finais
O trabalho de pesquisa e extensão na relação escola básica do campo e universidade vai-se
ampliando e aperfeiçoando também através da prática. Há uma grande diferença no modo como
desenvolvemos o curso para professores em serviço na escola do campo e outros cursos que, muitas
vezes, são impostos aos professores. Nossa ação, como professores e pesquisadores têm se
transformado a partir de nossa prática pedagógica, refletida e analisada em conjunto com outros
professores sujeitos sociais na luta pela terra e pela justiça social. O trabalho de ação-reflexão-ação
na prática docente tem permitido o desenvolvimento de educadores que assumem para si o
compromisso com a transformação da realidade em que atua.
A forma dialogada de pensar o conhecimento como um saber em conjunto contribuiu para
uma avaliação satisfatória por parte da comunidade, corpo docente e discente envolvidos nos
trabalhos. Na avaliação final ficou claro que, no início das atividades, o professorado teve
dificuldade para entende o que exatamente seria desenvolvido na oficina. A própria linguagem foi
algo que precisou ser trabalhada para se poder ser entendida. Também, optamos por ir construindo
as atividades em campo, respeitando a dinâmica da escola, da comunidade e os limites entre os
professores. Assim, todas as atividades foram construídas no grupo e apresentadas e modificadas
juntamente com as professoras. A insegurança e a confusão inerentes ao início das atividades foi
dando lugar à iniciativa, a autonomia, ao respeito para com o outro e a autoconfiança. A opção por
essa forma de trabalho se deu em virtude da liberdade, do compromisso e do respeito dos
professores, militantes, pesquisadores e comunidade com o trabalho desenvolvido na escola.
A experiência desenvolvida com a escola do campo colocou o desafio de desenvolver,
juntamente com os sujeitos sociais que vivenciam o ambiente escolar, um instrumental capaz de
fortalecer o ensino de Geografia proposto pela pedagogia da terra. Esse encaminhamento tem
exigido um repensar em nossas práticas de ensino em Geografia, ficando como regra, o fato de ser
de fundamental importância o envolvimento na construção do trabalho coletivo. A pesquisa
apresentada se insere dentro das análises teóricas que discutem a educação do campo como parte
constitutiva da luta pela terra presente na história do campesinato brasileiro.

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323
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E IMPLICAÇÕES AMBIENTAIS SOBRE OS


RECURSOS HÍDRICOS EM TERESINA-PI

Antonio Joaquim da Silva


Joakim.ufpi@yahoo.com.br
Charlene de Sousa e Silva
charmenegeo@gmail.com
Daniel César Menêses de Carvalho
danielcesarpi@hotmail.com
Reurysson Chagas de Sousa Morais
reurysson@yahoo.com.br
Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente UFPI/TROPEN/PRODEMA

RESUMO

Teresina, capital do Estado do Piauí, apresentou na segunda metade do século XX um acelerado


processo de urbanização associado a fatores socioeconômicos. O desenvolvimento de atividades
econômicas transformou a cidade num pólo de atração de migrantes. No entanto, o crescimento
econômico não foi seguido pelo desenvolvimento estrutural o que resultou em impactos negativos
sobre o ambiente local em especial nos recursos hídricos. Os principais impactos ambientais
envolvendo os recursos hídricos decorrem da forma como se deu o uso e ocupação do solo urbano.
Como conseqüência desses fatores a cidade é frequentemente assolada por problemas de
inundações, que além dos transtornos causados pela interdição de avenidas, resultam em prejuízos
econômicos, sociais e ambientais. Este trabalho teve por objetivo analisar as causas dos problemas
ambientais urbanos de Teresina, com foco nos recursos hídricos em função das inundações
ocorridas no primeiro semestre de 2009. As causas das inundações foram atribuídas a fatores
naturais e antrópicos, deste modo foi proposta elaboração de um Plano Estadual de Gestão dos
Recursos Hídricos como o objetivo de promover ações integradas de controle e gestão dos recursos
naturais visando minimizar os impactos negativos sobre o sistema fluvial, capaz também de criar e
gerir um programa de controle e prevenção de enchentes. Foi atribuído aos municípios o papel de
elaboração de uma legislação que regulamente o uso e ocupação do uso do solo urbano, com foco
na implementação de um Plano Gestor de Drenagem Urbana.

Palavras-chave: Teresina. Urbanização. Drenagem urbana. Inundações. Política pública.

INTRODUÇÃO

Teresina, capital do Estado do Piauí, apresentou na segunda metade do século XX um


acelerado processo de urbanização, a exemplo do ocorrido no país. Esse processo esteve associado a
fatores socioeconômicos como o aumento da oferta de serviços e atividades comerciais.
O incremento dessas atividades em Teresina a transformaram num pólo de atração de
migrantes. No entanto, o crescimento econômico não foi seguido pelo desenvolvimento estrutural
levando a população a habitar áreas impróprias, imprimindo na cidade um padrão de urbanização
inadequado, resultando impactos negativos sobre o ambiente local em especial nos recursos
hídricos.
Os principais impactos ambientais envolvendo os recursos hídricos decorrem da forma como
se deu o uso e ocupação do solo urbano caracterizado pela eliminação da cobertura vegetal e
impermeabilização do solo, além da ocupação de áreas ambientalmente frágeis como as planícies
fluviais dos Rios Parnaíba e Poti.

324
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Como conseqüência desses fatores a cidade é frequentemente assolada por problemas de


inundações, que além dos transtornos causados pela interdição de avenidas, resultam em prejuízos
econômicos, sociais e ambientais.
O presente trabalho visa analisar os principais fatores responsáveis pela ocorrência
periódicas de inundações, bem como os impactos ambientais gerados pelo processo de ocupação e
expansão urbana de Teresina.
Considerando que as inundações são ocasionadas pelo aumento das áreas
impermeabilizadas, que intensificaram o fluxo superficial, somados a ineficiência dos sistemas de
drenagem urbana, o enfrentamento do problema requer elaboração de leis de uso e ocupação do solo
mais rígidas, acompanhada de mecanismos de fiscalização e controle em conformidade com a
proposta de elaboração de um Plano Diretor de Drenagem Urbana, defendidos por Barros (2005) e
Tucci (2006).

IMPACTOS AMBIENTAIS EM ÁREAS URBANAS

Segundo Rodrigues (1998), o meio ambiente natural está cada vez mais ausente no meio
ambiente urbano, porque dele foi banido através das formas concretas de desenvolvimento
(enterrando-se os rios; derrubando-se a vegetação; impermeabilizando terrenos, calçadas, ruas;
edificando-se em altura, criando o solo urbano), assim, o meio ambiente urbano refere-se ao
ambiente construído.
Deste modo, a forma acelerada como ocorreu o desenvolvimento dos centros urbanos
provou graves impactos ambientais, muitos deles irreversíveis. Os recursos hídricos são geralmente
os mais afetados, pois interagem intimamente com os elementos naturais e construídos (solo,
cobertura vegetal, padrão de edificações, etc.).
Dentre os problemas relacionados à água no meio urbano, Tucci (2005) destaca: a
contaminação dos mananciais superficiais e subterrâneos com efluentes urbanos sem tratamento;
disposição inadequada dos esgotos sanitários, pluviais e resíduos sólidos nas cidades; inundações
nas áreas urbanas devido à urbanização; erosão e sedimentação dos corpos d’água e ocupação de
áreas ribeirinhas e de áreas de alta declividade sujeitas a deslizamentos.
O aumento crescente da população em áreas urbanas e as funções desempenhadas pelas
cidades (cidade comercial, industrial e residencial) afetam a disponibilidade da água tanto pelo
aumento do consumo como pela poluição gerada pelas atividades produtivas e a ineficiência ou
escassez de tratamento adequado. Deste modo, entende que a escassez não esta necessariamente
ligada à quantidade da águas, mas também à perda de sua qualidade.
O desmatamento é outra causa de poluição, pois o solo descoberto é fonte de sedimentos que
ao acumular-se nos rios provoca seu assoreamento, diminuindo sua capacidade de retenção de água,
o que nos períodos de cheia acarreta inundação de suas margens, além de diminuir a taxa de
infiltração.
As inundações também é um problema recorrente em muitas cidades brasileiras, decorre do
aumento do escoamento ocasionado pelo grau de impermeabilização do solo e acúmulo de lixo nas
ruas que acaba entupindo bueiros, impedindo a passagem das águas pluviais.
Abordando essa temática, Tucci (2005) considera que o escoamento superficial pode
produzir inundações e impactos nas áreas urbanas devido a dois processos, que ocorrem
isoladamente ou combinados: inundações de áreas ribeirinhas e inundações devido à urbanização.
Segundo Barros (2005) a inundação urbana é provoca fundamentalmente pelo excesso de
escoamento superficial gerado pelo aumento dos índices de impermeabilização do solo e, por
conseguinte da diminuição dos processos de infiltração e de retenção de água. As inundações
ocorrem quando o volume do escoamento superficial ultrapassa a capacidade de escoamento dos
corpos d’água.
Tais impactos podem ser vistos com frequência em Teresina. Dada as suas características
ambientais, localizada entre os rios Parnaíba e Poti, as alterações na paisagem tem consequências na
dinâmica ambiental natural, acarretando problema de inundações.

325
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

CARACTERIZAÇÃO GEOAMBIENTAL DE TERESINA

Teresina, a capital do Estado do Piauí, localiza-se na Mesorregião Geográfica Centro-Norte


Piauiense (Microrregião Geográfica Teresina). Apresenta clima Tropical, com máximos
pluviométricos no outono, com temperaturas médias anuais em torno de 27° C, sua hipsometria
varia entre 100 a 200m de altitude, influenciando a vegetação local caracterizada por Floresta Mista
Subcaducifólia. A hidrografia é representada pelos rios Parnaíba e Poti, integrantes da Bacia
Hidrográfica do Parnaíba (ARAÚJO, 2006). Os solos predominantes são do tipo Argissolos,
Latossolos, Chernossolos, Vertissolos e Neossolos ( MORAES et al.,2006).

FORMAÇÃO E EXPANSÃO DE TERESINA-PI

O processo de urbanização de Teresina é resultado de mudanças estruturais na situação


política e econômica do Estado do Piauí. Segundo Lima (1996), o Piauí não apresentava, pelo
menos até meados do século XIX, expressivas atividades que caracterizam o espaço urbano, como o
comércio. Nesse sentindo durante um longo período os centros urbanos significativos eram
praticamente inexistentes.
De acordo com Façanha (1996), Teresina surge em meados do século XIX com a
perspectiva de alavancar a economia colonial piauiense que passava por um período de crise. A
transferência da capital do Piauí, de Oeiras para Teresina, resultou num maior desenvolvimento do
Estado.
As razões dessa mudança residem na própria localização geográfica da cidade de Oeiras, que
se configurava economicamente desfavorável pelas distâncias do Rio Parnaíba, principal rota de
comercialização na época.
Nas palavras de Franco (1983, p. 67), a necessidade de transferência da capital ocorreu por
que:
Oeiras não [oferecia] condições favoráveis exigidas pelo progresso para continuar
como capital. Faltava-lhe uma estrutura urbana recomendável. Daí surgiu à idéia
da mudança para outro local mais acessível, às margens do rio Parnaíba [...].

A formação de Teresina tem raiz na antiga Vila do Poti, atual bairro do Poti Velho, zona
Norte da cidade, localizada na confluência do rio Poti com o Parnaíba.
O local selecionado para sediar a capital, apresentava, porém alguns inconvenientes. As
constantes cheias dos rios inundavam o pequeno povoamento. Tal fenômeno influenciou na
transferência do povoado para uma área a seis quilômetros à montante da Vila do Poti, que recebeu
o nome de Vila Nova do Poti, e mais tarde, com a elevação à categoria de cidade foi denominada de
Teresina (SILVA, 2003).
A cidade começou a crescer em torno da Praça da Constituição, atual Praça Marechal
Deodoro da Fonseca, a partir de 1972 e até os anos de 1940 se expandiu lentamente, intensificando-
se a partir da década de 1950, seguindo a tendência de crescimento urbano nacional (LIMA, 1996).
Os investimentos federais em âmbito regional e local através da abertura de estradas e
desenvolvimento dos meios de comunicação contribuíram para a dinamização do Estado e
consequentemente de Teresina, verificando-se a partir da década de 1960 um acelerado processo de
urbanização e expansão com a ocupação progressiva de várias zonas da cidade e consequentemente
surgimento de diversas contradições sócios espaciais (SILVA, 2003).
O atual perfil urbano da cidade de Teresina, de acordo com Lima (1996), reflete o acelerado
processo de urbanização que o país tem vivido. A segregação espacial tem gerado áreas densamente
ocupadas desprovidas de serviços urbanos básico, como o saneamento.
A cidade de Teresina cresceu de forma desigual e a atuação dos governos locais aprofundou
a problemática urbana resultando em problemas decorrentes da ocupação desordenada. Esses
problemas estão relacionados à ocupação de áreas de riscos e margens dos rios, impermeabilização

326
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

dos solos e mau dimensionamento do sistema de drenagens pluviais, destinação dos resíduos sólidos
e deficiência nas políticas de planejamento, fiscalização e controle do Poder Público Municipal.

PROBLEMAS AMBIENTAIS DECORRENTES DO PROCESSO DE URBANIZAÇÃO

Os principais problemas ambientais identificados no espaço urbano de Teresina decorrentes


do processo de urbanização são: o aterramento parcial ou total de lagoas e construção de habitações
próximas aos rios Parnaíba e Poti; ocupação de áreas localizadas abaixo da cota de inundação
periódica de rios e lagoas; traçado de vias públicas sem levar em conta o tipo de chuvas
(enxurradas), bem como a rede de drenagem, ignorando curvas e níveis, riachos e talvegues;
desmatamento de grandes áreas para loteamentos, principalmente em relevo íngreme; elevado
índice de pavimentação asfáltica e calçamento de má qualidade; obras de drenagem das águas
plúvio–fluviais, sem levar em consideração a rede natural de drenagem, provocando concentração
de energia das águas em pontos isolados, ao invés da sua dissipação, tendo como conseqüência o
aumento da erosão e o assoreamento dos rios e o alto custo em obras públicas e transtornos para as
pessoas (TERESINA, 2002).
A cidade de Teresina, nos últimos anos tem sofrido com problemas de inundações. Em
análise dos dados pluviométricos apresentados pela Secretaria de desenvolvimento e Recursos
Hídricos do Estado do Piauí (SEMAR) para o período de 1914 a 2000, referente ao posto de
Teresina, constatou-se que nas décadas de 1940-50, foram registrados totais de chuvas em níveis
acima dos observados atualmente.
De acordo com a SEMAR, as inundações ocorridas no primeiro semestre de 2009 na cidade
tiveram como causa principal o excesso de chuva provocado pela ação simultânea de três eventos
climáticos no hemisfério Sul: a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), a Alta Bolívia e as
Linhas de Instabilidade. Esses eventos resultaram no aumento da vazão do Rio Poti ocasionando o
seu transbordamento na altura de Teresina, com pico de cheia no dia cinco de maio, onde a cota
registrada foi de 14,52m (SEMAR, 2009).
Mesmo tendo como causa fenômenos naturais citados, o nível prejuízos econômicos, sociais
e ambientais em Teresina foi agravado, pelo nível de intervenção antrópica que a ao longo do
processo de expansão da cidade caracterizou-se por uma intensa ocupação das áreas ribeirinhas.
Como resultado desse evento atípico a cidade vivenciou um período de grande perturbação
na ordem pública, marcado pela interdição da vias públicas, fechamento de estabelecimentos
comerciais, paralisação do ensino nas escolas públicas e particulares e ponto facultativo aos
funcionários públicos devido ao caos no trânsito (Ver Figura 1 e 2).

Figura 2. Vista panorâmica da inundação das margens do Rio Poti

327
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 3. Alagamento da Avenida Marechal Castelo Branco

Considerando que as medidas de controle de cheias não podem ser tomadas de modo isolado
por cada município pertencente a Bacia Hidrográfica do Rio Parnaíba, dada as características do
sistema fluvial, faz-se necessário a elaboração de um Plano Estadual de Gestão dos Recursos
Hídricos capaz de promover ações integradas de controle e gestão dos recursos naturais visando
minimizar os impactos negativos sobre o sistema fluvial, e que também capaz de criar e gerir um
programa de controle e prevenção de enchentes.
Todavia, a proposta acima não exclui a necessidade de que cada município elabore uma
legislação que regulamente o uso e ocupação do uso do solo urbano, permitindo a implementação
de um Plano Gestor de Drenagem Urbana, cujo objetivo é: planejar a distribuição da água com base
na tendência de ocupação urbana; controlar a ocupação de áreas de riscos de inundação e
convivência com as enchentes nas áreas de baixo risco (TUCCI, 2006).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A crescente ocupação e expansão urbana de Teresina desde sua formação provocou intensos
impactos ambientais negativos na cidade. A maneira como o solo urbano de Teresina foi
apropriação e espoliado propiciou o agravamento de fenômenos naturais, como as inundações.
A ação dos agentes produtores do espaço urbano teresinense promoveu um desordenado
processo de crescimento da cidade. A gestão pública municipal, ao longo do tempo não se
preocupou em criar um sistema de leis que garantissem um controle mais rígido sobre o uso e
ocupação do solo urbano, nesse contexto o que se presencia é uma inadequada forma de
organização/estruturação da cidade que tem concentrado a localização de suas atividades
comerciais, industriais e de prestação de serviços, bem como de moradia nas margens dos rios
Parnaíba e Poti.
Os recorrentes fenômenos de inundação na cidade de Teresina tornaram necessário a adoção
de um plano integrado de gestão dos recursos hídricos e da implementação de um Plano Gestor de
Drenagem urbana, em conformidade com o Plano Diretor Urbano da cidade, onde o poder público
municipal seja o responsável pelo controle e fiscalização do processo de uso e ocupação do espaço
urbano.
O planejamento urbano é um veiculo de gestão pública essencial, na medida em que
incorpore soluções ecológicas à produção de cidades com qualidade de vida. Nesse sentido, faz-se
necessário a adoção de uma política pública que possam orientar para a ocupação e uso adequados
do solo urbano, visando minimizar os impactos sobre o meio ambiente urbano de Teresina.

328
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

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FRANCO, José Patrício. Capítulos da Historia do Piauí. Teresina, 1983. [s.n.].

329
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

DESENVOLVIMENTO LOCAL E PLANEJAMENTO AMBIENTAL: EXTRATIVISMO


SUSTENTÁVEL EM ÁREA DE BABAÇUAL PIAUIENSE

Antonio Joaquim da Silva


Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/TROPEN/UFPI
joakim.ufpi@yahoo.com.br

José Luis Lopes Araújo


Prof. Dr. da Universidade Federal do Piauí – PRODEMA/TROPEN/MDMA
jlopesaraujo@gmail.com

Daniel César Menêses de Carvalho


Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/TROPEN/UFPI
danielcmc@ymail.com

Charlene de Sousa e Silva


Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/TROPEN/UFPI
charmenegeo@gmail.com

Reurysson Chagas de Sousa Morais


Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/TROPEN/UFPI
reurysson@yahoo.com.br

RESUMO
Com o aumento dos problemas ambientais na segunda metade do século XX, a questão ambiental
ganhou fórum nos meios científicos, políticos, econômicos, sociais e culturais; surgindo medidas
mitigadoras para a diminuição dos impactos gerados pela ação do homem ao Meio Ambiente.
Aprimorou-se o conceito de desenvolvimento, agora, com um princípio de uso racional dos bens
ambientais – o ecologicamente sustentável. O extrativismo da planta do babaçu no Piauí adquire
características de tal conceito, na medida em que o impacto gerado pela ação humana ao ambiente é
mínimo. O objetivo deste trabalho visa analisar a atividade socioeconômica da exploração da planta
do babaçu na Mesorregião Geográfica Norte Piauiense, descrevendo o histórico de produção do
coco babaçu à economia em escalas nacional, regional e local, discutindo sobre o planejamento do
uso dos bens ambientais e o Desenvolvimento Local Sustentável. Utilizou-se como metodologia a
pesquisa bibliográfica/campo, concluindo que, as formas de exploração da planta do coco babaçu
(construções de alvenaria, utilização da casca do coco como matriz energética às indústrias locais e
produção de óleo comestível) inserem-se em preceitos do uso sustentável dos bens ambientais, pois,
o impacto da ação do homem ao Meio Ambiente é mínimo, porém, há necessidade de políticas
públicas e privadas à geração de renda às comunidades locais para suprimento das necessidades
essenciais de tais comunidades.

Palavras-Chave: Desenvolvimento Sustentável. Planejamento Territorial. Extrativismo Vegetal.

INTRODUÇÃO

O meio ambiente tem na natureza a sua matéria-prima ele apresenta a dimensão ecológica e
socioambiental. A natureza é, então, uma totalidade onde todos os seres vivos trocam inúmeras
interações e combinações de fatores que criam as condições necessárias para que todas as espécies
obtenham energia e participem dessas interações.

330
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

O homem, ao longo de sua história, vem organizando o espaço, através da


transformação da natureza. Assim, o meio ambiente de um local é constituído por vários elementos
da natureza e por elementos da cultura de determinada população (ARAÚJO, 2006).
Natureza e espaço estão intrinsecamente relacionados, o espaço organizado pelo
homem desempenha um papel na sociedade, condicionando-a, compartilhando do complexo
processo de existência e reprodução social (CORRÊA, 2006).
A atividade socioeconômica do extrativismo no mundo, principalmente a partir do
desenvolvimento do capitalismo comercial e, em seguida, o financeiro7, exemplifica a apropriação e
o uso assistemático dos bens ambientais8. O uso em larga escala dos bens ambientais esteve, então,
associados a fatores como: Revoluções Industriais e Verde, além do acelerado crescimento
populacional no mundo. Tais fatores trouxeram consequências danosas ao meio natural.
Na segunda metade do século XX, as discussões sobre os problemas gerados pela ação
antrópica dos bens ambientais, ganha fórum entre os meios científicos, políticos, sociais e
econômicos. A noção de desenvolvimento sustentável tem sua origem mais remota no debate
internacional, partindo do próprio conceito de desenvolvimento, da reavaliação de noção do
desenvolvimento predominantemente ligado à idéia de crescimento, até o surgimento do conceito
de desenvolvimento sustentável (BELLEN, 2007).
Repensar o atual modelo de desenvolvimento econômico adotado pelos Estados-Nação
é de vital importância à manutenção da biosfera. Este trabalho objetiva descrever as potencialidades
(econômica, social e ambiental) oferecidas aos atores sociais locais da Mesorregião Norte Piauiense
(PI), a partir da exploração da planta do babaçu – Orbignya phalerata (LORENZI, 2004), no viés
do extrativismo sustentável, acrescido de discussões sobre o planejamento dos bens ambientais e
Desenvolvimento Local.
Identificou-se a concentração espacial do babaçu na área de estudo, a partir da análise
das microrregiões, o aproveitamento econômico na dinâmica das relações socioculturais locais e as
utilizações oriundas da palmeira do babaçu, além do contexto histórico da produção do coco babaçu
no Brasil e na região Nordeste.
A metodologia utilizada partiu de referencial bibliográfico e pesquisas de campo, com
entrevistas aos atores sociais locais para identificação da produção (exploração), da renda gerada e a
relação de uso dos bens ambientais por famílias rurais. Trabalha-se com a hipótese de que a
exploração do coco babaçu através do extrativismo sustentável apresenta mínimo impacto negativo
à planta e o aproveitamento diversificado tanto por comunidades locais quanto por indústrias de
beneficiamento favorece condições satisfatórias econômicas e socioambientais no município.
Compreender a dinâmica da exploração do babaçu na área de estudo, sua relevância histórica
no Brasil e no Estado, contribui para a reflexão política do uso racional do ambiente. A
caracterização das atividades de exploração da planta do babaçu com enfoque à sustentabilidade
revela a necessidade de estimular o uso equilibrado dos recursos naturais, minimizando os efeitos
de degradação gerados pelo homem, aumentando o uso racional e ecológico da área em estudo,
promovendo inclusão social e econômica de comunidades locais.

O MODELO DE DESENVOLVIMENTO VERSUS O USO DO AMBIENTE


O processo de acumulação do capital acelerou a degradação dos recursos naturais.
Evidencia-se nas últimas décadas uma mudança de mentalidade em relação à questão ambiental no
Brasil, embora ainda haja muito a ser feito. No bojo da temática ambiental, desenvolvimento e
sustentabilidade ganharam o centro das discussões nos meios científicos, políticos, econômicos,
sociais, entre outros.
O desenvolvimento ecologicamente sustentável, de acordo com Giansanti (1998),
significa a garantia de progresso material e bem estar social, resguardando os recursos e o
patrimônio natural dos diferentes povos e países.
Para Giansanti a garantia de sustentabilidade supõe muitos desafios:
7
Insere-se também o próprio socialismo real.
8
Entende-se por recursos naturais.
331
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

O primeiro o de abandonar a ilusão de que se deve atingir antes um crescimento econômico


rápido para depois repartir a riqueza social (...). Segundo, implica a negociação de regras
universais de uso sustentável dos recursos naturais (...), adoção de força por parte dos
países pobres nas relações econômicas internacionais (GIANSANTI, 1998, p. 13).

A temática sustentável de uso dos bens ambientais remete a um exame crítico da noção
de necessidade e dos padrões de consumo atuais, revendo as finalidades da produção econômica e
os valores sociais predominantes.
Estudos sobre desenvolvimento (o econômico e o social) iniciaram-se por volta de
1950, quando muitos territórios coloniais tornaram-se independentes. A Organização das Nações
Unidas – ONU – denominou a década seguinte – 1960 – como a Primeira Década das Nações
Unidas para o Desenvolvimento, estabelecendo ações para a tentativa de diminuir as diferenças
socioeconômicas entre os países.
No histórico das relações sobre os problemas ambientais, a ONU teve papel
fundamental e, destacam-se a Conferência de Estocolmo (1972) que reconheceu as relações entre os
conceitos de conservação e desenvolvimento industrial; o Relatório de Brundtland (Nosso Futuro
Comum) em 1987, que introduziu o conceito de desenvolvimento sustentável, preconizando um
sistema de desenvolvimento socioeconômico, com justiça social em harmonia com o sistema de
suporte da vida na Terra; e a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, em 1992, resultando na Agenda 21 (CORDANI; TAIOLI,
2003).
Para Silva (2000), o atual modelo de desenvolvimento tem-se mostrado
economicamente predatório, socialmente perverso e politicamente injusto, caracterizando-se como
insustentável. Segundo Gonçalves (2004) a busca de lucros sem respeitar o direito social e
ambiental, não só aumentou o poder de quem já o concentrava como, contraditoriamente, unificou
as diferenças e as desigualdades dos que sofrem seus efeitos.
Dessa forma, o autor argumenta que:

O processo de integração capitalista mundial atingiu, nas últimas décadas, um


patamar tal que acabou por integrar de modo mais complexo as desigualdades que
sustentavam sua própria dinâmica (GONÇALVES, 2004, p. 167).

A relação entre desenvolvimento e meio ambiente é considerada hoje um ponto central


da compreensão dos problemas, se legitimando pelo surgimento do conceito ecológico de
desenvolvimento sustentável. Assim, segundo Bellen (2007) o conceito de desenvolvimento
sustentável trata, especificamente, de uma nova maneira de a sociedade se relacionar com seu
ambiente de forma a garantir a sua própria continuidade e a de seu meio externo, porém, a
formulação de uma definição para o conceito gera diversas interpretações, necessitando uma
reavaliação do próprio conceito “sustentável”, empregado ao desenvolvimento (assumidamente
capitalista). Entretanto, há certo grau de consenso em relação às necessidades de se reduzir a
poluição ambiental, eliminar os desperdícios, e diminuir o índice de pobreza.
No Brasil, os problemas ambientais têm se caracterizado, sobretudo, pelas derrubadas e
queimadas de florestas (acelerando o processo de extinção de espécies da fauna e da flora); poluição
atmosférica nas grandes metrópoles; avanço de monoculturas (com o uso de agrotóxicos),
envenenamento das águas superficiais e subterrâneas, falta de saneamento básico, entre outros.
Diante de tais problemas que afetam a qualidade da vida em geral, justifica-se a busca de
alternativas ao uso racional do ambiente.

332
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

O EXTRATIVISMO PIAUIENSE
O uso dos bens ambientais deve associar-se ao desenvolvimento equitativo e nas atribuições
políticas de conservação, logo, o extrativismo Sustentável9, enquanto racional, cumpre papel
importante, dando suporte ao equilíbrio ecológico, social e econômico (considerando os impactos
gerados pela ação humana).
Segundo Aquino (2009) o extrativismo sustentável diferencia-se do extrativismo
predatório, basicamente, porque não destrói as fontes de renovação do recurso natural explorado,
enquanto o extrativismo predatório causa danos severos ao recurso natural.
O termo local relaciona-se ao espaço geográfico, onde a noção geográfica adquire
sentido sociológico (SILVA XAVIER, 2008), nesse sentido o espaço geográfico passa a ser um
local de encontro, de identidade cultural e aproximação em termos de valores e comportamentos,
portanto;
Aproxima-se da noção de comunidade. Nessa dimensão, o local e o associativo se
entrelaçam como fenômenos sociais. Novos significados são construídos (...), o termo local
para conter mais ênfase às pessoas que às organizações (...) (FRANTS WALTER, 2003
apud SILVA XAIER, 2008. p.08).

O Desenvolvimento Local Sustentável adquire um sentido político da valorização do


desenvolvimento dos aspectos locais de práticas sustentáveis com inclusão social, assim, o
extrativismo sustentável desenvolvido na Mesorregião Geográfica Norte Piauiense relaciona-se aos
princípios do Desenvolvimento Local Sustentável. Segundo Araújo (2006), o extrativismo ainda
continua a ter grande importância na economia piauiense10, destacando-se produtos tanto do
extrativismo mineral quanto vegetal. No primeiro, destaca-se a exploração de Opala; pedra de
Castelo; seixo; massará, entre outros. No segundo, destacam-se carnaúba; babaçu; lenha; madeira
(em carvão e em tora), entre outros.
Araújo (2006) salienta que outros produtos vegetais extraídos da flora piauiense servem
para o uso na culinária, para o preparo de produtos na indústria farmacêutica e na medicina caseira;
porém, a extração dos mesmos não é registrada por órgãos oficiais, justificando a ausência dos
dados estatísticos em órgãos oficiais governamentais, o que reforça o interesse por maiores estudos
sobre esses produtos, e o papel da sustentabilidade nesse contexto.

ÁREA DE BABAÇUAL NO NORTE PIAUIENSE


Devido à dimensão continental do Brasil, as classificações biogeográficas existentes
apresentam biomas com grandes extensões (Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Cerrado, Pantanal,
Caatinga, Campos Sulinos, Ecossistemas Costeiros). Entretanto, esses biomas contém inúmeras
áreas compartimentadas, que podem ser classificadas como províncias, ecorregiões, biorregiões e
zonas bem delimitadas, necessárias ao trabalho de planejamento e gestão ambiental (ARRUDA et
al, 2004).
Quando se considera a zona de cocais ou sub-região geográfica Meio-Norte do
Nordeste, a partir de uma classificação fitogeográfica, Batista (1974) a distingue da seguinte forma:
a) a do litoral, com os mangues e as campinas baixas, mais propriamente incluídas na zona marítima
e b) a do planalto, com oito sub-divisões locais: cocais de babaçu, campos cerrados, caatingas
disseminadas, areais semi-desérticos, flora hidrófila, mata ciliares e transgressão de Hiléia.

9
Que gere o mínimo de impacto entrópico, ou seja, uma baixa entropia.
10
O extrativismo piauiense passou por anos de declínio econômico, entre 1960 à 1980.
333
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 01: Mesorregião Geográfica Norte


Piauiense – Identificação das microrregiões.
Fonte: O Autor, 2009.

A Mesorregião Norte Piauiense insere-se na classificação de ecótonos ou áreas de


transição, apresentando particularidades específicas de distintos ambientes (Amazônia, Cerrado e
Caatinga). Os babaçuais no Estado do Piauí se distribuem por toda a região do médio ao baixo curso
do Rio Parnaíba, porém, considerando a área de estudo, observa-se na figura (01) que os cocais de
babaçu concentram-se no baixo curso do Rio Parnaíba, na Mesorregião Geográfica Baixo Parnaíba
Piauiense, assim, caracterizam geralmente; a flora da região Meio-Norte, pela sua predominância
sobre outros tipos vegetacionais: são homogêneos, em grandes matas, de densidade variável
(BATISTA, 1974).

Figura 02: Vegetação de Cocais na Microrregião


Baixo Parnaíba Piauiense.
Fonte: O Autor (2009).

Concentrados em áreas próximas ao Rio Parnaíba (fig. 01), os babaçuais são favorecidos
pelo ambiente climático local, que, de acordo com a classificação de KÖPPEN, é do tipo Tropical,
com máximos pluviométricos no outono; os solos são do tipo Latossolos Amarelo, vermelho-
334
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

amarelo e Podzólicos; vegetação floresta de transição Amazônica-Cerrado, floresta subcaducifólia


(ver fig. 02), representados na Microrregião Geográfica Baixo Parnaíba Piauiense.
O habitat da planta possui ampla distribuição em mesoescala, em países como Bolívia,
Guianas, Suriname, ocupando principalmente todo o norte do Brasil, nos Estados do Maranhão,
Piauí, Mato Grosso e áreas isoladas do Nordeste - Ceará, Pernambuco e Alagoas, possivelmente
levada por indígenas (LORENZI, 2004).

AS POTENCIALIDADES ECONÔMICAS, SOCIAIS E AMBIENTAIS DA PLANTA DO


BABAÇU
As primeiras exportações da amêndoa de babaçu do Piauí datam do início do século XX,
mais precisamente em 1911. O primeiro mercado consumidor foi à Alemanha; após a Primeira
Guerra Mundial houve entrada de outros países na atividade de exportações. Segundo Mendes
(2003), em 1939 a produção extrativa do babaçu piauiense representou 19,2% da produção
brasileira, e em 1947 representou 42,6% da produção nordestina.
Mesmo com a concorrência de outros produtos, sobretudo do óleo de soja, nas últimas
décadas, a atividade extrativa de babaçu continua a ter grande importância econômica para vários
atores sociais, em destaque ao pequeno produtor rural em municípios da Mesorregião Norte
Piauiense.
O fruto da palmeira de babaçu é composto por: Epicarpo (camada externa e fibrosa,
12% do fruto), Mesocarpo (camada abaixo do epicarpo, rica em amido, 23% do fruto), Endocarpo
(protege as amêndoas, é de onde se produz um carvão vegetal com alta qualidade, 58% do fruto) e
as Amêndoas (três a quatro amêndoas por fruto, dos quais se extraem o óleo vegetal, 7% do fruto).

Figura 03: Fluxograma de processamento do coco babaçu


Fonte: O Autor, 2009.

A figura (03) retrata as potencialidades oriundas do aproveitamento sustentável do coco


babaçu, tais potencialidades são oriundas apenas do fruto da palmeira, tornando-se um excelente
produto para a promoção do desenvolvimento socioeconômico de comunidades locais. Destacou-se
na área de estudo que as principais potencialidades aproveitadas da palmeira do coco babaçu foram:
a amêndoa, para produção de óleo comestível (caseiro e industrial); a casca como fonte de energia
caseira e industrial (indústrias cerâmicas da região) e as palhas da palmeira para a cobertura e
feitura de habitações rústicas e em obras trançadas.
Segundo levantamentos realizados, em 2001 e 2007, pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística – IBGE – a produção (beneficiamento tradicional) da amêndoa do babaçu na
Mesorregião Norte Piauiense é considerada pequena quando comparada a outras produções

335
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

agrícolas11, pois, dividindo a Mesorregião em Microrregiões (ver figura 01), observa-se que a
Microrregião Baixo Parnaíba Piauiense produziu 3.350 toneladas de amêndoa do babaçu em 2001 e
3.960 toneladas em 2007, enquanto a Microrregião Litoral Piauiense produziu 23 toneladas em
2001 e 29 toneladas em 2007.
As diferenças de produção entre as microrregiões são justificadas pela diferença
quantitativa de municípios que cada microrregião contém, pois, a Microrregião Baixo Parnaíba
Piauiense concentra quatorze municípios e a Microrregião Litoral Piauiense concentra três
municípios; são acrescentadas também diferenças na distribuição vegetacional (cocais) entre as
microrregiões.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As preocupações aos problemas ambientais ganham a cada dia notoriedade na sociedade


globalizada. Hoje, a proposta do homem dito racional é outra relação sociedade-natureza, com
justiça social e sustentabilidade ecológica por meio da liberdade social intelectual e cultural.
Via de regra, é a pressão gerada pelas necessidades do consumo que define os objetivos
do planejamento territorial, e não a capacidade de suporte do ambiente e os impactos da atividade
transformadora (CONTI; FURLAN, 2003). O planejamento ambiental deve adotar um enfoque
ecológico-holístico, no qual o homem integra esse sistema, devendo buscar o uso múltiplo do
território e a reutilização, como forma lógica de maximizar o aproveitamento dos recursos naturais.
Todos os elementos naturais e culturais devem ser levados em consideração na busca e
definição de modelos de desenvolvimento sustentável para um determinado local. O
Desenvolvimento e o Meio Ambiente devem sempre estar associados a políticas que permitam a
convivência do homem no seu ambiente de forma racional e saudável. Tal convivência implica na
adoção de medidas de redução dos impactos negativos, pois, as populações necessitam da utilização
dos recursos naturais.
Sob uma perspectiva econômica, a sustentabilidade formaliza-se na capacidade da
economia de realizar investimentos que compensem o consumo do capital, porém, é preciso que a
sociedade seja capaz de reconhecer e reorientar os custos ecológicos, econômicos e distributivos das
possibilidades de substituição entre capital natural e capital material resultante do processo de
crescimento da renda nacional.
A caracterização das atividades/potencialidades a partir da exploração da planta do
babaçu inserida em princípios da sustentabilidade revela a necessidade do uso equilibrado para
outras atividades oriundas do extrativismo que não apresenta um manejo ou uso sustentável de
exploração/aproveitamento. Portanto, é compromisso das sociedades atuais, minimizarem os efeitos
da ação antrópica em ambientes fragilizados ou tendentes à degradação.
Assim, as informações disponíveis pela pesquisa, podem ser criticas para a tomada de
decisões e planejamento de uso e ocupação dos territórios, com vistas à melhor e mais apropriada
disposição espacial das atividades econômicas, os quais devem se adaptar às características naturais
do espaço físico, em consonância com os preceitos do desenvolvimento sustentável.

REFERÊNCIAS

AQUINO, de G. Ecoterra Brasil: Extrativismo no Bioma Cerrado. 2008. Disponível em:


http://www.ecoterrabrasil.com.br/home/index.php?pq=temas&tipo=tema&2d=1716 . Acesso
08.07.2009 14:22:12.

ARAÚJO, J.L.L. (Coordenador). Atlas escolar do Piauí: Geo-histórico e cultural. João


Pessoa/PB: Ed.Grafset, 2006.

11
Quando comparados aos grãos tradicionais da economia do Estado, como soja, arroz, milho e feijão, que apresentam
produções bem superiores.
336
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

ARRUDA, M.B. et al. Corredores Ecológicos: Uma abordagem integradora de ecossistemas no


Brasil. Brasília: IBAMA, 2004.

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BELLEN, H.M.V. Indicadores de Sustentabilidade: Uma análise comparativa. FGV, 2007.

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Geografia do Brasil. 5 ed. São Paulo: EDUSP, 2003.

CORDANI, U.G.; TAIOLI, Fábio. A Terra, a humanidade e o Desenvolvimento Sustentável. In:


TEIXEIRA, W. et al. Decifrando a Terra. São Paulo. Oficina de Textos, 2003.

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Geografia: Conceitos e Temas. 8ª ed. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil, 2006.

GIANSANTI, Roberto. O Desafio do Desenvolvimento Sustentável. São Paulo: Editora Atual,


1998.

GONÇALVES, W.P. O Desafio Ambiental: Os porquês da desordem mundial, mestres


explicam a globalização. Rio de Janeiro: Record, 2004.

IBGE, Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura. Rio de Janeiro, 2008.

LORENZI, H. et al. (org.). Palmeiras brasileiras e exóticas cultivadas. Nova Odessa – SP:
Instituto Plantarum, 2004.

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do babaçu. São Luis: EMAPA/FINEP/FUNDAÇÃO FORD, 1990.

MENDES, Felipe. Economia e Desenvolvimento do Piauí. Teresina: Fundação Monsenhor


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Piauiense de Letras, 2001.

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série do ensino fundamental. Teresina: UFPI, 2000.

SILVA XAVIER, A. L. da. Elementos Constitutivos da Agroecologia como Modelo Estratégico


de Desenvolvimento Local pós-Modernidade. Recife: UFRPE. 2008.

337
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

AVALIAÇÃO DA DINÂMICA DE MACRONUTRIENTES E SUA INFLUÊNCIA NA


BIOMASSA ALGAL DO AÇUDE ACARAPE DO MEIO, FORTALEZA-CE

Carlos Henrique Andrade Pacheco


Professor efetivo do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará - IFCE, e-mail:
carloshenrique@ifce.edu.br
Sâmara Kersia Melo Sales
Professora titular da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB
Raimundo Bemvindo Gomes
Beatriz Susana Ovruski De CEBALLOS
Walt Disney Paulino
Gerente operacional da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará - COGERH

INTRODUÇÃO

Reservatórios utilizados para abastecimento público apresentado crescente e contínua


deterioração da qualidade de suas águas. O crescimento demográfico associado ao desenvolvimento
de práticas impactantes tem causado uma redução do potencial hídrico, tornando-se cada vez maior
as preocupações com relação à qualidade das águas.
Os reservatórios recebem de sua bacia de drenagem diversos tipos de descargas, dentre
elas as geradas em atividades agrícolas, industriais e domesticas, tais como fertilizantes e pesticidas
e esgotos ricos em nutrientes que afetam a qualidade da água e às comunidades aquáticas e até os
seres humanos que usam essas águas e consumem os peixes presentes nestes ecossistemas.
A literatura reconhece, pelo menos, três caminhos principais para a deterioração da
qualidade das águas armazenadas em lagos e reservatórios, a partir de elementos orgânicos e
inorgânicos conservados na área inundada ou introduzidos durante ou após a inundação:
carreamento de nutrientes oriundos de sua bacia de drenagem, principalmente nitrogênio e fósforo,
transporte de sedimentos e introdução de produtos tóxicos como pesticidas e metais pesados
(ANDREOLI et al. 2005).
Um dos mais importantes impactos qualitativos é a eutrofização, que afeta, com a maior
ou menos intensidade, praticamente todos os ecossistemas aquáticos continentais. O aumento de
nitrogênio e fósforo produzido pela atividade humana acelera este processo, alterando as
características naturais dos reservatórios e deteriorando a qualidade da água, tornando-a não
disponível para vários usos e encarecendo o tratamento (VOLLENWEIDER , 1968; ESTEVES,
1998).
O ciclo de nutrientes em reservatórios apresenta características particulares. O tempo de
residência, bem como as interações dos processos climatológicos e hidrológicos são importância
para o entendimento deste ciclo. Os principais fatores que podem interferir neste processo são:
aporte a partir de rios alimentadores de escoamento superficial; a contribuição por processos
advectivos; processos de estratificação ou turbulência; altura das saídas de água da represa, controle
da vazão, alteração do nível; interações das comunidades biológicas (decomposição, excreção,
remoção de sedimentos pelos organismos bentônicos ou nectônicos) (Wetzel, 2001; TUNDISI E
TUNDISI, 2008).
As principais formas de nitrogênio são: nitrato, nitrito, amônia, compostos nitrogenados
dissolvidos, como uréia e aminoácidos livres e peptídeos. Em lagos eutróficos, no metalimnio e
hipolimnio, a amônia pode apresentar oscilações muito grande por causa da excreção e
decomposição de organismos (VOLLENWEIDER, 1968; BULGAKOV, 1999). De um modo geral,
lagos e represas de regiões tropicais apresentam baixas concentrações de nitratos, resultante de
drenagem de florestas ou savanas com solo pobre em nitrogênio. Lagos estratificados nos trópicos
podem apresentar baixas concentrações de nitrato no epilímnio (TUNDISI, 1983). A concentração
338
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

de nitrito é sempre muito baixa, uma vez que esta espécie química pode ser reduzida quimicamente
e/ou através da atividade de bactérias que reduzem nitrato ou oxidam amônia (ESTEVES, 1998).
Reconhecidamente, o fósforo é um elemento de extrema importância considerando a
eutrofização artificial dos corpos d’água e sua relação com o sistema biológico. A dinâmica do
fósforo em reservatórios é principalmente influenciada pelo aporte de cargas através dos tributários,
da mobilização a partir do sedimento de fundo, do assoreamento e da erosão, da decomposição de
restos vegetais remanescentes, do intemperismo de rochas e minerais e, de forma mais intensa, pela
ação antrópica. Trabalhos têm evidenciado a relevância das fontes antrópicas, tanto pontuais quanto
difusas, como contribuinte de fósforo nos corpos d’água, especialmente as atividades agrícolas e os
esgotos clandestinos (CODEIRO NETTO et al., 1981). Este incremento é mais importante quando
são consideradas microalgas e cianobactérias com os organismos fitoplanctônicos de maior
importância para reservatórios eutrofizados, visto que necessitam de baixos teores de fósforo para
realizarem o seu metabolismo e conseqüente multiplicação (REYNOLDS, 1999; LEE,1998).
O fitoplâncton é responsável pela maior parcela de produção primaria em reservatórios. A
produtividade e a biomassa fitoplanctônica são controlados pela mesma energia e aporte de
nutrientes e pelo balanço de perdas e ganhos que controlam qualquer sistema planctônico. As
alterações nas condições ambientais e um maior aporte de nutrientes podem acelerar o crescimento
do fitoplâncton, que pode se estabelecer em populações maciças em períodos de tempo
relativamente curtos; a este crescimento dá-se o nome de “Bloom” ou floração (CHORUS &
BARTRAM, 1999).
O gerenciamento da qualidade da água de reservatórios é uma questão complexa em razão da
própria natureza dinâmica destes ecossistemas e das pressões do homem e de fenômenos naturais
que influenciam significativamente os processos físicos, químicos e biológicos destes ecossistemas
(ANDREOLI et al. 2005).
O presente estudo teve como objetivo avaliar a dinâmica temporal dos principais
macronutrientes (nitrogênio e fósforo) e da biomassa fitoplanctônica de um reservatório de
abastecimento humano, uma vez que o comportamento destas variáveis é fundamental para a
compreensão do processo de eutrofização em reservatórios e pode contribuir com as ações de gestão
na sua bacia hidrográfica.

MATERIAIS E MÉTODOS
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
O Açude Acarape do Meio, objeto deste estudo, é banhado pelo Rio Pacoti e esta localizado
na Região Metropolitana de Fortaleza, Sua capacidade de acumulação é de 34hm³, com bacia
hidráulica de apenas 2,29 Km². Os rios barrados são Acarape e Pacoti (DATSENKO, 1999) (Figura
1).

339
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 1 – Localização do estado do Ceará e respectivos pontos de monitoramento na


bacia hidráulica do Açude Acarape do Meio.

O açude faz parte do sistema de abastecimento da região Metropolitana de Fortaleza é


responsável pelo abastecimento de água bruta do Distrito Industrial de Maracanaú e das cidades de
Pacatuba, Guaiúba, Maranguape, Redenção, Acarape, Barreira e do distrito de Antônio Diogo, além
da perenização de vales entre os municípios de Redenção e Acarape (CEARA, 2001). Quando esta
com a sua capacidade de acumulação comprometida, o açude Gavião passa a ser a fonte de
abastecimento. O Acarape do Meio é um dos açudes mais antigos, localiza-se na serra de Baturité,
no município de Redenção-Ce, a uma altitude de 250m.

LOCALIZAÇÃO DOS PONTOS DE AMOSTRAGEM

Para o levantamento dos parâmetros físicos, químicos e biológicos do monitoramento da


qualidade das águas do manancial foram escolhidas as estações de amostragem mais representativas
do reservatório de forma a abranger todo o ecossistema. A partir do conhecimento prévio do
programa de monitoramento realizado pela COGERH, assim como das características físicas
(profundidade, influência de tributários) e dos interesses limnológicos do estudo, foram
selecionadas 7 estações de amostragem. Suas coordenadas geográficas são apresentadas no Quadro
1.
Quadro 1 – Pontos amostrados, localização geográfica, UTM e identificação dos pontos amostrados.
ESTAÇÃO DE Coordenadas
IDENTIFICAÇÃO
AMOSTRAGEM UTM Geográfica
Entrada do tributário (Riacho
Ponto – 01 0520100/9536118 04°11.807’/038°49.133’
Brenha)
Entrada do tributário
Ponto – 02 0520316/9537208 04°11.216’/038°49.016’
(Rio Pacoti)
Entrada do Tributário (Riacho
Ponto – 03 0520304/9537982 04°10.796’/038°49.024’
Canabrava)
Ponto – 04 0520806/9536912 04°11.377’/038°48.752’ Centro 01
Ponto – 05 0521270/9536524 04°11.587’/038°48.500’ Centro 02
Ponto – 06 0522162/9537232 04°11.202’/038°48.018’ Sangradouro
Ponto – 07 0522288/9536500 04°11.601’/038°47.949’ Próximo à captação

340
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

PERÍODO DE AMOSTRAGEM, VARIÁVEIS ANALISADAS E METODOLOGIAS


ANALÍTICAS.

Foram realizadas cinco campanhas de amostragem, com freqüência mensal entre os


meses de Janeiro a Maio de 2008. Determinadas variáveis físicas (velocidade do vento,
profundidade, transparência de Secchi e temperatura), químicas (pH, nitrogênio amoniacal total,
nitrato, nitrito, nitrogênio orgânico, nitrogênio total Kjeldahl, fósforo total, ortofosfato solúvel e
fósforo orgânico) e biológicas (clorofila “a” e feofitina “a”). Todas as análises foram realizadas de
acordo com o estabelecido em APHA, 2005.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No Quadro 2, são apresentados os valores obtidos ao longo do monitoramento, juntamente


com a estatísticas descritiva das variável analisada.

Quadro 2 – Variáveis analisadas, resultados médios, máximos e mínimos, desvio padrão e coeficiente de variação.
Variáveis Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4 Ponto 5 Ponto 6 Ponto 7
Temperatura (ºC) Min. 27,2 27,5 27,7 27,2 27,1 27,3 27,1
Máx. 32,2 32,0 32,4 31,5 30,4 32,0 29,7
Méd. 29,4 29,2 29,8 28,9 28,7 29,1 28,4
Des.padrão 2,11 1,94 2,13 1,71 1,38 1,75 1,11
C.V (%) 7 7 7 6 5 6 4
n 5 5 5 5 5 5 5
Transparência (m) Min. 0,3 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4
Máx. 0,5 0,5 0,4 0,5 0,5 0,5 0,5
Méd. 0,4 0,4 0,4 0,5 0,4 0,4 0,4
Des.padrão 0,10 0,04 0,02 0,06 0,07 0,04 0,06
C.V (%) 28 9 6 13 15 9 14
n 5 5 5 5 5 5 5
Vel. do Vento (m/s) Min. 0,7 1,4 0,3 2,5 0,3 0,3 0,4
Máx. 2,7 3,2 4,4 3,7 3,3 1,8 2,2
Méd. 1,5 1,925 1,7 2,97 1,82 1,12 1,42
Des.padrão 1,06 0,85 1,91 0,55 1,65 0,74 0,8
C.V (%) 71 44 112 18 90 66 56
n 5 5 5 5 5 5 5
Profundidade (m) Min. 1,1 1,0 1,4 3,1 7,0 4,8 16,0
Máx. 10,6 11,0 8,3 17,4 20,0 11,5 24,5
Méd. 4,3 4,0 3,8 9,6 11,4 7,3 19,1
Des.padrão 3,92 3,97 2,65 5,47 5,40 3,0 3,2
C.V (%) 9 103 70 57 47 41 17
n 5 5 5 5 5 5 5
Zona Fótica (m) Min. 0,8 0,9 0,9 0,9 0,9 0,9 1,1
Máx. 1,4 1,2 1,1 1,4 1,4 1,2 1,4
Méd. 1,0 1,1 1,0 1,2 1,2 1,1 1,2
Des.padrão 0,26 0,10 0,06 0,16 0,18 0,10 0,16
C.V (%) 28 9 6 13 15 9 14
n 5 5 5 5 5 5 5
pH Min. 7,6 7,8 7,6 7,4 7,7 7,5 7,9
Máx. 9,4 9,5 9,6 9,5 9,6 9,4 9,5
Méd. 8,7 8,8 8,7 8,5 8,6 8,8 8,9
Des.padrão 0,69 0,62 0,72 0,89 0,75 0,83 0,61
C.V (%) 8 7 8 11 9 9 7
n 5 5 5 5 5 5 5
Amônia Total (mg/L) Min. 0,014 0,006 0,046 0,031 0,006 0,034 0,028
Máx. 0,194 0,098 0,258 0,287 0,213 0,149 0,951
Méd. 0,087 0,056 0,123 0,142 0,104 0,085 0,397
Des.padrão 0,07 0,03 0,09 0,12 0,09 0,05 0,41
C.V (%) 78 62 71 85 83 60 104
n 5 5 5 5 5 5 5
Nitrito (mg/L) Min. 0,001 0,001 0,001 0,001 0,001 0,000 0,000
Máx. 0,019 0,030 0,009 0,098 0,022 0,121 0,957
Méd. 0,006 0,011 0,004 0,021 0,005 0,025 0,193
Des.padrão 0,01 0,01 0,003 0,04 0,01 0,05 0,43
C.V (%) 124 122 88 206 171 212 221
n 5 5 5 5 5 5 5
Nitrato (mg/L) Min. 0,010 0,044 0,024 0,047 0,029 0,020 0,014

341
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Máx. 0,130 0,107 1,011 0,500 0,100 0,090 0,210


Méd. 0,057 0,075 0,254 0,241 0,062 0,039 0,081
Des.padrão 0,05 0,03 0,42 0,22 0,04 0,03 0,08
C.V (%) 81 44 167 91 58 74 96
n 5 5 5 5 5 5 5
Nitrogênio Orgânico (mg/L) Min. 1,2 0,1 1,2 0,9 0,9 0,4 0,6
Máx. 2,3 1,5 1,9 1,6 1,6 1,5 1,7
Méd. 1,8 1,1 1,6 1,3 1,2 1,1 1,2
Des.padrão 0,41 0,59 0,25 0,28 0,26 0,42 0,38
C.V (%) 23 51 15 21 22 38 31
n 5 5 5 5 5 5 5
Nitrogênio Total Kjeldahl (mg/L) Min. 1,3 0,2 1,5 1,2 1,0 0,5 0,7
Máx. 2,5 1,6 1,9 1,7 1,6 1,5 2,3
Méd. 1,9 1,2 1,7 1,5 1,3 1,2 1,6
Des.padrão 0,44 0,58 0,20 0,19 0,24 0,40 0,61
C.V (%) 23 48 11 13 18 33 37
n 5 5 5 5 5 5 5
Fósforo Total (mg/L) Min. 0,188 0,146 0,188 0,120 0,166 0,134 0,093
Máx. 0,300 0,260 0,251 0,215 0,288 0,233 0,324
Méd. 0,225 0,201 0,214 0,179 0,203 0,187 0,202
Des.padrão 0,05 0,05 0,03 0,04 0,05 0,04 0,08
C.V (%) 20 25 16 21 25 24 42
n 5 5 5 5 5 5 5
Ortofosfato Solúvel (mg/L) Min. 0,005 0,006 0,005 0,007 0,011 0,012 0,008
Máx. 0,037 0,049 0,060 0,086 0,099 0,105 0,130
Méd. 0,023 0,030 0,033 0,049 0,054 0,045 0,057
Des.padrão 0,01 0,02 0,02 0,03 0,04 0,04 0,05
C.V (%) 52 56 63 70 68 84 83
n 5 5 5 5 5 5 5
Fósforo orgânico (mg/L) Min. 0,019 0,003 0,012 0,025 0,020 0,001 0,007
Máx. 0,220 0,117 0,093 0,04 0,063 0,117 0,227
Méd. 0,083 0,069 0,043 0,031 0,045 0,055 0,070
Des.padrão 0,08 0,04 0,03 0,01 0,02 0,04 0,09
C.V (%) 97 64 77 19 42 76 127
n 5 5 5 5 5 5 5
Clorofila "a" (µg/L) Min. 59 67 81 67 64 63 60
Máx. 129 100 116 84 83 121 78
Méd. 94 84 103 76 73 86 72
Des.padrão 26,40 13,37 13,06 7,47 7,64 22,30 7,31
C.V (%) 28 16 13 10 10 26 10
n 5 5 5 5 5 5 5
Feofitina "a" (mg/L) Min. 2 0 0 0 0 0 0
Máx. 97 87 79 113 103 107 85
Méd. 27 20 18 25 23 25 19
Des.padrão 40,00 37,71 34,15 49,37 44,94 46,24 37,15
C.V (%) 146 192 190 199 197 182 200
n 5 5 5 5 5 5 5

A partir da avaliação das figuras 2 e 3, pode-se verificar que o açude Acarape do Meio inicia o
seu processo de acumulo de água, referente ao ano de 2008, na segunda quinzena do mês de março.
O açude recebeu um aporte total de água ao longo do período monitorado de aproximadamente
26.783.719 hm³.

342
Figura 2 – Comportamento hidrológico do açude Acarape do Meio, referente ao ano de 2008.
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 3 – Evolução do aporte de água no Açude Acarape do Meio, referente ao ano de 2008.

A pluviometria medida nas estações climatológicas próximas ao reservatório registrou


um total de chuvas acumuladas para os municípios de Palmacia, Pacoti e Redenção de 824 mm, 778
mm e 896 mm, respectivamente.
A temperatura do corpo aquático, não teve variação significativa ao longo do estudo
(Quadro 2). A velocidade dos ventos nos diferentes locais de amostragens, teve variação acentuada,
com exceção do ponto PT-4, que apresentou valores entre 2,5 e 3,7 m/s (CV = 18%) e classificados
segundo a escala anemométrica de Beaufort como brisas fracas. Este comportamento também foi
verificado por Diniz (2005) e Barbosa (2002), em estudos realizados em reservatórios localizados
no semi-árido da Paraíba. As profundidades dos pontos de amostragem variaram bastante ao longo
do estudo (de 1,0 m - PT-2 a 24,5 m - PT-7), devido à evolução do volume acumulado. A
transparência da água apresentou pequena variação entre as estações de coleta, com exceção do
ponto PT-1 (CV=28%). A zona eufótica apresentou-se bastante reduzida (Quadro 2) e sob efeito
direto da elevada biomassa fitoplanctônica, conseqüência da avançada eutrofização.
Nas ultimas décadas vários pesquisadores demonstraram a importância do entendimento
da dinâmica dos macronutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo, sendo estes uns dos fatores
de aceleramento do processo de eutrofização em reservatórios de abastecimento
(VOLLENWEIDER, 1981; ESTEVES, 1998; TUNDISI, 2001).
Para o açude Acarape do Meio, houve variação temporal significativa (CV = 53%) de
nitrogênio amoniacal total. Pode-se verificar redução de aproximadamente 83% (de 0,229 mg/L
para 0,038 mg/L) entre os meses de janeiro/08 e fevereiro/08, relacionado ao maior consumo de
nutrientes pela biomassa fitoplanctônica. Efetivamente, a clorofila “a” aumentou aproximadamente
7% (de 89 µg/L para 95 µg/L) no mesmo período. A partir do mês de março/08 houve aumento
gradativo de amônia total de aproximadamente 424%. Esta elevação se relaciona com o escoamento
difuso no período chuvoso (fevereiro/08 a maio/08) de resíduos das atividades agrícola, na bacia de
drenagem e da entrada de esgotos domésticos. Lins (2006) e Pagioro et al. (2005) encontraram este
mesmo padrão de distribuição temporal para as frações nitrogenadas no reservatório Acauã, no
Estado da Paraiba e no reservatório Iraí no Estado do Paraná, respectivamente.
O nitrito teve sempre em teores baixos, fato semelhante é verificado em grande parte dos
ambientes aquáticos tropicais que apresenta baixas concentrações (<60 µg/L), uma vez que esta
espécie química pode ser reduzida quimicamente e/ou através da atividade bacteriana que reduzem
nitrato ou oxidam amônia. Gomes (2008), em estudos no reservatório de Vargem das Flores, no
Estado de Minas Gerais, não encontrou variação significativa para esta fração nitrogenada.
Já em relação ao nitrato, foi verificado aumento significativo entre os meses de
janeiro/08 e março/08 (de 0,056 mg/L para 0,212 mg/L), representando uma elevação de
aproximadamente 278%. Este fenômeno ocorre em virtude do processo de oxidação do nitrogênio
amoniacal total a nitrato através da nitrificação que ocorre em condições aeróbias com participação
de bactérias nitrificantes dos gêneros Nitrossomonas e Nitrobacter (WETZEL, 2001). A nitrificação
pode ser observa na Figura 4, que apresenta a evolução das concentrações das frações nitrogenadas.

343
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

0,250

0,200

0,150

0,100

0,050

0,000
Janeiro Feveiro Março Abril Maio
Am ônia Total (m g/L) 0,229 0,038 0,108 0,199 0,136
Nitrito (m g/L) 0,002 0,001 0,002 0,007 0,177
Nitrato (m g/L) 0,056 0,045 0,212 0,109 0,174
Figura 4 – Comportamento dos teores de nitrogênio amoniacal total, nitrito e nitrato, ao longo do período de
monitoramento do açude Acarape do Meio.

No que se refere à dinâmica temporal das frações fosfatadas, observa-se na Figura 8, um


aumento da ordem de 30% para fósforo total (de 0,198 mg/L em janeiro/08 para 0,256 mg/L em
abril/08). Esse mesmo fato ocorreu para as outras frações, sendo de 24% para o ortofosfato solúvel
(de 0,045 mg/L em janeiro/08 para 0,056 em abril/08) e de 142% e para o fósforo orgânico (de
0,035 mg/L em janeiro/08 para 0,085 mg/L em abril/08).
Entre os meses de janeiro/08 a abril/08 houve aumento dos teores de fósforo total,
fósforo orgânico e ortofosfato solúvel, estando relacionado aos aportes oriundos da bacia drenagem
em virtude do inicio do período chuvoso. (PAGIORO et al., 2005) em estudos realizados em 17
reservatórios localizados no Estado do Paraná, encontraram aumento de fósforo total de 61% e 45%
para ortofosfato solúvel, em virtude do período chuvoso que transporta alta carga de fósforo para o
manancial. Estudos no reservatório São Simão, em Goiás, (PINTO-COELHO et al.,2000)
encontraram os maiores valores de fósforo total no

0,300

0,200

0,100

0,000
Janeiro Feveiro Março Abril Maio
Fósforo Total (mg/L) 0,198 0,194 0,202 0,256 0,157
Ortofosfato Solúvel (mg/L) 0,045 0,046 0,055 0,056 0,008
Fósforo orgânico (mg/L) 0,035 0,067 0,062 0,085 0,034

Figura 5 – Comportamento dos teores de fósforo total, ortofosfato solúvel e fósforo orgânico, ao longo do período
de monitoramento do açude Acarape do Meio.

período chuvoso, chegando a atingir valores de 0,107 mg/L, sendo esse mesmo comportamento
verificado no Açude Acarape do Meio. Porem houve também um efeito diluidor, de abril/08 para
maio/08, em virtude do alto aporte de água recebido pelo açude ao longo do período de chuvas
(28.557.297 hm³). A redução deste nutriente pode ser observada no mês de maio/08, com redução
das frações em relação ao final da quadra chuvosa de 38% para o fósforo total (de 0,256 mg/L em

344
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

abril/08 para 0,157 mg/L em maio/08), de 85% para o ortofosfato solúvel (de 0,056 mg/L para
0,008 mg/L no mesmo período anterior) e de 60% para o fósforo orgânico (de 0,085 mg/L para
0,034 mg/L, também nos mesmos meses) (Figura 5). Esse comportamento também foi verificado
por Barbosa (2002), no reservatório Taperoá II, no Estado da Paraíba, com redução entre os meses
de chuva de maio e junho de 1999 e 2000.
O Açude Acarape do Meio, esta enquadrado como ambiente lêntico de águas doces
Classe 2. Entretanto ao longo de todo o período de monitoramento a qualidade da água se manteve
na classe 3. Destaque para as concentrações de fósforo total, que na classe 2 não devem superar o
VMP de 0,03 mg/L e o reservatório apresentou valor médio de 0,202 mg/L, portanto 573% acima
do estabelecido.
A biomassa fitoplanctônica, representada pela clorofila “a”, teve pequena variação
temporal (CV=10%), estando ao longo do período estudado com elevadas concentrações, conforme
observado na Figura 6.

100

80

60

40

20

0
Janeiro Feveiro Março Abril Maio
Clorofila "a" (µg/L) 89 95 77 85 74
Feofitina (µg/L) 3 1 3 6 5
Figura 6 – Comportamento dos teores de clorofila “a” e feofitina “a” , ao longo do período de monitoramento do
açude Acarape do Meio.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O açude Acarape do Meio apresenta altas concentrações de macronutrientes (fósforo e


nitrogênio) e acentuada variação temporal destes, relacionada à dinâmica do ciclo climático
seca/chuva, característica da região semi-árida do nordeste do Brasil. O avançado estado de
eutrofização deste reservatório se verifica também pela elevada densidade do fitoplâncton (alta
concentração de clorofila “a”), com escassas flutuações que não acompanharam às de fósforo e
nitrogênio, cujas concentrações não foram limitantes ao seu crescimento em nenhum dos meses de
monitoramento.

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347
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

ANÁLISE DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS EM MANAUS NO SÉCULO XX

Carlossandro Carvalho de Albuquerque


Doutorando em Geografia na UFC, Professor da UEA, Bolsista Doutorado FAPEAM,
cscarvalho@uea.edu.br
Francisco Evandro de Aguiar
Professor Doutor do Departamento de Geografia da UFAM
Edson Vicente da Silva
Professor Pós-Doutor do Departamento Geografia da UFC
cacau@ufc.br

RESUMO

Este artigo faz uma investigação sobre as alterações climáticas ocorridas na cidade de Manaus,
durante o século XX, considerando uma análise histórica dos dados meteorológicos e, também, uma
análise espacial, levando em conta a expansão urbana com seus diversos padrões de uso do solo e
reflexos da apropriação do meio pelo homem. A partir dos dados meteorológicos de Precipitação,
Temperatura e Umidade Relativa do Ar foram estabelecidas varias séries Temporais e Espaciais,
para identificar as influências determinadas pelo uso do solo, o possível aumento de temperatura e a
influência da floresta nestes dados meteorológicos.

Palavras-Chaves: Micro bacia, Precipitação, Temperatura e Umidade Relativa do Ar

INTRODUÇÃO

Este artigo é uma análise da dissertação de mestrado apresentado pelo Professor Francisco
Evandro de Aguiar, da Universidade Federal do Amazonas, submetida ao Programa de Pós-
Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1995. O autor procura
fazer um diagnóstico do clima da cidade de Manaus, a partir de dados meteorológicos reunidos no
intervalo de tempo de 1901 até 1994. Nesta série temporal foram trabalhadas três normais
meteorológicas, conforme orientação da Organização Meteorológica Mundial (OMM), que foram
os registros de temperatura, umidade relativa e precipitação.
A fim de estudar o clima da cidade de Manaus e suas alterações no século passado, o autor
optou uma análise Temporal e Espacial. Na escala temporal foram analisados os dados de
temperatura, umidade relativa e precipitação que se puderam reunir desde 1991 a 1994, obedecendo
aos critérios das normais climatológicas de 30 anos. Nas quais foram realizadas análises sazonais de
médias mensais, representativas durante os períodos de verão e inverno (março e agosto)
verificando-se as tendências, através da regressão linear. Este critério estatístico, também, foi
aplicado para análise das séries longas de 94 anos, nos intervalos correspondentes as respectivas
normais.
Para a análise Espacial foram estabelecidas catorze estações, sendo três dentro da área
urbana da cidade, quatro ao redor da cidade e sete em locais representativos de diferentes usos do
solo, dentro de um eixo que representavam as tendências de expansão no final do século XX. Estes
dados foram coletados em dois períodos do ano (agosto, o mês mais seco e março, o mais chuvoso).
As sete primeiras estações urbanas estavam localizadas no Inemet, Aeroportos Ponta Pelada e
Eduardo Gomes, Embrapa, Reserva Florestal Ducke, Ceplac e Fazenda Dimona e as setes seguintes
estações todas próprias do centro a periferia da cidade. Estes dados coletados serviram para
construção de mapas de isolinhas, que sua vez representou como parâmetros para análise do
trabalho.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

MÉTODO E MATERIAL
Os critérios metodológicos que foram aplicados na pesquisa partiram de uma pesquisa
bibliográfica de obras atuais e antigas de especialistas da região sobre a área de estudo, neste
primeiro momento, a Amazônia foi tratada de forma genérica, assim como para a cidade Manaus,
pelas características continentais da própria região, mas resguardando suas particularidades, que
caracteriza cada lugar.
A revisão de bibliografia ou fundamentação teórico-conceitual foi feita seguindo um roteiro
que permitiu sair do geral para o particular. Recorreu-se a autores estrangeiros como Chandler,
Landsberg e Anthes; os autores brasileiros como Monteiro, Lombardo, tarifa, Conti, Titarelli,
Brandão, Danni e Sampaio. Os regionais como Molion, Nobre, Nimer, Serra, Schimit, Tapajós entre
outros.
Na geração de dados trabalhados nas análises temporal e espacial foram conseguidos através
de produção primária e secundária. Os dados primários, a partir das sete estações próprias e os
secundários, obtidos das sete demais estações meteorológicas localizadas em instituições públicas
que dispunha de planilhas desde 1910 até 1914, para complementar as informações se trabalhou
com dados de Campos, no período de 1901 até 1907, e de Araújo, de 1908 e 1909.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Chandler (1965) analisa os aspectos climáticos da cidade de Londres e avalia as mudanças
na superfície, associando-as as alterações na temperatura, na precipitação e na umidade. Destaca
também a circulação do ar, modificada pelo novo perfil dominante na cidade, com a excessiva
verticalização.
Landsberg (1981) estuda o clima urbano sob suas múltiplas faces: a composição do ar
atmosférico, os fluxos de energia, a circulação do ar, a temperatura, formação de nuvens
convectivas, eventos de chuvas concentradas, balanço hidrológico e destaca os efeitos dos
fenômenos meteorológicos. Ao detalhar a existência da ilha de calor nas cidades, explica que elas
são conseqüências, muitas vezes, das condições meso e micro climático da área.
Monteiro (1976) elabora o Sistema Clima Urbano (SCU) baseado na Teoria Sistêmica, onde
o SCU se consubstancia através dos canais de percepção humana, que são o conforto térmico, a
qualidade do ar e os meteoros de impacto.
Tarifa (1977) o autor analisou comparativamente a temperatura e a umidade relativa do ar,
das áreas urbana e rural de São José dos Campos, São Paulo.
Sampaio (1981) realizou pesquisa em Salvador (BA), comparando as diferenças de
temperatura existentes entre diversos pontos da cidade. Como resultado foi comprovado diferenças
significativas entre ambientes urbanizados, com edificações e os ambientes livres.
Salati (1983) afirma a interdependência na relação entre floresta e o clima. Considera que
para a quantidade de precipitação que cai na Amazônia, apenas 50% aproximadamente retornam ao
oceano e outros 50% se reciclam no sistema, através da infiltração e da evapotranspiração das
plantas.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

ÁREA DE ESTUDO
Fig.1 - Imagem da cidade de Manaus

Fonte: Google. 2009

ANÁLISE GEOAMBIENTAL
A caracterização geomorfológica da cidade Manaus compreende um sistema de colinas
tabuliformes, pertencentes a uma vasta seção de um tabuleiro de sedimentos terciários situado na
confluência do rio Negro com o Solimões (AB´SABER, 1966). É um baixo planto, com altura
média de 25 metros sobre o nível médio do rio Negro. A fachada da cidade vista a partir do rio,
apresenta um conjunto de falésia fluvial de alturas variadas (20 e 50 metros) com reverso suave ou
aplanado para o interior e com ruptura de declive brusca e direta em relação a uma estreita faixa de
praias arenosas de estiagem do rio Negro.
Seguindo uma classificação genérica em pequena escala pode-se afirmar que os solos de
Manaus pertencem ao grupo de solos com horizonte B latossólico, profundos e muito profundos,
bem fortemente drenados, bastante porosos, com pequena relação textural (baixo acréscimo de
argila nos horizontes superficiais) e transição gradual e difusa, evidenciada pela pouca
diferenciação entre os horizontes. (SOUZA, 1991).
A bacia amazônica, a mais extensa bacia fluvial do planeta, com cerca de 6,5 milhões de
quilômetros quadrados, do território brasileiro (IBGE,1992), drena terrenos de formação geológica
e geomorfológica diversa, que fornecem características distintas aos incontáveis rios. Sioli (1990)
classifica as águas amazônicas em: rios de água branca, rios de água clara e rios de água preta.
A vegetação no sítio da cidade de Manaus, que fica sobre um sistema de tabuleiros
terciários, caracteriza pela Mata de Terra Firme, tem uma grande variedade de espécies e sua época
de floração ocorre na época das chuvas. Contudo, encontra-se na área de transição da cidade para
zona rural nas margens do rio Negro, áreas com presença de mata de igapó. Sua principal
característica é a baixa concentração de nutrientes.
O clima da região de Manaus evidencia pela atuação da Massa Equatorial Continental (mEc)
formada pela convecção termodinâmica, constitui-se em vetor de instabilidade permanente do
tempo, responsável pelas elevadas precipitações (NIMER,1977). Igualmente há entrada dos alísios
de SE, quando a faixa da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), mantém-se acima do
Equador. A ZCIT, também, atua na região nas passagens equinociais, com ventos predominantes de
E. Como fenômeno a parte da circulação predominante regional destaca-se a entrada da Massa
Polar Atlântica (mPa), geralmente no inicio do inverno, entre os meses de junho e julho, podendo,
entretanto, ocorrer em outros períodos próximos. (NIMER,1977)

350
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

ANÁLISE E DISCUSSÃO

ANÁLISE TEMPORAL
Precipitação: na primeira “normal” do século, registrou-se um total acumulado médio
anual de 1.775,3 mm; na segunda “normal” (de 1931 a 1960) esse mesmo total médio anual
cresceu para 2.110,7 mm, com um acréscimo, portanto, de 18,9% sobre a anterior; na terceira
“normal” (de 1961 a 1990), o total acumulado médio anual voltou a crescer, desta vez para 2.291,8
mm, com 9,8% sobre a segunda. Verifica-se, então, um aumento da quantidade de chuva entre os
trinta primeiros anos do século (1901 a 1930) sobre os trinta últimos (1961 a 1990) de 29,7%.
Com relação ao número de dias de chuva, verifica-se: entre a primeira “normal” com 156
dias e a segunda com 190 dias, há um crescimento de 21, 8°/6. Já na terceira “normal”, ocorre o
mesmo número de dias de chuva, embora a quantidade acumulada de chuva tenha sido maior.
Comparativamente, as médias dos totais acumulados mensais das três “normais”
meteorológicas, têm um comportamento semelhante: há crescimento proporcional em todos os
meses, à exceção apenas de janeiro e dezembro, que entre a segunda e terceira nornais houve um
pequeno decréscimo (Gráfico 1).

Gráfico 1

Umidade Relativa: verifica-se um aumento da umidade relativa do ar


entre a primeira “normal” (1901 a 1930) de 77%. para 84% na segunda “normal” (1931 a 1960).
As médias mensais da primeira normal” sempre estiveram abaixo das médias da segunda, de
maneira uniforme, destacando-se setembro, como o mês mais seco (72%), enquanto abril aparece
como o mais úmido (82%).
Entre a segunda e a terceira “normais” ocorreu um declínio de um ponto percentual (de
84% para 83%), diminuição essa verificada nos meses mais chuvosos (janeiro, fevereiro, março,
abril e dezembro) e nos mais secos (agosto, setembro e outubro): houve aumento em maio, junho e
julho; apenas novembro manteve-se estável (Gráfico 2).

Gráfico 2

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Temperatura - Médias das Máximas: em seis meses do ano (janeiro, fevereiro, setembro,
outubro, novembro e dezembro) dos primeiros trinta anos do século (1901 a 1930), Manaus teve as
médias das máximas mais elevadas: enquanto na “normal” intermediária (1931 a 1960) em sete
meses, ocorreram as médias das máximas mais baixas (janeiro, fevereiro, março, abril, setembro,
outubro e novembro), enquanto na última “normal” (1961 a 1990) as médias das máximos
mantiveram-se com valores intermediários, destacando-se apenas em quatro meses (março, abril,
maio e agosto) como as mais elevadas, e dezembro, como a mais baixa, embora, nos dois casos,
com valores bem próximos das outras “normais”.
As maiores amplitudes são encontradas nos quatro primeiros meses, enquanto nos oito
meses restantes há amplitudes bem menores, havendo, em alguns casos. superposição de valores. A
média das máximas mais elevada do período de 90 anos foi de 33,6°C, em setembro, da primeira
“normal’ enquanto a mais baixa foi de 29.9°C. nos meses de fevereiro. março e abril da segunda
“normal” (Gráfico 3).

