Você está na página 1de 20

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE DIREITO

ELIZETE JORGE

ANÁLISE DA NATUREZA JURÍDICA E


IMPLICAÇÕES LEGAIS DA MEDIDA DE POLÍCIA
PREVISTA NA ALÍNEA A) N.º 2 DO ART.° 7 LEI N.º
16/2013 DE 12 DE AGOSTO.

NAMPULA

2024
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE DIREITO

ELIZETE JORGE

ANÁLISE DA NATUREZA JURÍDICA E


IMPLICAÇÕES LEGAIS DA MEDIDA DE POLÍCIA
PREVISTA NA ALÍNEA A) N.º 2 DO ART.° 7 LEI N.º
16/2013 DE 12 DE AGOSTO.

O presente trabalho é de carácter avaliativo,


para a submissão ao Conselho Científico da
Faculdade de Direito da UCM para a
obtenção do grau de Licenciatura.

Supervisor: Dr. Mutela Supinho

NAMPULA

2024
LISTA DE ABREVIATURAS

 Al. - Alínea

 Art.º. – Artigo;

 DL – Decreto-Lei;

 Pág. – Páginas;

 PRM – Polícia da República de Moçambique

 C.R.M – Constituição da República de Moçambique

 Nº - Número

ii
Índice
LISTA DE ABREVIATURAS.........................................................................................ii

1. Identificação do Tema...............................................................................................2

2. Delimitação do Tema................................................................................................2

3. Problematização........................................................................................................2

4. Possíveis Hipóteses...................................................................................................2

5. Justificativa................................................................................................................3

5.1 Objectivos...........................................................................................................3

5.1.1 Geral............................................................................................................3

5.1.2 Específicos...................................................................................................3

6. Abordagem Metodológica.........................................................................................3

 Tipo de Pesquisa........................................................................................................3

 Método de Colecta de Dados.....................................................................................4

 Estratégias de discussão de resultados......................................................................4

7. Fundamentação Teórica.............................................................................................5

7.1 Conceito de polícia.............................................................................................5

7.2 Evolução historica da Policia da República de Moçambique (PRM).................6

7.2.1 Da segurança ao conceito da ordem pública...............................................7

7.2.2 A organização da PRM em matérias de ordem pública..............................8

7.2.3 A estrutura operacional da PRM.................................................................8

7.3 Os limites de actuação das medidas de polícia...................................................9

7.4 Princípios norteadores nas medidas de polícia.................................................10

7.4.1 Princípio da Legalidade.............................................................................10

7.4.2 Princípio da constitucionalidade................................................................11

7.4.3 Princípio da proibição do excesso.............................................................11

7.4.4 Princípio da Tipicidade e da boa-fé...........................................................12

iii
7.4.5 Princípio Democrático e Princípio da Lealdade........................................12

7.4.6 Princípio da Justiça e Princípio do Interesse Público................................12

8. Cronograma.............................................................................................................14

9. Referências Bibliográficas.......................................................................................15

iv
1. Identificação do Tema

O tema em questão intitula-se, a análise da natureza jurídica e implicações legais da


medida de polícia prevista na alínea a) n.º 2 do art.° 7 lei n.º 16/2013 de 12 de agosto.

2. Delimitação do Tema

Portanto insere-se no âmbito do Direito Penal, mas dentro do mesmo far-se-á


referências de outros ramos de direito como é o caso do Direito Constitucional.

3. Problematização

Moçambique é um Estado de Direito Democrático constitucionalmente instituído,


de respeito pela pessoa humana. Assim sendo, o Estado como servidor da segurança e
de tranquilidade públicas, deve criar condições e mecanismos de manutenção, controlo
de ordem pública segurança das pessoas no seu convívio privado, aberto ao público e ao
público, de acordo com os princípios de direito democrático. A Polícia da República de
moçambique no uso das suas competências conferidas por lei, na aplicação de meios
coercivos, materiais e humanos para reporem a lei e ordem pública, devem utilizar estes
meios de forma racional, ponderada, proporcional e necessária. Tratando-se de reuniões
e manifestações em que o direito algumas vezes colidem com a segurança pública e
outros direitos, a Polícia na observância dos seus serviços, deverá atuar com o maior
profissionalismo não incorrendo em situações de abuso de autoridade e de uso excessivo
ou desproporcional da força. Mas do que se vê na alínea a) n.º 2 do art.° 7 lei n.º
16/2013 de 12 de agosto, é meio constrangedor que até certo pode momento pode se
entender sobre a violação dos direitos fundamentais;
Colocação Precisa do Problema
Nos seguintes casos, ao consagrar ao legislador a medida de policia prevista na
alínea a) n.º 2 do artigo 7 lei n.º 16/2013 de 12 de agosto, não estaria a excitar o uso
excessivo do poder policia e consequentemente a violação dos direitos fundamentais no
ordenamento jurídico moçambicano?

