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Língua Portuguesa

Guimarães Rosa: entre veredas


linguísticas II

1o bimestre – Aula 10
Ensino Médio
● As variações linguísticas e suas ● Compreender a herança
possíveis classificações. cultural acumulada pela
língua portuguesa;
● Reconhecer, em textos de
diferentes gêneros, as
marcas de variação
linguística.
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ENEM - 2011
Diz-se, em termos gerais, que é preciso “falar a mesma língua”: o
português, por exemplo, que é a língua que utilizamos. Mas trata-se de
uma língua portuguesa ou de várias línguas portuguesas? O português da
Bahia é o mesmo português do Rio Grande do Sul? Não está cada um deles
sujeito a influências diferentes — linguísticas, climáticas, ambientais? O
português do médico é igual ao do seu cliente? O ambiente social e o
cultural não determinam a língua? Estas questões levam à constatação de
que existem níveis de linguagem. O vocabulário, a sintaxe e mesmo a
pronúncia variam segundo esses níveis.
VANOYE, F. Usos da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1981 (fragmento).
3 MINUTOS INEP - 2011 - ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio - Primeiro e Segundo Dia – PPL
Na fala e na escrita, são observadas variações de uso, motivadas pela classe
social do indivíduo, por sua região, por seu grau de escolaridade, pelo
gênero, pela intencionalidade do ato comunicativo, ou seja, pelas situações
linguísticas e sociais em que a linguagem é empregada. A variedade
linguística adequada à situação específica de uso social está expressa:
a. na fala de um professor ao iniciar a aula no Ensino Superior: “Fala,
galerinha do mal! Hoje vamos estudar um negócio muito importante”.
b. na leitura de um discurso de uma autoridade pública na inauguração de
um estabelecimento educacional: “Senhores cidadões do Brasil, com
alegria, inauguramos mais uma escola para a melhor educação de
nosso país”.
c. no memorando da diretora da escola ao responsável por um aluno:
“Responsável pelo aluno Henrique, dê uma chegadinha na diretoria da
escola para saber o que o seu filhinho anda fazendo de besteira”.
d. na fala de uma criança, na tentativa de convencer a mãe a entregar-
lhe a mesada: “Mãe, assim não dá para ser feliz! Dá pra liberar minha
mesada? Prometo que só vou tirar notão nas próximas provas”.
e. na fala de uma mãe em resposta ao filho que solicitou a mesada: “Caro
descendente, por obséquio, antecipe a prestação de suas contas, a fim
de fazer jus ao solicitado”.
Correção
c. no memorando da diretora da escola ao responsável por um aluno:
“Responsável pelo aluno Henrique, dê uma chegadinha na diretoria da
escola para saber o que o seu filhinho anda fazendo de besteira”.

d. na fala de
de uma
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naspróximas
próximasprovas”.
provas”.

e. na fala de uma mãe em resposta ao filho que solicitou a mesada: “Caro


descendente, por obséquio, antecipe a prestação de suas contas, a fim
de fazer jus ao solicitado”.
Variações linguísticas
É um mito a pretensa possibilidade de comunicação igualitária em todos
os níveis. Isso é uma idealização. Todas as línguas apresentam variantes: o
inglês, o alemão, o francês etc. Também as línguas antigas tinham
variações. O português e outras línguas românicas provêm de uma
variedade do latim, o chamado latim vulgar, muito diferente do latim
culto. Além disso, as línguas mudam. O português moderno é muito
distinto do português clássico. Se fôssemos aceitar a ideia de estaticidade
das línguas, deveríamos dizer que o português inteiro é um erro e,
portanto, deveríamos voltar a falar latim. Ademais, se o português provém
do latim vulgar, poder-se-ia afirmar que ele está todo errado.
A variação é inerente às línguas, porque as sociedades são divididas em
grupos: há os mais jovens e os mais velhos, os que habitam numa região ou
noutra, os que têm esta ou aquela profissão, os que são de uma ou outra
classe social e assim por diante. O uso de determinada variedade linguística
serve para marcar a inclusão num desses grupos, dá uma identidade para
seus membros. Aprendemos a distinguir a variação. Quando alguém
começa a falar, sabemos se é do interior de São Paulo, gaúcho, carioca ou
português. Sabemos que certas expressões pertencem à fala dos mais
jovens, que determinadas formas se usam em situação informal, mas não
em ocasiões formais. Saber uma língua é conhecer variedades. Um bom
falante é “poliglota” em sua própria língua. Saber português não é aprender
regras que só existem numa língua artificial usada pela escola.
As variantes não são feias ou bonitas, erradas ou certas, deselegantes ou
elegantes; são simplesmente diferentes. Como as línguas são variáveis,
elas mudam. “Nosso homem simples do campo” tem dificuldade de
comunicar-se nos diferentes níveis do português não por causa da
variação e da mudança linguística, mas porque lhe foi barrado o acesso à
escola ou porque, neste país, se oferece um ensino de baixa qualidade às
classes trabalhadoras e porque não se lhes oferece a oportunidade de
participar da vida cultural das camadas dominantes da população.

FIORIN, José Luiz. In: Atas do I Congresso Nacional da ABRALIN, 2000.Excertos.


As variações linguísticas podem ser classificadas como:

Variações diatópicas (geográficas): Devido à vasta extensão territorial


do Brasil, as variações linguísticas entre as regiões são comuns,
refletindo diferenças na fala.
Exemplo: Mandioca, macaxeira e aipim.

