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UNIDADE DE GOVERNO
2 Edição
Indaial - 2021
UNIASSELVI-PÓS
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
ISBN 978-65-5646-181-6
ISBN Digital 978-65-5646-182-3
CDD 350
Impresso por:
Sumário
APRESENTAÇÃO.............................................................................5
CAPÍTULO 1
Federalismo no Brasil: O Município como Terceiro ente da
Federação...................................................................................... 7
CAPÍTULO 2
O Papel dos Municípios no Novo Pacto Federativo................ 51
CAPÍTULO 3
A Organização Municipal: Autonomia e Constrangimento.... 99
APRESENTAÇÃO
Seja bem-vindo!
Assim, desde já lhe convidamos para refletir: você sabe quais são,
exatamente, as responsabilidades do Presidente da República? E o que é o
Senado? Você sabe a quem cobrar pela gestão das escolas e hospitais de seu
município? Essas e outras questões serão esclarecidas nessa disciplina.
Você vai refletir a respeito do real grau de autonomia alcançado por essas
unidades, tendo em vista suas dificuldades estruturais dos municípios, que em
sua maioria enfrentam a escassez de recursos e dependência econômica dos
repasses da União.
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Capítulo 1 Federalismo no Brasil: O Município como
Terceiro ente da Federação
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Você já refletiu sobre a organização do Brasil? Temos presidente,
governadores e prefeitos. Votamos para senadores, deputados federais, estaduais
e vereadores. Nesse emaranhado, quem é responsável pelo o quê? Tudo parece
muito complexo e por mais que você já tenha pesquisado e entendido sobre o
tema, você já pensou o porquê de nos organizamos dessa maneira? Sabia que
nem todos os países seguem este mesmo modelo, ou sequer modelo parecido?
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O Município como Unidade de Governo
Soberania e Autonomia
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Capítulo 1 Federalismo no Brasil: O Município como
Terceiro ente da Federação
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O Município como Unidade de Governo
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Capítulo 1 Federalismo no Brasil: O Município como
Terceiro ente da Federação
Associação de Estados
Estado soberano com
União de Estados não soberanos, que se reú-
Definição-chave unidades executoras, com
soberanos e autônomos. nem sob um interesse
pouca autonomia.
comum.
Você deve observar que a Confederação é uma forma de Estado que limita
a atuação de governo. Por isso ela não se mostrou muito eficiente, já que os
estados-membros são autônomos e soberanos para acatarem, ou não, as
decisões da unidade central. Isso torna o governo central frágil e instável, como foi
demonstrado na história dos EUA que acabou se transformando em Federação. O
mesmo ocorreu na Suíça. É discutível se há, hoje, de fato, alguma confederação.
Algumas organizações, como a União Europeia e o Benelux (que reúne Bélgica,
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O Município como Unidade de Governo
Você reparou que o texto ora utiliza o termo Estado, ora utiliza
o termo governo?
Isso é feito porque eles não são sinônimos. Na verdade, são
conceitos que possuem o significado bem diferente. Estado é um
termo que define a existência de um território onde existem pessoas
que compartilham relações entre si e com o espaço que convivem. As
relações são tão fortes que é possível estabelecer os limites daquele
território e observar algum sentimento de unidade naquelas pessoas
e, portanto, aquele território passa a se entender como nação
(Estado-nação) exercendo a soberania sobre si e estabelecendo
regras de convívio, de organização interna e das relações com outros
Estados.
Só que, para colocar em prática estas regras, é preciso que
haja governantes. E assim se estabelecem os governos, que são
o conjunto de pessoas que formam a instituição responsável por
governar o Estado.
Você percebe a diferença?
O Estado é um conceito mais abstrato, amplo e de longo prazo.
Já governo é um conceito mais pragmático e efêmero que diz respeito
ao exercício do poder num dado período. O Estado é uma instituição
fixa no tempo; já o governo é uma instituição passageira que exerce
a ação de governar dentro de um Estado.
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Capítulo 1 Federalismo no Brasil: O Município como
Terceiro ente da Federação
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O Município como Unidade de Governo
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Capítulo 1 Federalismo no Brasil: O Município como
Terceiro ente da Federação
Assim, os estados, embora tenham que seguir as leis adotadas pela unidade
central, em seu âmbito têm o poder de decidir sobre suas questões, resolver
seus problemas e quais políticas adotar. No federalismo, a descentralização
com autonomia política confere aos estados o direito de constituição própria,
um sistema próprio de produção de leis com os legisladores locais (como são
os deputados estaduais e vereadores). Os cidadãos locais possuem poder para
escolher seus representantes dos poderes executivo e legislativo, como também
dispõem de mecanismos de participação na escolha desses mesmos cargos na
unidade central.
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aplicados somente a região, sem ter que destiná-lo a unidade central ou dar
satisfação sobre como reverter em benefícios em âmbito.
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que exercem influência, o que vai gerar variações em suas características. Países
grandes ou pequenos, ricos ou pobres, com população homogênea ou muito
diversificada, democracias recentes e conflituosas ou bem sedimentas... em cada um
desses contextos irá surgir um tipo de federalismo.
