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ARRASTO DE ATRITO, ÁREA

MOLHADA E CAMADA LIMITE


EM MINIFOGUETES
SUBSÔNICOS
11/08/2021

O Coeficiente de Arrasto Total (Cd) de um minifoguete (MF) é a soma dos coeficientes dos
vários tipos de arrasto que se observa no MF. Desta forma:

Cd Total 𝐶𝑑 = (𝐶𝑑𝑎 + 𝐶𝑑𝑏 + 𝐶𝑑𝑝 + 𝐶𝑑𝑖 + 𝐶𝑑𝑝𝑎 ) Equação 1

Onde:
Cdpa: Coeficiente de Arrasto Parasita;
Cdi: Coef. De Arrasto de Interferência;
Cdp: Coef. De Arrasto de Pressão;
Cdb: Coef. De Arrasto de Base;
Cda: Coef. De Arrasto de Atrito.

A Figura 1 apresenta os principais pontos geradores de arrasto no corpo de um


minifoguete. Cada ponto é responsável pela geração de um dos tipos de arrasto apresentados
acima. Para aprofundar o entendimento, recomenda-se a leitura das seguintes bibliografias:
• Model Rocket Drag - Classroom Lesson (Slide por LabRat Scientific – 2018);
• Tipos de Arrasto em Minifoguetes e software UFPR – Prof. Dr. Carlos H. Marchi –
2015.
Figura 1-Tipos de Arrasto em um Minifoguete.

Fonte: Apresentação “Rocket Drag” – LabRat Scientific – 2018.

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A Área Molhada de um corpo imerso no escoamento é toda a área superficial desse
corpo em que o fluido toca, ou seja, toda a área superficial em que há contato entre o
fluido e o corpo durante o voo. Por exemplo, em um minifoguete a área molhada (SWet) é
a soma das áreas superficiais da ogiva, da fuselagem, do conjunto de empenas (dois lados
de uma empena x número de empenas), do boattail (lateral + base da popa – diâmetro da
tubeira) se houver, e das protuberâncias externas (slugs, parafusos, câmeras, etc.).
O Arrasto Total é a soma de todos os tipos de arrasto presentes em cada MF, mas a
proporção de cada tipo de arrasto na composição do arrasto total varia com a velocidade e
a área molhada de cada modelo, sobretudo com a primeira.
A velocidade do voo junto da viscosidade do fluido são duas das componentes do
cálculo do Número de Reynolds. Essa medida adimensional nos permite saber se o
escoamento em torno do corpo em voo é laminar ou turbulento a partir do Número de
Reynolds Crítico (Rec). Avaliando a equação correspondente ao cálculo do Número de
Reynolds (Equação 2) pode-se verificar que o valor do mesmo é inversamente proporcional à
viscosidade dinâmica do fluido (𝜇), mas é diretamente proporcional à velocidade do voo (v), à
massa específica do fluido (𝜌) e à uma dimensão de referência que em casos tridimensionais
reais deve ser a SWet.

𝜌 𝑣 𝑑𝑟
Número de Reynolds 𝑅𝑒 = Equação 2
𝜇

Onde:
ρ: Massa específica do fluido [kg/m³];
V: Velocidade do escoamento [m/s];
μ: Viscosidade dinâmica [N.s/m²];
dr: Dimensão característica (de referência) do corpo imerso no escoamento.

A dimensão característica, ou dimensão de referência (dr) depende do tipo de


análise que está sendo feita (bidimensional ou tridimensional) e pode ser, por exemplo, para
um perfil aerodinâmico 2D a sua corda média (c); para uma asa 3D ou para uma Ogiva a área
molhada; para um paraquedas a área frontal projetada do velame ou a área molhada interna,
e etc.
Para voo de um corpo de determinada área molhada não variável, em ar com massa
específica e viscosidade constantes, a única forma de variar o número de Reynolds é
variando a velocidade do voo; quanto maior a velocidade, maior o valor do número de
Reynolds.
Em escoamentos subsônicos, predomina o arrasto de atrito viscoso, ou arrasto
de fricção. Esse tipo de arrasto se dá pelo atrito entre o fluido e as peças do foguete, e a
quantidade de atrito é função por parte do fluido da espessura da camada limite e por parte

