Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Mensagem da Itajubá
Notas
Notas
Agradecimentos
Sobre o autor
Créditos
Mensagem da Itajubá
Em 2014, para celebrar o sétimo aniversário da Itajubá, patrocinamos a
primeira edição brasileira deste que foi um dos livros que serviu como fonte
inspiradora para a criação da empresa.
Passados esses sete anos, decidimos distribuir esta nova edição como uma
homenagem ao autor, que nos deixou em maio deste ano. Sempre
mencionado em qualquer lista dos livros mais in uentes na área de
investimentos, Desbravando a gestão de portfólios: uma abordagem não
convencional para o investimento institucional traz ensinamentos preciosos
para os investidores brasileiros, especialmente no ambiente de mercado
atual, onde a busca de diversi cação, seja por classes de ativos, seja por
estratégias de investimento ou geogra as, é ainda mais fundamental para se
alcançar os objetivos de retorno das carteiras de investimentos.
Como diretor de investimentos (CIO) do endowment fund da renomada
Universidade Yale de 1985 até o seu falecimento, David Swensen
revolucionou a gestão de portfólio dos fundos de doações das universidades.
Mais do que isso: aquilo que, com o tempo, cou conhecido como “Yale
model” exerceu grande in uência sobre uma vasta gama de investidores de
longo prazo, como fundos de pensão, fundações lantrópicas e gestores de
patrimônio.
Neste livro, publicado pela primeira vez no ano 2000 e atualizado em
2009, Swensen apresenta de forma clara e objetiva sua loso a de
investimento e estratégias de alocação. Aliando teoria e situações reais de
mercado, ele analisa, com riqueza de detalhes, todas as principais classes de
ativos existentes, das tradicionais às chamadas “alternativas”. Lendo sua
análise sobre investimentos alternativos como private equity, venture capital,
hedge funds, timber e outros, camos convencidos de que tais classes de
ativos podem ser importantes componentes nos portfólios de investidores
brasileiros de longo prazo. Contudo, como mostram as estatísticas
apresentadas no livro, a dispersão de retornos nessas classes de ativos é
enorme; um gestor mediano entrega retornos pí os. Sendo assim, o desa o
de analisar, selecionar e monitorar gestores é muito maior do que nas classes
tradicionais de investimentos. Em mercados em que somente uma gestão
ativa e ciente pode gerar resultados satisfatórios, um número muito
reduzido de gestores está realmente capacitado a obter retornos superiores
com adequado nível de risco. Por esse motivo, a Itajubá sempre fez do
processo de pesquisa, análise e seleção de gestores um de seus pilares. A
in uência de Swensen na concepção de nosso modelo de análise e seleção
foi grande. Sua visão é abrangente, mas com um foco muito particular sobre
os aspectos qualitativos, que colocam em primeiro plano as pessoas, a
análise cuidadosa dos con itos de interesse e o modelo de incentivos –
elementos que consideramos cruciais em nosso processo e loso a de
trabalho.
A obra analisa todas as dimensões da atividade de gestão de
investimentos a partir da experiência de Swensen e seu time, que obtiveram
resultados excepcionais ao longo de mais de 30 anos à frente do Endowment
Fund de Yale. Entre os pontos que o autor ressalta para explicar seu sucesso
como investidor estão: a importância conferida à alocação estratégica, a
virtude de se prender aos fundamentos e ao valor intrínseco dos ativos e a
adoção de uma postura corajosa que muitas vezes será contrária aos
“consensos de mercado”. Ter sempre em mente que a liquidez tem um custo
e, portanto, para atingir retornos superiores o investidor deverá ponderar
que parcela de seu portfólio precisa efetivamente permanecer em ativos
líquidos.
A Itajubá Investimentos deseja uma agradável leitura do livro e agradece o
legado do grande investidor David Swensen.
Charles D. Ellis
Desbravando
a gestão
de portfólios
1
Introdução
Quando escrevi a introdução à primeira edição de Desbravando a gestão de
investimentos, no início de 1999, a pioneira estratégia de investimentos de
Yale havia produzido resultados excelentes, tanto em termos absolutos como
em termos relativos, embora ainda não tivesse sido testada por condições de
mercado adversas. Na verdade, o retorno de Yale para o período de dez anos
encerrado em 30 de junho de 1998 atingiu 15,5% ao ano, mais de três pontos
percentuais abaixo do resultado do S&P 500, de 18,6%. O dé cit do
endowment relativo às ações das empresas americanas negociadas no
mercado doméstico, na época a classe de ativos com o melhor desempenho,
levou os mais céticos a questionar se era sábio empreender a difícil tarefa de
criar um portfólio bem diversi cado e voltado para investimentos em ações.
Os anos subsequentes à publicação da primeira edição mostraram o valor
da alocação de ativos inovadora implementada por Yale. A continuação do
mercado altista [chamado de bull market nos Estados Unidos] em 1999 e no
começo de 2000 produziu resultados maravilhosos para Yale e culminou em
um retorno de 41% no ano encerrado em 30 de junho de 2000 – um
resultado que destruiu o retorno médio dos investimentos dos endowments
existentes (13%). No entanto, o verdadeiro teste para a abordagem utilizada
por Yale ainda estava por vir. Acabou acontecendo nos anos de 2001 e 2002,
quando houve o estouro da bolha da internet e o mercado acionário entrou
em colapso. Yale divulgou retornos positivos de 9,2%, em 2001, e de 0,7%,
em 2002, mesmo quando o endowment médio contabilizou dé cits de 3,6%
e 6%, respectivamente. Em resumo, a estratégia voltada para o investimento
em ações continuou a impulsionar os sólidos resultados de Yale, ao passo
que a diversi cação contribuía para preservar os ativos da universidade.
De uma perspectiva de mercado, o ponto de vista privilegiado do início
de 2008 é dramaticamente diferente daquele dos primeiros meses de 1999.
Para o período de dez anos encerrados em 30 de junho de 2007, o retorno
de 17,8% de Yale superou acentuadamente os 7,1% registrados pelo S&P
500. A análise dos resultados em vinte anos conta uma história parecida:
Yale, com 15,6%, ultrapassou o S&P, com 10,8. Na verdade, o sucesso
conspícuo de Yale atraiu a atenção de muitos investidores e fez a estratégia
da universidade parecer menos radical e mais sensata, menos pioneira e
mais dominante.
Mesmo com a loso a de gestão de portfólio de Yale tendo sido
amplamente imitada, a universidade contabilizou retornos formidáveis em
comparação a outras. Para o ano encerrado em 30 de junho de 2007, Yale
informou um retorno de 28%, número que supera os resultados de todas as
instituições educacionais participantes da Análise Anual dos Lucros da
União de Faculdades e Universidades Associadas de Cambridge para o ano
de 2007. Mais signi cativamente, os resultados de Yale lideraram o grupo
para os períodos de cinco, dez e vinte anos. A gestão pioneira do portfólio
da universidade funciona na teoria e na prática.
A medida mais importante do sucesso da gestão do endowment diz
respeito a sua capacidade de sustentar a missão educacional de Yale. Quando
cheguei a essa universidade, em 1985, a contribuição do endowment para o
orçamento da instituição era de US$45 milhões. Esse valor representava 10%
das receitas – o valor mais baixo em cem anos. Para o exercício nanceiro de
2009, em grande parte porque os retornos sobre o investimento foram
extraordinários, o endowment pretendia transferir para o orçamento
aproximadamente US$1,15 bilhão (equivalente a 45% da receita). A alta
qualidade na gestão dos investimentos faz a diferença!
Problemas de agência
O segundo tema diz respeito à prevalência dos problemas de agência que
interferem na busca bem-sucedida dos objetivos institucionais. Quase todos
os aspectos da gestão de fundos são afetados pelas decisões tomadas em
benefício dos próprios agentes em detrimento do melhor interesse dos
acionistas. Dentre os culpados encontram-se conselheiros que tentam causar
impacto durante seu mandato no comitê de investimento; funcionários que
agem de forma a aumentar a segurança de seus cargos; gestores de
investimentos que buscam taxas mais estáveis, à custa da excelência dos
investimentos, e gerentes institucionais que desviam recursos para benefício
próprio. O con ito de interesses entre os bene ciários do fundo e os
responsáveis pelos ativos correspondentes criam afastamentos
potencialmente onerosos entre o que deveria ter sido e o que com efeito foi.
O afastamento entre os objetivos principais e as ações dos agentes causa
problemas no nível mais alto de governança e conduz ao fracasso por não
cumprir o objetivo de servir aos interesses de um endowment perpétuo. Os
indivíduos desejam ser grati cados imediatamente, o que os leva a exagerar
na ênfase a políticas pensadas para gerar resultados em períodos
relativamente curtos. Ao mesmo tempo, os agentes duciários esperam
sempre manter o poder e, por isso, evitam polêmicas e perseguem somente
ideias convencionais de investimento. Ao operar como a maioria das
instituições, com horizontes de curto prazo e oportunidades incontestáveis,
os membros do comitê e a equipe de gestão promovem resultados sem nada
de extraordinário, enquanto perdem oportunidades de longo prazo
contrárias ao movimento geral, mas potencialmente recompensadoras.
Os relacionamentos com os gestores de recursos são um terreno fértil
para con itos de interesse. As instituições buscam altos retornos ajustados
ao risco, enquanto gestores de investimento externos visam uxos estáveis e
relevantes de receita. Os con itos surgem porque as oportunidades de
investimento mais atrativas não geram retornos previsíveis e constantes.
Para criar uxos de caixa mais seguros, as empresas de investimento
frequentemente reúnem quantidades excessivas de ativos, seguem
estratégias de aproximação estrita ao benchmark e diluem os esforços de
gestão na oferta variada de produtos. Quando os agentes duciários tentam
criar acordos de remuneração apropriados para reduzir os con itos com os
gestores de recursos, os interesses dos gestores dos fundos divergem dos
apresentados pelos provedores de capital, mesmo com estruturas comerciais
muito bem avaliadas.
A maioria das classes de ativos contém veículos de investimento que
mostram algum grau de risco de agenciamento, com os títulos privados
representando o caso mais extremo. As questões estruturais conferem aos
títulos privados, antes considerados irremediavelmente imperfeitos,
condições de serem incluídos como alternativas possíveis para o portfólio.
Os interesses dos acionistas, com os quais a administração da companhia
geralmente se identi ca, são tão diferentes dos objetivos dos detentores de
títulos que o credor em geral acaba do lado errado dos con itos. Além disso,
mesmo nas participações societárias em que a administração da companhia
tem interesses similares aos dos acionistas externos, os problemas de agência
afastam as duas classes de atores econômicos. Em toda posição acionária,
pública ou privada, a administração realiza, pelo menos ocasionalmente,
atividades que visam aos ganhos pessoais e prejudicam diretamente os
interesses dos acionistas. A m de mitigar o problema, os investidores
buscam gestores concentrados em promover os interesses dos acionistas, ao
mesmo tempo que evitam as companhias tratadas como bancos pessoais por
aqueles que se encontram no comando.
Cada aspecto do processo de gestão do investimento contém con itos
reais e potenciais entre os interesses do fundo institucional e os interesses
dos agentes contratados para gerir os ativos da carteira. Estar ciente da
extensão e da seriedade dos problemas de agência é a primeira linha de
defesa para os gestores de fundos. Ao avaliar cada participante envolvido nas
atividades de investimento com atitude cética, os agentes duciários
aumentam a probabilidade de evitar ou mitigar os con itos mais sérios entre
principais agentes.
MANUTENÇÃO DA INDEPENDÊNCIA
Os fundos de endowment facilitam a autonomia institucional, já que con ar
em fontes de receita instáveis para nanciar as operações expõe as
instituições às condições impostas pelos provedores dos recursos. Por
exemplo, quando o governo concede subsídios para apoiar projetos de
pesquisa especí cos, as diversas atividades desenvolvidas pela universidade
muitas vezes têm que se submeter a exigências e regulamentações, ainda que
as operações afetadas não tenham relação com o bene ciário do subsídio.
De maneira similar, as faculdades que dependem das doações para uso
corrente frequentemente descobrem que os benfeitores exigem voz ativa nas
atividades da instituição. Mesmo as instituições educacionais que dependem
muito das receitas provenientes de anuidades pagas pelos alunos podem
car limitadas por essa dependência e serem levadas a responder a
tendências e modismos para atrair um número su ciente de estudantes para
manter as operações. Maior necessidade de receitas correntes corresponde a
graus maiores de in uência externa.
As instituições educacionais certamente devem observar as políticas do
governo e levar em consideração as vontades dos doadores e dos estudantes.
Entretanto, às vezes tais in uências diminuem a capacidade dos
administradores de perseguir objetivos institucionais importantes. Os
fundos de endowment permitem às instituições educacionais prestar contas
aos seus mantenedores sem que sejam mantidas como reféns por eles.
Quem doa recursos para os endowments geralmente impõe restrições
signi cativas às doações, estipulando que os fundos nanciem,
permanentemente, os propósitos indicados. Não raro, tais exigências entram
em con ito com os objetivos institucionais, quando, por exemplo, um fundo
apoia um campo de estudo abandonado pelos acadêmicos há muito tempo.
Mais frequentemente, as doações para o fundo oferecem um nanciamento
restrito a atividades consideradas centrais para as aspirações da organização,
como auxílio didático e ajuda nanceira. Ainda que os doadores exerçam
in uência considerável durante a negociação das condições iniciais de uma
doação para o endowment, essa in uência diminui depois do
estabelecimento do fundo.
Para atrair fontes de receitas de curto prazo, as instituições precisam
responder a uma combinação de pressões explícitas e implícitas. As
instituições que contam com um uxo estável de receitas de doações têm
chances maiores de manter sua independência em relação às pressões
externas. Sustentar o orçamento operacional por meio do endowment
fomenta a liberdade acadêmica e permite uma governança independente.
Yale e Connecticut
A sobrevivência da emplumada Yale do início do século XVIII dependeu de
um generoso apoio legislativo e nanceiro da colônia de Connecticut. Em
outubro de 1701, a Assembleia Geral da colônia de Connecticut aprovou
uma proposta defendida por cinco ministros para fundar uma faculdade
“onde a juventude possa ser instruída nas Artes e Ciências e, com a bênção
de Deus Todo-Poderoso, possa servir ao emprego público, seja na Igreja, seja
no Estado civil”.
O apoio a Yale incluiu concessões de terras, garantias especiais para o
reparo ou a construção de prédios, autorização para concessões e sorteios,
impostos sobre o rum e isenções para ministros, tutores de ministros e
estudantes. Brooks Mather Kelley, em seu livro Yale – A History (sem
tradução para o português), estima que, “durante todo o século XVIII, a
contribuição de Connecticut tenha sido responsável por mais da metade de
todas as doações feitas para a universidade”. O apoio da colônia veio com
um preço1. Por exemplo, em 1755, a Assembleia Geral votou pela recusa do
subsídio anual a Yale, pretensamente em razão de despesas de guerra, mas,
de fato, com o propósito de retaliar uma posição controversa tomada pelo
presidente de Yale, omas Clapp, a respeito do caráter religioso da
faculdade. Em 1792, em troca da renovação do apoio nanceiro, o
governador, o vice-governador e seis legisladores tornaram-se membros do
conselho de Yale. A presença de representantes nomeados pelo Estado no
Conselho de Administração causou discórdia e con ito, com a falta de
consenso sobre temas que iam da fé religiosa adequada para o corpo
docente aos direitos de a Assembleia Geral promover reformas para conter
os abusos na administração da faculdade. Os representantes nomeados pelo
Estado mantiveram seus cargos em Yale até a extinção do apoio
governamental, em 1871, o que resultou na retirada dos senadores da Yale
Corporation2. Com a substituição dos seis legisladores por colegas eleitos
pelo corpo discente, o controle cou mais centralizado dentro da própria
universidade. A experiência de Yale espelhava as tendências nacionais. Com
o m da Guerra Civil e a ascensão do darwinismo e das loso as do laissez-
faire, a visão anterior de que o Estado deveria ter um papel importante no
apoio à educação privada mudou. Como o historiador Frederick Rudolph
observou, “uma sociedade no serviço público, que uma vez foi essencial para
as universidades e inerente às responsabilidades do governo [...] [tornou-se]
insidiosa ou [...] completamente esquecida”. Felizmente para Yale, essa
retirada do custeio público foi substituída pelo apoio de alunos
organizados3. A nomeação de administradores eleitos para a diretoria da
universidade, em troca de apoio nanceiro, ilustra de modo in exível a
perda de controle associada à dependência de fontes externas de recursos.
Ainda que os quase oitenta anos de in uência direta do Estado na
governança de Yale representem um caso extremo, in uências externas mais
sutis continuam a testar a sabedoria dos administradores até hoje. Conciliar
o interesse legítimo dos provedores de recursos em ter uma voz com a
necessidade fundamental das instituições privadas de manter o controle
nal é um grande desa o para os responsáveis pela administração de
organizações educacionais.
Universidade de Bridgeport
No início dos anos 1990, uma grave crise nanceira provocou a perda da
independência da Universidade de Bridgeport, após uma luta desesperada
pela sobrevivência. Depois de um pico de mais de 9 mil estudantes
matriculados, nos anos 1970, a universidade chegou a menos de 4 mil, em
1991. O declínio no número de matrículas criou um corte orçamentário e
forçou a instituição a considerar a implementação de medidas radicais. A
despeito dos terríveis apuros por que passou, em outubro de 1991 a
Universidade de Bridgeport rejeitou uma oferta de US$50 milhões da
Professors World Peace Academy, um braço da Igreja da Uni cação, do
reverendo Sun Myung Moon. Com a opção por continuar com suas políticas
independentes, os administradores eleitos tinham que tomar medidas
drásticas para eliminar quase um terço dos noventa programas de graduação
da instituição, enquanto tentavam, em juízo, uma autorização para gastar os
recursos limitados do endowment para cobrir os custos da folha de
pagamento.
Em abril de 1992, já sem opções, a administração da universidade
reverteu o curso e cedeu o controle à Professors World Peace Academy em
troca da infusão de mais de US$50 milhões ao longo de cinco anos. Quando
os membros da diretoria associados à Igreja de Uni cação assumiram o
controle, a instituição, que já existia havia 65 anos, recebeu uma nova
missão: servir como “a fundação de uma rede mundial de universidades
lutando pela harmonia e compreensão internacionais”7.
Três anos depois, o reverendo Sun Myung Moon recebeu um diploma
honorário da Universidade de Bridgeport, que o reconheceu como um “líder
religioso e um homem de poder espiritual verdadeiro”8. Enquanto esteve no
campus, o reverendo Moon tomou para si o crédito pela queda do
comunismo e prometeu resolver con itos nos Oriente Médio e na Coreia.
Com a alegação de que “o mundo inteiro fez o possível para acabar comigo”,
ele disse: “Hoje estou rme, no topo do mundo” 9. De acordo com o New
York Times, o discurso forneceu aos críticos mais provas de que a
“universidade que um dia já foi sólida” vendeu sua independência por uma
infusão de capital de “um culto religioso com uma missão messiânica e
proselitista”.
O fracasso da Universidade de Bridgeport foi resultado de uma série de
fatores, ainda que um endowment mais relevante pudesse ter permitido à
instituição manter sua independência. A falta de uma base nanceira estável
expôs a universidade à mudanças escorchantes e causou todo tipo de
sofrimento aos membros da instituição.
O nanciamento externo para faculdades e universidades frequentemente
vem acompanhado de exigências de garantias engendradas para in uenciar
o comportamento institucional. Em casos extremos, os agentes externos
procuram mudar a natureza fundamental de uma organização. Quanto
maior a participação dos endowments no sustento das operações, maior a
capacidade de uma instituição seguir o próprio curso.
ESTABILIDADE
Os endowments contribuem para a estabilidade operacional, pois entregam
uxos de recursos con áveis para os orçamentos operacionais. As fontes de
nanciamento não permanentes oscilam e podem escassear ou desaparecer
com as mudanças das políticas governamentais, a diminuição da
generosidade dos doadores ou o desvanecimento do interesse dos
estudantes. Ao reduzir a variabilidade das receitas da universidade, os
endowments aumentam a viabilidade operacional e promovem o
planejamento de longo prazo.
Universidade Stanford
Ocasionalmente, a distribuição dos recursos provenientes dos fundos de
endowment representa mais do que a estabilidade no nanciamento das
operações anuais. Em épocas de crises econômicas graves, as instituições
que dispõem de endowments vultosos dispõe de volumes extraordinários
para resistir à tempestade, enquanto aquelas com recursos permanentes
escassos enfrentam mais diretamente as consequências dos traumas
nanceiros.
Em 1991, Stanford perdeu quantias signi cativas de apoio nanceiro do
governo federal em uma controvérsia sobre elevação de custos que a
universidade reivindicava, relativos às atividades de pesquisa patrocinadas
pela federação. Supostamente, Stanford superfaturava o governo com a
solicitação de reembolso para custos escandalosos, associados a itens como
o iate Victoria, de 72 pés, uma cômoda italiana de madeira, do século XIX, e
um retiro para os administradores da universidade, em Lake Tahoe11. O
resultado do “impacto contínuo das disputas com o governo federal” foi que
a universidade contabilizou, em 1992, um dé cit operacional de mais de
US$32,5 milhões, correspondente a quase 3% da receita.
Tendo que enfrentar dé cits projetados que somaram US$125 milhões,
em três anos, Stanford tentou “ nanciar as perdas esperadas enquanto
programas de redução de despesas eram implementados”. Um componente
crítico do plano de “ nanciamento” envolvia aumentar a taxa de distribuição
do endowment de 4,75% para 6,75% em 1993 e 1994, liberando um
montante adicional projetado de US$58 milhões para custear as operações
durante o período de ajuste de Stanford.
A combinação de gastos crescentes dos endowments, despesas reduzidas e
empréstimos adicionais colocou a universidade em bases nanceiras rmes.
Em 1995, aproveitando a saúde nanceira gerada por lucros operacionais
acumulados, Stanford baixou a taxa de distribuição para 5,25%, quase
retornando à “taxa habitual de 4,75%”12. O extraordinário aumento nas
taxas de gastos do endowment formou um “colchão” para as operações de
Stanford e permitiu à universidade lidar com uma perda repentina de valor
signi cativo com perturbações mínimas.
Contudo, usar os recursos permanentes para nanciar dé cits
operacionais temporários impôs custos signi cativos. Nos cinco anos
seguintes ao extraordinário aumento da taxa de distribuição, o endowment
registrou ótimos números de retorno sobre os investimentos, que levaram
uma valorização dos ativos superior a 100%. Olhando os números agora,
conclui-se que, certamente, Stanford teria ganhado muito mais se tivesse
feito mais empréstimos externos mais baratos para nanciar os de cits
orçamentários. E a taxa de distribuição deveria ter sido mantida em seu
nível “habitual” de 4,75%. Considerar o impacto do saque dos recursos
permanentes num prazo mais longo reforça as preocupações sobre o custo
nal das taxas de gastos/distribuição do endowment anormalmente altas.
Distribuições con áveis dos recursos oriundos do fundo contribuem para
a estabilidade das instituições educacionais. Em circunstâncias normais de
operação, níveis mais altos no endowment servem para melhorar a qualidade
do uxo de receitas de uma organização, de modo a permitir que se dependa
mais pesadamente das receitas geradas no âmbito interno. Durante situações
de tensão nanceira atípicas, os ativos do endowment proporcionam um
“colchão”, por meio de distribuições maiores ou servindo como base para
empréstimos externos, o que confere à instituição a capacidade de lidar com
desconformidades scais. Um endowment com recursos relevantes cria um
ambiente orçamentário superior no dia a dia e melhora a capacidade de lidar
com traumas nanceiros incomuns.
CONCLUSÃO
Os endowments servem às instituições educacionais de várias maneiras
muito importantes – permitem maior independência, proporcionam mais
estabilidade e facilitam a excelência do ensino. As instituições de educação
superior servem melhor à sociedade como fóruns independentes para
pesquisas livres e abertas, promovendo a busca irrestrita de ideias a despeito
da existência de convenções ou polêmicas. As circunstâncias vinculadas às
fontes de apoio nanceiro externo têm potencial para criar sensibilidades
institucionais, limitar o debate saudável e prejudicar as pesquisas abertas.
Para as instituições reconhecidas, os endowments acentuam a
independência operacional e a estabilidade orçamentária. Reservas de
fundos permanentes relativamente grandes possibilitam aos gestores resistir
à interferência do governo e às exigências insensatas dos doadores. Os
endowments de maior porte permitem que os gestores suavizem o impacto
de choques nanceiros, protegendo as operações contra forças externas
desconformes.
Para as instituições menos reconhecidas, os endowments algumas vezes
determinam a diferença entre a sobrevivência e o fracasso. Na década que
terminou em junho de 2007, mais de cem instituições de ensino superior
fecharam – isso representa aproximadamente 3% do número total de
instituições desse tipo nos Estados Unidos16. As instituições com
endowments robustos gozam de um nível de apoio scal que amortece os
golpes nanceiros e operacionais. Mesmo os endowments mais modestos
fazem uma diferença signi cativa.
Os endowments fornecem os meios para produzir uma margem de
excelência. As instituições que dispõem de endowments maiores usufruem
de uma fonte de recursos incrementais disponíveis para serem usados na
criação de um ambiente de ensino superior. Ao contribuir para a excelência
de faculdades e universidades melhores, eles exercem um papel importante
no mundo da educação superior.
Compreender os fatores que motivam o crescimento dos ativos dos
endowments representa um primeiro passo importante na estruturação de
um portfólio de investimentos. Ao de nir as razões pelas quais os
endowments existem, os gestores de nem as bases para articular seus
objetivos de investimento especí cos e começam a moldar a política e o
processo de investimento.
3
Objetivos de
investimentos e gastos
Os gestores de endowments perseguem dois objetivos con itantes: preservar
o poder de compra dos ativos e fornecer uxos consideráveis de recursos
para o orçamento operacional. Se os agentes duciários produzem políticas
de gastos e investimentos que resolvem bem a tensão entre esses objetivos, a
instituição recebe uma contribuição sustentável dos ativos do fundo para
apoiar os programas acadêmicos. Preservação dos ativos e apoio à
estabilidade orçamentária, se alcançados, atendem às nalidades de
crescimento dos ativos dos endowments – manter a independência,
proporcionar estabilidade e criar uma margem de excelência.
Benjamin Franklin disse que a morte e os impostos são as únicas certezas
da vida. Os gestores de endowments suspendem essas certezas, à medida que
as instituições educacionais aspiram a existir de modo perpétuo e os ativos
do fundo têm o benefício da isenção scal. A natureza perpétua das
faculdades e universidades torna a gestão de fundos de endowment um dos
empreendimentos mais fascinantes do mundo do investimento. Equilibrar a
tensão entre preservar o poder de compra dos ativos, no longo prazo, e
custear de forma substancial e corrente as operações proporciona um
conjunto muito rico de desa os e propõe problemas únicos para as
instituições educacionais que dispõem desse tipo de fundo.
A preservação do poder de compra é um objetivo de longo prazo, que
atravessa gerações. Os endowments bem geridos mantêm, para sempre, a
capacidade de fornecer determinado nível de sustento para a instituição, o
que justi ca a classi cação desse tipo de fundo como ativo imobilizado. Para
preservar os ativos no longo prazo é necessário buscar altos retornos e,
portanto, aceitar os riscos fundamentais decorrentes e a volatilidade
associada ao mercado.
O nanciamento estável das operações é um objetivo de médio prazo, que
re ete as demandas de um ciclo de planejamento orçamentário mais curto.
Como é muito difícil reduzir o tamanho dos programas acadêmicos, as
instituições dependem da saída de uxos de recursos razoavelmente
previsíveis dos endowments para o custeio das operações. A m de garantir
distribuições estáveis para as operações correntes, é necessário amortecer a
volatilidade do portfólio. Assim, é preciso adotar níveis de risco
fundamental mais baixos, que implicam a diminuição dos níveis de retorno
esperados.
A política de investimentos de alto risco e alto retorno, melhor para a
preservação dos ativos, é con itante com a abordagem de baixa relação
risco/retorno que apresenta a maior probabilidade de produzir distribuições
estáveis para o orçamento operacional. As políticas de gastos tratam da
resolução desse con ito, amortecendo parcialmente a transmissão da
volatilidade do portfólio para as distribuições orçamentárias. Além disso, ao
especi car as preferências institucionais em relação ao trade-off entre a
preservação do poder de compra e a estabilidade dos uxos para nanciar as
operações, as políticas de gastos determinam o grau em que os endowments
irão satisfazer as necessidades das gerações atuais e futuras.
Doações e endowment
Quando fazem uma doação para o endowment, os doadores pretendem
apoiar a atividade indicada de forma permanente. Se os gestores de recursos
preservarem apenas o valor nominal das doações, no nal das contas a
in ação vai reduzir à insigni cância o impacto do fundo. O endowment
mais antigo de Yale dedicado ao custeio do ensino, Timothy Dwight
Professorship Fund, instituído em 1822, foi contabilizado pela universidade
com base no custo histórico, um pouco mais de US$27 mil. Como os níveis
de preços subiram quase 27 vezes nos 185 anos que se seguiram à sua
criação, uma distribuição a partir de um fundo com US$27 mil, em 2007, é
praticamente insigni cante se comparada a uma distribuição a partir de um
fundo de mesmo valor em 1822. Embora durante sua existência o Dwight
Professorship tenha crescido mais de dezoito vezes – ele chegou a somar
quase US$500 mil –, o valor atual perde para o valor corrigido pela in ação
por quase um terço. Ainda que a universidade continue usufruindo do
Timothy Dwight Professorship no início do século XXI, depois de
considerada a in ação o fundo não é capaz de garantir o mesmo nível de
suporte disponível no século XIX. Embora os princípios duciários
geralmente determinem que a instituição preserve apenas o valor nominal
de uma doação*, para prestar um suporte verdadeiro e permanente às
instituições é preciso preservar o valor da doação corrigido pela in ação.
Ao declarar explicitamente que novas doações tornam possível “ampliar o
escopo de atividades”, Tobin reconhece um princípio importante para os
doadores. Algumas instituições decompõem as doações de acordo com os
gastos e de nem um nível de consumo igual ao retorno real esperado do
portfólio mais as novas doações. Harvard elaborou sua política de gastos em
1974 e assumiu que “o crescimento das despesas da universidade vai superar
a taxa de in ação de longo prazo em dois pontos”2. Ainda assim, a taxa de
reinvestmento projetada pela instituição compensava apenas o nível geral de
in ação, e não o crescimento maior das despesas da universidade.
Obviamente, para nanciar o “mesmo conjunto de atividades” foi necessário
acompanhar o ritmo do crescimento das despesas da universidade, e não da
in ação geral, o que tornava a taxa de reinvestmento inadequada para o seu
objetivo. Para manter o poder de compra do endowment, Harvard articulou
uma meta de acumular novas doações patrimoniais su cientes para
compensar a diferença entre a taxa geral de in ação e o crescimento das
despesas da universidade. Ao fazer isso, a universidade usou explicitamente
as novas doações para repor as perdas in acionárias3.
Usar novas doações para compensar parte do impacto da in ação sobre o
valor dos ativos acarreta o não cumprimento do objetivo de “ampliar o
escopo de atividades” sustentadas pelo endowment. Se um fundo dedicado
ao nanciamento de uma cadeira no Departamento de Economia perde
poder de compra, criar uma nova cadeira na Escola de Direito não faz nada
para repor a perda do Departamento de Economia. Um conceito básico é
que os doadores têm o direito de esperar que cada fundo endowment
individual mantenha seu poder de compra ao longo do tempo.
POLÍTICA DE GASTOS/RESGATES
As políticas de gastos resolvem a tensão entre os objetivos concorrentes de
preservar o endowment e manter a estabilidade nos gastos. Políticas sensatas
relacionam os gastos do ano corrente com os recursos distribuídos pelo
endowment no ano anterior e também com os valores atuais do fundo. O
primeiro fator é o núcleo em que os planejadores podem con ar e o
segundo é o que introduz sensibilidade às in uências do mercado.
Fontes: Demonstrações nanceiras de Yale. Dados do Higher Education Price Index – Hepi
(Índice de Preços da Educação Superior) provenientes da Research Associates of Washington.
Uma comparação dos valores reais com os níveis projetados do fundo
ilustra o grau de sucesso no cumprimento das metas de poder de compra.
Com base na diferença entre o valor de mercado de 30 de junho de 2006,
US$18 bilhões, e o poder de compra-alvo, US$6,7 bilhões, Yale teve um êxito
admirável no aumento do valor do ativos*. Ainda assim, essa evolução inclui
períodos em que o cenário geral parecia bem menos cor-de-rosa.
A década de 1950 testemunhou relativo equilíbrio entre o crescimento do
fundo e a preservação do poder de compra, com o registro de um excedente
de cerca de 17% até 1959. Depois de manter o ritmo durante a maior parte
dos anos 1960, o endowment começou a sofrer, à medida que as pressões
in acionárias aumentavam, preparando o cenário para os graves problemas
que estavam por vir. Durante os anos 1970, os mercados desastrosos para
ativos nanceiros e a alta da in ação explicam o fato de o endowment ter
encerrado a década 56% abaixo do nível projetado. Em 1982, o fundo de
Yale atingiu um ponto de baixa, em que os ativos representavam apenas 42%
da meta de poder de compra projetado. Felizmente, o mercado altista (ou de
touro, como chamam os americanos) dos anos 1980 reverteu os problemas
da década anterior e permitiu, nalmente, que só em 1994 o endowment
atingisse o nível projetado a partir do valor em 1950 mais ajustes de in ação
e doações. Os extraordinários retornos que vieram a seguir impulsionaram o
fundo, de modo que ele registrou, em 30 de junho de 2006, um superávit de
170% acima da meta.
Esses aumentos dramáticos no poder de compra levaram alguns a
questionar se com o acúmulo de recursos os administradores de Yale
estariam favorecendo as gerações futuras de pesquisadores em detrimento
da geração atual. Enquanto a questão do nível de gastos correto gerava
debates acalorados, os retornos dos ativos melhoraram, a partir de uma
combinação de mercados fortes e regras de gastos/resgate razoáveis, criando
um “colchão” que seria utilizado em épocas vindouras difíceis.
As variações dramáticas no poder de compra em relação aos níveis
projetados causaram certa surpresa aos observadores de mercado mais
experientes. Em 1982, o endowment de Yale registrou um dé cit de quase
60% em relação ao nível desejado. Vinte e quatro anos mais tarde a carteira
exibia superávit de 170%. Ainda que os solavancos do mercado levem as
instituições a se sentirem alternadamente pobres e ricas, gestores de
portfólio sensatos baseiam suas decisões de gastos em premissas que
consideram as características dos mercados de capitais no longo prazo.
Avaliar a preservação do poder de compra requer a análise das
consequências positivas e negativas da volatilidade do mercado,
consideradas dentro da perspectiva de uma estrutura de longo prazo.
A natureza humana reage a retornos de investimentos generosos e
inesperados procurando maneiras de consumir a riqueza recém-descoberta.
Responder a esse vigor dos mercados mediante o aumento das taxas de
gastos pode prejudicar o endowment no longo prazo. Primeiro, os aumentos
nas taxas de gastos logo após retornos extraordinários aumentam o risco de
a instituição consumir parte do colchão destinado a proteger a universidade
contra um futuro menos robusto. Segundo, aumentos de gastos logo se
incorporam à base de despesas permanentes da instituição, o que reduz a
exibilidade operacional. Se a taxa de gastos sobe repentinamente, a
instituição perde o benefício de ter um colchão e sofre o ônus de uma base
orçamentária maior.
As taxas de gastos projetadas são um ponto central da disciplina scal, o
que leva os administradores responsáveis a mostrar grande relutância em
alterá-las. Em vez de ver bons desempenhos recentes como incentivo para
aumentar as distribuições, os céticos gestores se perguntam se a boa sorte é
sustentável e se preparam para a possibilidade de um futuro menos
recompensandor. A alteração das taxas de gastos pretendidas só se justi ca
por melhorias fundamentais nas políticas de investimentos e gastos.
Avaliar a manutenção do poder de compra requer um horizonte de tempo
extremamente longo. Reagir a uma década de perdas desastrosas reduzindo
as distribuições ou responder a uma década de retornos extraordinários
aumentando as taxas de distribuição pode prejudicar o empreendimento
acadêmico. Cortes em programas induzidos por mercados baixistas e
expansões de ofertas motivadas por mercados altistas golpeiam a instituição
desnecessariamente e levam o endowment a fracassar em sua missão de
proteger as operações da universidade da volatilidade do mercado
nanceiro. Os administradores responsáveis veem além das inevitáveis
oscilações de curto prazo no valor do fundo, causadas pelos movimentos do
mercado, e mantêm o foco na preservação do poder de compra dos ativos
no longo prazo.
CONCLUSÃO
As políticas de investimentos e gastos sustentam as nalidades para as quais
as instituições de ensino acumulam endowments e oferecem estrutura para
produzir maior estabilidade, mais independência e mais excelência. Ao
atingir o objetivo de longo prazo de preservação do poder de compra e o
objetivo de médio prazo de auxílio orçamentário substancial, as faculdades e
universidades satisfazem o requisito do economista James Tobin, de que um
endowment “continue a sustentar o conjunto de atividades que sustenta
hoje”11.
Os administradores enfrentam um desa o ao equilibrar os objetivos
con itantes de preservar os ativos e sustentar as operações atuais. As
políticas de gastos resolvem a tensão, ao especi car a importância relativa da
sensibilidade aos valores de mercado atuais do fundo (que contribuem para
a preservação dos ativos) e da sensibilidade aos níveis de gastos passados
(que contribuem para a sustentação de orçamentos estáveis). As taxas-alvo
de gastos têm um papel importante na determinação da capacidade de um
fundo de atingir o objetivo da equidade intergeneracional. Taxas
demasiadamente altas favorecem os acadêmicos atuais, enquanto taxas
baixas demais bene ciam os pesquisadores do futuro.
Quem faz uma doação para o endowment espera oferecer apoio
permanente a uma atividade escolhida, exigindo que os gestores do fundo
mantenham a capacidade daquele fundo especí co de comprar os bens e
serviços associados ao longo do tempo. As taxas de in ação enfrentadas por
instituições educacionais superam os aumentos gerais dos níveis de preços,
pois os negócios acadêmicos dependentes de recursos humanos geralmente
não conseguem obter ganhos de produtividade, o que aumenta as
di culdades inerentes à manutenção do poder de compra do endowment. As
doações que vão sendo incorporadas não aliviam a pressão de manter os
valores dos ativos, porque as contribuições para o fundo expandem o
conjunto de atividades nanciadas pelos fundos permanentes de uma
instituição e aumentam o tamanho do portfólio a ser preservado.
O processo de articular objetivos e de nir metas é proveitoso para os
gestores de todos os tipos de fundo e levam a conclusões consideravelmente
diferentes para diferentes investidores. No caso de instituições tão parecidas
quanto endowments e fundações, as diferenças na natureza da instituição
causam variações nos objetivos. Variações nos ambientes operacionais
levam à expressão de objetivos de investimento diferentes, que acomodam
as oportunidades e restrições especí cas de cada instituição em particular.
Como são o teste de nitivo contra o qual será medida a conveniência das
várias políticas de investimentos e gastos, os objetivos do investimento
servem como base fundamental do processo de gestão dos fundos. Eles
in uenciam os princípios losó cos que estão na base da criação dos
portfólios de investimento e geram orientações importantes para os gestores
de fundos. Os investidores avaliam as combinações de alocações de ativos e
políticos de gastos do portfólio em termos da capacidade de cumprir os
objetivos institucionais, colocando a articulação dos objetivos da carteira no
coração do processo de investimento.
4
Filoso a de investimentos
Investidores bem-sucedidos articulam loso as de investimento coerentes,
aplicadas consistentemente a todos os aspectos do processo de gestão do
portfólio. Princípios losó cos são conhecimentos sobre investimentos que
foram testados ao longo do tempo e que ganham importância e passam a
suportar as convicções pro ssionais. Os pressupostos centrais da abordagem
de um investidor em relação aos mercados emanam de crenças
fundamentais sobre os meios mais e cazes de gerar retornos sobre o
investimento para cumprir as metas institucionais.
Os retornos dos investimentos resultam de decisões referentes a três
ferramentas da gestão de portfólios: alocação de ativos, temporização de
mercado (market timing) e seleção de papéis. O comportamento do
investidor determina a importância relativa de cada aspecto da gestão do
portfólio. Investidores cuidadosos constroem portfólios de maneira
consciente, a m de re etir a contribuição prevista de cada ferramenta de
gestão de portfólio.
A alocação de ativos, o ponto de partida para a construção do portfólio,
envolve atividades como de nir as classes de ativos que irão compor o
portfólio e determinar qual proporção do fundo será destinada a cada classe.
Entre as classes de ativos institucionais típicas estão incluídas ações de
empresas domésticas, ações de empresas no exterior, renda xa, retorno
absoluto, ativos reais e private equities. A política do portfólio descreve a
alocação-alvo para cada uma das classes de ativos empregadas pelo fundo.
Market timing é o desvio, no curto prazo, em relação aos alvos da política
de longo prazo. Vamos supor, por exemplo, que os alvos de longo prazo de
um fundo sejam 50% de ações e 50% de títulos de renda xa. Um gestor de
fundo que identi car que as ações estão baratas e os títulos, caros, em um
dado momento, pode alterar taticamente os pesos de cada classe no
portfólio, para 60% de ações e 40% de títulos, por exemplo. O retorno
resultante do aumento da participação das ações e da consequente
diminuição do peso dos títulos constitui um retorno atribuível ao market
timing.
A seleção de papéis resulta da gestão ativa de classes de ativos individuais.
Se um gestor cria portfólios que replicam elmente os mercados (ou seja,
portfólios passivos), ele não está fazendo nenhuma aposta ativa. Na medida
em que um portfólio tem uma composição diferente daquela do mercado
como um todo, a gerência ativa responde por uma parcela dos resultados do
investimento. Por exemplo, o retorno da seleção de papéis para a classe de
ativos de ações de empresas dos Estados Unidos seria a diferença entre os
retornos das ações do portfólio e os retornos do mercado acionário
doméstico total, conforme de nido por um índice de benchmark de ações
norte-americanas, como o Wilshire 5000, por exemplo.
ALOCAÇÃO DE ATIVOS
Viés em ações
Investidores experientes têm abordagens de mercado com forte viés em
participações acionárias, visto que aceitar o risco de possuir essas ações
recompensa os investidores de longo prazo com retornos mais altos. Os altos
retornos contribuem fortemente para a consecução dos objetivos de
preservar o poder de compra e fornecer recursos estáveis para o orçamento
operacional. Na realidade, a tensão entre os objetivos con itantes de
preservar ativos e gastar nas operações só pode ser relaxada se os retornos
dos investimentos forem ampliados.
A teoria nanceira postula que a aceitação de mais risco leva à
recompensa de retornos previstos mais altos. Em uma feliz coincidência, os
dados históricos dos mercados de capitais, coletados por Roger Ibbotson e
Rex Sinque eld, apoiam essa conclusão teórica. Consideremos os múltiplos
de riqueza para investimentos em várias classes de ativos dos Estados
Unidos e a in ação esboçados na Tabela 4.1.
Antecedentes históricos
Os dados indicam que um dólar investido em Letras do Tesouro, no nal de
1925, com toda a renda reinvestida, cresceu dezoito vezes até 31 de
dezembro de 2005. À primeira vista, multiplicar o investimento original por
um fator de 18 parece satisfatório. Entretanto, uma vez que mais de 60% do
aumento teria sido perdido por causa da in ação, o resultado perde um
pouco do brilho. O retorno baixo das Letras do Tesouro não deveria ser
surpresa para ninguém. Em pelo menos duas medidas as Letras do Tesouro
cam próximas da condição de ativo livre de risco. Os investidores
virtualmente não têm exposição de crédito, pois o governo dos Estados
Unidos representa, talvez, a entidade mais solvente do mundo. Além disso,
as Letras do Tesouro oferecem um hedge contra a in ação, com retornos que
seguem de perto os aumentos de preços. O preço dessas características tão
atrativas foi um retorno real extremamente baixo. Assim, com o histórico
em mãos e a possibilidade de analisá-lo, as Letras do Tesouro não teriam
sido um investimento apropriado para uma instituição que investe para
obter retornos substanciais após a in ação.
Fonte: Ibbotson Associates, Stocks, Bonds, Bills and In ation, 2006 Year Book.
Diversi cação
Ainda que os estudos sobre retornos de mercado indiquem que altos níveis
de exposição ao mercado de ações trazem benefícios para os investidores de
longo prazo, os riscos associados não são tão claros. A concentração
signi cativa em uma única classe de ativo representa um risco
extraordinário para os ativos do portfólio. Felizmente os investidores podem
contar com a diversi cação, que é uma ferramenta poderosa de gestão de
risco. Combinando ativos que respondem de maneiras variadas às forças
que impulsionam os mercados, os investidores criam portfólios mais
e cientes. Em um dado nível de risco, portfólios bem diversi cados dão
retornos maiores do que carteiras menos diversi cadas. Inversamente, pode-
se obter um dado nível de retorno num patamar de risco mais baixo por
meio da diversi cação apropriada. Harry Markowitz, criador da teoria
moderna do portfólio, sustenta que a diversi cação do portfólio municia os
investidores de um “almoço grátis”, já que o risco pode ser reduzido sem
sacri car o retorno previsto.
Fonte: Ibbotson Associates, Stocks, Bonds, Bills and In ation, 2006 Year Book; Jeremy Siegel,
Stocks for the Long Run (Nova York, 2002); Bloomberg.
MARKET TIMING
O market timing explícito representa o extremo oposto à gestão disciplinada
de portfólio. John Maynard Keynes, em um memorando do Comitê de
Investimento do Kings College, escreveu que “a ideia de mudanças no
atacado é, por várias razões, impraticável e realmente indesejável. A maioria
dos que tentam vender muito depois, comprar muito depois, e fazer os dois
muitas vezes, incorre em despesas pesadas e desenvolve um estado de
espírito hesitante e especulativo”8. Desviar-se propositalmente, no curto
prazo, dos alvos da política de longo prazo introduz riscos consideráveis no
processo de investimento.
De modo similar, os argumentos usados para atacar o market timing soam
desconfortavelmente similares àqueles empregados quando se tomam
decisões de alocação de ativos. Por exemplo, os investidores poderiam
rejeitar o market timing porque ele exige a realização de algumas apostas
orientadas e não diversi cáveis. Ou, então, os investidores poderiam evitá-lo
por causa dos insuperáveis desa os que surgem na tentativa de identi car e
predizer a multidão de variáveis que in uenciam os preços dos ativos.
Embora fatores semelhantes in uenciem o market timing e também a
política de alocação de ativos, as diferenças de tempo hábil para execução
claramente separam um do outro.
O market timing, de nido como uma aposta de curto prazo contra os
alvos da política de longo prazo, exige que se esteja certo, no curto prazo,
sobre fatores impossíveis de prever. Contudo, os investidores podem tratar
os acionadores importantes dos retornos no longo prazo, pois anomalias de
curto prazo desaparecem nos padrões previsíveis de longo prazo.
Investidores sensatos evitam apostas concentradas contra a alocação de
ativos adotada pela instituição, eliminando assim o risco de in igir danos
sérios ao manter um portfólio inconsistente com os objetivos de longo
prazo.
Excesso de volatilidade
Para o economista Robert Shiller, de Yale, os mercados mostram volatilidade
em excesso12. Isso signi ca que os preços das ações e os valores mobiliários
tendem a utuar mais do que o necessário para responder a fundamentos
básicos, tais como salários e taxas de juros, que determinam valor
intrínseco. Em outras palavras, “se os movimentos de preço fossem
reclassi cados [...] de forma a se tornarem menos variáveis, então o preço
funcionaria melhor na projeção de fundamentos”. A “alegação controversa”
descrita por Shiller fornece “evidências de uma falha do modelo dos
mercados e cientes”13. Qualquer um que tenta entender a crise de outubro
de 1987 de uma perspectiva fundamental vê mérito na colocação de Shiller.
Em um mundo com excesso de volatilidade, os investidores se preocupam
com a direção das utuações dos preços dos títulos e valores mobiliários. As
quedas de preços oferecem oportunidades para comprar e os aumentos de
preços criam oportunidades para vender. Sob algumas circunstâncias, um
ativo torna-se realmente menos arriscado depois de um declínio
signi cativo no preço, já que pode ser readquirido a preços menores. O
bom-senso dos investidores que cam “pescando na baixa” contrasta com a
conclusão histórica dos estatísticos, de que uma queda dramática no preço
aumenta a volatilidade observada (histórica), implicando um nível de risco
mais elevado para o ativo. É claro que a volatilidade de preços só cria
oportunidades quando os preços mudam mais do que o necessário para
re etir mudanças nos fundamentos subjacentes.
SELEÇÃO DE PAPÉIS
E ciência de mercado
Investidores que desejam superar o mercado por meio da gestão ativa
deportfóliosenfrentam obstáculos intimidadores. Embora nenhum mercado
consiga preci car os ativos exatamente em seu valor justo, o tempo todo, a
maioria dos mercados preci ca a maioria dos ativos com e ciência razoável
na maior parte do tempo, o que deixa poucas oportunidades para ganhos
fáceis. Além disso, os custos da gestão ativa aumentam a barreira para o
sucesso, já que investidores ativos pagam taxas de administração, incorrem
em custos de operação e criam impacto no mercado. Investidores
inteligentes abordam as estratégias ativas com ceticismo saudável.
Gestores sensatos preferem mercados com ativos preci cados sem
e ciência e evitam os mercados com ativos preci cados de maneira
e ciente. Infelizmente não existe medida clara para a e ciência na
preci cação. Na verdade, os economistas se envolvem num debate quase
religioso sobre a e ciência: de um lado, estão aqueles que acreditam na
impossibilidade de encontrar excessos de retorno ajustados ao risco e, de
outro, os que defendem que o comportamento humano cria uma série de
oportunidades de gestão ativa.
Grau de oportunidade
Na ausência de medidas diretas da e ciência dos mercados, o
comportamento do gestor ativo dá algumas pistas sobre o grau de
oportunidade em mercados variados. Naqueles mercados com
oportunidades limitadas em termos de gestão ativa, os gestores se desviam
pouco do portfólio do mercado, o que acarreta retornos similares aos do
mercado. Por que os gestores em mercados e cientes tendem “abraçar” o
benchmark? Em um mundo de ativos preci cados e cientemente,
consideremos as consequências para o negócio de manter portfólios com
diferenças marcantes em relação ao portfólio do mercado. Desvios
consideráveis em relação ao portfólio do mercado fazem com que os
resultados da carteira de um gestor variem dramaticamente em comparação
com o benchmark. Gestores com desempenhos medíocres perdem clientes e
ativos. Embora os administradores acima da média possam ganhar clientes e
ativos temporariamente (e também adulação pública), porque os mercados
e cientes não apresentam problemas de preci cação para os gestores ativos
explorarem, os bons resultados provêm da sorte e não da habilidade. O
aparente sucesso se prova transitório para gestores ativos em mercados
e cientes. Em consequência, com o passar do tempo os gestores em
mercados e cientes gravitam na direção da “indexação de armário”,
estruturando apenas portfólios com desvios modestos em relação ao
mercado, assegurando a mediocridade e a sobrevivência.
De maneira totalmente diferente, os retornos obtidos por gestores ativos
em mercados menos e cientes exibem variabilidade muito maior. De fato,
muitos mercados privados não dispõem de benchmarks que os gestores
possam “abraçar”, o que elimina o problema da indexação de armário. As
ine ciências de preci cação permitem que gestores muito habilidosos
tenham grande êxito, enquanto os gestores inábeis contabilizam resultados
comparativamente mais pobres. Trabalho duro e inteligência são
responsáveis pela colheita de muitos frutos em um ambiente em que a
qualidade das informações e o uxo de negócios representam vantagens
importantes.
O comportamento do gestor aumenta a importância das oportunidades
de fazer gestão ativa, ligada à distribuição dos retornos gerenciados
ativamente em uma classe de ativos especí ca. Qualquer medida de
dispersão ajuda a compreender o grau de oportunidade existente para
adotar a gestão ativa. A Tabela 4.4 mostra a dispersão entre o primeiro e o
terceiro quartis de retornos paraportfóliosadministrados de forma ativa. Ela
ilustra o quanto os ativos preci cados com mais e ciência oferecem menos
oportunidades de gestão ativa, ao mesmo tempo que os ativos preci cados
com menos e ciência oferecem mais oportunidades.
Os títulos de renda xa de alta qualidade, supostamente os ativos mais
bem preci cados no mundo, são negociados em mercados dominados por
instituições nanceiras competentes. Já que ninguém (com exceção do
Federal Reserve, Banco Central americano) sabe onde as taxas de juros vão
parar, poucos gestores empregam estratégias de previsão das taxas de juros.
Sem apostas com grande potencial de obter ganhos diferenciais em taxas de
juros, os portfólios institucionais tendem a re etir a sensibilidade do
mercado em relação às taxas de juros ou aos prazos. Dessa forma, os
gestores geralmente se limitam a tomar decisões modestas na seleção de
papéis, o que leva a retornos muito semelhantes aos resultados do
benchmark para a maioria dos gestores ativos. A dispersão entre os
resultados do primeiro e do terceiro quartis, para gestores ativos de renda
xa, mede um valor impressionantemente pequeno – 0,5% ao ano – para a
década encerrada em 30 de junho de 2005.
Viés da sobrevivência
Embora as comparações dos retornos da gestão ativa com os resultados do
benchmark já pintem um quadro bastante sombrio, os gestores que tiverem
esperança de derrotar o mercado irão enfrentar um desa o ainda maior do
que o sugerido pela leitura inicial dos dados. O viés da sobrevivência leva os
gestores ativos, como um grupo, a parecer mais bem-sucedidos do que são
na realidade, já que os dados atuais sobre os retornos desses gestores só
incluem os resultados dos fortes (sobreviventes), pois os retornos dos fracos
(fracassados) foram expurgados.
Os erros de inclusão de dados a menos ou a mais do que o devido tornam
as séries numéricas de desempenho dos gestores tendenciosas, limitando a
utilidade dos relatórios dos consultores no entendimento dos resultados da
gestão ativa A inclusão de dados a menos ocorre quando os gestores
desaparecem sem deixar rastro, enquanto a inclusão a mais acontece, por
exemplo, quando os novos entrantes passam a contribuir com resultados
históricos para a base de dados.
As compilações de dados de retorno em geral incluem apenas os
resultados de gestores ativos na época do estudo. Produtos descontinuados e
gestores desacreditados desaparecem, colorindo os dados de retorno com
tintas otimistas. Se os resultados quase sempre medíocres dos não
sobreviventes fossem incluídos na base de dados, o desa o de derrotar o
mercado iria parecer ainda mais impossível.
Mesmo se os dados reunidos incluírem os resultados de gerentes
fracassados, os números só irão fornecer uma orientação razoável quando os
retornos forem considerados em uma base anual. O período de execução
mais curto produz dados de melhor qualidade porque o número de
abandonos tende a ser menor para os períodos de tempo mais curtos.
Surgem problemas mais sérios quando se examinam resultados que
englobam vários anos, pois um número maior de gestores desaparece
durante qualquer período de anos dado. Como os gestores tendem a
desaparecer depois de registrarem resultados relativos fracos, as
comparações de períodos de vários anos cam in acionadas pelos bons
resultados dos sobreviventes.
Os erros de inclusão de dados a mais acontecem quando quem faz o
levantamento acrescenta empresas novas à base de dados e incorpora os
registros históricos das novas adições. Como os novos entrantes
necessariamente produzem resultados superiores para atrair a atenção da
comunidade de investimentos institucionais, a adição dos registros
históricos dos novos entrantes (também conhecida como “viés do
preenchimento”) in a os retornos da gestão ativa informados
arti cialmente.
Um exame dos dados sobre o retorno dos investimentos produzidos pelo
grupo de investimentos Russell ilustra elmente o impacto do viés da
sobrevivência nos retornos informados. O grupo, composto por consultores
altamente conceituados, compila e publica uma das bases de dados mais
amplamente utilizadas sobre o retorno de investimentos.
A base de dados da Russell é signi cativamente in uenciada pelo viés da
sobrevivência. Consideremos os retornos do gestor de ações americanas que
representa a mediana, registrados na Tabela 4.6. Em 1996, de acordo com a
Russell, o gestor da mediana produziu um retorno de 22,4%, com base nos
valores informados para um tamanho de amostra de 307. Na medida em
que os gestores fracassados saíam e os novos entravam, os resultados
informados para 1996 melhoravam constantemente. Em 2005, o retorno do
gestor da mediana para 1996 saltou para 23,5%, mais de um ponto
percentual acima do resultado original. De forma impressionante, o
relatório de 2005, referente a 1996, inclui apenas 177 observações, 130 a
menos do que o relatório de 1996.