Há federações com apenas duas unidades territoriais e outras com mais (como
o Brasil, que tem três). Alguns são muito centralizados, concentrando muito poder
no governo central, enquanto outros apresentam intenso grau de descentralização
e concedem bastante autonomia às unidades constitutivas. Em algumas é possível
identificar uma clara separação de poderes e competências entre as unidades centrais
e subnacionais, e em outras, essa distinção é de difícil definição (ANDERSON, 2009).
a) Formação histórica
b) Amplitude da descentralização/autonomia
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O Município como Unidade de Governo
d) Separação de competências
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• Uma Constituição Federal escrita, que tem em seu texto partes que
não podem ser alteradas (cláusulas pétreas), na qual estão regidas
a instituição federativa do Estado com a existência das unidades
federativas autônomas, a soberania da União, e a indissolubilidade do
território com a separação dos entes federados, e as partes que podem
ser alteradas e que têm impacto nas unidades federativas, que devem
passar por um processo de anuência das unidades subnacionais além
da União.
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Capítulo 1 Federalismo no Brasil: O Município como
Terceiro ente da Federação
1 -
Uma das grandes diferenças das Federações para as
Confederações é o exercício da soberania. Faça uma pesquisa
sobre o termo “soberania” e, com base no que foi estudado até
aqui, explique como a soberania é exercida nessas formas de
Estado.
3-
Outra associação equivocada é a relação de um Estado
federalista com um governo democrático. Na verdade,
Federalismo e democracia remetem a conceitos diferentes, de
Estado e de governo, e não necessariamente se apresentam de
forma casada. Explique a diferença entre esses conceitos.
3 O FEDERALISMO NO BRASIL
O modelo federalista do Brasil é bastante complexo, uma vez que visa
exercer a alta integração em três níveis de governo (União, estados e municípios)
e sociedade civil, ambos com autonomia e poder de decisões. Na maioria dos
países federalistas, o Estado apresenta apenas duas instâncias de poder.
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Terceiro ente da Federação
Assim, o centralismo viria enfrentar dificuldades, uma vez que num extenso
e desarticulado território, as elites locais ainda eram muito poderosas e exerciam
suas influências políticas nas regiões. Tais elites apoiaram a monarquia imperial e
o unitarismo até certo momento, quando havia convergência de interesses, como
a manutenção do sistema escravocrata. O fim do regime escravista eliminaria
um dos sustentáculos principais do Império. As oligarquias se sobressaíram e
passaram a não mais apoiar aquele modelo que tolhia a autonomia das províncias
(RABAT, 2002; ABRUCIO, 2010).
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Terceiro ente da Federação
Na Era Vargas,
Na Era Vargas, visando a correções do federalismo distorcido e visando a correções
do equivocado superpoder concedido aos governadores, retomou- do federalismo
se o fortalecimento do governo executivo federal. Começou a ser distorcido e do
pensada a construção de um projeto de nação, que dentre as ações equivocado
contemplava medidas de desenvolvimento econômico do país e de superpoder
concedido aos
políticas públicas sociais (ABRÚCIO, 2010).
governadores,
retomou-se o
Como exemplo de medidas para correção das distorções fortalecimento do
federativas, está a aprovação da reforma eleitoral de 1932, que governo executivo
aumentou a representação de estados menos populosos na Câmara federal.
dos Deputados com a finalidade de reequilibrar o poder que havia
ficado concentrado em alguns estados, no período anterior (SOUZA, 2005).
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Descentralizado/integra-
1985-atual 1988 Democracia
do
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O Município como Unidade de Governo
De fato, essa é uma situação bastante peculiar no Brasil, que não encontra
similaridade em outros Estados organizados em forma de federação. Em geral,
nos demais Estados federalistas, os municípios (ou unidades subnacionais
análogas) são divisões administrativas do ente federado subnacional, qual seria a
nossa esfera estadual.
Estes estados, por sua vez, podem delegar mais ou menos autonomia
ao município, mas formalmente ele não é um ente federado que goza de igual
autonomia e prerrogativa do estado-membro (TOMIO, 2005).
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Além das competências, o texto constitucional, nos Art. 153 a 162, dispõe
sobre a arrecadação de rendas em cada uma das três esferas federativas, o que
é um ponto fundamental na garantia da descentralização no aspecto econômico.
A distribuição tributária implica a sustentação econômica dos entes federados na
capacidade de executar suas funções constitucionalmente previstas.
Com isso que foi colocado, deve ter ficado claro para você que o
atual federalismo brasileiro disposto na Carta Constitucional pende para a
descentralização. O ideário na época da redemocratização e da Constituinte
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ofertam benefícios fiscais para além do que deveriam. Quase como um leilão,
as empresas se beneficiam na guerra entre eles e o Estado acaba por abrir mão
de recursos que fazem falta na promoção de políticas púbicas (SOUZA, 2005;
ABRÚCIO, 2005).
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Neste capítulo você mergulhou nas bases conceituais que definem as
Formas de Estado, quais são: unitária, federada e confederada. A organização
do território de um Estado pode ocorrer com apenas um nível de governo –
no modelo unitário – ou com dois (ou mais) níveis de governo – nos modelos
federado e confederado. O Estado federado, diferente do confederado, apresenta
apenas uma soberania e identidade-nação, que residem na unidade central do
Estado, também chamada de União.
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Capítulo 1 Federalismo no Brasil: O Município como
Terceiro ente da Federação
pela boa relação entre os níveis da federação. Assim, é possível haver unidade
do território, evitar desigualdades socioeconômicas e de promoção de serviços ao
mesmo tempo em que o pluralismo, a diversidade cultural e vocações produtivas
regionais sejam respeitados.