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do corpo da rugosidade das peças.
A espessura da camada limite do escoamento sobre o corpo é função da área molhada
deste corpo e do número de Reynolds do escoamento, e pode ser aproximada através da
solução analítica apresentada pelas equações abaixo (Equação 3 e Equação 4):
5 𝑑𝑟
Para Escoamento Laminar 𝛿= Equação 3
√𝑅𝑒
1 0,37 × 𝑑𝑟
Para Escoamento Turbulento 𝛿 = 0,37 × 𝑑𝑟 × 𝑅𝑒 −5 ; 𝑜𝑢 5 Equação 4
√𝑅𝑒

Para saber qual equação usar é necessário saber se o escoamento é laminar ou


turbulento, e isso é possível conhecendo o valor do Número de Reynolds Crítico para o corpo.
É complexo conhecer o valor de Rec, mas pode-se considerar que seja um valor de 500.000
(placa plana – vide bibliografias consultadas). Escoamentos com Re menores que essa marca
são laminares e com Re maiores configuram escoamento turbulento.
Avaliando as Equações 3 e 4, vê-se que a espessura da camada limite é
diretamente proporcional à área molhada (dr) e inversamente proporcional ao número
de Reynolds. Dessa forma, podemos concluir que:
• Quanto maior for a área molhada, maior a espessura da camada limite, e maior
o arrasto do corpo.
• Quanto maior for o número de Reynolds, menor a espessura da camada limite.
Para um corpo de determinada área molhada, pode-se diminuir a espessura da
camada limite elevando a velocidade de voo para elevar o número de Reynolds.

Em termos gerais, quanto menor o número de Reynolds, maior é a porcentagem


do arrasto de atrito viscoso na composição arrasto total, e também, maior é o arrasto
total. Veículos de baixa velocidade vão possuir muito arrasto de atrito e deve-se dar
atenção a essa área durante o projeto e a construção, tentando diminuir ao máximo a
área molhada e minimizar a rugosidade das peças expostas ao fluxo através de bom
acabamento superficial.
Não deve-se confundir quantidade de arrasto de atrito com parcela do arrasto de atrito
na composição do arrasto total. Em alguns casos o arrasto de atrito pode ser grande, mas
não o principal componente do arrasto total. O apresentado aqui é inerente aos escoamentos
subsônicos de baixa velocidade.
O arrasto de pressão também é resultado da viscosidade, embora de forma indireta. A
espessura da camada limite soma-se ao diâmetro do foguete, tornando-o virtualmente mais
espesso e contribuindo para maior geração de arrasto de pressão. O arrasto de pressão está
ligado a quantidade de energia gasta pelas partículas do fluido para contornar o corpo que o
atravessa (ver bibliografia “Tipos de Arrasto em Minifoguetes e software UFPR – Prof. Dr.
Carlos H. Marchi – 2015”).

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Como observou-se matematicamente, quanto menor o número de Reynolds, maior é a
porcentagem do arrasto de atrito viscoso na composição arrasto total, e também, maior é o
arrasto total. Isso pode ser visto no gráfico abaixo: Para um corpo de determinada área
molhada imerso em escoamento com dada viscosidade e determinada massa específica, o
Cd (Coeficiente de Arrasto Total) cai conforme aumenta-se o n° de Reynolds através do
aumento da velocidade do fluxo.

Figura 2-Cd Em Função do Número de Reynolds

Fonte: PME2237 – Mecânica dos Fluidos – PoliUSP.

Pode-se realizar diversas análises matemáticas com as equações para solução analítica
da espessura da camada limite, como por exemplo:

1.1 Caso A: Mantendo fixo os valores de 𝝁, 𝝆, 𝑻, 𝒆 𝒗, e variando somente a área


molhada (SWet), que seria a dr.
Nesta simulação através de análise teórico-analítica manteve-se todas as propriedades
termodinâmicas (p, T, 𝜌 e M (nº de Mach)) e a viscosidade do escoamento constantes em
todos os 4 cálculos, e a cada cálculo realizado dobrou-se a área molhada. As propriedades
do escoamento e do corpo simulado na rotina de cálculo realizada são apresentadas abaixo:

Propriedades do escoamento e do corpo


Altitude 0 m – Nível do Mar ISA
𝜇 1,789E-5 N.s/m²
𝜌 1,225 kg/m³
𝑇 15 °C
𝑣 50 m/s
Swet Variando de 0,011259 até 0,090072 m² (dobra a cada cálculo)