Os dados da Russell sofrem de inclusões a mais e inclusões a menos. De
1997 a 1998 foram incluídos nove gestores, o que indica certo grau de viés
do preenchimento (back ll bias). Como a Russell não fornece informações
anuais sobre quem entrou e quem saiu da base de dados, o observador não
dispõe das informações necessárias para medir a importância relativa das
entradas e saídas. Conforme o exposto acima, a queda de mais de 40%, em
dez anos, no número de empresas informando resultados para 1996 indica
que as partidas dos gestores fracassados dominaram a cena da
sobrevivência.
Assim, conclui-se que a avaliação exata do impacto do viés da
sobrevivência na base de dados da Russel é impossível. Retornos medíocres
de gestores em decadência desaparecem. Retornos sólidos de gestores em
ascensão aparecem. Entretanto, pode-se ter uma ideia da importância do
viés da sobrevivência a partir dos desvios entre os retornos informados
originalmente e os informados depois, já enviesados. Os desvios, incluídos
na Tabela 4.6, vão desde um aumento no retorno da mediana informada
para 2000 de 4,3%, que se transformou numa perda mediana informada
originalmente de 3,1% e depois em um ganho revisado de 1,2%, até
nenhuma mudança no retorno informado para 2005, o ano nal da análise.
Na média, o viés da sobrevivência aumenta os retornos das medianas em
1,6% ao ano.
Fonte: Frank Russell Company.
Liquidez
Investidores sensatos que tentam identi car ine ciências com frequência
gravitam em direção a mercados relativamente ilíquidos, já que os
investimentos realmente compensadores costumam residir em cantos
escuros, e não sob o brilho dos holofotes. Essas oportunidades alternativas e
desconhecidas recebem pouca atenção de Wall Street, o que desenvolve mais
os mercados que geram grandes volumes de negociação.
Os players do mercado procuram posições líquidas, por meio das quais se
torna possível livrar-se imediatamente das perdas de ontem e adquirir
rapidamente o “achado quente” de hoje. Especuladores e pesquisadores de
ativos pagam um prêmio pelos ativos líquidos, à espera de que os mercados
acomodem a reversão de uma operação com imediatismo e pouco ou
nenhum impacto no preço.
A iliquidez induz um comportamento aconselhável, de mais longo prazo.
Em vez de con ar em mercados líquidos para livrar-se dos erros, os
investidores em ativos ilíquidos entram em arranjos de longo prazo,
comprando participações em negócios com os quais terão de viver.
Consequentemente, o cuidado, a meticulosidade e a disciplina reforçados
representam selos de qualidade dos investidores bem-sucedidos em ativos
menos líquidos.
Ao evitar títulos e valores mobiliários altamente líquidos, preferidos pelos
players do mercado, os investidores ativos sérios focam em investimentos
muito mais interessantes. Quando incluem ativos menos líquidos, muitas
vezes identi cam oportunidades de estabelecer posições com descontos
signi cativos em relação ao valor justo.
O “q” de Tobin
Na obra citada, John Maynard Keynes articulou seu conceito de valor: “Não
há nenhum sentido em criar uma empresa nova a um custo maior quando
se pode adquirir uma empresa similar existente por um preço menor, ao
passo que há uma indução para se aplicarem recursos em um novo projeto
que possa parecer exigir uma soma exorbitante, desde que esse
empreendimento possa ser liquidado na bolsa de valores [...] com lucro
imediato”18. James Tobin e William Brainard formalizaram esse conceito
como “q”, o quociente entre o valor de mercado e o custo de reposição dos
ativos.
Em equilíbrio, sob um conjunto razoável de condições, o “q” de Tobin-
Brainard é igual a 1,0, quando o valor de mercado dos ativos é igual ao seu
custo de reposição. Se o valor de mercado é maior que o custo de reposição,
um “q” maior que 1,0 incentiva os empreendedores a criar companhias,
oferecendo-as para venda com lucro imediato nos mercados abertos. Se o
custo de reposição é maior que o valor de mercado, um “q” menor que 1,0
leva os empreendedores a comprar o patrimônio das empresas no mercado
aberto, em vez de adquirir empresas “do zero”. Os investidores em valor
prosperam em ambientes em que o “q” tem valor menor que 1,0.
Margem de segurança
O renomado investidor Benjamin Graham resume o princípio central de
valor num conceito simples – a margem de segurança –: o “colchão” de valor
criado por possuir ações de uma empresa com “poder de lucro previsto
consideravelmente maior que a taxa de juros praticada no mercado”.
Graham observa que a ideia da margem de segurança se torna muito mais
evidente quando aplicada ao terreno dos papéis subvalorizados ou das
subavaliações. Aqui temos, por de nição, uma diferença favorável entre o
preço, de um lado, e o valor indicado ou avaliado de outro. Essa diferença é
a margem de segurança. Ela existe para amortecer o efeito de cálculos
errôneos ou da falta de sorte. O comprador de ações subvalorizadas enfatiza
a capacidade do investimento de superar acontecimentos adversos. Na
maioria desses casos, ele não está muito entusiasmado com as perspectivas
da companhia. A verdade é que, se as perspectivas forem de nitivamente
muito ruins, o investidor irá evitar o papel, qualquer que seja o preço.
Porém, o terreno das ações subvalorizadas lida com diversas companhias –
talvez a maioria delas – para as quais o futuro não parece claramente
favorável, tampouco claramente desfavorável. Se as ações dessas companhias
forem compradas a preço de banana, mesmo uma queda moderada no
poder de lucro não impedirá que o investimento mostre resultados
satisfatórios. A margem de segurança terá então servido ao seu verdadeiro
propósito19.
Nos mercados de títulos e valores mobiliários altamente e cientes de hoje
existem poucas oportunidades para adquirir ativos a preços abaixo do preço
justo. Mesmo com o benefício de poder analisar o histórico, os investidores
podem não ter como saber se as posições foram compradas abaixo do valor
intrínseco. O ajuste para determinado nível de risco e a avaliação do
impacto de eventos externos subsequentes, positivos ou negativos,
complicam a avaliação da decisão inicial de aquisição. Por causa da
di culdade de provar a e cácia das estratégias de investimento orientado
por valor, os investidores aceitam a abordagem quase como uma pro ssão
de fé.
Talvez o argumento mais convincente a favor das abordagens de
investimentos com base em valor se encontre nos princípios contrários
(contrarian principles/strategies). Frequentemente, os mercados se
movimentam em direção aos extremos, com avaliações muito boas para os
ativos populares e muito ruins para os marginalizados. Ao buscar
oportunidades em títulos e valores mobiliários negligenciados, os
investidores que vão contra o mercado aumentam a probabilidade de
identi car investimentos rentáveis.
Ainda assim, investir de maneira descuidada contra as tendências de
mercado traz muitos perigos para os portfólios. Às vezes, companhias
populares merecem avaliações melhores. E, às vezes, companhias
marginalizadas merecem ter suas avaliações rebaixadas. Identi car ativos
marginalizados serve como um ponto de partida para investidores sérios,
levando a análises adicionais. Os investidores só devem comprar títulos e
valores mobiliários depois que análises cuidadosas tiverem con rmado as
expectativas sobre o desempenho futuro dos papéis.
Comprar ações com índices de preço/lucro ou preço/valor contábil baixos
é uma estratégia ingênua. Simplesmente selecionar as ações mais baratas,
medidas em relação aos lucros correntes ou ao valor contábil, negligencia
fatores importantes, como a qualidade da administração do negócio e as
perspectivas de lucros futuros.
Historicamente, estratégias ingênuas de avaliação entregaram taxas de
retorno superiores, embora expusessem os investidores a níveis de risco
fundamental relativamente altos20. Jeremy Grantham, da Grantham Mayo
Van Otterloo, alerta sobre a “enchente dos sessenta anos” que pode eliminar
anos de ganhos acumulados simplesmente com a compra de ações mais
baratas. Pode-se comprar valor verdadeiro adquirindo ativos a preços abaixo
do valor justo, um conceito que olha para a frente e considera os uxo de
caixa previstos com ajuste para o nível de risco.
Quem investe com base em valor não precisa limitar suas escolhas a
companhias com crescimento baixo ou em apuros nanceiros. É possível
encontrar empresas com avaliações atrativas mesmo em setores com alto
crescimento. Quando participa de conferências dessa área, um gestor de
ações de tecnologia, Sy Goldblatt, da S Squared, evita as salas lotadas de
analistas perseguindo a “estrela do mês”. Em vez disso, ele opera fora da
tendência dominante e se encontra com as companhias que não têm
condições de atrair grande público. Embora muitos não estejam
familiarizados com os conceitos de valor e tecnologia, a combinação dos
dois pode ser poderosa. Os investidores em valor procuram comprar
companhias com desconto em relação ao valor justo e não comprar ativos de
crescimento baixo ou apuros nanceiros por si.
Benjamin Graham reconhece que investidores cuidadosos são capazes de
identi car valor em áreas incomuns. Ele escreve: A abordagem das growth
stocks pode fornecer uma margem de segurança tão con ável quanto a
encontrada no investimento comum, contanto que o cálculo do futuro seja
feito de forma conservadora e mostre uma margem satisfatória em relação
ao preço pago. O perigo de um programa de investimento em growth stocks
reside precisamente nesse ponto. Para tais ações preferidas, o mercado tende
a estabelecer preços que não estarão protegidos adequadamente por uma
projeção conservadora do lucro futuro. A margem de segurança sempre
depende do preço pago. Ela será grande a um preço, pequena a um preço
mais alto, inexistente a um preço ainda maior. Se, como sugerimos, o nível
de mercado médio da maioria das growth stocks é alto demais para
proporcionar uma margem de segurança adequada ao comprador, então
uma técnica simples de compras diversi cadas neste campo pode não
funcionar de maneira satisfatória. Será necessário um grau singular de
previsão e bom-senso para que as seleções individuais sensatas possam
superar os perigos inerentes no nível costumeiro de mercado de tais ações
como um todo21.
Embora Graham reconheça que, ocasionalmente, é possível identi car
ações com crescimento que exibem margem de segurança, os investidores
orientados por valor que escolhem títulos e ações marginalizados lidam com
um conjunto mais rico de alternativas para o portfólio.
CONCLUSÃO
A loso a de investimento de ne qual será a abordagem do investidor para
gerar retornos para o portfólio e descreve a essência dos princípios que
permeiam o processo de investimento. Os retornos do mercado provêm de
três fontes – alocação de ativos, market timing e seleção de papéis –, e cada
fonte de retorno oferece aos investidores uma ferramenta a ser usada para
cumprir os objetivos institucionais. Investidores sensatos empregam as
ferramentas disponíveis de modo consistente, com uma loso a de
investimento bem de nida e articulada com cuidado.
O comportamento do investidor leva a alocação de ativos a ser a mais
importante para o retorno dos portfólios, pois as instituições tendem a
manter compromissos estáveis com portfólios amplamente diversi cados de
títulos e valores mobiliários. Criar um portfólio diversi cado, com várias
classes de ativos dirigidas para ações, que respondam aos acionadores de
drivers retornos de formas diferentes, confere uma sustentação importante
para o processo de investimento.
O market timing faz com que os investidores mantenham portfólios
diferentes dos alvos da política, colocando em risco a capacidade do fundo
de cumprir os objetivos de longo prazo. Muitas vezes motivado pelo medo
ou pela ganância, tende a prejudicar a performance do portfólio. Muitas
instituições praticam uma forma implícita de market timing ao deixarem de
manter as alocações nos alvos da política de longo prazo. Para realizar um
controle de risco efetivo, é necessário efetuar rebalanceamentos regulares do
portfólio, a m de garantir que ele re ita as preferências institucionais.
A seleção ativa de papéis destaca-se em quase todos os programas de
investimento institucionais, apesar dos resultados relativos fracos divulgados
pela maioria esmagadora dos investidores. Os gestores de fundos aumentam
suas chances de sucesso ao focar em mercados ine cientes, que apresentam
a maior gama de oportunidades. Aceitar a iliquidez gera dividendos
consideráveis para os investidores pacientes, de longo prazo, enquanto
abordar os mercados com uma orientação por valor proporciona uma
margem de segurança. Mesmo quando os investidores executam programas
de gestão ativa com inteligência e cautela, a e ciência na preci cação dos
ativos é um desa o signi cativo, no que se refere a identi car e implementar
estratégias de superação de mercado. Na situação muito comum em que os
investidores perseguem retornos sólidos e abandonam o investimento
quando o desempenho é fraco, as probabilidades de superar o mercado
reduzem-se dramaticamente. A e ciência do mercado e o comportamento
irracional do investidor se combinam para fazer da seleção de papéis um
jogo di cílimo.
5
Alocação de ativos
O processo de alocação de ativos ilustra a importância de combinar a arte e
a ciência ao tomar decisões sobre investimentos, porque nem o bom-senso
tampouco a análise quantitativa, individualmente, produzem resultados
satisfatórios de maneira consistente. Num extremo, as decisões tomadas no
calor da emoção carecem de rigor, omitem algumas informações e enfatizam
demais ou de menos as informações restantes. No outro, a aplicação
mecanicista de ferramentas quantitativas produz conclusões simplistas, às
vezes perigosas. O casamento entre a arte do bom-senso temperado e a
ciência das análises numéricas cria uma abordagem poderosa para alocar os
ativos do portfólio.
De nir e selecionar as classes de ativos são as etapas iniciais da produção
de um portfólio. Muitos gestores simplesmente alocam entre as classes de
ativos populares no momento, em proporções similares às dos outros
investidores, criando portfólios unânimes, que podem ou não resolver as
necessidades da instituição. Ao con ar nas decisões de outros para orientar
as escolhas do portfólio, os gestores deixam de chamar para si a
responsabilidade mais fundamental de um gestor de investimentos – a de
projetar um portfólio capaz de cumprir os objetivos especí cos da
instituição.
Julgamentos qualitativos
As limitações da análise de média-variância justi cam a inclusão de
considerações qualitativas no processo de alocação de ativos. O julgamento
pode ser incorporado aplicando-se limites razoáveis à alocação de
determinadas classes de ativos. Por exemplo, um investidor poderia
expressar uma preferência por uma diversi cação que limitasse qualquer
classe individual de ativos a, no máximo, 30% dos recursos. Uma limitação
como essa garante que nenhuma classe de ativos domine um portfólio. Além
disso, alocações esperadas em private equity poderiam, logicamente, ser
limitadas a um modesto aumento sobre a alocação atual. Como as
oportunidades ilíquidas e esporádicas limitam uma expansão prudente das
participações em private equity, mudanças incrementais fazem bastante
sentido.
O gradualismo representa uma virtude. Incertezas consideráveis cercam o
processo de alocação de ativos. As “forças escuras do tempo e da ignorância”,
citadas por Keynes, tornam incerto o futuro, fazendo com que até as
estimativas mais cuidadosas de características dos mercados de capital se
mostrem não con áveis4. A decisão de implementar mudanças radicais com
base em dados altamente incertos coloca peso demais em uma fundação
cambaleante. Limitar as mudanças de alocações de ativos por meio da
restrição dos movimentos de cada classe representa uma modi cação
sensata do processo de otimização.
Entretanto, é preciso tomar cuidado para evitar que as classes de ativos
sejam usadas simplesmente para formar um portfólio que pareça razoável.
Se essa técnica for levada ao extremo, com limitações demais no processo de
otimização, o modelo pode passar a não fazer nada além de re etir os vieses
originais do investidor, resultando no GIGO (garbage in, garbage out) –
fenômeno bem conhecido por quem trabalha com ciência computacional.
Uma alternativa para os investidores é identi car portfólios superiores,
porém razoáveis, ao escolher a partir de um conjunto de portfólios que
cam perto da fronteira e ciente, mas não diretamente sobre ela. Na
verdade, salvo nos casos em que o portfólio atual se situa diretamente sobre
a fronteira e ciente, há variadas alternativas que prometem retornos
esperados maiores (com risco igual ou mais baixo) ou risco esperado menor
(com retorno igual ou mais alto). Algumas das melhores escolhas
provavelmente parecem mais razoáveis do que os portfólios que de nem a
fronteira, dando ao investidor uma alternativa mais confortável e, ainda
assim, melhor.
As modelagens quantitativas provaram ser muito úteis para direcionar a
atenção do investidor para as mudanças de alocações de ativos com grande
potencial de bons retornos. Ao analisar o portfólio existente usando a
otimização de média-variância e medindo o grau em que o otimizador
prefere se mover numa determinada direção, os investidores compreendem
a relativa atratividade dos movimentos prospectivos do portfólio. As classes
de ativos atrativas sofrem tensões nas restrições, enquanto as participações
não atrativas podem nem chegar a alcançar os níveis de alocação atuais. O
grau em que o otimizador “gosta” de uma determinada classe de ativos
sugere aumentar ou diminuir as alocações, oferecendo um ponto de partida
para a avaliação qualitativa da conclusão quantitativa. O uso do julgamento
informado para modi car e interpretar os resultados da média-variância
melhora o processo de alocação de ativos.
PREMISSAS DO MERCADO DE CAPITAIS
As expectativas de risco e retorno são o coração da avaliação quantitativa
das alternativas para o portfólio. Embora a experiência histórica represente
um ponto de partida razoável, os investidores que pretendem criar
conclusões verdadeiramente úteis devem ir além de simplesmente salpicar
números históricos no otimizador de média-variância.
Desenvolver um conjunto de informações quantitativas para inserir na
otimização de portfólio traz algumas di culdades. Entre elas, a que pode dar
mais dor de cabeça é a natureza preditiva das estimativas. Os padrões
observados fornecem informações importantes para as premissas sobre o
futuro, mas os dados históricos precisam ser modi cados para produzir um
conjunto de números consistente com as realidades esperadas para o
mercado. Os investidores mais minuciosos miram no equilíbrio perfeito
entre o respeito pelo histórico e a preocupação com a consistência analítica.
Os dados históricos dos mercados de capitais requerem ajustes. O
comportamento dos preços de títulos e valores mobiliários, que se
movimentam para cima e para baixo da média, implica que períodos de
retornos anormalmente elevados vêm em seguida dos períodos de retornos
anormalmente baixos, e vice-versa. Jeremy Grantham, conhecido gestor de
recursos, acredita que a reversão para a média é a força mais poderosa dos
mercados nanceiros5. Se os preços tendem a reverter para a média, então as
expectativas de retorno precisam ser ajustadas para diminuir as expectativas
em torno de fenômenos de altas recentes e in ar as projeções para ativos
com desempenhos fracos recentemente.
Dados de períodos especí cos com frequência sugerem conclusões
contraintuitivas. Classes de ativos relativamente arriscadas podem mostrar
retornos abaixo dos registrados por investimentos obviamente menos
arriscados. Ativos que têm pouco em comum podem andar juntos sem
nenhuma razão aparente. Ajustar as premissas de modo a re etir relações
adequadas de risco/retorno é essencial para análises quantitativas sensatas.
Mudanças estruturais nos mercados forçam os analistas a dar peso maior
aos dados mais recentes, retirando a ênfase dada a números antes
registrados, às vezes em ambientes dramaticamente diferentes. A introdução
de novas classes de títulos e valores mobiliários, como a emissão de bônus
do Tesouro americano de trinta anos, a partir de fevereiro de 1977, pode
alterar as características da classe de ativos de maneira tão fundamental que
os dados anteriores se tornam muito menos relevantes para a obtenção de
conclusões sobre o comportamento futuro dessa mesma classe.
Alguns pro ssionais parecem intimidados pela tarefa de elaborar
estimativas pontuais precisas das características futuras das classes de ativos.
O conforto vem da constatação de que grande valor decorre de produzir um
conjunto de previsões com relações razoáveis entre as várias classes de
ativos. As premissas de mercados de capitais com relações sensatas
permitem identi car um conjunto útil de alternativas para o portfólio.
Mesmo se as estimativas pontuais das variáveis de risco e retorno não
correspondem à realidade subsequente, na medida em que essas
informações resultam de inter-relações bem fundamentadas, o processo de
otimização de média-variância irá gerar entendimentos valiosos sobre
alternativas e cientes para o portfólio.
Infelizmente, estimativas pontuais dos retornos das classes de ativos
continuam sendo necessárias para outros propósitos. Ao avaliar a
capacidade das várias combinações de portfólios de suportar os requisitos de
gastos especi cados, os níveis exatos de retornos previstos entram no jogo.
Quando decidem se uma carteira é capaz ou não de produzir retornos
su cientes para satisfazer uma taxa-alvo de gastos de 4%, 4,5% ou 5%, os
administradores encaram o grande desa o de con ar nas previsões de
retornos futuros dos mercados de capitais. Felizmente, quando estão
avaliando a capacidade de um portfólio de suportar um nível especí co de
gastos, os dirigentes precisam de previsões razoavelmente exatas dos
retornos no longo prazo, que se revelam muito menos difíceis de compor do
que as de retornos no curto prazo.
Na otimização de média-variância, os dados sobre retornos esperados são
os determinantes mais poderosos dos resultados, exigindo maior atenção
por parte de quem faz as modelagens quantitativas6. As previsões de
variância cam em segundo lugar em importância, enquanto as premissas
de correlações são as menos cruciais. Felizmente, as variáveis mais intuitivas
– retornos esperados e variâncias esperadas – desempenham um papel mais
central no modelo que as correlações menos intuitivas.
Títulos domésticos
O mercado de títulos domésticos fornece uma linha de base lógica para
construir uma matriz de premissas de mercados de capitais. Com o passar
do tempo, à medida que os retornos encontrados pelos investidores de renda
xa foram corroídos pelos feitiços da in ação inesperada, os títulos
proporcionaram retornos reais medíocres, de 2,5% ao ano, com risco de
6,8%. A decisão tomada pelo Banco Central em outubro de 1979, de mirar
em agregados monetários e não em taxas de juros, levou à maior
volatilidade nas negociações de títulos. Colocar mais peso na experiência
recente conduz a uma premissa de retorno esperado de 2%, com risco de
10%.
Ações listadas
A discussão sobre a diferença nos retornos esperados para títulos e ações,
descritos mais sucintamente como o prêmio de risco, enche muitos volumes
de publicações de nanças. Mesmo reconhecendo as complexidades que
cercam a estimação do prêmio de risco, os alocadores de ativos devem tratar
da questão de maneira explícita ou implícita. O prêmio de risco histórico de
8,1% parece excessivo e resulta, em grande parte, do extraordinário
desempenho das ações de empresas americanas nos últimos 25 anos. Além
disso, a série temporal dos retornos de ações e títulos sugere que o prêmio
de risco diminuiu com o tempo. A combinação da tendência de um alto
prêmio de risco para reversão para a média com a observação de que o
prêmio de risco das ações parece cair secularmente justi ca uma premissa
de retorno real para as ações dos Estados Unidos de 6%, com desvio-padrão
de 20%.
Agrupar geogra camente os diversos mercados acionários dos Estados
Unidos resulta em algumas questões analíticas interessantes. As abordagens
vão da global à regional, passando pela nacional. Uma classe de ações global
(uma abordagem de classe de ativos) não reconhece a contribuição crítica
dos movimentos da moeda para os retornos dos investimentos, embora uma
classe de ativos individual por país crie variáveis demais para uma análise
razoável. Separar as ações domésticas das estrangeiras permite que os
investidores contabilizem as características críticas do país de domicílio,
particularmente em relação à moeda. Mais uma diferença entre os ativos de
grupos de mercados desenvolvidos e emergentes se refere às importantes
características de diferenciação de risco e retorno.
As economias desenvolvidas tendem a ter fundamentos econômicos e de
mercado muito semelhantes. No longo prazo, os mercados de ações em
países como Alemanha, Japão e Reino Unido precisam gerar retornos
similares àqueles dos Estados Unidos, já que expõem os investidores a níveis
de riscos parecidos.
A premissa de retorno de 6%, com risco de 20%, para mercados
estrangeiros desenvolvidos é igual às expectativas para as ações de empresas
americanas.
Em relação a outros mercados acionários, as ações de mercados
emergentes expõem os investidores a riscos fundamentais
consideravelmente maiores, levando os investidores racionais a esperar
retornos e volatilidades mais altas. Os retornos reais esperados de 8%
compensam os investidores em ações de mercados emergentes por
aceitarem altos níveis de risco, representados por um desvio-padrão de 25%
dos retornos.
Private equity
O private equity inclui o venture capital (capital de risco) e as participações
em leveraged buyouts (aquisições alavancadas), ativos que respondem às
in uências do mercado de forma parecida com ações listadas. De fato, os
dois tipos de investimento se assemelham a ações de alto risco, suscitando a
possibilidade de classi car os ativos na mesma categoria de ações
negociáveis.
Os gestores de private equity que adotam estratégias puramente
nanceiras enfraquecem o argumento que defende a gestão de uma classe de
ativos separada. No campo das aquisições, adicionar alavancagem ao
balanço patrimonial de uma companhia não tem grandes efeitos no sentido
de distanciar o investimento privado da empresa pública. No caso do
investimento em venture capital, a empresa que oferece ativos em estágio
avançado, em pré-IPO (Oferta Pública Inicial), possui ativos praticamente
idênticos às ações small caps negociadas nos mercados públicos. Como os
investimentos private equity criados por meio de engenharia nanceira se
parecem muito com suas contrapartes em ações negociáveis, os argumentos
para segregar esses ativos das ações negociadas no mercado aberto
praticamente se resumem às diferenças de liquidez.
Uma justi cativa mais convincente para que se trate o private equity como
uma classe distinta vem do fato de que os responsáveis por esses
investimentos fazem uma gestão agregando valor à empresa investida. Na
medida em que os gestores de venture capital ajudam a trazer uma
companhia sem receitas para uma realidade em que os proventos chegam a
dezenas de milhões de dólares, trata-se da criação de valor independemente
da atividade do mercado. Um especialista em leveraged buyouts que produz
melhorias operacionais signi cativas gera retornos não correlacionados de
maneira similar. As melhores oportunidades para criação de valor,
combinadas com as diferenças estruturais e de liquidez, sustentam a ideia de
tratar o private equity como uma classe de ativos diferenciada.
Os dados históricos fornecem pouca orientação sobre como compor as
premissas para as projeções de variáveis dos mercados de capitais. Alguns
raros sinais de mercado fazem os ativos privados parecerem menos voláteis
do que a realidade. As start-ups mantidas em sociedades de venture capital
só recebem avaliações de analistas ocasionalmente, o que leva a níveis
relativamente baixos de risco observado. No período logo após a oferta
pública inicial, quando as companhias começam a ser negociadas
diariamente, a volatilidade medida aumenta de forma dramática. Parece
óbvio que o risco real tende a diminuir com o amadurecimento das
companhias, o que sugere que o nível de volatilidade observado subestima o
risco para os ativos administrados de maneira privada. Os dados históricos
sobre os retornos de operações de leveraged buyouts sofrem com o mesmo
problema de níveis baixos de risco histórico observado. A pouca frequência
dos relatórios sobre o assunto, agravada pelas fracas políticas de avaliação
por parte do mercado, acaba por disfarçar os níveis de risco real.
As orientações sobre como especi car os atributos de risco e retorno dos
investimentos em private equity surgem da relação esperada com os
investimentos no mercado de ações listadas. A iliquidez e o alto risco
característicos dos ativos de private equity demandam um prêmio
considerável sobre as expectativas de retorno das ações domésticas (os já
conhecidos 6% de retorno com 20% de risco). Vamos supor que os
investimentos em private equity gerem retornos de 12%, com um nível de
risco de 30%. Isso representa uma alteração conservadora bem-vinda em
relação ao registro histórico de 12,8% de retorno com nível de risco de
23,1%.
Ativos reais
A categoria dos ativos reais inclui ativos como imóveis, investimentos em
petróleo e gás e em terras orestais, cujas características em comum são a
sensibilidade às forças in acionárias, os altos e notáveis uxos de caixa e as
oportunidades de exploração de ine ciências. Os ativos reais oferecem
perspectivas de retorno atrativas, além da possibilidade de diversi car o
portfólio com qualidade e de formar um hedge contra eventuais níveis mais
altos de in ação.
Apesar de apresentarem semelhanças importantes, as três classes de
subativos são diferentes entre si e mostram correlações apenas modestas, já
que o suprimento e a demanda para cada uma dependem de fatores
fundamentalmente diferentes. Por exemplo, a história recente indica que os
investimentos em óleo e gás mostram correlações negativas com imóveis e
madeira. Essa diversi cação dentro dos ativos reais ajuda a produzir
retornos constantes através de uma variedade de ambientes econômicos.
Os imóveis são a alma do portfólio de ativos reais de Yale, com peso de
50%. O mercado imobiliário proporciona retornos extremamente cíclicos.
Olhando no espelho retrovisor para os recentes anos 1980, sobretudo o nal
da década, os investidores se afobaram para entrar no segmento imobiliário,
seduzidos pelos retornos que deixavam os rendimentos de ações e títulos
léguas atrás. Poucos anos mais tarde, depois do colapso do mercado, os
mesmos investidores não enxergavam mais nada além de perspectivas
sombrias para os imóveis. Os retornos medíocres quase eliminaram o
interesse neles como um ativo para os investimentos institucionais. A
realidade está em algum lugar entre os extremos do entusiasmo selvagem e
do desespero profundo.
Os imóveis incorporam características de dívida e de capital. Os
pagamentos de aluguel e a responsabilidade contratual dos locatários
lembram as obrigações da renda xa, enquanto o valor residual da
propriedade tem atributos semelhantes aos do capital. Em casos extremos,
os investimentos em imóveis tornam-se bem similares aos investimentos em
títulos. Por exemplo, as propriedades sujeitas a aluguéis de longo prazo, com
cláusula de cobertura integral de riscos, propiciam uxos de caixa parecidos
com os de pagamentos de cupons. Alguns imóveis, por outro lado,
consistem quase que inteiramente de valor residual. Os hotéis, por exemplo,
que recebem aluguéis diários, têm características quase puras de ativos de
capital. A maioria dos imóveis ca no meio do caminho, com elementos de
dívida e de capital.
Os investimentos em óleo e gás compreendem desde a aquisição de
reservas, considerada relativamente conservadora, até as arriscadíssimas
atividades de perfuração. Os ativos reais têm foco em aquisições de
propriedades produtoras, pois os uxos de caixa existentes garantem a
sensibilidade à in ação. As atividades de exploração, que são as mais
arriscadas, pertencem ao segmento do private equity pelo menos até que se
descubram (ou não) as reservas.
As reservas de petróleo e gás geram uxos de caixa extraordinários,
enquanto a produção esgota os reservatórios, fazendo com que os
investidores recebam uma combinação de retorno sobre o capital e retorno
do capital. Os uxos de caixa das reservas mostram correlação altíssima com
os preços de energia, embora variações geográ cas e de qualidade
ocasionem diferenças.
Os investimentos em madeira fecham o trio dos ativos reais. Embora as
ações das empresas do setor madeireiro também se caracterizem pela
sensibilidade à in ação, como os imóveis e o petróleo, como a madeira tem
uma função menos crucial na economia geral, seus preços exibem menor
correlação com os níveis gerais de preço. Os competentes proprietários de
madeireiras administram suas empresas de forma sustentável, cortando a
quantidade de madeira produzida a cada ano pelo crescimento biológico.
Quando manejadas em bases sustentáveis, a capacidade produtiva da
oresta permanece intacta e preserva o valor por gerações e mais gerações.
O manejo sustentável das orestas não exige que se cortem
indiscriminadamente as árvores de um único ano de crescimento biológico.
Se os preços da madeira estiverem relativamente baixos, o programa de
corte pode ser abreviado, com o adiamento das safras do ano corrente para
os próximos anos. A bem da verdade, o proprietário da terra orestal recebe
um bônus, na forma de um crescimento biológico adicional como
pagamento por sua paciência. Esse tipo de pagamento no segmento
madeireiro contrasta com as características de esgotamento dos
investimentos em petróleo e gás.
Pode-se esperar que os retornos dos ativos reais se situem entre o retorno
esperado para as ações e o retorno esperado para os títulos, consistente com
a expectativa de que o risco dos ativos reais caia entre os riscos das ações e
os riscos dos títulos. É fato que as ine ciências na preci cação de ativos reais
geram expectativas de retornos maiores, o que sugere paridade nas
expectativas de retornos para ativos reais e ações, conduzindo a premissas
de retornos reais de 6%.
Como no caso dos dados sobre o retorno absoluto, os números referentes
à volatilidade dos ativos reais precisam ser modi cados. Com o risco das
ações em 20% e o risco dos títulos em 10%, o risco observado dos ativos
reais (6,8%) parece inconsistente com as características fundamentais dessa
classe de ativos. Como os dados dos ativos reais originam-se,
predominantemente, de avaliações feitas com pouca frequência, os retornos
informados não capturam a real volatilidade econômica. Não apenas a
amostragem pouco frequente reduz a oportunidades de observar utuações
de preço; o processo de avaliação tende a perpetuar qualquer viés que possa
ter in uenciado as avaliações passadas. O risco esperado para os ativos reais,
de 15%, encontra-se entre o risco dos títulos, de 10%, e o risco das ações, de
20%. Desenvolver premissas de mercados de capitais avaliando-se as
características fundamentais da classe de ativos permite que os investidores
criem uma estrutura de avaliação de portfólio razoável e independente das
condições cíclicas do mercado.
TESTANDO A ALOCAÇÃO
Para muitos investidores, de nir a fronteira e ciente representa o objetivo
máximo da análise quantitativa do portfólio. Escolher a partir de um
conjunto de portfólios na fronteira garante que, dadas as premissas básicas,
não existe portfólio superior. Infelizmente, a otimização de média-variância
fornece pouca orientação realmente útil na escolha de um ponto especí co
na fronteira e ciente. Acadêmicos sugerem o seguinte: especi que uma
função de utilidade e escolha o portfólio no ponto de tangência com a
fronteira e ciente. Esse conselho só é útil no improvável caso em que os
investidores acham possível articular uma função de utilidade na qual a
utilidade se relaciona unicamente com a média e a variância dos retornos
esperados.
Identi car um conjunto de portfólios e ciente pela média-variância não
liquida a questão. Após a de nição da fronteira e ciente, os investidores
precisam determinar qual combinação de ativos atende melhor aos objetivos
do fundo do endowment. Os portfólios de sucesso precisam cumprir os dois
objetivos da gestão dos endowments: preservação do poder de compra e
provimento de recursos substanciais e sustentáveis para as operações. Para
avaliar a capacidade de um portfólio de atingir esses objetivos, os criativos
analistas de modelos pensaram em testes quanti cáveis.
Preservar o poder de compra representa um objetivo no longo prazo. As
instituições dotadas de fundos prometem aos doadores que suas doações
irão apoiar, para sempre, determinadas nalidades. Assim, para avaliar o
atingimento ou não desse objetivo da preservação do endowment, é
necessária uma medida de longo prazo, que atravesse gerações. Por exemplo:
Yale quanti ca a falha da perda de valor do fundo, de nindo-a como a perda
de 50% do poder de compra ao longo de cinquenta anos.
Fornecer apoio estável ao orçamento operacional representa um objetivo
de médio prazo. Como as operações da universidade exigem fontes estáveis
de custeio, declínios muito rápidos e acentuados nas receitas do fundo são
difíceis de acomodar. Yale de ne um trauma de gastos como uma redução
de 10% nas distribuições reais do endowment durante cinco anos.
As descrições quantitativas das falhas em relação ao poder de compra e à
estabilidade dos recursos variam, necessariamente, de instituição para
instituição. A verdade é que a métrica pode mudar com o tempo. Nos nal
dos anos 1980, quando Yale começou a usar ferramentas quantitativas para
avaliar a e cácia do portfólio, o endowment fornecia cerca de 10% das
receitas. Naquele tempo, Yale de niu o trauma de gastos como uma queda
real de 25% ao longo de cinco anos. Como a importância do endowment
para o orçamento cresceu, as consequências de um declínio material nas
distribuições do fundo cresceram proporcionalmente. Em 2001, quando o
endowment respondeu por cerca de um terço das receitas, a universidade
rede niu o trauma de gastos como um declínio real de 10% nas receitas
durante cinco anos.
Infelizmente, existe um trade-off claro e direto entre preservar o poder de
compra e custear as operações de maneira estável. Embora desa os óbvios
impeçam a criação de medidas precisas e equivalentes desses dois tipos de
falha, obter uma equivalência entre as duas medidas, mesmo que grosseira, é
útil para a avaliação dos trade-offs entre os dois objetivos. O desa o para os
dirigentes duciários está na seleção do portfólio mais adequado para
cumprir, na medida do possível, os dois objetivos. Testes de desempenho
quantitativo facilitam a escolha do portfólio.
Simulando o futuro
Uma vez que os objetivos foram articulados e quanti cados, o mecanismo
para avaliar os investimentos e a política de gastos é a simulação estatística.
Os investidores começam com uma política de gastos, especi cando uma
taxa-alvo e um procedimento médio. A política de gastos permanece
constante enquanto os vários portfólios de investimentos são submetidos ao
processo de simulação*. As simulações empregam as premissas de mercados
de capitais desenvolvidas para a otimização de média-variância. Os retornos
para cada classe de ativos, baseados nos retornos, riscos e correlações
pressupostos e retirados das distribuições especi cadas, determinam os
retornos do portfólio para o período inicial. A regra de gastos dita a
quantidade a ser resgatada do endowment, deixando um resíduo para ser
investido no segundo período. Depois de recompor os pesos da política de
longo prazo, rebalanceando o portfólio, repetir o procedimento que gera o
retorno fornece informações sobre o valor do endowment e o nível de gastos
para o ano subsequente. O processo continua, criando uma série temporal
de valores de gastos e do endowment.
O processo de simulação descrito acima cria um trajeto especí co, um
teste das características do portfólio que não é nada robusto. Para aumentar
o conteúdo de informações do teste, os analistas realizam, literalmente,
milhares de simulações, que fornecem uma montanha de dados sobre os
futuros valores de gastos e do endowment. Os resultados coletivos produzem
um retrato vívido do futuro, permitindo calcular as probabilidades de falhas
nos dois objetivos.
É preciso combinar conhecimentos quantitativos e qualitativos para
interpretar os resultados simulados. Alguns portfólios são eliminados pelo
argumento de que são dominados por portfólios com menores
probabilidades de fracassar no cumprimento de pelo menos um dos dois
objetivos. Outros são abandonados porque têm vieses no que diz respeito a
satisfazer mais um objetivo em detrimento do outro. Uma vez eliminados os
portfólios claramente inferiores, os responsáveis pela decisão avaliam os
trade-offs qualitativos entre reduzir o risco em uma medida enquanto se
aumenta o risco em outra. Na análise nal, a seleção do portfólio envolve
uma avaliação subjetiva cuidadosa dos trade-offs entre os objetivos
con itantes.
Fonte: Departamento de Investimentos da Universidade Yale.
CONCLUSÃO
Construídas sobre os princípios losó cos da orientação e da diversi cação
do capital, as decisões de alocação de ativos fornecem a estrutura que
suporta a criação de portfólios de investimentos e cazes. Colocar os alvos
da política de alocação no centro do processo de investimento confere uma
medida de estabilidade aos recursos investidos em um mundo cheio de
incertezas.
Descrições puramente estatísticas das várias alternativas de alocação de
ativos pouco oferecem aos administradores em termos de orientação de
decisões. O largamente utilizado processo de otimização de média-variância
de Markowitz produz um conjunto de portfólios e cientes, totalmente
descritos por dois parâmetros: retorno esperado (média) e risco esperado
(desvio-padrão). Os acadêmicos identi cam portfólios ótimos especi cando
uma função de utilidade institucional que produz um ponto de tangência
com a fronteira e ciente da média-variância. Mesmo se a abordagem
acadêmica se mostrar útil, o que seria uma ocorrência improvável, resta a
quem toma as decisões imaginar como o portfólio escolhido irá interagir
com a política de gastos da instituição.
Uma série de problemas implícitos presentes na maioria das aplicações de
análise de média-variância limita sua utilidade em avaliar portfólios.
Incorporar considerações qualitativas sensatas ao processo de alocação de
ativos representa um fator crítico na obtenção de conclusões razoáveis. O
julgamento bem estruturado, com base em informações, exerce um papel
signi cativo na seleção e de nição das classes de ativos, bem como na
construção de um conjunto coerente de premissas de mercados de capitais.
Combinar ferramentas quantitativas poderosas e decisões qualitativas
sensatas fornece um ponto de partida para as decisões de alocação de ativos.
O uso de simulações para testar os portfólios criados através da
otimização de média-variância permite avaliar a e cácia dos investimentos e
das políticas de gastos ao longo de horizontes de tempo adequados.
Empregar as mesmas premissas de mercados de capitais usadas na análise de
média-variância permite examinar períodos mais longos, por meio de
simulações que possibilitam também avaliar a interação entre as políticas de
gastos e de investimentos e converter as características estatísticas dos
mercados de capitais e dosportfóliosem critérios quantitativos relevantes
para os responsáveis pelas decisões.
A não consecução dos objetivos de investimento de ne o risco do
portfólio da maneira mais clara possível. Os objetivos e riscos resultantes
devem ser descritos de uma forma que permita aos gestores do investimento
compreender os trade-offs entre os vários portfólios. Ao avaliar os portfólios
em relação às probabilidades de manter o poder de compra e de fornecer
uxos estáveis para cobrir os gastos, os dirigentes compreendem as
alternativas de nidas no contexto dos critérios diretamente relevantes para
os objetivos institucionais. Assim, essas alternativas passam a compor o seu
universo de escolhas para as carteiras de investimentos.
Os portfólios gerados por meio de uma combinação de otimização de
média-variância com simulações futuras sofrem com uma série de
limitações. Os resultados dependem das premissas sobre retornos, riscos e
covariâncias futuros. Embora certos de que é impossível acertar estimativas
muito precisas dos níveis de retorno, sabe-se que grande parte do poder da
análise decorre da facilidade de examinar as relações entre os fatores. Se a
qualidade das premissas de risco e retorno dos mercados de capitais
representasse a maior barreira, as conclusões obtidas por meio de análises
quantitativas seriam bastante robustas.
Os problemas mais sérios são causados pela instabilidade das
características de riscos e covariâncias das classes de ativos. A tendência dos
mercados de ativos arriscados de seguirem os mesmo rumos em épocas de
crise reduz o valor da diversi cação, pelo menos no curto prazo. Questões
sobre a natureza das distribuições dos retornos ativos e sobre a estabilidade
das relações entre as classes de ativos propõem sérios desa os à modelagem
quantitativa da alocação de ativos. Contudo, o processo de quanti car a
análise de portfólios traz a disciplina que faltava a abordagens menos
rigorosas de construção de portfólios.
Um processo sistemático, quantitativo de construção do portfólio é a alma
da atividade de gestão de portfólios e proporciona uma estrutura dentro da
qual julgamentos qualitativos informam decisões. Ao reconhecer os alvos da
política de alocação de ativos como pontos centrais, gestores sensatos de
recursos se concentram na mais poderosa ferramenta de gestão de
investimentos. Finalmente, um trabalho de alocação de ativos meticuloso é a
base para construir um programa de investimentos bem-sucedido.
6
Gestão da alocação de ativos
O objetivo fundamental da gestão de portfólios é implementar, de maneira
el, os alvos da alocação de ativos de longo prazo. Se os investidores
permitirem que as participações do portfólio quem muito diferentes dos
alvos das classes de ativos, o portfólio resultante não irá re etir as
preferências de risco e retorno determinadas pelo processo de alocação de
ativos. Mantendo os ativos dentro das proporções de nidas na política e
gerando retornos proporcionais aos do mercado para cada classe de ativos,
os investidores conseguem atingir, sem contratempos, os objetivos de
investimento.
Só os portfólios mais básicos, inteiramente formados por títulos e valores
mobiliários, permitem aos investidores implementar políticas de
investimento com precisão, mantendo as classes de ativos nos níveis
projetados e usando veículos de investimento passivos para espelhar os
retornos do mercado. Os investidores disciplinados mantêm os níveis
projetados mediante a adoção de um programa sistemático de
rebalanceamento cujos procedimentos englobam desde a venda de ativos
que exibem relativa força até a compra de ativos que mostram certa
fraqueza. O uso de veículos de investimento passivos e de baixo custo
facilita a implementação dos alvos da política de alocação de ativos em
portfólios de segurança. Um compromisso sério com as atividades de
rebalanceamento garante que os portfólios permaneçam nos alvos
projetados, expondo o fundo às características de risco e retorno desejadas.
Infelizmente, quase sempre, com exceção de alguns exemplos em que as
estruturas são muito simples, quando se tenta implementar um programa de
investimento complexo no mundo real, o ideal de nido ca distante da
conturbada realidade. Os investimentos em veículos ilíquidos, a busca de
estratégias de gestão ativa e o uso implícito ou explícito da alavancagem
levam o desempenho real a afastar-se dos retornos teóricos associados à
política do portfólio.
Tipos de ativos menos líquidos introduzem a probabilidade de que as
alocações efetivas se desviem dos níveis-alvo. Dé cits ou excedentes em
ativos privados exigem que se tomem posições em ativos mais líquidos,
afastando as características desejadas para o portfólio. Já que as
participações privadas (que não são negociáveis nos mercados abertos)
demandam, por sua natureza, um tempo consideravelmente maior para
serem compradas ou vendidas com e ciência, os portfólios reais em geral
exibem alguma má alocação funcional. Lidar com a sobrealocação ou a
subalocação causada pelas posições ilíquidas cria desa os para os
investidores responsáveis.
Mesmo quando as alocações do portfólio re etem os alvos de longo
prazo, as técnicas de gestão ativa normalmente levam os retornos das classes
de ativos a divergir dos retornos indicados. Se houver ine ciência na
preci cação de títulos e valores mobiliários individuais, os participantes do
mercado podem vir a ser recompensados por descobrir oportunidades de
investimento atrativas com excessos de retorno ajustados ao risco. Os
gestores de carteiras aceitam os riscos associados com a gestão ativa com
boa vontade, pois esperam que suas habilidades em investimentos tragam
recompensas materiais, no nal das contas. Como os excessos de retorno
vêm de forma inesperada, se vierem, a classe de ativos administrada
ativamente poderá sofrer com períodos de desempenhos ruins, abrindo um
gap entre uma realidade decepcionante e o resultado positivo tão esperado
da gestão ativa.
A alavancagem, implícita ou explícita, é outro desa o no caminho da
execução el dos alvos da política de alocação de ativos. Ela aumenta os
resultados dos investimentos, para o bem e para o mal, e altera as
características de risco e retorno de portfólios de investimento. A menos que
os administradores acompanhem de perto as atividades de investimento, a
alavancagem expõe os fundos a resultados imprevisíveis. A do tipo
implícito, comumente encontrada em posições de derivativos, seduz muitos
gestores e só aparece quando o desastre já aconteceu. A explícita, tal como
aquela incorporada nos programas de empréstimos de títulos, tem o
potencial de alterar as características de risco do portfólio de modos
indesejados. Quando compreendem e controlam o grau de alavancagem em
políticas e estratégias especí cas, os investidores passam a compor portfólios
de investimento apropriados a sua tolerância ao risco.
Muitos participantes do mercado tratam o risco com pouca so sticação.
Os gestores gastam quantidades enormes de tempo, energia e recursos em
projetos de alocação de ativos, executam as recomendações e depois deixam
as alocações dos portfólios livres, ao sabor dos mercados. Alguns
investidores acham que estão fazendo gestão ativa porque juntaram, de
qualquer maneira, vários gestores especialistas, mas não entenderam o setor,
o tamanho ou as apostas de estilo criadas pelo processo mais ou menos
aleatório de construção de portfólio. Outros participantes contratam os
gestores com base em seu desempenho no passado e esquecem-se de avaliar
o programa de investimentos, sem a menor consciência da alavancagem
oculta que provavelmente resultará em desempenhos voláteis. Um processo
de gestão de portfólio realizado com cuidado garante que os fundos só
aceitarem aqueles riscos compatíveis com os alvos da alocação de ativos e
que prometem recompensas incrementais su cientes.
O autor grego Palladas poderia ter tido a gestão de portfólios em mente
quando escreveu que “da mão à boca se perde a sopa”. Os desvios na
alocação de ativos e os riscos da gestão ativa têm potencial para criar
resultados bastante diferentes das expectativas baseadas na política de
alocação de ativos do portfólio. Além disso, a exposição à alavancagem
implícita e explícita move os portfólios para níveis de risco materialmente
diferentes das expectativas da linha de base e altera dramaticamente os
resultados previstos do investimento. A implementação disciplinada de
políticas de alocação de ativos evita que o per l de risco e retorno de um
portfólio seja alterado, permitindo aos investidores aceitar apenas os riscos
da gestão ativa, que são previstos e agregam valor.
A preocupação com o risco é parte integrante do processo de gestão de
portfólios. Por isso, é necessário um monitoramento constante do portfólio
global, das classes de ativos e do gestor. Entender os riscos dos investimentos
e de execução aumenta as chances de que um programa de investimento
atinja seus objetivos.
REBALANCEAMENTO
O uso correto da otimização de média-variância e das simulações de
cenários futuros insere as considerações sobre riscos no centro do processo
de gestão dos investimentos. Ao avaliar a probabilidade de que as políticas
de investimento não consigam atingir os objetivos articulados, os
investidores confrontam diretamente os riscos nanceiros críticos
enfrentados pelas instituições. Os alvos da alocação de ativos, selecionados
com a aplicação cuidadosa de ferramentas quantitativas e a opinião
informada, de nem com precisão razoável um portfólio de ativos que
provavelmente irá satisfazer as necessidades institucionais.
Depois de de nir as políticas de alocação de ativos, tem-se a atividade de
controle de risco, que exige o rebalanceamento regular dos alvos da política.
É inevitável que os movimentos nos preços dos ativos nanceiros levem as
alocações das classes de ativos a se desviar dos níveis-alvo. Por exemplo,
uma queda nos preços das ações, associada a um aumento nos preços dos
títulos, leva as ações a ter um peso menor que o previsto e os títulos, um
peso maior que o previsto na carteira – com isso, o portfólio apresenta
características de risco e retorno menores que as desejadas. Para restaurar as
alocações originais e rebalancear o portfólio, o investidor compra ações e
vende títulos.
O rebalanceamento facilita a remodelagem dos portfólios de títulos e
valores mobiliários e confere ímpeto à avaliação das alocações do gestor. Os
investidores melhoram os retornos dos portfólios dando dinheiro aos
gestores tidos como mais bem-sucedidos, que registraram desempenho
acima do mercado, e tirando dinheiro daqueles com perspectivas menos
promissoras. Na falta de razões fundamentais para mudar as alocações do
gestor, podem-se esperar resultados positivos a partir da adoção da seguinte
estratégia: sacar o dinheiro dos gestores que acabaram de apresentar bons
desempenhos e dar dinheiro àqueles com os números mais fracos. Em caso
de dúvida, devem-se seguir as tendências do mercado.
Psicologia do rebalanceamento
O comportamento contrário é a alma de muitas estratégias de investimento
bem-sucedidas. Para azar dos investidores, a natureza humana anseia pelo
reforço positivo que vem de correr junto com a multidão. A atitude
convencional vem em alto e bom som nas palavras de Sally Bowles,
personagem do musical Cabaret: “Todos amam um vencedor, então
ninguém me amou”. O comportamento contrário nos investimentos exige
afastar-se dos amados e abraçar os mal-amados. A maioria prefere o oposto.
A verdade é que o mundo do comércio (ao contrário do mundo dos
investimentos) geralmente recompensa quem segue tendências. Alimentar
vencedores e matar perdedores resulta em sucessos comerciais. Os
executivos que apoiam vencedores irrestritamente produzem resultados
atrativos. Gestores que passam fome ao lado de perdedores vivem com
recursos escassos. No mundo darwiniano dos negócios, o sucesso procria a
partir do próprio sucesso.
No mundo dos investimentos, o fracasso planta as sementes do sucesso
futuro. A estratégia de buscar alternativas marginalizadas, com preços
atrativos, tem perspectivas de retornos muito melhores do que as escolhas
do momento, altamente valorizadas. O desconto aplicado aos ativos
negligenciados realça os retornos esperados, da mesma forma que o prêmio
atribuído aos ativos favorecidos diminui o potencial de ganhos futuros.
A maior parte dos investidores acha as posições mais tradicionais
confortáveis, em parte por causa do sentimento de segurança nos números.
As atitudes e atividades da maioria criam o consenso. Somente uma minoria
de investidores encontra-se na incômoda posição de operar fora da
“manada”. Uma vez que a maioria dos jogadores adota uma posição que até
então era contrária, a visão da minoria se torna o ponto de vista mais
disseminado. Só um punhado de investidores assume, consistente, posições
de fato singulares em relação à sabedoria convencional.
É necessário ter grande convicção e coragem considerável para iniciar e
manter posições diferenciadas. Os amigos e os conhecidos descrevem
programas de investimento fundamentalmente diferentes. A mídia empurra
uma visão de mundo profundamente divergente. Os corretores incitam a
venda dos perdedores de ontem e a compra das promessas de hoje. As
propagandas proclamam um novo paradigma. Diante de um consenso que
oprime, os investidores bem-sucedidos com posições contrárias se fazem de
surdos para não ouvir o clamor das multidões.
Estabelecer uma posição contrária é só metade da batalha. O fracasso
espera o investidor contrário que perde a cabeça. Pensemos em um
investidor que, inicialmente, evita o investimento que está na moda neste
mês. Os meses transformam-se em trimestres e os trimestres em anos. Por
m, o fraco capitula e compra o raciocínio da nova era. Naturalmente, a
adesão vem no auge da mania, com a realização da dor sem nenhum ganho
para compensar. Assumir a ponta contrária sem ter a capacidade de
perseverar acarreta resultados medíocres.
O rebalanceamento é o suprassumo do comportamento racional. Manter
os alvos da carteira diante dos movimentos do mercado impõe a venda de
ativos com desempenho muito bom e a compra de ativos com desempenhos
insatisfatórios. Em outras palavras, quem tem disciplina para rebalancear o
portfólio vende o que é bom e compra o que é ruim. Em circunstâncias
normais, não é preciso ter tanta coragem para fazer o que tem que ser feito e
rebalancear a carteira. Mas, quando os mercados estão muito voláteis, é
preciso ter muita coragem e sangue-frio.
Frequência de rebalanceamento
É intenso o debate entre os investidores sobre qual seria a frequência ideal
para rebalancear os portfólios. Alguns seguem o calendário e efetuam
transações mensais, trimestrais ou anuais. Outros tentam controlar os custos
das transações, xando limites menos restritivos e negociando só quando as
alocações passam de determinadas faixas. Um grupo bem menor adota o
rebalanceamento contínuo, uma estratégia que possibilita controlar mais o
risco com custos potencialmente menores do que as abordagens do
calendário e das faixas de negociação.
O rebalanceamento contínuo exige avaliações diárias dos ativos do
portfólio. Se os valores das classes dos ativos apresentam desvios de 0,1% ou
0,2% em relação aos valores-alvo, os gestores já compram e vendem para
alcançar os níveis-alvo. As operações de compra e venda tendem a ser de
pequeno volume e bem ajustadas ao mercado. Já que o rebalanceamento
requer a venda de ativos que vêm experimentando preços sólidos e a compra
de ativos com relativa debilidade de preços, o imediatismo do
rebalanceamento contínuo faz com que os gestores vendam o que os outros
estão comprando e comprem o que a maioria está vendendo, dando,
portanto, liquidez ao mercado. Por outro lado, as estratégias de
rebalanceamento menos suscetíveis ao mercado envolvem transações
maiores e menos ajustadas, o que aumenta o impacto no mercado e os
custos das transações.
Esse tipo de rebalanceamento gera excessos de retorno até o ponto em
que os mercados mostram excesso de volatilidade. A atividade do mercado
nos dias 27 e 28 de outubro de 1997 é um exemplo dramático. Em 27 de
outubro, uma queda de 6,9% nos preços das ações veio acompanhada de
uma recuperação no mercado de títulos. No dia seguinte ocorreu um rebote
de 5,1% no preço das ações e os títulos sofreram com as pressões de venda.
Rebalancear uma carteira de 60% de ações e 40% de títulos naqueles dois
dias de outubro adicionou 10 pontos-base aos retornos, gerando um bônus
para uma atividade que é, fundamentalmente, dedicada ao controle do risco.