Com um governo central pouco forte, sem um projeto de nação, cada estado
agia de forma independente sem planejamento coletivo e coordenação. Isso
acarretava disparidades regionais e prejudicava o desenvolvimento do país como
um todo no que tange a serviços, políticas públicas e desenvolvimento econômico.
Esse modelo dual foi visto nas origens do federalismo nos EUA, mas também é
possível estabelecer analogias com o Brasil, em seus primeiros anos federalistas,
durante a República Velha.
Isso é feito sem que haja desrespeito à autonomia dos entes federados. De
fato, é um equilíbrio difícil de alcançar, o que pode ser percebido no modelo mais
recente de federalismo no Brasil. No segundo modelo, o competitivo, apesar de
haver coordenação da União, há certo estímulo à competitividade nas relações
horizontais, ou seja, entre os estados-membros, o que, em teoria, seria benéfico
na promoção de inovações políticas, sociais e econômicas.
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O Município como Unidade de Governo
antes de sua adoção, ainda na época do Brasil Império, o Estado era unitário. Foi
a partir do novo modelo que os estados-membros passaram a ser formalmente
reconhecidos como autônomos e fortalecidos. Porém, isso é discutível, já que
o passado colonial brasileiro imprimiu características de um território bastante
heterogêneo, cujas unidades já se organizavam de forma bastante independentes,
ao contrário de um Estado tipicamente unitário.
REFERÊNCIAS
ABRÚCIO, F. L. A coordenação federativa no Brasil: a experiência do período
FHC e s desafios do governo Lula. Revista de Sociologia Política. 2005.
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Terceiro ente da Federação
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C APÍTULO 2
O Papel dos Municípios no Novo
Pacto Federativo
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Capítulo 2 O Papel dos Municípios no Novo Pacto Federativo
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
No capítulo anterior, você estudou as bases conceituais que tratam sobre
descentralização e autonomia das unidades de governos em Estados federalistas.
Você associou esses conceitos ao federalismo brasileiro desde sua fundação até
chegar ao modelo atual, em que se desenhou um modelo federativo com três
entes: União, Estados e Municípios. Agora, neste capítulo, daremos continuidade
a compreensão do município como unidade de governo.
A seguir, você verá como União, Estados e municípios se organizam para que
seus governos cumpram suas atribuições e façam valer os direitos constitucionais
aos cidadãos brasileiros em cada parte do país.
2 A DISTRIBUIÇÃO DE
COMPETÊNCIAS: O LUGAR DO
MUNICÍPIO
Você deve se lembrar que ao final do capítulo anterior, os artigos
constitucionais que tratam sobre a divisão de competências foram mencionados,
ainda que de forma breve. Esse é um tema que merece devida dedicação, isso
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Capítulo 2 O Papel dos Municípios no Novo Pacto Federativo
Princípio da
A tradicional forma de divisão de competências no federalismo Predominância de
se pauta no Princípio da Predominância de Interesses: à União Interesses: à União
cabem as matérias e questões de interesse geral; aos estados, às cabem as matérias
matérias e assuntos de interesse regional; e aos municípios, assuntos e questões de
de interesse local. interesse geral; aos
estados, às matérias
e assuntos de
É importante você lembrar que este é o princípio trazido também interesse regional;
da CF88. Tendo por base este princípio típico do federalismo, podem e aos municípios,
ser adotadas um dos três tipos de técnicas para a repartição de assuntos de
competências (SILVA, 2005): interesse local.
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2.1 AS VEDAÇÕES
Um bom ponto de partida para iniciar o estudo sobre competências, é
observar o que é vetado aos entes federados. O Artigo 19 da CF88 diz que tanto
a União quanto os Estados, o Distrito Federal e os Municípios não podem:
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primeiro destes (Art. 34) trata da não intervenção da União nos estados e Distrito
Federal, exceto nos casos de: ameaça à integridade nacional, invasão estrangeira
ou de um estado sobre outro, grave comprometimento da ordem pública, para
garantir o livre exercício dos poderes nos estados, reorganizar as finanças,
prover execução de lei federal ordem ou decisão judicial e garantir os princípios
constitucionais.
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Territórios;
XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia penal, a polícia
militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem
como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a
execução de serviços públicos, por meio de fundo próprio;
XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatística,
geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional;
XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de
diversões públicas e de programas de rádio e televisão;
XVII - conceder anistia;
XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra
as calamidades públicas, especialmente as secas e as
inundações;
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos
hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso;
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive
habitação, saneamento básico e transportes urbanos;
XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional
de viação;
XXII - executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária
e de fronteiras;
XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer
natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra,
o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o
comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos
os seguintes princípios e condições:
a) toda atividade nuclear em território nacional somente
será admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do
Congresso Nacional;
b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização
e a utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos médicos,
agrícolas e industriais;
c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção,
comercialização e utilização de radioisótopos de meia-vida
igual ou inferior a duas horas;
d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da
existência de culpa;
XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;
XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício
da atividade de garimpagem, em forma associativa (BRASIL,
1988).
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É muito importante que você note que estas são competências legislativas
PRIVATIVAS. Diferente das competências EXCLUSIVAS, que são restritas à
União e se referem às competências materiais; as competências PRIVATIVAS
são de natureza legislativa e também cabem à União, mas há a possibilidade de
que outros entes federados também legislem sobre esta matéria.
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Notícias STF
Quinta-feira, 31 de maio de 2007
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legislação da União e legislar sobre a matéria residual que ainda não foi escrita.