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Cálculo 1 – Com Swet = 0,011259 m²

1,225 × 50 × 0,011259
Número de Reynolds 𝑅𝑒 = 38.547
1,789𝐸 − 5

Espessura da Camada 5 × 0,011259


𝛿= 0,28 mm
Limite √38547

Cálculo 2 – Dobrando a Swet do caso 1 | Swet = 0,022518 m²

1,225 × 50 × 0,022518
Número de Reynolds 𝑅𝑒 = 77.094
1,789𝐸 − 5

Espessura da Camada 5 × 0,022518


𝛿= 0,405 mm
Limite √77094

Cálculo 3 – Dobrando a Swet do caso 2 | Swet = 0,045036 m²

1,225 × 50 × 0,045036
Número de Reynolds 𝑅𝑒 = 154.189
1,789𝐸 − 5

Espessura da Camada 5 × 0,045036


𝛿= 0,573 mm
Limite √77094

Cálculo 4 – Dobrando a Swet do caso 3 | Swet = 0,090072 m²

1,225 × 50 × 0,090072
Número de Reynolds 𝑅𝑒 = 308.379
1,789𝐸 − 5

Espessura da Camada 5 × 0,090072


𝛿= 0,81 mm
Limite √308379

Os resultados obtidos através dos 4 cálculos podem ser vistos na Tabela abaixo, e a
seguir na forma de gráfico para melhor entendimento do que ocorre com a espessura da
camada limite sob as condições da análise teórico-analítica realizada.

CASO A - Mantendo as propriedades termodinâmicas e a viscosidade do ar fixas e


variando apenas a área molhada do corpo. (Área Molhada dobra a cada cálculo)
Massa Velocidade do Viscosidade Área Espessura da
Especifica do Escoamento Dinâmica do Ar Molhada Re Camada
Ar [kg/m³] [m/s] [N.s/m²] [m²] Limite [mm]
1 1,225 50 1,789E-05 0,011259 38547,44 0,2867
2 1,225 50 1,789E-05 0,022518 77094,89 0,4055

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3 1,225 50 1,789E-05 0,045036 154189,77 0,5735
4 1,225 50 1,789E-05 0,090072 308379,54 0,8110

Gráfico 1-Espessura da Camada Limite Variando Apenas A Área Molhada.

Fonte: O Autor.

Para se compreender bem o que acontece em cada caso é necessário saber que no
cálculo da espessura da camada limite (Equações 3 e 4), a área molhada do corpo está no
numerador das equações, portanto a espessura é diretamente proporcional à área molhada,
ou seja, quanto maior a área molhada maior será a espessura da camada limite. Já o número
de Reynolds está no denominador das equações, o que faz com que a espessura diminua
conforme o número de Reynolds aumenta.
Além disso, avaliando a Equação 2 pode-se observar que o número de Reynolds
também é diretamente proporcional à área molhada, ou seja, grandes áreas molhadas
resultarão em grandes números de Reynolds. Quando aumenta-se a área molhada o Re
aumenta. O valor de Re é inversamente proporcional ao denominador da sua equação, a
viscosidade dinâmica, quando eleva-se a viscosidade o valor de Re decai.
Partindo destas informações e avaliando o Gráfico 1, pode-se dizer que mantendo p, T,
μ, ρ e M constantes e variando somente a área molhada, toda vez que eleva-se a área
molhada eleva-se o número de Reynolds e também a espessura da camada limite. Isso ocorre
porque a área molhada está presente no numerador da equação pertinente ao cálculo da
espessura da camada limite e também no numerador da equação do cálculo do número de
Reynolds, fazendo com que a cada vez que dobra-se a área molhada, eleve-se o valor do
numerador e do denominador da equação correspondente ao cálculo da espessura da

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camada limite.
Desta forma, pode-se dizer que há uma determinada taxa de proporção no crescimento
da espessura da camada limite ao dobrar a área molhada a cada novo cálculo, mas esse
crescimento não se mantém linear como o crescimento do valor de Re devido ao fato de Re
estar dentro de um radical no denominador da equação de cálculo da espessura da camada
limite.
Como visto na Figura 2, aumentar o número de Reynolds diminui o arrasto total do
corpo, porém, como observa-se aqui, não é através do aumento da área molhada que deve-
se elevar o número de Reynolds. Esta é uma decisão totalmente errada porque aumentar a
área molhada faz aumentar diretamente a espessura da camada limite. A espessura da
camada limite sempre será proporcional ao tamanho do corpo e para diminuí-la é necessário
elevar o número de Reynolds sem mexer na área molhada.

