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Lima de Morais
Revisão técnica:
Joelma Guimarães
Graduada em Pedagogia — ênfase em Educação Infantil
Especialista em Alfabetização
Especialista em Administração, Orientação
e Supervisão Escolar
Especialista em Educação Infantil
Mestre em Educação
ISBN 978-85-9502-459-5
CDU 378
Introdução
As línguas de sinais se diferenciam das orais, principalmente, devido à
modalidade de produção e percepção. Elas são conhecidas pela cons-
trução de sua base de sinalização alicerçada em parâmetros próprios,
que criam uma estrutura gramatical distinta, mas possuem fonética,
fonologia, morfologia, sintaxe e semântica, assim como as línguas orais.
Neste capítulo, você estudará a diferença entre as línguas oral-au-
ditivas e as gesto-visuais (visuoespacial); cada um dos parâmetros que
compõem as línguas de sinais e suas particularidades; e como funciona
a sua gramática.
Aspectos linguísticos
A Língua Brasileira de Sinais (Libras) tem sua origem na Língua de Sinais
Francesa, em uma relação similar à que a Língua Portuguesa possui com o
português falado em Portugal. Devido a isso, as línguas de sinais existentes
pelo mundo não são universais, cada país utiliza uma diferente, que pode
ou não coincidir com a língua de sinais de outro país.
104 Língua Brasileira de Sinais — aspectos linguísticos e gramaticais
O vídeo “Improvável — linguagem dos sinais #2” mostra como a pantomima ou mímica
não pode ser considerada língua de sinais, pois é apenas uma representação ou
teatro sem qualquer estrutura ou gramática. Assista-o no link a seguir.
https://goo.gl/0pI3C
direta com o seu referente, porém, isso não pode ser considerado como regra.
Resumindo, quando um sinal tiver relação direta com a coisa explicada, trata-
-se de um sinal icônico. Veja um exemplo na Figura 1.
No exemplo anterior, o sinal realizado para e-mail não tem uma relação
direta com o ícone ou a ação de enviar um e-mail, confirmando a teoria de que
as línguas de sinais não são apenas mímicas que representam imageticamente
as coisas. De fato, existe muita convenção de sinais que não têm relação com o
seu referente e significado, assim como as línguas orais, que convencionaram
inúmeras palavras sem relação icônica.
Classificadores
Uma das estratégias ou recursos de comunicação utilizada pela língua de
sinais é o classificador, que, em um primeiro momento, pode parecer apenas
gestos ou mímica, mas não se trata somente disso, como você verá a seguir.
Os classificadores são uma estratégia linguística que busca passar determi-
nado significado ou mensagem, moldando sinais, incorporando personagens
ou apenas usando a criatividade espacial para transmitir algum entendimento.
Eles podem utilizar as configurações de mãos para expressar, por exemplo,
o plural de algo (vários copos), e aparecer em situações de nível semântico
(significado), sintático (organização e estrutura da frase) e morfológico (gênero,
plural, modo, tamanho, etc.).
Segundo Pizzio et al. (2009, p. 19-32), os classificadores em língua de
sinais podem ser divididos em cinco categorias principais.
Devido a esse fator e muitos outros que a língua de sinais é tão fasci-
nante, pois tem singularidades que a tornam tão especial, contudo, sem
se distanciar do que ela tanto lutou para conquistar: ser reconhecida como
uma língua.
configuração de mãos;
ponto de articulação ou localização;
movimento;
orientação/direcionalidade das mãos;
expressão facial e/ou corporal.
Configurações de mãos
Durante a sinalização, utiliza-se com frequência algumas configurações de
mãos, que, resumidamente, se trata do formato ou contorno que as mãos
assumem. As configurações de mãos não são universais, embora existam
semelhanças entre uma ou outra de países diferentes, por isso, apesar de
algumas se repetirem em outras línguas de sinais, cada língua possui uma
tabela própria.
Entre os cinco parâmetros básicos das línguas de sinais, não consta o
alfabeto manual ou as letras, apenas as configurações de mãos, devido a isso,
é a tabela dessas configurações que dá origem ao alfabeto manual em Libras
e aos números (Figura 3), e não o contrário.