É o que traz o Artigo 25, parágrafo 1º: “São reservadas aos Estados as
competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição” (BRASIL,
1988). Ainda sim, há alguma atribuição exclusiva enumerada para os estados,
quais sejam:
• Legislativas:
Elaborar sua própria constituição estadual, respeitando os limites da
Constituição Federal (BRASIL, 1988, Artigo 25).
Instituir, mediante lei complementar, regiões metropolitanas,
aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos
de municípios limítrofes, para integrar a organização, planejamento
e execução de funções públicas de interesse comum (BRASIL, 1988,
Artigo 25, § 3).
Criar, incorporar, a fusão e o desmembramento de municípios, por lei
estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal
mediante consulta prévia, às populações dos Municípios envolvidos
em plebiscito e divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal,
apresentados e publicados na forma da lei (BRASIL, 1988, Artigo 18, §
4).
• Materiais:
Explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás
canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a
sua regulamentação (BRASIL, 1988, Artigo 25, § 2).
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Em outros momentos, essa ideia é reforçada, como no Artigo 30, que trata
das competências municipais:
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Capítulo 2 O Papel dos Municípios no Novo Pacto Federativo
Por tudo isso, você deve entender que apesar de o texto constitucional ser
descentralizado e cooperativo, na prática, os primeiros anos do federalismo foi
estabelecido amplo processo de descentralização, tanto em termos financeiros
quanto políticos.
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Por tal complexidade, é que se diz que o SUS não se reduz a acordos
intergovernamentais que regulam repasses de recursos em troca da
implementação de programas em abrangência nacional, o que já seria um grande
feito. Na verdade, foi ali inaugurado um sistema ainda mais complexo, pois sua
estrutura, além de organizar a prestação de serviços de forma hierarquizada e
regionalizada, institui fóruns permanentes de negociação intergovernamental com
a participação de gestores de todos os entes federados e fóruns entre gestores e
sociedade civil (FRANZESE; ABRÚCIO, 2013).
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Essa é a lógica básica do sistema, mas tenha em mente que cada área
apresenta alguma particularidade. Alguns Sistemas incluem, além dessas
instâncias mencionadas, outras instâncias, como um sub-sistema de Informações
e Indicadores, Subsistemas de Formação e Profissionalização de profissionais,
e Conferências de Políticas Públicas, que são instâncias amplas de negociação
com a sociedade civil.
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O processo indutor dos Sistemas cria demanda local para atuação na área
específica da política pública, concretizando processos de institucionalização e
execução das políticas para o setor, até mesmo nas prefeituras mais remotas,
que não tinham tradição ou intenção de investir em determinados setores.
O SUS foi um marco, cada vez mais estendido a outros setores. Por isso,
as gestões municipais, de modo pertencente ao país, devem entender a lógica
sistêmica que paira sobre a instauração de políticas federativas, caso queiram se
integrar a elas.
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4 A INTEGRAÇÃO DA SOCIEDADE
CIVIL NAS POLÍTICAS PÚBLICAS
Você leu que os Sistemas de Políticas Públicas compõem uma arquitetura
institucional condizente com o modelo federativo cooperativo e ganharam grande
espaço na gestão pública após a CF88. Embora que de alguma forma esses
modelos possam ser criticados por serem rígidos, impondo uma lógica que
descaracteriza as particularidades locais, é preciso admitir que as instâncias dos
Fóruns na arquitetura tornam os sistemas vivos e dinâmicos.
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sociedade civil passa a ser mais constante, indo além do período eleitoral, em
direção à democracia participativa.
Nas leis federais, as áreas básicas dos conselhos gestores são: educação,
assistência social, saúde, habitação, criança e adolescente e emprego. Na
esfera municipal, além destes, têm sido criados outros tipos ligados a políticas
urbanas, agrícolas, cultura, negro, portadores de deficiências físicas, idosos, meio
ambiente, direitos das mulheres etc. (GOHN, 2011).
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A negociação entre poder público e sociedade civil nem sempre é uma tarefa
fácil, tanto para um lado quanto para o outro. Em muitos casos, a sociedade
civil possui dificuldade de entender a máquina da administração pública, com
demandas e celeridade que é inviável. Por outro lado, o poder público, em muitos
casos, não olha os conselheiros como legítimos representantes e ainda entende
os processos participativos como causadores de mais morosidade das ações
públicas.
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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Neste capítulo, você se aprofundou nas questões sobre a distribuição de
competências e poderes estabelecidos no Brasil após a CF88. Viu que a Carta
Constitucional se imbuiu de um propósito não só descentralizador, como também
cooperativo, de modo a dotar aos municípios grande responsabilidade, mas
ao mesmo tempo entrelaçar os entes federados no cumprimento dos direitos e
garantias dos cidadãos.
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desarticulados e competidores entre si. Todavia, com o passar dos anos, nos
processos de estabilização econômica e política, principalmente do governo
central, gradativamente a federação foi caminhando em direção àquela lógica
expressa em seu documento fundador. Cabe saber que esse processo contém
pequenos avanços e retrocessos, e ainda está em construção.
Esperamos que com este estudo, você esteja mais ciente de seu direito de
participação nas questões públicas locais, ou da importância de sua qualificação
como servidor para uma gestão pública municipal mais efetiva.
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REFERÊNCIAS
ABRÚCIO, F. L. A coordenação federativa no Brasil: a experiência do período
FHC e os desafios do governo Lula. Revista de Sociologia Política, 2005.