2
4. Possíveis Hipóteses

A revisão da medida de polícia prevista na alínea a) do nº2 do artigo 7 da Lei nº


16/2013, de 12 de Agosto e a criação de mecanismos menos abusivos, será uma opção
estratégica para a PRM melhorar o seu desempenho harmónico para manter a ordem e
tranquilidade pública e o respeito pelos princípios norteadores no ordenamento jurídico.
5. Justificativa
A escolha do tema, prende-se com o facto de o nº 1 do art.º 254.º da
Constituição da República de Moçambique (CRM) 1, parte final e do art.º 3º da Lei nº
16/2013, de 12 de agosto, reza que uma das funções atribuídas à Polícia da República de
Moçambique (PRM) é de “garantir a lei e ordem, a salvaguarda das pessoas e bens, a
tranquilidade pública, o respeito pelo Estado de Direito Democrático e a liberdade
fundamental dos cidadãos.” É verdade que num país Democrático a polícia deve estar
treinada e dotada de conhecimentos suficientes para dar resposta a inúmeras situações
que a nova sociedade democrática nos impõe, nomeadamente no contexto da ordem
pública, porem a situações da lei nº16/2013, de 12 de agosto na sua alínea a) do nº2, em
que por um momento pode se entender que há um excesso do poder policial, ao
prescrever, que a PRM, pode aplicar a vigilância organizada de pessoas e bens, edifícios
e estabelecimentos por período determinado, podendo para o efeito utilizar meios
técnicos e equipamentos adequados.

5.1 Objectivos

5.1.1 Geral
Analisar a natureza jurídica e implicações legais da medida de polícia prevista na
alínea a) n.º 2 do art.° 7º lei n.º 16/2013 de 12 de agosto

5.1.2 Específicos
 Compreender as medidas de policia previstas no artigo 7º lei n.º 16/2013 de 12
de Agosto;
 Debater os princípios que norteiam a actuação da Polícia da República de
Moçambique
 Discutir os princípios fundamentais do ordenamento jurídico moçambique.

1
REPÚBLICA DE MOCAMBIQUE, Constituição da República de Moçambique, 2018, artigo 254.

3
6. Abordagem Metodológica

 Tipo de Pesquisa

Será realizada uma pesquisa documental do tipo bibliográfica, utilizando-se como


forma de auferir a análise da natureza jurídica e implicações legais da medida de polícia
prevista na alínea a) n.º 2 do art.° 7 lei n.º 16/2013 de 12 de agosto 2, sendo um estudo
sistematizado por material publicado em livros, oferecendo assim o material analítico
para o acesso do pesquisador a matéria necessária, a bibliográfica é desenvolvida com
base em material já elaborado constituído principalmente livros e artigos científicos. 3

 Método de Colecta de Dados

Nesse sentindo, esse estudo envolveu um método indutivo que nos permitirá
perceber a análise da natureza jurídica e implicações legais da medida de polícia
prevista na alínea a) n.º 2 do art.° 7 lei n.º 16/2013 de 12 de agosto, segundo LAKATOS
E MARCONI4, estes defendem que o método indutivo ou a indução é um processo
metal por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente,
constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, não contidas nas partes
examinadas, sendo assim o nosso objectivo é chegar a conclusões mais amplos
possíveis para poder melhor trazer possíveis respostas credíveis.

