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A REVISTA DO OPERADOR DE

SEGURANÇA PÚBLICA E PRIVADA

03
03
OUTUBRO 2021 | EDIÇÃO

WORLD COMBAT
CONFERENCE (W2C)
MAIOR EVENTO OPERACIONAL DA AMÉRICA LATINA
HOOP
QUANTO VALE SEU
CONHECIMENTO?

hoje vamos agradecer, e muito,


todo o carinho e aderência do
nosso público. Nossa revista já é
um enorme sucesso e isso tudo
graças a você, operador da Essa edição vem trazendo temas
segurança pública e privada. de grande importância para o
Nosso muito obrigado! operador. Temas que fazem a
diferença na sua atuação e até
Nessa edição traremos novos mesmo na sua sobrevivência
articulistas de peso que farão
parte da família Opes-S Aproveitem a leitura e vamos
Rumo ao Farol
Ainda teremos a cobertura de
um dos melhores eventos da
área feito no Brasil.

A W2C (World Combat


Conference) que aconteceu no
mês de setembro na Base
Gustavo Carvalho Griffo.
Armalite em Itu /SP.
Editor-chefe Mtb 41272/RJ
@gustavogriffo

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IMAGEM RETIRADA DA WEB

E D I T O R I A L
"O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons."

Essa frase atribuída a Martin Luther King expressa exatamente o que


estamos vivendo nos dias atuais, tempos sombrios e aterrorizantes onde
existe uma literal inversão de valores, onde uma irrepreensível e
louvável operação é atacada de maneira baixa e sem escrúpulos por
uma narrativa com o exclusivo objetivo de denegrir a imagem de
instituições ilibadas.
A Revista Ope-S vem por meio deste editorial parabenizar a Polícia
Militar do Estado de Minas Gerais personificada pelo BOPE-MG e a Polícia
Rodoviária Federal através do GRR e NOE que tiveram uma atuação
brilhante operando de forma cirúrgica desmantelando uma quadrilha de
assalto a banco nos moldes do novo cangaço.
Parabéns a todos os envolvidos na missão
Saibam que a nação de bem Brasileira está com os senhores. E sem
dúvida, ainda bem, nenhum policial foi ferido.

"O homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter


vergonha de ser honesto.”

ESSE DIA NÃO CHEGARÁ!


Índice

07 Cobertura W2C 34 Os Paradigmas


Científicos com Discurso
de Autoridade
Acadêmica em Contraste
com a Experiência
15 Na Hora Sai Policial

43 Quero comprar uma


arma. Quer mesmo?

22 A influência do medo na
reação em porte velado 48 Qual a melhor forma de
se preparar fisicamente
para 'bancar' um curso
operacional?
29 Perseguidores Noturnos
Nunca Dormen 53 Os novos rumos da
atividade de docência na
área de armamento e tiro
no Brasil
O criador das obras de arte das
mais conceituadas instituições
Públicas e Privadas
camachoartesao@gmail.com
(21) 964284780
@camachoartesão
WORLD COMBAT CONFERENCE (W2C)

IMAGEM ACERVO PESSOAL

Evento idealizado e organizado com


maestria pela agência Sansone
Foi para quem tem coração forte, essa é
Management representada na pessoa
a sensação de todos que assistiram e
de João Sansone que esteve a todo
participaram do maior evento operacional
momento presente no evento,
da América Latina, World Combat
interagindo com instrutores e
Conference (W2C) um evento realmente
visitantes. O evento foi realizado nos
feito diretamente para os operadores de
dias 04 a 07 de setembro, data bem
segurança e seus admiradores, com o
emblemática não?! Em Itu/SP nas
grande reforço dos atiradores esportivos,
dependências da Base Armalite que por
caçadores, colecionadores e amantes do
sinal foi um espetáculo à parte, como
mundo das armas, defesa pessoal, APH
falamos durante o evento, o lugar é a
de combates, técnicas operacionais, e
“Disneylândia” do Operador. Fica a
claro da Segurança.
FOTOS ACERVO PESSOAL
dica: Quem ainda não teve a
FOTOS ACERVO PESSOAL
oportunidade de conhecer, vá! Não irá
se arrepender!
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Foram quatro dias intensos e
gratificantes, estrutura,
instrutores, palestras e
atividades pensadas
diretamente para o operador, o
evento reuniu cerca de 1,6 Mil
pessoas entre operadores e
amantes da área.

Agora vamos diretamente para


como foi esse grandioso evento!

A abertura foi uma verdadeira


explosão, de nos deixar
comendo poeira e isso tudo
literalmente. Logo de cara o
evento já nos presenteou com
uma apresentação incrível que
contava com uma equipe super
preparada, uma perseguição
eletrizante com direito a
abordagem, desembarque de
viatura em movimento, agente
agarrado no teto e ao final para
comemorar a captura, uma
enorme explosão, assim iniciou-
se esse evento que já no
primeiro dia prometia tornar-se
um marco.

A partida para o evento foi


como deve ser, todos de pé com
a execução do Hino Nacional,
além de uma troca de ideias de
respeito com Alexandre Freitas,
Ruy Irigaray, Jose Augusto
Schincariol, Eduardo Migueli,
Paulo Ricardo Barros e João
Sansone sobre a nova vertente
nacional referente as armas e a
insistência da doutrina de
ovelha.

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Sem perder tempo algum deu-se
início as palestras que foram a
grande atração do primeiro dia.
Com palestrantes de peso e
renome no mundo da segurança
como Eduardo Aggio, Rogério
Greco, Cel Alessandro Visacro,
Delegado Fabricio Oliveira, Ten
Cel Maurílio Nunes entre outras
grandes personalidades do
mudo operacional.

Para ficar melhor o dia ainda


teve uma mesa de debates com
operadores de alto nível e
destaque entre comunidade
operacional do Brasil.
A mesa super pesada foi
composta por nada menos que
Eduardo Bettini, Victor Bomfim
(Caveira 12), Ten. Cel. Marcos
Paccola, Luciano Lara,
Deputado Ruy Irigaray e claro o
grande anfitrião, João Sansone
que orquestrou essa távola de
personalidades da área
operacional.

Na área de palestras existia um


"túnel" que ligava o auditório a
área de expositores, com
marcas renomadas como
Invictus, Safariland, Desmodus,
Mahrte, Taurus, Glock, entre
outras, com uma variedade
enorme de produtos fazendo a
festa de visitantes do evento.
Ainda fomos agraciados com
uma palestra de porte velado
com Claudio Andrade em pleno
estande da Invictus.
"QUEM QUERIA
APROVEITAR TUDO TINHA
QUE MONTAR UM PLANO
DE AÇÃO MUITO BEM
AJUSTADO"

Fechando o primeiro dia ainda tivemos um


happy hour com muita cerveja e música boa.

Nos dias seguintes do evento, enquanto


estávamos tendo treinamentos táticos e mais
práticos na parte inferior do complexo, na
parte superior assistíamos a oficinas
hipnotizantes, fomos presenteados com
instruções muito bem direcionadas como as
do Honney Coredeiro, Sandro Meneses, Doc
Maniglia, Mestre Royce Gracie entre outras
personalidades que conseguiram de forma
bem objetiva e didática transmitir seu
conhecimento e mostraram para que vieram.

No Hall das salas de instrução, logo na


saída do auditório tínhamos uma área
destinada a exposição e venda das obras
literárias dos operadores que lá estavam,
tais como Rogério Greco, Cel. Alessandro
Visacro, Honney Cordeiro e Eduardo Bettini
que estava fazendo o lançamento do seu
mais novo livro “O Novato”.

Quem queria aproveitar tudo tinha que


montar um plano de ação muito bem
ajustado, tínhamos eventos muito
importantes acontecendo simultaneamente.
Para quem teve a feliz oportunidade de ir a Base
Armalite sabe a maravilhosa sensação de ver a van
e não ter que subir aquela “ladeirinha” andando. Em nossa tentativa de
passar um pouco da
Na parte inferior a balaria começou cedo, com performance das instruções
instruções super empolgantes e fundamentais para podemos citar as clínicas
a atuação do operador, instruções como de Paulinho Cesar, Bruno
desembarque de viatura com disparos, APH de Sales, Rick Grahan, Rigo
Combate, maleabilidade com arma longa, arma Durazo e outros
curta, entrada em ambiente confinado, balista e operadores de renome com
muito mais para quem é apaixonado por esse mundo oficinas muito bem
empolgante. empregadas.

E assim continuamos
durante todos os dias de
evento, com uma
diversidade de instruções e
palestras voltadas
diretamente para o
operador e amantes do tiro
e da atividade policial.