Ainda que os lucros oriundos do rebalanceamento representem um bônus
interessante para os investidores, a motivação fundamental para rebalancear
a carteira está relacionada aos alvos da política de longo prazo. No contexto
de uma política elaborada com cuidado, rebalancear o portfólio mantém o
nível de risco desejado. Investidores cuidadosos empregam as estratégias de
rebalanceamento para cumprir os objetivos da política de alocação de ativos.
Rebalanceamento e iliquidez
Os proprietários de ativos privados são particularmente desa ados ao
desenvolver atividades de rebalanceamento. As participações ilíquidas de
private equity e ativos reais têm grande probabilidade de se descasar dos
níveis-alvo a qualquer momento. Uma quantidade de ativos equivalente ao
dé cit do portfólio ilíquido (ou excedente) deve ser investida em (ou sacada
de) portfólios de títulos líquidos. Os candidatos ideais para investimentos de
subalocações de ativos privados incluem os ativos de curto prazo e baixo
risco, visto que pode ser necessário resgatar os recursos de repente para
fazer investimentos que aproximem os portfólios privados dos níveis-alvo.
Investimentos em caixa, títulos e retorno absoluto são alternativas
provisórias razoáveis para a subalocação de ativos privados.
A estratégia de investir subalocações de ativos privados nos
aparentemente similares ativos negociáveis tem apelo super cial. Por
exemplo, ao tentar construir um portfólio de venture capital, os dé cits de
alocação poderiam ser investidos em um portfólio de ações small caps de
tecnologia. Infelizmente, a estratégia expõe os investidores ao risco de os
fundos de venture capital pedirem aportes de recursos quando as ações
estiverem sendo negociadas em níveis mais baixos, ocasionando vendas em
momentos inoportunos. Na análise nal, os ativos privados constituem
classes de ativos separadas porque se comportam de maneira bem diferente
dos títulos e valores mobiliários, o que torna a dependência da alta
correlação de curto prazo entre os mercados públicos e privados uma
estratégia internamente inconsistente e potencialmente perigosa.
Quando as alocações privadas ultrapassam os níveis-alvo, como pode
ocorrer quando os preços dos títulos e valores mobiliários caem em relação
aos valores dos ativos privados, os investidores enfrentam um problema
difícil. Reduzir as alocações para títulos e valores mobiliários mais
arriscados e con ar nas correlações entre títulos negociáveis e ativos
privados impõe riscos consideráveis. E, ainda, reduzir as alocações para
ativos menos arriscados para acomodar participações excessivas de private
equity aumenta ainda mais o risco do portfólio, que já era elevado. Ao
escolher a alternativa menos ruim, os investidores devem nanciar as
sobrealocações de ativos privados reduzindo as participações de ativos
arriscados negociáveis, de modo a controlar o nível de risco global do
portfólio.
O uso de ativos de prazos curtos e ativos menos arriscados para substituir
os geralmente mais rentáveis ativos privados diminui o retorno e o risco
esperados do portfólio, embora ocorra exatamente o contrário quando se
reduzem as posições em títulos negociáveis para acomodar excessos em
private equity. Como as características dos portfólios reais podem ser
consideravelmente diferentes daquelas dos portfólios projetados, os
investidores precisam analisar minuciosamente de que forma as alocações
de ativos in uenciam os resultados tanto do portfólio corrente como do
projetado.
A possibilidade de haver diferenças materiais entre as alocações de ativos
real e projetada traz a necessidade de agir com parcimônia em relação a
mudanças de alvos para classes de ativos ilíquidos. Manter a realidade
próxima do objetivo facilita as análises de gastos e alternativas de gestão de
ativos. Evitar grandes diferenças entre as alocações reais e projetadas reduz o
tamanho do descasamento que poderia exigir colocações provisórias em
veículos de investimento alternativos. Tudo isso limita o impacto de uma
decisão carregada de problemas.
Rebalancear ajuda os investidores a alcançar o per l de risco e retorno
incorporado na política do portfólio. As instituições que não seguem uma
política especí ca de rebalanceamento acabam se envolvendo numa forma
peculiar de market timing. Ao deixar as alocações à deriva, navegando
conforme os caprichos do mercado, as características de risco e retorno do
portfólio mudam de maneira imprevisível, introduzindo mais ruído em um
processo em que as incertezas já são muitas. Em períodos de tempo mais
longos, sem rebalanceamento, as alocações do portfólio se movem na
direção do ativo com maior retorno, o que aumenta o nível global de risco
do portfólio. Finalmente, o rebalanceamento disciplinado permite maior
controle de risco, aumentando a probabilidade de que os investidores
consigam atingir os objetivos do investimento.
GESTÃO ATIVA
Depois de estabelecer os alvos da política de alocação de ativos, os
investidores enfrentam as questões relacionadas à gestão individual das
classes de ativos. No segmento dos títulos e valores mobiliários negociáveis,
os veículos de investimento passivos dão certa garantia de que os resultados
do investimento vão espelhar a atividade do mercado. Na medida em que os
investidores adotarem estratégias ativas, os resultados reais provavelmente
serão diferentes dos observados no mercado, levando tais classes a
apresentar características diferentes daquelas do mercado como um todo.
No segmento dos ativos alternativos, a falta de veículos de investimento
passivos inevitavelmente provoca variações ativas, às vezes dramáticas, em
relação às expectativas de retorno da linha de base.
Investir em veículos administrados passivamente para representar classes
individuais de ativos elimina com e cácia a variância dos resultados do
mercado. Os fundos de índice custam pouco para serem implementados,
são mais simples do que os portfólios ativos, do ponto de vista regulatório, e
prometem replicar elmente os portfólios do mercado. O que explica o fato
de que tão poucos portfólios institucionais empregam a gestão passiva com
exclusividade? Certamente o jogo da gestão ativa atrai os participantes do
mercado oferecendo a quase sempre falsa esperança de excessos de retorno.
Talvez aqueles poucos espertos o bastante para reconhecer que as estratégias
passivas oferecem alternativas melhores se julguem espertos o bastante para
superar o mercado. De qualquer forma, os desvios em relação aos retornos
do benchmark representam uma fonte de risco importante para os
portfólios.
Os investidores que embarcam em estratégias de gestão ativa introduzem,
propositalmente ou não, vieses de portfólio. As classes de ativos podem ser
muito diferentes dos benchmarks em termos de tamanho, setor e estilo.
Tamanho signi ca capitalização de mercado das participações em títulos e
valores mobiliários, setor diz respeito à natureza das atividades da empresa e
estilo tem relação com a abordagem geral escolhida por um gestor ativo
(valor versus crescimento).
A introdução proposital de vieses de portfólio cria um potencial
signi cativo de geração de valor. Por exemplo, um investidor pode acreditar
que as estratégias de valor são melhores que as de crescimento. Então ele
escolherá, conscientemente, apenas os gestores com orientação por valor.
Outros acreditam que as ações small caps oferecem melhores oportunidades
em termos de seleção de ações e direcionam os portfólios com o objetivo de
aumentar explicitamente as participações em ações de companhias menores.
Apostas estratégicas intencionais e bem planejadas podem gerar excessos de
retorno ajustados ao risco para o portfólio.
Os vieses de portfólio vêm com custos potenciais. Contratar gestores
especializados em segmentos especí cos do mercado às vezes altera
profundamente as características do portfólio e gera vieses acentuados. Em
decorrência, os administradores enfrentam a possibilidade de apresentar
resultados signi cativamente abaixo do previsto, já que os custos de curto
prazo (desempenho relativo fraco das small caps) destroem as
oportunidades de longo prazo (preci cação menos e ciente de títulos e
valores mobiliários com pequena capitalização). Os vieses estratégicos só
agregam valor ao portfólio se forem implementados com disciplina, depois
de um planejamento cuidadoso e com o horizonte de investimento correto.
Algumas das apostas do portfólio resultam do desleixo na administração.
Se a construção do portfólio envolver simplesmente reunir gestores
dedicados em número su ciente para preencher os gaps do rol do portfólio,
é quase certo que as características das classes de ativos resultantes irão
conter vieses signi cativos e não necessariamente desejados. É muito
comum que essas apostas não intencionais só apareçam depois de terem
sido destacadas como causas diretas de desempenhos abaixo do padrão.
ALAVANCAGEM
A alavancagem aparece nos portfólios de maneiras explícita e implícita. A
explícita envolve o uso de recursos obtidos por meio de empréstimos para
buscar oportunidades de investimento, ampliando os resultados bons e ruins
do portfólio. Quando os retornos dos investimentos são maiores que os
custos do empréstimo, os portfólios se bene ciam da alavancagem. Quando
os retornos dos investimentos são iguais aos custos do empréstimo, não há
impacto algum. No caso de os retornos dos investimentos carem abaixo
dos custos do empréstimo, o portfólio sofre com um efeito perverso da
alavancagem.
A alavancagem implícita se origina de posições que incorporam um risco
maior do que o contemplado pela classe de ativos dentro da qual essas
posições foram categorizadas. Manter títulos e valores mobiliários com risco
maior que o mercado já é uma forma de alavancar o portfólio. A menos que
os níveis de risco dos títulos e valores mobiliários dentro de uma classe de
ativos sejam iguais às premissas de risco da alocação de ativos, o portfólio
torna-se alavancado por manter ativos mais arriscados ou desalavancado
por manter ativos menos arriscados. Por exemplo, a prática comum de
manter uma parte em dinheiro em portfólios de ações ordinárias leva o
portfólio a exibir menos risco do que o mercado, desalavancando
efetivamente os retornos.
Os derivativos são uma fonte comum de alavancagem implícita.
Suponhamos que um contrato futuro de S&P 500 exija um depósito de
margem de 10% do valor da posição. Se um investidor tem uma posição
futura no portfólio de ações domésticas, complementar cada dólar dos
futuros com nove dólares em dinheiro cria uma posição equivalente a
manter diretamente as ações subjacentes. Se, entretanto, o investidor
mantém cinco dólares de futuros e cinco dólares em dinheiro, a
alavancagem implícita resultante leva a posição a ser cinco vezes mais
sensível às utuações de mercado.
Os derivativos por si só não criam risco. Eles podem ser usados para
reduzir o risco, para simplesmente duplicar posições em dinheiro ou para
aumentar o risco. Para continuar com o exemplo do contrato futuro de S&P
500: vender futuros contra um portfólio de ações reduz os riscos associados
à exposição ao mercado acionário. Alternativamente, usar combinações
corretas de caixa e futuros cria uma cópia de risco neutro das ações
subjacentes. Finalmente, manter posições de futuros em caixa para
neutralizar o risco aumenta a exposição ao mercado. Administradores
responsáveis compreendem e controlam o uso de derivativos nas atividades
de investimentos.
A alavancagem engrandece os resultados do portfólio e encerra um
potencial para bene ciar ou prejudicar os ativos da carteira. Em casos
extremos, a inconsistência entre o per l de risco das características da classe
de ativos e a atividade de investimento gera perdas signi cativas. Em casos
menos extremos, diferenças no per l de risco levam os atributos do
portfólio a variar signi cativamente em relação aos níveis projetados,
provocando desvios relativos aos objetivos da política. Investidores sensatos
empregam a alavancagem com muito cuidado, resguardando-se contra a
introdução de riscos materiais excessivos nas características do portfólio.
Universidade de Harvard
O endowment da Universidade de Harvard emprega a alavancagem de várias
maneiras. Consideremos o portfólio da universidade em junho de 2005. Ao
estabelecer um alvo incomum para a alocação de ativos, -5% de caixa, a
universidade espera realçar os resultados do portfólio, gerando retornos
maiores que os custos do empréstimo. A estratégia de empréstimos de
Harvard promete resultados superiores em períodos mais longos, pois os
retornos do portfólio devem superar os custos de alavancagem
representados pelo retorno do caixa, a classe de ativos com menor retorno
esperado. Naturalmente, se os retornos carem abaixo do custo dos fundos
os resultados de um ano ruim carão ainda piores. No exemplo da alocação
negativa de caixa de Harvard, o emprego da alavancagem veio como
consequência de uma análise criteriosa do portfólio.
A segunda forma de alavancagem explícita de Harvard envolve tomar
empréstimos de quantias consideráveis para estabelecer as posições que
exploram oportunidades de erros de preci cação em títulos e valores
mobiliários. Em 30 de junho de 2005, o pool de investimentos de US$29,4
bilhões da universidade sustentou posições compradas de US$49,7 bilhões
para compensar posições vendidas de US$20,3 bilhões1. Ao alterar as
características fundamentais do risco da classe de ativos, o uso da
alavancagem alarga a base de apostas de seleção de títulos. Em oposição às
consequências da alocação de caixa negativa, ao ajustar o valor bruto de
posições do balanço patrimonial, Harvard altera o risco do portfólio acima
da estrutura de média-variância.
Além de alavancar explicitamente seu balanço patrimonial, Harvard
emprega a alavancagem implícita para ampliar ainda mais o impacto das
decisões de investimento. Uma leitura atenta das notas dos demonstrativos
nanceiros da universidade mostra exposições não incluídas no balanço de
mais de US$19 bilhões em posições compradas e mais de US$28 bilhões em
posições vendidas. Como resultado da considerável alavancagem explícita e
implícita, Harvard aumenta dramaticamente os níveis de risco, realçando
igualmente os resultados positivos e negativos.
Sowood Capital
Harvard sofreu as consequências da alavancagem excessiva em julho de
2007, com o colapso da Sowood Capital. Controlada por um antigo membro
da Harvard Management Company, Jeff Larson, a Sowood começou a
operar em julho de 2004, com catorze empregados e US$700 milhões em
recursos de Harvard. A linha de atuação da empresa prometia aos
investidores estrita neutralidade de mercado, investimentos orientados por
eventos, arbitragem com base em elementos quantitativos e investimentos
orientados por valor2. De acordo com o Wall Street Journal, a Sowood
“ganhou cerca de 10% ao ano nos primeiros três anos, geralmente por meio
de apostas seguras em investimentos de dívida”, entregando o que havia
prometido aos investidores e fazendo os ativos crescerem e chegarem a mais
de US$3 bilhões3.
No início de 2007, o portfólio de Jeff Larson apostava consideravelmente
nos valores relativos de títulos de dívida sênior e títulos de dívida
subordinados. Ele manteve os títulos seniores, mais seguros, e vendeu a
descoberto os títulos subordinados, mais arriscados, instituindo o que
esperava ser um hedge rentável contra condições de mercado adversas.
Se a Sowood simplesmente tivesse tentado explorar o diferencial de
preços entre os títulos seniores e os títulos subordinados, a empresa teria
evitado chamar a atenção do Wall Street Journal e do New York Times. Só
que, como o diferencial de preços, isoladamente, oferecia uma remuneração
inadequada, a Sowood alavancou o portfólio em “seis vezes”, esperando
transformar uma pequena discrepância de preço em retornos enormes4. A
alavancagem transferiu o destino da empresa dos gestores da Sowood para
os bancos.
Em junho começaram a aparecer os primeiros problemas e o fundo
perdeu 5% no mês. Para tirar vantagem da oportunidade, agora mais
atrativa, de acordo com o Wall Street Journal, a Sowood dobrou a
alavancagem do portfólio até atingir doze vezes.
No mês seguinte, como os mercados de dívida seguiam cada vez mais não
liquidados, as operações da Sowood deveriam ter se pagado com as posições
mais seguras (as que a Sowood tinha) que mantinham o valor e as posições
mais arriscadas (que a Sowood vendeu a descoberto) que perdiam valor. Em
vez disso, forças de mercado perversas levaram as posições mais seguras
detidas pela Sowood a perder valor, sem ganhos de compensação
provenientes das posições vendidas a descoberto.
Em uma carta aos investidores, datada de 30 de julho, Jeff Larson
descreveu a força que destruiu seu fundo:
Granite Capital
David Askin, da Granite Capital, sofreu perdas devastadoras ao adotar uma
estratégia aparentemente so sticada de identi car, usar como hedge e
alavancar anomalias de preços de um tipo de derivativo, os certi cados
lastreados por hipotecas. Baseado em um registro de geração de retornos ao
redor de 15%, com baixa variabilidade, Askin atraiu recursos de uma lista
impressionante de investidores, que incluía nomes como a Rockefeller
Foundation e a McKinsey & Company. Infelizmente a alavancagem explícita
e implícita fez com que o portfólio inteiro da empresa, que totalizava
US$600 milhões, fosse varrido do mapa em questão de semanas.
Askin investiu em títulos garantidos por hipotecas, derivativos com
nomes tão exóticos quanto Strips de taxas váriáveis superinvertidas. Por
mais intimidador que o nome pudesse ser, os títulos eram apenas cotas de
hipotecas residenciais comuns. Combinando títulos que deveriam responder
de formas contrárias aos movimentos das taxas de juros, Askin esperava
estar protegido – quando as taxas mudavam, os lucros de uma parte do
portfólio compensariam, de maneira aproximada, os prejuízos da outra
parte. Se as anomalias de preços identi cadas por Askin estivessem corretas,
os lucros seriam maiores que os prejuízos e comporiam uma margem igual à
diferença de preços.
Como os erros de preci cação nos mercados de renda xa tendem a ser
pequenos, os investidores frequentemente utilizam a alavancagem para
potencializar o impacto das operações no portfólio. No nal da história
Askin estava usando uma alavancagem de aproximadamente duas vezes e
meia, operando posições de US$2 bilhões sobre US$600 milhões em capital.
A carteira de Askin não resistiu ao trauma criado pela decisão do Banco
Central de aumentar as taxas de juros no início de 1994. As posições que
pareciam bem protegidas por meio de hedge, em um ambiente de juros
benignos, acabaram se revelando terrivelmente descasadas em um mercado
de títulos em baixa. Como o portfólio de Askin acumulava prejuízos, os
bancos de investimento que tinham emprestado o dinheiro para nanciar as
posições con scaram os títulos e venderam as posições para cobrir suas
exposições. O portfólio mal estruturado e a alavancagem, combinados,
levaram à derrocada de Askin.
Askin teve prejuízos enormes porque seus hedges não funcionaram. No
entanto, se ele não estivesse alavancado, provavelmente teria sobrevivido ao
desastre das taxas de juros de 1994. O prejuízo de 30% em um portfólio
alavancado de US$2 bilhões varreu US$600 milhões em capitais para fora do
mapa. O mesmo prejuízo de 30% em um portfólio não alavancado de
US$600 milhões teria reduzido o capital em dolorosos US$180 milhões, mas
os investidores teriam sobrevivido para mais um dia de batalha. A verdade é
que, logo após o fracasso de Askin, os preços dos títulos liquidados se
recuperam bem rapidamente. Mas naquele momento ele não estava mais no
jogo*.
Empréstimo de títulos
Alguns tipos de alavancagem, como as posições vendidas e o empréstimo
explícito para aumentar posições, se mostram abertamente. As equipes de
investimentos elaboram estudos que são discutidos nos comitês de
investimento, a m de criar uma consciência sobre a natureza geral e a
magnitude do empréstimo. Outras formas de alavancagem permanecem
escondidas até que surjam problemas. Quando isso acontece, os danos ao
portfólio só aparecem quando já é tarde demais para que seja possível tomar
qualquer ação corretiva.
A maioria dos investidores institucionais de grande porte tem programas
de empréstimo de títulos, que envolvem emprestar títulos de capital e de
dívida a terceiros. Essa atividade proporciona rendimentos adicionais
modestos ao investidor. As partes que tomam esses títulos emprestados
precisam dos empréstimos para criar posições vendidas ou cobrir operações
malsucedidas. Quem cede o título recebe uma caução em dinheiro como
garantia do empréstimo, o que torna a operação bastante segura. O credor
paga uma taxa de juros abaixo do mercado pela garantia em dinheiro e
espera reinvestir os recursos a taxas melhores. O ato de reinvestir coloca
toda a quantia da operação de empréstimo em risco, em um esforço para
gerar o tão desejado spread entre a taxa de empréstimo abaixo do mercado e
a taxa praticada no mercado para operações desse tipo.
Como o credor retém a titularidade dos títulos emprestados, juntamente
com as consequências econômicas decorrentes, a atividade não afeta muito
o portfólio. Os investidores nem se lembram dos empréstimos de títulos e
tratam as operações como atividades de back-office (apoio). Os empréstimos
de títulos raramente aparecem na pauta dos comitês de investimento e são
tratados como outras funções realizadas pelos bancos de custódia. Quando
chegam a ser mencionados, provavelmente são vistos pelos comitês como
um método de baixo risco para compensar uma parte da taxa de custódia do
banco.
As estruturas institucionais típicas relegam totalmente os números
desinteressantes dos empréstimos de títulos. Os bancos de custódia em geral
mantêm programas de empréstimos de títulos e racham as receitas na base
de 70%/30% 60%/40% com os maiores credores que têm títulos para
emprestar. Esses arranjos de divisão de lucros levam os bancos a buscar o
risco, mas com a condição de compartilhar somente os retornos, e não os
prejuízos. O banco faz um bom negócio e ainda ganha parte signi cativa
dos lucros gerados ao colocar os ativos dos clientes em risco. Os investidores
cam com a pior parte da operação, pois ganham um retorno relativamente
baixo para expor seus ativos a um potencial de perda signi cativo.
Common Fund
Em 1995, a Common Fund, uma organização que presta serviços de
investimento a instituições educacionais, descobriu que seu programa de
empréstimos de títulos, administrado pela First Capital Strategists, tinha
incorrido em perdas estimadas de US$128 milhões7. As transgressões
cometidas por um dealer trapaceiro, chamado Kent Ahrens, causaram
prejuízos de cerca de US$138 milhões, segundo cálculos feitos
posteriormente. De acordo com Ahrens, no início de 1992 ele perdeu
US$250 mil em uma operação de “arbitragem” de índice de ações. Em vez de
encerrar a posição, ele tentou compensar a perda com negócios
especulativos. Depois de mais de três anos de decepção e fraude, as perdas
acumuladas de Ahrens chegaram a um nível desconcertante.
O desastre do empréstimo de títulos feriu a empresa fortemente,
manchou sua excelente reputação e levou à deserção de grande número de
clientes. Em 30 de junho de 1995, a Common Fund tinha US$18,1 bilhões
em títulos, valores mobiliários e ativos de renda xa sob sua administração.
Um ano depois, os ativos totalizavam US$15,5 bilhões, dramáticos US$5,2
bilhões ou 25% a menos do que teria se simplesmente tivesse acompanhado
os mercados.
A história da First Capital Strategists é muito mais do que a mera história
de um dealer mentiroso. Ela ilustra os riscos de adotar estratégias de
investimento com estruturas de remuneração fracas, destaca como pode ser
problemático monitorar determinados tipos de atividade de trading e
mostra os perigos de esquemas inventivos inadequados para a natureza da
atividade de investimentos.
A atividade de empréstimo de títulos pode no máximo envolver “ganhe
um pouco, ganhe um pouco, ganhe um pouco”, uma vez que os investidores
ganham pequenos spreads positivos sobre essas operações. Infelizmente,
para “ganhar um pouco” um investidor se expõe muito, criando a
possibilidade “ganhe um pouco, ganhe um pouco, ganhe um pouco, perca
muito”. Esse padrão de retorno com viés negativo tem um potencial de alta
limitado (ganhe um pouco) com potencial de baixa considerável (perca
muito), o que representa uma distribuição de resultados nada atrativa para
os investidores.
Há algumas décadas, o empréstimo de títulos tinha características mais
favoráveis. Nos anos 1970, quando os credores não pagavam juros nas
garantias em dinheiro, os retornos da atividade eram extremamente
generosos. Como a garantia em dinheiro avalizava o ativo emprestado e
podia ser reinvestida em Letras do Tesouro dos Estados Unidos, os
participantes das operações não enfrentavam risco algum. “Ganhe algo,
ganhe algo, ganhe algo” descrevia a atividade enquanto “perca muito” ainda
não tinha aparecido.
Mudanças estruturais e a competitividade crescente forçaram os credores
a pagar juros sobre a garantia em dinheiro, incorporando o risco do
reinvestimento à equação. Quando os credores não puderam mais criar
spreads positivos simplesmente investindo a garantia em Letras do Tesouro,
tornou-se necessário aceitar certos riscos para gerar retornos (riscos de
crédito, de taxas de juros e outros ainda mais exóticos).
A Common Fund aceitou esses riscos com entusiasmo por intermédio de
sua relação com a First Capital Strategists. A Tabela 6.1 lista uma série de
estratégias autorizadas de investimentos de colaterais (garantias) que a
Common Fund empregou no começo da década de 1980. As alternativas
iam do mais extremo conservadorismo à agressividade total. A arbitragem
de índices de ações, quando executada corretamente, oferecia pouco risco
aos ativos investidos. Em compensação, na outra extremidade, os contratos
de recompra dos corretores mexicanos incorporavam um risco tremendo.
Ao seguir a prática comum em Wall Street de chamar várias estratégias de
reinvestimento de “arbitragens”, a Common Fund promoveu uma falsa
sensação de segurança. O dicionário Webster de ne arbitragem como “a
compra e venda, geralmente simultânea, do mesmo título ou título
equivalente (como se fossem mercados diferentes) a m de lucrar com as
diferenças de preços”. Nos mercados de títulos atuais, eventuais diferenças
de preços de contratos futuros de ações e títulos em relação aos mercados de
caixa oferecem verdadeiras (embora transitórias) oportunidades de
arbitragem. Outras operações também chamadas de “arbitragem” não
envolvem “o mesmo título ou um título equivalente” e, portanto, expõem os
ativos a riscos consideravelmente maiores.
Por exemplo, a arbitragem de conversíveis envolve a posse de um título
conversível e a venda a descoberto da ação da companhia emissora para
explorar questões de preços veri cadas entre títulos relativamente baratos e
ações relativamente caras. Para implementar a arbitragem de títulos
conversíveis, são necessárias atividades dinâmicas de hedge, que podem ou
não ser viáveis, além da assunção de taxas de juros e riscos de crédito
residuais sem hedge. Sob determinadas circunstâncias, a arbitragem de
conversíveis oferece relações de risco-retorno atrativas. A arbitragem de
conversíveis jamais cria retornos sem riscos.
Toshihide Igushi, que levou o Daiwa Bank a ser expulso dos Estados Unidos;
e Robert Citron, que provocou a falência do Orange County. Embora as
estratégias de trading não ofereçam garantias contra fraudes, adotar
programas de investimento de prazos mais longos diminui os riscos de
controle para os administradores.
A estrutura de negócios ine ciente contribuiu para os perigos do
programa de empréstimos de títulos da Common Fund. A First Capital
Strategists ganhou entre 25% e 33% dos lucros gerados por colocar os
recursos das instituições-membro da Common Fund em risco.
Essencialmente, a First Capital fazia o jogo do cara e coroa – “Cara eu
ganho, coroa você perde”. Desde que a empresa não tivesse que arcar com
nenhuma perda, os empregados eram fortemente incentivados a
recomendar e adotar estratégias arriscadas.
Os incentivos maldosos só explicam uma parte do problema. A Common
Fund participou das atividades da First Capital Strategists conscientemente,
sabendo dos riscos envolvidos. Antes do desastre de Kent Ahrens, dois
eventos trouxeram à tona a natureza arriscada dos veículos de
reinvestimento. Em agosto de 1987, a First Capital incorreu em perdas de
US$2,5 milhões por especular em uma oferta pública de aquisição hostil da
Caesar’s World, depois abortada. Embora a First Capital tenha reembolsado
a Common Fund do prejuízo, a operação chamou a atenção para os riscos
envolvidos na “arbitragem” de reestruturações de empresas. Depois,
começando em setembro de 1989, a First Capital acumulou uma posição na
malfadada tentativa dos empregados de comprar a United Airlines.
Finalmente liquidada com uma perda de US$2,6 milhões para a Common
Fund, a empresa levou a atividade de empréstimo de títulos a mostrar um
prejuízo de US$577.600 no ano scal de 1990. Os incidentes da Caesar’s
World e da United Airlines forçaram os trustees da Common Fund a tomar
ciência dos riscos exatos associados ao programa de empréstimos de títulos
da empresa.
Resumidamente, a Common Fund alavancou seus ativos ao participar de
empréstimos de títulos, ao pegar recursos emprestados (com a garantia em
dinheiro) e ao garantir os empréstimos com ações e títulos das instituições-
membro. A First Capital investiu o que tinha arrecadado com os
empréstimos em veículos arriscados na expectativa de gerar retornos
positivos. A despeito de os perigos inerentes às atividades e aos problemas
associados a estruturas de negócios ine cientes serem os fatores que mais
visivelmente contribuíram para o desastre da Common Fund, a raiz do
problema foi o uso impróprio da alavancagem implícita no programa de
empréstimo de títulos.
CONCLUSÃO
Colocar os alvos da alocação de ativos no centro do processo de gestão do
portfólio aumenta a probabilidade de sucesso dos investimentos. Técnicas de
rebalanceamento disciplinado produzem portfólios que re etem
características alinhadas de risco e retorno. As abordagens menos rigorosas
da gestão de portfólios praticamente garantem que a alocação atual de ativos
será diferente dos níveis desejados, o que leva a resultados com menos
chances de cumprir os objetivos institucionais.
As oportunidades de investimento mais atrativas frequentemente contêm
elementos de iliquidez, o que introduz algumas restrições na alocação de
ativos do portfólio. Induzindo os investidores a manter posições
inconsistentes com os níveis almejados, os ativos ilíquidos levam as
características globais do portfólio a se desviarem dos níveis desejados,
criando desa os para a atividade de rebalanceamento disciplinado.
A adoção da gestão ativa introduz atrito entre os resultados dos
investimentos e os retornos do benchmark. Investidores sensatos tomam
muito cuidado na identi cação de vieses de portfólio e procuram certi car-
se de que as diferenças resultam de escolhas deliberadas, e não do descuido
na construção do portfólio. Portfólios normais e fundos de
complementariedade ajudam os gestores a compreender e controlar as
apostas da gestão ativa.
Embora já tenha sido provado que programas de gestão ativa bem-
sucedidos criam valor, no nal das contas, os investidores têm que encarar a
possibilidade de experimentar períodos intermediários de desempenho
insatisfatório. Muitas estratégias de investimento sensatas exigem horizontes
de tempo de três a cinco anos. Por isso, mesmo as decisões corretas para o
longo prazo podem parecer tolas no curto prazo. Quando os preços do
mercado se movem contrariamente às posições já estabelecidas, os
investidores mais rmes aumentam suas participações, o que aumenta o
benefício da gestão ativa. Inversamente, investidores sensatos aparam os
excessos das posições ganhadoras para evitar exposição excessiva às
estratégias de sucesso recentes. “Enfrentar os ventos contrários” é uma
medida de controle de risco bastante e caz.
A alavancagem tem o potencial de adicionar valor considerável, mas
também pode provocar danos seríssimos. Ela é mais perigosa
especi camente para os investidores que adotam estratégias de longo prazo.
Keynes adverte que “um investidor que se proponha ignorar as utuações de
muito curto prazo do mercado não deve operar em tão larga escala, se é que
opera em alguma, com dinheiro emprestado”8. Os administradores fazem
grandes esforços para identi car e avaliar as fontes de alavancagem explícita
e implícita do portfólio. Eles procuram assegurar-se de que ela in uenciará o
portfólio de maneira aceitável.
Muitos desastres recentes de investimentos de alto nível foram causados
pela alavancagem que se ocultava sob as características super ciais dos
portfólios. A Common Fund usou a alavancagem explicitamente em seu
arriscado programa de empréstimos de títulos, expondo os ativos de
instituições educacionais a altos níveis de risco em troca de retornos
esperados modestos. David Askin usou a alavancagem explícita e a
alavancagem implícita inerente às suas posições de derivativos lastreados
por hipotecas e transformou uma perda de valor que já seria grave em uma
quebradeira total. Para evitar os desastres dignos de manchetes de jornais, é
preciso compreender profundamente as origens e a magnitude da exposição
à alavancagem.
Para bem servir a objetivos institucionais, é necessário implementar
disciplinadamente as políticas de alocação de ativos, com foco no
rebalanceamento regular de forma a garantir que as características do
portfólio respeitem os níveis projetados. Muitas atividades realizadas por
gestores de fundos institucionais criam con itos que acarretam resultados
diferentes das expectativas. Investimentos ilíquidos costumam oferecer boas
oportunidades de gestão ativa, embora proponham desa os signi cativos ao
processo de rebalanceamento. Os investidores que empregam estratégias de
gestão ativa expõem os fundos ao impacto de diferenciais de desempenho
relativos aos resultados do benchmark. O uso da alavancagem potencializa
os resultados dos investimentos e também pode alterar as características do
portfólio de maneiras que as análises de alocação de ativos não poderiam
prever. Investidores sensatos fazem rebalanceamentos regularmente,
analisam a gestão ativa com cuidado e limitam a alavancagem.
7
Classes de ativos tradicionais
A de nição de uma classe de ativos emprega arte e ciência para combinar
semelhante com semelhante, buscando como resultado nal uma coleção
relativamente homogênea de oportunidades de investimento. Classes de
ativos de nidas corretamente incluem grupos de posições que,
coletivamente, oferecem contribuições coerentes ao portfólio de um
investidor.
As classes de ativos tradicionais compartilham uma série de atributos
importantes. Em primeiro lugar, contribuem com características básicas,
valiosas e que fazem a diferença em um portfólio de investimentos. Em
segundo lugar, os ativos tradicionais de uma carteira de investimentos
contam fundamentalmente com retornos gerados pelo mercado e não por
uma gestão ativa dos portfólios. Em terceiro lugar, as classes de ativos
tradicionais derivam mercados amplos, profundos e nos quais se pode
investir.
As características básicas, valiosas e diferenciáveis agregadas pelas classes
de ativos tradicionais incluem desde o fornecimento de retornos esperados
substanciais até a proteção contra crises nanceiras. Investidores
responsáveis de nem as exposições das classes de ativos de forma restrita o
su ciente para garantir que o veículo de investimento realize a tarefa
prevista, mas com a amplitude su ciente para abranger uma massa crítica de
ativos.
As classes de ativos tradicionais dependem fundamentalmente dos
retornos de mercado, o que dá uma certeza razoável de que os vários
componentes do portfólio estão cumprindo as missões que lhes foram
designadas. Nos casos em que a gestão ativa se mostra essencial para o
sucesso de uma classe de ativos especí ca, o investidor precisará contar com
uma habilidade incomum ou com muita sorte para produzir resultados. Se
um gestor ativo mostra pouca habilidade ou passa por uma fase de má sorte,
o investidor sofre, pois a classe de ativos não cumprirá seus objetivos.
Como as classes de ativos tradicionais dependem dos retornos de
mercado, os investidores não precisam contar com a habilidade de encontrar
boas oportunidades nem com a suposta experiência dos gestores.
Os ativos tradicionais são negociados em mercados amplos, profundos e
nos quais se pode investir. A abrangência do mercado promete um leque de
opções; a profundidade implica em liquidez; a investibilidade garante o
acesso dos investidores às oportunidades de investimento. Classes de ativos
tradicionais são negociadas em mercados organizados.
Classes de ativos tradicionais abrangem ações e títulos de renda xa. As
classes de ativos usadas pelos investidores incluem ações do mercado
doméstico, ações de outros mercados desenvolvidos e ações de mercados
emergentes. A exposição às ações pode ser contrabalanceada com títulos do
Tesouro americano, que prometem proteção contra catástrofes nanceiras.
Classes de ativos tradicionais são os instrumentos básicos necessários para
os investidores criarem um portfólio bem diversi cado.
As descrições das classes de ativos tradicionais ajudam os investidores a
compreender os papéis exercidos pelos vários veículos de investimento em
um portfólio. Ao avaliar os riscos e os retornos esperados de uma classe de
ativos, sua correlação com a in ação e a interação prevista com outras
classes de ativos, os investidores desenvolvem o conhecimento necessário
para construir um portfólio. Um resumo das questões que envolvem o
alinhamento de interesses entre os emissores e detentores de ativos
nanceiros ilustra as armadilhas potenciais e os possíveis benefícios de
participar em determinadas categorias de ativos.
Alinhamento de interesses
As ações apresentam várias características que tendem a servir aos objetivos
do investidor. O alinhamento geral de interesses entre os administradores
das empresas e os acionistas traz bons presságios para quem investe em
ações. Na maioria dos casos os executivos da companhia se bene ciam do
aumento do valor para o acionista e servem igualmente às aspirações
nanceiras da administração e do investidor. Por exemplo, os
administradores frequentemente têm participação nos ganhos associados à
maior lucratividade da empresa. Essa participação pode ser indireta, via
aumento de remuneração, ou direta, através do aumento do valor de suas
participações pessoais em ações da empresa.
Infelizmente, a separação entre titularidade (pelos acionistas) e controle
(pela administração) nas companhias abertas introduz problemas
regulatórios, que ocorrem quando os administradores (os agentes) se
bene ciam em detrimento dos acionistas (os principais). A divergência mais
comum entre os interesses dos acionistas e os interesses da administração
resulta dos acordos de remuneração para a administração. Os membros da
administração recebem altos salários e benefícios, independentemente do
resultado da companhia. Como as empresas maiores oferecem pacotes de
remuneração melhores do que as de pequeno porte, os administradores
perseguem o crescimento dentro das corporações apenas para conseguir
maiores ganhos pessoais, independentemente do impacto do tamanho da
empresa sobre a lucratividade.
Os administradores desviam fundos para satisfazer suas preferências
pessoais, em detrimento do desempenho da companhia. Coleções de arte,
jatinhos, escritórios luxuosos e apartamentos corporativos são benefícios
concedidos aos diretores e gerentes à custa de objetivos legítimos da
empresa. Os investidores sentem-se consternados ao ler histórias sobre o
recebimento de mais de US$ 400 milhões em empréstimos pessoais da
companhia, pelo diretor-presidente da Worldcom, Bernard Ebbers ou sobre
o diretor-presidente da Tyco, Dennis Kozlowski, que desviou US$ 600
milhões da companhia para nalidades pessoais, o que incluiu a compra de
uma cortina de chuveiro por US$ 6.000. As desproporcionais recompensas
nanceiras e não nanceiras dadas à administração, legítimas ou não, vêm
diretamente dos bolsos dos acionistas da empresa.
Os escândalos que mais incomodam não são os dos diretores-presidentes
que foram além dos limites, mas os daqueles que encheram suas contas
bancárias enquanto seguiam as regras. O ex-diretor-presidente da General
Electric, James Welch, envergonhou a si mesmo e à companhia com um
pacote de aposentadoria recheado de vantagens pessoais. A lista começa
pelo uso vitalício de um apartamento de US$ 15 milhões, comprado pela
General Electric, e inclui o uso dos Boeing 737 e dos helicópteros da
empresa, além de um carro, com motorista, para ele e a esposa. Sem se
preocupar em duvidar se o valor de centenas de milhões de dólares pago ao
sr. Welch durante o seu mandato na General Electric seria su ciente para
bancar sua aposentadoria, a empresa ainda ofereceu “vinho, ores,
cozinheiro, arrumadeiras e outras facilidades”, tais como ingressos para
“eventos esportivos de alto nível e óperas” para atender as necessidades do
ex-presidente7. Até as con áveis páginas do editorial do Wall Street Journal,
sempre amigáveis, referiram-se ao pacote de aposentadoria de Welch como
“brinquedos da opulência corporativa”8.
Remunerações excessivas como as de Ebbers, Kozlowski e Welch são
apenas a ponta do iceberg. O problema mais profundo, como descrito por
William McDonough, presidente do Federal Reserve de Nova York, está no
fato de que os rápidos aumentos nas remunerações dos diretores-presidentes
nas últimas duas décadas são uma “política social ruim e talvez ainda pior
moralmente”. McDonough sugeriu que as diretorias das empresas “deveriam
simplesmente chegar à conclusão de que o pagamento é excessivo e ajustá-lo
a níveis mais razoáveis e justi cáveis”9.
Opções de ações
O uso de opções de ações para recompensar os membros da administração
da empresa produz uma sutil desconexão entre os interesses da
administração e os interesses dos acionistas. Os esquemas de remuneração
baseados em opções funcionam de maneira e caz quando os preços das
ações da companhia sobem, porque tanto a administração quanto os
acionistas ganham. O alinhamento de interesses é quebrado quando os
preços das ações caem, porque a administração perde apenas a
oportunidade de se bene ciar dos aumentos dos preços das ações. Na
verdade, a administração não sofre absolutamente nada quando as diretorias
rede nem o preço das opções para re etir os novos preços diminuídos das
ações. Diferentemente da administração, que quando os preços das ações
caem perde uma mera oportunidade, os acionistas perdem dinheiro vivo. Os
esquemas de remuneração baseados em opções são um jogo sem risco de
perdas para a administração das companhias abertas.
A Microso é um exemplo didático de como isolar os empregados das
quedas de preços das ações. Em abril de 2000 o diretor-presidente Steve
Ballmer enfrentou um problema de moral baixa entre os empregados, que
andavam preocupados com as consequências das atividades antitruste do
Departamento de Justiça dos Estados Unidos e com o declínio dos preços
das ações da empresa, que despencaram 44% em quatro meses. Para animar
os espíritos, Ballmer concedeu a mais de 34 mil empregados da Microso
opções de ações preci cadas pelo valor das ações da empresa na época. O
diretor-presidente enviou um e-mail aos funcionários dizendo que “nós
sabemos que as opções de ações são uma parte importante da nossa
remuneração”. Mesmo a rmando que as opções preexistentes “terão valor no
longo prazo”, Ballmer manifestou sua esperança de que “essas novas
concessões permitam que as pessoas vejam os retornos muito antes”10. Ao
de nir o preço de exercício das opções num valor próximo à maior baixa em
52 semanas (um ano), a companhia isolou os funcionários do declínio
dramático das ações da Microso. A companhia não prestou um socorro
desse tipo aos acionistas.
Em resposta aos inúmeros abusos de con ança cometidos no nal da
década de 1990, muitas companhias começaram a rever a remuneração
baseada em opções. Em um movimento particularmente notável, em julho
de 2003, a Microso anunciou planos de eliminar seu programa de opções e
substituí-lo por um programa de prêmios em ações vinculadas. Ao contrário
do pagamento assimétrico das opções, as ações vinculadas produzem uma
congruência de resultados na qual a administração e os acionistas lucram e
sofrem juntos. Segundo o presidente Steve Ballmer, “quer se trate da política
de dividendos, quer se trate de quanto risco tomar, é sempre bom ter os
colaboradores pensando o mais parecido possível com os acionistas”11. Se
um número considerável de empresas seguir a liderança da Microso, a
administração das companhias provavelmente vai servir melhor aos
interesses dos acionistas no futuro.
Apesar de haver um alinhamento geral de interesses entre acionistas e
administradores, há muitos casos de abusos. A remuneração excessiva dos
executivos, seja na forma direta de salários in ados, seja na forma indireta
de vantagens corporativas insensatas, forra os bolsos dos membros da
administração à custa dos acionistas. Às vezes, como no exemplo da
remuneração baseada em opções, há uma desconexão entre a administração
e os acionistas. O con ito entre os proprietários das ações e os
administradores das companhias é reduzido quando os membros da
administração são donos de ações. Investidores que buscam segurança
procuram companhias cuja administração possui grande parte das ações.
Características do mercado
Em 31 de dezembro de 2006, o mercado acionário dos Estados Unidos
contava com ativos em excesso de US$ 18,2 trilhões, o que lhe garantia o
título de maior mercado de capitais líquidos do mundo. Mais de 6.190 ações
faziam parte do mercado, como de nido pelo Wilshire 5000 (o nome não é
adequado, como se pode ver). A imensidão do mercado acionário norte-
americano serve para alertar muitos participantes sobre a divisão do todo
em várias partes. As categorias típicas incluem o tamanho da capitalização
de mercado (pequena, média e grande), o tipo de ação (crescimento ou
valor) e a natureza do negócio (serviço público, tecnologia e saúde, por
exemplo). No nal de 2006 o mercado de ações norte-americano negociava
com rendimentos de dividendos de 1,7%, índice de preço/lucro* de 19,5 e
índice de preço/patrimônio* líquido de 2,5.12
Resumo
As ações domésticas dos Estados Unidos representam o ativo escolhido por
muitos investidores de longo prazo. A teoria nanceira prevê e a experiência
prática demonstra que as ações proporcionam retornos superiores em
períodos de manutenção razoavelmente longos. O alinhamento geral de
interesses entre os acionistas e os administradores serve tanto aos objetivos
dos acionistas minoritários quanto às aspirações dos administradores
internos. Os investimentos em ações oferecem proteção contra a in ação no
médio e no longo prazos. As características atrativas das participações
acionárias justi cam que elas tenham um papel signi cativo na maioria dos
portfólios.
Contudo, os investidores não podem con ar que as ações exibam suas
características gerais a qualquer tempo, e não podem permitir que elas
respondam por uma parcela grande demais do portfólio-alvo. A história
pode exagerar um pouco em relação à atratividade das ações dos Estados
Unidos. Os retornos de títulos e caixa podem superar os retornos das ações
por anos a o. A partir do pico do mercado, em outubro de 1929, por
exemplo, foram necessários 21 anos inteiros e mais três meses para que os
investidores em ações igualassem os retornos gerados pelos investimentos
em títulos de renda xa13. O alinhamento de interesses entre acionistas e
administração é perturbado com muita frequência. Os preços das ações
muitas vezes não re etem in ação subjacente, às vezes por períodos
prolongados. Embora os mercados de ações não entreguem retornos de
forma constante, estável e protegida da in ação e as administrações das
empresas nem sempre sirvam aos interesses do acionista, os investimentos
em ações continuam sendo uma parte central dos portfólios de investimento
montados com planejamento e orientados para o longo prazo.
Alinhamento de interesses
Os interesses dos investidores em bônus do Tesouro se mostram mais bem
alinhados com os interesses do governo dos Estados Unidos do que os
interesses dos compradores de títulos privados com os das empresas
emissoras. O governo vê poucas razões para desfavorecer os detentores de
títulos. Em resumo, a ação tomada para reduzir o valor dos títulos do
governo representa uma transferência dos detentores de títulos para os não
obrigacionários. Na verdade, se toda a dívida fosse mantida dentro do
países, as vantagens ou desvantagens auferidas pelo governo das mudanças
nos valores dos títulos iriam equilibrar e compensar as
desvantagens/vantagens auferidas pelos obrigacionários, levando a
transferências de um grupo de cidadãos (contribuintes ou detentores de
títulos) para outro grupo de cidadãos (detentores de títulos ou
contribuintes). Além disso, se o governo prejudicasse os investidores em
títulos, o acesso futuro aos mercados de crédito poderia se prejudicado. A
preocupação com o desalinhamento de interesses não faz os detentores de
bônus do Tesouro perderem o sono.
Geralmente os investidores em bônus do Tesouro percebem o governo
como uma parte neutra no processo de gestão da dívida. Ao contrário dos
detentores de títulos privados, que acompanham de perto cada passo das
empresas emissoras das obrigações, os detentores de títulos do governo
esperam receber um tratamento justo. Considere que o Tesouro americano
ofereceu ao mercado, de 1975 a 1984, doze emissões de bônus de trinta anos,
que continham cláusulas de resgate para os cinco anos nais da vida da
emissão. Uma cláusula de resgate permite que o emissor de dívidas resgate
uma emissão de dívida a um preço xo. Os emissores motivados
economicamente só exercem as cláusula de resgate quando o preço xo de
resgate ca abaixo do título calculado sem uma cláusula de resgate. O
exercício de uma cláusula de resgate elimina a dívida com os cupons mais
caros que os níveis correntes do mercado, bene ciando o emissor e
prejudicando o investidor.
Como o governo tem um papel especial nos mercados de dívida, os
participantes do mercado de bônus debateram se o governo empregou a
opção de compra por motivos administrativos ou para re nanciar a
economia. Se o governo usou a opção de compra para administrar a dívida
conclui-se que quem carregou a dívida enfrentou um risco idiossincrático
com probabilidades iguais de gerar rendas ou custos. Mas se o governo usou
a opção de resgate para re nanciamentos econômicos os detentores dos
títulos enfrentaram um risco de perda econômica.
Os detentores de títulos do governo receberam a resposta para a pergunta
de como o Tesouro iria se comportar em 14 de janeiro de 2000, quando o
Tesouro “anunciou a chamada para resgate ao par em 15 de maio de 2000,
dos Bônus do Tesouro (8-¼%), em 15 de maio de 2000-2005”15. O governo
estava respondendo a incentivos econômicos ao resgatar a dívida mais cara
para reduzir os custos de nanciamento.
Nos re nanciamentos que se seguiram, o Tesouro mencionou
explicitamente uma motivação econômica para resgatar os bônus. No
comunicado do Public Debt News de 15 de janeiro de 2004, intitulado, de
forma pouco criativa, “Tesouro resgata bônus de 9-⅛%,” o governo observou
que “esses bônus estão sendo resgatados para reduzir o custo do
nanciamento da dívida. A taxa de juros de 9-⅛% era signi cativamente
maior que o custo corrente da época para garantir o nanciamento para os
cinco anos restantes até o vencimento. Nas condições de mercado atuais, o
Tesouro estima que a economia de juros resultante desse
resgate/re nanciamento seria de cerca de US$ 544 milhões”16. Ou seja, a
capacidade de re nanciar os bônus de 9%-mais-cupom, a um custo
nanceiro que cou entre 3 e 4%, resultou numa economia considerável
para o governo.
Ainda que o governo tenha agido de forma econômica ao exercer a opção
de compra dos bônus de 9-⅛%, de 2004 a 2009, o fato de os investidores
terem discutido se o governo iria exercer o resgate para gerar economias de
juros signi ca uma relação incomum entre o governo e seus credores. Na
verdade, o programa de emissão de bônus resgatáveis durou apenas dez anos
e envolveu uma parcela relativamente pequena da emissão global de títulos
do governo. Além disso, as cláusulas de resgate afetaram somente os últimos
cinco anos de vida dos bônus de trinta anos, ao contrário das cláusulas de
resgate muito mais agressivas tipicamente incluídas em emissões de dívidas
privadas de longo prazo. Talvez o Tesouro norte-americano tenha parado de
vender bônus resgatáveis para melhorar as características dos títulos
oferecidos aos participantes do mercado de títulos públicos. Em todo caso,
de todos os emissores de dívida, o governo é o que promove o maior
alinhamento de interesses com seus credores.
Em 31 de dezembro de 2006, cerca de 31% das emissões de bônus do
governo americano eram dívidas emitidas por empresas patrocinadas pelo
governo (GSEs, na sigla em inglês). (A Associação Nacional Hipotecária do
Governo, conhecida como “Ginnie Mae”, a Sociedade Federal Hipotecária de
Crédito Habitacional, conhecida como “Freddie Mac”e a Associação Federal
de Hipotecas Nacionais, também chamada de “Fannie Mae”, são as maiores
GSEs.) Muitos participantes do mercado tratam a dívida emitida pelas GSEs
como substituto próximo das obrigações do Tesouro americano. Na verdade
a qualidade do crédito das GSEs varia, indo da categoria boa-fé e crédito,
atribuída à Ginnie Mae, até situações menos privilegiadas, como as da
Fannie Mae e Freddie Mac. Muitas GSEs operam num território inferior,
entre a certeza das garantias do governo e a incerteza das promessas de
pagamento das empresas. Embora a possibilidade de calote por parte das
GSEs pareça bastante baixa para a maior parte dos observadores do
mercado, muitas obrigações das GSEs contêm opções que podem prejudicar
os obrigacionários.
Os investidores que buscam a pureza das dívidas do Tesouro encaram
uma tarefa surpreendente e assustadora. Muitos veículos de investimento
em títulos de alta qualidade contêm grandes quantidades de dívida de GSEs,
porque os gestores dos fundos adotam a prática antiga e reconhecida de
“esperar ganhar algo com nada”, na forma de rendimentos incrementais
sobre papéis de GSEs (o algo) sem expor o portfólio a riscos adicionais (o
nada). A dupla possibilidade de deterioração do crédito e do exercício das
opções pelas GSEs carrega o potencial de prejudicar os interesses do
detentor dos títulos. Investidores que buscam exposição à renda xa de alta
qualidade evitam dívidas de GSEs e optam pela pureza dos bônus do
Tesouro, as obrigações de boa-fé e crédito do governo dos Estados Unidos.
Caixa
É comum os investidores dividirem os ativos de renda xa nas categorias
caixa e títulos. A primeira é composta por instrumentos com vencimento
em até um ano e a última inclui instrumentos com vencimento em mais de
um ano. Para investidores com horizontes de investimento curtos o caixa
representa o ativo livre de risco, pois os participantes do mercado conhecem
os retornos nominal e real com um grau de certeza razoável. A certeza do
retorno custa caro, já que os retornos nos oitenta anos ndos em 31 de
dezembro de 2006 atingiram parcos 3,7% ao ano, que caem a um irrisório
0,7% anual depois do ajuste da in ação.
Como os investidores frequentemente trabalham com horizontes de um
ano ao fazer suas análises de portfólio, o caixa entra naturalmente na matriz
de retornos de mercados de capitais, o que leva muitos investidores de longo
prazo a classi carem erradamente os investimentos em caixa como um ativo
livre de risco. Se os investidores zessem análises em períodos consistentes
com um horizonte de investimento correto o caixa apareceria como um
ativo consideravelmente mais arriscado.
Alguns investidores defendem que o caixa fornece a liquidez necessária
aos fundos de endowment, ignorando as quantidades massivas de liquidez
que residem nos portfólios institucionais. Receitas de juros, pagamentos de
dividendos e uxos de aluguéis geram uxos de caixa líquidos e tornam a
vida do fundo de investimentos mais fácil no que diz respeito a atender aos
requisitos de distribuição de gastos. O giro natural dos ativos é outra fonte
de recursos. Títulos vencem, companhias se fundem e ativos privados
tornam-se líquidos, servindo como fontes de uxos de caixa. As decisões de
venda tomadas pelos gestores criam mais um conjunto de eventos de
liquidez. Finalmente, se os uxos de rendimentos, o giro natural dos ativos e
as vendas não forem su cientes para gerar a liquidez necessária para fazer
frente às despesas, os investidores ainda têm a capacidade de direcionar as
vendas de ativos de forma a atender o consumo atual. Os modestos custos
de transação incorridos nas vendas de ativos praticamente somem se
comparados aos grandes custos devoradores de retornos criados ao manter
o caixa como parte normal de um portfólio institucional. Como entrega
retornos reais fracos e não serve como ativo livre de risco aos investidores de
longo prazo, o caixa não tem uma função importante em portfólios de
endowments bem construídos.
Características de mercado
Em 31 de dezembro de 2006, os bônus do governo norte-americano
totalizavam US$3,2 trilhões, dos quais US$2,2 trilhões representavam
obrigações de boa-fé e crédito do Tesouro e US$1 trilhão era referente às
dívidas de GSEs. Os bônus do Tesouro são negociados no mercado mais
profundo e mais e ciente do mundo.
O universo dos bônus do Tesouro ostentava uma rentabilidade até o
vencimento* de 4,9%, no nal do ano de 2006, com um vencimento médio
de 6,9 anos e uma duration média de cinco anos. As emissões de agências de
desenvolvimento prometiam rendimentos de 5,1%, com um vencimento
médio de 5,1 anos e uma duração média de 3,5 anos.
Resumo
Os bônus do Tesouro norte-americano oferecem uma forma única de
diversi cação do portfólio e servem como um hedge contra acidentes
nanceiros e de ação não esperada. Nenhum outro tipo de ativo chega a ter
um poder de diversi cação nem parecido com o das obrigações do governo
norte-americano, que são de boa-fé e crédito, de longo prazo, resgatáveis
apenas no vencimento e livres de calote.
Os investidores pagam um preço pelo poder de diversi cação dos bônus
do Tesouro. A blindagem oferecida pelos títulos de dívida do Tesouro leva
os investidores a esperar (e a merecer) retornos pequenos em relação
àqueles esperados de ativos mais arriscados. Apesar de os detentores de
bônus de longo prazo do Tesouro se bene ciarem das quedas nos índices de
in ação, em um ambiente de in ação acima da prevista esses detentores de
títulos perdem. Devido aos inexpressivos retornos esperados e à reação
adversa à in ação, é aconselhável que os investidores de longo prazo façam
alocações modestas nessa classe de ativos.