 Técnica de Interpretação

Para o processamento de dados utilizei o pacote Word 2013, usando a técnica de


análise hermenêutica documental, pós neste estudo, interpretei as obras, se cingindo em
expor e concluir ideias, implica a selecção e focalização em concreto dos Dados,
AIRES, defende que esta técnica usa-se em todas fases e etapas do trabalho.5

 Estratégias de discussão de resultados

Para a realização do Projecto que pretendemos desenvolver, tomaremos em


consideração metodologia aceites dentro da Universidade Católica de Moçambique,
concretamente na Faculdade de Direito, o estudo deu-se primazia a pesquisa
bibliográfica, sendo um estudo sistematizado desenvolvido com base em material
2
REPUBLICA DE MOÇAMBQUE, Lei n.º 16/2013 de 12 de agosto, que Cria o sistema de Patentes e
Postos da policia de Moçambique, in Boletim da República, I Série nº 64 de 12 de Agosto
3
THIOLLENT,Michel, Metodologia da pesquisa. 2. Ed são Paulo: Cortez, 1986, pág. 14
4
LAKATOS,Eva Maria, MARCONI, Mariana, Metodologia científica, editora atlas, 2003, pág. 86.
5
THIOLLENT, Michel, Metodologia da pesquisa. 2. Ed são Paulo: Cortez, 1986, pág. 14

4
publicado em livros, teses, legislações que abordem sobre o tema. Com a finalidade de
colocar o pesquisador em contacto directo com tudo o que foi dito e escrito ou afirmado
sobre determinado assunto. A bibliografia pertinente oferece meios para definir,
resolver, não somente problemas já conhecidos, como também explorar novas áreas
novas onde os problemas não foram abordados suficientemente.6

7. Fundamentação Teórica

7.1 Conceito de polícia


A palavra Polícia tem sofrido constantes evoluções, aliada ao desenvolvimento
dos sistemas democráticos, organização e funções que actualmente desempenha.
Quando falamos da Polícia temos que referir os vários sentidos em que o termo é
utilizado, nomeadamente, na linguagem corrente, em sentido funcional e em sentido
orgânico.7 Etimologicamente a palavra polícia tem a sua raiz no vocábulo grego politeia
e chegou à língua portuguesa por via do latim polítea que significa a polis, ou seja, um
grupo social que, para viver em paz, necessita de submeter-se a normas específicas que
asseguram a normal convivência entre todos. Que serve para o ordenamento e o regime
do Governo da Cidade-Estado, ou seja, a polícia serve para o ordenamento da cidade 8. A
Polícia como organização é um conjunto de leis e regulamentos que mantém a ordem e
a segurança pública das pessoas, com a responsabilidade de manter a ordem e a
segurança públicas, de velar pelo cumprimento das leis numa multiplicidade de áreas de
segurança como: polícia de segurança, polícia de trânsito, polícia da fauna, polícia
sanitária, polícia política, polícia secreta, polícia de investigação, polícia marítima,
polícia de guarda fronteira, polícia da migração e mais, de acordo com a estrutura
orgânica de cada país.

Neste contexto, em sentido orgânico, polícia é um serviço público integrado no


Ministério que superintende a área da ordem e segurança pública. A PRM encontra-se
integrada no Ministério do Interior. A sua existência não exclui a criação de outros
organismos especializados e integrados em diversas instituições públicas e privadas para
manutenção de segurança, nomeadamente serviços administrativos de fiscalização
administrativa e empresas de segurança privada a que o Estado atribui competências que
6
LAKATOS, Eva Maria, MARCONI, Mariana, Ob, cit p.90.
7
Clemente, P. J. Polícia em Moçambique: Da Dimensão Política Contemporânea da Segurança
Pública: Tese de Doutoramento em Ciências Sociais e Especialidade de Ciências Políticas . Lisboa,
2000, pag 534
8
CAETANO, M. J, Manual de Direito Vol. II. Coimbra: Almedina, 1990, pag 532

5
em condições normais poderiam ser desempenhadas pela PRM (nº 2 do art.º 1º do
Decreto nº 85/2014, de 31 de dezembro).9

Em sentido funcional e orgânico seriam os poderes ou atividades desenvolvidos


pela polícia no seu quotidiano dentro das suas competências atribuídas pela lei e, não só
o exercício da polícia administrativa em geral. Em termos funcionais, o facto de
encontrarmos a Polícia inserida na Administração Pública, leva-nos a conclusão de que
toda atividade desenvolvida pela Polícia é de natureza administrativa. Na mesma
perspetiva funcional, a Polícia é definida como sendo “o modo de atuar da autoridade
administrativa consiste em intervir no exercício das atividades individuais suscetíveis de
fazer perigar interesses gerais, tendo por objeto evitar que se produzam, ampliem ou
generalizem os danos sociais que as leis procuram prevenir” uma visão meramente
preventiva10.