ANÁLISE ESPACIAL

A análise espacial do clima em Manaus, tem como objetivo a avaliação de temperatura,


umidade relativa e precipitação, de vários pontos da área urbana e de fora dela, a partir das estações
padrões já existentes (lnemet, aeroportos Eduardo Gomes e Ponta Pelada - na zona urbana; Reserva
Ducke, EMBRAPA, Ceplac e Fazenda Ditnona - no entorno da cidade) e de sete estações próprias,
colocadas em pontos representativos da ocupação e uso do solo, e que oferecessem condições de
operacionalidade e segurança aos equipamentos. As estações foram enumeradas em ordem
crescente a partir da área central, nas proximidades do porto, em direção à periferia, no sentido
sul/norte, seguindo o grande corredor viário e a tendência atual de expansão da mancha urbana.
A seguir vamos demonstrar para estação do aeroporto Ponta Pelada, as análises espaciais
realizadas, no periodo de agosto de 1994 e março de 1995, e que também foram trabalhadas para
demais cartoze estações. Estas informações serviram de base para construção de mapas de isoietas,
isotermas e isohigras da cidade de Manaus.

ESTAÇÃO DO AEROPORTO PONTA PELADA

Localização: o aeroporto Ponta Pelada situa-se no bairro do Crespo, Zona Sul da cidade, no
platô que se sobressai sobre o leito do rio Negro, com extensa área de segurança própria, gramada
ou com vegetação de pequeno porte. É o aeroporto mais antigo da cidade, funcionando desde 1946,
operando hoje nele apenas aeronaves militares servindo, excepcionalmente, como aeródromo
alternativo para o Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, quando este apresenta alguma restrição
para operações de pouso e decolagem. A estação meteorológica que funciona próximo à cabeceira
09, desde sua construção, é uma estação padrão, de 1ª classe, com instrumentos convencionais. Faz
medidas horárias (24/dia) e adota o critério de números não fracionados. Pela metodologia adotada
352
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

neste trabalho para todas as estações, foram tomadas apenas as leituras dos horários padrões (8:00h,
14:OOh e 20:OOh, de Manaus).
Uso do Solo: o aeroporto Ponta Pelada como é próprio dos aeroportos, ocupa uma extensa
área livre, aberta, o que é exigido pelas normas de segurança para aeródromos de grande porte.
Entretanto, em parte dessa área, estão diversos edifícios da administração aeronáutica regional: 7º
Comar (Comando Aéreo Regional), Base Aérea de Manaus, Serac 7 (Serviço Regional de Aviação
Civil), hangares. etc.São extensos os pátios de manobra e estacionamento de aeronaves, além da
própria pista de pouso e decolagem, todos em concreto ou asfaltados. Fora do aeroporto, a
urbanização ocupa aproximadamente 25% da área do círculo de 800m de raio, sendo o restante
ocupado por algumas indústrias, estas situadas na vasta área com vegetação secundária, integrante
do Distrito Industrial. As vias de circulação são asfaltadas.
Tráfego de Veículos: é bem pequeno o tráfego de veículos nas vias circundantes ao
aeroporto. No seu interior apenas veículos de serviço e aeronaves.

Análise descritiva dos dados da Estação do Aeroporto Ponta Pelada


Mês de agosto 1994
Temperatura: as médias horárias do mês foram: 26.7°C às 8:00h; 31,4°C às 14:00h e
27,6°C às 20:00h. As temperaturas mais baixas ocorreram no horário das 8:00h durante 24 dias do
mês e as mais altas foram registradas às 14:00h em 28 dias. A mínima foi de 23,0°C no dia 12 e a
máxima foi de 34°C, às 14:00h dos dias 24, 28 e 30 (Gráfico 4).

Gráfico 4

Umidade Relativa: as médias horárias do mês foram: 84% às 8:00h: 63% às 14:00h; 79%
às 0:00h. Inversamente proporcional aos valores de temperatura, as mais baixas umidades
ocorreram às 14:00h e as mais elevadas às 8:00h. Em nenhum dia a umidade relativa alcançou o
ponto de saturação. A máxima do período foi de 98% às 20:00h do dia 26 e a mínima de 46%, às
14:00h do dia 30 (Gráfico 5).

Gráfico 5

353
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Precipitação: o total acumulado do mês foi 91,0 mm. com 9 dias de chuva. Não nos
informado sobre a máxima do mês.

Referente ao mês de março 1995


Temperatura: as médias horárias do mês foram: 25,4°C às 8:00h; 29,5°C às 14:00h;
25,9°C às 20:00h. Às mais baixas temperaturas ocorreram às 8:00h, em 15 dias, enquanto as mais
altas às 14:00h, em todos os dias do mês. A mínima do período foi de 23,0°C às 8:00h do dia 7 e às
20:00h dos dias 9 e 30; a máxima foi de 32.0°C às 14:00h dos dias: 2, 12, 14, 15 e 20 (Gráfico 6).

Gráfico 6

Umidade Relativa: as médias horárias do mês foram: 92% às 8:00h; 88% às 14:00h; 88%
às 20:00h. A mínima registrada foi de 55% no dia 12, às 14:00h e a máxima foi de 98% às 14:00h
do dia 03 e nos dias 04 e 29, às 8:00h (Gráfico 7).

Gráfico 7

Precipitação: o total acumulado do mês foi de 263.9 mm, em 22 dias. A máxima do mês foi
de 51,9 mm no dia 29.

DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL

A partir da apuração de todos os dados dos três parâmetros climáticos estudados e nos dois
meses pesquisados foi possível desenhar os mapas de isolinhas, que, de certa forma, mostram a
distribuição dos fenômenos dentro da cidade. Das 14 (quatorze) estações trabalhadas, nos mapas
aparecem apenas os dados referentes a dez (10) estações apenas, já que quatro (4) delas (Embrapa.
Reserva Florestal Ducke. Ceplac e Fazenda Dimona) situam-se fora das cartas “Manaus” e “Manaus
E” na escala de 1:50.000 (Ministério do Exército), que serviram de base para o mapeamento.
354
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

O critério adotado para confecção dos mapas de isolinhas foi, evidentemente, o mesmo que
orientou as pesquisas, isto é, a distribuição sazonal do clima (inverno e verão). Assim, pois, a
distribuição nos dois períodos da pesquisa está demonstrada nos mapas a seguir mostrados,
elaborados a cores para maior definição das diferenças entre as diferentes zonas da cidade.

Referente ao mês de agosto de 1994


Precipitação: em quatro classes dá-se toda distribuição das chuvas na cidade: de um
mínimo definido como “abaixo” de 100 mm, coincidentemente na área mais central, até a classe
superior a 160 mm. Os mais baixos valores poderão se justificar principalmente pela hipótese da
“brisa fluvial” que afastaria a umidade do rio em direção ao interior da bacia. Está evidenciado,
também, o efeito do urbano sobre o volume de precipitações: quanto maior for a concentração dos
equipamentos urbanos menores serão os índices pluviométricos; ao contrário, a maior proximidade
com a floresta propicia um maior volume de chuvas.
Temperatura: nos três horários de leitura os resultados mostraram o efeito da maior
concentração urbana sobre a temperatura: os valores mais altos foram registrados sobre a área
central da cidade, caindo, depois, à medida que se afasta daí em direção à floresta no entorno. É
marcante o efeito na temperatura em direção norte, sentido da área de maior expansão da cidade.
Identifica-se, claramente, uma “ilha de calor” na região da Policia Rodoviária, área de intenso
tráfego
Umidade Relativa: há uma distribuição das isohigras, mais ou menos no sentido norte/sul, e
evidenciam-se, igualmente, umidades mais baixas no centro da cidade e mais altas à medida que
nos aproximamos das áreas periféricas. Em dois horários (8:00 h e 20:00 h), a variação é entre +
90% e - 85% e entre + 90% e - 80%, respectivamente. A umidade das 14:00 h cai para +70% e -
60%. Neste mês, pelas altas temperaturas é normal a redução da umidade.
Fig. 2 - Mapa de Isoietas

Fig. 3 - Mapa de Isotermas e Isohigras

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Referente ao mês de Março de 1995

Precipitação: a mesma tendência registrada no mês de agosto manifesta- se também março.


No centro da cidade e no “eixo” que leva à área de maior crescimento da mancha urbana, tende a
chover menos. Igualmente, a região do bairro de Redenção é o local de maiores chuvas, acima de
400 mm.
Temperatura: neste mês as temperaturas têm menores variações do que no verão. Enquanto
naquela estação (agosto), em todos os horários, registraram-se seis classes de valores diferentes,
agora, ocorrem apenas três, nas três leituras. São menores, igualmente, as temperaturas médias.
Mais uma vez evidencia a influência da área de urbanização mais densa, com temperaturas mais
elevadas, como também, está claro o efeito do grande caminho por onde cresce a cidade, no sentido
norte. Constata-se de forma clara, que o rio Negro não influencia na temperatura dos locais mais
próximos à sua margem, ou seja, o efeito da concentração urbana mais se manifesta. A distribuição
das isotermas mostra isso de forma insofismável.
Umidade Relativa: A umidade relativa neste mês de março, por força principalmente das
copiosas chuvas, é bem maior do que no mês de agosto e em dois dos horários de leitura (8:00 e
20:00 horas), as umidades no quadrante mais oriental da cidade, se aproxima do ponto de saturação
e estão sempre acima dos 90 pontos percentuais. A faixa entre as isohigras e as isotermas, a
umidade está superior a 80% às 8:00 h e às 20:00 h. Somente às 14:00 h que desce, ficando entre 70
e 80%.
Fig. 4 - Mapa de Isoietas

Fig. 5 - Mapa de Isotermas e Isohigras

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

CONCLUSÕES DA ANÁLISE

Pelas normais meteorológicas estão bem evidentes as alterações climáticas em Manaus neste
século. Por se tratar de uma série longa é óbvio que se considere a ocorrência de possíveis erros, já
que não se tem certeza plena da correta origem dos dados. Por exemplo: os instrumentos tiveram,
no correr do tempo uma calibragem padrão? Os locais de funcionamento foram sempre os mesmos
e obedeceram sempre aos mesmos critérios de funcionamento? Quantos operadores e que preparos
técnicos, atualizações, e reciclagens tiveram? Enfim, exigir-se homogeneidade na obtenção de
informações meteorológicas de quase 100 anos, é algo próximo do irreal. Entretanto, no presente
estudo tem-se que assim o considerar, por se tratar de uma análise de parâmetros médios em 94
anos. Está-se trabalhando com as únicas informações disponíveis e somente a elas se pode recorrer.
Precipitação: entre os registros médios anotados, tem-se entre a primeira normal
meteorológica do século (1901-1930) e a última (1961-1990) um crescimento de 29.7% nos totais
pluviométricos o que conduz a entender-se que esse acréscimo resulta do processo de expansão
urbana da cidade, principalmente nas duas primeiras décadas do século e mantendo-se crescente até
hoje. A partir da década de 70 e principalmente nela, a cidade experimentou uma “explosão”
demográfica gigante (entre 1970 e 1980 houve um crescimento populacional de 103%), cujos
reflexos podem ser vistos nas tabelas climatológicas. Com o crescimento demográfico ocorreu a
dilatação da “mancha” urbana; o número de veículos aumentou, a pavimentação das vias de
circulação estendeu-se até aos subúrbios mais afastados, enfim, um conjunto de episódios
impactantes ocorreu no meio ambiente, alterando seus parâmetros naturais.
Umidade Relativa: com o aumento das precipitações registrou-se, na mesma proporção, um
aumento na umidade relativa do ar. Assim, de 77% nos primeiros 30 anos do século, chegou-se a
84% na segunda “normal” e a 83% na terceira.
Temperatura: de maneira geral houve uma queda na temperatura: na média compensada
registrou-se um decréscimo de 0,4°C (de 27,1°C para 26,6°C e 26,7°C, na primeira, segunda e
terceira “normais”, respectivamente); na média das mínimas, não houve mudança (23,2°C, 23,6°C
e, finalmente, 23,2°C, nas três séries de trinta anos); na média das máximas houve diminuição final
de 0,3°C (de 31,8°C para 31,3°C e para 31,5°C, nas primeira, segunda e terceira “normais”).
No estudo estatístico das tendências, destacam-se, como conclusão, algumas evidências
obtidas por “regressão linear” da série temporal de 94 anos, dividida, para melhor compreensão, em
três séries menores de mais ou menos 30 anos (a última inclui os anos de 1991 a 1994):
1. A primeira “normal meteorológica” do século (1901 a 1930) é a que contém as maiores
alterações em todos os parâmetros estudados: houve tendência de grande aumento nas
precipitações (próximo a 800 mm) tendência de elevado aumento de umidade relativa (9%)
e conseqüente redução das temperaturas (médias: compensada, das máximas e das
mínimas);
2. No segundo período (1931 a 1960) as tendências são mais suaves, mostrando uma pequena
elevação na média compensada e nas médias das máximas e uma pequena queda, ainda, nas
médias das máximas e das mínimas, o que sugere uma estabilidade. Nos dados de
precipitação há uma tendência de pequena descida, enquanto na umidade relativa, há um
proporcional decréscimo da linha de tendência;
3. Na terceira normal (incluindo 1991 a 1994), já há em dois parâmetros (média compensada e
média das mínimas), uma tendência de elevação, enquanto na média das máximas ocorre
uma elevação discreta de pouco mais de 0,2°C. A precipitação registra uma tendência muito
pequena de subida, e a umidade relativa, de queda mais forte, em tomo de 3%

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ANÁLISE INTEGRADA EM BACIAS HIDROGRÁFICAS

Cícera Angélica De Castro Dos SANTOS


Universidade Federal do Ceará - UFC
cissageo@yahoo.com.br
Edson Vicente Da SILVA
Universidade Federal do Ceará - UFC
cacau@ufc.br

RESUMO
A análise ambiental integrada deve ser considerada como o estudo unificado das ciências da Terra
que dão uma percepção geral do meio em que vive o homem. Visa-se a análise dos elementos que
compõem a natureza não por si mesmos, mas também por suas conexões. A necessidade de
percepção do conjunto considerada como requisito para a análise integrada presume a consideração
dos mecanismos que integram harmonicamente a natureza, considerando a complexidade e
heterogeneidade. Isso requer a adoção de metodologias e técnicas que visem à compreensão
concomitante e integral dos elementos que representem condições potencialmente positivas ou
limitantes pra a utilização dos recursos naturais. A análise integrada das condicionantes
geoambientais permite definir o tipo e a intensidade de utilização da área de uma bacia hidrográfica.
Os planejamentos ambientais e planos de manejo possibilitam a realização de estudos integrados
dos recursos naturais, avaliando a geologia da área, estudo detalhado e mapeamento das condições
geomorfológicas, levantamento de solos, classificação e caracterização da flora e fauna.

Palavras-chave: Análise ambiental;Percepção; Representação Social; Planejamento Ambiental;


Bacia hidrográfica.

ANÁLISE INTEGRADA DAS CONDICIONANTES GEOAMBIENTAIS

A análise integrada das condicionantes geoambientais de um determinado ambiente


natural se utiliza de estudos unificados das condições naturais que dão uma percepção do meio em
que vive o homem e em que se adaptam os demais seres vivos.
A análise ambiental integrada deve ser considerada como o estudo unificado das ciências
da Terra que dão uma percepção geral do meio em que vive o homem. Visa-se a análise dos
elementos que compõem a natureza não por si mesmos, mas também por suas conexões.
A necessidade de percepção do conjunto considerada como requisito para a análise
integrada presume a consideração dos mecanismos que integram harmonicamente a natureza,
considerando a complexidade e heterogeneidade. Isso requer a adoção de metodologias e técnicas
que visem à compreensão concomitante e integral dos elementos que representem condições
potencialmente positivas ou limitantes para a utilização dos recursos naturais.
A análise integrada adota como aporte teórico abordagem sistêmica permite a realização de
pesquisas que apresentam caráter interdisciplinar, onde a análise socioambiental é voltada para uma
visão de síntese do conjunto do espaço geográfico estudado.
A metodologia empregada para a análise da problemática socioambiental está apoiada nas
concepções de Bertrand (1968); Christofoletti (1969), Tricart (1977) que procuraram realizar
estudos integrados do meio ambiente, fundamentaram-se na Teoria Geral dos Sistemas proposta por
Bertalanffy (1976) – “o sistema pode ser definido como um conjunto de objetos ou atributos e suas
relações, organizadas para executar uma função particular” – e desenvolveram suas bases teórico-

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

metodologicas enfatizando a função integradora na análise dos recursos ambientais sob a óptica do
geossistema.
A partir desta concepção teórico-metodológica torna-se possível desenvolver pesquisas
cientificas analisando não apenas a paisagem propriamente dita, mas as inter-relações que se
estabelecem com o meio, os fatores sociais, econômicos e ambientais, percebendo as influências
que determinam a dinâmica da área em estudo.

PERCEPÇÃO, COGNIÇÃO AMBIENTAL E REPRESENTAÇÃO SOCIAL: AS


RELAÇÕES ENTRE SOCIEDADE E OS RECURSOS NATURAIS

Atualmente a sociedade realiza reflexões mais profundas em relação à percepção


ambiental. Sendo levadas em consideração características fisiológicas e anatômicas, ocorrendo
mediante os órgãos sensoriais, tendo ênfase à percepção visual.
Neste sentido, percebe-se o que tem significado, pois a percepção é um mecanismo de
defesa do EU (self) contra a insegurança e ansiedade. A percepção de si mesmo, do EU e do mundo
não é um evento isolado nem isolável d vida cotidiana das pessoas. Quando se trata de percepção
ambiental o que mais interessa é a visão.
Para se compreender como percebemos visualmente o espaço, o meio ambiente, é
interessante analisar a teoria psicofísica da percepção preconizada de Gibson. Segundo os estudos
de Gibson, é possível interpretar o meio ambiente com as categorias psicológicas do mundo visual,
principalmente enquanto metodologia cientifica qualitativa, para proceder suas investigações.
Atualmente geógrafos estão se utilizando de estudos de cognição ambiental. A cognição
está relacionada ao conjunto dos processos mentais no pensamento, na percepção, no
reconhecimento de objetos, das coisas, das organizações simbólicas. Cognição é tida como
conhecimento e é um processo. A discussão epistemológica do processo de cognição implica
considerar alguns estágios, tais como: percepção, mapeamento, avaliação, condução e ação.
Segundo Reigota (1997), o conceito de ambiente é uma representação social, isto é, um
conceito que evolui no tempo e depende do grupo social que o utiliza. Ele depende da formação
profissional das pessoas, de suas vivências, do lugar em vivem. Certamente a família, a escola, os
meios de comunicação (imagens, mensagens, publicidade, entre outros), contribuem na difusão e
consolidação das representações sociais sobre meio ambiente.
O ambiente é:
“Um lugar determinado ou percebido, onde os elementos naturais e sociais estão em
relações dinâmicas e em interação. Essas relações implicam em processos de criação
cultural e tecnológica e processos históricos e sociais de transformação do meio natural e
construído.
(...) um espaço determinado no tempo, no sentido de se procurar delimitar fronteiras e os
momentos específicos que permitam um conhecimento mais aprofundado.
(...) percebido, já que cada pessoa o delimita em função de suas representações,
conhecimento especifico e experiências cotidianas neste mesmo tempo e espaço”
(REIGOTA, 1997, p. 14).

Reigota (1997), afirma que as relações dinâmicas e interativas que ocorrem no ambiente
“indicam a constante mutação, como resultado da dialética das relações entre grupos sociais e o
meio natural e construído, implicando um processo de criação permanente, que estabelece e
caracteriza culturas em remóis e espaços específicos”. No momento em que o ser humano
transforma o espaço (meio natural e social), é também transformado por eles.
Neste sentido, o meio ambiente é gerado e construído ao longo do processo histórico de
ocupação de um território por uma determinada sociedade, em um espaço de tempo concreto. Ele
surge da síntese histórica das relações entre a sociedade e a natureza.

363
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

O PLANEJAMENTO AMBIENTAL E A CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS

Entende-se como bacia hidrográfica ou bacia de drenagem a área da superfície terrestre


drenada por um rio principal e seus tributários, sendo limitada pelos divisores de água (Botelho,
1999).
Entendida como célula básica de análise ambiental, a bacia hidrográfica permite conhecer e
avaliar seus diversos componentes e os processos e interações que nela ocorrem. A visão sistêmica
e integrada do meio ambiente está implícita na adoção desta unidade fundamental (Silva e Botelho,
2004).
Os planejamentos ambientais e planos de manejo não devem considerar a proteção do
corpo de água, é necessária a realização de estudos integrados dos recursos naturais, avaliando a
geologia da área, estudo detalhado e mapeamento das condições geomorfológicas, levantamento de
solos, classificação e caracterização da flora e fauna.
As mudanças ocorridas nos ambientes naturais resultam em alterações na quantidade e
qualidade da água.
Para Mota (1995), a vegetação representa um importante papel com relação aos
mananciais, pois é reguladora dos fluxos de água, controlando o escoamento superficial e
proporcionando a recarga natural dos aqüíferos. O desmatamento ocasiona um desequilíbrio nesse
sistema, resultando em: maior escoamento superficial das águas; maior erosão do solo, com
carregamento de materiais para os recursos hídricos, provocando alterações ecológicas e
assoreamento, com a conseqüente diminuição da calha de escoamento ou da capacidade de
armazenamento dos mananciais; diminuição da infiltração da água para os mananciais subterrâneos.
A impermeabilização dos solos resulta no aumento do escoamento superficial (em termos
de quantidade e velocidade do escoamento) e na diminuição da recarga de aqüíferos.
Através de medidas adequadas de planejamento do uso e ocupação do ambiente torna-se
possível garantir os recursos hídricos em qualidade e quantidade necessária para os mais diversos
usos e finalidades.
A qualidade da água de um manancial depende, portanto, dos usos e atividades
desenvolvidos em toda a bacia hidrográfica.
Para estudos de bacias hidrográficas com fins de planejamento, é preciso estar atento à
escala de análise envolvida, visto que uma atividade de planejamento exige, ou ao menos almeja,
uma etapa de implementação do projeto e outra de monitoramento ou fiscalização dos resultados e
implicações. A fim de facilitar a execução das várias etapas de trabalho, é possível desenvolver
projetos de planejamento em bacias hidrográficas de tamanho menor, as quais são chamadas de
microbacias hidrográficas (Botelho, 1999).
Almeida et al (1993) identificaram duas linhas principais do processo de planejamento: a
linha de demanda, na qual “o planejamento ambiental consiste em um grupo de metodologias e
procedimentos para avaliar possíveis alternativas a esta ação”; e a linha de oferta, onde existe “um
conjunto de metodologias e procedimentos que avalia as contraposições entre as aptidões e usos dos
territórios a serem planejados.
O termo planejamento ambiental é utilizado de forma abrangente e que pode ser utilizado
para definir todo e qualquer projeto de planejamento de uma determinada área que leve em
consideração fatores físico-naturais e sócio-econômicos para a avaliação das possibilidades de uso
do território e/ou dos recursos naturais, ainda que haja, de acordo com os objetivos e metodologias
de cada projeto, certa ênfase em determinado fator (Botelho, 1999).
A definição dos usos e da ocupação do solo de uma determinada área deve considerar os
aspectos naturais do meio físico que possam ter influência sobre os recursos hídricos.
De acordo com Mota (1995), os condicionantes naturais devem ser estudados de forma
integrada, de modo a garantir que a utilização de uma área seja feita de forma a causar o menor
impacto ambiental possível.
Devem ser analisados os seguintes condicionantes naturais do meio físico:

364
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

 Características climáticas;
 Características geológicas
 Cobertura vegetal;
 Topografia;
 Tipo de solo;
 Sistema de drenagem natural das águas;
 Os próprios recursos hídricos

A análise de dados climáticos (principalmente temperatura média anual, temperaturas


máxima e mínima médias anuais, total pluviométrico anual e totais máximo e mínimo médios
anuais e distribuição da precipitação)revela informações importantes, como período de maior
potencialidade erosiva das chuvas, riscos de estiagens. Além disso, a partir da análise do sistema de
balanço hídrico (Thornthwaite e Marther, 1955), é possível conhecer as perdas de água do solo por
evapotranspiração, que podem caracterizar ou não períodos de excedente de água no solo e/ou
deficiência hídrica. Tais dados são de grande valor, especialmente quanto ao uso agrícola das terras
(Botelho, 1999).
A variável geológica tem muito a contribuir nas tarefas, não só de caracterização, como
também de avaliação e prognóstico da área considerada. A informação geológica permite a
reconstrução histórica da evolução da paisagem e do seu comportamento atual.
O uso da cartografia e informações geomorfológicas objetiva representar a fisionomia da
paisagem, tendo em vista a identificação dos elementos ou ambientes de acumulação e transporte,
caracterização dos processos morfogenéticos, e as implicações da ação antrópica. Sob o ponto de
vista ambiental, as formas de relevo são consideradas fatores que exercem influência sobre as
condições locais e criam condições hidrológicas (topoclimáticas) especificas.
A justificativa principal do uso do mapa pedológico no planejamento ambiental é atingir
aquilo que, em última análise, representa seu maior objetivo: “subdividir áreas heterogêneas em
parcelas mais homogêneas, que apresentam a menor variabilidade possível, em função dos
parâmetros de classificação e das características utilizadas para a distinção de solos.
O estudo da rede hidrográfica, suas nascentes, padrão, densidade, tipos de canais fluviais e
seus perfis longitudinais, velocidade, turbidez e qualidade da água, entre outros parâmetros, permite
avaliar desde a disponibilidade de recursos hídricos para a irrigação até o estado de degradação das
terras adjacentes, em função da construção da alta carga de sedimentos transportados e/ou
assoreamento do leito do rio.
O levantamento dos dados sobre a cobertura vegetal, em geral, vem acompanhado pela
informação sobre o uso atual do solo, já que ambos estão estreitamente relacionados. Tal fato
permite criar, após a etapa de planejamento propriamente dita, ou seja, do estabelecimento das
atribuições ou sugestões ou alterações de uso do solo, um confronto ou incongruência de uso, em
função da conjugação das informações sobre o uso e cobertura vegetal do solo atual (real) e aquele
considerado mais adequado (potencial). Desse modo, é possível eleger as áreas prioritárias para o
inicio da etapa de implantação do projeto de planejamento ambiental (Botelho, 1999).
Para Cunha, as bacias hidrográficas, importantes unidades de planejamento e gestão, são
consideradas como territórios sistêmicos onde a cidade participa como um dos elementos
integradores do sistema ou como uma das unidades geoambientais (geologia, geomorfologia, solo,
vegetação, hidroclimatologia e socieconomia, entre outras). Desta forma, os rios e em particular os
rios de áreas urbanas, visto no contexto geoambiental, espelham interação entre os geossistemas
existentes na bacia hidrográfica, com seus respectivos estados de equilíbrio e degradação.
A análise integrada das condicionantes geoambientais permite definir o tipo e a intensidade
de utilização da área de uma bacia hidrográfica.
O conjunto de ações produzidas pelas atividades humanas ao explorar os recursos hídricos
para expandir o desenvolvimento econômico e fazer frente às demandas industriais e agrícolas e à
expansão e crescimento da população e das áreas urbanas foi se tornando complexo ao longo da
historia da comunidade (Tundisi, 2003).

365
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Tabela 1. As várias atividades humanas e o acúmulo de usos múltiplos produzem diferentes


ameaças e problemas para a disponibilidade de água e causam riscos elevados.

Atividade Humana Impacto nos ecossistemas Valores/serviços em risco


aquáticos

Construção de represas Altera o fluxo dos rios e o Altera habitats e a pesca


transporte de nutrientes e comercial e esportiva. Altera
sedimentos e interesse na migração os deltas e suas economias.
e reprodução de peixes.
Construção de diques e Destrói a conexão do rio com as Afeta a fertilidade natural das
canais áreas inundáveis. várzeas e os controles das
enchentes.
Alteração do canal Danifica ecologicamente os rios. Afeta os habitats e a pesca
natural dos rios Modifica os fluxos dos rios comercial e esportiva. Afeta a
produção de hidroelétrica e
transporte.
Drenagem das áreas Elimina um componente-chave dos Perda de biodiversidade.
alagadas ecossistemas aquáticos. Perda de funções naturais de
filtragem e reciclagem de
nutrientes. Perda de habitats
para peixes e aves aquáticas.
Desmatamento/uso dos Altera padrões de drenagem, inibe a Altera a qualidade e a
solos recarga natural dos aqüíferos, quantidade da água, pesca
aumenta a sedimentação. comercial, biodiversidade e
controle de enchentes.
Poluição não controlada Diminui a qualidade da água. Altera o suprimento de água.
Aumenta os custos de
tratamento. Altera a pesca
comercial. Diminui a
biodiversidade. Altera os
ciclos naturais dos
organismos.
Remoção excessiva de Diminui os recursos vivos e a Altera a pesca comercial.
biomassa biodiversidade. Afeta a biota aquática. Afeta
a saúde humana. Afeta a
agricultura.
Introdução de espécies Elimina as espécies nativas. Altera Perda de habitats e alteração
exóticas ciclos de nutrientes e ciclos da pesca comercial. Perda da
biológicos. biodiversidade natural e
estoques genéticos.
Poluentes do ar (chuva Altera a composição química de Altera a pesca comercial.
ácida) e metais pesados rios e lagos. Afeta a biota aquática. Afeta
a recreação. Afeta a saúde
humana. Afeta a agricultura.
Mudanças globais no Afeta drasticamente o volume dos Afeta o suprimento de água,
clima recursos hídricos. Altera padrões de transporte, produção de
distribuição de precipitação e energia elétrica, produção
evaporação. agrícola e pesca e aumenta
enchentes e fluxo de água em
rios.

366
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Crescimento da Aumenta a pressão para construção Afeta praticamente todas as


população e padrões de hidroelétricas e aumenta a atividades econômicas que
gerais de consumo poluição da água e a acidificação de dependem dos serviços dos
lagos e rios. Altera ciclos ecossistemas aquáticos.
hidrológicos.

Fonte: Adaptado de Turner et al. (1996); NAS (1999); Tundisi et al. (2000); Tundisi (2002).

Um dos principais impactos produzidos no ciclo hidrológico é a rápida taxa de


urbanização, como inúmeros efeitos diretos e indiretos. Essa urbanização tem grandes
conseqüências, alterando substancialmente a drenagem e produzindo problemas à saúde humana,
além de impactos como enchentes, deslizamentos e desastres provocados pelo desequilíbrio no
escoamento das águas (Tundisi, 2003).
A deteorização dos mananciais e do suprimento de água é o resultado do constante
aumento no volume de água utilizado para diversas finalidades e do aumento da poluição e da
contaminação hídrica. Estes impactos do ponto de vista qualitativo e quantitativo têm custos
econômicos elevados na recuperação dos mananciais e fontes de abastecimento, lagos e represas.
Um dos agravantes da deteorização dos recursos hídricos é a repercussão na saúde humana e no
aumento da mortalidade infantil. As alterações no ciclo hidrológico resultarão em impactos na
evaporação, no balanço hídrico e na biodiversidade dos sistemas aquáticos.

REFERÊNCIAS

BERTALANFFY, Ludwig Von. Teoria geral dos sistemas. Petrópolis: Vozes, 1973. 351p.

BERTRAND, G. Paisagem e Geografia Física Global. Caderno de Ciências da Terra, São Paulo,
1972. N.13, p.1-27.

BOTELHO, R.G.M. Planejamento Ambiental em Microbacia Hidrográfica. In: GUERRA, A. J. T.;


BOTELHO, R. G. M. Erosão e Conservação dos Solos: conceitos, temas e aplicações. Ed.
Bertrand Brasil, 1999.

BOTELHO, R.G.M.; SILVA, A.S. Bacia Hidrografia e Qualidade Ambiental. In: GUERRA, A.T.
(Org.). Reflexões sobre a Geografia Física no Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.

CAVALCANTI, A. P. B. Métodos e técnicas da análise ambiental: guia de estudos para estudos


do meio ambiente. Teresina: UFPI, 2006. 111p.

MOTA, S. Preservação e Conservação dos Recursos Hídricos. Rio de Janeiro: ABES, 1995.

REIGOTA, M. Meio Ambiente e Representação Social. São Paulo: Cortez, 1997.

RODRIGUEZ, J. M. M; SILVA. E. V. da & CAVALCANTI. A.P.B. Geoecologia da Paisagem –


uma análise geossistêmica da análise ambiental. Fortaleza: Edições: UFC, 2004

SOUZA. M. J. N. Geomorfologia do vale do Choró. Tese de Mestrado, Universidade de São


Paulo. IGEOG –USP . série Teses e Monografias. N.°16. São Paulo, 1975.

367
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

FATORES ABIÓTICOS E BIÓTICOS QUE INFLUENCIAM O PLANEJAMENTO


AMBIENTAL DA ÁREA DO PARQUE NACIONAL SERRA DA CAPIVARA-PI

Christiane Carvalho Neres


Acadêmica de Geografia
Universidade Federal do Piauí
christianeneres@hotmail.com
Jorge Luis Paes De Oliveira COSTA
Acadêmico de Geografia
Universidade Federal do Piauí
jorgeluispaes@hotmail.com
Agostinho Paula Brito Cavalcante
Departamento de Geografia
Universidade Federal do Piauí
agos@ufpi.br

RESUMO
O Parque Nacional Serra da Capivara – PI é uma reserva de preservação patrimonial, localizada no
interior do Brasil, conhecida internacionalmente por conter a maior concentração de pinturas
rupestres e sítios arqueológicos do continente americano, e que abriga exuberante beleza cênica. O
Parque está localizado numa região de fronteira ecológica, fato que determina a sobrevivência de
espécies e condiciona a realização de atividades na região. O objetivo dessa pesquisa é caracterizar
os fatores abióticos, bióticos e humanos, atuais ou históricos, da área do Parque Nacional Serra da
Capivara e adjacências, que interferem na produção de um planejamento ambiental para a área. A
pesquisa foi realizada mediante revisão da bibliografia referente ao tema e a área estudada. O
planejamento ambiental envolve um estudo a cerca do meio físico, biótico e sócio-econômico de
uma determinada região, objetivando a planificação de ações para recuperar, preservar e controlar o
meio ambiente natural dessa área. Por isso, é fundamental que novos trabalhos de pesquisa sejam
realizados no sentido de contribuir para o entendimento dos processos naturais que ocorrem na
região, visando à adequada gestão ambiental e conservação da unidade estudada.
Palavras-chave: Meio Ambiente, Paisagem, Piauí.

INTRODUÇÃO
O Planejamento é um processo continuo e dinâmico que consiste em um conjunto de ações
intencionais e integradas para tornar realidade um objetivo futuro. Possibilita perceber a realidade e
construir um referencial futuro através da tomada de decisões antecipadamente. Afim de recuperar,
preservar e controlar o meio ambiente natural de determinada região, o Planejamento Ambiental age
na planificação de ações com vistas à conservar parques, unidades de conservação, cidades, etc.
Para a realização do Planejamento Ambiental de uma área, é necessário o levantamento de
dados sobre a região para qual se pretende fazer o planejamento e, a análise integrada das diversas
variáveis envolvidas. O Planejamento Ambiental visa integrar informações, diagnosticar ambientes,
prever ações e normatizar seu uso através de uma linha ética de desenvolvimento. Assim, o
Planejamento Ambiental envolve um estudo detalhado do meio físico, biótico e sócio-econômico da
região. Como subsidio ao Planejamento Ambiental, surge o Zoneamento Ecológico-Econômico
(ZEE), que estabelece quais os usos mais adequados para cada localidade de acordo com suas
características e capacidade de suporte.
O Parque Nacional Serra da Capivara, Piauí (08°26’50” - 08°54’23” – S e 42°19’47” -
42°45’51” O), é conhecido internacionalmente por constituir um dos mais importantes patrimônios
368
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

culturais pré-históricos. É o único parque nacional situado no domínio morfoclimático das


caatingas, sendo uma das ultimas áreas do semi-árido possuidora de importante diversidade
biológica. Esta pesquisa objetiva primordialmente a caracterização dos fatores abióticos, bióticos e
humanos, atuais ou históricos, da área do Parque Nacional Serra da Capivara e adjacências, que
interferem na produção de um planejamento ambiental para a área, através da caracterização
geoecológica da área e do levantamento das condições naturais, das interferências antrópicas e das
formas e uso e ocupação da região pelas atividades sócio-econômicas, bem como os impactos
ambientais provenientes destas atividades.
Como objetivos específicos pretendem-se: 1) Identificar e caracterizar os aspectos
abióticos que compõem o Parque Nacional Serra da Capivara, como a localização da área em
estudo, o clima, a temperatura, a hidrografia e o relevo. 2) Identificar e caracterizar os aspectos
bióticos que compõem a área estudada, como a fauna e flora. 3) Realizar análise dos impactos
ambientais decorrentes da ocupação humana e suas formas de uso na área do parque e adjacências.

MÉTODOS
Utilizou-se a análise sistêmica da paisagem, como fundamento para a organização do
espaço na área do Parque Nacional Serra da Capivara, objetivando uma caracterização
geoambiental e a avaliação das condições ambientais, que influenciam a produção de um
planejamento ambiental na área estudada. Foram realizadas consultas a bibliografia referente ao
tema e/ou a área estudada, através de levantamentos de livros, periódicos, relatórios, documentos
oficiais e mapas nas bibliotecas da Universidade Federal do Piauí, Universidade Federal do Vale do
São Francisco e na Fundação Museu do Homem Americano.

JUSTIFICATIVA
O Planejamento Ambiental propõe ações com vistas à recuperar, preservar e controlar
unidades de conservação, envolvendo um estudo a cerca do meio físico, biótico e sócio-econômico
de uma determinada região. A importância da escolha da área do Parque Nacional Serra da
Capivara, no município de São Raimundo Nonato-PI, para este trabalho, deve-se ao fato da área em
estudo está localizada numa região de fronteira ecológica, onde os fatores climáticos, edáficos e
geomorfológicos influenciam a sobrevivência e a distribuição das espécies existentes, interferindo
na construção de um planejamento ambiental para a área. Por isso, torna-se fundamental que novos
trabalhos de pesquisa sejam realizados no sentido de contribuir para entendimento de seus
processos naturais, visando à adequada gestão ambiental da unidade de conservação estudada.

ASPECTOS ABIÓTICOS
O Parque Nacional Serra da Capivara está localizado no sudeste do estado do Piauí,
ocupando áreas dos municípios de São Raimundo Nonato, João Costa, Coronel José Dias, Brejo do
Piauí, entre as coordenadas 08°26’50” e 08°54’23” de latitude sul e 42°19’47” e 42°45’51” de
longitude oeste. A área em estudo possui uma superfície de 605.000ha, numa área de 129.140ha
pertencente à Mesorregião do Sudeste Piauiense e a Microrregião de São Raimundo Nonato
(FUMDHAM, 1998).
O PARNA Serra da Capivara foi criado por decreto em cinco de junho de 1979, a pedido
de uma equipe de cooperação científica franco-brasileira que realizava trabalhos arqueológicos na
área. A finalidade de criação desse Parque foi fornecer os instrumentos jurídicos que permitissem
garantir uma proteção adequada a uma área na qual se encontra a maior concentração de sítios pré-
históricos do país. Devido a preocupação com a presença de posseiros, a caça ilegal e o
desmatamento incontrolado de espécies nobres, nasceu a Fundação Museu do Homem Americano,
FUMDHAM, em 1986, que administra o Parque Nacional por convênio de parceria assinado com o
Ministério do Meio Ambiente (FUMDHAM, 1998).
Conforme Arruda (1993), a região Nordeste se caracteriza por apresentar temperaturas
elevadas e ser a região mais seca do país. A variabilidade espacial e temporal de precipitação é
elevada, característica de clima semi-árido. O clima da área do PARNA Serra da Capivara é semi-
369
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

árido e corresponde ao tipo Bshw com seca invernal de Köppen. A temperatura média anual é 28°C,
mas a máxima pode chegar a 45°C em setembro, a mínima de 10°C, em junho e julho (Santos,
2006).
Se em relação à temperatura, a região Nordeste apresenta homogeneidade espacial e
variação anual pouco relevante, o mesmo não acontece com a pluviosidade, que devido a sua
repartição e irregularidade, assume importância maior do ponto de vista climático e sócio-
econômico. A chuva é o fator ecológico mais importante para a população do sertão e sua
economia. A época chuvosa na área do PARNA Serra da Capivara vai de outubro a abril, mas o
regime caracteriza-se por apresentar irregularidade interanual. Os dados pluviométricos da estação
da cidade de São Raimundo Nonato indicam que a classe modal de precipitação situa-se entre 600 e
700 mm/ano (Santos 2006).
O Parque é drenado pela Bacia Hidrográfica do Rio Parnaíba, que é formada por oito sub-
bacias e abrange os estados do Maranhão, Piauí e Ceará. Interessa a esse estudo a sub-bacia
formada pelos rios Piauí e Canindé, ambos afluentes da margem direita do rio Parnaíba. O
funcionamento da rede de drenagem no Parque Nacional está condicionado a litologia da área e ao
clima semi-árido, e apresenta cursos de água caracterizados por regime irregular intermitente. Na
área do Parque nenhum rio importante é permanente. Segundo Santos (2006), no Parque existem
olhos d’água, de regime perene, caldeirões, lagoas temporárias e algumas cavernas que conservam
água nas galerias inferiores.
A área do Parque Nacional Serra da Capivara está assentada no contato de duas grandes
unidades morfo-estruturais, o escudo metamórfico sedimentar pré-cambriano, e o planalto
sedimentar paleozóico do Piauí-Maranhão (Arruda, 1993). Localizado ao sul da área de estudo, o
escudo está modelado em terrenos cristalinos. Esta depressão de características semi-áridas e com
altitude média de 400/300m é denominada de Depressão Periférica do Médio São Francisco
(Arruda, 1993). Segundo Santos (2006), o embasamento cristalino da área de estudo está
representado pela Faixa Riacho do Pontal, localizada na divisa dos estados do Piauí, Pernambuco e
Bahia, exibindo um sistema de dobramentos dentro da Província Borborema, tendo sido estruturada
durante o Ciclo Brasiliano. A área do embasamento cristalino possui uma superfície de pedimento
regular, com fraca declividade.
Localizado ao norte da área de estudo, o Planalto da Bacia Sedimentar Piauí-Maranhão se
constitui numa superfície monótona, com estrutura predominantemente arenítica e altitude média de
500/600m. Suas bordas formam escarpas cuestiformes que representam o relevo mais importante da
região. Forma cuestas e morros testemunhos na área dissecada e possui formações que vão desde o
silúrio-devoniano (Paleozóico) até o triássico (Mesozóico) (Arruda, 1993).
São reconhecidas três unidades geomorfológicas na área do Parque Nacional Serra da
Capivara: os planaltos areníticos, cuestas e pedimentos (Pellerin, 1984, citado por Arruda 1993). Os
planaltos areníticos situam-se a oeste do Parque Nacional e constituem chapadas do reverso da
cuesta, de relevo regular e monótono cuja altitude chega a 630m. As cuestas foram modeladas em
rochas predominantemente areníticas e conglomeráticas do Grupo Serra Grande. A cuesta pode ser
dupla com tabuleiro intermediário, seu desnível entre o pedimento oscila entre 200 a 250m. O
pedimento é uma vasta área de erosão, situada no sopé da cuesta, que se inclina suavemente a partir
dos bordos da cuesta rumo à calha central do rio Piauí (Santos 2006).

ASPECTOS BIÓTICOS

Na área do Parque Nacional Serra da Capivara, foram estabelecidas as seguintes categorias


de vegetação: caatinga arbustiva alta densa, formações arbóreas, caatinga arbórea média densa,
caatinga arbustiva baixa e caatinga arbustiva arbórea.Conforme Emperaire (1989), essas várias
formações são correspondentes às unidades geomorfológicas que compõem a área de estudo, e
foram estabelecidas sobre os critérios de solo, estrutura da vegetação, composição florística e
degradação.

370
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

No planalto sedimentar, foram estabelecidas as seguintes categorias de vegetação: caatinga


arbustiva densa do reverso da cuesta, formações arbóreas da frente da cuesta e das ravinas, caatinga
arbustiva aberta das bordas da chapada, caatingas arbustivas arbóreas dos vales e caatinga do
tabuleiro estrutural.
A caatinga arbustiva densa está localizada no reverso da cuesta. É uma formação de
fisionomia homogênea, alta, densa, e com penetração difícil (Arruda, 1993).As formações arbóreas
estão localizadas na frente da cuesta e nas ravinas.Segundo Emperaire (1989), nas ravinas pouco
profundas encontra-se a formação floresta semi-decídua de Sapotáceas. Nas ravinas mais profundas
da frente da cuesta está à formação floresta semi-decídua de Lauráceas e Ochnáceas, formando uma
floresta mais aberta. Em poucas ravinas da frente da cuesta, em alguns vales, e no tabuleiro
estrutural encontra-se a formação caatinga arbórea média densa.
A caatinga arbustiva aberta localizada nas bordas da chapada é uma formação sobre
arenitos erodidos na forma de carapaça de tatu. Emperaire (1989), divide em dois tipos as caatingas
arbustivas arbóreas dos vales, de acordo com a área de ocupação: caatinga arbustiva arbórea média
dos vales silto-areníticos e a caatinga arbustiva arbórea dos vales areníticos.
A caatinga arbustiva arbórea média dos vales silto-areníticos, segundo Emperaire (1989),
se dá na formação pimenteiras na bacia da Boa Esperança. É uma formação de caatinga densa
pouco degradada.A caatinga arbustiva arbórea dos vales areníticos se dá na formação cabeças nos
declives do vale da Serra Branca.É uma formação de caatinga arbustiva baixa densa e sofre ação
antrópica (Arruda, 1993).
A caatinga do tabuleiro estrutural, conforme Emperaire (1989), é uma formação de uma
faixa de aproximadamente 30 km ao longo do povoado Zabelê.Segundo Arruda (1993), encontra-se
muito antropizada pela exploração de madeira.Na depressão periférica, foram estabelecidas as
seguintes categorias de vegetação: as caatingas das áreas de micaxistos, as caatingas dos batólitos
graníticos, as caatingas degradadas dos gnaisses e migmatitos e a caatinga arbórea aberta dos
maciços calcários.

ASPECTO DA VEGETAÇÃO DENSA DO REVERSO DA CUESTA NA ESTAÇÃO


CHUVOSA.

As caatingas das áreas de micaxistos, conforme Emperaire (1989), estão divididas em duas
formações: a caatinga arbustiva alta densa dos platôs de pedimento e a caatinga arbórea densa dos
vales. A primeira estende-se do sul da frente da cuesta até próximo ao rio Piauí, possui baixa
cobertura do solo pela vegetação e é quase inabitada (Arruda, 1993).
A caatinga arbórea densa dos vales estende-se da frente da cuesta aos vales mais profundos
do rio Piauí.Segundo Arruda (1993), essa formação é antropizada pelo corte de madeira. As
caatingas dos batólitos graníticos, estão localizadas sobre aglomerados de matacões e inselbergs,
entre a frente da cuesta e o rio Piauí (Emperaire, 1989).
A caatinga arbórea aberta é uma formação pouco especifica onde é praticada a criação
extensiva devido ao acúmulo de água na bacia dos maciços (Arruda, 1993). A caatinga herbácea

371
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

arbustiva aberta é uma formação secundária, de extrato herbáceo importante durante a estação
chuvosa, segundo Emperaire (1989).
As caatingas degradadas dos gnaisses e migmatitos dividem-se em duas formações,
segundo Emperaire (1989): caatinga arbustiva alta densa dos inselbergs e caatinga herbácea
arbustiva de uma placa rochosa gnáissica. A primeira encontra-se sobre areias rochosas com 50m de
altura e de 2 a 3 km de comprimento, é antropizada pela exploração de madeira e agricultura
(Arruda, 1993). A caatinga herbácea arbustiva de uma placa rochosa gnáissica encontra-se na
transição da caatinga para o cerrado.
Na região da caatinga arbórea aberta dos maciços calcários há extração de madeira e
exploração de cal (Arruda, 1993). Nas falésias dos maciços ocorrem “fictus”, nos declives ocorre
uma vegetação decídua arbórea aberta e no entorno dos maciços há uma vegetação degradada.

figura 02: distribuição da vegetação no Parque Nacional Serra Da Capivara.

Em relação a fauna, o Parque Nacional Serra da Capivara abriga populações da maioria dos
endemismos da caatinga. Os refúgios são representados pelos enclaves de mata semi-decídua dos
boqueirões, que assumem importância para a fauna durante a estação seca. Além dos endemismos,
existem no parque nacional, diversas espécies da fauna ameaçadas de extinção.
São registrados no Parque Nacional Serra da Capivara 33 espécies de mamíferos não
voadores, 24 espécies de morcegos, 208 espécies de aves, 19 espécies de lagartos, 17 espécies de
serpentes, e 17 espécies de jias e sapos (FUMDHAM, 1998). São dados não definitivos, pois novas
espécies são encontradas com freqüência na área.
Entre os mamíferos encontrados no parque destaca-se o único endêmico da caatinga, o
mocó (kerodon rupestris). Vive em rochas, lajedos, serrotes, e boqueirões utilizando as fendas
como abrigo contra o calor e os predadores. Outro mamífero comum no parque é o tamanduá-mirim
(Tamanduá tetradactyla). Esta espécie localiza-se em áreas de afloramentos rochosos.
O parque é rico em espécies de endentados. Os tatus são um grupo americano, que existem
apenas nesse continente, da Patagônia até o sul dos Estados Unidos. São cinco espécies de tatus
registrados no parque: o tatu canastra (Priodontes maximus), o tatu-china (Dasypus septencinctus),
o tatu-bola (Tolypeutes tricinctus), o tatu-verdadeiro (Dasypus novemcinctus) e o tatu-peba
(Eupharactus sexcinctus). Sendo o tatu-bola uma espécie em extinção e as duas ultimas espécies de
tatus as que mais sofrem com a ação ilegal dos caçadores (FUMDHAM, 1998).
Há três espécies de primatas no parque: o sagui-de-tufo-branco (Callithrix jachus), o
macaco-prego (Cebus apella), e o guariba (Alouatta caraya). O guariba é uma espécie típica do
cerrado e pantanal, com uma população reduzida no parque, são testemunho de um período mais
úmido que o atual, essas espécies vivem nas áreas dos boqueirões e baixões (FUMDHAM, 1998).
A comunidade de carnívoros do parque é muito diversificada, com duas espécies de
canídeos: raposa (Dusicyon thous) e graxim (Dusicyon vetulus), seis espécies de felídeos: onça-
pintada (Panthera onça), onça vermelha (Puma concolor), jaguatirica (Leopardus pardalis),
maracajá-peludo (Leopardus wiedii), gato-macambira (Leopardus tigrina) e gato-vermelho

372
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

(Herpailurus yaguaroundi), duas espécies de mustelídeos: cagambá (Conepatus semistriatus) e


irara (Eira bárbara), e uma espécie de procionídeo: mão-pelada (rocyon cancrivorus). A população
de onças-pintadas no parque é uma das ultimas que ainda sobrevivem na caatinga do nordeste
brasileiro (FUMDHAM, 1998).
Os herbívoros encontrados no parque estão reduzidos a quatro espécies: duas de veados,
veado-catingueiro (Mazama guazoubira) e veado-mateiro (Mazama americana), e os porcos-do-
mato, queixada (Tayassu pecari) e caititu (Tayassu tajacu). As aves são o componente mais
conspícuo da fauna do parque que abriga quase todas as espécies endêmicas da caatinga. Na
caatinga propriamente dita, encontramos a maior diversidade de aves. Parte das aves da caatinga
parece capaz de utilizar e sobreviver em áreas que foram degradadas e estão em regeneração, como
roças abandonadas ou áreas queimadas.
Os maiores lagartos da região são o camaleão (Iguana iguana), que se alimenta de folhas e
frutos, e o teiú (tupínambis merianae), que se alimenta de frutas e animais menores.Todas as
serpentes encontradas no parque são carnívoras. As espécies maiores como a jibóia (Boa
constrictor), a caninana (Spillotes pullatus) e a cascavel (Crotalus durissus cascavella), comem
roedores e aves. As espécies menores, como a bicuda (Waglerophis merremii) e a cobra-cipó
(Phylodryas nattereri), caçam insetos e jias.

IMPACTOS AMBIENTAIS
A parceria FUMDHAM, Fundação Museu do Homem Americano, e IBAMA, Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, ajuda na preservação e
conservação da fauna e flora do interior do parque, contra a ação exploratória do homem. As
comunidades que habitam o entorno do parque, são formadas de pessoas com poucas condições
financeiras e dotadas de pouco conhecimento. Esses indivíduos por não entenderem a importância
de preservar os recursos do parque nacional, não possuem nenhuma preocupação em realizar
atividades ilegais na área. A pecuária, a agricultura de subsistência e intensiva e a exploração de
madeira são as principais responsáveis pelos antropismos na região (Arruda, 1993).
Grande parte dos impactos ambientais que o Parque Nacional Serra da Capivara sofre são
visualmente identificados. É o caso do reflorestamento, ocorrido em virtude do desmatamento de
extensas áreas de matas nativas nos municípios vizinhos ao parque. A extração de madeira para o
consumo da lenha em olarias, caieiras, casas de farinha, e padarias nos municípios entorno do
parque, é pratica comum e livre de qualquer controle ou fiscalização (Arruda, 1993).
Para diminuir os danos, foram implantados diversos projetos de reflorestamento com caju
nas áreas devastadas pela extração de madeira. As plantações de caju, além de servirem como
reflorestamento de uma área desmatada, são o modo de sobrevivência de algumas comunidades nas
circunvizinhanças do parque, que vivem em função da venda do caju e de outros frutos que são
plantados na propriedade. A extração de madeira e a agricultura de subsistência e intensiva são dois
antropismos comuns na área do parque, que devastam a mata nativa e ameaçam a sobrevivência da
fauna local.
A caça ilegal é outra atividade freqüente na área do Parque Nacional Serra da Capivara.
Mesmo com a fiscalização de órgãos como o IBAMA e FUMDHAM, alguns indivíduos insistem na
prática da caça ilegal, aprisionado espécies endêmicas e ameaçadas de extinção da fauna local.O
Tatu-verdadeiro (Dasypus novemcinctus), o Tatu-peba (Eupharactus sexcinctus) e o Mixila
(Tamanduá tetradactyla), são algumas das espécies da fauna local que mais sofrem com a ação dos
caçadores na região. A caça ilegal provoca alteração no meio ambiente em decorrência da ação do
homem, com isso, é outro antropismo que acontece no Parque Nacional Serra da Capivara.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Parque Nacional Serra da Capivara possui um dos mais minuciosos e completos “planos
de manejo” entre as unidades de conservação do Brasil. No Parque, o planejamento ambiental da
área é feito por especialistas da Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), que
trabalham na região desde 1970, pesquisando, preservando e cooperando para o desenvolvimento
373
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

sustentável da área. São criados projetos e ações com vistas a preservar e controlar o meio ambiente
da área estudada.
Dentre os parceiros do Parque, o apoio constante da PETROBRAS, desde 2001, tem
permitido a continuidade dos trabalhos de conservação e preservação do Parque Nacional Serra da
Capivara e de seu patrimônio mundial. A proteção do patrimônio cultural do Parque somente é
eficaz porque consegue proteger o patrimônio natural, permitindo que os ecossistemas do Parque se
recomponham e voltem a sua feição primitiva. Pouco a pouco, está conseguindo restabelecer o
equilíbrio ecológico, o que facilita as tarefas de conservação.
Um exemplo de atividade visando um planejamento ambiental, é a preocupação com a
caça ilegal. Para coibir a caça, foi incorporado um grande numero de pessoas trabalhando dentro do
Parque, cuja presença inibe a entrada de caçadores. Foram colocadas pessoas em locais estratégicos,
como estradas e trilhas necessárias à visitação e importantes para a vigilância.
Em patrocínio firmado entre a PETROBRÁS e a FUMDHAM, foi criado o projeto “A
Água e o Berço do Homem Americano (ABHA)”. Esse projeto promove ações integradas com
vistas a melhorar a gestão dos recursos hídricos na região dos Parques Nacionais da Serra da
Capivara e da Serra das Confusões e áreas circunvizinhas (região do território do Berço do Homem
Americano – TBHA), no semi-árido, através de um conjunto de iniciativas para o aproveitamento
dos recursos naturais, ecológicos, turísticos e culturais.
Nesse estudo procurou-se caracterizar geoecologicamente a área do Parque Nacional Serra
da Capivara e suas circunvizinhanças, identificando os aspectos que influenciam a criação de um
planejamento ambiental para a área estudada, como as formações vegetais e as espécies da fauna,
além dos principais impactos ambientais que ocorrem na área em estudo. Sugere-se que sejam
incentivadas pesquisas, para que se possa compreender o funcionamento e a capacidade do
ambiente do Parque Nacional Serra da Capivara, permitindo o desenvolvimento da área em estudo e
do seu meio ambiente, em beneficio das gerações futuras melhorando a qualidade de vida.

REFERÊNCIAS

ARRUDA, Moacir B. Ecologia e antropismo na área do município de São Raimundo Nonato e


Parque Nacional Serra da Capivara (PI). Tese de Mestrado. Brasília: Instituto de Ciências
Biológicas – Departamento de Ecologia – UNB – Brasília (DF), 1993.
LEMOS, Jesus R. Fitossociologia do componente lenhoso de um trecho de vegetação arbustiva
caducifólia espinhosa no Parque Nacional Serra da Capivara, Piauí, Brasil. Tese de Mestrado.
Recife: Pós-Graduação em Biologia Vegetal – Universidade Federal do Pernanbuco – Recife (PE),
1999.
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Université Pierre at Marie Curie, 1989.
FUMDHAM. Parque Nacional Serra da Capivara – Piauí – Brasil. São Raimundo Nonato:
Fundação Museu do Homem Americano, 1998.
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Parque Nacional Serra da Capivara e circunvizinhanças, Piauí. Tese de Doutorado. Recife:
Centro de Tecnologia e Geociências – Pós Graduação em Geologia – Universidade Federal do
Pernambuco – Recife (PE), 2006.
FUMDHAM. Proteção, Manutenção e Pesquisa na região do Parque Nacional Serra da
Capivara. Relatório Anual. Fundação Museu do Homem Americano, 2007.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

PRAIA DO ICARAÍ (RMF) - UM DIAGNÓSTICO URBANO AMBIENTAL

Cláudia Wanderley Pereira de Lira


Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA)
da Universidade Federal do Ceará (UFC)
Bolsista PROPAG. clau_wlira@hotmail.com

RESUMO

As Zonas Costeiras12, tidas como espaços estratégicos, também sofrem com a influência tanto dos
processos naturais quanto antrópicos, uma vez que esse patrimônio nacional13 apresenta recursos
ecológico e socioeconômico preciosos (MMA, 2006). No Brasil, os atrativos naturais e a pratica do
veraneio propiciam a escolha de viver nessas áreas, cerca de 37 milhões de pessoas, em 17 estados,
412 municípios e 10 metrópoles vivem em área Costeira (IBGE, 2000), porém essa ocupação
acontece de forma desordenada. Para a manutenção dessas áreas litorâneas é necessário ações e
planejamento que visem sua sustentabilidade. Neste sentido, este projeto de pesquisa objetiva a
elaboração de um diagnóstico da estrutura urbana e ambiental da praia do Icaraí, litoral oeste do
Ceará, que teve seu processo de urbanização intensificado na década de 80 desencadeando a
diversificação e a densificação do uso e ocupação do solo, gerando problemas em um ambiente de
ecossistemas raros e bastante vulneráveis, bem como a proposição de diretrizes que subsidie
políticas de desenvolvimento.
Palavras-chaves: Zona Costeira, Diagnóstico, Urbanização.

INTRODUÇÃO

As Zonas Costeiras, consideradas patrimônio nacional, resultam da interação dos fatores


físicos, ambientais e humanos, se tornando uma porção privilegiada do território. Sua localização
singular, a crescente valorização cultural desses espaços e o crescimento urbano, impulsionaram e
condicionaram a ocupação e densificação nesses espaços, principalmente em áreas urbanas. O
dinamismo econômico, social, ambiental, cultural e espacial, dessas áreas, foi bastante modificado
com o advento da urbanização.
Entre essas áreas estão às praias da região metropolitana (RM), que vêm sofrendo
significativas mudanças, deixando sua configuração original, para virarem pólos de veraneios e
residências. Na maioria das vezes essa mudança de uso e ocupação do solo é acompanhada pelo
crescimento populacional, mas a infra-estrutura urbana, o tecido social e os aspectos ambientais da
área não acompanham esse crescimento e o que se vê é a produção de espaços litorâneos caóticos, e
ambientalmente degradados.
Nesse contexto está a praia do Icaraí, localizada no litoral Oeste do estado do Ceará. Possuí
9Km de faixa litorânea e faz parte do município de Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza
(RMF). Sua proximidade com a capital, Fortaleza, aliada ao crescimento da produção de espaços
voltados para o lazer das classes mais abastadas e o interesse das empresas imobiliárias,
condicionaram as mudanças ocorridas em sua conformação natural.
As crescentes construções de residências destinadas ao veraneio e à moradia, na praia do
Icaraí, prejudicam a distribuição espacial, intensificam o crescimento urbano descontrolado e
alteram os aspectos naturais, sociais, econômicos e culturais desse patrimônio. Portanto, há o
interesse em diagnosticar a evolução da estrutura urbana e ambiental da Zona Costeira da Praia do

12
Zona Costeira brasileira é definida pela Lei 7.661como sendo “o espaço geográfico de interação do ar, do mar e da
terra, incluindo seus recursos renováveis ou não, abrangendo uma faixa marítima e outra terrestre”.
13
A Constituição Federal de 1988 estabelece que a Floresta Amazônica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-grossense e a
Zona Costeira, são considerados Patrimônio Nacional. Sendo bens de uso comum necessitam ter sua sobrevivência
garantida. (título VIII, Artigo 225, parágrafo 4°)
375
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Icaraí, tendo em vista as mudanças de uso e ocupação do solo ali efetivadas, de praia nativa, passa a
área de lazer e habitação.
Esse diagnóstico abrange os fatores econômicos, sociais, ambientais, culturais, legais e de
uso e ocupação do solo; seus aspectos positivos e negativos, para que se tenha um cenário atual da
área e a partir dele se elaborar diretrizes de desenvolvimento, baseadas na análise integrada dessas
vertentes, com a preocupação de contribuir no processo de preservação da área, pois se trata de
ecossistema vulnerável.
Além do panorama atual do local, o diagnóstico é um registro importante por ser um
documento que armazena dados, que no futuro, poderão ser confrontados com novas informações,
possibilitando traçar um perfil de desenvolvimento em diferentes épocas, ou ainda servir de base
para a implementação de um plano de desenvolvimento que envolva a área.
É ainda através dessa análise que serão elaboradas diretrizes que visam contribuir para o
planejamento ambiental da área.

Figura I: Mapa de localização da praia do Icaraí. Fonte: DGC/IPLNACE, 1998.

OBJETIVOS

O objetivo desse trabalho é analisar o processo de urbanização da Zona Costeira do Icaraí-CE,


com o intuito de contribuir com diretrizes para o planejamento ambiental. Para tanto se faz
necessário identificar os principais fatores que condicionam o processo de urbanização no local;
analisar a dinâmica espacial da população, enfocando primordialmente o crescimento demográfico;
analisar os indicadores sócio-econômicos; identificar as principais demandas sócio-ambientais da
região, a partir do levantamento dos recursos naturais e dos problemas ambientais; identificar as
principais potencialidades e tendências locais; analisar a dinâmica territorial do local, a partir da
identificação dos espaços dinamizadores, estabilizadores e inibidores do desenvolvimento.

376
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

A relação de domínio do homem com a natureza influenciou diretamente o desenvolvimento


urbano, especialmente no período do pós-guerra, quando o processo de urbanização se intensificou.
A visão analítica de desenvolvimento e o pensamento ocidental de domínio da natureza levaram a
um distanciamento entre homem e natureza (DREW, 1986), percebido nos primeiros sinais de
esgotamento de recursos naturais, fato esse que aumentou, nas últimas décadas, a preocupação com
os problemas ambientais e com isso a necessidade de um desenvolvimento urbano integrado.
O modelo econômico adotado como modelo de desenvolvimento, baseado na produção, no
consumo e nas inovações tecnológicas; a mecanização da agricultura, intensificando as migrações
para as grandes cidades; e a industrialização; atenuaram a problemática urbana. O crescimento
populacional acelerado ocasionou problemas de saneamento, habitação, saúde pública, etc. Assim o
contingente urbano, no Brasil, cresceu 400% em 30 anos, enquanto a população total apenas duas
vezes e meia (GONÇALVES,1995), fazendo da questão urbana um grave problema sócio-
ambiental.
No Ceará, não foi diferente, o caos nessas áreas se intensificou na década de 1970 com a
constituição da RMF, que englobou inicialmente os municípios de Fortaleza, Caucaia, Maranguape
e Aquiraz. A crescente urbanização, o desenvolvimento tecnológico e econômico incentivaram os
movimentos migratórios do interior para a RM, aumentando a disparidade da distribuição
populacional na região, acelerando o crescimento demográfico e a busca por novas áreas que
comportassem essa população. Essas novas áreas formaram diferentes pólos de ocupação,
caracterizados principalmente pelas especificidades de suas localizações geográficas e pelo poder
aquisitivo de sua comunidade, assim surgiram às favelas, ou mesmo a ocupação das áreas litorâneas
com casas de veraneio, residências de luxo, etc.
Segundo Gonçalves (1995), o aparecimento das rodovias, o uso intensificado de automóveis
e o fato da maioria das cidades importantes estarem localizadas no litoral propiciaram o
aparecimento de toda uma indústria de lazer. Essa por sua vez incentivou a ocupação dessas áreas
por segundas residências (casas de veraneio) se apropriando dos espaços ocupados, anteriormente,
por comunidades pesqueiras.
De acordo com Moraes (1999), a ocupação de áreas litorâneas, no Brasil, vem se
intensificando decorrentes de três vetores principais de desenvolvimento: a urbanização, a
industrialização e a exploração turística. Com o desenvolvimento baseado apenas em fatores
econômicos essas zonas litorâneas crescem, assim como as demais áreas, sem suporte em infra-
estrutura, sem levar em consideração os aspectos sócio-culturais locais e sem a preocupação com o
meio ambiente.
Os diferentes interesses acerca da utilização dos recursos costeiros geram problemas
diversos. A utilização desses recursos passou a ser preocupação, no Brasil, a partir da década de
1970, ao mesmo tempo em que surge a preocupação ambiental, porém de forma mais sutil.
Em 1987, foi estabelecido o Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro (GERCO) que
detalhou as metodologias de zoneamento e o modelo institucional a serem implementados.
Em 1988, é instituído pela Lei Federal 7.661/88, o Plano Nacional de Gerenciamento
Costeiro (PNGC) que buscava nortear a utilização dos recursos costeiros. Anos depois sua
finalidade passou a ser planejar e acompanhar o processo de ocupação dessas áreas. Esse
planejamento deveria ocorrer de forma descentralizada nos níveis governamentais.
Em 1997, é instituído o II Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro, este reafirma o
modelo de execução descentralizada e coloca a questão metodológica a níveis mais genéricos, ou
seja, adota uma abordagem mais política e menos técnica. Atualmente, alguns projetos estruturados
pelo Ministério do Meio Ambiente visam o atendimento da demanda verificada pelo Plano de Ação
Federal para a Zona Costeira, como o Projeto Orla, além de outros instrumentos jurídicos de
planejamento, como o estatuto da cidade e o Decreto nº 5.300/04 (STROHAECKER, 2007).
O Decreto nº 5.300/04 estabelece as tipologias a serem adotadas, com base na Ecologia da
Paisagem, bem como os limites da Orla. No setor marítimo esse limite se concentra na isóbata de
10m, já no setor terrestre, o limite é de 50m para áreas urbanas e 200m, para áreas não urbanizadas
377
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

(BRASIL, 2004).
Tendo em vista a importância ambiental das áreas costeiras e a preocupação com seu
manejo, este trabalho busca diagnosticar o cenário atual da Praia do Icaraí, entendendo diagnóstico
como sendo à constatação da realidade em tempo e período específico. No caso do ambiente urbano
litorâneo, a análise tem a finalidade de obter informações detalhadas da área e objetivar uma
compreensão integrada dos diferentes fatores nela existentes, como o tecido social, o crescimento
populacional, econômico, o uso e ocupação do solo, os aspectos ambientais, etc. Além disso, esse
conjunto de informações servirá de base para a elaboração de diretrizes de um desenvolvimento
sustentável, ou seja, um desenvolvimento que objetive integrar os interesses sociais, econômicos e
as possibilidades e limites definidos pela natureza (CAMARGO, 2003, p.75).
Para a realização do trabalho é necessário definir metodologias e ferramentas, tal como a
utilizada no planejamento estratégico, denominada Matriz Swot, que busca encontrar as forças,
fraquezas, oportunidades e ameaças do local, leva em consideração o ambiente interno e suas
externalidades, e sistematiza essas informações em uma matriz. Os dados serão avaliados nas
vertentes econômicas, sociais, culturais, de uso e ocupação do solo, legais e ambientais.
Buscando identificar agentes sociais responsáveis pelas transformações espaciais, seus
instrumentos, comportamentos e percepção acerca da materialização do novo espaço se fará uso
também da metodologia proposta por RODRIGUES (1998), que conceitua produção e consumo do
espaço. Complementando essas ferramentas têm-se os procedimentos metodológicos da percepção
ambiental, com base nos estudos e pesquisas efetuadas por Lynch (1960) que elabora a percepção
através da análise de quatro elementos: legibilidade ou clareza de imagem; estrutura, ou seja,
imagens com relações bem definidas; identidade que é o mesmo que caráter e imaginabilidade ou
poder de lembrança. Ele ainda faz uso de pesquisas de campo como: questionários e mapas mentais,
para auxiliarem na percepção.
Archela, Gratão, Trostdorf (2004) definem mapas mentais como sendo as imagens espaciais
que as pessoas têm de lugares conhecidos, direta ou indiretamente, estas são importantes, pois
representam como o lugar é compreendido em todos os seus aspectos: forma, cultura, simbolismo,
etc. essas informações refletem como se vê o lugar e como se compõe sua paisagem.
Aliada a essas metodologias, tem-se a adotada pelo Projeto Orla, do Ministério do Meio
Ambiente (2006), que busca contribuir na aplicação de diretrizes e disciplinamento do uso e
ocupação do solo em áreas de Zona Costeira, objetiva o desenvolvimento de diferentes setores da
economia, manutenção de recursos naturais e implantação de infra-estrutura de interesse para o
crescimento socioeconômico, valorizando a paisagem, protegendo o meio físico e os recursos
naturais. Embasada pela análise, propõe-se a formulação de diretrizes pautadas no conceito de
desenvolvimento sustentável trabalhado por Camargo (2003), visando contribuir para o
planejamento ambiental da área.

REFERÊNCIAS

ARCHELA, Rosely Sampaio; GRATÃO, Lucia Helena; TROSDORF, Maria. O lugar dos mapas
mentais na representação do lugar. Revista do Departamento de Geografia. Londrina, vol. 13, n.
1. jan/jun 2004. Disponível em: <http://www.geo.uel.br/revista/v13n1eletronica/7.pdf>. Acesso em
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Ambiente - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, 2006. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/estruturas/orla/_arquivos/vol1_fudamentos_jun06.pdf. Acesso em 28 de
agosto, 2008.

BRASIL. Projeto Orla: Manual de Gestão. Brasília: Ministério do Meio Ambiente – Ministério
do Planejamento, Orçamento e Gestão, 2006. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/estruturas/orla/_arquivos/ manualgestao_new.pdf. Acesso em 28 de

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agosto, 2008.

BRASIL. Projeto Orla: Subsídios para um projeto de gestão. Brasília: Ministério do Meio
Ambiente – Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, 2004. Disponível em:
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CAMARGO, A. L. B. Desenvolvimento Sustentável: dimensões e desafios. Campinas, SP:


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MORAES, A. C. R. Contribuições para a gestão da Zona Costeira do Brasil: elementos para a


geografia do litoral brasileiro. São Paulo: Hucitec/Edusp, 1999.

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STROHAECKER, Tânia Marques. A Urbanização no Litoral Norte do Estado do Rio Grande


do Sul: Contribuição para a Gestão Urbana Ambiental do Município de Capão da Canoa.
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Geociências, Universidade Federal do Rio do Sul, Porto Alegre, 2007.

379
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NA VILA IRMÃ DULCE – TEREZINA / PIAUÍ

Denilson Da Silva ROCHA


Universidade Estadual do Piauí
E-mail: denilsonrock@hotmail.com

Luzia Ferreira Cavalcante


Universidade Federal do Piauí
E-mail: luziadmais@hotmail.com

Marcos Daniel Neves Da SILVA


Universidade Federal do Piauí
E-mail: ciontramp23@hotmail.com

RESUMO

A cidade tem origem antiga, remontando há cerca de 3.500 anos a.C. O homem, em seus
primórdios, retirava da natureza somente o que realmente necessitava. Ele a utilizava basicamente
para sua subsistência. Com a Revolução Industrial no século XVIII, essa relação entre o homem e o
meio ambiente foi drasticamente alterada, haja visto que este passou a ser objeto de intensa
exploração, e como fonte de lucros. No entanto, percebemos também que há uma apropriação
desordenada do espaço natural por contingentes populacionais, provocando diversos impactos
socioambientais. Dentro desse contexto, inserimos a Vila Irmã Dulce, como produto de uma
desenfreada ocupação de terras, aliada à falta de um planejamento urbano e ambiental adequados.

Palavras-chave: Vila Irmã Dulce. Ocupação. Impactos socioambientais.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo analisar o processo de ocupação da Vila Irmã Dulce, na
cidade de Teresina, capital do Estado do Piauí, bem como identificar quais as conseqüências
ambientais provocadas por este processo, visto que o mesmo ocorre devido à ausência de
planejamento urbano e ambiental na área.
A escolha deste tema deveu-se ao interesse de conhecer a gênese da ocupação da Vila Irmã
Dulce, sua urbanização, como também os impactos caudados ao meio ambiente. Além disso, as
informações aqui contidas constituirão um suporte para o conhecimento dos aspectos gerais da vila,
em estudo por parte dos moradores, como demais interessados no assunto.

MEIO AMBIENTE URBANO

A origem das cidades remonta à Antiguidade, há aproximadamente 3.500 anos a.C. Desde o
aparecimento dos aspectos urbanos, o homem se preocupou em atender às suas necessidades
fundamentais, e para isso foi preciso à modificação das condições naturais do ambiente pela
substituição e transformação dessas condições naturais em ambientes construídos, formando dessa
forma, o meio ambiente urbano.
A esse respeito, Rocha (2008, p. 11) menciona que

“As primeiras cidades surgiram a partir do momento em que o homem deixa de ser
nômade, período no qual vivia da coleta e da caça, fixando-se no solo como agricultor,
criando as condições para a intensificação de sua relação com a natureza. As primeiras
cidades surgem, assim, junto aos rios Tigre, Eufrates e Nilo e em outras da Ásia devido à

380
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

agricultura – a nova forma dos homens produzirem sua subsistência. A prática agrícola
nessas comunidades ganhou impulso com a construção de diques, canais e vales de
irrigação”.

Com a Revolução Industrial no século XVIII, a relação homem-meio ambiente passou por
profundas transformações. Neste período, em prol do progresso econômico, o ambiente natural
passou a ser visto como fonte de lucro. Essa nova forma de relação contribuiu para a efetiva
degradação do espaço ambiental e conseqüentemente para o surgimento e crescimento de
aglomerados urbanos.
Dessa forma, o meio ambiente urbano pode ser entendido através de diversas abordagens, no
entanto, pode ser caracterizado como um espaço modificado pelo homem através de edificações e
construções, em que predomina uma relação dinâmica na sociedade.
Nesse espaço transformado surgem problemas ambientais de diferentes características e
magnitudes, efeito da ação da degradação do homem através do desmatamento, poluição das águas,
do ar, do acúmulo de lixo tóxico, entre outros.

O PROCESSO DE OCUPAÇÃO E INSTALAÇÃO DA VILA IRMÃ DULCE

A Vila Irmã Dulce está localizada na zona sul da cidade de Teresina, no Estado do Piauí. É
caracterizada por ser a segunda maior área de ocupação da América Latina, possuindo um
povoamento descontrolado e descontínuo, portanto, sem planejamento adequado.

A origem da Vila Irmã Dulce está vinculada diretamente a questão urbana da cidade de
Teresina, na forma de como esse espaço urbano é (re)configurado, apropriado e administrado,
sobretudo, a partir da década de 1990, quando houve um grande crescimento horizontal da cidade,
refletindo na formação de novas áreas periféricas, dotadas de características rurais, distantes do
centro da capital e despossuídas de infra-estrutura urbana, como é o caso da vila em questão.
Ainda a esse respeito, convém enfatizar que

“A ocupação da Vila Irmã Dulce aconteceu no dia 03 de junho de 1998, ao lado do


Residencial Esplanada, na zona sul de Teresina. A área de 50 hectares abriga 7 mil famílias
em barracos feitos em lotes de 10 por 20 metros. Há crianças, mulheres grávidas, casais
recém-casados, jovens desempregados, recém-nascidos e idosos, todos unidos pela miséria,
pelo desemprego, lutando por uma moradia que o Poder Público Municipal não vislumbra
lhes proporcionar . A Vila Irmã Dulce foi planejada pela FAMCC, com o apoio de
sindicatos, movimentos sociais, ong’s e partidos políticos de esquerda atuantes na cidade
de Teresina (CARVALHO, 2000, p. 26).