1.2 Caso B: Mantendo área molhada fixa e também os valores de 𝝁, 𝝆, 𝑻, e variando


somente a velocidade do escoamento (𝒗).
Neste caso manteve-se as propriedades termodinâmicas e a viscosidade dinâmica do
escoamento constantes, além da área molhada não variar, ou seja, considera-se o mesmo
corpo em todos os 4 cálculos. Variou-se apenas a velocidade do escoamento sobre esse
corpo, de forma com que a velocidade dobre a cada novo cálculo fazendo com que o número
de Reynolds também tenha seu valor dobrado.

Propriedades do escoamento e do corpo


Altitude 0 m – Nível do Mar ISA
𝜇 1,789E-5 N.s/m²
𝜌 1,225 kg/m³
𝑇 15 °C
𝑣 Variando de 50 a 400 m/s (dobra a cada cálculo)
Swet 0,011259 m²

CASO B - Mantendo as propriedades termodinâmicas e a viscosidade do ar fixas e


variando apenas a velocidade do escoamento. (Velocidade dobra a cada cálculo)
Massa Velocidade do Viscosidade Área Espessura da
Especifica do Escoamento Dinâmica do Ar Molhada Re Camada
Ar [kg/m³] [m/s] [N.s/m²] [m²] Limite [mm]
1 1,225 50 1,789E-05 0,011259 38547,44 0,2867
2 1,225 100 1,789E-05 0,011259 77094,89 0,2027
3 1,225 200 1,789E-05 0,011259 154189,77 0,1434
4 1,225 400 1,789E-05 0,011259 308379,54 0,1014

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Gráfico 2-Espessura da Camada Limite Variando Apenas A Velocidade do Escoamento.

Fonte: O Autor.

Neste caso, viu-se que variando a velocidade do escoamento sobre um corpo de


determinada área molhada o número de Reynolds responde proporcionalmente à alteração
na velocidade. Toda vez que a velocidade do fluxo dobra, o número de Reynolds dobra.
Como não alterou-se o numerador da equação pertinente ao cálculo da espessura da
camada limite mas o denominador (raiz quadrada de Re) dobrava a cada cálculo, a espessura
da camada decaia conforme aumentava-se o valor de Re. Esse era o resultado esperado
segundo a bibliografia – elevar o número de Reynolds diminui a espessura da camada limite
e a melhor forma de elevar o Re sem contribuir para o aumento da camada limite é elevando
a velocidade do escoamento sobre o corpo.
Para um corpo de determinada área molhada, a espessura da camada limite e o arrasto
de atrito diminuem aumentando a velocidade do voo.

1.3 Caso C: Condições de Operação em Velocidade Constante - Mantendo


velocidade de voo e área molhada fixas e variando a altitude do voo,
consequentemente as propriedades termodinâmicas e a viscosidade de
acordo com a atmosfera padrão.
Nesta análise tentou-se reproduzir condições de voo de um minifoguete, ou seja, um
veículo de área molhada não variável é lançado de uma determinada altitude e ascende
verticalmente atravessando diversos níveis de voo. Considera-se velocidade constante
durante todo o voo.
A altitude de partida é o nível do mar (0 m) e dobra-se a altitude a cada cálculo,
resultando em alterações nas propriedades termodinâmicas e na viscosidade dinâmica do ar

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de acordo com a Atmosfera Padrão.
Propriedades do escoamento e do corpo
Altitude Varia de 0 a 2000 m (dobra a cada cálculo)
𝜇 Varia com a altitude
𝜌 Varia com a altitude
𝑇 Varia com a altitude
𝑣 50 m/s
Swet 0,011259 m²

CASO C - Condições de Operação em Velocidade Constante - Mantendo a área


molhada e a velocidade do escoamento fixas, e alterando somente a altitude do voo,
dessa forma, alterando as propriedades termodinâmicas e a viscosidade do ar de
acordo com a ISA. (Altitude dobra a cada cálculo)
Massa Velocidade
Viscosidade Área Espessura
Especifica do
Altitude Dinâmica do Molhada Re da Camada
do Ar Escoamento
Ar [N.s/m²] [m²] Limite [mm]
[kg/m³] [m/s]
1 0 1,225 50 1,789E-05 0,011259 38547,44 0,2867
2 500 1,167 50 1,774E-05 0,011259 37041,20 0,2925
3 1000 1,112 50 1,758E-05 0,011259 35612,72 0,2983
4 2000 1 50 1,725E-05 0,011259 32634,78 0,3116

Gráfico 3-Espessura da Camada Limite Variando Apenas A Altitude de Voo.