A função exercida pela Polícia como Administração Pública, consiste na


emissão de regulamentos e a prática de atos administrativos e materiais que controlam
condutas perigosas dos particulares, com o fim de evitar que estas venham ou
continuem a lesar bens sociais, cabendo-lhe a função preventiva, através de atos de
autoridade, seja consentida pela Ordem Jurídica, o que se traduz na forma de atuação
administrativa própria de tais serviços. As autoridades policiais recorrem à investigação
criminal quando a prevenção não for bem-sucedida.11.

7.2 Evolução histórica da Policia da República de Moçambique (PRM)


a história da PRM foi marcada por vários momentos, desde a independência
nacional em 25 de junho de 1975, que culminou com a criação da primeira Polícia
designada Corpo da Polícia Nacional (CPN), através do Decreto/n.º 54/75, de 17 de
maio. Como aponta Pelembe, (2005), com a revisão da Constituição moçambicana em
1979, a Polícia passa-se a denominar Polícia Popular de Moçambique (PPM) fruto da
aprovação do Decreto/nº 05/79 de 26 de maio. Volvidos treze anos, em 1992 é criada a
actual Polícia da República de Moçambique (PRM), através da Lei nº 19/92, de 31 de
dezembro. Desde a independência, a Polícia sempre esteve integrada no Ministério do

9
LGUEIRA, S. R, Actividade Policial na Gestação da Violência. Em M. M. Valente, Reuniões e
Manifestações Actuação Policial (p. 158). Coimbra: Almedina, pag 989
10
GOUVEIA, Bacelar, Manual de Direito Constitucional, Vol. II. 3ª edição, Coimbra: Almedina, 2007,
pag 635
11
Jornal Refletindo sobre Moçambique, publicado sábado, setembro 18, 2010, disponível:
http://comunidademocambicana.blogspot.pt/2010/09/manifestacoes-popularessociedade-
civil.html,Consultado em 02 de Fevereiro 2024

6
Interior sob direção do Comando Geral da Polícia da Polícia da República de
Moçambique (CG-PRM) Toda evolução da Polícia visa garantir a segurança e
tranquilidades públicas e dar respostas aos desafios do crescimento populacional e
aumento da criminalidade nas cidades, como consequência do elevado índice de
desemprego e forte movimento migratório das zonas rurais para as cidades, devido aos
confrontos da guerra civil de 16 anos entre as Forças.12
Armadas de Moçambique (FADM) e a Resistência Nacional Moçambicana
(RENAMO) que terminou em 1992 com assinatura do Acordo de Paz em Roma.13
Após a guerra civil, o país enceta parcerias internacionais na área da formação
técnicopolicial, destacando-se Portugal (e em especial a PSP e o ISCPSI), Rússia,
China, EUA, etc. Na altura, o país não possuía uma instituição de formação superior de
Oficiais de Polícia. A ascensão à patente de oficial da polícia era por via de carreira
profissional, pese embora persista ainda o regime misto, isto é, a promoção por
antiguidade e por formação académica. Em 1999 foi aprovado o Decreto/nº24/99, de 18
de maio, que cria a Academia de Ciências Policiais (ACIPOL), instituição de ensino
superior de oficiais que leciona o grau de licenciatura e mestrado não integrado em
ciências policiais, que após graduação os formandos ostentam a patente de Subinspetor
da Polícia equiparado a Subcomissário na PSP. No quadro de formação policial, a PRM
tem dois centros, Escola Prática de Polícia de Matalane e a Escola de Sargentos de
Michafutene. A de Matalane é para novos ingressos com nível básico; após a graduação,
os formandos ostentam o posto de guarda da Polícia. Na escola de Sargentos que forma
os Agentes policiais com experiência de trabalho, é lecionado um curso médio. Após o
términus com sucesso ostentam o posto de Sargento da Polícia. Trata-se de uma
pirâmide de formação bem hierarquizada para dar resposta à cadeia de direção e de
comando da PRM14.
7.2.1 Da segurança ao conceito da ordem pública
O conceito de ordem pública não está definido em nenhuma parte da CRM,
aliado a isso, têm sofrido constantes evoluções ao longo do tempo à medida que a
democracia se tem expandido à escala mundial.15