Perseguir o desempenho
Os investidores tendem a procurar a diversi cação quando o ativo central
do portfólio decepciona, seja em termos absolutos ou relativos. De 1998 a
2003, por exemplo, um período em que os mercados estrangeiros tiveram
desempenhos fracos, retornando -8,5% acumulados em relação ao mercado
americano, com -6,4%, os endowments de universidades mantiveram uma
alocação relativamente estável para ações estrangeiras. O fato de as
alocações para ações no exterior carem numa faixa estreita entre 12,5% e
13,8% para o período indica que os investidores executaram atividades
racionais de rebalanceamento. Ao contrário do rebalanceamento racional
diante de desempenhos relativos insatisfatórios, quando os mercados
estrangeiros deslancharam, em 2004, as alocações para ações estrangeiras
também deslancharam. Nos três anos de 2004 a 2006, as ações não
americanas contabilizaram retornos de 23,9% ao ano e os mercados
emergentes, 35,8%, superando totalmente os retornos do mercado norte-
americano, de 13,1%. Em resposta, os gestores de endowments de
universidades perseguiram o desempenho, e elevaram as alocações em ações
de 13,8% (2003) para 15,6%(2004), 17,4% (2005) e, nalmente, 20,1%
(2006). Estratégias momentâneas geralmente acabam mal.
O excelente desempenho relativo das ações estrangeiras levaram os
gestores de endowments a aumentar fortemente as participações societárias
fora dos Estados Unidos. Os investidores frequentemente citam a
diversi cação como a justi cativa lógica para aumentar as alocações em
papéis estrangeiros. Desempenhos decepcionantes dos ativos usados para
diversi car a carteira podem fazer com que os investidores reduzam as
alocações em um momento inoportuno. Investidores razoáveis buscam a
diversi cação como política para reduzir o risco e não como tática para
perseguir o desempenho. Ao adotar uma política disciplinada de manter um
conjunto de exposições de portfólio bem-diversi cadas e independentes dos
altos e baixos do mercado, os investidores de nem as condições para o
sucesso no longo prazo. Para dizer a verdade, ao levar as condições de
mercado em consideração os investidores aumentam as chances de sucesso,
pois passam a diversi car em classes de ativos depois que elas sofreram
desempenhos ruins. De todo modo, as ações estrangeiras são ferramentas
importantes para reduzir o risco do portfólio sem sacri car os retornos
previstos.
Preços das ações estrangeiras e in ação
Os investidores em ações domésticas se veem diante de um paradoxo
in acionário: as ações parecem ter uma boa proteção de longo prazo contra
a in ação, ao mesmo tempo que aparentam oferecer proteção ine ciente no
curto prazo. Quem investe em ações de empresas de outros países não
encontra um enigma desse tipo. A tênue ligação entre (a) in ação doméstica
e (b) os retornos das ações estrangeiras convertidos em dólares se revela tão
remota que acaba tornando as ações estrangeiras inúteis como hedge contra
a in ação.
Alinhamento de interesses
Como uma primeira aproximação, o alinhamento de interesses entre os
investidores norte-americanos e as empresas estrangeiras assemelha-se à
relação entre os mesmos investidores e as empresas dos Estados Unidos. Em
termos gerais, os investidores em ações domésticas ou estrangeiras esperam
que a administração da empresa cuide dos interesses dos acionista.
Ainda que escândalos empresariais como os da Enron e da Worldcom,
entre outros, tenham destacado as de ciências na governança corporativa
das empresas americanas, o que ca é a ideia de que, nos Estados Unidos,
existe uma forte coincidência de interesses entre os acionistas e a
administração. Generalizando bastante, em outras partes do mundo a
administração das companhias não se concentra tanto na geração de lucro,
pura e simples. Em alguns países as normas culturais levam a uma
preocupação maior com as necessidades de outras partes interessadas,
incluindo trabalhadores, credores e a comunidade como um todo. Em
outros países, estruturas de governança corporativa ine cientes permitem
que os acionistas controladores desviem recursos dos acionistas
minoritários. Apesar de a menor coincidência de interesses entre as
administrações no exterior e seus acionistas constituir uma desvantagem
para os proprietários de ações estrangeiras, as vantagens de aumentar o
conjunto de oportunidades de investimentos tornam aconselhável incluir
ações de fora dos Estados Unidos nos portfólios de investidores individuais.
Características de Mercado
Em 31 de dezembro de 2006 os mercados estrangeiros desenvolvidos
totalizavam US$23,8 trilhões, conforme dados do Morgan Stanley Capital
International. A soma dos 22 países incluídos pelo MSCI no mundo
desenvolvido, com exceção dos Estados Unidos, resultou numa capitalização
de mercado maior que a dos Estados Unidos, que estava em US$18,2
trilhões no nal de 2006. O Japão liderava o grupo, com US$5 trilhões em
ativos. Outros mercados importantes eram Reino Unido (US$3,8 trilhões),
França (US$2,4 trilhões), Canadá (US$1,8 trilhão) e Alemanha (US$1,6
trilhão). A Europa respondia por 63% do planeta, tirando os Estados
Unidos. A Ásia representava 26%, o Canadá, 7% e a Austrália/Nova
Zelândia, 5%.
No total, os mercados de ações de países desenvolvidos ostentavam
rendimento de dividendos de 2,4%, índice de preço/lucro de 16,0 e índice de
preço/patrimônio líquido de 2,7. As variações regionais são importantes. A
Europa rendeu 2,7% no nal de 2006, contra 1,1% do Japão. As ações
europeias tiveram um índice de preço/lucro de 14,5 e um índice de
preço/valor patrimonial de 2,6, contra os índice do Japão, de 21,2 e 2,1
respectivamente.
Resumo
Como os retornos esperados dos mercados desenvolvidos no exterior são
próximos dos retornos esperados do mercado norte-americano, os
investidores estabelecem posições em ações de países desenvolvidos
principalmente para diversi car o portfólio. A fonte mais importante de
diversi cação decorre do fato de que as forças que impulsionam os retornos
nos mercados de ações fora dos Estados Unidos são diferentes daquelas que
impulsionam os retornos nos Estados Unidos. A exposição às moedas
estrangeiras adiciona outra medida de diversi cação aos portfólios do
investidor.
Investidores sensatos investem em mercados de ações no exterior,
independentemente do desempenho passado recente. Os players do
mercado frequentemente procuram a diversi cação prometida pelas ações
estrangeiras depois de um período de retornos relativos fortes dos mercados
estrangeiros. Quando as estratégias de diversi cação não produzem retornos
superiores aos resultados do mercado doméstico, os investidores
abandonam os ativos que tinham sido usados para diversi car o portfólio.
Os players que buscam performance perseguem o desempenho usam as
ações internacionais para contrabalancear os portfólios, travando os
retornos relativos insatisfatórios e prejudicando os resultados dos
investimentos.
AÇÕES DE MERCADOS EMERGENTES
Os mercados emergentes representam um segmento do universo acionário
caracterizado por altos riscos e altos retornos esperados. De nidos como
um grupo de países cujas economias estão em estágio intermediário de
desenvolvimento, não sendo considerados subdesenvolvidos nem
desenvolvidos, os mercados emergentes apresentam aos investidores um
conjunto impressionante de riscos básicos. Em um nível macro, os
investidores preocupam-se com o desenvolvimento da economia global e
com o amadurecimento da infraestrutura dos mercados de capitais. Em um
nível micro, preocupam-se com a qualidade da administração e com a
orientação para os lucros das empresas recém-criadas.
Observadores de mercado frequentemente confundem crescimento
econômico sólido com boas perspectivas de mercado. Considere o caso
extremo de uma economia dominante com regras de alocação de recursos
que operam sem o benefício dos mercados de capitais. Claramente o
crescimento econômico ocorre sem nenhum impacto nos preços das ações,
já que não existem ações. No caso menos extremo de economias orientadas
pelo mercado, com alocação de recursos ine ciente, os provedores de capital
próprio poderiam receber retornos insatisfatórios consistentemente. As
receitas das empresas podem se acumular desproporcionalmente para a
administração (através da remuneração), a mão de obra (por meio dos
salários) ou as entidades governamentais (através dos impostos), deixando
uma recompensa inadequada para o capital. Em economias que funcionam
bem os preços e retornos se ajustam para re etir as condições do mercado
nanceiro. Nem todas as economias de mercados emergentes funcionam
bem. Investimentos rentáveis em ações requerem empresas rentáveis, pois,
basicamente, os investidores recebem uma parte dos lucros das empresas.
Aqui está o principal risco microeconômico para os investidores em
mercados emergentes. Nos mercados emergentes, como em qualquer outro
lugar, o crescimento econômico pode não levar à rentabilidade das
empresas, que, por sua vez, se traduz no sucesso do mercado acionário.
A história econômica contém muitos exemplos de mercados emergentes
que submergiram. Em um artigo de título dramático, “Survival”
[Sobrevivência], Stephen Brown, William Goetzmann e Stephen Ross
identi cam 36 bolsas de valores que estavam operando no começo do século
XX. Delas, “mais da metade sofreu pelo menos uma interrupção importante
das negociações [...] geralmente devido às estatizações ou à guerra”. Mais
estressante para os investidores que acreditam na inevitabilidade do
progresso: dos 36 mercados que operavam em 1900, quinze continuam
classi cados como mercados emergentes mais de cem anos depois. Um
deles, localizado em Belgrado, capital da Sérvia, nem consta da lista de
mercados emergentes do século XXI. Os autores observam secamente que
“na verdade, o próprio termo ‘mercados emergentes’ admite a possibilidade
de que estes mercados podem vir a fracassar”17.
Nos últimos anos os investidores aproveitaram a oportunidade de investir
em um grupo cada vez maior de mercados em desenvolvimento. A Morgan
Stanley Capital International, empresa líder na elaboração de índices de
mercados fora dos Estados Unidos, começou a acompanhar os mercados
emergentes em 1988, com um índice de oito países que englobava desde
México até Jordânia e Tailândia. Cinco anos depois o número chegou a
dezenove, com adições importantes como Índia, Coreia e Portugal. Em 1998
o total atingiu 28, quando África do Sul, Rússia e alguns países da Europa
central se juntaram ao universo de cobertura do MSCI. Em 2001, Egito e
Marrocos entraram no índice, enquanto o Sri Lanka era retirado. Por
problemas como restrições aos investimentos e falta de liquidez, a Venezuela
deixou o índice em 2006, reduzindo o número de países emergentes para 25.
Em algumas ocasiões os países saem do mundo emergente para o mundo
desenvolvido. Em 1997 Portugal fez esse movimento, seguido pela Grécia,
em 2001. À medida que as economias emergentes progridem, mais países
avançam para as leiras do mundo desenvolvido.
Alinhamento de interesses
O desenvolvimento da infraestrutura do mercado nas economias
emergentes evolui através de ajustes, a partir do momento em que
legisladores, reguladores e administradores de empresas aprendem as regras
do jogo. Investidores acostumados às proteções oferecidas nos Estados
Unidos podem achar a maioria dos mercados emergentes totalmente
inóspita. A qualidade da legislação sobre títulos e valores mobiliários varia
de pobre a satisfatória e o cumprimento das regulamentações também pode
variar. A delidade dos administradores das companhias em relação aos
interesses dos acionistas é incerta. A máxima “caveat emptor” (“que o
comprador se acautele”) impera.
As políticas do governo podem interferir nos interesses do investidor, às
vezes de forma dramática. Em 1998, durante a crise asiática, a Malásia
restringiu a conversibilidade da sua moeda, o ringuite, proibindo
efetivamente que os investidores estrangeiros repatriassem seus recursos.
Por causa do mau comportamento em relação ao controle de capitais o
MSCI removeu a Malásia de um dos índices de mercados emergentes da
empresa. Só no m de 1999, quando retirou os controles de capitais, o país
restabeleceu suas credenciais como membro quali cado da lista do MSCI.
Nos mercados emergentes as ações corporativas às vezes parecem um
lme de faroeste. Um observador de mercado sugeriu que os investidores
em ações russas colocassem dinheiro em empresas cuja gerência tentasse
sonegar grandes quantias e evitassem comprometer-se com companhias nas
quais a gerência cometesse crimes menores contra o patrimônio. O
raciocínio por trás de um conselho tão super cial e contraditório é a noção
de que os administradores de empresas realmente valiosas tentam roubar a
empresa inteira, enquanto os administradores de empresas menos valiosas
simplesmente tentam furtar fatias menores.
O menor alinhamento de interesses que se apresenta aos investidores em
mercados emergentes é um dos fatores de risco críticos que os levam a exigir
taxas de retorno mais altas para investimentos em ações desses mercados.
Como os investidores operam em um ambiente com estruturas menos
evoluídas para a de nição e resolução de questões legais e regulatórias, a
incerteza resultante força os investidores sensatos a buscar prêmios de
retorno.
Os governos de mercados emergentes ocasionalmente promovem divisões
entre os interesses dos acionistas e os da administração. Controles sobre
propriedade e direitos de voto das ações locais às vezes levam à criação de
duas classes de acionistas, com problemas em decorrência disso para o
investidor estrangeiro da segunda classe. Controles de capitais, embora
pouco frequentes, interferem na capacidade dos investidores estrangeiros de
transferir seus recursos livremente. A regulamentação governamental nos
mercados emergentes tem um grande potencial de prejudicar os interesses
dos investidores estrangeiros.
Em outros exemplos os administradores das companhias não agem em
prol dos interesses dos acionistas. Um problema disseminado em muitos
países asiáticos envolve companhias familiares, que satisfazem as vontades
da família controladora em detrimento dos desejos dos acionistas
minoritários externos. A falta de transparência também agrava o problema,
já que os investidores de fora geralmente não têm acesso às informações
necessárias para identi car e resolver questões internas dos negócios.
À medida que os mercados emergentes amadurecem e os mercados
globais se liberalizam, os problemas estruturais com desalinhamentos de
interesses tornam-se menos graves. Apesar disso, investidores racionais
exigem um prêmio de retorno considerável para expor seus ativos a
companhias que operam em mercados emergentes onde a estrutura legal e a
regulatória está longe de ser ideal.
Características de mercado
Em 31 de dezembro de 2006 as ações de mercados emergentes totalizavam
US$7,2 trilhões, de acordo com o MSCI. Variando de Índia (US$824
bilhões) e China (US$816 bilhões), que por suas capitalizações de mercado
poderiam fazer parte do grupo dos mercados desenvolvidos, até mercados
muito menores como Peru (US$38 bilhões) e Jordânia (US$30 bilhões), o
universo dos mercados emergentes inclui uma grande variedade de países. A
Ásia responde por 53% dos ativos dos mercados emergentes; a América
Latina representa 20%; a Europa, 16%; a África e o Oriente Médio, 12%.
As avaliações dos mercados emergentes superaram as dos Estados Unidos
no nal de 2006 (pelo menos para os investidores que estavam buscando
valor). Os rendimentos provenientes dos dividendos de mercados
emergentes atingiram 2,1%, contra 1,7% dos Estados Unidos. O índice de
preço/lucro atingiu 15,6, o que representa um desconto considerável em
relação ao nível do mercado norte-americano, de 19,5. Os mercados
emergentes eram negociados a um índice de preço/valor patrimonial de 2,5,
idêntico ao dos Estados Unidos.
Resumo
Quem investe em mercados emergentes demanda retornos esperados
consideráveis para compensar o alto nível de risco básico do investimento.
Durante o período para o qual existem dados de boa qualidade os
investidores receberam compensação inadequada pelos riscos incorridos.
De 1985, quando o IFC do Banco Mundial começou a medir os retornos das
ações de mercados emergentes, a dezembro de 2006, essas ações produziram
retornos de 12% ao ano (conforme medido pelo IFC Global Composite) em
comparação com os retornos de 13,1% do S&P 500 e 12,4% do EAFE. O
dé cit relativo aos retornos dos mercados desenvolvidos indicam que quem
investiu nos mercado emergentes aceitou riscos básicos maiores que nos
mercados desenvolvidos, sem ganhar retornos adicionais. Investidores de
mercados emergentes têm esperança de que o futuro irá tratá-los melhor do
que o passado.
Em função das preocupações macroeconômicas e microeconômicas, as
ações dos mercados emergentes prometem retornos esperados altos com
níveis de risco proporcionalmente maiores. Uma alocação em ações de
mercados emergentes realça o potencial das características de risco e retorno
esperados de portfólios de investimentos bem-estruturados.
CONCLUSÃO
Os investidores encontram diversos elementos essenciais para compor um
portfólio de ativos bem diversi cado nas classes de ativos tradicionais, como
ações domésticas, bônus do Tesouro dos Estados Unidos, ações de mercados
desenvolvidos e ações de mercados emergentes. As ações domésticas e
estrangeiras conduzem os retornos do portfólio, enquanto os bônus do
Tesouro oferecem um poder de diversi cação. Ao empregar classes de ativos
tradicionais em um portfólio bem diversi cado, os investidores constroem
uma base sólida para o sucesso nos investimentos.
Para proporcionar características básicas que agreguem valor e
diferenciação aos portfólios do investidor, as classes de ativos tradicionais
dependem dos retornos gerados pelo mercado. Ao investir em classes de
ativos em que as forças de mercado conduzem os retornos, os investidores
con am que as várias classes de ativos produzirão os resultados esperados
no longo prazo, reduzindo drasticamente o risco de a gestão ativa provocar
derrapagens entre o desempenho esperado e os resultados reais.
As classes de ativos tradicionais são negociadas em mercados amplos,
profundos e em que se pode investir com con ança, garantindo um alto
nível de comprometimento por parte de várias empresas de Wall Street. A
competição resultante leva à transparência e e ciência de mercado,
aumentando a probabilidade de os investidores realizarem operações em
bases justas.
Investidores sem conhecimentos em gestão ativa dependem
principalmente das classes de ativos tradicionais para construir seus
portfólios. Para fechar o portfólio alguns deles podem vir a adicionar uma
certa exposição aos títulos do Tesouro protegidos contra a in ação, além de
uma parcela de investimentos em imóveis. Os investidores que conhecem as
técnicas de gestão ativa podem aproveitar a oportunidade de gerar retornos
acima do mercado com ações domésticas e estrangeiras, mas também
bene ciar-se da inclusão de classes de ativos que dependam da gestão ativa,
como retorno absoluto, ativos reais e private equity.
8
Classes de ativos alternativos
A classe de ativos é composta por retorno absoluto, ativos reais e private
equity – contribui para o processo de construção do portfólio ao deslocar a
fronteira da e ciência, permitindo a criação de portfólios com retornos mais
elevados para um dado nível de risco ou com risco mais baixo para um dado
nível de retorno. Investidores que empregam ativos alternativos como
ferramentas legítimas no processo de alocação de portfólio reduzem a
dependência em relação a títulos tradicionais negociáveis no mercado,
facilitando a estruturação de portfólios verdadeiramente diversi cados
Cada categoria de investimento alternativa, como classe de ativos
separada, adiciona algo diferente e importante às características do
portfólio. Retorno absoluto e ativos reais proporcionam diversi cação,
gerando retornos que são provocados por fatores materialmente diferentes
daqueles que determinam os resultados das outras classes de ativos. Por
outro lado, os retornos do private equity dependem de muitos fatores que
também in uenciam os retornos das ações negociáveis tradicionais. Embora
os investimentos privados ofereçam pouca diversi cação, as participações
privadas selecionadas criteriosamente podem contribuir muito para
aumentar os retornos do portfólio.
Os preços de muitos ativos alternativos carecem da e ciência típica da
preci cação dos títulos tradicionais negociáveis no mercado, o que gera
oportunidades para que gestores astutos adicionem um valor considerável
ao processo de investimento. O fato é que investidores de classes alternativas
devem adotar a gestão ativa, já que não há retornos de mercado, ou seja, não
há uma opção passiva em que se possa investir. Mesmo se os investidores
pudessem comprar o resultado da mediana de uma classe de ativos
alternativa, os resultados provavelmente seriam decepcionantes. A mediana
dos retornos históricos de longo prazo ca para trás em relação aos
resultados comparáveis dos títulos e valores mobiliários negociáveis, tanto
em termos absolutos quanto em retornos ajustados ao risco. A promessa de
investir em ativos alternativos só se realizará se o investidor gerar retornos
ativos superiores.
RETORNO ABSOLUTO
Investir em retorno absoluto consiste em explorar as posições ine cientes
em títulos que mostram pouca ou nenhuma correlação com os
investimentos em ações e títulos tradicionais. Portfólios de retorno absoluto
bem estruturados proporcionam retornos semelhantes aos das ações, com
carterísticas poderosas de diversi cação.
Gestores de carteiras de retorno absoluto reduzem o risco de mercado ao
investir em situações orientadas por evento ou orientadas por valor cujo
comportamento previsto independe das forças de mercado. As posições
orientadas por evento dependem da conclusão de uma transação especí ca
de nanças corporativas, como, por exemplo, o fechamento de uma fusão ou
a recuperação de uma companhia à beira da falência. As estratégias
orientadas por valor usam portfólios protegidos por hedge em que as
posições curtas (vendidas) compensam as posições longas (compradas),
reduzindo drasticamente o risco sistemático do investidor. Gestores de
portfólios de retorno absoluto procuram gerar altos níveis de retornos
independentes dos resultados do mercado, ao contrário dos retornos acima
do benchmark procurados pelos gestores ativos de títulos e valores
mobiliários negociáveis.
A curta duração das estratégias de retorno absoluto transformam o custo
dos fundos de curto prazo num ponto de partida bastante claro para avaliar
o desempenho do gestor. A matemática básica das posições protegidas, ou
“hedgeadas” implica que (na ausência de habilidades e taxas) os investidores
merecem uma taxa de retorno igual à do mercado de curto prazo.* Se os
gestores adicionarem valor os retornos serão superiores aos das aplicações
de curto prazo. Se os gestores não conseguirem adicionar valor os retornos
carão abaixo das taxas de renda xa de curto prazo.
Sem gestão ativa o retorno absoluto não existe. A noção fundamental do
investimento em retorno absoluto está na identi cação e exploração bem-
sucedida das ine ciências de preci cação dos títulos. Se os gestores ativos
não adicionarem valor à transação os investidores recebem taxas de retorno
iguais às taxas do mercado de curto prazo, uma compensação apropriada
por criar posições sem exposição material ao mercado.
Expectativas de retorno
Gestores de hedge funds que tentam produzir retornos verdadeiramente
independentes geralmente articulam objetivos razoavelmente modestos.
Considere um gestor de fundo com um portfólio que consiste em medidas
iguais de posições compradas e vendidas. Visto a partir de uma perspectiva
de mercado, as compradas compensam as vendidas. Em um mercado com
tendência de alta as perdas provenientes das vendidas compensam os
ganhos das compradas. Em um mercado com tendência de baixa as perdas
provenientes das compradas compensam os ganhos das vendidas.
Investimentos equilibrados em estratégias long/short retiram o mercado
dessa equação.
A seleção de títulos é a principal fonte de retorno para investidores em
estratégia long/short disciplinados. Até o ponto em que os gestores
identi carem posições compradas subavaliadas e posições vendidas
sobreavaliadas, o portfólio estará se bene ciando duplamente do poder da
seleção de títulos disponível para os gestores que só podem ter posições
compradas, não podem car vendidos (long-only).
Uma fonte secundária de retornos para gestores de investimentos
long/short vem dos dividendos obtidos quando se estabelece posições
vendidas. As vendas a descoberto geram entradas de recursos que são
remuneradas por taxas próximas da taxa de juros do mercado de curto
prazo. Embora os dividendos das posições vendidas agreguem valor ao
retorno para o investidor long/short, isso não é su ciente para justi car, por
si só, a adoção de uma estratégia de investimentos long/short. Se um
investidor deseja ganhar um retorno igual ao do mercado de curto prazo,
comprar cotas de um fundo de mercado de curto prazo é um caminho mais
direto, mais barato e menos arriscado para gerar retornos de caixa.
Suponha que gestores de fundos que utilizam estratégia long/short
mostrem uma habilidade de selecionar ativos consistente com a do primeiro
quartil dos gestores long-only de ações domésticas. Para os dez anos ndos
em 31 de dezembro de 2006, um universo largamente utilizado de gestores
ativos mostrou retornos de primeiro quartil (2,6% ao ano) acima do
mercado*. Se um gestor long/short produzisse resultados do primeiro quartil
em cada posição comprada e vendida do portfólio a seleção de títulos
geraria um retorno de 5,2%. A importância esperada dos ganhos disponíveis
de uma seleção de ativos inteligente ca bem abaixo dos dois dígitos.
Somar uma taxa de juros de curto prazo (que re ete o dividendo da
posição vendida) ao valor gerado pela seleção de ativos resulta no retorno
bruto para o investimento da estratégia long/short. Ao longo dos dez anos
ndos em 31 de dezembro de 2006 a média das taxas de juros de curto prazo
foi de 3,7% ao ano. Somando o retorno da seleção de ativos do primeiro
quartil (5,2%) com o retorno do mercado de curto prazo chega-se a um
retorno total de 8,9%, antes das taxas administrativas.
As taxas administrativas sobrecarregam consideravelmente os
investidores de hedge funds. Uma taxa de administração de 1% e uma taxa
de performance de 20% se somam para subtrair 2,6% do retorno bruto,
deixando um retorno líquido de 6,3% para o investidor*. Mesmo que o
gestor ativo seja muito bem-sucedido (como de nido pelos dois melhores
resultados do primeiro quartil), os retornos líquidos para investidores de
long/short hedge funds mostram apenas um pequeno incremento sobre as
taxas do mercado monetário.
Quando os gestores de portfólios long/short têm pouca habilidade para
selecionar ações, os resultados decepcionam. Considere os resultados do
gestor que representa a mediana. Para os dez anos ndos em 31 de
dezembro de 2006, o gestor ativo de ações domésticas representado pela
mediana produziu retornos brutos de 1,1% ao ano acima do retorno do
mercado. Dobrar o retorno do gestor ativo da mediana produz um retorno
de 2,2% para a seleção de ativos. Incorporar o retorno de caixa de 3,7% gera
um retorno bruto de 5,9%. O encargo da taxa raspa o retorno líquido e
sobram 3,9%, um resultado preocupantemente próximo ao retorno de 3,7%
obtido simplesmente mantendo o caixa!
E, nalmente, imagine a triste posição de um gestor que vem
apresentando desempenhos ruins. Nos dez anos ndos em 31 de dezembro
de 2006, os gestores do terceiro quartil caram 0,1% abaixo do mercado
antes das taxas administrativas. Com um dé cit na gestão ativa os
investidores em estratégia long/short ganharam 3,5%, valor que perde para o
retorno por manter caixa. As taxas administrativas transformam o retorno
bruto num resultado líquido de 2%, trazendo a miséria dos retornos abaixo
do caixa para os investidores que sofrem as consequências de uma gestão
ativa ine ciente.
Ainda que resultados na média ou abaixo da média aborreçam os
investidores, o gestor consegue sair-se relativamente bem nos dois casos.
Independentemente do desempenho, ele recebe uma taxa de administração
de 1%; uma compensação mais ou menos dentro dos padrões na
administração de recursos long only. Somar a taxa de performance permite
ao gestor habilidoso do primeiro quartil ganhar 2,6%, uma carga pesada em
um retorno de um só dígito. As taxas totais para os selecionadores medianos
de ativos totalizaram 2%. Mesmo nos casos em que os retornos líquidos para
o investidor não alcançam os retornos disponíveis no caixa, os lucros do
gestor são consideráveis. As taxas para os que desempenharam dentro do
terceiro quartil totalizam 1,5%, combinando o insulto das altas taxas ao
dano provocado pelo desempenho medíocre.
O exemplo do gestor equilibrado de posições long/short ilustra muito bem
o papel central que a gestão ativa exerce nos investimentos em retorno
absoluto. Na falta de resultados ativos de alto nível os investidores cam um
pouco desapontados. Gestores de estratégias long/short devem produzir,
consistentemente, retornos melhores que os do primeiro quartil para
justi car a estrutura de taxas aceita pelos investidores de hedge funds. Os
investidores que não são capazes de identi car o melhor dos melhores
devem adotar estratégias passivas de investimento.
O portfólio de retorno absoluto de Yale dá um exemplo do potencial da
classe de ativos e está em conformidade com as expectativas geradas por
considerar os atributos fundamentais do investimento de estratégias de
retorno absoluto. Instituído como uma classe de ativos separada em 1990, o
portfólio pioneiro produziu retornos anuais de 13,2% para os dezessete anos
ndos em 30 de junho de 2007. Com um nível de risco notavelmente baixo
de 5,7% de desvio-padrão dos retornos, a relação risco/retorno indica que os
gestores exploraram algumas recompensadoras anomalias de mercado*. O
poder de diversi cação do portfólio de retorno absoluto superou as
expectativas e mostrou não ter basicamente nenhuma correlação com as
ações domésticas (0,02 contra o índice Wilshire 5000) e a renda xa
doméstica (0,02 contra o índice Lehman Brothers Government Corporate).
Alinhamento de interesses
As taxas de performance pagas normalmente por investidores em estruturas
de hedge funds criam uma opção para os gestores que ameaça os interesses
dos investidores. No caso do hedge fund auferir ganhos, o gestor faz jus a
uma parte considerável dos lucros; no entanto, em caso de perda o
investidor arca com os encargos sozinho. A assimetria da estrutura de
participação nos lucros favorece claramente o administrador do fundo.
Coinvestimentos signi cativos por parte dos gestores servem para
reduzir, se não para eliminar, a disfunção da opção da remuneração de
incentivo. Quando o fundo de hedge experimenta um desempenho
satisfatório, o gestor garante sua recompensa a partir do coinvestimento e
também da participação nos lucros; quando o fundo perde dinheiro, o
coinvestimento ajuda o gestor a compartilhar sua dor. O comprometimento
de um capital signi cativo por parte do gestor de investimento reduz
consideravelmente o desalinhamento entre os interesses do gestor e do
investidor.
Características de mercado
Em 31 de dezembro de 2006 a indústria de hedge funds compreendia um
número estimado de 12.500 empresas, que controlavam mais de US$1,5
trilhão em capitais5. Além disso, como muitos hedge funds usam uma
alavancagem signi cativa, o poder de compra real desses fundos superava
em muito seu capital próprio. Desse US$1,5 trilhão em capital,
aproximadamente US$880 bilhões em ativos perseguiam estratégias que
poderiam ser classi cadas como retorno absoluto.
Resumo
Estratégias de retorno absoluto exigem que se faça gestão ativa, já que sem
aceitar o risco de mercado ou sem identi car problemas de preci cação de
ativos os investidores esperam ganhar apenas a taxa livre de risco. Como a
própria de nição de retorno absoluto baseia-se na falta de correlação com os
títulos tradicionais negociáveis em mercado, a exploração de anomalias nas
análises individuais forma a base dessa classe de ativos. Gestores orientados
por eventos geram retornos realizando análises detalhadas em uma área
muitas vezes evitada pela maioria dos analistas comuns. Gestores orientados
por valor tentam adicionar valor identi cando ativos subavaliados e
sobreavaliados e usa esses ativos para montar portfólios com exposições
contrárias de mercado utilizando estratégia long/short. Portfólios de retorno
absoluto bem gerenciados proporcionam retorno alto e são uma fonte de
diversi cação de baixo risco.
Os investimentos em retorno absoluto atraem investidores que acreditam
que oferecer recursos aos melhores gestores que operam com poucas
limitações conduzirá a resultados expressivos, independentemente dos
movimentos de alta e de baixa dos mercados de títulos tradicionais
negociáveis. Certamente a experiência de alguns investidores institucionais
so sticados indica que portfólios de retorno absoluto bem estruturados
produzem retornos altos, não correlacionados e com baixo risco, o que
adiciona um uxo de diversi cação de retornos extremamente valioso para
os portfólios. Naturalmente, para investir em retorno absoluto com sucesso
é necessário dedicar uma quantidade extraordinária de recursos a tarefas
como identi car, contratar e manter administradores quali cados.
Os fornecedores de estatísticas de hedge funds pintam um quadro cor-de-
rosa que contraria totalmente a realidade. Estudos acadêmicos mostram que
o viés da sobrevivência e o viés de inclusão se combinam para in ar os
retornos informados em qualquer faixa, de um alto retorno de um dígito a
um baixo retorno de dois dígitos. Uma visão clara dos retornos dos hedge
funds desanimaria muitos investidores a entrarem nessa área.
Além de di culdades enormes para identi car um grupo de gestores de
investimento genuinamente hábil e para superar o obstáculo representado
pelo esquema caríssimo de taxas administrativas, os investidores ainda
enfrentam um desalinhamento de interesses fundamental, criado pela
remuneração baseada em opções embutida na maioria dos esquemas de
taxas dos hedge funds. Os investidores só encontram coincidência de
interesses naquelas situações em que o gestor de retorno absoluto investe
quantias consideráveis de seus ativos pessoais lado a lado com os recursos
do investidor.
É quase certo que a escolha casual de fundos leva a decepções. Os
investimentos em retorno absoluto fazem parte dos domínios de
investidores so sticados que comprometem recursos signi cativos com o
processo de avaliação dos gestores. Apesar da promessa dos hedge funds de
atrair muitos participantes do mercado, os investidores que não conseguem
identi car gestores ativos realmente superiores enfrentarão uma triste
realidade. Na falta de uma seleção de ativos de mais qualidade, estratégias de
investimento que evitam a exposição ao mercado entregam retornos
esperados semelhantes aos do mercado de curto prazo. Os pesados arranjos
de taxas típicos dos fundos de retorno absoluto corroem o retorno já baixo,
no nível dos retornos de curto prazo, e o levam a valores realmente
inaceitáveis, especialmente depois do ajuste para o risco. A tarefa de gerar
excessos de retorno ajustados ao risco amedronta os investidores em retorno
absoluto.
ATIVOS REAIS
Ativos reais são participações acionárias em veículos de investimento que
mostram uma correlação alta com a in ação. Muitos investidores, inclusive
endowments de instituições de ensino, buscam proteger-se contra a in ação
a m de compensar suas obrigações sensíveis à in ação. No grupo dos ativos
reais estão: títulos do Tesouro protegidos contra a in ação, imóveis, orestas
e petróleo e gás.
A força da proteção contra a in ação varia com o tipo de ativo real. Os
títulos do Tesouro protegidos contra a in ação (TIPS, na sigla em inglês),
também conhecidos como títulos do Tesouro indexados à in ação,
acompanham os índices de in ação precisamente, pelo menos como o
Índice de Preço ao Consumidor (Consumer Price Index) mede a in ação.
Os valores das reservas de petróleo e gás mudam em resposta direta às
mudanças nos preços da energia, que fazem parte dos índices de in ação.
Produtos de madeira guardam uma relação semelhante com os índices de
preços, embora a madeira tenha um papel muito menos importante do que
a energia na in ação geral de preços. Os imóveis se correlacionam com a
in ação menos diretamente do que insumos primários como energia e
madeira, embora exista uma forte ligação entre imóveis e in ação quando o
mercado imobiliário está operando no equilíbrio.
Além de proteger os portfólios contra a in ação, os ativos reais produzem
altos níveis de uxos de caixa correntes e (na maioria dos casos) de retornos
esperados totais atrativos. Diferentemente dos índices de commodities, que
dão aos investidores uma exposição simples aos preços, os investimentos
bem-estruturados em ativos reais oferecem a exposição ao preço mais uma
taxa de retorno intrínseca. Por exemplo: as compras de reservas de petróleo
e gás geraram, nas últimas duas décadas, taxas de retorno de dois dígitos
pequenos acima do retorno obtido com investimentos relacionados aos
aumentos dos preços da energia. A exposição aos preços somada a uma taxa
de retorno intrínseca ganha com folga da exposição ao preço isolada.
No futuro, o conjunto de alternativas de ativos reais poderá se expandir
além do de investimentos conservadores como os TIPS e as alternativas de
alto retorno, como imóveis, petróleo/gás e madeira. A exposição pura aos
preços das commodities não chega a despertar o interesse de investidores
sensatos, pois os retornos no longo prazo são praticamente iguais às taxas de
in ação. Os TIPS oferecem retornos próximos à in ação, com risco
consideravelmente menor que os investimentos em commodities. As
compras de reservas de petróleo e gás e os investimentos em madeira
fornecem aos investidores uma exposição ao preço das commodities e uma
taxa de retorno intrínseca, ganhando, portanto, da exposição isolada ao
preço. Se os mercados oferecessem outras oportunidades com base em
commodities para ganhar exposição de preço e auferir uma taxa de retorno
intrínseca, esses ativos poderiam juntar-se à lista de alternativas sensatas de
ativos reais.
Os ativos reais têm um papel importante nos portfólios, especialmente
para investidores que querem proteger suas obrigações sensíveis à in ação.
O poder de diversi cação derivado da correlação com a in ação e a taxa de
retorno intrínseca gerada acima da exposição simples ao preço justi cam
alocações signi cativas em ativos reais.
TIPS e in ação
Os TIPS produzem o hedge perfeito contra a in ação porque a matemática
dos pagamentos dos títulos determina que haja uma correspondência direta
entre os retornos e as mudanças nas taxas de in ação. A combinação das
características dos títulos públicos dos Estados Unidos, como boa-fé e
crédito (livre de risco), e a proteção matematicamente certa contra a in ação
oferecem aos investidores uma ferramenta poderosa de construção de
portfólios.
Alinhamento de interesses
Os TIPS têm em comum com as ofertas de títulos tradicionais do Tesouro o
equilíbrio no alinhamento de interesses entre credor e devedor.
Diferentemente das relações entre devedores e credores privados, nas quais
o devedor procura ganhar às custas do credor, o governo tenta compor um
negócio justo para as partes nas duas pontas da transação.
Ao promover os TIPS, o Departamento do Tesouro destaca as vantagens
para o credor e o devedor. Do ponto de vista do credor os TIPS são uma
“contribuição diferenciada para qualquer portfólio diversi cado”. Do ponto
de vista do devedor os TIPS “permitem que o Tesouro amplie a sua base de
investidores e diversi que seus riscos de nanciamento”6. A abordagem
igualitária entre devedor e credor separa os títulos públicos do governos dos
Estados Unidos da ganância dos emissores privados.
Características de mercado
Em 31 de dezembro de 2006 as emissões em aberto de TIPS totalizavam
apenas US$369 bilhões. Lançado pela primeira vez em janeiro de 1997, o
programa oferece uma alternativa de diversi cação valiosa para os
investidores. No nal de 2006 os TIPS prometiam um rendimento real (após
a in ação) de 2,4%, com vencimento médio de 9,6 anos e uma duration de
6,4 anos.
Resumo
Embora os TIPS respondam por apenas cerca de 17% do valor das emissões
tradicionais do Tesouro, esses títulos sensíveis à in ação são um acréscimo
interessante ao conjunto de ferramentas disponíveis para os investidores.
Livres de calote e reforçados pela boa-fé e pelo crédito do governo dos
Estados Unidos, os TIPS servem como um benchmark contra o qual se pode
medir outros investimentos sensíveis à in ação.
Imóveis
Os investimentos em imóveis expõem os investidores aos benefícios e riscos
da posse de imóveis comerciais, complexos de apartamentos, armazéns
industriais e estabelecimentos de varejo. As participações em imóveis de alta
qualidade produzem níveis signi cativos de uxos de caixa correntes,
gerados por contratos de aluguéis de longo prazo com locatários idôneos.
Propriedades que produzem níveis contínuos de uxos de caixa vultosos
contam com avaliações estáveis, pois uma parcela considerável do valor dos
ativos resulta de uxos de caixa relativamente previsíveis. Por outro lado,
propriedades que geram uxos de caixa incertos, como aquelas que se
encontram no m do prazo de aluguel e seus proprietários correm risco de
perder a locação, mostram variabilidade no valor residual no curto prazo.
No caso extremo das propriedades que não produzem uxo de caixa algum,
os imóveis assumem uma aura especulativa, na medida em que a avaliação
passa a depender inteiramente das perspectivas de possíveis aluguéis.
Os ativos imobiliários combinam características de renda xa e de ações.
Os atributos de renda xa decorrem da obrigação contratual dos locatários
de fazer pagamentos regulares conforme especi cado no contrato de aluguel
celebrado entre o locatário e o locador. As propriedades oneradas por
obrigações de longo prazo têm qualidades semelhantes às dos títulos de
renda xa. Os atributos semelhantes às ações decorrem do valor residual
associado com os contratos de aluguéis futuros que seriam assinados para o
espaço vago atualmente ou para vacâncias esperadas futuras. Propriedades
sem locatários ou com contratos de aluguel curtos exibem qualidades
semelhantes às das ações.
O arquétipo do investimento em imóveis consiste em propriedades de alta
qualidade, bem localizadas e bem alugadas, que permitem aos investidores
esperar o recebimento regular de receitas do aluguel dos espaços alugados e
esperar que os espaços vagos também gerem receitas num prazo razoável.
Os imóveis com componentes operacionais signi cativos não satisfazem o
conjunto central de critérios de investimento, já que os atributos
operacionais determinam grande parte dos resultados do investimento,
criando um jogo semelhante ao investimento em ações. Os investimentos
principais não incluem terrenos, incorporações nem operações hoteleiras,
principalmente porque esses investimentos dependem muito da experiência
operacional para gerar uxos de caixa.
Gestão ativa
As ine ciências na preci cação e na operação dos ativos imobiliários criam
oportunidades de gestão ativa. Os investidores aumentam o retorno e
diminuem o risco ao examinar a seleção de ativos criteriosamente e
administrar as propriedades com diligência.
Os imóveis se prestam à gestão ativa porque os problemas de preci cação
criam oportunidades para que investidores ágeis aproveitem as anomalias do
mercado. A tarefa de identi car propriedades subavaliadas e sobreavaliadas
interpõe obstáculos superáveis, visto que as avaliações dependem, em
grande medida, de variáveis observadas facilmente. O cálculo do custo de
reposição para um ativo fornece informações importantes sobre o valor de
uma propriedade bem-localizada. As informações sobre os aluguéis
existentes, combinadas com as projeções dos aluguéis futuros e uma
estimativa do valor residual, produzem uxos de caixa fáceis de analisar. As
vendas de propriedades comparáveis fornecem números concretos que
re etem se os investidores estão dispostos a pagar por tijolos e argamassa ou
por uma série de uxos de caixa previstos. As decisões de gestão ativa sobre
imóveis se baseiam em características fundamentais, como custos de
reposição, uxos de caixa descontados e vendas de ativos similares, que
fornecem pontos de referência claros indisponíveis para outros tipos de
ativos.
A compra do Sony Building, em 1993, ilustra algumas das ferramentas de
avaliação importantes. Los Angeles foi um dos mercados mais duramente
atingidos pelo desastre imobiliário do começo dos anos 1990, com as taxas
de vacância chegando a assombrosos 24% para espaços comerciais de classe
A na área metropolitana. Consequentemente, os preços dos edifícios de salas
comerciais despencaram. Em uma transação especial, Sam Zell, “o
dançarino de túmulos”, comprou o Two California Plaza por US$100
milhões, aproximadamente um quarto do que custaria sua construção
alguns anos antes.
Burbank, uma área próxima, mas diferente, com fundamentos bem mais
fortes, experimentou declínios de preço semelhantes e sofreu por associação
com Los Angeles. No meio da confusão, como parte de um programa
corporativo de racionalização, a Coca-Cola decidiu vender a propriedade de
Burbank que abrigava sua ex-subsidiária, a Sony Pictures. O preço de venda
de US$83 milhões foi menor que o custo de construção, de mais de US$120
milhões, dando ao comprador um desconto de 30% em relação ao custo de
reposição.
O uxo de caixa dos pagamentos de aluguéis reforçou ainda mais a
aquisição. Cem por cento do espaço foi alugado para a Sony, na época uma
empresa avaliada com rating A pela Standard & Poor’s. Se o investidor
recebesse apenas aqueles pagamentos garantidos pela Sony, todo o capital
investido seria reembolsado, juntamente com um excesso de uxo de caixa
su ciente para gerar retornos anuais de 12,3%. E esse retorno na faixa dos
dois dígitos ainda não incluía as estimativas do valor residual do edifício
quando terminasse o prazo do aluguel. Com premissas razoáveis a respeito
das renovações do aluguel e do valor residual, os retornos saltaram para 20%
e depois para a faixa dos 25%. Em um ambiente de taxas de juros no qual as
notas do Tesouro com vencimento comparável renderam aproximadamente
6,5%, o uxo de pagamentos de alta qualidade da Sony representava um
patamar de retornos muito generoso para um negócio com muitas
vantagens e poucas desvantagens.
Os dados sobre as vendas comparáveis contam menos sobre a atratividade
da aquisição do Sony do que sobre o momento. A falta de ofertas pelo
prédio da Sony e por outras propriedades na área sinalizava uma
oportunidade contrária a comprar ativos profundamente desfavorecidos e
não um problema de valor. Encorajados pelos grandes descontos em relação
ao custo de reposição e pelo alto nível do uxo de caixa de investimento, os
investidores avançaram com con ança diante de condições sombrias do
mercado. Quando o tom do mercado melhora ao ponto de os players
declararem que a impossibilidade de repor os ativos justi ca pagar um
prêmio signi cativo acima do custo de reposição e que um ambiente de
aluguéis apertados é presságio da transformação dos rendimentos baixos
atuais em uxos de caixa futuros mais altos, os investidores contrários
oferecem as propriedades para venda.
O impressionante caso do Sony prometeu um patamar de retorno mais
que satisfatório, com a proteção de um preço de compra consideravelmente
abaixo do custo de reposição*. A limitada desvantagem do Sony Building,
juntamente com um potencial substancial de valorização, criou uma
distribuição de nitivamente enviesada dos resultados, fornecendo
características de investimento extremamente atraentes.
Na verdade, as características atrativas da aquisição do Sony Building se
converteram num resultado de investimento igualmente atrativo. Quando
Douglas Emmett converteu o conjunto de ativos imobiliários da empresa em
um REIT, em outubro de 2006, cada um dos ativos recebeu uma avaliação
de terceiros, para sustentar a avaliação e a alocação de ações do REIT. Com
base no valor estimado, o Sony Building (que agora se chama Studio Plaza)
gerou um retorno excedente de 20% ao ano durante o período de
manutenção. No nal das contas os investidores do Douglas Emmett
ganharam recompensas bem gordas com os instintos contrários da empresa
e a habilidade na gestão de ativos imobiliários.
Investidores especializados geralmente bene ciam-se da contratação de
especialistas para administrar os comprometimentos de um fundo com
investimentos imobiliários. Os conhecedores de uma determinada geogra a
e de um tipo especí co de propriedade – escritório, varejo, residencial,
industrial – contam com uma vantagem considerável sobre os gestores
generalistas, que sofrem por espalhar demais os recursos, sem nenhuma
profundidade. A especialização leva ao maior entendimento das dinâmicas
especí cas dos diferentes mercados, permitindo que um gestor se concentre
mais na massa relativamente estática de edifícios de escritórios no centro da
cidade enquanto outro se concentra no inconstante estoque de prédios de
escritórios nos subúrbios. Da mesma maneira, um gestor pode especializar-
se em shopping centers com enormes lojas de departamento como âncoras e
outro em centros de comércio comunitários de pequeno porte. Ao
concentrar os recursos administrativos em um segmento de mercado
de nido de forma bastante especí ca e limitada, os gestores de fundos fazem
compras e vendas melhores e tomam decisões melhores em relação à
administração dos ativos.
Os investidores que escolhem selecionar um grupo de gestores
especialistas orientados por valor criam portfólios mais poderosos, embora
paguem o preço pela perda da diversi cação. Ao perseguir oportunidades de
investimento atrativas, selecionadas de acordo com base em análises bottom-
up, os fundos desenvolvem concentrações nos tipos de ativos mais
desfavorecidos. Por exemplo: instigados por avaliações relativas, os
investidores podem manter, às vezes, posições desproporcionais em
propriedades comerciais na Califórnia ou em edifícios de escritórios nos
subúrbios do Sudeste norte-americano criando um per l dramaticamente
diferente das características de qualquer índice imobiliário amplo. Ainda
que portfólios peculiares tendam a exibir erros consideráveis por não seguir
o mercado, um grupo de gestores de nicho bem escolhidos tem potencial
para produzir resultados excepcionais.
Preços dos imóveis e in ação
A forte relação entre o custo de reposição e o valor de mercado leva a um
dos atributos mais atrativos do investimento em imóveis: a alta correlação
com a in ação. Como o custo da mão de obra e dos materiais de construção
sobe junto com a in ação, o custo de reposição dos imóveis a acompanha de
perto. Ainda que o custo de reposição responda às mudanças nos níveis
gerais de preços, a forma como o aluguel de um ativo é estruturado
in uencia a taxa de resposta das mudanças no valor de mercado conforme
as pressões in acionárias. Por exemplo: uma propriedade sujeita a aluguéis
xos, de longo prazo, mostra pouca correlação com a in ação no curto
prazo. Apenas quando o término do aluguel se aproximar a in ação
in uenciará a avaliação do ativo. Alternativamente, propriedades com
prazos de aluguel mais curtos são muito mais sensíveis à in ação. Além do
mais, alguns aluguéis permitem explicitamente que os locadores repassem
os aumentos in acionários nas despesas ou, no caso das propriedades
comerciais, que os locadores recebam, por contrato, um percentual das
vendas. Essas estruturas de aluguéis ligadas à in ação fazem com que os
valores dos ativos re itam os movimentos in acionários.
A importância do custo de reposição, tanto na análise da avaliação quanto
na sensibilidade à in ação, depende de con ar que mercados re itam um
equilíbrio razoável entre a oferta e a demanda. Nos casos onde a oferta de
espaços imobiliários não consegue atender à demanda os preços respondem
ao desequilíbrio e não à relação esperada com o custo de reposição ou com a
in ação. No nal dos anos 1980, o entusiasmo dos investidores com a
compra de imóveis comerciais e os incentivos tributários federais para o
desenvolvimento de propriedades se combinaram para criar uma
superoferta de prédios com salas comerciais. Os excessos no mercado
imobiliário contribuíram para as crises de empréstimo e poupança, pois
muitas instituições de poupança tiveram que carregar o fardo da
inadimplência nos empréstimos imobiliários. Propriedades de alta
qualidade, embora mal alugadas, eram negociadas com descontos
exorbitantes em relação ao custo de reposição. Os preços responderam ao
descolamento entre a oferta e a demanda e não conseguiram mais
acompanhar a in ação. Algo semelhante aconteceu no início de 2000,
quando um declínio pós-bolha da internet na demanda por espaços de
escritórios causou vacâncias generalizadas e derrubou os preços
imobiliários. Esse desequilíbrio provocou um descasamento entre os preços
dos imóveis, em queda, e os níveis consistentemente positivos de in ação. A
menos que os mercados operem em razoável equilíbrio, a relação entre
preços dos imóveis e in ação se rompe. Quando os mercados estão
equilibrados, porém, a sensibilidade às mudanças no nível geral de preços é
uma característica particularmente atrativa dos imóveis.
Alinhamento de interesses
Na área dos REITs negociados publicamente, os investidores se veem diante
do mesmo conjunto de questões sobre alinhamento de interesses que se
aplica a outros ativos negociados publicamente, assim como no universo
mais amplo das ações negociáveis os interesses dos acionistas coincidem
com os interesses das administrações, ainda que imperfeitamente.
No mundo dos veículos imobiliários privados os investidores têm à
disposição uma série de estruturas de investimento. Numa ponta, os gestores
de alta qualidade: (i) recebem taxas previstas no orçamento que re etem os
custos de operação razoáveis de uma empresa de investimentos; (ii) recebem
participações nos lucros, apenas sobre os retornos acima do custo de
oportunidade do capital; (iii) investem somas consideráveis, lado a lado com
os investidores. Na outra, os gestores de baixa qualidade: (i) cobram taxas
caras sobre um grande conjunto de ativos; (ii) arrancam participações nos
lucros sobre o que supera os retornos das contribuições de capital dos
investidores; (iii) só investem o dinheiro dos outros.
Características de mercado
Quem investe no mercado imobiliário pode escolher entre oportunidades de
investimento nos mercados públicos ou privados. Em 31 de dezembro de
2006, a Associação Nacional de Administradores de Investimentos
Imobiliários fez um levantamento e encontrou um total de US$436 bilhões
em ativos imobiliários. A população de REITs contabilizou rendimento de
dividendos de 3,3% e prêmio sobre o valor justo de 2,2%.
Em 31 de dezembro de 2006, o índice imobiliário National Property
Index (NCREIF) incluía ativos imobiliários não alavancados avaliados em
US$247 bilhões. O grupo dos ativos imobiliários privados pagou
rendimentos de dividendos de 6,2%, que representaram um prêmio de 1,5%
sobre a rentabilidade dos títulos de dez anos do Tesouro norte-americano.
Resumo
Em termos de risco e retorno os ativos imobiliários cam entre as ações de
risco mais alto e as dívidas de risco mais baixo. A natureza híbrida das
características esperadas do investimento combina com a natureza híbrida
dos traços fundamentais dos investimentos imobiliários. Com sua natureza
sensível à in ação, os ativos imobiliários fornecem uma diversi cação
importante aos portfólios dos investidores.
Quem investe em ativos imobiliários aproveita a oportunidade de
escolher entre veículos de investimentos negociados publicamente ou em
mercados privados. Embora existam alternativas sensatas nos dois tipos de
mercados, os investidores mais cuidadosos cam atentos aos arranjos de
taxas e supervisionam de perto a qualidade dos gestores.
Petróleo e gás
Os investimentos em petróleo e gás dão direito a uxos futuros de receitas
sensíveis à in ação e proporcionam proteção contra níveis inesperados de
in ação. Dessa forma, eles têm um papel importante na diversi cação do
portfólio. Além de fornecer características de diversi cação atrativas, os
ativos petrolíferos são boas oportunidades para gestores mais capacitados
adicionarem valor ao portfólio.
Os participantes do mercado ganham exposição aos ativos de energia de
duas maneiras: comprando contratos futuros ou comprando reservas de
óleo e gás. Independentemente da forma escolhida, os investidores estão
buscando retornos orientados por preços. Com o intuito de ganhar
exposição às commodities sem apostar exclusivamente nos preços, os
investidores espertos estruturam seus portfólios em torno de compras de
reservas energéticas bem de nidas, que adicionam valor, operadas por
equipes de administradores de alto gabarito.
As compras das reservas de óleo e gás contam com várias vantagens sobre
a exposição simples aos preços proporcionada pelos contratos nos mercados
futuros. Primeiramente, as aquisições de reservas tendem a produzir
retornos esperados altos, semelhantes ao das ações. Nas duas últimas
décadas, os investimentos bem-estruturados em reservas produtoras de
baixo risco normalmente geraram retornos não alavancados de dois dígitos
(pouco acima de 10%), sem considerar os movimentos de preços. Em
segundo, gestores ativos mais capacitados adicionam valor aos processos de
aquisição, desenvolvimento, nanciamento, operação e liquidação de ativos.
A especialização e a disciplina criam mais valor no complexo mundo físico
dos recursos naturais do que no altamente e ciente mundo nanceiro dos
mercados de commodities. Finalmente, as reservas de energia de longa
duração servem como hedge de longo prazo contra períodos longos de altas
contínuas nos preços de energia.
Gestão ativa
Quando gestores ativos de alto nível compram reservas de óleo e gás os
investidores têm acesso à oportunidade de ganhar exposição aos preços de
energia e de auferir uma taxa de retorno básica signi cativa. A Merit Energy
Company, fundada em 1989 por Bill Gayden, ex-colega de Ross Perot,
obteve retornos ótimos, sucessivamente, a partir da disciplinada atividade de
underwriting (preci cação de ativos) e da diversi cação considerável do
portfólio à exposição aos preços de energia.
A Merit comprava reservas de petróleo e gás de baixo risco, usando
premissas de retorno entre 12% a 14% e preços de energia constantes. Em
uma coincidência notável entre as premissas usadas nas aquisições e a
realidade, de 1990 a 2005 a Merit gerou retornos líquidos de 19,2% ao ano,
compostos por 12,2% dos números da aquisição, 2,1% de melhorias
operacionais e de desenvolvimento e 4,9% da apreciação de preços.
Presume-se que os investidores em mercados futuros de preços de energia
na época teriam auferido apenas 5% ao ano, aproximadamente, com a
apreciação dos preços. Quem investiu em programas de compra de reservas
recebeu retornos de dois dígitos acima do movimento dos preços,
superando com folga os ganhos dos investidores em mercados futuros de
commodities.
Alinhamento de interesses
A velha máxima que diz “investidores sensatos nunca apoiam uma empresa
de energia lançada em Wall Street porque todos os bons negócios estão em
Houston” contém uma dose de verdade. Não faltam sociedades mal
estruturadas na área de petróleo e gás. Operadores inescrupulosos se
aproveitam de investidores ingênuos, explorando as complexidades de
conceitos especí cos da indústria, como participações nos lucros líquidos,
participações sobre excedentes de royalties, participações das empresas
parceiras nos blocos de exploração, participações na receita líquida e
participação do operador do bloco. Conforme exposto, ao seguir princípios
sensatos de estruturação de negócios, incluindo um alto nível de
coinvestimento por parte do promotor da operação, os investidores criam a
oportunidade de aproveitar os benefícios signi cativos dos investimentos
em reservas produtoras de petróleo e gás.
