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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

ANDRESSA ABREU DE OLIVEIRA RIBEIRO


LILIANE FARIAS DA SILVA

CASA DR
Exemplar de contemporaneidade da Arquitetura na Amazônia

Manaus
2024
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ANDRESSA ABREU DE OLIVEIRA RIBEIRO


LILIANE FARIAS DA SILVA

CASA DR: Exemplar de contemporaneidade da Arquitetura na Amazônia

Artigo apresentado ao curso de Arquitetura e


Urbanismo da Faculdade de Tecnologia da
Universidade Federal do Amazonas, como parte
dos requisitos necessários para aprovação na
matéria de Arquitetura na Amazônia.
Prof. Me. Dr. Marcos Paulo Cereto.

Manaus
2024
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 4
2. BIOGRAFIA DE VIPE ARQUITETURA .................................................................................. 4
3. ANÁLISE COMPOSITIVA DA CASA DR ................................................................................ 5
4. ANÁLISE PROJETUAL CONSIDERANDO OS 5 PONTOS ................................................. 7
4.1 Forma do edifício adequada a orientação solar...................................................................... 8
4.2 Solo sagrado: permeabilidade na implantação....................................................................... 9
4.3 Uso da macrocobertura ........................................................................................................ 10
4.4 Interdependência entre a planta com a vegetação existente ................................................. 11
4.5 Ventilação livre .................................................................................................................... 11
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................... 13
6. REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 13
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1. INTRODUÇÃO
O propósito deste estudo é realizar uma análise da residência DR, localizada no
condomínio Alphaville, no bairro Ponta Negra, na cidade de Manaus. A análise compositiva e
funcional busca compreender, de maneira geral, as razões que fundamentam a localização da
casa no terreno, a disposição das aberturas e a distribuição dos espaços internos. Por outro lado,
a análise projetual busca aprofundar a reflexão sobre as decisões do arquiteto em aspectos
cruciais que abrange o entorno e contexto da obra, tais como a forma do edifício adequada a
orientação e incidência solar, o uso do solo sagrado, taxa de ocupação e permeabilidade, o uso
de macrocobertura, a interdependência entre a vegetação existente e a planta, e por fim, a
ventilação cruzada nos ambientes internos.

2. BIOGRAFIA DE VIPE ARQUITETURA


Vitor Pessoa, fundador do escritório VIPE Arquitetura, é o responsável pelo projeto da
casa DR. Apesar de ter nascido no Piauí, Vitor mudou-se para Manaus aos 5 anos de idade,
onde reside atualmente. Em entrevista para o quadro Fala, Arquiteta! da Rádio Cavok, o
arquiteto relata que desde os 13 anos, ele já tinha o desejo de cursar arquitetura, e em 2004,
ingressou na Universidade Paulista (UNIP), realizando também estágios com renomados
arquitetos de Manaus na época, incluindo Paulo Lindenberg.

Figura 1 - Vitor Pessoa

Fonte: Site de VIPE Arquitetura

Formou-se em 2009 e em parceria com seu colega de faculdade e antigo sócio Pedro,
fundou o escritório que, mais tarde, passou a ser exclusivamente liderado por Vitor. O escritório
alcançou grande reconhecimento em Manaus e atualmente mantém uma colaboração ativa com
Laurent Troost Architectures. Juntos, Troost + Pessoa ARCHITECTS já realizaram diversos
projetos renomados.
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Segundo o site de VIPE Arquitetura, os projetos do escritório refletem um pensamento


crítico sobre aspectos da arquitetura moderna. “É a partir dessa herança que se valoriza a
importância da concepção estrutural, as soluções construtivas, a viabilidade econômica e,
principalmente, o entendimento da cidade como campo de diálogo das obras de arquitetura. O
escritório tem seu maior estímulo em explorar o campo de um possível ainda não realizado,
elaborando desenhos de um modo pleno de sentidos, informados pelas experiências precedentes
e pelo uso adequado dos recursos”, relatam.

3. ANÁLISE COMPOSITIVA DA CASA DR


Iniciando o contexto analítico compositivo e funcional do projeto, segundo Tavares
(2014, p.14) pátio é “um espaço de ligação e transição que relaciona de uma forma equilibrada
as variadas formas do viver/habitar”. A casa DR configura-se como uma residência pátio, é
composta por três blocos principais (dois no térreo e um no primeiro piso), dispostos em
formato de “C” (FIGURA 2) em que todos os ambientes internos convergem para a área central
(pátio) destinada ao convívio social. Segundo Neves (2012), essa tipologia coloca o pátio como
um elemento ordenador e integrador dos demais espaços, de modo que o funcionamento do
edifício depende diretamente da presença do pátio.

