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CONCEPÇÃO ADVENTISTA SOBRE O USO DE JOIAS: UMA ANÁLISE

BASEADA NA BÍBLIA, NOS ESCRITOS DE ELLEN G. WHITE E NO


MANUAL DA IGREJA

Jhonathan James de Sousa1

INTRODUÇÃO

O tema sobre o uso de joias no contexto do adventismo é de suma


importância para os membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Ressalta-
se que o assunto deve ser estudado à luz da Bíblia, da Orientação Profética2,
em conformidade com as recomendações do Manual da Igreja (revisão 2022)
e com humildade cristã. Sempre colocando os princípios bíblicos acima das
questões culturais, opiniões pessoais, achismos e soluções diplomáticas
individualistas.
Os que aceitam a Bíblia como o único livro de fé e prática estão
dispostos a compreender a forma como os seus ensinos sobre o uso de joias
afetam a vida cristã. É notável que as pessoas são muito sensíveis no que
diz respeito ao que usar ou não usar, mas a questão neste caso é definida
unicamente pela autoridade bíblica, o que nos ajuda a praticar as orientações
registradas nas Escrituras.
Os adventistas do sétimo dia se apresentam como submissos à
soberana vontade do Senhor conforme está revelada em sua Palavra. Eis a
principal razão que nos permite explorar as implicações bíblicas a respeito
das joias em nossos dias. Quando se conhece a visão bíblica sobre esse
tema, é perceptível que ele não é tão complexo como parece. É
recomendável evitar os extremos e sempre respeitar as opiniões e decisões
diferentes.

TEXTOS BÍBLICOS RELEVANTES PARA O ESTUDO

Gênesis 35:1-5;
Êxodo 33:4-6;
Isaías 3:18-21;
Oseias 2:13;

                                                                                                               
1  Doutorando em Teologia Bíblica (NT) pela Escola Superior de Teologia de São Leopoldo,

RS (EST). Doutorando em Teologia Pastoral (missiologia) pelo South African Theological


Seminary, África do Sul (SATS). Mestre em Teologia Sistemática pela Escola Superior de
Teologia de São Leopoldo, RS (EST). Pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia em Santa
Catarina, AC. E-mail: prjjdesousa@gmail.com  
2
No contexto adventista, as expressões “orientação profética” e “espírito de profecia” se
referem tanto aos escritos dos profetas bíblicos quanto aos de Ellen G. White.
  2  

1 Timóteo 2:9-10;
1 Pedro 3:3, 4;
Ap 12:1, 2; 17:4

COMENTÁRIOS SOBRE OS TEXTOS BÍBLICOS MENCIONADOS ACIMA

Biblicamente falando, há um posicionamento desfavorável para o uso


de joias nas Sagradas Escrituras. Tanto em Gênesis 35:1-4 quanto em Êxodo
33:4-6, vemos Deus pedindo que seu povo remova os adornos de seu corpo,
no contexto de um apelo para uma reconsagração ao Senhor. Comentando
sobre Êxodo 33:4-6, Charles F. Pfeiffer (2017, p. 137) diz que “o povo [Israel]
estava começando a sentir o peso do juízo de Deus, e cheio de tristeza
começou a remover de si todo adorno.” Pablo R. Andiñach (2010, p. 369)
explicando Êx 33:4-6, destaca o fato de que “afirma-se, por três vezes, que
ninguém vestiu seus enfeites (hebraico ‘adi); desde aquele dia, os israelitas
não voltaram a usá-los”.
Em Gn 35:1-4, os filhos de Deus foram conclamados a tirar tudo aquilo

que não correspondia à religião dos patriarcas, o autor quer


explicar que, no ingresso na terra [Betel] todas as imagens ou
insígnias de deuses estrangeiros e toda impureza cultual deverão
ter sido eliminadas. Provavelmente ele está pensando nos terafins
de Raquel (Gn 31), no caso das argolas de orelha provavelmente
em amuletos. (Westermann, 2013, p. 290).
 