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C APÍTULO 3
A Organização Municipal:
Autonomia e Constrangimento
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Capítulo 3 A Organização Municipal:
Autonomia e Constrangimento
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Os capítulos anteriores foram a base para você entender o funcionamento
de um Estado federalista, em especial, o Estado brasileiro após a Constituição
Federal de 1988 (CF88), que traz consigo a peculiar coexistência de três unidades
de governo.
Como você verá, a seguir, a Lei Orgânica deverá indicar todo funcionamento
do município, inclusive das matérias que tratam da organização dos poderes
Executivo e Legislativo, da prestação do serviço público e garantias sociais e das
Leis de Planejamento e Orçamento.
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Capítulo 3 A Organização Municipal:
Autonomia e Constrangimento
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O Município como Unidade de Governo
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Capítulo 3 A Organização Municipal:
Autonomia e Constrangimento
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O Município como Unidade de Governo
Ressalta-se, nesta classificação, que boa parte dos municípios (60,4%) são
identificados como rurais, e estes reúnem apenas 17% da população. Esse é um
dado que condiz com a trajetória de criação de municípios após a CF88 (GOMES;
RENAUX, 2017).
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Capítulo 3 A Organização Municipal:
Autonomia e Constrangimento
Para tanto, o município auto-organiza por meio de Lei Orgânica e outras leis
que venham normatizar suas condutas; autogoverna por meio de eleição direta
que escolhe prefeito, vice-prefeito e governadores e, por fim, autoadministra
por condução do prefeito, no exercício de suas competências administrativas,
tributárias, financeiras e legislativas (IBAM, 2020a).
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O Município como Unidade de Governo
legislativo exige dois turnos, com o intervalo mínimo de dez dias entre eles, e
aprovação de ao menos dois terços dos vereadores em ambos os turnos.
Ainda de acordo com Artigo 29 da CF88, para uma LOM válida, os municípios
devem observar o que dizem as normas superiores: a CF88 e a Constituição
Estadual do estado, o qual o município pertence, tendo zelo para não as contrariar,
ao mesmo tempo em que devem contemplar as competências que são atribuídas
por estes documentos maiores. Essa observância se dá tanto no momento de
elaboração da LOM, quanto nos momentos em que se pretende reformulá-la
através de emendas. Caso o texto, mesmo que aprovado, fuja a estes princípios,
a LOM poderá ser considerada inconstitucional pelo Poder Judiciário (BERNARDI,
2007).
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Capítulo 3 A Organização Municipal:
Autonomia e Constrangimento
A partir da CF88, tendo em vista o que traz o Artigo 29, a LOM elaborada
nesses moldes passou a ser obrigatória a todos os municípios brasileiros. Antes
disso, somente os municípios do Rio Grande do Sul e algumas capitais possuíam
esse documento fundante. Usualmente, os municípios eram regidos por LOMs
elaborados pela Assembleia Legislativa estadual (BERNARDI, 2007).
Diante de tanta coisa, surge a dúvida sobre o que a LOM não deve ou não
precisa conter. Um equívoco recorrente dos legisladores municipais é trazer no
texto da LOM questões que poderiam ser reguladas em lei complementar ou
ordinária (infraconstitucionais). Isso torna a LOM sobrecarregada de minúcias,
muitas vezes desnecessárias. Ou ainda, saturada de normas presas em seu
tempo, que em poucos anos se tornarão obsoletas. Como estudamos, você viu
que os processos de reformulação das LOMs são muito mais complexos do que
as normativas de ordem infraconstitucionais (IBAM, 2020a).
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O Município como Unidade de Governo
Por exemplo, é bem comum que as LOMs repitam o que traz a matéria do
inciso I, II, IV, do Artigo 29 da CF88, sobre: a duração de 4 anos do mandando
dos prefeitos e vereadores, o período da eleição e a posse dos Prefeito e Vice-
prefeito no 1º de janeiro do ano subsequente à eleição (SILVA, 2005).
Ora, é óbvio que são fenômenos que ocorrem nos municípios. Porém, são
normativas que cabem à União, que são direcionadas a todas as municipalidades,
não tratando de competências legislativas específicas de determinado município.
Portanto, o município pode até repetir estes textos em sua Lei Orgânica, já que
não contraria a Lei Maior, mas não terá qualquer efeito normativo em âmbito local.
Caso a lei maior, ou normativa maior, venha alterar estes dispositivos, a LOM
também deverá ser alterada, do contrário estará inconstitucional.
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Capítulo 3 A Organização Municipal:
Autonomia e Constrangimento
I. Da Organização do Município;
II. Da organização dos Poderes;
III. Da Organização e Administração do Governo Municipal;
IV. Da Tributação e dos Orçamentos;
V. Da Ordem Econômica e Social;
VI. Das Disposições Finais e Transitórias.
Embora estes títulos estejam longe de ser um modelo a ser seguido, são
temáticas de uma forma ou de outra que precisam ser contempladas na lei basilar
de uma municipalidade. Por isso, a seguir, estes pontos são tomados como guia
para nossa abordagem sobre como estas temáticas se aplicam aos municípios.
Mas, desde já, saiba que, na prática, há pequenas variações na organização do
texto das LOMs, já que cada Câmara Municipal tem a liberdade de redigir seu
próprio documento. De todo modo, fique atento aos estudos, pois tudo que será
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O Município como Unidade de Governo
tratado a seguir é muito importante, seja para elaboração dos textos das LOMs,
seja na organização de uma municipalidade.