Segundo Corrêa apud Rocha (2008), o “como” e o “onde” morar são problemáticas
enfrentadas pelos habitantes da cidade. Com o capitalismo, a habitação torna-se uma mercadoria
com valor de uso e troca, excluindo grande parcela da população de seu acesso. Desta forma, muitas
famílias são condicionadas a residirem em áreas periféricas pelo baixo preço do terreno ou pela
apropriação ilegal através de invasões.
De acordo com Carvalho (2000, p. 26), “a falta de moradia, um problema que abala o atual
mundo capitalista da concentração de riquezas, se manifestou na forma de ocupações urbanas em
Teresina na década de 1970, se solidificou nos anos 80 e já possui forças suficientes para pressionar
e enfrentar a justiça e o poder executivo nos dias de hoje. O exemplo mais claro disso é a Vila Irmã
Dulce”.
Com o decorrer o tempo e, através de reivindicações dos moradores, o poder público passou
a implantar uma infra-estrutura básica na área, como: instalação de energia elétrica, pavimentação,
escolas, etc. É necessário ressaltar também a criação de pequenos pontos comerciais, garantindo a
subsistência de algumas famílias. Todos esses fatos contribuíram para modificar a configuração
espacial da vila.

381
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NA VILA IRMÃ DULCE

Nos primórdios da humanidade, o homem se relacionava com o meio ambiente de forma


mais equilibrada, pois extraia dela somente o que necessitava. Buscava apenas sua subsistência.
Entretanto, com o capitalismo, essa relação foi alterada pelo, haja visto que o meio ambiente passou
a ser considerado também uma fonte de lucros, acarretando a exploração descontrolada dos recursos
naturais, acrescentando-se também a ocupação desordenada pelos contingentes populacionais.
Neste sentido, vale ressaltar que a área que compreende o perímetro urbano de Teresina
inseriu-se neste contexto. Fruto de uma invasão recente e desenfreada, verifica-se que o
povoamento contínuo e sem adequado planejamento da vila contribui para a intensificação de
variados impactos ambientais, sendo o desmatamento provocado pela ação antrópica, a invasão de
terras e a posterior criação de loteamentos, responsáveis por grandes mudanças tanto na paisagem,
bem como nas condições climáticas, contribuindo para a expansão dos limites da cidade de
Teresina.
Na Vila Irmã Dulce constatou-se alguns problemas de ordem social e ambiental, sendo os
mais evidentes: precariedade no sistema de saneamento básico, ruas sem pavimentação, péssimas
condições de moradia (muitas casas construídas de pau-a-pique), iluminação pública deficiente
(utilização de “gambiarras”), alto índice de desempregados e de violência, baixa escolaridade da
maior parte de seus habitantes, desmatamento de áreas verdes, erosão e poluição dos solos, prática
de queimadas, além do desperdício e poluição das águas.

Foto 01: Ausência de pavimentação Foto 02: Poluição dos solos


Fonte: pesquisa direta, 2009. Fonte: pesquisa direta, 2009.

No tocante ao processo de uso e ocupação do solo, verificamos que as modificações na


paisagem da Vila Irmã Dulce contribuem para o crescimento urbano em direção ao extremo sul de
Teresina. Este fato favorece a abertura de novas ruas sem nenhuma pavimentação e contribuindo
para a erosão do solo, visto que esta área constitui e caracteriza-se pelo predomínio de casas onde os
terrenos foram ocupados. De uma maneira geral, a vila apresenta condições precárias de habitação,
saúde, educação e lazer, além de um péssimo saneamento básico.

382
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Foto 03: Erosão do solo. Foto 04: Prática de queimadas.


Fonte: pesquisa direta, 2009. Fonte: pesquisa direta, 2009.

Foto 05: Saneamento básico precário. Foto 06: Paisagem modificada pela ação antrópica.
Fonte: pesquisa direta, 2009. Fonte: pesquisa direta, 2009.

É oportuno mencionar o pensamento de Marques (2005, p. 119), ao destacar que “muitos são
os problemas ambientais causados pelo acúmulo de lixo em locais impróprios ou em desacordo com
as recomendações técnicas, quando o local não foi previamente tratado para isso”. Em face da
degradação ambiental na vila, partimos do pressuposto de que esta região, por se tratar de uma área
ocupada não dispunha (durante a criação) e ainda hoje não dispõe de um planejamento adequado
que seja capaz de dirimir os variados problemas socioambientais existentes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, fica evidente que as leis referentes ao uso e ocupação do solo urbano14
não só devem ser implementadas, como também devem ser fiscalizadas pelo poder público, de
modo que se promovam políticas públicas voltadas para a melhoria da qualidade de vida da
população (obtenção de moradia digna, etc), buscando solucionar os problemas tanto sociais quanto
ambientais.

REFERÊNCIAS
CARVALHO, Inga Michelle Ferreira. Direito à propriedade e conflito social: a Vila Irmã Dulce
como estudo de caso. Relatório final de pesquisa científica da UFPI, 2000.
MARQUES, José Roberto. Meio Ambiente Urbano. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2005.
ROCHA, Denilson da Silva. Bairro Parque Alvorada na dinâmica espacial da zona norte de
Teresina, nos últimos 15 anos. Monografia (Graduação) – Universidade Estadual do Piauí.
Teresina, 2008.

14
lei complementar n° 3.560, de 20 de outubro de 2006 . Observado pela Prefeitura Municipal de Teresina.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NO PARQUE ESTADUAL DO COCÓ EM


FORTALEZA/CE: ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA, LAZER E TURISMO

Eudes André Leopoldo De SOUZA


UECE, eudesleopoldos@gmail.com
Prof. Ms. Frederico De Holanda BASTOS
UECE, fred_holanda@yahoo.com.br
Profª Drª Luzia Neide Menezes Teixeira Coriolano
UECE, luzianeidecoriolano@gmail.com

RESUMO
Este trabalho objetiva analisar os impactos socioambientais no parque estadual do Cocó, localizado
na cidade de Fortaleza/CE, evidenciando as suas relações com a especulação imobiliária, o lazer e o
turismo, vetores atuantes na conformação da segunda natureza. O parque trata-se de um espaço
público criado pelo poder estadual na busca de preservar a flora e fauna do trecho do rio Cocó, da
BR 116 à foz do corpo hídrico, no município de Fortaleza. A criação dessa unidade se faz
necessária tendo em vista os problemas ambientais atuais. Os passos da pesquisa contemplaram:
revisão de literatura, entrevistas autodirigidas, pesquisa de órgãos governamentais e não-
governamentais, interpretação e tratamento de dados. A metodologia consubstanciou-se na
imbricação da Geografia Humana e Geografia Física. A análise se amplifica pelos fundamentos do
método crítico, baseado no materialismo histórico, que permite ir para além da superfície,
adentrando o âmago das relações sociais de produção. Instrumentalizou-se o parque estadual do
Cocó, com trilhas, equipamentos desportivos e de lazer, entre outros, em benefício das necessidades
humanas de ócio e diversão, gerando impactos na dinâmica natural da unidade. Verifica-se que a
ação da especulação imobiliária no entorno do parque se acentua, com dezenas de edifícios em
construção. Conclui-se que a especulação imobiliária e as atividades de lazer e turismo se
expandem no entorno e no interior da unidade, bem como o poder público através da construção de
fixos, como as pontes, geram impactos socioambientais nos recursos hídricos, nos processos
morfodinâmicos e na biodiversidade da unidade.
Palavras-Chave: Impactos Socioambientais; Unidade de Conservação; Especulação Imobiliária;
Lazer; Turismo.

INTRODUÇÃO

Fortaleza cresce na contemporaneidade, como nó luminoso de uma nova hierarquia urbana


remodelada pelas recentes necessidades do capital produzidas pelo meio técnico-cietífico-
informacional, em face das perspectivas dominantes dos agentes hegemônicos produtores do
espaço. Esta dinâmica é sem precedentes na história da cidade, e revela novas nuances na produção
e consumo do espaço, como a criação dos parques urbanos, e de novas centralidades e subcentros.
O presente objeto de estudo, o parque estadual do Cocó, deriva da intenção do poder público
estadual de criar uma unidade de conservação na área representativa da planície flúvio-marinha do
rio Cocó tendo em vista os problemas ambientais que estavam se desenvolvendo naquela área. Em
função de questões jurídicas e institucionais, essa unidade de conservação nunca foi legalmente
instituída, porém grande parte de sua área passou a receber um tratamento diferenciado por parte da
população. O Parque Estadual do Cocó, de acordo com o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SNUC), se caracteriza como uma unidade de conservação de proteção integral.
O parque estadual do Cocó se manifesta como objeto socializado, como espaço de
preservação, ao mesmo tempo, como espaço de lazer e turismo. As políticas públicas urbanizam e
instrumentalizam o parque, ofertando equipamentos de lazer e turismo aos visitantes e turistas, com
efeito, têm-se os impactos socioambientais. Destarte, este trabalho objetiva analisar os impactos

384
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

socioambientais no referido parque, evidenciando as variantes: especulação imobiliária, lazer e


turismo, como vetores atuantes na conformação da segunda natureza.
Através do estudo de caso do parque estadual do Cocó, busca-se compreender a valorização
dos espaços de conservação ambiental para lazer e turismo e a tecnificação dos espaços verdes que
corrobora na implementação dos denominados parques urbanos. A investigação da envergadura
desta dinâmica dará fôlego, também, à discussão relativa aos símbolos e necessidades criadas pela
sociedade de consumo, com relação ao fetiche das habitações próximas a “natureza intocada”,
ideologia fortemente veiculada pelos especuladores imobiliários, com o apoio do Estado. Outra
discussão levantada é do crescimento da metrópole em uma mesma direção, seguindo as exigências
espaciais da classe dominante, acompanhada das políticas públicas que territorializam o jogo de
interesses reinante em favor de uma minoria.
A metodologia consubstanciou-se na co-relação da Geografia humana e física, na busca de
apreender a relação sociedade-natureza. Ensina Santos (2008, p. 98) que “não há geografia física
que não seja uma parte da geografia humana. O que há na verdade é uma geografia do homem...”. A
análise se amplifica pelos fundamentos do método crítico, baseado no materialismo histórico, que
permite ir para além da superfície, adentrando o âmago das relações sociais de produção. O
materialismo histórico-dialético é “uma teoria social que busca compreender o mundo na
perspectiva da totalidade” (SUERTEGARAY, 2005, p. 25). Os passos da pesquisa contemplaram:
revisão de literatura, entrevistas autodirigidas, pesquisa de órgãos governamentais e não-
governamentais, interpretação e tratamento de dados.
Diante da problemática destacada, faz-se imperativo investigar os impactos socioambientais
nos espaços verdes da cidade, que cada vez mais se convertem em espaços públicos de lazer e
turismo, e artefato reproduzido como “ilhas verdes” pela especulação imobiliária. No período
hodierno, estes são reinventados e urbanizados, na procura de suprir o tempo disponível dos
residentes e turistas, contudo o planejamento ambiental não tem sido tão eficaz, ou até mesmo é
inexistente em alguns casos, ampliando os impactos. As relações sociais configuradas e as normas
ambientais vigorantes no parque estadual do Cocó, tornam bastante complexo o estudo de caso,
necessitando de esforços teórico-empíricos de análise da realidade local articulada à realidade
global.

OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NO PARQUE ECOLÓGICO DO COCÓ EM


FORTALEZA/CE

Fortaleza adentra o século XXI como uma das principais metrópoles brasileiras, de
acentuado papel de comando em todas as esferas no Estado do Ceará, ascendendo, também, os
problemas urbanos e os conflitos na urbe. O crescimento mais sólido da cidade, em termos de malha
urbana e de verticalização dos seus solos, ocorreu durante os anos 70, quando se constitui
oficialmente a Região Metropolitana de Fortaleza – RMF (ARAÚJO E CARLEIAL, 2001).
A metrópole cearense, assim como outras metrópoles, expande-se numa mesma direção
(VILLAÇA, 1999, 2001). Villaça (2001, p. 153) constatou que “os bairros residenciais de alta renda
‘andam’ ou ‘deslocam-se’ sempre na mesma direção”. No caso de Fortaleza, esta dinâmica ocorre,
dialeticamente, como processo e tendência, do Centro para os bairros onde se concentram as classes
médias e altas, como é o caso do Meireles, Cocó, Guararapes, Aldeota, Dionísio Torres,
configurando a criação de novos centros ou centralidades (GONDIM E MENELEU NETO, 2006).
O presente estudo de caso encontra-se nesta extensão de crescimento da cidade, por
conseguinte, absorve significativos impactos, já que esta dinâmica implica na ampliação da
circulação, assegurado pela tecnificação da natureza, portanto altera a dinâmica ambiental e as
trocas entre os sistemas naturais. O rio Cocó e a biodiversidade circundante deste, no passado,
apareciam como obstáculo à urbanização e crescimento da cidade. Na contemporaneidade, no baixo
curso do rio Cocó, o parque estadual se manifesta como espaço de lazer e turismo, e, como
“excelente” oportunidade de reencontro com a “natureza intocada”, mito promovido,

385
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

principalmente, pelos especuladores imobiliários, com o apoio do Estado, criando necessidades de


habitação e agregando valor aos terrenos no entorno do parque.

Souza e Santos (2006) realizaram estudos de compartimentação geoambiental da bacia


hidrográfica do rio Cocó em sistemas ambientais. Os geossistemas identificados foram: planície
litorânea, tendo como geofáceis o campo de dunas, faixa praial e planície flúvio-marinha; tabuleiros
pré-litorâneos; planícies fluviais e lacustres; depressão sertaneja e maciços residuais. É importante
destacar que a unidade de conservação em questão tem como ambiente predominante a planície
flúvio-marinha.
Nas margens do rio Cocó, dentro do município de Fortaleza, estão conformadas inúmeras
favelas, comumente denominadas de áreas de risco, de extrema vulnerabilidade ambiental e
identificadas legalmente como áreas de preservação permanente. Os resíduos produzidos pelos
moradores das habitações precárias e das atividades econômicas são depositados no rio, provocando
impactos negativos ao ecossistema local.
A área mais urbanizada do rio Cocó, que vem sofrendo um processo intenso de ocupação e
especulação imobiliária, se encontra nos bairros onde se concentram as classes médias e altas,
reproduzindo a segregação historicamente construída. Ainda de acordo com Santos e Souza (2006,
p. 77), essa “ocupação desordenada resulta em processos degradacionais muito fortes que
comprometem, sobremaneira, a integridade e o funcionamento dos diferentes sistemas ambientais”.
O parque estadual do Cocó é valorizado em função de suas potencialidades sócio-
ambientais, sobretudo no que diz respeito às belezas cênicas. Nessa perspectiva, modifica-se a
configuração natural, constituindo-se uma nova estética, mais próxima aos arquétipos urbanos, com
escadas e trilhas de acessibilidade e equipamentos diversos para lazer e turismo, bem como os
sistemas viários de circulação, possibilitando a ampliação dos usos pelos citadinos e turistas. Esses
equipamentos urbanos podem produzir danos ambientais significativos, sobretudo quando
implementados de forma inadequada.
Um dos impactos antrópicos mais perversos na bacia do rio Cocó, ocorreu na década de
1970. Realizou-se uma expressiva dragagem, da foz até a BR 116, descaracterizando o percurso do
rio, a calha de sinuosa converteu-se em retilínea. Este processo foi desencadeado com o objetivo de
facilitar o transporte de sal pelas embarcações, bem como na perspectiva de conter os alagamentos
naquele trecho. Muitos especialistas consideram este evento como uma das mais profundas
intervenções físicas no rio, corroborando para o comprometimento de parte importante das espécies
(SOARES, 2005).
A especulação imobiliária, o lazer e o turismo norteiam outros impactos que desafiam os
planejadores urbanos, a academia e o poder público na elaboração de planos diretores e
planejamentos ambientais fundados no equilíbrio socioambiental, com atenção para os espaços
verdes. O Parque estadual do Cocó é um espaço verde da metrópole, utilizado, sobretudo, para as
atividades de lazer e turismo; paisagem-mercadoria reproduzida pelos especuladores imobiliários,
na busca de atrair clientes.
Esse parque apresenta-se como possibilidade de encontro e convivência com a natureza no
tempo disponível, e entra no rol dos atrativos do lazer e turismo em Fortaleza. Trata-se de um
parque urbano que, de acordo com Serpa (2007, p. 24), “vêm alimentar e ‘coroar’ um processo de
valorização imobiliária das áreas nobres da cidade, acrescentando novas amenidades físicas aos
bairros que já possuem melhor infra-estrutura de comércio e serviços”, ou ainda, a localização
desses obedece “ao princípio de priorizar áreas com algum interesse turístico, como o aeroporto
internacional, o centro de convenções e os shopping centers”. No caso do parque do Cocó, a função
e localização correspondem aos dois movimentos apontados pelo autor, para assegurar a
valorização imobiliária das regiões das classes médias e altas, e, pela proximidade com o Shopping
Center Iguatemi, atrativo turístico da capital.
O parque é espaço público, e, se insere, nesse período histórico, como mais uma opção de
descanso e diversão. O espaço público é lugar do acontecer múltiplo, da coexistência, da
convivência humana. Porém, estas funções são, cada vez mais, substituídas pelos nexos mercantis.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Daí Marcellino (2006) afirmar que os espaços públicos cada vez mais vêm perdendo seu uso
multifuncional, deixando de ser local de encontro, de prazer, de lazer, de festa, de circo, de
espetáculo.
Essa unidade de conservação trata-se de um espaço público, mas, também se destaca como
uma área de preservação permanente. Essa perspectiva de se estabelecer novas áreas de proteção vai
ao encontro das novas tendências governamentais brasileiras, que atendem a uma perspectiva
internacional (BARBIERI, 1997).
Dentro da área do parque do Cocó constata-se a presença de alguns equipamentos urbanos já
consolidados como o Parque Adhail Barreto (criado em 1977 e nomeado em 1983) que é
administrado pela Prefeitura Municipal de Fortaleza. Pode-se destacar também a área urbanizada do
Tancredo Neves, que foi implementada em 1993. A urbanização do parque remete a necessidade de
adequação dos espaços verdes aos modos de vida urbana, corroborando em melhor acessibilidade e
comodidade na relação homem-natureza. A especulação gerada pelos processos de urbanização
gerou impactos negativos nos sistemas ambientais como ocupação desordenada, aterro,
desmatamento e disposição de resíduos sólidos e líquidos.
Conforme estimativas da monitoria ambiental15, somente no parque do Cocó, ocorrem cerca
de cem visitações diárias em média. A maioria delas realizadas por habitante das proximidades,
sobretudo, das classes médias e altas que residem nos edifícios. No entanto, moradores mais pobres
das comunidades circunvizinhas, também são visitantes freqüentes.
Ainda segundo a funcionária entrevistada, os turistas que visitam o parque procedem,
principalmente, da região Nordeste e de São Paulo. Os portugueses e argentinos são as principais
nacionalidades que freqüentam a área. Este contingente de turistas se adiciona à quantidade de
residentes que freqüentam o parque, gerando, sobretudo, na alta estação, um acréscimo considerável
no público, que, por sua vez, gera uma maior pressão para a base dos recursos naturais.
O parque do Cocó possui equipamentos específicos de lazer (MARCELLINO, 2006) e
turismo, como anfiteatro, playground, quadras poliesportivas, pista de cooper, trilhas ecológicas,
barco, ciclovias, parques infantis, mini-campo de golfe, entre outros. Desta forma, pode-se afirmar
que o parque do Cocó foi instrumentalizado em benefício das necessidades de ócio, possibilitando
múltiplos usos.
Ofertam-se serviços de espetáculos artístico-culturais, como os concertos e apresentações,
que, geralmente, ocorrem na alta estação com artistas conhecidos em âmbito nacional e local,
intensificando a quantidade de pessoas no interior do parque durante estes eventos. Estas ações são
promovidas pelo Estado, muitas das vezes, em parceria com a iniciativa privada, e são veiculados
na mídia, na busca de atrair turistas. O poder público e os empresários se associam, especializam e
promovem serviços, bem como espaços-mercadoria, que incrementam o consumo turístico do
espaço cearense, como apontado por Coriolano (2001).
O lazer, segundo Coriolano (2001, p. 28-29) é “uma ação cultural, uma oportunidade para a
participação democrática e de desenvolvimento pessoal e social”, já o turismo é “uma forma
elitizada de lazer”. Na contemporaneidade, o lazer dos residentes dá lugar ao lazer dos turistas. Este
último é mais hegemônico, estandardizado, excludente e segregador. As práticas turísticas
necessitam de uma gama acentuada de estruturas e atividades terciárias, e o lazer local não necessita
destes em excesso, ou até mesmo nenhum.
O consumo do lazer e turismo no parque é gratuito, apenas o passeio de barco é compensado
em dinheiro e funciona somente no domingo. O roteiro pelo rio Cocó inicia-se na ponte da avenida
Sebastião de Abreu e finda na ponte da Avenida Engenheiro Santana Júnior. Nessa excursão
evidencia-se a tecnificação da natureza (SANTOS, 2002; 1992). A construção das pontes sobre o
rio abriu novos horizontes para o crescimento da cidade, concomitantemente, estabelecendo
impactos no ecossistema manguezal, através do aterramento de áreas.
As trilhas ecológicas dão acesso aos ambientes internos possibilitando maior contato com a
biodiversidade. Algumas trilhas eram caminhos utilizados, historicamente, pela população que

15
Paula Priscila de Souza Pinheiro.
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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

habitava aquela região, na época em que a referida área era denominada de Mata do Moura ou
Salinas. As ações governamentais no parque produziram estruturas simples de acesso, facilitando a
circulação de pessoas nestas passagens. No início do ano de 2006, duas novas trilhas foram abertas
pelo poder público. Essas trilhas e a circulação constante de pessoas produz impactos consideráveis
nos sistemas ambientais locais.
O parque estimula a especulação imobiliária nos terrenos urbanos próximos a ele,
justificando a supervalorização imobiliária desse setor de Fortaleza. Essa unidade de conservação
valoriza sobremaneira o espaço circunvizinho em que está inserido, pois “as pessoas buscam por
áreas abertas (praças, parques, etc.), pois sentem a necessidade de estar em contato com o meio
ambiente” (MARCELLINO, 2006, p. 76).
A ação da especulação imobiliária no entorno do parque acentua-se, com dezenas de
edifícios em construção (Vide Fotos 1 e 2), devido à valorização dos solos urbanos próximos aos
espaços verdes. O conjunto de grandes edifícios erguidos e outros tantos sendo elevados formam
barreira que impede a visualização pelos transeuntes de expressiva parte do parque, causando o
estranhamento dos moradores com a unidade. Este processo é local, mas, está em curso e é herdeiro
da escala global.

Figuras 1 e 2: Especulação imobiliária no entorno do Parque Ecológico do Cocó.


Fonte: SOUZA, Eudes Leopoldo; 2009.

O parque estadual do Cocó, conforme Santos e Souza (2006), apresenta alta vulnerabilidade
ambiental, já que maior parte da área preservada se encontra na planície fluvio-marinha. Os
referidos autores afirmam que esta categoria de vulnerabilidade é “fortemente influenciado pela
ocupação indiscriminada e obras de engenharia que afetam o sistema, como a ponte sobre a foz do
rio Cocó e as Avs. Murilo Borges e Sebastião de Abreu que servem como um dique que impede a
passagem da cunha salina e acarretam a mortandade do mangue” (op. cit., p. 92).
O transe duradouro da cidade exacerba a mobilidade cada vez mais crescente de pessoas,
capitais, mercadorias, imagens, idéias que realizam ou complementam a produção do valor. Os
impactos socioambientais, a ampliação da circulação e o adensamento da verticalização e
urbanização no entorno do parque, ratificado na investigação realizada, corrobora para o
alargamento dos problemas ambientais na unidade, fato que não tem sido significativamente
abordado nos planejamentos ambientais, inclusive no Plano Diretor Municipal, principal indicador
de orientação pública na produção do espaço urbano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Constata-se no parque estadual do Cocó, uma tentativa de se consolidar a criação de uma


unidade de conservação de proteção integral dentro da zona urbana de Fortaleza, porém com a
associação direta de uma série de conflitos urbanos, sociais e ambientais. O fato da unidade em
questão se tratar de uma área urbana consolidada faz com que a implementação jurídica do parque

388
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

do Cocó se torne cada vez mais complexa, em função de haver divergências entre a realidade local e
as exigências do SNUC.
Verificou-se que dentre os impactos socioambientais levantados, destacam-se a degradação
e aterramento dos manguezais, a diminuição de produtividade biológica, a poluição dos recursos
hídricos e pedológicos, a degradação de matas ciliares, e a urbanização desordenada.
Conclui-se que a especulação imobiliária e as atividades de lazer e turismo se expandem no
entorno e no interior do parque do Cocó, que somado a outros componentes impactantes,
constituem-se agentes negativos no que tange à perspectivas ambientais para a área em questão.
É fundamental destacar que a garantia de preservação ambiental em áreas urbanas
consolidadas no Brasil tem se destacado como uma tarefa muito difícil, tendo em vista uma
completa desorganização estrutural no que diz respeito às políticas públicas sociais e urbanas. A
tentativa de se garantir o desenvolvimento sustentável numa cidade como Fortaleza, não se aplica
apenas à elaboração de Planos Diretores, ou à criação de unidades de conservação. Essa
sustentabilidade somente será garantida quando as políticas públicas adotarem estratégias
responsáveis de melhorias socioeconômicas, sobretudo no que diz respeito à diminuição da
disparidade social da nossa sociedade.

REFERÊNCIAS

BARBIERI, José Carlos. Desenvolvimento e Meio Ambiente: as estratégias de mudanças da


agenda 21. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
CORIOLANO, Luzia Neide M. T. Do local ao global: o turismo litorâneo cearense. 2. ed.
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Fortaleza: conflitos, contradições e desigualdades. In: PINHEIRO, Daniel Rodrigues de Carvalho
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MARCELLINO, Nelson Carvalho. O lazer e os espaços na cidade. In: ISAYAMA, Hélder;
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SUERTEGARAY, Dirce M. Antunes. Notas sobre Epistemologia da Geografia. Cadernos
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VILLAÇA, Flávio. Efeitos do espaço sobre o social na metrópole brasileira. In: Souza, Maria
Adélia Aparecida de; LINS, Sonia Correia; SANTOS, Murilo da Costa (orgs.). Metrópole e
Globalização: conhecendo a cidade de São Paulo. São Paulo: Editora CEDESP, 1999. p. 221-236.
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Institute, 2001.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS SUSCEPTÍVEIS À DESERTIFICAÇÃO EM BACIA


INTERMITENTE SAZONAL NO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO

Flávio Rodrigues do Nascimento


Prof. Dr. do Deptº de Geografia e do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade
Federal Fluminense/RJ (UFF).
E-mail: flaviogeo@bol.com.br

RESUMO
O presente trabalho tem como escopo avaliar as bases geoambientais, identificar e mapear as áreas
degradadas susceptíveis à desertificação na Bacia Hidrográfica do Acaraú, na Região Nordeste do
Brasil. A análise geoambiental integrada foi o norte metodológico perseguido. Uso-se, como
procedimento técnico o processamento digital de imagens de satélite (TM e ETM+ LANDSAT 5 e 7,
cenas 217/63, 218/62 218/63. 1:250.000). A Bacia Hidrográfica foi destacada como unidade de
planejamento e gestão geoambiental. As áreas mais susceptíveis a desertificação estão
compreendidas nas unidades geoambientais da região de montante, médio-alto cursos, em sertões
semi-áridos. À jusante, no médio-baixo cursos, embora predominem as formas agradacionais,
notou-se que também há áreas sofrendo com mudanças ambientais, que podem comprometer a
capacidade-suporte dos ecossistemas. Dados empíricos mostram que os impactos das atividades
humanas sobre o ambiente físico se dão pela urbanização, desmatamento, irrigação, mudanças no
uso da terra e mineração. Para combater a desertificação é necessário articular o conhecimento
científico, políticas públicas com a ação das comunidades organizadas nesta bacia.
Palavras-chave: Desertificação, semi-árido, bacia intermitente sazonal

INTRODUÇÃO
Na perspectiva de amortizar a crescente degradação do meio físico, nas últimas três décadas
foram iniciadas discussões sobre a temática ambiental encerrando diagnósticos e estudos ambientais
voltados a sua sustentação natural e social. Destaque a Conferência das Nações Unidas para o Meio
Ambiente, em Estocolmo 1972, e a Conferência das Nações Unidades Sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (Rio-92), no trato do desenvolvimento e meio ambiente.
Autoridades científicas e governamentais, bem como a mídia técnica e informacional, por
meio destes eventos vêm discutindo e divulgando resultados de pesquisas sobre a degradação
ambiental, sobretudo em ecozonas secas, no prisma da desertificação, enquanto um problema
mundial de primeira magnitude (Rubio, 1992).
Agenda 21, em seu Capítulo 12.2 malgrado define a desertificação como sendo “Degradação
da terra nas regiões áridas, semi-áridas e subúmidas, resultantes de vários fatores, entre eles as
variações climáticas e as atividades humanas”. No Brasil deste os primeiros estudos sobre este tema
em 1976 por Vasconcelos Sobrinho até a Elaboração Programa Nacional de Combate à
Desertificação e Mitigação dos Efeitos da seca – PAN-Brasil em 2004, a Região Nordeste, principal
no semi-árido, sempre foi destacada como focal para intervenções políticas e econômicas no
tratamento da desertificação vinculada à seca. Assim, tem-se o desenvolvimento de uma
macropolítica de trato da desertificação, com o escopo de atuar no combate a esta problemática nas
Áreas Semi-áridas e Subúmidas Secas, Áreas de Entorno das Áreas Semi-áridas e Subúmidas Secas
que ocorrem em algumas áreas do norte mineiro e capixaba, no Maranhão e principalmente no NE
seco: as denominadas Áreas Susceptíveis a Desertificação (ASD’s).
Neste contexto, o Estado do Ceará detém cerca de 92,1% de seu território em áreas de clima
semi-árido, isto é, 136 mil km² dos 148 mil km². Muito embora o fator Índice de Aridez - parâmetro
mundial usado no estabelecimento de classes climáticas - busque enquadrar as áreas susceptíveis à
desertificação, a maior parte da degradação ambiental ocorre mais por fatores humanos do que pela
vulnerabilidade ambiental. Isto pode ser observado através de fatores empíricos, técnicos e teóricos
na unidade de Planejamento e gestão ambiental que é a Bacia Hidrográfica do Acaraú (B.H.A),
objeto do presente estudo, localizada no norte cearense (Figura 01), em aproximadamente 15 mil

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

km², que desenvolve-se no sentido Sul-Norte, em aproximadamente 315 Km de extensão, quando


vai ter com seu nível de base, ou seja, o oceano Atlântico.

Figura 01: localização da área de estudo

METODOLOGIA
A linha teórico-metodológica seguida está fundamentada na visão holística, privilegiando a
abordagem sintética e multicomposta, conforme a Teoria Geossistêmica de Bertrand (1968),
compreendida a luz da análise Geoambiental Integrada (SOUZA e OLIVEIRA, 2003), respaldada
nos estudos sociais e da natureza. Os componentes geoambientais correspondem aos fatores
ambientais, físico-bióticos - suporte físico (condições geológicas e geomorfológicas), ao envoltório
(condições hidroclimáticas) e à cobertura (solos e recobrimento vegetal) -, e humanos que
promovem a dinâmica da paisagem. Com efeito, os domínios e as regiões naturais que compõem a
B.H.A foram concebidas como sistemas ambientais, compostas por várias subunidades de
paisagem, ou seja, geossistemas e geofácies. Foram identificadas por meio de trabalhos de sensores
remotos e tiveram a capacidade de suporte dos recursos naturais assinaladas no conjunto de
elementos ambientais, em termos de relação-integração, com mútua interação com as formas de uso
e ocupação da terra, de maneira sistêmico-holística.
Em especial, as principais características naturais dominantes, sobretudo no que se refere ao
estado de conservação da vegetação e o Índice de Aridez foram os fatores primordiais na
identificação e discriminação de classes de degradação ambiental que estão relacionadas à
desertificação. Análises semi-supervisionadas de imagens de satélite e trabalhos de campo
permitiram a visualização e estudo dos principais problemas ambientais. Como resultado final,
obteve-se o Mapa do Estado de Conservação da Vegetação e Degradação/Desertificação. Cabe
destacar que a razão entre a Precipitação e a Evapotranspiração Potencial (P/ETP) condiz com
Índice de Aridez, enquadrando as áreas susceptíveis à desertificação, conforme as seguintes classes
climáticas: Hiper-árido: < 0,03; Árido: 0,03 – 0,2; Semi-árido: 0,21 – 0,50; subúmido seco: 0,51 –
0,65; Subúmido úmido: > 0,65, ou seja, apresenta ausência de aridez (NASCIMENTO, 2006).
Porquanto, técnicas de sensoriamento remoto, com o processamento digital de imagens de
satélite (cenas 217/63, 218/62, 218/63 dos satélites TM LANDSAT-5 e ETM+ LANDSAT-7)
possibilitaram a análise de uma cena em diversas regiões do espectro eletromagnético, ao passo que
integra vários dados georreferenciados. Essas imagens foram tratadas no software ENVI v.3.6 e pelo
módulo de sensoriamento remoto do SPRING v.3.6. Seu georreferenciamento ocorreu com a

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

utilização de pontos de controle retirados nas cartas de 1:100.000 (DGS), como também adquiridas
e retificadas ou ratificadas por GPS.
Portanto, após a identificação, qualificação e cartografação das áreas susceptíveis e/ou em
processo de degradação/desertificação, produziu-se o mapa supracitado, tendo como pressuposto
básico a concepção holística do meio ambiente, conforme as condições de potencialidades e de
limitações de uso e ocupação das unidades de paisagem, destacando os ecossistemas frágeis mais
vulneráveis.

BACIA HIDROGRÁFICA DO ACARAÚ: SINOPSE DOS ATRIBUTOS GEOAMBIENTAIS

Na B.H.A, historicamente, a exemplo do que ocorreu em grande parte do Nordeste


setentrional, foram deflagradas fortes pressões sobre os recursos naturais a partir de uma relação
sociedade x natureza conflituosa, ao lume de políticas piegas. Em certos casos, são visíveis as
marcas deste problema no conjunto dos fatores bióticos e abióticos que compõem unidades
ambientais. Sendo que tais problemas são agravados por conta de seu quadro geoambiental
vulnerável, onde principalmente os recursos de água, solo e geobotânico são consumidos e
exauridos vorazmente, sob a atual conjuntura política e econômica. Desta feita, a susceptibilidade as
contingências climáticas e a vulnerabilidade as secas são magnificadas.
Todavia, o processo de degradação ambiental no Ceará ocorre mais pelas intervenções
socioeconômicas e culturais do que pelos fatores ambientais e sua dinâmica natural. A não
observância de políticas regradas na gestão territorial, e em especial de formas conservacionistas no
uso e ocupação da terra, tendem a produzir sérios problemas de deterioração ambiental, que ponham
em risco a capacidade produtiva dos solos e a qualidade ambiental.
A ecofiográfica da B.H.A, entretanto, está em função de arranjos entre o potencial
ecológico, exploração biológica e as formas de uso/ocupação da terra. Neste aspecto, é possível
afirmar que as condições geomorfológicas e climáticas assumem destaque em relação à fisiologia
da paisagem. Sob irregularidades pluviométrica, com escassez, retardos ou ausência (secas),
principalmente nas áreas dos sertões, em condições subequatoriais no trópico semi-árido, o clima
regional representa fator de destaque no quadro geoambiental. Os processos morfogenéticos,
portanto, são majoritariamente físicos; a drenagem superficial é composta por rios intermitentes e o
potencial hidrogeológico só chega a ser representativo nas áreas de deposição litorâneas e pré-
litorâneas; e, os afloramentos rochosos e solos imaturos são comuns.
Para a biodiversidade, o fator que melhor lhe retrata é a resposta geobotânica das caatingas,
florística e fisionomicamente adaptadas as contingências climato-hidrológicas. No entanto, o porte
dos indivíduos vegetacionais eleva-se em razão de efeitos orográficos (serras úmidas e subúmidas),
melhoria das condições de potencialidades edafológicas (Argissolos Eutróficos e Luvissolos) e
proximidade das planícies fluviais dos rios Acaraú e principais tributários, onde pode ser destacada
a mata ciliar florestal, inclusive de carnaúba (Copernicia cerifera), espécie endêmica do Nordeste
Brasileiro.
As áreas litorâneas e pré-litorâneas exibem feições de acumulação, respectivamente, com
sedimentos arenoquartzosos nas praias, dunas, planície flúvio-marinha e areno-argilosos da
Formação Barreiras nos tabuleiros costeiros, todos Cenozóicos. Os Neossolos Quartzarênicos
ocorrem na planície litorânea, sendo que Gleissolos Sálicos distribuem-se nos manguezais e
Argissolos Acinzentados nos Tabuleiros costeiros. Estes aspectos mostram nas áreas terminais da
bacia que homogeneidade paisagística não é regra.
As formas de ocupação da terra ocorrem com o turismo, carcinicultura, maricultura e
extratismo vegetal na costa da bacia, enquanto a agricultura de subsistência e o agro-extrativismo
são usuais nos tabuleiros.
As serras e cristas residuais como a Meruoca, Machado e das Matas, exibem
compartimentos do relevo, enquanto elementos diferenciadores do clima regional, ao tempo que as
chuvas são das mais abundantes da bacia, e os solos são de boa fertilidade natural (Argissolos
Eutróficos) sob substrato do complexo Cristalino Pré-cambriano deformados por tectonismo

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

oriundos dos processos de erosão seletiva. Nestas feições do relevo o revestimento vegetal é mais
frondoso, com indivíduos perenifólios, com enclaves originais de Mata Atlântica. Entretanto, o uso
e ocupação do solo são intensivos nas serras úmidas com sítios e chácaras, queimadas – a exemplo
do que ocorre em toda bacia -, e a agricultura itinerante intensificam os efeitos erosivos. E como
testemunho da geomorfogênese pliocênica, os knicks de inselbergs e os pequenos maciços
sertanejos elevam-se como pontos rochosos em meio aos sertões aplainados.
As áreas de drenagem, ainda, entrecortam o “Front” Central da Cuesta da Ibiapaba. Trata-se
de um planalto sedimentar Silúrio/Denoviano, com arenitos grosseiros, conglomeráticos, siltitos e
folhelhos em estratificação cruzada. Neste planalto ocorrem os solos mais antigos da bacia, os
Latossolos, além de Argissolos que são revestidos por Mata Úmida. É uma área muito procurada
para fruticultura e lavouras de subsistência.
Completando o quadro de diversidade geoambiental, as depressões periféricas da Ibiapaba e
do Centro-Norte do Ceará comprovam a diversificação de espaços ecológicos. Apresentam geologia
do Complexo cristalino Pré-Cambriano com predominância de rochas do Complexo Nordestino,
sobretudo com gnaisses e migmatitos. Formam superfícies pediplanadas, eventualmente dissecadas
e feições de topos convexos e tabulares, intercalados por vales com fundos planos capeados por
sedimentos aluviais das planícies fluviais. O material de alteração e as condições bioclimáticas,
originaram Luvissolos – a classe que detém a primazia em todo o vale-, Planossolos, Neossolos
Litólicos e Regolíticos, afloramentos de rochas, além de Neossolos Flúvicos.
Os sertões semi-áridos são revestidos originalmente por espécies das caatingas arbustivas ou
abertas e arbóreas, e foram historicamente ocupados pela pecuária extensiva, agricultura de
subsistência com milho, feijão e mandioca, e o agro-extrativismo. As políticas equivocadas de
combate às secas, em detrimento a convivência com esse fenômeno, a pobreza e falta de incentivo
técnico ao produtor rural concorrem para um sistema de incorporação de terras, queimadas intensas
e a utilização de técnicas rudimentares. Isto provoca ablação dos solos, definhamento de mananciais
e intensificação de processos erosivos, com o conseqüente assoreamento dos talvegues.
São nos sertões que as marcas das intervenções deliberadas das atividades socioeconômicas
são mais evidentes enquanto processos de degradação/desertificação. Nos sertões de Santa Quitéria
e do rio Groaíras o tratamento das imagens de satélite associadas às checagens da verdade terrestre
confirmam que estes setores estão entre os mais degradados/desertificados em toda bacia, logo
seguidos das serras subúmidas secas.

DEGRADAÇÃO AMBIENTAL E DESERTIFICAÇÃO

A degradação que pode culminar com a desertificação deriva das atividades humanas
inadequadas sobre os mosaicos paisagísticos já fragilizados. Dessa forma, as condições econômicas
e sociais podem potencializar a desertificação. A degradação ambiental inconseqüente estiola os
geoambientes causando a destruição de significativa parcela dos recursos naturais e pauperização
dos setores econômicos baseados nas atividades agrárias. Dessa forma, a perda da capacidade
produtiva dos sistemas econômicos, reflete-se em perda da identidade cultural, processo de
migração populacional, empobrecimento social.
Com o empobrecimento dos múltiplos níveis dos componentes da biosfera, associados à semi-
áridez, ocorrem sinais claros de esgotamento dos recursos naturais em diversos sistemas ambientais
que compõem as bacias, sobretudo nos sertões, com evidências de desertificação.
Com efeito, a B.H.A concentra suas áreas de drenagens em ASD’s, conforme o PAN-Brasil.
Agravante a esse fato é que outros estudos consideram haver nessa unidade de gestão e
planejamento ocorrência de desertificação em níveis grave a muito grave em relação ao contexto
brasileiro (MMA, 2002), devido às atividades socioeconômicas desregradas (NASCIMENTO
2006), onde sobressai o desmatamento indiscriminado. Ou mesmo considerando o Índice de Aridez,
com porções nas classes medianamente críticas (0,41-0,45) e menos críticas (0,46-0,50) (LEITE et
al., 1993).

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Sobre estes aspectos, ocorre um eixo aproximado de Nordeste-Sudoeste denominado por


Conti (2002) de Diagonal Árida do Ceará. Estende-se desde Itapaje, a sotavento do Maciço de
Uruburetama, no norte, até Campos Sales, no sopé da Chapada do Araripe, no sul desse Estado.
Entretanto, como principal resultado do estudo executado, observou-se que quanto às classes de
estado de conservação da vegetação, a bacia concentram diferentes níveis, pelo menos foram
classificadas 5 unidades de classes, a saber: Conservada, Parcialmente Degradada, Degradada,
Fortemente Degradada e Solo exposto. É lamentável observar que todos os complexos vegetais
apresentam avançados estágios de degradação ambiental que levam aos problemas de
desertificação.
Desta maneira, para efeitos de compartimentação ambiental que apresente a degradação das
paisagens, associando-se o estado de conservação vegetacional aos sistemas ambientais, solos e ao
Índice de Aridez, considerando o próximo mapa, tem-se que:
 As planícies fluviais com Matas ciliares x neossolos flúvicos, variam das classes conservada
a solos expostos.
 Os Sertões da depressão periférica da Ibiapaba e do Acaraú com Caatingas das depressões
sertanejas x luvissolos, argissolos, planossolos, neossolos litólicos estão degradados apresentando
solos expostos.
 Os Maciços residuais das serras do Machado, das Matas, do Pajé, das Cobras e outras com
neossolos litólicos, argissolos, luvissolos, capeados por todas as variações fisionômicas e florísticas
das Caatingas das depressões sertanejas, apresentam-se com degradação intensa variando de
parcialmente degradada à exibição de solo exposto. E nas serras úmidas e subúmidas, em topografia
mais acentuada, a degradação da vegetação de enclaves úmidos varia de parcialmente degradada à
exibição de solo exposto. Por isto apresenta a maior variação de classes de degradação.
Para um esboço das considerações retromencionadas, a Figura 02 apresenta as áreas
degradadas/desertificadas em relação ao estado de conservação da vegetação.

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ÚLTIMAS OBSERVAÇÕES

No contexto da desertificação, os ecossistemas de terras secas têm estratégias de adaptação às


severidades climáticas. No caso das caatingas, são comportamentos naturais miméticos, como
mecanismo de defesa (recursos de sua capacidade-suporte) em virtude do balanço hídrico negativo
para ajustes ecológicos que ocorrem sob aspectos morfológicos, anatômicos e fisiológicos (Quadro
01). A caducifólia, por exemplo, diminui a evapotranspiração e impede a realização de processos
fotossintéticos, mantendo um equilíbrio latente, vital aos vegetais. E as altas temperaturas
predominantes podem limitar o desenvolvimento da vegetação. Adaptadas às condições
fotoperiódicas, a transpiração vegetal compensa o aquecimento dos tecidos mediante de perdas pela
evaporação.

Quadro 01 - Principais aspectos de ajustes ecológicos das caatingas


Aspectos Morfológicos Aspectos Anatômicos Aspectos fisiológicos
-Afilia, total expressão - Cascas finas e lisas; - Mecanismo para reduzir a perda de
xeromórfi-ca sem qualquer -Lignificação precoce e intensa; água (dobramento ou disposição das
vitalidade aparente; - Estrutura radicial destinada à folhas para diminuir a transpiração);
-Órgãos hipógeos tuberizados ou acumulação de reservas nutritivas - Germinação rápida das sementes;
xilopódios; (amido, açúcares etc.); - Alta velocidade de brotação e de
- Folhas pequenas ou compostas; - Grande número de estômatos floração;
-Plantas espinescentes ou aculea- nas folhas, como mecanismo - Intensa atividade clorofiliana;
das; estrutural ao controle da - Funcionamento estomático, regulando
- Intumescência caulinar (barrigu- transpiração. a transpiração;
das); - Caducifolia na estação seca;
- Cladódios carnoso-suculentos - Geralmente apresenta revestimento de
(cactáceas) cera nas folhas.
Fonte: Nascimento, (2006)

As condições edáficas diferenciam os processos de resiliência. Por outro lado, o retorno às


condições originais, possivelmente, não será atingido em razão do: desaparecimento das espécies de
matas; predação seletiva e constante do homem; rarefação da fauna, que não regula mais a dispersão
e reprodução das espécies vegetais. Essa degradação, em parte, é impulsionada pelo fato de a matriz
energética do Ceará, durante muitos anos, estar assentada nos recursos florestais (lenha e carvão
vegetal). Nada obstante, as rupturas do equilíbrio ambiental nos diferentes geossistemas, que
contingenciam a capacidade de suporte geoambiental, está pautada na degradação dos solos, das
águas e da vegetação.
A degradação dos solos, em grande parcela, é seguida ou antecedida pelo desmatamento
indistinto através do modus operandi impróprios dos pequenos produtores e assentados rurais, à
falta de incentivo à produção agrícola. É justo revelar que muitas vezes são responsabilizados por
toda ordem de degradações ao ambiente, em detrimento do agronegócio exportador, que também
não é menos degradante e não tem nada de “inocência”. Nesta asserção, ao assinalar que as
comunidades que vivem em frágeis estruturas socioeconômicas, embora bem adaptadas ao próprio
meio, são afetadas pelo contato com tecnologias avançadas.
Meios e técnicas de proteção ambiental adequados, que busquem, principalmente, controlar a
pressão dos rebanhos, facilitariam a reabilitação dos vegetais próximos ao clímax. Ademais, a
instituição e a manutenção de unidades de conservação seguirão esses princípios.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

REFERÊNCIAS

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BERTRAND, Georges. Paysage et Géographie Physique Global. Esquisse Méthodologique.
Revue Géographique dês Pyrenées et du Sud Ouest. Toulouse, France. 39(3). 1968. p. 249-
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BRANDÃO, Ricardo de L. Zoneamento geoambiental da região de Irauçuba – CE. Texto
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LEITE, Francisco R.; Soares, Ana M. L. & Martins, Maria Lúcia R. Áreas Degradadas
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contexto da Bacia Hidrográfica do rio Acaraú – CE. (Tese de doutorado). UFF: Niterói,
2006. 325p.
RUBIO, Jose L. Desertification: Definiciones. Marco Conceptual. In: Seminário
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CIDE/Universidad Internacional Menendez Pelayo (UIMP), C.S.I.C – Valencia. 1995b. 46p.
SOUZA, Marcos J. N. & Oliveira, Vládia P.V. Physical and Environmental Context In: the
State of Ceará. In: Krol, Thomas G. e Araújo, H. Frischkorn (editors). Global Change and
Regional Impact: water availability and vulnerability of Ecosystems and Society In: the
Semiarid Northeast of Brazil. Berlin; Heidelberg; New York; Hong Kong; London: Milan:
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VASCONCELOS, Sobrino. J. Processo de Desertificação no nordeste brasileiro. Brasília: 1976.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

GEOPROCESSAMENTO APLIACADO NA CARACTERIZAÇÃO DO USO E


OCUPAÇÃO DO SOLO NA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO BOA HORA,
URBANO SANTOS-MA

Franceleide Soares Conceição


Universidade Federal do Maranhão
leda.soares@yahoo.com.br
Tatiana Cristina Santos de Castro
Universidade Federal do Maranhão
Suzana Araújo Torres
Universidade Federal do Maranhão
Fabíola Geovanna Piga
Universidade Federal do Maranhão
Irlan Castro Reis
Centro Universitário Leonardo Da Vinci

RESUMO

O rápido e intenso processo de interferência do homem nos ecossistemas tem agravado inúmeros
problemas ambientais que conseqüentemente vem repercutindo de forma direta no equilíbrio de
paisagens e na vida de populações. Através de técnicas de geoprocessamento foi feita a
caracterização do uso e ocupação do solo na sub-bacia hidrográfica do rio Boa Hora no município
de Urbano Santos –MA, sendo identificadas dez classes, sendo que a mais representativa foi a de
campos cerrados com 43,9% do territorio da sub-bacia, onde o mesmo vem sofrendo um processo
acelerado de degradação ambiental através de implantações de culturas exóticas como o eucalipto e
exploração da mata nativa. A implantação e projetos de educação ambiental para a região da sub-
bacia do rio Boa Hora viabilizaria quantitativamente o avanço da degradação ambiental.

Palavras-chave: Geoprocessamento, rio Boa Hora, Urbano Santos.

INTRODUÇÃO
O geoprocessamento é uma ferramenta utilizada em estudos dos aspectos físicos e
ambientais de bacias hidrográficas, pois através de informações cartográficas e de imagens de
satélite pode-se obter informações referentes ao diagnóstico do meio físico de uma bacia, assim
como é possível analisar riscos ambientais e fazer planejamentos para uso apropriado dessas áreas
(INSAURRIAGA & KOESTER, 2008).
A bacia hidrográfica constitui-se a unidade de planejamento e gerenciamento dos recursos
naturais, principalmente os recursos hídricos, pois atividades desenvolvidas no seu interior têm
influência sobre a quantidade e qualidade da água. Assim, para Tonello (2005), o disciplinamento
do uso e ocupação dos solos da bacia hidrográfica é o meio mais eficiente de controle dos recursos
hídricos que a integram.
O uso da bacia hidrográfica como unidade de planejamento no gerenciamento dos recursos
hídricos originou-se justamente da percepção de que os rios são sistemas abertos, trocam energia e
matéria entre si e com ecossistemas terrestres adjacentes, sofrendo alterações de diferentes tipos em
virtude dos usos do solo (SPÍNDOLA et al., 2000).
A sub-bacia do rio Boa Hora está passando por um processo acelerado de uso e ocupação do
solo que precisa ser monitorado, disciplinado e reordenado. No entanto, o que se observa é o
agravamento do quadro da degradação ambiental devido o acelerado processo de atividades de
agricultura com técnicas rudimentares, extrativistas, como a produção de madeira, carvão vegetal e
eucalipto. Este trabalho tem por objetivo caracterizar o processo atual de uso e ocupação do solo na
região da sub-bacia do rio Boa Hora, através da aplicação de técnicas de geoprocessamento a fim de

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

caracterizar o espaço físico e propor subsídios para o gerenciamento e ordenamento dos recursos
naturais disponíveis.

MATERIAL E MÉTODO
A sub-bacia do rio Boa Hora, localiza-se na região do Munin, a nordeste do Estado do
Maranhão, entre os municípios de Urbano Santos, Anapurus e Santa Quitéria do Maranhão, está
inserida entre as coordenadas geográficas: 03°12’47”S a 03°29’17”S e 43°24’34”W a 43°07’04”W
(Figura 1).
A região apresenta clima sub-úmido, com moderada deficiência de água no inverno entre os
meses de junho e setembro. As temperaturas são em geral elevadas durante todo o ano, com média
anual entre 26º a 27ºC, com pequenas variações térmicas sazonais (MARANHÃO, 2002).

Figura 1. Mapa de localização da área de estudo, Sub-bacia do rio Boa Hora, Urbano Santos-MA.

A caracterização do uso e ocupação do solo foi realizada através da vetorização de imagem


do satélite CBERS-2, CCD1XS, bandas 234, órbita-ponto 155-104 de10/08/2006, com o auxílio do
software SPRING (versão 4.3). Esse processo constitui-se na interpretação visual da imagem que
anteriormente passou pelo processo de georreferenciamento em ambiente de sistema de
informações geográficas (SIG). Em seguida foi realizada a delimitação da área de estudo, com o
auxílio da carta planialtimétrica da Diretoria de Serviço Geográfico - DSG (folha 612, escala
1:100.000, do ano de 1978).
As classes temáticas adotadas neste trabalho foram: áreas urbanizadas, agricultura
tradicional de médio porte, mosaico de pastagens, floresta abertas, vegetação degradada e densa
cobertura de babaçuais, campos cerrados com pastagens, mata ciliar, vegetação esparsa ou nula e
corpos d’água.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As classes temáticas utilizadas no processo caracterização do uso e ocupação do solo na sub-


bacia rio da Boa Hora foram:
A área urbanizada, que compreende aproximadamente 0, 678 km2, e trata-se de áreas
constituídas pelo perímetro urbano, onde se observa o adensamento da população, o que representa
0,12% do território da sub-bacia hidrográfica.
A agricultura tradicional de médio porte, que ocorre em pequenas porções da sub-bacia,
representada principalmente pelas culturas de milho, arroz, feijão e mandioca, cobrindo 0,08% do
território o que representa 0,486 km2, sendo importante destacar que o uso desse tipo de agricultura
fragiliza o ecossistema.
A área da sub-bacia com floresta aberta degrada, que apresenta 168 km2, o que representa
30,07% do território. Essas áreas são utilizadas para diferentes usos e associadas com pastagens,
florestas abertas em exploração ou já exploradas.
Os campos cerrados, que são constituídos por formações essencialmente campestre além da
presença de árvores esparsas, abrangendo a maior porção da sub-bacia com aproximadamente 245,7
km², correspondente a 43,9% da região. Essa classe é bem representativa e atualmente vem
sofrendo acelerado processo de degradação, devido implantações de unidades de carbonização para
produção de carvão vegetal e introdução de vegetação exótica como eucalipto (Eucalypitus sp)
A mata ciliar, que ocupa uma área de sub-bacia, representa 2 km², o que corresponde a
0,37%. Nessa região há ocorrência exaustiva de agricultura de subsistência, o que caracteriza o
enfraquecimento da sub-bacia. Segundo Pinheiro (2005), a região em questão é de transição
ecológica e possui certa fragilidade.
As florestas de babaçu, que possuem maior concentração ao norte da sub-bacia,
representando 11% da mesma e abrangendo cerca de 64,97 km². O babaçu (Orbignya phalerata,
Mart.) é uma planta da família das palmáceas Arecaceae, dotada de frutos drupáceos com sementes
oleaginosas e comestíveis das quais se extrai um óleo, empregado sobretudo na alimentação, além
de ser alvo de pesquisas avançadas para a fabricação de biocombustíveis. Do broto, se extrai
palmito de boa qualidade, o fruto, enquanto verde, serve para defumar a borracha.
As áreas com solo exposto, situadas a leste da sub-bacia, representam 5,686 km², que está
correspondendo a 1,0% do território. Essa vegetação esparsa ou nula geralmente áreas degradadas
pelo uso da agricultura de subsistência com técnicas rudimentares.
A área da sub-bacia, onde se localiza os talvegues representa aproximadamente 4,827km²,
cobrindo 0,86% do território, na região o período de estiagem é bem rigoroso, provocando
deficiência hídrica, principalmente nos meses de junho e novembro, descaracterizando alguns
ecossistemas locais.
A área coberta com vegetação exótica caracteriza-se por trechos da região onde existem
extensas plantações de eucalipto (Eucalypitus sp). Essa região representa 7,9 km², correspondente a
1,44% do território.
Vegetação esparsa ou nula, que possui 58,408 km² com maior concentração ao leste da sub-
bacia representa 10,4%, caracterizadas como áreas degradadas pelo uso indiscriminado do solo.

400
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 2: Mapa de uso e ocupação do solo na sub-bacia do rio Boa Hora.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caracterizar o padrão de uso e ocupação do solo em uma bacia hidrográfica oferece o


entendimento sobre as condições atuais dos elementos naturais, o processo de intervenção antrópica
e fornece propostas adequadas de diferentes tipos de uso possíveis para cada circunstância.
Na bacia do rio Boa Hora o padrão de uso e ocupação do solo apresenta-se desordenado, os
recursos naturais apresentam diferentes usos, especialmente os recursos hídricos. A atividade
extrativista, produção de carvão e uso de técnicas tradicionais para agricultura de subsistência são
bastante comuns na região e a área apresenta regiões degradadas, com florestas abertas e introdução
de espécies exóticas, como o eucalipto (Eucalypitus SP).

401
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

REFERÊNCIAS

ESPÍNDOLA, E. L. G.; SILVA, J. S. V.;MARINELLI, C. E.; ABDON,.M.M. A Bacia


Hidrográfica do Rio Monjolinho: uma Abordagem Ecossistêmica e a Visão interdisciplinar
São Carlos:Editora Rima.2000.188p.

INSAURRIAGA, M. E.; KOSTER, E. Geoprocessamento aplicado ao estudo da Bacia


Hidrográfica do Arroio Pelotas-RS. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rio Grande do
Sul, 2008.

SARMENTO, E.C.; WEBER, E.; HASENACK,H. Avaliação da situação da cobertura florestal


na bacia do Rio Cadeia/Feitoria e identificação de áreas críticas usando técnicas de
geoprocessamento. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Centro de Ecologia, maio 2001.
Disponível em:< file:///G|/mod_usuario/uso- 02/1139/1139.htm >. Acesso em: 01 agosto. 2009.

TONELLO, K. C. Análise hidroambiental da bacia hidrográfica da Cachoeira das Pombas,


Guanhães, MG. 2005. 69 p. Dissertação (Mestrado em Ciência Florestal) – Universidade Federal de
Viçosa, Viçosa.

PINHEIRO, K.S.F. Caracterização espaço temporal da precpitação efetiva e do índice de


aridez na bacia hidrográfica do rio Boa Hora, Urbano Santos-MA. Anais XII Simpósio
Brasileiro de Geografia Física e Aplicada.Goiania:2005.

MARANHÃO – Gerência de Planejamento e Desenvolvimento Econômico – GEPLAN,


Laboratório de Geoprocessamento. Atlas do Maranhão. 2002. São Luís. UEMA, 44p;

402
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

ANÁLISE DO SÍTIO URBANO E SUBSÍDIOS AO PLANEJAMENTO DE USO DO SOLO


DE PACOTI, CE.

Francisca Leiliane Sousa de Oliveira


Universidade Estadual do Ceará - UECE
leila.geografia@gmail.com
Ms. Frederico de Holanda Bastos
Universidade Estadual do Ceará - UECE
fredholanda@gmail.com
Ms. Maria Lúcia Brito da Cruz
Universidade Estadual do Ceará - UECE
mlbcruz@gmail.com

RESUMO
O presente artigo trata da análise do sítio urbano da sede do município de Pacoti, CE localizado no
Maciço de Baturité, e apresenta subsídios ao seu planejamento de uso do solo. A pesquisa
desenvolve-se com base na teoria geossistêmica considerando o relevo do município como fator
limitante a ocupação. Utilizando imagem de satélites, modelo digital do terreno e dados obtidos em
campo, observa-se que o sítio urbano se desenvolve no fundo de vale ao longo das principais vias
de acesso. Quanto à dinâmica do uso da terra verificou-se a ocupação em áreas de declividade
acentuada, desvio de riachos, erosão e assoreamento dos reservatórios naturais, poluição dos
recursos hídricos. Constatou-se também que esses impactos estão presentes em outras áreas em todo
o território municipal.

INTRODUÇÃO
A área objeto deste estudo está localizada no Maciço de Baturité, que devido às condições
naturais e por constituir uma paisagem de exceção no contexto semi-árido cearense tem uma
dinâmica do uso da terra peculiar associada às limitações da topografia.

O maciço de Baturité de acordo com SOUZA (1979) recebe a nomenclatura de Maciço Residual
Cristalino, em que nos vastos aplainamentos que caracterizam o sertão cearense , surgem, de
quando em quando, áreas de exceção que representam verdadeiras “ilhas” de umidade no contexto
geral semi-árido. Trata-se dos maciços antigos constituídos por rochas metamóficas ou intrusivas
revestidos primariamente por florestas perenifólicas ou subperenifólicas com morfogênese química
e evolução associada com os processos de dissecação do relevo.

Os atrativos naturais e a proximidade com a capital, fez com que o Maciço obtivesse, nas
últimas décadas, maior concentração demográfica se comparada com os espaços sertanejos que o
circundam. Esses fatos tem contribuído de forma significativa para os processos de degradação,
comprometimento da biodiversidade e descaracterização da paisagem serrana.

Os núcleos urbanos do Maciço de Baturité são classificados como pequenas cidades de modelo linear
ao longo das vias de acesso, concentradas no entorno da Igreja Matriz ou sua praça, local que originou a
cidade e onde se desenvolve o comércio. Esses pequenos núcleos urbanos, na sua maioria, possuem zonas
centrais razoavelmente caracterizadas.

O município de Pacoti, inserido no Maciço, e com formação semelhante as dos demais, tem
características peculiares já que sua ocupação não se faz de forma linear à via principal de acesso,
devido seu sem terreno acidentado.

Nesse contexto, é válido salientar que o sítio urbano se desenvolve no fundo de vale ao longo
das principais vias de acesso, expondo as limitações frente à intervenção humana e os vários impactos
403
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

ambientais apresentados na região: como a modificação da cobertura vegetal, alteração na


permeabilidade dos solos, erosão e assoreamento dos reservatórios naturais, a poluição dos recursos
hídricos dentre outros decorrentes de uma ocupação desordenada no território.

Diante do exposto, o estudo parcial do sítio urbano da sede do município de Pacoti, pode
contribuir para o direcionamento de ações que visam o desenvolvimento do perímetro urbano com
base em uma análise integrada dos fatores que compõem o cenário ambiental do município, tendo
em vista o seu caráter acolhedor, clima agradável.

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

O maciço de Baturité denominado zona de exceção quando analisadas as características geoambientais


predominantes no contexto geral de semi-aridez do Estado cearense apresenta distintas características
fisiográficas, com diferentes tipos de solo, vegetação, relevo, temperatura e pluviosidade, que quando
analisadas de maneira integrada determinam suas potencialidades e limitações.

Nesse contexto, o Maciço de Baturité, também chamado de Serra úmida de acordo com Bétard
et. al (2007), são montanhas isoladas de altitudes médias ou baixas (600-1200 m), tendo superfícies
aplainadas entre vertentes bastante inclinadas, constituindo barreiras aos alíseos carregados de
umidade que vêm do Atlântico, favorecendo a ocorrência de precipitações orográficas, responsáveis
por uma pluviometria elevada (1200-2000 mm/ano), formando ilhas de umidade caracterizadas pela
presença de floresta perenefólia, em meio a um ambiente dominado pela presença de caatinga,
como mostra figura 01.

Figura 1 – Repartição das serras úmidas (ou brejos de altitude) do Nordeste brasileiro, e localização
do sítio de estudo (maciço de Baturité, ao norte do Estado do Ceará) ; relações com os principais
fluxos atmosféricos de umidade (ZCIT : Zona de Convergência Intertropical ) .
Fonte: Bétard et. al. (2007)

404
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

...

MATERIAL E MÉTODO

A metodologia adotada no presente artigo foi baseada na concepção geossistêmica, proposta por
SOUZA (2000) avaliando o estado atual de conservação dos recursos naturais, o modelo de
exploração agrícola vigente e o processo de ocupação no sítio urbano do município de Pacoti.
O uso dos geossistemas/geofácies em uma determinada categoria do meio pode indicar
condições favoráveis ou limitantes para o uso dos recursos naturais. Sobre a dinâmica ambiental dos
sistemas considerou-se os seguintes ambientes ecodinâmicos descritos em SOUZA (2000):
• Ambientes estáveis: potencial erosivo reduzido devido estabilidade morfogenética. A
cobertura vegetal protege o solo por conta de seu estado conservado ou pouco
degradado.
• Ambientes de transição: marcado pela preponderância de processos morfogenéticos
ou pedogenéticos favorecendo outra condição ao ambiente sendo estável ou instável.
• Ambientes instáveis: evidencia de atividades de elevado poder erosivo
comprometendo a capacidade produtiva dos recursos naturais e por consequência
comprometimento do contingente vegetacional.
Cada um dos ambientes determinados está relacionado ao comportamento sustentável e à
vulnerabilidade das condições geoambientais em função dos impactos acionados por processos de
degradação expostos em SOUZA (2000).
Quanto às categorias qualitativas privilegiou-se o atual potencial dos recursos naturais em:
• Sustentabilidade muito baixa: capacidade produtiva mínima, áreas degradação
praticamente irreversíveis em função da devastação da vegetação.

• Sustentabilidade baixa: problemas sérios quanto a capacidade produtiva dos recursos


naturais, com baixa fertilidade natural, deficiência hídrica.

• Sustentabilidade moderada: capacidade produtiva razoável, aproveitamento


satisfatório dos recursos hídricos com possibilidade de uso dos potenciais
paisagísticos.
• Sustentabilidade alta: áreas com boa capacidade produtiva mas com limitações
mitigáveis com tecnologias simples, considerando os recursos hídricos e seu
escoamento superficial.
Ainda com base no atual potencial dos recursos naturais foram consideras as seguintes
categorias de vulnerabilidade:
• Vulnerabilidade Baixa: áreas que apresentam características contidas nos setores de
sustentabilidade alta.
• Vulnerabilidade Moderada: áreas que apresentam características contidas nos
ambientes com sustentabilidade moderada.
• Vulnerabilidade Alta: áreas cujas condições de sustentabilidade se enquadram nas
categorias de sustentabilidade baixa e muito baixa.
O conceito de sítio urbano utilizado é proposto por AB SABER (2007), onde o define como um
pequeno quadro do relevo que efetivamente aloja um organismo urbano.

O Geoprocessamento e o Sensoriamento Remoto foram ferramentas imprescindíveis para a


realização do presente estudo. De acordo com TEIXEIRA (2001), Geoprocessamento funciona
como um elemento que contextualiza um conjunto de dados, analógicos ou digitais, contanto que os
mesmos apresentem um endereço espacial, favorecendo sua localização e seu processamento, de
modo que possa ser avaliado em seu contexto geográfico. Já o Sensoriamento Remoto utiliza

405
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

diversas tecnologias com o objetivo de complementar a percepção humana para obter informações
sobre objetos sem contatos com eles.

Para determinar análise da ocupação no sítio urbano de Pacoti, foi utilizado imagem de
satélite Quickbird, um modelo digital do terreno de base triangular confeccionado a partir do Global
Mapper e dados obtidos em campo (fotografias, pontos GPS).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O sítio urbano da sede do município de Pacoti tem como fator limitante o relevo do
município, isso se confirma com a exposição e interpretação do modelo digital do terreno da
área urbana, (Figura 02), onde com o uso e a ocupação intensa em setores inadequados, como
área com declividade assentuada, barramentos de rios e riachos tem provocado erosões diversas.

Figura 02: Modelo Digital do Terreno - área urbana da sede do município de Pacoti.

Dessa maneira, constatou-se as situações de riscos à comunidade devido a ocupação em


áreas de declividade acentuada, desvio de riachos, erosão e assoreamento dos reservatórios
naturais, poluição dos recursos hídricos, em que expondo as limitações de uso que as
diferenciam, constatou-se pontualmente condições de desequilíbrio causados pelo uso indistinto
da terra.
Os efeitos ambientais do uso e ocupação da terra considerando a declividade natural da
região, coloca em discussão a questão ambiental do sítio urbano estudado, podendo auxiliar,
com as observações realizadas, sua gestão através de ações que visam o desenvolvimento
sustentável dos elementos que compõem o cenário ambiental da área, tendo em vista sua
importância cênica e econômica para todo o município.

406
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

REFERÊNCIAS

AB’SABER, A. N. Geomorfologia do sítio urbano de São Paulo. Cotia, SP:Ateliê editorial,2007.

BÉTARD, F. ; PEULVAST, J-P; SALES,V.C. Caracterização morfopedólogica de uma serra


úmida no semi-árido do nordeste brasileiro: o caso do Maciço de Baturité-CE.

FUNCEME. Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos. Mapeamento da


Cobertura Vegetal e do Uso/Ocupação do Solo da APA da Serra de Baturité. Fortaleza, 2006.

ROCHA, Cezar Henrique Barra. Geoprocessamento: Tecnologia Transdisciplinar. Juiz de Fora:


Ed. Do Autor, 2000. 220 p.

SOUZA, M. J. N; LIMA ,F. A. M.; PAIVA,J. B. Compartimentação topográfica do estado do


Ceará. Ciên. Agron., 9 (1-2): 77-86. Dezembro, 1979 - Fortaleza-Ceará.

SILVA, J. X. Geoprocessamento para Análise Ambiental. Rio de Janeiro: Ed. do Autor, 2001.
228 p.

407
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

CRITÉRIOS PARA A CRIAÇÃO E IMPLANTAÇÃO DE UNIDADES DE


CONSERVAÇÃO NO ESTADO DO CEARÁ

Helena Stela Sampaio


Professora de Direito Ambiental, mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA –
UFC, helenasampaio1974@yahoo.com.br
Edson Vicente da Silva
Professor de Geografia, pós-doutor em Educação – UFBA, cacau@ufc.br

RESUMO
Este estudo versa sobre uma conquista histórica em medidas de proteção à natureza e sua
biodiversidade, que culmina dentre outros caminhos no entendimento pela diversidade social em
proteção dos recursos naturais quando assim utilizados pela sociedade. Trata-se do Sistema
Nacional de Unidades de Conservação - SNUC e a instituição de critérios de classificação dessas
unidades sem a utilização de fundamentos pela ocupação ou não-ocupação humana nos espaços,
destacando ainda mais a não dissociação do homem à natureza, nem de suas relações com ela.
Aborda os tipos, categorias e regime jurídico das unidades de conversação, sempre fazendo um
paralelo com o ordenamento jurídico anterior e vigente para identificar as mudanças, as heranças e
assim dizer das fortalezas do SNUC.
Destacam-se ainda os critérios para implantação e gestão das unidades de conservação, assim como
os instrumentos de gestão e de participação comunitária, dando-se mais ênfase à Área de Proteção
Ambiental – APA, categoria de unidade de conservação existente em maior número no Estado do
Ceará.

Palavras-Chave: Sistema Nacional de Unidades de Conservação – Criação e gestão de áreas


protegidas.

INTRODUÇÃO

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) revelou em um estudo
feito público durante o V Congresso Mundial de Parques, em Durban, África do Sul, em 2003, que
muitas das 2.267 zonas sob o regime de proteção na América Latina e do Caribe “[...] somente
existem em seu instrumento de criação, sem que as disposições cheguem a se aplicar na realidade”. Pesa
ainda que quase 25% da superfície da América Latina estão sob algum regime de proteção, e apenas se
destinam 56 centavos de dólar por hectare ao manejo desse território; isso contra 18% do território
protegido na América do Norte e 14,5% na África austral e oriental estão protegidos. A média
mundial é de 10 por cento.
O informe também destaca que o Estado tem um papel indelegável para garantir as áreas
naturais como patrimônio público e de que as áreas protegidas latino-americanas e caribenhas
requerem maiores recursos humanos e financeiros para sua administração, elaboração de leis e de
instituições que as apliquem, como também de melhores planejamentos e coordenações entre os
organismos encarregados de seu manejo.
Apresentar-se-á como estão organizadas, legal e administrativamente, as áreas protegidas no
conjunto brasileiro e mais especificamente na região da Costa Oeste do Ceará abordando os
conceitos, hoje existentes para o alcance e significação da proteção ambiental dentro dessas áreas
protegidas; como estão estruturadas as áreas protegidas no Brasil, que fundamento jurídico têm;
qual é sua classificação a partir do Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC e,
finalmente, quais são os principais aspectos jurídicos do modelo brasileiro de unidades de
conservação.

408
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

ÁREAS PROTEGIDAS: CONCEITO E MARCO JURÍDICO DE INFLUÊNCIA NA


GESTÃO DE UCS NO ESTADO DO CEARÁ

Tratar de áreas protegidas, de espaços naturais protegíveis, requer orientar o pensamento


para a preocupação pela conservação e preservação da natureza, seja para sua defesa, seja para um
combate aos efeitos da degradação.
Conceitos como o de parque, jardim, espaço livre, espaço verde, confrontavam-se à
necessidade de espaço passível de ocupação, ainda hoje existente, embora atualmente essa batalha
entre o espaço livre e o ocupado seja mais dramática.
Ainda no século XIX, esses espaços verdes, ou ditos espaços livres, começaram a aumentar
em número, porém ainda com o objetivo, em geral, de satisfazer demandas quanto à recreação,
lazer, passeios, jogos e esportes. Localizados em zonas urbanas ou suburbanas esses espaços verdes
se enchiam de valor simbólico ao representar pontos de encontro e de contato social. Assim, ocorria
na Europa e América do Norte com a criação de grandes parques urbanos.
Foi no segundo continente citado que nasceu uma nova concepção a partir da qual os
parques acabaram se convertendo em reservas. Em 1872, foi criado o primeiro Parque Nacional, o
de Yellowstone, que tinha por objetivo proteger a natureza virgem já que por sua distância dos
centros urbanos, não poderia pretender converter-se em centro de diversão e tempo livre das
populações de São Francisco, por exemplo, ou de Nova York, como assinala Paluzíe Mir (1990,
pág. 36).
A influência da tendência protecionista estadunidense foi estendendo-se a outras partes do
mundo, que também já refletiam sobre a questão, de maneira que de acordo com o reconhecimento
da União Internacional para a Conservação da Natureza – UICN (The World Conservation Union –
IUCN)∗, em 1970, já era cerca de três milhões o número de hectares protegidos no planeta.
Dado que a proteção natural iniciou-se com a criação de um parque, e que também os
sistemas de proteção foram institucionalizados em alguns países apenas a partir do século passado,
ocorre com freqüência que se confunde o conceito de área protegida com o de parque, sobretudo si
este é de âmbito nacional. Dessa forma, pode-se considerar que o conceito antes descrito de parque
mantém algumas das características apontadas na definição de área protegida adotada durante o
Congresso Mundial de Parques Nacionais e Áreas Protegidas em 1992 em Caracas – Venezuela
pela IUCN, que tem sido, até o momento, a mais aceita: un área protegida es una superficie de
tierra y/o mar especialmente consagrada a la protección y el mantenimiento de la diversidad
biológica, así como de recursos naturales y los recursos culturales asociados, y manejada a través
de medios jurídicos u otros medios eficaces (Dirección Nacional de Medio Ambiente, 2007).

Importante considerar que a figura de “parque” seja ele nacional ou não, embora continue
sendo pioneira na proteção ambiental, hoje representa um tipo da espécie Unidade de Conservação
(UC), dentro do gênero “área protegida”, que em sua acepção indica não somente terra delimitada,
senão também superfície aquática delimitada, de maneira que pode caracterizar o parque como
marinho, por exemplo, com o objetivo de proteger os recursos naturais e conseqüentemente manter
a biodiversidade para esta e para futuras gerações.
Por esse mesmo motivo, faz-se necessário destacar, para o âmbito brasileiro e relativamente
a sua zona de costa, que o processo jurídico de proteção se realizasse inerentemente por meio de um
instrumento específico, senão que poderia ser igualmente eficaz, se o processo se encontrasse
perfeitamente contemplado e detalhado em um programa estadual ou municipal de gestão costeira.
Não se pode deixar de abordar, ainda no âmbito nacional brasileiro, o Plano Estratégico
Nacional de Áreas Protegidas – PNAP (BRASIL 2006) que institui um sistema abrangente de áreas


Cabe esclarecer o emprego do nome e sigla, pois essa entidade foi criada em 1948 sob a denominação de International
Union for the Protection of Nature – IUPN, mas em 1956 passou à designação de Union for Conservation of Nature
and Natural Resources – IUCN, assim que esta sigla foi empregada desde então, inclusive depois de 1990, quando a
denominação dada à entidade em 1956 tenha sido reduzida a tão somente The World Conservation Union – IUCN.

