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Federalismo brasileiro
e projeto nacional:
os desafios da democracia
e da desigualdade
Fernando Luiz Abrucio
resumo abstract

O objetivo deste artigo é analisar como The objective of this article is to analyze how
o desenvolvimento do federalismo the development of Brazilian federalism,
brasileiro, inclusive nos seus dilemas e including its current dilemmas and crisis,
crise atuais, relaciona-se fortemente com is strongly related to the construction of
a construção do Estado em seu aspecto the State in its political and public policy
político e de políticas públicas. Para aspects. To this end, the first part of the text
tanto, a primeira parte do texto discute o discusses the concept of Federation and the
conceito de Federação e a multiplicidade multiplicity of formats in the countries that
de formatos nos países que optaram por opted for this model. In the second part, we
este modelo. Na segunda parte, busca-se seek to map synthetically how the federative
mapear sinteticamente como a questão question was configured from the Empire
federativa se configurou do Império ao to the military regime, highlighting how
regime militar, destacando como suas its variations highlight the type of political
variações ressaltam bem o tipo de pacto pact and State model that was being built
político e de modelo de Estado que estava at each moment. Next, the reconstruction
se construindo a cada momento. A seguir, of federalism based on redemocratization
analisa-se a reconstrução do federalismo is analyzed, in a historical process of great
a partir da redemocratização, num advances for the link between Federation
processo histórico de grandes avanços and democracy. Finally, the more
para a vinculação entre Federação contemporary context of federalism under
e democracia. Ao final, é analisado Bolsonaro is analyzed.
Domínio público/ Wikimedia Commons

o contexto mais contemporâneo do


federalismo sob Bolsonaro. Keywords: federalism; State; democracy;
Brazil.
Palavras-chave: federalismo; Estado;
democracia; Brasil.
O
desenho político-territo- O objetivo deste artigo é analisar como
rial é uma das dimen- o desenvolvimento do federalismo brasi-
sões mais importantes na leiro, inclusive nos seus dilemas e crise
organização das nações atuais, relaciona-se fortemente com a cons-
pelo mundo (Broscheck, trução do Estado em seu aspecto político
Petersohn & Toubeau, e de políticas públicas. Para tanto, a pri-
2017). A adoção do meira parte do texto discute o conceito de
modelo unitário ou da Federação e a multiplicidade de formatos
forma federativa de nos países que optaram por este modelo,
Estado diz muito sobre a para então entender as razões que leva-
complexidade dos países ram historicamente o Brasil a escolher o
e a maneira como pre- formato federativo e qual o impacto dessa
tendem organizar suas escolha na construção da nação.
decisões coletivas (Anderson, 2009). Em Na segunda parte, busca-se mapear sin-
geral, a opção pelo federalismo se dá em teticamente como a questão federativa se
casos em que as questões territoriais tornam configurou do Império ao regime militar,
a governabilidade muito mais intrincada, com destacando como suas variações ressaltam
a necessidade do uso de mecanismos espe- bem o tipo de pacto político e de modelo
ciais para lidar com o conflito e construir de Estado que estava se construindo a cada
o sistema político. momento, ressaltando os efeitos de path
O caso brasileiro encaixa-se muito cla- dependence e de ruptura nesta trajetória. A
ramente neste perfil, e os seus dilemas das seguir, na terceira parte do artigo, analisa-
origens até os dias de hoje revelam que por
meio da trajetória do federalismo se compre-
ende melhor dois de seus principais desafios
históricos: a construção da democracia e o FERNANDO LUIZ ABRUCIO é doutor em Ciência
combate às desigualdades. Política pela USP e professor da FGV-Eaesp.

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-se a reconstrução do federalismo a partir O federalismo se constitui, então,