No comentário bíblico adventista (2011, p. 434), encontramos a
seguinte explicação sobre Gn 35:4:

Não só os ídolos, mas também todas as joias foram entregues a


Jacó para serem removidas de casa. Essas coisas seriam uma
barreira que os impediria de serem aceitos por Deus em Betel. Não
está claro se os brincos em forma de argola eram simples
ornamentos ou se eram amuletos, como alguns comentaristas
acreditam. O procedimento mais sábio para todo filho de Deus é
seguir o exemplo das esposas e servas de Jacó e eliminar todo
ornamento desse tipo (1Tm 2:9; 1Pe 3:3).
 
O profeta Isaías também apresenta uma denúncia profética contra
quase todos os tipos de joias usadas tanto por homens como por mulheres
(Is 3:18-21). O fato de que os israelitas tenham tirado seus adornos a partir
do Sinai sugere que os primeiros israelitas não usavam joias. (Rodríguez,
2021, p. 116). Para uma melhor compreensão de Is 3:18-213, é interessante
definir os seguintes termos4:

                                                                                                               
3
A versão bíblica utilizada para a definição das palavras, foi a Nova Almeida Atualizada,
NAA.    
4
Para mais detalhes sobre esses termos, veja Champlin, 2001, p. 2800-2801.
  3  

(1) “Toucas” vem do hebraico shevisim, talvez redes de cabelo ou


faixas para a cabeça, de ouro ou prata usadas na cabeça de orelha
a orelha; (2) “Ornamentos em forma de meia-lua”, do hebraico
saharonim, eram pequenas luas, talvez pendentes em forma de lua
crescente usados como colar. No antigo Oriente, usavam-se muitos
tipos de ornamentos para o pescoço, feitos de ouro ou prata, ou de
pedras preciosas; (3) “Pendentes”, do hebraico netifoth, que
significa gotas. É provável que fossem pendentes para orelhas; (4)
“Braceletes” eram e ainda são o enfeite preferido dos países do
Oriente. Em sua maioria eram grandes e chamativos, e usavam-se
muitos de uma só vez; (5) “Turbantes”, do hebraico pe’erim,
enfeites de cabeça de vários tipos, talvez incluindo diademas,
laços, chapéus e pentes decorativos; (6) “Correntinhas para os
tornozelos”, do hebraico se‘adoth, eram braceletes provavelmente
usados nas pernas, e talvez também nos braços. As mulheres
orientais com frequência enfeitavam as pernas da mesma forma
que os braços; (7) “Amuletos” do hebraico lechashim, que significa
encantos ou amuletos, que continham provavelmente palavras
mágicas e eram usados para produzir um efeito mágico em quem
os usasse; (8) “Anéis”, do hebraico tabba‘oth, eram anéis para os
dedos ou para as orelhas; (9) “Joias pendentes do nariz” ou anéis
de nariz, joia muito comum no Oriente, tanto nos dias atuais quanto
nos antigos. (DORNELES, 2013, p. 106).
 
Em Os 2:13, o uso dos adornos está ligado diretamente com a
idolatria, especialmente no contexto do culto a Baal. O comentário bíblico
adventista comenta que “o Israel pecaminoso se adornava com lindos
ornamentos em devoção aos seus “amantes” pagãos.” (Dorneles, 2013, p.
984). Os “dias dos Baalins” eram os dias do pecado, nos quais, o povo de
Israel esqueceu-se de Deus e passou a praticar costumes idólatras em sua
vida religiosa. Warren W. Wiersbe (2007, p. 394) ressalta que “o povo ainda
gostava de celebrar os dias santos judaicos, mas em seu coração dava glória
a Baal e a outros falsos deuses.”
No comentário bíblico de Champlin sobre Os 2:13, o autor destaca que

a dama, Israel, embelezava-se e parecia uma prostituta, quando


estava lá fora, praticando o seu paganismo. Naturalmente, ela
esqueceu Yahweh, seu marido, enquanto se consorciava com seus
amantes. […] Os anéis e joias representam aqui o esforço da
esposa infiel [Israel] por atrair seus amantes. (Champlin, 2001, p.
3452).
 
