Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Vídeo 1 – Prólogo
(
É o fim.
O mundo está acabando.
O mundo está acabando para os pobres,
para os negros, para as mulheres, para a
cultura, para as pessoas LGBTQIA+, para
todo mundo.
É possível parar o fim em todo o mundo?
Para os indígenas o mundo já acabou faz
tempo, e o pouco que sobrou dele ainda
padece.
Enfim.
É um fim econômico, político, jurídico,
cultural, midiático, social, ambiental.
Tudo.
É um fim disfarçado de normalidade.
1
A cura não foi descoberta e todas as
mazelas continuam a destruir o mundo na
mesma velocidade.
São cenas, são vozes, são gritos
desesperados que ainda tentam adiar o fim
do mundo.
Esta peça é um ensaio sobre os medos e os
fins
)
CENA 1
(
as pessoas mascaradas falam em vozes
abafadas
)
AS PESSOAS MASCARADAS
1) Gian - Nós temos saudades do antes. Nós temos vontade de sair fora.
Nós gostamos de ir ao centro da cidade. Somos gente que toca. Que
vaga em São Paulo e divaga em pessoas.
3) Ana - Nós temos saudades de ver outras pessoas. Nós queremos ver as
diferenças. Nós sentimos saudade de estar vivendo. Nós não queremos
2
nos ver chateados. Nós não podemos fazer teatro. Nós adoramos poder
ligar, abraçar e sair.
6) Juno - Nós achamos que saber viver é ter calma para todas as coisas.
Tudo tem seu tempo e agradecer o momento em que estamos, em que
vivemos, é fantástico. Nós amamos viver a vida com paixão, paz e
liberdade.
3
13) Gian - Nós somos pessoas que não veem a hora de poder se abraçar
depois de uma peça de teatro. Nós somos pessoas que amamos comer
Beirute na Paulista estando com a família.
ANUNCIAR:
CENA 2 – Sonhar é Possível? - Thiago
CENA 2
(
sonhar é possível?
)
CARLOS – Boa noite! Meu nome é Carlos Araújo, sou formado em teatro pelo
SENAC e em cinema pela American Film Institute que fica aqui em Los
Angeles, onde atualmente trabalho como ator. No momento também sou diretor
da minha própria escola de formação de atores, que fica na cidade de
Sacramento também aqui na Califórnia, onde ofertamos cursos de
interpretação para TV e cinema para jovens atores.
VICTOR – Boa noite! Meu nome é Victor Aquino, sou graduado em Música pela
UNESP e Artes cênicas pela USP. Trabalho como ator desde os meus 9 anos
de idade e já realizei 39 comerciais, 5 filmes e 10 séries. Além disso, sou
instrumentista, toco flauta, piano, violão, violino e saxofone. Recentemente
lancei 2 álbuns de estúdio, onde ambos venceram na categoria “Álbum do Ano”
no Grammy.
CORTA! Ontem, uma jovem de 18 anos foi executada pela polícia militar com
um tiro na cabeça. (Gian)
WENDEL – Boa noite! Meu nome é Wendel Fernandes, tenho 37 anos e sou
graduado em Jornalismo pela Cásper Líbero, e pós-graduado em Jornalismo
Esportivo e Multimídias pela FGV. Atuo há 8 anos como repórter esportivo, e
tive o privilégio de realizar a cobertura da Copa do Mundo de 2018 aqui na
Rússia onde eu trabalho atualmente como stringer, representando o Brasil nas
coberturas esportivas.
CORTA! No final de semana, um jovem de 17 anos foi morto por uma bala
“perdida” no portão de casa. (Ana)
GIOVANNA – Boa noite! Meu nome é Giovana Gabrielle, sou atriz profissional,
formada pelo Senac e pela Universidade de São Paulo. Também sou
dubladora, cantora, humorista, palhaça e artista visual. Eu dublei diversas
animações da PIXAR e participei como atriz de diversas produções na Netflix e
na Globo Play. Eu tenho um canal no YouTube com mais de 1 milhão de
seguidores, onde eu faço humor e palhaçaria feminista.