Para finalizarmos esse


grande evento e claro na
data bem emblemática no
seu prematuro último dia,
tivemos mais uma vez a
execução do Hino Nacional
Brasileiro, fazendo menção
ao dia da Pátria, 07 de
setembro, com a aderência
de todos os participantes
que permaneceram durante
todo o Hino em posição de
respeito e devoção a
Nação.

Quem participou do evento


saiu de lá com a sensação
de satisfação e já
esperando o próximo.

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E para felicidade esse já tem data marcada, será de 16 a 19 de Junho de
2022, seus ingressos já estarão disponíveis a partir de 20 de janeiro de
2022.

A revista Ope-S já na expectativa desse grandioso evento superar o de


2021, será difícil mas acreditamos no empenho da equipe.

Até lá...
E vamos Rumo ao Farol
NA HORA SAI
OU NÃO SAI?
CLAUDIO B. ANDRADE

N ão é incomum, nas rodas de conversas táticas e de estandes de


tiro, ouvir sobre o acrônimo NHS, isto é, o famoso “NA HORA SAI”. O
sentido dessa expressão consiste em algo sendo dito com a ideia de
que no momento de um confronto, seja de que natureza for, você
conseguirá aplicar técnicas nunca estudadas ou treinadas. Quem
pensa, propaga e usa com tal mentalidade só pode fazê-lo por três
razões: descredenciar quem usa da forma correta, desconhecimento
da verdade e por nunca ter se envolvido em um confronto em que o
planejado tenha saído do combinado. Até porque se nunca te
disseram, deixa eu lembrar a você que podemos treinar de tudo,
porém o combate é dinâmico e não combinamos nada com o
oponente/inimigo.

"UNIDADES DE COMBATE RENOMADAS


(POLICIAIS E MILITARES), PRINCIPALMENTE
ESPECIALIZADAS, UTILIZAM O NHS COMO UM
SINÔNIMO DA NÃO DESISTÊNCIA"

U nidades de combate renomadas (policiais e militares),


principalmente especializadas, utilizam o NHS como um sinônimo da
não desistência. Isso ocorre, porque, na guerra, não existe a
possibilidade de, quando algo de novo acontece com sua equipe no
terreno, pedir licença para sair do jogo. Não é uma brincadeira que
paramos onde estamos e pedimos para sair e voltar depois. O que
está em jogo é a sua vida e a dos demais operadores, então, supere o
insuperável e saia de lá vivo. É por isso que dizemos NHS, porque NA
HORA tem que SAIR, custe o que custar.

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Moltke, O VELHO, (26/10/1800 -
24/04/1891), foi o Chefe do Estado
Maior do Exército Prussiano por 30
anos e comandou Tropas na Europa e
Oriente Médio. Para Moltke, sua teoria
de guerra e estratégia era a arte prática
de ADAPTAR meios a fins. Ele
acreditava que seus subordinados
deveriam ter a iniciativa e o julgamento
independentes para que as forças
fossem eficazes na batalha. Para isso,
os planos gerais de campanha e
batalha deveriam incentivar e tirar
proveito da DESCENTRALIZAÇAO, que
seria necessária em qualquer caso.

"arte prática
de ADAPTAR"
Nesse novo conceito de guerra, os
comandantes eram obrigados a exercer
a iniciativa na tomada de decisões e
Von Moltke enfatizava os benefícios de
FOTOS ACERVO PESSOAL
formar oficiais que pudessem fazer isso
Trilho com botijão, fincado ao chão usado
dentro dos limites da intenção do como barreira contra a entrada da polícia
Comandante Sênior.

O Velho conseguiu isso por A principal tese de Moltke


meio de diretrizes que era que a estratégia militar
declaravam suas intenções, tinha que ser entendida
em vez de ordens como um sistema de opções,
detalhadas/engessadas. Além pois só era possível
disso, estava disposto a PLANEJAR O INÍCIO DE
aceitar DESVIOS DE UMA UMA OPERAÇÃO MILITAR.
DIRETIVA, desde que "Nenhum plano de batalha
estivessem dentro da sobrevive ao contato com o
estrutura geral da missão. inimigo" (MOLTKE, 1800-
FOTOS ACERVO PESSOAL 1891)
Encaixe dos trilhos

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FOTOS ACERVO PESSOAL

"O QUE SERIA DA

GUERRA SEM O

NHS?"

T odos esses estrategistas sabiam que


qualquer técnica desenvolvida para ser
empregada em um ambiente em constante
mudança deve ser avaliada e reajustada
regularmente, que não se preparar com
Abrigo para os traficantes dispararem contra os policiais
(seteira) regularidade era loucura, como aquele o qual
teimosamente se apega a uma determinada

O
técnica ou a um plano em uma guerra
que seria da guerra sem o NHS? imprevisível e dinâmica.
Acho que esse conceito se aplica para Já parou para pensar que provavelmente
Myke Tyson também, pois trouxe esse determinada técnica que você adota hoje foi
pensamento quando disse: “Todo alterada porque alguém morreu no campo de
mundo tem plano, até tomar o primeiro batalha ou viu alguém morrendo? Que
soco na cara”. Dwight D. Eisenhower possivelmente aqueles que sobreviveram foi
serviu como comandante supremo das porque se desdobraram, no terreno,
forças aliadas na Europa durante a empregando uma tática desconhecida e nunca
Segunda Grande Guerra e depois foi vista antes, mas foi a que funcionou, a que
eleito como trigésimo quarto presidente deu certo e, na discussão ao retorno à base,
dos EUA. Para ele, há uma distinção foi debatida, treinada à exaustão, surgindo
muito grande quando você está se assim um novo procedimento? Afinal, um dos
planejando para uma emergência, até motivos do debrifieng é esse. Pois é, assim
porque você deve começar com uma surgem novos procedimentos: alguém ao
coisa: a própria definição de tentar botar em prática se deu mal ao aplicar
“emergência”, que é algo suas ferramentas em um oponente que criou
INESPERADO, portanto, não vai um parafuso novo para ser retirado.
acontecer do jeito que você planejou.

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FOTOS ACERVO PESSOAL

"IMPROVISAR,
ADAPTAR E SUPERAR"
IMPROVISAR
verbo
1. 1.
transitivo direto
fazer, arranjar de repente, sem
preparação, organizar às pressas.
2. 2.
transitivo direto e intransitivo
compor na hora, sem prévio preparo,
de improviso.

ADAPTAR
verbo
1. 1.
transitivo direto e bitransitivo
modificar (algo) para que se acomode,

I sso acontece muito com os esportes


de contato, hoje em dia, quando os
se ajuste ou se adeque (a uma nova
situação, um determinado fim, um meio
de comunicação etc.).
atletas estudam seus adversários e
preparam um golpe surpresa, fazendo
com que o atleta se supere, reinvente-
se para que possa ganhar a luta,
porque, do contrário, sem essa vontade
de vencer, será derrotado.
Para fecharmos essa linha de
raciocínio, trago o slogan da Marinha
Americana – ‘’Improvise’’, ‘’Adapt’’ e
‘’Overcome’’, que significa Improvisar,
Adaptar e Superar.
Segundo seus significados:

FOTOS ACERVO PESSOAL


IMAGEM RETIRADA DA WEB

SUPERAR 4. 4.
verbo transitivo direto
1. 1. livrar-se de; remover, afastar,
transitivo direto solucionar.
alcançar vitória sobre; vencer. "s. obstáculos"
"s. um adversário" 5. 5.
2. 2. transitivo direto
transitivo direto resultar (quantitativamente) mais do
ser ou tornar-se superior a; ultrapassar, que (o esperado), ir além de;
exceder, sobrepujar. exceder, ultrapassar, sobrepujar.
3. 3. 6. 6.
transitivo direto e pronominal transitivo direto
ser ou tornar-se mais eficiente ou superior ir mais alto que, subir além;
em relação a (outro ou a si mesmo). ultrapassar, sobrelevar-se a,
avantajar-se a.

