Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
AS VERTENTES TEÓRICAS
DA PRODUTIVIDADE*
RESUMO Este texto procura fazer um balanço crítico das diferentes vertentes teóri-
cas que se detiveram sobre o estudo da produtividade: o mainstream neoclássico
(produtividade total dos fatores), os evolucionistas, eficiência-X, as teorias geren-
ciais e comportamentais, teorias neomarxistas, organização industrial, leis de Kal-
dor-Verdoorn e crescimento endógeno. Conclui-se que existe uma lacuna teórica,
pois o mainstream é claramente insatisfatório e, ao mesmo tempo, não existe uma
alternativa consistente no campo heterodoxo, embora as teorias evolucionistas se-
jam promissoras.
Palavras-chave: produtividade; competitividade, indústria
* Este artigo é um resumo de dois capítulos de minha tese de doutorado “As causas do aumento
da produtividade da indústria brasileira nos anos 90” defendida em março de 2000 no Instituto
de Economia da UFRJ. Parte da pesquisa e redação da tese foi realizada na Inglaterra, no Institute
of Development Studies (IDS), onde estive com uma bolsa sanduíche da Capes. Agradeço as crí-
ticas e sugestões dos membros de minha banca de doutorado e dos dois referees anônimos.
67
68 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 5(2): 67-92, jul./dez. 2001
INTRODUÇÃO
Este texto procura fazer um balanço crítico das diferentes vertentes teóricas
que se detiveram sobre o estudo da produtividade:1 o mainstream neoclássi-
co (produtividade total dos fatores), as de caráter mais microeconômico
(evolucionistas, eficiência-X, teorias gerenciais e comportamentais da em-
presa, organização industrial) e as macroeconômicas (neomarxistas, Kal-
dor-Verdoorn, crescimento endógeno).2
Não se pode negar a importância da produtividade total dos fatores. Essa li-
teratura constitui o principal referencial para os estudos sobre produtivida-
de. Uma evidência disso é que o mais conceituado dicionário de economia
— The New Palgrave — dedica à PTF todos os três verbetes referentes a pro-
dutividade,10 considerando a PTF, portanto, praticamente como um sinôni-
mo de produtividade. Também não se podem negar as críticas que essa
abordagem tem recebido — e que estão presentes, por exemplo, no mesmo
The New Palgrave. Apresentamos agora as críticas mais freqüentes feitas à
PTF. Como se verá, algumas críticas não são mutuamente excludentes, e
outras se referem especificamente a alguns autores.
74 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 5(2): 67-92, jul./dez. 2001
2. OS EVOLUCIONISTAS
Essas ineficiências não alocativas teriam como base sete fatores17 que, se-
gundo Leibenstein, não estão presentes na “teoria microeconômica pa-
drão”: (i) relaxamento do comportamento maximizador;18 (ii) inércia;
(iii) adoção de comportamento discricionário; (iv) contratos de trabalho
incompletos; (v) função de produção não especificada ou conhecida de for-
ma incompleta; (vi) insumos não disponíveis no mercado ou não igual-
mente acessíveis; (vii) opção pela imitação em vez de competição.19
4. ENFOQUE NEOMARXISTA
5. ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL
6. AS LEIS DE KALDOR-VERDOORN
7. O CRESCIMENTO ENDÓGENO
8. OBSERVAÇÕES FINAIS
NOTAS
1. Por estarem pouco presentes no debate atual, serão deixadas de lado as contribuições
anteriores à corrente neoclássica.
Paulo Gonzaga M. de Carvalho – As vertentes teóricas da produtividade 87
2. É importante ressaltar que a praxe na literatura são revisões sobre produtividade que
privilegiem a PTF. Um exemplo recente é Hulten (2000).
3. Sobre mensuração do capital no Brasil, ver Fonseca (1997). Nesse texto, há uma oportu-
na citação de Hicks: “The measurement of capital is one of the nastiest jobs that
economists have set to statisticians” (Hicks, 1981).
4. Segundo Griliches (1996), o primeiro cálculo explícito da PTF foi feito por Tinbergen,
num artigo publicado em 1942.
5. Bonelli foi um dos primeiros a calcular a PTF no Brasil. Dentre outros, cabe destacar a
contribuição de Pinheiro (1989), cuja tese de doutorado sobre a PTF foi parcialmente
publicada pelo IPEA na série Textos para Discussão.
6. Segundo Abramovitz (1993), no caso da produtividade do trabalho a divisão seria a se-
guinte: 20% para capital por homem-hora e 80% para a PTF.
7. Estas duas citações estão em Franco (1999, p. 131-132), que coloca como referência para
as duas o artigo de Landes (1991).