A palavra “modéstia”5 é usada por Paulo em sua discussão a respeito
de adereços próprios aos cristãos (1Tm 2:9), e significa o respeito próprio
determinado por uma vida que agrada ao Senhor. Consequentemente leva a
evitar excessos ou extremos e reconhece e aceita os limites do que é
                                                                                                               
5
No grego, usa-se o termo “aidos” para “modéstia”, que quer dizer “reverência”, “respeito”,
“modéstia”. O termo tem em vista aquele pejo que evita ultrapassar os limites da reserva e
da modéstia femininas. Ver CHAMPLIN, R. E. O Novo Testamento interpretado, versículo por
versículo, v. 5, p. 393.
  4  

propício. O que é propício não é simplesmente o que a sociedade


estabeleceu, mas basicamente o que foi especificado nas instruções dadas
pelos apóstolos para a comunidade dos crentes.
Nas palavras de R. N. Champlin (2014, p. 393), em 1Tm 2:9, o
apóstolo Paulo
limitou a atividade das mulheres se adornarem, para que as
mulheres crentes fossem diferentes das mulheres não crentes, ou
seja, mundanas. Para Paulo, o verdadeiro adorno está nas “boas
obras” (1Tm 2:10). Neste verso (1Tm 2:9), o autor chama os
cristãos para o dever de glorificar a Deus (1Co 10:31) em sua
forma de vestir, ornamentar-se e adorar não só nas reuniões do
templo, mas também em sua vida diária.
 
O Dr. Samuele Bacchiocchi (1997, p. 4) ressalta que “a maneira de
vestir-se e ornamentar-se de uma pessoa não representa apenas sua
cobertura externa; ela lhe revela o caráter interior.”
Em referencia às “tranças” ou “cabeleira frisada” mencionadas no texto
(1Tm 2:9); refere-se a um penteado que incluía trançar o cabelo com ouro e
outros adornos. Era uma moda das matronas gregas e romanas, que usavam
joias e placas de ouro trançadas entre os cabelos. O cúmulo da ostentação
quando a maioria do povo não dispunha nem mesmo do que comer.
No texto de 1Pe 3:3-5, o apóstolo Pedro está demonstrando rejeição
ao uso de joias como adorno exterior e provavelmente também como sinal de
status social. É visível que o texto não está considerando o uso de joias com
outros propósitos funcionais (como selos ou sinete). O termo “adorno” vem do
grego “kosmos”6, que significa “arranjo, ordem” e também “beleza ou adorno”.
Em todo o Novo Testamento, é somente em 1Pe 3:3 que esse substantivo é
usado com o significado de “adorno”. Nas demais referências bíblicas em que
ele é mencionado, o significado é mundo. Seu uso não sugere que haja algo
intrinsecamente errado em adornar-se.
Ao comentar sobre 1Pe 3:3, R. N. Champlin (2014, p. 170) diz que “o
verdadeiro sentido do termo adorno, neste caso, é penteados, maquiagem,
uso de joias e vestes, como algo meramente exterior. [...] Pedro quis dizer
que a ornamentação externa exagerada é sinal de mundanismo.” Karen H.
Jobes (2022, p. 225), mencionando Filo, comentou que “os adornos
exteriores eram sempre vistos como instrumentos de sedução.”
Na Bíblia de estudo Andrews (2015, p. 1620), encontramos o seguinte
comentário sobre 1Pe 3:3-5:

                                                                                                               
6
O termo kosmos, pode significar disposição ou ordem harmônica, e, portanto, adorno,
decoração, ornamento. O significado de adorno para essa palavra grega só aparece em 1Pe
3:3. Em outras passagens bíblicas em que ela é usada como kosmos, o seu significado é
mundo (exemplos: Mt 13:35; Jo 21:25; At 17:24; Rm 1:20).   Ver VINE, W. E. Diccionario
expositivo de palabras del Antiguo y Nuevo Testamento exhaustivo de Vine. Nashville,
Tennessee, USA: Grupo Nelson, 2007, p. 24, 576.
  5  

A passagem pode ser mais bem compreendida da seguinte forma:


Não se adornem exteriormente: (1) fazendo penteados no cabelo
(alusão a penteados exagerados da época, (2) usando ouro (joias
como colares, brincos, pulseiras, etc.), e (3) vestindo roupas caras,
que enfatizam a posição social e criam diferenças sociais dentro da
igreja.
 