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E m novembro deste ano,
completo 22 anos de serviço
dedicados a atividades
policiais, dos quais 19 passei
em unidades especializadas
buscando sempre orbitar
sobre os pilares das forças
especiais: Treinar, Operar e
Instruir. É nele em que
acredito e, na minha opinião
para que o operador seja
completo, ele deve seguir
essas etapas à risca, jogando
o jogo, até porque treino é
treino.
Assim como defendo o NHS
por viver e operar no limite, IMAGEM RETIRADA DA WEB

no extremo sempre
caminhando entre a linha
tênue em que separa a vida NA HORA - SAIR UM MEIO DE SOBREVIVER.
da morte e já, por diversas Só há um jeito de descobrir realmente o que
vezes, ter que aplicar - na essas três letras significam e representam, é
íntegra - os conceitos vivendo, pois dentro de ambientes controlados,
defendidos pela Marinha com riscos calculados e combinando com seu
Norte Americana, não só por adversário tudo dará certo.
mim, mas pelo homem ao meu
lado, posso afirmar que,
quando der errado e todo seu
treinamento tiver sido
superado pelo inimigo,
somente uma coisa fará você
voltar para casa: a sua
vontade de vencer, fazendo - CLAUDIO ANDRADE
POLICIAL CIVIL RJ
RAIO 26
GITIANO 79
FALCAO 52
AGUIA 58
acombatoficial
A INFLUÊNCIA DO MEDO NA
REAÇÃO EM PORTE VELADO
Wesley Santos

A nualmente é percebida através de estatísticas a diferença na proporção de agentes


feridos mortalmente em serviço e na folga. O número de policiais mortos na folga é muito
superior aos de agentes que se encontram em serviço, isso se deve a diversos fatores
como: fraca percepção de ameaça, o agente se encontra sozinho, não tem a proteção
balística apropriada, nível baixo de consciência situacional, falta de treinamento
específico, entre outros. De acordo com o FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança
Pública), 80% dos policiais vitimados no Brasil estavam na folga. Diversas corporações
policiais por todo país se atentaram para o elevado número de vitimados e começaram a
promover cursos, instruções ou treinamentos em porte velado. No Rio de Janeiro não foi
diferente.

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FOTOS ACERVO PESSOAL

O MEDO
Imagina você dirigindo numa via,
com pressa de chegar, em algum
momento o trânsito trava e você
dá uma freada brusca, nesse
momento o telefone celular que
estava sobre o banco carona caí
no assoalho, com o trânsito
parado, aproveita para pegar o
aparelho e quando levanta, um
susto, tem um ambulante na sua
janela vendendo bala. Neste
FOTOS ACERVO PESSOAL momento seu coração está
batendo forte e rápido, sua

C omecei ministrar instrução de Porte Velado em


2011, em cursos de especialização no Batalhão de
respiração ofegante, mas foi
apenas um vendedor.
O medo é uma das várias
Polícia de Choque – BPChq, na ocasião o nome emoções humanas que precisa
específico da matéria era Segurança Policial, pois ser percebido através de um
percebemos que não se tratava só de treinamento estímulo, no qual, está
de tiro e sim algo mais complexo, o policial não relacionado a percepção de uma
morria por não saber disparar, ou não ter perícia em ameaça iminente de ferimentos
acertar, na verdade, grande parte nem conseguia graves ou morte, com o objetivo
sacar o armamento. de evitar ou até mesmo
Com isso, mergulhei em estudos e especializações minimizar danos ao organismo.
em neurociências para entender da dinâmica no Muito importante para
confronto armado e o resultado foi, o agente é sobrevivência, pois deixa o
vitimado por um conjunto de situações e não uma indivíduo em constante estado de
específica, e uma delas é a influência do medo. alerta, afastando a possibilidade
de ser surpreendido, isto é, você
acorda no meio da noite com um
barulho,

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V ai até a cabeceira e pega a arma, no
caminho escuta novamente o barulho na sala,
automaticamente, o medo ativa seu estado de
alerta e você já espera que algo possa estar
acontecendo no cômodo, ao investigar verifica Em uma incursão em comunidade
que é somente o vento, pois esqueceu de por exemplo, o servidor se prepara,
fechar a janela. Em uma situação como esta, o avalia os riscos de uma forma
nosso corpo experimenta uma transformação proativa, sempre se antecipando.
psicofisiológica importante que nos prepara Este planejamento prévio, minimiza
para a luta ou a fuga do estímulo percebido, os efeitos do medo no organismo,
estresse. sendo assim, um dos motivos que
Em serviço ostensivo, de patrulha, o agente em serviço o policial é menos
experimenta o medo de maneira parecida. vitimado.
Normalmente o policial inicia o patrulhamento
com a mente de um caçador, buscando
informações no ambiente para uma ação, até
mesmo numa ocorrência que o perigo é COMO EXPERIMENTAR
potencial.
UMA REAÇÃO DE
ESTRESSE PODE AFETAR
A CAPACIDADE DE UM
INDIVÍDUO TOMAR
DECISÃO?
Já no porte velado, seja no
veículo ou a pé, o estímulo
normalmente é o agressor armado
indo de encontro ao agente,
quase sempre de uma maneira
inesperada e muito rápida, no
momento que é identificado como
ameaça, há uma troca rápida da
consciência situacional para as
ações imediatas de luta ou fuga.

FOTOS ACERVO PESSOAL

PÁGINA 24 REVISTA OPE-S


Sendo assim, começam as reações no A amígdala funciona como um sensor de
organismo que podem ter um grande alarme do corpo humano, quando ela
impacto na tomada de decisão, a percebe perigo ela alerta, reage, se
primeira perda é da coordenação conecta com outras estruturas para
motora fina, pois o sangue do corpo é liberação de adrenalina, noradrenalina,
redirecionado para áreas pertinentes, cortisol, entre outros tantos hormônios /
grandes músculos, para luta ou fuga, neurotransmissores que são
perda da visão periférica devido ao responsáveis pela transformação
hiperfoco na ameaça, exclusão psicofisiológica que o agente passa no
auditiva, hiperventilação, perda momento da reação em situações
temporária da memória, tempo em complexas e
câmera lenta, aumento da frequência imprevisíveis. o
cardíaca, comportamento irracional, Dr. Joseph
além das influências nas habilidades LeDoux explica
cognitivas, tendo em vista, que no que existem
modo de sobrevivência há o dois caminhos
que o psicólogo na percepção de
Daniel Goleman perigo, e o da
chama de amigdala é o
“sequestro mais curto, é o
da amígdala”, caminho ligado
isto acontece diretamente a
no momento em sobrevivência,
que o córtex não pode ser
pré-frontal fica ponderado, é
em segundo responsável pelo
plano. sobressalto quando em
uma trilha se confunde um
O córtex galho seco no chão com uma
pré-frontal é possível cobra, pois nesse momento se
responsável SS
OA
L
houver perda de tempo para realmente
PE
O
pelas funções AC
ER
V
ter certeza se é ou não uma cobra, pode
O S
executivas, FO
T
ser tarde, logo com poucas informações
que envolvem, tomada de decisão, no ambiente ela responde, faz o
controle inibitório, planejamento, indivíduo agir para não trazer danos ao
comportamento social, entre outras. organismo, enquanto o segundo
Nesse momento o agente precisa tomar caminho, mais lento, ainda está sendo
uma decisão utilizando da pouca processado, aí sim se tem a consciência
informação que tem, pois não poderá que não se trata de uma cobra e sim um
perder tempo analisando as galho, logo a amígdala é “desligada” e o
circunstâncias ou estará morto, aí entra indivíduo continua a sua caminhada.
o papel da amígdala. Entender essa dinâmica ajuda o
operador a compreender como seu corpo
irá reagir diante de uma ameaça.
U nidades especializadas
buscam outras atividades para o
policial / militar realizar sob ação
do medo, por exemplo,
paraquedismo, escalada,
mergulho e outras perigosas, pois
por envolverem riscos, melhoram
o condicionamento para uma
tomada de decisão mais assertiva
sob estresse. Assim sendo, a
exposição ao perigo cria uma
adaptação via cerebral a lidar
melhor sob pressão, ajuda o
FOTOS ACERVO PESSOAL
indivíduo a compreender
rapidamente a situação, a
diminuir o tempo de reação e a

"MAS COM O TREINAMENTO, É


tomar decisões eficazes que
envolvam alto risco de vida. Com

POSSÍVEL MITIGAR?" isso, o treinamento ideal deve


estimular a melhora da
consciência situacional,
habilidades táticas dinâmicas,
antecipação, mentalidade de
Mas com o treinamento, é possível combate e o autocontrole
mitigar? emocional.
O treinamento baseado na realidade
consegue fazer o operador experienciar
algumas situações mais próximas do real,
porém não atinge 100 por cento de
fidelidade, um fator importante não se
consegue incluir, a emoção. Diversas
tropas do mundo vêm criando maneiras de
condicionar o operador a agir sob emoção
em eventos extremos, utilizando bolas de
tinta, realidade virtual, descarga de WESLEY SANTOS
choque quando atingido por um laser, mas INSTRUTOR DE TIRO
em nenhuma delas obtém sucesso, pois ESPECIALISTA EM
não há o medo efetivo da morte. NEUROPSICOPEDAGOGIA
E PSICOMOTROCIDADE
wesleyinstrutorsantos
FOTOS ACERVO PESSOAL