409
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

protegidas no sentido de assim considerar como suas espécies: as unidades de conservação do


Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC (BRASIL 2000), as terras indígenas e as
terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos. E numa interpretação mais
extensiva: as áreas de preservação permanente e as áreas de reserva legal.
Consideram-se, portanto, como áreas protegidas, de acordo com o ordenamento pátrio, não
somente as unidades de conservação, como dantes se intitulavam, mas também as áreas sujeitas a
um regime especial que visa a preservação ou conservação ambiental, em sua mais larga concepção
física – natural e social - patrimonial, como são os quilombolas, as terras indígenas, áreas de
preservação permanente e de reserva legal; estando as duas últimas sob o regime jurídico do Código
Florestal, instituído pela Lei Federal n° 4.771/1965 e suas alterações.
A contribuição das áreas protegidas à preservação da natureza e à manutenção da
diversidade biológica e cultural que seja capaz de manter o inerente e “dinâmico” equilíbrio
ecológico e a sã qualidade de vida é algo indiscutivelmente aceito no âmbito global e ninguém
duvida de sua importância para o sistema planetário. Seguramente, porque os direitos fundamentais
e individuais à vida e à liberdade se elevam a uma geração difusa da humanidade, quando
cientificamente se tem comprovado que um dano ambiental em uma nação ou determinada região
pode prejudicar a uma outra nação ou região situada em lugar territorialmente muito distante. É
válido ressaltar que a implantação de UCs deve ser favorecida quando do licenciamento de
atividades de significativo impacto ambiental através da cobrança de medida compensatória,
conforme o art. 36,§1° do SNUC.
A constitucionalidade do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e a
regulamentação de um dos instrumentos para sua concretização como é a implantação de unidades
de conservação, não garantem, por si mesmos, a contribuição positiva dessas áreas protegidas à
conservação da natureza. Faz falta, outrossim, ações e responsabilidades comuns entre o poder
público e os cidadãos para converter essa teoria em práxis.
Foi somente no Governo Provisório de Getúlio Vargas (1934 – 1937), que, através do
Decreto n° 23.793, de 23 de janeiro de 1934, se instituiu o primeiro Código Florestal, cujo texto
legal inicia a proteção florestal, sem fazer menção à diversidade biológica propriamente dita, e com
a classificação das florestas em áreas protetoras, remanescentes, de modelo e de rendimento. Dessa
classificação somente as duas primeiras davam lugar à conservação permanente das florestas, e, a
partir de então, ficaram proibidas nelas a exploração industrial intensiva e a sua venda, se eram
privadas, salvo, na última proibição, se o comprador assumisse um compromisso de não modificar o
caráter de proteção à floresta.
As florestas remanescentes foram declaradas no Código Florestal de 1934 como aquelas que
[...] “formavam parques nacionais, estaduais ou municipais; para as que abundavam ou nas quais se
cultivavam espécimenes preciosos, cuja conservação se considerava necessária por motivo de
interesse biológico e estético, e às que o poder público reservava para pequenos parques ou bosques
de gozo público”.
Historicamente, as florestas remanescentes são as precursoras na definição e regime jurídico
das áreas protegidas, na espécie unidade de conservação, assim instituídas a partir do Código
Florestal de 1965, que substituiu o Código de 1934. E, efetivamente, tornaram possível a criação
de parques nacionais, como por exemplo, o primeiro brasileiro, o Parque Nacional de Itatiaia no Rio
de Janeiro, em 1937.
Foi em 1978, através de um artigo de Maria Tereza Jorge Pádua, em publicação do extinto
Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), segundo informou Milano (2002), que a
idéia de área protegida alcançou um tratamento mais sistêmico, expressado por meio do termo
“unidade de conservação”.
Desde o novo Código Florestal de 1965, Lei Federal n° 4.771, de 15 de setembro de 1965
até a promulgação do SNUC, por meio da Lei Federal n° 9.985, de 18 de julho de 2000, foram
quase 35 anos transcorridos para que se dispusesse o assunto em um corpo legal semelhante ao dos
países mais avançados, em matéria de conservação natural.

410
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

O Estado do Ceará ainda não dispôs normativamente sobre a sistemática de criação,


implementação e gestão de unidades de conservação, muito embora leve consigo a marca de
pioneiro em regulamentações na temática ambiental, a exemplo da Política Estadual de Resíduos
Sólidos, instituída pela Lei Estadual nº 13.103, de 24 de Janeiro de 2001, que tem sido observada
para a propositura da normativa federal; também do Código Florestal Estadual, instituído pela Lei
Estadual nº 12.488/95, um dos primeiros da federação a especificar a lei geral nº 4.771/65 que
dispõe sobre o Código Florestal.
No Código Florestal Estadual encontra-se a previsão de criação de áreas de proteção
ambiental e de jardins botânicos dentre outras áreas voltadas à proteção e preservação ambiental,
como se depreende da transcrição do seu Art. 22:

“Art. 22 - A SEMACE fica autorizada a criar, manter e estimular diretamente ou através de convênio com os
municípios ou entidades oficialmente reconhecidas, hortos florestais, estações experimentais, áreas de proteção
ambiental e jardins botânicos, com assistência técnica voltada para a recuperação, prioritariamente das formações
florestais degradadas e para a implantação de reflorestamentos.”

É somente no Decreto Estadual nº 24.211/96, regulamentador do Código Florestal, que as


previsões quanto a unidades de conservação aparecem, conforme se pode ler nos artigos transcritos:

“Art. 4º. Consideram-se como Florestas Produtivas com Restrição de Uso, as áreas revestidas por florestas e demais
formas de vegetação natural que produzam benefícios múltiplos de interesse comum, necessários à manutenção dos
processos ecológicos essenciais à vida, definidas como:
I – Unidade de Conservação; ...

Art. 5º. Consideram-se Unidades de Conservação as áreas assim declaradas pelo Poder Público:
I. Parques nacionais, estaduais e municipais; II. Reserva biológica; III. Estações ecológicas; IV. Florestas nacionais,
estaduais e municipais; V. Área de proteção ambiental - APA; VI. Unidades de conservação particular”.

Nesse decreto há uma classificação das unidades de conservação em uso direto e indireto, no
entanto não há qualquer previsão de critérios e procedimentos para sua criação e implantação. Faz-
se esse comentário, muito embora, tecnicamente não se exija tal previsão específica de unidade de
conservação numa lei, ou em seu decreto regulamentador, que trata sobre política florestal, e não
precisamente de proteção e preservação ambiental pelo instrumento da unidade de conservação.
É necessária a criação de normas estaduais que regulamentem os assuntos pertinentes às
unidades de conservação, por ser o SNUC uma legislação de âmbito nacional, de caráter geral,
instituidora de diretrizes, ainda que de aplicação independente da existência dessa legislação
específica da unidade federativa.
A falta de previsão estadual sobre o assunto seria algo superável, se com base na legislação
federal fossem tomadas providências no sentido de adequar as unidades de conservação criadas no
Ceará com anterioridade ao SNUC, conforme sua previsão:

“Art. 55. As unidades de conservação e as áreas protegidas criadas com base nas legislações anteriores e que não
pertençam às categorias previstas nesta Lei serão reavaliadas, no todo ou em parte, no prazo de até dois anos, com o
objetivo de definir sua destinação com base na categoria e função para as quais foram criadas, conforme o disposto no
regulamento desta Lei.”

Pode parecer uma crítica não construtiva induzir a um pensamento de reavaliação das
unidades de conservação cearenses da forma abordada se quase todas as UCs criadas pelo Estado
do Ceará, em anterioridade ao SNUC, pertencem às categorias por ele elencadas.∗
No entanto, fugindo da literalidade do que possa transparecer a normativa do Art.55
transcrito, entende-se necessária a reavaliação das UCs criadas com base nas legislações anteriores


Das 20 unidades de conservação criadas e administradas pelo Governo do Estado, site da SEMACE, 18 foram criadas
antes da vigência do SNUC.
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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

aos SNUC que não cumpram com as funções e características designadas às categorias previstas
naquele instrumento.
Chama atenção no litoral oeste, o caso de duas UCs: a Área de Proteção Ambiental do
Estuário do Rio Curu e a Área de Proteção Ambiental das Dunas da Lagoinha que literalmente
pertencem à categoria de Área de Proteção Ambiental - APA, prevista pelo SNUC no grupo de
unidades de conservação de uso sustentável, mas que caracteristicamente logo nos primeiros dois
itens legais identificadores da APA são incoerentes com essa categoria, senão vejamos a previsão
do artigo:

“Art. 15. A Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana,
dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o
bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o
processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.”

Essa afirmação, inicialmente, fundamenta-se no pequeno tamanho das APAs citadas,


respectivamente 881,94 ha e 523,48 ha até mesmo em comparação a outras APAs no mesmo litoral
a exemplo da APA do Estuário do Rio Mundaú, com 1.596,37 e a Área de Proteção Ambiental das
Dunas de Paracuru com 3.909,60 ha.
Posteriormente, no que diz respeito ao “certo grau de ocupação humana” que também é um
critério falho nas duas APAs sob análise, tem-se a considerar que ambas unidades de conservação
encontram-se localizadas nas extremidades leste e oeste do município de Paraipaba, nos limites com
os municípios de Paracuru e Trairi. Nessas áreas respectivamente, não há, dentro de seus perímetros
a devida ocupação humana caracterizadora dessa categoria de unidade de conservação.
Através da leitura de um portfolio da SEMACE, percebe-se que a previsão da qual se
comenta, isto é, das normas que regulamentem especificamente para o Estado do Ceará as
condições de criação, implantação, reavaliação e gestão das unidades de conservação, não é de todo
ignorada, pois nas atividades previstas para o Programa da Biodiversidade – PROBIO tem-se a
criação do Sistema Estadual de Unidades de Conservação – SEUC. Infelizmente a criação do SEUC
era uma atividade para o triênio 2003-2006, mas que não se tem notícia de concretização. Desta
forma, os critérios para a criação, implantação, gestão das unidades de conservação serão os
previstos pelo SNUC.
Antes, porém, de falar desses critérios é salutar tratar do regime jurídico relativo ao domínio
e ocupação das unidades de conservação, verifica-se na Figura 01, que não se pode esquecer que o
pensamento do legislador do Código Florestal de 1934 concluía que para a maior efetividade do
exercício dos feitos protecionistas ambientais se fazia necessário que a titularidade e a ocupação da
área – florestas naqueles tempos – fossem públicas.

Grupo de UC Categoria de UC Regime Jurídico


Estação Ecológica Público (titularidade e ocupação)
Reserva Biológica Público (titularidade e ocupação)
Proteção Integral
Parque Nacional Público (titularidade e ocupação)
Monumento Natural Público ou Privado
Refúgio da Vida Silvestre Público ou Privado
Área de Proteção Ambiental – APA Público ou Privado
Área de Relevante Interesse Ecológico Público ou Privado
Uso Floresta Nacional – FLONA Público (titularidade e ocupação)
Sustentável Reserva Extrativista Público – com a Concessão da
ocupação
Reserva da Fauna Público (titularidade e ocupação)
Reserva de Desenvolvimento Público – com a Concessão da
Sustentável ocupação
Reserva Particular do Patrimônio Privado
Natural

412
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 01 – Regime Jurídico das Unidades de Conservação – UC segundo seu grupo e categoria.

Legenda: Regime Jurídico herdado do Código Florestal de 1934.


Fonte: Elaboração própria a partir de dados do SNUC (2000).

Porém, considera-se que esta herança não foi totalitária, muito menos maléfica em seu
resultado, assim que das 12 categorias existentes de unidades de conservação: 5 categorias exigem o
domínio e a ocupação pública: a estação ecológica, a reserva biológica e o parque nacional – do
grupo de proteção integral -; a floresta nacional e a reserva da fauna – do grupo de uso sustentável;
2 categorias exigem o domínio público para viabilizar a concessão do uso às populações
tradicionais: a reserva extrativista e a reserva de desenvolvimento sustentável – do grupo de uso
sustentável; 4 categorias permitem que a composição da área protegida seja por terras públicas e/o
particulares: o monumento natural e o refúgio da vida silvestre – do grupo de proteção integral; a
área de proteção ambiental e a área de relevante interesse ecológico – do grupo de uso sustentável; e
1 categoria, de reserva particular do patrimônio natural, está formada, como não poderia ser de
outra forma, somente por propriedade particular.
Em continuidade ao exemplo das UCs com necessidade de reavaliação, destaca-se a
categoria Área de Proteção Ambiental, comumente reconhecida pela sigla APA, pertencente ao
grupo das unidades de conservação de uso sustentável foi reservada para a proteção de áreas
geralmente extensas, que tenham significativa ocupação humana.
A APA se caracteriza, na definição do SNUC, por ser “dotada de atributos abióticos,
bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das
populações humanas” e tem por objetivo “proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo
de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais”. O artigo 22 do SNUC
estabelece que “as unidades de conservação são criadas por ato do Poder Público.”
O sentido da expressão “são criadas” do enunciado do artigo 22 transcrito para evitar a
confusão por sua falta de técnica legislativa. Deve-se entender pela palavra “criadas”, a sua mais
ampla acepção: a capacidade do Poder Público de promulgar oficialmente que uma área será de
proteção ambiental, pois a iniciativa de criar, em sentido de propor, pode dar a impressão ao ler o
artigo 22, que somente a detenha o Poder Público, o que não é verdade, pois uma pessoa física ou
jurídica, pode propor ao Poder Público a criação de uma unidade de conservação, como ocorre na
Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN.
Os critérios para a criação existem e estão divididos conforme seu caráter, que pode ser de
cunho geográfico ambiental, de consulta popular e administrativo-formal.
O Critério geográfico ambiental compreende a exigência para referida criação, inclusive
para a RPPN, de se haver realizado previamente estudos técnicos que permitam a identificação da
localização da unidade de conservação, seu tamanho e limites apropriados a sua categoria. Embora
o conteúdo do estudo tenha que ser apropriado à categoria que se pretende criar, nota-se um grau
muito elevado de discricionariedade da administração pública no momento de especificar as
características da unidade que irá ser criada. Mesmo assim, o estudo prévio que exige o critério
geográfico ambiental para a criação das unidades de conservação deve observar: proximidade a
outras áreas protegidas, existência da atividade usuária de recursos naturais que esteja pagando
medida compensatória, existência de populações advindas ou tradicionais, qualidade, raridade e
beleza dos ecossistemas a se proteger.
O critério de consulta popular baseia-se na obrigatoriedade do Poder Público em apresentar
uma proposta à população local do lugar onde se pretende implantar a unidade de conservação,
assim como a outras pessoas interessadas, composta por dados suficientes para sua caracterização,
de maneira inteligível. Habitualmente a técnica dos estudos se expressa numa linguagem pouco
compreensível para que a sociedade possa se manifestar a favor ou contra a criação da unidade de
conservação. O SNUC não diz explicitamente que a consulta pública tenha poderes para aprovar ou
não aprovar a criação da unidade de conservação. Por tanto, por pura lógica dedutiva, não se pode
dizer que o sistema faça previsão, como forma consultiva popular, um simples ato de aceitação ou

413
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

anuência popular sobre o que o Poder Público pretende fazer em prol da conservação da natureza,
pois já existem outras formas de prestação de contas do governo à sociedade.
Também se destacam as limitações ao objetivo da consulta pública mencionado, ao se
observar que sabiamente o legislador ressalvou dessa exigência duas categorias de unidade de
conservação: a Estação Ecológica e a Reserva Biológica, para as quais ao Poder Público lhe cabe a
possibilidade de criá-las sem consultar à sociedade, por se tratar das únicas destinadas à preservação
integral da biota e demais atributos naturais existentes, que não são suscetíveis de visita pública,
salvo em sentido educacional e assim mesmo restringida, e onde a pesquisa científica somente pode
ser realizada depois de autorizada pela administração da unidade, segundo as restrições existentes.
Não se pode esquecer que também a titularidade e uso de referidas categorias são públicos.
O Critério administrativo-formal se dá pela exigência do ato do Poder Público para instituir
as unidades de conservação. O critério administrativo-formal se dá em todas as ocasiões, sem
distinção da classe ou tipo de unidade de conservação que se pretenda criar. Muito menos há
exigência para a espécie normativa na qual irá ser formalizado o ato de criação. Desta maneira,
pode que a unidade seja criada por uma simples portaria, como acontece no caso do reconhecimento
de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN16; por um decreto, ou por uma lei (em
sentido estrito) quando seja o Poder Executivo impelido a ter aprovada sua intenção pelo Poder
Legislativo.
A existência desse critério administrativo-formal para os atos de modificação total ou parcial
do tipo de uso sustentável para a proteção integral da unidade de conservação, atos que devem ser
oficializados no mesmo nível hierárquico do ato empregado para a criação da unidade de
conservação. O mesmo cabe dizer do ato administrativo que pretende ampliar os limites da unidade
de conservação.
Igual procedência não cabe quanto ao ato que objetive a redução dos limites de uma unidade
de conservação. Neste caso, o ato deve ser formalizado através de uma lei (em sentido estrito,
jamais por um decreto ou portaria) específica à redução. Não cabe dúvida que esta exigência é uma
garantia, acertadamente prevista no SNUC, para que as câmaras legislativas em representação do
povo ou dos Estados se pronunciem sobre uma provável perda do patrimônio público ou do
patrimônio da biodiversidade, concedendo-lhe, por tanto, potestade para pronunciamento sobre ato
de desafetação ou de redução dos limites de uma unidade de conservação.
Os instrumentos para a implantação e gestão de unidades de conservação são bastante
diversificados, muito embora seja possível classificá-los, em seus aspectos principais, dependendo
da predominância dos aspectos os de caráter jurídico, financeiro ou de manejo ambiental
propriamente dito.
Existem os seguintes instrumentos de implantação e gestão de unidades de conservação,
quais sejam: Os instrumentos jurídicos: o tipo normativo de criação da unidade de conservação e de
seu Conselho Gestor; o regulamento da unidade de conservação: instrumento no qual se
regulamentam as atividades permitidas e proibidas na área da unidade, assim como a normativa
geral de uso, condições para a concessão de atividades, fiscalização e penalização por seu
descumprimento (conhecido usualmente por Instrução Normativa – IN); a constituição do Conselho
Gestor da unidade de conservação; o contrato para a concessão de uso da unidade de conservação
por populações tradicionais; e a regularização fundiária das terras.
Os instrumentos financeiros são: os recursos que os planos governamentais destinarão para a
gestão da UC, os quais deverão existir sempre antes de sua criação em obediência à Lei de
Responsabilidade Fiscal – Lei Complementar nº 101, de 04 de maio de 2000; os recursos e doações
de qualquer natureza, nacionais ou internacionais; a fixação de taxas pela visita às unidades do
grupo de proteção integral, que são as únicas possibilitadas de cobrar; e as compensações
ambientais exigidas por lei. Essas arrecadações são destinadas como recursos às unidades afetadas
correspondentes ao empreendimento, ou, quando não correspondam a nenhuma UC, sirvam para
criação e implantação de uma nova unidade de conservação.

16
No Ceará, a unidade de conservação particular recebe a denominação de Reserva Ecológica Particular.
414
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Os principais instrumentos de manejo ambiental são: o plano de manejo, que deve ser
elaborado num prazo máximo de cinco anos desde a criação da UC, capaz de conjugar as medidas
de proteção com a vida socioeconômica que a envolve; a instituição de um zoneamento da unidade
de conservação de acordo com sua categoria e que inclua uma zona de amortecimento
(necessariamente quando se exija), corredores ecológicos e quando possível zona de visitação,
investigação e uso público; as autorizações do órgão que seja responsável pela administração da
unidade de conservação e a quem corresponda outorgar a licença de projetos de significativo
impacto ambiental em sua área ou zona de amortecimento; e as consultas, resoluções e deliberações
do Conselho Gestor.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelo exposto, espera-se que essas análises, em especial a legislativa, façam refletir a
necessidade de atualização da política florestal deste Estado do Ceará, principalmente no que tange
à regulamentação sobre as unidades de conservação, de acordo com as previsões do Sistema
Nacional de Unidades de Conservação – SNUC, que tacitamente, por ser norma geral posterior,
revogou as disposições em contrário às suas.
Aguarda-se que também que o Ceará possa continuar na vanguarda normativa, elaborando
leis com franco processo legislativo de discussões; aprovando o Sistema Estadual de Unidades de
Conservação, ou simplesmente, cumprindo o Sistema Nacional possível e de indicada
aplicabilidade, independentemente de normatização estadual, especialmente para eliminar a
tendência de localizar as UCs em sítios com baixo desenvolvimento, ainda que ricos em flora
virgem e fauna como reduto de espécies ameaçadas de extinção, senão favorecendo o
desenvolvimento desses lugares concomitantemente à criação de áreas protegidas.

REFERÊNCIAS

Brasil, Decreto nº 5.758, de 13 de abril de 2006. Institui o Plano Estratégico Nacional de Áreas
Protegidas – PNAP, seus princípios, diretrizes, objetivos e estratégias, e dá outras
providências. Disponível em: http/www.presidencia.gov.br/legislação. Acesso em: 21 ago. 2008.
Brasil, Lei Federal n° 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II,
III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza e dá outras providências. Disponível em: http/www.presidencia.gov.br. Acesso em: 21
mar. 2008.
CEARÁ. Superintendência Estadual do Meio Ambiente – SEMACE 2003 – 2006, Construindo a
sustentabilidade. Fortaleza: SEMACE, 2003. 33 páginas. (Portfolio)
Milano, Miguel Serediuk (org). Unidades de Conservação: atualidades e tendências. Fundação O
Boticário de Proteção à Natureza, Curitiba, 2002.
Paluzíe i mir, Lluís. Los espacios naturales protegibles – Su protección, regulación legal e
incidencia en la ordenación del territorio. Universitat Politécnica de Catalunya - UPC, Barcelona.
1990.
Rodrigues, Arlete Moysés. Produção e Consumo do e no Espaço: Problemática Ambiental, São
Paulo, HUCITEC, 1998.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

CONSEQUÊNCIAS SÓCIO-AMBIENTAIS DA URBANIZAÇÃO DE MARANGUAPE


(CE): USOS E CONSUMOS DOS AMBIENTES HÍDRICOS

Ícaro Cardoso Maia


Universidade Federal do Ceará
icarocm1@hotmail.com

RESUMO
Discutiremos aqui como a paisagem urbana vem se transfigurando em Maranguape a partir da
inserção deste município na Região Metropolitana de Fortaleza, com as conseqüentes
intensificações em sua urbanização. A (re)produção de aglomerações urbanas, cada vez maiores e
mais extensas, guiada pela necessidade da (re)produção do capitalismo, traz para as cidades novos
usos e consumos que muitas vezes, resultam em alterações profundas nas dinâmicas e processos
ambientais. Os corpos hídricos sofrem fortemente o impacto das intervenções humanas, que se
consubstanciam de forma acelerada e desordenada nos aglomerados urbanos. Na cidade os cursos
d’água são, de forma considerável, afetados pela poluição que se caracteriza como resíduo do
processo de urbanização/industrialização através do uso e ocupação indevida das margens desses
sistemas ambientais; pelas intervenções urbanísticas que ora canalizam, ora aterram os rios; pela
redução da mata ciliar e outras alterações. Desta maneira, buscamos identificar como se constituem
os novos usos e consumos destes ambientes diante deste processo de urbanização, refletindo
portanto, como os grupos sociais se apropriam dos recursos hídricos que recortam as cidades,
transfigurando-os de forma a atender suas necessidades urbanas. Isto ajuda a identificar quais as
problemáticas que resultam dessas transformações no meio ambiente urbano.

Palavras-chave: Ambiente, Paisagem, Políticas públicas, Urbanização, Maranguape.

INTRODUÇÃO

Inserida em um contexto de expansão urbana, tomamos Maranguape como nosso recorte


espacial para estudo, adicionado ao fato desta cidade estar localizada no sopé da Serra de
Maranguape. A Serra de Maranguape se configura por rochas cristalinas, cobertas por solos pouco
profundos que impõe limites à penetração d’água com densa cobertura vegetal, mas, com
declividades acentuadas que facilitam o escoamento das águas.
Essas características geram um potencial hídrico superficial bastante superior ao
subsuperficial, registrando-se uma elevada densidade de cursos d’água que forma uma ampla rede
de drenagem neste ambiente. Esta dispersão de cursos d’água se insere na bacia hidrográfica do rio
Ceará a oeste e na bacia do rio Maranguapinho a leste. Existe também na cidade uma quantidade
expressiva de reservatórios (açudes e lagoas), alimentados por esses riachos serranos e funcionam
como coletores de água, destinada ao uso agrícola e abastecimento em geral para a população.
Esses corpos hídricos ao atingir o aglomerado urbano, sofrem o impacto da intensificação da
ação humana neste ambiente, o que muitas vezes configura rupturas no equilíbrio “natural”. Os
fatores de pressão sobre estes ambientes traduzem-se através da ocupação intensa das margens de
rios, que por sua vez, reduzem a mata ciliar e causam, entre outros problemas, os seguintes
impactos: a impermeabilização do solo; a poluição hídrica proveniente da carga de resíduos sólidos
e líquidos de residências e/ou indústrias, agravada pela inexistência uma de cobertura eficiente de
saneamento básico; os processos de canalização, aterramento e assoreamento de rios; e finalmente,
a apropriação privada de trechos de cursos d’água, dentre outros rebatimentos.
Esse processo de degradação, em virtude da expansão da malha urbana, se reflete sobre as
condições de vida dos moradores através de deslizamentos de encostas densamente ocupadas,
inundações em período de chuvas, escassez de água potável, ocorrência de doenças causadas por
ingestão de água contaminada, surgimento de populações de mosquitos transmissores de doenças,

416
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

entre outros. Além do mais, essas alterações induzem uma quebra constante ou até o
desaparecimento da paisagem “natural”.
Estas alterações ambientais decorrentes do processo de urbanização estariam, portanto,
resultando em um quadro de degradação ambiental. Desta hipótese, parte a necessidade de
investigarmos qual a relação entre o crescimento da cidade de Maranguape e a problemática
ambiental instalada no local, buscando compreender como vem se transfigurando a paisagem dos
seus corpos hídricos, bem como analisar de que forma esta rede de drenagem vem absorvendo estas
transformações sócio-espaciais.
A administração do município de Maranguape desenvolve nos últimos anos uma política
com diretrizes voltadas para as demandas ambientais, com idealização de trabalhos e projetos
pautados na preservação do patrimônio natural e cultural da cidade, portanto, torna-se também
importante analisar como a questão hídrica é tratada pelo poder público em suas várias instâncias e
descobrir até que ponto o planejamento ambiental em Maranguape não sofre contradições diante do
possível quadro de degradação ambiental instalado na cidade.
Essas indagações reforçam a relevância de um estudo voltado para este assunto em que a
compreensão das mudanças ambientais na cidade de Maranguape, pode auxiliar na explicação de
muitas incógnitas relacionadas à abordagem socioambiental urbana.

A URBANIZAÇÃO DE MARANGUAPE E AS POLÍTICAS AMBIENTAIS

A ocupação inicial do município de Maranguape, que se deu por volta dos anos 1940, foi
desde muito cedo, marcada por intensas alterações na paisagem natural, em virtude da busca por
recursos naturais somados a um grande potencial produtivo deste ambiente. Essa atração foi
motivada por fatores locacionais do maciço residual de Maranguape, onde sua pequena distância até
Fortaleza, aliada às chances de grande potencial agrícola que demandava pouco investimento,
intensificou posteriormente as significativas compras de sítios serranos, os quais chamaram a
atenção de empresários do ramo de hotelaria. Esse se constituiu em um período de relativo
desenvolvimento econômico, refletido na intensa produção cafeeira iniciada no inicio do século
XX. A economia cafeeira proporcionou à sede do município a implementação de alguns
equipamentos urbanos importantes como praças, rede de energia elétrica, estradas, iluminação
pública, e com estes novas funcionalidades que contribuíram para sua possível expansão territorial e
econômica.
Na década de 1990, Maranguape retoma seu crescimento econômico, que sofreu regressão
com a emancipação do seu antigo distrito de Maracanaú, desta vez se inserindo no processo de
globalização da economia, com atividades não mais voltadas unicamente para o potencial natural,
quando recebe grandes indústrias como Dakota, Mallory, Bonebraz, Itajaí, Micrel Benfio e várias
agroindústrias a citar: Ypioca, Granjas Joagre, Cialne, Aguardente Dandiz e outras. Estas foram
responsáveis por movimentar substancialmente todos os setores da economia maranguapense, ao
passo que provocaram uma ampliação considerável da população do município, decorrente das
demandas de mão-de-obra.
Essas empresas de expressão nacional são atraídas pela isenção de impostos, pela facilidade
na contratação de mão-de-obra barata e pela doação de terrenos por parte do poder público17. É
inegável a importância dessas indústrias, que atualmente somam 154 unidades, para o crescimento
econômico do município. Porém, as indústrias aí instaladas não estão comprometidas com a
qualidade ambiental em seus entorno e não há uma fiscalização com relação aos poluentes
produzidos, que em geral são lançados nos riachos, lixões, rampas e no subsolo. Essas fábricas
contribuem, portanto, para agravar a poluição dos cursos d’água e isto ocorre em especial na área
urbana do município. Este impulso na industrialização do município foi um dos elementos indutores
de sua urbanização.

17
Associa-se aqui a noção de “poder público” a escalas mais reduzidas, enquanto a noção de “Estado” seria aplicada a
escalas mais amplas.
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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

O processo de urbanização em Maranguape muitas vezes vem ocorrendo também em


detrimento das características naturais do ambiente. Este fato evidencia as novas funcionalidades da
cidade diante da necessidade da constante (re)produção do capital. Essas novas funções produzem
uma malha urbana que aos poucos, ou rapidamente, acaba por banir a natureza das cidades. Assim,
os cursos d’água que cortam o Distrito-Sede deste município tendem a sentir a pressão das intensas
intervenções urbanas neste ambiente materializada em problemáticas socioambientais.
Em Maranguape é possível identificar a presença marcante de diversas políticas ambientais,
principalmente as que ocorreram a partir da gestão do prefeito Marcelo Silva (2001-2004),
incluindo a implantação da Área de Proteção Ambiental (APA) de Maranguape, a elaboração da
“Agenda 21 Local do Município de Maranguape”, dentre outras. No entanto, apesar de todas as
políticas ambientais, os problemas não se reduzem, muito pelo contrário, interesses privados
instalam equipamentos urbanos e efetivam inúmeras intervenções na paisagem, sem levar em
consideração o interesse da maioria da população e as condições físicas deste meio.
Neste ponto, faz-se necessário resgatar a discussão acerca do aprofundamento da
contradição “espaço público versus espaço privado”, seja por meio da reificação e valorização do
que são os espaços privados na cidade, seja por meio da desvalorização dos espaços públicos, seja
por meio de sua privatização. Este último caso é marcante em Maranguape, tendo em vista que
diversos trechos do rio Maranguapinho são completamente cercados e o acesso a este se torna
restrito, por conta da prática da grilagem no sentido do prolongamento das cercas para além dos
limites legais das propriedades.
Esta idéia pode ser complementada pelas palavras de Mark Gottdiener (1993), quando fala
sobre o caráter de mercadoria do espaço:
Mas o espaço é produzido como nenhuma outra mercadoria. [...] Exatamente como outras
mercadorias, ele representa ao mesmo tempo um objeto material e um processo que
envolve relações sociais. Ao contrário de outras mercadorias, ele recria continuamente
relações sociais ou ajuda a reproduzi-las. [...] É, portanto, ao mesmo tempo objeto material
ou produto, o meio de relações sociais, e o reprodutor de objetos materiais e relações
sociais. (GOTTDIENER, 1993, 133).

Dessa maneira, o processo de urbanização em Maranguape se torna fator de extrema


contribuição para modificar a “paisagem natural” da cidade, com destaque para a desregularização
do ciclo hidrológico e da quebra do quadro natural de drenagem. E esse processo é, na maioria das
vezes, comandado por agentes hegemônicos distantes.
O conflito de interesses entre as comunidades locais (tradicionais) e os agentes hegemônicos
de produção do espaço urbano está associado ao descompasso entre o tempo local (expressão da
vida cotidiana e do tempo da natureza) e o tempo global (mensuração do tempo, relógio mecânico),
onde respectivamente imperam a lógica do uso e a lógica do consumo. Em Maranguape, é possível
perceber como os imperativos da vida local são condicionados por regulamentações de maior
escala. Estes condicionamentos manifestam-se, dentre outras maneiras, através das instituições
verticalizadas de controle ambiental, que atropelam a história das comunidades locais e
limitam/proíbem a estes o uso de determinados recursos naturais, por meio da legalidade, em
oposição à legitimidade que as comunidades possuem quanto ao acesso a estes “recursos”, na
perspectiva do valor de uso. Lefebvre (1969) aborda esta questão, quando diz que a importância do
espaço é conquistada pela dialética entre valor de uso e valor de troca, que produz tanto um espaço
social de usos quanto um espaço abstrato de expropriação.
As políticas públicas de delimitação das Áreas de Proteção Ambiental (APA’s) são
realizadas no intuito de controlar a degradação dos recursos naturais e das áreas onde há
predominância dos elementos físicos da paisagem, porém cabe refletir as razoes deste controle.
Como o próprio nome já diz, os “recursos” precisam ser resguardados da possibilidade de
esgotamento, o que resultaria em largos prejuízos econômicos à sociedade. O fato é que ao
resguardar as áreas verdes se está também resguardando um valor agregado das terras
circunvizinhas, essencial à acumulação dos especuladores imobiliários. E a necessidade de “frear” a
degradação destas áreas partiu da exploração abusiva das mesmas, acometida pelos

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

empreendimentos que chegaram com a urbanização, ou seja, em reforço às palavras do parágrafo


anterior, estas APA’s muitas vezes privam até mesmo as comunidades tradicionais de fazerem o uso
destas “áreas naturais” (onde historicamente têm desenvolvido sua cultura e suas sociabilidades) em
decorrência dos prejuízos causados por seus consumidores.
As famílias mais pobres da cidade de Maranguape, incapazes de adquirirem moradia digna
diante da crescente valorização das terras mais centrais, dado o fato de se tratar de uma área
potencialmente geradora da renda diferencial18, passam a ocupar as margens dos rios para
sobreviver. Este potencial gerador da renda diferencial decorre da valoração dos recursos naturais e
dos recursos ambientais por parte dos especuladores. A distinção entre estas duas modalidades de
recursos é feita por Moraes (2007), quando este afirma que:
Os naturais referem-se a produtos, quantidades de materiais depositados na superfície
terrestre que se apresentam nos fluxos econômicos como mercadorias, passíveis de terem seus
preços médios aferidos no mercado. Os recursos ambientais referem-se a condições de vida e
produção, circunscrevendo fatores de difícil contabilização, como a beleza cênica ou a originalidade
paisagística, por exemplo. O fundamento de tal distinção fica bem evidenciado na diferença entre a
“terra-capital” (um meio de produção) e a “matéria-terra” (suporte de qualquer atividade produtiva.
Estas ocupações ribeirinhas podem ser caracterizadas a partir das categorias de risco e
vulnerabilidade ambiental, precarizando as condições de vida destes moradores a partir das ameaças
de deslizamentos de encostas densamente ocupadas, inundações em período de chuvas, escassez de
água potável, ocorrência de doenças causadas por ingestão de água contaminada, surgimento de
populações de mosquitos transmissores de doenças, entre outros. Estas ocupações também trazem
conseqüências negativas para o equilíbrio do ecossistema local, quando ocorre a redução da mata
ciliar, acarretando os seguintes impactos: a impermeabilização do solo; a poluição hídrica
proveniente da carga de resíduos sólidos e líquidos (de residências e/ou indústrias), agravada pela
inexistência uma de cobertura eficiente de saneamento básico; os processos de canalização,
aterramento e assoreamento de rios; a apropriação privada de trechos de cursos d’água, dentre
outros.

PERSPECTIVAS PARA AS POLÍTICAS DE PLANEJAMENTO URBANO E AMBIENTAL

Tanto Anthony Giddens (1991) quanto Zygmunt Bauman (2007) concebem que não estamos
vivendo um período de pós-modernidade, como defendem outros autores. Para Giddens, é no
período atual que as conseqüências da modernidade estão radicalizadas e universalizadas. Para
Bauman, estamos atualmente mergulhados na “fase líquida” da modernidade, onde diversas
mudanças estão ocorrendo em relação à “fase sólida”, na qual se deu início a modernidade. É neste
contexto que a produção do espaço urbano vem sendo regida pelo desenvolvimento do capitalismo
e acompanhada de um crescimento populacional sem precedentes na historia da cidade. Com o
avanço das técnicas e a produção de objetos cada vez mais volumosos e fixos, na busca de um
sistema econômico mais rentável para os detentores do capital, o espaço natural tem sido
transformado para dar lugar a uma segunda natureza.
Diante das questões abordadas anteriormente, constatamos que a urbanização, de qualquer
modo, provocará algum tipo de alteração ambiental. As diversas políticas de planejamento urbano e
ambiental, hoje comumente acompanhadas do discurso da sustentabilidade, apresentam diversos
empecilhos para sua realização efetiva. Uma perspectiva de abordagem desta dificuldade de
execução de políticas por parte do poder público19 é bem desenvolvida por Bauman (2007), quando
este afirma que grande parte significativa do poder de agir efetivamente, antes disponível ao Estado
moderno, agora se afasta na direção de um espaço global, assim a capacidade de decidir a direção e
o objetivo de uma ação é incapaz de operar hoje em uma dimensão planetária, permanecendo local.

18
Tal forma da renda fundiária advém das qualidades relativamente raras dos recursos naturais e ambientais presentes
em uma dada localidade.
19
Associa-se aqui a noção de “poder público” a escalas mais reduzidas, enquanto a noção de “Estado” seria aplicada a
escalas mais amplas.
419
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Isso indicaria uma política cada vez mais local num mundo progressivamente modelado por
processos globais, principalmente em se tratando de espaços metropolitanos em crescente processo
de urbanização, como é o caso de Maranguape.
Como conseqüência disto, a política local e, particularmente, a política urbana, se tornou
“desesperadamente sobrecarregada”, muito além de sua capacidade de desempenho, o que reflete
num colapso do planejamento e da ação em longo prazo. Essa diferente relação local-global lança
um olhar especial e diferenciado para a escala das relações de vizinhança e sobre temas locais,
principalmente na leitura contemporânea da cidade. Cidade cuja paisagem se torna marcada por
“espaços interditados” onde uma desintegração da vida comunal é estabelecida localmente e
compartilhada. Aqui os novos produtos urbanísticos têm claramente o propósito de dividir, segregar
e excluir.
Todavia, opta-se neste artigo por fazer uma crítica ao caráter reformista das políticas de
planejamento urbano e ambiental, na crença de que, ainda em acordo com Gottdiener (1993), para o
qual é possível que os problemas de desenvolvimento econômico nunca sejam resolvidos pelo
Estado, é preciso extinguir o sistema de relações de propriedade e formas institucionais de regular o
espaço que produz a dominação dele tanto política quanto economicamente, e “precisamos
substituir tais relações por relações sociais libertárias que favoreçam a capacidade de apropriar o
espaço para usos sociais libertários”. (GOTTDIENER, 1993, p. 132).

REFERÊNCIAS

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Correia. (orgs.). A cidade e o urbano. Fortaleza: Ed. UFC, 1997.

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VESENTINI, José William. Geografia, Natureza e Sociedade. São Paulo: Contexto,1989.

421
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

AVALIAÇÃO DO FLUXO DOS NUTRIENTES INORGÂNICOS DISSOLVIDOS NO


EXUTÓRIO DO RIO PACIÊNCIA, SÃO LUÍS-MA, BRASIL

Janaína Mendes Barros


Universidade Federal do Maranhão
Centro Universitário do Maranhão
jana_mbarros@hotmail.com
Odilon Teixeira de Melo
Universidade Federal do Maranhão
Tatiana Cristina Santos de Castro
Universidade Federal do Maranhão
Raíssa Neiva Martins
Universidade Federal do Maranhão
Suzana Araújo Torres
Universidade Federal do Maranhão

RESUMO
O Rio Paciência está inserido na Bacia do Paciência localizado em São Luís-MA.Esta Bacia vem
vendo povoada desde a década de 70, por isso hoje encontra-se densamente urbanizada e suas águas
consideravelmente comprometida por diversos tipos de poluição. Foi coletado no mês de maio de
2008, período chuvoso, no exutorio do rio paciência para as analises em laboratório dos nutrientes
inorgânicos dissolvidos e foram medidas as variáveis morfométricas na mesma localidade, para se
calcular o fluxo dos nutrientes inorgânicos dissolvidos. Observou-se uma grande concentração
desses nutrientes estudados sendo exportados do rio para a região estuarina, considerando todos os
nutrientes estudados, o nitrogênio inorgânico é o que apresenta maior fluxo do rio para o estuário,
isso deve-se principalmente pela grande urbanização localizada na área de drenagem nessa Bacia.

INTRODUÇÃO
A bacia hidrográfica corresponde a uma unidade natural, cujos limites são criados pelo
próprio escoamento das águas sobre a superfície, ao longo do tempo. Isso significa que a bacia é o
resultado da interação da água e de outros fatores como: material de origem, topografia, vegetação e
clima. Assim, um rio, independentemente de seu tamanho, é sempre o resultado da contribuição de
determinada área topográfica, que é a sua bacia hidrográfica. Os rios drenam a bacia, a qual recolhe
e processa a água que chega até ela por precipitação, conduzindo parte desta para formar o
respectivo curso d’água (LEOPOLD, 1971; BRANCO, 1999).
A bacia de drenagem pode vir a receber aportes significativos de material orgânico
dissolvido e particulado, nutrientes inorgânicos dissolvidos de origem natural e antrópica. Todo esse
aporte contribui para a produção primária do próprio rio e o resto é exportando para o sistema
estuarino e/ou costeiro. O aumento da concentração de nutrientes nas águas estuarinas e costeiras
provoca diversas modificações no meio, podendo produzir um aumento da produtividade primária e
pesqueira (CEDERWALL & ELMGREN 1980, NIXON 1982; NIXON et al. 1986; NIXON 1992).
Por outro lado, o excesso de nutrientes inorgânicos dissolvidos e de uma elevada carga orgânica nos
ambientes aquáticos, em geral, pode levar ao processo de eutrofização que tem como uma das
conseqüências a exaustão dos teores de oxigênio dissolvido.
A descarga fluvial, ou vazão do rio representa fisicamente o transporte de volume de água
(volume por unidade de tempo, L3.T-1), sendo fundamental para a dinâmica do sistema aquático e,
como conseqüência, para os processos de transporte e mistura. Deste modo, a descarga fluvial
juntamente com as condições de maré constituem fatores importantes no transporte de materiais do
rio para os sistemas estuarinos ou costeiros (ALCÂNTARA, 2004).

422
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

O rio Paciência localizado na bacia do mesmo nome é que apresenta maior extensão na ilha
do Maranhão. Até o final da década de 70, o crescimento da região nessa bacia era pequeno, a água
desse rio era utilizada para o consumo humano, recreação e lazer, mas isso quando a população era
aproximadamente 10% da densidade atual. Em virtude do aumento das atividades e dos
aglomerados urbanos localizados na área de drenagem, o rio Paciência recebe esgoto “in natura” de
vários conjuntos habitacionais, os quais se destacam o conjunto Maiobão, Cohatrac, Cidade
Operária e São Bernardo. Além disso, existe a lixiviação, resíduos de garagem de ônibus, lava jatos,
além de adubos químicos de pequenas hortas restritas a determinadas áreas da bacia de drenagem.
(MACEDO, 2003).
Esse trabalho tem como objetivo calcular o fluxo dos nutrientes inorgânicos dissolvidos no
exutório do rio Paciência, na região nordeste da Ilha de São Luís-MA.

ÁREA DE ESTUDO
A bacia do rio Paciência localiza-se na porção nordeste da Ilha do Maranhão compreendida
entre as coordenadas geográficas: de 2° 23’ 05” a 2° 36’ 42” S e de 44° 02’ 49” a 44° 15’ 49” W
(Figura 01), distribui-se pelos quatro municípios integrantes da ilha do Maranhão. O rio Paciência
abrange cerca de 32 Km, percorridos na direção sul-leste.

Figura 01: Localização da área de estudo, Bacia do Rio Paciência, São Luís-MA.

423
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

MATERIAL E MÉTODOS

As coletas dos nutrientes inorgânicos dissolvidos foram realizadas em maio de 2008, durante o
período chuvoso. As amostras foram retiradas em superfície, pois o rio apresenta baixa
profundidade.

Tabela 1. Localização geográfica abrangendo todos os pontos de coleta no rio Paciência, São
Luís-MA.
Coordenadas
Pontos Localidade Altitude(m)
S W

Exutório Beira Rio 20 02° 30’ 09” 44° 09’ 56”

Em laboratório determinou-se o oxigênio dissolvido, nitrogênio amoniacal, nitrito, nitrato e fosfato,


segundo os métodos descritos em AMINOT & CHAUSSEPIED (1983).
As medições das variáveis morfométricas do rio Paciência foram realizadas nas proximidades da
Beira Rio (exutório), no mês de maio de 2008. A área da seção transversal foi calculada com o
auxilio de régua graduada de dois metros para determinação da profundidade. Mediu-se a largura
total do rio e se dividiu em subseções de 1m onde foram tomadas a profundidade e velocidade de
cada uma, utilizando um medidor de velocidade, marca GLOBAL WATER, modelo FP2201.
Inicialmente se calculou a descarga fluvial multiplicando-se a área da seção transversal pelo
valormédio da velocidade da corrente nesta, de acordo com a equação abaixo:
Qi (m3/s) = V.A
(Eq.1)
Onde Qi (m3/s) é descarga líquida ou a vazão, V é a velocidade da corrente (m/s) e A é a área da
seção transversal (m2).
O fluxo de cada nutriente inorgânico dissolvido (Fx) foi obtido multiplicando-se os valores da
concentração de cada nutriente inorgânico pelo valor da descarga fluvial de acordo com a seguinte
equação:
Fx = Qi . K (86,4). C
(Eq.2)
Onde Fx é o fluxo, K é uma constante e C é a concentração do nutriente em mg/L.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados das análises em laboratório dos nutrientes inorgânicos dissolvidos foram:


Nitrogênio amoniacal 47,6 µM, nitrito 12,2 µM, nitrato 67,2, fosfato 4,1 e silicato 94,4.
Os fluxos para os nutrientes estudados foram: 279kg/dia para o nitrogênio amoniacal,
188kg/d para o nitrito, 1355kg/d para o nitrato, 125kg/d para o fosfato e 2913kg/d para o silicato.
Considerando a soma entre amônio,nitrito e nitrato (nitrogênio inorgânico dissolvido), o
resultado perfaz um total de 1.822kg/d ou aproximadamente 1,8 tonelada/dia! Isto representa apenas
uma parcela do nitrogênio total uma vez que o nitrogênio orgânico não foi determinado. Também
esta afirmação é válida para o fósforo orgânico. O silicato apresentou maior fluxo em relação aos
outros nutrientes estudados o que era esperado, uma vez que o mesmo se encontra naturalmente em
concentrações mais elevadas nos sistemas fluviais em relação às águas estuarinas e marinhas.
Em se tratando de um rio poluído por esgoto doméstico é provável que a fração orgânica
tanto de nitrogênio quanto de fósforo apresente fluxos maiores quando comparados com aqueles das
frações inorgânicas.
Esses nutrientes enriquecem o sistema estuarino, mas é necessário avaliar a capacidade de
suporte do meio, considerando o volume de água e a dinâmica do ecossistema. Isso deve ser objeto

424
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

de estudos futuros para responder qual a capacidade de depuração dos aportes de nutrientes e de
matéria orgânica e se o excesso pode levar ao processo de eutrofização do mesmo.

Tabela 2. Fluxo dos nutrientes inorgânicos dissolvidos no exutório do Rio Paciência em maio
de 2008.
Q Fluxo
Nutriente µM (m3/s) (Kg/d)

Nitrogênio Amoniacal 47,5 3,776 279


Nitrito 12 3,776 188
Nitrato 67 3,776 1355
Fosfato 4 3,776 125
Silicato 94 3,776 2913

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observou-se que existe uma exportação elevada de nitrogênio inorgânico dissolvido do rio
para o sistema estuarino, isso deve-se principalmente ao esgoto “ in natura” de vários conjuntos
habitacionais e da drenagem superficial oriunda da urbanização da área de drenagem da bacia.
Existe ainda um fluxo considerável de silicato e fosfato nessa mesma direção. Entretanto é
necessário um estudo mais detalhado e prolongado, ou seja, no período seco e chuvoso para se obter
um melhor entendimento e falar com maior propriedade em relação ao fluxo desse ambiente.

REFERÊNCIAS
ALCÂNTARA, E.H., 2004. Mudanças climáticas, incertezas hidrológicas e vazão fluvial: o
caso do estuário do Rio Anil. Caminhos de Geografia, n. 8 (12), p. 158-173.

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Center Nacional pour L’Explotation Òceans. Brest. 395p.

BRANCO, S.M., 1999. A água, meio ambiente e saúde. In: REBOUÇAS, A. C.; BRAGA, B.;
TUNDISI, J.G. (Orgs). Águas Doces no Brasil: capital ecológico, uso e conservação. São Paulo:
Escrituras. Cap.7, p. 227-247.

CEDERWALL, H & ELMGREN, R. 1980. Biomass Increase of Benthic Macrofauna


Demonstrates Eutrophication of the Baltic Sea. Ophelia, Suppl 1: 287-304.

LEOPOLD, L., 1971. The hidrologic e ffets of urban land use. In: detwylwr, T:R. Man’s impact
on environment. New York: Mc Graw-Hill.cap 6.p. 205-224.

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NIXON, S.W. 1992. Quantifying the Relationship Between Nitrogen Input and the
Productivity of Marine Ecosystems. Proceedings of the advanced Marine Technical Conference,
5: 57-83.

NIXON. S.W, OVIATT, C.A; FRITHSEN, J & SULLIVAN, B., 1986. Nutrients and the
Producitivity of Estuarine and Coastal Marine Ecosystems. Journal of Limnol. Society of South
Africa, 12: 43-71.

425
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

APLICAÇÃO DA ANÁLISE ESTRUTURAL DA COBERTURA PEDOLÓGICA NOS


ESTUDOS DE DESERTIFICAÇÃO NA MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MISSI
– IRAUÇUBA-CE

Jacqueline Pires Gonçalves Lustosa,


Geografia/CFP/UFCG, jacque.gaya@gmail.com
José Gerardo Beserra de Oliveira
PRODEMA/UFC, jgbolv@oi.com.br

RESUMO

O Estado do Ceará possui uma extensa área inserida no domínio climático semi-árido que apresenta
peculiaridades naturais provenientes de sua dinâmica pedobioclimática. O rompimento do equilíbrio
entre os aspectos climáticos, pedológicos e da cobertura vegetal, por meio do uso e de ocupação do
solo, tem tornando o aspecto seco desse ambiente, acentuando a fisionomia peculiar de áreas
submetidas às condições de semiaridez. Este fato resulta numa paisagem com fisionomia xérica
durante quase todo ano. O Município de Irauçuba, localizado na região centro norte do Estado, é
uma das áreas nucleares mais representativas do desequilíbrio entre as condições naturais e o
manejo inadequado dos recursos naturais. Por esse motivo, tem sido apontado como uma área em
processo acelerado de desertificação. Os resultados dos estudos decorrentes da aplicação da análise
estrutural da cobertura pedológica demonstraram que a interação entre as variáveis geologia, clima,
relevo, vegetação e uso do solo são responsáveis pelo aspecto “desertificado” de Irauçuba. O clima
apresenta nível de aridez maior do que o definido no clima regional em conseqüência de sua
localização na zona de sombra de chuva da serra de Uruburetama, sendo, portanto, de natureza
orográfica. Os estudos micropedológicos demonstram a incipiência dos perfis de solos através da
quantidade de minerais primários não alterados, consequência dos baixos níveis de alteração
química das rochas. A aridez torna-se acentuada pelas características dos solos e do extrativismo da
cobertura vegetal. Um dos principais objetivos deste trabalho foi relacionar a gênese e evolução dos
sistemas pedológicos com os aspectos fisionômicos de sua paisagem e contribuir para os estudos
pedológicos de áreas semi-áridas. A relevância do estudo está na originalidade da metodologia
empregada, onde a análise da cobertura pedológica é combinada com a análise integrada das
variáveis ambientais na busca do entendimento da degradação/desertificação.

Palavras - chave: Análise estrutural, cobertura pedológica, desertificação, Irauçuba.

METODOLOGIA

A análise estrutural da cobertura pedológica é uma metodologia que baseia seu estudo na
exame dos diferentes níveis de organização do solo. Cada um deles tem características próprias que
o fazem funcionar como uma unidade, mas que mantém relações com outras que se encadeiam para
formar o todo. Essa metodologia tem como objetivo identificar não só as sucessões verticais
susceptíveis de serem observadas nos perfis de solos (nível de observação), mas, sobretudo, estudar
as variações laterais. Para isso, deve ser feita uma seleção das unidades representativas do modelado
(bacias de drenagens, interflúvios etc.) a serem estudadas.
O estudo em topossequências, conforme Boulet et al. (1982), consiste em examinar sob o
perfil da vertente escolhida três trincheiras: uma no topo, uma no meio e outra na base e, depois,
fazer as observações intermediárias necessárias (Fig..1). O objetivo é ligar lateralmente as
observações sucessivas, feitas verticalmente, para reduzir ao máximo as incertezas entre cada
trincheira. Antes da instalação das trincheiras intermediárias, faz-se um certo número de tradagens
426
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

na mesma seqüência e orientação das trincheiras. Utiliza-se um pedocomparador, no qual são postas
as amostras de cada tradagem, dispostas verticalmente como no terreno. Dessa forma, podem ser
comparadas duas tradagens. Se forem distintas, implanta-se outra entre as duas e assim
sucessivamente até encontrar os limites de transição entre uma organização e outra. Achados os
limites, implantam-se as trincheiras intermediárias.
No presente estudo a análise da cobertura pedológica foi realizada em topossequências na
encosta de um pequeno vale integrante da microbacia hidrográfica do rio Missi. A investigação
iniciou-se com a escolha das áreas para a implantação das topossequências; para isso foram
utilizadas imagens Landsat 5, na escala de 1:100.000, fotografias aéreas na escala de 1:39.000 do
Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), carta topográfica do IBGE (1:100.000),
mapa de solos do Município de Irauçuba na escala de 1:500.000 (JACOMINE, 1973) e um
minucioso reconhecimento do terreno. As observações das características do relevo, dos tipos de
solos, clima e da cobertura vegetal, importantes para a caracterização e delimitação das áreas
propícias à implantação das toposseqüências, foram baseadas em dados obtidos em
RADAMBRASIL (1975) e SUDENE (1990)..

Fig.1: Procedimento para a implantação de uma toposseqüência de solos. (A)- Modo de implantação de
tradagem ou trincheira (segundo BOULET, et al,1982a); (B)- Interpolação geométrica para reconstituir o
limite dos horizontes pedológicos (segundo NICOLA,1993).

As trincheiras das topossequências foram posicionadas geograficamente com o auxílio de um GPS e


seu perfil topográfico foi levantado com trena de 50 metros, régua e clinômetro. Inicialmente, três
trincheiras foram abertas, uma a montante, uma no meio e outra a jusante das vertentes escolhidas.
À medida que apareciam diferenças entre elas, novas trincheiras foram abertas. Na toposseqüência
1, foi utilizado o trado para encontrar os limites entre as organizações, mas, nas toposseqüências 2 e
3, em virtude do endurecimento do solo, foram utilizadas picaretas para o aprofundamento das
trincheiras.
A partir da descrição detalhada da geometria das organizações e das características morfológicas do
material dos solos, fez-se a coleta de amostras friáveis e indeformadas para análises em laboratório
(granulométrica, química, mineralógica e micromorfológica). Foram coletadas, também, amostras
de rochas para a confecção de lâminas petrográficas.
A coleta das amostras indeformadas foi realizada na forma de monólitos, devidamente orientados
em relação ao topo dos perfis, retirados da parede das trincheiras, principalmente na transição entre
427
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

diferentes organizações pedológicas. Esses monólitos foram catalogados e embalados para não
sofrerem deformações ou destruições da estrutura original durante o transporte até o laboratório.
O estudo das variáveis ambientais foi realizado com enfoque interdisciplinar tendo como base as
proposições de Birkeland (1974), segundo as quais a vegetação e o solo e, conseqüentemente, os
ecossistemas são formados naturalmente pela ação combinada de cinco variáveis ou fatores de
formação: material de origem, clima, relevo, organismos vivos e tempo.

RESULTADOS
Os estudos micropedológicos demonstraram que as organizações pedológicas possuem uma
associação litologia/solo que se reflete nas características morfológicas dos solos. A presença de
minerais primários observados nas análises microscópicas das lâminas delgadas (Fig. 2) indica que
estes solos são provenientes de uma pedogênese incipiente e que estão, de acordo com a noção de
equilíbrio proposta por Boulet et al. (1984), em equilíbrio pedobioclimático. A conjugação das
condições geológicas, climáticas, pedológicas, geomorfológicas e cobertura vegetal explica a
fisionomia seca da paisagem, que lembra um deserto, mas que é decorrente do baixo grau de
desenvolvimento dos solos. Esta fisionomia seca da paisagem é acentuada pela interferência
humana, pelo uso que faz do solo e da vegetação nas suas atividades agro-pastoris.

CONCLUSÕES
A ação antrópica nesse ambiente, não parece afetar os mecanismos naturais que geraram a atual
paisagem de Irauçuba, que é considerada como indicadora de desertificação. A desertificação, que
tem a ação humana e as mudanças climáticas como causas principais, é um processo que ocasiona
transformações naturalmente irreversíveis nos ecossistemas, resultando, não só na mudança de
cenário, mas, sobretudo, na funcionalidade dos seus elementos. A análise micropedológica da
região indica à existência de um equilíbrio pedobioclimático que aparentemente não é afetado pelo
antropismo. Resulta desse equilíbrio uma condição que nos sistemas pedológicos de Irauçuba
origina uma fisionomia semelhante a de um deserto, e que é, na presente situação decorrente da
aridez acentuada de seu clima

A B
A - Fundo matricial de cor bruna com esqueleto composto por grãos minerais de
microclina, plagioclási o, quartzo e apacos distribuídos p or toda seção. Pode se r
observado o pouco au mento do plasma (LN ).
B - Idem em LP

Fig. 2 : Fotomicrografias de lâminas delgadas do solo

428
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

REFERÊNCIAS

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BOULET, R., CHAUVEL, A. HUMBEL, F. X., LUCAS, Y. Analyse structurale en


cartographie pédologie. II – Une méthode d’analyse prennant em compte organisation
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Estado do Ceará. Recife: DPP, AGMA/DNPEA-SUDENE/DRN, Vol.1 e Vol 2, Recife, 1973.

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RADAMBRASIL – Folhas As. 24/25 – Jaguaribe/Natal - Brasil, MME, Levantamento de


Recursos Naturais, Vol. 23, Rio de Janeiro, 1975.
SUDENE - Dados Pluviométricos Mensais do Nordeste, Vol. 1 – Ceará – Recife, 1990

429
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS IRRIGADAS COM ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NOS


AQÜÍFEROS AÇU E JANDAIRA COM O USO DE GIS E SENSORIAMENTO REMOTO∗

João Silvio Dantas de Morais


Ms. Prof. Cartografia digital e Topografia do Centro de Ciências e Tecnologia da Universidade
Estadual do ceará-UECE.
jsilvio@uece.br.
Zulene Almada Teixeira
Analista de Recursos Gestão de Recursos Hídricos da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos –
COGERH.
zulene@cogerh.com.br.
José Alves Carneiro
Técnico de Informação da Companhia Companhia de Gestão de Recursos Hídricos – COGERH.
E-mail.: aneto@cogerh.com.br.
Leo Ávila França
Monitor. da Disciplina de Topografia da Universidade Estadual do Ceará-UECE.
arafattbk@hotmail.com
Luciana Souza Toniolli
Bolsista Provic. Universidade Estadual do Ceará-UECE.
E-mail.: lucianatonilli@hotmail.com

INTRODUÇÃO
Esta pesquisa teve por finalidade obter a descrição das áreas irrigadas por águas
subterrâneas na chapada do Apodi localizada no Estado do Ceará por intermédio de geotecnologias.
No Brasil e no mundo, as áreas irrigadas por águas subterrâneas são propícias ao
desenvolvimento de agricultura em face da disponibilidade e alocação de águas para a plantação em
quantidade suficiente e no momento certo, assegurando produtividade e sobrevivência de culturas,
mas seu uso deve ser gerenciada e devidamente controlado.
Ao contrário de outros recursos naturais ou matérias-primas, a água subterrânea existe em
todo o mundo. A possibilidade de ser extraída varia grandemente de local para local, dependendo
das condições de precipitação e da distribuição dos aqüíferos. Geralmente, a água subterrânea
apenas é renovada num certo período do ano, mas pode ser extraída durante o ano inteiro, desde que
o seu reabastecimento seja adequado e que a fonte se encontre protegida da poluição, podendo a
água subterrânea ser extraída indefinidamente.

No território nacional a ANA - Agencia Nacional de Águas é responsável pela identificação,


gerenciamento e controle do uso da Água Superficial e Subterrânea, nos Estados existem também as
companhias que gerenciam estes recursos, no caso do Ceará a COGERH complementa este trabalho
com gerenciamento do licenciamento e outorga do uso da água.

LOCALIZAÇÃO

A chapada do Apodi possui uma área de 5.200 Km2, sendo que, 35% do mesmo está
inserido no Estado do Ceará e 65% ao Rio Grande do Norte. É uma região propícia à agricultura
irrigada de frutas tropicais pela disponibilidade de terrenos constituídos por cambissolos, formados
pela decomposição dos calcários e latossolos resultantes do intemperismo dos arenitos; insolação e
temperatura.


Apoio da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos do Ceará-Sede Fortaleza/Governo do Estado do Ceará.
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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

O setor produtivo da agricultura irrigada segundo PINHEIRO J.C.V.(2001) já identificou


essas vantagens pedológicas e topográficas que são ainda bastante fortalecidas por uma média
pluviométrica em torno de 850 mm/ano, com expressivos volumes de águas subterrâneas.
Atualmente grandes investimentos já são aplicados pelo setor agrícola nessa área, com
exploração significativa das águas subterrâneas, sem, contudo observar-se a gestão participativa dos
recursos hídricos .
A principal fonte de água para irrigação é proveniente dos aqüíferos Açu e Jandaíra, sendo
este último o mais explorado. Para SERHID/RN (2004), o aqüífero Jandaíra tem espessura que
varia de 50 a 250 metros, é um aqüífero do tipo livre e de fácil exploração por poços tubulares que
chegam a profundidades de 100 metros. Já o aqüífero Açu é confinado pelos calcários da formação
Jandaíra e ocupa uma área de 3.764 Km2 segundo FEITOSA, E. C. A (2001) sendo captado por
poços que chegam a uma profundidade máxima de 1.000 metros.
Diante deste contexto, esta pesquisa teve como objetivo geral, identificar áreas irrigadas por
águas subterrâneas na chapada do Apodi por meio de geotecnologias. E, por objetivos específicos:
catalogar imagens de satélite CBERS 2B CCD da chapada do Apodi; comparar estas imagens antes
e depois do plantio; mapear e classificar as imagens obtidas com o software Arcview
ImageAnálisys 1.1; e, georreferenciar áreas irrigadas por poços tubulares captadores de água dos
aqüíferos da Chapada do Apodi utilizando o GPS GARMIM ETREX.

METODOLOGIA

Pesquisa do tipo descritiva e exploratória. Busca a adentrar-se na realidade geoespacial dos


recursos hídricos da chapada do Apodi e extensões irrigadas, explorar e refletir sobre o potencial do
uso de geotecnologias para o seu estudo.
O universo deste estudo constou de imagens multiespectrais de áreas irrigadas por poços
tubulares que captam água dos aqüíferos da Bacia Potiguar na porção do Ceará. Teve como critério
de inclusão as áreas avaliadas visualmente por meio do método dos quicklooks apenas para cenas
com cobertura de nuvens inferior ao limite de 10% em cada quadrante da imagem. Outros critérios
agruparam material empírico em dois momentos distintos, antes e após o plantio para a definição
dos limites das áreas de irrigação e uso continuado de águas subterrâneas.
Os instrumentos de coleta de dados constaram de imagens de satélite e mapas obtidos por
meio de geotecnologias. Desse modo, utilizou-se de técnicas de Geoprocessamento e de
Sensoriamento Remoto para identificação, quantificação e análise das áreas irrigadas na área de
estudo com água subterrânea.
Métodos e Procedimentos
Inicialmente, as áreas foram identificadas utilizando-se de imagens CBERS 2B CCD
disponíveis no catálogo de imagens do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Para cada
órbita foram selecionadas pelo menos duas datas, uma adquirida na fase inicial de plantio e outra na
fase de pleno desenvolvimento, a fim de permitir uma análise temporal das imagens. Esta técnica de
sensoriamento remoto tem sido muito utilizada para extração de informações para classificações
visuais ou estatísticas com precisão a informação de cada pixel da imagem, classificando-o em
categorias de acordo com sua informação espectral.
Em seguida, utilizando-se ferramentas do software ARVIEW Image Analysis 1.1 foi
realizado controle de posicionamento ou georreferenciamento das imagens com base nos dados do
datum geodésico IBGE - SAD69, com precisão submétrica, utilizando-se de um GPS geodésico
LEICA 900CS e com uma reestruturação da imagem por meio do melhoramento dos seus
histogramas por derivação e uma classificação semi-controlada das poligonais das áreas irrigadas
com um processo de máxima verossimilhança.
Depois, confirmou-se em campo ás áreas de irrigação quanto ao uso de águas superficiais ou
subterrâneas por dois profissionais especializados em geoprocessamento, permitindo o
levantamento de informações sobre o margeamento dos cursos de rios, canais e demais
abastecimentos em condutos livres em uma distância aproximada de 2 km do eixo, mapeadas em

431
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

áreas com uso continuado de águas subterrâneas. Este levantamento permitiu a definição dos limites
das áreas de irrigação e definição dos padrões de classificação supervisionada por estimativa
estatística. O fechamento das poligonais foi manual de forma a tentar minimizar o erro inerente ao
método de classificação estatístico. Esse apoio de campo juntamente com o banco de dados da
COGERH (informações de outorga, licença e cadastro de poços) permitiu relacionar a sobreposição
nas imagens identificadas e a localização exata das áreas irrigadas em campo, comprovada por GPS
GARMIM ETREX.
A análise e discussão incidiram sobre os dados ou materiais empíricos obtidos a partir das
imagens de satélite, o georreferenciamento por GPS em campo e a justaposição de imagens
mapeadas para comparação. Para confirmação do georrefenciamento das áreas irrigadas foi
utilizado o teste estatístico não-paramétrico chamado de “máxima verossimilhança”, comumente
utilizado em sensoriamento remoto dentro, pois envolve parâmetros da distribuição gaussiana
multivariada por amostras (ERBERT, 2001). No entanto, requer a definição clara e precisa das
áreas de amostragem e extensa seleção de píxeis para obtenção de bons resultados (INPE, 2002).
RESULTADOS
Os resultados encontrados serão apresentados e discutidos em três tópicos descritivos: “a
porção do Ceará do aqüífero Açu e Jandaíra na chapada do Apodi”, Interface climática, geológica e
hidrogeológica da área e “Áreas irrigadas por poços tubulados por águas subterrâneas na chapada
do Apodi na porção do Ceará”.
TÓPICO 1 - A porção do Ceará do aqüífero Açu e Jandaíra na chapada do Apodi
Esta área abrange 4.200 km2 e situa-se na região leste do Estado do Ceará, na divisa com o
Estado do Rio Grande do Norte. Compreende parte da Bacia Sedimentar Potiguar (porção cearense)
e está limitada da seguinte maneira: a leste com a divisa do Estado do Ceará e Rio Grande do Norte;
a norte com o oceano atlântico; a oeste, o contato do aluvião do rio Jaguaribe com o embasamento
cristalino; e ao sul, o contato da formação Açu e o embasamento cristalino, como mostra a figura
abaixo (Figura 1).

Figura 1. Localização da porção do Ceará no aqüífero Açu e Jandaíra na chapada do Apodi.

TÓPICO 2 - Interface climática, geológica e hidrogeológica da área


A área objeto do presente estudo está posicionada na borda noroeste da Bacia Potiguar com
4768 km2 de extensão que corresponde a 8% da extensão total da Bacia Potiguar. Existem várias
controvérsias em relação à extensão da bacia Potiguar, para Souza (1982) ela abrange uma área de
cerca de 41.000 km2, desses 21.500 km2 na parte emersa e 19.500 km2 na porção submersa; Bertani
et al., (1990) estima uma área total de 48.000 km2 com aproximadamente 21.000 km2 emersos e
27.000 km2 na plataforma e talude continental; Araripe & Feijó (1994) inferem uma área total de
cerca de 60.000 km2, sendo 40% localizados na porção emersa.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

A referida Bacia localiza-se no extremo nordeste do Brasil, mais precisamente na margem


costeira norte do Estado do Rio Grande do Norte e nordeste do Ceará. Do ponto de vista tectônico
possui como limite oeste o alto de Fortaleza; sudoeste e sul o embasamento cristalino da Faixa
Seridó; e norte e nordeste a cota batimétrica de 200 m na Plataforma continental brasileira (Figura
2).

Figura 2. Mapa geológico simplificado da Província Borborema, nordeste do Brasil.

A formação Açu é composta por espessas camadas de arenito médio a grosso,


esbranquiçado, intercalado com folhelho e argilito verde-claro e siltitos castanho-avermelhado, com
registros de até 1.000 metros de espessura. Exibe contato inferior discordante e erosivo com a
Formação Alagamar e com o embasamento cristalino, e em sua porção superior é concordante com
a Formação Jandaíra.
A Formação Jandaíra compreende calcarenito com bioclastos de moluscos, algas verdes,
briozoários e equinóides. Também ocorrem calcilutitos com marcas de raízes, dismicritos e gretas
de contração. A Formação Jandaíra apresenta uma ampla variação litológica tanto vertical como
horizontal composta por calcários cinzas e cremes, margas, siltitos, folhelhos, argilitos e dolomitos.
O ambiente deposicional é descrito como uma planície de maré, laguna rasa, plataforma rasa e mar
aberto. O contato inferior desta Formação é concordante com a Formação Açu.
O Aqüífero Jandaíra localiza-se na porção superior da seqüência carbonática da Formação
Jandaíra, dispõe-se sub-horizontalmente constituindo um aqüífero essencialmente livre,
heterogêneo, hidraulicamente anisotrópico e de circulação cárstica em seu interior. Na área de
estudo abrange uma área de 1245 km2.
Os Aqüíferos Açu e Jandaíra estão separados por uma camada semipermeável aquitardo,
constituída por diferentes litologias, correspondentes ao topo da Formação Açu e a base da
Formação Jandaíra. As principais litologias desta camada são argilas arenosas, argilas siltosas,
argilitos, folhelhos, margas, calcarenitos e calcários compostos, com eventuais intercalações de
lentes arenosas a diferentes níveis.

433
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

TÓPICO 3 - Áreas irrigadas por poços tubulados por águas subterrâneas na chapada do
Apodi na porção do Ceará
Nesta pesquisa foram identificados 10.767,58 ha de áreas irrigadas exclusivamente com
água subterrânea, os municípios com maior concentração são Quixeré e Aracati, conforme Figura 3
e Quadro 1.

Figura 3- Áreas irrigadas com água subterrânea nos aqüíferos Açu e Jandaíra da porção Ceará da
Chapada do Apodi.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 4- Imagem CBERS2B das áreas irrigadas com água subterrânea nos aqüíferos Açu e Jandaíra da porção Ceará
da Chapada do Apodi.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

MUNICÍPIO ÁREA (ha)


Aracati 3.113,70
Icapuí 469,80
Jaguaruana 811,70
Limoeiro do Norte 1.628,40
Quixeré 4.614,00
Tabuleiro do Norte 128,90
Total 10.766,50
Fonte: Dados primários
Quadro 1 - Municípios e áreas irrigadas com água subterrânea.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a pesquisa foi possível identificar as áreas de usos de água subterrâneas dos aqüíferos
Açu e Jaibaras para irrigação de fruticulturas e pastagens, que poderá embasar o projeto maior de
controle e gerenciamento de licenciamentos e outorgas por parte das agencias e companhias
reguladoras como a ANA e COGERH.
Foi possível com a sobreposição de imagens multiespectrais a formatação de um banco de
dados referentes as demandas por água bem como comprovar a eficácia do sensoriamento remoto e
das ferramentas de GIS para monitoramento em áreas irrigadas.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

CARACTERIZAÇÃO FAUNÍSTICA, FLORISTÍCA E IMPACTOS AMBIENTAIS –


PARQUE NACIONAL SERRA DA CAPIVARA – MUNICÍPIO DE SÃO RAIMUNDO
NONATO/PI

Jorge Luis Paes de Oliveira COSTA


Acadêmico de Geografia
Universidade Federal do Piauí
jorgeluispaes@hotmail.com
Agostinho Paula Brito CAVALCANTE
Departamento de Geografia
Universidade Federal do Piauí
agos@ufpi.br

RESUMO
O Parque Nacional Serra da Capivara – PI é uma reserva de preservação patrimonial localizada no
interior do Brasil, que abriga exuberante concentração faunística e florística, muito especificas e
pouco estudadas. O objetivo dessa pesquisa é realizar um estudo geoecológico da área do Parque
Nacional Serra da Capivara e adjacências, através da identificação e caracterização da fauna e flora
existentes e do levantamento das principais causas de impactos ambientais na região. A pesquisa foi
realizada mediante revisão da bibliografia referente ao tema e a área estudada. Foram realizadas
também pesquisas de campo, onde foram abordados procedimentos metodológicos como a
observação, entrevista e acompanhamento de pessoas com conhecimento da área. O bioma caatinga,
que cobre a área em estudo, vem sofrendo forte processo de degradação nos últimos anos em
decorrência de atividades sócio-econômicas. Por isso, é fundamental que novos trabalhos de
pesquisa sejam realizados no sentido de contribuir para o entendimento dos processos naturais que
ocorrem na região, visando à adequada gestão ambiental e conservação da unidade estudada.
Palavras-chave: Meio Ambiente, Paisagem, Piauí.

INTRODUÇÃO
A geoecologia, ou biogeografia, estuda a distribuição geográfica dos seres vivos com base
no conceito de evolução das espécies, procurando entender padrões de organização espacial e os
processos que resultaram em tais padrões. Diferentes condições ecológicas criam pressões seletivas
diferentes, ocasionando coincidência entre as transições ecológicas e os limites de distribuição de
espécies aparentadas, o que levou a divisão do mundo em regiões biogeográficas. Essas regiões
possuem características comuns e são dotadas de grande biodiversidade e ecossistemas diversos,
dentre estes, encontra-se a caatinga no nordeste do Brasil.
No nordeste brasileiro, o estado do Piauí e parte do Maranhão, formam um conjunto
denominado ‘meio-norte’, que marca ecologicamente uma zona de transição entre o domínio
amazônico e o semi-árido nordestino (Emperaire, 1989). No Piauí, o cerrado e a caatinga se
interpenetram em diversos pontos, tornando-se difícil estabelecer limites entre tais tipos de
formações. São nessas áreas de transição que os fatores climáticos, geomorfológicos e edáficos
tomam maior importância, determinado a distribuição das espécies ali representadas (Emperaire
,1989). Um exemplo da influência desses fatores na vegetação e na fauna, pode ser observado no
sudeste do Piauí, na região do Parque Nacional Serra da Capivara.
O Parque Nacional Serra da Capivara, Piauí (0826’50” - 0854’23” – S e 4219’47” -
4245’51” O), é conhecido internacionalmente por constituir um dos mais importantes patrimônios
culturais pré-históricos. É o único parque nacional situado no domínio morfoclimático das
caatingas, sendo uma das ultimas áreas do semi-árido possuidora de importante diversidade
biológica, abrigando fauna e flora específicas e pouco estudadas. Esta pesquisa objetiva
primordialmente o estudo geoecológico da área do Parque Nacional Serra da Capivara e suas
439
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

circunvizinhanças, através da caracterização da fauna e flora existentes e do levantamento das


condições naturais, das interferências antrópicas e das formas e uso e ocupação da região pelas
atividades sócio-econômicas, bem como os impactos ambientais provenientes destas atividades.
Como objetivos específicos pretendem-se: 1) Identificar a cobertura vegetal do Parque
Nacional Serra da Capivara e circunvizinhanças, caracterizar as categorias da vegetação do parque e
cartografá-las, a fim de entender sua organização e os processos que resultaram na atual distribuição
espacial. 2) Identificar e caracterizar as espécies da fauna da área do parque nacional. 3) Realizar
análise dos impactos ambientais decorrentes da ocupação humana e suas formas de uso na área do
parque e adjacências.

MÉTODOS
Utilizou-se a análise sistêmica da paisagem, como fundamento para a organização do
espaço na área do Parque Nacional Serra da Capivara e circunvizinhanças, objetivando uma
caracterização geoambiental e a avaliação das condições ambientais, tendo em vista a elaboração de
proposições para minimizar os efeitos dos impactos provenientes das atividades antrópicas.
Foram realizados levantamentos de livros, periódicos, relatórios, documentos oficiais e
mapas nas bibliotecas da Universidade Federal do Piauí, Universidade Federal do Vale do São
Francisco e na Fundação Museu do Homem Americano.
Os métodos adotados seguiram os encaminhamentos fundamentais das pesquisas
científicas “in loco”, onde foram abordados procedimentos metodológicos como a observação,
entrevistas, acompanhamento de pessoas com conhecimento da área e complementação de dados,
através de consultas a bibliografia referente ao tema e/ou a área estudada.

JUSTIFICATIVA
O estudo das interações entre as atividades sócio-econômicas e as unidades de conservação
consistem em um setor de vanguarda da pesquisa ecológica, tanto pelo avanço e a gravidade da
crise sócio-ambiental global, como pela dificuldade encontrada mundialmente para a implantação
dos planos de manejo existentes. Assim, é de fundamental importância estudar a relação da
comunidade com o seu meio, como se dá o processo de utilização dos recursos naturais e como vive
e sobrevive o homem que habita próximo a uma área delimitada para conservação.Essa
compreensão é decisiva para o sucesso das estratégias de preservação dos ecossistemas (Arruda,
1993).
A importância da escolha da área do Parque Nacional Serra da Capivara, no município de
São Raimundo Nonato-PI, para este trabalho, deve-se ao fato da área em estudo está localizada
dentro do bioma da caatinga, ainda pouco conhecido. O conhecimento científico sobre o bioma
caatinga é um fato importante, uma vez que estando bastante avançado o seu processo de
degradação, torna-se fundamental que novos trabalhos de pesquisa sejam realizados no sentido de
contribuir para entendimento de seus processos naturais, visando à adequada gestão ambiental da
unidade de conservação estudada.