12
SOUSA, Baptista, a evolução da PRM em Moçambique, 5ª Edição, Lisboa, 2011, pag 321
13
SILVA, Medeiros, a actuação da Polícia da República de Moçambique em Manutenção de Ordem
Pública e Reunião e Manifestação, Lisboa, 2018, pag,348
14
Miranda, M. M. (s.d.). A sociedade, violência e política de segurança: da tolerância à construção do ato
violento. Obtido de http://www.machadosobrinho.com.br/revista_online/publicacao/artigos/Artigo01R
EM3.pdf. Consultado em 02.fevereiro 2024
15
Idem;

7
A ordem pública engloba o espaço temporal em que as circunstâncias de ordem
estão a decorrer, verifica-se um ambiente saudável, a tolerância, a normalidade da vida
quotidiana. Cabendo ao Estado garantir a segurança e ordem interna, funções atribuídas
à Polícia no âmbito das suas competências 16.

7.2.2 A organização da PRM em matérias de ordem pública


De acordo com os art.º 7º do Decreto n.º 85/2014, de 31 de dezembro e do art.º
12º da Lei nº 16/2013, de 12 de agosto, a PRM compreende a seguinte composição
orgânica: Ao “nível central, provincial, distrital, posto administrativo, localidade e de
povoação”32.“A nível central, a PRM é representada pelo Comando-Geral, ao nível
local por Comandos Provinciais33, em Distritais, em postos administrativos, nas
localidades e povoações a PRM organiza-se em postos policiais”34. O nível de
organização coincide com os níveis de Comando e Controlo, nomeadamente:
estratégico que compreende ComandoGeral; tático os Comandos Provinciais e
Operacional fica a cargo dos Comandos distritais e postos policiais. Nas “cidades e vilas
a PRM organiza- se em esquadras, postos policiais e sectores policiais.17

7.2.3 A estrutura operacional da PRM


A Estrutura Orgânica da PRM é muito alargada. Nesse sentido, para o nosso
trabalho iremos aprimorar a do “Ramo da Polícia de Ordem e Segurança Pública”36
Sobretudo o Departamento de Operações (DOP), o Departamento de Polícia de Proteção
(DPP), a Unidade de Operações Especiais e de Reserva (UOER) que alberga a Unidade
de Intervenção Rápida (UIR). Para o prosseguimento das suas atividades, o DOP ao
nível central é dirigido por um Comandante e seu Adjunto, com as patentes de Primeiro
Adjunto de Comissário e Adjunto do Comissário, ao passo que nas Províncias. É
dirigido por um Superintendente Principal ambos nomeados pelo Ministro do Interior
sob proposta do Comandante Geral (nº 9 e 10 do art.º 10º Decreto n.º 85/2014, de 31 de
Dezembro). Os Comandos Distritais e Esquadras são dirigidos por um Comandante com
a patente mínima de Inspetor Principal (nº 2 do art.º 45º e nº n º 2 do art.º 46 D/nº
85/2014). O seu Adjunto e Chefe das Operações tem a patente de Inspetor (nº 3 do art.º
45º e nº n º 3 do art.º 46 da mesmo Decreto), sendo estes responsáveis pelo planeamento

16
CLEMENTE, P. J. Polícia em Moçambique: Da Dimensão Política Contemporânea da Segurança
Pública: Tese de Doutoramento em Ciências Sociais e Especialidade de Ciências Políticas . Lisboa,
2000, pag 534
17
LGUEIRA, S. R, Actividade Policial na Gestação da Violência. Em M. M. Valente, Reuniões e
Manifestações Actuação Policial Coimbra: Almedina, 2012, pag, 158.

8
e execução de operações policiais no quadro da ordem pública. Por fim, referimos os
Postos policiais40 e os Setores policiais.

O posto policial é comandado por um Chefe do Posto Policial, com a patente de


Subinspetor da Polícia, (nº 3 do art.º 47º do D nº 85/2014). De salientar que a lei não lhe
confere um adjunto legal, cabendo-lhe delegar essas competências de acordo com a
antiguidade dos elementos do posto policial. Os Comandantes Distritais, das Esquadras,
Chefes dos Postos policiais e Chefes dos Sectores policiais são nomeados pelo
Comandante-Geral sob proposta do Comandante Provincial.18

7.3 Os limites de actuação das medidas de polícia


As “medidas de polícia não se confundem com os actos de polícia, em geral – e,
muito menos, com as sanções, constituindo, antes, uma espécie daquele género e
caracterizando-se essencialmente, por revestirem a natureza de medidas de segurança
administrativa19