108 Língua Brasileira de Sinais — aspectos linguísticos e gramaticais
Movimento
O movimento é outro parâmetro que, juntamente à configuração de mãos e
à localização, forma um tripé básico de sinalização. Na Figura 5, você pode
observar o sinal de computador, o qual se realiza em espaço neutro com
localização na altura do peito (sem encostar no corpo), configuração de mão
em “x” (formato de um gancho) e movimento circular.
Você sabia que existem gírias na língua de sinais? Acesse o link a seguir para conhecê-las.
https://goo.gl/CmUSqe
Aspectos gramaticais
Como já mencionado, as línguas de sinais utilizam a modalidade gesto-visual e
são consideradas naturais, assim como as línguas orais, pois surgiram por meio
da interação espontânea entre os seus usuários. Elas possuem uma estrutura
gramatical singular que, apesar das diferenças, apresenta níveis de conhecimento
gramatical fonológico, morfológico, semântico, sintático e pragmático.
Nível fonético-fonológico
A fonética estuda a produção do sinal a fim de descrever cada parte (confi-
guração de mãos, localização, movimento etc.) que o compõe, contudo, sem
analisar o sentido dessa produção. Já a fonologia se preocupa com a análise
114 Língua Brasileira de Sinais — aspectos linguísticos e gramaticais
Note que o único parâmetro alterado foi a localização, a qual fez o sinal ser
totalmente modificado. Já a configuração de mão, o movimento, a orientação
da mão e a expressão facial são as mesmas, mudando só a localização onde
o sinal é feito (alterando do nariz para o queixo).
Entretanto, algumas vezes, as mudanças nos parâmetros ocorrem, mas sem
alteração de significado. Em línguas orais, tem-se o exemplo de escola e iscola
— na forma escrita dificilmente alguém fará essa troca, mas, na fala, isso ocorre
com frequência, sobretudo em determinadas regiões do país. Nesse contexto,
falar escola, puxando bem o “e”, ou iscola não alterará o significado da palavra.
Já nas Libras, existe o exemplo do sinal família, que é realizado conforme
mostra a Figura 13.
Nível morfológico
Em caráter morfológico, existem algumas questões bem específicas das línguas
de sinais. As línguas orais utilizam o “s” para designar plural, o sufixo “inha”
ou “inho” para diminutivos, e o “o” e “a” para os gêneros masculino e feminino;
já as de sinais têm outras formas de expressar esses itens morfológicos. Nas
Figuras 15 e 16, você pode visualizar alguns exemplos.
Nível sintático
As línguas orais possuem estruturas sintáticas que podem variar bastante, sendo
uma das mais comuns na Língua Portuguesa a construção sujeito — verbo —
objeto (SVO). Comparando com as línguas de sinais e, mais especificamente,
com a Libras, a estrutura mais utilizada também é a SVO. Isso não significa
que não haja outras formas ou estruturas de frases e sentenças igualmente
usadas na Libras.
Tanto a escrita em Língua Portuguesa realizada pelo sujeito surdo, que
não usa conjunções, preposições, artigos, conjugação verbal etc.), como a sua
sinalização em Libras pode seguir as seguintes estruturas:
SVO;
sujeito — objeto — verbo (SOV);
verbo — objeto — sujeito (VOS);
objeto — sujeito — verbo (OSV).
Sinonímia
Antonímia
São sinais que representam significados opostos. Veja os exemplos das Figuras
23 e 24.
Parônimos
Polissemia
São sinais iguais com significados diferentes. Veja os exemplos das Figuras
27 e 28.
Veja o Dicionário da Libras, disponibilizado pelo site Acessibilidade Brasil no link a seguir.
https://goo.gl/WdNsfU
Língua Brasileira de Sinais — aspectos linguísticos e gramaticais 127
Leituras recomendadas
KLIMA, E. S.; BELLUGI, U. The signs of language. Cambridge: Harvard University Press,
1979. 417 p.
LIDDELL, S. K.; JOHNSON, R. E. American Sign Language: The Phonological Base. Sign
Language Studies, Washington, D.C., v. 64, p. 195-277, fall 1989.
QUADROS, R. M.; KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. Porto
Alegre: Artmed, 2003. 222 p.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.