Cada bloco possui uma função específica determinada pelo arquiteto no programa de
necessidades: o bloco no térreo destina-se ao setor social e usos de serviço (FIGURA 3), o
bloco do primeiro piso abriga o setor íntimo (FIGURA 4), enquanto que o bloco aos fundos
serve como ateliê (FIGURA 3).

Figura 2 - Esquema compositivo da residência

Fonte: Archdaily (2022) e manipulada pelas autoras (2024)

Figura 3 e 4 – Setorização da residência


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Fonte: Archdaily (2022) e manipulada pelas autoras (2024)

O arquiteto se utiliza da técnica de lajes protendidas planas em concreto armado na


estrutura para promover a concepção de integração, possibilitando a criação de vãos extensos
permitindo a conexão entre os espaços comuns, como a sala de estar, jantar, cozinha e a área de
lazer externa (FIGURA 5). Essa disposição favorece a interação e fluidez entre os ambientes,
promovendo uma experiência integrada e funcional para os moradores. Essa decisão resulta em
maior flexibilidade para posicionar os painéis de vidro (FIGURA 6), favorecendo a regulação
eficaz da ventilação interna e a minimização de interrupções visuais.

Figura 5 - Corte mostrando as lajes e o amplo vão nos espaços de permanência

Fonte: Archdaily (2022)

Figura 6 - Painéis de Vidro


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Fonte: Archdaily (2022)

A casa possui duas entradas distintas: uma social, proporcionando acesso direto às áreas
de lazer como sala de estar, jantar e cozinha, e outra localizada na lateral da casa, permitindo a
entrada para a área de serviço e piscina. (FIGURA 7)

Figura 7 - Acessos

Fonte: Archdaily (2022) e manipulada pelas autoras (2024)

4. ANÁLISE PROJETUAL CONSIDERANDO OS 5 PONTOS


De acordo com Segawa, Cereto e Cardoso em The Brazilian Amazonia and its
Modernities (2018), o desenvolvimento de projetos urbanos na Amazônia se intensifica com
a migração de arquitetos para a região amazônica na década de 1960, com Oswaldo Bratke e
Severiano Porto sendo dois dos seus principais representantes. Bratke foi responsável pelo
planejamento de assentamentos como a Vila Amazonas e a Vila Serra do Navio na década de
1950, enquanto Porto trouxe uma abordagem inovadora na década de 1960, adaptando
sistemas construtivos modernos às condições locais, sua parceria com Mário Emílio Ribeiro e
sua compreensão diferenciada das características da Amazônia resultaram em projetos que
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integravam princípios metabólicos e uma sensibilidade única ao ambiente local. Na década de


1970, Porto alcançou maturidade construtiva e adotou uma abordagem experimental alinhada
ao Manifesto Rio Negro do Naturalismo Integral, refletindo preocupações ambientais na
região. Seus projetos incorporaram materiais e técnicas adaptadas ao contexto local,
destacando-se por sua habilidade no uso da madeira em grandes edifícios.

O modernismo amazonense deixou um legado importante na arquitetura, mas ao olhar


para o presente, novos arquitetos estão surgindo com propostas que buscam não apenas a
continuidade, mas também a evolução do modelo arquitetônico na Amazônia, onde a inovação
e a sustentabilidade se unem para criar um ambiente construído mais harmonioso e resiliente
na região.

4.1 Forma do edifício adequada a orientação solar


De acordo com a descrição dada pela equipe de projeto da residência à Susana
(MOREIRA, 2022), o arquiteto utiliza a orientação solar como base para organizar o programa
de necessidades, distribuindo os cômodos íntimos e de serviço em uma verticalização que
acontece logo na primeira metade do terreno, com os espaços de serviço situados no térreo,
voltados para o poente, enquanto as áreas de uso social, também no térreo, e os quartos no
primeiro piso têm suas aberturas direcionadas para o sol da manhã. A circulação posicionada a
oeste atua também como uma barreira térmica para essas áreas (FIGURA 8).