Para o teólogo e filósofo alemão, Reinhard Feldmeier (2009, p. 159-
160), as palavras de 1Pe 3:3 estão

fundamentadas inicialmente por meio de um contraste entre o


adorno exterior do corpo com penteado, adereços e vestuário
versus o “ser humano oculto do coração”, que se notabiliza por um
“espírito manso e tranquilo” (1Pe 3:4). É provável que no texto, o
autor esteja tratando menos de indícios da condição econômica
das destinatárias e mais de uma expressão consagrada (cf. 1Tm
2:9).

Mencionando Richard M. Davidson, diretor do Departamento de Antigo


Testamento da Universidade Andrews, Alberto Timm (2007, p. 31) escreveu
que Davidson

reconhece que houve ocasiões na história bíblica em que o povo


de Deus acabou sucumbindo ao uso de joias. Mas, em períodos de
especial consagração, Deus pediu que Seu povo se desfizesse de
suas joias e adornos como um símbolo exterior de dedicação
interior da vida a Ele. Foi assim, por exemplo, na dedicação de
Jacó e sua família em Betel (Gn 35:1-4); na reconsagração dos
israelitas após a idolátrica adoração do bezerro de ouro, no deserto
do Sinai (Êx 33:5 e 6); e também na recomendação às mulheres
cristãs no período do Novo Testamento (1Tm 2:9 e 10; 1Pe 3:3-5).
 
No livro de Apocalipse aparece um marcante contraste entre a grande
meretriz “vestida de púrpura e de escarlata, adornada de ouro, de pedras
preciosas e de pérolas” (Ap 17:4; cf. 2 Reis 9:30), de um lado, e a mulher
pura “vestida do sol” (Ap 12:1) e a grande multidão dos glorificados “vestidos
de vestiduras brancas, com palmas nas mãos” (Ap 7:9), do outro.
Em seu comentário sobre Ap 17:4, o teólogo adventista Ranko
Stefanovic (2013, p. 516, 517) diz que

as joias da Babilônia do tempo do fim consistiam em ouro, pedras


preciosas e perlas. As pedras preciosas com suas qualidades de
luz radiante, beleza e permanência são usadas de forma
consistente na Bíblia para descrever a presença visível de Deus.
Porém, os caros e luxuosos adornos da Babilônia são a expressão
de arrogância e desejo de dominar o mundo. [...] A aparência
luxuosa da Babilônia é um contraste com a aparência da esposa do
Cordeiro vestida de “linho fino, limpo e resplandecente”, que
representam as ações justas dos santos (Ap 19:8).
 
  6  

O Dr. Ángel Manuel Rodríguez (2021, p. 116) comentando sobre as


duas mulheres de Apocalipse, ressalta o seguinte: “Em Apocalipse 12:1 e 2,
usa-se uma mulher como símbolo do povo de Deus; há total ausência de
joias em seu corpo. A mulher que representa os inimigos do povo de Deus,
contudo, é descrita como carregada de joias (Ap 17:4).”
Corroborando com Rodríguez, Stefanovic (2013, p. 386, 387) escreveu
que “a notável mulher de Ap 12:1 simboliza o povo de Deus tanto no Antigo
como no Novo Testamentos, a noiva de Cristo (Ap 12:17; cf. 19:7-8; 22:17).”
Grant R. Osborne (2014, p. 513) também defende que a mulher de Ap 12:1, 2
representa Israel, o povo de Deus e a igreja.
Os comentaristas e teólogos aqui citados estão em acordo quanto à
questão do uso de joias na Bíblia. Eles esclarecem que as joias eram usadas
em contextos cultuais de idolatria, vaidade, adorno, poder/autoridade e status
sociais. Em nenhum caso, aparece em um contexto de adoração a Deus ou
como sinal de identificação do povo escolhido.