8. Esse item é parcialmente baseado em Bonelli (1976).
9. Segundo Bonelli, a fórmula aritmética de Kendrick “poderia ser também formalmente
derivada de algumas formas muito especiais de função de produção” (Bonelli, 1976,
p. 11). Nadiri deduz do índice de Kendrick a fórmula da função que está implícita (Na-
diri, 1970), mas é sintomático que Kendrick não tenha feito isso.
10. Esses verbetes são: growth accounting, productivity: mesurement problems e total factor
productivity. A PTF também aparece com destaque no verbete referente a technological
change.
11. Existe uma extensa bibliografia sobre a “controvérsia de Cambridge”. Uma referência
importante é Harcourt (1969). McCombie (2000-2001) é um texto, e bem instigante,
sobre a função de produção e PTF.
12. Esse ponto é levantado por Blaug (1990).
13. Mesmo que se utilize a forma logarítmica, o problema continua, pois “a operação de
adição não pode ser efetuada logaritmicamente: a adição dos logaritmos de números
naturais é semelhante à multiplicação dos mesmos” (Blaug, 1990, p. 226). Uma alterna-
tiva, levantada por Blaug, seria estimar uma função Cobb-Douglas que fosse não agre-
gação, mas uma média geométrica das funções micro.
14. Dos autores analisados aqui, apenas Jorgenson e Griliches, e em parte Solow, fogem a
essa regra. Este último não trabalha com rendimento do capital, mas ajusta os dados de
estoque de capital para dar conta do nível de utilização.
15. Domar (1961) talvez tenha sido o primeiro a levantar este ponto.
16. Note-se que, para Dosi, os determinantes do progresso técnico são bastante amplos.
17. Esse item se baseia em Frantz (1997, capítulo 3, parte 6) e Leibenstein (1987).
18. “A hipótese da eficiência-X foi mais radical do que a de qualquer de seus precursores,
porque em vez de postular a não-maximização dos lucros, ela abandona qualquer ma-
ximização. Nem as firmas nem os indivíduos necessariamente maximizam alguma coi-
sa” (Dean e Perlman, 1998). Possas (1985), ao contrário, não vê grande distância entre
88 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 5(2): 67-92, jul./dez. 2001
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRAMOVITZ, M. (1971) “Resource and output in the United States since 1870”. In:
N. Rosenberg (org.), The Economics of Technological Change. Londres: Penguin Books.
——— (1993) “The search for the souces of growth: areas of ignorance, old and new”. The
Journal of Economic History, v. 53, n. 2, Jun.
ALBUQUERQUE, E. (1996) “A nova teoria do crescimento: notas para uma apreciação críti-
ca”. Archetypon, ano 4, n. 11.
BAUMOL, W. (1982) “Contestable markets: an uprising in the theory of industry structure”.
American Economic Review, v. 72, n. 1, Mar.
BLAUG, M. (1990) História do pensamento econômico, v. 2. Lisboa: Dom Quixote.
BONELLI, R. (1976) Tecnologia e crescimento industrial: a experiência brasileira nos anos 60.
IPEA, 1976. Série Monográfica, n. 25.
———, FONSECA, R. (1998) Ganhos de produtividade e de eficiência: novos resultados para a
economia brasileira. IPEA/CNI (mimeo).
BOYER, R., PETIT, P. (1991) “Kaldor’s growth theories: past, present and prospects for the
future”. In: E. Nell, W. Semmler. (orgs.), Nicholas Kaldor and Mainstream Economics:
confrontation or convergence? Londres: The Macmillan Press.
COOMBS, R., SAVIOTTI, P., WALSH, V. (1987) Economics and Technological Change. Lon-
dres: The Macmillan Press.
CORNWALL, J. (1987) “Total factor productivity”. In: J. Eatwell, M. Milgate, P. Newman
(org.), The New Palgrave: a dicionary of economics. Londres: The Macmillan Press.
DAVIES, S. (1991) “Technical change, productivity and market structure”. In: S. Davies,
B. Lyons (org.). Economics of Industrial Organization. Londres: Surveys in Economics
Longman.
DEAN, J., PERLMAN, M. (1998) “Harvey Leibenstein as a pioneer of our time”. The Economic
Journal, v. 108, Jan.
DENISON, E. (1971) “United States economic growth”. In: N. Rosenberg (org.). The
Economics of Technological Change. Middlesex: Penguin Books.
——— (1974) Accounting for United States Economic Growth: 1929-1969. Nova York: The
Brookings Institution.
DOMAR, E. (1961) “On the measurament of technological change”. The Economic Journal,
v. 71, Dec.
DOSI, G. (1988) “Sources, procedures, and microeconomic effects of inovation”. Journal of
Economic Literature, v. 26, n. 3, Sept.