Figura 8 - Orientação solar

Fonte: Archdaily (2022) e manipulada pelas autoras (2024)

Ao analisar a orientação da casa, observa-se que ao posicionar os espaços de serviço no


térreo voltados para o poente, com pouquíssimas aberturas para ventilação, pode-se criar um
ambiente propício ao superaquecimento, especialmente em climas quentes como o da região
amazônica. Além disso, a circulação a oeste, durante as horas da tarde, recebe a incidência
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direta do sol, contribuindo para um aumento indesejado na temperatura nas áreas sociais e nos
quartos localizados no primeiro piso, já que nessa área não existem elementos para proteção de
fachadas. Para superar esse possível aumento de temperatura, o arquiteto faz uso de corredores
nas duas extremidades da casa, juntamente com o pátio no fim do terreno para uma melhor
circulação da ventilação, resultando em um ambiente mais arejado.

4.2 Solo sagrado: permeabilidade na implantação


Atualmente no Plano Diretor de Manaus (2021) a taxa de permeabilização mínima é de
15%, então, a partir desse dado é cabível uma reflexão sobre os primórdios da origem
amazônica. Segundo REIS (1967), a cultura trazida pelos povos colonizadores, foi enraizada
na terra nova, trazendo consigo o objetivo de lucrar às custas do que era encontrado na nova
colônia, a partir disso, o movimento de extração, sem pensar em suas consequências, se tornou
cada vez mais intenso. Atualmente, ainda se carrega esse fardo em escala macro, onde quase
não existe mais vegetação ao redor das cidades brasileiras, principalmente em Manaus que,
segundo o IBGE (2010), é uma das capitais com os piores índices de arborização do Brasil,
perdendo apenas para Rio Branco e Belém.

É com partida nesse pensamento que um processo de “descolonização” começa a


intensificar, e a busca por tentar amenizar os danos seculares causados na terra surgem em todas
as áreas de atuação. O conceito de biofilia começa a se popularizar e a busca pela reparação do
que foi desmatado por séculos se intensifica.

A decisão de manter a casa acima das normas legais, com cerca de 38% de área
permeável do terreno, revela uma abordagem proativa, mas pequena em relação à conservação
do ambiente circundante. A permeabilidade promove a absorção natural da água pelo solo,
contribui para a preservação do ecossistema local e a proteção de potenciais impactos
ambientais.

No caso da residência DR, a permeabilidade não consegue atingir esses objetivos por
ser uma casa ancorada ao solo e com um piso em concreto envolvendo a casa, resultando em
menos conforto térmico (FIGURA 9). Todavia, para suprir essas necessidades de conforto, a
casa é elaborada com o amplo uso de esquadrias.

Figura 9 - Ocupação x Área Permeável


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Fonte: Archdaily (2022) e manipulada pelas autoras (2024)

Estimativa:

Taxa de ocupação: 279,34/448,64 = 0,62 x 100 = 62% (área de projeção da casa / área
total do terreno x 100)

Taxa de permeabilidade: 169,3/448,64 = 0,37 x 100 = 38% (área permeável / área total
do terreno x 100)

4.3 Uso da macrocobertura


A macrocobertura estende-se para além dos limites da edificação, operando de forma
independente e oferecendo diversas opções de ventilação. A casa DR apresenta um conceito
diferente, contendo uma cobertura em platibanda com um beiral que ultrapassa sutilmente a
projeção das paredes (FIGURA 10). A platibanda (FIGURA 10), ao envolver a construção com
um beiral pequeno, revela-se insuficiente para proporcionar uma proteção eficaz às superfícies
expostas às intempéries, especialmente nas extremidades da casa. A limitação deste design em
relação à proteção contra elementos climáticos destaca a necessidade de considerar estratégias
de cobertura mais robustas e eficazes, capazes de oferecer não apenas estética arquitetônica,
mas também funcionalidade prática na preservação das superfícies externas.

Figura 10 - Planta de cobertura e platibanda


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Fonte: Archdaily (2022)

4.4 Interdependência entre a planta com a vegetação existente


A planta livre é um projeto caracterizado por uma estrutura independente em que as
vedações não estão no mesmo plano construtivo do que a estrutura, permitindo assim, a
flexibilidade na disposição da planta e na livre colocação de paredes, facilitando a criação de
amplos espaços. Na casa DR, o conceito de planta livre não é estabelecido como um requisito,
mas a resolução da sua planta gerou um layout flexível adotado na sala de estar, jantar e cozinha,
estendendo-se até a área de lazer, formando um grande vão em L.

Esse layout permite uma integração de todos os espaços sociais internos e externos,
trazendo uma sensação de fluidez e permeabilidade visual em toda a área do térreo, mas ao
mesmo tempo, no fundo do bloco mantém a privacidade do ateliê que está muito bem
delimitado. No andar superior o conceito não permanece e traz uma planta muito bem
delimitada com cinco quartos e uma área de tv, para dar privacidade aos residentes de cada
quarto.