GUILHERME – Boa noite! Meu nome é Vanna. Sou uma Drag Queen
conhecida mundialmente. Vocês já devem ter me visto por aí, pois eu sou a
atual campeã da última edição do reality show RuPaul’s Drag Race. Tenho
mais de 20 milhões de seguidores nas redes sociais e atualmente sou
embaixadora da Mac Brasil e defensora dos direitos LGBTQIA+. Sou formada
em Artes Cênicas pela USP, pelo Senac e tenho pós graduação em direção
teatral.
5
CORTA! Semana passada, uma travesti foi encontrada morta, boiando no rio
Tietê. (Juno)
GABY – Boa noite! Meu nome é Gabriely Maria. Eu sou formada em teatro pelo
Senac São Miguel Paulista e pela Escola de Arte Dramática da USP. Eu
também possuo licenciatura em teatro e atualmente realizo um projeto de
consciência corporal através da dança e do teatro, para crianças e jovens da
periferia da cidade. Tenho pós-graduação em comunicação das artes do corpo
pela PUC. Eu já atuei com a Fernanda Montenegro e já fiz parte do corpo de
baile da Rihanna e da Beyoncé.
CENA 3
(
aqueles que viram o início do fim
)
PAI DE SANTO – Eu sempre morei aqui, nesse fim de mundo! Naquele dia eu
saí cedo de casa com tanta antecedência que parecia até que eu sabia o que
tava pra acontecer. Deixei uma vela branca acesa em cima do altar, era pra
Oxalá que eu rezava toda manhã! Uma vela que se acende é uma dor que se
apaga. Na rua meus guias já se preparavam pra me proteger. Haja fé pra
seguir por essas estrada. Odara ê! Reina firme na encruzilhada. Abra os
caminho! Naquele dia se fez noite quando ainda era tarde. Eu me lembro... O
imenso azul do céu de repente escureceu. E no relógio da cidade, onde tinha
uma propaganda de colchão, ainda marcava 3 horas. Mas já era tarde! Até que
de repente! Num ímpeto de violência e fúria, diversos RINOCERONTES
invadiram a cidade! Animais potentes e pesados. Eles corriam no sentido
contrário. Ninguém podia acreditar, Rinocerontes no centro de São Paulo!
Trogloditas que cheiravam a ódio... Acordaram o bêbado que sonhava na
calçada. Assustaram o cavalo do guarda. Invadiram a ciclo faixa. Passaram
pela prefeitura, driblaram a viatura! Passaram pelo minhocão na contramão.
Arrancaram o braço do ciclista! Derrubaram o violão do artista. Amassaram um
carro importado. Não deixavam nada pra trás. Laroyê Ina Mojubá! Pisotearam
nove adolescentes no Paraisópolis. Massacraram o entregador de aplicativo.
Cuspiram no Motoboy. O dia continuava escuro. Ah que saudade do azul.
Adakê Exú! Protege o povo, que o povo é o dono da rua! Ahhhh! Os
7
rinoceronte arrastaram a mulher preta pelo asfalto! Derrubaram a criança do
nono andar do condomínio de luxo! Alvejaram 80 vezes o carro de família que
tava passando ali! Era tanta destruição, que eu só sei que no meio daquilo
tudo, eu eu vi uma luz amarelada, era a vela branca que deixei em casa, Oxalá
tava comigo! E se eu tô aqui pra contar essa história. É porque Exú também
tava firme na encruzilhada!
8
um voto, se foi uma bactéria ou se foi uma facada, se foi uma ação humana ou
se foi a natureza. As coisas agora estavam todas contaminadas umas pelas
outras. Agora, vírus e política são praticamente a mesma coisa, pois ambos
matam com a mesma velocidade.