Características de mercado
Quem investe em petróleo e gás se vê diante de um cenário gigantesco, que
inclui as ações de empresas de energia de capital aberto (US$4,6 trilhões),
que representam 10% das ações globais em 31 de dezembro de 2006. Os
investimentos institucionais privados totalizavam US$28 bilhões na mesma
data, de acordo com a Cambridge Associates, dos quais US$20 bilhões eram
referentes a compras de reservas de energia.
Resumo
Os investimentos em energia são instrumentos importantíssimos de
diversi cação para os portfólios institucionais, já que os preços de energia
mostram correlação negativa com os ativos tradicionais em muitos
períodos. A exposição pura ao preço obtida por meio da compra de
contratos futuros de energia custa caro, na forma de retornos esperados
baixos. Investidores mais experientes optam por programas de compra de
reservas que prometem exposição ao preço (juntamente com a diversi cação
associada) e retornos na faixa de 10 a 15%. Talvez mais do que em qualquer
outra atividade de investimento, os investidores precisam tomar cuidado
com operadores mal preparados, que usam estruturas de negócio escusas e
ofensivas.
Florestas
As terras orestais oferecem potencial de retornos sólidos, uxo de caixa
constante, proteção contra a in ação e diversi cação do portfólio. Os
retornos dos investimentos têm origem em diversas fontes; as mais
importantes são o valor da madeira extraída e as mudanças no valor residual
da madeira e da terra. Os valores da madeira, que têm relação com o
crescimento biológico das árvores e com as mudanças nos preços da
madeira, podem ser in uenciados por práticas silviculturais sadias. A venda
de áreas de proteção ambiental e lotes de terra para “uso mais nobre e
melhor” pode melhorar bastante os retornos. Finalmente, pode-se gerar
receitas incrementais através de outras atividades, incluindo o aluguel de
terras para exploração de depósitos minerais e usos em atividades
recreacionais e energias alternativas.
A madeira conta com bons desempenhos históricos como um
investimento, embora seja difícil encontrar dados precisos sobre a atividade.
As séries mais mencionadas, criadas pelo Hancock Timber Resource Group,
combinam os preços conhecidos da madeira com premissas sobre o
crescimento e o valor da oresta para gerar uma série de retornos que
começa em 1960*. Hancock/NCREIF estima que as terras orestais dos
Estados Unidos tenham valorizado 12,7% ao ano de 1960 a 2005, ou
aproximadamente 8,1% anuais após a in ação. Desde 1987, o índice de
terras orestais NCREIF produziu um rendimento de aproximadamente 6%
ao ano.
Além de gerar retornos satisfatórios, as terras orestais também
diversi cam o portfólio em relação aos mercados de títulos e valores
mobiliários: o índice Hancock/NCREIF exibiu uma correlação de -0,17 com
o S&P 500. Em parte, essa correlação baixa se explica pelo retorno
consistente das terras orestais gerado pelo crescimento biológico. Enquanto
o S&P 500 produziu perdas onze vezes desde 1960, o índice de terras
orestais gerou perda em apenas um daqueles onze anos e somente três anos
de perdas no total. Da mesma forma que outros ativos reais, as terras
orestais servem como um hedge contra níveis inesperados de in ação.
Como a madeira é um insumo básico na produção de uma série de produtos
nais, as variações nos preços dessa commodity correlacionam-se fortemente
com a in ação.
Gestão ativa
Os investimentos em terras orestais seguem dois princípios que são a base
dos investimentos em ativos reais. Primeiro, os preços descontados
contribuem para retornos mais altos ajustados ao risco. No caso da madeira
os investidores procuram descontos consideráveis em relação ao preço da
madeira em pé. Segundo, oportunidades de criar valor que independem do
mercado ou das utuações de preço da commodity aumentam a atratividade
dos investimentos em madeira.
A gestão ativa tem uma função um pouco menos crítica em investimentos
como imóveis, energia e madeira do que nos investimentos ilíquidos de
leveraged buyouts e venture capital. Como os próprios ativos dirigem uma
parcela considerável dos retornos dos imóveis, da energia e da madeira, os
investidores recebem os retornos com base nos ativos, mesmo na ausência
de uma estrela da gestão ativa de investimentos. Contrariamente, sem
gestores ativos maravilhosos não há sentido em investir em venture capital.
Alinhamento de interesses
As Organizações de Investimento e Administração Florestal (TIMOs, na
sigla em inglês) são um veículo por meio do qual os investidores podem
participar de investimentos em terras orestais. Na década de 1990, quando
os investidores institucionais começaram a mostrar interesse em madeira, as
TIMOs existentes apresentavam vários problemas. Muitas pertenciam a
grandes bancos ou companhias seguradoras, o que poderia gerar con itos
de interesses entre o conglomerado nanceiro e o investidor institucional.
Limitando ainda mais o conjunto de alternativas atrativas, algumas TIMOs
empregavam modelos de alocação pouco interessantes, alocando
investimentos para investidores com base em las (primeiro a entrar,
primeiro a ser servido) ou fazendo uma avaliação subjetiva das necessidades
e preferências do cliente. Poucas TIMOs contavam com estruturas mais
complexas.
Hoje, algumas TIMOs cumprem normas institucionais razoáveis e as
organizações independentes oferecem fundos combinados bem-
estruturados que contêm condições de negócio justas. Mesmo assim os
investidores devem continuar a analisar criteriosamente e evitar os dé cits
estruturais que assolaram a indústria de administração orestal na década
de 1990.
Características de mercado
De acordo com a Cambridge Associates, em 31 de dezembro de 2006 trinta
TIMOs controlavam um total de US$5,9 bilhões em fundos combinados.
Outras contas institucionais controladas pelas mesmas TIMOs somavam
mais US$14 bilhões. Os REITs de investimento em madeira ofereciam
outros US$11,9 bilhões em oportunidades de investimento.
Resumo
A madeira oferece aos portfólios institucionais uma oportunidade de
realizar altos retornos ajustados ao risco e de se proteger, em alguma
medida, contra níveis inesperados de in ação. Juntamente com os
investimentos imobiliários e em energia, a madeira propicia um hedge
contra a in ação, sem os signi cativos custos de oportunidade dos
investimentos em TIPS.
Colheitas sustentáveis de terras orestais produzem uxos de caixa
consideráveis e com altos níveis de receitas, de forma parecida com outros
investimentos em ativos reais. As ine ciências dos mercados ilíquidos de
madeira criam oportunidades de adicionar valor para gestores bem-
quali cados. A madeira é um item valioso a ser acrescentado ao conjunto de
alternativas de investimento institucional.
PRIVATE EQUITY
Investimentos bem-selecionados em leveraged buyouts e venture capital
geram altos retornos em relação a outras alternativas, o que melhora os
resultados do portfólio como um todo. Os ótimos retornos provenientes do
private equity pagam o preço por níveis de risco mais altos, já que os
investidores expõem os ativos a uma alavancagem nanceira muito maior
(nos casos das aquisições) e a uma incerteza operacional considerável (no
caso do venture capital). Como há ligações sólidas entre os investimentos em
private equity e os títulos negociáveis em mercado, o private equity só
proporciona uma diversi cação limitada aos investidores.
Os investimentos de private equity superam os problemas associados à
divergência de interesses entre acionistas e administradores, hoje evidentes
em um sem-número de companhias de capital aberto. A separação entre a
titularidade (acionistas) e o controle (administração) resulta numa distância
signi cativa entre os interesses dos acionistas e as políticas de investimento
dos administradores, pois quando os administradores não são acionistas da
empresa eles tendem a desenvolver várias atividades projetadas para
aumentar seus ganhos à custa dos acionistas externos. Escritórios luxuosos,
salários excessivos, frotas de jatinhos e outras vantagens administrativas
normalmente não se encontram em investimentos privados orientados ao
lucro. Os administradores das empresas privadas operam com horizontes de
tempo mais longos e aversão menor ao risco; além disso, adotam estratégias
agressivas que promovem criação de valor para a empresa. Como os
negócios privados geralmente exigem que a administração tenha
participações acionárias materiais há um alinhamento entre os interesses
dos acionistas externos à empresa e os interesses da gerência operacional.
No mundo do venture capital, as start-ups contratam indivíduos com foco
superdirecionado em construir companhias de sucesso. Na área dos buyouts,
as companhias atraem administradores que se dedicam a melhorar a
plataforma operacional e procuram compatibilizar os desa os de uma
estrutura de capital altamente alavancada com o objetivo de conseguir uma
saída rentável. Nas operações de leveraged buyout e venture capital, os
administradores e os donos da empresa compartilham os mesmos objetivos.
Apesar das diferenças entre a orientação tecnológica do venture capital
tradicional e do viés maduro da arena de leveraged buyout, as discussões
sobre private equity geralmente incluem os dois tipos de investimento. Além
de características comuns, como iliquidez e potencial de retorno muito
elevado os investimentos em venture capital e buyout envolvem um escopo
de atividades que têm atributos importantes em comum com as ações
negociáveis em mercado.
As operações de leveraged buyout respondem a muitos dos mesmos
fatores que in uenciam as ações negociáveis em mercado. Na verdade, nas
operações orientadas unicamente pela engenharia nanceira, os buyouts são
simplesmente ações “turbinadas”, com alavancagem para ampliar os
resultados – bons ou maus – produzidos por uma determinada companhia.
Por exemplo, quando Warburg Pincus assumiu a Bausch & Lomb, em uma
transação de buyout, em 2007, a natureza fundamental do negócio de
produtos de consumo da companhia permaneceu a mesma. A Bausch &
Lomb continuou a se autodescrever como “empresa de saúde ocular
dedicada a aperfeiçoar a visão e melhorar a vida dos consumidores ao redor
do mundo”12. A preci cação da empresa continuou a responder às
mudanças na demanda do consumidor, aos preços de commodities, à
e ciência da produção e à atividade regulatória. A similaridade entre as
ações da Bausch & Lomb quando era uma empresa negociada em bolsa e
quando era uma empresa privada sugere que os investidores deveriam
esperar altos níveis de correlação entre ativos listados e compras
alavancadas.
Embora o venture capital em estágio inicial não tenha muitas ligações
fortes com as ações negociáveis, os empreendimentos em estágios mais
avançados passam a depender signi cativamente dos mercados de ações. Os
empreendimentos de risco em estágios mais avançados fornecem capital
para as companhias que estão prontas para abrir o capital ou serem
vendidas. Ou seja, compram o tempo das companhias e esperam que o
mercado público esteja pronto ou que surjam empresas compradoras
atrativas. A ação do mercado in uencia o preço pelo qual os investidores de
empreendimentos de risco mais adiantados entram em um investimento e
tem uma função ainda mais crítica no preço pelo qual os investidores saem
de posições bem-sucedidas.
Mesmo as avaliações de empreendimentos em estágio inicial respondem
às condições do mercado de ações de certa forma. Quando os
empreendedores fundam as companhias em uma indústria favorecida pelos
mercados de ações, os investidores em venture capital pagam prêmios sobre
o preço para participar. Inversamente, as empresas menos desejadas lideram
no quesito menores avaliações de entrada, dando aos investidores pontos de
partida relativamente atraentes. À medida que as companhias amadurecem,
as condições do mercado acionário passam a in uenciar cada vez mais as
avaliações dos empreendimentos de venture capital.
Em sua forma mais básica, os investimentos em risco e as aquisições
representam meios mais arriscados de obter venture capital e leveraged
buyout. A grande alavancagem inerente às transações de buyout e a
imaturidade intrínseca dos investimentos em risco fazem com que os
investidores experimentem um risco básico maior e esperem retornos do
investimento mais altos.
Estranhamente, os resultados históricos em geral não re etem os retornos
desejados, embora as medidas de correlação e os níveis do risco quem
abaixo das expectativas. Infelizmente, retornos insatisfatórios para os
investimentos em private equity provavelmente re etem a realidade, apesar
de a correlação menor que a esperada e o risco menor que o esperado
sirvam como um artefato estatístico. A iliquidez mascara o relacionamento
entre os acionadores fundamentais do valor da empresa e o preço de
mercado, o que leva o poder de diversi cação do private equity a parecer
arti cialmente alto. Se duas companhias idênticas diferem somente no que
diz respeito à forma de organização – uma fechada e a outra de capital
aberto – a empresa privada, avaliada raramente e de forma menos agressiva,
parece muito mais estável do que aquela negociada publicamente, avaliada
frequentemente, sobretudo em um mundo em que os mercados de ações
exibem excesso de volatilidade. Ainda que as duas reajam de forma idêntica
aos acionadores fundamentais do valor corporativo, a empresa privada e
menos volátil ostenta características de risco superiores, baseadas
unicamente na falta de medidas de sua verdadeira volatilidade subjacente. E
não é só a falta de informações diárias para avaliação que reduz os níveis de
risco informados. A companhia privada ganha características de
diversi cação falsas baseadas unicamente na falta de correlação com a
companhia pública avaliada mais frequentemente.
Embora uma parcela justa da “diversi cação” observada oferecida pelo
private equity decorra das avaliações infrequentes dos ativos ilíquidos, um
pouco da falta de correlação entre as ações negociáveis e os ativos privados
resulta das estratégias de adição de valor adotadas pelas empresas privadas.
Considere o exemplo de uma ideia, uma garagem e um empreendedor
nanciado com venture capital. Enquanto a companhia desenvolve seu
produto, começa a vendê-lo e o torna rentável, cria-se valor,
independentemente das negociações da ação no pregão da bolsa de valores.
Como os resultados de construção de companhias são muito melhores do
que os resultados da base corporativa original, os investimentos de risco
proporcionam diversi cação em relação às ações tradicionais negociáveis.
Existem possibilidades semelhantes de geração de valor na área das
operações de leveraged buyout que permitem aos investidores privados
incrementar os retornos através de melhorias operacionais nas companhias
do portfólio. Como as transações de buyout geralmente envolvem
companhias com uma base empresarial razoável, a avaliação do mercado
tem grande in uência e as oportunidades especí cas de agregar valor às
empresas vem em segundo lugar em importância. Ainda que, quando
comparadas aos investimentos de venture capital, as companhias mais
maduras adquiridas ofereçam oportunidades mais modestas de crescimento
do negócio, as estratégias de geração de valor podem oferecer uma fonte de
retornos não correlacionados.
A engenharia nanceira pura não interessa muito aos investidores sérios
em private equity, já que fornecer nanciamento é uma atividade do tipo
commodity, com poucas barreiras de entrada. No negócio das operações de
leveraged buyout, simplesmente adicionar um grau de alavancagem a uma
companhia aumenta os retornos previstos e impulsiona os níveis de risco,
sem fazer nada para promover o objetivo de obter retornos ajustados ao
risco. No segmento do venture capital, os investidores em empreendimentos
em estágios mais avançados não oferecem muito mais que dinheiro e
esperam bene ciar-se do trabalho dos investidores do estágio inicial e da
perspectiva de obter liquidez rápida, através de uma oferta pública inicial
(IPO, na sigla em inglês) ou uma venda. Os investidores privados que
oferecem somente capital operam em um mercado extremamente
competitivo, com mecanismos de preci cação razoavelmente e cientes e
poucas oportunidades para demonstrar uma vantagem.
As oportunidades de private equity só se tornam atrativas quando os
gestores adotam estratégias de geração de valor bem pensadas. Ao tentar
melhorar as operações da empresa no contexto de uma estrutura nanceira
apropriada, os investidores aumentam o escopo da atividade geradora de
retornos, o que permite gerar resultados superiores e menos dependentes
dos humores do mercado.
Leveraged buyouts
As transações de leveraged buyouts envolvem a compra no mercado privado
de empresas maduras com níveis de dívida em seus balanços patrimoniais
maiores que o normal. Os altos níveis de alavancagem produzem um alto
grau de variabilidade correspondente nos resultados, para o bem e para o
mal. Investimentos em leveraged buyouts, sem que o gestor da transação
realize atividades para adicionar valor, simplesmente aumentam o per l de
risco da companhia.
O aumento no risco geralmente vem com um preço alto. Sociedades de
operações de buyout cobram taxas de administração pesadas (geralmente
variam entre 1,5% e 2,5% sobre o montante investido), taxa de performance
(normalmente 20%) e uma série de taxas de operação e monitoramento. Os
sócios de vários fundos de aquisição alegam agregar muito mais que a
estruturação nanceira da operação, trazendo conhecimento especí co de
criação de valor para a operação. Embora o valor adicionado pelo
conhecimento técnico dos gestores possa, em certos casos, superar o fardo
imposto pela estrutura onerosa de taxas do fundo, no total os investimentos
em operações de buyouts não chegam a ser páreo para as alternativas dos
mercados abertos. Após os ajustes para o nível de risco mais alto e o maior
grau de iliquidez nas transações de leveraged buyout, os títulos dos mercados
abertos apresentam uma vantagem clara.
Gestão ativa
Nenhum investidor sensato administra ativos privados passivamente.
Mesmo se houvesse uma alternativa de mercado bastante diversi cada, os
investidores provavelmente se desapontariam com os resultados.
Sobrecarregado por taxas assombrosas e marcado por níveis de risco bem
acima das ações negociáveis, um grupo expressivo de fundos privados tem
muitas chances de produzir retornos muito abaixo do que seria necessário
para compensar o risco incorrido. Os investidores só justi cam a inclusão de
ativos de private equity nosportfóliosse forem escolhidos gestores de
qualidade superior que adotam estratégias de geração de valor e com
estruturas de negócio adequadas.
O due diligence sobre quem são os dirigentes do fundo de private equity é
o critério especí co mais importante para avaliar os méritos de um
investimento. Indivíduos motivados, inteligentes e éticos, operando em uma
sociedade coesa, possuem uma vantagem que provavelmente se traduzirá
em resultados de investimento muito bons. Em compensação, indivíduos
dispostos a burlar regras, operacional, intelectual ou eticamente, colocam os
recursos e a reputação do investidor em risco.
A importância central de escolher sócios fortes pesa muito no processo de
due diligence. Concluir que uma empresa de private equity é formada por
indivíduos con áveis e pro ssionalmente quali cados para buscar
oportunidades de investimento interessantes serve apenas como um ponto
de partida. Antes de comprometer qualquer recurso, os investidores
cuidadosos decidem se os diretores do fundo mostram as características
necessárias para justi car que se con e a eles a administração dos ativos
institucionais. Por causa da natureza de longo prazo dos contratos de private
equity os investidores nalmente acabam con ando na boa-fé dos gestores
do fundo em agir conforme os melhores interesses dos sócios cotistas.
Embora continue sendo importante negociar condições corretas para o
negócio, os arranjos contratuais quase sempre deixam de tratar de todas as
questões importantes que acabam surgindo no relacionamento entre gestor
e investidor. Pessoas boas podem superar maus contratos, mas contratos
bons não podem superar pessoas más.
São necessários esforços consideráveis para fazer um due diligence
detalhado. As referências pessoais e pro ssionais fornecidas pelos possíveis
gestores do fundo são uma base de contatos inicial. Por causa do inevitável
viés que existe para escolher as pessoas da lista de referências, os
investidores cuidadosos buscam avaliações francas e con denciais de outras
pessoas, incluindo colegas de trabalho e relações pessoais. Ao longo do
tempo os investidores desenvolvem redes de contatos que facilitam veri car
as referências e aumentam a qualidade da tomada de decisão. Investidores
cuidadosos investigam e procuram ativamente potenciais problemas.
Conduzir veri cações super ciais não adiciona nada ao processo de due
diligence.
Investidores responsáveis avaliam operação de investimento do gestor do
fundo passando tempo su ciente nos escritórios da empresa para avaliar
como é o ambiente de trabalho. As empresas têm personalidades distintas,
que in uenciam a qualidade das operações de maneiras fundamentais.
Portanto, é aconselhável que os investidores deem preferência àqueles
grupos cuja personalidade tenha sido bem julgada. O tempo gasto em
reuniões sociais informais agrega ainda mais informações para a tomada de
decisão. Selecionar indivíduos motivados a produzir resultados superiores
usando procedimentos de alta qualidade é o desa o central da seleção do
gestor.
A despeito da importância enorme de conduzir o due diligence completo,
muitos investidores não devotam o tempo e a energia necessários para fazer
bons julgamentos. Em 1999, um dos diretores de um fundo de private equity
de US$2 bilhões contou que apenas um investidor se preocupou em marcar
uma reunião com a equipe inteira da empresa antes de comprometer seus
recursos. Ao desperdiçar a oportunidade de avaliar a qualidade dos gestores,
eventuais investidores deixam de executar a tarefa mais importante.
Os compromissos privados de longo prazo remetem à noção de Keynes
de que as decisões de investimento seriam melhores se fossem “permanentes
e indissolúveis, como num casamento, salvo por razão de morte ou outra
causa grave”17. Embora seja menos séria que a decisão de casar, a decisão de
nanciar uma empresa de private equity é um compromisso de longo prazo.
Ao contrário da rescisão de contrato com um gestor de ativos de empresas
de capital aberto, na qual os vestígios de qualquer relacionamento
desaparecem rapidamente, as evidências da rescisão com um fundo de
private equity permanecem nos livros por anos a o. Saber que as decisões
sobre investimentos privados representam compromissos de longo prazo
força os investidores sensatos a estabelecer barreiras altas à iniciação de
relações de investimento.
A natureza ilíquida dos investimentos privados permite que os gestores de
private equity tomem as decisões de longo prazo que precisam ser tomadas
para buscar estratégias de investimento bem-sucedidas. Os gestores de
títulos negociáveis sabem que os clientes têm pouca paciência para
desempenhos de cientes e puxam o gatilho rapidamente quando os
números não atendem às expectativas. Por isso quem escolhe as ações
aprende a superdiversi car os portfólios e mantém posições pequenas em
ativos selecionados, tanto para evitar desapontamentos quanto para animar
os retornos. Os gestores de fundos de private equity fazem exatamente o
contrário: “travam” os ativos por longos períodos, com prazos que muitas
vezes se estendem por uma década ou até mais. Embora o ciclo típico de
captação de recursos, de dois a três anos, possa pressionar os gestores a
encurtar os prazos de investimento, os investidores frequentemente aceitam
o argumento de que “é muito cedo para julgar o fundo mais recente”, e
permitem que os administradores de ativos privados tomem decisões
realmente de longo prazo.
Na verdade, quando estão avaliando fundos de private equity os
investidores têm poucas opções a não ser enfocar as mudanças nas
operações corporativas e não as utuações do valor de mercado minuto a
minuto. Ao enfatizar o valor intrínseco de um investimento, os investidores
avaliam fatores que estão sob o controle do administrador, liberando os
gestores do fundo dos instáveis julgamentos dos mercados de ações e
deixando que persigam estratégias de investimento sensatas.
Grupos de private equity fortes usam o horizonte de investimento longo
para perseguir estratégias que adicionam um valor considerável às
atividades da empresa. Os gestores de fundos que participam apenas
adicionando recursos à empresa operam com uma desvantagem competitiva
em relação aos grupos que investem na melhoria das operações da
companhia de uma maneira geral. Na arena das aquisições alavancadas,
fornecer recursos para a compra de companhias bem-administradas não é
nada mais que uma commodity, já que todos os principais fundos de
investimento contam com as habilidades nanceiras necessárias para
concluir as transações mais básicas, do tipo “feijão com arroz”. Barreiras de
entrada baixas permitem que ex-funcionários de bancos de investimento
respondam às crises de carreira abandonando a posição de funcionário e
abraçando as glórias de ser diretor de investimentos, inundando o mercado
com capital para perseguir negócios “limpos”. De maneira inversa, as
empresas de aquisições que demonstram habilidade para lidar com
problemas operacionais consideráveis criam um nicho especial de
operações, criando o potencial para um uxo de negócios menos
competitivo e proprietário. A combinação de menos competição por
transações orientadas operacionalmente com os benefícios potenciais de
tratar as questões operacionais gera uma oportunidade de investimento
interessante.
Alinhamento de interesses
Os investidores em fundos de private equity bene ciam-se das forças
estruturais que servem para alinhar os interesses dos administradores dos
provedores de capital. Graus elevados de alavancagem no balanço
patrimonial forçam os administradores da companhia a controlar
e cientemente os ativos e a concentrar energias na geração de uxos de
caixa que satisfaçam as obrigações da dívida. O poder de atração das
vantagens empresariais que tanto prejudicam o acionista ca até pequeno
em comparação com o fantasma do calote e o graal da participação nos
lucros. As operações de aquisição alavancadas servem para alinhar os
interesses dos administradores e dos investidores.
Infelizmente, os investidores de sociedades que se dedicam às aquisições
se veem diante das mesmas questões enfrentadas por investidores de
qualquer outro esquema em que o patrocinador recebe uma participação
nos lucros. As opções criadas pelos arranjos de participação nos lucros
podem levar a comportamentos que bene ciam o operador do fundo e
prejudicam os provedores de recursos. Para compensar as opções da
participação nos lucros é necessário que o gestor da sociedade de private
equity entre com níveis substanciais de coinvestimento para criar uma
simetria de ganhos e perdas duradoura que ajude a manter os interesses
alinhados.
No mundo ideal as taxas de administração cobrem as despesas
administrativas da rma, enquanto as participações nos lucros são uma
remuneração de incentivo. No mundo real as taxas de administração
abusivas, um problema especialmente crítico para os fundos de private
equity de grande porte, causam um racha entre os interesses dos gestores e
os dos investidores. As taxas de negociação cobradas por muitos fundos
incidem sobre a conclusão de uma transação bem-sucedida e são um meio
acintoso usado pelos gestores de fundos para enriquecerem às custas dos
seus sócios que entram com o capital. A razão de tal cobrança intriga
qualquer um que pense a respeito. Já que os investidores pagam taxas de
administração para remunerar os gestores do fundo por seu trabalho diário,
qual é a função das taxas de negociação? As taxas de monitoramento são
outro encargo supér uo do mesmo tipo. Por que as empresas de aquisição
cobram uma taxa para monitorar os investimentos quando já arrecadam
taxas de administração mais do que corretas? A verdade é que os fundos de
aquisição, especialmente os maiores, que geram taxas de centenas de
milhões de dólares, são um exemplo infeliz do desalinhamento entre os
interesses de gestores de fundos e investidores.
As pesquisas do meio acadêmico sobre as taxas cobradas impressionam os
investidores. Usando dados sobre as condições de 144 fundos de private
equity instituídos entre 1992 e 2006, Andrew Metrick e Ayako Yasuda, da
Wharton School da Universidade da Pensilvânia, estimam que o valor
presente das taxas consome uma média de quase US$20 de cada US$100
administrados. Não é de se espantar que os investidores quem sem
retornos razoáveis em tantas ocasiões!
Os pesquisadores examinaram o nível absoluto e o tamanho relativo de
receitas xas (taxas de administração e de entrada nas transações) e
variáveis (participações carregadas, taxas de monitoramento e taxas de saída
das transações). A mistura entre receitas xas, embolsadas pelos
especialistas simplesmente por comparecerem ao trabalho e as receitas
variáveis, que dependem do desempenho dos investimentos, desanimam
ainda mais os investidores que analisam o assunto. Um total de 62% das
receitas provém das taxas xas, o que deixa somente 38% para recompensar
o desempenho. De fato, uma parcela das taxas classi cadas como variáveis
por Metrick e Yasuda – as taxas de monitoramento e de saída de transações
(sobre o valor do investimento original) – é auferida pelos gestores mesmo
em caso de desempenho ruim dos investimentos, o que pinta um quadro
realmente sinistro da situação18.
Características de mercado
Em 31 de dezembro de 2006 a indústria de aquisições alavancadas dos
Estados Unidos controlava aproximadamente US$342 bilhões em capital,
dos quais cerca de 57% estavam investidos nas companhias, e o restante
comprometido pelos investidores, mas disponível. Mais de 360 fundos de
private equity estavam ativos nos Estados Unidos no nal de 200619.
Resumo
Os private equity são um investimento ruim para investidores ocasionais. Os
investimentos das companhias em fundos de aquisição só são diferentes dos
seus pares do mercado aberto pelo grau de risco e liquidez do balanço
patrimonial. A dívida maior e a liquidez menor dos negócios de private
equity exigem uma remuneração mais atraente, na forma de retornos mais
generosos para os investidores. Infelizmente para os investidores em private
equity, nas últimas décadas os private equity entregaram retornos piores do
que as posições comparáveis em ações negociadas no mercado, mesmo antes
do ajuste de risco.
As taxas são um obstáculo extremamente difícil de transpor para os
investidores em private equity. Além de taxas de administração anuais
consideráveis, os fundos de aquisição tomam conta de uma parte
signi cativa dos lucros das transações, usualmente igual a um quinto do
total. Além da taxa de administração e da remuneração de incentivo, é
comum que os gestores de private equity cobrem taxas de negociação e de
monitoramento. A cornucópia da remuneração garante um banquete para o
gestor de fundos, enquanto o investidor em private equity ca na expectativa
de ganhar, no máximo, uma porção do que sobrar da festa.
Como acontece com outras formas de investimento que dependem de
habilidades em gestão ativa, os investidores responsáveis olham para os
fundos de private equity com alto grau de ceticismo. A menos que os
investidores consigam identi car gestores do primeiro quartil, ou mesmo do
primeiro decil, é quase certo que os resultados não compensarão o grau de
risco incorrido.
Venture Capital
As sociedades de venture capital oferecem nanciamento e habilidades
especí cas de construção de empresas como start-ups, com o objetivo de
desenvolver essas empresas e transformá-las em empreendimentos sólidos e
rentáveis. Os nanciadores de sociedades de venture capital são atraídos por
vários fatores: impulsionar um componente importante do sistema
capitalista, saboreando o glamour que cerca a indústria do venture capital, e
juntar uma parte dos ganhos gerados pela atividade de empreendedorismo.
Parte da atração dos investimentos em venture capital é explicada pela
natureza dos investimentos individuais. As perdas são limitadas e não
podem ser maiores do que o montante investido. O potencial de ganhos
pode dobrar várias vezes a participação original. A combinação de risco de
baixa limitado e probabilidade de alta considerável produz uma distribuição
de resultados com viés positivo que é amigável para o investidor.
Infelizmente para os investidores, a promessa do venture capital vai além
da realidade. Em períodos de tempo razoavelmente longos, seus retornos
agregados empatam com os retornos das ações negociáveis, indicando que
os provedores de capital não conseguem ser devidamente remunerados
pelos riscos inerentes ao investimento em start-ups.
Além do quadro sombrio pintado pela experiência histórica, todos, exceto
os investidores mais antigos de venture capital, enfrentam um problema na
seleção adversa. As empresas de venture capital de primeira linha, de mais
qualidade, geralmente se recusam a aceitar novos investidores mesmo entre
os provedores existentes de fundos. As empresas de risco
dispostas/habilitadas a aceitar o dinheiro de novas fontes muitas vezes
representam oportunidades de investimento pouco atrativas, de segunda
linha (ou pior).
Antes da bolha de tecnologia do nal dos anos 1990, quem investia em
sociedades de risco recebia retornos inadequados para compensar os riscos
incorridos. Em uns poucos anos de glória, a expansão da internet permitiu
que os investidores de risco cassem com uma parte do assombroso uxo de
riqueza. No entanto, a bolha provocada pelo excesso de entusiasmo por
investimentos privados em tecnologia acarretou um problema que não tinha
sido previsto por esse tipo de investidor. A demanda indiscriminada
possibilitou que os sócios administradores de fundos de risco aumentassem
o uxo de taxas de administração e cassem com a maior parte dos lucros.
Depois do estouro da bolha as sociedades de venture capital mantiveram as
condições recém-criadas e nada amigáveis para o investidor, o que formou
uma barreira ainda mais alta para o sucesso do investimento.
Apesar do fato de as sociedades de investimento em venture capital
prometerem participação na essência e no glamour de apoiar as companhias
start-ups, os investidores que nanciam a indústria do risco recebem
retornos inadequados para compensar o alto grau de risco. Apenas os
resultados no primeiro quartil/primeiro decil bastam para compensar os
riscos incorridos.
Empresas de franquia
No topo da hierarquia das sociedades de venture capital está um número
relativamente pequeno de empresas de risco, que ocupam uma posição
extraordinária. Esse grupo de oito ou dez empresas tem o benefício de
possuir uma vantagem sólida sobre os pro ssionais menos badalados. Os
capitalistas de risco desse grupo superior usufruem de um uxo de negócios
extraordinário, de uma posição de negociação mais forte e do maior acesso
aos mercados de capitais. Em resumo, os participantes do processo de
venture capital, desde o empreendedor até o banqueiro de investimento,
preferem tratar com esse pequeno grupo de empresas de franquia.
Em nenhuma outra área dos mercados de capitais a identidade da fonte
dos fundos importa tanto quanto no mundo do venture capital. Considere os
mercados de títulos. Os emissores de títulos do governo ou de dívidas
corporativas se importam com a identidade dos proprietários desses títulos?
Considere os mercados de ações. Os administradores das empresas de
capital aberto se importam com a identidade dos acionistas? Embora em
determinadas e raras circunstâncias, tais como a contestação de mudanças
no controle da empresa, os emissores dos títulos e valores mobiliários se
importem com a identidade dos detentores de títulos, o nome, a posição e o
número de série dos proprietários do título/ação geralmente não interessam
muito aos emissores. Considere os mercados de ativos reais. Será que os
administradores de edifícios de escritórios, operadores de poços de petróleo
ou fazendeiros de áreas produtoras de madeira se importam com a
identidade de quem detém essas obrigações? Na maioria esmagadora dos
casos, as fontes nanciadoras dos investimentos pouco ou nada importam
para os indivíduos responsáveis por administrar os ativos.
Os gestores de empreendimentos de venture capital apoiados por
investidores, contrariamente, precisam muito conhecer a origem dos
recursos. Uma parte desproporcional dos empreendedores que estão
buscando nanciamentos externos para start-ups procuram as franquias
mais sólidas, pois acreditam que o nanciamento de rmas de primeira
linha aumenta as chances de sucesso no nal. Investidores de empresas de
franquias de risco são um grupo realmente extraordinário, que agrega
opiniões excepcionais e habilidades diferenciadas em relação à construção
de empresas. As start-ups bene ciam-se da sabedoria acumulada pelos
capitalistas de risco das franquias, de suas conexões sólidas no mercado e
dos conhecimentos sobre investimentos que esses pro ssionais adquiriram a
duras penas. É comum que empreendedores responsáveis aceitem de bom
grado, sabiamente, uma avaliação abaixo do esperado para rmar um
negócio com um capitalista de risco de sua escolha. A reputação da elite do
venture capital cria um círculo virtuoso no qual o sucesso do investimento
gera mais sucesso do investimento.
As pesquisas acadêmicas também reforçam a noção do bom desempenho
consistente das empresas de franquia na área dos venture capitals. Steven
Kaplan, da Universidade de Negócios de Chicago, e Antoinette Schoar, da
Sloan School of Management, do MIT, encontraram uma consistência
considerável no desempenho dos fundos e sugerem que “os investidores
cujos fundos foram melhores do que os da indústria têm grandes chances
repetir o bom desempenho nos próximos fundos e vice versa”. Os autores
observam que suas “descobertas são marcadamente diferentes dos
resultados dos fundo mútuos, onde a consistência é difícil de detectar”23.
Embora Kaplan e Schoar identi quem alguma consistência nos retornos das
aquisições eles encontram “uma quantidade de consistência estatisticamente
e economicamente sólida”, especialmente nos fundos de risco24.
Quem entrou no segmento dos investimentos de risco mais recentemente,
assim como aqueles que atuam na área há mais tempo, enfrenta um desa o
que é único da indústria do risco. Todas as sociedades de venture capital de
primeira linha limitam os ativos sob administração, e atualmente nenhuma
aceita novos investidores. Consequentemente, quem está fora permanece
fora, limitando as escolhas disponíveis para os novos investidores que
esperam entrar e para os investidores existentes que desejam aumentar o
nível de investimento.
Os novos participantes do mercado de risco têm de considerar as
perspectivas de retorno das empresas de risco que estão disponíveis para
receber dinheiro novo. É óbvio que os retornos da indústria como um todo
sofrem com a retirada dos registros de fundos relativamente duradouros,
relativamente grandes e relativamente fortes em termos de desempenho.
Como as oportunidades disponíveis para a maioria esmagadora dos
investidores excluem as empresas de risco de primeira linha, é preciso
ajustar as expectativas de retorno proporcionalmente para baixo. No
contexto de uma indústria que, ao longo da história, produziu retornos
similares aos das ações negociáveis, um ajuste moderado para baixo causa
problemas.
A impossibilidade do acesso à elite do risco acaba de enterrar as
aspirações dos possíveis investidores de risco.
Alinhamento de interesses
Os fundos de capital risco têm em comum com os fundos de aquisição e os
hedge funds o esquema de remuneração de incentivo que cria pagamentos
semelhantes às opções para o gestor. Um alto nível de coinvestimento por
parte do gestor é uma forma segura de alinhar os interesses do investidor,
criando uma simetria salutar nas atitudes dos gestores em relação aos lucros
e prejuízos. Infelizmente, no restante do amplo e variado mundo do risco,
coinvestimentos signi cativos dos sócios representam exceções e não regras.
É interessante notar, contudo, que um bom número de participantes da elite
do venture capital investe montantes consideráveis de recursos pessoais lado
a lado com seus sócios cotistas.
O sucesso do investimento permite que os patrocinadores do fundo
mudem os termos de negociação em favor dos sócios solidários. A bolha de
tecnologia do nal da década de 1990 é um exemplo muito bom. Na época
da bolha, inspiradas pela enorme demanda dos investidores, as empresas de
risco levantaram fundos cerca de dez vezes maiores que os fundos
levantados apenas uma década antes. Os fundos antigos, típicos dos anos
1990, tinham de US$100 milhões a US$150 milhões, enquanto os fundos
dos anos 2000 tinham entre US$1 bilhão e US$1,5 bilhão. Juntamente com o
aumento no tamanho do fundo veio um aumento na receita proveniente de
taxas, que cresceu muito mais do que o tamanho da equipe de funcionários
especialistas. A ascensão dramática da receita com base nos ativos
transformou as taxas, que antes eram um mecanismo de recuperação dos
custos administrativos, em um centro de lucro para a sociedade.
Mais preocupante para os investidores, os fundos de venture capital
passaram a usar o interesse cada vez maior do investidor por tudo o que se
relaciona à tecnologia para extrair uma parcela maior dos lucros do fundo.
Antes da mania tecnológica as empresas de risco operavam em uma
hierarquia bem-de nida, que dava à maioria delas uma participação de 20%
nos lucros, enquanto um punhado de empresas demonstravelmente
superiores cava com 25% dos lucros e a Kleiner Perkins Cau eld & de
Byers – decana da indústria – abocanhava 30%. As empresas da elite
ganhavam nas duas pontas, com lucros maiores e participações maiores nos
lucros.
Durante a bolha da internet a ganância imperava. A demanda por
investimentos em venture capital, que parecia ilimitada, permitiu que
qualquer um aumentasse sua participação nos lucros de 20% para 25% e as
principais saíssem dos 25% para os 30%. Em um ato de desprendimento e
generosidade extraordinários, Kleiner Perkins, que poderia ter mudado sua
parte nos lucros para 40% ou mesmo 50%, manteve sua participação em
30%. Os investidores de Kleiner Perkins, embora perfeitamente cientes do
seu poder de mercado, não hesitaram e decidiram manter a participação nos
lucros da empresa em 30%, em proveito dos investidores do endowment e
das fundações que serviam à missão institucional da empresa.
Diante da oportunidade de in uenciar os termos de negociação em favor
dos gestores, a despeito do histórico medíocre da indústria em termos de
valor agregado, os capitalistas de risco reagiram com desenvoltura. Depois
da bolha várias empresas reduziram o tamanho dos fundos para níveis mais
racionais, mitigando o impacto negativo das taxas excessivas, mas não se
conhecem exemplos de fundos que tenham reduzido sua participação nos
lucros. Apesar do péssimo desempenho após a euforia dos investimentos de
risco, o ajuste das comissões sobre os lucros parece funcionar num só
sentido.
Características de mercado
Em 31 de dezembro de 2006, a indústria de venture capital dos Estados
Unidos controlava aproximadamente US$131 bilhões em capital, dos quais
cerca de 62% estava investido nas companhias e o restante comprometido
pelos investidores, mas disponível. Mais de 870 fundos de venture capital
estavam ativas nos Estados Unidos no nal de 200625.
Resumo
Os investimentos de venture capital seduzem um grande número de
participantes do mercado, motivados pelas perspectivas de tomar parte em
um acionador fundamental do sistema capitalista, divertir-se no glamour
dos sucessos das start-ups famosas e bene ciar-se de retornos de
investimento extragrandes. Como ilustrado pelo exemplo do eBay, os
investimentos de risco às vezes produzem resultados de tirar o fôlego.
Infelizmente, as realizações empresariais do eBay e o sucesso no mercado
acionário estão longe de representar o desfecho mais comum para esses
investimentos de risco. No agregado, os investidores de risco auferem mais
ou menos os mesmos rendimentos que seus pares ganham nos mercados de
ações comuns. Depois do ajuste de risco, a maioria esmagadora dos venture
capitals não produz retornos ajustados ao risco aceitáveis.
Aqueles que entram no mundo das nanças corporativas privadas têm
que encarar um obstáculo à parte das barreiras que impedem o sucesso dos
investimentos em outras classes de ativos. O grupo de elite dos fundos de
capital de risco, essencialmente fechado para o dinheiro novo, se bene cia
do maior acesso aos negócios, aos empreendedores e aos mercados de
capitais. Ser excluído da elite do venture capital prejudica a todos, menos aos
investidores mais bem-sucedidos e antigos no mercado.
CONCLUSÃO
As classes de ativos não tradicionais são ferramentas poderosas para
investidores que visam a reduzir o risco na construção de portfólios bem
diversi cados e a aumentar os retornos por meio do aproveitamento de
oportunidades de gestão ativa. Estratégias de retorno absoluto e
participações em ativos reais agregam poder de diversi cação, enquanto os
investimentos em private equity melhoram as perspectivas de retorno do
portfólio.
O investimento em retorno absoluto consiste nas estratégias orientadas
por eventos e orientadas por valor, que exploram os problemas de
preci cação identi cados em títulos e valores mobiliários negociáveis. Ao
compensar a exposição ao mercado com hedges, os investidores reduzem o
risco sistemático e tornam os resultados dependentes da habilidade do
gestor. As posições orientadas por eventos se baseiam na avaliação de
eventos associados com fusões e falências de empresas, enquanto as posições
orientadas por valor dependem da identi cação de títulos e valores
mobiliários mal avaliados. Como as estratégias de retorno absoluto geram
retornos semelhantes aos das ações, de forma bastante independente dos
movimentos do mercado, essa classe de ativos contribui para retornos
extremamente atrativos e para diversi car os portfólios.
Yale foi pioneira no uso do retorno absoluto como uma classe de ativos,
empregando-a primeiramente em 1990. Em 30 de junho de 2007, os
retornos desde a criação bateram nos 13,2% ao ano, com um desvio-padrão
de apenas 4,9% (em relação ao retorno de 11,2% e desvio-padrão de 14% do
índice Wilshire 5000). O retorno absoluto cumpriu sua missão de produzir
retornos não correlacionados, mostrando correlações mensais de 0,02
(idênticas às de ações e títulos).
Ativos reais protegem os portfólios de investimento contra aumentos
imprevistos de in ação, mas os investidores pagam um preço por esse poder
de diversi cação, aceitando retornos esperados abaixo dos registrados pelas
ações negociáveis. Sob circunstâncias normais, os bons uxos de caixa
gerados funcionam como estabilizadores que reduzem a volatilidade das
utuações do portfólio. Do ponto de vista do risco/retorno o portfólio de
ativos reais de Yale foi bem-sucedido, tendo divulgado um retorno anual de
17,8% entre julho de 1978, data da sua criação, até junho de 2007.
As posições de private equity intensi cam os retornos do portfólio à custa
de um aumento signi cativo do risco, ao mesmo tempo que agregam pouco
em termos de poder de diversi cação. A experiência do investidor nas duas
últimas décadas não correspondeu às expectativas, já que os fundos
geralmente entregaram retornos abaixo dos resultantes das ações
negociáveis, só que com níveis de risco maiores. Sobrecarregados por taxas
extraordinárias, pagas na forma de arranjos de participações pesadas nos
lucros, os investidores encaram a difícil tarefa de encontrar fundos entre os
10% melhores para realizar a promessa do investimento em private equity.
O forte alinhamento de interesses marca a maioria dos arranjos de private
equity e cria um conjunto de incentivos apropriado para os administradores
dos fundos. Quando os sócios de fundos de private equity e fundos de
capital de risco fazem coinvestimentos signi cativos, as decisões de
investimento passam a ser orientadas ao que realmente importa e não no
sentido de agenciar ganhos que potencialmente prejudicam o fundo.
Quando os gestores comprometem seus recursos lado a lado com os
investidores, todas as partes compartilham os ganhos e perdas, forçando os
responsáveis pelas decisões a levar em consideração o risco de baixa – bem
como o potencial de alta – das ações da empresa. A prova de con ança dada
quando um gestor investe no fundo é um sinal poderoso a ser enviado aos
investidores potenciais.
Estratégias para adicionar valor às operações empresariais fazem do
private equity uma atividade de investimento interessante, pois criam a
possibilidade de explorar ambientes menos competitivos para a busca de
negócios e identi cam oportunidades de melhoria das operações. Os
resultados dos investimentos serão independentes das forças que orientam a
avaliação das ações negociáveis na medida em que os gestores dos ativos
privados aumentarem o valor da empresa de maneira signi cativa. Só
adicionando incrementos de valor importantes os administradores dos
fundos privados começam a ganhar as taxas extraordinárias associadas aos
negócios de private equity. A gestão ativa forte – nos níveis do investidor, do
fundo e da companhia – compõe a base dos programas de private equity de
sucesso.
Ao escolher sociedades de alta qualidade que adotam estratégias de
adição de valor, a Universidade Yale obteve taxas de retorno em excesso de
30% ao ano sobre os investimentos em private equity durante trinta anos, de
1978 a 2007, destacando a contribuição que um programa de private equity
bem administrado pode dar para os resultados do portfólio. Mesmo depois
dos ajustes para o maior risco inerente às participações de venture capital e
leveraged buyout, os resultados de Yale cam bem posicionados em relação
às outras alternativas de investimento.
Os investidores bem-sucedidos em classes de ativos não tradicionais
trabalham com gestão ativa e procuram identi car pro ssionais de
qualidade para administrar os fundos de investimento. Na seleção desses
pro ssionais os esforços de due diligence centralizam-se na avaliação das
competências e no caráter dos indivíduos responsáveis pelas decisões do
portfólio. Desenvolver empresas formadas por pessoas extraordinárias é o
elemento individual mais importante do sucesso dos investimentos
alternativos.
9
Gestão das classes de ativos
Os gestores ativos competem em uma área extremamente dura, uma vez que
os mercados tendem a xar o preço dos ativos com exatidão. Quantias
enormes são gastas por investidores altamente motivados que buscam
explorar os problemas de preci cação no momento certo. Para sair vitorioso
no jogo da gestão ativa é necessário contar com muita habilidade e, quem
sabe, com uma ajudinha da sorte. Investidores sérios analisam com cuidado
determinados resultados da gestão passiva de baixo custo antes de optar
pelos retornos incertos da custosa gestão ativa.
Custos signi cativos aumentam a barreira à implementação de estratégias
ativas. Identi car um portfólio que supera o mercado, simplesmente, não
chega a ser uma de nição de sucesso, pois os gestores precisam construir
carteiras que superem o mercado por uma margem su ciente para cobrir
taxas de administração, custos de transação e impactos de mercado. Por
causa dos uxos de taxas e custos que saem do sistema, sem parar, um
percentual assustador do dinheiro investido nos títulos e valores mobiliários
negociáveis acaba não produzindo retornos semelhantes aos índices.
Superar os custos da gestão ativa é um desa o e tanto.
No contexto de um ambiente de investimento extraordinariamente
complexo e difícil os responsáveis duciários aceitam surpreendentemente
bem as jogadas dos gestores ativos. As instituições teimam em correr atrás
da esperança das estratégias de superação do mercado, tão glamourosas e
excitantes (e, por m, caras), em detrimento da certeza e con abilidade
cotidianas da gestão passiva. Em vez de examinar criticamente os fatores que
motivaram desempenhos passados, muitas vezes os investidores
simplesmente associam resultados históricos bons à perspicácia nos
investimentos.
Por causa das barreiras quase insuperáveis à superação do mercado,
investidores prudentes veem as estratégias ativas com grande ceticismo.
Começar com a premissa de que os mercados preci cam os ativos
corretamente coloca o ônus da prova sobre o gestor que promete excessos de
retorno ajustados ao risco. Os investidores só devem abandonar a alternativa
passiva quando houver evidências irrefutáveis de que outra estratégia tem
potencial claro de superar o mercado.
Os gestores ativos que valem a pena ser contratados têm atributos
pessoais que justi cam a criação de expectativas razoáveis sobre
desempenhos superiores. Durante a seleção de gestores de recursos, os
investidores devem identi car indivíduos que coloquem os objetivos do
cliente institucional acima de seus interesses pessoais. A situação em que o
alinhamento de interesses ocorre com mais frequência é quando empresas
independentes de administração de recursos são geridas de modo
empreendedor por pro ssionais enérgicos, inteligentes e éticos. Contratar
gestores de recursos envolve consequências que vão além dos retornos
nanceiros, porque não só os ativos, mas também a reputação da instituição
são con ados à empresa externa de gestão de recursos.
Mesmo depois de identi car uma empresa de gestão de investimentos
promissora, o trabalho continua incompleto até que investidor e consultor
negociem condições satisfatórias para o negócio. Ao estabelecer arranjos
contratuais o objetivo fundamental é alinhar interesses para incentivar os
consultores a se comportar como se fossem a diretoria da instituição
duciária. A diferença entre o que o investidor deseja e o que o consultor faz
impõe custos consideráveis às instituições, o que reduz a probabilidade de
cumprir as metas e os objetivos básicos do investimento.
O JOGO DA GESTÃO ATIVA
A emoção da busca perturba a objetividade na avaliação das oportunidades
de gestão ativa. Jogar esse jogo traz recompensas psicológicas para os
jogadores e anima as rodinhas de conversa nas festas. Keynes compara o
investimento ativo ao divertimento infantil: “Trata-se, por assim dizer, de
brincadeiras como rouba-monte, mico preto ou dança das cadeiras – um
passatempo em que o vencedor rouba a pilha de cartas no momento exato,
nem antes nem depois; passa o mico preto para o vizinho antes que o jogo
acabe, ou garante uma cadeira para si quando a música para. Esses jogos
podem ser prazerosos e muito divertidos, embora todos os participantes
saibam que o mico preto está circulando ou que quando a música parar
alguns dos jogadores vão car sem assento”1. Os administradores precisam
ter certeza de que a gestão ativa levará a retornos esperados melhores e não
só à satisfação pro ssional do gestor de investimento.
A disposição de acreditar que os bons desempenhos vêm do trabalho
duro e feito com inteligência atrapalha a clareza do julgamento. O mundo do
investimento venera o sucesso e transforma em deuses os “oráculos” do
momento. Em vez de imaginar se um gestor que gura no topo das listas dos
melhores desempenhos teve sorte nas suas escolhas, os observadores
acreditam que os bons resultados são produto da habilidade do pro ssional.
Da mesma forma, segundo a opinião da maioria, os resultados ruins são
consequência da falta de habilidade. Os participantes do mercado raramente
se perguntam se os retornos altos seriam decorrentes da aceitação de riscos
maiores que os do mercado, ou se os retornos baixos seriam resultado de
riscos menores. Como a comunidade de investimentos não é nada cética
sobre a fonte e a natureza dos bons retornos, personagens bem estranhos são
elevados à condição de gurus do mercado.
Joe Granville
De todos os indivíduos que movimentaram os mercados com suas
previsões, Joe Granville está entre os mais esquisitos. No nal dos anos 1970
e começo dos 1980, o analista técnico fez uma série de previsões certeiras.
De maneira impactante, em 21 de abril de 1980, quando o mercado caiu a
759, a pior baixa em dois anos, Granville emitiu um sinal de compra,
antecipando uma recuperação vigorosa que levou a média para mais de 1000
em apenas três meses. Em janeiro de 1981, Granville fez sua próxima grande
chamada de mercado, dando um sinal de venda. As “ondas de vendas”
levaram os mercados a cair vertiginosamente, em volumes recordes. No dia
seguinte o retrato dele apareceu na primeira página do New York Times,
enquanto na manchete do Washington Post se lia “Um vidente provoca
histeria mercados afundam em pânico de vendas”. Granville previu que
ganharia o Prêmio Nobel, alardeando que “resolveu o enigma dos cem anos,
chamando todos os mercados para cima e para baixo”.
As previsões técnicas de Granville vinham cheias de fantasias. Sua rotina
incluía vestir-se como Moisés para proferir os Dez Mandamentos do
investimento, deixar cair as calças para ler cotações das ações em suas
cuecas e aparecer no palco dentro de um caixão cheio de ta adesiva.
Essas bizarrices não obscurecem em nada o que viria a seguir. No nal de
1981 os mercados caíram no mundo inteiro, algumas vezes como resposta às
chamadas de Granville. De acordo com Rhoda Bramner, da Barron,
“enquanto Granville cava se exibindo no palco do investimento, o mercado
seguia boa parte do seu discurso baixista”2.
Infelizmente para Granville, ele perdeu a virada do mercado em 1982. A
teimosia baixista deixou seus seguidores de fora das primeira fases de uma
das maiores altas dos mercados da história. Em um golpe cruel do destino,
Granville virou “descontroladamente altista” antes do crash de 1987.
Consequentemente, um estudo de 1992 do Financial Digest concluiu que
Granville cou em último num grupo de analistas desconhecidos que
produziam relatórios sobre investimentos, com desempenho 93% abaixo da
média num período de doze anos.
A importância que Joe Granville chegou a ter no mundo do investimento
é uma prova de que o público associa retornos maiores com habilidade de
investimento. A metodologia de Granville dependia de fatores técnicos sem
poder preditivo algum. Ainda assim ele movimentou os mercados e
enganou um grande número de pessoas que seguiam suas previsões
absurdas.
As Beardstown Ladies
No início da década de 1990 a Beardstown Ladies chamou a atenção do
público da área de investimentos. Com base em um histórico
impressionante, de 8,5% ao ano acima do S&P 500 para a década encerrada
em 1993, as matronas de Beardstown transformaram seu sucesso em uma
carreira lucrativa como escritoras e palestrantes. O primeiro livro, Guia
prático de investimentos das Beardstown Ladies: como ganhamos dinheiro no
mercado de ações – e você também pode ganhar, vendeu mais de 800 mil
cópias. O grupo lançou mais quatro livros: e Beardstown Ladies’
Pocketbook Guide to Picking Stocks [O guia de bolso das Beardstown Ladies
para garimpar ações]; e Beardstown Ladies’ Guide to Smart Spending for
Big Savings: How to Save for a Rainy Day Without Sacri cing Your Lifestyle
[O guia das Beardstown Ladies para gastar com sabedoria e economizar
muito: como economizar para épocas difíceis sem sacri car seu estilo de
vida]; e Beardstown Ladies’ Stitch-in-Time Guide to Growing Your Nest
Egg: Step-by-Step Planning for a Comfortable Future [O guia das Beardstown
Ladies para fazer seu pé de meia: planejamento passo a passo para um
futuro confortável]; e Cookin’ Up Pro ts on Wall Street [Receitas para lucrar
em Wall Street]. O império, que além dos livros incluía palestras, vídeos e
tas cassete, se apoiava no público, que acreditava que o sucesso
extraordinário das Beardstown Ladies nos investimentos tinha bases sólidas.
Todo o rebuliço que cercava as Beardstown Ladies encontrou
relativamente pouco ceticismo. A rmações de desempenho superior foram
tomadas como provas da e cácia de sua abordagem de investimento, sem
necessidade de análises adicionais.
Infelizmente, as Beardstown Ladies tinham tão pouca capacidade
analítica que calcular os retornos dos investimentos já era um desa o. A
tesoureira do clube de investimentos cometeu um erro ao usar um programa
de computador e acabou informando um retorno referente a dois anos como
se fosse aplicável a um período de dez anos. Na verdade, depois de uma
análise crítica, o histórico estendido de desempenhos relativos sólidos
acabou virando um registro pior que medíocre. Números compilados pela
Price Waterhouse concluíram que as Beardstown Ladies produziram
retornos de apenas 9,1% ao ano, que caram 5,8% abaixo dos resultados do
S&P 500 e não estão de acordo com os resultados informados anteriormente
por assombrosos 14,3% ao ano. Em resumo, os números desses
investimentos não mereciam nem um modesto artigo de revista.
