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APROFUNDE-SE
CAPÍTULO 1
REGIÃO
NORTE
Sobre o
autor
Roberto Fontes
Instituição: LABHAB-FAUUSP
Uma das características da expansão das cidades brasileiras é destinar o espaço para
moradia da população sem condições de acesso à cidade oficial à trechos ambientalmen-
te vulneráveis. Eles apresentam riscos de enchentes, deslizamentos ou contaminação.
No caso de Manaus, a ocupação do território pelas pessoas mais pobres aconteceu em
um contexto ambiental extremo. A variação anual do nível do Rio Negro pode chegar a
15 metros e as chuvas são constantes e volumosas. A moradia em palafitas é a habitação
tradicional dos ribeirinhos da Bacia Amazônica e virou símbolo de pobreza e vulnerabili-
dade ao longo do século XX.
A rede hidrográfica da cidade é formada por quatro bacias de igarapés urbanos. Eles são
extensos e alimentados por centenas de afluentes. Ao longo do tempo, as famílias de
trabalhadores e trabalhadoras empregados nos ciclos produtivos da cidade foram cons-
truindo suas casas nas margens. Essas comunidades estão atualmente expostas a uma
série de riscos socioambientais. Eles são ainda mais graves por causa da falta de infraes-
trutura de esgoto, coleta de lixo, drenagem urbana e regularização fundiária. Também
podem sofrer com eventos climáticos extremos.
Mapa 1 – Hidrografia de Manaus: principais bacias hidrográficas urbanas e variação anual do Rio Negro
Fonte: Adaptado de Souza (2018), com base em Google Earth (2018). Elaboração gráfica Labhab (2022).
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Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras
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PARA MAIS
Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus
INFORMAÇÕES
(PROSAMIM) que desde 2006 recebeu apoio finan-
SOBRE O TEMA
ceiro do Banco Interamericano de Desenvolvimento VER TAMBÉM O
(BID): PROSAMIM I e Suplementar, PROSAMIM II MÓDULO 6.
e o PROSAMIM III (ver quadro a seguir). Os recur-
sos eram 70% financiados pelo BID e 30% aportados
como Contrapartida Local pelo Governo do Estado.
Diferentes modalidades de obras foram incorporadas
ao longo das etapas do programa. Entre elas estavam
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PARA MAIS
intervenções no sistema viário urbano realizadas pela INFORMAÇÕES
Prefeitura de Manaus e canalizações pontuais de iga- SOBRE O TEMA
rapés. O quadro a seguir apresenta um resumo dos va- VER TAMBÉM O
lores de empréstimo em cada etapa, bem como as con- MÓDULO 5.
trapartidas de responsabilidade do Governo do Estado
do Amazonas.
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Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras
Quadro 1 – Resumo dos valores totais dos empréstimos contratados e contrapartidas locais
6
PARA MAIS
e 2020, com um investimento total de U$930 milhões. INFORMAÇÕES
Cada etapa foi organizada por meio de um contrato SOBRE O TEMA
específico com áreas extensas da cidade de Manaus. VER TAMBÉM O
MÓDULO 6.
Além disso, a área de intervenção de cada fase foi
um trecho de bacia hidrográfica urbana específica:
PROSAMIM I, Bacia do Educandos; PROSAMIM II,
Bacia do Igarapé do Quarenta; e PROSAMIM III, Bacia
do Igarapé do São Raimundo. Grandes programas ur-
banos como o Programa Guarapiranga, DRENURBS e
PAT PROSANEAR partem das bacias e sub-bacias hi-
drográficas como unidade territorial central. Essa so-
lução técnica é a mais adequada em termos de sanea-
mento ambiental e ajuda a entender o PROSAMIM.
Assim, observar resultados e impactos esperados é
uma tarefa difícil com muitas sobreposições entre os
programas, como mostra a figura abaixo:
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Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras
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PARA MAIS
Tanto em relação ao enfrentamento da precariedade INFORMAÇÕES
habitacional quanto em relação à exposição ao risco so- SOBRE O TEMA
cioambiental nas cidades amazônicas. O PROSAMIM VER TAMBÉM O
MÓDULO 4.
foi o primeiro projeto a intervir na cidade integrando a
questão ambiental e habitacional, mas alcançou resul-
tados limitados.
A primeira fase do programa foi marcada pelo uso da solução de drenagem em galerias
fechadas, priorizando a construção de conjuntos habitacionais próximos à região central
de Manaus e ao local onde as famílias moravam. Foram construídos quatro parques ur-
banos, um deles associado à preservação do patrimônio histórico.