PERSEGUIDORES NOTURNOS
NUNCA DORMEM
EDUARDO MAIA BETTINI

N o ano de 2013 eu trabalhava na CAOP, a Coordenação de Aviação Operacional


da Polícia Federal. Na época eu era o chefe da equipe de operadores aerotáticos,
conhecidos como “Grifos”. Com o objetivo de melhorarmos as nossas capacidades
operacionais, havíamos trabalhado muito nos anos anteriores para adquirir
equipamentos optrônicos para operações noturnas. Em 2012, juntamente com o
delegado federal Carlos Afonso G.G. Coelho, foi montada uma equipe com o propósito
de elaborar os artefatos para uma licitação. Ao final deste processo, recebemos
óculos de visão noturna – NVG’s geração III+ New Noga Night, israelenses, com tubo
de imagem europeu; binóculos termais Jim, da Safran e miras termais de precisão
Sword, que acoplamos nos fuzis HK 417 calibre 7,62 utilizados na atividade de
atirador designado aerotático.
Enquanto aguardávamos os equipamentos e, com a colaboração do oficial de ligação
para operações especiais da Embaixada dos Estados Unidos, ajustamos um
intercâmbio com uma unidade de referência mundial em operações especiais noturnas
com helicópteros, o 160th SOAR – Special Operations Aeronautical Regiment.
Conhecidos como “Night Stalkers”, os operadores da lendária unidade se orgulham de
repetir o lema “Night Stalkers Never Sleeps!”, que significa algo como “perseguidores
noturnos nunca dormem” ou “caçadores noturnos nunca dormem”.

PÁGINA 29 REVISTA OPE-S


O SMEE (Submact Matter Expert
Exchange ) aconteceu no Rio de
Janeiro, na Base Grifo, uma
unidade avançada da CAOP, que
havíamos montado no aeroporto
de Jacarepaguá, no Rio de
Janeiro e contou com a
participação de profissionais
do SAER/CORE/PCERJ , do
BOPE/PMERJ e do
GAM/PMERJ . Lembro-me
que durante uma conversa
entre pilotos, um dos
nossos perguntou quantas
horas de voo o americano
possuía e ele respondeu que
eram algo como 2000 horas.
Ficamos impressionados porque
acreditávamos que um piloto tão
experiente de uma unidade como o
160th SOAR deveria ter mais horas
de voo. O colega prosseguiu e
perguntou quantas horas ele possuía de
voo noturno.
- Não estou entendendo. As horas que
contabilizamos são apenas as noturnas e de
FOTOS ACERVO PESSOAL
combate – o piloto americano respondeu.

E les simplesmente não contabilizavam as horas de voo diurno porque esse tipo de
operação praticamente não existia para eles. As ações táticas ocorriam
preferencialmente no período noturno. Eles também não contabilizavam as horas/voo em
treinamento. Ficou claro para nós o quanto eles valorizavam as missões reais e as
circunstâncias em que elas aconteciam.
Infelizmente, a disponibilidade de equipamentos e de treinamento noturno ainda é um
tabu no Brasil, infelizmente. Por aqui muitos gestores ainda consideram caros
equipamentos básicos como óculos de visão noturna e preferem seguir investindo,
basicamente no trinômio colete, viatura e fuzil. Com o valor gasto em uma viatura é
possível se adquirir dois, até três OVN’s que possuem um tempo de vida útil muito
maior, superando facilmente sete ou oito anos. Não estou dizendo que a aquisição de
viaturas não é importante. Apenas estou afirmando que a aquisição de viaturas não é
tudo e que devemos ir muito além delas.

PÁGINA 30 REVISTA OPE-S


E quipar nossos profissionais de segurança pública com equipamentos de visão
noturna é essencial para aumentar a segurança operacional e a capacidade de
detecção, reconhecimento e identificação de alvos – DRI . Para um policial
devidamente equipado com um óculos de visão noturna razoável e um designador
laser, é muito mais fácil combater no período noturno do que durante o dia. São
equipamentos de fácil utilização, resistentes, duráveis e que, com um treinamento
básico, podem ser repassados a todos os operacionais que realizam operações
noturnas, seja em ambientes rurais, seja em áreas urbanas, sobretudo nos
denominados “conglomerados subnormais”.

A lém de buscarmos a disponibilização dos equipamentos termais e de visão


noturna para nossos policiais que deles necessitam, precisamos fazer isso com foco
na missão que cada um desenvolve. O que observamos ao longo do tempo, é uma
espécie de controle de narrativa, dado por uma retórica perversa e que limita o uso
deste tipo de equipamento a determinadas unidades. É preciso desmistificarmos o
acesso a estes dispositivos, modificando essa narrativa. Devemos trabalhar para
disponibilizarmos os recursos para todos que deles precisem. É a missão que cada
unidade cumpre que define o equipamento e o treinamento que precisam receber.
Não é possível que, em pleno século XXI, continuem reverberando os discursos
vazios de restrição ao acesso a equipamentos e a treinamentos essenciais a unidades
que deles necessitam e que podem salvar vidas de policiais e de cidadãos.

PÁGINA 31 REVISTA OPE-S


A capacidade de ver sem ser visto, a possibilidade de detecção de ameaças e de
identificação de alvos durante o período noturno deixou de ser um tabu a décadas e
proporciona a tão desejada superioridade tática das forças de segurança pública em
relação aos criminosos e suas organizações diabólicas. A humanidade logrou uma
gama de avanços científicos que se traduzem na forma de ativos tecnológicos
passíveis de serem utilizados pelas forças policiais e que possibilitam a aquisição de
inteligência, a observação e o reconhecimento – capacidade ISR – de alvos no período
noturno, com eficácia e precisão.

Infelizmente, no Brasil, estes equipamentos,


recursos e meios ainda não estão à disposição
da grande e esmagadora maioria dos
operadores que deles necessitam, seja por
inércia ou omissão de gestores, seja pela
narrativa de pseudo-doutrinadores de algumas
unidades que negam o acesso a equipamentos,
conhecimentos e técnicas aos colegas que
atuam nas denominadas pontas de lança. A
missão define o equipamento e treinamento
necessário e admitir isso é respeitar quem faz.
Infelizmente, “em terra de cego, quem tem um
olho é rei” e muitas pessoas se intimidam com
discursos tecnicistas, ricos em termos
EDUARDO BETTINI
rebuscados, imorais e vazios em significado. A AUTOR DO BEST-SELLER "A
RETOMADA DO COMPLEXO
verdade é uma só, quem faz merece receber DO ALEMÃO"
todos os meios disponíveis para executar sua OPERAÇÕES ESPECIAIS
missão. O resto é embuste. BOPE/RJ

betinioficial
@rhinokydex_ (61)991844139
FOTOS ARQUIVO WEB

Soldado do Exército paraquedista baleado no primeiro dia do Exército no Complexo do


Alemão, sendo socorrido pelo Policial militar no Rio de Janeiro.

ALEX VASCONCELOS

OS PARADIGMAS
E para tratarmos um assunto tão cheio de
tabu pela comunidade acadêmica creio que
devo primeiro apresentar os efeitos de uma
retórica empolada e distanciada da realidade
CIENTÍFICOS COM
policial, mas que repercute diretamente no dia
a dia do policial de ponta com efeitos que
DISCURSO DE engessam sua atividade e até a sua forma de
agir.
Os dilemas decisórios nas operações policiais,
AUTORIDADE
de alta complexidade e em um Estado
democrático de direito sofrem uma forte
ACADÊMICA EM pressão da mídia, operadores de direito e
acadêmicos. Grande parte pela influência e
tendência majoritária de um ultragarantismo
CONTRASTE COM A
constitucional que transborda das
universidades, think tanks e grandes centros
EXPERIÊNCIA de pesquisa, e inunda vários setores decisórios
com essa corrente.
POLICIAL

PÁGINA 34 REVISTA OPE-S


Sem um contraponto argumentativo, naquele mesmo ambiente universitário em
que se produziu esses paradigmas acadêmicos engessantes e impeditivos a um
entendimento mais profundo do contexto e realidades, se sobrepõe a vivência
policial, saltando aos olhos dos agentes de seguranças pública pela natureza de
conflitos com características beligerantes, assimétricas, mas que pesquisadores
remetem as teorias, conceitos e explicações que vão do general de guerra
prussiano Carl Von Clausewitz, com a celebre frase que a guerra seria uma
extensão da política por outros meios até Carl Schmitt com a definição de inimigo
de interesses de Estado se diferenciar do inimigo como desafetos ou qualquer
opositor que não mantenha interesses políticos em um conflito beligerante.

"A DEFINIÇÃO DE INIMIGO DE


INTERESSES DE ESTADO SE DIFERENCIAR
DO INIMIGO COMO DESAFETOS"

Conceitos importantes que embasam a teoria da guerra, mas exclui


completamente os conflitos urbanos de características bélicas em tempos de paz,
onde um Estado não estaria em guerra com outro Estado, ou mesmo com
guerrilhas internas de um povo contra o próprio Estado, se não mantiver objetivos
políticos.