VEGETAÇÃO E FLORA

A região nordeste do Brasil é ocupada por variadas paisagens fitogeográficas, de acordo


com a pluralidade climática e ao quadro geomorfológico da área. Como resultado de um processo
seletivo natural, a caatinga encontra-se adaptada às condições ecológicas regionais (Arruda, 1993).
Devido ao grande numero de tipos e associações vegetais, com fisionomia e flora diferentes, a
caatinga é o bioma mais heterogêneo do Brasil, numa área de aproximadamente 800.000 km
(Lemos, 1999).
Essa vegetação consiste de árvores e arbustos espinhentos e suculentos, ramificados e
decíduos durante a estação seca (Lemos, 1999). Devido sua heterogeneidade, a formação caatinga é
dividida em categorias: caatinga arbustiva, caatinga subarbustiva e caatinga arbórea.

440
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Na área do Parque Nacional Serra da Capivara, foram estabelecidas as seguintes categorias


de vegetação: caatinga arbustiva alta densa, formações arbóreas, caatinga arbórea média densa,
caatinga arbustiva baixa e caatinga arbustiva arbórea.Conforme Emperaire (1989), essas várias
formações são correspondentes às unidades geomorfológicas que compõem a área de estudo, e
foram estabelecidas sobre os critérios de solo, estrutura da vegetação, composição florística e
degradação.
Conforme Santos (2006), a paisagem atual do Parque Nacional Serra da Capivara é
resultado de transformações que foram se produzindo durante muito tempo. É composta de
planaltos ou chapadas, morros, serras, serrotes e planícies, que se encontram na fronteira entre dois
diferentes conjuntos geológicos: o domínio sedimentar e o embasamento cristalino. Uma cuesta, de
aproximadamente 180 km de extensão, é o que separa as duas formações geológicas representadas
pela bacia sedimentar Piauí-Maranhão e pela depressão periférica da planície pré-cambriana do São
Francisco (Santos, 2006). É nesse contexto geomorfológico que está inserida as diferentes
categorias da formação caatinga na área do Parque Nacional Serra da Capivara.
No planalto sedimentar, foram estabelecidas as seguintes categorias de vegetação: caatinga
arbustiva densa do reverso da cuesta, formações arbóreas da frente da cuesta e das ravinas, caatinga
arbustiva aberta das bordas da chapada, caatingas arbustivas arbóreas dos vales e caatinga do
tabuleiro estrutural.
A caatinga arbustiva densa está localizada no reverso da cuesta. É uma formação de
fisionomia homogênea, alta, densa, e com penetração difícil (Arruda, 1993).As formações arbóreas
estão localizadas na frente da cuesta e nas ravinas.Segundo Emperaire (1989), nas ravinas pouco
profundas encontra-se a formação floresta semi-decídua de Sapotáceas. Nas ravinas mais profundas
da frente da cuesta está à formação floresta semi-decídua de Lauráceas e Ochnáceas, formando uma
floresta mais aberta. Em poucas ravinas da frente da cuesta, em alguns vales, e no tabuleiro
estrutural encontra-se a formação caatinga arbórea média densa.
A caatinga arbustiva aberta localizada nas bordas da chapada é uma formação sobre
arenitos erodidos na forma de carapaça de tatu. Algumas espécies nessa formação chegam a atingir
3m de altura. Emperaire (1989), divide em dois tipos as caatingas arbustivas arbóreas dos vales, de
acordo com a área de ocupação: caatinga arbustiva arbórea média dos vales silto-areníticos e a
caatinga arbustiva arbórea dos vales areníticos.
A caatinga arbustiva arbórea média dos vales silto-areníticos, segundo Emperaire (1989),
se dá na formação pimenteiras na bacia da Boa Esperança. É uma formação de caatinga densa
pouco degradada.A caatinga arbustiva arbórea dos vales areníticos se dá na formação cabeças nos
declives do vale da Serra Branca.É uma formação de caatinga arbustiva baixa densa e sofre ação
antrópica (Arruda, 1993).
A caatinga do tabuleiro estrutural, conforme Emperaire (1989), é uma formação de uma
faixa de aproximadamente 30 km ao longo do povoado Zabelê.Segundo Arruda (1993), encontra-se
muito antropizada pela exploração de madeira.
Na depressão periférica, foram estabelecidas as seguintes categorias de vegetação: as
caatingas das áreas de micaxistos, as caatingas dos batólitos graníticos, as caatingas degradadas dos
gnaisses e migmatitos e a caatinga arbórea aberta dos maciços calcários.

As caatingas das áreas de micaxistos, conforme Emperaire (1989), estão divididas em duas
formações: a caatinga arbustiva alta densa dos platôs de pedimento e a caatinga arbórea densa dos
vales. A primeira estende-se do sul da frente da cuesta até próximo ao rio Piauí, possui baixa
cobertura do solo pela vegetação e é quase inabitada (Arruda, 1993).
A caatinga arbórea densa dos vales estende-se da frente da frente da cuesta aos vales mais
profundos do rio Piauí.Segundo Arruda (1993), essa formação é antropizada pelo corte de madeira.
As caatingas dos batólitos graníticos, estão localizadas sobre aglomerados de matacões e inselbergs,
entre a frente da cuesta e o rio Piauí (Emperaire, 1989).
A caatinga arbórea aberta é uma formação pouco especifica onde é praticada a criação
extensiva devido ao acúmulo de água na bacia dos maciços (Arruda, 1993). A caatinga herbácea
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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

arbustiva aberta é uma formação secundária, de extrato herbáceo importante durante a estação
chuvosa, segundo Emperaire (1989).Possui lagoas e é ocupada pelo pastoreiro intensivo.
As caatingas degradadas dos gnaisses e migmatitos dividem-se em duas formações,
segundo Emperaire (1989): caatinga arbustiva alta densa dos inselbergs e caatinga herbácea
arbustiva de uma placa rochosa gnáissica. A primeira encontra-se sobre areias rochosas com 50m de
altura e de 2 a 3 km de comprimento, é antropizada pela exploração de madeira e agricultura
(Arruda, 1993). A caatinga herbácea arbustiva de uma placa rochosa gnáissica encontra-se na
transição da caatinga para o cerrado.
Na região da caatinga arbórea aberta dos maciços calcários há extração de madeira e
exploração de cal (Arruda, 1993). Nas falésias dos maciços ocorrem “fictus”, nos declives ocorre
uma vegetação decídua arbórea aberta e no entorno dos maciços há uma vegetação degradada.

Figura 02: Distribuição da vegetação no Parque Nacional Serra da Capivara.

FAUNA
A fauna da caatinga é constituída por espécies comuns a outros ambientes, como o cerrado
e a floresta amazônica, porem com menor biodiversidade, poucos endemismos, e sem adaptações
fisiológicas para ambientes secos. Isso se deve as características do clima, que excluem animais
incapazes de resistir às secas, à estrutura do ambiente, que apresenta complexidade menor que
outros ambientes, e a ação antrópica que a caatinga vem sofrendo desde sua colonização
(FUMDHAM, 1998).
Conforme Arruda (1993), a fauna da caatinga é originária de ambientes mésicos, ou seja,
ambientes compostos de matas de galerias ou boqueirões. Estes ambientes servem de ilhas durante a
estação seca, permitindo a subsistência das espécies, as migrações e facilita a expansão das
populações nas estações favoráveis.
O Parque Nacional Serra da Capivara abriga populações da maioria dos endemismos da
caatinga. Os refúgios são representados pelos enclaves de mata semi-decídua dos boqueirões, que
assumem importância para a fauna durante a estação seca. Além dos endemismos, existem no
parque nacional, diversas espécies da fauna ameaçadas de extinção.
São registrados no Parque Nacional Serra da Capivara 33 espécies de mamíferos não
voadores, 24 espécies de morcegos, 208 espécies de aves, 19 espécies de lagartos, 17 espécies de
serpentes, e 17 espécies de jias e sapos (FUMDHAM, 1998). São dados não definitivos, pois novas
espécies são encontradas com freqüência na área.
Entre os mamíferos encontrados no parque destaca-se o único endêmico da caatinga, o
mocó(kerodon rupestris). Vive em rochas, lajedos, serrotes, e boqueirões utilizando as fendas como
abrigo contra o calor e os predadores. Outro mamífero comum no parque é o tamanduá-mirim
(Tamanduá tetradactyla). Esta espécie localiza-se em áreas de afloramentos rochosos.
O parque é rico em espécies de endentados. Os tatus são um grupo americano, que existem
apenas nesse continente, da Patagônia até o sul dos Estados Unidos. São cinco espécies de tatus
registrados no parque: o tatu canastra (Priodontes maximus), o tatu-china (Dasypus septencinctus),
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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

o tatu-bola (Tolypeutes tricinctus), o tatu-verdadeiro (Dasypus novemcinctus) e o tatu-peba


(Eupharactus sexcinctus). Sendo o tatu-bola uma espécie em extinção e as duas ultimas espécies de
tatus as que mais sofrem com a ação ilegal dos caçadores (FUMDHAM, 1998).
Há três espécies de primatas no parque: o sagui-de-tufo-branco (Callithrix jachus), o
macaco-prego (Cebus apella), e o guariba (Alouatta caraya). O guariba é uma espécie típica do
cerrado e pantanal, com uma população reduzida no parque, são testemunho de um período mais
úmido que o atual, essas espécies vivem nas áreas dos boqueirões e baixões (FUMDHAM, 1998).
A comunidade de carnívoros do parque é muito diversificada, com duas espécies de
canídeos: raposa (Dusicyon thous) e graxim (Dusicyon vetulus), seis espécies de felídeos: onça-
pintada (Panthera onça), onça vermelha (Puma concolor), jaguatirica (Leopardus pardalis),
maracajá-peludo (Leopardus wiedii), gato-macambira (Leopardus tigrina) e gato-vermelho
(Herpailurus yaguaroundi), duas espécies de mustelídeos: cagambá (Conepatus semistriatus) e
irara (Eira bárbara), e uma espécie de procionídeo: mão-pelada (rocyon cancrivorus). A população
de onças-pintadas no parque é uma das ultimas que ainda sobrevivem na caatinga do nordeste
brasileiro (FUMDHAM, 1998).
Os herbívoros encontrados no parque estão reduzidos a quatro espécies: duas de veados,
veado-catingueiro (Mazama guazoubira) e veado-mateiro (Mazama americana), e os porcos-do-
mato, queixada (Tayassu pecari) e caititu (Tayassu tajacu). As aves são o componente mais
conspícuo da fauna do parque que abriga quase todas as espécies endêmicas da caatinga.
Algumas delas são: o cabeça-vermelha (Paroaria dominicana), o pica-pau-pigmeu
(Picumnus pygmaeus), o beija-flor (Anopetia gounellei), o periquito (Aratinga cactorum), o
curiango (Caprimulgus hirudinaceus), o casaca-de-couro (Pseudoseisura cristata), a choca-de-boné
(Herpisilochmus sellowi), a choca-de-caatinga (Sakesphorus cristatus), o tem-farinha-aí (Hylopezus
ochroleucus), o golinho (Sporophila alboguralis), o pintassilgo-baiano (Carduelis yarellii), o asa-
de-telha (Agelaioides fringillarios). E espécies de aves consideradas ameaçadas de extinção no
nordeste do Brasil: o jacú (Penélope jacucaca), o pintassilgo (Carduelis yarellii), e a maracanã
(Primolius maracanã) (FUMDHAM, 1998).
Na caatinga propriamente dita, encontramos a maior diversidade de aves. Parte das aves da
caatinga parece capaz de utilizar e sobreviver em áreas que foram degradadas e estão em
regeneração, como roças abandonadas ou áreas queimadas. As aves mais abundantes na área do
parque são as diferentes espécies de rolas (Columbina picui), pombas também são muito comuns,
como a juriti (Leptotila verreauxi).
Os maiores lagartos da região são o camaleão (Iguana iguana), que se alimenta de folhas e
frutos, e o teiú (tupínambis merianae), que se alimenta de frutas e animais menores.Todas as
serpentes encontradas no parque são carnívoras. As espécies maiores como a jibóia (Boa
constrictor), a caninana (Spillotes pullatus) e a cascavel (Crotalus durissus cascavella), comem
roedores e aves. As espécies menores, como a bicuda (Waglerophis merremii) e a cobra-cipó
(Phylodryas nattereri), caçam insetos e jias.

IMPACTOS AMBIENTAIS
O Parque Nacional Serra da Capivara possui área de 129.140ha, com perímetro de 214 km,
ocupando áreas dos municípios de São Raimundo Nonato, Coronel José Dias, João Costa e Brejo do
Piauí. A parceria FUMDHAM, Fundação Museu do Homem Americano, e IBAMA, Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, ajuda na preservação e
conservação da fauna e flora do interior do parque, contra a ação exploratória do homem. O parque
nacional não está imune à ação do homem, os impactos ambientais existentes decorrem das áreas
adjacentes ao parque, influenciando consideravelmente a reserva faunística e florística da região.
As comunidades que habitam o entorno do parque, são formadas de pessoas com poucas
condições financeiras e dotadas de pouco conhecimento. Esses indivíduos por não entenderem a
importância de preservar os recursos do parque nacional, não possuem nenhuma preocupação em
realizar atividades ilegais na área. A pecuária, a agricultura de subsistência e intensiva e a
exploração de madeira são as principais responsáveis pelo antropismo na região (Arruda, 1993).
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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Na passagem do entorno para o interior do parque, é comum encontrar animais como bois,
vacas, bodes, cabras, soltos na caatinga se alimentando das folhas das árvores, e mais comum ainda
são as inúmeras fazendas de gado muito próximas as reservas do parque, tão próximas que
caminhando pela propriedade rural não se sabe se está dentro ou fora do parque. A pecuária
extensiva e intensiva é um dos antropismos mais comum na área do parque, que degradam a
cobertura vegetal da região.
Grande parte dos impactos ambientais que o Parque Nacional Serra da Capivara sofre são
visualmente identificados. É o caso do reflorestamento, ocorrido em virtude do desmatamento de
extensas áreas de matas nativas nos municípios vizinhos ao parque. A extração de madeira para o
consumo da lenha em olarias, caieiras, casas de farinha, e padarias nos municípios entorno do
parque, é pratica comum e livre de qualquer controle ou fiscalização (Arruda, 1993).
Para diminuir os danos, foram implantados diversos projetos de reflorestamento com caju
nas áreas devastadas pela extração de madeira. As plantações de caju, além de servirem como
reflorestamento de uma área desmatada, são o modo de sobrevivência de algumas comunidades nas
circunvizinhanças do parque, que vivem em função da venda do caju e de outros frutos que são
plantados na propriedade. A extração de madeira e a agricultura de subsistência e intensiva são dois
antropismos comuns na área do parque, que devastam a mata nativa e ameaçam a sobrevivência da
fauna local.
A caça ilegal é outra atividade freqüente na área do Parque Nacional Serra da
Capivara.Mesmo com a fiscalização de órgãos como o IBAMA e FUMDHAM, alguns indivíduos
insistem na prática da caça ilegal, aprisionado espécies endêmicas e ameaçadas de extinção da
fauna local.O Tatu-verdadeiro (Dasypus novemcinctus), o Tatu-peba (Eupharactus sexcinctus) e o
Mixila (Tamanduá tetradactyla), são algumas das espécies da fauna local que mais sofrem com a
ação dos caçadores na região. A caça ilegal provoca alteração no meio ambiente em decorrência da
ação do homem, com isso, é outro antropismo que acontece no Parque Nacional Serra da Capivara.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse estudo procurou-se caracterizar geoecologicamente a área do Parque Nacional Serra


da Capivara e suas circunvizinhanças, identificando as formações vegetais e as espécies da fauna,
além dos principais impactos ambientais que ocorrem na área em estudo.
Através da análise feita à cerca da biogeografia da área, é possível concluir que, a
formação caatinga, bastante heterogênea na área em estudo, é indispensável para a sobrevivência
das espécies da fauna que vivem na região, mantendo uma relação de interdependência.
A fauna do parque, mesmo resistindo às duras condições naturais impostas pela região, é
extremamente frágil e as reduzidas espécies existentes possuem relações de dependência umas com
as outras, mantendo o equilíbrio ecológico.
Os impactos ambientais gerados pela ação antrópica na área, mesmo sendo pequenos se
comparados a outros ambientes, trazem danos irreparáveis à fauna e flora local, já que o ambiente
em estudo é considerado frágil e com baixa capacidade de regeneração.
A parir das conclusões obtidas com esta análise, pode-se formular um conjunto de
propostas que definam, ou pelo menos, orientem uma metodologia de ordenação desse espaço.
Sugerem-se programas que orientem as populações vizinhas ao parque, sobre os danos
causados ao ambiente em decorrência de atividades ilegais, com noções sobre educação ambiental.
Uma fiscalização mais rígida para haver maior proteção da fauna local e garantir o
equilíbrio ecológico.
Maior preocupação da organização do parque com as comunidades vizinhas, a fim de
alertar sobre a importância do Parque Nacional Serra da Capivara e promover projetos que
beneficiem tanto o parque quanto a população local.
Por ultimo, sugere-se que sejam incentivadas pesquisas, para que se possa compreender o
funcionamento e a capacidade do ambiente do Parque Nacional Serra da Capivara, permitindo o

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

desenvolvimento da área em estudo e do seu meio ambiente, em beneficio das gerações futuras
melhorando a qualidade de vida.

REFERÊNCIAS

ARRUDA, Moacir B. Ecologia e antropismo na área do município de São Raimundo Nonato e


Parque Nacional Serra da Capivara (PI). Tese de Mestrado. Brasília: Instituto de Ciências
Biológicas – Departamento de Ecologia – UNB – Brasília (DF), 1993.

LEMOS, Jesus R. Fitossociologia do componente lenhoso de um trecho de vegetação arbustiva


caducifólia espinhosa no Parque Nacional Serra da Capivara, Piauí, Brasil. Tese de Mestrado.
Recife: Pós-Graduação em Biologia Vegetal – Universidade Federal do Pernanbuco – Recife (PE),
1999.

EMPERAIRE, L. La caatinga du sud-est du Piauí (Bresil) estude etnonobotanique. Paris:


Université Pierre at Marie Curie, 1989.

FUMDHAM. Parque Nacional Serra da Capivara – Piauí – Brasil. São Raimundo Nonato:
Fundação Museu do Homem Americano, 1998.

SANTOS, Janaina C. Reconstrução paloambiental dos depósitos sedimentares neogênicos do


Parque Nacional Serra da Capivara e circunvizinhanças, Piauí. Tese de Doutorado. Recife:
Centro de Tecnologia e Geociências – Pós Graduação em Geologia – Universidade Federal do
Pernambuco – Recife (PE), 2006.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

ZONEAMENTO AMBIENTAL PARA O MONUMENTO NATURAL


DAS FALÉSIAS DE BEBERIBE.
Juliana Maria Oliveira da Silva
Universidade Federal do Ceará - UFC
julianageografiaufc@yahoo.com.br
Edson Vicente da Silva
Universidade Federal do Ceará - UFC
cacau@ufc.br

RESUMO
O litoral possui uma diversidade de paisagens sendo um ambiente frágil e que precisa de medidas
de gestão ambiental para um correto ordenamento no processo de uso e ocupação do litoral. Apesar
de existir a legislação ambiental que protege o meio ambiente, o não cumprimento das normas
legais tem causado graves impactos ambientais no litoral. O litoral cearense nas últimas décadas
vem sendo ocupado intensamente por grandes investimentos imobiliários com hotéis de grande
porte e casas de veraneio que ocupam as Áreas de Preservação Permanente comprometendo a
dinâmica natural dos ambientes costeiros. A criação de unidades de conservação no litoral tem
contribuído para a minimização dos efeitos negativos destes investimentos, mas isso não quer dizer
que estejam livres de impactos ambientais, pois em algumas unidades de conservação se tem
verificado a construção de infra-estruturas nos ambientes frágeis da área. Este trabalho trata de uma
contribuição para o gerenciamento dos ambientes costeiros, tendo como objeto de estudo o
Monumento Natural das Falésias de Beberibe criado em unho de 2004 localizado no litoral leste do
Ceará nas praias de Morro Branco e das Fontes no Município de Beberibe. A área de estudo
engloba não só o Monumento Natural, mas o seu entorno geográfico como a faixa de praia, dunas
móveis e fixas, lagoas e falésias fora da delimitação do Monumento Natural. Como propostas de
gerenciamento para a unidade de conservação delimitaram-se uma zona de amortecimento e um
zoneamento ambiental. Outra proposta para a área de estudo foi a criação de uma APA para a praia
das Fontes com o seu zoneamento. Desta forma não só o interior do Monumento Natural ficará
protegido, mas também todos os outros ambientes estudados, contribuindo assim para uma gestão
integrada do litoral.
Palavras-chaves: monumento natural, zoneamento ambiental, área de proteção ambiental.

INTRODUÇÃO
A política ambiental de criação e instituição de unidades de conservação sejam elas de
proteção integral ou uso sustentável, tem conseguido alguns resultados concretos quanto a atingir
objetivos de proteção paisagística e uso sustentável de recursos naturais (SILVA, 2008).
O objeto de estudo deste trabalho, o Monumento Natural das Falésias de Beberibe, localiza-se
no município de Beberibe, litoral leste do Estado do Ceará. Criado em junho de 2004 devido a sua
beleza cênica que atrai muitos visitantes, o Monumento Natural tem por objetivo a sua proteção
contra os impactos ambientais que ocorriam anteriormente nas falésias, antes do decreto de sua
instituição como unidade de conservação. O Monumento das Falésias possui uma área de 31,2
hectares e um perímetro 5.709 metros localizando-se em duas praias (Morro Branco e Fontes), que
possuem uma intensa atividade turística e de lazer além de uma significativa pressão imobiliária.
As falésias do Monumento Natural são as únicas que estão protegidas e não possuem
ocupações, enquanto que as outras como as da Praia das Fontes são ocupadas por hotéis e casas de
veraneio, é como se o Monumento Natural fosse um “ilha” em meio a tantas ocupações presentes ao
seu redor. Todo o entorno geográfico que abrange as falésias de Beberibe necessita de um
ordenamento de uso e ocupação do solo adequado aos seus limites. Por conseguinte, achou-se
interessante incluir na pesquisa não só as falésias locais, mas outras unidades geoambientais (praia,
campos de dunas, planícies lacustres e as falésias que estão fora da delimitação do Monumento

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Natural e que são ocupadas na Praia das Fontes) que formam o conjunto do entorno geográfico da
área estudada.

METODOLOGIA
O trabalho teve como base metodológica a Análise Geossistêmica, trabalhando autores como
Bertrand (1972), Ross (2006).
Todo processo de pesquisa necessita de técnicas que possibilitarão o desenvolvimento do
trabalho e para isso, o trabalho seguiu alguns procedimentos técnicos que permitiu chegar aos
resultados da pesquisa.
A pesquisa se dividiu em dois momentos distintos: a etapa de laboratório e os levantamentos
de campo.
A etapa de laboratório se dividiu em três momentos distintos:
• Levantamentos bibliográficos;
• Utilização de técnicas de Sensoriamento Remoto e Cartografia;
• Organização dos resultados coletados em campo.
O zoneamento ambiental da área teve como base o Roteiro Metodológico de Planejamento de
Unidades de Conservação de Uso Indireto (Parque Nacional, Estação Ecológica e Reserva
Biológica), elaborado pelo IBAMA. Não se tem um documento específico a nível federal ou
estadual que regule o planejamento do Monumento Natural, pois este tipo de unidade de
conservação pode ser constituído de área particular. Como a área de estudo é administrada pelo
Estado e é de Uso Indireto, optou-se utilizar a metodologia do documento elaborado pelo IBAMA
(2002). Outras metodologias trabalhadas por autores como IBAMA (2001), CARDOSO (2002) e
VIDAL (2006) foram aplicadas para a proposta de zoneamento do entorno da área que está fora da
delimitação do Monumento Natural, onde foi proposta uma APA para a Praia das Fontes.

UNIDADES GEOAMBIENTAIS DA ÁREA DO MONUMENTO NATURAL


A unidade geoambiental compreende uma unidade de paisagem que tem feições mais ou
menos homogêneas, ocupando uma determinada porção da superfície terrestre, e revelando um
conjunto de características físicas e bióticas próprias (SILVA et al, 2004).
As unidades geoambientais encontradas na área de estudo foram o mar litorâneo, planície
litorânea (faixa de praia, pós-praia, campos de dunas e planícies lacustres) e tabuleiro pré-litorâneo
(falésias).
MAR LITORÂNEO
O mar litorâneo é uma área do oceano que está junto ao continente e na área de estudo o mar
litorâneo encontra-se ao Norte. A flora presente nesta unidade é composta basicamente de
fitoplanctons que sevem de alimentos para a fauna presente como os peixes, moluscos e crustáceos.
PLANÍCIE LITORÂNEA
FAIXA DE PRAIA E PÓS-PRAIA
A faixa de praia da área estudada é recoberta por sedimentos constituídos por areias
quartzozas, com grande acumulação e depositados pelo mar. As ondas atacam obliquamente à praia
com direção SE-NW, originando assim o transporte longitudinal de areia, principalmente na zona
de surf. A fonte de sedimentos são as areias vindas do continente transportados pelos rios e da ação
erosiva das ondas nas falésias.
A pós-praia da área aparece em apenas alguns setores da praia de Morro Branco, antes do
início do Monumento Natural das Falésias, e aparece novamente no final desta Unidade de
Conservação, no início da Praia das Fontes, mas ocupando um curto espaço, pois as falésias
começam a aflorar novamente na praia, impossibilitando a formação de pós-praia. As principais
espécies de vegetação encontrada na pós-praia da área de estudo são Ipomea pes-caprae (salsa) e
Remirea marítima (pinheirinho-da-praia).

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

CAMPOS DE DUNAS
Na área de estudo, as dunas dispõem-se a retaguarda das falésias, sendo formadas por areias
quartzozas esbranquiçadas, amareladas e alaranjadas, de granulação média a fina. A fonte destes
sedimentos são as areias depositadas na faixa de praia e da erosão das falésias.
Em relação ao grau de consolidação, as dunas móveis e fixas se destacam na paisagem. As
móveis se localizam depois das falésias, com vegetação em processo de consolidação, mas sua
disposição favorece a migração dos sedimentos. Ocorrendo mais no interior após as dunas móveis,
podem-se encontrar as dunas fixas.
PLANÍCIE FLÚVIO-LACUSTRE
As planícies flúvio-lacustre são áreas que se desenvolvem às margens de lagoas e ocorrem
por todo o litoral com dimensões variadas.
Na área de estudo identifica-se duas lagoas, sendo perenes (Lagoa do Tracuá e Uberaba) e
outras intermitentes. A lagoa do Tracuá possui uma área em torno de 24 hectares e a Uberaba 60
hectares.
TABULEIROS PRÉ-LITORÂNEOS (FALÉSIAS)
Os tabuleiros pré-litorâneos são modelados nos sedimentos da Formação Barreiras, com
sedimentos areno-argilosos de idade tércio-quaternário com granulação de fina a média, com cores
que variam do branco, amarelo e vermelho.
Na área de estudo, o tabuleiro pré-litorâneo que aflora na linha de costa sob forma de falésia,
é a principal unidade geoambiental da área de estudo, pois a unidade de conservação em estudo, tem
como elemento principal as falésias.
As falésias da área tem uma extensão longitudinal de aproximadamente 6 Km. Possuem
formas em pleno processo denundacional, porque estão encontradas topograficamente elevadas a
linha de costa. Apresentam voçorocas, sendo que entre elas brotam inúmeras fontes de água que
escoam para o mar. Na plataforma de abrasão as ondas chegam e atingem diretamente a plataforma,
remobilizando o sedimentos inconsolidados. Na área de estudo as falésias se estendem por 18
hectares (falésias pertencentes ao Monumento Natural) e 12 hectares (falésias fora da delimitação
do Monumento Natural).
PROPOSTA DE ZONEAMENTO AMBIENTAL
A área de estudo possui muitas particularidades locais, no que se refere ao seu grau de
conservação dos recursos naturais e localização dos problemas ambientais como as ocupações
desordenadas. Pensando nisto, se propôs múltiplos usos para a área estudada.
Inicialmente delimitou-se uma Zona de Amortecimento para o Monumento Natural,
identificando-se a sua área e a importância de cada setor para a zona de amortecimento da unidade
de conservação. Incluíram-se as seguintes paisagens na zona de amortecimento: faixa de praia e
pós-praia, dunas, lagoa do Tracuá e Tabuleiro Pré-litorâneo.
Depois da delimitação, um zoneamento ambiental foi traçado para o Monumento Natural e
sua respectiva zona de amortecimento, de acordo com os critérios para as unidades de proteção
integral.
Para a praia das Fontes se propuseram medidas diferenciadas da Unidade de Conservação
estudada, uma vez que essa praia não está incluída totalmente na delimitação do Monumento
Natural. O seu zoneamento é diferente daquele proposto para o Monumento, que é um zoneamento
feito para áreas de proteção integral sem uma consolidada ocupação humana. Propôs-se para a praia
das Fontes uma outra categoria de Unidade de Conservação que vai ser apresentada no decorrer do
conjunto de propostas.
No mapa de zoneamento pode-se visualizar a delimitação da zona de amortecimento da área.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

ZONEAMENTO AMBIENTAL
O zoneamento ambiental é um instrumento que faz parte de todo um planejamento que se
queira aplicar em determinado local e que a gestão poderá colocá-lo em prática. Aqui se pretende
adotar um zoneamento ambiental para a unidade de conservação, o que é previsto pela legislação.
Como se abordou na metodologia, adotou-se os critérios do Roteiro Metodológico de Planejamento
elaborado pelo IBAMA para as unidades de proteção integral.
No mapa 01 visualiza-se o zoneamento feito para o Monumento Natural e zona de
amortecimento e também a delimitação da APA da Praia das Fontes proposta para a área.
O Zoneamento Ambiental (Lei nº 6938 de 31/08/1981) prevê preservação, reabilitação e
recuperação da qualidade ambiental. Sua meta é o desenvolvimento socioeconômico condicionado à
manutenção, em longo prazo, dos recursos naturais e melhoria das condições de vida do homem
(SANTOS, 2004).
Zoneamento Ambiental do Monumento Natural das Falésias e sua Zona de Amortecimento.
O Zoneamento Ambiental do Monumento Natural incluiu a sua zona de amortecimento, pois
não basta que a área do Monumento Natural esteja protegida, mas todo o mosaico que compõe sua
área e a zona de amortecimento deverá entrar no zoneamento. A seguir estão as zonas propostas
com suas unidades geoambientais incluídas, com áreas de cada zona e tipo de uso recomendado,
tudo de acordo com as recomendações do IBAMA (2002).
Zona Intangível (ZI): Esta zona apresenta o mais alto grau de preservação, não podendo conter
alterações humanas. Para o IBAMA (2002), esta zona é dedicada à proteção integral de
ecossistemas dos recursos genéticos e ao monitoramento ambiental. O objetivo básico do manejo é
a preservação, garantindo a evolução natural. Para esta zona recomenda-se a inclusão das falésias
localizadas após o labirinto, até o final do Monumento, pois é uma área que não ocorrem visitas (as
visitas são feitas somente no Labirinto), e a área tem falésias bem preservadas. A zona intangível
abrangeria uma área de 10,8 hectares.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

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Zona Primitiva (ZP): É onde se tenha ocorrido uma mínima intervenção humana, com
fenômenos de grande valor científico.
Deve possuir características de transição entre a zona Intangível e a Zona de Uso Extensivo. O
objetivo geral do manejo é a preservação do ambiente natural e ao mesmo tempo facilitar as
atividades de pesquisa científica e educação ambiental permitindo-se formas primitivas de
recreação (IBAMA, 2002).
As dunas móveis e fixas ficarão nesta zona, pois houve pouca alteração humana, apenas a
construção do farol e algumas trilhas utilizadas pela população local. E a sua localização é mesmo
na transição da Zona Intangível e a de Uso Extensivo. A Zona Primitiva tem uma área de 214
hectares.
Zona de Uso Extensivo (ZUE): Segundo o IBAMA (2002) é uma zona constituída em sua
maior parte por áreas naturais, podendo apresentar algumas alterações humanas. O objetivo de
manejo é a manutenção de um ambiente natural com mínimo impacto humano, apesar de oferecer
acesso aos públicos com facilidade, para fins educativos e recreativos.
A entrada do Monumento Natural até o final do Labirinto das Falésias, a faixa de praia e a
lagoa do Tracuá estarão na Zona de Uso Extensivo. Estes três ambientes têm poucas alterações
humanas.
Ressalta-se que as áreas explicitadas acima são as mais acessadas pelos visitantes e moradores
do Monumento Natural (principalmente a faixa de praia) e que o Labirinto é a única trilha existente
na unidade de conservação, tendo, portanto mais facilidade de acesso, é a área mais utilizada dentro
do Monumento. A Zona de Uso Extensivo tem uma área de 40,9 hectares.
Zona de Uso Especial (ZUES): Esta zona é destinada às áreas que são necessárias à
administração, manutenção e serviços da Unidade de Conservação como habitações, oficinas etc.
Estas áreas serão escolhidas e controladas de forma a não conflitarem com seu caráter natural
e devem localizar-se, sempre que possível, na periferia da Unidade de Conservação. O objetivo
geral do manejo é minimizar o impacto da implantação das estruturas ou os efeitos das obras no
ambiente natural ou cultural da unidade.
Incluiu-se nessa zona, a área da comunidade do Morro Branco, pois lá poderá ser construído
um centro de visitantes que servirá como um apoio para a administração da UC (o centro de
visitantes será abordado no tópico sobre melhoria de infra-estrutura e diretrizes para o turismo),
uma vez que a comunidade se encontra mesmo do lado da entrada do Monumento.
Resolveu-se incluir na ZUES a faixa de praia e pós-praia que se encontra ocupada e o tabuleiro pré-
litorâneo. As atividades desenvolvidas nestas áreas serão mais controladas, evitando-se assim um
aumento de barracas, as quais poderiam adentrar a faixa de praia sem ocupação (que se encontra na
zona de uso extensivo) e evitando também uma expansão desordenada do tabuleiro, desta forma as
atividades de infra-estrutura ficarão mais reguladas. Esta zona tem uma área de 207,7 hectares.
Com as propostas apresentadas o Monumento ficará mais protegido. Com as recomendações
feitas na Praia das Fontes, que serão apresentadas a seguir, todo o entorno próximo ao Monumento
será beneficiado. Tanto a praia das Fontes ficará mais defendida contra os avanços da especulação
imobiliária como o Monumento que, com a zona de amortecimento delimitada, ficará mais difícil de
ser degradado ambientalmente. Haverá desta forma, uma integração mútua das áreas, já que se
pretende propor uma Área de Proteção Ambiental da Praia das Fontes.
Zoneamento Ambiental da Praia das Fontes: proposta de criação de uma APA.
As falésias da praia das Fontes não podem se tornar uma ampliação do Monumento Natural,
porque as mesmas já se encontram parcialmente ocupadas e a categoria de Monumento Natural
como Proteção Integral não pode conter ocupações em sua área. Somente uma parte das falésias da
Praia das Fontes não está ocupada: no começo da praia (estas pertencem ao Monumento Natural –
indicam o final do Monumento) e a Gruta da Mãe D’água (no meio da praia).
Diante deste panorama, propõe-se a criação de uma Área de Proteção Ambiental da Praia das
Fontes. A APA poderá ser administrada pela Prefeitura Municipal de Beberibe. Com a criação e
gerenciamento da APA, a comunidade ficará mais protegida do avanço da especulação imobiliária,
já que a APA impõe restrições de uso e ocupação do solo.

451
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Para o Zoneamento Ambiental da APA utilizaram-se os critérios adotados pelo IBAMA


(2001) em seu “Roteiro Metodológico para Gestão de Áreas de Proteção Ambiental” e trabalhos de
Cardoso (2002) e Vidal (2006).
As zonas estabelecidas para a APA da Praia das Fontes são:
Zona de Preservação Ambiental (ZPA): As unidades da faixa de praia, pós-praia, dunas
móveis e as falésias sem ocupação estão incluídas nesta zona. O objetivo da ZPA é a preservação
integral da biodiversidade, da estabilidade geomorfológica e dos aspectos paisagísticos.
Devido às próprias condições sócio-econômicas do local, fica difícil proibir a retirada de
barracas na pós-praia, pois as mesmas pertencem aos moradores, tornando-se um meio de sustento
das famílias locais. Segundo o IBAMA (2001) nos setores já alterados nesta zona poderão se
admitir um nível de utilização, mas com normas bastante rigorosas.
Dentre as atividades que podem ser realizadas na área estão a pesquisa científica, lazer,
monitoramento e educação ambiental. A ZPA tem uma área de 163,4 hectares.
Zona de Conservação Ambiental (ZCA): O objetivo desta zona é o manejo correto dos
atributos naturais, podendo conter ocupações, desde que sejam respeitadas as condições naturais do
terreno. Pertencem a ZCA, a lagoa da Uberaba, os pequenos córregos e as dunas fixas.
De acordo com Cardoso (2002) a implantação das dunas fixas na zona de conservação
ambiental servirá para atividades de Ecoturismo e estudos científicos por escolas e universidades
feitos em grupos pequenos de visitantes, transformando-a em um laboratório natural. A ZCA tem
uma área de 92,1 hectares.
Área de Ocorrência Ambiental (AOA): Esta área foi adotada aqui por causa da Gruta da Mãe
D’água. A gruta apresenta características que se enquadram nesta categoria. De acordo com
IBAMA (2001) a Área de Ocorrência Ambiental são áreas de pequena dimensão territorial que
apresentam situações físicas e bióticas particulares, ocorrendo de forma dispersa e generalizada em
quaisquer das zonas ambientais estabelecidas. São passíveis de enquadramento nesta categoria as
Áreas de Preservação Permanente (APP) e Áreas de Proteção Especial (APE).
A gruta da Mãe D’água é considerada uma APP por constituir-se de bordas de escarpas, de
acordo com as categorias de APP do CONAMA. A gruta possui uma pequena dimensão, situação
física bem particular (é a única “caverna” escavada pela ação do mar nas falésias no litoral de
Beberibe). Está em uma das zonas estabelecidas (Zona de Preservação, pois está no contato da faixa
de praia e das falésias – esta unidade geomorfológica se enquadra na Zona de Recuperação
Ambiental). A AOA tem uma área de 0,5 hectares. Deve-se monitorar a gruta, evitando degradações
semelhantes às existentes no Labirinto (inscrições nas paredes), antes do decreto do Monumento
Natural. As atividades permitidas são as pesquisas científicas, lazer, visitas, educação ambiental.
Zona de Recuperação Ambiental (ZRA): Destina-se a recuperação de áreas que foram
degradadas. Incluem-se nesta zona as falésias que foram ocupadas e que ainda permitem a
visualização destas estruturas, assim como as dunas móveis que foram aterradas para a ocupação e
as que comportam o Parque Eólico.
Zona de Ocupação Urbana (ZOU): A ZOU inclui as áreas dentro da APA que estão ocupadas.
Segundo Cardoso (2002) para as áreas presentes na Zona de Ocupação Urbana deve-se melhorar a
qualidade paisagística e sanitária bem como as atividades sócio-econômicas e de lazer. A ZOU
divide-se em duas áreas, por causa das diferentes ocupações na área: a Zona de Ocupação Especial
(ZOE) e a Zona de Ocupação Residencial e Hoteleira (ZORH).
Zona de Ocupação Especial (ZOE): Esta zona abriga a comunidade da Praia das Fontes.
Designa-se especial em virtude da região ter sido habitada pelos antepassados da comunidade local.
Deve-se, portanto dar a posse definitiva da terra, evitando futuros problemas com a especulação
imobiliária. Com a posse, também ficaria proibida a venda da casa, podendo morar no local as
pessoas que tenham parentesco com a comunidade. A Zona de Uso Especial, se colocada em
prática, melhorará tanto as condições sociais como naturais da Praia das Fontes. A ZOE tem uma
área de 4 hectares.
Zona de Ocupação Residencial e Hoteleira (ZORH): Esta zona abriga as ocupações das casas
de veraneios e hotéis da área. Como é impossível a retirada destas construções nas dunas e falésias

452
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

onde foram instaladas, é necessária uma rigorosa fiscalização para que não se permita novas
construções. A ZORH não tem um tamanho de área específico, por causa da ocorrência de casas de
veraneio e hotéis acontecer de forma dispersa, não se localizando em um só lugar, como ocorre na
comunidade local, o que torna difícil mensurar a área.
Zona de Expansão Urbana (ZEU): Destinada para novas construções, mas em conformidade
com a lei e as condições naturais do terreno. O tabuleiro pré-litorâneo, por apresentar uma
estabilidade ambiental maior, poderá abrigar novas construções, mas de forma que não comprometa
a capacidade de suporte da área e sem comprometer as condições sócio-econômicas da população
da comunidade do Onofre, que reside na localidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O que se procurou fazer aqui foi uma contribuição para o processo de planejamento e gestão
da área interna e externa da Unidade de Conservação em estudo, buscando conciliar o meio
ambiente com as atividades sócio-econômicas do local. Espera-se que este trabalho tenha
contribuindo para as pesquisas referentes a temática e que as sugestões aqui apresentadas possam
ser aproveitadas para a melhoria da gestão ambiental da Unidade de Conservação e do próprio
entorno que ela abrange. Desta forma, tanto o Monumento Natural como o espaço ao redor da UC
possam ser administrados de acordo com as potencialidades geoambientais da área em comunhão
com todos os atores envolvidos na questão ambiental das praias de Morro Branco e das Fontes.

REFERÊNCIAS

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da Terra, USP, Instituto de Geografia. São Paulo, 1972.
CARDOSO, E.S. Análise das condições ambientais do litoral de Iguape e Barro Preto.
Programa de Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA), Universidade Federal do Ceará:
Fortaleza, 2002. (Dissertação de Mestrado).
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Estação Ecológica. Ministério do Meio Ambiente. Brasília: IBAMA, 2002.
IBAMA. Roteiro Metodológico para gestão de Áreas de Proteção Ambiental. Ministério do
Meio Ambiente. Brasília: IBAMA, 2001.
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João Pessoa: Grafiset, 2004. v. 1. 200 p.
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ambiental. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, Programa de Pós-Graduação em Geografia,
2008. (Dissertação de Mestrado).
VIDAL, M.R. Proposta de Gestão Ambiental para a RESEX do Batoque. Programa de Pós-
Gradução em Geografia, Universidade Federal do Ceará: Fortaleza, 2006. (Dissertação de
Mestrado).

453
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

ESTAÇÃO ECOLÓGICA DO CASTANHÃO – CE: PROPOSTA DE GESTÃO


AMBIENTAL

Liana Mara Mendes de Sena


Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA)
da Universidade Federal do Ceará (UFC)/Bolsista CAPES. lianamms@gmail.com

RESUMO
A construção do Complexo Castanhão gerou grandes transformações no ambiente. Os impactos
desta considerada mega obra recaíram sobre o meio físico, biótico e principalmente o social, sendo
motivo de polêmicas e controvérsias devido aos grandes deslocamentos populacionais. Segundo o
CONAMA para fazer a reparação dos danos ambientais com obras de grande porte é necessário a
criação de uma Estação Ecológica, como forma de compensação e cobertura aos impactos caudados
à fauna e a flora. Nesse sentido foi criada a Estação Ecológica do Castanhão, que se localiza nos
municípios de Jaguaribe e Alto Santo e possui uma área de 12.579 ha, sendo atualmente gerenciada
pelo ICMBio. Tem como objetivos proteger e preservar amostras do ecossistema de Caatinga ali
existente, possibilitar o desenvolvimento de pesquisa científica e possibilitar programas de
educação ambiental. Esta pesquisa tem o intuito de contribuir para o estudo da Estação Ecológica de
forma sistêmica afim de que possa servir de diretrizes para propostas e ações para a efetividade e
viabilidade da gestão ambiental da Estação Ecológica do Castanhão.

Palavras-chaves: Unidades de Conservação, Caatinga, Gestão Ambiental

INTRODUÇÃO

A construção do Complexo Castanhão gerou grandes transformações no ambiente. Os


impactos desta considerada mega obra recaíram sobre o meio físico, biótico e principalmente o
social, sendo motivo de polêmicas e controvérsias devido aos grandes deslocamentos populacionais.
Dentre as ações de reestruturação com o objetivo de preservação ambiental nos municípios
atingidos está a demanda de criação de Unidades de Conservação, como forma de compensação e
cobertura aos impactos caudados à fauna e à flora. Segundo Freitas (2003) as ações nesse sentido
ocorreram de forma desordenada sob o ponto de vista legal e institucional, tornando-se susceptíveis
ao fracasso, dada a ausência de participação popular. A categoria Estação Ecológica
especificamente não necessita de consulta pública para sua criação, mas a parceria com a população
local é imprescindível para que esta Unidade de Conservação cumpra seu papel.
A Estação Ecológica do Castanhão foi criada no Decreto de 27 de setembro de 2001, de
acordo com a resolução nº 10 do CONAMA que diz para fazer a reparação dos danos ambientais
causados com obras de grande porte, terá sempre como um dos seus pré-requisitos, a implantação
de uma Estação Ecológica pela entidade ou empresa responsável pelo empreendimento,
preferencialmente junto à área.
Encontra-se situada nos municípios de Jaguaribara, Alto Santo e Iracema, ocupando uma
área de 12.579 ha, sendo gerenciada pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade). É uma Unidade de Conservação de Proteção Integral com os objetivos de proteger
e preservar amostras do ecossistema de Caatinga ali existente, possibilitar o desenvolvimento de
pesquisa científica e programas de educação ambiental.
Atualmente a Estação Ecológica ainda se encontra sem plano de manejo e de zoneamentos,
além da situação fundiária não regularizada. Existe apenas a poligonal, com um projeto de ser
alterada, dentro outros aspectos a serem revistos.
No Brasil, pouca atenção tem sido dada à conservação marcante do ecossistema Caatinga, e
a contribuição da sua biodiversidade extremamente alta tem sido subestimada Silva et al (2004).

454
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Números discutidos nos estudos de Leal et al (2005) mostram que cerca de 30,4 a 51,7% da área da
Caatinga foi alterada por atividades antrópicas. Esses dados colocam a Caatinga como o segundo
ecossistema mais degradado, perdendo apenas para a Mata Atlântica. Entre os Estados do Nordeste,
o Ceará é o que possui maior estado de devastação da vegetação, com apenas 16% da cobertura
florestal nativa (MAIA, 2004). Estimativas como estas fornecem diretrizes para a seleção e o
planejamento de Unidades de Conservação, uma vez que esse ecossistema possui a menor
representatividade de áreas protegidas entre todos os biomas brasileiros.
Para Arruda (1999) uma dificuldade permanente na gestão e manutenção das unidades de
conservação de uso indireto (proteção integral) que adquire importância e visibilidade crescente, é a
relação com as populações humanas que ali vivem e viviam antes da apropriação da área pelo
Estado. Na área de objeto de estudo, grande parte da população local que vive próxima a área é
formada por reassentados, que foram afetados direta ou indiretamente pelo Castanhão ou por
projetos de irrigação em áreas circunvizinhas ao açude.
Além da implantação da ESEC e elaboração do plano de manejo, algumas questões serão
levantadas acerca da Estação estão: evitar maiores perdas de habitat e desertificação; manter os
serviços ecológicos chaves necessários para melhorar a qualidade de vida da população e promover
o uso sustentável dos recursos naturais da região.

Figura 1: Mapa de Localização da Estação Ecológica do Castanhão - Ce

455
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

OBJETIVOS

Esta pesquisa tem como objetivos contribuir para o estudo da Estação Ecológica do
Castanhão de forma sistêmica afim de que possa servir de subsídios para o desenvolvimento do
plano de gestão ambiental. Tem também como enfoque gerar informações que contribuam para uma
visão mais ampla da área e para o entendimento de sua dinâmica ambiental, compreender a inter-
relação entre as comunidades do entorno com a preservação dos recursos naturais ali existentes e
apresentar propostas e ações para a efetividade e viabilidade da gestão ambiental da Estação
Ecológica.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A barragem do Castanhão, considerada um dos mais importantes empreendimentos do


DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), é também a maior barragem brasileira
em rios intermitentes (OLIVEIRA, 1996). A mesma faz parte de um projeto inserido no contexto da
política de desenvolvimento do Nordeste e do Estado, que incluí a transposição do Rio São
Francisco e a interligações das águas do interior do Ceará com a região metropolitana de Fortaleza e
também o Complexo Portuário Porto do Pecém.
Geralmente, a construção de grandes açudes, além de causar forte impacto ambiental ao
meio natural, inunda terras férteis e traz prejuízos socioeconômicos quando se faz necessário o
deslocamento de algumas comunidades (SILVA; PEREIRA, 2007). No caso do Castanhão o
principal impacto social foi a remoção da população residente no município de Jaguaribara,
exigindo dessa forma, como medida mitigadora, a construção de uma nova cidade destinada ao
reassentamento de milhares de famílias.
As Unidades de Conservação são apontadas como instrumento de grande eficácia como
medida mitigadora para diminuir os problemas dos meios físicos, biológicos e socioeconômicos.
Quando bem localizadas, atuam como agentes de controle aos deslizamentos de encostas marginais
ao lago, evitando, como no caso da barragem do Castanhão, o avanço da erosão na direção do
núcleo urbano, à jusante e à montante da barragem, além de oferecer proteção ao solo nas
proximidades dos perímetros irrigados (FREITAS, 2003).
De acordo com a Lei n.° 9.985, de 18 de julho de 2000 que institui o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação (SNUC), entende-se por Unidade de Conservação o espaço territorial e
seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes,
legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob
regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção. Além de
manter os processos ecológicos essenciais e os sistemas vitais, dos quais dependem a sobrevivência
e o desenvolvimento humano, de preservar a diversidade genética e de assegurar o aproveitamento
sustentado das espécies e dos ecossistemas, visam também oferecer oportunidades para educação
ambiental e recreação pública, sem desnortear dos objetivos principais que são a preservação e
utilização dos recursos naturais de forma racional (QUINTÃO, 1983).
As Estações Ecológicas são áreas representativas de ecossistemas brasileiros, destinadas à
realização de pesquisas básicas e aplicadas de Ecologia, à proteção do ambiente natural, e ao
desenvolvimento da educação conservacionista (BRASIL, 1981).
As Unidades de Conservação passam por problemas comuns a outras em todo o Brasil, que
vão desde a falta de recursos para a sua manutenção até a escassez de recursos humanos e materiais
adequados e capacitados, levando, muitas vezes, a um alto grau de desproteção das áreas, não
conseguindo realizar sua principal função, que é a de proteger a natureza. No Ceará, grande parte
das Áreas Protegidas são voltadas para a defesa dos ecossistemas de litoral e serras, poucas são
dirigidas ao sertão do Estado. Dos 70% do território cearense que é coberto por caatinga, somente
0,25% está protegido de forma legal. No caso da Estação do Castanhão protegendo o bioma
caatinga, que é considerado pelos ambientalistas um dos mais degradados (CASTRO, 2004).

456
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

A caatinga aparece como um sistema ordenado, um campo fértil ajustado à proteção do


homem. Esse bioma foi considerado como um dos ecossistemas mais devastados do país em
estudos realizados pela WWF (World Wide Foundation). Outro dado relevante e explicativo deste
problema é o fato de possuir a maior concentração populacional do Brasil, com maior índice de
pobreza em área rural, motivos pelos quais o ecossistema é tão pressionado (AB’SABER, 1999).
A Estação Ecológica se faz necessária tanto à proteção dos recursos naturais do entorno do
açude quanto ao aproveitamento simultâneo para a pesquisa científica. A implantação da Unidade
de Conservação tem relevância para a educação ambiental principalmente no esclarecimento da
população convivência com a natureza do empreendimento e adequação ao novo meio ambiente no
entorno do reservatório e nos locais de reassentamentos (DIAS, 1999).
Atualmente, um dos principais mecanismos para a conservação da biodiversidade tem sido o
estabelecimento de Áreas Protegidas ou Unidades de Conservação O Brasil fez um grande
investimento em parques e outras Unidades de Conservação federais, estaduais, municipais e
privadas desde a década de 1970 (MITTERMEIER et al., 2005), o que contribuiu para uma
conservação mais integrada da natureza.

METODOLOGIA

Para a realização do trabalho foi definida a metodologia segundo o trabalho de Rodriguez


(2007) que utilizam da visão sistêmica como ferramenta para o planejamento ambiental. A análise
sistêmica das paisagens como base para o planejamento ambiental permite entender as
regularidades da organização espacial dos sistemas ambiental nos âmbitos local e regional,
compreender funções ecológicas que servem de base para avaliar os impactos ambientais e
esclarecer as formas de uso e ocupação dos potenciais recursos ambientais que podem servir de
subsídios para normas de racionalidades na utilização dos sistemas ambientais (CAVALCANTI et
al, 1997). Em se tratando de Unidades de Conservação, a gestão ambiental exerce importante papel
uma vez que será relacionada ao gerenciamento de todas as atividades humanas que tenham
impacto significativo sobre o meio ambiente (CABRAL; SOUZA, 2005). Como a gestão ambiental
implica uma abordagem sistêmica da realidade, permite que os fatores ambientais sejam
identificados, analisados, ponderados e administrados, permeando o conhecimento multidisciplinar,
dessa forma possibilitando a compreensão global dos problemas e também a aplicação de soluções
ambientalmente mais adequadas, visando contribuir para o planejamento ambiental da área de
estudo.
Os procedimentos metodológicos a serem utilizados nesta pesquisa estão dispostos em três etapas
distintas:
Fase Inicial – onde serão feitos o levantamento de dados secundários e obtenção de mapas básicos
em escala compatível com a área de estudo
Fase de Diagnóstico – análise dos componentes naturais e identificação dos problemas ambientais e
da qualidade da paisagem
Fase Propositiva – prognóstico de tendências e cenários alternativos. Elaboração do plano e
programa de manejo
Fase de Execução – definição das estratégias e dos envolvidos no mecanismo de gestão

Tendo como objetivo analisar as unidades geoecológicas em seus vários aspectos naturais e
identificar áreas modificadas pelas atividades humanas serão determinadas categorias relacionadas
ao comportamento e a vulnerabilidade das condições geoecológicas em função dos impactos
gerados por processos de degradação. Entre os resultados esperados com a pesquisa estão o
diagnóstico dos principais problemas encontrados no âmbito natural e socioambiental e a relação
entre eles; determinação das potencialidades e limitações naturais e humanas; identificação das
ameaças a biodiversidade e os conflitos de uso da área; identificação de áreas prioritárias para
conservação; percepção da relação da comunidade com o ambiente e diretrizes para a implantação e
gestão da Estação Ecológica do Castanhão.

457
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

REFERÊNCIAS

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Estudos Avançados, nº 12 (36), 1999.
ARRUDA, R. Populações tradicionais e a proteção dos recursos naturais em unidades de
conservação. Ambiente & Sociedade. Ano II, no 5, 1999.
BRASIL. Lei Federal Nº 6.902, de 27 de abril de 1981. Dispõe sobre a criação de Estações
Ecológicas, Áreas de Proteção Ambiental. Disponível em
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6902.htm>
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– CONAMA.
BRASIL. Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC, lei nº 9.985, de
18 de jul. de 2000; decreto nº 4.340, de 22 de ago. de 2002. 5.ed.aum. Brasília: MMA/SBF, 56p,
2004.
CABRAL, N. R. A. J. SOUZA, M. P. Área de proteção ambiental: planejamento e gestão de
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CAVALCANTI, A. B. et al. Desenvolvimento sustentável e planejamento: bases teóricas e
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DIAS, M. C. O. Manual de Impactos Ambientais: orientações básicas sobre os aspectos
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FREITAS, M. H. As unidades de conservação na reestruturação do município de Jaguaribara
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LEAL, I. R.; SILVA, J. M. C.; TABARELLI, M.; LACHER JR, T. E. Mudando o curso da
conservação da biodiversidade na Caatinga do Nordeste do Brasil. Megadiversidade, vol 1, nº
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MAIA, G. N. Caatinga: arvores e arbustos e suas utilidades. São Paulo: D&Z, 2004.
MITTERMEIER, A. R. et al. Uma breve história da conservação da biodiversidade no Brasil.
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QUINTÃO, A. T. B. Evolução do conceito de parques nacionais e sua relação com o processo
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do Ceará. In: Ceará: um novo olhar geográfico. BORZACCHIELLO, José; CALVANTE, Tércia;
DANTAS, Eustódio (orgs). Fortaleza: Ed Demócrito Rocha, 2007.

458
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

ANÁLISE DOS PRINCIPAIS FATORES POTENCIAIS DE DEGRADAÇÃO AMBIENTAL


DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE SABIAGUABA (FORTALEZA – CE)

Lílian Sorele Ferreira Souza


Universidade Federal do Ceará
sorele_geo@yahoo.com.br
Edson Vicente da Silva
Universidade Federal do Ceará
cacau@ufc.br

RESUMO
A zona costeira de Fortaleza possui uma vasta gama de ecossistemas como praias, lagoas, dunas,
manguezais que, ao longo de um curto período de tempo, tem sido negativamente impactados e, em
muitas áreas do litoral fortalezense, perdendo assim a sua configuração natural original. Porém, há
no extremo leste da cidade, no bairro Sabiaguaba, na divisa com o município de Aquiraz, alguns
ecossistemas que mantêm características naturais originais ainda parcialmente conservadas. Com o
início e paralisação da construção de uma ponte sobre o rio Cocó, que pretende ligar a Praia do
Futuro à da Sabiaguaba, tais ecossistemas começaram a ser ameaçados de forma mais intensa.
Tentando proteger o rico patrimônio paisagístico de Sabiaguaba, duas Unidades de Conservação
(um Parque Natural e uma APA) foram criadas e implantadas pela Prefeitura Municipal de
Fortaleza em 2006. No entanto, as UCs de Sabiaguaba ainda não possuem um Plano de Manejo e
Gestão Ambiental que vise sua conservação e a manutenção do equilíbrio natural. Neste sentido,
alguns impactos ambientais que deveriam ser minimizados ou prevenidos ocorrem de maneira
indiscriminada, perturbando o equilíbrio ecológico da área e acarretando resultados negativos.
Assim, este trabalho teve como objetivo maior efetuar a análise e diagnosticar os principais fatores
potenciais de degradação ambiental das UCs de Sabiaguaba.

Palavras-chave: Zona Costeira, Gestão Ambiental, Impactos Ambientais.

INTRODUÇÃO

A faixa litorânea do município de Fortaleza, capital do Ceará, situada na Região Nordeste do


Brasil, compreende uma área de cerca de 45km de extensão, que vai desde a foz do rio Ceará (na
divisa com o município de Caucaia), até o estuário do rio Pacoti (na divisa com o município de
Aquiraz). Essa área comporta, ao longo de seu percurso, um patrimônio paisagístico rico em belezas
naturais, uma gama de ecossistemas fundamentais, além de ser fonte de subsistência, lazer e,
principalmente, moradia para a população de comunidades advindas do interior do estado ou da
própria capital.
No entanto, tal patrimônio paisagístico vem, ao longo do tempo, sofrendo sérias
modificações ambientais não só causadas por fenômenos naturais, como também antrópicos, através
da exploração intensa e da má utilização dos recursos naturais. Este fenômeno provocou a
transformação significativa da paisagem em algumas áreas do litoral fortalezense.
Em Sabiaguaba, bairro situado no extremo leste da capital cearense, a paisagem se configura
diferente do restante da costa de Fortaleza: o ambiente ainda continua parcialmente conservado,
com suas características naturais originais. Porém, com as constantes influências naturais e
antrópicas, e com o início e paralisação das obras de uma ponte sobre o rio Cocó, que pretende ligar
a Praia do Futuro à da Sabiaguaba, a má exploração das unidades paisagísticas locais e de seus
recursos ambientais tem se intensificado.
As dunas de Sabiaguaba são as únicas existentes que ainda mantêm sua configuração natural
na costa de Fortaleza. A implantação da referida ponte poderá trazer impactos negativos e a

459
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

degradação da paisagem natural, através do processo de desmonte das dunas, empobrecimento do


solo, assoreamento dos rios e desmatamento das áreas de manguezal.
Neste sentido, tentando minimizar os impactos já existentes e os futuros, foram criadas em
20 de fevereiro de 2006, pela Prefeitura Municipal de Fortaleza, duas Unidades de Conservação –
UCs, segundo os decretos n° 11.986 e n° 11.987: os respectivos Parque Natural Municipal das
Dunas de Sabiaguaba (com área de 467,60 ha e abrangendo grande variedade de ecossistemas,
incluindo dunas fixas e móveis, faixa de praia, lagoas costeiras e Tabuleiro Pré-Litorâneo) e Área
de Proteção Ambiental – APA – de Sabiaguaba (com extensão de 1.009,74 ha), como zona de
amortecimento para o Parque. (PREFEITURA MUNICIPAL DE FORTALEZA, 2006a)
Isto posto, este trabalho analisou os principais fatores de degradação ambiental e seus
impactos resultantes, nas UCs de Sabiaguaba, com vistas a servir de base para o Plano de Manejo a
ser elaborado pela SEMAM, órgão da Prefeitura Municipal de Fortaleza responsável pela
manutenção e fiscalização das UCs de Sabiaguaba.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA

Este trabalho utilizou uma base teórica composta, prioritariamente, por estudos e concepções
concernentes à ciência geográfica, devido ao fato de esta ciência ser multidimensional e possuir
uma vasta diversidade de opções de abordagens e conceitos. Isto permitiu melhor compreender e
identificar, sob uma visão holística e integradora, os diversos elementos e processos que compõem e
modelam a paisagem estudada.
Dentre as teorias e concepções metodológicas da Geografia, cinco foram as mais relevantes
para este estudo: a Teoria da Paisagem (BERTRAND, 1972), entendida não como a simples adição
de elementos geográficos dispersos, mas como o resultado da combinação dinâmica e, portanto,
instável dos elementos do meio com o ser humano, os quais reagem dialeticamente uns sobre os
outros, em uma dada porção do espaço, numa evolução perpétua; a Teoria dos Geossistemas
(SOTCHAVA, 1977), na qual o Geossistema é entendido como sendo uma organização espacial
complexa, aberta, caracterizada pela homogeneidade de seus componentes físicos – relevo, clima,
geologia, geomorfologia, recursos hídricos, vegetação, solo e fauna – em interação com a ação
humana; a Teoria da Ecodinâmica (TRICART, 1977), adaptada para as condições do estado do
Ceará pelos trabalhos de Souza (1999, 2000), que aborda os processos ecológicos e a dinâmica que
regem a paisagem, com definição de suas capacidades de carga e os graus de vulnerabilidade dos
ecossistemas, para que seja possível determinar formas mais compatíveis de uso e ocupação; a
Análise Geoambiental, método exclusivo da Geografia Física e referência para os estudos de
planejamento, a qual possibilita com eficácia examinar os atributos ecológicos, caracterizando as
unidades geoambientais; e algumas metodologias sobre Estudo de Impacto Ambiental, como a do
Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA (Resolução nº 001, de 23 de janeiro de 1986) e
a de Guerra e Guerra (2005).

AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE SABIAGUABA: ASPECTOS GERAIS

As UCs de Sabiaguaba se localizam no bairro de Sabiaguaba, extremo leste do litoral de


Fortaleza, a cerca de 17km do centro da capital cearense, mais precisamente entre os estuários dos
rios Cocó (divisa com a Praia do Caça e Pesca) e Pacoti (divisa com os municípios de Aquiraz e
Eusébio). Tem como coordenadas os meridianos 38º 26’ 55’’ W e 38º 24’ 0’’ E, e os paralelos 3º
46’ 21’’ N e 3º 49’ 36’’ S; ocupam um espaço compreendendo toda a Planície Litorânea de
Sabiaguaba (englobando a faixa de praia e a área do campo de dunas) e uma porção do Tabuleiro
Pré-Litorâneo.
Suas limitações geográficas são: a Norte o rio Cocó e a Praia do Caça e Pesca; a Leste o
Oceano Atlântico; a Oeste os bairros Edson Queiroz, Sapiranga e Lagoa Redonda; a Sul o bairro
Lagoa Redonda; e a Sudeste o rio Pacoti e a Praia do Porto das Dunas (município de Aquiraz). O
acesso às UCs pode ser realizado por dois diferentes caminhos: pela Praia do Caça e Pesca

460
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

(atravessando o rio Cocó numa pequena embarcação) e chegando à praia da Sabiaguaba; ou pela
estrada do Beach Park/Cofeco (entrando no bairro de Sabiaguaba e percorrendo a avenida Manoel
de Castro). A Figura 1 destaca a localização das UCs de Sabiaguaba.

Figura 1: Localização e delimitação das UCs de Sabiaguaba.


Fonte: Adaptado de imagem Quickbird 2008

O Parque das Dunas de Sabiaguaba possui área de 467,60ha, abrangendo ecossistemas como
o campo de dunas, uma porção da faixa de praia, lagoas costeiras e uma porção do Tabuleiro Pré-
Litorâneo. A APA de Sabiaguaba possui área de 1.009,74ha, abrangendo o Parque das Dunas, toda
a faixa de praia de Sabiaguaba, alguns recursos hídricos como lagoas costeiras, rios e lagoas
perenes (como a da Sapiranga) e uma porção do Tabuleiro Pré-Litorâneo.
Por estar localizada dentro dos limites da cidade de Fortaleza, Sabiaguaba possui as mesmas
condições climáticas da capital cearense: temperatura média anual em torno dos 26ºC, com dois
tipos de clima (o quente e úmido, em função da elevada precipitação; e o semiárido, em função da
forte evaporação) e umidade relativa do ar caracterizada por alto índice com mínima de 73% e
máxima de 82,5% (PREFEITURA MUNICIPAL DE FORTALEZA, 2006c).
Os dados do Censo Demográfico de 2001 do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE (IBGE, 2001), consideram que a população de Sabiaguaba representa cerca
de 0,13% da população total de Fortaleza. No tocante à infraestrutura, Sabiaguaba é um bairro
que dispõe de abastecimento d’água, energia elétrica, serviços de telefonia, posto de saúde,
escolas de ensino fundamental e médio, além de barracas de praia, meios de hospedagem e
restaurantes.
As UCs de Sabiaguaba são compostas por sete unidades geoambientais: o mar litorâneo, a
faixa de praia, o pós-praia, o campo de dunas, a planície flúvio-marinha, a planície fluvial e o
Tabuleiro Pré-Litorâneo.

461
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

O mar litorâneo (Figura 2) margeia o continente e


sendo grande atrativo para atividades turísticas, de lazer
e pesca. Atua sempre em conjunto com as demais águas
oceânicas e continentais, influenciando na
geomorfogênese costeira e flúvio-marinha, na atração
das espécies mais diversas da fauna e no clima da área,
tornando os ventos mais úmidos e amenizando as ondas
de calor.

Figura 2: Pesca no mar da Sabiaguaba.


Fonte: Lílian Sorele F. Souza, 2007
A faixa de praia, formada, segundo Silva (1998, p.
42), “por sedimentos de constituição arenosa, por
cascalhos, pequenos seixos e restos de conchas
trazidas e depositadas pela ação das ondas e
correntes marinhas”, apresenta largo estirâncio
(Figura 3), cujos sedimentos são continuamente
lavados pelas águas marinhas e inviabilizados de
serem removidos por processos eólicos.

Figura 3: Praia com estirâncio em Sabiaguaba.


Fonte: Lílian Sorele F. Souza, 2007
A área de pós-praia situa-se entre a faixa de praia e o campo de dunas da Sabiaguaba. Nesta
área percebe-se a presença de bermas e terraços marinhos que, em época de chuvas, apresentam
lagoas intermitentes que proporcionam à área uma beleza cênica de grande potencial para o
desenvolvimento de atividades ligadas ao turismo e ao lazer.
O berma (Figura 4) é a feição morfológica da
Planície Litorânea que dificilmente é banhada pelas
águas marinhas, exceto em ocasiões de marés
excepcionais ou fortes tempestades (ressacas). Seu
relevo é suavemente ondulado, apresentando “terraços
com níveis diferenciados, elaborados pelas oscilações
das marés mais fortes”. (SILVA, 1998, p. 44)

Figura 4: Bermas de Sabiaguaba.


Fonte: Lílian Sorele F. Souza, 2009
O campo de dunas de Sabiaguaba, cujas dunas são em
sua maioria móveis (Figura 5), foi formado através de
processos eólicos atuantes sobre sedimentos
continentais e marinhos. Sua origem está relacionada
“com o aporte de sedimentos provenientes da faixa de
praia, através da ação dos ventos alísios de Leste e
Nordeste” (CAVALCANTE, 2006, p. 67).

Figura 5: Duna móvel de Sabiaguaba.


Fonte: Lílian Sorele F. Souza, 2008

462
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

As planícies flúvio-marinhas (Figura 6) são


“derivadas de ações combinadas de processos de
deposição fluvial e marinha, sujeitas a inundações
periódicas ou permanentes, revestidas por mangues”;
possuindo, assim, “uma biodiversidade complexa
que implica em significativa produtividade biológica
face à abundância florística e faunística”. (SOUZA,
1999, p. 17).

Figura 6: Planície flúvio-marinha do rio Cocó.


Fonte: Lílian Sorele F. Souza, 2008
A planície fluvial é uma faixa de acumulação aluvial constituída “de areias finas a médias com
inclusões de cascalhos inconsolidados e argilas com matérias orgânicas em decomposição”
(SOUZA, 1999, p. 18) que possui grande potencial de recursos naturais, principalmente no que
tange aos solos aluviais, favoráveis ao desenvolvimento de atividades ligadas às práticas
agrícolas, e à disponibilidade hídrica (SOUZA, 1999).
O Tabuleiro Pré-Litorâneo (Figura 7) é, segundo
Souza (1999, p. 20), uma superfície plana a levemente
inclinada em direção à faixa praial, “constituída por
sedimentos arenosos e argilosos da Formação Barreiras,
fracamente dissecada pela rede de drenagem superficial,
isolando interflúvios tabulares ou tabuleiros
inaparentes”.

Figura 7: Tabuleiro em Sabiaguaba.


Fonte: Lílian Sorele F. Souza, 2008

FATORES POTENCIAIS DE DEGRADAÇÃO AMBIENTAL DAS UCS DE SABIAGUABA

Os impactos ambientais ocorrentes na Sabiaguaba são respostas às ações de uma série de agentes
tanto naturais como antrópicos. Esta pesquisa levou em consideração apenas os antrópicos, cujos
mais significantes estão diretamente ligados aos inadequados uso e ocupação do solo, como
algumas construções urbanas em APPs, o acúmulo de lixo, queimadas, o desmatamento e a
mineração de areias.
As construções urbanas na Sabiaguaba são
principalmente residenciais e alguns equipamentos
turísticos como hotéis, restaurantes e barracas de
praia, situados em APPs, como dunas e margens
de cursos d’água (Figura 8). As construções
urbanas sem planejamento sobre APPs, ou em seu
entorno, é resultado da falta de conscientização
ambiental do poder público e da população que
habita estas áreas.
Figura 8: Margem direita do rio Cocó sendo
ocupada por barracas de praia.
Fonte: Lílian Sorele F. Souza, 2008
O lixo é um dos maiores problemas de uma cidade como Fortaleza, devido à sua difícil
organização, fazendo-o ficar disperso em áreas sem tratamento adequado (MENDONÇA, 1993).
Os aterros não são suficientes para toda a carga gerada e não existe um programa de Educação
Ambiental eficiente que possibilite conhecer as melhores formas de tratar o lixo e destiná-lo ao

463
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

lugar apropriado (VASCONCELOS, 2005). A população de Sabiaguaba despeja seu lixo em


áreas abertas, nas proximidades dos campos de dunas (Figura 9), cursos d’água e na faixa de
praia (Figura 10), o que pode trazer problemas ambientais como a poluição do solo e das águas, e
o aumento de doenças na população habitante ou em frequentadores da praia da Sabiaguaba.

Figura 9: Entulho de construção civil próximo ao Figura 10: Lixo de barracas de praia na faixa de praia de Sabiaguaba,
campo de dunas de Sabiaguaba. foz do rio Cocó.

Fonte: Edson Vicente da Silva, 2008 Fonte: Lílian Sorele F. Souza, 2007

Para piorar a situação, alguns moradores queimam o lixo, afirmando que assim conseguem dar
um fim nos resíduos, já que a coleta pelos caminhões não é suficiente. As queimadas podem
ocasionar a poluição atmosférica, a diminuição da biodiversidade e da umidade do solo, dentre
outros impactos. Na população, esta prática pode trazer problemas relacionados ao aparelho
respiratório.
Outro problema identificado foi a precariedade
no sistema de esgoto, que pode trazer poluição
do solo e dos recursos hídricos, além do
aumento de doenças na população habitante. Nas
UCs de Sabiaguaba, nem todas as residências
são atendidas por um sistema de esgoto
eficiente, deixando os dejetos a céu aberto
(Figura 11), juntamente com o lixo,
principalmente nas proximidades de lagoas e
outros cursos d’água.
Figura 11: Esgoto a céu aberto na margem esquerda
da lagoa da Sapiranga.
Fonte: Edson Vicente da Silva, 2008
O desmatamento de uma parte do manguezal da margem esquerda do rio Cocó para dar lugar aos
equipamentos de instalação da ponte que ligará a Praia do Futuro à da Sabiaguaba e em outras
APPs, para a implantação de loteamentos e vias de acesso, altera margens de lagoas e riachos e
impacta diretamente sobre a biodiversidade e a qualidade da água destes recursos hídricos.
A mineração de areias em Sabiaguaba ocorre na área
de dunas (Figura 12) e Tabuleiro sem nenhuma
preocupação com a aplicação de técnicas de manejo e
recuperação, o que pode trazer impactos significativos
para o lençol freático, o solo, a fauna e a flora da
região. Esta atividade está descaracterizando a
paisagem e promovendo danos ambientais
preocupantes. (PREFEITURA MUNICIPAL DE
FORTALEZA, 2006b)
Figura 12: Área de mineração de areia no campo
de dunas de Sabiaguaba.
Fonte: Lílian Sorele F. Souza, 2009

464
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

O Quadro 01 mostra de forma sucinta os principais fatores de degradação da paisagem das


UCs de Sabiaguaba e as unidades geoambientais onde estes ocorrem.
Quadro 01 – Principais fatores de degradação da paisagem identificados nas UCs de Sabiaguaba, os impactos
consequentes e a área de ocorrência.
FATORES DE PRINCIPAIS IMPACTOS UNIDADES
DEGRADAÇÃO DA AMBIENTAIS RESULTANTES GEOAMBIENTAIS ONDE
PAISAGEM OCORREM
Praia. pós-praia, planícies
Construções urbanas mal Desmatamento, diminuição da
flúvio-lacustres e flúvio-
planejadas e especulação biodiversidade e poluição do solo e dos
marinhas, campo de dunas e
imobiliária recursos hídricos.
Tabuleiro.
Praia, pós-praia, planícies
Poluição do solo e dos recursos
flúvio-marinhas, planícies
Lixo hídricos e aumento de doenças na
flúvio-lacustres, campo de dunas
população.
e Tabuleiro.
Poluição atmosférica, diminuição da
biodiversidade e da umidade do solo e Pós-praia, campo de dunas e
Queimadas
doenças do aparelho respiratório Tabuleiro.
humano.
Poluição do solo e dos recursos Tabuleiro e planícies flúvio-
Esgoto a céu aberto
hídricos e doenças na população. lacustres.
Alteração das margens dos recursos Dunas fixas e semi-fixas,
Desmatamento hídricos, diminuição da biodiversidade planícies flúvio-marinhas e
e da qualidade da água. flúvio-lacustres e Tabuleiro.
Mineração de areias e/ou Poluição do solo e do lençol freático e Dunas semi-fixas e móveis e
argilas diminuição da biodiversidade. Tabuleiro.

Fonte: Lílian Sorele Ferreira Souza, 2009


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho fez uma análise dos principais fatores potenciais de degradação dos recursos
ambientais e ecossistemas que compõem as UCs de Sabiaguaba, bem como seus impactos
resultantes. Durante esta análise foram constatados alguns problemas ambientais (como o acúmulo
de lixo e esgoto a céu aberto em Áreas de Preservação Permanente – APPs, mineração
indiscriminada de areias do campo de dunas e construções irregulares) que podem comprometer, em
um futuro breve, o equilíbrio ecológico da área e trazer prejuízos irreparáveis para o meio ambiente
e para a sociedade.
Nas áreas onde se dão o uso e a ocupação de forma indevida, os impactos ambientais devem
ser minimizados; o ordenamento territorial deve ser promovido; proibições de construções devem
ser feitas em áreas de APPs; a infraestrutura urbanística deve ser melhorada nas áreas de Tabuleiro;
projetos de Educação Ambiental devem ser incentivados e implantados; e a legislação ambiental
vigente deve ser considerada e obedecida.
Postas em prática todas estas recomendações, a gestão ambiental das UCs de Sabiaguaba
será uma realidade e exemplo a ser seguido por outras UCs do estado e até do país. Para isso, a
população deve ser capacitada para entender os ciclos ecológicos e fragilidades ambientais do meio
onde está inserida, bem como conhecer formas de melhor manejo ambiental. O poder público deve
alertar para a manutenção de ecossistemas tão fundamentais não só para o bairro da Sabiaguaba e
adjacentes, mas para toda a cidade de Fortaleza.
Finalmente, pretendeu-se, com esse trabalho, contribuir para o conhecimento das
problemáticas ambientais e sugerir formas de melhor gestão para a zona costeira e para as UCs de
Sabiaguaba, de modo que o princípio da sustentabilidade (que é a conservação da paisagem para
usufruto das gerações atuais e futuras) venha a ser difundido não só entre a comunidade acadêmica,
mas, e principalmente, entre a população em geral.