Fonte: O Autor.

Nesta análise verificou-se que conforme ganha-se altitude ao longo da atmosfera o


número de Reynolds decresce quase imperceptivelmente metro-a-metro. Isso ocorre por que
na equação 2, referente ao cálculo de Re, a massa específica do ar está presente no
numerador e a viscosidade dinâmica no denominador, e as duas decaem conforme ganha-se

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altitude. A espessura da camada limite aumenta conforme o valor de Re decai.
É importante mencionar que a viscosidade dinâmica não tem ligação com a massa
específica do ar, mas é relacionada com a temperatura do mesmo, embora a massa específica
relacione-se com a temperatura também como demonstra a Equação de Estado para os gases
ideais (Equação 5).

Equação de Estado para


𝑝=𝜌𝑅𝑇 Equação 5
os gases ideias

Onde:
p: Pressão atmosférica do ar [Pa];
ρ: Massa específica do ar [kg/m³];
R: Constante universal dos gases ideais para o ar [287,053 J/kg.K];
T: Temperatura do Ar [K].

A viscosidade tem relação direta com as ligações intermoleculares do gás e estas por
sua vez são alteradas em função da temperatura. A viscosidade dinâmica do ar é proporcional
à temperatura.
A temperatura do ar decai conforme ganha-se altitude na atmosfera terrestre, logo, a
viscosidade do ar no meio decai ao longo da atmosfera.
Alguns fatores podem fazer com que pressão e a temperatura do ar decaiam, fazendo
a massa específica e a viscosidade decaírem também, um ótimo exemplo é a chegada de
chuva, que pode ser prevista a partir da chegada de frentes de baixa pressão medidas com
barômetro.

1.4 Caso D: Condições de Voo Real – Perfil de voo ascendente com variação da
velocidade, altitude e propriedades do ar.
Nesta análise está considerando-se voo real de um minifoguete, de modo que haja uma
fase de aceleração em que a velocidade aumenta, ou seja, há a geração de empuxo dos
motores, e uma fase de desaceleração, na qual os motores não mais atuam e o arrasto
aerodinâmico desacelera o veículo. Ao longo dessas duas fases a altitude é elevada, o que
faz com que todas as propriedades do ar se alterem. As propriedades foram consultadas na
Atmosfera Padrão. Considera-se que a altitude dobra a cada cálculo.

Propriedades do escoamento e do corpo


Altitude Varia de 0 a 2000 m (dobra a cada cálculo)
𝜇 Varia com a altitude
𝜌 Varia com a altitude
𝑇 Varia com a altitude
𝑣 Varia ao longo do voo, com valor máximo de 100 e mínimo de 10 m/s
Swet 0,011259 m²

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CASO D - Condições de Voo Real - Mantendo a área molhada fixa e variando a velocidade
do escoamento ao longo do voo (aceleração e desaceleração) e a altitude, dessa forma,
alterando as propriedades termodinâmicas e a viscosidade do ar de acordo com a ISA.
(Altitude dobra a cada cálculo)
Massa Velocidade Viscosidade
Área Espessura
Especifica do Dinâmica
Altitude Molhada Re da Camada
do Ar Escoamento do Ar
[m²] Limite [mm]
[kg/m³] [m/s] [N.s/m²]
1 0 1,225 50 1,79E-05 0,011259 38547,44 0,2867
2 500 1,167 100 1,77E-05 0,011259 74065,69 0,2069
3 1000 1,112 50 1,76E-05 0,011259 35608,67 0,2983
4 2000 1 10 1,73E-05 0,011259 6526,96 0,6968

Gráfico 4-Espessura da Camada Limite em Condições de Voo Real.

Fonte: O Autor.