FOTOS ARQUIVO WEB

Traficantes da comunidade do Salgueiro utilizando roupas ghillie de camuflagem de guerra, usadas


por snipers para mimetizarem-se no ambiente, porém neste caso, utilizadas para confundirem
agentes da lei que podem se tornar alvos fáceis diante da técnica em ambiente de mata.

PÁGINA 35 REVISTA OPE-S


"micro-Estado paralelo que não quer

se emancipar, mas se parasitar nas

entranhas do aparato Estatal."

E m nenhum momento, pesquisadores


conservadores querem anular tal
entendimento, mas ampliá-lo para fenômenos
culturais, econômicos que não carregam
necessariamente tópicos políticos, mas
poderiam configurar um estado pré-anômico e
que pode sim se desdobrar em algum
momento em guerra fratricida se o Estado
não for forte para controla-lo. Porque crime é
um fenômeno social existente em qualquer
parte do mundo, porém a intensidade de sua
presença em escaladas cada vez maiores em
algum momento pode transitar para interesses
políticos e de afronta a soberania. As FARCs
ainda que tenha nascido com interesses
políticos, se utilizou do tráfico de drogas e
sequestro para fortalecimento de seus
Kill Box – Teatro Operacional na dimensão Terra-Ar interesses e hoje se tornou partido político. E
se tivermos um quadro ao contrário das
FARCs, onde se inicia com interesses econômicos pelo tráfico em si e avança para
grupos de interesses políticos se apropriando daquela estrutura? Pegando como
exemplo territórios brasileiros dominados por facções criminosas. De fato, elas não
querem se emancipar do Brasil e criar um Estado novo ou tomar o poder, seus
objetivos até então são econômicos. Manter a posse do seu território com regramentos,
defesa, assistencialismo e tribunal próprio como amenizam a parcela majoritária dos
pesquisadores. Porém esse quadro de rompimento com a burocracia Estatal para
criação de uma espécie de micro-Estado paralelo que não quer se emancipar, mas se
parasitar nas entranhas do aparato Estatal.

C onfronta sorrateiramente com a soberania do Estado. Boa parte dos moradores


daquelas regiões vivem da economia do tráfico. Um panorama caótico que
retroalimenta a ilegitimidade e fragmentação do Estado e de seus agentes de
segurança pública que ali operam. Um quadro perfeito para evolução de problemas
ainda mais complexos e que não vivenciamos ainda, mas que não podemos afirmar que
jamais ocorrerão, podendo ser evitados, se entendermos que temos terreno fértil que
pode servir perfeitamente de base e recrutamento, por grupos políticos ideológicos
contrários as políticas de Estado em uma guerra fratricida.
"RETÓRICA DE AUTORIDADE
UNIVERSITÁRIA SOB A EXPERIÊNCIA
POLICIAL"

Dada essa explicação conceitual, ainda A mais recente remissão de conceitos ou


que rapidamente pelo espaço aqui ideias nascida do estudo de guerra para
proposto, servindo somente como um atender somente a crítica ao Estado e de
introito ao tema principal, percebo que o seus agentes policiais é apresentada por
saber empírico policial, muito importante pesquisador brasileiro, de linha mais
para servir de base para estudos mais progressista, com a importação da Teoria do
complexos, vem sendo negligenciado Drone das ciências políticas, do filósofo do
quando não atende pautas ideológicas Centro de Pesquisa Francesa Grégoire
dentro das políticas existentes em Chamayou, para atrelar conceitos de
nossas universidades públicas. necroética , desumanização do combate
Um bom exemplo da modalização do pelo distanciamento no embate, kill box
discurso acadêmico, como retórica de entre outros, em um esforço para uma
autoridade universitária sob a explicação totalmente fora do contexto de
experiência policial, seria o uso da sua criação, mas que serve aos interesses
analogia de elementos de guerra para de aplicar tal teoria, como uma crítica feroz
fins específicos aos interesses por ao uso do helicóptero policial contra
grupos ideológicos de linha mais traficantes armados com fuzis de longo
progressista, em detrimento de alcance de letalidade para além de suas
pesquisadores mais conservadores ou comunidades, ou mesmo rifles .50 para
com visão de fortalecimento de Estado. defesa anti-material e até antiaérea e que
Porém quando inverte o uso do mesmo não condiz de forma nenhuma com uma
exercício de abstração para analogia de analogia de alguém dentro de um contêiner
efeitos de guerra nos conflitos policiais, apertar um botão a milhares de km do palco
a mesma comunidade majoritária da do conflito com essa realidade nossa no
academia se rebela em um intenso Brasil.
frenesi de argumentos tecnicista para
cercear qualquer remissão à guerra. Essa ideia de se utilizar esse conceito, por
si só já demonstra o quão longínquo nossos
ilustres doutores e mestres estão da
realidade e da vivência policial, um teatro
operacional que pode ser verificada a
poucos passos de algumas das principais
estradas, aeroportos e centros no Rio de
Janeiro, por exemplo.

PÁGINA 38 REVISTA OPE-S


S e não fosse assim, como explicar a
proximidade entre atiradores da aeronave
e traficantes armados de fuzis, com baixa
ou ferimento de policial aerotático? De um
contêiner apertando o botão de um drone
não tripulado é que não pode. Logo essa
analogia já se desconstrói pela própria
vivência policial, algo que poderia ser
evitado se tivéssemos mais pesquisas
etnográfica com o pesquisador dentro da rotina policial e menos, somente nas favelas
ou de dentro de grupos de traficantes armados produzindo seus estudos.

Uma pesquisa exploratória foi conduzida por mim e pelo Cel PM Anderson Puglia,
enquanto estudantes na pós-graduação em APH Policial na Escola Superior de
Polícia do Paraná em 2019, uma iniciativa ousada e bastante inclusiva daquela escola
que vem fazendo uma série de produção acadêmica e enriquecendo seu capital
institucional recebendo operadores de segurança pública nas diferentes linhas de pós
e pesquisa que mantém. Algo digno de destaque, entre meu relato sobre aquela
escola, seus professores e coordenadores.

A ideia surgiu, anos antes enquanto cursava na ECEME, uma Escola do Exército
que me senti mais a vontade para estudar sobre conflitos e guerras contemporâneas
em 2018, quando indaguei no intervalo de uma aula ministrada por um major
RANGER, sobre a veracidade ou não de um questionário que eu vira em um filme de
guerra sendo aplicada a veteranos de guerra, mas com questões assustadoramente
iguais a muitas vivências operativas que eu e vários policiais de minha unidade, ou
mesmo de outras, experimentávamos em nossas rotinas de operações policiais aqui
no Brasil. O major americano não somente confirmou a existência do questionário,
como prontamente me forneceu em alguns poucos dias, juntamente com toda
metodologia envolta para aplicação e mensuração de perguntas, que lá servem para
atestar a resiliência ou TEPT ao veterano de guerra quando reingressa na sociedade
após baixa, podendo até mesmos determinar continuidade previdenciária e
tratamento.

F oi então que resolvi sair do ciclo espiral de crítica progressista em se explicar o


porquê seria ou não guerra, para aproveitar aquela pós, com redes de policiais de
vários Estados, para traduzir o questionário composto por três partes e aplicar
somente a parte que determinava a intensidade de vivência operativa de guerra de
veteranos americanos aos quatrocentos e onze policiais brasileiros, que eu e Puglia
entrevistamos em vários Estados. A hipótese procurava responder se as vivências
operativas dos soldados americanos eram em algum grau similar ou não com o que os
policiais brasileiros experimentavam em confrontos em áreas de difícil acesso e de
conflitos complexos.
A pós meses debruçados nas
estatísticas e análise de
FOTOS ARQUIVO WEB
relatórios pelo software Power
BI da Microsoft, chegamos à
conclusão que do total dos
policiais entrevistados, 66,2%
possuem histórico de
experiência em confronto
policial que mimetizam riscos
médios a que soldados
americanos ficaram expostos.
Quando analisado somente os
policiais do Estado do Rio de
Janeiro, o número de risco alto
de exposição a vivência
operativa similar a de guerra
aos soldados americanos
encontramos 20,3% contra
7,5% da amostragem total
entrevistada de policiais
brasileiros. Se juntarmos
riscos médios e altos teremos
73,7% de similaridade no total
.d e policiais brasileiros entrevistados e no Rio de Janeiro teremos 89,8%, um número
bem expressivo para sustentar o eufemismo progressista pela atenuação do fenômeno
com nomes que não remetam a ideia de guerra

I gnorar o uso de recursos e técnicas de guerra por facções criminosas nos


conflitos urbanos demonstra uma alienação total da realidade que se descortina no
Estado do Rio de Janeiro. Se por um lado ocorre uma estranheza aos doutores
especialistas da área de Segurança Pública do uso do termo “guerra” para tratar dos
conflitos violentos que assolam as grandes cidades, entre forças policiais e grupos
criminosos armados, ou entre os próprios grupos criminosos; por outro lado causa
uma sensação de aviltamento quando esses especialistas se referem com termo
reducionista de simples conflito entre pessoas armadas, despindo o policial de sua
função de Estado para igualar ao narcotraficante com armamento bélico, sendo mais
importante o emprego de eufemismo do “politicamente legal” para esvaziar os riscos
que os policiais se expõe e qualquer tentativa de justificar a intensidade dos
confrontos. Como se o policial fosse o agente de tumulto e violência para aquelas
comunidades dominadas pelo tráfico.

