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Correntes de bioética

Gabriela Andrade da Silva


Ética
• Do grego ethos.
• Êthos – lugar onde se guardavam os animais, tendo evoluído
para "o lugar onde brotam os actos, isto é, a interioridade dos
homens" (Renaud, 1994, p. 10), tendo, mais tarde passado a
significar, com Heidegger, a habitação do ser.
• Éthos – comportamento, costumes, hábito, caráter, modo de
ser de uma pessoa.

PEDRO, 2014
Origem do termo
Van Rensselaer Potter
• oncologista e biólogo americano
Livro “Bioethics: bridge to the future” (1971).

Importância das ciências biológicas na


melhoria da qualidade de vida.
A Bioética seria, para ele, a ciência que
garantiria a sobrevivência no planeta.

Clotet, 2006
Origem do termo
Van Rensselaer Potter
• oncologista e biólogo americano
Livro “Bioethics: bridge to the future” (1971).

Importância das ciências biológicas na


melhoria da qualidade de vida.
A Bioética seria, para ele, a ciência que
garantiria a sobrevivência no planeta.
Ética ambiental planetária

Clotet, 2006
Bioética é “o estudo sistemático da
conduta humana na área das ciências
da vida e dos cuidados da saúde, na
medida em que esta conduta é
examinada à luz dos valores e
princípios morais”.

Recorte para as ciências da


saúde, sobretudo biomédicas.

Clotet, 2006
Modelo
Principialismo Ética do cuidar
utilitarista

Bioética da Bioética da
Outras
proteção intervenção

REGO; PALÁCIOS; SIQUEIRA-BATISTA, 2009


Modelo utilitarista
• Consequencialismo: o que faz uma ação ser correta ou errada são suas
consequências. Portanto, em vez de pensar nos princípios que regem as
ações, vamos pensar nas consequências das ações.

• Máximo de bem-estar: bem-estar = obtenção de alto grau ou grau


razoável de qualidade de vida que a pessoa almeja ou prefere ter.
Preferências: agora-para-agora; agora-para-depois; depois-para-depois.

• Agregacionismo: soma dos bens. A melhor ação será a que proverá


maximamente os interesses de forma agregada (soma de todos os
interesses).

REGO; PALÁCIOS; SIQUEIRA-BATISTA, 2009


Principialismo

Beneficência

Não maleficência

Autonomia

Justiça
REGO; PALÁCIOS; SIQUEIRA-BATISTA, 2009
Principialismo CRÍTICAS
Desde o Norte
Beneficência

Não maleficência

Autonomia

Justiça Desde o Sul

GARRAFA; MARTORELL; NASCIMENTO, 2016


Bioética do cuidado
A imparcialidade / impessoalidade não existe!
Então consideremos os contextos sociais particulares, as relações e
as narrativas pessoais.
Justiça: considerar o outro como um ser abstrato, a partir de regras
abstratas e imparciais.
Cuidado: considerar as pessoas como agentes morais dentro de
contextos, vínculos e narrativas específicas.
Atenção moral. Compreensão com simpatia. Consciência das
relações. Acomodação. Resposta.

REGO; PALÁCIOS; SIQUEIRA-BATISTA, 2009


Críticas desde o Sul
Em perspectiva histórica

• Apropriação e redução do termo bioética.


• A bioética em perspectiva interdisciplinar, que levaria em conta
questões ambientais e de consumo, por exemplo, foi reduzida por
uma ética biomédica focada na relação profissional-paciente ou
pesquisador-participante.

GARRAFA; MARTORELL; NASCIMENTO, 2016


Críticas desde o Sul
Princípios desproporcionais: a “super autonomia”

• O princípio da autonomia foi superestimado.


• Beneficência e não maleficência discutidos sob referenciais
deontológicos.
• Justiça: praticamente não é discutida.
• “Indústria do Termo de Consentimento Informado”: contratos que
isentam profissional de culpa se algo der errado.