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Capítulo 3 A Organização Municipal:
Autonomia e Constrangimento
Veja como Porto Alegre aproveita isto para discorrer de outras competências
além de aquelas estabelecidas nos Art. 30 e 23, da CF88:
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O Município como Unidade de Governo
Assim, mesmo que não haja necessidade de repetir o que é trazido pela lei
maior, todo município deve observar e cumprir aquilo que é disposto no Artigo
29 e 29-A. Lá são estabelecidas as condições gerais de: eleições municipais,
posses do prefeito e vice-prefeito, a relação entre a quantidade de vereadores
e a população municipal, os subsídios dos cargos eletivos, o limite de gastos da
Câmara dos Vereadores, a inviolabilidade dos Vereadores na expressão de suas
opiniões, as condições de candidatura e permanência nos cargos eletivos e os
projetos de lei de iniciativa popular.
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Capítulo 3 A Organização Municipal:
Autonomia e Constrangimento
A LOM de Curitiba (PR) serve como bom exemplo de como a matéria desse
Título pode ser trazida. Com o nome de “Da Organização dos Poderes”, o município
primeiro estabeleceu as disposições gerais, em seguida tratou detalhadamente
o Poder Legislativo; e somente depois o Poder Executivo. No que tange ao
legislativo, obedeceu essa ordem: da definição, composição e competências
da Câmara Municipal; do trato para com os Vereadores, do processo legislativo
(reuniões, instalação da Legislatura, da mesa (composição, eleição, competência,
presidência, comissão executiva), das comissões, deliberações, da elaboração e
aprovação de lei e por último da Fiscalização contábil, financeira e orçamentária e
sua relação com o Tribunal de Contas do Estado. A respeito do Poder Executivo,
foi dito a quem cabe à competência (prefeito e vice-prefeito), a ocasião da posse
do cargo, as condições para a retirada de licença, as atribuições, e as infrações
político-administrativas do prefeito e dos secretários.
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O Município como Unidade de Governo
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Capítulo 3 A Organização Municipal:
Autonomia e Constrangimento
São Bernardo do Campo (SP), além das tratativas dos tipos mencionados,
dispõe sobre a organização da administração do Poder Executivo naquilo que
está diretamente ligado ao Prefeito:
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O Município como Unidade de Governo
Claro, a LOM não precisa repetir o texto constitucional, mas o município deve
ter atenção a tudo isso que é estabelecido na lei maior para constituir sua LOM em
atendimento aos aspectos particulares da realidade municipal. Obviamente são
muitos assuntos e muitos deles demandam desdobramentos em mais detalhes.
É por isso que a LOM pode trazer em si tratativas mais fundamentais e gerais,
e fazer referência a leis ordinárias e complementares que tratarão do assunto
futuramente. Veja a seguir como algumas leis orgânicas trazem a temática
referente a esse título.
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Capítulo 3 A Organização Municipal:
Autonomia e Constrangimento
Repare mais uma vez o uso de referência à lei específica a ser criada
futuramente para detalhar aquilo que é disposto de modo mais genérico na LOM,
pois coube ao documento estabelecer o ordenamento geral sobre a administração
pública e às normativas específicas o detalhamento sobre estas questões.
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O Município como Unidade de Governo
Antes de entrar nos exemplos, é bom que você observe o que é a lei maior,
pois lá são atribuídas competências importantes aos municípios. A CF88 traz esse
tema em seu Título VI - Da Tributação e do Orçamento. O Artigo 145 permite aos
municípios a instituição de impostos, taxas (em razão dos serviços públicos) e de
contribuição de melhoria (para obras públicas).
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Capítulo 3 A Organização Municipal:
Autonomia e Constrangimento
lei local, que só poderá ter efeito no ano fiscal seguinte e ao menos depois de
noventa dias corridos à sua aprovação (BRASIL,1988).
O Artigo 156 é um dos mais relevantes por enumerar os tributos que são
de competência municipal, quais são: propriedade predial e territorial urbana; a
transmissão de bens ou direitos sobre os imóveis de pessoa viva a outra pessoa;
e, serviços (desde que não sejam os do Art. 155, II, de competência estadual).
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O Município como Unidade de Governo
A LDO funciona como uma ponte entre o PPA (mais subjetivo e de médio/
longo prazo) e a LOA (de curto prazo). Objetiva estabelecer as diretrizes, metas
e prioridades da administração com o fim de orientar o orçamento para o próximo
exercício, ajustando os planos e programas de longo prazo do PPA nas fases de
aplicação mais imediata.
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Capítulo 3 A Organização Municipal:
Autonomia e Constrangimento
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O Município como Unidade de Governo
Ademais, que traga também, em outro capítulo, uma seção para as questões
sobre a receita pública e a arrecadação; e outra seção para as questões da
despesa pública: da geração da despesa, da despesa obrigatória de caráter
continuado; das despesas com a seguridade social; e de pessoal.
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Capítulo 3 A Organização Municipal:
Autonomia e Constrangimento
a temática, abre uma seção para falar dos impostos municipais. Inicia seu texto
delimitando quais são eles em uma redação bastante parecida com a CF88:
Você reparou que a LOM de Vila Velha diz que poderão ser
criadas leis próprias de incentivos fiscais? Esse é um recurso muito
comum em que o governo concede abonos de parte do imposto
devido do contribuinte para estimular atividades econômicas.