PÁGINA 40 REVISTA OPE-S


C om essa prática de
lobismo ideológico, tão
presente nas políticas
acadêmicas, que vai do
fomento e incentivo à
pesquisa até as remissões
bibliográficas limitadas FOTOS ARQUIVO PESSOAL

entre seus pares ideológicos, um quadro Os profissionais de segurança pública


de ostracismo acadêmico é duramente precisam entender a imperiosa necessidade
imposto aos pesquisadores que mantem de se dar a devida importância da produção
um posicionamento mais conservador e científica. Precisamos ocupar espaços de
distante das pautas partidárias nos debates e principalmente escrevermos
centros de produção universitária. mais. As operações especiais na polícia
Acaba refletindo na retórica unilateral e envolvem um extenso campo de saber e em
sem contraposição, potencializando diferentes eixos temáticos, como psicologia
preconceitos acadêmicos, bias do social, física, mecatrônica, inteligência,
pesquisador e reforça paradigmas que aviônica, balística, estudo dos materiais
se retroalimentam novamente pela para EPI, APH de combate entre tantos
referência de autores comuns naquele outros.
meio.
Quem sabe um dia poderemos referenciar
" C O M O R E S U L T A D O , H Á U M
mais bibliografias de autores policiais com
C O N T Í N U O D E S P E J O D E
pesquisa, análises ou mesmo reflexões de
P R O D U Ç Ã O A C A D Ê M I C A

P R O G R E S S I S T A ,
suas atividades sem precisarmos recorrer a
M O D A L I Z A D A "
autores estrangeiros. A revista de
Operações Especiais faz uma boa
Como resultado, há um contínuo despejo contribuição servindo de ensaio e
de produção acadêmica progressista, levantando questões bem atuais e
modalizada, que fundamenta projetos e necessárias para a compreensão da
políticas públicas, cada vez mais na forma complexidade da atividade de OE como um
ultragarantista e descontextualizada com a espaço mais inclusivo de debates de ideias
realidade dos conflitos de alta intensidade por seus pares.
no Estado do Rio de Janeiro e uma
imperiosa necessidade de trabalhos que
demonstre outro ponto de vista sem que
seu autor seja canibalizado pelos seus ALEX VASCONCELOS
pares pesquisadores e cerceados de POLICIAL CIVIL RJ OPERAÇÕES
TÁTICAS ESPECIAIS - CORE RJ
oportunidades por manter posição mais PESQUISADOR MEMBRO-
conservadora e produção acadêmica FUNDADOR DO THINK
TANK CONSERVADOR INSTITUTO
contrária. ARRECIFE

alex_vasconcelos
QUERO
COMPRAR UMA HONNEY
ARMA. CORDEIRO

QUER MESMO?
S ou armamentista, apesar
de considerar este termo
inapropriado e pejorativo. Mas,
na falta de outro termo que
melhor adjetive quem, como
eu, defenda a vida, a liberdade
e o direito de o cidadão poder
defender a sua própria vida e a
de terceiros que estejam em
perigo, só me resta utilizá-lo e
afirmar que sim, sou
armamentista. Não me importa
como serei chamado por isto,
se serei visto como herói, cão
pastor, guerreiro ético, ou
outros “títulos” não tão nobres
e, por vezes, negativos, o fato
é que defendo a ideia de que
as pessoas tenham o direito de
optar por possuir uma arma de
fogo.
Embora eu tenha convicções
claras a respeito do assunto,
não cabe a mim incentivar ou
desmotivar qualquer pessoa no
exercício de sua escolha em
ter ou não ter uma arma de
fogo. FOTOS ARQUIVO WEB

PÁGINA 43 REVISTA OPE-S


"PESSOAS ARMADAS NÃO PODEM

FREQUENTAR 'QUALQUER' LUGAR"

Pessoas armadas não podem


frequentar “qualquer” lugar. É
Pessoas de bem
necessário ter bom senso e cautela.
adquirem armas com a
Evite aglomerações de pessoas,
finalidade exclusiva de
locais “mal” frequentados, escolha
defender a vida, seja a
aqueles que aparentem ser mais
sua ou a de terceiros, e
tranquilos, que contam com boa
também de proteger
iluminação e com saídas amplas e, se
seu patrimônio. Mas é
possível, diversas;
mister ter em mente
que o resultado FOTOS ARQUIVO WEB

produzido pelo uso


correto ou incorreto de
uma arma de fogo pode
vir a ser a morte de
uma pessoa, inclusive a
sua própria ou
daqueles a quem
pretendia defender. De
acordo com o art. 5º da
CF/88, a vida é
considerada o maior
bem jurídico tutelado. FOTOS ARQUIVO WEB

Portanto, se você
possui um objeto que
A valie com critério as suas vestimentas, e, se necessário,
tem o poder de invista na mudança delas. Já perdemos muitos policiais e
extinguir o nosso maior atiradores experientes, pelo simples fato de seus trajes
bem tutelado, que é a denunciarem que, por baixo deles, havia uma arma de fogo.
vida, esse objeto deve Meliantes sabem fazer uma boa “leitura” do ambiente e de
ser tratado com muita pessoas e identificam, com uma habilidade que somente
responsabilidade e você tem, ou ao menos deveria ter, quando estão diante de
jamais deveria ser pessoas armadas. E, pior, não apenas as identificam, mas
adquirido com o intuito atacam-nas.
de “alimentar avatares” Evite, a todo custo, estar acompanhado de pessoas
em redes sociais. explosivas, causadoras de confusão. O fato de pessoas com
este perfil saberem que estão em companhia de alguém
armado somente potencializará sua habilidade de se
envolverem em brigas, contando que estão sob sua
proteção. Jamais se esqueça: é sua a responsabilidade pela
arma e por tudo o que fará com ela.
"LO C AL IDEAL PARA
GUARDAR SUA ARMA:
ONDE VO CÊ
PRETENDE DEIXÁ-LA
QUANDO NÃO ESTIVER
PORTANDO?"
E
, embora pareça óbvio, nunca é demais alertar que, se o
nervoso e explosivo em questão for você mesmo,
multiplique exponencialmente esse risco e pense, com
muita cautela, se você deve andar armado. Se não tem as
suas emoções sob controle, e se elas determinam as suas
atitudes, talvez não deva, ou, melhor dizendo, certamente não
deve ter uma arma de fogo.

Já em sua residência, alguns aspectos são de


extrema importância. Um deles diz respeito ao
local ideal para guardar sua arma: onde você
pretende deixá-la quando não estiver portando?
Quem frequenta sua
casa? Há crianças no lar?
Considere todos esses aspectos
e adote as providências no
quesito segurança, a fim de
evitar acidentes e “surpresas”
indesejáveis, como disparos
acidentais, efetuados até
mesmo por crianças, ou o furto
da arma.