465
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERTRAND, G. Paisagem e Geografia Física Global: esboço metodológico. São Paulo: Caderno
de Ciências da Terra – IGEOG USP, 1972

CAVALCANTE, Roberta Feitosa de Lucena. Análise do potencial turístico e dos impactos


ambientais associados na praia de Sabiaguaba – Ceará: passos para uma gestão integrada do
ambiente. 2006. Monografia (Especialização em Planejamento e Gestão Ambiental) – Universidade
Estadual do Ceará, Fortaleza, 2006

CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE – CONAMA. Resolução nº 001 de 23 de


janeiro de 1986: dispõe sobre critérios básicos e diretrizes gerais para uso e implementação da
Avaliação de Impacto Ambiental (AIA). Disponível em:
http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html. Acessado em: 10 de agosto de 2008

GUERRA, A. T.; GUERRA, A. J. T. Novo dicionário geológico-geomorfológico. 4. ed. Rio de


Janeiro: Bertrand Brasil, 2005

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Censo Demográfico


2001. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acessado em: 12 de julho de 2008

MENDONÇA, Francisco. Geografia e Meio Ambiente. São Paulo: Contexto, 1993. (Coleção
Caminhos da Geografia)

PREFEITURA MUNICIPAL DE FORTALEZA. Decreto nº 11.986 de 20 de fevereiro de 2006:


Cria o Parque Natural Municipal das Dunas de Sabiaguaba. Fortaleza: Diário Oficial do Município,
nº 13.280, ano LIII, 06 de março de 2006(a)

______. Decreto nº 11.987 de 20 de fevereiro de 2006: Cria a Área de Proteção Ambiental de


Sabiaguaba. Fortaleza: Diário Oficial do Município, nº 13.280, ano LIII, 06 de março de 2006(b)

______. Projeto Orla: Plano de Gestão Integrada da Orla Marítima do Município de Fortaleza –
Ceará. Fortaleza: Prefeitura Municipal de Fortaleza, 2006(c).

SILVA, E. V. Geoecologia da paisagem do litoral cearense: uma abordagem ao nível regional e


tipológico. 1998. Tese (Tese para professor titular) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza,
1998

SOTCHAVA, V. Métodos em questão: o estudo dos geossistemas. São Paulo: USP, 1977

SOUZA, Marcos José Nogueira de. O litoral leste do estado do Ceará: potencialidades e limitações
de uso dos recursos naturais das unidades geoambientais. In: AMORA, Zenilde Baima (org.). O
Ceará: Enfoques Geográficos. Fortaleza:Ed. FUNECE, 1999. p. 11-24

______. Bases Naturais e esboço do zoneamento geoambiental do estado do Ceará. In: LIMA, Luiz
Cruz; MORAIS, J. O.; SOUZA, Marcos José Nogueira de. Compartimentação Territorial e
Gestão Regional do Ceará. Fortaleza: FUNECE, 2000. p. 6-104

TRICART, Jean. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: IBGE/SUPREN, 1977

VASCONCELOS, F. P. Gestão Integrada da Zona Costeira: ocupação antrópica desordenada,


erosão, assoreamento e poluição ambiental do litoral. Fortaleza: Premius, 2005

466
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

VULNERABILIDADE AMBIENTAL DA BACIA DO BAIXO MUNDAÚ (AL)

Maria Cléa B. De Figueirêdo


Embrapa Agroindústria Tropical
clea@cnpat.embrapa.br
Vicente De P. P. B. Vieira
Universidade Federal do Ceará
Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental
vpvieira@ufc.br
Suetonio Mota
Universidade Federal do Ceará
suetonio@ufc.br
Morsyleide de F. Rosa
Embrapa Agroindústria Tropical
morsy@cnpat.embrapa.br
Samuel Antônio Miranda de Sousa
Universidade Estadual do Ceará
samueldesousa@gmail.com

RESUMO
Os estudos sobre vulnerabilidade ambiental de sistemas têm crescido nos últimos anos, apoiando
ações de planejamento ambiental. Esse trabalho tem como objetivo apresentar o estudo de
vulnerabilidade realizado na bacia do Baixo Mundaú, pontuando aspectos ambientais associados à
adoção de novos processos ou produtos agro-industrias que precisam ser considerados quando a
unidade produtiva usuária está localizada nessa bacia. A análise de vulnerabilidade foi realizada
utilizando o método Vulneragri que utiliza uma estrutura de análise multicritério. Os resultados da
análise revelaram uma vulnerabilidade média da bacia. Processos ou produtos agro-industriais
utilizados em unidades produtivas localizadas nessa bacia devem primar pela eficiência no uso dos
recursos hídricos e pela baixa geração de efluentes sem sistema de tratamento previsto no processo
tecnológico.

Plavras-chaves: vulnerabilidade, agroindústria, análise multicritério

INTRODUÇÃO
A análise de vulnerabilidade ambiental permite avaliar a fragilidade de sistemas ambientais
frente a determinadas pressões. Essa informação é útil no planejamento ambiental, possibilitando
identificar regiões onde a degradação ambiental resultante de uma dada ação será mais crítica e
desenvolver programas visando à redução das fontes de pressão.
Os estudos sobre vulnerabilidade ambiental de sistemas têm crescido nos últimos anos,
podendo-se citar a análise da vulnerabilidade de: regiões à mudança climática (METZGER et al.,
2006); regiões montanhosas à degradação ambiental (LI et al., 2006); reservas hídricas subterrâneas
à contaminação por agrotóxico e nitrato (BARRETO, 2006); geossistemas a processos
morfogenéticos e pedogenéticos (LIMA, MORAIS e SOUZA, 2000); regiões às mudanças globais
(SCHOTER et al., 2004); áreas próximas a unidades industriais às emissões de poluentes dessas
unidades (TIXIER et al., 2005); bacias hidrográficas à degradação ambiental (TRAN et al., 2002;
ZIELINSKI, 2002); ecossistemas à degradação ambiental (VILLA; McLEOD, 2002). Esses estudos
utilizam diferentes tipos de indicadores na caracterização da vulnerabilidade de um determinado
sistema ambiental (bacia hidrográfica, paisagem, aqüífero etc.).
Esse trabalho tem como objetivo apresentar o estudo de vulnerabilidade realizado na bacia
do Baixo Mundaú, com áreas pertencentes aos estados de Pernambuco e Alagoas. O estudo busca
467
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

dar suporte à tomada de decisão sobre adoção de novos processos ou produtos agro-industrias nessa
bacia hidrográfica, auxiliando o trabalho de transferência de tecnologias agro-industrias.

MATERIAL E MÉTODOS

A análise de vulnerabilidade foi realizada utilizando o método Vulneragri, desenvolvido por


Figueirêdo (2008). Esse método compreende a vulnerabilidade ambiental como a susceptibilidade
de uma bacia a ocorrência de impactos ambientais, considerando: a exposição da bacia às pressões
ambientais típicas de atividades agroindustriais, avaliada por indicadores que mostram a pressão
antrópica exercida no sistema; a sensibilidade da bacia às pressões exercidas, avaliada pelo uso de
indicadores que mostram as características do meio físico e biótico (tipo de solo, clima, vegetação
etc.) que já ocorrem antes de qualquer perturbação e que interagem com as pressões; a capacidade
de resposta da população da bacia, avaliada pela adoção de ações de conservação ou preservação
ambiental que mitigam ou reduzem os possíveis efeitos das pressões exercidas. Quanto maior a
exposição a pressões, maior a sensibilidade e menor a capacidade de resposta de um sistema, tanto
maior a sua vulnerabilidade ambiental.

468
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

IMPACTOS AMBIENTAIS INDICADORES CRITÉRIOS

Perda da Biodiversidade 1.1 Atividade agropecuária

Erosão 1.2 Atividade industrial


1. EXPOSIÇÃO
1.3 Geração de esgoto per capita

Compactação 1.4 Geração de lixo per capita


1.5 Demanda Hídrica per capita
Salinização/ Sodificação do Solo 2.1 Áreas Prioritárias para Conservação
2.2 Aptidão Agrícola
Acidificação do Solo 2.3 Intensidade Pluviométrica ÍNDICE DE
2. SENSIBILIDADE VULNERABILIDADE
AMBIENTAL
Contaminação Ambiental por Agrotóxico 2.4 Qualidade da água de irrigação
2.5 Aridez do clima
Contaminação Ambiental por Resíduos 3.1 Áreas em Unidades de Conservação
Sólidos
3.2 Conservação do solo
Desertificação 3.3 Acesso à água tratada
3. CAPACIDADE DE
3.4 Acesso à coleta e ao destino adequado do
RESPOSTA
lixo
Escassez Hídrica 3.5 Acesso a esgotamento sanitário
3.6 Disponibilidade hídrica per capita
Poluição das Águas 3.7 IDH-M
Figura 1 - Estrutura de organização dos indicadores utilizados na análise da Vulnerabilidade Ambiental de uma bacia hidrográfica

469
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

O método utiliza uma estrutura de análise multicritério para o estudo da


vulnerabilidade. Essa estrutura é formada por um conjunto de 17 indicadores, organizados em
3 critérios e no índice que expressa a vulnerabilidade de uma bacia (Figura 1). Os indicadores
de vulnerabilidade estão organizados nos critérios exposição, sensibilidade e capacidade de
resposta da população, estando relacionados às seguintes questões ambientais relevantes a
atividade agroindustrial: perda da biodiversidade, erosão, compactação, salinização,
sodificação e acidificação do solo, contaminação ambiental por agrotóxicos e por resíduos
sólidos, desertificação, escassez hídrica e poluição hídrica.
O Índice de Vulnerabilidade ambiental (IVA) de uma bacia é obtido a partir da
normalização e posterior agregação dos valores dos indicadores e critérios. A normalização
dos indicadores em uma escala única é necessária para que valores em diferentes unidades de
medida possam ser agregados. O método Vulneragri adota uma escala que varia de 1
(vulnerabilidade mínima) a 2 (vulnerabilidade máxima). A descrição de cada indicador, assim
como as regras utilizadas para normalização e agregação dos valores dos indicadores em
critérios e no IVA estão detalhados em Figueirêdo (2008).
As bases de dados utilizadas para cálculo dos indicadores de vulnerabilidade são as
apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1 – Fontes de informação dos indicadores de vulnerabilidade ambiental


Informação Fonte
Perímetro das Bacias
Hidrográficas nacionais Base de dados da Agência Nacional de Águas - ANA (ANA, 2006)

Atividade agropecuária Censo Agropecuário (IBGE, 1996) e Censo Demográfico (IBGE, 2000b)

Atividade industrial Cadastro Central de Empresas (IBGE, 2005)

Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (IBGE, 2000a) e Censo Demográfico


Geração de lixo per capita (IBGE, 2000b)

Geração de esgoto per Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (IBGE, 2000a) e Censo Demográfico
capita (IBGE, 2000b)
Base de dados da Agência Nacional de Águas - ANA (ANA, 2006),Consolidação
Demanda hídrica per da Política e dos Programas de Recursos Hídricos do Estado do Ceará (SRH,
capita 2004) e Censo Demográfico (IBGE, 2000b)
Áreas prioritárias para
conservação Mapa de Áreas Prioritárias para Conservação (MMA, 2006)

Aptidão agrícola Estudos de Aptidão Agrícola - Ceará e Alagoas (SUPLAN, 1979)


Dados pluviométricos diários de postos de monitoramento da Fundação Cearense
de Meteorologia e Recursos Hídricos - FUNCEME (FUNCEME, 2008) e Rede
Intensidade Pluviométrica Hidroclimática do Nordeste (Sudene, 2008)

Tabela 1 – Fontes de informação dos indicadores de vulnerabilidade ambiental (cont.)


Informação Fonte
Qualidade da água de Dados georreferenciados de monitoramento da qualidade da água no Ceará
irrigação (COGERH, 2008) e em Alagoas (ANA, 2007)

Aridez do clima Mapa de Áreas Susceptíveis à Desertificação no Semi-árido (MMA, 2004)


Mapa de Áreas Protegidas (IBGE, 2008) e Unidades de Conservação no Ceará
Unidade de conservação (SEMACE, 2008)

Conservação do solo Perfil dos Municípios Brasileiros (IBGE, 2002)

470
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Acesso à coleta e destino Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (IBGE, 2000a) e Censo Demográfico
do lixo (IBGE, 2000b)

Acesso rede de Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (IBGE, 2000a) e Censo Demográfico
abastecimento de água (IBGE, 2000b)
Acesso a esgotamento Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (IBGE, 2000a) e Censo Demográfico
sanitário (IBGE, 2000b)

Base de dados da Agência Nacional de Águas - ANA (ANA, 2006),Consolidação


Disponibilidade Hídrica da Política e dos Programas de Recursos Hídricos do Estado do Ceará (SRH,
per capita 2004) e Censo Demográfico (IBGE, 2000b)

IDH-M Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (PNUD, 2003)

RESULTADOS
A análise de vulnerabilidade foi realizada na bacia do Baixo Mundaú (Figure 2). Essa
bacia possui como principal rio o Mundaú, ocupa uma área de 13.039,28 km2, tem uma
população de 1.850.065 habitantes e abriga as sedes de 53 municípios.

Figura 2 - Localização da bacia do Baixo Mundaú

O IVA da bacia do Baixo Mundaú é de 1,52 na escala de análise utilizada (varia de 1 a


2), valor considerado médio (Tabela 2). Essa bacia está exposta a pressões ambientais
advindas principalmente da elevada atividade agropecuária, que ocupa 61,42% da área da
bacia. A geração de lixo per capita também é elevada (1,35 kg/hab.dia), considerando que
segundo levantamento do SNIS (2006), essa geração é de 1,5 kg/hab.dia nos municípios com
maior geração e de 0,1 kg/hab.dia nos de menor geração. A demanda hídrica per capita de
908,5 m3/hab.ano é outro fator de pressão, considerando que esse indicador varia entre 30
(valor mínimo) e 1.500 m3/hab.ano (valor máximo), de acordo com valores observados por
Rebouças (2002a) para os estados brasileiros.
A bacia apresenta vulnerabilidade de 1,34 no critério sensibilidade. O indicador com
maior vulnerabilidade nesse critério é a intensidade pluviométrica, variando entre 289 e 1.047
mm/mês (valor médio de 460,6 mm/mês), no período de 1963 a 1973, considerando dados de
12 postos de monitoramento (SUDENE, 2008). Segundo classificação utilizada pelo Instituto

471
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) (CREPANI; MEDEIROS; PALMEIRA, 2004),


intensidades pluviométricas no Brasil superiores a 525 mm/mês são consideradas elevadas.
A capacidade de resposta da população é baixa na bacia, devido principalmente a
pequena área da bacia protegida em unidades de conservação (98,6% da área sem proteção) e
a baixa disponibilidade hídrica per capita (575,8 m3/hab.ano). Merece destaque também o
baixo acesso da população a sistemas de esgotamento sanitário (19,97% da população com
acesso).

Tabela 2 – Resumo da análise de vulnerabilidade da Bacia do Baixo Mundaú (AL)


Vulnerabilidade ambiental
Critério Indicadores Unidade de medida Valor médio do indicador Indicadores Critéri IVA
o
1. 1.1 Atividade % (percentual da área da 61,42% 1,65 1,48 1,52
Exposição agropecuária bacia com agropecuária)

1.2 Atividade empregados.km2 (total 0,11 1,00


industrial de pessoal ocupado nas
indústrias extrativas e de
transformação por km2)
1.3 Geração m3/hab.ano 118,21 1,42
de esgoto per
capita
1.4 Geração kg/hab.dia 1,35 1,71
de lixo per
capita
1.5 Demanda m3/hab.ano 908,5 1,60
hídrica per
capita
2. 2.1 Áreas km2 (área em cada 1 - Extremamente alta: 2.557,15 km2; 2 - 1,41 1,34
Sensibilidad prioritárias classes de prioridade na Muito alta: 291,52 km2; 3 - Alta: 218,05
e para bacia) km2; Insuficientemente conhecida:
conservação 1.860,41 km2; área não considerada
prioritária: 8.112,15 km2
2.2 Aptidão Km2 (área em cada Grupo 1: 224,31 Km2; Grupo 2: 10.462,52 1,28
agrícola grupo de aptidão km2; Grupo 3: 495,87 km2; Grupo 4:
agrícola) 597,59; Grupo 5: 978,14 km2; Grupo 6:
215,65 km2
2.3 mm/mês 460,65 1,78
Intensidade
Pluviométrica

Tabela 2 – Resumo da análise de vulnerabilidade da Bacia do Baixo Mundaú (AL) (cont.)


Vulnerabilidade ambiental
Critério Indicadores Unidade de medida Valor médio do indicador Indicadores Critério IVA
2. 2.4 Qualidade Salinidade: CE (dS/m); Salinidade: 0,495 1,14
Sensibilidad da água de Sodicidade: CE (dS/m) e
e irrigação RAS

2.5Aridez do Km2 (área por classe Áreas semi-áridas: 250 km2; Áreas 1,12
clima climática) subúmidas secas: 1.089,51 km2; Áreas do
entorno de regiões semi-áridas: 1.859,89
km2; Áreas úmidas ou subúmidas: 9.839,89
km2
3. 3.1 Áreas em Km2 (categoria de Proteção integral: 87,98 km2; Uso 1,99 1,74
Capacidade Unidade de unidade de conservação) sustentável: 96,38 km2; Sem proteção:
de Resposta conservação 12.854,92 km2
3.2 % do número de ações 7% 1,92
Conservação de conservação do solo
do solo praticadas (ações:
combate ou controle da
salinização do solo,
combate e/ou controle a
processos erosivos,
fiscalização ou controle
do uso de fertilizantes e
agrotóxicos, incentivo à
promoção e práticas de
agricultura orgânica e

472
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

recuperação de áreas
degradadas)

3.3 Acesso a Acesso: % da população Acesso: 51,41%; Tratamento: 57,30% 1,45


rede de com abastecimento de
abastecimento água; Tratamento: % do
de água volume coletado que é
tratado
3.4 Acesso a Acesso: % da população Acesso: 56,57%; Tratamento: 6% 1,66
coleta e ao com abastecimento a
destino coleta de lixo;
adequado do Tratamento: % do lixo
lixo coletado que é
adequadamente disposto
3.5 Acesso a % da população com 19,97% 1,79
esgotamento acesso a esgotamento
sanitário sanitário
3.6 m3/hab.ano 575,81 1,99
Disponibilidad
e Hídrica per
capita
3.7 IDH-M -- (valor adimensional) 0,596 1,40

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em estudos prospectivos sobre possíveis impactos ambientais da adoção de processos


ou produtos agro-industriais em diferentes regiões, a análise de vulnerabilidade permite
identificar locais onde esses impactos podem ser maiores ou menores. Permite ainda subsidiar
a etapa de desenvolvimento de uma tecnologia com informações sobre o meio ambiente onde
a tecnologia será adotada, para que o processo ou produto faça uso de insumos disponíveis na
região, gere resíduos capazes de serem corretamente dispostos ou assimilados no meio
ambiente ou agregue outras tecnologias para tratar os resíduos.
Considerando a análise de vulnerabilidade efetuada na bacia do Baixo Mundaú,
observa-se que processos ou produtos agro-industriais utilizados em unidades produtivas
localizadas nessa bacia devem ser eficientes no uso dos recursos hídricos devido à baixa
disponibilidade hídrica existente. Embora os solos da bacia possuam boa aptidão agrícola, a
intensidade pluviométrica é elevada na bacia indicando risco de erosão em áreas de maior
declividade, devendo-se buscar redução do uso de processos agrícolas que expõem o solo às
intempéries do clima. No caso de ocorrer a geração de efluentes, a unidade produtiva deve
dispor de sistema próprio de tratamento para eventuais efluentes gerados, uma vez que o
acesso a sistemas de esgotamento sanitário é reduzido na região.

REFERÊNCIAS

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Brasil. Brasília: ANA. 2006. CD-ROM.
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Concentração em Saneamento Ambiental) – Departamento de Engenharia Hidráulica e
Ambiental, UFC, Fortaleza, 2006.

473
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COMPANHIA DE GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS DO CEARÁ (COGERH).


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Ceará (2006 – 2007), 2007. Planilha Eletrônica: Excel.
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FIGUEIRÊDO, M. C. B. Modelo de avaliação do desempenho ambiental de inovações
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vulnerabilidade ambiental: Ambitec-Ciclo de Vida. Tese de doutorado, Departamento de
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475
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

OFICINAS GEOGRÁFICAS NO CONTEXTO DA FORMAÇÃO DOCENTE: em


debate a interdisciplinaridade no Curso de Licenciatura em Geografia da UFC

Profa. Dra. Maria do Céu de Lima


Depto de Geografia –UFC, duceu@ufc.br
Profa. Ms. Adriana Marques Rocha
Prefeitura Municipal de Fortaleza, adrianamr2@yahoo.com.br

INTRODUÇÃO

Neste texto refletiremos sobre a construção do conhecimento geográfico, da


relação teoria-prática, sociedade-espaço e a formação do licenciando em Geografia sob a
égide da interdisciplinaridade do mundo moderno. Percorreremos algumas searas a fim de
desvelar a <<essência/aparência>> da realidade posta a partir do debate acerca dos conteúdos,
habilidades e competências requeridos à formação do licenciado em Geografia na UFC e sua
inter-relação com as oficinas geográficas. Primeiramente discutiremos a formação do
profissional de Geografia, licenciado e bacharel, tratando das propostas constantes nos
Parâmetros Curriculares Nacionais e a adesão positiva no âmbito da Universidade Federal do
Ceará e do Departamento de Geografia. Em seguida ampliaremos a discussão dos
pressupostos epistemológicos e práticos das oficinas geográficas, enfatizando o significado
desses instrumentos pedagógicos na construção do pensamento interdisciplinar e no
atendimento aos preceitos da educação pública e socialmente referenciada.
O objetivo, portanto, é discutir as razões pelas quais emerge a
interdisciplinaridade no discurso acadêmico, especificamente no Curso de Geografia da UFC,
a partir da inserção das oficinas geográficas na grade curricular e a importância do Projeto de
Estudo Integrado - PEI desenvolvido nesse contexto e seu rebatimento na construção de
referenciais teóricos e metodológicos da Geografia. Finalmente, conclui-se evidenciando a
falácia da interdisciplinaridade e a urgência da crítica radical à realidade educacional vigente
na sociedade brasileira.
FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DE GEOGRAFIA: LICENCIADO E BACHAREL
A proposta de construção dos novos currículos dos cursos da Universidade
Federal do Ceará - UFC esteve balizado pelo debate coordenado pelo Grupo de Trabalho das
Licenciaturas/ GTL-PROGRAD UFC, 2003-2004, após a publicação do parecer CNE/CES no
583, de 4 de abril de 2001, que estabeleceu orientação para as diretrizes curriculares dos
cursos de Graduação e, principalmente, em torno do atendimento das Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior. Este marco
legal constitui-se de um conjunto de princípios, fundamentos e procedimentos a serem
observados na organização institucional e curricular de cada estabelecimento de ensino,
expressas, principalmente na resolução CNE/CP no 1, de 18 de Fevereiro de 2002 e CNE/CP
no 2, 19 de fevereiro de 2002 e os pareceres CNE/CP 9/2001 e 27/2001, e em acordo às
formulações da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (conhecida como LDB Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional)20. E, por fim, cabe destacar que foi considerado no
debate das novas diretrizes curriculares nacionais para as diferentes áreas de atuação da UFC,
a exemplo da Resolução CNE/CES no 14, de 13 de março de 2002, que estabeleceu as
Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Geografia.

20
Ver, em especial, o documento “Formação de Professores: subsídios para a elaboração dos projetos
pedagógicos, divulgado pela coordenação do Fórum das Licenciaturas da UFC, em março de 2004.

476
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Lidar com esta realidade fez aguçar o debate em torno do como abordar, sob a
perspectiva geográfica, dimensões essenciais do mundo contemporâneo em diferentes escalas.
Em foco as transformações socioespaciais e os desafios decorrentes da chamada crise
ambiental, a proposta do desenvolvimento sustentável e sua contribuição para a busca da
superação das desigualdades sociais, as relações de poder e a construção da cidadania, e a
crítica aos saberes fragmentados e as possibilidades da produção do conhecimento
interdisciplinar. Mas, ao mesmo tempo, não se tinha dúvida que estava em jogo, sem se ter
alternativa de recusa, a incorporação dos novos preceitos pedagógicos, a saber, a
predominância da forte relação entre epistemologia da prática e a pedagogia por competência,
exigidos pelos órgãos oficiais da área da educação, que teve importante reflexo na
reformulação dos projetos políticos dos cursos de graduação ofertados pela Universidade
Federal do Ceará – UFC, em especial nos cursos de licenciatura, desenhando mudanças
curriculares em termos de domínio de conteúdos disciplinares específicos integrados à
formação para a docência. Com isto surgiram os projetos políticos pedagógicos dos cursos de
formação de professores da educação básica, construídos no sentido da valorização das
licenciaturas, priorizando uma formação pedagógica dentro da formação específica nas
diferentes áreas de conhecimento, a exemplo do que ocorreu na Geografia.
Mesmo considerando as distinções em termos de projeto de formação do
geógrafo, o legado da história do Curso de Geografia da UFC (criado e funcionando desde
1968) não se coadunava com o pensar de uma só modalidade, o esforço realizado resultou na
construção de 2 (dois) projetos políticos pedagógicos21. Os atuais currículos dos cursos de
bacharelado e licenciatura, sob a vigência dos novos projetos políticos pedagógicos, foram
implementados a partir da turma aprovada no vestibular 2005, ingressa no 1o semestre e,
desde então, os estudantes dos novos currículos convivem com os alunos vinculados às
antigas grades curriculares. No curso da construção dos referidos projetos22, a grande tarefa
do Colegiado foi avaliar e redefinir, conjuntamente, novas perspectivas para o trabalho que já
se realizava cotidianamente,
[...] tendo em vista a manutenção da Universidade Pública, como um espaço
cultural democrático e de produção/mediação de saberes orientados para:
romper com a visão conservadora e articuladora de um discurso objetivo e
neutro que separa questões políticas de questões culturais e sociais;
incorporar avanços científico-tecnológicos (cultura culta) e os saberes
comuns emergentes da cultura popular que se integram à prática política-
pedagógica; e interagir com a sociedade (dos movimentos sociais ao setor
produtivo), assegurar a liberdade de pensamento inerente à natureza da UFC.
(UFC, 2004a; 2004b).

21
Registre que apesar da recomendação da Pró-Reitoria de Graduação - PROGRAD UFC, à época, era a
constituição de coordenações separadas, a opção foi manter uma única Coordenação para as duas modalidades.
Outro aspecto emblemático é o fato que a demanda de matrícula, organizada pelo(a) coordenador(a) do curso
continuar sendo feita em conjunto, até hoje, para definição da oferta de disciplinas pelo Departamento de
Geografia para as duas modalidades. A matrícula online efetuada por cada estudante, a partir do segundo
semestre do curso pressupõe a definição, a cada semestre, das disciplinas a serem cursadas segundo a grade
curricular da licenciatura ou do bacharelado.
22 O desenho curricular assumido resultou, também, de avaliações e contribuições pensadas, ao longo de 16
anos, por diferentes coordenações que formularam propostas de reforma curricular para o curso de Geografia da
UFC, nas gestões dos professores: Zenilde B. Amora, Maria Florice R. Pereira, José Lévi F. Sampaio, Fátima
M. Soares, Eustógio W. C. Dantas, Maria Salete de Souza e Maria do Céu de Lima. Incorporou as discussões e
reflexões sobre reformas curriculares coordenadas pela PROGRAD UFC, envolvendo as diversas Coordenações
dos Cursos de Graduação e Colegiado do Departamento de Geografia.

477
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

No projeto político pedagógico do Curso de Licenciatura em Geografia o que se


entendeu como necessário à formação de professores da Educação Básica ficou assim
expresso:
a profissão docente exige uma formação específica, uma vez que, para o seu
exercício, não é suficiente o domínio do conteúdo da área em que vai atuar.
É preciso capacitar o docente para compreender criticamente a educação e o
ensino, assim como seu contexto sócio-histórico. É fundamental também
oferecer elementos para uma atuação consciente nesta realidade no sentido
da sua transformação, da superação das dificuldades e problemas atuais - em
favor de uma formação específica para o licenciado em Geografia, cuja ação
docente exigirá, além de saberes técnicos, outros conhecimentos, outras
habilidades e competências,ou seja, a compreensão de diferentes dimensões
da docência não esgotáveis apenas pelo domínio dos conhecimentos
específicos. (UFC, 2004a).
E para a formação do bacharel em Geografia, ficou definido que:
É preciso capacitá-lo para compreender criticamente à natureza e sociedade,
assim como seu contexto sócio-histórico. É fundamental também oferecer
elementos para uma atuação consciente nesta realidade no sentido da sua
transformação, da superação das dificuldades e problemas atuais - em favor
de uma formação específica do Bacharelado em Geografia, cuja atuação
exigirá, além de saberes técnicos, outros conhecimentos, outras habilidades e
competências,ou seja, a compreensão de diferentes dimensões do
profissional geógrafo não esgotáveis apenas pelo domínio dos
conhecimentos específicos (grifo nosso). (UFC, 2004b).
Resta pensar qual é a situação atual da formação dos licenciados e bacharéis desde
a reformulação curricular ocorrida em 2004. Para isto, algumas questões emergem do
cotidiano escolar em torno da formação do profissional da Geografia: 1) A práxis do
profissional tem sido pautada na emergência de um sujeito capaz de articular e adequar,
dentro de uma determinada situação, os conhecimentos construídos na trajetória de sua
formação, tanto acadêmica como de sujeito social? 2) Rompeu-se a dicotomia até então
existente entre teoria e prática na formação de licenciados e bacharéis? 3) Forma-se um
profissional capaz de mobilizar saberes múltiplos e complexos em um determinado contexto
de ação intersubjetiva, onde pela dialogicidade, a teoria e a prática tornam-se indissociáveis
tanto para colocar os saberes em prática como também para a produção de novos
conhecimentos? Houve a desarticulação da tradicional dependência do bacharelado, enquanto
formação distinta do profissional do docente? A formação tem propiciado a emergência de um
sujeito profissional interativo, reflexivo, autônomo e comprometido com a transformação da
realidade social?
Como parte desta releitura é fundamental recolocar, também, o papel dos “nós
críticos” do planejamento educacional e, estrategicamente, reiterar que a implementação de
um projeto político pedagógico requer, para além da sua construção, a análise e discussão das
condições de sua realização. O diagnóstico que emerge do contexto, mostra a preocupação
com a estrutura organizacional da universidade (envolvendo infraestrutura material, pessoal
docente e técnico-administrativo e instrumentos jurídicos), com o envolvimento e qualificação
dos diferentes sujeitos envolvidos no processo ensino-aprendizagem (em particular dos
docentes e discentes), com as relações de trabalho (sob a égide da precarização do trabalho
docente) e com os espaços de decisão da instituição que deveriam ser entendidos como
espaços pedagógicos necessários à construção do conhecimento e da cidadania. Em vários
momentos da elaboração dos referidos projetos estas dimensões foram colocadas como limites
e observando a realidade atual, pode-se afirmar que os desafios colocados ainda não foram
superados posto que
478
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

[...] o estreitamento social, vinga-se com o estreitamento intelectual nos


programas curriculares das universidades. A ciência deve transformar-se
diretamente em máquina de aproveitamento, a lógica econômica empresarial
devora a pesquisa livre, a reflexão crítica sucumbe como luxo dispensável
(KURZ, 2004).
Em razão do objetivo deste texto voltaremos nosso olhar, principalmente, para o
PPP do Curso de licenciatura em Geografia da UFC. Na discussão da proposta para a
formação dos professores para educação básica o Colegiado do Departamento de Geografia
deparou-se, estrategicamente, com alguns grandes desafios. O primeiro desafio: incorporar as
exigências de domínio de conteúdos tanto de Geografia como de formação para a docência na
distribuição da carga horária, conforme o Art. 1o da resolução CNE/CP no 2
a carga horária dos cursos de Formação de Professores da Educação Básica,
em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, será
efetivada mediante a integralização de, no mínimo, 2800 (duas mil e
oitocentas) horas, nas quais a articulação teoria-prática garanta, nos termos
dos seus projetos pedagógicos, as seguintes dimensões dos componentes
comuns: I - 400 (quatrocentas) horas de prática como componente curricular,
vivenciadas ao longo do curso; II - 400 (quatrocentas) horas de estágio
curricular supervisionado a partir do início da segunda metade do curso; III -
1800 (mil e oitocentas) horas de aulas para os conteúdos curriculares de
natureza científicocultural; IV - 200 (duzentas) horas para outras formas de
atividades acadêmico-científico-culturais.
Além disso, na busca de romper com a dicotomia existente entre Geografia Humana e
Geografia Física, foi preciso colocar-se diante do segundo desafio: introduzir a
interdisciplinaridade, na formação do licenciado haja visto que
[...] o nosso sistema educativo privilegia a separação em vez de praticar a
ligação. A organização do conhecimento sob a forma de disciplinas seria útil
se estas não estivessem fechadas em si mesmas, compartimentadas umas em
relação às outras; assim, o conhecimento de um conjunto global, o homem, é
um conhecimento parcelado (MORIN, 1999).
O terceiro desafio foi construir a perspectiva de interconexão teoria e prática, expressa na
valorização das práticas desenvolvidas nos laboratórios e trabalhos de campo integrados e,
também, em outros espaços, considerando-as como componentes curriculares, a serem
vivenciadas durante todo o curso, e de estágio curricular supervisionado. E, por conseqüência,
a consolidação do objetivo de formação do licenciado enquanto profissional de docência que
na sua práxis cotidiana possa articular os múltiplos saberes desse campo científico e
encaminhar os diálogos necessários com os outros campos disciplinares.
A certeza de que não deveríamos dissociar o movimento do pensamento do nosso
fazer acadêmico, nem agindo sem relacionar ação e reflexão em um contexto de
transformação da ação educativa, nos colocou diante da encruzilhada que estes três grandes
desafios enunciam, ou seja, a responsabilidade de planejar e materializar o que ficou
(sub)entendido nas discussões sobre o conceito das Oficinas Geográficas (que não se
coadunava com a idéia de disciplina na forma tradicional) e na construção das suas
“ementas”.

479
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

A OFICINA GEOGRÁFICA III COMO INSTRUMENTO DE INTERDISCIPLINARI-


DADE?
DESMISTIFICANDO A OFICINA: CONSTRUINDO REFERENCIAIS PARA A
PRÁTICA DOCENTE
A proposta norteadora das oficinas geográficas tem como perspectiva (projeto)
agir em busca da superação da fragmentação do conhecimento geográfico e no sentido de
articular, principalmente, os conteúdos disciplinares do semestre em curso e do anterior. As
Oficinas Geográficas I (2o semestre), II (3o semestre), III (4o semestre) e IV (5o semestre),
cada qual com carga horária de 64 h/a, fazem parte da proposta de integralização curricular do
Curso de Licenciatura em Geografia da UFC. Essas oficinas foram propostas no sentido de
atender recomendações gerais das novas diretrizes da formação de professores que requer
preparar o licenciando para atuar na sala de aula, articular a análise geográfica, buscando
mobilizar saberes múltiplos e complexos em um determinado contexto de ação intersubjetiva,
onde pela dialogicidade, a teoria e a prática tornam-se indissociáveis tanto para colocar os
saberes em prática como também para a produção de novos conhecimentos e, por fim, fazer
emergir um sujeito profissional interativo, reflexivo, autônomo e comprometido com a
transformação da realidade social. Na forma como foram incorporadas no PPP apresentam a
mesma formulação para as 4 (quatro) oficinas, assim expressas:
Estudo e discussão de temáticas que integrem os conhecimentos geográficos
com as vivências do aluno, desenvolvidas nas disciplinas do semestre
anterior e em curso. A partir disso, viabilizar situações de estratégias
pedagógicas para o ensino da Geografia na Educação Básica. Elaborar e
executar atividades práticas com as temáticas, entre elas: trabalho de campo,
construção de recursos didáticos, elaboração de textos, vídeos, entre outros.
Interagir com seu campo de atuação profissional. A produção de recursos
didáticos: elaboração de recursos didáticos e roteiros de trabalho de campo.
(UFC, 2004a)
As concepções práxis epistêmico-pedagógica que orientaram a proposição da
experiência e seus resultados nos semestres 2008.II e 2009.I em torno da oficina geográfica
III do Curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Federal do Ceará – UFC, ofertada
no elenco das “disciplinas” do 4o semestre, implica na necessidade fundamental de vincular
ação e reflexão (FREIRE, 1996, p. 24; FIGUEIREDO, 2007, p.41). Neste sentido estabeleceu-
se como estratégico refletir sobre ensinar e aprender na educação superior e na educação
básica a partir da elaboração de um Projeto de Estudo Integrado – PEI que foi proposto
como atividade a ser desenvolvida no decorrer do semestre, articulando, segundo a escolha da
turma, os conhecimentos abordados em disciplinas do 3o semestre (Ecologia) e do 4o semestre
(Recursos Hídricos, Pedologia e Geografia da Energia e das Indústrias), também, de uma
disciplina do 1o semestre (Cartografia). A escolha das disciplinas que não fazem parte do 4o
semestre foram justificadas pelos estudantes com diferentes razões: no caso da Ecologia
reforçar o domínio sobre os conteúdos e conceitos básicos para o entendimento da questão
ecológica que avaliavam ser fundamental ao debate sobre a relação sociedade-natureza e no
caso da Cartografia enfatizaram a importância do conhecimento cartográfico no
desvendamento da realidade e para a prática educacional.
Mediante esta definição foram feitos contatos com os professores do
Departamento de Geografia responsáveis pela oferta das referidas disciplinas. A profa. Dra.
Marta Celina Sales (Recursos Hídricos), o prof. Ms Paulo Roberto Thiers (Cartografia), o
prof. Ms Raimundo Castelo abraçaram e comprometeram-se em colaborar com a realização
da Oficina Geográfica III, a partir de uma reunião de planejamento, ocorrida nas dependências
do Laboratório de Pedologia. Ali ficou definido que a bacia hidrográfica do Maranguapinho

480
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

seria a unidade de análise socioespacial (MENDONÇA,1999) para a construção do PEI. O


entendimento construído é um indicativo da tentativa de construção de uma nova forma de
pensar derivada do pensamento complexo, da reiterada afirmação da mudança de paradigma
ou da necessidade de superá-lo. Para o físico austríaco Capra (2002) a crise que se abateu
sobre a sociedade é de “percepção”, portanto, para esse autor é preciso mudar a forma de ver
o mundo, de pensá-lo.
O desenho construído sinalizou os seguintes passos: 1o momento: levantamento e
leitura de bibliografias indicadas nas disciplinas, debates e orientações do trabalho em sala de
aula; 2o momento: trabalho de campo e elaboração do PEI; 3o momento: produção do material
e elaboração de um artigo; 4o momento: apresentação dos grupos (exposição oral da
experiência vivida); 5o momento: avaliação do trabalho desenvolvido no semestre (relato e
análise fundamentada das atividades desenvolvidas). O desenvolvimento da Oficina
Geográfica III foi interessante, apesar das fragilidades detectadas e expostas pelos estudantes
no momento da avaliação. Os referidos estudantes fizeram sugestões acerca da configuração
atual da referida oficina e como poderia ser reformulada para atender ao objetivo de articular
conteúdos disciplinares do 3o e 4o semestres, principalmente, e desenvolver competências para
as práticas pedagógicas na educação básica. Na avaliação ficou decidido que os objetivos da
oficina devem permanecer, todavia, a configuração deve ser rediscutida consubstanciada nas
inquietações, dos estudantes, abaixo relacionadas:
• O trabalho de campo deve ser realizado próximo do início da oficina para que os
alunos tenham tempo suficiente para desenvolver o relatório a partir das leituras realizadas
nas disciplinas inter-relacionadas;
• Os encontros devem viabilizar a discussão e tornar possível a realização de atividades
em grupos na sala de aula;
• Os professores das disciplinas envolvidas precisam participar efetivamente, portanto, o
cronograma de atividades da oficina deve ser objeto de conhecimento do corpo docente do
Departamento de Geografia;
• É preciso que o professor coordenador ofereça bibliografia que possa subsidiar a
articulação entre os conteúdos, pois os alunos ainda não têm autonomia intelectual para
realizar a interdisciplinaridade epistemológica na Geografia;
• O professor coordenador da oficina deve apoiar os alunos, promovendo discussões,
esclarecendo dúvidas e suscitando o diálogo entre as disciplinas envolvidas na oficina;
• A prática da Cartografia digital pode ser mais efetiva, isto é, ter maior duração para
que os alunos aprendam a manejar esse instrumento imprescindível à boa prática pedagógica
do licenciado e para que elaborem material cartográfico de qualidade da área sob
investigação.

Resultados alcançados:
• Alguns estudantes conseguiram produzir relatório de ótimo nível, articularam
inúmeros conhecimentos das mais variadas disciplinas, inclusive de algumas que não figuram
nos 3º e 4º semestres;
• Os debates conseguiram levantar questionamentos acerca do modo de vida moderno e
seus desdobramentos;
• A participação dos professores Paulo Roberto Thiers, Marta Celina Sales e Raimundo
Castelo (Departamento de Geografia) e João Batista A. Figueiredo (Faculdade de Educação)
da UFC e do Sr. Henrique (representante da COGERH-CE) proporcionaram profícuos
momentos de discussão e aprendizagem;

481
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

• A proximidade entre os professores que coordenaram a oficina foi enriquecedora à


prática docente, colaborando para o bom relacionamento entre professores e o pensar e
produzir junto contrapondo-se à lógica da separação e da não-participação da modernidade;
• Discutir interdisciplinaridade e tentar promovê-la a partir de uma oficina geográfica
requer um profundo embasamento teórico acerca dos conteúdos das disciplinas envolvidas,
além da efetiva participação dos demais professores, portanto, é complicado falar de
emancipação sem vinculá-la à construção de momentos e à criação de situações que
propiciem caminhar por searas desconhecidas, erigindo no próprio caminhar possibilidades de
outro devir. É preciso, sobretudo, arregaçar as mangas para produzir o novo.
A expectativa era oportunizar o desenvolvimento de competências para a
aprendizagem compreensiva dos futuros licenciados em Geografia envolvidos na atividade.
Em questão estava a possibilidade da construção da Oficina Geográfica III como instrumento
de interdisciplinaridade, todavia, distanciado da ideologia vigente no mundo acadêmico.

O QUE É INTERDISCIPLINARIDADE E QUAIS SÃO OS SEUS LIMITES?


(DISCUSSÃO EPISTEMOLÓGICA)
O desconhecimento do que representa a interdisciplinaridade faz emergir nas
discussões acadêmicas muitas confusões. Diante desse fenômeno, a existência de algumas
disciplinas ou esquemas que aparentemente são alçados à categoria de interdisciplinares,
utilizando os escritos de Edgar Morin23, tornou-se recorrentes no meio universitário. Contudo,
é preciso aprofundar a discussão acerca da primazia da interdisciplinaridade na sociedade
moderna. Por que temos de criar instrumentos pedagógicos e formativos interdisciplinares?
Quais as razões para a necessidade de bacharéis e licenciados embebidos no manto da
interdisciplinaridade? Essas são algumas questões caras ao debate e à compreensão das
contradições expressas na educação superior, e manifestas nas estruturas curriculares, na
concepção de disciplinas, dos seminários e mais especificamente no Curso de Licenciatura em
Geografia sob o título de oficinas geográficas.
Alguns autores elaboraram arcabouço teórico da temática evidenciando a
imprescindibilidade de voltar o olhar para a realidade circundante. Os conceitos, categorias,
disciplinas, ferramentas pedagógicas são expressões das práticas sociais, portanto,
manifestações abstratas-concretas do modo de ser erigidas sob um determinado modo de vida.
Desvelar o que paira abaixo da superfície dessas categorias é um esforço intelectual
necessário ao entendimento do significado da emergência da interdisciplinaridade, posto
desde a 2ª metade do século XX.
Nas sociedades pré-modernas o conhecimento produzido estava interligado, não
havia a divisão em disciplinas e mesmo que houvesse era qualitativamente diferente do que

23
É possível constatar essa intenção no discurso de Morin “Há inadequação cada vez mais ampla, profunda e
grave entre os saberes separados, fragmentados, compartimentados entre disciplinas, e, por outro lado, realidades
ou problemas cada vez mais polidisciplinares, transversais, multidimensionais, transnacionais, globais,
planetários” (2003, p. 13). “A despeito da ausência de uma ciência do homem que coordene e ligue as ciências
do homem (ou antes, a despeito da ignorância dos trabalhos realizados neste sentido8), o ensino pode tentar,
eficientemente, promover a convergência das ciências naturais, das ciências humanas, da cultura das
humanidades e da Filosofia para a condição humana”(2003, p. 46). “[...]o conhecimento da complexidade
humana faz parte do conhecimento da condição humana; e esse conhecimento nos inicia a viver, ao mesmo
tempo, com seres e situações complexas” (1999, p. 49). “A exigida reforma do pensamento vai gerar um
pensamento do contexto e do complexo. Vai gerar um pensamento que liga e enfrenta a incerteza” (2003, p. 92).

482
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

existe hoje nas instituições de ensino (KURZ, 1999). O desligamento das várias instâncias do
conhecimento só ocorreu com o advento da Modernidade. A forma de vida pré-moderna
estava fundamentada sob a lógica do fetichismo religioso – muito embora representasse uma
alienação, restringia-se ao plano metafísico - subjugada à dinâmica do tempo cíclico, o tempo
irreversível ainda era utilizado pelos ditos homens “cultos”, enquanto os escravos o
desconheciam, baseavam-se apenas no passar das estações, dia e noite, ontem e hoje, mas não
compreendiam que o tempo não voltava. Com a Revolução Industrial e seus ideais iluministas
veio à tona um modo de produzir e viver cujas bases estavam assentadas na lógica da
separação, no tempo abstrato, ou melhor, em porções iguais desse tempo (DEBORD, 1997).
Esta lógica perpassa os vários espaços institucionais, inclusive os universitários.
As universidades só poderão retirar-se desta tendência de civilização,
quando se opuserem ao elitismo (Elite-Lobbysmus) e ao reducionismo
econômico. Deverá haver um movimento dos sábios desobedientes, os quais
se envolvam com os novos movimentos sociais, sem levar em consideração
a antiga paralisada classe política de esquerda. Se as chances continuarem
igualmente menores, a comunidade de docentes e discentes poderá partir
para a subversão intelectual e transformar a universidade em campo
experimental para uma cultura de oposição (KURZ, 2004).
Os obstáculos objetivo e subjetivo demonstram que a especialização do trabalho,
da teoria, da vida deve ser superada “positivamente” e somente um novo homem será capaz
de utilizar integradamente todas as suas potencialidades, competências e habilidades a fim de
resolver as contradições do sistema capitalista (JAPPE, 2006). Todavia, o mundo continua
separado, talvez a interdisciplinaridade na sociedade contemporânea seja possível somente do
ponto de vista epistemológico e ainda assim constitui-se num entrave, visto as condições em
que se encontram as universidades e a urgência da construção de teoria desvencilhada da
ontologia espetacular. Essa é a discussão que deve ser elaborada para deslindarmos, inclusive,
a pertinência das oficinas geográficas no curso de Geografia da Universidade Federal do
Ceará.

PARA NÃO CONCLUIR

Concebe-se aqui que a ruptura com o modelo de educação vivenciada na


universidade é uma das condições para a criação de possibilidades de pensar e viver para além
da liberdade econômica da cidadania de seres não-rentáveis, tornados supérfluos sociais.
Construir um modo de vida qualitativamente diferente pressupõe outra educação, cujas bases
estejam firmadas, sobretudo numa racionalidade socioespacial contra-hegemônica.
É preciso superar esse modelo social cujas bases práticas educativas são
coercitivas e produtoras de técnicas e teorias destrutivas. Pensar as oficinas geográficas ou
qualquer outra ferramenta pedagógica requer a consciência de que outro devir é necessário.
Não basta tentar corrigir as contradições dos “conteúdos” se a questão está na “forma” de ser
em que o instrumental teórico está concebido.
Na Geografia, as oficinas geográficas demonstram ainda a incapacidade de
professores e alunos elaborarem o estudo interdisciplinar, ainda que no plano epistemológico,
no mundo fragmentado, disciplinar e em crise que para continuar no processo de valorização
ad infinitum necessita do “ser” flexível, aquele que sabe viver na complexidade
interdisciplinar fragmentada e esquizofrênica da vida real. A compreensão das contradições
na produção social do espaço já se constitui num primeiro passo no longo caminho que nos
aproxima da possibilidade de se pensar a emancipação.

483
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

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485
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

ESTUDO INTEGRADO FATORES GEOAMBIENTAIS


DA BACIA DO RIO COCÓ-CE
Maria do Socorro Pereira Diógenes
Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente - PRODEMA/UFC
Edson Vicente da Silva

RESUMO
O presente trabalho é resultado de um estudo integrado dos fatores geoambientais da
Bacia do rio Cocó, a qual representa um dos recursos hídricos de superfície da maior
significação na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) e, dado a esse posicionamento, se
constitui de grande interesse a sua conservação. Destaca-se como objetivo principal é fazer
uma análise geral desse recurso hídrico, ressaltando seus os aspectos geoambientais como a
geologia, relevo, solo e vegetação, os quais são abordados separadamente, mas devem ser
compreendidos de forma integrada, pois os mesmos interagem entre si, numa relação de
dependência e interdependência. Diante da utilização inadequada dos recursos naturais da
área representada pela referida bacia, tem-se observado crescentes alterações nos seus
ecossistemas naturais em face, principalmente, aos impactos ambientais causados pela
expansão urbana e atividades humanas. Nessa perspectiva é importante um conhecimento
acerca dos componentes e ambientes naturais da bacia do rio Cocó, os quais aprecem
dispostos em sua área de abrangência numa relação sistêmica, logo, ações nefastas à
composição e estrutura no seu sistema hidrológico, podem modificar o equilíbrio natural dos
ecossistemas nela desenvolvidos, causando prejuízos de âmbito ambiental e social.

LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO


A bacia do rio Cocó apresenta-se totalmente integrada na Região Metropolitana,
compreendendo parcelas territoriais dos municípios de Fortaleza, Aquiraz, Maranguape,
Itaitinga e Pacatuba, e ocupa uma área de 517,2 Km², dos quais 195,7 correspondem a sub-
bacia do rio Coaçu que deságua no rio Cocó já nas proximidades de sua foz.
A referida bacia está inserida entre os paralelos de 3º 30’ e 4° latitude Sul e os
meridianos de 38º25’ e 38°40’ longitude Oeste, tendo como principais vias de penetração as
rodovias BR-116 e CE-021. Os mapas abaixo possibilitam uma visualização da situação
geográfica da bacia do rio Cocó.
Mapa dos Bairros de Município de Fortaleza

Mapa da Região Metropolitana de Fortaleza

Estado do Ceará

Fonte: pt.wikipedia.org/wiki/Geografia de Fortaleza

FATORES GEOAMBIENTAIS DA BACIA DO RIO COCÓ


Os fatores geoambientais são os aspectos naturais que agem de forma integrada na
natureza, gerando as condições favoráveis para formação dos ecossistemas que compõem uma
unidade geoecológica ou de paisagem. São analisados separadamente, mas é fundamental
saber que atuam na constituição de ambientes naturais, a partir da construção de uma rede de
relações de dependência e interdependência, dentro de um processo espaço-temporal.

486
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Percebidos numa visão sistêmica, é possível afirmar que qualquer alteração nos fatores
geoambientais de uma unidade geoecológica, seja qual for sua escala, poderá haver
comprometimento do funcionamento natural da mesma, enquanto sistema, consequentemente
prejuízos aos seus elementos bióticos e abióticos, bem como problemas socioambientais e
econômicos à sociedade humana.
GEOLOGIA
A bacia hidrográfica do rio Cocó é compreendida por uma diversidade de unidades
geológicas, referidas ao Quaternário, Terciário e Pré-Cambriano que correspondem,
respectivamente, ao seu baixo, médio e alto curso.
No Quaternário ocorrem formações mais recentes e nele foram identificados três
compartimentos lito-estratigráficos, compostos por sedimentos eólicos e flúvio-marinhos
litorâneos, típicos de ambiente litorâneo e por sedimentos de natureza e granulometria
variada, encontrados em ambientes flúvio-marinhos, fluvial e lacustre.
No Terciário destacam-se sedimentos argilo-arenosos do Grupo Barreira Indiviso,
constituído por rochas não consolidadas que se assentam sobre o cristalino.
No Pré-Cambriano existem as formações mais antigas, compostas por rochas cristalinas,
de natureza diversa, como o predomínio de gnaisses, migmatitos e xistos anfibolíticos.
O mesmo é representado pelo Maciço Residual da serra da Aratanha em Pacatuba.
GEOMORFOLOGIA
As unidades morfológicas originadas por processos morfogenéticos condicionados por
diversos fatores que atuam conjuntamente, como a estrutura geológica, os processos erosivos
e de acumulação e o clima.
A integração desses fatores resulta na formação de distintas feições morfológicas, com
características próprias, conforme o seu processo genético.
O aspecto físico da área ocupada pela Bacia do rio Cocó apresenta, predominantemente,
forma tabular, vindo em seguida outras com extensões menos expressivas, mas unidades
morfológicas de importância destacada para a área.
Na desembocadura do rio aparece a Planície Litorânea que se limita com a linha da
praia e as faixas de contato com a superfície dos Tabuleiros Pré-litorâneos e a Planície Flúvio-
marinha. Nela destaca-se, como feições geomorfológicas, as praias, os recifes e as dunas.
As praias situam-se entre a linha de baixa-mar e a linha de preamar (“Foreshore”)
variando na sua largura em função da maré. As mesmas são constituídas basicamente por
grãos de quartzo, que, quando secos, são transportados pelo vento, ensejando a formação de
dunas. Essas se dispõem paralelamente à linha de costa e podem ser móveis ou fixas, estas por
apresentarem uma vegetação fixadora e aquelas não.
Nos setores mais rebaixados do rio Cocó nas mediações do nível do mar (zona
estuária) ou área de ocorrência do “Manguezal”, tem início a Planície Flúvio-marinha que se
estende até onde termina a influência das águas marinhas no leito fluvial do rio em questão.
As depressões ou setores embaciados constituem as Bacias Lacustres, destacando-se
as lagoas de Sapiranga e Precabura.
Justapostas aos fluxos do rio Cocó, constituídas por uma sedimentação fina e
diferenciada e não apresentando continuidade, aparecem as Planícies Fluviais. Esta feição
morfológica tem início no limite sul da Bacia B.2 com o município de Pacatuba e termina nas
proximidades do cruzamento da BR-116 com o rio, quando começa a área de influência dos
movimentos das marés.
Ocupando os setores mais interiorizados da Bacia do Cocó, ocorrem as feições
tabuliformes ou Tabuleiros Sublitorâneos. Estes apresentam uma topografia plana ou
suavemente ondulada, com leve inclinação em direção ao litoral e corresponde a um glacis de
acumulação de sedimentos oriundos do Grupo Barreiras.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Compreendendo um relevo dissecado ou de predomínio de formas arredondadas ou


aguçadas, como colinas e cristas, tem-se o Maciço Residual da Aratanha em Pacatuba, no qual
se localiza as cabeceiras do rio Cocó.
CLIMA
Considerando a extensão territorial da área representada pela bacia hidrográfica do rio
Cocó, da sua relativa homogeneidade topográfica e proximidade com o litoral, não se denota
mudanças ou diferenciações climáticas acentuadas.
A bacia do rio Cocó está compreendida entre os paralelos de 3º30’ e 4º00’ Sul e
meridianos de 38º25’ e 38º40’ Oeste, posição plenamente equatorial, logo, diretamente
sofrendo a ação da Convergência Intertropical (CIT) ou confronto dos alíseos dos dois
hemisférios.
O fluxo dos alíseos ao penetrarem no continente é responsável pelas precipitações
ocorridas no litoral e a barlavento da barreira orográfica, constituída, no caso, pela serra da
Aratanha, onde nasce o rio Cocó, tornando-o assim, perene no seu alto e baixo curso.
Além da atuação benéfica da circulação atmosférica, o clima de Fortaleza, na qual o
rio detém mais de 60% de seu fluxo, é favorecido por ser circundada de serras, como a de
Maranguape e Aratanha, que funcionam como barreiras às massas de ar provenientes do
litoral, provocando, com a ascensão dessas e consequente ocorrência de chuvas orográficas, as
quais se tornam mais acentuadas à proporção que há aumento na altitude. Essas precipitações
favorecem para perenização do alto e baixo curso do Rio Cocó.
À medida que se afasta do litoral, ou seja, em direção ao interior da bacia, ocorre uma
diminuição nos índices pluviométricos, tendo em vista a menor ou moderada influência da
corrente dos alísios e da Ea, tornando o clima mais quente, o que contribui para o aumento da
evaporação, interferindo ou diminuindo o escoamento fluvial do rio Cocó no seu médio curso.
Quanto ao regime térmico, este, apresenta-se pouco variável no decorrer do ano,
mostrando pequena amplitude térmica, devendo estar relacionado à proximidade com a linha
do Equador.
O excedente hídrico, quantidade de precipitada não absorvida pelo solo e não
evapotranspirada, incorporado à rede de drenagem superficial e subsuperficial do rio Cocó,
alcança seus maiores valores na serra da Aratanha e no litoral de Fortaleza, e os menores à
sotavento da referida serra.
A deficiência hídrica, no balanço hídrico, possui duplo significado para o uso da terra,
sendo o volume dessa deficiência representado pela quantidade de água que falta no solo, e o
número de meses com deficiência mostra, em termos médios, por quanto tempo aquela
deficiência perdura. As mais elevadas deficiências, acima de 800 mm, ocorrem durante mais
de 08 meses, definindo os setores mais secos da bacia do Rio Cocó, as áreas a sotavento da
serra da Aratanha e seu interior, enquanto as áreas à barlavento e próximas ao litoral de
Fortaleza apresentam menores deficiências, com menos de 500 mm, em menos de 05 meses.
Tendo em vista o estudo das condições climáticas, torna-se evidente a influência que
estas exercem sobre o regime fluvial dos rios, no caso, o Cocó, bem como na manutenção da
vegetação de determinadas áreas.

HIDROLOGIA DE SUPERFÍCIE
As pequenas bacias dos rios litorâneos, a exemplo do rio Cocó, têm suas nascentes na
zona litorânea propriamente dita e nos setores sub-litorâneos.
O referido rio, de pouco curso e bacia hidrográfica pequena, é importante pela
situação, totalmente integrado na área urbana da Região Metropolitana de Fortaleza (Figura
B) e pela acentuada pluviosidade das terras que drena. Nasce na serra da Aratanha, a oeste da
cidade de Pacatuba e próxima ao litoral, sendo formada pela junção de diversas correntes,
como o Rio Salgado, Riacho Lameirão, Rio Coaçu e outras, além de contar na sua bacia com

488
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

um grande número de lagoas.

Bacia Hidrográfica de Fortaleza

Legenda:
Vertente marinha
Rio Maranguapinho
Rio Cocó

Fonte: pt.wikipedia.org/wiki/
Essas correntes, ao se unirem, dão origem a sub-bacias distintas que podem ser
resumidas em três de maior importância: a situada no alto curso do rio e atualmente
controlada pelo Açude Gavião, outra compreendendo a área à jusante do citado açude que
drena para o rio Cocó, leito principal, bem como aquela drenada pelo Riacho Lameirão e com
maior destaque, à sub-bacia do rio Coaçu.
O referido rio, Coaçu, é considerado o afluente de maior extensão do rio Cocó,
desaguando neste, nas imediações de sua foz e é responsável pela formação da Lagoa
Precabura, uma das maiores da área.
As características de uma rede hidrográfica dependem da atuação de diversos fatores
naturais, como a estrutura geológica, o relevo, a natureza do solo, a cobertura vegetal e
principalmente o clima que contribui diretamente com a pluviosidade no regime dos cursos
d’água.
A rede de drenagem é caracterizada por um padrão do tipo “dentrítico” e apresenta-se
“exorréica”, ou seja, hierarquizada até o nível do mar, com tributários se unindo ao rio
principal, Cocó, em ângulos agudos de valores variados.
Nas áreas de estrutura do Pré-Cambriano, como no Maciço Residual da Aratanha
(Pacatuba), onde se localiza uma das principais nascentes do rio Cocó, o qual se adapta às
direções estruturais desse substrato cristalino, apresentando um leito estreito e alargando-se à
medida que entalha as estruturas sedimentares do Grupo Barreiras, em seu médio e baixo curso.
Nessas áreas, onde o material sedimentar tem natureza mais argilosa, ocorrendo menor
infiltração, o escoamento superficial é maior ensejando uma maior densidade de drenagem. A
situação se inverte quando se trata de áreas em que a constituição das rochas é mais arenosa.
Ao atingir o seu baixo curso, que se situa numa enorme área de relevo tabular, o rio Cocó
forma meandros e ilhas fluviais, pois o pequeno gradiente faz depositar sedimentos transportados.
As condições climáticas são indispensáveis na compreensão do comportamento dos
rios, no caso, o rio Cocó, que tem origem na zona sublitorânea, formada pela área serrana de
Pacatuba e é, inicialmente, alimentada pelas chuvas orográficas provenientes da serra da
Aratanha.
Possuindo um percurso de 45 km e seguindo duas direções predominantes N e E, o rio
Cocó drena áreas pré-litorâneas, onde o índice pluviométrico é baixo e irregular, o que
conjuntamente com o aumento da temperatura provoca intensa evaporação, diminuindo, assim
o seu escoamento fluvial.
Todavia, a permanência de água no leito, nesse setor do rio referido, que corresponde
ao seu médio curso, pode ser atribuída ao intercâmbio que os terrenos sedimentares, drenados
pelo mesmo, fazem com as águas subterrâneas.
Entretanto, em seu baixo curso, situado em áreas litorâneas, mantêm-se perenes
trechos de seus cursos mais próximos ao oceano, devido à maior pluviosidade que ocorre
nessa área costeira ou à penetração das marés no baixo vale, chegando a atingir alguns poucos

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

quilômetros acima.
SOLOS
A área estudada é representada por uma diversidade de classes de solos que refletem
as peculiaridades dos fatores pedogenéticos dos vários ambientes existentes.
As principais unidades pedogenéticas identificadas estão representados pelas classes
apresentadas na tabela (01).
TABELA 01 - Classificação dos Solos da Bacia do rio Cocó
Classificação dos solos Ocorrência

Areias Quartzosas Distrópicas Marinhas Áreas da Planície Litorânea e Dunas, derivados de sedimentos areno-quartzosos
não consolidados
Solos Indiscriminados de Mangues Encontrados na Planície Flúvio-marinha, mais para a jusante, justapondo-se a
desembocadura do rio. São solos holomórficos indiscriminados alagados sob a
influência das marés e recobertos com vegetação característica “mangues”. São
portanto, gleyzados pouco desenvolvidos, mal drenados com elevado teor de sais
provenientes de do mar.
Solonchak Solonétzico São desenvolvidos também na Planície Flúvio-marinha, nas várzeas próximas a
desembocadura do rio, bordejando o ambiente de cobertura de mangue
Solonetz Encontrado mais comumente na Planície Fluvial bordejando o curso do rio,
posicionando para o montante do ambiente Manguezal.
Planossolo Posiciona-se preferencialmente em faixas mais expressivas que os primeiros ao
longo do alto médio curso do rio.
Solos Aluviais - São solos pouco desenvolvidos, provenientes de deposições fluviais recentes de
natureza diversa.
Vertissolos Ocorrem em pequenos setores sob condições de relevo plano ou nas proximidades
do rio associados a solos aluviais.
Podzóico Vermelho-Amarelo Distrófico Aparece expressivamente nas áreas de tabuleiros onde o material de origem é
formado por sedimentos argilo-arenosos do Grupo Barreiras.
Areias Quartzosas Distróficas Desenvolvem-se em áreas de tabuleiros tendo como material de origem arenitos
ou sedimentos arenosos do Grupo Barreiras (Terciário).
Podzóicos Vermelho Amarelo Eutrófico Ocorre nas partes de formações geológicas referidas do Pré-Cambriano, sob
condições climáticas úmidas e posicionadas principalmente na vertente à
barlavento do Maciço da Aratanha.
Solos Litólicos Ocorrem também nos setores de formação geológica datada do Pré-Cambriano sob
condições climáticas secas, posicionadas à sotavento do Maciço da Aratanha, ou,
com menor frequência, à barlavento do referido maciço sob condições climáticas
úmidas, em declives muito fortes. São originados do saprólito, de gnaisses,
migmatitos e de granitos.
Afloramentos de Rochas Ocorrem em alguns pontos a barlavento do Maciço de Aratanha decorrente da
utilização inadequada dos solos como o desmatamento indiscriminado e
agricultura com uso de técnicas inadequadas. Todavia, são identificados, com
maior frequência, à sotavento do mesmo maciço, onde as condições de umidade
são mais reduzidas, propiciando o aparecimento de processos físicos. São
originados da desagregação ou exposição de rochas locais de gnaisses, granitos e
migmatitos.

VEGETAÇÃO
Sob a influência direta do clima e aliado à natureza do solo, desenvolve-se uma
diversificada vegetação na área representada pela bacia hidrográfica do rio Cocó.
Acompanhando longitudinalmente o leito do rio Cocó, identificam-se vários tipos
vegetacionais que se apresentam atualmente bastante alterados pelas atividades antróficas, o
que dificulta a localização de áreas naturais conservadas ou com vegetação ainda nativa,
como é o caso da parte média da sub-bacia do rio Coaçu, afluente de grande importância do
rio Cocó, menos alterada que as demais.
Nas imediações da foz do rio Cocó, fazendo-se notar nas dunas, como fixadoras, e nas
áreas mais próximas ao mar, é encontrada uma vegetação, que desenvolve-se sob a influência
marinha, caracterizada fisionomicamente por um estado arbóreo-arbustivo e herbáceo,
respectivamente.
Ocupando a área compreendida pela Planície Flúvio-marinha do rio Cocó, onde a
declividade deste é fraca, favorecendo a penetração da maré, desenvolve-se uma vegetação de
“mangue” que adapta-se perfeitamente às condições do ambiente, como: a1ta salinidade,
temperatura sempre elevada e baixo teor de oxigênio. Dentre as espécies que constituem o

490
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

“Manguezal”, destacam-se: o mangue branco (Lagunculárea racenosa) e o mangue verdadeiro


(Rizophora mangle).
Posicionada na parte mais baixa do vale do rio Cocó, sobre as Planícies Fluviais de
inundação deste, tem-se a Mata Ciliar de Carnaúba, de pouca representatividade, por ser
limitada pelas inundações periódicas e condições de solos, como concentrações de sais e,
principalmente pela degradação antrófica. Dominante entre as demais espécies existentes,
destaca-se a carnaúba (Copernicea cerífera).
Nas bacias lacustres do rio Cocó, como é o caso das lagoas de Sapiranga e Precabura,
importante pelo seu significativo potencial hídrico e valor paisagístico, desenvolve-se uma
vegetação Higrófila Rasteira, típica de lagos e lagoas.
Recobrindo a superfície dos tabuleiros sublitorâneos se desenvolve uma cobertura
vegetal que fisionomicamente se caracteriza por uma transição de Floresta/Caatinga ou de
Caatinga arbustiva densa, identificando-se ainda, acima ou noutra formação, a presença de
algumas espécies típicas de cerrado, aí encravados. Essa cobertura vegetal guarda
semelhanças fisionômicas e florísticas à vegetação encontrada na Planície Litorânea que
reveste as dunas e paleodunas, todavia, em função da maior disponibilidade em nutrientes
orgânicos, ou espécies florísticas alcançam parte mais significativa e apresentam-se de forma
mais adensada.
Considerando o grau de umidade e os diferentes tipos de solos existentes na vertente à
barlavento da serra da Aratanha, esta apresenta um zoneamento de acordo com a altitude. Em
cada nível altimétrico aparece uma vegetação com características próprias. Partindo-se do
nível mais alto ou mais baixo da referida serra, tem-se as seguintes coberturas vegetais:
Floresta Tropical Perenifólia, Tropical Subperenifólia e Subcaducifólia com transição
floresta/caatinga.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho se propôs a analisar e compreender as condições geoambientais da


área drenada pelo rio Cocó. Neste estudo, partiu-se do princípio de que a bacia hidrográfica
referida tem papel de consideração relevante para a Região Metropolitana de Fortaleza.
O quadro natural demonstra características diversificadas e peculiares às diferentes
combinações e interdependência dos fatores naturais, geologias, relevo, hidrologia, vegetação,
solos e fauna. Nos compartimentos geoecológicos, resultantes das diferentes formas de
combinações aí produzidas, a ação antrópica age e altera as suas características próprias.
As informações obtidas através do estudo efetuado na bacia do Cocó, poderão servir
como base para estudos posteriores mais pormenorizados que venham a se realizar na mesma
ou outras similares, como ainda, ser úteis a órgãos públicos que se preocupam com a
preservação do meio ambiente e conservação dos recursos naturais.

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492
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

PERFIL SOCIOECONÔMICO DE FAMÍLIAS INSERIDAS NAS ÁREAS DE RISCO


DA BACIA DO RIO COCÓ (CE) COMO SUBSÍDIO PARA O PLANEJAMENTO
AMBIENTAL

Paulo Henrique Gomes de Oliveira Sousa


Doutorando em Oceanografia Química e Geológica
Universidade de São Paulo
sousaph@gmail.com
Antônio Augusto de Camargo Neves
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Infra-Estrutura – SEINF
Carlos Anselmo e Silva
Assessor Técnico de Desenvolvimento Institucional do Programa de Requalificação Urbana
com Inclusão Social – PREURBIS
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Infra-Estrutura – SEINF

INTRODUÇÃO

A preocupação com uma política urbana em consonância com um planejamento


ambiental adequado é uma ação complexa, ao passo que o meio ambiente não pode ser
pensado de forma isolada ou local. Além disso, uma política urbana que expresse claramente,
dentre outras coisas, assegurar a qualidade ambiental e contribuir para o amplo acesso da
população a condições de vida condignas (Panizzi, 1999) se faz necessária nas grandes
metrópoles.
As tensões antrópicas sobre o meio ambiente funcionam como agentes catalisadores
dos processos de degradação ambiental e erosão. Os recursos hídricos urbanos sofrem
pressões em virtude dos diversos tipos de uso. Os principais impactos observados nos
recursos hídricos urbanos são: retirada da vegetação e erosão das margens, impermeabilização
do solo, alterações no canal fluvial com diminuição da batimetria e consequente perda da
navegabilidade, diminuição dos fluxos sedimentológicos e de nutrientes, e lançamento direto
de efluentes e dejetos no sistema.
O desenvolvimento e a dinâmica das cidades vêm ocorrendo de forma rápida e intensa,
sobretudo no último século, onde a busca de melhores oportunidades de emprego fez com que
muitas famílias trocassem a vida no campo pela cidade. Contudo, muitas delas não foram
felizes ao perceber que a realidade dos grandes centros urbanos não é tão fácil quanto se
imaginava. A pouca instrução e qualificação inexistente para alguns trabalhos específicos
foram fatores decisivos para a dificuldade em se conseguir emprego. Desta forma, muitas
dessas famílias foram marginalizadas e precisavam de um local para morar. Assim,
intensificaram as moradias de aluguel, invasões de terras e consequente aumento do processo
de favelização. Esse processo de ocupação desordenado resultou no surgimento de áreas de
risco.
Compatibilizar o planejamento ambiental com o crescimento e desenvolvimento das
cidades de forma sustentável é o maior desafio dos governos e sociedade. Tucci (2008) afirma
que o desenvolvimento sustentável urbano tem o objetivo de melhorar a qualidade da vida da
população e a conservação ambiental. Para bacias hidrográficas, a Lei Federal nº 9.433/97, em
seu artigo 7º, inciso II, preconiza que “a análise de alternativas de crescimento demográfico,
de evolução de atividades produtivas e de modificações dos padrões de ocupação do solo”
(Brasil, 1997). Para tanto, é importante conhecer o perfil da população inserida nessas áreas
para quaisquer tipos de intervenções governamentais. Nascimento (2008) ressalta que além da
preocupação ambiental para o planejamento e gerenciamento de uma bacia hidrográfica, é

493
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

importante incorporar os aspectos socioeconômicos para que se possa desenvolver um bom


planejamento.
É necessária a adoção de sistemas de planejamento que identifiquem e integrem
componentes biofísicos, econômicos, sociais e institucionais, observando a estrutura e a
função dos sistemas naturais ou antrópicos, de forma a compreender os seus comportamentos
diante das perturbações (SILVA, 2004).
Nesse contexto, este trabalho se propõe a colaborar com a aplicação de um método de
avaliação do perfil socioeconômico de famílias inseridas em áreas de risco como ferramenta
para o planejamento ambiental local.

ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo é a bacia do Rio Cocó que drena 66,42% da área do Município de
Fortaleza, dividindo espaço com as Bacias do Rio Maranguapinho e da Vertente Marítima. Os
dados socioeconômicos utilizados foram gentilmente cedidos pelo Programa de
Requalificação Urbana com Inclusão Social (PREURBIS) da Prefeitura de Fortaleza e
correspondem a um censo aplicado no ano de 2007 em seis comunidades localizadas ao longo
do Rio Cocó (figura 1).

Figura 1: Mapa de localização da Comunidade Boa Vista.

No total, foram analisadas 1449 famílias nas comunidades Boa Vista, São
Sebastião, Gavião, Cal, TBA e João Paulo II. O controle e a coleta de informações
domiciliares foram feitos através de cadastro in loco, onde cada imóvel foi numerado
previamente e os questionários aplicados. O universo analisado compreende casas
desocupadas, em construção, fechadas, mistas (onde funcionam como residências e
comércio); terrenos, ponto comercial, recusas, moradores ausentes, equipamentos sociais,
equipamentos religiosos e outros. Para a análise das famílias e aplicação do índice foram
consideradas as residências e casas mistas.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

A população instalada próxima às margens do rio, sobretudo aquela localizada na


planície de inundação, sofre nos períodos de chuva com a elevação do nível da água que
invade as casas causando prejuízos e representando risco à vida dessas famílias.

MATERIAIS E MÉTODOS

Os dados coletados entre maio e agosto de 2007 foram analisados e compilados com
ajuda do software Sistema de Controle Habitacional (SCH) versão 2.0 e outros programas de
edição e organização de planilhas eletrônicas. Os mapas temáticos foram elaborados através
dos programas AutoCAD Map 2004 e ArcGIS 9.2.
A análise dos dados censitários foi realizada através da adaptação de um índice
desenvolvido por Barros et al (2003) que consiste no agrupamento de diversos indicadores
sociais até chegar a um indicador sintético que avalia as condições para o desenvolvimento
das famílias.

ADAPTAÇÃO E APLICAÇÃO DO ÍNDICE

O Índice de Desenvolvimento Familiar e Habitacional é constituído por cinco


dimensões: 1) Acesso ao Conhecimento; 2) Acesso ao Trabalho; 3) Disponibilidade de
Recursos; 4) Desenvolvimento Infantil; e 5) Condições Habitacionais. É importante frisar que
essas condições remetem às necessidades básicas de infra-estrutura, educação e economia
para a melhoria do desenvolvimento humano de uma família, e não uma condição de vida
plena ou as condições ideais de qualidade de vida.
As cinco dimensões subdividem-se em 13 componentes e 25 indicadores (tabela 1). O
IDFH constitui a síntese desses indicadores em um número que varia de 0 a 1, sendo que
quanto mais próximo de 1 as famílias apresentam melhores condições de desenvolvimento e
quanto mais próximo de 0 as famílias apresentam piores condições.
Os indicadores consistem na compilação de perguntas com respostas “sim” e “não”.
As perguntas foram elaboradas para que cada “sim” seja computado com ponto positivo,
elevando a pontuação das famílias e conseqüentemente indicando uma condição de melhor
qualidade de vida. As interações entre as dimensões, componentes e indicadores estão
organizadas nos itens a seguir:

CÁLCULO DO ÍNDICE

Seguindo o mesmo método apresentado por Barros et al (2003) para o cálculo do


IDFH, o indicador sintético de cada componente, é a média aritmética dos indicadores que
integram esse componente. O mesmo ocorre para o indicador sintético de cada dimensão, que
é representado pela média aritmética dos indicadores dos componentes de uma dimensão e o
indicador sintético global é a média aritmética dos indicadores sintéticos das cinco dimensões
analisadas.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Tabela 1: Indicadores do IDFH.


Adaptado de Barros et al., 2003.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os índices obtidos para as comunidades do Cocó destacam os obstáculos para o


desenvolvimento familiar. Os maiores problemas são as condições do acesso ao conhecimento
e ao trabalho. Contudo, as comunidades apresentaram desempenhos diferentes sob uma
análise individualizada. No estudo realizado para as comunidades, estas apresentaram pouca
discrepância nos índices. Sendo que aquelas com maior destaque foram a São Sebastião e a
Gavião e com índices de 0,67 e 0,72, respectivamente; e as demais comunidades apresentaram
índices pouco heterogêneos, por volta de 0,60 (figura 2).

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 2: IDFH para as comunidades inseridas na Bacia do Cocó.

Em uma perspectiva geográfica, as comunidades têm pouca expressão espacial, caso


tenha suas áreas comparadas com as áreas dos bairros. Entretanto, observa-se que as famílias
mais carentes estão dispostas nas áreas próximas às margens do Rio Cocó (figura 3).
Analisando a partir da comunidade Boa Vista, percebe-se que a condições são melhores na
medida em que as análises são realizadas nas comunidades subseqüentes, São Sebastião e
Gavião, no sentido oeste da margem do rio. A configuração espacial das demais comunidades
se dá de forma esparsa no sentido meridional ou à montante do rio. Os baixos índices
encontrados nas proximidades das margens do rio se devem principalmente à ocupação
inadequada e à inexistência ou precariedade na infraestrutura urbana e sanitária.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Figura 3: Variação do IDFH nas comunidades inseridas na Bacia do Cocó.