GARRAFA; MARTORELL; NASCIMENTO, 2016


Bioética da proteção
• Retomada do sentido original de Ethos.
• Numa população periférica, de relações assimétricas,
empobrecida, com poucos recursos, até que ponto o princípio de
autonomia é legítimo?
• O que falta para que indivíduos exerçam sua autonomia é
emancipação (no sentido freireano).
• Enquanto não há emancipação, o dever moral do profissional de
saúde é proteger a população.

REGO; PALÁCIOS; SIQUEIRA-BATISTA, 2009


Bioética da proteção
O que é proteger?
• Considerar as desigualdades e usar todos os recursos para que as
pessoas possam compreender suas situações e decidir segundo
seus genuínos interesses, com o máximo de liberdade.
• Identificar conflitos de interesses relacionados às situações de
assistência e pesquisa e minimizá-los ativamente.
• Contribuir para a emancipação de indivíduos e coletividades.
Importante: a bioética da proteção não nega a autonomia, mas
busca conquistar as condições necessárias para seu exercício.

REGO; PALÁCIOS; SIQUEIRA-BATISTA, 2009


Críticas desde o Sul
Quarto Congresso Mundial de Bioética (Japão, 1998)

• Qualidade de vida
• Biodiversidade
• Recursos naturais
• Racismo
• Acesso a sistemas públicos de saúde e medicamentos

GARRAFA; MARTORELL; NASCIMENTO, 2016


Críticas desde o Sul
Sexto Congresso Mundial de Bioética (Brasil, 2002)

• Tema: Bioética, poder e injustiça.

Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos da


UNESCO (2005)

• Ampliou a agenda da bioética para os campos social, sanitário e


ambiental.

GARRAFA; MARTORELL; NASCIMENTO, 2016


Bioética da intervenção

Defende como moralmente justificável a […] priorização de


políticas e tomadas de decisão que privilegiem o maior número
de pessoas, pelo maior espaço de tempo e que resultem nas
melhores consequências […] com a busca de soluções viáveis e
práticas para conflitos identificados com o próprio contexto onde
acontecem” (Garrafa, 2005, p. 130-131).

GARRAFA; MARTORELL; NASCIMENTO, 2016


Conceitos de Bioética da Intervenção

Bioética das situações emergentes


• As novidades em termos de saúde. Novos tratamentos,
novas doenças etc.

Bioética das situações persistentes


• Situações decorrentes das desigualdades sociais.
Conceitos de Bioética da Intervenção

Países centrais
• Já resolveram ou encaminharam soluções para grande parte dos
problemas básicos de saúde, educação, alimentação, moradia e
transporte.
Países periféricos
• A maior parte da população luta por condições mínimas de
sobrevivência com dignidade e a concentração de poder e renda
está nas mãos de poucas pessoas.
Conceitos de Bioética da Intervenção

O debate ético precisa


ir além da pluralidade
moral para alcançar
uma dimensão mais
abrangente: quais as
condições necessárias
para a existência física e
social dos indivíduos?

EQUIDADE.
Conceitos de Bioética da Intervenção
Equidade
• Pessoas têm necessidades diferentes para atingir objetivos iguais.

Justiça social
• Países periféricos precisam lidar com questões persistentes.
• Libertação das forças opressoras.
• Empoderamento.
• Emancipação: ausência de dependência; sobrevivência garantida.
Conceitos de Bioética da Intervenção
Imperialismo moral

• Ativo. Ex.: países centrais tentando alterar textos dos tratados


internacionais a seu favor.

• Passivo. Omissão em relação a tratados éticos universalizados.


Referências
CLOTET, J. Bioética: uma aproximação. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2006.

GARRAFA, V.; MARTORELL, L. B.; NASCIMENTO, W. F. Críticas ao principialismo em


bioética: perspectivas desde o norte e desde o sul. Saúde Soc. São Paulo, v.25, n.2, p.442-451,
2016. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v25n2/1984-0470-sausoc-25-02-
00442.pdf . Acesso em 28 jan. 2020.

REGO, S.; PALÁCIOS, M.; SIQUEIRA-BATISTA, R. Bioética para profissionais da saúde


[online]. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2009.

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