Outro aspecto que não pode ser


negligenciado, caso tenha
crianças em casa, refere-se ao
fato de como pretende educá-las
com relação ao armamento, se vai
escondê-lo ou apresentá-lo ao
menor, esclarecendo as dúvidas,
tirando a curiosidade comum às
crianças, e cientificando-as dos
perigos que aquele armamento
oferece, caso seja manipulado por
elas.
A lém do quesito segurança, há
também a necessidade de
investimentos em acessórios, coldres,
Agora, já ciente dos principais fatores de
segurança e de investimento que devem
ser pesados antes de você decidir comprar
munições e treinamentos que realmente o
uma arma e, especialmente antes de
capacitem na utilização do seu
colocar esta ideia em prática, você deve
armamento. São custos elevados,
avaliar com calma e responsabilidade o
especialmente se optar por produtos e
que pode mudar em sua vida, a partir
treinamentos de qualidade.
dessa decisão. Se você conhece alguém
que esteja pensando em comprar uma
Não nos referimos exclusivamente ao
arma, envie essa matéria para ajudá-la.
treinamento no uso e manutenção da

C
arma. Vamos para além do estande de
tiro, onde você será adestrado, na
aso você já tenha comprado e somente
maioria das vezes, para disparar contra
agora tenha percebido a
alvos imóveis. Quando se opta, de forma
responsabilidade, sugiro que se adeque a
realmente consciente e responsável por
essa nova realidade, ou venda sua arma,
ter uma arma, tornam-se necessários
pois, hoje em dia, todos que possuem uma
treinamentos e cursos em diversas áreas,
arma de fogo fazem parte de uma
dentre os quais podemos citar:
comunidade com um pensamento em
- APH de Combate;
comum, e a representam onde quer que
- Combate veicular;
estejam. Um erro, um uso indevido ou um
- Defesa Residencial;
acidente, certamente irão impactar na
- Combate em Baixa Luminosidade;
forma como são vistos todos os membros
- Retenção e contra retenção;
dessa comunidade.
- Conhecimentos sobre balística;

HONNEY CORDEIRO
AGENTE DE POLÍCIA DA
POLÍCIA CIVIL DO DISTRITO
FEDERAL

nuncatoqueo
FOTOS ARQUIVO WEB
sino.oficial
PÁGINA 46 REVISTA OPE-S
QUAL A MELHOR FORMA DE SE
PREPARAR FISICAMENTE PARA
"BANCAR" UM CURSO
OPERACIONAL
Rafael Mateus

FOTOS ACERVO PESSOAL

A preparação física de um candidato a


um curso operacional, a meu ver, é um
Ocorre que, o candidato que se baseia
exclusivamente nos índices do TAF, ou
dos pilares mais importantes para que o até mesmo aquele que passa no TAF com
decorrer do curso se torne menos índices ruins irá sofrer bastante durante o
sacrificante, isso porque se o candidato curso, além de ficar sempre em evidência
se preparar corretamente, tanto para o no TFM e, com isso, ser mais cobrado em
TAF quanto para as etapas existentes no todas as etapas do curso que os demais
curso, este será cada vez menos alunos.
surpreendido e cada etapa física será
menos sugada.

Muitos candidatos, por pura falta de


A tualmente, graças à evolução da
Internet e da disseminação da informação
conhecimento ou mesmo de experiência, através das redes sociais, o candidato
quando decidem se preparar fisicamente tem a possibilidade de treinar
para um curso operacional, treinam por corretamente, usando dados que mudarão
conta própria ou procuram um totalmente a maneira de se preparar. Com
profissional de educação física para base nisso, quais valências físicas
montar o seu treinamento. Esse entendo como essenciais e como treiná-
profissional, por sua vez, por nunca ter las de maneira eficiente?
vivenciado a rotina de um curso
operacional, vai redigir um treinamento
baseado exclusivamente nos índices do
TAF.
PÁGINA 48 REVISTA OPE-S
"como treiná-las de
maneira eficiente?"
1) Parte aquática: natação na piscina,
natação no mar, modalidades de nado, apneia
estática, dinâmica de profundidade, e
flutuação (equipado e de sunga).
2) Parte terrestre: corridas longas (Exemplo:
15km , 11.0 e 12.5km/h), corridas curtas e
marchas bem longas equipado.
3) Calistenia: exercícios calistênicos de
isometria.
4) Barra, flexão e fortalecimento do CORE.
5) Crossfit: é um sistema de treino que tem
por base uma grande variedade de exercícios
realizados em alta intensidade. Tem por
finalidade permitir o desenvolvimento de
diversas capacidades corporais tais como
LPO (levantamento de peso olímpico),
movimentos ginásticos com peso corporal e
cardio (Endurance). Essa modalidade é
utilizada pelos SEALs nos EUA há bastante
tempo e vem sendo cada vez mais presente
nos cursos operacionais no Brasil.
6) Adaptação à altura (noção de escalada e
de rapel).

FOTOS ACERVO PESSOAL

FOTOS ACERVO PESSOAL


FOTOS ACERVO PESSOAL

Um dos grandes problemas que surge é


como treinar tantas valências em pouco
tempo. E é nesse momento que o candidato
deve buscar uma periodização correta e
com uma certa antecedência. Mas quanto
tempo de antecedência? E eu te respondo:
depende. E depende principalmente da
parte aquática, isso porque um aluno com
um condicionamento físico razoável em
terra, na água já demoraria cerca de 6
meses para se preparar bem; por outro
lado, um aluno que sequer sabe nadar,
demoraria bem mais que isso para aprender
FOTOS ACERVO PESSOAL e adquirir a famosa aquacidade.

"APRENDER E
ADQUIRIR A FAMOSA
AQUACIDADE."
As forças armadas brasileiras estão bem à
frente das polícias em relação a um
assunto. Em palestra recente que fui no
BOPE, do Tenente Coronel do Exército
Brasileiro Adriano Teixeira Pereira, o
mesmo afirmou que qualquer aspirante a
um curso operacional fica afastado durante
um tempo das suas funções ou trabalha
meio expediente, e é disponibilizada a este
uma planilha de treino elaborada por ele e
por outros profissionais de educação física
da escola do Exército (a maioria dos cursos
das Forças Armadas contam com um
nivelamento físico antes do curso iniciar,
com o propósito de diminuir a disparidade
física entre os candidatos).

Já no âmbito da polícia, por não ter esse


apoio da própria instituição, e também por
não saber onde buscar o treinamento
correto, o aluno acaba treinando de forma
desordenada, sem nenhum cronograma,
tendo ainda que cumprir sua escala de
plantão ou expediente.
FOTOS ACERVO PESSOAL
S endo assim, o primordial para o
treinamento de um candidato a curso
operacional é que faça todo um
planejamento de vida, separando horas
e dias específicos para cada tipo de
treino. Haverá treinos que conseguirá
realizar sozinho, como corrida, Crossfit,
calistenia, e haverá os que precisará de
ajuda e periodização, como natação,
apneia, adaptação à altura. Ao decidir
fazer um curso operacional, este
candidato deve ter ciência que irá abrir
mão de sua vida pessoal, fazer
sacrifícios financeiros, e é nesse
momento que este tomará uma das mais
importantes decisões em sua vida:
definir o quanto vale o seu sonho e o
quanto está disposto a se sacrificar por
ele. FOTOS ACERVO PESSOAL

Por fim, vou colocar uma base de periodização


de treinamento para qualquer candidato a um
curso operacional, sempre lembrando que
cada treinamento deve se basear na
capacidade física de cada um, nas valências
que tem facilidade, além da disponibilidade de RAFAEL MATEUS
cada um. Segue tabela com base em indivíduo PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO
médio, que já treina há 4 meses e não tem FÍSICA
INSPETOR DE POLÍCIA/RJ
dificuldade em nenhuma das atividades. OPERAÇÕES TÁTICAS
ESPECIAIS

rafaelfalcao134
J U L I A N A L O P E S

Os novos
rumos da
atividade
de docência
na área de
armamento
e tiro no
Brasil
FOTOS ACERVO PESSOAL

A BANALIZAÇÃO DA CAMISA VERMELHA EM FACE DA


OBSESSÃO POR LIKES

O AUMENTO DO NÚMERO DE NOVOS CLUBES DE TIRO INAUGURADOS NO BRASIL


Nos últimos anos, temos observado um aumento considerável do número de novos
clubes de tiro sendo inaugurados em todo o Brasil e, acompanhando esse aumento,
temos também o aporte de novos instrutores de armamento e tiro nesse mercado
crescendo na mesma proporção. Entretanto, das lamúrias políticas criadas em torno
desse assunto desde a assunção do governo, instigados pela opinião pública de
esquerda, vimos crescer também os questionamentos acerca da qualidade dessa nova
geração de profissionais, especialmente no que tange ao seu nível de conhecimento e
de experiência na atividade.