Observa-se que o Número de Reynolds aumenta conforme aumenta-se a velocidade,


mesmo elevando-se a altitude (o que por sua vez faz diminuir os valores da massa específica
e da viscosidade). Este feito faz com que a espessura da camada limite diminua conforme o
esperado, voltando a subir assim que o valor de Re comece a decair devido ao veículo ganhar
altitude e perder velocidade.
Quanto maior for a velocidade do foguete no lançamento, menor será a camada limite
e consequentemente o arrasto de atrito nesta fase do voo. É importante que o veículo gere
baixo arrasto nessa fase porque nela o mesmo atravessa camadas mais densas de ar.

1.5 Caso E: Mantendo a velocidade de voo, a área molhada e todas as


propriedades termodinâmicas fixas e variando apenas a viscosidade do ar.
Nesta simulação mantem-se constantes a área molhada e todas as propriedades

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termodinâmicas do ar, além da velocidade. Variou-se apenas a viscosidade do ar para verificar
como a camada limite se comportaria. Essa simulação é um caso hipotético porque
dificilmente, ou impossivelmente seria possível alterar a viscosidade do ar sem alterar as
demais propriedades.

Propriedades do escoamento e do corpo


Altitude 0 m – Nível do Mar ISA
𝜇 Varia de 1,789E-5 até 1,431E-4 (dobra a cada cálculo)
𝜌 1,225
𝑇 15 °C
𝑣 50 m/s
Swet 0,011259 m²

CASO E - Mantendo as propriedades termodinâmicas, a área molhada do corpo e a


velocidade do escoamento constantes e variando somente a viscosidade dinâmica
do ar. (Viscosidade dobra a cada cálculo)
Massa Velocidade do Viscosidade Área Espessura da
Especifica do Escoamento Dinâmica do Ar Molhada Re Camada
Ar [kg/m³] [m/s] [N.s/m²] [m²] Limite [mm]
1 1,225 50 1,789E-05 0,011259 38547,44 0,2867
2 1,225 50 3,578E-05 0,011259 19273,72 0,4055
3 1,225 50 7,156E-05 0,011259 9636,86 0,5735
4 1,225 50 1,431E-04 0,011259 4818,43 0,8110

Gráfico 5-Espessura da Camada Limite Variando Apenas A Viscosidade Dinâmica do


Escoamento.

Fonte: O Autor.

Aumentando a viscosidade do ar sem alterar a sua massa especifica como fora feito nos

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caso C e D faz com que o número de Reynolds diminua progressivamente. A diminuição do
valor de Re faria a espessura da camada limite elevar-se.

2. CONCLUSÕES
O projeto de minifoguetes ou de qualquer veículo ou corpo que opere imerso em
escoamento subsônico deve atentar-se ao arrasto de atrito, pois é ele o responsável pela
maior porcentagem da composição do arrasto total do corpo.
Para diminuir a espessura da camada limite deve-se:
• Diminuir a área molhada, que é o numerador do cálculo de 𝛿;
• Aumentar a velocidade para aumentar o número de Re, que é o denominador de
𝛿.

Os principais contribuintes para geração de arrasto de fricção são:


• Área molhada muito grande e protuberâncias que a façam elevar-se, como slugs,
parafusos, suportes, e tudo o que estiver exposto ao escoamento;
• Rugosidade do corpo e suas peças, que faz com que o atrito seja maior;
• Baixa velocidade, que faz com que o número de Reynolds seja baixo e o
escoamento laminar.

Em foguetes pequenos a área molhada já é pequena, o Re é baixo porque a velocidade


é baixa também. É necessário acelerar.
Alguns aspectos devem ser levados em consideração no projeto para desenvolver
veículos com baixo arrasto de atrito, tais como:
• Não deve-se elevar a área molhada sem necessidades;
• As peças devem ser tratadas superficialmente para serem pouco rugosas;
• Não deve-se projetar veículos de área molhada excessiva, reduzindo onde for
possível;
• Parafusos, pinos ou rebites expostos devem ter pequena área exposta e cabeça
aerodinâmica;
• Deve-se sempre buscar atingir altas velocidades na decolagem;
• Etc.

3. SUGESTÕES DE TRABALHOS FUTUROS


Medição de arrasto de peças com diferentes rugosidades em túnel de vento;

Laboratório de Jato Propulsão - Edifício Anexo da FEAU, Univap Campus Urbanova. Página 13
Av. Shishima Hifumi, 2911 - Urbanova, São José dos Campos – SP, 12244-000 de 13
bravoaerospace@gmail.com

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