Variações diacrônicas (históricas): Ocorrem ao longo do tempo,


permitindo distinguir o português arcaico do moderno, por exemplo.
Exemplo: “vossa mercê” e do “você”.
Variações diastráticas (grupos sociais): São influenciadas por diversos
grupos sociais de falantes da língua, refletindo diferentes conhecimentos,
costumes e vivências.
Exemplo: As gírias.

Variações diafásicas (formal x informal): Essas variantes surgem do


contexto social, mas são principalmente moldadas pela situação
específica em que o falante se encontra.
Exemplo: Ao socializar com amigos, é comum usar a linguagem informal,
mas ao dirigir-se a um juiz, por exemplo, é adequado empregar a
linguagem formal.
Todo mundo escreve

1. Identificando as variações linguísticas:


Observe os trechos e responda: que tipo de variação linguística ocorre nos
textos em questão?
Trecho 1
[...] Agora, o Manuel Fulô, este sim! Um sujeito pingadinho, quase menino
– “pepino que encorujou desde pequeno” – cara de bobo de fazenda [...]
meio surdo, gago, glabro e alvar. Mas gostava de fechar a cara e roncar
voz, todo enfarruscado, para mostrar brabeza, e só por descuido sorria,
um sorriso manhoso de dono de hotel [...].

GUIMARÃES ROSA, J. Sagarana. 52. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
4 MINUTOS
Trecho 2
[...] Conhecia de cor o caminho, cada ponto e cada volta, e no comum
não punha maior atenção nas coisas de todo tempo: o campo, a concha
do céu, o gado nos pastos – os canaviais, o milho maduro – o nenhar
alto de um gavião – os longos resmungos da juriti jururu – a mata preta
de um capão velho – os papagaios que passam no mole e batido voo
silencioso [...] – roxoxol de poente ou oriente – o deslim de um riacho.
Só cismoso, ia entrando em si, em meio-sonhada ruminação. Sem dela
precisar de desentreter-se, amparava o cavalo com firmeza de rédea,
nas descidas [...].
GUIMARÃES ROSA, J. Noites do sertão. Rio de Janeiro: José Olympio, 1976. p. 13-14.
Correção
A variação linguística que ocorre nos textos é a diatópica, uma vez
que as expressões utilizadas são típicas de determinada região e que
diz respeito à pronúncia e ao uso de determinadas palavras e
expressões, independentemente de fatores como idade ou
escolarização.
2. As variedades linguísticas na obra de Guimarães Rosa:

A obra de Guimarães Rosa é considerada pela crítica literária como


uma literatura de invenção, isso pela presença de neologismos,
arcaísmos e termos eruditos. O autor criou mais de 8 mil palavras e
inovou também na utilização de palavras em desuso ao lado de termos
eruditos da língua. A partir disso, responda:
a. Observe o segundo fragmento (slide 12) e retire os neologismos.

b. Que expressões são próprias de uma variedade linguística regional?

c. Sabemos que a língua é um traço cultural, e assim, materializa-se


tanto no discurso quanto na forma própria de usos da linguagem.
Que cultura é representada pela linguagem de Guimarães Rosa?
Correção
a. As expressões: “cismoso”, “desentreter-se”, “deslim”, “escorregoso”,
“nenhar” e “roxoxol”.

b. As expressões “capão”, “juriti”, “jururu” e “ruminação”.

c. Tanto o discurso, na narração de histórias contadas por meio do


imaginário popular, quanto as expressões utilizadas pelo autor, o
tom da oralidade e o vocabulário popular são elementos da cultura
regional do sertão brasileiro. Isso se comprova, também, pela
descrição que o autor faz do sertanejo e da paisagem.
O Quinze, de Rachel de Queiroz; Vidas Secas, de
Graciliano Ramos; Mar Morto, de Jorge Amado; Fogo
Escolha uma das obras: Morto, de José Lins do Rego; A Bagaceira, de José
Américo de Almeida; e Grande Sertão: Veredas, de
Guimarães Rosa.

Realize uma pesquisa extraclasse sobre o romance regionalista das décadas


de 30 e 40 no Brasil. Seguem algumas perguntas norteadoras:
• Na obra analisada, há neologismos?
• Há expressões próprias de uma variedade linguística regional? Quais são?
• Quais aspectos culturais são tratados na obra?
• Quais são os tipos de variação linguística que podem ser observados?
● Compreendemos a herança cultural
acumulada pela língua portuguesa;
● Reconhecemos, em textos de
diferentes gêneros, as marcas de
variação linguística.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Aprender Sempre, 2022. Caderno do Aluno, Língua
Portuguesa, 3a série EM, vol. 1.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. CMSP. 3a série EM. 13/04/21 – Língua Portuguesa.
Dois dedos de prosa... YouTube. Disponível em: https://encurtador.com.br/hlpxJ. Acesso em: 04 dez.
2023.
BRASIL ESCOLA. Variações Linguísticas. YouTube. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=9qUYQUzFmaE. Acesso em: 04 dez. 2023.
FIORIN, José Luiz. In: Atas do I Congresso Nacional da ABRALIN, 2000. Excertos.
Gabarito ENEM descomplica. Disponível em: https://encurtador.com.br/opBIM. Acesso em: 06
dez. 2023.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Currículo Paulista do Ensino Médio. São Paulo, 2019.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Currículo em Ação – Língua Portuguesa. 3a série EM.
São Paulo, 2022.

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