PÁGINA 53 REVISTA OPE-S


A contece que muitos desses novos
profissionais, mesmo logo após
P ara exercer a profissão, como bem
assevera Lima (2020), um educador
realizar um curso qualquer de precisa ter conhecimento da
formação de Instrutores de Armamento metodologia a ser utilizada e possuir
e Tiro, os quais possuem em média uma didática adequada para conseguir
carga horária de oitenta horas, não se sucesso em suas instruções. Não basta
preocupam em buscar e aprimorar somente conhecer do assunto, tem que
gradativamente o seu conhecimento, saber repassar a informação aos seus
mas sim em já se associar instruendos! A função do docente é
imediatamente a algum clube de tiro permitir que os indivíduos arremetam em
para promover cursos a fim de formar novas direções ditadas pelos seus
outros instrutores, com o fito de próprios interesses, dando abertura para
satisfazer sua ambição financeira e questionamentos e exploração do
engordar suas redes sociais com mais conteúdo, reconhecendo que tudo se
seguidores e likes, isso porque hoje acha inserido em um processo de
em dia ser instrutor de Armamento e mudança.
Tiro está na moda, preenchendo assim
apenas o seu ego, ao invés da sua
“caixa de ferramentas” (leia-se: sua
bagagem de conhecimento).
L ima lembra ainda que, para obter o
sucesso, é imprescindível que o
profissional da educação seja submetido
A ATIVIDADE DE DOCÊNCIA NO a um processo de autoconhecimento e
BRASIL de harmonização ao lado de sua
Imagine neste momento, caro leitor, a formação técnica, pois contribuir para o
imagem daquele seu professor desenvolvimento das pessoas requer
preferido lá do ensino médio: agora, sensibilidade, empatia, capacidade de
tente buscar na memória o que fazia ouvir, boa comunicação, a fim de
dele tão especial para você, ou para a conseguir encantar e envolver o grupo
turma inteira, já que essas figuras, com o qual se está interagindo. Além
geralmente, eram muito populares no disso, acreditamos também que apostar
meio escolar e agradavam a legiões em artifícios visuais para causar impacto
de alunos com o seu jeito de ser. de superioridade perante seus alunos,
Lembrou? Pois bem. Vou te dizer o não seria recomendável em hipótese
que te prendia a ele: a forma leve de alguma, mormente em escolas de tiro.
ensinar, a demonstração de domínio e Instrutores fardados ou fantasiados tal
conhecimento do assunto, aquela qual um soldado do Exército Americano
metodologia inovadora que sempre não gera empatia alguma com o público
prendia a atenção de todos da forma em geral, acabando por afastar pessoas
mais didática possível, e que te que apenas gostariam de frequentar
proporcionavam, além de momentos clubes ou escolas de tiro eventualmente
de puro prazer e boas risadas, boas para o seu lazer.
notas e segurança naquilo que
estavam assimilando e que
provavelmente lembras até hoje.
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A ampliação de acesso à internet


e a inserção indiscriminada de
conteúdo nas plataformas digitais,
Mas, infelizmente, isso especialmente nas redes sociais,
Sendo assim, consciente ainda não é uma realidade que de forma gratuita vem
de que os instrutores de no desenvolvimento da permitindo que muita bobagem
armamento e tiro são, atividade da docência no seja compartilhada pelo mundo
antes de tudo, âmbito das armas de fogo afora como verdades absolutas,
professores repassando no Brasil. Atualmente, atingiu negativamente não só a
o seu conhecimento e percebemos que todo cultura ou as nossas relações
sua experiência para mundo pode sair por aí enquanto sociedade, mas também
alguém, acreditamos que vestindo camisetas a educação no nosso país como
deveria ser prioridade vermelhas, intitulando-se um todo, seja de crianças, jovens
entre os neófitos nessa instrutores de tiro, ou adultos, à quem vem sendo
seara a fiel observância ensinando despejadas teorias absurdas,
à doutrina, às leis e às profissionalmente algo que comportamentos indigestos e
demais nuances que não sabe, a alguém que endeusamento de criaturas
envolvem essa profissão, sabe menos ainda, sem débeis, que nos causa espanto
respeitando-se acima de qualquer crivo técnico, e pela quantidade e qualidade de
tudo seu tempo razoável ainda por cima imbecilidades produzidas em tão
de maturação. escancarando à larga nas curto espaço de tempo, mas que
redes sociais essa triste tem o incrível poder de arrastar
realidade. multidões e exercer influência não
só entre seus semelhantes, mas
também chegando ao cúmulo de
interferir no cenário político
nacional, adestrando um
verdadeiro exército de ignorantes.
OS TODO-PODEROSOS TATICOOLS
DA CAMISETA VERMELHA
Levados pela popularização do processo Aduzem os professores D. Santana e M.
de Credenciamento de Instrutores de Santana (2020), que o bom instrutor é
Armamento e Tiro da Polícia Federal, o aquele que repassa com simplicidade os
aumento vertiginoso do número de conhecimentos básicos, que servirão de
instrutores no Brasil vem causando certo alicerce para conhecimentos mais
desconforto perante a classe, devido à sofisticados. Se ele for efetivo no
falta de experiência de muitos, os quais, básico, com certeza repassará o que é
atuando em áreas que ainda não fundamental para as pessoas que terão
dominam, acabam, invariavelmente, se primeiro contato com a arma de fogo.
arriscando e colocando a vida de seus Para tanto, é preciso manter a “caixa de
instruendos também em risco. ferramentas” sempre aberta, local este
onde você irá armazenar todo o
Conforme muito bem pontuado por Souza conhecimento angariado ao longo de sua
(2019), aqueles que pretendem começar jornada do mundo do tiro, sabendo
nessa carreira, precisam ter consciência utilizar cada uma delas em seu momento
de que a monitoria é a sua porta de oportuno, de forma técnica e
entrada. Anos de monitoria lhe farão um profissional.
bom instrutor, mas só o tempo lhe
tornará um excelente instrutor. Não basta Assim, temos que a experiência leva à
apenas vestir a camiseta vermelha e ter aprendizagem e a aprendizagem leva a
boa vontade em repassar suas mudança no comportamento do indivíduo
habilidades no tiro. É preciso ter e é essa mudança que deverá ser
primeiramente persistência na busca do repassada adiante.
conhecimento, até conseguir entender a
essência do mundo do armamento e tiro.

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S ó que na
é bem assim que
prática, não
as coisas
funcionam: as pessoas decidem
da noite para o dia tornarem-se
instrutores de tiro, procuram empresas
que ofertam cursos de formação em prazos
curtíssimos e insuficientes, cujo quadro docente é
totalmente inexperiente, os quais convencem o cliente de que o que importa mesmo é
fazer cara de mal, usar um colete tático “mais enfeitado que jumento de cigano”, usar um
shemag (lenço militar árabe), uma calça tática e uma camiseta vermelha, escrita em seu
verso com letras garrafais a palavra “INSTRUTOR”, além de usar como instrumento de
persuasão e convencimento, ao invés de um conteúdo de qualidade e profundidade,
apenas uma varinha de bambu.

E a partir desse estereótipo folclórico tragicômico é que podemos testemunhar o


surgimento das mais variadas atrocidades ocorridas em estandes de tiro, geralmente
veiculadas em redes sociais não como memes (sátiras de internet), mas como se fosse um
conteúdo sério, científico, aceito dentro da comunidade acadêmica de armamento e tiro.

Assim, vimos participando do crescimento da falta de noção e comprometimento acerca do


peso da responsabilidade do instrutor de armamento e tiro perante seus instruendos e da
sociedade em geral. Isso acaba gerando descrédito não só no meio acadêmico, mas
também gerando influências perniciosas principalmente no cenário político, que acaba
corroborando sobremaneira com as justificativas relacionadas a proibição do acesso dos
brasileiros às armas de fogo, devido à falta de uma cultura armamentista séria no âmbito
nacional.

PÁGINA 57 REVISTA OPE-S


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A NECESSIDADE DE CRIAÇÃO DE UM ÓRGÃO FISCALIZADOR E UM CÓDIGO DE ÉTICA


Ainda que seja uma nova profissão em extrema ascensão, por mais absurdo e incrível que
possa parecer, não há ainda nenhum órgão que exerça a fiscalização e regulamentação da
atuação dos instrutores de armamento e tiro no Brasil.

Existem algumas leis esparsas e normativas internas de órgãos militares e policiais que
regulam alguma coisa a respeito dessa atuação, mas também de forma muito
superficial e sequer se aplicam no todo e a todos os instrutores de armamento e tiro
brasileiros, restringindo o exercício da profissão apenas ao seu bom senso, ou à falta
dele.

Sendo assim, coibir a proliferação desordenada


de instrutores de armamento e tiro e a
banalização do uso das camisetas vermelhas
que simbolizam essa nova profissão, urge a
necessidade da criação de um código de ética e
de um órgão fiscalizador que impeça que
violações importantes de toda ordem possam
colocar a vida de terceiros em risco, lutando
contra essa tendência atual de instrutores
JULIANA LOPES
taticools de Instagram sem escrúpulos ou
critérios, obcecados apenas pela conquista da MAJOR PMSC
INSTRUTORA DE ARMAMENTO
popularidade a todo custo com o E TIRO CREDENCIADA PELA PF
arrebanhamento de seguidores e coleta de likes, CINOTECNIA
SEGURANÇA DE AUTORIDADES
sem se importar em fomentar uma verdadeira
cultura armamentista em nosso País.
sresralopes_guns
lovers
Redes Sociais

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