O caso Damião Ximenes é simbólico tanto no direito, por se tratar da primeira
condenação do Brasil na Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH), como na luta pelos direitos humanos na saúde mental e antimanicomial que ainda se fazia, e em alguns sentidos, ainda se faz necessária. Damião Ximenes foi um brasileiro diagnosticado com transtornos mentais que, aos 30 anos, foi internado em uma “casa de repouso” chamada Casa de Repouso Guararapes, situada em uma pequena cidade próxima a Sobral – CE. O mesmo foi admitido em outubro de 1999 em pleno estado físico, sem sinais de agressividade ou lesões corporais. Após dois dias de internação, foi, segundo a instituição, contido por “crises de agressividade” e, ao ser visitado por sua mãe no dia seguinte, foi constatado por ela o estado em que se encontrava: sangrava, tinha as mãos amarradas, hematomas, cheiro de excremento, além de dificuldade para respirar. Em estado agonizante, foi medicado e faleceu duas horas depois sem nenhum tipo de assistência médica no momento de sua morte. Seus familiares buscaram reparação judicial pelo que havia acontecido e não conseguiram ir muito longe. Foi necessário apelar para a Comissão Interamericana que, por sua vez, apresentou o caso à Corte IDH, que proferiu sentença de reparação de danos em 04 de julho de 2006. A luta antimanicomial é uma luta contra a exclusão social dos pacientes que são muitas vezes violentamente afastados da vida em sociedade, tendo suas subjetividades esquecidas e foco centrado na doença, o que vai de encontro aos mais básicos direitos humanos. A Reforma Psiquiátrica teve início nos anos 80 e era uma crítica a esse modelo de abandono e violência, visando a humanização do processo e a desinstitucionalização, entre outros objetivos na saúde mental do país. Ainda nos anos 80, foi formulada a lei 10.216, conhecida como “Lei da Reforma Psiquiátrica. Tal lei, no entanto, apenas foi promulgada em abril de 2001 e estabeleceu novas diretrizes para políticas de saúde mental. O modelo ultrapassado precisava urgentemente ser mudado, e, com a condenação do Brasil no caso Damião Ximenes, as mudanças necessárias finalmente começaram a ser adotadas e construídas no país. O SUAS – Sistema Único de Assistência Social foi criado em 2005 como conseqüência da condenação brasileira na Corte Interamericana pelo caso Damião Ximenes que, apesar de trágico, buscou garantir que os direitos violados não voltem a acontecer com outras pessoas. Por sermos seres complexos, é necessário um modelo complexo de ajuda e cuidado com a pessoa humana. É dever do estado garantir este direito aos seus cidadãos através dos serviços, programas e projetos de saúde pública.
REFERÊNCIAS
BRANCO, Genérica. O caso Damião Ximenes Lopes e o direito humano à
saúde mental. Desinstitute, 27 de fevereiro de 2023. Disponível em: https://desinstitute.org.br/noticias/o-caso-damiao-ximenes-lopes-e-o-direito- humano-a-saude-mental/ Acesso em 28 de outubro de 2023.
PEREIRA, Manuela Rache. Uma breve e recente história da Reforma
Psiquiátrica brasileira. Desinstitute, 8 de julho de 2021. Disponível em: https://desinstitute.org.br/noticias/uma-breve-e-recente-historia-da-reforma- psiquiatrica-brasileira/? gclid=Cj0KCQjwhfipBhCqARIsAH9msbnqvicjRmOL17S_- YmyuVEg24O7knTfzxzv_1Vtp_M5UWUrbnLv8FQaAmiqEALw_wcB Acesso em: 28 de outubro de 2023.
Internação Compulsória e biopolítica: o direito fundamental à liberdade e autonomia à luz do pensamento de Michel Foucault e a política de drogas brasileira
Direitos e Deveres Específicos Na Atenção Psicossocial, Das Pessoas Com Transtorno Mental e Ou Com Necessidades Decorrentes Do Uso de Drogas, e Seus Familiares