FINE, B. (2000) “Endogenous growth theory: a critical assessment”. Cambridge Journal of
Economics 24.
FONSECA, R. (1997) Estimativas do estoque de capital e da relação capital-produto para os se-
tores da indústria brasileira (1970-93). Versão prelim.: BNDES/PNUD (mimeo).
FRANCO, G. (1999) O desafio brasileiro: ensaios sobre desenvolvimento, globalização e moeda.
São Paulo: Editora 34.
90 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 5(2): 67-92, jul./dez. 2001
FRANTZ, R. (1997) X-efficiency: theory, evidence and applications. Norwell: Klumer Academic
Publishers.
FREEMAN, C., PEREZ, C. (1988) “Structural crises of adjustment, business cycles and inv-
estiment behaviour”. In: G. Dosi, C. Freeman, R. Nelson, G. Silverberg, L. Soete (org.).
Technical Change and Economic Theory. Inglaterra: Pinter Publishers.
———, SOETE, L. (1997) The Economics of Industrial Innovation. Inglaterra. Pinter Pub-
lishers.
GOLD, B. (1990) “On the adoption of technological innovations in industry: superficial mo-
dels and complex decision processes”. In: C. Freeman (org.), The economics of In-
novation. Inglaterra: Edward Elgar Publ.
GRILICHES, Z. (1996) “The discovery of the residual: a historical note”. Journal of Economic
Literature, v. 34, Sept.
HARCOURT, G. (1969) “Some Cambridge controversies in the theory of capital”. Journal of
Economic Literature, v. 7, n. 2, Jun.
HENNINGS, K. (1987) “Capital as a factor of production”. In: J. Eeatwell, M. Milgate,
P. Newman (eds.). The New Palgrave: a dicionary of economics. Londres: The Macmillan
Press.
HICKS, J. (1981) Wealth and Welfare: collected essays in economic theory. Harvard University
Press.
HULTEN, C. (2000) Total Factor Productivity: a short biography. NBER working paper n.
7.471, Jan.
JORGENSON, D., GRILICHES, Z. (1970) “Explanation of productivity change”. In: A. Sen
(org.), Growth Economics: selected readings. Londres: Penguin Books.
———, ——— (1995) “Issues in growth accounting: a reply to Edward F. Denison”. In:
D. Jorgenson (org.), Productivity, v. 1. The MIT Press, Postwar U.S. Economic Growth.
JONES, C. (1998) Introduction to Economic Growth, Nova York: W. W. Norton &
Company.
KENDRICK, J. W. (1961) Productivity Trends in the United States. Nova York: National
Bureau of Economic Research. Princeton University Press.
——— (1973) Postwar Productivity Trends in the United States: 1948-1969. Nova York:
National Bureau of Economic Research. Columbia University Press.
——— (1977) Understanding Productivity: an introduction to the dynamics of productivity
change. Londres: The Johns Hopkins University Press.
KOUTSOYIANNIS, A. (1979) Modern Microeconomics. Londres: The Macmillan Press.
KUPFER, D. (1992) Uma abordagem neo-schumpeteriana da competitividade industrial. Texto
para discussão n. 299, IEI/UFRJ, ago. 1992.
LANDES, D. (1991) “Introduction: on technology and growth”. In: P. Higonnet et al. (org.),
Favorites of Fortunes: technology, growth, and economic development since industrial revo-
lution. Cambridge: Harvard University Press.
Paulo Gonzaga M. de Carvalho – As vertentes teóricas da produtividade 91
SOLOW, R. (1971) “Technical change and the aggregate production function”. In: N. Rosen-
berg (org.). The economics of technological change. Londres: Penguin Books.
——— (1994) “Perspectives on growth theory”. Journal of Economic Perspectives, v. 8, n. 1,
Winter.
STONEMAN, P., KARSHENAS, M. (1996) “Technological diffusion”. In: P. Stoneman (org.).
Handbook of the Economics of Innovation and Technological Change. Inglaterra: Blackwell
Publishers.
TARGETTI, F. (1992) Nicholas Kaldor: the economics and politics of capitalism as a dynamic
system. Oxford: Claredon Press.
THIRLWALL, A. (1983) “A plain man’s guide to Kaldor’s growth laws”. Journal of Post Key-
nesian Economics, v. 5, n. 3, Spring.
WEISSKOPF, T. (1989) “The effect of unemployment on labour productivity: na inter-
national comparative analysis”. International Review of Applied Economics, v. 1, n. 2, Jun.
WOLFF, E. M. (1997) “Introduction”. In: ——— (org.), The economics of productivity.
Cheltenham: Edward Elgar Publishing.