O PROSAMIM II teve como objeto o trecho final do Igarapé do Quarenta, com cerca de
3 km de extensão. A intervenção começava por remover as famílias expostas aos riscos
ambientais e previa a canalização do igarapé. Posteriormente, seriam implantadas vias
marginais e obras de infraestrutura, como viadutos, pontes e alças viárias. Assim, seria
feita a transposição do Igarapé do Quarenta por avenidas dos bairros do entorno, além
de se construir cerca de 590 unidades habitacionais.
A última fase do PROSAMIM começou em 2012 e foi marcada por conceitos ambientais de
macrodrenagem mais contemporâneos. O partido do projeto não previa a canalização do
Igarapé do São Raimundo, nem a construção de vias marginais. Foi proposta a construção de
três conjuntos habitacionais (cerca de 780 unidades habitacionais) e três parques urbanos.
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Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras
2,5
va do Governo do Estado do Amazonas, alinhado dire-
INFORMAÇÕES
tamente com o gabinete do governador. A empreiteira SOBRE O TEMA
responsável pela execução de todas as intervenções, VER TAMBÉM OS
a gerenciadora de projetos e a empresa responsável MÓDULOS 2 E 5.
pela fiscalização das obras foram contratadas para
cada fase através de licitação pública.
No início dos anos 2000, o BID já estava envolvido há décadas em investimentos de gran-
des obras na região amazônica para implantar infraestruturas pesadas, como estradas,
ferrovias e hidrelétricas. Uma transição estratégica a partir da metade dos anos 1990
levou para as cidades da região investimentos em projetos de reordenamento urbano
e saneamento básico. O PROSAMIM consolidou essa transição e foi realizado de forma
muito próxima e com acompanhamento atento das equipes do banco.
APROFUNDE-SE
Requalificação urbana e ambiental na área da
zona portuária Baixada do Ambrósio, Santana-Amapá
O artigo apresenta uma proposta de requalificação urbana e
ambiental na área habitacional da Zona Portuária Baixada do
Ambrósio, em Santana, no Amapá. O que se propõe é adotar um
novo padrão arquitetônico e de serviços básicos, principalmente
de saneamento e drenagem para áreas palafíticas. Assim, é
possível manter a maioria das pessoas morando na Baixada do
Ambrósio com qualidade de vida, em vez de movê-las para outro
local. A metodologia utilizada foi a pesquisa de campo feita
com o apoio e a participação de habitantes do bairro. Esse foi o
principal instrumento de planejamento participativo. O projeto
foi contratado e aprovado em 2006 pelo Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID), e pode ser referência para outras áreas
semelhantes na Amazônia, mesmo não tendo sido aplicado.
ROBACHER, L. A. Requalificação urbana e ambiental na área
habitacional da zona portuária Baixada do Ambrósio, Santana,
Amapá. Inclusão Social, [s. l.], v. 6, n. 2, 2013.
Disponível em:
https://revista.ibict.br/inclusao/article/view/1737
VOCÊ SABIA ?
Iniciativa do Projeto ANDUS em Amajari/RR: construção
de uma estratégia integrada de regularização fundiária ancorada
em soluções baseadas na natureza de saneamento ambiental e drenagem
para potencializar os serviços ecossistêmicos.
Uma biofossa (BET), um jardim de chuva e duas trincheiras de infiltração
foram implementadas na sede da prefeitura. Agentes locais fizeram o mesmo em
comunidades vulneráveis. O que conquistamos: deixar a entrada da cidade mais bonita;
soluções de saneamento; arborização e paisagismo; e modelo de solução ambiental.
Rede de Desenvolvimento Urbano Sustentável (ReDUS): iniciativa “Impacto nos
Municípios” e evento “Semana Nacional de Desenvolvimento Urbano Sustentável”.
Amajari/RR: Proposta da mentoria em biodesign de espaços públicos
Amajari/RR: Impactos da mentoria em instrumentos urbanos
Amajari/RR: Disseminação das SbNs
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Desenvolvimento urbano sustentável e a prática nas cidades brasileiras
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, L. C. M. de. Habitabilidade na cidade sobre as águas: desafios da implan-
tação de infraestrutura de saneamento nas palafitas do Igarapé do Quarenta – bairro
Japiim – Manaus/AM. 2005. Dissertação (Mestrado) – Departamento de Arquitetura e
Urbanismo, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2005.
CANO, W. Amazônia: da crise à integração atípica e truncada. Am. Lat. Hist. Econ.,
México, v. 20, n. 2, p. 67-95, ago. 2013.
GRAU, Eros Roberto. Aspectos jurídicos da noção de solo criado. O Solo criado: Anais
do Seminário, Fundação Prefeito Faria Lima. São Paulo, 1976, p.136.