da redemocratização, num processo histó- como um desenho político territorial de
rico de grandes avanços para a vinculação soberania compartilhada no qual predo-
entre Federação e democracia, bem como mina a fórmula self-rule plus shared-rule,
na sua face de combate inédito das desi- gerando uma combinação entre autono-
gualdades territoriais do país. mia e interdependência dos entes fede-
Ao final, é analisado o contexto mais rativos (Elazar, 1987). Assim, ele difere
contemporâneo do federalismo sob Bol- do Estado unitário cuja distribuição do
sonaro. Trata-se de um momento de forte poder se dá do centro para as partes, e
crise da forma federativa no que se refere mesmo nas nações unitaristas mais des-
tanto à sua vinculação com a organização centralizadas a autonomia dos governos
democrática do país, como também no que subnacionais é uma concessão da sobera-
tange à dinâmica intergovernamental em nia central, e não um direito territorial.
sua interface com as políticas públicas, em A fórmula federalista é certamente
especial as de corte social, fundamentais no bem mais complexa politicamente do que
combate das desigualdades territoriais. O o modelo unitarista. Adotá-la significa
bolsonarismo se coloca contra vários avan- criar uma cultura federativa de barga-
ços obtidos no plano federativo nos 30 anos nha e negociação (Burguess, 1993), cons-
posteriores à Constituição de 1988. A luta truir uma institucionalidade que garanta
contra o retrocesso atual passa pelo fede- a divisão e o controle mútuo dos poderes,
ralismo e seu impacto no projeto de nação além de montar um modelo estatal que
que o país deseja ter para o futuro. dê conta, ao longo do tempo, dos dilemas
federativos de cada estado federal. Dada
O QUE É FEDERAÇÃO E SUA sua complexidade, fica a pergunta: por
que um país escolhe ser uma Federação?
CENTRALIDADE PARA A ORGANIZAÇÃO
Em linhas gerais, a opção pelo formato
DA NAÇÃO BRASILEIRA federativo tem a ver com dois fatores.
O primeiro é a existência de heteroge-
O conceito de Federação nasce com neidades constitutivas que tornam mais
a experiência americana e envolvia em complexa a construção de uma nação
suas origens uma proposta inovadora do em determinado espaço. São heteroge-
ponto de vista da construção da soberania neidades vinculadas a diferenças étnicas,
numa nação: compartilhar o poder entre religiosas, linguísticas, de regionalismos
o governo nacional e os subnacionais, por socioculturais, de sentimentos regionais
meio de um pacto ancorado numa Consti- de autonomia política (nativismo local),
tuição escrita, que garante os direitos dos além da extensão e complexidade terri-
pactuantes territoriais, e de instituições toriais, em termos de tamanho e diver-
que estabelecem a relação entre eles e sidade de biomas.
o controle mútuo (checks and balances) Países que contêm algum tipo ou mais
para evitar que um dos entes se sobre- de uma dessas heterogeneidades num grau
ponha sobre os demais (Schnabel, 2015). mais elevado tendem a ter muitas difi-

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culdades para adotar o modelo unitário e coordenação de políticas públicas feitas
– no mínimo, precisam descentralizar por diferentes níveis de governo) e na
mais o poder e a autonomia locais. Mas esfera propriamente normativa, como a
uma parte importante das nações mais aceitação do caráter pactual desse modelo
complexas no campo das heterogeneida- (com lugar especial para a Constituição)
des cria formatos institucionais especiais e a busca de equilíbrio entre os entes.
para acomodar tais diferenças, garantindo Porém, de outro lado, há uma multipli-
um equilíbrio de forças no plano territo- cidade de caminhos entre as Federações,
rial. Geralmente, tal caminho passa pela e a história e os desafios federativos de
federalização do Estado, com o comparti- cada caso variam na resposta às grandes
lhamento da soberania entre as unidades questões do federalismo.
subnacionais e a União, além da criação O caso brasileiro deve ser entendido,
de salvaguardas federativas, a fim de evi- desse modo, observando-se como sua
tar tanto o centralismo indevido quanto Federação dialoga com as características
a fragmentação exacerbada. gerais do modelo federativo, mas também
A construção das Federações não analisando de que maneira o federalismo
deriva de imediato da existência de hetero- desenvolveu-se no país, em particular
geneidades. Um segundo fator é essencial naquilo que são as questões básicas do
para se optar pelo federalismo: a criação pacto federativo do Brasil. Neste sentido,
de um projeto de unidade na diversidade, três elementos são centrais. O primeiro
corporificado tanto num consenso social diz respeito às suas origens; o segundo,
– geralmente constituído orginalmente por à sua trajetória histórica em termos de
elites, mas que precisa se espraiar para a heterogeneidades e projetos de unidade na
população – como em instituições fede- diversidade; e, por fim, à forma como tem
rativas. Tal como as heterogeneidades, os lidado com dois aspectos estruturais para
projetos de unidade na diversidade diferem a nação: a democracia e a desigualdade.
entre os países federais, assim como ao Estes três elementos serão compreen-
longo da história deles, de modo que é didos por meio da análise da trajetória
necessário entender a especificidade dos histórica do federalismo brasileiro e da
casos e aquilo que Benz e Broschek (2013) dinâmica federativa atual, como será
chamam de federal dynamics, isto é, as feito na próxima seção. Não obstante,
trajetórias das Federações, suas mudanças vale situá-los sinteticamente em termos
institucionais e suas revisões de pactos. conceituais. A questão da gênese é impor-
Tomando como base os dois fatores tante para entender o que levou à escolha
que geram a opção pelo federalismo, a pelo modelo federativo e o que faltava
literatura mostra que, de um lado, há naquela proposta inicial para que o Brasil
características gerais básicas do modelo estabelecesse os padrões normativos do
federativo no plano das instituições (salva- Estado federal, em termos institucionais
guardas federativas e formas de controles e de cultura política.
mútuos entre os entes), das relações inter- Só que a forma pela qual o Brasil
governamentais (mecanismos de barganha desenvolveu sua estrutura político-terri-