A análise de sensoriamento remoto nas imagens da área de estudo mostrou que o


processo de ocupação na área estudada se deu no sentido norte – sul. A linha de tendência
aponta uma íntima relação entre o tipo de ocupação das comunidades e as condições de
qualidade de vida da população, ou seja, as áreas de expansão urbana ocorrem de forma
espontânea e sem controle, desrespeitando quaisquer legislações, limites ambientais ou até
áreas com riscos de enchente iminentes. A linha mostra também que a tendência de melhores
condições para o desenvolvimento familiar decresce suavemente desestimulada pelas piores
condições da Boa Vista, Cal e TBA e João Paulo II. Isso conota a deficiência no âmbito da
consciência e educação ambientais, e do planejamento urbano, acarretando em problemas
sociais graves e com proporções bastante complexas.
A média dos índices para as área estudadas ficou próxima à linha de 0,60. A
infraestrutura precária, somada às condições de educação e trabalho das famílias dessas
comunidades, desencadearam papel importante para os resultados obtidos tendo em vista que
a presença de pavimentação é fator decisivo para a prestação de outros serviços como a coleta
de lixo e acesso de viaturas policiais e ambulâncias. Além disso, a ausência de rede elétrica,
de abastecimento de água e de esgotamento sanitário, e os riscos à saúde da população que
são intensificados com as enchentes nos períodos de chuva são agravantes desse quadro.
As famílias com piores condições de desenvolvimento são observadas nas
proximidades das margens dos rios. O estudo mostrou que as condições de pobreza excessiva
estão relacionadas aos maiores impactos ambientais como a degradação das margens do rio
para a construção de casas e barracos.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A heterogeneidade da amostra é pouco significativa. Através da análise dos dados,


observou-se que a maior parte da população instalada às margens do Rio Cocó é composta de
pessoas carentes, com baixa escolaridade, empregos que não exigem qualificação e muitas
delas estão lá por não terem alternativas diferentes. Entretanto, apesar do número ser bastante
pequeno, há também pessoas da classe média morando a poucos metros do rio com nível
superior e renda razoavelmente elevada.
Além disso, as condições habitacionais e de infraestrutura urbana são fatores
limitantes para o desenvolvimento dessas famílias. Uma estrutura sanitária adequada é
urgente para diminuição dos problemas de saúde da população.
O grande desafio de Fortaleza é resolver o problema da ocupação desordenada nas
margens dos rios Cocó e Maranguapinho. O estudo indica que as condições socioeconômicas
da população que ocupa as áreas de risco interferem diretamente na dinâmica ambiental da
cidade, inferindo que oferecer melhores condições de vida a essas famílias seria um passo
importante para a diminuição dos problemas ambientais nas proximidades do Rio Cocó. O
trabalho mostrou que conhecer o perfil socioeconômico do universo trabalhado é fundamental
para um planejamento ambiental adequado.

AGRADECIMENTOS

À Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Infra-Estrutura de Fortaleza


(SEINF), em especial ao Programa de Requalificação Urbana com Inclusão Social
(PREURBIS) pela concessão dos dados.

REFERÊNCIAS

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desenvolvimento da família (IDF). IPEA, 2003. Rio de Janeiro.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE DOS MUNICÍPIOS DE MOSSORÓ,


AREIA BRANCA E GROSSOS/RN A PARTIR DO MODELO PRESSÃO-ESTADO-
RESPOSTA

Edna Margareth Santos de Sousa


Graduada em Gestão Ambiental - UERN
Rodrigo Guimarães de Carvalho
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN
rodrigocarvalho@uern.com

RESUMO

O termo sustentabilidade envolve uma diversidade de conceitos por parte de estudiosos e


pesquisadores. Cada ator social tem uma maneira e uma forma de definí-lo, isso torna a sua
compreensão bastante difícil ao público em geral. Contudo, sabemos que o desenvolvimento
sustentável está inserido num contexto amplo, composto de diversas dimensões como a
ambiental, a social e a econômica. Assim, numa proposta de mensuração da sustentabilidade
em âmbito local, considerar cada uma dessas dimensões é fundamental para que as
informações se apresentem de maneira simplificada e eficiente. O presente trabalho teve como
objetivo mensurar a sustentabilidade dos municípios de Mossoró, Areia Branca e
Grossos/RN, a partir da construção de indicadores baseados no modelo Pressão-Estado-
Resposta (PER). A construção se deu por meio do desenvolvimento de indicadores e índices
de pressão e de resposta. Quanto aos indicadores de estado, devido à inexistência de dados
suficientes e adequados e a algumas dificuldades de ordem metodológica identificadas, não
foi possível a construção de um índice. A metodologia utilizada mostrou-se bastante eficiente,
o que contribuiu para a geração de informações simples e objetivas. Os resultados dos
indicadores de pressão e resposta demonstraram que os municípios de Mossoró, Areia Branca
e Grossos apresentam níveis de sustentabilidade diferenciados, o que pode ser justificado
devido às características socioeconômicas e ambientais próprias de cada um deles. Assim, os
indicadores foram construídos com o intuito de facilitar a compreensão quanto aos pontos que
necessitam de mais atenção em relação aos objetivos e metas do desenvolvimento sustentável.

Palavras chave:indicadores de sustentabilidade; pressão-estado-resposta; planejamento


ambiental.

INTRODUÇÃO

A questão da sustentabilidade envolve diversas dimensões entre as quais estão a


ambiental, a econômica e a social. Sendo assim, tem como objetivo principal propiciar uma
inter-relação entre essas dimensões de maneira que os diferentes sistemas que compõem a
sociedade se desenvolvam de forma sustentável.
Entender a sustentabilidade não é uma tarefa das mais simples, pois esta envolve
questões bastante complexas, geralmente difíceis de perceber e interpretar devido a
diversidade de percepções que envolvem o tema. É nesse sentido que verifica-se a
importância do uso de ferramentas voltadas à mensuração da sustentabilidade, visando a
geração de informações simples, que sejam capazes de orientar os tomadores de decisão
(decisores, gestores, políticos, grupos de interesse e público em geral) para o estabelecimento
de políticas e ações que atendam aos objetivos e metas do desenvolvimento sustentável.

500
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

A mensuração da sustentabilidade a nível municipal é fundamental para a tomada de


decisão, uma vez que os gestores públicos, por não possuírem informações baseadas no
contexto local, geralmente, não sabem ou não podem decidir quais políticas e ações são mais
adequadas à sua realidade. Deste modo, os indicadores de sustentabilidade servem como
subsídios à tomada de decisão na medida em que oferecem informações capazes de sintetizar
as complexidades existentes nas questões que envolvem o desenvolvimento sustentável.
Esta pesquisa teve como objetivo geral elaborar indicadores de sustentabilidade dos
municípios de Mossoró, Areia Branca e Grossos por meio do modelo Pressão-Estado-
Resposta na tentativa de verificar se estes municípios estão se desenvolvendo de forma
sustentável. Foram objetivos específicos:
- Identificar nos municípios de Mossoró, Areia Branca e Grossos, dados que possam ser
enquadrados no modelo Pressão – Estado – Resposta – PER;
- Analisar e organizar os dados selecionados de modo a transformá-los em indicadores e
índices de sustentabilidade;
- Analisar criticamente a possibilidade de utilização do modelo como forma de diagnóstico
para o monitoramento e planejamento ambiental dos municípios pesquisados.

METODOLOGIA

O processo de pesquisa se constitui em procedimentos racionais e sistemáticos, assim,


tem o objetivo de apresentar respostas aos problemas propostos. A criação científica é
necessária quando não se dispõem de informações suficientes para responder um determinado
problema ou quando essas informações são conflitantes o suficiente para não relacionar-se
adequadamente ao problema (GIL, 2009).
O presente trabalho pode ser caracterizado como uma pesquisa aplicada, que tem como
objeto material a área territorial dos municípios de Mossoró, Areia Branca e Grossos,
considerando todo o contexto socioeconômico e ambiental vinculado a esse território. A
escolha desses municípios deu-se devido a grande relevância que exercem em termos de
exploração e desenvolvimento socioeconômico para a região, bem como a grande fragilidade
dos sistemas ambientais associados a planície litorânea, fluvial e fluvio-marinha onde estão
situados seus núcleos urbanos.
Em relação ao método usou-se uma abordagem quantitativa para a busca e
sistematização dos indicadores estruturados sob o modelo pressão-estado-resposta. O método
quantitativo, ao permitir uma precisão maior em relação aos resultados, tende a evitar
distorções de análise e interpretação, oferecendo uma margem de segurança quanto às
inferências (RICHARDSON, 1999).
Devido à falta de alguns dados necessários à construção dos indicadores de estado que
seriam trabalhados sob a perspectiva quantitativa, estes não foram considerados para efeito
desta pesquisa.
Quanto aos procedimentos metodológicos utilizados no trabalho preferiu-se demonstrá-
los através de três etapas, quais sejam:

• Etapa 1 – Pesquisa Bibliográfica


A pesquisa bibliográfica teve a intenção de proporcionar uma familiaridade maior com
o assunto objeto deste trabalho. A sua realização mostrou-se de fundamental importância,
pois, por meio dela pôde-se conhecer as bases teóricas mais relevantes para o bom
desenvolvimento do trabalho. Foi desenvolvida a partir da interpretação e análise de textos
científicos retirados de livros, artigos, periódicos e trabalhos acadêmicos.
• Etapa 2 – Pesquisa documental

501
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

A pesquisa documental foi desenvolvida, sobretudo para obtenção dos dados utilizados
na formulação dos indicadores de pressão, dentro do modelo pressão-estado-resposta. Os
dados foram coletados em documentos eletrônicos no site do IBGE.
• Etapa 3 – Pesquisa de campo
Na pesquisa de campo foi realizado um levantamento para obtenção dos dados
referentes aos indicadores de resposta através da realização de um questionário aplicado nas
prefeituras dos municípios pesquisados. As perguntas constantes do questionário tiveram o
intuito de identificar de que maneira a sociedade e o governo de cada município tem
respondido às pressões ambientais. Assim, os indicadores de resposta foram formulados a
partir da existência ou não de políticas e ações ambientais em cada um dos municípios
pesquisados.

INDICADORES E ÍNDICES DE PRESSÃO

Os dados para a construção dos indicadores e índice de pressão foram escolhidos devido
a sua representatividade como fatores de pressão ambiental nos municípios. Portanto foram
definidos como indicadores de pressão ambiental:
 a densidade demográfica, pois considera-se que quanto mais densa a população em um
determinado espaço, mais pressões ela ocasionará ao meio ambiente;
 a incidência de pobreza, pois ela reflete a falta de controle na distribuição de renda o que
ocasiona a falta de equidade, qualidade essencial para o desenvolvimento sustentável;
 o número de indústrias extrativas e de transformação, pois esses tipos de indústrias podem
representar uma série de problemas ambientais nas áreas onde desenvolvem suas
atividades de produção e transformação;
 a área dos estabelecimentos agropecuários, pois esses sistemas de produção na maioria das
vezes ocasionam desmatamentos e excessivo consumo de recursos naturais, entre outros
impactos;
 a área das pastagens naturais devido ao desmatamento e a compactação do solo;
 o valor adicionado da agropecuária e da indústria, pois esses sistemas de medida
econômica representam a produção de bens materiais resultado da apropriação e
transformação de matérias primas, sendo assim, entende-se que em tese, quanto maior a
produtividade, maior o consumo de recursos naturais, geração de resíduos, poluição,
contaminação e desmatamentos;
 o índice de Gini da distribuição do rendimento, pois esse índice expressa o grau de
concentração na distribuição de renda da população.
 os domicílios não atendidos por coleta de esgotos, por esta situação representar riscos de
poluição e contaminação ambiental pela ausência de ações adequadas de saneamento.
Para a transformação dos indicadores de pressão dos municípios primeiramente foram
estabelecidos valores considerados como a máxima pressão. Em segundo lugar foi feito o
cálculo da porcentagem a partir da razão entre os valores referentes aos indicadores
selecionados e os valores considerados de máxima pressão. Depois de calculada o percentual,
o resultado foi divido por 10, o que gerou o valor do indicador. Para os dados que não se
apresentaram na forma percentual foi feita uma extrapolação dos valores para um patamar
considerado como máximo no contexto dos três municípios em estudo, sendo esse
estabelecido de forma subjetiva pelos pesquisadores.
No quadro 1 são apresentados os parâmetros definidos como máxima pressão para cada
um dos indicadores selecionados:

502
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Quadro 1 – Indicadores e parâmetros definidos como máxima pressão


Indicadores Máxima pressão
Densidade demográfica 200 hab/km²
A incidência da pobreza no número total da população de cada
Incidência da pobreza
município
Indústrias extrativas 150 indústrias extrativas
Indústrias de transformação 700 indústrias de transformação
Área dos estabelecimentos agropecuários A área total de cada município
Área de pastagens naturais A área total de cada município
Valor adicionado da Agropecuária R$ 120.000
Valor adicionado da Indústria R$ 1.000.000
Índice 1
Índice de Gini da distribuição do rendimento
O número total de domicílios de cada município, referente ao
Domicílios não atendidos por coleta de esgotos
percentual de 100%

A partir da elaboração dos indicadores, estes foram somados e transformados em


índices de pressão. Depois de obtidos os índices de pressão dos três municípios, estes foram
colocados dentro de uma escala onde se atribuiu os níveis de sustentabilidade ambiental,
sendo que para cada nível foi apresentado um valor correspondente.

INDICADORES E ÍNDICES DE RESPOSTA

Para os indicadores e índices de resposta foram selecionados dados que fossem capazes
de identificar de que maneira a sociedade e o governo de cada município tem respondido às
pressões ambientais. Ou seja, as respostas dadas pelo governo e pela sociedade em meio às
pressões ambientais constatadas e o estado que o ambiente se encontra. Essas respostas são as
políticas e ações ambientais desenvolvidas para melhoria da qualidade ambiental. As
perguntas do questionário foram estruturadas de maneira a identificar a existência ou não de
políticas e ações ambientais, as quais foram: plano diretor municipal, política municipal de
meio ambiente, conselho de meio ambiente, funcionários dedicados à gestão ambiental,
programa de educação ambiental, agenda 21 municipal, aterro sanitário ou controlado,
programa de coleta seletiva, unidade de conservação e zoneamento urbano.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

INDICADORES E ÍNDICES DE PRESSÃO

Os indicadores e índices de pressão foram identificados a partir da coleta e


transformação dos dados definidos como fatores de pressão ambiental para os três municípios.
Os quadros 2, 3 e 4 apresentam os indicadores e índices de pressão para os municípios
de Mossoró, Areia Branca e Grossos, respectivamente.
Quadro 2 - Indicadores e índice de pressão do município de Mossoró
Nº. de Indicadores Valor referente ao dado transformado em Valores dos indicadores de
dados porcentagem pressão
1 Densidade demográfica 55% 5,5
2 Incidência da pobreza 55% 5,5
3 Indústrias extrativas 77% 7,7
4 Indústrias de transformação 88% 8,8
5 Área dos estabelecimentos agropecuários 29% 2,9
6 Área das pastagens naturais 6% 0,6
7 Valor adicionado da agropecuária 82% 8,2
8 Valor adicionado da indústria 75% 7,5
9 Índice de Gini 46% 4,6
Domicílios não atendidos por coleta de
10 61% 6,1
esgotos
Índice de Pressão 57,4

503
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Quadro 3 - Indicadores e índice de pressão do município de Areia Branca


Nº. de Indicadores Valor referente ao dado transformado em Valores dos indicadores de
dados porcentagem pressão
1 Densidade demográfica 34% 3,4
2 Incidência da pobreza 60% 6,0
3 Indústrias extrativas 11% 1,1
4 Indústrias de transformação 3% 0,3
5 Área dos estabelecimentos agropecuários 100% 10
Área das pastagens naturais
6 3%
0,3
7 Valor adicionado da agropecuária 6% 0,6
8 Valor adicionado da indústria 34% 3,4
9 Índice de Gini 38% 3,8
Domicílios não atendidos por coleta de
10 100% 10
esgotos
Índice de Pressão 38,9
Quadro 4 - Indicadores e índice de pressão do município de Grossos
Nº. de Indicadores Valores dos dados transformados em Valores dos indicadores de
dados porcentagem pressão
1 Densidade demográfica 37% 3,7
2 Incidência da pobreza 63% 6,3
3 Indústrias extrativas 16% 1,6
4 Indústrias de transformação 1% 0,1
5 Área dos estabelecimentos agropecuários 32% 3,2
6 Área das pastagens naturais 19% 1,9
7 Valor adicionado da agropecuária 2% 0,2
8 Valor adicionado da indústria 6% 0,6
9 Índice de Gini 37% 3,7
Domicílios não atendidos por coleta de
10 100% 10
esgotos
Índice de Pressão 31,3

Por meio da figura 1 pode-se fazer uma comparação entre os valores dos indicadores de
pressão encontrados nos três municípios. Na figura 2 são apresentadas as diferenças entre os
valores dos índices de pressão para os três municípios.
12

10
Indicadores de Pressão

8
Mossoró
6 Areia Branca
Grossos
4

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Dados utilizados

Figura 1 - Indicadores de Pressão dos municípios de Mossoró, Areia Branca e Grossos

504
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

70
57,4
60

Índices de pressão
50
38,9
40
31,3 Série1
30

20

10

0
Mossoro Areia Branca Grossos
Municípios

Figura 2 - Índices de Pressão dos municípios de Mossoró, Areia Branca e Grossos

A apresentação dos indicadores e respectivos índices de pressão proporcionou uma


comparação entre os valores encontrados nos três municípios objetos deste estudo.
Observa-se que o município de Mossoró apresenta o maior índice em relação ao fator
pressão, já o município de Areia Branca ficou com uma posição intermediária e por fim o
município de Grossos obteve o menor valor, sendo este o que exerce a menor pressão dos três
municípios.
Essas constatações podem ser justificadas pelo fato do município de Mossoró apresentar
fatores de pressão ambiental mais intensos, com um número maior de indústrias, um índice de
pobreza maior, entre outros fatores. Já os municípios de Areia Branca e Grossos possuem
fatores de pressão, de uma forma geral, com valores menores que o município de Mossoró.
Foi elaborada uma pequena escala com valores variando entre 0 e 100, onde
estabeleceram-se níveis de sustentabilidade ambiental. Tomando-se como referência os
valores da escala e com o intuito de facilitar a compreensão foi usado um termômetro
indicando a direção da sustentabilidade (FIGURA 3). Nele percebe-se que quanto menor o
valor do índice de pressão alcançado maior a tendência para a sustentabilidade. A escala foi
assim definida:
• valores entre 0 – 25, nível sustentável (ótimo);
• valores entre 26 – 50, nível potencialmente sustentável (bom);
• valores entre 51 – 75, nível potencialmente insustentável (ruim);
• valores entre 76 – 100, nível insustentável (péssimo).
Em direção a sustentabilidade

0 - 25

26 - 50

51 - 75

76 - 100

Figura 3 – Termômetro da sustentabilidade


Fonte: Silva (2007) (adaptado)

505
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

O quadro 5 apresenta os índices de pressão dos municípios e seus respectivos níveis


alcançados.
Quadro 5 - Nível de sustentabilidade ambiental obtido a partir dos Índices de Pressão dos municípios de
Mossoró, Areia Branca e Grossos
NÍVEL DE SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

Índices de
Município Sustentável Potencialmente Potencialmente Insustentável
pressão
(ótimo) sustentável (bom) insustentável (ruim) (péssimo)

0 – 25 26 – 50 51 – 75 76 – 100
Mossoró 57,4
A. Branca 38,9
Grossos 31,3

Os níveis de sustentabilidade, relacionados ao índice de pressão, alcançados pelos três


municípios apresentaram-se da seguinte maneira: o município de Mossoró apresentou o nível
ruim, definido como potencialmente insustentável, o município de Areia Branca e o de
Grossos apresentaram ambos o nível bom, definido como potencialmente sustentável.

INDICADORES E ÍNDICES DE RESPOSTA

Os indicadores e índices de resposta foram construídos através da aplicação de


questionários aplicados em órgãos dos três municípios.
Os quadros 6, 7 e 8 apresentam os indicadores e seus respectivos índices de resposta
para os municípios de Mossoró, Grossos e Areia Branca.
Quadro 6 - Indicadores e Índice de Resposta do município de Mossoró
Dados utilizados para elaboração dos indicadores SIM = 10 Indicadores de resposta
Nº. de dados
NÃO = 0
1 Plano diretor municipal 10 10
2 Política municipal de meio ambiente 10 10
3 Conselho de meio ambiente 10 10
4 Funcionários dedicados à gestão ambiental 10 10
5 Programa de educação ambiental 10 10
6 Agenda 21 municipal 10 10
7 Aterro sanitário ou controlado 10 10
8 Programa de coleta seletiva 10 10
9 Unidades de conservação 10 10
10 Zoneamento urbano 10 10
Índice de Resposta 100
Quadro 7 - Indicadores e Índice de Resposta do município de Areia Branca
Dados utilizados para elaboração dos indicadores SIM = 10 Indicadores de
Nº. de dados
NÃO = 0 resposta
1 Plano diretor municipal 10 10
2 Política municipal de meio ambiente 0 0
3 Conselho de meio ambiente 10 10
4 Funcionários dedicados à gestão ambiental 10 10
5 Programa de educação ambiental 10 10
6 Agenda 21 municipal 0 0
7 Aterro sanitário ou controlado 10 10
8 Programa de coleta seletiva 10 10
9 Unidades de conservação 0 0
10 Zoneamento urbano 0 0
Índice de Resposta 60
Quadro 8 - Indicadores e Índice de Resposta do município de Grossos
Dados utilizados para elaboração dos indicadores SIM = 10 Indicadores de
Nº. de dados
NÃO = 0 resposta
1 Plano diretor municipal 0 0
2 Política municipal de meio ambiente 0 0
3 Conselho de meio ambiente 10 10
4 Funcionários dedicados à gestão ambiental 10 10
5 Programa de educação ambiental 10 10
6 Agenda 21 municipal 10 10

506
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

7 Aterro sanitário ou controlado 0 0


8 Programa de coleta seletiva 0 0
9 Unidades de conservação 0 0
10 Zoneamento urbano 0 0
Índice de Resposta 40
A figura 4 apresenta a diferença entre os valores dos índices encontrados nos
municípios de Mossoró, Grossos e Areia Branca.
120
100
100
Índices de resposta

80
60
60 Série1
40
40

20

0
Mossoró Areia Branca Grossos
Municípios

Figura 4 - Índices de resposta dos municípios de Mossoró, Areia Branca e Grossos.


Através da identificação dos indicadores e dos índices de resposta dos municípios fica
evidente que as ações ambientais verificadas como respostas às pressões ambientais estão
presentes em todos os municípios.
Nos municípios de Areia Branca e Grossos elas se apresentam de maneira pouco
consolidada, chegando seus índices a 60 e 40 respectivamente. Já no município de Mossoró
elas são mais presentes, chegando ao índice 100. Isso pode ser justificado pelo maior índice
de pressão constatado neste município, tendo então o mesmo que criar e oferecer em forma de
resposta um número maior de políticas e ações ambientais.
Foi elaborada uma pequena escala com valores variando entre 0 e 100, onde
estabeleceram-se níveis de sustentabilidade ambiental. Tomando-se como referência os
valores da escala e com o intuito de facilitar a compreensão foi usado um termômetro
indicando a direção da sustentabilidade (FIGUARA 5). Nele percebe-se que quanto maior o
valor do índice de resposta alcançado maior a tendência para a sustentabilidade. A escala foi
assim definida:
• valores entre 100 – 76, nível sustentável (ótimo);
• valores entre 75 – 51, nível potencialmente sustentável (bom);
• valores entre 50 – 26, nível potencialmente insustentável (ruim);
• valores entre 25 – 0, nível insustentável (péssimo).
Em direção a sustentabilidade

100 - 76

75 - 51

50 - 26

25 - 0

Figura 5 – Termômetro da sustentabilidade


Fonte: Silva (2007) (adaptado)

507
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

O quadro 9 apresenta os índices de resposta dos municípios e seus respectivos níveis


alcançados.

Quadro 9 - Nível de sustentabilidade ambiental obtido a partir dos Índices de Resposta dos municípios de
Mossoró, Areia Branca e Grossos
NÍVEL DE SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

Índices de
Município Potencialmente Potencialmente Insustentável
resposta Sustentável (ótimo)
sustentável (bom) insustentável (ruim) (péssimo)

100 – 76 75 - 51 50 - 26 25 - 0
Mossoró 100
A. Branca 60
Grossos 40

Os níveis de sustentabilidade, relacionados ao índice de resposta, alcançados pelos


municípios apresentaram-se da seguinte maneira: o município de Mossoró apresentou o nível
ótimo, definido como sustentável, o município de Areia Branca apresentou o nível bom,
definido como potencialmente sustentável e o município de Grossos apresentou o nível ruim,
definido como potencialmente insustentável.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A construção de indicadores e índices apresenta-se atualmente como uma das maneiras


mais eficazes e simples de se mensurar a sustentabilidade. Por meio da escolha do modelo
mais apropriado que leve em consideração as características do estudo pretendido é possível
defini-los de maneira eficiente, podendo estes servir de subsídios para futuros tomadores de
decisão.
Atento a isso, este trabalho teve como objetivo mensurar a sustentabilidade ambiental
dos municípios de Mossoró, Areia Branca e Grossos através da aplicação do modelo Pressão-
Estado-Resposta da OECD.
A metodologia formulada e utilizada na construção dos indicadores e índices, apesar de
apresentar algumas dificuldades, mostrou-se eficiente para os objetivos propostos,
constituindo-se em uma ferramenta que pode ser facilmente utilizada ou mesmo adaptada para
futuros estudos que estejam em consonância com os objetivos desta pesquisa.
Apesar de não ter sido possível realizar uma agregação dos índices de pressão, estado e
resposta na intenção de formar-se um único índice, devido as dificuldades de ordem
metodológicas, como também a inexistência de dados adequados, os resultados encontrados
foram capazes de demonstrar o nível de sustentabilidade para as dimensões Pressão e
Resposta de maneira clara e objetiva.
Sendo assim, os resultados apresentados pelos municípios demonstraram níveis de
sustentabilidade diferenciados, devido às diferentes características que compõem cada um
deles. Cada um dos indicadores e índices construídos foram apresentados no intuito de
garantir uma melhor avaliação de quais as melhores ações a tomar em direção a cada um dos
municípios pesquisados visando a sua sustentabilidade.
Enfim, procurou-se por meio da construção dos indicadores e índices demonstrar em
que pontos os municípios necessitam de mais atenção quanto a sustentabilidade verificada.
Desta maneira espera-se que os resultados desta pesquisa possam servir de subsídios aos
governos e sociedade quanto às tomadas de decisões voltadas ao alcance do desenvolvimento
sustentável.

508
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2009. p.
17-22.

IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Indicadores de


desenvolvimento sustentável: Brasil 2008. Rio de Janeiro: IBGE, 2008. Disponível em:
<ftp://geoftp.ibge.gov.br/documentos/recursosnaturais/ids/ids2008.pdf>. Acesso em 10 Jun.
2009.

RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa Social: Métodos e técnicas. 3 ed. São Paulo:
ATLAS, 1999, p. 336.

SILVA, Luciana Ferreira da Silva. A construção de um índice de sustentabilidade


ambiental agrícola (ISA): uma proposta metodológica. 2007. 214 f. Tese (Doutorado em
Economia Aplicada) – Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada, Universidade
Estadual de Campinas.

509
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

POLÍTICAS PÚBLICAS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL: UMA ANÁLISE SOBRE A


GESTÃO AMBIENTAL NO BAIRRO PIRAMBU – FORTALEZA/CE.

Rosane Morais Falcão Queiroz


Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/UFC;
(sanemfq@yahoo.com.br)
Edson Vicente da Silva
Professor Dr. do Departamento de Geografia /UFC; (cacau@ufc.br)

RESUMO
No contexto dos grandes centros urbanos, problemas sociais como a pobreza e a
conseqüente favelização dos bairros urbanos, que implica na ocupação desordenada dos
espaços de moradia das cidades, são fenômenos que contribuem para o crescimento da
degradação ambiental de ecossistemas, afetando milhares de pessoas. Conforme se observa
nas cidades modernas, as políticas públicas são instrumentos de poder que funcionam como
meios estratégicos de criação de medidas eficientes para a manutenção do equilíbrio entre a
ação humana, transformadora do espaço “natural”, e o meio ambiente na qual ela é
empregada. Nesse processo de ocupação das cidades, a participação social tem tido uma
importância significativa e é nesse contexto que se faz presente o objetivo desta pesquisa, o
qual é analisar a relação entre a participação social e as políticas públicas voltadas para a
gestão do meio ambiente no bairro Pirambu. O local escolhido para a realização da pesquisa
se deu através de um conjunto de critérios e dentre estes, o fato do seu índice de densidade
demográfica ser o maior da capital cearense, de acordo com o Censo 2000; sua localização
geográfica em área litorânea; seu IDH-M estar entre os 10 mais baixos dentre os 114 bairros
existentes; e sua história de organização político social.
Parte-se do pressuposto que o direito a um meio ambiente saudável é um direito humano
fundamental, consagrado por instituições internacionais e cuja observância envolve tanto
práticas locais da comunidade quanto ações das instituições públicas responsáveis pelo
gerenciamento infra-estruturacional da cidade.

Palavras chaves: políticas públicas; gestão ambiental; participação social; cidades.

INTRODUÇÃO
A história brasileira é marcada por um modelo de desenvolvimento centrado na
marcante conduta tutelar e no perfil intervencionista do Estado, em contraste com a discreta
participação da sociedade nas formulações, implementações e controles das políticas públicas.
Neste cenário, principalmente até os anos de 1980, a sociedade civil contava com escassos
meios de expressão e as grandes empresas e o Governo eram considerados os únicos agentes
de importância e de interesse para o desenvolvimento do país.
Com a Constituição de 1988, resultado de um processo de democratização, criou-se
condições para o aparecimento de espaços públicos de negociação, procurando resgatar a
função social da administração pública. Vale salientar que naquele momento, o
municipalismo, enquanto vertente de uma aspiração tão antiga quanto o desejo de democracia,
retornou ao palco dos debates e, ao mesmo tempo, a discussão sobre a necessidade de
descentralização como pressuposta para uma sociedade democrática. A reflexão sobre a
participação da população como sendo necessárias às decisões políticas, foi essencial para a
construção de estratégias que procuram assegurar o espaço político para a sociedade, podendo
esta ter voz direta em tais decisões, e assim, ser responsável, também, pelas políticas públicas
aplicadas, ou não, na região de interesse.

510
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Referindo-nos, ainda, à Constituição de 1988, verificamos a dedicação de um capítulo


exclusivo para a conservação do meio ambiente, atribuindo direitos e deveres à sociedade e ao
poder público: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
(Constituição da República Federativa do Brasil - 1988, art. 225, Cap. VI – Do meio
ambiente). É a partir dessa matriz que normas do direito ambiental e, também, do direito
urbanístico são estabelecidas, atribuindo como princípio a participação popular nas decisões e
a publicidade de atos relacionados ao meio ambiente. Como exemplo dessas normas,
podemos citar o Estatuto da Cidade (Lei 10.257 – 10 de julho de 2001) e, consequentemente,
o Plano Diretor Participativo, que diferentemente do Plano Diretor de Desenvolvimento
Urbano, passa a abranger também o meio rural, pois entende que o planejamento ambiental
deve envolver todos os espaços. Um outro exemplo pode ser dado quanto ao processo de
construção dos Estudos Ambientais, os quais muitos deles requerem a efetiva participação
popular para que sejam legitimados.
O poder público deve assegurar a efetividade do direito ao “meio ambiente
ecologicamente equilibrado”, através de promoções de educação ambiental, fiscalizações
quanto à proteção do meio, exigências de estudos ambientais, definições de espaços a serem
especialmente protegidos, dentre outras ações, porém a sociedade tem o dever de defender e
preservar esse meio e isso pode ser feito através da participação e, também, do interesse em
conhecer as políticas públicas realizadas pelas três esferas do poder.
As discussões acerca da reforma do Estado e a redefinição de suas funções enfatizam
um modelo menos intervencionista e centralizado, e mais revitalizador da sua capacidade
institucional, eliminando os problemas de ineficiência, corrupção e burocracia. Como assinala
Diniz,
“depara-se com o desafio de formular uma nova concepção do papel do
Estado, tendo em vista alcançar melhores níveis de racionalidade e
eficiência, dentro de um contexto democrático. (...) os aspectos qualitativos
adquirem centralidade, tornando-se necessário deslocar a atenção para os
requisitos com vistas a uma ação estatal eficaz na implementação das
políticas públicas e na consecução das metas coletivas.” (1998:03).
O processo histórico brasileiro demanda pela construção de instituições capazes de
reaproximar Estado e Sociedade através da ampliação e diversificação dos espaços e
modalidades de participação.
Diante desta constatação, Silva adverte que a “implementação de processos de
participação vai requerer um amplo processo de capacitação dos indivíduos, não só para a
compreensão técnica de estratégias de funcionamento dos mecanismos de gestão de políticas
públicas, mas desconstrução de valores sociais e políticos (ressocialização política dos
indivíduos) que sejam adequados aos comportamentos democráticos”. (1998:139-140)
Sendo assim, qualquer proposta de uma maior racionalização e eficiência das políticas
públicas não pode ignorar atitudes, valores e comportamentos de atores sociais, criando uma
relação de confiança entre o poder público e os cidadãos, em um novo modo de fazer política.
Como bem salientou Cordeiro,
“o maior desafio não é implementar novos procedimentos, mas fazer com
que eles sejam incorporados culturalmente como instrumentos de exercício
da democracia. Não uma moda passageira ou capricho dos governantes do
momento, mas conquista cidadã a ser mantida e aperfeiçoada. Não podemos
partir do principio de que o conceito que sustenta essa reinvenção do
governo faça parte do horizonte de representações mentais de nossa
sociedade. Não faz. Tudo aquilo que está sendo discutido em termos de
redesenhar os contornos do público e do privado – descentralização,

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

desburocratização, transparência e co-gestão – não são de fácil aceitação


entre pessoas e grupos acostumados a uma concepção paternalista de Estado,
a comportamentos marcados pela passividade, a uma vivência que reafirmou
secularmente o público como instancia dos pobres, daqueles que não podem
recorrer aos privilégios que asseguram a privatização do Estado em nome de
uma minoria”. (1997:24)
De certa forma, as pessoas que cresceram à base desse processo viram-se confrontadas
com estímulos para separá-las da política e despojá-las da possibilidade de se porem como
agentes das condições para a afirmação de uma comunidade política. Apesar de tudo,
observamos que a sociedade continua viva, conquistando novas possibilidades de romper com
os limites históricos e projetar uma situação na qual seus espaços sejam valorizados. Destarte,
compreendendo que o meio ambiente é um bem difuso, isto é, um bem que não pertence nem
ao particular e nem ao Estado, mas à coletividade, na qual as presentes e futuras gerações
fazem parte, deve-se perceber a importância desse rompimento com os limites históricos e a
necessidade da participação nas tomadas de decisões referentes às ações ambientais.
Nesse contexto, objetiva-se com a pesquisa analisar as práticas locais e as políticas
públicas ambientais implementadas no bairro Pirambu, situado na região costeira oeste de
Fortaleza. A escolha desse bairro se deu tendo em vista a sua densidade demográfica, sendo a
maior dentre os bairros do município de Fortaleza e ao fato de estar entre os dez bairros que
possuem os menores Índices de Desenvolvimento Humano- Municipal em relação aos outros
bairros. Um outro fator que contribuiu para a sua escolha foi a história de sua construção que
se inscreve em mudanças sociais na qual a luta pela posse da terra tem papel primordial,
sendo regida inicialmente pela hegemonia da Igreja e pela resistência dos moradores. Esse
momento histórico inicial do bairro elucida a ocupação desordenada do lugar e os diversos
problemas ambientais provocados pelo contingente populacional desenfreado, tendo em vista,
principalmente, a sua localização e as inexpressivas políticas públicas relacionadas ao
planejamento sócio-ambiental na região.
A CONSTRUÇÃO SÓCIO-ESPACIAL DO BAIRRO
De acordo com o Censo 2000, o Pirambu é o bairro mais populoso dentre os 114
bairros oficiais da cidade de Fortaleza, possuindo uma área de 0,58 km2, na qual se
concentram certa de 18.453 habitantes, esse fato nos remete ao desafio em relação ao
equilíbrio sócio-ambiental urbano. Essa densidade populacional é conseqüência de uma
ocupação desenfreada, que provocou a proliferação de favelas e um desequilíbrio ecológico
urbano em meio à área litorânea, porém sabe-se que o crescimento populacional não pode ser
considerado como a única causalidade para a ocorrência dessa propagação. A competência
para se obter uma harmonia entre as necessidades do indivíduo e seu meio é, em princípio, do
Estado. A partir dessa responsabilidade do poder público em realizar infra-estrutura básica,
houve na região, recentemente, o intuito de reurbanização local através, primeiramente, do
Projeto Costa-Oeste, que por problemas técnicos, dentre outros, não obteve êxito por parte do
Governo do Estado do Ceará e, posteriormente, do Projeto Vila do Mar, que atualmente
encontra-se em desenvolvimento na responsabilidade da Prefeitura Municipal de Fortaleza e
empresa contratada para a sua execução. Estes empreendimentos urbanísticos foram
desenvolvidos objetivando uma revitalização local, tendo em vista a sua degradação no que se
refere à infra-estrutura, o que ocasiona ao bairro e à cidade prejuízos de ordem econômica e
social.
É sabido que os fluxos migratórios das zonas rurais, tendo como destino as áreas
urbanas, é fato constante na história do nordeste brasileiro. Impelidos a migrar por fatores
geográficos, justificados pelos longos períodos de estiagem na região, e políticos – questões
agrárias, como dificuldade de acesso ou à posse de terras -, os sertanejos transformam-se em

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

“retirantes”, passando a ser matéria para a formação dos populosos bairros de periferias das
metrópoles brasileiras. O Estado do Ceará não passa desapercebido por tal processo, as
questões ligadas à seca e à migração rural já se constituíam como problemática política e
social desde os meados do século XIX, causando sérios transtornos às autoridades. E é neste
contexto de migração, de deslocamento, de desejo de ultrapassagem de uma condição de
penúria, enfim, de credulidade – por parte dos agricultores – na possibilidade da cidade ser
lócus de proteção e assistência, que o Pirambu surge.(vide figura 01)

Figura 01: Evolução urbana de Fortaleza – Século XIX. Região onde está situado o Bairro
Pirambu.
Fonte: Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Infra-estrutura - SEINF, 2009
Ocupado inicialmente por pescadores, o bairro do Pirambu constituía uma antiga área
marítima localizada no lado oeste de Fortaleza. A partir de 1950, os primeiros moradores
passaram a dividir o espaço com famílias de migrantes vindos do interior, motivados,
especialmente, por ocasião da seca de 1958. Fortaleza vivia época de ascensão, adotando um
modelo higienizador e disciplinador que previa lugares para ocupação por parte dos
“retirantes”, pois estes não poderiam ficar no centro da cidade sob pena de macular a imagem
de uma cidade em emergência

Figura 02: Ocupação inicial do bairro Pirambu.


Fonte: Centro de Pesquisa Popular, Documentação e Comunicação
do Pirambu - CPDOC, 2008.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Salienta-se que quando os migrantes chegaram ao local, o bairro também servia como
espaço de veraneio, abrigando casas nobres de famílias abastadas da capital. Em 1962, depois
de uma longa marcha que reuniu cerca de 20.000 pessoas, liderada pelo Padre Hélio Campos,
os atores locais do bairro alcançaram o objetivo pretenso de não serem expulsos do local e
ainda obtiveram o direito às terras devido a desapropriação destas por interesse social,
oficializado através do Decreto lei municipal 1.058 de 24 de maio do referido ano.
O Pirambu, como dito, foi palco de tensão: o fato de haver proprietários de casas de
veraneio, assim como de terrenos particulares, quando os “retirantes” chegaram ao lugar
resultou em sérios conflitos pela posse das terras entre os anos de 1950 até 1962. A “Marcha
do Pirambu”, marca não só a história do Pirambu, mas da capital cearense.
Assim, observa-se que muitos caminhos foram percorridos pelo bairro Pirambu até
chegar aos citados Projetos. Sua história de organização local inscreve-se em mudanças
sociais na qual a luta pela posse da terra tem papel primordial, sendo regida, inicialmente,
pela hegemonia da Igreja e pela resistência dos moradores.
De acordo com Barreira (1992), a partir de 1981 o bairro cresceu consideravelmente,
verificado através de zonas estratificadas de moradia, que se configuram em novas habitações
subnormais ou em favelas, demonstrando a pressão sobre o espaço ocupado. Destarte, uma
intensa mobilização social e uma rica gama de manifestações na luta por moradia foram os
instrumentos políticos utilizados pelos moradores para terem o direito de acesso à terra.
Levando em consideração sua constituição, torna-se impossível não identificar o Pirambu
pelas suas intensas lutas políticas.
Segundo Cavalcante (2000), a necessidade de luta e resistência constantes pelo espaço
e pela moradia levou à criação de um grande número de associações comunitárias e sindicais
no bairro. A deflagração de um movimento de militância política de grande significação
culminou na formação de uma consciência coletiva e na construção de mecanismos de
proteção do grupo e de seus interesses que perduram até hoje.
O Centro de Pesquisa Popular, Documentação e Comunicação do Pirambu (CPDOC),
dentre tais entidades, merece destaque pela tentativa de resgate e de documentação da história
local. Criado em 27 de setembro de 1992 pelo esforço conjugado de moradores da área e da
Fundação de Ação Social, o Centro tem trabalhado, junto com a população, na recuperação da
memória coletiva do Pirambu, registrando a dinâmica local, sobretudo, no afã de melhorias
das condições de vida da comunidade.
Observa-se que num mundo local, onde uma comunidade ainda se sente
“comunidade”, existem realidades sociais, propensas historicamente, que se caracterizam pela
ação conjunta na formação de uma rede, que homogeneíza os interesses em torno de
reivindicações e demandas coletivas. Apesar da ausência de um planejamento inicial de
ocupação, o fortalecimento dessa intenção coletiva local juntamente com as ações positivas do
poder público, pode desembocar num crescimento/desenvolvimento local sustentável. A
construção e manutenção da sinergia entre os atores envolvidos são fatores que reconhecem a
existência de um desenvolvimento endógeno, pois é a partir da democratização da sociedade e
da participação comunitária que se impulsiona o desenvolvimento saudável de uma dada
região. Conta-se assim, com um capital social existente no bairro, que está enraizado na sua
estrutura sócio-cultural, fazendo com que se mantenha viva a confiança de produzir um
desenvolvimento estruturalmente sustentável acerca da funcionalidade ambiental desse meio
urbano.

POLÍTICA DE SANEAMENTO BÁSICO NO BAIRRO PIRAMBU


Uma das políticas públicas considerada por esta pesquisa, por entender que está
diretamente relacionada com a gestão ambiental, é a de saneamento básico. Souza (2002) a
define como “um conjunto de ações que o homem estabelece para manter ou alterar o

514
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

ambiente, no sentido de controlar doenças, promovendo saúde, conforto e bem-estar.” Tais


ações incorporam políticas de abastecimento de água, esgotamento sanitário, sistemas de
drenagem, coleta e tratamento dos resíduos sólidos, refletindo e condicionando – ainda
segundo a autora – “diretamente a qualidade de vida determinada historicamente através de
políticas publicas envolvendo aspectos socioeconômicos e culturais e mantendo uma interface
com as políticas de saúde, meio ambiente, e desenvolvimento urbano” (SOUZA, 2002)
Em Fortaleza, ainda segundo Souza (2002), o primeiro serviço de abastecimento de
água foi implantado em 1867, a partir do sitio Benfica, sendo a água distribuída através de
chafarizes localizados nas praças centrais da cidade. Nesta época o referido abastecimento
esteve sob responsabilidade da empresa inglesa The Ceará Water Company Ilimited, sendo
somente no ano de 1954 que o Governo do Estado do Ceará, em parceria com a Fundação do
Serviço Especial de Saúde Pública – FSESP, implantou rede de abastecimento d’água em
Fortaleza, contemplando cerca de 13% da população.
Em 1911 foi projetado o primeiro sistema de esgotamento sanitário, passando a
funcionar no ano de 1927, atendendo a região do centro de Fortaleza. A Praia Formosa era o
destino dos esgotos, lançados ao mar sem qualquer tipo de tratamento. Em 1956, foi
construído um emissário na cidade, e em 1966 Fortaleza contava somente com 39 km de rede
de esgoto, atendo uma restrita parcela da população.
Na década de 1970, o sistema de abastecimento de água de Fortaleza melhorou
consideravelmente, aumentando o número de ligações domiciliares, feitas pela Companhia de
Abastecimento de Água do Ceará – CAGECE, que – por seu turno – trabalhava vinculada ao
PLANASA (Plano Nacional de Saneamento). Apesar da melhoria no que se refere ao
abastecimento d’água, o sistema de esgotos continuava precário, só sendo incrementado com
a construção de interceptor oceânico e de um emissário submarino. Conforme Souza (2002),
depois dos incrementos, especificamente no ano de 1988, 74,4% da população urbana de
Fortaleza era atendida pelo sistema público de abastecimento de água. Contudo, apenas 18,
9% eram atendidos pela rede de esgoto, concentrada – sobretudo – no setor leste, onde
estavam estabelecidas as áreas de maior valor imobiliário, espaço das residências das classes
média e alta.
A implantação, portanto, dos sistemas de saneamento básico se deu de forma
diferenciada em Fortaleza, tendo como norteador a renda da população. Na zona oeste, lugar
onde se fixavam residências mais simples e “favelas”, os moradores utilizavam – em grande
parte - fossas rudimentares, enquanto que os esgotos corriam a céu aberto, gerando problemas
como a poluição do lençol freático. Com a execução, a partir de 1992, do programa
Sanefor/Sanear, houve indiscutível beneficiamento para uma maior parcela da população,
entretanto tal programa não se exime de percalços ou desafios, presentes – de maneira mais
intensa – nas periferias urbanas.
A drenagem urbana, assim como as necessidades de limpeza urbana, talvez possam ser
consideradas materializações de tais desafios ou percalços. Quase que inexistente em épocas
anteriores, a drenagem das águas pluviais – segundo relatórios do Programa Sanefor/Sanear –
beneficiou direta ou indiretamente – através de microdrenagem e macrodrenagem – mais de
40 bairros da cidade de Fortaleza. Todavia, tais dados não podem deixar de ser analisados
com mais acuidade, sobretudo se levarmos em consideração uma realidade cotidiana marcada
pela eclosão, constante, de focos de dengue, por exemplo.
A ocupação desordenada do bairro Pirambu, caracterizado por um terreno arenoso de
antigos campos dunares, culmina em sérios prejuízos ao lençol freático, vítima de
contaminações. Além do fato da população local, em sua maioria, não ser contemplada com

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

os serviços básicos eficientes. A tabela 01 demonstra o número de domicílios particulares


permanentes por forma de abastecimento de água:

Tabela 01: Domicílio particular permanente por forma de abastecimento d’água em Fortaleza
e no Pirambú.

REDE GERAL POÇO OU NASCENTE OUTRA


(NA PROPR.)
LOCALIDADE TOTAL
TOTAL CANALIZ. CANAL TOTAL CANALIZ. CANAL NÃO TOTAL CANALIZ CARNAL NÃO
EM COMODO CANAL COMODO TER. CANA
PROPR L

FORTALEZA 526.079 458.819 436.773 22.046 48.984 27.488 3.266 18.230 18.276 1.346 515 16.415
PIRAMBU 4.293 3.456 3.229 227 509 168 102 239 328 12 3 313
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 2000.

A partir da tabela 01 é possível notar os incrementos advindos de um programa de


saneamento estruturado, como o Sanefor/Sanear: os números relativos à rede geral são
maiores que aqueles relacionados aos poços artesanais ou cacimbas, por exemplo. Contudo, é
importante destacar que estes últimos não deixam de existir, sendo ainda muito comuns,
principalmente nas áreas de aglomerados subnormais.
No que tange ao esgotamento sanitário, a observação do gráfico 01 permite constatar
que o número de domicílios sem banheiro nem sanitário ainda é alto.

Gráfico 01: Domicílio particular permanente


com banheiro ou sanitário e tipo de esgotamento
sanitário no bairro Pirambu

1% 2% 1% 4%

24%

6% 62%

REDE GERAL DE ESG. OU PLUV. FOSSA SÉPTICA


FOSSA RUDIM. VALA
RIO, LAGO, MAR OUTRO ESCOAMENTO
NÃO TEM BANHEIRO NEM SANITÁRIO

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 2000.

A ocupação não ordenada do solo, como no caso de moradias construídas entre becos
e vilelas, ruas estreitas não pavimentadas, acarreta dificuldades para a execução do
recolhimento e transporte dos resíduos sólidos. A parcela de lixo, como pode ser confirmada
pela tabela 02, jogado em rio ou mar no bairro Pirambu ainda é considerável. A existência de
terrenos baldios, que além de espaços propícios à criminalidade se constituem como depósito
irregular de lixo, também é um grave problema na região.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Tabela 02: Destino do lixo urbano em Fortaleza e no bairro Pirambu.


DOM. PART. PERMANENTE POR DESTINO DO LIXO
JOGADO
LOCALIDADE QUEIMADO ENTERRADO EM JOGADO OUTRO
COLETADO (NA PROP.) (NA PROP.) TERRENO EM RIO, DESTINO
BALDIO LAGO
OU OU MAR
LOGRA.
TOTAL POR SER. EM
LIMPEZA CAÇAMBA

FORTALEZA 500.837 477.512 23.325 3.151 828 16.543 4.120 600


PIRAMBU 3.812 3.769 43 2 10 191 270 8
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 2000

Figura 03: Lixo e esgoto estagnado na faixa de Figura 04: Esgoto a céu aberto na faixa de praia
praia no bairro Pirambu. no bairro Pirambu.
Fonte: Queiroz, 2009. Fonte: Queiroz, 2009.
A pesquisa local encontrou na área diversas dificuldades - por parte das famílias - no
que diz respeito ao acesso aos serviços de saneamento. Todavia, não pode deixar de ser
colocado que um dos fatores de dificuldade para beneficiamento de um maior número de
moradores locais também passa pelo uso e ocupação desordenada dos terrenos da região em
questão, além da falta de educação ambiental de muitos moradores, que a respeito do
saneamento básico, depositam os lixos nas ruas de maneira inadequada ou mesmo na própria
praia. Estas atitudes demonstram a distância tida por eles quanto à conservação do seu meio.
A política de saneamento adotada pelo poder público no bairro está longe de ser
eficiente, porém a participação da população inicia-se no momento da necessidade em se
adotar atitudes condizentes com as suas reivindicações. Essa participação, tida como um
direito se torna também um dever da sociedade, já que o tema central tratado pela pesquisa é o
meio ambiente.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

REFERÊNCIAS

BARREIRA, I. A. F. O Reverso das Vitrines: conflitos urbanos e cultura política em


construção. Rio de Janeiro: Rio Fundo Ed., 1992.
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. [on line], 2004. [cited 06.2004].
<https://www.planalto.gov.br/>
CORDEIRO, C. Gestão Municipal e Cultura Política, In: Revista Síntese, ano 2 no. ,
Brasília, 1997.
DINIZ, E. Globalização, Ajuste e Reforma do Estado: Um Balanço da Literatura Recente,
In: BIB, Rio de Janeiro, n. 45, 1º semestre de 1998, pp. 3-24.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. CENSO
DEMOGRÁFICO 2000 – Características da população e dos domicílios: resultados do
universo. Fortaleza, 2000.
SILVA, R. M. A. da. Dilemas da Gestão Participativa do Desenvolvimento Local. In:
Política Hoje, ano 2, no.8-9, UFPE, Recife, 1999.
SOUZA, M. S. de. Meio ambiente urbano e saneamento básico. Mercator - Revista de
Geografia da UFC, ano 01, número 01, 2002.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

ALTERNATIVAS PARA UM TURISMO SUSTENTÁVEL NO LITORAL DO


IGUAPE-CE

Tatiane Rodrigues Carneiro


Universidade Federal do Ceará, tatianecarneiro@gmail.com
Edson Vicente da Silva
cacau@ufc.br

RESUMO

O distrito de Iguape está localizado no município de Aquiraz, litoral leste do Estado do Ceará
a 38 km de Fortaleza. Nos últimos anos tem-se observado uma mudança na demanda turística
daquela região, e um aumento na oferta de equipamentos turísticos. O turismo é uma
atividade econômica que transforma espaços e reorganiza territórios e ao mesmo tempo gera
impactos socioambientais para as localidades onde se desenvolve. Desta forma, o presente
trabalho busca compreender as transformações socioambientais geradas pelo turismo no
litoral do distrito de Iguape e propor alternativas para a realização de um turismo sustentável
naquela região. A pesquisa foi efetivada através de consultas bibliográficas, observações
diretas e levantamento de campo, sendo realizada em dois momentos distintos, primeiramente
em bibliotecas e órgãos públicos e em seguida no próprio local.

Palavras-chave: turismo, transformações socioambientais, turismo sustentável e litoral do


Iguape.

INTRODUÇÃO

O turismo traz consigo o desenvolvimento econômico e a geração de trabalho e


renda, mas pode ser também responsável por grandes transformações socioambientais,
relativas à perda da identidade cultural; a degradação e destruição dos recursos naturais e a
ausência de perspectivas para os grupos da população local em áreas de destinação turística.
O litoral do Iguape está localizado no Município de Aquiraz, litoral leste do
Estado do Ceará, a 38 km da capital cearense. E é um ambiente com tantos atrativos turísticos,
possui praias como: do Presídio, do Iguape e a do Barro Preto, e tem atraído investimentos em
equipamentos paisagísticos e de lazer, alterando a paisagem natural, sem que haja um devido
planejamento, gerando assim diferentes impactos socioambientais locais. A inexistência de
um planejamento adequado gera prejuízos significativos ao ambiente e, muitas vezes,
comprometendo a qualidade de vida tanto do homem quanto do próprio meio.
Nos últimos anos o litoral do Iguape vem sofrendo alterações na sua demanda
turística, tal fato revela uma falta de planejamento turístico para a região, que era uma das
mais visitadas do litoral leste cearense e nos últimos anos tem sido esquecida pelos turistas. O
presente busca compreender as principais transformações socioambientais ocorridas no litoral
do Iguape e sugerir alternativas para a realização de um turismo sustentável no local.

DESENVOLVIMENTO

O turismo pode ser um eficiente meio para promover uma região, seus valores
naturais, sociais e culturais; além de abrir novas perspectivas sociais como resultado do
desenvolvimento econômico e cultural da região e promover a melhoria da infra-estrutura

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

local, podendo ser um instrumento norteador para o crescimento da localidade, inserindo-a no


contexto global.
Porém, o mesmo turismo que pode estimular o desenvolvimento econômico e
cultural de uma região também pode causar sérios danos ao meio ambiente e a sociedade em
geral. Como afirma Coriolano e Vasconcelos (2007):

O turismo usa e apropria-se da natureza ou ambientes naturais e de ambientes


produzidos como cidades, vilas, comunidades, gerando impactos, que podem ser
discutidos como uma questão de (in)sustentabilidade social e ambiental. Esta
(in)sustentabilidade é produzida pela contradição capitalista que no turismo toma
forma de impactos socioambientais, desequilíbrios sócio-espaciais, especulação
imobiliária, ocupação de áreas vulneráveis, descaracterizações ambientais e
paisagísticas [...] Mas apesar disso não se pode negar o importante significado
espacial, social e econômico que o turismo provoca nas sociedades modernas.

O desenvolvimento do turismo, infelizmente, na maioria das vezes não caminha


junto com o planejamento turístico, o que causa grandes prejuízos à população local, que em
sua maioria se vê excluída do desenvolvimento econômico e das benesses trazidas pelo
turismo, e ao meio ambiente local é desrespeitado e degradado. O turismo transforma espaços
e reorganiza territórios na medida em que seu consumidor tem que se deslocar para consumir
o produto ou serviço turístico. Desta forma, tanto as áreas denominadas turísticas como seu
entorno são reorganizados para atender às novas demandas.
Para Lima (2006), “o turismo é o estudo do homem longe de seu local de
residência, da indústria que satisfaz suas necessidades e dos impactos que ambos geram nos
ambientes físico, econômico e sociocultural da área receptora”. Desta forma podemos afirmar
que o turismo não deve ser implantado ou desenvolvido em uma região antes de um
planejamento turístico adequado, ou seja, que leve em conta os anseios da população, dos
empreendedores locais e do poder público.
O turismo inclui o deslocamento voluntário de pessoas pelo espaço geográfico
motivadas pelas mais diversas razões e necessidades. Ele é uma atividade econômica que
requer uma série de serviços e atrativos para desenvolver-se e que gera impactos
socioambientais nas áreas receptoras. Neste sentido, emerge a necessidade de discussões
sobre o que consiste o desenvolvimento sustentável, para que possam ser atendidas tanto as
demandas sociais como as necessidades básicas ao equilíbrio natural.
Segundo Ansarah (2001), “o estudo do turismo deve ser direcionado para o
desenvolvimento sustentável, conceito essencial para alcançar metas de desenvolvimento sem
esgotar os recursos naturais e culturais nem deteriorar o meio ambiente. Entende-se que a
proteção do meio ambiente e o êxito do desenvolvimento turístico são inseparáveis.”
A sustentabilidade tem sido discutida por diversos setores e em vários níveis da
sociedade. Dentre os conceitos mais aceitos sobre desenvolvimento sustentável podemos
destacar o do Relatório Nosso Futuro Comum (Bruntland, 1987): "desenvolvimento
sustentável é aquele que satisfaz as necessidades do presente, sem compromete as próprias
necessidades que as gerações futuras precisam satisfazer".
Rattner (1994) afirma que:

O desenvolvimento sustentável pode ser definido como um processo contínuo de


melhoria das condições de vida, enquanto minimize o uso dos recursos naturais,
causando um mínimo de distúrbios ou desequilíbrios ao ecossistema [...] além do
mais, deverá ser capaz de satisfazer as necessidades atuais das pessoas sem
deteriorar as perspectivas das gerações futuras.

520
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

A discussão sobre desenvolvimento sustentável é bastante relevante para a


pesquisa, pois, apesar do turismo ser uma atividade que pode gerar trabalho e renda para a
comunidade local, esta atividade pode causar sérios danos ao meio ambiente e à população
nativa. Desta forma, faz-se necessário também o conceito de Turismo Sustentável.
De acordo com a Organização Mundial de Turismo (OMT, 1995), “turismo
sustentável é aquele ecologicamente suportável em longo prazo, economicamente viável,
assim como ética e socialmente eqüitativo para as comunidades locais.”
De acordo com Beni (2004):

o Turismo Sustentável, em sua vasta e complexa abrangência, envolve: compreensão


dos impactos turísticos; distribuição justa de custos e benefícios; geração de
empregos locais diretos e indiretos; fomento de negócios lucrativos; injeção de
capital com conseqüente diversificação da economia local; interação com todos os
setores e segmentos da sociedade; desenvolvimento estratégico e logístico de modais
de transporte; encorajamento ao uso produtivo de terras tidas como marginais
(turismo no espaço rural); subvenções para os custos de conservação ambiental.

Em meio à discussão sobre turismo sustentável e desenvolvimento sustentável


emerge a necessidade da compreensão do conceito de meio ambiente. De acordo com Veyret
(1999).

[...] a noção de meio ambiente não recobre somente a natureza, ainda menos a fauna
e a flora somente. Este termo designa as relações de interdependência que existem
entre o homem, as sociedades e os componentes físicos, químicos, bióticos do meio
e integra também seus aspectos econômicos, sociais e culturais.

Segundo Mendonça (2001), “o meio ambiente atualmente em voga é propalado na


perspectiva que engloba o meio natural e o social”. Sendo assim, o ser humano está
diretamente inserido nas relações que envolvem os aspectos de primeira e segunda natureza.
Não se devem separar os elementos físico-naturais dos elementos humano-sociais quando
tratamos da questão ambiental, pois estes a constituem e a transformam como um todo, como
afirma Leff (2001) “O recurso natural e a força de trabalho não são entes naturais existentes
independentemente do social, mas são já o biológico determinado pelas condições de
produção e reprodução de uma dada estrutura social.”
A partir da compreensão das transformações socioambientais, no caso, as geradas
pelo turismo no litoral do Iguape, podem-se propor alternativas para a realização de um
turismo sustentável naquela região.

CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DO LITORAL DO IGUAPE

O litoral é um ambiente de formação recente, desta forma, está em constante


modificação, quer seja pela ação eólica, fluvial ou marinha, assim, qualquer interferência
antrópica implica sérios danos. O litoral é uma área de grande instabilidade ambiental, assim
como afirma Silva (1998):

os diferentes fatores que atuam nos processos geomorfogênicos, como as correntes


marinhas, as ocilações do nível do mar e das marés, a arrebentação das vagas, a

521
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

composição litológica, as feições do relevo, a hidrologia de superfície e a


subterrânea, a ação dos agentes climáticos, principalmente a do vento, levam à
formação de paisagens com alta instabilidade ambiental.

A dinâmica natural dos ambientes litorâneos é bastante intensa, devido a isso é


preciso conhecer as inter-relações dos fluxos de matéria e energia que neles atuam a fim de
minimizar os efeitos danosos da ação antrópica, bem como criar diretrizes para o uso racional
destes ambientes.
O litoral do Iguape é constituído por duas unidades de relevo, a planície litorânea
e o tabuleiro pré-litorâneo. A Planície litorânea ocupa a maioria do território estudado, e é
dividida em praia, pós-praia, campo de dunas e planície flúviomarinha. A praia e o pós-praia
são unidades geoambientais que possuem uma intensa dinâmica, podendo se tornar
inapropriada para algumas atividades humanas, devendo, assim, ser conservada devido seu
elevado potencial turístico e suas belezas naturais.
Porém, na área em estudo, observa-se que a faixa do pós-praia está ocupada
quase que totalmente por segundas residências, hotéis, pousadas e barracas de praia, o que
resulta em grandes impactos negativos para o ambiente natural, que está sendo artificializado
e degradado para oferecer uma melhor infraestrutura para os turistas.
À medida que os ambientes naturais são degradados e ocupados indevidamente,
como é o caso do pós-praia, ocorrem impactos ambientais que não atingem única e
exclusivamente o ambiente, eles também podem ser observados nas mudanças de hábitos e
costumes dos moradores locais, que muitas vezes tem de mudar seu modo de vida para
adequarem-se a nova realidade.
Em relação ao campo de dunas, no litoral do Iguape, observamos a retirada de
areia para fins comerciais que é realizada de forma indiscriminada. Com a exploração de areia
das dunas móveis, ocorre uma aceleração no transporte de areia que modifica o fluxo natural
de outros ambientes e invade áreas residenciais, fato este que não deveria ocorrer se o homem
utilizasse a natureza de forma sustentável. O cordão de dunas fixas do Iguape encontra-se
bastante modificado devido a ação humana irregular e predatória, através da abertura de
trilhas, de queimadas e da construção civil. Somente as dunas que se localizam em locais mais
distantes é que ainda estão preservadas.
Outro problema observado no litoral em estudo é o fato de as residências, hotéis e
pousadas estarem interrompendo o fluxo dos ventos, que se direcionam para o oeste, e
transporta os sedimentos ao longo da costa.
No que tange as planícies flúviomarinhas do litoral do Iguape, estas possuem
pequenas extensões e o porte da vegetação de mangue é pouco desenvolvido. Esses tipos de
planícies têm suas formações originárias do fluxo e refluxo das marés. Como a planície está a
um nível mais baixo que o do mar, permite que as águas do oceano se unam com as do rio e
ao se misturarem proporcionam a formação de um ecossistema estuarino na foz dos rios onde
se constata a presença dos manguezais.
Os manguezais são de grande valor para as comunidades locais, pois é de lá que
muitos tiram seu sustento, daí a grande importância e necessidade de conservação destes
ambientes. Além disso, pequenas alterações em sua estrutura acarretam vários problemas
ambientais que afetam outros geossistemas. A presença dos mangues também auxilia a
diminuição da erosão costeira, protegendo a planície litorânea das variações das marés, da
ação das ondas e avanço das areias sobre o curso d´água e sobre outras unidades ambientais.
Desta feita, pode-se afirmar que a conservação destes ambientes é de vital
importância para a conservação do equilíbrio ambiental natural de várias unidades ambientais,
e por conseqüência da qualidade de vida do próprio homem.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

O TURISMO E OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NO LITORAL DO IGUAPE

O turismo eleva a um aumento da população, o que causa impactos sobre o meio


ambiente, que não estava preparado para receber tais mudanças tão rapidamente. Em pouco
tempo o ambiente que era apenas usado de forma consciente e para a subsistência de uma
pequena população, é agora alterado e impactado pela ação antrópica, que já não respeita as
características ambientais, realizando construções sobre dunas e aterrando mangues,
prejudicando a biodiversidade e alterando o estado natural de equilíbrio dos ecossistemas.
A forma de interagir com natureza dos novos residentes e turistas é bastante
diferente daquela dos primeiros moradores, pois para os novos moradores o meio ambiente é
apenas um cenário, paisagem da qual ele se apropria momentaneamente para seu lazer e
descanso, sem preocupar-se com os danos que possa estar causando. Pensam que quando
compram os espaços estão comprando o meio ambiente que está inserido nele, e desta forma
acham que podem transformá-lo como bem entenderem, não percebem que o meio ambiente e
o ser humano estão interligados e que um depende do outro.
Outro tipo de impacto causado pelo advento do turismo em uma região, ou
localidade é o impacto social, este é menos perceptível visualmente do que o primeiro, mas
não menos impactante. Quando os turistas e visitantes entram em contato com a população
local, há um choque principalmente entre as culturas, muitas vezes a população local adota
certos hábitos e costumes dos visitantes, para melhor integrar-se socialmente e para ser aceita
por eles.
Outro impacto que se pode citar está relacionado com a economia, antes da
chegada dos turistas, as atividades produtivas eram basicamente baseadas na pesca, no
extrativismo vegetal e na agricultura de subsistência, com a chegada dos turistas passou a ser
baseada no comércio e no turismo, apesar da pesca ainda subsistir, ainda que não mais como
principal atividade.
O litoral do distrito de Iguape tem sido alvo de grandes investimentos de capital
estrangeiro nos últimos anos, principalmente, de origem portuguesa e espanhola. Um exemplo
de um grande empreendimento turístico em construção naquela região é o Aquiraz Riviera, o
maior empreendimento turístico de padrão internacional do Brasil. De acordo com o site da
Prefeitura Municipal de Aquiraz, o Aquiraz Riviera possui um valor total estimado em US$
350 milhões, com área total de 300 de hectares e que será construído na praia de Marambaia,
próximo à praia do Presídio. Este empreendimento não é um caso isolado, pois os investidores
vêm naquela região uma das mais promissoras para o turismo no litoral leste cearense.
Quando se fala deste grandioso empreendimento difícil é não se perguntar qual o
preço que o meio ambiente, e, por conseguinte, nós mesmos, teremos que pagar para que ele
seja construído. Um projeto de tamanhas dimensões certamente acarretará impactos negativos
ao meio ambiente, porém muitas vezes estes impactos são mascarados e menosprezados pelos
gestores, alegando que seus benefícios serão maiores que os prejuízos. Até quando será
permitido tal desenvolvimento a qualquer preço, mesmo que este preço seja a nossa própria
sobrevivência e a das futuras gerações?

ALTERNATIVAS PARA A REALIZAÇÃO DE UM TURISMO SUSTENTÁVEL NO


LITORAL DO IGUAPE

Para a realização de um turismo sustentável em qualquer lugar, primeiramente


deve ser realizado um planejamento turístico. Esse planejamento deve envolver tanto a
população local como empreendedores locais e gestores públicos. Pois o planejamento só é
eficiente quando é construído em conjunto com a população local, respeitando seus interesses
e necessidades. Outro ponto importante para a realização de um planejamento turístico

523
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

eficiente é considerar o meio ambiente como fator essencial para a realização do turismo e sua
continuidade.
Em meio a esses atores emergem as principais perguntas que devem ser
respondidas antes de se adotar medidas para a realização de um turismo sustentável em
determinado local. São elas: será que as partes envolvidas estariam interessadas em discutir
medidas para se alcançar o turismo sustentável? Será que todos estariam dispostos e
preparados a ceder? Quais os interesses envolvidos?
A implantação de um turismo sustentável seria uma das formas de se minimizar
os impactos negativos do turismo, pois com o turismo sustentável o desenvolvimento
econômico da região estaria assegurado, porém sem comprometer o meio ambiente, e, por
conseguinte, as futuras gerações.
Uma das medidas a serem implantadas para se alcançar o turismo sustentável no
litoral do Iguape seria, primeiramente a conscientização tanto da população local como dos
grandes empresários acerca da importância da preservação e conservação do meio ambiente,
para o turismo, uma vez que grande parte do potencial turístico do litoral é proveniente das
belezas naturais, ou seja, fazem parte dos recursos naturais, quando estes recursos são
degradados, tanto perde o meio ambiente, como a população local e os grandes empresários.
A partir da tomada de consciência, devem-se propor medidas efetivas que
viabilizem a realização de um turismo sustentável na região, como uma maior fiscalização na
liberação de licenças e construção de novos empreendimentos turísticos, medida essa que
evitaria grande parte das construções irregulares que ocorrem sobre as dunas móveis e no pós-
praia, a realização de oficinas de capacitação profissional para a população local, como forma
de atender a demanda da população locais por melhores condições de emprego e renda,
medidas que incentivem os empreendimentos a minimizar seus impactos ambientais como a
implantação de prêmios ou selos para os empreendimentos amigos da natureza, diminuição
dos impostos para os empreendimentos ambientalmente sustentáveis, a realização de oficinas
de educação ambiental ofertadas nas escolas, a fim de conscientizar as crianças e jovens da
importância da conservação do meio ambiente para a perpetuação do turismo no local, entre
outras ações.
Ações como essas são responsáveis pela continuidade do trabalho de
conscientização ambiental e consequentemente para a realização de um turismo sustentável
efetivo e real em determinado local, pois somente com a participação da população local e sua
inserção no planejamento turístico é que se pode esperar o sucesso de tal implantação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após observamos algumas das transformações geradas pelo turismo no litoral do


Iguape nos últimos anos cabe aqui fazermos uma reflexão sobre viabilidade da implantação de
um turismo sustentável naquela região, respeitando tanto os interesses dos residentes como os
dos turistas e os dos empreendedores, mas sem esquecer do meio ambiente.
A implantação de um turismo sustentável no litoral do Iguape só será uma
realidade quando os principais atores envolvidos, população local, empresários e poder
público e turistas, compartilharem das mesmas idéias e possuírem uma conscientização a
respeito da importância de sua implantação, ainda que seus interesses sejam antagônicos.
O turismo sustentável exige destes atores primordialmente o respeito ao meio
ambiente e suas limitações de uso e exploração, bem como a capacidade de trabalho em
conjunto visando o bem comum das atuais e futuras gerações. Advém daí as principais
dificuldades de sua implantação no litoral do Iguape e em muitas outras regiões.
Contudo, a realização de um turismo sustentável no litoral do Iguape é uma das
principais alternativas para que o turismo ressurja como uma das principais atividades

524
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

econômicas do local, gerando benefícios tanto para a população local como para os
empreendedores turísticos como para o poder público.
Desta forma, pode-se dizer que, na área estudada, o litoral do Iguape, o
desenvolvimento sustentável e o turismo devem caminhar juntos, pois são interdependentes,
uma vez que o turismo depende dos recursos naturais, para atrair turistas e, por conseguinte,
investidores, gerando o desenvolvimento. Se este desenvolvimento não for sustentável, em
pouco tempo os recursos naturais estarão esgotados e as belezas naturais, que constituem o
atrativo turístico por excelência, não existirão mais e, desta forma, o turismo estará
severamente prejudicado, bem como o desenvolvimento da região.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Editora SENAC, 2001.

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natureza: realidades, conflitos e resistências. Fortaleza: EDUECE, 2007.

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nível regional e tipológico. Tese para professor titular, Centro de Ciências, UFC, 1998.

VEYRET, Y. Géoenvironment. Paris. Sedes, 1999.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

COMPARTIMENTAÇÃO GEOAMBIENTAL DA SUB-BACIA DO ALTO CURSO


DO RIO ACARAÚ – CE

Ticiana Rodrigues de Castro


Universidade Estadual do Ceará
ticicastro@gmail.com
Marcos José Nogueira de Souza
Universidade Estadual do Ceará
Maria Lúcia Brito da Cruz
Universidade Estadual Do Ceará
mlbc@uece.br

RESUMO
Trata-se de uma pesquisa de iniciação científica que tem como área de estudo a sub-bacia do
alto curso do Rio Acaraú – CE. O curso do rio Acaraú tem orientação predominante sul-norte
com extensão máxima de 307,5 km. A área delimitada compreende das nascentes até o
barramento do Açude Araras. O rio nasce na vertente da Serra das Matas, município de
Monsenhor Tabosa até o açude Araras tem extensão de 17,5 km. Por ser área de nascente tem-
se como justificativa para a proposta a conservação dos recursos naturais devido à degradação
ambiental que ocorre na Bacia. Objetiva-se caracterizar o meio físico tendo como produto um
mapa temático de compartimentação geoambiental. Busca-se também diagnosticar o potencial
geoambiental e as limitações de uso dos recursos naturais. Como embasamento teórico
metodológico foi utilizado a proposta de Souza (2000) explicitando as potencialidades e
limitações dos diversos compartimentos que são estabelecidos com base na concepção
geossistêmica Bertrand (1969). A caracterização de drenagem foi feito com base em critérios
de Christofoletti (1980). Para a confecção dos mapas temáticos fez-se o uso da interpretação
dos produtos de sensoriamento remoto através de imagens de satélite cedidas pelo INPE e
softwares SIG-SPRING e GvSIG. Como resultado obteve-se a seguinte compartimentação
geoambiental da área: Platô da Serra das Matas, Vertente da Serra das Matas, Cristas
Residuais e Inselbergs e Sertões de Nova Russas. Grande parte dos compartimentos apresenta
marcas evidentes de degradação ambiental e até mesmo de desertificação. Motivos esses tanto
por meio natural como pela ação antrópica, chegando a comprometer a capacidade de suporte
da sub-bacia.
Palavras-chave: compartimentação geoambiental, geoprocessamento, potencialidades e
limitações.

INTRODUÇÃO

Trata-se de uma pesquisa de iniciação científica que tem como área de estudo a sub-
bacia do alto curso do Rio Acaraú – CE. Devido à extensão e importância da Bacia
Hidrográfica do rio Acaraú, houve a necessidade de fazer o estudo por sub-bacia, na
perspectiva de manter o rigor da presente pesquisa. Então a área de estudo compreende a sub-
bacia do alto curso do Rio Acaraú, localizada na porção centro-norte do Ceará.

O curso do rio Acaraú tem orientação predominante sul-norte com extensão máxima
de 307,5 km. A área delimitada compreende das nascentes até o barramento do Açude Araras.
O rio tem suas nascentes nas vertentes da Serra das Matas, município de Monsenhor Tabosa
até o açude Araras, no município de Varjota, somando uma extensão de 17, 5 km. Monsenhor
Tabosa está aproximadamente a 319,2 km de Fortaleza. Opções de acesso à Capital pelas
vias: BR-020 e CE-257/176/265. Encontra-se posicionada, geograficamente, nas seguintes

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

coordenadas: 4°47'22''latitude sul e 40°03'48'' longitude oeste de Greenwich. Varjota está a


uma distância aproximada da capital do estado de 308,2 km. Pode-se ter acesso pelas rodovias
BR-222 e CE-183. A sede do município encontra-se nas seguintes coordenadas geográficas:
4°11'40'' latitude sul e 40°28'36'' longitude oeste de Greenwich (IBGE,2000).

Figura 01: Localização da Bacia hidrográfica do Acaraú. Fonte: COGERH, 2009.

Os municípios que se encontram parcialmente ou de maneira integral no território do


alto curso, são: Groaíras, Cariré, Pacujá, Graça, Reriutaba, Varjota, Mucambo, Santa Quitéria,
Catunda, Hidrolândia, Pires Ferreira, Nova Russas, Ararendá, Canindé, São Benedito,
Ibiapina, Ipueiras, Ipu, Mosenhor Tabosa e Tamboril.

Para a caracterização da área de estudo verifica-se relevos com declividades mais


suaves no platô da serra que juntamente com a vertente norte-oriental onde era ocupada
primitivamente por matas úmidas, litotipos variados do complexo cristalino, Pré-Cambriano,
deformados por tectonismo e que fornecem o trabalho de erosão diferencial. Formam
superfícies serranas ou encostas à barlavento ou sotavento, dissecadas em feições de cristas,
colinas, lombadas, morros e esporões, entrecortadas por vales abertos (“U”) ou bem
encaixados (“V”). 400-1100m; 45% a > de 75%, relevo montanhoso a escarpado. Os solos
são Argissolo Vermelho Amarelo, Neossolos litólicos, Luvissolos capeados por caatinga
arbustiva-arbórea, matas de exceção e vegetação rupestre (NASCIMENTO, 2006).

A bacia hidrográfica do rio Acaraú drena áreas formadas por rochas cristalinas e
sedimentares. A drenagem é do tipo exorréica aberta para o mar. Considerando a linha de
escoamento do curso de água em relação às camadas geológicas o rio Acaraú é consequente e
tem padrão de drenagem dendrítico e retangular. Na Serra das Matas, do Machado e da
Meruoca onde nasce o rio principal e vários afluentes evidencia-se um forte controle
estrutural onde a drenagem é retangular.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

JUSTIFICATIVA
Por ser área de nascente, tem-se como justificativa para a proposta a conservação dos
recursos naturais devido à degradação ambiental que ocorre na Bacia. Objetiva-se caracterizar
o meio físico tendo como produto um mapa temático a compartimentação geoambiental.
Busca-se também diagnosticar o potencial geoambiental e as limitações de uso dos recursos
naturais. Os estudos tem como fundamentação teórica a concepção geossistêmica.