Inerente a um Estado de Direito está obviamente a limitação jurídica e


jurisdicional da forma de actuação da polícia, à qual estão adjacentes as medidas de
polícia. As medidas de polícia constituem uma intervenção na esfera jurídica de
particulares e das suas actividades. Elas constituem a faculdade de actuação possíveis de
colisão com direitos, daí a prevalência dos direitos fundamentais na actividade policial.
Portanto, a interpretação das normas policiais deve ser feita mediante o recurso aos
direitos fundamentais, que funcionam como os seus verdadeiros limites.20

as normas que vêm prever as medidas de polícia, estão constitucionalmente


autorizadas a restringir direitos fundamentais. Parecenos então, que relativamente à
vinculação do legislador aos direitos, liberdades e garantias, possam ser efectuadas
apenas intervenções restritivas e apenas no que toca aos direitos liberdades e garantias
de natureza análoga. Portanto, para além da reserva de lei restritiva, tais restrições têm
de obrigatoriamente salvaguardar outros direitos ou interesses constitucionalmente
protegidos21. Nenhuma entidade administrativa de polícia pode restringir os direitos,

18
OLIVEIRA, José Ferreira, Manutenção da Ordem Pública em Portugal, 1.ª Edição, Publicações do
Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna, 2000
19
Idem, pag. 298
20
Valente, Manuel Monteiro Guedes, Teoria Geral do Direito policial Volume I, Almedina, Coimbra,
2005, pag 562
21
Idem

9
liberdades e garantias, uma vez que, como já vimos, encontram-se também vinculados a
estes22. “

A expressa tipicidade legal das medidas de polícia significa que as entidades com
poderes de polícia estão proibidas, sem consentimento legal, de conformar e concretizar
os direitos liberdades e garantias, especificando limites implícitos a esses direitos, sem
consentimento da lei, mesmo executando directamente a Constituição”. Também o facto
de a Constituição prever expressamente o cumprimento do princípio da
proporcionalidade, nos indicia que houve uma preocupação de o texto constitucional
reconhecer a necessidade de impor limites próprios ao exercício de poderes de polícia,
que se podem manifestar sob a forma de coacção directa. Finalizando, importa frisar
ainda que, “ a genérica competência da polícia para proteger os direitos dos cidadãos
constitui também uma norma atributiva de um direito subjectivo público”.

Assim, qualquer cidadão possui, pelo menos, uma pretensão a que a polícia
intervenha para protecção dos seus bens jurídicos. Por outro lado, sublinha-se que a
importância dos direitos fundamentais manifesta-se também no facto de haver direitos e
liberdades intocáveis, em regra, pelas medidas de polícia: todos aqueles que mais perto
se encontram no princípio da dignidade humana: a liberdade de correspondência, a
liberdade religiosa, a intimidade.23

7.4 Princípios norteadores nas medidas de polícia

7.4.1 Princípio da Legalidade


As medidas de polícia, por constituírem limitações restritivas de direitos e
liberdades fundamentais, estão sujeitas a uma reserva de lei restritiva, como podemos
observar na Constituição, onde faz alusão a uma legalidade democrática. “Deste modo,
o princípio da legalidade impõe-se, no domínio do direito de polícia, não apenas como
um sub-princípio da constitucionalidade, mas também como uma condição indeclinável
de legitimação política do poder policial.24

22
VALENTE, Manuel Monteiro Guedes, Teoria Geral do Direito policial Volume I, Almedina, Coimbra,
2005, pag 563
23
Clemente, P. J. Polícia em Moçambique: Da Dimensão Política Contemporânea da Segurança
Pública: Tese de Doutoramento em Ciências Sociais e Especialidade de Ciências Políticas . Lisboa,
2000, pag 534
24
VALENTE, Manuel Monteiro Guedes, Teoria Geral do Direito policial Volume I, Almedina, Coimbra,
2005, pag 564