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torial sofreu várias mudanças ao longo do e garantir o equilíbrio entre os entes são
século XX. Há uma literatura que tentou um desafio vinculado à capacidade de
classificar esses processos de transforma- democratizar o Brasil num sentido polí-
ção basicamente pela dicotomia centra- tico e social.
lização versus descentralização, sendo a
primeira marcada por períodos mais auto- A CONSTRUÇÃO DA FEDERAÇÃO
ritários e a segunda, por distensões demo-
cráticas (Couto e Silva, 1981). Embora
BRASILEIRA: DAS ORIGENS ATÉ
essa dinâmica de “sístoles e diástoles” AS TRANSFORMAÇÕES DA
esteja presente, ela não se reproduz da CONSTITUIÇÃO DE 1988
mesma forma ao longo da trajetória fede-
rativa (Kugelmas & Sola, 1999), havendo
transformações nas formas centralizado- O Brasil não nasceu como uma Fede-
ras e descentralizadoras, bem como na ração, mas sim, como um Estado unitário,
relação entre elas. e assim permaneceu por quase 70 anos.
Mais importante do que a dinâmica Embora o período regencial tenha esfa-
centralização versus descentralização na celado o poder do centro sobre as pro-
construção do federalismo brasileiro está víncias, o Segundo Reinado reconstruiu
a forma como o modelo estatal foi se o modelo centralizador naquele período
alterando ao longo do tempo, especial- que foi o seu auge, com altíssima centra-
mente em duas dimensões: democratização lização tributária administrativa e, sobre-
e combate às desigualdades, especialmente tudo, com um modelo no qual o impe-
em sua feição territorial. São estes dois rador escolhia o governante provincial,
aspectos que explicam melhor as altera- sendo este geralmente alguém de fora da
ções históricas e os desafios presentes na elite local (Abrucio, 1998; Iglesias, 1958).
relação entre Federação e nação. Mesmo tendo vigorado um centralismo
Para terminar esta seção, apresenta- extremado, havia um federalismo latente
-se de novo a pergunta que estruturou no país (Torres, 1961), com um forte sen-
a discussão conceitual do federalismo, timento regionalista em várias partes do
direcionada agora para o caso brasileiro: território e uma enorme dificuldade de se
por que o Brasil é uma Federação? Em governar efetivamente o país a partir da
poucas palavras, porque a nação brasi- capital nacional, o que levava o governo
leira teria muitas dificuldades, talvez até central a ter que aceitar uma forte auto-
a impossibilidade, de governar e construir nomia privada dos senhores locais e até
o país desde o final do século XIX, com mesmo negociar com eles em assuntos
a expansão da ocupação territorial, sem para os quais o Estado brasileiro não teria
que tivesse havido alguma divisão espe- poder para implementar o que a cabeça
cial de poder entre o plano nacional e imperial imaginava ser o melhor caminho
os governos subnacionais. Esse processo (Graham, 1997).
foi muito atribulado e continua complexo, Havia desde a Independência duas hete-
pois manter as salvaguardas federativas rogeneidades constitutivas no Brasil. Uma