TRABALHADOR RURAL – Eita, eita. Que eu não sabia direito o que era
aquilo. Eu não sabia se era Tornado, Suriname, Tsunami, sei lá o nome, eu só
sei que de repente eu vi uma nuvem amarronzada que vinha lá de longe, eita
coisa esquisita da peste... Uma zoada, um barulho de zumbido nos meus
ouvido... Tipo barulho de motosserra, sei lá. Só sei que essa nuvem ia
chegando cada vez mais perto. E eu tava ali, no meio das plantação de milho,
que nem todo santo dia! Essa nuvem foi chegando, chegando... Quando eu dei
fé, era um exército de GAFANHOTO em cima de mim, em cima das plantação.
Aqueles bicho começaram a voar e a devorar tudo no meio daquela estranheza
toda. As árvore foram ficando sem nenhuma folha, uma caatinga só. Comeram
até as orquídea da Sarma! Esses gafanhoto devorava tudo mas não me
devorava. Não deixava nada no lugar. Comeram tudo! E depois que eles foram
embora, eu olhei praquela devastação toda, e a única coisa que eu senti, foi a
lágrima escorrendo lavando toda a sujeira daquela peste.
9
ANUNCIAR:
Cena 4 – Retrato da Paisagem no Pós – Thiago
CENA 4
(
retrato da paisagem no pós
)
PAI DE SANTO – Depois que tudo que sobrou foi escuridão e silêncio, eu me
coloquei a caminhar, e vi o que eu vi, eu me lembro... O rio que corta a cidade,
que antes era invisível, transbordou sua podridão nas venta do povo. Deu pra
ver um sofá navegando, um fusca afundando, e os defunto boiando, oh,
mamãe ora yê yê ô, venha nos proteger e nos guiar, ora yê yê ô!
10
VOZ SOBREVIVENTE 04 – Depois que a explosão dissipou, eu vi as calçada
todo esburacada, as pessoa acelerada, correndo contra o tempo, correndo pro
mesmo lugar, pra centralizar. Eu vi o prédio da ocupação desmoronar, não tem
como vê o povo morrer e não chorar. Eu me lembro... (Gaby)
VOZ SOBREVIVENTE 05 – Depois que passou o terremoto, eu vi a cidade
com tanta gente, parecia um formigueiro, uma máquina de fazer dinheiro. Eu
que sonhava em ser médico ou engenheiro, me vi num labirinto, na rua, na
solidão, sem emprego. Eu me lembro... (Mateus)
VOZ SOBREVIVENTE 06 – Depois que o fogo se apagou, eu vi a cidade ainda
abafada pela fumaça de cigarro, indústria e caminhão, que também abafa a
mordaça que ganha, pela raça, o mais nobre cidadão. Eu vi o explorado e o
explorador que manda ter fé, pegar o mesmo metrô, na Sé! Eu escutei o choro
da travesti morta na Consolação, e entendi a contradição. Eu me lembro...
(Gian)
VOZ SOBREVIVENTE 07 – Depois que a água da enchente abaixou, o cheiro
de esgoto proliferou, eu vi as casas tudo cheia de terra, de grama, as capivara
tudo melada de lama. Eu vi a mãe chorando pelo menino que não foi
encontrado, a outra mãe gritando o filho preto, morto, discriminado. Eu vi os
helicóptero do prefeito, da televisão, tirando foto de longe, sem pisar nesse
chão. Eu me lembro... (Juno)
VOZ SOBREVIVENTE 08 – Depois que o morro desmoronou, eu vi gente
trabalhando dobrado, pra conseguir um bocado de terra, um pedaço de chão.