A principal lição da saga das Beardstown Ladies tem a ver com a atitude
que os investidores tomam em relação aos registros de desempenho. Os
mercados preci cam os títulos e valores mobiliários de maneira bastante
e ciente. Assim, diante de registros de desempenhos muito bons a reação
inicial de todos deveria ser achar que esse desempenho sólido
provavelmente resultou de uma série de retiradas favoráveis da distribuição
de resultados possíveis. Os administradores só devem começar a considerar
a oportunidade da gestão ativa quando os gestores articularem uma loso a
de investimento convincente e coerente.
Jim Cramer
Jim Cramer merece um lugar de destaque no panteão dos anti-heróis do
investimento. Formado pela Escola de Direito da Universidade de Harvard,
Cramer desperdiça suas extraordinárias credenciais e vergonhosamente
promove, para um público crédulo, orientações de investimento chocantes e
impróprias.
Cramer fez seu nome defendendo desconcertantemente as ações de
empresas de tecnologia durante a bolha da internet. Ele defendia a compra
de ações com valores absurdos, a rmando que os pro ssionais “não tinham
entendido bem” e que o público é “muito, muito mais inteligente do que se
pode imaginar”3. Na época do pico do mercado, em janeiro de 2000, Cramer
articulou seis “regras práticas” que supostamente permitiam ao “indivíduo
médio” “ganhar rotineiramente dos pro ssionais”. Sua lista de regras incluía
“compre ações de empresas de que goste”, “compre ações caras” e “compre
ações que se movem em blocos”4. As regras vazias de Cramer surgiram num
momento perfeito para prejudicar da pior forma possível os portfólios dos
seus leitores.
Cramer nunca media as palavras. Ele descreveu o
“momentum/crescimento” como um grupo de investidores que “prefere
comprar ações que tenham ganhos e também crescimento técnico,
independentemente do preço. Em outras palavras: não importa quão caras
elas estejam, contanto que apresentem desempenho positivo”5. Não satisfeito
em simplesmente promover uma estratégia irresponsável de momentum no
meio de uma bolha de mercado, Cramer repreendeu os gestores que sofriam
há tempos. Desprezou solenemente as estratégias contrarian/valor,
argumentando que “a negação é a base da tese do valor”. Ele acusou os
investidores orientados por valor de terem uma “cegueira sistemática em
relação a tudo que é tecnologia” e repreendeu Warren Buffett por sua
preferência “irracional” pela “Coca-Cola em vez da Microso”6.
Em fevereiro de 2000, Cramer escreveu sobre a arrogância dos gestores de
fundos mútuos de valor, lamentando que “eles não só têm a coragem de nos
dizer que estamos errados em ter nossas Ciscos e Yahoo!s, mas também
insistem que são a única autoridade em relação ao que comprar”.
Cramer a rmou que os gestores de valor que mantinham posições na
Philip Morris “deveriam ter que responder por deserção do cargo” e
adicionou que “os piores são os gerentes que compraram ações da Coca-
Cola e da Pepsi...” E prosseguiu com um conselho para os investidores de
fundos mútuos com “histórias de valor transformadas em crescimento”:
“Assuma o controle. Demita esses caras”7.
Naturalmente, o conselho de Cramer errou feio. No ano seguinte à
publicação de sua lengalenga antivalor, a Coca-Cola ganhou 10%, a Pepsi,
36% e a Philip Morris, formidáveis 171%. Enquanto isso os favoritos de
Cramer desmoronaram. A Cisco caiu 57% e a Yahoo! perdeu inacreditáveis
84% do valor.
Se a preferência de Cramer por Cisco/Yahoo! em vez de Philip
Morris/Coca-Cola não adicionou nada além de lixo às carteiras de quem o
seguia, suas jogadas no segmento de alimentos destruíram ainda mais valor.
Em fevereiro de 2000, Cramer sugeriu que “a sentença de morte para o
investimento em valor pode muito bem parecer certa agora, por causa da
inovação tecnológica”. Ele a rmou que o varejista de alimentos Albertsons,
representante da velha economia, “está sendo atingido por uma mudança de
paradigma fundamental” que “só vai piorar à medida que a Urban Fetch, a
Kozmo e a Webvan vão se expandindo”8. Sem dúvida, Cramer colocou todas
as chas nas empresas da era da internet.
Nove meses depois do prognóstico de Cramer, o Fetch encerrou o
negócio de entregas. Embora o Kozmo nunca tenha realizado a tão esperada
oferta pública (que salvou os leitores de Cramer de perderem mais
dinheiro), a empresa conseguiu se virar até abril de 2000, quando
interrompeu as operações. A Webvan, que ostentava uma capitalização de
mercado de mais de US$5 bilhões na época da convocação de Cramer
(fevereiro de 2000), entrou com pedido de falência em julho de 2001.
Enquanto isso, o Albertsons, o dinossauro condenado à extinção, divulgou
lucros de mais de US$500 milhões sobre uma receita de quase US$38
bilhões (números para o ano de 2001). No nal, em 30 de maio de 2006, o
Albertsons sucumbiu e foi comprado por um grupo liderado pelo
SuperValu. Quem acompanhou o mercado na época observa que desde o
momento do mau conselho de Cramer, quando o mercado estava no topo,
até a data em que a fusão foi fechada, o Albertsons retornou 0,5% ao ano,
mais que o resultado do S&P 500, de 0,2%, e trucidou o Nasdaq, com -9,1%
ao ano.
Apesar das terríveis orientações que deu, Jim Cramer ganhou da CNBC,
em março de 2005, seu próprio programa de tevê, o Mad Money. Nele,
Cramer zombava do processo do investimento, jogando cadeiras, passando
ursinhos de pelúcia por moedores de carne, usando sombreros e decapitando
bonecos cabeçudos feitos à sua imagem e semelhança9. No meio de tantas
bizarrices infantis, Cramer jogava centenas de recomendações de compra de
ações. De acordo com um artigo da revista de nanças Barron, de agosto de
2007, uma base de dados que cobria seis meses de indicações de Cramer
tinha inacreditáveis 3.458 ações. A revista conclui que “evidências con áveis
sugerem que as escolhas do apresentador palhaço e mago das nanças não
estão rendendo mais que o mercado. Você realmente esperava algo diferente
de um apresentador que escolhe 7 mil ações por ano?”. Para piorar ainda
mais a história, Cramer conseguiu car abaixo dos ganhos do mercado,
mesmo tendo provocado uma alta de 2% das ações que indicou numa
transmissão. A avaliação negativa da Barron seria ainda mais calamitosa se
incluísse os custos de transação e impostos.
Além da conhecida incapacidade de seleção do jornalista, que escolhia
milhares de ações em qualquer ano dado, ele parece ter admitido
manipulação de mercado enquanto dirigia um hedge fund, no nal dos anos
1990. Numa entrevista dada ao Wall Street Con dential, em 23 de dezembro
de 2006, Cramer disse que “muitas vezes, quando eu estava vendido em meu
fundo de hedge [...] eu criava, de antemão, um nível da atividade que
pudesse dar um empurrãozinho nos futuros”. E a rmou ainda que “não é
preciso muito dinheiro para fazer isso”. Na entrevista, ele continua
descrevendo maneiras de manipular os preços de ações individuais10. De
acordo com a Barron, depois ele “disse que só estava falando
hipoteticamente”11. Certamente um aluno educado em Harvard, que foi
editor-chefe da Harvard Crimson, sabe que não há nada de hipotético na
frase “quando eu estava vendido em meu fundo de hedge”. Será que Jim
Cramer estava precisando de uma aula sobre tempos verbais?
Joe Granville, as Beardstown Ladies e Jim Cramer são exemplos
convincentes de que os participantes do mercado muitas vezes aceitam a
simples notoriedade como prova de que ali há estratégias de investimento
sólidas. O fato de Joe Granville e as Beardstown Ladies terem sido
desmascarados (e talvez Jim Cramer também seja, no futuro) deve
incentivar os investidores a adotar atitudes mais céticas ao avaliarem
oportunidades de gestão ativa.
Í
CARACTERÍSTICAS PESSOAIS
Os investidores em ativos imobiliários invocam o mantra “localização,
localização, localização.” Investidores sensatos que estão buscando um gestor
ativo focam em “pessoas, pessoas, pessoas”. Nada é mais importante que
trabalhar com parceiros de alta qualidade.
A integridade é o item de número 1 na lista de quali cações. Além do fato
de o comportamento moral representar um padrão de importância
fundamental para a interação humana, trabalhar com parceiros que deem
conselhos éticos aumenta a probabilidade de sucesso nos investimentos.
Escolher consultores externos de integridade garantida reduz o
distanciamento entre as ações dos consultores e os interesses de um fundo
institucional.
Existem diferenças inevitáveis entre os interesses de um endowment e os
de um administrador de recursos externo. As questões mais profundas
podem incluir diferenças em objetivos nanceiros, horizontes de tempo,
condição tributária e várias formas de risco comercial. Independentemente
da estrutura dos arranjos contratuais, os gestores de recursos tendem a
responder a incentivos pessoais. Empregar indivíduos com padrões morais
elevados reduz a gravidade dos con itos de interesse, uma vez que
administradores éticos levam em conta os objetivos do cliente institucional
ao resolverem esse con itos.
A lealdade é uma parte importante nos relacionamentos da área de
investimentos e permite que se pense no longo prazo ao tomar as decisões.
No melhor dos casos, a interdependência entre investidores institucionais e
gestores de recursos cria um espírito de parceria e realça oportunidades para
relacionamentos bem-sucedidos e duradouros.
A lealdade ui nos dois sentidos. Os investidores devem aos consultores
externos a oportunidade de realizar atividades de investimento dentro de
uma estrutura temporal razoável. Despedir um gestor cujo desempenho
deixou a desejar apenas para tirar uma linha desagradável de um relatório
trimestral de investimento não é um procedimento razoável. Da mesma
forma, um gestor de investimento que abandona os sócios con áveis
simplesmente para buscar uma fonte de capital mais barata está seguindo
uma estratégia muito limitada.
Obviamente a lealdade não exige que o status quo seja mantido
inde nidamente. Os relacionamentos entre responsáveis duciários e
gestores de recursos vêm e vão por uma série de razões convincentes. Muitas
e muitas vezes, entretanto, os investidores abandonam boas parcerias por
motivos triviais, impondo custos e interrompendo desnecessariamente as
atividades de gestão do portfólio. Consultores de investimento e
administradores de fundos institucionais que operam com uma presunção
de lealdade aumentam as oportunidades de sucesso no longo prazo.
Os gestores de alto nível investem com paixão e trabalham com foco
quase obsessivo para superar o mercado. Muitos investidores notáveis
gastam um tempo enorme investigando oportunidades de investimento,
trabalhando muito mais que outros pro ssionais racionais que teriam
concluído um trabalho bem feito. Os grandes investidores tendem a ter um
“parafuso a menos”. Não participam do jogo pelo lucro, mas por esporte. Os
mercados fascinam os investidores de sucesso.
Os melhores investidores se preocupam com o risco. Diligência e trabalho
duro só levam um gestor de investimento até determinado ponto, visto que
até as decisões pesquisadas com o maior cuidado acabam enfrentando as
vicissitudes das forças do mercado. Como há muitos elementos que fogem
ao controle de um gestor de portfólio, os melhores investidores querem
conhecer tudo o que puder ser conhecido para limitar a incerteza a um
mínimo irredutível. As ideias de investimento mais bem pesquisadas
tendem a ser as menos arriscadas, pois, como observa o grande economista
de Yale Irving Fisher, “o risco é inversamente proporcional ao
conhecimento”12.
O dinheiro é uma motivação óbvia que traz riquezas enormes para os
gestores de investimento bem-sucedidos. Contudo, os gestores de recursos
que buscam maximizar a receita formam um grupo pobre a partir do qual
escolher um gestor. Planos de negócios que maximizam o lucro envolvem
crescimento desenfreado dos ativos e levam à adoção de estratégias de
copiar benchmarks, fatores em desacordo com o sucesso dos investimentos.
Os administradores de recursos mais atrativos limitam os ativos sob gestão e
fazem escolhas agressivas e não convencionais de papéis, o que os leva a
incorrer em riscos substanciais para seus negócios, com a esperança de gerar
retornos melhores sobre os investimentos.
Warren Buffett produziu seu próprio conjunto de características
desejáveis para um administrador de recursos em um anúncio feito em
março 2007, sobre a busca de seu sucessor como diretor de investimentos da
Berkshire Hathaway:
Escolher a pessoa adequada não vai ser uma tarefa fácil. É claro que
não é difícil encontrar pessoas inteligentes, algumas delas com
currículos verdadeiramente impressionantes. Mas o sucesso a longo
prazo tem a ver com algo que vai além da inteligência e dos resultados
de curto prazo.
À medida que o tempo passa, os mercados fazem coisas estranhas,
até bizarras. Um simples erro pode acabar com uma longa série de
sucessos. Por isso, precisamos de alguém que esteja geneticamente
programado para reconhecer e evitar riscos sérios, inclusive aqueles
que nunca aconteceram antes. Determinados perigos ocultos nas
estratégias de investimento não podem ser descobertos por meio dos
modelos comumente empregados hoje pelas instituições nanceiras.
O temperamento também é importante. Pensamento independente,
estabilidade emocional e um profundo conhecimento do
comportamento humano e institucional é vital para o êxito a longo
prazo. Através dos anos conheci muita gente brilhante que carece
destas virtudes.
Finalmente, nós temos um problema especial a analisar: nossa
capacidade de manter a pessoa que vier a ser contratada. Poder citar a
Berkshire no currículo aumentaria muito o valor de mercado de um
gestor de investimentos. Portanto, precisamos estar certos de que
poderemos reter nosso escolhido, ainda que ele ou ela pudesse sair e
ganhar muito mais dinheiro em outro lugar.13
CARACTERÍSTICAS ORGANIZACIONAIS
As pessoas certas tendem a criar a organização certa, o que reforça a
importância fundamental de escolher sócios fortes. Encontrar essas pessoas
valorosas, quando necessário, é somente o ponto de partida da busca por
um administrador de recursos, porque pessoas fortes em uma organização
mal-estruturada enfrentam os mercados com uma desvantagem signi cativa
e desnecessária. Em um mundo com tantas alternativas não faz sentido abrir
concessões em questões estruturais.
As organizações de gestão de investimentos mais atraentes encorajam a
tomada de decisões voltadas para a criação de retornos de investimento e
não para a geração de receitas de taxas. É difícil encontrar consultores
orientados dessa forma, pois eles tendem a ser poucos, empreendedores e
independentes.
Atitude empreendedora
As empresas pequenas e independentes operam no outro extremo da cadeia,
em oposição às grandes subsidiárias de conglomerados de serviços
nanceiros. Fatores como tamanho da empresa e estrutura de propriedade
sensata contribuem para resultados melhores nos investimentos. A
tendência de as empresas menores, conduzidas ativamente pelos diretores,
se comportarem de maneira empreendedora cria um contexto decisivo para
o processo de gestão do investimento. Ambientes em que há
empreendedorismo priorizam as pessoas e colocam o humano à frente dos
elementos burocráticos e estruturais. Ao colocar as pessoas em primeiro
lugar, as organizações de investimentos aumentam as chances de sucesso.
Em organizações empreendedoras os indivíduos conduzem as decisões e
dão grande importância à escolha de sócios com características
comportamentais atraentes. Grandes pessoas são o núcleo de uma operação
empreendedora sólida, de acordo com o capitalista de risco Len Baker,
porque elas “executam melhor, respondem melhor à surpresa e atraem
outras pessoas como elas”. Ele sugere que os gestores “participem, sejam
obsessivos e acompanhem tudo desde a base”14.
O capitalismo empreendedor se apoia em três forças direcionadoras:
inovação, propriedade e adaptação. Cada característica contribui para
organizações de gestão de recursos bem-sucedidas.
Inovação
De acordo com Schumpeter, os inovadores “veem coisas que só se mostram
verdadeiras depois”15. Ao construir um processo de investimento que
promove a antecipação, os consultores de investimento assentam as bases
para o sucesso. Os retornos excedentes têm origem em posições
diferenciadas, fora do comum, que vão ser reconhecidas mais tarde, muitas
vezes de forma surpreendente para os observadores comuns de mercado. Ao
identi car as consequências inesperadas antes do fato, os gestores de
investimento bem-sucedidos realizam retornos acima do mercado
explorando suas descobertas. Sem escolhas criativas para o portfólio as
perspectivas são sombrias, pois a velha combinação representa a visão
consensual. A e ciência do mercado conduz os retornos dos portfólios
comuns para a média e leva as carteiras convencionais com ideias
convencionais a produzir resultados convencionais, um desfecho
insatisfatório para gestores de investimento ativos.
No esforço para inovar, os empreendedores incentivam a experimentação
e aceitam decepções ocasionais como o preço a ser pago por possíveis
ganhos. Em muitos empreendimentos marcados pelo empreendedorismo o
sucesso só vem depois de falhas repetidas à exaustão, o que requer uma
cultura organizacional que encoraje a experimentação e aceite os erros. Ao
permitir as falhas de maneira explícita, mas mantendo os custos baixos, as
organizações de investimento criam um ambiente propício para que os
gestores construam portfólios de investimento verdadeiramente novos, com
alto potencial.
Propriedade
A propriedade nanceira e psicológica leva a resultados superiores. As
empresas de investimento realmente fortes recompensam as contribuições
monetariamente, ao mesmo tempo em que envolvem os corações e as
mentes dos funcionários. Ampliar a distribuição da propriedade melhora a
estabilidade organizacional e facilita os pensamentos a longo prazo.
Incentivos nanceiros estruturados com cuidado levam o pessoal de
investimento a se comportar de maneira adequada, desencorajam atividades
orientadas ao recebimento de taxas e incentivam comportamentos voltados
para a geração de retornos. A posse psicológica complementa fortemente as
recompensas nanceiras. Encorajar os investidores a “embarcar no processo”
compatibiliza os interesses do administrador e dos clientes.
Adaptação
Adaptação envolve uma seleção cuidadosa que potencialize os fortes e
elimine os fracos. Ao escolher um portfólio de posições atrativas a partir de
um universo amplo de oportunidades potenciais, os investidores bem-
sucedidos expressam suas descobertas particulares antes da “manada”. As
ideias fortes comandam parcelas signi cativas dos ativos e ampliam o
impacto das posições de grande convicção, enquanto as posições fracas
desaparecem. Quando as circunstâncias mudam, os gestores recon guram
os portfólios para re etir as novas realidades. Além de in uenciar as táticas
de seleção de ativos, a adaptação pode levar a novas estratégias de
investimento à medida que os mercados evoluem. Se as ine ciências de um
nicho especí co desaparecem, os empreendedores deixam esse mercado não
atrativo e buscam novas oportunidades de preci cação para explorar. A
adaptação tem um importante papel tático e estratégico na gestão de
recursos.
Compare a exibilidade das organizações empreendedoras com as
burocracias. Estruturas burocráticas funcionam bem em ambientes
repetitivos, regulares, de resposta lenta à mudança. Processos orientados por
controles enfatizam a estrutura e subordinam a função das pessoas.
Burocracias usam a sabedoria convencional, buscam o consenso e punem as
falhas rápida e impiedosamente. Ao buscar segurança e evitar controvérsia,
as estruturas burocráticas marginalizam sistematicamente as oportunidades
de mercado com chances de render acima da média. As burocracias não
lidam bem com ambientes de mudanças constantes e não resolvem nem
mesmo os problemas de gestão ativa mais elementares.
Muitos funcionários de empresas burocráticas investem com
administradores de recursos “de marca” e reduzem os riscos da carreira ao
escolher, com as bênçãos de um consultor externo, empresas amplamente
reconhecidas. Empresas de grande porte orientadas por processos e que
produzem resultados consistentes são um porto seguro para o cliente
tímido. As empresa respeitadas desenvolvem franquias e usam seu bom
nome para atrair e reter ativos. Na área dos investimentos negociáveis a
franquia não traz benefício algum para o processo de gestão do portfólio. O
valor da franquia resulta apenas do nível de conforto proporcionado aos
clientes.
As decisões de investimento confortáveis não geram resultados
emocionantes. O desconforto é uma condição necessária, embora não
su ciente, do sucesso. Como as companhias empreendedoras tendem a ser
mais novas e menores, os registros históricos podem ser mais difíceis de
de nir e interpretar. Estratégias menos orientadas por processos dependem
pesadamente dos indivíduos, o que reduz a capacidade do agente duciário
de con ar na franquia para obter resultados. Embora seja preciso mais
coragem para apoiar um grupo empreendedor do que para servir a uma
empresa “de marca”, para ser bem-sucedido nos investimentos pode ser
necessário apoiar gestores sem as credenciais das instituições-padrão.
Infelizmente, sociedades que já foram alternativas vibrantes de
investimento às vezes se tornam burocracias sem atrativos. O conceito de
Schumpeter sobre destruição criativa se aplica bem nesse caso, porque as
organizações evoluem desde “pequenas o cinas” até grandes corporações
com características que minam a premissa básica que deu forma à empresa
no início. À medida que a organização cresce, mutações “revolucionam
incessantemente a estrutura econômica de dentro para fora, destruindo
permanentemente a estrutura antiga enquanto criam uma nova”16. A
aceitação institucional ameaça as próprias características que tornaram a
empresa interessante num primeiro momento. Enquanto o tempo e o
tamanho corroem o entusiasmo empreendedor que trouxe o sucesso inicial
para a empresa, o gestor de fundo precisa rejeitar os velhos sócios e procurar
novos parceiros que ofereçam potencialidades administrativas melhores. O
processo de destruição criativa, que segundo Schumpeter é “o fato essencial
sobre o capitalismo” propõe desa os para as organizações de adminsitração
de recursos 17.
Guerrilhas do investimento
Miles Morland, ex-gestor da Blakeney Management, capturou a essência do
vigor de uma organização de gestão de investimentos empreendedora em
uma carta em que explica porque ele não foi adiante com uma esperada joint
venture com um conglomerado de serviços nanceiros muito maior. A
Blakeney administra ativos na África e no Oriente Médio.
Receio que não iremos adiante com nossa fusão [...] A Blakeney é um
pequeno grupo de guerrilha. Nosso sucesso vem da habilidade de lutar
e fazer pilhagens em lugares pequenos demais e arriscados demais para
as pessoas que têm mais a perder. O que também faz dela um lugar
divertido para se trabalhar. Nós somos totalmente focados em
encontrar e fazer negócios sem considerar nossas linhas de
fornecimento ou o território de quem estamos invadindo. [Sua
empresa] é um grande e poderoso exército uniformizado. Graças a você
ela conservou seu espírito empreendedor mais do que qualquer outra
grande empresa americana, mas isso equivale a dizer que as tropas de
paraquedistas são mais empreendedoras do que os batalhões de
tanques. Empresa grandes precisam de disciplina e de cadeias de
comando por sua própria natureza. Seu tamanho absoluto signi ca
que, quando se aventuram em territórios além-mar, constroem relações
complexas com outros poderes em outras terras que falam a mesma
língua. [...]
As guerrilhas não podem ser integradas a exércitos regulares sem
perder o que as torna mais e cazes. Todos os pro ssionais da Blakeney
já foram o ciais no exército comum e desertaram para se juntar às
guerrilhas. O pensamento de que você é um guerrilheiro de coração
nos fez continuar com as negociações, apesar dos sinais de alerta. Se
nos perguntarmos como este negócio vai nos ajudar a fazer mais
negócios, cada vez melhores, e como tornará nossas vidas mais
interessantes e mais divertidas, não saberemos responder. Tudo aponta
na direção contrária. Isso não é nenhuma crítica [à sua empresa] ou às
excelentes pessoas que conhecemos lá. É a realidade de criar uma
corporação com alguém tão grande quanto você. Mesmo se não
tivermos de vestir uniformes teremos de administrar nosso negócio de
maneira a reconhecer as regras impostas, e quando sairmos pilhando
negócios teremos de respeitar as alianças existentes. Nós somos ladrões
de gado por natureza e não pastores. Queremos fazer invasões-
relâmpago no Zimbábue, em Gana e no Egito enquanto seus sócios [...]
fazem reuniões para decidir [...] como e onde eles vão dispor suas
tropas poderosas. Quando eles chegarem, esperamos que descubram
que umas poucas cabeças de gado locais estão faltando.
Espero que possamos continuar a fazer coisas juntos. Tudo isso só
começou por causa do respeito pessoal que eu tenho por você. Eu
carrego a culpa por não ter percebido antes quais eram as implicações
do negócio. No nal das contas, nós poderíamos ter sido acionistas
majoritários, e você o minoritário, mas se um rato majoritário se deitar
com um elefante minoritário não vai ser o elefante que vai acabar
amassado como uma panqueca.
Organizações independentes
Investidores aumentam o grau de coincidência de interesses com os gestores
de fundos ao escolher trabalhar com empresas focadas e independentes.
Con itos especialmente graves entre os objetivos do investidor e as ações do
administrador de recursos surgem nos chamados “supermercados
nanceiros”– organizações grandes e burocráticas que oferecem uma
variedade de opções de gestão de recursos. A rotatividade dos empregados
de conglomerados nanceiros é maior que a dos funcionários de empresas
independentes. A remuneração explica o motivo, em parte. As receitas da
subsidiária de gestão de investimento uem para o supermercado nanceiro,
que ca com uma parte como lucro e devolve uma parte, como salário, à
diretoria da subsidiária. Os administradores bem-sucedidos empregados
desses supermercados têm a opção de simplesmente atravessar a rua, abrir
uma loja e car com 100% das receitas associadas aos seus esforços. O
objetivo do lucro do supermercado nanceiro cria instabilidade na
subsidiária e abre uma brecha entre os interesses da empresa e os interesses
do cliente. Um desejo de independência também explica parte da alta
rotatividade entre os funcionários. A oportunidade de operar sem a
interferência de burocratas voltados para os interesses corporativos atrai as
melhores mentes da área de investimentos. Intervenções externas no
processo de tomada de decisão, de partes mal-informadas, porém bem
intencionadas podem gerar resultados sub-ótimos e incentivar a criação de
uma empresa independente. A razão nal vem de um senso de propriedade.
Operadores que são donos do negócio simplesmente trabalham mais duro e
melhor do que funcionários assalariados. Organizações empreendedoras,
pequenas e independentes oferecem maior coincidência de interesses entre a
empresa e o cliente.
O foco no investimento melhora as possibilidades de cumprir os objetivos
do cliente. Uma linha de produtos restrita força os administradores a viver e
morrer dos resultados do investimento, criando um incentivo enorme para
que produzam retornos melhores. Contrariamente, quando a empresa tem
uma linha de produtos ampla, é de se esperar que os ganhos sobre os
produtos vencedores sejam mais que su cientes para compensar as perdas
inevitáveis em estratégias perdedoras, o que reduz o custo de eventuais
fracassos em produtos individuais. Ainda pior: ao tentar gerar uxos de
receitas constantes, os gestores dos supermercados nanceiros compõem
portfólios muito diversi cados, que seguem os benchmarks do mercado de
perto o bastante para evitar interrupções, mas perto demais para atingir a
excelência. Os investidores preferem que os administradores dos fundos
coloquem todos seus ovos em uma cesta e observem a cesta com muito
cuidado. Ao escolher gestores concentrados e focados, os investidores
aumentam as possibilidades de sucesso.
Na busca por uxos de receitas estáveis os conglomerados nanceiros
privilegiam o crescimento das receitas em detrimento do desempenho dos
investimentos. Os administradores de investimentos logo reconhecem que
as recompensas vêm, principalmente, de atração de uxos de caixa novos e
não da geração de retornos de investimento superiores. Já que o tamanho é
inimigo do desempenho, quem junta muitos ativos ganha às custas de seus
clientes.
A abertura de capital de uma organização de administração de recursos
introduz um outro grupo de questões para os clientes da empresa. Enquanto
os objetivos de um supermercado nanceiro de capital fechado são
materialmente diferentes dos interesses dos clientes, no caso de uma
administradora de recursos que abre o capital a introdução de acionistas
externos exacerba os con itos de interesse. O problema mais óbvio e, talvez,
mais grave diz respeito ao con ito de interesses entre os clientes da empresa
de administração de recursos e os acionistas externos.
Coinvestimento
O coinvestimento é um meio poderoso de alinhar os interesses do
responsável duciário e do gestor do fundo. As questões a respeito do
comportamento de agenciamento diminuem à medida que um gestor se
torna diretor. Infelizmente, junto com o considerável coinvestimento surgem
questões sobre as possíveis diferenças entre os objetivos dos gestores de
recursos, contribuintes mortais que pagam impostos, e os investidores
institucionais, imortais que gozam de isenção scal. Assim, o
coinvestimento reduz o incentivo para que os consultores de investimento
lucrem à custa dos clientes.
Embora qualquer nível de coinvestimento incentive os gestores dos
fundos a agir como diretores, quanto maior o comprometimento pessoal
nos fundos, maior o foco em gerar retornos de investimento superiores. Os
administradores deixam de se bene ciar da atração de capital novo no
ponto em que a diminuição do retorno sobre a participação pessoal do
administrador, causada pelo aumento dos ativos sob gestão, supera os custos
de oportunidade das taxas renunciadas por limitar o crescimento dos ativos.
Como o nível de taxas renunciadas, facilmente medido, geralmente encobre
a estimativa vaga do arrasto de desempenho induzido pelo tamanho, apenas
os gestores mais ricos enfrentam um trade-off claro ao limitar o crescimento
dos ativos. Mesmo que os números possam favorecer estratégias de obtenção
de ativos para a maioria dos gestores, níveis consideráveis de coinvestimento
emitem sinais fortes para os investidores a respeito da orientação principal
dos gestores do fundo. A ideia de que um gestor de fundo acredita tão
fortemente naquele produto de investimento que chega a investir nele uma
participação pessoal considerável sugere que o gestor tem a mesma
orientação que os investidores.
O investimento de ativos pessoais lado a lado com o capital do cliente cria
um alinhamento de interesses muito poderoso. Embora o foco na
participação nos lucros tenha o poder de motivar o gestor a perseguir o
objetivo de gerar bons retornos sobre o investimento, um arranjo de
compartilhamento no qual os administradores participam dos ganhos,
apenas, pode encorajar comportamentos que visam demais ao risco. Ao
fazer um coinvestimento relevante, os gestores participam diretamente dos
lucros e dos prejuízos, o que leva a uma avaliação mais equilibrada das
oportunidades de investimento. Para obter o resultado comportamental
esperado, o coinvestimento comprometido precisa ser grande em relação ao
patrimônio líquido do gestor, mesmo que o montante seja modesto em
termos absolutos. Quando o gestor assina um cheque que representa uma
parcela material dos seus recursos pessoais, o gerente de investimento passa
a atuar no papel de diretor.
Embora o coinvestimento geralmente melhore a posição do investidor
por alinhar os interesses no investimento, cabe um exame detalhado das
diferenças nos objetivos. Gestores de fundos que pagam impostos em
sociedades com investidores institucionais que gozam de isenção tributária
defrontam-se com cenários pós-impostos diferentes. Os contribuintes
mortais operam com horizontes de tempo mais curtos do que seria o
apropriado para os fundos permanentes de uma organização longeva.
Indivíduos com investimentos de maior porte frequentemente desejam
diversi car mais do que o exigido pela maioria das instituições, que já
mantêm uma coleção de ativos bem diversi cada. Ainda que diferenças de
situação tributária, horizontes de tempo e tolerância ao risco provoquem um
afastamento entre os interesses dos gestores de fundos e os objetivos dos
investidores institucionais, os benefícios do coinvestimento relevante são
mais que su cientes para compensar os prováveis custos.
Acordos de remuneração para ativos negociáveis
A natureza dos acordos de remuneração razoáveis para os gestores de
investimento varia com o grau de e ciência na preci cação dos ativos. A
gestão passiva de títulos públicos demanda taxas diferentes daquelas
apropriadas para a gestão ativa de private equity. Para a maioria das classes
de ativos os investidores se defrontam com arranjos de cobrança
intrincados, que vão desde taxas baseadas nos ativos, para títulos e valores
mobiliários preci cados corretamente, até uma combinação de taxas
baseadas nos ativos/pagamentos de incentivo para os tipos de ativos cujos
preços são xados com menor e ciência. Como as práticas em vigor no
mercado muitas vezes se desviam das estruturas de remuneração ideais, os
investidores que pesquisam preços geralmente adotam a abordagem
pragmática de escolher a melhor opção dentre um conjunto de alternativas
ruins.
Estratégias passivas
A gestão passiva de recursos tem diferenças fundamentais em relação à
gestão ativa. O tamanho, inimigo dos investidores ativos, trabalha a favor
dos gestores de fundos de índice. Por exemplo: fundos passivos com um
grande número de investidores e ativos de bom tamanho frequentemente
oferecem oportunidades cruzadas, em que uma parte da demanda dos
investidores que estão deixando a aplicação é igual à quantidade de recursos
aportada pelos investidores que estão entrando, o que permite sair e entrar
no pool de investimentos quase sem custos*. O ganho de escala melhora o
acompanhamento de benchmarks, ao mesmo tempo em que o tamanho
maior facilita uma duplicação integral do universo de investimentos, o que
reduz a necessidade de procedimentos de amostragem que induzem a erros.
A experiência mostra que os fundos com bilhões de dólares seguem os
benchmarks sem resvalar nada ou quase nada.
O Barclays Global, uma das maiores administradoras de fundos de índice
do mundo, oferece uma grande variedade de produtos projetados para
espelhar diversos benchmarks de títulos e valores mobiliários, segregados em
grupos distintos para tipos diferentes de investidores. O maior grupo de
ativos, criado para seguir o S&P 500, contava com US$127 bilhões em 31 de
dezembro de 2006. O fundo retornou 8,46% antes das taxas, para os dez
anos anteriores, em comparação com os 8,42% registrados pelo índice S&P
500. Um outro conjunto de títulos muito menor, que tinha US$1,6 bilhão
em 31 de dezembro de 2006, mostrou resultados igualmente
impressionantes. Proporcionou retornos em dez anos de 6,33%, em relação
aos 6,26% do Government Corporate Index do Lehman Brothers.
A natureza semelhante à das commodities dos investimentos passivos faz
jus a uma remuneração também semelhante. Os gestores de fundos de
índice concorrem com a alternativa dos portfólios passivos administrados
internamente, o que derruba as taxas para irrisórios 0,02% ao ano para as
contas de clientes grandes*. Ao escolher alternativas passivas para ativos
preci cados e cientemente, os investidores esperam resultados previsíveis a
preços que são verdadeiras barganhas.
Embora haja argumentos fortes para defender a gestão passiva para todos
os títulos e valores mobiliários negociáveis, dois fatores justi cam
fortemente a gestão passiva de portfólios de títulos em particular.
Primeiramente, para cumprir a função de hedge contra a de ação
característica da renda xa, os investidores devem manter títulos de alta
qualidade, não resgatáveis e de longo prazo, o que sugere a criação de
portfólios de títulos do governo com vencimentos e duration estáveis. Em
segundo lugar, a extraordinária e ciência da preci cação de títulos públicos
torna as decisões sobre seleção de ativos um exercício inútil. A necessidade
de uma estrutura com vencimentos estáveis e a inutilidade de apostar em
títulos individuais exige que os investidores administrem os portfólios de
títulos públicos passivamente.
Apesar de os investidores de ações domésticas contarem com mais
exibilidade para estruturar portfólios do que os investidores de títulos
públicos, a di culdade de identi car erros de preci cação relevantes no
mercado de ações, especialmente entre as ações de empresas de maior
capitalização leva muitos investidores aos índices de ações ordinárias. Como
evitam as taxas mais altas e os custos de transação consideráveis, os fundos
de índice oferecem resultados de longo prazo que são uma barreira quase
intransponível para os investidores que pretendem desempenhar acima do
mercado. Ainda assim, a despeito das di culdades claras de produzir
excessos de retorno ajustados ao risco, a maioria dos investidores persegue
estratégias de gestão ativa.
Estratégias ativas
Os investidores ativos cuidadosos cam atentos aos arranjos de taxas, pois
reconhecem que elas são um grande entrave para o desempenho acima do
mercado. Administradoras ativas de títulos e valores mobiliários negociáveis
geralmente recebem taxas baseadas nos ativos em troca dos serviços de
administração de portfólios. Os interesses são coincidentes em um nível. Na
medida em que um gestor aumenta os ativos por meio de desempenhos
superiores, as duas partes (gestor e investidor) ganham, já que a receita do
gestor cresce e o retorno satisfaz o investidor. Mas em outros níveis há
con ito de interesses. O gestor pode adotar uma estratégia de “permanecer
no negócio” para proteger a receita oriunda das taxas através de uma
“indexação de armário” e manter um portfólio semelhante ao praticado no
mercado, com baixíssimas probabilidades de tirá-lo do mercado por causa
de resultados ruins. Ainda mais prejudicial é o gestor que conclui que obter
mais ativos gera mais receitas do que produzir retornos superiores.
Em ativos crescentes os gerentes simplesmente respondem aos incentivos
econômicos. Com taxas baseadas nos ativos, a receita aumenta junto com o
aumento dos ativos sob gestão. Muitas vezes os gestores acham mais fácil
acrescentar ativos atraindo contas novas do que criando excessos de retorno.
Salvo poucas exceções, os gestores de fundos perseguem atividades de
marketing, agressivamente, tentando angariar a maior quantidade de ativos
possível. Para reter os ativos é necessário evitar desempenhos desastrosos, o
que acaba levando os administradores de recursos a criar portfólios
semelhantes aos praticados no mercado, que não fazem nada além de
eliminar as chances de desempenhos superiores. A gestão do investimento
representa, na melhor das hipóteses uma preocupação secundária para a
maior parte das administradoras de fundos institucionais.
A criação de estruturas de negócio apropriadas permite aos investidores
mitigar muitos dos con itos inerentes à relação de consultoria de
investimentos. Os esquemas de taxas sensatos contêm dois elementos:
remuneração de base, que cobre o reembolso dos custos administrativos
razoáveis, e remuneração de incentivo, que recompensa o valor adicionado
por um gestor. A remuneração de incentivo, ou participação nos lucros,
representa uma parte dos retornos gerados além do benchmark adequado
para essa atividade de investimento. Os gestores de ações de empresas
domésticas de grande capitalização, por exemplo, poderiam ser
recompensados pelos retornos gerados acima do S&P 500, enquanto os
gestores de ações de empresas estrangeiras poderiam receber uma
participação nos lucros que excedessem os retornos do índice Morgan
Stanley Capital International EAFE. Estruturas de negócio justas, tão raras
na área de gestão de investimentos, encorajam os administradores de
recursos a se comportar apropriadamente.
Infelizmente, a maioria esmagadora dos gestores de títulos e valores
mobiliários negociáveis usa esquemas de taxas baseadas em ativos. Dessa
forma, os ganhos ou perdas do mercado e uxos de entrada ou saída
soterram o impacto da habilidade do gerente. Mesmo que um grupo de
gestores ofereça acordos de remuneração de incentivo atraentes, pelo menos
super cialmente, três fatores diminuem o apelo da maioria desses esquemas.
Em primeiro lugar, um volume enorme de fundos de títulos e valores
mobiliários negociáveis gera lucros principalmente a partir de taxas
baseadas em ativos. Isso incentiva os gestores a enfatizar o crescimento dos
totais de ativos. Em outras palavras, mesmo quando as empresas oferecem
arranjos de incentivo, esses arranjos não conseguem in uenciar o
comportamento do gestor de fundos porque as rmas de investimento
continuam a con ar nas receitas das taxas, expressadas como uma
porcentagem dos ativos sob gestão. Em segundo lugar, nos esquemas de
incentivo os gestores de investimento tendem a oferecer condições que
envolvem níveis modestos de risco para os uxos de receitas existentes da
empresa. Em vez de adotar uma abordagem do tipo “passar a régua” e
estabelecer uma linha de base para as taxas em um nível que cubra as
despesas administrativas razoáveis, os administradores de recursos tentam
estruturar arranjos de incentivos que garantam uxos de receitas contínuos,
mesmo com desempenhos medíocres, protegendo as margens de lucro
implícitas nas estruturas das taxas existentes. Finalmente, os investidores
que estão escolhendo entre o esquema tradicional, de taxas baseadas em
ativos, e uma estrutura orientada por incentivos, encontram uma
dissonância cognitiva, visto que as expectativas de desempenho implícitas
na contratação de um administrador ativo levam os custos esperados da
remuneração de incentivo a superar os pagamentos antecipados do esquema
tradicional (base em ativos). Embora o conceito das estruturas de
remuneração de incentivo para gestores ativos de carteiras de papéis
negociáveis carregue um grande apelo teórico, as limitações dos esquemas
do mundo real reduzem a e cácia dos esquemas de incentivo em fazer com
que os gerentes de fundo se comportem como diretores.
As taxas de administração, sejam baseadas em ativos ou orientadas por
incentivos, são uma condição contratual muito examinada na maioria das
negociações de contratos, nas quais os investidores buscam o menor encargo
possível bem como uma cláusula de “cliente vip” que assegure um
tratamento vantajoso no futuro. Sob a discussão aberta e honesta a respeito
dos pagamentos de taxas ocultam-se pagamentos de comissões em so
dollars, que nada mais são que as antigas comissões projetadas para
aumentar o uxo de caixa do consultor de investimento diretamente à custa
dos clientes investidores.
So dollars
A história dos so dollars é preocupante. Antes de 1o de maio de 1975, Wall
Street operava sob um sistema de comissões xas que estabelecia taxas
muito acima dos custos de execução das operações. As forças concorrenciais
levaram as corretoras a burlar os preços xos, dando descontos aos clientes
favorecidos na forma de so dollars. Os so dollars, que no fundo são uma
comissão do corretor para o trader, nanciaram a compra de produtos e
serviços relacionados e não relacionados aos investimentos.
Pense sobre as implicações das operações com so dollars para os
investidores. Pagar comissões in adas nas operações, independentemente
do motivo, reduz os retornos do investimento. Essa redução no retorno vem
direto do bolso do investidor. O benefício, em forma de produtos e serviços,
é auferido diretamente pelo gestor do fundo. Tendo em vista que os custos
desses produtos e serviços de outra maneira viriam da taxa de
administração do fundo, os so dollars não são nada mais que um aumento
bem-disfarçado nas taxas de administração. Wall Street se bene cia à custa
do investidor.
Um documento de divulgação da T. Rowe Price, datado de 1º de março de
2004, descreve o jogo dos so dollars: “Sob determinadas condições,
comissões de corretagem mais altas podem ser pagas em troca de serviços
de corretagem e pesquisa [...] Esses serviços podem incluir computadores e
equipamentos relacionados. A T.Rowe Price também aloca corretagem para
serviços de pesquisa que estão disponíveis para o caixa.[...] As despesas da T.
Rowe Price poderiam aumentar materialmente se ela tentasse gerar
informações adicionais através de sua própria equipe de funcionários. Na
medida em que os serviços de pesquisa de valor são prestados por corretores
ou dealers, a T. Rowe Price é aliviada das despesas que poderia ter tido”. Os
investidores aprendem com as políticas de so dollar da T. Rowe Price, por
meio das explicações legais construídas cuidadosamente nas páginas 90 e 91
de um documento de divulgação raro de se encontrar. Ainda que a T. Rowe
Price presumivelmente cumpra as exigências legais com sua divulgação, a
rma compromete os interesses dos investidores com o uso de so dollars.
Depois de 1º de maio de 1975, quando a Securities and Exchange
Commission (SEC)* aboliu o sistema de comissões xas, a razão de ser dos
so dollars desapareceu. A concorrência de preços passaria a determinar os
índices de comissionamento. As comissões “por baixo do pano” poderiam
desaparecer. Infelizmente para os investidores, os gestores de fundos
perceberam que os so dollars transferiam despesas relacionadas às
pesquisas da sua conta (receita das taxas de administração) para a conta dos
investidores (despesas operacionais). Em consequência, a indústria de
administração de recursos defendeu o uso de so dollars entusiasticamente.
Em vez de banir os so dollars, o Congresso criou, em 1975, um
verdadeiro porto seguro para o seu uso, sob a Seção 28 (e) da Lei de
Mercado de Capitais de 1934. Subvertendo uma obra legislativa elaborada
originalmente para proteger o público investidor, o Congresso se curvou à
pressão de Wall Street e permitiu explicitamente que os gestores de fundo
esgotassem os ativos do investidor, legitimando os so dollars e instruindo a
SEC a de nir seu uso correto. Por que os participantes do mercado toleram
as ine ciências envolvidas em pagar preços in ados pela negociação de
títulos e ações e depois receber descontos na forma de produtos e serviços?
A resposta está na falta de transparência do processo, que permite que os
gestores de recursos lucrem de maneira escusa. Se as cobranças de so
dollars fossem tão transparentes quanto as taxas de administração altamente
visíveis, a indústria da administração de recursos não teria uso para os so
dollars.
Quando a SEC examinou a questão do so dollar em meados da década
de 1980, a instituição não só perdeu uma oportunidade de eliminar esse
agelo como expandiu a epidemia ainda mais. Numa prosa
maravilhosamente burocrática, a comissão observou que sua deliberação de
1986 tratou a “di culdade da indústria em aplicar as normas restritivas”
sobre o uso do so dollar por “adotar uma de nição mais abrangente de
‘serviços de corretagem e pesquisa’”. Ou seja, se as restrições amarram,
afrouxe as restrições. Os regulamentos sobre so dollars que a SEC elaborou
em 1986 favoreceram o conselheiro (consultor) sobre o aconselhado
(investidor).
O presidente da comissão, Arthur Levitt, descreveu os con itos do so
dollar em um artigo para o Wall Street Journal de 15 de fevereiro de 1995:
“Os arranjos de so dollars podem criar con itos de interesse consideráveis
entre um consultor e seus clientes. Por exemplo, os consultores podem fazer
com que seus clientes paguem índices de comissionamento excessivos ou
podem movimentar demais as contas dos clientes simplesmente para
satisfazer as obrigações de so dollar. Os arranjos de so dollar também
podem ter resultados ruins quando os consultores direcionam as operações
para o corretor errado, a m de satisfazer uma obrigação de so dollar”39.
Para melhorar os con itos que cercavam as atividades de corretagem, em
fevereiro de 1995 a SEC propôs uma nova regra nos termos da Lei dos
Consultores de Investimentos de 1940, que passaria a exigir que os gestores
de investimento divulgassem em um relatório os serviços que recebiam por
comissões de corretagem. O relatório deveria relacionar as vinte corretoras
para as quais o consultor direcionou os maiores volumes de comissões
durante o ano anterior; as três maiores corretoras, apenas em termos de
execução; o montante total de comissões direcionado pelo consultor a cada
corretora e o índice de comissionamento médio pago a cada corretora. A
divulgação permitiria a um cliente avaliar os custos e os benefícios dos
serviços de so dollar que o consultor recebe e, consequentemente, se o
cliente deveria tentar limitar o uso dessas corretoras de so dollar.
Infelizmente, nenhuma ação resultou dessa proposta.
Apesar das preocupações públicas do presidente Levitt com os so dollars,
a SEC falhou novamente ao não proteger os investidores de fundos mútuos
em 1998. O Relatório de Inspeção do regulador observa, secamente, “o uso
largamente difundido de so dollars”, já que “quase todos os consultores
obtêm produtos e serviços que não sejam a pura execução corretor-dealer e
usam as comissões de clientes para pagar por aqueles produtos e serviços”. O
relatório reconhece que “os consultores que usam so dollars se defrontam
com um con ito de interesse entre sua necessidade de obter pesquisa e os
interesses de seus clientes em pagar o menor índice de comissionamento
disponível e obter a melhor execução possível”. O relatório detalha vários
exemplos de uso questionável e abuso indiscutível dos so dollars, incluindo
o pagamento “de aluguel de escritório e equipamentos, serviços de telefonia
celular e despesas pessoais, salários de empregados, despesas de marketing,
custos legais, diárias de hotéis e aluguel de carros”. A de nição de Wall Street
do termo “pesquisa” tem pouquíssima correspondência com a dos
dicionários.
A despeito do con ito de interesses fundamental e irreconciliável no uso
do so dollar e apesar da antiga ladainha dos abusos nessa questão, o
Relatório de Inspeção de 1998 conclui apenas que a SEC “deve reiterar e
fornecer orientações adicionais, considerar a adoção de exigências de
manutenção de registros, requerer divulgações mais signi cativas e
incentivar as empresas a adotar controles internos”. Em vez de proteger os
interesses do investidor, a SEC defendeu o trem da alegria de Wall Street.
Apesar de o conteúdo do relatório de inspeção de 1998 defender a
abolição, a SEC não mostrou a força que deveria. Diante de um esforço de
lobby orquestrado pelas partes interessadas – incluindo administradoras de
recursos, empresas de Wall Street e a normalmente sensível associação
comercial dos analistas de pesquisa – e da falta de pressão por parte dos
investidores individuais, o autodenominado “advogado do investidor” optou
por apertar a regulação em vez de escolher o caminho certo da erradicação
total. Um cínico poderia dizer que os atos da SEC objetivaram proteger o
investidor, o que é muito visível e fácil de compreender, embora tenha
permitido que os abusos escusos e difíceis de compreender continuassem.
Um dos usos “legítimos”de so dollars mais ultrajantes envolve os
pagamentos feitos pelas administradoras de investimentos a consultores. De
acordo com o relatório da SEC de 1998, os serviços de atribuição de
desempenho constituem “uma parcela signi cativa dos dólares totais de
comissionamento usados em transações de so dollars”40. Obviamente,
qualquer gestor de investimento competente desenvolve habilidades internas
para compreender as fontes dos retornos dos investimentos, criando
mecanismos de avaliação especí cos para a abordagem particular da
empresa aos mercados. Comprar análises de atribuição de desempenho de
consultores serve apenas para forrar os bolsos da rma de consultoria à
custa dos clientes do gestor de investimento. Presumivelmente, o consultor
que recebe o pagamento coloca o gestor de investimento em uma posição
privilegiada ao fazer recomendações a ele. Embora os gestores de recursos
possam desejar um posicionamento melhor ao comprar informações inúteis
dos consultores, usar os recursos do cliente para tal nalidade transforma a
inutilidade em infâmia.
Alguns gestores de investimento precisam de tanta ajuda para avaliar o
desempenho que chegam a comprar relatórios de várias consultorias. O
estudo da SEC cita uma grande administradora de fundos institucionais que
“direcionou US$882.000 em comissões de clientes para pagar por 13 análises
de desempenho distintas”. De acordo com um relatório sobre Pensões e
Investimentos, a J&W Seligman & Co., uma empresa de administração de
recursos com US$24,3 bilhões sob gestão, contratou sete empresas de
consultoria para fornecer relatórios de atribuição de desempenho, usando
recursos dos clientes para nanciar a compra através de so dollars41. Ao
pagar quantias consideráveis à Callan Associates (US$79.000), Evaluation
Associates (US$100.000), Frank Russell (US$26.789), Madison Portfolio
Consultants (US$17.500), SEI Corporation (US$10.000), Wellesley Group
(US$52.500) e Yanni-Bilkey Investment Consulting (US$25.000), a J&W
Seligman sem dúvida esperava receber um tratamento diferenciado na
próxima busca conduzida pelos consultores envolvidos. Os pagamentos
desonram todos os envolvidos.
Além do uso “legítimo” de so dollars para “angariar favores com os
consultores em seus rankings e recomendações”, quase 30% das
administradoras de investimentos empregam so dollars para “produtos e
serviços não relacionados a pesquisa”. As compras, que cam de fora do
porto seguro, incluem usar so dollars para aluguel de escritório,
equipamentos, despesas de marketing, serviços telefônicos e salários. A SEC
observou que “praticamente todas as empresas que obtiveram produtos e
serviços não relacionados à pesquisa tinham deixado de prestar informações
signi cativas sobre tais práticas a seus clientes”42. Além de usar uma fonte
de fundos ilegítima para despesas de negócios legítimas, muitas empresas
ultrapassaram qualquer limite, desviando fundos para usos pessoais,
incluindo a compra de viagens, entretenimento, entradas para teatro,
serviços de limusine, projetos de decoração de interiores, projeto e
construção de sites de internet, equipamentos de informática, computadores
e sowares. No abuso de so dollars mais agrante, a administradora de
investimentos defraudou os clientes ao direcionar ostensivamente “fundos
para, palavras literais, ‘pesquisa regional’ e ‘planejamento estratégico’ de
membros da família do diretor”, transferindo so dollars através de várias
companhias controladas em cascata pelo presidente do empresa e pagando
“passagens aéreas de ida e volta para o lho do diretor viajar para Hong
Kong”. Mesmo que os so dollars não tenham provocado o roubo, a falta de
transparência do esquema facilitou os crimes.
Alguns clientes bene ciam-se de um aspecto diferente do sistema atual de
atividades relacionadas com comissionamento, usando em seu favor a
natureza obscura da corretagem dirigida. Com a corretagem dirigida, os
patrocinadores do plano levam as operações a serem executadas por
corretores especi cados, pagando índices de comissionamento acima do
mercado. Uma parcela do valor acima do mercado retorna ao patrocinador
do plano na forma de descontos em dinheiro ou de bens e serviços
relacionados ao investimento. Dois fatores motivam a atividade de
corretagem dirigida – os investidores da corretagem dirigida ganham uma
vantagem, em detrimento dos clientes cuja corretagem não é dirigida, e os
patrocinadores do fundo usam os descontos da corretagem dirigida para
comprar produtos e serviços que não estariam disponíveis por meio dos
canais de aquisição normais.
Os administradores de investimento geralmente agrupam as operações
em várias contas distintas, alocando as ações nas contas em uma base pro
rata. Se um cliente pedir que a corretagem seja dirigida a uma sociedade
corretora especí ca, a m de receber um desconto em dinheiro, aquele
cliente estará auferindo um benefício injusto em relação aos outros clientes.
De fato, o cliente que “sair fora” da operação agregada provavelmente se
bene ciará implicitamente de toda a corretagem conduzida pela
administradora de recursos na corretora designada. Esses esquemas só
existem enquanto continuam escondidos. Caso revelados, os clientes
prejudicados exigiriam um tratamento equitativo.
Alguns investidores, especialmente no ambiente político ou corporativo,
fracassam ao não obter sustentação direta su ciente para as operações de
administração de investimentos. Para aumentar as apropriações diretas, a
equipe de funcionários de investimentos às vezes usa programas de
corretagem e so dollar, gerando recursos externos às apropriações regulares
ou aos canais operacionais.
Diante de um grupo de trabalho dedicado à questão do so dollar (Labor
Working Group on So Dollars and Commission Recapture), o ex-diretor
da Divisão de Investimentos do Estado de Nova Jersey testemunhou
abertamente que “ele utiliza so dollars para pagar pelas despesas
administrativas necessárias”, já que “não recebe nanciamento su ciente da
Assembleia Legislativa do estado de Nova Jersey”. Na verdade, o ex-diretor
argumentou insistentemente que “a interpretação atual de ‘pesquisa’ deveria
ser expandida para incluir despesas de viagens e hotéis”43. Os so dollars
oferecem um mecanismo conveniente para a Divisão de Investimentos de
Nova Jersey para burlar as restrições impostas pela Assembleia Legislativa
do Estado, permitindo que a operação do investimento frustrasse o
planejamento dos representantes eleitos.
Em abril de 2007, o presidente da SEC, Christopher Cox, juntou sua voz
ao coro que pedia a reforma do so dollar. Em um discurso ao Fórum de
Diretores de Fundos Mútuos, Cox a rmou:
Negociando a mudança
Apesar de as práticas estabelecidas desde longa data limitarem a capacidade
de os investidores de negociarem condições comerciais justas, no início da
década de 1990 a indústria imobiliária apresentou uma oportunidade de
reestruturação radical. Nos anos 1980, depois de, imprudentemente, atirar
quantias absurdas de capital em imóveis, as instituições praticamente se
retiraram do mercado após o colapso nos preços. Aqueles poucos
investidores interessados em comprometer os fundos se viram diante de
alternativas de investimento nada atrativas.
As consultoras de investimento de grande porte, orientadas por taxas,
dominaram as atividades imobiliárias institucionais nos anos 1980.