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era o seu imenso tamanho territorial, com 1891, um elemento foi central nesta tran-
grandes espaços muito pouco povoados e sição histórica: a opção pelo federalismo
ainda menos comandados por uma diretriz como forma de organizar a nação.
nacional. Existia uma unidade territorial, Parte da historiografia e da ciência
mas o poder do Estado nesses lugares política destaca que o caso brasileiro foi
era quase rarefeito. A outra heterogenei- um processo de descentralização de poder
dade estava na diversidade sociocultural, do centro para os estados, encaixando-se
econômica e política de diversas regiões no modelo federativo chamado por Alfred
do país, fruto de uma colonização muito Stepan (1999) de hold together, pois se
dispersa e sem uniformidade – era a colo- partiu de um país já com Estado central
nização dos semeadores, não de ladrilha- prévio ao pacto federativo, como tam-
dores como os espanhóis, disse Sérgio bém ocorrera em outras Federações, em
Buarque de Holanda (1936). contraposição ao paradigma dos Estados
Isso foi o resultado desse imenso terri- Unidos, intitulado come together, no qual
tório povoado de maneira irregular, com as partes vêm antes e constituem o todo
influências não só de portugueses, mas de num pacto original. Por isso, cabe bem
espanhóis, franceses e, obviamente, dos nesta definição a famosa frase de Rui
povos indígenas originários e dos africa- Barbosa: “Tivemos União antes de ter
nos que foram trazidos pela escravidão. A estados, tivemos o todo antes das partes”.
junção dessa mescla civilizatória resultou Mas, ao contrário de outras Federações
em sentimentos e modos culturais regio- que surgiram de um poder central prévio,
nais diversos, que geraram graus de nati- a gênese federativa brasileira é marcada
vismo local, como em áreas como o Rio por forte fragmentação do poder nas mãos
Grande do Sul, Pernambuco, Maranhão dos estados, numa dinâmica inicialmente
e Bahia, algo que depois vai se instalar enfraquecedora do governo federal. Como
em outros lugares, como em São Paulo. bem definiu João Camilo Torres, “afinal,
Mesmo tendo sido criado pelo centralismo, federalismo entre nós quer dizer apego
com longo domínio unitarista, o desejo ao espírito de autonomia; nos Estados
de autonomia sempre esteve presente. Unidos, associação de estados para defesa
A crise dos pilares do Império, trazida comum” (Torres, 1961, p. 153). Em outras
pela abolição, pela mudança do eixo eco- palavras, as origens do federalismo norte-
nômico e pela emergência de novos grupos -americano foram centrípetas, para evitar
na disputa pelo poder, como os militares, as armadilhas do modelo confederativo
gerou uma demanda por mudança, corpori- original, ao passo que no Brasil a opção
ficada historicamente pela Proclamação da federativa foi centrífuga, repassando poder
República. O seu caráter antimonárquico e e autonomia aos governos estaduais (com
o papel das Forças Armadas ficaram claros municípios frágeis, ressalte-se), o que sig-
pela maneira como houve a substituição do nificou a transferência de poder decisório
regime, mas chama a atenção que desde o para oligarquias estaduais.
ato original que criou a Primeira República O resultado deste modelo foi um tipo
até a aprovação da nova Constituição, em de federalismo inicialmente organizado

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pela descentralização fragmentada e oli- subordinados ao Executivo federal. No


gárquica do poder. No plano nacional, além entanto, não se voltou ao paradigma do
da redução do poder do governo federal Segundo Reinado, quando o imperador
vis-à-vis sua situação no período impe- escolhia pessoas de fora das províncias
rial, duas características foram centrais: e estabeleceu uma forte rotatividade no
o aumento da desigualdade social e eco- cargo de governante estadual. Depois de
nômica entre as unidades estaduais e o quase 40 anos de federalismo estadualista,
predomínio de poucos estados na definição Vargas buscou controlar os estados, mas
da eleição presidencial, particularmente por não alijou por completo suas elites do pro-
meio de acordos entre São Paulo e Minas cesso político e econômico (Codato, 2015).
Gerais, em aliança com outros entes, como Com a destituição de Vargas do poder
o Rio Grande do Sul, o Rio de Janeiro e a e a promulgação da Constituição de 1946,
Bahia. Neste sentido, a Federação tornou-se o federalismo voltava a ser a forma de
centrífuga e hierárquica, com uma divisão organização político-territorial do país.
desigual de poderes. Essa ordem constitucional do pós-guerra
A substituição da Primeira República também criou o municipalismo moderno
pelo varguismo significou o início de uma brasileiro (Melo, 1993), que se desenvolverá
enorme mudança no federalismo brasi- nas duas décadas posteriores, até o advento
leiro. Vargas fez um processo paulatino do regime militar, quando novamente os
de centralização do poder, com o forta- poderes locais foram tolhidos. A Federa-
lecimento do governo federal e seu Poder ção tornou-se mais equilibrada, com os
Executivo, criando instrumentos políticos estados ganhando mais autonomia política
administrativos para aumentar a inter- e para fazer políticas públicas, dando aos
venção estatal na economia e na socie- governadores um papel político central em
dade, para construir um modelo nacio- todo esse período – dois dos presidentes
nal-desenvolvimentista (Camargo, 1994; eleitos tinham ocupado esse posto.
Abrucio, Pedroti & Pó, 2010; Arretche, Ao mesmo tempo, porém, o poder federal
2012). Só que, além do aspecto centrali- continuou seu processo varguista de amplia-
zador, o modelo criado por Vargas nutria- ção. É neste período que a União inicia
-se de uma visão autoritária e temia os suas primeiras políticas ativas, com recur-
freios e contrapesos que podiam advir sos tributários fixados e, sobretudo, com
da Federação. organismos incumbidos desse papel, para
Seguindo esse raciocínio, o Estado reduzir as desigualdades territoriais, espe-
Novo foi o ápice do modelo varguista. cialmente (mas não só) no que se refere à
Nesse período, a centralização de poder questão nordestina. Esse tema entrou de vez
foi tão intensa que se chegou a abolir o na agenda federativa do Brasil, tornando-
federalismo da Constituição, retirando-se -se uma heterogeneidade constitutiva que
a expressão “Estados Unidos do Brasil” deveria ser atacada para garantir o projeto
de seu texto. Os estados passaram a ser de unidade na diversidade à brasileira.
governados por interventores nomeados O final do período 1945-1964 foi mar-
pelo presidente da República e, portanto, cado por uma forte radicalização política,