Segundo dados do Diagnóstico e Macrozoneamento Ambiental do Estado do Ceará


(1998), no século XX verificou-se um número de 25 secas, no que corresponde a uma
periodicidade média de 3,8 anos. A maior seca registrada teve uma duração de cinco anos e
aconteceu entre 1979 a 1983, onde os índices pluviométricos foram os mais baixos em todos
os anos. Devido a essas condições, houve perdas, tanto para a economia do Estado como para
a população, que foram os mais atingidos passando por muitas dificuldades. Para solucionar
esse problema da seca, que é um fenômeno natural no semi-árido, o Estado agiu usando ações
de combate como: construção e o gerenciamento de açudes; perfurando poços; adquirindo um
maior conhecimento sobre o regime de chuvas e métodos de previsão das quadras chuvosas.

O Departamento Nacional de Obras Contra as Secas - DNOCS em 1920 iniciou os


estudos do projeto que foram concluídos no ano de 1938. As obras civis foram iniciadas em
1951, como atividade de emergência e assistencial. No ano de 1953 começou a construção da
barragem auxiliar e em 1956, a construção da barragem principal, que foi concluída em 1958
e inaugurada no mesmo ano com a presença do Presidente da República Juscelino Kubitschek
de Oliveira. O açude público Paulo Sarasate, popularmente conhecido como Araras, tem
como nome uma homenagem a um dos mais importantes homens públicos do Ceará.
O açude tem como finalidades a perenização e controle das cheias do rio Acaraú, a
irrigação de 14.000 ha nas várzeas do mesmo rio, a piscicultura e o aproveitamento de
culturas na área de montante. Em 2008 houve eventos comemorativos aos 50 anos de
construção e inauguração do Açude público Araras, apesar de o açude ter capacidade de
acumulação total de 891.000.000 de m³ e ser o maior do DNOCS na bacia do Acaraú, e o
quarto maior do Estado. Em 2009, o açude não suportou as fortes precipitações do período
chuvoso chegando a sangrar. Muitos municípios da Bacia do Acaraú sofreram com os
impactos causados pela enchente, principalmente cidades as margens do Rio Acaraú.

OBJETIVOS
Sabe-se que os sistemas ambientais são intrinsecamente ligados e continuamente
submetidos aos fluxos de matéria e energia. O objetivo geral do estudo é representar a
organização do ambiente, descrevendo os componentes naturais que e com auxílio das
geotecnologias compor um mapa de compartimentação ambiental da Sub-bacia do Alto curso
do rio Acaraú.
Objetivos Específicos:
• Identificar os corpos hídricos;

• Analisar os locais onde tem maior índice de degradação;

• Produzir mapa temático da sub-bacia de compartimentação geoambiental;

• Descrever as unidades geoambientais;

• Diagnosticar o potencial geoambiental e as limitações de uso dos recursos naturais.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

MATERIAIS E MÉTODOS

MATERIAL
Para estudo da Sub-Bacia do Alto curso do rio Acaraú foram utilizados como material e
equipamentos na pesquisa:
• Base da Sudene Folhas Planialtimétricas DSG na escala 1:100.000;

• Imagens de satélite (TM) LANDSAT-5 e (ETM+) LANDSAT 7 datada em 2000;

• Computador, impressora e softwares SIG-SPRING e GvSIG;

• Leitura Complementar de material geocartográfico e livros para auxiliar na


compreensão da abordagem teórico conceitual e metodológico, bem como artigos
científicos com estudos realizados na área.

MÉTODO

Como embasamento teórico metodológico foi utilizado à proposta de Souza (2000)


explicitando as potencialidades e limitações dos diversos compartimentos que são
estabelecidos com base na concepção geossistêmica Bertrand (1969). A caracterização de
drenagem foi feita com base em critérios de Christofoletti (1980).

Constitui-se como base para essa pesquisa científica, a análise integrada do ambiente,
onde Souza (2000), (Op cit) apresenta o bases naturais e um esboço do zoneamento
geoambiental. Para identificar as regiões naturais o autor aborda a configuração ecogeográfica
do território e analisa os componentes geoambientais, dando ênfase para o quadro estrutural e
geomorfológico, as condições hidroclimáticas, os solos e as características fitoecológicas.
Esse zoneamento geoambiental possibilitou fazer uma subcompartimentação da Bacia do rio
Acaraú apoiado nos critérios geossistêmicos.
O geossistema trouxe um caráter metodológico para a Geografia, analisando e
possibilitando um estudo prático do espaço geográfico. Permitiu defender a idéia que
enfatiza o papel da natureza em função do espaço terrestre. Essa idéia evoluiu para estudos
integrados da paisagem numa concepção geossistêmica, que incorpora a relação entre os
fatores de potencial ecológico, da exploração biológica e das condições de uso e ocupação.

A teoria do geossistemas de (Bertrand, 1969), (op cit) interliga o potencial ecológico, a


exploração biológica e a ação antrópica confluindo para formar um geossistema. Essas
interações permitirão analisar as combinações e as diversidades entre os fatores geológicos e
suas relações com ações sócio-espaciais na delimitação das unidades de paisagem da área. No
entanto, ao observar a figura à investigação recai sobre o produto da “ação antrópica” no
meio, isto é, sobre as alterações causadas ao meio natural pelos usos aos quais estão sujeitos.

A presente pesquisa tem se limitado mais à unidade inferior classificada em


geossistema, tendo em vista uma maior delimitação do estudo. É uma passagem nítida e bem
circunscrita que se pode identificar, por exemplo, em imagens de satélite. Situa-se entre a
quarta e a quinta ordem de grandeza. O geossistema é um complexo essencialmente dinâmico
mesmo em um espaço tempo muito breve. Devido à imensa dinâmica estrutural, não tem
homogeneidade fisionômica, ou seja, ele é formado por paisagens diferentes que representam
diversos estágios da evolução do geossistema.

Para a caracterização de drenagem foi feito com base em critérios de Christofoletti


(1980) (op cit). Sabe-se que a rede de drenagem fluvial tem função relevante ao lado da

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

geomorfologia e da análise de rede hidrográfica, pois o processo morfogénetico modela a


paisagem.

Para a confecção do mapa temático, fez-se uso das cartas da Sudene na escala de
1:100.000 e interpretação dos produtos de sensoriamento remoto através de imagens de
satélite (TM) LANDSAT-5 e (ETM+) LANDSAT 7 nas cenas 217/63, 218/62, 218/63 cedidas
pelo INPE. O primeiro apresenta seis bandas espectrais com resolução de 30 metros o
segundo o sensor (ETM+) possue duas bandas, uma banda termal com resolução de 60 metros
e a outra pancromática com 15 metros de resolução. Para melhorar a acuidade visual foi
utilizado o software SIG-SPRING para o tratamento das imagens e posteriormente poder
aplicar técnicas de realce com as composições RGB. Já o software GvSIG para a delimitação
da área de estudo, vetorização das unidades geoambientais, recursos hídricos e finalização do
mapa.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Fazendo uma análise integrada do ambiente sob o ponto de vista biótico, pode-se
verificar em cada unidade geoambiental da Sub-Bacia do Alto Curso do rio Acaraú
considerando as limitações de uso; condições ecodinâmicas e vulnerabilidade ambiental; uso
compatível e sustentabilidade.

PLATÔ DA SERRA DAS MATAS

Relevo dissecado, impedimentos à mecanização. Argissolo Vermelho Amarelo


Eutrófico: rasos a moderadamente profundos, bem drenados, textura argilosa, fertilidade
natural média a alta. Fase pedregosa e/ou rochosa e transição abrupta entre os horizontes A e
Bt que favorecem os processos erosivos. Exploração agrícola Culturas de subsistência,
algodão e pecuária. Nos sertões desenvolvem-se perímetros irrigados Araras Norte. Retomada
do cultivo da mamona nas serras. Meios de transição tendendo a instabilidade, de moderada a
baixa sustentabilidade e alta vulnerabilidade, com dinâmica regressiva intensificando-se em
função do desmatamento e ablação de solos

VERTENTE OCIDENTAL DA SERRA DAS MATAS

Áreas de menores dimensões dispersas na depressão sertaneja. Derivam do processo


de erosão diferencial com rochas resistentes, os solos são rasos com relevo rochoso e declives
íngrimes. Limita-se ao uso agrícola. As condições ecodinâmicas são ambientes fortemente
instáveis e vulnerabilidade ambiental alta à ocupação. São impróprias pra uso agrícola exceto
para o uso da silvicultura.

PLANÍCIE FLUVIAL
São áreas planas decorrentes da acumulação fluvial sujeita a inundações periódicas.
Tem associação de solos aluviais, Planossolo, Solódicose e Vertissolo. Recobre esse solos
uma vegetação de mata ciliar predominando a carnaúba. As limitações de uso são: problemas
de salinização, inundações periódicas, cidades situadas em terraços fluviais trazem problemas
no período chuvoso e área com intenso uso agroextrativista. Condições ecodinâmicas são
ambientes de transição com tendência a instabilidade e vulnerabilidade ambiental moderada.
Tem uso compatível em área propícia a lavoura irrigadas em função das boas condições
morfopedológicas; favoráveis ao agroextrativismo, com limitações periódicas. A
sustentabilidade é moderada alta.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

CRISTAS RESIDUAIS E INSELBERGS

Área com menores dimensões dispersa na depressão sertaneja. Derivam do processo


de erosão diferencial com rochas resistentes, os solos são rasos com relevo rochoso e declives
íngrimes. Limita-se ao uso agrícola. As condições ecodinâmicas são ambientes fortemente
instáveis e vulnerabilidade ambiental alta à ocupação.

SERTÕES DE NOVA RUSSAS, SERTÕES DE SANTA QUITÉRIA, SERTÕES DO


RIO GROAÍRAS E SERTÕES IPU, PIRES FERREIRA.

Superfície aplainada com rochas do embasamento cristalino tem um relevo plano


moderadamente dissecado e com algumas serras dispersas. A altitude varia entre 250-350
metros em média. O clima semi-árido quente com precipitações de 500 a 700 mm média
anual no período de janeiro a maio de forma bem irregular. Para a drenagem tem curso d’água
intermitente sazonal e um baixo potencial de água subterrâneo. Nos relevos colinosos o solo
correspondente é o bruno não cálcico para planície fluvial solo aluvionar com boas condições
de fertilidade. Nas vertentes e nos níveis residuais preponderam os solos litólicos e
afloramentos rochosos. Para as baixas vertentes e níveis aplainados dos sertões são
planossolos e vertissolos. As limitações são decorrentes da salinização e baixa fertilidade. O
recobrimento vegetal compreende as caatingas hiperxerófilas abertas estando bastante
degradadas e matas ciliares que revestem as planícies fluviais. As condições ecodinâmicas são
ambientes de transição com tendência a instabilidade. Vulnerabilidade ambiental de moderada
a alta com evidencias isoladas de processo de desertificação. O uso compatível para a
utilização agropastoril com o manejo do solo e das pastagens; ampliação de açudagem para
melhorar as atividades rurais. Devido o processo degradacional a sustentabilidade é baixa,
onde pode conduzir no mesmo rumo a uma sustentabilidade futura muito baixa.
Com base nas ferramentas do geoprocessamento foi possível através de uma visão
integrada disponíveis nas imagens do satélite e com o apoio de mapeamentos temáticos
preexistentes e em meio digital foi possível delimitar as unidades geoambientais na área da
bacia. Como resultado obteve-se a seguinte compartimentação geoambiental da área (Figura
02): Platô da Serra das Matas, Vertente Ocidental da Serra das Matas, Planície Fluvial, Cristas
Residuais e Ilselbergs , Sertões de Nova Russas, Sertões de Santa Quitéria, Sertões do rio
Groaíras e Sertões Ipu Pires Ferreira.

Figura 02: Compartimentação Geoambiental do Alto curso do rio Acaraú.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Entretanto, sabe-se que a área de estudo está localizada nas nascentes do Rio Acaraú.
Vimos pelas limitações de uso e ocupação que há um processo degradacional e ação
erosiva na vertente da bacia hidrográfica. Pode-se verificar na imagem de satélite da Figura
03.

Figura 03: Imagem Landsat 2000 e delimitação da bacia com os recursos hídricos.

Conforme Brasil (1965), em seu artigo Art. 2°. Verifica-se que a área de preservação
permanente conforme legislação ambiental. Ao longo do curso do rio, as margens com suas
matas ciliares são áreas de APP.

Pinheiro (2007) adverte que as APPs devem ser mantidas nas suas condições naturais
o máximo possível. Já que sãos áreas territoriais legalmente protegidas com base no Código
Florestal (BRASIL, 1965) e na Resolução nº. 303/2002 do CONAMA.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Generalizando todos os conceitos a geografia física é conjunto de fatores bióticos e


abióticos que compõe o universo. Onde o Homem está incluído nesse conceito, pois também
faz parte da natureza. No entanto, grande parte dos compartimentos apresentam marcas
evidentes de degradação ambiental e até mesmo de desertificação. Motivos esses tanto por
meio natural como pela ação antrópica, chegando a comprometer a capacidade de suporte da
sub-bacia.

Então, para reverter o processo de degradação e intensificação de ações erosivas nas


vertentes sugere-se a articulação contínua dos instrumentos de gestão ambiental e de
planejamento com vistas a garantir o processo de sustentabilidade e de manutenção da
qualidade ambiental.

BIBLIOGRAFIA

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experiência na região semi-árida. 2ª ed. Fortaleza, DNOCS, 1990. 328p.

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533
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

GESTÃO AMBIENTAL E TURISMO:


UMA ANÁLISE INTEGRADA DA PRAIA DE MORRO BRANCO – BEBERIBE-CE

Terezinha Cassiano de Souza


terezinhacassianos@hotmail.com
Edson Vicente da Silva
cacau@ufc.br

RESUMO

As atividades econômicas que giram em torno da prática do turismo têm sido a base para
alavancar a economia de inúmeras de cidades, tendo em vista que o turismo coopera com o
desenvolvimento socioeconômico dos lugares. No entanto, muito se discute a cerca dos
impactos sócioambientais e consequentemente da ausência de uma gestão apropriada para a
sustentabilidade do local. Nessa pesquisa temos como objeto de estudo a Praia de Morro
Branco, localizada no município de Beberibe, situada no setor leste do Estado do Ceará. Essa
praia vem passando por um processo de ocupação desordenada, que tem provocado inúmeros
impactos ambientais. Nessa perspectiva pretende-se identificar os problemas vinculados ao
uso e ocupação do litoral e discutir a relevância da atividade turística para o seu
desenvolvimento. A metodologia empregada está amparada nos estudos integrados sobre o
ambiente natural, que busca o conhecimento e a avaliação dos componentes geoambientais
dentro da concepção de geossistema, neste aspecto vale citar as contribuições de Tricart
(1977), Sotchava (1977), Bertrand (1971), dentre outros, cuja fundamentação teórica está
relacionada à Teoria Geral dos Sistemas. As zonas costeiras correspondem a uma parcela de
território que é extremamente valorizada, representando a interconexão das diversas relações
de interesse vital, tanto do ponto de vista ecológico, como do humano. A área em estudo
necessita de medidas urgentes de proteção devido à especulação imobiliária, que vem
degradando o patrimônio natural e modificando a cultura e a economia do local, uma vez que
a Praia de Morro Branco representa um dos principais lócus das ações que transformam os
usos do território atualmente, associado principalmente a moradia e ao turismo.

Palavras- chave: turismo litoraneo; impactos ambientais; sustentabilidade.

INTRODUÇÃO

A prática do turismo vem sendo amplamente difundida na atualidade, sendo associada


a uma necessidade quase que básica da sociedade moderna. Viajar, conhecer, descobrir novos
horizontes, trocar o velho pelo novo, sair da monotonia e mergulhar no mundo onde tudo é
possível. A aventura, a curiosidade, o prazer do deslumbramento causado a partir vontade de
ver/sentir paisagens e lugares diferenciados são fatores que nos instiga. Nesse sentido,
Vasconcelos (2009, p.354) ressalta que:

O conceito de turismo evolui na medida em que se estuda


cientificamente essa atividade econômica e seus desdobramentos
socioambientais. No século XIX, era sinônimo de viagem, fortemente
ligado à “descoberta” e `a “curiosidade”. Pressupunha um
deslocamento de um lugar a outro sem que a causa da viagem fosse
investigada. A partir da segunda metade do século XX, o turismo

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

ganha importância econômica, gerando impactos positivos e negativos


na sociedade e na natureza.

As atividades econômicas que giram em torno da prática do turismo têm sido uma das
bases para alavancar a economia de inúmeras cidades, tendo em vista que o turismo coopera
com o desenvolvimento socioeconômico dos lugares, ampliando o mercado de trabalho e
gerando renda. Cabe citar: serviços de alojamento, alimentação, transporte, atividades
recreativas, culturais e desportivas, dentre outros. Segundo a Organização Mundial de
Turismo (OMT) essa atividade é responsável por um em cada nove empregos gerados
(aproximadamente 10% da força de trabalho global). Nesse sentido, o turismo se apresenta
como uma atividade bastante lucrativa e geradora de riqueza e renda.
Nessa perspectiva, o litoral apresenta-se como um dos principais ambientes destinados
ao turismo em todo o mundo, sendo um espaço disputado, pois para ele convergem usos e
atividades econômicas diferenciadas, conforme Coriolano (2007b).
O Estado do Ceará possui um litoral com aproximadamente 573 km de extensão,
sendo este vastamente conhecido por sua beleza cênica, constituída por variadas feições
paisagísticas naturais, representadas por: mar, praia e pós-praia, dunas, falésias, lagoas,
lagunas, manguezais. O litoral cearense tem passando por um intenso processo de
reestruturação econômica, essas transformações vêm ocorrendo principalmente a partir da
década de 1980 quando o poder estatal passou para as mãos do denominado governo dos
empresários. Com isso houve uma intensa valorização do potencial turístico litorâneo,
intensificando a implementação de infraestrutura turística, para dar suporte às iniciativas
privadas.
No entanto, muito se discute a cerca das consequências ocasionadas pelo crescimento
deste setor. Nos debates estão inseridos questionamentos que se referem aos benefícios e
malefícios da transformação drástica de culturas e aos danos ambientais, que geram desgaste e
degradação do meio ambiente.
O objeto de estudo dessa pesquisa foi a Praia de Morro Branco, localizada no
município de Beberibe, situada no setor leste do estado do Ceará. Esta praia vem passando por
um processo de ocupação desordenada, que tem provocado alguns impactos ambientais.
Nesse trabalho pretende-se discutir o processo de valorização das zonas de praia, analisar os
impactos do turismo litoral cearense, identificar os problemas vinculados ao uso e ocupação
do litoral e avaliar a relevância da atividade turística para o desenvolvimento local.
Os dados coletados para a realização desta pesquisa foram, principalmente, com base
nas investigações de cunho bibliográfico, nas visitas de campo, análise e descrição da área, a
partir de dados coletados: fotos, imagens de satélites e fotografias aéreas.

METODOLOGIA
A metodologia empregada foi amparada nos estudos integrados sobre o ambiente
natural, que busca o conhecimento e a avaliação dos componentes geoambientais dentro da
concepção de geossistema. Neste aspecto vale citar as contribuições de Tricart (1977),
Sotchava (1977), Bertrand (1971), dentre outros, cuja fundamentação teórica está relacionada
à Teoria Geral dos Sistemas.
Segundo Bertrand (op. cit), a classificação dos geossistema divide a paisagem em
unidades superiores e inferiores. A análise geossistêmica aplicada ao estudo da paisagem
consiste em avaliar os elementos componentes do geossistema: a estrutura, o arranjo e
distribuição dos elementos, as características dimensionais, as relações entre os elementos, os
níveis de estabilização ou transformação, o grau de utilização e importância socioeconômica e
o estado de interferência humana.

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

As unidades geoambientais identificadas constituem os elementos fundamentais do


parcelamento espacial. Elas são estabelecidas de acordo com um sistema integrado pelo
conjunto de elementos mutuamente relacionados, onde são contemplados os componentes
físicos e biológicos, além das condições de uso e ocupação.
De acordo com o mesmo autor, o complexo geoambiental possui uma dinâmica que é
influenciada pelo geossistema, com uma combinação dinâmica de elementos físicos,
biológicos e antropológicos. Estes elementos interagem dialéticamente uns sobre os outros
fazendo desta paisagem um conjunto único em evolução.
Para a realização da pesquisa, fez-se necessário, inicialmente a compreensão do
processo de ocupação e valorização do litoral cearense, assim como a influência das
atividades vinculadas a pratica do turismo na economia e nas transformações das cidades.
Procurou-se compreender e refletir sobre as conseqüências da
produção/apropriação/reprodução do espaço sobre a natureza.
Objetivando obter subsídios para a análise das formas de uso e ocupação da Praia de
Morro Branco, foi realizado inicialmente o arquivamento de informações sobre a área de
estudo, tais como: pesquisas de cunho bibliográfico, análise empírica e descrição da área, a
partir de informações recolhidas em fotos, imagens de satélites e fotografias aéreas.
Posteriormente foram realizadas visitas a campo, onde foram executadas trilhas para o
reconhecimento e analise da área e diagnósticos da atual situação de uso e ocupação da praia.
Nesta etapa de saída a campo utilizou-se a técnica da observação direta, que consiste na
análise, descrição e interpretação do que é perceptível e mensurável, além de entrevistas
informais com moradores locais.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
As zonas costeiras correspondem a uma parcela de território que é extremamente
valorizada. Elas representam a interconexão das diversas relações de interesse vital, tanto do
ponto de vista ecológico, como do humano. Como nos explica Suguio:
(...) as regiões litorâneas comportam um dos mais ricos e mais
importantes conjuntos de ecossistemas naturais, de cuja preservação
dependem os ciclos vitais de inúmeros animais e vegetais. Dentre
alguns desses ecossistemas podem ser mencionados os seguintes:
praias, manguezais e recifes de corais. (ACIESP apud SUGUIO, 1996,
p.3)

Nessa perspectiva Coriolano (2007b, p.31) ressalta que:

“O turismo litorâneo é assim um dos segmentos mais dinâmicos e


vulneráveis a diversos impactos. De um lado a fragilidade do
ecossistema, do outro, o fato de ter sido intensamente explorado e
ocupado, resultando num estágio altamente agredido”.

Percebe-se que na atualidade reconhece-se a riqueza e a biodiversidade das zonas


litorâneas, mas até a Idade Média havia uma série de imagens repulsivas em relação ao mar.
Essas imagens eram associadas ao desconhecido, que era vinculado a “representações míticas
de obstáculos intransponíveis como o abismo que engolia os navios, o mar habitado por
monstros e deuses coléricos ou repletos de recifes desumanos”, sempre associados à idéia de
morte, colonizações, tempestades, naufrágios ou saques de piratas (DANTAS, 2002b, p. 11).
No entanto, houve a necessidade da reversão destas imagens negativas, que estava
relacionada à nova ordem comercial vigente. No século XVII os conceitos passaram por uma
rápida transformação que foi atribuída a Teologia Natural, cuja visão do mundo levou à

536
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

criação de imagens agradáveis dos espaços litorâneos, onde estes eram criados por Deus para
o bem-estar dos homens e para o desenvolvimento da navegação (op. cit). De modo que, a
partir das grandes navegações o mundo se abriu para o mar em busca de terras e riquezas, o
que favoreceu o crescimento do comércio com a descoberta de novos continentes.
Atualmente, o valor do litoral se afirma pelo fato de intermediar relações econômicas
que requerem uma maior relação com o mar. A zona litorânea corresponde a uma área cujas
potencialidades vêm convergindo num processo de ocupação, em ritmo cada vez mais
acelerado, associados ao desenvolvimento, à industrialização, urbanização e a exploração
turística.
No caso específico do Estado do Ceará, observa-se a ocorrência de um crescimento
expressivo do fluxo turístico via Fortaleza que age como um centro difusor na atividade no
estado. O Ceará encontra-se localizado na Região Nordeste do Brasil, tem uma área de
146mil Km², com 573 km de zona costeira, que se estende desde a divisa com o Estado do
Rio Grande do Norte, a leste, ao Estado do Piauí, a oeste.
A área em epígrafe, praia de Morro Branco, localiza-se no município de Beberibe. O
município dista de Fortaleza 83 km, e apresenta-se em uma posição de destaque no receptivo
turístico, pois fica próximo da capital do Estado e apresenta uma boa facilidade de acesso.
Situa-se no litoral leste, conhecida no contexto turístico como “Costa do Sol Nascente”.
O litoral leste corresponde ao trecho que parte de Fortaleza até o município de Icapuí.
Essa faixa é a mais densamente povoada e a mais procurada pelo fluxo turístico e para o lazer.
O município tem como áreas limítrofes: o Oceano Atlântico ao norte; os municípios de
Palhano, Russas e Morada Nova ao sul; os municípios de Aracati e Fortim a leste e Cascavel e
Ocara a oeste. Seu litoral possui 52 km de extensão sendo delimitado pela planície fluvio
marinha dos rios Choró, a oeste, e Piranji a leste.
Beberibe ocupa lugar de destaque no cenário estadual, o que proporciona uma
demanda de investimentos no setor turístico, pois o Estado do Ceará investiu fortemente na
infraestrutura turística durante a última década. Ele é um dos municípios mais visitados pelos
turistas que ingressam via Fortaleza, segundo os dados da Secretaria de Turismo do Ceará
(SETUR/CE, 2009), conforme o quadro 01.

Quadro 1:

Principais municípios visitados pelos turistas que ingressaram ao Ceará via Fortaleza: 2002/05
2002 2003 2004 2005 2002/2005

Municípios Turistas % Dias Turistas % Dias Turistas % Dias Turistas % Dias Turistas Média/Ano Dias Índice

1. Caucaia 122.084 7,49 2 ,1 142.087 9,16 1,4 230.817 13 2 284.637 14,5 1,9 779.625 194.906 1,9 6,453

2. Aracati 151.926 9,32 2 ,3 143.095 9,23 2 177.679 10 2,5 239.020 12,1 3 711.720 177.930 2,5 5,891

3. Beberibe 96.989 5,95 2 ,3 125.964 8,12 1,6 136.165 8 1,9 157.587 8 2,1 516.705 129.176 2 4, 277

Fonte: SETUR/CE 2009.

Em 2008 o município superou os índices anteriores conseguindo atingir a 2ª posição,


sendo visitado por 9,73% dos turistas que ingressam no estado via Fortaleza, perdendo apenas
para Caucaia que obteve 14,08% do percentual de demanda, segundo dados da SETUR/CE
(idem).
A construção de um novo moderno terminal de passageiros, com recursos do
Programa de Desenvolvimento das Ações Turísticas do Nordeste – PRODETUR, por
intermédio do Banco do Nordeste do Brasil S/A(BNB), com recursos do Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID), na capital do estado, faz parte dessa estratégia de
desenvolvimento do setor, conforme SETUR/CE (2006).
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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

A localização privilegiada do Estado do Ceará é associada à imagem de “um dos


pontos mais próximos da América do Norte e da Europa”, fato que provavelmente estimula o
incremento das atividades turísticas. Para Coriolano (2007b, p.20):

O turismo é considerado pelos governos um produto de exportação,


uma das principais mercadorias do comércio exterior. O interesse é na
geração de divisas, quanto aos problemas procura-se administrar ou se
omite, até negando sua existência.

As vias transporte intraestadual também entram no pacote de divulgação do turismo,


pois favorecem e possibilitam a circulação interna, sendo necessários para a circulação
estradas em boas condições e sinalização.
Nesse contexto pode-se perceber, conforme Rodrigues (1996, p.17) que “de forma
espontânea ou planejada o turismo está subordinado às políticas publicas, a iniciativa privada
ou à parceria de ambas”. Nos dizeres de Arilson (2008, p.88):

No Ceará, uma intensa valorização das zonas de praia ocorreu em


consonância com o início das políticas públicas voltadas para o
turismo no final dos anos 1980. Processo este também visível na
região Nordeste, quando o imaginário social que vinculava esta região
à seca, associa outros simulacros, lhe dando caráter de um paraíso
litorâneo e ensolarado.

Nesse víeis, o litoral representa, hoje, um dos importantes locais que desencadeia o
desenvolvimento da atividade turística, pela sua valorização e exposição. Uma vez que:

A apresentação do litoral pela mídia expõe a lógica de exploração que


situa as características naturais no centro da valorização do litoral. Um
litoral semi-árido cujas condições climáticas- a temperatura média e,
principalmente, a concentração de chuvas no tempo e no espaço-
permitem a exploração turística durante quase todo o ano. (DANTAS,
2002b, p.101)

Ainda nessa perspectiva cabe citar os aspectos físicos:

A zona litorânea do Ceará é principalmente baixa e arenosa. Dotada


de um clima tropical úmido com estação seca bem demarcada (e do
tipo semiárido na hinterlândia), ela é caracterizada pro condições
meteorológicas relativamente estáveis durante todo o ano, do que
resulta uma ausência relativa de tempestades e outros fenômenos
climáticos catastróficos. (CLAUDINO SALES & PEULVAST. 2006,
p.398)

Essa exposição e valorização fazem com que o litoral, que historicamente foi ocupado
para fins de proteção da costa brasileira, e posteriormente por comunidade de pescadores,
passe a ser visto com um lugar de habitação, de lazer e de veraneio. Tal fato faz com que o
valor real da terra na zona costeira seja elevado.
Em Morro Branco, principal praia do município de Beberibe, encontra-se diversas
formas de usos e ocupação. Na comunidade situa-se núcleos de pescadores, casas de
veraneios, pólos de artesanato, infraestrutura hoteleira, porto de jangadas, barracas, serviços -

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Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

bares e restaurantes - e a “Marina do Morro Branco”, que corresponde a um pólo de veraneio


com apartamentos, casas e equipamentos turístico.
Pode-se verificar que a supervalorização dos imóveis, o aumento do valor real da terra,
tem prejudicado os pescadores, pois muitas vezes eles são pressionados a vender suas casas, o
seu patrimônio e se afastam do local de onde retiram seu sustento - o mar. Além desse fator,
observa-se a ocorrência da modificação da cultura local, um exemplo salutar é a
transformação das atividades econômicas nas comunidades de pescadores, pois os filhos
destes, em sua grande maioria, não dão prosseguimento às atividades, passando a se inserir no
mercado trabalho proporcionado pelo turismo, fato que pode-se constatar embasado no
resultado de entrevistas informais realizadas com moradores de Morro Branco. Quando
questionados sobre qual atividade os seus filhos estão exercendo eles informaram que muitos
trabalham como garçons nos hotéis, pousadas e restaurante ou como guias turístico.
A beleza natural da praia, aliada ao marketing existente na área favorecem o
desenvolvimento do turismo. Morro Branco inclusive já foi cenário de filmes e novelas.
No tocante a infraestrutura turística da Praia de Morro Branco, esta é composta
principalmente por restaurantes, hotéis e pousadas. Vias de transporte, telefonia, saneamento
básico e energia elétrica fazem parte da infraestrutura e serviços disponíveis na praia que
provavelmente foram instalados em consonância ao desenvolvimento da atividade turística.
“Essa infra-estrutura mínima, garantida com o veraneio, é vislumbrada de forma positiva
pelas comunidades litorâneas, pois significa a chegada do progresso, o acesso ao emprego,
etc.” (DANTAS, 2002b. p.79).
A atividade turística, com sua capacidade ímpar para gerar empregos, tem-se
consolidado e espalha-se por todo o planeta numa velocidade jamais vista em outros setores,
representando um dos pilares econômicos dos países com potencial turístico. Tal atividade
tem possibilidades multiplicadoras na economia estadual, com reflexos positivos, uma vez
que vários setores são impactados direta e indiretamente, propiciando geração de renda e
empregos nos setores de alimentação, hospedagem, comércio, artesanato, confecções, bancos,
transportes, saúde e comunicações. Ocorre então uma promoção e expansão de infraestrutura
básica de bens e serviços e, conseqüentemente, o aumento do fluxo, a qualificação do produto
e a conquista de novos mercados.
Na comunidade de Morro Branco está situado o Monumento Natural das Falésias, que
forma um labirinto com areias coloridas. “Falésias são feições típicas do litoral, formadas pela
ação erosiva das ondas sobre formações geologias com níveis topográficos mais elevados que
as praias atuais, e que recuam formando escarpas”. (SEMACE, 2005, p. 67). Elas são
formadas por sedimentos da Formação Barreiras que se transformam em verdadeiras
esculturas, façanha realizada através do trabalho erosivo das águas, que formam cavernas e
labirintos. Este é um dos locais mais visitados pelos turistas e visitantes, de acordo com os
moradores e os guias. O monumento é uma unidade de conservação, sendo área de proteção
integral, criada através do ecreto N° 27.461, de 4 de junho de 2004.
No local existem registros de pichações nos paredões das falésias, mas no momento
ocorre um trabalho de conscientização realizado pelos guias que procuram orientar os turistas,
sobre a importância da preservação da área, onde é possível observar a existência de algumas
placas que proíbem a retirada de areia colorida das falésias e a inscrição de nomes nos
paredões. Na área existem algumas barracas onde são vendidas garrafas que trazem paisagens
feitas com as areias coloridas, produzidas pelos artesãos locais.
Em relação à ocupação da praia de Morro Branco, esta tem causado uma série de
impactos ambientais. De acordo com Coriolano (2001, p. 95), “foram feitos desmontes de
falésias e terraplanagem de morros, acidentes geográficos que serviam de guia aos pescadores
que voltavam desorientados de alto mar, por não possuírem bússolas”.
Ross (1996, p.14/15) nos explica que:

539
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Como toda causa tem seu efeito correspondente, tudo que o homem
extrai da natureza tem certamente também seus malefícios. Desse
modo, parte-se do princípio de que toda ação humana no ambiente
natural ou alterado causa algum impacto em diferentes níveis,
gerando alterações com graus de agressão, levando às vezes as
condições ambientais a processos até mesmo irreversíveis. (ROSS,
1996, p.14/15).

A ação dos proprietários e administradores, edificando indiscriminadamente muros de


arrimo, para a proteção de suas residências e equipamentos públicos, indicou o progresso da
erosão e a necessidade de obras de engenharia adequadas para estas áreas já intensamente
antropizadas. As intervenções na zona de praia, continuamente submetida ao ataque das
ondas, necessitam de estudos detalhados, envolvendo metodologias quantitativas
(tecnológicas) para a composição de prognósticos relacionados com a evolução da erosão,
transporte de sedimentos, dinâmica dos perfis de praia, ação das ondas e interferências das
ações do homem, conforme Meireles (1999).
No entanto, segundo Vasconcelos (2008, p.361) explica que:

A constituição Brasileira, no seu Artigo 225, obriga o poder público


que antes da implantação de implantação de empreendimentos ou
obras que possam causar impactos ou ainda atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, exija estudo
prévio de Impacto Ambiental (EIA) para coletar informações
necessárias para avaliar os futuros impactos ambientais causados pelo
empreendimento.

Na pós - praia é possível verificar a ocorrência de erosão, que inclusive tem destruído
algumas construções e tem forçado as barracas a se afastarem do mar. No entanto, para
Meireles (idem) o fenômeno de erosão torna-se um problema para o homem quando este
constrói algum tipo de referencial fixo (estrada, prédio ou outro tipo de construção
permanente) que se introduz na trajetória de recuo da linha de costa. Deste modo os
problemas de erosão, conforme apontado por vários autores, são causados pela própria
comunidade.
Em Morro Branco verifica-se a existência de alguns resorts. Estes têm entrado em
conflito com os interesses da população, pois dentro deles os turistas podem consumir, se
divertir, não deixando retorno para a comunidade. “O litoral é um espaço disputado, pois para
ele convergem usos e atividades econômicas diferenciados, sendo uma das mais dinâmicas do
turismo.” (CORIOLANO, 2007b, p.29)
No que se refere aos impactos ambientais e culturais relacionados ao desenvolvimento
do turismo, pode-se de acordo com Dias (2003), constatar que eles surgem quando no
desenvolvimento da estrutura para o turismo, em um incorreto manejo dos resíduos gerados
pela atividade, nas cicatrizes na paisagem gerada pelo crescimento da infraestrutura nas áreas
naturais e pelo volume de visitantes que afeta os ecossistemas frágeis.

As paisagens litorâneas naturais que levaram tão longo intervalo de


tempo para serem formadas e voluirem em condições de equilíbrio
dinâmico se encontram atualmente em vias de degradação, cedendo
espaço a toda sorte de construções- edificações, estradas,

540
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

equipamentos urbanos e turísticos. (CLAUDINO SALES &


PEULVAST. 2006, p.404)

Impacto ambiental pode ser definido, segundo o CONAMA (23/1/86) como qualquer
alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causadas por
qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas [...], que afetam: 1- a
saúde, a segurança e o bem - estar da população; 2 - as atividades sociais e econômicas; 3 - a
biota; 4 - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; 5 - a qualidade dos recursos
ambientais, (FRANCO,2001).
Para que haja sucesso na atividade turística de acordo com Rodrigues (1996) deve
haver inicialmente uma preocupação com a condição básica e inerente ao turismo, ou seja, a
satisfação das necessidades dos turistas que, em princípio, deve ser um consumidor generoso
e prazeroso. Em seguida deve-se pensar nos custos e benefícios que o turismo traz à
população residente, ou seja, seus impactos econômicos, sociais, políticos e culturais.
Posteriormente é necessário cuidar da preservação do patrimônio cultural e ambiental, sem o
qual o turismo corre o risco de autodestruir-se.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Atualmente as atividades econômicas desenvolvidas mediante a prática do turismo


desempenham papel fundamental na economia dos países de economia periférica,
notadamente os do mundo tropical, cujas paisagens diversificadas, de raras belezas cênicas,
aliadas a um clima de poucas mudanças sazonais, permitem um fluxo contínuo durante o ano.
A prática do turismo no Estado do Ceará é vista como um importante fator de
valorização econômica, mas que traz na maioria das vezes junto com o desenvolvimento a
degradação ambiental. A ocupação das zonas costeiras pode conduzir inúmeros impactos
negativos, que se tornam preocupantes na medida em que desestabilizam ecossistemas e
interferem negativamente nas condições de vida dos moradores das comunidades locais.
As dunas e falésias são merecedores de atenção especial, consideram-se os impactos
que elas vêm sofrendo, causados, principalmente pela especulação imobiliária, com a
implantação de loteamentos para construção das segundas residências, que caracterizam as
praias do Ceará. A implantação de complexos turísticos de grande porte, sobre o sistema de
dunas, vem contribuindo para intensificar os processos de degradação do relevo e poluição
dos aquíferos, conforme dados da SEMACE, (2004).
Atualmente existe um controle, através da fiscalização, licenciamento e
monitoramento ambiental, na ocupação do litoral. A educação ambiental, assim como o
desenvolvimento de projetos voltados para o ordenamento do uso e ocupação da faixa costeira
e da criação de unidades de conservação são fatores que também contribuem para apropriação
mais sustentável do espaço litorâneo.
O crescimento da população implica inevitavelmente, na ocupação de terras e na
necessidade de criar condições de sobrevivência. Nesse contexto, a utilização racional dos
recursos naturais torna-se fundamental para que estes sejam conservados. Os esforços de
perceber e entender os problemas ambientais fizeram com que o homem também entendesse
que o tipo de relacionamento entre ele e a natureza é o que determina os problemas
ambientais, desde então se tem buscado o desenvolvimento sustentável. “Desenvolvimento
sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade
das gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades” (COMISSÃO MUNDIAL
SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1991, p.13).

541
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

Desse modo, pode-se constatar que a Praia do Morro Branco necessita de medidas
urgentes de proteção, pois a forma que está se processando a sua ocupação tem degradando o
patrimônio natural e modificado a cultura e a economia do lugar.
Há a necessidade de uma maior atenção dos gestores públicos no sentido de controlar
e gerenciar a demanda turística, além de analisar as vantagens da atividade, não apenas sob a
ótica do aspecto econômico, mas sobretudo na visão dos moradores, que são os que convivem
diariamente com transformação dos usos e ocupação do lugar. Entretanto, para que os
moradores sejam capazes de discernir os benefícios e malefícios vinculados ao uso e
ocupação, bem como discutir a relevância da atividade turística para desenvolvimento do seu
lugar, investir na educação da população local é o ponto culminante para o sucesso da
atividade.
Segundo Silva (2007), o desenvolvimento do turismo se apóia na existência e presença
de atrativos naturais e culturais que compõem o conjunto paisagístico das regiões geográficas
de destino turístico. O turismo deve, então, utilizar esses atrativos de forma conservacionista,
visando a sustentabilidade, pois ele depende diretamente da existência desses recursos para o
seu pleno e ótimo desenvolvimento.

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544
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

DIAGNÓSTICO DOS RECURSOS HÍDRICOS DO MUNICÍPIO DO CRATO – CE

Ana Cristina Torres Arraes


Universidade Regional do Cariri – URCA
Elvira Batista da Silva
Universidade Regional do Cariri – URCA
Edson Vicente da Silva
Universidade Federal do Ceará - UFC

INTRODUÇÃO
A interação do ser humano com a natureza vem se intensificando cada vez mais nos
últimos anos, acontecendo através da exploração predatória dos recursos naturais, onde essas
atividades causam uma série de impactos ambientais, afetando de forma direta ou indireta, na
qualidade de vida da população e do meio ambiente.
O estudo busca mostrar o problema da gestão e utilização dos recursos hídricos e
impactos ambientais ocorrentes na área da Fonte Batateiras, localizada no sítio Luanda, no
município do Crato, onde estes impactos vem ocorrendo devido ao crescente índice de
ocupação desordenada na encosta, através da expansão imobiliária que acontece sem nenhum
planejamento e a interferência dos órgãos responsáveis, ocorrendo desmatamentos e
queimadas, para agricultura, construções de residências, áreas de lazer, barramento das águas,
etc, e despejo de esgoto e lixo, alterando o meio ambiente e causando graves conseqüências
para a população, principalmente as que se encontrão próximas a esta área.
A realização do presente estudo torna-se importante, pois fornece informações aos
profissionais e aos estudiosos sobre a degradação ambiental e evolução histórica da gestão das
águas, que vem ocorrendo na Fonte Batateiras, já que esta é de extrema importância devido
possuir uma das maiores vazões registrada na Chapada do Araripe, sendo necessário um
conhecimento do quadro ambiental para uma recuperação total desta área.

PROCEDIMENTOS TÉCNICOS METODOLÓGICOS


Este trabalho de pesquisa procurou seguir um conjunto detalhado e seqüencial de
métodos a serem executados ao longo da pesquisa, de tal modo que se consiga atingir os
objetivos inicialmente propostos e, ao mesmo tempo, utilizar procedimentos que garantam
maior eficácia e mais confiabilidade das informações.
Inicialmente, fez-se um levantamento teórico e bibliográfico sobre o tema a ser
desenvolvido, no sentido de ampliar o conhecimento e adquirir subsídios para a pesquisa e
comprovação dos fatos evidenciados.
Posteriormente foi realizada uma aprofundada revisão bibliográfica sobre as condições
geoambientais da Região do Cariri (geologia, geomorfologia, clima, hidrografia, vegetação),
um breve histórico do município do Crato e dos seus aspectos demográficos e
socioeconômicos, sendo estes últimos fundamentados no censo do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) e no Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará
(IPECE), tendo em vista que estes órgãos são componentes indispensáveis para uma
abordagem completa.
Foi realizado um estudo de campo, com a finalidade de compreender os problemas
ambientais do local, através da observação, registros fotográficos, e entrevistas, para se ter
uma visão de como se encontrava o nível de interesse dos moradores com a conservação da
área e utilização das águas da Fonte Batateiras.
O levantamento cartográfico, utilizou-se do mapa do município do Crato-Ce, retirado do
IPECE; mapas representando a Geomorfologia e hidrografia da Região do Cariri, bacia

545
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

hidrográfica do rio Salgado desaguando no rio Jaguaribe, escala: 1:800.000; e imagem de


Satélite da Bacia Hidrográfica do rio Batateiras, retirada do Google earth.

CARACTERIZAÇÃO DA CIDADE DO CRATO

LOCALIZAÇÃO DA ÁREA
O município de Crato situa-se na Zona Fisiográfica do Cariri, localizada no extremo Sul
do Ceará como pode ser observada na (Ver figura 01). Este município encontra-se inserido na
Bacia Sedimentar da Chapada do Araripe, limita-se ao Norte com os municípios de Caririaçu
e Farias Brito e ao Sul com o estado de Pernambuco, e o município de Barbalha, ao Leste com
os municípios de Barbalha, Juazeiro do Norte e Caririaçu, e ao Oeste com os municípios de
Nova Olinda, Santana do Cariri e o estado de Pernambuco. Possuindo as seguintes
coordenadas geográficas: 7º 14’03” de latitude Sul e 39º 24’34” de longitude (W.Gr).

39º30’

7º15’

FIGURA 01 – Mapa Básico do Estado do Ceará e da cidade do Crato.


Fonte: IPECE, 2007. Adaptado por (ARRAES, 2008).

Sua área municipal é de 1.009 km², representando 0.6781% do estado, 0.0649%


da Região Nordeste e 0.0119% de todo território brasileiro. Distancia-se da capital do Estado,
em linha reta, 400 Km, e pela rodovia (BR 116) 402.3737 km, e está a uma altitude de 426m
acima do nível do mar.

CONDIÇÕES GEOAMBIENTAIS
As informações dos itens a seguir são referentes a todo o Cariri, sendo retirado do
relatório da fase I do Projeto Avaliação Hidrogeológica da bacia Sedimentar do Araripe,
consoante com o Projeto da Avaliação das Bacias Sedimentares Interiores do Nordeste, que
por sua vez é parte integrante do Programa Nacional de Estudos dos Distritos Mineiros.

546
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

GEOLOGIA
Instalada na Província Borborema, dentro da área de domínio do “Sistema de
Dobramento Piancó Brígida” (Brito Neves, 1975). É uma bacia de evolução policíclica, onde
estão definidas quatro sequências tectonica-sedimentares: a Sequência Gama, Pré-rifte, Rifte e
Pós-Rifte. Estruturalmente, o segmento Mesozóico da bacia é formado por dois
compartimentos estruturais superpostos: o inferior, corresponde às bacias do tipo rifte, e o
superior, que corresponde à cobertura tabular Meso-Cretácea, que recobre aquelas bacias rifte.
ESTRATIGRAFIA
A estratigrafia da Bacia do Araripe é distinguida em duas concepções: o da
estratigrafia genética e o da litoestratigrafia formal.
Na estratigrafia genética são identificadas quatro sequências tectono-sedimentares: Seqüência
Gama, Seqüência Pré-Rifte, Seqüência Rifte, Seqüência Pós-Rifte. Na litoestratigrafia formal
são identificadas as seguintes unidades: Formação Mauriti, Formação Brejo Santo, Formação
Missão Velha, Formação Abaiara, Formação Rio Batateira, Formação Santana, Formação
Arajara, Formação Exú, Depósitos Cenozóicos

GEOMORFOLOGIA
Podem ser reconhecidas três zonas distintas: Zona de Chapada, Zona de Talude e
Zona de Pediplano, cada uma delas com características próprias, nos aspectos litologia,
relevo, clima, hidrografia e vegetação, que serão descritas adiante, podendo ser vista na região
norte oriental da bacia sedimentar.Compreende o Vale do Cariri, o qual inclui os municípios
de Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão Velha, Abaiara, Milagres, Mauriti, Jardim,
Porteiras e Brejo Santo, todos no Estado do Ceará.
CLIMA
A região da Chapada do Araripe, por estar localizada na área fisiográfica do sertão,
possui um clima semi-árido, caracterizado apenas por duas estação bem distintas, uma
chuvosa no verão e outra seca, caracterizada por ser quente e úmida com chuvas máximas no
outono.
Quanto às precipitações, se comporta no setor norte-oriental, onde está localizado o
Cariri cearense, marcado por precipitações mais acentuadas, (territórios dos municípios de
Santana do Cariri, Crato, Barbalha, Juazeiro do Norte, Missão Velha e Milagres, no Ceará)
variam entre 950 a 1.100 mm.
Outros indicadores que caracterizam bem a região são: temperatura, com médias anuais,
ficando entre 21º e 26ºc, com mínima no inverno (julho) e entre 21º e 23ºc, e máxima no
verão (janeiro) entre 25º e 27ºc; umidade relativa do ar, com média anual de 63,6% na estação
de Barbalha; ventos, variando entre 0,93 m/s em dezembro a 1,33 m/s em julho, medidos na
estação climatológica de Araripina; evaporação, atingindo ao ano, o valor de 2.888,6 mm, na
estação de Barbalha; evapotranspiração, apresentou para região oeste, uma média anual de
1.387 mm, e na região ocidental, os valores médios anuais de ETP variam entre 1.300 e 1.400
mm.
HIDROGRAFIA
A drenagem superficial é representada pelos altos cursos da Bacia do Jaguaribe e do rio
Salgado, no estado do Ceará, do Brígida e Garças, em Pernambuco, e do Poti, no Piauí, sendo
a chapada, portanto, um divisor de águas regional.
O rio Jaguaribe é formado no seu alto curso pelos rios Bastiões, que vem de Araripe,
Cariús, que nasce em Santana do Cariri, e Salgado, que drena toda a Região do Cariri
cearense. O rio Salgado que drena toda a Região do Cariri, por sua vez, recebe contribuição

547
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

dos riachos Batateiras, Granjeiro e Carás, vindos de Crato e Juazeiro do Norte, Salamanca, em
Barbalha, Seco, em Missão Velha, e do riacho dos Porcos, que drena os municípios de
Milagres, Mauriti, Brejo Santo, Porteiras e Jati.
O rio Batateiras junto ao Granjeiro, na estação fluviométrica de Carité, possui uma
descarga média de 40x106 m3/ano. Enquanto isso, o riacho Seco que complementa a
drenagem da região, apresenta uma descarga avaliada em torno de 8x106 m3/ano.
Na região oriental, o riacho dos Porcos, despeja no rio Salgado cerca de 85x106 m3/ano,
todavia nessa bacia a contribuição é quase totalmente de águas pluviais, pois praticamente não
existem fontes dos arenitos superiores e a vazão de escoamento dos aqüíferos é muito
reduzida.
As informações dos próximos itens foram retiradas do Relatório da Chapada do Araripe,
feito pela Fundação de Desenvolvimento Tecnológico do Cariri (FUNDETEC), com parceria
da Universidade Regional do Cariri (URCA) e Ministério do Meio Ambiente (MMA, 1999)
com adaptações da autora deste trabalho.
VEGETAÇÃO
No Nordeste brasileiro, como em outras áreas da zona semi-árida, a intensidade e o
ritmo das precipitações, assim como as altas temperaturas, comandam a evolução da
paisagem. Tais elementos climáticos são de importância básica para a distribuição dos seres
vivos no globo terrestre.
As Unidades Fitoecológicas da Bioregião da Bacia Sedimentar do Araripe, são:

1. Floresta Subperenifólia Tropical Pluvio-Nebular (Matas Úmidas Serranas).


2. Floresta Subcaducifólia Tropical Pluvial (Matas Secas).
3. Floresta Subcaducifólia Tropical Xeromorfa (Cerradão).
4. Floresta Caducifólia Espinhosa (Caatinga Arbórea).
5. Floresta Ribeirinha.
6. Carrasco.
7. Cerrado.

Esta classificação usada para os tipos vegetacionais da bioregião contempla, por um


lado, a classificação fitogeográfica para o Brasil, que bem se aplica à nossa cobertura vegetal
e, por outro lado, utiliza a nomenclatura popular, identificando fitocenoses diferentes que a
ciência ainda não nomeou. Assim ocorre com o Carrasco.
Na classificação fitoecológica da Chapada, o Cerradão encontra-se como Ecotono –
Contato Savana - Floresta Estacional para a área relativa ao Cerradão e ao Cerrado, e o
Carrasco como Estepe Arbórea Densa sem Palmeira. Esta classificação tenta colocar em um
sistema internacional a vegetação brasileira, mas em alguns casos é preferível usar a
classificação mais conhecida regionalmente.
RECURSOS HÍDRICOS NO CARIRI: BACIA DO SALGADO
A Região do Cariri possui um relevante potencial hídrico, tanto em águas
superficiais, como subterrâneas, sendo estas últimas as mais importantes no desenvolvimento
da região, diferenciando-se de outras regiões do estado (Brito, 2001).
O Cariri é formado pelas sub-bacias do Alto Jaguaribe e do Salgado. A bacia do
Salgado, sub-bacia do Rio Jaguaribe, possui uma área de drenagem de 12.865 Km², sendo o
seu principal rio o Salgado, que vai drenar toda a região do Cariri Cearense. Esta bacia é
composta por 23 municípios que ocupam uma área de 13.275 Km². Desenvolve no sentido
sul-norte até encontrar o rio Jaguaribe a jusante do açude Orós. Sendo os seus principais

548
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

afluentes o riacho dos Porcos e Batateira, que nascem na Chapada do Araripe. (Veja figura
02)

FIGURA 02 – Rio Salgado desaguando no rio Jaguaribe, a jusante do açude Orós.


Fonte: COGERH, (apud BRITO, 2001).

Este recurso hídrico superficial, também possui relevância para a Região do Cariri.
Apesar de apresentar a mesma problemática do semi-árido nordestino, com a intermitência de
seus rios e altas taxas de evaporização, comprometendo assim o aproveitamento das águas
superficiais dos rios e riachos, ameniza-se esta situação com a construção de vários açudes
públicos na Bacia do Salgado, para o acúmulo de água nos períodos de estiagens, sob a
responsabilidade do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS).
Esses açudes são de grande importância para o desenvolvimento econômico do Cariri,
uma vez que são utilizados para o abastecimento de algumas cidades e irrigação de culturas
diversas da região.
Os aqüíferos subterrâneos também constituem numa fonte de abastecimento público e
privado, assim como para a população urbana e rural de alguns municípios, quanto para
projetos de irrigação na região.
O Cariri, inserido na bacia do rio Salgado, tem predominância de rochas sedimentares
com excelentes condições de armazenamento de água, onde estas condições ocorrem devido a
Bacia Sedimentar do Araripe, apresentar em sua estrutura litológica seqüências alternadas de
arenitos, siltitos, calcários, argilitos e folhelhos, podendo alcançar uma espessura total de
ordem de 1.600m.
A Bacia Sedimentar do Araripe é composta pelas seguintes unidades aqüíferas: (I)
Sistema Superior (Formações Exu e Arajara)- 320m de espessura; (II) Aquiclude Santana –
180m de espessura; (III) Sistema Aqüífero Médio (formações Rio da Batateira, Abaiara e
Missão Velha) – 500m de espessura; (V) Sistema Aqüífero Inferior (Formação Mauriti e parte
basal da formação Brejo Santo) – com 60 a 100m de espessura.
Na Formação Missão Velha e Mauriti, as águas são armazenadas em grandes
profundidades, o aqüífero da Formação Exu, é caracterizado como aqüífero de transferência e

549
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

como a principal área de recarga da região. É nesta formação geológica, que ocorre ao longo
do contato com a Formação Arajara surgem as fontes naturais. (Veja tabela 01)
TABELA 01 – Distribuição das fontes na Bacia Hidrográfica do rio Salgado.

Fonte: MONT’ALVERN, (apud BRITO, 2001).

CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO


BATATEIRAS
De acordo com Júnior (2008), a Bacia Hidrográfica do rio Batateiras localiza-se no
município do Crato, na região do Cariri, sul do Estado do Ceará, fazendo parte da Bacia
Sedimentar do Araripe. Além do Rio Batateiras, os rios Granjeiro e Saco/Lobo são tributários
do rio Salgado, integrante da Bacia Hidrográfica do Rio Jaguaribe.
A figura a seguir mostra os divisores de águas das micro-bacias do rio Batateiras, rio
Granjeiro e a do rio Saco/Lobo.

FIGURA 03: Delimitação das sub-bacias dos rios Batateiras, Granjeiro e Saco/Lobo.
Fonte: Neto, (2006 apud JÚNIOR, 2008).

A bacia do rio Batateiras apresenta basicamente dois tipos de solos, que são: o
Podzólico Vermelho Amarelo e os solos aluviais, esses são características em todas as partes
sopedânea da Chapada do Araripe e originária do período Mesozóico da era quartenária.

550
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

A formação florestal da bacia hidrográfica é classificada, na chapada e áreas de encostas


como floresta subcaducifólia tropical pluvial, floresta subperenifólia tropical pluvio-nebular e
floresta subcaducifólia tropical; na depressão sertaneja como carrasco e floresta caducifólia
espinhosa, (IPECE, 2006).
A precipitação média anual é de aproximadamente 1.090 mm, com período
chuvoso de fevereiro a maio, é nestes meses, que a água escoa superficialmente no leito do
Rio Batateiras e vai alimentar o Rio Salgado, afluente do Rio Jaguaribe.
A área de drenagem do curso d’água da sub-bacia do Rio Batateiras corresponde a 45,609
Km², e o seu comprimento total é de 39,560 Km (NETO in JÚNIOR, 2008).
A FONTE BATATEIRAS
A Fonte da Batateiras nasce no sopé da Chapada do Araripe, na cidade do Crato-Ce,
localizada no sítio Luanda e tem como coordenadas geográficas 7º15’11”S e 39º28’21”W. Ela
surge no encontro das formações Exu e Arajara, a uma altitude de 715m.(Figura 04).

FIGURA 04 – Fonte Batateiras, na Chapada do Araripe.


Fonte: ARRAES, 2008
De acordo com a Tabela 02, a Fonte Batateiras é a que possui maior vazão (250 m³/h).
Pode-se perceber que esta vazão vem tendo uma significativa redução, desde de 1854.
TABELA 02 – Vazão da Fonte Batateiras
Ano Vazão m³/h
1854 1490,0
1920 1296,0
1980 518,0
1993 376,0
2003 250,0
Fonte: COGERH, (apud JÚNIOR, 2008).

Segundo Brito(2001), em 1939, quando sua descarga era maior, foi instalada uma
hidrelétrica, atendendo à cidade de Crato, sendo operada até a chegada da energia de Paulo
Afonso, em 1962. Essa pequena hidrelétrica se constituiu na segunda instalada no Nordeste.

Os primeiros habitantes dessa região, os índios cariris tinham um culto as águas das
fontes da Chapada do Araripe, onde para eles debaixo da terra de todo o vale do Cariri era
como um mar, onde dormia a Serpente d’Água cujo imenso caudal era represado pela “Pedra

551
Gestão dos Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental, 2010.

da Batateiras”, sendo assim, devido ao massacre e extermínio dessa cultura pelos


colonizadores, os índios procuraram manter a resistência nesta lenda, onde os pajés Cariris
profetizavam que a “Pedra da Batateiras” iria rolar, e todo o vale seria inundado e as águas em
fúria, devorariam os homens maus que tinham roubado a terra e escravizado os índios.
Quando as águas baixassem, a terra voltaria a ser fértil e livre e os Cariris voltariam para
repovoar o “Paraíso”.
No inicio do século XIX, em 1854, devido ao grande potencial hídrico da Fonte
Batateiras, o uso de suas águas foram motivos de conflitos, sendo este problema solucionado
com o sistema de divisão das águas entre 14 sítios, através da Lei nº 645 de 17 de janeiro de
1854, juntamente com o Auto de Partilha.

IMPACTOS AMBIENTAIS
A OCUPAÇÃO DESORDENADA DA ENCOSTA
O crescimento populacional do município do Crato apresentou um aumento
significativo entre os anos de 1950 com 46.408 habitantes para 104.646 habitantes em 2000,
segundo dados do IBGE, sendo este crescimento mais intenso na área urbana, fato este de
característica mundial. Este fenômeno causa a expansão urbana para as áreas afastadas das
cidades. Sendo assim a questão da ocupação da área de encosta na Chapada, resultou tanto da
questão do crescimento urbano como da expansão imobiliária, que visam o fator paisagístico
e seus recursos hídricos.
Este município é privilegiado por se localizar na Chapada do Araripe com suas
respectivas nascentes, dentre essas, podemos destacar a Batateiras, que se encontra na linha
das fontes, que com a expansão imobiliária durante os últimos anos, tem tido a ocupação de
edificações na sua área.
De acordo com Silva (2006), as encostas sofrem bastante com a exploração dos recursos
naturais e com as várias formas de uso que os seres humanos têm dado a elas. Os solos, que
são a parte mais externa do relevo, acumulam toda a sorte de danos, em função de não levar
em conta, na maioria das vezes, os riscos associados à sua utilização, o que se torna crítico,
por exemplo, nas relações entre as encostas e as calhas fluviais.
Esses processos de degradação, gerados pela falta de planejamento urbano na encosta,
desconsidera as características naturais, desprovidos de infra-estrutura, acarretam profundos
danos ambientais a encosta da Chapada, já que prejudica as nascentes e seus percursos
d’água, além da flora, com sua vegetação sendo substituída por sistemas agropastoris e
edificações, e da fauna que vem sofrendo a extinção de algumas espécies, que perdem o seu
habitat.
Entretanto essas ocupações, além das formas desiguais de apropriação do espaço e da
natureza, causam problemas de ordem ambiental, tais como a destruição e queimadas das
matas ciliares que causam a diminuição da infiltração, aumentando, assim, o escoamento
superficial. Sendo assim, a degradação que ocorre na encosta, acaba se refletindo sobre os
rios, podendo causar o assoreamento, diminuindo a quantidade e a qualidade de suas águas.
Estes problemas, além de afetarem as áreas da encosta, se refletem nos fundos de vales
onde geralmente se encontram as cidade, devido o problema do escoamento superficial das
águas atingirem maior velocidade, resultante da remoção da mata ciliar das margens dos rios
que já ocorrem desde a encosta, agravando-se ao chegar no fundo de vales, que é totalmente
desprovido de vegetação, em conseqüência da ocupação antrópica, tendo como resultados
enchentes e inundações na área urbana.
Nesse sentido, a degradação que ocorre na encosta, devido a sua ocupação sem nenhum
planejamento urbano, acarreta profundas modificações em seu ambiente, interferindo no ciclo
natural das espécies faunísticas e floristica, assim como no ciclo hidrológico, o que vem a

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refletir no espaço e conseqüentemente na qualidade de vida dos seres humanos, que


paradoxalmente são os responsáveis pela destruição destes recursos.

DESMATAMENTO DAS MATAS CILIARES


É inegável que as matas ciliares vem sofrendo uma perda irreparável nos últimos anos,
em conseqüência da exploração cada vez maior das florestas para agricultura, pecuária,
loteamentos e construção de hidrelétricas, chegando em muitos casos na ausência da mata
ciliar. Elas são de fundamental importância para a manutenção da fauna, e proteção dos
mananciais, uma vez que controlam o escoamento superficial, protegendo o solo da erosão, e
dos assoreamentos.
A mata ciliar é a vegetação localizada nas margens dos rios, córregos, lagos, represas e
nascentes. Considerada pelo código ambiental como uma área de preservação permanente,
que segundo o Código Florestal (Lei n° 4.771/65) deve-se manter preservada, e caso esteja
degradada deve haver a imediata recuperação. De acordo com o artigo 2º desta lei, a largura
da faixa de mata a ser preservada está relacionada com a largura do curso d’água, no caso das
áreas de nascentes, as matas ciliares teriam que esta num raio mínimo de 50 (cinqüenta)
metros de largura, ou seja, ao redor de toda sua área, o que não ocorre na área de estudo,
estando estas matas degradadas, indo se localizar poucos metros depois da fonte.
Na área da nascente, ainda pode-se perceber as espécies de floresta nativa (Ver
figura 05), entretanto esta floresta vem sendo substituída por espécies exóticas (mangueiras e
bananeiras) devendo-se tomar cuidados, uma vez que estas espécies podem se espalhar
incontrolavelmente, competindo com as espécies nativas. Além disso, pode-se perceber,
construções civis, sendo estas ações antrópicas uma das causas da descaracterização e
degradação da área da Nascente Batateiras.

FIGURA 05 – Mata
Ciliar na Fonte
Batateiras.
Fonte: ARRAES, 2008.

Com a retirada da mata ciliar, acima da área da Nascente, pode-se identificar a utilização
de cercas para contenção de uma possível erosão. Segundo moradores, essas cercas foram
colocadas pelo IBAMA, para proteger a fonte, já que, fica há poucos metros acima da sua
área.
Dentre os impactos ocorrentes na área de estudo, no caso, a Nascente Batateiras,
podemos perceber a presença de lixo, tubulações com diversos diâmetros captando água

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direto da Fonte para a população próxima a sua área e para o abastecimento da cidade, além
de indício de fogo e depredação de árvores, impactos esses, causados pela atividade humanas.
As queimadas são um fator preocupante, já que, a sua prática destrói toda a vegetação,
acabando com os nutrientes, o que prejudica a fertilização dos solos, favorecendo a erosão,
facilitando assim o assoreamento dos rios.
Uma das conseqüências desses impactos, é o desaparecimento de espécies da fauna e da
flora, uma vez que, as espécies da fauna tem nas matas ciliares das fontes, um habitat
preferencial, para cumprir as etapas de seus ciclos vitais. Uma das espécies mais ameaçadas
de extinção é o pássaro, pertencente à família Pipridae (Sensu Prum 1992), nomeado
cientificamente como Antilophia bokermanni, conhecido popularmente, como soldadinho-do-
araripe (JÙNIOR, 2008).
Diante da degradação de uma parte das matas ciliares, nesta área, podemos afirmar que é
importante que haja uma iniciativa tanto por parte do poder público, como pela população,
principalmente os que moram perto da área, para sua preservação, já que, ainda encontra-se
sem nenhuma iniciativa para recuperação de seu ambiente natural. Apesar de atualmente esta
área contar com a fiscalização de uma guarda municipal, só esta medida não é suficiente para
sua proteção e conservação.

EROSÃO E LIXIVIAÇÃO
Na área de estudo, além dos impactos já apresentados, foi detectado no entorno da
Fonte, o processo de erosão e lixiviação, devido a declividade acentuada, conseqüentemente
os nutrientes do solo são carregados facilmente.
Erosão superficial ou erosão do solo é a remoção das camadas superficiais do solo pelas
ações do vento e da água, sendo esses agentes os responsáveis pelo processo de destacamento
e transporte de partículas. A erosão é iniciada por forças de arrasto, de impacto ou de tração
agindo em partículas individuais da superfície do solo (ARAÚJO et al, 2005).
Para Guerra & Cunha in Brito (2003), o aumento ou a diminuição desses processos
podem ocorrer de duas formas: natural ou por interferência antrópica, conseqüentemente
promoverá o aumento ou diminuição da erosão ou a deposição, mantendo ou modificando as
formas de relevo resultando geralmente em causa ou efeitos da instabilidade ambiental.
Um dos processos morfodinâmicos presentes na área de estudo, é o movimento de
massa, que é basicamente influenciado pela morfologia da vertente. O tipo de movimento
ocorrente é o de rastejamento ou creep, que devido a área possuir uma alta declividade, a
força gravitacional vai influenciar no movimento de alguns centímetros por ano, afetando
apenas a parte superficial.
A lavagem de sedimentos e elementos nutritivos do solo ocorre com as chuvas que
acontecem na vertente de cima para baixo, carregando apenas sua parte superficial, ocorrendo
o processo de lixiviação, já que ocorre devido a declividade da encosta, sendo este um
processo natural.
Esse processo não causa efeitos negativos devido ser pouca a quantidade de sedimentos
carregados, sendo depositados em outro local, podendo assim conservar os nutrientes
encontrados no solo, já que é um processo natural e não impactante.
Em área próxima a nascente, pode-se perceber a erosão causada pela interferência
antrópica, com a agricultura de subsistência (Ver figura 27), já que esta atividade agrícola na
área ainda utiliza práticas tradicionais com o desmatamento, uso indiscriminado de
queimadas, que empobrece o solo, e a irrigação inadequada.
A cobertura vegetal é de fato, fundamental para a proteção do solo, pois as áreas com
vegetação possuem maior capacidade de infiltração, retardando o escoamento superficial,
diminuindo as taxas de erosão, uma vez que ocorre o desmatamento, inicia-se este processo.

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As queimadas, que em sua maioria são causadas pelas atividades agrícolas, é outro
impacto ocorrente na área, sua prática acaba com os nutrientes e com os minúsculos seres
(decompositores), que atuam na decomposição dos restos de animais e plantas, destruindo a
fertilidade do solo, o que faz com que os agricultores abandonem esta área e partam para
outra, iniciando o mesmo processo de degradação.
Esta degradação do solo é preocupante, devido a sua formação ser lenta, uma vez
destruído, demanda de maior tempo para se refazer, sendo preciso a aplicação de manejos
para sua recuperação, pois o solo é essencial para o desenvolvimento da biosfera.
A utilização da irrigação inadequada prejudica o solo, uma vez que esta prática é feita
por inundação, com um tempo destrói a fertilidade do solo, devido ao efeito da salinização e
do encharcamento dos solos, já que influi diretamente no metabolismo das plantas, e ainda
reduz a permeabilidade do solo, prejudicando o aproveitamento do solo.
Com estes problemas encontrados nos solos, devido desmatamento, queimadas, e uso
inadequado da irrigação, causados principalmente pela agricultura de subsistência, torna-se
necessário a conscientização dos produtores rurais, para utilizar métodos de agricultura
viáveis, conservando os recursos naturais.
POLUIÇÃO E DESPERDÍCIO DAS ÁGUA
O crescimento urbano desordenado, a impermeabilização do solo, a ocupação sem infra-
estrutura de saneamento em áreas de mananciais têm produzido um quadro de extrema
deterioração ambiental. As pessoas que moram nessa região acabam despejando seus esgotos
e jogando lixo, contaminando assim todo o ambiente, colocando em risco a qualidade da água,
comprometendo também a qualidade de vida dos moradores que habitam essas áreas.
Também são afetados indiretamente os consumidores que são abastecidos pela água
proveniente dessa região (YOKOYAMA in JÚNIOR, 2008).
A construção de residências, próxima a ressurgência é um dos fatores poluentes das suas
águas devido ao despejo dos resíduos líquidos e sólidos. Além disso, há um descaso por parte
dos visitantes que deixam lixos e dejetos no local. Neste caso a poluição começa desde a
fonte, indo se agravar durante o seu percurso, chegando ao Rio Salgado, já que é um dos seus
afluentes, totalmente poluído, devido ao despejo de esgotos domésticos e industriais, sendo o
próprio ser humano o maior contribuinte para poluição destas águas.
As águas desse rio vêm sendo utilizada há anos para diversos fins, como irrigação,
consumo humano e lazer. Sendo a irrigação uma das atividades que mais desperdiça a água.
Na irrigação, a água é utilizada em maior proporção, onde o método utilizado é o de
inundação superficial, classificado como o menos eficiente do mundo, pois há um grande
desperdício de água, uma vez que nesta área não há controle da quantidade necessária para a
cultura, além disso, este método causa a salinização dos solos, podendo ocorrer a redução na
velocidade de infiltração da água.
A quantidade de água utilizada para o abastecimento humano torna-se menor quando
comparada para o uso da irrigação, já que, a água possui uma excelente qualidade. É
considerado um desperdício quando se usa ela em maior escala para a irrigação.
A captação das águas que são realizadas diretamente da Fonte através de tubulações de
vários diâmetros, é outro tipo de desperdício, uma vez que muito desses canos se rompem e os
possuidores demoram para concertar, além de causar o carregamento dos nutrientes do solo de
áreas desprotegidas.
No que se refere a área de lazer, os balneários são beneficiados com as águas da Fonte,
já que, ficam próximos a sua ressurgência, pode-se observar uma série de impactos tanto por
parte dos balneários públicos como pelos privados, pois instalam equipamentos no seu
interior desmatando assim a mata ciliar, alterando a quantidade e a qualidade da água.

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Os balneários que são abastecidos com as águas da Fonte Batateiras, é o da Associação


dos funcionários do Banco do Estado do Ceará (AABEC), Itaytera, Balneário da Nascente,
Tanque da Nascente e Cascata.

PROPOSTAS
Com base nos estudos realizados, pode-se diagnosticar uma série de impactos, os
quais vêm causando danos ambientais na Fonte Batateiras. Então, para contribuir
positivamente para recuperação da área degradada, foram propostas medidas cabíveis, no
intuito de controlar as causas e conseqüências que vem ocorrendo no local.

• Para controlar a ocupação desordenada da encosta que vem acontecendo sem nenhum
planejamento, é necessário a intervenção da Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente
juntamente com o IBAMA e outros órgão responsáveis, promoverem a realização de um
projeto imobiliário provido de um relatório dentro dos parâmetros das Leis, revendo o que
já foi feito e o que será modificado no intuito de minimizar os impactos ocorrentes.
• Recuperar a mata ciliar, pode-ser adotar o seguinte método, a Regeneração natural, o
primeiro passo para escolha do modelo de restauração natural é a existência de bancos de
sementes ou plântulas de espécies pioneiras e áreas com vegetação natural próximas, para
funcionar com fonte de sementes por dispersão natural a área de interesse. Desse modo,
não há necessidade de introdução de espécies, sendo possível a utilização da regeneração
natural como forma mais adequada de restauração da área. Podendo-se eliminar espécies
invasoras para não retardar ou impedir a sucessão. A presença de uma significativa
regeneração é comum em regiões com razoável cobertura vegetal remanescente,
apresentada surpreendente diversidade (KAGEYAMA & GANDARA in JÚNIOR, 2000).
• Controlar a erosão, pode-se seguir o princípio básico, como a preservação da vegetação
nativa, ou plantar ao máximo essas espécies nativas para restabelecer o equilíbrio da área
degradada.
• Para proteção da encosta e controle da erosão, pode-se usar nas áreas menos íngremes, as
construções vivas, que usa plantios convencionais, com uma cobertura densa, feita com a
vegetação herbácea e de gramíneas. Nas áreas mais íngremes, pode-se utilizar de um dos
métodos da Bioengenharia, com o uso de técnicas de estanquia, utilizando partes de
plantas vivas juntamente com geotêxteis (o termo geotêxtil se refere a geogrelhas, tecidos
ou não tecidos, feitos de polímeros ou de materiais naturais, como fibras de juta ou coco).
(ARAUJO et al, 2005).
• Evitar as práticas agrícolas tradicionais, que ainda utilizam os desmatamento e as
queimadas, aplicando-se o Manejo Agroflorestal, que segundo a SEMACE, qualquer uso
racional do solo combinando culturas agrícolas e/ou frutíferas com essências florestais,
em forma simultânea ou consecutiva e que, aplique práticas de manejo em regime de
rendimento sustentável, compatíveis com as formas culturais e sócio-econômicas de vida
da população rural.
• Oferecer educação ambiental promovendo a consciência dos moradores e agricultores
rurais, através de cursos e palestras em suas comunidades, para que se tornem seres
conscientes esclarecendo a importância da preservação dos recursos naturais para sua
qualidade de vida.
• Minimizar o desperdício das águas, através de uma gestão que realmente atue e controle
a distribuição deste recurso para que a população não desperdicem e façam má utilização
das águas, competindo a execução dessa tarefa a COGERH, assim como caberá a este
órgão o gerenciamento das águas, para que os usuários utilizem este recurso em
quantidade, além da conscientização dos moradores para que utilizem este recurso sem
desperd.

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• Orientar os moradores e agricultores sobre os sistemas de irrigação recebendo o apoio da


Secretaria de Agricultura e Pecuária (SEAGRI), com o objetivo de auxiliar quais os tipos
de irrigação e cultura adequada e que se adaptem melhor na Região.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo teve o intuito de analisar e diagnosticar os impactos ambientais que vem
ocorrendo na área da Fonte Batateiras, em face da degradação que vem alterando o meio
ambiente comprometendo assim os recursos naturais desta área, através de desmatamentos e
queimadas, para agricultura, construções de residências, áreas de lazer, barragens, etc, e
despejo de resíduos líquidos e sólidos. Além disso, evidenciou-se o conflito da gestão das
águas, que é um problema que vem ocorrendo desde o século XIX, e que ainda persiste
devido a falta de uma postura mais rígida dos órgãos responsáveis pela gestão deste recurso.
Analisou-se os tipos de impactos ambientais ocorrentes nesta área através de visitas de
campo, onde foi detectado que estes são conseqüências da ocupação desordenada na encosta,
causando a sua instabilidade e a descaracterização do ambiente natural. Sendo assim, a partir
desses resultados, verificou-se o completo descaso tanto por parte dos moradores como dos
órgãos responsáveis pela conservação e proteção dos recursos naturais, já que estes são
indispensáveis para vida do ser humano.
Realizou-se uma avaliação sobre a utilização das águas, onde mostrou que este recurso
vem sofrendo um grande desperdício, através da irrigação inadequada, abastecimento
humano, áreas de lazer, barramento das águas, e etc. Além disso, mostrou a questão do
conflito pela utilização das águas, que gera desacordo entre os usuários, além de acarretar
uma série de impactos devido o modelo de gestão existente nesta Fonte.
A pesquisa se preocupou em apresentar propostas para o controle dos impactos
ambientais e possíveis alternativas para a gestão dos recursos hídricos. Sendo assim é
necessário que haja uma iniciativa por parte do poder público para conservar e até mesmo
criar juntamente com as Universidades da Região do Cariri projetos de pesquisa ou programa
ambiental, que ofereça um planejamento adequado para recuperação do ambiente degradado
na área em estudo, com a realização de pesquisas, sobre a fauna e a flora, estudos
hidrológicos, e dos solos, não só na área da Fonte Batateiras, mas em toda a Bacia
Hidrográfica.
Então, para que ocorra uma mudança no atual modelo de gestão, no controle dos
impactos ambientais e a recuperação do ambiente degradado é necessário um tempo, para que
os mecanismos do estado desenvolvam o seu processo, pondo em prática as leis juntamente
com o apoio da população, para que estes problemas sejam vencidos mesmo que lentamente.

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