POSIÇÃO DA IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA SOBRE O USO DE


JOIAS E A BÍBLIA7

A posição adventista concernente ao uso de joias rejeita o uso das


joias ornamentais e aceita que existam joias funcionais, e que o uso destas
não necessariamente viola o padrão. Como visto acima, isto é o que a Bíblia
declara com respeito ao uso de joias. É verdade que para algumas pessoas é
difícil aceitar o conceito de que as joias podem ter funções diferentes, mas
mesmo no mundo ocidental, elas possuem várias utilidades.
Joias religiosas são comuns entre os integrantes do movimento Nova
Era e também entre alguns cristãos, por exemplo, o crucifixo para os
católicos. Vertentes do ocultismo fazem uso de joias para uma suposta
proteção. Em alguns países as joias indicam a posição social de
responsabilidade de reis, rainhas e chefes tribais.
É claro que a joia funcional mais conhecida é a aliança matrimonial,
usada como símbolo de amor e comprometimento entre o casal. Entretanto,
na maioria dos casos a função principal das joias da atualidade, parece ser
ornamental. É este aspecto ornamental que a igreja, de acordo com as
escrituras, tem rejeitado e tido como inapropriado para os cristãos.
O que cada um precisa perguntar é: Qual é o objetivo desta peça em
minha cultura? Se não se conseguir descobrir o objetivo, esta é
provavelmente ornamental. No mundo ocidental as joias funcionais são fáceis
                                                                                                               
7
Ver RODRÍGUEZ, Ángel Manuel. O uso de joias na Bíblia, uma resposta profunda a
perguntas sinceras. 3. ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2021, p. 15-23.
  7  

de se identificar, porque suas funções são intrínsecas a suas possibilidades


de marketing e satisfazem a necessidades específicas na vida do indivíduo.
Por exemplo, o relógio foi feito com o objetivo expresso de nos informar as
horas; uma aliança de casamento já é vendida como aliança de casamento; e
abotoaduras são manufaturadas para unir os punhos da camisa. O broche
pode ser um ornamento funcional se for usado para manter unidas duas ou
mais peças de roupa.
As joias funcionais podem ser facilmente identificadas na maioria das
culturas, então devemos permitir que a prática cultural nos informe. Em
outras palavras, joias funcionais não são definidas por desejos pessoais, mas
por crenças e práticas culturais respeitáveis. A igreja precisa reconhecer, por
exemplo, que em algumas culturas o colar é usado para indicar que a mulher
que o está usando é casada; enquanto em outras culturas ele é um simples
adorno. Na primeira situação, o colar é aceitável, mas na segunda deve ser
rejeitado. Na escolha das joias funcionais os cristãos devem seguir os
princípios bíblicos de simplicidade, modéstia e economia.
Joias ornamentais usualmente, mas não exclusivamente, se
encontram na forma de brincos, anéis, piercings, pulseiras, colares e
tornozeleiras, e são usadas para sofisticar a aparência do indivíduo. De uma
certa maneira esta é a definição implícita de joias ornamentais que
encontramos no documento “Ostentação e Adorno” (Action on Display and
Adornment) feito durante o Concílio Anual da Conferência Geral (14-29 de
outubro de 1972). O documento diz que foi votado: “Que na área do adorno
pessoal não sejam usados colares, brincos, braceletes/pulseiras, anéis
com pedras e outros anéis ornamentais.” (Rodríguez, 2021, p. 140-142).
O documento do Concílio Anual de 1986 da Divisão Norte Americana
também declara que foi votado:
1. Reafirmar os princípios relativos ao adorno pessoal como se
encontram esboçados no Manual da Igreja, no voto do Concílio Anual
de 1972 e na declaração dos administradores da Associação Geral em
2 de outubro de 1972.
2. Afirmar que o uso de joias é inaceitável e constitui uma negação dos
princípios enunciados na Bíblia e no Espírito de Profecia concernentes
ao adorno pessoal.” (Rodríguez, 2021, p. 144-145).