Empresas como AEW, Copley, Heitman, JMB, LaSalle, RREEF e TCW
acumularam bilhões de dólares em ativos, impulsionadas pelo uxo
constante de vários tipos de taxas (aquisição, administração e colocação).
Não é surpresa que a comunidade de consultoria imobiliária tenha adotado
um foco superde nido em iniciar, manter e reforçar uxos de receitas de
taxas, muitas vezes negligenciando até mesmo considerar a noção de gerar
retornos de investimento para os clientes.
•••
CONCLUSÃO
A e ciência do mercado cria obstáculos consideráveis para os investidores
que buscam estratégias de gestão ativa e impede a maior parte deles de
conseguir até mesmo reproduzir os resultados dos benchmarks do mercado.
Embora seja difícil e custoso tentar suplantar o mercado, os duciários
muitas vezes aceitam as demandas dos gestores ativos pelo valor de face,
atribuem o sucesso do investimento à habilidade (e não à sorte) e não
conseguem ajustar os resultados ao risco. Diante dos obstáculos da gestão
ativa, os atores do mercado respondem às emoções e à excitação geradas por
um jogo em que os pontos correspondem a milhões e até a bilhões, o que
explica a busca quase universal de estratégias ativas pelos investidores
institucionais.
Investidores cuidadosos preferem uma abordagem bastante cética das
oportunidades de gestão ativa e partem da premissa que os gestores não têm
nenhuma habilidade especial. Vale a pena investigar a fundo o desempenho
histórico, já que os observadores argutos sabem que a sorte tem um papel
importante nos registros de retornos bem-sucedidos. As probabilidades de
ganhar o jogo da gestão ativa são maiores quando se comprometem os
recursos com gestores que possuem uma “vantagem” que provavelmente
levará a desempenhos superiores em mercados extremamente competitivos.
Escolher as pessoas certas para gerenciar os ativos é o desa o individual
mais importante a ser vencido pelos administradores, já que integridade,
inteligência e energia in uenciam os resultados do portfólio da maneira
mais fundamental. As ações dos gestores de recursos contribuem não só
para o desempenho dos investimentos, mas também para a reputação da
própria instituição e para a percepção que o público tem dela. Isso força os
duciários a seguir padrões de excelência na seleção do gestor.
Uma estrutura organizacional adequada é parte integrante da execução
programas de investimento bem-sucedidos, pois garante um alinhamento de
interesses su ciente entre o fundo institucional e o consultor externo.
Gestores de recursos independentes, com incentivos econômicos
estruturados com a devida atenção, têm as maiores chances de produzir
altos retornos ajustados ao risco, pois os incentivos corretos levam os
gestores a colocar os objetivos institucionais à frente de suas questões
pessoais. Embora condições comerciais bem-elaboradas e atributos
organizacionais razoáveis contribuam para aumentar as probabilidades de
sucesso, até os arranjos construídos com o maior cuidado falham quando
são implementados pelas pessoas erradas.
As companhias de per l empreendedor são as que têm maior
probabilidade de lidar bem com as dinâmicas de mudanças contínuas tão
características dos mercados, e são as que, no nal das contas, oferecem as
maiores chances de entregar retornos de investimento superiores.
Infelizmente, as empresas de sucesso contêm as sementes de sua própria
destruição, na medida em que o aumento de tamanho inibe o desempenho e
o avanço da idade mina a energia. Os administradores alertas estão sempre
prontos para abater os velhos e cansados, ao mesmo tempo que identi cam
os novos e energéticos.
As estruturas comerciais são elementos críticos que moldam o
comportamento dos gestores de investimento e determinam o grau de
imparcialidade a ser empregado na alocação dos lucros e dos prejuízos nos
investimentos. Ao incentivar os administradores de recursos a se comportar
como diretores, as condições comerciais corretas motivam os investidores a
buscar ganhos de investimento e tirar o foco exclusivo dos uxos de receitas
de taxas que reduzem os retornos.
Os acordos de remuneração típicos fazem com que a renda do gestor
dependa de fatores que estão além do controle do gestor de recursos. À
medida que os ganhos do mercado altista in acionam os portfólios de
títulos e valores mobiliários e aumentam os ativos de fundos privados os
gestores ganham com o aumento das taxas e participações nos lucros. As
perdas dos mercados baixistas impõem custos que não estão relacionados
com as ações do gestor. Em ambos os casos – estruturas de operações
negociáveis ou privadas – a remuneração dos consultores de investimento
aumenta e diminui ao sabor dos mercados e os uxos resultantes não têm
conexão direta com o nível de valor criado.
Ao operar sob acordos de remuneração baseados em ativos, que não
consideram medidas de valor adicionado, os gestores de investimento
perdem o foco na geração de retorno e, em vez disso, enfatizam uma
estratégia de permanecer no negócio pensada para proteger os uxos de
receitas oriundas de taxas. Devido, em parte, a estruturas comerciais pobres,
os acordos de remuneração padrão alocam ganhos e perdas dos
investimentos de maneira injusta e muitas vezes enriquecem o gestor,
enquanto geram retornos ajustados ao risco abaixo dos padrões para aqueles
que forneceram os recursos.
Condições comerciais corretas servem para incentivar os gestores dos
fundos a se comportar como diretores, levá-los a perseguir os lucros e evitar
as perdas. Entre as características estruturais que têm um papel importante
no alinhamento dos interesses do gestor e do investidor destacam-se: a
natureza do veículo de investimento, o nível de taxas, a forma da
remuneração de incentivo e o tamanho do coinvestimento do gestor. Ao
buscar arranjos de investimento que motivem os gestores a perseguir níveis
elevados de ganhos ajustados ao risco do portfólio, os investidores
incentivam um foco na geração de resultados de investimento satisfatórios.
Os investidores que esperam derrotar as probabilidades jogando o jogo da
gestão ativa enfrentam obstáculos intimidadores que vão desde a e ciência
na preci cação da maioria dos títulos e valores mobiliários negociáveis até a
cobrança de taxas pesadíssimas em grande parte dos veículos de
investimento em ativos alternativos. Somente identi cando pessoas muito
bem quali cadas que operem em uma organização estruturada da forma
correta os investidores ativos terão alguma chance de adicionar valor ao
processo de investimento. Identi cação dos interesses e participações
(inclusive nos prejuízos), estruturação cuidadosa e paciência para
implementar relacionamentos com gestores de investimento formam as
bases essenciais para um programa de gestão ativa.
10
Processo de investimento
Estruturar um portfólio consistente com os princípios fundamentais do
investimento requer um processo de governança que produza políticas
apropriadas para aquele portfólio, evite market timings contraprodutivos e
identi que relacionamentos e cazes com gestores de investimentos. Uma
das decisões de gestão de portfólio mais críticas é a escolher entre (a)
desenvolver uma organização com a capacidade de selecionar gestores ativos
de alta qualidade ou (b) elaborar uma estratégia com ênfase em veículos
essencialmente passivos. Embora escolher uma abordagem ativa amplie o
conjunto de oportunidades de classes de ativos e prometa retornos acima do
mercado, as estratégias ativas exigem um comprometimento de recursos
signi cativo. As instituições que se engajam na gestão ativa sem o suporte
adequado enfrentam a dura perspectiva de gerar resultados decepcionantes
para elas mesmas e criar oportunidade para outros investidores mais bem
preparados.
Dois princípios importantes da gestão de investimento – pensamento
contrário (contrarian thinking) e orientação para o longo prazo – são
especialmente desa adoras para a governança de fundos de endowment.
Como as grandes organizações burocráticas, invariavelmente, usam grupos
de pessoas (comitês de investimento) para supervisionar outros grupos de
pessoas (equipe de investimentos), a construção do consenso permeia o
processo de investimento. Salvo quando controladas com muito cuidado, as
dinâmicas de grupo muitas vezes frustram as ideias divergentes e impõem
horizontes de tempo mais curtos do que o ótimo. Criar um processo de
governança que incentive o pensamento a longo prazo, independente e
contrário, representa um empreendimento fundamental para as instituições
dotadas de endowments.
Na Teoria geral do emprego, do juro e da moeda, John Keynes descreve as
di culdades inerentes à tomada de decisão de investimentos em grupo:
AMBIENTE OPERACIONAL
Para produzir um portfólio de alto nível, gerenciado de maneira ativa, as
organizações de gestão de investimentos necessitam de uma equipe sólida de
bons funcionários, supervisionada por um comitê de investimentos que
trabalhe bem. Comitês de investimento e cazes supervisionam a equipe de
funcionários da forma esperada, com o cuidado de não impingir a eles
responsabilidades excessivas. Limitar as reuniões do comitê a quatro por
ano impede que os administradores se envolvam demais nas decisões de
gestão do portfólio e ainda permite que a equipe receba as devidas
orientações do comitê. Ao presumir que as iniciativas vêm da equipe de
funcionários, e não dos membros do comitê, a responsabilidade pela
natureza e a condução do programa de investimentos recai perfeitamente
sobre os ombros do departamento de investimentos. Em resumo, o comitê
de investimentos deve fazer o papel de um conselho de administração para
as operações de gestão do fundo.
Comitê de investimentos
Um comitê de investimentos forte traz disciplina para o processo da gestão
do endowment. Ao investigar inteira e atentamente as recomendações de
investimento, o comitê inspira a equipe a produzir propostas avaliadas com
cada vez mais atenção e dedicação. O ideal seria que os comitês raramente
exercessem o poder de rejeitar as recomendações da equipe de pro ssionais.
Se um comitê recusar ou revisar as propostas de investimento com muita
frequência, os pro ssionais vão encontrar di culdades em administrar o
portfólio. As oportunidades de investimento geralmente requerem que se
negociem os comprometimentos sujeitos à aprovação do conselho. Se o
conselho nega a aprovação com uma certa regularidade, a equipe de
funcionários perde credibilidade aos olhos da comunidade de administração
de recursos. Em razão do exposto acima, o comitê deve fazer mais que
simplesmente “carimbar” as recomendações da equipe. Em uma organização
bem dirigida, a discussão do comitê sobre as propostas de investimentos
in uencia a condução e a natureza das iniciativas futuras da equipe de
pro ssionais. Uma gestão de portfólio e caz exige que se atinja um
equilíbrio entre o respeito pela autoridade máxima do comitê de
investimentos e a delegação de um nível de responsabilidade razoável à
equipe de funcionários de investimento.
Os membros do comitê frequentemente prestam assistência entre as
reuniões, devolvendo feedbacks sobre as ações passadas e sugerindo
estratégias para o futuro. Essa troca promove o diálogo sobre os
investimentos, o que desa a a equipe e o comitê a melhorar a qualidade do
processo de tomada de decisão.
Os membros de comitê de investimentos devem ser escolhidos
principalmente pela capacidade de julgamento. Embora não exista um
antecedente especí co que quali que um indivíduo a ocupar um cargo no
comitê, uma compreensão abrangente dos mercados nanceiros se revela
útil na supervisão do processo de investimento. Reunir um time de
especialistas em investimentos às vezes é perigoso, especialmente quando os
membros de comitê tentam controlar o portfólio e não o processo. Os
executivos de sucesso trazem pontos de vista valiosos para a discussão,
desde que suspendam sua inclinação natural por recompensar sucessos e
punir fracassos. O instinto corporativo, às vezes profundamente enraizado,
de perseguir portfólios vencedores e evitar os perdedores conduz a
estratégias arriscadas, ditadas pelo momento e distantes de oportunidades
que são contrassenso (contrarian) e potencialmente mais rentáveis. Os
membros mais efetivos do comitê de investimentos compreendem a
responsabilidade de supervisionar o processo de investimento e dar suporte
à equipe de pro ssionais de investimento, ao mesmo tempo que evitam
gerenciar realmente o portfólio em si.
Equipe de investimentos
Equipes de investimento sólidas conduzem o processo de gestão do
portfólio. Quer esteja lidando com questões mais genéricas de alocação de
ativos e políticas de gastos ou com questões especí cas como gestão do
portfólio e seleção de gestores, a equipe precisa montar um caso
fundamentado e persuasivo para adotar um determinado curso de ação. A
defesa não deve comprometer a divulgação, pois as fraquezas reais e
potenciais precisam ser descritas e discutidas inteiramente. A desonestidade
intelectual revela-se fatal para o processo de investimento.
Sem um processo disciplinado para articular as recomendações de
investimentos a tomada de decisão tende a tornar-se informal, até casual. No
caso das decisões sobre alocação de ativos, a equipe realiza uma análise
e caz que estabelece e articula uma estrutura intelectual coerente a partir da
qual as recomendações bem-fundamentadas uem. No exemplo das
decisões individuais do gestor, uma avaliação rigorosa de todos os aspectos
da oportunidade de investimento, incluindo uma due diligence completa
sobre a qualidade dos diretores da empresa de investimentos, serve como
uma pré-condição essencial para comprometer os recursos.
Recomendações por escrito são um meio particularmente útil de
comunicar ideias de investimento. O processo de elaboração de
memorandos muitas vezes expõe as falhas lógicas ou lacunas no
conhecimento. A consciência de que um público crítico, composto por
colegas e membros do comitê, revisará os memorandos de investimento
estimula a exposição lógica e detalhada das propostas. Documentos
completos sobre questões de investimentos servem como um antecedente
comum para a equipe e os membros do comitê, e são um elemento de apoio
de alta qualidade para discussão nas reuniões.
As melhores decisões vêm de grupos de tomada de decisão internos e
pequenos, formados por não mais que três ou quatro pessoas. À medida que
o número de pessoas envolvidas em uma decisão aumenta, cresce a
probabilidade de haver um consenso convencional onde algumas partes
tenham que ceder. Obviamente, com uma equipe de pro ssionais grande, o
mesmo grupo pequeno de pessoas não precisa tomar todas as decisões. Por
exemplo, as recomendações para classes de ativos diferentes podem ser feitas
por grupos distintos, preservando o princípio da tomada de decisão por
grupos pequenos e permitindo que as organizações contratem os recursos
humanos necessários para lidar com a complexidade crescente do portfólio
e o aumento nos níveis de ativos.
As organizações de investimento bene ciam-se da renovação constante
proporcionada pela incorporação de pro ssionais jovens. Sua energia, seu
entusiasmo e suas perspectivas revigoradas impedem que a empresa crie
bolor. O processo de aprendizagem bene cia o aprendiz e o treinador, pois o
processo de ensino bene cia o estudante e o professor. O economista de Yale
James Tobin observa: “Eu nunca deixo de aprender, com os próprios
estudantes e com a disciplina de apresentar-lhes ideias de forma clara”. Em
uma organização bem-estruturada, as novas contrações provocam um
impacto logo na chegada. Empurrar a responsabilidade para baixo em uma
organização melhora o desempenho e aumenta a satisfação.
Características organizacionais
Os grupos fortes de gestão de investimentos compartilham uma série de
características, sendo que contar com grandes pessoas é o elemento
individual mais importante. Em outubro de 1987, o secretário do Tesouro,
Henry Paulson, na época executivo sênior na Goldman Sachs, falando na
Escola de Administração de Yale, mostrou que indivíduos de alta qualidade
gravitam em direção a entidades que operam na vanguarda, adotam
estratégias globais, oferecem oportunidades de usufruir do aconselhamento
de mentores e incentivam a aceitação de responsabilidades signi cativas no
início da carreira.
As organizações de vanguarda fazem suas escolhas a partir de um
conjunto de oportunidades mais amplo. Ao examinar alocações de ativos
não tradicionais, os investidores melhoram as possibilidades de encontrar
um mix de portfólio bem adaptado às necessidades da instituição. Avaliando
alternativas fora dos investimentos comuns, os investidores aumentam a
probabilidade de descobrir o próximo grande vencedor antes que ele se
transforme no próximo grande estouro. Ao avaliar gestores sem a lista de
requisitos de características institucionais, os investidores realçam as
probabilidades de descobrir um grupo altamente motivado e atrativo de
sócios. Operar na periferia das normas institucionais padrão aumenta as
oportunidades de sucesso.
Uma perspectiva global facilita a compreensão das alternativas de
investimento e fornece um contexto valioso para avaliar até a oportunidade
doméstica mais simples. Além de melhorar a estrutura de tomada de decisão
de um investidor, o alcance global aumenta o escopo das escolhas de
investimento, realçando a possibilidade de identi car opções melhores.
Obviamente, junto com a gama expandida de possibilidades vem o maior
potencial de falha. Os compromissos no exterior acarretam níveis de risco
inerentemente mais altos, pois a disponibilidade das informações e a
profundidade do entendimento quase sempre perde em comparação com as
alternativas conhecidas do mercado doméstico.
O aconselhamento especí co de mentores proporciona um treinamento
essencial para os funcionários novos, pois os indivíduos assimilam os
princípios de gestão de investimento principalmente através da experiência.
Embora o treinamento acadêmico seja uma base necessária, os aspirantes a
investidor aprendem melhor enquanto frequentam a capacitação,
bene ciando-se da exposição diária aos pensamentos e às ações de colegas
experientes.
Dar responsabilidades aos membros novatos, logo no início da carreira,
desa a todos os membros de uma organização de investimentos a espalhar
as habilidades críticas por todo o grupo. Transmitir os princípios-chave aos
colegas mais jovens amplia o impacto dos atores mais seniores, ampliando o
escopo do alcance de uma organização e o conjunto de suas realizações.
Como benefício, o processo de treinamento reforça e renova o compromisso
de todos os participantes com as principais crenças sobre investimentos do
grupo.
Embora tanto as organizações quanto os indivíduos se bene ciem do
paradigma de Paulson de uma instituição de vanguarda, orientada
globalmente, que fornece aconselhamento de seus mentores e
responsabilidade desde cedo, as organizações de investimento bem-
sucedidas necessitam de uma dimensão adicional. A maioria das operações
prospera ao adotar uma abordagem convencional e comedida da
administração. O sucesso na gestão de investimentos exige uma
compreensão não convencional dos mercados, vista de fora da “manada”.
O pensamento independente contribui para a tomada de decisões de
investimento acertadas. Os patrocinadores de planos grandes e burocráticos
são um exemplo das práticas contraprodutivas em que as técnicas-padrão de
busca de gestores de investimento excluem quase todos os gestores
interessantes da avaliação. Ao distribuir “chamadas para propostas” que
pedem para preencher quantidades enormes de informações, os burocratas
encorajam o tipo de gestor errado a se candidatar. Os questionários, que
parecem intermináveis – incluem critérios de níveis mínimos de
desempenho histórico, volume de ativos e anos de experiência – garantem
uma gestão convencional e sem imaginação, fadada ao insucesso. Enquanto
o processo burocrático praticamente garante resultados fracos, o trabalho
dos burocratas se mostra seguro, já que pilhas enormes de papel protegem
cada decisão de investimento. Faltam às burocracias a imaginação e a
coragem de perseguir caminhos não convencionais, essenciais para
construir um programa de investimentos bem-sucedido.
O autoconhecimento é imprescindível na análise de investimentos.
Obviamente, entender quais são suas forças e explorá-las contribui para o
desempenho. Reconhecer fraquezas e lidar com elas de maneira efetiva é um
fator menos óbvio. A avaliação nua e crua das vantagens e desvantagens
absolutas e comparativas aumenta as chances de apoiar vencedores e evitar
perdedores.
Discutir as falhas e os sucessos de modo franco e aberto gera feedbacks
essenciais para a melhoria da tomada de decisão. Ao compreender suas
falhas, os investidores podem evitar cometer o mesmo erro no futuro. A
análise das vitórias traz chaves que abrem as portas para os sucessos futuros.
Por outro lado, procurar culpados cria uma atmosfera que desanima os que
assumiriam novos riscos e prejudica muito o processo de investimento. De
modo totalmente diferente, as culturas de investimento bem-sucedidas
incentivam os pro ssionais a encontrar novos erros para cometer, em vez de
simplesmente repetir os erros do passado.
Oferecer um ambiente em que o custo da falha é baixo incentiva a
experimentação e permite que os investidores assumam riscos bem
avaliados, inteligentes, sabendo que as perdas não ameaçam suas carreiras.
O tipo de comportamento arrojado necessário para ser realmente bem-
sucedido nos investimentos produz sua parte de perdas.
Considere os números da equipe de investimentos de Yale responsável
pelo histórico espetacular da universidade ao longo das ultimas duas
décadas. Em todos os casos em que Yale lançou uma grande iniciativa de
investimento (por exemplo, retorno absoluto, imóveis, madeira, petróleo e
gás, aquisições, venture capital, private equity internacional, gestão ativa de
ações domésticas e estrangeiras), a brilhante equipe de investimento
inicialmente apoiou um gestor que não passou no teste do tempo. Ainda
assim, em todos eles, as iniciativas (implementadas por um grupo
melhorado de gestores) contribuíram enormemente para o sucesso dos
investimentos. Encorajar a experimentação e tolerar as falhas são
precondições necessárias para desenvolver estratégias vencedoras.
O clima de coleguismo é fundamental para criar e manter um ambiente
adequado. Colegas de trabalho que incentivam e apoiam ajudam a diminuir
os sentimentos de vulnerabilidade experimentados pelos pro ssionais
depois dos fracassos frequentes comuns até nos programas de investimentos
mais bem-sucedidos. Colegas compreensivos tiram um pouco da dor dos
erros e ajudam a seguir na busca contínua por oportunidades de
investimento arriscadas.
Os investidores de sucesso operam fora da zona de conforto dos
investimentos comuns. Nos ambientes institucionais que prezam pela
conformidade, a busca por oportunidades de investimento potencialmente
recompensadoras exige uma liderança intelectual forte. Sem isso, as decisões
gerenciais não se elevam acima dos padrões burocráticos normais e
produzem resultados previsivelmente medíocres. Ao estabelecer uma
estrutura de tomada de decisão que incentive as ações arrojadas e
controversas, um líder e caz assenta as bases para um programa de
investimentos bem-sucedido.
ESTRUTURA ORGANIZACIONAL
A natureza não lucrativa do processo de governança dos investimentos
mudou dramaticamente com o passar do tempo. Décadas atrás, os trustees
geralmente escolhiam ativos individuais em reuniões regulares que
ocorriam trimestralmente. Os portfólios, bem simples, continham
relativamente poucas posições, o que permitia que fossem analisados e
revistos em algumas horas. Os comitês de nanças formados por “titãs da
indústria” muitas vezes contribuíam com conhecimentos diretos e úteis a
respeito das participações acionárias individuais.
Nos anos 1960 e 1970, a estrutura padrão de gestão de portfólio envolvia
um punhado dos gestores de recursos que, tipicamente, buscavam mandatos
equilibrados e demandavam pouco dos responsáveis duciários. As questões
de governança eram semelhantes àquelas que confrontam os trustees que
administram portfólios pequenos. Em vez de monitorar dezenas de ativos
individuais, os membros de comitê de investimento acompanhavam e
avaliavam um grupo limitado de gestores de recursos. Como os gestores
investiam principalmente em ações de empresas familiares e mercados
domésticos, o processo cou confortável para os trustees e também para a
equipe.
Nas últimas décadas, as demandas colocadas sobre as equipes e os trustees
se multiplicaram, junto com o aumento no número de classes de ativos
institucionais e a correspondente explosão no número de administradoras
de recursos especializadas. À medida que os trustees tiveram que lidar com
uma complexidade maior no mundo dos investimentos, passaram a
encontrar questões profundamente mais variadas e sérias na condução das
instituições sem ns lucrativos. Consequentemente, muitas instituições vêm
dedicando o tempo e a atenção adequados à gestão dos investimentos.
A estrutura de organizações de investimentos muitas vezes falha ao não
conseguir acompanhar as mudanças no mundo exterior. Em muitos casos,
as instituições continuaram enraizadas no passado, dedicando recursos
insu cientes à gestão dos ativos nanceiros. A gestão dos endowments
sofreu nas circunstâncias incomuns em que o tesoureiro gastava apenas uma
fração da semana de trabalho supervisionando centenas de milhões de
dólares. Não montar uma equipe de apoio adequada pode ser classi cado
como uma economia boba, que não faz sentido. Para cada 1% por ano
somado aos retornos dos investimentos, um endowment de meio bilhão de
dólares gera, anualmente, um incremento de cinco milhões de dólares. Os
custos de uma organização de investimentos de alta qualidade praticamente
somem em comparação com os resultados melhorados.
Atrair e remunerar pro ssionais quali cados é um desa o para as
instituições sem ns lucrativos. No setor privado, os pro ssionais de
serviços nanceiros ganham quantias desconcertantes. Exatamente o
contrário é o caso da maioria dos empregados de empresas sem ns
lucrativos, que ganham muitíssimo menos do que seus companheiros de
empresas que visam ao lucro. A combinação da faixa salarial abaixo do
mercado praticada pelas empresas sem ns lucrativos e as remunerações
extraordinárias encontradas no setor privado cria uma tensão divisória
potencial na comunidade que não visa ao lucro.
USO DE INTERMEDIÁRIOS
Em um esforço para adotar um programa de gestão ativa sem comprometer
o tempo, a energia e os recursos necessários, muitas instituições escolhem
um atalho: usar um fundo de fundos ou um consultor. Infelizmente, usar
agentes externos (em vez de uma equipe de investimentos interna) é um
caminho que leva a resultados subótimos, porque os interesses do
administrador do fundo de fundos ou do gestor de recursos inevitavelmente
divergem dos interesses do investidor institucional.
O entendimento profundo dos mercados, baseado na interação
signi cativa entre os duciários e os gestores de recursos dá uma base mais
sólida para o sucesso dos investimentos. Acionar um administrador de
fundo de fundos ou contratar um consultor coloca um ltro entre aqueles
encarregados com a responsabilidade pelos ativos e aqueles que tomam as
decisões de investimento. Sem a con ança engendrada pela compreensão
total das ações do gestor e das oportunidades do mercado, os investidores
julgam a competência dos agentes externos principalmente pelos números
do desempenho, que são medidas insu cientes, pouco con áveis e, às vezes,
perversas. Os riscos associados a administradores distanciados dos gestores
de investimento exigem que se analise o fundo de fundos e os arranjos de
consultoria com ceticismo.
Fundo de fundos
O serviço que os gestores de fundos de fundos prestam é o de tomar as
decisões de investimento no lugar dos agentes duciários. Ao agrupar os
ativos, normalmente provenientes de investidores menos so sticados, o
fundo de fundos demonstra que economias de escala permitem que a equipe
de pro ssionais administre as verbas de forma institucional. As empresas
gestoras de fundo de fundos variam desde aquelas interessadas em prover
um balcão de produtos variados até aquelas focadas em nichos especí cos,
incluindo quase todas as classes de ativos imagináveis.
Ao prestar serviços de seleção de gestores e de monitoramento, os fundos
de fundos da base mais ampla dão a entender que são um meio para facilitar
o acesso de organizações menores às estratégias de investimento so sticadas
que, de outra maneira, não estariam disponíveis. Organizações maiores às
vezes esperam usar os fundos de fundos para ganhar exposição aos nichos
de mercado com os quais não estão familiarizadas.
Apesar dos supostos benefícios de usar o fundo de fundos, riscos
substanciais decorrem da imposição de um ltro entre o gestor de
investimentos e o cliente nal. Não obstante o nível de divulgação de
informações praticado pela administradora do fundo de fundos, a
transparência na relação de gestão de investimento cai drasticamente. Os
clientes que não podem ou não querem entender as características básicas
do administrador con am unicamente no desempenho para avaliar as
estratégias de investimento. Quando os resultados decepcionam, os clientes
se questionam a respeito não só dos gestores de investimento como também
da competência do consultor do fundo de fundos.
Diante de desempenhos insatisfatórios, o cliente perde os benefícios
associados à delegação de responsabilidade ao administrador do fundo de
fundos. Para compreender a fonte dos resultados ruins, é necessário
investigar os fundamentos das organizações de gestão de investimento, uma
tarefa que o duciário deseja evitar. Sem a subscrição de todos os gestores
participantes aos clientes não resta alternativa a não ser reagir aos números,
expondo o portfólio às perspectivas nocivas de vender na baixa depois de ter
comprado na alta.
Ao optar por administradoras de fundo de fundos, os investidores devem
buscar empresas com pro ssionais compatíveis e padrões éticos. Delegar
autoridade para contratar administradores de investimentos é
importantíssimo. Mesmo as administradoras grandes e respeitadas
ocasionalmente fazem julgamentos bastante equivocados. Muitos anos atrás,
um veículo de private equity, lançado por um fundo de fundos
multibilionário, pensou em contratar uma pessoa para gerenciar um
programa de petróleo e gás. Além de o currículo desse pro ssional mostrar
pouca experiência relevante na área, uma história de crimes obscurecia o
seu passado. Condenado por trá co de drogas, o pretenso gestor de energia
também já tinha sido preso e condenado por violência doméstica.
A maioria dos investidores, quando confrontados com esse conjunto de
fatos, já passaria para o próximo candidato. No melhor dos casos, investir
propõe uma série de desa os importantes. Contratar um sócio inexperiente
com um passado criminoso aumenta as di culdades incomensuravelmente.
O que motivou a equipe de funcionários a propor apoio a um gestor
pouco quali cado e de caráter duvidoso? Embora a história completa
provavelmente encerre um conjunto de motivos bem complicado, uma
resposta óbvia se destaca. A existência de gestores de fundos de fundos é
justi cada, em parte, pelas escolhas diferenciadas que eles fazem. Investir
nos suspeitos de sempre tem menos chance de adicionar valor do que
identi car gestores novos, que estão se destacando não estão disponíveis
para a maioria dos participantes do mercado.
Finalmente, o fundo de fundos decidiu colocar o ex-tra cante de drogas à
frente do negócio dos investimentos em energia. Não satisfeita em apoiar o
indivíduo no formato normal da empresa, como um dos gestores do grupo,
a organização decidiu dedicar o fundo de energia inteiro a esse único gestor.
A vida é curta demais para perder tempo apostando todas as chas num
indivíduo com um passado criminoso quando o mundo oferece incontáveis
alternativas melhores.
Em outro incidente notável, o Paloma Partners, um fundo de fundos
multibilionário, contratou a Buffalo Partners de John Mulheren para
gerenciar um portfólio de arbitragem de risco. Mulheren ganhou
notoriedade em fevereiro de 1988, quando encheu o porta-malas de seu
carro com armas – fuzil de assalto israelense Galil, de calibre 0.233, pistola
semiautomática de 9 mm, pistola Magnum 0.357, espingarda calibre 12 e
trezentas balas, com o objetivo de atirar em Ivan Boesky. Alertada pela
esposa do atirador, a polícia do estado de Nova Jersey prendeu Mulheren e
impediu uma possível tragédia2.
Como o Paloma Partners se recusa a divulgar os nomes dos gerentes de
investimento até para os clientes, a maioria dos investidores da empresa não
estava a par desse incidente. Ao saber do envolvimento de Mulheren, um
cliente potencial desa ou a gestora de recursos, argumentando que o
investimento não atendia aos padrões institucionais. “Mulheren é um
grande investidor quando está tomando seu lítio”, respondeu a empresa.
Adicionar uma camada ao processo de gestão do investimento diminui a
transparência e traz problemas sérios para os duciários. Em vez de con ar
no julgamento de alguém que toma as decisões de investimento, o duciário
con a no julgamento de alguém sobre o julgamento de alguém que toma as
decisões de nitivas. Embora os compromissos com tra cantes de drogas
condenados e assassinos potenciais sejam exemplos extremos de
julgamentos malfeitos, esses incidentes chamam a atenção para o risco de
usar intermediários na tomada de decisões. Quanto maior o número de
camadas, maior a probabilidade de os resultados se desviarem das
preferências do duciário.
Além das questões ligadas à transparência e à delegação de autoridade, o
fundo de fundos sofre com estruturas de taxas extremamente onerosas. No
mundo da gestão ativa, a maioria dos ativos não produz excessos de retorno
ajustados ao risco, uma vez que a certeza das taxas de administração e dos
custos de transação esmaga a falsa promessa do sucesso no investimento. De
maneira simples, o fundo de fundos acrescenta outra camada de taxas aos
encargos já debilitantes, o que diminui ainda mais as chances de realizar
retornos acima do mercado.
Além de ser um fundo adicional na estrutura de taxas, o fundo de fundos
enfrenta o desa o da seleção adversa, que limita o conjunto de
oportunidades disponíveis. Os gestores de investimento preferem se
relacionar diretamente com os provedores de capital. Os fundos de fundos
são uma fonte de nanciamento in exível e não con ável, pois não
controlam diretamente as verbas empregadas para efetuar os compromissos.
Como os gestores de investimento de maior qualidade têm mais habilidade
para escolher sua base de investidores, o fundo de fundos trava uma batalha
difícil para acessar a elite das empresas de investimento.
A discriminação contra os fundos de fundos costuma ser discreta, já que
gestores prudentes nunca sabem o dia em que poderão ter de recorrer ao
dinheiro desse tipo de fundo, por menos con ável que ele seja. Em 2006,
assumindo um posicionamento público raro, a empresa de venture capital de
classe mundial Sequoia Capital eliminou todos os seus fundos de fundos3.
Ao declarar publicamente o que muitos gestores fazem em particular, a
empresa chamou a atenção para o problema da seleção adversa.
O estudo sobre endowments realizado pela Nacubo [National Association
of College and University Business Officers] em 2006 traz algumas
evidências sobre o desempenho ruim dos fundos de fundos4. Os
endowments de maior porte (com ativos de mais de US$1 bilhão)
informaram retornos de hedge funds de 11% para o ano encerrado em 30 de
junho de 2006, enquanto os fundos pequenos (com ativos entre US$25
milhões e US$50 milhões) registraram retornos de 8,2%. Como explicar essa
diferença? É provável que os fundos de fundos tenham contribuído para o
desempenho relativamente fraco dos endowments pequenos. De acordo com
o estudo, somente 2,7% dos endowments grandes usaram fundos de fundos,
contra 47% dos pequenos. Aparentemente existe uma relação entre o uso de
fundos de fundos e os retornos abaixo dos padrões.
Outras evidências sobre os retornos insatisfatórios gerados pelos fundos
de fundos podem ser encontradas num estudo elaborado por Josh Lerner, de
Harvard, Antoinette Schoar, do MIT, e Wong Wan, também de Harvard. Em
Smart Institutions, Foolish Choices?: e Limited Partner Performance Puzzle
[Instituições inteligentes, escolhas tolas? O quebra-cabeça do desempenho
das sociedades limitadas], os autores examinam os retornos dos
investimentos dos fundos de private equity selecionados por várias
categorias de investidores. Os retornos nos fundos escolhidos pelos
endowments produziram, “de longe, o melhor desempenho global”, com uma
taxa interna de retorno (TIR) média de 20%. O fracasso dos fundos de
fundos foi retumbante, com a escolha de sociedades com TIR média de 2%
negativos5. A pesquisa acadêmica reforça a intuição inicial. Investidores
sensatos evitam os fundos de fundos em face dos problemas de
transparência, julgamento, taxas e seleção adversa.
Empresas de consultoria
Para complementar os recursos internos, muitas instituições contratam
empresas de consultoria para contribuir com o processo de investimento. A
noção de empregar recursos externos quali cados é considerada correta por
muitos duciários, como um meio sensato para lidar com as complexidades
da gestão de portfólios. Infelizmente, a dinâmica dos negócios de
consultoria muitas vezes leva os clientes a resultados subótimos.
As empresas de consultoria maximizam os lucros ao prestar serviços de
aconselhamento ao maior número de clientes possível. No mundo dos
investimentos, que exige portfólios individualizados, feitos sob medida para
as preferências de risco e retorno de cada instituição, uma abordagem de
massa não gera bons resultados. Assim, os clientes devem identi car uma
empresa de consultoria com objetivos além da simples maximização do
lucro ou conduzir a relação mantida com ela de forma a obter
aconselhamento individualizado.
Consultores expressam opiniões convencionais e fazem recomendações
seguras. Como raramente adotam pontos de vista não convencionais, eles
fornecem uma cobertura mais que adequada ao tratar de comitês de
investimentos. Os responsáveis pelas decisões cam numa posição de
conforto, conscientes de que uma empresa de consultoria reconhecida
abençoou a estratégia de investimento escolhida.
Selecionar administradoras da lista de recomendações da consultoria,
aprovada internamente, é um ponto de partida fraco para identi car
empresas de gestão com boas chances de oferecer resultados futuros sólidos.
Nenhum consultor que queira permanecer empregado recomendaria uma
administradora start-up com todos os riscos organizacionais e de
investimento associados. Como procuram distribuir os custos de identi car
e monitorar as gestoras, os consultores recomendam empresas estabelecidas,
com reconhecida capacidade (se não habilidade) de administrar grandes
pools de ativos. Os clientes acabam nas mãos de administradoras de
investimentos inchadas e orientadas por taxas, em vez de rmas
empreendedoras orientadas por retornos.
Infelizmente, os aspectos econômicos das atividades consultivas acabam
afastando os interesses da consultoria dos interesses dos clientes. A demanda
contínua por serviços de consultoria exige que os clientes permaneçam
dependentes do consultor, reduzindo incentivos para que eles movimentem
os clientes em direção à autossu ciência. Em casos extremos, recomendam-
se programas que, embora aparentemente atendam aos interesses do cliente,
servem apenas para assegurar um uxo contínuo de receitas para a
consultoria. Consultores de private equity, por exemplo, também conhecidos
como gatekeepers [guardiões], às vezes recomendam programas de
coinvestimento direto aos clientes, que obviamente não estão equipados
para controlar o programa. (O cliente não pode nem mesmo tomar uma
decisão societária sem auxílio; como poderia então tomar uma decisão de
investimento direto, ainda mais difícil?) Em conjunto com a recomendação
de coinvestimento os consultores oferecem serviços de seleção e
monitoramento. Caso tenham sucesso, prendem o cliente numa combinação
de serviços de seleção de empresas, aconselhamento sobre coinvestimentos e
serviços de monitoramento, criando um uxo de anuidades que se estende
pelo tempo que durar o programa de investimento.
Em outro desdobramento ainda mais problemático, muitas empresas de
consultoria oferecem serviços de administração de fundos de fundos. Todo
o conceito se baseia em um con ito de interesses irreconciliável, no qual o
consultor, supostamente objetivo, recomenda que o cliente o contrate para
gerenciar os ativos. A combinação de uma empresa de consultoria com
interesses envolvidos e o negócio estruturalmente defeituoso do fundo de
fundos leva a uma proposta nada boa para o cliente da administradora de
investimentos.
Um ex-consultor resume os problemas da indústria de consultoria na
seguinte controvérsia:
AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO
A gestão e caz dos relacionamentos entre responsáveis duciários e gestores
de recursos adiciona um valor incremental considerável ao portfólio.
Relações fortes, baseadas na con ança e na compreensão mútuas, permitem
que os administradores de recursos e seus clientes se comportem de maneira
contrária (contrarian) à informada. Na falta dessas relações bem fundadas,
os administradores de recursos colocam seus negócios em risco e os clientes
correm o risco de tomar decisões de uxo de caixa inoportunas, dani cando
o portfólio por comprar na alta e vender na baixa.
Uma gestão de portfólio bem-sucedida depende da compreensão, pelo
cliente, do processo de tomada de decisão do gestor de recursos. Sem
conhecer intimamente os princípios de investimento de uma empresa de
gestão, os clientes apenas reagem ao desempenho, uma proposta que não
garante o êxito. Se os responsáveis duciários perseguem o desempenho,
nanciando um gestor que está em alta, aproveitando uma maré de mercado
ou de sorte, o desapontamento será inevitável quando os ventos que o
impulsionavam se dissiparem. Embora os instintos contrários levem os
administradores a apoiar um gestor cujo desempenho é insatisfatório, os
retornos medíocres persistirão se a causa do desempenho ruim for falta de
habilidade do gestor. Para saber diferenciar pura sorte de bom julgamento é
necessário entender a abordagem daquele gestor em relação aos
investimentos.
Para administrar essa relação a m de fazer a informação uir, é preciso
avaliar o desempenho continuamente, incorporando fatores qualitativos e
quantitativos. Monitorar a qualidade e o comprometimento dos diretores de
uma empresa é fundamental para avaliar a capacidade de uma organização
de alcançar a excelência. Outras questões signi cativas incluem a delidade
aos princípios de investimento e a manutenção de uma estrutura
organizacional apropriada. Reuniões presenciais regulares entre os gestores
dos fundos e os consultores externos são as ferramentas de avaliação de
desempenho mais importantes.
As informações sobre o retorno do portfólio são dados de entrada
essenciais para o processo de avaliação de desempenho. Ao comparar os
retornos do gestor com benchmarks passivos e benchmarks de gestores
ativos, os investidores medem os sucessos e os fracassos de um programa de
investimentos. Investidores mais sensatos olham além dos dados básicos de
retorno para compreender os riscos associados com os portfólios que
geraram os retornos.
As medidas quantitativas dominam os exercícios de avaliação de
desempenho e reduzem a complexa teia de decisões de construção do
portfólio a uma apresentação exata de dados de retorno. A clareza in exível
de um conjunto de números de desempenho históricos faz com que muitos
investidores enfatizem ferramentas quantitativas rigorosas em detrimento
dos fatores qualitativos, de importância fundamental. Atingir o equilíbrio
correto entre os fatores quantitativos e os qualitativos consiste em um
desa o para os administradores do fundo.
Investidores sensatos impõem limitações cuidadosas sobre os portfólios.
Ao limitar os compromissos a estratégias transparentes e bem-
compreendidas, o universo dos gestores adequados para um fundo coincide
com o escopo da experiência dessa instituição. Embora os investidores não
precisem adquirir conhecimentos profundos para reproduzir um processo
de gestão de investimento de um consultor externo, clientes cuidadosos
obtêm um entendimento completo das estratégias do portfólio. Sem
absorver bem o processo, o papel do cliente ca restrito a monitorar o
desempenho passivamente, com os perigos inerentes à colocação dos
resultados do investimento à frente da avaliação do gestor.
Para avaliar a viabilidade dos relacionamentos com os gestores, é
necessário um monitoramento contínuo de uma combinação de fatores
qualitativos e quantitativos. Os bons desempenhos nos investimentos,
individualmente, não justi cam manter um relacionamento com um gestor.
Se a razão de ser da parceria perde força por causa de mudanças nas pessoas,
na loso a ou na estrutura, os responsáveis duciários de opinião forte
partem para algo novo. De maneira similar, desempenhos fracos não
justi cam a rescisão de um contrato de gestão de investimentos. Se uma boa
equipe, em uma empresa estruturada adequadamente, adota uma
abordagem inteligente dos mercados, os elementos críticos para o sucesso
do investimento continuam existindo. Ainda que entender as causas dos
desempenhos ruins ofereça subsídios importantes para supervisionar o
investimento, os resultados insatisfatórios, por si, não representam uma
ameaça fundamental a uma relação de investimento que de outra forma
seria saudável.
Fatores qualitativos
Assim como considerações qualitativas dominam as decisões de
contratação, os mesmos fatores qualitativos dominam as avaliações de
desempenho. Se o sucesso no investimento exigisse somente reter gestores
com desempenhos satisfatórios e demitir gestores com resultados ruins, a
vida seria mais simples. Como os números explicam apenas parte da
história, os fatores qualitativos, tão difíceis de avaliar, exercem papel central.
Do mesmo modo que a qualidade das pessoas norteia as decisões de
contratação, monitorar os envolvidos no processo de investimento norteia o
gerenciamento dessa relação. As questões de curto prazo afetam o
entusiasmo, a motivação e a ética laboral dos consultores de investimento.
Responsáveis duciários prudentes monitoram o grau de envolvimento de
um consultor, à procura de sinais de alerta de falta de interesse ou de
comprometimento. No longo prazo, questões relativas à transição geracional
ganham importância.
Transferência geracional
Embora o planejamento benfeito por organizações de gestão de
investimento aumente a probabilidade de transferir a responsabilidade de
uma geração para outra com sucesso, o processo é bastante desa ador,
particularmente para as organizações de menor porte. A natureza peculiar
das pequenas sociedades empreendedoras faz com que as pessoas sejam
muito menos intercambiáveis do que seriam no caso de administradoras de
recursos maiores e burocráticas. Nas empresas menores, as pessoas
dominam o processo, o que gera incertezas signi cativas no período em que
ocorre a aposentadoria da velha guarda. Transferir responsabilidades para os
colegas mais novos inevitavelmente altera a natureza da empresa, já que os
novos responsáveis pelas decisões expressam suas abordagens individuais
dos mercados. Em resumo, quanto mais atrativo o gestor de investimentos,
maior o desa o de passar o bastão.
A comunidade de venture capital exibe um número incomum de
companhias empreendedoras que tiveram êxito em sobreviver às gerações.
Ao transferir responsabilidades sem interrupções, as pioneiras do mercado
Sutter Hill (fundada em 1962), Greylock (1965), Sequoia (1972) e Kleiner
Perkins (1972) criaram e mantiveram, cada uma, posições de liderança na
comunidade de venture capital. Como resultado das transições suaves dos
gestores e do sucesso prolongado nos investimentos, algumas empresas de
risco bem estabelecidas criaram valor de franquia e posicionaram muito
bem as sociedades originais em relação ao restante da comunidade de risco.
Fora do mundo do private equity há poucos exemplos de companhias
empreendedoras pequenas que preservaram sua natureza durante várias
gerações de controle. Algumas crescem muito e abandonam os objetivos de
investimento para focar na acumulação de ativos. Outras, dependentes de
um ou dois indivíduos, desvanecem com a menor participação daqueles que
dirigiam o processo do investimento anteriormente. Talvez as empresas
construídas sobre o brilho especial de um investidor bem-sucedido tenham
poucas chances de transmitir habilidades essenciais aos colaboradores mais
novos. Em todo caso, avaliar a energia, o comprometimento e o entusiasmo
dos indivíduos responsáveis pela gestão dos ativos é prioridade no
monitoramento das relações.
Independência da empresa
A venda de uma empresa de gestão de investimentos requer ação imediata.
Em uma sociedade pequena e independente, o destino econômico dos
diretores corresponde diretamente ao sucesso da empresa. As recompensas
associadas ao desempenho sólido, assim como as perdas decorrentes de
resultados ruins, cabem aos responsáveis pelas decisões. A venda altera
profundamente essa equação.
Depois da venda, os proprietários externos preferem preservar os ativos.
Para isso, moderam as apostas de investimento, aumentam as atividades de
mercado para reforçar o uxo de caixa líquido dos clientes e diversi cam
receitas, por meio da expansão da oferta de produtos. No topo das
preocupações sobre as mudanças estratégicas, muitas vezes o grau de
comprometimento dos pro ssionais de investimento diminui. Os antigos
acionistas se aposentam para se dedicar a outros interesses. Os pro ssionais
mais jovens e talentosos saem em busca de outras oportunidades de criar
riqueza, seguindo os passos de seus mentores, agora aposentados. Aqueles
que cam tendem a ser menos competentes e, portanto, têm poucas
alternativas. Os clientes não se bene ciam em nada com as vendas.
Os sócios seniores de gestoras de investimentos independentes e bem-
sucedidas enfrentam um dilema. No lado positivo do razonete, a venda de
uma empresa produz um pagamento generoso para os donos do capital, que
saem da transação com uma pequena fortuna. No lado negativo, a venda
planta as sementes do m da empresa.
Se não venderem a empresa, os sócios seniores não conseguirão
maximizar o valor de suas participações. Em um ato de nobreza exigido, os
diretores mais jovens recebem participações acionárias por quantias abaixo
do valor econômico real, criando o potencial para que a empresa continue
sua história como uma entidade independente. Não existem, entretanto,
garantias de longevidade, já que os novos proprietários se veem diante do
mesmo dilema enfrentado pelos antigos sócios seniores.
Abordagem de investimentos
Mudanças na abordagem de investimentos levantam bandeiras amarelas de
atenção para os administradores. Os aumentos nos ativos sob gestão
geralmente alteram os métodos de investimento. À medida que os ativos
aumentam, os gestores de ações small caps compram outros papéis, mais
caros, o que traz mais diversi cação e diminui o foco em small caps. Alguns
hedge funds, cujo foco inicial residia em ações especí cas, evoluem para
lojas de apostas macro, pois o aumento do tamanho impõe uma atuação em
mercados mais amplos, profundos e líquidos.
Gestores de todos os tipos enfrentam a tentação de transformar-se em
“indexadores de armário”. Dirigir um portfólio igual ao do mercado garante
resultados iguais aos do mercado e reduz a probabilidade de ser despedido
por desempenhos ruins. Quando gestores profundamente ligados à gestão
value reportam posições em ações de growth, os responsáveis duciários
mais atentos fazem perguntas céticas.
Resultados decepcionantes às vezes levam os gestores a alterar as
abordagens à gestão do portfólio. Gestores de recursos podem tomar riscos
maiores, esperando fazer grandes jogadas para recuperar perdas anteriores.
Em casos extremos, perseguir o risco para corrigir perdas passadas expõe os
ativos a perdas futuras signi cativas, porque os gestores especulam numa
tentativa desesperada de recuperar ativos.
Ocasionalmente os investidores se submetem a mudanças radicais por
causa de resultados fracos, o que provoca transformações bizarras. Os
irmãos Feshbach, Matt, Joe e Kurt caram em evidência nos anos 1980, em
função de retornos de investimento impressionantes e técnicas controversas
de venda a descoberto. Usando a Teoria da Dianética, de L. Ron Hubbard,
como parte de sua estratégia de investimento, os irmãos Feshbach se
concentraram em identi car companhias sobreavaliadas com potencial de
queda. Eles usavam análises fundamentalistas tradicionais e detetives
particulares para descobrir práticas comerciais fraudulentas. Acusados de
vender 100% a descoberto para estabelecer posições vendedoras ilegais
quando não conseguiam acessar os papéis por meio dos canais legítimos, os
irmãos estavam cercados por sinais de perigo. Surpreendentemente, muitos
investidores ignoraram a polêmica, inclusive a Frank Russell Trust
Company. Eles foram buscar os excelentes números de desempenho dos
Feshbach e comprometeram seus recursos com o pool de ativos dos irmãos,
que teve picos de quase US$1 bilhão em 1990.
No começo dos anos 1990, a magia dos Feshbach desapareceu, pois a
estratégia de vender papéis a descoberto em um mercado altista produziu
resultados desastrosos quase inevitáveis. Depois de um período de
desempenhos horrendos, com perdas de 55% dos ativos só no ano de 1991,
os irmãos Feshbach se reinventaram.
Em 1993, de acordo com o vendedor a descoberto David Rocker, os
Feshbach “desmentiram publicamente suas atividades de venda a descoberto
[...] para focar uma estratégia de ações de crescimento small caps”14. A
mudança de estratégia dos “vendedores a descoberto mais famosos do
mundo”, algo como mudar de lado no meio de uma batalha, atraiu mais
interesse da imprensa do que dos investidores. Em 1998 a empresa
administrava apenas US$50 milhões, investidos principalmente em
estratégias compradas (long) tradicionais – menos de 5% do maior valor que
já havia gerenciado. Aparentemente, a passagem do tempo não ajudou a
melhorar a sorte dos Feshbach. Uma busca nas bases de dados de gestores de
investimento revelou muito pouco além de um Formulário SEC 13-F da MLF
Investments, de Matt Feshbach. O arquivo referente a 31 de dezembro de
2007 continha posições que totalizavam menos de US$60 milhões.
Nem todas as mudanças de abordagem trazem maus agouros para os
gestores de portfólios. Por exemplo, um gestor com um conjunto limitado e
bastante focado embarca na montanha-russa dos investimentos, subindo
quando há abundância de oportunidades e descendo quando os negócios
cessam. Os gestores sensatos se adaptam e alteram suas estratégias para
explorar toda a gama de oportunidades dentro de sua área de competência.
Muitos gestores de retorno absoluto começaram seus negócios focando
exclusivamente transações de arbitragem de fusões. Reconhecendo a
complementaridade das habilidades analíticas e legais requeridas para
avaliar reorganizações e falências, algumas empresas começaram a investir
na área dos títulos de empresas em apuros nanceiros. Ao acrescentar uma
atividade essencialmente relacionada, os gestores criaram uma ferramenta
poderosa para melhorar o portfólio. Quando as atividades de fusão e
aquisição estão aquecidas, os portfólios mantêm posições signi cativas em
arbitragem de riscos. Em épocas de economia menos robusta, quando
renegociações e o não pagamento de dívidas desarrumaram a paisagem do
investimento, as gestoras aumentaram sua exposição aos investimentos de
empresas com problemas nanceiros. Ao contrário de investidores peritos
em apenas uma matéria, gestores com mais “cartas na manga” aproveitaram
a oportunidade de mitigar os efeitos dos ciclos inerentes às atividades do
mercado.
Mudanças graduais na abordagem de investimentos expandem
sensivelmente o escopo da atividade, sem abandonar a base sobre a qual
repousa o sucesso da empresa. A melhoria evolutiva natural cria potencial
para intensi car os resultados do portfólio, bene ciando igualmente
consultores externos e clientes. Mudanças nos fundamentos são perigosas
para os ativos dos clientes e exigem uma resposta dramática dos
administradores.
Especialização de benchmarks
Os gestores de investimento criam e monitoram um número impressionante
de benchmarks especializados, fornecendo ferramentas aparentemente
precisas para medir o desempenho de grande variedade de estratégias e
subestratégias. Variando desde uma matriz de estilo relativamente padrão e
índices de capitalização até uma coleção um tanto heterogênea de medidas
esotéricas, os benchmarks dos gestores chegam a avaliar a abordagem mais
incomum de gestão de portfólios*.
Em algumas ocasiões os benchmarks especializados fornecem subsídios
valiosos, que não estariam disponíveis a partir de medidas mais amplas da
atividade do mercado. Consideremos os resultados de 2003 para os gestores
focados em ações small caps. Os retornos da mediana (45,7%) foram
melhores que o retorno do S&P 500 em mais de 17%, o que à primeira vista
parece um resultado excelente. Quando comparados com um benchmark de
small caps, porém, os resultados da mediana cam 1,5% abaixo da
alternativa passiva – um desempenho bem menos impressionante. O
benchmark especializado, de small caps, traça um retrato mais verdadeiro
dos retornos do gestor ativo desse tipo de ação15. No mundo das
comparações com benchmarks, comparar laranjas com laranjas é bem mais
útil do que comparar laranjas com bananas.
Às vezes, os benchmarks especializados requerem uma avaliação
cuidadosa. Consideremos os resultados das estratégias de investimento em
valor nos anos 1990, período em que os gestores de valor não conseguiam
superar os retornos do benchmark de valor. Para os cinco anos encerrados
em 31 de dezembro de 1997, o benchmark de valor cou posicionado no
segundo decil dos resultados dos gestores de valor, um feito extraordinário
para um portfólio passivo16.
Por que o índice de valor aniquila os resultados dos gestores de valor? O
índice de valor, criado por uma triagem mecanicista que selecionava ações
com índices de preço/patrimônio líquido e preço/lucro baixos, incluía
companhias pouco atrativas e enfraquecidas. Como os gestores ativos com
frequência evitam as companhias em di culdades nanceiras, obviamente
arriscadas, os portfólios ativos típicos contêm características de valor
amortecidas. Quando as ações de valor vão bem, os gestores ativos em geral
não conseguem igualar os resultados passivos, pois os mercados
recompensam o per l mais arriscado do portfólio escolhido
mecanicamente. Só em épocas de crises graves no mercado os resultados
favorecem os portfólios de valor administrados ativamente, de maior
qualidade.
Responsáveis duciários razoáveis comparam os resultados do gestor com
os benchmarks adequados. Examinar os retornos do gestor de small caps em
relação ao S&P 500 distorce a história. Comparar os resultados do gestor de
valor com um índice de base ampla encobre a verdade. Com o uso de
benchmarks passivos especializados é possível obter uma comparação mais
rica, que permite avaliar os portfólios de estilo especí co mais diretamente.
Quando estiver usando benchmarks especializados, para fazer comparações
justas é necessário entender as diferenças de per l de risco entre o portfólio
ativo e o benchmark.
Comparações entre instituições pares
Comparações entre pares são outra métrica quantitativa para avaliar o
desempenho. Embora certas classes de ativos apresentem benchmarks
passivos insatisfatórios, quase todas as categorias de investimento contêm
um grupo de gestores entre os quais se podem comparar os resultados.
O viés da sobrevivência e o viés de inclusão têm papéis importantes nas
comparações entre pares, sobretudo nas classes de ativos menos e cientes.
Como os benchmarks relativos ao mercado fornecem muito pouca
orientação de curto prazo para ativos privados e estratégias de retorno
absoluto, as comparações entre pares ganham importância. Na arena do
retorno absoluto, infelizmente, o viés da sobrevivência e o viés de inclusão
in uenciam profundamente a composição e a natureza do grupo de pares.