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em meio ao cenário da Guerra Fria e à “caciques” regionais no plano nacional
falta de efetiva adesão das elites brasilei- (Abrucio, 1998).
ras ao processo democrático. O resultado Toda essa centralização autoritária
foi a realização de um golpe de estado, não significou o fim do federalismo. A
capitaneado pelos militares, mas com Constituição de 1967 e seu adendo de
apoio decisivo de líderes civis, especial- 1969 não levaram à mudança do modelo
mente os governadores de São Paulo, Gua- político-territorial. Embora tenha havido
nabara e Minas Gerais (Abrucio, 1998). um enfraquecimento político dos estados
Sem o apoio desses atores federativos, e municípios, havia fontes permanentes de
provavelmente teria sido muito mais difícil distribuição de recursos para ambos. Por
derrubar Jango e conseguir legitimidade conta da urbanização acelerada nos gran-
para esse ato. Paradoxalmente, no entanto, des centros e da necessidade de manter
instalou-se um regime político autoritário a legitimidade nos lugares mais pobres
que durou cerca de 20 anos e teve forte e mais distantes, o investimento federal
impacto na Federação. em obras e mesmo em políticas públicas
O regime militar teve como diretriz cresceu muito (Draibe, 1994), dentro de
a maior centralização possível do poder, um modelo decisório que era definido em
de modo a evitar o surgimento de oposi- Brasília, mas que envolvia algum grau
ções civis advindas das elites regionais. de negociação com as elites regionais. O
Segundo sustenta Brasílio Sallum Júnior, Executivo federal negociou constantemente
“dentre os mecanismos que cumpriram o com os políticos subnacionais, particu-
papel de homogeneizar a vontade política larmente os que comandavam a política
da camada dirigente, a nova forma de estadual. Ademais, a manutenção de elei-
Federação, com estados e municípios ções municipais e ao Congresso Nacional,
menos autônomos em relação à União, em particular ao Senado, mantinha um
desempenhou o papel mais relevante [...] jogo federativo que, ao final do regime,
muito mais do que o novo sistema parti- foi decisivo para sua queda.
dário” (Sallum Júnior, 1996). O fato é que o federalismo foi deci-
Do ponto de vista federativo, foi mon- sivo para a transição democrática, por duas
tado um modelo que pode ser chamado razões. A primeira é que não houve um fim
de “unionista autoritário”, que centrali- abrupto, mas uma derrocada paulatina, e,
zava fortemente os recursos nas mãos do dentro dela, quanto mais as diversas crises
governo federal e aumentava sobremaneira (econômica, social, internacional e política)
o controle administrativo da União sobre aumentavam, mais o poder federal tinha
os governos subnacionais, ao passo que de negociar apoio dos líderes políticos e
a autonomia política local era reduzida, econômicos regionais, dando-lhes os anéis
com a introdução de eleições indiretas a para não perder os dedos. Por essa via,
governador e prefeitos das capitais. Além os governos subnacionais ganharam mais
do mais, o Congresso Nacional teve enfra- recursos e autonomia, em várias medidas
quecida sua capacidade de alterar o orça- escalonadas entre 1974 e 1984. Esse pro-
mento nacional, debilitando o poder dos cesso foi acelerado pela derrota em dois

