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CAPITULO 11 - VÍTIMA AUTOCIDA EM ALTURA

Seção 01 – Considerações Gerais

Introdução
O suicídio pode ser definido como um ato pelo qual um ser humano decide pôr
fim a sua própria vida. Geralmente, esta decisão limite vem como resultado da
experiência de um episódio traumático, como a morte inesperada de um ente
querido, um acidente, um estupro, um assalto violento, entre outros, que o indivíduo
não conseguiu superar.
É um comportamento com determinantes multifatoriais, resultado da interação
de fatores psicológicos, biológicos, genéticos, culturais e sócio demográficos.
Nos últimos anos tem-se aumentado a demanda em intervenções de socorro
a pessoas com distúrbios psiquiátricos, dos quais, os mais comuns são: depressão,
esquizofrenia, paranoia, stress emocional, dependentes de drogas ou medicamentos
estimulantes e alcoolismo. Estas situações podem desencadear pensamentos
suicidas em vítimas potenciais. Outras condições que podem proporcionar alto risco
de suicídio são as desordens afetivas e as econômicas.
O comportamento suicida abrange os “Gestos Suicidas”, as “Tentativas de
Suicídio” e o Suicídio Consumado.
Os planos de suicídio e as ações que tem poucas possibilidades de levar a
morte são chamados “Gestos Suicidas”. Em alguns casos, essas pessoas tem a
intenção apenas de chamar a atenção para si, o que não significa que o socorrista
deve negligenciar a situação, pois as estatísticas indicam que, aproximadamente
10% das pessoas, que fazem gestos suicidas, acabam se matando. Elas o fazem por
erro ou porque foram desafiadas de tal modo, que se sentem obrigadas a se matar
para serem coerentes. Esta última situação tende a ocorrer porque as pessoas
ligadas a um histórico ficam, frequentemente, irritadas com o comportamento teatral
da vítima e tendem a provocá-la ou hostilizá-la, como por exemplo, verifica-se em
algumas tentativas de suicídio em edifícios elevados em que os suicidas são
incitados a saltar, pelo público expectador.
As ações suicidas com intenção de morte, que não atingem o seu propósito,
chamam-se “Tentativas de Suicídio”. Algumas pessoas que tentam suicidar-se são
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descobertas a tempo e impedidas de cometer o ato. Outras pessoas que tentam


suicidar-se têm sentimentos contraditórios acerca da morte e a tentativa pode falhar,
porque é, na realidade, um pedido de ajuda combinado com um forte desejo de viver
Finalmente, um “Suicídio Consumado” tem como resultado a morte.
Os pacientes em confusão mental por razões diversas, tais como síndromes
cerebrais (intoxicações, infecções, arteriosclerose, etc.) cometem, ocasionalmente,
suicídio por estarem com a sua capacidade de julgamento prejudicada, expondo-se
a situações que os levam à morte. Nestas situações, o bombeiro militar deve procurar
manter um diálogo, adquirindo tempo e confiança da vítima.
Quanto ao psicótico, como os esquizofrênicos, em que muitas vezes o
paciente, em suas fantasias de imortalidade, onipotência, ou em confusão mental,
expõe-se a situações mortais, o bombeiro militar, ao colocar-se dentro dessa
fantasia, sendo por vezes até mesmo um “companheiro de irrealidade”, poderá
ganhar tempo.

Seção 02 – Autocidas no Ambiente Vertical

Os locais mais procurados para tentativas de suicídio no ambiente vertical são


edifícios altos, pontes, viadutos, passarelas, torres de comunicação e torres de
eletricidade.
O local mais comum são os edifícios e o mais perigoso, além das torres de
eletricidade. Em nenhuma hipótese devemos escalar uma torre de transmissão de
eletricidade, caso o suicida esteja próximo aos cabos elétricos, e não houver certeza
absoluta de que os mesmos estão desligados.