Eu vi gente ser explorada que nem condenado, carregando pesado, pra ganhar
meio salário e comprar seu pão. Eu vi a professora cansada, com a voz
detonada passando a lição. Eu me lembro... (Giovana)
VOZ SOBREVIVENTE 09 – Depois que o ciclone passou, eu vi os hospitais
tudo quebrado, os leito lotado, doente dormindo no gelado, no corredor
apertado onde pinga a goteira no chão. Eu vi os ônibus com o povo pendurado,
ar condicionado pifado, e o preço da passagem com adesivo novo colado.
Onde já se viu uma nota de 5 reais num pagar a condução? Eu me lembro...
(Wendel)
VOZ SOBREVIVENTE 10 – Depois que o colapso acabou, eu vi os bicho em
extinção tudo amontoado no camburão, eu vi as vaca pastando nas terra onde
antes era vegetação. No lugar que havia floresta, hoje há perseguição, grileiro
matando indígena só pra lhe roubar seu chão. Castanheiro, seringueiro tudo de
pistola na mão. Eu vi, Zé da Nana tá de prova, nesse lugar tem cova, gente
enterrada no chão. (Ana)
11
CENA 5
(
ideias para adiar o fim do mundo
)
12
GIAN – E se a gente sonhasse mais? E se a gente ajudasse mais os amigos e
falasse daquela vaga de emprego que abriu? E se a gente fizesse mais amor e
mais atividade física? E se a gente visitasse ou ligasse mais pra nossa avó que
ainda tá viva? E se a gente fechasse as torneiras enquanto escova os dentes?
E se a gente andasse com uma caneca na bolsa?
13
Vídeo 4 – Ancestrais do Futuro
CENA 6
(
ancestrais do futuro
)
ANCESTRAIS DO FUTURO
1. Nós, que somos os ancestrais do futuro, nós que ainda estamos por vir,
que estamos no casulo quente e protegido da barriga das nossas futuras
mães... Nós queremos fazer alguns pedidos... (Ana)
2. Nós ainda vamos nascer e depois florescer nesta terra. Nós gostaríamos
que o mundo fosse um lugar possível de viver. Não queremos ter que
sobreviver num mundo sem oportunidades. (Carlos)
3. Nós queremos nascer e saber que teremos um teto, água e o alimento
necessário para nos dar a energia certa para viver nesse mundo. (Gi)
4. Queremos crescer num mundo em que todas as portas estejam
destrancadas. Queremos poder andar pelos lugares sem precisar
esconder as coisas que temos, sem precisar ter medo. (Juno)
5. Queremos viver num mundo sem preconceito, sem violência, sem
ignorância, sem arrogância e sem injustiça. (Gaby)
6. Nós que ainda vamos nascer, queremos que a nossa cor não nos
impeça de nada. Sabe, nós queremos ter orgulho de ser quem a gente
é. (Diniz)
7. Queremos nascer num mundo que ainda exista natureza, num mundo
que ainda existam animais, rios limpos, árvores em cada esquina, flores
em todas as ruas e ar puro, terapêutico. (Victor)
14
8. Queremos respirar sem máscaras de oxigênio. Esse é o nosso pedido.
Queremos poder viver. Queremos poder brincar. (Wendel)
9. Queremos que a nossa família tenha tempo pra ficar com a gente.
Queremos que a nossa família seja alegre e goste de cantar e dançar a
vida em harmonia, mas também queremos que a nossa família saiba
ficar em silêncio apreciando uma xícara de chá. (Guilherme)
10. Nós, que vamos vir depois de vocês, gostaríamos de viver num mundo
em que as mulheres não fossem maltratadas, desrespeitadas,
violentadas. Em minha vida passada eu era mulher e... bom... agora eu
estou aqui... tentando de novo, me preparando pra renascer. (Letícia)
11. Nós que vamos nascer em breve, queremos que a nossa sexualidade
não seja antecipada. Queremos viver num mundo onde ninguém morra
por causa de ideologias ou dinheiro. (Gian)
12. Queremos aprender a cuidar do planeta. É o que pedimos. É o que
queremos. Paz. (Mateus).
FIM
15