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pleitos com forte componente federativo, centralidade do governo federal em ter-


e aqui está o segundo elemento federativo mos redistributivos e de coordenação da
da transição democrática. expansão das políticas públicas (Arretche,
O primeiro foi a eleição ao Senado 2012; Abrucio, 2005).
em 1974, e o segundo, a eleição para os
governos estaduais em 1982. Em ambos, A NOVA ORDEM DEMOCRÁTICA
a oposição desafiou e galgou postos antes
E O FEDERALISMO BRASILEIRO
pertencentes ao partido do regime. O mais
importante foi a conquista de dez gover-
nadorias – das 22 em disputa – em 1982, A ordem política instituída pela Consti-
colocando o país numa nova situação, tuição de 1988 procurou garantir um fede-
pois pela primeira vez os oposicionistas ralismo mais democrático, equilibrado e
à ditadura teriam um poder institucional voltado ao combate às desigualdades terri-
de fato – e de direito – em suas mãos toriais, numa combinação inédita marcada
(Abrucio, 1998), gerando aquilo que Juan por cinco componentes principais: primeiro,
Linz chamou de diarquia (1983), isto é, o federalismo triádico, com a novidade do
uma situação com duas legitimidades polí- município como ente federativo; segundo, o
ticas maiores em disputa – a federal (não maior equilíbrio tributário, tanto no que se
eleita) e a estadual (eleita). refere aos recursos próprios de cada ente
Foi neste contexto que os governadores como especialmente pelas formas de partici-
tiveram um papel fundamental na redemo- pação e transferências institucionalizadas do
cratização do país, seja na campanha das orçamento global, favorecendo um melhor
Diretas Já, na criação da Aliança Demo- combate das desigualdades territoriais; ter-
crática que elegeu indiretamente Tancredo ceiro, a expansão do Estado de bem-estar
Neves – então governador de Minas Gerais social por meio da descentralização com
– presidente da República, bem como no coordenação federativa, utilizando-se do
suporte dado ao presidente José Sarney, modelo dos Sistemas Nacionais de Políticas
para que ele assumisse e tivesse apoio Públicas; quarto, a ampliação e consolida-
também nos momentos mais difíceis de ção de salvaguardas federativas, com um
seu governo, principalmente em certas modelo de governança mais intergoverna-
votações da Constituinte. A Constituição mental e menos centralizado; e, em quinto
de 1988 foi em boa medida afetada por lugar, durante dois mandatos seguidos, a
esse ímpeto federativo mais descentrali- construção de um relacionamento demo-
zador e democrático, que também estava crático e baseado na cultura da negociação
presente nas demandas dos municipalis- federativa entre o presidente, os governa-
tas, que ganharam um lugar inédito no dores e os prefeitos.
modelo institucional brasileiro. A nova A seguir, serão apresentados sintetica-
ordem legal também se preocupou muito mente esses cinco componentes do fede-
com a garantia dos direitos de cidada- ralismo pós-1988. O primeiro deles é a
nia e com o combate à desigualdade, por construção de uma Federação triádica,
meio de um modelo federativo com grande com o município se tornando um ente

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federativo (Grin & Abrucio, 2019). O cor- Mesmo que haja tais disparidades de
reto é dizer que a nova ordem constitu- capacidades no plano local, cabe reforçar
cional transformou efetivamente todos as que o arcabouço federativo pós-1988 equi-
municipalidades em entes federativos, algo librou a estrutura orçamentária do país
que não há em nenhuma Federação. Em de um modo inédito. Nunca os estados
algumas poucas, alguns governos locais e os municípios tiveram tanta autonomia
são partes do pacto federativo, mas não a tributária, além de terem ganho uma par-
totalidade, e na Nigéria há uma previsão cela importante de transferências obriga-
legal para que isso aconteça, mas que tórias, como os Fundos de Participação
nunca foi de fato cumprida. e o Fundeb, que são fundamentais para
Os governos locais brasileiros ganha- combater as desigualdades territoriais
ram ampla autonomia política, adminis- (Arretche, 2012). Não obstante, há ainda
trativa e tributária, bem como se torna- problemas de racionalidade e distribuição
ram fundamentais na implementação das no modelo tributário, como, por exem-
principais políticas públicas, mormente na plo, o fato de as regiões metropolitanas,
provisão dos serviços sociais básicos. Esse onde mora a maior parte da população
novo lugar na estrutura federativa tam- brasileira, terem menos recursos do que
bém transformou a eleição municipal, que áreas menos populosas (Rezende, 2001).
ocorre no meio do mandato do presidente Há outros problemas no sistema de impos-
e dos governadores, num elemento-chave tos, como a necessidade de aumentar o
do sistema político brasileiro, afetando caráter cooperativo na cobrança e a cor-
o cálculo de todos os atores políticos. responsabilização. Mesmo assim, inega-
Aqui, seu calcanhar de aquiles é não ter velmente houve avanços, em comparação
um sistema de justiça nem um sistema de a todo o período anterior, em termos de
controle próprios, de modo que se con- autonomia e redistribuição.
figura uma desigualdade de poder junto O terceiro componente relaciona-se à
aos estados e à União. enorme expansão do welfare brasileiro
Só que há um paradoxo no novo lugar iniciado em 1988, e completado por várias
conferido aos municípios: eles ganharam reformas nos últimos 30 anos, e que tem
bastante poder, mas a maioria deles têm como base institucional uma descentra-
baixa capacidade estatal para exercer suas lização mais municipalista ancorada
funções constitucionais, pois há uma com- numa coordenação federativa comandada
binação variada de entraves vinculados à principalmente pela União. Construiu-se
situação econômico-financeira, ao baixo um federalismo de molde cooperativo
capital humano e, em especial, a fragili- (Almeida, 2005; Arretche, 2012), nor-
dades em termos de gestão pública (Grin, teado por Sistemas Nacionais de Políti-
Demarco & Abrucio, 2021). Assim, tem- cas Públicas (Franzese & Abrucio, 2013;
-se um quadro federativo de grande desi- Bichir, Júnior & Pereira, 2020), dentro
gualdade na capacidade de os governos dos quais há definições normativas nacio-
locais exercerem efetivamente seu papel nais e mecanismos federais de indução
de ente federativo pleno. e apoio aos governos subnacionais, bem