Os grupos de pares de ativos privados sofrem efeitos menos extremos do
viés da sobrevivência e do viés de inclusão.
Ajuste de risco
O ajuste dos retornos do portfólio para o risco, no melhor dos casos, exerce
um papel coadjuvante na avaliação de desempenho. Os gestores tendem a
evitar discussões sobre risco, a menos quando estão explicando
desempenhos relativos ruins, como em: “Nós fomos piores que o mercado,
mas zemos isso com menos risco”. Talvez o retrato feioso do risco, pintado
pelas ferramentas quantitativas, justi que o baixo nível de discussão.
O desvio-padrão dos retornos, medida da dispersão mais comumente
usada para avaliar o risco, não captura muito do que preocupa os
responsáveis duciários. Simplesmente compreender a volatilidade histórica
dos retornos fornece poucas informações úteis a respeito da e cácia de uma
estratégia de investimento especí ca. O que importa é o risco fundamental
subjacente ao investimento, e não a utuação do preço do título/valor
mobiliário. Em um mundo caracterizado pela volatilidade de preços
excessiva, os preços dos papéis mascaram o verdadeiro risco do
investimento. Apesar de suas limitações, a volatilidade histórica é a medida
quantitativa de risco empregada na maior parte dos casos.
O ganhador do prêmio Nobel [de Ciências Econômicas de 1990] William
Sharpe desenvolveu uma ferramenta analítica para avaliar a relação entre
risco e retorno. Ao avaliar os retornos acima (ou abaixo) da taxa livre de
risco, o índice de Sharpe enfoca a geração de excessos de retorno. Dividir o
retorno excedente pelo desvio-padrão dos retornos produz um índice que
descreve a produtividade do risco, quanti cando o retorno excedente gerado
por unidade de risco incorrido. Entretanto, o índice de Sharpe sofre as
mesmas de ciências óbvias que outras medidas de volatilidade histórica.
Taxas de retorno
As ferramentas nanceiras mais básicas medem os retornos ponderados por
unidades monetárias ou ligados através do tempo. A taxa de retorno
ponderada por dinheiro, ou taxa interna de retorno (TIR), avalia os
resultados considerando os valores e os momentos dos investimentos em
dinheiro. Os cálculos de TIR são medidas de retorno muito úteis para
gestores de investimentos que controlam as decisões de uxo de caixa, como
investidores de private equity, por exemplo, que determinam quando e
quanto investir em oportunidades especí cas.
Os retornos ponderados pelo tempo provêm de uma série de retornos
periódicos, sem considerar o tamanho do portfólio em nenhum ponto no
tempo. Os retornos ligados ao tempo são melhores para medir os resultados
de gestores que não controlam as decisões de uxo de caixa, tais como
administradores de títulos e valores mobiliários negociáveis, que aceitam
aplicações e retiradas decididas por seus clientes.
O valor adicionado de Barr Rosenberg
O produto de investimento em ações da Rosenberg Institutional Equity
Management’s (Riem) é um exemplo interessante das diferenças entre
retornos ponderados por dinheiro e aqueles ponderados pelo tempo. Como
ilustrado na Tabela 10.2, a Riem começou sua vida empresarial com
retornos muito expressivos sobre quantias relativamente pequenas.
Seguindo um padrão típico na indústria de gestão de investimentos, os
resultados impressionantes atraíram novas contas, com valores maiores, e os
ativos atingiram o pico de mais de US$ 8.100 milhões em 1990. Como o
tamanho dos ativos criou uma resistência ou a sorte inicial se dissipou, os
desempenhos ruins vieram em seguida, expondo quantias vultosas a uma
gestão de segunda categoria.
O investimento ponderado pelo tempo permaneceu positivo
consistentemente durante a montanha-russa que foi a história dessa
empresa. Para os doze anos encerrados em 31 de dezembro de 1997, o
portfólio de ações da Riem retornou 17,3% ao ano, e batalhou uma
vantagem de 30 pontos-base em relação ao S&P 500.
Os retornos ponderados pelo dólar contam uma história menos
inspiradora. A TIR calculada mostra um retorno de 11,8% ao ano. Se os
uxos de caixa da Riem tivessem sido investidos no S&P 500, a TIR
AMBIENTE DE CONTROLE
As operações de back office (retaguarda administrativa) são uma fonte de
risco signi cativa, embora negligenciada frequentemente. Os controles
operacionais não aparecem no radar da maioria dos gestores de fundos
institucionais, pois os investidores preferem tratar das questões que cercam
as estratégias de gestão do portfólio. Os administradores de fundos dos
endowments ignoram os perigos das questões relativas ao ambiente de
controle; uma falha operacional grave desloca as questões de controle
interno de um lugar obscuro, na retaguarda, para um papel embaraçoso, no
centro das atenções.
Investidores de endowments enfrentam riscos de controles internos e
externos. Os riscos de controles internos são exposições criadas na sede do
fundo, no decorrer das atividades cotidianas de gestão do portfólio. Se todos
os ativos fossem administrados internamente, os investidores enfrentariam
somente essas questões internas. Os procedimentos de auditoria
convencionais se concentram nas práticas internas, com o exame da e cácia
e da integridade dos sistemas projetados para apoiar as operações de
investimento. Os riscos de controles externos são exposições criadas nos
escritórios de gestores de recursos. As atividades de auditoria tradicionais
raramente efetuam avaliações diretas dos sistemas de controle dos gestores
de recursos; em vez disso, con am no trabalho conduzido por outras
empresas de serviços pro ssionais. Como uma cadeia é tão forte quanto seu
elo mais fraco, tanto as operações internas do fundo como as operações de
back office do gestor de recursos precisam ser examinadas e supervisionadas
com atenção.
Ambientes de controle inadequados são um celeiro para problemas cuja
gravidade varia desde a imposição contínua de pequenos custos até
desastres dignos das manchetes dos jornais. Controles mal concebidos
expõem os investidores à possibilidade de fraude e prevaricação. Para evitar
esse tipo de aborrecimento, é necessário um planejamento cuidadoso.
Infelizmente, as instituições costumam se concentrar nas operações
corriqueiras do back office depois que perdas signi cativas ocorreram.
As organizações de investimento bene ciam-se de revisões externas
regulares, independentes e intensivas das práticas operacionais. Para
estruturas de portfólio simples, os auditores internos e externos agregam um
olhar macro da atividade de investimento, examinando questões
relativamente básicas relacionadas à custódia dos portfólios de títulos e
valores mobiliários padrão. À medida que as atividades de gestão do
portfólio cam mais so sticadas, com mais e mais camadas de
complexidade, os auditores generalistas passam a encarar tarefas muito mais
complicadas. Para lidar com programas de investimento mais complexos de
maneira efetiva, os responsáveis duciários responsáveis contratam
especialistas da mais alta qualidade para avaliar as práticas internas e
externas, agregando uma ferramenta importante para avaliar um aspecto
muitas vezes ignorado da gestão de investimentos.
Uma equipe de auditoria forte, de uma companhia de primeira classe, é a
primeira linha de defesa contra os problemas nos controles internos.
Embora uma auditoria completa seja um ponto de partida importante, no
mundo dos investimentos de hoje as revisões anuais de rotina já não são
su cientes para avaliar as práticas do portfólio adequadamente. Auditorias
especiais, ocasionais, “sem barreiras”, realizadas por uma equipe de peritos,
oferecem informações estratégicas importantes sobre os riscos enfrentados
pelos responsáveis duciários do fundo, permitem corrigir as questões
existentes e mitigar problemas potenciais.
Auditorias especiais
Auditorias especiais efetivas envolvem peritos de alta qualidade em uma
revisão irrestrita e independente das práticas de controle. Ao trazer um
olhar renovado para o processo de supervisão, a equipe de investigação
induz os funcionários a revisitar certas premissas confortáveis a respeito das
operações internas, desa ando os indivíduos a melhorar os procedimentos
existentes. Práticas melhores servem como um padrão contra o qual se
podem medir as atividades atuais e os esforços futuros.
Desde 1990, Yale contratou a PricewaterhouseCoopers duas vezes e a
Deloitte & Touche uma vez para realizar análises completas (top-bottom) das
operações de investimento da universidade. A primeira revisão forneceu
uma quantidade considerável de feedback e destacou os riscos presentes nas
atividades de empréstimo de títulos. Alertada pelo relatório da
Pricewaterhouse Coopers, a universidade examinou por outro ângulo o
programa de empréstimo de títulos administrado internamente e concluiu
que mudanças estruturais no mercado haviam transformado uma
oportunidade que já fora atrativa numa atividade que não compensava mais
em termos de risco e remuneração. Consequentemente, as operações de
empréstimo de títulos foram interrompidas, um movimento que pareceu
uma premonição, pois logo depois o desastre do empréstimo de títulos do
Common Fund veio a público*.
Uma segunda auditoria especial executada pela PricewaterhouseCoopers
concluiu que, embora as “melhores práticas” da indústria sugerissem que a
universidade deveria monitorar os back offices dos gestores de recursos,
havia espaço interno para melhorias. A praxe da indústria envolve
investigações relativamente super ciais dos controles internos no escritório
do gestor de recursos, se é que esses controles recebem alguma atenção.
Como os processos de controle do gestor de recursos contribuem para a
integridade da estrutura de controle global, dentro da qual o endowment
opera, a exposição da universidade ao risco depende da qualidade dessas
operações, que às vezes são avaliadas muito super cialmente.
A PricewaterhouseCoopers concluiu que Yale teve uma oportunidade de
rede nir os padrões da indústria ao compreender e melhorar o ambiente de
controle nanceiro interna e externamente. A descrição básica da tarefa
envolve avaliar aspectos como conformidade regulatória, operações
internas, sistemas de contabilidade e negociação, consultorias em temas
legais e de auditoria, bem como as políticas de avaliação de ativos, riscos,
derivativos e so dollars. Os esforços de conformidade de Yale criam
oportunidades de reduzir o risco, ao introduzir as melhores práticas
identi cadas em um gestor nos processos dos outros gestores,
aperfeiçoando, assim, os controles do portfólio inteiro. A universidade não é
a única a se bene ciar das evidências recolhidas durante a análise do
ambiente de controle nos gestores de recursos. O processo de avaliação
transmite a todos o conceito de que Yale deseja ter operações internas fortes.
Tal atenção leva os gestores a dedicar o tempo e a energia necessários às
atividades de back office.
CONCLUSÃO
Uma das diferenças mais importantes na área de gestão de investimentos é a
que separa aqueles investidores com capacidade de tomar decisões de gestão
ativa de alta qualidade dos que não têm os recursos requeridos. A gestão
ativa possibilita o uso de classes de ativos que demandam habilidades de
investimento superiores – retorno absoluto, private equity e ativos reais.
Outro atrativo da gestão ativa diz respeito a proporcionar a chance de
produzir resultados melhores que os do mercado em ações domésticas e
estrangeiras negociáveis. Contrariamente, investidores prudentes sem
habilidades em gestão ativa limitam as escolhas às classes de ativos
negociáveis administrados passivamente. Apenas os investidores inocentes
tentam superar o mercado por meio de tentativas casuais, já que elas acabam
alimentando os resultados vitoriosos de investidores mais habilidosos.
As operações de investimento bem-sucedidas precisam apoiar-se numa
estrutura de tomada de decisão disciplinada. De nir claramente os
respectivos papéis da equipe de funcionários e do comitê garante que os
funcionários conduzirão o processo, enquanto os membros de comitê se
encarregarão da supervisão efetiva. Sem um processo rigoroso, informado
por análises completas e implementado com disciplina, os portfólios de
investimento tendem a seguir os altos e baixos da moda.
Posições de investimento consensuais e pesquisadas casualmente não
oferecem muitas perspectivas de produzir resultados superiores no mundo
tão competitivo da gestão de investimentos.
Um processo de investimento e caz reduz a inevitável lacuna entre os
objetivos da instituição e as ações dos dirigentes do portfólio do endowment.
Os gestores de investimentos batalham para fazer a diferença durante seus
mandatos, enquanto os membros da equipe de funcionários buscam a
segurança de seus cargos. As aspirações de ambos são potencialmente
contrárias aos objetivos institucionais de longo prazo. Ao estabelecer e
manter operações de investimentos como parte da instituição, os
responsáveis duciários aumentam a probabilidade de colocar as
necessidades institucionais acima dos interesses pessoais.
Intermediários, como consultores e fundos de fundos, por exemplo,
adicionam uma camada ao processo de investimento, introduzindo um ltro
disfuncional que acaba por prejudicar os retornos. Instituições que evitam
usar intermediários e contratam colaboradores dedicados para sua equipe
têm muito mais chances de sucesso.
Um processo de tomada de decisão sadio contribui signi cativamente
para o sucesso dos investimentos, pois permite que os investidores busquem
posições de investimento de longo prazo contrárias potencialmente
interessantes. Ao serem liberados das pressões por bons desempenhos
trimestrais, os gestores ganham liberdade para criar portfólios posicionados
para aproveitar as oportunidades criadas pelos players de curto prazo. Um
ambiente que incentiva o gestor a fazer investimentos em ativos muito
desfavorecidos e tolera os inevitáveis passos em falso aumenta a
probabilidade de êxito dos investimentos.
O sucesso no longo prazo exige comportamentos individualistas e
contrários, baseados em princípios sólidos de investimento. Uma estrutura
e caz supera a desvantagem da tomada de decisão em grupo e promove
uma assunção de riscos bem-considerada. Um processo de governança
detalhado e de alta qualidade é a base de um programa de investimentos
bem-sucedido.
Os investidores sensatos avaliam as relações com os consultores de
investimento de forma a equilibrar atributos qualitativos e características
quantitativas. Os fatores qualitativos exercem papel central nas avaliações
dos gestores, pois inserem as pessoas no centro das decisões de montagem
do portfólio. Entre as variáveis críticas podemos destacar a qualidade dos
pro ssionais de investimento, a força da loso a de investimento e a
natureza da estrutura organizacional. Reuniões presenciais regulares são a
mais importante ferramenta de monitoramento de gestores.
As ferramentas quantitativas de gestão incluem dados sobre retornos de
portfólios individuais, benchmarks de mercado e universos de gestores
ativos. Con ar cegamente na precisão absoluta dos resultados numéricos
muitas vezes acarreta decisões medíocres. Os investidores que olham apenas
os números enfrentam a perspectiva de comprar na alta e vender na baixa,
assumindo compromissos induzidos por resultados fortes e retirando
recursos em razão de desempenhos ruins.
Programas de investimentos bem-sucedidos exigem relações abertas e
honestas entre os clientes institucionais e os gestores de recursos externos. A
comunicação direta e frequente permite que os investidores se bene ciem
das oportunidades do mercado. Quando preços decrescentes permitem a
compra de ativos em condições atrativas, os clientes de alta qualidade
proporcionam aos fundos incrementos para explorar a oportunidade.
Inversamente, os gestores mais atenciosos com relativamente poucas
oportunidades atrativas devolvem os recursos aos clientes. Tal atividade só
acontece quando há alto nível de con ança entre o gestor de recursos e seus
clientes.
A avaliação de desempenho conduz as decisões de alocação do portfólio,
pois as conclusões sobre a capacidade do gestor in uenciam o nível de
con ança dos responsáveis duciários. Em muitos aspectos o investidor está
diante de uma decisão binária. Se existir con ança, os responsáveis
duciários reúnem a coragem necessária para comportar-se de maneira
contrária e apoiam os gestores que estão enfrentando resultados ruins. Se
um duciário não tem con ança su ciente para aumentar a exposição a um
gestor cujo desempenho está abaixo do esperado, o gestor ou o duciário
devem deixar a parceria.
Apêndice:
Renda xa mista
As alternativas de renda xa dominam a população de mercados bem-
de nidos cujo papel no portfólio não é de grande valor. Enquanto as
obrigações de boa-fé e crédito do governo dos Estados Unidos, livres de
calote e resgatáveis apenas no vencimento, têm um papel importante de
diferenciação nosportfóliosdos investidores, os títulos privados com grau de
investimento, títulos de alto rendimento (high yield bonds), títulos
estrangeiros e títulos lastreados em ativos são pouco atrativos, o que depõe
contra sua inclusão emportfóliosbem construídos. As classes de ativos de
renda xa fora do núcleo do portfólio respondem por uma parcela
considerável do conjunto de alternativas de investimento. Muitos players
alocam seus ativos em títulos privados e títulos lastreados em hipotecas, na
esperança de gerar retornos incrementais sem incorrer riscos adicionais.
Entender as de ciências de alternativas especí cas de investimento em
renda xa, especialmente no tocante a como elas se relacionam com os
objetivos da classe de ativos de renda xa, ajuda os investidores a tomar
decisões bem-informadas sobre seus portfólios.
Risco de crédito
O risco de crédito decorre da possibilidade de que uma companhia não
cumpra o seu dever de fazer pagamentos totais e oportunos referentes a sua
dívida. Agências de classi cação de risco, como Standard & Poor’s e Moody’s
Investor Service, publicam suas notas para as emissões de títulos, com a
nalidade de atribuir uma classi cação para a probabilidade de que uma
emissão se desenrole conforme o prometido. Os fatores mais importantes
para avaliar a capacidade de pagamento de um emissor são o tamanho do
“colchão” de capital que sustenta a dívida e os valores dos uxos de caixa
destinados ao serviço da dívida. As classi cações de grau de investimento,
atribuídas aos tomadores de empréstimos mais dignos de crédito, variam de
AAA (a mais alta) até BBB. Os títulos de alto risco (high yield ou junk) são
Liquidez
A liquidez das emissões de títulos privados praticamente some quando
comparada à liquidez dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, que são
negociados no maior, mais profundo e mais líquido mercado do mundo. A
maioria das emissões corporativas tende a ser negociada com pouca
frequência, visto que muitos detentores de títulos compram os títulos na
oferta inicial e os retiram do mercado, seguindo estratégias de buy-and-hold.
Contudo, quem investe em títulos valoriza muitíssimo a liquidez.
Comparemos as emissões de papéis do Tesouro dos Estados Unidos e os
títulos da Private Export Funding Corporation (PEFCO), uma espécie de
consórcio para concessão de crédito de longo prazo à exportação. Ainda que
os dois títulos contem com a garantia da boa-fé e do crédito do governo
americano, os títulos menos líquidos da PEFCO são negociados a preços que
produzem rendimentos de 0,6% ao ano acima dos títulos do Tesouro de
vencimento comparável. A diferença nos rendimentos é totalmente
explicada pelo valor que o mercado dá à liquidez. A liquidez da maioria dos
títulos privados tende a se aproximar mais daquela dos papéis do PEFCO do
que dos títulos do Tesouro, o que dá a entender que a falta de liquidez
explica uma parte signi cativa do spread nos rendimentos dos títulos das
empresas.
Alinhamento de interesses
Os interesses dos acionistas e os dos detentores de títulos divergem
profundamente. Os proprietários de ações se bene ciam da redução do
valor das obrigações de dívidas e sofrem quando o custo do nanciamento
da dívida aumenta. Na medida em que a administração da empresa serve
aos interesses do acionista, os detentores de títulos devem car atentos.
Consideremos o valor de uma pessoa jurídica. Os analistas chegam ao
valor da companhia avaliando os lados esquerdo e direito do balanço
patrimonial. O lado esquerdo contém os ativos físicos, difíceis de avaliar.
Qual preço re ete o valor de mercado justo das diversas instalações que a
Ford Motor Company possui? Qual é o valor auferido pela Ford a partir de
sua famosa marca mundial? Até os analistas mais diligentes recuam diante
da ideia de realizar o inventário, ativo por ativo, necessário para avaliar o
lado esquerdo do balanço patrimonial de uma companhia.
O lado direito do balanço patrimonial contém passivos mais fáceis de
valorizar. Somando o valor de mercado da dívida de uma empresa ao valor
de mercado do seu patrimônio líquido, obtém-se como resultado o valor da
empresa; este re ete o preço que um investidor pagaria para comprar a
empresa inteira. Se todo o patrimônio fosse comprado a preço de mercado,
bem como toda a dívida e outros passivos, o comprador passaria a ser dono
da empresa inteira (livre de dívidas).
Dessa descrição surge o princípio fundamental das nanças corporativas:
de que o valor de uma empresa independe de sua estrutura de capital. Como
um investidor tem o poder de desfazer o que uma empresa fez com sua
estrutura de capital ou de fazer o que uma empresa não fez com sua
estrutura de capital, o valor de um empreendimento deve ser independente
de sua forma de nanciamento. Por exemplo, um investidor pode desfazer a
alavancagem de uma empresa comprando os títulos que ela possui,
anulando, desse modo, o efeito da alavancagem. Um investidor também
pode fazer o contrário: criar uma posição alavancada em uma empresa
pegando empréstimos para comprar ações da empresa, criando alavancagem
onde não existia. Já que os investidores podem destruir ou criar
alavancagem independentemente das ações, o valor da empresa deve ser
independente de sua estrutura de capital*.
A descrição de valor da empresa destaca o trade-off claro e direto entre os
interesses dos acionistas e os dos detentores de títulos. O valor da empresa é
encontrado mediante a soma do valor da dívida com o valor do patrimônio
líquido. Os acionistas de uma companhia ganharão à medida que os
proprietários reduzirem o valor da posição dos detentores de títulos. Os
ganhos se dão por meio da imposição de perdas aos detentores de títulos.
Como os interesses da administração da empresa são alinhados com
aqueles dos investidores em ações, os donos de títulos encontram-se do
outro lado da mesa, sentados em oposição à administração. Para reconhecer
a vulnerabilidade criada por con ar na administração da empresa para
proteger os interesses do credor, os investidores de títulos usam contratos
complicados, chamados de escrituras de emissão, que procuram fazer com
que os emissores de dívidas atendam às necessidades dos detentores de
títulos. Infelizmente para os detentores de títulos, até os contratos
elaborados pelos advogados mais capazes se mostram insu cientes para
in uenciar o comportamento da administração da empresa da maneira
desejada, sobretudo quando as ações esperadas vão de encontro aos
interesses econômicos dos membros da administração.
Às vezes a transferência de riqueza dos detentores de títulos para os
acionistas é dramática. Quando as empresas se envolvem em transações de
leveraged buyout ou recapitalização, seus níveis de dívida aumentam
consideravelmente. O aumento na dívida eleva o risco para os credores
existentes e leva diretamente a uma diminuição no valor das posições das
dívidas existentes. A compra da RJR Nabisco pela KKR, em 1989, é um bom
exemplo da dor sofrida pelos proprietários de títulos quando os níveis de
dívida in am demais. Durante a guerra de ofertas pela RJR, à medida que o
preço oferecido pela companhia aumentava a níveis cada vez mais absurdos,
as despesas esperadas em relação à dívida também aumentavam. Antes da
aquisição, as obrigações da RJR Nabisco valiam pouco menos de US$12
bilhões. Depois da aquisição, as obrigações exigíveis no longo prazo
ultrapassaram o assombroso valor de US$35 bilhões. Como resultado direto
da mudança dramática na estrutura de capital, estima-se que os detentores
de títulos existentes tenham perdido US$1 bilhão, enquanto os proprietários
de ações se regozijavam em ganhos inesperados de US$10 bilhões. As perdas
dos detentores de títulos foram direto para os bolsos dos proprietários de
ações.
Em outras situações, a administração usa métodos mais sutis para deixar
os detentores de títulos em situação de desvantagem. A administração age
para diminuir a posição dos detentores de títulos simplesmente buscando
empréstimos com o menor custo e as condições mais exíveis possíveis.
Além de trabalhar para conseguir taxas de captação baixas, os emissores de
títulos podem incluir opções de compra preci cadas favoravelmente ou
cláusulas de fundo de amortização estruturadas de maneira atrativa.
Quando uma opção de compra é exercida, os detentores de títulos sofrem e
os acionistas ganham. As empresas podem negociar os termos da escritura
de emissão de forma a conceder grande autonomia operacional à
administração, incluindo a exibilidade de agir de forma prejudicial aos
interesses dos detentores de títulos.
O controle nal sobre as ações da administração para minar os interesses
dos detentores de títulos vem de um desejo de manter o acesso aos
mercados de nanciamento de dívida. Ações repetidas e ofensivas, que
ferem os detentores de títulos, podem levar a um hiato temporário na
capacidade de uma companhia de captar recursos em condições favoráveis.
Contudo, as transações que têm mais chance de provocar a ira dos
detentores de títulos – aquisições alavancadas e recapitalizações – ocorrem
raramente, dando tempo ao mercado para esquecer do fato antes que a
empresa precisa de novos empréstimos. Ações mais sutis da administração
com o propósito de tirar o dinheiro do bolso dos detentores de títulos
geralmente passam despercebidas. Ao sentar do outro lado da mesa, em
contraposição à administração da companhia, os detentores de títulos
expõem sua posição a prejuízos potenciais.
Características de mercado
O valor de mercado dos títulos privados com grau de investimento
totalizava US$1,7 trilhão em 31 de dezembro de 2006. A rentabilidade até o
vencimento estava em 5,7%, com a ressalva de que mudanças futuras na
qualidade do crédito poderiam diminuir a rentabilidade prevista. O
vencimento e a duration médios eram de 10,1 anos e 6,1 anos,
respectivamente5.
Resumo
Muitos investidores compram títulos privados na expectativa de ganhar algo
sem nenhum risco por auferir um rendimento incremental sobre os ganhos
disponíveis nos títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Se os investidores
recebessem um prêmio sobre a taxa livre de risco dos papéis do Tesouro
su ciente para compensar fatores como risco de crédito, iliquidez e
possibilidade de resgate antecipado, então os títulos privados poderiam
ganhar um lugar no portfólio dos investidores conscientes. Infelizmente, sob
circunstâncias normais os investidores recebem uma remuneração escassa
pelos traços desvantajosos das dívidas empresariais. No nal das contas, os
retornos excedentes revelam-se ilusórios quando o risco de crédito, a
iliquidez e as opcionalidades trabalham contra o detentor de obrigações
empresariais, proporcionando menos do que nada a quem investiu nesses
títulos.
Os investidores em títulos privados encontram um verdadeiro “circo
armado” contra eles, pois os interesses da administração da empresa estão
muito mais alinhados com as aspirações dos investidores em ações do que
com os objetivos dos investidores em títulos. Outra desvantagem para os
investidores em títulos é o enviesamento negativo da distribuição dos
resultados, que limita o potencial de aumento sem amortecer as chances de
queda.
Os atributos de “porto seguro” explicam a inclusão da renda xa em
portfólios bem diversi cados. Nas épocas mais duras, infelizmente, o risco
de crédito e a opcionalidade servem para minar a capacidade que os títulos
privados têm de proteger os portfólios de in uências de crises nanceiras ou
períodos de de ação. Em tempos de problemas econômicos, a capacidade
das empresas de cumprir suas obrigações contratuais diminui, levando à
queda nos preços dos títulos. Em ambientes de taxas de juros declinantes
por causa de melhorias na qualidade do credor ou de ação, as cláusulas de
resgate antecipado dos títulos passam a valer mais e elevam a probabilidade
de as companhias resgatarem papéis com cupons (juros) altos, tomando-os
das mãos dos detentores de títulos. Investidores sensatos evitam dívidas de
empresas porque o risco de crédito e o risco de resgate antecipado
prejudicam a capacidade das participações em renda xa de proteger o
portfólio em épocas de crise nanceira ou econômica.
Os retornos históricos con rmam que os investidores receberam
compensação insu ciente pela extensa lista de riscos inerentes às dívidas
privadas. Para os dez anos encerrados em 31 de dezembro de 2006, o
Lehman Brothers informou retornos anualizados de 6% para os títulos do
Tesouro dos Estados Unidos e 6,5% para os títulos privados com grau de
investimento. Embora diferenças nas características dos mercados
(especi cidades de índices) e in uências periódicas nos retornos do
mercado di cultem a tarefa de comparar laranjas com laranjas, a diferença
de 0,5% ao ano entre os papéis do Tesouro e os títulos privados não
compensa os investidores de títulos privados por fatores negativos, como
risco de calote, iliquidez e opcionalidade. Os títulos públicos do governo dos
Estaods Unidos proporcionam uma alternativa melhor.
iria exercer seu direito de resgatar os títulos e re nanciar sua dívida a taxas
mais baixas. Os investidores que avaliavam os títulos em meados de 2003
sabiam que era quase certo que eles seriam perdidos no dia da mentira (1º
de abril) de 2004, a um preço de 104,81, e, portanto, colocaram um limite na
quantia a ser paga pelos papéis.
Na verdade, os detentores de títulos da emissão de abril de 2009 não
precisaram esperar até abril de 2004 para abrir mão de seus títulos. No dia
23 de junho de 2003, a companhia anunciou uma oferta de compra para os
títulos, a um preço de 110,24, um pouco mais que um prêmio de dois pontos
em relação ao preço de mercado pré-oferta. Fez-se a opção de pagar 110,24
pelos títulos em 21 de julho de 2003, em vez de esperar para pagar 104,81
em 1º de abril de 2004, porque a combinação da melhoria na condição de
crédito da empresa com a queda nas taxas de juros do mercado tornou a
manutenção de títulos pendentes muito cara para a PCA. A oferta foi bem-
sucedida, já que os donos de 99,3% das notas entregaram seus títulos para a
companhia.
A PCA emitiu títulos novos para re nanciar a antiga emissão de abril de
2009 (9,625%), pagando taxas muito mais baixas: 4,5% na tranche de cinco
anos e 5,9% na de dez anos. Os juros extremamente reduzidos
economizaram à PCA dezenas de milhões de dólares em despesas de juros
durante o resto do prazo original do nanciamento. As duas emissões de
títulos para re nanciamento evitaram incluir cláusulas de resgate
antecipado, pois os investidores em junk bonds exigiram que a companhia
interrompesse a sangria de recursos.
Do ponto de vista do investidor, aceitar a oferta da empresa maximizou os
retornos. Com base nos juros dos títulos (cupom), no preço da oferta de
compra e no preço de resgate, se os investidores mantivessem os papéis até a
data de vencimento, teriam um retorno esperado de apenas 60 a 65 pontos-
base sobre os títulos públicos do Tesouro de vencimento comparável. Os
detentores de títulos racionais da emissão de abril de 2009 não tiveram
escolha a não ser entregar suas posições.
A cláusula de resgate antecipado custou caro aos detentores dos títulos de
dívida subordinada sênior da PCA. Em junho de 2003, os títulos eram
negociados em uma faixa estreita, entre 108,2 e 108,6, com média de
aproximadamente 108,4. Com base em taxas de juros mais baixas e na
posição de crédito melhorada da PCA, se a emissão de abril de 2009 não
tivesse uma cláusula de resgate o preço estaria acima de 125. A opção de
compra a preço xo da companhia reduziu dramaticamente o potencial de
ganhos para os proprietários de junk bonds.
Apesar do efeito amortecedor da cláusula de resgate da emissão de abril
de 2009, os detentores de títulos receberam retornos consideráveis no
período de manutenção. Levados pela melhoria nos fundamentos de crédito
e pelo declínio das taxas de juros, os compradores de junk bonds auferiram
um retorno de 49,2% de 28 de janeiro de 2000, data do IPO da companhia,
até 21 de julho de 2003, data da conclusão da oferta de compra. Os
investidores em junk bonds não poderiam esperar circunstâncias/resultados
melhores.
Como foi o desempenho dos junk bonds da PCA em comparação com os
resultados dos investimentos alternativos semelhantes? De maneira
impressionante, uma nota do Tesouro americano produziu um retorno de
45,8% no período de manutenção, já que a natureza não resgatável da
emissão do governo permitiu que os investidores usufruíssem toda a
recuperação do mercado de títulos. O incremento de 3,4% do período de
manutenção, auferido pelos detentores de títulos da PCA ao longo de três
anos e meio, representa uma compensação insu ciente para aceitar um risco
de crédito tão alto. Os títulos do governo dos Estados Unidos produziram
retornos ajustados ao risco signi cativamente mais altos do que aqueles
realizados pelos compradores dos títulos da emissão da PCA.
Os acionistas da PCA tiveram que enfrentar um conjunto de circunstâncias
bastante duras. Ao contrário do mercado sólido em que os detentores de
títulos auferiam seus ganhos, os donos de ações se viram diante de um
mercado sombrio. Desde a data da oferta pública inicial da PCA, que ocorreu
perto do pico de uma das maiores bolhas do mercado acionário já vistas, até
a data da oferta de compra, o S&P 500 acumulou perdas de 24,3%. Em
oposição a uma tendência de mercado de nitivamente contrária, as ações da
PCA subiram de US$12,00 (preço da oferta inicial), em janeiro de 2000, até
US$18,05 (em 21 de julho de 2003), o que representa um ganho de 50,4% no
período de manutenção. Mesmo no pior dos mundos para os investidores
em ações e no melhor dos mundos para os detentores de títulos, os
acionistas da PCA obtiveram uma vitória suada.
Fazendo uma re exão, os retornos superiores acumulados pelos
acionistas da PCA poderiam ser esperados. Melhorar os fundamentos de
crédito para as posições de junk bonds necessariamente corresponde a um
aumento no “colchão” de patrimônio que respalda as obrigações de longo
prazo da companhia. Um aumento no preço da ação é um meio de
aumentar o respaldo subjacente para os encargos de dívida da empresa.
Como a melhoria nos fundamentos de crédito muitas vezes segue lado a
lado com a recuperação nos preços das ações, os investidores têm mais
chances de sucesso com ações com upside ilimitado do que com a compra de
títulos com potencial restrito.
No caso de fundamentos de crédito em deterioração, os investidores em
junk bonds não obtêm grandes vantagens sobre os investidores em ações.
Não nos esqueçamos de que a emissão da PCA entrou nos mercados em
1999, com classi cação de risco B, numa posição precária, com uma
“garantia pequena de manutenção dos termos contratuais”. A deterioração
do crédito provavelmente prejudicaria os investimentos em ações e em
títulos igualmente.
Quem investe em junk bonds não pode ganhar. Quando os fundamentos
melhoram, os retornos das ações superam os retornos dos títulos. Quando
as taxas caem, os títulos resgatáveis apenas no vencimento oferecem
retornos ajustados ao risco superiores. Quando os fundamentos se
deterioram, os investidores em junk bonds caem junto com os investidores
em ações. Investidores bem informados evitam as consequências imbatíveis
dos investimentos em renda xa de alto risco.
Alinhamento de interesses
Os proprietários de junk bonds enfrentam problemas de desalinhamento de
interesses ainda mais graves do que os enfrentados por quem investiu em
títulos com grau de investimento. No caso de um anjo caído – uma emissão
de alto risco que começou sua vida com classi cação de alta qualidade e
sofreu rebaixamento –, a piora na qualidade do crédito corresponde a
reduções nos valores do ativo. Em situações de crise nanceira, a
administração da empresa geralmente trabalha duro para impedir que a
base patrimonial da companhia sofra maiores desgastes. Entre as
ferramentas disponíveis estão o aumento das receitas e a redução dos custos.
Obviamente, reduzir as despesas nanceiras (com juros) e, por outro lado,
diminuir o valor das obrigações da dívida representa um meio importante
pelo qual a administração pode melhorar a posição patrimonial. Os
proprietários de papéis de emissões do tipo anjo caído descobrem que seus
interesses são contrários aos da administração da empresa.
No caso de novas emissões de junk bonds, especialmente aquelas usadas
para nanciar aquisições ou recapitalizações alavancadas, os detentores de
títulos enfrentam grupos administrativos adversários ainda mais motivados.
Engenheiros nanceiros so sticados, orientados para ações, trazem diversas
ferramentas para resolver o problema de aumentar considerável e
rapidamente os valores delas. Ao mesmo tempo que os operadores
nanceiros trabalham para limitar o custo da dívida, os detentores de títulos
percebem a redução de custos na forma de diminuição dos retornos.
Características de mercado
Em 31 de dezembro de 2006 o valor de mercado dos títulos privados de alto
risco (high yield) totalizava US$657 bilhões. A rentabilidade até o
vencimento era de 7,9%, com o mercado mostrando vencimento médio de
7,9 anos e duration média de 4,4 anos.
Resumo
Quem investe em junk bonds enfrenta uma concentração de fatores que
fazem dos títulos privados com grau de investimento uma escolha ruim para
os investidores. Risco de crédito ampliado, maior iliquidez e opções de
compra mais valiosas representam uma ameaça tripla para os detentores de
títulos que buscam altos retornos ajustados ao risco. O custo relativamente
alto do nanciamento via junk bonds oferece poucos incentivos para que
gestores de empresas orientadas por preços de ações diminuam o valor das
posições em títulos a m de melhorar a posição dos proprietários de ações.
Como proteção contra acidentes nanceiros ou períodos de acionários,
os junk bonds revelam-se menos úteis que os títulos com grau de
investimento. Os fatores que prometem rendimentos incrementais – risco de
crédito, iliquidez e cláusula de resgate antecipado – trabalham contra os
proprietários de junk bonds em épocas de crise, minando a capacidade
desses títulos de proporcionar proteção ao portfólio.
A experiência histórica recente dos investidores em títulos de alto risco
con rma que não é aconselhável ter posições de dívida em empresas
altamente alavancadas. Para os dez anos encerrados em 31 de dezembro de
2006, o índice Lehman Brothers High-Yield produziu retornos anualizados
de 6,6%, contra os 6% de rendimento dos títulos do Tesouro dos Estados
Unidos e os 6,5% dos títulos privados com grau de investimento. Embora as
diferenças estruturais nos índices (principalmente diferenças na duration)
tenham tornado essa comparação imperfeita, o fato de os investidores em
junk bonds assumirem riscos muito maiores por retornos incrementais
insigni cantes vem à tona em alto e bom som.
Alinhamento de interesses
Os detentores de títulos lastreados em ativos enfrentam os criadores de
algumas das engenharias nanceiras de títulos mais so sticadas do mundo.
No melhor dos casos, os investidores em títulos lastreados em ativos que
compram papéis recém-criados devem esperar retornos baixos, pois o
emissor usa uma estrutura complexa para promover o objetivo empresarial
de gerar nanciamento de custo baixo. Mas, no pior dos casos, a
complexidade desse tipo de título conduz a uma opacidade que impede aos
investidores compreender o caráter intrínseco das posições de investimento.
Em situações extremas, a natureza complicada dos arranjos de títulos
lastreados em ativos causa danos sérios aos portfólios dos investidores.
Características de mercado
Em 31 de dezembro de 2006, o valor de mercado total dos títulos lastreados
em ativos era de US$105 bilhões. A rentabilidade até o vencimento era de
5,3%, com o mercado mostrando vencimento médio de 3,2 anos e duration
média de 2,8 anos18.
Resumo
Os títulos lastreados em ativos envolvem alto nível de engenharia nanceira.
Como regra geral, quanto mais complexa uma criação de Wall Street, mais
rápido os investidores devem fugir dela. E para bem longe. Às vezes,
criadores e emissores de derivativos complexos não entendem como esses
títulos podem se comportar sob várias circunstâncias. Quais são as chances
de um investidor que não é pro ssional?
Muitos títulos lastreados em hipotecas contam com o apoio de empresas
patrocinadas pelo governo (GSEs, na sigla em inglês), o que leva os
investidores a supor que esses papéis carregam níveis de risco mais baixos.
As suposições dos investidores demonstram ser falsas de duas formas.
Primeiro, o risco de crédito pode acabar se tornando maior do que os
participantes do mercado supunham. Em segundo lugar, as GSEs, que
induzem a complacência do investidor, podem mascarar os riscos
signi cativos da exposição às opções de difícil compreensão. Os investidores
precisam tomar cuidado.
Assim como outras formas de renda xa, o emissor de títulos lastreados
em ativos está buscando nanciamento barato. Financiamento barato para
os emissores se traduz em retornos baixos para os investidores. A
combinação de retornos esperados baixos com alta complexidade afeta
negativamente os rendimentos dos investidores.
Conforme acontece com muitos outros segmentos do mercado de renda
xa, os investidores em títulos lastreados em ativos parecem não ter sido
recompensados por aceitar os riscos de crédito e de resgate antecipado. Para
os dez anos encerrados em 31 de dezembro de 2006, o índice do Lehman
Brothers para títulos lastreados em ativos (Asset-Backed Security Index)
gerou um retorno de 6% ao ano, basicamente igualando o retorno do Índice
do Tesouro. Como outras comparações de retornos de índices de títulos, os
números não respondem pelas diferenças na composição do índice. Durante
a última década, porém, os investidores em títulos lastreados em ativos
parecem ter perdido posições na busca pela geração de excessos de retorno
ajustados ao risco.
TÍTULOS ESTRANGEIROS
Em termos de dimensão de ativos, os títulos denominados em moedas
estrangeiras representam um mercado formidável, que só perde para o valor
global da dívida denominada em dólares dos Estados Unidos. Apesar disso,
os títulos estrangeiros oferecem pouco valor aos investidores norte-
americanos.
Consideremos títulos de vencimento e qualidade de crédito similares,
com um denominado em dólares americanos e o outro em moeda
estrangeira. Como as condições monetárias mudam de país para país, os
dois títulos provavelmente teriam taxas de juros diferentes. Um investidor
poderia esperar que taxas de juros diferentes e condições econômicas
diferentes, em países diferentes, levariam a resultados de investimento
diferentes. Entretanto, se o investidor protege (faz hedge) cada um dos uxos
de caixa dos títulos estrangeiros vendendo moeda estrangeira su ciente nos
mercados futuros para casar com a receita prevista dos pagamentos de juros
e principal, então os uxos de caixa em dólares dos títulos denominados em
dólares irão casar exatamente com os uxos de caixa em dólares dos títulos
denominados em moeda estrangeira com hedge em dólares. Ou seja, um
título em moeda estrangeira não “hedgeado” nada mais é que um título em
dólar mais alguma exposição cambial.
As moedas estrangeiras, em si, não proporcionam retorno esperado
algum. Alguns players do mercado especulam sobre o sentido das taxas de
câmbio estrangeiras, como parte das chamadas estratégias macro. Os fundos
mútuos de títulos estrangeiros são veículos que às vezes são usados pelos
gestores de investimentos para assumir posições especulativas. As apostas
top-down em moedas não geram uma fonte de excessos de retorno con ável
porque os fatores que in uenciam as condições econômicas, em geral, e as
taxas de juros, em particular, revelam-se complexos demais para projetar
com consistência. Investidores sensatos evitam especulações com moedas.
Num contexto de portfólio, exposições cambiais podem produzir o
benefício da diversi cação adicional. Mesmo sem retorno esperado, a total
falta de correlação entre os movimentos das moedas e as utuações das
outras classes de ativos reduz o risco do portfólio. Entretanto, os
investidores não devem tentar obter exposição cambial através de posições
em títulos estrangeiros, mas em associação com uma classe de ativos que
tenha chances de produzir retornos superiores – a saber, ações de empresas
estrangeiras.
Já que as posições em moedas estrangeiras, por si, prometem retorno
esperado zero, quem investe em títulos estrangeiros espera retornos
parecidos com os proporcionados pelos títulos denominados em dólar.
Além disso, títulos estrangeiros sem hedge não oferecem a mesma proteção
contra crises nanceiras ou a de ação desfrutada pelos detentores de títulos
do Tesouro dos Estados Unidos. Em caso de trauma no mercado, os
investidores norte-americanos não fazem ideia do impacto das taxas de
câmbio no valor das posições em papéis estrangeiros. Por desconhecerem a
in uência da conversão do câmbio, os investidores que esperam se
bene ciar com as características especiais de diversi cação da renda xa são
forçados a evitar exposições a títulos estrangeiros não hedgeados.
Alinhamento de interesses
Os detentores de títulos do Tesouro domésticos esperam um tratamento
justo por parte de seu governo. Ao contrário da relação hostil entre
empresas emissoras e credoras, os governos não têm razão alguma para
prejudicar seus cidadãos. Se os investidores comprarem emissões de títulos
em moeda estrangeira cuja maioria dos papéis é de propriedade dos
cidadãos do país de emissão, aqueles investidores podem muito bem se
bene ciar de um alinhamento de interesses razoável.
Mas se a maior parte da dívida de um governo estrangeiro está nas mãos
de proprietários externos, o alinhamento de interesses se quebra. Na
verdade, se as considerações políticas têm supremacia sobre as obrigações
contratuais, os investidores externos em papéis de governos estrangeiros
podem sofrer consequências piores do que os proprietários de dívidas de
empresas em di culdades. Quando a política internacional entra no jogo, os
detentores de títulos estrangeiros podem sofrer.
Características de mercado
Em 31 de dezembro de 2006, os títulos denominados em moedas
estrangeiras perfaziam US$ 14,5 trilhões, dos quais US$9,2 trilhões
representavam emissões de governos estrangeiros e US$1,9 trilhão era
referente a emissões de companhias com grau de investimento. As emissões
de empresas de alto rendimento (high yield) em moeda estrangeira
totalizavam irrisórios US$114 bilhões, re etindo a relativa imaturidade do
mercado.
A rentabilidade até o vencimento para os títulos públicos em moeda
estrangeira atingiu 3,2%, com vencimento médio de 8,2 anos e duration
média de 6,2 anos. Os títulos privados com grau de investimento
denominados em moeda estrangeira prometiam rendimentos de 4,3%, com
vencimento médio de sete anos e duration média de 5,3 anos.
Resumo
Os títulos denominados em moedas estrangeiras dividem com os títulos
domésticos o ônus dos baixos retornos esperados, sem o benefício do poder
de diversi cação especial da renda xa doméstica. Títulos estrangeiros
totalmente hedgeados imitam os títulos americanos (com as desvantagens da
maior complexidade e dos custos decorrentes do processo de hedge). Títulos
estrangeiros não hedgeados oferecem aos investidores uma exposição aos
títulos em dólar, mais uma exposição cambial (talvez indesejada). Os títulos
denominados em moeda estrangeira não têm função alguma em portfólios
de investimento bem construídos.
CONCLUSÃO
Muitos mercados de renda xa cam devendo em relação ao poder de
diversi cação inerente às obrigações de boa-fé e crédito do governo dos
Estados Unidos, que não têm risco de calote. Fatores como risco de crédito,
opções de compra, iliquidez e risco cambial limitam a atratividade de
emissões privadas com grau de investimento, high yield bonds (títulos de alto
rendimento), papéis lastreados em ativos e títulos estrangeiros. Investidores
sensatos evitam o “canto da sereia” que promete alguma coisa (em forma de
retornos incrementais tão esperados) por nada (em forma de risco
incremental ignorado).
Notas
CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO
1. Brooks Mather Kelley, Yale: A History. New Haven: Yale University Press,
1974.
2. O governador e o vice-governador continuaram a servir ex officio como
membros da corporação, embora não tenham participado ativamente da
administração de Yale nos últimos tempos.
3. Merle Curti e Roderick Nash, Philanthropy in the Shaping of American
Higher Education. New Brunswick: Rutgers University Press, 1965; Frederick
Rudolph, e American College and University: A History. Athens: University
of Georgia Press, 1962.
4. Hugh Davis Graham e Nancy Diamond, e Rise of American Research
Universities. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1997.
5. Idem.
6. Howard R. Bowen, e Costs of Higher Education: How Much Do Colleges
and Universities Spend per Student and How Much Should ey Spend? Nova
York: McGraw Hill, 1980. Ver também Graham e Diamond, p. 97.
7. Denise LaVoie, “School Year Begins with New Uni cation Church
Affiliation”. Associated Press, 28 ago. 1992.
8. e New York Times.
9. Joseph Berger, “University of Bridgeport Honors Reverend Moon, Fiscal
Savior”. e New York Times, 8 set. 1995.
10. Lynde Phelps Wheeler, Josiah Willard Gibbs. New Haven: Yale University
Press, 1951, 91-92.
11. Leonard Curry, “Congressional Hearing Puts Stanford Officials on Hot
Seat”. e Orange County Register, 14 mar. 1991.
12. O incremento de 0,5% foi designado “para patrocinar a renovação de
edifícios e de infraestrutura do campus”. Ver Relatório Financeiro Anual da
Universidade, 1995.
13. A pesquisa não publicada sobre o tamanho e a qualidade do endowment
baseia-se na pesquisa conduzida pelo Departamento de Investimentos de
Yale.
14. “Ranking das Mil Maiores Indústrias”, Fortune, 28 abr. 1997.
15. “Melhores Universidades de 1998”, U.S. News & World Report, 1º set.
1997. A revista USNWR reúne 28 das 29 instituições da Classi cação
Carnegie. A Rockefeller University é excluída do estudo porque não atribui
notas.
16. Centro Nacional para Educação e Estatística, Directory of Post Secondary
Institutions, 1987-1997, vol. 1.
2005: 15-16.
6. Ellis, Successful Investing.
7. A crise do mercado de 1987 foi um evento de desvio-padrão 20. As
estimativas de volatilidade que consideram o passado naturalmente
aumentaram para os períodos que incluíram os dados extraordinários de
outubro de 1987.
8. A informação vem do levantamento dos retornos dos investimentos (de
2005) patrocinado pela Cambridge Associates.
9. Universidade de Nova York, New York University Financial Report, 20 vols.
Nova York: Universidade de Nova York, 1977-1997; Universidade de Nova
York, New York University Annual Report, 9 vols. Nova York: Universidade
de Nova York, 1977-1985.
10. Roger Lowenstein, “How Larry Tisch and NYU Missed the Bull Market’s
Run”, e Wall Street Journal, 16 out. 1997.
11. O Índice de Riqueza de Endowments da Nacubo (Associação Nacional
de Diretores de Instituições de Ensino Superior) re ete as mudanças anuais
das medianas no valor de mercado total dos endowments das instituições
que participam no levantamento anual do grupo. A mudança anual na
riqueza inclui o impacto de retornos dos investimentos, doações e gastos.
12. David Barboza, “Loving a Stock, not Wisely but too Well”. e New York
Times, 20 set. 1998, seção 3.
13. e New York Times, 20 set. 1998.
14. David A. Rocker, “Refresher Course. Short Interest: No More Bullish
Bellow”, Barron’s, 1o maio 1995, 43.
15. Dados da Russell Mellon e da Bloomberg.
16. Piper: Pensions & Investments’ Performance Evaluation Report (Piper),
Managed Accounts Report, December 31, 2007: Quarter End. Nova York:
Pensions & Investments, 1997.
* Mesmo com um portfólio não alavancado, Askin poderia não ter saído do
negócio. Sem a alavancagem, ele nunca teria estado no negócio. Ela
impulsionou os retornos subjacentes em sua estratégia até os 15%
necessários para atrair capitais de investimentos.
* O histórico de 203 anos re ete os 200 anos de dados da obra Stocks for the
Long Run, de Siegel, acrescidos de três anos dos retornos subsequentes do
conjunto de dados de Ibbotson.
* Ver os dados de Ibbotson e Siegel sobre retornos de ações e títulos nas
páginas 56 a 60.
* A razão preço/lucro é a avaliação que compara o preço da ação de uma
companhia com seus lucros por ação.
* A razão preço/valor patrimonial é a avaliação que compara o preço da
ação de uma companhia com seu patrimônio líquido (ativos menos
passivos) por ação.
* O termo duration foi usado pela primeira vez em 1938, por Macaulay, que
desenvolveu uma fórmula para medir a vida econômica média de um título.
A duration é uma média ponderada das proporções do valor presente dos
uxos de caixa esperados de um título, com cada pagamento ponderado
pelo período em que se espera recebê-lo.
* Rentabilidade até o vencimento é a taxa de retorno esperada por manter
um título até a sua data de vencimento.
* Uma opção de venda permite que o detentor do título venda esse papel a
um preço xo durante um período de tempo especi cado. Se uma emissão
contivesse uma opção de venda, o comprador exerceria o direito de vender o
título ao emissor, por um preço xo, durante o prazo especi cado na
escritura da emissão.
* Se as corporações têm acesso a melhores formas de nanciamento de
dívida, por causa da boa condição creditícia ou dos benefícios scais, então
o valor da empresa deve ser incrementado mediante o aumento da
alavancagem no balanço patrimonial.
Agradecimentos
Carrie Abildgaard, minha assistente de redação, que maneira agradável e
competente converteu minhas ideias rabiscos neste livro, transformando um
processo às vezes penoso em prazeroso exercício.
Len Baker, um exemplo a ser seguido, que me obriga a trazer o melhor de
mim para o processo de investimento de Yale (e me diverte), questionando,
analisando e debatendo constantemente cada aspecto da política do
endowment.
Bill Brainard, meu professor, que o tempo todo me faz lembrar do
signi cado de ser um bom cidadão universitário e que dá um exemplo
incomparável a cada dia.
Charley Ellis, meu presidente, que honra o processo de investimento de
Yale com sua presença e suas ideias, sempre contribuindo para nossas
decisões com inteligência e sagacidade.
Rick Levin, meu líder, que contribui para Yale (e para as atividades de
investimento da universidade) de muitas maneiras, especialmente ao
estimular um ambiente que promove (e exige) excelência.
Meghan McMahon, minha companheira e alma gêmea, que me apoia
rmemente e consegue a improvável façanha de me manter centrado e
inspirar-me.
Dean Takahashi, meu inspirador e amigo, que desa a a mim à equipe
inteira de investimentos yale empreender os melhores esforços possíveis,
principalmente por aderir padrões pessoais pro ssionais do mais alto
gabarito.
Sobre o autor
David Swensen (1954-2021), diretor de Investimentos de Yale, administrou
23 bilhões de dólares em ativos do endowment da universidade. Sob sua
administração, o endowment da instituição gerou retornos de quase 17% ao
ano, um recorde jamais batido por qualquer outro investidor institucional.
Ph.D. em economia por Yale, ele liderou uma equipe de vinte funcionários
que trabalha perto do campus da universidade, no centro da cidade de New
Haven.
Antes de assumir esse posto na universidade, em 1985, David Swensen
passou seis anos em Wall Street – três no Lehman Brothers e três no
Salomon Brothers –, onde seu trabalho concentrava-se no desenvolvimento
de novas tecnologias nanceiras. No Salomon Brothers, estruturou a
primeira operação de swap, uma transação cambial envolvendo a IBM e o
Banco Mundial. Swensen é o autor de Desbravando a gestão de portfólios:
uma abordagem não convencional para o investimento institucional e
Unconventional Sucess: A Fundamental Approach to Personal Investment, este
último ainda não publicado no Brasil.
Muito respeitado por seus pares, e também pelos concorrentes, recebeu
grandes elogios do fundador do grupo Vanguard, Jack Bogle (“Swensen é
um dos poucos gênios do investimento no planeta”), do ex-diretor-
presidente da Harvard Management Company, Jack Meyer (“David é o
melhor no negócio”), do ex-estrategista de investimentos do Morgan
Stanley, Barton Biggs (“Swensen tornou-se o Warren Buffett do dinheiro
grande”) e de Burton Malkiel, professor de Princeton (“Swensen é um
verdadeiro líder em investimentos”).
Em 2007, recebeu os prêmios Mory’s Cup, pelos notáveis serviços
prestados a Yale, e a medalha Hopkins, pela lealdade sem paralelo à Hopkins
School. Sua alma mater, a Universidade de Wisconsin – River Falls,
concedeu-lhe um título honorário em 2008. No mesmo ano, ele tornou-se
membro da Academia Americana de Artes e Ciências.
Swensen foi trustee da TIAA e da Brookings Institution, além de membro
do Conselho de Investimentos da Universidade de Cambridge. Entre as
instituições às quais prestou consultoria destacam-se: Instituto Carnegie de
Washington, Carnegie Corporation, Hopkins School, Bolsa de Valores de
Nova York, Howard Hughes Medical Institute, Courtauld Institute of Art,
Yale New Haven Hospital, Investment Fund for Foundations, Fundação
Edna McConnell Clark. Foi também consultor dos estados de Connecticut e
Massachusetts. Em Yale, onde lecionou na Yale College (nome antigo da
Universidade) e na Escola de Administração, foi membro da Berkeley
College, fundador do Clube Elisabetano e membro do Centro Internacional
para Finanças.
Créditos
Portuguese Language Translation copyright © 2014 by BEĨ
(Original English language title from Proprietor’s edition of the Work)
Copyright © (2000, 2009 by David F. Swensen)
All Rights Reserved.
Published by arrangement with the original publisher,
Free Press, a Division of Simon & Schuster, Inc.
Equipe BEĨ
DIREÇÃO EDITORIAL: Marisa Moreira Salles e Tomas Alvim
GESTÃO DE PROJETOS: Ana Paula Guerra
COMERCIAL: comercial@bei.com.br
Swensen, David F.
Desbravando a gestão de portfólios [livro eletrônico]: uma abordagem não convencional
para o investimento institucional / David F. Swensen; tradução Ana Paula Oliveira. – 1. ed.
– São Paulo: BEI Editora, 2021.
ePub
21-71333
CDD-332.6