No próprio município de Vila Velha, é possível citar como
exemplo a Lei nº 6.285/2019, que concede isenção de IPTU para
empresas Startups que desejarem se instalar no município (VILA
VELHA, 2019).
Outro tipo de lei de incentivo bastante comum são as Leis de
Incentivo Cultural, que concedem às empresas patrocinadoras
de projetos culturais abater parte do imposto municipal devido. O
município do Rio de Janeiro usa este recurso com a Lei nº 5.553/2013,
concedendo a CNPJ um desconto de até 20% do recolhimento
do Imposto sobre Serviços (ISS). No caso do Rio de Janeiro, com
a preocupação de que muitos CNPJ reivindiquem o abono, o que
prejudicaria a arrecadação municipal, a própria lei determina um
limite no montante total de benefícios concedidos: “anualmente,
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O Município como Unidade de Governo
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Capítulo 3 A Organização Municipal:
Autonomia e Constrangimento
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O Município como Unidade de Governo
prefeito. Tal instrumento deve estar condizente com o PPA e deve conter também
indicadores de aferição dessas metas:
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Capítulo 3 A Organização Municipal:
Autonomia e Constrangimento
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O Município como Unidade de Governo
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Capítulo 3 A Organização Municipal:
Autonomia e Constrangimento
Veja só que interessante. O município de São Paulo (SP) traz em sua LOM,
no título que trata da Ordem Social, um capítulo sobre Direitos Humanos. Ali institui
uma Comissão de Direitos Humanos. Destaca-se que a LOM tem um caráter
perene, de fundamentar as bases dos municípios, cujo processo de alteração de
texto para retirada de artigos é bastante difícil. Parece um grande avanço para a
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O Município como Unidade de Governo
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Capítulo 3 A Organização Municipal:
Autonomia e Constrangimento
Lei Orgânica.
Art. 8º - A Câmara Municipal deverá proceder, até o dia
31 de dezembro de 2008, a revisão de seu regimento
interno (FORTALEZA, 2017).
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O Município como Unidade de Governo
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Capítulo 3 A Organização Municipal:
Autonomia e Constrangimento
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O Município como Unidade de Governo
O Poder Executivo O Poder Executivo tem sob sua responsabilidade dois tipos de
tem sob sua funções, uma de ordem administrativa e executiva; a outra, de ordem
responsabilidade política. As funções de ordem administrativa e executiva são aquelas
dois tipos de
que dizem respeito ao funcionamento do município no cumprimento
funções, uma de
ordem administrativa de tudo aquilo que já é estabelecido em leis.
e executiva; a outra,
de ordem política. No exercício do Poder Executivo, a estrutura da administração
pública municipal pode estar dividida em setores específicos de
políticas públicas. São as secretarias, departamentos, coordenadorias de cada
setor como educação, saúde, transporte, planejamento etc. Elas ficam sob o
comando do prefeito, que nomeia pessoas de sua confiança como chefe dessas
pastas para apoiá-lo na execução dos programas e ações. Pode haver também
nomeação de cargos comissionados de assessoria.
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Capítulo 3 A Organização Municipal:
Autonomia e Constrangimento
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O Município como Unidade de Governo
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Capítulo 3 A Organização Municipal:
Autonomia e Constrangimento
A atuação da controladoria ainda não foi entendida por muitos prefeitos que
as veem mais como cerceamento de seus trabalhos do que como instrumento
de orientação da legalidade de suas ações. É preciso elevar este entendimento
dos chefes de poderes executivos. Afinal, a LRF, dentre outras atividades, obriga
a emissão do Relatório de Gestão Fiscal, que deve ser assinado pelo prefeito
e pelas chefias do controle interno, ambas responsabilizadas por tudo que
esteja ali registrado. Se tal responsabilidade recai sobre os dois, é mais do que
compreensível que ambos trabalhem de forma colaborativa na gestão pública
municipal.
Outras funções políticas são mais subjetivas. Como líder político local, o
prefeito deve buscar apoio da maioria dos Vereadores da Câmara Municipal para
que os projetos de sua iniciativa sejam aprovados e ele possa implementar seu
plano de governo. Deve fazer isso mostrando que seu projeto é o melhor para
o município, tendo sido legitimamente eleito. Mesmo assim, às vezes o prefeito
enfrenta oposição dos vereadores até nos assuntos de interesse vital para a
coletividade. Resta então mobilizar a opinião pública em favor daqueles projetos
na expectativa de que os vereadores acatem a vontade do povo (IBAM, 2020a).
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O Município como Unidade de Governo
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Capítulo 3 A Organização Municipal:
Autonomia e Constrangimento
Por exemplo:
Quantidade total de votos válidos de um município: 1.000
Quantidade de cadeiras para vereador: 10
Quociente eleitoral: 1.000/10=100
Somente os partidos que alcançaram mais de 100 votos terão vaga.
Por exemplo:
Partido X recebeu 200 votos (Quociente partidário é: 200/100= 2)
Coligação Y recebeu 101 votos (Quociente partidário é: 101/100=
1,01)
Considerando o Quociente Partidário, tem-se que o Partido X
ocupará duas cadeiras, e o partido Y ocupará uma.
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O Município como Unidade de Governo
Nas tarefas legislativas, cabe aos vereadores propor, analisar e votar leis
de matérias que são de competência municipal estabelecidas em CF88, legislar
a cada legislatura a remuneração do prefeito, do Vice-prefeito e Vereadores;
analisar os projetos de Leis PPA, LOA e LDO remetidas pelo Poder Executivo.