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como descentralização da implementação e vada do maior poder financeiro e admi-


mecanismos de participação dos estados e nistrativo do governo federal, precisam
municípios nas decisões intergovernamen- construir uma legitimidade básica para
tais, num formato de fóruns federativos. serem implementadas de forma efetiva em
Os Sistemas Nacionais de Políticas todo o país (Grin, Bergues & Abrucio,
Públicas estão presentes de forma plena 2020). Soma-se a isso outro componente
em áreas como a Saúde (SUS), Assistên- mais de cultura política que tem de ser
cia Social (SUAS) e Recursos Hídricos ressaltado: a relação entre os presidentes
(SNRH), e há alguns de seus elementos e os governantes subnacionais tornou-se
em políticas como Educação (Abrucio & mais de negociação do que de embate
Segatto, 2017). Foi por meio desse modelo na maior parte das vezes, de Sarney a
cooperativo, participativo e indutor de Temer, passando pelos períodos tucano
capacidades estatais locais que se pôde e petista. Além disso, o associativismo
ampliar o welfare state brasileiro, a des- de advocacy dos governos subnacionais
peito das fragilidades locais e da desi- se fortaleceu, o que favoreceu um maior
gualdade territorial no país. Obviamente intercâmbio e barganha federativa entre a
que tal paradigma precisa ser aperfeiçoado União e governos estaduais e municipais.
constantemente e incorporado plenamente Obviamente que ainda há uma agenda
por todas as políticas públicas. Áreas como importante de melhoria do federalismo
segurança pública, saneamento básico, no Brasil, envolvendo o fortalecimento
cultura e habitação (Lotta, Gonçalves & das capacidades estatais locais, a maior
Bitelman, 2014) carecem dessa instituciona- republicanização da política subnacional,
lidade intergovernamental. Mas fora desse o aumento da cooperação federativa no
modelo não há uma solução melhor para o plano tributário e orçamentário, a expan-
federalismo brasileiro reduzir as assime- são do modelo de Sistemas Nacionais de
trias que marcam sua estrutura profunda. Políticas Públicas para todos os setores,
Um dos componentes mais importantes maior integração e colaboração entre esta-
– o quarto do modelo aqui apresentado – dos e municípios, para citar parte signifi-
é o avanço das salvaguardas federativas. cativa das questões mais relevantes. Mesmo
Hoje, estados e municípios têm um poder assim, houve avanços muitos fortes no
maior para defender seus interesses a fim modelo federativo brasileiro para lidar com
de evitar um centralismo indevido. Tal suas heterogeneidades constitutivas, que
fato é mais forte no plano estadual, que poderiam ser divididas em quatro tipos:
pode garantir seus direitos num âmbito de integração territorial, de garantia do
institucional maior tanto no Supremo Tri- regionalismo estadual e seu autogoverno,
bunal Federal quanto no Senado. Além de combate às desigualdades territoriais
disso, a governança de várias políticas e, a mais recente dessas heterogeneidades,
públicas incluiu a participação dos gover- de fortalecimento dos municípios como
nos subnacionais em fóruns federativos, de polo final da implementação das políti-
modo que as decisões nacionais, mesmo cas públicas sociais e de construção da
que ainda com alguma assimetria deri- cidadania em seu ponto inicial.