10
Deixando de lado as diversas posições doutrinárias da existência ou não de uma
cláusula geral, a Constituição vem ainda explicitar que as medidas de polícia são as
previstas na lei (artigo 253º da CRM)25. Pode ser configurado como uma norma de
atribuições não como uma norma de competências. “Neste sentido, devemos considerar
que as medidas de polícia, por constituírem intervenções na esfera dos direitos
fundamentais, não podem ancorar-se em normas de atribuições”, mas sim constituírem-
se competências de actuação típicas. Será este, segundo o autor atrás referido, o
verdadeiro sentido do princípio da legalidade do poder de polícia. Importa ainda fazer
referência ao princípio da reserva de lei parlamentar, que implica a proibição de outras
fontes normativas. “Consequência de tal princípio é a proibição de regulamentos
independentes para instituir e regular medidas de actuação policial”. “No que toca às
medidas de polícia, a Constituição estabelece, por força do artigo 253.º 26, uma
legalidade qualificada e, por isso, rejeita uma intervenção administrativa mais ampla do
que a mera execução da lei.27

7.4.2 Princípio da constitucionalidade


Tal como toda a actividade de administração pública, a polícia está subordinada
à Constituição. “O princípio da constitucionalidade da administração não é outra coisa
senão a aplicação, no âmbito administrativo, do princípio geral da constitucionalidade
dos actos do Estado” em que “todos os poderes e órgãos do Estado (em sentido amplo)
estão submetidos às normas e princípios hierarquicamente superiores da Constituição”.
É exigido então à polícia que não viole a Constituição, se paute pelos valores
constitucionais no exercício dos poderes discricionários que a lei lhe deixe e que
interprete e aplique as leis no sentido mais conforme à Constituição.28

7.4.3 Princípio da proibição do excesso


A proibição do excesso impõe, às medidas de polícia, a obediência aos requisitos
da necessidade, exigibilidade e proporcionalidade nas suas três vertentes – adequação,
necessidade, e proporcionalidade em sentido restrito.29 O emprego de medidas de polícia
deve ser sempre justificado pela estrita necessidade, não devendo utilizar-se medidas
25
REPÚBLICA DE MOCAMBIQUE, Constituição da República de Moçambique, 2018, artigo 253º
26
REPÚBLICA DE MOCAMBIQUE, Constituição da República de Moçambique, 2018, artigo 253º
27
Valente, Manuel Monteiro Guedes, Teoria Geral do Direito policial Volume I, Almedina, Coimbra,
2005, pag 564
28
SILVA, Medeiros, a actuação da Polícia da República de Moçambique em Manutenção de Ordem
Pública e Reunião e Manifestação, Lisboa, 2018, pag,355
29
Valente, Manuel Monteiro Guedes, Teoria Geral do Direito policial Volume I, Almedina, Coimbra,
2005, pag 567

11
gravosas quando medidas mais brandas forem suficientes. Importa pois actuar apenas de
forma imprescindível para assegurar o interesse público em causa, sacrificando no
mínimo os direitos do cidadão.30

7.4.4 Princípio da Tipicidade e da boa-fé


A tipicidade legal exprime a ideia de que os actos de polícia, além de terem um
fundamento necessário na lei, devem configurar, de forma individualizada, o conteúdo,
a duração, os fins e os limites da actuação policial. A actuação policial fora deste
princípio só poderá ser justificado pela urgência ou necessidade pública. Quanto ao
princípio da boa fé, reporta-se à necessidade de criação de um clima de confiança e
previsibilidade no seio da administração pública, onde se insere a polícia. O princípio da
boa fé impõe desde logo, que a conduta da polícia se funde em valores básicos do
ordenamento jurídico, determinando à polícia o dever jurídico-funcional de adopção de
comportamentos adequados.

7.4.5 Princípio Democrático e Princípio da Lealdade


De grande relevo no plano judiciário, o princípio democrático não deixa de ter
importância no âmbito da polícia. A polícia representa por vezes a face visível da
administração da justiça, impõe-se portanto, que actue dentro dos limites do princípio
democrático, enquanto norma jurídica constitucionalmente positivada.