Seção 03 – Influência da Mídia

A divulgação de casos de suicídio, comprovadamente, leva a casos de


imitação, em especial para pessoas jovens e depressivas. A descrição do método
aumenta, consideravelmente, esta forma como causa, assim como o silêncio diminui.
Equipes de emergência devem tomar certas precauções ao permitir acessos
a imprensa e divulgar informações. O direito de informar deve prevalecer, mas
acompanhado do dever de não prejudicar. A divulgação deve evitar detalhes sobre
a pessoa, o local e o método do suicídio ou tentativa e deve sempre vir acompanhada
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das informações sobre os órgãos de apoio.

Seção 04 – Influência da Multidão

Basta aparecer uma pessoa no alto de um prédio ou torre para formar uma
pequena multidão embaixo. Com o passar do tempo, a multidão especula sobre os
reais motivos, até o inevitável: “pula, pula!”.
Portanto, é imprescindível isolar o local e impedir a formação de uma multidão.
Quando não for possível realizar um isolamento satisfatório, a polícia deverá advertir
a multidão sobre o risco do incentivo, bem como das implicações legais de tal ato.

Seção 05 – Abordagem ao Suicida

Aproximação e negociação são as chaves do sucesso na maioria dos casos


de tentativa de suicídio, porque é sempre mais fácil convencer a vítima, do que usar
outros meios que não são confiáveis ou seguros.
É recomendado que haja mais de um negociador na cena, pois as chances de
empatia com o suicida são maiores e, caso haja rejeição a um negociador, o outro
poderá continuar o processo de convencimento.
Os negociadores deverão estar devidamente equipados e ancorados,
deixando alguns metros de corda sobrando para se chegar até o suicida, caso seja
necessário agarra-lo.
Ao aproximar-se do suicida, a cautela deve prevalecer. Geralmente, eles
fazem ameaças de se jogar caso alguém tente se aproximar. O ideal é não ir de
encontro ao suicida de forma direta, mas procurar aproximação através de
movimentos em ziguezague no ambiente, sentar-se, encostar-se a uma parede, e
assim buscar se aproximar lentamente enquanto ganha sua confiança.
Podemos ainda pedir para que o suicida atenda um telefone, escreva uma
carta de despedida e nos entregue, ou um membro da guarnição pode se passar por
outra pessoa, como um repórter ou líder religioso, por exemplo.
É importante lembrar que muitas vezes o simples desabafo é o suficiente para
tirá-lo daquela situação de angústia e sofrimento emocional, que o levou a pensar
num gesto tão radical.
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Seção 06 – Utilização de Intermediários

Utilizar intermediários na negociação como, por exemplo, um familiar, amigo,


professor, um religioso, advogado ou psicólogo, é um método bastante controverso,
pois apesar destes terem geralmente familiaridade com a vítima e/ou com o motivo
da tentativa de suicídio, eles não dominam as técnicas de abordagem, tão pouco de
segurança.
Uma forma mais segura e fácil de transmitir a mensagem certa de um
intermediário é orientar o mesmo que grave um vídeo em um smartphone, por
exemplo, que será então mostrado ao suicida.

Seção 07 – Técnicas de Salvamento de Autocidas em Altura

Elemento Surpresa
Quando não é possível convencer o suicida a sair dessa situação de risco e a
equipe considerar seguro fazer a abordagem e agarrar o mesmo, deve sempre contar
com o elemento surpresa, desviando a atenção do suicida para outro foco que não
os bombeiros empenhados no resgate, estando devidamente ancorados.

Rapelar por Cima


Está técnica somente é realizada na possibilidade de se armar um sistema
acima da vítima sem que ela perceba. Consiste basicamente de um rapel do andar
acima da vítima, realizado por dois bombeiros simultaneamente para aumentar as
chances de sucesso. Os militares montam o sistema de forma que o chicote da corda
seja de um comprimento pouco maior do que o suficiente para chegar ao suicida e
tenha um nó de segurança para evitar acidentes. Após o posicionamento, ao
considerarem seguro e que a vítima esteja distraída pelo negociador, ambos se
lançam, simultaneamente até a vítima, que deverá ser empurrada com os pés para
dentro do andar em que se encontra.

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