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Em poucas palavras, o federalismo pós- concepção menos cooperativa e mais retró-
1988 reforçou sua capacidade de democrati- grada do ponto de vista da garantia dos
zar o sistema político e de reduzir as desi- direitos sociais num país extremamente
gualdades territoriais. Mas desde a posse desigual. Trata-se de um paradigma con-
do presidente Jair Bolsonaro essa estrutura trário aos Sistemas Nacionais de Políticas
construída durante 30 anos entrou em crise. Públicas e que, se levado adiante, poderá
significar a redução do welfare.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: A segunda ideia diz respeito à visão
contrária a qualquer contrapeso ao poder
A CRISE DO FEDERALISMO presidencial. O bolsonarismo tem uma
SOB O BOLSONARISMO E OS visão autocrática da Presidência e, por
RISCOS AO PROJETO NACIONAL isso, sempre foi contrário aos checks and
balances vindos do Congresso Nacional,
do STF e da Federação. Muito antes
Os avanços obtidos pelo Brasil no pós- de brigar com os governadores na luta
1988 começaram a entrar em xeque desde contra a covid-19, Bolsonaro já tinha
2019, com a posse de um novo presidente tido fortes atritos com os governado-
eleito por um discurso antissistema. Mas res do Nordeste e retirado os do Norte
Bolsonaro era mais do que isso: sua visão da governança do Conselho da Amazô-
política é autoritária, de saudosismo do nia (Abrucio et al., 2020). De fato, os
regime militar e, especialmente, contra a governadores são as lideranças eleitas
Constituição de 1988, sua grande inimiga. diretamente para cargos executivos que
Num cenário como esse, dado que o fede- mais podem se contrapor ao presidente
ralismo tem uma relação intrínseca com ao longo do mandato, do mesmo modo
os processos que teceram a democracia que seus congêneres fizeram com Figuei-
nos últimos trinta anos, só se poderia redo no final do regime militar.
imaginar uma crise no pacto federativo. Por fim, o modelo federativo tinha se
É importante frisar que a reação do construído por meio do diálogo, da nego-
bolsonarismo ao federalismo pós-1988 vem ciação e da barganha com entes federati-
de antes da pandemia de covid-19 (Abru- vos autônomos. O bolsonarismo se colocou
cio et al., 2020). Três ideias bolsonaristas também contra esse modelo, porque sua
confrontaram o padrão federativo constru- ideia é comandar de forma autocrática
ído na redemocratização. A primeira foi e sem concessões o sistema político. O
a adoção de uma visão mais dualista do máximo que aceitou foi transferir par-
federalismo, na qual a União tem pouca cela do orçamento de forma pulverizada
relevância no combate às desigualdades para o Centrão, mas sem negociar com os
territoriais, cabendo aos governos subna- governos subnacionais como seriam fei-
cionais a responsabilidade para resolver os tos esses gastos – o chamado orçamento
problemas de políticas públicas que afetam secreto é uma transferência de recursos
seus territórios. O slogan “Mais Brasil, dos parlamentares que passa por cima da
Menos Brasília” escondia, na verdade, uma lógica federativa das políticas públicas.

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dossiê bicentenário da independência: política

O resultado desse modelo bolsonarista foi dar seus direitos. Além disso, conseguiram
o enfraquecimento das políticas sociais, o aprovar projetos favoráveis à alocação des-
fracasso no combate à covid-19, o aumento centralizada de recursos pelo Congresso
da descoordenação federativa e da desigual- Nacional no auge da pandemia e de forma
dade territorial, a perda de capacidade de estrutural com a aprovação do novo Fundeb.
fazer uma integração nacional com a Ama- A despeito disso, o fato é que a polí-
zônia, bem como a busca da desinstitucio- tica federativa de Bolsonaro reduziu o
nalização de canais democráticos de diá- componente democrático e de combate
logo com os governos subnacionais (e com à desigualdade do federalismo brasileiro.
a sociedade) no plano das políticas públicas. Para lidar com a herança do bolsona-
O confronto beligerante e de soma-zero com rismo, a Federação terá de voltar ao seu
governadores e prefeitos tornou-se a marca caminho democrático e de combate à
federativa do governo Bolsonaro. desigualdade que vinha adotando desde
O federalismo brasileiro sofreu com o 1988. No momento em que o país come-
modelo bolsonarista, mas não foi subjugado mora seus 200 anos de Independência, é
por ele. Os estados e municípios conse- necessário frisar que o fortalecimento da
guiram garantir seus direitos no STF, os nação nas próximas décadas vai depen-
governos subnacionais adotaram autono- der de recolocar o pacto federativo no
mamente e em parceria medidas próprias prumo, para então iniciar um novo ciclo
contra a pandemia nos campos da educação de reformas que democratizem o modelo
e da saúde (Peters, Grin & Abrucio, 2021) político-territorial e tornem o Brasil um
e ainda criaram alianças regionais, como país mais equilibrado e igualitário do
o Consórcio do Nordeste, para salvaguar- Oiapoque ao Chuí.

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