Cabe analisar também os projetos de lei de iniciativa do prefeito e de iniciativa da
sociedade civil, desde que tenham 5% de aprovação do eleitorado (BERNARDI,
2007).
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Capítulo 3 A Organização Municipal:
Autonomia e Constrangimento
Entre todas as suas atribuições, a Câmara dos Vereadores não pode perder
de vista a sua principal missão, a representação do povo. Por isso, as sessões
legislativas são abertas ao público, assim como deve ser a publicização das
deliberações ali realizadas. Também cabe à Câmara, por iniciativa dos Vereadores
ou das Comissões, a realização de audiências públicas que visam esclarecer aos
munícipes sobre questões das políticas do Poder Público, ou mesmo levá-las ao
debate para que a sociedade civil se posicione contrariamente sobre determinado
assunto que está sendo aventado pelo Poder Público. Nas audiências, podem
ser convidados especialistas, representantes do poder executivo ou agentes do
Ministério Público. As audiências e reuniões públicas devem ter seu processo
de convocatória estabelecidos em LOM ou lei específica, bem como constar no
Regimento Interno do órgão.
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O Município como Unidade de Governo
5 AS DIFICULDADES DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
MUNICIPAL
O atual ordenamento federativo brasileiro concedeu ampla autonomia aos
municípios. É conferida a mesma importância aos demais entes federados e
tratamento de igualdade entre todas as municipalidades. Ao mesmo tempo em
que foi concedida autonomia, também foi atribuída a esta unidade de governo
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Capítulo 3 A Organização Municipal:
Autonomia e Constrangimento
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Capítulo 3 A Organização Municipal:
Autonomia e Constrangimento
Como você deve ter entendido, a intenção das transferências entre entes
federados visa minimizar os desequilíbrios da federação brasileira. Ao mesmo
tempo, servem também para reduzir o problema de externalidades e para
redistribuir os recursos entre as regiões com diferentes níveis de renda e de
desenvolvimento. Mas, o Sistema Tributário Federativo brasileiro, ainda é passível
de muitas críticas. Brandt e Costa (2010), Lima e Oliveira (2018), por exemplo,
ressaltam um claro desvio na metodologia de cálculo do FPM, pois os coeficientes
não crescem na mesma proporção que as faixas populacionais. Como resultado,
as Municipalidades menores recebem maiores cotas de repasses per capita em
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O Município como Unidade de Governo
Outra disfunção, é que a maior parte dos municípios criados após 1988 é
completamente dependente das transferências federais, já que a receita tributária
arrecadada é insuficiente até mesmo para pagar os cargos políticos gerados pela
emancipação (prefeitos, vereadores, secretários municipais etc.). Normalmente,
a atividade econômica nesses municípios é fraca, por isso não são fontes
geradoras de impostos. Não raro, o chefe do executivo à frente dessas prefeituras
não domina a ciência da Gestão Pública e da boa governança, nomeando por
indicação e não por competência seus cargos decisórios. Isso acaba por nutrir
a cultura clientelista em detrimento de uma Administração Pública eficiente na
gestão dos recursos públicos. Assim, as transferências do FPM acabam por
aprofundar esses males, sem contribuir, de fato, para mudança da realidade
(BRANDT, 2010).
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Capítulo 3 A Organização Municipal:
Autonomia e Constrangimento
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Capítulo 3 A Organização Municipal:
Autonomia e Constrangimento
Acesse: https://www.escolavirtual.gov.br/.
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O Município como Unidade de Governo
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Neste capítulo você observou, a partir de um panorama atual, a enorme
quantidade de municípios brasileiros e o quão dispares eles são em sua quantidade
populacional, potencial econômico e distribuição territorial. Boa parte está distante
de grandes centros urbanos e não apresenta potencial de arrecadação tributária,
o que imprime dificuldade às administrações públicas locais.
Esperamos que este livro e seu empenho nestes estudos, seja como cidadão
munícipe, seja como profissional da administração pública, tenha contribuído para
suprir um pouco dessas carências nos municípios. Que você possa contribuir para
qualificar o debate nas questões que tratam do aprimoramento do federalismo
brasileiro, um processo ainda em construção.
REFERÊNCIAS
BELO HORIZONTE. Lei Orgânica do Município de Belo Horizonte de 21
março de 1990. Disponível em: https://www.cmbh.mg.gov.br/atividade-legislativa/
pesquisar-legislacao/lei-organica Acesso em: 1 out. 2020.
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Autonomia e Constrangimento
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Capítulo 3 A Organização Municipal:
Autonomia e Constrangimento
RIO DE JANEIRO. Lei municipal nº. 5553 de 14/01/2013. Disponível em: https://
www.legisweb.com.br/legislacao/?id=250026. Acesso em: 15 out. 2020.
ROSA, Pedro Luiz Barros Palma da. Como funciona o sistema proporcional?
Revista Estudos Eleitorais Revista eletrônica Escola Judiciária Eleitoral.
n. 5, ano 3, 2013. Disponível em: https://www.justicaeleitoral.jus.br/arquivos/
tse-revista-eletronica-eje-n-5-ano-iii-agosto-setembro-2013-1379347075996/
rybena_pdf?file=https://www.justicaeleitoral.jus.br/arquivos/tse-revista-eletronica-
eje-n-5-ano-iii-agosto-setembro-2013-1379347075996/at_download/file. Acesso
em: 20 out. 2020.
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