SOBRE O USO DE ALIANÇA DE CASAMENTO (JOIA FUNCIONAL)

Comentando sobre o uso da aliança, o Dr. Samuele Bacchiochi


(teólogo adventista) responde duas perguntas:
  8  

Deveriam os cristãos usar aliança?" A resposta é: Os cristãos


podem usar aliança se eles puderem fazê-lo conscienciosamente,
naquelas culturas onde o costume for imperativo. À segunda
questão. "Poderia a aliança ser enquadrada na categoria de
impróprios ornamentos de ouro e pérolas mencionados por Paulo e
Pedro? A resposta é esta: Historicamente uma aliança simples não
tem sido observada como ornamento, mas a história também nos
ensina que ela não permanece simples por muito tempo, mas
evolui para anéis mais elaborados incrustados de pedras preciosas.
(Bacchiocchi, 1997, p. 92).
 
Ellen G. White comenta o seguinte: “Nos países em que o costume for
imperioso não temos o encargo de condenar os que usarem sua aliança; que
o façam, caso possam fazê-lo em boa consciência.” (White, 2008, p. 181).
O Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia enfatiza o mesmo
argumento:
Em alguns países e culturas, o costume de usar aliança de
casamento é considerado imperativo, tendo se tornado, na mente
das pessoas, um critério de virtude. Portanto, não é considerado
ornamento. Em tais circunstâncias, não condenamos essa prática.
(IASD, 2022, p. 158).
 
 
CITAÇÕES IMPORTANTES DE ELLEN G. WHITE

“A abnegação no vestir faz parte de nosso dever cristão. Trajar-se com


simplicidade e se abster da ostentação de joias e ornamentos de todo tipo
está em harmonia com nossa fé.” (White, 2002, p. 366).
“O vestuário extravagante, a exibição de correntes de ouro e rendas
aparatosas, é uma clara indicação de cabeça fraca e coração orgulhoso.”
(White, 2007, p. 244).
“Devemos vestir-nos com asseio e elegância, posto que sem luxo e
sem adornos. Os filhos de Deus devem estar limpos interior e exteriormente.”
(White, 2007, p. 185).
“Os que põem maior cuidado em ornamentar-se para exibição do que
em educar a mente e exercitar suas faculdades para a máxima utilidade, a
fim de glorificarem a Deus, não reconhecem sua responsabilidade para com
Ele.” (White, 2002, p. 367).
“A conformidade com o mundo é um pecado que está minando a
espiritualidade de nosso povo e interferindo seriamente em sua utilidade.”
(White, 2007, p. 247).

CITAÇÃO DO MANUAL DA IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA

É claramente ensinado nas Escrituras que o uso de joias é


contrário à vontade de Deus. O apóstolo Paulo nos admoesta a
vestir-nos “com modéstia e bom senso, não com tranças no cabelo,
  9  

ouro, pérolas ou roupas caras“ (1Tm 2:9). O uso de ornamentos de


joias é um esforço para atrair a atenção e não para conservar o
autoesquecimento que o cristão deve manifestar. Lembremos que
não é o adorno exterior que expressa o caráter cristão, mas “o
homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um
espírito manso e tranquilo, que é de grande valor diante de Deus”
(1Pe 3:4, ARA). Devemos evitar o uso de cosméticos que não se
coadunam com o bom gosto e com os princípios da modéstia
cristã. (IASD, 2022, p. 158).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após análise clara e fundamentada do tema aqui apresentado, cabe a