Quanto ao princípio da lealdade, de natureza essencialmente moral, este “exige


uma polícia que tenha como interesse e fim não só garantir a segurança interna, mas que
promova o respeito e a garantia dos direitos fundamentais”. Impõe portanto aos agentes
da administração pública que operem com o sentido da obrigatoriedade de actuar no
estrito respeito pelos valores próprios da pessoa humana.31

7.4.6 Princípio da Justiça e Princípio do Interesse Público


o princípio da justiça “aponta para a necessidade de a Administração pautar a
sua actividade por certos critérios materiais ou de valor, constitucionalmente plasmados,
como, por exemplo, o princípio da dignidade humana”. Observados estes princípios

30
VALENTE, Manuel Monteiro Guedes, Teoria Geral do Direito policial Volume I, Almedina, Coimbra,
2005, pag 568
31
OLIVEIRA, José Ferreira, Manutenção da Ordem Pública em Portugal, 1.ª Edição, Publicações do
Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna, 2000, pag 541

12
materiais de justiça, será permitido à administração “a obtenção de uma solução justa
relativamente aos problemas concretos que lhe cabe decidir”.32

Neste sentido, o princípio da justiça “é um princípio geral de intervenção da


actividade policial por este, desde logo, ser a face visível não só da lei, mas de todo o
direito”. Já o princípio do interesse público, regula que a polícia “mesmo no uso de
poderes discricionários, não pode prosseguir uma qualquer finalidade, mas apenas a
finalidade considerada pela lei ou pela Constituição, que será sempre uma finalidade do
interesse público.33

32
SILVA, Medeiros, a actuação da Polícia da República de Moçambique em Manutenção de Ordem
Pública e Reunião e Manifestação, Lisboa, 2018, pag,355
33
VALENTE, Manuel Monteiro Guedes, Teoria Geral do Direito policial Volume I, Almedina, Coimbra,
2005, pag 568

13
8. Cronograma

ACTIVIDADES Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro

1. Escolha do tema.

2. Revisão Bibliográfica.

3. Definição de Instrumentos
de recolha de dados.

4. Recolha de Dados.

5. Processamento de Dados.

6. Análise de Dados.

7. Redacção do 1º dado.

8. Correcção do supervisor

9. Redacção final

10. Entrega de Trabalho a


faculdade34

34
Elaborado pelo autor do projecto.

14
9. Referências Bibliográficas

Legislação:

 REPÚBLICA DE MOCAMBIQUE, Constituição da República de


Moçambique, 2018
 REPUBLICA DE MOÇAMBQUE, Lei n.º 16/2013 de 12 de agosto, que Cria
o sistema de Patentes e Postos da policia de Moçambique, in Boletim da
República, I Série nº 64 de 12 de Agosto;
 REPUBLICA DE MOÇAMBQUE, Decreto n.º 21/2015, Aprova a Estrutura
Orgânica do Governo Provincial. Moçambique: in Boletim da República; 1º
Série n.º 72 de 9 de Setembro;
 REPUBLICA DE MOÇAMBQUE, Decreto nº 85, Estatuto Orgânico da PRM.
Moçambique: Publicado no Boletim da República; I-SÉRIE nº 105 de 31 de
Dezembro;

Manuais:

1. CAETANO, M. J, Manual de Direito Vol. II. Coimbra: Almedina, 1990.


2. Clemente, P. J. Polícia em Moçambique: Da Dimensão Política
Contemporânea da Segurança Pública: Tese de Doutoramento em Ciências
Sociais e Especialidade de Ciências Políticas, Lisboa, 2000;
3. PRATA, Ana, Dicionário Jurídico, 5ª Edição, Vol. I Almedina, 2008;
4. LGUEIRA, S. R, Actividade Policial na Gestação da Violência. Em M. M.
Valente, Reuniões e Manifestações Actuação Policial, Coimbra: Almedina,
2102
5. GOUVEIA, Bacelar, Manual de Direito Constitucional, Vol. II. 3ª edição,
Coimbra: Almedina, 2007
6. SILVA, Medeiros, a actuação da Polícia da República de Moçambique em
Manutenção de Ordem Pública e Reunião e Manifestação, Lisboa, 2018;
7. SOUSA, Baptista, a evolução da PRM em Moçambique, 5ª Edição, Lisboa,
2011;
8. OLIVEIRA, José Ferreira, Manutenção da Ordem Pública em Portugal, 1.ª
Edição, Publicações do Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança
Interna, 2000
15
9. Valente, Manuel Monteiro Guedes, Teoria Geral do Direito policial Volume I,
Almedina, Coimbra, 2005, pag 562
Sites electrónicos

1. Jornal Refletindo sobre Moçambique, publicado sábado, setembro 18, 2010,


disponível: http://comunidademocambicana.blogspot.pt/2010/09/manifestacoes-
popularessociedade-civil.html,Consultado em 02 de Janeiro 2024

16

Você também pode gostar