4.5 Ventilação livre


Como dito anteriormente, a casa é constituída de dois corredores nas duas extremidades
e constituem um pátio no fim do terreno que ajuda na circulação da ventilação, além disso, por
ser um terreno de esquina, utiliza-se da abertura na lateral para uma melhor ventilação da área
externa que pode ser conectada à área social ao abrir as esquadrias localizadas na sala (FIGURA
11).

Figura 11 - Corredores de ventilação e esquema de ventilação cruzada


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Fonte: Archdaily (2022) e manipulado pelas autoras (2024)

A residência foi planejada incorporando uma abundância de esquadrias e amplos vãos


que propiciam uma eficaz ventilação cruzada (FIGURA 12). Essa estratégia arquitetônica não
apenas promove uma circulação de ar natural, mas também cria uma atmosfera arejada e
agradável em todo o interior da casa. Porém uma análise da fachada principal da casa é
importante, pois, por ter muitas esquadrias que estão localizadas no quarto principal e estar na
fachada à noroeste, há uma grande incidência de sol que pode causar desconforto térmico.

Figura 12 - Imagem das esquadrias

Fonte: Archdaily (2022)


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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao concluir esta análise do projeto da casa DR, torna-se evidente a complexidade
envolvida na concepção de uma residência no contexto amazônico, que não apenas atenda às
necessidades funcionais dos moradores, mas também leve em consideração fatores ambientais
e culturais seculares enraizados. A residência DR, em si, é um exemplo notável de arquitetura
contemporânea em que forma, função e estética estão em harmonia. A disposição dos blocos
em formato de "C" em torno do pátio central demonstra uma abordagem inteligente do arquiteto
para promover interação e fluidez entre os espaços sociais e íntimos, enquanto a utilização de
técnicas construtivas como lajes protendidas e amplas aberturas favorece a integração e a
fluidez dos ambientes. No entanto, desafios como a orientação solar e a permeabilidade do
terreno destacam a importância de abordagens mais abrangentes e sustentáveis na arquitetura
contemporânea. A reflexão sobre a relação entre o projeto arquitetônico e o meio ambiente
circundante, bem como a consideração das tradições culturais e históricas da região, são
aspectos cruciais a serem incorporados no desenvolvimento de projetos residenciais. Nesse
sentido, a casa DR representa não apenas uma moradia funcional, mas também uma expressão
tangível dos esforços em curso para promover uma arquitetura mais consciente e responsável.

6. REFERÊNCIAS
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Brasileiro
de 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2012.

MOREIRA, Susana. Casa DR | Vipe Arquitetura. 12 Ago 2022. ArchDaily Brasil. Disponível
em: <https://www.archdaily.com.br/br/986826/casa-dr-vipe-arquitetura>. Acesso em: 4 jan.
2024.

NEVES, Susana. PÁTIO: Génese, Evolução Conceptual e Morfológica. Investigação para


a concepção de um Edifício Multifuncional em Lisboa. Teses (Mestrado Integrado em
Arquitetura) – Faculdade de Arquitetura, Universidade Técnica de Lisboa. Lisboa, 140p., 2012.

Plano Diretor Urbano e Ambiental de Manaus e Suas Leis Complementares. Lei Complementar
n.º 2402 de 16 de fevereiro de 2019.

Rádio Cavok. FALA, ARQUITETA! | CONHECENDO A VIPE ARQUITETURA.


Youtube, 22 set. 2022. 1 vídeo (47min). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=O6gBMyQm0zI&t=995s>. Acesso em: 5 jan. 2024.

REIS, Arthur. O Mundo Amazônico: Terra, Floresta, Água e Ar. 1967.

SEGAWA, H.; CERETO, M. P.; CARDOSO, M. G.. The Brazilian Amazonia and its
Modernities. In: Ana Tostões e Natasa Koselj. (Org.). Metamorphosis. The continuity of
change. 1ed. Ljubljana: Docomomo International, 2018, v. 1, p. 108-114.

SOBRE VIPE ARQUITETURA. Disponível em:


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<https://www.vipearquitetura.com.br/sobre>. Acesso em: 5 jan. 2024.

TAVARES, Francisco. A casa pátio como um modelo de habitação contemporânea.


Dissertação (Mestrado Integrado em Arquitetura) – Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes.
Portimão, 77 p., 2014.

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