cada um, em oração e convicção dos ensinos divinos, tomar a decisão certa
quanto ao uso ou não de joias ornamentais. Lembrando que Deus espera
que seus filhos vivam com simplicidade, modéstia e economia.
Quando as instruções dadas aos cristãos coincidem com os valores da
sociedade, a igreja é beneficiada, pois seus valores não entrarão em conflito
com os valores dos não crentes. Em resumo, joias funcionais modestas
evitam chamar a atenção para o eu, e são leais aos parâmetros cristãos do
que é propício para uso do cristão.
Ninguém pode esperar que a igreja decida por seus membros qual é o
carro modesto e econômico, a casa modesta ou o relógio simples. Nesta
área, a igreja deverá apenas ensinar os princípios cristãos e confiar que seus
membros os usarão sabiamente ao tomarem suas decisões diárias.
A pergunta óbvia é: Por que então não se pode fazer o mesmo em se
tratando de joias ornamentais?
A resposta é simples: A Bíblia nos mostra um padrão específico a este
respeito, consequentemente a igreja tem que ensiná-lo. Nas áreas em que a
Bíblia esclarece o assunto, não podemos ignorar sua sabedoria, mas sim
aproveitá-la. No que concerne a outras áreas, devemos deixar que o Espírito
Santo trabalhe agindo livremente nos corações daqueles que dizem viver
uma vida que agrada a Deus.
É como Ellen G. White escreveu:

Se somos cristãos, seguiremos a Cristo ainda mesmo que o


caminho em que tenhamos de andar contrarie as nossas
inclinações naturais. Não há necessidade de vos dizer que não
deveis usar isto ou aquilo, pois se o amor dessas coisas vãs estiver
em vosso coração, pôr de parte os vossos adornos apenas se
assemelhará ao cortar a folhagem de uma árvore. As inclinações
do coração natural de novo surgiriam. Deveis ter consciência
própria. (White, 2007, p. 429, 430).
 
  10  

É com base nas orientações aqui apresentadas, que a Igreja


Adventista do Sétimo Dia desaprova e não recomenda para os seus
membros o uso das joias ornamentais, como brincos, colares, braceletes,
pulseiras, tornozeleiras, cordões, anéis, piercings, anéis de formatura, etc.
Como também, o uso restrito e equilibrado das joias funcionais, como relógio,
aliança de casamento, broches, abotoaduras, etc.
A Bíblia, o Espírito de Profecia e o Manual da Igreja desaprovam o uso
de joias ornamentais. Logo, os adventistas do sétimo dia entendem ser seu
dever abster-se delas.

REFERÊNCIAS

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São Leopoldo, RS: Editora Sinodal, 2010.

BACCHIOCCHI, Samuele. Qual a roupa certa?, saiba como roupas e


adornos podem fazer diferença em sua vida cristã. Itupeva, SP: Editora
Tempos Ltda, 1997.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento interpretado, versículo por


versículo, v. 5: Lilipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2
Timóteo, Tito, Filemom e Hebreus. São Paulo: Hagnos, 2014. 6 v.

______. ______. v. 6: Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse.


São Paulo: Hagnos, 2014. 6 v.

______. O Antigo Testamento interpretado, versículo por versículo, v. 5:


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BÍBLIA. Português. Bíblia de estudo Andrews, versão revista e atualizada, 2.


ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015.

BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada jornada, versão nova almeida atualizada.


Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2020

DORNELES, Vanderlei (Ed.). Comentário bíblico adventista do sétimo dia. v.


1: Gênesis a Deuteronômio. São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2011. 9
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______. ______. v. 4: Isaías a Malaquias. São Paulo: Casa Publicadora


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FELDMEIER, Reinhard, A primeira carta de Pedro, um comentário exegético-


teológico. São Leopoldo, RS: Editora Sinodal, 2009.
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JOBES, Karen H. Comentário exegético, 1 Pedro. São Paulo: Vida Nova,


2022.

OSBORNE, Grant R. Comentário exegético, Apocalipse. São Paulo: Vida


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PFEIFFER, Charles F. Comentário bíblico Moody, v. 1: Gênesis a Malaquias.


2. ed. São Paulo: Editora Batista Regular, 2017. 2 v.

IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA. Manual da Igreja Adventista do


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